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LIVIA FERREIRA PAIM
EMPREENDEDORISMO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: CONCEITOS
PRESENTES NAS AULAS DE MATEMÁTICA DIRECIONADAS AO M ERCADO DE
TRABALHO
CANOAS, 2012
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LIVIA FERREIRA PAIM
EMPREENDEDORISMO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: CONCEITOS
PRESENTES NAS AULAS DE MATEMÁTICA DIRECIONADAS AO M ERCADO DE
TRABALHO
Trabalho de conclusão apresentado à banca examinadora do curso de Matemática do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Matemática.
Orientação: Prof. Dr. Paulo Roberto Ribeiro Vargas
CANOAS, 2012
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LIVIA FERREIRA PAIM
EMPREENDEDORISMO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: CONCEITOS
PRESENTES NAS AULAS DE MATEMÁTICA DIRECIONADAS AO M ERCADO DE
TRABALHO
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Matemática pelo Centro Universitário La Salle – Unilasalle.
AVALIADOR
______________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto Ribeiro Vargas
Unilasalle
3
A minha família, que esteve sempre presente para que fosse possível a realização deste sonho.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter me dado forças para não desistir de realizar este sonho.
À minha mãe e ao meu irmão pelo amor e incentivo em todos os momentos.
Ao meu pai de coração e ídolo, Sidnei de Souza Ribeiro, por mostrar-me o
lado fantástico de ser professor.
Ao amor da minha vida, Marcelo Barbosa, pela cumplicidade, apoio e
paciência.
Às minhas amigas, Francine Beatrice e Susana Barreto, que estiveram
presente nos momentos mais difíceis.
A todos os professores que partilharam seus conhecimentos e me ajudaram a
chegar até aqui.
Aos meus colegas e amigos do SENAC Comunidade Zona Norte que
contribuíram para o desenvolvimento deste projeto.
Aos alunos da turma 157 do curso de Aprendizagem em Serviços
Administrativos do SENAC Comunidade Zona Norte que participaram deste projeto
de pesquisa, por sua dedicação e força de vontade.
Ao meu professor Orientador, Dr. Paulo Roberto Ribeiro Vargas, por instigar o
meu potencial, pela confiança, pela dedicação e, principalmente, por seu
profissionalismo.
5
Toda organização, para ser competitiva e crescer,
necessita se reinventar. Isto só será possível
valorizando e capacitando adequadamente seus
colaboradores para, assim, se sentirem motivados e
com liberdade de empreender e inovar.
Paulo F. Presser
6
RESUMO
Este projeto foi realizado nas aulas de Matemática com alunos do curso de
Aprendizagem Comercial em Serviços Administrativos, inseridos no Programa
Jovem Aprendiz da unidade do SENAC Comunidade Zona Norte – Porto Alegre. O
objetivo principal desta pesquisa é mostrar como em um ambiente escolar, em
especial, nas aulas de matemática, os conceitos de empreendedorismo, cooperação
e inovação podem favorecer a aprendizagem voltada para o mercado de trabalho.
Para o embasamento do estudo foram utilizados os conceitos da Aprendizagem
Corporativa, de Elisa Maria Quartiero e Lucídio Bianchetti, análise e reflexão do
Projeto Político Pedagógico SENAC – RS, que determina e norteia o modelo de
ensino, o qual é focado na cooperação, empreendedorismo e inovação. Foi utilizada
como fundamentação teórica a governamentalidade, de Michel Foucault. Com a
conclusão do projeto “Brechomática”, verificou-se que a matemática relacionada ao
empreendedorismo agrega ao desenvolvimento de habilidades e atitudes solicitadas
pelo mercado de trabalho, acrescenta na formação do caráter deste indivíduo,
possibilitando autonomia em suas decisões e, ainda, torna mais eficaz o ensino da
matemática, despertando a consciência do cidadão quanto aos seus direitos e
deveres.
Palavras-chave: Matemática. Aprendizagem. Empreendedorismo. Inovação.
7
ABSTRACT
This Project was undertaken and made at math classes of SENAC Comunidade
Zona Norte, at Porto Alegre,Brasil, with students from an Young Aprrentice Program,
which are part in a major course in Business Education in Administrative Services.
The main goal of this research is to show how, at a school environment – specially at
mat classes – concepts such as enterpreneurship,cooperation and innovation may
leverage commercial learning. In order to establish the basis of this research,
concepts of Corporative Learning (by Elisa Quartiero &Lucidio Bianchetti), were
used, as well as an analysys and reflection of SENAC’s Policy & pedagogic projeto,
which determine and guide teaching model of this organization, focused on
cooperation, enterpreneurship and innovation. As a theoric baseline, Focault’s
governmentality theory was used. At the time “Projeto Brechomática” came to an
end, this led to the conclusion that math, once driven to enterpreneurship, adds value
in developing skills and attitudes that Market demands, besides helping in building up
themselves as individuals, enabling in addition a more effective teaching at math and
making them stand up for their rights and duties.
Keywords: Math. Learning. Enterpreneurship. Innovation.
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 DIÁRIO DE PESQUISA .............................. ........................................................... 14
2.1 O Perfil dos aprendizes da turma .............. ...................................................... 16
3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................. ........................................................ 17
3.1 Educação Corporativa .......................... ............................................................ 17
3.2 Governamentabilidade .......................... ............................................................ 25
3.3 Pedagogia Empreendedora e Inovação............. .............................................. 32
4 METODOLOGIA ..................................... ............................................................... 38
5 ETAPAS DA PESQUISA .............................. ......................................................... 42
5.1 Apresentação do projeto ....................... ........................................................... 42
5.2 O dia do brechó ............................... .................................................................. 45
5.3 Elaboração dos Cálculos Comparativos .......... ............................................... 46
5.4 Avaliação dos materiais........................ ............................................................ 50
5.5 Apresentação do “Brechomática” ................ ................................................... 53
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................ ....................................................... 57
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
ANEXO A – FOTOS DA APRESENTAÇÃO ................... .......................................... 62
9
1 INTRODUÇÃO
A educação deve contribuir para a autoformação da pessoa, ensinando a
viver no sentido de tornar-se cidadão, “definido, em uma democracia, por sua
solidariedade e responsabilidade”. (MORIN, 2008, p.65).
A organização do SENAC-RS, visando a atuar com foco no cliente e no
mercado, utiliza o Projeto Político Pedagógico como norteador da aprendizagem.
Nesse documento o docente consegue compreender sua importância e identifica
que seu modelo de atuar deve ser voltado ao empreendedorismo1, dentro do
sistema de trabalho da empresa, o qual está explícito em seus princípios2. Assim,
deve-se proporcionar uma visão holística – fortalecendo a identidade do indivíduo,
considerando todos os aspectos sociais, afetivos e cognitivos. Além disso, é preciso
desenvolver um ensino que valorize as individualidades e respeite as diferenças –
de modo que a formação do sujeito possa torná-lo crítico e reflexivo, para ser
cidadão consciente de seus direitos e deveres. Na educação profissional, o aluno
deve ser consistente, inovador e abrangente, a fim de que se adapte ao mercado de
trabalho, utilizando estratégias para melhorar seu rendimento, tornando-se um
sujeito ativo, que participe do meio social e que esteja cada vez mais envolvido com
seu crescimento pessoal e intelectual.
A Educação Matemática para o empreendedorismo dentro do SENAC-RS faz-
se necessária visto que sua missão é “Educar para o trabalho em atividades do
comércio de bens, serviços e turismo”3. Por esse motivo, uma das estratégias que
utilizamos para adaptação das solicitações de nossa demanda é possibilitar que o
processo educativo seja inovador, moldando o jovem para o mercado de trabalho
com competência e potencial, conforme Dolabela (1999, p.19), que ao mesmo
tempo, esteja preparado “para ser dono de um negócio ou para atuar como
1 O conceito de empreendedorismo é abrangente, o que trataremos aqui é o que evidencia o estudo
voltado para o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas a criação de um projeto (técnico, científico e empresarial). Originou-se do termo empreender que significa realizar, fazer e executar. Timos (1985), disse que o empreendedor é alguém capaz de identificar, agarrar e aproveitar oportunidade, buscando e gerenciando recursos para transformar a oportunidade em negócio de sucesso.
2 Disponíveis no Projeto Político Pedagógico SENAC-RS, elaboradas a partir das perspectivas do SENAC-RS que busca promover atitude ética, solidariedade e cooperação no seu cotidiano e no contexto de sala de aula. Vale ressaltar a contribuição de Morim (1998) na formação desses princípios, analisa que “a nova forma de olhar o mundo deve ser de totalidade, de abertura, baseada numa ética solidária e cooperativa, onde toda a diversidade deve ser respeitada”.
3 Missão da empresa disponível em Mapa Estratégico 2007/2020 – Plano de Ação 2012.
10
colaborador” e que suas atitudes exerçam seu papel como cidadão e contribuam
para construção de uma sociedade sustentável.
Aplicar o conteúdo de Matemática Comercial e Financeira em questões do
cotidiano faz diferença, pois percebemos claramente que o estudo não nasceu
dentro da sala de aula, e sim por uma necessidade, possibilitando experiências reais
nas quais o aluno perceba que a educação com empreendedorismo impacta seu
crescimento dentro dos aspectos pessoais, sociais e profissionais.
Pensando em criar um sentido para aprender matemática, trouxemos a ideia
de, primeiramente, incentivar os alunos a administrar seu dinheiro de maneira
consciente, de incluir os jovens nas propostas do mercado de trabalho, e, ainda,
oportunizar o desenvolvimento de novos empreendedores, investindo na criação de
práticas sustentáveis como um diferencial. Nessa mistura de ideais, realizamos um
Projeto em sala de aula.
O Projeto “Brechomática”4, desenvolvido com jovens do curso de
Aprendizagem em Serviços Administrativos, buscou, de forma simples e objetiva,
oportunizar uma maneira de “aprender a empreender”, permitindo que o jovem
mostrasse atitude e compreendesse que deve estar preparado para constantes
adaptações; que colocasse em prática o aprendizado, mostrando o desenvolvimento
das estratégias utilizadas, nas quais evidenciasse sua forma autônoma ao
solucionar os problemas surgidos ao longo do projeto, reconhecendo em quais
situações deve aplicar conhecimentos teóricos ou outros já adquiridos na prática.
A disciplina de Matemática está inserida em todos os cursos de
Aprendizagem, ao mesmo tempo, com conteúdos iguais aos da escola, porém são
diferentes as habilidades que devem ser desenvolvidas e avaliadas dentro dos
conhecimentos, de forma que o aprendiz necessite, também, expor seus talentos.
Para falar em educação empreendedora, deve-se também observar o
pensamento de Beauclair (2008, p.2), para o qual empreender é mobilizar a força do
sonho como energia para modificar a realidade: “[...] empreender é empoderar os
que são destituídos de poder. Empreender é fazer valer o espaço da escola de hoje
como forma de conquista de direitos e exercício de uma cidadania ativa, plural que
dignifique os direitos humanos e os valores humanos”.
4 Nome escolhido para o Projeto pelos jovens da turma 157, formada por alunos do curso de
Aprendizagem em Serviços Administrativos.
11
Evidenciar a capacidade empreendedora do jovem impacta diretamente seu
futuro, como, por exemplo, favorecendo o crescimento de sujeitos criativos, que
trabalham com satisfação, têm uma visão mais ampla de mundo. Durante o período
de aprendizagem, percebem melhorias no rendimento escolar, percebem a absorção
do conteúdo com conhecimentos prévios do meio social em que estão inseridos,
visualizam a importância da Matemática e a ligação que tem com a responsabilidade
social, agindo como empreendedores de si mesmos5.
O PPP6, no processo de ensino e aprendizagem da instituição, prevê os
desafios da educação, o desenvolvimento do indivíduo para o trabalho e para a vida,
enfatizando que a unidade educacional precisa ampliar a visão empreendedora,
respeitando e potencializando as múltiplas inteligências, inserindo conteúdos,
estabelecendo transdisciplinaridade, a fim de que os conhecimentos adquiridos
tornem-se suporte para o mundo do trabalho.
O ensino é entendido como as informações, reflexões e oportunidades levadas ao estudante para construir seu conhecimento técnico-profissional e favorecer o seu desenvolvimento pessoal, por meio de metodologias inovadoras7 que tencionem teoria e prática. O resultado da interação do sujeito com o mundo constitui a aprendizagem, a qual se dá na relação do sujeito em um processo interno que produz mudanças – as quais, pouco a pouco, integram-se ao comportamento de cada indivíduo. O aprender, portanto, está relacionado às interações que o sujeito faz com o meio, exigindo uma atitude investigativa diante dos contextos em que se insere. Sendo assim, a aprendizagem assume um caráter permanente, levando os sujeitos desse processo a um “sempre aprender” – inquietando-se, formulando questões e buscando respostas, sendo o docente o mediador dessa relação. (SENAC-RS, 2009, p.28-29).
Quando falamos em aprendizes do Programa SENAC de Gratuidade,
precisamos compreender que para ser o Jovem Aprendiz há alguns requisitos como,
por exemplo, ter idade entre 14 e 23 anos e cursar, no mínimo, a 6ª série. Em uma
sala de aula com jovens do curso de Auxiliar de Serviços Administrativos
encontramos uma mescla de jovens com escolaridade e idades diferentes. Para a
maior parte é a primeira oportunidade de uma carteira assinada sem comprovação
5 Por empreendedores de si mesmos utilizamos o pensamento de Gadelha (2011) que define como; “indivíduos microempresa” que competem acirradamente entre si a fim de se valorizarem no mercado, consideram natural a ideia de que estão por sua própria conta, isto é, de que são, senão os únicos, os principais responsáveis pelo que sucede às suas vidas, para o melhor e para o pior. 6 Projeto Político Pedagógico SENAC-RS. 7 Por metodologias inovadoras entendemos aquelas que provoquem rupturas pragmáticas, que instiguem os estudantes a problematizarem as realidades, percebendo-se como sujeitos potencialmente transformadores das relações hegemônicas.
