jornal universitário de coimbra - a cabra - 192

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Q U E M Q U E R S E R B I L I O N Á R I O ? Jornal Universitário de Coimbra N u m r e g i s t o p r ó x i m o d e C i d a d e d e D e u s , o n o v o f i l m e d e D a n n y B o y l e i n s p i r a - s e n o t o m p o s i t i v o d e B o l l y w o o d P 1 8 17 de Fevereiro de 2009 Ano XVIII N.º 192 Quinzenal gratuito Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo C A S A S D A A L T A O i t i n e r á r i o à s m o r a d a s o n d e h a b i t a r a m g r a n d e s p o r t u g u e s e s P 1 2 e 1 3 M U D A N Ç A S N A U C F a c u l d a d e d e F a r m á c i a v a i p a r a o P ó l o I I I j á e s t e s e m e s t r e P 2 e 3 a cabra Andebol Depois da vitória sobre o Acadé- mico de Viseu, neste fim-de- semana, a equipa sénior de andebol da Académica acabou a primeira fase do Campeonato Na- cional de 2ª Divisão Zona Centro no terceiro posto, com 51 pontos. Agora, vai disputar a fase comple- mentar, na qual luta pela manu- tenção. P 1 0 Mais informação em acabra. net AAC Encontrada solução para erguer secções O Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/AAC) decidiu lançar uma comissão admi- nistrativa à Secção de Escrita a Lei- tura, que estava em risco de extinção. Em relação à de Gastro- nomia, o presidente do CF/AAC, Alexandre Almeida, afirma que "provavelmente, a solução passará pelo mesmo". P 5 Que futuro para a NATO? Guerra do Afeganistão volta a ser a principal prioridade Desde 1949 que a Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO) se assume como o mais viável sistema de defesa conjunta. Os paradigmas geopolíticos mundias mudaram e a organização resistiu ao tempo. Hoje, os novos problemas exigem novas respostas, não sem contar com a crise económica mundial. O renovado apelo da Administração norte-ameri- cana aos seus aliados pode ser um factor preponderante para o desen- volvimento dos conflitos. P 1 5 Fim da fase regular do campeonato Apenas três faculdades da UC leccionam aulas em inglês Com a chegada de novos estudan- tes estrangeiros para o segundo se- mestre, A CABRA foi saber se a Universidade de Coimbra (UC) tem condições para receber alunos de outros países. Apesar de a língua ser a principal dificuldade sentida pelos estudantes que chegam atra- vés de programas de mobilidade, das oito faculdades, só Ciências e Tecnologia, Letras e Economia lec- cionam aulas em inglês - a língua internacional por excelência. Um inquérito realizado pela Divi- são de Relações Internacionais, Imagem e Comunicação da UC a 604 estudantes mostra que 128 alu- nos estrangeiros têm dificuldades com a língua. O facto de não fala- rem português fluentemente apre- senta-se, na opinião dos alunos de ‘incoming’, como o maior entrave à aprendizagem e à integração. P 4 @ As novas técnicas transformaram a animação. Se agora há mais realismo, as histórias têm vindo a perder a essência Desenhos animados Há 10 anos em nome da cultura P 7 MinervaCoimbra P 1 6 EUNICE OLIVEIRA

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Edição 192 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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Page 1: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

“QUEM QUER SER BILIONÁRIO?”

Jornal Universitário de Coimbra

Num registo próximo de “Cidade deDeus”, o novo filme de Danny Boyleinspira-se no tom positivo de BollywoodP 18

17 de Fevereiro de 2009Ano XVIIIN.º 192Quinzenal gratuito

Director: João MirandaEditor-executivo: Pedro Crisóstomo

CASAS DA ALTAO itinerário às moradasonde habitaram“grandes portugueses”P 12 e 13

MUDANÇAS NA UCFaculdade de Farmácia

vai para o Pólo III jáeste semestre

P 2 e 3

a cabra

Andebol

Depois da vitória sobre o Acadé-mico de Viseu, neste fim-de-semana, a equipa sénior deandebol da Académica acabou aprimeira fase do Campeonato Na-cional de 2ª Divisão Zona Centrono terceiro posto, com 51 pontos.Agora, vai disputar a fase comple-mentar, na qual luta pela manu-tenção.P 10

Mais informação em

acabra.net

AAC

Encontrada soluçãopara erguer secções

O Conselho Fiscal da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (CF/AAC)decidiu lançar uma comissão admi-nistrativa à Secção de Escrita a Lei-tura, que estava em risco deextinção. Em relação à de Gastro-nomia, o presidente do CF/AAC,Alexandre Almeida, afirma que"provavelmente, a solução passarápelo mesmo".P 5

Que futuro para a NATO?

Guerra do Afeganistão volta a sera principal prioridade

Desde 1949 que a Organização doTratado Atlântico Norte (NATO) seassume como o mais viável sistema

de defesa conjunta. Os paradigmasgeopolíticos mundias mudaram e aorganização resistiu ao tempo. Hoje,os novos problemas exigem novasrespostas, não sem contar com a criseeconómica mundial. O renovadoapelo da Administração norte-ameri-cana aos seus aliados pode ser umfactor preponderante para o desen-volvimento dos conflitos.P 15

Fim da fase regulardo campeonato

Apenas três faculdades da UCleccionam aulas em inglêsCom a chegada de novos estudan-tes estrangeiros para o segundo se-mestre, A CABRA foi saber se aUniversidade de Coimbra (UC) temcondições para receber alunos deoutros países. Apesar de a língua

ser a principal dificuldade sentidapelos estudantes que chegam atra-vés de programas de mobilidade,das oito faculdades, só Ciências eTecnologia, Letras e Economia lec-cionam aulas em inglês - a língua

internacional por excelência.Um inquérito realizado pela Divi-são de Relações Internacionais,Imagem e Comunicação da UC a604 estudantes mostra que 128 alu-nos estrangeiros têm dificuldades

com a língua. O facto de não fala-rem português fluentemente apre-senta-se, na opinião dos alunos de‘incoming’, como o maior entrave àaprendizagem e à integração.P 4

@

As novas técnicastransformarama animação. Seagora há maisrealismo, ashistórias têmvindo a perdera essência

Desenhosanimados

Há 10 anosem nome da cultura

P 7

MinervaCoimbra

P 16

EUNICE OLIVEIRA

Page 2: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

DESTAQUE2 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

O aviso para estudantes no siteda Faculdade de Farmácia daUniversidade de Coimbra (FFUC)não podia ser mais explícito. Oscaixotes e o lixo que se amontoamà porta da cafetaria do mais re-cente edifício do Pólo das Ciênciasda Saúde, ou Pólo III, da univer-sidade, também não. A faculdadede Farmácia muda-se definitiva-mente para o novo espaço univer-sitário neste segundo semestre.

Segundo o presidente do Con-selho Directivo da FFUC, AdrianoBarbosa de Sousa, “Farmácia irána sua globalidade para o Pólodas Ciências da Saúde, tendo trêsedifícios”: a faculdade, a Biblio-teca das Ciências da Saúde, queserá partilhado com a faculdadede Medicina, e um terceiro juntoao actual restaurante universitá-rio, que, como afirma Barbosa deSousa, “está em acabamento”.Este último vai servir não só aparte administrativa da facul-dade, como jornadas e congres-sos, com um anfiteatro comlotação de cerca de 400 pessoas.

Entre as vantagens que encon-tra no novo espaço, o presidentedo Conselho Directivo da FFUCdestaca primordialmente o factode os alunos estarem agora con-centrados num só edifício em quenão existe uma divisão física entreas aulas teóricas e as teórico-prá-ticas. “Os alunos vão ter aulas prá-ticas com menos alunos, com umensino de qualidade maior”, argu-menta o presidente. Outra vanta-gem apontada por Barbosa deSousa prende-se com a proximi-dade do edifício ao restauranteuniversitário e à nova residênciade estudantes do Pólo das Ciên-cias da Saúde. Os estudantes co-meçaram já as aulas teóricasontem, dia 16. Contudo, devido aoperíodo do Carnaval, na próximasemana, as aulas teórico-práticassó se iniciaram no dia 2 de Março.

Também o presidente do Nú-cleo de Estudantes de Farmáciada Associação Académica deCoimbra, Tiago Craveiro, consi-dera a mudança produtiva:“vamos centralizar um serviço de

saúde a nível único, e será uma si-tuação que contribuirá para o pro-veito quer de Farmácia quer deMedicina”. “As instalações estãobastante evoluídas”, entende.

Ainda não existe uma perspec-tiva para a conclusão da transfe-rência. Ainda assim, o presidentedo Conselho Directivo da FFUCespera que esteja concluída emMaio e que o novo ano lectivo ar-ranque com a faculdade a funcio-nar na sua plenitude no Pólo III.

Relativamente aos antigos edi-fícios da faculdade, Adriano Bar-bosa de Sousa admite que nãosabe qual é o futuro da antiga far-mácia dos Hospitais da Universi-dade de Coimbra, nem do Museu:“a reitoria lhes dará um destinoque eu não sei qual”. O antigo Pa-lácio dos Mellos vai dar lugar ànova biblioteca da faculdade deDireito.

Nova bibliotecapara DireitoProjecto do arquitecto Siza Vieira,o Palácio dos Mellos vai sofreruma intervenção para dar lugar àfutura Biblioteca da Faculdade deDireito da Universidade de Coim-bra (FDUC). Aquando da apre-sentação do projecto, o arquitectodeixou claro que a especificidadedo edifício levou a que se “optassepor uma construção não em al-tura mas, pelo contrário, em esca-vação”. Assim, a nova bibliotecavai-se distribuir por cinco pisos,dos quais três serão subterrâneos.A sala de leitura vai disponibilizar200 lugares e 1922 metros de pra-teleiras com mais de meio milhãode livros.

O edifício vai disponibilizarainda uma sala de informática nopiso zero, o mesmo de acesso à bi-blioteca, sala de trabalhos degrupo e de audiovisuais. Aindanão existe uma data fixada para aconclusão da obra.

Contudo, segundo o presidentedo Conselho Directivo da FDUC,José Faria e Costa, existe na fa-culdade “uma enormíssima ca-rência de infra-estruturas,nomeadamente de salas de aula,mas também de salas de seminá-rios, reuniões, coisas que o ajus-tamento ao Processo de Bolonha

exige de certa forma. Este é umproblema real e efectivo”.

Uma solução apontada podepassar pela utilização de espaçosdas outras faculdades: “temos quetentar arranjar espaços que pas-sam directamente pelas outras fa-culdades”. Todavia, “tudo deveser racionalizado e não deve haverapropriações dos espaços co-muns”, adverte José Faria eCosta.

Também o presidente do Con-selho Directivo da Faculdade deLetras da Universidade de Coim-bra (FLUC), Carlos AscensoAndré, encontra na utilização dassalas das outras faculdades, comoa de Medicina, uma solução paraa falta de espaço no próprio edifí-cio da faculdade. “Vejo todas as

vantagens em racionalizarmos autilização dos espaços na alta uni-versitária e há faculdades queestão com falta de espaço, no-

meadamente para aulas e é natu-ral que se caminhe para umaracionalização de espaço”, aponta.Porém, para Carlos AscensoAndré a transferência para outras

faculdades não deve ser um cená-rio colocado.

Psicologia em impasseCom mais de dez anos de existên-cia, o plano da construção de umnovo edifício da Faculdade de Psi-cologia e Ciências da Educação daUniversidade de Coimbra(FPCEUC) no Pólo II foi sendoconsecutivamente adiado. “Têmhavido constrangimentos exter-nos à própria universidade, rela-cionados com a situação dopróprio país, mas também relati-vos às pessoas que estão à frentedo ensino superior em Portugal”,defende o presidente do ConselhoDirectivo da FPCEUC, JoséTomás da Silva. Segundo o do-cente, a última notícia que o con-

Problemasinfra-estruturaisafectam UCNova faculdade de Farmácia vai criarnovas condições para os estudantes.Contudo, outras faculdades debatem--se com problemas estruturais.Solução pode passar pela utilizaçãodos espaços de outras faculdades

João Miranda

Solução apontadapode passar pelautilização dosespaços de outrasfaculdades

O CENÁRIO do novo edíficio deixa transparecer a recente mudança da FFUC

Page 3: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

DESTAQUE17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 3

selho directivo obteve sobre o as-sunto é a de que “não existe auto-rização para iniciar a construçãodo edifício no Pólo II, onde jáexiste a garantia da parte da Uni-versidade de Coimbra do espaçoonde vai ser construído esse edi-fício”.

José Tomás da Silva explica quenão compreende a decisão gover-namental, adiantando que já foitransmitida à reitoria a preocupa-ção sobre o assunto. “As outras fa-culdades congéneres dePsicologia e Ciências da Educaçãopúblicas do país já têm instalaçõespróprias, como deve ser, com con-dições de trabalho para docentes,discentes e funcionários e isso nãoacontece na nossa faculdade e éuma desvantagem que temos

nesta competição”, argumenta opresidente do conselho directivo.

Actualmente, a faculdade fun-ciona no Colégio Novo, cuja per-tença é da Santa Casa daMisericórdia, o que no entenderde José Tomás da Silva causa umasérie de dificuldades à faculdade,devido às obras de que carece. Odocente aponta ainda a falta desalas de aula, de espaços labora-toriais e de gabinetes de pessoalcomo entrave à plena actividade.

O presidente do conselho direc-tivo explica que a actividade sósubsiste graças à “cooperação dosfuncionários e dos docentes e àvontade de quererem fazer algopela sua faculdade” e à utilizaçãode espaços da Faculdade de Ciên-cias e Tecnologia da Universidade

de Coimbra.Para José Tomás da Silva, a rei-

toria tem de tomar acção relativa-mente a esta questão: “há quemexer nos interesses instalados eencontrar espaços alternativos;penso que a reitoria tem de enca-rar isto de frente, não podem con-tinuar a dizer que a faculdade depsicologia um dia vai ter um edi-fício”. “Têm de ser tomadas medi-das, encontradas soluções porqueproblemas há muitos e a situaçãoé grave”, conclui.

Até ao fecho desta edição, ACABRA tentou contactar, sem su-cesso, os responsáveis da equipareitoral para esclarecer sobre estaquestão.

Com Tiago Carvalho eCatarina Domingos

A SAÍDA DA FFUC do Palácio dos Mellos abre as portas a uma nova biblioteca de Direito

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ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

“Hoje, toda a gente conhece al-guém que fez Erasmus”. Dúvidas pa-rece não haver sobre a presença deestudantes ao abrigo de programasde mobilidade na Universidade deCoimbra (UC). Mas se a expressãodo presidente da Associação Sócra-tes Erasmus da UC (ASE-UC), Mi-guel Rio, também parece não criarsurpresa, surgem algumas dúvidasquando olhamos para os dadossobre o número de cadeiras leccio-nadas na língua internacional porexcelência, o inglês.

Das oito faculdades da universi-dade, apenas três (Ciências e Tecno-logia, Letras e Economia) têmunidades curriculares leccionadasem inglês, das quais 32 são de licen-ciaturas, 49 de mestrados e 28 dedoutoramentos.

Só no ano lectivo passado, entra-ram 801 alunos na universidadeoriundos dos quatro cantos domundo, segundo números oficiais daUC. Itália, Brasil e Espanha são ospaíses de onde chegam mais estu-dantes estrangeiros, sendo que 75por cento vêm através de Erasmus.

No entanto, as faculdades de Di-reito, Medicina, Farmácia, Psicolo-gia e Ciências da Educação, eCiências do Desporto e Educação Fí-sica não estão referidas no docu-mento oficial da UC onde constam ascadeiras leccionadas na língua inter-nacional. Sobre esta última facul-dade, apenas é esclarecido que“algumas cadeiras poderão ser dadasem inglês se houver estudantes es-trangeiros em frequência nas aulas”.

A faculdade de Ciências e Tecno-logia é a que mais oportunidade dáaos estudantes estrangeiros deacompanhar as aulas em inglês (42unidades de mestrado, 28 de douto-ramento e três de licenciatura), so-bretudo nas áreas de informática ebiologia.

No caso da faculdade de Letras,embora as disciplinas de licenciatu-ras e mestrados leccionadas em in-glês sejam 32, dessas, apenas trêsnão têm a ver com o ensino da lín-gua. Economia é, das três faculdadesenumeradas no documento, a quemenos aulas tem em inglês (quatro,todas de licenciatura). A chefe da Di-visão de Relações Internacionais,Imagem e Comunicação (DRIIC), Fi-lomena Carvalho, esteve sempre in-contactável, até ao fecho da edição,para esclarecer sobre a relação dosestudantes estrangeiros com aaprendizagem, em inglês, na UC.

Língua dificultaintegraçãoA língua é também a principal difi-

culdade sentida pelos alunos recebi-dos na UC, segundo um inquéritorealizado no ano lectivo passado pelaDRIIC. De uma amostra de 604 es-tudantes estrangeiros, 128 referiramter dificuldades com a língua, verifi-cando-se uma maior tendência nosalunos com origem em países da Eu-ropa de Leste. De acordo com o do-cumento, a principal causa destetipo de problemas reside no facto deo português ser uma língua muito di-fícil.

O estudante de Língua e Litera-tura Portuguesa para Estrangeiros,Keita Sato, natural do Japão, explicaque estudou a língua portuguesacom professores brasileiros e que,mesmo assim, em Portugal, “setorna muito complicado perceber oque as pessoas dizem”. “Consigo per-ceber quando falam lentamente,como fazem muitos professores”,ressalva. Também Je Seong Kyu,aluno do mesmo curso, e oriundo daCoreia do Sul, sentiu dificuldade noque diz respeito ao português: “ape-sar de estudar português há trêsanos, no início senti muita dificul-dade em conversar com os portu-gueses, sobretudo porque falavammuito rápido”.

O estudante de Engenharia CivilMatteo Marini, natural de Itália, en-contra-se em Coimbra desde Setem-bro passado e conta que, quandochegou, teve algumas dificuldadesna inscrição num curso de portuguêspara estrangeiros, devido ao númerolimitado de inscrições. “Por isso, oprimeiro mês não foi muito fácilpara mim”, explica.

