italo dany
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PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES POSTURAIS EM PRATICANTES DE
TAEKWONDO E EM INDIVÍDUOS SEDENTÁRIOS
Ítalo Dany Cavalcante Galo, Daniel Miyazaki Namba, Jefferson Rodrigues Soares, Taís
Malysz Sarzenski
Unidade Acadêmica/Departamento: Universidade Federal de Goiás, Campus Jataí/Ciências
Biológicas
Palavras-chave: postura, taekwondo, sedentários, posturograma
1. INTRODUÇÃO
O Taekwondo é uma arte marcial milenar que teve origem na Coréia e é caracterizada
pela importante participação dos membros inferiores, com aproximadamente 98% dos pontos
marcados em um combate sendo derivado de diferentes tipos de chutes (KIM, 2006;
SANT’ANA, 2007; MOREIRA et al., 2011). A execução de seus golpes exige força e
resistência muscular, flexibilidade, agilidade, grandes amplitudes, coordenação motora e
expressão corporal, havendo nos combates movimentos de alta potência muscular e atos
reflexos, o uso de base trocadas durante o combate, exigindo bom condicionamento físico dos
atletas (LEE et al., 1988; NEVES et al., 2011).
Postura é uma posição mantida através de características automáticas e espontâneas,
de um organismo em harmonia com a força gravitacional e predisposto a passar do estado de
repouso ao estado de movimento (TRIBASTONE, 2001). Boa postura seria um estado de bom
alinhamento e equilíbrio musculoesquelético que protege as estruturas de sustentação do
corpo. Tal alinhamento e equilíbrio são importantes também nas atividades corporais
dinâmicas (KEELY, 2003). Assim, boa postura favorece a execução correta dos movimentos e
garante vantagens em programas de fortalecimento e variadas modalidades esportivas.
No alinhamento corporal ideal usado como padrão, a posição dos pés apresenta
calcanhares separados cerca de 7,5 cm com aproximadamente 8º a 10º de rotação lateral de
cada membro inferior em relação à linha mediana. Ao visualizar uma posição em pé, é usado
um fio de prumo para representar uma linha gravitacional vertical de referência. O ponto fixo
desta linha é padronizado, na vista lateral, levemente à frente do maléolo lateral e nas vistas
anterior e posterior, no ponto médio entre os pés (KENDALL et al., 1995). As metades direita
e esquerda das estruturas musculoesqueléticas são essencialmente simétricas, tendo assim as
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6538 - 6552
duas metades do corpo exatamente contrabalançadas. Desta forma o fio de prumo deve
acompanhar o plano sagital mediano do corpo, passando entre os membros inferiores, pelos
processos espinhosos da coluna vertebral, esterno e linha mediana da cabeça. Na vista lateral,
o fio então deve passar na linha anterior ao maléolo lateral, imediatamente posterior à patela,
através do trocanter maior do fêmur, corpos vertebrais da parte lombar da coluna, acrômio da
escápula e orelha externa (KENDALL et al., 1995; LIPPERT, 2008).
Em uma avaliação postural busca-se visualizar e determinar desalinhamentos
corporais (CARNEIRO, 2006), podendo ser utilizada para testar a eficácia de diferentes
métodos terapêuticos e para promover a prevenção de problemas causados pela má postura
(VERDERI, 2003). Para este estudo, a avaliação postural computadorizada foi escolhida por
ser prática e confiável, sendo que, através de imagens capturadas de um indivíduo, é possível
conseguir dados quantitativos que a avaliação observacional tradicionalmente não fornece
(IUNES et al., 2005).
Alterações posturais têm sido consideradas um problema sério de saúde pública e
suascausas podem ser o resultado de problemas estruturais congênitos ou adquiridos
provocados por vários fatores, podendo inclusive ser de natureza funcional ou não-estrutural,
onde os hábitos diários podem resultar em desequilíbrios (KENDALL et al., 1995; PENHA et
al., 2005). Além destes fatores, outro fator que influencia na postura é a prática de exercícios
físicos (TRIBASTONE, 2001). Embora diferentes trabalhos têm descrito os padrões posturais
de atletas de diferentes modalidades, entretanto poucos foram os que descreveram,
quantitativamente, através da avaliação postural computadorizada, o padrão postural de
indivíduos praticantes regulares de diferentes modalidades de treinamento físico
(MANSOLDO; NOBRE, 2007; KLEINPAUL et al., 2010; VEIGA et al., 2011; FALQUETO
et al., 2011).
No que se refere ao esporte Taekwondo, a maioria dos trabalhos encontrados abordam
aspectos fisiológicos (TSAI et al., 2011; CAMPOS et al., 2012), aspectos biomecânicos
(NEVES et al., 2011; LEONG et al., 2011; FONG et al., 2011), ocorrência de lesões e de seus
mecanismos (LYSTAD et al., 2009; OLIVEIRA; SILVA, 2009), formas de treinamento
(VIEIRA; ROMAN, 2008; MOREIRA et al., 2011) bem como a estruturação de categorias do
esporte (PIMENTA; MARCHI, 2009). No entanto, em relação a estudos sobre padrões
posturais dos praticantes de Taekwondo a literatura se mostra escassa (TAMBORINDEGUY
et al., 2011) e não foram encontrados trabalhos que a comparem com dados de indivíduos
sedentários. Desta forma o presente estudo objetivou descrever os padrões posturais dos
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praticantes regulares de Taekwondo da cidade de Jataí-GO e comparar os mesmos com os de
indivíduos sedentários.
2. OBJETIVOS
O objetivo deste estudo foi identificar e descrever as alterações posturais de
praticantes regulares de Taekwondo e comparativamente com as de indivíduos sedentários.
3. METODOLOGIA
Fizeram parte desta pesquisa 19 homens, sendo 9 praticantes regulares de Taekwondo
e 10 indivíduos sedentários. O grupo de praticantes de Taekwondo apresentou idade média de
23±5,4 anos e Índice de Massa Corpórea (IMC) de 22,27±2,95 kg/m², sendo o tempo de
prática com regularidade de 5,88±3,1 anos, frequência semanal de treinamento de 4,66±1,32
dias e duração de sessão de 100±26 minutos. Já o grupo de indivíduos sedentários apresentou
idade média de 18,6±0,69 anos, o IMC de 22,14±3,26 kg/m² e foi relatado por todos a não
prática de atividade física regular no período de no mínimo um ano em relação à data da
avaliação. Todos os indivíduos concordaram em participar da pesquisa através da assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (CEP-UFG 290/2010).
Para este estudo, os indivíduos foram questionados sobre qual membro superior era
utilizado como preferencial para escrever e qual membro inferior era utilizado
preferencialmente para chutar. De acordo com o relato de cada um, os que respondiam serem
os membros do lado direito ou lado esquerdo foram considerados destros ou sinistros,
respectivamente.
A avaliação postural foi realizada através do software Posturograma 3.0, onde dados
referentes à idade, peso, altura, prática de exercício físico e histórico clínico foram também
registrados. Posteriormente foram obtidas 6 fotos digitalizadas (câmera fotográfica Sony®
Cyber-shot DSC-N1) no formato de 640x480 pixels que permitiram avaliar a face ventral e
dorsal, perfil direito, perfil esquerdo, flexão anterior (vista face ventral) e flexão anterior
(vista face perfil). Foram usadas etiquetas adesivas de 5 mm de raio para marcação dos pontos
anatômicos: glabela, acrômio, espinha ilíaca ântero-superior (EIAS), espinha ilíaca póstero-
superior (EIPS) e trago bilateralmente. Para fins de escala em medições do programa, réguas
de 10 cm de comprimento foram fixadas na superfície anterior e lateral do braço direito e na
superfície posterior e lateral do braço esquerdo.
Os praticantes de Taekwondo foram avaliados e fotografados no Centro de Artes
Marciais (Jataí, GO) e na Academia da Professora Eliane (Jataí, GO). Os sedentários
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passaram pelo mesmo procedimento no 41º Batalhão de Infantaria Motorizada de Jataí – GO.
Os indivíduos foram avaliados em uma sala privada com uma parede branca e trajados de
roupa de ginástica. A máquina fotográfica foi posicionada em um tripé a uma distância de 3 m
da pessoa a ser avaliada que se mantinha em posição ortostática em cima de um tapete de
EVA que permite a posição entre os pés de 20° em cada imagem. Uma pessoa de cada vez foi
fotografada, para posteriormenteser realizada a mensuração das imagens na tela de edição do
programa, verificando a distância entre os pontos anatômicos e permitindo quantificar os
desvios posturais.
Através do programa, na vista anterior, foi traçada uma linha no meio dos maléolos
mediais (representando o fio de prumo), esta deveria estar alinhada com a glabela (ponto
craniométrico localizado entre as sobrancelhas), se não alinhada, a distância foi calculada em
desvio da glabela. Ainda na vista anterior foram mensuradas a distância do acrômio direito e
esquerdo ao solo em vista anterior, distância das EIAS ao solo. Em vista posterior,
bilateralmente, foi traçada uma régua medindo a distância entre o epicôndilo medial do úmero
e o tronco, representando a distância do Triângulo do Talhe.
Em perfil direito e esquerdo também foram traçadas retas representando o fio de
prumo que começou na borda anterior do maléolo lateral e este deveria estar alinhado com o
ponto médio do acrômio e trago. Também foi traçada a linha posterior tangente à região mais
posterior de cada indivíduo. Para identificar os desalinhamentos e rotações foram calculadas
as distâncias bilaterais entre o acrômio e o trago ao fio de prumo e distância da EIAS a linha
posterior. Foi traçada uma régua partindo desta linha até o occipital para calcular a distância
do occipital a linha posterior (normalmente alinhados),e a distância do ápice da curva da
lordose lombar e a linha posterior.
Em flexão de tronco na vista anterior foi traçada bilateralmente uma régua para
mensurar as distâncias dos ápices das curvaturas torácicas ao solo, para detectar a presença de
gibosidade torácica. Em flexão de tronco em perfil foi traçada uma régua da EIPS ao solo
(distância do EIPS ao solo em flexão) e outra do ápice da curvatura torácica ao solo (distância
do ápice da curvatura torácica ao solo em flexão). O encurtamento de cadeia muscular
posterior foi detectado neste trabalho, nos casos em que a distância da EIPS ao solo foi maior
que a distância do ápice da curvatura torácica ao solo.
A avaliação postural observacional foi realizada, segundo Bienfait (1995) para
verificar alinhamento dos maléolos mediais e côndilos mediais, classificando assim o joelho
em varo, valgo ou normal. O indivíduo foi caracterizado com joelho varo se este apresentasse
alguma distância entre os côndilos mediais femorais e contato dos maléolos mediais na
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tentativa de manter contatos entre as duas regiões, se o indivíduo teve contato entre os
côndilos mediais femorais e teve alguma distância entre os maléolos mediais, este foi
caracterizado como valgo. O alinhamento de joelho no plano sagital foi realizado segundo
Santos (2001), sendo considerado joelho em flexão aquele que mostra patela sem mobilidade
látero-lateral (indicando contração de músculo quadríceps femoral), e, em hiperextensão, o
joelho que apresenta valor menor que 170º no ângulo formado por retas que, numa vista
lateral, partem do trocânter maior do fêmur e do centro do maléolo lateral e que se cruzam ao
nível do centro do côndilo femoral.
A avaliação do arco longitudinal plantar foi realizada por meio da análise da impressão
plantar do pé direito e esquerdo de cada atleta, utilizando um Pedígrafo da marca SalvaPé. A
análise foi feita através do Índice de Chipaux – Smirak (ICS), conforme descrito por Pezzan
et al. (2009). Para a obtenção desse índice, foram traçadas duas tangentes, uma passando
pelos pontos mais mediais e outra passando pelos pontos mais laterais nas regiões das cabeças
dos metatarsos e do calcâneo. Em seguida foram traçadas duas retas paralelas, a primeira
ligando o ponto mais medial ao mais lateral na região das cabeças dos metatarsos, obtendo
nesse ponto a maior largura da impressão (segmento a); a segunda reta foi traçada sobre a
menor largura do arco longitudinal plantar (segmento b). Ambos os segmentos foram
medidos, e o valor de b foi divido por a. Para esse índice, os valores de referência foram: 0 -
pé cavo; 0,01 a 0,29 - pé normal; 0,30 a 0,39 - pé intermediário; 0,40 a 0,44 - pé rebaixado e
0,45 ou maior - pé plano.
A análise estatística foi realizada com o software SPSS® for Windows versão 17
(SPSS Inc., Chicago IL, EUA).Os dados foram apresentados por meio de estatística descritiva
(média e erro padrão da média). Padronizou-se utilizar o valor negativo para indicar desvios
da cabeça para o lado esquerdo e positivo para indicar desvio para o lado direito. Constatada a
não normalidade dos dados por meio do teste de Shapiro-Wilk, utilizou-se o teste de
Wilcoxon pareado (p<0,05) para comparar variáveis bilaterais da postura estática (Direito X
Esquerdo) tanto entre os praticantes de Taekwondo quanto entre os sedentários. Para
identificar possíveis diferenças posturais entre grupos de praticantes de Taekwondo e
sedentários foram comparadas entre os mesmos as seguintes variáveis: desvio da glabela,
distância do occipital à linha posterior, distância do ápice da curvatura lombar à linha
posterior, índice plantar direito e esquerdo. Além disso, foram comparados entre os grupos os
valores das diferenças existentes entre variáveis coletadas bilateralmente (valor obtido do lado
direito menos o valor obtido do lado esquerdo para cada variável). As variáveis analisadas
desta forma diferença entre as distâncias bilaterais do acrômio ao solo, diferença entre as
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distâncias da EIAS ao solo, diferença entre as distâncias do triângulo do Talhe, diferença entre
as distâncias da EIAS a linha posterior, diferenças das distâncias do trago ao prumo e do
acrômio ao prumo. Para tais análises entre grupos foi usado o teste Mann-Whitney U para
amostras independentes (p<0,05).
4. RESULTADOS
A maioria dos indivíduos de ambos os grupos apresentaram desvios posturais
associados à postura escoliótica. Os atletas mostraram grande prevalência de diferenças entre
as alturas dos acrômios (8/9, em 6 o lado direito foi mais alto), desvio da glabela (9/9, em 8 o
desvio foi para o lado esquerdo), diferença entre as larguras dos triângulos do Talhe (9/9, em 7
o lado direito foi maior) e diferença nas alturas das EIAS (6/9, em 3 o lado esquerdo foi mais
alto). Entre os sedentários 5 indivíduos apresentaram diferença na altura dos acrômios (em 4
casos o lado direito foi mais alto), em 8 deles houve desvio da glabela (sendo 7 casos de
desvio para esquerda), em 8 casos a largura do triângulo do Talhe se mostrou diferente entre
os lados (sendo que em 4 o lado esquerdo foi maior) e houve ainda 8 casos em que as EIAS
mostraram alturas diferentes (em 4 casos o lado esquerdo foi mais alto). No entanto, apenas 6
dos 19 indivíduos apresentaram gibosidade torácica, sendo 2 entre os atletas (gibosidade à
esquerda) e 4 entre os sedentários (1 com gibosidade à direita e 3 com gibosidade à esquerda).
Todos os indivíduos avaliados mostraram algum grau de protusão de cabeça e ombros,
bem como de rotação de cabeça, tronco e pelve (Tabela 01). Nos 19 indivíduos houve
anteriorização dos tragos em relação ao fio de prumo e do occipital em relação à linha
posterior (protusão de cabeça) e acrômios (protusão de ombros). Associados a essa protusão,
todas essas medidas ainda se mostram discrepantes na comparação entre os dois lados,
indicando rotação de cabeça (8/9 atletas e 7/10 sedentários com rotação à esquerda), rotação
de tronco verificada pela diferença entre distância dos acrômios ao fio de prumo (7/9 atletas e
8/10 sedentários com rotação à esquerda) e rotação de pelve verificada através da diferença
entre as distâncias das EIAS ao fio de prumo(7/9 atletas e 6/10 sedentários com rotação à
esquerda).
Tabela 01 – Tabela demonstrativa das variáveis posturais (média ± erro padrão da média) dos
grupos de praticantes regulares de Taekwondo e sedentários
Variáveis posturais Taekwondo Sedentários Distância do acrômio direito ao solo 140,22±1,61 139,96±3,02 Distância do acrômio esquerdo ao solo 140,24±1,51 139,65±3,06 Diferença entre as distâncias dos acrômios ao solo** -0,02±0,29 0,3±0,29
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Distância da EIAS direita ao solo 97,97±1,36 97,97±2,28 Distância da EIAS esquerda ao solo 98,20±1,22 97,78±2,43 Diferença entre as distâncias das EIAS ao solo** -0,23±0,25 0,09±0,21 Desvio da glabela -1,87±0,66 -1,42±0,59 Distância da largura do Triângulo do Talhe direito 3,83±0,48 3,21±0,26 Distância da largura do Triângulo do Talhe esquerdo 4,55±0,45 3,22±0,38 Diferença entre as distâncias dos Triângulos do Talhe** -0,72±0,39 -1,0±1,17 Distância do trago direito ao fio de prumo 8,47±0,59* 9,78±1,21* Distância do trago esquerdo ao fio de prumo 5,02±1,05 7,25±1,2 Diferença entre as distâncias dos tragos ao prumo** 3,45±0,89 2,53±0,78 Distância do ápice posterior do occipital a linha posterior 5,20±0,65 6,81±1,17 Distância do acrômio direito ao fio de prumo 5,48±0,67* 7,43±1,08* Distância do acrômio direito ao fio de prumo 2,64±0,83 4,9±1,16 Diferença entre as distâncias dos acrômios ao fio de prumo** 2,65±0,92 2,51±0,63 Distância da EIAS direita à linha posterior 22,17±0,81 21,54±0,62 Distância da EIAS esquerda à linha posterior 21,89±0,56 21,21±0,72 Diferença entre as distâncias das EIAS à linha posterior** 0,32±0,43 0,33±0,38 Distância do ápice da lordose lombar à linha posterior 7,22±0,55 6,71±0,25 Índice Plantar Direito 0,282±0,06 0,28±0,04 Índice Plantar Esquerdo 0,286±0,06 0,28±0,04
* p<0,05vs lado esquerdo **Estes valores se referem às médias das diferenças obtidas através da subtração dos valores das variáveis posturais do lado direito com o do lado esquerdo. Assim o sinal negativo indica lado esquerdo.
Tanto nos atletas quanto nos sedentários as distâncias dos tragos ao fio de prumo
(p=0,015 e p=0,028, respectivamente) e dos acrômios ao fio de prumo (p=0,021 e p=0,013,
respectivamente) mostraram ser maiores no lado direito, indicando respectivamente rotação
de cabeça e tronco para o lado esquerdo (Tabela 01, Fig 01-02). Entretanto, não foram
encontradas diferenças significativas entre outras variáveis posturais comparadas
bilateralmente como distância das EIAS à linha posterior (p=0,214 e p=0,386), distância dos
acrômios ao solo (p=1 e p=0,225), distância das EIAS ao solo (p=0,463 e p=0,4), largura dos
triângulos do Talhe (p=0,066 e p=0,889) e os índices plantares (p=0,944 e p=0,575),
respectivamente em atletas e sedentários (Tabela 01).
Não foram encontradas diferenças significativas entre o desvio da glabela (p=0,487), a
distância do occipital à linha posterior (p=0,307), a distância do ápice da curvatura lombar à
linha posterior (p=0,595) e o índice plantar direito e esquerdo (p=0,806 e p=0,87,
respectivamente) entre os grupos de praticantes regulares de taekwondo e de sedentários
(Tabela 01). Também, na comparação entre os grupos não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre os valores de diferenças das variáveis coletadas
bilateralmente comparativamente entre os grupos de praticantes regulares de Taekwondo e de
sedentários. Estas variáveis incluíram as diferenças entre as distâncias bilaterais do acrômio
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ao solo (p=0,59), diferença entre as distâncias da EIAS ao solo (p=0,592), diferença entre as
distâncias do triângulo do Talhe (p=0,22), diferença entre as distâncias da EIAS a linha
posterior (p=0,935), diferenças das distâncias do trago ao prumo (p=0,414) e do acrômio ao
prumo (p=0,935; Tabela 01).
Apenas dois indivíduos, um de cada grupo, relataram possuir o membro superior
esquerdo como dominante. Em relação aos membros inferiores, todos os indivíduos
sedentários relataram ter o membro direito como dominante, e, dentre os praticantes de
Taekwondo foram 3 destros, 3 sinistros e 3 relataram utilizar, sem preferências, os dois
membros inferiores para chutar.
Na comparação das distâncias do ápice da curvatura torácica e da EIPS ao solo, em
flexão de tronco na vista em perfil, os 10 indivíduos sedentários mostraram maior distância do
ápice da curvatura torácica, indicando encurtamento da cadeia muscular posterior. Entretanto,
esse padrão apareceu em somente 4 dos 9 atletas avaliados.
Figura 01 – Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das variáveis posturais mensuradas bilateralmente em perfil direito e esquerdo (distância do trago ao fio de prumo, distância do acrômio ao fio de prumo e distância da EIAS à linha posterior) em praticantes regulares de Taekwondo. * p<0,05.
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Figura 02 – Gráfico representando a média e desvio de erro padrão das variáveis posturais mensuradas bilateralmente em perfil direito e esquerdo (distância do trago ao fio de prumo, distância do acrômio ao fio de prumo e distância da EIAS à linha posterior) em indivíduos sedentários. * p<0,05.
Os dados referentes ao Índice de Chipaux – Smirak mostraram que a maior variação
entre tipos de pé foi entre os praticantes de Taekwondo. Entre os atletas, 2 indivíduos
apresentaram os pés normais, 2 com pés cavos, 3 com pés intermediários e 2 com pés planos.
Já no grupo dos sedentários, 5 indivíduos apresentaram pés normais, 2 apresentaram pés
intermediários, 1 indivíduo mostrou pé direito rebaixado e pé esquerdo intermediário, 1
mostrou pé direito intermediário e pé esquerdo normal e 1 indivíduo apresentou pé direito
rebaixado e pé esquerdo plano.
Em relação ao posicionamento dos joelhos na vista anterior, 4 atletas apresentaram os
joelhos normais, 3 atletas com joelhos varos e 2 atletas com joelhos valgos. Entre os
sedentários, 3 indivíduos apresentaram joelhos normais, 5 com joelhos varos e 2 com joelhos
valgos. Já no plano sagital, os joelhos dos praticantes de Taekwondo apareceram em maioria
como normais (6/9), existindo 2 casos em que o joelho direito se mostra em flexão e 1 caso
em que o joelho direito está fletido e o joelho esquerdo se apresenta em hiperextensão. Em
relação ao grupo sedentário, existiu uma variação maior sendo 4 com joelhos em flexão, 2
com joelhos normais, 3 com o joelho direito em flexão e o joelho esquerdo normal e 1 com
joelho direito normal e joelho esquerdo em hiperextensão.
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5. DISCUSSÃO
Tanto no grupo sedentário quanto no grupo dos praticantes de Taekwondo, várias
evidências de postura escoliótica foram encontradas, mas, poucos foram os casos em que
houve presença da gibosidade. Em relação ao tórax, essa deformidade é tida como uma
proeminência existente no hemitórax e consiste em uma rotação vertebral na qual o corpo da
vértebra desloca-se para um dos lados (o lado da rotação), sendo que seu processo transverso
posterioriza-se levando junto as costelas com as quais se articulam (SANTOS, 2001); é
considerado o mais determinante dos sinais de escoliose, não bastando apenas outros sinais de
desvios laterais de coluna para tal (TRIBASTONE, 2001). Semelhante aos resultados de
Mansoldo e Nobre (2007) em estudo da postura de nadadores, todos os indivíduos deste
estudo mostraram desvio da glabela e anteriorização de cabeça e tronco, bem como outras
assimetrias laterais referentes à postura escoliótica.
Em todos os casos foram encontrados protusão de cabeça e ombros, observados
através das distâncias do trago e acrômio ao fio de prumo e do occipital à linha posterior. O
trago anteriorizado pode indicar encurtamento dos músculos extensores do pescoço e
alongamento dos músculos flexores do pescoço (o que levaria a anteriorização da cabeça) e a
protusão de ombros é geralmente ligada a um padrão defeituoso da posição das escápulas
(KENDALL et al., 1995). No presente estudo, em ambos os grupos houve a presença de
rotação de cabeça e tronco em todos os indivíduos avaliados, com predomínio
estatisticamente significativo para a esquerda. Corroborando estes resultados os dados
encontrados na literatura (BIENFAIT, 1995), afirmam que boa parte da população
normalmente apresenta esse padrão. Gonçalves et al. (1989) e Kendall et al., (1995) enfatizam
que a lateralidade representa uma força que proporciona desenvolvimento muscular desigual e
podem estar proporcionando padrões posturais relacionados à dominância do indivíduo.
Dessa forma acreditamos que nossos resultados estejam associados à lateralidade destra de
membro superior apresentada pela maioria dos indivíduos (KENDALL et al., 1995).
Corroborando com os nossos resultados Baroni et al., (2010), estudando a postura de
homens praticantes de musculação com faixa semelhante à deste estudo, verificou que a
maioria dos indivíduos apresentou ombros anteriorizados, hipercifose torácica, atitude
escoliótica, joelhos varos e pés com redução do arco plantar. De forma semelhante,
Tamborindeguy et al., (2011), estudando também a postura de praticantes de Taekwondo
também identificou anteriorização de cabeça e tronco dentre os indivíduos avaliados, bem
como as assimetrias laterais associadas a postura escoliótica. No entanto, os autores relatam
maior prevalência de assimetrias à direita enquanto que o presente estudo encontrou maior
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prevalência de desvios, especialmente rotacionais, para a esquerda. Este padrão para a
esquerda poderia ser gerado pela tendência dos praticantes em se apoiar preferencialmente no
membro inferior direito para deferir os golpes.
Assimetrias para o lado esquerdo também foram identificadas por Kleinpaul et al.,
(2010), o que reforça a importância de trabalhos que notifiquem e justifiquem tal tendência,
considerando sua prevalência evidente também em sedentários. Para o caso do Taekwondo,
isso seria interessante para fundamentar a criação de protocolos de treinamento que incluam a
prevenção referente a tais alterações posturais e as possíveis lesões relacionadas.
Não foram encontradas diferenças significativas entre variáveis posturais de
praticantes regulares de Taekwondo e de sedentários. Acreditamos que estes resultados
possam ser justificados pelo número de sujeitos avaliados neste trabalho. Salientamos que,
para este estudo houve dificuldade em encontrar voluntários para a pesquisa, dispostos a
permitir a realização de imagens fotográficas do seu corpo para análise no Posturograma.
Desta forma, ressaltamos a importância da conscientização de profissionais da área da saúde e
atletas sobre a importância de registrar quantitativamente as alterações posturais e assim
permitindo melhor adaptação de protocolos de treinamento, permitindo melhora de
desempenho no esporte, menor risco de lesões e menor gasto energético.
A flexibilidade, que aperfeiçoa o aprimoramento de técnicas esportivas e é um fator de
prevenção no esporte (VEIGA et al., 2011), é tida como necessária para a prática do
Taekwondo. O treinamento da flexibilidade através do alongamento muscular é bastante
incentivado e trabalhado nas aulas de Taekwondo, especialmente em membros inferiores
(VIEIRA; ROMAN, 2008). Considerando isso, é plausível o fato de todos os sedentários
mostrarem encurtamento da cadeia muscular posterior, levando em conta que a falta de
treinamento direcionado a alongar a cadeia muscular posterior. No entanto, 4 dos 9 praticantes
de Taekwondo avaliados apresentaram também características de encurtamento de cadeia
muscular posterior, o que pode indicar possíveis falhas em protocolos de treinamento ou na
realização do exercício pelo atleta.
Em relação ao posicionamento dos joelhos, em concordância com o estudo de Baroni
et al., (2010), nosso estudo mostrou que a maioria dos indivíduos avaliados apresentou
joelhos varos. Este tipo de alteração geralmente é uma deformidade mais relativa à tíbia,
sendo uma alteração situada costumeiramente sob a epífise proximal, relacionado à cartilagem
de conjugação (BIENFAIT, 1995). Diferente do nosso estudo, Tamborindeguy et al. (2011)
relatou prevalência de joelhos valgos em praticantes de Taekwondo, argumentando que tal
padrão poderia ser devido ao estresse em valgo que a execução dos golpes gera.
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No estudo de Neto Júnior et al., (2004) os pés dos atletas foram avaliados e foi
encontrada maior incidência de posição em valgo (67% da amostra), o qual associa-se com
redução de arco plantar. Da mesma forma, Baroni et al., (2010) encontrou maior quantidade
de indivíduos com redução do arco plantar. Estes dados estão de acordo com os nossos
resultados, os quais mostraram que a maioria dos praticantes de Taekwondo apresentou
redução do arco plantar.
Cabe aqui ser considerado que a postura é uma característica muito individual
determinada por uma relação particular das estruturas corporais, dependente de características
hereditárias e lateralidade, do histórico de lesões músculo-esqueléticas e neurológicas, do
crescimento corporal, hábitos de vida diária e prática de atividade física regular. Dessa forma
a padronização do que seria uma boa postura torna-se difícil de ser estabelecida. Assim,
concordamos com Meliscki et al (2011) que sugerem que a postura ideal para cada indivíduo
seja aquela que preenche todas as necessidades mecânicas do seu corpo e também que
possibilita ao indivíduo manter uma posição ereta com o mínimo esforço muscular, opor-se
contra as forças externas, ter equilíbrio na realização do movimento e lutar contra a ação da
gravidade.
6. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, a maioria dos indivíduos avaliados apresentou postura escoliótica,
desvio da cabeça para o lado esquerdo, joelhos varos e redução do arco plantar longitudinal
medial. Todos os indivíduos, de ambos os grupos, apresentaram protusão de cabeça e ombros
e rotações de cabeça, tronco e pelve preferencialmente para a esquerda. Todos os sedentários e
a menor parte dos praticantes de Taekwondo apresentaram postura compatível com
encurtamento de cadeia muscular posterior. As rotações de cabeça e tronco foram, de forma
estatisticamente significativa, maiores à esquerda em ambos os grupos e foram encontrados
dados estatisticamente significantes ao comparar os dois grupos.
Estudos longitudinais, que verifiquem padrões posturais antes e durante a prática da
modalidade, com uma amostra maior e controle mais sistemático sobre e mesma (um grupo
de mesma faixa etária e que apresente o mesmo padrão de lateralidade de membro inferior),
mostram-se necessários para melhor determinar a real influência do Taekwondo sobre a
postura dos praticantes. A determinação de padrões específicos de possíveis desvios posturais
característicos a serem encontrados na prática do Taekwondo pode dar respaldo a alterações
em protocolos de treinamento, visando evitar lesões que possam estar relacionadas a tais
padrões e garantindo maior rendimento com menor gasto energético por parte dos atletas.
Capa Índice 6549
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Revisado pelo Orientador
Capa Índice 6552
HÁBITOS RELACIONADOS À SAÚDE DE ESTUDANTES DE ODONTOLOGIA
Itamara Crhystina MARQUES
Aline de Paula FERREIRA
Maria de Fátima NUNES
Maria do Carmo Matias FREIRE
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Goiás
Palavras chave: estudantes de odontologia, comportamentos, condutas de saúde.
INTRODUÇÃO
Um aspecto de relevância quando se investiga questões relacionadas à vida
acadêmica são os comportamentos em saúde (MARCONDELLI et al, 2008; PAIXÃO
et al, 2010). Presume-se que as universidades sejam espaços de promoção da saúde,
devendo desenvolver ações de diagnóstico e de práticas voltadas para a saúde e
qualidade de vida dos seus estudantes. Além, disso, espera-se que estudantes de cursos
da área da saúde apresentem hábitos saudáveis como resultado dos conhecimentos
adquiridos ao longo do curso.
Assim, a saúde da população de estudantes universitários deve estar entre as
prioridades das instituições de ensino superior. Como um pré-requisito para políticas de
saúde e desenvolvimento de programas, é essencial avaliar o estado de saúde destes
estudantes, assim como os comportamentos associados e o impacto na qualidade de
vida. Na literatura existem diversos trabalhos sobre fatores de risco à saúde de
estudantes universitários, tais como atividade física, aspectos nutricionais, tabagismo e
consumo de drogas (HADDAD & MALAK, 2002; ANDRADE et al, 2006; SILVA et
al, 2007; BION et al, 2008; BANWELL et al, 2009; KHAMI et al, 2010). Numa
perspectiva longitudinal, Franca e Colares (2008) analisaram as diferenças nas condutas
de saúde de estudantes da área de saúde de universidades públicas do Pernambuco e
concluíram que, em geral, as condutas de saúde não diferiram significativamente entre
os estudantes do início e os do final do curso.
Capa Índice 6553
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6553 - 6562
Os comportamentos em saúde de estudantes de Odontologia têm sido objeto de
alguns estudos (FREIRE et al, 1997; GRANVILLE-GARCIA et al, 2009; KHAMI et al,
2010; PIZZO et al, 2010; TEIXEIRA et al, 2010). Na Universidade Federal de Goiás,
Freire et al (1997) pesquisaram os hábitos e atitudes de acadêmicos de odontologia em
relação ao açúcar e à saúde, por meio de um questionário aplicado a 140 acadêmicos
recém-ingressos e formandos. Verificaram que o consumo de sacarose foi mais
frequente entre os ingressandos (92%).
OBJETIVOS
Conhecer os comportamentos associados à saúde dos estudantes de odontologia
(recém- ingressos e formandos) e identificar se houve mudanças dos mesmos no
decorrer do curso de Odontologia na Universidade Federal de Goiás.
METODOLOGIA
Foi realizado um estudo do tipo observacional, utilizando-se um questionário
autoaplicável a estudantes da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de
Goiás. Foram realizadas duas análises:
1. Análise do tipo transversal, incluindo os estudantes formandos em 2007,
2010 e 2011;
2. Análise do tipo longitudinal, incluindo os estudantes ingressos no ano de
2003, que se formaram no ano de 2007.
Todos os dados referentes aos anos de 2003, 2007 e 2010 já haviam sido
coletados e digitados em banco de dados. Os dados dos formandos de 2011 foram
coletados no último mês de aula. O total da amostra foi de 130 estudantes, para a análise
transversal e 43 estudantes para a análise longitudinal. Os critérios de inclusão para os
estudantes ingressos em 2003 foram: não ter iniciado o curso em outra instituição, ser
brasileiro e estar presente na sala de aula no momento da aplicação do questionário. O
critério de inclusão para os formandos em 2007, 2010 e 2011 foi terem respondido a um
questionário deste Projeto de Pesquisa no início do curso.
Capa Índice 6554
As variáveis analisadas foram: demográficas (idade e sexo) e de
comportamentos em saúde (hábito de fumar, consumo de açúcar branco e prática de
atividade física). Os dados foram analisados utilizando-se o programa SPSS. Foi feita
análise descritiva dos dados por meio de frequências e para comparação das respostas
nos diferentes momentos da graduação (início e final do curso). Foram utilizados o
percentual de concordância e o coeficiente de Kappa (K). Este coeficiente expressa a
proporção da concordância observada que não é devida ao acaso, em relação à
concordância máxima que ocorreria além do acaso. O valor de Kappa varia de -1 a 1,
sendo o valor 1 indicativo de concordância perfeita e o valor -1 uma situação de
discordância perfeita (LUIZ et al, 2005).
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal de Goiás em dezembro de 2006 sob o Parecer Nº 085/2006. Os
estudantes ingressos a partir de 2006, que concordaram participar da pesquisa,
assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, após terem sido esclarecidos
pelos pesquisadores, que garantiam anonimato e sigilo dos questionários. Os estudantes
ingressos em 2003, período anterior à legislação sobre ética em pesquisa no Brasil, não
assinaram termo de consentimento, mas foram convidados e consentiram ou não
verbalmente.
RESULTADOS
O total da amostra foi de 130 estudantes. A taxa de resposta no ano de 2003 foi
de 81,7% (de um total de 60 estudantes elegíveis, 49 responderam ao questionário). Em
2007, de 49 estudantes que responderam ao questionário no início do curso, 43 estavam
formando, e todos responderam no final do curso (taxa de resposta= 100%). A taxa de
resposta no ano de 2006 foi de 79,7% (de um total de 59 estudantes elegíveis, 46
responderam ao questionário). Destes, 41 estavam formando em 2010 e todos
responderam no final do curso (taxa de resposta= 100%). A taxa de resposta no ano de
2007 foi de 93,3% (de um total de 60 estudantes elegíveis, 56 responderam ao
questionário). Em 2011, de 56 estudantes que responderam ao questionário no início do
curso, 47 estavam formando, e 46 responderam no final do curso (taxa de resposta=
97,9%). Dos 130 respondentes, 89 (68,5%) eram do gênero feminino e 41 (31,5%) eram
do gênero masculino. A idade no final do curso variou de 21 a 31 anos (Tabela 1).
Capa Índice 6555
Tabela 1 – Características da amostra (n= 130). Estudantes de Odontologia da Universidade Federal de
Goiás.
Características n %
Ano de conclusão do curso
2007 43 33,1
2010 41 31,5
2011 46 35,4
Idade de conclusão do curso
21-22 anos 43 33,1
23 anos 48 36,9
24-31 anos 39 30,0
Sexo
Feminino 89 68,5
Masculino 41 31,5
Na análise transversal, foram analisadas as frequências dos comportamentos de
saúde dos formandos nos anos de 2007, 2010 e 2011 (n = 130) [Tabela 2]. Observou-se
que em relação ao hábito de fumar, 128 estudantes (98,5%) não fumavam e nunca
fumaram, enquanto apenas um estudante fumava e um já fumou anteriormente. Quanto
ao consumo de açúcar, 114 estudantes (87,7%) relataram utilizar o açúcar branco para
adoçar a alimentação. Sobre a prática de atividade física, 57 estudantes (43,8%)
praticavam e 73 (56,2%) não praticavam.
Tabela 2 – Comportamentos de saúde dos formandos em Odontologia (n= 130). Universidade Federal de
Goiás.
Comportamento Sim
n (%)
Não
n (%)
Hábito de fumar 1 (0,8) 129 (99,2)*
Consumo de açúcar branco 114 (87,7) 16 (12,3)
Prática de atividade física 57 (43,8) 73 (56,2)
* Um dos estudantes afirmou que já fumou anteriormente
Capa Índice 6556
Quando questionados sobre o que usam para adoçar a alimentação (Tabela 3),
114 estudantes (87,7%) relataram utilizar o açúcar branco e somente dois estudantes
(1,5%) relataram não adoçar a alimentação.
Tabela 3 – Produtos utilizados pelos formandos em Odontologia para adoçar a alimentação (n= 130).
Universidade Federal de Goiás.
O que usam* N %
Nada 2 1,5
Açúcar branco 114 87,7
Açúcar mascavo 3 2,3
Mel 8 6,2
Adoçante 29 22,3
* Mais de uma categoria de resposta
Dos 57 estudantes que relataram praticar alguma atividade física, 45 (78,9%)
frequentavam academia, 15 (26,3%) caminhavam ou corriam e seis (10,5%) praticavam
outro tipo de atividade física (Tabela 4).
Tabela 4 – Tipo de atividade física praticada pelos formandos em Odontologia (n=57). Universidade
Federal de Goiás.
Atividade física* N %
Academia 45 78,9
Esporte com bola 8 14,0
Caminhada/corrida 15 26,3
Outros 6 10,5
*Mais de uma categoria de resposta
Na análise longitudinal, foram comparados os comportamentos em saúde no
início (2003) e no final do curso (2007). Como todos os estudantes relataram não fumar,
tanto no início quanto no final, não foi possível fazer comparação em relação a esta
variável. Comparou-se o consumo de açúcar branco e a prática de atividade física ao
início e ao final do curso.
A concordância sobre consumo de açúcar branco foi de 97,7%, o que significa
que a grande maioria dos estudantes continuou com o mesmo hábito em relação a
adoçar a alimentação. Contudo, a grande maioria (93,0%) também consumia açúcar
Capa Índice 6557
branco no início do curso e continuava a consumir no final do mesmo. O valor de
Kappa para esta questão foi 0,78 o que sugere uma concordância substancial. Já a
prática de atividade física entre os estudantes diminuiu. No início do curso, 22
estudantes não praticavam atividade física, e no final, esse número foi para 23, sendo
que nove (20,9%) dos estudantes que antes não praticavam, começaram a praticar; e 10
(23,3%) que praticavam no início do curso, deixaram de fazê-lo. O valor de Kappa para
esta questão foi de 0,11, o que indica uma ligeira concordância (Tabela 5).
Tabela 5 – Concordância entre respostas dos estudantes de Odontologia sobre comportamentos em saúde
(n=43). Universidade Federal de Goiás.
Comportamentos
Início-final
Não – não
n (%)
Início-final
Não – sim
n (%)
Início - final
Sim - não
n (%)
Início – final
Sim - sim
n (%)
% Concordância
Kappa
Consumo de açúcar branco 2 (4,7) 1 (2,3) 0 40 (93,0) 97,7 0,78
Prática de atividade física 13 (30,2) 9 (20,9) 10 (23,3) 11 (25,6) 55,8 0,11
DISCUSSÃO
De maneira geral, os hábitos relacionados à saúde de estudantes de odontologia
da UFG foram nocivos no que diz respeito ao consumo de açúcar branco e à prática de
atividade física, com exceção para o fumo, conduta rara entre os universitários.
Esperava-se que hábitos saudáveis, favoráveis à promoção da saúde, fossem mais
prevalentes ao final de um curso na área da saúde.
No entanto, vale ressaltar que o tamanho reduzido da amostra para a análise
longitudinal configura uma limitação metodológica do presente estudo, devendo seus
resultados serem vistos com cautela.
Quanto ao fumo, apenas um estudante relatou fumar no início do curso, mas
havia parado de fumar ao final do curso. Já um estudo com universitários de treze
cursos de duas universidades públicas do estado de Pernambuco encontrou diferença
significativa com relação ao uso na vida de tabaco e consumo de maconha, maior entre
os universitários concluintes (FRANCA e COLARES, 2008). Nosso achado difere deste
Capa Índice 6558
e de outro estudo realizado com universitários residentes em moradias estudantis da
UFG em que o percentual de estudantes fumantes foi de 17,6% (FREIRE et al, 2012).
Em âmbito internacional, Steptoe et al (2002) pesquisou tendências no uso de
tabaco, dieta e práticas de exercícios físicos de estudantes universitários europeus de
treze países, e relatou aumento de prevalência do fumo e diminuição do consumo de
frutas entre 1990 e 2000, enquanto que a prática de atividade de física foi estável. De
forma semelhante, em nosso estudo a prática de atividade física diminuiu ligeiramente
ao longo do curso, porém se manteve baixa. Tal sedentarismo entre universitários
também foi constatado no estado de Pernambuco por Bion et al (2008).
Em relação ao hábito de adição de açúcar branco na alimentação, este foi alto e
ligeiramente maior ao final do curso, diferente de estudo anterior com estudantes da
mesma universidade na década de 90 (FREIRE et al, 1997). O consumo de açúcar no
Brasil excede largamente a recomendação da Organização Mundial de Saúde e
importantes alterações tem ocorrido nas fontes de consumo, como o aumento de
produtos industrializados, como refrigerantes e biscoitos (LEVY et al, 2012).
Nesse sentido, ações que promovam adoção de hábitos de vida mais saudáveis,
como menor consumo de açúcar e prática regular de exercícios físicos, são essenciais
dentro dos espaços da universidade.
CONCLUSÕES
No início do curso, a grande maioria dos estudantes não tinha hábito de fumar e
utilizava açúcar branco para adoçar os alimentos, e menos da metade praticava atividade
física.
Houve mudanças nos hábitos de consumo de açúcar e prática de atividade física.
O consumo de açúcar branco aumentou e a prática de atividade física diminuiu no
decorrer do curso.
Capa Índice 6559
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Modelo empírico para cálculo do diâmetro de corte corrigido
A. C. Silva1, E. M. S. Silva 2, J. D. V. Matos3,
1Departamento de Engenharia de Minas, Campus Catalão, UFG. [email protected] 2 Departamento de Engenharia de Minas, Campus Catalão, UFG. [email protected]
3Bolsista PIVIC graduando em Engenharia de Minas, Campus Catalão, UFG. [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: hidrociclone, diâmetro de corte corrigido, modelagem.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Sampaio et al (2007) embora a existência dos hidrociclones reporte a 1890,
somente a partir de 1940 iniciou-se a fabricação desse equipamento com tecnologias avançadas.
