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JÉSSICA PIRES DE CAMARGO Surto de caxumba em uma instituição de ensino superior do Estado de São Paulo, 2015-2017 Dissertação apresentado ao curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Saúde Coletiva. SÃO PAULO 2018

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JÉSSICA PIRES DE CAMARGO

Surto de caxumba em uma instituição de ensino superior do Estado de São Paulo, 2015-2017

Dissertação apresentado ao curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Saúde Coletiva.

SÃO PAULO

2018

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JÉSSICA PIRES DE CAMARGO

Surto de caxumba em uma instituição de ensino superior do Estado de São Paulo, 2015-2017

Dissertação apresentado ao curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do título de Mestra em Saúde Coletiva. Área de concentração: Programas e serviços no âmbito da política de saúde Orientadora: Profª. Dra. Rita de Cássia Barradas Barata

SÃO PAULO

2018

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FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca Central da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

Camargo, Jéssica Pires de Surto de caxumba em uma instituição de ensino superior do Estado de São Paulo, 2015-2017./ Jéssica Pires de Camargo. São Paulo, 2018.

Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

Área de Concentração: Programas e Serviços no Âmbito da Política de Saúde

Orientadora: Rita de Cássia Barradas Barata 1. Epidemias 2. Epidemiologia 3. Vacina contra sarampo-

caxumba-rubéola 4. Parotidite 5. Caxumba 6. Vírus da Caxumba

BC-FCMSCSP/08-18

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AGRADECIMENTOS

À Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, à Coordenadoria de Controle de

Doenças e ao Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”, em

especial aos colaboradores da Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória, do

Núcleo de Informação em Vigilância Epidemiológica, da Divisão de Tuberculose, da

Divisão de Imunização, da Divisão de Zoonoses, da Central/Centro de Informações

Estratégicas em Vigilância em Saúde e da Divisão de Desenvolvimento de Métodos

de Pesquisa e Capacitação em Epidemiologia.

À coordenadora, Adalgiza Guarnier, e minhas colegas do Programa de Treinamento

em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde do Estado de

São Paulo (EPISUS-SP), Fernanda Kian, Roberta Marcatti e, principalmente, Tatiana

Lang por toda ajuda para realização deste trabalho.

Aos professores e colegas do curso de Mestrado Profissional em Saúde Coletiva da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo 2016-2018, bem como

os colaboradores da Secretaria de Pós-graduação.

À minha orientadora, Rita, por todos os ensinamentos e contribuições para que esse

trabalho pudesse ser realizado.

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CAMARGO, JP. Surto de caxumba em uma instituição de ensino superior do

Estado de São Paulo, 2015-2017. [Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Ciências

Médicas da Santa Casa de São Paulo, 2018.

RESUMO

Introdução: desde o início dos anos 2000, diversos países ao redor do mundo evidenciaram o ressurgimento da caxumba. Atualmente, a incidência anual de caxumba na maioria dos países varia de 100-1.000 casos/100.000 habitantes. A região metropolitana de Campinas foi responsável por 30,9% das notificações de surtos do Estado de São Paulo, sendo que o surto na instituição de ensino selecionada para o estudo representou 18,6% dos casos reportados dessa região. Objetivos: descrever um surto de caxumba em uma instituição de ensino do Estado de São Paulo, comparando suas características epidemiológicas a outros surtos registrados na literatura científica nacional e internacional; e discutir possíveis explicações para o comportamento epidemiológico evidenciado. Métodos: estudo descritivo com abordagem quantitativa. O local de estudo foi uma instituição de ensino superior localizada na região metropolitana de Campinas. O período de estudo foi definido entre a data de notificação do surto e a data de início dos sintomas do último caso, ocorridas em 27 de agosto de 2015 e 06 de janeiro de 2017, respectivamente. Resultados: o surto de caxumba em uma instituição de ensino superior afetou em sua maioria indivíduos do sexo masculino e com idade entre 16 e 24 anos. O edema e dor em região da glândula parótida foram os sinais e sintomas mais referidos, sendo que 8,3% dos casos do sexo masculino apresentaram como complicação a orquite. Para o diagnóstico, 64% dos casos foram confirmados por meio da realização de algum dos exames específicos para o agravo. Com relação à exposição, 39,8% afirmaram ter tido contato prévio com caso suspeito ou confirmado para a doença. E, entre os indivíduos com informação de sua situação vacinal, 23,9% possuíam pelo menos duas doses da vacina tríplice viral. Conclusões: foram identificadas algumas fragilidades apresentadas pela vigilância epidemiológica, como a realização da profilaxia pós-exposição durante um dia após o surgimento de casos em determinados campi. A disseminação do vírus ocorre devido ao acesso dos estudantes, dos colaboradores e da população como um todo a diferentes locais da instituição, sendo necessária uma ação mais ampla e de maior continuidade para garantir o controle do surto. Com isso, é necessária a realização de mais estudos referentes ao agravo no país, um melhor investimento em torno da situação vacinal de adultos jovens e a disponibilidade de vacinas com outros genótipos do vírus ou que possuam melhor imunogenecidade são alguns dos fatores que podem contribuir para o controle breve e eficaz dos surtos de caxumba.

Descritores: epidemias, epidemiologia, vacina contra sarampo-caxumba-rubéola, parotidite, caxumba, vírus da caxumba.

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CAMARGO, JP. Outbreak of mumps in a university in the State of São Paulo,

2015-2017. [Dissertation]. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa

Casa de São Paulo, 2018.

ABSTRACT

Introduction: since the beginning of the 2000s, several countries around the world have evidenced the resurgence of mumps. Currently, the annual incidence of mumps in most countries ranges from 100-1,000 cases/100,000 inhabitants. The metropolitan region of Campinas was responsible for 30.9% of the reports of outbreaks in the State of São Paulo, and the outbreak at the university selected for the study represented 18.6% of the reported cases in this region. Objectives: to describe an outbreak of mumps in a university in the State of São Paulo, comparing its epidemiological characteristics with other outbreaks recorded in the national and international scientific literature; and to discuss possible explanations for the epidemiological behavior evidenced. Methods: descriptive study with quantitative approach. The study site was an university located in the metropolitan region of Campinas. The study period was defined between the date of notification of the outbreak and the date of onset of the symptoms of the last case, occurring on August 27, 2015 and January 6, 2017, respectively. Results: mumps outbreak in a university affected mostly male individuals aged between 16 and 24 years. Edema and pain in the region of the parotid gland were the most commonly reported signs and symptoms, and 8.3% of the male cases presented as orchitis complications. For the diagnosis, 64% of the cases were confirmed by means of the accomplishment of some of the specific exams for the aggravation. Regarding the exposure, 39.8% reported having had prior contact with a suspected or confirmed case of the disease. And, among the individuals with information on their vaccine situation, 23.9% had at least two doses of the triple viral vaccine. Conclusions: some fragilities presented by epidemiological surveillance were identified, such as post-exposure prophylaxis during a day after the emergence of cases on certain campuses. The spread of the virus occurs due to the access of students, employees and the population as a whole to different sites of the institution, requiring a broader action and greater continuity to ensure control of the outbreak. Therefore, more studies on the country's disease need to be carried out, a better investment in the vaccination situation of young adults and the availability of vaccines with other virus genotypes or with better immunogenicity are some of the factors that may contribute to the brief and effective control of mumps outbreaks.

Descriptors: epidemics, epidemiology, parotitis, Measles-Mumps-Rubella vaccine, mumps, mumps virus.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

1.1 Caracterização da doença 11

1.2 Características epidemiológicas 13

1.2.1 Vigilância epidemiológica 14

1.3 Aspectos relativos à vacina 18

1.4 Hipóteses 22

1.5 Justificativa 24

2 OBJETIVOS 25

2.1 Objetivos gerais 25

2.2 Objetivos específicos 25

3 MÉTODOS 26

3.1 Tipo de estudo 26

3.2 Local de estudo 26

3.3 Período de estudo 28

3.4 População de estudo 28

3.5 Coleta de dados 28

3.6 Análise dos dados 30

3.7 Aspectos éticos e legais 30

4 RESULTADOS 31

5 DISCUSSÃO 42

5.1 Descrição dos casos 42

5.2 Investigação do surto 46

5.3 Limitações 48

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 50

7 REFERÊNCIAS 52

ANEXOS 58

Anexo 1 – Parecer consubstanciado do CEP 59

Anexo 2 – Ficha de investigação epidemiológica de surtos 64

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Anexo 3 – Planilha para acompanhamento de surto 65

Anexo 4 – Ficha de monitoramento de agravos para identificação de surtos 66

Anexo 5 – Formulário de investigação dos casos de caxumba 67

Anexo 6 – Parecer da comissão científica 69

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LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS

Figura 1 – Região metropolitana de Campinas 26

Tabela 1 – Cobertura vacinal das vacinas contra caxumba segundo o tipo de

imunobiológico, dose, região e ano, 2013-2016 27

Gráfico 1A – Curva epidêmica dos casos de caxumba segundo o mês e ano de

início dos sintomas, UNICAMP, 2015-2017 31

Gráfico 1B – Curva epidêmica dos casos de caxumba segundo a semana

epidemiológica e ano de início dos sintomas, UNICAMP, 2015-2017 32

Tabela 2 – Distribuição dos casos de segundo sexo e a faixa etária, UNICAMP,

2015-2017 32

Figura 2 – Distribuição dos casos de caxumba segundo o endereço de

residência, UNICAMP, 2015-2017 33

Gráfico 2 – Curva epidêmica dos estudantes doentes por caxumba segundo o

curso, UNICAMP, 2015-2016 34

Tabela 3 – Casos de caxumba segundo o campus e ano do curso matriculado,

UNICAMP, 2015-2017 35

Gráfico 3 – Distribuição dos casos de caxumba segundo os sinais e sintomas,

UNICAMP, 2015-2017 36

Tabela 4 – Casos de caxumba que realizaram sorologia-IgM segundo o resultado

os dias de intervalo entre a data de início dos sintomas e a data de coleta,

UNICAMP, 2015-2017 37

Tabela 5 – Casos de caxumba segundo o número de doses da vacina tríplice viral

e o ano de nascimento, UNICAMP, 2015-2017 38

Tabela 6 – Casos de caxumba segundo a faixa etária e o número de doses da

vacina tríplice viral, UNICAMP, 2015-2017 39

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Tabela 7 – Casos de caxumba segundo o critério de confirmação e número de

doses da vacina tríplice viral, UNICAMP, 2015-2017 39

Gráfico 4A – Locais e campus de realização da profilaxia pós-exposição segundo

a semana epidemiológica de ocorrência, UNICAMP, 2015 40

Gráfico 4B – Locais e campus de realização da profilaxia pós-exposição segundo

a semana epidemiológica de ocorrência, UNICAMP, 2016 40

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LISTA DE SIGLAS

CCD – Coordenadoria de Controle de Doenças

CDC – Centers for Disease Control and Prevention

CVE – Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac”

DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

DDTR – Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória

EPI – Equipamentos de Proteção Individual

EUA – Estados Unidos da América

FCMSCSP – Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

FIE – Ficha de Investigação Epidemiológica

IAL – Instituto Adolfo Lutz

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MS – Ministério da Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde

PCR-RT – Reação da transcriptase reversa seguida de reação em cadeia de

polimerase

PNI – Programa Nacional de Imunização

R0 – Número reprodutivo básico

RMC – Região Metropolitana de Campinas

RN – Recém-Nascidos

Rt – Número reprodutivo efetivo

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SCR – Vacina contra Sarampo, Caxumba e Rubéola

SCRV – Vacina contra Sarampo, Caxumba, Rubéola e Varicela

SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

SES/SP – Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SMS/SP – Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo

VE – Vigilância Epidemiológica

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Caracterização da doença

A caxumba é uma doença viral aguda em que ocorre, geralmente, a parotidite

(inflamação da glândula parótida), além disso, também é descrito a ocorrência de

inflamação de outras glândulas salivares. O vírus responsável pelo

desencadeamento da doença pertence a família Paramyxoviradae, do gênero

Paramyxovirus, sendo o único reservatório o homem(1,2).

