libertação dos povos

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Page 1: Libertação Dos Povos
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A Libertaçãodos Povos

A Patologia do poder

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Índice

AdvertênciaConvocação

15

Parte AA-1 A Libertação do Povo 9

a Libertação do poder (doentio) 13b A liberdade é essencial 18c Libertação do poder econômico social 22d Opressão do poder econômico sobre o político 28

A-2 Sociologia do poder 34a Sociopatologia do poder 41b Psicossociopatologia do poder 45c Meios de comunicação no poder 49d O perfil dos poderosos 54

A-3 Sociopatologia 60a A sociedade invertida 64b A sociedade fictícia 71c Patologia social 76d Conscientização da psicossociopatologia 84

A-4 Economia 90a A decadência do sistema financeiro 96b Crítica à economia neocapitalista 99c O que é a mentalidade capitalista? 104d Crítica à economia socialista e à marxista 108

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Parte BB-1 Origem dos males humanos

2 Suicídio coletivo da humanidade3 Necessidade de perceber os erros sociais4 As leis foram organizadas contra o povo5 O engano das instituições religiosas6 A inveja como base da vida social7 Injustiça psicossocial contra a mulher8 Perseguição ao artista: alma da sociedade9 Mensagem aos jovens

115118123127132139143149152

Parte CC-1 Sociologia trilógica

2 O verdadeiro poder3 Estado, família e propriedade4 A sociedade trilógica5 Empresas trilógicas6 Socioterapia7 A ação como base da felicidade8 Realização total pela ação (conscientização)9 A ação (no bem, na verdade e na beleza) como

fundamentos da nova sociedade

157163170176183188196200

208

Adendo1 A Sociedade Trilógica — Cláudia Bernhardt

Pacheco 2122 Empresas Trilógicas — Pertti Simula 2263 As Mulheres e o Poder — Cláudia Bernhardt

Pacheco 2324 História do Poder Econômico — Marc André R.

Keppe 2435 O Poder Econômico no Brasil — Marc André R.

Keppe 2506 Educação Moderna: formação para a escravidão —

Suely M. Keppe Simula 2597 Libertação, o Poder e as Drogas — Martha C. Cruz 2648 A Natureza, o poder e você — Sandra I. Keppe 269

Glossário 2 79Sobre os autores 2 87

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Advertência

Este livro foi escrito nos Estados Unidos, masseus conceitos são perfeitamente válidos para o Bra-sil, uma vez que a estrutura social brasileira é basi-camente a mesma. O mundo ocidental, de formageral, segue o modelo norte-americano, com algu-mas modificações. E para estudar estas modifica-ções brasileiras foi feito um capítulo específico.

Nessa tradução não foi feita uma adaptação deconteúdo para o Brasil, com a finalidade de não de-turpar o texto original, mas o autor do livro o es-creveu com o objetivo de atingir igualmente o po-vo brasileiro.

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Este livro tem a finalidade de conscientizar o povo sobre a vidade escravidão a que ele foi submetido pelo poder econômico-social;foi inicialmente publicado nos Estados Unidos, mas é uma ofertaa todos os povos do mundo, para que eles finalmente se libertem— principalmente ao brasileiro que, possuidor de um país incrívelem suas riquezas naturais, é tão espoliado por grupos econômicosalienígenas e internos, que o estão destruindo.

O povo brasileiro sofre uma pressão terrível de pessoas corrup-tas, que vendem sua própria nação, para ganhar alguns milhões dedólares, depositados embancos internacionais. Tenho esperança de queeste trabalho ajude a conscientizá-lo sobre as possibilidades que eletem de finalmente ser dono de seu destino, e passe de sua situaçãode escravo a senhor do Brasil, que é seu — e não de meia dúzia depessoas insensatas.

Este livro foi originalmente ofertado ao povo americano, eu ago-ra o ofereço a todos os povos do mundo que têm ideal, amor pelaverdade, e pelo bem, que são eternos, e que deverão brevemente subs-tituir os terríveis problemas internacionais por um caminho de paze felicidade.

Norberto R. Keppe

New York, 1 de janeiro de 1987

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Convocação

Queremos convocar todos os indivíduos práticos, todos os quetêm idealismo e dinamismo, os que acreditam no bem, na verdadee no belo, para que se unam, para que possam construir um novomundo, uma nova sociedade, o verdadeiro Reino Humano sobre aTerra, a fim de que consigamos trabalhar para nós mesmos e des-frutar o que o Criador nos legou, e até agora nos foi privado, pelosque detiveram o poder econômico em suas mãos. Chegamos a umtempo decisivo, no qual não é possível mais continuar alimentandoos indivíduos mal-intencionados, que se apoderaram do planeta, or-ganizando uma ordem social só para eles —dando-nos algumas mi-galhas, quando sua situação periclita, ou eles são obrigados a fazê-lo.

Se o leitor perceber, estamos solicitando a todos, para que pos-sam realizar a maior de todas as "revoluções" que a humanidadeteve. Estamos convocando-os para desvirarmos a sociedade dainversão em que está, e a colocarmos em seus devidos pés — porquenão queremos mais ser buxas para canhões ,dos poderosos, pilotospara os seus aviões de morte, motoristas para os seus tanques deguerra, que espalham a morte e a destruição. Queremos viver a vi-da; queremos produzir para nós e nossos irmãos; queremos viverem paz com todos. Mas, ainda, não poderemos permitir que conti-nuem nos usando e matando, jogando classe contra classe, povo con-tra povo, profissão contra profissão; estamos dando um basta a is-so tudo, porque desejamos viver agora em um período de paz, co-mo queríamos, e sempre nos foi negado.

Sei que a maior parte dos que estão no poder não têm consciên-cia, de como são opressores e inimigos do ser humano: capitalis-tas, marxistas, empresários, religiosos não têm idéia de que nave-gam em um barco errado — temos de mostrar-lhes seus enganos paraque os que têm boa intenção desistam de tal caminho, e se unam

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neste trabalho. Os que forem contra o bem social serão pouco a pou-co neutralizados. Se vocês me perguntarem como realizar tal em-presa, eu lhe responderei que, finalmente, encontramos um cami-nho para esta libertação; é o que estamos expondo neste livro.

Gostaríamos de convocar todas as pessoas que se sentem explo-radas — professores, operários, funcionários públicos, comerciários,vendedores, artistas — para que se unam, a fim de realizar final-mente uma sociedade de justiça sobre a face da Terra. Para isso,temos os seguintes pontos de vista:

1?) A propriedade privada, nas dimensões em que existe, é umerro. O planeta foi criado para todos os seres humanos, e não paraum grupo que o explora e lesa, impedindo que todos tenham o seuquinhão.

2?) O ser humano não nasceu para ser escravo do dinheiro, maspara exercer uma atividade em benefício de toda a coletividade, epara ele mesmo, como decorrência.

3?) Temos de conscientizar que as instituições foram criadas pa-ra beneficiar apenas pequenos grupos, explorando os seres huma-nos, impedindo-os de se desenvolverem.

4?) As famílias devem servir, e não usar a sociedade parafornecer-lhes todas as vantagens, como acontece com os grupos fa-mosos, economicamente.

Para evitar que tais fatos continuem acontecendo, propomos oseguinte:

1?)Todas as organizações econômicas pertençam a todos os quetrabalham nela, formando-se empresas comuns a todos.

2?) Cada um ganhe conforme o valor de seu trabalho, e não deacordo com o capital que possui na organização.

3?) Formação de sociedades (trilógicas) que possam dominar aspessoas e os grupos de exploração.

4?) Eliminação gradativa das grandes propriedades privadas, co-mo único meio de se ter paz entre os homens, e uma vida sem an-gústia — a fim de que todos tenham suas propriedades menores.A Terra é suficiente para a humanidade, desde que alguns não seapossem dela demasiadamente.

Existem vários tipos de dificuldades, para que o povo tome asrédeas de seu destino: 1) quem tem o poder, não está disposto aabandoná-lo; 2) todas as pessoas que tentaram modificar o statusquo foram sacrificadas (Cristo, Sócrates, Martin Luther King); 3)a sociedade foi organizada com leis que favorecem os donos do po-der econômico, por isto elas têm de ser mudadas; 4) Mas acreditoque a maior dificuldade entre todas tem sido a inexistência de umaciência, que explicasse esse fenômeno social. Penso que agora a te-mos; é só usá-la. O ser humano sempre teve idéia de que bastava

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mudar algumas coisas que a humanidade melhoraria. Não é nadadisso, teremos que alterar praticamente tudo, para que alcancemoso bem-estar que temos direito de usufruir — deverá ser uma trans-formação básica, total.

Parece que tudo está errado; nesta hora de transformação total,necessitamos de pessoas de grande coragem e valor, para enfrentaro mundo, até desvirá-lo. No começo, serão algumas que se habili-tam mas, pouco a pouco, o seu número aumentará, até que chegue-mos à realização total — porque o que é certo e bom é símbolo doque é eterno, como a vida. E desejamos ser livres, como é o Cria-dor; queremos usufruir dos céus, mares, construir um jardim, paraviver, e não conseguimos. Por quê? Porque herdamos uma estrutu-ra econômico-social absolutamente inimiga nossa. Até este momentofoi assim, mas poderemos modificá-la. Você quer mudar tudo isso,para conseguir viver bem, ou deseja continuar na velha ordem deexploração humana? Acredito que possuindo uma sã consciência (co-mo se costuma falar), pessoa alguma aceita permanecer nisso; pelomenos, desde a década de 1960, o número de jovens que se afasta-ram deste tipo de sociedade é grande. Não é melhor modificar a so-ciedade, do que continuar com essa retirada? Gostaria que todossoubessem que podemos realizar um paraíso desta nossa vida, por-que temos possibilidade de fazê-lo atualmente, pois não nascemospara o opróbrio, para a doença, e a infelicidade, mas para o bem-estar e a alegria.

A luta pela liberdade atingiu o seu mais alto ponto no períododa Revolução Francesa, da Independência Americana e na elabora-ção da Constituição dos Estados Unidos da América; nessa ocasiãoImmanuel Kant derramava lágrimas de gratidão vendo a luta do povofrancês, e cada pessoa, que presencia tais acontecimentos ou lê arespeito, passa por uma onda de entusiasmo. No entanto, o que ve-mos agora é um outro tipo de escravidão, provavelmente muito pior,porque envilece, não só o corpo como a alma, porque impede quese o ser humano desenvolva sua inteligência e sentimentos, e o obri-ga a passar a sua vida de forma inteiramente animal. A escravidãodo poder econômico é muito mais sutil, porque tem o poder de cor-romper a mente de cientistas e alienar o homem destruindo a pró-pria civilização.

Estamos no momento exato de convocar o povo de todas as na-ções para evitar total fracasso do gênero humano, se continuarmospor este caminho — e o grande passo que temos de dar é reconhecera origem principal desse problema, para resolvê-lo. Esta é a inten-ção deste livro e o empenho de minha própria vida.

Thomas Jefferson, John Adams e Benjamin Franklin acredita-vam, como eu creio, em um destino especial para os Estados Uni-dos, que seria o de trazer a luz para todos os seres humanos, e a

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emancipação total de todos os povos da Terra. Este é o nosso ver-dadeiro caminho, e a razão da existência desta incrível nação.

PLANO DE AÇÃO

Acredito que é fundamental o povo tomar uma atitude, para nãoacontecer que as descobertas deste livro permaneçam no campo teó-rico. Para isso, proponho o seguinte plano de ação:

1) Formação de grupos de pessoas, para estudar a questão daescravização do povo, sob o poder econômico-social.

2) Difusão deste assunto a toda a sociedade, principalmente àsorganizações e aos líderes sociais.

3) Formação de empresas trilógicas, isto é, de corporações, lo-jas e de produção agrícola com a finalidade de fornecer lucro aosque trabalham nelas.

4) Organização de sociedades trilógicas, ou melhor, de um tipode vida comunitário, mais moderno, prático e econômico.

Nota: Estas organizações constam no final deste livro, em deta-lhes, mostrado para que servem, e como formá-las.

5) Temos de iniciar este trabalho pelos setores que mais explo-ram a população, ou seja, pelo comércio e negócios, estabelecendouma ponte justa com os agricultores e industriais.

6) A medida que as empresas trilógicas forem sendo suficientespara atender às necessidades do país, o povo deve sabotar todas asoutras organizações que o exploram.

7) Vigiar constantemente os políticos que estão ligados aos po-deres econômicos, para não permitir que eles coloquem seus inte-resses, acima dos altos ideais da nação.

Observação: E importante conscientizar os indivíduos encarre-gados da repressão social (policiais) para não se colocarem ao ladodo poder econômico-social, em detrimento do povo.

8) Incentivar todos os indivíduos bem-intencionados, os verda-deiros líderes a agir para o país conseguir atingir o seu grande so-nho de igualdade e liberdade.

9) E importante que os 2/3 da população, que é formada porpessoas normais, produtivas e idealistas, se ponham neste tipo deação que, em poucos anos, transformaremos toda a face da Terra.

NOTA FINAL: O nosso trabalho deve se basear na não violên-cia. Deixemos que os indivíduos da maldade (os poderosos da eco-nomia) feneçam em seu próprio ódio.

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Parte A

1 — A libertação do povo

A função da Trilogia Analítica é a libertação do povo. Muitospoderão dizer: "Libertar o povo do quê"? E a nossa resposta é aseguinte: o povo, até hoje, foi totalmente escravo dos poderosos;diretamente, através da escravidão, ou indiretamente, por meio dosregimes sociais, que vigoram desde a criação da sociedade.

Seja o governo imperial, o feudal, o burguês, o capitalista, eo marxista, a humanidade está sempre a serviço dos poderes econô-micos e políticos — nunca o povo serviu a seus próprios interesses;o que equivale dizer que jamais o ser humano foi livre.

Muitos poderão objetar que não poderá haver uma sociedadesem dirigente — com o que concordo perfeitamente — mas o queestou dizendo que o errado é o sistema anti-humano, ou melhor,invertido que os poderosos usam para servir só à patologia de al-guns, que adquiriram poder social, seja pelo dinheiro, pela família,pelo sangue, pela raça, ou pela nacionalidade.

A Terra é um planeta que foi criado para todos os seres huma-nos, e alguns indivíduos fizeram um reino para si próprios; o resul-tado é que nem nós nem mesmo eles sentem-se bem — o que é pro-vado pelo número de guardas, de grades, e de cuidados para preser-var o roubo oficializado.

Pessoa alguma poderá dizer que vivemos em um Paraíso; pelocontrário, muitos falam que estamos em um verdadeiro inferno, oque é certo, porque o sofrimento e a doença se tornaram uma nor-ma geral da humanidade — de tal modo que será impossível qual-quer transformação individual, se não for feita a social. Portanto,o primeiro e grande passo é desinverter a sociedade, fazendo comque os poderes trabalhem para o povo, e não contra ele.

A conscientização deste fenômeno é condição fundamental pa-ra a transformação social, e a criação de uma sociedade (trilógica),

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desinvertida, é o segundo e definitivo passo. Já temos sociedadese empresas desinvertidas; assim todo o povo deverá chegar a isso,para servir a si mesmo, para ter toda abundância possível (alimen-tos, transportes, moradias, roupas) — sem avançar no que é do ou-tro, sem derramamento de sangue, em toda paz, pouco a pouco,mas inflexivelmente, tiraremos o poder dos atuais poderosos,esgotando-os em sua avareza e voracidade — porque se o deixar-mos, eles não têm qualidades, pois se as tivessem não passariam oseu tempo a nos atacar (e nem teriam tal interesse) — eles esta-riam como nós, trabalhando e satisfeitos com esta vida, que Deusnos deu. Eles são doentes graves, como os paranóicos, que preci-sam agredir e depender dos outros para viver.

Eis o caminho para o reconhecimento de toda injustiça social,que tem sido feita: a percepção da verdadeira psicopatogia, para sa-ber qual é a sociopatologia; o que significa termos de ver que a so-ciedade foi sempre dominada pelos indivíduos mais doentes, que or-ganizaram regulamentos doentes, e um sistema social doente, paradominar os indivíduos sãos.

Pessoa alguma (do povo) poderá se eximir desta responsabilida-de, pois, se a sociedade é assim, é porque a maior parte ficou foradesta questão; temos nossos filhos e netos, eles terão filhos e netostambém, que merecem viver em um verdadeiro mundo de paz e feli-cidade — que está ao alcance próximo de nossas mãos. Eu querochegar a isto. Você, tenho certeza, o deseja também. Agora, ésó se por neste tipo de ação boa, real e bela — que a beleza, o beme o amor invadirão a face da Terra.

O povo precisa perceber que ele é dirigido por organizações ini-migas dele; por exemplo: 1) a imprensa, televisão, os meios de di-vulgação estão em pacto com os poderes econômico-sociais, na in-sana tarefa de colher proveito à custa dele (do povo); 2) a estruturada sociedade não foi organizada pelo povo, mas pelos grupos inte-ressados em explorá-lo. De maneira que existe uma luta: de um la-do, a humanidade espoliada e ofendida pelos poderosos; de outro,as instituições em fúria para explorar os povos e as nações, o quan-to podem.

Existem povos caracteristicamente oprimidos, como os africa-nos e os latino-americanos, e povos que se acreditam muito livres,e não o são, como o norte-americano e os europeus — em uma lin-guagem mais rebuscada: existem povos claramente escravos (comoos primeiros), e povos totalmente enganados, só porque possuemum sistema político-econômico mais atualizado. De certa forma, emalguns países atrasados pode haver até mais liberdade (desde queo indivíduo não seja um empregado de alguma empresa, ou funcio-nário público); tenho notado que o número de proibições que existe

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nos Estados Unidos constitui um verdadeiro absurdo. Por exemplo:no último fim de semana fui até um lago na cidade de Lee (Connec-ticut), onde havia as seguintes proibições escritas em uma tabuleta:1) não pode freqüentar o lago crianças até 14 anos; 2) não pode tra-zer animais; 3) não pode brincar na areia, com pedras; 4) não podebrincar com bola, na água; 5) não pode flutuar livremente; 6) nãopode correr nas docas; 7) não pode trazer cavalo; 8) não pode na-dar; 9) não pode beber álcool; 10) não pode vir pessoas fracas aolago; 11) não pode trazer copos de papéis, 12) não pode passar alinha delimitada no lago; 13) os guarda-vidas comandam tudo.

Quando eu vim para este país, acreditava que o povo era livre.Agora, noto que é um dos mais escravizados de todos os tempos.Eu pergunto a você americano: — Você é dono de suas florestas,seus mares e praias? Você trabalha para você e para o próximo? En-tão, você não é livre; você é escravo dos donos das praias e mares,florestas e campos. Se você trabalha para enriquecer o próximo, vocêé escravo dele.

Quando William of Ockam lançou seu grito de liberdade, ime-diatamente toda a Europa acatou (Heilderberg, Oxford, Paris, Pra-ga), porque não há nada que precisemos mais do que a liberdade— pelo simples motivo de que jamais a tivemos, e, sem ela, vivere-mos eternamente em um mundo que não é nosso, fazendo o quenão nos favorece, e sem nenhuma possibilidade de um plenodesenvolvimento.

Nosso primeiro passo é conseguir a libertação; o resto virá pou-co a pouco. E para que consigamos isto: 1) o povo deverá adquirira consciência de sua escravidão atual; 2) precisa reorganizar a so-ciedade para entregá-la a quem de direito; isto é, ao povo.

Por que temos de viver em um Estado policiado? Só por um mo-tivo: para preservar o poder dos poderosos; o povo mesmo não temnada para ser roubado; de outro lado, os que são encarregados depreservar a ordem, freqüentemente usam de seus poderes para sub-verter (tal ordem), pela participação no contrabando e tráfico de dro-gas, construindo poderes paralelos.

A revista Occupational Health, página 265, diz que os EstadosUnidos possuem 3,5 milhões de empregadores, e 80 milhões de em-pregados; um número de 26.000 empregadores tem mais do que 250empregados, o que equivale dizer que a grande maioria trabalha paraalguns "felizardos", ou melhor, para os que dedicam sua vida aoroubo, em seu verdadeiro sentido.

Os poderosos dão a impressão ao povo de que qualquer pessoapode ser poderosa também, se se esforçar o suficiente. E uma gran-de mentira, porque só 0,0001% de toda a população chega a ter qual-quer desenvolvimento econômico-social. Goethe dizia que sua ge-

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nialidade dependia de 1% de inspiração e 99% de esforço, que elenão vivia como os personagens que imaginava em seus romances;infelizmente, grande parte do povo alienado acredita que a riquezaconstitui um golpe de sorte — e não um esforço patológico — trei-nado 24 horas por dia, na arte de "trapacear" o próximo.

Acredito que a maior dificuldade que tivemos, até hoje, para con-seguir nos libertar, foi a falta de conhecimento do que é ser livre.Pelo que eu possa ver, ser livre é: 1) viver para o meu bem e o dopróximo — e não para dar riquezas aos nossos "donos"; 2) traba-lhar em função de meu desenvolvimento e do próximo — e não pa-ra dar mais poder aos poderosos (loucos); 3) ir e me movimentara qualquer lugar que eu o deseje — e não até onde permitam os po-derosos; 4) estudar o que for mais útil para mim e para o semelhan-te — e não para trazer mais lucro aos desonestos.

O conceito de liberdade precisa ser revisto, porque ser livre, naopinião da maioria, é fazer tudo o que se quiser: o bem, o mal, oestudo e a vagabundagem, o trabalho e a preguiça, o alimento e aembriaguez. Em nossa opinião, somos livres para a ação no bem,na beleza e na verdade; isto é, em tudo o que existe — porém, cadavez que fizermos o mal, formos preguiçosos e nos embriagarmos,ou estaremos prejudicando a nós mesmos, ou ao próximo.

O primeiro e grande passo para o ser humano se libertar é a cons-cientização de que ele não é livre, não na sociedade atual, capitalis-ta ou na marxista, mas em toda a história da humanidade: nunca,provavelmente, desde que Adão e Eva comeram a maçã, jamais ti-vemos um dia de liberdade. E quem fala que em outro regimeeconômico-social moderno poderemos ser livres, ou a pessoa estámentindo, ou completamente enganada — acredito mais nesta últi-ma hipótese, porque ela irá apenas mudar de senhor.

Acredito que o grande pecado da humanidade foi o de perdera sua liberdade, deixando de viver para o seu próprio bem, e o dopróximo — isto significa que o ser humano se tornou escravo, co-meçando a trabalhar para o enriquecimento dos poderosos. Possofazer o seguinte esquema: no começo, a humanidade trabalhava parao bem comum, orientada pelo Criador. Num determinado dia, osseres humanos resolveram eles mesmos ser deuses, e trabalhar cadaum para si mesmo; os mais agressivos, espertos e megalômanos pe-garam o que puderam, e escravizaram os seus irmãos — e esta si-tuação continua até hoje. Agora, a maioria esmagadora trabalhapara seus novos "deuses" que, de Deus não têm nada parecem maisdemônios, pois exploram, agridem e não têm a menor compaixão;a tal ponto chegaram que pensam que são eles que constroem a civi-lização. Quando se vai a uma instituição científica, religiosa, edu-cacional, lemos em suas paredes os nomes de pessoas "beneficen-tes", que usaram o dinheiro de seu roubo para dizer que foram eles

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que fizeram o que os artistas, engenheiros e operários construíram,e têm seus nomes no anonimato. Só os mais endemoninhados é queaparecem.

O próprio indivíduo poderoso é também uma "vítima" do sis-tema econômico-social, mas é claro que é uma vítima bem aquinhoa-da. Ele sofre de problemas psicológicos (angústias, tensões, fobias,delírios, persecutoriedade), não saem dos médicos e consomem quan-tidades enormes de psicotrópicos. Porém, jamais sairão dessa con-duta de exploradores; precisam ser alijados do poder, e contidos,para que não causem desordens; à semelhança dos doentes psíqui-cos, eles precisam o tempo todo de controle: se não é o psicanalista,o seu conselheiro pessoal, o pastor, o religioso, eles não conseguemo mínimo de equilíbrio.

Tenho absoluta certeza de que, se não realizarmos a revoluçãocerta, a humanidade não terá prosseguimento por muito tempo.

Atendendo hoje (11 de Novembro de 1985) o dr. H.M., psicote-rapeuta americano de 50 anos, com largos conhecimentos de finan-ças, através da comunidade israelita, comentou que o mundo finan-ceiro já está em colapso. Este é o resultado do tipo de sociedadeque foi construída, por pessoas poderosas, para preservar seuspoderes.

Estamos em vias de realizar os ideais do Renascimento, com osda Revolução Francesa; finalmente, estamos às portas de nossa ver-dadeira libertação psicológica e social — estamos a um passo da to-tal liberdade.

Nós conseguiremos a liberdade; quer queiram, ou não, os pode-rosos, alcançaremos a liberdade; depois gostaria de falar que lugarpara os poderosos são os hospitais psiquiátricos, e não o poder.

Libertação do poder (doentio)

O pensador que teve a maior influência em toda a civilização mo-derna, que realmente pôs um ponto final ao espírito medieval, foiWilliam of Ockam (1290-1349). Estudou em Oxford, e lançou omaior grito de liberdade que jamais houve outro igual até hoje; mes-mo que exagerasse em seus conceitos filosóficos, inúmeras universi-dades o seguiram (Oxford, Heidelberg, Praga, Paris), porque esta-vam realmente cansadas da escravidão intelectual da orientação es-colástica da Idade Média. E o que esse grande libertador da mentehumana fez? Primeiramente, rejeitou a metafísica, dizendo que asubstância se confunde com os acidentes (na qualidade e quantida-de), identificou a essência com a existência. Mas o mais importante

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foi a sua descoberta da autodeterminação da vontade, livrando-ados motivos racionais. Ele afirmou que a essência da alma é avontade.

Pois bem, nessa ocasião houve um grande florescimento da ciên-cia, artes, filosofia e política (Renascimento); parecia mesmo quefinalmente o homem tinha se libertado de seus algozes; até que sur-giu a burguesia, e mergulhou novamente a humanidade na escravi-dão; veio então a Revolução Francesa, a última mais bela páginada história da civilização (e nessa ocasião foram formados os Esta-dos Unidos). Infelizmente, temos de afirmar agora, que estamos emum período tão terrível como o Medieval: mais uns anos neste ca-minho, teremos voltado a um incrível barbarismo. O nazismo, fas-cismo, guerras e lutas atuais bem mostram o que estamos passando.

Acredito que estamos em um época de tudo ou nada; ou nos li-bertamos definitivamente da loucura que se apoderou do mundo,ou iremos definitivamente para a destruição. E, como não acreditoque o bem seja mais fraco do que o mal, penso que finalmente po-deremos nos libertar, e chegar a uma verdadeira era de paz.

E muito importante conscientizar o fato que os capitalistas têmo pior tipo de vida possível. Geralmente vivem em mansões isola-das, em constante perigo de ataque, raptos de familiares. Estou di-zendo que não é só o povo que sofre, os que o atacam (os quetêm o poder econômico-social) sofrem todas as conseqüências doque fazem. De modo que a transformação social irá beneficiar a to-dos, mesmo os que não a aceitam porque têm o poder nas mãos.

A humanidade conta com algumas pessoas tão doentes, que pou-ca esperança se pode ter que modifiquem na conduta. Uma partedelas adoece constantemente de doenças físicas e outra parte conse-gue alcançar os cargos de poder social. A nossa função é a de cons-cientizar a todos a respeito desse problema, mas principalmente opovo, que é a grande vítima de tal situação.

Organizada como está, a sociedade esgotou todos os seus recur-sos para crescer; se não houver uma mudança mais ou menos rápi-da, irá ser impossível evitar sua decadência total. O ser humano estácompletamente cercado em seu desenvolvimento: nem trabalhar elepode, porque o sistema econômico-social poderá perder o lucro fa-buloso que tem ainda, se o homem produzir mais. A produção temde ser cercada a uma quantidade que possa ser vendida, para garan-tir o lucro de poucos — assim, uma grande parte da energia huma-na tem de ser contida, e toda a civilização estaciona. Estou dizendoque o povo só pode produzir o que causará lucro aos poderosos,isto é, ao pequeno grupo que cerceia toda a nossa liberdade, em trocode uma existência cheia de ilusões, dentro de palacetes faustosos,rodando em Roll Royces, viajando em alto luxo, consumindo bebi-das inebriantes e aparecendo em noticiários jornalísticos. Precisa-

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remos perceber que essa gente vive assim, à custa da escravidão dopovo, de sua fome e desespero.

As cidades modernas, capitalistas ou marxistas, possuem um nú-mero enorme de apartamentos-cubículos, onde vive uma multidãode pessoas — como se fossem ratos em suas tocas. Ora, sabemosque tal ambiente é propício para a proliferação de vícios (tensão emo-cional, drogas, homossexualidade, crimes) — como já foram orga-nizadas experiências em animais que, amontoados, apresentaramaberrantes anormalidades. Tal situação, é bem diferente de algumtempo passado, quando o povo ainda vivia em locais mais amplose arejados. Este fato prova que houve um decrescimento no modode viver — para que fosse aumentado o poder econômico dospoderosos.

É muito difícil mudar a mentalidade capitalista em que a huma-nidade vive, porque o dinheiro tem sido considerado, por muitosséculos, a maior riqueza que existe, o objetivo final desta vida ma-terial. Esta idéia foi colocada na cabeça do povo para que ele admi-re que tem poder econômico — esquecendo a maravilha que é o ca-minho da ciência, das artes, da verdadeira técnica e civilização; éuma idéia doentia, de pessoas muito enfermas, e que no fundo nãoconvencem.

Uma das provas do que o poder sempre foi exercido de modopatológico é o fato de sempre haver guerras e atritos entre as na-ções. Vendo a capa da revista U.S. News, de 7 de Outubro de 1985,vê-se uma foto do presidente Reagan e do Primeiro Ministro sovié-tico Gorbachev, onde este último declara: "Propaganda, agressãovinda do espaço"; e o presidente americano diz: "A verdade é a nossamaior arma". E evidente que os dois são rivais extremos, não por-que seus povos se odeiem entre si, mas os interesses dos poderososde ambos os países se colidem. Se houvesse só os dois povos, os agri-cultores americanos estariam radiantes de poderem vender seu tri-go, e os soviéticos felizes da vida, por poderem sair de seu país, apren-der a melhorar sua própria vida — quem fez a cortina de ferro nãofoi o homem comum, assim como quem ataca o cidadão soviéticoé somente aquele que está interessado em dominar o seu e os outrospovos. E não podemos dizer que Reagan e Gorbachev não sejamsimpáticos e amáveis; até podemos dizer que eles estão servindo apoderes tão maléficos que não têm a menor idéia.

O marxismo fala de classes sociais inconciliáveis: burguesia-em-pregados; capitalista-operários; nós falamos que todo poder contrao povo não constitui uma classe, mas uma aberração social, umaanomalia, que deve ser analisada, conscientizada, para ser elimina-da — como se fosse uma doença, como é realmente uma patologia,uma sociopatologia.

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No começo existia o ser humano e pequenos grupos; depois, elecomeçou a organizar uma sociedade, e os mais doentes tomaram adianteira, isto é, os teomânicos, os megalômanos e os narcisistas (osmais doentes). Deste modo, criaram algo doentio, onde os sãos ti-veram que se submeter a leis injustas — mas, como freqüentementesucedem atritos sociais, uma coisa ou outra é corrigida — masevitando-se cuidadosamente que o poder escape dessas mãos doen-tias. Aquela velha pergunta: — Quem foi criado primeiro, a gali-nha ou o ovo? Esta pergunta tem cabimento aqui porque o homemorganizou uma estrutura doentia, forçando toda a humanidade aviver dentro dela. Penso que atinei com a etiologia do problema so-cial, e agora será possível corrigi-lo.

Hoje estivemos na igreja S. John Divine em Nova Iorque (a maiorigreja do mundo), e lemos, em várias placas nas paredes, inscriçõesde agradecimento a pessoas que forneceram dinheiro; pois bem, es-ses indivíduos certamente exploraram o próximo (com exceções, éclaro), e ficam constando como beneméritos — enquanto aquelesque realmente trabalharam e enriqueceram o próximo estão esque-cidos — até que na eternidade fique tudo claro.

O indivíduo poderoso tem a idéia de que o mundo, os países ,as ruas, as estradas, as montanhas e as praias foram criados paraele; como ele comprou todo o conforto possível para um ser huma-no viver bem, vê com "naturalidade" as dificuldades do resto dapopulação — ainda tendo a idéia de que só ele é merecedor de todobem-estar de que goza; alguns, como Weber, ainda acrescentam quesó a pessoa abençoada por Deus é rica! Toda a cultura está impreg-nada por esta noção invertida.

A maior parte das pessoas tem a idéia de que a sociedade é as-sim mesmo, e que os que não estão contentes deveriam viver isola-dos do mundo, ou em outros tipos de comunidade, estranhas à vidanormal — alguns chegam ao ponto de promover a luta de classes,o que pode tornar a existência mais difícil ainda.

O poder deveria ser igual ao de Deus, que o usa no sentido decriar o bem, o que é certo e bonito; estou dizendo que tem de existiro poder, mas não como está sendo usado: egoisticamente, para be-neficiar só os que têm autoridade e os poderes sociais. Assim sen-do, deverá haver uma substituição gradativa, mas total, de todo opoder: em lugar de servir a si mesmo, tem de servir ao povo, istoé, deixar de ser diabólico. E o povo tem de compreender que só elepoderá modificar tal situação, seguindo novos líderes que sejam hu-mildes, normais.

Esta consciência que adquiri e estou transmitindo aos outros sópoderá ter bom resultado, se todos os indivíduos se colocarem emação, visando ao bem comum. E tenho plena certeza de que este

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é o desejo de toda a humanidade — menos, é claro, dos que se alo-jaram no poder para agredir e impedir a felicidade do próximo.

Tenho certeza de que todos os problemas que nos afligem agoraserão resolvidos, como a questão do armamento mundial, a destrui-ção da fauna e da flora, a delinqüência em grande escala, o uso dasdrogas, enfim, o ser humano acordará para a sociopatologia em queentrou, e sairá dela.

Todos os poderes do mundo têm enorme medo da conscientiza-ção do povo porque, no momento que ele perceber a enorme injus-tiça em que vive, toda essa estrutura social desmoronará. No passa-do, Engels e Marx falaram um pouquinho sobre o problema econô-mico — social do capitalismo, e a humanidade se dividiu; imagi-nem agora, se houver percepção de todo esse absurdo que os pode-rosos fizeram com a sociedade?!

As vezes eu penso como o mundo seria diferente, se fosse reple-to de teatros e museus, de construções abertas para todo o povo,regiões enormes para passeios, e locais de cultura. O mundo paratodos, como uma sociedade trilógica, isto é, dos que trabalham; ummundo sem proibições, sem os "águias" pegando tudo para eles;as grandes propriedades privadas eliminadas; o Estado deslocadodas mãos dos poderosos, para as do povo. E um sonho impossível?Não, é uma realidade, que já iniciamos em nossos grupos.

A fortuna está ao alcance de nossas mãos, e não podemos pegá-la, porque as leis não nos permitem; os bens são suficientes paratodos; no entanto, os poderosos os cercaram de tal modo que nãopodemos nos aproximar deles. Por exemplo: as empresas foram to-madas pelos capitalistas, comunistas, empresários, e o povo barra-do; as minas geralmente pertencem aos poderosos, o povo paga im-postos, e tudo vai em aumento do poder econômico-social.

O país dotado da Constituição mais livre em todo o mundo sãoos Estados Unidos; porém, esta Constituição está sendo dominadapor algumas pessoas que têm o poder econômico-social, e fizeramalgumas "concessões" ao povo, no sentido dele poder comprar al-gumas migalhas, que sobraram da mesa dos poderosos, e ficar tran-cado em seus cubículos, drogados, bêbados e alienados, para nãooferecerem perigos aos que dominam a sociedade. O primeiro e gran-de passo a ser tomado é no sentido de acordar o ser humano, queestá completamente adormecido. Conscientizar a humanidade queela está nesse estado de obnubilação é condição fundamental paralevá-la a uma situação de felicidade. Socialmente, temos de modifi-car imediatamente as leis, que permitem aos mais doentes dominara sociedade, estar atento para que os indivíduos maus não distor-çam novamente. Temos de vigiar cada minuto, para que não seja-mos lesados. "A eterna vigilância é o preço de nossa liberdade " ,como falava Lincoln.

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A liberdade é essencialA idéia de liberdade é muito sutil: a grande maioria pensa que

ser livre é fazer tudo o que se quiser e, para chegar a isto, tem deganhar bastante dinheiro. Porém, este conceito é errado porque: 1)não podemos beber água poluída, 2) comer carne estragada, 3) voarcomo os pássaros, 4) viver na água com os peixes. Porém, tudo oque é bom, real e belo podemos realizar: 1) ter afeto pelo próximo,2) dizer a verdade, 3) ajudar a humanidade, 4) ser justo; estou di-zendo que somos livres só para realizar o que é bom. Mas existe ou-tro tipo de liberdade de grande importância, que consiste em ver ospróprios erros e enganos, isto é, a prisão em que nos colocamos,a fim de que possamos sair dela; praticamente, esta é a finalidadeda Trilogia Analítica.

O que é errado não existe por si e se o ser humano conseguirperceber isso, irá chegar a uma grande felicidade — pois deixará delutar pelo que é evanescente e ilusório, passando a viver o que é real,isto é, o que é bom, bonito, desenvolvido e apropriado para o seubem-estar. Os demônios enganaram não só nossos primeiros pais,mas eles continuam até hoje fazendo-nos de bobos e débeis men-tais. Precisamos reagir contra isso, e passar a escolher o que nosbeneficia verdadeiramente, e com isso acabaremos com as doenças,as injustiças sociais, a miséria e a fome. Precisamos abrir os olhospara ver que ainda é tempo de voltar atrás e retornar ao ParaísoTerrestre, que está ao alcance de nossas mãos.

Se a pessoa age mal, evidentemente tem de perceber seu sofri-mento posterior; se ela aliena tal percepção, o sofrimento apareceem outras manifestações, como as doenças. Qualquer sofrimentoé conseqüência de uma atitude ruim, que deve ser modificada, sobpena de destruir o seu portador. O papel do medicamento é justa-mente o de alienar o ser humano; por esse motivo, existe o víciode tomar psicotrópicos, em doses cada vez maiores, para escondero sofrimento cada vez mais intenso que surge. Isto acontece no cam-po médico. Na vida social, precisamos ver que adulamos os doen-tes, os piores indivíduos que alcançam o poder, e nos tornamos jo-guetes em suas mãos.

A liberdade é essencial ao ser humano: sem ela, não é possívelrealizar nada absolutamente; todas as forças internas, psicológicas,a inteligência, os sentimentos só podem existir se tivermos liberda-de. Aliás, Deus é a total liberdade, e nossa felicidade depende deconseguirmos essa semelhança com Ele, para podermos existir comtodas as potencialidades que temos.

Toda vez em que a humanidade gozou de uma fase de liberdadeteve um enorme desenvolvimento: o período democrático de Péri-

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cies, em Atenas, produziu os grandes pensadores (Platão, Aristóte-les, Sócrates); o cristianismo inicial libertou os escravos e as mulhe-res, dando dignidade ao povo; William of Ockam extinguiu a IdadeMédia, dando grande impulso às universidades, à política e à filo-sofia; o Renascimento abriu as portas ao período moderno. A ve-lha França conduziu o mundo por 1.000 anos, por ser mais livre;a Inglaterra organizou a filosofia da liberdade (Locke Berkeley, Da-vid Hume) e, no início deste século, a Alemanha tornou-se uma gran-de potência, depois o Japão e os Estados Unidos, porque seus po-vos puderam ser livres.

Porém, aquela liberdade essencial ainda não o conseguimos; aliberdade para poder "criar" e produzir, viver alegre e gostar domundo, ainda não temos; e aqui entra a questão do poder que colo-ca uma trava, que não nos deixa desenvolver. Esta sim é a pior detodas as prisões: pensar que somos livres, por causa da Constitui-ção do país, que fala em liberdade, e não o somos; estamos, issosim, redondamente enganados; por este motivo estou escrevendo estelivro — para tentar conquistar definitivamente a liberdade. E acre-dito que, desta vez, a conseguiremos, pois a história da civilizaçãohumana é a história da libertação do homem, a luta que travamospara nos libertarmos dos doidos, que tomaram o poder (em conluiocom os espíritos infernais) para que consigamos assumir o que é nos-so: o país, o mundo, as praias, as florestas, o ar, e a própria vida.

Nossa opinião sobre a escravidão em que a humanidade sempreviveu é oriunda de dois problemas fundamentais: dos poderosos edos poderes sociais.

O povo, ao mesmo tempo que é esmagado pelos poderes sociais(econômico, político, religioso), sofre também pressão dos indiví-duos que se tornam poderosos — e este fato acontece com a maio-ria dos seres humanos que chega ao poder, porque ele é por si mes-mo alienante. Estou explicando que, como a organização econômi-co-social é invertida, toda pessoa que deseja e alcança o poder au-tomaticamente entra a serviço da desonestidade.

Se a cultura social é assim, não adianta esperar qualquer modi-ficação dela; temos de organizar um grupo de seres humanos me-lhores, que exerçam pressão e ajude todo o povo a conscientizar talfenômeno. Aliás, o povo está em condição de transformar imediata-

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mente a sociedade: 1) se aceitar esta conscientização, de que o po-der é dominado por graves doentes psíquicos; 2) que ele (o povo)não tem de ser dominado por ninguém, mas ser livre; 3) que tal fatodepende só de nossa vontade.

Acredito mesmo que estejamos às portas da maior revolução detoda história da humanidade. Darei um exemplo de nossa prisão hu-mana: compramos uma casa e precisamos da aprovação do gover-no; além dos bombeiros que vêm olhar a questão da segurança, sur-gem outros fiscais que exigem: retirar armários, colocar novas por-tas, grades, isolar o aquecedor, sendo a maioria das exigências to-talmente desnecessárias. Não preciso falar que muitos deles são cor-ruptuos e "exigem" dinheiro, para "aprovar " o estado da casa. Exis-tem leis para tudo: onde andar, estacionar, visitar; pouco a pouco,teremos leis, onde olhar, para poder respirar, se devemos ter nossocoração, fígado, ou se somos obrigados a trocá-los por um de lata,construído na melhor fábrica da Sociedade Médico-Financeira SemLimites.

Assim como a doença psíquica é engraçada, a sociedade está setornando cômica; porém, o pior de tudo é que não só é só cômica,é trágica também. Não preciso dizer que os próprios adolescentesse matam, que se abusa das crianças e dos velhos abandonados —pois somos obrigados a produzir e dar poder aos loucos, que nosoprimem e nos exploram, pois as leis lhes dão poder.

A sociedade humana é uma tristeza; quando se vê um monte deprédios escuros, com luzes apagadas, pessoas passando cabisbaixaspelas ruas, malvestidas, mendigas, parece que não vale a pena viver— por este motivo, muitos pensam que a vida é um castigo; algunsse matam, uma grande parte se enxarca de remédios, para não dizerdos revoltados, cheios de ódio e fúria, porque não pediram para nas-cer, em uma sociedade dominada pelos indivíduos mais maléficos.

O que eu gostaria de dizer é que não é necessário haver uma so-ciedade assim, tão desagradável para viver; temos tudo para ser fe-lizes, e algo muito pesado nos segura. O que é? E a sociopatologia(patologia social), que nos segura, como mil demônios — essa pa-tologia são as leis, as estruturas, e os indivíduos que adquiriram opoder. Eles nos censuram, prendem, impedem nosso desenvolvimen-to; eles nos vigiam dia e noite, para que não saiamos de suas garras.A previsão de Orwell foi realizada.

Porém, somos a maioria, somos 99%, controlados doentiamen-te por 1 07o; somos a força e o verdadeiro poder (divino) sobre a Ter-ra. Tenham esperança, seremos livres brevemente. Confiemos emnós mesmos, e na próxima libertação que teremos — basta que to-memos consciência de toda a injustiça atual, e passemos a trabalharpara nós mesmos, e a viver em nossas sociedades, com uma estrutu-ra social servindo-nos, e não aos poderosos (doentes). O povo sabe

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que é infeliz, o povo sabe que está precisando haver uma profundamodificação social, e não sabe como. O que estamos propondo éjustamente essa mudança fundamental, para que a civilização en-contre o seu verdadeiro rumo.

As leis sociais são necessárias para orientar o indivíduo comoviver em sociedade; porém, existe um excesso de regulamentos que,praticamente, estão imobilizando o ser humano. Por este motivo,um "slogan" muito em voga, há duas décadas, foi: "É proibidoproibir". E o motivo deste estado de coisas, não é difícil perceber:como toda a estrutura social básica foi construída para proteger adesonestidade dos que têm poder, foi necessário também a elabora-ção de um código de ética extremamente rebuscado, para garantireste poder; é um código de ética minucioso, para enquadrar todosos movimentos do ser humano em uma prisão social, aparentemen-te livre. Os que têm poder e muito dinheiro estão livres de qualquerlei, enquanto os que não tem quase nada são cercados em todas assuas ações, para que não se aproximem do reinado dos poderosos.Este é o motivo principal, atualmente, da delinqüência social, dos cri-mes, roubos e agressões. E o pior é que, se não for modificada (asociedade), a tensão social crescerá a um ponto intolerável: bastaver as estatísticas do aumento dos crimes e doenças.

O que é ser livre? Geralmente, a religião cristã fala que ser livreé se libertar do pecado — na Bíblia se encontram várias referênciasde Cristo, no sentido de se libertar do pecado (João, cap. 8 vers.32). A filosofia diz que liberdade é realizar tudo que se quiser, obem e o mal (Kant, William of Ockam). A orientação sociológicapreconiza a libertação do homem do Estado (Comte); os marxistaspensam que temos de nos libertar do capitalismo — estes últimos,do comunismo.

A Trilogia Analítica fala que nossa prisão está na patologia psí-quica e na social, e que é possível nos libertarmos dela pela cons-cientização, e pela mudança psicológica e social. A mudança psí-quica depende de cada um, e a social de quase todos. A idéia deFreud, sobre a existência de uma patologia psíquica básica é erra-da; somos sãos na base, e o que temos de errôneo constitui apenasuma atitude de oposição, negação, ou de deturpação do que é bom.O ser humano tem o desejo de perfeição, o que é absolutamente cer-to, porque este é nosso destino: chegar ao que é eternamente perfei-to. Parece mesmo que a humanidade deu uma incrível volta, paradepois se aproximar ao que o Filho de Deus falou.

A história da humanidade é a história da luta do ser humanopela sua liberdade; é a história da luta contra a paranóia, contratodos aqueles que galgam altas posições ; com a intenção de domi-nar e conseguir a submissão dos povos. E importante o povo perce-ber esta enorme inversão que faz, ao pensar que tem de respeitar

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o poder econômico-social, e não que a economia foi organizada pa-ra subtrair o poder do povo, para impedir que o ser humano se de-senvolva. Vamos dizer que ela é um falso poder, porque breca todarealização — é um contrapoder, uma luta organizada contra todaa humanidade. Portanto, nossa grande batalha irá ser a de subtrairo poder dessa gente, para que consigamos ser livres definitivamen-te. Nossa vida individual não pode ser boa, se não for (boa) social-mente. Por este motivo falou Einstein: "Tudo que é realmente gran-dioso e inspirador é criado pelos indivíduos que podem trabalharem liberdade".

Libertação do poder econômico-socialO jornal New York Times, de 2 de Janeiro de 1986, traz uma

notícia: "Palm Beach, Flo. A autoridade Donald Trump adquiriuMar-a-Lago, a mansão já de propriedade de Mojorie MariweatherPoat, da Fundação Prost. A venda da mansão de estilo mediterrâ-neo, que tem 118 salas e ocupa 17 acres... a manutenção anual éde 1 milhão de dólares". E claro que tal mansão foi comprada paraser transformada em alguma sociedade lucrativa; porém, tal fatoexplica a existência de 9.000 pessoas sem casas só em Nova Iorque.Acredito que Calvino pensaria a mesma coisa, se estivesse vivo, eo próprio Adam Smith e Jeremy Bentham mudariam inteiramentesua opinião sobre a honestidade dos milionários atuais.

Ferdinand Lundberg escreveu dois livros muito conhecidos: Ame-rica's Sixty Families e The Rich And The Super-Rich onde mostraa situação de escravidão que tais grupos realizaram contra seu po-vo, e o de outros países; nós acrescentamos que eles fizeram contrasua nação e a própria civilização. Cristo sabia muito bem quandofalou que é difícil um rico entrar no Reino dele (Mateus, cap. 19,vers. 23). Posso dar alguns exemplos imediatamente: cada ser hu-mano, logo ao nascer, torna-se escravo dos que têm o podereconômico-social, porque tem de comprar sua comida, a casa ondemora, a roupa que usa, o sapato que calça — praticamente, entraem um inferno de existência. E o pior é que vemos diariamente in-divíduos morrendo de fome e de frio, no mundo todo, por causada maldade dos que retêm o poder econômico — pessoas frias, semnenhuma caridade, agressivas e más como só são os demônios.

Logo na primeira página, o livro O Rico e o Super-Rico diz oseguinte: "E a chocante estória da América de hoje e seus silencio-sos governantes multimilionários que não pagam impostos e diri-gem o país tão duramente quanto uma ditadura". Lundberg mos-

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tra claramente como o poder econômico-social domina amplamen-te a nação, e oprime o povo. Parece que toda pessoa ao nascer rece-be um estigma: "Você nasceu, seu desgraçado, agora irá ver o queé a vida" — como se mil demônios tivessem ódio do trabalho doCriador, e quisessem destruí-lo completamente, através dos milio-nários no poder.

Para ter se idéia do estrago que o poder econômico-social reali-za, basta ler o artigo da Lansing Lamont no jornal The New YorkTimes, página 31 de 10.01.86: 1. O Japão em Agosto de 1945 erauma nação realmente derrotada e portanto não havia necessidadealguma de se jogar a bomba. 2. Os Estados Unidos aceleraram otempo de jogar a bomba para forçar uma rápida rendição japonesaa qual não daria chance para que a União Soviética entrasse na guerrado Pacífico, e 3. A aniquilação de Hiroshima não foi, no final, ine-vitável porque os Estados Unidos estavam determinados a explorarem 3 anos, um investimento de dois bilhões de dólares no desenvol-vimento de bombas, baseado no livro Dia da Bomba, de Don Kurz-man. Tal fato nos mostra que foram mortos milhares de indivíduos;duas cidades foram arrasados (Hiroshima e Nagasaki), para que odinheiro gasto na pesquisa atômica não fosse prejudicado. Bom, estaé a explicação superficial pois o que está atrás disso, e que é funda-mental, é o ódio e inveja dos poderosos que agiram como se fossemdemônios, pelo desejo de matar e destruir — como feras enfureci-das. E este tipo de pessoas retém até hoje o poder econômico-social,para pisar e prejudicar o bem-estar e o povo — são pessoas sem co-ração, vendidas ao poder maléfico.

A revista Business Week de 20 de Janeiro de 1986 traz na página40 o artigo intitulado: Agora a Economia da Alemanha Ocidentalestá carregando a Bola — a bola é o globo terrestre; pois bem, osque têm o poder econômico-social acreditam que são eles que carre-gam o mundo, e não que é toda a humanidade que tem de carregá-los, em seu egoísmo e exploração, que priva os seres humanos doseu bem-estar e liberdade. Parece incrível, mas a libertação atual doser humano depende basicamente da anulação do poder econômico-social — porque toda a humanidade passou a girar em torno dessepoder, que açambarcou todos os meios de produção, a ciência, ar-tes e a tecnologia, colocando todos os países e homens sob sua de-pendência. Ele é como o grande ladrão e mafioso, que obriga cadacientista, artista, ou trabalhador a entregar a ele o produto de seutrabalho, para que seja usado. O grande pecado do mundo está nopoder, que agora se localiza no setor econômico-social — porquetodos os erros cabem na atitude do poderoso: inveja, ódio, avare-za, preguiça, gula, orgulho e luxúria — e tal poder como está sendousado, constitui uma atitude de negação, omissão e deturpação darealidade.

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Os indivíduos que têm o poder econômico-social nos Estados Uni-dos pensam que o povo sente admiração por eles; não resta dúvidade que alguns admiram mesmo — mas a grande maioria esmagado-ra tem verdadeiro horror deles. Um segundo fato importante: eles(os milionários) se identificam com as grandes figuras da HistóriaAmericana (Lincoln, Jefferson, Franklin, Paine), acreditando quetêm o mesmo valor — não querendo perceber que são justamenteao contrário: daninhos e perigosos para o país e a civilização, san-guessugas e doentes mentais; são indivíduos de que temos de noslivrar, mais cedo, ou mais tarde, caso não queiramos perecer con-juntamente com eles. O terceiro fato importante é este: o tempo dospoderosos na economia está chegando ao seu fim, porque eles sedistanciaram tanto do trabalho, que não tem mais apoio para con-tinuar com os seus lucros fabulosos; são decadentes e estúpidos. Efundamental' que o povo não os siga, para não afundar com eles.O livro que escrevi sobre a Decadência Americana não mostrou quesão essas pessoas que estão destruindo o país, e a sua mente, e, in-clusive, levando toda a civilização de roldão.

F. Scott Fitzgerald tem uma citação curiosa sobre os ricos:"Deixe-me falar sobre as pessoas muito ricas. Elas são diferentesde mim e de você. Elas possuem e usufruem cedo e isso representaalguma coisa para eles, faz deles serem maleáveis quando somos ver-dadeiros, de tal modo que, a menos que você tenha nascido rico,é muito difícil de se compreender. Eles pensam, no fundo de seuscorações, que são melhores que nós, porque nós precisamos desco-brir as compensações e os refúgios da vida por nós mesmos. Mesmoquando eles penetram profundamente no nosso mundo, ou mergu-lham abaixo de nós, eles ainda pensam que são melhores que nós.Eles são diferentes (Os Ricos e os Super-Ricos, Ferdinand Lundberg).Notem bem que o literato viu no rico um ser privilegiado — maso que a ciência da psicopatologia enxerga é a existência de uma gran-de alienação, que os leva a pensar que eles são diferentes, ou me-lhores, como expressou Fitzgerald — mas não são melhores; são bempiores, fora da realidade completamente.

A revista U.S. News, de 13 de Janeiro de 1986, traz o artigo:"Como as pessoas normalmente se formam ricas". Quem são essaspessoas, como elas chegaram a isso? O milionário típico é um em-presário que se fez por si mesmo nos recentes anos 60 — pouco maisque 10 010 tem mais de 40 anos. Ele trabalha de 10 a 12 horas diárias,e em geral seus negócios atendem as necessidades comuns dos ame-ricanos. A maneira real como o povo obtêm dinheiro é... trabalhoduro durante 30 anos, 6 dias por semana (diz Thomas Stanley, umprofessor de economia na Georgia State University em Atlanta). Is-to significa, em termos psicopatológicos, uma compulsividade in-crível para ganhar dinheiro, uma atitude extrema de avareza — que

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jamais um indivíduo normal teria. Aliás, os articulistas Beth Brophve Gordon Witkin dizem: — "Provavelmente ele ainda permanececasado com sua primeira esposa e provavelmente explora seus fi-lhos" — conforme eles dizem, os milionários são um péssimo exem-plo para os próprios filhos, e procuram realizar com eles um pactode alienação, tirando-os da realidade da existência.

A economia dos Estados Unidos está cada vez se enfraquecendomais, devido à concentração da riqueza em mãos de poucos que,por sua vez, seguram o seu desenvolvimento. Isto significa que odinheiro, que existe no mundo, é simplesmente suficiente, mas nãoabundante para todos, por causa dos impedimentos dessa estruturasocial. Aliás, o ideal americano é o de ter uma vida confortável, comtodo o necessário para ser feliz — e tal coisa seria possível realizarimediatamente, se esse esquema econômico-social não nos negasse.Se o trabalho não for realizado para ajudar o próximo, será paraprejudicar, como está acontecendo atualmente, com 1/3 da popu-lação mundial passando fome, 1 /5 sem habitações decentes para mo-rar, e 90% ganhando o insuficiente para ter uma vida satisfatória.

Os meios de repressão defendem violentamente o podereconômico-social. 1?) porque os policiais, os políticos, e até o povoacreditam que eles dependem de tal poder; 2?) o problema da inver-são psicossocial existe na mente e na sociedade — o que leva o serhumano a imaginar o contrário da realidade, isto é, que o povo pre-cisa dos poderosos, e não que estes últimos dependem dele. De ma-neira que nosso grande trabalho deverá ser no sentido de educar edesenvolver o povo, para conscientizar e assumir o que é dele; de-pois de tantos séculos de mentiras, é difícil, de repente, o ser huma-no perceber como foi tão enganado — mas temos de começar arealizar isso agora — daqui a pouco tempo, todo o povo sentirá gran-de gratidão, pelo que estamos fazendo agora para libertá-lo. Que-remos exatamente isso: a libertação do povo. Seja um fator espiri-tual, filosófico, ou científico, a verdade é que sempre fomos escra-vos, e agora podemos finalmente nos libertar dos "demônios" quesempre estragaram nossa existência — e no momento estão agarra-dos ao poder econômico-social.

Grande parte da humanidade está vivendo sob uma camada es-pessa de alienação, fazendo todo o esforço para acreditar que tudoesteja bem; as festas e as alegrias que sente, geralmente são regadaspor álcool e até pelos psicotrópicos, como se estivesse debaixo deuma máscara sorridente. Mas, quando se tira tal disfarce, o que sevê, é a maior desolação e desespero — à semelhança dos demônioslançados no Inferno. Este é o universo dos indivíduos ricos e pode-rosos, que organizaram uma estrutura social fictícia, e teimam emcontinuar vivendo assim. Por este motivo, a Escola de Frankfurt

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deu ênfase ao estudo sobre este terrível engano (Benjamin, Hork-heimer, Habermas, Adorno e Marcuse).

Não adianta querer convencer os poderosos (do podereconômico-social) de seus erros, porque eles são doentes que nãotêm condições de olhar para sua própria doença; eles precisam detratamento, como os enfermos mentais mais graves. Quando eu mo-rava em Viena, capital da Áustria , tive contato com as principaisSociedades de Psicoterapia (Freudiana, Junguiana, Adleriana, de Ca-ruso e Viktor E. Frankl), e uma das coisas que mais me marcaram,foi a idéia de Jung que psicoterapia era exorcismo. O que sempretenho notado em meus trabalhos de análise é que grande parte dosindivíduos analisados, demonstram claramente uma oposição ao queé bom, real e bonito, que é uma atitude demoníaca — pois bem,os poderosos têm exatamente essa conduta, de tentar brecar e se oporao desenvolvimento da humanidade. O poder é praticamente a rea-lização total da loucura do ser humano.

A humanidade precisa substituir a febre, que tem para vender,por um desejo muito grande de realizar, para o bem comum; assim,ela substituiria a angústia pela paz — pois quem elaborou a teoriaeconômica colocou o valor no lucro; Adam Smith: o valor no uso;David Ricard: o valor no lucro; John M. Keynes; o valor no dinhei-ro; Michael Kalecki: semelhante a Keynes: Joan Robinson: o valorna humanidade e na economia; Piero Sraff: o valor no trabalho;Friedrich A. Hayek: o valor na liberdade. Este último era adversá-rio de Keynes desaconselhou qualquer intervenção do Estado no pro-cesso econômico — pois tal atitude levaria inevitavelmente à tira-nia; ele publicou tal idéia em seu livro O Caminho da Servidão (1944).Note o leitor que Hayek já via, há mais de 40 anos, o perigo queo poder econômico trazia para a humanidade. Infelizmente, o siste-ma político americano, desde o tempo de Roosevelt, passou a cui-dar muito do econômico, colocando-se em perigo.

O que preconizamos é um sistema de leis para o sistema econô-mico, à semelhança do político americano, para evitar que ele ad-quira um poder demasiado; certamente o poder econômico deve serseparado, mas ao mesmo tempo tem de ter as mesmas leis que ele— caso contrário, acabará dominando o político. A mesma separa-ção que existe entre os três poderes, Executivo, Legislativo e Judi-ciário, deve haver entre o político, o econômico e o religioso. Esteúltimo já está separado, para alívio e paz da humanidade; no en-tanto, os indivíduos mais doentes se voltaram para o econômico,como meio de dominar a nação. Agora, cabe ao político, em uniãocom todo o povo, iniciar esta grande luta para libertar o país. Todavez que houver um poder livre de ser exercido, ele será procuradopelos indivíduos mais doentes; esta advertência é fundamental, pa-

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ra a compreensão dos perigos sociais, que sempre advêm através dascabeças dos que exercem o poder.

A filosofia de vida que impera na sociedade é justamente o con-trário da idéia divina, ou seja, ganhar dinheiro, ter poder, dominaros outros — pois nota-se que o ser humano, ou está do lado do Cria-dor, ou vendido ao Lúcifer — praticamente, não existe meio termo.E o mais interessante da questão é que os que apoiam o diabo têmde negar isto, porque ele (o demônio) não se vê como demônio —ele pensa que é um deus. Exatamente, o mesmo fenômeno acontececom o homem, pois o que tem o poder sem limite sempre diz quetorturou, matou e prendeu para obedecer ordens, ou para cumprirleis; basta analisar o que diziam os carrascos nazistas e os militaresargentinos que foram condenados, e todos aqueles que agiram assim.

Abraham Lincoln falou certa vez: "Nada de bom tem sido oupode ser desfrutado sem ter primeiro custado trabalho. E como amaioria das coisas boas são produzidas pelo trabalho, segue-se quetodas essas coisas pertencem, de direito, àqueles que trabalharampara produzi-las. Mas tem ocorrido, em todas as eras do mundo,que muitos trabalharam e outros, sem trabalhar, desfrutaram umagrande proporção dos frutos. Isso está errado e não deve continuar.Assegurar a todo trabalhador o produto de seu trabalho, ou o má-ximo possível desse produto, é o objetivo digno de qualquer bomgoverno" (Nicolay and Hay, Abraham Lincoln , Complete Works,Century Company, New York, 1920, Vol I, pág. 92). Será que nãofoi esse ideal, a explicação para o assassinato do grande presidente?

No entanto, o poder tem de existir, mas ele pertence só ao Cria-dor, ao que trabalha, ao que produz, ao povo — e não ao que ex-plora, é servido, e oprime o ser humano, ou melhor, aos demôniosespirituais e humanos. O poder pertence a quem serve, a quem ébom, verdadeiro e artístico, o poder pertence a quem tem capacida-de de produzir. E este fato o homem deve conscientizar rapidamen-te, para poder construir o seu verdadeiro mundo. Lembre-se doseguinte: a humanidade foi enganada no passado, e continua no mes-mo engano, presentemente; mas no momento em que abrir os olhose passar a trabalhar para si mesma (para o semelhante e não paraum poderoso), imediatamente sofrerá enorme desenvolvimento eabundância de meios materiais.

A última esperança da humanidade está no sistema político ame-ricano; se este último perecer, poderemos dizer adeus a civilização— mas, se recobrar sua força, teremos a garantia que o ser humanoserá salvo. Quando se compara a liberdade política dos Estados Uni-dos, com a de outros países, sentimos grande alívio de que haja umanação em que tal poder esteja dominando — e medo de que qual-quer outro país possa tomar a dianteira neste tipo de poder, em de-trimento de toda a civilização.

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Opressão do poder econômico sobre opolítico

A revista Bussiness Week, do dia 02 de Dezembro de 1985, pági-na 76, trouxe uma reportagem de Bruce Nussbaum intitulada "OGrande Negócio de Ser Henry Kissinger". Logo de início, diz o se-guinte: "Ele tem sido o conselheiro e confidente dos líderes maispoderosos do mundo há décadas". Mais adiante: "Nós atuamos co-mo um minidepartamento de estado", diz Lawrence S. Eaglebur-ger, anteriormente subsecretário de Estado para questões políticas"."Nós temos clientes que querem saber sobre as futuras relações en-tre os USA e a União Soviética. Nós providenciamos a análise daestratégia econômica mundial". Em seguida diz: "A reputação deKissinger, de conselheiro dos poderosos está vacilando. De fato, àsvezes ele aparenta não ter outra fonte de poder senão a aura do po-der. Muitos estão dispostos a pagar um alto preço para poderembanhar-se nesta aura, esperando tornarem-se poderosos também".

Na página 77 existe uma série de firmas que usam do poder polí-tico de Kissinger:

UMA AMOSTRA DOS CLIENTES CONFIDENCIAIS DE KISSINGER

Companhia Áreas de Consultoria e ServiçosAMERICAN EXPRESS Geopolítica, ÁsiaARCO Geopolítica, América Latina, dívida do

Terceiro Mundo

ASEA (Suécia) Política de Washington

CHASE MANHATTANBANK

Geopolítica, Oriente Médio

L.M. ERICSSON(Suécia)

Política de Washington,Europa Oriental

FIAT(Itália)

Política de Washington,Tendências no leste europeu

GENERAL ELECTRIC(Grã-Bretanha)

Política de Washington e geopolítica

H. J. HEINZ China, Oriente Médio, África, contatos

MERCK Japão, FrançaMIDLAND BANK (Grã-Bretanha) Tendências geopolíticasMONTEDISON (Itália) Política de WashingtonSHEARSON LEHMAN Indicação de negócios, geopolítica

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VOLVO (Suécia) Tendências internacionais atuais,política de Washington

S. G. WAREBURG(Grã-Bretanha)

Política de Washington, contatos

Fonte: BW

Sabemos que a maioria dos presidentes e chanceleres de todosos países, quando deixam o poder, assumem um cargo empresarial,na direção de alguma firma. Se o povo pensar um pouco, verá ime-diatamente que existe atualmente uma estreita ligação entre os doissetores — evidentemente, não em benefício do país —, seria umpacto entre os dois poderes, para explorar o povo. Em naçõesdemocráticas, ainda é tempo para corrigir tal questão; mas, se de-morar um pouco mais, será impossível salvar os povos de tão agudaforma de rapinagem pública. A única maneira de corrigir tal situa-ção será o povo exigir imediatamente a separação dos dois poderes— mesmo que oficialmente não haja essa união, ou pelo menos, nun-ca deveria haver.

Ontem (15/12/1985) ouvi pelo rádio a opinião do presidente Ro-nald Reagan, dizendo que as pessoas ricas têm mais condições dedirigir a sociedade: porque já tiveram sucesso na vida, e porque nãoprecisam mais de dinheiro, em qualquer cargo político. Ora, tal opi-nião é comum em toda a sociedade, e eu próprio pensava assim —até as descobertas científicas que realizei. E somente através dos co-nhecimentos da psicopatologia é que foi possível perceber justamenteo contrário: que os ricos estão impedindo o desenvolvimento da hu-manidade. Como eles são mais paranóicos, têm facilidade de argu-mentação; são querulantes, levantando a toda hora questões apa-rentemente importantes; são muito convencidos do próprio valor,e pensam que são indispensáveis. E como a manipulação da econo-mia e finança não exige um bom grau de inteligência, conseguemsobreviver razoavelmente — até que a nação entre em colapso (1929),e como está parecendo agora ao surgir pesadas nuvens no horizon-te. Nesse caso, eles desmoronam completamente, chegando ao sui-cídio, com facilidade.

Existem sinais que se tornam claros, para distinguir este tipo depersonalidade tão doente: 1) são extremamente sovinas, não gastandoquase nada, seja na alimentação com servidores, e até com parentespróximos (filhos, pais); 2) têm hábitos bizarros: colecionam algu-ma coisa, usam roupas esquisitas, às vezes, têm hipocondria (maniade doença); 3) valorizam sobremaneira a máscara social: jóias, lo-cais luxuosos, pessoas famosas, nome nos jornais. O pessoal quetem o poder econômico-social tem a certeza absoluta de que sua po-sição é inabalável; ele pensa que dominou todo o povo, e que pode

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viver tranqüilamente mais 2.000 ou 3.000 anos — que tal sociedadeé certa, e não poderia haver outra; vamos dizer que eles não põemdúvidas sobre o que pensam — assim sendo, a maior parte das pes-soas acreditam neles. Porém, chegamos ao tempo de parar de acre-ditar nos megalômanos e narcisistas.

O povo precisa saber que ele foi sempre prejudicado pelo podereconômico-social, e que precisa dar um paradeiro a tal situação, sequiser ser feliz — e a principal conscientização seria a culpa que to-dos nós temos, porque admiramos o demônio e permitimos que eleaja a vontade. Penso geralmente como foi possível o povo aceitar,uma vez a escravidão, outra vez ser explorado pelo poder econômico-social, e ainda elogiar os seus carrascos! Também não estou falan-do que todas as pessoas do povo sejam equilibradas; muitas admi-ram e dão força aos doentes que dominam o poder econômico. Pe-lo relato bíblico, um dia Adão e Eva resolveram ser como deuses,poderosos, conhecedores do bem e do mal, e então romperam como Criador, aliando-se aos demônios. Porém, nem todos os indiví-duos aceitam este pacto, não fazem questão de ter poder, e não po-dem realizar quase nada para o povo.

O grande problema do ser humano atual reside no podereconômico-social, por estar dominado pelos indivíduos mais doen-tes. Parece que Adam Smith e Jeremy Bentham nada entendiam depsicopatologia ao abrir todas as portas para que eles tomassem contada sociedade. Porém, como estamos conscientizando tal fenômeno,será possível daqui por diante colocar um paradeiro nesta situaçãosocial tão perigosa. Se poder algum pode ser exercido livremente,como o econômico foi deixado totalmente livre?

Quando Calvino dizia que as pessoas bem-sucedidas na vida eramabençoadas por Deus estava com toda razão — mas quando AdamSmith dizia que os indivíduos que sabem ganhar dinheiro, para si,saberiam ganhar para os outros, estava totalmente errado; por cau-sa desta confusão, os mais doentes tomaram conta da civilização.Esta é a descoberta que eu acredito ter sido a mais importante nocampo da sociopatologia, com a finalidade de libertar o ser huma-no. De outro lado, não podemos obrigar um artista, um pensador,ou um cientista a saber ganhar dinheiro; se o comerciante tem estahabilidade, devemos colocá-lo dentro de leis razoáveis, para que eleexerça tal capacidade para o proveito de todos — assim como o ar-tista, quando realiza um trabalho, toda a sociedade pode aproveitá-lo; quando um cientista descobre algo importante, é em benefícioda humanidade. Por que então, só o negociante, o empresário e obanqueiro trabalham para si mesmo? Sei que, um dia, o dinheiroserá abandonado; mas enquanto isto não for feito, vamos suportarmais um pouco essa classe de pessoas — porque o ideal é que elasnão existam.

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Todos os indivíduos muito doentes procuram se apossar de qual-quer poder que esteja à disposição, para oprimir o semelhante. Senão conseguir no político, ou no econômico, dirige-se a outros cam-pos, como o da comunicação, da ciência, ou mesmo nas artes; masa sua finalidade e a da agressão contra a sociedade. No momento,o poder mais propício para tal finalidade é o econômico: 1) porquequalquer débil mental pode ganhar dinheiro, desde que seja persis-tente; 2) o empenho em passar uma existência atrás do dinheiro re-vela a gravidade do mal psíquico.

Houve um desenvolvimento na história do poder; antigamente,o povo se ajoelhava diante do rei, atualmente ninguém mais faz talcoisa, diante de um presidente, ou de um ministro; no entanto, frentea um milionário sente admiração, porque foi ensinado desde crian-ça que os indivíduos ricos seriam criaturas extraordinárias, que con-seguiram sua riqueza graças a grande esforço. Talvez não precisodizer qual a origem de tal idéia, e principalmente que não existe pos-sibilidade de se tornar realmente rico, se não for através de roubodireto, ou indireto. E quando falo do roubo indireto, estou me re-ferindo à possibilidade de elaborar leis que favoreçam o enriqueci-mento ilícito.

Em minha opinião, os Estados Unidos da América e todos ospaíses do mundo estão correndo o mais grave perigo de toda a His-tória, por causa do poder econômico-social, que vem tomando con-ta de toda a humanidade atualmente. E não se acredite que tal si-tuação é do Ocidente, pois as nações marxistas, ao contrário do quese pensa comumente, já foram totalmente dominadas, desde que láo poder político é ligado ao econômico. Parece que este aviso é oúltimo relampejo, antes que uma total escuridão cultural se abatasobre este planeta, caso ele (o poder econômico) consiga se tornarvitorioso.

O grande perigo para o mundo ocidental não é o que ele chamade materialismo marxista; o grande perigo está dentro dele mesmo,nos indivíduos do poder econômico, que já sufocou a maior partedos países: não é só a América Latina que está com um débito semsolução; a própria finança dos Estados Unidos gasta 47 07o de todoo dinheiro que entra, para pagar os juros da dívida do governo —significando que ele está chegando ao ponto de ser dominado intei-ramente pelo poder econômico (só falta mais 4%).

Este fenômeno não é de hoje, porque Andrew Jackson (1767 -1845), que foi presidente deste país de 1830 a 1837, teve suas maisarmadas lutas contra o Banco dos Estados Unidos, muitos peque-nos proprietários, fazendeiros e trabalhadores se opuseram ao ban-co, criado por Alexandre Hamilton em 1791. Jackson via o bancocomo sendo um poder financeiro — um monopólio que os ricos epoderosos usaram para seu proveito (Rise of the American Nation,

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Heritage Edition, pág. 240). Parece que a grande luta dos políticosamericanos foi sempre com o poder econômico, pois a Declaraçãode Independência foi realizada por causa das taxas extorsivas queo Império Britânico realizava; mais tarde, a partir de 1865, houverevolta dos fazendeiros americanos contra as práticas de grandes ne-gociações. Atualmente, sabemos que os fazendeiros americanos es-tão na maior bancarrota de toda a história do país — desde que elesdedicam todo o seu tempo a uma tarefa honesta e bonita, que é otrabalho de plantar e colher. Eles estão longe dos conluios dos agio-tas e banqueiros; portanto, são um grupo totalmente indefeso dian-te desse mal.

O governo deveria retirar todo o dinheiro que precisa do podereconômico-social, e não do povo, que é pobre. No entanto, aconteceo contrário, porque tal poder "tansgride" todas as leis sociais, usan-do as próprias leis, que lhe dão possibilidade de usar o que tem, empróprio benefício. Parece que três das maiores empresas norte-americanas, não pagam absolutamente nada de imposto sobre a ren-da, pois têm um corpo jurídico perfeito para isso. Aliás, existe umaboa quantidade de livros neste país ensinando o que fazer para nãopagar o governo — o cidadão comum não pode pagar advogados,como as grandes firmas. As vezes, uma indústria, ou uma empresade qualquer ramo, tem um corpo enorme de advogados, que as ensi-nam como burlar as leis — o que dá impressão de que o verdadeiropoder político está perdendo terreno assustadoramente, diante do eco-nômico. Em meu livro, A Libertação, trouxe a idéia de que não háliberdade para realizar o mal, a desonestidade, o que é ruim. O po-der político está restrito dentro desta regra, mas não o econômico;assim sendo, os seres humanos perversos encontraram um meio dese apoderar de todos os bens, para impedir que a sociedade se desen-volva. A libertação social, portanto, seria o livramento desse poder.

É de extrema importância que os políticos americanos conscien-tizem o fato, cada vez mais evidente, da intromissão dos podereseconômicos na política; se continuar assim, o poder político será des-truído dentro de pouco tempo: 1) porque o poderoso na economiaautomaticamente domina o político; 2) o povo se revolta contra opolítico, que se corrompe pelo poder econômico; 3) o povo pressio-nado, pode fazer uma revolução sangrenta. No continente america-no, os Estados Unidos constituem a única nação em que o poderpolítico ainda está separado do econômico; nos demais países daAmérica Central e do Sul, os políticos são dependentes ou de seusbanqueiros, ou dos Bancos Internacionais. Chegou o momento dosnovos Lincolns e Franklins americanos aparecerem — eles terão osseus nomes inscritos entre os mais fulgurantes da História, e suaspessoas serão eternamente reconhecidas pelas gerações futuras.

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Quando eu falo que é fundamental tirar os poderosos do podereconômico-social, não estou preconizando um tipo de regime socia-lista (Suécia, Alemanha, Áustria , Inglaterra), porque neste caso con-tinua existindo a mesma injustiça contra o povo, que permanece po-bre, ao lado de um governo rico. O que eu estou mostrando é a ne-cessidade de deixar o dinheiro em mãos que produzem (segundo osideais da Constituição Americana), e valorizar o homem, o país, otrabalho, as artes, a honestidade e o bem, que são a base de qual-quer existência feliz (ver o capítulo As Empresas Trilógicas).

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2. Sociologia do poder

A finalidade deste livro é tentar conscientizar o povo de que eleé dominado por indivíduos doentes, paranóicos, covardes e corrup-tos; estamos no momento certo de nos libertarmos dos "demônios"que nos oprimem — porque chegamos a uma era em que os poderesconstituídos estão fracassando, e os indivíduos que os possuem nãosabem o que fazer para continuar dominando e oprimindo o povo,e impedir a civilização de melhorar; estamos em um período em quetodas as circunstâncias nos favorecem, para finalmente podermosconstruir uma verdadeira civilização. A sociedade que existe é anti-humana porque o povo é doente, angustiado e infeliz, porque o po-vo se sente esmagado pelos poderosos, e porque sabemos que nãonascemos para sofrer; a sociedade atual é um verdadeiro inferno,e isto não pertence ao plano do Criador, mas dos demônios que to-maram conta de nossa vida social, ou seja, dos indivíduos diabólicos.

A revista alemã Der Spiegel (Dezembro de 1985) traz uma pes-quisa com o nome "Apocalipse Agora — A Visita do Quarto Cava-leiro", onde mostra que todos os impérios caíram por causa das epi-demias; por exemplo, a Grécia ruiu devido à varíola, ao tifo, à de-sinteria e a febre amarela. Roma foi destruída, não pelos bárbaros,mas pela malária. A peste negra, como sabemos, foi causada pelosratos, que difundiram a doença bubônica. As civilizações pré-colombianas se extinguiram com a varíola, trazida pelos espanhóis.Napoleão Bonaparte foi vencido pelo tifo. Em 1978, a OrganizaçãoMundial da Saúde declarou que não havia mais varíola sobre a faceda Terra — e então começou o AIDS — que promete liquidar maispessoas, do que todas as epidemias reunidas, ou seja, um bilhão deindivíduos. E sabemos que toda doença surge em decorrência de umaconduta psicopatológica: primeiro é a mente, a vida social que adoe-ce, para em seguida aparecer a epidemia; de maneira que a cura es-

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tá na dependência da correção do engano realizado no campo psi-cossocial — e tal erro foi elaborado pelos homens que têm o podersocial — de maneira que a causa fundamental dos problemas hu-manos repousa nos indivíduos poderosos.

Quando digo que os poderosos são corruptos, muitas pessoaspoderão pensar que geralmente eles cumprem as leis sociais; porém,este é o grande problema, que justamente os regulamentos prote-gem o poder econômico — o que é, por si mesmo, algo imoral —então, tais leis são erradas. Aliás, as grandes firmas empregam grandenúmero de advogados, para escapar das exigências legais, e usamtambém de meios desonestos, para comprar políticos que favore-çam suas negociatas.

Todo poder sem limite é perigoso, mas o poder econômico, porsi mesmo, é o pior de todos; em todas as épocas, as pessoas que ti-veram poder, sempre procuraram o dinheiro, para confirmar o seupoderio: se era um religioso, na Idade Média, procurava adquirirpropriedades; se era o senhor feudal, obrigava os seus arrendatá-rios a pagar caro; se é o capitalista, ou o marxista atual, escravizaos operários e todos os que trabalham, obrigando-os a entregar aeles o fruto de seu trabalho.

O filme Dinasty retrata bem o ideal dos indivíduos mais doen-tes: organizar uma máscara de perfeição, para iludir toda a huma-nidade, assim como eles conseguem enganá-la no tocante à econo-mia. Se a sociedade estivesse bem construída, não teríamos tantoscrimes, lutas e guerras, não haveria tanta fome e desabrigo, injusti-ça e pobreza — e a causa fundamental deste triste estado social estána estrutura econômico-social, comandada por essas pessoas apa-rentemente sãs. Um famoso psiquiatra vienense disse, certa vez, emsuas conferências públicas, que os indivíduos mais vistosos da pla-téia eram os mais doentes; e a causa disso é fácil de ver, desde quea necessidade de mostrar uma aparência perfeita é para esconder to-das as imperfeições internas — como os demônios que não agüen-tam ver erro algum em si próprios (Wagner Jaurigg, PsiquiatriaBásica).

A técnica do poder é a seguinte: o indivíduo consegue alcançaruma posição de mando, e a submissão de determinado número defuncionários; em seguida, distribui o serviço para todos — e aguar-da os seus resultados; geralmente, usa de técnicas, que ensinam, ede capatazes, que oprimam o trabalhador. Se conseguir vantagem,elogia e premia os que aumentaram seu poder; caso contrário, colo-ca a culpa de todos os fracassos nos seus subordinados; pouco a pou-co, ele vai tomando a posição de infalível — afastando-se cada vezmais da realidade. Com o tempo, chega a dar ordens absurdas, quetodos estranham e até recusam a obedecer — mas ele já tem a pro-teção de um grupo de funcionários muito bons, que o protegem da

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debacle total. Por este motivo, não consegue sobreviver sem o gru-po que o rodeia — exatamente como os demônios que não queremse afastar dos seres humanos, a quem eles acusam de todos os seusmales, agridem e os incomodam. Quem é bom não precisa de nin-guém; quem é ruim, não consegue viver consigo mesmo, porque te-ria de ver, sentir a própria maldade.

Os demônios queriam fazer o seu reino; então, escolheram osseres humanos, como seus escravos; deu também poder a algumascentenas de servos, obedientes aos seus desígnios — e montou o seureinado na Terra — por este motivo, Cristo os chamou de príncipesdeste mundo. Para que fossem obedecidos, usou dos seguintes es-tratagemas; 1) a vanglória e o elogio, para os seres humanos se en-cantarem com eles; 2) a alienação, para ninguém perceber como so-fre, com tal escolha. As consequências foram: 1) uma enorme con-fusão psicossocial, onde quase ninguém mais se entende (o que fa-zer com a economia, com a pobreza, as escolas, fábricas, agricultu-ra?); 2) as doenças, delinqüências, atritos, guerras, infelicidade, des-truição e desespero. Porém, chegamos no momento de parar, parapensar e sentir — e este momento irá ser o desfecho de tão inglóriaempresa: querer fazer um reino, que não seja o do Criador, ou me-lhor, contra o que é realmente um Reino; quer queiram ou não, es-tamos no início daquilo que foi chamado de Parusia.

Os demônios dominam a humanidade através dos poderes semlimites: se não é um ditador clássico, é através de outras maneirase a mais sutil que existe é a do poder econômico-social, que usa detodo subterfúgio; por exemplo: ele diz que é democrático — masé superabsoluto, pior do que qualquer ditadura; ele diz que é livre— mas traz a humanidade totalmente aprisionada; ele diz que é amelhor forma de vida — e o ser humano nunca esteve tão pior. Va-mos dizer que ele engana o tempo todo, e a humanidade acreditounele.

Temos de desconfiar de todo indivíduo que deseja o poder, por-que isto é profundamente patológico; é o mesmo desejo dos demô-nios e dos seres humanos endemoninhados de subtrair para si mes-mos o poder que é só de Deus; em minha opinião, parece que é opróprio pecado original. Existe um só tipo de poder, que é o do Cria-dor, que ele usa no sentido de criar, de realizar o que é real, ou me-lhor, o que é bom, verdadeiro e belo; qualquer outra atitude, aforaesta, tem o sentido de impedir a realização do bem na face da Terra.