O mesmo inquérito da DRIIC re-vela que a maioria dos alunos dechegada mostra não ter tido proble-mas de integração. No entanto, Satoafirma que o que menos gosta na suaestadia em Coimbra é a “dificuldadede fazer amigos com os portugue-ses”. “Por vezes, acho que não gos-tam dos estrangeiros, se calharporque não falo muito bem portu-guês”, lamenta.

O presidente da ASE-UC corro-bora e explica que “há um certo afas-tamento dos alunos portugueses dosErasmus”. A razão, adianta, resideno facto de os estudantes portugue-ses serem “bastante fechados” nassuas aulas, rotinas e actividades. Mi-guel Rio admite que “é próprio dacultura dos portugueses não estar àvontade para falar inglês ou espa-nhol com os estudantes Erasmus”.Apesar disso, o presidente da ASE-UC acredita que pode haver umamudança, fruto do programa Eras-mus. Se “há alguns anos este pro-grama de mobilidade estudantil nãotinha tanto impacto e apenas umaminoria de alunos o podia fazer, hojeé um fenómeno em crescimento”.

Com Hugo Anes

Aprender em português é uma das maiores dificuldades sentidas por estudantes estrangeirosna UC. Das oito faculdades, apenas três leccionam algumas aulas em inglês

Maioria das aulas dada em português

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

ESTUDANTES ERASMUS NA UC

Pedro CrisóstomoCláudia Teixeira

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ENSINO SUPERIOR17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 5

Conselho Fiscal lança comissãoadministrativa a secção da AACApesar da omissão nosEstatutos da AAC, ocaminho para as novasdirecções das secçõesem risco de extinção éa nomeação de comis-sões administrativas.Os projectos começama ganhar forma e já háactividade

Depois do anúncio da inactivi-dade e possível extinção, as secçõesde Gastronomia e de Escrita e Lei-tura (SESLA) da Associação Acadé-mica de Coimbra (AAC) ganhamnova vida. Com o objectivo de for-mar direcções e ressuscitar as sec-ções, pouco mais de vinte pessoascompareceram no plenário reunidopara o efeito a 20 de Janeiro. Agora,quase um mês depois, já existem ac-tividades agendadas e comissõesadministrativas para organizar assecções.

Existe, no entanto, um problemadevido ao facto de os estatutos daAAC serem omissos quanto à ques-tão do procedimento de recupera-ção de secções que não apresentemactividades há mais de um ano. Pe-rante esta omissão, o Conselho Fis-cal da AAC (CF/AAC) e aDirecção-Geral da AAC (DG/AAC)pediram pareceres aos advogadosque se mostraram favoráveis à no-meação de uma comissão adminis-trativa para a SESLA. No que dizrespeito à secção de Gastronomia, opresidente do CF/AAC, AlexandreAlmeida, explica que “ainda está emdiscussão”. O coordenador-geral doPelouro da Cultura DG/AAC, Carlos

Eva, é o indigitado pela direcção-geral para a comissão administra-tiva lançada à SESLA e aponta que oobjectivo é “angariar novos sócios egarantir a actividade das secções”.

Carlos Eva reconhece ainda queapesar de, no caso da SESLA, terhavido uma tomada de posse semeleições, esta justifica-se para “for-malizar a responsabilidade e com-promisso das pessoas”. Admite, ocoordenador da DG/AAC, que épossível que o mesmo venha a suce-der com a secção de Gastronomia:"tem muito mais lógica tomar estaopção do que extinguir uma sec-ção".

A opção pelas comissões admi-nistrativas, como explica Alexandre

Almeida, foi essencialmente paramanter a estrutura da secção "semvoltar à estaca zero". Pois, "se as ex-tinguíssemos para depois as reto-mar isso seria um pouco apagar ahistória que já existe". “A lógica dascomissões administrativas assenta,acima de tudo, na vontade de nãoperder a história, não forçar a que-brar um ciclo mas sim reabilitá-lo".

Reerguer uma secção No passado dia 12, tomou posse acomissão administrativa da secçãode Escrita e Leitura. O presidenteda secção, José Mendes, conta quetomou conhecimento da situaçãoatravés do Conselho Cultural da

AAC. “Após isso, reuni-me commais quatro pessoas e formei umgrupo de trabalho ao qual se junta-ram, depois do plenário, mais dezpessoas”, explica.

À frente do projecto da secção deGastronomia está o ainda presi-dente da Secção de Fado da AAC,Nuno Ribeiro. Segundo ele impôs-se a necessidade de "não ficar debraços cruzados" e "não perdermais um pedaço da casa".

Estão já agendadas várias inicia-tivas nas duas secções. A primeiraactividade do SESLA ocorreuontem, 16, em parceria com o Pe-louro da Cultura da DG/AAC. Cele-brou-se o Dia dos Namoradosatravés da distribuição de poemas

pela comunidade estudantil. Prevê-se, ainda, a realização de um con-curso de crónicas e um concurso depoesia. Por sua vez, Nuno Ribeiroadmite a possibilidade de a secçãode Gastronomia ter um espaço norecinto da Queima e realizar provasde vinhos. Existe um convite porparte da secção de Culturas Lusófo-nas da AAC para elaborar um pan-fleto sobre pratos típicos dos paísesde língua oficial portuguesa e umaacção de solidariedade em parceriacom a DG/AAC. “Equacionam-seprotocolos com as cantinas da Uni-versidade, casas típicas da cidade ea ampliação do espólio bibliográficoda secção”, conclui Nuno Ribeiro.

Com Catarina Domingos

AS SECÇÕES de Gastronomia e de Escrita e Leitura já têm actividades agendadas

Alertar a sociedadecivil para os problemasno financiamento doensino superior é oprincipal objectivo dainiciativa

A Direcção-Geral da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (DG/AAC)vai promover uma campanha infor-mativa, durante esta semana, acercado financiamento do ensino supe-rior.

A iniciativa, denominada(Des)Governos, vai ser dinamizadaatravés de cartazes espalhados por

pontos estratégicos da cidade deCoimbra e, de acordo com o coor-denador-geral do Pelouro da Polí-tica Educativa da DG/AAC, RuiCarvalho, vai incidir sobre as “der-rapagens orçamentais de algumasobras públicas e o efeito altamentebenéfico e de desenvolvimento queesse dinheiro poderia trazer ao en-sino superior público”. O dirigenteassociativo aponta como exemplosa ponte Rainha Santa Isabel, emCoimbra, a Casa da Música, noPorto, o Túnel do Marquês, em Lis-boa, e “o caso dos submarinos,aquando do mandato do Paulo Por-tas enquanto ministro da Defesa”.

Rui Carvalho explica que “a acçãovai ter um efeito visual e vai focaralguns dos maiores elefantes bran-cos da actualidade” e adianta que

“não vai ser entregue à tutela ne-nhum caderno reivindicativo”.

Com a actividade, a DG/AAC pre-tende “fazer uma crítica aos suces-sivos governos que protagonizaramestas derrapagens megalómanas,não tendo como objectivo fazer juí-zos de valor sobre a importânciadestes mesmos investimentos”, ex-plica Rui Carvalho. “Estas obras sãoqualificadas como de grande im-portância para a sociedade civil,mas acabaram por ter custos acres-cidos muito elevados para a reali-dade nacional”, acrescenta.

Rui Carvalho afirma que “a acti-vidade serve simplesmente paramostrar que não tem havido res-ponsabilidade de quem governa nautilização diligente do dinheiro doscontribuintes, dos quais os estu-

dantes também fazem parte ao pa-garem IVA sobre todos os bens quecompram”. “O que se pretende édespertar a consciência crítica dapopulação em geral e recolo-car a discussão sobre o en-sino superior na agendapolítica nacional, demons-trando que este deve ser tra-tado como o motor dedesenvolvimento do País,como de resto é reconhecidoem todos os países desenvolvi-dos”, esclarece o coordenador-geral do da Política Educativa.“Este é de resto um dos gran-des objectivos desta equipa daDG/AAC, assumido por nósdesde sempre”, conclui.

Já na semana passada a di-recção-geral havia lançado um

cartaz com a cara do ministro daCiência, Tecnologia e Ensino Supe-rior, Mariano Gago, alertando paraa exclusão de alunos do ensino su-perior, e sete mil panfletos idênti-

cos ao outdoor.

DG/AAC promove campanha de sensibilização aos estudantes

ANDRÉ FERREIRA

Nuno AgostinhoFilipe Sousa

Rui Miguel Pereira

ANDRÉ FERREIRA

Page 6: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

ENSINO SUPERIOR6 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

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A proximidade daseleições da assembleiaestatutária com aseleições para a DG/AACé uma das razõesapontadas pelo antigo presidente da Assembleia Magna

Após a decisão da AssembleiaMagna (AM) da Associação Acadé-mica de Coimbra (AAC), de dia 12de Novembro do ano passado, deagendar eleições para uma Assem-bleia de Revisão dos Estatutos daAAC, nenhuma lista se apresentouà votação.

Para o presidente da AM cessante,Nuno Mendonça, o vazio dos estatu-tos relativamente a esta situação re-

mete a solução para a lei geral, o quesegundo o antigo presidente passapor “se convocar uma nova data [deescrutínio] numa magna”. Mendonçaesclarece ainda que já advertiu amesa actual para esta situação. O ac-tual presidente da AM, Miguel Portu-gal, explica que está, de momento, aaveriguar com os advogados da AACa melhor solução para o problema.

A importância da revisão surgiu dedúvidas apresentadas pelos advoga-dos da AAC sobre três artigos dos es-tatutos, relativos a sanções impostaspelo Conselho Fiscal da AAC. A ne-cessidade, apresentada por alguns só-cios da Rádio Universidade deCoimbra (RUC), da inclusão, nos es-tatutos, da radiofonia como activi-dade da AAC, para estar conforme alegislação da entidade reguladora, foitambém uma razão apresentadanessa magna.

Foi então votado o agendamentode eleições para uma assembleia de

revisão para o dia 11 de Dezembro,com o intuito de alterar os três pontosem questão e solucionar o problemada RUC.

De acordo com Nuno Mendonça, ofacto “de ser um mandato condicio-nado para determinado trabalho” e “aproximidade [da votação da assem-bleia] com as eleições para aDG/AAC” foram as razões para quenenhuma lista se tenha apresentado.

Sobre a questão da RUC, o presi-dente da secção, Alexandre Lemos,explica que “muito dificilmente arádio apresentará uma lista”. Con-tudo, adianta que a administração dasecção vai, numa primeira fase, in-terceder junto da entidade regula-dora e, caso o problema não sesolucione, diligenciar junto da as-sembleia de revisão a alteração dosestatutos. Isto porque, segundo Ale-xandre Lemos, “não é fixo, ao contrá-rio do que foi dito, que seja necessáriauma revisão dos estatutos”.

Após a recente aprovação, pelogoverno, da passagem das univer-sidades do Porto e de Aveiro e doInstituto Superior de Ciências doTrabalho e da Empresa (ISCTE), afundações públicas de direito pri-vado, o presidente do Conselho deReitores das Universidades Portu-guesas (CRUP), Seabra Santos,veio criticar o Ministério da Ciên-cia, Tecnologia e Ensino Superiordizendo que houve falhas de infor-mação da tutela às instituiçõessobre a transformação das univer-sidades em fundações. Acercadeste assunto, Seabra Santos fezsaber que não prestava mais decla-rações.

Ainda assim, no que diz respeitoà possível passagem da Universi-dade de Coimbra a fundação pú-blica de direito privado, o assessorde imprensa da UC, Pedro Santos,explica que “como esta é aindauma primeira fase, a UC resolveunão avançar para essa solução”. “Éuma questão que estará em abertoaté se entender que ela deve serdiscutida e ela ainda não foi discu-tida no Conselho Geral”, acres-centa. Já em Janeiro do anopassado, o também reitor da UC,

Seabra Santos, alegou, em declara-ções à A CABRA, que “a lei é vaga,pois não há informação ao nível delegislação”, mas alertou para ofacto de “ser preciso estar aberto atodas as possibilidades”.

Apesar de o ministro da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior, Ma-riano Gago, ter afirmado que com apassagem das universidades a fun-dações há uma autonomia acres-cida para as instituições, opresidente do Conselho de Avalia-ção da Fundação das Universida-des Portuguesas, Virgílio MeiraSoares, afirma que “esta transfor-mação é algo que necessita demaiores esclarecimentos porquenão se conhece ainda como vai sero modo de funcionamento futuro eo seu verdadeiro estatuto de auto-nomia em relação à tutela”. MeiraSoares sublinha que “o que se sabeé que uma boa parte das receitas[das instituições] não virá do Orça-mento de Estado, sendo necessárioque sejam capazes de gerar recei-tas próprias numa percentagembastante alta para a sociedade emque vivemos, o que é abalado,nesta altura, pela crise que está aabalar o sector privado”.

O presidente do Conselho deAvaliação da Fundação das Uni-versidades Portuguesas questiona

sobre o que “o que acontecerá se aescolha [da passagem a fundaçãopública de direito privado] se reve-lar um grave erro para a institui-ção”. “Mas, obviamente, que quemaderiu não o terá feito sem pensarmaduramente na decisão graveque iria tomar e no risco que podevir a correr”, ressalva.

No que diz respeito à passagemde três instituições de ensino supe-rior a fundações públicas de direitoprivado, aquando da sua visita aCoimbra, no passado dia 13, a líderdo PSD, Manuela Ferreira Leite,afirmou que “a questão das funda-ções é um tema complexo” e acres-centou: “percebo que haja dúvidaspelo facto de ter sido dada liber-dade às diferentes instituições parase constituírem ou não como fun-dações”. Questionada acerca do re-gime fundacional, ManuelaFerreira Leite referiu que “dependedas circunstâncias das diferentesfaculdades e dos aspectos que lhevão estar subjacentes, o que de-pende de cada uma delas”.

A possível passagem das institui-ções de ensino superior a funda-ções públicas de direito privadodecorre da implementação, no anolectivo passado, do Regime Jurí-dico das Instituições de Ensino Su-perior.

A passagem da Universidade de Coimbra a fundação é, de acordo com o assessor da instituição, Pedro Santos, “uma questão em aberto”

Nenhuma lista apresentada a votação

João Miranda

Cláudia Teixeira

ANDRÉ FERREIRA

ANDRÉ FERREIRA

REVISÃO vem no seguimento de um parecer favorável dos advogados da AAC

UC não discutiu passagem a fundação

A PASSAGEM DA UC a fundação ainda não foi discutida em Conselho Geral

REVISÃO DOS ESTATUTOS DA AAC

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CULTURA17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 7

ma rua, muitas coisas.Um aglomerado deutilidades que escondeuma particularidade

multifacetada. Por detrás de umbanco de jardim de pedra, está aMinervaCoimbra. Muitos confun-dem-na com a Editorial Minerva,que se encontra na capital portu-guesa, com um nome semelhante,mas em muito diferente.

Editora, livraria, papelaria, ga-leria de arte e com espaço de ter-túlias e conferências, o que parecepequeno por fora tem o mundo doconhecimento a seus pés. A co-memorar 10 anos de existência, aMinerva Galeria, no bairro Nor-ton de Matos, em Coimbra, fazquestão de “fazer descer a sabe-doria da universidade à cidade”,como, com um sorriso, refere aproprietária, Isabel Carvalho Gar-cia.

Desde cedo, Isabel Garcia e omarido, José Alberto Garcia, sem-pre tiveram uma paixão e ligaçãoaos livros. Enquanto Isabel, aos21 estava à frente de uma livrariana Baixa da cidade, José Albertoandava pelo mundo, e das viagens

trazia livros que os “amigos lhepediam constantemente”. A par-tir daí não foi preciso muito maispara que as Edições Minerva-Coimbra fizessem correr tintapela primeira vez.

O projecto familiar teve iníciocomo alfarrabista na Baixa, há 23anos. Foi “a mãezinha”, comogosta de chamar a proprietária,que impulsionou um projectocom horizontes mais ambiciosos.Corria o ano de 1999, quandosurge a oportunidade da tão dese-jada mudança. Um ‘stand’ de au-tomóveis afigurou-se o espaçoideal para concretizar o desejo dejuntar literatura, arte e tertúliasnum único espaço.

“Os editores quando chegavamaqui, há dez anos atrás, ficavamencantados com o espaço quehavia para além da livraria”, re-lata entusiasmada a mentora doprojecto, que lembra ainda a ad-vertência que colocava: “não pen-sem nisso, os livros ali não vãoentrar. Podem entrar sim, feirasdo livro, mas nunca em estantes”,pois apenas a arte iria dominaraquele espaço rectangular, de pa-

redes altas que desesperavam porganhar vida.

Nem só de livrosvive uma livrariaArriscaram, inovaram e tornaramúnica a “livraria do bairro”. Pio-neira num novo conceito que Isa-bel e José Alberto Garciatrouxeram a Coimbra, os resulta-dos não se fizeram esperar. Logoaqueceram a casa, as palestras. Asala rectangular só deixava assuas paredes brancas quando umquadro dava lugar a outro.

Apesar do bairro Norton deMatos ficar a três quilómetros daFaculdade de Letras da Universi-dade de Coimbra (FLUC), ambastêm uma ligação próxima e regu-lar. A MinervaCoimbra foi pio-neira em Portugal na edição decolecções de livros na área da co-municação. Isabel Garcia explicaque a Colecção Comunicação, porexemplo, “está dividida em trêsseries: jornalismo, media e teo-rias”. Mas existem outras colec-ções associadas à parceria com aFLUC, que comporta uma loja devendas no interior da faculdade

pertencente à Editora Minerva-Coimbra, “que serve mais deapoio para os estudantes da pró-pria faculdade e para os professo-res”, assegura a proprietária daeditora.

A novidade tentou ser sempre o‘slogan’ da livraria do bairro Nor-ton de Matos. Muitas ideias e dis-cussões já vaguearam por entre asprateleiras cheias de livros, quemesmo à noite viam pessoas a en-trar e a sair. Diversos professoresda UC, poetas como Manuel Ale-gre, historiadores, psicólogos,médicos e jornalistas já passarampelos serões que se alongavam naRua de Macau.