O risco de sintomas graves e complicações aumenta em adultos.

Complicações e sequelas incluem meningite (1-10%), encefalite (0-1%), ooforite (5%

dos casos femininos), orquite (15-30% dos casos masculinos), pancreatite (4%) e

surdez (0,005%)(3). Apesar de não possuir nenhuma evidência científica com relação

à associação da doença com as pessoas afetadas, a caxumba demonstra-se

prevalente no sexo masculino, como relatado em diversos surtos(4,5,6,7,8,9,10).

A presença de sintomas inespecíficos pode preceder a parotidite por vários

dias, incluindo febre de baixo grau que pode permanecer durante três a quatro dias,

mialgia, anorexia, mal estar e dor de cabeça. A parotidite pode durar dois dias, mas

pode persistir por mais de 10 dias. A infecção pelo vírus da caxumba também pode

apresentar-se com sintomas respiratórios ou pode ser assintomática(11).

A replicação do vírus ocorre no trato respiratório superior (nasofaringe) e

linfonodos regionais. Após 12 a 25 dias ocorre uma viremia que dura de três a cinco

dias. Durante a viremia o vírus se espalha para vários tecidos, incluindo meninges e

glândulas, como salivares, pâncreas, testículos e ovários. A inflamação nos tecidos

infectados leva a sintomas característicos da parotidite e meningite asséptica(12). Sua

transmissão ocorre pela via aérea, por meio da disseminação de gotículas ou pelo

contato direto com secreções salivares de pessoas infectadas através de fômites. A

imunidade é de caráter permanente, sendo adquirida após infecções inaparentes,

aparentes, ou após imunização ativa(2).

O número de infecções secundárias que um caso índice causa durante seu

período infeccioso em uma população totalmente suscetível é representado pelo

número reprodutivo básico (R0)(13). Esse valor é específico a um microrganismo e a

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12

uma população, variando entre valores extremos, dependendo do agente e das

características da população. Um microrganismo altamente infeccioso tem um R0

mais alto devido à sua maior probabilidade de transmissão e taxas de ataque mais

altas. Os valores de R0 podem ser mais elevados nos países em desenvolvimento

do que nos países desenvolvidos devido às características sociais e à estrutura da

população(14).

A medida mais eficaz para prevenção e controle da doença é a vacinação.

Atualmente são disponibilizadas duas vacinas combinadas, a tríplice viral ou SCR,

composta por componentes do vírus do sarampo, da caxumba e da rubéola; e a

tetraviral ou SCRV, que além dos três componentes citados também associa o do

vírus da varicela.

No caso da caxumba, durante a era pré-vacina, o R0 variava entre 04 e 07.

Atualmente, esse número varia entre 07 e 14 e o intervalo serial, isto é, o número de

dias entre duas infecções consecutivas em uma cadeia de transmissão, é de 08 a 32

dias. Com relação ao sarampo, o R0 varia entre 11 e 18; à rubéola, 06 e 14; e à

varicela, 07 e 11. Os surtos podem ser evitados pelo desencadeamento de ações de

vacinação com o objetivo de reduzir o valor de R0 para <1(13,14).

Quando uma proporção da população exposta é imune a uma determinada

doença, utiliza-se o número reprodutivo efetivo (Rt). Esse número depende do nível

de suscetibilidade na população a partir do R0 e pode ser utilizado para monitorar o

impacto de programas de vacinação. Por exemplo, se R0 para um determinado

agravo for 12 em uma população onde metade está imunizada (50%), o Rt será igual

a 12 x 0,5 = 6. Portanto, nessas circunstâncias, o caso índice produziria uma média

de seis casos secundários. Se os valores históricos de R0 estiverem disponíveis e se

Rt puder ser aproximada, a imunidade na população exposta pode ser

estimada(13,15).

Um programa de vacinação irá estabelecer a imunidade rebanho alcançando

uma prevalência de indivíduos protegidos por vacinação maior que o limiar de

imunidade. Com base na informação de R0, o limiar de imunidade para a caxumba

seria de 86-93%; para o sarampo, 91-94%; para a rubéola, 83-94%; e para varicela,

86-91%(14).

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13

1.2 Características epidemiológicas

Na era pré-vacina, a caxumba ganhou notoriedade como uma doença que

afetou os exércitos durante a mobilização. A taxa média anual de hospitalização

durante a Primeira Guerra Mundial foi de 55,8 casos por 1.000, o que foi superado

apenas pelas taxas de influenza e gonorreia. A caxumba foi responsável por causar

surdez transitória em 4,1% dos homens adultos infectados em uma população

militar(1).

A orquite, uma das complicações que atingia os homens durante o puerpério

infectados pela caxumba, durante a era pré-vacina eram reportados entre 12% e

66% casos, sendo que entre eles em torno de 60-83% somente um dos testículos

era afetado. Já com relação à pancreatite, 3,5% das pessoas doentes pela caxumba

desenvolviam esse tipo de complicação(12). Além disso, antes da introdução da

vacina viva atenuada em 1967, a caxumba representava aproximadamente 10% dos

casos de meningite asséptica nos Estados Unidos da América (EUA) com homens

afetados três vezes mais vezes que as mulheres(1,12).

Antes da disponibilidade de uma vacina contra a caxumba, o comportamento

da doença era endêmico afetando predominantemente crianças pré-escolares ou

escolares, de ambos os sexos, com aumento sazonal dos casos na transição entre

inverno e primavera. Após a introdução da vacina na rotina de imunização dos

recém-nascidos, a incidência reduziu-se de maneira significativa e a ocorrência da

doença deixou de ser endêmica manifestando-se principalmente sob a forma de

surtos em jovens adolescentes ou casos esporádicos.

Na era pós-vacina, entre todas as pessoas infectadas com caxumba, a

ocorrência de complicações como meningite, encefalite, pancreatite e surdez são

inferiores a 1%; e mesmo durante a era pré-vacina, o surgimento de sequelas

permanentes, como paralisia, convulsões, paralisias do nervo craniano e hidrocefalia

eram raros, bem como a ocorrência de mortes pelo agravo(12).

Atualmente, a incidência anual de caxumba na maioria dos países varia de

100-1000 casos por 100.000 habitantes, com exceção daqueles com alta cobertura

vacinal, onde epidemias recorrentes podem ocorrer a cada 2-5 anos(16). O aumento

sazonal da doença ocorre entre as estações do inverno e da primavera,

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14

constantemente apresentando-se sob a forma de surtos, ou seja, a ocorrência de

dois ou mais casos epidemiologicamente relacionados(2).

Desde o início dos anos 2000, diversos países ao redor do mundo

evidenciaram o ressurgimento da caxumba, dentre eles os EUA. Em 2001, a doença

foi quase eliminada nesse país, com incidência menor que um caso por um milhão

de habitantes(17). Apesar disso, no ano de 2006, os EUA registraram 6.584 casos,

sendo a maior incidência registrada em pessoas com idade entre 18 e 24 anos, e a

maioria estudantes do ensino superior dos quais, aproximadamente, 63% possuíam

comprovação de duas doses da vacina tríplice viral contra sarampo, caxumba e

rubéola(1). Os vírus isolados possuíam genótipos diferentes das cepas utilizadas na

produção das vacinas(17).

Em 2009, Canadá e Israel também foram países que reportaram um aumento

no número de surtos de caxumba. Esses surtos apresentaram várias características,

dentre elas a distribuição etária dos casos principalmente em adolescentes; a

predominância de casos do sexo masculino; e a ocorrência da doença entre

pessoas vacinadas(4,18).

1.2.1 Vigilância epidemiológica

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a vigilância de

caxumba deve evoluir de acordo com o nível de controle da doença e deveria ser

ajustada aos objetivos específicos dos países. Em países que alcançaram altas

coberturas vacinas de rotina e nos quais a incidência é baixa, havendo a ocorrência

periódica de surtos, a vigilância deveria ser usada para identificar os grupos de alto

risco e prever potenciais surtos. Países cujo objetivo seja a completa interrupção da

transmissão necessitariam de intensificação da vigilância baseada na identificação

de todos os casos e confirmação de cada um dos casos suspeitos(19).

Portanto, cada país decide se quer investigar apenas os surtos ou se quer

eliminar a transmissão da doença. Consequentemente, em países com baixa

cobertura vacinal e ocorrência endêmica essas recomendações não se aplicam,

sendo mais importantes as ações de intensificação da cobertura vacinal. Nestes

casos a OMS indica que pode haver simples monitoramento da ocorrência

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15

(relatórios do conjunto de casos anuais) e investigação de surtos, não sendo

necessário investigar caso a caso(19).

No Brasil, cada município ou estado tem autonomia para instituir uma portaria

tornando a caxumba um agravo de notificação compulsória. A Portaria Ministerial nº

204, de 17 de fevereiro de 2016 refere que a ocorrência de surtos ou epidemias

corresponde a um evento em saúde pública, sendo necessário notifica-los à

autoridade de saúde competente(20). O Ministério da Saúde (MS) solicita que os

estados enviem os relatórios dos surtos para o nível federal ou que sejam enviados

os bancos de dados com casos e surtos dos estados onde a doença for de

notificação compulsória(2).