12
de experiência profissional, ou seja, situação excelente para apresentar trabalhos
teóricos/práticos que possam entender a aplicabilidade de cada um dentro da
empresa onde estão inseridos.
O problema que orientou este projeto de pesquisa foi o seguinte: Como num
ambiente escolar, em especial nas aulas de matemática, os conceitos de
empreendedorismo, cooperação e inovação podem favorecer a aprendizagem
voltada ao mercado de trabalho?
Nesta pesquisa, apresentaremos práticas do empreendedorismo em sala de
aula, junto às propostas inovadoras na educação para o trabalho. Analisaremos o
projeto “Brechomática”, observando os conhecimentos matemáticos aplicados e,
também, a inserção das solicitações do processo de ensino e aprendizagem do
SENAC-RS.
Esta pesquisa foi estruturada em seis capítulos. O primeiro é a Introdução, na
qual indicamos os caminhos percorridos, objetivos gerais, objetivos específicos e o
problema de pesquisa.
No segundo capítulo, apresentamos o Diário de Pesquisa, que tem a
finalidade de explicar a funcionalidade do curso e justificar a escolha da turma que
realizou o projeto.
No terceiro capítulo é proposto o Referencial Teórico, subdividido em três
partes. Primeiro mostraremos as propostas sobre Educação Corporativa8, que atua
para fortalecer o desenvolvimento de competências essenciais dentro da empresa,
desenvolve na prática as atividades, evidencia os valores da instituição, enfatiza a
cultura empresarial e desenvolve, também, a cidadania para o sucesso da
instituição. Em seguida, serão analisadas as relações de educação ligadas a
Govermamentalidade9, que expressa em seu conceito dimensões políticas e éticas
dentro das diferentes maneiras de governar a si mesmo e aos outros. Para finalizar
o capítulo, será analisada a Pedagogia Empreendedora 10, favorecendo a estratégia
que permite a escolha do próprio indivíduo seguindo o princípio básico de não
interferir no método escolhido e na forma de realização do próprio sonho.
8 Educação Corporativa, também chamada de educação empresarial, é a aquisição da competência
em empreender um forte processo de aprendizagem e gestão do conhecimento, de acordo com a visão e missão da instituição.
9 O termo ‘‘Govermamentalidade’’ utilizado, de acordo com o pensamento de Foucault, diz respeito ao “ encontro entre as técnicas de dominação exercidas sobre os outros e as técnicas de si”.
10 Segundo Dolabela (2001) a essência da estratégia pedagógica empreendedora se baseia no sonhar e no buscar realizar o sonho.
13
No quarto Capítulo será apresentada a Metodologia utilizada nesta pesquisa e
a análise dos dados do projeto “Brechomática”. O quinto, Etapas do Projeto, foram
explicados os passos envolvidos na realização da pesquisa. Neste mesmo capítulo,
descreve-se as observações e atividades que foram desenvolvidas em cada
encontro até as apresentações.
Encerramos com o sexto capítulo, Considerações Finais, no qual
apresentamos os resultados obtidos com este projeto, deixando evidente a
importância em se trabalhar com empreendedorismo, inovação e aprendizagem
corporativa.
14
2 DIÁRIO DE PESQUISA
[...] a ideia de cidadania está articulada com a ideia de projeto: de metas pessoais ligadas a uma meta coletiva. Nesse sentido, um trabalho em grupo na sala de aula é um exercício de cidadania, uma vez que envolve pessoas com suas diferentes personalidades que, ao realizarem um determinado projeto, buscam um resultado, uma meta comum (MACHADO, 2004).
Para realização do projeto “Brechomática”, escolhemos trabalhar com os
Jovens Aprendizes da turma do Curso de Aprendizagem em Serviços
Administrativos do SENAC Comunidade Zona Norte. É importante apresentar
alguns critérios sobre o curso de aprendizagem.
Conforme SENAC-DN11 o Curso deve contribuir para a capacitação de
adolescentes, entre 14 e 24 anos, para o mundo do trabalho, oportunizando
cumprimento do estabelecido na Lei 10.097/00 e Decreto n.º5.598/2005 , que
regulamenta a contratação de aprendizes e dá outras providências. Um dos
objetivos é possibilitar a capacitação do adolescente contratado pelas empresas do
setor de comércio de bens e serviços, por meio de cursos destinados a proporcionar,
na forma da lei, desenvolvimento de competências necessárias ao exercício
profissional. Além disso, propiciar a formação integral do adolescente, criando
situações de aprendizagem que o levem a aprender a pensar, a aprender a
aprender, a mobilizar, articular e colocar em ação conhecimentos, habilidades e
valores em níveis crescentes de complexidade.
Dessa forma, o Curso oportuniza a capacitação e amplia a inserção de jovens
no mercado de trabalho, tornando-os aptos a desempenhar atividades solicitadas
pelas empresas, possibilitando qualificação como uma opção de plano de carreira
profissional.
Alguns requisitos são exigidos para que o Jovem tenha acesso ao curso.
Devemos considerar o Artigo 2º – Capítulo I, do Decreto 5.598/2005 que regula a
contratação de Jovem Aprendiz: Aprendiz é o maior de 14 anos e menor de 24 anos,
e o curso de Aprendizagem em Serviços Administrativos tem por requisito obrigatório
na escolaridade estar cursando, no mínimo, a 6ª série e obedecer à idade exigida
pelo programa de 14 anos a 23 anos.
11
Por SENAC-DN entendem-se SENAC Departamento Nacional que utiliza na construção de seus cursos o Código do Consumidor, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Constituição Brasileira.
15
O Aprendiz em Serviços Administrativos, de acordo com o plano de curso,
desenvolve atividades nas áreas de Recursos Humanos, Administração, Finanças,
Logística e Comércio, atende aos fornecedores e aos clientes, apresentando e
recebendo informações sobre os produtos e serviços. Esse profissional prepara
planilhas e relatórios, além de realizar serviços gerais de escritório.
Este curso de aprendizagem é visto pelos alunos como oportunidade para
conquistar o primeiro emprego e ingressar ao mundo do trabalho com
conhecimentos, habilidades e atitudes pré-solicitadas pelas empresas. O plano de
curso contém carga horária de 800 horas, nas quais 50% são teóricas, distribuídas
em 8 componentes teóricos, e outras 50% são práticas, realizadas na empresa
contratante, a partir de diversas funções. As aulas teóricas são realizadas na
unidade do SENAC Comunidade Zona Norte, e os orientadores educacionais são
responsáveis por acompanhar a evolução e aplicar avaliações, a fim de verificar se
será aprovado ou não em determinada disciplina, conforme as determinações de
cada uma. Segue, no próximo parágrafo, a descrição da grade curricular do
componente de Matemática Comercial e Financeira para o Curso de Aprendizagem
em Serviços Administrativos.
No plano de ensino elaborado para a Matemática Comercial e Financeira são
disponibilizadas cinquenta horas, a fim de que se desenvolva a competência no que
se refere à resolução de situações-problema do cotidiano, voltadas ao mercado de
trabalho através do uso dos conceitos de matemática comercial e financeira,
reconhecendo-os e aplicando-os de forma responsável, ética e correta.
Os conteúdos distribuídos no curso compreendem razão e proporção, média
aritmética simples e ponderada, grandezas inversamente proporcionais, regra de
três simples, juros simples e compostos, Inflação e indexadores econômicos. Cada
conteúdo relaciona-se às habilidades devendo conceituar e reconhecer razões
iguais, solucionar problemas aplicando a propriedade fundamental das proporções,
solucionar problemas do cotidiano, utilizando regras de três simples, definir e
calcular problemas de porcentagem, ler e interpretar gráficos estatísticos envolvendo
porcentagem e efetuar cálculos financeiros utilizando juros simples e compostos.
Para as avaliações da aprendizagem, também devemos considerar alguns
valores e atitudes atribuídos ao curso, como atenção, responsabilidade, raciocínio
lógico, ética e respeito, além de considerar postura, assiduidade, e crescimento
profissional e pessoal, através de propostas de ensino e aprendizagem. Deve-se
16
também, possibilitar ao jovem o máximo de oportunidades para que possam se
apropriar dos componentes e obter as competências exigidas.
Mostraremos neste projeto que o processo de ensino e aprendizagem é
complementar e que proporcionar o “aprender e ensinar” é provocar interesse por
parte do jovem e do docente que o orienta.
2.1 O Perfil dos aprendizes da turma
Escolhemos a turma 157 – Aprendizagem em Serviços Administrativos para
realizar este trabalho como avaliação final do componente de matemática comercial
e financeira. Os alunos seriam avaliados sobre porcentagem e regra de três, com
alguns outros itens quais sejam: trabalho escrito, apresentação, criatividade, entre
outros conhecimentos, habilidades e atitudes contempladas no método de avaliação
por competências do SENAC.
A turma possui 37 jovens de 15 a 17 anos, todos já estão cursando o Ensino
Médio, no turno inverso ao do SENAC, ou seja, o conteúdo apresentado na
disciplina de Matemática já é conhecido, isso considerando que todos os conteúdos
façam parte do plano de curso do Ensino Fundamental escolar.
Uma forte característica da turma é a vontade de trabalhar, de desenvolver
trabalhos que mostrem ou simulem como será na prática, ainda nessa turma
destaca-se vários talentos, temos uma jovem que faz curso de fotografia, uma
menina que faz desenhos (croqui estilista), duas jovens modelos que trabalham em
agências, outros escrevem poemas/músicas e alguns ainda, trabalham com as
tecnologias (edição e criação de vídeos).
Nosso maior desejo em desenvolver o projeto com estes alunos foi
potencializar o aprendizado a partir de suas próprias experiências de vida, trazendo
elementos de seu cotidiano (talentos), para proporcionar uma atuação eficiente no
desenvolvimento e execução do projeto, sendo pessoas críticas e empreendedoras,
que apresentassem novas ideias com autonomia e argumentação.
Adaptando os conteúdos ao que gostam de fazer, criamos uma oportunidade
aos alunos para reinventar seu processo de ensino e aprendizagem conectando-se
ao mundo do trabalho, a fim de e aprender o que o mercado exige.
17
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Foram escolhidos alguns referenciais teóricos para sustentar esta pesquisa,
que são: A Pedagogia Empreendedora junto à Inovação, a Educação Corporativa,
orientações do Projeto Político Pedagógico – SENAC-RS, e as análises sobre
Governamentalidade, de Michel Foucault conforme segue.
3.1 Educação Corporativa
As relações entre o mundo da educação e o mundo do trabalho vieram passando por inúmeras metamorfoses, particularmente a partir da década de 40 do século XX. Nada se compara, entretanto, às transformações que vêm experimentando atualmente. De espaços e tempos claramente delimitados, com especificidades que as caracterizam – a escola concebida como lócus de ensino e aprendizagens; a empresa como campo de aplicação de conhecimentos, adquiridos em outro tempo e lugar – passa-se para uma situação onde o lócus espaço – temporal de ensino e aprendizagem e o da produção de bens materiais e bens intangíveis já não conhecem mais as rígidas delimitações que caracterizam a relação entre essas instituições. (QUARTIERO, 2005, p.09).
Percebe-se que a escola sempre foi considerada a formadora do indivíduo,
responsável por sua educação e seu desenvolvimento, enquanto a empresa,
posteriormente, recebia essa mão de obra e adaptava-a às suas necessidades.
Porém, o crescimento do mundo do trabalho precisou dividir o processo de ensino
para as empresas, a fim de promover educação no que concerne à produção,
misturando o espaço para que o conhecimento adquirido fosse posto em prática,
percebendo, o aluno, então, que a aprendizagem deve ser contínua e complementar
aos interesses da empresa.
As principais mudanças sociais que mais afetaram a área da educação no fim
do século XX e início do século XXI são, entre outras, estão ligadas à informação e
ao conhecimento os quais passaram a ter uma importância maior na economia.
Novos conhecimentos e habilidades que não costumavam ser exigidos na sociedade
industrial passaram a ser demandados, tais como: criatividade, capacidade de
discussão crítica, capacidade de trabalho em equipe e participação efetiva em
ambientes de trabalho menos hierárquicos; o uso das tecnologias de informação e
comunicação e um constante e ininterrupto processo de aprendizado, isto é, um
eterno reciclar-se e adaptar-se continuamente (SANTOS; BEHRENS, 2006).
18
As necessidades de fortalecer a ligação entre a escola e a empresa são
evidentes12. Na visão de Dolabela (1999), há a necessidade de que ações
essenciais à aprendizagem e à formação em empreendedorismo sejam inseridas
nas escolas, pois, conforme o autor, as pequenas empresas emergem da
identificação e do aproveitamento de oportunidades relacionadas aos nichos de
mercado, por meio das necessidades apresentadas. Para atender a essas
necessidades, é preciso inovar, criar ou introduzir algo novo ou modificar, adaptar,
melhorar aquilo que já existente. Nesse entender, o produto ou serviço deve
apresentar atrativos que o diferenciem da concorrência, que motivem o cliente a
adquiri-lo.
Para tanto, além de estar presente no currículo escolar, espera-se que os
conhecimentos junto às experiências vividas sirvam para auxiliar na construção de
alunos com habilidades e atitudes empreendedoras.
A escola, em especial as do ensino privado, implantaram o
empreendedorismo dentro de seus processos de modo a impactar o crescimento da
sociedade e do indivíduo, além de agregar importante conexão do processo de
ensino e aprendizagem com o meio corporativo.
Quando buscamos auxiliar o jovem em sua preparação para o mercado de
trabalho, não basta apenas teorizar apresentando-lhe o quadro da empresa com
plano de carreira, objetivos, missão e metas, ou seja, o que ela espera que seu
funcionário entenda e pratique. É necessário compreender a importante relação que
há entre a escola e seus ensinamentos, e a empresa que proporcionará a execução
do conhecimento adquirido.
