livro - português ii - volume 1 (cederj)
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objetivos
Meta da aula
Apresentar o conceito de sintaxe e seu objeto de estudo, no mbito da orao em lngua portuguesa.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
1. conceituar sintaxe;
2. caracterizar os sintagmas como elementos constituintes da orao;
3. identifi car as propriedades dos sintagmas;
4. distinguir os diferentes tipos de sintagmas.
Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto
Ivo da Costa do Rosrio
Mariangela Rios de Oliveira1AULA
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Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto
Em nosso dia a dia, vivemos mergulhados em frases, faladas e ouvidas, escritas
e lidas, por ns e por nossos interlocutores. um tal de Bom-dia!, Poderia
me dar licena?, Como vai? Tudo bem?
INTRODUO
Tudo nos parece muito simples, natural e espontneo, no ? Porm, se
observarmos com mais ateno esse verdadeiro mundo de frases, vamos per-
ceber critrios e regras que permitem nossa comunicao atravs desses usos.
Por exemplo, poderamos falar, escrever ou mesmo entender algo como
Licena dar me poderia? ou Bem tudo? Pois , esta aula se dedica exata-
mente rea da gramtica que se volta para o estudo da ordenao, dos
mecanismos que nos permitem a comunicao por intermdio de frases e
demais expresses, ou seja, a sintaxe.
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O que sintaxe? Como se caracteriza? Qual seu objeto? Essas so perguntas
que vamos responder aqui.
Assim, nesta primeira aula, a proposta defi nir o que sintaxe, delimitar
seu objeto e tratar do sintagma, a unidade sinttica bsica. De modo mais
especfi co, examinaremos o conceito, os tipos, os usos e as caractersticas
do sintagma. Esse um momento muito importante, em que estaremos
trabalhando com um dos nveis de anlise lingustica mais fundamental para
a descrio e a interpretao da lngua portuguesa o nvel sinttico. Con-
vidamos voc a nos acompanhar nessa viagem!
O QUE SINTAXE?
Para as pessoas, de um modo geral, que j foram ou so estu-
dantes, lidar com a sintaxe resume-se em classifi car termos da orao e
perodos, na tentativa de fi xao de uma srie de rtulos e regras sem
maior refl exo e aplicabilidade no trato dirio. Alis, muitos pensam que
s h aulas de portugus quando se faz a tradicional anlise sinttica,
por anos repetida e poucas vezes compreendida.
Na verdade, a sintaxe algo bem mais simples e fundamental em
nosso cotidiano com a lngua portuguesa. Trata-se de um dos nveis da
gramtica da lngua.
Cada nvel da gramtica da lngua constitui uma rea de abordagem dos estudos lingusticos. Basicamente, reconhecemos a existncia de trs nveis: fonolgico (fonemas e slabas), morfolgico (morfemas e palavras) e sinttico (sintagmas, frases e perodos).
Partimos do conceito de gramtica como o conjunto das regras
e convenes que nos permitem fazer entender uns aos outros. Alm da
fontica e da fonologia, que lidam com a realizao sonora e sua repre-
sentao grfi ca, e da morfologia, que trata das classes de palavra e sua
estrutura, as convenes lingusticas do portugus incluem a sintaxe,
ou seja, a parte da gramtica que nos permite produzir e interpretar as
frases da lngua, inclusive aquelas que jamais havamos ouvido, lido ou
pronunciado, conforme se encontra em Azeredo (1995).
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Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto
Para melhor entendermos do que estamos falando, vamos tomar
dois provrbios de nossa lngua, duas frases feitas que circulam tra-
dicionalmente em nosso pas:
(1) De gro em gro a galinha enche o papo.
Recomendamos a leitura do livro Iniciao sintaxe do portugus (1995), de Jos Carlos de Azere-do. O autor doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde lecionou Lngua Portuguesa de 1970 a 1996. Atualmente, professor adjunto do Instituto de Letras da UERJ. Alm dessa obra indicada, ele tambm autor de muitas outras, como Fundamentos de gramtica do Portugus (2000) e Ensino de Portugus: fundamen-tos, percursos e objetos (2007).
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(2) guas passadas no movem moinhos.
Para compreendermos os provrbios citados, precisamos enten-
der a ordem e a hierarquia em que seus elementos esto organizados.
Estamos considerando hierarquia como o processo de vinculao e de
subordinao dos elementos nesses provrbios; pela ordem hierrquica,
esses elementos se vinculam e estabelecem dependncia entre si. Assim,
no primeiro provrbio, temos o modo da ao verbal (de gro em gro),
depois o termo sobre o qual se faz a declarao (a galinha), seguido do
comentrio sobre esse ser (enche o papo). No segundo provrbio, surge
em primeiro lugar o termo sobre o qual se declara algo (guas passadas),
acompanhado imediatamente do comentrio negativo (no movem moi-
nhos). Via de regra, colocamos nas primeiras posies os constituintes
mais importantes ou relevantes para nossos fi ns comunicativos, reservan-
do as ltimas posies para informaes mais perifricas ou subsidirias.
Essa capacidade de compreenso se d no nvel sinttico, ou seja,
no plano da ordenao dos constituintes. Para chegarmos a tal habilida-
de de construir e interpretar as frases do portugus, precisamos apenas
estar mergulhados em nossa comunidade lingustica, interagirmos uns
com os outros e, assim, de modo quase automtico, desenvolvermos essa
capacidade fundamental para falar, escrever e compreender nosso idioma.
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Para enfatizarmos como a ordem das palavras fundamental no
portugus, observemos estas duas frases:
(3) Joo seguiu Pedro na rua.
(4) Pedro seguiu Joo na rua.
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Enquanto (3) nos informa que Joo praticou a ao de seguir
Pedro, a frase (4) nos diz justamente o contrrio que foi Pedro quem
seguiu Joo. Ora, a alterao de sentido na comparao de (3) e (4) ocorre
justamente por causa da alterao na ordenao dos constituintes na
estrutura da frase, ou seja, por causa da mudana sinttica. Em (3), Joo
aparece em posio inicial e o agente da ao de seguir, que, por sua
vez, incide sobre o alvo Pedro. J em (4), a troca posicional dos nomes
Joo e Pedro leva troca de funo desses constituintes, fazendo com
que Pedro seja o agente, aquele que pratica a ao de seguir Joo, este
que passa agora a ser o alvo da ao. Ambas as frases so fi nalizadas
com a informao adicional sobre o local da perseguio (na rua), que,
assim como de gro em gro, em (1), atua como um adendo, um informe
adicional sobre a circunstncia da ao.
As frases de que at agora tratamos (1), (2), (3) e (4) ilustram
tambm a ordenao padro em lngua portuguesa, a sintaxe preferen-
cial usada para interpretar e produzir frases: sujeito (S) + verbo (V) +
complemento (C), ou simplesmente SVC. Isso signifi ca que tendemos a
considerar, em princpio, os nomes iniciais como agentes da ao verbal
e os fi nais como os alvos, ou seja, os pacientes atingidos pela ao dos
primeiros. As informaes sobre circunstncias da ao (modo, meio,
tempo, lugar, entre outras) costumam se ordenar aps o verbo, como
papis secundrios ou adjuntos. Assim, do ponto de vista sinttico, temos
a seguinte organizao estrutural das frases at aqui vistas:
(1) De gro em gro (a galinha) (enche) (o papo).
ADJUNTO S V C
(2) (guas passadas) (no movem) (moinhos).
S V C
(3) (Joo) (seguiu) (Pedro) na rua.
S V C ADJUNTO
(4) (Pedro) (seguiu) (Joo) na rua.
S V C ADJUNTO
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Evidentemente, essa ordenao SVC pode sofrer alteraes, acrs-
cimos, intercalaes, enfi m, uma srie de modifi caes para atender a
necessidades comunicativas. Assim, por exemplo, observamos que em
(1) a frase no se inicia pelo sujeito, mas pelo modo da ao do sujeito
(de gro em gro). No uso padro ou mais neutro, essa informao
estaria ao fi nal da frase, aps o verbo e seu complemento, fechando a
declarao, como um tipo de adendo, como ocorre em (3) e (4), em que
o adjunto na rua aparece ao fi nal, mas se usarmos essa estratgia em (1)
teramos a seguinte ordenao:
(5) A galinha enche o papo de gro em gro.
Ser que algum usaria assim o provrbio? J ouvimos ou lemos um
registro como esse? Parece muito pouco provvel. Embora (5) esteja gra-
maticalmente correta, porque dispe os constituintes na ordem padro
(SVC + circunstncia de modo) e articula sentido capaz de ser interpretado
por qualquer usurio do portugus, podemos dizer, sem dvida, que
inadequada do ponto de vista discursivo ou textual. Se pensarmos que
os provrbios so snteses ou mximas da conduta humana, poderemos
justifi car a antecipao do adjunto de gro em gro como uma estratgia
gramatical, operada no nvel sinttico, motivada por fatores discursivos.
Essa estratgia visa pr em relevo justamente o ponto mais importante que
se deve destacar no provrbio o modo como devemos agir na vida: de
forma contnua e perseverante (de gro em gro). Tal antecipao, portanto,
destaca a maneira pela qual devem agir as pessoas, o que faz com que a
informao sobre o modo aparea em primeiro lugar.
Assim, podemos dizer que, embora a sintaxe da lngua portuguesa
no seja totalmente rgida, permitindo algumas alteraes posicionais
ou intercalaes, entre outros procedimentos, as mudanas operadas
na ordenao padro (SVC + adjunto) provocam efeitos discursivos
distintos, constituindo, portanto, outros modos de dizer e de comunicar.
Observemos como fi cariam (3) e (4) com algumas mudanas sintticas:
(6) Na rua, Joo seguiu Pedro.
(7) Pedro, na rua, seguiu Joo.
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Em (6), o adjunto na rua encontra-se em posio inicial, desta-
cando o local percorrido por Joo (S) para seguir Pedro (C). A frase (6),
ainda que tenha correspondncia com (3), distingue-se desta pela nfase
dada ao espao onde ocorre a ao.
J em (7) temos um outro tipo de efeito de sentido, criado pela
intercalao do adjunto na rua, que se situa entre Pedro (S) e seguiu (V).
Nessa frase, tanto o sujeito como o local so salientados, ilustrando um
terceiro tipo de arranjo sinttico a partir de uma mesma ordenao padro.
Ainda poderamos organizar uma outra sintaxe, de frequncia
provavelmente menor na lngua, mas ainda possvel do ponto de vista
estritamente gramatical:
(8) Pedro seguiu, na rua, Joo.
