iv congresso internacional de literatura infantil e juvenil “celebrando a leitura” anais 2015

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ANAIS ISBN: 978-85-69697-01-5 IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL “Celebrando a Leitura” 2, 3 e 4 de Setembro de 2015

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  1. 1. ANAIS ISBN: 978-85-69697-01-5 IV CONGRESSO INTERNACIONAL DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL Celebrando a Leitura 2, 3 e 4 de Setembro de 2015
  2. 2. ANAIS Organizadoras Renata Junqueira de Souza Juliane Francischeti Martins Motoyama Silvana Ferreira de Souza Balsan Cinthia Magda Ariosi Berta Lcia Tagliari Feba PRESIDENTE PRUDENTE 2015 IV Congresso Internacional de Literatura Infantil e Juvenil Celebrando a Leitura 2, 3 e 4 de Setembro de 2015
  3. 3. Comisso organizadora: Ana Laura Garro dos Santos Berta Lcia Tagliari Feba Bruno Santos de Lima Cinthia Magda Fernandes Ariosi Clara Cassiolato Junqueira Gabriele Goes da Silva Gislene Aparecida da Silva Barbosa Irando Alves Martins Neto Izabele Dias dos Santos Juliane Francischeti Martins Motoyama Katia Maria Roberto de Oliveira Kodama Kenia Adriana de Aquino Modesto Silva Mariana Revoredo Marismene Gonzaga Marta Campos de Quadros Renata Junqueira de Souza Rogrio Eduardo Garcia Silvana Ferreira de Souza Balsan Taisa Andrade de Souza Silva Ribeiro Valria Santos Vania Kelen Belo Vagula Superviso Cientfica: Adriana Pastorello Buim Arena Alberto Albuquerque Gomes ngela Maria Franco Martins Coelho de Paiva Bala Ana Margarida Ramos Carlos Augusto Novais Cinthia Magda Fernandes Ariosi Digenes Buenos Aires de Carvalho Edgar Roberto Kirchof Eliane Santana Dias Debus Elieuza Aparecida de Lima Elianeth Kanhack Hernandes Fabiane Verardi Burlamaque Flvia Brocchetto Ramos Fernando Teixeira Luiz Hercules Toledo Correa Jos Hlder Pinheiro Alves Katia Maria Roberto de Oliveira Kodama Maria Amlia Dalvi Salgueiro Maria de Lourdez Zizi Trevizan Perez Marta Campos de Quadros Silvio Cesar Nunes Milito Thiago Alves Valente
  4. 4. Apresentao O Congresso Internacional de Literatura Infantil e Juvenil um evento diretamente ligado ao Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil Maria Betty Coelho Silva. O CELLIJ da Faculdade de Cincias e Tecnologia - UNESP Presidente Prudente foi criado em 1995, com o objetivo principal de formar leitores a partir de interaes significativas com o texto literrio. Com esse propsito, tem tido como princpio de suas aes o dilogo constante entre professores e alunos da educao infantil, do ensino fundamental, do curso de Pedagogia e do Programa de Ps-Graduao em Educao. O Congresso Internacional de Literatura Infantil e Juvenil um evento que discute com professores, livreiros, autores e pesquisadores de diversos estados do Brasil e de diferentes pases, o ensino da leitura, a qualidade da produo dos livros infantis e juvenis, e a importncia da literatura infantil e juvenil como material de leitura. Desde 1999, o CELLIJ (Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e juvenil Maria Betty Coelho Silva), da UNESP Presidente Prudente/So Paulo tem promovido este Congresso. Na edio de 2015, os participantes no apenas comemoraram os 20 anos do CELLIJ, como tambm as mltiplas possibilidades, de que atualmente as crianas e jovens tm de acessar e ler um texto literrio. Comisso Organizadora
  5. 5. Programao 2 de setembro 8h-9h - Entrega dos materiais Centro Cultural Matarazzo 9h Abertura auditrio Centro Cultural Matarazzo 9h30 - Palestra de abertura: Celebrando a literatura infantil: portas abertas para a imaginao Ronald Jobe (UBC-Vancouver, Canad) 13h30-15h Mesa redonda 1 Crianas e jovens, leitores literrios - Centro Cultural Matarazzo Educao Literria de crianas pequenininhas e pequenas? De ouvintes a leitoras Cyntia Graziela Girotto Simes (UNESP Marlia) Os jovens, a leitura e seus suportes Fabiane Verardi Burlamaque ( Universidade de Passo Fundo) 15h Intervalo 15h30 17h Mesa redonda 2 Dilogos literrios: entre o verbal e o no verbal - Centro Cultural Matarazzo Literatura infantil e juvenil e discurso literrio Ricardo Azevedo escritor e ilustrador Texto e imagem nos livros de literatura para crianas Lus Camargo editor 19h30 CELLIJ em FESTA SESC Gilka Girardello (UFSC) Histrias de contar histrias Valria Santos (FCT/CELLIJ) Memrias do CELLIJ Coquetel e noite de autgrafos 3 de setembro 8h 9h30 Apresentao de trabalhos e pster - discente V UNESP 9h30 Intervalo 10h-12h Apresentao de trabalhos e pster 13h30-14h30 - Histrias para ler, histrias para contar Grupo Mafagafos (Santa Catarina) - discente V UNESP 14h30 15h30 - Apresentao de trabalhos e pster - discente V - UNESP
  6. 6. 15h30 - Intervalo 16h 17h30 Apresentao de trabalhos e pster - discente V - UNESP 19h30 Espetculo: Histrias de um Ninho de Mafagafos (Santa Catarina) - SESC 4 de setembro 8h-9h30 Mesa redonda 3 Leitura Literria: espaos e mediao - discente V - UNESP A prtica da leitura literria na escola: mediao ou ensino? Rildo Cosson CEALE/UFMG Espaos de leitura/Leituras do espao Edmir Perrotti ECA/USP 9h30 Intervalo 10h Palestra de encerramento: Livros infantojuvenis, literatura e educao: conexes com o mundo contemporneo Rosa Hessel Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 12h Show de encerramento: A noite que durou dias Vincius Dias Zurlo (Assis) OBSERVAO: Os textos apresentados neste material, afirmaes e conceitos expostos so de responsabilidade exclusiva dos autores.
  7. 7. PSTER
  8. 8. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 8 | P g i n a Espaos e mediaes de leitura literria
  9. 9. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 9 | P g i n a A MEDIAO DO PROFESSOR NA FORMAO DO LEITOR LITERRIO: UM ENSAIO A PARTIR DA PESQUISA RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL 3 Luciana Mara Torres Buccini (UFMG) Regilane Gava Lovato (UFMG) Eixo temtico: Espaos e mediaes de leitura literria RESUMO A pesquisa Retratos da leitura no Brasil 3, organizada pelo Instituo Pr-livro, traz dados pouco satisfatrios para os estudiosos da formao do leitor literrio. A edio publicada em 2012 revela que, apesar das inmeras polticas pblicas, como a distribuio gratuita de livros a escolas, e o abastecimento de bibliotecas, h insuficincia nas estatsticas relativas aos leitores no Brasil. Atrelados a essas estatsticas, os resultados de avaliaes nacionais e internacionais, a que so submetidos os alunos e os professores, no apresentam resultados positivos em relao ao domnio da leitura e da escrita, sendo incompatveis com os investimentos governamentais feitos em materiais de leitura (LZARO, 2009, p. 10). Assim, torna-se necessrio o investimento na formao de mediadores de leitores, pressupondo a formao de todos os sujeitos que podem estar envolvidos, principalmente os professores, bem como atrelar essa formao aos mais variados espaos e pblicos. Este texto tem como objetivo refletir, a partir da pesquisa Retratos da leitura no Brasil 3, o papel do mediador na formao do leitor literrio, por meio da anlise documental. Ser feita uma breve anlise dos dados da pesquisa e das aes governamentais j citadas, como tambm do seu investimento na formao de professores, envolvendo a mediao da leitura, principalmente, para os que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como o caso do Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC),que incentiva os professores alfabetizadores a utilizarem obras literrias, disponibilizadas pelo prprio programa. INTRODUO A literatura, por meio da linguagem da fico e da poesia, possibilita-nos a reflexo sobre a sociedade e as suas formas de organizao, permite-nos organizar nossos pensamentos sobre a condio humana, mesmo quando nos oferece mais perguntas que respostas. Como afirma Antonio Candido (1995), por esse carter
  10. 10. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 10 | P g i n a organizador, deve ser um direito do cidado desde a escola bsica. O presente texto se pauta nas discusses acerca do papel do mediador na formao do leitor literrio, com enfoque na pesquisa Retratos da leitura no Brasil 3 e na proposta do PNAIC, com a leitura deleite, para se trabalhar a leitura em sala de aula. Por meio do letramento literrio, pode-se pensar os processos de aquisio e desenvolvimento da leitura, que formem leitores capazes de se colocarem na sociedade como sujeitos crticos, conscientes, construtores de suas interpretaes sobre a vida de maneira autnoma. Em nossas sociedades a literatura tem sido um instrumento poderoso de instruo e educao (...). A literatura confirma e nega, prope e denuncia, apoia e combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO, 1995, p. 175) Rildo Cosson (2011), em Letramento Literrio: teoria e prtica, defende, assim como Paulino (2010), que a escola um espao onde o aluno deve aprender a extrapolar os limites de entretenimento que a leitura literria proporciona. Para Graa Paulino, o letramento literrio, como outros tipos de letramento, continua sendo uma apropriao pessoal e consciente, de prticas sociais de leitura/escrita, que no se reduzem escola, embora muitas vezes passem por ela. As experincias estticas, entre as quais se inclui a leitura literria, esto sendo mais valorizadas nestes tempos de capitalismo tardio, como modos de re- humanizar as relaes enrijecidas pela mercantilizao. [...] O ensino de literatura, como parte do processo de letramento literrio, se mistura ao contato com outros tipos de textos, numa contaminao incessante, que tem de ser considerada no apenas na escola, mas em todas as instncias sociais. (PAULINO, 2010, p. 407) Cosson (2014, p.46-49) destaca que a formao de um leitor competente envolve: ler diversos e diferentes textos; ler de diversos modos; ler para conhecer o texto que nos desafia e que responde a uma demanda especfica; avaliar o que l; ler para aprender a ler. Segundo o autor, essas e outras caractersticas do aprendizado da leitura encontram na literatura um campo ideal para seu desenvolvimento.