Segundo o atual “Guia de Vigilância em Saúde” do MS (2017), os objetivos da

vigilância epidemiológica da caxumba no Brasil são investigar surtos para a adoção

de medidas de controle e reduzir as taxas de incidência pela vacinação de rotina

com as vacinas tríplice viral e tetraviral. Para isso, o desenvolvimento de uma

investigação de um surto de qualquer doença infecciosa precisa do cumprimento

das seguintes etapas(21):

a) Estabelecimento de uma definição de caso, por meio da padronização de um

conjunto de critérios com o objetivo de estabelecer se um determinado paciente

deve ser classificado como caso, com referência ao agravo de interesse à

investigação. No caso da caxumba, para identificação dos casos são utilizadas

as seguintes definições(2):

Caso suspeito: paciente com febre e aumento de glândulas salivares,

principalmente parótidas ou orquiepididimite ou ooforite inexplicável.

Caso confirmado: eminentemente pela clínica, uma vez que não são

utilizados exames sorológicos de rotina na rede pública.

Critério clínico-epidemiológico: caso suspeito, com história de

contato com indivíduo doente por caxumba, nos 25 dias

anteriores ao surgimento dos primeiros sintomas.

Critério laboratorial: o diagnóstico é realizado a partir da

pesquisa do vírus da caxumba em exames laboratoriais

específicos: PCR-RT e/ou sorologia-IgM.

Caso descartado: caso suspeito, em que se confirma outra doença.

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16

b) Verificação do diagnóstico e confirmação se realmente ocorreram “casos”.

A partir da definição de caso é realizada uma revisão dos casos buscando

maiores informações por meio do reexame dos pacientes e/ou a revisão

detalhada dos prontuários clínicos e dos procedimentos de laboratório.

c) Confirmação da existência do surto. Na ocorrência de agregado de casos

deve-se considerar como surtos de caxumba a ocorrência de número de casos

acima do limite esperado, com base nos anos anteriores, ou casos agregados

em instituições, como creches, escolas, hospitais, presídios, entre outros.

d) Identificação e contagem de novos casos, por meio da definição dos objetivos

da investigação. Essa etapa é desenvolvida no campo por meio da busca ativa,

podendo ser realizada com a utilização de um questionário, examinando e

conversando com os pacientes e seus contatos.

e) Análise dos dados disponíveis segundo as características do tempo, espaço e

pessoa, buscando identificar informações que facilitem a elaboração de

hipóteses, tais como a fonte e o modo de transmissão, o momento de exposição

dos suscetíveis à fonte de infecção (período de incubação) e a duração do

surto/epidemia.

f) Desenvolvimento de hipóteses que devem estar voltadas à identificação da

fonte de infecção, modos de transmissão e tipos de exposição associados ao

risco de adoecer, utilizando-se de apoio as referências científicas disponíveis

(artigos, livros, manuais etc.).

g) Testar hipóteses comparando-as com os fatos, quando estes já se apresentam

bem estabelecidos e aplicando a metodologia epidemiológica analítica, com o

objetivo de quantificar as associações e explorar o papel do aleatório nessas

associações, como ocorre em um estudo caso-controle.

h) Avaliação contínua das medidas de prevenção e/ou controle, pois os surtos

apresentam características que tornam necessária a aplicação de intervenções

antes mesmo de identificarmos perfeitamente as fontes de infecção e os modos

de transmissão, utilizando, num primeiro momento, apenas os resultados

preliminares da investigação.

i) Comunicação a todos os interessados dos resultados da investigação, por

meio da elaboração do relatório final da investigação, acompanhado de

recomendações pertinentes com o intuito de difundir o conhecimento entre todos

os envolvidos no evento.

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17

No Estado de São Paulo, a caxumba não é um agravo de notificação

compulsória. A Resolução SS nº 59, de 22 de julho de 2004 também refere que a

ocorrência de agravo inusitado, independentemente de constar na lista de doenças

de notificação compulsória e de todo e qualquer surto ou epidemia, deve ser

notificada imediatamente(22). Sendo assim, de acordo com a Divisão de Doenças de

Transmissão Respiratória (DDTR) do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof.

Alexandre Vranjac” (CVE), os surtos da doença devem ser notificados no SINAN-Net

módulo surto(23).

Entre 2007 e 2008, ocorreu um aumento no número de surtos de caxumba no

Estado de São Paulo, resultando em 1.415 notificações com 6.820 casos

relacionados. Atualmente, entre os anos de 2015 e 2016, o número de surtos

alcançou o número de 1.331 notificações com 7.733 casos relacionados.

Diferentemente desse período epidêmico, entre os anos de 2003 e 2014 (excluindo-

se os anos de 2007 e 2008) foram notificados, em média, 102 surtos por ano(23).

Esses dados apontam para importante modificação no comportamento

epidemiológico da doença após o uso regular da vacina tríplice viral, introduzida no

calendário vacinal do estado a partir de 1992.

As medidas de controle recomendadas tanto pelo MS quanto pela DDTR são

a vacinação de rotina com a tríplice viral e/ou tetraviral e a realização de profilaxia

pós-exposição, ou seja, a intensificação da busca ativa de pessoas não vacinadas

ou com o esquema incompleto para caxumba de casos suspeitos ou confirmados,

nos locais onde estes casos estiverem concentrados (creches, escolas, faculdades,

empresas, presídios, hospitais, entre outros)(2,23).

O MS indica que em ambientes hospitalares deve-se adotar o isolamento

respiratório dos doentes por caxumba(2). Para isso, a Divisão de Infecção Hospitalar

do CVE recomenda que as unidades de saúde do Estado de São Paulo devam

realizar a precaução de gotículas associada à de contato para os pacientes durante

nove dias após o início do edema na glândula parótida, por meio do uso de

equipamentos de proteção individual (EPI)(24).

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18

1.3 Aspectos relativos à vacina

A primeira vacina desenvolvida contra a caxumba surgiu em 1948, porém, por

se tratar de uma vacina inativada, garantia imunidade de curto prazo, o que resultou

na descontinuação de seu uso até a década de 70(25). Em 1967, uma vacina com

vírus vivo atenuado da cepa de Jeryl Lynn* foi licenciada nos Estados Unidos, e é

utilizada até os dias de hoje por meio da combinação de mais dois outros vírus,

sarampo e rubéola (tríplice viral/SCR)(1,12). A presença de pelo menos uma dose da

vacina SCR resulta em redução de hospitalizações e/ou complicações(26,27).

A vacina contra caxumba foi implantada no Brasil gradativamente entre 1992

e 2002, sendo que desde 2003 a vacina tríplice viral vem sendo amplamente

utilizada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), a partir de uma preparação

combinada liofilizada atenuada de cepas de sarampo (cepa Schwarz), caxumba

(cepa RIT 4385 derivada da cepa Jeryl Lynn) e rubéola (Wistar RA 27/3)(28).

No Estado de São Paulo, em 1992 houve uma campanha com a vacina

tríplice viral para crianças entre um e dez anos de idade e, a partir desse mesmo

ano, foi incluída no calendário básico de imunização para crianças com 15 meses de

idade. Após o ano de 2000, a vacina foi disponibilizada para as crianças com 12

meses de idade e, em 2004, houve a inclusão de uma dose de reforço entre os

quatro e seis anos de idade. Em 2014, com o surgimento da vacina associada

também ao componente da varicela (tetraviral), esta foi incluída no calendário para a

segunda dose aos 15 meses de idade(23).

O momento ideal para a primeira dose da vacina tríplice viral depende de dois

fatores principais. Primeiro, o sistema imunológico deve estar suficientemente

maduro para responder aos antígenos da vacina. Em segundo lugar, os níveis de

anticorpos maternos devem ser suficientemente baixos para garantir que não

neutralizem as cepas vivas e atenuadas da vacina. Waaijenborg et al demonstraram

em um estudo que a duração da proteção contra caxumba foi de 2,7 meses para

recém-nascidos na população geral e nas comunidades ortodoxas protestantes da

Holanda, sugerindo que à medida que aumenta a cobertura vacinal entre as mães e

que como consequência elas não têm mais a infecção natural, há a diminuição do

* Filha do médico que desenvolveu a vacina.

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19

nível de anticorpos maternos transferidos ao recém-nascido e portanto na duração

da proteção proporcionada pelos anticorpos maternos entre os recém-nascidos(29).

Estudos realizados na Suíça comparando três tipos de cepa da vacina tríplice

viral demonstraram que a vacina com a cepa Rubini (suíça) era menos eficaz

quando comparada aos outros dois tipos de cepas disponíveis, Jeryl Lynn

(americana) e Urabe (japonesa). Na Itália e em Portugal, essa situação também foi

evidenciada. A partir desses estudos, um boletim da OMS publicado em 1999,

referiu a hipótese de que a cepa suíça não proporcionava imunidade à longo

prazo(30).

Na Espanha, os casos ocorridos em regiões próximas às fronteiras de

Portugal, representaram as maiores taxas de incidência do país. Desde 1992,

Portugal utilizava a vacina com a cepa Rubini, sendo que entre os anos de 1995 e

1996 houve uma epidemia de casos de caxumba no país que acometeu

principalmente crianças adequadamente vacinadas contra o vírus(30).

Durante a era pré-vacina, as taxas de assintomáticos descritas dentre os

infectados eram de 15 a 27%. Atualmente, após o início da imunização específica,

não há como estimar o número de infecções assintomáticas, pois ainda não é claro

como a vacina interfere nas manifestações clínicas, uma vez que mesmo sem

apresentar parotidite há descrição de casos com graves complicações(1). Tanto as

infecções virais sintomáticas quanto assintomáticas em pessoas vacinadas podem

ser identificadas através da avaliação retrospectiva de anticorpos IgG específicos

para caxumba em amostras de sangue(31).

A genotipagem do vírus da caxumba é baseada na proteína hidrofóbica não

estrutural e geneticamente a mais variável(3). Atualmente, 12 genótipos diferentes de

vírus da caxumba são reconhecidos e foi comprovado que anticorpos neutralizantes

para uma determinada cepa não necessariamente protegem contra genótipos

heterólogos. A presença de anticorpos específicos contra o vírus da caxumba não

implica imunidade absoluta, além disso, estes anticorpos podem interferir na

confirmação sorológica de alguns casos, resultando em problemas diagnósticos. O

genótipo G parece ser o genótipo mais prevalente, porém as cepas utilizadas na

fabricação das vacinas possuem genótipo A (Jeryl Lynn e Rubini) e B (Urabe). A

capacidade diferencial de anticorpos induzidos pela vacina para neutralizar

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20

diferentes genótipos do vírus da caxumba pode explicar parte da ocorrência destes

eventos de seleção genotípica, sendo necessária investigação adicional(3,5,27,32).

Duas proteínas da membrana do vírus da caxumba que desempenham um

papel importante na neutralização do vírus são a proteína de fusão (F) e a proteína

hemaglutinina-neuraminidase (HN). Tal como se supôs anteriormente, a diferença

na neutralização entre Jeryl Lynn e as cepas de tipo selvagem pode resultar de

diferenças antigênicas nos epítopos neutralizantes das proteínas F e HN(27).