A pouca probabilidade de ocorrncia da frase (8) deve-se ao fato
de o adjunto na rua promover a ruptura do V seguiu e de seu C Joo,
ocasionando um tipo de organizao sinttica mais raro na lngua, haja
vista a grande proximidade estrutural e integrao conceitual que cos-
tumam caracterizar o verbo e seu complemento. Alis, no por outro
motivo que a tradio gramatical rotula essa composio de V e C de
predicado, no entendimento de que se trata de um todo, em termos de
forma e de sentido.
Na modalidade escrita, quando ocorrem alteraes na organizao
sinttica padro, pode-se usar a pontuao para marcar antecipaes
ou intercalaes de constituintes. Por isso, nas frases (6), (7) e (8), uti-
lizamos a vrgula para acentuar a ruptura de sentido e de forma. Esse
recurso constitui mais um procedimento de destaque do adjunto na rua.
Pelo mesmo motivo, o provrbio expresso em (1) tambm poderia ter o
adjunto de gro em gro separado por vrgula, constituindo uma outra
estratgia de nfase. Dizemos apenas que poderia porque no estamos
tratando de uma regra, de um procedimento obrigatrio. O que vai fazer
com que se use ou no a vrgula nessa e em outras situaes similares
a necessidade comunicativa, o efeito pretendido.
Desta forma, quanto maior a inteno ou a necessidade de destacar
ou enfatizar a circunstncia expressa, maior a motivao para o uso da
vrgula como marcao de pausa, de ruptura no nvel sinttico (estrutural)
e no nvel semntico (signifi cativo). Por outro lado, constituintes muito
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vinculados no devem ser separados por pausa, da porque no devemos
usar vrgula quando lidamos com a sintaxe padro SVC tal como ocorre
em (2). Em geral, quando o adjunto est depois de SVC, como em (3) e
(4), tambm no usada vrgula.
A partir das consideraes apresentadas at agora, voltamos
pergunta inicial: O que sintaxe? Diante dos aspectos expostos e
discutidos, podemos elaborar uma segunda defi nio, mais especfi ca e
precisa, para esta nossa unidade de estudo: sintaxe a parte da gramtica
que descreve e interpreta a ordenao e a combinao hierrquica dos
constituintes nas frases de uma lngua.
Agora que vocs j sabem o que sintaxe, na prxima seo
estudaremos o objeto de descrio e anlise da sintaxe: o sintagma.
Esto prontos?
Atende ao Objetivo 1
1. Com base na defi nio de sintaxe apresentada neste captulo parte da gramtica que descreve e interpreta a ordenao e a combinao hie-rrquica dos constituintes nas frases de uma lngua , responda por que:
a) possvel compreender a frase Napoleo temia que as tartarugas desovassem no seu imponente chapu (AZEREDO, 1990).
b) Est cancelada a possibilidade de ocorrncia da ordenao Seu impo-nente temia as que chapu desovassem Napoleo tartarugas no.
RESPOSTA COMENTADA
A frase (a), embora tenha um sentido meio excntrico, nas palavras
de Azeredo (1995), est de acordo com a sintaxe do portugus,
apresentando o sujeito (Napoleo), seguido do verbo (temia), de
seu complemento (que as tartarugas desovassem) e do adjunto
locativo (no seu imponente chapu). Os sintagmas encontram-se
a bem formados, e essa ordenao padro permite que os usurios
ATIVIDADE
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O OBJETO DA SINTAXE O SINTAGMA
do portugus atribuam sentido frase, mesmo que esse sentido
seja um pouco estranho.
Em (b) no podemos sequer falar em frase, uma vez que os consti-
tuintes no se encontram organizada e hierarquicamente ordenados;
assim, no h sintaxe, uma vez que no h uma ordenao capaz
de fazer sentido.
Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/8/80/80itenta/1152267_offi ce_1.jpg
Com base na defi nio anterior, podemos identifi car agora o
objeto da sintaxe, ou seja, o elemento bsico sobre o qual se debruam
a descrio e a anlise sinttica. Se observarmos com mais cuidado os
comentrios feitos com base nas frases de (1) a (8) anteriormente apre-
sentadas, verifi caremos que a sintaxe no lida com fonemas e slabas,
como a fonologia, nem com vocbulos e afi xos, como a morfologia, mas
com unidades maiores, arranjos de um ou mais constituintes, em geral
dispostos hierarquicamente, na composio de sintagmas. Estes so, de
fato, os objetos da sintaxe.
An
selm
o G
arri
do
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Para seu melhor entendimento, esta seo ser dividida em trs
subsees, que trataro da caracterizao, das propriedades e da classi-
fi cao do sintagma, nesta mesma ordem de apresentao. Vamos ento
caracterizao do sintagma?
Caracterizao
Em geral, o sintagma formado por dois ou mais elementos
consecutivos, um dos quais o DETERMINADO (principal) e o outro
o DETERMINANTE (subordinado) (KURY, 1986, p. 9). Assim, a con-
cepo do sintagma mais ampla do que a do vocbulo e mais restrita
do que a da frase, situando-se em posio intermediria entre essas duas
dimenses. Retomemos o exemplo (1) para ilustrar nosso comentrio:
(1) De gro em gro/a galinha/enche [o papo].
Em (1), usamos barras para separar os trs sintagmas que formam
o provrbio. Podemos verifi car que as separaes coincidem com funes
j referidas na seo O que sintaxe?. Assim, o sintagma inicial de gro
em gro atua como expresso do modo; o seguinte, a galinha, codifi ca
o sujeito, enquanto o ltimo, enche o papo, funciona como predicado,
formado pelo verbo e seu complemento.
Em termos de hierarquia interna, podemos dizer que dois desses
sintagmas se articulam por subordinao, como tende a ocorrer na
maioria das formaes sintagmticas: /a galinha/e enche [o papo]. No
sintagma a galinha, o primeiro termo, o artigo a, o determinante,
enquanto o segundo, o substantivo galinha, por ser o principal entre os
dois constituintes desse sintagma, o determinado. No sintagma enche o
papo, temos o verbo como elemento principal ou determinado, seguido
de seu complemento, o papo, na funo de determinante. Porm, esse
ltimo sintagma possui ainda uma outra hierarquia interna, marcada
aqui por colchetes, j que o complemento o papo tambm constitui um
sintagma, em que o nome papo representa o elemento principal, deter-
minado, e o artigo defi nido o atua como seu determinante.
J o sintagma de gro em gro no apresenta hierarquia entre
seus constituintes, uma vez que as duas ocorrncias de gro situam-
se no mesmo nvel hierrquico, ou seja, so correspondentes, no h
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determinantes e determinados. Esse modo de organizao, em que
os constituintes se encontram no mesmo nvel, pode ser encontrado
basicamente na formao de construes compostas, em torno da
partcula aditiva e, como em galinha e pato ou papo e estmago, por
exemplo. Quando assim acontece, dizemos que se trata de coordenao,
ou seja, de relaes horizontais, pois no h um elemento principal em
relao aos demais, por isso so desprovidas de hierarquia. Por outro
lado, a subordinao estabelece relaes verticais, em que um dos
constituintes funciona como elemento principal ou determinado.
Encerramos aqui a caracterizao do sintagma. Observamos que
ele formado por dois ou mais constituintes consecutivos, sendo um
o determinado, o principal, e o outro, o determinante, o subordinado.
Vamos, na prxima subseo, estudar as propriedades do sintagma.
Propriedades
Para que uma unidade seja con-
siderada um sintagma, deve preencher
alguns requisitos bsicos, em termos
de mobilidade, posio e organizao
interna. Tais requisitos constituem,
portanto, critrios para a defi nio e
a delimitao de sintagmas. Conforme
Azeredo (1995, p. 32-33), so trs as
peculiaridades distribucionais dos
sintagmas:
1) Deslocamento: o sintagma se desloca na frase como um todo,
para posies iniciais, mediais ou fi nais, no admitindo movimento de
apenas um ou de alguns de seus constituintes. Assim, por exemplo, na
frase (2), a seguir retomada, os deslocamentos somente so possveis
quando realizados por sintagmas completos. Nesse caso, temos dois
sintagmas em questo guas passadas e no movem. Moinhos um complemento considerado como um sintagma interno ao predicado no
movem moinhos. Veja:
(2) guas passadas/no movem [moinhos].
Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/b/br/bre-dmaker/1280927_ticked_checkbox.jpg
Gar
y M
cin
nes
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(9) No movem [moinhos]/guas passadas.
(10) [Moinhos] no movem/guas passadas.
(11) [Moinhos] guas passadas/no movem.
(12) guas passadas [moinhos]/no movem.
As frases ilustradas de (9) a (12) constituem outras possveis orde-
naes a partir de (2), cuja sintaxe segue o padro mais regular (SVC), de
acordo com o que vimos na seo O que sintaxe?. Conforme podemos
observar, apesar da variedade de arranjos dessas frases, os deslocamentos
ocorrem com a preservao dos sintagmas guas passadas e no movem,
que se movimentam em bloco. Tal como verifi cado em (1) com o papo
em De gro em gro a galinha enche o papo, tambm em (2) temos a
possibilidade de lidar com o complemento moinhos considerado como
um sintagma interno ao predicado, num nvel hierrquico mais baixo
que este. Por essa razo, admitimos, ainda que com probabilidade de
ocorrncia muito restrita, o deslocamento de moinhos na frase.
Um outro aspecto semntico-sinttico revelado pela propriedade
do deslocamento que, alm de o movimento no interior da frase ser
feito pelo sintagma na ntegra, constatamos a fi xao interna da ordem
dos constituintes sintagmticos. Assim, por exemplo, alm de guas
passadas somente poder se reordenar em bloco, no podemos alterar
a ordem de seus constituintes internos, como em passadas guas, sob
pena de estarmos construindo um novo sintagma, distinto do original na
forma e no contedo. O mesmo se pode dizer em relao a no movem.
Tal caracterstica ratifi ca a interpretao do sintagma como o verdadeiro
objeto da sintaxe.
2) Substituio: o sintagma uma s estrutura de sentido e de
forma, ento pode ser substitudo por uma unidade simples, como um
pronome ou sinnimo. Para ilustrar essa propriedade, vejamos nova-
mente a frase (3) e as possibilidades de substituio de trs constituintes
sintagmticos, sugeridas em (13):
(3) Joo/seguiu [Pedro]/na rua.
(13) Ele/seguiu-o/l.