Só por esta conscientização é possível ver que a maioria absolu-ta de tudo o que o homem faz tem um sentido malévolo; exemplo:ganhar muito dinheiro, alcançar o poder social, ser importante, or-ganizar um sistema de vida, uma nova filosofia, teologia e ciência— em lugar de usar o dinheiro para o bem da humanidade, usaro próprio cargo para beneficiar o próximo, viver de acordo com a

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realidade, com a verdade, o bem e a beleza que existem na própriaexistência em si.

No Brasil, em 1978, quando eu estava realizando as primeirasdescobertas da Trilogia Analítica, mostrei que tudo o que existe, porsi, era bom; imediatamente, um grupo de analistas de nossa socie-dade começaram a dizer que "tudo pode", que tudo o que eles fi-zessem era bom: tudo o que pensassem e desejassem lhes era permi-tido; e iniciaram essa orientação com os clientes, que passaram ater crises e enormes dificuldades. E somente os psicanalistas que fi-zeram distinção entre o que era bom, por si, e o que era deturpa-ção, omissão ou negação dessa realidade, é que conseguiram supe-rar tal crise. Atualmente, vejo que esse desejo de poder realizar tu-do, é exatamente a vontade dos demônios de se opor ao Criador.Infelizmente, a sociedade aceitou essa " inspiração", pensando quetal atitude lhe daria grande desenvolvimento e felicidade.

Temos que parar um pouco, nessa desabalada corrida para o na-da, para a destruição, e começar a grande construção da Nova So-ciedade, que precisa ser organizada para todos os seres humanos —pois nós nascemos iguais e com os mesmos direitos (como diz a Cons-tituição Americana), mas infelizmente a organização econômico-social estabeleceu enorme diferença, em todos os setores: nível devida, cultura e educação.

Acredito que a grande confusão que foi realizada em torno daliberdade é a questão de poder fazer o bem e o mal, o certo e o erra-do, o sim e o não, ao mesmo tempo. Quando William of Ockamafirmou que a essência e a existência eram idênticas, e que não ha-via um bem e um mal, por si, deu total autorização para o ser hu-mano realizar tudo o que quisesse — acender uma vela a Deus, eoutra ao demônio. Este é um problema muito grave que se nota nacivilização moderna, principalmente na americana — e a causa prin-cipal de sua decadência. Por este motivo, a humanidade parou depensar e sentir, caindo em total alienação.

Se observarmos as crianças, vemos que elas têm muito interesse,uma pela outra, gostam de brincar juntas, e seu maior prazer sãoos folguedos que têm em comum; pouco a pouco, à medida que cres-cem, abandonam seus colegas: na adolescência fazem muitas ami-zades particulares; na mocidade ainda continuam aquela chama deideal — para finalmente se materializarem completamente, ao in-gressar na vida de trabalho: os trinta anos são a marca da passa-gem, do sonho para a corrupção, do ideal para o engano. E essacorrupção significa a aceitação do poder que está oprimindo, ne-gando e deturpando a civilização, e impedindo o desenvolvimentodo ser humano.

O indivíduo muito invejoso destrói o que é bom e acata o queé ruim; na sociedade esse fato significa que tal pessoa faz tudo o

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que pode a fim de estragar a vida social, tentando estabelecer leisque prejudicam o ser humano. Infelizmente, os mais invejosos con-quistam facilmente o poder, e impõem todas as injustiças para a hu-manidade. Assim sendo estamos divididos entre dois grupos: o po-vo, formado por gente simples, por artistas, cientistas, trabalhado-res, e os donos do poder, constituído pelos mais doentes, que segu-ram todo o desenvolvimento. Neste caso, não podemos esperar qual-quer mudança vinda dos poderosos, mas temos que ir conscienti-zando tal estado de coisas, para desinverter a sociedade. E funda-mental perceber que não somos vítimas de uma má natureza, masprejudicados por uma escolha invertida — e aceitando a orientaçãodos indivíduos piores; não é estranho que o povo alemão tenha acei-tado um dia Adolfo Hitler, o italiano, Mussolini, e o russo a Jo-seph Stalin? Até hoje, o povo faz escolhas erradas, por não ter cons-ciência desse problema de inveja (e inversão).

Acredito que os sistemas econômicos marxista e até o socialista(Alemanha, Áustria , Suécia) são muito desvantajosos para o país,porque impedem a iniciativa privada, dando poder excessivo ao po-lítico. Os povos desses países bebem muito, e revelam um certo de-sânimo em relação ao seu futuro, porque não podem se desenvolvermais do que poderiam; aliás, o sueco e o francês estão descontentescom tal situação (1986). Se os poderosos da economia fossem con-trolados, como são os políticos americanos, o povo sentiria o mes-mo entusiasmo com o seu trabalho, como sente com o sistema polí-tico norte-americano. De maneira que o ideal é organizar o sistemaeconômico de acordo com o político americano, tirando o poder ab-soluto do que retém esse poderio. O capital deve pertencer ao povo,através de novos líderes trilógicos, porque o Estado é mau adminis-trador, segurando o progresso da nação; os três poderes têm de serseparados (político, econômico e religioso), dentro de leis justas ecom as mesmas restrições que o político (americano) — porque agrande necessidade é a de segurar o poderoso, para que tal poderseja diluído e fornecido ao povo, e só em benefício dele — temosde diminuir o poder dos indivíduos, e aumentar o do povo.

A estrutura política-econômica-social criou um ambiente de tantaparanóia, que se torna difícil analisar trilogicamente o ser humano;estou falando que é quase impossível conseguir o equilíbrio psicoló-gico, se não houver uma transformação social radical. Esse ambientedoentio foi criado pelos indivíduos que tomaram o poder econômi-co, e criaram um sistema de defesa único na humanidade: leis e re-gulamentos, polícia e exército. Como resultado, o povo começou areagir, tentando elaborar outro tipo de vida social, que ainda nãoconseguiu colocar em prática. De maneira que o único meio paradiminuir, ou até acabar com a paranóia social, é impedir o podero-so (na economia) de continuar livre com o seu poder.

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Quando se fala que as máquinas, ou a própria tecnologia ofere-cem grande perigo ao ser humano, geralmente se esquece quem osestá manejando — aliás, esta idéia serve justamente, para esconderos indivíduos poderosos que destroem constantemente a humanida-de — hoje, eles usam a técnica e as máquinas; antes, escravizavamo povo, usando diretamente correntes e chicotes. Até as máquinashoje em dia são acusadas de provocar o mal, que é causado pelosque os usam, contra os interesses do povo. Por exemplo, o dinhei-ro, em si mesmo, sendo supérfluo, só deveria ser usado para com-prar o supérfluo; moradia, vestuário e alimentação básicas deveriamser gratuitos; porém, se a pessoa quisesse mais do que isso, aí deve-ria pagar. Não é difícil ver que a angústia acabaria em grande par-te, se não fôssemos obrigados a ganhar, cada dia o pão para nosalimentarmos — e tal coisa poderia ser realizada hoje mesmo, senão houvesse poderosos controlando o poder econômico.

Muitos estrangeiros poderão estranhar o fato do povo america-no procurar desesperadamente a diversão; morando nos Estados Uni-dos, torna-se mais fácil perceber que a civilização aqui é extrema-mente angustiante: 1) porque devido à sua filosofia de vida, o ame-ricano, está sempre sendo obrigado a fazer alguma coisa; 2) ele nãovê a vida como algo agradável, de afeto, de usufruição; 3) e o pró-prio lazer faria parte de uma ação. Porém, o trabalho prazeroso,que seria agir no próprio benefício, ou em auxilio para a humanida-de, está totalmente impedido de ser realizado pelo poder econômico-social; assim sendo, a vida perdeu o seu sentido de ser, porque essetipo de poder está destruindo a essência da existência: a ação verda-deira, a própria realidade em si. Como consequência, vemos gran-de número de suicídios, de atritos e lutas. A razão, o cerne da pró-pria existência foi destruído; a partir daí, tudo o que a sociedadeapresenta é supérfluo, secundário e desnecessário. Portanto, nossoproblema básico é a destruição que o poder econômico-social fezsobre o verdadeiro sentido da vida — somos impedidos de viver aexistência como ela é em sua essência.

Devemos suspeitar de toda pessoa, ou grupo social que lutou parater poder, ou que pretende até hoje chegar lá; podemos colocar aquios religiosos, os políticos evidentemente, e o formidável poderio eco-nômico. Se notarmos bem, a humanidade tem sofrido muito nasmãos desses grupos, quando eles não são controlados. Vendo-se osartistas e os cientistas, notamos que jamais eles pretenderam ter qual-quer poder - porque tais atividades são inconciliáveis, com qual-quer tipo de poderio, isto é, eles têm amor pela própria profissão,em si, enquanto os indivíduos que procuram o poder, exercem de-terminada "atividade" com segunda intenção. Exemplificando: obanqueiro, o comerciante e o negociante não têm amor pelo tipode trabalho que executam, mas pelas vantagens econômicas e de po-

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der que ele lhe traz; por esse motivo, são pessoas sem profissão que,uma hora podem estar agindo em um banco, outra em uma loja,ou até mesmo em uma universidade, ou no governo; o interesse de-les é o poder, a vaidade e o lucro, como os jogadores, ou os piratasdo passado. Quem tem afeto, procura uma profissão; quem não temsentimento, luta para chegar ao poder — quem é bom se realiza emuma atividade; quem não é, pisa sobre os outros.

Quem trabalha é o indivíduo mais equilibrado, porque é o queserve; o que é servido não consegue trabalhar, porque é doente. Atéagora, este último comandou e viveu à custa do primeiro, por faltade consciência dos que são mais equilibrados, e precisam tomar asrédeas da sociedade. Não podemos esquecer que os poderosos estãocontinuamente em luta contra nós; eles pensam 24 horas por dia,o que fazer para explorar e atrapalhar nossa vida; temos obrigaçãode agir a fim de impedir tal ação dessas pessoas mal intencionadas,se quisermos ter uma existência tranquila. Nossa "luta" irá ser poralgum tempo, até que coloquemos os poderes econômicos sob o do-mínio dos bons; depois, teremos uma vida em paz. Nossa bússolairá ser a escolha dos indivíduos que trabalham, para que eles co-mandem a nova sociedade do futuro.

O verdadeiro trabalho tem de ser feito no sentido de ajudar atoda a humanidade; caso contrário, é um "trabalho" prejudicial,ou melhor, um antitrabalho — quem age assim, não só está atrapa-lhando a civilização, como também prejudicando a si próprio — pes-soa alguma poderá se sentir satisfeita em uma atividade de explora-ção ao próximo.

Equilíbrio é uma questão de atitude, vamos dizer, que dependede agir no bem e na realidade, e não contra a vida e o que é bom.Infelizmente existe este problema na vida social, quando milhões depessoas são condenadas ao analfabetismo, a morrer de fome, a teruma existência miserável; a própria fauna e flora são destruídas sis-tematicamente; existe um aumento de doenças (AIDS), e toda a hu-manidade se encaminha para a destruição. E o motivo fundamentalé a atitude psicossocial de pretender colocar o semelhante a nossoserviço, como foi organizada a estrutura social.

Desde que nascemos estamos a serviço, não do próximo, masde pessoas (as mais doentes), que dominam a humanidade, paraprejudicá-la; e um fato interessante é que sempre esse grupo de in-divíduos esteve ligado ao poder econômico-social: banqueiros, ca-pitalistas e comunistas atualmente, reis e nobres, anteriormente; bis-pos e religiosos, na Idade Média — e o motivo é o fato de o dinhei-ro exercer o papel de dar poder e de controlar a vida social, ou seja,de negar, omitir ou deturpar a sociedade.

O ideal social tem de se aproximar do ideal político americano,onde o povo tem toda a possibilidade de decisão sobre quem pode

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ficar ou não no poder, mesmo que esteja bastante enganado, sejapelos meios de divulgação, ou pelos poderes econômicos. E impor-tante perceber que o dinheiro tem de ficar nas mãos de todos aque-les que produzem as riquezas, ou melhor, dos que trabalham (dopovo) — para que ele seja usado — assim como prédios, ruas, es-tradas, campos, florestas, mares, o céu, as montanhas e os rios. AFinlândia é um exemplo desta liberdade, pois não existem cercas naspequenas propriedades, que as pessoas têm.

Falando em termos práticos, tudo o que existe no mundo temde ser de todos, sendo que as propriedades particulares têm de seras menores possíveis, ou seja, apenas para fins de uso (moradia, agri-cultura, fábrica). As cercas têm de ser derrubadas, cachoeiras e riosentregues ao povo — e, se isto não foi realizado através de leis, seráfeito violentamente, a poder do sangue de muitos.

Sociopatologia do poderO poder de muitos foi tomado por uns poucos, para o prejuízo

de todos. O poder do povo foi tomado por algumas centenas de in-divíduos mais ambiciosos e vorazes, que o estão usando para impe-dir que o ser humano seja feliz; deste modo, o crime e a delinqüên-cia aumentam, na mesma proporção em que cresce o podereconômico-social, como forma de contrabalançar a extrema rapi-nagem deste último. E exatamente o mesmo fenômeno internacio-nal entre os Estados Unidos e União Soviética: o poder desta últimaaumenta, por causa da extrema cobiça dos poderosos americanos—.não do povo, que é cada vez mais massacrado, pois o mais ricopaís da História da Humanidade contém uma população extrema-mente pobre. Podemos chegar ao ponto de dizer que, as armas, oexército, a marinha e a aeronáutica são organizados mais para ate-morizar o próprio povo, do que para defendê-lo contra os outros.

O jornal The New York Times, de 4 de Novembro de 1985, traza seguinte notícia na primeira página: Reagan aprova plano paraenfraquecer Líbia: Operações encobertas da C.I.A. estariam rece-bendo ajuda de países que se opõem a Kadafi. A primeira vista, pa-rece algo normal, mas analisando-se bem, veremos que se trata deuma luta entre os poderosos e não entre povos. A Líbia se opõe aosplanos de aumento de poder, não do americano, mas dos que inclu-sive exploram este mesmo povo, e querem estender suas garras so-bre outros (povos). Trata-se de uma luta nos bastidores para verquem tem mais possibilidade de escravizar populações inteiras. Deoutro lado, Reagan, pessoalmente muito simpático, é vítima do sis-tema econômico-social que dirige; o pessoal da C.I.A., idem. Estoudizendo que estamos dentro de uma trama infernal.

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Até o pessoal governamental (ministros, militares, policiais) é pos-sível conscientizar; mas os que têm diretamente o poder econômico-social: banqueiros, milionários agiotas, os que retêm o poder dire-tamente (donos das empresas multinacionais, ou não, comerciantesinternacionais) irá ser impossível, porque eles não querem perdero poder — assim sendo, terá de haver um crescimento do povo, umaunião entre nós, para organizarmos uma nova economia, enfraque-cendo e neutralizando os que dominam presentemente.

Quando escrevi o livro A Decadência do Povo Americano (e dosEstados Unidos), não tinha ainda idéia de que este povo não mandanada sobre os outros — que ele é tão vítima do poder americano,como são os latino-americanos, asiáticos, africanos, e até os euro-peus — e que ele precisa antes dos outros ser libertado, para depoisajudar o resto da humanidade. Creio que é uma enorme injustiçao norte-americano levar esta pecha de exploradores do mundo, sen-do ele mesmo superexplorado.

Chegando a este ponto, o que nos resta fazer é trabalhar paraesclarecer o ser humano de que vivemos uma vida estúpida, ou me-lhor, uma vida maravilhosa, que Deus nos deu, e os loucos podero-sos a transformaram em uma verdadeira agonia. Por exemplo, o jor-nal The New York Times de 5 de Novembro de 1985 traz a notícia:E.U.A. afirma que Moscou enviou mais armas para a Nicarágua,onde mostra como aquele povo (nicaragüenses), morre para defen-der, ou os poderosos da União Soviética, ou os poderosos america-nos, através dos poderosos da Nicarágua.

O poder, como existe atualmente, é patológico, é errado, anti-humano e perigoso. Qualquer pessoa, que exerça algum poder li-vremente, cometerá incríveis injustiças, desde o chefe de uma na-ção, até um pai (ou mãe) de família; estou explicando que o verda-deiro poder não pode depender da vontade livre de um indivíduo— mas ele só poderá exercê-lo adequadamente, se for controladopelo povo. E o ideal seria que ele tivesse conhecimentos de sua pró-pria patologia (teomania, inveja, cobiça). Acredito mesmo que é im-possível ser um dirigente sem ter consciência da psicopatologia (tri-lógica), senão não haverá meios para controlar a própria fantasia,manias, depressão e principalmente a persecutoriedade.

Todos os grandes desastres da humanidade vieram por causa des-te último fator psicopatológico, chamado de sentimentos de perse-guição — o que o indivíduo faz contra sua própria vida, projeta pa-ra fora, e pensa que é o semelhante quem o está atacando. No âm-bito internacional, isto significa que uma nação imagina que a ou-tra é que a está agredindo, não vendo que ela mesma é quem estáse prejudicando.

De modo geral o tipo de democracia, nascido com a RevoluçãoFrancesa é ideal; acredito que esteja faltando a conscientização dos

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erros, e a volta de todo o sistema político para servir o povo, e nãoaos poderes paralelos: econômico, empresarial e bancário. Vamosdizer que precisa haver uma desinversão, colocando-se todos os po-deres a serviço do povo (e da nação), e não o país todo a serviço deles.

A psicopatologia sem o poder permanece mais ou menos ino-fensiva: no máximo, o indivíduo poderá querer ser chamado de Na-poleão, Jesus Cristo; mas a psicopatologia com o poder poderá semanifestar com toda a intensidade, cometendo os mais incríveis de-satinos (Stalin, Hitler, Nero, Herodes) — para não falar dos políti-cos normais, que trabalham bem mas, de vez em quando, organi-zam a maior confusão.

A Trilogia Analítica pretende desinverter a sociedade, mostran-do ao povo que ele é o dono do país, e que as instituições devemser submissas à sua vontade. Para chegar a isso, é fundamental mu-dar o conceito de que o povo depende dos poderes — pelo contrá-rio, uma pessoa só pode ter poder se o povo lhe conceder. Nestecaso, o valor dinheiro tem de ser substituído pelo trabalho.

Nossa função é tirar o poder da loucura: 1) pela conscientizaçãogeral que só os indivíduos muito doentes fazem questão cerrada emter poder; 2) só eles (os mais doentes) é que lutam e conseguem ospoderes; 3) como a sociedade está organizada invertidamente, o po-der em si, é corrompido — por este motivo, não há atualmente po-der sem corrupção. E todo aquele que desafia tal desonestidade, so-fre terríveis conseqüências (Abraham Lincoln, John Kennedy, BobKennedy, Luther King, João Paulo I).

O indivíduo muito doente preocupa-se o tempo todo com o quefazer, para dominar o próximo, física ou psicologicamente — en-quanto o equilibrado dedica-se ao trabalho, ao estudo e à pesquisa,não tendo tempo para se defender dos loucos poderosos. Assim sen-do, é necessário esta consciência, como único meio de sobrevivên-cia da humanidade, pois os bons não podem mais permitir seremenganados o tempo todo.

O indivíduo poderoso tem uma atitude de frieza tão extrema,como são os doentes mentais mais graves — que visam ao lucro,sem dó ou piedade. Ele consegue chegar ao poder, porque conseguepisar mais nas outras pessoas, e desde criança; podemos dizer queo poder é próprio dos loucos, e só se consegue chegar lá através daviolência contra a sociedade e seus membros. As tribos primitivassó aceitam um novo chefe quando ele se mostra mais violento doque seus companheiros.

Outra característica do poderoso é a sua vagabundagem: ele nãogosta do trabalho, e em relação a qualquer coisa, que faça, reinvin-dica muito tempo; por este motivo, procura ganhar o máximo dedinheiro que puder, para obrigar o próximo a trabalhar para ele.O único Ser que tem realmente poder . é Deus, e ele não se incomoda

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em se fazer valer; pelo contrário, os demônios lutam afoitamentepara ter poder. Este fato nos indica que todo ser humano que dese-ja o poder é semelhante ao demônio.

Quem deseja o poder, tem a intenção de explorar, porque o sis-tema econômico-social criou uma sociedade com a finalidade de en-ganar, para conquistar uma posição de mando e espoliação, justa-mente sobre aqueles que ele está dirigindo, para poder se aproveitarde seu trabalho e suas riquezas. Parece que o pior de tudo é a tre-menda pressão psicológica que as pessoas poderosas fazem contrao povo, pois elas sabem que não são bem vistas, e, ao mesmo tem-po, não conseguem conter sua exagerada cobiça e inveja.

Todas as desculpas possíveis os poderosos nos dão para nos ex-plorar, uma vez dizem que têm de pagar pouco para seus emprega-dos, para estimulá-los para o trabalho — e não que, pagam pouco,para explorá-los; outra vez dizem que se o povo tiver muito confor-to não trabalhará mais — e não que eles tiram o nosso bem-estar,por causa de sua inveja doentia. Todos os poderes se unem, paradesunir o povo, com a finalidade de agredi-1o. Somos governadosquase que pelos mesmos doentes da psiquiatria, sem o perceber; so-fremos as mesmas perseguições que as feras nazistas faziam, semter consciência. Está no tempo de parar isto. Até quando?! Só senos tornarmos tão imbecis, que não temos mais dignidade.

Só um indivíduo extremamente doente pode ter o "ideal" e oesforço, para se tornar poderoso na sociedade; assim sendo, temosde admitir que os equilibrados são dirigidos pelos mais patológicos:1) porque os mais desequilibrados não têm capacidade para o tra-balho; 2) são totalmente dependentes; 3) são parasitas, ou melhor,só podem viver à custa dos outros. Desta maneira, não adiantaconvencê-los de que estão errados; temos de alertar os que são es-poliados, que é o grande povo.

Este nosso trabalho é audacioso, porque está denunciando jus-tamente os indivíduos que são donos do poder, e, ao mesmo tem-po, os mais doentes e perigosos. O povo precisa compreender quetais pessoas estão dispostas a cometer os piores desatinos, para nãolargar seus poderes — mas se houver a união de todos nós em tornodo bem comum, criaremos uma força imbatível, porque somos 99%da humanidade; estou dizendo que o verdadeiro poder pertence anós, e nos foi roubado. É só retomá-lo! E como fazer isso? Vocêque me lê, converse com os outros, e conte sobre estes fatos; todostêm de saber — é nossa obrigação de vida, nossa filosofia, nossareligião e principalmente nossa felicidade e liberdade que estão emjogo. Ou faremos a desinversão da sociedade, ou não valerá maisa pena continuar vivendo.

É fundamental que desalojemos o poder louco que continua exis-tindo, trazendo grande dor para os seres humanos; o mesmo poder

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que crucificou Cristo, que escureceu a Idade Média, que criou a In-quisição, fez as guerras e faz as revoluções sangrentas, continua exis-tindo e nos esmagando ainda hoje. Esse poder é o "poder" da doençamental.

Como muitos seres humanos lutam pelo poder, e o poder é sinô-nimo de loucura, o desejo desses indivíduos é enlouquecer. E o maisdramático dessa situação é que a estrutura social atual favorece so-bremaneira a intenção dessas pessoas — dando-lhes todos os meiospara chegar ao domínio social. De maneira que, se não for modifi-cada a sociedade, é impossível desfrutar de uma existência normal.Imagine o leitor, a humanidade dirigida pelos doentes de sanató-rios; pois bem, muitos dos que estão no mando são piores do queeles. Não gostaria de falar em nomes, mas não é difícil de lembrarde um Howard Hughes, de Mengele Göbels , Marilyn Monroe.

O que acontece é o seguinte: uma pessoa equilibrada conhece me-lhor a si mesma, e sabe que não tem tanta capacidade para dirigira sociedade; enquanto o indivíduo desequilibrado não tem idéia deseus problemas e limitações, achando-se no direito de mandar e exi-gir dos outros, acreditando-se perfeito. Assim sendo, podemos afir-mar com segurança, que só o louco consegue chegar ao poder —pelos menos, como está organizado.

Psicossociopatologia do poder

Algumas pessoas devem estranhar o fato de estarmos "atacan-do" os poderosos, pensando que os outros indivíduos também sãoproblemáticos; o que podemos responder é que o perigo para a hu-manidade é o poderio que essas pessoas tão doentes alcançaram, co-locando o povo em contínua tensão e dificuldades. Poderá haveruma outra objeção: — todos aqueles que chegarem ao poder sãotambém patológicos. Daí, a necessidade de colocar todos os sereshumanos sob controle de grupos analisados trilogicamente, ou me-lhor, que estejam conscientes de seus problemas. De outro lado, to-dos aqueles que estiverem cônscios de sua teomania (megalomaniae narcisismo) jamais colocarão a humanidade em risco: em hipótesealguma, um Hitler, Mussolini, Stalin, e muitos outros, que conhe-cemos, chegariam ao poder, se estivessem em uma sociedade cons-cientizada. Não se pode dar tanto poder a um indivíduo, politica-mente, economicamente, religiosamente, socialmente: 1) porque nin-guém tem condições pra assumi-lo; 2) porque os que o "assumem" ,são personalidades delirantes (fora da realidade); 3) esse tipo de po-

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der, por si, é inteiramente anormal, socialmente considerando, istoé, faz parte da sociopatologia criada por nós.

Uma grande causa do medo é de origem psicossocial, isto é, co-mo a sociedade humana é dirigida por pessoas extremamente doen-tes, é mais do que evidente que devemos temê-las — desde que po-deremos ser prejudicados por elas. O poder social é muito perigoso,porque os indivíduos que o detêm não têm consciência de seus pro-blemas — e exigem dos seus subordinados a realização de um pactode mentira e hipocrisia; todos os mandatários de uma nação, carre-gam atrás de si um "rabo" de cortejadores, que precisam rir, quan-do ele ri; ficar sério, quando ele o está; mandar, fingir, representarde acordo com o papel que ele exerce. E claro que nem todos conse-guem fingir do mesmo modo; então, cria-se o atrito. A esta alturaos leitores devem estar pensando que preconizamos a existência deuma sociedade sem dirigentes. Errado. Queremos líderes que este-jam conscientes de seus problemas, e que não despejem no povo to-da a sua "bílis", como se fala popularmente; queremos pessoas quesejam sábias, e que façam o seu trabalho em benefício dos seus co-mandados, e não para enaltecer a própria vaidade e megalomania.

Tenho notado nos psicóticos (esquizofrênicos, paranóicos, de-pressivos, epiléticos), uma preocupação muito grande com o social— a ponto de muitos deles terem entregado tudo o que tinham aosmais necessitados (instituições de caridade, pessoas pobres). Este éo sinal que a doença psíquica tem enorme ligação com as desonesti-dades sociais; afinal de contas, quem é mais doente (invejoso, cheiode ódio), é o que mais comete injustiças com os seres humanos. Osleitores devem conhecer famílias famosas por um tipo qualquer depoder — político, na economia, na indústria, agricultura, comér-cio, banco —, que souberam com grande capacidade explorar ahumanidade.

Existe um mandamento judaico-cristão que diz: não cobiçarásas coisas alheias (9? mandamento). Mas a sociedade vê tal pecadono povo, e não nas pessoas que têm propriedades — como se elasfossem criaturas especiais, com direito a tudo. A Trilogia Analíticaenxerga tal problema principalmente nos poderosos, que se apode-raram dos bens, que são de todos. O verbo do substantivo podernão é apoderar? Futuramente, os líderes sociais serão escolhidos pelopovo; exatamente ao contrário de hoje, quando eles querem se im-por, através de sua megalomania e narcisismo. Será útil saber por-que alguns indivíduos têm tanto interesse em galgar cargos públicos(presidência, governador, prefeito). Uma primeira conclusão queaparece é a seguinte: 1) realizar a própria teomania (desejo de serum deusinho); 2) ajudar seu grupo a explorar o país.

Ao ler a biografia de Joseph Mengele fico pensando como é pos-sível um homem de boa aparência ter-se tornado um verdadeiro

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monstro! Parece que ele era um médico bem-intencionado que, de-pois de ter aderido ao nazismo, adotou uma conduta bárbara. E as-sim aconteceu com muitos alemães, com russos no marxismo, ame-ricanos na guerra (Vietnã), e outros, quando escolhem uma manei-ra de pensar errônea. Seria muito importante o ser humano perce-ber que o móvel principal de sua existência é a vontade — não parafazer absolutamente tudo o que quiser — mas no sentido de realizaro bem. Quando William of Ockam falou que a essência do ser hu-mano era a liberdade, cometeu um grande equívoco ao não esclare-cer que somos livres (à semelhança do Criador), não para sermosdemônios, mas para sermos iguais a Deus, no sentido de realizaro bem.

Toda pessoa muito doente procura desesperadamente o poder,para dar vazão a toda a sua loucura, sem sofrer, qualquer espéciede controle; se não consegue chegar ao poder, começa a desenvol-ver idéias delirantes, podendo ser internado em uma psiquiatria, ouse isolar em sua casa. Não é difícil observar quantas pessoas têmhábitos estranhos, manias e fobias, que servem para esconder suaextrema teomania; se ela for poderosa, será vista como excêntrica,mas, se for pessoa do povo, é imediatamente acuada, presa.

A euforia trazida pelo poder não é devido ao fato de ele ser tãosatisfatório, mas devido a inconscientização que ele faz sobre a pró-pria patologia. O indivíduo poderoso cria leis e sistemas de vida,que são acatadas; imediatamente, ele sente como se a sua teomania,megalomania e narcisismo tivessem vencido; é a realização plena desua fantasia, como um demônio que criou uma nova forma de exis-tência, e deu certo. Há muito tempo, a humanidade vem sendo diri-gida por idéias patológicas, que agora precisam ser analisadas.Lembro-me neste momento de um filósofo americano, que não foilevado muito a sério, e que falou verdades incríveis; o seu nome éThorstein Bunde Veblen (1857-1929).

Ele era de opinião que a história da humanidade sempre se ca-racterizou pela luta entre forças predatórias e construtivas; o piratado século XVI transformou-se no homem de negócios do capitalis-mo moderno, e o barão que roubava na Idade Média, assumiu asfeições de um respeitável magnata financeiro (Dowd, P.: ThorsteinVeblen). Aliás, no livro O Reino do Homem, volume II, de minhaautoria, fiz um comentário negativo sobre esse pensador, que viucom clareza a sociopatologia. Neste momento, estou corrigindo meupróprio erro.

Vocês já notaram que, os indivíduos que têm poder, pisam so-bre o povo que os serve; justamente quem vive às custas do traba-lho alheio é que mais agride os que estão trabalhando? O que equi-vale dizer que os mais inúteis, para qualquer trabalho útil, são osmais agressivos e prepotentes. Existe um ditado que diz: quem sabe

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faz, quem não sabe ensina — ou obriga os outros a fazerem. NoHospital das Clínicas (Universidade de São Paulo), os professoresexigem que todos os pesquisadores coloquem seus nomes, em tra-balhos que eles próprios não têm a menor idéia do que se trata. Talfato acontece com a maioria das Universidades, no mundo todo —o que significa que os verdadeiros trabalhadores e cientistas são obri-gados a produzir para dar mais fama e poder, aos que já o têm.

Cristo poderia ter tido todo o poder terreno que quisesse, inclu-sive porque o povo queria aclamá-lo como seu rei; porém, semprerecusou, dizendo que seu Reino não era deste mundo. Este fato, es-clarece algo muito importante, ou seja, que o poder humano nãoé exercido de maneira certa, em benefício dos outros — porque ele(Cristo) tinha realmente todo o verdadeiro poder que um ser podeter. Estou dizendo também que, para que tenhamos uma existêncianormal, temos agora que desinverter a sociedade, colocando o po-der subordinado a nós.

A revista Business Week, de 18 de Novembro de 1985 diz à pági-na 115: "O resultado de 900 companhias: Os lucros na realidadenão são tão baixos como parecem", dando a idéia de que o dinhei-ro faz as empresas, geram os lucros, e fornecem empregos — o quesignifica que o poder é que realiza tudo. E realmente uma empáfiamuito grande daqueles que gerenciam as atividades empresariais. Opovo precisa perceber que o trabalho é que é fundamental. Os em-presários americanos procuram apenas o lucro, e não se incomo-dam com o seu povo, transferindo suas empresas para outros paí-ses, onde possam pagar menos aos operários. Se algumas dessas na-ções protegerem melhor seu povo, e exigirem melhor pagamento,imediatamente as máquinas são transferidas para outras regiões. Oque precisa acontecer é uma conscientização geral, e o povo criare gerir suas próprias empresas — tirando o lucro das "águias" de-sonestas — e se libertando para o bem e para o justo.

A nós, povo, o que nos interessa saber da briga de facções ára-bes, ou mesmo do esforço que o presidente americano faz para pu-nir alguns delinqüentes, se toda essa luta constitui apenas em tornode conservar o poder dos poderosos, e ainda contra o povo? Sabe-mos que muitos indivíduos dos nossos estão sofrendo; porém, te-mos que alertar os outros povos que não temos nada com isso!

De onde os poderosos tiraram seu poder? Do povo, simplesmen-te. Quando uma nação cresce, os indivíduos mais espertos (maisdoentes) aumentam seu poder, através da dilapidação do povo —simplesmente porque são mais loucos, isto é, invejosos, vorazes, gu-losos, avarentos e cobiçosos (que é a causa da moléstia psicológi-ca). E, se o mundo está em mãos de doentes mentais, não nos restaoutro caminho, senão conscientizar tal fato, para retirar deles. Seráuma empresa muitíssimo mais fácil do que vocês pensam. Porém,

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não acreditem que eles (os doentes) não irão urrar como feras, arra-nhar com suas garras, ameaçar — exatamente como os doentes men-tais, atacarão com toda fúria. Fiquemos longe deles, na medida dopossível.

Nós, o povo, temos acompanhado por todos estes séculos, o ca-minhar insano da humanidade, como se fôssemos nós os culpados.Minha maior surpresa foi o de ter percebido a patologia social, dentroda qual somos manejados, quase furiosamente pelos indivíduos in-sanos, que tomaram o poder, organizando uma sociedade anti-humana. De um lado, estamos nós, o povo espoliado e agredido;de outro, os doentes psíquicos comandando. Até parece um verda-deiro mistério; mas não é.

A causa da neurose (psicose), doenças físicas, é a conduta teo-mânica, de megalomania e narcisismo; é claro que tais pessoas sãoextremamente vorazes em galgar o poder — enquanto os indivíduosdedicados e abnegados (que são a grande maioria), evidentementenão fazem questão. Ora, os primeiros, em um instante, assumema posição de mando — já pelo fato de se esforçarem para isso. Con-seqüentemente, organizaram um sistema social, tão maluco comoeles, e contra os outros. Por causa disso, passamos a vida na misé-ria e desalojados de nossa verdadeira vantagem da vida. Para osbons, nada; para os delinqüentes, tudo.

Agora, será possível desinverter esta grande inversão, que foi rea-lizada em toda a humanidade, desde que você, que trabalha, você,que estuda, você que é cientista, artista, funcionário público, perce-ba tudo isto, que estou mostrando, e resolva se abrir a esta realida-de, e dar um basta a esta situação tragicômica para tomar conta doque é seu, isto é, o universo, com tudo o que foi criado, e que per-tence a todos nós.

Meios de comunicação no poderAs grandes empresas compram os meios de divulgação, para do-

minar o mercado; por exemplo, a Gulf e Western compraram a Pa-ramount, e a Esso, a Metro Goldwyn Mayer; sabemos que Muldocktem uma cadeia de emissoras de televisão. Esse fato mostra que opovo é doutrinado, segundo os interesses econômicos desses grupos;mesmo que haja, por lei, liberdade de imprensa, os meios de divul-gação evidentemente, só noticiam o que favorece a essas firmas. Nes-te caso, é absoluta mentira dizer que haja liberdade de comunica-ção. Os indivíduos que trabalham, nesse setor, são obrigados a se-guir a orientação interesseira de suas empresas, mesmo que estejam

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contra; esse fato cria enorme tensão entre eles, motivo pelo qual arotatividade de jornalistas, radialistas é muito alta — o contráriovale, isto é, os funcionários bem adaptados geralmente são "vendi-dos" aos seus patrões.

Precisamos prestar bem atenção, como os meios de comunica-ção modernos estão sendo usados. E voz corrente que a humanida-de está na era da informática — o que pode trazer o maior perigode todos, pois sabemos que os indivíduos paranóicos "adotam a ar-te" de saber tudo o que se passa, para controlar a sociedade. O quese mostra no filme de Carlitos, Os Tempos Modernos, e no livrode Orwel 1984, onde um chefão aparecia sempre em um telão paravigiar seus subordinados, finalmente está sendo conseguido. Existemesmo a idéia de fornecer um número a cada cidadão, que teria umfichário em alguma delegacia de polícia, para que fosse dia e noitevigiado. Como a sociedade é dominada pelos indivíduos mais doen-tes, do poder econômico-social, estamos todos em perigo; o povocada vez mais é alienado (drogas, bebidas, comida, T.V., diversão)e, com isso, mais massacrados pelos poderosos. O povo precisa cons-cientizar o fato de que ele é atacado "violentamente", por uma mi-noria constituída por indivíduos frios, agressivos e desonestos; elesconsomem "toneladas" de psicotrópicos e consultam os melhoresespecialistas, para viver com algum equilíbrio. Em cada país eles for-mam um pequeno grupo, que retém todo o poder: 500 famílias, 400,ou até menos, mas que constituem a praga da humanidade.

A revista U.S. News de 28 de Outubro de 1985, traz os seguintesartigos: "Onde a deserção vai levar"; "Pentágono fica sob fogo deamigos" ; "Congresso manda Reagan abrir o jogo em relação às ma-nobras orçamentárias"; Reagan para Marcus: "Entra na linha an-tes que seja tarde demais " , etc., ou melhor, assuntos que não têmnada a ver com o povo, são questões só do poder político, militare econômico. Não existe notícia alguma que o ser humano estejapodendo ganhar mais, viajar e estudar melhor — até parece que opovo está demais na humanidade. Temos de ler um artigo sobre gru-pos fanáticos no Oriente Médio, ou o aumento do poder japonês,ou diretamente os anúncios de que um tipo de computador é me-lhor do que outro; que uma companhia de aviação fornece melhorcomida que outra, etc. Dizendo mais claramente: os meios de co-municação são realizados pelos poderosos e para aumentar seus po-deres, explorando mais o povo; quando um indivíduo se destaca,ele é imediatamente usado com esta mesma finalidade. O povo é es-poliado, alienado, drogado por esses grupos que dominam a socie-dade. Estamos no tempo de formar nossos próprios meios de pro-dução, comunicação e venda, para evitar tal vexame.

Parece que ninguém sabe do que o povo vive, o que ele quer,quais são os seus ideais, desejos; quando se realiza uma estatística,

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não se a faz em função do bem do povo, mas em relação aos pode-res: o que ele pensa do poder, para aumentá-lo, o que ele acha decarros, para melhorar o poder dos fabricantes. Por este motivo, éimportante construir agora a nossa sociedade, isolando o velho ecorrupto poder.

Assim está formada a velha sociedade: o povo a serviço dos po-deres. Uma verdadeira sociedade seria assim:

A maneira de ser reorganizada a sociedade, seria a criação depequenas empresas de divulgação, de jornal e revista, rádio e televi-são, a serviço do ser humano; este último faria o boicote aos gran-des meios de difusão que, com o tempo, seriam inteiramenteneutralizados.

Ronald J. Wilkins escreveu o livro Achieving Social Justice; naspáginas 11 e 12 consta o seguinte: "A necessidade de justiça social:mais de 85 por cento das pessoas no mundo sofrem os efeitos humi-lhantes e degradantes da discriminação. A maioria das mulheres emaioria das minorias" (as minorias, que são as maiorias, digo eu),"nos EEUU, e no mundo todo são discriminados...

Mais de 70 por cento das pessoas no mundo são pobres. Na Amé-rica Latina, América do Sul, Ásia e África mais de 400 milhões depessoas, 40 por cento dos quais são crianças, sofrem de severa des-nutrição. Quase 65 por cento das pessoas do mundo não gozam deliberdade política. Pessoas no mundo todo estão debaixo da amea-ça de uma guerra nuclear. Agora é importante compreender as cau-sas de tais injustiças sociais". Em seguida diz: "Muitas iniqüidadescontinuam a existir contudo, porque várias pessoas são egoístas".Notem que ele vê no egoísmo a causa desse descalabro, isto é, napsicopatologia; eu noto que esses indivíduos doentes, que dominama economia têm todo o apoio legal para agir assim. Assuntos comoesse, geralmente não são cuidados pelos meios de divulgação por-

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que são contra os interesses dos poderosos que, por sua vez, con-trolam os jornais, revistas, rádio e televisão.

Quando um jornal dá uma notícia, visa a orientar os poderosossobre o seu modo de agir, para aumentar ou recuperar o poder, queestava sendo perdido — mas este poder atual refere-se ao econômico-social de poucos, isto é, para enganar, mentir e retirar para eles oque pertence a toda humanidade. O jornal U.S.A. Today, 3 feira,21 de Janeiro de 1986, trouxe em sua primeira página a notícia: " `Pâ-nico' do petróleo, corta gasolina, os custos estão aquecendo". "Sãoótimas notícias para os consumidores", disse William Randol.Segunda-feira, o petróleo Ocidental caiu de 1/4 para $ 28 1/3; Ex-xon perdeu 1/4 para $ 52; Chevron caiu 3/4 para $ 35 5/8; Texacoescorregou 1/4 para $ 29 5/8. Charles Koshetz, comentarista diz:"Assim como os consumidores esperam felizes pelos preços caindopara fluir a bomba de gasolina, os investidores cruzam os dedos.A indústria Dow Jones perdeu 7,57 pontos para 1.529,13 segunda-feira. Num determinado momento a média caiu 14 pontos. O medode Wall Street é que a queda dos preços de petróleo poderiam estarenfraquecendo o sistema financeiro do mundo. ,

Posso formular a seguinte pergunta: o que é bom para o consu-midor é ruim para o sistema financeiro? De maneira que o povo te-rá de ser sempre prejudicado, para que a economia ou as finançasde uma nação se encaminhem bem? Este fato prova que o sistemaeconômico prejudica o cidadão de qualquer região do mundo — pelomenos, como está organizado. E, se causa problema para o povo,é porque beneficia a alguns.

A linguagem usada nos meios de comunicação (rádio, T.V., im-prensa) dá-nos a impressão de algo totalmente diferente da vida co-mum, como se fosse um mundo à parte — e é mesmo, como umaexistência paralela, esquizofrênica; quando ouvimos falar de algumindivíduo de poder (econômico, artístico, político), parece que nãose trata de alguém semelhante a nós — e não se trata, porque suavida se transcorre em um nível artificial, ilusório, pré-fabricado portodos aqueles que saíram do normal. Estou dizendo que esse uni-verso é estranho, porque é mais elaborado pelas fantasias, só exis-tindo enquanto for alimentado desse modo patológico.

Se o leitor se lembrar, poderá observar que todos esses indiví-duos, postados nesse universo do poder, ou tiveram uma morte di-ferente, ou hábitos inteiramente bizarros. O pior de tudo é que talsituação é alimentada pelos meios de comunicação, como se fosseideal — como se o patológico fosse o melhor tipo de vida. Acreditoque é importantíssimo conscientizar tal fenômeno, para não entrarnessa patologia social, que destrói os que se aventuram por esse ca-minho. Pensem, por exemplo, como pereceram muitos políticos fa-mosos, religiosos e pessoas que tiveram altos cargos. A finalidade

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deste trabalho é acordar o ser humano para esta realidade, para des-virar tal situação.

A Escola de Frankfurt (Horkeimer, Habermas) afirma que a téc-nica moderna prejudica o ser humano; o que a Trilogia Analíticapensa é que o sistema de promoção e propaganda é extremamentesutil e mentiroso. Por exemplo: um sapato colocado em uma vitri-ne, ou anunciado em uma revista é bem diferente do que calçadosno pé; por mais bonito que seja, depois de uma hora de uso, é exa-tamente igual aos outros — e assim acontece com 99% dos produ-tos anunciados. Mas o que é mais penoso é a idéia do ser humano,ao pensar que vale o que tem: um palacete, um bom carro, roupasfinas, jóias. Geralmente, pessoa alguma vê suas qualidades (e defei-tos), desejando que todo o "valor" seja proveniente de suas pro-priedades e objetos materiais, que não têm nada a ver com o queé realmente capacidade.

Os meios de comunicação atualmente constituem uma barreiracontra a consciência muito forte; por este motivo, estão se tornan-do maléficos para o povo, as nações e toda a humanidade. Antiga-mente não era assim, porque o poder político predominava ampla-mente; nos dias atuais, a economia se apossou dos meios de difu-são, para incensá-lo; assim sendo, o que se vê é um elogio constanteaos poderosos, e a qualquer idéia e pessoa que melhore esse poder.Porém, não podemos nos esquecer nos grandes comunicadores dahumanidade que, inclusive, trazem glória para as empresas em quetrabalham, e confiança nesse tipo de atividade. Sei que existem in-divíduos de enorme valor nos meios de comunicação, e que: 1) es-tão enganados com as empresas em que trabalham; 2) não têm osmeios para se desenvolver verdadeiramente. Eles precisam lutar pa-ra que a liberdade de imprensa volte a vigorar, como sendo o únicocaminho de preservar o seu próprio trabalho.

Os jornalistas, radialistas e artistas do cinema e televisão preci-sam ver que constituem todo o poder nos meios de divulgação, eque estão sendo explorados e impedidos de se desenvolver pelo po-der econômico, que domina suas empresas. É tempo de acordar, ever que eles têm de ser a consciência da sociedade, que não podeser calada, sob pena de destruir a própria civilização. Os jornalistassempre constituíram uma classe explorada porque: 1) são sempreeles que se arriscam a dar uma notícia, ou enfrentar os perigos deuma reportagem no campo de batalha; 2) tudo o que escreveu é coadopelos chefes das redações, que são encarregados de defender a filo-sofia de vida da empresa em que trabalham; e, como sabemos, oque predomina é o poder econômico, que coloca todas as informa-ções no sentido de resguardar seu poderio. Por esse motivo, seriaimportante que grupos de profissionais nesse campo se unissem pa-ra formar suas próprias empresas, que funcionassem de acordo com

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os interesses do povo — e este último, pouco a pouco, iria sabotan-do os jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão, que não esti-vessem protegendo os seus interesses.

Os humilhados, ofendidos, oprimidos e perseguidos devem se daras mãos para romper essa barreira invisível, mas enorme, que amor-daça impiedosamente a civilização, sufocando nossas mais belas as-pirações. Falta muito pouco, mas falta ser dado esse passo decisi-vo, para quebrar esse estranho respeito pelos indivíduos doentes epelos demônios, que nos trazem presos, porque nós os aceitamosno poder. Aliás, até os políticos pensam que dependem deles!

Quando falo em libertar o povo, muitos poderão estranhar a frasee perguntar: — libertar o povo do quê? Uma resposta curta e eluci-dativa seria a libertação do demônio, da injustiça social, do traba-lho prejudicial, ou do poder econômico, isto é, a causa de todos osmales humanos, está no controle que os indivíduos poderosos reali-zaram, através do dinheiro e do domínio social de toda a sociedade,em todos os sentidos.

O perfil dos poderososTodas as leis sociais foram organizadas para proteger os pode-

rosos; só o povo responde pelas delinqüências que praticou: se umapessoa faminta rouba um queijo, para se alimentar, é severamentepunida, mas se um poderoso praticar crimes, avançar sobre os bensalheios, atacar a honra do próximo, ainda é elogiado pela suacoragem.

Naldinho, menino criminoso com 16 anos, escreveu o seguinte:"Eu vou falar a verdade, certo? Todo mundo rouba, por que eunão posso roubar também? O Presidente, esses caras, vai me dizerque eles não metem a mão? Esses caras são os maiores ladrões quetem". "Como é que o cara tem vários terrenos aí, tem um montãode barato, e o pobre tem um barraco só?" (Entrevista ao jornalistaSergio Pompeu, Folha de São Paulo, pág. 10, 7.10.1985). E claroque ele está tentando justificar seus crimes; porém, no sentido so-cial, demonstrou que tem consciência da situação de enorme injus-tiça da sociedade.

E muito importante perceber que os poderes constituídos foramorganizados para avançar sobre a vontade do povo, paralisando suacapacidade de ação; podemos afirmar que 90% de nossa atividadefoi brecada pelos poderosos; por este motivo, faltam-nos trigo, ca-sas, terras, tudo. O Nordeste brasileiro é um bom exemplo desta po-lítica; o poder econômico-social impede o desenvolvimento dessa re-gião porque fornece a todo o país uma mão-de-obra quase gratuita.

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Em São Paulo, que é industrializado, os empresários criaram umprêmio ao melhor operário bandeirante — como uma fórmula paraestimular a escravidão humana. Aliás, a maior parte dos prêmios,que dão, é destinada a calar a consciência do povo, em relação àsinjustiças sociais.

A impressão que temos é que os poderosos tiveram inspiraçãodireta dos demônios, e organizaram uma estrutura social que nãotem nada a ver com os seres humanos; o que vemos, como resulta-do, é uma quantidade enorme de indivíduos desajustados, revolta-dos, marginais e delinqüentes, que, aprenderam, desde criança, comos dirigentes da sociedade, a arte de roubar e delinqüir. Eles são,nada mais, do que o reflexo das atitudes e aspirações de todos osque tomaram o poder, e vivem tentando esmagar nossos ideais e so-nhos mais caros e bonitos.

A humanidade tem dois tipos de pessoas: as que são simples eafetivas, e as que são arrogantes e perigosas; pois bem, estes últi-mos é que tomaram conta dela. Lembro-me agora do que um fa-moso economista americano (Rostow) falou: "Através do comér-cio e negócios, as pessoas acalmam seus impulsos agressivos " . Oque acredito mesmo é que elas dão vazão a sua agressividade,aumentando-a sem limite quase. Enquanto for permitido a algunspoucos, a controlar a riqueza do mundo, será impossível o povo con-seguir chegar à felicidade.

E necessário que todos se unam, em oposição aos poderosos, parafazê-los descer de seu pedestal: 1) para tirar a força deles; 2) mostrar-lhes que sabemos que eles são nossos inimigos; 3) e que, pouco apouco, conseguiremos submetê-los à verdade. Em seu lugar, colo-caremos: 1) sábios, isto é, indivíduos que se conheçam bem, que sai-bam qual é sua patologia; 2) pessoas que estejam lá para nos servir,e não para se servirem: servidores e não poderosos.

As grandes companhias empregam os grandes administradores,que são pessoas hábeis na "arte" de ganhar dinheiro: 1) seja esta-belecendo um preço maior na mercadoria produzida; 2) seja obri-gando os empregados a produzir mais; 3) ou reduzindo o custo naprodução; 4) pagando menos aos seus empregados; 5) ou mesmoespeculando com o dinheiro; 6) conseguindo favores no governo;7) até mesmo ameaçando e atacando concorrentes e indivíduos quelhe ofereçam empecilhos em seu caminho. De modo geral, tem deser alguém dotado de acentuada agressividade, e antes de tudo ummaquiavélico, que não meça conseqüência em seu desejo de lucrare lucrar, sem dó e nem piedade — um verdadeiro imoral, capaz devender os próprios pais. Esta é a mentalidade que dirige um mundoque não pode ser desonesto, para funcionar bem; estes são os ho-mens que dirigem a humanidade. Digam agora, se é possível haverpaz na Terra, com tal tamanho de espoliação e agressão?

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A fábrica J. G. do Brasil preparou-se meticulosamente para re-ceber a visita de seu presidente geral que, descendo de um helicóp-tero, entrou por 5 minutos, e se retirou. Todos os empregados fo-ram, nesse dia, trabalhar com roupas novas, e limparam o chão evidros, para agradar o grande rei moderno, ou o grande pirata doséculo XX, travestido na máscara de empresário, conforme expres-são de Veblen (O Reino do Homem, N. R. Keppe, pág. 241). Va-mos dizer que a humanidade não mudou em nada: antes, era o gre-go e o romano que tinham escravos; depois os religiosos impunhamseu poder, na Idade Média, organizando a Inquisição para perse-guir e torturar; em seguida, os senhores feudais, depois os burgue-ses, e atualmente, os capitalistas e os comunistas exploram o povo.

Pai milionário (capitalista), filho inútil, neto estúpido. Este eraum problema que eu não conseguia solucionar, dentro das hipóte-ses da Trilogia Analítica — até que percebi a enorme influência doambiente social, sobre a vida psicológica, a ponto de neurotizar oser humano. Conforme a descoberta que a neurose é uma questãode atitude, de negação, omissão ou deturpação da realidade, é fácilnotar que o sistema social realiza tal efeito, com extrema perfeição.

Não é só Proudhon, Engels, Marx, mas a Escola de Frankfurt(Horkeimer, Habermas) vêem a sociedade como sendo um local dealienação — que promove a doença psíquica, falamos nós. E poreste motivo que todos os países e universidades, esperam por umamudança (social), para que os povos possam se desenvolver nova-mente. Os operários tentaram escapar de sua escravidão, e arranja-ram outra pior ainda (marxismo). Porém, acredito que a verda-deira etiologia dos problemas sociais não tinha sido descoberta e suacausa esteja nos indivíduos poderosos, que organizaram um siste-ma econômico-social contra os interesses do povo. Atualmente, al-guns sistemas políticos são quase perfeitos, porém eles são rodea-dos por outros sistemas que os sufocam, destruindo sua eficácia.

Gostaria de avisar o leitor que a Trilogia Analítica foi semprevetada pelos poderosos (governantes, donos do poder econômico-social), porque eles perceberam que, se ela (a Trilogia) entrasse nomundo, eles perderiam seu poder. Por este motivo, fui obrigado acriar uma editora, publicar e distribuir meus livros, comprar pro-gramas de televisão, publicar o próprio jornal — este livro que vocêestá lendo, por exemplo, só foi possível chegar as suas mãos, graçasa um trabalho intenso que tivemos.

Assim sendo, solicito ao leitor que difunda estas descobertas, por-que é o único meio que nós, o povo, temos para nos defendermos— e, o principal, é construir a verdadeira sociedade humana - pois,até agora, o povo foi o escravo, uma vez; outra, o joguete (João-bobo); mas, de modo geral, o grande e eterno enganado pelos po-

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derosos. É possível mudar esta situação, desinvertê-la; para isso, énecessário você ter esta consciência.

A sociedade está organizada desta maneira, isto é, o povo sobo domínio dos poderes sociais, e a existência de um pacto entre eles(os poderes), para tirar todo o proveito possível. A minha idéia éque o povo deveria ter esse poder, através de seus representantes,como é realizada na política americana, para que o poder econômi-co não o esmague.

Este esquema dá a idéia de que o povo deve agir em todos ospoderes (e não só no político democrático), com a possibilidade dedemitir todos aqueles, que tiverem uma atitude contra ele.

A pessoa poderosa coloca, no povo, toda a sua extrema intran-sigência, pensando que todos têm a intenção de: 1) explorar o pró-ximo; 2) abocanhar o máximo que puderem; 3) prejudicar — e co-mo ela não percebe que não são os outros que desejam isso, usamde todo o poder que tem para oprimir, subjugar e agredir a huma-nidade. Neste momento, a sociedade sofre uma inversão, e o povocomeça a pensar que depende de um capitalista, de um banqueiro,do dono de uma empresa, ou de um comerciante — e não que todoseles é que vivem do que o povo planta, produz nas fábricas, como seu trabalho.

Por que o poderoso ri a toda hora? A explicação comum é quea riqueza traz felicidade; porém, analisando a questão sob o pontode vista psicossociopatológico, podemos notar que a questão é bemoutra: existe um ditado que diz "muito riso, pouco sizo " , o que sig-nifica que a alienação leva o indivíduo a um estado artificial de eu-foria — a uma inconscientização dos problemas. O resultado disso

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tudo é a construção de uma quantidade enorme de hospitais e o con-sumo incrível de tranquilizantes e analgésicos, para aliviar a enor-me tensão psicossomática, em que tais pessoas vivem.

A crise psicótica surge quando o indivíduo quer ter poder, e nãoconsegue; nos hospitais psiquiátricos existe um grande número depessoas que se chama de Napoleão, Jesus Cristo, César, isto é, co-mo não conseguiram atingir os altos cargos públicos, imaginam quesão personagens famosas. Acontece um fato muito curioso com aspessoas poderosas: elas cobram cada vez mais caro a comida quevendem, a casa que alugam, as roupas, artigos de cosméticos — tor-nando impossível, com o tempo, o povo adquirir tais coisas. Com-parando com os demônios, chegamos à conclusão que eles destroemo próprio reino que construíram; mas isso acontece porque nãoaguentam ver o bem-estar no próximo: o povo se alimentando bem,morando ' confortavelmente, usando roupas boas, e tendodivertimentos.

Uma pessoa pode perguntar: — Por que o indivíduo poderosoé louco? Qual é a prova que você me dá? Primeiramente, é bomlembrar que as leis sociais geralmente são megalômanas e narcisis-tas, isto é, doentias. Ora, quando alguém serve a essas leis, imedia-tamente identifica-se com elas, pensando que se tornou finalmenteum deus. De início, às vezes, um indivíduo que tenha poder socialé bom, mas com tempo entra pela total teomania — este fato expli-ca por que a pessoa que escolhe o poder, jamais o consegue deixar.

O segundo fator é o desejo psicológico de viver os delírios degrandezas; para quem não conhece bem a psicopatologia, é bom quese explique que não existe uma diferença de qualidade entre o doen-te mental grave, e o ser humano que é considerado são; se a pessoanão tomar cuidado, facilmente pode entrar pela senda da doença.Porém, é bom que se diga que só os mais doentes é que escolhemtal caminho.

Não existe situação mais doentia do que a ligada ao poder: todavez que uma pessoa puder dar vazão a todos os seus desejos, come-terá as maiores loucuras, e com apoio de todas as leis. Por este mo-tivo, quem manda, gosta de gritar, e acusar o próximo de todos osproblemas, que são deles; e como não tem consciência de suas difi-culdades psicológicas, seus subordinados pensam que são perfeitos.Assim sendo, o povo acaba acreditando nos indivíduos mais doen-tes, os que são mais alienados, que estão fora da realidade. Nos Es-tados Unidos existe muito esta crença: quem fala que é o bom, operfeito, o belo, é sempre admirado — mesmo que esteja sofrendode um tumor maligno, que tenha violentas angústias e seja um de-vedor inveterado. Precisamos urgentemente confiar nos que não têmtanta confiança em seus poderes, nos que pensam que pouco sabem,e naqueles que são humildes na conduta — porque quem não con-

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fia em si mesmo, confia no Criador; quem acredita que pouco sabe,torna-se sábio; e os que são humildes, jamais perturbarão a paz dopróximo.

Ser humano algum pode ter poder absoluto, senão ele o usaráinadequadamente; podemos dizer que o esquizofrênico, o depressi-vo, o paranóico, o maníaco querem afoitamente chegar a qualquerespécie de poderio, porque assim darão plena vazão a sua doença.Hitler e Stalin, paranóicos, são comuns; Nero, piromaníaco; César,epilético, constituem modelos clássicos de pessoas doentes no poder.

O poder é semelhante à doença psíquica: se a pessoa não brecasua atitude patológica (ódio, inveja, teomania, megalomania, nar-cisismo), cada vez vai afundando mais nela, até um ponto inconci-liável; temos o exemplo dos generais das ditaduras sul-americanas(na Argentina, no Chile, Paraguai, Brasil), que levaram seus paísesà pior situação de todas em sua História.

Se o leitor notar bem, verá que o indivíduo louco (o que nãoestá comprometido com a psiquiatria) sempre tem grande " liberda-de" de conduta, devido a sua atitude de fúria.

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3. Sociopatologia

Quando folheamos um jornal, notamos do começo ao fim, umasérie de notícias sociopatológicas. Por exemplo: a Folha de São Paulodo dia 26.9.85 traz na primeira página a notícia da visita do premierpolonês Jaruzelski e do chanceler da União Soviética Shervardnad-ge ao presidente do Brasil José Sarney, evidentemente motivado pe-lo apoio que eles deram a esse país, para não pagar sua dívida exter-na. Na mesma página anuncia a visita de três candidatos à Prefeitu-ra da cidade à sinagoga, com o intuito de colher votos dentro dacomunidade judaica; as outras folhas mostram a opinião desses can-didatos sobre fatos que acontecem, geralmente sobre a pessoa deseus adversários; na página 13 existe a denúncia de que a empresaIBM está invadindo o campo de computadores das firmas nacionais.Até o final do jornal, as notícias falam de lutas entre interesses eco-nômicos, políticos e comerciais — sobrando 10% mais ou menospara trazer informações de algum valor para o povo: abalo sísmicono México, e uma outra notícia sobre ciência e arte. Vamos dizerque a imprensa tornou-se um veículo quase inútil em benefício dopovo. Para esclarecer melhor, quase todo veículo de informação (te-levisão, rádio, revistas e jornais) promove a paranóia individual ecoletiva da nação — porque toma as dores de uma facção (econô-mica, política, social).

Toda a energia humana é consumida para reforçar a patologiapsicossocial, porque a sociedade e o homem agem mais pelos seusproblemas (inveja, cobiça, ódio, calúnia, mentira). Existe uma lutaentre os interesses sociais (dinheiro, político), de domínio sócio-econômico, e tais grupos e pessoas querem a aquiescência do povo,para poderem agir impunemente. E um problema difícil de resol-ver, porque não há muita consciência dele; a maior parte das pes-soas pensa que a vida é assim mesmo. Eu estou escrevendo esse li-

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vro para dizer justamente que a vida não é assim — que esta organi-zação social é errônea e que nós temos obrigação de modificá-la.

Quando está existindo dolo público por um facínora que agridea população, as pessoas não se reúnem para saná-lo? Querem maiordano do que este: viver em uma situação de espoliação, quando mi-lhares e milhões morrem de fome (havendo alimento suficiente);quando há uma perda total da segurança, por causa da injustiça so-cial; quando milhões de indivíduos são impedidos de trabalhar, por-que o campo de trabalho está em mãos de especuladores; quandoa ciência, a técnica, a cultura e as artes foram amordaçadas pelospoderosos, que só visam ao lucro material! Podemos continuar vi-vendo nas mãos de políticos e militares loucos que absolutamentenão sabem o que fazem?

Estou convidando cientistas, professores, artistas, e todas as pes-soas de boa vontade, para construir a nossa verdadeira sociedade,pois não adianta querer corrigir o que é essencialmente errôneo (ca-pitalismo, marxismo, estrutura política, social). Vamos organizarnossas empresas, comunidades e famílias de modo trilógico que, empouco tempo, poderão dominar e impor uma existência honesta pa-ra toda a sociedade. A grande vantagem com que contamos no mo-mento é que a vida social fracassou, e todas as nações estão passan-do por uma crise de enorme proporção, e em todos os setores —esperando algo diferente, que trazemos agora. A humanidade estámadura para a Trilogia.

Dizem que o brasileiro é mole; ele o é, não tanto pela natureza(que é ardente) mas por milhares de anos de entorpecimento, queos poderosos do país ocasionaram, para permanecer no poder. Di-zem que o americano é ingênuo, a respeito dos governantes de seupaís; ele também o é, porque seus dirigentes promoveram a idéiade que são extremamente honestos, e estão cuidando conscienciosa-mente do bem-estar de seu povo. Se formos verificar a situação decada nação, iremos encontrar o mesmo processo de alienação cole-tiva, promovido pelos seus mandatários. E claro que, se eles (os po-derosos) não tivessem feito isso, há muito tempo estariam fora dopoder. Deste modo, temos de tomar uma decisão: ou continuamosespoliados e infelizes, ou assumimos a vida e, de uma vez por to-das, construímos a sociedade corretamente.

Existe um grande problema psicológico: a admiração que o po-vo tem pelos paranóicos (os que amam o poder), incentivando-osem sua megalomania e teomania. Este é o grande pacto de aliena-ção que fizemos com os poderosos. De outro lado, o poder exploraa idéia de que se o povo não enxergar um problema, ele não existe;então, existe um acordo entre todos os poderes, no sentido de nãopublicar notícias "ruins" , ou melhor, de não mostrar ao povo asdificuldades que os governantes sofrem (por culpa deles mesmos),

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e que invariavelmente cairão sobre os ombros do povo. Por exem-plo: a situação econômica dos Estados Unidos e do Brasil está cadavez pior, e poucas pessoas no poder têm a coragem de abrir o jogo,para esclarecer tal questão.

Poucas pessoas têm percebido que a humanidade sempre foi di-rigida pelos indivíduos mais doentes, por aqueles que a ciência mo-derna classifica de neuróticos, ou de doentes mentais. Por este moti-vo, a humanidade não pára com suas guerras e destruições. E o mo-tivo por que tal fenômeno não foi muito bem percebido, é devidoao processo de inconscientização que tais pessoas fazem de seus pro-blemas. Mais ou menos como os hipocondríacos, que vêem todas assuas dificuldades nos sintomas orgânicos, os chamados poderosos(donos dos poderes sociais), colocam todos os problemas da huma-nidade na vida social, levando o povo a acreditar que a causa de seusmales está em sua própria conduta — e não nos que criaram as leise regulamentos, e dirigem a sociedade. Estou dizendo que as pessoasno poder criam os verdadeiros problemas, e colocam (projetam) oque fazem, na população. Este processo diabólico é o motivo peloqual a civilização estaciona em seu desenvolvimento: o povo quer serlivre, para se desenvolver e não pode, por causa das leis e do poderdos seus dirigentes — que ainda os ataca, dizendo que ele (o povo)delinqüe, é insubordinado e perigoso para o país.

O leitor tem de notar que este círculo de ferro precisa ser que-brado, para que haja uma saída da escravidão psicossocial em queestamos. Vou dar alguns exemplos: a economia da nação precisa estarem mãos do povo, e não em algumas centenas de "águias " ; a ciên-cia precisa ser usada para o bem do povo, e não para dar mais lucroainda para os "águias"; as escolas têm de examinar o que é bompara a população, e não profissionalizar os indivíduos, para servi-rem os poderosos; as praias, os campos, as montanhas e florestasprecisam voltar ao povo, e não serem cercadas pelos seus donos,invejosos, que impedem que os outros os usufruam; as casas têmde ser amplas, e não gaiolas de pássaros, para o povo se sentir bem— e não só as mansões dos milionários golpistas; as ruas, estradas,os transportes têm de servir a população, e não de caminho, paraos desonestos aumentarem o seu poder econômico-social; as naçõestêm de servir a sua população, e não aos doentes mentais que se apos-sam delas, e atacam os outros com o fito de aumentar o seu poder— enfim, nós, o povo, queremos ter a vida normal, e não servir deprojeção, para os indivíduos mais doentes nos atacarem, tirando nos-sa felicidade e bem-estar.

Este é o grande problema, o enorme problema que temos pelafrente, é o estado de alienação em que o povo está. Eu próprio te-nho de admitir que sempre duvidei da boa intenção de Engels, quan-do escreveu o livro A Origem da Família, da Propriedade Privada

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e do Estado; ele fala na página 191 o seguinte: "o Estado não é umpoder que se impôs à sociedade de fora para dentro... E antes umproduto da sociedade, quando esta chega a um determinado graude desenvolvimento... Para que os interesses econômicos colidentesnão se devorem, e não consumam a sociedade numa luta estéril, faz-se necessário um poder colocado por cima da sociedade, para amor-tecer o choque, e mantê-la dentro dos limites da ordem."

Em minha opinião, aconteceu o seguinte: à medida que a socie-dade se desenvolvia, os indivíduos mais espertos (que abocanharamsua melhor parte) organizaram os regulamentos, para garantir o po-der — e assim passaram a dominar sobre todo o povo, evitando queoutros se apoderassem do que eles tomaram em primeiro lugar.

O povo dos Estados Unidos da América possui menos do queum por cento de todas as terras do país, o restante 99% pertenceaos poderosos — não para ser usado, porque eles têm lugares maisbonitos, mas para impedir tal prazer ao próximo. E o problema dacobiça e da inveja no âmbito social, é um sadismo e maldade contrao povo — que está condenado a viver dentro de suas casas, beben-do cerveja e vendo televisão.

Seria bom que o povo percebesse que o país é dele, para tomarconta do que é seu: as montanhas, árvores, as praias e locais famo-sos da nação. Seria importante que polícias e militares, os poderesconstituídos pelos poderosos (a serviço deles), acordassem para es-ta realidade, e ajudassem o povo a recuperar o que é seu.

Os indivíduos poderosos são graves doentes e, por esse motivo,extremamente perigosos, porque não vacilam em destruir quem querque seja, para defender sua posição; por este motivo, nenhum indi-víduo de poder vai para uma cadeira elétrica, ou para a forca.

Quando se lê um jornal, por exemplo, o The New York Times,do começo ao fim constitui um incentivo, um incremento ao poder;logo na primeira página (dia 15.10.85) diz o seguinte: "Japão estáadotando medidas para incentivar o crescimento econômico";"Schultz falha no plano de armas de Moscou, mas acha possível";"progresso real"; "Italianos informam sobre uma conspiração maiorno Slijaching" ; "Assistente palestino informou para livrar a capi-tal Yugostov " ; "Dois americanos ganham Prêmio Nobel de medi-cina" ; "Nações Unidas encarando ameaça de boicote"; no dia16.10.85: "Nicarágua suspende direitos, cita `agressão' "; "Reagandiz que `Guerra nas estrelas' vai ajudar esforços para acordo de con-trole de armas"; "Um golpe duro para Arafat"; "Prefeito Goodediz `Assistentes enganaram Slimo'". Facilmente se nota que são gru-pos de poderes em luta entre si, que o povo não tem nada com isso,mas que sobra sempre para ele — exatamente como no caso do Fi-lho de Deus (Cristo), que foi perseguido, condenado e crucificado

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pelos poderosos (Herodes, Pilatos e os sacerdotes), e o povo judeulevou a culpa.

As instituições fizeram um pacto entre si, como meio de sobre-viverem dominando o povo; não é necessário dizer que tudo o queé errôneo só pode subsistir através da desonestidade. Aqui, não es-capa nem mesmo a psicoterapia, pois se tornou um processo paraatender pessoas bem situadas, economicamente, deixando de ladoa grande massa do povo. Com toda a desculpa que puder ser dada,tal fenômeno prova que a psicanálise, psicologia e a psicoterapia emgeral, são instituições desonestas.

Assim como a vida psicológica sofre de uma psicopatologia es-pecífica, a vida social também a tem — como forma de projeçãodos problemas humanos na sociedade. Por exemplo: descobrimosque o homem tem grande inveja, desejando ser um novo deus; aisto, chamei de teomania, que se manifesta em forma de megalo-mania (mania de grandeza no homem), e de narcisismo (adoraçãoa si própria, na mulher).

Aplicando tal fato na vida social, vemos a realização máximada megalomania dos cargos de direção (governo, poder econômico,religioso), onde cada ser humano acredita ser insubstituível, e ca-paz de criar uma nova vida: uma outra organização social. O pioré que, em sociedade, o povo acredita em tais pessoas. O narcisismose manifesta na sociedade, quando o indivíduo pensa que é admira-do por todos, por ser portador de incríveis qualidades, que ninguémvê — mas, de tanto elogiar a si mesmo, acaba tendo crédito.

Não adianta pensar que o ser humano poderá mudar, se não formodificada a sociedade; tal idéia é pura utopia. E para que a vidasocial seja modificada, é necessário conhecer a sua patologia (so-ciopatologia); vamos dizer que conscientizando a patologia social,os novos grupos, comunidades, empresas e universidades, tudo oque realizarem será são. De maneira que estamos organizando umanova sociedade sem a sociopatologia usual; com o tempo, todas asorganizações que não aceitarem tais modificações, ficarão abando-nadas, sem possibilidade de sobreviverem, porque o povo as irárejeitando.

A sociedade invertidaOperários e estudantes, funcionários públicos e bancários, pro-

fessores e donas-de-casa, todos estão insatisfeitos com a vida quelevam, porque ela não está de acordo com a realidade humana. Porexemplo: o operário trabalha para enriquecer um patrão; o estudanteestuda para favorecer os poderes sociais constituídos; o funcioná-

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rio público é o escravo estatal; o professor tem de ensinar o que in-teressa à escola e ao governo; a dona-de-casa tem de servir a suafamília, para que ela seja útil aos poderosos. Não há praticamenteliberdade porque ser livre é realizar o que é certo, bom e belo, semdar satisfação a quem quer que seja. Eu quero ser assim livre. Vocêtambém quer? Então, mãos à obra.

Podemos começar com alguma atitude. Primeiro: mostrar des-prezo aos poderosos; segundo: não aceitar estudar, ou ficar a servi-ço das instituições que estão contra o povo; terceiro: o que é maisimportante, é organizar a própria vida em função dos verdadeirosinteresses, que são os nossos pessoais, e os do povo. Vamos dizerque temos de desvirar a humanidade, que está a serviço de bens in-dividuais (de alguns milhares de pessoas), para que ela trabalhe pa-ra si mesma. Temos que aprender a distinguir de imediato o que es-tá servindo para nós, do que esta atuando para os particulares.

Enquanto não realizarmos essa desinversão social, não podere-mos ser felizes. Por exemplo: a pessoa que sai de manhã, para aju-dar a uma empresa se enriquecer mais, não pode ir trabalhar tran-qüilamente. Quando muitos se queixam da vida, não podemoscensurá-los, porque o ser humano construiu uma vida social estúpi-da, dentro da qual somos obrigados a viver — o pior ainda é quese pensa que esta é a existência criada por Deus. Neste momentome vem à mente a frase de Cristo, dizendo que o príncipe deste mun-do é o demônio.

É de fundamental importância conscientizar toda a sociopato-logia em que somos obrigados a viver. Desde que nascemos, somosentrouxados em um arcabouço social anti-humano, que aumenta atensão psicológica, a um nível extremo; o que acontece, então? Eum grande número de indivíduos marginais, que não conseguem par-ticipar desse estilo patológico de existência. Por esse motivo, orga-nizaram o militarismo (e as instituições religiosas) para amordaçaro povo, e sua consciência.

Eu quero, e serei livre; se você tem dignidade e deseja viver semtantas doenças e feliz, é possível, agora, de uma vez por todas, darum basta aos poderosos, e passar a viver de acordo com o que so-mos originalmente.

Por que os governos de todos os países não aceitam oposição,ou melhor, por que existe geralmente oposição aos governos de to-das as nações? E a resposta que surge é que os governantes estãodefendendo alguns sérios interesses, em detrimento de parte da po-pulação; se ele (o governo) estivesse inteiramente do lado do povo,não haveria conflito algum.

O tipo de sociedade em que vivemos é totalmente invertido, porter colocado o material acima do ser humano. Exemplificando: desdeque nascemos, somos constrangidos a servir aos poderosos que es-

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tão o tempo todo pesquisando os meios para explorar (agredir) osemelhante. Quando você se levanta, está calçando um sapato e ves-tindo roupa, passa a dar lucro a esse grupo de indústrias; quandousa a água, a luz, e até o papel higiênico, está servindo a outro gru-po (o Estado vende a água e a luz, que a natureza nos oferece comabundância); depois, usa uma condução, ou é vigiado por políciaspagos pelos poderosos, para você ser um cordeiro bem comporta-do. No trabalho, o escândalo é muito maior: ali é o centro da imo-ralidade, porque você irá aprender, o que fazer para dilapidar a na-tureza, e como enganar o próximo. Se você for a uma escola, deve-rá estudar, não o que lhe interessa, mas o que é mais importantepara os poderes sociais, aumentarem o seu poder.

Assim é a sociedade que nos foi ofertada, com todo ódio, invejae cobiça, de milhares de indivíduos que tiveram total licença paradespejar na sociedade toda a sua patologia. Deste modo, somos cons-tantemente mutilados: na inteligência, nos sentimentos e nas ações;somos obrigados a reduzir nossa capacidade, e viver como débeismentais. Muitos se suicidam? Não é muita novidade, pois não po-demos realmente viver! Quando Durkheim falou que o suicídio eraum fato social, não estava muito fora da realidade. Não é sem mo-tivo que a fisiologia mostra que nosso cérebro funciona só com 7%de sua capacidade.

O que posso dizer com absoluta certeza é que não somos livres;somos obrigados a servir aos poderosos deste modo, servimos a doen-ça mental, isto é, a teomania (mania de ser Deus), a megalomania(mania de grandeza), ao narcisismo (auto-adoração), a cobiça e ainveja dos grandes doentes; vivemos em um ambiente de paranóiaincrível, porque a desconfiança é geral. Até parece aquela situaçãoque Orwel descreveu em seu livro 1984!

Por causa desse ambiente psicossocial, nossa vida tornou-se re-pleta de coisas desnecessárias, que tomam quase todo o nosso tem-po; o pior ainda é o estado de tensão em que somos obrigados aviver, porque cada poder quer tomar o seu quinhão. Não sei comoainda não descobriram um meio de cobrar o ar que respiramos. Pa-rece que, se continuar assim, tal tempo não está longe, porque sere-mos obrigados a usar máscaras.

Quem é mais desonesto? Aqueles que não aceitam a sociedade,ou os indivíduos que acatam todas as leis sociais. Parece que o pró-prio Cristo detestou os que são supercorretos socialmente (pagamtodos os dízimos, fazem jejum, etc), e demonstram uma incrível ar-rogância, como se fossem deuses (Marcus, cap. 7 vers. 1-23). Sãojustamente estas pessoas que se tornam poderosas, e dominam a so-ciedade, ainda dizendo que são honestos, e que os outros são inca-pazes e inferiores, isto é, os que trabalham realmente e, por seremhumildes, sempre acham que não fizeram o bastante. Estes últimos

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são os verdadeiros "amigos" , que sustentam o parasitismo dosarrogantes.

Por mais incrível que pareça, moramos em um mundo que nãoé nosso: ruas, estradas, prédios, fazendas, rios, mares e oceanos nãonos pertencem — e sim ao grupo sociopatológico, que tomou contade todo o poder. Nossa função ficou reduzida a aplaudí-los , ourejeitá-los, quando ainda nos é permitido. E mais ou menos comoum grande teatro, onde cada poderoso vai representar; e todos nóssabemos que, tal fato, é uma grande comédia (ou um grande dra-ma), bem ou mal representada, mas simplesmente um teatro de re-presentação. Como é evidente, só os bons artistas conseguem agra-dar, mas não deixam de ser atores-obrigados a executar seu papelaté o fim.

Então, como fica a situação da humanidade? Eu acredito queo único caminho é o da conscientização do povo, a respeito de talfenômeno; e este trabalho cabe principalmente aos cientistas, aosestudantes. Os meios de comunicação deveriam entrar nesta empre-sa, mas eles estão vendidos ao poder econômico-social; os operá-rios não têm muito tempo, e os funcionários públicos não têm inte-resse em mudança.

Se o homem conseguiu trabalhar e produzir até hoje, não restadúvida de que foi devido a um forte processo de coação social; po-rém, estamos vendo os seus resultados funestos: depois que uma ci-vilização consegue atingir um ponto razoável de desenvolvimento,advém uma guerra que a destrói irremediavelmente. A frase de Hob-bes, segundo a qual o ser humano é lobo ao seu semelhante, deveriaser corrigida, passando a ser: a instituição social foi organizada con-tra o homem; de certo modo, os indivíduos poderosos esparramama cizania, como meio de dividir o povo, para eles poderem agir.

Se o leitor, notar bem, verá que não há motivo (no povo) parahaver conflitos; eles só surgem quando uma pessoa organiza umainstituição, com um determinado poder, obrigando os outros a obe-decerem. Praticamente, tal indivíduo fomenta a inveja e a cobiça,levando alguns a entrar de seu lado, criando um quisto social — dessemomento em diante, a paz acabou na face da Terra. Evidentemen-te, as instituições sociopatológicas foram criadas pelos indivíduosdoentes, pelos mais enfermos de todos.

Os poderosos têm a mente muito limitada, porque são indiví-duos ligados ao poder econômico-social, que é o campo mais fácilde lidar — e, por esse motivo, é o que pode crescer com maior faci-lidade. A grande desvantagem é a criação de um ambiente social me-díocre, que leva uma sociedade ao perecimento. As pessoas ligadasa esse poder têm um nível de exigência baixo, porque se contentamcom um tipo de vivência instintiva: uma boa comida, carro, sexo,alguns passeios são suficientes para preencher suas necessidades.

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O sonho dos poetas, a melodia dos músicos, a beleza da escultu-ra, o ideal do cientista são abafados por esse tipo de vivência social,que nivela os indivíduos por baixo, reduzindo-os a mais uma peça,que pode dar lucro econômico. Robert L. Heilbroney fala na intro-dução de seu livro A Formação da Sociedade Econômica que "acoisa mais sensata a esperar em economia é o inesperado" — o quesignifica que neste campo não há lógica e coerência, mas simples-mente um jogo de perde-ganha, algo totalmente sem inteligência.

Toda pessoa que age, nega ou deturpa a realidade, tem uma fi-nalidade em mente, mesmo que não lhe seja muito clara. E é essetodo o X da questão. Não existe ação (ou negação) que não tenhauma intenção na base, ou seja, a manifestação de uma inveja forado normal. Assim sendo, temos de admitir que a estrutura socialfoi elaborada sobre a psicopatologia; por este motivo, a sociedadeestá falhando em seus caminhos, pois está invertida.

Toda a estrutura social foi organizada no sentido de afirmar oegoísmo dos seres humanos: foi colocado primeiramente o pai (emãe) de família como o poder central, como sendo a célula materda sociedade. Estas pessoas (pai e mãe) praticamente ficaram semnenhum controle, e passaram a dirigir também o Estado, para ga-rantir os bens que captaram (por herança, ou ganhando-o pessoal-mente). E ao redor desse mundo, foi criada a polícia, e até o Exérci-to, para que ele não sofresse destruição — e todos os indivíduos quepassaram a existir tiveram que girar em torno desta organização.Posso dar alguns exemplos: os candidatos à presidência dos paísesocidentais devem se mostrar bem casados, com a família em ordem— como norma de garantia que, assim, dirigirá do mesmo modoa nação; ao mesmo tempo, ele deverá ser uma pessoa de razoávelsucesso social, para que garanta os bens de todos que tenham po-der. E um sistema autoritário, patriarcal (ou até matriarcal), ondetodas as resoluções são tomadas de cima para baixo.

Assim sendo, todas as soluções vêm da cabeça de uma pessoa,coadjurada por mais duas, três, quatro — mas sempre de uma, ououtra. Basta lembrar que, por ocasião da crise com os foguetes emCuba, Kennedy teve de resolver por ele mesmo o que fazer, mesmoque tivesse conselhos de outros. Pelo que vemos, tal fato é extrema-mente perigoso e patológico para a humanidade.

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Como qualquer pessoa poderá notar, este sistema cria um incen-tivo enorme à psicopatologia, pelo fato de ver no pater família umpoder incrível; assim sendo, coloca toda a humanidade a serviço dosindivíduos que têm poder, deixando para eles a resolução de todosos problemas.

O modelo que propomos para corrigir tal psicossociopatologiaé através do uso do que chamamos de residências trilógicas, isto é,grupos de pessoas que têm consciência de seus problemas, e, por-tanto, em condições de controlar um pai (ou mãe) de família, nãoapenas no cuidado de sua casa, mas principalmente nos poderes (po-líticos, econômicos, sociais). Estou procurando mostrar que, semconsciência das próprias dificuldades, é impossível cuidar de qual-quer estrutura social — não podemos deixar uma pessoa resolvertudo por si mesma, sob pena de cometer graves desatinos.