Para prevenir a transmissão sustentada do sarampo, caxumba e rubéola e

manter a imunidade do rebanho, é necessária uma cobertura vacinal de 86-98%, 83-

96% e 92-94%, respectivamente(13). Ensaios clínicos realizados pré-comercialização

da vacina com a cepa Jeryl Lynn demonstraram eficácia de 95%, porém estudos de

efetividade realizados pós-licenciamento demonstraram que a efetividade da vacina

oscilava entre 65-85%(32).

Entre 2004 e 2005, uma epidemia afetou principalmente estudantes

universitários na Inglaterra e País de Gales, com incidência entre 140 a 170 casos

por 100.000 habitantes. Dados do serviço de vigilância mostraram que houve

ocorrência de casos em pessoas que possuíam duas doses da vacina tríplice

viral(12).

Segundo Poethko-Müller e Mankertz, a vacinação com a tríplice viral nos

primeiros anos de vida poderia induzir uma mudança na incidência para grupos de

idade mais avançada(33). Um estudo recomendou uma dose de reforço da vacina

tríplice viral para adolescentes tailandeses, a fim de prevenir futuros surtos de

caxumba nessa faixa etária(34). Já com relação ao Conselho Superior de Saúde da

França, este recomendou que durante a ocorrência de surtos, seja realizada uma

terceira dose da vacina para indivíduos cuja segunda dose tenha sido aplicada há

mais de 10 anos(35).

Estudo de soroprevalência de anticorpos contra caxumba realizado na

população holandesa entre 2006 e 2007 mostrou que os anticorpos maternos

declinam rapidamente de modo que aos 5 meses de idade apenas 7% dos recém-

nascidos (RN) são soropositivos. Apos a aplicação da primeira dose de vacina aos

14 meses de idade a soropositividade aumenta para 90% das crianças com 2 anos

de idade. Em seguida observa-se declínio gradativo até os 8 anos de idade (62 a

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21

81%) abaixo portanto no nível considerado protetor. Apos a aplicação da segunda

dose aos 9 anos a soropositividade torna a aumentar chegando a praticamente

100% aos 10 anos. A soropositividade declina gradualmente de modo que aos 19-21

anos a soropositividade chega a 87% tornando este grupo novamente vulnerável à

infecção. O grupo nascido antes da introdução da vacina e que ao longo da vida

recebeu uma ou duas doses da vacina apresenta soropositividade de 91% aos 22-

27 anos. Entre os não vacinados a soropositividade aumenta com a idade atingindo

98% entre os idosos(36).

Uma alta taxa de soropositividade da população contra o vírus é um fator

importante na prevenção de surtos, porém o patamar ou título mínimo considerado

protetor é desconhecido; portanto, a soronegatividade para o vírus nem sempre é

igual à suscetibilidade(37).

Em 1976, Carvalho et al demonstraram que em 141 crianças de 6 a 12 anos

de idade e de elevado nível socioeconômico que frequentavam uma escola primária

da cidade de São Paulo, durante o ano de 1969, e que não tinham sido vacinadas

para caxumba, 79,4% possuíam anticorpos circulantes para o vírus(38).

No Rio de Janeiro (RJ), um estudo realizado com amostras de 150 crianças

coletadas entre 2008 e 2009, após a realização de imunização, demostrou 89,5% de

taxa de soroconversão para caxumba. Em 2011, uma coorte de crianças de Brasília

(DF), com idade entre 12 a 15 meses foram vacinadas contra a febre amarela e a

tríplice viral simultaneamente ou em intervalos de 30 dias entre as doses e foi

observada baixa soroconversão para caxumba, 61% e 71%, respectivamente(28).

Um exemplo recente de ocorrência de surto em um país anteriormente sem

disponibilidade da vacina foi a Mongólia que apresentava epidemias da doença a

cada cinco anos antes da introdução da vacina. Durante o ano de 2006 foram

registrados 5.073 casos e, 1.990 casos no ano de 2009. Entre os anos epidêmicos

foram registrados menos de 1.000 casos ao ano. A disponibilidade da vacina tríplice

viral nesse país somente ocorreu a partir de 2009. Durante o ano de 2011, apesar

da cobertura vacinal global ser de 97%, houve o registro um surto no distrito de

Gurvantes com 153 casos e uma taxa de ataque de 3,6%. A mediana de idade dos

casos foi de 10 anos, sendo que 70% tinham entre cinco e 14 anos de idade. Todos

os casos ocorreram em não vacinados e 94 (72,3%) referiram contato com outro

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22

caso na escola, sugerindo a existência de bolsões de baixa cobertura em algumas

áreas, capazes de sustentar novos surtos(39).

A indicação de três doses da vacina tríplice viral não está bem estabelecida.

Embora o componente de caxumba da vacina tríplice viral seja o menos eficaz dos

três antígenos, as duas doses de tríplice viral são suficientes para evitar a

transmissão em larga escala. Fiebelkorn et al evidenciou em seu estudo que os

títulos de anticorpos neutralizantes do vírus da caxumba aumentaram inicialmente

em resposta à terceira dose, mas diminuíram para valores próximos do baseline um

ano depois. No entanto, o aumento temporário em um mês pode ser suficiente para

ajudar a controlar os surtos(40).

Países com baixa cobertura vacinal apresentam o comportamento

epidemiológico observado anteriormente à existência de vacinas. Ou seja, a doença

ocorre endemicamente, com variação sazonal marcada (final do inverno e início da

primavera) e variações cíclicas decorrentes do acúmulo de suscetíveis. A medida em

que a cobertura vacinal começa a aumentar podem ocorrer surtos localizados em

áreas ou bolsões de baixa cobertura, freqüentes em países não desenvolvidos onde

a heterogeneidade de acesso a serviços de saúde representa um desafio ao alcance

de coberturas mais homogêneas.

A outra situação é bastante distinta. Países com altas coberturas vacinais

sustentadas por um período maior de tempo passam a apresentar surtos

esporádicos, mas aparentemente cada vez mais frequentes, afetando grupos de

jovens e adultos jovens previamente vacinados.

1.4 Hipóteses

O ressurgimento recente da caxumba envolve várias discussões acerca da

eficácia reduzida das vacinas atuais contra caxumba, como demonstra um estudo

realizado no Canadá, onde a efetividade da vacina tríplice viral em pessoas com

uma dose variou entre 49,2% e 81,6%; e com duas doses, essa taxa oscilou entre

66,3% e 88%(4).

O declínio na proteção ao longo do tempo e uma possível variação genética

entre as cepas vacinais e as cepas circulantes são fatores que contribuiriam para

isso. Na ausência de um booster natural, futuras epidemias de caxumba podem ser

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23

inevitáveis em populações vacinadas que vivem em locais com aglomerações, como

instituições de ensino(26).

Outro estudo também indicou que 10 a 15 anos após uma segunda dose de

reforço, os níveis de anticorpos contra caxumba eram aproximadamente

equivalentes aos dos títulos de pré-booster. Embora alguns estudiosos sugiram que

uma terceira dose de vacina pode ajudar a prevenir surtos, outros demonstram que,

apesar do baixo nível de títulos de IgG, os indivíduos vacinados estão protegidos por

mais de 10-20 anos devido às respostas linfoproliferativas específicas do antígeno.

Outras experiências tais como a medição do anticorpo neutralizante contra caxumba

após a segunda dose de vacina, ou a avaliação da resposta de células T em longo

prazo, podem ser úteis para definir a necessidade de uma terceira dose ou dose

extra(10,34,36).

Nos EUA, os vírus isolados nos recentes surtos possuíam genótipos

diferentes das cepas utilizadas na produção das vacinas. Estudo da capacidade de

neutralização de diversas cepas dos vírus por amostras de soro de crianças

vacinadas seis semanas antes com diversas cepas da tríplice viral, demonstrou que

o desenvolvimento de novas vacinas contra caxumba não parece ser a solução para

o problema. A revacinação durante a adolescência com o intuito de combater a

queda na imunidade seria a medida mais eficaz(17).

A contenção dos surtos de caxumba é um desafio porque a sensibilidade dos

testes diagnósticos é baixa entre os vacinados e as medidas de controle são menos

eficientes devido à natureza inerente do vírus da caxumba. Uma alta cobertura

vacinal é uma estratégia importante para prevenir surtos de caxumba, uma vez que

o seu uso reduziu substancialmente a incidência de caxumba e suas complicações

em comparação com a da era pré-vacina(10).

Outras discussões envolvem ambientes favoráveis para a disseminação do

vírus. A caxumba é moderadamente transmissível no ambiente de escolas primárias

e a vacina utilizada nestas populações é altamente eficaz na prevenção da

infecção(36). Em Portugal, a transmissão da doença ocorreu predominantemente em

ambiente escolar, com taxas de ataque inferiores a 30%(7). A combinação da eficácia

limitada da vacina contra caxumba e o ambiente escolar específico provavelmente

contribui para a propagação da doença(18,41).

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24

1.5 Justificativa

Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(SINAN) módulo de surto, a região metropolitana de Campinas foi responsável por

30,9% (145/468) das notificações de surtos do Estado de São Paulo, com 670 casos

relacionados†.

O surto na instituição de ensino selecionada para o estudo foi notificado em

27 de agosto de 2015, com 125 casos relacionados, ou seja, representa 18,6% dos

casos reportados da região metropolitana de Campinas. A expressividade do

número de casos envolvidos em somente uma instituição corrobora a escolha do

local de estudo.

A análise das características de um dos maiores surtos registrados nos

últimos anos poderá fornecer informações importantes para a vigilância

epidemiológica da doença no Estado de São Paulo, tais como:

• a situação vacinal da população;

• a frequência das manifestações clínicas relacionadas ao agravo;

• o impacto das medidas de prevenção/controle durante a ocorrência do surto;

† Fonte: SINAN Net (módulo de surto), Estado de São Paulo, dados em 02/09/2016.

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25

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivos gerais

Descrever um surto de caxumba em uma instituição de ensino do Estado de

São Paulo, comparando suas características epidemiológicas a outros surtos

registrados na literatura científica nacional e internacional.

Discutir possíveis explicações para o comportamento epidemiológico

evidenciado.

2.2 Objetivos específicos

Descrever os casos de caxumba relacionados aos surtos, segundo atributos

pessoais e distribuição espaço-temporal.

Caracterizar os aspectos clínicos, laboratoriais e epidemiológicos referentes

ao agravo, bem como as informações sobre internação e evolução dos casos.

Especificar a etiologia dos casos.

Investigar a situação vacinal.

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26

3 MÉTODOS

3.1 Tipo de estudo

Estudo descritivo com abordagem quantitativa utilizando predominantemente

dados secundários complementados por dados primários quando necessário.

