literatura e curtas
DESCRIPTION
A literatura e as curtas-metragens.TRANSCRIPT
Págin
a1
FICHA INFORMATIVA
AS MELHORES ADAPTAÇÕES NÃO ESTÃO NO ÓSCAR
Já foram feitos filmes baseados em grandes clássicos da literatura; em livros de não
ficção; em biografias e memórias (dois dos principais concorrentes ao Óscar deste
ano, por exemplo, 12 Anos de Escravidão e O Lobo de Wall Street incluem-se
nesta categoria). Há até livros baseados em artigos e reportagens de revistas
como New Yorkerou Rolling Stone.
(…)
Algumas das melhores adaptações literárias não são longas-metragens com o
apoio de um grande estúdio, mas sim curtas de animação que conseguem, com o seu
sistema de produção muitas vezes perto do artesanal, sustentar-se de pé como obras
autónomas, preservar o espírito do original e ainda oferecer algo extremamente origi-
nal e novo em termos da linguagem do próprio cinema. Antes da existência da arca
de maravilhas da internet, muitos dos filmes eram pouco conhecidos, lia-se sobre eles
em revistas de cinema, via-se o nome nos indicados a prémios como o Óscar ou o
Globo de Ouro, mas ter conhecimento dos trabalhos era mais difícil.1
(…)
1O texto acima pertence ao editor de livros de Zero Hora, Carlos André Moreira, (adaptado) que partilha com os leitores infor-mações, comentários, curiosidades, entre outros. Também a informação desta ficha informativa é baseada nas suas informações e opiniões, com adaptações de linguagem respeitantes ao português). http://wp.clicrbs.com.br/mundolivro/page/2/?topo=13%2C1%2C1%2C%2C%2C13
Págin
a2
1. O Velho e o Mar (1999)
O artista russo Aleksandr Petrov desenvolveu esta pequena gema adaptando a
novela de Ernest Hemingway recorrendo à técnica de desenhar em pranchas de vidro, apagando e repintando detalhes das cenas a cada mudança de quadro. Tam-bém não usa pincéis, e sim os próprios dedos, o que dá à imagem um tom onírico e
impreciso. Este filme esteve no Óscar, e venceu o prémio na categoria melhor curta de animação. Petrov já “garimpou” outras riquezas da literatura, para as suas anima-ções, como A Sereia (baseado em Púchkin) e Sonho de um Homem Ridícu-lo (baseado em Dostoiévski).
https://www.youtube.com/watch?v=qx-3VYKvDUA
1. O Coração Denunciador (1953)
Uma adaptação do conto de mesmo nome de Edgar Allan Poe que usa sombras,
fusões, sobreposições e texturas para criar um padrão visual semelhante às cenogra-
fias surreais criadas por Eugène Berman para o Metropolitan Opera, de Nova York,
nas quais se pode reconhecer mais do que um leve toque do trabalho de Salvador
Págin
a3
Dali. A sombria história do assassino que se vê compelido a confessar o seu crime
para não ouvir mais as batidas fantasmagóricas do coração da sua vítima é narrada,
adverte o curta num cartão de texto, “pelos olhos de um louco, que, como todos nós,
crê que é são”. Por isso, os ângulos distorcidos e as sombras assustadoras de um
desenho que foge ao tradicional, casa tão bem com o espírito da obra. A voz do per-
sonagem principal – que, como no conto, narra em primeira pessoa – é dobrado
por James Mason, e foi o primeiro cartoon a receber indicação etária, recomendada
apenas para adultos, na Inglaterra. O curta é produzido pelo estúdio UPA (United
Productions of America) e dirigido por Ted Parmelee.
https://www.youtube.com/watch?v=ZkJwxq-rCBo
2. The Man With the Beautiful Eyes (1999)
Jonathan Hodgson é um artista a viver em Londres, que já dirigiu sequências de
animação para a série de TV Da Vinci Demon’s, de David S. Goyer. Hodgson é o
autor deste belo curta que adapta um poema de mesmo nome de Charles Bukowski,
sobre um grupo de crianças que se mostram fascinadas pelo mistério selvagem de
Págin
a4
um vagabundo alcoólatra visto numa casa, aparentemente abandonada, na vizinhança
em que moram. Com um traço e um uso nervoso da cor, aplicando palavras na tela e
procurando uma representação tão estilizada que chegue a uma espécie de moldura
do objeto (preste atenção na cena final, na qual os carros e as pessoas que passam
diante da vitrine são apenas formas que não a encobrem). Um filme que recebeu
prémios em vários festivais internacionais, incluindo o Bafta, o mais importante da
Grã-Bretanha.