Pelo esquema, vemos que as sociedades trilógicas seriam a célu-la mater da sociedade, orientando o presidente e as instituições; se-ria mais ou menos assim, para tirar o poder absoluto dos presiden-tes, chanceleres, ministros, etc. Deste modo, os chefes do país nãoseriam mais pactuados com suas famílias e amigos, mas diretamen-te controlados pelos grupos equilibrados: sociedades conscientizadas.

A sociedade está errada; disto, ninguém duvida. Todo o proble-ma consiste em saber a causa. O marxismo culpou o capital; a psi-canálise, o sexo — assim como a igreja. Nós estamos demonstran-do cientificamente que a etiologia das dificuldades humanas está nosindivíduos situados no poder, porque são graves doentes psíquicos— e o próprio poder foi construído erroneamente (por erros doen-tes), para benefício deles, e não do povo.

O jornal USA Today de 8.10.85 mostra que 28% dos indivíduostrabalham como "colarinhos brancos " , 22 07o como "colarinhosazuis", 27% como autônomos e 11% como fazendeiros, o que sig-nifica que o poder é procurado com grande avidez, porque imagina

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que a fantasia é melhor; de outro lado, a organização social é tãodoentia (invertida), que poucas pessoas ainda têm ânimo para tra-balhar com a finalidade de enriquecer o próximo. Notem que esta-mos vivendo em uma estrutura social de fantasia, motivo pelo qualnão funcionou bem — mesmo que seja uma fantasia trágica.

Poucas pessoas questionam o motivo por que a sociedade estáem grande decadência. Onde estão os grandes músicos, escultores,pintores, arquitetos? No setor filosófico, não contamos mais comum Kant, Hegel, Schopenhauer, Husserl; Biswanger. Na ciência, nãoachamos um substituto para Einstein. De 51 cinemas no centro dacidade de São Paulo, 30 deles exibem filmes de sexo explícito; de40 teatros, 17 deles mostram peças pornográficas — e acredito que,nem tanto seja porque o povo queira, mas devido à incapacidadedos artistas atuais.

Percebe-se muito bem o fim de uma época: 1) existe uma insa-tisfação geral com a situação econômico-social; 2) o povo está pre-parado para seguir um novo rumo; porque todas as orientações aco-modatícias falharam; 3) chegamos a um tempo realista, que prome-te ser o mais maravilhoso de todos, desde que Noé ancorou sua na-ve na Terra.

Robert L. Hleilbroner, professor de Economia da New Schoolfor Social Research, fala, na página 13, que "os problemas econô-micos ocupam boa parte de nossas conversas cotidianas" — que-rendo mostrar que o ser humano moderno se transformou em um"homo oeconomicus" (em latim): vive praticamente em função dodinheiro. Isto significa que os gênios do passado se transformaramno financista atual, colocando toda a sua energia para ter maior lu-cro — como se o metal vil fosse o elemento mais importante de todos.

Sabemos que este período começou com o incentivo dos econo-mistas; por exemplo: Adam Smith afirmou que o indivíduo que sa-be fazer negócios, automaticamente ajudará seu semelhante ao lu-cro também — como o empresário que dá emprego — e não justa-mente o contrário, isto é, que ele toma o que é dos outros, e se enri-quece porque existe um grande número de pessoas trabalhando pa-ra ele e recebendo pagamento vil. Aliás, Rostow, economista ame-ricano, diz no seu trabalho sobre as Etapas do Desenvolvimento Eco-nômico que o ser humano dilui sua agressividade através do comér-cio — o que não é verdade, porque ele aumenta sua agressividade,se ela não foi contida.

Estamos justamente nesta época: de conter os indivíduos peri-gosos e prejudiciais para a humanidade, ou melhor, de tirá-los dopoder, para que finalmente possamos viver em liberdade no univer-so que é nosso.

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A sociedade fictíciaMichael Moffitt escreveu o livro O Dinheiro do Mundo (de Bret-

ton Woods à beira da insolvência) onde diz à página 9: "nenhumateoria pode substituir uma investigação honesta dos fatos" ; página15: "a missão de Bretton Woods era, em grande parte, a de criarum ambiente internacional propício à emergência dos Estados Uni-dos no papel de motor da recuperação mundial " ; página 16: "Key-nes afirmou que o meio para manter-se como banqueiro internacio-nal é permitir que cheques sejam emitidos sobre si próprios " ; pági-na 18: "Charles Kindleberger declara em The World in Depression:"para que a economia mundial se estabilize, tem de haver um esta-bilizador, uma força estabilizadora"; página 25: "como aconteceraanteriormente, com o Aequilibrium Britannicum, o AequilibriumAmericanum dependeu do poder político, econômico e militar dosEstados Unidos". Pelo que Michael falou até a página 25, deduz-seclaramente que o dinheiro está sendo usado — de forma fictícia,como se fosse uma maconha, ou cocaína — para alienar o ser hu-mano atual, ainda dando a idéia de que ele promoveria o bem-estare equilíbrio para as nações. Não se quer perceber que o capital, co-mo está sendo manipulado, precisa de um enorme poder político emilitar, para conseguir sobreviver — pelo simples motivo que elefoi criado por poucos, para benefício de um reduzido número depessoas, e impedir que a humanidade desfrute de todos os seus bens.

Os meios de comunicação social estão a serviço do podereconômico-social — aliás, como estão os próprios governos das na-ções, e suas instituições. Vamos dizer que existe um complô organi-zado entre a imprensa, rádio e televisão (e meios de informação emgeral) com os indivíduos que estão no poder, porque a finalidadedos dois é a mesma: o domínio sobre o povo. De maneira que pode-mos dizer que recebemos informações distorcidas, falsas e quase sem-pre destinadas a induzir as pessoas a sentir, pensar e a agir de acor-do com os interesses dos grupos dominantes. Idêntico fenômenoacontece com as editoras: uma segue orientação marxista, outra ca-tólica, uma terceira capitalista, uma quarta socialista — significan-do que toda informação é filtrada de acordo com o que elas pen-sam, de antemão — e tal preconceito impede que o povo saiba averdade. Neste caso, o leitor já deverá perguntar: — como corrigirtal situação? A resposta é a seguinte: 1) a sociedade tem de ser re-modelada, isto é, o povo tem de dar o seu controle para os hones-tos; 2) temos de participar de um tipo de organização social trilógi-ca, colocando a ação na base — o dinheiro e o prestígio em segundolugar; 3) percepção da inveja e da inversão, para que consigamosdesinverter a sociedade.

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Existe uma idéia geral de que a humanidade só poderia ser aju-dada através do dinheiro; nada mais falso, porque: 1) o dinheironão é dado, mas emprestado com juros, que irá beneficiar o ban-queiro, e até prejudicar o tomador; 2) o dinheiro não é a causa dariqueza, mas o resultado do trabalho e desenvolvimento — e os em-préstimos enriquecem os grupos tomadores, que o usam mais paraseu proveito pessoal, e pouco em benefício do povo e país; 3) e odado mais importante é o plano em que transcorre esse tipo de tran-sação, pois é sempre visto o que interessa ao grupo que empresta,e o que toma: como ele irá beneficiar os banqueiros, e as pessoasacomodadas no poder, para ganhar mais poder ainda, em detrimentodo povo. De modo geral, a vida do ser humano, como tem sido or-ganizada, é muito semelhante à dos animais: construir uma toca paramorar, ter uma família, e fazer tudo em função desse ambiente —como se fosse um reinado. Alguns que conseguiram maior podercolocam todo um grupo a seu serviço, e se orgulham de ter chegadoa isto. Dificilmente, percebem que à medida que aumenta o seu po-derio, é necessário aumentar também a sua segurança, o número deguardas e de proteção. Somos obrigados a concluir que tal estilo devida não está certo, porque vivemos presos em "cadeias " , para ga-rantir nossa impunidade — essas "cadeias" são as casas atuais, quetêm de ser semelhantes a verdadeiras fortalezas, para resistir ao ata-que dos indivíduos marginais — e, ao mesmo tempo, prejudicadospelas injustiças sociais.

A humanidade gasta 90 por cento do tempo, para corromper,ou se defender da corrupção; uma empresa, por exemplo, executatodo o seu trabalho, com a finalidade de ganhar dinheiro; deste mo-do, usa de sua produção típica, e de todos os meios colaterais, paraaumentar seu lucro — daqui em diante, é só um passo, para come-çar a se corromper. Pouco a pouco, cria-se uma outra sociedade,mais ou menos oculta, uma espécie de mundo das sombras, ondesó entram uns poucos, que se acham "felizardos". Está criada umacivilização à parte, que maneja toda a restante, porque é a procura-da por todos — por aceitar que esse é o grande ideal para o homem.

Acredito que este ponto é pacífico, isto é, todos sabem de suaexistência. Porém, o que estou querendo esclarecer é que, o ladode cá, ou melhor, as leis diárias que seguimos, em todos os setores,são errôneas, imorais, por dar poder aos que já o têm, e despojaro povo de tudo o que é dele. O resultado é justamente a criação da-quele universo paralelo, uma esquizofrenia social — dois mundosdiferentes e opostos querendo coexistir tranqüilamente. Tal uniãoé totalmente impossível, pois o que é doente tem de ser curado, enão introduzido na vida social como se fosse certo — porque à se-melhança do câncer, irá produzindo um tumor, que espontaneamenteo organismo tende a expelir. E o primeiro passo para conseguirmos

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isto, é: levar tal conscientização a todas as pessoas mais equilibra-das, para que elas consigam pôr um ponto final à loucura social,substituindo pouco a pouco as leis e os indivíduos injustos (doen-tes) por regulamentos e pessoas sãs na direção da sociedade.

Quando uma nação do Terceiro Mundo está devendo aos gran-des bancos, uma das primeiras recomendações que os poderes eco-nômicos-sociais fazem, é que tal país crie um plano anti inflacioná-rio, dentro do qual cortaria todos os novos investimentos internos;ora, tal atitude leva essa nação a um empobrecimento, e é justa-mente essa a intenção (oculta) dos poderosos, para aliviar sua inve-ja doentia. Posso afirmar que o poder econômico-social é procura-do pelos indivíduos mais enfermos, não para desenvolvê-lo, mas parabrecá-lo; o dinheiro não é desejado pelo dinheiro, mas para dar opoder de impedir, negar ou deturpar o desenvolvimento e progressodos povos. Se o poderoso tivesse o desejo de usar o dinheiro, elenão seria tão sovina — o que é algo lógico e do bom senso —, quemprocura demais o dinheiro, é para impedir o seu uso. O povo deveter um cuidado extremo com quem é muito apegado ao dinheiro.

A economia deveria estar em mãos das pessoas que não têm muitointeresse pelo dinheiro, mas pelo país; assim como o político bomé aquele que não está muito interessado pelo cargo, mas para aju-dar o povo. Existe um grande perigo: o indivíduo que tem o podereconômico torna-se dirigente de um país; ele tentaria fazer escravi-zar todo o povo aos interesses econômicos. Assim como o políticotem o seu poder restringido, qualquer tipo de poder tem de ser res-trito também sob pena de se tornar um aleijão social. Para confir-mar o que digo, basta ler o jornal New York Times, 4a. feira, 18de Dezembro de 1985: Dia de Negócios, devedores da América La-tina urgem Redução da Taxa de Juros; Nações Devedoras Líderesda América Latina propuseram hoje um conjunto de "medidas deemergência", incluindo novos empréstimos e redução de taxas dejuros para permitir um recomeço do crescimento econômico na re-gião. O povo americano precisa perceber que o mesmo fenômenoacontece aqui, ou seja, ele está amarrado em seu desenvolvimentopelo mesmo poder que sufoca o resto do mundo.A estrutura econômico-social obriga alguns indivíduos produzi-rem muito, em benefício de poucos; praticamente, toda a humani-dade está trabalhando para algumas centenas de pessoas, que a cer-caram de todo modo, impedindo que haja qualquer tipo de traba-lho, a não ser o seu lucro imediato. Muitas pessoas poderão dizerque este livro é repetitivo, mas estou tentando, de toda maneira, cons-cientizar o povo a respeito de um problema, ao mesmo tempo am-plo e sutil. Posso dar exemplo: o artista é obrigado a agir rápido,para produzir vários trabalhos, se quiser sobreviver financeiramen-te; com isso, ele jamais produzirá uma obra de valor. Em Green-

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wich Village, (bairro dos artistas em Nova Iorque), os pintores ven-dem seus quadros por menos de 50 dólares, o que os impede de seaprimorar em sua atividade profissional, levando muitos a desisti-rem desse campo. Norman Rockwell, por exemplo, é um dos maio-res pintores americanos; porém, de tal maneira está sendo exigidopelo poder econômico que, segundo minha opinião, seu trabalhoestá sendo prejudicado.

Todas as chamadas revoluções não deram um bom resultado,porque não modificaram as bases da vida social, ou também por-que não atingiram esses fundamentos de modo definitivo — e o queestamos propondo agora é uma desinversão total em todos os seto-res: científico, político, econômico, religioso, familiar, universitá-rio, artístico. De modo geral, poderíamos falar que desejamos o mun-do, os países para seus povos, e não para servir as estruturas artifi-cialmente construídas, que estão a serviço de grupos minoritários:capitalistas, marxistas, banqueiros, políticos, que escravizaram o ho-mem na pior escravidão de todos os tempos.

Por exemplo: o povo vive amontoado em pequenas gaiolas (apar-tamentos), espremidos nos subways e ônibus, esmagados nos em-pregos exploratórios, sem dinheiro quase, alimentando-se mal, sempoder estudar nas grandes Universidades, e sem esperança de umdia melhorar definitivamente — porque alguns grupos se apodera-ram de todo o poder social, não permitindo que o ser humano des-frute da vida.

E se você, povo, não nos ajudar a sair disso, os anos se passa-rão, e ficaremos cada vez mais pobres e impedidos de ter uma vidanormal — porque somos agredidos por indivíduos muito doentes,que seriam perigosos até em uma enfermaria psiquiátrica e que, noentanto, têm o poder nas mãos. Esta é uma questão muito ligadaao poder: quem o tem, manda; os que não o têm, são encarceradosdentro da mesma conduta delinqüente de se apoderar de bens; o po-der oficializa o roubo.

De tal maneira a estrutura social está organizada, que ela não per-mite que se realize o bem; mesmo que se dê todo o dinheiro que te-mos, as propriedades e bens, pouca influência exerceríamos no am-biente social. Estou dizendo que temos de modificar os seus funda-mentos errôneos, para que haja um crescimento geral do povo; quan-do se fala da opressão que existe nos países do Terceiro Mundo, ospovos do Primeiro Mundo não fazem idéia de como eles própriossão totalmente oprimidos — e como o europeu, ou o norte-americanoiria libertar os outros, se eles mesmos não sabem o que é liberdade?O perigo principal está na cabeça dos doentes (mentais) mais gra-ves, que tomaram o poder neste nosso planeta. Tenho a impressãode que eles não apenas expulsaram Deus daqui, como nos trouxe-ram todos os demônios do Inferno. Dentro de pouco tempo, essas

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pessoas terão de se esconder, de tal maneira serão desprezadas; acre-dito que não há caminho de retorno — o obscurantismo, a ignorân-cia terão de desaparecer da face da Terra.

Por mais incrível que pareça, vivemos em uma sociedade de fan-tasia, onde todos os seus "valores" são geralmente falsos, imaginá-rios; até a alegria tem de ser fornecida pelo poder, em doses homeo-páticas, e em circunstâncias permitidas por ele (o poder). Heideggerdiz que uma pessoa pertence aos outros e aumenta o poder delas,que coincide com a idéia de Engels, quando fala da desumanizaçãodo indivíduo em uma sociedade de massa, com o conceito de ano-mia de Durkheim, e a alienação de Rousseau e Hegel. Heideggerfala claramente que o "Dasein" inautêntico é o ser humano vivercomo os outros vivem, e não como ele é. Isto significa que não esta-mos agindo de acordo com nossa natureza — motivo pelo qual: 1)morremos muito cedo; 2) sofremos de inúmeras doenças; 3) somosinfelizes; 4) as guerras e os atritos são muito difundidos; 5) as pes-soas tratam-se como se fossem inimigas.

Podemos afirmar que o povo tem equilíbrio até demais; só pelofato de suportar uma estrutura social, totalmente patológica, em suascostas, mostra o alto grau de sanidade que ainda possui. E toda anossa esperança é que, a partir desse equilíbrio, possamos recons-truir acertadamente a sociedade futura; estou dizendo que não setrata de organizar outra estrutura, mas de chegar à verdadeira. Hámilhares de anos, a sociedade vem padecendo pressões enormes, se-ja de militares sanguinários, imperadores loucos, de orientações es-drúxulas no campo da filosofia, da teologia e das ciências; a tudoisso, o ser humano vem conseguindo sobreviver, porque guarda emseu interior aquilo que os gregos chamavam de a voz da verdade(a consciência), que sempre o levou a peneirar o certo do errado —e a aceitar o que o ajuda dentre os milhares de teorias.

É curioso saber a opinião de médicos, repórteres e vítimas sobrea AIDS, emitida pelo jornal USA Today, 13 de Dezembro de 1985."AIDS é um problema que não vai desaparecer. Cada vez que a olha-mos parece maior, tanto que a sombra desta doença começa a escu-recer as nossas vidas " (Dr. William A. Haseltine, Escola de Medici-na de Harvard). "AIDS não é fácil de se pegar. Pessoas... estão so-frendo medo injustificado". (Dr. James G. Manson, secretário as-sistente para saúde). "O medo da Aids foi causada por mensagensinconsistentes dos oficiais de saúde e de pesquisadores no passado".(Dr. Brett Cassens, médico gay de Philadelfia). "Eu desisti de pen-sar sobre isso; eu vou dormir à noite pensando nisso " . (Rick Cecil,Dayton, Ohio, vítima de Aids). "Agora ninguém está a salvo daAIDS" (Capa da revista Life, Julho, 1985). A opinião dos três mé-dicos mostram essa grande inversão que tem sido realizada, isto é,

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que escondendo um problema, ele deixaria de existir. Deste modo,a ciência atual está sendo inteiramente deturpada.

Sabemos que os congressos e eventos de medicina são patroci-nados pelas indústrias farmacêuticas; 90 por cento dos profissionaisusam como fonte de conhecimento os livros editados pelas indús-trias; grande parte de médicos e químicos são pagos pelas firmasfarmacêuticas, para provar que determinadas drogas funcionam me-lhor — eles viajam para outros países, por conta dessas indústrias,para fazer propaganda de seus medicamentos; a Dra. Deise

Yama-daconversou com um médico do Departamento de Microbiologiada Escola de Mount Sinai e este lhe afirmou que eles só pesquisamno sentido de render mais dinheiro, e não de ajudar os pacientes.A conclusão que se tira é que, no momento em que algum laborató-rio descobrir um medicamento contra a AIDS, imediatamente faráuma divulgação incrível alertando sobre os perigos dessa doença —porque o poder econômico-social não se interessa pelo ser humano,mas pelo lucro que poderá tirar dele.

Nossa intenção é a de ver cada ser humano sorrindo em uma so-ciedade justa e generosa; não queremos mais ver janelas fechadas,portas gradeadas e cães furiosos em cada residência. É possível cons-truir uma sociedade assim, ou melhor, transformá-la no paraíso per-dido — basta que conscientizemos nossos erros, e retiremos o po-der dos maus, dos indivíduos que o estão retendo, só para tirar van-tagens do povo. Queremos o país para o povo; nosso ensejo é con-templar todo cidadão, usufruindo de tudo o que a nação tem; nãopensem que isto é mais uma utopia, porque está ao alcance imedia-to de nossas mãos. Não queremos ver mais crianças chorando defome e de frio; não queremos mais velhinhas, abandonadas em asi-los. Os teatros, as casas de arte, que floresçam para o povo; a filo-sofia e a teologia retornem verdadeiras e amáveis, porque está co-meçando a nossa era trilógica.

Patologia socialA televisão é o modelo da filosofia de vida que impera na huma-

nidade: a todo momento aparece um anúncio convidando o teles-pectador a comer mais — a tal ponto que o principal passatemponos Estados Unidos é a alimentação; sábado, à noite, vai ao ar umespetáculo de luta livre, onde homens muito doentes se defrontam,à semelhança de uma arena romana, para conservar o povo aliena-do. Os religiosos atacam o povo, exigindo que ele abandone as ri-quezas (ele que não tem nada), para facilitar o trabalho dos que re-têm o poder econômico.

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A propaganda despeja no americano a idéia de que ele vive nomelhor país do mundo, no mais rico, mais livre, que dá oportuni-dade a todos; a imprensa fecha a mente dos seus cidadãos em umcírculo de ameaças; caso ele "traia" a estrutura social de seu país,como se ele estivesse protegido de qualquer perigo externo — e, comisso, explora-o com facilidade — e como os meios de divulgação es-tão ligados aos poderes econômicos, o ser humano é doutrinado paraservi-los, como um grande Lúcifer que o devora, sem dó ou pieda-de. Essa situação é tão trágica porque o povo é acorrentado, comose fosse prisioneiro, caindo em total abulia; assim sendo, volta-separa as drogas, como única maneira de conseguir uma pseudo-libertação interna; se aqui é o centro mundial dos drogados, é por-que contém o povo mais infeliz em todo o mundo! E claro.

Acredito que a maior tarefa do povo americano, no momento,é conseguir sua libertação do poder econômico-social, porque é aindao mais livre quanto ao poder político; esse é o caminho para liber-tar os outros povos do domínio, do mesmo poder que o esmaga atual-mente. Um funcionário da Arthmoy Consulting Company escreveuum artigo sobre a intenção dos que são poderosos, no sentido deconstruir uma sociedade, onde haveria um grupo de técnicas que ma-nipulariam todas as máquinas, e o povo ficaria marginalizado, emtotal pobreza. Este é mais um alerta para acordar o americano,mostrando-lhe o que está acontecendo; notem que o sistema de re-pressão está cada vez maior e mais eficiente, na vigilância dos bensmateriais dos poderosos, não do povo. O filme "Uma Odisséia noEspaço" mostra o enlouquecimento de um computador, que se tor-nou perigoso para a tripulação de uma nave; só que o grande perigonão está na máquina, mas em quem está atrás dela — e não em umanave no espaço, mas nas casas das pessoas poderosas, que já estãocontrolando grande parte da humanidade. Aliás, acredito que esteé o problema fundamental atual: o poder econômico-social enlou-quecido, nas mãos dos indivíduos mais doentes; se este problemanão for resolvido, não adianta fazer mais nada, porque não haverámais chance alguma para a humanidade.

Quando o poder econômico-social impede o desenvolvimento dahumanidade, não é devido a um acordo tácito, que tais pessoas rea-lizam mas devido ao próprio processo doentio, que as leva a agiruniformemente; por exemplo: elas impedem a pesquisa mais pro-funda sobre as causas da AIDS, sobre o problema da velhice, por-que jamais acreditam que poderão adoecer com tal doença, ou mes-mo morrer; de outro lado, elas são impiedosas — como todo doen-te mental, que se alegra (por causa da inveja) com os problemas dopróximo; basta lembrar o drama de um jovem raptado há algunsanos e que teve a orelha decepada, porque a família não quis dardinheiro aos seus raptores. Não é incomum famílias riquíssimas ne-

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garem alimentação aos seus empregados, e até aos filhos e parentes.O povo americano sempre teve fama e gostou de ser generoso;

ajudou a reconstrução da Europa, enviou técnicos para ajudar paí-ses menos desenvolvidos; entregou alimentos e roupas, e sempre dooudinheiro para as causas nobres. No momento, quase não tem maisfeito isso, não porque ele mudou, mas porque o poder econômico-social se aproveitou dessa generosidade, para pegar tudo para ele.Vendo-se, por exemplo, os ideais de progresso e as famosas maque-tes do passado sobre as cidades do futuro, vemos que nada dissose realizou, porque os poderosos não o permitem, canalizando todoo dinheiro para eles, para pisar no povo, como todo paranóico sem-pre o faz. No Epcot Center existe uma exposição da General Elec-tric denominada Horizons, onde está escrito If you dream it, youcan do it (Se você sonha com algo, você pode fazê-lo), — o que euacredito, desde que nos deixem. Aliás, o trânsito mais difícil de No-va Iorque (para dirigir) é o de Wall Street, devido ao número deplacas proibindo qualquer parada — elucidando a vontade do po-der econômico de, estancar tudo.

E bom que o americano note que ele é visto com antipatia pelosoutros povos, por causa da exploração econômica, não que ele faz,mas dos poderosos que os exploram também, colocando nele todaa culpa. No entanto, é bom que se saiba que, se ele os enfrentar,esses exploradores desmoronarão completamente. Aliás, todo pro-blema na vida social tem origem nesse desejo de poder. E com isso,o povo vai ficando cada vez mais pobre; a televisão anuncia muitosobre alimentos, roupas, carros, remédios, cigarros, porque o povoé obrigado a comer e a se vestir, a usar os meios de locomoção, pa-ra viver. Se continuar assim, tudo isso irá faltar, até para os quetêm maior poder aquisitivo. O que se nota é que até o último di-nheiro, que o povo tem, está sendo retirado.

E importante que se saiba que não é possível haver liberdade napobreza — aliás, esta é a pior forma de escravidão, desde que vive-mos em uma sociedade em que tudo funciona, baseado na comprae venda; para um indivíduo rico é fácil dizer que ele é livre, porquepode comprar tudo o que quiser — assim como o ditador de umpaís é livre para pisar e afrontar a todos, e ainda mentir que o povotem a mesma "liberdade " (filosofia dos generais latino-americanos).Nos Estados Unidos existem indivíduos ricos, que são livres, e 99por cento de escravos, que são o povo, os assalariados.

Os Estados Unidos são chamados de o país da livre iniciativa;mas, tendo um regime econômico nitidamente capitalista, são pou-cas as pessoas que conseguem ter um capital inicial, para escravizaros outros — e a maioria nem tem a "fúria" (patologia) necessária,para permanecer, todas as horas do dia, em busca do vil metal (dasnotas verdes), porque são mais equilibradas. Deste modo, a socie-

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dade cai nas mão dos grandes doentes, que têm uma sensação detotal euforia, para agredir e dominar, a quem quer que seja. E umaliberdade para ser doente, ruim e perverso — o que é uma falsa li-berdade, porque prejudica o próximo. Não diz o ditado que a mi-nha liberdade só vai até onde interfere na do próximo? Estamos con-vidando a todos os injustiçados e agredidos para que tomem cons-ciência desta situação, a fim de corrigi-la, pois nossa existência écurta demais para que a passemos inteira na escravidão.

Um exemplo de como o poder econômico vem interferindo nopolítico, é o que acontecem com as lojas Gimbels e Macys, que le-varam o presidente Roosevelt a transferir o Thanksgiving Day (Diade Ação de Graças) para outro dia do mês, para haver maior núme-ro de vendas; em seguida, o povo fez pressão, e a festa nacional vol-tou ao povo, que impediu tal avanço do poder econômico-social.Em todo o país a bandeira tremula no alto dos mastros; de um la-do, é algo patriótico e bonito, de outro, serve como advertência pa-ra que as pessoas não protestem contra as injustiças sociais, comose tal inconformismo fosse contra a nação.

E importante que se perceba que não é o poder que torna o indi-víduo doente, mas é a pessoa patológica, que o procura com grandeveemência; e, assim como na vida social é necessário conter os quesão agressivos, malévolos, mal-intencionados, é urgente controlartodos aqueles que têm o poder econômico, como Jefferson fez napolítica. O poder deve estar em mãos de quem quer servir, e nãoser servido — e, quem deseja servir, não quer o poder econômico;temos que concluir que o poder econômico é errôneo, porque foielaborado de modo errôneo; quando Adam Smith fala da mão invi-sível que dirige a economia, parece até ser a mão de Lúcifer — emtodo caso, é uma mão bem doente, que fez grandes estragos coma humanidade.

O poder bom, o poder real tem de existir; e este poder é enorme,quase sem limites, porque é o poder do bem — enquanto os indiví-duos que têm o " poder" econômico atual, estão na posição de im-pedir a existência do verdadeiro poder — que é suave, tranqüilo erepousante, e inclusive é pacífico. Os povos que aceitarem inicial-mente este verdadeiro poder terão enorme desenvolvimento; vamosdizer que só eles conseguirão realmente ter o poder.

O trabalho é rejeitado porque ele é inadequado à finalidade doser humano; ele é rejeitado porque ele está mais prejudicando doque auxiliando o homem; o trabalho tem de ser modificado em sua"essência", para poder ser aceito realmente como ele é. Na paredede um famoso banco de Nova Iorque tem o seguinte aviso:

Aviso importante: (note-se a ironia desta mensagem)Empregados que morrem estão esquecendo de se deitar.

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Esta prática tem que parar uma vez que se torna impossível fazera distinção entre a morte e o movimento natural do pessoal. Qual-quer empregado achado morto numa posição ereta será tirado dafolha de pagamento.

Este aviso pode ser analisado assim: primeiro, os interesses dosbanqueiros matam qualquer idealismo e vida de seus funcionários;depois acham que são os seus empregados que estão impedindo queeles tenham maiores lucros; finalmente, ameaçam de deixá-los semreceber — que é realmente a intenção deles. Como vemos, é a totalprojeção, isto é, os banqueiros projetam, colocam em seus funcio-nários todos os seus desejos de: matar, destruir e impedir que a hu-manidade tenha amor e alegria. Esta condenação é pior do que aspiores prisões porque, pelo menos quem está em uma cela, sabe queé uma situação anormal, da qual poderá sair um dia; mas, quem tra-balha para um banco, sabe que é uma condenação para toda a vida— por esta razão, o número de doenças entre osbancários é enor-me — todas as tensões nervosas aparecem em sintomas psicossomá-ticos (doenças físicas e psíquicas).

Se o povo prestar atenção, verá que todas as desgraças da hu-manidade vieram por causa da atitude dos poderosos, que organi-zam um tipo de vida inadequado ao homem. Antigamente, era cimperador que tinha o poder absoluto; era ainda o bispo, o senho]feudal; atualmente é o burguês, o capitalista e o marxista. Para con .

trabalançar o poder político, foi criada uma Constituição nos Esta .

dos Unidos que reduziu a autoridade política; porém, os poderoso!estabeleceram outro tipo de ditadura no sistema econômico,muitopior do que a política.

A estagnação da pesquisa espacial tem duas causas: 1) ogover-no perdeu seu ideal de construir uma grande civilização; 2) ainva-são do poder econômico sobre o político, impedindo que este umdo dinheiro em benefício do povo; só em juros aos bancos ogover-no está gastando 47 por cento do que o americano paga deimpos-tos (Dezembro de 1985). Não estamos pensando que o poder econômico deveria estar unido ao político, como no socialismo, porque seria mais pernicioso ainda; basta lembrar o nacional-socialismoda Alemanha nazista.

A questão do petróleo é bem elucidativa; como existe o perigode haver substituição desse tipo de energia para outro, as grandefirmas de petróleo já estão entrando na exploração de outros tipode energia, como a solar.

No Epcot Center vimos como a firma Kraft está tentandoaçam-barcar todo o comércio dos produtos alimentícios, inutilizando otrabalhos dos fazendeiros americanos; ela está comprando terrasusando uma quantidade enorme de pesticidas, queimando florestas

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e apresentando um produto que não é bom — desde que existe láum restaurante onde se pode experimentar os seus alimentos. Emoutro pavilhão havia o show American Adventure (Aventura Ame-ricana), onde Mark Twain conversava com Benjamin Franklin so-bre o sonho americano; de repente, apareceu uma cabana com umletreiro de propaganda da Coca-Cola — o que esclarece o domíniodo poder econômico, sobre os ideais mais caros dos Estados Uni-dos e de toda a humanidade, porque a América é uma nação do mun-do. Todo o esforço e ideal deste povo estão sendo usados indevida-mente, no sentido de dar mais lucro aos que têm o poder econômico.

Um outro pavilhão Journey Into Imagination (Viagem para aImaginação) da Kodak, foi feito com bastante mediocridade, comose fosse um grupo de doentes mentais, dando vazão aos seus delí-rios. Onde existem as grandes capacidades, aparecem os aproveita-dores, que imediatamente avançam nas descobertas dos homens degênio e talento, para tirar benefícios próprios, e impedir que o povousufrua do que é seu. Para este país vieram pessoas de enorme va-lor, e indivíduos extremamente perniciosos, que prejudicam a açãode todos aqueles que são dedicados e honestos.

A General Motors fez o standard World of Motion (Mundo doMovimento) onde mostra o desenvolvimento dos meios de locomo-ção, colocando os carros que ela fabrica no final da exposição. Opovo está sendo condicionado a admirar as grandes firmas e as pes-soas que as constroem, como se ele fosse beneficiado por elas; jus-tamente o contrário, as empresas, empresários, capitalistas e ban-queiros recolhem para eles o que é patrimônio da humanidade.Exemplificando: Gutemberg inventou a imprensa, Marconi o telé-grafo e Edison a lâmpada, e imediatamente foram comprados poralguns espertinhos (sob a proteção das leis), para explorar o povo.Por que existem as patentes, se elas pertencem a outras pessoas, quenão foramos que inventaram determinadas máquinas? Todos os pro-dutos que se compram trazem um código para evitar falsificações,ou melhor, para evitar que outros se beneficiem com eles.

Eu conheci os americanos em três ocasiões distintas: a primeiravez, em 1950 e 1951, quando trabalhei com eles em São Paulo, Bra-sil; eles eram admirados pelo povo brasileiro, porque tinham idea-lismo — aliás, esse tempo foi o de maior progresso do país. Co-nheci o americano 22 anos depois (1972), quando viajei pela Flóri-da: o desenvolvimento espacial ainda era grande, e a sua técnica eramuito admirada e seguida. Finalmente, vim para Nova Iorque, a par-tir de 1982, trazendo uma escola científica de psicoterapia, e notoque o povo está mais alienado do que nunca, tomando drogas —a tal ponto que escrevi o livro A Decadência do Povo Americano— sem estar vendo a causa de tal problema, como hoje vejo: a des-truição da civilização pelo poder econômico-social.

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Se os americanos conseguiram construir essa civilização, com to-das as dificuldades que o poder econômico fez, imaginem o que se-ria se tivesse um sistema bom! Toda vez que existe representaçãode algum fato histórico, seja de Benjamin Franklin, de AbrahamLincoln, o povo bate palmas, jamais ouvi aplausos para a apresen-tação de algum artigo industrial — a não ser dos que colhem vanta-gens. E o poder econômico-social usa os idealistas, e a grandeza dosistema político americano, como verdadeiros mestres na arte deenganar.

Se vemos os anúncios na T.V., jornais e revistas, notamos queos poderosos nos tratam como se fôssemos débeis mentais,oferecendo-nos quinquilharias de plásticos, jogos e bijuterias, co-mo os conquistadores espanhóis faziam com os índios. Pelo menos,os poderosos nos vêem como um bando de bugres, fáceis de enga-nar, pois, afinal de contas, estamos sendo tapeados há um bomtempo!

Em uma estrada da Flórida havia uma tabuleta anunciando aconstrução de um novo ramal, que seria aberto no próximo ano,em homenagem a determinada pessoa do poder. O povo precisa no-tar que as estradas, casas, monumentos, pontes, túneis, enfim, tu-do o que um país tem, advém do trabalho e do esforço de sua popu-lação — inclusive do dinheiro de impostos que é pago. Aparente-mente, parece que tudo isso dependeria da boa vontade de um mi-lionário, de um prefeito, ou de algum benemérito — mas o país éconstruído, apesar da sabotagem que é realizada pelos indivíduosque têm poder.

A própria organização de uma nação é feita pelos poderosos,de maneira muito sutil; por exemplo: o uso da gasolina é estimula-do, para gerar o enorme lucro das firmas de petróleo — a não serem ocasiões, em que a economia delas esteja sendo prejudicada; opovo quase não tem o que fazer: então fica de carro, viajando pelasestradas e ruas.

O grupo dos indivíduos mais espertos (os mais doentes), fare-jam onde podem dar maior vazão a sua megalomania e narcisismo,e se encaixam lá; atualmente, tal tarefa tem sido relativamente fá-cil, porque toda pessoa tem liberdade de alcançar o poder econômico-social. Nos Estados Unidos, foi feita uma confusão entre ser livree ser rico, como se fossem sinônimos; se eu for rico, impedindo aliberdade do próximo, não tenho o direito de ter esse dinheiro —e é isso o que está acontecendo, porque o lucro acima de um certolimite empobrece o próximo. No dia em que houver um impedimentode se ter tanto dinheiro, uma onda de doentes mentais irá aparecerem todos os países do mundo.

Seria muito útil que o povo começasse a fazer uma lista das pes-soas que têm muito dinheiro, para saber quem são os seus inimigos;

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até há pouco tempo, os milionários eram vistos com grande respei-to, em parte porque as antigas indústrias produziam bastante, parater bom lucro; atualmente, trata-se mais de um jogo de esperteza:os que são mais audaciosos, na arte de explorar o próximo, são osque enriquecem mais.

A humanidade se divide entre as pessoas que vivem rindo, que-rendo dar a impressão de que são felizes, e a grande maioria dosque trabalham e lutam para ter uma existência normal; as primeirasestão localizadas em cargos de poder, pertencem às famílias ricas,e, de outro lado, existe o povo, sempre enganado e alienado, crian-do mil teorias para explicar os motivos de seu mal-estar.

De tal maneira a sociedade foi organizada que os escravos atuaistêm de agradecer aos seus senhores a graça de poder trabalhar paraganhar alguns dólares; e seus "senhores" pensam que são genero-sos, porque sabem que seus grandes lucros advêm de uma técnicaincrível em subtrair dinheiro da sociedade, onde entra toda a suadesonestidade. E uma questão mesmo de vender a própria alma aSatã, a troco da fama, das riquezas e das glórias passageiras.

Por este motivo, eu sempre digo que o povo deve conscientizaresta situação, para começar a usar os bens materiais, que o Criadorlhe deu generosamente — e essas estranhas criaturas do poder eco-nômico se apoderaram da sociedade que pertence a todos, para pro-veito só deles — à semelhança dos demônios que desejavam se apo-derar do céu, como se fossem deuses até que foram expulsos porMiguel Arcanjo e sua corte de anjos. E do mesmo modo que foirealizado no céu, para que sejamos felizes aqui, temos que afastar,do poder social, todos aqueles que desejam ser servidos pelos seussemelhantes. Esta é a senha: quem deseja ser servido, precisa ser anu-lado; os que desejam servir, ajudar o próximo, precisam ser estimu-lados e amados.

A humanidade não pode ter senhores e escravos; a humanidadetem de ser constituída por seres semelhantes, e um grupo de líderes,que a ensinem como agir em benefício do próximo. Sei que este tra-balho é imenso — mas ele tem de ser realizado, porque está de acor-do com a nossa natureza humana e destino. Fomos criados exata-mente para viver assim.

O centro da sociopatologia é o desejo do poder; toda pessoa quetiver um poder livre, fará as maiores desordens, porque dará vazãoa toda a sua psicopatologia; vamos dizer que a patologia já é umafalta de controle, ou uma atitude sem coação a todos os desejos —de maneira que a doença mental não é algo da estrutura do ser hu-mano, mas de sua conduta (negação, omissão, ou de deturpação darealidade). Se o homem controlar seu comportamento (externo e in-terno), jamais cairá na neurose ou psicose: no plano psicológico,são as emoções e os pensamentos; no plano social, é a conduta em

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sociedade. Não pode haver pessoa equilibrada, que não seja mode-rada em suas idéias e sentimentos, e quanto a sua vida social. Seem um dos dois não houver harmonia, é sinal que no outro tambémnão haverá. Por exemplo: uma pessoa que tenha alucinações, ja-mais terá uma vida social normal — assim como um indivíduo quetenha um desajuste social, não poderá ter uma vida psíquicaequilibrada.

Estou mostrando que o cerne da vida é a ação, que é um movi-mento do interior para o exterior, e do exterior para o interior; éuma combinação geral de todos os movimentos que, quanto maispuros, mais perfeitos — e toda vez que sofre restrição, omissão oudeturpação, perde sua bondade e perfeição. Vamos dizer que no Cria-dor, todos os movimentos são de bondade, beleza e verdade, e nascriaturas, uma mistura de bondade e maldade, beleza e feiúra, ver-dade e mentira.

Acredito que o fator mais importante, na questão do poder, édiminuir a força de toda pessoa que esteja colocada lá, e aumentaro prestígio dos sábios, cientistas e artistas. Como é que pode, aque-les que têm verdadeiramente valor, que construíram a civilização,terem de se subordinar aos indivíduos mais débeis na inteligência,aos que só sabem transacionar mercadorias e dinheiro?

Conscientização da psicossociopatologiaAlgumas pessoas conhecem Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865)

inspirador de Karl Marx, mas crítico do socialismo, a ponto de di-zer "O objetivo do comunismo foi de fazer retornar ao Estado to-dos estes fragmentos de seu domínio; de modo que a revolução de-mocrática e social não seria senão uma restauração, o que quer di-zer um retrocesso; o escravo sempre imitou o senhor". (Proudhon,Textos Escolhidos, pág. 113). De outro lado, ele apresentou percep-ções geniais; por exemplo: "— A propriedade é um roubo! Que in-versão de idéias! Proprietário e ladrão foram em todos os temposexpressões contraditórias; todas as línguas consagraram esta antilo-gia. Eu me disse um dia: por que, na sociedade, há tanta dor e misé-ria? O homem deve ser eternamente infeliz?" (pág. 18, do mesmolivro). E clara a percepção que ele faz da sociopatologia.

O austríaco e o alemão, voltados para o seu universo interior,descobriram a psicopatologia (Freud, Kräppelin , Biswanger, Hus-serl), e o francês, voltado para o exterior, percebeu a patologia so-cial; por este motivo, Comte, Durkheim, Rousseau, Voltaire, Dide-rot levaram a sociedade a tantas transformações, enquanto a Ale-manha (e Áustria ) acolheu em pleno século XX o totalitarismo. Enecessário haver uma união do pensamento germânico com o nor-

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mando, para que haja equilíbrio psicossocial — mesmo que tal em-presa tenha sido realizada por um brasileiro! Não era necessário Jungter procurado, na Índia distante, a resposta que havia na Europamesmo. De modo geral, estou tentando esclarecer que é impossívelhaver paz no mundo, se não for realizada uma psicossocioterapia,ou melhor, uma psicoterapia conjuntamente com a socioterapia. Nãoé possível tratar só do indivíduo, se ele habita uma sociedade pato-lógica; temos de cuidar dos dois concomitantemente.

Se a humanidade está como está, todos nós temos culpa, princi-palmente os que têm cultura e melhor informação; desde a dona--de-casa, que escraviza uma empregada doméstica, até o grande em-presário e o governo que organizam o país, conforme seus interes-ses imediatistas e egoístas, todos os que participam disso são pes -

soas imorais; isso, sim, é falta de ética, isto é um absurdo e crimecontra a humanidade. As conseqüências são evidentes: guerras, lu-tas, assaltos, violências e roubos. Porém, para que façamos uma so-ciedade justa (para todos nós), precisamos da colaboração de cadaum de vocês; assim, será relativamente fácil transformar o país ea humanidade, e num prazo relativamente pequeno. Acredito queem dez anos poderemos fazer da Terra um Paraíso —. não de árvo -

res e bichos apenas, mas de máquinas maravilhosas, pessoasinteligentes.

O leitor já notou que os homens poderosos têm um ar muito,muito estranho, como se a posição social exigisse deles, uma deter-minada postura? Se compararmos fotos de doentes mentais, que so-frem de mania de grandeza, com as de nossos dirigentes sociais, nãohá diferença alguma. Muitos alunos em Viena não sabiam distin-guir quem era o doente: se o famoso psiquiatra Wagner Jaurigg,ou se seus pacientes (segundo declaração do próprio professor, emseu livro de Psiquiatria); do mesmo modo, se pusermos em um li-vro de psiquiatria a fotografia de muitos de nosso homens públi-cos, pessoa alguma duvidará que eles não sejam mentalmente ata-cados (contanto que não saibam quem são).

José Elias Murad, farmacologista da Faculdade de Ciências Mé-dicas de Belo Horizonte denunciou pela revista Veja, 02.10.1985,o desejo do governo brasileiro de alienar os jovens, pela liberaçãodo uso da maconha. Esta tática foi sempre usada: na União Soviéti-ca, através da bebida; na Europa, em geral, pela permissividade to-tal: revistas alienantes (de sexo, espiritualismo de baixo nível, pelasdrogas); na América Latina, por alguns entorpecentes: coca no Pe-ru, heroína, LSD, espetáculos medíocres de televisão — carnavale até futebol no Brasil. Os poderosos querem ter a sua paz, paraexplorar o povo fornecendo, em conluio com os dirigentes do país,todos os meios possíveis de distração, a fim de que não sejamameaçados.

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Como sabemos, a primeira rebelião dos jovens teve início na dé-cada de 1950, quando James Dean representou o papel do moço,inconformado com o tipo de sociedade em que vivia; o grande su-cesso que obteve em seus três filmes, foi porque mostrou algo quetodos nós percebíamos: a existência de uma estrutura social, dentroda qual nos sentíamos mal, por ser anti-humana. O movimento dosjovens, que foi chamado de rebelião só falhou porque seguiu umaorientação errônea — com todo o beneplácito dos poderes consti-tuídos. Em lugar deles tomarem 6 poder, optaram pelas drogas, epela alienação, afastando-se da vida social. Em vez de transformara sociedade para si mesmo, eles quiseram organizar um outra, decaráter etérico — é claro que com o empurrão dos que não queriamque eles entrassem no poder.

Se a humanidade não alcançou seu equilíbrio, é porque não cons-cientizou ainda sua psicossociopatologia. E o que significa esta no-va palavra? Ela é uma mistura de patologia psíquica com a social— o que realmente acontece no mundo: ao mesmo tempo que o ho-mem é vítima, também é causador dos males humanos; de um lado,os mais poderosos causam os problemas da sociedade e, de outro,eles também são vítimas, porque nasceram em um ambiente dete-riorado. De modo geral, notamos que não se percebe, realmente,todo o descalabro que existe no meio ambiente — pelo contrário:pensa-se que tudo está bem, e que existem alguns bandidos e delin-qüentes, que ameaçam a todos. Pouquíssimos indivíduos conseguemconscientizar que as instituições e leis sociais pecam pela base, criandotoda essa monstruosidade que emerge por aí — a tal ponto que, senão houver mudança, é absolutamente impossível o ser humano senormalizar.

Desde o final do século passado, o indivíduo vem se analisandocientificamente, e conseguindo algum equilíbrio; porém, a socieda-de não contou com uma análise correta, porque não foi vista aindaa sua sociopatologia, como estamos fazendo agora. Como poderiauma pessoa sã, viver satisfatoriamente, dentro de um hospital dedoentes mentais? E exatamente esta a impressão que eu tenho dasociedade; basta ver alguns exemplos: quanto ao trânsito, os carrossão usados pelos mais doentes como se fossem armas, ocasionandomuitas charges a respeito; o desnível econômico é um absurdo; osconflitos raciais e ideológicos, totalmente fora de propósito.

Não é possível viver-se bem, dentro de um esquema social errô-neo; parece que todos os aspectos, em que vivemos, constituem umatormenta; tanto a organização familiar, o emprego, as instituiçõesforam criadas para nos atormentar — e por um simples motivo: to-das as pessoas, que organizaram a sociedade, não tiveram conheci-mento da inversão (porque eram muito doentes), e, como não haviatal descoberta, anteriormente, criaram um verdadeiro monstrengo; além

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de tudo, tinham o poder e queriam uma sociedade só para satisfa-zer seus interesses.

As encostas montanhosas da Côte D'Azur na França contamcom belíssimas mansões! A semelhança de Rhode Island nos Esta-dos Unidos, Angra dos Reis no Brasil, Acapulco no México. No en-tanto, são casas isoladas, construídas para milionários afastados domundo, cujo único valor é a aparência, e o nome internacional. Evi-dentemente, elas são obrigadas a ter um muro alto, como se fosseum castelo, para evitar os assaltos; seus proprietários são obrigadosa arranjar empregados de "confiança" que, no fundo, os odeiamensejando a se dizer a formosa frase "passar o inferno no paraíso " .

Se observarmos as formigas, veremos que elas vivem juntas;as abelhas trabalham assiduamente, para construir sua morada; asbaleias navegam aos bandos; o gado está sempre pastando reunido;os peixes estão unidos em determinados lugares dos rios e lagos;quando notamos um animal no campo, com certeza, veremos ou-tros da mesma espécie. Quando olhamos o ser humano, estranha-mos que ele queira viver sozinho — isolado em suas casa, em seuscarros, desconfiando quando o semelhante se aproxima. Assim sendopodemos afirmar que o poder social quer o homem sozinho, paraele dominar sossegadamente.

Existe a etiologia psicológica: sentimentos persecutórios, e pro-jeção da própria patologia no outro. Existe ainda a causa social:medo que o semelhante tire benefícios de uma aproximação; invejae cobiça do que o outro tem; raiva de estar sendo explorado e humi-lhado por um outro ser igual. Estou dizendo que só o homem pode-roso, que é muito doente, fez uma sociedade patológica, onde nãose consegue viver. O ser humano não sente falta tanto de uma famí-lia, mas de vivência entre os seres humanos, pois nascemos para vi-ver todos juntos, aqui, e na eternidade. Aliás, o critério para perce-ber o grau de sanidade de uma pessoa é constatar o quanto ela acei-ta uma existência em comum. O doente grave é sempre isolado, ouem uma casa mal assombrada, ou nos sanatórios, devido ao proble-ma de projeção (ver no outro o próprio problema) — assim queremos indivíduos que têm o poder social, que vivamos inimigos entrenós mesmos, para eles dominarem.

Um ponto é pacífico a respeito da sociedade: ela sofre de al-gum erro fundamental, que não se tem atinado até agora. Hodier-namente, tentou-se o caminho econômico (marxismo, neocapitalis-mo, socialismo); alguns estão procurando a solução na ecologia (Par-tido Verde, na Alemanha); muitos se apegam à Bíblia, ao Islamis-mo (Khomeini), e até mesmo ao militarismo (América Latina) —e as dificuldades aumentam cada vez mais. A Trilogia Analítica des-cobriu o problema psicossociopatológico de teomania, megaloma-nia, narcisismo e, mais ainda, de inveja e cobiça, que os indivíduos

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poderosos usaram para organizar a sociedade; tal fato é mais do queevidente porque, até pela lógica, sabemos que o ser humano, quetem o poder, não iria construir uma sociedade contra os seusinteresses.

Esta é a origem dos males sociais; as conseqüências são notó-rias: 1) um grupo de milionários no poder, e todo o povo sofrendonecessidades; 2) incrível incensamento dos que têm o poder, comose fossem deuses (loucos); 3) uma estrutura social impiedosa, na qualos humildes não têm nada, e os poderosos tudo; 4) um esforço mui-to grande para esconder tal injustiça: omitindo fatos e alienando(abobalhando o povo): daí a "liberação" da pornografia e das dro-gas — mas só até o ponto de não causar prejuízo dos que têm opoder econômico-social. Vou dar um exemplo: a revista Life de No-vembro de 1985, traz na capa a Lady Di e um artigo sobre o poderreal da Inglaterra; na contracapa uma propaganda da Toyota; napágina 3, uma promoção da Toshiba; na 4, da Sterling, R.J. Rey-nolds Tobacco Co.; na 6 e 7, sobre a Sunkist (Orange Juice); napágina 8, sobre a USA Army, e assim até o final da revista; deen-tremeio, 12 artigos, sendo 10, incentivando e elogiando o poder, esó 2 abordando assunto sério: Happy Birthday, Mark Twain, e TheView From Here.

A grande guerra que existe mesmo é a luta dos poderosos con-tra o povo: este último, alienando, drogado, sofredor e massacra-do; os primeiros, paranóicos, agressivos, perigosos, enganando ementindo para conservar o poder — e, ao mesmo tempo, sem cons-ciência do desastre que estão causando, não só para o povo, comopara eles mesmos, porque vivem na maior aflição sem o perceber.É por este motivo que não existe rico feliz.

Todo meio de comunicação, revistas, televisão, rádio, jornalconstituem um incentivo á patologia psicossocial; até mesmo os ar-tigos trazem mensagens para acentuar a megalomania, a teomaniae o narcisismo. Por exemplo, a revista Life de Outubro de 1985, nasprimeiras duas páginas, publicou uma promoção de carros, referin-do-se a "An American Revolution" (Uma Revolução Americana);na página 5, anúncio de cigarro, dizendo: "Excellence" (Excelên-cia). O melhor se aprimorou nele. Nas páginas 6 e 7, uma induçãoà bebida, e assim em toda a revista; estou falando que a mentiraé a base da propaganda, porque ela diz que determinada comida émelhor do que outra, que algumas mulheres, ou homens, são mara-vilhosos. Não resta dúvida de que o talento de muitos artistas, lite-ratos e cientistas são usados negativamente, para ganhar dinheiroe poder — invertendo o bem-estar e a felicidade do ser humano. Se-ria bom que o povo percebesse como é enganado, e reagisse diantedisso, passando a adquirir só jornais e revistas que mudassem sua

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orientação patológica. Nota: citei a revista Life casualmente; aliás,todas as fontes de informação são semelhantes.

A única maneira de conhecer realmente a problemática huma-na é através da verdadeira psicopatologia — assim como o únicocaminho, para se ter consciência da problemática social, é conhe-cendo a mesma psicopatologia. Existe uma unidade entre todas ascoisas, porque elas obedecem ao mesmo princípio criador; pode ha-ver variação entre os insetos e as flores, os mares e as terras, masfundamentalmente são dirigidos por idêntico processo. Estou dizendoque a vida social é regida pelos mesmos problemas da vida indivi-dual — mas com um enorme agravante: foram os mais doentes quea organizaram; deste modo, podemos falar que vivemos em uma es-trutura inteiramente doente.

O que a Trilogia Analítica pretende é realizar a maior "revolu-ção" de todas, organizada na História da Humanidade; queremosdesvirar a civilização através de dois processos: pela conscientiza-ção individual, isto é, através da percepção dos próprios problemas— mas principalmente pela consciência da patologia social (socio-patologia). Se não for dado este passo, é absolutamente impossívelhaver qualquer modificação social. Sei que é difícil, mas é muitomais fácil do que a maioria pensa. Até agora, foi realizado o maisdifícil, que é a inversão: o consumo de energia gasto para andar decabeça para baixo é muitíssimo maior do que caminhar normalmente— se alguns começarem a notar isso, em pouco tempo se reunirãogrupos maiores, e toda a sociedade passará a viver tranqüilamente.

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4. Economia

A mesma divisão, que acontece no interior do ser humano, su-cede na vida social: não é só quanto à política internacional, quese divide entre capitalismo e marxismo, mas também a filosofia prá-tica do ocidente, em oposição à filosofia teórica oriental; a sociolo-gia, colocando todos os problemas no fato social (Durkheim), e apsicologia atribuindo todas as dificuldades ao interior do homem;a economia realizou idêntico fenômeno, não só entre capitalismoe comunismo, mas entre o capitalismo tradicional (Adam Smith) eneocapitalismo de Keynes — sendo que, basicamente, ambos estãoerrados em suas pretensões.

Smith via a riqueza das nações de acordo com o uso do trabalho(produtividade), o que incentivou o consumo excessivamente. Talfato ocasionou a crise na Bolsa de Valores de Nova Iorque (1929),pois o dinheiro acabou perdendo todo o seu valor, desde que foiproduzido exageradamente, sem ter um correspondente valor como trabalho. Keynes surgiu nessa ocasião ensinando-nos mais umatécnica de preservar o valor do dinheiro, em si, dizendo que podeser mais lucrativo entesourar qualquer quantia de dinheiro (capita-lismo rentista, ou monetário); a partir de então, o capitalismo pas-sou de um regime de trabalho-produção-dinheiro, para outro dedinheiro-especulação, motivo pelo qual principalmente os EstadosUnidos estão entrando em grande decadência.

O sistema monetarista, que os Estados Unidos estão seguindo,inundou o mundo com o dinheiro sem lastro; tal filosofia keynesia-na criou uma mentalidade invertida, colocando a moeda como sefosse a causa de todo o desenvolvimento social. Atualmente, quan-do se pensa em melhorar a situação de um país, ou no ampliamentode uma empresa, o primeiro fator que ocorre à mente é o aumentodo capital — como se ele fosse a base da civilização. E não é só no

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mundo capitalista, mas os marxistas têm o mesmo pensamento. Marx(1818-1883) dizia que "a mercadoria é o tempo de trabalho necessá-rio para a sua produção", esquecendo-se da matéria-prima, da téc-nica descoberta anteriormente, da necessidade, ou não, de tal arte-fato, de seu valor, ou não, para o ser humano. Michael Kalecki(1899-1970) dizia que os operários gastam o que ganham, e os capi-talistas ganham o que gastam — colocando no dinheiro todo o sen-tido da existência. Tal idéia vem empobrecendo sobremaneira a so-ciedade, reduzindo-a unicamente ao lucro financeiro. Afinal, o mar-xismo percebeu que a vida social alienava o ser humano, e a refor-çou mais ainda. O que se vê hodiernamente é uma luta entre o capi-talismo e o marxismo, para ver quem irá tomar conta da riqueza,isto é, do dinheiro para desfrutá-lo.

O professor William H. Hutt, economista na Universidade daCidade do Cabo, África do Sul, afirmou, em uma entrevista paraManhattan Report, que a falta de coragem, ante os sindicatos, le-vou ao desastre a economia inglesa e não que o sistema econômicoestivesse falido, seja o de Adam Smith, de John Keynes ou de KarlMarx. Aceitem, ou não, a humanidade é obrigada a dar um novoe definitivo passo — para um novo mundo que se aproxima, e queserá bem diferente do atual, exatamente o inverso.

Muitas pessoas poderão objetar que o dinheiro existente não ésuficiente para que todos vivam razoavelmente; poderemos respon-der que os poderosos estão impedindo que o povo usufrua tambémdo dinheiro, canalizando-o para uns poucos indivíduos. Aliás, o nos-so sistema econômico foi criado para impedir que a riqueza benefi-cie a toda a humanidade; foi um ato doentio de extrema inveja, coma finalidade de prejudicar o ser humano. Basta ver um único exem-plo: o número de pessoas que pode trabalhar é relativamente pe-queno, porque foi delimitado pelo grau de lucro (em dinheiro) queele pode fornecer — o único elemento que é levado em conta é avalorização da mercadoria produzida e a sua possibilidade de venda.

No momento em que o trabalho for considerado o valor princi-pal, a produção de uma mercadoria será elevada acentuadamente,porque o indivíduo que a produz será o seu beneficiário — podendovendê-la pelo valor que quiser — desde que ele não precise do lucrotão alto (como o capitalista), que está tentando a vida toda valori-zar só o que ele tem, ou seja, o poder que o dinheiro lhe fornece.Por este motivo, ele (o capitalista) despreza o trabalho e o ser hu-mano; e, como tem enorme poder, breca todo o desenvolvimentosocial.

No mundo eslavo acontece o mesmo problema: o político mar-xista é supervalorizado, porque tem ambos os poderes (econômicoe político); ele é capitalista e dono do país, preocupando-se extre-mamente com os regimes contrários, que poderiam destruir seu po-

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der. Assim sendo, cercam seu povo, impedindo que ele veja o bem-estar dos outros, e desenvolvem o seu poderio militar, não tanto paradefender o marxismo, mas a sua posição de mando.

Quando Hayek comentou que os sociólogos, psicólogos e eco-nomistas destroem a liberdade, ao querer dirigir o comportamentohumano (O Reino do Homem, N.R. Keppe, pág. 257), estava expli-cando a causa da escravidão atual do homem. Notem que FriedrichA. Hayek também é economista, e viu tão bem esse problema daloucura humana. Minha opinião é que, enquanto a sociedade forsubordinada à economia, é impossível haver justiça social. Seremosobrigados a continuar nessa situação indefinidamente? Só temos umavida, e ela é tão rápida!

Todo o desenvolvimento da humanidade está estacionado, devi-do ao regime econômico-social vigente. Em lugar de estimular o serhumano a progredir, todo o empenho é colocado no lucro, que levaa enquadrar o cientista e o trabalhador dentro de uma rede estreitade interesses mesquinhos. Aliás, o cérebro do banqueiro, do comer-ciante e do negociante, parece ser do tamanho de uma semente deazeitona, porque eles aprendem somente a adquirir por um preçomenor, para vender por um maior.

O México foi abalado por um terremoto em Setembro de 1985,onde podem ter morrido 8.000 pessoas, e desabado 1/3 dos edifí-cios na capital. O escritor Homero Aridjis à frente do Grupo dos100 teceu pesadas críticas ao governo dizendo que "foi uma combi-nação de corrupção e ineficácia, porque os prédios novos foram cons-truídos visando ao lucro rápido, sem consideração pelas pessoas,que neles iriam viver e trabalhar " (Veja, 2.10.1985, pág. 70). No-tem aqui uma ilustração de como a direção de uma nação é domi-nada pelos interesses econômicos imediatos.

Os prédios da cidade de São Paulo não têm escadas de incêndio,e não há administração pública alguma que os obrigue a colocá-las,pondo em perigo iminente os seus habitantes. O grande cinismo aque chegou a organização social é tão grande, que parece quase im-possível corrigir. Os automóveis brasileiros são fabricados com pou-cas normas de segurança, e o sistema de tráfego do país é o maisperigoso do mundo — motivo pelo qual os índices de acidentes detrânsito são os mais altos. Não preciso comentar que tudo é feitopara dar lucro, sendo o ser humano considerado apenas um produ-tor de dinheiro para os poderosos.

O ideal da humanidade foi sempre o de conseguir ficar sem tra-balhar — como se o trabalho fosse a causa de seu infortúnio. Poreste motivo, se o grupo trilógico se desenvolver bastante, facilmen-te tomará conta da sociedade, pois terá: a) maior facilidade paratrabalhar; b) um aperfeiçoamento muito maior — a causa é fácilde saber, pois se uma pessoa ama seu afazer, superará rapidamente

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os que trabalham por obrigação. De outro lado, o trabalho trilógi-co, em si mesmo, é superior, porque: a) não visa ao lucro econômi-co primordialmente; b) une o útil ao agradável, porque não é umaatividade de competição, mas de cooperação.

Temos de considerar que o poder econômico organizou uma so-ciedade de exploração, motivo pelo qual o trabalho se tornou tãodesagradável. Cada trabalhador sabe que sua atividade geralmentenão é em seu benefício — porque também não é realizado para aju-dar o próximo. O leitor pode pensar sobre os milhares de médicos,que estão neste momento atendendo os doentes; mas até este setorfoi deturpado pelo interesse econômico, pois o preço cobrado tornaquase impossível uma consulta a um seguidor de Hipócrates.

O processo de basear toda a produtividade no capital não pode-ria dar bom resultado, porque já de início exclui o valor do traba-lho: seja do operário, da secretária e do próprio dono da empresa;fornece uma idéia ilusória de que seria possível produzir sem o es-forço adequado. Desta maneira, toda pessoa dentro de uma empre-sa capitalista visa ao dinheiro, desprezando o fim para o qual foicontratado, isto é, a elaboração de um artigo importante, a cons-trução de um prédio de valor, ou algo de grande desenvolvimentopara a sociedade.

O maior problema da humanidade é que o povo precisa de líde-res, e estes são extremamente doentes, ou melhor, os que se dispõema liderar não têm equilíbrio, desde que as leis, que eles irão usar,são prejudiciais para a civilização. E muito freqüente ouvir uma pes-soa equilibrada referir-se a sua falta de interesse pelos cargos im-portantes — é como se fosse algo fascinante, mas proibido, devidoa seu caráter maléfico em relação ao povo e país.

Pela nossa experiência, queremos que o poder esteja a serviçodo povo, e não o povo a serviço do poder — como tem acontecidoaté agora. Temos de mudar a maioria das leis sociais, para que oser humano deixe de ser explorado, como sempre foi. Porém, nãopodemos esperar que o povo organize suas leis, porque ele não temcondições, e nem tempo para isso; as leis têm de ser feitas por legis-ladores (especialistas), mas no sentido de servir o povo — neste ca-so, vamos exigir que tais pessoas se coloquem em ação, em benefí-cio da humanidade.

Flórida é um Estado localizado no sul dos Estados Unidos e que,devido a seu clima melhor, acolhe grande parte dos americanos queabandonam as regiões do norte — principalmente as pessoas quetêm poder econômico; vendo Miami Beach, é impressionante o nú-mero de prédios e residências ricas, voltados para as praias, de umlado, e canais de outro, com iates, clubes e toda a espécie de desen-volvimento. Parece que o povo WASP (brancos, anglo-saxões e pro-

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testantes), que habita o East-Side (lado leste) da ilha de Manhattan,mora também na região leste do país.

Vemos que é uma situação social injusta: a existência de um gruposocial, que tem total abundância de todos os bens materiais, pertode um povo pobre. No entanto, os milionários também não são fe-lizes, devido ao tipo de filosofia que impera na sociedade, ou seja,que o trabalho é ruim. Mas, como ele foi organizado é ruim mes-mo, porque visa à exploração do próximo, à satisfação da invejae de desejos não nobres; mas, se fosse organizado para o bem co-mum, todos nós gostaríamos de trabalhar.

A estrutura social tem de ser organizada pela elite dos seres hu-manos em benefício de toda a sociedade, porque o povo em geralnão tem obrigação de conhecer tudo: filosofia, teologia, ciência epolítica — e os que estão à parte desses assuntos têm obrigação deusá-los no bom sentido. Sabemos que o povo tem um certo equilí-brio natural, e os próprios gregos antigos diziam que "a voz do po-vo é a voz de Deus" , para indicar que as pessoas que se destaca-ram em qualquer campo eram diferentes. O que temos de fazer ago-ra é evitar que os indivíduos que conseguem realizar algo importan-te, o façam no sentido correto, em auxílio de toda a sociedade; va-mos dizer que as pessoas que têm maior poder de realização devemser controladas para não agirem contra o bem comum.

O poder político norte-americano está correndo grande risco deser inteiramente subjugado pelo poder econômico, o que levará deroldão toda a sociedade — porque será o predomínio total da pato-logia humana, enquanto ele não for limitado e controlado severa-mente. Para isso, propomos a organização da sociedade trilógica,que seria mais ou menos igual à Constituição dos Estados Unidosda América, onde todo o poder (e não só o político), fosse contro-lado por leis.

E muito fácil de ver como os poderes econômicos manipulamo povo através de seu patriotismo. Todo o país é enfeitado por suasbandeiras, e tanto os jornais, como a televisão e o rádio sempre fa-lam das glórias dos Estados Unidos. Na Epcot Center assisti ao cantode canções folclóricas, e finalmente ao Hino Nacional. Porém, to-da a exposição é dominada pelos interesses econômico-sociais: oué a Perry, General Motors, Kraft, Exon, General Electric, At andT que fazem propaganda de seus produtos, e o povo ainda tem depagar 22,50 dólares para receber tal carga de propaganda. O espíri-to de Walt Disney deve estar contemplando tristemente talespetáculo!

O jornal USA Today (de 4 de Dezembro de 1985) traz uma pes-quisa sobre como obter sucesso, onde mostra que o poder políticocoloca no conhecimento das pessoas certas (58 por cento) e o podereconômico na agressividade (38 por cento), e em segundo lugar na

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inteligência (34 por cento), toda a sua "arte de vencer na vida". Éinteressante observar que a conduta mais usual para ganhar dinhei-ro é o uso da agressividade, e de todos os meios intelectuais possí-veis; ora, tal fato esclarece o motivo por que a agressão aumentamais e mais, tornando nossa vida insuportável. .

Quando vejo a cidade de Nova Iorque repleta de enormes pré-dios, e quase todos com as luzes apagadas, os seus habitantes vivemtristes, economizando luz elétrica; as paredes dos edifícios são ge-ralmente encardidas e as ruas sujas, mostrando como o povo viveem estado de quase desespero — fico pensando em que tipo horro-roso de sociedade vivemos. E como essa estrutura foi elaborada porpessoas doentes, não poderíamos ter um tipo de vida diferente. In-clusive, os artistas precisam se unir para evitar a espoliação econô-mica a que são submetidos, e conseguir realizar a verdadeira arte.Quando se assiste a um espetáculo maravilhoso, seja de ballet, umaópera, sinfonia, concerto, sabemos que os artistas vivem na penú-ria, porque os teatros estão nas mãos dos milionários que, inclusi-ve, os exploram, para aumentar seus ganhos. Desde há tempos, Bee-thoven, Brahms, Schubert sofreram dificuldades econômicas, en-quanto os seus editores de música tiveram altos lucros.

Seria importante que os cientistas, artistas e trabalhadores domundo todo se unissem, para derrubar esse tipo de poder econômi-co, a fim de que a ciência, as artes, a indústria e agricultura voltas-sem a florescer, para que a humanidade tivesse paz, alegria, e vol-tasse ao desenvolvimento. Somos 99,9 por cento da população, en-quanto são pouquíssimos os doentes que dominam todos os povosatravés do dinheiro. Por que permitimos tal coisa? De duas, uma:ou estamos comprometidos com eles ou, então, totalmente aliena-dos. Se for este último caso, poderemos corrigi-lo em pouco tempo.

O espírito mau dos seres humanos doentes tomou conta do mun-do, tornando-o feio, mal cheiroso: Nova Iorque tem as calçadasrepletas de fezes de cachorros, e a fumaça da gasolina e de óleo obs-curecem a cidade — o mesmo pode-se dizer das outras cidades. Osmuseus, igrejas, teatros e ruas são escuros, e a energia elétrica é abun-dante, ou poderia ser, mas como é organizada só para favorecer ospoderosos, usa-se o mínimo possível. Assim sendo, vivemos em umacivilização triste: o que a natureza e Deus nos deram, em grande quan-tidade, está sendo impedido de ser usado pelos indivíduos que con-trolam as riquezas.

E de fundamental importância que o povo note que, sem umatransformação social geral, será impossível qualquer melhoria, tan-to no sentido político, como no psicológico e pessoal. Ou faremosagora a desinversão social, ou naufragaremos todos, nas ruínas dosetor econômico, que está se aproximando aceleradamente. Temosde tirar o poder do dinheiro, que nos oprime até o sufoco — ou rea-

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lizamos tal feito imediatamente, ou o terceiro Milênio verá só os res-tos de nossa civilização.

Seria muito importante que os políticos notassem que só eles têmcondições de coibir o total abuso do poder econômico, porque o in-divíduo poderoso só se detém diante de uma força maior; é quaseimpossível o povo mudar tal situação, porque é dominado inteira-mente. Portanto, nossa grande esperança, é que a classe política seuna a nós, nessa ingente tarefa de transformar a sociedade, deentregá-la ao povo. Já por esta razão, o político deveria ver que eleseria benquisto, e teria todo o poder para conseguir o bem social.

A decadência do sistema financeiroAnthony Sampson escreveu um livro denominado Os Credores

do Mundo (The Money Lenders), onde faz uma brilhante análisedo Sistema Financeiro Internacional. Logo de início, na página 8da Introdução, ele se refere ao papel dos banqueiros internacionais"que se sentam por detrás de escrivaninhas na cidade e realizam con-fiantes análises sobre o homem" — exatamente a mesma crítica queMalinowski fez sobre os antropologistas de gabinetes. Penso que amaior parte dos seres humanos encarregados da ciência, economia,política, fazem o mesmo. Provavelmente, por esta razão, Lenin jádizia que "um punhado de Estados excepcionalmente ricos e pode-rosos pilham todo o mundo simplesmente destacando cupons" (Le-nin, Imperialism, The Slighest Stage of Capitalism, 1917, cap.VII ).Assim sendo, é uma ingenuidade muito grande pensar que as na-ções marxistas voltariam um dia ao Sistema Capitalista Ocidental.Teria de haver uma nova economia que englobasse as duas existen-tes — e é justamente isto o que estamos propondo.

Tom Clausen, bacharel em Direito de Minnesota, presidente doBanco da América, em São Francisco, disse que a prática bancáriaera como o futebol americano, que se baseia no bloqueio e em der-rubar o adversário (discurso pronunciado no Bank AdministrationInstitute, em 5.11.1979).

Alexander Hamilton disse que a maioria das nações comerciaisjulgou necessário instituir bancos, e eles se revelaram o melhor dosmotores já inventados para promover o comércio. Tal idéia está certaporque, em um sistema de trocas, o dinheiro facilita extremamente;porém, dentro da economia de uma nação (o dinheiro) tende estarsubordinado ao seu poderio industrial, agrícola e científico. Se nãofor assim, começará o seu processo de destruição: inflação, dese-quilíbrio comercial, baixa produtividade (ou um excesso de moeda,sem nenhum lastro).

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Parece incrível, mas os senhores atuais da humanidade são osbanqueiros; eles é que determinam quais nações podem crescer, oque fazer com determinados governos, que povo devem "ajudar",ou não — como se o mundo dependesse deles. Eles vincularam to-dos os valores ao dinheiro, conseguindo brecar definitivamente odesenvolvimento; é claro que o povo aceitou. A finalidade deste li-vro é a de fornecer consciência de que todo poder deve estar a servi-ço do povo, e que foram criadas as instituições econômico-sociaispara subtrair para alguns o que pertence a todos. Por este motivo,até mesmo a tão decantada democracia moderna está mostrandoenormes dificuldades — simplesmente porque todas as decisões nãoestão sendo tomadas, em benefício do povo, mas de particulares.

A função do Sistema Financeiro Internacional é de conseguir olucro: ganhar mais dinheiro, com o próprio dinheiro; por este moti-vo, os bancos escolhiam só os países adiantados (Polônia, Inglater-ra, Itália) e os em desenvolvimento (Brasil, México, Coréia do Sul,Argentina), que poderiam pagar-lhes os altos juros. As nações afri-canas (Tanzânia, Etiópia), isto é, de grande risco, nunca foram con-templadas com tais empréstimos. Este fato demonstra que o Siste-ma Financeiro não foi criado para benefício das nações e povos, maspara o enriquecimento dos banqueiros e especuladores, aliás, comotodos os empreendimentos que eles realizaram no mundo.

Todas as pessoas têm a idéia de que a riqueza está no dinheiro,que foi incentivada pelos economistas capitalistas ou marxistas; pe-la Trilogia Analítica, temos demonstrado que o dinheiro tem breca-do o desenvolvimento da humanidade, devido ao modo como eleestá sendo usado. E não só está atrapalhando, mas ocasionando guer-ras entre os países, e atritos entre os homens — porque o verdadei-ro valor, que é a ação, o trabalho, foi colocado em posição secun-dária — como se o mais importante de uma árvore fossem os seusgalhos, e não o tronco e as raízes.

Quando Proudhon criticou a existência de propriedade privada,acredito que acertou muito bem, porque constitui um erro, comofoi organizada. Esse engano inicial gerou uma série de dificuldades,que estamos tendo grande dificuldade de resolver. Penso que o maiorde todos os problemas foi o aguçamento da inveja, que alcançouum ponto crítico: lutas de classes, revoluções sangrentas, crimes, rou-bos, ataques pessoais. Deste modo, podemos afirmar que a estrutu-ra social errônea é fator de grande influência na vida psíquica —não a ponto de causar uma doença mental, mas o suficiente paratranstornar totalmente o psicossocial.

Talvez precise explicar que existe o social, o psicológico e o psi-cossocial (assim como o corpo, a alma e o ser humano) — sendoque o psicossocial seria a origem de ambos (do social e do psicológi-co), quanto a sua conduta. Aqui, surge a questão da essência e da

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existência, dentro da qual a filosofia existencialista (Husserl, Bis-wanger, Sartre) afirma que o modo de vida determina a essência;a Trilogia Analítica diz que a atitude pode influir, e até alterar, ocerne do indivíduo, tornando-o um monstro, ou um anjo, confor-me sua escolha. E o que está acontecendo agora com a escolha dodinheiro, está deformando o físico e o interior do ser humano,lesando-o gravemente.

Se examinarmos bem, verificaremos que todas as coisas mais im-portantes foram realizadas no tempo dos imperadores: os paláciose castelos que tanto admiramos, os templos magníficos; as obras dearte, na pintura e escultura, e até mesmo as descobertas científicasforam elaboradas pelos indivíduos que sofreram um tipo de educa-ção proveniente da realeza. A própria Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra, que é tradicionalmente um país que conserva suanobreza.

Comparando nosso período atual (1986), com essa época, nota-mos que a humanidade praticamente parou em seu desenvolvimen-to. Assim sendo, temos de considerar que algo de muita significa-ção está acontecendo, ou seja, que a estrutura social está em estadocalamitoso. Fracassou a tão decantada moderna democracia? Outalvez o sistema econômico é um desastre? A ciência? A Universi-dade decaiu? Eu acredito que o fracasso é geral. Parece-me que oideal atual de liberdade é totalmente contraproducente; o povo pre-cisa urgentemente conscientizar o que é realmente liberdade: se so-mos livres para o mal, ou para o bem! Tenho certeza de que, se con-tinuarmos assim, nosso fim como civilização está próximo.

Quando eu escrevi o livro A Libertação, propus uma idéia con-trária à de Kant (somos livres para fazer o mal) e de William of Oc-kam (a essência do ser humano é a liberdade). Eu quis propor a idéiade que a nossa essência é o bem, a verdade e o belo — que precisamser conservados e desenvolvidos, porque constituem toda a realida-de que existe. Toda vez que é organizada uma civilização contra osverdadeiros interesses humanos, ela entra em crise, até que seja ex-pelido o seu erro básico; é o que está acontecendo agora no setoreconômico, que está cedendo lugar para o financeiro, isto é, as fi-nanças comandando toda a economia, e colocando em perigo os ver-dadeiros fundamentos da nação.

O problema da depressão econômica de 1929, assim como todaa questão de inflação, estagnação são provenientes da estruturaeconômica, que está colocando o dinheiro como sua meta princi-pal; desse modo, toda a atividade é incentivada ou brecada, confor-me o lucro dos indivíduos capitalistas, isto é, do interesse de algu-mas pessoas que especulam com o dinheiro — deixando de lado acapacidade científica, industrial, agrícola do povo — e tratando-ocomo se ele (o povo) fosse uma massa consumidora de toneladas

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de alimentos, de filmes agressivos, de gasolina e roupas, para queeles colham mais dinheiro ainda.

Todas as profissões estão perdendo o seu valor e se tornandoum puro comércio, a ponto de estar sendo quase impossível consul-tar um médico, tratar dos dentes, ou fazer psicoterapia. Os médicosda cidade de Nova Iorque receberam uma propaganda dizendo oseguinte: O dinheiro é realmente mágico? Ele é capaz de realizar ossonhos e fazer que os problemas desapareçam? Pesquise com o Psi-quiatra J.R.M.D., viciados em dinheiro: Adquiri-lo, economizá-lo,gastá-lo. Palestra grátis. Parece que o ideal médico também está emcrise, porque vai substituindo o valor terapêutico pelo lucro fácil.

A revista Business Week, página 52, fala sobre as fábricas decarros japoneses, Honda, Hyundai, Toyota e Suzuki, que preten-dem se introduzir nos Estados Unidos, através do Canadá; nota-seque o povo tem a idéia de que elas trazem benefício a ele — e nãoque as indústrias se alimentam e vivem do trabalho escravo e dascompras que o povo faz. Quando é que iremos acordar, e começara construir nossas próprias fábricas, carros, etc?

USA Today, Quarta-feira, 11 de Dezembro, 1985, traz na sec-ção Dinheiro, primeira página, as seguintes notícias: Executivos an-siosos quanto à economia de 1986: 6 por cento dos membros (daassociação nacional de gerência de compras) estão preocupados coma economia, principalmente quanto aos efeitos da volatilidade dodólar e da queda dos preços do petróleo; previsão para o próximoano: 44 por cento otimistas e 53 por cento preocupados. Em outroeditorial traz o seguinte: Economistas vêem nuvens na conta do or-çamento: eles predizem que a diminuição do déficit trará uma re-cessão, caso o governo gaste menos. Em outro ponto do Jornal: Dé-ficit de Novembro com o Japão traz recorde. A revista Business

Week, dia 23 de Dezembro de 1985, traz na capa: Os coreanos es-tão vindo; na página 74: como as companhias estão aprendendo ase preparar para o pior: Equipes especializadas em lidar com crisestreinam como trabalhar com desastres como Hutton ou Carbide.Pelo que podemos notar um grande desastre econômico está poracontecer — o que significa que o sistema econômico-social está emvias de colapso. O que não podia deixar de acontecer, desde quea economia foi fechada nas mãos dos indivíduos mais doentes, nosentido de ser impedida de se desenvolver.

Crítica à economia neocapitalistaA chamada riqueza, que predomina na sociedade neocapitalista

é o acúmulo impressionante da quantidade de dinheiro. Então, sur-ge a primeira e grande interrogação: até que ponto essa política eco-

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nômica teria dado bom resultado? Em meu último livro, Decadên-cia do Povo Americano (e dos Estados Unidos), mostrei que a in-dústria desse país entrou em colapso, e que 1/3 das fazendas estãose fechando; os bancos, que deveriam estar mais protegidos, estãofalindo (79 em 1984); e o povo tem, a cada ano que passa, menosrecursos para sobreviver. Ora, tal fenômeno parece uma contradi-ção: como pode haver tanta crise se nunca houve antes tal volumede dinheiro? Em minha opinião, isto assinala o fim do período ca-pitalista na face da Terra.

Surge aqui uma segunda interrogação: qual será a nova formade economia que virá para as nações? A primeira resposta, que sur-ge, já foi fornecida por William Petty (1623-1687), quando afirmouque o valor de uma nação estava no trabalho. Porém, nos séculosseguintes, a humanidade preferiu seguir Adam Smith (1723-1790),que colocou a riqueza no valor do uso, ou melhor, no consumo,destruindo o valor do trabalho. Vamos dizer que a resposta já exis-tia; basta colocá-la em uso atualmente. Neste sentido, é claríssimoperceber que o marxismo foi o resultado lógico da orientação capi-talista. Neste momento, podemos fornecer uma resposta exata a es-te problema. Primeiramente, mostrando que o estudo da Economiasurgiu em razão dos erros, que foram cometidos pelos seus interes-sados. Por exemplo: após Adam Smith ter valorizado mais o valordo uso, David Ricard supervalorizou o capital, chegando ao pontode privilegiar o produto em detrimento do produtor. Dizemos queele inverteu inteiramente a ordem das coisas -- iniciando a grandecatástrofe econômica que teve seu prenúncio em 1929.

O domínio político ou econômico entre as nações é o resultadodo desejo do ser humano de dominar sua família, os vizinhos, ouo próprio país — sendo o reflexo da mesma vontade individual dedominar os sentimentos — em lugar de conscientizá-los, para tra-balhar com eles. O intuito da Trilogia Analítica é o de trabalhar como real, em lugar de criar teorias, fora da realidade; estamos forne-cendo agora um conjunto de descobertas sociológicas, que poderãotransformar radicalmente a sociedade e os seus membros, se foremaceitas.

O leitor já notou que os esquerdistas estão sempre próximos doschamados direitistas? Por que será? Parece que não há muita dúvi-da que são iguais entre si, isto é, visam a mesma finalidade: o podereconômico-social; os marxistas através da política, e os capitalistasdiretamente pela economia. Não adianta o povo esperar que os do-nos do poder abram suas mãos, e permitam que ele participe; temosde perceber que precisamos organizar o poder para nós: algo facíli-mo, desde que saiamos da inversão, pela conscientização da inveja.