  11. 11. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 11 | P g i n a assim que, por meio da leitura da literatura, temos acesso a uma grande diversidade de textos, pois prprio do discurso literrio a multiplicidade das formas e a pluralidade dos temas. [...] A leitura literria conduz a indagaes sobre o que somos e o que queremos viver, de tal forma que o dilogo com a literatura traz sempre a possibilidade de avaliao dos valores postos em uma sociedade. Tal fato acontece porque os textos literrios guardam palavras e mundos tanto mais verdadeiros quanto mais imaginados, desafiando os discursos prontos da realidade, sobretudo quando se apresentam como verdades nicas e imutveis. Tambm porque na literatura encontramos outros caminhos de vida a serem percorridos e possibilidades mltiplas de construir nossas identidades. (COSSON, 2014, p. 49-50) A leitura uma prtica culturalmente valorizada na sociedade, entretanto so de senso comum as proposies Brasileiros leem pouco. Brasileiros leem mal, lembradas por Magda Soares (2008, p.30) em seu artigo Ler: verbo transitivo, no qual tambm apresenta essa prtica como um processo complexo e multifacetado: depende da natureza, do tipo, do gnero daquilo que se l, e depende do objetivo que se tem ao ler. No se l um editorial de jornal da mesma maneira e com os mesmos objetivos com que se l a crnica de Verissimo no mesmo jornal; no se l um poema de Drummond da mesma maneira e com os mesmos objetivos com que se l a entrevista do poltico; no se l um manual de instalao de um aparelho de som da mesma forma e com os mesmos objetivos com que se l o ltimo livro de Saramago. S para dar alguns poucos exemplos. (SOARES, 2008, p.30) A pesquisa Retratos da leitura no Brasil 3 traz dados pouco satisfatrios para os estudiosos da formao do leitor literrio. A ltima pesquisa publicada, em 2012, mostra que apesar das inmeras polticas pblicas, como a distribuio gratuita de livros a escolas e o abastecimento de bibliotecas, h insuficincia nas estatsticas relativas aos leitores no Brasil. Houve um decrscimo, entre 2007 e 2012, na porcentagem de leitores, de 55% para 50%. A pesquisa foi feita com uma amostra em que a populao entrevistada tinha 5 anos ou mais (alfabetizada ou no). Um dos objetivos da pesquisa conhecer o comportamento do leitor brasileiro e seu perfil, assim obtendo ferramentas para identificar aes efetivas na formao de leitores.
  12. 12. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 12 | P g i n a O estudo entrevistou a amostra buscando compreender diversas caractersticas daqueles que se dizem leitores, como a classe social a que pertencem, como surgiu o interesse pela leitura, as pessoas que o influenciaram a ler, entre outras questes. Ela , portanto, tomada como referncia para este estudo por elucidar questes acerca da importncia da escola na formao dos leitores. Um nmero que nos interessa aqui relativo aos influenciadores da leitura. Segundo a pesquisa, em 2007, as mes eram as pessoas que mais influenciavam a leitura citados por aqueles que gostam de ler , sendo superada em 2012, pelos professores. Esses dados podem ser um indicativo de aes escolares mediadas pelo professor no intervalo de cinco anos, que passa a ser destacado quanto a esse papel. Entretanto, os resultados de avaliaes nacionais e internacionais, a que so submetidos os alunos e os professores, no apresentam resultados positivos em relao ao domnio da leitura e da escrita, sendo incompatveis com os investimentos governamentais feitos em materiais de leitura (LZARO, 2009, p. 10). A mediao um processo fundamental no desenvolvimento da leitura, principalmente, quando se trata de ler para crianas em processo de aprendizagem e aquisio da leitura e escrita. De acordo com o texto, publicado na internet, O PROLER e a mediao da leitura (S.A., s.d., p. 2 e 3) a mediao nas prticas de incentivo leitura deve ser entendida no como mtodo assistencial e pedaggico de ao, mas como um processo de produo de leitores, de transformao de cidados em cidados leitores. Desse ponto de vista, em vez de o mediador operar como um intermedirio ou como um tradutor junto a pessoas que tm dificuldades de leitura, ele atua como um formador de leitores. A mediao de leitura, tal qual a entendemos, um processo no qual a relao entre dois ou mais sujeitos agentes de leitura e leitores mediada por um livro ou por um contedo escrito determinado que os faz dialogar entre si. Em seu livro O professor e a literatura: para pequenos, mdios e grandes, Lgia Cadermatori (2012) nos apresenta essas ideias por meio da obra Sr. Pip, de 2006, do escritor Lloyd Jones, que promove uma reflexo sobre a relao do leitor, em sentido
  13. 13. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 13 | P g i n a amplo, e do professor (no institucionalizado), em sentido restrito, com a literatura. A histria ilustra certa natureza pertubadora da literatura que, mesmo em uma ilha sitiada, precisa encontrar condies para existir. Uma delas, o escapismo, pode ser uma primeira etapa na experincia de leitura, apesar do sentido pejorativo atribudo ao termo. Ele pode estar na base da formao dos mais requintados leitores, assim como de escritores de grande talento. Uma outra etapa da relao com a literatura descobrir a prpria voz, a subjetividade que preenche os vazios da obra. Entretanto, uma outra constatao a que a obra nos leva, segundo Cademartori, que nem todo mundo pode ser leitor. Para aqueles que so, segundo Piglia (citado por CADEMARTORI, 2012, p. 24) a leitura constri um espao entre o imaginrio e o real.(...) No existe nada simultaneamente mais real e mais ilusrio do que o ato de ler. A mediao , pois, uma relao de troca, de aprendizado recproco, e de ampliao de uma percepo individual a partir de sua composio com outras formas de percepes em relao ao mesmo objeto, uma ampliao que permite que a apropriao individual desse objeto um objeto de conhecimento s possa dar-se coletivamente. Isto significa que apropriar-se de um conhecimento o mesmo que se tornar capaz de compartilh-lo (S. A., s.d., p.3). O professor enquanto mediador ensina cada um a perceber que tem uma voz prpria, uma singularidade, e que esse um dom especial, que ningum poder jamais tirar (CADEMARTORI, 2012, p. 22). A experincia que cada ser humano vivencia com o livro nica, mesmo contando com a colaborao de um mediador, pois, segundo a autora, as vivncias do sujeito interferem no texto ou na histria de tal modo que podem modificar a experincia, o fato de ter gostado ou no do livro. Quando se trata de leitura, de promov-la na escola ou em outro lugar, ou quando se discute a experincia do professor como leitor, importante ter presentes os diversos estgios em que passa um leitor, j que a formao no se d de uma s vez, nem de modo nico ou mecnico. Tornar-se leitor processo que ocorre ao longo do
  14. 14. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 14 | P g i n a tempo e de distintas maneiras para diferentes pessoas. Cademartori (2012, p. 90 e 91) esclarece que a capacitao dos alunos leitura um dos objetivos do ensino fundamental, habilidade que deve ser aprimorada no ensino mdio. Iniciativas, incentivos e programas de leitura que propiciam tal capacitao so de importncia vital na educao. Esforos nesse sentido so crescentes no pas, impulsionados por razes culturais, sociais e polticas. Mas a formao de leitores literrios extravasa o mbito do trabalho de massa. Envolve particularidades de uma sintonia mais fina, alm da disposio para aventuras subjetivas, que no existe em qualquer professor nem em qualquer aluno. Nasce ento a questo: como a escola bsica, ensino fundamental e mdio, est capacitando os alunos para a leitura? Quais estratgias ela est utilizando para formar leitores literrios? Que polticas pblicas vem sendo implantadas com o objetivo de formar cidados leitores? Pode-se definir, de modo bem resumido, polticas pblicas como a ao do Estado na sociedade. Para Paiva no texto Polticas pblicas de leitura literria do Glossrio Ceale (2014, s.p.) so as polticas culturais e, sobretudo, educacionais que do concretude e visibilidade ao modelo de sociedade a ser implantado pelo Estado, por meio de seus governos. [...] o pressuposto da democratizao da leitura vem orientando as polticas pblicas e que, a cada programa, procura-se verticalizar as aes em prol da distribuio universal de acervos de literatura a todos os segmentos de ensino. Entretanto, essas importantes aes ainda no se constituem, de fato, em polticas pblicas de leitura, j que a sua ao ainda est restrita esfera da distribuio e esses acervos, muitas vezes, permanecem encaixotados em algum lugar das escolas ou das secretarias de educao. Portanto, a formao de mediadores de leitura vital para que as polticas pblicas de leitura literria realmente se concretizem, tornando-se, assim, polticas de formao de alunos como cidados da cultura escrita. O Ministrio da Educao (MEC), no Brasil, foi criado em 1930. Desde a sua criao, surgiram aes de promoo da leitura. Na dcada de 1980 apenas que comeam a surgir polticas pblicas voltadas para o acesso leitura. Quatro programas ganham mais evidncia nesses ltimos 35 anos: o Programa Nacional Sala de Leitura
  15. 15. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 15 | P g i n a PNSL (1984-1987); o Proler, criado pela Fundao Biblioteca Nacional, do Ministrio da Cultura; o Pr-leitura na formao do professor (1992 -1996) e o Programa Nacional Biblioteca do Professor (1994). Em 1997, criou-se o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que vigora ainda hoje. Todos eles foram sistematizados por Custdio (2000). O Programa Nacional Sala de Leitura foi criado pela Fundao de Assistncia ao Estudante FAE. Em parceria com as secretarias estaduais de educao e com universidades responsveis pela capacitao de professores, seu objetivo era compor, enviar acervos e repassar recursos para ambientar as salas de aula. O Proler foi criado pela Fundao Biblioteca Nacional, do Ministrio da Cultura, que tem como objetivo possibilitar sociedade o acesso a livros e a outros materiais de leitura. O MEC participava desse programa de forma indireta, com repasse de recursos por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao - FNDE. A terceira iniciativa, o Pr-leitura na formao do professor (1992 -1996), como o prprio nome traz, preocupou-se com a formao docente, buscando-se formar professores leitores a fim de que eles pudessem facilitar a entrada de seus alunos no mundo da leitura e da escrita. Esse programa foi desenvolvido a partir de uma parceria entre o MEC e o governo francs. Esse programa, inserido no sistema educacional, aspirava estimular a prtica leitora na escola pela criao, organizao e movimentao das salas de leitura, cantinhos de leitura e bibliotecas escolares. Concomitante a esse programa, criou-se o Programa Nacional Biblioteca do Professor, cujo objetivo era auxiliar os docentes das sries iniciais do Ensino Fundamental. Em 1997, entretanto, esse programa chegou ao fim dando lugar ao Programa Nacional Biblioteca da Escola, que tem como objetivo prover as escolas de ensino pblico das redes federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, no mbito da educao infantil (creches e pr-escolas), do ensino fundamental, do ensino mdio e educao de jovens e adultos (EJA), com o fornecimento de obras e demais materiais de apoio prtica da educao bsica.