https://www.youtube.com/watch?v=JW12Ealvj0s 2.1. A Breathtaking Animated Adaptation of Bukowski’s “The Man with the Beautiful Eyes”
by Maria Popova
A visual interpretation at the intersection of the touching and the haunting.
Charles Bukowski was a creature of perplexity and paradox, oscil-lating between romantic pessimism and luminous wisdom on the meaning of life, propelled by an outrageous daily routine. His ex-pressive poems explored everything from the myths of creativity to
Págin
a5
his “friendly advice” to young men.
In 1999, British animator Jonathan Hodgson and illustrator Jonny Hannah teamed up on a breathtaking animated adaptation of Bukowski’s 1992 poem “the man with the beautiful eyes” from his final and arguably best poetry collection, The Last Night of the Earth Poems (public library).
when we were kids there was a strange house all the shades were always drawn and we never heard voices in there and the yard was full of bamboo and we liked to play in the bamboo pretend we were Tarzan (although there was no Jane). and there was a fish pond a large one full of the fattest goldfish
you ever saw and they were tame. they came to the surface of the water and took pieces of bread from our hands.
our parents had told us: “never go near that house.” so, of course, we went. we wondered if anybody lived there. weeks went by and we never saw anybody.
Págin
a6
then one day we heard a voice from the house “YOU GOD DAMNED WHORE!”
it was a man’s voice.
then the screen door of the house was flung open and the man walked out.
he was holding a fifth of whiskey in his right hand. he was about 30. he had a cigar in his mouth, needed a shave. his hair was wild and and uncombed and he was barefoot
in undershirt and pants. but his eyes were bright. they blazed with brightness and he said, “hey, little gentlemen, having a good time, I hope?”
then he gave a little laugh and walked back into the house.
we left, went back to my parents’ yard and thought about it.
our parents, we decided, had wanted us to stay away from there
Págin
a7
because they never wanted us to see a man like that, a strong natural man with beautiful eyes.
our parents were ashamed that they were not like that man, that’s why they wanted us to stay away.
but we went back to that house and the bamboo and the tame goldfish. we went back many times for many weeks but we never saw
or heard the man again.
the shades were down as always and it was quiet.
then one day as we came back from school we saw the house.
it had burned down, there was nothing left, just a smoldering twisted black foundation and we went to the fish pond and there was no water in it and the fat orange goldfish were dead there, drying out.
Págin
a8
we went back to my parents’ yard and talked about it and decided that our parents had burned their house down, had killed them had killed the goldfish because it was all too beautiful, even the bamboo forest had burned.
they had been afraid of the man with the beautiful eyes.
and we were afraid then that all throughout our lives
things like that would happen, that nobody wanted anybody to be strong and beautiful like that, that others would never allow it, and that many people would have to die.
Complement with an equally beauti-ful animated adaptation of Bukowski’s “Blue-bird” and his poetry illustrated by the great R. Crumb.
http://www.brainpickings.org/index.php/2014/07/04/bukowski-the-man-with-the-beautiful-eyes-jonathan-hodgson/
Págin
a9
3. A Alegoria da Caverna (2008)
Este não é um livro especificamente, mas um dos trechos mais conhecidos de uma
das obras fundadoras da cultura ocidental, A República, de Platão. A representa-
ção da realidade física como uma caverna em que vemos apenas as sombras das
coisas, sem atentar para seu significado verdadeiro, é um dos mitos mais conheci-
dos da história da filosofia, e aqui ganha uma muito breve versão na técnica stop-
motion que, em inglês, é conhecida como “claynimation”, trocadilho entre “argila” e
“animação” que é usada para definir o tipo de filme que aqui conhecemos por
“massinha”. O filme é uma produção do diretor Michael Ramsey e do artista ani-
mador John Gribsby.