O primeiro passo é o de organizarmos a sociedade trilogicamen-te e depois as empresas; em seguida, teremos uma disposição mone-

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tária, para fazer outra, e depois mais outra, e assim por diante, atéque tenhamos todos os meios para construir a grande sociedade pa-ra todos nós, o povo. Desse dia em diante, os seus dirigentes passa-rão a agir segundo nossos interesses — e não como está sendo reali-zado agora, ou melhor, segundo o interesse de grupos e instituições(quase sempre, contra o povo).

De modo geral, não queremos nem capitalismo, nem marxismo,pois ambos são iguais: o primeiro é o capital servindo alguns indiví-duos, e o segundo, servindo aos burocratas — de maneira que osdois constituem o mesmo tipo de regime econômico-social, mesmoque o marxismo pretenda chegar ao comunismo. Nós estamos or-ganizando um tipo de "capitalismo" e de "comunismo", que nãosão nem um, e nem outro: é um capitalismo de todos, e um comu-nismo que não é bem comum a todos. Deste modo, os dois ideaissão unidos em um só, havendo futuramente uma dupla satisfaçãoem um mesmo estilo de vida.

O mundo pertence a todos, e a nenhum de nós definitivamente,porque somos mortais e o próprio universo tem um limite de exis-tência; a vida aqui é muito rápida, e precisamos urgentemente cor-rer para usufruí-la, da melhor maneira possível. E o que a TrilogiaAnalítica está propondo é justamente o meio para vivermos em paz:1) felizes, na medida do possível; 2) produtivos, sem egoísmo; 3)e equilibrados, porque a inveja, raiva, ódio, ganância serão extre-mamente amenizados, pelo estilo de vida. Do modo que a socieda-de foi organizada, pobres e ricos, ociosos e operários são infelizes.E absolutamente impossível viver bem, dentro de uma estrutura so-cial errônea; vamos dizer que todos os "fundamentos", dentro dosquais vivemos, estão invertidos.

Lendo uma revista, jornal, vendo os programas de televisão, as-sistimos ao desfilar de um grande número de ofertas para transfor-mar nossa vida em uma maravilha: são passeios incríveis, viagensde sonho, carros inimagináveis, hotéis das mil e uma noites, apare-lhos que nos darão enorme conforto — como se fossem doações queos poderosos na economia nos dariam, a troco de uns poucos dólares!

O que acontece na realidade é o seguinte: tudo isso, que nos éprometido, deveríamos ter em cada minuto de vida, e ser comuma todo o povo; porém, os que são muito doentes (invejosos, cobiço-sos, megalômanos, narcisistas) avançaram sobre os bens da huma-nidade, para uso deles evidentemente e impedir que sejamos felizes.E a grande quantidade de bens que existe está praticamente estag-nada, porque não está sendo de uso geral. Por exemplo: os metaise pedras preciosas, todo o alimento que é produzido, o uso das ri-quezas naturais (petróleo, madeira, gás) estão em mãos de poucosque usam todos os meios para controlá-los.

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A nossa grande luta irá ser não só com os poderes econômicos,mas principalmente com os doentes mentais (aliados aos demônios),que trazem a civilização sob seu jugo. Exemplificando: o Museu Me-tropolitano de Nova Iorque tem em algumas paredes agradecimen-tos a firmas, ou a pessoas em particular, que foram generosas, aodoarem à Instituição aquelas salas que contêm quadros de Rem-brandt, Van Gogh e Rafael — como se fossem eles os grandes artis-tas do passado!

O chamado poder econômico está em mãos dos indivíduos maisincapazes e doentes, porque é extremamente fácil trabalhar com es-se campo — basta ter interesse, pois não é necessário ter nível deinteligência, para conseguir ganhar dinheiro — o que é realmenteimportante é ter uma voracidade incrível e dedicar toda a atençãona "arte" de trapacear e enganar. O Lincoln Tunnel, túnel que ligaManhattan a Nova Jersey , tem um pedágio, que funciona desde quefoi construído; no entanto, o combinado foi que a prefeitura só co-braria por 10 anos, isto é, até que fosse paga a sua construção —é evidente que não haveria mais razão para haver tal exploração dopovo. Pelas ruas de Nova Iorque trafega um pesado trânsito, o queacarreta muitas violações das leis; porém, dificilmente uma limou-sine, um Rolls-Royce, ou um carro qualquer de luxo é multado, porcausa do grande respeito que se tem dos doentes.

No jornal The New York Times, sexta-feira, 6 de Dezembro 1985,página A 16 mostra: Explosão na refinaria de petróleo mata 5 e fere47 na Califórnia e Louisiana. A primeira vista, parece uma notíciacorriqueira, mas analisando-se melhor, vemos como o poder eco-nômico foi organizado perigosamente: a) para dar maior lucro, asegurança foi relegada para segundo plano; b) que não há realmen-te preocupação com o ser humano, vendo-o como se fosse uma pe-ça a mais, destinada a render mais.

A função da Trilogia Analítica é libertar o povo da escravidãoeconômico-social em que vive, não daqui a 50 anos, mas nestes dois,ou três anos que temos pela frente; tal tarefa é fácil e difícil ao mes-mo tempo: é fácil, porque toda a estrutura social está preparada paratal evento; de outro lado, é difícil, porque os marxistas deram umaidéia errada a respeito, incentivando a luta de classes, e dando umpéssimo exemplo na União Soviética e países-satélites.

O povo está em perfeita condição, ou melhor, está exigindo talmudança social, porque está havendo uma estagnação das ciências,artes, indústria, agricultura; atualmente, o poderio econômico, ouaté diria financeiro, açambarcou todo o mundo, colocando o ser hu-mano na ridícula posição de procurar só o dinheiro. Por este moti-vo, aumenta o número de suicídios, de delinqüência, de roubo, agres-sividade, atritos e intrigas; no velho tempo das indústrias e dos im-

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peradores era melhor viver; porque eles tinham também outros ideaismais nobres.

O povo não mudou, porque é infeliz, e está cansado de ser em-purrado para este sonho louco e inglório: ser milionário; daqui apouco tempo, os que são ricos irão ter de comer, tomar banho, aque-cer suas casas com as notas de dinheiro, olhar para elas (como sefossem quadros de arte), e erguer um altar, como se fosse uma reli-gião — evidentemente, seus cérebros estarão do tamanho de umanoz, e seu rosto disforme e horroroso, como os filmes de terror. Opovo realmente não quer continuar assim, porque os poderosos naeconomia não têm capacidade alguma, a não ser contar, em umamáquina de calcular, o nível de seu ganho; o povo está esperandoesta denúncia e aguardando avidamente o que fazer, para desman-telar essa ridícula estrutura psicossocial que dominou todos os países.

Os que têm o poder financeiro (porque a economia do mundoestá cada vez mais arruinada) incentivam a todos para seguir o mes-mo caminho, e empregam os seus poderes para impedir o floresci-mento de qualquer setor humano nobre, porque eles não têm capa-cidade alguma, a não ser agredir e pisar no semelhante, como de-mônios furiosos. Estamos no final da era mais infeliz da humanida-de moderna.

Todos aqueles que lêem e compreendem o que estou dizendo têmabsoluta obrigação de tomar uma atitude, seja falando sobre o as-sunto, seja modificando seus hábitos, para que façamos a desinver-são social, recolocando os verdadeiros valores em seu lugar certo,e rebaixando os pseudovalores que predominam agora:

E não como está agora: tudo o que existe a serviço do podereconômico-social. Aliás, é mais fácil viver do modo certo do queno errado — assim como é mais fácil caminhar de pé, do que tentarandar com as mãos no chão. Tenho certeza de que esta tarefa en-contrará acolhimento pelo povo, e absoluta rejeição das pessoasdoentes; irá ser fácil classificar os futuros loucos: basta ver se elesaceitam, ou não, esta mudança!

Pelo que podemos ver, a humanidade foi sempre enganada pe-los indivíduos que fizeram pacto com os demônios, isto é, por to-dos aqueles que preferiram viver do estrume do Satanás (o dinhei-ro), como falava Giovanni Papini em seu livro L 'Uomo Finito. Amedida que o povo for conscientizado de que o poder é só dele, come-

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çará a deixar de lado os "poderosos", que são parasitas e muitodoentes — porque o fim deles (sem o poder) é o do escárnio, poissão criaturas gravemente patológicas (individual e socialmente). Nãosabem trabalhar e, quando estão em companhia dos outros, é ape-nas para fazer valer sua "importância", que vem apenas do dinhei-ro, e não de qualidades pessoais, de caráter ou inteligência.

O que é a mentalidade capitalista?O ser humano tem mentalidade capitalista; e o que é ter tal tipo

de pensamento? Pelas descobertas da Trilogia Analítica, uma pes-soa que viva da exploração do trabalho alheio é um grande invejo-so, que deseja agredir a humanidade. Notem que realizamos umaunião entre psicologia e sociologia, entre a vida individual e a so-cial, entre o ser humano e a sociedade. Agora, não há mais descul-pa do tipo: "eu estou inserido no contexto social" ; "não posso mu-dar a sociedade".

O sr. M.B. disse em sua sessão de análise individual, que temmedo de organizar uma empresa trilógica, porque pode ser prejudi-cado pelos seus funcionários que desejariam ter poder de decisão.Aqui está clara a mentalidade do capitalismo: 1) pensando que é elequem favorece os seus empregados; 2) que sua firma não dependedos que trabalham, mas do dinheiro que ele colocou lá — em umaclara inversão.

Mas o problema maior é o da existência do mesmo tipo de idéias,nos indivíduos empregados. Poucas pessoas preferem organizar suaprópria firma, pensando que é melhor permanecer como emprega-dos; acreditam que, assim, têm todas as garantias patrocinadas pe-la empresa — de modo geral, o homem se coloca nas mãos das pes-soas paranóicas, agressivas e mentirosas, devido ao seu próprio pro-blema de inveja e inversão; vamos dizer que, no dia em que ele tiverpossibilidade, fará a mesma coisa que seu patrão.

Conversando com um religioso, partidário da Teologia da Li-bertação, contou-me que não entendia por que o indivíduo oprimi-do, assim que consegue melhor posição, torna-se opressor. E claroque, se não houver a conscientização dos próprios problemas, "aemenda se tornará pior do que o soneto", conforme diz o ditado.

De modo geral podemos dizer que o pobre é tão invejoso comoo rico; o que ele quer não é a justiça social, mas a posição de explo-rador que vê no capitalista. Se o trabalho social for realizado nestesentido, de colocar um contra o outro, não sairemos de uma atitudede incentivo da paranóia individual e social. O que eu mesmo vi naUnião Soviética foi a existência de um povo carrancudo e invejoso,

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corrupto e bêbado — bem semelhante ao americano, que se corrom-peu pelo dinheiro.

A humanidade vive em constante atrito, porque um grupo de se-res humanos teimam em querer escravizar o seu semelhante, paracolher toda espécie de vantagem: econômica, política e social. Pelasteorias dos sociólogos e economistas, tal grupo é denominado de se-nhores feudais, burgueses e até burocratas comunistas. No entanto,para a Trilogia Analítica, chamamos a essa pessoa de arrogantes,megalômanos e paranóicos, que pretendem ser adoradas como sefossem deuses — é um problema muito mais profundo do que pare-ce à primeira vista, não sendo uma questão apenas social, mas psi-cológica. Assim sendo, é necessário haver uma conscientização so-cial, e outra pessoal; uma análise da sociedade, ao lado da análiseindividual.

O Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels colocoutodo esse problema como se fosse uma luta econômica da classe bur-guesa para oprimir o proletariado, em seu benefício; analisandoquem seriam os capitalistas atuais, imediatamente notamos que nãoexiste um grupo especial na sociedade, mas constitui um desejo uni-versal de domínio, que ricos e pobres, cultos e ignorantes querem ter.

E bom que todos saibam que a estrutura econômico-social estásendo usada para explorar a humanidade, quase sem exceção, pra-ticamente; não apenas as chamadas grandes empresas (multinacio-nais, ou não), até os pequenos visam ao lucro à custa do trabalhoalheio, do país em que se desenvolvem, e dos povos que têm de com-prar — como se fosse uma organização diabólica, parasitária: usamda propaganda, para superestimar o seu artigo, com a finalidadede retirar grande lucro, com sua venda. Nem sempre se importandoem fornecer uma boa qualidade, ou uma finalidade útil.

Da maneira como a sociedade foi organizada, não poderia re-sultar senão em guerras e revoluções, em lutas de classe, ódio e fú-ria de um grupo contra outro. Agora, é o burguês que explora ahumanidade; antes, os nobres é que viviam na maior regalia, tendoo povo trabalhando para eles; na Idade Média eram os feudais; ouainda os imperadores, bispos e papas — praticamente, não vemosuma época da História, que não tenha havido este grave problema.

Acredito que estamos em um período diferente, que exige umanova ordem político-social — e que a Trilogia Analítica está mos-trando, na prática, como realizá-la, seja com a sociedade e com asempresas trilógicas.

Todo o sistema social em que vivemos foi baseado no egoísmo,na psicopatologia do ser humano, para alimentá-lo ao máximo; por-tanto, a ciência tornou-se na ferramenta mais importante para a com-preensão, tratamento e desenvolvimento da sociedade. Por este mo-tivo, todas as tentativas de consertá-la, baseando-se na economia,

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sociologia, história, nas explicações raciais e religiosas, redundaramem fracasso. De outro lado, a psicanálise tradicional desviou o ver-dadeiro conhecimento da patologia humana, colocando-a em ques-tões sexuais secundárias.

Se não quisermos fazer a justiça social por bem, novos indiví-duos mal-intencionados, ou mal-orientados, a farão no sentido er-rado. Porém, sabemos que não é possível continuar assim: primei-ro, porque o ser humano não aceita mais ser explorado; segundo,porque poderá haver uma grave decadência em todas as nações, senão for realizado o bem comum. Tenho convicção de que um regi-me errôneo, por si mesmo, impede-se de fazer o bem: é o que acon-tece com o capitalismo, o socialismo e o marxismo moderno. Aliás,é muito importante que o povo note bem que os dois regimes lhesão nefastos — para não acontecer que, livrando-se de um, caia emoutro pior ainda.

Neste livro estamos mostrando (e não só propondo) o que reali-zamos, em matéria de sociedade e empresas trilógicas, socioterapiae psicoterapia de grupo e individual. Portanto, estamos no campoprático da realização, e com bons resultados.

Em minha opinião, não queremos mais loucos mandando em nós— porque não temos obrigação alguma de obedecer a pessoas deso-nestas. Chega de tanto aborrecimento em obedecer um chefe neu-rótico e mal-intencionado, uma dona frustrada e mal-humorada; nãoqueremos trabalhar para aumentar o ócio e o vício do capitalista;não estamos neste mundo para receber pontapés, e agüentar a estu-pidez dos que mandam (para roubar, ou para extorquir).

Adam Smith construiu uma teoria econômica de acordo com oespírito burguês, ao qual pertencia, pois era filho de um juiz defen-sor e interventor de alfândegas; ele mesmo estudou em Glasgow eOxford, tornando-se professor em Edimburgo. De maneira que de-fendeu o sistema político-econômico a que pertencia, ganhando rá-pida notoriedade.

De início, ele dizia que a riqueza era constituída pelos valoresdo uso — conforme se fala atualmente, pelo produto per capita. Pen-sando assim, Smith deu permissão para que os empresários obrigas-sem seus operários a produzir o máximo — deixando de lado a ques-tão humana. Em seguida, afirma que cada pessoa é mais apta e ca-paz de cuidar de si mesma do que qualquer outra. Aqui, ele conce-deu nova licença para o patrão explorar como quiser a situação eco-nômica. A terceira e mais interessante afirmação que fez, foi sobrea mão invisível: isto é, que a luta pelos interesses individuais produ-za benefícios para todos.

Adam Smith incentivou ao máximo a megalomania do ser hu-mano: dando a idéia de que o homem era bom, que poderia deixá-lo à vontade que ele não erraria, e que ajudaria seu semelhante es-

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pontaneamente — justamente ao contrário do que a psicopatologiatrilógica mostra, pois o indivíduo pretende explorar e enganar o pró-ximo, havendo necessidade de conscientização para que deixe de fazê-lo; para a maioria, é necessário mesmo de coação social, para quenão agrida. Ora, dentro de um sistema que lhe dê toda liberdadepara agir, o ser humano automaticamente escravizará o seusemelhante.

David Ricard era claramente identificado com a burguesia in-dustrial, defendendo o lucro dos proprietários, ignorando a forçade trabalho que levou Engels a vê-lo dotado de grande cinismo. De-pois surge Karl Marx, preguiçoso e parasita da própria mulher, querevaloriza novamente o dinheiro, vendo-o como se fosse uma mer-cadoria que, inclusive, poderia engendrar mais dinheiro; por essemotivo, seu livro máximo teve o nome de O Capital. Vê-se agoraos países marxistas endividados, e o povo soviético portando rublos,e até dólares, mas não tendo quase nada o que comprar. No mundoocidental, o povo é escravo dos capitalistas particulares, e na UniãoSoviética é escravo do capitalismo do Estado. De maneira que o idealdos marxistas é o de pertencer ao Partido, e participar do governo,para explorar o seu povo e o seu país — exatamente como agemos capitalistas.

A Escola de Frankfurt através de Adorno (1903-1969) e Hork-heimer (1895-1973) viu a cultura a serviço da indústria capitalista— o que não deixa de ser verdade. Em nossa opinião, não se trataapenas de um fenômeno atual da burguesia, porque a cultura anti-ga estava ligada aos interesses dos nobres e dos religiosos, e o pró-prio helenismo reflete o sistema político e econômico da Grécia An-tiga. Porém, não podemos afirmar que a cultura, em seu sentidofundamental, seja proveniente dos interesses sociais escusos; a arte(e a cultura) é o fruto do gênio artístico, que pode ser impedido edeturpado, pelo tipo de regime político dominante no país — masjamais sendo o seu resultado. Como prova disso, vemos os indiví-duos voltados para esse campo, contestando o tipo de sociedade emque vivem, ou se isolando em bairros (Montmartre, Greenwich Vil-lage, Soho); de qualquer modo, lutando contra os poderosos de seutempo (Kant, Mozart, Beethoven, Voltaire, Rousseau). Sem a per-cepção da inveja, é difícil acertar em uma opinião; e me parece quea Escola de Frankfurt não contou com essa conscientização.

A Economia Política foi criada por Adam Smith, Ricard, JohnM. Keynes, Kalecki, Robinson, Sraffa e Marx, com a finalidade depreservar o poder nas mãos dos indivíduos espertos, agressivos e de-sonestos. É evidente que é muito difícil perceber tal fato — mas éfundamental conscientizá-lo para que a humanidade finalmente al-cance a sua felicidade terrestre.

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Crítica à economia socialista e à marxistaDurante muito tempo tentou-se realizar um estudo sobre a vi-

da social, com um resultado medíocre, devido ao uso de uma etio-logia errônea; de todos os sociólogos, o que mais acertou no estudocrítico da sociedade foi Karl Marx, em seu trabalho Crítica da Eco-nomia Política. Porém, ele entregou o poder econômico-social aoEstado, ao criar a pior ditadura de todos os tempos, isolando-se doresto do mundo, e construindo uma Cortina de Ferro para os povosdominados; assim, colocou o poderio militar para garantir o seu po-der. Por esse motivo, Stalin aprisionou 16 milhões de russos, fuzi-lou 1 milhão e deixou 5 milhões perecerem à míngua; quando mor-reu, havia 10 milhões nos campos de concentração e cárceres daUnião Soviética. Deste modo, podemos ver que há uma grande di-ferença entre a crítica que Marx realizou na Economia Política e aorganização social que idealizou — pois ele não aceitou enxergartoda a inveja que sentia das pessoas que retinham o poder capitalis-ta, pretendendo se apossar desse poder. O resultado todos nós sa-bemos: um grupo de burocratas dominou a economia e o poder po-lítico conjuntamente.

Fala-se constantemente que a virtude está no meio; neste caso,temos de ver tanto o capitalismo como o marxismo (e o socialismo,em geral) como sistemas errôneos — pois se o primeiro é a explora-ção do homem pelo homem, o segundo (e o socialismo) é a explora-ção do homem pelo Estado. Não é somente a União Soviética queretira toda a riqueza do povo, mas. países como a Suécia, Alema-nha, Áustria e até a França atual (Mitterrand) subtrai de seus povostudo o que podem — mesmo que prometam fornecer o melhor se-guro social e ajude a desenvolver o país. Porém, a população dessasnações não está contente com sua situação. Quando eu morei na

Áustriapor três anos, os médicos diziam que o regime socialista oferecetudo ao cidadão, mas retira-lhe todo o incentivo para o trabalho,porque limita totalmente seus lucros; ele, por exemplo, com 33 anos,só poderia melhorar um pouco aos 58 anos, quando fosse assistentedo professor, e arranjasse uns clientes particulares do exterior; e is-so, se tudo corresse bem, como estava prevendo. O que nós propo-mos pela Trilogia Analítica é que cada um seja "dono " de sua em-presa, aumentando seu lucro, se ela aumentar seus rendimentos (re-gime mais ou menos capitalista); mas ao mesmo tempo, ele não te-ria nenhum capital (regime mais ou menos socialista). A revista TheEconomist, 10 de Janeiro de 1986, traz na capa: E este o ano dodesaparecimento do monetarismo? E o artigo começa dizendo: "Cor-rompa a moeda, disse Lenin, e o capitalismo vai ter um colapso".— "só que ele esqueceu de incluir também o marxismo, pois tantoos capitalistas como os comunistas baseiam seu poder no capital.

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O grau de ingenuidade de Karl Marx é deveras impressionante!Em seu livro A Origem do Capital (A Acumulação Primitiva), pág.11, 12, praticamente considera o regime capitalista, como sendo oresponsável por todos os problemas atuais da humanidade. Aliás,fala dele como se fosse o próprio pecado original: "A acumulaçãoprimitiva desempenha na economia política o mesmo papel, poucomais ou menos, que o pecado original na teologia. Adão mordeua maçã, e o pecado surgiu no mundo". "A história do pecado ori-ginal faz-nos ver, é verdade, como e porque o homem foi condena-do pelo Senhor a ganhar seu pão com o suor de seu rosto; mas ado pecado econômico preenche uma lamentável lacuna, revelando-nos como e porque há homens que escapam a esta ordem do Se-nhor." O genial sociólogo não conseguiu ver o que está atrás destaatitude, de espoliação capitalista, ou seja, a psicopatologia (inveja,ódio, cobiça), pertencente a todo ser humano, e realizado com a má-xima intensidade, através do poder social — e não só econômico,como querem crer todos os marxistas.

O motivo por que estou escrevendo este livro sobre os podero-sos está relacionado à sociopatologia que eles criaram na vida so-cial, impedindo o seu desenvolvimento. Portanto, não é só o siste-ma econômico que está errado, mas todo o processo social. Isso ex -

plica a causa do fracasso do marxismo na União Soviética, seus sa-télites e China comunista: a economia foi modificada, mas o podercontinuou nas mesmas mãos cobiçosas, idênticas à dos capitalistas.

Parece-me que Marx e Freud se parecem muito no desvio quefizeram, o primeiro, quanto à vida social, e o segundo, na psicopa-tologia. A ciência psiquiátrica vinha percebendo a mania de gran-deza dos doentes mentais (Krãpelin, Köhler ), e Freud escondeu is-so, colocando a problemática no sexo. Karl Marx fez o mesmo:Proudhon notou todo o perigo dos poderes constituídos, quandoo famoso sociólogo (Marx), o desviou para o poder econômico (ca-pitalismo). Porém, estamos ainda em tempo de retomar o caminhocerto, e conseguir o êxito, que não obtivemos até agora. Em todocaso, não é necessário criar o anarquismo, como queria Proudhon,

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mas tirar este tipo de poder econômico (que têm os poderosos), pe-la modificação da sociedade: organizando as comunidades e empre-sas trilógicas — que têm consciência de seus erros (teomania, mega-lomania e narcisismo), para segurar a loucura de seus dirigentes. Decerta forma, não seria eliminar os chefes, mas contê-los dentro doslimites normais, pela modificação da estrutura social.

Em uma sociedade, na qual o poder econômico, militar, religio-so fiquem em posição secundária, o governo tem de se submeter àvontade do povo, e às necessidades sociais de cada instituição —não podendo usar mais do poder econômico (ou militar, ou, religio-so), para submeter o povo a suas loucuras.

Pelo que eu presenciei na União Soviética, o que a Revoluçãode 1917 realizou foi um nivelamento por baixo; de imediato, tem-sea noção que a grande vitória do marxismo foi a da inveja. Tudode bom que o país tem (museus, igrejas, palácios) foram construí-dos pelo regime anterior, ou seja, pelos czares (imperadores e no-bres). O povo que habita agora aquela nação é de uma incrível nuli-dade; tenho a impressão de que todos os indivíduos de valor que apa-reçam por lá são imediatamente sufocados, até que desçam ao mes-mo plano de mediocridade de todos os outros — como acontece ge-ralmente no serviço público. De outro lado, os que têm o podereconômico-social têm de usar todos os recursos militares, para tam-bém não serem atingidos pela inveja dos seus patrícios. Não conhe-ço país algum marxista, cujos dirigentes sejam amados pelo povo— assim como não tenho conhecimento de um só milionário esti-mado pela população.

O jornal The New York Times, Segunda, 3 de Fevereiro, 1986,traz um artigo de James M. Markham de Paris: Comunistas na Eu-ropa Ocidental: partidos de poder único estagnam. Partidos comu-nistas na Europa Ocidental que nasceram há sete décadas no recen-te entusiasmo da revolução russa estão em péssimas condições deparalisação e declínio, de acordo com políticos do Oeste europeue comentaristas políticos... o poderoso partido comunista italianodeverá apresentar uma nova doutrina chamada eurocomunismo..."

Pelo que vemos, o entusiasmo pela revolução soviética está de-clinando, cada vez mais, a ponto de se pretender criar um novo par-tido comunista europeu. Aliás, falou Giorgio Napolitano, o líderparlamentar do partido em Roma: "Por muitos anos eu estava con-vencido que as antigas diferenças entre os movimentos comunistase socialistas não eram sustentáveis " (no mesmo artigo) o que signi-fica que o comunismo é um socialismo mais prejudicial ainda parao povo.

Não podemos nos esquecer de que não são todos que sabem ga-nhar dinheiro; neste sentido, Adam Smith estava certo; o que é fun-damental é estabelecer um sistema econômico justo, no qual os mais

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capazes ganhem mais, e os que não têm ambição recebam tambémuma quantia razoável. Este é o fundamento das empresas trilógi-cas, que são organizadas para dar lucro a todos, e não só a alguns.Afinal de contas, uma porção da população age como se fosse umacriança, desvalorizando completamente o dinheiro, que constitui abase de nosso sistema econômico.

Se grande parte da humanidade passa fome, vive na miséria, édevido ao controle que o poder econômico-social exerce, no sentidode impedir que o alimento seja usado em benefício do ser humano.As sobras alimentícias, de cada dia, que o americano joga fora, da-ria para alimentar a China por cinco dias; imaginem agora todo oalimento no mundo que é queimado, estocado, para aumentar depreço; a quantidade incrível que apodrece nos silos, o trabalho demilhares de fazendeiros, que é brecado, para que não produzam oexcedente — "excedente" no preço, e não segundo as necessidadesdo povo.

A filosofia de vida que vigora na sociedade dá a idéia de queo que é útil para mim, é prejudicial para os outros, e o que benefi-cia o próximo, prejudica minha vida — lançando o ser humano emluta, um contra o outro, desde o início da existência. O resultadodesse modo de pensar, todos sabemos: doenças orgânicas e psíqui-cas, morte prematura, agressões, mal-estar, angústia e tensão. Oscultores da psicologia e da psicopatologia podem criar todas as teo-rias possíveis, para resolver o problema da neurose-psicose, mas se-rá impossível chegar a qualquer resultado melhor, se não for resol-vido este terrível problema social — mesmo que ele tenha origemno psicológico. De tal maneira diabólica ele está engendrado, quecriou-se um círculo vicioso infernal.

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A patologia dos seres humanos mais doentes criou a estruturasocial injusta e desumana, que é uma sociopatologia, e esta é a so-ciedade em que vivemos que, por sua vez, obriga a todos os que nas-cem a se encaixar em tal situação, totalmente irregular e doentia.Assim sendo, o homem não tem o conhecimento de como seria umasociedade diferente; geralmente nem tempo tem para melhorar suacultura; é mergulhado no jogo de interesses dos poderosos e perma-nece alijado da verdadeira existência — e o pior de tudo, sua vidatranscorre em total alienação (inconscientização), com a perda deseus valores — um processo gradativo de endemoninhamento, pelomenos, como se entende, o que é ser demônio.

Por tudo isso, temos de parar com esse círculo vicioso, se dese-jamos ter uma vida digna de ser vivida; temos de conseguir uma or-ganização econômico-social controlada, segundo os interesses do po-vo e não de alguns poderosos; temos de conseguir trazer líderes pa-ra a nossa causa, que trabalhem para o bem comum, e não parao de alguns particulares; e precisamos, acima de tudo, que o povoconscientize essa situação, para que ele veja que há esperança e be-leza na vida, caso perceba esta possibilidade de mudança.

Tenho enorme confiança no povo americano, que sempre foiidealista, e formou seu país dentro dos mais belos ideais da huma-nidade, ou seja, pelos princípios da liberdade, igualdade e fraterni-dade; mesmo que muitos deles tenham amortecido tais desejos, ésó uma questão de despertá-los porque, o que existiu um dia, nosentido de realização humana, jamais será destruído.

O indivíduo, que tem poder, tem de estar sempre acuado, paraque não cometa injustiças; imaginem agora os que têm o podereconômico-social, e ainda vivem elogiados: sua megalomania e nar-cisismo crescem tanto, que se torna impossível segurá-los em suasinjustiças. Porém, se os Estados Unidos conseguiram deter os po-derosos na política, por que não poderiam controlar os indivíduosdo poder econômico? Quem segurou os mais capazes, não poderácontrolar os menos? Por que os Estados Unidos, após a II GrandeGuerra tornaram-se o país mais desenvolvido? Por dois motivos prin-cipais: 1) porque têm um sistema político, que consegue controlaros seus membros; 2) porque evitou que o político avançasse sobreo econômico, tornando-se dois sistemas separados. Os três sistemasbásicos de uma nação (político, religioso e econômico) têm de coe-xistir, independentes um do outro, mas controlados por leis inter-nas — e não como aconteceu aqui, com o econômico livre, sem re-gulamentos que coíbam o seu poder. Vamos dizer que os três sãoautônomos entre si mas, ao mesmo tempo, interdependentes, o quesignifica que: 1) um não pode prejudicar o outro; 2) não pode termais poder que outro; 3) e ao mesmo tempo, cada um deles deveproteger e ajudar o outro.

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Juhed Abuchechin, M.D. realizou um estudo A Síndrome do Po-der, onde escreveu à página 5: "Descoberta e sintetizada em 1950,na Itália, a serotonina apresenta numerosas ações no corpo huma-no. Ela aumenta a concentração do pigmento melanina, gerando oescurecimento da pele; diminui a temperatura do corpo (e hipotér-mica); aumenta a formação do colágeno (proteína responsável pelaconsistência, sustentação e conformação dos tecidos) provocandouma espécie de inchamento nos tecidos, pela dilatação dos vasos co-ronarianos". "Os indivíduos que estão em uma atitude má(recusando-se a ouvir o que as outras pessoas lhe mostram, não que-rendo ver seus erros, em uma postura arrogante e afrontosa) adqui-rem de um dia para outro uma coloração marrom, um aspecto in-chado e hipotérmico". (Relatado pelo jornalista José Ortiz, em26.1.1986).

Richard N. Farmer escreveu o livro Benevolent Aggression(Agressão Benevolente), onde narra o progresso que o poder eco-nômico traz para as nações; se tal idéia fosse certa, qualquer paíspara ser desenvolvido, teria de ter indústria forte de automóvel, aço,máquinas, tecidos, avião, etc — o que seria absolutamente impossí-vel, já pela lógica. A organização econômico-social está construídade modo errôneo, porque ela visa dar lucro aos que têm tal poder,e não ao trabalhador e ao povo. Vamos supor numa fábrica qual-quer: é evidente que os seus proprietários preferem colocá-la em umanação distante da sua, para colher maior lucro — e, ao mesmo tem-po, este último povo colherá vantagens com isso. Mas se a estruturaeconômica fosse voltada para o bem da humanidade, nem todo paísprecisaria ser industrializado, e fábrica alguma seria obrigada a semudar para outro local.

Vendo-se o aspecto técnico, sabemos que é mais fácil desenvol-ver o indivíduo já habituado a um trabalho, do que iniciar na esta-ca zero com outro; existem povos mais hábeis para as artes, outrospara as ciências, outros para os esportes. Não é necessário que cadanação seja industrial, agrícola, científica e artística, porque isso uni-formiza a humanidade, mediocriza o homem; é o poder econômico-social o responsável por este triste rebaixamento do ser humano, por-que ele não tem alcance e grandeza mental, por visar só ao lucroeconômico; todo país que é invadido por esse tipo de poderoso, empouco tempo é destruído em seus verdadeiros valores — mesmo quesua economia melhore; em pouco tempo, o povo se torna violentoe descontente. O livro de Richard N. Farmer usa o nome AgressãoBenevolente, o que significa que o seu autor viu que tal poder éagressivo.

Analisando-se os países árabes, por exemplo, vemos um Líba-no, cuja capital era chamada de País do Oriente Médio (Beirute),totalmente destruída, não é difícil ver atrás disso tudo a mão do po-

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derio econômico-social. Grande número de nações nessa região pas-saram a viver em guerra, depois que o petróleo subiu vertiginosa-mente de preço. Seja no presente, ou no passado, parece que todasas guerras, todos os conflitos foram provocados por esse tipo de po-der — mesmo as chamadas guerras religiosas, de qualquer época têmesse motor principal.

É fundamental a percepção de que não é a economia, ou as fi-nanças que dão progresso a uma nação — mas elas são o resultadodo trabalho de seu povo que, durante séculos e séculos, plantou noscampos, trabalhou nas fábricas, construiu cidades, estradas e pon-tes. No outro lado dessa linha, estão as pessoas mais espertas, quese aproveitam de todo esse esforço do país, e elas próprias não têmpátria, ou qualquer amor, porque dedicam sua vida para exploraro semelhante. Pois bem, são esses indivíduos que dominam agoratoda a humanidade, porque eles conseguiram estabelecer um siste-ma de leis, que lhe dão todo o poder de decidir o que fazer, coma produção e as riquezas do mundo. Há algumas dezenas de anosatrás, o poder econômico era mais dividido entre banqueiros, espe-culadores, industriais e agricultores, atualmente, ele se concentra ca-da vez mais em um grupo diminuto de seres humanos, que podemliquidar definitivamente com a civilização.

O que geralmente chamam de poder é a total fraqueza, pois oindivíduo que precisa ser servido para viver é extremamente fraco— exatamente como os paranóicos, depressivos, maníacos e epiléti-cos que, internados em uma clínica psiquiátrica, ou instalados nasociedade, necessitam de todo um grupo de pessoas para tomar contadeles (servi-los). Mas o que eu acho mais estranho é que esse grupode doentes, semelhantes aos demônios, tomaram conta da socieda-de, estabelecendo suas leis, e escravizando a humanidade. Neste ca-so, temos de ver o que aconteceu — e a resposta é a seguinte: 1)eles têm um tipo de argumentação acusativa, ou melhor, culpam aspessoas melhores de todos os erros do mundo (total projeção); 2)preocupam-se o tempo todo com leis e regulamentos sociais — e prin-cipalmente com o poder — o que os tornam mais aptos para galgartal poder.

Eu poderia dizer que a liberdade do ser humano está correndoo maior risco de toda a História, por causa do grande aumento dopoderio econômico; cada ano, os ricos estão se tornando cada vezmais ricos, e a pobreza está se difundindo assustadoramente — oque significa que o principal poder está se concentrando em mãosde poucos indivíduos aloucados, que podem explodir o mundorepentinamente.

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Parte B

1. Origem dos males humanos

Quase dez anos depois, volto a escrever um livro sobre a socie-dade, bem diferente do primeiro (Psicanálise da Sociedade, 1976),porque este é baseado nas descobertas da Trilogia Analítica — en-quanto o primeiro foi fundamentado na psicanálisefreudiana-kleiniana . E acredito que a diferença principal está na compreensãoda psicopatologia: Freud colocou a causa de todos os problemas navida sexual, e nós a colocamos nas atitudes de inveja, na megalo-mania, na teomania, e na inversão; como, na prática, os clientes ob-têm melhor resultado com estas hipóteses, penso que na vida socialacontecerá o mesmo. Aliás, temos 3 sociedades funcionando per-feitamente em Nova Iorque nesta base, e organizando empresas tri-lógicas (no Brasil e Estados Unidos).

E bom que se explique que nós vemos a causa da neurose e difi-culdades sociais, em uma atitude do ser humano: de negação, omis-são, ou deturpação da realidade, por causa da inveja e cobiça. Éuma hipótese bem contrária à dos psicanalistas tradicionais (Freud,M. Klein, W. R. Bion), que colocam a etiologia dos problemas emfatores naturais (instintos e pulsões). Assim sendo, mostramos queé possível recuperar o homem e a sociedade; basta uma mudançana conduta, uma alteração da vontade — porque não estamos fati-dicamente ligados a uma destruição natural (instinto de morte, co-mo falava Freud).

Sempre existiu grande discussão sobre a origem dos males hu-manos, até que surgiu Freud, demonstrando a existência de proble-mas intrapsicológicos. De outro lado, os sociólogos afirmaram quea sociedade é que prejudicava o homem. A psicanálise fracassou,os sociólogos também não sabem atualmente o que fazer — claman-do por um novo caminho. E o que estamos trazendo: uma ciênciameio-termo entre o psicológico e o social, porque explica os dois,

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com as mesmas hipóteses. Aliás, somente dentro de uma teoria cer-ta será possível colocar o social no seu verdadeiro caminho.

Desde que nascemos somos constrangidos a viver uma vida so-cial totalmente patológica; evidentemente, não conseguimos nos en-caixar, desde que, por natureza, não somos monstros. Se estamosem um país ditatorial, somos pressionados pelos militares (classe pa-ranóica, por excelência), e pelo poder psicótico do ditador; se esta-mos em uma nação capitalista, ou comunista, somos "escravos" dosseus interesses econômicos. As cidades estão sendo reduzidas a umcentro de comércio e negócios, para dar mais lucro aos poderosos;teatros, museus, jardins bonitos, casas de arte estão sendo poucoa pouco substituídos, por supermercados e hiperlojas, que eviden-temente não são para o povo lucrar.

É absolutamente impossível haver sanidade psíquica, vivendo-se em uma sociedade doente; a psicanálise vem fracassando porquecoloca a causa de todo mal no interior psicológico, ignorando queo ambiente anormal provoca enorme quantidade de tensões.

Thomas Hobbes disse que o homem é lobo a outro homem; eupessoalmente penso que a instituição social é uma cobra venenosacontra outra — levando de roldão os seres humanos. Abrindo umjornal qualquer, notamos a existência de uma verdadeira "guerra"de um país contra outro (Estados Unidos-União Soviética, Irã-Iraque, Síria-Líbano, Israel-países árabes); de facções contrárias,dentro de uma mesma nação (católicos-protestantes, no Eire; milí-cias pró-Síria contra semitas fundamentalistas, no Líbano; brancose pretos na África do Sul); no campo da política (Republicanos eDemocratas, na USA; socialistas e democratas na Europa; comu-nistas e democratas, no mundo todo).

As instituições tornaram-se universais e, à semelhança dos anti-gos imperadores, que declaravam guerra, e mandavam o povo lutar— tais organizações vivem em verdadeiro pacto entre si, tentandotirar do povo tudo o que podem: nós (o povo) sofremos uma contí-nua agressão das empresas, instituições e governo. Como é possívelter uma vida sã, assim? São as firmas de carros que nos prometemvantagens paradisíacas; as fábricas de cigarros e bebidas que nos ga-rantem o sétimo céu; as companhias de aviação, de transporte, deconstrução, que despejam em nossa mente uma avalanche de men-tiras e tolices, como se fôssemos bobos.

Desde que nascemos, entramos em contato com a corrupção so-cial desbragada: se somos filhos de pais ricos, aprendemos que oideal é o roubo e a desonestidade; se nossos pais são pobres, sofre-mos de grande inveja e cobiça. Esta é a nossa escola: o engano ea corrupção; mesmo para uma pessoa supernormal (Cristo e os san-tos), não é possível habitar este planeta, sem ter vontade de pegar

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um chicote, e bater em toda essa classe de indivíduos, que retêm opoder.

O ser humano vive entre duas pressões: a primeira, do ambientesocial, e a segunda, de seu interior psicológico.

De modo geral, podemos dizer que os dois exercem forte atua-ção: a) porque a estrutura social é errônea, colocando o ser huma-no sempre em choque; b) a vida psicológica, esposando idéias errô-neas, e não percebendo os seus maus "sentimentos", acaba por des-nortear completamente a pessoa. O resultado deste verdadeiro campode luta são as doenças físicas e psíquicas, as desavenças sociais, oscrimes, roubos e delinqüências em geral.

Alguns que me lêem poderão se sentir um tanto desnorteados,porque sabem que a sociedade é algo diferente da pessoa, mas, ea vida psicológica? A explicação é que temos o que denominamosde consciência (no seu sentido de compreensão e de moral), que es-tá em contato imediato com a realidade, e os pensamentos e senti-mentos, que podem se desviar, criando um conflito interno muitogrande. O que pensamos erroneamente, o que negamos, omitimos,ou deturpamos caem sobre nós, prejudicando-nos. E por esse moti-vo que o indivíduo equilibrado não faz questão do poder; só quemé muito doente é que se apega aos cargos de mando, para compen-sar suas deficiências psicológicas.

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2. Suicídio coletivo da humanidade

Leitor, você já pensou para onde vão indo tantas pessoas de ma-nhã, apinhadas nos ônibus, trens e carros? Homens, mulheres e atéadolescentes estão se encaminhando para milhares de empresas par-ticulares e públicas, para ajudá-las a explorar a humanidade — ea eles mesmos, que são também consumidores. Não digo que elas(as empresas) só exploram, produzindo artigos maléficos ao homem (ci-garro, bebida), mas tudo o que produzem serve apenas para os que sãoproprietários. Por exemplo: uma fábrica, que produza carros, rou-pas, sapatos, móveis, está trabalhando para o interesse de seu pro-prietário, para que ele tenha poder social. Depois, ele se une aosdirigentes do país, organizam leis para proteger seus bens, os gover-nantes criam dívidas, e se unem a ele, para o povo trabalhar, paraaumentar a riqueza — e eles, governantes e empresários, ganharemmaior poder econômico e social.

Deste modo, criam-se dois grupos: o povo, de um lado, e os po-derosos de outro, que escravizam a população de um país, a trocode um salário vil; para conseguir adeptos desse processo explorató-rio, pagam um pouco melhor ao pessoal administrativo, e estes exer-cem o papel de fiscais e feitores dos que trabalham. Vamos dizerque a humanidade não melhorou em nada: os mesmos escravos queserviam aos antigos gregos e romanos, os servos da Idade Média,os escravos e operários da fase industrial são idênticos a todas aspessoas atuais assalariadas.

O processo salarial é o seguinte: os poderosos reúnem-se paraestudar o quanto é necessário pagar, para que se consiga um grupode indivíduos para trabalhar: 1) que aceitem tal condição, sem mui-ta discussão; 2) e que sejam produtivos, o suficiente para gerar lu-cro. Em seguida, criam escolas técnicas, de preferência, talvez al-guns clubes, assistência médica, enfim, uma série de migalhas, para

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dizer que são generosos. Com essa atitude, inundaram o mundo comuma literatura aparentemente científica, que lhes dá toda a forçapara continuar no seu processo de exploração.

Você já pensou que está dedicando a sua vida para enriquecere dar poder a um grupo de indivíduos, que se fazem de deusinhos?E o mais importante é que temos, agora, todas as condições paraalijar nossos carrascos de sua posição de mando, para viver em umasociedade feliz. Dizem que o poder corrompe; não é bem isso —são os corrompidos que procuram o poder, porque eles não queremviver do trabalho honesto. Depois, só o fato de estar em uma posi-ção de mando sem limite, é por si algo tão patológico que o indiví-duo se torna muito mais doente ainda. Se o mundo teve uni rei Sa-lomão justo e sábio, o que vemos, em sua grande maioria, é um pu-nhado de paranóicos, esquizofrênicos, depressivos e epiléticos pi-sando nos povos. Basta lembrar Nero, Calígula, Henrique VIII, Sta-lin, Hitler, os generais das ditaduras sul-americanas. Existe um di-tado que diz: quem sabe faz, quem não sabe, ensina; é o que acon-tece nas Universidades, que acolhe os piores profissionais de cadaárea, dando uma péssima orientação aos seus alunos. Em qualquerempresa, os funcionários mais dispensáveis são os denominados pelosamericanos, colarinhos brancos, isto é, os que dão as ordens; se elesum dia não comparecerem ao serviço, poucos notam, ou até se sen-tem aliviados; mas se uma simples faxineira falta, todos se ressentem.

W. R. Bion, famoso psicanalista inglês disse que o povo geral-mente escolhe os indivíduos mais loucos, para os dirigirem; eu acre-dito mais que são os mais doentes é que procuram tal posição, paraalimentar a própria teomania e megalomania. Os mais sãos estãocontentes com o que têm. Outro fato muito significativo: em gran-de parte, as leis foram organizadas para coagir o povo, e não ospoderosos; se um faminto roubar um queijo, para se alimentar, épreso e condenado — mas se um dos poderosos matar, roubar, tor-turar ou caluniar, é em "benefício" da nação. Atualmente, o ame-ricano está escrevendo muito sobre vidas famosas, de preferênciaartistas de cinema e personagens políticos; e o que temos visto é umdesmascaramento de pessoas que foram consideradas intocáveis, san-tas e perfeitas — o que significa que o povo não quer ser maisenganado.

A ciência está atrasada: os foguetes e os aviões, constantemen-te, falhando; os computadores não estão cumprindo toda a espe-rança que lhes foi depositada; as máquinas estacionaram em um certonível de desenvolvimento; as casas e prédios são construídos sem mui-ta imaginação; os meios de difusão estão parados; de modo geral,a humanidade estancou seu processo de crescimento. E, se ela estáassim, é porque o ser humano fechou todos os caminhos para o seuprogresso, ou melhor, a indústria, agricultura, religião, Universi-

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dade, ciência esgotaram suas possibilidades. É tempo de escolheroutro caminho, ou melhor, de perceber o que a Trilogia Analíticachama de inversão — se o mundo se desinverter, todos os seus pro-blemas serão resolvidos.

Quando se vê a exploração espacial, notamos que, infelizmen-te, toda a verba utilizada, nessa atividade, é usada para desenvolverarmas, no sentido de atacar outros países. Estive no Cabo Canave-ral para assistir à subida da Shuttle em 11.85 às 19,29 horas, e pudeconstatar que a Nasa está comercializada: em sua missão espacial,ela coloca em órbita satélites encomendados por outros países, oufirmas especializadas. O último ideal americano, pouco a pouco, vaipassando para o campo econômico, que está dominando toda asociedade.

A escola é organizada em forma de servir aos interesses dos po-deres constituídos, e não ao povo, e a nação. As matérias estuda-das, chamadas de currículo, o número de escolas de primeiro e se-gundo grau, as Universidades são formadas de acordo com o mes-mo tipo de interesse. Assim sendo, alunos e professores têm de apren-der e ensinar, não o que sabem e querem, mas o que é conformeo desejo dos poderosos. Se faltam técnicos no país, criam-se cursosespecializados; se faltam professores, escolas para formá-los, e as-sim por diante.

Em um jornal brasileiro do dia 17.9.85 li a notícia de que foidescoberto um grande foco de cupim no Teatro Municipal de SãoPaulo; em Nova Iorque observa-se com tristeza o mesmo fenômenode deterioração dos prédios antigos, na região mais bela de Manhat-tan (West Side). Se o leitor notar bem, verá que não se constroemmais os palácios, teatros e museus do passado; a arquitetura prati-camente acabou, sendo substituída por armações de ferro e vidro,nos edifícios que abrigam só centros de especulação (bancos, caixase lojas). Podemos dizer que o último período construtivo da Histó-ria da Humanidade foi o da nobreza, porque os imperadores dese-javam perpetuar sua vida aqui, através dessas maravilhosas cons-truções. Atualmente, o ser humano consome o seu tempo de vidapara fabricar tudo o mais barato possível, para ganhar mais dinhei-ro. E os artesãos, artistas, arquitetos são abandonados, e toda a so-ciedade se mediocriza.

Thomas Hobbes falou que o ser humano é lobo ao seu seme-lhante; eu acredito que os poderes econômico-sociais organizaramum sistema que até obriga haver essa luta de um ser contra outro.Outro fator importante é que estamos impedidos de dar afeto, por-que cada atividade social está ligada a um interesse econômico —e não podemos realizar bem algum porque: ou estaremos passandopor cima da tarefa de alguma pessoa, ou o próprio indivíduo queseria beneficiado prefere receber o auxílio "oficial"; primeiro, por-

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que poderia perdê-lo (seguros sociais), segundo, porque sempre foiatacado em sua vida, e não compreende como um semelhante gos-taria de ajudá-lo gratuitamente. Vivemos em uma situação socialinfernal.

Se o leitor prestar atenção, verá que o número de pessoas intri-gantes, e que estabelecem um clima psicológico ruim, é menos doque 10% da população, isto é, são os mais doentes; porém, eles con-seguem agitar toda a sociedade ao redor, por falta de conscientiza-ção de tal fato. Os indivíduos mais sãos não conseguem imaginarque existem pessoas capazes de afirmar, com toda a "convicção",os maiores disparates que têm na mente, que acreditam nas própriasfantasias, vivendo em um verdadeiro delírio interno. Por este moti-vo, é fundamental que se conheçam os princípios da psicopatolo-gia. O pior é que os paranóicos lêem bastante, e costumam projetartodos os seus problemas no próximo, ainda acusando-os de causade suas dificuldades. Os seres humanos mais equilibrados, que sãoa maioria, precisam aprender a se defender; caso contrário, irá sermuito difícil a construção de uma sociedade certa.

De tal maneira a sociedade está organizada que, cada pessoa vi-ve para pegar o que puder para si mesma; Heidegger mostrou bemem seu livro Ser e Tempo três aspectos fundamentais sobre a exis-tência: facticidade, existencialidade e ruína, ou seja, o estar no mun-do, sem que a própria vontade tenha participado; a apropriação dascoisas, e o desvio que cada pessoa pode realizar ao projeto essencialda vida. Como conclusão ele diz que, para encaminhar-se na dire-ção do ser, é necessário desvendar a existência autêntica, (Corvez,M.: La Philosophie de Heidegger). E a autêntica existência é a rea-lização do belo, do verdadeiro e do bem.

A civilização é organizada do seguinte modo: cada campo, o cien-tífico, o pedagógico, o político, e o social em geral, determina o queo ser humano pode, ou não pode fazer; o que podemos ou não es-tudar, aprender; o que podemos fazer no trabalho, com nossa casa,com a família, e conosco mesmo. E como as pessoas que organiza-ram a sociedade eram os donos do poder, fizeram tudo, visando pro-teger os seus interesses.

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Este esquema mostra que temos de escapar deste tipo de estru-tura; afinal, somos 99 por cento dominados por 1 por cento, quan-do muito! Parece-me que os homens precisam de líderes, que lhesfalem o que poderiam fazer. Exijamos que os líderes sejam hones-tos, e assim faremos uma sociedade sã.

E voz corrente nos Estados Unidos que Thomas Jefferson se ba-seou no ensinamento dos índios americanos, quando se referiu à ne-cessidade de reduzir os poderes dos seus chefes. Sabemos que talmedida foi de valor fundamental para o Sistema Político deste país— e se for aplicado a todos os outros sistemas, principalmente aoeconômico, poderá ser a salvação da sociedade humana.

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3. Necessidade de perceberos erros sociais

Você, leitor, conseguiria pensar que, desde que nasceu, foi en-ganado pelas outras pessoas, deliberadamente ou não? Sabemos quea maior parte não tem idéia de que está inteiramente enganada —ou porque nunca questionou a sociedade em que vive, ou devidoa estar acomodado a uma situação econômico-social folgada. Po-rém, em ambos os casos, tais indivíduos sofrem pesadas conseqüên-cias: doenças físicas ou psíquicas e enorme insatisfação. Como re-sultado, a maior parte da humanidade se entrega à bebida, ao ex-cesso alimentar, ao sexo, roubo, calúnia, ao ócio. Não podemos nossentir bem em um ambiente social patológico.

A psicanálise vem estudando, desde o final do século passado,a etiologia das doenças — até que chegamos aos problemas de inve-ja, arrogância, narcisismo e megalomania. Pois bem, se a análiseindividual e de grupo fossem suficientes, a humanidade já teria "en-trado nos eixos", como se fala. Se tal não aconteceu, é porque vive-mos em uma estrutura social patológica também, que não permiteque sejamos sãos. Estamos vivendo em um ambiente tão mórbidoque somos obrigados a acompanhar as outras pessoas, se não qui-sermos ser isolados; é o mesmo que acontece em grupos de bêba-dos, cocainados, ladrões, que só aceitam em seu seio os que pude-rem acompanhá-los em seus vícios. A humanidade toda depende deinstituições que vivem da mentira e do engano, e que nos obrigama ser assim. Por esse motivo, a criança é ingênua, o jovem idealistae o homem maduro geralmente velhaco, por se corromper com otempo, e, de maneira geral, infeliz.

Por que os indivíduos contestadores são vistos com admiração?Desde a década de 1950 os jovens, os estudantes, os intelectuais eos operários (os que trabalham) não agüentam mais conviver coma hipocrisia social, tapeados pelos poderes constituídos — que nos

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impingem uma idéia totalmente falsa da realidade, para que conti-nuemos abobalhados; no máximo, as instituições nos permitem: ojogging e os esportes, freqüentar alguns museus e bibliotecas, e tra-balhar para o próprio alimento, moradia e roupa.

Todo o assunto fundamental nos é vedado, ou seja, o destinode nosso país, suas indústrias e agricultura, sua ciência, seu exérci-to. Tudo está organizado assim

Esta é, de modo geral, a organização social em que "vivemos":o povo sustentando todas as instituições — tendo apenas uma rega-lia: escolher o presidente de todas elas, enquanto um desses gruposinferiores não avança no poder total.

A sociedade humana deveria estar organizada assim:

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É claro que são dois esquemas muito superficiais, mas eu os fizpara dar uma idéia de como deveria estar organizada a humanida-de. Muitos poderiam objetar que o povo não teria capacidade deorientar ministros, militares, religiosos, professores, etc. — ao queeu respondo que justamente o povo é que teria possibilidade de orien-tar — se não lhe fosse subtraída tal prerrogativa pela camada deindivíduos espertos que avançaram no que não era deles.

Temos obrigação de fornecer ao povo tudo o que pertence a ele(e não aos pequenos grupos), o conhecimento, e principalmente aconsciência de sua função — para não acontecer mais o que nãoqueremos que aconteça.

Por exemplo: um grupo patológico, interessado por uma guer-ra, empurrar o seu povo, para ser bucha-de-canhão: Vietnã, Irã-Iraque; no passado, os alemães nazistas, os italianos fascistas e osjaponeses imperialistas. Aliás, povo algum é inimigo do outro po-vo, mas os dirigentes de uma nação, quando declaram guerra é queestão contra o próprio povo — porque uma guerra, seja ela qualfor, visa a "proteger" os interesses de poderosos (grupos ou pessoas).

Eu sei que estou propondo um trabalho árduo, que é o de cons-cientizar o povo; mas isto é possível, e poderá ser realizado pelo es-

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paço de 10 anos, e em qualquer país. De outro lado, você que melê não quer continuar assim como estamos até agora. Comparandoos americanos com os russos, penso que nenhum dos dois está do-minando a loucura dos que dirigem seus países — os únicos a terinteresse em continuar brigando, pois estes últimos são apátridas:o seu coração está onde jorra o dinheiro. Eles não têm afeto algum,e estão totalmente embriagados pelo poder; vocês conhecem, em todaa História, um só ditador que tivesse abnegado de sua posição, embenefício do país?

Existe uma idéia generalizada de que todo o poder adviria deDeus, um pensamento bem "teológico" , ou melhor, de quem vê to-dos os fatos em plano milagroso. Um ditador, um facínora podemter poder, um ladrão, ou um delinqüente e, inclusive, usá-lo no mausentido — o que desfaz a tese acima. Mas, com todo acerto, pode-mos dizer que todo poder advém do povo, enquanto é do povo eem benefício do povo; neste caso, poderíamos falar que tal poderveio de Deus. Mas, no momento em que tal pessoa passar a agirem detrimento da sociedade, seu "poder" poderá continuar, massua origem passou para outro setor (demoníaco?).

Eu só falo em nome da verdade, se estou nela; eu só consigo fa-zer o bem, se estou nele — e para saber onde estou, tenho que sabero que o povo pensa de mim. E o meio de o povo ter certeza do quefala é através da percepção de seus enganos.

Se a humanidade estivesse na justiça, nada mais fácil do que con-tinuar como está, para alcançar grande desenvolvimento. Como, po-rém, estamos passando por enormes dificuldades (econômicas, po-líticas e sociais), é tempo para se ver o que está acontecendo. CelsoFurtado escreveu, à página 226, de seu livro A Fantasia Organiza-da: "Havia em Cambridge um clube com uma sala de debates... tu-do levava a considerar o indivíduo como valor supremo, que o ho-mem é antes de tudo um ser político " . Este pensamento revela aloucura do ser humano de se achar um deus, capaz de criar tudoo que quiser, inclusive uma sociedade patológica que funcione.

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4. As leis foram organizadascontra o povo

O Episcopado da Colômbia falou que "a falta de respeito pelavida e pela lei tornaram-se acontecimentos comuns" (Jornal da Tar-de, 30.09.1985). Pergunto eu: — essa falta de respeito é do povo,pelas leis dos poderosos, ou é mais uma falta de respeito dos pode-rosos, que organizam a vida e as leis, de acordo com os seus interes-ses escusos? Neste caso, será que temos alguma obrigação' em res-peitar qualquer lei, qualquer regulamento? Evidentemente, que não.No entanto, para que evitemos uma luta armada, vamos pouco apouco criando as verdadeiras leis sociais, e organizando a socieda-de de acordo com a justiça.

E o primeiro e grande passo é organizar as sociedades trilógicas,para que conquistemos espaço — depois alcançar os meios de co-municação e a política, trazendo poder social para o povo, dentrode novas leis e regulamentos. Mas, para que cheguemos a isso, tere-mos de mostrar que temos poder também, senão as pessoas jamaisnos respeitarão. Milhões e milhões de seres humanos em todo o mun-do são dotados de grande idealismo, porém permanecem no planoteórico; eles constituem a maior força da humanidade, que foi neu-tralizada, e que agora pode crescer a um nível inimaginável, e atédominar toda a Terra. Nossa intenção é esta: tirar o poder dos lou-cos, dos mal-intencionados, e construir a verdadeira sociedade hu-mana, dando poder aos sábios e humildes.

Nova Iorque fica ao sul da Nova Inglaterra, a primeira regiãoa ser colonizada pelos ingleses; possui uma natureza muito bonitae praias de beleza incrível. Porém, são quase todas particulares; pa-ra o povo sobrou algumas dezenas de metros em determinadas re-giões, nas quais nem podemos entrar, devido ao número incrível debanhistas; o mesmo pode-se dizer da Flórida e da Califórnia. Estepequeno exemplo é suficiente para mostrar o absurdo das leis e re-

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gulamentos sociais. Não é possível deixar os mares, praias, rios, cam-pos e florestas para algumas centenas de poderosos, que nem os apro-veitam e não querem deixar que o povo os usem; tudo isso é do po-vo, e eles tiraram de nós.

O capitalista quer ter dinheiro para agredir, descarregar o ódioe a inveja, para estragar o Universo e a alegria do ser humano; obanqueiro, atrás da fumaça de seu charuto e de suas barbas, ante-goza o desespero daqueles a quem eles emprestaram dinheiro, e nãopodem pagar; os industriais sentem prazer em escravizar seus ope-rários; os professores não sabem o que falam, porque defendem osistema errôneo, dos quais são empregados. O que fazer? Que tare-fa urgente nós temos!

Quando viajamos de Nova Iorque para Los Angeles, observa-mos que até os imensos desertos do sul do país, estavam cercados!Onde estamos? Encheram o mundo de grades, para que o homemnão seja feliz. Todos os que têm poder querem tirar nossa felici-dade, por causa da inveja. Quem não tem consciência de sua inve-ja, não poderá ter poder algum, porque o usará no mau sentido —e as pessoas a quem o povo conscientizado der poder, terão de serconstantemente analisadas.

Parece que tudo o que se escreve sobre a sociedade é em tornode absurdos sobre o que os poderosos fizeram com ela. Outro exem-plo: a ilha de Manhattan tem o seu lado leste (East) e o oeste (West):o primeiro compreende a 5a. Avenida, a região dos hotéis famosos,a Park Avenue e a famosa Madison Avenue — porém os seus habi-tantes são insuportáveis. Por quê? A sua maioria é constituída degente economicamente poderosa, rígida, mumificada, sem afeto, es-clerosada antes do tempo — de tanto se identificar com as moedassonantes, e os dólares de papel. O interior do país conta com umnúmero enorme de indivíduos fanáticos por leis (do país, ou bíbli-cas), sem qualquer flexibilidade; são os inocentes úteis, que julgamestar servindo a Deus, mas fazem o jogo dos poderosos, por acredi-tar que as leis vigentes vieram de Deus — não querendo perceberque foram justamente esses "regulamentos" , que levaram Cristo àcruz. E bom que muita gente saiba que a própria Trilogia Analíticatem sido constantemente vetada pelos poderosos (em todos os seto-res), porque ela constitui uma ameaça ao poder deles. Não tenhomuita dúvida de que este livro será também sabotado pelos poderesconstituídos.

Clausewitz dizia que a política, no tempo da paz, seria a conti-nuação da guerra, de modo diferente. Eu penso que não é só napolítica, mas os poderosos organizaram uma sociedade, que vive emguerra contra o próprio povo — colocando o comércio, a indústria,a agricultura, o sistema bancário em uma verdadeira luta contra to-dos. O jornal Folha de São Paulo, do dia 30.09.85 traz na primeira

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página a notícia: "Se o ritmo de crescimento da demanda de bensduráveis continuar alto... o Natal deste ano promete ser bom paraa indústria, ótimo para o comércio e ruim para o consumidor". Co-mo algo que não sendo bom para o povo (consumidor) poderá tra-zer bom resultado para alguns setores da organização social?

As vezes penso que provavelmente não existe planeta mais dia-bólico do que o nosso, em que todos vivem em uma tensão terrível:pessoa alguma tem garantia se um dia poderá morrer ou não de fo-me, ter ou não uma casa para morar e roupa para se agasalhar —porque os meios de produção foram tomados pelos indivíduos maisespertos (paranóicos), com a finalidade de se enriquecerem indevi-damente. Vamos dizer que, até certo nível, a riqueza que possuímosé normal (casa, carro, alimentação e roupa adequadas); acima des-se nível, é simplesmente um roubo. Pessoa alguma deve ter mais doque pode usar, porque está subtraindo o que pertence aos outros.

Se você leitor não se mexer; se os idealistas, os jovens, os uni-versitários, principalmente os que trabalham (e não só os operários),não se unirem para consertar essa situação de enorme desonestida-de, não será possível realizar nada de útil. Karl Marx e seguidoresforam muito ingênuos ao ver só os operários explorados; todo o povoé espoliado, agredido e impedido de progredir pelos poderosos. Exér-cito, polícia, igreja são instituições organizadas para proteger os in-teresses dos que lesam a humanidade. O mundo é nosso, mas algu-mas centenas de indivíduos arrogantes e endemoniados criaram umsistema, de leis e de organizações, para tomar tudo para eles; o po-vo é constrangido a viver como se fosse uma manada de gado, cer-cado e acuado, para produzir e consumir, exatamente o que os po-derosos determinam, e para benefício deles. Já não é tempo de ha-ver uma ampla conscientização dessa situação psicossocial, para quepossamos viver bem?

E absolutamente impossível ter uma existência tranqüila, encon-trar a paz, se não for construída uma sociedade para o povo. A maiorparte dos empregos tem a finalidade de encontrar pessoas de "con-fiança" para a empresa, com o fito de explorar o máximo o povo;portanto, tais indivíduos têm a função de espoliar e agredir o maisque puderem a humanidade — ainda acreditando que possuem grandevalor. E a coroação do mal, é a glorificação da sordidez. Em todocaso, temos de admitir que a maior parte dos seres humanos nãotem uma percepção clara deste estado de coisas; por este motivo,estou tentando agora trazer esta consciência, graças ao desenvolvi-mento da ciência (trilógica). Os que percebem melhor têm obriga-ção de trazer luz, para os que ainda não têm boa percepção.

Gostaria de avisar o povo que não será possível modificar os po-derosos; somos obrigados a criar, nós mesmos, os meios de produ-ção, de acordo com a experiência trilógica — e inclusive impedir que

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algum indivíduo de nosso meio, queira avançar no que não é dele— ou que tenha aspiração de se tornar também poderoso, seguindoa velha fórmula. O poder é só do povo, pelo povo e para o povo,e exercido só por ele. Se tivermos uma consideração certa sobre asociedade, facilmente chegaremos à conclusão de que houve real-mente um enorme engano sobre a organização social; podemos afir-mar com certeza que a maioria das pessoas não tem a menor idéiade que são exploradas (ou exploradoras), humilhadas sem necessi-dade (ou, arrogantes e orgulhosas), que estão em uma situação detotal injustiça — e que não podemos mais continuar assim, porqueuma mudança, neste sentido, é condição absoluta para que conti-nuemos nosso desenvolvimento.

A humanidade parou porque a situação social está estacionária:os grandes milionários e estrelas são algo do passado; atualmentechegamos a um período em que as grandes personalidades serão asque ajudarão o próximo, e todos nós nos desenvolvamos conjunta-mente — caso contrário, todos pereceremos juntos.

E extremamente difícil acordar o povo para o seu estado de ex-ploração, porque foi criada uma filosofia de vida incentivando a idéiade "milionarismo": "quem é rico tem tudo", "o ideal da vida éser milionário". De maneira que as pessoas ricas são olhadas commuito respeito e admiração; e cada indivíduo acredita que, um dia,poderá ser um milionário feliz — sendo que a média dos que che-gam lá não é nem de 0,001 por cento.

Mas o fato mais importante a ser visto é que o poder é a situa-ção mais patológica que existe: 1) todos os ideais psicopatológicos(mania de grandeza, narcisismo, teomania, mitomania, os proces-sos de mentira, cleptomania) são usados como se fossem virtudes;2) o pior ainda é que os indivíduos, que eu chamo de "poderosos",não têm idéia de que estão em uma conduta totalmente imoral —pelo contrário, eles se vêem como beneficiários. Vou explicar.

Na revista U.S. News & World Report, 21 de Abril de 1985, pá-gina 60 a 66 foi escrito o artigo: "O Novo Sistema de Estrelas" (OPagamento dos Executivos Atingem os Céus), por Cindy Skyzycki,onde mostra que o ordenado médio de cada executivo é de 800 mildólares por ano (780.769) — o que equivale a 2 mil dólares diários,em cada um dos 365 dias do ano. E o "grande" argumento que for-necem é que, se o indivíduo sabe ganhar para si mesmo, saberá ga-nhar para os outros — conforme Adam Smith disse que não é tiran-do o dinheiro dos ricos que os pobres serão menos pobres; nós fala-mos que não é tirando o quinhão dos pobres, que seremos mais ri-cos — se continuarmos assim, a humanidade irá acabar, em totalpobreza.

De outro lado, temos de admitir que, tanto os candidatos, comoos atuais milionários, não têm idéia do estado de corrupção em que

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vivem, que tal "ideal" é totalmente desonesto e a causa de toda es-ta confusão em que vive a humanidade. Voltando à questão acima,vemos que a idéia de que é possível ganhar o que quiser, e aindasobrar para todos, é uma utopia; é o mesmo que pensar que as ri-quezas materiais são ilimitadas (ouro, níquel, pedras preciosas); maso pior da questão é o problema da cobiça e inveja dos poderosos,que os levam a impedir o progresso humano e material. Por exem-plo: geralmente o executivo que paga mal aos seus empregados, ale-gando que, assim, promove o esforço de todos, para ganhar melhor- mas a verdade é que pagam mal, por causa da inveja e ódio quetêm, e não percebem.

Vamos dizer que toda a humanidade está enganada, trabalha-dores e poderosos, ricos e pobres, humildes e arrogantes. Porém,através da conscientização de tais problemas, corrigiremos até comcerta facilidade tal estado psicossocial.

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5. O engano das instituiçõesreligiosas

Os que tiverem o poder religioso fizeram por muitos séculos umpacto com os poderosos, porque eles também visaram sempre aopoder; e a justificativa que forneciam era que a verdadeira felicida-de não estava neste mundo; que deveríamos nos sacrificar, para al-cançar a vida celestial futuramente — para gáudio de todos aquelesque exploravam, e assim podiam agir à vontade. E por este motivoque Marx e seus seguidores passaram a considerar a religião comosendo o ópio (inimiga) do povo; as igrejas e conventos, na UniãoSoviética, foram transformados em casas de banho e museus. Sejacomo for, se alguns poderosos se salvarem, certamente terão os úl-timos lugares no Reino de Deus — não tanto porque foram ricos,mas porque nunca se preocuparam com os outros, e impediram quea humanidade se desenvolvesse normalmente; praticamente, agiramcomo os demônios, deturpando, negando e omitindo o amor entreos seres humanos. Somos obrigados a afirmar que, se existe luta declasse, ela foi criada por estas pessoas.

Nunca, em minha vida, imaginei que a situação econômico-socialfosse tão imoral, pois agora temos a exata resposta, como seria umasociedade, não tanto ideal, mas justa. Somente vendo o que é certoé que temos uma noção melhor do que é errado. E não vejo outrocaminho para o bem-estar humano senão através das sociedades eempresas trilógicas. Será que o homem é bem pior do que parece,a uma primeira análise psicopatológica? Tudo indica que sim. Deoutro lado, ele poderá se tornar muito melhor do que poderíamospensar, se for lhe dada possibilidade de viver socialmente bem. Por-tanto, o caminho da sanidade e da bondade pessoal tem passagempelo social. E impossível um psiquismo correto em uma sociedadeincorreta — a não ser em casos especiais de criaturas privilegiadascomo os santos. O que existe em nosso interior psicológico tem de

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encontrar uma correspondência com o exterior social, para poderse manifestar; se este último é negativo, evidentemente o que temosde bom permanecerá impedido, e os elementos negativos (inveja,ódio, cobiça) predominam.

A organização econômico-social é profundamente imoral: elaprotege os cobiçosos e invejosos, agride os indivíduos bem-intencionados e os honestos; ela é realmente invertida, desde quedestrói os talentos e os gênios, e favorece as pessoas paranóicas emedíocres. Não é difícil notar que a História mostra freqüentemen-te enormes injustiças e perseguições aos bons, enquanto os velhacosforam vistos com admiração e respeito. Vamos dizer que a socieda-de abre espaço para toda série de desonestidade, e considera o ho-nesto inútil; constitui a mesma escolha de Barrabás ao invés de Cris-to, quando este último foi sacrificado, para que não revelasse nos-sos erros.

A verdade é que tal fenômeno continua até agora, ou até mes-mo pior, pois a causa do ataque aos justos não foi analisada, ouseja, a conduta cobiçosa e invejosa, ligada à megalomania e ao nar-cisismo. Estes 20 séculos de "cristianismo" podem ser considera-dos 20 séculos de "barrabismo". Não há dúvida de que, na vidaindividual, surgiram muitos santos, mas na vida social foi aprimo-rado ao extremo o processo de safadeza. Não me lembro de que te-nha havido, no passado, grupos de poderosos tão bem preparadospara espoliar a nação, como atualmente. Além da exploraçãoeconômico-social, formaram-se instituições especializadas nas tor-turas e mentiras que, inclusive, usam o nome de Deus. Mas nós sa-bemos que deus é esse, porque o nome demônio, etimologicamente,significa deus. Uma dúvida aparece: o cristianismo é inadequadopara corrigir a vida social? Antes, os poderes religiosos se apega-ram aos políticos; atualmente, aos poderes econômicos, e o povosempre permaneceu dominado para servi-los. Essa atitude está certa?

Cristo falou, certa vez, que "os reis do mundo consideram-sesenhores dos povos, e os que têm poder passam por benfeitores pú-blicos. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, aqueleque for o maior, proceda como se fosse o menor, e o que governarproceda como quem serve os outros. Qual será mais importante?O que está sentado à mesa a comer, ou o que está a servir? Claroque é o que está sentado à mesa! Pois bem, aqui entre todos eu soucomo aquele que serve" (Lucas, cap. 22, vers. 24-27). Pelo que ve-mos, o verdadeiro poder consiste em servir à humanidade, pois osque são servidos são iguais aos doentes mentais, e aos demônios,que não conseguem se colocar em ação. Existem duas espécies dereligiosos: a grande maioria, constituída por funcionários religio-sos, ou melhor, por indivíduos que se adaptam a esse tipo de vida,como se fosse um hábito, e vivem do poder que ela fornece — e uma

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pequena minoria de santos, abnegados, que pretende ajudar a hu-manidade; os primeiros, que são a grande maioria, vivem do traba-lho e da inspiração destes últimos.

Qualquer conhecedor da metafísica sabe que, na essência, todosos seres humanos são iguais; no entanto, muitos deles preferem, nestecaso, olhar para os preconceitos dos antigos escritores do Livro Sa-grado, e pensar de modo diferente. Mas pelas descobertas da ciên-cia (trilógica) sabemos que, justamente, os indivíduos que foram maisdesprezados, são os melhores, ou seja, as mulheres, os pretos, ospobres, os trabalhadores, vamos dizer de modo geral, os escravosda humanidade — enquanto os seus senhores, os poderosos são asua grande praga; essa desinversão precisa ser realizada urgentemen-te, para evitar a total destruição da civilização. Hoje, dia 28.01.1986,houve a grande tragédia no Cabo Canaveral, quando a nave Chal-lenger explodiu, matando 7 astronautas. Eles certamente sacrifica-ram suas vidas em benefício da ciência e do progresso da humani-dade, mas sofreram tal sacrifício por causa do poder econômico-social — desde que ele é quem domina agora tal campo de ativida-de; evidentemente coloca o lucro e não a segurança dos seres huma-nos como sua meta principal. Esse desastre não aconteceu só na NASA;está sucedendo com toda a população do país.

Existe um pacto entre os poderosos e as famílias, como meio depreservação de seus poderes; por exemplo: os poderes cristãos têmuma preocupação fundamental, a de preservar o vínculo familiar(marido e mulher), pois cada vez que um casal famoso se separa,a instituição religiosa perde mais um pouco do poder. Henrique IVda Inglaterra, Napoleão Bonaparte constituem ilustrações importan-tes no passado. Geralmente, os poderes religiosos suportam bem ofato de um fiel ter casos passageiros (concubinas); dificilmente ad-mitem a existência de uma amante fixa, ou melhor, de uma outramulher, que possa afastar um fiel (poderoso) de suas malhas políti-cas. Trata-se fundamentalmente de um jogo de influências.

Tal fator social criou a idéia de que o grande pecado da humani-dade está na conduta de uma dançarina de cabaré, da mulher devida alegre, que tem mais sedução social do que um religioso, pre-gando em uma igreja — e não na exploração terrível que fazem con-tra o povo, nos milhões dos indivíduos que passam fome, são escra-vizados, e em todo esse terrível arsenal de armas de guerra e intri-gas, que está levando a humanidade à destruição. Os poderes reli-giosos querem preservar o seu poder, e não a justiça de Deus e abondade, na face da Terra. Será que os religiosos não percebem que,se o ser humano se afastou dos templos, é porque eles é que estãoafastados de Deus? Moisés e os profetas sempre foram aceitos pelopovo, e Cristo era rodeado pela multidão.

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A revista Newsweek de 6 de Janeiro de 1986, página 16, diz:"Discute-se o número total dos americanos sem abrigo, o qual é es-timado entre 350.000 a 3 milhões." "Abandonados", artigo de TomMorganthau com Susan Agrest, em Nova Iorque, Nikki Finke Green-berg em Washington, Shaw Doherty em Boston e George Raine emSan Francisco. No entanto, o número de casas fechadas nas gran-des e pequenas cidades é enorme; dizem os seus proprietários queesperam a valorização para vendê-las — eu acredito que eles são du-ros de coração, e fazem tudo para agredir o povo — não precisodizer que as próprias prefeituras têm um grande número de prédiosfechados. Adam Smith, em seu livro Wealth of Nations (Riquezadas Nações), vol. 1, pág. 123, diz o seguinte: "A propriedade quetodo homem tem de seu próprio trabalho, constituindo a base ori-ginal de todas as outras propriedades, é a mais sagrada e inviolável.O patrimônio do pobre está na força e destreza de suas mãos; eimpedi-lo de empregar essa força e destreza é uma violação eviden-te do mais sagrado direito. O julgamento de sua capacidade de serempregado deve ficar a cargo dos empregadores". Notem a extre-ma malícia e sutileza de Smith ao se referir ao direito do rico emter propriedades, do pobre em trabalhar, e do julgamento que osempregadores teriam o direito de fazer. Exatamente é esse o "espí-rito" que domina até hoje a nossa sociedade capitalista, socialistae a marxista.

Engels, em seu artigo A Condição da Classe Trabalhadora naInglaterra em 1844, escreveu: "Essas cidades, pela extensão e nú-mero de habitantes, foram construídas sem qualquer consideração,pelo que não fosse a vantagem imediata do construtor especulador".Atualmente, não só na Inglaterra, como nos Estados Unidos e naUnião Soviética, vemos o povo morando em condições subumanas— o que nos mostra qual é a intenção dos poderosos. O livro deW. Paley, Reason for Contentment: Addressed to the LabouringPart of the British Public (Razões para Contentamento: Endereça-do aos Trabalhadores do Público Britânico), Londres, 1793, pág.16 diz: "Outra coisa que o pobre inveja no rico é a sua ociosidade.Trata-se de um engano total. A ociosidade é a cessação do traba-lho. Não pode, portanto, ser gozada, ou mesmo provada, excetopelos que conhecem a fadiga. O rico vê, e não sem inveja, o prazere a recuperação que o repouso proporciona ao pobre. "

A argumentação é tão cínica que só uma mente bastante distor-cida poderia realizá-la. W. Paley era arquidiácono da igreja na In-glaterra; era dono do poder religioso, aliado do econômico. Atra-vés desses fatos, vemos qual é o motivo da atitude do povo, em re-lação às igrejas; ele conserva sua fé e amor a Deus, porém não sepode aproximar de quem se tornou inimigo dele.

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Paulo, em sua Epístola aos Romanos (cap. 8, vers. 3,6) diz: "Coi-sa impossível à Lei, porque enfraquecida pela carne — Deus, en-viando o seu próprio Filho, numa carne semelhante à do pecado,e em vista do pecado, condenou o pecado da carne... o desejo dacarne é morte, ao passo que o desejo do espírito é vida e paz, umavez que o desejo da carne é inimigo de Deus". Vemos que o cristia-nismo, logo de início já foi deturpado, dando a idéia de que a vidamaterial não nos seria adequada. Parece idêntico pensamento dodemônio, que tem inveja e ódio, desprezando o nosso lado material— desde que ele é só espiritual (mesmo que tenha se animalizado,com pêlos, rabo e chifres). E evidente que todos os indivíduos mal-intencionados tenham se aproveitado do desprezo que muitos cris-tãos devotaram às riquezas, pegando-as para eles. Penso que o cris-tianismo foi mal-entendido, e os poderosos se aproveitaram dessecochilo dos religiosos bons, para avançar sobre tudo o que existe,com o beneplácito deles.

Parece que os poderes religiosos entenderam ao contrário tudoo que Deus transmitiu através dos profetas e de seu filho Cristo;assim que este último pereceu na cruz, começaram a pensar e a agirde modo diverso ao dele — até chegarmos agora a esta situação semsaída. A humanidade precisa saber que o Criador está no meio dopovo, e não dentro das igrejas, ou no coração de religiosos afasta-dos da realidade; é importante saber que ama os seres humanos quesão mais semelhantes a Ele, isto é, os que trabalham, estudam e agemno sentido de realizar o bem para o próximo. Deus está, isto sim,no coração dos que labutam, pensam e ensinam, e nos que confor-tam e beneficiam a humanidade.

Um dos aspectos mais trágicos da humanidade foi a tentativade aproximação a Deus, através das instituições religiosas; o ser hu-manos vem tentando isso, desde que conhecemos a civilização, e sem-pre alguns indivíduos se colocaram na posição de intermediários.Em alguns casos, vemos que eram realmente seres privilegiados, co-mo os profetas judaicos, predominando Moisés; depois, veio o pró-prio Deus-Filho (Cristo), e uma plêiade de homens de grande valor,Paulo, Pedro, João, Mateus, Agostinho, Tomás de Aquino, DunsScot, Lutero, Tereza D'Avila. Porém, ao lado de tais pessoas,desenvolveu-se um número enorme de aproveitadores da posição so-cial e econômica, e que não tinham nada a ver com o Criador. Amaior parte dos seres humanos teve encontro justamente com essascriaturas mal intencionadas, que os desviaram totalmente do cami-nho certo. Assim sendo, procuraram Deus em outras formas de es-piritualismo, e principalmente na ciência moderna (psicologia, psi-canálise), que acabou por afastá-los definitivamente do que era real-mente bom para todos, e não só da procura do Criador.

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A função da Trilogia Analítica é a de unir todos os injustiçadose perseguidos, para mostrar que justamente vocês são os melhoresindivíduos da sociedade — que vocês constituem o grande contin-gente da humanidade sofredora, por causa da organizaçãoeconômico-social que nos esmaga. Gostaria que os indivíduos en-carcerados soubessem que eles são amados por Deus, e que os maio-res criminosos estão aqui fora impunes, e até protegidos pelas leis.Quero que todas as pessoas humilhadas e rejeitadas saibam que che-gamos ao tempo da justiça, e daqui por diante elas terão um lugarna vida, à frente dos que as humilharam e rejeitaram.

A humanidade é constituída de 99 por cento de humilhados eofendidos, e por 1 por cento de arrogantes e inimigos. Por que dei-xar essa diminuta minoria nos esmagar? Dizem que os pretos, osjudeus, os latino-americanos, os trabalhadores, os artistas, os estu-dantes e os cientistas são a minoria; pelo contrário, eles são todaa sociedade; eles são a vida que pulsa nas artérias das cidades, esco-las e campos, eles são todo o ideal da civilização, o seu entusiasmoe amor; sem a existência deles, o país morre, a cultura e a realizaçãoacabam. Quando estamos dentro de uma fábrica, na Universidade,nas terras plantadas, nos laboratórios científicos e nos teatros, sen-timos a vida pulsando — mas quando entramos em um banco, emuma grande loja, ou casa de câmbio, temos a impressão de estarvisitando um cemitério. Por que, então, deixar os "mortos " domi-nar sobre os vivos?