Para fundamentar esta ideia de mundo da educação e mundo do trabalho
utilizaremos a visão da “Educação Corporativa”13.
A Educação Corporativa consiste em um projeto de formação desenvolvido pelas empresas, que tem como objetivo “institucionalizar uma cultura de aprendizagem contínua, proporcionando a aquisição de novas competências vinculadas às estratégias empresariais” (QUARTIERO; CERNY, 2005, p.24).
12 Além de Dolabela (1999), devemos considerar os teóricos Barreto (1998), Franco (2000) que
também fazem reflexões voltadas ao ensino do empreendedorismo. 13 A Educação corporativa difere-se por apresentar um novo formato para educação, no qual existe
forte contribuição do setor privado empresarial que foca no desenvolvimento de competências para o mercado de trabalho.
19
A presença de um ‘novo trabalhador’ é exigida nesse contexto que prioriza as
‘competências’, aprimorando e desenvolvendo-as conforme as necessidades
surgidas. É de grande valia que o trabalhador tenha um “comportamento
independente na solução de problemas, capacidade de trabalhar em grupo, de
pensar e agir em sistemas interligados e de assumir a responsabilidade no grupo
de trabalho” (MARKERT 2000 apud QUARTIERO; CERNY, 2005, p.28).
O espaço educacional acredita que deve proporcionar um equilíbrio entre as
necessidades de aprendizagem do ser humano e as da corporação, isto é, uma
adequação da educação formal que tenha pesos e medidas equivalentes, e que os
conhecimentos e qualificações estejam alinhados com as exigências para atuar nas
necessidades específicas da empresa.
A educação corporativa é uma proposta antiga de trabalho. Registros
apontam que no ano de 1955 a empresa General Eletric, criou a Cotronville,
segundo Quartiero (2005), considerada a pioneira14 na criação de uma universidade
corporativa15, sendo apresentada como um modelo que visa à agilidade e solicita
uma forte inserção da educação para o mundo do trabalho, com a preocupação em
formar empregados preparados para suas funções. Esse foi um dos passos
incentivadores para que, nos anos seguintes, as necessidades do mercado
atingissem a aprendizagem.
No Brasil, a empresa Accor, criada em 1992, em Campinas, São Paulo, foi a
primeira a ter um campus para a universidade corporativa, ganhando status16 e
prestígio no país. Segundo Eboli (2007), existem aproximadamente 80
Universidades Corporativas no Brasil, entre elas, empresas do setor financeiro, de
telecomunicações, de serviços, de associações de classe, de empresas aéreas,
automobilísticas, dentre outras.
14 Nem todos os autores convergem para o mesmo pensamento, González Casanova afirma: “a luta
pelo mercado de ensino acontece em todos os âmbitos: no das escolas particulares de comércio e administração que preparam gerentes e empregados (business Scholes); nos das universidades de pesquisas e ensino profissional, e no das corporações, que criam suas próprias escolas e universidades, projeto no qual a General Motors foi pioneira quando fundou em 1950, uma universidade para formar o seu próprio pessoal” (2001, p. 220) [destaque meu].
15 Universidade Corporativa: nome para instituições que adotavam como modelo educacional as relações entre trabalho e educação.
16 Motivo que aponta a existência de 89 destas instituições, atualmente, no Brasil. Disponível no site do Ministério do Desenvolvimento, indústria e Comércio Exterior – Portal de Educação Corporativa (BRASIL, 2007).
20
As necessidades de qualificação profissional existentes na empresa, de
acordo com Meister (1999), foram salutares para o desenvolvimento desta
educação, assim
As empresas [...] ao invés de esperarem que as escolas tornem seus currículos mais relevantes para a realidade empresarial, resolveram percorrer o caminho inverso e trouxeram a escola para dentro da empresa (MEISTER, 1999, p. 23).
Quartiero (2005) identifica fatores contribuintes para a força na Educação
para a Corporação e aponta momentos de evolução ao longo dos anos, marcados
por discussões e necessidades de formação, surgidas pelo mercado, que podem ser
relacionados diretamente à Educação Corporativa.
A história apresenta uma evolução dos modelos de gestão e capitalismo. É
explicita a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual, junto aos processos
de trabalho exigidos pelas empresas, do ponto de vista educacional. Quartiero
(2005) afirma que “a separação de instrução e trabalho”, aos poucos, foi mudando
com os novos modelos organizacionais dentro dos processos de trabalho.
A revolução industrial oportunizou um novo estilo de vida em que as novas
fábricas operavam com controle e disciplina de mão de obra, garantindo que a
empresa tivesse a apropriação do saber do funcionário. Nesses dois cenários
surgem os principais sistemas de fábricas, o taylorismo e o fordismo17, que visavam
à eficácia no processo tecnológico, atendendo aos interesses da empresa, criando
relações de poder e de autoridade para com o trabalhador, além de permitir o
controle total da produção.
Focault (2009, p. 185), em Vigiar e Punir evidencia a disciplina, ferramenta de
controle do trabalho,
[...] o indivíduo é sem dúvida o átomo fictício de uma representação “ideológica” da sociedade; mas é também uma realidade fabricada por esta tecnologia específica de poder que se chama a ‘disciplina’.
A repetição do trabalho e a reprodução do conhecimento eram suficientes na
organização taylorista/fordista. Aos “chefes” dos setores, a eficiência no ambiente de
17 Modelo caracterizado pela intensificação de trabalho, pelo controle do tempo de produção, pela
extrema especialização e fragmentação da tarefa, com o objetivo de potencializar a atenção do trabalhador.
21
trabalho ficava a critério da disciplina e responsabilidade de garantir que todos
seguissem manuais, normas e as regras impostas pela empresa.
Nos anos 90, o declínio do modelo taylorista-fordista abre espaço para uma
nova organização do trabalho, isto é, momento em que a educação vira centro de
discussões para auxiliar na formação profissional. O empresariado sente necessário
o envolvimento do trabalhador com processos educativos que aperfeiçoe seus
conhecimentos.
A existência de uma gestão flexível causou impacto nas organizações, e a
divisão de trabalho manual e trabalho mental passou a ser eliminada. Com o
crescimento tecnológico veio a carência de habilidades específicas para a realização
das tarefas, isto é, aumento da necessidade de pessoas com capacidades de
pensar, executar e decidir simultaneamente.
Ao novo trabalhador são exigidas novas competências, tais como informação,
autonomia e independência, postura profissional, preocupação com aprender para
se autodesenvolver, dentre outras. Para oportunizar o crescimento do indivíduo, é
necessária a implementação de sistemas educacionais com foco no
desenvolvimento de atitudes e habilidades, além do conhecimento técnico.
Segundo Deluiz (2001), o conceito tradicional de qualificação estava
relacionado aos componentes organizados e explícitos da qualificação do
trabalhador em educação escolar, após formação técnica e, por fim, experiência
profissional. Justifica-se, então, a educação corporativa como um meio de
“qualificar” o empregado, uma vez que a educação convencional não tem foco
empresarial.
A transição de modelos de gestão fortaleceu-se com o pensamento que,
Trabalho e aprendizagem são essencialmente a mesma coisa, com ênfase no desenvolvimento da capacidade do indivíduo de aprender. Para prosperar nesse ambiente global em constante transformação é necessário um novo tipo de organização em que um modo de pensar compartilhado por todos os funcionários é vital para o sucesso no longo prazo (MEISTER, 1999, P.3).
É interessante ressaltar que, em um primeiro momento, a educação para a
corporação baseava-se na concepção de “treinar” os operários para “serem
executores”, a fim de aprenderem a utilizar as novas tecnologias para melhor
desempenho de suas atividades. Dessa forma. Visava a
22
Entregar cursos ao público interno por força de demandas concretas, oferecendo programas cujo objetivo principal era desenvolver habilidades específicas, enfatizando necessidades individuais e sempre dentro do escopo tático-operacional. (EBOLI, 2004, p.37)
Estes seriam pontos marcantes de uma evolução empresarial na qual surgiram
necessidades suficientes para o trabalhador precisar de novos atributos para
manter-se apto ao mercado de trabalho.
Para o autor Ricardo (2007, p. 6-7), a Educação Corporativa tem como
princípio, “desenvolver processos de aprendizagem continuada que permitam o
envolvimento de toda a cadeia de produção com o destino da organização e
compromisso com as estratégias de negócios da empresa”.
Como a inserção de conceitos como empreendedorismo e Educação
Corporativa, ficou evidente a necessidade do indivíduo inovador e empreendedor,
conforme cita o autor SILVA FILHO:
Para se integrar no contexto da época atual e exercer eficazmente um papel na atividade econômica, o indivíduo tem que, no mínimo, saber ler, interpretar a realidade, expressar-se adequadamente, lidar com conceitos científicos e matemáticos abstratos, trabalhar em grupos na resolução de problemas relativamente complexos, entender e usufruir das potencialidades tecnológicas do mundo que nos cerca. (SILVA FILHO, 1994, p. 88)
A educação corporativa é facilmente relacionada ao empreendedorismo que se
apresenta como uma alternativa para desenvolver habilidades necessárias a
qualquer indivíduo, para que o trabalhador faça parte da sociedade contemporânea.
Como afirma Souza (2005, p. 111), essa necessidade,
[...] está ancorada nas intensas modificações sócio-econômicas, inovações tecnológicas e reestruturações produtivas que deixaram o indivíduo contemporâneo desprotegido na condição de responsável por si mesmo e pelo próprio futuro.
O foco empreendedor é potencializar as competências que, segundo Mundim
(apud RICARDO, 2007, p.9) se refere ao “conjunto de qualificações que a pessoa
tem para executar um trabalho com um nível superior de desempenho”.
Segundo Meister (1999, p.13) as competências exigidas pelo mercado de
trabalho são: aprender a aprender, comunicação e colaboração; raciocínio criativo e
23
resolução de problemas; conhecimento tecnológico; conhecimento de negócios
globais; desenvolvimento de liderança; autogerenciamento da carreira.
Percebemos a emergência na formação de uma “sociedade do conhecimento”,
visto que a história revela que a evolução provoca um papel mais ativo na educação
e na vida do indivíduo. Salientamos, no entanto, que ao se tratar de uma justificativa
para as políticas adotadas no período, a Educação Corporativa sente necessidade
de inserção da Governamentalidade de Foucault apresentada como “o encontro
entre as técnicas de dominação exercidas sobre os outros e as técnicas de si".
Foucault quer mostrar que uma não é separada da outra, são análises de momentos
diferentes do indivíduo que, em visão política, precisa aprender a governar outros e,
em uma dimensão ética, as diversas maneiras do governo de si mesmo.
Focault (2004, p. 197), ao falar de governo, apresenta condução das condutas,
[...] governar no sentido moral, significa a condução de condutas, num duplo aspecto: tanto pode fazer referência à "atividade que consiste em conduzir" quanto "à maneira pela qual conduzimos a nós mesmos, o modo pelo qual nos deixamos conduzir, a maneira pela qual somos conduzidos e pela qual, enfim, nos comportamos sob efeito de uma conduta, que seria ato de conduta ou de condução
Refletindo sobre a ação de conduzir as condutas, percebe-se que é
inseparável da maneira de se conduzir. Quando falamos na educação para o mundo
do trabalho, conseguimos perceber o quanto este pensamento é pertinente, ainda
que sintamos uma necessidade desse ideal dentro da formação do empreendedor. É
necessário direcionar o aprendizado para que o indivíduo consiga espaço no
mercado de trabalho, sendo conduzido, e também, possa escolher como atuar nele,
conduzindo-se. Segundo Batista (2006)
[...] as atividades sugeridas possibilitam o desenvolvimento de certas habilidades do indivíduo que, certamente, farão parte da sua formação como ser produtivo e capaz de construir seu próprio destino profissional. Com isso, além de promover seu crescimento, adotando uma postura empreendedora, consequentemente irá provocar mudanças no ambiente ao qual está inserido, seja no âmbito familiar ou num grupo mais amplo da sua comunidade.
Quartiero (2005) e Bianchetti (2005) também compartilham a preocupação
sobre a importância da qualificação para o mundo do trabalho, e sobre o
envolvimento da empresa como local de aplicação dos conhecimentos transmitidos
24
na/pela escola. Uma pesquisa realizada na Telest, Telecomunicações de Santa
Catarina (BIANCHETTI, 1998)18 chama atenção para depoimentos de funcionários,
com diversos cargos da empresa, quanto às necessidades de um ambiente propício
para a qualificação e construção do saber.
O autor, analisando o pensamento do trabalhador, coloca duas opiniões: a
primeira que ele tem “uma atitude de curiosidade, de busca de ultrapassar os limites
tecnológicos”, ou seja, existe interesse em estar mais preparado para exercer a
função. Sua segunda colocação diz respeito à forma como a empresa age na “a
busca empreendida pelo operador no sentido de ampliar seus conhecimentos”, isto
é, sem um método de ensino eficaz para proporcionar o aprendizado de seu
funcionário.
Meister, (1999, p. 21) revela que
as empresas investiam nessa modalidade com o objetivo de ensinar aos trabalhadores ‘o como fazer’. As empresas inicialmente tinham como foco “desenvolver qualificações isoladas, para a criação de uma cultura de aprendizagem contínua, em que os funcionários [aprendessem] uns com os outros e [compartilhassem as] inovações e melhores práticas com o objetivo de solucionar problemas empresariais.
Trabalhar com a Educação Corporativa ligada à matemática proporciona o
desenvolvimento de competências e habilidades que são imprescindíveis para a
empresa, dentro de sala de aula, possibilitando que teoria e prática estejam
interligadas e contribuam para um bem comum.
A Matemática Comercial e Financeira é uma das disciplinas que possui
conteúdos com maior semelhança ao currículo das escolas. Porém, mesmo exigidos
com competências diferentes, observamos que os alunos apresentam grande
dificuldade para entendê-los, e os que têm facilidade com os conteúdos, não
conseguem ver na matemática aplicabilidade dentro do seu cotidiano nem enxergam
na matéria uma razão para aprendê-la.