Isabel Garcia, com entusiasmoconta-nos histórias. “Foi numadessas noites que Paulo Ilharco,professor de filosofia, que escrevelivros de poesia, nos surpreendeu!Ele, para além de convidar as pes-soas a dizerem poesia, faz ‘ka-raoke’ e põe toda a gente acantar”. Isabel conta mesmo quese “criam verdadeiras festas”.

A proprietária da Minerva-Coimbra defende que apesar dabonança, “a crise já se instalou na

cidade há três anos atrás”. Ac-tualmente, a venda de livros temsofrido quebras uma vez que “aspessoas estão mais seguras do quepretendem comprar”, constata.“Os pais não podem e nem pen-sam sequer em enveredar por ou-tros caminhos que não sejam odos livros escolares”. FernandoCaridade, funcionário da livrariada Rua de Macau, afirma quemesmo assim “o forte das vendasestá nos romances e nos livrosuniversitários”.

O banco verde que dá as boas-vindas a quem se dirige à livrariaconvida a estar nele e a apreciarum dos livros da montra que lhefaz companhia. Resta saber se vaiestar ocupado ou não, daqui a ou-tros 10 anos.

Minerva significa conhecimento e sabedoria. Mas, em Coimbra personifica outros sentidos quesobrevivem passados 10 anos, onde a literatura, a tertúlia e a arte são companheiras e vivemjuntas no mesmo espaço. Por Tiago Carvalho e Sara Oliveira

LIVRARIA MINERVA GALERIA • 10 ANOS

A Linguagem de uma livraria:ler, falar e ver

UA MINERVACOIMBRA é a editora que mais livros tem publicados sobre a cidade

EUNICE OLIVEIRA

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CULTURA8 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

cápor

19FEV

MúsicaSALÃO BRAZIL • 23H • 5¤

cultura

FURSAXA E SHARRON KRAUSS

20FEV

ANDRÉ MOTA QUARTETO

Jazz SALÃO BRAZIL • 23H • 5¤

26FEV

Fotografia de Manuel PedroCAFÉ COM ARTE • ENTRADA LIVRE

23FEV

JazzOFICINA MUNICIPAL DE TEATRO

22H • 2¤

26FEV

PinturaGALERIA ALMEDINA

3ª A SÁB •10H ÀS 18H • ENTRADA LIVRE

TÂNIA ANTUNES

Música • Violino e guitarraSALÃO BRAZIL

23H • 5 ¤

27FEV

MATÉRIA DE POESIA

RecitalTEATRO DA CERCA DE S. BERNARDO

21H30 • ADULTOS 10¤ • CRIANÇAS 6¤

27FEV

MúsicaTAGV • 21H30

NORMAL 15 ¤ • ESTUDANTE 12,5 ¤

28FEV

MúsicaFNAC • 22H ENTRADA LIVRE

COMO ME VÊS?

28FEV

NUNO BASTOS RODRIGUES

Exposição de Fotografia CAFÉ SANTA CRUZ

ENTRADA LIVRE

Por Sílvia Teixeira

Representada peloTeatro Regional daSerra de Montemuro,a peça está repleta desingularidades quepadronizam o comportamento humano

O teatro permite usar da palavrae da música para se fazer entender.E é através das sílabas que observaa vida e representa os seus mitos,preceitos e preconceitos.

Na peça “Da minha vista ponto”,que vai estar em cena amanhã, 18,e quinta-feira, no Teatro Acadé-mico de Gil Vicente (TAGV), emCoimbra, a “comichão no narizquer dizer que vais ser beijada porum tolo”, ou o “veste uma roupanova na Páscoa, e terás sorte o anotodo” são veredictos que reflectemas estruturas de pessoas que ne-cessitam de padrões e rituais parasobreviver. Apenas precisam de sesentir habituadas ao que sempreconheceram.

“E isso funciona?”, pergunta al-guém do palco. A resposta “não” éclara. A música que abre o espectá-culo traduz o ritmo de vida daquiloque representa: notas picadas e re-petidas. Rotinas que habituam.Hábitos que não se rogam pela di-ferença. É uma melodia que nãonos deixa até decidirmos deixá-la aela.

O cenário é sempre igual, masnem por isso aborrece a retina dequem o questiona. Quatro degrausque podem ser tudo: um café, um

pasto, uma rua, ou um outro sítioqualquer. É cinzento e suporta asquatro personagens em torno dasquais gira a história desta peça.

E as máximas não deixam de as-sombrar as vidas destas quatropessoas: “se apanhares uma folhacadente no primeiro dia de Outono,não apanhas uma única constipa-ção em todo o Inverno”.

Entre uma representação física epsicológica, são contadas históriasque aparentemente não são desco-nhecidas do comum dos mortais.Entre um olhar e uma conversa,está a empregada de mesa queserve de patins, o professor de fí-sica quântica, o rapaz que está

sempre com a sua bicicleta, ohomem rabugento que reza a suasorte às duas vacas que encaixamno cenário de degraus cinzentos,ou a mulher que veste azul e acre-dita que é gata.

Quando uma toalha, que religio-samente aparecia numa varanda deum apartamento, desaparece, dei-xando todos atónitos com a fuga àrotina, a vida deste grupo de pes-soas ruma noutro sentido. É entãodesta forma que o agricultor nãoconsegue escolher os números paraacertar na sorte grande, o totoloto,a mulher que acredita que é gataperde capacidades que outrora ti-vera e o professor de física quântica

deixa de saber quando é que deveou não estar presente no café quetantas vezes o guarda do mundo.Entre os intervalos das auras des-tas pessoas existe o Santo Sudário,cujo destino é incerto.

Curiosamente sabe-se que o vizi-nho bibliotecário anda desapare-cido. Esse acontecimento conduzcada uma das quatro personagensao encontro delas mesmas e dosoutros, alimentando as peripéciase a intriga que invoca o pano defundo da imaginação de quem as-siste a uma comédia que reflectemedos e particularidades da in-quietação humana quando deixa deter um dia igual a tantos outros.

O ESPECTÁCULO estreia amanhã, 18, às 21h30 no teatro Gil Vicente

As Jornadas deImagem e Arte Digitalde Coimbra 2009querem ser as “maiscompletas do país”.O evento começaamanhã com oworkshop Fotografiade Glamour

A Secção de Fotografia da Asso-ciação Académica de Coimbra estáa organizar, em parceria com a edi-tora Blue Ray, as Jornadas de Ima-gem e Arte Digital de Coimbra2009 (JIAD), a decorrer entre ama-nhã, 18, e o dia 25 deste mês.

Com um programa diversificado,

as jornadas pretendem assumiruma vertente "pedagógica, de trocade conhecimentos, numa cidadecomo Coimbra, em que a formaçãoestá sempre presente", afirma umdos organizadores e tesoureiro dasecção de Fotografia, Paulo Abran-tes.

Workshops, debates, palestras,‘coach training's’, intervenções ar-tísticas e exposições são as activi-dades planeadas para dinamizar ainiciativa, a ter lugar no Centro Cul-tural D. Dinis, até Novembro.

Um programa "plural", no enten-der de Paulo Abrantes, que pre-tende chegar a todos os públicos,"desde fotógrafos e estudantes dewebdesign a pessoas anónimas". Aformação pretende-se ajustar ao co-nhecimento de cada um, por isso osparticipantes vão poder encontrardesde um workshop de iniciação,

até um outro de exposição de foto-grafia.

O primeiro workshop, Fotografiade Glamour, tem lugar já amanhã,dia 18, ao qual se segue o curso deTeoria e Prática da Gestão de Cor,no dia 19, e o workshop de Inicia-ção Fotográfica, no dia 25. O eventoconta ainda com uma exposição,patente de amanhã, 18, a dia 25 deFevereiro no Centro Cultural D.Dinis.

No dia 26, António Homem Car-doso, fotógrafo com 40 anos de car-reira, descrito pelo organizador doevento, Paulo Abrantes, como um"outsider” porque “rompeu comtodos os cânones da fotografia", vaipresidir a uma conferência.

O custo de cada actividade variaentre os 20 euros para estudantes esócios da Secção de Fotografia daAAC, 30 euros para os sócios da As-

sociação Nacional dos Industriaisde Fotografia e da Associação deFotógrafos Profissionais, e os 50euros para o restante público.

O programa para os restantesmeses ainda não está fechado, masPaulo Abrantes adianta que "outrosautores e outras matérias" vão serprivilegiados. E exemplifica: "umdos grandes mestres internacionaisdo Photoshop vem a Coimbra, noseguimento de um circuito interna-cional que está a seguir".

A par da organização das JIAD2009, a Secção de Fotografia está atrabalhar na edição de um livrosobre a Queima das Fitas, a ser lan-çado em Maio. Prevista está tam-bém uma visita de três dias a ummuseu, em Faro, com uma câmaraescura, assim como uma exposiçãode fotografia na semana cultural dauniversidade.

D.R.

Eunice Oliveira

Sara Oliveira

27FEV

MÁRCIO RANGEL

CARMEN SOUZA

YAKETY BAND

LUÍS FIGUEIREDO AO PIANO

até

TAGV RECEBE “DA MINHA VISTA PONTO” AMANHÃ E QUINTA-FEIRA

“Veste uma roupa nova naPáscoa e terás sorte o ano todo”

Fotografia invade Coimbra

até

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DESPORTO17 de Fevereiro de 2009| Terça-feira | a cabra | 9

DESPORTOS MOTORIZADOSCrosscar das Amendoeiras em FlorVILA NOVA DE FOZ CÔA

A G E N D A D E S P O R T I V A

BASQUETEBOLAcadémica vs Casino Ginásio15H • PAVILHÃO MULTIDESPORTOS

HÓQUEI EM PATINSAcadémica vs. AF Arazede18H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO N.º 1

VOLEIBOLCentro Voleibol de Oeiras vs Académica18H • MUNICIPAL S. JULIÃO DA BARRA – OEIRAS

Boa surpresa na taçaA Briosa nunca tinhachegado tão longe naTaça de Portugal. O adversário que sesegue é o Alpendorada,da 1ª Divisão

A equipa de futsal da Acadé-mica/Organismo Autónomo de Fu-tebol (AAC/OAF) está a fazerhistória na Taça de Portugal. Nuncauma equipa da modalidade tinhaatingido os quartos-de-final dacompetição. Para além disso aequipa de Tó Coelho está a realizarum bom campeonato, assumindo-se como uma das principais candi-datas à subida de divisão.

Depois de deixar pelo caminhoBoa Esperança, Santa Susana, Sa-cavenense e Lamas Futsal, a Briosarecebe, na próxima semana, dia 24,o Alpendorada, equipa que militana 1ª Divisão.

A sorte do sorteio tem estado dolado da Académica, embora a des-locação a Lisboa para jogar frenteao Sacavenense tenha sido um jogodifícil, “num ambiente mais hostil,num campo bastante complicado”,refere Tó Coelho.

Chegar aos quartos-de-final dacompetição nunca foi o objectivoprincipal da temporada. A meta daequipa de Coimbra foi sempre che-gar “o mais longe possível, pen-sando sempre jogo a jogo”, comoexplica o técnico dos estudantes.

O treinador da Briosa, que che-

gou este ano a Coimbra, refere a im-portância de estar a fazer históriapela Académica, pelo que o cluberepresenta. Para o jovem treinadoré gratificante o grupo de trabalhoestar a “acrescentar qualquer coisaao palmarés da Académica”. “Ésempre positivo”.

Na Taça de Portugal, em épocasanteriores, a turma de Tó Coelhonunca superou a primeira elimina-tória. O capitão da Académica, Gon-çalo Barão, considera que “a taçatem sido uma boa surpresa” e quemesmo a jogar frente a uma equipacomo o Alpendorada, “a próxima

eliminatória é para ganhar”. O capi-tão da Briosa garante que a equipade Coimbra vai fazer tudo para“contrariar o favoritismo” da equipanortenha.

O Alpendorada eliminou o Insti-tuto D. João V, nos oitavos-de-final,e ocupa o oitavo lugar na primeirafase do campeonato nacional da 1ªDivisão. O facto de se tratar de umaequipa de escalão superior não inti-mida os conimbricenses, como ex-plica Gonçalo Barão. “Vamosenfrenta-los olhos nos olhos e ten-tar ultrapassá-los”, garante.

Para o próximo encontro da Taça

de Portugal, a Académica poderánão contar com o capitão, que se en-contra em tratamento de uma pu-balgia. Gonçalo Barão afirma queestar a jogar lesionado, significariaprejudicar-se a si próprio e àequipa.

A Académica vai fazer o terceirojogo em casa para a taça. O técnicodos estudantes conta que o apoio“tem sido muito bom e é um dos as-pectos muito importantes no su-cesso”.

Quinto no campeonato Neste momento a Académica está

no quinto lugar do Campeonato Na-cional de 2ª Divisão Nacional SérieB e mostra boas hipóteses de subidaao primeiro escalão, estando a cincopontos da liderança. Este fim-de-semana, a Académica perdeu, naGuarda, com o Lameirinhas por 4-1.

A boa prestação na taça “podefuncionar como um tónico para oresto do campeonato onde a equipaestá na luta pela subida de divisão”,como afirma Tó Coelho.

Na próxima ronda, a Académicarecebe a equipa Rio de Mouro, numjogo a contar para a 17ª jornada docampeonato.

A primeira prova decrosscar de LuísCaseiro é em FozCôa. Fazem-se osúltimos ajustes parao arranque dacompetição

A defesa do título de campeão na-cional de crosscar, alcançado porLuís Caseiro no ano passado, noEurocircuito de Montealegre, co-meça já no próximo fim-de-semana, a 21 e 22 de Fevereiro.

O Crosscar das Amendoeiras emFlor marca o início da temporadado Campeonato de Portugal, que

este ano vê o número de provas re-duzidas para sete, em vez de nove,como aconteceu em 2008.

A preparação para 2009 começoulogo no fim-de-semana a seguir àconquista do título nacional da mo-dalidade. “Está tudo pronto paracomeçar”, afirma o piloto da Secçãode Desportos Motorizados da Asso-ciação Académica de Coimbra(SDM/AAC). Agora, “falta acabarde montar o carro e a resposta dealguns patrocinadores”, conta o pi-loto. A preparação técnica do carroe a aquisição de material são pro-jectos que levam sempre tempo aser montados. Caseiro explica que aorganização de toda a logística ofe-rece dificuldades, “porque fica játudo preparado para o longo doano”.

No ano passado, o corredor pas-

sou a representar uma nova marca,a ASK. À parte de alguns melhora-mentos, o essencial do chassis man-tém-se e apenas foi equipado comum novo motor. “Consegui reunirorçamento e adquirir dois motoresmais recentes para garantir maiorcompetitividade e fazer face aos ad-versários”, relata.

Em 2008, Luís Caseiro terminouas nove corridas sempre entre ostrês primeiros lugares. Agora, de-fende que é importante manter amesma regularidade para estar “naluta pelo título”.

Manter o número um na viaturaé, no seu entender, “um objectivoambicioso, porque a nível competi-tivo os melhores estão sempre pre-sentes”.

Para esta temporada estão tam-bém pensadas duas presenças no

campeonato espanhol. “Há um in-terregno nos meses de Julho eAgosto no nosso campeonato, vouaproveitar para manter o ritmo etentar atingir o mercado espanhol”,

define Caseiro.O título

conquistado no Campeonato Na-cional de Crosscar foi o primeiroconseguido pela SDM/AAC, quenasceu em 2004. Para si, “é um or-gulho muito grande, porque a sec-ção é recente”. O últimoreconhecimento a Luís Caseiroaconteceu na XI Gala dos Prémios

Salgado Zenha, na qual arre-cadou o Prémio Atleta, em

ex-aequo com AndréSousa, do desporto

u n i v e r s i t á r i o .“Apanhou-me

c o m p l e t a -mente des u r p r e s a ,mas tenhonoção do querepresentapara nós”,sublinha.

Caseiro parte para a revalidação do título

ANDRÉ FERREIRA

Catarina Domingos

André Ferreira

21 e 22FEV

21FEV

21FEV

22FEV

DESPORTOS MOTORIZADOS

FUTSAL AAC/OAF

ESTE FIM-DE-SEMANA, a Académica perdeu com o Lameirinhas por 4-0

D.R.

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DESPORTO10 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

6Nuno Santos

O que significou ser distin-guido com o Prémio Carreiranos Salgado Zenha?Significou que já estou a ficar velho[risos]. Desde 1989 que estou naAcadémica, são quase 20 anoscomo atleta, como treinador, comodirector. É uma honra muitogrande ser reconhecido com umprémio destes pela Academia, portodos os resultados que tive.

Por que é que escolhesteBadminton?É um desporto de família. O meuirmão, a minha irmã, os meus pri-mos já jogavam e eu naturalmentetambém fui para o Badminton.

Que momento eleges comoo mais marcante na passagempelo desporto universitário?O mais marcante foi o Campeonatodo Mundo Universitário na China(Wuhan). É o país onde o Badmin-

ton é mais praticado. Encontreiuma realidade completamente di-ferente do que na Europa, com pa-vilhões cheios, transmissõestelevisivas, um ambiente distinto àvolta do desporto. Foi ultra esti-mulante.

De que é que vais ter maissaudades do desporto univer-sitário?Gostava do ambiente dos torneiosuniversitários e vou ter saudadesdas pessoas que fui conhecendo aolongo da minha participação.

Que planos tens para o fu-turo?Ainda tenho algumas hipótesescomo atleta e tenho a ambição depoder representar Portugal nosJogos Olímpicos de Londres. Comotreinador vou continuar na Acadé-mica e tentar aumentar significati-vamente o número de praticantes.

Estou com um projecto juntamentecom o presidente da Secção deBadminton da AAC e com umoutro colaborador, para fazer umaescola da modalidade em Coimbra.