A História da Civilização conta com enorme número de indiví-duos, grupos e até nações, que se levantaram contra uma tirania.Será que todos nós nos mumificamos? Só agora é que estamos compossibilidade de verdadeiramente iniciar, a grande reviravolta na hu-manidade. Nós, a chamada "minoria", que somos a maioria pre-ponderante, precisamos: 1) acordar para a realidade (conscientizar),2) partir para a grande mudança social. O mundo está repleto deprotestos; sejam nas músicas, livros, reuniões, artigos e conferên-cias, e nada foi mudado; chegamos agora ao período de transfor-mar tudo, e colocar em ação todos os protestos do passado. Deusquer habitar o coração do ser humano, e não as naves de uma igre-ja; Deus quer acompanhar o homem em sua jornada pela vida, enão se colocar nos tronos dos poderosos; Deus quer o indivíduo hu-milde, e não aquele que vendeu sua alma às glórias e vaidades. Tu-do o que é simples constitui a morada do Criador. A Trilogia Ana-lítica é uma ciência; portanto, algo diferente da religião. Ela aceitaa espiritualidade, de maneira mais avançada do que os religiosos,tendo uma idéia trilógica do Criador, ou seja, como afeto, verdadee ciência (consciência e realização). Sempre achei muito esquisitoo religioso permanecer na dependência, esperando tudo de Deus.Tenho a idéia de que somos nós que devemos trabalhar para reali-

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zar a sociedade perfeita, e não ficar esperando cair tudo do céu, de"mão beijada" como se diz. Neste momento, gostaria de falar aosreligiosos humildes, pastores, padres e freiras, que eles são verda-deiros heróis; um grande número deles abandona o conforto de suascasas, e vive em quase total privação, para transmitir a mensagemde Deus. Freqüentemente, esses indivíduos são injustiçados pelas ins-tituições a que pertencem, e depois de uma existência inteira de de-dicação, são colocados em um asilo, como se fosse uma punição con-tra toda a bondade que difundiram na face da Terra. Muitos delessão verdadeiros santos, mais pelo fato de suportarem seus superio-res e a instituição a que pertencem. Esses sim, Deus ama. Agosti-nho dizia que algumas verdades têm características da eternidade;eu gostaria de acrescentar que o ser humano percebe tudo segundoa dimensão eterna, porque ele foi criado para ser eterno.

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6. A inveja como base davida social

No dia 16.09.85 li em uma revista que os "os jovens pretos saemàs ruas e enfrentam a polícia; lojas devastadas; mortos e feridos " ,— em Birmingham (Inglaterra). A primeira vista, parece mais umproblema policial, que deve ser resolvido pela coação da justiça. Po-rém, o fenômeno é muito mais amplo e profundo. Duas explicaçõesme ocorrem para explicar esse fato: primeira, a comunidade de pre-tos é rejeitada pelos ingleses; segunda, eles só conseguem empregosde terceira classe; são mal remunerados; passam privações muitograndes; enfim, trata-se de um grupo injustiçado. O mesmo fenô-meno ocorre nos Estados Unidos com os latino-americanos, comos pretos também, com os asiáticos, com as mulheres, e com os imi-grantes. No Brasil, existe o mesmo fato com os assalariados, comos bóias-frias, com as pessoas que não participam do podereconômico-social — com todos os indivíduos que não são banquei-ros, industriais e comerciantes.

As leis sociais foram organizadas pelos grandes e para a prote-ção dos grandes; porém, chegamos a uma ocasião em que será pos-sível desinverter tal estado de coisas, e tomar o poder para o povo,através das sociedades e empresas trilógicas — mais tarde, podere-mos entrar no poder político também. A humanidade está semi-adormecida por causa da inveja. Em todos os setores notamos queo ser humano tem grande dificuldade em se desenvolver, porque senteódio e raiva incontroláveis; por causa disso, construímos uma vidasocial invertida, dentro da qual sofremos continuadamente (com oempurrão dos demônios). Evidentemente, tal estado não pode con-tinuar, porque há um consenso geral em torno do desejo de ser feliz— estando ao alcance próximo da mão.

Para realizar tal tarefa em busca da felicidade, não podemos con-tar com todos aqueles que possuem o domínio social, porque eles

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estão "realizando" toda a inveja, impedindo e distorcendo o flo-rescimento do homem e do ambiente em que ele vive. Temos quenós mesmos nos desenvolver para que nos tornemos mais fortes e,assim, alcançarmos o poder de modo diferente. Lendo os jornaisdiários, vemos como os dirigentes de um país organizam todos osplanos de seu funcionamento; até aqui, tudo bem; no entanto, todoesse esquema montado visa mais à satisfação dos interesses indivi-duais daqueles que têm o poder econômico e social nas mãos - istoé, de um grupo de pessoas que domina. O povo nunca tem voz ati-va: 1) porque prefere ficar na dependência psicossocial; 2) porqueacredita mais em seus chefes, do que em si mesmo. E o motivo fun-damental dessa atitude é o problema da inveja: quando ela (a inve-ja) não é conscientizada, a pessoa valoriza mais o que é do outro,e, por causa do ódio que sente, permanece em uma atitude de de-pendência — esquecendo os próprios valores.

Quando a pessoa não valoriza o que tem, é por causa da inveja;o invejoso sempre olha para o exterior, admirando o que está fora,e desprezando o que possui. Os empresários têm facilidade em arre-banhar o número de candidatos a emprego, que quiser — pois a ga-linha do vizinho sempre é mais gorda. De outro lado, a pessoa pa-ranóica valoriza sobremaneira o que tem, levando os outros a acre-ditar que é sempre o melhor. E exatamente a mesma imagem do fa-riseu e do publicano rezando: enquanto o primeiro agradecia a Deuspor ser generoso, justo e bom, o publicano tinha vergonha de le-vantar seus olhos. Sabemos que o Criador gostou só deste último(Mateus, cap. 17 vers. 9 a 14). Assim está constituída a sociedade:os paranóicos dominando, por causa de sua arrogância, e a maiorparte da humanidade entoando hinos de louvor aos pretensiosos emegalômanos — como se as palavras deles fossem verdadeiras e boas.Quem não é bom, tem o costume de falar, mas o indivíduo real-mente bom age.

A organização que fizeram para a família, com a idéia de cui-dar, ou do homem, ou da mulher, em uma atitude puramente egoísta,é o reflexo da intenção do ser humano de realizar todas as coisassomente para si; toda a sociedade passou a trabalhar para algumascentenas de pessoas, que passaram a dominá-la. Se tal fenômenonão foi conscientizado, amanhã passaremos para outras mãos, atépiores do que as atuais. Muitos indivíduos se dizem defensores dospobres; penso que é um absurdo tal assertiva, pois o fato da exis-tência de pessoas pobres mostra que todos nós estamos errados. Omundo tem fome? Existem crianças abandonadas? Existe injustiça,agressões, roubos? Todos nós somos culpados — porque ajudamosa construir e conservar uma sociedade anti-humana; é claro que nãotemos perfeita consciência de tal atitude, mas a Trilogia Analítica

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está mostrando agora, e não temos mais desculpa de ignorá-la, da-qui por diante.

A Revolução Francesa proclamou: liberdade, igualdade e fra-ternidade; é uma tríade perfeita, que só falhou porque o ser huma-no quis ser livre para tudo: o bem e o mal, o auxílio e a injustiça,a realização e a agressão. Em meu livro A Libertação mostro quesomos livres só para realizar o bem, a verdade e o que é belo. Amente do ser humano está tão deturpada, que a maioria das pessoasprefere trabalhar para outros, do que organizar a sua própria em-presa trilógica; tal fenômeno é causado pela inveja, evidentemente.Portanto, o nosso único caminho tem de passar pela percepção des-se vírus psíquico que, à semelhança do AIDS no físico, vem des-truindo sistematicamente o bem-estar e alegria humanos.

Manhattan é uma ilha central da cidade de Nova Iorque; ela es-tá dividida em East e West Side (lados Leste e Oeste), Bronx, Har-lem e Downtown; além do Harlem, o bairro mais bonito é o WestSide; pois bem, justamente aqui os capitalistas fazem tudo para des-truir os velhos edifícios (verdadeiras jóias de arte), para construiros modernos monstrengos atuais de cimento. E claro que o povodesta região luta contra tal fato, alegando que é o poder econômicoo culpado. Em nossa opinião, a causa básica de tal destruição é ba-seada na inveja que os poderosos têm do bem-estar da populaçãoque mora aqui (bem menos "rica"), querendo acabar com suafelicidade.

O ser humano poderia ter uma existência mais tranqüila, se asinstituições fossem um pouco menos corruptas; acredito que, se talambiente fosse são, por mais que o indivíduo tivesse desequilíbrio,poderia se conservar controlado. De modo que, se não houver umatransformação das organizações sociais é absolutamente impossívelconseguir qualquer mudança do homem que a compõe.

O que houve originalmente foi o seguinte: o ser humano poucoa pouco organizou uma estrutura social, de acordo com sua psico-patologia, criando uma nova forma de doença, ou seja, uma socio-patologia (sociedade doente). Deste ponto em diante, todas as pes-soas que nasceram, neste ambiente, passaram a sofrer todas as con-seqüências de sua influência dolosa — a ponto de Rousseau dizerque nascemos bons e a sociedade nos deturpa. Tirando o exagerode tal assertiva, podemos dizer que já nascemos com problemas (in-veja, ódio, rancor), e a sociedade os piora muito, tornando impos-sível nossa recuperação — e mesmo o indivíduo, que veio ao mun-do mais equilibrado, torna-se amargurado e triste ao notar ser qua-se impossível viver bem.

A humanidade está empenhada em aliviar sua problemática deinveja, pensando que agora está conseguindo. Exemplificando: NovaIorque está coberta de lixo, lembrando o tempo medieval, quando

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os porcos e ratos vagavam tranqüilamente dentro das casas de seushabitantes; São Paulo e o Rio de Janeiro estão repletas de favelas,que poderiam ser resolvidas, se a orientação governamental fossehonesta. Tais fatos demonstram o desejo de destruir cidades tão bo-nitas, porque o indivíduo invejoso não agüenta conviver com o queé bom, belo e verdadeiro — e a sociedade humana é dirigida pelosmais doentes, porque a pessoa que tem o poder não se submete àrealidade.

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7. Injustiça psicossocial contraa mulher

Essa velha história de colocar a culpa na mulher é exatamentea mesma cantilena de culpar os judeus, os pretos, os latino-americanos por todos os pecados da humanidade; isso precisa pa-rar imediatamente, através da conscientização, ou seja, pela percep-ção desse processo de inversão. Todas as pessoas que têm o podereconômico-social projetam nos outros a causa dos problemas quepossuem; por exemplo: os alemães nazistas viam, nos judeus, a teo-mania (megalomania e narcisismo), que eles tinham; os poderososamericanos projetam nos pretos e latino-americanos a preguiça e aloucura pelo dinheiro, que só eles têm. Estou falando que os indiví-duos que possuem o poder, não conseguem ter consciência de seusproblemas, vendo-se como- perfeitos — colocando a culpa de todosos males nos grupos mais fracos. Dizem que os judeus não traba-lham na terra, ou na indústria; mas não querem enxergar que elesforam privados de terras e indústrias durante séculos na Europa.Falam que os pretos são indolentes, mas não querem ver como elesforam extorquidos séculos e séculos de suas riquezas na África e im-pedidos de se desenvolver. Acusam os latino-americanos de primiti-vos, mas não querem admitir que eles sempre foram explorados pe-los poderes econômicos dos povos mais adiantados e também impe-didos de se desenvolver.

A sociedade atual foi construída pelo poder econômico-social,para o mesmo tipo de poder; cada pessoa ao nascer tem de servira essa "estrutura", deixando de lado todos os verdadeiros valores(espirituais, artísticos, educacionais) — e como evidentemente a mu-lher não está muito interessada no poder (econômico-social), estáalijada da sociedade. Mas o que estou tentando mostrar é que essaformação social é errônea, por subordinar o homem ao dinheiro.

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Não é o ser humano que está errado, é a composição social que nãopresta, e os seus mandamentos principalmente.

Penso que o grande engano da humanidade foi o de consideraro grande pecado as questões de sexo, levando a religião, a psicolo-gia e a sociedade de modo geral a cuidar desta questão, relegandotodos os demais a um plano secundário; assim sendo, todos os queagem mal, os exploradores e principalmente os poderosos, que opri-mem o ser humano, foram deixados à vontade. Justamente as mu-lheres, que são mais afetivas, os artistas, os homossexuais, que sem-pre prejudicam mais a si mesmos, são atacados, enquanto os arro-gantes, os que agridem violentamente a vida social (o pessoal do po-der econômico-social) não sofrem espécie alguma de repressão. Aspessoas que já têm uma existência tão difícil, são agredidas cons-tantemente, justamente por aqueles que causam essas dificuldades.

Sempre dizem que as mulheres nunca foram grandes gênios, namúsica, escultura, pintura, filosofia, teologia e na ciência; e ninguémse pergunta se a mulher tem chance de se dedicar, como o homem,a um desses ramos. Desde que nasce, ela é empurrada para brincarcom bonecas, e adestrada para ser esposa e mãe de família, cuidarde uma casa e da comida; nunca é conduzida para um campo derealização, e incentivada em seu valor. Se o homem sofresse o mes-mo tipo de restrição, teria as mesmas dificuldades.

A sociedade precisa urgentemente parar com suas idéias precon-ceituosas, e deixar que as pessoas fundamentais para o seu desen-volvimento possam se expandir; esse enorme contingente de mulhe-res (51 por cento da humanidade), de artistas, pensadores, cientis-tas e trabalhadores, estão com ambas as mãos amarradas, justamentepelos que são mais nocivos, ou seja, os que têm o poder em suasmãos. Em uma sociedade trilógica, é possível a mulher ter as mes-mas oportunidades que o seu companheiro masculino, e poderá atéa superá-lo dentro de pouco tempo.

É importante que se considere esse fator de poder mais atinenteao homem, motivo pelo qual ele causa mais distúrbios sociais. Asguerras, a maioria dos crimes, roubos e deliqüências são realizadospor este último — levando muitos a desejarem uma mulher no po-der; mas como ele está organizado, é impossível uma só pessoa con-seguir transformar o social — como o ditado diz: uma só andori-nha não faz o verão.

Deus criou todos os seres humanos iguais, e a própria Constitui-ção Americana tem essa consideração; a diferença no físico é aci-dental e não substancial, como falam os metafísicos; no entanto,eles se esqueceram de que, psicologicamente, a mulher se deixa le-var mais pelos sentimentos — que é superior ao intelecto. No mo-mento em que ela conscientizar a sua inveja, deixará o homem a

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grande distância; aí, se tornará mais próxima dos anjos e de Deus,e da própria verdade.

O que temos de colocar em cheque é o próprio sistema social— o contrário do que fizemos até agora — e verificar se os podero-sos estão certos ou não: se eles estão dentro da realidade, tanto asmulheres, como os cientistas, os artistas e os trabalhadores são se-res humanos inferiores — mas se os poderosos são os mais desequi-librados (como estou demonstrando cientificamente), é sinal de quecometemos um terrível engano, dando tanto poder aos maus e aosdemônios.

Estamos agora diante de um impasse: ou modificamos, desin-vertemos mesmo a vida social, ou perecemos todos com os demô-nios humanos e espirituais que nos oprimem e destroem a felicida-de. E a melhor maneira para conseguir alcançar tal sucesso seria aunião de todos os que foram rebaixados e perseguidos, para final-mente chegar em um lugar ao sol, como se fala.

Como diz o ditado, a corda arrebenta em seu ponto mais fraco,pois o grande pecado da humanidade foi colocado nas costas da mu-lher, porque ela nunca teve os mesmos meios sociais do homem pa-ra se defender; de outro lado, ninguém pode ser juiz de causa pró-pria, motivo por que é impossível uma pessoa julgar, acertadamen-te, a respeito de si própria. Eu gostaria que tamanha injustiça fossecorrigida, daqui por diante, para que a humanidade fosse finalmentebeneficiada com esse enorme contingente de seres humanos que es-tá amordaçado. A começar no Livro Sagrado, Gênesis (cap. III vers.13) foi dito que a serpente enganou Eva — como se Adão não tives-se sido enganado também, e fala dos castigos que a mulher recebeu(dependência e dores de parto), como se o homem não os tivesserecebido juntamente (comer o pão com o suor do rosto). A históriada humanidade é constituída por uma série de escândalos, e nestecaso não poderia ser diferente.

A mulher está cheia de pecados, mas não são os piores; ela édependente e comete abortos — porém, esses não são os maioresmales — a não ser na mente dos mal intencionados (que desejamsalvar a própria pele), por causa de todo mal social que causam,trazendo a fome e a guerra para a humanidade, as discórdias e lutasentre os homens, e inclusive induzindo as mulheres ao aborto. Demodo geral, podemos dizer que colocaram o sexo feminino comosendo o grande bode expiatório. Na Idade Média chamavam-nas debruxas; nos hospitais psiquiátricos elas têm pior aspecto; grande nú-mero delas foi queimado nas fogueiras: os inquisidores diziam queeram seres endemoninhados, e elas tinham de acreditar. Realmen-te, o que fizeram com a mulher foi um verdadeiro escândalo; nãoé sem motivo que uma escultora americana colocou a mulher em

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uma cruz, como se fosse Cristo (escultura exposta na igreja JohnDivine, em 1985).

A mulher, desde que nasce, é empurrada para se interessar porum homem, para ter um lar e filhos — a fim de deixar em paz ospoderosos, que desejam viver sozinhos no poder. No entanto, nãovi, uma vez sequer, Cristo repreendendo uma mulher — e milharesde vezes zangado com os poderosos daquele tempo. Pelo contrário,ele defendeu certa vez uma mulher de vida sexual livre, dizendo aosseus acusadores que, quem não tivesse pecado, atirasse a primeirapedra (João, cap. 8, vers. 1-11); outra vez anunciou que "as prosti-tutas hão de entrar primeiro que vocês no Reino de Deus (Mateus,cap. 21, vers. 31)". E foi violento com os que procuravam o poder:— "Ai de vocês, doutores da lei e fariseus fingidos! Fecham a portado Reino dos céus na cara das pessoas. Nem vocês entram, nem dei-xam entrar os que gostariam de o fazer... põem de lado as coisasmais importantes da lei, tais como a justiça, a misericórdia e a fide-lidade... comem um mosquito, mas engolem um camelo... limpama parte de fora do corpo e do prato, mas a parte de dentro está cheiade roubos e violências. São semelhantes a túmulos caiados; por fo-ra parecem muito boas pessoas aos olhos dos outros, mas lá por den-tro estão cheias de fingimento e maldade... é sobre você que há decair o castigo pela morte de todos os inocentes (Mateus, cap. 23,

vers. 13, 23, 24, 25, 28, 35) " . Essa é a opinião do Criador sobreos poderosos.

Temos que admitir que a sociedade não foi organizada para asmulheres, os artistas e os intelectuais; ela foi organizada pelos indi-víduos mais espertos, para que eles usufruíssem suas vantagens, emdetrimento de todo o povo. E o motivo disso nós sabemos, pois osseres femininos são mais afetivos, e o sentimento não é aceito, co-mo apropriado para a vida — justamente o que constitui a base daexistência. Costuma-se dizer que a mulher é atrapalhada; é claro queé, em uma sociedade que não foi construída para ela. Coloque-seo homem em uma organização tipicamente feminina, para ver se elese sairá bem; muitos filmes mostraram essa possibilidade, e o resul-tado foi uma comédia — no entanto, muitas vezes as Evas conse-guem excelentes resultados em ambientes masculinos.

De modo geral, a mulher é vista como um ser fora da vida, cujafunção é a de gerar filhos, e educá-los na primeira infância; aforaisso, ainda teria a possibilidade de exercer uma atividade prazerosaem algum campo sexual (prostituição); vamos dizer que a compa-nheira do homem foi realmente colocada à margem da existência.Como resultado deste estado de coisas, ela tornou-se muito caren-te, no sentido afetivo: seu mecanismo emocional, como não é satis-feito em uma atividade normal, faz tudo para se adaptar patologi-

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camente; este é o motivo por que ela se torna tão instávelafetivamente.

Se os poderosos trataram de alienar tanto a mulher, como é pos-sível agora que ela seja normal? Temos de dar tempo ao tempo, econscientizar tanto esses seres mais bonitos, como os estudantes, osjovens, os operários, os negros, os artistas e cientistas, de que nósaceitamos nos colocar fora das decisões sociais, permitindo que osmais doentes e diabólicos decidissem tudo por nós. Não há necessi-dade de violência, mas só de usar um trabalho constante para, pou-co a pouco, tomarmos conta do poder econômico, que só pode serdo povo.

A vida sexual foi sempre usada em função do poder que simbo-liza; por exemplo: o homem mais doente gosta de ser potente, demostrar virilidade, ter várias relações sexuais ao mesmo tempo, vá-rias mulheres. E a mulher que visa ao poder se impressiona peloshomens poderosos; por isto, as cortes européias sempre mostrarama existência de um bom número de concubinas, rodeando os nobres;os romances de príncipes e plebéias se tornaram muito comum.

O sexo (assim como o dinheiro) foi incentivado ultimamente porcausa de ilusão de poder que dava; mulher alguma, que quer o po-der, perdoa o homem que a substitui por outra (não por causa dorelacionamento sexual), mas porque ela foi colocada em segundoplano. De modo geral, não existe um problema sexual, que não es-teja ligado à questão do poder. Quando Shakespeare escreveu Ro-meu e Julieta, estava mostrando esta luta entre duas famílias (Ca-poleto e Montevequio) — e todo o drama subseqüente adveio emconseqüência do desejo de cada família dominar sobre outra.

A psicanálise (e a psicologia) têm falhado em suas propostas, pornão ter incluído a questão social, ou melhor, não ter descoberto to-do o social que existe no psicológico. Aliás, o que tem sido realiza-do é um verdadeiro incremento às fantasias de poder e narcisismo,motivo pelo qual os indivíduos psicanalisados freudianamente so-frem acentuado declínio, sendo denominado nos Estados Unidos decérebros encolhidos. O amor é mais ligado ao trabalho e à realiza-ção, enquanto o sexo é sempre unido ao poder; por este motivo,os indivíduos realizadores não têm tanto afoito com a sexualidade,enquanto os poderosos não conseguem tranqüilidade alguma comela.

Tanto o dinheiro como o sexo excessivos não são desejados sópor si mesmos, mas pelo poder que está ligado a eles. A maçã doParaíso Terrestre constitui o símbolo do poder, que Adão e Eva es-colheram, desprezando o verdadeiro poder, que é de Deus. Desdelá, os poderosos humanos tentam construir uma civilização para osvenerar e admirar, não importando o que façam: uma empresa pa-ra ficarem mais ricos, ou uma nova forma de oprimir o povo. O

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próprio casamento se tornou em um negócio: a família rica X, casacom a família rica Y, para preservar e aumentar suas fortunas e po-der; assim como, no passado, a casa imperial da França procuravaa família imperial austro-húngara, para unir seu poderio.

Penso que não há dúvida que é muito mais fácil tratar a mulherdo que o homem; ela aceita muito mais facilmente a orientação pe-dagógica, ou científica, tem mais amor pela arte e pelo espiritualis-mo. Aliás, os oprimidos e humilhados são as pessoas que sustentama civilização; porém, os arrogantes e soberbos chegaram a um pon-to perigoso, que não nos deixou mais possibilidade de agüentá-los,sob pena de destruir a humanidade — agora, vamos deixá-los en-tregues à própria sorte, e assistir ao seu desmoronamento.

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8. Perseguição ao artista:alma da sociedade

Quando Kierkegaard falou que a vida não poderia ser objeto dosaber intelectual, estava valorizando o aspecto afetivo: eu penso queo sentimento é o fundamento da existência, devendo ser colocadaaí a estética (a ética e a espiritualidade, como dizia o filósofo dina-marquês). Todas as noções racionais que temos são gravemente de-turpadas. Estou dizendo que a arte (assim como a espiritualidade)é fundamental para a civilização moderna; se ela não for urgente-mente retomada, a humanidade sofrerá gravíssimas conseqüências.A sociedade precisa salvar os artistas, porque eles são indivíduos semnenhuma defesa; eles vivem de seu ideal, colocando o dinheiro emposição inteiramente secundária; assim sendo, são explorados e atédestruídos pelos que os exploram. Junto com eles, estão os pensa-dores, os filósofos, os cientistas, que estão sendo excluídos da vidanormal, ameaçando a estrutura da civilização. Tal fenômeno provaque temos uma vida social totalmente errônea, porque os que têmvalor estão sendo impedidos de viver normalmente.

A estética é a manifestação do amor pela bondade, ou melhor,é a própria atuação da bondade; por esta razão, não se encontraum verdadeiro artista criminoso, ladrão, ou delinqüente — geral-mente, quando ele comete algum mal, prejudica-se a si mesmo —enquanto os que têm o poder econômico-social agridem o povo. Ne-nhuma pessoa pode ser boa, sem gostar das artes; a própria éticaé uma palavra ligada à estética, porque a retidão de caráter dependedo equilíbrio interno (estética). Os indivíduos perversos têm a apa-rência de monstros (assim como os demônios), enquanto os benfei-tores da humanidade são retratados como criaturas angelicais.

A arte é fundamental; o mundo sem músicos, pintores, bailari-nos, escultores, perece irremediavelmente. Toda a civilização se ba-seia nas artes, e o artista nem tem os meios econômicos para sobre-

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viver; ele é como os pássaros, as flores dos campos, que nascerampara encantar a vida, e são invejados pelos que não têm encanta-mento, e que tentam impedir que eles vivam. Schubert e Mozart mor-rendo tão cedo e os pintores famosos, sem ter os meios econômicospara trabalhar com os seus quadros, refletem o ódio daqueles quebrecam o desenvolvimento da humanidade, avançando sozinhos nasriquezas que são de todos. Sabemos que um artista permanece eter-no, porém ele tem todo o direito de existir também nesta vida —inclusive para realizar o que é perene.

A civilização foi construída pelo artista, porque ele trata dos sen-timentos; quando alguns críticos europeus disseram que Freud fa-zia mais literatura que ciência, fizeram uma inversão por pensar quetal orientação estaria fora da realidade, pois o criador da psicanáli-se aceitou quando o escritor que havia nele superou o cientista. Abeleza é a manifestação da bondade; a verdade aparece pelo verbo;e a consciência é a conseqüência da ação — tudo o que é fundamen-tal tem uma manifestação de si mesmo, gerando um novo compo-nente. Aparece então o processo dialético entre os dois que culminaem um terceiro e final elemento, que os completa. Em todo caso,essa é a ordem de todo o desenvolvimento: bondade-beleza-verbo-verdade-ação e consciência. Assim sendo, sem a bondade e a bele-za, não poderá existir nenhum valor.

Sempre se considera o sistema econômico-social como necessá-rio para a vida. O leitor deve pensar um momento, se isso é verdademesmo — ou se tal sistema foi criado para nos impedir de viver,pelo menos na forma em que foi realizado — porque toda vezque algo é organizado, para dar poder, torna-se maléfico. E fácil notarque nossa civilização está parada; o que se faz atualmente é repetirvelhas fórmulas, com a única finalidade de chegar ao lucro.

O dinheiro constitui a grande alienação do homem nos diasatuais, porque o impede de enxergar qualquer coisa, além dele. Poreste motivo, o artista, o pensador, o intelectual, o operário estãomarginalizados. Foi criada uma "mística" sobre o dinheiro, irreale fantasiosa, com pouca relação com a realidade — pois o que sevê entre os milionários é a existência de grande número de doenças(psíquicas e físicas), de atritos e lutas, infelicidades que poucas pes-soas mais modestas têm. Só esses fatos mostram o grau de patolo-gia dos que procuram, ou têm o poder através do dinheiro. Dentrode nossa civilização não deveria existir indivíduo algum com poder,mas um sistema social poderoso por si mesmo, porque justo e hu-mano — este é o único meio de evitar o predomínio dos doentesna sociedade.

A civilização atual está em uma situação de alienação e de inver-são, ou melhor, os valores secundários são colocados em primeirolugar. Nós somos, fisicamente, como uma máquina que, se não for

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bem alimentada, não pode funcionar bem. No plano piscológicoacontece o mesmo: se não houver um ambiente espiritual e artísti-co, de acordo com a natureza humana, jamais encontraremos satis-fação, vamos dizer que, assim como o estômago está preparado pa-ra receber alimentos saudáveis, a estrutura psicológica precisa doselementos espirituais e artísticos para sobreviver — e estes últimostêm de ser de acordo com a nossa essência: tanto a espiritualidadecomo a arte têm de ser verdadeiras — caso contrário, como falouHeidegger, entraremos pela senda da ruína. Por exemplo, o traba-lho de defesa da ecologia é visto como se fosse o arroubo de algunspoetas, que vivem fora da realidade. A destruição da natureza é vis-ta como real e necessária — o que significa que vêem o que é certoe bom, como se fosse um roubo, e no erro e o mal, a verdadeirarealidade.

A atividade do homem mostra o que ele é — vamos dizer queo indivíduo se identifica com sua ação; ora, jamais quem é mau,pode se dedicar ao que é bom e belo. Este é o caso do ser humanodedicado à arte, por este motivo, não existem cantores delinqüen-tes, pintores criminosos, escultores assaltantes. E se o indivíduo sededica a uma atividade artística, é impossível voltar-se para más ações.Neste momento, muitos poderão pensar: e milhares de músicos quetomam LSD, marijuana e psicotrópicos? Neste caso, eles estão pre-judicando mais a si mesmos. No outro extremo, vemos os podero-sos da economia frugais e metódicos — mas, ferozes em seus cui-dados com o próprio dinheiro e poder, impiedosos e frios.

Deus é basicamente afeto, e o artista sendo fundamentalmenteemoção, é sinal de que o Criador está muito mais próximo dele doque de qualquer outro ser humano. Os mais rejeitados pelo podereconômico-social — os artistas, as mulheres, os cientistas honestos,os trabalhadores e as crianças — são justamente os mais amadospor Deus.

Deus habita o coração dos artistas, mesmo que muitos deles se-jam homossexuais; Deus habita mais o coração das mulheres, mes-mo que muitas delas sejam prostitutas; Deus habita o coração doshomens, mesmo que muito deles sejam ladrões e criminosos — masDeus não habita o coração dos poderosos, principalmente os da eco-nomia, porque o sentimento deles está voltado para o dinheiro e aexploração do próximo. Deus ama os que desejam realizar algo devalor e abomina os que têm a intenção de prejudicar o semelhante— pois o mandamento de amai-vos uns aos outros é melhor realiza-do pelos cultores das artes.

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9. Mensagem aos jovens

Gostaria de falar especialmente aos jovens, aos estudantes e tra-balhadores, que trazem dentro de si os mais caros ideais, e acredi-tam que podem melhorar muito a humanidade. Eu quero avisá-losque, no passado, os adultos de hoje eram exatamente iguais avocês, e pouco a pouco foram abafados por algo que não sabiammuito bem — e finalmente podemos enxergar agora: o podereconômico-social, que nos impede de desenvolver, destrói e detur-pa a existência do ser humano.

Aos estudantes e trabalhadores de todos os países, eu gostariade falar-lhes que a sociedade ideal que vocês imaginam, está à nos-sa frente, a ser formada em brevíssimo tempo — porque finalmenteencontramos todos os meios para realizá-la. Vocês, que estudam emescolas, ou trabalham em empresas organizadas pelos podereseconômico-sociais, para servir a eles, não desanimem, pois podere-mos transformá-las rapidamente para servir aos nossos interesses,para desenvolver a verdadeira ciência e artes; que o esforço de mi-lhares de criaturas, que se sacrificaram, para que pudéssemos teruma existência melhor, não foi em vão. Chegamos ao momento derealizar, de pôr em ação todos os incríveis sonhos, que povoarama mente de todos os indivíduos de valor que habitaram este mundo.

O jovem, estudante ou trabalhador, é a chama viva de todos osmais caros ideais da humanidade; ele é a esperança de todo país,é a alegria, a vida e o afeto vivo. Porém, ele não pode continuarassim por muito tempo, porque os "ideais" que encontra na socie-dade são bem diferentes daqueles que traz em seu coração. Poucoa pouco, ele entra em brutal choque com a ambição e cobiça, a in-triga e inveja dos que têm o poder econômico-social, e é impedidode continuar com os seus mais caros sonhos. Muitos deles se dei-xam corromper, outros se afastam do ambiente social comum, e ain-

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da um certo número luta valentemente para mudar a situação. Épara estes principalmente que a Trilogia Analítica foi criada.

Parece-me que existe um consenso geral sobre a orientação er-rônea dos sistemas sociais: 1) desde a década de 1960, os jovens serebelaram, tendo a opinião de que não se poderia confiar em umapessoa além dos 30 anos — o que não deixa de ser verdade, porquegeralmente ela entra na corrupção profissional, a partir mais ou me-nos desta época; 2) porém, o erro fatal que os jovens cometeramfoi o de ter ingressado no mundo das drogas, colocando-se à parteda vida em sociedade. Não preciso dizer que as drogas foram bem-vindas por todos os poderosos, que passaram a aceitá-la, por doismotivos: primeiro, porque anulou o perigo deles serem alijados dopoder, e depois porque encontraram uma fonte de lucro quase ini-gualável. Vários governos de países sul-americanos sustentam suacorrupção pela produção da maconha, cocaína e LSD, em conluiocom os poderes econômicos de países que os importam (Estados Uni-dos e nações européias).

Existe, por assim dizer, uma rede de tráfico comandada por in-divíduos postados nos cargos de "confiança" dos governos. Algunspoderes que alienam o povo são incentivados, como os chefes dasIgrejas, que bradam sempre contra o aborto, os meios anti-concepcionais (questões sexuais), deixando a corrupção econômico--social à vontade. A própria psicanálise e psicologia recebem todoo alvará dos poderosos, porque seguem idêntica orientação. Eu nãosou o primeiro a falar deste assunto, assim como gostaria de ser oúltimo, para que tal agonia não continue indefinidamente, e possa-mos finalmente viver a vida que Deus nos deu. Queremos ser livres,como fomos criados, e como é o próprio Criador. Se não o conse-guirmos, de que adianta viver?

A revista Newsweek, de 23 de Dezembro de 1985, traz um artigode capa mostrando a bandeira: Rocky, Rambo e o Retorno do he-rói americano, onde procura despertar o patriotismo do povo ame-ricano, através de uma fantasia de celulóide. Na página 20, uma re-portagem chamada "Uma Tragédia de Natal " mostra a morte de256 soldados em desastre aéreo; talvez não precise dizer dos milha-res de militares americanos que estão expondo diariamente suas vi-das para preservar, não os Estados Unidos (o que seria muito boni-to), mas o poder econômico-social daqueles que, inclusive, explo-ram o povo. Na página 26 existe uma reportagem dizendo "Revoltados Robôs", porque os Republicanos da Assembléia trocaram Rea-gan; as pessoas que estão a par da política sabem que se trata deuma pressão do poder econômico sobre o político, e um esforço mui-to grande das pessoas de valor, para evitar a destruição do que exis-te ainda de mais belo neste país.

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Gostaria de dizer algumas palavras: o mundo ainda depende daorientação que sair dos Estados Unidos, e você americano precisaurgentemente se levantar dos devaneios da cocaína, marijuana eLSD, para assumir novamente a posição de liderança entre todasas nações; você, que ainda tem a cabeça cheia de idealismo, está con-vocado para, verdadeiramente, livrar a humanidade, não de um mar-xismo fracassado, mas das pessoas que têm o poder econômico-social, e o estão usando para destruir a humanidade.

Todos os seres humanos foram criados com o mesmo nível deinteligência; no entanto, alguns manifestam mais capacidade inte-lectual do que outros, porque são menos invejosos; a questão de en-tender está na dependência direta dos sentimentos: só aqueles quetêm muito afeto é que têm possibilidade de realizar no campo doentendimento. E justamente os mais invejosos é que tomaram as ré-deas da sociedade, para escravizar o povo e impedir seu desenvolvi-mento; assim sendo, todo esse enorme cabedal humano de talentose gênios queda inutilizado. O jovem está praticamente impedido deusar seus dons, porque a vida profissional foi colocada na depen-dência dos interesses escusos dos que têm o poder econômico-social;de modo que, ou se aceita a corrupção, ou não se tem quase o quefazer. Temos de romper essa situação anormal, para que possamosviver com dignidade.

Pouco a pouco vamos ter de constatar que o ser humano nãoé livre para se dedicar a um trabalho, com a finalidade de enrique-cer o próximo; tal tipo de atividade é imoral — ou trabalhamos pa-ra o bem comum, no sentido de ajudar a humanidade, ou todo onosso esforço será antiético; talvez não precise acrescentar que nãoé ético agir só em função do enriquecimento, seja do próximo, oudo nosso — mesmo que haja necessidade de ganhar relativamentebem, para que se tenha uma existência digna. E muito importanteque todos saibam que o atual sistema econômico-social não benefi-cia a quem quer que seja: para os assalariados, ele causa pobreza;para os ricos provoca penosos sentimentos de culpa, e a própria so-ciedade não se desenvolve, trazendo prejuízo a todos. Os jovens pre-cisam tomar muito cuidado com os grupos que têm o poder,porque são inexperientes com a vida, e obrigados a se submeterem aessa situação econômica imoral, sendo obrigados com o tempo a de-sistir de todo o ideal e bondade.

Em 1985 lancei o livro A Decadência do Povo Americano (e dosEstados Unidos), onde previa uma queda vertiginosa da economiaamericana, em relação à ciência, arte, educação, esportes, indústriae agricultura. Nunca um livro meu foi tão rejeitado como este, poisa maioria das pessoas pensava que se tratava simplesmente de umataque ao país — e não uma advertência, no sentido de ser evitadaa queda desta nação, tão importante para toda a humanidade. De

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outro lado, não tinha ainda conhecimento da causa dos problemasdos Estados Unidos, e do incrível sofrimento que o povo passa, frenteao poder econômico-social que o esmaga. Agora vejo que o ameri-cano está sendo desprovido de todos os meios para estudar e se de-senvolver, porque todas as riquezas se concentram cada vez maisem mãos de pouquíssimas famílias, que impedem qualquer progres-so. E a nave Challenger que explode no Cabo Canaveral, é o dolarque cai dia a dia, são os agricultores espoliados de suas terras, osoperários que não podem mais trabalhar, os cientistas que não têmmeios para suas pesquisas, os jovens que não têm recursos para es-tudar; de outra parte, uma enorme produção bélica, e a entrega danação para os banqueiros e especuladores.

Os piores indivíduos procuram por todos os meios possíveis umaatividade para agredir o próximo; não é necessário lembrar só daprofissão de carrasco — mas um capataz, comerciante, banqueiro,agiota, militar procura tais profissões com o intuito de judiar doser humano; e, pelo tipo de atividade, logo de imediato sabemos queterão de ser inteiramente reformuladas, ou até extintas com o tem-po. Não preciso dizer que esse contingente tão grande de "doen-tes" é que impede o povo de ser feliz; não é necessário que cadaser humano seja um psiquiatra, ou psicanalista , mas é urgente quecada cidadão perceba qual é o tipo de pessoa que geralmente domina.

No jornal The New York Times, sexta-feira, 14 de Fevereiro de1986, traz na primeira página as seguintes notícias: "Fotos da Nasaindicam que os problemas começaram já na decolagem... fumaçaescura na ignição" "20 Vidros de Tylenol adulterado encontradopelos investigadores... 5 (cinco) cápsulas com cianureto " "Iacoccae Secretário do Interior entram em choque por causa de detalhes daEstátua da Liberdade" "CIA acusada de tolerar matanças em Hon-duras". Como vemos, são informações sobre o estrago que o podereconômico-social causa ao país, não tendo respeito pela vida dosastronautas; colocando veneno em medicamentos; brigando pelo po-der e colaborando na matança de pessoas na América Central. Opovo vive como um joguete nas mãos do poder.

Trabalho em psicoterapia desde 1956 (há 30 anos portanto), eà medida que os clientes melhoravam, sofriam atrito com a socie-dade em que viviam; grande parte deles era combatido pela própriafamília, chegando alguns a se sentirem extremamente deslocados —de modo geral, sempre notei que o ambiente social era nocivo aosindivíduos mais equilibrados — até que fiz esta descoberta sobre apatologia da vida econômico-social.

Gostaria de formular as seguintes questões: você quer viver semdoenças, pelo menos as mais graves? Você quer ser feliz, na medidado possível? Quer viver com menos angústia', mais descontraído?Tudo isto é possível, se for modificado o sistema econômico-social,

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dominado e colocado no mesmo nível que os outros poderes — eo principal, se for usado para o bem da sociedade. Ernest W. Lefe-ver no seu artigo "moralidade versus moralismo na política estran-geira" publicado no livro Ética e Política Internacional, pág. 2, afir-ma: "A bondade natural do homem poderia ser expressada nas es-truturas da política" . Na pág. 9: "O poder é imoral". O autor mostracom bastante acuidade, como o ser humano está sendo impedidode ser bom, por causa do tipo de sociedade em que vivemos.

Não posso acreditar que o maior sonho da humanidade tenhaacabado: o que todos os seres humanos desejaram realizar, de maisbelo, verdadeiro e generoso, e que o americano iniciou a fazer nestepaís — que se tornou o ideal comum para todo o gênero humano.Estou me referindo à possibilidade de chegarmos agora a esta aspi-ração comum, desde que sejam brecadas as pessoas que impedemtal realização.

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Parte C

1. Sociologia trilógica

O fato social é um fato psicológico; se Durkheim tivesse faladoassim, teríamos encontrado a base para o conhecimento da socieda-de, porque ela é a manifestação coletiva da consciência individual,O que o ser humano esconde no recesso de seu lar e dentro das insti-tuições, aparece com clareza na vida social; por este motivo, nãohá quem não se interesse pelos acontecimentos políticos, econômi-cos ou religiosos, mas poucos conseguem estabelecer relação entreo externo e o interno. Com a Ciência Trilógica, isto se tornou possí-vel, devido ao acerto que houve a respeito da psicopatologia (inve-ja, megalomania, narcisismo, teomania).

O ser humano tem se colocado como vítima da sociedade (o serhumano nasce bom, e a sociedade o corrompe, como falou Rous-seau), o que não deixa de ser verdade, até certo ponto; porém o maisimportante consiste em perceber uma influência mútua: o homemajudando ou corrompendo a sociedade, e a vida social protegendoou destruindo o ser vivente. O que existe é um processo dialético,pois o indivíduo é o espelho de seu grupo social, e a sociedade é es-pelho também das pessoas que a compõem. Acredito que é funda-mental agora conscientizar o pacto de alienação que foi feito entreos seres humanos e suas instituições, entre as famílias e os grupossociais.

Não é difícil notar que tal fenômeno constitui uma sociopatolo-gia, em detrimento da vida individual e social. Neste caso lembro-

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me de Karl Marx quando se referiu, em seu livro de Economia Polí-tica, à alienação que produz a sociedade civil — que não é causadapelo capitalismo, como ele falava, mas pela patologia de ambos (dohomem e do meio social). Estou querendo elaborar as bases de umverdadeiro conhecimento sobre a sociedade, que não poderia ser se-não dialético, pois tudo o que tem vida é assim; devo esclarecer doistipos de dialética: uma platônica, hegeliana, quando são unidos ele-mentos fantasiosos, e outra socrática ou cristã, quando formada porelementos reais. E se a sociedade é alienante, é porque ela está fun-damentada em erros.

Vamos analisar um pouco a questão da propriedade privada. Éde amplo conhecimento que a posse de casas, terrenos, sítios, fa-zendas e praias é fenômeno comum. No mundo ocidental, são osindivíduos os proprietários, e nos países marxistas, geralmente o Es-tado, o que é o mesmo problema. Estou dizendo que a propriedadeprivada constitui mais uma privação para toda a humanidade, por-que vai reduzindo o espaço vital, que já está tão pequeno. De outrolado, se não houver mais propriedade privada, mas comum, todasas pessoas terão o planeta inteiro para ser usufruído e manipuladocorretamente. Afinal de contas, como diz o ditado, os olhos do do-no engordam o cavalo; se tomarmos posse do que é nosso, cuidare-mos com todo o desvelo de nossa Mãe-Terra.

O indivíduo capitalista e o burocrata comunista fracassaram por-que imaginaram que seria possível enganar o povo, dando-lhe algu-mas migalhas em dinheiro, a troco de sua labuta intensa. Por estemotivo, é possível agora construir uma sociedade normal, atravésdo conhecimento da verdadeira anormalidade do homem. Eu melembro quando adolescente (14 - 19 anos) trabalhava em uma emis-sora de rádio de um parente, e conseguia-lhe um excelente ganhofinanceiro, devido ao trato com os clientes, o amor pelo trabalho,o esforço em produzir o melhor — no entanto, jamais fui agraciadocom os próprios presentes, que ganhávamos no fim do ano, alémde viver com salário mínimo.

Evidentemente, pouco a pouco, desisti de tal carreira: perderamele (o parente), e os ouvintes, que ficaram sem um dedicado técnicode som, e o povo perdeu um funcionário esforçado, que o atendia sem-pre bem. No entanto, tenho dúvida de que o tal parente tenha percebi-do corretamente o grau de sua perda. Tal fato é comum em todasas pessoas proprietárias, e por uma idéia invertida: que o poder eco-nômico (capital e propriedade) é que gera riqueza. A Economia Po-lítica continuou em um beco sem saída, tanto com Marx, como comos neocapitalistas: Keynes, Kalecki, Joan Robinson, Sraff e Hayek,porque todos eles continuaram colocando o ser humano sob o do-mínio do dinheiro.

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É fato sabido que a civilização humana é injusta e, portanto,doente; assim sendo, precisa de tratamento, de forma coletiva, istoé, que possa atingir a toda a sociedade. Em Nova Iorque temos associedades trilógicas que obrigam seus membros a freqüentar umasessão de psicoterapia de grupo por semana. Porém, só isso não ésuficiente. No mês de Setembro (1985), com a nossa viagem parao Brasil, veio-nos a idéia de construir as empresas trilógicas e, futu-ramente, partir para outros setores mais ousados, como a política.Nossa intenção é a de resolver a situação injusta das pessoas assala-riadas, pois me parece que a humanidade se dividiu entre os que têmposse (terras, casas, empresas), e os que vivem de um salário — quenem sempre permite que adquiram qualquer propriedade. Só essadivisão é motivo para que haja rancor daqueles que não foram "ba-fejados" pela sorte, e medo naqueles que têm uma vida económicafolgada. Acredito que tal fato não seja agradável, nem para os pri-meiros, e muito menos para os segundos.

Estou tentando lançar as bases de uma sociedade sã, para queo ser humano encontre a felicidade aqui na Terra, como tem tododireito. Para isso, é necessária a colaboração das mentes mais de-senvolvidas. Não podemos esperar por uma revolução de classes,porque será uma luta sangrenta; temos de abrir espaço e puxar paracima todos os indivíduos que foram conservados séculos e séculosno primitivismo. E fácil de ver que os países africanos e asiáticosatrasados estão em ebulição, por culpa dos seus colonizadores pas-sados, que não permitiram o seu desenvolvimento. Muitos poderãoobjetar que será difícil, ou mesmo impossível viver em uma socie-dade onde todos poderão ter uma existência mais ou menos idênti-ca — e citam as pessoas ignorantes e sem nível, que certamente se-rão desagradáveis. E importante perceber que tais indivíduos foramforjados assim, devido à injustiça da organização social, por causada problemática da inveja dos poderosos, que não foi conscientizada.

O planeta em que vivemos poderá conter um número muito maiorde habitantes e até mesmo o Japão, China e Índia teriam possibili-dade de viver folgadamente, se organizassem as sociedades e em-presas trilógicas (uma vida trilógica). O número de casas e de em-presas que existe agora seria mais do que suficiente para suprir todaa humanidade, e com abundância. O grande problema, que precisaser resolvido, está na conduta de sabotagem dos meios de produ-ção, na especulação exagerada, e na luta pelo lucro individual —por causa da atitude de inveja, que não foi conscientizada. Por cau-sa disto, a vida se tornou um transtorno para todos; a paranóia so-cial tomou conta, e não há o mínimo de confiança no relacionamentohumano.

A Trilogia Analítica está adentrando pelo caminho social, co-meçando a construir uma verdadeira sociologia, porque atinou me-

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lhor com as causas que têm promovido a sociedade. De modo ge-ral, podemos dizer que os três grandes sociólogos que tivemos fo-ram: Augusto Comte, Emílio Durkheim e Max Weber. O primeiroé famoso pela sua teoria dos três Estados: teológica, metafísica epositiva, ou seja, uma fase imaginativa, outra filosófica e finalmentea terceira positiva. Pelo sucesso que alcançou, devemos tentarcompreendê-la, e não rejeitá-la, porque ela tem este ou aquele erro.

Quando Comte diz que o teológico caracteriza-se sobremaneirapela fantasia, não é difícil perceber como os religiosos colocam abase da existência em fenômenos miraculosos — e não que ateologia, em si, seja pura imaginação. Depois, vemos com clareza comoa humanidade viveu em um período filosófico, isto é, tentando darrespostas absolutas a todas as questões, esquecendo a realidade. Fi-nalmente chegamos à fase positivista, na qual haveria subordina-ção da fantasia e da argumentação (filosófica) à observação. Se no-tarmos seu preconceito, veremos que a sociedade viveu claramenteestes três aspectos: o primeiro na Idade Média, o segundo no finaldo período medieval e início do Renascimento, e o terceiro da faseindustrial até agora.

Emílio Durkheim queria estabelecer a sociologia como uma ver-dadeira ciência, apegando-se ao fato social como base de todo acon-tecimento — a ponto de afirmar que o suicídio era um deles (umfato social). Assim seria a moral, a educação e a religião. Max We-ber via o objeto da sociologia como sendo a captação da relaçãode sentido da ação humana; haveria três atos: racional, afetivo etradicional. Como é fácil observar, o sociólogo alemão foi o quese aproximou dos fundamentos dessa possível nova ciência.

A Trilogia Analítica pouco a pouco vai adentrando no campoda sociologia, porque tem as melhores explicações sobre o fenôme-no social — porque também explica mais perfeitamente a causa dapsicopatologia humana. Aliás, a grande dificuldade, para se fazeruma ciência sociológica, sempre foi caracterizar o fundamento daconduta em sociedade. E o que estamos mostrando agora é que nãoé tão importante saber o que é certo, mas conscientizar o que estáerrado (patológico) — porque a realidade (o real) existe por si mes-ma, e o defeituoso (a fantasia) precisa ser conhecido para sofrer cor-reção. Os fundamentos da sociologia são os mesmos da psicologia— podendo-se dizer que ambas constituem um mesmo corpo, umapsicossociologia; provavelmente, a verdadeira ciência que estuda ohomem e a sociedade é o conjunto das duas.

Foi grande o número de cientistas que tentaram organizar umaciência sociológica, ou melhor, estudar como a sociedade se forma.Em nosso trabalho de sociologia trilógica (à semelhança da Psica-nálise Trilógica), procuramos mostrar quais são os elementos queatrapalham a vida social — pelo simples motivo que, desde que re-

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solvamos o grande problema dos conflitos sociais, a sociedade po-derá viver tranqüilamente e se aperfeiçoar; devemos primeiramenteconsumir nosso tempo para descobrir os erros, para depois poderreorganizar a vida social corretamente.

A sociedade conta com pessoas que são acomodadas, trabalha-doras e contentes com a própria vida; de outro lado, com aquelasque se queixam e, falam de si mesma, como se fossem muito capa-zes — estas últimas são as escolhidas como seus líderes, e colocadasnos cargos de poder — e infelizmente são as mais doentes; elas dãoum ar de saber tudo, de dirigir os outros, aparentando uma auto-confiança a toda prova. Estou mostrando estes caracteres, para ad-vertir o povo de que ele se engana muito em suas preferências; opovo escolhe exatamente o contrário, isto é, os indivíduos megalô-manos, os mais doentes, e vira as costas aos que são humildes e tra-balhadores. Porém, há um motivo social, também, para tal esco-lha: as leis sociais protegem tais indivíduos, porque elas (as leis) vi-sam acomodar o povo a um estrutura injusta de poder, desde queo poderio social tem o sentido de o manter abafado, para que sus-tente os poderosos (doentes), que não poderiam sobreviver de outraforma. Estes são como os loucos das psiquiatrias, com quem os es-pecialistas procuram não discordar em coisa alguma, para não se-rem atacados. Porém, não podemos nos esquecer que existe o fatorespiritual, pois o príncipe deste mundo é o demônio (João, Cap. 12,Ver. 31; Cap. 14, Ver. 30; Cap. 16, Ver. 11), e o desejo dele é con-servar a humanidade alienada. Então, ele forma um grupo de seusadmiradores, e lhes dá o poder para julgar e oprimir o povo, conde-nando os pequenos pecados (de sexo), e alimentando toda a sober-ba megalomania e narcisismo, como se cada poderoso fosse um deu-sinho (da estupidez e ignorância).

Estamos no tempo de ver que o equilíbrio e a justiça são umaquestão de inteligência também — pois o que observamos é todoum grupo de indivíduos debilitados, ditando normas de conduta paraa sociedade, no sentido de enganar e abafar todo o valor; esses indi-víduos não conseguem perceber que estão destruindo o seu próprioreino, porque a mentira tem pernas curtas — o povo pode ser enga-nado uma, ou duas vezes, mas não sempre (como falava Lincoln).A revista Forbes, edição especial, edição de 1985, traz nas páginas116 a 118: "Harry Brakmann Helmsley controla mais de US$ 5 bi-lhões em propriedades imóveis"; diz ele: "Você não tem que fazernada. Você só tem que sentar. Os valores sobem". Sabemos que odinheiro não confere valor a quem quer que seja, mas ajuda a suatotal destruição psicológica e espiritual.

Podemos dizer que 99% de toda a conduta humana gira em tor-no da vaidade e desejo de poder; quando isto não é conseguido, te-mos possibilidade de sentir o interior e observar nossos problemas

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— mas quando o indivíduo alcançou o poder, dificilmente conservasua consciência. Os povos de todos os países precisam conscientizarquem é o seu grande inimigo, quem é que impede sua felicidade,seu crescimento e bem-estar; eu digo, pelas descobertas científicas,que são as pessoas muito doentes, que se apoderaram do maior po-der, o econômico — se houvesse outro poder material maior, elasestariam lá a dominá-lo. E a única maneira de resolver tal situaçãoé modificar suas leis, para que tais pessoas não possam maisprejudicar a humanidade — enquanto elas tiverem essa possibilida-de, jamais abandonarão, por si mesmas, o poder.

A Escola de Frankfurt representa bem o que Wittgenstein faloua respeito da filosofia atual, afirmando que ela era algo diferentedo passado, devido ao seu caráter mais prático. De todos os pensa-dores dessa Escola, Theodor Wesengrund-Adorno (1903-1969) fa-lou claramente que o poder econômico tomou conta da técnica eda arte, que têm de ser vistas atualmente como negócios; justamen-te com Horkheimer, escreveu o livro Dialética do Iluminismo, ondemostra que o capitalismo impede a formação de indivíduos autôno-mos e independentes, capazes de ajudar a decidir conscientemente,criando o termo: indústria cultural. Assim sendo, o povo é conti-nuamente enganado pelo comércio fraudulento, porque sua cons-ciência foi brecada. Provavelmente Herbert Marcuse foi o pensa-dor que mais influência exerceu; tentou unir a psicanálise ao mar-xismo, chegando ao extremo de preconizar a existência de uma so-ciedade só de lazer, e pela eliminação da tecnologia por ser oriun-da do instinto de morte. Marcuse, praticamente, ajudou a brecaro desenvolvimento da civilização, ao aconselhar o ser humano atrocar a realidade pelo princípio do prazer (Freud). Pelo estudo dapsicopatologia sabemos que a pessoa muito doente só quer fazer oque gosta, e não o que é necessário para sua vida — pois o que for-nece prazer imediato, a longo prazo, causa aborrecimento.

O ser humano possui em seu interior a forma da realidade, istoé, tudo o que for certo, bom e belo, imediatamente a mente captae assimila; assim como tudo o que causa repugnância , afetiva ou in-telectual, está contra nossa estrutura. Colocando tal fato no socialvemos que, se um regime político-econômico não está agradando,é porque ele é injusto; se não nos sentimos bem em uma sociedade,é porque ela não está construída de acordo com nossas necessida-des. A vida social deve ser terapêutica, por si mesma, e o ambienteem que vivemos deve ser repousante — caso contrário, haverá umcrescimento incrível de doenças (enfartes, distúrbios coronários, cri-ses neuróticas, angústias), e aumento de crimes, assaltos, violaçõese delinqüências.

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2. O verdadeiro poder

O poder das nações geralmente é analisado segundo o grau deriquezas que elas possuem; atualmente levam em conta mais o di-nheiro, e é justamente esse o grande perigo que corre a sociedadeatual. Enquanto o dinheiro era dependente da produção industrial,agrícola, do desenvolvimento científico, e até do comercial, haviauma certa estabilidade; no momento, esse equilíbrio desapareceu,porque a especulação tomou conta de todo o mercado, e o volumede ações é o maior de todos. Como o dinheiro se tornou uma "ri-queza", dando possibilidade de haver herdeiros, pelo nascimento(em continuação ao período da nobreza), o povo "aceitou" essa idéiainvertida de que os ricos seriam os melhores! Mas não é difícil per-ceber que eles estão atrapalhando definitivamente o desenvolvimentoda civilização, a ponto de estar sendo necessário pôr um ponto finalem tal situação.

E o verdadeiro poder, que está no trabalho, na realização cientí-fica e artística, no desenvolvimento, geralmente é desconhecido pe-la humanidade — porque a estrutura social foi organizada de modoa escravizar o homem ao trabalho de enriquecimento de alguns: nopassado foram os nobres, os burgueses e os religiosos; atualmentesão os capitalistas, e os que têm o poder econômico-social, no co-munismo e no socialismo. Temos de distinguir o trabalhador do ad-ministrador e do capitalista; os dois primeiros são necessários parao funcionamento de uma empresa — enquanto o capitalista consti-tui um elemento até mesmo nocivo, se a organização trabalhar paradar lucro a ele — mas se o administrador organizar para trazer be-nefícios para os trabalhadores, a firma terá enorme desenvolvimento.

Existem dois tipos de empresas: 1) uma destinada a escravizaro ser humano, onde os seus administradores estão pactuados comos poderosos; 2) e outra que visa dar o lucro aos que trabalham.

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Este último tipo de organização é chamado de trilógico, porque édestinada ao bem do povo. A primeira é a tradicional, porque visaretirar o que pode do trabalhador e do cientista, para engrandeceralguns indivíduos; é uma forma diabólica de existência, que foi im-posta ao ser humano, por inspiração direta de Lúcifer. E bom quenotem que jamais poderá vir qualquer benefício dos espíritosmalignos.

Esse fenômeno que aconteceu com a humanidade é muito curio-so: parece que houve todo um processo de adormecimento coletivo,dentro do qual 'o homem passou a admirar as figuras mais mascara-das, que se diziam poderosas — e deixou de perceber que não existenada, por si, que tenha poder — mas que este é proveniente só daação, dos que agem no bem, na verdade e na beleza, isto é, dos quetrabalham, e não dessas figuras sentadas em "tronos " , para seremservidas. Parece mais um pesadelo, uma tomada de posse do cére-bro humano, que parou de funcionar mais de 90 por cento, e passa-mos a viver como se fôssemos robôs, zumbis, meio vivos e semi-mortos. Acredito que estamos no tempo de acordar, eliminar taisindivíduos de suas fantasias, e rumar para o caminho das estrelas,pois o Universo é imenso demais para que fiquemos enterrados nes-se tipo de inutilidade que fizemos de nossa vida.

Penso que cada indivíduo terá de ser despertado de um sonhomau; terá de abrir os olhos e ver que ele jamais viveu, e que nãopodemos perder mais tempo neste tipo de existência inútil em quese trata só de incensar algumas centenas de pessoas poderosas; te-mos de começar a viver para o bem comum, para a verdadeira civi-lização, e dar o grande passo para o espaço cósmico.

Seria muito útil estudar por que muitas pessoas têm um verda-deiro prazer em ser demônio; elas se caracterizam por uma atitudede agredir, descarregar suas tensões no próximo, e prejudicar o má-ximo de indivíduos que puder, isto é, possuem uma maldade incrí-vel. Elas se encontram em todo lugar, nas escolas, firmas, nos ôni-bus e carros, junto a crianças e nas igrejas, e são sempre reconheci-das. Porém, um local em que passam incógnitas, é nas mansões mi-lionárias, nos grandes empreendimentos financeiros e nos bancos— porque o seu lugar de preferência é o poder econômico-social.A explicação desse fato é que tais indivíduos acreditam que o poderestá na agressão e na opressão de seu semelhante; por este motivoeles são comparados aos maus espíritos. O contrário é o certo, istoé, aqueles que dedicam sua vida para ajudar o próximo — mesmoque seja através da fantasia de um super-homem, são modestos, sim-ples e alegres, porque vivem de acordo com a própria natureza ori-ginal.

Quando os anjos decaídos e os seres humanos resolveram seriguais a Deus, escolheram o "conhecimento" do bem e do mal, pen-

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sando que assim seriam até melhores do que Ele; tal ironia é incrí-vel, pois aceitar o que é ruim, é o mesmo que acatar o que é fan-tasia, não existente e inútil, isto é, desistir do poder do Criador.O que sucede agora é que os demônios e nós passamos a acreditarque o poder está na destruição; assim sendo, enchemos o mundode bombas atômicas, navios e aviões de guerra — e dizemos queisso é poder!

O que é poder é exatamente o contrário: é a capacidade do Cria-dor criar o Universo, e conservá-lo com vida, cada minuto; poderé a capacidade que tem o cientista de combater a doença e trazero equilíbrio ao ser humano; de melhorar o nível de vida; poder éa capacidade do agricultor de trabalhar com o solo, para fazer ger-minar a semente; é o trabalho do operário, em construir uma má-quina, casa, estrada, ou uma ponte; é a capacidade do artista em"criar" um quadro, uma música, uma escultura. Poder é a possibi-lidade de criar e construir; o não-poder é a atitude de destruir, ne-gar e omitir; o mundo não deveria ter arma de destruição, porqueisso é totalmente imoral. Não temos o direito de construir qualquermáquina de morte, seja ela uma bomba atômica, ou um revólver.As armas feitas para destruir constituem, por si mesmas, um mal;por esse motivo, os grupos que lutam pelo desarmamento estão cor-retos; o mundo não deveria ter arma alguma de destruição. E sabe-mos que o maior comércio atual é este, com a finalidade de tentareliminar a vida humana.

A técnica que os poderosos usam para dominar o povo é a deacusá-lo de todos os males que existem no mundo; é a técnica deacuar, de censurar, para colocar cada indivíduo na defesa. E claroque tal atitude não é usada claramente, mas sub-repticiamente; porexemplo, noticiando os assaltos e crimes, roubos e deliqüências, emostrando a eficiência da polícia; outras vezes, avisam sobre os pe-rigos que o país corre diante de grupos terroristas e de outros po-vos, e como o próprio Exército é valoroso na defesa de sua nação.E praticamente a tática do ataque, para não dar tempo do povo pen-sar — como diz o ditado: a melhor defesa é o ataque.

Outra técnica que os poderosos usam é a de elogiar os indiví-duos que estão no poder, como se eles fossem magnânimos e sacri-ficados, em prol do bem comum. Ainda usam o elogio ao povo, pa-ra que ele se sinta generoso, e capaz de agüentar todas as dificulda-des. Quando nenhuma dessas táticas dão certo, impõem mesmo aditadura, ou a forte repressão. Em todo o caso, vão tentando acal-mar o quanto podem o povo, permitindo-lhe toda espécie de aliena-ção: drogas, bebida, cinema fantasioso (histórias irreais pseudopa-trióticas), liberdade sexual, segurança social.

A idéia de que o trabalho é penoso é decorrente dos indivíduosque tomaram conta do poder (atualmente o econômico-social),

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transformando-o em algo extremamente penoso, porque ele foi or-ganizado contra os interesses do povo — é para servir só à vaidadedos poderosos; assim sendo, somos obrigados a realizar o que nãoqueremos fazer, e sabemos que não nos beneficia. Somos empurra-dos para realizar o que não desejamos fazer porque não é a nossofavor, criando no íntimo um grande dilema. Desse modo o traba-lho se tornou muito penoso; mas podemos modificá-lo. E bom queo leitor saiba que o que existe na Bíblia, não precisa ser definitivo— basta que retiremos os motivos pelos quais transformamos a vi-da em um sacrifício.

O cinema americano mostrou a luta dos indivíduos perseguidoscontra os seus opressores, em um claro prenúncio da libertação fu-tura do povo de seus algozes — e geralmente os perseguidores sãoconstituídos por pessoas poderosas, que usavam as leis e outras per-sonalidades para aumentar o seu poder econômico-social. Aliás, to-das as revoluções e guerras na História da Humanidade visaram der-rotar a opressão de alguns contra a maioria. O indivíduo do podereconômico-social vive escondido; poucas pessoas sabem de seus há-bitos, porque ele é cioso de sua intimidade; posso mesmo afirmarque ele é semelhante ao demônio — porque sabe perfeitamente operigo que corre se aparecer, se os outros souberem de suas inten-ções — toda pessoa ruim procura viver isolada, como as bactériasque medram nas sombras, enquanto a luz vem do alto, mostra-se edá a vida.

O jornal U.S.A. Today, 5 de Fevereiro de 1986, traz a pesquisaThe New Compus Attitude on Sex (A Nova Atitude do Compus Es-tudantil em Relação ao Sexo), de Nanci Hellmich, onde mostra queatualmente, "29.2 por cento dos estudantes pensam que o seu tra-balho os fará milionários; 11.6 por cento pensavam assim em 1976;8.5 por cento em 1966". Tal fato demonstra como está sendo usadaagora esta técnica de prometer a riqueza, para os jovens ficarem quie-tos em seu conformismo. Aliás, estes últimos estão abandonandoa promiscuidade sexual, colocando os poderes sociais em perigo:"31.4 por cento pensam que a geração de seus pais era promís-cuo demais; 4.2 por cento pensavam da mesma maneira em 1976e 1.3 por cento em 1966" (no mesmo artigo). Os estudantes nembem saíram de uma alienação e já estão sendo empurrados para ou-tra, que é a ilusão do poder econômico, que eles jamais alcançarãodentro da estrutura atual da sociedade.

A humanidade não pode depender da cabeça de pessoas, comotem acontecido até o presente momento; temos de conseguir orga-nizar um sistema de regulamentos que funcionem em benefício dopovo. Hoje (5.2.1986) estava vendo uma revista Business Week, quemostra pessoas importantes no mundo dos negócios, e vi que todoseles têm aparência de graves doentes: fisionomia transtornada, frie-

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za muito grande na expressão, narcisismo acentuado (pelas vestesque usavam) e até mesmo uma maneira de olhar meio debilóide. Is-so mostra como eles puxam a humanidade para um plano inferior,nivelando-a por baixo.

Quem sabe, trabalha, quem não sabe, explora os outros; se o in-divíduo trabalha, não consegue ganhar bem, e só os ociosos é quetêm tempo de explorar o semelhante. E bom que a humanidade sai-ba disso, que existe uma grande inversão que leva os indivíduos ho-nestos e bem-intencionados ao caminho do estudo e do trabalho —e, de outro lado, os doentes, maldosos, incapazes, parasitas, queobrigam os outros a trabalhar para eles. Vocês já imaginaram colo-car um indivíduo da família multimilionária X ou Y a trabalhar emum escritório, uma fábrica, uma oficina? Pois bem, são justamenteos inativos que seguram o desenvolvimento humano, a pesquisa cien-tífica e o bem-estar dos povos. Essa idéia que o rico sabe mais doque os outros é invertida, pois o número dos que se tornam milio-nários pelo trabalho é diminuto.

A idéia de querer ser rico não é errada; o problema que se colo-ca de início é: por que eu não posso usufruir de uma vida normal,com uma certa facilidade para ter conforto, viagens, boas roupas,possibilidade de estudar e de me dedicar às artes? E a resposta queme ocorre é que a estrutura econômico-social não o permite. Poresse motivo, toda pessoa que consegue enriquecer com o seu traba-lho honesto tem muito valor. Porém, geralmente não é isso o queacontece neste campo, porque exige de 10 a 12 horas de trabalhopor dia, durante mais ou menos 30 anos, e ainda em um tipo de ati-vidade de empreendimento (segundo diz Thomas Stanley, profes-sor de Marketing na Universidade Estadual da Georgia em Atlanta,no artigo "Milionários Comuns", U.S. News, 13 Janeiro 1986,

pág. 45).Uma das profissões melhor remuneradas neste país é a de médi-

co, mas nenhum deles tornou-se rico por causa da medicina; porexemplo: Dr. Melvin Moore, 60, tem uma prática radiológica emBensonhurst, Nova Iorque. Mas ele ganhou mais dinheiro em seusnegócios paralelos, construindo casas em Bethlehem, Pennsylvania.Outro engano: os que querem ser milionários são melhor avisadospara não irem trabalhar em grandes corporações. De fato, 85 porcento dos milionários americanos possuem seu próprio negócio ousão sócios de uma companhia privada. Outra noção falsa é que ar-tistas, escritores e atletas formam um grande segmento da popula-ção de milionários. Nem mesmo 1 por cento dos milionários fize-ram fortunas nesse campo, diz Jonathan Robbin, presidente da As-sociação Claritas, uma firma de pesquisa de mercado de Alexandria,Va (o mesmo artigo ainda).

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Como eu tenho mostrado no transcorrer deste livro: 1) para serrico, o indivíduo tem de passar a vida toda em um esforço sobre-hu-mano para conseguir 1 milhão de dólares; 2) que uma atividade co-mum, mesmo sendo medicina, não confere riqueza; 3) que toda pes-soa que dedica seu tempo a ganhar dinheiro, torna-se anormal, por-que não consegue tal resultado em uma profissão comum; 4) queo modo mais fácil de se tornar milionário é nascer rico; 5) e quea organização econômico-social fechou o seu ciclo de novos enri-quecimentos, porque o mercado de milionários está saturado. As-sim sendo, não pode haver um crescimento significativo de enrique-cimento do povo, o que mostra que a riqueza do mundo está esta-cionária, ora, como a população sempre aumenta, estamos come-çando a entrar em um período de grave empobrecimento coletivo.Temos que romper essas amarras, para que o mundo não entre nes-se declínio, que irá atingir até mesmo os milionários atuais. A ri-queza do Universo é abundante para todos, e não superabundantepara uns poucos.

O poder é a palavra do momento, e provavelmente a mais usadanos meios de propaganda; o povo americano consome alimentos,pratica ginástica, faz meditações, procura o dinheiro, visando au-mentar o seu poder. Porém, o maior poder de todos está sendo es-quecido, que é o poder da liberdade, ou melhor, de realizar a justi-ça e a bondade. Conforme já comentei, no mesmo momento em quea política americana realizava o sonho do ser humano sobre a Ter-ra, em ser livre, outro poder paralelo organizava-se rapidamente,para coibir esta Iiberdade — pois segundo O. Wright Mills (The Po-wer Elite, pág. 271), foi em 1866 que as corporações iniciaram a to-mar conta do poder. Esta vitória do capitalismo vem produzindotoda uma série de desastres para a humanidade: o crime organizadoimitou os métodos dos grandes negócios, e o desenvolvimento degrandes círculos de gangsters; um sonho de prosperidade imaginá-ria terminou de repente com o pânico de 1929, e os anos subseqüen-tes com a depressão econômica progressiva; a 1a. e a 2 GrandesGuerras Mundiais, o Vietnã, a crise do petróleo, a Revolução Mar-xista na Rússia, a divisão da Europa e da humanidade em dois regi-mes iguais na base (capitalismo do indivíduo e do Estado).

Para saber o grau de poder de um indivíduo, temos de saber:1) seu nível de inteligência, 2) sua capacidade afetiva, 3) e sua atua-ção. A idéia de que o poder depende do tamanho de seus músculos,ou da conta bancária, é errônea. O verdadeiro poder de uma naçãoestá em sua cultura, ciência e arte, ou melhor, no valor de seus ha-bitantes: esta é a base da civilização. Até mesmo a defesa de umpovo reside mais em sua capacidade de trabalho; sabemos que osEstados Unidos não estavam preparados para enfrentar a Alema-nha nazista, porém, em pouco tempo transformaram suas fábricas

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de carros, geladeiras, máquinas de lavar roupa em indústrias úteispara a guerra. Vamos dizer que se o povo que tem o mais, tem omenos — mas se uma pessoa se mediocriza, não consegue nem mes-mo o mínimo para sua vida. O grande poder, o verdadeiro poder,está no amor, porque só ele constrói, só ele realiza; assim sendo,podemos falar que a fraqueza está na arrogância e na inveja, poiso ódio é o sentimento dos fracos.

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3. Estado, família e propriedade

Se, em sua origem, as estruturas sociais foram organizadas in-versamente, tudo o que foi elaborado posteriormente sofreu o mes-mo processo. Estou falando que inicialmente o Estado foi criado,contra os interesses do povo, lesando-o irremediavelmente. Isto ex-plica a formação de uma verdadeira multidão de Estados, às vezes,dentro de um mesmo povo (Alemanha e Itália antigas) — ou, en-tão, vários Estados independentes no mesmo país (Estados Unidos).O ideal de Einstein, ou seja, de eliminar as nações, unindo toda ahumanidade, é muito mais fácil do que pensamos — porque o nos-so problema não é realizar tal unificação, pois todos os seres huma-nos aceitam viver juntos; o grande problema que temos são os po-derosos, que só têm poder, porque conseguiram separar os povos.

A fomentação de rivalidades, lutas e discórdias, é realizada pe-los poderosos, para defender seus poderes, que só dependem, paraexistir, de amplo domínio sobre o povo. Exatamente como as pes-soas mais doentes, que necessitam da aprovação dos outros para con-seguir se agüentar.

Como a sociedade foi construída de cima para baixo, o povo temde viver como as mentes megalômanas dos poderosos pensam, e nãocomo é a realidade mesmo, isto é, como ele pensa verdadeiramente(o povo) — o que equivale dizer que deve predominar a fantasia;aliás, o que a propaganda promete é justamente um punhado de ilu-são (ser milionário, alcançar a fama fácil), como se a vida socialfosse um milagre.

O Estado e a família foram organizados para preservar o podereconômico e social, dos grupos mais hábeis para manejar (o poder);para isso, eles criaram uma série de fantasias em torno dos cargosimportantes. Uma vez, é o príncipe encantado, ou a linda princesaque virá trazer a felicidade; em outra época, é a moça feudal, atual-

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mente é a menina rica, ou o homem milionário, que irá trazer aosseus escolhidos milhões de venturas. Porém, todos esses "sonhos"poderiam ser realizados, se todo o povo estivesse usando os paísesem seu benefício.

A organização familiar e a estatal são destinadas a proteger aspropriedades privadas — vamos dizer em uma linguagem clara: fo-ram feitas para assegurar a corrupção dos poderosos, que possuemmais bens do que podem usar. De outro lado, a Trilogia Analítica,não é contra o que é privado, ou o poder — mas sim se opõe a essetipo de poderio existente. Queremos que haja o poder pelo traba-lho, pela capacidade pessoal, e não pelo dinheiro que o indivíduotenha, ou pelo pacto que ele faça com os corruptos.

Pelo que a Trilogia Analítica descobriu, atualmente, quase todapessoa revestida pelo poder é corrupta; o que a faz usar de suas prer-rogativas, sempre em detrimento do bem comum. Infelizmente, éexatamente isto o que acontece: o povo esmagado, cada vez maisoprimido, e o grupo dos que têm o poder acusando-o de todos osproblemas sociais, que eles mesmo criaram (os poderosos). Porém,estamos em uma época propícia para realizar a transformação so-cial, pois o povo amadureceu.

Os Estados Unidos constituem a nação mais poderosa da Terra;porém, seu povo está cada vez mais pobre: 95 por cento vive commenos do que 40.000 dólares anuais. Onde está todo esse dinheiro?Esse dinheiro está nos bancos, em toda espécie de rendimentos, pa-ra ser emprestado, e render mais juros. Isto mostra que o sistemaeconômico-social entrou em bancarrota definitivamente; cada ame-ricano adulto deveria estar ganhando 40.000 dólares mensais, paraser usado em benefício de toda a sociedade. O dinheiro guardadoé como a inteligência e as aptidões brecadas; por este motivo, nãose constroem mais estradas, pontes, museus, jardins, teatros, igre-jas — a humanidade parou. Como é possível algumas centenas depessoas controlarem todo o dinheiro e riqueza da humanidade?

Os que trabalham agora são escravos muito mais baratos, do queos do passado, porque os seus "proprietários" só têm de pagar umsalário (de fome, ou não, se são capatazes), e não têm qualquer res-ponsabilidade sobre seu futuro, porque podem dispensá-los na pri-meira doença — enquanto os escravos passados eram obrigados amorar com eles e receber assistência médica e de "aposentadoria".A História da Humanidade deveria ser chamada de A História daVergonha dos Poderosos.

O povo já notou que ele é tratado como se fosse delinqüente?Se vai comprar alguma coisa (carro, artigos em uma loja, casa), pre-cisa passar por um processo de exame humilhante: é especulado so-bre sua vida pessoal, o que faz, onde ganhou o dinheiro, como pre-tende pagar; tem de assinar uma série de documentos — os países

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estão repletos de advogados, as leis e regulamentos são incríveis. Etudo isso para garantir o poder dos desonestos; as firmas, de car-ros, e as lojas têm um corpo jurídico, que garante legalmente a es-poliação do povo.

Há alguns anos eu estava na Suécia, e soube que havia uma lei,que dava o direito do filho processar seus pais por maus-tratos. Deinício, parecia algo meio absurdo — mas agora noto melhor todoo verdadeiro perigo por que passam as crianças, na companhia depais doentes. Até o chamado poder paterno (ou materno) constituium grande problema para o ser humano. De modo geral, os casaistêm de ser controlados por uma Sociedade Trilógica, para que suasneuroses não ofereçam dificuldades para educar as crianças.

Durante o período de eleições, o povo não sabe a quem esco-lher, porque cada candidato: 1) faz demagogia prometendo o quenão poderá cumprir, se eleito; 2) ele se endivida para promover suapropaganda, ficando comprometido com os seus credores. Assim,o povo sempre é enganado.

O fato mais curioso é que Lincoln já dizia que todo o poder ema-na do povo; porém, todo político acredita que é ele quem tem talpoderio. Tomás de Aquino falava que o poder advém de Deus —como se o imperador, o chanceler, ou o presidente de uma naçãorecebesse tal função do alto. A Trilogia afirma que todo poder éoriundo do bem, da verdade e do belo — e só a pessoa que é boa,verdadeira e acatadora da beleza é possuidora do poder — exata-mente como é o Criador. Quanto mais semelhantes somos a Ele,mais força teremos.

Vejo que muitos levantam a seguinte objeção: — E os ditado-res, e as pessoas ligadas aos governos sangüinários, de onde tiramo poder? É fácil de notar que todos eles desmoronaram — porqueo fim do mal é a sua autodestruição. Porém, o que é bom e verda-deiro sobrevive, assim como as pedras preciosas são perenes, enquan-to as bijuterias de vidro quebram rapidamente. Somos obrigadosa admitir que Deus é mais poderoso que os demônios.

Assim, como a vida espiritual é superior à física, é óbvio quea verdade é superior à mentira, porque esta última não tem vida porsi mesma. Passaram-se muitos séculos para que a humanidade pu-desse acordar para esta situação totalmente injusta. No momento,estamos com todas as condições para tomar conta do mundo queé nosso.

Muitas pessoas poderão estranhar o fato de termos descobertouma patologia social, incrustada principalmente nas pessoas pode-rosas socialmente. Mas não é difícil perceber o porquê: 1) todos nóstemos uma patologia psíquica (inveja, cobiça, ódio, megalomaniae narcisismo); porém, se não temos poder, também não poderemos"realizá-lo". 2) Os que chegam ao poder, de modo geral, têm tal

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patologia muito mais acentuada, porque dedicam sua vida, para acolocarem em ação. 3) Depois que atingem o poder, identificam-secom o cargo, acreditando que são deuses (teomania); conseguem ri-quezas, aliviando a inveja e cobiça — enfim, realizam a loucura emsua totalidade. Por este motivo, Thomas Paine (1737-1809) dizia que"se os seres humanos estiverem entregues aos seus próprios impul-sos, usariam de sua liberdade para restringir a dos outros; de mo-do que o governo seria necessário para proteger a liberdade, de-vendo sua autoridade ser reduzida ao limite mínimo; a função dogoverno não é a de criar valores, mas de não permitir que os ganan-ciosos impeçam a sua existência — porque os indivíduos ambicio-sos sempre conseguiram explorar a superstição e a credulidade dasmassas, para oprimi-las; aliás, a classe dominante está comprome-tida a se manter no poder, sendo contra o liberalismo — a principalobrigação do político liberal é a de encorajar o povo, para se rebe-lar contra as leis tirânicas e seus tiranos" (O Reino do Homem, N.R.Keppe, pág. 201). Alexandre Hamilton (1757-1804), com James Ma-dison e John Jay defendiam a total liberdade do povo frente a umaConstituição conservadora. Hamilton dizia que "os homens que cor-tejavam o povo, na maioria das vezes, acabavam ditadores" (O Rei-no do Homem, N.R. Keppe, pág. 202). John Adams (1735-1826)falava que "os elementos aristocráticos do governo deveriam serequilibrados pelos democráticos, pois toda pessoa que chega a umafunção política importante identifica-se com ela" (O mesmo livro,pág., 202).

E fácil de ver a enorme preocupação que os construtores dos Es-tados Unidos tiveram com a questão da liberdade — chegando esteúltimo (J. Adams) a ter notado que o ser humano se identifica como seu cargo — que nós apontamos na sociopatologia, como sendoum problema de teomania, que é a principal patologia do homem.

Tomas Jefferson (1743-1826) acreditava que todo homem pos-sui certos direitos inalienáveis, como da vida, da liberdade e da bus-ca da felicidade, temia que o poder político se alojasse em algumgrupo; dizia que o pior de tudo era o egoísmo dos monarcas, sacer-dotes e nobres; rejeitava a idéia de que um homem pudesse ser su-perior a outro; tinha esperança que a riqueza se distribuiria de acor-do com o esforço e a habilidade individuais (o mesmo livro, págs.202 e 203).

Dos quatro pensadores, T. Paine notou com mais clareza o pro-blema da sociopatologia, como o poder aliena e incentiva a megalo-mania, tornando-se um perigo para o povo — mesmo que não ti-vesse os nossos conhecimentos atuais. De modo geral, todos eles ti-nham grande receio dos poderosos. Aliás, se os Estados Unidos ti-veram maior desenvolvimento do que os outros países, foi porquetiveram uma melhor percepção inicial do poder. Temos de acres-

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centar o fato de que o poder em si, como está organizado, está sen-do exercido de maneira imoral, porque é contra os verdadeiros inte-resses do povo.

Muitas pessoas olham a questão dos interesses econômico-sociais,não percebendo o problema da inveja, que leva os indivíduos reves-tidos de poder, a impedir o desenvolvimento de seu povo. Por estemotivo, é uma verdadeira loucura dar poder a quem quer que seja.