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Como vimos, por intermdio de pronomes, realizam-se as trs
substituies nos sintagmas de (3): o pronome reto ele ocupa o lugar
de Joo; o pronome oblquo o substitui Pedro, e o pronome l fi ca na
posio e funo do adjunto adverbial de lugar na rua. Para chegar ao
sentido dos pronomes ele, o e l, ou seja, para entendermos a que termos
esses itens se referem, necessrio observar em que contexto (13) est
inserido. Para tanto, o conceito de A N F O R A fundamental.
Como vemos pela defi nio de anfora, os pronomes ilustrados em
(13) so de fato recursos anafricos, j que esto no lugar de outros nomes,
fazendo referncia a constituintes que apareceram antes no texto.
Portanto, as operaes de substituio do tipo pronominal, como a
que apresentamos em (13), requerem, para o entendimento do contedo
veiculado, o auxlio ao contexto discursivo, a fi m de que se estabeleam
as relaes textuais, principalmente as anafricas, necessrias identi-
fi cao dos referentes indicados por ele, o e l. Em outras palavras, a
frase (13) est fortemente vinculada ao contexto de sua produo, de tal
modo que, para sabermos o contedo de ele, o e l, devemos recorrer
ao contexto maior em que a frase est inserida.
Nos procedimentos de substituio em (3), devemos destacar ainda
o fato de Pedro como sintagma de nvel hierrquico mais baixo, consti-
tuinte de sintagma mais amplo, o verbo seguiu admitir a substituio.
Tal fenmeno comprova sua relativa autonomia em relao a seguiu (V).
3) Coordenao: o sintagma admite a interposio de um conectivo
coordenativo entre seus constituintes, de modo a se estabelecer equiva-
lncia funcional, ou coordenao, desses elementos. Retomemos (3) e,
a seguir, vejamos como o processo de coordenao pode fornecer pistas
para a identifi cao de sintagmas:
(3) Joo/seguiu [Pedro]/na rua.
(14) Joo e Marcos/viram e seguiram/[Pedro e Jos]/na rua e no
viaduto.
A frase (14) ilustra um tipo de expanso de (3) por intermdio
da coordenao articulada no interior dos sintagmas. Assim, dizemos
que as funes sintticas cumpridas pelos constituintes Joo, seguiu,
AN F O R A
Mecanismo sinttico que utiliza um termo para fazer referncia
a um outro termo anterior que ocorre na mesma frase ou
texto.
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Pedro e na rua em (3) se apresentam, em (14), sob forma dos respectivos
compostos Joo e Marcos, viram e seguiram, Pedro e Jos, na rua e no
viaduto. O fato de esse teste ser possvel em quatro ocasies indica que
temos, em (3), quatro sintagmas.
Portanto, o deslocamento, a substituio e a coordenao consti-
tuem no s as propriedades do sintagma como tambm procedimentos
que podemos e devemos utilizar para identifi car e distinguir, numa frase
qualquer da lngua portuguesa, suas unidades sintticas fundamentais
os sintagmas. Na prxima subseo, ento, veremos a classifi cao dos
sintagmas segundo sua composio interna.
Atende aos Objetivos 2 e 3
2. Observe o provrbio a seguir, j separado por sintagmas.
Gato escaldado/tem [medo]/de gua fria.
Agora, vamos testar, a partir das propriedades do sintagma apresentadas nesta aula, se, de fato, estamos diante de trs sintagmas. Para tanto, voc dever rearrumar os sintagmas, criando trs novas ordenaes que ilustrem cada uma das seguintes propriedades:
a) Deslocamento:
b) Substituio:
c) Coordenao:
RESPOSTA COMENTADA
H algumas sugestes possveis, que atendem ao comando da
Atividade 2. Entre essas possveis respostas, destacamos as que
esto arroladas:
a) Deslocamento:
Tem medo de gua fria gato escaldado.
De gua fria tem medo gato escaldado.
b) Substituio:
Ele tem medo de gua fria.
Gato escaldado tem medo dela.
c) Coordenao:
Gato escaldado e esperto tem medo de gua fria.
Gato escaldado tem medo e pnico de gua fria.
Gato escaldado tem medo de gua fria e suja.
ATIVIDADE
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Classifi cao
Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/a/al/alesia17/876083_notepad_with_old_pen.jpg
De acordo com Azeredo (1995, p. 43), so cinco os tipos de sin-
tagma que podemos identifi car no portugus. Tal classifi cao depende
da composio interna dessas unidades. Trataremos, a seguir, de cada
uma delas:
SINTAGMA NOMINAL (SN)
Como o nome j indica, esse tipo de sintagma tem como determi-
nado, ou ncleo, um substantivo comum, que poder estar acompanhado
de determinantes. Os determinantes que costumam anteceder o ncleo
do SN so basicamente artigos e pronomes (demonstrativos, indefi nidos,
possessivos, entre outros). Os determinantes que sucedem o ncleo do
SN so nomeados mais especifi camente de modifi cadores e cumprem
a tarefa de qualifi car o ncleo referido. Em geral, os determinantes de
um SN organizam-se tambm em sintagmas, subordinados ao ncleo do
SN. Hierarquicamente, portanto, o substantivo tem o principal papel
no SN, enquanto os demais constituintes cumprem funo secundria.
Nas frases j vistas, podemos levantar alguns exemplos de SN,
como a galinha e o papo, em (1), em que os determinantes a e o pre-
cedem os ncleos nominais galinha e papo, respectivamente, e guas
passadas, em (2), no qual o determinante modifi cador passadas sucede
o ncleo guas.
Lavi
nia
Mar
in
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Algumas funes sintticas so cumpridas especifi ca e exclusi-
vamente por SN. Em (1), De gro em gro/a galinha/enche [o papo], o
SN a galinha cumpre a funo de sujeito. Assim como em (2), guas
passadas/no movem [moinhos], o SN guas passadas tambm cumpre
a funo de sujeito. O SN pode tambm cumprir a funo de objeto
direto, como em (1) acima: vemos que o papo o objeto direto do verbo
transitivo direto enche. Assim, o papo integra um sintagma maior, como
o predicado ou sintagma verbal (que estudaremos no prximo tpico).
Os conceitos de sujeito, predicado, objeto e outros sero explanados ao longo dos prximos captulos de nosso curso.
Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/j/jl/jliudesign/1310209_bluepaperclip.jpg
Jerr
y Li
u
SINTAGMA VERBAL (SV)
Trata-se de uma unidade caracterizada pela presena obrigatria
do verbo. Essa unidade tem a funo sinttica especfi ca de predicado.
Em geral, o SV constitudo por outros sintagmas, que atuam como
determinantes dentro do SV.
Nas frases (2) guas passadas/no movem [moinhos] e (3) Joo
seguiu Pedro na rua, aqui tratadas, podemos identifi car, respectivamente,
os seguintes sintagmas verbais, que atuam como predicado: no movem
moinhos em (2), e seguiu Pedro na rua em (3).
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Como mencionamos, nas unidades exemplifi cadas no pargrafo
anterior, moinhos, Pedro e na rua cumprem funo secundria, como
determinantes dentro do SV, uma vez que atuam na complementao
do sentido verbal (moinhos, Pedro) ou na atribuio de sentido espacial
(na rua). No cumprimento dessa funo perifrica, esses constituintes se
organizam internamente tambm como sintagmas. justamente por esse
motivo que possvel proceder aos exerccios de deslocamento, substi-
tuio e coordenao dessas unidades, como visto anteriormente, pois,
embora participem de uma estrutura maior, dentro do SV, encontram-se
a internamente organizados tambm como sintagmas, mesmo em nvel
mais baixo de importncia.
SINTAGMA ADJETIVO (SAdj)
Neste tipo de sintagma, o ncleo ou determinado um adjetivo,
que pode estar acompanhado de determinante, como artigo, pronome
ou numeral, por exemplo.
Na hierarquia que caracteriza as relaes sintagmticas, o SAdj
participa da organizao do SN, como parte perifrica deste, atuando
na condio de estratgia qualifi cadora. Por qualifi car o ncleo do SN
que o precede ou sucede na organizao da frase, o SAdj concorda em
gnero e nmero com esse ncleo.
De acordo com a sintaxe mais regular da lngua portuguesa, o SAdj
tende a se colocar aps o ncleo do SN, no que chamamos ordenao
cannica. Numa outra alternativa, mais rara e desencadeadora de efeitos
de sentido especfi cos, o SAdj pode aparecer frente do ncleo do SN.
Em geral, a vinculao entre esse ncleo e o SAdj to forte que no se
admite alterao nas posies desses constituintes.
Podemos ilustrar essa vinculao com o SN guas passadas, em
(2), em que passadas (SAdj), tambm no feminino e no plural, concorda
com o ncleo guas, funcionando como seu determinante. Seria possvel
dizermos passadas guas? Talvez sim, mas essa possibilidade seria pouco
provvel. Ademais, a anteposio do SAdj passadas criaria alguma altera-
o de sentido. guas passadas so guas que passaram, correspondentes
a antigas, por exemplo; por outro lado, passadas guas destaca o valor
verbal do particpio passadas, que poderia ser traduzido por quando (ou
se) as guas passarem. Considerao semelhante podemos fazer a partir
de outros arranjos sintticos correspondentes que temos em portugus,
como homem pobre/pobre homem, mulher grande/grande mulher, co
amigo/amigo co, e assim por diante.
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2 6 C E D E R J
Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto
No caso especfi co do SAdj, em geral, essa ordem cannica, que
aps o ncleo do SN, tende a expressar contedo mais referencial e
objetivo (guas passadas, homem pobre, mulher grande, co amigo),
enquanto a anteposio ao ncleo do SN cria efeitos mais subjetivos
(passadas guas, pobre homem, grande mulher, amigo co). Trata-se,
portanto, no s de uma questo de estruturao da frase, mas de con-
tedos distintos. Esse pequeno teste demonstra como forte a relao
entre semntica e sintaxe, ou seja, como o sentido veiculado afetado
pela ordenao dos constituintes.
SINTAGMA ADVERBIAL (SAdv)
O sintagma adverbial, como o nome indica, tem como determi-
nado um advrbio. Via de regra, o sentido veiculado pelo SAdv incide
sobre o verbo da frase. Dessa forma, assim como o SAdj se subordina
ao ncleo do SN, o SAdv se subordina ao ncleo do SV. Ambos SAdj e
SAdv ocupam posies e articulam sentidos subsidirios nos sintagmas
maiores que integram.
O SAdv funciona na expresso de uma srie de circunstncias
referentes ao verbal, como o local, o tempo, o modo, o meio, a
intensidade, entre outras de menor frequncia. Devido a seu carter
marginal em relao ao SV, j que funciona como elemento perifrico,
atribuidor de circunstncias do SV, o lugar cannico do SAdv na frase
na parte fi nal, aps o ncleo do SV e seus complementos
Tomemos a frase (3) como exemplo. Podemos, por um processo
de expanso de sentido e de forma, ampli-la para a (15) com a pos-
posio de uma srie de SAdv, que vo concorrer para a expresso de
variados sentidos da ao verbal:
(3) Joo seguiu Pedro na rua.