  16. 16. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 16 | P g i n a So distribudos s escolas por meio do PNBE; PNBE do Professor; PNBE Peridicos e PNBE Temtico, acervos compostos por obras de literatura, de referncia, de pesquisa e de outros materiais relativos ao currculo nas reas de conhecimento da educao bsica, com vista democratizao do acesso s fontes de informao, ao fomento leitura e formao de alunos e professores leitores e ao apoio atualizao e ao desenvolvimento profissional do professor. O PNBE composto pelos seguintes gneros literrios: obras clssicas da literatura universal; poema; conto, crnica, novela, teatro, texto da tradio popular; romance; memria, dirio, biografia, relatos de experincias; livros de imagens e histrias em quadrinhos. Em 2013, mais uma poltica foi implantada, envolvendo a literatura e a leitura literria. Desta vez, no mbito do Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa (PNAIC), selecionando acervos de literatura para as salas de aula dos trs primeiros anos do Ensino Fundamental. Ainda que bem incipiente, e com um objetivo bem ousado, o governo federal instituiu o PNAIC com o objetivo principal de alfabetizar todas as crianas at os oito anos de idade, ao trmino do 3 ano do Ensino do Fundamental. Esse programa, inserido em uma poltica pblica de formao continuada de professores alfabetizadores, conta com a participao articulada dos governos federal, estaduais e municipais e com a parceria de universidades pblicas e secretarias de educao, para que o objetivo seja alcanado. Para a implementao, o Pacto dispe de quatro eixos de atuao, sendo eles: formao continuada presencial dos professores alfabetizadores, com enfoque na alfabetizao em Lngua Portuguesa e alfabetizao Matemtica, ofertada pelas Instituies de Ensino Superior (IES); materiais didticos e pedaggicos; avaliaes e gesto, controle social e mobilizao. Para este trabalho destacamos o eixo formao continuada, ainda que neste momento no ser discutido sobre esse eixo, apenas iremos ressaltar uma proposta do programa feita nas formaes que a leitura deleite e a viso de alguns professores sobre essa prtica docente.
  17. 17. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 17 | P g i n a O PNAIC prope a leitura deleite como atividade permanente a ser realizada tanto pelo professor, como pelo aluno, individualmente ou coletivamente. As atividades permanentes, conforme evidencia o PNAIC, caderno de formao ano 2, unidade 2 (BRASIL, 2012) so atividades que se repetem durante um determinado perodo de tempo (semana, ms, ano) e que possuem uma regularidade maior, caractersticas importantes para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes. Essas atividades, consideradas rotinas, apesar de serem repetidas, durante um tempo, no so cansativas, pois h mudanas na permanncia, colaborando para estabelecer, nas crianas, sentimento de estabilidade e confiana. O caderno de formao ano 2, unidade 2, (BRASIL, 2012, p. 25) ressalta que a leitura deleite utilizando as estratgias de leitura (antes, durante e depois) pode ser uma leitura individual, dupla, coletiva ou protocolada com continuidade no dia seguinte, atravs da utilizao dos livros do PNBE e do PNLD - Obras Complementares. A professora Jovana (nome fictcio) do 1 ano enaltece a importncia de ler para os alunos, afirmando que necessrio ler algo para as crianas, eu preciso ler algo pra elas. Ler por prazer de ler e passar isso para as crianas, que elas tenham o gosto pela leitura. Essa mesma docente destaca algumas informaes que foram agregadas, com o PNAIC, em sua prtica docente, no momento da leitura deleite, ressaltando que antes da formao do Pacto contava muita histria para os alunos, sempre gostou de contar histrias, mas lia pouca histria. Hoje eu leio com mais profundidade as histrias e vivencio aquilo que eu leio. Acho interessante eu professora ler, s vezes, peo as crianas que venham a frente pra ler, tambm, mesmo sem saber ler, mas eles j conseguem olhar aquelas gravuras e contar e at dizem que to lendo e eu acredito. Eu lia a histria anteriormente e depois eu contava. Hoje no, hoje eu leio e conto ao mesmo tempo a histria, o qu diferente. Atrai a ateno e eu vou vivenciando tudo aquilo que eu estou lendo. Eu sempre falo pra eles que eu leio pra algum, leio pra mim mesmo, mas eu leio pra algum. Quando eu leio pra algum importante eu ler corretamente, pontuando, vivendo aquilo que estou lendo. Se tiver um som, eu tento fazer aquele som pra poder ficar mais interessante (PROFESSORA JOVANA DO 1 ANO).
  18. 18. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 18 | P g i n a A professora acredita ser importante ler para os alunos, assim como solicitar que eles, tambm, faam a leitura, mesmo os que, ainda, no a dominam e enfatiza que antes do PNAIC lia para depois contar a histria e com a formao do Pacto passou a ler e contar ao mesmo tempo, vivenciando o qu est lendo. A docente, alm disso, ressalta que fala para os alunos a necessidade de se ler corretamente e pontuando, j que lemos para ns e para outras pessoas. Janete (nome fictcio), docente do 2 ano, afirma que a leitura deleite o gosto pela leitura sem se cobrar nada, voc conta a histria, trabalha a capa, fala a biografia do autor, que a gente no tinha esse hbito, a gente falava ah, o autor fulano, mas voc no falava sobre ele. Para a professora a leitura deleite pode ser uma leitura pelo simples prazer de ler, sendo apreciada, pelos educandos, sem a cobrana de uma atividade. Outro detalhe importante, na fala da professora, a leitura da biografia do autor, que antes da formao do PNAIC ela no tinha o hbito de fazer, podendo despertar nos alunos o interesse pela leitura de outros livros do mesmo autor, bem como a curiosidade por conhecer um pouco mais sobre ele, atravs da pesquisa. Uma das professoras do 3 ano, com nome fictcio de Beatriz, comenta que faz a leitura deleite no incio da aula e que no dia da entrevista havia terminado de fazer a leitura do livro Dirio de um banana, em que ela foi contando por partes, um captulo cada dia, j que um livro mais extenso para ser lido em apenas um dia. Ressaltamos que o livro mencionado no consta na caixa de obras literrias disponibilizadas atravs do PNAIC a cada turma do ciclo de alfabetizao. A mediao da leitura do livro, conforme sugesto na formao do Pacto, comea pela capa, com a leitura, observao e interpretao por parte dos alunos e conduzidos pela docente e a biografia do autor. Durante a leitura do livro, a professora, mostra as imagens, faz os questionamentos que considera relevante e ouve as opinies dos educandos. Eu inicio, geralmente, a minha aula com uma leitura para deleite, hoje eu finalizei um livro. Eles gostam muito. Quando um livro pequeno, eu costumo,
  19. 19. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 19 | P g i n a s vezes, sentar em rodinha ou, s vezes, eles esto na cadeira, no sempre a mesma coisa, no sempre da mesma forma, mas como eu peguei, agora, um livro grande, que eles so obcecados pelo Dirio de um banana, ento eu fui lendo captulos a cada dia e a eu vou questionando no decorrer da histria, se tiver imagens eu mostro. Primeiro eu trabalho a capa do livro, o autor que eles j conhecem, a medida que eu vou contando a histria, eu vou explorando a histria, vou fazendo perguntas no meio da leitura (PROFESSORA BEATRIZ DO 3 ANO). A professora Beatriz, ainda, evidencia que possibilita o contato dos alunos com a leitura, principalmente, de trs formas, atravs da leitura deleite feita todos os dias, ou seja, geralmente, no incio da aula, ela l para os alunos; a leitura na biblioteca da escola, em que um dia da semana os alunos vo biblioteca escolherem um livro para levarem para casa e fazer a leitura e o cantinho, mencionado pela docente, referindo-se ao cantinho da leitura feito na sala de aula com os livros de literatura da caixa do PNAIC disponibilizados pelo PNBE, em que ela deixa um tempo da aula para eles ficarem nesse espao lendo e, conforme os alunos vo terminando as atividades eles, tambm, podem ler um livro do cantinho. importante mencionar que, esse espao, na sala de aula, denominado cantinho da leitura, foi proposto pelo PNAIC, para que os livros de literatura disponibilizados pelo programa fiquem na sala disposio dos educandos. Todo dia ns temos a leitura para deleite, ento eu escolho um livro, eu leio para eles. Tem dia da semana que tem o momento da leitura que eles alm de irem na biblioteca, eu deixo eles no cantinho lendo um pouquinho e tem a questo que quem termina primeiro fica a vontade para ir l, a caixa est l com todos os livros, eles pegam e vo lendo. Pelo menos os meus, eu sempre incentivo, todos terminam de fazer a atividade eles vo pegar o livro pra ler (PROFESSORA BEATRIZ DO 3 ANO). Escola, pais, polticas pblicas, todos os envolvidos nesse processo de formao de leitores no podem deixar de lado uma questo que tem permeado as relaes s quais nossos mais novos leitores esto submetidos e para a qual Cademartori nos chama a ateno: a do consumo. A literatura tambm hoje marcada pelas relaes capitalistas e os exemplos mais claros so os best-sellers e as obras que se espelham neles buscando o mesmo mercado (mas que nem sempre o alcanam). Todos esses ocupam as prateleiras centrais das principais livrarias dos shoppings
  20. 20. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 20 | P g i n a centers e impem, muitas vezes, uma lgica consumista dentro das relaes interpessoais em que h de se reproduzir o que aceito pela sociedade, inclusive o que se l. Se todos esto lendo A culpa das estrelas e conversam sobre ele na hora do recreio, no whatsApp, etc. necessrio, como sobrevivncia social, que eu tambm o leia, mesmo que para isso sacrifique o tempo que iria destinar a alguma outra leitura. Para concluir Cademartori (2012, p.125) esclarece, talvez a tarefa fundamental do professor, hoje, seja ensinar a seus alunos como distinguir, entre as mltiplas vozes das mensagens impressas e eletrnicas de todo tipo que o cercam, quais de fato merecem ateno deles, por serem capazes de atender, de algum modo, suas necessidades de ser. CONSIDERAES FINAIS Sem a figura do mediador, os livros constituem patrimnio cultural morto e no apropriado. Dessa forma faz-se necessria a atuao de um leitor mais experiente que possa mediar a relao entre o possvel leitor e o objeto cultural - livro. preciso que se construa sobre o livro um valor de uso, um valor social, para alm do uso meramente escolar, e que haja uma relao de necessidade de leitura. Entretanto, pesquisas, como a de Lage (2010), indicam uma fragilidade na formao de professores de Lngua Portuguesa e Literatura. Segundo a autora, o professor brasileiro est confuso, sem saber o que ensinar, como ensinar, e para que ensinar. Nesse contexto, alguns docentes perdem-se na pressuposio de que trabalhar a interpretao na literatura impor uma nica possibilidade de construo de sentido. O famoso o que o autor quis dizer , modo de ler legitimado pela escola que se pautava por uma nica interpretao do texto literrio, tornou-se uma conduta inadequada sem que se apresentassem outras alternativas de como conduzir o trabalho com a literatura. Esse tipo de abordagem no valoriza a construo do conhecimento e da autonomia a partir da
  21. 21. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 21 | P g i n a leitura literria, pois inibe a busca pelo prprio aluno de compreender os sentidos da obra que tem diante de si. Assim, torna-se necessrio o investimento na formao de mediadores de leitores, pressupondo a formao de todos os sujeitos que podem estar envolvidos, principalmente os professores, bem como atrelar essa formao aos mais variados espaos e pblicos. Este sujeito deve ser focalizado pois segundo a pesquisa feita pelo Intituto Pr-livro, Retratos da leitura no Brasil, de 2011, o professor possui a melhor atuao como mediador de leitura, atingindo 45% das respostas questo pesquisada: quem mais influenciou os leitores a ler. Os professores so, nesta questo, seguidos pela me (ou responsvel do sexo feminino), com 43% das respostas obtidas. Em uma comparao entre 2011 e 2007, a resposta Professor ou professora para esta pergunta, cresceu 12%. Na ltima edio havia chegado a 33% das respostas e a me (ou responsvel do sexo feminino) era quem mais influenciava os leitores. Outro ponto importante que a pesquisa aponta que os professores so a figura que mais tm feito a atividade de ler com as crianas entre 5 e 12 anos (16,8% da amostra) que costumam ler acompanhadas seguidos novamente pela me (o adulto l para a criana). O Instituto Pr-livro avalia como positivo esse resultado defendendo que eles do pistas de que, apesar de no haverem nmeros milagrosos com relao leitura no Brasil, os programas voltados ao incentivo desta, melhoria das bibliotecas, formao de professores mediadores, devem ser incrementados. Esses investimentos devem continuar fazendo parte da pauta das agendas e polticas pblicas. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Secretaria de Educao Bsica. Diretoria de Apoio Gesto Educacional. Pacto nacional pela alfabetizao na idade certa: a organizao do planejamento e da rotina no ciclo de alfabetizao na perspectiva do letramento: ano 2: unidade 2 / Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica, Diretoria de Apoio Gesto Educacional. Braslia: MEC, SEB, 2012.