Nos anos seguintes, milhares de hidrociclones foram instalados e hoje esses são considerados
como o equipamento padrão para o fechamento de circuitos de moagem em muitas empresas e o
mais usado para a classificação de materiais de granulometria fina, de 2 a 837 µm. Trata-se de
um equipamento versátil, de capacidade elevada e sem partes móveis.
Um hidrociclone consiste de um cilindro afixado a um tronco de cone. A polpa pressurizada é
alimentada tangencialmente à seção cilíndrica. A abertura no vértice da seção cônica,
denominada apex, é responsável pela descarga do material afundado (underflow), sendo o
material transbordado (overflow) removido por um tubo coaxial denominado vórtex finder (vide
figura 1). A energia potencial armazenada na polpa, em razão do bombeamento é transformada
em energia cinética, e devido à geometria do hidrociclone, esta produz um movimento rotacional
da polpa. As partículas de diâmetros maiores tendem a ocupar as regiões mais periféricas da
seção cilíndrica e, consequentemente, da seção cônica. As partículas de diâmetros menores são
deslocadas para a região central do hidrociclone.
Buscando aumentar o desempenho dos hidrociclones e adequá-los a diferentes funções dentro do
processamento mineral, foram desenvolvidas algumas famílias de hidrociclones que geralmente
são demonstradas relacionando os entes geométricos com o diâmetro da parte cilíndrica. De
acordo com Svarovsky (2000) as três principais famílias de hidrociclones são: Bradley, Krebs e
Rietema. A tabela 1 apresenta as relações geométricas das três famílias.
Capa Índice 6563
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6563 - 6572
Figura 1 – Principais partes de um hidrociclone: (1) seção cilíndrica, (2) seção cônica, (3) vórtex finder e (4) apex.
Tabela 1. Principais geometrias de hidrociclones.
Família Di/Dc Do/Dc l/Dc L/Dc θ
Bradley 0,133 0,200 0,330 6,850 9,0°
Krebs 0,267 0,159 - 5,874 12,7°
Rietema 0,280 0,340 0,400 5,000 15 - 20,0°
Onde l é o comprimento do vórtex finder e L representa o comprimento total do hidrociclone
(ℎ = − ).
Os hidrociclones têm a sua maior aplicação como equipamentos de classificação granulométrica
fechando circuitos de moagem, mas também se destacam em operações de deslamagem,
classificação seletiva, espessamento e pré-concentração. Podem também ser atribuídas aos
hidrociclones funções de filtragem de água, de efluentes líquidos e em casos específicos a
remoção de alguns tipos de bactérias.
Basicamente um hidrociclone consiste de uma parte cilíndrica seguida de uma parte cônica que
possui, em seu vértice, uma abertura, denominada apex, pela qual descarrega o underflow. A
alimentação é introduzida tangencialmente à seção cilíndrica, em que há um tubo coaxial
denominado vortex finder, pelo qual é descarregado o overflow, (Carrisso e Correia, 2004). Seu
princípio básico de separação é a sedimentação centrífuga e o desempenho destes equipamentos
Capa Índice 6564
é influenciado por sua geometria, dimensões, variáveis operacionais e propriedades físicas tanto
dos sólidos e como da polpa.
Os mecanismos de separação e a hidrodinâmica atuantes nos hidrociclones são complexos e de
difícil modelagem teórica, sendo comum a adoção de modelos empíricos baseados em ensaios
laboratoriais para a previsão do desempenho dos mesmos. O modelo empírico mais utilizado
para o cálculo do diâmetro de corte corrigido de hidrociclones (d50c) é o modelo proposto por
Plitt (1976), que sofreu mudanças e adaptações ao longo dos anos. O presente artigo apresenta
uma análise estatística entre o modelo de Plitt e cinco outros modelos derivados do original.
Desta análise foi proposto um novo modelo, gerado através de simulações utilizando-se três
hidrociclones de geometrias diferentes, alimentados com polpa de minério de ferro, variando-se
a porcentagem de sólidos da polpa e a vazão de alimentação.
2. OBJETIVOS
O objetivo do presente trabalho era desenvolver um simulador computacional que apresentasse
os principais modelos matemáticos usados para o dimensionamento de hidrociclones,
demonstrando os resultados obtidos de maneira unificada para comparação. Durante o
desenvolvimento do simulador foi possível propor um novo modelo para o cálculo do diâmetro
de corte corrigido que melhor se ajustasse aos dados simulados utilizando o modelo de Plitt
(1976), bem como de outros cinco modelos empíricos derivados do original. Para tal foram
variados parâmetros operacionais e geométricos dos hidrociclones.
3. METODOLOGIA
3.1. Modelos empíricos utilizados para o cálculo do diâmetro de corte corrigido de
hidrociclones (d50c)
Dentre os modelos empíricos utilizados para o dimensionamento de hidrociclones o mais
utilizado é o modelo de Plitt (1976). Tal modelo pode ser utilizado sem a necessidade da
obtenção de dados experimentais adicionais para a predição da operação de hidrociclones para
uma ampla faixa de condições operacionais. Tal característica do modelo se deve a dois fatores:
primeiramente pela quantidade de dados experimentais utilizados para a validação do modelo e
pela inclusão das principais variáveis no mesmo. Plitt utilizou 297 ensaios individuais de
hidrociclones (dos quais 123 ensaios foram realizados por Lynch e Rao (1975), que utilizaram
Capa Índice 6565
hidrociclones de 20” de diâmetro da Krebs trabalhando com lamas e porcentagem de sólido
variando de 15 a 70%) para a validação de seu modelo.
O modelo de Plitt (1976) foi obtido através de um programa de regressão linear múltipla que
testou diferentes tipos de formas funcionais das variáveis (linear, potencial e exponencial) e
diferentes combinações das mesmas. Em seu modelo o autor incluiu apenas as variáveis com
grau de significância maior ou igual a 99%. Segundo o autor o diâmetro de corte corrigido (em
µm) é dado por:
d = ,,,,,ф,,,, (1)
Onde:
Dc é o diâmetro da parte cilíndrica do hidrociclone [cm];
Di é o diâmetro de alimentação do hidrociclone [cm];
Do é o diâmetro do vórtex [cm];
Du é o diâmetro do apex [cm];
h é a altura livre do hidrociclone, medida desde o apex até a parte inferior do vórtex finder [cm];
Q é a vazão volumétrica de polpa na alimentação [l/min];
ρl é a massa especifica da fase líquida (normalmente água) [g/cm3];
ρs é a massa especifica do sólido [g/cm3];
ϕ é a porcentagem de sólidos em volume na polpa de alimentação [%].
Ao longo dos anos o modelo de Plitt (1976) sofreu modificações e correções. Plitt et al (1980)
propuseram a adição da viscosidade dinâmica do fluido (representada pela letra µ e dado em cP)
ao modelo original, resultando na expressão:
d = ,,,,,,ф,,,, (2)
Flintoff et al (1987) apresentaram uma modificação na constante da equação 2, de modo a inserir
um fator de calibração (k1) dependente do sólido alimentado no hidrociclone assim como uma
constante (α) que depende do regime de escoamento ao qual é submetida a polpa na alimentação.
Para regime laminar adota-se α = 0,5.
d = k,,,,,,ф
,,,, (3)
Segundo Valadão et al (2007) a equação a seguir pode ser utilizada para prever o desempenho de
hidrociclones de grande diâmetro alimentados com polpa com porcentagens de sólidos elevada.
Capa Índice 6566
Nota-se que na equação 4 a diferença entre a massa especifica do sólido e da água tem expoente
unitário (e não 0,5 como no modelo original).
d = ,,,,,ф,,, (4)
Gupta e Yan (2006) apresentaram um modelo matemático empírico para o diâmetro de corte
obtido através do estudo de suspensões de sílica pura em hidrociclones laboratoriais, dado por:
d = k,,,,,,ф
,,,, (5)
Onde k2 é um fator de calibração do modelo admitido igual a 1,0 quando existirem dados
disponíveis.
Luz (2005) ao demonstrar a conversibilidade entre distribuições probabilísticas usadas em
modelos de hidrociclones põem a equação a seguir, que diverge do modelo original de Plitt
(1976) apenas no valor da constante de calibração:
d = ,,,,,ф,,,, (6)
3.2. Proposição do modelo matemático Para a geração do modelo matemático procedeu-se simulações da operação de hidrociclonagem
utilizando os modelos supracitados, adotando-se uma geometria de hidrociclone para cada
família (Dc = 10 cm) e mesmas condições operacionais. A polpa adotada era composta por
minério de ferro (ρs = 3,53 g/cm3) e água (ρl = 1,00 g/cm3). A porcentagem de sólidos (ϕ)
assumiu onze valores diferentes: 0,5; 5; 10; 15; 20; 25; 30; 35; 40; 45 e 50%. Dez vazões
volumétricas de polpa diferentes foram adotadas, variando assim de 0,5 a 5,0 m3/h, com um
incremento de 0,5 m3/h. A tabela 2 apresenta as dimensões adotadas para os três hidrociclones.
As simulações matemáticas foram realizadas no Microsoft Excel 2010, e os dados gerados foram
analisados utilizando-se o software Origin 7 da OriginLab Corp.
Tabela 2. Dimensões dos hidrociclones utilizados nas simulações.
Família Dc [cm] Di [cm] Do [cm] Du [cm] h [cm] θ [°]
Bradley 10,0 1,33 2,00 1,00 65,20 9,0
Krebs 10,0 2,67 1,59 1,00 54,74 12,7
Rietema 10,0 2,80 3,40 2,50 46,00 20,0
Foram realizadas 330 simulações (110 simulações para cada geometria). De posse do diâmetro
Capa Índice 6567
de corte corrigido calculado em cada simulação foi realizada uma regressão exponencial, a fim
de recalcular os coeficientes da equação de Plitt (1976), propondo um modelo que melhor se
ajuste aos valores calculados. A tabela 3 apresenta os parâmetros operacionais utilizados para a
realização das simulações para o cálculo do diâmetro de corte corrigido (d50c) de hidrociclones.
Tabela 3. Parâmetros operacionais adotados nas simulações.
Q (m3/s) Porcentagem de sólidos na polpa de alimentação (%) 0,5 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 1,0 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 1,5 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2,0 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 2,5 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 3,0 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 3,5 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 4,0 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 4,5 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 5,0 0,5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
4. RESULTADOS
A partir da análise dos dados simulados através de regressão exponencial foi possível propor um
novo modelo para o cálculo do diâmetro de corte corrigido de hidrociclones (d50c), apresentado
na equação 7.
d = , ,
,, ,,ф
,,, , (7)
As figuras 2, 3 e 4 apresentam a comparação entre o modelo proposto (linha vermelha) e os
dados simulados (pontos negros) para os três hidrociclones utilizados, das famílias Bradley,
Krebs e Rietema, respectivamente.
Capa Índice 6568
Figura 2 – Modelo proposto (linha vermelha) e dados simulados (pontos negros) para um hidrociclone da família Bradley operando com polpa de minério de ferro e Q = 4,5 m3/h.
Figura 3 – Modelo proposto (linha vermelha) e dados simulados (pontos negros) para um hidrociclone da família Krebs operando com polpa de minério de ferro e Q = 4,5 m3/h.
Capa Índice 6569
Figura 4 – Modelo proposto (linha vermelha) e dados simulados (pontos negros) para um hidrociclone da família Rietema operando com polpa de minério de ferro e Q = 4,5 m3/h.
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados obtidos durante as simulações demostram que o diâmetro de corte corrigido (d50c)
aumenta com o aumento da porcentagem de sólidos na polpa alimentada (vide figuras 2, 3 e 4),
independente da geometria do hidrociclone. Ainda além, nota-se que o diâmetro de corte
corrigido decresce com o aumento da vazão de alimentação.
No que tange à sensibilidade dos modelos estudados, foi possível verificar que os resultados
mais elevados foram obtidos com o modelo de Luz (2005) e os menores resultados apresentados
pelo modelo de Valadão et al (2007).
O modelo proposto, desenvolvido através de uma regressão exponencial dos dados simulados,
possui as mesmas constantes de calibração para as três geometrias de hidrociclones,
independente das variações da vazão volumétrica de alimentação e da porcentagem de sólidos
adotadas durante as simulações, sendo o coeficiente de ajuste da curva representativa do modelo
igual a 1 para as três geometrias adotadas.
6. CONCLUSÕES
Capa Índice 6570
Através do estudo dos modelos empíricos para cálculo do diâmetro de corte corrigido de
hidrociclones (d50c), baseados no modelo proposto por Plitt (1976), foi possível a proposição de
um novo modelo matemático empírico, muito semelhante ao modelo original, diferenciando-se
somente o valor da constante de calibração e pela adoção da viscosidade dinâmica do fluido.
Trabalhos futuros ainda se mostram necessários a fim de validar o modelo proposto com dados
laboratoriais e/ou industriais, além de analisar, mais profundamente, o comportamento do
modelo proposto através de variações amplas nas variáveis operacionais, tais como polpas de
sólidos com diferentes massas específicas, variação da viscosidade dinâmica do fluido, da
pressão interna do hidrociclone e mesmo da temperatura da polpa. Pretende-se ainda desenvolver
um simulador computacional que apresente os principais modelos matemáticos utilizados no
dimensionamento de hidrociclones, demonstrando os resultados obtidos de maneira unificada
para comparação dos mesmos com o modelo proposto.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARRISSO, R. C. C. e CORREIA, J. C. G. Classificação e Peneiramento. In: Luz, A. B.;
SAMPAIO, J. S e ALMEIDA, S. L. M. (Ed). Tratamento de Minérios. 4a ed. Rio de Janeiro:
CETEM, p.197-237, 2004.
GUPTA, A; YAN, D. S. Mineral processing design and operation: an introduction. Amsterdam ;
London: ELSEVIER, p. 354-400, 2006.
LUZ, J. A. M. Conversibilidade entre distribuições probabilísticas usadas em modelos de
hidrociclones. Revista da Escola de Minas, Ouro Preto, p. 89-93, 2005.
SAMPAIO, J. A., OLIVEIRA, G. P. e SILVA, O. A. Ensaios de classificação em hidrociclone.
In: SAMPAIO, J. A.; FRANÇA, S. C. A.; BRAGA, P. F. A. (Ed). Tratamento de Minérios:
Práticas Laboratoriais. Rio de Janeiro: CETEM, p.139-154, 2007.
SVAROVSKY, L. Solid-liquid separation. 2. ed. London: Butterworths, p. 568, 2000.
VALADÃO, G. E. S., ARAUJO, A. C. Introdução ao tratamento de minérios. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2007.
Capa Índice 6571
REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 6572
Doenças neurológicas de ruminantes da Região Sudoeste de Goiás
Jair A. Ferreira Junior1, Yara L. da Costa2, Rosely M. de Resende2 e Fabiano J.F. de Sant’Ana1
1. UFG, Campus Jataí, Laboratório de Patologia Veterinária, [email protected]
2. LABVET, AGRODEFESA, Goiânia/GO
Palavras-chave: neuropatologia, doenças de ruminantes, epidemiologia, raiva, BoHV, PEM
1. INTRODUÇÃO
Dentre as várias afecções que acometem os bovinos no Brasil e que levam a grandes
perdas econômicas aos criadores, os distúrbios do sistema nervoso central (SNC) destacam-se
por seus altos índices de mortalidade e de frequência. A importância dessas enfermidades
cresceu desde o aparecimento, em meados da década de 1980, da encefalopatia espongiforme
bovina (BSE). Sua importância política, econômica, social e de saúde pública foi realçada
quando uma nova variante da doença humana Creutzfeldt-Jakob (vCJD) foi relacionado à
BSE (BARROS et al., 2006). As desordens do SNC em bovinos abrangem um grupo de
enfermidades importantes do ponto de vista econômico, que possuem causas bastante
diversificadas. Como exemplos, destacam-se as doenças de etiologia viral (raiva, infecções
por herpesvírus bovino [BoHV] -1 ou -5, febre catarral maligna), bacteriana (listeriose,
tuberculose, infecção por Histophilus somni), tóxica (organofosforados, organoclorados,
chumbo, arsênico, mercúrio, ureia, plantas tóxicas como Ricinus comunis, Solanum
fastigiatum, Senecio spp., Crotalaria spp., Ipomoea fistulosa ou I. asarifolia), circulatória
(babesiose cerebral, traumatismos), metabólica (polioencefalomalacia), congênita, neoplásica,
e ainda as causadas por príon (BSE e scrapie). Somente a raiva bovina é responsabilizada, em
todo o mundo, por uma perda anual de aproximadamente 50 milhões de dólares (KING &
TURNER, 1993). As principais enfermidades inflamatórias que afetam o SNC de bovinos no
Brasil são a raiva, a meningoencefalite por herpesvírus bovino (BoHV) e a febre catarral
maligna (FCM) (BARROS et al., 2006).
Duas das principais atividades agropecuárias desenvolvidas no Estado do Goiás são a
criação de bovinos de corte e de leite. O rebanho estadual de bovinos de corte atinge 20,4
milhões de cabeças, que corresponde a 10,1% do efetivo nacional, enquanto na pecuária
leiteira, Goiás assume a terceira colocação na produção de leite do país (IBGE, 2008). Para
Capa Índice 6573
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6573 - 6585
que esse crescimento econômico regional vertiginoso permaneça nesses patamares, é
necessária a investigação constante e atuante em vigilância epidemiológica e sanitária dos
rebanhos do Estado. Assim, o conhecimento das características das enfermidades que afetam
os plantéis locais assume importância crucial.
As neuropatias centrais de bovinos são relativamente frequentes e conhecidas em
algumas regiões do Brasil (SANCHES et al., 2000; GALIZA et al., 2010; LUCENA et al.,
2010). Entretanto, a literatura especializada carece de estudos clínico-patológicos e
epidemiológicos relacionados às principais desordens do SNC em ruminantes no estado de
Goiás. Uma vez conhecidas as principais doenças neurológicas do rebanho regional, medidas
de cunho profilático e preventivo poderiam ser adotadas pelas autoridades sanitárias.
2. OBJETIVOS
O presente trabalho tem como objetivos determinar as enfermidades do sistema
nervoso de ruminantes da Região Sudoeste de Goiás, bem como demonstrar a frequência e as
características epidemiológicas, clínicas e patológicas dessas desordens.
3. MATERIAL E MÉTODOS
Foi feito um estudo retrospectivo de todos os registros histopatológicos (RH) e de
necropsia (RN) de casos neurológicos de ruminantes recebidos no Laboratório de Patologia
Veterinária (LPV) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Campus Jataí (CAJ), no período
de março de 2010 a junho de 2012. Posteriormente, os casos neurológicos apenas da Região
Sudoeste de Goiás foram anotados. Foram incluídos todos os casos que continham amostras
de encéfalo para diagnóstico confirmativo ou diferencial de raiva. As amostras foram obtidas
de necropsias realizadas pela equipe do LPV, ou submetidas por médicos veterinários da
região. Outras amostras foram gentilmente cedidas pelo Laboratório de Análise e Diagnóstico
Veterinário (LABVET) da AGRODEFESA, em Goiânia/GO. Esse último laboratório recebe
encéfalos de herbívoros para diagnóstico virológico de raiva (imunofluorescência direta [IFD]
e prova biológica) de todo Estado de Goiás. O LABVET é o único laboratório credenciado
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para esse diagnóstico em
Capa Índice 6574
Goiás. As informações epidemiológicas e clínicas de cada caso descritas pelos proprietários
ou veterinários foram anotadas individualmente.
Os encéfalos foram fixados em solução de formol neutro e tamponado a 10% por 7-10
dias. Após a fixação, foram realizados cortes com intervalos de 1-2 cm para exames macro e
microscópico nas seguintes regiões: córtex frontal e parietal, núcleos basais, tálamo,
hipocampo, mesencéfalo na altura dos colículos rostrais, bulbo na altura do óbex, ponte com
pedúnculos cerebelares e cerebelo. Nas necropsias realizadas pela equipe do LPV, foi coletado
adicionalmente o monobloco contendo a rete mirabile carotídea, o gânglio de Gasser e a
hipófise (GRH). Posteriormente, as amostras foram processadas rotineiramente para
histopatologia e corados pela hematoxilina e eosina (HE).
4. RESULTADOS
Durante o período de avaliação, foram recebidos e avaliados no LPV 164 casos
neurológicos de ruminantes do Estado de Goiás. Todas as amostras eram de bovinos. Desses,
63 (38,41%) casos tiveram diagnóstico conclusivo de doença neurológica. Considerando
apenas a Região Sudoeste, foram observados 25 casos neurológicos, dos quais 16 (64%)
tiveram diagnóstico definitivo ou muito sugestivo (Tab. 1). Nos nove casos remanescentes,
não foi possível estabelecer o diagnóstico etiológico preciso.
Tabela 1. Doenças neurológicas de bovinos da Região Sudoeste de Goiás diagnosticadas
no LPV/UFG/CAJ no período de março de 2010 a junho de 2012.
Diagnóstico N° de
casos
Machos Fêmeas NI* Faixa etária
(meses)
%
Infecção por herpesvírus
bovino (BoHV)
5 3 2 8 – 24 31,25
Raiva 2 - 1 1 18 – 24 12,5
Meningoencefalite não
supurativa (MENS)
2 1 1 - 22 – 120 12,5
Botulismo 2 - 2 - 16 – 20 12,5
Polioencefalomalacia 1 1 - - 18 6,25
Capa Índice 6575
Intoxicação por ureia 2 1 1 - 16 – 20 12,5
Abscesso no SNC 1 - 1 - 16 6,25
Provável febre catarral
maligna
1 1 - - 30 6,25
Total 16 7 8 1 - 100
*NI = sexo não informado
A doença mais frequente foi a meningoencefalite por BoHV que incluiu cinco casos
(32,5 %) (Tab. 2). Foram afetados bovinos jovens entre 8 a 24 meses e criados a pasto, em
regime extensivo ou semi-extensivo. Não foi observada sazonalidade nos surtos e machos e
fêmeas foram afetados similarmente. Os sinais clínicos incluíam ataxia, incoordenação,
emagrecimento progressivo, sialorreia e anorexia. Apenas um animal apresentou fotofobia e
outro manifestou corrimento nasal catarral descrito pelo vaqueiro. Andar em círculos,
afastamento do rebanho e decúbito foram menos frequentes. Em todos os casos os animais
estavam agrupados em lotes. Os surtos se apresentaram com baixa morbidade e alta
mortalidade (100% em dois casos) com curso clínico de 1 a 3 dias. Em dois surtos (RN 033-
10 e RH 132-12), havia o histórico de episódios recorrentes da doença. Neste último, segundo
o veterinário, durante um ano, ocorria um surto a cada 2-3 meses. Alterações macroscópicas
foram observadas em dois casos. No primeiro (RN 033-10), notou-se áreas simétricas
focalmente extensas de depressão de aproximadamente 5 cm de diâmetro com liquefação do
córtex telencefálico frontal (malacia), com pequena quantidade de líquido fluido amarelo. No
outro (RN 011-10), observou-se tumefação leve do encéfalo. Os achados microscópicos
consistiram de necrose neuronal, manguitos perivasculares linfoplasmoistiocíticos moderados
a acentuados, edema perivascular, perineuronal e do neurópilo, tumefação endotelial,
infiltração de macrófagos espumosos (células gitter) nos casos mais crônicos, gliose
multifocal, neuronofagia e corpúsculos de inclusão basofílicos intranucleares em astrócitos e
neurônios. No caso RN 33/10, nas áreas de malacia, havia fagocitose acentuada e
desaparecimento do neurópilo, restando apenas numerosas e coalescentes células gitter e
capilares (lesão residual). As lesões eram mais graves no córtex frontal, porém afetavam
difusamente todo o encéfalo, com menor intensidade. Não foram encontradas lesões no GRH.
Capa Índice 6576
Tabela 2. Dados epidemiológicos dos casos de meningoencefalite por herpesvírus bovino
(BoHV) diagnosticados na região Sudoeste de Goiás pelo LPV/UFG/CAJ, no período de
março de 2010 a junho de 2012.
Registro Raça Sexo Idade
(meses)
Morbidade/
Letalidade (%)
Época de
ocorrência
Município
RN 033/10 Nelore/Simental Macho 8 0,83/40 Agosto/2010 Serranópolis
RN 011/10 Nelore Fêmea 15 3,3/nc
Abril/2010 Mineiros
RH 223/11 SRD Fêmea 24 nc/nc Outubro/2011 Doverlândia
RH 233/11 Nelore Macho 24 0,75/100 Novembro/2011 Jataí
RH 132/12 Nelore Macho 15 0,83/100 Abril/2012 Aparecida do
Rio Doce
nc = não constam nas fichas os números de bovinos doentes e/ou mortos.
Foram confirmados dois casos de raiva, um no município de Jataí (RN 017-11) e outro
em Aporé (RH 124-10). Ambos eram de bovinos, um SRD e outro Nelore. As idades foram de
24 e 18 meses, respectivamente. Nos dois casos, a morbidade foi baixa, porém a letalidade foi
de 100%. Não se observou sazonalidade nos dois surtos (novembro e maio). Os sinais clínicos
evidenciados no RN 017-11 incluíram paralisia dos quatro membros, trismo mandibular,
decúbito e sialorreia abundante. A propriedade desse surto está localizada em uma área
acidentada às margens de um rio e cercada por paredões rochosos e por serras de vegetação
densa. Na necropsia, a mucosa da traqueia estava moderadamente hiperêmica e havia
hiperemia moderada da leptomeninge do encéfalo, especialmente nos lobos parietal, temporal
e occipital. A IFD foi positiva nos dois casos aqui relatados. Histologicamente, notou-se, nos
dois casos, meningoencefalite linfoplasmocítica multifocal, leve a moderada, associada a
corpúsculos de inclusão eosinofílicos intracitoplasmáticos em numerosos neurônios
(principalmente os de Purkinje e no gânglio de Gasser) e gliose multifocal.
Dois casos (RH 068-11 e RH 234-11) apresentaram meningoencefalite não-supurativa
inespecífica (MENS). Embora a lesão fosse sugestiva de infecção viral, nos dois casos, não
haviam lesões histopatológicas características de raiva ou infecção por BoHV. Portanto, não
foi possível definir com exatidão a etiologia do distúrbio neurológico nesses casos. O RH
068-11 consistiu de amostras de um bovino Nelore, macho, de 22 meses, do município de
Aporé, que morreu em maio de 2011 com sinais de depressão e incoordenação. O segundo
caso (RH 234-11) era de uma vaca Nelore, de 10 anos, do município de Serranópolis, que
Capa Índice 6577
morreu em novembro de 2011 com quadro clínico de andar rígido, decúbito esternal e
paralisia flácida dos membros pélvicos. Histologicamente, os dois casos apresentaram
infiltrado inflamatório linfoplasmocítico, multifocal, leve a moderado, na leptomeninge e no
neurópilo, principalmente dos telencéfalos frontal e parietal, núcleos basais e mesencéfalo.
Essas lesões afetaram o tálamo e o cerebelo de um bovino. Um bovino apresentou tumefação
das células endoteliais do telencéfalo.
Foram observados dois casos de botulismo, um em Jataí (RH 001-12) e outro em
Santo Antônio da Barra (RH 089-12). Os dois casos ocorreram em novilhas Nelore de 16-20
meses em fevereiro e março de 2012. No primeiro surto, a morbidade foi de 3% e, nos dois
casos, a letalidade foi de 100%. Os sinais clínicos foram de decúbito, incoordenação, paresia
com sensibilidade, protusão de língua, muco nas fezes e taquipneia. No RH 089-12, notou-se
posteriormente paralisia flácida dos membros pélvicos e torácicos. Neste caso o rebanho foi
vacinado contra raiva, botulismo e demais clostridioses. Em ambas as propriedades, foram
encontrados ossos (roídos em um deles) nas pastagens. Apenas no RH 001-12 foi relatada
suplementação do plantel com sal mineral. Não observou-se alterações de necropsia e de
histopatologia (incluindo o sistema nervoso central).
Dois casos de intoxicação por ureia foram diagnosticados: um afetou um novilho SRD
de 16 meses, em Rio Verde-GO (RN 039-10), em marco de 2010 e, o segundo caso, foi em
uma novilha de 20 meses, de Jataí, em outubro de 2011 (RN 050-11). A morbidade variou de
2,21-12,7% e a letalidade oscilou entre 75-100%. Nos dois surtos, um dia anterior as mortes
houve incremento adicional e abrupto de ureia na alimentação, sem adequada adaptação dos
bovinos. Os sinais clínicos, de evolução aguda, incluíram timpanismo, sialorreia, agitação,
tremores musculares, anorexia e decúbito. Os achados de necropsia consistiram em
hemorragias (petéquias e equimoses), congestão, enfisema, edema e atelectasia focal no
pulmão. No caso RN 050-11, notou-se traqueíte fibrino-hemorrágica difusa acentuada e
broncopneumonia fibrinosa aguda com moldes de fibrina nas vias aéreas. Esses achados são
indicativos de pneumonia por aspiração, visto que o bovino foi tratado com vinagre por via
oral forçada. Na histologia, não foram encontradas alterações significativas, além das
pulmonares já vistas na necropsia.
Foi observado um surto de polioencefalomalacia (PEM) (RH 003-10) no município de
Chapadão do Céu, em março de 2010. Morreram oito bovinos, quatro em um pasto e quatro
em outro. Os bovinos eram mantidos em pastagens viçosas de Brachiaria decumbens e
Capa Índice 6578
Tanzânia com fornecimento de sal mineral com ureia, porém os cochos não eram tampados. A
morbidade foi de 2% e a letalidade de 100%. Os sinais clínicos observados foram cegueira e
agressividade. Um garrote Nelore de 18 meses foi necropsiado, onde notou-se hemorragias
em vários órgãos (pulmão, coração e, principalmente, encéfalo). O telencéfalo estava
levemente amolecido e com áreas lineares de separação na substância cinzenta. Foi notada
hiperplasia acentuada de polpa branca e leve esplenomegalia. Exames de detecção de toxinas
botulínicas no conteúdo ruminal e IFD para raiva do bovino necropsiado foram negativos.
Histologicamente, observou-se necrose neuronal laminar segmentar (neurônios vermelhos)
associada a edema perineuronal, perivascular e do neurópilo (espongiose), tumefação
(hipertrofia) de núcleos de células endoteliais, separação entre as lâminas de neurônios da
substância cinzenta e entre as substâncias branca e cinzenta e infiltração leve a moderada de
macrófagos espumosos (células gitter) na leptomeninge e no espaço perivascular do córtex
telencefálico. Nesse surto, várias amostras de capim, sal mineral e água foram coletadas para
pesquisa de enxofre, mas as concentrações detectadas foram consideradas baixas.
Um caso compatível com febre catarral maligna foi evidenciado em fevereiro de 2012
(RH 12-12), em Rio Verde. Trata-se de um bovino, mestiço, macho, 30 meses. De um rebanho
de 148 bovinos da mesma faixa etária, um animal adoeceu e morreu. Os sinais clínicos foram
depressão profunda, secreção nasal purulenta, congestão dos vasos orbitais, redução dos
reflexos oculares, convulsões, nistagmo ventro-lateral, ranger de dentes, mioclonias e leve
desidratação. Administrou-se corticóide (flumetazona) e vitamina B1. A morbidade foi baixa
(0,67%) e a letalidade foi 100%. Não havia ovinos criados em conjunto com os bovinos nessa
propriedade, porém na última fazenda de onde esse lote foi comprado recentemente havia
ovinos que coabitavam com esses bovinos. Microscopicamente, notou-se manguitos
perivasculares de linfócitos e plasmócitos, multifocais, moderados a acentuados, no neurópilo
e leptomeninge do bulbo e tálamo. Nesse caso, a IFD para raiva foi negativa.
Um abscesso cerebelar foi diagnosticado em uma novilha SRD, de 16 meses, em Jataí,
no mês de março de 2012. Os sinais clínicos incluíram deambulação, incoordenação, tremores
de intenção, cegueira aparente e hipermetria. No exame físico, constatou-se palidez da
mucosa oral, ligeira perda de reflexo de ameaça e febre (40,2 °C). Foi coletado sangue e
líquor para exames complementares. No pasto onde o animal é mantido, observou-se diversos
resíduos de natureza diversa, oriundo de lixão, como latas de tintas. Na necropsia, notou-se
hiperemia difusa leve da leptomeninge e achatamento e amarelamento das circunvoluções dos
lobos, principalmente do parietal. No lobo pirifome, havia amolecimento acentuado com
Capa Índice 6579
presença de líquido seroso levemente avermelhado adjacente. Após a fixação, observou-se
que o cerebelo possui um abscesso de 7 cm de diâmetro com atrofia das folhas cerebelares
adjacentes. Adicionalmente, havia dilatação acentuada de todos os ventrículos encefálicos e
do aqueduto mesencefálico com atrofia do córtex adjacente (hidrocefalia). Não foram
encontradas outras alterações que servissem de porta de entrada ou de fonte para bactérias
causarem o abscesso no cerebelo.
Em nove casos avaliados, o diagnóstico foi inconclusivo, pois mesmo com sinais
clínicos neurológicos, nenhuma alteração macro ou microscópica no encéfalo foi detectada.
5. DISCUSSÃO
O LPV da UFG em Jataí/GO recebe amostras e animais para diagnóstico
anatomopatológico de todo o Estado de Goiás. Aproximadamente 20-25% das amostras
recebidas (necropsia e histopatologia) correspondem a casos neurológicos de bovinos que
resultaram em mortes dos animais (dados não publicados). Esses dados mostram a
importância das enfermidades do SNC de bovinos como causa de mortalidade no Estado.
Essas doenças também são epidemiologicamente e economicamente importantes em outras
regiões do Brasil, como no semiárido nordestino (GALIZA et al., 2010), no Rio Grande do
Sul (SANCHES et al., 2000; LUCENA et al., 2000) e em Mato Grosso do Sul (LEMOS,
2005). Todas as doenças neurológicas observadas durante o período de avaliação ocorreram
em bovinos. A ausência de casos neurológicos em outras espécies de ruminantes deve-se,
provavelmente, ao pequeno número de ovinos, caprinos e búfalos criados na região e também
ao desinteresse de muitos produtores e médicos veterinários em submeter amostras dessas
espécies para diagnóstico laboratorial.
As principais enfermidades neurológicas diagnosticadas em bovinos no presente
trabalho foram meningoencefalite por BoHV, raiva, MENS e botulismo. Essas doenças
corresponderam a 44% de todos os casos neurológicos da Região Sudoeste de Goiás incluídos
no período de avaliação. As principais enfermidades inflamatórias que afetam o SNC de
bovinos no Brasil são a raiva, a meningoencefalite por BoHV e a febre catarral maligna
(FCM) (SANCHES et al., 2000; BARROS et al., 2006, MENDONÇA et al., 2008).
A doença mais frequente foi a meningoencefalite por BoHV (5/25) que afetou bovinos
jovens submetidos a episódios recentes de estresse e criados em regime predominantemente
extensivo. Dados epidemiológicos similares dessa doença são observados em outras regiões
do Brasil (ELIAS et al., 2004; LEMOS, 2005). Em todos os casos do presente trabalho, foram
Capa Índice 6580
detectados corpúsculos de inclusão basofílicos intranucleares em astrócitos e/ou neurônios
associados à necrose neuronal e edema. Esses achados são característicos da infecção e, na
ausência de exames virológicos, a visualização dos corpúsculos de inclusão na histopatologia
são fundamentais para o diagnóstico (BARROS et al., 2006; RISSI et al., 2006). Essa afecção
também é considerada importante doença neurológica de bovinos de outras regiões do Centro-
Oeste brasileiro (SALVADOR et al., 1998; COLODEL et al., 2002). Como existem dois tipos
virais que podem causar essa doença (BoHV-1 e BoHV-5), é necessário determinar a
participação desses agentes nos surtos registrados na região.
A frequência de raiva bovina é relativamente alta em alguns municípios da região que
possuem características epidemiológicas favoráveis (grutas, serras, morros, casas
abandonadas, manilhas, etc.) para a manutenção e reprodução dos morcegos hematófagos que
são os responsáveis pela transmissão da doença. Os dois surtos de raiva observados no
presente estudo ocorreram em municípios considerados de baixo risco para a enfermidade
(Aporé e Jataí) (AGRODEFESA, 2005), porém, nos dois surtos haviam serras e encostas de
morros que, provavelmente, serviram de habitat para morcegos infectados. Esses dados
mostram que mesmo em áreas consideradas de baixo risco para o aparecimento de casos de
raiva em Goiás, a vigilância epidemiológica contínua deve ser realizada proficuamente. Dos
18 municípios da microrregião Sudoeste de Goiás, sete são considerados de alto risco para
raiva (AGRODEFESA, 2005). Nos dois surtos aqui estudados foram notados corpúsculos de
inclusão intracitoplasmáticos em neurônios. Contudo, em alguns casos, esse achado
microscópico pode não está presente e dificultar o diagnóstico histopatológico (LANGOHR et
al., 2003; GALIZA et al., 2010). Nesses casos, a IFD é o método de eleição para a
confirmação da doença.
Dois casos foram incluídos na categoria de MENS por possuírem quadro
histopatológico indicativo de infecção viral do SNC, porém sem características histológicas
e/o epidemiológicas de raiva e meningoencefalite por BoHV. Esses casos serão estudados
posteriormente por técnicas moleculares e/ou imuno-histoquímicas para a determinação da
etiologia.
O diagnóstico de botulismo foi concluído em dois surtos com base nos dados
epidemiológicos, nos sinais clínicos característicos e na ausência de lesões macro e
microscópicas do encéfalo (DUTRA et al., 2001). Nos dois casos aqui estudados, a osteofagia
foi a fonte de toxinas botulínicas para os bovinos afetados, conforme observado em Mato
Grosso do Sul (LEMOS, 2005) e, provavelmente, esse hábito alimentar deva-se a deficiência
de fósforo. Notou-se que em uma propriedade não havia fornecimento de sal mineral ao
Capa Índice 6581
rebanho bovino. Há surtos de botulismo em bovinos no Brasil associados à ingestão de cama
de frango, de água parada contaminada e de palhadas de milho (SOUZA et al., 2006; LEMOS
e LEAL 2008; GALIZA et al., 2010).
Nos casos de intoxicação por ureia, os sinais clínicos, mas principalmente, o histórico
e a epidemiologia foram úteis para a confirmação do diagnóstico, uma vez que não ocorrem
lesões macro ou microscópicas significativas, devido ao curso agudo ou superagudo da
doença (BARROS et al., 2006; LEMOS e LEAL, 2008). Nos dois casos, houve erro no
fornecimento da ureia na ração, como falta de adaptação dos animais ao incremento alimentar.
Um caso isolado de PEM foi diagnosticado no extremo Sul da Região Sudoeste, na
fronteira com Mato Grosso do Sul. Apesar de ser observada em vários estados brasileiros e há
algumas décadas, essa doença não possui sua etiologia totalmente conhecida no país. Em
algumas poucas investigações, a intoxicação por enxofre foi confirmada como causa da
doença (TRAVERSO et al., 2001; LIMA et al., 2005; CUNHA et al., 2010), mas na grande
maioria dos surtos brasileiros, a etiologia não é estudada e/ou confirmada (BARROS et al.,
2006; SANT’ANA et al., 2009; SANT’ANA & BARROS, 2010). No surto do presente
trabalho, as dosagens de enxofre avaliadas na alimentação do rebanho foram baixas e não
foram detectadas outras fontes alimentares que pudessem desencadear a enfermidade, como
quantidades tóxicas de chumbo ou de sal associada à privação de água, por exemplo.
Abscesso encefálico foi visto afetando o cerebelo de uma novilha. Os sinais clínicos
foram compatíveis com o comprometimento da estrutura encefálica lesada. Nesse caso, não
foi possível determinar a lesão supurativa primária, com base nas avaliações clínicas e de
necropsia. Em algumas regiões do Brasil, abscessos no encéfalo (especialmente afetando a
hipófise e o tronco encefálico) são causas comuns de neuropatias centrais e, geralmente, são
causadas pelo uso de “tabuletas” ou “desmamadores” para desmama precoce de bezerros
(LORETTI et al., 2003; GALIZA et al., 2010) ou são secundários à reticulopericardite
traumática (GALIZA et al., 2010).
Foi observado um caso muito sugestivo de febre catarral maligna. As lesões
histopatológicas associadas à IFD negativa para raiva e os dados epidemiológicos, incluindo o
contato prévio com ovinos, levaram a essa suspeita. O diagnóstico poderia ser confirmado,
caso o veterinário remetente submetesse, junto com o encéfalo, o GRH (RECH et al., 2006).
Amostras adicionais desse caso serão enviadas para diagnóstico molecular (PCR) na
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu/SP. Possivelmente,
um fator que explique o pequeno número de casos de febre catarral maligna no Sudoeste de
Capa Índice 6582
Goiás seja o rebanho reduzido de ovinos criados na região em íntimo contato com os bovinos,
diferente do que ocorre no Nordeste do Brasil e no Rio Grande do Sul (SANCHES et al.,
2000; GALIZA et al., 2010).
Em 36% (9/25) dos casos, o diagnóstico foi inconclusivo diante da ausência de lesões
histopatológicas no encéfalo. Uma vez que todos esses nove bovinos apresentaram sinais
clínicos neurológicos, possivelmente, isso ocorreu em função de enfermidades que afetaram o
sistema nervoso periférico (como o botulismo), ou doenças de caráter agudo ou superagudo
que cursam com morte rápida sem deixar lesões nos SNC (como ocorre nas intoxicações por
pesticidas ou por plantas tóxicas que causam morte súbita), ou ainda, doenças musculares que
mimetizam alguns sinais clínicos de origem neurológica, como as intoxicações por Senna
occidentalis (CARMO et al., 2012). Em nenhum caso estudado no presente trabalho, foram
observadas alterações encefálicas sugestivas de BSE.
6. CONCLUSÕES
As principais doenças neurológicas de bovinos na Região Sudoeste de Goiás são
meningoencefalite pelo herpervírus bovino, raiva, meningoencefalite não-supurativa
inespecífica e botulismo. O monitoramento epidemiológico e o diagnóstico constante dessas
doenças neurológicas é necessário para a tomada de medidas profiláticas e de controle, em
tempo hábil, pelos órgãos de defesa agropecuária estadual e federal.
7. REFERÊNCIAS
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“Revisado pelo orientador”
Capa Índice 6585
ACOMPANHAMENTO DOS PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS DURANTE O
ENVELHECIMENTO DE CACHAÇA ARMAZENADA EM TONÉIS
DE BÁLSAMO
PIVIC/2011-2012
Janaina Patrocínio Ribeiro1, Flávio Alves da Silva2, Márcio Caliari2, Cláudio Fernandes
Cardoso2.
1 Iniciação Científica – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade
Federal de Goiás – Goiânia,GO – [email protected] 2 Professor – Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de
Goiás – Goiânia,GO – [email protected], [email protected], [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: cachaça; envelhecimento; bálsamo.
1 INTRODUÇÃO
Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no
Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte
graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com
características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por
litro, expressos em sacarose (Decreto nº 4.851, de 2 de outubro de 2003).
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC) as
exportações de cachaça cresceram aproximadamente 18% em valor, ultrapassando os US$ 16
milhões e tiveram um crescimento de 20% em volume. Em 2008 foram exportados US$
16.418.978,00 (11.092.088 litros) para aproximadamente 60 países. Ressalta-se que o volume
exportado é de menos de 1% do volume produzido divididos em quatro mil marcas distintas
pelo Brasil. Atualmente, o setor de cachaça gera 650 mil empregos diretos e indiretos no país
(IBRAC, 2010).
A cachaça é muito apreciada por seu sabor e aroma característicos, que são
decorrentes dos processos de produção (Odello, 2009). A produção de cachaça pode ser
Divida em quatro etapas principais: obtenção do mosto, fermentação, destilação e
envelhecimento. Por melhor que sejam realizadas as três primeiras etapas do processo
Capa Índice 6586
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6586 - 6595
produtivo, o destilado recém obtido apresentará sabor seco, ardente e um aroma não muito
agradável (Aquino, 2006). Dessa forma, o envelhecimento se torna fundamental e
determinante para que a cachaça adquira as características desejadas pelos seus consumidores,
pois ao longo deste período a bebida adquire os atributos necessários de cor, aroma e sabor
típicos dos destilados de alta qualidade (Aquino, 2006; Dias 1998).