(15) Joo seguiu Pedro na rua atentamente ontem.
Em (15), o que fi zemos foi, ao fi nal da frase, justapor a na rua
mais duas circunstncias ao ato praticado por Joo, respectivamente, o
modo (atentamente) e o tempo (ontem). Essa srie de trs constituintes
pode ser interpretada como um s SAdv, composto por trs ncleos,
ou ainda, com base nas distintas circunstncias articuladas, podemos
admitir que cada qual representa um SAdv especfi co.
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C E D E R J 2 7
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LA 1
Quando enfatizamos o contedo expresso pelo SAdv em uma
frase, o sintagma passa a ocupar posio inicial ou intermediria. Na
modalidade oral, essa antecipao ou intercalao acompanhada por
pausa; na escrita, costumamos usar vrgula para tal marcao. Com
base em (15), so muitas as possibilidades de (re)ordenao dos SAdv.
Vamos ilustrar apenas duas:
(16) Atentamente, Joo seguiu Pedro na rua ontem.
(17) Ontem, Joo seguiu Pedro na rua atentamente.
O que motiva a ordem dos sintagmas em (16) e (17) o tipo
de destaque que se faz ou no das circunstncias expressas. Em (16),
enfatiza-se o modo da ao; em (17), o tempo. Como j referimos ante-
riormente, no estamos discutindo acerca de arranjos sintticos certos
ou errados, mas tratando da adequao das frases e suas diversas
opes de ordenao e dos efeitos dessas opes quando so usadas.
SINTAGMA PREPOSICIONAL (SPrep)
Tambm chamado de sintagma preposicionado, esse tipo de uni-
dade constitudo a partir de dois arranjos distintos: preposio + SN
ou preposio + SAdv. Tal como o SAdj e o SAdv, o SPrep ocupa posio
hierrquica inferior em relao ao SN e ao SV, uma vez que funciona
como determinante, ou subordinado, destas unidades maiores.
Ao lado do ncleo do SN e do ncleo do SV, o SPrep pode cons-
tituir um complemento ou um adendo a esse ncleo. Na funo de
adendo, o SPrep cumpre papel atributivo, atuando como um adjetivo
ou circunstancial. Como so diversas as preposies e sua frequncia
grande, os SPreps constituem um tipo de unidade muito usada na sintaxe
do portugus.
Em (1), a unidade inicial de gro em gro um SPrep de valor
adverbial; em (3) e (4), o SPrep na rua tambm atua com funo adverbial.
No interior do predicado, o SPrep tende a complementar determi-
nados verbos, como por exemplo gostar e precisar, que requerem a pos-
posio de unidades do tipo de chocolate e de dinheiro, respectivamente.
Assim, o SPrep pode atuar como um adjunto adverbial, como de gro
em gro ou na rua, ou como um complemento verbal, como de chocolate
e de dinheiro. Pelo que estamos vendo, o SPrep um tipo de formao
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2 8 C E D E R J
Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto
iniciada por preposio, podendo cumprir funes distintas na orao. Por
causa dessa possibilidade, o SPrep pode tambm funcionar, atuar como
um SAdv, tal como de gro em gro e na rua; nesses casos, alm de SPrep,
pois se iniciam por preposio, essas expresses so tambm SAdv, pois
se referem s circunstncias de modo e lugar, respectivamente.
Atende ao Objetivo 4
3. Os versos a seguir foram extrados da msica Eu te devoro, de Djavan. Classifi que os sintagmas destacados em SN, SV, SAdj, SAdv ou SPrep:
Teus sinais ( )
Me confundem da cabea aos ps ( )
Mas por dentro ( ) eu te devoro ( )
Teu olhar ( )
No me diz exato ( ) quem tu s
Mesmo assim eu te devoro.
RESPOSTA COMENTADA
Na msica Eu te devoro, o autor utiliza-se de distintos sintagmas
para compor a letra. Esses sintagmas tm estrutura e caracterizao
diversifi cadas. Assim, temos: Teus sinais (SN)/Me confundem da
cabea aos ps (SPrep)/Mas por dentro (SPrep) eu te devoro
(SV)/Teu olhar (SN)/No me diz exato (SV) quem tu s/Mesmo
assim eu te devoro.
ATIVIDADE
CONCLUSO
Como tivemos a oportunidade de observar, a nossa lngua
estrutura-se sintaticamente na forma de sintagmas. Assim, quando nos
comunicamos, seja na forma oral seja na escrita, estamos produzindo
textos que refl etem a organizao estrutural apresentada ao longo desta
primeira aula, ou seja, utilizamos SNs, SVs, SAdjs, SAdvs e SPreps. Esse
uso geralmente costuma ser natural, uma vez que o usurio da lngua
utiliza esses elementos bsicos sem ter controle sobre como so classifi -
cados nas gramticas ou manuais da tradio gramatical.
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LA 1
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 2, 3 e 4
Leia as quatro primeiras estrofes do poema, de Mara Frantz:
Poema pontual
O ponto de nibus
sempre lotado;
O ponto da agulha
sempre enrolado;
O ponto do servio
sempre atrasado;
O ponto de histria
nunca lembrado; (...)
a) A constituio sinttica das estrofes revela uma forma mais ou menos fi xa ao longo
dos versos que compem o poema. Em outras palavras, apresenta uma estrutura
paralelstica, em que todos os versos so iniciados e terminados da mesma forma.
Podemos afi rmar que h, em cada estrofe, a presena de pelo menos um SN? Por qu?
b) Observe a primeira estrofe do poema. Voc capaz de localizar a existncia de
um SAdj? Comprove sua resposta adotando as propriedades do deslocamento, da
substituio e da coordenao.
c) Observe que a palavra ponto apresenta diferentes conotaes ao longo das
quatro estrofes, ou seja, possui diferentes sentidos. correto afi rmarmos que, por
conta dessa constatao, a sua classifi cao sinttica varia? Por qu?
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3 0 C E D E R J
Portugus II | Introduo ao estudo do sintagma: sintaxe defi nio e objeto
RESPOSTA COMENTADA
a) Sim, em todas as estrofes destacamos a existncia de pelo menos um SN. O
primeiro verso de cada estrofe sempre composto por um SN, j que possui como
determinado, como ncleo, um substantivo comum, ponto, que, no poema,
acompanhado por determinantes diversos.
b) Na primeira estrofe, assim como nas demais estrofes, detectamos a existncia
de um SAdj, visto que o SN sempre caracterizado por um adjetivo presente no
segundo verso. Pela propriedade do deslocamento, por exemplo, poderamos
considerar (sempre) lotado o ponto de nibus. Pela propriedade da substituio,
haveria a possibilidade de termos o ponto de nibus sempre vazio. Por fi m, pela
propriedade sinttica da coordenao, seria possvel uma estrofe como o ponto de
nibus sempre lotado e desprotegido. Essas so algumas possibilidades de testes.
c) No. Apesar de semntica (o estudo do signifi cado) e sintaxe (o estudo dos sintag-
mas) apresentarem vez ou outra algumas interpenetraes, neste caso, o signifi cado
da palavra ponto no interfere em nossa anlise. Embora com sentidos distintos, em
todas as suas ocorrncias, a cada estrofe, a palavra ponto integra o ncleo do SN.
R E S U M O
A sintaxe algo muito simples e fundamental em nosso cotidiano, visto que
por meio dela que estruturamos o nosso discurso falado ou escrito. Comumente
atribumos o termo sintaxe parte da gramtica que se dedica ao estudo do sin-
tagma, ou seja, dois ou mais elementos consecutivos, um dos quais o determi-
nado (principal) e o outro o determinante (subordinado). Azeredo (1995) prope
a existncia de algumas propriedades para que consideremos um elemento como
sintagma. Entre elas, destacam-se: a) deslocamento (o sintagma se desloca na frase
como um todo, para posies iniciais, mediais ou fi nais); b) substituio (o sintagma
pode ser substitudo por uma unidade simples, como pronome ou sinnimo); c)
coordenao (o sintagma admite a interposio de um conectivo coordenativo
entre seus constituintes, de modo a se estabelecer equivalncia funcional). Por
fi m, admitimos a existncia de, pelo menos, cinco tipos de sintagmas: a) sintag-
ma nominal (SN) tem como determinado, ou ncleo, um substantivo comum;
b) sintagma verbal (SV) trata-se de uma unidade caracterizada pela presena
obrigatria do verbo; c) sintagma adjetivo (SAdj) o ncleo ou determinado um
adjetivo; d) sintagma adverbial (Sadv) tem como determinado um advrbio; e)
sintagma preposicionado (SPrep) unidade constituda a partir de dois arranjos
distintos: preposio + SN ou preposio + SAdv.
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C E D E R J 3 1
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LEITURAS RECOMENDADAS
CASTILHO, Ataliba T. Gramtica do portugus brasileiro. So Paulo: Contexto, 2010.
MATEUS, Maria Helena Mira et al. Gramtica da lngua portuguesa. Lisboa:
Caminho, 2003.
INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
Na prxima aula, vamos retomar o conceito de sintaxe e analisar os diferentes
conceitos de frase, orao e perodo. At l!
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objetivos
Metas da aula
Apresentar e analisar os diferentes conceitos de frase, orao e perodo.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
1. caracterizar diferentes tipos de frase, a partir de distintos gramticos;
2. reconhecer a estrutura da orao;
3. diferenciar frase, orao e perodo.
Frase, orao e perodoIvo da Costa do Rosrio
Mariangela Rios de Oliveira2AULA
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3 4 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Se voc passasse por uma rua e ouvisse Socorro!, com certeza teria alguma
ideia do que estaria acontecendo.
INTRODUO
Com apenas uma palavra, e mais nada, algum poderia comunicar um assalto,
uma queda repentina, enfi m, uma situao de risco ou apuro. Da mesma
forma, uma placa com a inscrio Silncio, num hospital, por exemplo,
capaz de comunicar o que se espera ou quer neste lugar.
Nas duas situaes aqui ilustradas, demonstramos que signifi cados comple-
tos podem ser transmitidos com apenas uma palavra, que as pessoas so
capazes de entender mensagens e ser entendidas, em certas ocasies, por
meio da declarao de um s termo. Nesses casos, como em Socorro! e
Silncio, dizemos que se trata de frases da lngua portuguesa, porm no
de oraes ou perodos.