De todos os pensadores, acredito que John Locke (1632-1704)constitui aquele que forneceu as melhores explicações sobre a vidapsicossocial, motivo pelo qual a Inglaterra se tornou a primeira po-tência mundial, e o primeiro país a se industrializar. Ele disse que"não existe poder inato, ou de origem divina; que o Estado nascede um pacto entre os homens, pois nascemos livres; tal pacto erapara preservar as leis naturais (a vida, a liberdade e os direitos natu-rais); o pacto social seria para evitar a guerra, que acontece quandoo governante se coloca contra o povo — e só o povo decidiria quan-do ocorreu uma quebra de confiança, pois só quem concedeu o po-der pode saber quando se abusa dele" (Reino do Homem, 2 vol.Norberto R. Keppe, pág. 182).

Como filosofia, tudo bem; John Locke falou como a sociedadedeveria ser e, em parte, foi mesmo. Porém, a Trilogia Analítica, queé uma ciência, enxerga como a humanidade é realmente, isto é, to-da essa incrível corrupção e doença, que foi introduzida na vida diá-ria, pelos que ocuparam o poder, e pouco a pouco introduziram leisque protegessem os próprios interesses. Os Estados Unidos eram real-mente um país diferente até 1950, quando o povo passou a ser to-talmente dominado por um outro tipo de mentalidade no poder.

Não somos lobos com nosso semelhante, (como falava Hobbes),somos amigos, mas os poderosos querem que sejamos inimigos —porque, se nós nos unirmos, saiam da frente, tomaremos o poderdeles, e sem lutas sangrentas, porque a técnica que eles usam é ade dividir, para poderem dominar. Eles é que são nossos inimigos,mesmo que não o saibam.

O homem é um ser social, por excelência, e não um animal ra-cional (Aristóteles), isolado e sem sentimento. A vida individual nãopode ser boa, se não for boa socialmente, assim como a vida socialnão pode ser agradável, se a individual não for suficientemente sã.Uma, é totalmente dependente da outra; deste modo, convém usarmais o termo psicossocial, para esclarecer a realidade humana. Maso fenômeno mais importante a ser notado é o fato que onde estáo poder existe a psicossociopatologia total (a doença individual ea social). Assim sendo, tal fenômeno precisa ser conscientizado, paraa sociedade conseguir melhorar.

O povo está preparado para realizar a maior revolução em todaa História da Humanidade — mas isto será impossível, através do

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poder — porque o tipo de poderio atual é, por si mesmo, corrupto;assim sendo, temos uma grande tarefa pela frente, ou seja, derru-bar o modo de poder atual, para substituí-lo pela vontade do povo— que não quer agredir quem quer que seja, mas só viver feliz.

Analisando os indivíduos poderosos, sabemos que eles estão sem-pre mentindo, para poder permanecer lá; este aspecto o povo temde conscientizar, para poder ter uma existência normal. Caso con-trário, será impossível qualquer mudança pessoal; por exemplo: amaior parte das pessoas acha que Motor Company, Laser Enterpri-se, Pulpo and Rony (estou dizendo das grandes companhias, comnomes fictícios) são empresas honestas, não conseguindo imaginarque seus incríveis lucros vêm da corrupção.

Existem duas classes de psicóticos: aqueles que chegam ao po-der, e os que não chegam, e acabam "sendo " Napoleões e Césaresem uma clínica psiquiátrica: ambos são malévolos e mentirosos. Aquestão da libido está muito ligada ao poder econômico-social por-que, tanto o homem, como a mulher visam, em primeira instância,à realização de sua teomania (megalomania e narcisismo): o homemdiretamente pelos cargos, e a mulher através do companheiro, pelasedução (Eva Perón). Vamos dizer, de modo geral, que ou se alcan-ça o poder pela corrupção, ou se se interna em uma psiquiatria, exer-cendo o papel de qualquer indivíduo poderoso do passado.

Nesta relação entre poder e psicose, o leitor poderá notar queo social é a continuação do psicológico, e o psicopatológico é filhodo sociopatológico; de tal forma um é ligado a outro que quase nãohá diferença. E fácil notar que as autoridades têm qualquer coisamuito estranha: ou nos causam medo, ou "inveja", ou um senti-mento indefinido de curiosidade e perplexidade. Tal fato nos faz ime-diatamente notar que o ser humano não pode ter uma autoridadelivre (à vontade), senão realizará loucuras. De modo que a únicamaneira de haver normalidade é através do controle por sociedadese empresas trilógicas (conscientizadas de seus erros). Quando se vêum artigo de jornal de um país qualquer, com toda certeza, ele estáfalando de algum louco poderoso, que está criando dificuldade pa-ra outro; e os dois usam o povo para justificar suas atitudes.

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4. A Sociedade Trilógica

Não adianta querer que o ser humano desista de seu egoísmo,de sua avareza e de seu "amor próprio " , o único caminho que nosparece mais cabível é o de construir uma sociedade em que o indiví-duo não possa mais dar vazão aos seus problemas, de forma agres-siva. Em nossos trabalhos de psicoterapia, temos um grupo muitogrande de pessoas que melhoraram muito; porém, como a estruturasocial é egocêntrica, tais pessoas, ao voltar aos seus afazeres comuns,retomavam a velha psicopatologia (inveja, exploração ao próximo,desonestidade).

Existe a dialética entre o homem e a sociedade, de tal modo que,um se torna dependente de outro. De outro lado, todos os livrosescritos sobre uma vida social ideal (República, Utopia, A NovaAtlântida) não surtiram efeito — porque não foi corrigida a condu-ta individual. Neste sentido, o próprio cristianismo não deu certo,porque não realizou a mudança social; o seu trabalho foi circuns-crito a grupos isolados, ou a sociedades, que se alienaram da reali-dade, produzindo no passado a Idade Média, e um número enormede conventos, monastérios e de comunidades estranhas ao meiosocial.

Não podemos dizer que a sociedade civil seja só o local de alie-nação para o homem (como falava Marx), porque quem pensa as-sim desenvolve a persecutoriedade a um nível insuportável, criandoa luta de classes. Agora, sabemos que também não adianta querercorrigir o ser humano, deixando a vida social continuar na mesma.O mesmo remédio, que serve para um, tem de servir para o outro,senão será um medicamento errado. Estou dizendo que a causa dotranstorno pessoal e coletivo é idêntica. E se a patologia é idêntica,certamente a necessidade também é igual, e a felicidade que um sersente em ser justo, com toda certeza, será a mesma satisfação senti-

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da no ambiente social — mesmo que o indivíduo não tenha de ante-mão tal desejo. Não estamos mais no tempo de criar utopias, por-que chegamos a um grau de amadurecimento muito grande, e a hu-manidade está preparada para dar o passo decisivo.

Todos os seres humanos são iguais em sua capacidade, inteligên-cia e sensibilidade; as diferenças que notamos são oriundas da es-trutura social em que vivem. Exemplificando: os germanos da Ale-manha são diferentes dos germanos americanos; os ingleses da In-glaterra não são iguais aos seus descendentes africanos, asiáticos ouamericanos; os pretos da África têm uma conduta diversa dos pre-tos americanos; os descendentes de japoneses no Brasil nem pare-cem que têm o mesmo sangue do povo que habita no Japão. Noentanto, o brasileiro, ou o norte-americano, que vive na Europa,têm muito a ver com o europeu; e os asiáticos que estudaram noocidente organizaram uma civilização tão, ou mais ocidentalizadaainda, que os povos que vivem nesta parte da Terra (ocidental). Enecessário que o homem perceba que não há superioridade de raça,e sim de filosofia de vida, e de sentimentos: o povo que os tem maisdesenvolvidos (filosofia e afeto) é o que se adianta mais, em relaçãoaos outros povos. Acredito que, dentro de pouco tempo, muitos gru-pos de pessoas, que hoje são desprezadas, poderão dar uma liçãoaos outros.

Parece-me que até agora não houve uma mudança essencial naconduta do ser humano; tudo o que foi realizado, foi simplesmenteadaptado ao gosto invertido do homem: cristianismo, helenismo,economia, psicologia, ciência, imprensa, rádio, televisão, cinema —continuando na mesma. E a explicação é que a sociedade é tão divi-dida como o homem; por exemplo: no ano de 1985 foi realizadoo filme "The Emerald Forest", que mostra um maravilhoso cená-rio na floresta amazônica — bem ao contrário do que é na realida-de: infestada de cobras e animais peçonhentos, tórrida e difícil desuportar; a própria narração é inteiramente fora do real. Estou di-zendo que existe um hiato entre a verdadeira existência humana, eo que é elaborado pelo cinema, rádio, televisão e meios de propa-ganda em geral.

Nem o ser humano endireita por si próprio, e nem a sociedade;se não houver um trabalho com ambos é impossível uma mudançaprofunda na face da Terra — e este trabalho tem de ter o mesmofundamento, isto é, a percepção de idênticas patologias, e dos mes-mos interesses e ideais. E importante que o ser humano e a socieda-de notem que, por causa da sua doença, eles desviaram seus objeti-vos de vida, tornando-se duas peças emperradas, dentro do incrívelmecanismo universal, de perfeição e harmonia.

E muito importante perceber que uma grande carga de angústiae mal-estar é proveniente do tipo de estrutura social, dentro da qual

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vivemos — porque todos os maus desejos (que desejamos esconder)se manifestam na sociedade. Por exemplo: a exploração do próxi-mo, não só a econômica, como a emocional, a familiar, escolar,são "legalizadas" socialmente. E não é que nossas leis sejam atra-sadas — elas são frontalmente contra os interesses da civilização.Basta ver o desnível econômico, racial, sexual, que existe. Desdecriança, somos obrigados a pensar que existe uma diferença entrehomem e mulher, rico e pobre, branco e preto, culto e ignorante— a ponto de Aristóteles justificar a escravidão, e os senhores daIdade Média duvidarem que os indivíduos inferiores tivessem umaalma. Agora, temos de admitir que a sociedade humana fracassou;por este motivo, estamos propondo o modelo trilógico, que é a ima-gem do Criador sobre a Terra.

A sociedade é construída por três partes: o indivíduo, a institui-ção e ela mesma.

Para que funcione adequadamente, a instituição tem de ser sã,e, conseqüentemente, a própria sociedade será equilibrada. Porém,se o indivíduo quiser ser são, dentro de uma sociedade portadorade instituições doentias, é absolutamente impossível. Existe sempreo diálogo: ser humano-instituição. Este é o grande dilema de nossaera: sabemos que o homem é doente, mas tem a psicoterapia (indi-vidual e de grupo); as instituições são patológicas, e não tiveram atéagora uma socioterapia, e uma correção de suas bases.

Na vida política foi criado o socialismo, o trabalhista , o comu-nismo; na economia, o capitalismo, o marxismo; na religião, as igre-jas cristãs, maometanas, judaicas — e todos eles estão em conflito.Na vida afetiva, foi criado o casamento, com ou sem divórcio, acasa familiar — e os casais não se sentem bem. E o motivo dessasdificuldades foi a ausência de conscientização dos seus enganos. Exis-te um outro fator muito importante : os três elementos têm de fun-cionar harmoniosamente, como se fossem um só, trilogicamente, va-mos dizer. E impossível haver sociedade perfeita, sem essa harmo-

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nia: a pessoa e as organizações sociais têm de realizar uma dialéti-ca; se um dos dois for patológico, o equilíbrio é quebrado. E quan-do os dois são desequilibrados, como acontece realmente, então te-mos este terrível ambiente de guerras, atritos e intriga.

As pessoas pessimistas costumam dizer que estamos em uma si-tuação sem saída; pela Trilogia Analítica, eu digo que poderemoscomeçar com a mais bela civilização de toda a História da Huma-nidade. Existem todas as condições para isso; porém, teremos deaceitar a consciência de todos os erros, que estamos cometendo, pa-ra que consigamos controlar a patologia pessoal e social. As pes-soas que denunciaram até agora as injustiças, constituem elementosintermediários entre a era passada de enormes erros sociais, e o no-vo período de justiça a que estamos chegando. Talvez possa se co-locar aqui: Proudhon, Hélder Câmara, Luther King, BertrandRussel.

Sempre que há atrito, é porque o ponto de vista defendido é er-rôneo, pois os extremos se chocam, e só o meio termo equilibra;quando se aceita uma teoria, que cause uma alteração mental, é por-que ela não está de acordo com a natureza humana. O mesmo fenô-meno acontece na sociedade: se uma idéia causa convulsão, é por-que não é certa. Tudo o que é equilibrado é proveniente da (real)dialética entre o interior e o exterior, o psicológico e o social, o afe-tivo e o intelectual. Neste caso, a Trilogia Analítica está dando oseu último passo, para completar-se como uma ciência autônoma;provavelmente, esta caminhada final será o inicial, no sentido deum entendimento melhor sobre ela. Toda verdadeira ciência é ela-borada em elementos experimentais, a fim de organizar seu corpoteórico (hipóteses) para, finalmente, voltar-se para a prática.

Quanto mais vivo, mais me convenço de que o único valor queperdura, no mundo, é o bom trato, que costumam chamar de cari-dade. Tudo o que existe atualmente tem os seus dias contados: omar e oceanos, continentes e países desaparecerão — e o único ele-mento que permanecerá é a conduta boa do ser humano; cada mi-nuto de vida é uma grande graça que temos, para participar da bon-dade do Criador, até que consigamos nos identificar complementecom Ele, vivendo na felicidade em que Ele vive.

Todas as instituições sociais têm colocado a família como sendoo centro da vida social — e tudo deveria funcionar para servi-la.Estamos praticamente apresentando uma nova forma de sociedadeque poderá resolver todos os problemas atuais; por exemplo, oeconômico: a) pelo uso global das residências e apartamentosdevido ao aumento no número de pessoas morando juntas; b) pelaeconomia de combustível, como é evidente; c) pelo uso mais amplodos carros.

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A família de modo geral tem de ser "controlada" pela nova so-ciedade; caso contrário, ela forma um "quisto" contra nós obrigandoos outros a servi-la — como sempre acontece com os famosos gru-pos familiares, seja no sentido econômico, político, ou social. O quese viu até hoje foi a exploração que as famílias realizam, sugandotudo o que podem da sociedade. Não é difícil localizar, em cada país,alguns nomes familiares famosos, que se especializaram na arte deexplorar. O mais interessante é que elas (as famílias), sempre foramvistas como beneficiárias do grupo social — e não beneficiadas, co-mo sempre foram. Fala-se que a família é a célula-mater; porém,esquecem que a célula existe para formar o corpo, ou melhor, suanecessidade é de viver em função do organismo — e não este, emfunção dela.

A vida social trilógica obrigará a sociedade a sofrer uma sériede mudanças na questão de: a) moradia, b) alimentação, c) vestuá-rio, d) casamento, e) trabalho, t) locomoção — enfim, haverá umatransformação completa em todos os setores da civilização, com umaenorme economia material, de tempo e psicológica (mental, espiri-tual). E fácil dar um exemplo de imediato: se uma pessoa, ou duas(o casal), é responsável pelo funcionamento de uma casa, o gastoindividual de energia equivale ao de todo um grupo (10, 20, 30, 50pessoas). Se tal esforço for dividido, haverá um aproveitamentomaior da atividade de cada um que, somada entre todos, constitui-rá um núcleo poderoso. Talvez, o aspecto mais importante entre to-dos é o do controle sobre os mais doentes (neuróticos e psicóticos)que não poderão mais comandar os outros, de modo doentio.

A sociedade trilógica é terapêutica por si mesma, devido ao pro-cesso de conscientização do erro, na qual está baseada. De maneiraque todos os seus membros automaticamente tomam uma atitudede equilíbrio, dentro e fora doseu grupo — irradiando sua influên-cia benéfica em todos os campos, onde estão agindo. Existem trêstipos de influência: a)pelo sentimento, b) pela palavra, e c) pela ação(pela sugestão, pela persuasão e pela conscientização); evidentemente,o último processo é o que realmente funciona. No entanto, a coa-ção tem de ser empregada no sentido de coibir os erros da comuni-dade — sem punição é impossível existir a vida social. Podemos di-zer que a sociedade trilógica exerce por si mesma 50 por cento depsicoterapia na mente de seus membros, devido a sua organizaçãosocial, econômica, religiosa, e principalmente científica. O proces-so de psicoterapia funciona praticamente todas as horas do dia,tornando-se uma socioterapia.

Em 1975 escrevi o livro Psicanálise da Sociedade onde tentei ana-lisar a sociedade, segundo as "descobertas" da psicanálise tradicio-nal. Não consegui bom resultado, mas pude perceber que haveriauma necessidade urgente de reformular as teorias freudianas. Foi

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o que fiz, descobrindo a Trilogia Analítica, que me deu condiçõesagora de organizar as Sociedades Trilógicas — que acredito servirãode modelo para toda a sociedade do futuro. De outro lado, é im-portante advertir que os psicanalistas e psicólogos têm se tornadoextremamente perniciosos para a sociedade, porque pretendem aca-bar com os sentimentos de culpa — que já são pequenos em relaçãoa todas as maldades que o ser doente pratica.

A nossa primeira Sociedade Trilógica em Yonkers (cidade pertode Nova Iorque) contou, logo no início, com algumas pessoas quedesejaram viver à custa dela: a) não queriam pagar sua estadia, b)e pensavam que os outros membros deveriam garantir sua perma-nência, no sentido econômico — exatamente como acontece n4 so-ciedade de modo geral. Porém, através do processo analítico (per-suasão, sugestão e coação), elas foram compreendendo que estavamagindo de modo invertido, mudando sua conduta. De 50 pessoas,4 foram resistentes, e tivemos que organizar uma lei social para puni-los (expulsão da sociedade se não começassem a pôr suas contas emdia). Este fato levou-nos a uma conclusão: que teríamos que elabo-rar um estatuto, que seria fundamental para nossa vida em comum.De modo geral, compreendemos que as leis são necessárias para asociedade, desde que sejam boas; aliás, a idéia de viver sem lei algu-ma é a mesma dos espíritos diabólicos, que pretendem fazer qual-quer coisa, sem ter nenhuma conseqüência.

A Sociedade Trilógica não faz restrição alguma ao tipo de reli-giosidade de seus membros; aliás, ela não é uma entidade religiosa,e sim científica (no sentido trilógico) que aceita a existência do Cria-dor — e também aceita pessoas desprovidas de qualquer fé.

O ser humano é lobo para outro ser humano (Hobbes); pode-mos dizer que a família e o poderoso são os que têm sido um verda-deiro lobo para a sociedade, porque fazem o que podem para reti-rar dela (sociedade) todas as vantagens possíveis — não lhe dandoabsolutamente nada, em troca. Porém, se a família e o poderosoestiverem dentro da Sociedade Trilógica decorre o seguinte: 1) am-bos têm de ser úteis à sociedade; 2) ambos serão controlados; 3) re-ceberão enorme auxílio do seu grupo, para crescer mais rapidamen-te e melhor. De maneira que a família e o homem poderoso perdemsua periculosidade social, e progridem com muito maior facilidade.

Para formar a nova sociedade trilógica, temos que organizá-labasicamente correta; caso contrário, é absolutamente impossível tor-nar cada ser humano idealista. Temos de ser realistas: cada um denós pretende: 1) ser feliz, na medida do possível; 2) possuir os bens(materiais) fundamentais. Ninguém é obrigado a fornecer aos ou-tros o que tem; aliás, tal feito não iria favorecer de modo definitivoa sociedade, porque seria uma exceção à regra geral — praticamen-te, uma gota de água fresca, em todo o mar de corrupção. E quan-

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do falo em corrupção, não estou indicando aqueles que agem ao con-trário das leis estabelecidas — estou apontando justamente toda aclasse de poder (econômico, político e social), que criou uma socie-dade invertida, por si mesma, imoral, que subtrai todo o bem quedeveria ser do povo, para algumas centenas de felizardos (os feu-dais, no feudalismo; os nobres, no tempo da nobreza; os burgue-ses, na burguesia; e os capitalistas e comunistas atuais). Aliás, osindivíduos denominados de delinqüentes nada mais são do que o ou-tro extremo: poderosos — ladrões; se não houver os primeiros, auto-maticamente não haverá mais os segundos.

Não é possível realizar qualquer revolução na humanidade, senão se partir do social: 1) porque a sociedade é a base fundamentaldesta existência; 2) não adianta milhões de indivíduos se modifica-rem (até mesmo todos os seres humanos), se não forem modifica-das as leis sociais. De início, é claro que os primeiros grupos deve-rão passar por uma transformação psicológica; após isso, os que vie-rem depois, automaticamente irão entrando no mesmo tipo de con-duta (livre), até que todos os países sejam atingidos.

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5. Empresas Trilógicas

Em uma revista brasileira (Veja) do dia 11 de Setembro de 1985constava, na página 119, que a poderosa indústria americana Rey-nolds Metais Company investirá 55 milhões de dólares para produ-zir latas de alumínio; tal projeto levantou protestos de indústrias bra-sileiras, que vêem ameaçados seus lucros. Estou querendo mostrarque não existe só uma luta de classes, mas uma guerra entre osdonos do poder econômico-social — em uma batalha generaliza-da para dominar os povos e as nações.

A função da Trilogia Analítica é a de acabar com esta luta ar-mada, que Clausewitz (general alemão) afirmou que a paz seria acontinuação da guerra, de outra forma. Se as empresas brasileirasfossem trilógicas, não haveria necessidade de esperar o investimen-to de um grupo estrangeiro, para produzir as latas de alumínio —há muito tempo já estariam neste setor também — porque: 1) have-ria todo um grupo pensando na melhoria da produção industrial,2) certamente, o lucro seria muito maior, 3) o país teria saído dadependência econômica.

A tal ponto a idéia monetarista é inviável que a Associated Presspublicou no dia 10.9.85 um anúncio de venda de lotes na Lua, apartir de 25 dólares; 50 dólares uma cratera e 1.000 dólares pelosmares, para arrecadar fundos para os museus. Tal atitude revela mui-to bem o grau de inveja do ser humano, pois tais aquisições impedi-riam o desfrute e o desenvolvimento humano. A melhor maneirade desistir do marxismo é viver na União Soviética; assim como omeio mais seguro de abominar o capitalismo, é fixar residência nosEstados Unidos: ambos os poderes econômicos dominam o próprioe os outros países, não por causa de seus foguetes, bombas e armas,mas porque constituem a realização máxima da patologia do homemsobre a Terra.

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Neste momento, me vem um esclarecimento de grande impor-tância: quando o ser humano se desinverter, olhará com desprezoo poder econômico-social que está amordaçando não só os povosestrangeiros, mas o próprio americano e o russo, impedindo que elestenham uma existência feliz.

Acabei de chegar de uma compra de disco que fiz na avenidaBroadway em Nova Iorque (8.10.85); lá, conversei com um fran-cês, vendedor, perguntando-lhe se ele não gostaria de ser tambémproprietário de uma loja: — "Não, respondeu ele, isto me daria gran-de trabalho", como se ele estivesse no melhor dos mundos, na ati-tude de dependência, e seu patrão sofresse incrivelmente. Ele era jo-vem, e parecia viciado em drogas. Este fato me fez lembrar a atitu-de dos moços da década de 60 e 70 que, em lugar de tomarem opoder, para transformar o mundo, voltaram-se para uma total alie-nação — é claro que, com toda a complascência dos mais velhos,donos do poder. Talvez não precise dizer que a maconha, o LSD,a cocaína e o próprio álcool alimentam a megalomania e a teoma-nia, dando idéia de grande poder para cada um. Esta foi a maneiraque o poder econômico-social usou, para abafar os sonhos da ju-ventude por uma sociedade justa e feliz. Aliás, quanto mais aliena-.

da estiver a humanidade, melhor ajudará os poderosos no sentidode dominar os povos; neste caso, os poderes religiosos os ajudamenormemente, porque pastores, padres e bispos agridem os fiéis,acusando-os de todos os pecados, e realizam um pacto com os po-derosos, para oprimir o povo.

Existem dois tipos de trabalho: o primeiro e mais comum é oque a maioria realiza, no sentido de ganhar dinheiro para viver; es-te trabalho geralmente é cabuloso, desagradável, porque não temalma — vamos dizer mesmo que é anti-humano, o que significa queé em oposição à nossa natureza. Podemos colocar aqui toda ativi-dade bancária, grande parte dos negócios e comércio, e tudo aquiloque não vem em nosso verdadeiro benefício. O segundo tipo de tra-balho é aquele que se realiza para o bem do ser humano — que de-veria ser tudo o que se faz, mas infelizmente é a minoria.

De modo geral existe um enorme gasto de tempo e de energiano trabalho, que poderá ser resolvido pela sociedade trilógica: Porexemplo: a) basta uma só pessoa para cozinhar, b) todos sustentama sociedade, e não apenas uma só pessoa (pai de família) tem deprover ao seu grupo. Aliás, está é a sua característica mais impor-tante: obrigar cada um a servir a todos, perceber que é maior vanta-gem para ele.

Desde a década de 1960, os Estados Unidos viram crescer o quedenominaram de entrepeneurs, que são pequenos empresários, quetrabalham para si próprios. Tal fenômeno demonstra que o ser hu-mano não pretende mais continuar "escravo" das grandes organi-

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zações; assim sendo, as empresas mudaram-se para países, de pre-ferência do Terceiro Mundo, tornando-se multinacionais. Com otempo, evidentemente tal estado de espírito chegará lá, obrigandoesse grupo de pessoas e recorrer aos países ainda mais atrasados pa-ra poder subsistir.

Na América Latina o poder econômico-social norte-americanocriou uma série de ditaduras (Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Bo-lívia), com a esperança de obrigar estes povos a trabalhar de acordocom o seu interesse. Somente agora quando eles (os poderosos) no-taram que uma nação amordaçada se torna inútil, e até perigosa,é que passaram a aconselhar a volta à democracia. De maneira que,mais uma vez, vemos a questão de interesse econômico-social agin-do de toda a maneira possível, para não perder o seu poderio. Seo marxismo conservasse o poder econômico dos capitalistas ameri-canos e europeus, toda a Terra teria esse regime no prazo de algunsdias.

É o capital que realiza uma empresa? Aparentemente, parece quesim: como é possível montar uma firma, se não houver dinheiro quecompre máquinas, alugue um salão, ou pague funcionários? Porém,na realidade, não é bem assim — porque não é necessário um gran-de gasto inicial; toda empresa que se inicie baseada em um grandecapital, já começou com uma idéia megalômana básica de fazer bas-tante lucro. O certo, o plausível, é iniciar uma empresa desde os seusfundamentos, ou melhor, através do trabalho de uma, duas, ou maispessoas, que se coloquem em ação, para chegar a um fim.

No jornal New York Times (de quarta-feira, 22 de maio de 1985na seção de negócios está escrito: "Representantes do governo ame-ricano disseram para os governos da América Latina tornarem suaeconomia mais atrativa para o capital privado como forma de ga-rantia de estabilidade futura e contornar o débito" — o que significadizer que os latino-americanos deveriam favorecer o lucro para oscapitalistas, se quisessem receber mais dinheiro (para serem mais ex-plorados ainda). O próprio americano está fazendo esta inversão,ao colocar o seu desenvolvimento social, industrial e científico nadependência do dinheiro — esquecendo que a riqueza econômicasó veio em consequência do seu crescimento técnico, na agricultu-ra, e no trabalho. O poder econômico-social é justamente a causade toda a instabilidade política na América Latina, e nos países doprimeiro Mundo — ocasionando uma situação explosiva, que podese manifestar de um momento para outro, se não for imediatamen-te corrigida. Do mesmo modo que, no tempo da Revolução France-sa, os nobres estavam em banquetes e festas, sem notar a ebuliçãodo povo, atualmente os milionários (poder econômico) estão isola-dos, sem notar o grande perigo que estão passando.

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Quando propomos a criação de empresas trilógicas, os capita-listas podem pensar que eles serão enormemente prejudicados; po-rém, verão com o tempo que uma organização assim será muito maisrendosa ainda, se se considerar só o aspecto econômico. Com o tem-po, todos aqueles que se opuseram ao nosso trabalho, acabarão poraceitá-lo, ao ver a enorme vantagem que ele trará. Estou falandoque os empresários bem intencionados aceitarão com o tempo as em-presas trilógicas, não apenas como o novo meio de subsistência, masporque elas lhe serão muito mais convenientes.

Uma série de problemas, praticamente insolúveis até agora, ob-terão rápida solução, através das empresas trilógicas. Por exemplo:o uso inadequado dos adubos e dos agentes químicos na agricultu-ra; a pesca e caça de animais em extinção; a poluição atmosféricae sonora; a contaminação das águas — e o motivo da correção detais dificuldades é a finalidade que terá esse novo tipo de atividade,ou seja, a preservação da vida, e não o lucro econômico. Automati-camente aqueles problemas serão resolvidos, pois o ser humano irátrabalhar para o seu benefício, e não para enriquecer as pessoas doen-tes, donas do poder econômico-social.

A empresa trilógica é rejeitada pelos poderosos atuais, porqueretirará o poderio deles — já que ela se baseia no trabalho, enão no capital empregado. Pode-se colocar a questão da seguintemaneira: quem é normal e trabalha, não tem tanto interesse em acu-mular dinheiro; aliás, só quem não trabalha é que tem tempo paraexplorar o próximo e enriquecer. Existe a idéia de que só quem édesonesto leva vantagem na vida, como se os honestos fossem pre-judicados e bobos; e uma filosofia de vida demoníaca e errada, por-que tudo o que é realizado, realmente, baseia-se no que é feito debom, certo e belo — esta tríade é a base da vida do ser humano,e do próprio criador.

Se uma empresa é capitalista, geralmente segue a orientação deuma. ou de algumas pessoas; se for trilógica (onde todas participam),haverá a cooperação e decisão também, de todas as pessoas, quea compõem. Um indivíduo erra mais facilmente do que 1 /2 dúzia,100, 1000, como é evidente. Acredito que esta será a única maneirade salvar as indústrias, a agricultura, a ciência e a universidade, queestão em crise. O ser humano só age se nota que está se benefician-do; toda a promoção e propaganda mentirosas têm pernas curtas,e o povo passa a rejeitá-las.

As empresas trilógicas aceitam o capital e o que poderíamos cha-mar de verdadeiro comunismo: a) colocando o trabalho na base, b)e o lucro, de acordo com a conduta de ação de seus membros —ou melhor, conforme o seu grau de eficiência. De maneira que é umtipo de capitalismo e comunismo diferente: o capital é valorizadoacertadamente (conforme o trabalho), e o trabalhador (em sua per-

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cepção ampla) é colocado no centro da empresa. O planeta foi cria-do para que todos os seres humanos usufruam de suas riquezas, enão apenas um pequeno grupo, como sempre foi até agora.

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6. Socioterapia

Todos os reformadores pretendem mudar a humanidade, ou noaspecto religioso, no político, ou no econômico; pelo menos, peloque eu saiba, nunca foi visto justamente o seu lado mais doentio,que é o fundamental. Aquela antiga advertência de Sócrates(conhece-te a ti mesmo), continua atualmente em premente necessi-dade — mas principalmente no setor social, e não só no individual,como tem sido visto até agora. É por este motivo que está sendodesenvolvida uma literatura que mostra toda a injustiça que os po-deres sociais usam contra o povo, alegando insanidade mental nosque enxergam melhor a corrupção dos poderosos. Talvez, nem pre-cise citar a internação de dissidentes russos, nos sanatórios da UniãoSoviética.

Há pouco tempo assisti a um filme francês que mostrou a saídade um grupo de doentes mentais de um hospital psiquiátrico, de-pois que os seus diretores o abandonaram, por causa da guerra. Osindivíduos internados estiveram algumas horas fora, e assistiram atantas barbaridades que, abandonando as roupas de fantasia queusavam, voltaram imediatamente ao sanatório, como sendo o localmais seguro. A grande mensagem foi justamente esta: o contato coma própria psicopatologia é o meio mais perfeito para se viver — por-que as lutas e conflitos sociais são provenientes da alienação, emque as pessoas que têm poder vivem. Parece que os poderosos vêemo povo como sendo um bando de esquizofrênicos, paranóicos, ma-níacos, agressivos e delinqüentes, em forma de projeção do que elessão (os poderosos) — como se o poder acobertasse todos os des-mandos. Quando alguém do povo fala qualquer coisa diferente, éporque ele é fora de lei; mas se um poderoso diz a maior idiotice,chamam-no excêntrico, genial, diferente.

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É por este motivo que estamos mostrando a existência de umapatologia social, e a necessidade de haver conscientização dela, pa-ra que a sociedade finalmente encontre sua libertação, e todos nóspossamos respirar aliviados. De modo geral, todos sabem que den-tro da existência de desníveis tão extremos (riqueza - pobreza, de-mocracia - ditadura, trabalhadores - poderosos), não poderá haverpaz. Este é o primeiro passo, a conscientização — os outros passosvirão fatalmente, ou felizmente para nós.

Penso mesmo que a psicoterapia será gradualmente substituídapela socioterapia, que é um processo mais amplo. Desde 1956 ve-nho tentando elaborar uma técnica social de tratamento que, só ago-ra, com as comunidades trilógicas, é que está sendo possível fazer— mas dentro de um conhecimento psicopatológico correto. De mo-do geral, podemos dizer que, se a vida social não for terapêutica,não é vida social — porque o indivíduo não tem condições de viverem equilíbrio, dentro de uma estrutura social desequilibrada. A so-ciedade exerce uma poderosa influência em cada um de seus mem-bros — e só um indivíduo genial consegue superar os seus erros.

Às vezes, tenho a impressão que estou mostrando uma proposi-ção, que havia se perdido nas brumas do passado — porque nãovejo outra possibilidade de desenvolvimento, senão pela verdadeirapercepção da realidade que a Trilogia Analítica propõe. Certa vez,lendo Freud notei que ele tinha uma absoluta confiança no valorda verdade; no entanto, ele se desviou tanto, e a humanidade acre-ditou tanto em suas fantasias, que eu próprio tenho agora a idéiade que o ser humano procura mesmo é a ilusão — enquanto nãosair de seu processo de inversão. E é esta a maior dificuldade paraa difusão de nosso trabalho.

Podemos afirmar que o ser humano e a sociedade vêm falhan-do, porque ainda não atinaram perfeitamente com as causas de seusproblemas. Parece que este aspecto estava reservado para a ciênciado psicopatológico, que só veio a florescer no século XX — mesmoque Freud e seguidores tenham desviado bastante tal orientação. Sa-bemos que a maior parte da humanidade está interessada apenas nasatisfação dos próprios prazeres, e não no princípio da realidade,como Freud dizia; a esta atitude chamei de inversão porque: a) éimpossível realizar qualquer ato bom para si próprio, se não for fei-to para os outros; b) quem está demasiado interessado em si mes-mo, jamais poderá ser feliz, porque esta atitude já indica que elenão está bem. Outra questão extremamente perniciosa é a tentativade tirar os sentimentos de culpa, tornando o indivíduo sem medo;isto equivale a fazer uma lavagem cerebral, no sentido de robotizaro ser humano. Este é mais um grande desserviço que devemos àpsicologia.

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Em 1975 publiquei o livro Psicanálise da Sociedade, onde tenta-va conhecer a estrutura social, através das "descobertas" freudia-nas: fases oral, anal e genital; Id, ego e superego; sentimentos es-quizo-paranóides e depressivos (M. Klein). De modo geral, tal estu-do esbarrou em muitas dificuldades, porque a maior parte dos con-ceitos psicanalíticos não são corretos; é por este motivo que HansEysenck declarou o "declínio e queda do Império Freudiando", emseu último livro sobre a psicanálise. A partir de 1977 consegui reali-zar uma série de descobertas, algumas das quais contrariava fron-talmente o freudismo; por exemplo: o sexo se baseia mais na fanta-sia; não existe o Complexo de Edipo; a sexualidade infantil é maisum mito. Como os leitores estão vendo, foram erros da teoria, por-que o aspecto prático, isto é, a conduta humana de alienação, a as-sociação de idéias (de Jung), o apoio emocional ao cliente, a medi-cina psicossomática (causa psíquica dos males físicos) constituempérolas científicas. Pois bem, a partir de 1977 consegui descobriras causas mais profundas dos males psíquicos: a teomania (megalo-mania e narcisismo), a inveja (universal, nome dado pela Dra. Cláu-dia) — aliás, era o caminho mais seguido, no começo do século, pe-los psiquiatras germânicos (Krãpelin, Köller ), e a psicanálise des-viou para o sexo.

A angústia, que existe, tem uma grande justificativa, devido aotipo de estrutura social em que vivemos. Quando Thomas Hobbesdisse que o homem é lobo a outro homem, não percebeu que os po-derosos criaram um sistema de vida inadequado ao ser humano. Va-mos dizer que estamos participando de uma vivência semi-humana,demoníaca, um purgatório antecipado, e até mesmo um semi-inferno(conforme o caso). E a causa principal de ter sido feito este tipo desociedade é a inveja excessiva dos que tomaram o poder (por causada própria inveja e cobiça); a única interrogação, que nos resta, ésaber se eles resistirão a esta análise agora.

Nós, o povo, estamos cansados de tantas teorias inventadas, se-ja pelos economistas, sociólogos, psicólogos, porque são sempre con-tra nossos interesses. Aliás, tudo o que se "cria" é algo contra arealidade, algo para distorcer o verdadeiro caminho; queremos agoraum pouco de paz, dos loucos que se apoderaram da humanidade,porque não agüentamos mais suportar tantos desatinos que eles de-sabam sobre nossas costas.

As condições humanas de trabalho são tão terríveis, que o ho-mem envelhece mais depressa, arranja um número incrível de doen-ças, e se aposenta o mais rápido que pode. A primeira vista, pareciauma questão inteiramente psicológica, ou então só social; nós dize-mos que é psicossocial, ou seja, ambas. A atividade exploratória épenalizante para o ser humano, e este não tem consciência de comopoderia ser diferente. A Bíblia não fala que comeremos com o suor

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do rosto? Assim sendo, estamos condenados a uma vida desgraça-da! Porém, não é bem isso — porque poderemos retornar a umacondição anterior, já que um dia estivemos lá. E o que a Trilo-gia Analítica está procurando fazer.

Emile Durkheim disse que os fatos da sociedade devem ser tes-tados como coisas (Sociologia e Sociedade, Marialice M. Foracchi,José S. Martins, pág. 23); de certo modo, ele percebeu que o fenô-meno social é duplo, isto é, uma mistura de atitude individual como fato social, algo psicossocial: tudo o que acontece no exterior re-percute em nosso interior, e tudo o que sucede em nosso íntimo,atinge o mundo externo.

A psicanálise tradicional e os processos de psicoterapia, de mo-do geral, sempre estiveram a serviço do sistema capitalista de explo-ração, já pelo alto preço que tal tratamento exige. De modo que es-ta ciência (incluindo a psicologia), serviu sempre para incentivar aavidez dos que procuram o poder; basta ver os processos psicológi-cos de incentivo à produtividade, baseados, ou na análise transa-cional, ou em qualquer outro processo relacionado com esse campo.

Parece mesmo que os dois setores científicos mais discutidos nomundo atual (psicologia e sociologia) tornaram-se tão opostos, quenão há mais possibilidade de conciliação — no setor prático (ques-tão de custo e aplicação), e principalmente no tocante às teorias:a sociologia procura insistentemente a solução dos conflitos sociais,enquanto a psicanálise favorece sobremaneira a alienação. Por estemotivo, esta última está perdendo terreno assustadoramente.

Nenhum, dentre todos os clientes ricos, que eu atendi, conseguiusair de seu egoísmo, e passou a servir os outros; pelo contrário, elessó quiseram a análise, para aumentar o seu poder econômico-social,ou melhor, aperfeiçoar o processo de exploração.

A medicina, psicologia, psicanálise, odontologia, sociologia e eco-nomia estão sendo deturpadas pelos indivíduos mais poderosos, quea querem usar com a finalidade de alcançar maior poder social. Poreste motivo, existe mais incentivo aos transplantes, que dão grandefama ao médico, do que o atendimento geral ao povo. A psicologiae psicanálise alimentam a fantasia dos poderosos, para que eles ex-plorem mais ainda a humanidade; exemplo típico é o incentivo aosexo, e até às drogas que inúmeros psicólogos fazem. A odontolo-gia é um perigo em mãos desonestas, porque, para ganhar dinheiro,o dentista pode executar qualquer barbaridade nos dentes de umapessoa indefesa. A sociologia, e mais ainda a economia, têm-se tor-nado uma arte de levar uma grande empresa a aumentar seus lu-cros, às expensas do povo. Estou falando que a maioria das profis-sões, pouco a pouco, foi organizada para aumentar o poder dos po-derosos. Parece incrível esta constatação, mas os indivíduos de maior

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sucesso profissional, hoje em dia, são os piores, psicológica, social,e até mesmo profissionalmente.

A patologia humana se manifesta, ou pelo caminho psico-orgânico, ou pelo psicossocial:

Isto significa que o ser humano pode sofrer de uma moléstia psi-cológica e física, ou então seguir o caminho da doença psicossocial,cujo cume é o poder. Em ambos os casos, a pessoa perde contactocom seus problemas, não vendo mais nada em si mesma. Por estemotivo, o político (e o poderoso) e o doente físico não conseguemfazer análise.

Vamos dizer que a patologia fundamental da humanidade nãoé só psíquica, isto é, do interior do ser humano; ela é psicossocial:uma mistura de psicológica e social, porque o mal do homem é ofato dele querer ser um deus, um novo criador de tudo. Assim sen-do, foi organizada uma sociedade invertida, onde os bons são neu-

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tralizados (e até assassinados), e os maus, os donos de todo poder— e o pior de tudo, é o fato de pensar que os maus seriam os bons,doadores da vida e do bem ao povo ingrato e infiel!

Toda pessoa que trabalha para enriquecer o próximo está come-tendo uma imoralidade. As razões são as seguintes: 1) esta atitudealimenta e protege a cobiça dos que têm poder; 2) faz o mesmo coma inveja e com a avareza; 3) impede o verdadeiro desenvolvimentosocial e, consequentemente, o pessoal. O próprio Deus, que veio àTerra, foi perseguido e executado pelos poderosos desde recém-nascido. Não diziam que ele queria tomar o lugar do rei, e sobver-ter o povo? O Faraó do Egito deu ordens para matar todas as crian-ças, para evitar que um dia, ele tomasse o seu poder. Portanto, amaior ameaça que a verdade faz ao mundo, é no sentido de destruiro poder político, econômico e social. Tanto o pessoal do poder es-tatal, como os sacerdotes incentivavam o povo contra Cristo, por-que os seus ensinamentos eram exatamente o oposto do que eles fa-lavam. Acredito até que não houve um verdadeiro cristianismo, de-vido às pessoas que tomaram o poder — já que o povo, mesmo,jamais rejeitou a Cristo.

Neste meu trabalho, a consciência que acredito ser mais impor-tante, é o fato de a sociedade ter sido construída sobre a estruturapsicopatológica de seres humanos, tornando-se também patológi-ca; estes seres, justamente por terem o acentuado desejo de serempoderosos, elaboraram uma constituição social, segundo os seus in-teresses, enclausurando toda a humanidade neste esquema. Eu e vo-cê, todos nós temos percepções sobre tal fato, mas só agora consigoelucidá-lo melhor. "Baseada nesse regime, a civilização realizou coi-sas de que a antiga sociedade gentílica jamais seria capaz. Mas asrealizou pondo em movimento os impulsos e as paixões mais vãsdo homem e em detrimento das suas melhores disposições " , falouFriedrich Engels em seu livro A Origem da Família, da PropriedadePrivada do Estado", à página 199.

O pior de tudo o que existe na pessoa, que tem poder, é a pres-são que faz sobre o povo, que trabalha justamente para ela. Quan-do se vêem nas ruas, os indivíduos que vão trabalhar com expressãoamargurada, nota-se imediatamente esta injustiça: além de ter deproduzir objetos desnecessários para a civilização, ou ainda preju-diciais, e ganhar um ordenado de fome — não têm o menor direitode opinar, de saber pelo menos o que fazem. Qualquer trabalho atual,que não seja para libertar o ser humano desta prisão, é uma puraperda de tempo, porque nada poderá ser feito com escravos, compessoas que não sabem mais pensar, porque sofreram uma verda-deira lavagem cerebral.

Sem uma boa vida social, é absolutamente impossível ser são;e, se o Estado é anormal, como será possível ter uma existência equi-

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librada? De outro lado, temos de considerar que a sociedade atual-mente é fruto das leis e regulamentos instituídos por pessoas doen-tes; desde que nascemos, somos obrigados a nos encaixar em umaestrutura anormal, contra nossa própria natureza. De modo geral,podemos falar que o primeiro passo para melhorar o ser humanoe a civilização, seria mudar o arcabouço social; se este passo nãofor dado, qualquer outra coisa que se faça, é inútil.

Desde que o ser humano abandonou Deus, elegendo seu seme-lhante, e a si mesmo, como um novo deus, a civilização não deumais certo — e o claro motivo é que as pessoas que se acham deusase que são as mais desequilibradas, justamente elas tomaram contada sociedade. Mas quais são esses indivíduos que se julgam deuses?São os chamados por nós, de modo geral, de poderosos: dirigentesdos países, banqueiros, proprietários e diretores de empresas, os queorganizam sistemas (econômico, político, psicológico e social), pen-sando que poderão conduzir a humanidade, conforme teorias quetiram de suas cabeças megalômanas. São as pessoas que revistas,jornais, televisão e rádio gostam de incensar, acreditando que elasirão nos dar uma solução mágica.

Lendo a revista U.S. News de 14 de outubro de 1985, páginas46 e 47, aparecem vários líderes chamados "Top Executives", docampo petrolífero, do aço, de bancos e empresas de carros, que fa-lam como se fossem resolver, de uma penada, todos os problemas.Porém, logo no início do artigo existe a seguinte admoestação: "Aeconomia permanecerá estável nos próximos 15 meses. Inflação, em-pregos e juros vão mostrar apenas pequenas variações" . Pois bem,eles falam sobre problemas econômico-sociais, como se fossem víti-mas, e não os causadores de tais dificuldades. Não estou falandosó destas pessoas, evidentemente, mas de todas as que têm tal po-der, e nem percebem claramente o papel funesto que exercem, bre-cando o desenvolvimento da humanidade.

Na revista Business Week de 28 de outubro de 1985, na primeirapágina "Obrigado, basquete profissional há 4 anos atrás estava àsportas da falência. Agora é um grande negócio e está crescendo" —como se fosse o dinheiro que estivesse criando o basquetebol e nãoque os atletas é que produzem lucros para os negociantes que, pelocontrário, atrapalham o desenvolvimento de todos os esportes. Etodos os artigos dão a mesma impressão, motivo pelo qual, a revis-ta tem esse nome.

É claro que o dinheiro se tornou necessário em nossa sociedadeatual, mas no sentido de facilitar o trabalho — e não escravizandoo ser humano a ele — porque o dinheiro está sendo usado para pro-duzir poder, e não para o desenvolvimento da civilização.

Estou plenamente convencido de que não é possível corrigir oser humano, sem que haja correção da sociedade, porque assim so-

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mo obrigados a viver de modo errôneo, inadequado à nossa nature-za; nosso grande esforço, no momento, é conseguir isto. Não é semmotivo que Marx, Weber, Comte vieram antes de Freud, Krapelin,Jung. Se não houve a esperada mudança social e psicológica, é por-que tais autores não atinaram com as causas reais da sociopatologiae da psicopatologia. E o mesmo fenômeno familiar: quando um in-divíduo faz análise, depois de algum tempo, volta à mesma estrutu-ra anterior, ao retornar à influência diária de sua família, caso nãoqueira se tornar um misantropo. Estou dizendo que temos basica-mente de mudar a sociedade, se quisermos transformar o ser huma-no. E o mais interessante é que os elementos para conhecer o socialforam retirados do psicológico. Vamos dizer que a explicação queservir para um, tem de se aplicar ao outro.

Chegamos aqui a um ponto chave da questão: haverá uma dife-rença essencial entre o psíquico e o social? Parece realmente que nãoexiste diferença; uma das provas de tal fato é que: 1) é inútil preten-der transformar a pessoa, sem mudar a sociedade; não adianta que-rer "curar" o ser humano, se não sanar o meio social; 2) o re-verso é válido: é impossível mudar a sociedade, sem modificar o in-divíduo; e não pode haver uma sociedade sã, se as pessoas tambémnão o forem — o termo mais acertado, para ser usado é o psicosso-cial, que engloba os dois. Parece-me que foi Aristóteles que viu ohomem como sendo um ser social: o que significa que, quanto mais"socializado" (sociável) mais são ele é; quanto menos (social), maisdoente.

Os poderosos criaram uma estrutura social inadequada ao po-vo; como resultado imediato, surge uma série de atritos, porque oser humano quer viver e se expandir, e não pode. Por exemplo: asleis que impedem que uma pessoa venda na rua, a proibição. de usaro local onde se mora, organizando um escritório; até mesmo ruaspúblicas são vedadas ao público (Los Angeles). O hábito que o in-divíduo poderoso tem, de estar sempre rindo, tem uma certa razãode ser, porque ele se apoderou do mundo; se o povo mostra sempreum ar cansado, aborrecido, é porque ele está sendo impedido de vi-ver o que é seu: todos deveriam usufruir de tudo, e não só uma meiadúzia de espertalhões.

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7. A ação como base dafelicidade

Existem dois fatos fundamentais na civilização atual: 1) não po-demos exercer a verdadeira ação, devido ao tipo de trabalho atual;2) somos obrigados a agir contra a vida, contra o que é bom, beloe real. A explicação é a seguinte: o ser humano tem de se dedicara uma atividade, para aumentar o poder econômico-social dos indi-víduos mais doentes — e não para a humanidade, para o seu desen-volvimento e bem-estar. As conseqüências desse fato são as seguin-tes: 1) as atividades humanas tornaram-se supérfluas e secundárias;2) o pior ainda aconteceu, pois o homem criou a idéia de que osseus interesses são frontalmente contrários aos do próximo; vamosdizer que através de ações errôneas foi criado um Inferno, nestemundo.

A sanidade do ser humano depende de sua ação no bem, na ver-dade e na beleza — e esta ação evidentemente é social. Exemplifi-cando: quem diz que tem amor, e não ajuda na prática ao seu pró-ximo, está mentindo; quem acha que tem caridade, e paga mal otrabalho alheio, é desonesto; quem se julga magnânimo, e se fechaentre quatro paredes é super-egoísta. Ser bom é agir no bem, assimcomo ser verdadeiro é realizar a verdade, assim como ser artista éconstruir a beleza.

Uma nova sociedade poderá ser formada através da ação triló-gica, que é a realização no bem, na beleza e na verdade — pois exis-te uma idéia errônea de liberdade, de que temos possibilidade de fa-zer a fantasia que quisermos e nada nos acontecerá, de ter qualquersentimento, de ódio e inveja e tudo estará bem conosco. Só fazemoso que podemos, e não o que queremos; gostaríamos de fazer tudoo que quiséssemos, porém a mente humana só pode funcionar den-tro da verdade, beleza e bondade; assim sendo temos de ver o queé esta realidade, para que possamos agir plenamente. O ser humano

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é praticamente a sua atitude, é o que ele faz; quando se analisa umapessoa, tenta-se saber como ela age de modo que poderíamos dizerque a conduta caracteriza o homem. Isto está de acordo com as des-cobertas da filosofia existencialista, pois Husserl, Biswanger, Hei-degger trouxeram a idéia de que o tipo de existência determina aessência. Minha opinião é que a essência pode ser prejudicada atra-vés de uma conduta errônea; por isso, precisamos conhecer nossoserros, para agir acertadamente.

O príncipe Charles e sua esposa, princesa Di, vieram a passeiopelos Estados Unidos; o casal é extremamente simpático, muito maisdo que a maioria das pessoas que conhecemos. Mas, por que tanta"adoração" por dois seres humanos, representantes da família realinglesa? Acredito que cada indivíduo se identifica com personalida-des importantes, pensando que tal posição é a ideal; e o fator maisbásico é que foi organizado um verdadeiro incensamento ao grupodos poderosos, e rádio, imprensa, televisão, toda a sociedade foi in-duzida a louvar os que têm poder social — na atitude patológicaque eu denominei de teomania (mania de querer ser igual a Deus).Deus é adorado por causa de sua bondade, de seu amor infinito,de sua perfeição — e só deveríamos ser aceitos pelo nosso trabalhoem benefício do ser humano, pelo nosso esforço em realizar o bem,a arte, e a ciência. Seria o critério da ação: quanto mais e melhoração no bem, na verdade, e na beleza, mais perfeita é a pessoa —mais próxima de Deus está.

A conduta do homem é a causa de seu equilíbrio, ou de sua doen-ça; portanto, para conhecer bem uma nação, basta ver o númerode doentes mentais e de desajustados que tem; neste caso, os Esta-dos Unidos não estão bem classificados, isto é, o povo americanoé o que está sofrendo mais com leis injustas, e com o enorme pesoque os poderosos colocam sobre o seu ombro. O país mais atormen-tado na face da Terra é este (e a União Soviética), por ter se torna-do o líder, acolhendo aqui os indivíduos mais perversos, isto é, oscabeças do poder econômico-social.

Mesmo cometendo inúmeros erros, grande parte dos seres hu-manos está tentando seguir a Deus; sabemos que os próprios con-denadores de Cristo estavam pensando que agiam acertadamente.A Inquisição da Idade Média matava em nome de Deus, e os tortu-radores latino-americanos (brasileiros, argentinos, chilenos, uru-guaios) deixavam as seções de tortura para receber a hóstia consa-grada, durante cerimônias sagradas. E não se pode afirmar que elestinham consciência do crime que estavam cometendo; o próprioDeus-Filho intercedeu em favor de seus carrascos, dizendo: "Pai,perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas, cap. 23, vers.34). Assim caminha a humanidade, inconscientizada e invertida —até que ela consiga ver a sua enorme inveja, que a tirou do Paraíso

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e a conserva infeliz. Evidentemente, para que possa perceber seu ódioe oposição à vida, ao bem e ao belo, tem de se colocar em ação erealizar o que é bom e real. Nossa intenção é a de formar uma so-ciedade trilógica, onde haja empresas, comércio, negócio, política,a serviço da humanidade, e não para dar poder a algumas famíliase indivíduos mal-intencionados; até agora, foi realizado o que é maisdifícil.

O único caminho que o ser humano possui para atingir a felici-dade é o da ação, boa e continuada, no tempo e espaço. Todos oschamados sentimentos negativos (inveja, ódio) constituem uma ati-tude de oposição, deturpação, ou de omissão à verdadeira ação —e ação é espiritualidade. A ação é o próprio sentimento (amor) semanifestando, porque a bondade transborda de si mesma, e realizao que é bom para o mundo e para os outros; a bondade atinge atémesmo o céu, com os seus santos, anjos e Deus, estabelecendo aligação com a Terra. E isto causa enorme felicidade.

Tomás de Aquino estabeleceu várias vias para tornar o homemfeliz, perguntando: O que causaria o bem estar humano? Posiçãosocial? Bens materiais? Prazeres? E concluiu que o homem só sesentiria bem em seu contato com o Criador. Nós vamos um poucoalém dizendo que este relacionamento com Deus só pode ser alcan-çado com a ação — que atinge tudo o que foi criado, o que é real-mente bom, belo e verdadeiro.

Técnica da ação: para o indivíduo se pôr em ação, é necessárioque evite qualquer sentimento, ou pensamento contra a ação — por-que, se não fizer isto, imediatamente estancará a ação, e começaráa sofrer. Portanto, o sofrimento é apenas um sintoma de uma atitu-de de oposição à ação que estamos praticando. Para evitar que amaldade tome conta, é necessário que o indivíduo assuma uma ati-tude constante no bem, isto é, que não desista de agir corretamente— porque no momento, em que parar, começará a se destruir.

Lúcifer e seus demônios, por causa de sua atitude de inveja eódio, estão cada vez com menos capacidade intelectual — ao con-trário do ser humano que, por causa de seu desenvolvimento cientí-fico, filosófico e espiritual está se tornando mais capaz e inteligen-te. E importante que se perceba que os maus espíritos agem só ne-gativamente, através da intriga e calúnia, colocando um indivíduocontra outro, e mentindo sobre si mesmo e a respeito dos outros;vamos dizer que eles não têm capacidade alguma de realização —o máximo que conseguem é adivinhar onde estão objetos perdidos,o que uma pessoa carrega em seus bolsos, isto é, a arte de prestidi-gitação, como se estivessem em um circo de diversão.

Deus tem uma só essência, com três existências diferentes: Pai,Filho e Espírito. Ele é eterno, isto é, as Três Pessoas sempre existi-ram, mas o ser humano é mortal, e só pode ir sentindo e conhecen-

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do através do tempo. Quero dizer que em Deus não há diferençaentre a bondade (o Pai), a verdade (o Filho) e a ação (o Espírito),porque Ele tem uma só essência, e os Três agem ao mesmo tempo;as três existências são ao mesmo tempo diferentes e independentes,são uma na essência e diversas na existência.

O cristianismo completou 2.000 anos de idade e falhou — assimcomo o judaismo anteriormente — e o motivo é porque ele quis exis-tir separadamente, sozinho; assim como o helenismo por si mesmo(sem o cristianismo), não foi suficiente para a humanidade. No en-tanto, a Terceira Fase, ou 3? Milênio está começando agora,completando-se a Tríade Divina na face da Terra — como se fossea volta ao Paraíso Perdido. A criação foi realizada pelas Três pes-soas, mas o contacto posterior com a humanidade foi realizado comcada uma em particular — sendo que o Espírito Santo está come-çando agora a sua atuação (devido ao desenvolvimento científicotrilógico).

Deus é formado por três existências, em uma só essência; cadaEnte age separadamente, mas só de acordo com o que é real — eo que é real é trino, ou seja bom, certo e consciente. A PrimeiraExistência realiza só o que é bom, e isso é certo e consciente; a Se-gunda realiza o que é certo, e isso é bom e consciente. A terceiraconscientiza só o que é bom e certo; por este motivo, ele completaa essência, realizando o Reino de Deus. E essa realização (ação) cons-titui a essência, que Aristóteles chamou de Ato Puro. Cada épocada humanidade entende de maneiras diferentes, porque são existên-cias diferentes do Criador que estão agindo — mas a compreensãototal virá com o Terceiro Ser, não só porque Ele é o Terceiro, masporque Ele é a consciência dos outros dois.

Quanto mais o ser humano se puser em ação (no bem e na ver-dade), mais semelhante será em relação a Deus; este é o único cami-nho da felicidade, e a realização total eternamente realizada.

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8. Realização total pela ação(conscientização)

Os Estados Unidos tornaram-se, neste século, a nação mais adian-tada do mundo, por causa de sua filosofia de vida pragmática (Pier-re, William James, John Dewey e Veblen) que afirma ser a verdadeo que funciona — e como o princípio de liberdade foi tomado deOckam, que deu a idéia de que tudo é possível fazer, o povo ameri-cano se enveredou por todos os caminhos que lhe surgiram, ou me-lhor, aceitou tudo o que apareceu — contanto que fosse de acordocom tal maneira de pensar. Porém, este tipo de "liberdade" temfôlego curto, e uma grande crise está em pleno desenvolvimento,ameaçando o destino da própria civilização. Estou dizendo que ébem diferente beber água pura, do que poluída; comer alimento são,do que estragado; aceitar a vida, em lugar de cometer suicídio; agirpara o bem, em vez de fazer o mal. A verdade não é relativa, e ago-ra chegou o momento de se perceber que o conceito de liberdadefoi deturpado, pois somos livres para o bem e não para o mal —se uma pessoa alimenta seus maus "sentimentos" (ódio, inveja, ar-rogância) adoece com facilidade; se pensa de modo errôneo, arran-ja inúmeras dificuldades para viver.

Infelizmente, toda a sociedade está impregnada por uma "filo-sofia de vida" errônea, que valoriza a desonestidade e a esperteza,motivo pelo qual a vida social se tornou extremamente desagradá-vel. Praticamente, os verdadeiros corruptos e mentirosos atingemaltos postos, enquanto os idealistas, trabalhadores, artistas, estu-dantes e intelectuais são perseguidos e humilhados — como nos fa-mosos contos dos autores eslavos (Gorki, Tolstoi, Dostoievsky). Es-tou dizendo que a sociedade foi construída de modo invertido: osdoentes subjugando os sãos, os maus dominando os bons, o erradoconduzindo o certo. Posso dar alguns exemplos: o trabalho é reali-zado para prejudicar o ser humano, retirando todas as riquezas que

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pertencem ao povo, para enriquecer só alguns. O maior tipo de co-mércio atual é o de armas, com a finalidade de serem usadas paradestruir povos inteiros; a existência de um só revólver é algo imo-ral, pois não podemos fabricar coisa alguma, com a finalidade dedestruir. Se temos necessidade de nos defender de algum louco, ja-mais podemos lançar mão de um meio que o destrua; país algumpode dizer que sua defesa depende da destruição de outro, queren-do justificar o motivo de construir todo um arsenal de guerra deataque — ele se torna tão sem ética como o outro que faz isso. Acre-dito que os Estados Unidos poderão, dentro de um pensamento cor-reto, organizar um sistema de defesa intransponível, dispensandocom o tempo seus foguetes de longo e médio alcance.

O povo tem lutado ultimamente para impedir a proliferação dearmas; realiza passeatas diante dos poderes políticos de seus países,esquecendo que o perigo está atrás deles, no poder econômico, quemanipula a humanidade. Quando se faz uma manifestação comoesta, diante da Casa Branca, todos sabem que os políticos a permi-tem; mas se for realizada contra algum poder econômico, ime-diatamente é chamada a polícia, e ela é reprimida. Vejam bem queos políticos são usados como se fossem pára-choques, para amorte-cer o descontentamento popular; de certa maneira, são os bodes ex-piatórios dos verdadeiros culpados pela situação injusta social.

Tanto o povo, como os próprios políticos precisam conscienti-zar que o país não depende do poder econômico; pelo contrário,ele está prejudicando todas as nações, levando-as à destruição — porque as pessoas que têm o poder estão se unindo cada vez mais, paramelhor explorar o país. A revista Time, de 23 de Dezembro de 1985,traz na pág. 42, a reportagem "Let's Make a Deal" que afirma:"Uma onda de aquisição está mudando o aspecto da indústria dosEstados Unidos. Estes movimentos foram os mais recentes na espe-tacular erupção de coalizões, aquisições e disputa pelas empresas quevêm transformando a economia dos Estados Unidos nos últimos me-ses e se tornando assunto de grande preocupação para juízes elegisladores" .

O livro Corporations and The Cold War (Corporações e a GuerraFria), publicado juntamente com "Peace Foundation" (As Basesda Paz) de Bertrand Russel, diz na introdução de David Horowitz,pág. 11: "Sem querer estabelecer posições, não somente 500 corpo-rações controlam dois terços da economia (excluindo economia deterras) como dentro de cada uma dessas 500 corporações, um grupoainda menor tem a decisão final de comandar. Isto significa, pensoeu, a maior concentração de poder econômico registrado na histó-ria. E, além disso, desde que os Estados Unidos suportam não me-nos que a metade da produção industrial do mundo inteiro, esses500 grupos — cada um com sua própria pirâmide dominando den-

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tro dos limites deles — representam uma concentração de poder so-bre economias que faz o sistema medieval feudal parecer uma festade escola de fim de semana". No mesmo livro existe um capítulofinal sobre The Militarization of the American Economy (Militari-zação da economia americana), de Charles E. Nathanson, onde mos-tra que a maior parte das grandes empresas está comprometida coma fabricação de armas: International Harwpster, Continental CanCo., Borg-Warher, Litton Industries, Allis Chalmers, Aveo, Ame-rican Machine & Foundry, Kaiser Industry, Rockwell Standart, Nor-ton, Westinghouse Air Brake, etc., etc., etc. Esse fato mostra comoo poder econômico está dominando o poder militar — o que é mui-to perigoso para a nação.

Trata-se de um golpe de mestre que o poder econômico-socialestabeleceu: 1) porque avançou no poder mais perigoso que existe;2) porque ele vive de guerras (o poder militar) e, para vender seusprodutos, tem de incentivar o seu uso — mesmo que povos desapa-reçam da face da Terra. A humanidade atual está na dependênciada classe política americana — porque os sistemas políticos dos ou-tros países sempre perecem, quando surge um indivíduo mal-inten-cionado: Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, Grécia, União So-viética e satélites, Japão, China, Oriente Médio e nações latino-ame-ricanas. Por este motivo, falou James Michener: "A escrita da Cons-tituição dos Estados Unidos é um ato tão genial que os filósofosainda admiram sua execução e invejam seus resultados." (A Cons-tituição dos Estados Unidos, escrita e ilustrada por Sam Fink emhomenagem ao aniversário de 200 anos da Constituição america-na). Estamos chegando a uma incrível constatação: que a liberdadede todos os países depende do político americano.

A falta de iniciativa do povo tem uma origem fácil de ser deter-minada: os que têm o poder econômico-social organizaram de talmaneira a sociedade, que não permitem que as outras pessoas se-jam muito ativas — sob pena de ameaçar o tipo de estrutura quefizeram; eles preferem que a população de um país permaneça de-pendente porque assim não correm perigo algum de perder o poder.Todos os processos de administração falam muito na questão de de-legar poderes, como se fosse um grande favor que concedem a seussubordinados. Eu digo que o grande problema é justamente o con-trário: o poder econômico-social impede qualquer iniciativa de seuscomandados, porque no momento em que estes últimos começarema pensar e a agir, por conta própria, não precisarão mais das em-presas e empregos que os escravizaram.

Em Rhode Island (Estado norte-americano), visitamos duas man-sões: uma, toda construída de mármore internamente, e outra (aolado) acabou pertencendo à mulher da família da casa anterior, quese divorciou para casar com o seu proprietário; as duas casas não

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permitem que o povo se aproxime da praia e do mar; no interiorpossuem grades, para impedir que os empregados circulem por ela— mostrando claramente que as grandes mansões de uma só famí-lia estão acabando, porque o povo está se tornando mais conscien-te, não aceitando tal nível de escravidão. Ele pode continuar aindaescravizado, mas através de técnicas cada vez mais sutis, que tam-bém irão sendo descobertas: é a grande luta entre a inteligência dosgênios e talentos, contra a malícia e a astúcia dos maus.

O povo precisa pensar o seguinte: que o capital não pode ser usa-do só por alguns, e em benefício deles próprios; o povo precisa acordarpara o fato que o dinheiro tem de ser usado em benefício dele. Evidente-mente, a humanidade está semi-adormecida, como a moça da lenda(A Bela Adormecida), mas, assim como está dormindo, ele pode edeve ser acordado — principalmente os indivíduos de valor, os líde-res sociais, para que finalmente possamos tomar conta do que é nos-so. Se tal coisa não for feita, estaremos todos condenados à deca-dência e destruição, em um espaço de tempo relativamente curto.

A questão da consciência social é de fundamental importância:o povo precisa perceber que sente um profundo mal-estar, inde-finido e inconscientizado — motivo pelo qual ele se embriaga, co-me demais, assiste TV excessivamente, consome muitas drogas, en-fim, não é feliz. E fundamental ver que vivemos em uma verdadeiraprisão, vigiados noite e dia pelo poder econômico-social, que temcomprado todos os outros poderes: o político, a polícia, o Exército,a ciência, para impedir que o povo seja feliz. Penso mesmo que osdemônios escolhem a dedo a quem dominar, para controlar todaa humanidade: se antes foi o poder religioso (Idade Média), depoiso feudal, a burguesia e o imperial, agora é o econômico diretamen-te. Mas poderemos finalmente derrotá-lo, usando nossa inteligên-cia e boa intenção — pois o bem é superior ao mal, e não é só nosfilmes que ele tem a vitória. Nós venceremos na vida real.

A jornalista Barbara Pollard Taylor publicou no jornal U.S.A.Today segunda-feira, dia 16 de Dezembro de 1985, pág. 10 A, o ar-tigo: "A Slave Society will not endure" (Uma sociedade escrava nãoperdurará): "A história nos mostra que um grupo de pessoas nãopermanecerá submisso às dominações de um outro. A história doimpério romano é repleta de revolta de escravos". Penso que tal si-tuação de revolta está acontecendo aqui nos Estados Unidos; bastaver os agricultores, que já não conseguem mais sobreviver, por cau-sa da enorme especulação que existe do poder econômico-social: co-mo o dólar se fortaleceu (até 1985), ele (negociante) prefere com-prar alimentos mais baratos nos outros países, provocando a ban-carrota dos fazendeiros americanos. No momento, o que é mais im-portante é que os lavradores se unam para: 1) vender diretamenteao público o seu produto; 2) trabalhar em grupos, em menor exten-

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são de terra, para que não haja um dispêndio muito grande; 3) sa-botar todas as empresas que exploram os agricultores. Não deve es-perar que o governo resolva tal problema através de leis, mas usarda imprensa, criar um próprio jornal e meios de difusão, para que-brar o poder econômico que o explora.

A sociedade, como está organizada, oferece pouca oportunida-de para uma pessoa normal ganhar bem — porque a "arte" de terdinheiro, automaticamente, dá idéia de desonestidade; a maior par-te das pessoas pensa que, tendo um emprego, terá uma vida maistranqüila — e nunca imagina que a grande parte dos empregadoresusa de meios ilegais para ganhar bem, e inclusive pagar seus empre-gados. E mais um problema psicológico, do que real: para exploraro próximo, precisa-se ter coragem; para trabalhar, só boa vontade.Pela minha experiência científica, tenho notado que todo indivíduomuito paranóico, sem bom senso, tem enorme audácia em organi-zar empresas, tipicamente voltadas para explorar a sociedade; elenão tem sentimentos de culpa e equilíbrio suficientes para não agre-dir o próximo.

O grupo que consegue ser mais forte, acaba dominando os ou-tros; atualmente, o poder econômico subjuga o religioso, o científi-co e até o político, na maioria das nações — porque estes deram-lheinteira liberdade de agir; de maneira que os Napoleões do passado,os Neros, os Calígulas abandonaram a política, tornando-se atual-mente especuladores e banqueiros. Por este motivo, é absolutamen-te fundamental que os três principais poderes sejam controlados,um pelo outro, para haver equilíbrio, ou seja, o espiritual (religio-so), o material (econômico), e o executivo (político) — do mesmomodo que o judiciário, o legislativo e o executivo têm o mesmo ní-vel de poder na democracia.

Existe um bem, em si, ou uma verdade, em si? Ou o que é bomjá é uma ação do bem, e o que é certo, uma ação acertada? Temosde verificar se a essência já é a ação; pelas comprovações científi-cas, aproximamo-nos da idéia de Ato Puro, que Aristóteles viu noCriador. Exatamente o mesmo fenômeno sucede no ser humano:nossa essência consiste no movimento celular (no organismo), e nadialética entre o amor e a verdade (na vida psíquica); no momentoem que estancamos a ação, tornamo-nos patológicos. E tal patolo-gia pode agir, tanto no físico (criando aleijões), como no psicológi-co (criando monstros). Vamos dizer que o demônio, lesou sua pró-pria essência — manifestando-se agora com a aparência de um ani-mal monstruoso. O ser humano pode comprometer gravemente atésua genética, se adotar uma conduta de negação, omissão ou de de-turpação da realidade.

Deus é formado pela ação do Amor e Verbo, que é o Espírito,isto é, movimento e ação; se não fosse assim, não haveria a criação,

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que é semelhante a Ele: ato de amor e verdade. Quanto mais para-do for o ser humano, menos criatura se torna, porque rejeitou suaessência. E por este motivo que o homem é o que ele realiza (de bome correto) — e não o que ele pensa, ou sente. Não pode haver amorsem ação, assim como não pode haver verdade sem ação, ou umaação (real) sem ser verdadeira e amável. Não se fala que vida émovimento?

Tudo que existe é ação; seria melhor dizer que tudo o que existerealmente de bom e belo é a ação — e, através deste pensamento,podemos afirmar que tudo o que é ruim (patológico) é a negação,omissão, ou a deturpação da ação. O que existe é a realização, tan-to no plano individual, como no social. Husserl dizia que a cons-ciência não era uma substância, mas uma atividade; é mais exatodizer que a substância é o resultado da atividade: mais substância,mais atividade. De modo geral, o indivíduo de maior inteligênciae realização é aquele que dá mais liberdade ao seu pensamento e sen-timento, havendo uma perfeita fusão entre o que faz e o que pensae sente. Em Deus, por exemplo, existe um perfeito entrosamento en-tre sua bondade e beleza (1? Ente: o Pai), com a verdade e o verbo(2? Ente: o Filho), dentro da mais alta consciência e ação (que éa 3? Ente: o Espírito) — a ponto de um se identificar com o outro(unificação), que é a substância divina.

A essência do ser humano é a unificação da ação, (no bem e naverdade); e é uma atuação no mundo material, ou melhor, nesta vi-da terrena — no sentido de construir aqui o Reino de Deus. Portan-to, o indivíduo só pode se realizar, como ser humano, agindo nocampo da matéria — de acordo com o plano da criação: construin-do e desenvolvendo esta vida. Aliás, só é possível ver com os olhos,ouvir com os ouvidos e falar com a boca, em contato com o afetoe o intelecto; sem o corpo e o psíquico, o ser humano não pode rea-lizar sua essência. Aristóteles viu o Criador como Ato Puro e euacrescento que é o Ato Puro do Amor e da Verdade; podemos con-cluir que o homem só pode se aproximar (ser semelhante) a Ele atra-vés desse tipo de ação, porque não tem a mesma bondade e verda-de; assim sendo, agindo (no bem e na verdade), não tem tempo pa-ra ser mau e falso. Será que a bondade, ou a realidade podem exis-tir por si mesmas? O que é bom é a ação na verdade, e o que é realé a ação boa. Se faltar a ação, é impossível existir o bem, ou a ver-dade. O bem é a ação do bem, e a verdade é a ação do que é certo.Não existe uma bondade, ou uma verdade estacionárias.

Tudo o que existe pela criação é bom, belo e verdadeiro; tudoo que contraria a existência é ruim, feio e falso; assim sendo, nãoé possível haver a bondade sem a sua atuação, ou a verdade sema sua manifestação porque ambas (bondade e verdade) identificam-se com a ação; são o mesmo ato; este último é sempre uma existên-

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cia, pois não pode haver essência sem existência: a bondade é o atode ser bom; a verdade é o ato certo; a beleza é o ato belo.

Quando a filosofia existencialista diz que a existência faz a es-sência, não está completamente errada — porque a própria es-sência é movimento e pode ser influenciada de tal maneira a pontode ser completamente deformada, ou neutralizada. A neurose — psi-cose é a atitude de negar, omitir ou deturpar a realidade. A visãoque temos dos demônios não é a de um animal asqueroso, com chi-fres e rabo, garras e pés de cabra? Assim como as experiências maismodernas da física mostram que a combinação atômica é responsá-vel pela qualidade material, a conduta do ser humano pode de talforma influir na essência, que a degenera completamente.

Só a essência de Deus é imutável porque Ele tem a existência deacordo com a essência; nas criaturas é possível haver influência so-bre a essência, devido à limitação da própria natureza. Existe umprocesso dialético (socrático ou cristão) entre a conduta e o cerne,isto é, entre o que a criatura faz e o que é. De qualquer modo, oprincipal na criatura é o seu comportamento, porque podemos es-colher: aproximar-nos do bem ou rejeitá-lo inteiramente. O que é o amor?E a ação do bem. O que é a verdade? E a ação do real. Estou dizen-do que não existe um bem, ou uma verdade estagnados mas ambossão movimentos, isto é, o que é essencial. Vamos dizer que não háseparação entre o eterno movimento (a consciência), a bondade ea verdade. No ser humano, o ato pode ser diminuído e, com isso,o amor e a verdade lesados.

O indivíduo de maior ação é o que realiza qualquer trabalho commais facilidade, porque ele está mais próximo de sua essência; po-deremos estender tal percepção para o contato com o Criador: maioratividade, (dentro do bem, da verdade e da beleza) mais próximoa Deus — menos ativo (contemplativo, no seu sentido generaliza-do), mais distante. Se eu disser que tudo o que existe é bom, ou ver-dadeiro, ou belo, acerto em parte; mas se falar que tudo que existeé ação da bondade, verdade e beleza, acerto totalmente, pois a rea-lidade é constituída pelo ato de bondade, verdade e beleza.

Mesmo que a filosofia pragmatista norte-americana seja a maispróxima da Trilogia Analítica, é necessário haver algumas correçõespara que possa realizar a sua finalidade. Por exemplo: Charles San-dlers Pierce, o verdadeiro fundador dessa filosofia, disse que "ascoisas são aquilo que elas podem fazer"; William James queria "criarum sistema de hipóteses que possam funcionar, e não por serem ne-cessariamente verdadeiras" ; John Dewey foi o pensador que maiorinfluência exerceu em seu povo; disse que "conhecimento é ativida-de e parte funcional da experiência; o pensamento, um esforço parareconstruir a atividade, praticamente, uma decorrência da ação —

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assim sendo, as atividades mostram se as idéias são verdadeiras ounão" (O Reino do Homem, N.R. Keppe, págs. 238, 239, 240).

Muitos clientes alegam que não trabalham para não se desgasta-rem, e ,comparam a si mesmos com um motor que, se for muito acio-nado, desgastar-se-á rapidamente. A comparação é errônea, porquea força fundamental não parte do motor, mas da energia que o estáfazendo funcionar: o combustível; e, este último é basicamente ação(eletricidade, força atômica, e mesmo o gás). Analisando-se o mo-tor, vemos que o seu valor depende de seu funcionamento: 1) mo-tor parado, deixa de ser motor; 2) e motor parado enferruja. Noser humano, o que não é ação no bem e na verdade, é destruição,estagnação e doença.

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9. A ação (no bem, na verdadee na beleza) como fundamentos

da nova sociedadeA base de funcionamento da Nova Sociedade (Trilógica) é a ação

(boa), ou melhor, uma conduta que vise ao bem social e individual.Aliás, a finalidade da análise é a percepção dos "sentimentos" deinveja e ódio, para que a pessoa consiga permanecer no que é bom.O trabalho constitui o centro da Trilogia Analítica — ao contráriodo que se pensa comumente, não porém o trabalho explorador, es-cravo, consumerista, mas a atividade que vise ao bem comum (e oindividual, como conseqüência). De maneira que temos de mudaro seu conceito porque realizar algo em benefício comum é agradável.

Existem dois tipos de pessoas: as que trabalham e as que nãofazem nada; os primeiros são agradáveis, e acima de tudo suportá-veis; as segundas são intransigentes, sabotadoras e invejosas. Te-mos de examinar o que chamamos de doença, em função da condu-ta humana: quem está em ação boa, real, ou bela, é são; quem estáse opondo, é porque é invejoso, cheio de ódio e maldade.

Toda a estrutura social em que vivemos está invertida, seguindomuito mais a "inspiração" dos demônios, do que de Deus; quandovemos a fome grassando em tantos países (Índia, Etiópia, Angola,Moçambique); guerras destruindo países inteiros (Líbano, Irã, Ira-que); povos amordaçados pelas ditaduras (União Soviética e satéli-tes, Cuba e Chile), somos obrigados a admitir que não vivemos nomelhor dos mundos, como falava Leibnitz.

Pierce, William James, Veblen e, principalmente, John Deweytransmitiram a filosofia pragmatista para a sociedade norte-americana (a verdade, é o que funciona). Até aqui, tudo bem; o pro-blema começa quando a pessoa não consegue formar idéia sobre oque deve funcionar! Atualmente, o objetivo principal dos podero-sos americanos é ganhar dinheiro - e como a filosofia de vida dizque a essência do ser humano é a liberdade (Ockam), o povo acha

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que tal pensamento é certo. Porém, se notar suas conseqüências, veráque é completamente errado: decadência da indústria e agricultura,e a transformação da economia em um sistema de especulação, pe-rigoso para a nação.

A Sociedade Trilógica é exatamente o oposto do que está acon-tecendo. Exemplificando: em uma família, geralmente uma pessoaé responsável pela sua estrutura, provendo a economia, o estudo,e até mesmo a vida de divertimentos; tal situação gera um estadode tensão muito grande, pois um só indivíduo é obrigado a provero seu grupo. Na Sociedade Trilógica, pelo contrário, é todo o gru-po ajudando a cada um em particular — amenizando a responsabi-lidade de todos.

Realmente eu não vejo como a sociedade poderá continuar exis-tindo, a não ser por esse tipo de sociedade que estamos formando.A vida se torna muitíssimo mais fácil: a) o esforço para prover aeconomia cai 80 por cento, b) para prazeres, 90 por cento, c) estu-dos, 50 por cento — e o rendimento é muito maior. Pela nossa ex-periência em Nova Iorque, existem dois mundos diferentes, e até an-tagônicos: a sociedade, como conhecemos, que nos parece agora umsemi-inferno, e nossa sociedade que organizamos em Yonkers, umsemiparaíso.

Leonard Sills, correspondente do New York Times, publicou nodia 26 de Julho de 1985, um artigo intitulado: "How to soften Dó-lar Landing" (Como amortecer a queda do dólar). Diz ele: "Comopode uma violenta descida para o dólar — que se supõe poder res-taurar a inflação, ocasionar taxas de lucro em subida e mergulharos Estados Unidos e outros países em uma recessão — ser preveni-da?" Desta maneira, ele mostra que existe uma intercorrelação entretodos os países: se por acaso, um deles tem problemas, todos so-frem as conseqüências. Em termo de sociedade, isso significa quetodos os membros devem viver com um certo equilíbrio, para nãohaver um degringolamento geral.

O que se nota em nossa Sociedade Trilógica é a existência de al-gumas pessoas mais doentes, que criam problemas: a) não queremtrabalhar; b) ou são extremamente intrigantes; c) roubam os per-tences dos outros. Em outra instituição, seriam expulsos, mas co-nosco são analisados, podendo: a) corrigir o problema, b) ou seremneutralizados, impedidos de roubar, ou de causar estragos. Vamosdizer que elas acabam constituindo aleijões do grupo, tolerados erefreados.

Há muito tempo pensei que seria possível haver cura para a neu-rose e psicose do ser humano, sem necessariamente passar pelo pro-cesso individual de psicoterapia; no momento, vejo com clareza quea Sociedade Trilógica tem essa possibilidade, e com pessoas do pró-prio grupo — usando até aconselhamento. Se não existe um incons-

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ciente (como Freud falava), o processo psicanalítico poderá se tor-nar com o tempo uma espécie de socioterapia.Nos Estados Unidos, há muito tempo, já havia preocupações em

desenvolver uma sociedade normal; John F. Kennedy enviou umamensagem ao 88? Congresso, Primeira Sessão, na Casa dos Repre-sentantes, em 5 de Fevereiro de 1963, onde dizia: "Eu proponhoum programa nacional de saúde mental para participar da inaugu-ração de uma nova e total importância e aproximação no tratamen-to de doentes mentais". Acredito que a maior dificuldade para es-tabelecer tal tipo de sociedade foi a idéia errônea de psicopatologiae da filosofia de vida. Portanto, o ideal do presidente sacrificadoera absolutamente certo.

A Sociedade Trilógica resolve com certa facilidade os seguintesproblemas: a) de cobiça, porque a pessoa tem tudo o que precisa,acalmando-se; b) sexual, porque as fantasias, neste setor, aparecemcom maior clareza; c) de avareza, desde que os membros da Socie-dade Trilógica notam que podem viver com muito menos do quesempre imaginaram. A Sociedade Trilógica formou-se espontanea-mente. Eu, Cláudia e Pertti compramos uma casa em Yonkers, aolado de Nova Iorque, para morarmos; pouco a pouco os brasileirosvieram pedindo um local para habitar, e foram ficando. Com o tem-po, tínhamos duas dezenas de pessoas morando na mesma residên-cia; compramos uma segunda casa, e aconteceu idêntico fato — nofinal, tínhamos um grupo de 48 pessoas, formado espontaneamente.