A Educação Corporativa, segundo Meister (1999, p. 35), é um “guarda-chuva
estratégico para desenvolver e educar funcionários, clientes, fornecedores e
comunidade, a fim de cumprir as estratégias da organização.”
A aprendizagem matemática para o mundo do trabalho faz com que o aluno
perceba o quanto ela está envolvida com práticas diárias, como calcular o valor do 18 Livro. Da Chave de fenda ao laptop. Um estudo sobre as qualificações dos trabalhadores nas
Telecomunicações de Santa Catarina (TELEST).
25
salário com os respectivos descontos, efetuar uma compra parcelada, calcular os
valores de juros inclusos nos bens adquiridos, pedir um empréstimo no banco,
trabalhar diariamente com planilhas de despesas e custos. A interdisciplinaridade19
e transdisciplinaridade20 com a matemática estão evidentes e mostram-se ser
necessárias.
A Educação Corporativa dá sentido aos conteúdos, serve de ferramenta para
despertar o interesse do aluno e potencializar outras habilidades simultaneamente,
como a de analisar problemas reais, mostrando a solução lógica matemática para
resolvê-los.
Tendo como um de nossos maiores objetivos dentro do ensino de matemática
apresentar possibilidades de atuar com o empreendedorismo junto ao pensamento
de governamentalidade, acreditamos que a educação corporativa pode vir a
colaborar com nossa vontade de formar um cidadão autônomo e empreendedor de
si mesmo dentro de sua sociedade.
3.2 Governamentabilidade
Quanto à governamentalidade, nem sempre aparece de forma clara nas formulações de Michel Foucault, ela me parece uma categoria analítica mais geral, cujo cerne reside, por um lado, na de governar, de dirigir, de conduzir a conduta dos indivíduos e arte das coletividades e, por outro lado, nas maneiras singulares mediante as quais os próprios indivíduos dirigem e regulam suas condutas. (GADELHA, 2011).
No período de cinco meses, os jovens ficam absorvendo conhecimentos
teóricos, principalmente nas aulas de matemática. É responsabilidade do orientador
conduzir a melhor maneira de aprendizagem para turma e deixar os alunos
conduzam a si mesmos, escolhendo como preferem aprender. Ao mesmo tempo é
importante conduzi-los para que se preparem de acordo com as necessidades do
mercado de trabalho, atuando com autonomia e disciplina.
19
Por interdisciplinaridade entendemos ser um movimento, um conceito e uma prática que está em processo de construção e desenvolvimento dentro das ciências e do ensino das ciências, sendo esses, dois campos distintos nos quais a interdisciplinaridade se faz presente. Fazenda (1991).
20 A transdisciplinaridade é uma abordagem científica que visa à unidade do conhecimento. Desta forma, procura estimular uma nova compreensão da realidade articulando elementos que passam entre, além e através das disciplinas, numa busca de compreensão da complexidade. Além disso, do ponto de vista humano, a transdisciplinaridade é uma atitude empática de abertura ao outro e seu conhecimento (ROCHA FILHO, 2007).
26
A arte de governar, também designada governamentalidade por Foucault
(1977-1978), seria uma compreensão da biopolítica, possibilitando duas
interpretações: com o liberalismo, uma “relação” entre governantes e governados;
enquanto que com o neoliberalismo, uma (opção, alternativa) técnica dos
governantes em relação aos governados. Através de uma análise inovadora, o autor
percebeu que na educação moderna existem atitudes de vigilância, controle e
adestramento do corpo e da mente.
A Governamentalidade proporciona diferentes interpretações sobre as
relações de poder, como apresenta Foucault:
[...] o conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, os cálculos e as táticas que permitem exercer essa forma bastante específica, embora muito complexa de poder que tem por alvo principal a população, por principal forma de saber a economia política e por instrumento técnico essencial os dispositivos de segurança. Em segundo lugar, por ‘governamentalidade’ entendo a tendência, a linha de força que, em todo o Ocidente, não parou de conduzir, e desde há muito, para a preeminência desse tipo de poder que podemos chamar de ‘governo’ sobre todos os outros – soberania, disciplina – e que trouxe, por um lado, [e, por outro lado], o desenvolvimento de toda uma série de saberes. Enfim, por ‘governamentalidade’, creio que se deveria entender o processo, ou antes, o resultado do processo pelo qual o Estado de justiça da Idade Média, que nos séculos XV e XVI se tornou o Estado administrativo, viu-se pouco a pouco ‘governamentalizado’. (FOUCAULT, 2008a, p. 143-144).
Candiotto (2008) afirma que “Foucault quer mostrar que a
governamentalidade abrange tanto as diferentes maneiras de governar os outros
quanto as diversas modulações do governo de si mesmo”. Dessa forma:
[...] governar se faria, assim, pela articulação entre tecnologias de poder ou dominação e tecnologias de constituição dos sujeitos (tecnologias do eu). Entendido como condução das condutas, o governamento teria um sentido profundamente moral, sendo uma técnica que se ocupava do “governo das almas” ou “poder pastoral”, entendendo-se que o poder pastoral corresponderia à "arte pela qual ensinamos as pessoas a governar os outros ou ensinamos os outros a se deixarem governar por alguns" (FOUCAULT, 2004, p. 154).
O neoliberalismo norte-americano dos anos 1960, conforme Foucault (2008),
aponta novos tipos de economia política que passa a analisar, além do Estado e dos
processos econômicos, das relações sociais, das sociabilidades, dos
comportamentos dos indivíduos junto aos fenômenos sociais juntos ao
comportamento individual e coletivo.
27
Com as análises de liberalismo, na década de 1960, surge a valorização do
capital humano, referente a um conjunto de habilidades, capacidades e atitudes,
marcando, assim, novo momento para o capitalismo.
A valorização das competências se tornam evidentes por uma necessidade
de crescimento,
[...] em função do avanço do capitalismo, deve se tornar valor de troca. Para isso acontecer; esses atributos humanos precisam, de certa maneira, ser abstraídos das pessoas concretas que os detêm, das pessoas concretas nas quais existem, e se articular (alinhar) em função de um fim externo a elas. Argumentaremos, portanto, que o “humano”, um conjunto de capacidades, destrezas e aptidões próprias dos homens, adquire valor de mercado e se apresenta como forma de capital – entendido como uma soma de valores de troca que serve de base real a uma empresa capitalista (LOPES-RUIZ21, 2007, p. 18).
Nesse momento foi percebido o espaço para utilização de metodologias
empreendedoras, envolvendo a escola, a empresa o ser humano e o meio ambiente,
pois o ensino empreendedor tem por objetivo construir e desenvolver as aptidões do
sujeito e possibilitar o fim da exclusão, seja ela econômica ou intelectual.
Para os teóricos neoliberais22, mesmo que por interesses econômicos, um
operário capacitado a executar uma função específica era uma ferramenta de
trabalho valiosa para a sociedade industrial, já que
o que o trabalhador leva para o seu serviço são o conhecimento e as habilidades requeridas para utilizar a maquinaria de forma efetiva. Seu conhecimento e habilidades são, por sua vez, o produto de um investimento de capital feito em sua educação, em suas capacidades gerais de comunicação e cálculo requeridas para participar do processo produtivo, e nas capacidades específicas requeridas para seu trabalho em particular; um investimento de capital que é variavelmente financiado pelo Estado, pelo próprio trabalhador ou pelo empregador. Deste modo, o trabalhador é ele mesmo um meio de produção produzido, um item de equipamento de capital. (JOHNSON apud LOPEZ-RUIZ, 2007, p. 195).
O pensamento focautiano indica que a necessidade transformou a
governamentalidade e
21 O sociólogo Oswaldo Lopez-Ruiz, autor do livro, Os executivos das transnacionais e o espírito do
capitalismo: capital humano e empreendedorismo como valores sociais (2007), coloca em evidência as habilidades, destrezas e capacidades do trabalhador.
22 Movimento que demonstra diferenças existentes entre as análises típicas do liberalismo clássico,
sob a liderança de Theodore Schultz, Milton Friedman (Nobel de 1976), George Stigler (Nobel de 1982) e seus discípulos, consiste na teoria do Capital Humano.
28
busca programar estrategicamente atividades e os comportamentos dos indivíduos; trata-se, em última instância, de um tipo de governamentalidade que deseja programá-los e controlá-los em suas formas de agir, de sentir, de pensar e de situar-se diante de si mesmos, da vida que levam e do mundo em que vivem, possuem práticas e saberes psicológicos voltados à dinâmica e à gestão de grupos e das organizações. (GADELHA, 2008).
Ainda, sob essa perspectiva, Foucault (2008b, p. 308) apresenta o estatuto do
trabalhador em que, “o trabalho comporta um capital, isto é, uma aptidão, uma
competência; como eles dizem: é uma máquina. E por outro lado é uma renda, isto
é, um salário ou, melhor ainda, um conjunto de salários; como eles dizem: um fluxo
de salários”.
O trabalhador é responsável por seu desenvolvimento e crescimento,
determina e escolhe como irá conduzir sua carreira profissional e sua vida pessoal
fazendo parte da sociedade.
Assim como a unidade de base da economia é a empresa, também a unidade de base da sociedade não é mais o indivíduo, mas o trabalhador-empresa.” O indivíduo moderno, a que se qualificava como sujeito de direitos, transmuta-se, assim, num indivíduo-microempresa: Você S/A.23 (SANTOS, 2007, p. 18).
O valor do capital humano torna-se mais preocupante do que os processos
ligados à produção, pois através de capacitação, formação educacional e formação
profissional dos indivíduos, elementos estratégicos para a governamentalidade
busca-se programar estrategicamente as atividades e os comportamentos dos
indivíduos. Porém seria garantido o aumento de produtividade, mas também
“acréscimos marginais superiores de capacidade produtiva, o que permitiria maiores
ganhos para empresas e, também, para os trabalhadores” (CATANI, 2002).
Gadelha (2011) interpreta que Focault em sua análise, propõe uma “forma de
governamento”, em que a educação aparece como vital, sendo a principal
formadora, “que termina por transformar os indivíduos em empreendedores de si
mesmos24, em “indivíduos microempresa” que competem acirradamente entre si a
fim de se valorizarem no mercado”. Do ponto de vista do autor, também
23 Para Santos (2007), significa a autonomia do indivíduo em administrar a sua carreira, passando a
administrar também o seu desenvolvimento profissional. 24 Utilizando o pensamento de (Dolabela, 1999, p. 24) onde, “o empreendedor é alguém que aprende
sozinho”, aprender a aprender, tem iniciativa individual e o ensino é voltado para a inovação.
29
Você vai ver indivíduos empreendedores, cujos imperativos são acumular capital humano, consumir e endividar-se permanentemente como forma de investimento, competir, saber investir - sobretudo em si mesmo -, mostrar-se atraente como investimento (fazer marketing pessoal), sob a ameaça recorrente de serem descartados, marginalizados, excluídos. Pois bem, em suma, você irá ver indivíduos muito bem governamentalizados por uma lógica que tem no mercado seu princípio de inteligibilidade, sua chave de decifração. (GADELHA, 2011).
O que torna Focault atraente nos dias atuais são seus pensamentos e
análises sobre alguns aspectos que aparecem diretamente relacionados ao
empreendedorismo. Em seu livro Vigiar e punir, analisa a disciplina, que hoje
contribui para novos métodos de ensino e aprendizagem nas escolas e nas
empresas, vista também como encarregada de “controlar as mentes” de forma que
os desejos possam ser moldados e criados para satisfazer as vontades do ser e do
meio que vivem. Para ele
[...] o mecanismo complexo da escola mútua se construirá uma engrenagem depois da outra: determinaram primeiro aos alunos mais velhos tarefas de simples fiscalização, depois de controle do trabalho, em seguida, de ensino, e então no fim das contas, todo o tempo de todos os alunos estava ocupado seja ensinando seja aprendendo. A escola torna-se um aparelho de aprender onde cada aluno, cada nível e cada momento, se estão combinados como deve ser, são permanentemente utilizados no processo geral de ensino. (FOUCAULT, 2009, p.159)
A educação deve inovar, abrir espaço para a aprendizagem junto ao
empreendedorismo, possivelmente inserido nas diversas áreas dos conhecimentos,
pois implica que o indivíduo assuma um papel dentro da sociedade e desenvolva
habilidades específicas que o valorize no mercado de trabalho, visto que o ambiente
educacional é formador, propício a adquirir experiências e disponível a envolver o
indivíduo com problemas que possibilitem a utilização de sua criatividade, de sua
autonomia, de sua liderança e de inúmeras habilidades que são citadas por Dolabela
(2003, p. 71) como características do empreendedor.
Dolabela (2003) afirma que na área empreendedora, “educar é principalmente
destruir mitos” e que “não se pode dar uma direção ao aluno para que ele seja um
empreendedor empresarial, mas para que seja empreendedor em sua forma de ser.
Abrir uma empresa pode ser uma opção do aluno. Porém, ele pode ser
empreendedor em qualquer atividade. Ele pode ser empreendedor sendo músico,
poeta, funcionário público, político etc”.
30
Com essa visão, é possível perceber a necessidade de incluir tais práticas ao
cotidiano, visto que
[...] a inserção do empreendedorismo no currículo escolar visa, em primeiro lugar, a disseminar a cultura empreendedora, a importância do empreendedor na escola, promovendo sua integração no desenvolvimento de projetos conjuntos. (ACÚRCIO; ANDRADE, 2005, p. 13).