Como avalias o panoramado desporto universitário emPortugal?Ainda há um grande caminho apercorrer, mas nem creio que sejaum problema das universidades, émais um problema em termos le-gislativos. Por exemplo, na Tailân-dia, na China e mesmo nos EstadosUnidos, o desporto universitárioestá incutido no currículo das uni-versidades. Os atletas-estudantesconseguem conciliar as duas acti-vidades. Em Portugal, é muito di-fícil ter uma actividade de altacompetição e conseguir sucesso es-colar.

Virginie Bastos e Catarina Domingos

“Tenho ambição de ir às Olímpiadas”

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

BASQUETEBOLNeste fim-

de-semana,a Acadé-mica venceufora o Sam-paense por

68-73. Este resultado, relativoa mais uma jornada cruzadada Liga Portuguesa de Bas-quetebol, dá à equipa de Nor-berto Alves o quinto lugar,com 35 pontos. Na próximaronda, a AAC recebe o CasinoGinásio, penúltimo classifi-cado, que este sábado venceuo Aliança.

HÓQUEI EM PATINSDepois de

ter carim-bado a pre-sença noC a m p e o -nato Nacio-

nal de 2ª Divisão, aAcadémica venceu fora oGualdim Pais por 1-3. A AACestá na liderança da 3ª Divi-são Zona B com 42 pontos. Napróxima ronda, última da faseregular da prova, a equipa deMiguel Vieira recebe o AFArazede.

VOLEIBOLNesta 20ª

jornada daDivisão A2,a Acadé-mica ven-ceu por 3-0

a Ala Nun’Álvares. Com estetriunfo, a AAC soma 28 pon-tos. Na próxima ronda, aequipa de Carlos Marquesjoga com o Centro Voleibol deOeiras. A equipa sénior femi-nina perdeu com o Clube Des-portivo da Póvoa por 3-2, emjogo da 17ª jornada da DivisãoA2. A fase regular termina napróxima semana, frente aoClube Voleibol de Oeiras.

RUGBYDepois da

v i t ó r i afrente aoR u g b yClube daLousã, neste

fim-de-semana a equipa sé-nior de rugby da Académicadeslocou-se a Trás-os-Montes, onde foi vencer a As-sociação Académica daUniversidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (AAU-TAD) por 89-7. A equipa deSérgio Franco está em pri-meiro lugar do CampeonatoNacional de I Divisão e napróxima jornada recebe emcasa a Escola Agrária deCoimbra.

Catarina Domingos

Vencedor do Prémio Carreirana XI Gala dos

Prémios Salgado Zenha

AAC luta pela manutenção na segunda fase A fase regular doCampeonato Nacionalde Andebol da 2ª Divisão Zona Centrochegou ao fim. AAcadémica fala em objectivo “cumprido”

Mesmo antes da vitória frente aoAcadémico de Viseu, a equipa séniorde andebol masculino da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (AAC) jásabia que ia disputar a fase de apu-ramento, na qual vai lutar pela ma-nutenção.

Em casa, neste domingo, a AACbateu o Académico de Viseu por 33-24 e termina a fase regular da ZonaCentro do Campeonato Nacional de2ª Divisão em terceiro com 51 pon-tos. A equipa orientada por RicardoSousa não conseguiu garantir a pre-sença na fase final, que daria acessoà 1ª Divisão, na qual já não participadesde a época de 1987/88.

O presidente da secção de andebolda AAC, Filipe Coelho, revela que apossibilidade de subir ao escalão su-perior “foi algo com que a equipa so-nhou a meio da época”. No entanto,segundo o responsável, “o objectivoinicial traçado seria sempre a manu-tenção e por isso foi cumprido”. Parao técnico Ricardo Sousa, a formação“está a superar as expectativas, tendoem conta que no ano passado aequipa esteve perto da descida de di-visão, numa situação muito tre-mida”.

Da época transacta para a tempo-rada actual, a Académica registouuma melhoria pontual significativa,que faz o treinador considerar que aAAC “é a surpresa da prova”. Esteano, a Académica termina a fase re-gular com mais 23 pontos do que noano anterior. O progresso é explicadopor Ricardo Sousa pelo facto daequipa ser praticamente a mesma doano passado. “Os jogadores foram-seconhecendo cada vez melhor, há umamaior união e uma maior identifica-ção parte a parte”, sublinha. Aindaassim, no seu entender, não houve“maturidade e confiança necessáriapara enfrentar algumas situações”.“Há pequenas coisas que ainda po-demos melhorar sobretudo do pontode vista psicológico”, defende o trei-nador.

A fase complementar que junta asdez equipas classificadas entre o ter-ceiro e o último lugar começa a dis-putar-se em Março. Ricardo Sousaespera “acabar essa fase em primeirolugar, para carimbar a manutenção omais rápido possível”. “Não ganha-mos nada com isso, mas é nossa ob-rigação”, considera.

Para a próxima época, Filipe Coe-lho afirma que “não se pode pensarem nada inferior ao que foi feito esteano” e antevê que seja possível“apostar forte numa fase final”.

O regresso da equipa feminina Depois de largos anos de paragem, aequipa sénior feminina de andebolda AAC voltou a reunir-se. No ano deestreia no Campeonato Nacional de

2ª Divisão Zona 2, a equipa de Mi-guel Catarino termina a fase regularcom 14 pontos e duas vitórias. “Éuma equipa muito jovem que estáainda em formação e tem muita po-tencialidade”, explica o presidente dasecção. Já o técnico Miguel Catarinodestaca “a evolução significativa daprimeira para a segunda volta, quepermite encarar esta próxima fase eos próximos anos com optimismo”.No andebol feminino, uma vez quenão existe competições a nível regio-nal nem na terceira divisão, para afase complementar não está em jogoa subida ou descida de escalão. Porisso, os próximos encontros vão “ser-vir para dar mais experiência às jo-gadoras”, como refere Filipe Coelho.À semelhança da equipa masculina,a segunda fase inicia-se em Março.

EUNICE OLIVEIRA

Vasco BatistaCatarina Domingos

A ACADÉMICA fechou a fase regular com uma vitória sobre o Académico de Viseu

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CIDADE17 de Fevereiro de 2009| Terça-feira | a cabra | 11

TIAGO CARVALHO

OS ALUNOS estão provisoriamente a ter aulas em monoblocos desde Outubro, sensivelmente

Escolas do século XXIIO programa deremodelação dasescolas básicas esecundárias tornou-se‘slogan’ do governo paraeste ano. Coimbra nãoescapa à inovação e algumas modernizaçõesjá estão em curso

O som dos berbequins soa em con-sonância com o toque das campai-nhas. Nas salas, os alunos dão lugaraos materiais de construção. A remo-delação do parque escolar é o resul-tado de um programa lançado peloMinistério da Educação, em Feve-reiro de 2006, e que este ano foi umadas prioridades traçadas pelo go-verno para estimular o investimentopúblico.

Alargado a nível nacional, o pro-grama governamental de melhora-mento das infra-estruturas escolaresvai atingir três das escolas secundá-rias de Coimbra, tendo-se já iniciadona Escola Secundária Avelar Brotero.

O início da fase piloto do processoterminou em Setembro de 2008 coma intervenção em escolas do Porto ede Lisboa. “Actualmente já estão emcurso mais 26 intervenções em esco-

las de todo o país, incluindo as co-nimbricenses às quais se juntarãomais 75 até ao final do primeiro se-mestre deste ano”, certifica CatarinaFrazão, directora de comunicação eimagem do Parque Escolar, empresaresponsável pelo projecto. O desafio érequalificar 330 escolas até 2015, anível nacional.

Os custos suportados pelo Estadoatingem o numerário dos milhões ecriam boas expectativas nos dirigen-tes das escolas, como o demonstra ovice-presidente do Conselho Execu-tivo da Escola Secundária Infanta D.Maria, Rui Bento: “estamos ansiosospor ver a escola remodelada”.

“Vamos ter novas salas de aula, umrefeitório, novos balneários, labora-tórios e ainda uma biblioteca maismoderna”, refere o vice-presidente.Os benefícios agradam a toda a co-munidade escolar, como explica RuiBento: “todos aceitam perfeitamenteestas obras”. O esforço durante o pro-cesso de renovação será conjunto. Aescola refere ainda a importância detrabalhar em conjunto com a em-presa directamente envolvida com oplano. Após a conclusão das obrasnas várias escolas, as empresas inter-venientes vão assegurar a manuten-ção ao longo de dez anos, o que tornaas responsabilidades económicas dasinstituições de ensino menos pesa-das. As despesas básicas continuam,ainda assim, ao encargo das escolas.

A opinião dos responsáveis das vá-rias instituições inseridas no pro-

grama é unânime. “É o salto de doisséculo. Estávamos no século XIX emtermos de escolas e passamos para oXXII”, acredita o vice-presidente daEscola Secundária Avelar Brotero,Mário Bicho, onde as mudanças já secomeçam a sentir. O fim das obrasestá previsto para o mês de Dezem-bro deste ano, mas Mário Bichoalerta que o projecto está bastanteatrasado. "A escola está a ser inter-vencionada no global, alguns espaçosvão ser só remodelados, outros cria-dos de raiz. Vão ser criadas infra-es-truturas mais actuais comaquecimento e isolamento”, descreveo vice-presidente. Desde Outubro de2008 que as obras decorrem no inte-rior da escola e, por isso, algumasaulas passaram a ser leccionadas emmonoblocos cuja dimensão se ade-qua ao tamanho das turmas.

A intervenção assume outros mol-des na Escola Secundária Quinta dasFlores, onde, mais do que remodela-ções a nível de infra-estruturas, oprojecto vai originar um conservató-rio de música suplementar. As alte-rações no bar e na parteadministrativa parecem menores aosolhos dos dirigentes, quando compa-radas com a construção do novo con-servatório de música dentro da escolasecundária. "As expectativas dos alu-nos não são muitas", como explica odirector do conselho directivo da es-cola, Francisco Henriques. O orça-mento para o desenvolvimento daobra desta instituição é comum ao

disponível para a Escola SecundáriaInfanta D. Maria.

Remodelação das primárias a cargo da CâmaraOs projectos variam de acordo comas necessidades de cada escola. Oprograma, embora não se restrinja aoensino secundário, assume outroscontornos nos graus inferiores de en-sino. Com financiamento exclusiva-mente camarário, algumas escolasprimárias de Coimbra foram já alvode remodelação.

"O trabalho feito pela câmara aolongo dos anos para o primeiro cicloé sobretudo de criação de condiçõesfísicas para que as escolas sejam maisacolhedoras", afirma o chefe da divi-são de educação da Câmara Munici-pal de Coimbra (CMC), JoãoTeixeira. As intervenções foram paraalém das infra-estruturas e reequipa-mento das escolas. Ligeiramenteafastadas do plano de renovação es-colar está a construção de novos edi-fícios pré-escolares, tambémfinanciada pela CMC. Ao nível denovos projectos, João Teixeiraadianta ainda a futura construção deuma nova escola primária na zona daSolum. "O programa de remodelaçãoda CMC ainda não está acabado e vaiestender-se até 2009 ou 2010", sa-lienta João Teixeira.

No que se refere às escolas básicasde segundo e terceiro ciclo, as mu-danças ainda não estão planea-

das."Não é uma questão de não que-rer, é de não se saber quem pode",explica João Teixeira. A questão estárelacionada com a incerteza de saberse o projecto deverá ser levado a cabopelo governo ou pela câmara. Para ochefe da divisão da educação, "exis-tem duas escolas que precisam deuma intervenção prioritária: a Eugé-nio de Castro e a escola Alice Gou-veia".

No plano das prioridades, salientaainda, a degradação da secundáriaJaime Cortesão. Sobram ainda qua-tro escolas secundárias que precisamde intervenção, mas para as quaisnão existe ainda um calendário de in-tervenção, não estando, para já, in-cluídas no Programa de Renovaçãodo Parque Escolar.

"É um salto qualitativo muito im-portante, esta remodelação que seestá a dar", reforça o vice-presidenteda secundária Avelar Brotero. Os alu-nos, apontados como os mais benefi-ciados com o programa, mostram-seentusiasmados. Mário Bicho não temdúvidas e lança mesmo uma per-gunta: "quem é que não gosta de irpara melhor?". Os vários benefíciosnão escapam aos olhos de ninguém,como corrobora João Teixeira: "be-neficiam o concelho de Coimbra eajudam na própria crise.”. “Afinal,como se tem dito, a solução para acrise está no investimento das obraspúblicas", conclui.

Com Maria do Carmo Freitase Ana Catarina Augusto

Viviana Figueiredo Marta Pedro

Sílvia Teixeira

RENOVAÇÃO DO PARQUE ESCOLAR EM COIMBRA

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12 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

TEMA

m nome traz sempreoutro por arrasto. An-tero de Quental, Eça deQueirós, Teófilo Braga,

António Nobre, Aristides de SousaMendes, José Régio, Vitorino Ne-mésio, Zeca Afonso, Adriano Cor-reia de Oliveira, Teolinda Gersão.A lista é extensa e podia continuarse insistíssemos em construir umaárvore de palavras sobre escritorese músicos ilustres – ou grandesportugueses, se assim lhes qui-sermos cha-mar – queh a b i t a -ram

Coimbra noutro tempo e cujonome aqui deixaram não por meroacaso.

As casas onde viveram, no labi-rinto de ruas e vielas da Alta, amaioria deles enquanto estudantesda Universidade de Coimbra (UC),uns ainda no século XIX, outrosnos anos 30, 40 ou 60 do séculopassado, continuam de pé. Otempo não as apagou do mapanem da memória, mas umas estão

hoje um pouco degradadas,com a pintura las-

cada e à esperade compra-

dor. Ou-t r a s

continuam de janela aberta, habi-tadas por idosos e estudantes. Al-gumas têm carros encostados àporta, travando os circuitos turís-ticos e impedindo uma fotografiamais bem conseguida para os visi-tantes.

Por exemplo, uma das casasonde viveu Antero de Quental, naTravessa da Couraça, com vistapara o Mondego, é actualmentehabitada por universitários nos an-dares superiores e tem à porta umaplaca de homenagem ao poeta.

Antero estudou durante mais decinco anos em Coimbra e, duranteesse tempo, teve oito moradas di-ferentes. A primeira no Largo daSé Velha, entre 1859 e 1862,quando protagonizou um movi-mento estudantil contra o reitor,Basílio de Sousa Pinto, e a últimana Rua do Borralho, já quando apraxe desempenhava um papelmenos importante na sua vida aca-démica.

E se os anos em que pas-sou na cidade foram agita-dos e pouco pacíficos paraa sua geração, para a his-tória fica o ano em queviveu no Palácio dos Con-

fusos, em 1861, quando ganhacorpo a ideia de organizar a secretaSociedade do Raio, de que foi líderde referência.

A rua da escritaÉ também em 1861 que Eça deQueirós entra para a faculdade deDireito, vindo residir para a Ruado Loureiro, a mesma que em ge-rações diferentes seria morada deTeolinda Gersão e João José Co-chofel.

A casa onde viveu este poeta ecrítico literário (conhecida como aCasa do Arco, graças a uma passa-gem que atravessa a rua) foi espaçopara inúmeras tertúlias, dos anos40 ao 25 de Abril de 1975, entreCochofel e outros escritores ami-gos: Eduardo Lourenço, GomesFerreira, Fernando Lopes Graça.

A Casa do Arco vai, agora, pas-sar a ser a futura Casa da Escrita,do departamento de Cultura daCâmara Municipal de Coimbra(CMC), com a remodelação a cargodo arquitecto João Mendes Ri-beiro. O espaço, cujas obras MárioNunes espera ver prontas “até aofinal do ano”, vai ser um centro deacolhimento de escritores e de tí-

tulos literários. A casa vai, segundoo vereador, albergar uma biblio-teca, um auditório e uma fonoteca.Apesar das condicionantes, quevalor histórico e patrimonialpodem ter estas casas no desen-volvimento turístico da cidade? “Seentendermos a história” como algoque resulta “de uma vivência quo-tidiana que esteve quantas vezesna base desses patrimónios e dei-xou no anonimato tantos lugares,tantas pessoas, tantas acções, comcerteza que têm valor histórico”,acredita o docente da Faculdade deLetras da Universidade de Coim-bra (FLUC) na área do turismo elazer, Norberto Santos.

Património “algo esquecido”, la-menta o geógrafo, muitas destascasas deviam ser conhecidas “nãosó pelos turistas, mas tambémpelos autóctones”, porque, comolembra, “os embaixadores dos lu-gares são os que neles nascem e osque os adoptam”.

Por isso, sublinhando que a ci-dade não tira partido deste patri-mónio, Norberto Santos critica ofacto de ficarem “por efectuar in-tervenções de reabilitação” que“encapotam patrimónios que pre-

U

A Alta de Coimbra esconde um labirinto de casas onde viveram gerações de poetas, escritorese músicos. Património esquecido ou valorizado aquele por onde passaram desde Eça a ZecaAfonso? Por Pedro Crisóstomo

CASAS HABITADAS PELA MEMÓRIAVISITA organizada pela câmara motivou muitos habitantes de Coimbra a conhecer melhor a Alta

PEDRO CRISÓSTOMO

ANDREIA FACHADA

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17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 13

TEMA

CASA DE TORGA PREPARA CENTRO DE ESTUDOSLugar onde Miguel Torga viveu desde 1953 é hoje uma casa-museuvisitada por milhares de pessoas

O número três da Praceta Fer-nando Pessoa, em Coimbra, foidurante 32 anos a morada de Mi-guel Torga e é há ano e meio ro-teiro para escolas, grupos eturistas estrangeiros.

A casa que Torga habitou a par-tir de 1953 – e que foi visitada porcerca de 4500 pessoas, em 2008– deverá “ter um local de exposi-ção, mostra e consulta no interiorda própria casa” ainda “no de-curso do mês de Fevereiro”, es-pera a conservadora, CristinaRobalo Cordeiro.

“Estamos a tentar instalar nacasa do escritor a biblioteca, al-guns manuscritos, cartas e docu-mentos que estão a ser ratadospelos bibliotecários da câmara”,explica a conservadora. No ime-diato, o objectivo é colocar todo omaterial num dos três quartos dacasa e transformá-lo numa sala deexposição.