A aguardente de cana envelhecida refere-se à bebida que contiver, no mínimo,
50% de aguardente de cana envelhecida em recipiente de madeira apropriado, com capacidade
máxima de 700 L, por um período não inferior a um ano. A aguardente de cana Premium é o
destilado 100% envelhecido em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de
700 L, por um período mínimo de um ano. Já aguardente de cana extra premium é aquela
100% envelhecida em recipiente de madeira apropriado, com capacidade máxima de 700 L,
por um período mínimo de três anos (BRASIL, 2005).
O envelhecimento da aguardente em tonéis de madeira promove diminuição
significativa do sabor alcoólico e da agressividade da bebida, com simultâneo aumento da
doçura e do sabor de madeira, proporcionando uma efetiva melhora sensorial do produto
(Miranda, 2008).
Durante o envelhecimento de bebidas destiladas, ocorrem transformações de
natureza física, química e bioquímica, que melhoram as características sensoriais desses
produtos (Cardello & Faria, 2000) incluindo as reações entre os compostos secundários
provenientes da destilação, a extração direta de componentes da madeira, a decomposição de
algumas macromoléculas da madeira (lignina, celulose e hemicelulose) e sua incorporação à
bebida e ainda as reações de compostos da madeira com os componentes originais do
destilado (Dias, 1998). Por meio do envelhecimento em barris de madeira, pode-se corrigir
eventuais defeitos da fermentação e da destilação, melhorando assim o paladar das bebidas
destiladas (Mori, 2003). A madeira desempenha assim, um papel importante na qualidade
final da bebida (Téo, 2005).
Embora a madeira tradicional utilizada para o envelhecimento de bebidas seja o
carvalho (Aquino, 2006; Dias, 1998), várias madeiras são utilizadas na fabricação de barris e
tonéis para o envelhecimento da cachaça (Dias, 1998) sendo comum o uso de bálsamo e até
mesmo de madeiras regionais para construção de tonéis, devido ao alto custo do carvalho, que
é uma madeira típica do Hemisfério Norte (Aquino, 2006). Contudo, ainda há grande carência
de estudos sistemáticos para caracterização dos compostos extraídos de cada tipo de madeira
durante o envelhecimento da cachaça (Dias, 1998). Estima-se que o Brasil possua cerca de
30 mil produtores de cachaça, sendo a maioria deles pequenos produtores. Isso pode significar
Capa Índice 6587
que uma infinidade de madeiras seja utilizada para o envelhecimento da bebida (Aquino,
2006; Dias, 1998).
O envelhecimento natural é feito em barris de madeira, nos quais, em geral, ocorre
perda do teor alcoólico. Os componentes presentes se oxidam e a bebida se enriquece com
substâncias extraídas da madeira. A coloração e as características organolépticas se acentuam.
A bebida recém-destilada, que é transparente, adquire uma tonalidade dourada após algumas
semanas de envelhecimento (Dias, 1997).
No Brasil, a etapa de envelhecimento da cachaça é optativa, não sendo realizada
sistematicamente devido ao tempo requerido pelo processo e aos custos introduzidos pelo
armazenamento da bebida em tonéis por alguns anos. Porém, essa etapa é indispensável
quando se deseja agregar qualidade e, conseqüentemente, valor a uma bebida destilada
(Miranda, 2008).
2 OBJETIVO
Realizar o acompanhamento dos parâmetros físicos e químicos durante o
envelhecimento de cachaça armazenada em tonéis de bálsamo, no período de nove meses,
para posterior estudo da cinética de envelhecimento.
3 METODOLOGIA
3.1 Matéria-prima
Os experimentos foram conduzidos com cachaça envelhecida, durante um período de
9 meses, em 4 tonéis de bálsamo, provenientes do Alambique Cambéba –Alexânia-GO.
Amostras foram coletadas mensalmente e analisadas no Laboratório de Bebidas da Escola de
Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade Federal de Goiás/UFG.
3.2 Análises físico-químicas
a) pH: medido com potenciômetro;
b) Densidade: determinada de acordo com a metodologia do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA – BRASIL, 1986) e baseia-se na relação entre
o peso específico da amostra a 20ºC em relação ao peso específico da água a 20ºC utilizando
picnômetro.
Capa Índice 6588
c) Acidez volátil: a amostra foi destilada em aparelho de destilação Redutec
MA-087, onde os ácidos voláteis foram extraídos por arraste de vapor d’água. O destilado foi
titulado com solução de hidróxido de sódio 0,01 M, em presença de fenolftaleína (MAPA –
BRASIL, 1986);
d) Cinzas: quantificada pela pesagem do resíduo gerado após eliminação da
matéria orgânica e inorgânica volátil, presentes na amostra, após incineração a 550ºC por
aproximadamente 4 h, até a obtenção de massa constante (MAPA – BRASIL, 1986);
e) Extrato seco: determinado através da pesagem do resíduo obtido após
evaporação da amostra a 100ºC por 3 h (MAPA – BRASIL, 1986);
f) Teor alcoólico real a 20ºC: Foi determinado pelo método de separação do álcool
por destilação da amostra e sua posterior quantificação de acordo com a densidade relativa do
destilado a 20ºC (MAPA – BRASIL, 1986).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta os resultados das análises físico-químicas realizadas. Esses
dados serão utilizados numa segunda etapa do trabalho, etapa esta, que consiste na
modelagem matemática da cinética do envelhecimento da cachaça estocada em barris de
amburana.
Observou-se que a densidade não teve grandes variações durante o tempo de
envelhecimento, apresentando valores de 0,9317a 0,9483g/mL.
Os valores de extrato seco aumentaram durante o tempo de envelhecimento em
barris de bálsamo, tendo o valor máximo obtido de 0,8667 g/L. A legislação estabelece a
quantidade máxima de estrato seco de 6 g/L (BRASIL, 2003). Durante o envelhecimento o
aumento do teor de extrato seco na cachaça ocrre devido a degradação da lignina pelo etanol
em compostos aromáticos como a vanilina, siringaldeído, coniferaldeído e sinapaldeído. Além
da extração destes compostos pelo álcool etílico, ocorrem ainda alterações na lignina em
decorrência de oxidações e etanólise, as quais conferem denominações como “vanila”,
“adocicado” e “amadeirado” no destilado (MIRANDA, 2008). Os valores de cinzas ficaram
abaixo dos limites estabelecidos pela legislação brasileira (BRASIL, 2003).
Os resultados obtidos para a acidez volátil aumentaram, atingindo o valor máximo
de 30,03 mg ácido acético/100 ml. Sendo que o limite máximo de acidez volátil é de 150 mg
de ácido acético/100 ml de álcool anidro (BRASIL, 2003). Dias (1997) quando estudou o
envelhecimento da cachaça em madeira bálsamo por cinco meses, observou um aumento da
Capa Índice 6589
acidez volátil. Esse aumento se deve à reação de oxidação do etanol, a qual contribui para a
formação de acetaldeído, o qual, por sua vez, conduz à formação de ácido acético. Alguns
compostos oriundos da madeira, tais como ácidos orgânicos não voláteis, componentes
secundários, taninos e compostos fenólicos, favorecem o aumento da acidez da aguardente em
envelhecimento. A legislação mantém elevado o limite máximo de acidez volátil visando
proteger a aguardente envelhecida, cuja acidez sempre aumenta com o decorrer do período de
envelhecimento. Desse modo, uma aguardente de baixa acidez inicial pode revelar seu grau de
maturação pelo aumento da acidez volátil (ALCARDE, 2010).
A acidez total teve um aumento durante o tempo de envelhecimento, apresentando
valores que variaram de 0,02571 a 0,03580 mg ácido acético/100 mL. Na análise de cinzas os
valores ficaram na média de 0,05 mg ácido acético/100 mL. Na análise de pH, o maior valor
encontrado foi 4,29, mas no geral houve um decréscimo ao longo do tempo, principalmente
no tempo 19. De acordo com Parazzi (2008), a diminuição do valor do pH pode estar
relacionada com o aumento da acidez, como resultado do aumento da concentração de ácido
na bebida, principalmente pela presença de compostos fenólicos. Durante a maturação de
bebidas destiladas, normalmente ocorre uma diminuição do ph e das concentrações de álcool
metílico e de álcool etílico (MIRANDA, 2008).
Os valores médios do grau alcoólico real (v/v) da cachaça armazenada nos barris de
bálsamo diminuíram em relação ao tempo de envelhecimento. Teo et al., (2005) avaliaram as
composições de aguardentes de cana produzidas em duas unidades industriais, envelhecidas
em barris confeccionados a partir de carvalho, amburana, bálsamo e jequitibá. Observou-se
aumento no teor alcoólico das aguardentes, e somente as bebidas armazenadas em barris de
carvalho não apresentaram teores significativamente diferentes (p0,01) do teor inicial. As
aguardentes armazenadas em barris de amburana e jequitibá apresentaram os maiores
acréscimos no teor alcoólico, possivelmente por apresentarem maior permeabilidade ao vapor
d’ água, quando comparados aos das demais madeiras. Esses resultados diferem dos
apresentados neste trabalho.
Capa Índice 6590
Tabela 1. Análises físico-químicas da cachaça ao longo do tempo de envelhecimento
Análise Repetição Tempo (meses)
25 26 27 28 29 30 31 32 33
Densidade
(g/mL)
1 0,9321 0,9317 0,9326 0,9338 0,9346 0,9328 0,9328 0,9343 0,9373
2 0,9330 0,9339 0,9337 0,9329 0,9339 0,9315 0,9315 0,9359 0,9369
3 0,9330 0,9321 0,9338 0,9355 0,9340 0,9320 0,9320 0,9371 0,9392
4 0,9327 0,9321 0,9337 0,9483 0,9445 0,9435 0,9435 0,9479 0,9481
Extrato Seco
(g/L)
1 0,4333 0,5067 0,5133 0,5230 0,5243 0,5289 0,4233 0,4200 0,4600
2 0,7933 0,8467 0,8433 0,8443 0,8473 0,8493 0,7333 0,8333 0,8667
3 0,4900 0,5267 0,5402 0,5422 0,5402 0,5442 0,4200 0,4133 0,4967
4 0,4467 0,4900 0,6400 0,6440 0,6500 0,6520 0,6533 0,6544 0,6589
Acidez Volátil
(g ácido acético/100
mL amostra)
1 0,02100 0,02110 0,02329 0,02768 0,02706 0,02891 0,02390 0,02557 0,02558
2 0,02315 0,02365 0,02369 0,03065 0,02594 0,02686 0,02587 0,02754 0,02390
3 0,02410 0,02439 0,02349 0,02645 0,02594 0,02634 0,02449 0,02361 0,02144
4 0,02110 0,02130 0,02160 0,02973 0,02891 0,03003 0,02656 0,02371 0,02587
pH
1 4,07 4,03 4,09 4,08 4,07 4,07 3,87 3,88 3,89
2 4,11 3,98 4,10 4,05 4,11 4,11 3,96 3,98 3,96
3 4,12 4,03 4,11 4,16 4,29 4,28 4,03 3,98 4,01
4 4,11 4,11 3,95 3,96 3,83 3,92 3,77 3,76 3,80
Acidez Total
(g ácido acético/100
mL amostra)
1 0,03418 0,03382 0,03468 0,03283 0,03600 0,03521 0,03421 0,03430 0,03442
2 0,03772 0,03580 0,03782 0,03323 0,03560 0,03600 0,03580 0,03575 0,03660
3 0,03654 0,03302 0,03666 0,03165 0,03363 0,03481 0,03540 0,03555 0,03558
Capa Índice 6591
4 0,03457 0,03460 0,03469 0,02571 0,02809 0,03086 0,03143 0,03156 0,03166
Cinzas
(g/L)
1 0,0400 0,0400 0,0440 0,0450 0,0500 0,0500 0,0500 0,0500 0,0500
2 0,0367 0,0369
67
0,0379 0,0407 0,0427 0,0467 0,0467 0,0500 0,0500
3 0,0390 0,0420 0,0440 0,0450 0,0480 0,0500 0,0500 0,0500 0,0500
4 0,0350 0,0360 0,0380 0,0390 0,0410 0,0420 0,0440 0,0450 0,0450
Grau alcoólico real a
20ºC %v/v
1 45,90 45,80 45,79 45,75 45,71 45,60 45,55 45,50 45,45
2 45,92 45,82 45,80 45,74 45,72 45,65 45,58 45,51 45,44
3 45,90 45,83 45,79 45,77 45,70 45,67 45,58 45,50 45,45
4 45,89 45,85 45,76 45,79 45,70 45,68 45,61 45,52 45,45
Capa Índice 6592
As análises de cor não foram realizadas neste período de envelhecimento, devido ao
fato do grande número de análises efetuadas pelo bolsista. Portanto, estas análises foram
deixadas para outro período, haja vista, que todas as amostras estão armazenadas em frascos
de cor âmbar, não prejudicando assim esta determinação. No entanto, estas análises já estão
sendo feitas e serão utilizadas no final do projeto, ou seja, ao final dos quarenta e oito meses
de estocagem, quando serão feitas as modelagens matemáticas das cinéticas de
envelhecimento. Assim, há um equívoco no plano de trabalho, quando dizia que seria feita a
modelagem matemática da cinética de envelhecimento da cachaça, pois seriam somente as
avaliações físicas e químicas da cachaça armazenadas em tonéis de bálsamo.
5 CONCLUSÕES
Pelas análises realizadas ao longo dos 9 meses de envelhecimento da cachaça em
barris de bálsamo, conclui-se que o tempo interfere significativamente na concentração de
diversos componentes presentes na cachaça. O envelhecimento altera a composição química e
a qualidade da cachaça, agregando maior valor comercial, de modo que esta etapa é
importante para a obtenção de uma cachaça de qualidade, pois melhora atributos como cor,
cheiro e sabor. Dentre os parâmetros analisados, todos apresentaram-se dentro do estabelecido
pela legislação brasileira, tendo sido observado um aumento nos valores de extrato seco,
cinzas, acidez total e acidez volátil, enquanto o pH, teor alcoólico e densidade diminuíram
durante o envelhecimento.
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REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 6595
A IDENTIDADE PROFISSIONAL ENTRE TATUADORES
Jeane Pereira Gomes da Silva1
Jordão Horta Nunes2
Resumo:
O objetivo da pesquisa foi investigar as representações sociais da tatuagem e dos tatuadores
(as) correlacionando-a com indicadores sociais como renda, gênero, escolaridade e ocupação.
Para tanto, delimitou-se do objeto de estudo nas cidades de Brasília e Goiânia. Analisou-se
sociologicamente a ocupação de tatuador, procurando compreender a realidade social em que
estão inseridos esses tatuadores. Constata-se que essa ocupação historicamente desprestigiada
foi adquirindo espaço e aceitação junto à sociedade. Nossa opção teórica e metodológica
busca identificar o perfil social dos entrevistados e suas motivações subjetivas.
Palavras-chave: identidade, tatuador, trabalho, gênero, ocupação.
1. Introdução
A ocupação de tatuador ainda hoje é discriminada socialmente; existe muito
preconceito e discriminação com os profissionais que atuam nessa área. Ao longo dos anos o
preconceito tem diminuído com maior reconhecimento aos tatuadores. A prática da tatuagem
deixou de ser atribuída à marginalidade e passou a ser comum em outros contextos sociais.
Porém ainda não há o reconhecimento por parte do Ministério do Trabalho e Emprego como
sendo uma ocupação, muito menos uma profissão. Segundo Claude Dubar, “as identidades
profissionais são maneiras socialmente reconhecidas para os indivíduos se identificarem uns
com os outros, no campo do trabalho e do emprego” (DUBAR, 2005). Com a rejeição da
sociedade e dos órgãos governamentais, os tatuadores encontram mais dificuldade de exercer
sua profissão. Contudo, a falta de reconhecimento não se torna um obstáculo para realização
1 Acadêmica do curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal de Goiás- UFG. E-mail: [email protected] 2 Professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás – FCS/UFG. Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Orientador do Programa Institucional de Iniciação Científica com o projeto “As pequenas profissões exóticas: Precarização e as formas atípicas de trabalho”. O comércio de rua e o trabalho de vendedores ambulantes de alimentos. E-mail: [email protected]
Capa Índice 6596
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6596 - 6603
de seus trabalhos. Tal rejeição faz com que esse tipo de trabalho seja alvo de ofensas, críticas
preconceituosas e desvalorização da ocupação.
Vale ressaltar que muitos, antes de se tornarem tatuadores, exerciam outros tipos de
ocupação tais como desenhista ou arte-finalista. No entanto, optaram por uma ocupação
''exótica'', sendo assim prevalece o que podemos chamar de ''amor à arte'', já que os tatuadores
se consideram artistas. É comum a presença de tatuagem na maioria dos tatuadores, mas isso
não é uma regra e não os torna menos capacitados artisticamente em realizar o seu trabalho.
Com o desenvolvimento dessa pesquisa foi possível notar que alguns tatuadores não tinham
tatuagens. Questionados, afirmaram que “esse seria um atributo dos tatuadores mais antigos”.
Os tatuadores que atuam recentemente nessa área não propagam essa ideia de que tatuador
tem que necessariamente ter tatuagem e nem relacionam a capacidade artística do tatuador a
essa característica. Essa imagem estereotipada de que o tatuador tem que ter tatuagem vem
perdendo força nos dias de hoje. Grande parte dos entrevistados acredita que a capacidade
artística do profissional está ligada ao aperfeiçoamento constante que é dado a profissão;
Assim, a função desse aperfeiçoamento é inovar seu conhecimento, participando de cursos,
convecções e etc. Esse seria o ponto fundamental para a qualificação do seu trabalho,
aprendendo novas técnicas e se tornando mais qualificados para atender a clientela. O
aperfeiçoamento constante está presente no cotidiano de todos os entrevistados, o interesse
por novas técnicas, novos equipamentos são os mais buscados pelos tatuadores no intuito de
atender as exigências dos clientes.
A história da tatuagem tem ligação direta com os preconceitos conferidos à ocupação
de tatuador, já que era praticada por marinheiros, prisioneiros, marginais e outros tipos
socialmente desvalorizados, tornando-a uma ocupação historicamente desprestigiada e
estigmatizando o tatuador. Segundo Goffman, a sociedade limita e delimita a capacidade de
ação de um sujeito estigmatizado, marca-o como desacreditado e determina os efeitos
maléficos que pode representar. Quanto mais visível for a marca, menos possibilidade tem o
sujeito de reverter, nas suas inter-relações, a imagem formada anteriormente pelo padrão
social (GOFFMAN, 1988)
É pouco comum a presença de mulheres nesse tipo de ocupação. No entanto, nos
últimos anos a mulher vem conquistando espaço e atraindo tanto o público feminino quanto o
masculino. A imagem estereotipada da mulher relacionada ao ato de cuidar (maternidade) está
fortemente enraizada na sociedade e isso reflete até mesmo nas escolhas dos clientes na hora
Capa Índice 6597
de tatuar, optando por uma tatuadora, ou seja, há uma grande preferência por parte dos
clientes, incluindo o público masculino, em ser tatuado por mulheres, devido ao cuidado e
delicadeza que são atribuídos à sua imagem. Pode-se supor que o sucesso da mulher nesse
tipo de ocupação está ligado ao fato das atribuições que são dadas à sua imagem. Mas ainda
assim esta é uma ocupação majoritariamente masculina.
A partir desse estudo, espera-se contribuir para o debate acerca do tema, já que há
poucas pesquisas a respeito dessa profissão ''exótica'', visando compreender melhor os
paradoxos acerca do assunto.
2. Metodologia
A abordagem que foi empregada foi principalmente qualitativa, com realização de
entrevistas presenciais e observação etnográfica nos estúdios. Segundo Minayo, o que
caracteriza a pesquisa qualitativa é a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência,
incluindo as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a
construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador. (MINAYO,
1994).
Conforme Rodwell, a pesquisa qualitativa é um processo de ensino e aprendizagem
que é contínuo, aberto a contestações e divergências e nunca se conclui. O pesquisador
participa do processo com uma postura de colaborador e não de controlador. Ele não somente
aprende os diferentes valores, opiniões e perspectivas, mas também transmite aos
participantes as posições dos outros. (1994, p. 139).
Isto implica que o pesquisador se direciona a um objeto que considera real, concreto,
procurando investigá-lo para apreender suas propriedades. Desse modo, sujeito e objeto são
interdependentes e o pesquisador qualitativo não estará alheio às emoções, valores e desejos
daqueles que são seus pesquisados. A pesquisa foi realizada na sua maior parte em Goiânia
GO, mas também foram realizadas entrevistas na cidade de Santa Maria, região administrativa
do Distrito Federal. Foram realizadas nove entrevistas, sendo apenas duas com mulheres.
Todos os tatuadores entrevistados foram informados sobre os objetivos e a metodologia da
pesquisa, bem como assinaram o termo de consentimento com os requisitos da Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa - Conep. Está sendo empregado um aplicativo de análise
qualitativa, o Atlas-ti, para codificar e interpretar as entrevistas transcritas.
3. Resultados
Capa Índice 6598
Com a realização desta pesquisa ficou claro a mudança na valorização tanto da tatuagem
quanto dos profissionais que executam essa atividade. Hoje a identidade dos tatuadores está
sendo valorizada positivamente. Isso significa que os estigmas acerca da ocupação estão
sendo substituídos gradualmente por outros significados positivos, um deles é o tatuador ser
visto como um artista. Essa valorização é tanto por parte dos profissionais quanto dos clientes.
Com a popularização da tatuagem, cresce também a valorização destes profissionais. A
característica dos tatuadores é basicamente o gosto pela arte. O gosto pela arte vem deste sua
trajetória de vida antes de se tornarem tatuadores, o contato com a arte ainda na infância é um
elemento que está presente na vida de grande parte dos tatuadores entrevistados, pois a
maioria deles tiveram familiares que já tinham algum contato com a tatuagem.
Com base nas conversas informais que pude ter com alguns clientes cheguei à
conclusão de que um bom tatuador é visto como aquele que respeita os gostos dos clientes,
que tem um local de trabalho adequado, tal como o estúdio que por sua vez, tem aspecto
positivo, pois, os separa dos demais clientes que está sendo tatuado; á uma espaço próprio
para realização das tatuagens, restrito encontrando-a somente o tatuador e o cliente. Assim, o
ambiente torna-se profissional e privado deixando quem procura mais a vontade para fazer a
tatuagem. Já a tatuagem feita em casa ocasiona um aspecto negativo, pois, tatuar em casa
exige maior cuidado (assepsia) como é um ambiente onde várias pessoas frequentam, os
clientes ficam mais sujeitos á riscos a contaminação, infecções e etc. Chegamos à conclusão
de que para tatuar são necessários cuidados e lugares apropriados e que devido a isso o
estúdio é visto pelos tatuadores como o lugar ideal para se fazer uma tatuagem, no entanto
não menosprezam os trabalhos que são feitos em casa, até porque todos os entrevistados
afirmaram já ter tatuado em casa em algum momento da carreira.
Ficou explícito a preocupação que os tatuadores tem com o resultado final de seus
trabalhos que vai desde a elaboração da tatuagem até a cicatrização da mesma. Podemos supor
que essa preocupação se dar por causa da divulgação que é feita através da tatuagem pelos
clientes, ou seja, caso não seja um trabalho bem feito em termos de elaboração, assepsia o
profissional não terá o retorno que deseja, pois segundo os próprios tatuadores o melhor e
mais eficaz meio de divulgação de seus trabalhos é o próprio trabalho que consequentemente
é transmitido pelos clientes. Sendo assim os tatuadores tentam passar segurança e contribuem
com dicas e ideias a respeito da tatuagem escolhida para que assim os clientes possam sentir-
se mais seguro.
Capa Índice 6599
Os entrevistados possuem o mesmo nível de escolaridade, ensino médio completo,
sendo a maioria proveniente de cidades do interior. A falta de tempo ocasionada pela
profissão talvez seja responsável por esse fator, muitos alegam que começaram a fazer
faculdade, mas que desistiram por falta de tempo. Nos estúdios localizados em bairros de
classe média alta na região de Goiânia, a busca por experiência foi muito além de cursos,
convenções, workshop, o interesse pela arte de tatuar, juntamente com a condição financeira
dos tatuadores que trabalham nesses bairros os levaram a visitar outros países onde o
reconhecimento dos tatuadores tem mais visibilidade.
A partir dos dados coletados nas entrevistas, constatamos que todos os tatuadores
entrevistados recorrem ao uso de redes sociais para divulgação de seus trabalhos, porém
segundo os tatuadores, a melhor divulgação é o que eles chamam de “boca-a-boca”. O corpo
do tatuador também é usado como um veículo de divulgação, já que a maioria deles possuem
várias tatuagens pelo corpo.
Foi possível notar que antes de se tornarem tatuadores, os mesmos tinham outros tipos
de profissão/ocupação que tinham ou não ligação com a tatuagem, como é o caso do Klecin3,
que antes de atuar como tatuador era grafiteiro, e foi desenhando em muros de ruas que o
incentivou a trabalhar nesse ramo de atividade, desenvolvendo um trabalho que ele tem
afinidade e que segundo ele, esta servindo como um meio de pagar suas contas. Sendo assim
o trabalho do tatuador além de ser uma fonte de renda é também um hobby para os tatuadores.
Esse seria o ponto crucial para se tornarem tatuadores . As representações da tatuagem estão
ligadas a identidade social dos indivíduos. Muitas vezes a imagem da tatuagem simboliza a
trajetória de vida dos indivíduos, o embelezamento corporal, a proteção mística, a mudança de
status (posição social), a expressão dos sentimentos. Nesse sentido o corpo humano é afetado
pela ocupação, religião, classe e outros fatores culturais. Assim, a imagem da tatuagem
modifica o corpo como forma de expressão. Dessa forma, a tatuagem expressa às concepções
de vida e de mundo de cada individuo tatuado.
Segundo Claude Dubar (2005) a identidade individual não está separada da identidade
coletiva. Há dois tipos de identidade social segundo Dubar, identidade social virtual
(conferido a uma pessoa) e identidade social real (ela mesma se atribui). Podemos dizer que a
identidade virtual do tatuador são as atribuições dadas por terceiros. Atribuições que na
maioria das vezes conceituam os tatuadores com sendo marginais. Já a identidade real pode
3 Nome fictício do tatuador entrevistado na cidade de Goiânia.
Capa Índice 6600
ser considerada como as atribuições dadas pelos próprios tatuadores, atribuições que
conceituam os tatuadores como artistas.
3.1 A ausência da mulher nesse tipo de atividade
A ausência da mulher é muito comum nesse ramo de atividade. Como já falamos
acima, a tatuagem desde muito tempo vem sendo tratada de forma marginalizada. No entanto,
ao longo dos anos vem crescendo o interesse das mulheres no que diz respeito à ocupação de
tatuadora. Com uma maior aceitação a mulher vem adquirindo espaço e credibilidade nesse
campo de atuação, como vemos no depoimento de Olig4 que apesar de ter apenas quatro anos
atuando como tatuadora, ver na profissão um meio de ascensão social. Apesar de ser uma
ocupação onde o número de homens é maior, a clientela das tatuadoras é quase sempre o
público feminino; Olig afirma que isso acontece porque as mulheres se sentem mais a vontade
sendo tatuadas por outra mulher. Há homens que prefiram tatuar com mulheres, pois
acreditam que a mulher tem a mão mais leve, é mais cuidadosa na elaboração da tatuagem etc.
Segundo Olig, devia se dar maior atenção á profissão de tatuador, criando mais
condições de trabalho quem sabe até formar uma faculdade, para que houvesse assim a
regulamentação da profissão. Acredito que esse seria um grande passo para discriminação da
profissão.
3.2 Organização do trabalho
Os tatuadores seguem processos de higienização e esterilização dos materiais para a
proteção dos clientes, dentre estes cuidados estão: utilização de materiais descartáveis ou
esterilizáveis, como luvas, máscara, álcool etc.
Os horários dos tatuadores são feitos a partir da necessidade e critério de cada um,
mas na maioria das vezes os tatuadores começam a trabalhar entre 9:00h e 10:00h da manhã,
de segunda a sábado. O horário para fechar o estúdio varia entre 18:00h e 22:00h podendo
passar das 00:00h. Frequentemente os tatuadores ficam até depois do horário tatuando, ou
seja, o horário não é fixo. Os valores da tatuagem também variam de tatuador para tatuador,
mas em média os valores iniciais são entre R$ 100,00 e R$ 150,00 reais para cada tatuagem.
O critério para se estabelecer os valores das tatuagens na maioria dos casos, é o grau de
4 Nome fictício da tatuadora entrevistada em Goiânia.
Capa Índice 6601
dificuldade e os detalhes. Mas isso também pode variar de tatuador para tatuador, como é o
caso do Murilo,5 que afirma que o critério para se estabelecer o valor da tatuagem é o tempo
que vai levar para concluir a tatuagem. Assim não foi possível identificar um padrão nos
critérios dos valores da tatuagem, pois cada um trabalha ao seu modo. No entanto, ficou claro
que nenhum dos entrevistados tem horário estabelecido para tatuar. Digamos que é um
trabalho que possua horário fixo apenas para começar, mas não para terminar, pois cada
tatuagem leva um tempo para ser realizada.
4. Discussão
O debate acerca do assunto ainda é muito ausente na academia, o que limita bastante o
tema. Foi possível perceber que os tatuadores entrevistados não estão ligados a nenhum
movimento social6, não tem filiação em sindicatos, grupos de reivindicações e etc. ou mesmo
desconhecem a sua existência (ainda que haja um sindicato e associações relacionadas à
ocupação). No entanto, há uma contradição no que diz respeito à atuação desse mesmo
sindicato junto às instituições governamentais (ANVISA- agência nacional de vigilância
sanitária) que fiscaliza o trabalho dos tatuadores. Assim, o movimento sindical perde seu
caráter representativo, deixando de lutar pelo direito da categoria. Nesse sentido, é evidente a
falta de atividade política, pois, a partir do momento que surge um movimento social o grupo
adquire mais experiência, ou seja, desenvolve sua consciência criando mais unidade e eficácia
política. Portanto, cabe aos tatuadores aprimorar a organização e mobilizarem-se para
reivindicar os seus direitos. A organização sindical é incipiente, pois existe apenas um
sindicato, antes com sede em São Paulo, mas agora sem sede localizada. Todas essas
dificuldades tornam a ocupação ainda mais vulnerável a críticas. Há então, necessidade de
criar fóruns para debater as questões emergentes para o reconhecimento da profissão dentro
do mercado de trabalho. Por parte do governo falta promover palestras, campanhas para tratar
a questão da saúde pública para que haja redução de danos que por sua vez, estão ligados a
higiene, à assepsia, pois a elaboração da tatuagem se trata de um procedimento do tipo
cirúrgico, no qual são necessários cuidados específicos para se evitar doenças transmissíveis,
infecções etc.
5 Nome fictício de outro tatuador entrevistado na cidade de Goiânia. 6 Movimento social é um movimento político, pois emerge das relações de produção que são relações de classe e, portanto políticas. Podemos compreender cada movimento social e suas especificidades por possuir objetivos específicos que atende a questões especificas.
Capa Índice 6602
5. Observações finais
Atualmente a tatuagem vem conquistando diversos segmentos da sociedade. Deixou
de ser uma atribuição marginal e adquiriu novos significados; assim o tatuador também deixa
de ser marginalizado. Mas ainda há muito o que mudar no que diz respeito à aceitação social.
Este processo de transformação da tatuagem se dá principalmente pela mudança no público
que a tatuagem passou a atingir nos últimos anos. Houve uma crescente procura pelo público
dito conservador, o que se percebe é a característica da tatuagem que varia de personalidade
para personalidade. Os veículos de comunicação como a TV e redes sociais, atingem a todas
as camadas da população sem distinção e tiveram importância na popularização da tatuagem.
Devido a essa popularização por parte da mídia a tatuagem tornou-se modismo atingindo o
público elitista e de posições sociais mais elevadas.
Mesmo nos estúdios localizados em periferia os valores das tatuagens são
relativamente altos; não há um padrão nos valores das tatuagens, cada tatuador tem um
critério de estabelecer os valores, seja por seção, grau de dificuldade, tamanho e local do
corpo. Há quem afirme que a profissão de tatuador traz status e reconhecimento social.
6. Referências bibliográficas.
DUBAR, Claude. A socialização. Construção das identidades sociais e profissionais. São
Paulo: Martins Fontes, 2005
GOFFMAN, E. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de
Janeiro: LTC, 1988.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: Teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 1994.
RODWELL, M.K. Um modelo alternativo de pesquisa: o Construtivismo. Revista
FAEEBA, n.3, Salvador, p.139, 19
Capa Índice 6603
ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE GLICÊMICO E ESTADO
NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES PORTADORES DE DIABETES TIPO 1
PERES, Jeanine Silva¹; FONSECA, Rebecca Farias²; OLIVEIRA, Amanda Cristine de²;
MARQUES, Rosana de Morais Borges³
¹Aluna do PIVIC
²Acadêmicas de nutrição
³Orientadora
Faculdade de Nutrição – Universidade Federal de Goiás
Endereço eletrônico: [email protected]
Palavras-chave: Diabetes Mellitus Tipo 1, Adolescentes, Glicemia, Estado Nutricional
1 INTRODUÇÃO
O Diabetes mellitus do tipo 1 (DM1), anteriormente conhecido como diabetes juvenil, é
uma doença metabólica caracterizada pela destruição autoimune das células betapancreáticas
produtoras de insulina, acarretando na deficiência na ação deste hormônio, e
conseqüentemente em um desequilíbrio metabólico (SOCIEDADE..., 2011). Como resultado,
o indivíduo portador de DM1 apresenta hiperglicemia crônica e possibilidade de
desenvolvimento, em longo prazo, de complicações microvasculares e macrovasculares
(MINISTERIO..., 2006).
No Brasil, estima-se uma incidência da ordem de 7,8 por 100.000 casos por 100.000
indivíduos com menos de 20 anos (BRASIL, 1992). A incidência é maior na faixa etária de 10
a 14 anos, quando comparado às faixas etárias de 0 a 4 e 5 a 9 anos (MARVONEN et al,
2000).
Na adolescência, o diabetes mellitus é motivo maior de preocupação, visto que a doença
pode comprometer o desenvolvimento físico. Além disso, as evidentes alterações no
desenvolvimento, cognitivo, psicossocial e emocional influenciam na aceitação da doença,
afetando a adesão ao tratamento (SANTOS; ENUMO, 2003).
Em geral, pacientes com DM1 possuem índice de massa corpórea (IMC) normal ou até
abaixo da normalidade. Porém, estudos recentes mostram que esse quadro está se
modificando. Liberatore Junior e colaboradores (2008) observaram ganho excessivo de peso
em portadores de DM1 em tratamento intensivo com insulina.
Capa Índice 6604
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6604 - 6615
Um estudo realizado por Marques, Fornés e Stringhini (2011) em Goiânia, Goiás
encontrou 14% de adolescentes com excesso de peso e maior proporção de pacientes com
controle glicêmico inadequado. No trabalho de Queiroz e colaboradores (2010), os resultados
encontrados mostraram prevalência de 8% de sobrepeso em adolescentes com DM1, e que os
mesmos também apresentaram um controle glicêmico inadequado.
Sabe-se que o controle metabólico no DM1 é fundamental para impedir ou retardar a
ocorrência de complicações agudas e crônicas, como a obesidade, dislipidemia e doenças
cardiovasculares (BRÁULIO; MOREIRA, 2004; SOCIEDADE..., 2011).
Visto que a hiperglicemia é um fator de risco para o desenvolvimento de complicações
metabólicas, dentre elas o excesso de peso, o objetivo deste trabalho é avaliar a associação do
controle glicêmico e o estado nutricional de adolescentes portadores de diabetes tipo 1,
atendidos no Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clinicas da Universidade Federal de
Goiás.
2 METODOLOGIA
Os participantes do estudo foram adolescentes (10 anos a 18 anos e 11 meses) de ambos os
sexos, portadores de Diabetes mellitus Tipo 1, atendidos no Ambulatório de Endocrinologia do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG). Não foram incluídos aqueles com
diagnóstico de outros tipos de diabetes, doença celíaca, déficit de hormônio do crescimento, alterações
cromossômicas e gestantes.
Trata-se de um estudo transversal. Estimou-se que no Ambulatório de Endocrinologia/HC/UFG
sejam atendidos 245 diabéticos tipo 1, sendo 33% de adolescentes e 55% de adultos. Para uma
prevalência esperada de 80% de inadequação glicêmica (MARQUES, 2010), um nível de significância
de 5% e poder do teste de 80%, foram necessários para o estudo, o mínimo de 45 adolescentes. Após
aplicados critérios de inclusão e exclusão a amostra se constituiu de 47 adolescentes.
As variáveis do estudo foram: idade, sexo, escolaridade, renda per capita da família, idade do
diagnóstico, duração da doença, história familiar de Diabetes mellitus (tipo 1 e/ou2), realizar controle
glicêmico domiciliar (CGD), freqüência do CGD, nível de atividade física, índice de massa corporal
para idade (IMC/I), circunferência da cintura (CC); níveis de hemoglobina glicada (A1C), glicemia de
jejum e dose insulínica.
Os dados socioeconômicos, demográficos e de saúde foram obtidos por meio de
entrevista direta com os pacientes, na qual foi aplicado formulário próprio desenvolvido para
este fim.
Capa Índice 6605
O nível de atividade física (NAF) foi calculado pelo método proposto pelo Institute of
Medicine (2005), no qual as atividades diárias são registradas em um formulário dividido em
48 períodos de trinta minutos e classificadas segundo a intensidade. Para calcular o NAF, é
realizada a soma dos coeficientes, a divisão pelo total de períodos e posteriormente classifica-
se como sedentário, leve, moderada ou intensa conforme idade e gênero do paciente.
As medidas antropométricas foram realizadas em duplicata, não consecutivas, e
calculadas as médias. Os dados antropométricos foram coletados segundo o proposto por
Gibson (2005). O peso foi obtido com balança portátil tipo plataforma, digital e eletrônica
(Linea), com capacidade máxima de 150 quilos e sensibilidade de 50 gramas A altura foi
obtida utilizando-se estadiômetro, com variação de 1 mm e extensão máxima de 220 cm,
afixado à parede sem rodapé. As medidas de circunferência da cintura (CC) foram realizadas
com fita métrica flexível inextensível, com comprimento máximo de 150 cm e variação de 1
mm.
Para a avaliação do IMC/I, os dados foram classificados segundo os pontos de corte,
expressos em percentis, propostos pelo Sistema de Gestão Federal/Estadual da Vigilância
Alimentar e Nutricional – SISVAN (MINISTERIO..., 2008). Em relação à CC, foram
empregados os pontos de corte propostos por Taylor e colaboradores (2000).
Os dados de A1C e de glicemia de jejum foram obtidos nos exames de rotina do
ambulatório apresentados na consulta. Esses exames foram realizados em diferentes
laboratórios, cujas metodologias analíticas para hemoglobina glicada (%) foram: Trivelli
Modificado, Turbidimetria, Cromatografia Líquida de Alta Eficiência, Cromatografia Iônica e
Imunoturbidimetria; e para a glicemia de jejum (mg/dL): Enzimático, GOD trinder. Os
valores foram categorizados em “adequado” para valores até o limite máximo de referência do
método e, “inadequado” para resultados superiores ou inferiores.
Os dados foram analisados pelo programa Statistical Package of Social Sciences (SPSS)
versão 18.0. Foi empregada estatística descritiva em que foram obtidas frequências, médias,
mediana, desvio-padrão e valor mínimo e máximo. As variáveis contínuas foram testadas
quanto à normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk. Para as variáveis categóricas foi aplicado o
teste de qui-quadrado e teste exato de Fisher. O limiar de significância estatística foi
estabelecido em 5% (p<0,05).
O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Goiás (CEP/HC/UFG), protocolo nº 127/11. Os pacientes
e responsáveis foram esclarecidos sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa e,
concordaram em participar voluntariamente, assinando o Termo de Consentimento Livre e
Capa Índice 6606
Esclarecido conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
(MINISTERIO...,1996).
3 RESULTADOS
Do total de 45 adolescentes elegíveis para o estudo segundo os critérios de inclusão,
exclusão e consentimento em participar do estudo, 37 (82,2%) tiveram todos os dados
completos.
Na tabela 1, são apresentados os resultados da caracterização socioeconômica e
demográfica dos adolescentes do presente estudo. Verificou-se que 22 adolescentes (59,5%)
foram do sexo feminino e a a faixa etária predominante esteve entre 10 a 14 anos (67,6%),
com média de 13 anos e desvio-padrão (DP) de 2,16. Setenta e três por cento dos pacientes
cursaram o ensino fundamental e 11,1% dos responsáveis cursaram o ensino superior. Nota-se
que a maioria das famílias (88,9%) apresentou renda de até um salário mínimo per capita
mensal.
Na tabela 2, observa-se que a faixa etária em que foi diagnosticado o diabetes com mais
frequência foi entre 6 e 10 anos, com média de 7,68 ± 3,4 anos. Possuir antecedentes
familiares com o diagnóstico de Diabetes mellitus teve prevalência de 63,9%. Os adolescentes
que afirmaram realizar o controle glicêmico domiciliar constituíram 72,2% da amostra, e
56,8% afirmaram realizar duas ou mais vezes ao dia.
A atividade física de intensidade moderada pôde ser constatada em 18,9% dos
pacientes, sendo o restante sedentário ou praticante de atividade leve. Observou-se alta
prevalência de excesso de peso, cujo valor foi 16,2% e 19,4% dos adolescentes tiveram a
circunferência da cintura classificada como aumentada.
Tanto os valores de glicemia de jejum, quanto os valores de A1C apresentaram-se
inadequados, com frequência de inadequação de 83,3% e 94,6%, e média de 259,9 ± 143,0
mg/dL e 10,77 ± 3,49% respectivamente. O valor da média de utilização da dose insulínica
(U/kg/dia) foi 0,85 ± 0,33.
Capa Índice 6607
Tabela 1. Caracterização do perfil socioeconômico e demográfico dos adolescentes com DM1 atendidos no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, 2012.
Características
Amostra N (%)
Idadea 13 (2,16)§ 10 ├ 14 25 67,6 15 ├┤18 12 32,4 Sexoa Masculino 15 40,5 Feminino 22 59,5 Escolaridade do pacientea Ensino fundamental 27 73,0 Ensino médio 9 24,3 Ensino superior 1 2,7 Escolaridade do responsávelb Ensino fundamental 16 44,4 Ensino médio 16 44,4 Ensino superior 4 11,1 Renda per capitab 1,17 (0,51)* < 1 SMc 32 88,9 De 1 e 2 SM 2 5,6 De 2 a 5 SM 2 5,6 § Média (DP) an=37, bn=36, cSM = Salário Mínimo (R$ 622,00)
Capa Índice 6608
Tabela 2. Descrição do perfil de saúde dos adolescentes com DM1 atendidos no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, 2012.
Características
Amostra N (%)
Idade do diagnósticoa 7,68 (3,4)* 0-5 anos 13 35,2 6-10 anos 17 45,94 11-14 anos 7 18,91 Tempo de diagnósticoa 5 (0,5-13)§§ História familiar de DMb Sim 26 70,3 Não 11 29,7 Controle glicêmico domiciliarb Sim 26 72,2 Não 10 27,8 Frequência do controle glicêmicoa Não realiza 10 27,0 Uma vez ao dia 6 16,2 Duas ou mais vezes ao dia 21 56,8 Nível de atividade físicaa Sedentário 17 45,9 Leve 13 35,1 Moderado 7 18,9 IMC/idade (kg/m²/anos)a Baixo peso 5 13,5 Eutrófico 26 70,3 Sobrepeso 5 13,5 Obesidade 1 2,7 Circunferência da cintura (cm)a Adequada 29 80,6 Aumentada 7 19,4 Glicemia de jejum (mg/dL)b 259,9 (143,0)§ Adequado 6 16,7 Inadequado 30 83,3 Hemoglobina glicada (%)a 10,77 (3,49)§ Adequado 2 5,4 Inadequado 35 94,6 Dose de insulina (U/kg/dia)a 0,85 (0,33) § § Média (desvio padrão) §§ Mediana (minimo-máximo) an=37, b n=36
A associação do controle glicêmico pela glicemia de jejum e hemoglobina glicada, com
o estado nutricional pelo IMC/I e CC, demonstra que as variáveis antropométricas não
influenciaram signitivamente no controle glicêmico e vice-versa (Tabela 3).