Aprender a ser empreendedor também exige disciplina. Segundo Foucault
(2009), é ela que apresenta o treinamento através do qual o indivíduo aprende
funções básicas e necessárias para conquistar excelência na execução das tarefas
solicitadas, porém não a trata apenas como um comportamento mecânico, justifica
que
O poder disciplinar é com efeito um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior “adestrar”; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor. Ele não amarra as forças para reduzi-las; procura ligá-las, multiplicá-las e utilizá-las num todo. Em vez de dobrar uniformemente e por massa tudo o que lhe está sobmetido, separa, analisa, diferencia, leva seus processos de decomposição até as singularidades necessárias e suficientes. (FOCAULT, 2009, p.164).
Conseguimos perceber a inserção da governamentalidade de Foucault, pois
além de estarem em um ambiente que devem reproduzir o aprendizado, também há
a necessidade em separar as funções: os que se enquadram aos diversos tipos de
trabalhos, e os que realmente têm capacidades físicas e intelectuais para realizá-los
sem que descumpram as regras disciplinares impostas pelas empresas.
Conforme Quartiero (2005), essa necessidade foi disseminada ao longo dos
anos. No Brasil, por exemplo, chegou com a política neoliberal, implementada na
década de 1990, dentro governo Fernando Collor de Mello, a abertura econômica do
país que impulsionou a formação de uma educação corporativa através da ideologia
da competição para o mercado globalizado. Esse modelo educacional assumido
pelas empresas surgiu “no auge do Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade – PBQP” (MARTINS, 2004, p.10).
as empresas investiam nessa modalidade com o objetivo de ensinar aos trabalhadores ‘o como fazer’”. As empresas inicialmente tinham como foco “desenvolver qualificações isoladas, para a criação de uma cultura de aprendizagem contínua, em que os funcionários [aprendessem] uns com os outros e [compartilhassem as] inovações e melhores práticas com o objetivo de solucionar problemas empresariais. (MEISTER, 1999, p.21).
31
Silva (1997) ressalta que os novos neoliberais têm difundido o ideário de uma
educação funcionando como modelo de uma empresa, oportunizando o campo do
livre mercado e da livre iniciativa. O autor ainda destaca como o discurso publicitário
tem abafado o político em termos de convencimento de uma suposta necessidade
da redefinição dos modos de educar tecnicamente por meio de novas tecnologias
educativas, baseadas em critérios de competência, produtividade, eficiência e
qualidade.
Quando ocorrerem essas mudanças sociais, identificamos as oportunidades
existentes para aquele com visão empreendedora. Seu perfil é capaz de perceber as
carências no mercado e prepara-se para supri-las. Por exemplo, ao falar da punição,
no regime do poder disciplinar, Foucault (2009), apresenta operações distintas e
suas respectivas funções que se devem “ao desempenho, aos comportamentos
singulares, a um conjunto, a relacionar os atos e diferenciar os indivíduos com
relação uns aos outros e em função dessa regra de conjunto”. Essa postura
apresentada pelos neoliberais ainda é comparada com algumas necessidades
existentes nas empresas de hoje.
A Educação Corporativa é voltada para o desenvolvimento de aptidões,
trabalha para o estímulo do autodesenvolvimento, formação de lideranças através
de atitudes empreendedoras, estabelece características anteriormente evidenciadas
por Foucault (2009), em que cada indivíduo “considera natural a ideia de que estão
por sua própria conta, isto é, de que são, senão os únicos, os principais
responsáveis pelo que sucede às suas vidas, para o melhor e para o pior”
(GADELHA, 2011).
Silva (1997) acrescenta que esta forma de educar tem sido fortemente
marcada pelas exigências da indústria e do comércio e das regras do chamado
empreendedorismo que visa a atender as necessidades individuais e empresariais.
Os conhecimentos vão além de dominar o saber técnico, devem prospectar e
conquistar clientes, pois em um mundo globalizado o diferencial de mercado não é
a produção, e sim o capital humano.
O autor, Dolabela (2003, p.71) coloca características do empreendedor que
conseguimos relacionar aos anteriormente citados de Focault, quais sejam: ter
iniciativa, autonomia, autoconfiança, otimismo, necessidade de realização. Ser
capaz de se dedicar intensamente ao trabalho e concentrar esforços para alcançar
resultados. O empreendedor cria um sistema próprio de relações com empregados.
32
É comparado a um "líder de banda", que dá liberdade a todos os músicos, mas
consegue transformar o conjunto em algo harmônico, seguindo um objetivo.
Trabalha sozinho. O processo visionário é individual.
Utilizamos em nossa metodologia a Governamentalidade, por acreditar na
visão de Foucault (2008, p. 389) que ressalta que o sujeito de direito é o sujeito do
contrato, o qual pode resolver se juridicamente o contrato ressalva ou não seus
interesses, mas, para isto, precisa operar sempre um cálculo destes interesses e dos
danos que poderá sofrer. Concluindo, “[...] deve-se governar com a economia, deve-
se governar ouvindo os economistas [...]”.
As necessidades transformaram de forma surpreendente o indivíduo em sua
personalidade e poder de persuasão, fazendo-os adquirir, através das mudanças
sociais e econômicas, espaço para crescer e aperfeiçoar suas habilidades, a fim de
se sentir valorizado e útil para o mercado de trabalho.
3.3 Pedagogia Empreendedora e Inovação
É uma metodologia de ensino do empreendedorismo25 voltada para o desenvolvimento social, redefinindo uma proposta empreendedora para o Brasil. Ela vê o empreendedorismo como um instrumento muito forte não só de desenvolvimento de geração de riqueza, mas também como um fenômeno social e cultural. (DOLABELA, 2004).
Para Dolabela (2004), a Pedagogia Empreendedora na prática não é “dar
uma direção ao aluno para que ele seja um empreendedor empresarial, mas para
que seja empreendedor em sua forma de ser”. Essa metodologia pode provocar a
mudança cultural, uma nova forma de relacionamento entre as pessoas,
oportunizando a democratização em rede, onde todos têm a mesma autonomia, têm
o poder de influenciar seu próprio futuro e o de sua comunidade.
Gadelha (2011), quando se refere ao biopoder inserido na educação junto ao
desenvolvimento da autonomia do sujeito dentro do empreendedorismo, afirma:
25
O conceito de empreendedorismo para Dolabela (1999, p.43) é “um neologismo derivado da livre tradução da palavra entrepreneuship e utilizado para designar os estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seu sistema de atividades, seu universo de atuação”. O autor complementa o conceito de empreendedorismo como sendo “o elemento do capital social como a capacidade de associação dos membros de uma comunidade para resolverem seus problemas e construírem sua prosperidade social e econômica”. Dolabela (2003, p. 18).
33
[...] cultura essa que tem migrado dos domínios estritamente econômico-empresariais para os demais âmbitos sociais, particularmente o da educação. Seria o caso de se investigar melhor que “pedagogias empreendedoras” vêm sendo destinada aos pobres e às classes média e alta. O espaço que sobra está sempre por ser inventado, produzido, maquinado e ele é, ou deve ser, sempre correlato e imanente aos pontos de incidência do poder, isto é, aos pontos de aplicação em que incidem as tecnologias governamentais e de controle Como não há mais um fora do poder, esse espaço se encontra virtualmente em toda parte, inclusive nas escolas e em outras organizações que se dizem educativas e/ou formadoras. (GADELHA, 2011).
O autor também ressalta que os métodos educacionais não estão mais “fora
do poder”. Existe a produção de novas concepções, novas imagens de “formar,
educar” o indivíduo dentro das escolas. Quando se refere a Foucault, evidencia as
propostas inovadoras para compreender as instituições e os sistemas de
pensamento. Acredita que Foucault tornou-se referência, pois mostrou que “antes de
reproduzir a escola moderna produziu, e continua produzindo, um determinado tipo
de sociedade”.
A Educação Corporativa também está inserida ao desenvolvimento deste
indivíduo, sendo considerada, segundo Quartiero (2005), como uma “cultura de
aprendizagem contínua, proporcionando a aquisição de novas competências”.
O empreendedor se comporta de acordo com sua maneira de ver a vida, de
ser/estar no mundo, sempre envolvido em situações que buscam a inovação e as
oportunidades de mudança. A pedagogia empreendedora de Dolabela (2004)
objetiva despertar nos alunos, esse comportamento através da busca pela mudança,
pelo inconformismo, ideias inovadoras e principalmente pelos seus sonhos e pelos
sonhos coletivos.
Dolabela (2004), quando fala em desenvolver o sujeito empreendedor, explica
que essa transformação pode ser universal, não é necessário ser empresário para
praticar o empreendedorismo, ele escolhe sua carreira e como administrar sua vida,
assim, “o empreendedor é um indivíduo que gera utilidade para os outros, que gera
valor positivo para sua comunidade”.
É do sujeito empreendedor a atitude de inovar, explorar novas ideias e ter
sucesso, se sentir realizado e provocado a conquistar seu espaço a dividir seus
conhecimentos de modo a impactar sua vida e a dos outros.
Para o autor, o ensino do empreendedorismo representa uma necessidade
atual, não pela diminuição de empregos, e sim pelos novos padrões sociais e de
34
inclusão no mercado de trabalho. O ser humano hoje se transforma em uma
organização Você S.A26 e administra sua carreira o tempo inteiro, como no caso das
profissões liberais, tanto que é necessário dentro dessas profissões terem noções
de administração, negócios e planejamento para obter êxito.
Outros autores também definem o empreendedor como alguém que escolhe o
que vai fazer e como será feito, levando em conta tudo o que fazem para conquistar
seus sonhos.
O empreendedor consegue se dedicar intensamente às atividades que se propõe a fazer, pois seu trabalho se confunde com prazer. (DRUCKER, 1980).
O empreendedor é um indivíduo altamente criativo, encontrando energia pessoal para iniciar e construir uma empresa ou organização, fazendo mais do que simplesmente assistir, analisar ou descrever. É também uma pessoa que assume riscos pessoais e financeiros, porém, faz todo o possível para colocar do seu lado as vantagens, e assim, reduzir as possibilidades de fracasso. (TIMMONS, 1985).
Para Dolabela (2004) a metodologia vem com a intenção de tornar o aluno
protagonista de seus sonhos, responsável por suas escolhas e pela sua profissão,
assim como percebemos na Educação Corporativa, fazer com que o aluno
compreenda que o conteúdo escolar serve para que ele dê significado à sua vida, ou
seja, à vida em que o seu sonho é o eixo do processo educacional. Ele mescla
conhecimentos novos com os já adquiridos por suas experiências anteriores,
sentindo-se atuante e integrante do processo educacional.
A necessidade de conhecimento nasce da vontade inelutável de ter acesso aos elementos necessários à realização do sonho” [...] e “a atividade pedagógica vai se dedicar principalmente à conexão entre o sonho e sua realização. (DOLABELA, 2003).
De acordo com Meister (1999), a educação corporativa está inclusa na
filosofia de aprendizagem da organização, com foco em desenvolver os
conhecimentos as habilidades e competências para todos os colaboradores, visando
a alcançar os objetivos estratégicos da organização. Ela deve promover um
processo de aprendizagem ativo e permanente, assim também, deseja encorajar os
26 Termo utilizado por Dolabela (2004) para definir o ser humano, como empresário de si mesmo.
35
empregados a aprender novas competências ao longo de suas vidas no mundo do
trabalho.
Nesse momento, abrem-se as possibilidades de inovar, criar novas
oportunidades, novas capacidades aos produtos e serviços, mudança das técnicas
organizacionais, a maneira de conduzir o trabalho e de ser conduzido dentro dele,
ou seja, mudar para atingir os objetivos pessoais e profissionais.
A Educação voltada para a corporação, também deve estar preparada para
constantes mudanças, atendendo às necessidades de crescimento e
desenvolvimento da empresa, pois
Um dos maiores desafios do mundo corporativo moderno, a inovação tem um conceito simples. Ela é uma iniciativa, modesta ou revolucionária, que surge como uma oportunidade para a organização e para o mercado e que, aplicada na prática, trás resultados econômicos para a empresa – sejam eles ligados à tecnologia, gestão, processos ou modelo de negócio. (SIMONTOB, 2003, p. 12).
Simantob (2003, p. 19) acredita que a inovação tanto pode ocorrer por meio
de uma ação planejada quanto por simples acaso, e a melhor forma de promove-la é
trabalhar para que os conceitos e estratégias de inovação sejam assimilados por
todos os colaboradores, clientes e fornecedores.
Ao trabalhar com a Educação Corporativa junto à metodologia da Pedagogia
Empreendedora e inovação, é proporcionado ao aluno o contato com o estudo de
oportunidades que objetivam o desenvolvimento, seja ele pessoal ou coletivo. Essa
metodologia prepara o aluno, inclusive, para que participe ativamente da construção
do desenvolvimento social.
[...] a Pedagogia Empreendedora, é um instrumento que a comunidade pode dispor para estabelecer uma proposta de futuro feita pela própria comunidade, cuja finalidade não é ensinar, mas sim criar um ambiente de aprendizagem no qual o aluno, de forma autossuficiente, possa perceber os valores empreendedores e aprender sobre si e sobre a comunidade. Dessa maneira, aprender a utilizar ferramentas e instrumentos úteis para o desenvolvimento de suas atividades empreendedoras. (DOLABELA, 2003).
Pensando em desenvolver o potencial dos alunos para que eles sejam
empreendedores em qualquer atividade que venham a atuar, Dolabela (2003, p.65)
apresenta que essa pedagogia “é uma estratégia destinada a dotar o indivíduo de
graus crescentes de liberdade para fazer sua escolha”. O indivíduo torna possível a
36
formulação de seus sonhos consequentemente tentativa de transformá-lo em
realidade, faz análises e viabiliza sua concretude e capacidade de se auto-realizar.
O autor também explica que esse método não é uma estratégia pedagógica
destinada somente ao ambiente empresarial, ou seja, ela não objetiva dar
orientações apenas para formar empresários. Deseja oportunizar ao aluno a
escolha, fazer sua opção profissional e apostar no tipo de empreendedor em que
queira ser ou através do qual o seu perfil está enquadrado.