E por que no? Esto curiosos? exatamente desses constituintes frase,
orao e perodo que trataremos nesta aula. Vamos ver como se conceituam
e quais os pontos que unem e separam uns dos outros.
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LA 2
Nesta aula, vamos nos dedicar defi nio e descrio do que chamamos frase,
orao e perodo. Trataremos das correspondncias e distines entre esses
trs conceitos, apresentando os padres bsicos em que ocorrem na lngua
portuguesa e discutindo suas funes. De fato, observamos correspondncias
entre esses termos, mas cada um tem sua prpria defi nio e identidade.
Nas gramticas e compndios de lngua portuguesa, encontramos uma
srie de expresses que procuram conceituar e descrever os trs rtulos,
em geral tratados segundo a ordenao que d ttulo a esta aula frase,
orao e perodo. Por isso, organizamos a aula seguindo essa ordenao,
trabalhando primeiro com a caracterizao da frase, passando ao tratamento
da orao e chegando abordagem do perodo.
DEFINIO E CLASSIFICAO DE FRASE
Comecemos, portanto, com o conceito de frase. No decorrer
desta aula, utilizaremos as obras indicadas no quadro a seguir como base
para nossos estudos. No levantamento da defi nio de frase, podemos
observar a abrangncia com que concebida:
Autores Conceito de frase
Melo(2001, p. 8.)
Palavra ou conjunto de palavras que formam sentido completo.
Luft(2002, p. 11.)
A menor unidade autnoma da comunicao. Autonomia no pla-no signifi cativo uma inteno comunicativa defi nida e no plano
signifi cante uma linha completa de entoao.
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3 6 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Cunha e Cintra(2001, p. 119.)
um enunciado de sentido completo, a unidade mnima de comunicao. A frase sempre acompanhada de uma melodia, de
uma entoao.
Rocha Lima(1999, p. 232.)
uma unidade verbal com sentido completo e caracterizada por entoao tpica: um todo signifi cativo, por intermdio do qual o
homem exprime seu pensamento e/ou sentimento. Pode ser brevs-sima, construda s vezes por uma s palavra, ou longa e acidenta-
da, englobando vrios e complexos elementos.
Kury(2003, p. 13.)
a unidade de comunicao entre falante e ouvinte, entre escri-tor e leitor.
Com base no quadro apresentado, podemos observar que, embora
vastas e um tanto distintas, muitas defi nies tm algo em comum a
concepo da frase como uma declarao completa e acabada, capaz,
por si s, de estabelecer comunicao.
Ainda de acordo com o quadro, a extenso e a complexidade de
uma frase podem variar bastante. Enunciados como Ateno! ou Silncio!
so considerados exemplos de frase do portugus, uma vez que, sozinhos,
podem funcionar na comunicao, como nas ilustraes a seguir:
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C E D E R J 3 7
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LA 2
Esse tipo de frase, composta por um nico constituinte, encontra-
se fortemente vinculada situao em que usada. o que ocorre na
ilustrao a seguir, em que a cena, por si, faz com que Fogo! funcione
como frase, numa declarao de sentido completo.
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3 8 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Por outro lado, sintagmas mais amplos so tambm classifi cados
como frase, por conta da completude de sentido que os marca.
Assim, consideradas suas distines e de acordo com as defi nies
apresentadas inicialmente, classifi camos como frases da lngua tanto
Fogo! quanto O prdio est em chamas!.
Em termos de organizao interna, vamos apresentar para vocs
duas classifi caes de padres frasais. Comeamos pela mais simples
e geral, que encontrada basicamente em todos os manuais de lngua
portuguesa e que divide os padres referidos em trs tipos:
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LA 2
a) Interjeio: considerada um tipo rudimentar de frase (CARO-
NE, 1991, p. 47), vista como constituinte dotado de sentido, marcada
por entoao e fortemente vinculada ao contexto situacional em que
produzida. So exemplos, entre outras, desse tipo frasal: Epa! Ui! e Hein?.
Flvia de Barros Carone doutora em Letras, professo-ra de Filologia da Universida-de de So Paulo, pesquisado-ra da Fundao Carlos Chagas e autora de diversos livros na rea de sintaxe e morfossin-taxe. Entre eles, indicamos o livro Morfossintaxe, excelen-te para estudo e pesquisa.
b) Frase nominal: a frase sem verbo, que tem como ncleo um
nome de natureza substantiva, adjetiva ou adverbial. So exemplos de frases
nominais expresses, como: Que beleza! Perto dos olhos, longe do corao.
Casa de ferreiro, espeto de pau.
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4 0 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
c) Frase verbal: a frase constituda de verbo, tambm chamada
orao. Trata-se do tipo frasal mais frequente na lngua portuguesa.
Incluem-se nesse tipo de frase, que ser tratado com mais detalhes a
seguir, enunciados como: Voc est uma beleza! Que tipo de espeto o
ferreiro usa em sua casa?
Um trao caracterstico da frase, que concorre para a totalidade de
sentido que declaramos, a marcao E N T O A C I O N A L que a acompanha,
tanto na modalidade escrita quanto na modalidade falada. Assim, no
texto escrito, devemos regularmente iniciar a frase com letra maiscula
e fi nalizar com ponto. Na modalidade falada, a pausa maior ou menor
costuma marcar o incio e o trmino da frase; essa pausa da fala corres-
ponderia, na escrita, vrgula (pausa menor) e ao ponto (pausa maior).
O segundo tipo de classifi cao de padres frasais que passamos
a apresentar agora baseia-se em Rocha Lima (1999, p. 233). Na pro-
posta desse autor, temos cinco tipos de frase, caracterizados por marcas
entoacionais especfi cas. Os tipos dividem-se em:
a) Declarativa: a frase mais comum, usada para anunciarmos um
fato, darmos uma notcia, enfi m, fazermos asseres. No texto escrito,
encerrada com ponto fi nal, como em:
(1) Ele conhece o caminho do sucesso.
(2) O trabalho est perfeito.
b) Interrogativa: utilizada para formularmos perguntas. fi nali-
zada no texto escrito pelo ponto de interrogao:
(3) Ele conhece o caminho do sucesso?
(4) O que perfeito?
Pelos exemplos apresentados em (1) e (3), podemos observar
que, s vezes, a mudana entoacional, com a troca do ponto fi nal pelo
de interrogao, pode ser o nico trao a distinguir uma declarao de
uma interrogao em portugus. Por esse motivo, na produo escrita,
fundamental o conhecimento adequado do uso dos sinais de pontuao,
uma vez que so responsveis pela articulao de distintos sentidos.
A comparao de (3) e (4), por outro lado, nos permite outra
constatao acerca das frases interrogativas do portugus. Conforme
Perini (1995, p. 64), em (3) temos uma interrogativa fechada, j que
a resposta questo absoluta sim ou no, elaborada a partir do
contedo de toda a orao.
EN T O A O ou entonao pode ser defi nida como a variao na altura da voz, durante a fala (TRASK, 2006). A altura da nossa voz sobe e desce de maneira estruturada em cada enunciado. esse movimento que denominamos o padro entonacional ou marcao entoa-cional.
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LA 2
O professor. Mrio Alberto Perini possui graduao em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (1967) e doutorado pela University of Texas (1974). Atualmente professor voluntrio da Universidade Federal de Minas Gerais, tendo sido professor da UFMG, na PUC-Minas, na Unicamp e nas universidade de Mississipi e Illinois, nos EUA.
J em (4), de acordo com o mesmo autor, teramos uma inter-
rogativa aberta, cuja resposta incide sobre um dos termos da orao,
no caso o pronome o que.
c) Imperativa: tem a funo de chamar a ateno, de convocar, de
incitar algum a tomar ou no uma atitude. Em geral, usa-se na escrita
com ponto de exclamao:
(5) Aprende o caminho!
(6) Seja perfeito!
d) Exclamativa: expressa uma emoo ou condio interior
(alegria, raiva, medo, repulsa, etc.). Como a frase imperativa, tambm
costuma vir fi nalizada, na modalidade escrita, por ponto de exclamao:
(7) Que sucesso!
(8) Quanta perfeio!
e) Indicativa: sintetiza um pensamento, como se fosse uma decla-
rao padro, um ritual da comunidade lingustica para certas ocasies.
Por estar muito vinculada ao contexto de sua produo, costuma ter
pequena extenso:
(9) Boa sorte! (para quem vai fazer uma prova)
(10) Tudo bem? (saudao ao passar por um conhecido)
Fonte: http://img1.orkut.com/ima-ges/mittel/18/4917818.jpg
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4 2 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Ainda de acordo com Rocha Lima (1999, p. 234), as frases do
portugus podem se classifi car tambm em afi rmativas ou negativas.
Assim, por exemplo, em relao s frases declarativas afi rmativas (1) e
(2), teramos, respectivamente, as correspondentes negativas:
(11) Ele no conhece o caminho do sucesso.
(12) O trabalho no est perfeito.
Para conferir sentido negativo em (11) e (12), foi utilizado o mesmo
recurso sinttico a anteposio do advrbio no ao verbo. Trata-se do
modo padro com que expressamos a negao em portugus. Na verdade,
as frases negativas tm ocorrncia reduzida em nossa prtica lingustica;
nas interaes, as pessoas tendem a evitar o uso do no.
Uma das razes, de cunho sociocultural, para essa pouca frequn-
cia pode ser atribuda ao peso que a negao tem, considerada muitas
vezes um tipo de sentido muito forte, deselegante ou sem polidez. A frase
(12), por exemplo, conforme a situao, pode expressar censura ou crti-
ca; nesse caso, a opo mais neutra, amena ou polida poderia ser talvez
O trabalho ainda precisa melhorar ou O trabalho pode ser aprimorado.
Uma outra motivao, agora ligada a fatores cognitivos, seria a
complexidade da negativa, que, para ser processada, supe o conhecimen-
to da afi rmativa. Esse pressuposto requer maior esforo do produtor e do
receptor para que se estabelea a comunicao. Assim, ainda tomando
a frase (12) como exemplo, seu processamento passa necessariamente
pela afi rmativa correspondente O trabalho est perfeito.
Excelente dica de gramtica para voc, aluno do segundo perodo do curso de Letras, a Gramtica normativa da Lngua Portuguesa (2010), j citada nesta aula, do autor Carlos Henrique da Rocha Lima, conhecido como professor Rocha Lima. Nascido no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1915 e morto tambm no Rio em 22 de junho de 1991, Rocha Lima foi professor, gramtico, fillogo, ensasta e linguista brasileiro. Esta edio, revista segundo o novo Acordo Orto-grfi co, a 48 edio dessa gramtica (a primeira foi em 1957). Leitura recomendada!