Capa Índice 6609
Tabela 3. Distribuição das prevalências de adequação do controle glicêmico segundo com o estado nutricional dos adolescentes com DM1 atendidos no Ambulatório de Endocrinologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, 2012.
Estado nutricional
Glicemia de jejum
Total p* Hemoglobina glicada Total p*
Adequado Inadequado Adequado Inadequado IMC/idade 0,838 0,838 Baixo peso 0 5 (13,9%) 5 (13,9) 0 5 (13,9%) 5 (13,9%) Eutrófico 5 (13,9%) 20 (55,6%) 25 (69,4) 5 (13,9%) 20 (55,6%) 25 (69,5%) Sobrepeso 1 (2,8%) 4 (11,1%) 5 (13,9) 1 (2,8%) 4 (11,1%) 5 (13,9%) Obesidade 0 1 (2,8%) 1 (2,8) 0 1 (3,3%) 1 (3,3%) Total 6 (16,7%) 30 (83,4%) 36 (100,0) 6 (16,7%) 30 (83,4%) 36 (100,0) CC a 0,195 1,000 Adequado 3 (8,6%) 26 (74,3%) 29
(82,9%) 1 (2,8%) 28
(77,8%) 29
(82,8%)
Aumentado 2 (5,7%) 4 (11,4%) 6 (17,1%) 0 7 (19,4%) 7 (14,9%) Total 5 (14,3%) 30 (85,7%) 35 (100,0) 1 (2,8%) 35 (97,2) 36 (100,0)
Teste qui-quadrado. *Limiar de significância p< 0,05. a Circunferência da cintura
4 DISCUSSÃO
A idade média do diagnóstico da doença encontrada neste trabalho foi semelhante aos
achados na literatura. A maioria dos casos foi diagnosticada em pessoas com menos de trinta
anos, com um pico de incidência de 10 a 14 anos de idade (GROSS et al, 2002).
Em relação à alta prevalência de antecedentes familiares com o diagnóstico de DM tipo
1 ou 2 (70,3%), esse achado sugere a predisposição genética do surgimento do diabetes. Sabe-
se que fatores genéticos, ambientais e auto-imunes estão envolvidos no desenvolvimento da
doença (AMERICAN..., 2004). Estudos recentes descrevem uma prevalência duas vezes
maior de diabetes do tipo 1 em famílias com tipo 2, sugerindo uma possível interação genética
entre os dois tipos de DM (GROSS et al, 2002).
A prática do controle glicêmico domiciliar pela monitorização da glicemia foi
encontrada em 72,2% dos adolescentes desse estudo, o que inicialmente sugere o autocuidado
da patologia. Já Araújo, Sousa e Menezes (2008) encontraram um percentual de pacientes que
não realizam a monitoração glicêmica de 82,4%. É contraditório que, apesar dessa
monitorização, a maioria dos pacientes apresentaram inadequação do controle glicêmico, com
Capa Índice 6610
frequência de 83,3% para glicemia de jejum e 94,6% para hemoglobina glicada. Essa maior
proporção do controle glicêmico inadequado pode ser decorrente da não adesão ao tratamento,
da influência de fatores ambientais e emocionais envolvidos na adolescência, que influencia
na má qualidade da ingestão alimentar. Estudos demonstraram a subestimação do consumo de
carboidratos por adolescentes com DM1, o que pode acontecer durante a consulta médica
(BISHOP et al, 2009).
A escolaridade do cuidador também pode ser um indicador importante no controle
glicêmico (MARQUES, FORNÉS, STRINGHINI, 2011). A vulnerabilidade social pode
dificultar a adesão ao tratamento pela menor compreensão dos procedimentos, ou até mesmo
da complexidade da doença, prejudicando a qualidade de vida. Assim, monitorização da
glicemia isolada não tem significado para o paciente, visto que não são aplicadas medidas
eficientes para o seu controle (ARAÚJO, SOUZA, MENEZES, 2008).
Quanto à atividade física, foi elevada a frequência de adolescentes classificados como
sedentários ou somente executando atividade leve, resultado semelhante ao estudo de
Marques (2011). O exercício físico promove o aumento da utilização da glicose como
combustível para o músculo em atividade, contribuindo para o controle glicêmico. Logo, atua
nos fatores de risco para doença macrovascular, dislipoproteinemia, hipertensão, excesso de
peso e melhora do funcionamento cardíaco (RAMALHO; SOARES, 2008). Valério e
colaboradores (2007) verificaram que a atividade física regular, por meio da participação em
atividades esportivas, associou-se à melhora no controle metabólico, avaliado pela A1C. Silva
e Lima (2002) avaliaram o efeito do exercício físico em indivíduos diabéticos tipo 2 e
concluíram que um programa de exercício físico, com atividades aeróbias e de resistência
resultou em redução da glicemia de jejum, hemoglobina glicada, triglicerídeos e IMC,
mostrando assim a importância da atividade física bem orientada.
A prevalência de sobrepeso e obesidade em DM1 parece refletir a tendência mundial de
aumento de peso (MORAES et al, 2003). Percebe-se que a prevalência de excesso de peso
segundo o IMC/I encontrada nesse estudo (16,2%) foi semelhante ao estudo de Liberatore
Junior e cols (16%) e superior à encontrada por Marques, Fornés e Stringhini (2011), cujo
valor foi 14,1%. Já Araújo, Souza e Menezes (2008), não encontraram adolescentes
classificados como risco de sobrepeso ou com sobrepeso.
A circunferência da cintura acima do desejável associada ao excesso de peso confirma
risco cardiovascular nos diabéticos, cuja doença isolada já apresenta esse risco aumentado. O
excesso de peso, característica anteriormente associada ao diabetes tipo 2, também pode
existir em pacientes portadores de DM1, devido a resistência à insulina (hiperinsulinização), a
Capa Índice 6611
maior flexibilidade do consumo alimentar, a mudanças no gasto energético e valores elevados
de hormônio do crescimento (LIBERATORE JUNIOR et al, 2008; MARQUES, FORNÉS,
STRINGHINI, 2011).
A dose insulínica encontrada nesse estudo foi adequada segundo a Sociedade Brasileira
de Diabetes (2011). O valor foi semelhante ao encontrado por Marques e colaboradores
(2011) de 0,84±0,2 unidades/kg/dia, e Jose et al (2009) que encontraram 0,88±0,28
unidades/kg/dia. Essa dose diária depende de diversos fatores, dentre eles, idade, peso
corporal, estágio puberal, tempo de duração do diabetes, ingestão alimentar, intensidade da
atividade física, dentre outros (SOCIEDADE..., 2011). A sensibilidade e a depuração de
insulina em crianças e adolescentes com DM1 variam com as concentrações da hormônio de
crescimento e com a idade (WIEGAND et al, 2008), variando de 0,7 a 1 U/kg/dia em crianças
pré-púberes, podendo alcançar 1 a 2 U/kg/dia durante a puberdade (SOCIEDADE..., 2011).
O presente estudo não encontrou associação da inadequação glicêmica com o estado
nutricional, bem como outros estudos que realizaram a mesma avaliação (BATISTA et al,
2005; MARQUES, FORNÉS, STRINGHINI, 2011). Mesmo que não tenha sido demonstrada
influência do estado nutricional sobre o controle glicêmico, a presença de sobrepeso ou
obesidade nessa população deve ser considerada, visto que indivíduos com sobrepeso,
obesidade e circunferência da cintura aumentada tiveram maiores prevalências de
inadequação do que adequação de ambos os exames bioquímicos.
Estudos realizados avaliando o acompanhamento multiprofissional encontraram que a
redução significante dos níveis glicêmicos e do IMC pode vir a contribuir para a redução do
risco de complicações crônicas e dos custos sociais e econômicos. Estes são, provavelmente,
efeitos benéficos decorrentes da atenção multidisciplinar voltada para o controle do diabetes
(BATISTA et al, 2005).
Por isso, é preciso que se incentive o trabalho de equipes multidisciplinares no
acompanhamento detalhado de pacientes adolescentes, juntamente com as famílias para um
melhor enfrentamento da doença, e consequentemente um melhor controle glicêmico e
qualidade de vida.
5 CONCLUSÃO
Os achados deste estudo permitem concluir que não foi encontrada associação entre o
estado nutricional e o controle glicêmico. Apesar disso, o perfil de saúde dos adolescentes
diabéticos tipo 1 é preocupante, visto que a prevalência de excesso de peso está aumentando e
a maioria dos pacientes possui o controle glicêmico inadequado.
Capa Índice 6612
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Capa Índice 6615
AÇÕES AFIRMATIVAS NAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO INICIAL1
Jessica Lorrayne da Silva2 Gina Glaydes Guimarães de Faria3
NEPPEC-FE-UFG [email protected]
Palavras-chave: Ações afirmativas; Educação Superior; pesquisa bibliográfica.
INTRODUÇÃO
Este texto tem como finalidade apresentar o levantamento das Instituições Federais de
Ensino Superior (IFES) que adotam em seus processos seletivos algum tipo de ação
afirmativa. A partir da realização da Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial,
Xenofobia e Intolerância Correlata, a Conferência de Durban (2001), tem ocorrido no Brasil a
implementação das políticas de ações afirmativas. Não por acaso as referências à Conferência de
Durban têm sido recorrentes nos estudos e pesquisas que tratam das ações afirmativas, sobretudo
quanto à adoção das cotas como meio de acesso à universidade pública brasileira (MOEHLECKE,
2002).
Em consonância com o compromisso com a democratização da educação, com o
desenvolvimento cultural, artístico, científico, tecnológico e socioeconômico do país, a
Universidade Federal de Goiás (UFG) adotou, a partir de 2009/1, um programa de inclusão, o
Programa UFGInclui, com o objetivo de promover o acesso e a permanência dos estudantes
de origem popular em universidades públicas.
O programa de inclusão na UFG foi pensado a partir de estudos e debates sobre as
ações afirmativas, tendo como intuito fomentar propostas que “beneficiem” alunos do sistema
público de ensino e de origem popular. A proposta da UFG é orientar os candidatos antes,
durante e depois do ingresso, partindo do pressuposto de que a Universidade é uma instituição plenamente inserida nos contextos social, político e econômico. Enquanto tal, ela reflete as condições da configuração da existência humana [...] marcadas por profundas desigualdades sociais [...] essas desigualdades se manifestam pela existência de segmentos significativos da sociedade que não têm acesso a um ensino de qualidade [...] essas desigualdades se explicitam nitidamente no ingresso dos estudantes que não tiveram assegurado seu
1 Trabalho revisado pela orientadora. 2 Jessica Lorrayne da Silva é graduanda do 7º período do curso de pedagogia, FE/UFG. 3 Gina Glaydes Guimarães de Faria é Profª. Adjunto na FE/UFG, professora de psicologia da educação nos cursos de formação de professores.
Capa Índice 6616
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6616 - 6626
direito a um ensino de qualidade [...] que realizam sua formação básica na escola pública (RESOLUÇÂO CONSUNI N° 29/2008, p.5-6).
Com este entendimento a UFG propõe seu programa de inclusão por um período de 10
anos, sendo avaliado anualmente e acompanhado pela Pró-Reitoria de Graduação
(PROGRAD). Até o momento os levantamentos realizados pela universidade constatam o
bom desempenho dos alunos que ingressaram na UFG por meio do sistema de cotas.
O estudo ora apresentado, em andamento, subsidia a análise do Programa UFGInclui
e, ainda, o estudo empírico, uma pesquisa longitudinal, que acompanha a trajetória acadêmica
dos estudantes que ingressaram na UFG mediante o sistema de cotas, em 2009. A adoção das
diferentes formas de ações afirmativas nas universidades públicas brasileiras tem sido
acompanhada com interesse pela sociedade em geral, especialmente pela mídia. Após dez
anos em que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro adotou pela primeira vez, no Brasil, o
sistema de cotas, a polarização do debate em torno do “a favor” ou “contra” tende a arrefecer,
pelo menos no âmbito da literatura acadêmica.
Enfatize-se que 123 instituições públicas adotam algum tipo de ação afirmativa,
envolvendo 47 universidades federais, 32 universidades estaduais, 13 faculdades, 31 institutos
e um centro tecnológico municipal (CARVALHO e outros, 2011). Conforme indicam
diferentes estudos e pesquisas, os ingressantes por meio das ações afirmativas tendem a um
bom desempenho acadêmico. Assim, desde a adoção dos cursos preparatórios ao vestibular
destinados aos chamados segmentos desassistidos da população (MITRULIS, PENIN, 2006) à
implementação das cotas raciais (BENTO, 2005; VELLOSO, CARDOSO, 2008), entre
outras, o que se busca, em última instância, é a democratização da universidade pública que,
afirma-se, tem sido marcada pela exclusão das chamadas minorias sociais e étnico-raciais de
seus quadros.
METODOLOGIA
Para a compreensão da metodologia adotada neste trabalho, faz-se necessário
esclarecer que o estudo acerca das ações afirmativas implementadas nas Instituições Federais
de Ensino Superior (IFES) tem sido desenvolvido no NEPPEC há dois anos4, sendo que no
trabalho realizado anteriormente, para a identificação e seleção das IFES, adotou-se como
critério de investigação a leitura de documentos produzidos pelas instituições como
resoluções, manuais dos alunos, editais dos vestibulares, recorrendo-se às palavras-chave 4 No período compreendido entre ago./2010 a jul./2011 a bolsista Fábia de Oliveira Santo (IC/PIVIC/CNPq) realizou um primeiro levantamento das IFES e seus respectivos sistemas de cotas.
Capa Índice 6617
“cotas”, “ações afirmativas”, “políticas afirmativas” e “reserva de vagas”. Dando
continuidade a este estudo, aferiu-se o levantamento então realizado e aprofundou-se o estudo
da legislação referente ao sistema de cotas da Universidade Federal de Goiás. Em relação ao
primeiro ponto, a aferição dos dados até então obtidos, além de confirmar os achados foi
possível ampliar o mapeamento, especialmente a partir de um levantamento realizado no
portal do MEC e do trabalho de Carvalho e outros (2011).
O passo seguinte seria a análise dos documentos das universidades que adotam o
sistema de reserva de vagas, o que foi inviável porque estes documentos, na maioria das
universidades, não estão disponíveis na rede. Foi possível identificar na maioria das páginas
consultadas, uma série de notícias sobre o andamento das ações afirmativas, seus impasses e
desafios, mas não os documentos que regulam tais ações. Tentou-se, então, identificar pelo
menos uma universidade, por região, em que os documentos oficiais fossem disponíveis,
sendo que até o momento este levantamento está em andamento. 5
Aferidas as instituições que adotam algum tipo de ação afirmativa ou cotas,
concomitante ao levantamento das IFES, conforme exposto, estudou-se o Programa
UFGInclui (Resolução CONSUNI nº29/2008), que regulamenta o sistema de cotas na UFG.
Para tal elaborou-se um roteiro de análise, indicando as questões que seriam mais
interessantes para o estudo proposto, além de uma questão em aberto para permitir a
apreensão de aspectos/temáticas não previstos no roteiro. As questões propostas envolvem a
concepção de universidade e de ação afirmativa, bem como as ações de inclusão previstas,
tanto de acesso quanto de permanência e implicações para o sucesso/fracasso dos estudantes
em suas trajetórias acadêmicas, entre outras, como as referências à educação básica, à
concepção de escola e à relação universidade e sociedade.
RESULTADOS/DISCUSSÃO
Conforme levantamento realizado, até o final de 2011, 46 universidades federais e 1
distrital adotam algum tipo de ação afirmativa como critério de seleção aos seus cursos de
graduação. A partir do trabalho de Carvalho e outros (2011) foi possível realizar o
levantamento dos tipos de ações que cada Universidade adota e as respectivas categorias de
sujeito. Em relação aos tipos de ações afirmativas implementadas, os autores consideram
quatro tipos:
5 Ressalte-se que a resolução que orienta o sistema de ações afirmativa na UFG é facilmente localizada na página da UFG, podendo-se afirmar que constitui uma exceção no conjunto das IFES.
Capa Índice 6618
1. cotas: porcentagem definidas de vagas em seus sistemas de seleção por vestibular,
avaliação seriada, Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), Sistema de Seleção Unificado
(SISU)6;
2. subcotas ou cotas de cotas: define-se uma porcentagem de uma cota previamente
estabelecida, mais abrangente; tal ocorre, por exemplo, no estabelecimento das cotas para
alunos oriundos de escola pública e dentre estas, define-se uma porcentagem para estudantes
negros;
3. vagas: do total de vagas ofertadas na seleção, define-se uma quantidade que é
reservada ao grupo a ser incluído; a reserva de vagas expressa-se sob diferentes modos: “São
vários os modelos de vagas: vagas fixas; variáveis, ainda que constantes; eventuais ou
intermitentes; proporcionais à demanda de candidatos; e vagas suplementares, ou sobrevagas”
(CARVALHO e outros, 2011);
4. bônus: a instituição define uma média de pontos padronizados que o candidato deve
alcançar para a aprovação no processo seletivo; oferece-se aos sujeitos a ser incluídos um
total de pontos extras o que lhes garante uma vantagem de saída na concorrência, “ou uma
porcentagem de média previamente definida”.
Os autores alertam que diferente das cotas, subcotas e da reserva de vagas que indicam
previamente o número de vagas destinadas aos sujeitos a ser incluídos, no sistema de bônus
não é possível tal quantificação, (...) pois o acesso do candidato bonificado dependerá da nota de corte, variável a cada concurso, definida com base no desempenho do candidatos que concorrem pelo sistema universal. O bônus, portanto, é um tipo de ação afirmativa sem garantia de inclusão (CARVALHO E OUTROS, 2011).
Constatou-se que as ações afirmativas nas universidades públicas aplicam-se
basicamente a sete categorias de sujeitos: 1. escola pública; 2. indígenas; 3. megros; 4.
pessoas com deficiência; 5. residentes de determinadas regiões; 6. estudantes de baixa renda e
7. quilombolas. A seguir, são apresentadas, sob a forma de quadros, as IFES, organizadas por
regiões, os tipos de ações afirmativas e os grupos a ser incluídos.
6 As cotas podem ser sociais, raciais, étnicas ou diferentes combinações entre cada uma delas.
Capa Índice 6619
QUADRO 1 – INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO NORTE QUE ADOTAM AÇÕES AFIRMATIVAS DE INGRESSO, TIPOS DE AÇÕES E SUJEITOS A QUE SE DESTINAM AS AÇÕES AFIRMATIVAS
Instituições Federais de Ensino Superior Tipo de Ações/Sujeitos
Região Norte
Universidade Federal do Acre/AC 50 vagas no curso específico de formação de professores indígenas; 5% para pessoas com deficiência.
Universidade Federal do Amazonas/AM 60 vagas no curso de licenciatura para formação de professores indígenas do Povo Munduruku.
Universidade Federal do Oeste Pará/PA 50 vagas para indígenas.
Universidade Federal do Pará/PA 50% para candidatos de escolas públicas, sendo 20% para negros; 2 vagas para indígenas; 1 vaga para pessoa com deficiência por curso.
Universidade Federal Rural da Amazônia/PA Cotas para estudantes de escolas públicas, conforme proporção de inscritos: 20% para negros e 5% para indígenas.
Universidade Federal de Rondônia/RO 50 vagas no curso de licenciatura específica para indígenas que atuem como docentes em Rondônia, Sul do Amazonas, Norte e Nordeste do Mato Grosso.
Universidade Federal de Roraima/RR 50 vagas para indígenas em 14 cursos, 60 para cursos específicos de formação de professores indígenas e 40 em bacharelado especifico para indígenas.
Universidade Federal do Tocantins/TO 5% para indígenas. Fonte: Dados selecionados do trabalho realizado por Carvalho e outros (2011): Mapas das ações afirmativas no Brasil: Instituições Públicas de Ensino Superior.
Constata-se que as IFES localizadas na região norte adotam o sistema de reserva de
vagas, com ênfase aos indígenas, em conformidade com as especificidades da população
local. Apenas a Universidade Federal Rural da Amazônia optou pelo sistema de cotas.
QUADRO 2 - INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO CENTRO-OESTE QUE ADOTAM AÇÕES AFIRMATIVAS DE INGRESSO, TIPOS DE AÇÕES E SUJEITOS A QUE SE DESTINAM AS AÇÕES AFIRMATIVAS
Instituições Federais de Ensino Superior Tipo de ações/sujeitos
Região Centro-Oeste
Universidade Federal de Goiás/GO 20% das vagas para candidatos de escolas públicas, sendo 10% para negros; 15 vagas para pessoas com deficiência; 1 para indígena e 1 para quilombola.7
Universidade Federal da Grande Dourados/MT
25% para candidatos de escolas públicas, 56 vagas no curso de licenciatura especifica para indígenas Guarani e Kaiowá residentes nas aldeias do Mato Grosso do Sul e 14 vagas para indígenas Guaranis residentes em outros locais.
Universidade Federal do Mato Grosso/MT 50% para candidatos de escolas públicas, sendo20% para negros; 100 vagas para indígenas do Mato
7 Há uma distinção na compreensão de Carvalho e outros (2011) em relação ao proposto na UFG quanto à designação das cotas e do sistema de reserva de vagas: para aqueles autores a UFG estaria implementando o sistema de reserva de vagas e para a UFG, conforme critério de autodenominação, estaria sendo implementado o sistema de cotas. É necessário aferir o número de vagas reservadas às pessoas com deficiências, conforme exposto no Programa UFGInclui.
Capa Índice 6620
Grosso.
Universidade de Brasília/DF 20% para negros, 10 vagas para indígenas e 20% de aumento de notas para candidatos de escolas públicas nos campi de Ceilândia, Gama e Planaltina.
Universidade Federal Rural da Amazônia/PA Cotas para estudantes de escolas públicas, conforme proporção de inscritos: 20% para negros e 5% para indígenas.
Fonte: Dados selecionados do trabalho realizado por Carvalho e outros (2011): Mapas das ações afirmativas no Brasil: Instituições Públicas de Ensino Superior.
Na Região Centro-Oeste, todas as cinco IFES adotam algum tipo de ação afirmativa,
sobressaindo as ações destinadas aos estudantes oriundos das escolas públicas.
QUADRO 3 - INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO NORDESTE QUE ADOTAM AÇÕES AFIRMATIVAS DE INGRESSO, TIPOS DE AÇÕES E SUJEITOS A QUE SE DESTINAM AS AÇÕES AFIRMATIVAS
Instituições Federais de Ensino Superior Tipo de ações/sujeitos
Região Nordeste
Universidade Federal de Alagoas/AL
20% para negros de escolas públicas, sendo 12% para mulheres e 8% para homens, 10% a mais na nota para candidatos de escolas públicas de algumas localidades.
Universidade Federal da Bahia/BA 43% para candidatos de escolas públicas, e destas 85% para negros, 2% para descendentes de indígenas; 2 vagas para quilombolas e/ou indígenas aldeados.
Universidade Federal de Campina Grande/PB
50 vagas, a cada dois anos, nos cursos de indígena para professores indígenas que estejam lecionando em escolas na Terra Indígena Potiguara no campus de Campina Grande.
Universidade Federal do Maranhão/MA
50% para candidatos de escolas públicas, sendo 25% para negros de escolas públicas ou privadas com bolsa integral cuja mensalidade seja de até R$ 200,00; 1 vaga para indígena e 1 vaga para pessoa com deficiência em cada curso.
Universidade Federal da Paraíba/PB
40% para candidatos de escolas públicas (começando com 25% e com aumento progressivo de 5% ao ano até completar os 40% em 2014), e destas, 56% para negros; 5% para pessoas com deficiência e 0,3% para indígenas.
Universidade Federal de Pernambuco/PE 10% a mais na nota para candidatos de escolas públicas, com exceção de escolas mantidas por universidades públicas.
Universidade Federal do Piauí/PI 20% para candidatos de escolas públicas.
Universidade Federal do Recôncavo Baiano/BA
45% para candidatos de escolas públicas, e destas, 81% para negros, 4% para indígenas ou seus descendentes e 5% para professores da rede pública nos cursos de licenciatura.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/RN
10% a mais na nota para candidatos de escolas públicas.
Universidade Federal Rural de Pernambuco 10% a mais na nota para estudantes de escola públicas situadas nas microrregiões do Agreste ou do Sertão para os cursos das Unidades de Garanhuns e Serra
Capa Índice 6621
Talhada.
Universidade Federal de Sergipe/SE 50% para candidatos de escolas públicas, sendo 35% para negros e indígenas; 1 vaga para pessoa com deficiência.
Universidade Federal do Vale do São Francisco//PE
50% para candidatos de escolas públicas.
Fonte: Dados selecionados do trabalho realizado por Carvalho e outros (2011): Mapas das ações afirmativas no Brasil: Instituições Públicas de Ensino Superior.
Constata-se que na Região Nordeste há uma grande diversidade de ações afirmativas,
predominando, entretanto, as ações destinadas aos estudantes de escolas públicas.
QUADRO 4 - INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO SUDESTE QUE ADOTAM AÇÕES AFIRMATIVAS DE INGRESSO, TIPOS DE AÇÕES E SUJEITOS A QUE SE DESTINAM AS AÇÕES AFIRMATIVAS
Instituições Federais de Ensino Superior Tipo de ações/sujeitos
Região Sudeste Universidade Federal do ABC/SP 50% para candidatos de escolas públicas, sendo
28,7% para negros e 0,7% para indígenas. Universidade Federal do Espírito Santo/ES 40% para candidatos de escolas públicas de renda
familiar até 7 salários mínimos. Universidade Federal Fluminense/RJ 10% a mais na nota para candidatos de escolas
públicas com exceção de colégios de aplicação, colégios federais, universitários e militares, 20% das vagas de licenciatura em pedagogia, matemática, física ou química para professores da rede pública
Universidade Federal de Juiz de Fora/MG 50% para candidatos de escolas pública, sendo 25% para negros
Universidade Federal de Minas Gerais/MG 10% a mais na nota para candidatos de escolas públicas, 5% a mais se esses candidatos forem também negros; até 2 vagas para indígenas em seis cursos diferentes.
Universidade Federal de Ouro Preto/MG 30% para candidatos de escolas públicas Universidade Federal do Rio de Janeiro reserva para candidatos de escolas públicas de renda
familiar per capita de até um salário mínimo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/RJ
10% a mais na nota para candidatos de escolas públicas; 10% das vagas de licenciatura para professores da rede pública.
Universidade Federal de São Carlos/SP
40% das vagas para candidatos de escolas públicas de 2011 a 2013, 50% de 2014 a 2016, 35% destas para negros1 vaga por curso para indígenas, mínimo 1 vaga por curso para refugiados políticos.
Universidade Federal de São José Del Rei/MG 50% para candidatos de escolas públicas, e destas, as porcentagens de negros e indígenas de Minas Gerais correspondentes à sua proporção no estado
Universidade Federal do Triângulo Mineiro/MG
10% a mais na nota para candidatos de escolas públicas e para professores da rede pública nos cursos de licenciatura.
Universidade Federal de Uberlândia/MG 25% para candidatos de escolas públicas
Universidade Federal de Viçosa/MG 15% a mais na nota para candidatos de escolas públicas.
Capa Índice 6622
Universidade Federal dos Vales dos Rios Jequitinhonha e Mucuri/MG
reserva o 1º semestre: das 50% destinadas ao SASI (Processo Seletivo por Avaliação Seriada), 60% para candidatos de escola pública; dos 50% do ENEM, 40% para candidatos de escola pública. 2º semestre: 40% das vagas do ENEM para candidatos de escolas públicas;
Universidade Federal de São Paulo/SP reserva 10% para negros e indígenas de escolas públicas.
Fonte: Dados selecionados do trabalho realizado por Carvalho e outros (2011): Mapas das ações afirmativas no Brasil: Instituições Públicas de Ensino Superior.
Evidencia-se o predomínio de ações destinadas aos estudantes oriundos de escolas
públicas.
QUADRO 5 - INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA REGIÃO SUL QUE ADOTAM AÇÕES AFIRMATIVAS DE INGRESSO, TIPOS DE AÇÕES E SUJEITOS A QUE SE DESTINAM AS AÇÕES AFIRMATIVAS
Instituições Federais de Ensino Superior Tipo de ações/sujeitos
Região Sul
Universidade Federal do Rio Grande/RS
4% a mais na nota para candidatos de escolas públicas, sendo 6% a mais na nota para negros e pessoas com deficiência, 5 vagas para indígenas distribuídas em diferentes cursos de graduação.
Universidade Federal da Fronteira Sul/SC-PR-RS
10% a 30% a mais na nota para candidatos de escolas públicas
Universidade Federal do Paraná/PR 20% para negros; 20% para candidatos de escolas públicas; 10 vagas para indígenas e 1 vaga para pessoa com deficiência.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul/RS 30% para candidatos de escolas públicas, sendo 15% para negros; e 10 vagas para indígenas;
Universidade Federal de Santa Catarina/SC
20% para candidatos de escolas públicas, sendo 10% para negros, 5 vagas para indígenas em geral e 120 vagas de licenciatura para os Kaingang, Xokleng e Guarani;
Universidade Federal de Santa Maria/RS 20% para candidatos de escolas públicas, 13% para negros, 5% para pessoas com deficiência e 8 vagas para indígenas.
Universidade Federal do Pampa/RS
40% para candidatos de escolas públicas, sendo 10% para negros, 6% para pessoas com deficiência e 4% para indígenas ou descendentes de indígenas oriundos de escolas públicas.
Fonte: Dados selecionados do trabalho realizado por Carvalho e outros (2011): Mapas das ações afirmativas no Brasil: Instituições Públicas de Ensino Superior.
Evidencia-se, nas IFES da região Sul, a adoção das ações destinadas aos estudantes
provenientes de escola públicas, sendo importante destacar que são considerados de escola
Capa Índice 6623
pública aqueles que cursaram no mínimo um ano de escolaridade na educação fundamental
pública e os três anos do ensino médio em uma instituição pública.
No âmbito da Universidade Federal de Goiás, a partir de 2009/1, adotou-se o
programa de inclusão Programa UFGInclui (Resolução CONSUNI nº 29/2009) que
estabelece o sistema de cotas em que se destinam 10% das vagas para alunos oriundos de
escolas públicas e 10% para negros oriundos de escolas públicas. Além destas, prevê-se,
ainda, acréscimo de vagas para índios e negros quilombolas. Em sua proposição há
preocupações quanto às ações de ingresso e de permanência sendo que em relação a estas
últimas, sobressaem as ações já em desenvolvimento destinadas a todos os estudantes da
universidade. Especificamente para os ingressantes por meio das cotas destacam-se o PIBIC-
AF e ações pontuais em alguns cursos destinadas ao acompanhamento pedagógico destes
estudantes.
Proposto por um período de 10 anos, o Programa UFGInclui tem sido acompanhado
pela Pró-Reitoria de Graduação, tendo sido avaliado em Seminários específicos. No
Seminário Programa UFGInclui/2011 , proposto pela Pró-Reitoria de Graduação, responsável
pelo Programa, avaliaram-se seus os avanços e os desafios. Apresentaram-se análises do
desempenho geral dos estudantes do UFGInclui e análise do funcionamento do próprio
Programa, enfatizando-se o Programa Bolsa Permanência da UFG. Até o momento é
possível constatar que os estudantes que ingressaram por meio das cotas sociais/raciais têm
apresentado bom desempenho acadêmico na maioria dos cursos.
Cita-se o trabalho realizado pela Faculdade de Direito, que avaliou, numa comparação
preliminar, os estudantes que efetivamente cursaram as disciplinas que compõem o primeiro
período do curso. Chama-se a atenção para os seguintes pontos: o desempenho médio dos
alunos ingressos pelo Programa UFGInclui é semelhante aos ingressos pelo sistema
universal; os alunos que ingressaram por meio das cotas tem notas mais próximas entre si,
com bom desempenho acadêmico; comparando-se os grupos de alunos do período matutino e
noturno, concluiu-se que os alunos ingressos pelas cotas acompanharam a média geral dos
alunos ingressos pelo regime universal no período matutino e superaram a média do curso e
dos ingressos pelo regime universal no período noturno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Capa Índice 6624
O trabalho até agora realizado permite indicar pelo menos duas tendências de
investigação no que tange às ações afirmativas implementadas nas Instituições Federais de
Ensino Superior: 1. forte adesão às ações afirmativas em seus processos seletivos. De um
total de 59 universidades, 47 (79,6%), estão envolvidas com algum tipo de ação afirmativa; 2.
maior adesão às ações destinadas aos estudantes provenientes das escolas públicas. O dado
aproxima-se do que foi indicado, por exemplo, na pesquisa de Penha-Lopes (2008) que ao
estudar a trajetória acadêmica dos formandos da UERJ, primeiros cotistas a concluir a
graduação no Brasil, afirma que apesar da política de cotas ter ampliado a discussão sobre
raça no Brasil, a maior adesão às cotas para egressos de escola pública e deficientes físicos,
tende a confirmar o preconceito contra negros.
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Capa Índice 6626
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
PRÉ-CALIBRAÇÃO DA SONDA DE MICRODIÁLISE PARA ANÁLISE DA
PERMEAÇÃO DO 4-NEROLIDILCATECOL EM TECIDO CUTÂNEO
BASTOS, J.C.S.1; OSTROSKY, E.A.2
1,2 Faculdade de Farmácia. Universidade Federal de Goiás.
Palavras-chave: 4-nerolidilcatecol, validação, microdiálise
INTRODUÇÃO
A espécie Piper umbellata (Piperaceae) conhecida popularmente como
pariparoba, capeba e malvisco é uma planta arbustiva, de ocorrência pantropical. De
estrutura fenilterpenoídica e biossíntese mista, o 4-nerolidilcatecol (4-NRC) representa
o metabólito secundário majoritário desta espécie (Figura 1) para o qual são atribuidas
variadas ações biológicas.1,2,3,4,5,6 Suas propriedades físico-químicas, entretanto, são
desfavoráveis e limitantes à aplicação terapêutica, como a baixa solubilidade em água
(3,0 µg mL-1), alto coeficiente de partição (log P= 6,997 ± 0,37) e baixa
fotoestabilidade.²
Em amostras biológicas, a quantificação de 4-NRC tem sido comumente
realizada por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) por ser um método
versátil e prático, com as vantagens da automação e disponibilidade na maioria dos
laboratórios analíticos. Colunas de fase estacionária apolar (C8, C18, Sephadex LH20) e
fases móveis com elevado teor de solventes orgânicos são frequentemente utilizadas
para a separação e quantificação dos componentes com boa resolução, eficiência e
sensibilidade.4,7 Os detectores comumente empregados são o ultravioleta 3,7 ou
eletroquímico.5,8 O método de HPLC acoplado a detector de arranjos de fotodiodos
(HPLC-PDA), entretanto, apresenta vantagens expressivas quanto à seletividade e à
capacidade de identificação de padrões analíticos em relação ao tempo de retenção e
espectro UV-Vis.9
Nas duas últimas décadas, a técnica de microdiálise tem sido frequentemente
empregada em estudos farmacocinéticos pré-clínicos e clínicos por possibilitar a
amostragem da biofase, em praticamente qualquer órgão ou tecido.10,11,12 Segundo a lei
de Fick, após a inserção da sonda de microdiálise no tecido alvo, as substâncias e/ou
fármacos presentes no líquido do espaço intersticial (biofase) atravessam a membrana
Capa Índice 6627
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6627 - 6640
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
por difusão passiva e podem ser quantificados.13 Entretanto, devido à perfusão constante
na sonda de microdiálise, a transferência de fármaco pela membrana e o equilíbrio entre
o fluido tecidual e o dialisado (condição sink) são incompletos,14 necessitando cálculos
de recuperação relativa do fármaco.15
Para substâncias mais hidrossolúveis, a microdiálise é frequentemente bem
sucedida para estudos de permeação através da pele. Entretanto, para muitos fármacos
como esteróides, drogas antineoplásicas, cetoconazol e tretinoína (ácido retinóico), com
massa molecular elevada e características lipofílicas,16,17 a recuperação do analito no
dialisado se impõe como um desafio a ser superado. A difusão do fármaco através da
membrana da sonda e, consequentemente, sua recuperação relativa pode limitar o uso e
aplicação da técnica. Quanto maior a lipofilicidade da molécula, menor a perspectiva de
recuperação, pois se eleva a relação perda/ganho determinando-se, assim, a extensão da
recuperação real in vivo.15,18
OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram validar um método analítico aplicável à
quantificação do 4-NRC em amostras microdialisadas por HPLC-PDA, segundo
critérios previamente estabelecidos19,20 e a calibração da sonda de microdiálise para
recuperação in vitro do 4-NRC.
METODOLOGIA
Amostra e reagentes
O 4-NRC foi extraído e purificado a partir do extrato metanólico de raízes de
Piper umbellata (Flora Medicinal) no Laboratório de Biofarmácia e Farmacocinética
(BIOPK) da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás, conforme
descrito anteriormente.21
A pureza dos solventes empregados foi dependente de sua aplicação, metanol e
acetonitrila foram de grau HPLC (J.T. Barker, Honeywell Burdick & Jackson),
clorofórmio grau analítico (pureza 99,8%) e procedência FMAIA. O plasma empregado
nos experimentos de recuperação foi doado pelo Instituto Goiano de Oncologia e
Hematologia (INGOH). A água ultrapura foi obtida em sistema ultrapurificador de água
(Gehaka Master P e D), com condutividade de 0,05 S/cm e resistividade de 18,2
M/cm, sob temperatura ambiente (22±2 ºC).
Capa Índice 6628
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Sistema cromatográfico e condições do detector
O cromatógrafo líquido de alta eficiência (Shimadzu LC 20AT) empregado
compunha-se de bomba LC–20AT, injetor com autosampler SIL– 20A e detector de
arranjo de fotodiodos (PDA). As condições cromatográficas empregadas foram:
acetonitrila:metanol:água 54:20:26 (v:v:v) como fase móvel, fluxo de 1,0 mL min-1,
volume de injeção de 30 µL, coluna Phenomenex® Synergi Fusion 4µ RP-80A C18
(150 x 4,6 mm) e monitoramento em 282 nm.
Preparo da amostra e fase móvel
A solução estoque de 4-NRC (1,0 µg mL-1) foi preparada em metanol originando
7 soluções de trabalho com as seguintes concentrações: 5,0; 7,5; 10,0; 25,0; 50,0; 100,0
e 200,0 µg mL-1 preparadas em fase móvel. Todas as soluções foram acondicionadas em
frascos âmbar para proteção contra incidência da luz e mantidas por 7 dias a -20 ºC. A
fase móvel foi filtrada em membrana de nylon 0,45 µm (Millipore®) e desgaseificada
por 15 min em banho de ultrassom (Unique®).
Avaliação da adequação do sistema
A adequação do sistema foi avaliada durante a corrida cromatográfica de acordo
com o guia validação de métodos analíticos do Food and Drug Administration (FDA).20
Os parâmetros cromatográficos observados foram pratos teóricos (N), fator de cauda (T)
do 4-NRC, assim como a repetibilidade do pico realizada com a área da concentração de
50,0 µg mL-1 (expresso pelo desvio padrão relativo, D.P.R; n = 6).
Validação do método
Os parâmetros considerados na validação do método foram seletividade,
linearidade, limite de detecção (LD), limite de quantificação (LQ), exatidão, precisão e
robustez seguiram as recomendações do “Guia para Validação de Métodos Analíticos e
Bioanalíticos.”19
Seletividade
Em métodos cromatográficos, com auxílio de detector de arranjo de fotodiodos,
pode-se avaliar a pureza do pico cromatográfico por meio da verificação de possíveis
interferentes à substância de interesse no mesmo tempo de retenção do analito em
Capa Índice 6629
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
estudo. A seletividade do método foi avaliada mediante comparação dos cromatogramas
da fase móvel, utilizada na curva de calibração, na ausência e presença de 4-NRC.
Adicionalmente, avaliou-se a pureza de três pontos do pico cromatográfico atribuído ao
(tR = 10,5 min), comparando-se os espectros de ultravioleta obtidos no início e no fim
da eluição.
Linearidade
A linearidade foi determinada pela construção da curva de calibração a partir de
triplicatas diárias de sete concentrações diferentes (5,0; 7,5; 10,0; 25,0; 50,0; 100,0 e
200,0 µg mL-1). A equação da reta (y = ax + b) foi determinada calculando-se o
intercepto (b), a inclinação (a) e o coeficiente de correlação linear (r). A linearidade foi
avaliada em 3 dias diferentes e estimada por análise de regressão linear pelo método dos
mínimos quadrados.
Limites de detecção e quantificação
A estimativa do limite de detecção foi realizada com base na razão sinal-ruído
equivalente a 3 vezes o ruído da linha de base. O limite de quantificação também foi
determinado com base na mesma relação sinal-ruído embora na razão superior a 10:1.
Precisão e exatidão
A precisão (intra e inter-ensaio) e a exatidão do método foram determinadas
durante três dias diferentes, com triplicatas diárias. A precisão do método analítico foi
expressa como a estimativa do desvio padrão relativo (DPR) ou coeficiente de variação
(CV) de várias medidas, segundo a Equação 1:
100(%) xsDPR , onde s é o valor do desvio-padrão e x é a média dos valores de
concentração obtidos.
A exatidão foi realizada por ensaios em três níveis distintos de concentração em
triplicatas. Os resultados obtidos devem ser diretamente proporcionais à concentração
do analito na amostra, dentro do intervalo de 80% a 120% da concentração teórica do
teste. A exatidão foi expressa de acordo com a Equação 2:
100CT
CEMExatidão , onde CEM é concentração média experimental e CT é a
concentração teórica.
Capa Índice 6630
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Robustez
Para a avaliação da robustez, examinou-se o impacto de pequenas variações das
condições analíticas do método. Os parâmetros avaliados foram variação da proporção
de acetonitrila na fase móvel (52, 54 e 56%) e do fluxo (0,950; 1,000 e 1,050 mL min-1).
Os efeitos de tais alterações sobre os parâmetros tempo de retenção e área dos picos
foram observados.
Aplicabilidade do método
Em estudos de microdiálise o método de eficiência de extração (recuperação por
ganho) é dado pela fração total do analito na solução que pode se difundir através da
sonda, atingindo o fluido da diálise (dialisado).16 A sonda foi colocada em um tubo
contendo a solução do analito em estudo e perfundida com uma solução
fisiologicamente compatível, sob fluxo constante. As amostras coletadas (dialisados)
foram, posteriormente, analisadas em HPLC-PDA.19,20
Para avaliar a recuperação de 4-NRC em amostras de dialisados, determinou-se
a solubilidade do analito em solução de proteína plasmática (BSA). A partir da solução
estoque de 4-NRC (1,0 mg/mL), prepararam-se soluções de trabalho (ST) em metanol e
em Ringer:glicose:BSA 94,9:0,1:5,0 (% v:p:p) nas concentrações de 7,5; 10,0 e 15,0 µg
mL-1. Alíquotas do dialisado (60 µL) foram submetidas à extração líquido-líquido pela
adição de clorofórmio (600 µL), agitação em vórtex (10 min) e centrifugação (10 min,
6000 rpm). A fração orgânica foi transferida para vial (480 µL), evaporada em
atmosfera de nitrogênio e ressuspensa em fase móvel (120 µL) com posterior injeção
(30 µL) em HPLC-PDA, nas condições anteriormente descritas.
Análise estatística
Para a análise estatística da validação analítica (exatidão, precisão, linearidade,
robustez) foram utilizados testes de regressão linear e análise de variância (ANOVA),
utilizando o software SPSS versão 15.0; sob IC 95%. Consideraram-se diferenças
significativas quando p < 0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação de adequação do sistema
Capa Índice 6631
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Os testes de adequação do sistema são utilizados para verificar se a resolução e a
reprodutibilidade do sistema cromatográfico são adequadas para o desenvolvimento do
método analítico, por apresentarem valores dentro de limites aceitos e recomendados
internacionalmente.20,22 Os resultados do teste de adequação do sistema estão descritos
na Tabela 1, na qual também podem ser observados os valores relativos às
especificações da literatura.20 A resolução não foi determinada devido à inexistência de
outro pico cromatográfico.