A esses pensamentos conseguimos relacionar o Projeto Político Pedagógico
SENAC-RS que “julga necessário definir uma concepção do que seja o projeto de
vida do estudante, e como encontrar caminhos para colaborar com as escolhas e
decisões que deverá tomar para uma realização profissional e pessoal”. (SENAC-
RS, 2012, p. 56).
Percebemos que, para a Pedagogia Empreendedora, desenvolver o
aprendizado empreendedor pode ser descrito em uma sequencia de atitudes, em
que, primeiramente o indivíduo descobre o seu sonho, imagina uma concretude
deste em seu futuro, após busca realizar o sonho e, para isso, é capaz de aprender
o que for necessário para realizá-lo. Os fatos ocorridos entre os dois momentos são
responsáveis por determinar a intensidade da atitude empreendedora. A
necessidade do saber surge de várias formas, ele precisa saber aprender, saber
fazer, saber ser e saber conviver. Conhecimentos considerados por Dolabela (2003),
importantes dentro do "saber empreendedor" que podemos comparar também a
“aprendizagem significativa” 27, que tem foco no aluno com a importância de que ele
aprenda a prender.
A Educação Corporativa proporciona um maior espaço para o
empreendedorismo e, para isso, é necessário adotar metodologias diferenciadas,
como a proposta da Pedagogia Empreendedora, mostrando-se importante os
estudos de comportamentos e atitudes que conduzem à inovação.
Em nossa metodologia de trabalho utilizaremos a proposta da Pedagogia
Empreendedora, por acreditar em sua eficácia no desenvolvimento de indivíduos
empreendedores, isso também, por esta metodologia estar relacionada ao
27 A aprendizagem significativa, teoria de aprendizagem de Carl Rogers que se refere à significação
pessoal, significado para a pessoa. Na teoria de Moreira (1999), "a aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva (não-literal) e não-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo".
37
desenvolvimento da governamentalidade, e, ainda, por apresentar relevante
importância para justificar a Educação Corporativa que queremos trabalhar.
38
4 METODOLOGIA
Como ferramentas para análise desta pesquisa, foram feitas observações e
reflexões com comentários dos jovens ao longo dos encontros, que auxiliaram ao
responder o problema de pesquisa.
O método baseou-se em um Estudo de Caso, que segundo Yin (2001) vem se
tornando, no decorrer dos anos, um modelo único utilizado como estratégia para
condução de pesquisas que irão compor artigos, dissertações e teses em todas as
áreas do conhecimento, particularmente, nas Ciências Sociais Aplicadas.
Ainda acrescenta Martins (2008), que o este método pede avaliação
qualitativa,28 pois seu objetivo e o estudo de uma unidade social que se analisa
intensa e profundamente. “Busca-se apreender a totalidade de uma situação e,
criativamente, descrever, compreender e interpretar a complexidade de um caso
concreto, mediante um mergulho profundo e exaustivo em um objeto delimitado”.
Este trabalho de pesquisa utiliza dentro deste estudo, uma abordagem
qualitativa caracterizada por Oliveira (1999),
[...] como uma abordagem que preocupa-se com quantificação de dados, utilizando para isto recursos e técnicas estatísticas; é muito utilizada em pesquisas descritivas onde se procura descobrir e classificar a relação entre variáveis ou em pesquisas conclusivas, onde se buscam relações de causalidade entre eventos. (OLIVEIRA, 1999).
Essa abordagem está sendo utilizada com frequência em estudos voltados
para a compreensão da vida humana em grupos, em campos como sociologia,
antropologia, psicologia, dentre outros das ciências sociais, trazendo diferentes
resultados significativos ao longo da evolução do pensamento científico, mas se
pode dizer, enquanto definição genérica, que abrange estudos nos quais se localiza
o observador no mundo, constituindo-se, num enfoque naturalístico e interpretativo
da realidade (DENZIN; LINCOLN, 2000).
Pesquisas de natureza qualitativa envolvem uma grande variedade de materiais empíricos, que podem ser estudos de caso, experiências pessoais, histórias de vida, relatos de introspecções, produções e artefatos culturais, interações, enfim, materiais que descrevam a rotina e os
28 Um termo que tem sido usado alternativamente para designar várias abordagens à pesquisa de
ensino, tais como pesquisa etnográfica, participativa, organizacional, construtivista, fenomenológica, estudo de caso e interpretativa. (MOREIRA, 1990).
39
significados da vida humana em grupos. Esta abordagem qualitativa tem sido apresentada como soft science, principalmente por aqueles que adotam posições positivistas, assumindo que a realidade social seja estável e imutável, o que a tornaria candidata a estudos de natureza quantitativa que ofereceriam maiores oportunidades para explicação e generalização de resultados (DENZIN; LINCOLN, 2000).
Para se discutir o Estudo de Caso, Martins (2008) evidencia três aspectos que
devem ser considerados: a natureza da experiência, enquanto fenômeno a ser
investigado, o conhecimento que se pretende alcançar e a possibilidade de
generalização de estudos a partir do método.
Com esse pensamento, a pesquisa realizada no projeto ‘‘Brechomática’’
proporcionou, dentro do ambiente de preparação para o trabalho, espaço para que
os jovens apresentassem suas habilidades, buscando compreender a importância
desta pesquisa associada aos conhecimentos já adquiridos. Também instiga a
busca o entendimento e formação de opinião sobre o assunto, além de analisar o
pensamento crítico, que surgiu conforme se apropriavam de novos conhecimentos.
Portanto,
[...] um estudo de caso vai além do contar uma história: pode ser utilizado para testar hipóteses como, por exemplo, para testar a falseabilidade de teorias, de acordo com o conceito de Popper (MÁTTAR NETO, 2002);
É importante destacar que a utilização do Método do Estudo de Caso auxilia
de forma ampla a pesquisa, podendo envolver situações de estudo de um único
caso e também situações de estudo de múltiplos casos (YIN, 2001; FACHIN, 2001,
MILES, HUBERMAN, 1994).
Na presente pesquisa utilizaremos o estudo de caso visto que é apropriado
em algumas circunstâncias, principalmente quando se pretende reunir, numa
interpretação unificada, inúmeros aspectos de um objeto pesquisado (MATTAR,
1996).
Neste trabalho consideramos o pensamento de Yin (1984), o qual diz que um
estudo de caso é uma investigação de natureza empírica e tem por base o trabalho
de campo ou análise documental, isto é, em seu material de estudo parte de um
contexto real, utilizando todas as fontes múltiplas de evidência como entrevistas,
observações e documentos.
40
O autor acrescenta que este tipo de investigação não é experimental, e sim
utilizada quando o investigador não objetiva modificar a situação, mas compreendê-
la assim como ela é.
Para Yin (1984) os propósitos desse estudo são vários, e podem ser
realizados trabalhos de investigação apenas com funções exploratórias, que servem
para obter informação do respectivo objeto de interesse. Podem ser descritivos nos
quais o propósito essencial é descrever, isto é, dizer objetivamente “como é” o caso
estudado. E, por fim, podem ser analíticos, desenvolvendo e construindo novas
teorias a partir das já existentes.
Trabalhar nesta pesquisa com estudo de caso se justifica também por estar
de acordo com o pensamento de Miles e Huberman (1994, p. 34) que auxiliam a
determinar se o critério escolhido para seleção dos casos foi adequado: observando
se a amostra escolhida é relevante para o quadro referencial e para as questões de
pesquisa, verificando se o fenômeno no qual existe interesse pode ser identificado
na amostra, se o caso escolhido permite comparação, se as descrições e
explanações obtidas a partir dos estudos guardam consonância com a vida real, se
o caso é considerado viável, no sentido de acesso aos dados, custos envolvidos
tempo para coleta de dados e ainda se atendem a princípios éticos.
O estudo de caso, através da avaliação qualitativa, oportuniza que os dados
sejam analisados de forma crítica. Ele busca entender ou compreender o
funcionamento do caso, sem generalizar em relação ao estudo de outros casos.
Assim, o pesquisador analisa os fatos ocorridos que vão transformando os dados,
podendo utilizar classificações ou tabelas. Também procura descrever todas as
características e funcionamento da questão analisada, de modo a ter um quadro
completo, descritivo sobre aquele caso. Para trabalhar com uma pesquisa
qualitativa, deve-se focar principalmente na questão interpretativa na qual os dados
devem ser analisados pelos pesquisadores e também por aqueles que são
submetidos à pesquisa. A maneira de interpretação de cada um tem significado para
o desenvolvimento e para a construção da análise de dados da pesquisa.
Escolhemos a metodologia estudo de caso dentro da pesquisa qualitativa,
pois acreditamos que seja ela a mais apropriada para trabalhar junto à educação
corporativa, ao empreendedorismo e à matemática, sabendo que possui
41
características significantes29 para a construção de uma aprendizagem diferenciada
para o mundo do trabalho.
29 Enquanto a pesquisa quantitativa valoriza os números, a qualitativa vai além, tende a virar o
processo de compilação na sua cabeça perguntando-se o que os números dizem acerca das suposições das pessoas que os usam e os compilam. [...] Os investigadores qualitativos são inflexíveis em não tomar os dados quantitativos por seu valor facial (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.195).
42
5 ETAPAS DA PESQUISA
Durante o componente de Matemática Comercial e Financeira com a turma do
curso de Aprendizagem em Serviços Administrativos foram realizados cinco
encontros. Cada encontro teve um planejamento com o objetivo de desenvolver o
material que seria utilizado. Assim, houve um planejamento, uma ação, uma
observação e uma avaliação conjunta do grupo para cada encontro. A análise
realizou-se de acordo com os acontecimentos dentro de cada um dos encontros,
pois acreditamos que esta foi a maneira eficaz para corrigir erros e sugerir melhorias
antes do dia da apresentação.
Conforme segue, a execução, o planejamento e as observações.
5.1 Apresentação do projeto
Data: 21 de agosto de 2012 – 1° aula.
Duração: 4 horas
Planejamento: mostrasse como é possível reduzir gastos com vestuário para
o trabalho A proposta inicial para a turma foi elaborar um projeto que com pequenas
ações.
Primeiramente dividimos a turma em quatro grupos. Cada grupo escolheu o
tipo de vestimenta que gostaria de apresentar, e o recurso de apresentação que
seria utilizado. A equipe foi orientada sobre a importância de incluir o Programa de
Gestão Ambiental 4R’s no desenvolvimento do Projeto. Desta forma: Reeducar,
reduzir, reutilizar e reciclar.
Ação/Observação: O Curso de Aprendizagem em Serviços Administrativos
iniciou no dia 20 de agosto de 2012 e, mesmo assim, após o convite para que a
turma realizasse um projeto, os alunos demonstraram interesse.
Pensando em criar uma integração entre os grupos, pois estavam juntos há
apenas dois dias, realizamos um debate apresentando a importância deste Projeto e
o possível impacto que teria.
Foi necessário ouvir a turma frente a tantas ideias e objetivos. Muitos queriam
compreender onde a matemática estava inserida no projeto. Procurei explicar que,
após a aceitação do trabalho, iria apresentar um desenvolvimento para cada
43
encontro até o dia da apresentação, e que este seria utilizado como avaliação final
do componente de Matemática Comercial e Financeira.
Por mais que a turma tivesse pouco tempo de convivência, a vontade em
participar foi unânime. Combinamos então que os encontros para a realização do
projeto não seriam consecutivos, para que pudessem realizar as tarefas com mais
tempo e calma.
Apresentei também algumas análises30 em alguns textos de características do
empreendedor, de Dolabela (2003), que seriam facilmente ligadas ao
desenvolvimento do jovem para o mundo do trabalho.
Para afirmar a importância da criação deste projeto, fizemos reflexões a fim
de se trabalhar melhor com o dinheiro. Não existem regras, apenas se cria um
pensamento diferenciado com relação ao dinheiro, e pensando em desenvolver
autonomia, confiança e liberdade financeira, os jovens planejam seus gastos e
aprendem a poupar a partir de suas necessidades. Realizamos um debate em aula
sobre como ganhar dinheiro, como gastar o dinheiro e como e para poupá-lo.
Esses tópicos oportunizam diferentes interpretações da aula, tanto que,
alguns jovens falaram que para ganhar dinheiro é importante ter atenção nas
mudanças do mundo e nas suas necessidades. Outro pensamento que relataram foi
sobre a importância em diferenciar o “eu quero” do “eu preciso”, com a função de
frear o consumo exagerado e aprender a gastar de acordo com as necessidades.
Por fim, sugeriram a importância em poupar, pois proporciona segurança e traz uma
disciplina por controlar a si mesmo.
Pensando nisso, fizemos questionamentos sobre os valores que costumavam
pagar os produtos, se saberiam responder a diferença de preço entre uma roupa de
“brechó”31 e uma roupa de uma loja de shopping. Perguntamos o que faziam com as
peças que não eram mais utilizadas, oportunizando a interdisciplinaridade.
Apresentamos o Programa de Gestão Ambiental, baseado no princípio dos 4R’s do
SENAC 32 e o seu respectivo significado prático.
Com a visão de reduzir, os cálculos proporcionaram a diferença nos preços.
Na ação reutilizar, foi possível ter várias opções de uso com as peças, pois basta ser
criativo, reciclar e utilizar a técnica de customização que apresenta novas ideias de
30 Características do empreendedor, presentes no livro de Dolabela (2003, p. 71). 31 É uma loja de produtos usados, principalmente de roupas, calçados, louças, objetos de arte,
bijuterias e objetos de uso doméstico. 32 Reeducar, Reduzir, Reciclar e Reutilizar.
44
uso, fazendo com que reavaliemos nossas ações do dia a dia, reeducando para
estrutura de um mundo sustentável.
Além de conscientizar, existe a preocupação em estabelecer inter e
transdisciplinaridade, para os conhecimentos adquiridos servirão de suporte para o
mundo do trabalho.
Após explicação, vieram alguns questionamentos como: qual o tipo de
apresentação que deveriam fazer, se o trabalho seria escrito, se todos precisavam
obedecer a um padrão e, principalmente, qual seria o nome do projeto.