A médio prazo, para o qualCristina Robalo Cordeiro nãoaponta datas, vai ser construídoum auditório simultaneamente

centro de documentação no jar-dim traseiro da casa que vai per-mitir implementar o Centro deEstudos Torguianos. A ideia é,como sublinha Cristina RobaloCordeiro, desenvolver “um lugarde reflexão, de discussão, de trocade impressões e de consulta paraos estudiosos do Torga”.

Actualmente, a casa-museu éum espaço que mantém o mobi-liário e os objectos do poeta tal equal quando ali viveu. Depois defotografado, tudo foi colocado nosdevidos espaços, conservando asobriedade que Torga tanto pre-servava.

Rústica, simples, solarenga, acasa foi mobilada em função daida do poeta e da mulher a anti-quários. Andrée Crabbé Rochapartilhava com o marido o gostopor objectos sagrados, apesar deTorga não ter sido um homem re-ligioso.

Uma das peças mais antigas dacasa é parte de um tríptico do pe-ríodo medieval – da transiçãoentre os séculos XIV e XV –, ad-quirido num antiquário em Ma-drid. Outro objecto distinto dasala de jantar é um quadro a óleo

que Dórdio Gomes (primeiro ma-rido de Natália Correia) ofereceua Torga. A mistura de referênciasde Trás-os-Montes e do Alentejo,colocando no centro a figura deum ceifeiro de traços rudes e vin-cados, fazem lembrar o próprioescritor.

Mas o espaço mais intimista dacasa é o escritório, hoje sempre deporta aberta aos visitantes. Mi-guel Torga pediu ao arquitectopara deixar um espaço aberto porbaixo do acesso ao sótão. Ali,Torga repousava sobre um divã aque chamava de sarcófago,olhando para as primeiras ediçõesdas suas obras, que também elasrepousavam, comprimidas, numpequeno armário escuro em ma-deira ao fundo dessa cama. Hoje,os livros dão lugar a outros títu-los, de arte egípcia, de Gil Vicente,de Jorge de Sena, de Jaime Cor-tesão...

Transformada em museu paraser dedicada à vida e à obra dopoeta, a Casa-Museu MiguelTorga pretende, assim, “ser umincentivo à leitura e ao conheci-mento da literatura”, sintetiza Ro-balo Cordeiro.

Pedro Crisóstomo

O ESCRITÓRIO DE TORGA é visitado por muitos grupos de estudantes

cisam de ser conhecidos”. “Teresses patrimónios e não lhes dar adevida atenção é duplamente le-sivo”, continua.

Habitada no rés-do-chão, masdegradada na parte superior, comvidros partidos e fissuras na fa-chada, está na Rua das Flores acasa onde foi fundada, em 1947, arevista “Presença” por José Régio,Branquinho da Fonseca e JoãoGaspar Simões.

Questionado sobre a intenção daCMC na aquisição de algumas des-sas casas para a constituição de es-paços-museus, o vereador daCultura da CMC, Mário Nunes, ad-mite que o município está “sempreinteressado”, mas explica que issodependerá da “vontade dos pro-prietários em vender esse patrimó-nio”. Foi o que aconteceu com acasa onde viveu Miguel Torga, quea câmara adquiriu por cerca de300 mil euros à filha do poeta,Clara Rocha, que doou parte do re-cheio para a constituição domuseu. Fundada em Agosto de2007, a Casa-Museu Miguel Torgaé a única do género que, à data, foiconvertida em espaço de acessopúblico (ver artigo ao lado).

Outro olharsobre a Alta“A identificação, classificação epromoção do património é funda-mental para a valorização das acti-vidades de lazer”, diz NorbertoSantos, que louva “o propósito domunicípio valorizar percursos tu-rísticos alternativos, agora apre-sentados”.

Concretamente, o professor daFLUC fala na constituição de rotas:“a dos escritores seria de grandesignificado” e “teria a bondade dedar espaços de lazer às populaçõeslocais”.

Uma visita pedonal pela Alta quese vai repetir quinzenalmente atéAbril foi inaugurada na quarta-feira passada, 11, pelo departa-mento de Cultura da CMC.

Num circuito que esgotou asinscrições, 35 participantes, prin-cipalmente reformados ‘salatinas’(habitantes da velha Alta), percor-reram as ruas do centro histórico,conhecendo os locais frequentadospor Eça de Queirós, Teolinda Ger-são, Adriano Correia de Oliveira,António Nobre, Aristides de SousaMendes e Miguel Torga.

Com Andreia Fachada

CASAS onde moraram José Régio e Eça de Queirós

PEDRO CRISÓSTOMO

ANDREIA FACHADA

PEDRO CRISÓSTOMO

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PAÍS & MUNDO14 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

Em 2007, nove anos após a pri-meira consulta popular, o país res-pondeu afirmativamente àdespenalização do aborto até às dezsemanas. O debate sobre o tema foiaceso e culminou, desta vez, comuma vitória de 59,25 por cento. O iní-cio da sua implementação não foi pa-cífico e ainda hoje existem objectoresde consciência.

O balanço que o director executivoda Associação Portuguesa para o Pla-neamento da Família (APF), DuarteVilar, faz destes dois anos de práticado aborto lega é positivo: "mudou deuma situação em que o único recursoque as mulheres tinham era o abortoclandestino para uma em que podemter acesso ao aborto seguro e legal".Também o presidente do Colégio deGinecologia e Obstetrícia da Ordemdos Médicos, Luís Graça, concordacom o balanço do director executivoda APF. Referindo que "houve umgrande ganho para a saúde", LuísGraça aponta que "o número de mu-lheres a dar entrada nos hospitaiscom complicações por causa de abor-tos ilegais reduziu substancialmentepara metade".

Em contrapartida, o porta-voz doMovimento Portugal Pró-Vida (Mo-vimento PPV), Luís Botelho, acredita

que o balanço não é positivo: "25 milmortos é o grande balanço do refe-rendo e temos alguns indicadoresque este pode vir a duplicar". Aindade acordo com este dirigente, o ob-jectivo deste movimento é "despertara consciência das pessoas".

Abortos ilegaisApesar da despenalização, o abortoilegal não desapareceu por completo.O representante do Movimento PPVacredita que "o próprio aborto se estáa banalizar". Ainda no final do mêspassado, a Polícia de Segurança Pú-blica (PSP) fechou uma clínica deLeça do Balio, Matosinhos, onde sepraticava o aborto ilegalmente.Duarte Vilar diz que "é muito prová-vel que o aborto clandestino nãotenha desaparecido totalmente;temos alguns testemunhos que nosmostram que continua a haver algumcomércio de produtos abortivos, so-bretudo nas zonas mais pobres". Namesma medida, Luís Graça afirmaque o aborto clandestino não vai dei-xar de existir porque "a lei só permiteo aborto legal até às dez semanas e asmulheres que têm onze, doze outreze semanas, vão recorrer aoaborto ilegal".

Em Portugal, a Interrupção Vo-luntária da Gravidez (IVG) podefazer-se até às dez semanas em trintae oito unidades de saúde pública eem mais três clínicas privadas devi-

damente autorizadas para a realiza-ção dessa prática.

Ao longo destes dois anos, a APFmanteve activa a linha Opções (umalinha de informação e aconselha-mento especializado sobre gravideznão desejada, IVG e esclarecimentocontraceptivo) e recebeu um total de1326 chamadas, maioritariamente dosexo feminino.

De acordo com o relatório da APF,apresentado dia 11, são 238 as mu-lheres que apontaram a situação eco-nómica como razão para a fazer umaborto. O mesmo estudo mostra quemais de 50 por cento das mulheresque interromperam voluntariamentea gravidez se situa na faixa etáriaentre os 20 e os 35 anos.

O Movimento PPV não encara onúmero total de abortos legais reali-zados desde 2007 com satisfação.Luís Botelho afirma que "apesar dedifícil, temos esperança de revogar alei", ou seja, "reconduzir os seus as-pectos mais criminosos". O repre-sentante afirma que, "se perdermosesta esperança, estamos a defraudaro futuro do nosso país". O movi-mento cristão diz "respeitar as insti-tuições democráticas, ainda que elasestejam a dar cobertura ao genocí-dio".

Objectoresde consciênciaA objecção de consciência é um di-

reito garantido nos termos da lei.Quando foi implementado, muitosforam os profissionais de saúde queapelaram a este direito. Em 2007,mais de 60 por cento dos profissio-nais de saúde declaram-se objectoresde consciência acabando por condi-cionar o Serviço Nacional de Saúde(SNS).

Luís Graça reconhece que quandoa lei foi implementada, muitos dosseus colegas foram objectores deconsciência mas que actualmente "aobjecção de consciência (que existe)é por terem medo de trabalhar". Opi-nião semelhante tem a médica obs-tetra na Maternidade Daniel deMatos, em Coimbra, Teresa SousaFernandes, que afirma que hoje emdia já não se verificam tantos objec-tores de consciência: "todo o restantepessoal cobre essas prováveis objec-ções de consciência e, no fundo, nãose dão por elas". (ver caixa) O diri-gente do Movimento Portugal Pró-Vida diz desconhecer a situação dosmédicos que não querem trabalhar,ainda que admita que os casos queexistem "são particulares".

No que toca à falta de profissionaisde apoio administrativo e de enfer-magem, como refere o relatório daAPF, Duarte Vilar diz que "nenhumamulher ficou sem fazer uma IVG quedesejava por falta de apoio dos servi-ços". Segundo este especialista, "até àdata, o SNS tem sido capaz de dar

resposta aos pedidos" e a época maiscomplicada é o tempo de férias. "Sa-bemos que alguns hospitais fazemacordos com clínicas privadas por-que não conseguem dar resposta ne-cessária no tempo de férias".

Dois anos depois do polémico referendo A despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez foi referendada em 2007. A CABRAfaz um balanço sobre a actual situção nos hospitais e clínicas portugueses

Ana Rita RibeiroInês Almas Rodrigues

Teresa Sousa Fernandes, daMaternidade Daniel de Matos, emCoimbra, afirma que "desde hádois anos se mantém a quanti-dade que esperávamos de abor-tos. Os que se faziam ilegais sãoos que se fazem legais agora".

No que diz respeito aos profis-sionais de saúde que são objec-tores de consciência, a médicaobstetra diz que, pelo menos noseu serviço, "devem ser tãopoucos que são até mais objec-tores ao trabalho e não de con-sciência".

Teresa Sousa Fernandes diz nãohaver falta de pessoal na zonacentro. Na Maternidade Daniel deMatos, existe uma equipa que seocupa dos pedidos recebidos:"temos uma consulta (três vezespor semana) que tem oito médi-cos disponíveis. Existe uma enfer-meira, uma psicóloga e umaassistente social".

"SE HÁ OBJECTORES DECONSCIÊNCIA, NÓSNÃO CONHECEMOS!"

SÃO 38 AS UNIDADES DE SAÚDE que estão habilitadas a praticar a Interrupção Voluntária da Gravidez e apenas três clínicas privadas

D.R.

INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ

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PAÍS & MUNDO17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 15

O fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia ditaram modificações no panoramabélico internacional. A NATO enfrenta, hoje, novos desafios

Fundada a 4 de Abril de 1949 emWashington, por iniciativa dos Es-tados Unidos da América (EUA),Canadá e seus aliados europeus, aOrganização do Tratado do Atlân-tico Norte (NATO) constituiu-secomo um dos pilares do sistema desegurança colectiva ocidental daGuerra Fria, que só viria a termi-nar com a queda do bloco sovié-tico, em 1991. Pautando a suaacção a favor da paz e da democra-cia, a NATO foi formada para con-ter a escalada soviética na Europano pós-guerra. Anterior ao Pactode Varsóvia, aliança militar sovié-tica, a NATO sofreu uma reestru-turação profunda, em virtude dosdesafios colocados em matéria desegurança ao sistema internacio-nal, nas últimas décadas do séculoXX.

Com a aproximação do cinquen-tenário da assinatura do tratadofundador, importa reavaliar o seumecanismo de funcionamento,bem como a sua base operativa.Para o deputado do Partido Socia-lista e vice-presidente da Assem-bleia do Atlântico Norte, JoséLello, esta “alteração profunda” re-gistada “no quadro geoestraté-gico”, emotivada pelo “fim doconfronto de blocos”, levou a que“a NATO deixasse de ter o mesmopapel”. Opera-se uma reestrutura-ção originada, na opinião do antigochefe do Estado-Maior do Exér-cito, General Loureiro dos Santos,pelo interesse dos EUA em “defen-der os interesses do Ocidente emtodo o Mundo”. Esta alteraçãopassa pela “autorização da actua-ção da NATO fora da área” paraque foi criada, fenómeno “que serepercutiu na sua própria estru-tura interna”, alterando a naturezados comandos, de “âmbito funcio-nal, que preparam forças para ac-tuar no exterior”.

Problemas internosEm virtude das mutações regista-das no sistema internacional, “asameaças com que os aliados seconfrontam são de outro teor”. Sãoparticularmente relevantes as te-máticas do “terrorismo, da crimi-nalidade organizada, daemergência dos estados falhados ede um conjunto de conflitos diver-sificados”, sublinha o parlamentarJosé Lello. No seio da própriaaliança, esta mutação é “fractu-

rante”. Na convicção de Loureirodos Santos “existem grandes di-vergências”, no que respeita “à ne-cessidade de intervenção emdeterminado tipo de áreas”. O graude envolvimento dos estados-membros, a braços com a criseeconómica mundial, é desigual,comprometendo a “capacidade departicipação no processo de deci-são da NATO”, porque “os estadoseuropeus não estão muito disponí-veis para investir na defesa”, assu-mindo-se os EUA como “o únicoespaço com grande capacidade mi-litar da NATO”.

A eleição de Obama para a ad-ministração americana coloca naagenda da NATO a defesa de “umaatitude moral e ética na afirmaçãoda liberdade e da democracia”.Para José Lello, “o presidenteObama manterá todos os seuscompromissos no seio da AliançaAtlântica”, perspectiva que consi-dera “muito positiva”. O politólogoJosé Avelino Maltez afirma que“não existe nenhuma divergênciade fundo no super-espaço atlân-tico”, EUA e Europa, espaço quepartilha a mesma matriz “de hu-manismo laico e de humanismocristão”. Por sua vez, Loureiro dosSantos acredita que a posição deObama, expressa pelo vice-presi-dente Joe Biden na conferência deMunique, forçará os estados euro-peus a um maior grau de compro-metimento, que já não podemjustificar a sua inacção com a “dis-cordância com as políticas da ad-ministração Bush”.

Dificuldadesnos teatros actuaisNo teatro de operações do Afega-nistão, que inaugurou esta novafase da vida da aliança, a NATOcombate “ameaças complexas queestão situadas bem longe das nos-sas fronteiras comuns” onde“detém o grande desafio de acabarcom núcleos de formação de terro-ristas”, argumenta José Lello. Noentanto, “a NATO sujeita-se [noAfeganistão] a ter a sua primeiraderrota da sua existência, em ter-mos militares”, na opinião do ge-neral. As relações com a Rússia,outro dos temas da agenda daAliança, caracterizam-se por pon-tos de tensão ao longo da fronteiracomum e alguma crispação moti-vada pela intervenção russa naGeórgia. Loureiro dos Santos acre-dita que no futuro esta relação“passará pela procura de um en-tendimento com a Rússia”, situa-ção que “transpira das várias

declarações dos estados-maioresquer nos EUA, quer da própriaRússia”. Avelino Maltez refere aimportância da distinção entre“declarações e realidade”, acres-centando que “tudo isto não passade bailados e encenações políti-cas”.

O futuro da Aliança está assegu-rado porque, de acordo com JoséLello, esta “é o único instrumentocom capacidades militares efecti-vas”, que tem capacidade “de ligaros dois espaços do Atlântico”, de-signadamente a “União Europeiacom o pilar europeu e os Estados

Unidos e o Canadá com o pilarnorte-americano”, constituindo“um elemento muito importantepara a dissuasão de todo o tipo deameaças”. Já Loureiro dos Santosacredita que a Aliança desapare-cerá se mantiver a actual forma,podendo evoluir para “um grandefórum, onde se reúnem periodica-mente os ministros dos NegóciosEstrangeiros, os ministros da De-fesa, os chefes de governo e de Es-tado”. A solução passará por umalargamento a Sul, regressando a“uma matriz geográfica”, apoiadanum “núcleo de estados ribeiri-

nhos do Atlântico”, “não só dos Es-tados do Norte, mas de todo oAtlântico”, acrescenta o general.Avelino Maltez defende para alémde uma aliança militar, que parasolucionar as grandes questões desegurança da actualidade, “seriainteressante considerar a hipótesede criação de um espaço de con-vergências civilizacionais que en-globasse a Rússia, a Europa e aAmérica do Norte”, sublinhando opapel fundamental da Rússia nahistória europeia e afirmando quenão faz sentido “pôr o vector mili-tar acima do factor cultural”.

A NATO ainda é vista por países do antigo bloco soviético como a única alternativa à esfera russa

50 ANOS DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE

Novas ameaças colocam NATOem encruzilhada

D.R.

Vasco BatistaLuís Nunes

Pedro Nunes

Page 16: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

CIÊNCIA & TECNOLOGIA16 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

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Se há bem pouco tempo eram o Vicky e o Dartacão que prendiam as crianças ao ecrã da tele-visão, hoje em dia a animação recorre a técnicas muito diferentes

O Coordenador da Licenciaturaem Design e Multimédia da Facul-dade de Ciências e Tecnologia daUniversidade de Coimbra(FCTUC), António Olaio, explicaque as diferenças entre os desenhosanimados mais antigos e os maisrecentes “estão, desde logo, naspróprias potencialidades das novastécnicas”. “Hoje também é fre-quente o uso despudorado do [de-senho] mais tosco e arcaico”, o quepensa que “contraria, com bastantehumor, qualquer hegemonia daexibição técnica, que pode até serridícula”, dando como exemplos osSimpsons e o South Park. Por outrolado, o professor fala dos canais dedesenhos animados Nickelodeon eCartoon Network onde “a quali-dade estética do desenho se sobre-põe a qualquer deslumbramentomeramente técnico”.