3.2 Local de estudo

O local selecionado para realização do estudo foi uma instituição de ensino

superior localizada na região metropolitana de Campinas, centro-leste do Estado de

São Paulo. Essa localidade possui 3.791,79 km2 e é composta por 20 municípios

descritos na figura 1. Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de

Dados (SEADE), a população residente é composta por 3.054.829 habitantes(42).

Figura 1. Região metropolitana de Campinas

Fonte: adaptado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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27

A tabela 1 mostra a cobertura vacinal das vacinas contra caxumba entre os

anos de 2013 e 2016 em diferentes regiões. Sendo assim, vemos que a região

metropolitana de Campinas obteve maiores taxas de cobertura vacinal tanto em

relação com o Estado de São Paulo quanto o país. Essa característica da região

onde o local de estudo pertence implica em uma discussão sobre a ocorrência do

surto de caxumba.

Nota-se que em todos os anos, a cobertura vacinal da primeira dose da

tríplice viral ficou acima dos 90% em todas as regiões descritas na tabela 1,

chegando algumas vezes a passar os 100%; isso é possível, pois durante muitos

anos o registro de aplicação das doses não era realizado individualmente, ou seja,

os números eram considerados a partir da contagem de doses aplicadas e/ou

frascos utilizados, não sendo possível identificar a verdadeira situação vacinal dos

indivíduos. Além disso, também não foi possível obter o número de doses aplicadas

por sexo ou faixa etária no site do Departamento de Informática do Sistema Único de

Saúde (DATASUS), o que implicaria em identificar se há diferença entre a cobertura

vacinal dessas populações.

Tabela 1 – Cobertura vacinal das vacinas contra caxumba segundo o tipo de

imunobiológico, dose, região e ano, 2013-2016

2013 2014 2015 2016

SCR - 1ª dose

Brasil 107,5 112,8 96,1 95,4

São Paulo 103,4 105,0 97,9 93,0

RMC1 105,4 106,3 101,4 104,6

SCR - 2ª dose

Brasil 68,9 92,9 79,9 76,7

São Paulo 75,7 95,9 92,4 77,7

RMC 80,5 97,2 92,0 96,2

SCRV

Brasil 34,2 90,2 77,4 79,0

São Paulo 37,6 98,1 94,6 81,0

RMC 42,3 102,1 95,7 100,2

1RMC: região metropolitana de Campinas

Fonte: DATASUS/PNI

A instituição de ensino superior selecionada para o estudo possui um campus

sede localizado no município de Campinas (SP) e outros três campi situados nos

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28

municípios de Paulínia (SP), Piracicaba (SP) e Limeira (SP). Esta instituição é uma

autarquia pública, autônoma em política educacional, cujos recursos financeiros são

obtidos principalmente do orçamento fiscal estadual e de agencias nacionais e

internacionais de fomento(43).

Anualmente conta com, aproximadamente, 36 mil alunos matriculados em 66

cursos de graduação e 153 programas de pós-graduação. Apesar de ser uma

instituição de ensino superior, também são ministrados cursos técnicos e

disponibilizadas diversas unidades de apoio para desenvolver projetos de pesquisas.

Também possui quatro unidades hospitalares com atendimento oferecido a

população da região(43,44).

3.3 Período de estudo

O período de estudo foi definido entre a data de notificação do surto ao órgão

de vigilância epidemiológica (VE) municipal e a data de início dos sintomas do último

caso relacionado ao surto, ocorridas em 27 de agosto de 2015 e 06 de janeiro de

2017, respectivamente.

3.4 População de estudo

A população de estudo foram os casos relacionados ao surto que foram

reportados à VE institucional e municipal e que tiveram diagnóstico para caxumba

por critério clínico, clínico-epidemiológico ou laboratorial.

3.5 Coleta de dados

A coleta de dados ocorreu por meio de um banco de dados referente ao surto

da instituição de ensino selecionada para o estudo, disponibilizado pela DDTR/CVE

da Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) da Secretaria de Estado da Saúde

de São Paulo (SES-SP), a partir do projeto de pesquisa intitulado “Surtos de

caxumba na região metropolitana de Campinas, 2015-2016”, aprovado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS/SP)

sob o parecer nº 1.882.859 (anexo 1).

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29

Nesse projeto foi realizado consulta aos prontuários dos casos reportados em

unidade de atendimento ambulatorial da própria instituição e realização de

telefonemas, a partir dos registros no SINAN Net (módulo de surto) e do sistema de

vigilância da instituição, além de uma ficha de monitoramento de agravos para

identificação de surtos disponibilizada pela Secretaria Municipal de Saúde de

Campinas e a partir de um formulário elaborado pela DDTR/CVE/CCD/SES-SP

(anexos 2 a 5).

Para caracterizar os casos foram utilizadas as variáveis sócio-demográficas:

sexo, idade (anos), faixa etária (16 a 19 anos, 20 a 24 anos, 25 a 29 anos, 30 a 39

anos, 40 a 49 anos e 50-56 anos), ocupação (estudante ou servidor/docente da

instituição), curso e campi de estudo. Essas variáveis foram utilizadas para

realização da curva epidêmica, para descrever o número de pessoas afetadas pelo

agravo e realizar a taxa de ataque por 1.000 estudantes matriculados na instituição

como toda e em cada campi da mesma. Não foi possível realizar a incidência por

sexo e faixa etária, pois não houve a disponibilidade de dados referentes a todos os

estudantes.

Para a caracterização do surto foram utilizadas variáveis epidemiológicas

como a situação vacinal dos casos, data de aplicação e número de doses das

vacinas tríplice viral e/ou tetraviral, presença de vínculos epidemiológicos (contato

com caso suspeito e/ou confirmado), data e local de realização da profilaxia pós-

exposição, bem como o número de doses aplicadas. Com essas variáveis pode-se

observar o impacto das medidas de prevenção e controle realizadas desde a

presença das vacinas recomendadas pelo calendário básico de imunizações (tríplice

viral ou tetraviral) até as ações realizadas pela própria instituição, além de descrever

as características da população mais afetada.

Com relação às características clínicas e laboratoriais dos casos, as variáveis

utilizadas foram: sinais e sintomas, data de início dos sintomas, presença e

descrição de complicações, presença e descrição de comorbidades, data do

atendimento, se houve necessidade de internação, evolução, realização e data de

coleta de exames laboratoriais específicos e inespecíficos, nível sérico da enzima

amilase, resultado da sorologia-IgM e/ou do PCR-RT, critério utilizado para

diagnóstico da doença (clínico-epidemiológico ou laboratorial). A partir dessas

variáveis foi possível descrever as principais manifestações clínicas referentes ao

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30

agravo e sua gravidade, além de especificar a etiologia dos casos por meio das

variáveis laboratoriais.

3.6 Análise dos dados

As variáveis foram analisadas por meio de frequências absolutas e relativas,

podendo ser analisadas de acordo com medidas de associação, por meio da

utilização dos softwares Epi Info™ (vs.7.2.0.1, 2016) e Microsoft Office Excel® 2010.

3.7 Aspectos éticos e legais

Conforme anexo 6, o projeto foi aprovado pela Comissão Científica da

Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).

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31

4 RESULTADOS

Após análise e investigação das informações fornecidas pelo banco de dados

dos casos relacionados ao surto, dois casos foram excluídos, pois foram

identificados uma duplicidade e um indivíduo sem relação com o surto, resultando

em 123 casos incluídos no estudo. Apesar disso, após dois meses da data de

encerramento oficial desse surto no SINAN houve o registro de outra notificação da

ocorrência de outro surto de caxumba nessa instituição, o que pode sugerir uma

continuidade em decorrência do surto anterior utilizado para o estudo.

O registro de casos no SINAN módulo surto se dá por meio dos casos já

confirmados para o agravo em questão, em decorrência disso, não é possível

informar o número de casos suspeitos de caxumba na instituição.

O gráfico 1A apresenta a curva epidêmica dos casos de caxumba reportados

à instituição no período de ocorrência do surto segundo o mês e o ano de início dos

sintomas. Com isso, é possível observar a presença de dois períodos em que houve

a predominância de casos de acordo com a sazonalidade da doença, atingindo um

pico na primavera de 2015 e outro maior no outono de 2016.

Gráfico 1A – Curva epidêmica dos casos de caxumba segundo o mês e ano de

início dos sintomas, UNICAMP, 2015-2017

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

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32

A partir do gráfico 1B nota-se que além do aumento da incidência no ano de

2016 houve transmissão ininterrupta de casos, ainda que com intensidade variável,

durante todo o período. A redução de casos ao longo do tempo estaria associada

com a intervenção de medidas de controle, como ocorreu durante a realização da

profilaxia pós-exposição, e também pela redução do número de suscetíveis.

Gráfico 1B – Curva epidêmica dos casos de caxumba segundo a semana

epidemiológica e ano de início dos sintomas, UNICAMP, 2015-2017

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A maioria dos casos era do sexo masculino. A amplitude de variação das

idades foi de 16 a 56 anos, com idade mediana de 22 anos. Quase 2/3 dos casos

ocorreram em indivíduos de 16 a 24 anos coincidindo com a faixa etária mais

frequente entre os estudantes de graduação do ensino superior. Além disso, 85%

dos casos tinham entre 16 e 29 anos.

Tabela 2 – Distribuição dos casos de segundo sexo e a faixa etária, UNICAMP,

2015-2017

Faixa Etária Feminino Masculino Total

n % n % n %

16 a 19 anos 17 13,8 16 13,0 33 26,8 20 a 24 anos 16 13,0 30 24,4 46 37,4 25 a 29 anos 10 8,1 16 13,0 26 21,1 30 a 39 anos - - 06 4,9 06 4,9 40 a 49 anos 03 2,4 04 3,3 07 5,7 50 a 56 anos 04 3,3 01 0,8 05 4,1

Total 50 40,7 73 59,3 123 100,0 Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

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33

A tabela 2 mostra que a proporção de casos de indivíduos de 16 a 19 anos

foram semelhantes em homens e mulheres. Nas faixas seguintes até os 49 anos

predominaram os casos masculinos, já entre a última faixa etária, entre 50 e 56 anos

houve predomínio feminino.

Na figura 2 é possível observar que a partir do endereço de residência houve

um agregado de casos no distrito de Barão Geraldo, onde o local de estudo fica

localizado. O motivo dessa concentração de casos pode ser explicado pelo fato

dessa região possuir diversas repúblicas/dormitórios onde os estudantes costumam

permanecer durante o período de estudo na instituição de ensino.

Figura 2 – Distribuição dos casos de caxumba segundo o endereço de residência,

UNICAMP, 2015-2017

Fonte: BatchGeo – Google Maps

Os estudantes representaram 81,3% (100/123) dos casos, porém, docentes e

servidores da instituição de ensino também foram afetados no surto, entre eles

quatro (3,3%; 4/123) docentes. A incidência entre os alunos foi de 2,77 casos por

1.000 matriculados. Entre os docentes a incidência foi de 2,14 casos por 1.000

docentes contratados e entre os funcionários foi de 2,38 casos por servidor.