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LA 2
Conforme estamos verifi cando, a concepo de frase ampla
e diversa. No fragmento a seguir, o poeta Mario Quintana brinca
com tal concepo, propondo um jogo a partir da marca de unidade e
abrangncia que caracteriza esse termo:
(13)
(...)
O leitor ideal para o cronista seria aquele a quem bastasse uma frase.
Uma frase? Que digo? Uma palavra!
O cronista escolheria a palavra do dia: rvore, por exemplo,
ou Menina.
Escreveria essa palavra bem no meio da pgina, com espao em branco
para todos os lados, como no campo aberto aos devaneios do leitor.
Imaginem s uma meninazinha solta no meio da pgina.
Sem mais nada.
(...)
(QUINTANA, 1988, p. 83.)
No recorte textual (13), para tratar da interao entre o produtor
(cronista) e o receptor (leitor), o autor prope que esse dilogo seja feito
por intermdio de um recurso lingustico enxuto, simples, porm pleno de
sentido a frase. Para tanto, explorando as possibilidades que a literatura
oferece, entre outros recursos, Quintana usa trs frases curtas, duas nomi-
nais (Uma frase? Uma palavra?) e uma verbal (Que digo?). Na sequncia, a
partir de Menina, continua a jogar com a completude frasal e sua vinculao
ao contexto de produo (que podemos relacionar expresso usada pelo
autor campo aberto aos devaneios do leitor). As frases nominais propostas
pelo autor rvore e Menina, e o comentrio posterior, com espao em
branco para todos os lados e sem mais nada, guardam estreita relao com
as defi nies de frase apresentadas pelos gramticos no incio deste captulo,
conforme se encontram no quadro que inicia a primeira seo desta aula.
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4 4 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Nesta seo, vimos ento as diferentes concepes do termo frase
segundo distintos autores, e tambm dois critrios de classifi cao de
frase uma mais geral e simples, que divide as frases em trs categorias,
e outro mais especfi co e complexo, baseado em Rocha Lima (1999).
Na prxima seo, vamos conhecer a estrutura da orao, a chamada
frase verbal, em lngua portuguesa. Esto prontos?
Atende ao Objetivo 1
1. Primeiramente, observe algumas frases de caminho, extradas do site http://webcache.googleusercontent.com:
ATIVIDADE
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LA 2
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4 6 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
a) Como vimos pelo primeiro critrio de classifi cao de frases que apre-sentamos, o mais geral e simples, existem trs padres frasais (interjeies, frases verbais e frases nominais). De que forma as frases anteriores podem ser classifi cadas?
b) Entre as frases apresentadas, h alguma que pode ser classifi cada como imperativa, conforme a classifi cao de Rocha Lima (1999)? Justifi que sua resposta.
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LA 2
Agora analise o pargrafo a seguir, em que a frase fi nal encontra-se des-tacada:
Para evitar arrependimento, levei Padilha para a cidade, vigiei-o durante a
noite. No outro dia, cedo, ele meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura.
Deduzi a dvida, os juros, o preo da casa, e entreguei-lhe sete contos e
quinhentos e cinquenta mil-ris. No tive remorsos (RAMOS, 1978, p. 24).
c) Como se classifi ca esse tipo de frase, de acordo com Rocha Lima (1999)?
d) Por que representa um tipo de frase de menor frequncia no uso lingustico?
RESPOSTA COMENTADA
a) As frases de caminho em destaque podem ser consideradas
frases verbais porque possuem verbo, ou seja, podem ser conside-
radas oraes.
b) Sim, a frase n 1 (Seja paciente na estrada para no ser paciente
no hospital) pode ser considerada imperativa, nos termos de Rocha
Lima (1999), porque tem a funo de chamar a ateno, de incitar
a uma deciso.
c) A frase em destaque declarativa negativa, j que h um item
negativo em sua constituio, ou seja, o advrbio no.
d) A menor ocorrncia desse tipo frasal deve-se ao fato de os usurios
tenderem a fazer declaraes afi rmativas, evitando o maior uso de
negativas, seja por polidez, seja por maior facilidade de processamento.
ESTRUTURA ORACIONAL
De acordo com Azeredo (1995, p. 30), a orao apresenta nor-
malmente uma estrutura bimembre (...) centrada em um verbo com o
qual se faz uma declarao (...) sobre um dado tema. O carter dual da
orao tambm referido por Rocha Lima (1999, p. 234), que a defi ne
como a frase que se biparte normalmente em sujeito e predicado.
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4 8 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Ambos os autores ressaltam o sujeito e o predicado, ou o tema
e a declarao, como os componentes bsicos da unidade a que cha-
mamos orao. A ressalva, por intermdio do advrbio normalmente,
se d por conta da possibilidade de haver orao sem sujeito, mas no
sem predicado.
Por essa razo, no h unanimidade entre os gramticos e estu-
diosos sobre os nveis hierrquicos da orao. Alguns, como Azeredo
(1995), consideram que o sintagma verbal (SV) o grande constituinte
oracional, fi cando o sujeito (SN) num plano mais baixo; outros, como
Cunha e Cintra (2001) e Kury (2003), veem a orao como uma unidade
de nvel superior, formada por duas estruturas de mesma hierarquia SN
e SV. Qual das interpretaes a correta? H alguma mais adequada?
Nossa resposta que, para fi ns de anlise sinttica do portugus, tudo
depende da concepo de orao que assumimos, da tomada de deciso
consciente sobre uma ou outra forma de entender esse tipo de construo.
Em termos de frequncia, podemos dizer que a orao do tipo
declarativo e afi rmativo o modo mais regular com que nos comunica-
mos, seja na modalidade falada, seja na escrita. Isso ocorre porque, em
nossas declaraes cotidianas, tendemos afi rmao, e no negao,
conforme j ressaltamos na seo anterior.
Com a estrofe a seguir, que abre o poema Aurora, exemplifi -
camos esse uso mais recorrente de oraes declarativas e afi rmativas:
(14)
O poeta ia bbado no bonde.
O dia nascia atrs dos quintais.
As penses alegres dormiam tristssimas.
As casas tambm iam bbadas.
(ANDRADE, 1978, p. 30.)
Com os quatro versos de (14), o poeta inaugura a descrio da
cena que vai retratar e que d ttulo a seu poema a Aurora. Para
tanto, faz uso de quatro frases representativas do padro mais frequente
da lngua; ele detalha, com frases verbais afi rmativas, os elementos que
compem o ambiente descrito o poeta, o dia, as penses e as casas.
Alm de serem organizados por frases verbais (oraes), decla-
rativas e afi rmativas, os versos de (14) ilustram ainda outra tendncia
da ordenao oracional em portugus a sequncia sujeito (ou tema) +
predicado (ou declarao). Assim, os elementos constitutivos do cenrio
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LA 2
descrito o poeta, o dia, as penses e as casas ocupam a posio ini-
cial de cada um dos quatro versos, na funo de sujeito, articulando os
temas contemplados pelo poeta em sua observao inicial da Aurora.
No esquema a seguir, ilustramos essa organizao oracional padro:
SN SV
sujeito (ou tema) predicado (ou declarao)
O poeta ia bbado no bonde.
O dia nascia atrs do quintais.
As penses alegres dormiam tristssimas.
As casas tambm iam bbadas.
Nessa seo, conhecemos a estrutura oracional do portugus,
que constituda com maior frequncia por frases verbais declarativas
e afi rmativas na ordem sujeito (ou tema) + predicado (ou declarao).
Na prxima seo, veremos como alguns autores conceituam
perodo e sua classifi cao em simples ou composto.
Atende ao Objetivo 2
2. Leia essa defi nio de alfabetizao, extrada da Wikipdia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o): A alfabetizao consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilizao como cdigo de comunicao. De um modo mais abrangente, a alfabetiza-o defi nida como um processo no qual o indivduo constri a gramtica e em suas variaes.
a. Quantas oraes h no texto?
b. Destaque o sujeito das oraes que compem o pequeno texto infor-mativo.
ATIVIDADE
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5 0 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
RESPOSTA COMENTADA
a. No texto, h trs oraes, visto que h trs enunciados organizados
em torno de um verbo, que so, respectivamente: consiste, , constri.
b. O sujeito da primeira orao A alfabetizao, que encabea
a frase. Na segunda frase, o sujeito da primeira orao a
alfabetizao, e o sujeito da segunda orao o indivduo.
CONCEITO E FUNO DO PERODO
Como declaramos no incio desta aula, os termos frase, orao e
perodo guardam distines e correspondncias. Do mesmo modo que a
orao representa um tipo de frase, a frase verbal, o perodo relaciona-se
concepo de orao; e os trs termos entre si tm zonas de interseo.
Segundo Kury (2003, p. 15), PERODO o enunciado, de sen-
tido pleno, constitudo de uma ou mais oraes, e terminado por uma
pausa bem defi nida. De acordo com o mesmo autor, na modalidade
escrita, essa pausa pode ser codifi cada por variadas marcaes, como
ponto (fi nal, de exclamao, de interrogao), reticncias, entre outras.
Conforme Cunha e Cintra (2001, p. 121), perodo se defi ne como
a frase organizada em orao ou oraes. Os autores, semelhana de
Kury, tambm destacam como o perodo deve terminar.
Em Azeredo (1995, p. 33), encontra-se que o perodo a maior
unidade da estrutura gramatical, aquela de maior extenso e comple-
xidade a que se pode chegar no nvel sinttico estrito. Por essa razo,
quando realizamos a anlise sinttica, em que os termos oracionais
so descritos, fi camos limitados ao perodo; dentro dessa entidade que
identifi camos e classifi camos os sintagmas da lngua portuguesa.
As defi nies aqui apresentadas destacam a completude do perodo
e suas possibilidades de organizao. O perodo formado por uma s
orao denominado simples, enquanto o composto pode ser constitudo
por duas ou mais oraes. Quando o perodo classifi cado como simples,
a orao que o constitui recebe o rtulo de absoluta. Portanto, a extenso
e a composio do perodo podem ser muito variadas. O que determina
essa medida so os propsitos comunicativos em jogo, os sentidos
articulados na interao entre dois ou mais indivduos.
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LA 2
Vejamos, a partir do fragmento (15), alguns modos de elaborao
de perodos:
(15) No fi m da tarde de 1 de fevereiro de 1908, o rei de Portugal,
D. Carlos I, fardado de generalssimo, desceu do vapor S. Lus
no Terreiro do Pao, em Lisboa. Passou a tropa em revista, confe-
riu a presena dos ministros, piscou para uma ou duas marquesas
de sua intimidade e subiu carruagem puxada por cavalos de
penacho. Com ele estavam sua mulher, dona Amlia de Orleans,
princesa da Frana, e os dois fi lhos, o prncipe herdeiro Lus Filipe
e o infante Manuel (CASTRO, 2005).