Existem várias técnicas de ani-mação, como, por exemplo, 2D e3D, o tradicional desenho, anima-ção de plasticina ou de areia oumesmo o recurso a bonecos articu-lados. O director da Casa da Ani-mação no Porto, Luísda Mata Almeida,pensa que “algu-

mas técnicas de animação são in-ventadas, surgem da mistura de vá-rias técnicas”. “Antes, aquilo que sefazia e tinha mais visibilidade erafeito em desenho animado, ima-gem a imagem”, por isso se cha-mava desenho animado, como, porexemplo, a Branca de Neve e osSete Anões. No entanto, agora“deve começar a falar-se de anima-ção, “porque esta inclui todas astécnicas”, explica.

O professor da FCTUC acreditaque “na televisão o 3D é sobretudousado em produtos de péssimaqualidade ou para tornar mais ba-rata e massificada a produção deanimações já antigas”, dando comoexemplo o Noddy ou mesmo aIdade do Gelo. “Já em animaçõescomo Pokoyo, a qualidade é abso-lutamente fantástica, porque o 3D éutilizado com extremo bom gostoem soluções compositivas e plasti-camente muitíssimo bem desenha-das”, afirma.

Outro filme que também recor-reu a novas tecnologias foi o Pandado Kun Fu, em que os artistas tra-balharam interactivamente comgráficos em tempo real que permi-tiam ver qual iria ser o resultado

final. Manipula-vam modeloscomplexos, re-

viam a sua forma emolde e faziam alte-rações rápidas paramelhorar os efeitos

visuais, tudo seminterromper o

fluxo de trabalhocriativo.

A professoraresponsável pela

Licenciatura emComunicação eDesign Multimé-dia na Escola Su-

perior de Educaçãode Coimbra (ESEC),Maria Carvas Mon-

teiro, diz que o de-senho animadoparece seguir

em duas direc-ções. “Porum lado, aut i l i zação

de sofisticados

softwares de criação gráfica per-mite, cada vez mais, uma comple-xificação dos cenários, personagense ambientes; por outro lado, a sim-plificação e o minimalismo dasimagens sublinham a importânciado desenho”. No entanto, MariaCarvas Monteiro pensa que “mui-tas destas características se encon-tram, desde sempre, no cinema deanimação”, acrescentando que isso“significa que a tecnologia apenasveio permitir, eventualmente, umaeconomia de tempo nos processosde edição e produção”.

As maiores diferenças que Antó-nio Olaio encontra nos desenhosanimados contemporâneos, alémdas especificidades técnicas, “são anível da construção, porque a con-cepção das animações depende so-bretudo da qualidade do desenho,da construção narrativa, dos argu-mentos, da sua realização enquantocinema”. No entanto, o professorda UC afirma que “isto depende dasmúltiplas autorias, e não da merainovação técnica”, já que “por si sóas tecnologias não dão beleza aosdesenhos, mas sim a forma comosão utilizadas”. Maria Carvas Mon-teiro diz que a animação de hoje emdia é quase totalmente produzidaem ambientes digitais, “embora serecorra muitas vezes à utilização demodelos à escala”. “Por exemplo, aspersonagens adquirem movimen-tos e expressões muito próximosdas suas equivalentes reais, porquehá um processo prévio de registodesses movimentos e expressões,que são depois digitalizados.” Masa professora da ESEC concordacom o docente da FCTUC, afir-mando que “as imagens digitaiscriam objectos e mundos impossí-veis, amplificando as possibilidadesdos efeitos especiais, embora issonão signifique necessariamente ori-ginalidade e criatividade”.

Também háanimação em PortugalQuanto à técnica que mais deslum-bra os espectadores, o 3D, o direc-tor da Casa da Animação defendeque esta não é a mais utilizada, masé a que tem mais visibilidade, “por-que maioritariamente as longas-metragens de animação são feitas

com esta técnica”. Já António Olaioacredita que “a técnica 3D écada vez mais usada, em-bora sem tomar comple-tamente o lugar deo u t r a stecnolo-gias”. Oprofes-sor pensaque “aspotencia-lidades derealismo do3D não devemprevalecer”, por-que “os exemplosde excesso de rea-lismo, sem preocu-pações formaismais interessantes,dão resultados me-díocres”. MariaCarvas Monteirodefende o investi-mento na investi-gação para ainvenção denovas tec-nologias ,porque “osdomíniosda hiper-realidadeprometemmundos fan-tásticos e cativantes”. A docenteacha que “a história tem mostradoque o grau de realismo influencia,sem dúvida, a percepção”. “Maisrealismo nas imagens aumenta ailusão de vivenciar outros mundos,fantásticos ou ameaçadores, semqualquer perigo para o sujeito”,acrescenta.

Portugal tem produzidocurtas-metragens e séries deanimação de curta duração queestão presentes nos mercados eque passam nos canais de televisãoou em salas, no caso das curtas-metragens. Luís da Mata Al-meida diz que “pouca gentesabe que Portugal tem umlugar de grande qualidadeno mundo da animação”. “Jádevemos ter ganho cerca de 200prémios internacionais nos maisprestigiados festivais, através decurtas-metragens”, conta.

Com mais ou menos tecnologia,portugueses ou estrangeiros, os de-senhos animados continuam a en-treter os mais jovens, e não só.

Com Hugo Anes

TÉCNICAS DE ANIMAÇÃO

“Os domínios da hiper-realidade prometem mundos fantásticos”

Diana Craveiro

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 17

INFOGRAFIA POR JOÃO MIRANDA

primeira edição da "Ori-gem das Espécies" foipublicada em 24 de No-vembro de 1859 e ime-

diatamente esgotou os 1250exemplares. A partir daqui come-çou a desenrolar-se a polémica àvolta das teorias do biólogo.

A investigadora do Grupo deHistória e Sociologia da Ciência doCentro de Estudos Interdisciplina-res do Século XX da Universidadede Coimbra (CEIS20), Ana LeonorPereira, não hesita em dizer queCharles Darwin foi muito impor-tante, comparando-o a Copérnico,que, em 1543, afirmou que era aTerra que andava à volta do Sol, enão o contrário. Quase 500 anosdepois, a teoria geocentrista de Co-pérnico continua a ser ensinada e adocente da Faculdade de Letras daUniversidade de Coimbra (FLUC)"pensa que com Darwin é umpouco a mesma coisa, porque apartir do momento em que o para-digma evolucionista se instala, ocriacionismo essencialista, que erao paradigma estático da histórianatural que vigorava antes, não fazmuito sentido". Quanto à relaçãoentre a religião e a ciência, AnaLeonor Pereira acha que são "coi-sas completamente diferentes,mas a partir do momento em quedentro da ciência se instala o para-digma da evolução, não faz sentidoinvocar a Bíblia".

Manuela Alvarez é professora debiologia na Faculdade de Ciênciase Tecnologia da UC (FCTUC) e ex-plica que, segundo Charles Dar-win, "a selecção natural é ocontributo diferencial dos indiví-duos para a geração seguinte"."Uma vez que no seio de uma po-pulação os indivíduos se cruzam etêm descendentes, há uns que vãoter mais descendentes que outrose uma maior representação da suacontribuição genética", acrescenta.Ana Leonor Pereira explica que ateoria das espécies se chama Teo-ria da Descendência com Modifi-cações e que "não só é uma teoriabiológica, mas também socioló-

gica, económica, histórica, etc…éuma teoria que se imprimiu emtodos os domínios das ciências hu-manas", afirma.

Quanto ao reconhecimento daimportância desta teoria, ManuelaAlvarez pensa que as pessoas nãotêm essa consciência, porque a "in-terpretam fora do contexto cientí-fico e num contexto cultural". "Apopulação tem noção da evolução,da mudança", explica, "agora omecanismo dessa mudança achoque não é acessível à população emgeral até porque o ensino da biolo-gia e das ciências a nível da escolaé muito fraco". Outro dos proble-mas apontados pela bióloga, estáno facto de as pessoas pensaremque a teoria de Darwin é simples ede fácil compreensão. "Por exem-plo eu acho que o saber comumtem aquela ideia de que a evoluçãoproduz uma hierarquia e que foiproduzindo indivíduos cada vezmais complexos e inteligentes" , noentanto, "a mudança biológicaproduz organismos mais bemadaptados mas não produz orga-nismos melhores do que os ou-tros", explica. Já Ana LeonorPereira, acredita que as pessoas re-conhecem o trabalho de Darwin,"porque há um grande esforço quedesde há muito tempo está a serfeito e, até em termos de institu-cionalização escolar da teoria deCharles Darwin, foi praticamenteimediato, um fenómeno de su-cesso incrível”.

"As descobertas de Charles Dar-win estão mais actuais do quenunca, porque hoje cada vez maisos avanços da biologia e da gené-tica dão razão a Darwin", defendea docente da FLUC."Cada vez maisfaz sentido falar em Darwin, nãohá nada na investigação que façasentido sem o paradigma evolu-cionista. Quando se trabalha umavida, trabalha-se sempre no pres-suposto que ela evoluiu e evolui,que não é fixo", afirma.

Se Darwin tivesse vivido nonosso tempo, Ana Leonor Pereirapensa que ele teria ido mais longe.

"Ele era genial, mas os contextossão diferentes. Talvez a nossaépoca esteja a precisar de um Dar-win, alguém com inteligência, ca-pacidade e dedicação deinvestigação do Darwin", diz.

Quanto à melhor maneira de ho-menagear Darwin, Ana Leonor Pe-reira diz que se deve aproveitar aocasião para estimular o espíritocientífico nas crianças. "São coisasque não se aprendem, mas condu-zir a mente das crianças e dos jo-vens para uma atitude científicaque é observar, coleccionar e expe-rimentar". Já Manuela Alvarezacha que se deve passar a mensa-gem certa. "Retirar o darwinismodo contexto social e cultural ondegeralmente é mal interpretado epassar uma imagem correcta".

Darwinismoem Portugal"Há muitos darwinistas em Portu-gal, ao contrário daquilo que édito", afirma Ana Leonor Pereira."Desde os anos 60 que há darwi-nianos, mesmo dentro da Univer-sidade de Coimbra, a única naaltura", conta."Tivemos em Portu-gal o primeiro tratado de antropo-logia e o de sociologia e essestratados foram feitos por repre-sentantes da geração de 70, que foide facto a grande geração da cul-tura portuguesa que introduziuDarwin em Portugal no plano dacultura, com nomes como TeófiloBraga, Eça de Queirós ou RamalhoOrtigão".

"O darwinismo em Portugal étão digno como nos outros países,não temos que ter esse complexoquase de inferioridade em relaçãoa expressão que o darwinismo as-sumiu em todo o mundo", diz AnaLeonor Pereira. Para ela, CharlesDarwin entrou na cultura portu-guesa como entrou em todo omundo."Estamos a lidar com al-guém que tem uma dimensão uni-versal e como opera uma relaçãoantropológica acaba por se im-plantar de uma maneira ou deoutra em todas as culturas".

Porque faz sentido falar em DarwinA 12 de Fevereiro de 1809 nasceu, em Inglaterra, Charles Darwin, aquele que, 50 anos maistarde, viria a publicar "A Origem das Espécies", um livro sobre a Teoria da Selecção Natural.Por Diana Craveiro

AD.R.

“DESCOBERTAS de Darwin estão mais actuais que nunca”, defende Leonor Pereira

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ARTES FEITAS18 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

uestões estilísticasaparte, Danny Boylesempre se apresentoucomo um camaleão ci-

nematográfico, saltitando de gé-nero em género, sem nuncaestabilizar num padrão. Não temmedo de desafios que outros reali-zadores deixam passar ao lado,compensando a sua ousadia temá-tica com um exaustivo trabalho depesquisa - veja-se “28 Days Later”ou “Sunshine”, exímios pastichesdos géneros que habitam. É porisso com pouco espanto que se vêBoyle realizar “Slumdog Millio-naire”, adaptação de um romanceindiano que retrata a conquista doconcurso “Quem quer ser milioná-rio” por um mero empregado deterceira, vindo de castas inferio-res, pobre e sem qualquer educa-ção. Jamal é o rapaz sonhadorque, embora rodeado da maiordas misérias, aspira a encontrar oamor e a felicidade. Acaba por serobrigado a participar no concursopara poder libertar a sua paixão de

infância duma vida de decadência.É a velhinha história da conquistado sonho americano, numa versãofilmada na Índia, mas que man-tém incólume a matriz de valoresamericanos.

Das favelas ao maior palco domundo, Boyle filma os podres dasociedade indiana, com especialfoco na pobreza e na ostracizaçãodas castas inferiores. Mas deforma habilidosa, evita um tomexcessivamente opressivo, prefe-rindo focar-se na epopeia de espe-rança de Jamal. E aí residesimultaneamente a maior força efraqueza do filme. Por um lado, éuma história cheia de coração,cuja maior qualidade é pôr umsorriso na cara dos seus especta-dores. Por outro, a ingenuidade doolhar de Boyle acaba por ser de-masiado próxima de um imaginá-rio tipo conto de fadas (recorrenteno cinema de Bollywood), paraque o filme seja levado a sério.

Curiosamente, Boyle renegaqualquer relação com o cinema in-

diano que vá para além do seu tompositivo, preterindo o festival po-licromático que caracteriza Bolly-wood em favor de um registoestético muito próximo de “Cidadede Deus” – frenético, electrizante,cheio de cores saturadas e sujas.Apesar de a escolha ser óbvia,dada a proximidade temática dosdois filmes, e estilística entre osseus autores (ambos adeptos doestilo videoclip), não deixa de seruma escolha algo contraditória,dado o quão diametralmenteopostos acabam por ser os tonscom que cada um conta a sua his-tória. Sobra assim um híbrido cu-rioso, algures entre o retrato socialdeprimente de “Cidade de Deus” eo entretenimento efusivo e ro-mântico de Bollywood. E se não seprocurar mais que entreteni-mento, então “Slumdog” justificao título de ‘feel good movie of theyear…’ o que não deixa de ser es-tranho num filme que a espaços,pretende caracterizar a pobreza deum país.

Quem querser bilionário?

CIN

EM

A

O príncipe encantadoque veio das favelas

CRÍTICA DE RUI CRAVEIRINHA

DE

DANNY BOYLE

COM

DEV PATEL

ANIL KAPOOR

SAURABH SHUKLA

2008

DE

BRIAN SINGER

COM

TOM CRUISE

TOM WILKINSON

KENNETH BRANAGH

2008

endo uma temáticaque parece atormen-tar o realizador (bastarecordar “Apt Pupil” -

onde um rapaz descobre que oseu vizinho é um veterano cri-minoso de guerra alemão - oumesmo, de forma mais ligeira, oinicio e um dos subplots de “X-Men”), esta nova incursão deBryan Singer pelo Nazismo (oupor episódios colaterais que oretratem) pauta-se acima detudo pela sobriedade. Não éfácil mostrar um episódio histó-rico como este (que, como sesabe, terminou num falhanço),sobre um grupo de oficiais “trai-dores” germânicos lideradopelo jovem Claus von Stauffen-berg, que procurou eliminar,

com engenhos explosivos, o seulíder Adolf Hitler e, dessaforma, iniciar a escalada quepermitiria terminar quer com oTerceiro Reich quer com aguerra que vigorava. Mas talcomo a dita “Operação Valquí-ria” de Stauffenberg, o argu-mento mostra-se demasiadoesquematizado, numa aborda-gem que, embora cuidada (mi-nimamente também nos factoscomprovados), revela-se dema-siado polida e fria, quase sem-pre distanciando em demasia osespectadores do conjunto de co-rajosos dissidentes (como queuma “descrição da História” enão o “contar de uma estória”)e cujo resultado final, não sendoum fracasso como o plano ori-

ginal da trama, apenas conse-gue causar pouco mais do queum satisfatório impacto. TomCruise contribui com um com-petente trabalho de contenção,apoiado por secundários deluxo, destacando-se Bill Nighy eTom Wilkinson. A realização deSinger, tecnicamente irrepreen-sível (com momentos de bomsuspense, principalmente du-rante o decisivo atentado),apresenta-se presa por todoeste formalismo exagerado quemarca “Valkyrie”, demons-trando estar cada vez maislonge da originalidade e irreve-rência dessa sua obra de cultochamada “The Usual Suspects”.

A Revoluçãoque nãochegou a ser

Valquíria”

DÁRIO RIBEIRO

“ Q

S

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ARTES FEITAS17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 19

teatralidade conti-nua a ser a pedrade toque de Antonyand The Johnsons

que regressaram neste iniciode ano com “The CryingLight”. A capa confirma-opela presença do dançarinojaponês Kazuo Ohno de 102anos, homólogo de Antonypelo universo de ambigui-dade, delicadeza e mistério.Despido de grande parte daexuberância delineada em “IAm A Bird Now” (2005),“The Crying Light” é umdisco de repouso e contem-plação após tumulto. Apesarda atmosfera de intimidadeque a voz de Antony trans-mite, abrem-se clareirassobre o palco das suas can-ções, muito graças aos ar-ranjos de cordas do jovemcompositor clássico NicoMuhly. Esses são os momen-tos de luz do disco, o piano evoz de Antony acariciados

por uma leve malha sinfónica que dá nome ao vazio e con-tém o estilhaço. Tido como o disco mais pessoal e madurode Antony, representa, por outro lado, a aceitação dos seustormentos e insegurança que até aqui tinham povoado assuas letras, para agora derivarem em temáticas universaiscomo a Natureza ou as relações familiares (resultandoporém, no empobrecimento da intensidade emocional dealgumas canções). Este é um disco que necessita mais doque uma audição atenta para se colar à pele, pois a apa-rente similitude entre faixas, progressivamente vai reve-lando pequenos jardins numa vasta floresta, desde abateria em “Kiss my Name” à bucólica guitarra em “Epi-lepsy is Dancing”, na visão cinematográfica dos violinosem “Everglade” ou no tom triste de valsa em “One Dove”.Por fim, fica o estranho trago de que celebrámos todos umestranho segredo.