A instituição oferece e recebe alunos de programas de intercâmbio para os

cursos de graduação e pós-graduação, sendo que durante o ano de 2016 haviam

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34

2.187 estudantes estrangeiros matriculados. Com isso, foram identificados no

presente surto seis estudantes vindos da Colômbia, Honduras, Itália e Irã. Assim, a

incidência entre estudantes estrangeiros foi de 2,74 casos por 1.000 alunos

matriculados, semelhante ao observado entre os estudantes em geral.

O gráfico 2 mostra a distribuição dos estudantes doentes por caxumba

segundo o curso em que estava matriculado. Segundo a data de início dos sintomas,

os casos iniciaram entre os estudantes do curso de Engenharia Química (data de

início dos sintomas em 23/08/2015 e 24/08/2015).

Gráfico 2 – Curva epidêmica dos estudantes doentes por caxumba segundo o

curso, UNICAMP, 2015-2016

*Não foi possível obter informação sobre o curso de oito estudantes (sem informação). Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A tabela 3 mostra que a taxa de ataque durante o ano de 2015 foi de 0,7

casos/1.000 matriculados, sendo o campus de Engenharia Química o mais afetado

(7,8 casos/1.000 matriculados). Já durante o ano de 2016, a mesma foi de 1,7

casos/1.000 matriculados e o campus de Educação Física representou a maior taxa

(9,9 casos/1.000 matriculados).

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35

Tabela 3 – Casos de caxumba segundo a unidade e ano, UNICAMP, 2015-2017

Unidade

2015 2016

Nº casos

Nº matriculados

TA1

(%)

Nº casos

Nº matriculados

TA1

(%)

Administração - 2.663 0,0 03 2.822 1,1

Artes - 1.521 0,0 03 1.496 2,0

Engenharia de Alimentos - 1.196 0,0 02 1.227 1,6

Línguas - 1.263 0,0 02 1.274 1,6

Engenharia Agrícola - 643 0,0 04 597 6,7

Geografia - 1.090 0,0 03 1.067 2,8

Medicina 01 2.983 0,3 05 3.044 1,6

Engenharia Mecânica 01 1.906 0,5 02 1.972 1,0

Matemática 01 1.549 0,6 08 1.511 5,3

Computação 01 1.088 0,9 04 1.125 3,6

Filosofia 02 2.063 1,0 05 2.105 2,4

Física 01 1.046 1,0 06 1.083 5,5

Educação Física 01 749 1,3 08 806 9,9

Biologia 02 1.428 1,4 03 1.390 2,2

Química 02 1.132 1,8 03 1.111 2,7

Engenharia Civil/Arquitetura 02 1.032 1,9 01 1.112 0,9

Engenharia Elétrica/Computação 04 1.729 2,3 06 1.728 3,5

Engenharia Química 08 1.026 7,8 01 1.050 1,0

Total 25 35.656 0,7 61 36.598 1,7 1

TA: taxa de ataque por 1.000 matriculados Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP e anuário da instituição referente ao ano de 2017.

Como referido anteriormente, a redução na taxa de ataque em alguns campi,

como foi observado na Engenharia Química (7,8 casos/1.000 matriculados em 2015

para 1,0 casos/1.000 matriculados em 2016), pode ser explicada também pela

redução do número de pessoas suscetíveis ao agravo.

Engenharia Química e Engenharia Elétrica são faculdades vizinhas no

campus da UNICAMP em Campinas. Engenharia Civil e o Instituto de Química são

unidades próximas a ambas, mas não contíguas. Chama a atenção também que a

taxa de ataque se reduziu bastante no ano seguinte tanto entre os alunos de

Engenharia Química quanto entre os alunos da Engenharia Civil, enquanto na

Engenharia Elétrica e no Instituto de Química as taxas de ataque aumentaram no

ano seguinte.

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36

Em 2016, a maior taxa de ataque foi observada na Faculdade de Educação

Física que não mantém proximidade com as outras unidades que apresentaram

taxas altas de incidência. Porém, neste campus há um centro esportivo, onde todos

os estudantes frequentam para realizar atividade física.

A Faculdade de Engenharia Agrícola, que também está entre as unidades

com maiores taxas de ataque, é vizinha da Faculdade de Engenharia Química

enquanto o Instituto de Física e o Instituto de Matemática são vizinhos entre si e do

Instituto de Química.

Quanto às características clínicas dos casos confirmados, como é possível

observar no gráfico 3, o edema em região da glândula parótida esteve presente em

95,1% (117/123) dos casos. A febre, uma das manifestações clínicas descritas na

definição de caso, foi relatada por apenas 31,7% (39/123) dos casos.

Gráfico 3 – Distribuição dos casos de caxumba segundo os sinais e sintomas,

UNICAMP, 2015-2017

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A informação sobre presença ou ausência de complicações durante o

adoecimento foi registrada em 19,5% (24/123) dos casos, sendo que, entre os

indivíduos do sexo masculino, 8,3% (2/24) apresentaram orquite.

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37

O registro sobre a presença ou ausência de comorbidades foi disponibilizada

em 37,4% (46/123) dos casos. Entre eles, 8,7% (4/46) referiram apresentar

hipertensão arterial, 4,3% (2/46) hipotireoidismo, 2,2% (1/46) diabetes mellitus e

2,2% (1/46) dislipidemia.

Em média, o intervalo entre a data do início dos sintomas e a data do

atendimento médico dos casos foi de 2,1 dias com amplitude de variação entre 0 e

18 dias.

Apesar de ser um exame inespecífico, o nível sérico da enzima amilase é

utilizado como marcador dos casos de caxumba. Entre os 115 (93,5%) casos que

realizaram este exame, a dosagem média foi de 261,9 U/dl (24-1770 U/dl).

Em 64,2% (79/123) dos casos, o critério laboratorial foi utilizado para o

diagnóstico da doença. Entre os 50,4% (62/123) que realizaram sorologia-IgM, o

resultado foi positivo para caxumba em 8,1% (5/62). Já entre os 73,9% (91/123) que

realizaram PCR-RT, a positividade para o vírus foi de 83,5% (76/91).

Com relação à oportunidade de coleta, a tabela 4 mostra que há um aumento

no percentual de positividade quando a sorologia é realizada após seis dias da data

de início dos sintomas.

Tabela 4 – Casos de caxumba que realizaram sorologia-IgM segundo o resultado os

dias de intervalo entre a data de início dos sintomas e a data de coleta, UNICAMP,

2015-2017

Resultado <6 dias ≥6 dias

n % n %

Positivo 04 7,5 02 16,7

Negativo 46 86,8 09 75,0

Inconclusivo 03 5,7 01 8,3

Total 53 100 12 100

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

O contato prévio com algum caso suspeito e/ou confirmado para caxumba foi

referido por 39,8% (49/123) dos casos. Porém, em 25,2% (31/123) dos casos essa

informação era ignorada.

A informação sobre a situação vacinal dos casos reportados no surto estava

disponível em 57,7% (71/123) deles. Como apresentado na tabela 5, 24,0% (17/71)

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38

estavam com o esquema vacinal recomendado para o agravo, ou seja, tinham

recebido pelo menos duas doses da vacina tríplice viral. Para a coorte dos nascidos

antes de 1992, 48,3% haviam recebido uma dose da vacina e apenas 10,3 tinham

duas doses. Já na coorte nascida após 1993, portanto após a introdução da vacina

no calendário para os menores de um ano, 35,6% tinham recebido uma dose de

vacina e 28,6% referiam a segunda Com relação à disponibilidade da data de

aplicação da última dose da tríplice viral, 58,7% (27/46) dos casos a receberam há

menos de 10 anos.

Tabela 5 – Casos de caxumba segundo o número de doses da vacina tríplice viral e

o ano de nascimento, UNICAMP, 2015-2017

Número de doses

Ano de nascimento Total

Até 1992 Após 1993

n % n % n %

Uma dose 14 48,3 15 35,6 29 40,8

Duas doses 03 10,3 12 28,6 15 21,2

Três doses ou mais - 0,0 02 4,8 02 2,8

Nenhuma 12 41,4 13 31,0 25 35,2

Total 29 100 42 100 71 100

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A distribuição do número de doses recebidas em cada faixa etária

apresentada na tabela 6 mostra que para os casos acima de 30 anos de idade

nenhum indivíduo havia recebido as duas doses. Como a informação sobre o estado

vacinal estava disponível apenas para 14 casos as proporções tem pouco

significado. Para os menores de 30 anos a proporção de não vacinados variou de

25% no grupo de 25 a 29 anos a 33,3% no grupo de 20 a 24 anos.

A proporção de vacinados com uma ou mais doses variou entre 71,4% no

grupo de 16 a 19 anos a 75% no grupo de 25 a 29 anos. Embora essa proporção

tenha aumentado gradativamente entre esses três grupos etários a proporção de

casos com registro de duas doses apresentou a tendência inversa sendo mais alta

entre os casos com 16 a 19 anos e menor no grupo de 25 a 29 anos.

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39

Tabela 6 – Casos de caxumba segundo a faixa etária e o número de doses da

vacina tríplice viral, UNICAMP, 2015-2017

Faixa etária 1 dose ≥2 doses Nenhuma

n % n % n %

16 a 19 anos 05 23,8 10 47,6 06 28,6

20 a 24 anos 11 45,8 05 20,8 08 33,3

25 a 29 anos 07 58,3 02 16,7 03 25,0

30 a 39 anos 02 40,0 - 0,0 03 60,0

40 a 49 anos 03 60,0 - 0,0 02 40,0

50 a 56 anos 01 25,0 - 0,0 03 75,0

Total 29 40,8 17 24,0 25 35,2

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

Segundo o critério utilizado para diagnóstico da doença, os dados sobre a

situação vacinal estavam disponíveis em 62% (49/79) dos casos confirmados pelo

critério laboratorial e 52% (22/42) dos casos confirmados pelo critério clínico-

epidemiológico. Com isso, é possível visualizar na tabela 7 que os casos

laboratorialmente confirmados apresentaram uma porcentagem menor de indivíduos

com pelo menos duas doses da vacina tríplice viral em relação aos casos

confirmados pelo critério clínico-epidemiológico.

Tabela 7 – Casos de caxumba segundo o critério de confirmação e número de

doses da vacina tríplice viral, UNICAMP, 2015-2017

Número de doses

Critério de confirmação

Total Laboratorial

Clínico- epidemiológico

n % n % n %

Uma dose 22 44,9 07 31,8 29 40,8

Duas doses 8 16,3 07 31,8 15 21,1

Três doses ou mais 2 4,1 - - 02 2,8

Nenhuma 17 34,7 08 36,4 25 35,2

Total 49 100 22 100 71 100

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A partir dos primeiros casos reportados, em 27 de agosto de 2015 foram

iniciadas as medidas para controle do surto, ou seja, a realização da profilaxia pós-

exposição, comumente chamada de bloqueio vacinal. Essas ações, em sua maioria,

ocorreram durante um dia de acordo com a unidade, faculdade ou instituto, do curso

do primeiro caso reportado e também em alguns locais com circulação em comum

entre os indivíduos (gráficos 4A e 4B).