  22. 22. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 22 | P g i n a CADEMARTORI, L. O Professor e a Literatura: para pequenos, mdios e grandes. Belo Horizonte, Editora PUC Minas, 2 edio, 2012. CANDIDO, A. O direito literatura. In: Vrios escritos. So Paulo: Duas Cidades, 1995. COSSON, R. Letramento literrio: teoria e prtica. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2011. ________. Crculos de leitura e letramento literrio. So Paulo: Contexto, 2014. LAGE, M. M. Ensino, literatura e formao de professores na educao superior: retratos e retalhos da realidade mineira. (Doutorado em Educao). Faculdade de Educao, Universidade Federal de Minas Gerais, 2010. LZARO, A. Mediao de Leitura: Discusses e alternativas para a formaode leitores (Prefcio). SANTOS, F.; NETO, J. C. M.; RSING, T. M. (Org.). 1 ed. So Pualo: Global, 2009. PAIVA, Aparecida. Polticas pblicas de leitura literria. IN: Glossrio Ceale, 2014. Disponvel em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/politicas- publicas-de-leitura-literaria. Acesso em: 23 de julho de 2015. PAULINO, G. Saramago na pedagogia: leitura literria e seu uso docente. In: MARINHO, M; CARVALHO, G. T. (Org.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. S. A. O PROLER e a Mediao da Leitura. Disponvel em http://www.bn.br/proler/images/PDF/mediacaoleitura.doc. Acesso em: 21 de julho de 2015. SOARES, M. Ler, verbo transitivo. In: PAIVA et al. Leituras literrias: discursos transitivos. Coleo Literatura e Educao. Vol. 6. Belo Horizonte: Ceale; Autntica, 2008. ZOARA, F. (Org.). Retratos da leitura no Brasil 3. Instituto Pr-livro. Imprensa Oficial. Governo do Estado de So Paulo, 2012.
  23. 23. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 23 | P g i n a A RECEPO DE LEITORES MIRINS OBRA DE MONTEIRO LOBATO: REFLEXES SOBRE METODOLOGIA E PRTICA Stfanny Barranco do Nascimento UEM - Pr Espaos e mediaes de leitura literria [email protected] Resumo Para disseminar o gosto pela leitura literria entre os jovens leitores importante averiguar suas preferncias e prticas de leitura, alm de oferecer gneros que oportunizem o contato do leitor com as narrativas literrias. Esta pesquisa traz cena a anlise da recepo leitora de crianas pertencentes ao primeiro ciclo do Ensino Fundamental, de uma escola privada da cidade de Paranava - Paran. Nesta perspectiva, o trabalho, fundamentado em concepes tericas sobre literatura, literatura infantil e leitor, pautadas especialmente na Esttica da Recepo e na Teoria do Efeito, com auxlio da Sociologia da Leitura, visa, a partir da leitura de seis obras do escritor Monteiro Lobato, questionar os modos como tais leitores recebem, na contemporaneidade, as narrativas lobatianas, e como se manifestam frente aos desafios e especificidade do texto literrio. Esto presentes s linhas deste trabalho a contextualizao histrica da literatura infantil, a presena de Monteiro Lobato enquanto pioneiro na literatura infantil bem como o efeito e as contribuies deste no processo de formao do leitor. Palavras-chave: Monteiro Lobato, Recepo Leitora, Formao do leitor 1. Introduo Ao discutir sobre a literatura para crianas, faz-se necessria uma reflexo sobre o problema da leitura e do livro. Este, constitui-se como elemento bsico capaz de
  24. 24. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 24 | P g i n a desencadear as mais variadas formas de leitura da verbal pictrica. Pensando criticamente na literatura infantil, no se pode deixar de ponderar sobre sua especificidade textual, sobre as relaes que estabelece com variados campos da criatividade, justamente pelo receptor a criana a qual se dirige. A educao pela arte tem a tarefa de proporcionar oportunidades de convvio das crianas com a criao. Um programa educativo amplo que se apoie na educao pela arte da palavra fortalece o potencial das crianas, revela sua originalidade, estimula sua expresso e respeita iniciativas diferenciadas de preferncias, gostos, tendncias e habilidades individuais, alm de satisfazer a necessidade de iluso e fantasia que todo ser humano possui, mas na infncia que essa necessidade est mais aflorada. Desse modo, pertinente enfocar a literatura como um fenmeno artstico da linguagem, que estabelece relaes entre histria e cultura. O sentido construdo, a partir da leitura, torna-se possvel para o leitor graas a suas experincias, expectativas, sua cultura e conhecimento de mundo. A leitura do texto literrio, portanto, constituda de emoes, valores e viso de mundo, e proporciona imenso prazer por meio do estmulo ao imaginrio. possvel enxergar a leitura infantil como um dilogo entre leitor e texto tendo conscincia de que a produo oral ou escrita acaba, consequentemente, sendo fruto dessa leitura. O processo de leitura como uma atividade complexa principiada na infncia capaz de situar a criana e avanar na compreenso do discurso e de seus vrios nveis de discursividade. Segundo Coelho (1997), a valorizao da literatura infantil, como fenmeno significativo e de amplo alcance na formao das mentes infantis e juvenis, bem como dentro da vida cultural das sociedades, conquista recente e afirma que: A Literatura Infantil , antes de tudo, literatura; ou melhor, arte: fenmeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, atravs da palavra. Funde os sonhos e a vida prtica; o imaginrio e o real; os ideais e sua possvel/impossvel realizao... (COELHO, 1997, p.24).
  25. 25. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 25 | P g i n a Tendo em mente o fato de que o leitor algum a quem cabe seduzir e convencer e que competir com os divertimentos virtuais no uma tarefa fcil aos professores e pais que tentam estimular o gosto pela leitura em crianas e jovens, imprescindvel que haja um fomentador de leitura, algum que auxilie, d as ferramentas necessrias e os ensine como manuse-las. Essas ferramentas podem vir de casa, ou at mesmo da sociedade, mas o papel da escola na formao de leitores importantssimo. Diante disso, o professor deve atuar como mediador promovendo oportunidades de leitura, participando da mesma. ainda muito importante que a leitura na infncia no seja imposta, a tendncia, frente imposio, de repelir aquilo que foi estabelecido. Se na infncia a leitura for maante, cansativa e no despertar algo no interior da criana, dificilmente ela ser um jovem/adulto leitor. Lajolo (2008) garante que se ler essencial, a leitura literria tambm fundamental: literatura, como linguagem e como instituio, que se confiam os diferentes imaginrios, as diferentes sensibilidades, valores e comportamentos atravs dos quais uma sociedade expressa e discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias. Por isso a literatura importante no currculo escolar: o cidado, para exercer, plenamente sua cidadania, precisa apossar- se da linguagem literria, alfabetizar-se nela, tornar-se seu usurio competente, mesmo que nunca v escrever um livro: mas porque precisa ler muitos. (LAJOLO, 2008, p.106) Partindo, provavelmente, de sua prpria experincia leitora, Monteiro Lobato afirma que ler um vcio que a gente adquire em criana (LOBATO, 1946 p. 104). Para o autor, as primeiras leituras so fundamentais formao ou no de um pblico adulto consumidor de literatura. Por isso a necessidade de livros que se voltassem imaginao dos leitores na idade infantil.