Apresentei então a ideia de trabalharmos com brechó, pois conseguiríamos
envolver as práticas sustentáveis, a matemática comparando os descontos dos
preços aos de lojas convencionais, e deixaríamos espaço para que cada grupo
colocasse sua criatividade em prática, mesmo que os objetivos fossem comuns.
A turma ficou empolgada e logo alguns colegas sugeriram nomes como
“Brechonalizando”, “Moda Brechó”; “Reutilibrechando” e “Brechomática”. Utilizaram
como critério encontrar um nome que as pessoas ficassem curiosas sobre o seu
significado. Por votação da turma venceu o “Brechomática”.
Reflexão: percebi que a turma estava determinada a trabalhar para realizar o
projeto, tanto que partiu deles a escolha do nome. Enquanto estavam conversando
com seus grupos sobre como falar de brechó, utilizando a matemática e discutindo
algumas ideias inovadoras para o mundo do trabalho, percebi alguns jovens que se
destacaram como lideranças, incentivando o pensamento do colega, criticando as
ideias e até direcionando para a realização de algumas tarefas.
O que me chamou bastante a atenção foi que, ao finalizar a aula, os grupos já
estavam organizados e divididos com suas funções dentro do que iriam apresentar;
estavam trocando telefones e combinando de conversarem nas redes sociais.
Os alunos também trouxeram a ideia de oportunizar um “reeducação
financeira”33 para os convidados, gostariam de mostrar descontos, lucros e até
ideias para planejar as compras, utilizando cálculos simples.
Nesta primeira etapa, esclarecemos todas as dúvidas e combinamos que no
próximo encontro iríamos fazer um brechó em sala de aula com as roupas que não
33 Mostrar como fizeram os cálculos com regra de três, porcentagem junto a um esclarecimento dos
juros e suas taxas abusivas, também, mostrar como calcular o valor final de um produto parcelado com juros.
45
usavam mais para que montassem alguns looks34 adequados para trabalhar.
Fariam, também, uma pesquisa em alguns brechós on line e em algumas lojas
convencionais35, com o intuito de compararem os preços.
5.2 O dia do brechó
Data: 24 de agosto de 2012 – 2° aula.
Duração: 4 horas
Planejamento:. Brechó em sala de aula
Cada grupo trouxe roupas para a realização do brechó, e a proposta era
montarem looks mais formais apropriados para o dia a dia na empresa e,
posteriormente, realizar uma pesquisa verificando o valor aproximado das peças nos
brechós. Para as lojas convencionais também utilizaram sites como ferramenta de
pesquisa.
Ação/observação: trouxeram roupas da família inteira, e os grupos
estabeleceram como fariam a atividade de apresentação.
O primeiro grupo escolheu fazer um catálogo com fotos dos jovens utilizando
roupas de brechó e encontrando uma forma de reutilizar as peças e aproveitar o
conhecimento em fotografia que uma colega tem.
O segundo iria apresentar um blog mostrando possibilidades de utilizar
roupas adequadas para o trabalho com custo reduzido em até 60%, optando por
produtos mais baratos, evitando desperdícios e consumo exagerado.
A criação de uma revista “Caprichó”36 seria a estratégia do grupo três, com
informações de moda e desenhos de looks compostos especialmente para o mundo
do trabalho, aproveitando também, os desenhos de uma colega.
O quarto grupo resolveu proporcionar uma exposição de manequins vivos,
sendo que quatro colegas são modelos, com preços comparativos e o percentual de
descontos calculados e colados nos manequins.
Reflexão: fiquei surpresa pela organização dos grupos e pelas ideias que
envolviam várias habilidades que eles já possuíam. Ainda assim, os que não se 34 Tradução de look é o resultado da composição das roupas associada aos gestos, atitudes e
acessórios de acordo com a aparência definida pelo criador. Ricard (1989). 35 Loja que é conforme os padrões normalmente aceitos, ela traz a vantagem de o consumidor
“sentir” o produto, tocando-o, experimentando-o e testando-o, além da facilidade oferecida para o caso de troca.
36 Nome da Revista criada pelos jovens.
46
destacaram inicialmente estavam comprometidos com os preparativos e queriam
estar mais nos bastidores.
Chamou atenção, também, a comunicação existente nos grupos, que
marcaram de visitar lojas de shopping para verificar os valores das peças. Alguns
foram até as lojas de brechós e outros marcaram para ir até pontos turísticos de
Porto Alegre para fazer as fotos do catálogo.
É importante destacar que em momento algum falamos em moda e, mesmo
assim, buscaram informações sobre as ocasiões e os locais para utilizar
determinadas vestimentas. Quando discordavam não perguntavam, recorriam à
pesquisa no Google ou a algum amigo, parente, conhecido que conseguisse
resolver.
Eventualmente solicitavam opinião. Como as aulas foram alternadas com as
aulas dos conteúdos obrigatórios do curso, tiveram disciplina e falavam no projeto e
sua realização somente nos dias estipulados.
5.3 Elaboração dos Cálculos Comparativos
Data: 27 de agosto de 2012 - 3° aula.
Duração: 4 horas
Planejamento: elaboração dos Cálculos Comparativos. Os grupos trouxeram
todos os preços dos look’s pesquisados em brechó e em lojas convencionais.
Ação/observação: perguntei aos alunos qual tipo de cálculo eles acreditavam
que seria mais fácil para mostrar a comparação desses preços.
Dois grupos falaram regra de três, outro proporção e um grupo porcentagem.
Dentro desses conteúdos e do objetivo do projeto, questionamos como iriam usar a
matemática e qual o papel que ela exerceria.
Cada grupo apresentou sua visão. Os grupos 1 e 2 queriam mostrar para as
pessoas que vale a pena comprar em brechó, e a regra de três mostra a economia.
Já o grupo 3 disse: “Pensava em mostrar que ao comprar uma calça em uma loja
convencional é possível adquirir duas no brechó”. E por fim o grupo 4 indicou que
mostrariam as diferenças de preço de um look inteiro para um semelhante no
brechó, evidenciando quanto seria o percentual de economia para o cliente.
Após discussão entramos em um acordo de que não é um padrão de brechó
a proporção exata que gostariam de usar. Não significa que por ser usado é o dobro
47
ou triplo mais barato; alguns brechós trabalham com peças novas que são de
coleções passadas de marcas conhecidas e utilizam o desconto e promoções de
outras formas.
Então resolveram através da regra de três mostrar o % de desconto entre
uma peça e outra e argumentariam se conseguissem mostrar a proporção exata,
pois também estavam cientes de que as pessoas têm dificuldades em matemática,
e quando se fala em quantidade fica mais fácil das pessoas perceberem o que vale
a pena.
Como são conteúdos anexos ao nosso plano de curso, aproveitamos para
trabalhar a aula dentro da atividade do “Brechomática”.
Entregaram alguns comparativos conforme segue:
Figura 1 – Loja Convencional
Fonte: Autoria própria, 2012.
Convencional
48
Figura 2 - Brechó
Fonte: Autoria própria, 2012.
Figura 3 – Loja Convenciona Feminina
Fonte: Autoria própria, 2012.
Loja ConvencionalLoja
Brechó Panamar
49
Figura 4 – Brechó Feminino
Fonte: Autoria própria, 2012.
Entregaram junto a cada montagem, uma análise de valores.
Na loja, o look 1 (masculino/todo) sairia no valor de R$556,90. No brechó, o
look todo sairia no valor de R$ 178,70, gerando lucro para o cliente de
aproximadamente 68%.
O valor gerado na loja do look 2 (feminino) seria de R$464,80, e no
Brechó o valor encontrado foi de R$187,90 no final a economia gerada foi de
aproximadamente 60%.
Como conclusão para os cálculos, colocaram ainda que o Projeto Brechó
envolvido com a sustentabilidade é um meio que achamos para expor nossas ideias
com foco na diminuição dos gastos com vestimentas no mundo de trabalho e,
consequentemente, interagir com o meio ambiente. Tentamos oportunizar um olhar
diferente para ''reeducar o pensamento e as ideias, reutilizar roupas aparentemente
sem utilidade, reduzir gastos, gerando economia para reciclar customizando peças
de roupas'', será bom para o nosso ambiente de trabalho e para nós mesmos.
Brechó Por do Sol
50
Preocupada em descobrir se todos estavam de fato contribuindo e
participando nos grupos, para finalizar a aula trouxe tópicos utilizados por Dolabela
(2003, p. 71) que caracterizam o empreendedor; quais sejam: traduz seus
pensamentos em ações; é capaz de se dedicar intensamente ao trabalho e
concentra esforços para alcançar resultados; cria situações para obter feedback
sobre seu comportamento e sabe utilizar tais informações para o seu
aprimoramento; tem um "modelo", uma pessoa que o influência; tem sempre alto
comprometimento; crê no que faz; é orientado para resultados, para o futuro, para o
longo prazo; sabe fixar metas e alcançá-las; luta contra padrões impostos;
diferencia-se.
Foram questionados se durante o processo de execução e criação se
identificavam com algum item. A maioria disse ter facilidade em alguns itens,
principalmente em perguntar uns aos outros se o que haviam feito estava de acordo
com os desejos do grupo, e também falaram sobre suas dificuldades em colocar as
ideias em prática, por isso, recorriam a uma pessoa que os influenciava para
conseguirem a certeza de a ideia ficaria boa.
Reflexão: no início da proposta estava insegura com relação a parte
matemática, se de fato levantariam questionamentos e fariam a relação correta
dentro do desenvolvimento do Projeto.
Fiquei impressionada o quanto a parte Matemática fortaleceu as opiniões e
garantiu a segurança para falarem de dinheiro, e até discutiam sobre suas compras,
pois muitas vezes gastam sem pesquisar, sem ver se o produto vale o quanto está
sendo cobrado. Surgiram também comentários de que apresentaram aos seus pais
o assunto e tiveram a atenção deles; começaram também a participar em casa com
ideias para reduzir gastos.
Pelos relatos consegui perceber que estavam envolvidos e gostando dos
resultados, que a criação do Projeto estava lhes proporcionando crescimento, tanto
pessoal como profissionalmente, e que estavam aprendendo a empreender.
5.4 Avaliação dos materiais
Data: 31 de agosto de 2012 - 4° aula.
Duração: 2 horas.
51
Planejamento: todos os grupos trouxeram o material pronto para apresentar
aos colegas. Foi a realização de uma pré-apresentação para verificar os cálculos, a
linguagem, e as informações que gostariam de evidenciar na hora de apresentar.
Ação/observação: todos apresentaram para colegas como forma de ensaio
para o dia da apresentação para outras turmas e avaliação do componente.
O grupo que confeccionou um catálogo observou que a apresentação
mostraria em cada foto a economia que tiveram, deixando à exposição composições
utilizadas nas fotos, e, também, acrescentaram que o desenvolvimento do catálogo
lhes proporcionou uma visão diferenciada de que com criatividade e atitude podem
obter um excelente resultado.
Outro colega do mesmo grupo salientou que a escolha do local para as fotos
foi proposital, visto que o SENAC, Assembleia Legislativa, Ministério Público e a
Praça da Matriz faz com que lembre o mundo do trabalho.
A revista “Caprichó” criada por outro grupo, com dicas de maquiagens,
penteados, roupas de acordo com as estações do ano, peso e formas corporais,
fazendo o contraponto do consumo de alto custo versus o consumo popular de baixo
custo. Também, como destaque na revista, aparecem os desenhos de uma colega
evidenciando os preços comparativos.
O Blog: www.brechomaticasenacrs.blogspot.com, contém a comparação de
look’s adquiridos em brechó e em lojas convencionais. O grupo manifestou que a
escolha por utilizar essa ferramenta era deixar o conhecimento adquirido para outras
pessoas, pois perceberam que no seu meio social não existe essa preocupação.
Esta consciência promove a redução do consumo excessivo e a aquisição de
vestuários necessários para o trabalho do dia a dia, com maior equilíbrio. A
resolução desse tipo de problema envolve a Educação Corporativa e está
diretamente ligada na preparação do profissional para o mercado de trabalho.
A função do blog é expandir o conhecimento adquirido e oportunizara outras
pessoas acesso a esse material que surgiu a partir do estudo do grupo,
especialmente por que o blog apresenta em detalhes as vestimentas adequadas
para o mercado de trabalho. Comparando o certo e o errado com o pensamento
inovador ao utilizar o brechó e reutilizar as roupas, deixaram disponíveis conselhos
sobre maquiagens, também apresentam a importância de utilizar o dinheiro
consciente, e disponibilizaram os desenhos feitos pela colega, a fim de evidenciar o
trabalho dela.
52
O último grupo a apresentar mostrou-se mais tímido pelo fato de que acharam
menos atraente o que construíram, pois eles só fizeram algumas etiquetas com os
dois preços e com o percentual de desconto. Vestiam as roupas enquanto outra
colega explicava. Argumentaram que ao vestir a roupa, a pessoa consegue se
imaginar dentro dela e sente vontade de comprá-la.
O grupo também relatou que as roupas que estavam usando não foram as
que trouxeram no dia sugerido. Ainda duvidavam de que as roupas de brechó
fossem feias ou velhas de mais para usar, marcaram de conhecer o local para tirar a
dúvida. Como resultado compraram várias peças, e afirmou um jovem: “A visita foi
de extrema importância, percebemos que precisamos estar informados sobre as
coisas do mundo, irei levar todos que conheço no brechó”.
Solicitaram alguns minutos para que juntos escolhessem uma ordem de
apresentação. Os alunos, ao chegarem na sala, entrariam pelo lado direito com a
seguinte organização: o grupo da revista iria mostrar um power point, explicando os
objetivos do “brechomática”.