Validação do método em HPLC-PDA
Seletividade
O método instrumental de separação é seletivo quando é capaz de detectar
exatamente um composto, sendo um parâmetro importante que deve ser avaliado para
garantir que a quantificação do analito de interesse não seja afetada pela presença de
impurezas, metabólitos, produtos de degradação, fármacos co-administrados ou
compostos endógenos.19,23
Neste estudo, a seletividade do método foi avaliada pela comparação dos
cromatogramas da fase móvel na ausência de 4-NRC em relação ao cromatograma de
uma solução de 4-NRC (50 µg mL-1), em fase móvel. Nesta análise, não se evidenciou a
coeluição de interferentes com tempo de retenção equivalente ao 4-NRC (10,5 min),
assegurando a seletividade do método. O teste de pureza do pico cromatográfico, por
comparação entre espectros de UV, demonstrou que o pico cromatográfico obtido pode
ser atribuído a um único componente (Figuras 2).
Adicionalmente, os resultados da similaridade dos espectros UV em 3 pontos do
pico cromatográfico (upslope, downslope e top) evidenciam elevada pureza
cromatográfica do 4-NRC (50 µg mL-1) de 99,14%, 99,58% e 99,36%, respectivamente
(Figura 1), confirmando a seletividade do método. A análise de pureza do pico é uma
ferramenta útil no desenvolvimento de um método analítico, uma vez que permite a
detecção de impurezas durante a sua padronização. 22
Linearidade
A curva de calibração corresponde ao modelo matemático que estabelece uma
relação entre a resposta instrumental e a concentração do analito. Os critérios para
aceitação da curva de calibração seguem guias de validação publicados por agências
reguladoras oficiais. Em geral, o modelo de calibração deve ser construído a partir da
Capa Índice 6632
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
análise de 6 a 8 concentrações conhecidas do analito e o coeficiente de correlação linear
(r) deve ser igual ou superior a 0,98. 20,23,24
As curvas de calibração de 4-NRC e seus respectivos cromatogramas estão
representados na Figura 3. A linearidade do método foi expressa na faixa de 5,0 a 200
µg mL-1, quando o sinal analítico (variável dependente y) foi linearmente proporcional à
sua concentração (variável independente x). 25
As curvas de calibração obtidas no primeiro, segundo e terceiro dia de análise
podem ser expressas pelas Equações 3, 4 e 5, e os valores de coeficientes de correlação
linear (r) obtidos 0,9996; 0,9999 e 0,9996, respectivamente, estão de acordo com as
especificações. 20, 23,24
y = 14973x + 1823 (3)
y = 15128x – 7800,8 (4)
y = 16098x – 24522 (5)
Assim, a linearidade do método, testado por análise de regressão linear, bem
como a significância estatística da curva ajustada, assegura que o método desenvolvido
é linear, está ajustada na faixa de concentração estudada e possui forte relação entre os
valores, visto que não há diferença estatística significativa entre os mesmos (p <
0,001).26
Precisão e exatidão
A precisão de um método bioanalítico é a medida dos erros aleatórios e
representa a proximidade dos resultados obtidos a partir de medidas independentes de
amostragens múltiplas de uma amostra homogênea. Este é um importante parâmetro
que possibilita decidir se o método bioanalítico é confiável ou não para o objetivo da
análise. 23
A exatidão representa a concordância entre os resultados obtidos pelo método e
os valores nominais, aceitos como referência. Desta forma, a exatidão é determinada
para cada concentração dos três controles de qualidade através da concordância das
concentrações medidas e nominais do analito na amostra adicionada. 23
A precisão e a exatidão, avaliadas a partir de todas as concentrações do intervalo
linear do método, em triplicata, durante três dias distintos, resultaram em valores
sempre inferiores a 4,0% (precisão), assim como as concentrações determinadas
experimentalmente estão contidas no intervalo de 80 a 120% da concentração teórica do
analito (exatidão) (Tabela 2). Dessa forma, os valores de precisão e exatidão atendem a
Capa Índice 6633
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
RE 899/2003 da ANVISA.19 De acordo com a análise de variância ANOVA, verificou-
se inexistência de diferença significativa entre os valores de precisão intra-dia e inter-
dias (p 0,05).
Limite de Detecção e Quantificação
Os termos limite de quantificação (LQ) e de detecção (LD) são utilizados para
demonstrar a habilidade do método em quantificar ou detectar com precisão e exatidão
baixas concentrações de um analito.23 Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ)
calculados pelo ruído da linha de base foram, respectivamente, 1,35 e 4,5 µg mL-1.
Robustez
Avaliou-se a influência da variação do fluxo e da proporção de acetonitrila na
quantificação da área e no tempo de retenção em uma solução de 4-NRC a 50 µg mL-1
(Tabela 3). A análise estatística pelo método de regressão linear demonstrou que não
houve diferença significativa no método desenvolvido (p 0,05), devido às alterações
no fluxo e na composição da fase móvel, demonstrando que estas pequenas alterações,
passíveis de ocorrer na rotina laboratorial, não influenciam nos resultados obtidos para
seletividade, exatidão e precisão. 23, 27
Aplicabilidade do método
A recuperação (R) é definida como a razão percentual entre as quantidades de
analito presente na amostra teste extraído relativamente à solução padrão, em solvente
orgânico. Os intervalos aceitáveis de recuperação, dependendo da complexidade
analítica e da amostra, estão entre 50 e 120%, com precisão de até ± 15%.28 De acordo
com a RE 899/2003, não está estabelecido um valor mínimo para a recuperação em
amostras biológicas. Recomenda-se que o teste apresente precisão (DPR%) de até 20%
entre as replicatas de cada conjunto.19
Devido à alta lipofilicidade do analito (log P= 6,997 ± 0,37),² a recuperação
relativa experimental para compostos lipofílicos não representa a recuperação real do
fármaco na biofase, i.e. uma real transferência de massa em condições sink. Essa
recuperação aparente é resultado da difusão do analito pela membrana da sonda, bem
como da ligação à tubulação de microdiálise, dificultando o uso de microdiálise para
este tipo de substância. 14,29
Capa Índice 6634
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Dentre algumas alternativas descritas na literatura, o emprego de albumina18, 30,
31 no fluido de perfusão pode contribuir para aumentar a recuperação in vitro de uma
substância extremamente lipofílica. Portanto, altas recuperações de 4-NRC (Tabela 4)
presente em amostras de solução proteica podem possibilitar estudos futuros de
microdiálise cutânea utilizando substâncias naturais lipofílicas.
CONCLUSÃO
O método desenvolvido para a quantificação do extrato purificado de 4-NRC em
HPLC-PDA demonstrou atender aos requisitos da RE 899/2003 ANVISA para os
parâmetros de seletividade, linearidade, precisão, exatidão, robustez, limites de detecção
e quantificação. O procedimento de extração foi considerado simples, rápido, de baixo
custo e com resultados satisfatórios para a recuperação de 4-NRC adicionado à solução
de albumina. Portanto, conclui-se que o método analítico validado é aplicável na
determinação quantitativa de 4-NRC em amostras de dialisados na faixa de 5,0 a 200,0
µg mL-1, uma vez que se mostrou reprodutível e linear nessa faixa de trabalho.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e
a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG) pelo apoio financeiro.
A Profa. Dra. Kênnia Rocha Rezende pela valiosa contribuição ao trabalho.
Capa Índice 6635
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
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Capa Índice 6637
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Lista de Tabelas
Tabela 1. Dados do teste de adequação do sistema cromatográfico para determinação do 4-NRC em
amostras de microdiálise
T N Repetibilidade
(D.P.R, n=6)
4-NRC 2,0 4701,5 0,85%
FDA Guide ≤ 2,0 > 2000 < 1,0%
T: fator de cauda; N: pratos teóricos
Tabela 2. Dados de precisão e exatidão analíticas para quantificação do 4-NRC por HPLC-PDA
Concentração
(µg mL-1)
Média da área
do pico*
Desvio
padrão
DPR%
inter-corridas
DPR%
intra-corrida
Exatidão
%
200 3068222 129162 3,91 1,64 99,95
100 1542160 13660 1,48 1,37 100,8
50 741977 8284 2,23 2,14 97,68
25 371318 9929 2,66 1,54 99,08
10 142651 812 2,42 2,27 99,20
7,5 107366 2664 2,10 0,74 101,73
5 76502 3611 3,91 1,83 112,6
*Média de, no mínimo 06 injeções; DPR= coeficiente de variação
Tabela 3: Variação de fluxo e proporção de acetonitrila na fase móvel, no ensaio de robustez para
validação analítica do 4-NRC em HPLC-PDA
Parâmetros modificados Níveis Área* ± DPR% tR* ± DPR%
Fluxo (mL min-1) 0,950 624027 ± 0,58 9,023 ± 1,63
1,000 549644 ± 1,77 8,993 ± 0,84
1,050 521197 ± 0,52 8,219 ± 1,10
Acetonitrila (%) 52 608623 ± 1,45 7,291 ± 4,61
54 558248 ± 0,42 9,730 ± 3,50
56 605070 ± 0,36 8,196 ± 4,43
*n=3
Capa Índice 6638
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Tabela 4: Dados de recuperação (R) do 4-NRC adicionado à solução de proteína plasmática (BSA) 5%,
após análise em HPLC-PDA
Concentração (µg mL-1) Área do pico ± DPR*
(R ± DPR)
7,5 65329 ± 1,39 73,4 ± 3,0
10 104536 ± 1,95 95,1 ± 5,0
15 134984 ± 0,85 69,2 ± 2,0
* Média de, no mínimo, 03 extrações
Lista de Figuras
Figura 1: Estrutura química do 4-NRC e seu respectivo espectro de UV no início, topo e fim do pico
cromatográfico
250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 nm
0
50
100
150
200
250
mAU
Top / 10.369 minDownslope / 10.792 minUpslope / 10.113 min
Capa Índice 6639
Revisado pelo orientador 1. Joanna Cristina Silva Bastos (orientada); 2. Elissa Arantes Ostrosky (orientadora)
Figura 2: Cromatograma de 4-NRC a 50,0 μg mL-1 obtido em HPLC-PDA, coluna Phenomenex C18
(150 mm x 4,6 mm) com fluxo de 1,0 mL min-1
Figura 3: Cromatogramas de 4-NRC no intervalo de concentrações de 5,0 a 200,0 μg mL-1 em fase
móvel, tempo de retenção 10,5 min a 282 nm
0.0 2.5 5.0 7.5 10.0 12.5 min
0
25
50
mAU282nm,4nm (1.00)
9.52
4/15
1203
8
Capa Índice 6640
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO
REFORÇADAS POR MEIO DE ADIÇÃO DE CONCRETO E ARMADURA
Johnathan da Silva Ferreira, Andrea P. A. Reis Liserre, Aureo F. da Silva, Dilene A. Aguiar
Escola de Engenharia Civil EEC - UFG, 74605-220, Brasil [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected]
Palavras-chave: Viga, Concreto Armado, Reforço Estrutural, Encamisamento
1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
Apesar das estruturas em concreto armado serem bastante seguras quando executadas
de acordo com as prescrições das normas, falhas de projeto, de execução e até mesmo
alterações no uso das edificações podem provocar problemas nas edificações. Para evitar
acidentes, é possível reforço das vigas, mas para isso exige-se que o projetista seja capaz de
prever seu comportamento estrutural após a intervenção, a fim de adotar uma solução viável e
segura para os usuários da edificação.
Apesar de existirem inúmeras técnicas de reforço, ainda há lacunas de conhecimento
sobre o comportamento das estruturas reabilitadas. Isso porque muitas técnicas ainda se
baseiam na experiência empírica acumulada do engenheiro, devido ao caráter artesanal e
incomum dos processos de reabilitação, uma vez que cada problema enfrentado tem
características próprias.
Visando contribuir para uma melhor compreensão do comportamento estrutural das
estruturas reabilitadas, o presente trabalho teve como objetivo geral o estudo de vigas de
concreto armado reforçados por meio de encamisamento, aumentando-se as dimensões da
seção transversal da peça, adicionando-se uma nova camada de concreto à face tracionada que
envolve novas armaduras longitudinais. Com relação aos objetivos específicos optou-se por:
Fazer um levantamento dos principais trabalhos realizados sobre o comportamento
estrutural de vigas de concreto armado reforçadas por encamisamento, a fim de identificar
as lacunas de conhecimento sobre o desempenho deste tipo de estrutura;
Comparar o comportamento experimental de vigas reforçadas por encamisamento com o
comportamento teórico baseado em normas vigentes (NBR 6118:2003);
Verificar a influência do tipo de tratamento dado à superfície de contato entre os
materiais, e a influência do tipo e da posição dos conectores metálicos ou “nichos de
concreto” que cruzam a interface de ligação, na resistência final da peça reabilitada.
Capa Índice 6641
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6641 - 6655
2 - REVISÃO BILIOGRÁFICA
Existem várias técnicas de reabilitação de estruturas de concreto armado, dentre elas
pode-se citar: a protensão externa, a adição de chapas ou perfis metálicos, o uso de materiais
compósitos tais como fibras de carbono, e a adição de concreto com ou sem aço à seção
transversal do elemento. Essa última técnica, também conhecida por encamisamento da seção,
é relativamente simples, pois usa os materiais mais comuns da construção civil, que são o aço
e o concreto. Isso faz com que o custo da reabilitação seja bastante competitivo quando
comparado a outras técnicas, sendo uma das mais utilizada no Brasil. Este reforço é muito
empregado devido às suas vantagens econômicas e facilidade na execução. Porém, produz
elementos finais de dimensões superiores às iniciais, e exige um tempo de espera para que o
reforço atinja a resistência conveniente antes da liberação das ações na parte estrutural
reforçada.
O reforço de vigas pode ser feito a partir do aumento de sua seção transversal com
concreto de resistência adequada, e com ou sem acréscimo de armaduras longitudinais e
transversais. O aumento da seção geralmente é feito apenas na face tracionada e/ou
comprimida, envolvendo parcialmente a seção original da estrutura existente. Desta forma,
vigas reforçadas por encamisamento podem ser denominadas de vigas compostas, pois são
formadas pelo contato entre dois concretos moldados em idades diferentes, e que, portanto,
possuem características distintas.
Quando se faz reforço por encamisamento, uma das maiores preocupações é garantir a
aderência adequada entre o reforço (concreto novo) e o concreto original da peça (substrato)
para evitar o deslizamento entre as partes (Fig. 1), só assim a peça irá trabalhar
monoliticamente. Um recurso muito utilizado para garantir a monoliticidade é a adoção de
pinos que atravessam a interface dos dois concretos, os quais passam a resistir aos esforços de
cisalhamento que ali se desenvolvem. Esses pinos podem ser representados por estribos
prolongados, chumbadores, ou pequenas barras coladas com resinas (Fig. 2).
Como a avaliação da aderência entre o reforço e o substrato é um dos objetivos deste
trabalho, descreve-se a seguir, a maneira como a transferência de esforços é feita e os
principais fatores que interferem neste parâmetro. No caso, a transmissão de esforços entre
juntas ocorre de duas maneiras distintas:
por meio da superfície de contato entre materiais cimentícios;
por meio de armadura cruzando a interface.
Capa Índice 6642
Figura 1 - Transferência de tensões cisalhantes em vigas compostas (ARAÚJO, 1997)
Figura 2 – Pinos de ligação entre concretos (PIANCASTELLI, 2005)
A transferência por meio da superfície de contato entre materiais cimentícios é
subdividida em três parcelas: adesão, atrito e ação mecânica. A adesão ocorre devida a
absorção capilar, em que as partículas do concreto novo são gradualmente confinadas nos
poros capilares do concreto velho. Com a hidratação do concreto novo há um enlace físico
desse com as irregularidades do concreto velho. Este tipo de aderência é a primeira a ser
solicitada, mas é destruída para pequenos deslocamentos. O atrito começa a ser solicitado
imediatamente após o rompimento da adesão, sendo influenciado pela rugosidade da
superfície, tamanho dos agregados e resistência do concreto. A ação mecânica surge devido
ao engrenamento mecânico dos agregados, transferindo, diretamente, tensões normais e
cisalhantes. Segundo CARASEK (1996), para uma argamassa de reparo rica em aglomerante,
bastante fluida e pouco coesa, o gel cimentício penetra facilmente pelos poros e cavidades do
substrato, formando uma profunda ancoragem. Porém, no caso de excesso ou perda de água
da interface com o substrato poroso, as camadas da argamassa mais próximas ao substrato
tornam-se extremamente porosas, gerando falhas de aderência que podem comprometer o
Capa Índice 6643
reforço. A aderência do material de reforço ao substrato também é afetada pelo índice de
retração da argamassa, influenciado pela relação água/cimento, finura do agregado miúdo e
das adições usadas e está, intimamente, relacionado às condições ambientais de exposição do
reforço. Esta retração pode ocorrer devido à falta de molhagem do substrato de concreto e de
condições ambientais agressivas, devido à temperatura ou ventos.
Pode-se dizer, portanto que a transferência de esforços por meio da superfície de
contato se relaciona intimamente com a aplicação de água, nata de cimento ou outra “ponte de
aderência” específica para auxiliar a ligação entre o concreto do reforço e o substrato.
Certifica-se então que o tratamento realizado na superfície do substrato é de notória
importância para a obtenção de uma aderência eficaz.
A transferência de esforços por meio da armadura que cruza a interface pode ser
classificada em: efeito pino e efeito costura (confinamento). O efeito pino é mobilizado
quando a junta de concreto é solicitada por esforços de cisalhamento que provocam uma
tendência de deslizamento entre as partes em contato. Se existir armadura atravessando a
interface, esse movimento tenderá a cisalhá-la. A armadura, por sua vez, fornecerá uma
resistência ao corte que será somada à resistência fornecida pela superfície de contato. O
efeito costura da armadura que cruza a interface contribui na resistência porque aumenta o
atrito na interface, pois gera tensões normais que solicitam essas barras de aço. Esta tensão
normal surge devido a tendência de separação entre os dois concretos quando há deslizamento
relativo, o que provoca tração na armadura, e esta reage comprimindo a superfície,
aumentando a parcela de atrito. A Figura 3 mostra as tensões que surgem com o deslizamento
relativo na interface.
Figura 3 – Tensões na interface devido ao deslizamento relativo (ALI e WHITE, 1999)
Como o trabalho aqui desenvolvido foi na realidade o prosseguimento do trabalho
desenvolvido por SILVA (2011), descreve-se a seguir parte dos resultados obtidos por esta
pesquisadora. A diferença principal entre os trabalhos é que SILVA (2011) estudou, por meio
de ensaios experimentais, o comportamento de vigas de concreto armado reforçados por
Capa Índice 6644
encamisamento nas faces de compressão, já as vigas ensaiadas neste trabalho de iniciação
científica analisou o comportamento de vigas reforçadas na face tracionada.
SILVA (2011) levou à ruptura um total de onze vigas retangulares biapoiadas de
concreto armado, sendo duas monolíticas e nove reforçadas. O objetivo foi avaliar o
comportamento de vigas de concreto armado reforçadas por adição de uma camada de
concreto à face comprimida, usando conectores de cisalhamento para melhorar a aderência
entre o concreto antigo (substrato) e o novo concreto adicionado. Também foi observada a
influência do nível de pré-fissuração existente antes da execução do reforço no
comportamento final da peça reabilitada. A Figura 4 ilustra as características das vigas
ensaiadas.
Tipos de seções transversais estudadas
Figura 4: Características das vigas ensaiadas por SILVA (2011)
Após os ensaios, SILVA (2011) percebeu-se que ao acrescentar uma camada de 150
mm de concreto à face comprimida de uma viga, gerando um aumento de 60% na altura de
sua seção transversal, o ganho de resistência ao momento fletor obtido foi de praticamente
100%. Entretanto, para obter este ganho de resistência era preciso garantir a monoliticidade
das peças após a intervenção utilizando tanto uma armadura de confinamento na camada de
concreto adicionada, quanto uma armadura de costura (conectores de cisalhamento) para
melhorar a transferência de esforço entre o concreto novo e o concreto antigo da peça. Nem
sempre este comportamento monolítico foi observado, isso fica evidente ao perceber o
junta
junta junta
junta
junta
Capa Índice 6645
aparecimento de fissuras horizontais na região da junta (Fig. 5), indicando o desplacamento
parcial entre os concretos do reforço e o substrato.
Figura 5: Esquema de fissuração de uma viga reforçada por SILVA (2011)
Apesar disso, SILVA (2011) concluiu que todas as vigas reforçadas apresentaram
aumento de capacidade portante em relação à viga antes do reforço, sendo que a maioria
praticamente dobrou de resistência após a intervenção. Isso indica que a adição de uma certa
espessura de concreto à face comprimida pode proporcionar aumentos significativos na
resistência ao momento fletor de vigas de concreto armado. Além disso, praticamente em
todas as vigas reforçadas que possuíam conectores e armadura de confinamento, mesmo
naquelas pré-fissuradas antes da reabilitação, a capacidade portante foi próxima à de uma
peça monolítica de mesma seção transversal. A única peça que não teve comportamento
satisfatório foi justamente a que não possuía nem conector nem armadura de confinamento.
Isso sugere a importância de se dimensionar corretamente estes dois tipos de armadura para
garantir o monolitismo da peça e o bom desempenho da técnica de reforço aqui apresentada.
A boa transferência de esforço de cisalhamento ao longo da junta depende de uma
série de fatores, dentre eles, do tipo de conector de cisalhamento usado e da posição do
mesmo dentro da seção transversal da peça. No caso deste estudo, no qual se estudou a
eficiência de três conectores distintos, o mais eficaz experimentalmente foi o conector do tipo
“I” pois evitou o surgimento de fissuras ao longo da ligação entre concreto novo e antigo. Isso
indica que ainda são necessários mais estudos para avaliar quais características são desejáveis
para tal conector, a fim de garantir boa aderência entre concretos moldados em idades
distintas. Os ensaios realizados indicaram ser interessante fazer uma análise dos locais em
que estes conectores de cisalhamento devem ser colocados ao longo das peças reforçadas,
para que sua contribuição na resistência seja mais bem aproveitada. Para o caso em estudo, o
ideal talvez fosse colocar um maior número de conectores próximos de ¼ do vão da viga, pois
foi justamente nesta região que iniciava o desplacamento entre os concretos.
Capa Índice 6646
3 - PROGRAMA EXPERIMENTAL
Foram ensaiadas seis vigas biapoiadas, de 220 cm de comprimento, sendo duas
monolíticas e as demais reforçadas. As vigas monolíticas foram denominadas VM1 e VM2, e
possuíam seção transversal 15x20cm e 15x25 cm respectivamente. As vigas reforçadas foram
denominadas VR1, VR2, VR3 e VR4, e antes do reforço possuíam seções transversais
15x20cm, sendo que após o reforço, passavam a ter seção transversal de 15x25 cm. Foi
utilizado em todas as vigas estribos de aço CA-60 de 5,0mm espaçados a cada 10 cm, sendo
utilizado também barras de 5 mm CA-60 como porta-estribo. Inicialmente todas as vigas
foram armadas longitudinalmente com duas barras de aço de 16 mm na região tracionada. Nas
vigas reforçadas, foram adicionadas duas barras de aço de 10 mm a esta face, que foram
posteriormente envolvidas por uma camada de concreto de 5cm. A Figura 6 apresenta os
detalhes das vigas ensaiadas e das armaduras.
Vista longitudinal da peça antes do reforço
Figura 6: Tipos de seções transversais ensaiadas
As vigas reforçadas se diferenciavam em função do tipo de tratamento realizado na
junta de contato entre os concretos (com e sem escarificação), da presença ou não de
conectores metálicos cruzando a interface de contato, e da existência ou não de “nichos de
concreto” usados para aumentar a aderência entre os concretos. A Tabela 1 descreve as
características das vigas em função destes parâmetros. Os nichos de concreto aqui utilizados
Capa Índice 6647
se assemelham a “chaves de cisalhamento” usadas na ligação de laje e viga pré-moldada, e
podem ser visualizados na Figura 7.
Figura 7: Reforço de viga mediante “denteamento” (CANOVAS, 1988)
Tabela 1 – Características das Vigas Monolíticas e de Reforço
Vigas Característica VM1 Viga monolítica original (representa a peça antes do reforço) VM2 Viga monolítica de referência (representa a peça após o reforço) VR1 Viga sem tratamento superficial, sem chave de cisalhamento e sem conector VR2 Viga com tratamento superficial, sem chave de cisalhamento e sem conector VR3 Viga com tratamento superficial, com chave de cisalhamento e sem conector
VR4 Viga com tratamento superficial, sem chave de cisalhamento e com conector
Nas vigas que tiveram tratamento superficial, este foi feito escarificando-se o
substrato utilizando martelete elétrico, sendo realizado posteriormente a limpeza da
superfície. Na VR4 foi fixado conectores (armadura de costura) através de furos realizados
com furadeira, e colados com adesivo epóxi, conforme ilustra a Figura 8. Este conector tinha
o formato de “U” e auxiliou a fixar as novas barras longitudinais adicionadas à face
tracionada.
a) Conector metálico b) Detalhe da face tracionada reforçada
Figura 8 – Detalhe dos conectores fixados com adesivo epoxi na VR4
Armaduras de reforço
Armadura existente
Chaves de cisalhamento
conector Resina epóxi que extravasou do furo
Armadura do reforço
Armadura pré-existente
Capa Índice 6648
Para concretar o substrato utilizou-se concreto usinado auto-adensavável (CAA).
Após 90 dias realizou-se a concretagem do reforço, sendo utilizado um concreto convencional
produzido no Laboratório de Materiais de Construção da EEC-UFG. Para ambos os materiais
foram moldado corpos de prova para determinação das propriedades mecânicas do concreto,
cujos resultados estão representados na Tabela 2. Foram utilizadas formas metálicas medindo
220x60cm, sendo moldada duas vigas em cada forma, utilizando-se madeirite e caibro para
fazer o travamento e a subdivisão da estrutura, conforme ilustra a Figura 9. As vigas foram
concretadas invertidas (face tracionada voltada para cima), a fim de facilitar a preparação da
superfície para receber o reforço.
Nas vigas foram utilizados relógios comparadores para medir as flechas e
extensômetros para coletar as deformações do concreto e do aço. A posição destes
equipamentos estão na Figura 10. As vigas foram ensaiadas a flexão com aplicação de duas
cargas concentradas de mesma intensidade, posicionadas a 75 cm dos apoios, sendo utilizado
um pórtico de reação com todo aparato conforme detalhado na Figura 11. Tabela 2: Estimativa das propriedades dos materiais.
Concreto do Substrato Concreto do Reforço Escoamento do aço fcj (MPa) Ecj (GPa) fcj (MPa) Ecj (GPa) fy (MPa)
48,9 36,1 62,2 31,2 600
Figura 9 – Detalhe das formas
Capa Índice 6649
a. Relógios comparadores b. Extensômetros do Concreto
Posição dos extensômetros na armadura longitudinal
Figura10 – Detalhe da instrumentação
a) Esquema estático com duas cargas concentradas.
b) Aparato de ensaio
Figura 11 – Detalhe do esquema de ensaio
Capa Índice 6650
4 – ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para prever a capacidade portante das vigas utilizou-se a NBR 6118:2003. As cargas
teóricas foram determinadas usando o concreto do substrato, pois era ele que estava na parte
comprimida da estrutura. O concreto do reforço, apensar de ter uma resistência à compressão
maior que a do substrato, foi colocado na face tracionada e fissurada, portanto sua resistência
era desprezada nos cálculos.
A Tabela 3 apresenta os resultados das cargas de ruptura teórica e experimental das
vigas ensaiadas. Analisando estes resultados percebe-se que em termos de capacidade
portante, todas as vigas reforçadas apresentaram, em média, um ganho de resistência de 42%
se comparada à viga VM1 original, indicando que o reforço foi eficiente. Entretanto, nenhuma
viga atingiu a carga suportada pela VM2, que representava o comportamento de uma peça
monolítica. Isto indica que apesar do excelente desempenho, as vigas reforçadas não
trabalharam totalmente como monolíticas, pois não atingiram a mesma resistência da VM2.
Quanto à influência da chave de cisalhamento e do conector na resistência da peça,
verificou-se que todas as vigas reforçadas, independente do tipo de dispositivo usado para
melhorar a ligação entre os concretos do substrato e do reforço, atingiram praticamente a
mesma resistência. Isso sugere que estes dispositivos não tiveram influencia significativa.
Acredita-se que isso tenha ocorrido devido ao efeito arco, que fez com que as tensões
tangenciais desenvolvidas na junta fossem inferiores às estimadas usando as formulações
teóricas.
Ao contrário do que se esperava, a viga VR4 que usou conector, foi a que apresentou
menor resistência e maior flecha, sendo menos rígida que as demais. Acredita-se que isso
tenha ocorrido porque ao preencher os furos para posicionamento do conector, a resina epóxi
extravasava e se depositava sobre o substrato do concreto. Como esta resina não foi retirada
antes de se aplicar a nova camada de concreto, imagina-se que esta resina tenha prejudicado a
aderência entre os concreto, fazendo com que a VR4 rompesse um pouco antes que as demais
peças (Fig. 8). Outro fato que pode ter ocorrido é que nesta peça, a altura do reforço foi de 10
cm, ficando o substrato com apenas 15cm.
Analisando a Figura 12 referente às deformações da armadura longitudinal de 16mm
das vigas ensaiadas, pode-se perceber que todas vigas tiveram ruptura por escoamento da
armadura longitudinal. A viga VR2 pelos dados apresentados aparentemente não atingiu o
patamar de escoamento do aço, mas na realidade, o que ocorreu foi a perda do extensômetro
da barra de aço desta viga.
Capa Índice 6651
Tabela 3 – Carga de ruptura teórica e experimental
Vigas Pteor (kN) Pexp (kN) Pexp/Pteor Pexp/Pexp-VM2 VM1 - 83,6 92,5 1,11 0,61 VM2 - 141,9 150,6 1,06 1,00 VR1 - 133,4 132,5 0,99 0,88 VR2 Escarificada 133,4 135,5 1,02 0,90 VR3 Escarificada e chave 133,4 134,0 1,00 0,89 VR4 Escarificada e conector 133,4 125,0 0,94 0,83
Figura 12 – Carga x deformação da armadura longitudinal de 16mm
A Figura 13 apresenta as deformações da amadura longitudinal do reforço (barra
de 10 mm) acrescentada às vigas. No caso da VM2, a curva se refere à armadura da segunda
camada. Ao analisar o gráfico verifica-se que a vigas reforçadas apresentaram ruptura por
escoamento da armadura do reforço, mas a VM2 não teve escoamento da armadura
longitudinal de 10 mm, porém comparando os dados obtidos na figura 4.1 percebe-se que
houve a ruptura desta viga por escoamento da amadura de 16 mm, embora a armadura de 10
mm fixada na segunda camada não tenha atingido o escoamento. Nesta viga houve uma falha
no posicionamento da armadura, que ficou invertida em relação às posições das ferragens de
16mm e 10mm usadas nas vigas reforçadas. Se esta tivesse sido armada corretamente poderia
ter havido o escoamento da armadura de 10 mm e a de 16 mm talvez não escoasse.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Car
ga (k
N)
Deformação (mm/m)
VM1
VM2
VR1
VR2
VR3
VR4
Ey= 2,38 mm/m
Capa Índice 6652
Figura 13 – Carga x deformação da armadura longitudinal de 10mm
Analisando os resultados da Figura 14 percebe-se que as vigas atingiram a ruptura
sem ocorrer o esmagamento do concreto comprimido. Na VR1 o extensômetros não forneceu
leituras confiáveis, o mesmo ocorreu na viga VR2, impossibilitando assim afirmar a ruptura
ou não por esmagamento do concreto com base nestes dados. Porém, visualmente constatou-
se o esmagamento do concreto em todas as vigas ensaiadas, exceto na VR3.
Figura 14 – Carga x deformação do concreto
A Figura 15 mostra os deslocamentos verticais ocorridos no centro da viga, medidos
pelo relógio comparador R3. Analisando estes dados verifica-se que a viga monolítica VM2
apresentou a menor flecha e maior rigidez, e a viga monolitica VM1 teve a maior flecha e
menor rigidez. Isto era esperado pois a viga VM2 possui uma seção maior que a VM1 e
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Car
ga (k
N)
Deformação (mm/m)
VM2
VR1
VR2
VR3
VR4
Ey=2,38mm/m
020406080
100120140160180
-1 0 1 2 3 4 5
Car
ga (k
N)
Deformação (mm/m)
VM1
VM2
VR1
VR2
VR3
VR4
Ey=3,5 mm/m
Capa Índice 6653
também uma maior área de aço. Já as vigas VR1, VR2 e VR3 apresentaram praticamente os
mesmos deslocamentos verticais, porem estes eram um pouco maiores que a da viga
monolítica VM2, indicando que houve uma perda de rigidez devido ao reforço executado nas
peças reabilitadas, logo estas não podem ser consideradas com sendo perfeitamente
monolíticas. A VR4 teve flechas menores que a monolítica VM1, porém maiores que as
demais vigas, o que pode ter ocorrido devido ao reforço desta ser de 10 cm e não de 5cm.
Figura 15 – Gráfico do deslocamento vertical do meio da viga em função da carga
5 -CONCLUSÕES
A técnica de reforço estudada foi eficiente, pois todas as peças reforçadas
tiveram uma capacidade portante maior que a da viga original 15 x 20cm. Porém, mais
estudos são necessários para definir o melhor tipo de tratamento superficial a ser
aplicado, bem como a real influência das chaves de cisalhamento e dos conectores
cruzando a interface, na resistência da junta formada por concretos moldados em idades
distintas. Isso porque não se conseguiu avaliar a influência destes dispositivos
adequadamente com os ensaios realizados neste trabalho devido ao efeito arco. Este
efeito depende das dimensões da viga ensaiada, e afeta diretamente os valores das tensões
tangenciais que atuam na interface entre os concretos. As fórmulas teóricas usadas na
avaliação destas tensões tangenciais não consideram este efeito, o que faz com que as
tensões atuantes sejam superestimadas. Isso significa que na realidade, as tensões
atuantes na junta provavelmente não foram tão elevadas quanto se previa, daí o fato dos
conectores e da chave de cisalhamento não terem sido tão eficientes, uma vez que a
aderência existente entre os concretos possa ter sido suficientemente grande para resistir
às tensões tangenciais presentes nas vigas ensaiadas.
Capa Índice 6654
Os resultados da VM4 mostraram que é importante evitar que a resina epóxi
usada na fixação dos conectores metálicos extravase em demasia para a superfície do
concreto onde será aplicado o material do reforço, pois isso prejudica a aderência. Caso
este tipo de fato ocorra, recomenda-se limpar novamente o substrato antes da aplicação
da camada de concreto.
Dentre os tipos de tratamento dado à superfície, concluiu-se que a escarificação
usando martelete pneumático foi eficiente, pois o gráfico da flecha indicou que a rigidez
da VR1, sem tratamento, foi menor que a da VR2, com tratamento. No caso do martelete
pneumático, é preciso cuidado para fazer a escarificação para que o equipamento não
gere microfissuras no substrato, prejudicando ainda mais a resistência da peça a ser
recuperada.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela concessão da Bolsa de Iniciação Científica e aos técnicos do
Laboratório de Materiais e do Laboratório de Estruturas da EEC-UFG.
BIBLIOGRAFIA
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118:2003 - Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
ARAÚJO, D.L.. Cisalhamento na interface entre concreto pré-moldado e concreto moldado
no local em elementos submetidos à flexão. 1997. Dissertação (Mestrado). Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São Carlos, 1997.
PIANCASTELLI, E.M. (2005) Patologia e Terapia das Estruturas. (Material didático)
Disponível em: <http://www.demc.ufmg.br/elvio/> Acesso em ago.2009. REIS, A.P.A., (1998) Reforço de vigas de concreto armado por meio de barras de aço
adicionais ou chapas de aço e argamassa de alto desempenho. São Carlos. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, USP.
REIS, A.P.A. (2003). Reforço de vigas de concreto armado submetidas a pré-carregamento e
ações de longa duração com aplicação de concretos de alta resistência e concretos com fibras de aço. São Carlos. Tese (doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos - USP.
SILVA, P.M. (2011) Reabilitação de Vigas de Concreto Armado por encamisamento na Face
Comprimida. Goiânia. Dissertação (mestrado em andamento) - Escola de Engenharia - UFG.
Texto revisado pela orientadora - Profa. Andréa Prado Abreu Reis Liserre
Capa Índice 6655
Avaliação das Ferramentas PowerMock, EasyMock e Mockito sob a Perspectiva de Geração de Casos de Testes para a Fase de
Integração
Johnatha F. Freire, Cássio L. Rodrigues
Instituto de Informática – Universidade Federal de Goiás (UFG) Caixa Postal 131 – 74.001-970 – Goiânia – GO – Brazil
{johnathafreire, cassio}@inf.ufg.br
Abstract. Software can assume a great complexity and it requires fast and reliable methods for testing. The pursuit for automation might be a difficult task, although it saves time during the development process. This paper proposes an evaluation of mocking object tools used in unit testing and their capabilities to provide test cases for integration tests. Keywords: software engineering, software testing, mock objects, integration test. Resumo. A grande complexidade que um software pode assumir exige que haja métodos rápidos e eficientes para poder testá-lo. A procura pela automatização é uma tarefa que pode ser difícil, mas que poupa muito tempo durante o processo de desenvolvimento. Este artigo avalia ferramentas para mock objects durante o teste de unidade e suas capacidades de oferecer casos de teste para o momento da integração. Palavras-chave: engenharia de software, teste de software, mock objects, teste de integração.
1. Introdução
A atividade de teste consiste em uma análise dinâmica do software e é uma atividade
relevante para a identificação e eliminação de erros que persistem. O conjunto de
informações oriundo da atividade de teste é significativo para as atividades de depuração,
manutenção e estimativa de confiabilidade de software. Dentre as fases do teste de
software, há o teste de unidade — ou unitário —, cujo objetivo é identificar erros de lógica
e de programação na menor unidade programável [10].
O teste de unidade por si só é uma atividade complexa e sujeita a erros.
Atualmente, as unidades básicas de projetos, sejam elas funções ou classes, são
parametrizadas para serem reusadas em diversos contextos. Se por um lado essa
parametrização viabiliza o reuso da unidade, por outro ela representa um custo adicional
para a especificação de testes. As diversas possibilidades de parametrização da unidade
Capa Índice 6656
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6656 - 6669
tornam a especificação dos cenários de teste uma atividade complexa, permitindo que
certos cenários importantes não sejam considerados. Quando ocorre a integração, a
complexidade dos testes aumenta ainda mais, pois o número de possíveis interações entre
as unidades cresce exponencialmente quando combinados.
Diante da grande complexidade que um software pode assumir, torna-se obrigatório
que o projeto do mesmo seja definido seguindo uma decomposição hierárquica para dividir
um problema complexo em vários blocos de projeto de menor complexidade. As técnicas
de teste de software tiram proveito desta mesma decomposição para obter controlabilidade
e observabilidade [9].
A abordagem de teste alinhada com a decomposição hierárquica do projeto de fato
é capaz de viabilizar uma maior aderência do processo de teste com o processo de
software. No entanto, um desafio que ainda precisa ser suplantado é como reusar os
resultados de teste obtidos em unidades isoladas no momento de testar o sistema
resultante da integração das partes que o compõe? [8]
Esse trabalho tem como objeto de estudo o teste de integração em projetos que
empregam a técnica de Desenvolvimento Dirigido por Testes, também conhecida como
TDD (Test-Driven Development) [7, 11].
Na técnica de TDD, o código é direcionado pela escrita inicial de um caso de teste
automatizado, seguido pela escrita do código para atender ao teste e, por fim, a refatoração
[7]. Assim, a técnica é inversa à da programação convencional, que consiste em
desenvolver o código e depois escrever os respectivos testes, que podem ser executados de
forma manual ou automática. Uma escolha comum para executar testes escritos de acordo
com as regras do TDD é o JUnit.
JUnit é um framework simples, de código-aberto, para escrever e executar testes
repetitivos. Asserções para testar resultados esperados e dispositivos de teste para
compartilhar dados de teste em comum são algumas das funcionalidades oferecidas [6].
JUnit foi inicialmente escrito por Erich Gamma e Kent Beck [5].
Quando uma unidade é testada, deve-se procurar o seu isolamento. Isso significa
que a unidade deve ser executada sem depender de outras unidades [10]. Algumas questões
surgem no momento do teste unitário, por exemplo: como testar uma unidade que precisa
de uma unidade adicional ou de dados de outra unidade para ser executada? Uma solução é
usar mock objects, também utilizados no momento de escrever o código para atender um
teste baseado em TDD.
Capa Índice 6657
Mock objects são objetos que simulam o comportamento de objetos reais de forma
controlada. Geralmente, são usados caso o objeto real possua alguma(s) das seguintes
características [12]:
Gera resultados não determinísticos (e.g. hora ou temperatura atual);
Tem estados que são difíceis de criar ou reproduzir (e.g. erro de comunicação de
rede);
É lento (e.g. um banco de dados que precisa ser carregado inteiramente antes do
teste);
Ainda não existe ou pode ter o comportamento alterado;
Exigiria adição de informações e/ou métodos exclusivamente para os testes, sendo
desnecessários para a sua função real.
2. Objetivos
O objetivo desse trabalho é avaliar as ferramentas de mocking objects, empregadas em
TDD, verificando a capacidade delas em oferecer casos de teste para a fase de integração.
Dentre as diversas ferramentas disponíveis para se trabalhar com mock objects, serão
abordadas PowerMock, EasyMock e Mockito.
Esse trabalho contribui aprimorando as técnicas de teste de integração para que
comportamentos inesperados em sistemas de software sejam detectados e corrigidos antes
que os softwares entrem em uso efetivo pelo usuário final.
3. Metodologia
O desenvolvimento deste trabalho seguiu as seguintes etapas básicas:
1. Estudo sobre teste de software;
2. Aprofundamento do estudo de teste de software em relação a testes de integração e
TDD;
3. Avaliação das ferramentas PowerMock, EasyMock e Mockito sob a perspectiva de
geração de casos de teste para a integração;
4. Definição de orientações sobre como gerar casos de teste para a integração a partir
de mock objects criados com as ferramentas supracitadas.
Na proposta inicial, apresentada para este trabalho, estava definido que os frameworks
seriam JMock, EasyMock e Mockito. Contudo, esse trabalho faz parte de um trabalho
maior e eventuais alterações podem ocorrer durante seu desenvolvimento. Outro trabalho
Capa Índice 6658
de iniciação científica desse trabalho maior enfrentou problemas ao iniciar o estudo sobre
um framework que foi descontinuado. Devido às escassas informações sobre a ferramenta e
o fato de não ter uma comunidade oficial para dar suporte, houve uma dificuldade em
continuar com ela e optou-se por descartá-la.
Por isso, houve um remanejamento de ferramentas: JMock deixou de fazer parte do
escopo desse trabalho e foi substituído por PowerMock, por ter uma afinidade com os
outros frameworks aqui estudados.
4. Avaliando interações com mock objects em testes unitários
A ideia do trabalho consiste em sintetizar casos de teste a partir das interações da CUT com
os mock objects, através dos comportamentos definidos para eles.
Concluídos os passos 1 e 2 da Seção 3, inicia-se a etapa seguinte, que consiste em
avaliar a capacidade que as ferramentas citadas no passo 3 têm para oferecer casos de teste
para a integração. Para exemplificar os conceitos, bem como a técnica para gerar casos de
teste a partir dos testes com mock objects, será usado um sistema de notas de alunos [14].
Verificar a aprovação dos alunos é uma funcionalidade essencial e por esse motivo ela foi
escolhida para ser testada. Nesse sistema, o aluno faz parte de uma caderneta de notas de
uma disciplina, onde ele possui duas notas (nota 1 e nota 2), a nota final e sua frequência.
A partir desses dados é possível calcular sua aprovação [14].
A aprovação de um aluno está sujeita às seguintes condições:
1. Aluno reprovado por falta: frequência menor do que 75%;
2. Aluno reprovado por nota: frequência maior ou igual a 75% e média inferior a 3,0;
3. Aluno aprovado por nota: frequência maior ou igual a 75% e média maior ou igual
a 7,0;
4. Aluno aprovado na final: frequência maior ou igual a 75% e nota final maior ou
igual a 5,0;
5. Aluno reprovado na final: frequência maior ou igual a 75% e nota final menor do
que 5,0;
A estrutura do sistema é formada pelas classes Aluno, AlunoDAO, suas
respectivas interfaces e Caderneta, sendo essa última a CUT. Para que o teste possa ser
feito, será necessário ao menos uma instância da classe Aluno e uma de AlunoDAO.