  26. 26. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 26 | P g i n a 2. Lobato e as crianas da contemporaneidade Visando a formao de leitores mirins obra lobateana, foi proposto um projeto de leitura aos alunos do 5 ano de um colgio privado, na cidade de Paranava, Paran. Levando em considerao o deslocamento de tempo - desde sua publicao, at hoje a preferncia de leitura do leitor, sobretudo o infantil, a especificidade do vocabulrio e a relevncia da leitura de Monteiro Lobato nessa altura da vida social e escolar. Os objetivos mais imediatos da utilizao da obra de Monteiro Lobato no processo educacional so: formar o leitor de literatura; desenvolver comportamentos leitores; saber os dados referentes ao autor (biografia, escritos, influncia); ler e compreender a obra; perceber e rediscutir a representao dos personagens na obra. A partir desses dados, podem ser desenvolvidos trabalhos de pesquisa para os alunos, buscando-se a trabalho integrado com outras disciplinas, como Arte e Histria. Fazer a leitura compartilhada com os alunos, no sentido de esclarecer, as questes lexicais e histricas, que surjam na anlise da obra. Trata-se de apresentar as condies para que os alunos transformem-se em leitores autnomos. Isso se faz com a prtica de problematizar e desafiar o entendimento que o aluno apreende do texto. Ao propor leituras de obras lobatianas, foi preciso primeiramente investigar se as crianas praticavam leitura ficcional e, se sim, quais e que tipo de livros eles estavam lendo. Para isso, foi aplicado um questionrio com a finalidade de rastrear essas leituras. Alm disso, importante ressaltar que, por ser escola privada, o meio social em que essas crianas esto inseridas de bastante relevncia, pois, foi possvel perceber que, boa parte dos pais tm considervel preocupao com a vida escolar dos filhos e, consequentemente, naquilo que os pequenos leem. 3. Etapas do projeto Monteiro Lobato
  27. 27. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 27 | P g i n a 3.1 Anlise prvia Antes de sugerir as leituras para os alunos, foi aplicado um questionrio semiestruturado com a finalidade de rastrear as prticas de leitura que esto, ou no, sendo feitas pelas crianas. Utilizou-se um vocabulrio simples, prximo do coloquial, para que eles pudessem expor suas prticas sem maiores dificuldades. A partir de anlise feita, baseando-se neste questionrio aplicado em 2 turmas de 5 ano, foi possvel constatar quais a prticas de leitura que os alunos costumam fazer. Dentre os 32 alunos questionados, 2 afirmaram no gostar de ler, entretanto, 10 responderam que gostam de ler, enquanto 20 disseram que gostam dependendo do texto. possvel considerar que esses 20 alunos praticam leitura e so autnomos o suficiente para escolherem o que leem. Vale ainda ressaltar que, entre os 32 alunos, apenas 2 afirmaram no gostar de histria Foram questionados sobre suas preferncias de leitura/histrias, ou seja, quais os tipos que mais gostam. possvel notar que eles gostam consideravelmente de aventura, um ponto bastante positivo visto que os livros de Lobato so recheados de aventuras. Comdia tambm um tema que os alunos costumam procurar nos textos. Terror tambm foi bastante assinalado, sabido que as crianas gostam de escutar histrias com essa temtica, principalmente por conta do mistrio e dos arrepios que elas suscitam. Tema/Tipo de histria Quantidade de vezes assinalada Aventura 25 Comdia 20 Terror 11 Histrias Fantsticas 6 Tabela 1. De qual tipo de histria voc mais gosta? Com o advento das novas tecnologias, muito tem se falado sobre a mudana do suporte de leitura, inclusive a ficcional. Nesse sentido, os alunos foram questionados sobre qual o suporte que costumam ver/ler histrias, eles podiam assinalar at 3 opes. A mais assinalada foi a opo "livro", 23 vezes, em seguida veio a "televiso", assinalada
  28. 28. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 28 | P g i n a 18 vezes, "internet" foi marcada 13 vezes, "cinema" 8 vezes, "quadrinhos" 7 vezes, "tablets" e "celulares" ficaram empatados com 6 vezes e, por ltimo, "teatro" 2 vezes. Os alunos questionados tm acesso aos mais variados suportes textuais, possuem aparelhos de alta tecnologia, onde costumam jogar e tirar fotos, entretanto, a opo "livro" foi a mais citada. Vemos aqui que, ainda que os suportes de leitura estejam em pleno processo de mudana, o livro ainda o favorito quando as crianas realizam leitura. A figura do livro ainda possui grande importncia no s na vida escolar, mas na vida pessoal das crianas. Ao serem questionados, ainda, sobre o motivo de realizarem leitura, 29 deles responderam que leem por diverso, e aqui se tem um aliado formao de leitores, pois se a leitura vista como lazer, o caminho frtil, muito embora seja imprescindvel no agir com imposio para no desestimular esses leitores mirins. As opes "aprender" e "estudar" foram marcadas 2 vezes. Monteiro Lobato dizia que ainda acabaria escrevendo histrias onde as crianas pudessem morar. Assim, a apresentao de suas obras a esses leitores mirins de grande responsabilidade. Alguns dos alunos mencionaram no questionrio que j leram livros de Lobato. Os livros O poo do Visconde, O Saci, Geografia da D. Benta e Os doze trabalhos de Hrcules(verso em quadrinhos), foram mencionados quando questionados sobre a leitura dos 3 ltimos meses. Essa pergunta bastante importante, pois a partir dela que possvel conhecer melhor o perfil desses pequenos leitores.A tabela a seguir apresenta os ttulos mencionados por eles. Poucos livros foram citados por mais de um aluno, o que nos remete a pluralidade de leitura realizada nesse meio. Ttulo da obra N de menes O Dirio de um Banana 7 Querido Dirio Otrio 3 Percy Jackson 3 Artes e Ofcios 2 A Bolsa Amarela 1 Histrias Gregas 1 O Pequeno Prncipe 1 Cael e o destino de Eleanthus 1 Sabido e Danado 1
  29. 29. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 29 | P g i n a Guia politicamente incorreto do futebol 1 Rola ou Enrola 1 Homem biscoito 1 A casa das 7 luas 1 O caador de pipas 1 Poesia na Varanda 1 Princesa Arabela, mimada que s ela 1 Dinossauros 1 O mistrio da Bruxa que no era Bruxa 1 Aventura numa chuva de vero 1 Querida Vov 1 Dirio de uma garota nada popular 1 3 cartas de Mrio 1 A gema do ovo da ema 1 O homem do saco 1 O Saci 1 O Poo do Visconde 1 Os 12 trabalhos de Hrcules (em quadrinhos) 1 Geografia da D. Benta 1 Total 40 Tabela: Leitura dos ltimos 3 meses Os ttulos citados, evidentemente, so bastante variados, possvel perceber que os alunos esto praticando leitura. A maioria dos ttulos de literatura infantil e infantojuvenil, possuindo uma linguagem e temtica adequada faixa etria. A meno do Guia politicamente incorreto do futebol, apesar de no ser especificamente para a faixa etria, pode despertar interesse nos alunos que gostam do esporte e neste caso, podemos concluir que esta escolha foi autnoma, de acordo com o interesse particular do leitor mirim. Partindo das leituras dos ltimos 3 meses, os alunos tambm foram questionados sobre os autores das obras citadas e se tinham preferncia por algum escritor. Boa parte dos alunos no se lembrava do nome do escritor. Dentre os 32 alunos questionados e dos 47 livros citados, 22 alunos citaram nomes de escritores, entretanto, no foram
  30. 30. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 30 | P g i n a pertinentes aos livros citados. Eles mencionaram vrias vezes o cartunista Mauricio de Sousa, embora apenas 3 tenham citado a leitura de Gibis. Outro escritor bastante citado foi Rick Riordan, autor da srie Percy Jackson. Monteiro Lobato foi tambm bastante mencionado, no apenas pelos alunos que disseram ter lido alguma de suas obras, mas por outros alunos que no mencionaram leituras lobateanas. Tambm foi citado como autor preferido. Alm dele, Mauricio de Sousa e Rick Riordan foram bastante citados na preferncia de escritor. A escritora Lygia Bojunga Nunes tambm foi citada como preferncia de leitura. Ainda assim, 15 alunos disseram no ter preferncia por nenhum escritor. Na anlise das duas ltimas perguntas foi possvel constatar que os alunos questionados no costumam lembrar e nem atentar-se para qual escritor esto escolhendo. Ainda que alguns alunos tenham citado escritores, muitos deles no se apresentam nas leituras feitas por eles e no corroboram com os livros citados. 3.2 Construo do projeto Os dados coletados no questionrio foram bastante importantes para a construo do projeto. A partir deles foi possvel pensar na forma de indicar as leituras lobateanas para os alunos. Para tanto, foi necessrio "preparar o terreno", apresentar pequenos textos de Lobato sobre leitura. Assim, o primeiro passo foi apresentar o escritor para os leitores. Por meio de imagens em aparelhos multimiditicos os alunos viram, ouviram e leram Lobato. Conheceram especificidades de sua vida e conheceram um pouco de seu esprito inovador. Eles mesmos constataram que Lobato e Emlia so parecidssimos e isso os fez ficarem mais tranquilos, saber que um adulto, como disse uma aluna, "entende o mundo das crianas". Aps conhecerem mais sobre a vida do escritor, os alunos tiveram a oportunidade de conhecer as obras que seriam lidas por eles: Reinaes de Narizinho I e II, Caadas de Pedrinho, O Saci, A reforma da natureza e A chave do tamanho. Eles conheceram o enredo de cada uma das obras e assim puderam escolher aquela que mais chamou ateno. Assim, os alunos pegaram os livros e puderam iniciar as leituras. Tiveram um ms para realiz-la e culminou em uma conversa sobre a obra. Alguns alunos
  31. 31. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 31 | P g i n a perguntaram se seria necessrio fazer um resumo, pois eles esto habituados a "resumir" obras literrias. Evidentemente, eles foram informados que no seria necessrio resumir, apenas ler.H um objetivo por trs das leituras, entretanto, os alunos precisam desmitificar a ideia de "leitura obrigatria" e "resumo", pois se a finalidade for sempre essa, pode-se criar repulsa s leituras promovidas pela escola A partir das escolhas dos alunos, semanalmente, foram feitos comentrios e leituras de fragmentos das obras. Cada aula foi destinada a uma obra. Os alunos que haviam escolhido determinada obra a selecionada do dia comentavam como estava sendo o processo de leitura, as dificuldades que encontravam, as passagens que despertaram interesse, as que chamaram sua ateno. Podiam tambm ler um trecho de sua preferncia para apreciao da turma. Esses momentos foram bastante produtivos, pois, os alunos que no estavam lendo a obra apresentada ficavam interessados e comentavam, inclusive, que gostariam de ler a outra obra tambm. As leituras foram compartilhadas e fomentadas, pois, se na mesma obra, um estava mais a frente que outro, este procurava ler para chegar na parte comentada pelo colega. Vrios aspectos da obra lobateana foram surgindo a partir das leituras. Alguns alunos questionaram sobre o comportamento de Emlia. Embora eles admirassem algumas atitudes da boneca e rissem com suas peripcias, observaram tambm alguns comentrios feitos por ela sobre Tia Nastcia. Uma aluna comentou sobre como a Emlia arteira e mencionou as partes em que Tia Nastcia chamada de "preta velha". Muitos leitores mirins no se atentam para este fato, entretanto, por ter sido levantada a questo, foi necessrio explicar sobre a poca em que o livro foi escrito. Quando a obra passa de um contexto histrico para outro, novos significados podem ser dela extrados. (EAGLETON, 1997, p. 98). Nesse sentido, o transporte histrico e espacial foi de extrema importncia. Os alunos entenderam que a poca em que Lobato escreveu seus livros diferente da era em que vivemos e sendo assim, alguns costumes e parte do vocabulrio bastante distinto do que estamos acostumados, ou seja, muita coisa est diferente. Na poca em que os livros foram escritos, todavia, as expresses e a