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40

Gráfico 4A – Locais e campus de realização da profilaxia pós-exposição segundo a

semana epidemiológica de ocorrência, UNICAMP, 2015

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

Gráfico 4B – Locais e campus de realização da profilaxia pós-exposição segundo a

semana epidemiológica de ocorrência, UNICAMP, 2016

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

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41

Entre agosto e dezembro de 2015 foram aplicadas 5.185 doses da vacina

tríplice viral durante a realização da profilaxia pós-exposição; e entre janeiro e julho

de 2016 foram 4.091 doses, representando, aproximadamente, 11,2% e 8,7% dos

docentes e servidores da instituição e estudantes matriculados, respectivamente. A

média entre o intervalo da data de início dos sintomas do primeiro caso no campus

do curso matriculado e a realização da profilaxia pós-exposição foi de 35,4 (2-85)

dias, sendo que em alguns locais houve sua realização antes da ocorrência de

qualquer caso.

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42

5 DISCUSSÃO

5.1 Descrição dos casos

A sazonalidade do surto de caxumba no local de estudo atingiu o pico na

primavera de 2015 e no outono de 2016, assim como uma epidemia de caxumba

ocorrida na Holanda entre setembro de 2009 e agosto de 2012 com 1.557 casos

notificados. A maioria dos casos desse surto também era do sexo masculino (59%) e

possuía idade entre 18 e 25 anos (67,9%)(9). Outro país que vivenciou surtos de

caxumba com semelhante faixa etária foi o Canadá. Durante um surto de caxumba

ocorrido em Ontário entre 2009 e 2010, 58,6% tinham idade entre 15 e 24 anos, com

idade mediana de 21 anos.

Um dos motivos que explicaria essa mudança na incidência da caxumba para

adolescentes e adultos jovens é que a vacinação com a tríplice viral dentro dos

primeiros anos de vida poderia induzir uma mudança na incidência para grupos de

idade mais avançada. Um estudo demonstrou que a prevalência de anticorpos IgG

para SCR em crianças entre 1-17 anos de idade foi de 76,8%, sendo maior entre 3-6

anos de idade (81,3%). Em geral, observou-se um nível mais elevado de

soronegatividade em relação aos anticorpos específicos para caxumba. Os

indivíduos do sexo feminino apresentaram menor taxa de soronegatividade, embora

este padrão não tenha sido observado em crianças de três a seis anos de idade(33).

Outra justificativa para a ocorrência de casos nessa faixa etária foi identificado

em universidades de Illinois (EUA), pois a diferença no risco de contrair a doença foi

evidenciada em indivíduos que apresentavam uma dose da vacina e não haviam se

exposto previamente ao vírus selvagem. Isso é possível porque estudantes mais

velhos provavelmente já haviam entrado em contato com o vírus selvagem(45). É

válido lembrar que antes da implementação de programas de imunização contra

caxumba nos EUA, mais de 90% da população tinha evidencia sorológica de

exposição do vírus até os 15 anos de idade(17).

Assim como relatado em diversos estudos sobre surtos de caxumba ao redor

do mundo, o sexo masculino foi o mais afetado no local de estudo(1,4,5,6,7,8,10,26,30,46).

Apesar disso, como foi descrito, os campi com maior número de casos possuíam

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43

cursos relacionados à engenharia e como de costume os estudantes matriculados

são, em sua maioria, do sexo masculino, é esperado que também seja essa a

população mais afetada no surto.

Por se tratar de um surto em uma instituição de surto superior, os estudantes

foram a maioria dos casos (>80%). A descrição de surtos de caxumba em

universidades é frequentemente descrita em diversos países devido à exposição a

intensas aglomerações, facilitando, consequentemente, a disseminação do vírus

(9,26,35,40,45).

Apesar da definição de caso suspeito de caxumba ser um indivíduo que além

do aumento das glândulas salivares, também apresente febre, apenas 31,7% dos

casos referiram este sintoma(2). Esse dado contradiz com outros surtos descritos na

literatura, onde mais de 50% dos indivíduos doentes manifestaram febre(7,36,39,47).

Não houve internação entre os casos reportados à instituição de ensino.

Raramente indivíduos doentes por caxumba necessitarem de atendimento médico

avançado, entretanto, em torno de 12% dos casos reportados na República Tcheca

e na Austrália foram internados(48,49). A presença de complicações é um dos fatores

que interferem na necessidade de hospitalização dos casos, pois casos de caxumba

podem desenvolver pancreatite, meningite, orquite, ooforite etc. Apesar de a doença

ter sido reportada em adolescentes e adultos jovens, não houve um número

significativo de complicações(33).

Como visto neste estudo, mesmo não sendo reportado casos de

hospitalização, entre os indivíduos com informação sobre a presença de

complicações, 8,3% dos casos do sexo masculino apresentaram orquite, abaixo do

que é esperado, pois, segundo o guia de vigilância em saúde do MS, entre 20-30%

dos casos apresentam essa complicação. Dados do sistema de vigilância e dos

hospitais da Inglaterra e País de Gales demonstraram que 6,1% dos casos

estimados como caxumba foram hospitalizados, sendo 4,4% com orquite, 0,35%

com meningite e 0,33% com pancreatite. O risco de ser hospitalizado e/ou de ter

alguma dessas complicações diminuía se a pessoa tinha pelo menos uma dose da

vacina tríplice viral(26). Como demonstrado em um estudo da Holanda, onde o

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44

recebimento de duas doses de vacina reduziu além do risco de complicações, o

risco de hospitalizações também(9).

A pancreatite é pouco frequente, mas ocasionalmente ocorre sem a parotidite;

a hiperglicemia é transitória e é reversível. Embora casos únicos de diabetes mellitus

tenham sido relatados, uma relação causal com a infecção pelo vírus da caxumba

ainda não foi demonstrada de forma conclusiva; muitos casos de associação

temporal foram descritos tanto em irmãos quanto em indivíduos, e os surtos de

diabetes foram relatados alguns meses ou anos após os surtos de caxumba(12).

Além disso, outras comorbidades foram referidas pelos casos reportados à

instituição de ensino (hipertensão arterial, hipotireoidismo e dislipidemia), porém não

há dados na literatura que demonstrem sua relação com a doença.

Embora não tenha sido identificado nenhum caso de caxumba em gestante

neste estudo, como outras infecções, existe um risco teórico de que a doença possa

causar complicações durante os primeiros meses da gestação. Um estudo de 1966

que foi realizado antes da introdução da vacina tríplice viral relatou associação entre

a infecção da caxumba durante o primeiro trimestre da gravidez e um aumento na

taxa de aborto espontâneo ou morte fetal intrauterina. Outro estudo mostrou que

podem ocorrer malformações congênitas de caxumba durante a gravidez, mas como

o autor não comparou as taxas com bebês nascidos de mulheres não afetadas com

caxumba, esses achados devem ser interpretados com cautela(11).

Para diagnóstico da caxumba, alguns médicos costumam solicitar a dosagem

sérica da enzima amilase. Porém, a amilase sérica costuma ser elevada em casos

de parotidite, independente de sua etiologia, ou seja, sempre que houver uma

infecção que ocasione no aumento da glândula parótida, a dosagem dessa enzima

estará alterada não sendo um exame confirmatório para a infecção pelo vírus da

caxumba(2).

Além do exame físico e anamnese dos casos, pois o diagnóstico pode ser

realizado pelo critério clínico-epidemiológico, outros exames específicos podem ser

solicitados para identificação do vírus, como a sorologia e o PCR-RT(2). O

diagnóstico realizado pelo critério laboratorial foi utilizado em 64,2% dos casos

reportados à instituição, onde o vírus foi identificado em amostras encaminhadas

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para realização da sorologia e/ou PCR-RT. Apesar disso, nessa doença, a presença

de anticorpos específicos não implica imunidade absoluta. Além disso, estes

anticorpos podem interferir na confirmação sorológica de alguns casos, resultando

em problemas diagnósticos(32).

O surto no local de estudo mostrou que entre 57,7% dos casos com

informação sobre sua situação vacinal, 41% tinham uma dose da tríplice viral e 24%

possuíam pelo menos duas doses, valores menores do que os dados encontrados

na literatura, mesmo entre a faixa etária de 16 a 19 anos que apresentou a maior

porcentagem de indivíduos devidamente vacinados com as duas doses

recomendadas (47,6%). Em um estudo que avaliou os determinantes da disposição

de alunos para aceitar um reforço da vacinação com a tríplice viral durante um surto

de caxumba, a gravidade da doença e sua gratuidade oferecida pelo governo foram

os principais motivos para a aceitação entre os 64% universitários que afirmaram

receber a vacina(50).

A partir de 2017, em virtude da correção de falha vacinal e pela situação

epidemiológica vivenciada nessa época com surtos de caxumba acometendo

adolescentes e adultos, o MS começou a recomendar duas doses da vacina tríplice

viral para indivíduos entre 20 e 29 anos. Embora possua uma maior eficácia (>80%)

e de ser indicado em situações de profilaxia pós-exposição duas doses da vacina

tríplice viral, tanto o MS quanto a SES-SP continuam recomendando apenas uma

dose da tríplice viral para indivíduos com idade superior a 30 anos(51,52).

Embora a imunização continue sendo a medida mais eficaz na prevenção do

agravo, na Alemanha, um estudo demonstrou que uma em cada cinco crianças que

receberam uma dose da vacina tríplice viral tinham sorologia negativa para

anticorpos da caxumba e, mesmo em crianças que tinham recebido uma segunda

dose da vacina, 7,3% eram soronegativas. A soronegatividade geral da população

foi de 15,3%, acompanhada de um alto nível de títulos duvidosos (6,2%)(33). Além da

baixa eficácia do componente da caxumba na vacina tríplice viral, outra discussão

seria o possível declínio na imunidade ao longo dos anos, o que fez alguns países

recomendarem um booster na adolescência ou a aplicação de uma terceira dose

durante a ocorrência de surtos (8,10,17,35,40).

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O Instituto Adolfo Lutz (IAL), laboratório de saúde pública de referência

estadual, analisou 300 amostras da secreção da orofaringe de casos suspeitos de

caxumba no Estado de São Paulo entre janeiro de 2011 e agosto de 2016,

apresentando 77,3% de positividade para o vírus. Por meio da análise filogenética

foi possível identificar a circulação dos seguintes genótipos: 2011 (M), 2012 e 2013

(K), 2014 (N), 2015 (GKN), 2016 (G). Em relação ao município de Campinas, local

onde houve o surto a instituição de ensino superior descrita no presente estudo,

houve a análise de uma amostra coletada em janeiro de 2016 e o genótipo

detectado foi também o G(53).