Capa Índice 6659
Três etapas são necessárias para a apresentação da técnica: criação dos casos de
teste com mock objects, análise estática e avaliação da possibilidade de extrair informações
do teste unitário com mock objects para o teste de integração.
4.1.Criação de Casos de Teste com Mock Objects
O código para mock abaixo foi gerado usando o Mockito.
Código-Fonte 1: Exemplo de código para teste usando o Mockito 1 import junit.framework.TestCase; 2 import org.junit.Before; 3 import org.junit.Test; 4 import org.mockito.Mockito; 5 6 public class TesteAlunoAprovadoMockito extends TesteCase { 7 private AlunoDAOInterface alunos; 8 private AlunoInterface aluno1; 9 private Caderneta caderneta; 10 11 @Before 12 public void setUp() { 13 alunos = Mockito.mock(AlunoDAOInterface.class); 14 aluno1 = Mockito.mock(AlunoInterface.class); 15 caderneta = new Caderneta(alunos); 16 } 17 18 @Test 19 public void testaAlunoAprovado() { 20 Mockito.when(alunos.contem(aluno1)).thenReturn(true); 21 Mockito.when(alunos.procuraAluno(“Marco”)).thenReturn(aluno1); 22 Mockito.when(aluno1.getNome()).thenReturn(“Marco”); 23 Mockito.when(aluno1.gerFrequencia()).thenReturn(75); 24 Mockito.when(aluno1.getNota1()).thenReturn((float)70); 25 Mockito.when(aluno1.getNota2()).thenReturn((float)70); 26 assertTrue(caderneta.verificaAprovacao(aluno1.getNome())); 27 } 28 }
Como o teste é unitário, há um isolamento da CUT. Isso significa que o único
objeto concreto é caderneta; os outros dois — alunos e aluno1 — são objetos mock e seus
comportamentos são definidos no momento da criação do teste.
A execução desse código e teste, como esperado, falha, já que nenhuma das classes
foi definida ou implementada [7]. Para que o teste passe, é necessário que Caderneta seja
implementada e que as interfaces de Aluno e AlunoDAO sejam conhecidas. Seguem-se
então os códigos:
Código-Fonte 2: Interface de Aluno 1 public interface AlunoInterface {
2 public abstract void setNome(String nome);
3 public abstract void setNota1(float nota1);
4 public abstract void setNota2(float nota2);
5 public abstract void setNotaFinal(float notaFinal);
6 public abstract void setFrequencia(int frequencia);
Capa Índice 6660
7 public abstract void setCodigo(int codigo);
8 public abstract String getNome();
9 public abstract float getNota1();
10 public abstract float getNota2();
11 public abstract float getNotaFinal();
12 public abstract int getFrequencia();
13 public abstract int getCodigo();
14 }
Código-Fonte 3: Interface de AlunoDAO
1 import java.util.List;
2
3 public interface AlunoDAOInterface {
4 public abstract void inserir(Aluno aluno);
5 public abstract void remover (Aluno aluno);
6 public abstract void atualizar(Aluno antigo, Aluno novo);
7 public abstract List<Aluno> listarAlunos();
8 public abstract Aluno procuraAluno(String nome);
9 public abstract boolean contem(Aluno aluno);
10 }
Código-Fonte 4: Classe Caderneta
1 public class Caderneta {
2 public Caderneta(AlunoDAO alunos) {
3 this.alunos = alunos;
4 }
5
6 private AlunoDAO alunos;
7
8 public boolean verificaAprovacao(String nomeAluno) {
9 aluno aluno1 = alunos.procuraAluno(nomeAluno);
10 return calculaAprovacao(aluno1);
11 }
12
13 public boolean calculaAprovacao(Aluno aluno) {
14 if (((aluno.getNota1() + aluno.getNota2())/2 >= 70.0
15 && aluno.getFrequencia() >= 75)) return true;
16 else if (aluno.getNotaFinal() >= 50.0
17 && aluno.getFrequencia() >= 75) return true;
18 else return false;
19 }
20 }
Capa Índice 6661
4.2 Análise Estática Nesse momento será feita uma análise do Código-Fonte 1 à procura de colaboradores. Os
colaboradores são os objetos dos quais a CUT depende para ser executada. Observando-se
o código, conclui-se que Aluno e AlunoDAO são colaboradores da CUT, identificados
pelas suas respectivas instâncias, aluno1 e alunos.
Agora que são conhecidas quais entidades fazem interação com a CUT, o código do
teste pode ser analisado afim de encontrar informações que ajudarão na construção dos
testes para a próxima etapa, a integração. No momento da integração, é necessário que as
unidades estejam devidamente testadas e estejam funcionando de acordo com o esperado.
Todas as unidades estarão implementadas e não serão usados mock objects [10].
Para verificar se as unidades estão funcionando como o esperado quando realmente
trabalham com as outras, JUnit será usado. O JUnit oferece muitas asserções para que
sejam feitas comparações entre o valor esperado e o valor retornado por um método. É
natural inferir que os tipos de retorno dos métodos das unidades devem ser avaliados, à
procura de informações para construir o teste usando JUnit.
4.2.1 Da escrita sintática do mock object para a escrita sintática do JUnit
Como exemplo, seja a seguinte linha do Código-Fonte 1:
Mockito.when(aluno1.getNota1()).thenReturn((float) 70);
Como se trata de um mock object, retornar 70 quando getNota1() for chamado, é um
comportamento definido para esse objeto, não é o valor realmente calculado ou salvo pela
entidade, uma vez que ela está sendo simulada e provavelmente nem foi implementada.
Esse valor de retorno pode ocupar o campo de valor esperado em uma asserção do JUnit.
Nesse caso, como será feita uma comparação entre o valor retornado e o valor esperado,
será usado assertEquals. Segue-se então:
assertEquals(70.0, aluno1.getNota1());
O primeiro argumento de assertEquals é o valor esperado e o segundo o
retorno apresentado pelo método sob teste. De forma análoga, pode-se conseguir
informações necessárias para outros tipos de retorno, bem como para os outros frameworks
abordados. Esses outros casos estão ilustrados nas Tabelas 1 e 2.
Capa Índice 6662
5. Análise dos Resultados
As ferramentas abordadas nesse trabalho possuem limitações. No exemplo dado, tais
limitações não ficaram evidentes, uma vez que o código foi escrito adaptado, de acordo
com os critérios do TDD. Os frameworks Mockito e EasyMock apresentam limitações em
comum: não podem ser utilizados para testar métodos static, private e final [13].
Entretanto, EasyMock disponibiliza uma extensão, para que tais limitações sejam supridas
[1]. Mockito não possui uma extensão que permita testes com métodos que compõem suas
limitações [4]. Contudo, existe uma extensão que supre essas necessidades, o PowerMock,
um projeto independente, que oferece mais funcionalidades para os frameworks
supracitados e existe uma versão para cada um deles [16]. A sintaxe dos testes não muda
quando o PowerMock é usado, pois ele foi desenhado para estender os frameworks e não
substitui-los [13, 15, 16]. Apenas algumas linhas devem ser adicionadas, como pode ser
visto no Código-Fonte 5.
No exemplo dado, percebeu-se que é possível obter casos de teste totais, apenas
avaliando-se as interações do mock object com a CUT. De fato, sob a maioria das
circunstâncias, o teste pode ser derivado completamente apenas verificando-se a definição
do comportamento do mock object. Porém, há um problema em potencial quando o tipo de
retorno é um TAD – Tipo Abstrato de Dado. Como visto no Código-Fonte 1, na linha 21,
há a seguinte instrução:
Mockito.when(alunos.procuraAluno(“Marco”)).thenReturn(aluno1);
Observa-se que é definido para o mock object retornar um objeto do tipo Aluno
quando o método procuraAluno for chamado com o parâmetro “Marco”.
Aparentemente, não há nenhum problema em usar a asserção assertEquals do JUnit
para esse caso, uma vez que também pode ser usada para comparar objetos.
O problema reside numa característica da linguagem Java: como é feita a
comparação de objetos. Quando objetos são instanciados, cada um deles tem um código
interno de identificação única, o hashCode. Quando um método de comparação é acionado
para dois objetos, por padrão, Java verifica os hashCodes desses objetos para decidir se são
iguais ou não. Serão considerados iguais objetos que apresentarem o mesmo hashCode [2,
3]. Isso acontece quando duas referências apontam para o mesmo objeto, ou seja,
referenciam a mesma instância.
Capa Índice 6663
No exemplo do trabalho e em inúmeras situações reais, essa comparação é pouco
produtiva. Se houvessem dois alunos, aluno1 e aluno2, exatamente com os mesmos
valores em seus atributos, assertEquals(aluno1, aluno2) falharia, pois são
instâncias diferentes [3]. Para que sejam considerados iguais, o método herdado de Object,
equals, deve ser sobrescrito pela classe Aluno e deve haver um atributo de identificação
única, que, na classe Aluno, é codigo. O Código-Fonte 6 mostra uma sugestão de
implementação do método equals para Aluno. Outro método também herdado de Object
deve ser sobrescrito, o método que gera o código hash, hashCode [2].
Comparar resultado esperado com resultado fornecido quando o valor é um TAD é
um caso onde o teste não pode ser derivado completamente sem uma manipulação das
classes envolvidas. Nem sempre alterações no código serão bem-vindas e podem ser um
empecilho no momento de tentar automatizar o teste. Todavia, o teste pode ser derivado
parcialmente, sem alterações no código original, pois o comportamento do mock object
ainda diz qual é o valor esperado para a execução daquele método.
Outro caso que dificulta a geração de casos de teste completos automaticamente é
métodos void. Por não apresentarem absolutamente nenhum retorno, não há como definir
um valor esperado para sua execução. A sugestão dada é transformar os métodos void
em boolean, acrescentar comandos que retornem true quando o método executar
corretamente e false quando sofrer algum tipo de exceção. O teste então poderá ser feito
através do assertTrue ou assertFalse; a escolha da asserção dependerá da
semântica do método e o que é esperado do teste – que ele falhe ou obtenha sucesso.
Mais um caso que não permite derivar casos de teste completamente é quando há
listas de elementos. No Código-Fonte 3, na linha 7, há um método que retorna uma lista de
alunos. JUnit não oferece nenhuma asserção que possa ser usada para julgar a execução do
teste com esse método. Contudo, algumas alterações no código permitem que isso seja
possível. JUnit oferece assertArrayEquals, que pode ser de qualquer tipo, inclusive
um TAD. Mudando o tipo de retorno de List<Aluno> para Aluno[] e fazendo as
alterações necessárias no código, o teste poderá ser feito com aquela asserção.
Outros casos com valores de tipos diferentes dos citados acima apresentam testes
derivados completos, sem alterações no código original.
Dentre as ferramentas exercitadas nesse trabalho, não há dificuldade maior ou
menor entre elas no momento de escrever os mock objects. Obviamente, cada ferramenta
Capa Índice 6664
tem a sua sintaxe, porém os nomes dos métodos são intuitivos, tanto em EasyMock quanto
em Mockito.
Código-Fonte 5: Código definido para o uso do PowerMock estendendo o Mockito 1 import junit.framework.TestCase; 2 import org.junit.Before; 3 import org.junit.runner.RunWith; 4 import org.powermock.core.classloader.annotations.PrepareForTest; 5 import org.powermock.modules.junit4.PowerMockRunner; 6 import org.junit.Test; 7 import org.mockito.Mockito; 8 import static org.powermock.api.mockito.PowerMockito.mockStatic; 9 10 @RunWith(PowerMockRunner.class) 11 12 @PrepareForTest(AlunoDAO.class) 13 14 /* Restante do código segue idêntico ao Código-Fonte 1 */
5.1 Métodos sobrescritos para comparação entre objetos
Como dito na Seção 5, o comportamento apresentado por assertEquals quando usado
para comparar dois objetos pode não corresponder ao esperado. Para que ele realmente
verifique que dois objetos são iguais, dois métodos deverão ser sobrescritos na classe dos
objetos que se deseja comparar. Uma sugestão de implementação é dada abaixo:
Código-Fonte 6: Sugestão de Implementação para Aluno
1 @Override 2 public boolean equals(Object obj) { 3 if(this == obj) return true; 4 if(obj == null) return false; 5 if(this.getClass() != obj.getClass()) return false; 6 Aluno aux = (Aluno) obj; 7 if(aux.getCodigo() != this.getCodigo()) return false; 8 else return true; 9 } 10 11 @Override 12 public int hashCode() { 13 int hash = 7; 14 hash = 61 * (hash + this.codigo); 15 return hash; 16 }
Após a adição desse código em Aluno, assertEquals retornará verdadeiro caso
dois alunos possuam o mesmo codigo.
5.2 De mock para JUnit As duas tabelas abaixo resumem como se pode sair da escrita sintática do mock para o
JUnit.
Capa Índice 6665
Tabela 1. Código mock escrito com EasyMock
Tabela 2. Código mock escrito com Mockito
Não foi apresentada uma tabela para PowerMock, pois seria redundante. Como já
dito anteriormente, o fato de usar o PowerMock não provoca a necessidade de rescrita do
código.
Baseando-se nas Tabelas 1 e 2, sugere-se o seguinte algoritmo para derivar casos de
teste a partir dos comportamentos definidos para os mock objects escritos com Mockito e
EasyMock:
1. Verificar o valor definido na cláusula thenReturn (Mockito) ou andReturn
(EasyMock);
Código do mock object Código do JUnit
EasyMock.expect(x.getIntNumber()).andReturn(10); assertEquals(10, x.getIntNumber());
EasyMock.expect(x.getFloatNumber()).andReturn(15.3); assertEquals(15.3, x.getFloatNumber());
EasyMock.expect(x.getDoubleNumber()).andReturn(0.23); assertEquals(0.23, x.getDoubleNumber());
EasyMock.expect(x.getString()).andReturn(“teste”); assertEquals(“teste”, x.getString());
EasyMock.expect(x.getObject()).andReturn(objeto1); assertEquals(objeto1, x.getObject());
EasyMock.expect(x.getChar()).andReturn(‘c’); assertEquals(‘c’, x.getChar());
EasyMock.expect(x.isEmpty()).andReturn(true); assertTrue(x.isEmpty());
EasyMock.expect(x.isFull()).andReturn(false); assertFalse(x.isFull());
EasyMock.expect(x.getIntArray().andReturn(vetor1); assertArrayEquals(vetor1,x.getIntArray());
Código do mock object Código do JUnit
Mockito.when(x.getIntNumber()).andReturn(10); assertEquals(10, x.getIntNumber());
Mockito.when(x.getFloatNumber()).andReturn(15.3); assertEquals(15.3, x.getFloatNumber());
Mockito.when(x.getDoubleNumber()).andReturn(0.2345); assertEquals(0.2345,x.getDoubleNumber());
Mockito.when(x.getString()).andReturn(“teste”); assertEquals(“teste”, x.getString());
Mockito.when(x.getObject()).andReturn(objeto1); assertEquals(objeto1, x.getObject());
Mockito.when(x.getChar()).andReturn(‘c’); assertEquals(‘c’, x.getChar());
Mockito.when(x.isEmpty()).andReturn(true); assertTrue(x.isEmpty());
Mockito.when(x.isFull()).andReturn(false); assertFalse(x.isFull());
Mockito.when(x.getIntArray().andReturn(vetor1); assertArrayEquals(vetor1,x.getIntArray());
Capa Índice 6666
2. Se o valor for do tipo boolean, então se define uma assertTrue ou assertFalse.
O parâmetro deve ser o método chamado na cláusula when (Mockito) ou expect
(EasyMock);
3. Se o valor for um tipo primitivo ou string, então se define uma assertEquals. O
primeiro parâmetro será o valor analisado no Passo 1 e o segundo, o método chamado na
cláusula when (Mockito) ou expect (EasyMock);
4. Se o valor for um TAD, deve-se atentar para as observações feitas sobre esse
tipo na Seção 5. Caso opte-se por fazer as alterações sugeridas, então se define uma
assertEquals, na qual o primeiro parâmetro será o valor analisado no Passo 1 e o segundo,
o método chamado na cláusula when (Mockito) ou expect (EasyMock). Caso contrário, o
teste não poderá ser derivado completamente e somente o valor esperado será fornecido,
que é o valor obtido no Passo 1.
Com os passos definidos acima, pode-se, então, construir os casos de teste para a
fase de integração.
6. Considerações Finais
Após o estudo do que é teste de software, as etapas do teste e o uso de mock objects, bem
como esse estudo de caso usando o exemplo do sistema de alunos, chega-se à conclusão de
que é sim possível derivar casos de teste para a fase de integração avaliando o
comportamento definido para os mock objects na fase de teste unitário.
Como apresentado na Seção 5, nem sempre é possível derivar os testes
completamente, mas há alternativas para se chegar a esse objetivo. Contudo, deve-se
avaliar qual o impacto que essas mudanças terão no desenvolvimento do projeto e se será
proveitoso fazer tais alterações. Essa decisão fica a critério da equipe de desenvolvimento,
pois é composta por quem tem amplo conhecimento dos detalhes do projeto e está mais
apta a avaliar as consequências que mudanças no código trarão.
As deficiências do EasyMock e do Mockito são supridas pelo PowerMock, que
funciona como extensão para essas duas ferramentas. PowerMock ajuda bastante quando
for utilizado um design pattern como o Singleton, por exemplo. O problema surge quando
não se pode usar as implementações reais dos serviços e então é necessário sobrescrever o
comportamento deles. PowerMock permite então sobrescrever um método estático para
retornar uma implementação falsa, ou seja, um mock object [15].
Capa Índice 6667
Esse trabalho possui o objetivo maior de descrever a possibilidade de extração de
casos de teste a partir das interações da CUT com os mock objects e verificar o grau de
automatização que pode haver. Uma forma de dar continuidade a esse estudo é a criação de
uma ferramenta que implemente os passos sugeridos para automatizar a geração de casos
de teste.
Referências [1] EasyMock. Disponível em http://www.easymock.org [Último acesso: 22/07/2012]. [2] Java Platform Standart Edition 7 Documentation. Disponível em http://docs.oracle.com/javase/7/docs/ [Último acesso: 22/07/2012]. [3] Java Programming/Comparing Objects. Disponível em http://en.wikibooks.org/wiki/Java_Programming/Comparing_Objects [Último acesso: 22/07/2012]. [4] Mockito, simpler & better mocking. Disponível em https://code.google.com/p/mockito/ [Último acesso: 22/07/2012]. [5] Resources for Test Driven Development. Disponível em http://www.junit.org/ [Último acesso: 21/07/2012]. [6] JUnit. Disponível em http://junit.sourceforge.net [Último acesso: 21/07/2012]. [7] K. Beck. TDD Desenvolvimento Guiado por Testes. Bookman, 2010. [8] A. Bertolino. Future of software engineering, FOSE'07, Software testing research: achievements, challenges, dreams, pages 85 — 103. IEEE Computer Society, Washington, DC, USA, 2007. [9] R. V. Binder. Testing object-oriented systems: models, patterns and tools. Addison Wesley Longman Publishing Co., Inc., Boston, MA, USA, 1999. [10] M. Delamaro, M. Jino e J. Maldonado. Introdução ao Teste de Software. Campus, São Paulo, 2007. [11] C. Desai, D. Janzen e K. Savage. A survey of evidence for test-driven development in academia. SIGCSE Bull., June 2008. [12] L. Hackin. Mock Objects no Simple Test. Disponível em http://imasters.com.br/artigo/15259/php/mock-objects-no-simpletest [Último acesso: 21/07/2012].
Capa Índice 6668
[13] Sérgio M. Mockear métodos estáticos, privados, finales y mas com PowerMock. Disponível em http://tododev.wordpress.com/tag/powermock/ [Último acesso: 23/07/2012]. [14] S. F. Souto. Geração automática de testes com objetos mock baseados em interações. Mestrado, Ciência da Computação, Universidade Federal de Campina Grande, 2010. [15] S. Victor. Mock de métodos estáticos em Java. Disponível em http://victorserta.com.br/blog/2012/01/19/mock-de-metodos-estaticos-em-java/ [Último acesso: 22/07/2012]. [16] PowerMock. Disponível em http://code.google.com/p/powermock/ [Último acesso: 23/07/2012].
REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 6669
ESTUDO DO EFEITO PRÓ-APOPTÓTICO DE UM COMPOSTO DE RUTÊNIO
SOBRE CÉLULAS TUMORAIS DE CARCINOMA DE PULMÃO HUMANO (A549)
SOARES, Jordana Ribeiro; LIMA, Aliny Pereira; PORTO, Hellen Karine Paes; SILVEIRA-
LACERDA, Elisângela de Paula
Laboratório de Genética Molecular e Citogenética, Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Goiás - UFG, 74001-970, Goiânia, Goiás, Brasil
e-mail: [email protected]; [email protected]
PALAVRAS-CHAVES: Apoptose, Atividade antitumoral, Expressão gênica Neoplasia,
Rutênio
1. Introdução
Até o início do século XX, o câncer de pulmão era considerado uma doença rara.
Desde então, sua ocorrência vem se tornando mais frequente na população mundial e
consequentemente a causa mais significante de morte por câncer. Estimativas demonstram
que, no Brasil ocorrerão cerca de 17.210 casos novos de câncer de pulmão em homens e
10.110 casos novos de câncer de pulmão em mulheres no biênio 2012/2013. (INSTITUTO
NACIONAL DO CANCER, 2011).
O câncer é resultado de um conjunto de manifestações patológicas, que se
desenvolvem em três etapas: iniciação, promoção e progressão, que se caracterizam pela
perda de controle da proliferação celular e ganho de capacidade de invadir tecidos adjacentes
ou de sofrer metástases para tecidos distantes (Figura 1). O acúmulo dessas alterações
genéticas e epigenéticas é consequência direta de mutações em um ou mais genes que
regulam o crescimento celular e a morte celular programada (GRIFFITHS et al., 2001;
PINTO & FELZENSZWALB, 2003; de ALMEIDA et al., 2005; NUSSBAUM et al., 2008).
Duas classes de genes estão envolvidas no desenvolvimento do câncer: os proto-
oncogenes e os genes supressores de tumor os quais estimulam e inibem os processos de
divisão celular respectivamente. Em decorrência das mutações, os proto-oncogenes são
ativados e transformados em oncogenes, que são carcinogênicos e causam multiplicação
celular excessiva. Os genes supressores de tumores, por sua vez, são inativados podendo levar
ao acúmulo de sucessivas anormalidades genéticas (RIVOIRE, et al., 2001; ALBERTS, 2004;
LODISH et al. 2005).
1. Graduanda em Ciências Biológicas - Aluna de Iniciação Científica – PIVIC 2. Doutoranda – Biologia Celular e Molecular – Instituto de Ciências Biológicas - UFG 3. Mestre em Ciências Farmacêuticas - Faculdade de Farmácia - UFG 4. Profª. Drª do Departamento de Biologia Geral – Instituto de Ciências Biológicas - UFG - Orientadora
Revisado pela Profª. Drª. Elisângela de Paula Silveira Lacerda
ESTUDO DO EFEITO PRÓ-APOPTÓTICO DE UM COMPOSTO DE RUTÊNIO
SOBRE CÉLULAS TUMORAIS DE CARCINOMA DE PULMÃO HUMANO (A549)
SOARES, Jordana Ribeiro; LIMA, Aliny Pereira; PORTO, Hellen Karine Paes; SILVEIRA-
LACERDA, Elisângela de Paula
Laboratório de Genética Molecular e Citogenética, Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Goiás - UFG, 74001-970, Goiânia, Goiás, Brasil
e-mail: [email protected]; [email protected]
PALAVRAS-CHAVES: Apoptose, Atividade antitumoral, Expressão gênica Neoplasia,
Rutênio
1. Introdução
Até o início do século XX, o câncer de pulmão era considerado uma doença rara.
Desde então, sua ocorrência vem se tornando mais frequente na população mundial e
consequentemente a causa mais significante de morte por câncer. Estimativas demonstram
que, no Brasil ocorrerão cerca de 17.210 casos novos de câncer de pulmão em homens e
10.110 casos novos de câncer de pulmão em mulheres no biênio 2012/2013. (INSTITUTO
NACIONAL DO CANCER, 2011).
O câncer é resultado de um conjunto de manifestações patológicas, que se
desenvolvem em três etapas: iniciação, promoção e progressão, que se caracterizam pela
perda de controle da proliferação celular e ganho de capacidade de invadir tecidos adjacentes
ou de sofrer metástases para tecidos distantes (Figura 1). O acúmulo dessas alterações
genéticas e epigenéticas é consequência direta de mutações em um ou mais genes que
regulam o crescimento celular e a morte celular programada (GRIFFITHS et al., 2001;
PINTO & FELZENSZWALB, 2003; de ALMEIDA et al., 2005; NUSSBAUM et al., 2008).
Duas classes de genes estão envolvidas no desenvolvimento do câncer: os proto-
oncogenes e os genes supressores de tumor os quais estimulam e inibem os processos de
divisão celular respectivamente. Em decorrência das mutações, os proto-oncogenes são
ativados e transformados em oncogenes, que são carcinogênicos e causam multiplicação
celular excessiva. Os genes supressores de tumores, por sua vez, são inativados podendo levar
ao acúmulo de sucessivas anormalidades genéticas (RIVOIRE, et al., 2001; ALBERTS, 2004;
LODISH et al. 2005).
1. Graduanda em Ciências Biológicas - Aluna de Iniciação Científica – PIVIC 2. Doutoranda – Biologia Celular e Molecular – Instituto de Ciências Biológicas - UFG 3. Mestre em Ciências Farmacêuticas - Faculdade de Farmácia - UFG 4. Profª. Drª do Departamento de Biologia Geral – Instituto de Ciências Biológicas - UFG - Orientadora
Revisado pela Profª. Drª. Elisângela de Paula Silveira Lacerda Capa Índice 6670
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6670 - 6682
Figura 1: Desenvolvimento do câncer. (MODIFICADO HARRIS, 1991)
A apoptose é uma forma típica de morte celular programada que desempenha um
importante papel no desenvolvimento celular que pode ser mediada tanto por via extrínseca a
qual é acionada por estímulos externos quanto por via intrínseca ou mitocondrial. Estas vias
culminam com a ativação de proteases conhecidas como caspases executoras ou efetoras,
responsáveis pela clivagem de substratos específicos, que levaram a condensação e
fragmentação nuclear e sinalização para a fagocitose da célula por macrófagos (COHEN,
1997; KAUFMANN AND EARNSHAW, 2000; GRIVICICH et al., 2007).
A via extrínseca é desencadeada pela ligação de ligantes específicos a um grupo de
receptores de membrana da superfamília dos receptores de fatores de necrose tumoral (rTNF).
Esta ligação é capaz de ativar a cascata das caspases. Todos os membros da família rTNF
possuem um subdomínio extracelular rico em cisteína, o qual permite que eles reconheçam
seus ligantes. Tal fato resulta na trimerização e consequente ativação dos receptores de morte
específicos. A sinalização a seguir é mediada pela porção citoplasmática desses receptores
que contém uma seqüência de 65 aminoácidos chamada "domínio de morte" sendo, por isso,
chamados de "receptores de morte celular". Quando os receptores de morte celular
reconhecem um ligante específico, os seus domínios de morte interagem com moléculas
conhecidas como FADD/MORT-1. Essas moléculas têm a capacidade de recrutarem a
caspase-8 que irá ativar a caspase-3, executando a morte por apoptose como pode ser
Capa Índice 6671
observado na Figura 2 (BUDIHARDJO I et al., 1999; NAISMITH JH et al., 1998; DANIEL
PT et al., 2001).
A via intrínseca é ativada por estresse intracelular ou extracelular como a deprivação
de fatores de crescimento, danos no DNA, hipóxia ou ativação de oncogenes. Um dos mais
importantes reguladores da via intrínseca é a família de proteínas BCL-2, a qual inclui
membros pró-apoptóticos (BAX, BAK, BAD, BID, BIM e) e anti-apoptóticos (BCL-2, BCL-
XL, BCL-W, BFL1 e MCL-1). Os membros pró-apoptóticos atuam como promotores de
apoptose via mitocondrial, essa organela integra os estímulos de morte celular, induzindo a
permeabilização mitocondrial e consequente liberação de moléculas pró-apoptóticas
(citocromo c) nela presentes, desencadeando uma cascata que culminará na ativação de
caspase 3 e apoptose, já os membros anti-apoptóticos agem como repressores da apoptose,
bloqueando a liberação de citocromo c com a inibição da permeabilização da membrana
externa da mitocôndria pelo sequestro de membros pró-apoptóticos ou por competir por sítios
que seriam ocupados por estes na membrana externa mitocondrial como mostrado mostrado
na Figura 2 (GROSS et al., 1999; GHOBRIAL et al., 2005; MURPHY KM et al., 2000).
Figura 2: Vias intrínseca e extrínseca de apoptose. (Modificado de Anazetti, 2007)
Capa Índice 6672
Existem três tipos principais de tratamento para o câncer: cirurgia, radioterapia e
quimioterapia, e o papel de cada uma delas depende do tipo de tumor e de seu estágio de
desenvolvimento (FOYE et al. 1996; MURAD & KATZ, 1996). Além disso, tem-se usado a
terapia de fotorradiação com derivados hematoporfirínicos (MACHADO, 2000) e a
imunoterapia (SALMONN, 1998) sendo que o objetivo de cada um destes tratamentos é
erradicar o câncer, normalmente por meio da terapia combinada ou associada de dois ou mais
tipos de tratamento.
A quimioterapia é um dos métodos convencionais de tratamento contra o câncer e
consiste no uso de agentes citotóxicos que atuam sobre o DNA, impedindo a duplicação
celular (CHU & SARTORELLI, 2001; CHABNER et al., 2006). Atualmente, os
medicamentos mais utilizados na terapia contra o câncer são os complexos de platina como a
cisplatina, carboplatina e oxaliplatina (KELLAND, 2007). Entretanto, apesar do sucesso da
implementação desses compostos, sérios problemas são enfrentados durante a administração
dessas drogas, como nefro e neurotoxicidade e resistência à droga (KARTALOU &
ESSIGMANN, 2001; JIRSOVA et al., 2006).
Contudo, tem-se desenvolvido novos agentes antitumorais baseados em metais não
associados à platina, com o propósito de reduzir os efeitos tóxicos e melhorar o perfil
farmacológico e a eficácia terapêutica. Dentre estes complexos metálicos estão os complexos
contendo rutênio, gálio, ferro, titânio, ouro (JAKUPEC et al., 2008; ALAMA et al, 2009),
sendo que destes os mais promissores são os complexos de rutênio por demonstrarem
propriedades antimetastática, baixa toxicidade e alta seletividade para células tumorais
(KOSTOVA, 2006; MENEZES et al.; 2007; SILVEIRA-LACERDA et al., 2009).
No entanto, apesar de inúmeros estudos estarem sendo realizados com complexos de
rutênio e apontarem sobre sua capacidade de se ligar a molécula de DNA por meio de
ligações cruzadas, afetando assim todo o processo de replicação do DNA, os principais alvos
farmacológicos destes complexos ainda permanecem desconhecidos (CLARKE, 2003;
BRABEC & NOVAKOVÁ, 2006). Por isso, o presente estudo tem como objetivo verificar o
potencial citotóxico e analisar a expressão transcricional dos genes envolvidos no processo de
indução de apoptose (Caspase 3, 8) e controle de ciclo celular (p21) em linhagem tumoral de
câncer de pulmão humano tratadas com complexo de rutênio coordenado com o aminoácido
alanina (RuAla).
Capa Índice 6673
2.Metodologia
2.1. Síntese do complexo de rutênio
O novo complexo de rutênio com aminoácidos foi sintetizado no Laboratório de
Química, do Instituto de Química da Universidade Federal de São Carlos sob a
responsabilidade do professor doutor Alzir Azevedo Batista e encaminhados ao Laboratório
de Genética Molecular e Citogenética (LGMC) da Universidade Federal de Goiás (UFG). O
complexo de rutênio, em estudo, será descrito como RuAla, pois sua fórmula estrutural não
pode ser revelada devido aos interesses em registro de patentes.
2.2 Linhagem celular e manutenção da cultura celular
Para os ensaios biológicos, utilizou-se a linhagem tumoral de câncer de pulmão
humano A549 (carcinoma alveolar ATCC®# CCL-185TM), mantidas em cultura a 37ºC, 5%
CO2 em meio DMEM suplementado com 10% de soro bovino fetal, 2mM L-Gnl, 100IU/mL
de penicilina e 100μg/mL de estreptomicina segundo protocolo estabelecido pela American
Type Culture Collection (ATCC, Rockville, MD, EUA).
3.3 Ensaio de citotoxicidade pelo método de redução do MTT
Para avaliar a atividade citotóxica do complexo RuAla, foi utilizado o método
colorimétrico 3-(4,5-Dimetiltiazol-2-il)2,5-Difenil Brometo de Tetrazoilium) MTT. O
princípio deste método descrito por Mosman (1983) consiste em medir indiretamente a
viabilidade celular pela atividade enzimática mitocondrial das células vivas. Para a realização
do teste, foram semeadas 2,5 x 104 de células A549 em microplacas de 96 poços na ausência
ou presença do complexo RuAla (0,2 a 200 μM) e incubadas em estufa a 37ºC com atmosfera
contendo 5% de CO2. Ao final do período de incubação, foi adicionado aos poços de cultivo
celular 10 μL de MTT na concentração de 5mg.mL-1 e após 3 horas de incubação, foram
acrescentados 50 μL SDS a 10% diluído em HCL/0,01N. A quantificação da densidade óptica
(DO) foi medida em espectrofotômetro (Awareness Technology INE/ Stat Fax 2100). A
porcentagem de viabilidade celular foi determinada a partir da absorbância do tratamento
(Abst), pela absorbância do controle negativo (Absc) multiplicado por 100.
Capa Índice 6674
O valor de IC50 (concentração em μM que inibe 50 % da viabilidade celular) foi
determinado por meio da curva dose-resposta utilizando o programa estatístico GraphPad
Prism 4.02 (GraphPad Software, San Diego, CA, USA).
3.4 Avaliação da expressão gênica por RT-PCR quantitativa em tempo real
Para avaliação de expressão gênica de caspase 3, 8 e p21, foram cultivados 3.106 de
células A549 em placas de 12 poços na ausência (C-) ou presença de RuAla 70 μM e
incubadas à 37ºC, 5%CO2 durante 12 e 24 horas. Posteriormente, o RNA total foi extraído
com o reagente Tri Reagent® (Sigma-Aldrich EUA), consecutivamente tratado com DNAse
seguindo o protocolo do próprio fabricante. Para avaliar integridade do RNA foi feito
eletroforese em gel de agarose à 1,2%. O RNA total (2,0 µg) foi usado para produzir o DNA
complementar (cDNA) com random primer (Applyed Byosistems, EUA) em uma mistura de
reação de 20 uL seguindo o protocolo do fabricante. Para o procedimento de Real Time PCR
foi realizada uma mistura de 25 uL da reação utilizando: 2 uL cDNA, 12,5 uL SYBR Green
PCR Master Mix (LGC Biotecnology, UK) e 2,0 uL de cada primer (forward e reverse) em
uma concentração de 400 nM. O programa de PCR foi iniciado com 10 minutos, a 95 °C
antes de 45 ciclos térmicos, sendo que cada um dos ciclos continha 15 s a 95 °C, 30 s 54 s °C
e 30 s a 72 °C. Os dados foram analisados comparando os ciclos treshould dos tratamentos de
12 e 24 horas (RuAla 70 uM) em relação aos seus respectivos controles negativo (ausência de
RuAla). As sequências de primers utilizadas foram as seguintes: para caspase-3: forward 5'-
CCTCTTCCCCCATTCTCATT-3', reverse: 5'-CCAGAGTCCATTGATTCGCT-3’; caspase-
8 forward 5’-GGAGTTAGGCAGGTTAGGGG-3’, reverse: 5’-
GCTTCCTTTGCGGAATGTAG-3’ e P21 forward 5’-CCCAAACACCTTCCAGCTCCTGT-
3’, reverse 5’-GTCTAGGAGAAACGGGAACCAG-3’.
3.5 Análises estatísticas
Para a obtenção da IC50 realizou-se uma regressão não linear e posteriormente foram
comparados os grupos tratados e controle utilizando o teste estatístico One-Way Anova e pós-
teste Tukey (software GraphPad-Prism V4.).
Para calcular o índice de expressão gênica analisou-se os resultados advindos da Real
Time PCR com comparações múltiplas do tratamento em relação ao controle, utilizando-se o
teste estatístico ANOVA e o pós-teste de Dunnett (software GraphPad-Prism V4.). Para
ambas as análises foram considerados como significativo valores de p menores que 0,05
(p<0,05).
Capa Índice 6675
4. Resultados
4.1 Ensaio MTT
O ensaio de redução do MTT mostrou que o composto RuAla apresenta relevante
atividade biológica frente a linhagem A549 em tratamento de 48 horas, nas concentrações de
0,2; 2,0; 20,0; 50,0; 100,0; e 200,0 µM. Ao analisar a curva dose-resposta, observou-se que a
IC50 para linhagem A549 frente ao tratamento com RuAla foi de 83,92 ± 2,27 enquanto que
quando administrada para uma linhagem de células basais (L929) apresentou uma IC50 de
97,75 ± 8,99 (Figura 3).
Figura 3: A) Curva dose-resposta de células A549 tratadas com RuAla (0,2-200 uM). B) Curva dose-resposta de células normais (L929) tratadas com RuAla (0,2-200 uM). Os resultados foram obtidos de três experimentos independentes e cada um em triplicata. Foram consideradas diferenças significativas em relação ao controle sem tratamento os valores * p <0,05; ** p <0,01. 4.2 Expressão gênica
As análises de qPCR mostraram que houve um aumento na expressão de caspase 3 (t
= 19,68 p=0,0026) e 8 (t=35,9 p=0,0008) no tratamento de 24 horas, comparados ao seus
respectivos controles negativo. Ao analisar o nível de expressão de caspase 3 das células
submetidas ao composto RuAla em 24 horas de tratamento, observou-se um aumento de
expressão de 9,7 vezes comparado ao seu controle negativo (Figura 4B). Para caspase 8
observou-se que em tratamento de 24 horas, ocorreu um aumento de 16,63 vezes de sua
expressão (Figura 4A). Nos tratamentos de 12 horas para os marcadores caspase 3 e 8, não
houve diferença de expressão gênica quando comparadas ao controle negativo. Já para a
avaliação de expressão de p21 observou-se um aumento significativo na sua taxa de
transcrição quando as células foram expostas ao composto RuAla durante 12 horas (t=16,04
p=0,0039), no entanto quando expostas às mesmas condições por 24 horas, as células não
A B
Capa Índice 6676
apresentaram diferença significativa na taxa de expressão em relação ao controle negativo,
como pode ser observado na figura Figura 4C.
Figura 4: A) Expressão do gene caspase 8 na ausência ou presença do composto RuAla 70 uM durante 12 e 24 horas. B) Expressão do gene caspase 3 na ausência ou presença do composto RuAla 70 uL durante 12 e 24 horas. C) Expressão do gene P21 na ausência ou presença do composto RuAla 70 uL durante 12 e 24 horas. Foram consideradas diferenças significativas em relação ao controle sem tratamento os valores * p <0,05.
5. Discussão
As propriedades antitumorais dos complexos de rutênio vem sendo investigadas desde
1980, com os complexos fac-[RuCl3(NH3)3] e cis-[RuCl2(NH3)4]Cl. A continuidade desses
estudos levaram ao desenvolvimento de (H2im)[trans-RuCl4(Him)(DMSO)] (NAMI-A) e
Indazolium trans-[tetrachlorobis(1Hindazole) ruthenate(III) (KP1019), sendo as primeiras
drogas antitumorais de rutênio usadas em triagens clínicas (RADEMAKER-LAKAHAI et al.,
2004; HARTINGER et al., 2006). Em nosso trabalho, avaliamos o potencial citotóxico do
composto RuAla frente a linhagem tumoral A549 e a interferência do composto na expressão
A B
C
* *
*
Capa Índice 6677
gênica de caspase 3, caspase 8 e p21, genes envolvidos no processo de apoptose e controle do
ciclo celular.
Lima e Batista (2010) realizaram diversos estudos de atividade citotóxica com
diferentes complexos de rutênio com aminoácidos, os quais revelaram resultados promissores
destes complexos frente às linhagens tumorais, por apresentarem em geral baixa
citotoxicidade e acumular-se nas células cancerosas. Nesse sentido, nosso estudo revelou que,
após 48 horas de exposição ao RuAla, a IC50 das células tumorais de A549 foi inferior ao de
células normais de L-929 nas mesmas condições de tratamento. Portanto, é de extrema
importância o conhecimento desses compostos e dos processos que desenvolvem no interior
da célula tumoral. Além de estudos anteriores realizados em nosso laboratório, por Lima et.
al.(2010) e Silveira-Lacerda et. al.(2009a), demonstraram que os complexos de Rutênio
apresentam efeitos promissores quando comparados a Cisplatina, pois apresentam maior
potencial citotóxico e maior seletividade para células tumorais desempenhando um provável
mecanismo de apoptose nessas células.
Após a avaliação do potencial citotóxico do composto, analisou-se a influência do
composto sobre a expressão gênica de marcadores para a apoptose (caspases 3 e 8) e bloqueio
de ciclo celular (p21). Nossos resultados demonstram que o composto RuAla aumenta a
expressão de todos os genes testados, sendo que para as caspases 3 e 8 o aumento da
expressão ocorreu no tempo de tratamento de 24 horas, enquanto que para o gene p21 o
aumento da expressão ocorreu após 12 horas de exposição ao composto. Com esses dados
podemos inferir que o composto RuAla induz apoptose na linhagem A549 por via extrínseca.
As propriedades pró-apoptóticas dos compostos de rutênio são descritas por vários trabalhos
na literatura, como Martinéz, et.al., 2010, Lima, et.al. 2011, Huang et.al., 2011, Yang, et.al.,
2011. A avaliação por qPCR também mostrou, que para linhagem em questão, podemos
observar um possível bloqueio no ciclo celular, uma vez que houve aumento da expressão
gênica de p21, marcador indireto de aumento da população celular em fase G0/G1
(WALDMAN et al., 1995; ABBAS & DUTTA, 2009). O aumento da expressão do gene p21
corrobora com estudos prévios, onde complexos de rutênio induzem um bloqueio no ciclo de
células tumorais (CHATTERJEE et al., 2008; HAYWARD et al., 2005; GAIDDON et al.,
2005). Portanto, os resultados observados em nosso estudo demonstram que o composto
RuAla apresenta um potencial indutor de parada da cinética celular em linhagens tumorais.
Capa Índice 6678
6. Conclusão
O complexo RuAla apresenta citotoxicidade para linhagens tumorais de carcinoma de
pulmão humano. O complexo de rutênio coordenado com aminoácido (RuAla) apresentou
efeito citotóxico frente às células tumorais A549 apresentando IC50 de 83,92µM ± 2,27 e
desencadeando apoptose celular por via extrínseca, por meio de indução da expressão gênica
de casp 3, 8 e p21. O composto RuAla demonstra baixa toxicidade para células basais L929
(IC50 = 97,75 ± 8,99) e alta seletividade para células tumorais A549, deste modo apresenta-se
bastante promissor no tratamento antitumoral.
No entanto, estudos mais aprofundados se tornam necessários de forma a se elucidar
melhor os mecanismos envolvidos na ação biológica do composto RuAla frente as linhagens
tumorais estudadas.
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Capa Índice 6682
Opinião dos Estudantes de graduação em enfermagem sobre a aplicabilidade da CIPE®
no atendimento a pessoas em tratamento para hanseníase em uma unidade básica de
saúde à luz do modelo de Orem.
OLIVEIRA, Jordanna Machado Borges1
OLIVEIRA, Michele Dias da Silva2
BACHION, Maria Márcia3
Descritores: estudantes de enfermagem; enfermagem em saúde pública; processos de
enfermagem
Introdução
A Hanseníase é uma doença milenar, infectocontagiosa, causada pelo Mycobacterium
Leprae, com especial predileção pelo tegumento cutâneo e pelo sistema nervoso periférico,
com alta prevalência no mundo, constituindo uma das endemias de prioridades pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) pelo seu grande potencial incapacitante e
estigmatizante (WHO, 2011a).
Foram detectados 228.474 novos casos de hanseníase no ano de 2010 em todo o mundo.