E possível uma estrutura social boa influenciar o indivíduo,obrigando-o a agir bem? Parece que foi este o caminho que as co-munidades sempre escolheram, para melhorar a vida de seus mem-bros; basta lembrar da criação dos mosteiros e conventos. Po-rém, se esses grupos não tiveram bom resultado, é porque não pos-suíam uma boa filosofia de vida. Analisando agora a grande socie-dade, notamos que alguns países se desenvolveram mais do que ou-tros, porque organizaram uma estrutura melhor. Exemplos são asnações ocidentais, em relação às orientais. No entanto, está haven-do uma grande crise atualmente, motivo pelo qual a Europa e Amé-ricas estão adotando concepções de vida provenientes do oriente —esquecendo que, se no passado não funcionaram, jamais poderãoter bom resultado, no momento.

Existe uma influência mútua entre a sociedade e o indivíduo: umexerce influência sobre o outro; geralmente, o grupo social tem maiorpoder, moldando o ser humano aos seus princípios — mas é possí-vel haver uma pessoa ou outra genial, que supere o ambiente e pro-mova novos comportamentos. Exemplo: Cristo, Bento, Duns Scott,Tomás de Aquino, Ockam, Lutero, Kant, Freud, Darwin, Einstein,Marx, Bach, Beethoven, Leonardo da Vinci, etc., etc. O que é maisimportante neste processo é obrigar o indivíduo a agir bem, que é

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o único modo de despertar sua consciência para fazer o que é bom,e reconhecer o que é mau.

As cidades têm um número muito grande de prédios fechados,cercados por grades e guardas, como se fossem uma enorme prisão;andamos pelas ruas, como se fôssemos cães arredios, escorraçadospor policiais desconfiados; todo o ambiente parece hostil e inade-quado para a vida humana. E assim é, mesmo, na realidade. Po-rém, tudo isso poderia ser modificado, em pouco tempo, se o podereconômico-social fosse desmantelado, e a sociedade entregue aopovo.

Quando a cidade for do povo, os prédios poderiam ser abertos noandar térreo, onde todos poderiam circular, e haver lojas e casas deartesanatos, restaurantes e locais de trabalho para artistas, estátuase enfeites, salas de espetáculos e exposição. Atualmente, só quem temo poder econômico é que pode organizar uma casa de comércio —o que é feito para o seu próprio benefício, e para explorar o próximo.

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Adendo

1. A Sociedade TrilógicaCláudia Bernhardt Pacheco

Não creio que, após a leitura deste livro, ainda alguém duvideque medidas imediatas e eficazes devam ser tomadas para a mudan-ça da sociedade. Essa forma de vida que vínhamos mantendo atéagora está insustentável. Nossa tendência tem sido empurrar parabaixo do tapete a consciência de problemas gravíssimos que vemosa nossa volta, pois não tínhamos meios de trabalhar com eles. Pri-meiro porque não sabíamos as causas mais profundas, segundo, por-que não tínhamos uma saída razoável.

Dentre as atividades da Sociedade de Trilogia Analítica, uma dasmais bem-sucedidas foi a formação de sociedades trilógicas experi-mentais, com residências, escolas, empresas trilógicas, atividades re-creativas e artísticas.

E importante expressar que não quisemos formar comunidadesisoladas da sociedade global já existente, mas pretendemos, atravésde pequenas adaptações, uma total reformulação na filosofia de vi-da — transformar as sociedades humanas, dando-lhes condições ime-diatas de grandes impulsos e resultados práticos evidentes.

Essas residências são uma nova proposta de organização social,onde o poder econômico-social não é o dominante, mas o bem-estardo ser humano.

Os resultados dessas residências foram tão benéficos, que cres-ceram 900 por cento em dois anos.

Como surgiu a Sociedade Trilógica

A Sociedade Trilógica foi formada em Março de 1984, quase queacidentalmente, para solucionar problemas econômicos e psico-sociais emergenciais de um grupo de indivíduos, de várias naciona-lidades, que viviam em Nova Iorque.

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Na verdade, jamais havíamos pensado em vida comunitária. Mui-to pelo contrário, a idéia nos era bastante repulsiva, pois todas ascomunidades formadas até então, ou pecam pela extrema promis-cuidade, desordem e libertinagem, ou pelo fanatismo puritano e mo-ralista de religiosos de vários credos.

Havia denominadores comuns: todos eram indivíduos com a mes-ma filosofia de vida trilógica e eram conhecidos entre si — além dasdificuldades que também eram comuns. Poderíamos pensar que asociedade trilógica deu certo só por esse motivo, mas mais adianteveremos que isso não é verdade, pois a sociedade recebeu tambémindivíduos desconhecidos da Europa e que nunca haviam tido con-tato com a Trilogia e que se adaptaram perfeitamente bem à vidatrilógica.

Incialmente foi comprada uma casa grande, e era intenção queesta casa servisse às necessidades de três indivíduos e abrigasse al-guns amigos, temporariamente. Um pagamento inicial foi dado (30por cento do valor total) para a compra da casa e o restante foi fi-nanciado por um banco, para ser pago em quinze anos, com presta-ções mensais.

Mas, em virtude de os preços dos imóveis em Manhattan seremproibitivos (excessivamente altos e as exigências de depósito, leis deinquilinato, referências, etc.), concordamos em orientar um grupoinicial de dez indivíduos até que esses encontrassem melhores em-pregos e meios de subsistência por si próprios. Porém, com o de-correr do tempo, os planos iniciais mudaram consideravelmente, eas residências passaram a ser uma realidade definitiva.

Os primeiros tempos da vida TrilógicaA casa situada em Yonkers, um bairro distante quarenta minu-

tos do centro de Manhattan, não estava, como disse, preparada pa-ra servir a uma vida comunitária. Era um imóvel antigo, do iníciodo século, porém bem cuidada pelas duas famílias que nela ante-riormente habitaram.

Ela somente dispunha de três banheiros e seis dormitórios. Alémda sala de estar, sala de jantar e cozinha, havia um "basement" (po-rão) grande, confortável lavanderia e depósito de materiais. Todarodeada de jardins, tinha nos fundos uma garagem para dois car-ros, velha, sem aquecimento, que também servia de depósito demateriais.

Obviamente, no início, não foi fácil para todos se acomodarem,nessa nova vida conjunta. Os quartos foram divididos entre todos— mulheres dormiam em quartos separados dos homens e cada gru-po usava o banheiro de um andar. Os casais tinham os seus quartos

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privativos. O porão foi logo reformado e adaptado para sala de es-tudo durante o dia e dormitório à noite.

Isso permitiu que todos, embora sem o conforto desejado, fi-cassem acomodados no fim de inverno nova-iorquino. Tinham ca-sa aquecida, camas para dormir, e um local para cozinharem suasrefeições de maneira econômica. A comida dos restaurantes, alémde cara, não era saudável. Não havia crianças no início da socieda-de, mas 9 meses depois um dos casais teve o seu primeiro filho.

Pouco a pouco, todos se ajudando, foram conseguindo melho-res empregos. A cooperação era necessária para a sobrevivência detodos no país estranho. Quando alguém precisava de dinheiroemprestado , havia sempre aquele que aceitava colaborar. O mesmocom relação à língua e troca de serviços. Os que falavam inglês (ame-ricanos) ajudavam os outros nas entrevistas para emprego, etc.

Posteriormente, com a formação das empresas trilógicas, ondetodos eram sócios e com a mesma filosofia, as dificuldades econô-micas de todos foram resolvidas.

A vida diária na SociedadeLogo de início foi necessário que se estabelecessem certas normas

básicas de disciplina social a fim de que a vida se tornasse mais fácile agradável para todos. Foi concordado que todos, homens e mu-lheres, participariam das tarefas de limpeza da casa e do jardim. Ro-dízios de tarefas foram determinados e havia sempre um coordena-dor encarregado da distribuição e cobrança dos serviços.

Quem sabia melhor lavar e passar roupa, logo começou a cui-dar, nas horas vagas, das roupas dos companheiros — cobrando umapequena taxa pelo trabalho. O mesmo com as refeições, serviços decostura, cabeleireiro, reparos na casa, etc. Três elementos da socie-dade compraram peruas que utilizavam para trabalho de entregasdurante o dia e de transporte para os elementos da sociedade de ma-nhã, à noite, e aos fins de semana (para viagens, passeios, mudan-ças de móveis, levar e trazer pessoas do aeroporto, etc.) Isto permi-tiu à sociedade uma autonomia, sem se basear necessariamente nouso do dinheiro, mas na mútua prestação de serviços.

Um dos problemas maiores que surgiu logo de início era comrelação ao uso da cozinha e dos banheiros. As geladeiras da socie-dade estavam superlotadas de comida e havia muita confusão comrelação ao o que era de quem. Da mesma maneira, o uso dos ba-nheiros se tornou difícil, pois, geralmente, todos saíam para o tra-balho mais ou menos na mesma hora. Escalas noturnas e diurnas fo-ram logo estipuladas e ninguém poderia demorar nos banheiros. Empouco tempo, e com facilidade, soluções racionais e práticas foramadotadas ficando todos os problemas contornados.

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Quanto às refeições, ficou estipulado que haveria um caixa ge-ral onde as contribuições serviriam para comprar ingredientes e pa-gar uma cozinheira que cuidasse das refeições para todos. O mesmocom o cuidado da casa e das roupas.

Horários de silêncio na casa foram logo estipulados, numa ten-tativa de se evitar muito barulho nas horas de dormir e estudar. Etambém certas normas de asseio e recato com o vestuário procura-vam ser respeitadas.

Um manual de disciplina caseira foi logo elaborado principal-mente para aqueles que tinham maior dificuldade em reprimir oegoísmo na vida social.

Logo os problemas começaram

Como era de se esperar, logo os problemas de relacionamentocomeçaram aparecer. Probleminhas tornaram-se grandes dentro deuma casa comum.

Por exemplo: 1) uns pegavam as comidas dos outros da geladei-ra, sem avisar e sem repor. 2) alguns demoravam muito para sairdo banheiro e gastavam muita água quente, com prejuízo para osque viriam depois e teriam que tomar banho com água fria. 3) otelefone de uso comum sempre trazia ligações internacionais "semdono". 4) algumas tarefas comunitárias eram esquecidas ou negli-genciadas (ex.: o lixo não era recolhido; o jardim e quintal não eramvarridos; a casa ficava em desordem, etc.)

Mas o principal foi a crise de paranóia que se desencadeou entretodos os moradores: todos se criticavam entre si e todos se sentiamvigiados pelos demais: era a censura social manifestada em toda aintensidade. Através da psicoterapia feita em grupos e em sessõesindividuais, esse problema também foi contornado. Nas vidas fa-miliar e social tradicionais, a paranóia e a censura ficam totalmenteà solta, sem possibilidade de corrigi-las. Quando um indivíduo sesente censurado ou restringido por alguém, simplesmente se afastadele, perdendo a chance de interiorizar aquele objeto de projeção(a própria autocensura projetada no outro) e resolver definitivamenteo problema. Isto não acontece nas residências trilógicas onde a pa-ranóia é analisada e resolvida.

No início, alguns tentaram viver fora da sociedade durante a se-mana e só visitá-la nos fins de semana, mas posteriormente todosdesistiram da idéia por notarem que, trabalhados os problemas, anova organização social se tornara muito melhor do que outras op-ções tradicionais.

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Os grupos de conscientização dos erros da SociedadeComo tantas dificuldades surgiam e as sessões individuais não

eram suficientes para resolvê-las, grupos de conscientização dos er-ros da comunidade foram instituídos em grupos de psicoterapia, emque eram tratados de problemas como: o indivíduo X faz muito ba-rulho na casa após as 11:00 p.m.; o indivíduo Y pega comida dosoutros na geladeira; o indivíduo Z atrasa no pagamento do trans-porte; o indivíduo W faz muitas intrigas e fofocas moralistas; o in-divíduo A fala muito alto; o indivíduo B pega roupas dos outrossem pedir licença; o armário do indivíduo C é muito bagunçado,etc., etc., etc.

Logo ficou claro, entretanto, que essas eram manifestações prá-ticas e evidentes dos problemas mais sérios como: inveja, megalo-mania, censura, moralismo, egoísmo, narcisismo, fatores que estãototalmente à solta na grande sociedade. De fato, muitas caracterís-ticas psicopatológicas que jamais seriam descobertas numa vida fa-miliar tradicional, onde todos viviam separadamente em suas casas,eram passíveis de serem descobertas e tratadas então.

Ninguém consegue mascarar o tempo todo a própria psicopato-logia — e na sociedade havia o grupo todo para detectá-la e traba-lhar com elas nos grupos de psicoterapia. Por exemplo, o indivíduoantes tido como gentil, amável, agora mostrava crises de mal hu-mor matinais, individualismo, falta de afeto. E isso fazia com queele tivesse, pela primeira vez que enfrentar esse problema, e corrigi-lo — sem possibilidade de fuga. .

As quatro horas dos dois grupos semanais pareciam insuficien-tes para tudo o que se tinha que tratar. Um farto material para aná-lise surgiu — quem via os grupos de psicoterapia de agora não po-deria reconhecer as mesmas pessoas que participavam dos gruposde psicoterapia tradicionais realizados anteriormente, quando todosviviam nos moldes tradicionais. A teorização, a tapeação, a intelec-tualização não eram mais possíveis nessa situação. Em suma: nin-guém podia escapar da consciência de seus problemas, o que, a cur-to prazo, tornou-se um grande alívio.

A psicoterapia da vida social TrilógicaO que mais nos surpreendeu, como cientistas do campo da psi-

coterapia, foi perceber que o efeito socioterapêutico das residênciastrilógicas é enorme.

Muitos problemas antes quase que insolúveis em certos clientes,agora podiam ser trabalhados. Por exemplo: R.F., 24 anos, tinha

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vida solitária, sem amigos, não trabalhava, não estudava, totalmentedependente do pai para sobreviver. Estava constantemente em delí-rios, perseguido por visões de demônios e causava muita preocupa-ção para a família. O mesmo indivíduo, agora na sociedade, traba-lhou diariamente durante um ano numa loja de modas, onde eracaixa. Atualmente é sócio proprietário do irmão numa gráfica ondetrabalha ativamente. Brevemente poderá ter total autonomia finan-ceira. Tem amigos na sociedade, participa de todas as atividades,contribui nos trabalhos científicos, e seus delírios e alucinações aca-baram por completo. Antigamente necessitava de quatro sessões deanálise individual semanais para se manter em certo equilíbrio. Atual-mente, com somente duas sessões consegue viver melhor, pois a vi-da social trilógica já resolve a maior parte de seus problemas.

I.S., 24 anos, sempre teve problemas enormes de relacionamen-to com a família. Sempre brigando com os irmãos, muito mais coma mãe, estava pronta a deixar sua casa. Na sociedade foi obrigada,pouco a pouco, a ter enorme mudança: deixou muito de seu egoís-mo de lado, de sua preguiça, vaidade e isolamento. Sua paranóiaera constantemente conscientizada pelo grupo, com afeto mas fir-meza — e pouco a pouco ela foi se engajando nas atividades, dandomais afeto para os outros, tendo mais consideração pelo próximo —o que lhe permitiu um desenvolvimento considerável, tornando-seinclusive mais agradável e feliz.

R.P., 14 anos, era muito arredio, não gostava absolutamente deestudar ou trabalhar. Desligado da família, em constantes brigas coma irmã, era uma presa fácil de más companhias. Sem ideal, isoladoe muito agitado, logo teve que enfrentar seus problemas, pois nasociedade todos o ajudavam a crescer com seriedade e afeto. Suasnotas na escola foram gradualmente melhorando até atingir a men-ção honrosa. Suas amizades se firmaram, foi convidado a estudarnuma escola para jovens estudiosos e durante as férias passou a tra-balhar, tornando-se um elemento produtivo para a sociedade, paraa grande sociedade e para si mesmo.

Outro aspecto muito interessante é como os casais vivem dentroda sociedade. As brigas e os pactos podem ser evitados, cortando-se o mal pela raiz, assim que surgem. Por exemplo, o casal M.B.e A.F. era sempre auxiliado, pois cada vez que um dos dois era in-vejoso e tentava estragar a vida de seu parceiro, o grupo não permi-tia: os ciúmes dela eram controlados pela sociedade e a preguiça eagressividade dele também eram conscientizadas.

Nesse tipo de sociedade, os pais não têm chance de agredir osfilhos e vice-versa, pois os amigos não deixam que isso vá longe:todos os problemas são logo detectados e tratados nos grupos deconscientização.

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As crianças nas Sociedades TrilógicasAs crianças nas sociedades trilógicas têm uma especial atenção.

Todo o apoio é dado ao seu desenvolvimento pessoal, escolar e so-cial. São orientadas para o valor do trabalho e da realização boa,bela e verdadeira. Embora nenhuma religião seja oficialmente ado-tada, os valores mais éticos e espirituais são incentivados.

E muito importante que os pais sejam reprimidos pelas socieda-des trilógicas no sentido de não descarregarem em seus filhos os seusproblemas pessoais. Sabe-se que na sociedade atual, onde eles vi-vem em constante tensão e stress, um milhão de crianças são chuta-das, mordidas e seriamente maltratadas pelos pais; 63 por cento dospais usam alguma forma de violência para com seus filhos; 54,9 porcento os esbofeteia ou espanca e 30,7 por cento dos pais atacou, agar-rou ou empurrou os seus filhos em 1985 (Estudo feito pelo InstitutoNacional de Saúde Mental, dos E.U.A.).

Como a vida afetiva dessas sociedades é muito cultivada, pro-blemas de desajustamento social, ou psicológico sérios são inexis-tentes. As crianças e jovens se adaptam imediatamente às socieda-des trilógicas. Drogas, suicídios, alcoolismo, gravidez juvenil, abor-tos, doenças venéreas, isolamento, tão comuns na juventude atual,são inexistentes entre as crianças e jovens que podem crescer numambiente de liberdade, afeto e responsabilidade.

E interessante notar o grande interesse que eles adquirem peloestudo, trabalho e cultura (artes, literatura, música, etc.). Talentossão despertados e a criatividade é cultivada ao máximo. As criançasaprendem a usar corretamente e a desenvolver a inteligência. Comotodas se sentem muito satisfeitas com a vida que levam, não têma necessidade de buscar meios de alienação destrutivos. Tornam-seindependentes, porém muito mais afetivas e preocupadas com o bem-estar de sua família e da sociedade em geral.

A intensa atividade cultural dessas sociedades (embora todos se-jam livres para participar dela ou não) leva a um enriquecimento,ao despertar de talentos antes adormecidos nas crianças e adoles-centes. Por exemplo, a presença de um pianista numa das residên-cias trilógicas levou a várias crianças se interessarem pelo estudo mu-sical, o que não aconteceria caso vivessem só com os pais.

De outro lado, uma convivência próxima com indivíduos de vá-rias profissões cria uma gama muito maior de modelos de escolhapara os profissionais de amanhã, sendo que a criança pode pesaros prós e contras de muitas profissões e escolher a que mais lhe agra-da, não de uma maneira fria e teórica, como acontece no aconse-lhamento vocacional nas escolas, mas de uma forma vivencial.

Tudo isso é conseguido somente com uma educação correta nascasas e escolas além da orientação psicológica, no sentido da aceita-

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ção da consciência dos erros e do cultivo da verdade e bondade. Ne-nhum método punitivo (como castigo ou espancamentos), tão am-plamente usados nas famílias tradicionais, foi utilizado.

As crianças são educadas por todos da sociedade — o que aliviamuito o trabalho dos pais. Foi criada uma escola maternal trilógi-ca, onde os professores, todos especialmente treinados, complemen-tam a orientação recebida nas casas e escolas tradicionais, ao mes-mo tempo que possibilita uma maior liberdade aos pais. Por outrolado, a oportunidade de relacionamento próximo com vários indi-víduos, deixou a todos gradualmente mais felizes e muito apegadosaos amigos da sociedade.

Os mais velhos têm sempre companhia; as crianças sempre têmquem cuide delas sem, ao mesmo tempo, um controle excessivo (ca-racterísticos da vida familiar tradicional). Ninguém tem tempo pa-ra ficar com suas fantasias, isolado — há sempre alguém que vempara dar uma palavra amiga, ou para pedir um conselho, ou paracontar uma novidade, ou para compartilhar uma descoberta cientí-fica interessante, ou até mesmo trazer um café quentinho...

As fofocas sempre começam, o moralismo também é um pro-blema sério a ser tratado — porém, nada disso cresce sem que sejaconscientizado e controlado por todos. Os mais queridos são sem-pre os mais produtivos e afetivos. O que não acontece na socieda-de, em geral, onde os golpistas e desonestos têm o poder e reconhe-cimento social.

Logo alguns líderes são escolhidos. Porém se iniciam uma atitu-de destrutiva de abuso de poder (arrogância, megalomania, inveja,ou omissão) são logo substituídos por outros, portadores de atitudemelhor.

A sociedade trilógica não pretende ser ideal, ou ter indivíduosperfeitos. Pretende ser o primeiro local onde haja a conscientizaçãodos erros, para que, com tolerância, o grupo comunitário e seus in-divíduos possam progredir num clima de cooperação, afeto e ho-nestidade, tratando dos problemas humanos fundamentais que emnenhum outro local são tratados: a inveja, a desonestidade, a me-galomania, a preguiça, o moralismo, a hipocrisia, a libidinagem, etc.

A ampliação da Sociedade TrilógicaDevido a esse firme ideal, as residências trilógicas foram gradual-

mente se ampliando. O que de início não passava de uma soluçãotransitória e precária foi pouco a pouco ganhando forma e força.

Além da primeira casa, atualmente existem mais dois pequenosprédios de apartamento abrigando as sociedades em Nova Iorque,sem que nenhuma divulgação sobre elas tenha sido feita.

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A primeira residência de São Paulo já estava lotada mesmo an-tes de ser inaugurada e novas unidades na Suécia, Portugal, Bélgi-ca, Holanda e demais países da Europa já estão sendo organizadas.

ObjetivosCom o decorrer do tempo, objetivos mais claros foram delinea-

dos. Percebemos que as residências trilógicas oferecem uma alter-nativa econômica para viver em um ambiente de cooperação e rela-cionamento humano. Sua finalidade é a de:* criar de imediato uma forma de vida alternativa independente

da sociedade tradicional que é dominada pelos podereseconômico-sociais;

* estimular o interesse pela ciência e cultura;* encorajar altruísmo, honestidade e crescimento pessoal;* ajudar ao indivíduo a se conscientizar das atitudes destrutivas

(psicopatologia) que ele adota contra a própria vida;* facilitar o intercâmbio científico, cultural e profissional

internacional;* congregar indivíduos do mesmo interesse profissional para em-

preendimentos comuns (empresas trilógicas) ou diferentes espé-cies de profissionais para a troca de conhecimento e serviços;

* ajudar aos que sofrem de solidão, insegurança, falta de integra-ção social, dificuldades econômicas de qualquer ordem;

* melhorar a qualidade do relacionamento dos casais e famíliasque vivem na sociedade;

* promover intercâmbio entre indivíduos de diferentes nacionali-dades para que os erros de cada cultura sejam corrigidos.

Pessoas de todas as idades, credos e raças podem conviver emresidências trilógicas (i.e., estudantes, pais e mães solteiros com seusfilhos, famílias inteiras, aposentados, idealistas, profissionais, cien-tistas, etc.).

Nessas residências, o objetivo é criar um ambiente favorável eeficaz do trabalho com os problemas e dificuldades que todos osseres humanos têm com sua própria vida, com os outros e com asociedade em geral.

A função comunitária é estritamente científica e pragmática etrabalha no sentido de melhorar a qualidade de vida da sociedadecomo um todo.

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Organização básica

As residências trilógicas podem estabelecer-se em prédios de apar-tamentos ou casas, cujo espaço é dividido entre os participantes. So-mente o aluguel e outras despesas de manutenção (excluindo despe-sas pessoais) são divididas pelos moradores das casas. Cada indiví-duo conserva sua vida econômica independente.

Todos os membros da sociedade devem ter sessões de aconse-lhamento trilógico individual e de grupo, pelo menos uma vez porsemana. Nas sessões de grupo os problemas da sociedade são traba-lhados sob a orientação de um socioterapeuta trilógico. Este é umaspecto essencial da Sociedade Trilógica e forma a base e atmosferade colaboração e progresso entre os participantes.

Caso isso não seja feito, a psicopatologia dos seus integrantes,se não for conscientizada e controlada por um indivíduo treinadopara isso, acabará por destruir a própria iniciativa.

Economia

As despesas dependerão do custo de vida local e serão sempreabaixo do que seriam para famílias ou indivíduos que vivessem so-zinhos. Em caso de necessidade, crianças e aposentados poderão pa-gar taxas reduzidas. As compras de uso comum das residências tri-lógicas são feitas coletivamente de modo a economizar ao máximo,e evitar desperdícios e supérfluos.

Os profissionais de cada área trocam serviços sem exploração.Por exemplo: os dentistas, os cabeleireiros, os proprietários dos meiosde transporte, as costureiras, advogados, médicos, empresários ofe-recem serviços e produtos a preços acessíveis, para que todos sem-pre possam ser atendidos com afeto e qualidade. Os artistas podemviver de sua arte sem intermediários exploradores pois a beleza é parteessencial da vida trilógica e todos a prestigiam, comparecendo àsapresentações regulares. Outra fonte de renda para os artistas sãoas aulas dadas para os residentes das casas trilógicas.

O fato é que nunca ninguém fica desatendido em qualquer ne-cessidade material nessas residências. A cooperação e crédito sãoabertos para que todos tenham tudo de que necessitam. Por exemplo,uma pessoa desempregada desde que seja honesta, jamais ficará semabrigo e sem comida — tudo isso lhe é fornecido a título de emprés-timo pelos próprios moradores das casas trilógicas até que tenha con-dições de saldar suas dívidas. A situação de cada caso será analisa-da pelo grupo de moradores, que decidirá que medidas poderão seradotadas. Somente tendo todo o apoio e segurança de que casa e co-mida não irão faltar é que os indivíduos poderão se lançar nos seus

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próprios empreendimentos, e romper a dependência com o podereconômico-social.

Um dos moradores das residências trilógicas fez uma pesquisaem 1985, comparando a renda e as despesas pessoais de indivíduosque moram fora e dentro das residências. Chegou à conclusão deque a quantidade de dólares gastos e economizados é muito dife-rente entre os indivíduos que participam de uma organização socialtrilógica e os que vivem ainda dentro do sistema tradicional ondetodo dólar ganho é gasto para a sobrevivência.

Fundo comunitário

As residências trilógicas não devem ter fins lucrativos. Toda areceita das residências é utilizada em benefício delas mesmas e paraa ampliação de novas unidades em outros países do mundo.

Caráter internacional

Todo membro da Sociedade Trilógica poderá, sempre que dese-jar e for possível, transferir-se para qualquer outra unidade existen-te em outros países. Por exemplo, o indivíduo que mora nas resi-dências de São Paulo poderá requerer permissão para ingressar nasresidências de Nova Iorque ou Estocolmo.

SaúdeQuando a estrutura econômico-social for modificada, a esma-

gadora maioria de doenças e acidentes será evitada. A grande ten-são acumulada pelo sistema atual de valorização do poder, a im-possibilidade de se viver em paz, numa sociedade onde os indiví-duos têm que lutar pela sua sobrevivência, gera uma quantidade co-lossal de doenças e acidentes desnecessários.

Os médicos Juhed Abuchaim, Deise lamada e eu fizemos umapesquisa comparativa de saúde entre as populações dentro e foradas residências. Selecionamos 45 pessoas de cada grupo (22 mulhe-res e 23 homens), com idades de 14 a 65 anos, durante um períodode 6 meses; todos os indivíduos eram ativos. Sintomas gerais comoinsônia, dores de dentes, cansaço, etc. foram pesquisados, bem co-mo problemas mais simples de saúde (resfriados, problemas de pe-le, alergias, problemas menstruais, enxaquecas, etc.)

As pessoas que moram nessas sociedades apresentaram 7,76 porcento destas queixas, enquanto no estilo tradicional de vida a por-centagem é de 30,87 por cento. A intensidade dos sintomas físicoscom relação aos indivíduos foram 2,38 sintomas por pessoa na So-ciedade Trilógica e 6,30 sintomas por pessoa na sociedade tradicio-

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nal. Com relação aos sintomas psicológicos, nas sociedades trilógi-cas foram apresentados 2,89 por pessoa e 1,17 na sociedade tradi-cional, mostrando que a conscientização de problemas emocionaisé um aspecto essencial para a remissão dos sintomas, e que a maioralienação gera um maior acúmulo dos mesmos.

Atividades sociaisA sociedade trilógica fornece treinamento profissional suplemen-

tar em várias áreas, especialmente saúde e produtividade. Nas pró-prias residências existem grupos de estudos de medicina psicosso-mática, medicina preventiva, educação, assistência social, compu-tação, administração de empresas, liderança de grupo, etc. Há umatroca de serviços entre os profissionais de cada área (dentistas, mé-dicos, costureiras, cabeleireiros, transportes, assessoria em geral) oque facilita a vida e a torna mais econômica. Os membros da socie-dade freqüentemente organizam atividades recreacionais como: vi-sita aos museus, concertos, óperas, teatros, viagens, eventos espor-tivos, etc., além das atividades culturais e recreativas dentro das pró-prias residências.

Não existe nenhuma programação rígida de horários na vida so-cial trilógica. O indivíduo que nela vive tem a total liberdade de or-ganizar suas atividades da maneira que bem entender. A única ati-vidade social obrigatória é meia hora de aconselhamento individuale um grupo de conscientização por semana, onde são discutidos osproblemas das residências. Horários de entrada e saída também sãoabsolutamente livres, conservando-se somente o respeito com o des-canso das demais pessoas que vivem na mesma casa.

Como começarO interessado deve escrever ao coordenador dos programas es-

peciais de ISAT e propor o seu plano. Na carta deve explicar breve-mente o seu "back ground" (experiência passada): educação, pro-fissão e a sua motivação para viver em Sociedade Trilógica. Incluaalguns documentos pessoais ou curriculum que julgar importantes.Após o. recebimento de sua carta, o coordenador responderá dentrode duas semanas dando informações sobre como iniciar um projetosemelhante, ou como ingressar num já existente.

É melhor viver numa Sociedade Trilógica?Uma pesquisa que foi efetuada entre os moradores das residên-

cias trilógicas revelou que, apesar de dificuldades transitórias de es-paço e de conforto material, 93,56 por cento preferem viver numa

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sociedade trilógica, contra 3,22 por cento que preferiam viver sozi-nhos e 3.22 com sua família em estilo tradicional (devido ao maiorconforto material que esses possuíam em suas casas) 87,10 por cen-to manifestaram desejo de trazer suas famílias para viver numa so-ciedade de tipo trilógica.

De acordo com esta pesquisa, as quatro características menosfavoráveis da vida em família tradicional são os "pactos" (omissãoem dizer a verdade um ao outro e elogiar demais) egoísmo, censurae brigas entre os membros da família. As cinco características maisfavoráveis das Sociedades Trilógicas são amizade, ajuda mútua, in-tercâmbio cultural, honestidade e economia. Apesar de todos os pro-blemas que estas sociedades experimentais enfrentam, os resultadossão muito favoráveis e tendem a crescer em número de pessoas equalidade de vida.

As maiores dificuldades foram iniciais, no que concerne a insta-lações e condições econômicas para propiciar o conforto ideal dese-jado por qualquer ser humano. A medida que toda a estruturaeconômico-social foi sendo modificada a tendência foi de uma rá-pida melhoria na qualidade de vida de todos. Ainda assim, o pa-drão de vida dessas sociedades é muito superior à grande maioriada população em geral. Esses resultados são encorajantes, pois to-da a grande sociedade poderá ser modificada em pouco tempo sua-vemente, sem necessidade de nenhuma medida drástica, a não serno espírito da vida social.

Impressões de membros da sociedade

1. J.M., 27 anos, americano, engenheiro de telecomunicações:"O ambiente da Sociedade Trilógica é bom para aprender co-mo crescer pessoalmente e, no meu caso, especialmente,ajudou-me a abandonar a maconha e cocaína. E divertido,nunca é chato e sempre cheio de surpresas " .

2. A.A.M., 30 anos, brasileiro, médico:"No sentido pessoal e profissional a Sociedade Trilógica dámuita força. Nos pressiona ao desenvolvimento, ao trabalhoe à pesquisa na própria área (coisa que eu tinha perdido a von-tade de fazer desde que saí da faculdade). Aprendi a tratarmelhor as pessoas e aos pacientes, fiquei mais maleável, afe-tivo, além de estar aprendendo a me conhecer melhor. Aquivocê adquire condições de liderar um grupo, uma empresa,uma sociedade."

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3. P.S.S., 39 anos, finlandês, consultor empresarial:"Viver nas casas trilógicas é mais prático, você não precisasair de casa para encontrar seus amigos; há uma porção delesao seu redor. Eu gosto de viver entre pessoas de diferentesnacionalidades e culturas de outros países. A Sociedade Tri-lógica ajuda-me a refrear minhas atitudes destrutivas e tornar-me mais consciente de mim mesmo, especialmente de minhasmás intenções " .

4. N.G.T., 52 anos, brasileira, vendedora:"Este é o método mais econômico de viver em Nova Iorque.Nós aprendemos a considerar mais ao próximo, a nos adap-tarmos a novas situações. Agora será fácil viver em qualquerlugar do mundo. Aqui não há solidão, há sempre um amigopara compartilharmos nossos sentimentos e pensamentos".

5. M.R.B., 31 anos, brasileira, advogada:"A vantagem das casas trilógicas é que você tem sempre comquem compartilhar o que está fazendo. Você sente-se comose estivesse em família, mas uma família honesta, boa, por-que um fala a verdade para o outro, sem hipocrisia. Em ter-mos de cultura há um contato com todas áreas o que gera de-senvolvimento. Em termos práticos: tarefas da casa. Se vocêmorasse sozinho, teria que fazer tudo, ao passo que nesse ti-po de casas você tem tempo para outras coisas. Em termospsicológicos: todos participando da mesma terapia, temosoportunidade de nos conhecer mais profundamente. Essa pro-ximidade cria um clima de espiritualidade muito favorável".

6. N.C., 29 anos, americana, assistente de direção:"A Sociedade Trilógica desestimula e acaba com o egoísmo,alimenta a generosidade e cooperação. A vida comunitáriaalarga e enriquece seus horizontes já que propicia o contatocom pessoas de outras raças e religiões. E uma educação. Vo-cê pode aprender sobre medicina, filosofia, ciência, Deus, co-zinha, limpeza, e como ser uma pessoa mais agradável e ummelhor amigo " .

7. R.D.A., 14 anos, estudante:"A Sociedade Trilógica resolveu meu problema de solidão;aqui estou cheio de amigos. Estou aprendendo a trabalhar eestudar. Aqui recebo boa orientação. Gosto desta vida orga-nizada, sem brigas".

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2. Empresas TrilógicasPertti Simula

Por que um novo modelo de empresa?

As empresas tradicionais têm desenvolvido sérios problemas.Houve uma queda do crescimento da produtividade em geral. Porexemplo, os EUA estão perdendo rapidamente a sua supremacia naindústria e na agricultura. As causas básicas da decadência na pro-dução consistem nos seguintes problemas:

a) Nas empresas privadas e organizações públicas existe um sé-rio conflito de interesses entre proprietários ou administra-dores de um lado, e empregados do outro: este conflito é ge-rado por um clima de exploração. Os proprietários e admi-nistradores alcançam lucros baseados no trabalho dos em-pregados que são os responsáveis pela produção. Isto geraressentimento e oposição ao trabalho e à empresa. Os sindi-catos se aproveitam desta situação e, como conseqüência, háuma queda na produtividade.

b) A filosofia de negócios mudou nestas últimas décadas. Ante-riormente, produção e vendas eram prioritários e tambéma principal fonte de lucros. Atualmente, a produção é algosecundário e os investimentos financeiros e a especulação atraí-ram maior atenção simplesmente pelo fato de oferecerem lu-cros a prazos mais curtos ao investidor do que uma atividadeque produz bens ou serviços.

Isto significa que os empresários fazem o dinheiro gerardinheiro através de taxas de juros e especulações financeiras.O dinheiro tornou-se uma meta em si em vez de servir à pro-dução. A especulação substituiu o trabalho.

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c) Como todas as organizações são feitas de indivíduos, estas or-ganizações refletem tanto as qualidades positivas como os pro-blemas dos indivíduos. Problemas no nível social provêm deproblemas psicológicos no nível individual. Ou, em outras pa-lavras, a sociopatologia se origina na psicopatologia evice-versa.

A psicopatologia é causada pelas atitudes errôneas e pe-los valores invertidos que, em grau maior ou menor, todosadotamos. Essas atitudes são, por exemplo: egoísmo, deso-nestidade, arrogância, inveja e intolerância.

Uma inversão de valores se manifesta, por exemplo, quan-do a pessoa pensa que a responsabilidade, o trabalho, a reali-zação e uma atitude de ajuda são maçantes e que a alienação,status, corrupção e a exploração dos outros poderia ser algobenéfico em sua vida. A pessoa adota uma atitude de oposi-ção à realidade, ao trabalho e ao progresso. Ao mesmo tem-po, de uma maneira sutil, tenta não perceber este erro.

Os erros são as coisas mais difíceis de se lidar. Como re-sultado, a capacidade de crescimento do indivíduo, de apren-dizado e até de manutenção do seu nível anterior de produti-vidade deteriora. Esta é também a causa fundamental dos doisproblemas anteriores.

Estes problemas foram se agravando continuamente, e nenhummétodo prático foi desenvolvido para resolvê-los na sua raiz. O mo-tivo desta falta de solução se deve ao fato dos economistas, sociólo-gos e empresários não possuírem o conhecimento da verdadeira psi-copatologia, que é a causa da sociopatologia. Como resultado, sis-temas econômicos são criados e baseados em patologias nãopercebidas.

Utilizando-se das descobertas feitas pelo Dr. Norberto R. Kep-pe numa base experimental, um novo modelo de empresa foi elabo-rado. A aplicação deste modelo na prática representa amplas e pro-fundas conseqüências para a maneira de pensar no âmbito social eeconômico. Muitas unidades diferentes de negócios estão sendo es-tabelecidas e várias empresas tradicionais estão sendo transforma-das segundo os novos conceitos.

O novo modelo é chamado de empresa trilógica por ter sido ba-seado na Trilogia Analítica, a teoria que foi desenvolvida pelo Dr.Keppe.

O modelo de empresas trilógicasO primeiro problema a ser mencionado na exposição foi a de

que os empregados vão contra a empresa devido ao conflito de inte-resses ou simplesmente por causa do clima de exploração. Este pro-

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blema poderia ser resolvido se todas as pessoas que trabalham naempresa fossem beneficiados, pelos resultados de lucro e desenvol-vimento como sócios pelo trabalho que realizam.

Nas empresas trilógicas, todos são acionistas em quantidadesiguais. As remunerações e salários são baseados na produção do in-divíduo. De igual maneira, a distribuição dos lucros é feita de acor-do com a produção e não pela quantidade de dinheiro investida pe-la pessoa. Assim, a medida da produção é o ponto crítico, pois de-termina a distribuição de lucros e rendimentos.

A produção envolve dois fatores básicos, que são consideradose avaliados:

• a graduação da função ou cargo e• a capacidade e o esforço (produção) do indivíduo.

Os salários são definidos de acordo com a estrutura de salário deuma empresa similar local. Salários incompatíveis (muito baixos oualtos demais para o trabalho executado) são analisados e corrigidos decaso em caso. Assim a cada descrição de cargo é atribuído um salá-rio justo.

O segundo problema foi que a especulação e as operações finan-ceiras foram sobrevalorizadas em relação à produção. Isto será re-solvido aplicando-se a regra de que o dinheiro não pode gerar maisdinheiro por si mesmo. Na prática, o dinheiro necessário para co-meçar as atividades de negócios é geralmente chamado de investi-mento de risco e os investidores esperam obter ganhos baseados nadistribuição de lucros durante o período de tempo em que a firmaopera. Os acionistas do capital de risco ganham o dinheiro indepen-dentemente de sua produtividade, eles nem sequer precisamtrabalhar.

No novo modelo, o capital inicial necessário é dividido pela quan-tidade dos participantes da empresa, formando assim a cota inicialde participação. Cada um deveria pagar essa quantia, mas se algumdos participantes não tiver condição financeira para isto, será esta-belecido um programa de pagamentos parcelados, de acordo comsuas possibilidades. O princípio básico é que todos são sócios comquantidades iguais de capital.

O terceiro problema consiste em lidar com a psicopatologia re-lacionada com o trabalho a nível individual. Isto significa que o in-divíduo é conscientizado das suas atitudes errôneas e valores inver-tidos que destroem a sua produtividade. O método utilizado é cha-mado "programa de conscientização de erros". A conscientizaçãoé definida como sendo a percepção interna da realidade. Todos naempresa participam de reuniões semanais com os colegas e recebemum "feed-back" (retorno) direto dos mesmos em relação aos seusproblemas de desempenho. Através das atividades diárias o grupo

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ajuda cada membro a perceber as causas da baixa produtividade,como a desonestidade, falta de cooperação, egoísmo, inveja, arro-gância e inversão.

Por outro lado, o objetivo do programa de conscientização é ode aumentar a consciência social, econômica e psicológica dos par-ticipantes. Esta consciência é estimulada tanto quanto possível e nãosuprimida como se costuma fazer.

Fundo TrilógicoCom a finalidade de criar um suporte financeiro para estas no-

vas empresas, foi criado um fundo específico. O fundo recebe di-nheiro dos indivíduos e instituições que desejam participar no tra-balho de combater a especulação e a exploração. Este dinheiro é con-siderado como empréstimo e é devolvido quando solicitado. O ajusteda inflação é incluído, porém, não há adição de juros.

Todas as empresas trilógicas contribuem ao fundo regularmentecom 10 por cento do seu lucro. Estas contribuições não serão devol-vidas a não ser que o fundo seja dissolvido.

Todo dinheiro do fundo trilógico pertence às empresas trilógi-cas. A finalidade do fundo é a de suprir o dinheiro para o investi-mento de capital efetuado pelas empresas trilógicas. Os emprésti-mos efetuados pelo fundo às empresas trilógicas devem ser devolvi-dos com o ajuste da inflação. Não são cobrados juros.

O fundo trilógico é uma organização sem fins lucrativos e a suafunção é semelhante à de um banco.

ExemploVamos supor que existem três pessoas A, B e C que desejam fun-

dar uma empresa. A possui $ 40.000, B $ 10.000 e C não possui na-da. O total de $ 50.000 é utilizado como capital inicial de investi .

mento (veja linhas 1 e 2 do esquema). Em uma empresa tradicional,a distribuição de lucro seria feita entre A, B e C respectivamentede 80 por cento, 20 por cento e nada (linha 3).

Na empresa trilógica este não é o caso. Suponhamos que a produção de A foi avaliada em 10 unidades, de B em 18 unidades edeC em 12 unidades (linha 4).

A soma desses três resulta em 40 unidades. A detém 25 porcen-tos, B 45 por cento e C 30 por cento do total (linha 5). Estasporcen-tagens definem os salários e a distribuição de lucro.

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1. Fundadores A B C Total2. Investimento em $ 1.000 40 10 O 503. Divisão de capital % 80 20 O 1004. Unidades de produção 10 18 12 405. Divisão de produção 25 45 30 100

ImplementaçãoNo momento existem aproximadamente trinta empresas sendo

instituídas ou transformadas em trilógicas. Estas incluem os seguintestipos de atividades: gráfica, transportadora, metalúrgica, manufa-tura de janelas, educação, serviços médicos e odontológicos, lojas,importação e exportação, advocacia, construtora, escola infantil,agricultura, casa de vinhos, apiário (Outubro de 1985).

A implementação é gradual e experimental. Quanto maior o cres-cimento dessas empresas, maior é o interesse público que provocam.A capacidade competitiva superior dessas empresas irá forçar as ou-tras a adotarem os mesmos princípios. As empresas públicas, semfins lucrativos também podem aplicar este modelo.

ConclusãoO objetivo dessa transformação social e econômica, proposta pe-

las empresas trilógicas, é dar valor ao trabalho como base de todariqueza. O dinheiro em si não é um problema, mas o uso errôneodo dinheiro que cria a exploração, a miséria e o sofrimento.

É difícil ou quase impossível para nós percebermos os erros oua inversão do sistema dentro do qual vivemos, pois somos pratica-mente cegos às coisas das quais fazemos parte. A fim de podermosabrir os olhos, é necessário entendermos as causas dos problemassócio-econômicos através da psicopatologia e a sua interação. Esteé o primeiro modelo econômico que tem os fundamentos integrais.

Este modelo econômico é diferente dos sistemas capitalistas, so-cialistas ou comunistas. O objetivo visa corrigir os erros básicos dosmodelos econômicos existentes.

O papel das empresas trilógicas é o de melhorar a qualidade devida, especialmente na área da realização, e de ajudar a desenvolveruma sociedade mais justa onde a divisão de lucros é baseada numtrabalho altruísta. Esta é uma meta que apenas as pessoas de gran-de idealismo e coragem procurarão alcançar.

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TRANSFORMAÇÃO ECONÔMICA ETRILÓGICAS

Empresas tradicionais

SOCIAL ATRAVÉS DAS EMPRESAS

Empresas trilógicas

Problema Conseqüência Solução Conseqüência

Conflito de inte- Clima de explora- Todos são acio- Motivação visan-resses: confronto ção, oposição ao nistas em quanti- do ao bem comum.de empregados e trabalho dades iguais.empregadores

Especulação fi- Dinheiro gerando Não há pagamen- Toda atençãonanceira e investi- dinheiro é o prin- to de juros sobre é voltada àmento são mais cipal. Produção é investimento de produção.lucrativos que a secundária risco. O trabalhoprodução e não o dinheiro é

remunerado.

Não se lida com Destruição do Todos participam Aumento de pro-atitudes de deso- crescimento pes- no programa de dutividade pes-nestidade, inveja, soai e da produ- conscientização soai.e arrogância tividade dos erros a fim de

aumentar o al-truísmo e a pro-dutividade.

Baixa produtividade e competividade, Um rápido aumento de produtividade,stress, luta de classes, insegurança. crescimento pessoal, sociedade mais

saudável, e pessoas mais saudáveis.

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3. As mulheres e o poderCláudia Bernhardt Pacheco

Atualmente, mesmo após muitas lutas e reivindicações (algumasbem-sucedidas, outras não), a grande maioria das mulheres aindaatua nos bastidores da sociedade. Não pretendo neste livro fazer umaanálise de todas as injustiças e barbaridades cometidas contra as mu-lheres no cenário da história. Já existem muitos trabalhos, aliás muitobem escritos, verdadeiros compêndios, que informaram muito bemsobre as bruxas incendiadas da Idade Média; das esposas espanca-das e mortas; da discriminação nos empregos; das injustiças quantoa salários; e muito, muito mais.

Minha finalidade neste capítulo é tentar alertar, mesmo que bre-vemente, para um problema mais sério ainda: o de como as mulhe-res vêm contribuindo para manter e fortalecer o sistema de poder.

Sim — este é um ponto que considero de extrema importância— 51% da população da humanidade é de mulheres. Se as injusti-ças permanecem em tal grau entre os seres humanos, podemos con-cluir claramente que nós mulheres não temos feito um bom traba-lho para trazer mais paz, saúde e progresso para o mundo.

Afinal, as mulheres estão lado a lado com os homens. Somosnós que convivemos intimamente com eles, que os educamos quan-do crianças até a juventude, que lhes fornecemos os principais e pe-renes valores da existência. Quer como mães, quer como babás, oumesmo como professoras nas escolas temos, sem o saber, contribuídofundamentalmente para a preservação desse esquema invertido deexistência.

Somos nós que, com nosso exemplo e com palavras, ensinamosas crianças a adorarem, servirem e temerem aos poderosos. Não ra-ro são as mães que incutem nos filhos o desejo de fama, poder eprestígio para conseguirem a felicidade.

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A mulher não é diferente do homem. Muito pelo contrário, psi-quicamente somos até semelhantes demais no desejo pelo poder. In-felizmente, por razões que não quero analisar agora em maior pro-fundidade, temos muitas vezes saído como perdedoras nessacompetição.

Os meios de que a mulher dispõe para competir socialmente sãodiferentes dos do homem — não têm a mesma força física, o quea limita nessa luta em vários aspectos — mas dispõe de outros meios,dos quais utiliza, e os quais aperfeiçoa ao máximo, e que são porvezes altamente eficazes: a chantagem afetiva, a dependência sexual,a "aparente" fragilidade, etc.

"Se você não consegue vencer o inimigo, junte-se ele" diz o di-tado. Foi isso que a mulher fez, durante séculos e séculos — comonão conseguiu tomar o poder para si, tenta se juntar aos poderososa fim de, através de um pacto diabólico, tirar proveito que puderdentro dessa selva de exploração.

Sim, é vergonhoso. Mas também muito poucas mulheres tenta-ram modificar o status quo dominante no mundo. Estou certa queteríamos conseguido, caso tivéssemos nos empenhado neste senti-do. O problema é que a maneira de pensar das mulheres mais e maisé idêntica à dos homens — querem dinheiro, prestígio e poder. Seo conseguem através de herança ou casamento estão satisfeitas. Se-não, tentarão outros meios de exploração como os usados pelos ho-mens para conseguirem o que querem. Caso contrário, muitas delasdesenvolverão uma série de doenças orgânicas e mentais.

Ultimamente a mulher vem se rebelando contra a situação de do-mínio econômico-social que o homem sempre manteve sobre ela.O pacto inicialmente feito de divisão dos reinados (a mulher dentrode casa e o homem fora, na sociedade) mostrou-se insatisfatório,principalmente para a mulher.

A alienação total a que ela se dispôs viver, e que, obviamenteachara boa de início, agora se comprovou como o maior desastrepara o sexo feminino. Perdedora de todo o controle da situação,recomeçou, pouco a pouco, reinvindicar posições que, anteriormente,abrira mão por julgar tal fato vantajoso. Julgava mais fácil viveralienada, dentro de quatro paredes, mas ser sustentada e "protegi-da" dos "problemas da vida" por um homem.

Do início deste século para cá, muitos movimentos feministasse organizaram, muitas lutas e protestos se travaram contra as in-justiças sociais sofridas pela mulher.

Gradualmente a mulher foi conseguindo mais direitos comocidadã e ser humano. Mas o que, e para que a mulher reinvindica?Pelo que constatamos, pelos trágicos resultados observáveis por qual-quer pessoa, a mulher mostra que não quer mais liberdade e poderpara trazer mais justiça e uma vida mais digna para a humanidade.

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Ela quer "poder" tudo o que o homem "pode" mas no sentido fan-tasioso, psicopatológico.

E óbvio que a mulher tem o direito de ter liberdade para viajar,para ganhar seu sustento de maneira justa, de ter a profissão quebem entender, de viver com quem gosta, para estudar o que quiser.Liberdade para ser livre, realizar o bem e ser feliz é um direito ina-lienável de todo ser humano, isso não se discute. Mas o que se temvisto, em grande parte, como resultado da "libertação feminina"?A mulher quer ser livre para poder realizar toda a loucura que ohomem realiza: poder, dinheiro e prestígio.

O cerne da doença mental localiza-se justamente no desejo lou-co, irrefreado de poder. A euforia de poder explorar o próximo, deser servido, de pisar no próximo, de ser "mais" que os outros, decontrolar a vida dos outros e manipular aos demais de acordo comseu desejo passou a ser o desejo da mulher. Ela não se contentouem ter o controle doméstico sobre os filhos, marido, empregadose cachorro — ela quis muito mais. Na sua ambição desmedida, amulher atual pensou: "Por que dependerei de um homem para rea-lizar o que desejo? Poderei ter todo o poder que quero por mimmesma".

Assim começou a escalada feminina para profissões de mandoe influência social. Não quero dizer que 100 por cento das mulherestenha essa intenção mas é necessário notar que a sua esmagadoramaioria aguarda a oportunidade de realizar esse sonho íntimo.

Poderíamos seguramente afirmar que a mulher pode ter dois ti-pos básicos de anseio, ou ela deseja ter poder sobre um ou mais ho-mens através do sexo (seu narcisismo, sua atuação no campo afetivo-sexual) ou mais ultimamente, ter uma carreira profissional que lhedê fama, dinheiro e prestígio social. Saímos de uma situação de ab-soluta insignificância no cenário social para uma pior ainda: agoratomamos parte, ativamente, da corrida pelo poder.

E com muita tristeza que noto que nós mulheres poderíamos rea-lizar muito mais o bem do que temos feito e, ao contrário, temos,ou nos omitido, ou agido diretamente no sentido de prejudicar ain-da mais o bem-estar já tão comprometido do nosso próximo.

Na revista U.S. News & World Report, de 12 de Novembro de1984, foi publicado um artigo: "Women Expand their Roles in Cri-me, too " (As mulheres ampliam suas funções no crime também) quemostra que "prisões de mulheres por sérios crimes atingiram pertode 20 por cento nos últimos 10 anos, comparado com uma subidade 13,3 por cento para os homens. No total, as mulheres somamcerca de 20 por cento dos crimes por cada ano. O número de mulhe-res na prisão — cerca de 20.000 — chegou a 147 por cento na mes-ma década enquanto os homens ocuparam posições que subiram 96por cento.

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Mas o que é mais importante é que as mulheres estão cada vezmais propensas a cometer crimes de propriedade, particularmentefraudes e desfalques. Isto mostra que não é que as mulheres este-jam piores na sua conduta ética, mas que sua desonestidade, antesmais restrita às relações familiares, agora se estende ao mundo dosnegócios, aonde dia a dia tem mais participação.

Quero deixar bem claro que a idéia de que a mulher sempre foimelhor que o homem, mais "indefesa" ou "frágil", não é bem ver-dade. Esse é um mito extremamente sutil e diabólico, que tem aju-dado a manter as mulheres protegidas de uma correção social quelhes seria altamente benéfica.

No mesmo artigo lê-se: "A maior parte das mulheres são educa-doras, e você não pode educar e assassinar ao mesmo tempo", assi-nala a criminologista Anna Kuhl da Universidade de San Jose Sta-te. A socióloga Darrel Steffensmeier da Universidade da Pennsyl-vania adiciona: "Muitas mulheres percebem a personalidade de umtrabalho criminal em desacordo com os valores de uma dona-de-ca-sa". Isto, de um lado é verdade, mas por esses comentários, nota-sea ingenuidade que a sociedade tem, ao julgar generalizadamente ocomportamento da mulher. A criminologista Ira Silverman da Uni-versidade da Flórida do Sul mostra mais perspicácia quando diz:"Nos velhos tempos, se uma mulher fosse aprisionada e começassea chorar, os guardas a deixariam partir. Isso não acontece tanto nosdias de hoje".

Na realidade, a maior parte dos crimes cometidos por mulherese mesmo violência, aconteceram nas relações pessoais com a famí-lia, parentes e amigos, porque este é geralmente seu campo de do-mínio. Mas quanto mais essas mulheres atingem altas posições nostrabalhos, mais elas enganam os empregados e consumidores da mes-ma maneira que fizeram com maridos, crianças, parentes, amigos,empregados, etc ..."

Se as mulheres desempenham a maior parte dos roubos de lojas,elas agirão também de maneira desonesta em grandes transações.De acordo com Dianne Brown da Great Washington Board of Tra-de, somente na área de Washington D.C., onde 500 milhões de dó-lares em mercadorias são anualmente roubadas das lojas, cabe àsdonas-de-casa a maior parte dos roubos. (Não me refiro aqui às mu-lheres que roubam para alimentar aos próprios filhos famintos).

Como ultimamente a mulher vem participando mais e mais domercado de trabalho (ou de roubos) antigamente tido como tipica-mente masculino, numa luta cada vez mais voraz pelo poder econô-mico-social, então acontecem fatos como os seguintes:

— Nancy Young, uma advogada de Nova Iorque, roubouU$300,000 de contas de clientes durante um período de 9 anos.

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— Frances Cox pleiteou defesa ao ser culpada de uma fraudede US$ 48.000 do governo de Fairfax, Va., enquanto traba-lhava como tesoureira.

— Mary Hudson, presidenta do Conselho da Hudson Oil Com-pany, pleiteou defesa sem contestação ao ser acusada do rou-bo de bombas de gás, fornecendo quantidade menor paraosconsumidores.

— Mary Tredwell estava contida de não ter fraudado inquili-nos em milhões de dólares ao emprestar dinheiro para o Was-hington D.C., um projeto de casas que eia mesma adminis-trava. (Mesmo artigo da U.S. News & World Report).

A maior razão pela qual as mulheres não praticaram mais cri-mes como estes acima, é porque elas se mantiveram até então comoque reclusas no seu campo de ação, que tem sido o familiar e derelações pessoais, o que pode demonstrar um grau de equilíbrio psí-quico maior (menos inveja e avareza).

Não raro, a mulher se esconde atrás da violência do homem àqual está ligada. Por exemplo, qual é a necessidade da esposa deum "paterfamília" (chefe da Máfia) de matar, roubar ou violentara sociedade, se seu marido já faz tudo isso por ela e por seus filhos,para garantir-lhe toda a riqueza e poder que ela deseja? Muitocô-moda, aliás, esta posição.

O mesmo podemos dizer da mulher que se une a todo homemde poder. Ela simplesmente deseja uma posição de usufruir, sem searriscar no mundo lá de fora. Se essa espécie de pacto deu certo ounão, isso é um outro problema. Obviamente, que não poderia terfuncionado pois jamais a mulher imagina que a violência e domínioque o seu homem exerce fora, acabarão por voltar contra ela mesma.

Em outras situações, a mulher peca por omissão e alienação, ouseja, fecha os olhos para o que seu pai, marido, ou filho esteja fa-zendo no sentido de explorar, agredir ou prejudicar a humanidade.

Por detrás de um poderoso, de um explorador, de um crimino-so, sempre encontraremos uma mãe ou uma esposa desonestas. Amaior parte das mulheres não educa seus filhos para uma atuaçãosocial honesta, construtiva, a serviço da humanidade, e também nãopermite que outros os eduquem. O mesmo com muitas esposas, queincitam o marido ao roubo e exploração para que o fruto dessas másações a beneficiem.

As meninas adolescentes não gostam dos rapazes que são dedi-cados, honestos. Desde a infância, admiram os mais agressivos, osque demonstram maior poder, demonstrando com isso um extremodesprezo à realidade, bondade e honestidade. Não é a toa que mi-lhares de meninas desmaiam por cantores de rock e artistas queracterizam claramente o próprio demônio. Sendo assim, como po-

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demos nos queixar se formos maltratadas por esses mesmos demô-nios, a quem demos todo o apoio e proteção?

E verdade que até agora tudo isso está se passando sem que asmulheres mesmas tenham consciência, fato que as tem mantido emposição de desvantagem em muitos aspectos, pois são justamenteesses homens "poderosos" que atraem tanto as mulheres, que vãoacabar esmagando impiedosamente as suas cabeças.

Uma cliente americana contou-me, certo dia, que passou sua ju-ventude com um livro debaixo do braço, do qual fez sua nova bí-blia — o nome do livro era: "Power, Money and Prestige (Poder,Dinheiro e Prestígio). Somente agora, já na maturidade avançada,veio a desconfiar que foi vítima de um grande engodo, e que a feli-cidade está longe do que esse manual pregava.

O grande problema da mulher é que ela também vive em buscada mesma meta que os homens. Quando ela escolhe um parceiro,ou uma profissão, ou uma instituição para fazer parte, ela está bus-cando um meio de conseguir alguma espécie de poder, através daescolha.

Por exemplo, o homem que se apresentar como rico, com sta-tus, prestígio, força física e potência sexual, que exerce influênciasobre outros e tem poder social será, automaticamente, o preferidopelas mulheres. Portanto, os homens mais doentes, aqueles que bus-cam mais poder que estão, logicamente mais interessados emconsegui-lo, são obviamente os mais doentes; conseqüentemente, osmais loucos, os mais agressivos, os mais prejudiciais, estes não pou-parão suas mulheres.

Até mesmo grande parte das freiras, buscam as instituições reli-giosas pelo mesmo motivo — as instituições por si mesmas já suge-rem uma idéia de "segurança" para quem a elas se agrega. As ma-dres dos conventos passaram a simbolizar o despotismo, inveja einjustiças encarnados numa mulher. Santa Terezinha do Menino Je-sus foi um dos casos mais famosos de perseguição; uma mulher detanto valor e bondade, sofreu "o diabo" nas mãos de suas colegasinvejosas.

A mulher que tem algum cargo de poder pode tornar-se piordo que muitos homens. E quanto maior o poder, maior a tirania. Porexemplo, as patroas massacram suas empregadas, fazendo-as de es-cravas, e perseguindo-as, muito mais do que seus patrões. Uma clien-te, enfermeira que trabalhou 8 anos e meio no Hospital das Clínicasda Universidade de São Paulo (na seção de informações e de regis-tro) e sempre teve chefes-mulheres, lembra-se horrorizada das intri-gas, pactos de interesses e perseguições feitas pelas supervisoras. Im-plicantes, perseguiam os funcionários nos mínimos detalhes — ob-servando a maneira que esses penteavam o cabelo, se suas roupasestavam bem engomadas, se tratavam a chefe com especial deferên-

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cia, mas a competência e eficácia eram sempre relegadas a segundoplano.

Atualmente trabalhando como empregada para um casal de psi-quiatras americanos, relata a maneira tirânica como sua patroa atrata — bem diferente de seu chefe que a trata com polidez e consi-deração. Para exemplificar, a mulher exige que escove o chão dacozinha, diariamente, de joelhos no chão; segura-a até tarde da noite,após o horário de trabalho; exige que saia à rua para compras, mes-mo que não tenha agasalho suficiente, num frio de 16°F; apega-sea minúcias, obrigando-a a refazer a mesma tarefa, demonstrandoque quer aproveitar todos os minutos que a sua "escrava" está àsua disposição, e tentando tirar o máximo proveito dos parcos dóla-res que lhe paga por dia de trabalho. No entanto, o seu patrão, quetambém sente na sua própria pele as agressões da mulher, procuratratá-la de forma mais humana, cedendo-lhe seu próprio chapéu eluvas para sair à rua no frio, e não raro, tentando minimizar a fúriada mulher contra a funcionária.

Muitas mulheres queixam-se por não serem nomeadas para car-gos de comando com a mesma freqüência que os homens. Mas issoé até certo ponto compreensível, pois muitas delas assim que se vêemnuma situação de poder sobre outros, tornam-se irrascíveis emostram-se sem senso de justiça, apegando-se a detalhes e impedin-do que o trabalho deslanche.

As mulheres da sociedade futuraPela experiência e observação científicas, percebi que as mulhe-

res, através da Trilogia Analítica, puderam se desenvolver tanto oumelhor do que os homens. Por exemplo, nas Sociedades Trilógicas,as mulheres se demonstraram mais honestas, mais dedicadas, man-tendo seus compromissos sempre em dia e, não raro, tendo um de-sempenho profissional e pessoal muito superior ao dos homens. Naavaliação global, que é feita anualmente nas Sociedades Trilógicas,dois terços dos aprovados eram de mulheres.

Se a mulher se conscientizar de sua inveja e do pacto que vemmantendo com o esquema de poder, terá com certeza um desenvol-vimento assustador. Temos a nosso favor uma tradição passada demaior obediência, dedicação, tolerância à dor, às frustrações, e aosproblemas; maior paciência e amor com as crianças e com os sereshumanos em geral. Nossa intuição e sensibilidade nos permitem che-gar ao entendimento das coisas materiais e imateriais com muita ra-pidez; isso sem mencionarmos que fomos muito humilhadas até ho-je. Esse fato nos obrigou a nos mantermos mais com os pés na ter-ra, e não é tão difícil conscientizarmo-nos de nossos erros, quanto

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aos homens, que estiveram sempre habituados a uma posição demando e poder sociais. Poderíamos dizer que a mulher não tem mui-to o que perder, pois já se encontra numa posição desfavorecida dian-te da sociedade. Portanto, só teremos o que ganhar em admitirmosos nossos erros passados e presentes.

O mesmo erro que Eva cometeu ao trocar Deus pelo Demônio,repetimos atualmente, adorando aos homens poderosos, que não pas-sam de seres decaídos a uma condição quase demoníaca. Os bonsamigos, os verdadeiros, esses são rejeitados pelas mulheres e, nãoraro, humilhados e usados somente como um meio de alimentar suavaidade. Tenho certeza de que as mulheres vão entender o que que-ro dizer pois toda a mulher, em alguma fase de sua vida, rejeitouo afeto de um homem bom e honesto e sofreu por gostar, sem sercorrespondida, de um sujeito agressivo, frio e arrogante.

O grande engano que as mulheres das civilizações mais adianta-das estão cometendo é que estão procurando a felicidade pelos mes-mo meios que os homens a procuram. Por exemplo: as nossas avóssentiam-se muito prejudicadas pois seus maridos tinham total liber-dade sexual, mantendo casos amorosos fora do casamento e aban-donando mulher e filhos. Na realidade, sentiam inveja por não po-derem fazer o mesmo; imaginavam que esta conduta traria enormesprazeres. Não foi esse o rumo que as gerações de 60 e 70 tomaramao adotar uma conduta totalmente promíscua na busca dafelicidade. *

Quando as mulheres perceberam que isso não estava sendo sufi-ciente para trazer a felicidade anseada, partiram para um enganomaior ainda: lutam atualmente pela conquista do poder econômicosocial, munidas de um terno, uma pasta e muita assertividade. Osmaus resultados vêm a galope, pois mais e mais a mulher se afastada sua verdadeira essência, que é, na verdade, igual à dos homens.Assim sendo, mulheres e homens agora compartilham quase ladoa lado nos índices de pressão alta, doenças cardíacas, câncer de pul-mão, etc.

A mulher, cega pela inveja, não percebeu que não poderia serfeliz através desses "valores masculinos " , pois os próprios homensnão conseguiram a felicidade com eles. Teríamos acertado mais setivéssemos nos desenvolvido na direção certa e conscientizado aoshomens dos seus erros também; não foi o que fizemos: além de te-rem perdido o que mais tinham de valor, as mulheres adotaram er-ros mais graves que antes eram mais característicos dos homens.

Betty Friedans atualmente se questiona se a libertação feministaa qual deu impulso atingiu os seus propósitos. A mulher atualmen-* Uma pesquisa entre 2.600 estudantes colegiais na faixa entre 18 a 22 anos, autori-zado pela Forbes (edição de 24 de Fevereiro) revela: "31,4 por cento acham que ageração de seus pais era muito promíscua".

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te é mais feliz do que a do passado? Não nos parece. A libertaçãode um ser humano, seja ele homem ou mulher, só pode acontecerdentro da bondade, beleza e verdade. A direção que as mulheres de-ram à sua libertação foi invertida; caímos numa armadilha pois aliberdade para fazer o errado, para optar pelo mal, pela destruição,pela agressão, pela infidelidade, pela euforia do poder econômico-so-cial, não poderia fazer ninguém feliz.

Não estou dizendo que a mulher devesse continuar numa posi-ção de explorada, humilhada, traída, sem nenhuma segurança e vozativa. Eu quero dizer que se seguirmos a consciência e nos manti-vermos firmes na realidade, conseguiremos mudar a face da Terra.Teremos o poder e a autoridade daquele que é altivo, generoso, cons-ciente, altruísta, honesto e que luta pela justiça na face da Terra.Poderíamos ter até as rédeas da civilização nas nossas mãos, casoquiséssemos verdadeiramente conduzi-la para a felicidade dentro dobem.

Nós, mulheres, fomos nossas maiores inimigas pois desprezamosnosso poder verdadeiro que é o amor, a dedicação, a tenacidade,a intuição, a paciência, a sensibilidade. Temos até maior resistênciaàs doenças físicas e à dor e não valorizamos isso. Temos enormeinfluência sobre as crianças, os homens de amanhã! Poderemos, senos conscientizarmos disso tudo, forçar a mudança deste mundo in-fernal para aquele que gostaríamos de viver. Para tal, necessitare-mos de uma visão sincera e profunda da nossa própria psicopatolo-gia, a fim de nos fortalecermos internamente.

Faço aqui uma convocação a todas as mulheres que queiram se-guir essa empreitada. Sei bem como mulher e psicanalista o quantoa mulher tem sido infeliz até hoje. E sei também como orientá-laspara o sentido contrário, pois é o que temos conseguido através dasdescobertas da Trilogia Analítica.

Penso que agora será a hora de provarmos se as mulheres têmvalor ou não. A luta contra os poderosos deveria ser vencida pornós, que ainda estamos menos comprometidas com o poder. Se nassociedades trilógicas as mulheres são melhores do que os homensem 2/3 do total, isso nos leva a crer que a revolução da consciênciadeverá ser realizada pela maioria de mulheres.

Nós dispomos de meios para a luta contra os poderosos que oshomens desconhecem. Nossas armas são diferentes das deles, nãosão armas de fogo, nem músculos fortes. Quem melhor do que amulher para perseverar numa empreitada que deseja? Temos a pa-ciência, a sutileza e técnicas invisíveis de sabotagem a que nenhumhomem consegue resistir. Não dizem que as mulheres vencem os ho-mens pelo cansaço? O único problema é que temos lutado contraos inimigos errados. Ao invés de lutarmos contra nossos pais e ma-ridos, teremos que enfraquecer a resistência dos poderosos, para que

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os vençamos com as armas que dispomos e que eles desconhecem.Quando se fala em "guerrinha psicológica" somos as primeiras —agora teremos que direcionar nossos poderes contra os verdadeirosinimigos que vêm nos explorando e usando como objetos para man-ter o seu poder.

No livro A Decadência do Povo Americano e dos E.U.A., de-nunciei o fato de que somos nós, as mulheres, que basicamente sus-tentamos a sociedade consumista. Somos nós, multas vezes, pres-sionadas pela propaganda maciça, pela voracidade, pela necessida-de de aplacar nossa insatisfação, e também pela inveja, consumi-mos o que não temos a menor necessidade. O comércio de supér-fluo tem sustentado boa parte do mercado do poder. Se nós nos cons-cientizarmos desses problemas internos que nos tornam psicologi-camente dependentes do consumismo, poderemos, já na primeirafase, provocar uma grande sabotagem e quebra do sistema de ex-ploração, até que empresas mais honestas sejam criadas e que nóspossamos comprar somente produtos de empresas do povo, aondea distribuição dos lucros é para o povo (empresas trilógicas).

Por exemplo: somos nós que, na maioria das vezes, compramoscomida, roupas, utensílios para a casa e família. Caberá a nós nãomais favorecermos às grandes multinacionais ou cadeias de explo-ração e somente comprar artigos de boa qualidade, produzidos ho-nestamente por empresas do povo, trilógicas. Nós poderíamos ini-ciar um esquema de sabotagem e não comprar nada que fosse su-pérfluo e reservar todo o dinheiro para um destino melhor — o defortalecer as iniciativas trilógicas populares. * Para isso, haverá a ne-cessidade de um período de transição em que novas empresas dessanatureza sejam criadas para que possam cobrir toda a necessidadedo povo, pouco a pouco. Mas essa seria a maneira fácil e direta pa-ra transferir o dinheiro da mão dos capitalistas ou do estado explo-radores, para o povo trabalhador.

A ISAT está se dispondo ao trabalho de coligação entre todosos grupos e pessoas que desejam adotar esse novo modelo de estru-tura econômico-social. Vários grupos de assessoria estão sendo or-ganizados tanto para empresas trilógicas como para as residênciastrilógicas. Ambos os projetos estão em andamento, com resultadospromissores, mesmo tendo que enfrentar dificuldades iniciais queserão corrigidas com o tempo.

Da mesma maneira, convido as mulheres que se inteirem desseprojeto, e que participem de nosso trabalho que já dispõe de várias

* Por iniciativas trilógicas populares, quero dizer empresas ou qualquer trabalho ousociedade que mantenham os princípios de honestidade, liberdade, bondade, igual-dade e que aceitem o trabalho com a consciência dos erros. sendo de iniciativaabsolutamente popular e que dividam o lucro pela produtividade e não peio capitai.

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atividades em andamento, como grupos de conscientização e estu-do do projeto Libertação dos Povos, seminários, cursos, palestras,empresas trilógicas (das quais você poderá fazer parte), escola-maternal, e residências trilógicas. A ISAT também dispõe de meiosde comunicação como o jornal Trilogia e os programas de TV emNova Iorque (Cable Channel C).

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4. História do poder econômicoMarc André R. Keppe

Escrevo com a certeza de que este livro é o começo da grande.libertação humana. Por incrível que pareça, este texto diz respei-to a cada pessoa de nosso planeta, pois é a denúncia da realidadeatual. As idéias deste capítulo foram baseadas nas descobertasdo Dr. Norberto R. Keppe, da Universidade de São Paulo - Brasil.

O poder econômico é como um fantasma — ele está presente masé invisível. Mesmo na História da Humanidade poucos perceberama sua interferência. Por isso, um estudo histórico do poder econô-mico é um estudo das intenções por trás da máscara social.

Podemos afirmar que o poder econômico já exercia influênciana Antigüidade. Darei como exemplo dois povos bem conhecidos:os hebreus e os gregos.

Hebreus

O nascer do povo judeu está registrado nos cinco primeiros ca-pítulos da Bíblia, escritos por Moisés. No livro Êxodo, Moisés rela-ta como o povo hebreu se encontrava escravizado e oprimido pelofaraó do Egito. Moisés foi o escolhido para libertar seu povo destaopressão. Segundo a tradição, Deus interferiu diretamente na liber-tação deles, mandando as nove pragas ao Egito e depois abrindoo Mar Vermelho.

Não havia nada que incompatibilizasse a coexistência de judeuse egípcios a não ser a loucura do homem que detinha o poder eco-nômico e político na época — o faraó. Podemos concluir que ele

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foi o responsável por todas as desgraças que ocorreram no Egito ,e peia separação destes povos. Este é o primeiro exemplo de mau,uso do pode:.

Posteriormente os hebreus foram dominados por outros reis eimperadores, até a ocorrência da diáspora — que foi a dispersãodos judeus pelo mundo. E muito importante ressaltar que não é umpovo que domina outro ou que realiza as guerras, mas o que provo-ca tudo isso são os interesses econômicos dos grupos que atingemo poder. Nesta época a riqueza estava nas terras, e era por elas queos dirigentes das nações brigavam.

Grécia

Para pesquisarmos a gênese desta civilização precisamos estu-dar os dois autores mais conhecidos do início da mitologia grega:Hesíodo e Homero. O primeiro autor relata em sua obra Works andDays que a humanidade passou por várias guerras, catástrofes e des-truições. As idades que se sucederam foram: Idade do Ouro, Idadeda Prata, Idade do Bronze, Idade dos Heróis e Idade do Ferro —que corresponde à fase atual. Já Homero, narra a guerra de Tróiacomo sendo o início da civilização grega. Ou seja, desde os primór-dios da humanidade, já havia uma intensa luta por terras e domina-ção de povos.

A civilização grega conheceu posteriormente várias guerras. Elasforam tantas, que alguns autores dividem sua história pelos perío-dos entre as guerras. Cada cidade-estado que surgiu — Atenas —Esparta — Tebas — guerreava com as outras, para conseguir a su-premacia e o domínio territorial. E por este motivo que o exércitoera tão importante na Antigüidade. Não para defender um povo, maspara avançar no território alheio.

Atenas, como exceção na Grécia, conheceu um período de paze desenvolvimento artístico-filosófico. Esta transformação toda ocor-reu por causa de um legislador sábio, chamado Sólon, que aboliutodas as dívidas que os mais pobres (georgoi) tinham para com aclasse aristocrática (eupátridas). Sólon é um exemplo de como o po-der usado para o bem pode beneficiar um povo. Sólon era um legis-lador, mas interferiu diretamente na questão econômica do povo deAtenas.

Mais tarde surgiu Alexandre, o Grande, que procurou fazer no-vamente um império grego (helenístico), dominando outras cidadesdo Oriente Médio e Egito. Mas seu império foi efêmero, sendo

todaEuropa em seguida dominada peio império Romano,

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Europa Medieval

Com a queda do Império Romano houve a descentralização dopoder político-econômico, onde os senhores feudais substituíram osimperadores romanos. Em cada feudo havia o senhor e os seus ser-vos. Se na Antigüidade havia uma escravidão declarada, no períodomedieval ela ocorreu de uma forma mais disfarçada. Os servos eramescravos que trabalhavam para os senhores feudais, recebendo des-tes uma suposta proteção militar. Esta "proteção militar " era ape-nas em interesse do senhor feudal, para não perder suas terras. Amesma técnica dos romanos de oferecer pão e circo para os pobresfoi usada para enganar os servos. Prometia-se uma série de benefí-cios ilusórios para os servos, mas estes eram explorados e depaupe-rados ao máximo.

Leo Huberman mostra em seu livro História da Riqueza do Ho-mem o papel nefasto que a Igreja fazia na época. Os funcionáriosda Igreja participavam do sistema feudal porque possuíam terras.Os bispos e os abades situaram-se na estrutura feudal da mesma for-ma que condes e duques, sendo, muitas vezes, mais impiedosos doque os leigos. Os chefes da Igreja proibiam o casamento de seus fun-cionários para não haver divisão de terras. Muitas cruzadas foramfeitas com um intuito mais econômico do que espiritual. Poderiaser enumerada uma quantidade maior de atrocidades cometidas pe-los funcionários religiosos, mas estas que enumerei servem para ilus-trar seu papel de exploradores na Idade Média.

Nós séculos XI e XII ocorreu o renascimento do comércio e houveuma ruptura progressiva com o sistema feudal. Os servos viram nocomércio emergente uma oportunidade de se libertarem dos senho-res feudais. O sistema de trocas de mercadorias, usado até então,foi substituído pelo uso das moedas, o que acelerou a expansão docomércio. As cidades (burgos) surgiram nesta época e foram aumen-tando com esta nova população de comerciantes, sendo este o iní-cio da formação da burguesia. As cidades medievais lutavam paratentar se libertar das imposições dos senhores feudais, pois estes eramos donos das cidades. Se o leitor observar bem, notará que o co-mércio surgiu com tanta força porque o homem queria ser livre daescravidão medieval. Mas, ao lado desta luta pela libertação, se for-mou um poder sutil e separado do político, que iria tornar a escra-vizar o homem mais tarde — o poder econômico.

O preço das mercadorias, que era controlado pelos habitantesda cidade, para não haver abusos, passou a ficar descontrolado coma expansão do comércio. Os comerciantes começaram a ficar cadavez mais ricos e influentes na política das cidades. Começaram a sur-gir leis para preservar os interesses destes comerciantes e oprimir a

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população mais pobre. Com a pobreza veio a falta de higiene e aPeste Negra, que matou mais pessoas do que a I Guerra Mundial.Começou nesta época a existir uma divisão de classes mais acentua-da, convivendo na mesma cidade miseráveis e ricos opulentos. Po-demos concluir então que os servos do feudalismo se transforma-ram nos pobres das cidades nascentes.

Para estes ricos mercadores das cidades enfrentarem de uma for-ma mais organizada e centralizada os senhores feudais e barões daépoca e com isto aumentarem o seu poder econômico, procuraramfortalecer o rei com dinheiro. Este dinheiro poderia manter um exér-cito bem preparado para defender os interesses da burguesia maisabastada. Mas o que os burgueses não esperavam é que este rei,que deveria ser um marionete em suas mãos, se transformasse nu-ma pessoa com poder autônomo.

A Era das Monarquias

Na monarquia, as medidas poderiam favorecer ora ao rei, oraao poder econômico, ora a ambos, mas dificilmente à populaçãomais pobre, que ficava em pior situação a cada medida deliberadapelo rei. A expansão marítima que parecia a busca de um desenvol-vimento maior para a humanidade, tinha como interesse principalapenas a descoberta de uma nova rota comercial para o Oriente. Naépoca, a cidade de Veneza monopolizava a rota do MediterrâneoOriental. Como esta rota foi desfeita, principalmente pelos turcos,outros países puderam se aventurar no comércio com o Oriente. Foinesta ocasião que se iniciaram as maiores riquezas. Estas riquezaseram tão grandes que os reis, papas e outros nobres as empresta-vam em troca de favores ou dos bens que estavam colocados comogarantia. O poder econômico sempre exerceu enorme influência his-tórica sem ser muito percebido. Seus acordos são travados a portasfechadas, porque nos causaria repugnância ouvi-los (a não serque a pessoa já tenha se corrompido a ponto de se insensibilizar dian-te do sofrimento de tantos assalariados, miseráveis e outrosexplorados).

Foi nesta época do comércio marítimo que surgiram também osgrandes bancos. Mas concomitantemente ao aparecimento das gran-des fortunas de uma só pessoa ou família, aumentou de uma formaassombrosa o número de mendigos. Isto mostra que se uma pessoadetém riqueza excessiva, outros ficarão sem riqueza alguma. Por maisexplicação que os economistas forneçam sobre o aparecimento detantos mendigos (em Paris eles perfaziam quarta parte da popula-ção) um fato é certo: os recursos materiais são limitados. Se umapessoa os detém demais, eles faltarão para outros.

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Revolução Industrial

O terreno já estava preparado, na Inglaterra para ocorrer a Re-volução Industrial. Já havia o capitalista que empregava vários as-salariados e se encarregava da compra da matéria-prima e da vendado produto final. Cabia ao assalariado apenas produzir e receberum dinheiro que não era de longe proporcional a sua produção. No-vamente o homem foi escravizado, desta vez sob o jugo direto dopoder econômico.

A indústria foi muito estimulada pelos governos europeus da épo-ca, pois uma balança comercial favorável representava maior riquezapara a nação. Ou seja, se houvesse uma exportação maior do quea importação, a diferença seria paga em ouro.

As colônias recém-conquistadas pelos europeus também foramexploradas por leis do mercantilismo que beneficiavam apenas a me-trópole. Daí as suas lutas pela libertação das metrópoles. Mas estaspróprias colônias passaram a escravizar os povos da África , conti-nuando com este processo de escravização humana. Abraham Lin-coln foi o grande personagem que libertou os escravos negros nosEstados Unidos. Muitos pensam que a escravidão acabou naquelaépoca, mas é um engano.

Revolução Francesa

No ano da independência americana Adam Smith publicava olivro Wealth of Nations defendendo a liberdade de comércio. Eleera contra o intervencionismo mercantilista. Ou seja, era contra ofato do rei manter apenas alguns privilegiados no monopólio do co-mércio. Alguns filósofos iluministas, como Voltaire, denunciaramoutras injustiças que estavam ocorrendo. Os camponeses eram osmais pobres e os que pagavam mais taxas. O restante da classe so-cial burguesa também era obrigada a pagar estas taxas para susten-tar o rei e as duas classes mais abastadas: o clero e a nobreza. Osnobres eram os parasitas da sociedade. Viviam nos palácios e rece-biam taxas dos que trabalhavam. Na luta para se libertar destes trêsparasitas sociais — monarca, clero e nobreza —, aconteceu em 1789,na França, um dos fatos mais importantes de toda a História Hu-mana: a Revolução Francesa. Esta revolução foi o movimento demaior dignidade humana contra os parasitas sociais, que arruínama vida da grande maioria de habitantes do planeta. Foi a primeiravez que o povo percebeu a sua força. Mas, infelizmente, logo emseguida, subiu ao poder na França um ditador que também oprimiuo povo e beneficiou a nova classe dominante (burguesia) — Napo-

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leão Bonaparte. Estava iniciada a fase dos grandes ditadores, quereprimiam com violência todas as tentativas de libertação dos no-vos escravos da sociedade contemporânea. Hitler, Stalin, Mussolinifizeram um Estado forte para manter os privilégios das classes maisabastadas e impedir que o povo desfrutasse das riquezas do mundo.