https://www.youtube.com/watch?v=69F7GhASOdM
4. Um Médico de Aldeia (2007)
Uma versão do premiado diretor japonês Koji Yamamura para este alucinatório
conto de Franz Kafka. O clima opressivo do original, uma pérola da juventude do
Págin
a10
autor tcheco, é traduzido através de um desenho nervoso e de uma variação cons-
tante das proporções e das perspectivas na obra animada.
https://www.youtube.com/watch?v=ZDjmW-gIsKs
5. Nicholas Era… (2010)
No seu livro Fumaça e Espelhos, o inglês Neil Gaiman, autor de Sandman, conta
a origem deste, um breve conto sombrio natalino. A história surgiu como um cartão
de Natal, um pequeno conto/poema de 100 palavras invertendo a lógica benevo-
lente das atribuições do Papai Noel. O texto foi caligrafado e ilustrado pelo amigo
de Gaiman, e parceiro em Sandman, Dave McKean, e enviado como cartão a
amigos e conhecidos (Gaiman admite na introdução do livro que a ideia veio após
se sentir miseravelmente humilhado e sem talento por receber todos os anos car-
tões de Natal feitos pelos seus talentosos amigos ilustradores). Seguindo a mesma
lógica, o estúdio animado 39 Degrees, estabelecido em Pequim, adaptou o conto
numa animação de Natal em 2010.
Págin
a11
https://www.youtube.com/watch?v=D1bf90USDbM
6. Crime e Castigo (2000)
Assim como o Aleksandr Petrov mencionado no início, Piotr Dumala é um mestre
russo da animação, e tem o seu próprio método de produção tão sofisticado e traba-
lhoso quanto as pranchas de vidro do primeiro. Cada quadro, nas animações de
Dumala, é obtido raspando com uma agulha uma prancha totalmente coberta de tinta
preta. Fotografada para o filme, a prancha é, então, coberta de preto outra vez, para
o quadro seguinte, e assim por diante. Com isso, o trabalho resultante é de um con-
traste muito forte entre os raros pontos iluminados e a escuridão restante do quadro.
Um tipo de trabalho que parece ajustado à perfeição para ilustrar a opressiva atmos-
fera de Crime e Castigo, de Dostoiévski. O vídeo abaixo não tem legendas, mas como
Dumala criou uma versão expressionista da narrativa, não há diálogos na animação,
tornando-a passível de ser entendida por todos nós. É uma versão com ares de
pesadelo, não seguindo necessariamente o livro ao pé da letra.
Págin
a12
https://www.youtube.com/watch?v=gknIrdEx6VI
7. Ricardo III (1994)
Entre 1992 e 1994 a BBC passou uma série de episódios de aproximadamente
meia hora cada, cada um apresentando uma versão animada de uma peça
de William Shakespeare, a cargo de um animador russo diferente. Uma das ver-
sões mais interessantes é dirigida por Natalya Orlova, com base na sangrenta
peça de Shakespeare sobre o perverso nobre deformado que empilha uma monta-
nha de corpos no seu caminho até o trono (e a inevitável desgraça).
https://www.youtube.com/watch?v=gknIrdEx6VI
Págin
a13
8. Kashtanka (2004)
A tradição russa de desenhos animados é uma das mais ricas do mundo. Prova
disso, uma versão de um dos contos mais singelos de Tchékhov, sobre a cadela
de um carpinteiro bêbado que, após se ter perdido de seu dono, depois da passa-
gem de uma parada militar, é recolhida por outro homem e levada para uma casa
com animais treinados para o circo, entre eles um ganso e um gato. A versão
abaixo possui legendas em inglês e espanhol, e é assinada pela mesma Natalya
Orlova do desenho anterior.
https://www.youtube.com/watch?v=KKDA1q-nc-E
9. A Maior Flor do Mundo (2007)
Uma animação do diretor espanhol (nascido no Uruguai) Juan Pablo Etcheverry
baseada num conto para crianças de José Saramago. Lançado quando o escritor
ainda vivia, o filme é narrado pela voz do próprio Saramago, que a apresenta no
início e faz uma breve aparição no fim.