O Brasil contribui com 15,4% destes, sendo o país com maior número de casos no continente
Americano, segundo em número absoluto, apresentando uma taxa de prevalência de 1,5
casos/10.000 habitantes, ficando apenas atrás da Índia (WHO, 2011b).
1 -Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Goiás-UFG.
Aluna do Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica (PIVIC). E-mail:
2 -Mestre em enfermagem. Professora assistente nível 2 da Faculdade de enfermagem -
FEN/UFG- Orientadora. E-mail: [email protected].
3-Doutora em Enfermagem, Professora titular da Faculdade de Enfermagem - FEN/UFG-
Colaboradora. E-mail: [email protected]
-O artigo foi revisado pela orientadora
Capa Índice 6683
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6683 - 6690
No Brasil, a doença faz parte das prioridades de gestão do Ministério da Saúde (MS),
através do Programa Nacional de Controle da Hanseníase – PNCH. Dentre as diretrizes
básicas que objetivam a redução da morbi-mortalidade por hanseníase, destaca-se a atenção
integral, a consulta de enfermagem executada de forma sistemática para os clientes e seus
comunicantes e o desenvolvimento de ações de saúde no campo do autocuidado e da inclusão
social (BRASIL, 2010a, BRASIL, 2010b).
Dorothea Orem define o autocuidado como a prática de ações que os indivíduos iniciam
e executam por si mesmo para manter, promover, recuperar e, ou conviver com os efeitos e
limitações dessas alterações de saúde, contribuindo assim para sua integridade,
funcionamento e desenvolvimento (OREM, 1993).
A aplicação do processo de enfermagem utilizando uma teoria ou modelo teórico de
enfermagem que se adéqüe as condições do cliente são os principais recursos que os
enfermeiros possuem para atender as prioridades do PNCH (SILVA et al. 2008/2009;
COFEN, 2009).
Estes marcos teóricos devem ser incorporados no ensino, em todos os contextos.
Estudos realizados no mundo mostram a necessidade de se investir mais no ensino de
diagnósticos e processo de enfermagem na graduação (DELLA`ACQUA, MIYADAHIRA,
2002; OLIVA, et al. 2005; GONÇALVES et al. 2007; LEE & BRYSIEWICZ, 2009;
AIZENSTEIN,2009; YONT,KHORSHID, ESER, 2009; FARREN, 2010 ).
Estudantes têm sido capazes de aprender a trabalhar com os processos de enfermagem e
entender a importância do trabalho com o processo (GUNER& TERAKY, 2000 apud
YONT,KHORSHID, ESER, 2009). Aceitam melhor o processo de enfermagem quando
comparados com os enfermeiros (OLIVA et al. 2005), mas temem a sua não utilização
quando se formarem e de serem resistentes ao seu uso (GUNER& TERAKY,2000 apud
YONT,KHORSHID, ESER, 2009).
Pelo fato da Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®) conter
termos para serem utilizados na elaboração de diagnóstico, implementação de intervenções e
para avaliar os resultados dos cuidados prestados e, como objetivo unificar a linguagem,
facilitar a comunicação entre os profissionais, promover a troca de informações entre
profissionais de lugares distintos, padronizar os registros de enfermagem e melhorar a
qualidade dos cuidados prestados (CIPE® 2007; CIPE® 2011). Este trabalho tem como
Capa Índice 6684
objetivo analisar a opinião dos alunos de graduação sobre a aplicabilidade da CIPE® (versão
1.0) no atendimento às pessoas com hanseníase em uma unidade básica de saúde a luz do
modelo de Orem.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo-exploratório qualitativo, realizado em um Centro
Ambulatorial Integrado de Saúde (CAIS) Novo Mundo localizado no Distrito Sanitário Leste
do município de Goiânia-GO no período de agosto de 2011 a dezembro de 2011e de fevereiro
a junho de 2012.
A população de estudo foi constituída por 12 alunos do 7º período do curso de
enfermagem da Universidade Federal de Goiás que cumpriram no mínimo de 75% de
freqüência às atividades teórico práticas da disciplina e 100% das atividades de ensino clinico
na área de consulta de enfermagem à pessoas com hanseníase utilizando um roteiro de coleta
de dados baseado na Teoria de Orem e a CIPE® (versão 1.0) para compor os diagnósticos,
intervenções e resultados de enfermagem.
A opinião dos alunos foram realizadas por meio de uma entrevista semi-estruturada,
composta por duas perguntas norteadoras: Qual a sua opinião sobre a aplicabilidade da CIPE®
na prática de enfermagem, com base na sua experiência na consulta de enfermagem à pessoas
com hanseníase neste estudo? e, Como foi para você está experiência?
As entrevistas com os alunos foram realizadas com data, horário e local definido
previamente pelas pesquisadoras, com tempo estimado em média de 10 minutos; sendo
gravadas (com a permissão prévia dos participantes mediante assinatura do TCLE) e,
transcrita na íntegra; sendo validadas, posteriormente, pelos alunos. Para a análise das
opiniões dos alunos, foi utilizada a técnica da análise temática ou categorial, de acordo com
Bardin (2002). O presente estudo faz parte de um projeto maior aprovado pelo Comitê de
Ética da UFG sob o número de protocolo 060/11.
Resultados
Os dados obtidos a partir das entrevistas com os alunos foram analisados e distribuídos
em duas categorias distintas: 1-A CIPE® como um instrumento de padronização da linguagem
de enfermagem e 2- A flexibilidade, aplicabilidade e facilidade proporcionada pela CIPE®
Capa Índice 6685
para compor diagnósticos e intervenções e resultados de enfermagem na atenção a pessoas
com hanseníase.
1- A CIPE® como um instrumento de padronização da linguagem de enfermagem.
“ (...) o bom que padronização é isso, que todo mundo, a equipe de enfermagem fala a
mesma linguagem (E1)”.
“ (...) permite elaborar diagnósticos de enfermagem de forma padronizada com qualquer
enfermeiro em qual quer parte do mundo (E4)”.
“ (...) é uma forma de demonstrar resultados da nossa prática na enfermagem com uma
linguagem científica e unificada comum à enfermagem (E10)”.
Nesta categoria o aluno expressa sua opinião quanto a utilidade da CIPE ® na
uniformização da linguagem.
A CIPE ® surge em decorrência desta necessidade de partilhar uma terminologia no
âmbito mundial que possa expressar os elementos da prática de enfermagem o que os
enfermeiros fazem, as necessidades humanas da clientela e s resultados esperados (CIPE,
2007; GARCIA, 2009; CUBAS et al. 2010; CIPE,2011).
Algumas barreiras têm sido usadas para justificar a não utilização das etapas do
processo de enfermagem pelos enfermeiros utilizando uma linguagem padronizada, como: a
falta de motivação, de informação sobre diagnósticos de enfermagem, tempo limitado,
resistência por enfermeiros mais velhos, falta de habilidades e, poder de fazer mudanças,
resistência dos médicos e residentes, classificação não utilizada por falta de compreensão dos
diagnósticos de enfermagem (JUNTTILA, SALANTERA, HUPLI, 2005).
Estudos mostram, que a utilização da Sistematização da Assistência de Enfermagem-
SAE por alunos de graduação de enfermagem em unidades de estágios clínicos contribuem
para melhores práticas, de forma planejada, sistematizada, baseada em evidencias científicas,
com maior segurança e, para com a definitiva implantação do processo de enfermagem nas
instituições de saúde (DELLA`ACQUA, MIYADAHIRA, 2002; GONÇALVES et al. 2007;
AIZENSTEIN,2009; FARREN, 2010).
Capa Índice 6686
2- A flexibilidade, aplicabilidade e facilidade proporcionada pela CIPE ® para compor
diagnósticos e intervenções e resultados de enfermagem na atenção a pessoas com
hanseníase”
“(...) percebi que ela dá maior flexibilidade para a gente na hora de pesquisar os diagnósticos,
porque às vezes a gente pode acrescentar algumas coisas que a gente acha que é plausível
(E6)”.
“Então, por uma questão da aplicabilidade acho que ela é uma coisa muito boa, muito fácil de
ser aplicada e os resultado também é fácil de ser percebido (E.8) ”.
“(...) mais condizente com o paciente com hanseníase por ter uma maior aplicabilidade e com
maior número de intervenções para o cliente” (E.12).
“(...) acho a CIPE® muito aplicável e deveria ser instituída no sistema de saúde pela
informática, pois é prática, rápida e eficaz” (E.11).
“Eu acho a aplicabilidade muito boa porque a CIPE® ela é muito dinâmica (...)” (E.2).
Esta categoria expressa a visão da dinamicidade da CIPE ®.
A CIPE ® tem como um dos principais critérios o poder de ser suficientemente ampla e
sensível à diversidade cultural, utiliza métodos práticos para elaboração do diagnóstico e
seleção das intervenções que facilitam a sistematização da assistência de enfermagem (CIPE,
2007; 2011; PRIMO et al. 2010; SO EY & PARK HÁ, 2011; CHUANG,WANG,KUO,2011).
Estudos afirmam que a CIPE® representa uma ferramenta tecnológica que permite a
aplicação dos seus dados ou termos para planejar e gerenciar os cuidados de enfermagem
prestados à pessoa, família e comunidade em contextos institucionais e não institucionais na
elaboração de diagnósticos, e para a análise de resultados alcançados com as ações e/ou
intervenções de enfermagem. Sua estrutura de sistema classificatório favorece a avaliação da
contribuição da enfermagem no cuidado à saúde, e os resultados por ela composto mostram
uma medida da efetividade das condutas adotadas pelos enfermeiros (GARCIA, 2009).
Conclusões
Considera-se que o objetivo proposto para este estudo foi alcançado, uma vez que a
partir da categorização dos dados baseadas na fala dos alunos tornou-se evidente a
aplicabilidade da CIPE® na pratica do enfermeiro em saúde coletiva e no atendimento a
Capa Índice 6687
pessoas em tratamento de hanseníase. Quanto à experiência dos alunos ficou evidente que a
CIPE® é suficientemente fácil, flexível e útil a ser utilizada na graduação de enfermagem e na
pratica de enfermagem. No entanto, é necessário que se façam maiores investimentos em
publicações sobre o ensino da CIPE® na graduação para avaliar Contribuições/implicações
para a enfermagem e as tendências de sua utilização, no intuito de compará-las e reproduzi-
las.
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Capa Índice 6690
Revisado pela orientadora: Prof Dra Rosemar Macedo Sousa Rahal
IMPACTO DE UMA CAPACITAÇÃO SOBRE DETECÇÃO PRECOCE DO
CÂNCER DE MAMA NAS AÇÕES DE SAÚDE DA ATENÇÃO BÁSICA DO
ESTADO DE GOIÁS.
José Augusto SOUZA-NETO1; Rosemar Macedo Sousa RAHAL2; Ruffo FREITAS-
JUNIOR2.
1Aluno voluntário do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIVIC) –
Acadêmico da Liga da Mama / Faculdade de Medicina / Universidade Federal de Goiás.
Goiânia, Goiás, Brasil.
2Médicos do Programa de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Goiás e Professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. Goiânia,
Goiás, Brasil
Programa de Mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
CEP: 74690-000, Brasil.
Apoio Financeiro: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) –
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG)
Correspondência: [email protected]
Palavras-chave: câncer de mama, detecção precoce, capacitação, atenção básica.
Capa Índice 6691
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6691 - 6697
Revisado pela orientadora: Prof Dra Rosemar Macedo Sousa Rahal
1. INTRODUÇÃO
As neoplasias malignas são consideradas um importante agravo da saúde pública em
nível mundial devido, não somente pela quantidade crescente de casos diagnosticados, como
também pela grande demanda financeira que se faz necessária para solucionar as questões de
diagnóstico e tratamento. No contexto atual, o câncer é a segunda causa de morte por doença
no Brasil. Nas mulheres brasileiras o câncer de mama configura-se como o câncer de maior
incidência. É estimado que, no Brasil, em 2012 o número de novos casos de câncer de mama
seja de 52.680, com risco provável de 52 casos a cada 100 mil mulheres. Na região Centro-
Oeste avalia-se 47 novos casos para cada 100 mil mulheres, tendo o Estado de Goiás cerca de
1320 casos 1,2.
O câncer de mama vem atingindo gradualmente uma quantidade cada vez maior de
mulheres, em faixas etárias mais baixas, sendo que as taxas de incidência dessa patologia
dobraram nos últimos trinta anos e a taxa de mortalidade apresenta-se crescente no País1-3.
Dessa forma, os programas de saúde pública passam a ver a prevenção do câncer de mama
como um dos seus principais interesses de ação, devido principalmente à sua crescente
incidência associada a uma alta morbidade e mortalidade dos seus portadores.
Cerca de dez mil mulheres morrem anualmente, no Brasil, devido à realização de um
diagnóstico tardio, principal determinante da impossibilidade da eficácia do tratamento do
tumor. A detecção da doença já nos seus estágios avançados ocorre em cerca de 60% dos
casos e acaba resultando em tratamentos cirúrgicos radicais de alto custo e de alta taxa de
mortalidade. O tempo decorrido para se diagnosticar o câncer de mama possui uma direta
influência em sua evolução e prognóstico, de forma que a precocidade da detecção é
diretamente proporcional ao favorecimento do processo de cura4,5.
No contexto atual as ações de saúde, direcionadas à prevenção e detecção precoce do
câncer de mama, tem sido designadas como fundamentais e necessitadas de intensificação6.
Além disso, deve-se ressaltar que as ações de prevenção devem ser planejadas e organizadas
vinculadas ao contexto social de determinada região, envolvendo políticas públicas,
participação da população e ações de profissionais7.
A efetividade dessas ações tem como um dos pilares a educação em saúde. Dessa
forma, é indispensável uma educação constante nos serviços de atenção básica objetivando
proporcionar subsídios ao profissional de saúde para a mudança dessa realidade. Com isso,
Capa Índice 6692
Revisado pela orientadora: Prof Dra Rosemar Macedo Sousa Rahal
torna-se de extrema relevância a identificação do perfil e das dificuldades do profissional de
saúde para que as atribuições e competências sejam melhor estabelecidas8.
2. OBJETIVOS
O projeto apresenta como objetivo a identificação do perfil sócio-demográfico de
profissionais de saúde da atenção básica de saúde na prevenção e detecção precoce do câncer
de mama.
3. METODOLOGIA
Este estudo foi realizado como sub-projeto do projeto de pesquisa “Impacto de uma
capacitação sobre detecção precoce do câncer de mama nas ações de profissionais de saúde da
atenção básica do Estado de Goiás”. Trata-se de um estudo descritivo transversal. Foi
realizado em municípios de 4 regionais de saúde do Estado de Goiás. A população alvo deste
projeto foi composta por profissionais de saúde da Atenção Básica do Estado de Goiás.
Cada coordenador de regional foi inicialmente contactado, sendo neste momento
realizada a exposição do projeto e solicitação de colocação do tema na pauta da reunião
mensal do colegiado. Nesta reunião estão presentes os representantes de cada cidade que
compõem a regional de saúde, sendo possível a divulgação do projeto e maior adesão dos
municípios.
Em uma data que foi definida pela regional e pela coordenação do projeto, o maior
número possível de profissionais da atenção básica dos municípios foram deslocados para a
sede da regional. No momento inicial foi apresentada a equipe e o projeto, seguido por uma
oficina com técnica de integração com apresentação individual e das expectativas em relação
à proposta exposta. Posteriormente, como estratégia para obtenção de dados foi aplicado um
questionário semi-estruturado.
Para aqueles que se voluntariaram a participar foi apresentado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e para aqueles que não assinaram o TCLE foi
garantida a participação integral no curso de capacitação como os demais.
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Durante a realização do projeto, ficou como atribuições desempenhadas pelo aluno de
iniciação científica o levantamento bibliográfico pertinente aos temas pesquisados, criação e
digitação de banco de dados, auxílio na identificação das características sócio-demográficas,
colaboração na escrita de artigo científico para apresentação dos resultados parciais e a
montagem dos materiais destinados para a realização das capacitações.
Os dados coletados foram analisados através de estatística descritiva e apresentados
em forma de média, conforme o teste de T de Student, adotando-se o valor de p < 0,05 (95%).
4. RESULTADOS
O projeto de identificação do perfil sócio-demográfico de profissionais de saúde da
atenção básica na prevenção e detecção precoce do câncer de mama foi desenvolvido em 4
regionais do Estado de Goiás, sendo elas: Regional Oeste I, Entorno Norte, Nordeste II e
Sudoeste II. Contabilizaram no total cerca de 480 profissionais avaliados. Dessa forma,
construiu-se uma base de dados para a identificação do perfil dos profissionais de saúde e das
dificuldades e facilidade na prevenção e detecção precoce do câncer de mama. Foram
elaborados resumos expandidos para apresentações em eventos científicos. Encontra-se em
elaboração um artigo científico para submissão em periódico indexado para fim de
publicação.
5. DISCUSSÃO
A redução da taxa de mortalidade pelo câncer de mama é uma das principais metas a
serem alcançadas pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, prevista no
Plano Nacional de Atenção Básica. A Atenção Básica é caracterizada como um conjunto de
ações de saúde, sendo que um dos seus princípios é fundamentado na valorização dos
profissionais de saúde através de estímulo e acompanhamento constante de sua formação e
capacitação9,10.
O projeto de capacitação de profissionais de saúde para a prevenção do câncer de
mama vem ao encontro de tal política. Diante ao câncer de mama, as ações de educação em
saúde devem incitar a adoção de medidas de prevenção primária para diminuir a incidência de
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câncer de mama e a utilização de medidas de prevenção secundárias favorecendo, dessa
maneira, a detecção precoce da afecção11.
Através do curso de capacitação várias facetas do atual panorama de atenção primária
com relação ao câncer de mama puderam ser observadas. Com isso, permitiu-se uma
identificação do perfil dos profissionais de saúde da Atenção Básica do Estado de Goiás,
caracterizando o nível de conhecimento dos mesmos sobre prevenção do câncer de mama, as
dificuldades e facilidades encontradas no desenvolvimento das ações. Por meio dessa
avaliação o curso forneceu subsídios nas áreas deficitárias contribuindo para formação de
profissionais de saúde capacitados para trabalhar em ambiente interdisciplinar, com
conhecimento da política pública de saúde e com aptidão para o trabalho em conjunto com a
comunidade na qual estão inseridos.
Após a avaliação de diversos profissionais de saúde da atenção básica das regionais de
saúde do Estado de Goiás, pode-se constatar que os mesmo apresentam um conhecimento
sobre prevenção e detecção precoce do câncer de mama, porém com falhas conceituais a
respeito de fatores de risco e estratégias de rastreamento.
6. CONCLUSÃO
O câncer de mama é uma afecção que apresenta uma alta frequência entre as mulheres
brasileiras e uma alta taxa de morbi-mortalidade devido a um diagnóstico tardio resultando
em casos com estágios avançados do tumor. A modificação deste panorama somente é
factível com programas de rastreamento com apropriada cobertura populacional e ações
efetivas de prevenção.
Diversas ações são importantes para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer de
mama, destacando dentre elas um adequado treinamento e capacitação dos profissionais de
saúde da Atenção Básica. Dessa forma, faz se imprescindível uma contínua e permanente
educação dos profissionais de atenção básica com objetivo de instrumentá-los para a mudança
dessa realidade.
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Revisado pela orientadora: Prof Dra Rosemar Macedo Sousa Rahal
Revisado pela Orientadora: Prof. Drª. Rosemar Macedo Sousa Rahal
7. REFERÊNCIAS
1. INCA. Ministério da Saúde 2011. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil.
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Rio de Janeiro. Disponível
em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2012/estimativa20122111.pdf. Acessado em 29
de julho de 2012.
2. INCA (Instituto Nacional de Câncer). Estimativas 2012 – Incidência de câncer no
Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em:
http://www.inca.gov.br/estimativa/2012. Acessado em 29 de julho de 2012.
3. Instituto Nacional do Câncer. Consenso para controle do câncer de mama. Rio de
Janeiro: INCA/CONPREV; 2004.
4. Piato S, Piato JRM. Doenças da mama. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2006.
5. Piato S. Tratado de Ginecologia. 2ª ed. São Paulo: Artes Médicas; 2002.
6. Freitas NMA, Freitas-Júnior R, Curado MP, et al. Tendência da incidência e da
mortalidade do câncer de mama em Goiânia: análise de 15 anos (1988-2002). Rev
Bras Mastol 2006; 16 (1): 17-22.
7. PELLOSO, S. M.; CARVALHO, M. D. B,; HIGARASHI, I. H. Conhecimento das
mulheres sobre o câncer cérvico-uterino. Acta Scientiarum. Healht Sciences. Maringá,
v. 26, n.2, p. 319-324, 2004.
8. TOMAZ, J. B. C. O Agente Comunitário de Saúde não deve ser um “super-herói”.
Interface - Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu, v. 6, n. 10, p. 75-94, 2002.
9. BRASIL ,2006. Politica Nacional de Atenção Básica.Série Pactos pela Saúde 2006.
portal.saude.gov.br.
10. BRASIL, 2004. Politica Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: plano2004-
2007. hvsms.saude.gov.br/bvs/publicações.
Capa Índice 6696
Revisado pela orientadora: Prof Dra Rosemar Macedo Sousa Rahal
11. THULER LC. Considerações sobre a prevenção do câncer de mama feminino. Revista
Brasileira de Cancerologia.2003; 49: 227-238.
Capa Índice 6697
Prof.Dr.AndrédaSilvaPorto([email protected])
JoséDonizettdeAlmeidaJúnior([email protected])
FAFIL–FaculdadedeFilosofia–UniversidadeFederaldeGoiás
Frege,númerosnaturais,segundaordem.
O projeto logicista fregiano é uma tentativa de deduzir as leis da aritmética a
partirdasleisdalógica.E,segundoFrege,todooargumentodoprojetologicistavaise
basearnaideiadequeasatribuiçõesnuméricassãopredicaçõesde2ªordem,i.e.,tratam
deconceitos,nãodeobjetosconcretos.Oprojetologicistaéapresentado,pelaprimeira
vez,emOsFundamentosdaAritmética, comoumaapresentação informaldoprojeto.
EstequeseráexecutadoposteriormenteemAsLeisBásicasdaAritmética.Nestaobra,
Frege vai demonstrar que o projeto logicista é possível utilizando axiomas da lógica
paradeduzir todasas leisdaaritmética;e,alémdisso,vai tentarconvenceroleitorde
que este projeto é uma hipótese muito provável, e que seu trabalho, na obra, é de
naturezameramenteteórica.
ÉsabidoqueofilósofoalemãoGottlobFregededicoutodaasuavidaacadêmica
a fundamentar amatemática na lógica.Oobjetivo desta pesquisa é apresentar alguns
conceitosrelevantesdanoçãofregeanadenúmero,queficouamplamenteconhecidona
literatura da Filosofia da Linguagem e da Lógica, ainda que este projeto tenha
fracassado.ApresentareianoçãodenúmeroFregeana,seguidodascríticasdeFregeao
pensamentopsicologistaàsatribuiçõesnuméricas,taistemasquesãooalicercedetoda
aobra“OsfundamentosdaAritmética”.Estaqueforaoobjetoprincipaldeestudo,no
qualFregevaiapontaroscuidadosquedevemostomarparanãocometermosoengano
de Leibniz e outros psicologistas, de predicar os números diretamente dos objetos
concretos.
1Revisadopeloorientador.
Capa Índice 6698
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6698 - 6710
O assunto que buscarei expor neste relatório final da iniciação científica é a
tentativafregeanadeesclarecerqueosnúmerossãoextensõesdosconceitosdeprimeira
ordem,istoé,osnúmerosprecisamdeumconceitopivôparaentãopredicardeleovalor
numérico determinado, logo, não poderíamos considerálos (os números) como
propriedades de 1º ordem. Mas sim, extensões das classes de equinuméricos que
conferem às propriedades primárias a quantidade ali expressa. Todas as questões
abordadasao longodeste trabalhodeconclusãodapesquisa representamabuscapela
estruturabásicadaFilosofiadaLógicadeFrege, e é este, o grandeobjetode estudo.
Tais convenções tratamde diferentes assuntos, sendo todos eles importantes para um
entendimentodopensamentodofilósofoGottlobFrege.
Osobjetivosdesteplanodetrabalhoseconstituiramem:
• Investigar e compreender as noções fundamentais (função, conceito, objeto,
referênciaesentido)daFilosofiadaLógicafregeana;
•CompreenderarelaçãoelaboradaporFregeentreanoçãomatemáticadefunção
eanoçãológicadefunção;
•Analisaroprincípiodeidentidadenalógicafregeana;
•Compreenderaestruturaefuncionamentodacópulaconceitoobjeto;
•CompreenderanoçãodeQuantificadorescomopredicaçõesde2ªordem
Ametodologiadotrabalhoseconstituiuem:
a)Leiturasistemática,levantamentoefichamentodetextosafimdecompreender
melhorosproblemasapresentadosnoprojeto;
b)Redaçãodeartigosvisandosistematizareapresentarosresultadosencontrados
paraoprofessororientador;
c)Ampliaçãoeaprofundamentodapesquisabibliográficaconformeanecessidade
doprojeto;
d)Reelaboraçãodosartigosvisandoapresentálosemformadecomunicaçõesem
congressos,encontrosejornadascientíficasedosrelatóriosdepesquisa(parciale
final);
Capa Índice 6699
e)Participaçãonossemináriosmensaisdeorientaçãocomoprofessororientadore
alunosdeIniciaçãoCientífica,TrabalhodeConclusãodeCursoeMestrado,afim
dediscutir como grupoodesenvolvimentoda análisedosproblemaspropostos
nesteprojetodepesquisa.
Estapesquisaapresentoudoisprincipaisresultados.Estesquesão:
a) Apresentaçãodosresultadosencontradosemcongressoseseminários,locaisou
deoutrasregiões,estesquesão:(1)IVEncontroNacionaldePesquisaemFilosofia
daUFOP(IVENPF–UFOP),queocorreuentreosdias24a28deOutubrode2011,
emOuroPreto–MG,comacomunicação“Umaanálisedoartigo‘Sobreoconceito
eoobjeto’deGottlobFrege”;(2)XVEncontroNacionaldePesquisanaGraduação
emFilosofia,queocorreuentreosdias16a20deAbrilde2012,emSãoPaulo–SP,
com a comunicação “A noção de número de Gottlob Frege”; (3) XIX Semana de
FilosofiadaUFGeXIVSemanade IntegraçãodagraduaçãoePósGraduaçãoem
Filosofia,queocorreuentreosdias14e18deMaiode2012,emGoiânia–GO,com
acomunicação“QuandoFregechorou:compreendendooparadoxodeRussellesuas
consequências”.
b) Publicaçõesde resumosdascomunicaçõesapresentadasnosAnaisde todosos
congressos mencionados anteriormente nos quais houve a apresentação de
comunicações.
ArazãoquelevouFregeaumestudodalinguagemsedápelointuitodeFrege
de fundamentar a aritmética na lógica. Diante da superficialidade da linguagem
ordinária,ofilósofopercebeanecessidadedeumprojetodereformulaçãodalinguagem
afimdeapresentarargumentosquevalidamessaconcepção,quevaibuscarreformular
a linguagem para fins de caráter científico. Quando falamos sobre linguagem lógica,
estaserviriaparaexplicitarverdadeiramenteacorrespondênciaentreosenunciadoseas
Capa Índice 6700
coisas do mundo. Frege com sua considerava a linguagem ordinária
insuficientepararepresentaroconteúdoexpressononossopensamento.Fregepretendia
então reformar a linguagem ordinária a fim de tornála menos ambígua, e encontrar
atravésdeumaanálisemaisrigorosa,oquepermaneceocultonalinguagemnatural.
Consideraralógicaumateoriageraldaessênciadalinguagem,éumapropostade
tornála uma linguagem universal. Filósofos como Leibniz e Frege tentaram, com a
lógica,buscaraessênciadalinguagem,eacabaramporproporumalínguauniversal;De
modo que o seu caráter essencial dispensase todas as peculiaridades das línguas
correntes, preocupandose apenas com sua capacidade de representar a realidade
verdadeira ou falsamente. Ou seja, podemos ver a lógica como uma teoria geral da
essência de toda e qualquer comunicação possível; e é isso que garante à lógica este
caráter universal. Leibniz propôs uma lingua universalis que pudesse substituir
satisfatóriaecompletamentealinguagemcorrente.Comopodemosvernacitação:
(...) Sabemos que Leibniz entende que a linguagem corrente nãoespelha adequadamente a disposição dos fatos do mundo. Daí suamotivaçãodeconstruirumalinguagemidealaptapararepresentardemodo satisfatório todas as relações entre as coisas. Tal linguagemrecebeu os nome de lingua universalis (philosophica generalis ourationalis)echaracteristicauniversalis.(FREGE,2009,p.15–16)
Comumtommenosambicioso,masnãomenosimportante,Fregepercebequea
nossalinguagemcorrenteéinsuficientecomparadoàarmaçãoessencialdopensamento
puro(formalógicadopensamento);Fregechegaàlinguagem‘conceitográfica’afimde
realizar o que a linguagem corrente não fora capaz. Portanto, é pela linguagem
‘conceitográfica’ que ele consegue explicitar a forma lógica do pensamento, agora já
possívelporumaanálisemaisrigoros.SegundoFrege,aformacorrentedalinguageme
a forma lógica do pensamento podem ser comparadas utilizando a analogia
olho/microscópio,eapartirdisso,podemserdiferenciadasentresipeloobjetivoaque
cada uma se refere. A analogia é apresentada no seguinte trecho do prefácio da
conceitografia:
Creio que a melhor maneira de elucidar a relação que se dá entreminhaconceitografiaea linguagemcorrente seriacomparálacomarelação que ocorre entre o microscópio e o olho. (FREGE, 2009, p.
Capa Índice 6701
46–47)
A forma gramatical da linguagem corrente corresponde ao olho na analogia
fregiana na medida em que, graças a sua grande capacidade de adaptabilidade e
funcionalidade, pode ser considerada mais superior que o microscópio; mais o olho,
assim como a linguagem corrente, pode oferecer alguns empecilhos em casos mais
específicos,comonocasodeobjetoscientíficosqueexigemumagranderesolução.Eé
apartirdessaperspectivaquepodemosassimilara superioridadedomicroscópio(que
representa a forma lógica do pensamento) em relação ao olho, por ser adequado a
determinadosfinscientíficosqueosolhosnãoconseguemsuprir.
E é dessa maneira que Frege tenta elucidar a relação da forma corrente da
linguagem com a forma lógica do pensamento; de forma que a primeira é útil, em
primeirainstância,pelasuaaplicabilidade,masinsuficientenocasodanecessidadede
rigor,easegundaserveexatamenteparacircunstânciasnasquaisumrigorcientíficoé
exigido.Eé, segundoFrege,para tais finscientíficosqueservea suaConceitografia,
visando estabelecer leis que suprema necessidade da forma gramatical da linguagem
corrente, que é, usualmente, a causa de muitos problemas no que diz respeito à uma
abordagemdaLógica.
Na obra “Os fundamentos da aritmética” publicado em 1884, Frege nos
apresenta a sua noção de número que desqualifica uma série de argumentos. É nesta
obra que Frege trata das suas noções com um teor mais filosófico, deixando de lado
aquelecarátermaistécnicoda“Conceitografia”.Fregedirecionaassuascríticasàqueles
que asseguram a natureza formal, empírica ou psicológica dos números. O filósofo
empreende um estudo cuidadoso acerca dos números, visto que os mesmos, segundo
Frege, não forambemapurados pelos especialistas que temuma relação íntima e até
entãosatisfatória.Citoagoraumapassagemprovocantejánoiníciodaobra:
Ora, não é vergonhoso para a ciência estar tão pouco esclarecidaacerca de seu objeto mais próximo, e aparentemente tão simples?(FREGE,1974,p.204)
Capa Índice 6702
Acompreensãodanoçãodenúmero fregeanapressupõea elucidaçãode alguns
aspectos da teoria fregeana. Frege nos dá alguns argumentos contra a concepção de
números como predicações de primeira ordem. O primeiro argumento nos diz que a
atribuiçãonuméricanãopodeserfeitadiretamenteaobjetos,e,portanto,nãopodemser
consideradoscomopropriedadesdeprimeiraordem(quesãoatribuídasdiretamenteaos
objetosdarealidade);emsegundo,Fregerepondequeaatribuiçãonuméricapossuium
caráterdeuniversalidade,ouseja,qualquerobjetopodesercontado;e,porfim,Frege
aponta que a atribuição numérica também apresenta um caráter de arbitrariedade, na
exatamedidaemqueummesmoobjetopodereceberdiferentesatribuiçõesnuméricas,
ouseja,sercontadodeformasdiferentesatravésdoconceitopivô.
Quando vamos falar da atribuição numérica do ponto de vista fregeano,
percebemosummododiferentedepensála,quevaicontrastarcomanoçãodenúmero
dosfilósofoscontemporâneosaseupensamento.Ofilósofoalemão tratadosnúmeros
comosendoextensõesdosconceitos,ouseja,osnúmerossãoosobjetoslógicosquesão
atribuídos às propriedades de 1º ordem (conceito) dando ao objeto uma qualidade
quantitativa.Afimdecondenaranoçãocorrentedequeosnúmerossãopropriedades
deprimeiraordem,comoaconteceemCantoreSchroeder.Fregeempreendeumasérie
de argumentos, afirmando que os números são objetos ideais, não concretos, e
objetivos.Fregevainosdirecionarànoçãoqueaexistênciadosnúmerosnãodepende
denós,sujeitos“pensantes”.Istoé,queosnúmerosnãosãoabstraídosdiretamentede
objetos ou concebidos como entidades mentais subjetivas. Como vemos na citação
seguinte:Assim, uma palavra para cor freqüentemente não designa nossasensaçãosubjetiva,daqualnãopodemossabersecoincidecomadeoutrem– pois claramente amesmadenominação não é em absolutouma garantia – mas uma qualidade objetiva. Assim entendo porobjetividade uma independência com respeito a nosso sentir, intuir,representar,aotraçadodeimagensinternasapartirdelembrançasdesensações anteriores, mas não uma independência com respeito àrazão; pois responder à questão do que são as coisasindependentementedarazãosignificajulgarsemjulgar,lavarseenãosemolhar.(FREGE,1974,p.230)
Sim,Fregeafirmacategoricamentequeosnúmerosnãosãosubjetivos,maspelo
contrário,temumcarátertãosomenteobjetivo.Umaconseqüênciaimediatadestanoção
errônea de que números são propriedades de primeira ordem e também subjetivos, é
segundo Frege, o subjetivismo; ou seja, se os números fossem conceitos abstraídos
diretamentedosobjetosporsujeitos“pensantes”,cadaindivíduoquepensapoderiacriar
Capa Índice 6703
oseupróprioconceitodenúmero,permitindoasmaisdiversasabordagensmatemáticas.
Em suaFrege percebe a necessidade de uma elucidação àqueles
(psicologistas), que determinam leis da lógica como leis do nosso pensamento no
sentidodedescreveremempiricamenteomodocomonóspensamos.ParaFrege,asleis
dalógicasãolegitimamenteleisdopensamentoestritamentenosentidonormativo,são
normasnãodonossoraciocínio,massimnormasdopensamentohumanoenquantotal;
se tais leisda lógica fossem leisdopensamento apenasnaquele sentidoquedescreve
como nós empiricamente pensamos, seriam leis psicologias, e segundo Frege na
seguintecitação:
Seria admirável que a mais exata de todas as ciências se devesseapoiarsobreapsicologia,que,demodotãoinseguro,aindacaminhaàsapalpadelas.(FREGE,1974,p.231)
Tantoacondiçãodeverdadedeumpensamento,quantooprópriopensamento,
independemdeonossojulgar,assimcomonósapreendemosascoisasdomundo,que
se apresentam em primeira mão aos nossos sentidos, o “pensamento” enquanto tal e
seus valores de verdade são apreendidos pelo nosso julgar, de modo que o conteúdo
julgadonãoforaoriginadopornós,tal“pensamento”jáestáládeantemãocomoasleis
da lógica, objetivas e de caráter universal, uma concepção universal que equivale a
todososindivíduospensantes,semaocorrênciadeumsubjetivismo,ondecadaumteria
asuasprópriasleis.
Oartigo“SobreoConceitoeoObjeto”publicadoem1892,éumdostrêsartigos
médios que foram extremamente importantes para a compreensão do pensamento do
filósofo e matemático alemão Gottlob Frege, se fará o grande objeto de estudo deste
capítulo.É nesse artigo queFrege parte para argumentações – agoramaismaduras –
quesustentama suanoçãodeconceitode2ºordem, a fimdeesclarecero tratamento
proposto em suas obras anteriores. Busco investigar as argumentações de Frege que
justificamaimportânciadoconceitode2ºordem,e,ainda,elucidarcomoestarelação
entreconceitoséconcebível.Apartirdisso,buscareicompreenderasidéiasdofilósofo
ematemáticoalemãoacercadanoçãodeconceitode2ºordemque,pordefinição,éum
conceito de conceito; perpassando, por fim, pela a idéia do domínio único até a
determinaçãodosquantificadores,quefarápartedoestudodopróximocapítulo.
Capa Índice 6704
Quandonãoseparamossujeito/predicadogramaticaldesujeito/predicadológico,
ummodoerrôneodecompreensãoacontece.Vistoque,a linguagemcorrentesegundo
Fregenãoapreendeaformalógicadopensamento;dadaasuasuperficialidadequenão
atende a necessidade lógica Isso gera confusões na composição de sentenças
categóricas, daí a importância de diferenciálos (sujeito/predicado lógico de
Sujeito/predicadogramatical).Oquefregepretendeédemonstrarcomoessesproblemas
sedãoeporquê?SegundoFrege éum enganobastante comum,visto as recorrentes
ambigüidades e redundâncias da linguagem natural. Cito agora o modo como frege
estabeleceoeonassentençasde2ºordem:(...) esperarseia encontrar o conceito como referência do sujeitogramatical.Masoconceitoenquantotal,porsuanaturezapredicativa,nãopodedesempenharessepapel;paraqueissosedê,eleantesdeveser convertido num objeto ou, falando mais precisamente, deve serrepresentado por um objeto, objeto este que designamos pelaanteposiçãodaspalavras‘oconceito’.(FREGE,2009,p.116)
Acerca do conceito de segunda ordem, Frege Determinao da seguinte forma:
em uma sentença universal um conceito apenas seria substituído se caso fosse de
antemãoporumsegundoconceito“ConceitoSuperior”oude“SegundaOrdem”.Com
isso, o filósofo alemão argumenta clara e evidentemente que tal “Conceito Superior”
nunca poderá ser confundido por um Objeto. É sabido que o Conceito só predica do
objeto;porém,nas sentençascategóricasFregeestabeleceummodelodiferente.Estes
quesãoos“quantificadores”.
Os“quantificadores”sãoospredicadoslógicos.Existemdoisquantificadores,o
universal “∀” que afirma das propriedades que são válidas universalmente e o
existencial “∋” que garante pelo menos uma propriedade que satisfaz o critério. Os
sujeitos lógicos, continuam sendo conceito, pois são deles que se diz algo; mesmo
exercendoopapeldesujeito,nãosetornamumObjeto.Fregenosdáapossibilidadede
umconceito,cairsobumconceitode“OrdemSuperior”.OqueKerrynãocompreende
édequemodo issoépossível, sendoquesóosobjetospodemcair sobumconceito.
Frege reponde que diferente do que Kerry pensa o Conceito de 1º ordem, se assim
podemoschamálo,nãosetornaumObjeto,somenteexerceopapeldomesmo,ouseja,
apenas parece que o conceito de 1º ordem se “torna um Objeto”, entretanto, não é o
caso.EcomissoFregemantémadicotomiaentree.
Fregetratasuasemânticaemtrêsníveis:osobjetos,queestãodonívelzero;os
Capa Índice 6705
conceitos,queestãononívelum(propriedadedeseridênticodesimesmo),eenfim,os
conceitos de segunda ordem (quantificadores); que estão no nível dois, como no
exemplo:
________________________∀2; ∋ ________________________
________________________∆. = _________________________
______________________________________________________
∀∆. =
O conceito de 1º ordem ser autoidêntico é essencialmente insaturado, é um
vazioquepodeserpreenchidoporumtodocompletoemsimesmo,quenessecasoéo
Objeto (argumento)3, este que satura o conceito (função). Explicitando o exemplo: o
nome denota o Objeto, desse modo, temos Donizett como nome que o denota na
realidade(ente).AplicamosapropriedadedeserautoidênticoaoobjetoDonizett,este
que agora só pode ser idêntico a ele mesmo. Para universalizarmos essa tautologia
atribuímosoquantificador.Dessaforma,emtodocaso,Donizettsópodeseridênticoa
elemesmo.
As predicações podem ser distinguidas entre aquelas de 1ª ordem, que se
aplicam diretamente aos objetos da realidade; e aquelas de ordens superiores, que se
aplicamnãoaobjetos,masaconceitos4(oupropriedadede1ªordem).Comonocasodo
exemplo, “A honestidade é uma virtude.”, podemos perceber que o predicado de 1ª
ordem“ahonestidade”(ou“serhonesto”)ocupaolugardosujeitológicodasentençae,
portanto,aquiloquedeleépredicadoéumapredicaçãode2ªordemouumconceitode
2ºordem.Oprocessopeloqualumapropriedadede1ªordemse tornaobjetodeuma
predicação de ordem superior é a operação de abstração, sintaticamente representada
pelooperadorλ (lambda).Portanto,enquantopredicadode1ªordem,“ahonestidade”
2 A notação utilizada neste relatório final de iniciação científica é do matemático AlonzoChurch.3Éimportanteressaltarnestecasoquetodafunçãoéumconceito,masnemtodooconceitoéumafunção.Issoaconteceporque,porvezesafunçãodánomeaoobjeto,oquechamamosdefunçãonominal.Jáoconceitosempreatribuipropriedadeaoobjeto,objetoestequecaisoboconceito.4Orautilizopropriedade,orautilizoconceito,quesãoentidadessemânticasquecorrespondemontologicamenteospredicadoslingüísticos.
Capa Índice 6706
aplicaseaosobjetosdarealidade,comoem:
“Donizettéhonesto.”H(d)
JáoConceitode2ªordem“servirtude”,aplicasetãosomenteaspropriedades
de1ªordem,como“ahonestidade”,“acoragem”,“abondade”eetc.Dessemodo,não
faria sentido, por exemplo, dizer de “Donizett” que este é uma virtude, visto que os
conceitosdeordenssuperioresconectamseà realidadesomenteviapropriedadede1ª
ordem ou (conceito pivô), nunca diretamente, assim como a atribuição numérica. O
domíniodesignificação,sejadeumapropriedadeoudeumquantificador,dizrespeito
ao conjunto dos objetos aos quais tais propriedades ou quantificadores predicam a
respeito.
Acompreensãoda“funçãológica”éfundamentalnaFilosofiadeGottlobFrege.
ParaFregeas funçõessãoestruturasinsaturadas,quenecessitamdeumcomplemento.
Existem dois tipos de funções: as funções ordinárias, que quando saturadas nos dão
como resultados nomes; e as funções proposicionais, que quando saturadas nos dão
proposições.Éimportanteressaltaraimportânciados“argumentos”,quesãoosobjetos
darealidadequesaturamtaisfunções,comofoiexplicadonanotaderodapéacima.
Podemos fazer a análise da proposição seguinte: “Todos os homens são
mortais”.Segundoaanálisefregeana,aformalizaçãodetalproposiçãoseria:
∀ →
Deste modo, a crítica fregeana à análise aristotélica está no fato de que para
Aristóteles deveríamos considerar como o sujeito da proposição anterior a expressão
“Todososhomens”,ecomopredicado,aexpressão“sãomortais”.MassegundoFrege
essaanálisegerariaumaambiguidade,pois ficaríamosdivididosparasaberse“Todos
os homens” referese a cada homem, ou se refere ao conjunto dos homens. Se
considerarmosaprimeira,aanálisearistotélicaseriaaceitável,poisiriadizerque“Cada
homem é mortal”; mas como a análise aristotélica permite outra opção, no caso da
segundateriaqueserfalsa,poisnãoépossívelqueoconjuntodoshomenssejamortal,
vistoqueumconjuntonãoopodeser.Osobjetoslógicossão,paraFrege,oprodutode
operaçõeslógicas.Sãoexemplosdeobjetoslógicosfregeanos:oVerdadeiroeoFalso,
quesãoasreferênciasdasproposiçõesverdadeirasefalsas,respectivamente;asfunções
proposicionais(eordinárias( ),que,quandosaturadasnosdão,respectivamente,
Capa Índice 6707
umaproposiçãoeumnome.