As primeiras riquezas surgiram, como já mencionei, do comér-cio com o Oriente. Muitas das riquezas que se acumularam nestafase e fases posteriores foram obtidas da forma o mais ilícita possí-vel. Assassinatos, subornos, escravizações, roubos e explorações fi-zeram parte da construção de algumas das imensas fortunas que ge-raram o capitalismo. E este espírito desonesto do poder econômiconão morreu, apesar dos fatos ocorrerem atualmente de forma maisdisfarçada.

O trabalhador do século XIX e XX não foi espontaneamente paraas fábricas, para trabalhar para os outros. Só quando não tinha ne-nhuma riqueza a não ser sua força de trabalho é que passou a sesubmeter a outro ser humano, como os escravos de antigamente,mas com o nome de assalariado. Depois de tanta luta pela liberta-ção da escravidão na Revolução Francesa e no governo de Lincolno homem encontra-se de novo escravizado.

Muitos podem pensar que este trabalho que escrevemos tem umaabordagem marxista. Gostaria de explicar que, pelo contrário, nãoprocuramos incentivar a idéia de um Estado forte, de lutas sangren-tas e da supressão de livre iniciativa. Marx fez algumas críticas cor-retas (como a mais-valia), mas foi muito extremado em suaspropostas.

Fase contemporânea

A realidade atual é diferente da época de Marx, Adam Smith,Ricardo e outros economistas, portanto exige uma nova compreen-são. Já não existe, como no passado, uma livre concorrência de mer-cado. As grandes empresas fizeram monopólios em todos os paísesmais desenvolvidos, como a Alemanha, a Inglaterra, o Japão, e ob-viamente os Estados Unidos. Estas empresas dominaram o cotidia-no de todas as pessoas, estando por toda parte. Como estratégia deexpansão de mercado, se dirigiram para a África e América do Sul,escravizando seus povos nos próprios continentes, ao invés de trazê-los ao país, como era feito na época da escravidão dos negros. Amão-de-obra barata desses países sustenta estas gigantescas corpo-rações monopolizadoras. Além disto, o empréstimo bancário paraestes países do Terceiro Mundo acaba sufocando-os em dívidas. Acorrupção de alguns governantes destes países subdesenvolvidos fazcom que a população jamais se beneficie com os empréstimos, fi-

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cando apenas com a dívida. E para pagar esta dívida, sim, apopulação participa diretamente.

Se por um acaso causar orgulho a um povo saber quedominoutro, este povo deve saber que ele é igualmente dominado por estepoder. Na verdade, são muito poucos os que se beneficiam da mise-ria de toda a humanidade. Mas o que fazer? Destruir estasgrandecorporações? A resposta mais sensata é: poderíamos usufruir deumvida bem melhor se nós mesmos fizéssemos nosso ambiente detrabalho e convivência. Ao invés de tirar dos outros, nós mesmos construirmos passo a passo um mundo melhor — com empresas quenãoexploram, e ambientes com maior afeto. Que Deus nos ajude.

Bibliografia

HUBERMAN, Leo, História da Riqueza do Homem I7a. edição, Zahar Editores,Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1981.

KEPPE, Norberto R., Liberation, Proton Editora Ltda., São Paulo, SP, Brasil, 1983.KEPPE, Norberto R., O Reino do Homem, Volumes 1 e 2, Proton Editora Ltda.,

São Paulo, SP, Brasil, 1983.

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5. O poder econômico no BrasilMarc André R. Keppe

Para entendermos a questão econômica do Brasil é necessáriaanalisarmos o problema desde as suas origens. Farei um breve his-tórico da economia brasileira antes de abordar o problema atual.

Colônia portuguesa

O leitor deve-se lembrar de suas aulas de história do primária(que hoje corresponde ao primeiro grau) e da visão romântica acer-ca do descobrimento do Brasil. Pedro Álvares Cabral estaria via-jando pela costa da África quando foi surpreendido por fortes raja-das de vento que o levariam até o nosso país. Que incrível ventaniafoi esta, capaz de deslocar experientes navegadores por todo o oceanoAtlântico, até desembocarem aqui?

A verdadeira explicação não é tão romântica quanto pretendiamnossos professores do primário. Portugueses e espanhóis estavambuscando novas rotas marítimas para chegarem às Índias, que eramfonte de enorme riqueza para a Europa. Todo o comércio daquelaépoca era baseado nestas rotas para o oriente. Como Cristóvão Co-lombo havia tentado chegar ao Oriente pela América do Norte e nãoteve sucesso, os portugueses acreditaram que pelo sul chegariam àsÍndias. Mas, igualmente, não conseguiram completar seu trajeto,topando com o Brasil. Só mais tarde, o navegador português Fer-não de Magalhães conseguiria completar este trajeto passando peloestreito que até hoje tem o seu nome.

O Brasil não despertou no início grande interesse por parte dePortugal, pois sua única riqueza aproveitável no mercado europeuera o pau-brasil. Não havia também interesse de habitá-lo, comoocorreu nos Estados Unidos, pois o país lusitano não era densamentehabitado e por isso deveria ocorrer primeiro um aproveitamento me-

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lhor das terras portuguesas. Só mais tarde, o Brasil seria melhor apro-veitado como país agrícola, produzindo cana-de-açúcar, tabaco, anil,algodão e café para a metrópole portuguesa. Esta situação persistiuaté o início do século XIX, quando o Brasil deixou de ser colôniaportuguesa.

A colonização portuguesa foi feita à base de escravos. Primeirotentou-se escravizar os índios brasileiros, mas como estes eram guer-reiros e mais numerosos do que os povos colonizadores, não deumuito certo esta tentativa. Depois de perderem muitos homens, osportugueses desistiram de tal empreitada. Podemos nos orgulhar dosnativos de nosso país, pois foi pelo seu brio que não se deixaramdominar pelos exploradores europeus e não pela indolência comoafirmam alguns autores.

Mas o poder econômico lusitano não se abateu com esta derro-ta. Já tendo escravos mouros em seu território foram os pioneirosna escravização dos negros africanos. Numa época em que não existiamais este tipo de escravidão bárbara na Europa, foram alguns ho-mens gananciosos de Portugal que a reintroduziram no mundo. Elesfizeram grandes riquezas para si e mancharam as páginas da histó-ria de sofrimento, pobreza e exploração humana.

Os próprios bandeirantes, tidos como heróis por alargarem nos-sas fronteiras, buscavam ouro, prata, pedras preciosas e escravosíndios foragidos (algumas tribos acabaram sendo escravizadas emnosso território). Mas, se o poder econômico português escravizavamouros, negros e índios, o mesmo faria com os povos de suas colô-nias, só que uma forma mais sutil. De todo ouro encontrado no Bra-sil, o reino português ficava com a quinta parte. Só que este quinto(como era chamado na época) era arbitrário e se não houvesse ourosuficiente para atender à solicitação da coroa portuguesa, os repre-sentantes do rei entravam nas casas para tirar todas as riquezas quelhes aprouvessem.

Foi nessa época que surgiu o grande herói libertador do Brasil,que foi Tiradentes. Ele percebeu a exploração feita ao povo brasi-leiro e quis fazer um levante popular de libertação. Sua iniciativafoi aniquilada e o grande líder brasileiro foi assassinado. Morre olíder, mas o ideal de libertação permanece no povo.

Liberalismo

O termo liberdade estava muito em voga na época da RevoluçãoFrancesa. Os filósofos iluministas, que inspiraram aquela revolu-ção, defendiam a existência de uma justiça social mais perfeita. Oinimigo da liberdade humana e da justiça social foi identificado co-

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mo sendo o rei e toda a sua corte. Em pouco tempo, o povo, comsuas próprias mãos, derrubou a monarquia na França, para se li-bertar de seus opressores. Este exemplo correu o mundo e as mo-narquias dos outros países também caíram por terra.

A partir desta época o poder político começou a ser controlado— fato visível na Constituição Americana, que cerceia o poder dopresidente. Com isto, os comerciantes (burgueses) que lutaram pa-ra derrubar a monarquia pleiteavam sempre maior liberdade de ação.São termos desta época: livre iniciativa, laissez-faire, livre comér-cio, etc. Surgiram os fisiocratas que defendiam esta liberdade eco-nômica e mais tarde Adam Smith, que defendia o livre intercâmbiode mercadorias entre as nações. Os comerciantes ganharam enormeliberdade e credibilidade popular. Mas esta liberdade foi muito gran-de e eles passaram a dominar e explorar o mundo com suas fortu-nas. Controlou-se o rei, ou o presidente, mas os grandes impérioseconômicos passaram desapercebidos pela população.

Mas o que tem tudo isso a ver com a questão político-econômicado Brasil? Na verdade, todos os problemas de nossa nação começa-ram com esta modificação liberalista. A Inglaterra e todas as de-mais nações que participavam desta nova política econômica come-çaram a pressionar os países monarcas e coloniais para saírem doantigo sistema, chamado mercantilismo. Os ingleses vinham até acosta do Brasil para tentar impedir o tráfico de escravos. Os exér-citos franceses invadiram Portugal e a corte lusitana se transferiupara o Rio de Janeiro. Todos estes fatos enfraqueceram a monar-quia portuguesa, que acabou cedendo ao Brasil sua independência.

O Brasil deixa de ser uma colônia e se transforma num país jo-vem e independente. Mas o nosso país não tinha a esperteza comer-cial das nações européias e dos Estados Unidos. Entramos na arenado comércio internacional sem o devido preparo. O país logo res-sentiu sua balança comercial desfavorável. Aparentemente, isto nãoera problema na época, pois, se faltava dinheiro, era só emprestá-lodos banqueiros internacionais. E quando não havia dinheiro parapagar estes empréstimos era simples: bastava emprestar mais. Com-právamos com o dinheiro inglês as máquinas inglesas. Era uma do-ce ilusão, pois entramos numa roda-vida que esmagou as nossas fi-nanças. Desde então, o Brasil sempre ocupou uma posição de paísdevedor.

Em seguida, o Brasil teve um grande crescimento econômico coma cultura do café e sua balança comercial passou a ser favorável.O leitor deve pensar que o nosso país se libertou com este cresci-mento das garras do poder econômico internacional. Mas é um en-gano. Economicamente crescíamos, mas financeiramente afundá-vamos na montanha de empréstimos que sufocava o país. Para asconstruções de pontes, palácios, estradas e outras atividades mais

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sofisticadas que surgiram no Brasil, recorria-se invariavelmente aocapital estrangeiro.

Mas fomos duplamente ingênuos: primeiro por não perceber quea livre concorrência com o mercado externo nos endividaria e sufo-caria a nossa indústria. Em segundo lugar por deixarmos absoluta-mente livre o poder econômico nacional, representado pelos grandesfazendeiros que mantinham a escravidão em nosso território. Comose vê, esta foi uma época em que se deu enorme liberdade para oscomerciantes (no Brasil, para os fazendeiros) e obviamente os maisgananciosos se aproveitaram da situação. O que ocorreu em seguidaé que a humanidade inteira passou a ser escrava deste poder econô-mico, dominado por pessoas muito desequilibradas e insensíveis.

República

O leitor deve se preparar para ficar profundamente chocado como que vai ler. A situação que o Brasil adentrou neste período de Re-pública é muito pior do que se pode imaginar. Os bancos interna-cionais não confiaram no novo regime político brasileiro (Repúbli-ca), suspenderam os empréstimos e cobraram de uma só tacada to-das as dívidas contraídas no exterior. Como, obviamente, não ha-via recursos necessários para tal pagamento, em 1890 o Brasil ape-lou para uma moratória junto aos credores externos. A conseqüên-cia foi catastrófica para o nosso país, pois a partir desta data, oscredores internacionais passaram a controlar a vida econômica doBrasil. Perdemos a nossa autonomia e caímos nas mãos dos ban-queiros internacionais.

O London & River Plate Bank foi o intermediário desta inter-venção do poder econômico internacional no Brasil. Além dos ban-cos, juntaram-se algumas empresas nesta investida sobre as rique-zas brasileiras. Todas as grandes oportunidades de enriquecimentoforam açambarcadas por estes grupos internacionais, sobrando aonosso povo algumas migalhas que foram desprezadas ou não perce-bidas por estes grupos. Assim, o maior lucro do café não ficaria como fazendeiro produtor, mas com os intermediários internacionais.

Estes grupos econômicos internacionais, liderados pelos ingle-ses, invadiram nossa economia por todos os lados: 1) bancário —fazendo empréstimos gigantescos, com juros igualmente elevados.2) industrial — vendendo seus produtos para o Brasil e com o tem-po instalando em nosso país as famosas multinacionais, abafandoa iniciativa brasileira. 3) agrícola — extraindo de nosso país cultu-ras como a da borracha e a do cacau, para produzi-las em larga es-cala em outros países. 4) comercial — intermediando os negóciosbrasileiros e conseguindo a maior margem de lucros. Obviamente

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este é um quadro simplificado, mas muito ilustrativo do que ocor-reu com o Brasil desde a proclamação da República.

E muito importante salientar também que estes impérios econô-micos que invadiram o Brasil fizeram o mesmo estrago em seus paí-ses de origem. Isto é, não são povos estrangeiros que nos causaramtamanho prejuízo, mas algumas instituições, que fazem o mesmocom o seu próprio povo. Estas instituições econômicas se tornaramtão poderosas que as fronteiras de seus respectivos países ficarampequenas para abarcá-las e sua astúcia invadiu todo o nosso globo.Mesmo nos países comunistas o Estado assumiu a posição de tiranodo poder econômico e o seu povo não é mais feliz do que os povosocidentais. A liberdade econômica destes governantes é absoluta eesmaga a população de forma mais acentuada do que nos paísescapitalistas.

Mas, voltemos à questão brasileira, analisando mais profunda-mente o problema das indústrias. Começou-se a instalar em nossopaís as chamadas indústrias subsidiárias, que funcionavam no iní-cio como mero entreposto comercial de empresas estrangeiras. Como passar do tempo, elas começaram a produzir algumas peças noBrasil, importando o restante do exterior. O passo seguinte seria pro-duzir muito no Brasil (aproveitando a mão-de-obra barata), impor-tar pouco do exterior, mas enviar o grosso do lucro para estas ma-trizes estrangeiras. Muitas indústrias que acreditamos serem brasi-leiras (elas têm o nome em português) são dependentes de organiza-ções estrangeiras , ou são multinacionais aclimatadas aos trópicossul-americanos.

A indústria, por si, não é negativa para o país; pelo contrário,traz muito progresso e desenvolvimento. O que é negativo é o siste-ma de exploração que existe por trás destas grandes organizações.Foi este sistema de exploração que deixou o Brasil, que é uma na-ção tão rica, com sua população tão pobre. Nossa jovem nação foitotalmente engolfada pelo poder econômico, tendo gigantescas di-ficuldades em se livrar dele.

Atualidade

Toda a economia mundial de nossa época teve seu marco inicialem Bretton Woods. Este lugar dos Estados Unidos reuniu represen-tantes de 144 países, sob a liderança do famoso economista inglêsJohn Maynard Keynes e do norte-americano Harry Dexter White.A reunião foi feita em 1944 e se propôs a discutir os rumos econô-micos da humanidade depois da II Guerra Mundial.

Pensou-se em criar instituições que intermediassem os emprésti-mos internacionais e a partir desta data foram feitos o Banco Mun-

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dial e o Fundo Monetário Internacional. Através destas instituiçõesos países poderiam fazer empréstimos ou ingressar como credores.Como a II Guerra destruiu de forma intensa a Europa e o Japão,o único país que poderia emprestar dinheiro e ser o credor mundialera os Estados Unidos. O banco do mundo deixou de ser a Inglater-ra e passou a ser a nação norte-americana e o dinheiro que começoua ser usado em todas as transações internacionais foi o dólar. OsEstados Unidos, com isto, assumiram a liderança econômica do mun-do ocidental.

Esta liderança é contraditória e é dentro desta contradição quese norteou a economia mundial. O dólar se valorizou artificialmen-te, tornando-o atraente para ser emprestado, mas os produtos norte-americanos se tornaram muito caros. Esta contradição fortaleceuos bancos americanos e enfraqueceu sua indústria. Para contornaresta situação os E.U.A. foram obrigados a montar suas indústriasfora do país, onde todos os custos eram mais baixos. As multina-cionais americanas passaram a operar com fábricas dentro dos Es-tados Unidos para o mercado interno e fábricas no exterior, parao mercado externo (e até interno, por causa do preço). Estas fábri-cas no exterior incluem muito especialmente o Brasil, onde a mão-de-obra e os custos em geral são muito baratos para a moedanorte-americana.

Mas, observemos o que ocorreu em nosso país nesta época degrandes transformações econômicas internacionais. Com o enfra-quecimento da Europa na II Grande Guerra, nossas exportações au-mentaram e houve uma grande melhora econômica e financeira. Pa-recia que o Brasil iria ter um enorme crescimento, semelhante aoque ocorreu nos Estados Unidos. Mas, na fase posterior à guerraa balança comercial já começou a ser desfavorável, e o Brasil recor-reu a mais empréstimos para suprir este déficit. Em pouco tempo,a dívida brasileira voltou a ser considerável.

Com relação às multinacionais instaladas em nosso país, que aba-favam nossa indústria e aumentavam nossa dívida com o estrangei-ro, o Brasil tinha descoberto uma forma de resolver o problema.O governo brasileiro era o único capaz de abrir concorrência às mul-tinacionais. Durante a II Guerra o Estado fez a Companhia Side-rúrgica Nacional, responsável pela fundição da maior parte do fer-ro produzido no Brasil. O governo fez também no período poste-rior à guerra, a Fábrica Nacional de Motores, dos famosos cami-nhões "fenemê" (F.N.M.) e a Companhia Nacional de Álcalis, en-tre outras. Mas, a luta mais emocionante desta época foi a forma-ção da Petrobrás. A "Standard Oil Company", dos Rockfellers, que-ria monopolizar a extração de petróleo no Brasil. O presidente Eu-rico Gaspar Dutra já havia até apresentado projeto para entregaro petróleo para os trustes norte-americanos, em Fevereiro de 1954.

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O povo brasileiro pressionou contra este projeto e o Congresso nãoo aprovou. Em 1953 o petróleo brasileiro foi entregue a um mono-pólio estatal chamado Petróleo Brasileiro S/A (Petrobrás).

A população brasileira estava entusiasmada nesta época (anos50 e início dos anos 60) e isto se refletiu até no futebol. Ganhamosas copas de 58 e de 62. A U.N.E. e a C.G.T. ganharam uma forçaque até então não conheciam. Parecia que o Brasil iria arrancar de-finitivamente um progresso generalizado e sair do sufoco financei-ro em que se encontrava.

Mas o canto do cisne da economia brasileira foi a Petrobrás, em1953. Nos anos seguintes, as tendências conservadoras achariam pe-rigoso este desligamento brasileiro das multinacionais americanas.Segundo a pesquisadora Heloisa Maria Murgel Starling, três facçõesse uniram para desferir o golpe de 64: a CIA - Agência Central deInformações dos Estados Unidos; as multinacionais americanas etendências conservadoras do Brasil.

O presidente João Goulart combatia esta invasão das multina-cionais e foi apoiado pelo povo, pela U.N.E. e pela C.G.T. Sua ten-dência nacional-populista foi a responsável pelos conservadores ochamarem de comunista. As mulheres paulistas da classe alta orga-nizaram a Marcha da Família com Deus tela Liberdade. As pres-

sões contra João Goulart se intensificaram e, aproveitando uma via-gem do presidente ao exterior, uma facção do Exército queimou asede da UNE e invadiu a sede do governo. Instalou-se desde entãoo regime militar e os 20 anos de ditadura que todos nós conhecemos.

Observando as tendências do golpe de 64 é fácil deduzir suas con-seqüências: as multinacionais invadiram maciçamente o nosso paíse as estatais foram estagnadas. A F.N.M. foi vendida para a AlfaRomeu, assim como o restante de nosso país para as multinacio-nais. Passou a ser perigoso se expressar e os líderes artísticos e polí-ticos foram perseguidos, torturados e exilados.

Não quero dizer com isto que as estatais seriam a solução paraos problemas do Brasil, pois todos conhecem a sua morosidade eineficácia. A União Soviética e países europeus socialistas, cujas em-presas são controladas pelo governo, possuem problemas ainda maio -

res do que os países capitalistas. Tanto esforço da Revolução Fran-cesa para impedir a tirania do rei e encontramos novamente o Esta-do dominando plenamente a população da Europa.

A solução não está nem nas multinacionais (como estão organi-zadas), nem num Estado forte, mas numa proposta intermediáriaque está surgindo pouco a pouco e que será, dentro em breve, a úni-ca alternativa viável para o mundo.

Para agravar a situação, a década de 70 conheceu a famosa crisedo petróleo que enriqueceu os bancos internacionais em suas tran-sações com os petrodólares e empobreceu as nações do Terceiro Mun-

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do. O F.M.I. e o Banco Mundial passaram para um plano secundá-rio e os bancos particulares se fortaleceram com os empréstimos parao Terceiro Mundo. Iniciou-se a era da especulação, onde as transa-ções monetárias eram mais lucrativas do que a indústria, a agricul-tura e o próprio comércio. Todos estes fatores fizeram com que adívida externa brasileira chegasse a cifras astronômicas e mesmo comuma balança comercial favorável e um bom crescimento econômi-co, as finanças sufocaram o Brasil. Depois de 20 anos de ditadura,recheados com a crise do petróleo, ficou muito difícil para o nossopaís se recuperar.

Muitos leitores devem pensar que o vilão da história do Brasilé o poder econômico internacional. Este é um raciocínio simplista,pois há um outro vilão dentro de nosso país, que é o poder econô-mico nacional. Nunca se resolveu o problema da seca nordestina,pois o Nordeste é a maior fonte de mão-de-obra barata. A emigra-ção interna arruína as famílias nordestinas, enche de favelas as me-trópoles, aumenta a violência e o desnível social, mas favorece o po-der econômico.

O sistema de exploração humana do Brasil evoluiu da escravi-dão para o assalariamento precário. A pobreza do nosso país pode-ria ser erradicada, mas isto prejudicaria os poderosos que obtêm seuslucros da chamada mão-de-obra barata. Nós nos irritamos ao ver tan-tos pedintes, sem contudo perceber os interesses econômicos que exis-tem por trás desta miséria. Atualmente se faz necessário que cadahabitante do nosso planeta assuma uma postura: ou defender a causado povo e os interesses gerais da humanidade; ou se corromper edefender o poder econômico, monopolizado por grupos pequenosde pessoas desequilibradas e autoritárias. Esta opção pode ser feitaem qualquer classe social, sexo, raça ou credo.

Só faltam à população os meios para se libertar. Não é com bom-bas e nem com súplicas que transformaremos a humanidade, masconstruindo um sistema mais justo. Não é questão de comunismoe nem de capitalismo; devemos buscar a justiça social. Começare-mos pequenos, como crianças indefesas, para amanhã crescermose formarmos uma sociedade mais justa e um ambiente de maior fe-licidade e afeto. Fazer o verdadeiro reino de Deus na Terra.

Bibliografia

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SAMPSOM, Anthony, Os Credores do Mundo, 3a. Edição, Rio de Janeiro, EditoraRecord.

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MOFFITT, Michael, O Dinheiro do Mundo, 2a. edição, Rio de Janeiro, Editora Paze Terra, 1985.

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KEPPE, Norberto R., O Reino do Homem, São Paulo, Proton Editora Ltda., 1983.

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Page 263: Libertação Dos Povos

6. Educação moderna: formaçãopara a escravidão

Suely M. Keppe Simula

A educação do passado e do presente está diretamente subordi-nada ao poder econômico. Em cada época, a humanidade teve al-guns que a comandavam e toda uma população servindo e traba-lhando para estes poucos. Eram os religiosos, os monarcas, os se-nhores feudais no passado; os industriais e os banqueiros nos diasatuais. Em toda a história da humanidade, quem a comandava,

sempre eram os mais ricos. A situação agora continua igual. Sendo as-sim, não saímos ainda da escravidão, porém, ela tem agora outronome. Desta maneira, vários ramos de atividades têm a finalidadede servir aos poderosos e um deles é a educação.

O sistema educacional tem como objetivo adaptar a criança àsociedade. Acontece, porém, que vivemos num mundo capitalista,que tem seus valores e objetivos próprios, os quais nem sempre sãoos melhores, muito pelo contrário, na maioria das vezes são injus-tos e desonestos. Sendo assim, não é de se estranhar que a delinqüên-cia juvenil em porcentagem esteja aumentando muito mais do queo crescimento populacional dos jovens. O delinqüente é aquele jo-vem que não se "enquadrou" no sistema social. Isso porque nossasociedade não dá as mesmas oportunidades para todos os indivíduos.Alguns têm muito mais do que precisam, enquanto outros não pos-suem aquilo que é básico para a própria sobrevivência.

O sistema educacional encontra-se em grande decadência e al-guns de seus principais problemas são: evasão, indisciplina, profes-sores não qualificados, nível de aprendizagem a cada ano tornando-semais fraco. O resultado deste processo é que, a cada ano que passa,as pessoas tornam-se mais medíocres e, conseqüentemente, mais alie-

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nadas de sua situação. É importante salientar que estou me referin-do à educação que é dada ao povo e não aos poderosos. Isso por-que existem dois tipos bem distintos de escola. Uma para a popula-ção em geral e outra para a elite do poder. A maioria é treinada pa-ra ser escrava e alguns poucos já são ensinados desde pequenos nastáticas para tomarem-se pessoas que irão comandar os outros.

A sociedade transmite a idéia de que, através do estudo, a pes-soa conseguirá alcançar altos postos na sociedade, o que é um gran-de engano. A pessoa pode chegar no máximo a ser um capataz dealgum poderoso, através de um cargo executivo, ou então se apri-morar nas técnicas de conseguir mais dinheiro para quem já tem mui-to, mas o poder econômico não terá, mesmo que tenha feito umainfinidade de cursos. Quem comanda, não quer outros juntos, nãotem a intenção de compartilhar nada com ninguém. Isso nos faz che-gar à conclusão de que os problemas existentes na educação são pro-blemas sociais, que são causados por aqueles que detêm o poder.Tais pessoas não querem que o povo tenha educação, para que daíele não tenha consciência e nem capacidade para mudar sua situa-ção. O que uma pessoa sozinha pode fazer? E se esta pessoa, alémde estar sozinha, ainda não tem cultura nem instrução? Tal pessoanão terá capacidade de mudar sua situação. Vivemos em uma socie-dade cuja valorização é dada ao dinheiro e não ao ser humano. Porisso, tudo aquilo que se refere à cultura, aos valores, à realidade,etc. é colocado em segundo plano. O que é principal foi deixadode lado e ao que é secundário dá-se extrema importância. Essa si-tuação faz com que a educação torne-se desligada da realidade dacriança e assim se transforma em algo desinteressante. Assim sen-do, a criança aprende desde cedo que a realidade é algo chato e afantasia é boa. Quando o adolescente sai da escola, está pronto pa-ra rejeitar todo e qualquer esforço, procurando alienar-se cada vezmais. Para agravar a situação, os meios de comunicação transmi-tem uma filosofia de vida irreal ao incentivarem uma vida de pra-zer, onde o esforço é desprezado e tudo pode acontecer num passede mágica. A fantasia é supervalorizada e a realidade émenosprezada.

No que se refere aos métodos educacionais, a escola adota umade suas linhas básicas de conduta. Ou é uma escola muito permissi -

va, formando indivíduos alienados, ou é muito censurada, forman-do pessoas intransigentes. Dessas duas maneiras, não se mostramos problemas que os alunos têm e, assim, a criança não aprende aver seus erros e lidar com eles.

As escolas "liberais" não disciplinam as crianças e com isso elasnão têm o hábito de se esforçar. Na idade adulta, tais pessoas terãodificuldades em se desenvolver. As escolas "rígidas" simplesmenteimpõem suas regras, sem mostrar ao aluno o porquê delas e as van-

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tagens que ele obterá. O resultado de tal método educacional é aformação de indivíduos com muita censura, com medo de tudo.

Algo muito prejudicial que a psicologia trouxe ao sistema edu-cacional é o método do "elogio", como forma de reforço ao estu-do. Através disso, os melhores alunos tornam-se pessoas arrogan-tes, adultos que se acharão os donos da verdade. Indivíduos assim,tornam-se medíocres, porque não aceitam nada que não esteja deacordo com aquilo que pensam.

A escola supervaloriza o aspecto racional, a memorização, des-prezando o afeto e a compreensão. Dessa maneira, não vinculaas matérias a aspectos práticos da vida do estudante, formando pes-soas teóricas que não sabem lidar com os problemas que surgem nasua frente. Para que a escola consiga formar indivíduos de valor,que possam ajudar a solucionar os problemas existentes, é necessá-rio fixar alguns objetivos básicos da educação:

1-O problema não está no sistema educacional em si, mas nas pes-soas que o formaram; para isso, a educação deve estar voltadaprincipalmente para o desenvolvimento de seus membros. O sis-tema educacional correto virá gradativamente, conforme as pes -

soas vão se aperfeiçoando.2 - Deve-se formar indivíduos com bom senso, que saibam analisar

as situações de maneira crítica, para não aceitarem tudo semquestionamento ou criticarem e deprezarem tudo que foi feitoaté hoje.

3 - Fazer com que a criança aprenda a ter disciplina consigo pró-pria, para agüentar frustrações e com isso se desenvolver.

4 - Formar pessoas que tenham capacidade de lidar com seus pro-blemas e dificuldades.

5 - Dar a mesma importância para o sentimento, o pensamento ea ação, já que são os três aspectos, em conjunto, que farão comque o indivíduo consiga realizar algo em sua vida.

6 - Não formar pessoas que se adaptem ao sistema social, mas, sim,indivíduos que sejam capazes de modificá-lo. A educação deveintegrar o indivíduo na realidade e não na sociedade.

7 - A competitividade é uma luta pelo poder, onde os indivíduosdesonestos devem derrubar os mais honestos para alcançaremos seus objetivos. Na escola, deve-se incentivar o sentimento decooperação, porque se todos tiverem um desenvolvimento, a so-ciedade será muito mais beneficiada.

8 - Mostrar aos alunos o que é bom e o que é ruim, para que, nofuturo, a criança se preocupe em fazer um trabalho benéfico àhumanidade. Isso porque não adianta nada o indivíduo ser muitoativo, se realiza trabalhos prejudiciais aos outros seres huma-nos. A pessoa deve ser ativa, mas naquilo que é bom.

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9 - Os professores devem mostrar que toda pessoa faz uma escolhaem sua vida entre ter um ideal voltado para o bem do próximoou então conseguir as coisas somente para si mesmo.

Como fazer então para atingir tais objetivos? Muitos estudiosostiveram a preocupação de formar métodos ideais para a educação.O problema destes reside no fato de que na prática eles não funcio-nam, porque não incluem a maneira de lidar com os problemas, jáque só tratam sobre aquilo que seria o ideal e, assim, deixa-se delidar com as dificuldades que inevitavelmente surgem.

A nível individual, o principal método seria fazer com que ascrianças, os professores e pais aprendam a lidar com seus erros edificuldades, através de uma constantemente conscientização dos pró-prios problemas. A pessoa deve aprender a ter um senso crítico eao mesmo tempo uma tolerância em lidar com as dificuldades.

A nível social, como a escola está subordinada ao poder de al-guns indivíduos muito doentes, é necessário desvinculá-la da ideo-logia dominante. E necessário que todos aqueles que estão envolvi-dos com o sistema educacional, percebam que estão servindo a umainjustiça muito grande contra o povo. Isso porque, uma pessoa so-zinha não pode ter muito poder. Cada indivíduo só deve ter aquilono qual pode trabalhar, já que quem acumula mais do que precisa,está tirando essa riqueza de outros. Sendo assim, o primeiro passoé formar escolas que estejam desvinculadas do poder dominante.

O segundo passo é realizar uma liderança e uma direção que se-ja benéfica para todos. Isso porque, se não houver uma direção nosentido do bem e todos tiverem poder sobre tudo, as más intençõesirão prevalecer novamente.

Resumindo, então, o ser humano precisa aprender desde peque-no a ver os seus erros, porque é só desta maneira que pode contro-lar as próprias más intenções e daí chegar a um desenvolvimento.A escola deve ter uma filosofia de formar as pessoas e não de per-petuar o tipo de poder econômico existente. Deve haver uma dire-ção ideológica, econômica, social, etc. voltada para o benefício detoda a humanidade ao invés de uns poucos indivíduos.

Quando se fala desta maneira, a maioria das pessoas pensa queisto é uma utopia, que é muito difícil consertar a situação do mun-do, que não adianta tentar nada, porque já está tudo perdido mes-mo. Pois bem, é este pensamento que os mal-intencionados queremque tenhamos, para que não façamos esforço algum e continuemossempre na mesma situação. É necessário confiar naquilo que é bom.A sociedade precisa perceber que o bem tem muito mais força e po-der do que o mal e, mesmo que seja difícil desinverter a situaçãoatual, temos que tentar; caso contrário, os poderosos destruirão omundo.

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Em toda a história, a humanidade foi escravizada pelos podero-sos. Chegou a hora de construirmos uma sociedade mais justa e me-lhor, e todos aqueles que participarem desta iniciativa usufruirãomais rápido de toda a alegria que o bem pode proporcionar.

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7. Libertação, o poder e as drogasMartha G. Cruz

Existem basicamente duas formas de busca pelo poder que es-tão relacionadas ao uso e abuso de drogas, isto é, uma social, daspessoas que estão nas posições de comando no mundo econômico,e outra que envolve a vida psicológica do indivíduo que toma dro-gas, que tenta se libertar das pressões sociais e psicológicas que so-fre, na crença de que as drogas lhe trarão o poder da libertação.

O socialNo primeiro caso não é tanto uma busca de poder mas, de fato,

um meio de manter o poder que já se tem. "Um relatório recentesobre o abuso de drogas entre os adolescentes levou alguns especia-listas a lançar um alerta de que existiria uma "bomba-relógio" en-tre a população estudantil" (U.S. News & World Report, 18 de No-vembro de 1985). E interessante notar que o abuso de drogas vemaumentando assustadoramente entre os jovens. Exatamente entre osjovens que poderiam denunciar, revoltar-se contra todas as injusti-ças e pressões econômicas e sociais que existem atualmente.

Na revista Psychology Today, de Dezembro de 1984, RichardM. Ritter nos diz: "A nossa sociedade super empregnada de drogasnos encoraja para a busca de meios químicos para resolver muitode nossos problemas " . Podemos lançar aqui a hipótese de que existeum enorme interesse por parte das pessoas que estão numa posiçãode poder sócio-econômico em manter o povo e a juventude (princi-palmente) totalmente alienados, na crença de que "tudo está bem " .E qual seria a melhor forma para se conseguir isto? Obviamente,através de fazê-los viver num mundo de ilusões e fantasias. Como?Através das drogas e álcool.

Atualmente é quase que impossível se viver bem em qualquer lu-gar do mundo, e principalmente nos E.U.A., sem se recorrer a qual-

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quer tipo de fuga, no caso, através das drogas. O povo (americano)é totalmente enganado com relação a sua liberdade. E uma crençageral, até mesmo um dogma, de que este é o país da Liberdade. Mas,após viver aqui por mais de 3 anos pudemos constatar exatamenteo contrário. O que existe aqui é uma pressão insuportável no senti-do da massificação, da alienação, do materialismo, de uma buscaexasperada de "divertimentos", para se esconder o enorme vazioque existe na vida de cada um, exatamente como conseqüência des-ta alienação, deste descontato com nossos valores básicos. O quemais se vê neste país são placas de proibição; proibido entrar, nãoestacione, não toque, propriedades particulares, ao longo de todasas estradas e praias, não se permitem cachorros, proibido isto, proi-bido aquilo. Aqui é o país da liberdade para explorar. E o reino dospoderosos economicamente.

Existe toda uma conspiração, ou um pacto no sentido de incen-tivar o uso de drogas, desde a Mídia (TV, rádio, magazines e jor-nais) até filmes e livros como Hair, Tommy, toda a série de livrosdo Castaneda, Aldoux Huxley e Timothy Leary, bem como muitosoutros que não cabe citar aqui. E isto na maioria das vezes é feitode uma forma muito sutil, denunciando a hipocrisia e corrupção dopoder econômico-social e colocando as drogas como única saída.De acordo com Susan Newman (filha de Paul Newman), em 1982foi feita uma pesquisa que dizia que na CBS mostravam a cada 15minutos alguém comprando bebida alcoólica, bebendo, ou tendo umcopo de bebida nas mãos. E isto é só em uma das várias emissorasque invadem os lares americanos dia e noite, atingindo crianças, jo-vens, adultos e velhos.

O escândalo que foi mostrado em tantas revistas e jornais sobreo fato de Freud usar cocaína e oferecê-la a amigos, clientes e namo-rada, funcionou também no sentido de dizer: "Olhem, os grandesgênios também usam drogas. Vocês também podem usá-las " . Deacordo com a revista U.S. News & World Report, 18.11.85. "Umarecente pesquisa federal revelou 617 mortes devidas ao uso de co-caína em 1984 e, entre pessoas de todas as idades no país, houveum aumento de 77 por cento no período de um ano " . Isto mostraum dos vários efeitos da intensa propaganda subliminar que é feitacom relação às drogas. No jornal New York Times de Maio de 1984disseram que o uso de cocaína quase triplicou nos últimos 5 anos;já a revista National Geographic de Fevereiro de 1985 nos diz que ocrime relacionado com heroína é a maior causa de crime em todasas cidades americanas.

Um fato curioso é o grande aumento no uso e abuso de drogasdesde os anos 60, exatamente os anos da revolução dos jovens ame-ricanos. De acordo com o Dr. William Pollin, diretor do InstitutoNacional de Abuso de Drogas: "O consumo de todas as drogas au-

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mentou 100 por cento desde 1960". Dr. Mitch Rosenthal, diretorda Casa Phoenix de N.Y.C., disse: "Hoje mais do que 36 por centoda população já usou alguma droga ilegal". Ele comentou: "Já nãoé mais um fenômeno da minoria, dos pobres, das classes menos pri-vilegiadas. Durante 20 anos houve de fato uma banalização do con-sumo de drogas.

No New York Times de Março 1983 foi dito: "As tendências noabuso de drogas são mais deprimentes do que encorajadoras. Em1962 menos de 4 por cento da população usou alguma droga ilegal,porém duas décadas mais tarde, 33 por cento de todos os america-nos com a idade de 12 e acima relataram terem usado maconha, alu-cinógenos, cocaína, heroína ou drogas psicoterapêuticas para finsnão medicinais. E além do aumento do número de pessoas que to-mam drogas, a pureza e a força das drogas também estão aumen-tando. O jornal New York Times de Junho de 1984, trazia um arti-go que diz: "A maconha de hoje é 5 a 10 vezes mais poderosa e pe-rigosa do que aquela de 10 anos atrás", e na revista High Timesde Março de 1985, foi dito que "a pureza média de amostras da ruade cocaína passou de 10 por cento a 33 por cento em pureza no anopassado". Outro fato assustador é a manchete que saiu no jornalU.S.A. Today em 10 de Janeiro de 1986: "Estimativa de colheitade maconha é de $ 18,6 bilhões. Drogas vistas como plantação maisrendosa" — onde dão uma lista de quanto cada Estado americanovendeu em 1984 e 1985 de maconha variando desde 27.8 milhões(Nevada) a $ 2.55 bilhões (Califórnia). É quase impossível de acre-ditar que a plantação mais rendosa de 1985 tenha sido a maconha— isto se tratando do primeiro país do mundo.

A questão internaComo disse no início, a segunda forma de poder ligada ao abu-

so de drogas é relacionada à patologia de cada um. Durante os últi-mos cinco anos em que temos pesquisado na área de uso e abusode drogas e álcool, baseados na Trilogia Analítica, chegamos à con-clusão de que, no que toca ao indivíduo, a busca da liberdade é ofator determinante do vício. No contato que tivemos com droga-dos, nas entrevistas e questionários que aplicamos, um fator pre-sente em todos os casos era a sensação de extrema liberdade e poderquando sob o efeito da droga. O jovem S.D. falou o seguinte: "Dian-te do perigo me achava invulnerável, acreditava que a polícia nuncame pegaria, que poderia ir nos lugares mais perigosos com margi-nais que nada me aconteceria, me gabava de enganar a polícia, ti-nha muito orgulho de tomar drogas, achava que poderia dirigir ocarro tão imprudentemente quanto quisesse que nada me acontece-ria, me achava superior à própria morte, e passei a acreditar que

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Deus não existia". Este é um dos vários depoimentos que colhemos,que mostram a falsa sensação de liberdade, enorme fantasia de po-der e invulnerabilidade da pessoa que toma drogas.

As pessoas que não conseguem realizar seus sonhos de liberta-ção no domínio econômico-social, recorrem às drogas para realizá-los no seu mundo imaginário, onde ela é a rainha, a deusa, semprevitoriosa, comandando tudo e todos. O jovem M.A. dizia: "Eu meachava dono da região, queria fama, pessoas sob meu comando. Pen-sava saber tudo a respeito das coisas. Gostava de me colocar em evi-dência e sentir-me diferente dos outros" . Um outro exemplo é deJ.J. "Sentia meu pensamento veloz, numa velocidade incrível, po-dia pensar milhões de coisas num só tempo. Tinha idéia de que nãotinha problemas. Me sentia uma pessoa muito sã, contente, auto-afirmada, alguém assim poderoso, corpo leve, sentidos aguçados".Este depoimento mostra-nos como as drogas servem ao propósitodos poderosos, que querem que o povo tenha uma vida desgraçadae ainda assim se veja como estando bem, saudável e até poderosoem seu "mundinho" — eles têm toda a " liberdade" do mundo pa-ra imaginar o que quiserem sobre si mesmos, contanto que não in-terfiram no reino dos "verdadeiros poderosos" que comandam.

A jovem C.R. dizia: "Eu me sentia mais ligada, mais elétrica,mais viva, mais popular. Não tinha sono, me sentia agitada. Sentiauma ansiedade boa, uma vontade de fazer as coisas (só que não fa-zia, só imaginava o que iria fazer). Tinha uma sensação de esperte-za, de superioridade, de descontração. Acreditava ter mais amigose ser mais alegre. Achava também que as drogas abriam minha per-cepção". Aqui podemos ver como as drogas abafam a consciênciada morte em que as pessoas vivem, de seu marasmo, da sua tristeza,enfim, de sua impotência diante da vida como está organizada so-cial e economicamente. Em conseqüência, elas se tornam robôs nasmãos dos poderosos, dizendo amém a todas as restrições que lhesimpingem, desde que tenham o seu mundo de fantasia.

E muito triste ver uma nação assim, que já esteve na posição demais adiantada do mundo, destruindo assim todos os seus valores,todo o seu potencial, e arrasando sua filosofia filantrópica e prag-mática, que serviu de exemplo e estímulo a tantos outros países.

A jovem K.J. disse: "Eu me achava bacana por tomar drogas.Me achava melhor que as pessoas que não tomavam porque achava-as covardes, Acreditava que era forte e aventureira. Tinha admira-ção pelos caras que tomavam droga, admirava a loucura deles. Nomeu grupo havia uma crença geral de que a pessoa que toma drogaspercebe melhor o mundo, `saca' mais as coisas como filmes, livros,teatros e até músicas". Parece que os jovens associam loucura à li-berdade e poder. Quanto mais loucas e perigosas as coisas que fa-zem, mais bacanas se acham. Podemos dizer que eles têm uma pai-

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xão pelo medo e um orgulho do perigo. Isto ocorre devido ao fenô-meno da inversão. O que é realmente bom, o que tem realmente va-lor, o esforço, a inteligência, a cultura, o sentimento são considera-dos ruins, algo do qual se deve ter vergonha. E o que destrói, comoas drogas, o perigo, a fantasia e a alienação são considerados coisasexcelentes que devem ser cultivadas, como se fossem essenciais à vida.

Algumas pessoas recorrem ao uso de drogas para esconder a frus-tração que sentem ao não conseguirem ser tão poderosas na reali-dade como gostariam, ou se imaginam. Por exemplo, algumas do-nas-de-casa que gostariam de controlar marido e filhos, em face aoinsucesso, tentam se realizar, ou abafar a frustração através de tran-qüilizantes, anestesiando-se psicologicamente. Outra forma de po-der que acredito estar ligada às drogas é o convívio com o mundoartístico, com músicos especialmente. As drogas são como que umpassaporte para os camarins. Aliás, é interessante o fato dos artis-tas e músicos modernos se envolverem tanto com drogas. Acreditoque, devido ao fato de muitos deles não terem consciência de seudesejo de poder, isto passa a dominá-los, e eles se envolvem comas drogas perdendo sua criatividade e capacidade artística, fazendoobras cada vez mais medíocres. Há também o fato da pressão eco-nômica que é exercida sobre os artistas exigindo que eles comercia-lizem a sua arte para que possam sobreviver. Talvez o uso de dro-gas seja tão grande no meio artístico para fugirem desta pressão eda consciência que isto lhes traz — enfim é outra vez uma tentativavã de buscar uma libertação.

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8. A natureza, o poder e vocêSandra 1. Keppe

Este capítulo é dedicado a todos aqueles que lutam pela causaambiental, na maioria das vezes, sem serem reconhecidos ou mes-mo sem obterem resultados práticos. E também, a todos aqueles quesofreram danos físicos, materiais ou psíquicos, causados pela explo-ração econômica. E é com estes lutadores e com todos aqueles quejá sofreram a injustiça de um poder econômico explorador, que euacredito que pode e deve ser feita a transformação social, tão neces-sária e esperada para todo o bem-estar da humanidade. Tenho mui-ta esperança naqueles que acreditam em um mundo melhor e achoque a verdadeira libertação dos povos deve ser feita para todos aque-les que ainda não se acomodaram, simplesmente pelo fato de acre-ditar que viver desta forma não está certo.

Como podemos ficar sossegados, enquanto milhares de homens,mulheres e crianças morrem de fome, de frio, nas guerrilhas ou sim-plesmente sobrevivem em um sistema social totalmente injusto cria-do contra a paz humana? Acho que agora, com a conscientizaçãosocial, finalmente chegou a hora de lutarmos para um mundo me-lhor, que seja digno para o ser humano morar, falar a verdade etrabalhar para uma sociedade mais justa.

Nosso planeta é lindo, cheio de riquezas, beleza e espaço, paraque todos vivam bem. Se uma minoria tomou conta de tudo isto,é porque permitimos. Temos que exigir o que é nosso, para recupe-rar nossa dignidade. Mas sei que com este livro, muitos perceberãoo que pode, deve e será feito!

Usinas nuclearesO custo de 100 bilhões de dólares, imposto para a implantação

de usinas nucleares para a década de 80, é considerado pelo econo-

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mista de energia Charles Komanoff, como sendo o maior custo im-posto para um setor industrial, maior de que qualquer outro já fei-to em toda a História da Humanidade. E desde 1974, mais de 100construções de reatores nucleares foram canceladas depois de teremsido gastos bilhões de dólares e estarem com o projeto praticamenteconcluído, como foi o caso de Zimmer em Cincinatti, Midland emMichigan e Marble Hill em Indiana por exemplo. Isto porque, quan-do as construções estavam praticamente concluídas, chegou-se à con-clusão de que não havia tecnologia, conhecimento e condições ne-cessárias para a sua operação. Em outras palavras, podemos dizerque estes foram projetos totalmente megalômanos, fora da realida-de, provavelmente projetados somente com a finalidade de lucro.

Um bom exemplo para ilustrar a ganância pelos benefícios eco-nômicos, pode ser dado neste exemplo: "Foi o objetivo de Rockfel-ler que Nova Iorque liderasse a entrada na era atômica. Rockefel-ler, ansioso por empregos, taxas e outros benefícios econômicos pro-metidos pelo que parecia ser a nova aventura pioneira de um negó-cio lucrativo, rapidamente acreditou que a construção destas usinasseria segura e parecia sem vontade tanto de investigar mais profun-damente os riscos ou de divulgar qualquer informação desagradá-vel para o público" . Ele disse: "Esta é a era atômica, rica em desa-fios e oportunidades" . Resultado: "O Serviço Nuclear do oeste deNova Iorque, a única usina nuclear comercial, de reprocessamento(subsidiária da Getty Oil Company), depois de seis anos de opera-ção se tornou num desastre econômico e tecnológico. Esta usina éhoje uma evidência do fracasso em resolver o problema do lixoatômico".

Radiotividade

Tal como John Waine morreu de câncer, devido ao fato de tersido exposto em uma região altamente contaminada pela radioati-vidade, muitos seres humanos já vêm adquirindo leucemia, váriostipos diferentes de câncer, deficiência mental, defeitos de nascimentoe problemas genéticos.

Sabemos que as usinas atômicas têm uma vida útil de apenas umageração, isto é, de 50 a 100 anos, um custo fabuloso de bilhões dedólares e produzem elementos radioativos com capacidade de con-taminação de até centenas de milhares de anos. Devido à megalo-mania de alguns poderosos, procura de lucros e benefícios, já pos-suímos atualmente, dezenas de "elefantes brancos", que, na verda-de, nada maissão do que monstros intocáveis, e apenas umarachadura em uma de suas paredes geraria a contaminação de deze-nas de cidades, atingindo um raio de milhares de quilômetrosquadrados.

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Cidades contaminadasAtualmente, Times Beach, no Estado de Missouri, é chamada

de cidade fantasma. Isto porque antes do Natal de 1982 a populaçãodescobriu que sua cidade foi contaminada por dioxina, um elemen-to altamente venenoso.

Só nos E.U.A., são calculados cerca de 378.000 waste site (comuma maior concentração nos arredores de Manhattan), com altasconcentrações de dioxin, vinyl, chloride PBB e PCB, todos altamentetóxicos.

Exemplos como este me fazem questionar sobre a liberdade ame-ricana. Parece-me, que se os americanos não têm mais nem o direi-to de habitarem com segurança em suas cidades, é porque não exis-te mais liberdade. O poder econômico mal-intencionado, visandoapenas lucros e explorador, substitui o sonho americano pela ES-CRAVIDÃO ECONÔMICA

Efeito estufaOutro fator, surgido no século XX, como prova da corrupção

econômica, é o efeito estufa. Este é o resultado da queima constan-te de combustível fóssil, como carvão e petróleo, o que aumenta aquantia de dióxido de carbono na atmosfera. Este aumento fez comque o planeta transformasse sua temperatura, com secas mais rigo-rosas, invernos mais amenos e o aumento da dessertificação em to-do o planeta. A Terra está mais quente. Mas o pior de todos os efei-tos é o aumento de nível dos mares, devido ao derretimento das ca-lotas polares. Com isto, poderemos ter 1/3 de toda população daTerra submergida sob as águas e cidades como Nova Iorque, SãoFrancisco, Los Angeles, Rio de Janeiro, Veneza, Sydney, Tokyo eGrécia por exemplo, desaparecendo tal como ocorreu com aAtlântida.

Chuva ácidaTodos os 200 lagos da região de Adirondeck do Estado de Nova

Iorque estão contaminados pela Chuva Ácida, também o Vale doRio Hudson, milhares de lagos no Canadá, entre 15 a 20.000 lagosna Suécia, toda floresta negra na Alemanha. E o que mais impressio-na são as preciosidades da humanidade tal como: o PARTHENONem Atenas, Catedral de Colônia (da Idade Média) na Alemanha Oci-dental e várias ruínas históricas na Itália, que resistiram a todas asguerras, terremotos, furacões e tempestades, estão agora cedendoneste século à Chuva Acida.

A Chuva Acida é um fenômeno químico, resultante da queimade óleo, carvão e plantas, que ficam em suspensão no ar. Com a

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luz do sol, esta mistura de gases produz mais que 150 reações, sen-do que as primeiras são: ozônio (corrosivo), ácidos nítrico e sulfúri-co. E quando as nuvens passam, elas carregam toda a poluição con-tida na atmosfera.

A Chuva Acida tal como o efeito estufa, são problemas atuaisdeste século, puramente econômicos, onde a causa principal está nocusto de serem colocados filtros antipoluentes em fábricas e auto-móveis, o que traria menos lucro para os fabricantes. E de extremaurgência, que toda a população se conscientize de que não podemospermitir que todo o meio ambiente e valores históricos arquitetôni-cos sejam sacrificados, somente devido ao interesse de uma mino-ria. O bem-estar da humanidade deve ser preservado acima de todaestrutura econômica, inimiga da liberdade humana. Nós, como po-vo, somos a força para impor mais respeito. Este planeta é nosso,e deve ser respeitado!

Poluição do arTal como todos os exemplos já citados, todo tipo de poluição,

radiotividade e contaminação, são problemas puramente econômi-cos, que se vêm agravando cada vez mais, conforme aumenta o trusteconômico.

Desde a Revolução Industrial, os operários que trabalhavam de12 a 18 horas, mal pagos e com a exploração de mulheres e crian-ças, não tinham opção econômica mais viável, senão morar nos ar-redores das fábricas. Enquanto isso, os donos viviam em regiões dis-tantes, arborizadas, saudáveis, sem o problema da poluição, maucheiro e, até mesmo, sem a poluição sonora vinda da maquinaria.Aliás, o mesmo se repete até hoje. Podemos até citar o que diziaMarx a respeito: "Os donos das fábricas resistiram de todas as for-mas em prover limpeza e saúde, pois isto cortaria os seus lucros".

Hoje em dia, o problema continua o mesmo e até tem aumenta-do em grandes proporções, como é o caso da poluição intensa noChemical Valley (West Virginia) por exemplo. Ou, ainda, Cubatão,no Estado de São Paulo, que é a região industrial mais poluída nomundo, onde muitas crianças nascem sem cérebro, e a Serra do Mar,que é uma floresta única no planeta, devido a sua exuberância, lo-calização e raridade, está desaparecendo com os mesmos sintomasda Floresta Negra na Alemanha. Mas Nova Iorque também é consi-derada como uma cidade, onde um passeio o dia inteiro nas suasruas equivale ao consumo de dois maços de cigarros. E os resulta-dos na saúde do ser humano são: uma esterilidade cada vez maiorentre homens e mulheres (o que vem transformando a inseminaçãoartificial em grande negócio), maior índice de câncer, problemas car-díacos e respiratórios.

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Mas o fator de fundamental importância em toda a questão dapoluição do ar são os veículos motorizados que são os agentes de60 a 90 por cento de toda ela. E tudo isso, devido a quê? Todossabem que as grandes fortunas neste país (E.U.A.) iniciaram coma indústria petrolífera, tais como: Getty, Rockfeller, sendo queseis companhias têm o domínio do petróleo: Exxon (a maior em-presa do mundo), Mobil, Gulf e Western (que possui mais de 100indústrias em todas as áreas praticamente), Shell, Texaco, Standardand Bp.

Atualmente, existe toda uma crise econômica inflacionária nomundo inteiro, estritamente ligada à questão petrolífera. No Brasil,por exemplo, quando aumenta o petróleo, tudo sobe de preço: pro-dutos, transportes e serviços, isto devido à extrema importância dadistribuição para o desenvolvimento da nação.

Na depressão americana de 1930, os fazendeiros desenvolverama tecnologia de adaptar o milho como combustível para o mo-tor. Na Europa, estão sempre surgindo novos inventos de carros mo-vidos a energia solar, do vento ou sem falar no carro elétrico. E porque que continuamos poluindo o mundo, com os derivados do pe-tróleo, sendo que este é um bem não renovável já em perigo de es-gotar, como ocorreu em vários locais do Texas? Porque existe todauma manipulação econômica, bastante complexa, relacionada coma questão petrolífera, desde sua descoberta até os conflitos no OrienteMédio.

Poluição das águasMenos de um por cento da água no planeta é água potável. 70

por cento do planeta é formado pelos mares e a grande maioria dooxigênio que respiramos vem das algas-marinhas e não das flores-tas como muitos pensam. Atualmente, os mares são o grande depó-sito de lixo da humanidade, onde todos os resíduos industriais, ex-crementos humanos, venenos químicos da agricultura, chuva ácidae derramamento de óleo são despejados diariamente em uma quan-tidade inacreditável.

J. Cousteau mostrou em um de seus filmes que regiões com umaquantidade abundante e variada de cardumes há 40 anos, hoje podemser chamadas de "deserto marítimo", e a causa não está só napoluição, mas também na pesca indiscriminada e predatória, quevem extinguindo espécies em todos os mares.

Quanto aos rios, podemos relembrar do incidente ocorrido noLove Canal (7), onde em 1958, a Hooker Chemical já sabia dos de-tritos despejados no rio, mas não alertou a população. Até hoje,o custo está em torno dos $ 70 milhões para a descontaminação daárea. Podemos citar também o caso do rio Hudson, onde o governo

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esta instalando um projeto gigantesco de milhões de dólares parainiciar o processo de limpeza, tal como foi feita com o rio Tâmisaem Londres. E como o problema é sempre econômico, neste caso,a General Electric também se omitiu quando despejou quantidadesenormes de PCB (química altamente inflamável) no Rio, criandodoenças para mais de 65 funcionários seus durante 15 anos.

Mas todos estes fatores, trazem a idéia para muitos, de que oproblema surgiu com a Revolução Industrial. Mas na realidade, oproblema reside na forma com que foi e é dirigida toda a produçãoindustrial. O resultado final acaba sendo o lucro para a minoriaque detém o capital. Todo o meio ambiente, operários, habitantesdos arredores e até o produto final, são sacrificados em função dolucro. Exploração ambiental, poluição, operários mal pagos e pro-dutos em grande quantidade, e baixa qualidade, e, na maioria doscasos, supérfluos e até mesmo desnecessários, são resultados de to-do um sistema econômico injusto, feito contra o povo, onde todosos benefícios, incentivos e leis são feitos para proteger uma minoriaprivilegiada. Na verdade, a união meio ambiente/industrializaçãoprecisa ser feita, mas somente será realizada com a conscientizaçãode que o povo como maioria é que tem toda a força do trabalho,e que é o próprio poder. Sem o trabalho, de que adianta o capital?As indústrias têm que ser do povo e para o povo e este é que é overdadeiro poder, o poder da maioria trabalhadora.

A guerra herbicidaInfelizmente, hoje, quase 60% de todos os cientistas no mundo

inteiro, trabalha para o "desenvolvimento" da indústria de guerra.E, como foi apresentado na palestra de Economia do Congresso"Quem é quem no jogo do poder" (Flórida 86), muitas potênciaseconômicas como a Du Pont por exemplo, se enriqueceram e fazemsua fortuna, faturando em cima de guerras, guerrilhas e conflitosarmados, promovendo assim a morte, a desolação e destruição emtodo o planeta.

O mais conhecido caso de guerra herbicida foi o caso de Viet-nã, onde foram despejados 10.7 milhões de galões de Agente La-ranja em cima de 3 milhões de acres de terra, florestas e plantações.46.000 soldados americanos foram expostos e, até hoje, os vietna-mitas sofrem deformidades e câncer no fígado. Atualmente, o usointerno nos E.U.A. é proibido, mas a produção e exportação (parao Terceiro Mundo), é permitido. No Brasil, por exemplo, em plenafloresta equatorial, com toda sua complexidade e riqueza, foram des-pejados toneladas de Agente Laranja para a construção da usina deTucuruí (a maior do mundo, em uma floresta equatorial). Mais umavez, devido a questões econômicas, as comportas foram abertas an-

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tes do prazo e com isto, toda a madeira, massa verde e humus nãopuderam ser retirados e submergiram nas águas do monstruoso la-go. Para isto, foram usadas toneladas do desfolhante/herbicidaAgente Laranja e como resultado, dezenas de habitantes locais e tra-balhadores da usina ficaram paralíticos e cegos para sempre.

E importante lembrar que, entre todos agentes químicos utiliza-dos na vegetação, entre fertilizantes, pesticidas e inseticidas, o maisperigoso, venenoso e letal, são os herbicidas. E para ilustrar melhoreste problema, devo citar também o produto: Cyperquat (ref: 303616)criado pela Gulf & Western. Como esta corporação já foi citada an-teriormente, vale a pena lembrar sobre o conteúdo de seus produ-tos. Aliás, quanto maior o "trust", menor o respeito pelo consumi-dor e qualidade do produto. Este produto foi acusado como sendoo causador da doença de Parkinson em um jovem que foi contami-nado. Também foi provado pelo Dr. André Barbeau do Clinical Re-search Institutute de Montreal, que numa região próxima a Quebec,as pessoas com um maior índice da doença de Parkinson habitavamou trabalhavam em regiões agrícolas, sendo, nestas utilizado o am-plo uso de pesticidas, inseticidas e fertilizantes.

Tal como esta, muitas indústrias obtêm todo o seu lucro na pro-dução de venenos contra a população. E aí fica a pergunta: por quecontinuamos a consumir tanto veneno e dar lucro àqueles que sónos prejudicam?

Pesticidas e fertilizantesApós a Segunda Guerra Mundial, foram criados os pesticidas

synthelic organic tais como o DDT por exemplo. Este produto, talcomo o Agente Laranja, está proibido à utilização interna no paísdevido ao fato de ser altamente tóxico. Mas como ele é produzidoem larga escala para o Terceiro Mundo, todos os produtos agríco-las importados contêm uma alta dose de contaminação. Já existemesforços governamentais no sentido de se proibir a produção destetipo de produto, e aí, o que acontece é a instalação e produção emum país estrangeiro, pois as empresas que fabricam são multinacio-nais. Neste caso, podemos citar o caso de Bhopal, na Índia, coma Union Carbide, produzindo elementos químicos altamente tóxi-cos no Terceiro Mundo. E foi preciso ocorrer este fato para que viesseà tona outras contaminações que vinham sendo feitas diariamenteneste país, com seus funcionários e público em geral.

Atualmente, só nos EUA são utilizados 66.000 diferentes vene-nos químicos na agricultura, sendo que a EPA (Environmental Pro-tection Agency) classificou 60.000 destes como sendo altamente per-niciosos para a saúde humana, originando doenças, tais como: mu-tações, câncer, defeitos de nascimento e problemas reprodutivos. Vo-

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cês já imaginaram a quantia de veneno que nós ingerimos diaria-mente sem saber? E fora todas as vitaminas que são acrescentadasem tudo nos E.U.A. os hormônios que são injetados nos animais.Mas como Ralph Nager escreveu em seu livro Who's Poisoning Ame-rica: Quem está envenenando a América, "Os pesticidas têm sidoum clássico sucesso químico-industrial. Sua proliferação é tambémprova de que o que é bom para a indústria química não é necessa-riamente bom para a sociedade... Se não foi sempre uma ciência mui-to boa, foi certamente um bom negócio".

Crise no campoA crise das fazendas americanas nunca esteve pior: seja pela uti-

lização de produtos químicos que esgotam os seus solos e, cada vezmais, as pragas criam mais e mais resistência contra eles; ou pelaperda anual de solo pela sua má utilização, equivalente a uma áreasuperior à Bretanha ou ainda pelo fato de que os fazendeiros estãocada vez mais saindo dos campos, para trabalhar em outros negó-cios, isto, devido aos débitos cada vez mais altos com inúmeras fa-zendas fechando a cada ano. Mas o que eu considero ser o pior pro-blema de todos ainda é a especulação de terras. Porque no mundo intei-ro, 30% dos proprietários possuem 80% das terras, sendo que quantomaior o latifúndio, menor a produtividade. E, ainda, existe toda acompetição contra as corporações, onde seis delas, controlam pra-ticamente toda a produção e distribuição de grãos no mundo intei-ro. São elas: Continental Grain e Cargill (U.S.A.), Bunge (U.S.A.Brasil), Louis Dreyfus (França), e André (Suíça).

Mais uma vez, fica a questão de onde está a liberdade. Se você"pode" ter sua iniciativa privada, mas não tem condições de com-petir com as corporações que controlam e dominam " todo " o mer-cado internacional e também não tem capital ou incentivos para ini-ciar o seu próprio trabalho, de que adianta? O povo precisa se cons-cientizar de que o planeta foi feito suficientemente grande para quetodos possam trabalhar e se desenvolver com direitos iguais. Porque estamos tão acostumados a viver junto com a injustiça, explo-ração e corrupção?

Sofrimento animalMais de 60 milhões de animais sofrem e morrem nos laborató-

rios dos E.U.A., por ano para prover lucro às indústrias farmacêu-ticas e do comércio nas pesquisas universitárias. 85% dos ani-mais não recebem anestesia nos experimentos.

Grupos de mais de 200 animais podem ser usados num único tes-te. Entre 500 mil a 1 milhão de animais morrem em testes para a

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indústria de cosméticos. Companhias de cosméticos e produtos pa-ra o lar conseguem lucros de milhões de dólares por ano e mesmoassim poucas companhias tencionam colocar um por cento de seulucro líquido no desenvolvimento, aprimoramento ou verificação detestes sem animais.

Na maioria destes casos, são as maiores indústrias de cosméti-cos, as maiores responsáveis, tais como: Revlon, Avon, Clairol,Colgate-Palmolive, The Gillete Company, Dow Chemical and Gam-ble Co.

Na Universidade Columbia de Nova Iorque (31 de Março de1986) centenas de estudantes protestaram contra os maus-tratos di-rigidos aos animais que servem às experimentações em seus labora-tórios. As acusações foram feitas, no sentido de que estes não sãoanestesiados antes das experimentações, não são utilizados materiaisesterilizados e os mesmos "sobrevivem" em condições totalmenteanti-higiênicas, entre as fezes e excrementos.

Podemos citar também a FUR INDUSTRY, que mata 80 milhõesde animais cada ano, ou um a cada 2 segundos. Isto porque são ne-cessários 40 guaxinins ou 150 coelhos para fazer apenas um casaco.E sendo que a grande maioria destes animais são selvagens, em pe-rigo de extinção e mortos com armadilhas. Depois de agonizar de28 a 72 horas sem comer, beber, exposto ao ataque de outros ani-mais e exposto na neve muitas vezes, o animal é encontrado mortocom sua carne totalmente dilacerada na tentativa desesperada de fu-ga. Mas a indústria FUR argumenta que, se estas armadilhas foremdesativadas, muitas pessoas ficarão desempregadas e o comércio so-frerá também. Podemos notar que o pretexto mais comumente usa-do pelas indústrias mal-intencionadas é a questão de que elas dãoemprego, como se estivessem realmente preocupadas com seus fun-cionários. Se as mesmas não se preocupam com a forma que sãoproduzidos seus bens ou com sua qualidade, isto é, não se preocu-pam com o consumidor, como haveriam de se preocupar com seusfuncionários?

E para finalizar este item sobre o massacre da fauna, devolembrar também, a forma pela qual as criações são tratadas nas fa-zendas. Você sabe de onde vem a vitela que você come? Nas fazen-das de gado leiteiro, os bezerros machos quando nascem são ime-diatamente separados de suas mães para que estas possam proverleite para a indústria de lacticínios. E durante 14 a 16 semanas ofilhote vive em um espaço equivalente ao seu próprio corpo, ondenão existe possibilidade de movimentação e durante 22 horas pordia ele permanece no escuro com iluminação apenas no horário dealimentação. Isto para que você possa saborear a sua tenra carnebranca, sem músculos ou sangue.

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Desta mesma forma, são criados os porcos e galinhas que vocêconsome do Kentucky Fried Chicken, Armour, Saeway, Pillsbury,etc...

Durante somente seis meses estes animais são constantemente ali-mentados, medicados, injetados com hormônios e vivem num espa-ço equivalente ao próprio corpo. Tudo isto, para que haja um maiorlucro, em um menor espaço de tempo.

ConclusãoAcho que na questão ecológica, fica bastante clara a exploração

do poder econômico. Mas muitos se perguntam: então tudo está per-dido? Muitas espécies já foram extintas para sempre, florestas per-didas e a radiotividade se espalhando para todos os lados. Mas achoque nós, como maioria, que luta, trabalha, estuda e acredita em ummundo melhor, temos toda a FORÇA, PODER E CORAGEM pa-ra exigir o que é nosso. E este planeta é nosso. Somos cidadãos domundo, criados com liberdade, inteligência e capacidade para viverbem. Temos toda estrutura interna para exigir o que é nosso. E co-mo explica o Dr. Keppe: a essência do ser humano é a beleza, ver-dade a bondade. E tudo isto se encontra na natureza, no mundopor aí afora, mas só que não podemos usufruir, porque foi possuí-do por uma minoria muito esperta. Será que nos esquecemos quetemos o ideal como base de nossa essência? Viver para quê? Tudoo que foi feito hoje ficará na história da humanidade, como benefí-cio para as futuras gerações. Na minha opinião, viver sem um ideal,não faz sentido. Não podemos cruzar os braços, enquanto o mun-do está acabando ao nosso redor. Acho que a nossa consciência,nos cobra, todos os dias, sobre o que temos feito de nossas vidas,mas tentamos negá-la, fingindo que está tudo bem. E sempre adia-mos a luta pela justiça, esperando que alguém o faça por nós.

Acho que o sonho de toda a humanidade sempre foi a luta pelaliberdade. Nós como maioria unida, conscientizada e forte, deve-mos lutar para que prevaleça o verdadeiro poder: a Paz, Justiça ea Liberdade. Sem isto, não dá para viver bem. O mundo é do povoe de todos, que são a maioria: pretos, mulheres, latinos, índios, tra-balhadores, estudantes e cidadão comum em geral. Acredito que,neste livro, são encontradas todas as respostas necessárias, para to-dos aqueles que sempre tiveram o mesmo ideal: de lutar para ummundo melhor. Agora, só depende de nós, para que finalmente se-ja feita a verdadeira libertação do povo. E o nosso poder esta aí!

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Glossário

ABAFARNão deixar ser conhecido; esconder a consciência de algo.

AÇÃOA base de toda vida é a ação boa, bela e verdadeira. O amor eo pensamento são ações internas; a saúde é resultado da açãoboa. A ação verdadeira é diferente da atividade agitada ou des-trutiva, a qual reflete atitudes que negam a ação boa e verdadei-ra. Toda ação que vise a aumentar o poder de alguém é patoló-gica. Por exemplo: trabalhar somente para ganhar dinheiro. Aação real é servir aos outros e a humanidade como um todo.

ALIENAÇÃOA atitude voluntária, mas freqüentemente não percebida, de sedesligar da realidade. Quando o indivíduo se nega a aceitar a cons-ciência, ele usa muitas formas diferentes de alienação: sexo, po-der, dinheiro, super-atividade, viagens, televisão, bebidas alcoó-licas, etc.. A sociedade foi organizada de forma a alienar as pes-soas das coisas essenciais na vida: amor, beleza, bondade, boasações, verdadeiro desenvolvimento do ser humano e da socieda-de e, principalmente, da consciência dos próprios erros.

CIÚMEInveja do ser amado

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CONSCIÊNCIATotal percepção da realidade (interna e externa). De acordo coma Trilogia Analítica, a consciência resulta da unificação do amor,da inteligência e da ação, e inclui a percepção do certo e do erra-do, de atitudes psicopatológicas, e da verdadeira realidade (bon-dade, beleza e verdade).

CONSCIENTIZAÇÃOProcesso psíquico de contato com a realidade interna e externa.

DOENÇA PSICOSSOMÁTICADe acordo com a Trilogia Analítica, todas as formas de doençaenvolvem um forte elemento emocional e podem ser tratadas so-mente através do diálogo. A doença é causada por uma quebrano sistema imunológico a qual resulta da negação da consciência.

EMOÇÕESO termo usado para designar "sentimentos" de amor, felicida-de, tristeza, raiva, inveja, etc..

EMPRESA TRILÓGICAUm novo modelo de empresa cujo objetivo é resolver os proble-mas básicos do sistema econômico vigente:• cada indivíduo é sócio baseado na sua produtividade, e não

no dinheiro investido;• salários e distribuição de lucros são baseados na produtivida-

de individual;• o investimento de capital é tratado como um empréstimo, não

como base para distribuição de lucros;• todos que trabalham na empresa participam de um programa

que ajuda o indivíduo a se conscientizar dos seus erros e atitu-des que são prejudiciais à sua produtividade.

Esta proposta é diferente do capitalismo e socialismo/comunis-mo. Através deste sistema o poder do dinheiro é substituído pe-lo valor do trabalho e realização. Oferece uma solução práticaao problema econômico dos indivíduos e da sociedade. Desde1985, cerca de trinta empresas começaram a funcionar baseadasnestes princípios em Nova Iorque (USA) e São Paulo (Brasil).

ESPIRITUALIDADEAtividade interna do ser humano em relação a outros seres espi-rituais tais como Deus, os anjos, espíritos. Na Trilogia Analítica

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não é vista como qualquer ato externo tal como uma filiação comuma Igreja determinada ou participação numa adoração/cultoformal.

FANTASIANa Trilogia é sempre usada para expressar o uso patológico daimaginação; o mesmo que ilusão ou devaneio. Uma forma de alie-nação da realidade na qual o indivíduo "realiza" o que éimpossível.

IMAGINAÇÃOO ato de formar imagens mentais de algo não presente; a cria-ção de novas idéias através da combinação de experiências ante-riores. Saudável só quando usada no sentido de realizar boasações futuras; patológica quando usada para alimentar idéias degrandeza ou má intenção.

INCONSCIENTIZAÇÃONeologismo de Norberto R. Keppe — atitude de esconder, re-primir ou negar a consciência que temos.

INTERIORIZAÇÃODiferente de internalização, consiste em usar a realidade externacomo um espelho, para entender mais claramente o que existeno interior do indivíduo (sentimentos, pensamentos, consciên-cia, intuição, emoção, etc.). E a técnica principal usada na aná-lise individual trilógica.

INVEJADescontentamento e má vontade com relação à felicidade, van-tagens, posses, beleza, bondade, etc., de outros. Do latim invi-dere, significa "não querer ver" o bem estar dos outros.

INVERSÃOProcesso através do qual a pessoa vê o bem naquilo que é ruime o mal no que é bom; isto é, acredita que a fantasia leva à reali-zação, e que a realidade causa sofrimento; vê o pecado como pra-zeiroso e a virtude como sacrifício; considera Deus como restri-tivo ou punitivo, e o demônio como libertador e doador do pra-zer; pensa que o amor traz sofrimento e que a razão pura levaao equilíbrio; acredita que o poder social significa felicidade eque o serviço para a humanidade significa sacrifício einferioridade.

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LABORATÓRIO INTERNOTermo criado pela Dra. Cláudia S. Pacheco que se refere às subs-tâncias químicas naturais do corpo, com as quais a Trilogiatrabalha.

MEDICINA PSICOSSOMÁTICATratamento médico que lida somente com fatores psicológicos.Não se usam drogas, intervenção cirúrgica ou tranqüilizantes. Acura é conseguida através da consciência individual das atitudesque causam mudanças no "laboratório interno" (vide glossário)do indivíduo.

MEGALOMANIA

Delírios de grandeza; uma forma de arrogância em que a pessoavê a si mesma maior do que é realmente, devido ao desejo deser superior.

PACTOTermo usado na Trilogia para descrever um acordo maléfico,consciente ou não, entre duas ou mais pessoas (incluindo seresespirituais), para esconder a verdade e sabotar a bondade e a be-leza. Comum entre membros da mesma família, amigos, e cole-gas de trabalho, resulta da crença de que a verdade é dolorosa.

PESSOAS PODEROSASUm termo que se aplica aos indivíduos mais doentes que lutampor posições de poder na sociedade e que tiranizam o povo.

PODER PATOLÓGICODesejo de ser maior do que os outros, de explorar aos outros;um "anti-poder"; o desejo de impedir o verdadeiro poder de exis-tir entre o povo. Motivados pela inveja, alguns indivíduos dese-jam dominar, controlar aos outros na sociedade como uma for-ma de saciar sua teomania (o desejo mal-intencionado de ser co-mo Deus). A intenção de tais indivíduos é tirar a felicidade, aliberdade, o dinheiro e o bem-estar dos outros; não servir aosoutros, mas ser servido por eles. O poder patológico é uma for-ça arrogante utilizada para impedir a vida e a liberdade; traz so-mente destruição e doença aos poderosos e à sociedade.

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PODER REALTodo poder real vem da ação fundamentada naquilo que é ver-dadeiro, bom e belo. O poder humano é ligado, através da cons-ciência, à energia de Deus, e se manifesta através do trabalhofeito para beneficiar a humanidade. Aqueles que servem aos ou-tros se tornam mais poderosos. O poder real é baseado naliberdade.

PSICANÁLISE INTEGRALO tratamento psicanalítico que, ao contrário da psicanálise tra-dicional coloca a etiologia da neurose não nos problemas rela-cionados à libido, mas no desejo do ser humano de ser como Deus(teomania), e na estrutura social, que dá poder aos indivíduosmais teomânicos.

PSICOPATOLOGIAEstudo da doença psicológica (pathos = sofrimento). Tambémusado como sinônimo para doença psicológica.

PSICOSSOCIOPATOLOGIAO estudo dos problemas psicológicos e sociais. Também usadocomo um sinônimo para os problemas psicológicos e sociais.

REALIDADEa Verdadeira ou original — Tudo que existe no mundo material

e não-material, que não foi distorcido por qualquer interferên-cia maléfica. Tudo que pertence ao reino do Criador.

b Pseudo-realidade — Erros e problemas criados pela omissão,negação ou deturpação da realidade encontrada no ser huma-no e na sociedade.

c Realidade atual — Combinação dos dois acima; vida como éatualmente, bastante diferente do que deveria ser. A realidadeatual inclui a doença, guerras, desonestidade, neurose, psico-se, pobreza, poluição, etc., juntamente com aquela parte danatureza deixada intacta e as boas ações de indivíduosequilibrados.

REPRESSÃOAto de restringir um sentimento, uma atitude, uma idéia, paraprendê-los. A repressão do amor é a causa de todas asenfermidades.

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SENTIMENTOO único sentimento real é o amor; a inveja, o ódio e a raiva sãoprimordialmente atitudes contra o amor. As vezes usado comosinônimo para emoções.

SITASociedade Internacional de Trilogia Analítica (anteriormente So-ciedade de Psicanálise Integral) fundada pelo Dr. Norberto R.Keppe em 1970 no Departamento de Medicina Psicossomáticada USP. A Sociedade é uma organização internacional científi-ca cultural sem fins lucrativos, cujo objetivo é desenvolver pes-quisa, treinamento e aplicação das ciências trilógicas.

SOCIEDADE TRILÓGICA(A Sociedade do futuro) — Uma nova organização da sociedadena qual as pessoas estão verdadeiramente livres para realizar tu-do que é bom, belo e verdadeiro; na qual o povo, consciente dapsicopatologia humana (inveja e desejo por poder), não permiteque os indivíduos mais desequilibrados dominem a sociedade. So-mente aqueles que são equilibrados podem ter posições de lide-rança. Na sociedade trilógica, a estrutura sócio-econômica nãoimpede o povo de usufruir o que por direito lhes pertence: o pla-neta e tudo nele; e nem pode deter a civilização de desenvolverna direção do bem comum.A Sociedade Trilógica é baseada na unificação da teologia, filo-sofia e ciência. Não segue nenhuma orientação religiosa especí-fica, mas respeita as leis universais criadas por Deus.

SOMATIZAÇÃOProcesso de transformar os problemas emocionais em doençasorgânicas. Ocorre fora da percepção do indivíduo, que sente sóos sintomas, não a causa emocional.

TEOMANIAO desejo maléfico e invejoso de ter um poder divino; mais forteem indivíduos psicóticos e pessoas em posições de poder na so-ciedade. De acordo com Dr. Keppe, a teomania, uma forma ex-trema de megalomania, é a causa por detrás de toda doença (so-cial, mental, orgânica). Psicóticos freqüentemente se vêem co-mo sendo Jesus Cristo, o Espírito Santo, a Essência Divina, etc..

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TRILOGIA ANALÍTICA(Anteriormente chamada Psicanálise Integral) — Uma nova me-todologia e teoria científica criadas pelo psicanalista brasileiroNorberto R. Keppe, Ph.D., que unificam os campos da ciência,filosofia e teologia. No indivíduo corresponde à unificação dosentimento, pensamento e ação que resulta na consciência com-pleta. A Trilogia está sendo aplicada nas áreas da psicoterapia,medicina, educação, economia, sociologia, artes, entre outras,nos três níveis: psicológico, social e espiritual.

RESIDÊNCIAS TRILÓGICASUma alternativa econômica para se viver em um ambiente de coo-peração e relacionamento humano, independente da sociedadetradicional; visa estimular o interesse pela cultura e ciência; au-xiliar aos que sofrem de solidão, insegurança, falta de integra-ção social, dificuldades econômicas de qualquer ordem; encora-jar altruísmo, honestidade e crescimento pessoal; enfim, criar umambiente favorável e eficaz ao trabalho com os problemas e di-ficuldades que todos os seres humanos têm com sua própria vi-da, com os outros e com a sociedade em geral.

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Dr. Norberto R. Keppe é filósofo, pedagogo,cientista-social, técnico de administração,psicólogo e psicanalista formado pela EscolaAnalítica Existencial do Prof. Viktor E. Franklda Universidade de Viena. Trabalhou no Hos-pital das Clínicas da Universidade de SãoPaulo onde fundou e dirigiu o Departamentode Medicina Psicossomática. Lecionou naPontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC), na Universidade de São Caetano, eministrou cursos de Psicanálise e MedicinaPsicossomática na Faculdade de Medicina daUSP.

Em 1970 fundou a Sociedade de Psicaná-lise Integral, atualmente SITA - Sociedade In-ternacional de Trilogia Analítica, que tem assedes principais em São Paulo, Nova York,Estocolmo, Helsinki e Lisboa, e a partir de Julho de 1987, em Londres.

Conferencista em universidades e hospitais de mais de 15 países, Dr.Keppe é autor de 16 livros e vários trabalhos em Psicanálise, muitos ver-tidos para o inglês, francês, italiano e alemão. Entre as principais obrasestão A Decadência do Povo Americano e dos Estados Unidos, A Liber-tação, A Glorificação, O Reino do Homem (Vol. l e I), e Contemplaçãoe Ação.

Atualmente Dr. Keppe divide o seu tempo entre as sedes da SITA dosEstados Unidos, Europa, Escandinávia e Brasil, onde dirige as atividadesdas sociedades, treina psicanalistas, atende a clientes e escreve livros.

Este livro traz as descobertas revolucionárias, resultado de vários anosde pesquisa nas áreas psicossocial e económica que o psicanalista ecientista social Dr. Norberto R. Keppe vem realizando no Brasil, na Europae, por último, nos Estados Unidos.Nele o autor revela, através de dados científicos, concretos e atuais, comoos indivíduos que detêm o poder econômico-social, alheios à sua psi-copatologia, criaram organizações igualmente patológicas, que apri-sionam e adoecem o povo, impedindo-o de se desenvolver.Isto tudo se passa sem que o povo tenha consciência de que são osescravos dos tempos modernos e, o que é pior, ingenuamente apoiamaos seus opressores.É de extrema importância e urgência que o maior número possível deindivíduos se conscientize da necessidade da reorganização da socie-dade, devolvendo o poder a quem é de direito: o próprio povo.As residências e as empresas trilógicas, já em franco funcionamento emSão Paulo e em Nova York, mostram a superioridade de uma organizaçãosócio-econômica onde não há empregados, nem patrões, pois todos sãoigualmente proprietários.

ISBN 85-7072-013-0