Com o trecho (15), Castro inicia sua obra, que se debrua sobre
a vida de Carmen Miranda, um dos maiores cones da cultura popular
brasileira (em que pese a Pequena Notvel ter nascido em Portugal, foi no
Brasil que cresceu e fi cou famosa, indo depois para os Estados Unidos).
Essa primeira passagem nos apresenta um pequeno relato sobre a famlia
real portuguesa, organizado a partir de trs perodos.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9d/Gangs_all_here_trailer.jpg
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5 2 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
O primeiro perodo simples, articulado em uma s orao, em
torno do verbo desceu. Nele, Castro abre a cena, com a apresentao,
respectivamente: a) do momento da enunciao (no fi m da tarde de 1
de fevereiro de 1908); b) do personagem principal do fragmento (o rei
de Portugal, D. Carlos I, fardado de generalssimo); c) da ao praticada
(desceu do vapor S. Lus); d) do local em que se desenrola a cena (no
Terreiro do Pao, em Lisboa).
Vamos ento, destacar esse primeiro perodo em (15):
(15)
No fi m da tarde de 1 de fevereiro de 1908, o rei de Portugal,
D. Carlos I, fardado de generalssimo, desceu do vapor S. Lus no
Terreiro do Pao, em Lisboa.
A partir dos conceitos j vistos neste captulo, podemos classifi car
o fragmento (15) como: a) uma frase, pela completude de sentido que
encerra; b) uma orao absoluta, por se organizar em torno de um verbo;
c) um perodo simples, pela declarao se fazer sob forma de orao
absoluta, entre pausas defi nidas.
Uma vez aberta a cena, o perodo seguinte em (15) j apresenta
distinta confi gurao interna:
(15)
Passou a tropa em revista, conferiu a presena dos ministros, pis-
cou para uma ou duas marquesas de sua intimidade e subiu carruagem
puxada por cavalos de penacho.
Em (15), temos um perodo composto por quatro oraes, ini-
ciadas, respectivamente, pelos verbos passou, conferiu, piscou e subiu,
sem sujeito expresso, todos no pretrito perfeito e ordenados conforme
a cronologia dos acontecimentos. Nesse fragmento, rompe-se a corres-
pondncia comentada em (15) entre frase, orao e perodo, pois em
(15) a orao absoluta equivale a um perodo simples e a uma frase. Em
(15), de modo distinto, as quatro oraes integram uma s unidade de
nvel superior um s perodo e uma s frase. Portanto, dizemos que
(15) uma frase e, ao mesmo tempo, um perodo composto, formado
por quatro oraes. Em termos semnticos, podemos afi rmar que uma
das motivaes para que Castro tenha organizado dessa forma o perodo
(15) seria a necessidade de apresentar, de forma contnua, objetiva e
dinmica, as aes praticadas pelo personagem principal.
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O perodo seguinte em (15) retoma a correspondncia observada
em (15):
(15)
Com ele estavam sua mulher, dona Amlia de Orleans, princesa da
Frana, e os dois fi lhos, o prncipe herdeiro Lus Filipe e o infante Manuel.
Tal como (15), no fragmento anterior ocorre um perodo sim-
ples, uma orao absoluta e uma frase, que tem no verbo estavam seu
eixo principal. Nesse trecho, no temos mais a dinamicidade das aes
verifi cada em (15), mas sim um comentrio descritivo sobre os acom-
panhantes do rei sua mulher e fi lhos.
CONCLUSO
Como vimos, os conceitos de frase, orao e perodo no so
tomados de maneira uniforme pelos estudiosos cujas obras analisamos
nesta aula. Por outro lado, possvel estabelecermos alguns pontos de
convergncia e chegarmos a uma defi nio razovel para cada conceito.
ATIVIDADE FINAL
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3
Leia o fragmento a seguir e faa o que se pede:
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5 4 C E D E R J
Portugus II | Frase, orao e perodo
Homem entra no apartamento. J passa da meia-noite. Atira-se numa
poltrona, ao lado do telefone. Liga o aparelho que gravou as chamadas
telefnicas durante sua ausncia. Ouve:
Al? Mrio? o Srgio. Olha, aquele negcio deu p. Doze milhes. S que
preciso de uma resposta sua hoje, antes das quatro da tarde. para pegar
ou largar. Me telefona. Tchau.
Ahn... Bom, aqui a... Puxa, no sei como falar com uma gravao. Aqui
a Belinha. Lembra de mim? (...)"
(VERISSIMO, 1996, p. 109.)
a) Divida o primeiro pargrafo em perodos, classifi cando-os em simples ou
composto.
b) Por que podemos dizer que as frases iniciais do segundo pargrafo (Al?
Mrio? o Srgio.) tm funo indicativa?
c) Podemos afi rmar que a ltima frase do texto tambm um exemplo de orao
e perodo? Por qu?
d) No segundo pargrafo do texto, lemos Doze milhes. Podemos dizer que
esse enunciado um exemplo de orao e perodo? Por qu?
RESPOSTA COMENTADA
a) O pargrafo articula-se em cinco perodos, quatro simples (orao absoluta) e
um composto, a saber: Homem entra no apartamento (perodo simples); J passa da
meia-noite (perodo simples); Atira-se numa poltrona, ao lado do telefone (perodo
simples); Liga o aparelho / que gravou as chamadas telefnicas durante sua ausncia.
(perodo composto); Ouve (perodo simples).
b) Porque essas frases fazem parte de uma forma de comunicao ritualizada, que
todos usamos ao telefonarmos para algum.
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LA 2
R E S U M O
O termo frase utilizado de maneira geral para designar uma unidade do discurso
caracterizada por ter um sentido completo no contexto comunicativo. Alm disso,
do ponto de vista fontico, a frase marcada por pauta entoacional que assinala
seu comeo e seu trmino. Por fi m, poderamos acrescentar que, na escrita, a
frase delimitada por uma maiscula no incio e por certos sinais de pontuao
(. ! ?...) no fi nal.
Orao um enunciado que apresenta determinado tipo de estrutura interna,
incluindo sempre um predicado e frequentemente um sujeito, assim como vrios
outros termos possveis, que sero oportunamente analisados ao longo deste curso.
Por fi m, tradicionalmente, emprega-se a designao perodo para as frases que
constituem uma orao. De acordo com Perini (1995, p. 61-63), deve fi car claro
que um perodo sempre uma orao. Naturalmente, nem toda orao um
perodo, j que muitas oraes no so coextensivas com a frase de que fazem
parte. Por exemplo, em V padaria e traga oito pezinhos, o enunciado V
padaria uma orao, mas no um perodo. O perodo, neste caso, composto
porque formado por duas oraes, ou seja, dois enunciados organizados em
torno de dois verbos (v e traga).
INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
Nesta segunda aula, citamos brevemente o sujeito como um termo normalmente
presente nas oraes da lngua portuguesa. Nas duas prximas aulas, teremos
a oportunidade de analisar melhor esse termo, bem como analisar as suas
caractersticas sintticas.
c) O enunciado Lembra de mim? ao mesmo tempo uma frase (porque possui
sentido completo), uma orao (porque est organizado em torno de um verbo) e
um perodo (porque um enunciado constitudo de uma orao).
d) A frase Doze milhes no pode ser considerada orao nem perodo porque no
est organizada em torno de um verbo. Ao contrrio, trata-se de uma frase nominal.
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objetivos
Metas da aula
Apresentar o conceito de sujeito e discutir a essencialidade desse termo da orao.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
1. avaliar a noo de essencialidade normalmente atribuda ao sujeito;
2. analisar os diferentes conceitos de sujeito e suas limitaes;
3. identifi car o sujeito em padres estruturais diversos da lngua portuguesa.
Termos essenciais: o sujeito introduo geral
Ivo da Costa do Rosrio
Mariangela Rios de Oliveira 3AULA
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Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral
Para iniciarmos esta aula, veja a cena a seguir. Parece que Joo est satisfeito!INTRODUO
Joo construiu uma mesa. Se perguntssemos qual o sujeito dessa orao,
Todos responderiam: Joo. Antnio e Joaquim foram ao mercado. Qual
o sujeito dessa segunda orao? No h dvida: Antnio e Joaquim, sujeito
composto. Certamente voc j deve ter ouvido essas perguntas (ou outras
semelhantes) quando frequentou os bancos escolares no Ensino Fundamen-
tal e no Mdio. Afi nal, o estudo do sujeito sempre ocupou lugar central no
ensino de lngua portuguesa nas escolas brasileiras.
Todos dizem que o sujeito um termo essencial. No assim que ensinaram
nossos professores? Pois bem. Cabe agora discutirmos essa declarao e veri-
fi carmos se ela ou no aplicvel s oraes do portugus de modo geral.
Assim, este captulo dedicado a uma das principais funes sintticas na
organizao das oraes em lngua portuguesa o sujeito.
Est pronto para essa tarefa? Ento, vamos frente.
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LA 3
SUJEITO TERMO ESSENCIAL?
A identifi cao do sujeito como um dos termos essenciais da
orao tem grande tradio no mbito da descrio e da anlise sinttica
da lngua portuguesa. A classifi cao do sujeito como essencial, conforme
recomendao da NGB, encontra-se em Cunha e Cintra (2001), Kury
(2003) e Luft (2002), por exemplo.
NGB a sigla atribuda Nomenclatura Gramatical Brasileira, documento ofi cial, de meados do sculo XX, que normatizou e simplifi cou, para fi ns educacionais e outros, a terminologia da gramtica do portugus.
!
De acordo com essa perspectiva, a orao formada por dois sintagmas
fundamentais, ambos com o mesmo grau de relevncia o sintagma nominal
(SN) na funo de sujeito e o sintagma verbal (SV) na funo de predicado.
A partir da, na orao (1) teramos, com base em Cunha e Cintra
(2001, p. 119), a seguinte organizao estrutural:
(1) Aquela nossa amiga no disse uma palavra.
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Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral
Conforme podemos observar pelo diagrama, considerar o sujeito
to essencial quanto o predicado signifi ca atribuir a ambas as funes
o mesmo status, quer dizer, o mesmo nvel hierrquico, como integran-
tes do plano maior a orao. Conforme discutiremos nesta aula, tal
compreenso acaba por se tornar um entrave ao estudo de alguns tipos
de sujeito.