  32. 32. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 32 | P g i n a linguagem causavam estranhamento por serem, justamente, coloquiais. Isso se torna possvel por meio do cruzamento dos horizontes de expectativa da obra com o do leitor, no momento da leitura. A discusso foi bastante interessante, os alunos citaram casos de preconceito racial e se mostraram bastante preocupados com alguns discursos de Emlia. Ainda assim, compreenderam que, ao fazer a leitura, eles encontraro elementos comuns no passado, mas que na atualidade no so vistos como antigamente. Outro aspecto bastante comentado foi quanto aos termos desconhecidos. Muitas palavras eram incgnitas para os alunos, embora, no momento das conversas essas dvidas foram sanadas. Os neologismos criados por alguns personagens tambm foram motivo de dvida. Alguns alunos questionaram se algumas das palavras inventadas pela turma do Stio realmente existiam. Alguns termos passaram a ser usados no cotidiano como anedota, como por exemplo "Cara de coruja", "liscabo". O vocabulrio na obra lobateana tem papal de destaque. importantssimo tanto para a compreenso da estrutura textual quanto para o contexto histrico. Os questionamentos e as observaes levantadas pelos alunos foram bastante pertinentes e os auxiliou tanto para reconhecimento de novo vocabulrio, quanto para constatarem o quanto a lngua flexvel. Durante as aulas ocorreram vrios fatos curiosos, um deles foi quando um dos alunos, que estava lendo O Saci, ensinou a turma como possvel captur-lo. Houve at uma breve encenao. Os alunos ficaram curiosssimos para conhecer mais sobre a histria, alguns, inclusive, comearam a ler logo aps terem terminado o livro que haviam escolhido. Outro fato curioso foi outro menino, leitor de Caadas de Pedrinho, que pediu para seus pais recriarem o Stio do Picapau Amarelo em seu stio. O livro comestvel, visto em A reforma da Natureza, tambm despertou o interesse de alguns leitores, que disseram ter imaginado exatamente o gosto descrito no livro. O grupo leitor de A Chave do Tamanho mencionou que gostaria de conhecer a "casa das chaves" para desligar as chaves de tudo aquilo que no gostavam. Algumas das meninas que leram Reinaes de Narizinho, gostariam de ter uma aranha para confeccionar suas roupas, outras ainda
  33. 33. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 33 | P g i n a comentaram o episdio em que Miss Sardine mergulha na panela de leo quente. Apesar de ficarem penalizadas com "o triste fim da peixinha", acharam engraado. Embora as conversas sobre cada obra tenham sido bastante produtivas durante o processo de leitura, passado pouco mais de um ms aps a proposta, foi realizada a conversa sobre a obra em forma de seminrio. Neste dia, os alunos responderam oralmente a perguntas relacionadas obra e ainda sobre o processo de leitura. Alguns alunos no haviam terminado, embora tenha sido minoria. Todos os alunos chegaram pelo menos at metade da obra e comentaram toda a experincia. Na sala de aula, eles foram posicionados de acordo com a obra escolhida, e apontaram seus trechos favoritos ao longo da leitura. Alguns alunos haviam lido no apenas uma obra, mas duas e at trs. Confessaram que, aps os comentrios de alguns alunos durante as aulas, sentiram vontade de conhecer mais histrias escritas por Lobato. O seminrio durou vrios dias e, aps seu trmino, os alunos responderam a outro questionrio ps-leitura, para que fosse possvel anlise mais detalhada da recepo da obras lobatianas. Em seguida, montaram grupos, confeccionaram cartazes e maquetes representando a obra lida. Os trabalhos evidenciaram a criatividade dos leitores mirins, que exibiram com orgulho suas obras de arte. Um comentrio geral sobre essa seo: seu objetivo com ela seria descrever o projeto, certo? Ento no seria necessrio colocar os resultados de cada etapa. 3.3 A recepo de leitores mirins s obras de Lobato Ao longo do processo de leitura, bem como do seminrio, foi possvel perceber como os leitores mirins receberam a obra de Lobato. Durante todo o processo eles se mostraram interessados nas obras e faziam comentrios bastante construtivos, puderam compartilhar suas dvidas, experincias, suas vises em relao obra. As leituras foram trocadas atravs das conversas, da exposio de fragmentos e experimentos. Embora o vocabulrio no to prximo ao tipo de linguagem contempornea com a qual
  34. 34. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 34 | P g i n a os alunos esto acostumados, eles conseguiram construir caminhos de leitura e preencher os espaos vazios do texto. Todos os alunos participaram do seminrio, fizeram colocaes em relao obra, comentaram aspectos que acharam relevantes, mas alguns deles confessaram no terem terminado a leitura. Alegaram falta de tempo, entretanto, por meio do questionrio, foi possvel pontuar um eventual desinteresse pela obra, dificuldades apresentadas no processo de leitura e at mesmo desmotivao em relao ao texto. Ainda assim, entre os 32 alunos, 25 leram a obra integralmente, enquanto 7 disseram ter lido parcialmente. A relevncia aqui no a quantidade de alunos leitores, mas a qualidade dessa leitura, muito embora, o caminho at o seminrio tenha sido produtivo. Ao serem questionados sobre a dificuldade ou no de ler o livro, 9 alunos disseram ter tido dificuldade na leitura, enquanto 23 no apresentaram. Ainda assim, eles precisaram marcar qual foi o obstculo no processo de leitura, ou seja, se o livro era "muito longo" com "muitas pginas"; ou se existiam "muitas palavras desconhecidas"; ou ainda se a "histria era cansativa". Eles puderam assinalar mais de uma alternativa. A tabela abaixo explicita as respostas escolhidas pelos leitores mirins: Dificuldade apresentada Quantidade assinalada Muito longo/ Muitas pginas 6 Muitas palavras desconhecidas 16 Histria era cansativa 3 No tiveram dificuldade 18 Total 43 respostas Tabela 3. Dificuldades durante a leitura Nesta tabela possvel observar que, embora boa parte dos alunos tenha alegado no ter encontrado dificuldade no momento da leitura, a opo onde uma das dificuldades relacionada ao vocabulrio apresenta grande quantidade assinalada. Diante disso podemos afirmar que, embora a linguagem no seja comum no cotidiano dos alunos, eles conseguem assimilar as colocaes de Lobato, ainda que, possivelmente, tenha sido mais um desafio no ato da leitura. Evidenciaram que as
  35. 35. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 35 | P g i n a palavras eram desconhecidas, mas ainda assim no foi problema para a recepo s obras. Pensando, ento, na formao de leitores, eles responderam positivamente ao serem questionados se leriam outra obra de Lobato. Entre os 32 alunos, 29 disseram que gostariam de ler outras obras lobatianas, inclusive, boa parte deles citou qual/quais gostariam de ler. Apenas 3 alunos disseram no se interessar pela leitura das obras. Nesse sentido, foi possvel perceber o quanto as obras de Monteiro Lobato ainda despertam a curiosidade e o interesse entre os leitores mirins. Houve tambm um espao para comentrios sobre a vida de Lobato, um fato que chamou a ateno de vrios leitores foi a mudana de nome, que foi de "Jos Renato Monteiro Lobato" para "Jos Bento Monteiro Lobato" para satisfazer um "capricho" do escritor que gostaria de possuir a bengala de seu pai. Os alunos ainda atentaram e agradeceram a Lobato por ele ter se preocupado com a literatura para crianas, por ter criado um mundo onde os pequenos agora podem morar. Um dos alunos escreveu o seguinte: "o que mais gostei da vida de Monteiro Lobato foi que ele era o nico na poca que fez histria para crianas". O fato de ele ter colocado a figura de uma negra na histria tambm foi comentado, eles acharam Lobato um "cara legal" e "sem preconceitos" por ter dado vida e voz Tia Nastcia. Grande parte dos alunos citou que a criao de Emlia foi "a coisa mais importante que Lobato fez". Outro fato que chamou a ateno foi a espessura das sobrancelhas do escritor, um aluno chegou a mencionar que "o segredo da criatividade de Lobato est nas suas sobrancelhas". Outro aluno gostou da ideia de Lobato e disse que passaria a ler um dicionrio, assim como o escritor fez. 4. Consideraes finais Aproximar o leitor do escritor, proporcionar as ferramentas adequadas e ensin- los a utiliza-las podem ser vistas aqui como estratgias de leitura que alcanaram sucesso do leitor mirim. Ao refletir sobre todos os passos e perceber que, embora
  36. 36. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 36 | P g i n a algumas dificuldades, os alunos conseguiram ler e gostar da leitura motivo de alegria para aqueles que fazem da formao de leitores uma militncia. A recepo dos leitores foi bastante positiva. A Magia na transposio entre o mundo real (Stio) e o imaginrio (mundo das fbulas) e todos os componentes fantsticos que envolvem a atmosfera do Stio do Picapau Amarelo contriburam para aproximar o leitor do ato de ler. Lobato representa e inventa em suas narrativas o leitor em plena atividade leitora ou exercendo os poderes facultados pela leitura. J a fama de suas personagens, conhecidas e reconhecidas pelos leitores, extrapola os limites territoriais, e os livros de sua criao so lidos por crianas e por adultos, independente da nacionalidade e do espao geogrfico. Ao colocar na narrativa, juntamente com leitores supostamente inventados, informaes concretas de um leitor real, Lobato abre o precedente para pensarmos que seus livros possam ter realmente atingido o espao geogrfico. A escola vem ocupando cada vez mais um papel anteriormente destinado a famlia: a educao para a leitura, o estmulo atravs dos primeiros contatos com o objeto livro. Essas transformaes ocorrem por conta da mudana de mentalidade, bem como as mudanas sociais que vem ocorrendo nas ltimas dcadas. A escola hoje muitas vezes o local em que muitas crianas tm acesso ao texto literrio. O papel do professor, nesse contexto, de extrema importncia, pois embora tenha o poder para fomentar a leitura tem tambm o poder de repeli-la. Nesse sentido, ao realizar uma investigao prvia, os caminhos dos leitores mirins sero rastreados e, a partir da, construir um direcionamento de leitura. Para Lobato, o livro no possui existncia prpria. Ele s ganha vida quando concretizado pela leitura, da a necessidade da formao de um pblico. A leitura tem como funo despertar a curiosidade e a capacidade imaginativa, e o seu exerccio deve ser cercado de alegria e prazer, nunca de obrigao. Os caminhos percorridos pelos leitores mirins, bem como os direcionamentos, refletiro no leitor adulto. Referncias Bibliogrficas
  37. 37. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 37 | P g i n a BORDINI, M. G. e AGUIAR, V. T. Literatura: a formao do leitor: alternativas metodolgicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. CANDIDO, A. A literatura e a formao do homem. Cincia e Cultura. 24 (9): 803-809, set, 72. CARVALHO, B. V. A literatura Infantil: viso histrica e crtica. 6. ed. So Paulo: Global, 1989. COELHO, N. N. Literatura Infantil: teoria anlise didtica. So Paulo: tica, 1997. EAGLETON, T.Teoria da literatura: uma introduo.Trad. Waltensei Dutra. 3. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1997. JAUSS, H. R. A esttica da recepo: colocaes gerais. In: LIMA, L. C. (org.) A literatura e o leitor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979 LAJOLO, M. Um brasileiro sob medida. So Paulo: Moderna, 2000. LAJOLO, M; CECCANTINI, J. L. Monteiro Lobato livro a livro: obra infantil. So Paulo: Unesp, 2009. LOBATO, M. Reinaes de Narizinho. So Paulo: Globo, 2011 _______________. A reforma da natureza. So Paulo: Globo, 2011 _______________. A chave do tamanho. So Paulo: Globo, 2011 _______________. As caadas de Pedrinho. So Paulo: Globo, 2011 _______________. O Saci. So Paulo: Globo, 2011 SOSA, J. A literatura infantil. Traduo de James Amado. So Paulo: Cultrix: Ed. da Universidade de So Paulo, 1978. ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. So Paulo: Global, 1981.