Como atualmente as vacinas contra sarampo, caxumba e rubéola contém o

genótipo A, há uma incompatibilidade entre o genoma da cepa isolada nos surtos e

do genoma da cepa contida na vacina. Esses desajustes podem resultar em uma

neutralização antigênica incompleta que é mais evidente entre o genótipo A e os

genótipos BD e GI, o que está diretamente relacionado à maior distância

filogenética. Entretanto, vários estudos dizem que a vacina contendo a cepa de

genótipo A (Jeryl Lynn) induz anticorpos que neutralizam eficazmente os vírus do

genótipo G, o que seria explicado pela existência de proteínas comuns, alvo de

anticorpos neutralizantes induzidos pela vacina(7).

A recomendação de uma terceira dose foi exposta pelos EUA para o controle

de surtos em situações de cobertura vacinal para duas doses da tríplice viral >90%

e, no caso da França, quando a última dose da vacina ocorreu há mais de 10

anos(35,40). Porém, 24% dos casos com informação de sua situação vacinal descritos

neste estudo apresentavam pelo menos duas doses da vacina e 59% a receberam

há menos de 10 anos, o que contradiz essas duas recomendações.

5.2 Investigação do surto

Como relatado em diversos documentos e manuais, o período de incubação

da caxumba ocorre entre 12 e 25 dias(1,2,12). Durante o surto na instituição de

ensino, a 7ª edição do guia de vigilância epidemiológica (2009) do MS estava em

vigor, pois no guia de vigilância em saúde, lançado no ano de 2014, não constava a

caxumba na relação de agravos. Na definição de caso desse guia, o indivíduo teria

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confirmação para a doença se fosse um “caso suspeito, com história de contato com

indivíduos doentes por caxumba, nos 15 dias anteriores ao surgimento dos primeiros

sintomas”, o que mostra certa contrariedade em relação ao período de incubação do

vírus em si. Na versão atual do guia de vigilância em saúde, lançado em 2017, a

definição de caso foi corrigida.

A utilização de uma definição de caso para identificação dos casos no local de

estudo não foi realizada, pois os casos registrados no setor de vigilância

epidemiológica da instituição eram reportados após o diagnóstico pelo atendimento

médico na unidade ambulatorial da mesma ou em outra unidade de saúde. Com

isso, não foi possível saber o número de casos suspeitos da doença.

Tendo em vista o surgimento de mais de um caso no campus de Engenharia

Química, o surto foi notificado às unidades competentes, dando início à realização

da profilaxia pós-exposição no local. Porém, como isso ocorreu somente em um

determinado lugar e com duração breve, de apenas um dia, outros campi

começaram a reportar casos devido à circulação dos estudantes, docentes e outros

servidores entre os locais de convívio comum entre si, como restaurantes, biblioteca,

campus com outras disciplinas etc.

O MS indica que as pessoas doentes sejam afastadas de suas atividades

habituais nove dias após o início dos sintomas, porém, tanto a DDTR, no Estado de

São Paulo, quanto os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos EUA,

recomendam cinco dias de afastamento(2,12,23). Como referido anteriormente, não

houve uma busca ativa de novos casos, estes somente eram registrados após o

encaminhamento ao setor de vigilância epidemiológica da instituição pelas unidades

de atendimento ou pelo próprio paciente. Com isso, o período de afastamento dos

casos acabava não sendo comum entre eles e tampouco monitorado, o que poderia

interferir na propagação do vírus pela instituição.

Vimos que após o encerramento oficial deste surto no SINAN, outro surto de

caxumba na mesma instituição foi notificado após dois meses. A ausência de

realização de busca ativa poderia ter identificado outros casos anteriores,

controlando o surto mais brevemente, pois, aparentemente não se trata de um outro

surto e sim a continuidade do utilizado para realização deste estudo.

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Além disso, as medidas utilizadas para controle do surto na instituição de

ensino em estudo foram resumidamente o atendimento dos casos, o isolamento

durante o período de transmissibilidade e a profilaxia pós-exposição. Como mostram

os gráficos 4A e 4B, a instituição em vários momentos realizou a vacinação das

pessoas expostas de acordo com o campus de ocorrência dos casos e com duração

de um dia. Como a instituição de ensino recebe estudantes e pessoas que utilizam

seus serviços de diversas regiões e municípios que circulam entre os diversos

campus e locais da própria instituição, a disseminação do vírus ocorre rapidamente

e em uma proporção considerável, tornando necessário que as ações de vacinação

fossem estendidas, isto é, disponibilizadas ao mesmo tempo em locais de circulação

em comum entre as pessoas e com ampliação do tempo de sua permanência

também.

Embora a situação vacinal da maioria dos casos estivesse registrada nos

documentos do setor de vigilância epidemiológica da instituição, estes não foram

utilizados para levantar uma possível hipótese da ocorrência do surto, pois, como se

sabe, se a cobertura vacinal estiver baixa, o surgimento de um agregado de casos é

praticamente inevitável. A comunicação dessas informações por meio de um

relatório poderiam desenvolver maiores discussões e melhores ações para controle

do surto por todas as unidades envolvidas.

5.3 Limitações

As informações obtidas para realização do estudo foram provenientes dos

registros regulares do sistema de vigilância epidemiológica (dados secundários),

sendo que o autor não participou da investigação do surto em questão. Deste modo,

as variáveis disponíveis e as etapas de investigação nem sempre apresentaram a

qualidade desejada colocando limites à análise.

As Fichas de Investigação Epidemiológicas (FIE) utilizadas para registro dos

casos apresentam poucas variáveis, havendo dados insuficientes sobre a descrição

dos casos e sobre sua situação vacinal. Foi necessária a elaboração de um

formulário mais detalhado pela DDTR/CVE/CCD/SES-SP (anexo 5).

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Como em todos os agravos, existe a ocorrência de casos que não são

notificados à instituição. A subnotificação pode ter tal magnitude que produza viés

considerável na análise das diferentes variáveis.

Não foi possível obter informações sobre sexo e faixa etária de todos os

alunos matriculados na instituição, o que limitou a identificação dos grupos com

maior risco pela ausência de denominadores.

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50

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como visto no surto desta instituição de ensino, a população mais afetada foi

a de adultos jovens, com poucas complicações e comorbidades referidas.

Atualmente, essas características são descritas em diversos surtos de caxumba ao

redor do mundo, onde mesmo com a existência das vacinas tríplice viral e tetraviral

continuam a ocorrer.

A descrição deste surto mostrou que embora parte dos estudantes entre 16 e

24 anos possuam pelo menos uma dose da vacina, as ações exercidas para

controle do surto foram ineficazes. A partir da curva epidêmica é possível observar

isso, pois continuaram a ocorrer casos de caxumba na instituição por,

aproximadamente, dois anos.

Por não ser um agravo de notificação compulsória, o registro de casos

depende da ocorrência de um surto, pois este sim é necessário reportar aos órgãos

competentes por meio do SINAN módulo surto. Como visto na FIE e na planilha de

acompanhamento de surtos (anexos 2 e 3), não há dados sobre a situação vacinal,

manifestações clínicas, realização/resultado de exames específicos e identificação

do caso, como endereço e telefone, somente as iniciais de seu nome. Apesar disso,

a ficha de monitoramento de agravos para identificação de surtos disponibilizada

pela Secretaria Municipal de Saúde de Campinas (anexo 4) foi utilizada pela

instituição, sendo possível a complementação de alguns dados.

O modo como foi realizada a profilaxia pós-exposição e a ausência de busca

ativa de casos facilitou a disseminação e permanência do vírus na instituição. Como

o local de estudo possui diversas áreas de convivência em comum entre os

estudantes e servidores da instituição era necessário que a profilaxia pós-exposição

fosse realizada simultaneamente e por um tempo maior nos locais, buscando atingir

todos os públicos. A situação vacinal dos estudantes deveria ser monitorada e

avaliada constantemente para que caso houvesse uma vacina pendente ou em falta,

a instituição de ensino pudesse recomendar a procura pela imunização. E mesmo

em caso de recusa, a instituição estaria preparada para desencadear intervenções

precocemente e mais eficazes.

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Além do nível local, os órgãos municipal, regional, estadual e federal também

são responsáveis por monitorar, analisar, recomendar e impor medidas para o

controle de um surto. Quando situações como esta ocorrem, é necessário que as

relações entre os diversos órgãos de saúde sejam enfatizadas. Se há um bom

relacionamento entre os envolvidos, os problemas são resolvidos rapidamente e

você pode concentrar seu tempo e esforços em parar a epidemia, baseando-se na

compreensão de seus habilidades, funções e responsabilidades(54).

Para o desencadeamento de medidas de prevenção e controle eficazes foi

referida neste estudo a necessidade de seguir o roteiro de investigação de surto, por

meio da identificação breve de casos e da análise dos dados detalhada para o

desenvolvimento de hipóteses condizentes com as características da instituição.

A capacitação e/ou contratação de profissionais para auxiliar na investigação

do surto, bem como a educação dos estudantes e servidores da instituição sobre a

doença e a importância de sua prevenção por meio da imunização são outras

medidas para o controle do surto. Para que a informação seja transmitida

corretamente, é necessário que os recursos utilizados na comunicação sejam

ampliados, como por exemplo, a disponibilidade de formulários, informes sobre o

fluxo de coleta de amostras, perguntas e respostas sobre a doença em no site da

instituição e das unidades de saúde. Além disso, o envolvimento da imprensa

(televisão, rádio, jornal) também é uma das medidas que facilita na dispersão de

informações(54).

Como qualquer outro surto ou epidemia, a experiência adquirida no local de

estudo faz com que futuramente as medidas de prevenção e controle sejam

aperfeiçoadas e os órgãos envolvidos estejam mais preparados na ocorrência de

outro evento semelhante a esse. A realização de mais estudos referentes ao agravo

no país, um melhor investimento em torno da situação vacinal de adultos jovens e a

disponibilidade de vacinas com outros genótipos do vírus ou que possuam melhor

imunogenecidade são alguns dos fatores que podem contribuir para o controle breve

e eficaz dos surtos de caxumba.

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ANEXOS

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Anexo 1. Parecer consubstanciado do CEP

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Anexo 2. Ficha de investigação epidemiológica de surtos

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Anexo 3. Planilha para acompanhamento de surto

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Anexo 4. Ficha de monitoramento de agravos para identificação de surtos

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Anexo 5. Formulário de investigação dos casos de caxumba

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Anexo 6. Parecer da comissão científica