Por conta das difi culdades em relao ao termo essencial, nem
todos os estudiosos assumem explicitamente esse rtulo. Autores como
Rocha Lima (1999) e Bechara (1999) no negam a relevncia da funo
sinttica sujeito, porm destacam a ocorrncia de oraes nas quais
possvel a no ocorrncia desse termo. Rocha Lima (1999, p. 205)
nos informa que a orao consta de dois termos, enquanto Bechara
(1999, p. 408) refere-se ao sujeito como um grupo natural; ambos
os autores no utilizam o termo essencial no tratamento do sujeito. O
mesmo faz Azeredo (1995, p. 45), que nomeia o sujeito como um dos
dois constituintes centrais da orao.
Consideramos, pois, que as alternativas expostas no pargrafo
anterior constituem estratgias mais adequadas e viveis para descrever
e analisar o papel do sujeito na lngua portuguesa. preciso repensar e
redefi nir o rtulo essencial, atribudo ofi cialmente pela NGB, h dcadas,
ao termo sujeito. Devemos compreender que, em relao totalidade
das oraes do portugus, o rtulo essencial deve ser assumido como
central ou bsico, por exemplo, e no tomado como propriedade de
todas as oraes.
Afi nal, se o sujeito um termo essencial da orao, como anali-
saramos os exemplos a seguir?
(2) Choveu torrencialmente na noite de ontem.
(3) H cinco rapazes na sala.
Segundo os gramticos da lngua portuguesa, os exemplos (2) e
(3) representam dois casos de orao sem sujeito. Ora, se o sujeito um
termo essencial da orao e ele est ausente nos exemplos, (2) e (3) no
seriam exemplos de oraes? Seriam o qu?
evidente que so exemplos de orao. So enunciados organiza-
dos em torno de um verbo, conforme vimos na aula anterior. Portanto,
se assim consideramos a situao, devemos concluir que o sujeito nem
sempre essencial. verdade que a maioria das oraes produzidas em
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lngua portuguesa so organizadas tendo o sujeito em sua constituio,
mas consider-lo como essencial em relao a todas as oraes do por-
tugus no verdadeiro, haja vista os exemplos fornecidos em (2) e (3),
entre outros.
Agora que j discutimos a essencialidade do sujeito, cabe ana-
lisarmos mais detidamente de que termo da orao estamos falando, ou
seja, o que realmente o sujeito? Vamos continuar nossa caminhada em
busca dessa resposta.
Atende ao Objetivo 1
1. Observe as frases a seguir:(a) Maurcio ganhou um prmio na Frana.
ATIVIDADE
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Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral
(b) Havia mais de duzentas pessoas na palestra.
(c) No sei a verdade de nada.
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Tomando como base os conhecimentos adquiridos na primeira seo deste captulo, responda: podemos considerar o sujeito como termo essencial a partir da anlise dos exemplos (a), (b) e (c)? Por qu?
RESPOSTA COMENTADA
A frase (a) tem o termo Maurcio como sujeito. Dessa forma, o
termo passa a ser essencial, visto que no seria comum lermos ou
ouvirmos algo como ganhou um prmio na Frana sem algum tipo
de relao com um termo precedente. Em outras palavras, nessa
frase, o termo essencial.
Em (b), de fato, no h qualquer termo ao qual podemos atribuir a
funo de sujeito. Como a prpria gramtica afi rma, oraes com
o verbo haver, indicando relao de existncia, so desprovidas de
sujeito.
Em (c), o sujeito da orao no est formalmente indicado na frase
por uma palavra, como o pronome eu, mas podemos deduzi-lo a
partir da forma verbal sei. Em outras palavras, existe sujeito, apesar
de no estar indicado diretamente numa palavra especfi ca.
Enfi m, os exemplos (a) e (c) poderiam nos levar concluso de que
o sujeito um termo essencial. Por outro lado, o exemplo (b) no
permite essa concluso, levando-nos considerao fi nal de que
realmente o sujeito nem sempre um termo essencial.
DEFININDO SUJEITO
A maioria das gramticas de portugus defi ne o sujeito pelo vis
semntico, ou seja, pelo sentido que, em geral, essa funo sinttica
expressa. Assim, encontramos, a ttulo de exemplifi cao, as duas seguin-
tes afi rmaes sobre o que sujeito:
a) Cunha e Cintra (2001, p. 119): O SUJEITO o ser sobre o
qual se faz uma declarao.
b) Rocha Lima (1999, p. 205): Sujeito: o ser de quem se diz algo.
Como podemos observar pelas defi nies de Cunha e Cintra e
de Rocha Lima, a funo sujeito encontra-se referida em termos de um
ser a partir do qual se declara ou se diz algo.
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6 4 C E D E R J
Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral
Em outras fontes bibliogrfi cas, a defi nio de sujeito ampliada,
com o acrscimo de informaes de nvel morfolgico, como em (c).
A defi nio de Luft (2002) ilustra nosso apontamento. Vejamos:
c) Luft (2002, p. 23): Sujeito ser de quem se diz alguma coisa
o elemento com o qual concorda o verbo.
Em Luft (2002), o critrio semntico (o ser) e o morfolgico
(com o qual o verbo concorda) so usados para a defi nio do sujeito.
Essa postura do autor pode ser evidenciada pelo fato de um nico critrio
no ser sufi ciente para defi nir sujeito.
Podemos ainda fazer referncia a um terceiro critrio, o sinttico,
relativo ordenao do sujeito na orao. Segundo esse critrio, o sujeito
tende a vir antes do predicado e, em geral, ocupa o primeiro lugar na
orao, como ocorre em (a) Maurcio ganhou um prmio na Frana.
Partindo dessas defi nies, resta-nos, portanto, testar sua validade
em oraes que exibam distintas confi guraes sintticas. Para tanto,
vamos observar as quatro oraes a seguir:
Sujeito Predicado
(4) O presidente deseja a paz.
(5) Os homens desejam a paz.
(6) A paz desejada.
(7) A maioria dos homens deseja(m) a paz.
Dos quatro arranjos oracionais exemplifi cados, apenas o primeiro
enquadra-se plenamente nas defi nies de sujeito aqui expostas. Em (4), o SN
O presidente , de fato, um ser identifi cado, a partir do qual feita uma
declarao; a forma verbal deseja, na terceira pessoa do singular, concorda
com esse SN tambm na terceira pessoa do singular, estabelecendo a relao
predicativa necessria confi gurao oracional, e O presidente ocupa a pri-
meira posio na orao.
Nos exemplos seguintes, os critrios de defi nio parecem no ser sufi -
cientes para dar conta da funo sinttica sujeito. Na orao (5), o sujeito Os
homens, no plural, torna imprecisa a referncia; trata-se de um SN de sentido
genrico, que no nos permite saber, com maior especifi cidade, de quem, exa-
tamente, se faz a declarao. Embora concorde com a forma verbal desejam,
que tambm se encontra no plural, o sujeito Os homens, pela impreciso de
sentido, no to categrico quanto o ilustrado em (4) O presidente.
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A inadequao ou insufi cincia do critrio semntico para a defi nio
do sujeito mantm-se em relao orao (6). Nela, o sujeito a paz, SN com
sentido mais abstrato, praticamente impede que seja interpretado como um
ser, afastando-se mais ainda do critrio semntico defi nidor do sujeito.
O mesmo comentrio vale para todas as oraes articuladas em torno de
sujeitos formados por substantivos abstratos, uma vez que o sentido mais
vago desses termos no tem maior compatibilidade com a noo de ser.
Na orao (7), a insufi cincia do critrio semntico acompanhada
da insufi cincia do critrio morfolgico e tambm do sinttico. Assim,
nesta orao, no podemos considerar o SN A maioria dos homens um
ser, ademais, esse tipo de SN pode admitir duas interpretaes de seu
ncleo maioria ou homens, o que cria um outro problema, de nvel
morfolgico e sinttico com que termo concorda o verbo? Como o
termo maioria est em primeiro lugar em relao a homens, seria prefe-
rido para a funo de sujeito? Por conta dessa complexidade, a norma
padro indica como possvel, em oraes desse tipo, o uso do verbo no
plural ou singular, partindo-se das duas possveis interpretaes do ncleo
do sujeito. Portanto, alm da impreciso referencial, temos, nesse caso,
tambm o problema da concordncia verbal e da ordenao, o que torna
o sujeito A maioria dos homens menos possvel ainda de ser defi nido
dentre as quatro oraes de (4) a (7) apresentadas anteriormente.
Como podemos observar, a defi nio de sujeito tarefa comple-
xa. Para identifi car o sujeito, um ou dois critrios, como os at agora
apresentados, podem no ser sufi cientes. Assim, devemos lanar mo de
outros parmetros para essa tarefa. Um critrio adicional para identifi ca-
o do sujeito pode ser o sinttico, ou seja, a posio ocupada por esse
constituinte na orao. Na lngua portuguesa, em geral, o sujeito ocupa a
primeira posio oracional, vindo frente do predicado. Se observarmos
a ordenao das oraes (4), (5), (6) e (7), poderemos constatar que a
posio inicial em todas ocupada pelo sujeito, a que se segue o predicado.
Por vezes, o critrio sinttico tem papel fundamental na identi-
fi cao do sujeito, como o nico meio capaz de cumprir esta tarefa, na
impossibilidade de aplicao dos demais critrios. Estamos nos referindo
a pares de orao como os que se seguem, em que a troca de ordena-
o dos constituintes implica mudana sensvel do sentido veiculado.
Nesses casos, no foi o sujeito que mudou de posio, pelo contrrio, a
mudana posicional motivou a mudana de funes sintticas no interior
da orao. o que ilustramos em:
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6 6 C E D E R J
Portugus II | Termos essenciais: o sujeito introduo geral
(8) Joo ama Maria.
(8) Maria ama Joo.
(9) O professor americano.
(9) O americano professor.
O nico meio de identifi car o sujeito nos pares (8)/(8) e (9)/(9)
justamente sua ordenao na estrutura oracional. Assim, em (8), Joo
o ser de quem se diz algo, no caso, que ama Maria; j em (8), a
mudana sinttica operada faz com que Maria funcione como sujeito,
o ser que ama Joo. Na orao (9), o SN o professor, em posio
inicial, atua como sujeito, como o ser sobre o qual se declara que
americano; ao contrrio, em (9), ao SN o americano, codifi cado como
sujeito, atribudo o comentrio professor.
Por outro lado, tal como os demais critrios, a abordagem sintti-
ca, por si, no sufi ciente para a depreenso ou identifi cao do sujeito
oracional na maioria das oraes da lngua portuguesa. Uma