  38. 38. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 38 | P g i n a Incentivo leitura: relato de experincia na biblioteca escolar "Delci Cavalheiro de Souza" do Colgio Presbiteriano de Presidente Prudente/SP Antnia Aurlio Pinto , Kauane Tosta EPPP Escola Presbiteriana de Presidente Prudente EPPP Escola Presbiteriana de Presidente Prudente Espaos e mediaes de leitura literria [email protected] ,[email protected] Resumo Nossa proposta apresentar uma das aes realizadas na biblioteca escolar Delci Cavalheiro de Souza do Colgio Presbiteriano de Presidente Prudente/SP. Com base nos pressupostos estabelecidos no programa de leitura, intitulado: "Ler para crescer". O programa foi criado para atender os alunos da escola. Dentre as atividades desenvolvidas temos: espao dedicado leitura; emprstimos de livros e projetos organizados para cada faixa etria, como: Maternal I e II: Trem da leitura: todos a bordo!; Jardim: Alfabeto de histrias; Pr: Pequenos exploradores - descobrindo a biblioteca; Primeiro Ano: Pequenos leitores; Segundo: Roda de leitura - dilogos entre textos; Terceiro ano: Clube da leitura de Roald Dahl; Quarto e Quinto ano: Jornal Xereta. importante ressaltar que este programa encontra-se em fase de reformulao, considerando a demanda do Colgio com os alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Mdio, bem como outros ajustes que esto sendo revisados pela gesto e coordenao pedaggica. Nossa inteno compartilhar a experincia vivenciada por alguns alunos do Ensino Fundamental II e Mdio que se envolveram nos projetos direcionados Educao Infantil apresentando-lhes uma forma atraente de conhecer a leitura dos clssicos infantis. Palavras-chaves: Biblioteca escola; Incentivo Leitura; Clssicos Infantis. 2. Introduo A biblioteca escolar Delci Cavalheiro de Souza do Colgio Presbiteriano de Presidente Prudente/SP, 2013, implantou um programa de leitura, intitulado: "Ler para crescer". Esse programa tem a inteno de organizar alguns projetos integrados
  39. 39. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 39 | P g i n a biblioteca visando atender a todos os alunos da escola, com servios de organizao da informao e emprstimos, tendo como proposta central do currculo: a formao do leitor. Os projetos e os servios constituem-se de forma integrada, como suporte para o leitor competente - aquele que compreende o que l, desenvolvendo um conjunto de conhecimentos e habilidades especficas do leitor. A proposta de dinamizar a biblioteca decorre da necessidade de transformar um espao sem uso efetivo, para um espao que circule livros e leitores, para a construo e apropriao do conhecimento. Ainda, de acordo com a pesquisadora Lerner, preciso repensar a prtica da leitura na escola, executando o seu fim e possibilitando espaos para a realizao efetiva da leitura. O necessrio fazer da escola um ambiente onde, ler e escrever, sejam instrumentos poderosos que permitam repensar o mundo e reorganizar o prprio pensamento, onde interpretar e produzir textos sejam direitos que so legtimos exercer e responsabilidade que necessrio assumir. (LERNER, 2002, p. 18) O objetivo destes projetos propiciar suporte para formar o leitor competente, aquele que compreende o que l, desenvolvendo um conjunto de conhecimentos e habilidades especficas do leitor. Dentro das dinmicas estabelecidas por estes projetos um grupo de alunos do Ensino Fundamental II e Mdio sentiram-se motivados a participarem das atividades de leitura aos alunos da Educao Infantil, especificamente a turma do Pr Pequenos exploradores - descobrindo a biblioteca. Acredita-se que a leitura praticada dessa forma concerne com a proposta pedaggica da escola que visa ampliar o repertorio de leitura por meio das experincias vividas no contexto escolar. Neste sentido, este grupo de alunos tem recebido por parte da gesto, apoio e tambm orientao tanto no que se refere formao do leitor quanto na prtica pedaggica que envolve o trabalho com as crianas pequenas.
  40. 40. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 40 | P g i n a 3. A representao dos clssicos infantis na formao do leitor: Motivao do Grupo Justifica-se a opo pelos clssicos infantis pela representao, como uma possibilidade de apresentar aos alunos da Educao Infantil, a aproximao com os alunos maiores ampliando o discurso verbal. Acredita-se que essas histrias so meios para conquistar a criana e formar o pequeno leitor. De acordo com a Diretora Pedaggica do Colgio Presbiteriano, as narrativas dos clssicos infantis, possibilitam registros na memria das crianas que estruturam conexes preparando-as para o conhecimento. preciso tambm considerar que os clssicos infantis representam um legado cultural, compartilhado no decorrer da vida, aproximando a famlia e a escola. Nas palavras de Kauane Tosta, aluna idealizadora desta proposta: No meu grupo de amigos e no grupo de amigos dos meus pais percebo que todos tiveram conhecimento alguma leitura clssica. Para a aluna, as leituras foram fundamentais para torn-la leitora. Sabe-se que as histrias auxiliam na construo de um repertrio literrio preparando o leitor para o conhecimento da organizao temporal e hierrquica dos fatos e acontecimentos. preciso tambm destacar os contedos destas histrias que provocam nas crianas diferentes sentimentos como: medo, alegria, o bem e o mal , coragem, entre outros. As leituras dos contos infantis propiciam o despertar de diferentes sentimentos e ampliam a viso de mundo do leitor, bem como permite a realizao e conexo com outras leituras. Por meio do encontro com a fantasia provoca-se a imaginao formando a criatividade. Neste encontro, existe um dialogo como o universo interior de cada criana que certamente contribui para resolver ou superar alguns conflitos O esprito da criana precisa do drama, do movimento das personagens, da soma das experincias populares e, tudo isso dito, por meio das mais elevadas formas de expresso e com inegvel elevao de pensamento. (Sosa, 1978, p.19).
  41. 41. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 41 | P g i n a A pensarmos nas conexes utilizaremos com estratgia na prtica daquele que mediar a atividade de leitura, neste caso o grupo de aluno. Para isso, fundamentamos nossa proposta nos estudos de Cyntia Graziella Girotto e Renata Junqueira de Souza (2010). Os leitores fazem naturalmente conexes entre os livros e fatos da vida. Quando escutam ou leem uma histria, comeam a conectar temas, personagens e problemas de um livro com outro. [...] Isto as leva a pensar sobre situaes maiores, mais expansivas, alm do universo da escola, da casa e da vizinhana. (GIROTTO; SOUZA, 2010, p. 67) Com base nestes pressupostos espera-se que o pensamento dos pequenos leitores seja colocado em uma discusso coletiva, para que desenvolvam o pensamento crtico/reflexivo. preciso tambm considerar que o aprendizado desta experincia reciproco para todos os envolvidos, ou seja, tanto para os alunos da Educao Infantil quanto para o grupo dos alunos do Ensino Fundamental e Mdio. Para tanto, nos interessa a possibilidade de prticas educativas concretas que sistematize o ensino, a partir dos princpios da construo coletiva dos significados do texto, da documentao da aprendizagem, do ensino e aprendizagem de estratgias de leitura possa contribuir para a formao do leitor. 4. Desenvolvimento A motivao descrita acima nasceu da participao deste grupo no programa de leitura da biblioteca escolar "Delci Cavalheiro de Souza" do Colgio Presbiteriano de Presidente Prudente/SP, intitulado: "Ler para crescer. Assim sendo, desde 2013 o grupo sentiu necessidade de participar de um dos projetos da biblioteca Pequenos exploradores - descobrindo a biblioteca. Este projeto tem o objetivo de atender s crianas de cinco anos matriculadas na sala do PR. Em 2013 o grupo conseguiu, durante o segundo semestre, realizar encontros semanais, contudo no ano de 2014 a funcionria da biblioteca foi desligada e os projetos passaram a ser desenvolvidos
  42. 42. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 42 | P g i n a apenas pelas professoras de cada turma. Neste ano de 2015 estamos retomando a organizao do grupo, bem como nos reunindo com a gesto pedaggica da escola para inserir a proposta na rotina das duas salas do PR. At o momento selecionamos as narrativas que sero lidas s crianas, organizamos a participao dos alunos que compe o grupo considerando a necessidade de um rodizio devido aos compromissos escolares. Decidiu-se que para este ltimo semestre de 2015 faremos um nico encontro mensal. AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO 14 de agosto Livro: Chapeuzinho Vermelho A verso do escritor Charles Perrault para Chapeuzinho Vermelho trata de uma adaptao do original dos Irmos Grimm. A histria da garotinha que atravessa a floresta para visitar a vovozinha cheia de imprevistos e reviravoltas, garantindo assim que a criana fique presa na histria. 11 de setembro Livro: Pinquio O boneco de pau que quando mente cresce o nariz marcou a infncia e a vida de muitos de ns, e certamente, dever marcar tambm a infncia dos seus pequenos. Escrito por Carlo Collodi, o livro um tanto quanto direto em seu recado: se voc mentir, ter consequncias desagradveis. Pinquio deixa o velhinho Gepeto de cabelos (ou que o que resta deles) em p, tamanha as peripcias e tramoias em que se envolve. Ao e aventura que consegue cativar o pequeno leitor e despertar nele a paixo pela leitura. 16 de outubro Livro: O Prncipe Sapo A Verso dos irmos Grimm. Esse conto trata da jovem princesa que, em um momento de desespero, promete beijar um sapo para ter de volta sua bola de ouro perdida no fundo de um poo. A princesa tem de cumprir sua palavra, mas no consegue porque sente muito nojo do animal. Contrariada, convive com ele em seus aposentos, sob as ordens do rei, seu pai. Em um momento de fria, acaba por livr-lo de um terrvel feitio: ao jog-lo contra a parede, ele se transforma em um belo prncipe com quem ela se casa. 20 de novembro Livro: O Patinho Feio Outro clssico infantil que no pode faltar na estante o conto O Patinho Feio, do escritor dinamarqus Hans Christian Andersen. O enredo da histria pode ser interpretado como uma metfora para a dificuldade que muitos tm em aceitar as diferenas e o quo prejudicial o preconceito em nossas vidas. A histria mostra que independente de nossas caractersticas pessoais, todos ns somos belos de alguma forma.