Antony está a reescrever a sua história, escutámo-lo noano passado sobre as batidas electrónicas de “Hercules &Love Affair”, e ainda no Ep “Another World”. “The CryingLight” vem apenas aumentar os ‘watts’ de um luz (e)terna.

a Transilvânia rural de ou-tros tempos, quando famí-lias de mercadoreshabitavam grandiosos cas-

telos, cinco irmãs descobrem um por-tal para outra dimensão. E durantetodas as luas cheias o portal eraaberto, e as irmãs passavam para o“outro reino”, onde várias criaturasdançavam em bailes mágicos até aoamanhecer. Este é o mundo do livrorecentemente editado em Portugal. Oimaginário de Juliet Marillier vai bus-car muito do folclore romeno para re-chear a trama de criaturas mágicas,nem sempre boas e bem-vindas nolado de cá. Como não podia deixar deser, a autora incluí subtilmente o ima-ginário dos vampiros na história. Ju-liet Mariliet deixa a história à mercê deum amor proibido, um sapo mágico, avida rural na zona da mítica Transil-vânia e a força de uma rapariga que vaiter de lutar entre aquilo em que acre-dita e o que a sociedade da época con-sidera aceitável. É um livro queapetece devorar do princípio ao fim,principalmente em inglês, onde nadase perde na tradução. Há até um glos-sário com a fonética para a correctapronunciação do nome das persona-gens.Juliet Marillier sabe bem como envol-ver a narração, às vezes com muitos

detalhes por resolver à partida, no seumundo próprio e como nos tirar donosso. Wildwoodancing é uma obraque apetece ler do princípio até ao fim,e com poucas interrupções de prefe-rência. Apesar de a autora já ter edi-tado várias trilogias anteriormente, oactual livro foi um dos primeiros a seroriginalmente escrito.A autora australiana já arrecadou oprémio Aurealis Award for Best Fan-tasy Novel em 2006, no ano seguintemanteve-se em quarto lugar na listados dez para jovens adultos, recomen-dados pela maior loja online de livros-Amazon.com. Também em 2007, Ma-rillier arrecada um prémio YALSA's demelhor livros para jovens adultos.A sequela de Wildwooddancig já estáà venda em Portugal, tanto a versãoportuguesa como a original em Inglês.Cibelle’s Secret promete voltar a imer-gir no folclore romeno. De leitura ob-rigatória para os fãs do génerofantástico, são também, a Triologia deSevenwaters, as Crónicas de Bridei,Foxmask e Foxskin. Uma mescla deilusão, fantasia, magia, batalhas épi-cas entre o bem e o mal, e todo o fol-clore nórdico e celta estão espelhadosnos livros Juliet Marillier, por vezescomparada à conceituada escritora dogénero fantástico Marion Zimmer Bla-dley.

execução de três sequestra-dores de um ‘ferryboat’, mo-tiva uma segunda investidado realizador Oliver Stone,

na tentativa de compreender a reali-dade política cubana, na sua série deentrevistas com o comandante-em-chefe Fidel Castro, em “Ao encontro deFidel”. Na sequência do documentáriorealizado em 2003, intitulado “Co-mandante”, Oliver Stone aproveita aconfiança capitalizada junto do velhoguerrilheiro para questioná-lo acercados acontecimentos marcantes desseano (desvio de um avião da “Cubana deAviación”, sequestro de um ‘ferryboat’e a prisão de 75 dissidentes políticos).‘El Comandante’ responde a Stone daforma que o caracteriza. Às acusaçõesdo realizador, baseadas nos registos daimprensa pro-norte-americana, res-ponde Fidel com um conhecimentoprofundo e detalhado dos temas emdiscussão, tomando a ofensiva. Stoneaproveita esta nova oportunidade parair mais longe, investigando as suspei-ções levantadas por Fidel, atingindoconclusões surpreendentes, recor-rendo a entrevistas com dissidentes,prisioneiros políticos, frente-a-frentecom Fidel.

Assumindo uma postura distanciada

da entrevista, recusando o seu papel dejornalista, mas tentando manter al-guma objectividade, Stone transmite asua opinião pessoal sobre os temasatravés de uma selectiva banda sonora,e da imagem referencial de contextua-lização. “Ao encontro de Fidel” e “Co-mandante” são testemunhoscinematográficos coerentes com a pro-dução fílmica de Stone, que obedece aum fascínio por personagens históricase controversas (“Talk Radio”, “TheDoors”, “JFK”, “Nixon”, “Alexandre”,“W.”, e o documentário no prelo sobreHugo Chávez). Num documentário decerca de uma hora, que talvez não sejapossível apreciar em toda a sua exten-são sem o visionamento de “Coman-dante”, e que no final deixa a sensaçãode que fica muito por explorar (30horas de entrevistas condensadas emuma hora de documentário), Fidel saiuma personagem mais misteriosa e in-trigante do que no início do filme.

O visionamento de “Ao encontro deFidel” poderá responder a algumasquestões levantadas no “Ocidente”acerca do processo político que se viveem Cuba, quando se comemora o quin-quagésimo aniversário da RevoluçãoCubana.

OUVIR

DE

JULIET MARRILIER

EDITORA

DOM QUIXOTE

2008

DE

ANTONY AND THE JOHNSONS

EDITORA

SECRETLY CANADIAN

2009

The Crying Light”

A

CARLO PATRÃO

Artigos disponíveis na:

N

Danças na floresta ”

PEDRO NUNES

CARLA SANTOS

Ao Encontro de Fidel”

VER

Que tieneFidel?

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

LER

"Outro Mundo"

A

““Bailes mágicos até aoamanhecer”

FILME

EXTRAS

DE

OLIVER STONE

EDITORA

IMMORTALES

2008

Page 20: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

SOLTAS20 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

m Fevereiro de 1995,A CABRA apelidava oconflito entre as sec-ções desportivas e a

Comissão Directiva do EstádioUniversitário (EU) de “a últimagrande polémica da Academia”.Com a chuva, que impedia a utili-zação dos courts ao ar livre, a sec-ção de ténis ocupou o anexo do

Pavilhão 2 do EU. “Quando trei-navam, foram abordados por umfuncionário a fim de abandona-rem o espaço. Motivo: o ginásioestava cedido ao Centro Regionalde Segurança Social”, contava ojornal universitário. “As costurasrebentaram” quando o presidenteda comissão chamou a políciapara obrigar a secção de ténis aabandonar os pavilhões. As auto-ridades apenas registaram a ocor-rência.

Na troca de acusações entre asduas partes, Eduardo Cabrita,presidente da secção de ténis naaltura, acusava a comissão direc-tiva de “não atender às mais pre-mentes necessidades”, comobalneários, equipamentos e col-matar os prejuízos decorrentes dainactividade dos atletas. No meioda polémica, punha-se em causa“a participação das equipas em

compromissos desportivos já as-sumidos”, como relatava ACABRA.

Relativamente às queixas dassecções desportivas, de que a co-missão dava preferência aos alu-nos de Ciências do Desporto, oJornal Universitário de Coimbratambém ouviu o responsável doPelouro de Desporto da Direcção-Geral da Associação Académica deCoimbra (DG/AAC), Paulo Tejo.

O dirigente associativo não semostrou surpreendido e referiuque uma reunião entre a comissãodirectiva e a DG/AAC fora cance-lada. “É que a comissão alegounão reconhecer à Direcção-Geralcompetências para discutir assun-tos da gestão corrente do estádio”,podia ler-se.

A CABRA entrevistou igual-mente o vice-reitor para a área daGestão e Património, Fernando

Rebelo, que se mos-trava optimista emrelação à “asfixia” queas secções diziamsentir. As secçõesdesportivas tambémdefendiam a via dia-logante, mas, se osproblemas não se re-solvessem, ameaça-vam “tomar umaposição de força”contra “obras pen-dentes, pressuposta-mente por falta deverbas, campo derugby sem vedações,falta de balneários,gabinetes em condi-ções precárias e salasinsuficientes”.

Nesta “guerra surda” que o jor-nal descrevia numa página inteirao presidente da comissão direc-

tiva, Francisco Soveral, remetiatodas as explicações para o reitorda universidade.

Catarina Domingos

A CABRA sai do arquivo...

18ºANIVERSÁRIO

ESTÁDIOSEM REDE”

FEVEREIRO 1995 • EDIÇÃO N.º 17 • MENSAL • 100$00

E

RICARDO PINTO • DIRECTOR DA REVISTA MACA

Maçã

VIDA

ACADÉMICA

Como é que a tua vida acadé-mica influenciou a tua parti-cipação no projecto MACA? Eu estive durante algum tempo nasecção de fado a tocar guitarra deCoimbra, mas não foi na acade-mia que aprendi a tocar. Mas paraum guitarrista penso que é fan-tástico estar a aprender a tocarnas ruas onde a guitarra nasceu eonde as pessoas percebem o queela representa e fazem parte dessavivência. Se eu fosse tocar gui-tarra para outro sítio já ninguémtinha esse entendimento. Isto émuito bom. Quando mudei paraAntropologia fiz parte do primeironúcleo de estudantes e, nessa al-tura, decidimos fazer um boletimsobre as actividades do núcleo.Posso dizer que foi o embrião daMACA. Na altura ainda não tinhanoção do que iria ser, mas havia apulsão de querer fazer algo mais.Acho que faz falta em qualquer ci-dade do mundo haver uma refe-rência deste tipo. As respostas quehá dos outros jornais não chegampara aquilo que se faz em Coim-bra. Não têm essa vertente da crí-tica dos espectáculos e dosconcertos.

João Ribeiro

ALMOÇO SOCIAL

Feijoada

CULTURA EM

COIMBRA

Como é que encaras a situaçãocultural em Coimbra? Temos várias abordagens para as vá-rias questões: o teatro tem uma abor-dagem, a música, outra...Relacionamo-nos com cada uma demaneiras diferentes, pois têm lógicasdiferentes. Mas isso também é umacaracterística particular. Há umagrande cisão entre as áreas artísticas.Nota-se que há músicos que nuncaforam ao teatro e actores que nãosabem bem o que se está a passar namúsica em Coimbra. Às vezes, hápreocupações em não ferir suscepti-bilidades porque este é amigo da-quele. Isso nota-se mais no teatro. Háquase política em sobreposição à arte,esta é a minha visão das coisas. Se ca-lhar é assim que elas devem ser e nãopodiam ser de outra forma. EmCoimbra há muitos grupos de teatro esubgrupos, o que é óptimo tanto parao público como para a produção cul-tural, mas por vezes geram-se polé-micas. Do ponto de vista musical, ascoisas já são diferentes. Há menostrincheiras. As bandas rock de Coim-bra são desinteressadas mas nãocompletamente, conseguem separaras coisas de forma saudável. Primeiroestá o palco, a música e colaboramuns com os outros, e só depois vem oresto. Noutras áreas sente-se queantes da arte e do espectáculo estãooutras coisas. O trabalho das compa-nhias de teatro tem vindo a melhorarsignificativamente. O futuro é ra-diante para a cultura em Coimbra, noque diz respeito ao teatro. As exposi-ções estão um bocado dependentesda programação da câmara.

Caldo Verde

PROJECTO

‘MACA’Como surgiu a MACA (Magazinede Arte de Coimba & Afins)?A Associação Arteaparte foi fundadahá dois anos, em Fevereiro de 2007, eserviu de base jurídica para um es-pectáculo que estávamos a fazer, queera a “Ópera dos Bichos”, inspiradona obra do Miguel Torga e em home-nagem ao centenário [do autor]. De-pois, propus que avançássemos coma revista. Começámos do zero. Nãosou de jornalismo nem tenho forma-ção na área. O primeiro passo foimontar a equipa com pessoas com al-guma experiência e com a mesmapaixão. Fazer uma revista é umsonho, para mim, muito antigo e achoque a ideia de publicar atrai qualquerpessoa. Estabelecemos, no início,atingir os dez anos de publicações ecada dia que passa sinto que estamosmais perto. A maior parte das pessoasachava que só íamos conseguir fazerum número e muitas delas riram nanossa cara. Não levei a mal porque,de facto, era um grande desafio.Achavam que no primeiro número tí-nhamos esgotado todo o assunto deCoimbra, mas nós nunca achámosisso. A revista é trimestral, ou seja,saem quatro por ano. Em dez anos,chegamos aos 40, o que já representaum volume de trabalho considerável.Este é o projecto, o que não quer dizerque seja sempre eu à frente ou que aequipa não mude. Por enquanto,estou inteiramente dentro, apesar defazer outras coisas. O grande objec-tivo era que a MACA, daqui a uns doisou três anos, passasse a mensal, por-que aí sim, íamos sentir o pulso da ci-dade de outra maneira.

PEDRO MONTEIRO

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SOLTAS17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 21

BRASIL As autorida-des de S. Salvador, naBahia, vão aplicar umamedida de segurançainédita no Carnaval. Osfoliões que perturbem aordem pública corremo risco de ser enjaula-dos no próprio local.Cada jaula tem capaci-dade para três a quatropresos. As 19 esquadrasmóveis vão reter os in-fractores apenas algu-mas horas, até seremencaminhados para asesquadras tradicionais.

AUSTRÁLIA Umhomem foi detido pelosserviços de alfândega

no Aeroporto Internacional deMelbourne. O indivíduo, prove-niente do Dubai, traficava ovosde pássaros, sementes de plan-tas e vários exemplares de be-ringelas. Entre o material decontrabando estava ainda umpombo vivo, “aninhado” noscollants, entre as pernas.

REINO UNIDO Tinha 35 anose morreu porque…bebeu dema-siada água. Shaun McNamarafoi encontrado morto em casa.Inicialmente acreditava-se quesofrera um ataque cardíaco masa autopsia veio revelar queMcNamara morreu de hipona-tremia, uma rara intoxicaçãocausada pelo consumo exces-sivo de água. O britânico inge-riu tanta água que o cérebroinchou.

Eunice Oliveira

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O

COM PERSONALIDADE

Eu tenho o privilégio de trabalhar ao pé de pessoas muito interessantes. Se eu saísse de mim e me conhecesse tinha muitas outras pessoas que achariainteressantes, antes de me achar interessante a mim. É uma auto-crítica. Tenho um papel de intermediação, a vários níveis. A partir do momento em que não soueu a criadora, aquilo que eu faço é levar a companhia até aos seus públicos. Um trabalho principalmente na área da comunicação. Eu gosto de estar com pessoas, de gos-tar das pessoas, eu gosto de falar com as pessoas, mas principalmente gosto de ouvir e ao ser uma boa ouvinte, isso coloca-me maisdo lado de ser mais interessada do que interessante. A cultura está sempre a precisar de mais coisas. Há uma permanente insatisfação por partedos criadores, que é saudável. Coimbra tem sinais positivos, mas principalmente tem um potencial tão grande que não está aproveitado. Há muito para fazer emuito para contrariar. Eu já fui estudante universitária em Coimbra e quando entrei na faculdade era a única pessoa que frequentava o Teatro Académico de Gil Vicente. Etenho a memória de no universo das ciências as pessoas não serem curiosas. Preocupa-me imenso neste momento que a situação ainda esteja a piorar mais. Eu já vi espectácu-los que me mudaram a vida, e isso exige que nós estejamos dispostos a correr riscos. Daqui a 10 anos ainda vou estar aqui. Está reservado um fu-turo alegre. Eu não sei se o melhor para as pessoas é só chegar ao final do dia e verem uma coisa que as faz não pensar. Era convenientepensar um bocadinho para depois relativizar. A nossa vida é muito pesada, é muito terrível. Se da nossa árvore olharmos para a floresta vemos que a coisa não é bemassim. No caso do teatro, uma pessoa depois vai adquirindo códigos, sabe o que é que determinada coisa quer dizer, porque é que é feita. O que é fantástico é uma pessoa ver uma coisae a pessoa que está ao lado ver outra, são as diferentes leituras. Coimbra é uma obrigação. Gosto de estar aqui, quero estar aqui e quero continuar aqui. Sabia que desde oprincípio era pouco provável que viesse a utilizar o curso como instrumento profissional. Mas a Matemática é uma linguagem importantíssima que está presente no meu quotidiano. Oteatro transforma as pessoas. São muitos anos, são quinze anos, muitas polémicas, muita luta. É uma satisfação imensa estar neste teatro, que me dá uma motivação extraordinária. Éum sentido de existência. Eu tenho gente que me pergunta “então ainda não conseguiste outra coisa?” e eu estou onde deveria estar e isto é magnífico. Se calhar era maiscinzenta e mais quebrada há um tempo atrás, mas continuo a corar. Acho que é um desperdício passarmos pela vida sem experimentar o máximo de coi-sas possíveis.

SIMULTANEAMENTE INTERESSANTE E INTERESSADA

Entrevista por Sara Oliveira

ISABEL CAMPANTE • 39 ANOS • ASSESORA DE IMPRENSA

SARA OLIVEIRA

ntre as centenas de caloi-ros a entrar para a Facul-dade de Direito da

Universidade de Coimbra no ano dagraça de 1998, bem lá no meio, es-tava um rapaz esguio, demasiadomagro e quase demasiado lourochamado Arménio. O meu amigoArménio. A estabilidade sempre foiuma qualidade que ele prezouacima de tudo. Como tal, e como éum rapaz que sempre defendeucom todas as forças osseus valores pes-soais (nãoconfundircom ossobre-

valorizados valores académicos), 10anos e alguns meses depois tem ahonra de lá continuar. No mesmocurso, e ainda no primeiro ano. Éum dos orgulhosos veteranos damui grande instituição que é aFDUC. Mas é um bom rapaz. Ape-sar de veterano, consegue pronun-ciar palavras com mais de duassílabas com alguma facilidade –isto se lhe for dado o devido tempode reflexão.