Logo após, outro integrante falaria da sustentabilidade, e duas meninas
apresentariam a revista. Na sequência, o catálogo, e em algumas classes
colocariam todos os look’s utilizados nas fotos, aderindo à sugestão dos outros
colegas, uma vez que as pessoas precisavam ver e tocar nas peças para
acreditarem que eram usadas. No terceiro espaço, colocariam os manequins vivos,
etiquetados e imóveis.
Por último, antes de sair da sala, o grupo do blog, que mostraria onde
encontrar sugestões e informações on line, também, entregaria um cartão com o
endereço do blog para os interessados.
Reflexões: por mais que estivessem em grupos separados, a turma sentiu a
necessidade de uma integração e unidade. Gostaria que cada um dos trabalhos
viesse para complementar o do outro, e que assim que o nome escolhido
proporcionasse um impacto nas pessoas. Todo o material que construíram partiu da
vontade de cada integrante grupo, pensaram em cada detalhe, e os grupos
esperavam com ansiedade o momento da apresentação, os quais passariam adiante
o conhecimento que adquiriram.
Acompanhar esse processo e perceber os resultados deixa evidente o quanto
existe necessidade em mesclar teoria e prática e pontuar os conhecimentos a serem
desenvolvidos, valorizando os que estão adequados para o mundo do trabalho.
53
Em momento algum houve disputa de qual ideia seria a melhor, estavam
conectados por outra vontade, queriam estudar o assunto para convencer todos os
visitantes, sobre a importância do brechomática.
5.5 Apresentação do “Brechomática”
Data: 5 de setembro de 2012.
Duração: 4 horas.
Planejamento: apresentação do “Brechomática”.
Organização da sala e visita para apresentação dos grupos. Conclusão da
construção do projeto com questionário para os alunos.
Perguntas do questionário para os alunos:
a) Durante o trabalho, o que mais pesou na montagem dos looks; moda ou
matemática?
b) Para você, montar look’s ajudou no trabalho?
c) O que pensa sobre empreendedorismo dentro dessa experiência?
d) Qual foi a impressão quando viram o trabalho pronto?
e) Vocês imaginavam que tinham potencial para desenvolver o projeto?
Alguém da turma já se interessava por essa área?
f) Algo que gostaria de destacar?
Organização: ANEXOS – Fotos da Apresentação
Figura 5 – Cartaz confeccionado para porta da sala
Figura 6 – Foto com exposição dos materiais utilizados
Figura 7 – Foto da Capa do catálogo
Figura 8 – Foto com exposição dos looks do Catálogo
Figura 9– Foto com Capa da Revista “Caprichó”
Figura 10 – Foto dos desenhos utilizados
Ação/observação: Iniciamos a aula com a organização da sala e socialização
dos sentimentos dos grupos para com a apresentação.
Ficou evidente a ansiedade pela oportunidade em expor suas confecções,
opiniões e pensamentos, também, gostariam de saber quais eram os professores e
as turmas que iriam visitar a sala.
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O nervosismo apareceu quando a primeira turma chegou, alguns jovens
pediam opiniões, e os grupos estavam preocupados em explicar corretamente o
conteúdo, passar as informações do projeto e a maneira de realizar os cálculos.
As turmas visitantes seguiam a ordem de visitação conforme a turma
combinou na aula anterior. Houve interesse e surpresa quando falavam de brechó,
os comentários e as dúvidas questionadas eram as mesmas que a turma tinha
durante o processo de realização dos trabalhos, portanto, estavam sanando as
curiosidades dos outros através de conhecimentos que adquiriram. Não utilizavam
frases prontas, apresentavam pontos de vista e experiências vividas por eles para
que se convencessem da importância do trabalho que estavam realizando.
Os colegas docentes que vieram prestigiar também relataram a percepção do
envolvimento deles com o Projeto, como se quisessem convencer e mostrar que
tinha importância o que estavam fazendo. Ficaram surpresos, viram que a equipe
estava alinhada e toda a apresentação se complementava.
No final da tarde, quando finalizamos as visitações estavam cansados, mas
satisfeitos, além de curiosos, queriam saber os comentários. Nesse dia, a turma
recebeu o convite da Diretora para escrever o “Brechomática” na III Feira de
Oportunidades SENAC RS, onde as unidades do SENAC RS têm espaço para
apresentar suas ideias concorrendo a um prêmio.
Após todas as explicações sobre o que significava participar de uma Feira,
foram questionados se estariam dispostos e se sabiam que o nosso Projeto era
pequeno diante de tantos outros. A turma inteira admitiu que a menor preocupação
estava em ganhar, mas dar continuidade a um trabalho que eles se sentiram
responsáveis, e que essa seria uma oportunidade de mostrarem aos outros suas
ideias.
Resolvida a participação, para finalizar a aula, foi realizado com os grupos um
questionário, a fim de verificar como consideraram o envolvimento do conteúdo nas
tarefas, se perceberam o processo de aprendizagem e o que sentiram ao ter
liberdade de expressão para trabalhar.
Conforme, segue as respostas:
a) Durante o trabalho, o que mais pesou na montagem dos looks, moda ou
matemática?
Resposta Grupo 1 - O que pesou mais foi a matemática, pois nossa maior
preocupação era de que os look’s fossem de baixo custo, que através deles
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pudéssemos reutilizar o máximo possível. Assim, fizemos pesquisas em brechós e
lojas, depois calculamos as diferenças de preços, porcentagens de descontos, para
que os look’s estivessem ao alcance de todos. Queríamos mostrar que vale a pena
comprar em brechó, reutilizar o que já temos e ainda assim estar na moda.
b) Pra você, montar look’s ajudou no trabalho?
Resposta Grupo 4 – A ideia de montar looks surgiu através de nosso objetivo
primordial que era unir matemática, mundo do trabalho e sustentabilidade.
Buscamos, então, com essa forma de expressão apresentar vestimentas adequadas
para o ambiente de trabalho. Os looks foram montados com roupas que não
utilizávamos mais, reciclando e reutilizando.
c) O que pensa sobre empreendedorismo dentro dessa experiência?
Resposta Grupo 1 – Aprendemos que o empreendedorismo não é só para
quem tem uma empresa, ele também serve para quem boas ideias, ou para quem já
tem algumas habilidades. Conseguimos aprender a vender nosso trabalho, e
ficamos felizes porque as pessoas gostaram.
d) Qual foi a impressão quando viram o trabalho pronto?
Resposta Grupo 2 – Nossa primeira impressão foi de orgulho e ver que todo nosso
esforço tinha valido a pena. Superou nossas expectativas, deu-nos a sensação de
missão cumprida.
e) Vocês imaginavam que tinham potencial para desenvolver o projeto?
Alguém da turma já se interessava por essa área?
Não imaginávamos que iria dar certo, nem sabíamos nada sobre moda, a
professora não deu nada pronto, disse que era para colocarmos nossa criatividade
na prática com o que já sabíamos fazer bem. Nosso objetivo era associar
matemática, ideias da turma, mundo do trabalho e sustentabilidade. Tínhamos
algumas colegas mais experientes em moda, fotografia e desenhos que nos
auxiliaram bastante.
f) Algo que gostaria de destacar?
Resposta Grupo 3 – Vale destacar a conscientização ocorrida entre nós, falamos em
sustentabilidade e acabamos nos reeducando, a possibilidade de viver na prática os
4 R’s do SENAC, também, o uso da matemática em algo que faz parte do nosso
cotidiano e a descoberta do aproveitamento das habilidades que já possuíamos
antes do “Brechomática”.
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Reflexão: no fechamento da aula, analisei as respostas dos grupos e
confirmei que fizeram a ligação entre os conteúdos de maneira surpreendente.
Relataram surpresa por não solicitar um padrão para a apresentação e até de
material que deveriam apresentar. Os grupos tiveram um empenho diferenciado por
fazerem o que gostam e conseguiram atingir as expectativas.
Os jovens tiveram experiências, envolveram-se com o assunto e buscaram
entender e formar suas opiniões. Além de causaram uma mudança em seus hábitos,
mesmo que pequenas, compartilharam seus conhecimentos com suas famílias e
sentiram-se úteis em colaborar com pessoas que desconhecem o assunto abordado.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Expresso então, as contribuições que considero importantes sobre o
empreendedorismo e a Matemática na educação para o mundo do trabalho.
O curso de Aprendizagem Comercial para formação de Jovens Aprendizes
deve contribuir para Educação Corporativa e Empreendedora, oportunizando,
através da ação dos professores nas disciplinas do curso, como a Matemática,
práticas cotidianas com as ideias do empreendedorismo, inovação e cooperação, e
inseri-las nas discussões e no processo de ensino e aprendizagem. Assim, as
atividades sugeridas possibilitam o desenvolvimento de certas habilidades e atitudes
do indivíduo que, certamente, farão parte da sua formação como ser produtivo e
capaz de oportunizar a construção de seu próprio destino profissional.
Acredito que trabalhar com a prática do empreendedorismo nas aulas de
matemática pode proporcionar uma opção de ensino agradável e motivadora,
diferente do aprendizado de matemática tradicional, o que normalmente pode causar
no aluno uma rejeição pela falta de compreensão da utilização da disciplina.
Concordo com Dolabela (2003) quando sugere que ao proporcionar o
desenvolvimento do pensamento empreendedor, enfatiza que a tarefa do professor
é a de oferecer ao aluno oportunidades de desenvolver os elementos de suporte que
irão torná-lo capaz de conhecer-se melhor, de formular imagens do seu futuro, de
identificar oportunidades e gerar novos conhecimentos de valor profissional e
pessoal.
São pertinentes também as reflexões de (QUARTIERO; CERNY, 2005, p.24),
as quais indicam que através da Educação Corporativa se torna possível estimular a
aprendizagem, favorecendo o autodesenvolvimento, a formação de lideranças
eficazes e a disseminação da cultura, ainda que tenha como objetivo
institucionalizar uma cultura de aprendizagem contínua, proporcionando a aquisição
de novas competências vinculadas às estratégias empresariais. Com isso, é
possível difundir o conceito de que o capital intelectual é o diferencial nas
organizações, despertando a aptidão para o aprendizado.
A utilização do empreendedorismo nas aulas de matemática pode inovar e
aprimorar os conhecimentos fundamentais para jovens que estão se preparando
para entrar no mundo do trabalho. Podemos destacar que o mais interessante de
trabalhar com o empreendedorismo é o fato de que ele não está relacionado apenas
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aos conteúdos matemáticos e tampouco proporciona aprendizado somente no
componente de Matemática Comercial e Financeira. A partir das experiências de
vida do aluno de seus sonhos de realização profissional e de desenvolvimento de
carreira no mundo do trabalho, é possível aprender a empreender.
A pesquisa apresentada propôs a utilização do empreendedorismo nas aulas
de matemática como ferramenta de inovação na metodologia de ensino para alunos
do curso de Aprendizagem em Serviços Administrativos, a fim de apresentar
situações que envolvam habilidades e atitudes valorizadas pelo mundo do trabalho e
proporcionar autonomia nas escolhas, para tomar decisões e para expor seus
conhecimentos já adquiridos.
Ao dispor que os jovens trabalhassem com suas habilidades, despertou-lhes
a autonomia e determinação, pois se sentiram participantes e responsáveis pelo que
estavam aprendendo e iriam ensinar. Os jovens estavam seguros sobre o que já
sabiam através suas experiências pessoais. E, aos poucos, notavam claramente os
conteúdos inseridos nas atividades práticas que escolheram apresentar.
Nosso principal objetivo nesta pesquisa era responder ao seguinte
questionamento: Como, num ambiente escolar, em especial nas aulas de
matemática, os conceitos de empreendedorismo, cooperação e inovação podem
favorecer a aprendizagem voltada para o mercado de trabalho.
Conseguimos trabalhar através de atividades realizadas pelos jovens os
conceitos de matemática financeira em que apresentaram dentro das situações-
problema soluções, escolhendo a melhor maneira para resolvê-las e percebendo
quais conteúdos estavam envolvidos nas atividades. Antes de apresentar qualquer
cálculo, foi sugerido que observassem e fizessem pesquisas sobre as roupas de
brechó e de lojas convencionais. Mesmo assim, conseguiram perceber e relacionar
a existência de custo reduzido, lucro para o consumidor e proporção de quantidade
de peças.
Percebi que trabalhar com práticas do empreendedorismo, além de contribuir
com a aprendizagem dos jovens, proporcionou um envolvimento com as habilidades
e atitudes que o mundo do trabalho valoriza. Em suas apresentações foram
detalhistas e exigentes consigo mesmos, pois a atividade escolhida para
apresentação tem significado pessoal para suas vidas.
Verificamos que incluir a matemática em questões do cotidiano empresarial
propõe um significado para que o jovem tenha interesse em aprender, além de
59
perceber que seu tempo é aproveitado com conhecimentos necessários para seu
desenvolvimento. Os jovens, aos poucos, sentiram a necessidade de justificar com
cálculos suas ideias, perceberam que os valores comparativos serviam para provar a
opinião que formaram e para administrar o salário que ganham.
Por isso, essa pesquisa apresentou uma das diversas maneiras de inovar e
utilizar o empreendedorismo nas aulas de matemática e o quanto isso pode
favorecer a aprendizagem, além de ser uma opção para fortalecer o
desenvolvimento da Educação Corporativa para o mundo do trabalho.
60
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Disponível em: <http://www.profjoaobeauclair.net/visualizar.php?idt=13 24148>.
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ANEXO A – FOTOS DA APRESENTAÇÃO
Figura 5 - Cartaz confeccionado para porta da sala
Fonte: Autoria própria, 2012.
Figura 6 – Foto com exposição dos materiais utilizados
Fonte: Autoria própria, 2012.
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Figura 7 – Foto com exposição dos materiais utilizados
Fonte: Autoria própria, 2012.
Figura 8 – da Capa do catálogos
Fonte: Autoria própria, 2012.
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Figura 9 – Foto com exposição dos looks do Catálogo
Fonte: Autoria própria, 2012.
Figura 10 – Foto com Capa da Revista “Caprichó”
Fonte: Autoria própria, 2012.