  43. 43. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 43 | P g i n a O grupo participar de uma formao com a gesto pedaggica com o objetivo de preparar um roteiro de trabalho com base na proposta do Programa de Leitura Ler para Crescer da Biblioteca Delci Cavalheiro de Souza, bem como alguns procedimentos do Projeto Trilhas. 5. Concluses A proposta deste artigo foi compartilhar uma experincia de leitura que est sendo realizada no Colgio Presbiteriano de Presidente Prudente motivado pelo programa Ler para Crescer vinculado Biblioteca escolar. Ressalta-se que neste programa h uma preocupao em atender a todos os alunos disponibilizando a biblioteca como um espao interativo e significativo de leitura. Foi por meio deste espao que o grupo de alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Mdio sentiu o desejo de participar do projeto Pr: Pequenos exploradores - descobrindo a biblioteca. No que se refere formao leitora observa-se nos alunos: facilidades para fazer conexes com outras histrias, ampliao e enriquecimento de palavras, interesse por outras leituras. Nos aspectos afetivo e social percebe-se a facilidade no entrosamento com os alunos maiores, abertura para ampliao, discusso e necessidade do uso de outros recursos, como por exemplo, a msica. Para os alunos do Ensino Fundamental e Mdio este trabalho auxilia na elaborao da construo de um planejamento e roteiro facilitando o estudo das disciplinas curriculares por proporcionar um direcionamento nos roteiros de estudo. Tambm tem sido possvel enxergar habilidades individuais de cada integrante do grupo que apresentou mais facilidade na expresso oral com crianas e, consequentemente, tem melhorado a participao em sala de aula. Alm desses resultados existe tambm a possibilidade de ampliar o atendimento a outras salas da Educao Infantil. Para isso teremos far-se- trabalho de divulgao com outros alunos do Ensino Fundamental e Mdio buscando novos procedimentos, pois se
  44. 44. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 44 | P g i n a sabe que a dinmica destas salas se diferencia e, portanto, necessita de aprofundamento, tanto de estudo como de construo de novos roteiros de trabalho. Conclui-se que este trabalho provoca nos alunos o desejo de, no apenas ouvir, mas ler. Portanto, tambm se deseja que nosso exemplo contribua para que no apenas continuem a ler por prazer, mas despertem o mesmo desejo que motiva o nosso trabalho com eles. Nossa inteno deixar um pouco da gente (pedaes de ns) nestas crianas, assim como estas leituras foram semeadas em ns. Tem-se um sentimento de gratido leitura, pois ela nos aproxima e produz sentido vida, ou seja, este trabalho despertou, em outras palavras, o sentimento de gratido deixando um pouco de ns nas crianas e levando muito das crianas a todos ns. A epgrafe do memorial da nossa biblioteca representa muito este sentimento. Ser significa ser para o outro e, atravs dele, para si. [...] Eu no posso passar sem o outro, no posso me tornar eu mesmo sem o outro; eu devo encontrar a mim mesmo no outro, encontrar o outro em mim. (BAKHTIN, 2003, p.342) Referncias Bibliogrficas BAKHTIN, M. M. Esttica da criao verbal. Traduo de Paulo Bezerra. So Paulo: Martins Fontes, 2003. GIROTTO, Cyntia Graziela Guizelim Simes e SOUZA, Renata Junqueira. Estratgias de Leitura: Para Ensinar Alunos a Compreender o que Leem. In: MENIN, A.M.D., GIROTTO, C. G. S; ARENA, D. B; SOUZA, R. J. (org.) Ler e Compreender: Estratgias de Leitura. Campinas, SP: Mercado de letras, 1. ed. 2010. p. 45-114. PINTO, Aurlio Antnia e FERRO, Coladello Marcela. Ler para crescer: Formando Comunidades de Leitores. Seminrio Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimnio Cultural. Leitura, arte e patrimnio [recurso eletrnico]: redesenhando redes/organizao Miguel Rettnmaier, Tania M.k. Rosing. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2014. SOSA, Jesualdo. A literatura infantil. Traduo de James Amado So Paulo: Cultrix: Ed. da Universidade de So Paulo. 1978.
  45. 45. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 45 | P g i n a ESTRATGIAS DE LEITURA: CAMINHOS PARA AUTONOMIA LEITORA Heloise Marques Sabatine1 Jaynne Kathleen Bueno Gonalves2 Faculdades de Dracena Espaos e mediaes de literatura literria [email protected]
  46. 46. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 46 | P g i n a jaynne_mel @hotmail.com2 Resumo Seguindo a conjectura de que a leitura uma ao que deve ser ensinada e que contribui para a sensibilizao, humanizao e formao do leitor autnomo, este trabalho teve como base a mediao da leitura a partir das estratgias propostas por Girotto e Souza (2010), que contribuem para melhor compreenso do texto literrio pelo aluno. Considerando que o ato de ler est presente na vida cotidiana e que neste processo o leitor apresenta trabalho ativo para a compreenso e interpretao do texto, como nos apresenta os PCN (1998), faz necessrio o desenvolvimento de estratgias que contribuam para melhor desenvoltura do leitor na relao com o texto literrio. O trabalho foi realizado com alunos do 7 ano do Ensino Fundamental, da rede pblica estadual para a constatao das eficcias das estratgias no ato da leitura. As oficinas foram desenvolvidas tendo como base o conto Faanhas de Z Burraldo, do livro Histrias de bobos, bocs, burraldos e paspalhes, de Ricardo Azevedo. Nas oficinas foram realizados discusses e registros escritos antes, durante e aps a leitura, em que os alunos se utilizaram de conexes (texto-leitor, texto-texto, texto-mundo), inferncias, visualizaes, sumarizaes e snteses, sugeridas por Girotto e Souza (2010). Foi possvel perceber o quanto essas atividades contriburam para maior autonomia leitora e aumento de repertrio literrio, bem como o estabelecimento de relao significativa com o conto utilizado. Palavras-chaves: leitura literria, estratgias de leitura, formao de leitor 1. Introduo Muito se discute a questo da leitura e da formao do leitor autnomo. Este trabalho salienta o quo importante se faz o uso de estratgias no ensino da leitura, visando a formao plena do leitor. Busca ainda observar o resultado na prtica, tendo como base a teoria defendida Girotto e Souza (2010). O conceito de leitura, de antemo, analisado com um pouco mais de ateno, por se tratar de algo fundamental formao do sujeito e por ser a leitura uma aprendizagem contnua. E para que a leitura se torne hbito preciso que o professor
  47. 47. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 47 | P g i n a esteja disposto a investir um pouco mais de seu tempo no desenvolvimento da mesma, despertando em seus alunos a vontade de ler. Desde o incio da educao infantil, faz-se necessrio despertar o esprito leitor nos alunos e cabe ao professor proporcionar ambiente leitor e mediar a interao entre o leitor e o texto. Com base nisto, este projeto foi pensado e desenvolvido objetivando comprovar os efeitos produtivos do uso das estratgias de leitura e a sua contribuio para a formao do leitor autnomo. Segundo as ideias propostas por Girotto e Souza (2010), perceptvel, durante a aplicao da atividade, as mudanas no comportamento dos alunos, no que se refere compreenso e participao destes no trabalho. Diante dos resultados, conclui-se que as estratgias de leitura contribuam significativamente na formao do leitor autnomo, alm de propiciar que ele aprenda a ler, goste de ler e, principalmente, compreenda o que est lendo. 2. Fundamentando o projeto Ser de fato possvel falar de estratgias de leitura e seus efeitos produtivos, sem antes explanar o conceito da prpria leitura? A leitura pode ser considerada como o ato de enxergar e compreender o mundo. Permite ao ser humano benefcios individuais e coletivos a partir do acesso aos bens culturais produzidos pelo homem, quando proporciona ao leitor conhecer diferentes culturas, povos e lugares, bem como a ampliao do grau de criticidade e do conhecimento de mundo. Para Martins (2006), compreender a leitura significa entend-la como experincia individual, caracterizada pela decodificao dos signos lingusticos, e como processo compreenso mais amplo, quando o leitor atribui sentido a esses signos. Para a autora, a leitura se realiza a partir da interao do leitor com o texto, seja escrito, imagtico,
  48. 48. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 48 | P g i n a gestual ou sonoro. Martins (2006, p. 30) define a leitura como processo de compreenso de expresses formais e simblicas, no importando por meio de que linguagem. Corroborando com Martins, Cosson (2014) afirma que Ler consiste em produzir sentidos por meio de um dilogo, um dilogo que travamos com o passado enquanto experincia do outro, experincia que compartilhamos e pela qual nos inserimos em determinada comunidade de leitores. Entendida dessa forma, a leitura uma competncia individual e social, um processo de produo de sentidos que envolve quatro elementos: o leitor, o autor, o texto e o contexto. (COSSON, 2014, p.36) Algumas defendem a ideia de que a leitura se realiza apenas na interao que se instala entre o leitor e o texto. Para Cosson (2014), a leitura comea no momento em que o leitor se dirige ao texto. Vrias dessas teorias pressupem que o texto nem sequer existe sem o leitor. apenas no momento da interao ou da transao entre leitor e texto que o sentido se efetiva, de modo que, sem o leitor, os livros, por exemplo, no passam de papel com tinta (COSSON, 2014, p.37) Para o autor, a leitura parte do contexto e tem no contexto o seu horizonte de definio. Ler compartilhar os sentidos de uma sociedade (COSSON, 2014,p.38). Neste contexto, perceptvel que a leitura acontece de formas diferentes quando se considera o lugar e o momento em que esta acontece. Os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) defendem que leitura no se trar simplesmente de extrair informaes da escrita, decodificando-a letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica, necessariamente compreenso na qual os sentidos comeam a ser construdos antes da leitura propriamente dita. A leitura um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construo do significado do texto, a partir dos seus objetivos, do seu
  49. 49. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 49 | P g i n a conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a lngua: caractersticas do gnero, do portador, do sistema de escrita, etc (BRASIL, 2001, p.53) Sendo assim, importante entender a leitura como resultado de construo de sentidos que parte das pistas deixadas pelo autor sobre o sentido que desejou dar ao texto. Em se tratando de formar leitor, os PCN (2001, p.54) afirmam formar um leitor competente supe formar algum que compreende o que l; que possa aprender a ler tambm o que no est escrito. A autonomia leitora se estabelece quando o leitor interage com o texto, identificando elementos explcitos e implcitos no texto. O leitor autnomo estabelece relaes entre o texto que l, outros j lidos e as prprias experincias vividas. Assim, para a formao do leitor proficiente necessrio que a indivduo seja motivado e a escola se apresenta como ambiente propcio para o contato com a leitura desde o incio da escolarizao, j que neste espao grande a oportunidade de acesso a diferentes materiais escritos. importante que a escola reveja os pressupostos bsicos para o ensino da leitura, j que comum o uso dessa prtica para o desenvolvimento de atividades escolares. As atividades de leitura devem compreender a prtica social em que est inserida, significa trabalhar com a diversidade de objetivos e modalidades que caracterizam a leitura, ou seja, os diferentes para qus- resolver um problema prtico, informar-se, divertir-se, estudar, escrever ou revisar o prprio texto (BRASIL, 2001, p. 54). A leitura no deve ser algo que a escola faz s para que sejam realizadas atividades. Ler para algum sem ao menos anunciar a leitura, sem deixar que as hipteses acerca do ttulo apaream ou no permitir dilogos aps a leitura sacrificar lentamente o desejo de ler.
  50. 50. ISBN: 978-85-69697-01-5 _________________________________________________________________ 50 | P g i n a O gosto pela leitura no surge espontaneamente no indivduo. preciso ensinar esse indivduo a ler. O leitor proficiente se constitui a partir da prtic