Na sexta-feira à noite - equando pensava que a

minha Sexta-Feira 13 atéestava

a correr bem – o Arménio telefonaa convidar-me a mim e à minhacara-metade para um almoço de ca-salinhos de São Valentim, numapizzaria ali algures no Parque Dr.Manuel Braga. Disse-me que tinhauma namorada estrangeira e que-ria ambientá-la à cidade. Como souum tipo com uma simpatia acimada média, aceitei. Fiquei de me en-contrar com eles (na companhia daminha parceira de vida) junto aocais de embarque do basófias. Fal-tavam 15 minutos para o meio-diaquando apareceram. Ele esguio elouro como sempre. Ela… um leão-marinho. E não, não é uma figurade estilo. Não me pagam para essesluxos. Era mesmo um daqueles bi-chos que costumamos ver nas pági-nas da National Geographic. Aindaolhei duas vezes para confirmar.Fechei os olhos e voltei-os a abrir.Porém, a pele flácida, enrugada eacinzentada da criatura continuavalá. É verdade que ele nunca teve umgosto especialmente apurado noque toca ao sexo feminino. Há umrumor recorrente que o colocajunto de uma estudante de Enge-nharia Informática numa intensa

permuta de fluidos, imagine-se.Mas nada me tinha preparado

para esta situação.- Então? Vamos andando para o

restaurante? A Carla veio o cami-nho todo a queixar-se com fome.Não foi fofinha? – disse ele, tro-cando umas surreais carícias com oanimal.

O meu primeiro impulso foichamá-lo à parte e perguntar-lhe sejá tinha reparado que a sua namo-rada era um leão-marinho. Mas fi-quei com medo de o ofender.Inventei algo sobre ter que ir aomultibanco e assim que eles se afas-taram comentei com a minha maisque tudo:

- Não achas a namorada do Ar-ménio um pouco estranha?

- Estranha? Porquê? Então Arsé-nio? Tens que deixar de ser tão pre-conceituoso.

Cocei a cabeça e meditei durantealguns segundos. Mas não havianada a fazer. Lá fomos almoçar. Noentanto, não pude deixar de estra-nhar a forma como ninguém se pa-recia importar com a incapacidadeda namorada do Arménio (Carla?)em pronunciar qualquer palavraperceptível.

Já nos estávamos a despedirquando o Arménio comentou quenaquela noite estava a planear umanoitada de cinema caseiro com aCarla. Iam ver o Mickey Blues Eyes,o Nothing Hill e o Amor Acontece.Nesse momento não conseguiaguentar mais e chamei-o à parte:

- Mas tu estás parvo ou quê, Ar-ménio? Não sabes que os LeõesMarinhos não gostam nada doHugh Grant?

TEM DIAS...

UM AMOR PELO SÃO VALENTIM

Por Licenciado Arsénio Coelho

E

Todas as crónicas em

arseniocoelho.blogs.sapo.pt

CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

Page 22: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

OPINIÃO22 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira

Pergunta Dalal, uma rapariga deGaza, que perdeu toda a famíliaquando caiu uma bomba na sua casa,Dalal que teve a sorte ou o azar deestar na casa da avó naquele mo-mento, foi a única que sobreviveu.“Isto é o vestido da minha irmã, eaquilo é a blusa do meu irmão”, ex-plica Dalal andando entre as ruínasda sua casa. Depois de passar dias delágrimas e choro, Dalal finalmentesorriu quando encontrou um mem-bro vivo da família:

A sua gata.Foram todos embora e ficou a gata.Com o enterro da família de Dalal

e com a morte de mais de 1300 pes-soas (410 crianças) na guerra de ape-nas 22 dias, em Gaza, a palavra “paz”também foi enterrada. Esta palavradesapareceu completamente duranteas campanhas eleitorais de ambos ospartidos israelitas vencedores da di-reita, Likud e Kadima, que são asduas faces da mesma moeda que têmcada vez mais sede de sangue, muitosangue. Os partidos que em vez decolocar a palavra “paz” nas campa-nhas eleitorais, colocaram umaguerra e ganharam as eleições comela. “Precisamos de ser mais fortes emais agressivos”, explica ao TheGuardian (11 Fevereiro 2009) um is-raelita que mesmo sendo de es-querda votou desta vez na direita.

Mais agressivos ainda? As suas fra-ses levam-nos às imagens, que estãoainda muito vivas nos nossos olhos,as imagens que se calhar vão ficarvivas para sempre. A guerra de Israelnão foi apenas contra qualquer servivo que anda pelo gueto chamadoGaza, foi um enorme crime contra ahumanidade, utilizando todos ostipos de armas legais ou ilegais, queresultaram em feridas e queimadu-ras raras que nunca foram vistasantes. Mesmo assim, o povo israelitaestá a pedir ainda mais agressividadee ainda mais sangue, 91% da popula-ção esteve a favor da invasão e daguerra de Gaza.

A maior parte dos media ociden-tais anuíram com as inverdades deIsrael que justifica a invasão de Gaza,dizendo que o Hamas violou a tréguade seis meses com os seus rockets, eentão Israel não teve uma outra hi-pótese se não bombardear Gaza e,“infelizmente” tiveram que matar al-guns civis (a maioria das mortes sãocivis, mais de 900). A verdade é quea trégua foi quebrada por Israel a 4de Novembro de 2008 quando mata-ram 6 membros do Hamas em Gazae mesmo assim o Hamas aceitou a

extensão da trégua com a condiçãode que Israel terminasse o bloqueioa Gaza, mas a resposta foi a invasão.

Em 2005, Israel retirou todos oscolonatos de Gaza, o Likud procla-mou que isso era um sinal de paz eboa vontade, e mais uma vez a co-munidade internacional acreditou.Mas um ano depois, o processo deexpansão dos colonatos na Cisjordâ-nia foi massivo, o número de colonosaí introduzido foi muito mais elevadodo que os que foram retirados deGaza e Israel continuou o controlodas saídas e das entradas de Gaza. A“coincidência” é que Israel invadiuGaza apenas depois desta retirada! Eassim ficou muito mais à vontadepara cometer mais brutalidades emais crimes com fósforo branco ououtras formas ilegais de guerra.

Quando Israel começou a bombar-dear “os malfeitores terroristas Pa-lestinianos”, os media ocidentais atéadoptaram o termo “terroristas”.Seja qual for a minha opinião sobreo Hamas, tenho que dizer que Hamasé um grupo nacional de resistênciatal como os outros grupos palestinia-nos que têm todo o direito a lutarcontra a ocupação. E não podemosesquecer que Israel é um país cons-truído na base do terrorismo. A ori-gem do exército israelita são gruposterroristas que pertenciam ao movi-mento Sionista, e que aplicaram oplano da limpeza étnica da terra daPalestina para construir o estado deIsrael. Grupos como a Haganah mas-sacraram vilas inteiras e expulsarammuitas outras para construir Israelnas suas terras. Mesmo assimquando o povo palestiniano tenta de-fender o restante da sua terra, ou atéter condições mínimas para viversem bloqueio, é denominado terro-rista.

O povo palestiniano pagou muitocom estas eleições, sejam os árabesdentro de Israel, que com estes re-sultados vão continuar a ser cidadãosde segunda classe sem direitos bási-cos, ou os palestinianos em Gaza eCisjordânia que vivem e vão conti-nuar a viver numa “mega-prisão”(utilizando as palavras de IlanPappe), e se tentarem um dia resis-tir, serão “naturalmente” assassina-dos sem julgamento.

Israel e o mundo sorriem com si-lêncio olhando todos os dias parauma Dalal, para a sua gata e para o“holocausto da paz”.

* Docente da Faculdade de Letrasda Universidade de Coimbra

Cartas ao directorpodem ser

enviadas para

[email protected]

“QUE CULPA TIVE EU?”

Shahd Wadi *

Quando o povopalestiniano tentadefender o restanteda sua terra, ouaté ter condiçõesmínimas para viversem bloqueio, édenominado terrorista

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D.R.

Page 23: Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 192

OPINIÃO17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a cabra | 23

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239821554 Fax. 239821554e-mail: [email protected]

EDITORIAL

No seguimento da publicação do“Actua Academia” pela anteriorDirecção-Geral da Associação Aca-démica de Coimbra, a Real Repú-blica do Bota-Abaixo entendeumanifestar-se publicamente emreacção à atitude, profissiona-lismo, dedicação e boa fé com quese elaborou o mesmo, apresen-tando-se, tanto em forma comoem conteúdo (no nosso entender),vago, mal construído, enganador,ignorante às verdadeiras dinâmi-cas daquilo que são as vivênciasem República, numa palavra, me-díocre.

Tanto no processo de desinfor-mação sistemática com que osdados foram adquiridos como naforma enganosa e kafkiana como,quer o acordo, quer a publicaçãodo “texto”, foram processados, osresponsáveis do “Actua Academia”mostraram nada menos do quetotal incompetência, falta de tactoou experiência ao nível mais baixodas relações institucionais. Desdeentrevistas telefónicas duvidosas aafirmações inventadas ou recolhi-das de fontes paranormais, a tudoparecem ter recorrido, excepto aocontacto directo, pessoal e profis-sional.

Assim, e em rescaldo do recentepedido de desculpas levado a cabopela actual DG/AAC, o Bota-Abaixo, num gesto magnânimo deum altruísmo sem precedentes,aprovisiona aos menos informa-dos uma visão mais profícua da-quilo que entendemos ser arealidade dentro dos nossos Reaispaços:

A Real República do Bota-Abaixo foi fundada aquando dadestruição da velha Alta na décadade 40. O Bota-Abaixo esteve insta-lado na zona a destruir, na rua doBorralho, sendo depois transferidapara a sua actual morada, na ruade S. Salvador.

Durante o movimento acadé-mico de 69/70, no decurso da“Crise”, o Bota-Abaixo esteve,como a maioria das repúblicas, en-volvida no processo de contesta-ção ao regime, tendo um dosrepúblicos, Horácio Duarte deCampos, sido preso por ser um dossignatários do decretus de Luto

Académico e Abolição da Praxe,em 1969.

Em 1988, foi criada a AssociaçãoReal República do Bota-Abaixo,constituída por antigos e actuaisrepúblicos. Graças ao esforço devárias gerações esta conseguiu, em2002, comprar finalmente o edifí-cio onde se situa a República.

Actualmente, a República doBota-Abaixo, com todo o espíritoque a rodeia, continua bem viva, eé habitada por uma geração de re-públicos que tenta manter este es-pírito. Todos os cargoshierárquicos praxísticos foramabolidos, e o único “cargo” que semantém é o de Xerife, exercidopor todos os actuais repúblicos emrotatividade mensal.

A Casa, enquanto República,mantém um papel activo na vidasocial coimbrã. Exemplo disso sãoa cooperação – frisa-se, coopera-ção, já que foi uma deliberação doConselho de Repúblicas – nosRespúblicas, a realização de ciclosde cinema e workshops, bem comooutros eventos de cariz culturalabertos a toda a comunidade.

Em relação à praxe, a Repúblicaoptou por não ter uma posiçãobarricada no extremismoanti/pró-praxe. Assim,“…conside-ramos excessiva e evitável a aco-plagem acrítica que se faz entre avida universitária e os fenómenospraxísticos” (Manual do Caloiro de2001).

Terminamos dizendo que a RealRepública do Bota-Abaixo tem assuas portas abertas a todos os es-tudantes e assumimo-nos comouma alternativa de socialização,onde não há espaço para hierar-quias e humilhações, onde se con-vive de forma comunitária, separtilham experiências e saberesentre repúblicos e comensais, quevêm de vários sítios do país e domundo e que estudam nos maisvariados cursos do ensino supe-rior. Achamos positiva qualqueraproximação por parte da AAC àsRepúblicas, desde que de ummodo construtivo, dinâmico, in-formativo e responsável.

* Repúblicos da Real Repúblicado Bota-Abaixo

INFORMAR NÃO CHEGA,É PRECISO AGIR

ACTUA, BOTA ABAIXO!

Daniel Maciel e Ricardo Vieira *

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fo-tografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira(País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fer-nandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João Picanço, JoãoRibeiro, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Soares Fotografia André Ferreira, Caroline Mitchell, DanielTiago, João Ribeiro, Pedro Coelho, Pedro Monteiro, Tiago Carvalho Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboradoram nestaedição Ana Catarina Augusto, Ana Rita Ribeiro, Andreia Fachada, Filipe Sousa, Ines Almas Rodrigues, Luís Nunes, Maria do Carmo Freitas,Nuno Agostinho, Silvia Teixeira, Vasco Batista, Viviana Figueiredo, Virginie Bastos Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, CarlaSantos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Ro-drigues, José Afonso Biscaia, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes -239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail:[email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade AssociaçãoAcadémica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra

O recente estudo sobre o custo de vida e da educação do estu-dantes da Universidade de Coimbra, encomendado pela Di-recção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), veiodemonstrar que os alunos e as suas famílias têm que suportar

em média um custo de 600 euros mensais.Valores que ficam muito aquém do rendimento da maioria das fa-

mílias portuguesas e que aliados à, cada vez mais, parca Acção SocialEscolar apresentam-se como um grande entrave no acesso e na per-manência dos estudantes no ensino superior.

Os sucessivos cortes orçamentais e o desinvestimento no ensino su-perior não auguram uma melhor perspectiva para a situação dos estu-dantes.

As duas recentes campanhas da DG/AAC vieram demonstrar issomesmo. O outdoor colocado junto às escadas Monumentais e os setemil flyers com uma nota de 500 euros são ilustrativos da falta de apoiossociais aos estudantes do ensino superior. A iniciativa que começouontem serve também para comprovar que as escolhas governamentaisna atribuição das verbas públicas em muito prejudicam o ensino su-perior, entendido, de resto, como pilar do desenvolvimento do país.

Contudo, é necessário que a direcção-geral não se fique por aqui, ea denúncia sobre a real política do Governo continue e seja aprofun-dada.

As campanhas de informação são importantes, porém, não resolvemnada por si só. E o outdoor e os flyers nunca resultarão desligados deuma política de acção, acção de facto mobilizada e mobilizadora, nãoapenas resumida a meras acções simbólicas de sensibilização da so-ciedade civil. Afinal de contas, o ensino superior é feito essencial-mente… de estudantes.

Conforme o seu estatuto editorial e o seu livro de estilo, o Jor-nal Universitário de Coimbra – A CABRA orienta o seu traba-lho de uma forma completamente descomprometida comqualquer grupo, organização ou pessoa individual. Assim, A

CABRA assume-se como um jornal que tem como objectivo servir osinteresses do seu público-alvo de ser informado.

Todo o trabalho de produção d’A CABRA segue uma lógica de ho-nestidade e cumprimento do que é o entendimento geral de ética ou dedeontologia.

A CABRA é um jornal livre e independente. Nunca o facto de ser ela-borado por estudantes ou o facto de ser pertença da Associação Aca-démica de Coimbra deve ser considerado como factor para que o jornalseja encarado como um folhetim ou um almanaque de promoção oude exaltação de qualquer pessoa ou entidade, nunca esquecendo, con-tudo, o objectivo primordial de informar e esclarecer o seu público-alvo.

Assim, não é com intimações mais ou menos latentes que se vai pro-ceder a alguma alteração da linha editorial do jornal. Este editorial,como todos os outros, parte da construção colectiva de toda a direcçãode redacção.

João Miranda

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As campanhas de informação sãoimportantes, porém, não resolvemnada por si só“

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acabra.netRedacção:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 82 15 54

Fax: 239 82 15 54e-mail: [email protected]

Concepção e Produção:Secção de Jornalismo da Associ-ação Académica de Coimbra

Mais informação disponível em

A Plataforma do Choupal foi criadaainda não há um mês e já fez circularuma petição, subscrita por sete milassinantes, e promoveu um cordãohumano que juntou na Mata Nacio-nal quase 1500 pessoas. A mobiliza-ção contra o projecto de construçãode um novo viaduto sobre o espaçoverde, a que o Ministério do Am-biente já deu aval, revela que os co-nimbricenses, às vezes, também sãoinconformistas.

C.D.

EcoCasa - ÁguaDefesa doChoupal Andebol AAC

Depois dos resultados conse-guidos do projecto EcoCasa nosector energético, a iniciativa,com vista à racionalização daágua, vai observar 15 famílias co-nimbricenses e os seus consumos.Depois seguem-se as recomenda-ções para o uso eficiente da água.A observação contínua destesagregados vai ser um ponto departida para a protecção deste va-lioso bem.

C.D.

A fase regular do Campeonato Na-cional de 2ª Divisão Zona Centro che-gou ao fim. A Académica falha porpouco a fase final que daria a possibi-lidade de lutar por um lugar no pri-meiro escalão. Ainda assim, osnúmeros não enganam. A melhoriapontual da época transacta paraagora deixa antever uma fase com-plementar tranquila e uma próximaépoca de outros voos, para chegar à1ª Divisão.

C.D.

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O olhar dos corpos grotescos ir-rompem do quadro para a esfera dovisitante vigiam cada passo, cadamovimento. O observador é obser-vado à medida que a peça de artenos pinta de um frio azul alba. Es-palhados na tela, corpos contorci-dos desgastados que se enfrentampor uma longa luta sem fim. Osquadros expostos na Galeria PinhoDinis são a prova de que as formassimbióticas também se atrapalham.Toda a exposição de Malangatana éocular, como se de uma retina ar-tistica se tratasse.

Ignorar o reflexo do dramatismona sua obra é ser alheio ao sofri-mento humano, é dissolver o pas-sado de um povo africano. Estaviolência, presente na obra do mo-çambicano, é fruto da promiscui-dade de uma guerra entre homensdo mesmo país. O ano de 1992

marca o fim da guerra civil moçam-bicana e o início da reconstrução dopaís. Ainda assim, o artista nãovolta as costas ao passado. Estamesma herança motiva-o, como umverdadeiro cidadão da paz, para ascausas humanitárias, sociais e cul-turais. Nascido em Matalana, Mo-çambique, a 6 de Junho de 1936,Malangatana Valente Ngwenya éum artista multifacetado, reconhe-cido em todo o mundo como umembaixador da cultura africana. De-pois da sua primeira exposição, em1961, estudou em escolas de arte erecebeu, inclusivé, uma bolsa daGulbenkian.

Esta exposição conta com pintu-ras, desenhos e poesia, 40 obras nototal, e está patente até dia 21 de Fe-vereiro na Casa Municipal da Cul-tura de Coimbra.

Por Rui Miguel Perreira

Notassobrearte...

Sem Título • Malangatana

1999