OdomínioúnicoseriaumaexigênciadeFregeparagarantiraocorrênciadeum
quantificador universal absoluto, tal domínio não excluíria o caráter universal dos
quantificadores. Segundo Frege, considerar o sujeito/predicado gramatical suficientes
paraexpressaraformalógicadopensamentoocasionaalgunsproblemas,comonocaso
de Aristóteles, que segue essa linguagem natural que restringe o domínio dos
quantificadores.Ouseja,ateorialógicaaristotélicaacarretaproblemasquandotratamos
de sentenças universais. Entretanto, Frege propõe o predicado de relativação que
resolveria o problema aristotélico com sentenças de caráter universal. Na sua obra
eFregenosdiz:
Noquetangeaosconceitos,cumpreexigirque,paracadaargumento,eles tenhamporvalorumvalordeverdade,eque,paracadaobjeto,saibase se este cai ou não sob o conceito. Em outras palavras,exigimos dos conceitos que tenham uma delimitação nítida, se istonão for satisfeito, será impossível estabelecer leis lógicas a seurespeito.(FREGE,2009,p.98)
Quando consideramos, por exemplo, a frase “todos são honestos” parece
razoável pensar que a quantificação restrita “todos” referese a “todos os seres
humanos”.Afrase“todossãohonestos”esuaformalizaçãoparcial“∀”,nosdáa
idéiadeumdomíniodesignificaçãoplenamenteuniversal.Noentanto,serianecessário
formalizar completamente a frase, a fimde obter “∀ ⟶ ” onde podemos
encontrar um predicado de relativização que restringe o domínio do quantificador
universal “∀”, apenas para seres humanos. Isto porque não faria sentido dizer das
cadeiras,mesasoucasas,quetaisobjetossejamhonestos.
Porisso,pareceterumsérioproblemanafrase“∀”,poisutilizamosum
quantificadoruniversal,cujodomíniodeveriasertodooconjuntouniversodosobjetos
darealidade.Porém,demaneirarestritaàapenasumaclasse,asaber,aclassedosseres
humanos.UmasoluçãopropostaporFregeparaesseproblemadosquantificadoresde
domínio restrito sãoospredicadosde relativação.Portanto,a formalizaçãode“Todos
sãohonestos”antesera:
Capa Índice 6708
“∀ℎ”
Agoraficaria:
“∀ ⟶ ”
De modo que, com o uso do predicado de relativação “ser humano”, o
quantificadoruniversal“∀”nãovaiperderoseucaráteruniversal,vistoqueolimitedo
predicadoderelativaçãoexpressaa forma lógicadasentença,demaneiraqueagoraé
possível reconhecer o conceito quantificado, graças a delimitação estabelecida.
Diferentedas línguasnaturais, ondepercebemosodomínio restritodas sentençasque
delimitaaquantificaçãodasdiferentessentençasuniversais,odomínioúnicoeuniversal
abrangetodososobjetosquecaisoboconceitoemquestão.Aointroduzirdomíniosde
quantificação diferentes, a análise lógica acaba por omitir aspectos fundamentais no
interior de uma proposição, além de subtrair o caráter absoluto da “quantificação”,
comonocasodoquantificadoruniversal,quepassaaserum“universalparcial”.
Portanto, para evitar a restrição de domínio, Frege apóia oPlatonismo. Isto é,
assimcomoPlatão,Fregeacenaparaajustificativadequetodososobjetosparticipam
dodomínioúnicodequantificação.Dessaforma,osobjetosintesionais,assimcomoos
objetos abstratos existem, e considerálos como não existentes (posição nominalista)
querestringeopredicadoderelativação,nãoéviável.Sendoassim,anoçãodedomínio
únicoeuniversal,vindadePlatãoeutilizadaporFregeevitaosproblemasderestrição
nasquantificaçõesdalinguagemordináriagraçasàapreensãodatotalidadedosobjetos.
NesterelatóriofinaldeIniciaçãocientífica,busqueiapontarasprincipaisnoções
do filósofo Frege, as diferenças entre as noções de número de sua época e as
conseqüênciaspositivasàfilosofiacontemporâneaanalítica,promovidasgraçasas tais
discussões. Frege vê a necessidade de uma nova interpretação, uma análise mais
rigorosa,afimdenosafastardaobscuridadeteóricavigente,quandovamospensarem
lógica e matemática. Para Frege, pensar os números como algo físico, os diferencia
essencialmente, e conseqüentemente, acarreta nas diferentes formas de pensar os
números,eparaFregeistoéproblemático.
A noção de número Fregiana comporta uma série de argumentos, graças a
Capa Índice 6709
extensãodosargumentosfuiimpossibilitadodefazervalertodoaaparatodeexemplose
justificações Fregianas. Como objetivo destas seções, procurei apresentar uma parte
importante da noção de número de Frege, busquei cumprir bem o papel da lógica
fregiananoqueconcernea suanoção.Osnúmeros seriammesmopropriedadesde1º
ordem?Épossívelabstrairosnúmerosdiretamentedosobjetos?Eseosnúmeros são
propriedadede2ºordem,eles sãosubjetivos?Acredito ter tratadodemodosimplese
claro o que Frege responde a essas questões, a fim de compreendermos melhor uma
parteimportantedaamplaobradeFrege.
Naobra Lógica eFilosofia da LinguagemdeGottlob Frege, encontramos três
importantes artigos que são nomeados os três artigos médios da Filosofia da Lógica
fregeana, que juntos compõem o amadurecimento do pensamento de Frege e da
FilosofiaAnalítica.BusqueitratardosconhecimentosdeFregeapresentadosnessaobra,
juntamentecomaintroduçãoqueforadeextremaimportânciaparaoentendimentodos
conceitos fregeanos. Tais seções tratam de problemas recorrentes da linguagem
ordinária,quejánosforaapresentadosemtempospassados,equeaindaédiscutidono
âmbito da filosofia da linguagem. Portanto, em todas as seções aqui abordadas,
podemos perceber, como se compõe a estrutura lógica fregeana, seus principais
conceitoseseufuncionamento.Sendoassim,acompreensãoeanálisedosconceitose
noções desta lógica se apresentam como o objetivo deste trabalho de conclusão de
curso.
CHATEUABRIAND,O..SãoPaulo:ColeçãoCLE,2001.
DUMMETT, M. . Cambridge: Harvard UniversityPress,1973.
FREGE,G..Berkeley:CaliforniaUniversityPress,1964.
_________..SãoPaulo:AbrilCultural,1974.
_________..SãoPaulo:Edusp,2009.
MENDELSOHN, R. . Cambridge: CambridgeUniversityPress,2005.
Capa Índice 6710
Avaliação da adesão às medidas de controle ambiental entre crianças e adolescentes
asmáticos acompanhados em ambulatório especializado
Josiane Rodrigues Borges1
Tatiane Oliveira Braz 2
Lusmaia Damaceno Camargo Costa3
Karina Machado Siqueira4
Resumo. As medidas de controle ambiental estão entre as importantes ações terapêuticas que buscam colaborar para o controle da asma, pois são adotadas com o intuito de manter o ambiente livre de alérgenos que provocam hipersensibilidade aos asmáticos. Este estudo objetivou identificar aspectos relativos ao controle ambiental, segundo registros realizados nos prontuários de crianças e adolescentes asmáticos durante primeiro atendimento em ambulatório e comparar as mesmas condições ambientais após três meses de acompanhamento. Realizou-se estudo retrospectivo, descritivo, por meio de análise das informações disponíveis nos prontuários de crianças e adolescentes asmáticos, que iniciaram atendimento no período de janeiro de 2008 e julho de 2011, em ambulatório especializado em asma infantil, no município de Goiânia-GO. Após três meses de acompanhamento houve redução na presença de fatores ambientais predisponentes para o desencadeamento de sintomas da asma entre crianças e adolescentes asmáticos, dentre os quais se destacam cortinas, tapetes ou carpetes, cobertores de lã, presença de muitos móveis no quarto e uso de produtos de limpeza. Identificou-se baixa adesão nas mudanças relativas aos seguintes fatores: uso de capas impermeáveis nos colchões e travesseiros, convívio com tabagistas e animais com pêlos ou penas, além de contato com mofo, umidade e poeira. É importante destacar que o manejo da asma não visa somente a terapêutica farmacológica, sendo essencial que a equipe multiprofissional envolvida na atenção ao asmático empreenda ações de educação em saúde voltadas para o controle ambiental, bem como, proponha estratégias eficazes para avaliação dessas ações.
Palavras-chave: Asma infantil; Controle Ambiental; Equipe multiprofissional.
Introdução
A asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por hiperresponsividade das
vias aéreas inferiores e restrição variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com
tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispnéia,
aperto no peito e tosse(1) .
1 Acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás - UFG. Voluntária do Programa Institucional de Iniciação Científica, modalidade PIVIC. Membro do Grupo de Estudos em Saúde da Mulher, Adolescente e Criança – GESMAC, da Faculdade de Enfermagem da UFG (FEN/UFG). E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Enfermagem da UFG. Membro do GESMAC. E-mail: [email protected] 3 Docente da Faculdade de Medicina da UFG. Médica pneumopediatra do Hospital das Clínicas da UFG. E-mail: [email protected] 4 Docente da FEN/UFG. Orientadora no Programa Institucional de Iniciação Científica, modalidade PIVIC. Membro do GESMAC. E-mail: [email protected]
Capa Índice 6711
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6711 - 6722
Nas últimas décadas, apesar dos avanços no entendimento da sua fisiopatogenia e no
seu tratamento, a morbi-mortalidade de asma tem crescido em todo o mundo(2-3). No Brasil,
ocorrem 2.200 óbitos por asma ao ano(5). Dados de 2005 mostram que as hospitalizações por
asma corresponderam a 18,7% daqueles por causas respiratórias e a 2,6% de todas as
internações no período, também com algum decréscimo em relação às décadas anteriores(4).
Ocorrem anualmente cerca de 160.000 internações por asma no Brasil, sendo assim a quarta
causa de internação no âmbito hospitalar do Sistema Único de Saúde(1) .
Ainda no que se refere à alta prevalência da doença, no município de Goiânia-GO foi
constatado que 10,6% dos adolescentes são asmáticos diagnosticados e 17,1% se enquadram
na categoria de prováveis asmático(7).
Os números expressivos relacionados à prevalência e morbidade da asma estão
intimamente associados a uma maior exposição aos aeroalérgenos e aos poluentes
domiciliares, tais como, a poeira, ácaros, fumaça de cigarros, contato com animais de pêlos e
irritantes químicos(6). A alta prevalência da asma em crianças pode trazer graves complicações
à vida adulta, pois estudos comprovam que asmáticos com quadros persistentes na infância
continuam com os sintomas quando adultos. Segundo Dalcin et al. (8) a asma é uma condição
clinica que não tem cura e por isso o sucesso do seu tratamento é baseado em obtenção do
controle da doença.
Em 1999, segmentos que prestavam assistência aos pacientes asmáticos (Sociedade
Brasileira de Pneumologia e Tisiologia - SBPT; Associação Brasileira de Alergia - ASBAI;
Sociedade Brasileira de Clínica Médica - SBCM e Sociedade Brasileira de Pediatria – SBP)
juntamente com o Ministério da Saúde, estabeleceram diretrizes para a criação do Plano
Nacional de Controle da Asma (PNCA) no Brasil (10). A partir de então, alguns programas de
controle e atenção à asma foram criados, consolidados e expandidos, e esse esforço gerou
experiências acumuladas de tratamento multiprofissional, melhor controle da doença, redução
da morbidade e da procura a serviços de urgência.
Partindo da preocupação em assistir a população de asmáticos do município, assim
como em atender as recomendações do PNCA, a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia,
elaborou, em 2005, o Catavento – Programa de Controle da Asma de Goiânia, o qual
estabelece estratégias de saúde capacitando profissionais de unidades básicas de saúde para o
diagnóstico, tratamento e controle da asma no município. O programa Catavento direciona
especial atenção às equipes da Estratégia Saúde da Família - ESF, envolvendo toda a equipe
multidisciplinar nesse projeto e capacitando profissionais de diferentes categorias. Além da
Capa Índice 6712
atenção básica, serviços de atenção secundária e terciária estão diretamente envolvidos neste
programa e constituem referência para o tratamento de pessoas asmáticas no município(10).
No ambulatório de pediatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
(HC/UFG) são atendidas crianças e adolescentes advindos do município, inseridas no
programa Catavento, e ainda crianças de outros municípios do estado de Goiás. Além disso,
também são desenvolvidas atividades do projeto de extensão Aprendendo a conviver com a
asma, vinculado às Faculdades de Enfermagem (FEN/UFG) e Medicina (FM/UFG) e ao
Grupo de Estudos em Saúde da Mulher, Adolescente e Criança (GESMAC) da FEN/UFG.
Diversas ações voltadas para o tratamento farmacológico e não farmacológico da asma,
incluindo estratégias de educação em saúde, são empreendidas no sentido de favorecer o
adequado manejo e controle da doença por parte das crianças, adolescentes e suas famílias.
A asma é uma doença que leva a limitações físicas, sociais e emocionais dos pacientes e
requer mobilização ativa dos familiares. Nessa perspectiva, além do tratamento farmacológico
é necessário que o doente e seus familiares tenham noções sobre os fatores desencadeantes
das crises asmáticas, assim como meios para amenizar e evitar as crises ou exacerbações(9).
Quando se refere ao controle ambiental no tratamento da asma, trata-se das medidas
adotadas com o intuito de manter o ambiente livre de alérgenos que podem provocar
hipersensibilidade ao asmático, dentre essas medidas pode ser citado o controle dos ácaros da
poeira doméstica, pêlos de animais, mofo, umidade excessiva ou falta de ventilação no
domicílio, entre outros. Estudos referem que, na prática clínica, raramente se conseguem
resultados satisfatórios em qualquer tratamento de alergia respiratória onde o controle
ambiental não seja parte integrante e ativa(4,11).
O controle ambiental repercute de maneira positiva na vida dos asmáticos, a casa com
uma boa ventilação, sem carpetes ou pisos acumuladores de poeira, envoltórios impermeáveis
no colchão e travesseiro, ausência de tabagismo passivo e animais domésticos, proporcionam
diminuição dos sintomas e do uso de medicações. Porém fatores como condição
socioeconômica, aspectos culturais, psicológicos, individuais e tratamento interferem na
adesão das medidas de controle ambiental(6).
As medidas de controle ambiental não devem ser vistas como intervenções isoladas,
visto que o individuo não vive somente em uma casa e sim dentro de um ambiente onde está
exposto a alérgenos clinicamente relevantes em diversos espaços, tal fato confirma a
necessidade de uma mobilização familiar frente às mudanças que devem ser incorporadas no
dia-a-dia do paciente asmático(12).
Capa Índice 6713
Para que o tratamento do asmático seja eficaz é necessária uma terapêutica
farmacológica aliada a um rigoroso controle ambiental com objetivo de minimizar a
exposição aos alérgenos. O controle ambiental eficaz pode colaborar para que o asmático
diminua a necessidade do uso de medicações de emergência. Porém, para que haja sucesso no
controle da doença, é necessário que cada paciente tenha consciência a respeito da causa da
hiperresponsividade de suas vias aéreas, dentre os ilimitados agentes alérgenos presentes no
ambiente.
O conhecimento sobre os alérgenos que se encontram em maior quantidade no
domicílio e que provocam hipersensibilidade ao asmático, tem sido de fundamental
importância na educação sobre a doença e na orientação sobre o controle ambiental. Deste
modo, entende-se oportuno o desenvolvimento deste estudo no sentido de buscar informações
acerca das principais dificuldades relativas ao controle ambiental, enfrentadas por crianças e
adolescentes asmáticos.
Os objetivos do presente estudo visam identificar aspectos relativos ao controle
ambiental da asma, segundo registros realizados nos prontuários de crianças e adolescentes
asmáticos durante o primeiro atendimento em um ambulatório especializado em asma infantil.
Também se pretende comparar as informações relativas ao controle ambiental da asma,
registradas nos prontuários dessas crianças e adolescentes, durante a primeira consulta e após
no mínimo três meses de acompanhamento em ambulatório especializado, buscando
evidências acerca da adesão às medidas de controle ambiental da asma por parte dessa
clientela.
Metodologia
Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo, realizado por meio da análise das
informações disponíveis nos prontuários de crianças e adolescentes atendidos no serviço
especializado em asma infantil do Ambulatório de Pediatria do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás - HC/UFG.
A população do estudo foi composta por prontuários de crianças e adolescentes
atendidos por equipe multiprofissional em consultas especializadas no acompanhamento da
asma infantil no Ambulatório de Pediatria do HC/UFG, entre janeiro de 2010 a dezembro de
2011. Foram selecionados alguns critérios de elegibilidade: prontuários de crianças e
adolescentes atendidos no Ambulatório de Pediatria do HC/UFG com faixa etária entre 0 e 18
anos incompletos; prontuários que possuíam registros nas fichas padronizadas para primeiro
atendimento no serviço de asma pediátrica do Ambulatório de Pediatria do HC/UFG, no
Capa Índice 6714
período de janeiro de 2008 até julho de 2011. Além disso, esses prontuários deveriam ter as
fichas padronizadas para consultas de retorno preenchidas após três meses do primeiro
atendimento.
A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2011 a janeiro de 2012.
Foram incluídos todos os prontuários selecionados segundo os critérios de elegibilidade
propostos. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados, sendo um relativo aos
dados de avaliação do controle ambiental registrados nas fichas de primeira consulta da
criança ou adolescente asmático, e o segundo referente aos dados de controle ambiental
registrados em fichas de consulta de retorno, três meses ou mais após o início do tratamento
no ambulatório especializado.
O primeiro acesso aos números dos prontuários ocorreu através dos registros
advindos do ambulatório de Pediatria do HC/UFG, em decorrência da demanda dos clientes
atendidos pela primeira vez no referido período. Após este contato os prontuários foram
solicitados ao Serviço de Arquivo Médico do HC/UFG, seguindo as exigências estabelecidas
para manuseio dos mesmos. Foram encontrados 79 prontuários de crianças e adolescentes
asmáticos, atendidos no ambulatório de asma do HC/UFG pela primeira vez entre o período
de janeiro de 2008 a julho de 2011. No entanto, apenas 30 prontuários atendiam a todos os
critérios de elegibilidade da pesquisa.
A entrada, edição e análise dos dados foram efetuadas com o auxílio do programa
Excel 2007 e ocorreu por meio de estatística descritiva, utilizando freqüência simples. Os
dados foram apresentados em forma de tabelas e figuras.
Este estudo é vinculado ao projeto “Avaliação clínica e sócio-demográfica de crianças
e adolescentes asmáticos atendidos em ambulatório especializado de Goiânia-GO”, o qual foi
analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Goiás e aprovado sob o número de protocolo 119/2010.
Resultados e discussão
Os dados sociodemográficos das crianças e adolescentes asmáticos atendidos
ambulatório especializado em asma infantil estão apresentados na Tabela 1. Esses dados se
referem às informações coletadas durante as consultas de primeiro atendimento e permitem
analisar algumas características importantes dessa clientela.
Capa Índice 6715
Tabela 1. Perfil sociodemográfico de crianças e adolescentes asmáticos acompanhados em um ambulatório especializado em asma infantil, segundo informações registradas durante primeiro atendimento em ambulatório de asma infantil. Goiânia, Goiás, Brasil. 2011/2012. Dados sociodemográficos n % Sexo
Masculino Feminino
22 8
73,4 26,6
Idade 1-3anos 4-6anos 7-9anos 10-12 anos >13anos
7
12 8 2 1
23,4 40
26,6 6,6 3,4
Profissão materna Do lar Empregada doméstica Manicure/Cabeleireira Corte/Costura Estudante Não Informado
14 5 3 3 3 2
46,6 16,4 10 10 10 6,6
Escolaridade materna Ens.Fund. Incompleto Ens. Fund. Completo Ens. Médio Incompleto Ens. Médio Completo Não Informado
5 3 3
15 4
16,4 10 10 50
13,6 Procedência
Goiânia Interior do Estado Não Informado
13 15 2
46,4 50 6,6
Entre os registros de prontuários de crianças e adolescentes incluídos na pesquisa,
observa-se que a maioria era do sexo masculino (73,4%), o que está em acordo ao encontrado
na literatura, pois, durante a infância, a prevalência da asma é maior entre o gênero masculino
e a justificativa para esta diferença seria o menor tamanho das vias aéreas e fluxos pulmonares
menores durante o primeiro ano de vida, além de hiperreatividade brônquica mais evidente
em meninos do que em meninas(13).
Quanto à idade da criança ou adolescente ao iniciar o acompanhamento no referido
serviço especializado em asma infantil, verificou-se que a maioria tem idade entre quatro e
nove anos, somando 66,6% dos casos. Essa informação pode estar relacionada ao fato de que
o diagnóstico de asma se torna mais preciso em crianças maiores de cinco anos, pois as
provas de função pulmonar, como a espirometria e pico de fluxo expiratório, dificilmente são
realizadas de forma efetiva em crianças de menor faixa etária (5).
Capa Índice 6716
O fato de não ter sido encontrado nenhuma criança menor de um ano é explicado pelo
difícil diagnóstico de crianças nessa faixa etária. Nos primeiros anos de vida há uma
multiplicidade de doenças que causam o quadro clínico de sibilância, considerando que,
quanto menor a idade da criança, maior a possibilidade de que o diagnóstico não corresponder
a asma brônquica(14).
Ao analisar o grau de instrução escolar materna, os dados mostram que 15 (50%)
mulheres apresentaram ensino médio completo e nenhuma mãe é analfabeta. Essa informação
pode ser relevante quando se trata da necessidade de um efetivo trabalho de educação em
saúde entre os familiares que acompanham as crianças e adolescentes asmáticos. Acredita-se
que o maior nível de escolaridade entre as mães pode colaborar para que as orientações sobre
o manejo e controle da asma sejam mais efetivas, possibilitando maior entendimento e adesão
à terapêutica proposta.
A análise do ambiente domiciliar mostra-se de extrema importância para a avaliação do
manejo da doença, pois poluentes domiciliares como alérgenos produzidos por animais
domésticos, insetos e ácaros da poeira domiciliar estão associados com a etapa de
sensibilização e desenvolvimento da asma, bem como, com a exacerbação dos sintomas em
crianças já sensibilizadas(15). A Tabela 2 apresenta dados relativos aos fatores que predispõem
à presença de alérgenos no ambiente domiciliar de crianças e adolescentes asmáticos e
permite avaliar a adesão às orientações relacionadas ao ambiente, após três ou mais meses de
acompanhamento em ambulatório especializado em asma infantil.
Tabela 2. Fatores que predispõem à presença de alérgenos no ambiente domiciliar de crianças e adolescentes asmáticos, registrados em prontuários durante o primeiro atendimento e após três meses de acompanhamento em ambulatório especializado em asma infantil. Goiânia, Goiás, Brasil, 2011/2012.
Primeiro atendimento Retorno após três meses Fatores ambientais n % n %
Poluição 14 46,6% 11 36,4% Enfeites 19 63,3% 4 13,4% Cortinas 14 46,6% 11 36,6% Tapetes/carpetes 9 30% 2 6,6% Cobertores de lã 6 20% 0 0% Muitos móveis no quarto 13 43,3% 4 13,4% Ausência de capa no colchão 26 86,7% 24 80% Ausência de capa no travesseiro 26 86,7% 15 50% Uso de produtos de limpeza 23 76,7% 4 13,4%
Dentre os prontuários estudados, observa-se que número expressivo de crianças e
Capa Índice 6717
adolescentes asmáticos 14 (46,6%) vive em região com evidência de poluição, havendo
pequena mudança nesse sentido ao realizar-se avaliação após três meses de acompanhamento,
pois 11 (36,4%) declararam continuar vivendo nas mesmas condições. Residir regiões
poluídas constitui-se fator predisponente para o desencadeamento de crises ou irritação de
vias aéreas entre os asmáticos. Porém, estudos têm confirmado que o individuo acostuma-se
com a inalação crônica quanto maior o tempo de exposição e que essa resposta de adaptação
resulta na diminuição da resposta sintomática das vias aéreas(16-17).
Importante destacar que ao analisar os registros de atendimentos após três meses de
acompanhamento em ambulatório especializado, percebem-se mudanças no ambiente
domiciliar das crianças e adolescentes no que se refere à presença de enfeites, brinquedos de
pelúcia, cortinas e tapetes ou carpetes. Destaca-se que, em todos os casos, foi abolido o uso de
cobertores de lã.
O conhecimento sobre a disposição dos móveis no domicílio, especialmente no quarto,
nos leva a pensar sobre como isso pode afetar o cotidiano dos asmáticos, pois um ambiente
que possui muitos móveis dificulta a limpeza e aumenta a superfície para acúmulo de poeira e
ácaros. Observou-se importante redução na quantidade de móveis no interior do quarto do
asmático, pois, durante o primeiro atendimento, 13 (43,3%) afirmaram possuir muitos móveis
no quarto, enquanto que, ao retornarem após três meses, somente 4 (13,4%) afirmaram ainda
manter a mesma disposição dos móveis.
Uma das orientações em que se observou baixa adesão por parte da clientela foi o
encapamento de colchões e travesseiros com material impermeável. Esse fato pode estar
relacionado tanto à dificuldade econômica em adquirir o material, quanto à sensação térmica
mais elevada, proporcionada pelo encapamento com material impermeável. No entanto,
existem fortes evidências de que cobrir colchões e travesseiros com capas impermeáveis
impedem o contato direto dos ácaros com as vias aéreas superiores, o que dificulta a
sensibilização e a exacerbação dos sintomas(18).
No que se refere aos hábitos de higienização da casa, observou-se aumento na adesão ao
uso de pano de chão úmido após três meses de acompanhamento no referido serviço, com
aumento de 53,3% para 76,6%. Além disso, também se observou redução no uso de vassouras
para limpeza do ambiente. O uso de vassoura no domicilio do asmático é prejudicial devido à
suspensão da poeira que ela provoca e aumento da possibilidade de exposição aos ácaros.
Durante a primeira consulta foram observados que em 23 (76,7%) domicílios faziam o
uso de produtos de limpeza, tendo grande mudança no retorno, quando apenas 4 (13,4%)
afirmaram continuar com a prática. O uso de produtos de limpeza tem como objetivo tornar o
Capa Índice 6718
ambiente limpo, entretanto, a utilização desses produtos tem sido identificada como uma
importante fonte de contaminação do ar em ambientes internos devido à emissão de
compostos químicos com efeitos adversos à saúde, como sintomas respiratórios, asma e
alergia(15).
Sabe-se que a exposição a pêlos e penas de animais se constituem importantes fatores
de risco para o desencadeamento de asma grave em pacientes sensibilizados, podendo causar
reação alérgica importante na mucosa do trato respiratório(19). Contudo, no presente estudo,
apesar de realizadas orientações acerca da importância de evitar contato com animais com
pêlos ou penas, a maioria das crianças e adolescentes asmáticos manteve esse tipo de contato,
conforme mostrado na Figura 1.
Figura 1. Presença de animais com pêlos ou penas no domicílio de crianças e adolescentes asmáticos, segundo avaliação realizada durante primeiro atendimento e em retorno após três meses de acompanhamento em ambulatório especializado em asma infantil. Goiânia, Goiás, Brasil, 2011/2012.
Um outro fator ambiental de extrema importância no manejo da asma infantil é o
convívio com tabagistas. A Figura 2 mostra que não houve redução na convivência de
crianças e adolescentes asmáticos com fumantes, quando avaliadas inicialmente e após três
meses de acompanhamento no serviço em estudo.
Capa Índice 6719
Figura 2: Distribuição de crianças e adolescentes asmáticos que convivem com fumantes, segundo avaliação realizada durante primeiro atendimento e em retorno após três meses de acompanhamento em ambulatório especializado em asma infantil. Goiânia, Goiás, Brasil, 2011/2012.
Essa informação é bastante relevante e se constitui em aspecto totalmente desfavorável
para o controle da doença, pois a fumaça do cigarro é um dos principais fatores
desencadeantes das crises e agravantes para a saúde do asmático, uma vez que exacerba os
sintomas, dificultando seu controle e acelerando a perda da função pulmonar. Entre outros
elementos negativos, a fumaça do cigarro também reduz a resposta dos clientes aos
corticosteróides inalatórios e orais, diminuindo a eficácia do tratamento farmacológico(20).
Conclusões
Na abordagem atual do tratamento da asma, a educação sobre a doença apresenta
papel fundamental tornando-se imprescindível que a equipe multiprofissional, incluindo o
enfermeiro, atue em parceria com ou cliente e sua família, no sentido de estabelecerem
estratégias que aumentem a eficácia das medidas de controle ambiental, diminuindo assim, as
exacerbações ou crises asmáticas e melhorando o controle da doença.
No presente estudo evidenciou-se boa adesão no que se refere às diversas medidas
de controle ambiental, dentre as quais destaca-se redução no uso de cortinas, carpetes ou
tapetes, cobertores de lã, vassouras e produtos de limpeza. No entanto, faz-se necessário
empreender ações mais eficazes no que se refere ao uso de capas impermeáveis em colchões e
travesseiros, além da necessidade de redução no convívio com fumantes e animais com pêlos
ou penas.
Esta pesquisa permitiu comparar alguns dados relativos ao controle ambiental
registrados nas fichas de primeiro atendimento e fichas de retorno de crianças e adolescentes
asmáticos atendidos em ambulatório especializado. No entanto, devido a algumas restrições
relacionadas à insuficiência de registros e também à não padronização das fichas, tal
comparação ficou comprometida em alguns aspectos. A identificação de tais restrições,
durante o desenvolvimento do estudo, permitiu que, juntamente com o serviço, ocorresse uma
discussão e mudança nos formulários utilizados para registros pela equipe multiprofissional,
gerando assim repercussão positiva em relação à padronização das fichas utilizadas neste
ambulatório. Entende-se que essa ação poderá favorecer a busca de melhores evidências
acerca da atenção prestada e o desenvolvimento de futuros estudos que visem a proposta de
comparação.
Capa Índice 6720
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Capa Índice 6722
a - Aluna PIVIC/UFG, Aluna do Curso de Graduação em Ciências Geoambientais b - Orientadora
Geoquímica de elementos terras raras em carbonatitos e rochas
associadas da Província Ígnea do Alto Paranaíba
Josilene Kelle Batista da Silvaa, Tereza Cristina Junqueira Brodb, José Affonso Brod
Universidade Federal de Goiás 74001-970, Brasil
[email protected]/[email protected]/[email protected]
Palavras chave: carbonatito, kamafugito, bebedourito, foscorito
Introdução
Os carbonatitos e as rochas associadas em complexos alcalino-carbonatíticos são
produto de cristalização de magmas gerados no manto. O magma carbonatítico pode originar-
se de uma fonte mantélica e geralmente ocorre como corpos isolados ou formando províncias
(Harmer & Gittins, 1997). No Brasil, nas bordas da Bacia do Paraná, as idades das províncias
podem variar do Cretáceo inferior ao Eoceno (Gibson et al, 1995). Dentre estas províncias, o
alvo deste estudo é a Província Ígnea do Alto Paranaíba (APIP), composta pelos complexos
alcalinos-carbonatíticos de Araxá, Tapira, Salitre e Serra Negra, em Minas Gerais, e Catalão I
e II, em Goiás.
Os elementos terras raras (ETR) podem ser abundantes nas rochas presentes nesses
complexos. Os ETR formam parte do grupo IIIA da tabela periódica e compreendem um
conjunto de 15 elementos químicos que vão do número atômico 57 (lantânio) até 71 (lutécio).
Os ETR são subdivididos em dois grupos: o grupo do cério (ETR leves, ou ETRL) e o grupo
do ítrio (ETR pesados, ou ETRP). Tem grande afinidade geoquímica entre si e, portanto,
tendem a ocorrer juntos em rochas e minerais. Por outro lado, a estrutura cristalina dos
minerais e vários processos geológicos são capazes de reconhecer as pequenas diferenças de
raio iônico entre os diferentes ETR (íons sucessivamente menores dos ETRL para os ETRP),
as variações de valência do Ce e do Eu, e as sutis diferenças geoquímicas relacionadas ao
preenchimento da camada 4f. Assim, estudar os ETR poderá fornecer importantes
informações do ambiente geológico, além de monitorar o fracionamento de ETRL (leves) e
ETRP (pesados), o estagio de evolução e investigar a possibilidade de ocorrência do efeito
''Tetrad '' em alguns carbonatitos.
A Província Ígnea do Alto Paranaíba
Capa Índice 6723
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6723 - 6736
O magmatismo Neocretáceo a Eoceno, nas margens norte e nordeste da Bacia do
Paraná, é tido como resultado da Pluma de Trindade, portanto a Província do Alto Paranaíba
estaria relacionada ao impacto inicial dessa pluma (Gibson et al., 1995, 1997; Thompson et
al., 1998). O soerguimento do Arco do Alto do Paranaíba iniciou-se no Eocretáceo, mas foi
intenso durante o Neocretáceo (Campos e Dardenne, 1997), favorecendo importante
magmatismo máfico-ultramáfico alcalino que produziu corpos intrusivos (diques, condutos,
diatremas e complexos plutônicos) e extrusivos (lavas e piroclásticas). Os complexos da APIP
são relativamente grandes, com dimensão de até 65 Km².
Os produtos dessse magmatismo incluem rochas como kimberlitos, olivina lamproitos
madupíticos e kamafugitos, além de complexos carbonatíticos e diques de flogopita picrito
(Gibson et al., 1995). Fazem parte desta Província os complexos alcalinos-carbonatíticos de
Araxá, Tapira, Salitre e Serra Negra, em Minas Gerais, e Catalão I e II, em Goiás (Figura 1).
Fig.1. Mapa de localização da Província Ígnea do Alto do Paranaíba, na configuração tectônica do Cinturão da Faixa Brasília que separa o cráton São Francisco da Bacia Sedimentar do Paraná. Adaptado de Gibson et al (1995). Complexos Carbonatíticos
Na Província do Alto Paranaíba, os complexos tipicamente deformam as rochas
encaixantes em estruturas dômicas. A forma mais comum de ocorrência de carbonatitos é em
Capa Índice 6724
associação com rochas silicáticas alcalinas, na forma de complexos plutônicos, plugs, cone
sheets, diques, raros sills, tefra e derrames (Barker, 1989). Na APIP os complexos pertencem a
séries distintas, como bebedourítica, foscorítica e carbonatítica, cuja evolução está
relacionada por processos de cristalização fracionada e/ou imiscibilidade de líquidos, a partir
de magmas primitivos Brod et al. (2004, 2012).
A série bebedourítica consiste em rochas produzidas por cristalização fracionada de
um magma silicático ultrapotássico, com afinidade kamafugítica (flogopita-picrito, Brod,
1999, Brod et al. 2000). As feições mais preservadas destas rochas se encontram nos
complexos de Salitre (Barbosa et al., 2012), Tapira (Brod et al., 2012). Barbosa et al. (2012)
fornecem uma revisão recente das características da série bebedourítica e sua evolução.
A série foscorítica consiste em rochas derivadas de magmas fosfáticos. Foscorito
compreende rochas ultramáficas plutônicas definidas em termos modais por variações de
apatita, magnetita e olivina. Essa série está presente em quase todos os complexos
carbonatíticos do Alto Paranaíba, e são mais comuns em Catalão e Araxá.
A série carbonatítica compreende rochas que contém mais de 50% de carbonatos,
formadas pela cristalização de magmas ricos em carbonato originados no manto superior, ou
por diferenciação (cristalização fracionada ou imiscibilidade de líquidos) de magmas
silicáticos ricos em CO2. Os carbonatos essenciais são dolomita, calcita, calcita+dolomita, ou
dolomita+Fe-dolomita/ankerita. São muito ricos em compostos voláteis (CO2, Cl, F, e S).
Os solos destes complexos são muito espessos, o que favorece a concentração
econômica do fosfato, nióbio e titânio por intemperismo.
Complexo de Araxá
Situado cerca de 6 km da cidade de Araxá (19°40'S; 46°57'W), este complexo é
também conhecido como Barreiro. Contém uma das maiores reservas do mundo de nióbio
(bariopirocloro) e é minerado para fosfato e nióbio. O complexo consiste em uma intrusão de
4,5 Km de diâmetro e 15 Km² de área, as rochas encaixantes são os xistos e quartzitos do
grupo Ibiá (Seer, 1999).
Essa região é submetida a intenso intemperismo desenvolvendo assim um processo de
concentração residual que pode chegar até 250 metros de espessura e que resultou nos atuais
depósitos minerados de fosfato e nióbio.
Complexo de Tapira
Situa-se a cerca de 30 km a SE da cidade de Araxá. O complexo de Tapira (19°53'S;
Capa Índice 6725
46 °50'W) compreende uma intrusão com cerca de 6 km de diâmetro. A intrusão deformou as
rochas encaixantes do Grupo Canastra em uma estrutura dômica e provocou o
desenvolvimento de disjunção colunar em quartzitos e a cristalização de piroxênio sódico e
feldspato em uma auréola de fenitização restrita (Brod, et al. 2004).
O complexo é elíptico com 35 km² de área, e consiste de clinopiroxenito e bebedourito
e com quantidades subordinadas de carbonatito, foscorito, dunito, serpentinizado, flogopitito,
sienito, melilitolito e flogopita picrito.
A mineralização está relacionada à ocorrência do manto de intemperismo, onde se
desenvolveram concentrações de titânio, fosfato, nióbio, terras raras e vermiculita.
Atualmente o complexo só é minerado para titânio e fosfato, e o minério de titânio ainda não
é beneficiado.
Complexo de Salitre I, II, III
Os complexos de Salitre I (19°03'S; 46°47'W), II e III ocorrem ao sul do complexo de
Serra Negra, na região de Patrocínio, MG. O maior destes é Salitre I com 35 km², composto
por piroxenitos (bebedouritos) e rochas feldspáticas (tinguaíto, traquito, fenito). Na porção
norte do complexo ocorre um corpo mineralizado a apatita. Salitre II com 2.5km de diâmetro
é composto por rochas ultramáficas da série bebedourítica. Salitre III é composto por
bebedouritos e na parte sul por rochas da série foscorítica. Esses complexos foram intrudidos
no Grupo Bambuí (Gibson, et al. 1995).
Complexo de Serra Negra
O complexo de Serra Negra (18°55'S; 46°50'W) é um dos maiores centros plutônicos
na APIP, com 65km². Este complexo situa-se a leste da cidade de Patrocínio e intrude rochas
do Grupo Canastra. Grandes extensões de dunito serpentinizado ocorrem no extremo norte do
complexo. Diques estreitos (<5 cm de largura) de flogopita picrito cortam as demais rochas do
complexo (Gibson et al 1995).
Complexo de Catalão I e II
Os complexos de Catalão I (18°08'S; 47°50'W) e II situam-se na parte norte da APIP, a
20 km a NE da cidade de Catalão. O complexo de Catalão I compreende 27 km² de área. A
intrusão do complexo provocou a deformação dômica dos xistos e quartzitos encaixantes.
Incluem-se neste complexo dunito, clinopiroxenito, bebedourito, carbonatito e foscorito, e
uma porção central dominada por carbonatito. Ocorrem depósitos de fosfato, nióbio, terras
Capa Índice 6726
raras, titânio e vermiculita. Porém atualmente é minerado para apatita e pirocloro
Catalão II (18°02'S; 47°52'W) é mal exposto, 5 km ao norte de Catalão I. Forma um
domo circular de 14 km². Intrude rochas metassedimentares do Grupo Araxá. Ao contrário de
Catalão I, no complexo de Catalão II predomina carbonatito calcítico. Atualmente existe uma
mina de nióbio em funcionamento, na porção sul do complexo.
Elementos Terras Raras (ETR)
Os elementos terras raras formam parte do grupo IIIA (Figura 2) da tabela periódica.
Formam a série dos lantanídeos, que compreende os elementos químicos com número
atômico de 57 até 71. Recebem este nome pelo fato de ocorrem na forma de óxidos.
Atualmente se sabe que não são elementos particularmente raros, pois alguns ETR chegam a
ser mais abundantes que a prata (Ag) e o ouro (Au).
Do ponto de vista do seu comportamento geoquímico o Sc é um elemento que possui
características intermediarias entre terras raras e os elementos tetravalentes como Ti, Zr e Hf.
Podemos dividir os ETR em dois grupos: o do Cério, como La, Ce, Pr, Nd, Pm, Sm, e Eu e o
do Ítrio, como o Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb, Lu. Em alguns casos são também divididos em
ETRL (leves), ETRM (médios) e ETRP (pesados).
De acordo com Lapido-Loureiro et al (1989) os ETR ocorrem de três formas: como
elemento traço em minerais comuns das rochas, por substituição de outro elementos, ou como
elementos representativos ou essenciais em 113 minerais. As duas maiores jazidas de ETR são
Mountain Pass, na Califórnia (EUA) e Bayan Obo, na Manchúria (China). A China é o maior
produtor mundial de Terras Raras.
Os ETR são aplicados industrialmente em diversos setores, como a confecção de ligas,
equipamentos eletrônicos, dispositivos especiais óticos e de iluminação, como filtro de
radiação infravermelha em vidros especiais, medicina nuclear, imãs permanentes, e como
absorvedores de nêutrons no controle de reações em cadeia em reatores nucleares.
Os ETR podem-se associar a outros elementos nas fases finais da evolução de magmas
alcalinos e carbonatíticos, originando paragêneses minerais com cátions de alta valência e
grandes dimensões como Th e U. Em complexos carbonatíticos os ETR têm tendência a
concentrar-se nas fases tardias da evolução magmática. (Lapido-Loureiro et al 1989).
No Brasil se conhecem três depósitos de ETR em complexos alcalino-carbonatíticos:
Córrego do Garimpo (Catalão I), Barreiro, e Morro do Ferro (Poços de Caldas). Ocorrências
de ETR associados a outros bens minerais compreendem os depósitos de nióbio de Barreiro e
Catalão II, de titânio de Tapira e de Catalão I, fluorita de Mato Preto (Lapido-Loureiro et al.,
Capa Índice 6727
1989). Este trabalho enfatiza a geoquímica dos ETR em carbonatitos e rochas associadas da
Província do Alto Paranaíba.
Materiais e Métodos
Os procedimentos metodológicos adotados nesse estudo foram:
i. Revisão bibliográfica da literatura científica a respeito de rochas alcalinas,
carbonatitos, elementos terras raras e a Província Ígnea do Alto Paranaíba, bem como
artigos jornais, livros e artigos da literatura científica.
ii. Preparação de um banco de dados com análises químicas de rocha total de
carbonatitos brasileiros e mundiais, a partir de dados da literatura.
iii. Preparação das amostras por fragmentação mecânica com o uso de britador, cuba de
porcelana e grau de ágata.
iv. A análise química das amostras preparadas foi realizada em laboratório comercial
externo (Acme Laboratórios, Vancouver, Canadá) utilizando o ICP-AES
(Espectrômetro de Emissão Atômica com Plasma Acoplado Indutivamente) e ICP-MS
(Espectrômetro de Massa com Plasma Acoplado Indutivamente).
v. Análise e interpretação dos dados de química de rocha total, com uso de diagramas de
ETR normalizados ao condrito, diagramas de variação composicional e de
classificação.
O ICP-AES é utilizado para determinar a concentração dos elementos maiores (presentes
em concentrações acima de 0,1%) e alguns elementos traços (abaixo de 0,1 %). Antes da
análise a amostras finamente moída é dissolvida em ácidos, processo que pode ser assistido
por microondas. A digestão da amostra pode ser feita por tratamento com HNO3-HClO4 numa
placa quente, seguido por dissolução do resíduo e diluição para 50-100 Ml (Yamasaki, 2000).
O processo de análise propriamente dito consiste em váriasetapas: atomização da amostra em
plasma de argônio, excitação dos átomos, e emissão de energia eletromagnética durante o
relaxamento dos mesmos. A temperatura do plasma nas faixas da zona analítica é de 5000-
8000 K, o que assegura que a maioria das amostras são completamente atomizadas (Manning
& Grow, 1997). Entretanto, o ICP-AES é menos eficiente para análise de elementos presentes
em concentrações muito baixas, como muitas vezes é o caso das terras raras.
Para solucionar este problema a melhor opção é o ICP-MS, uma técnica que combina a
atomização da amostra por plasma acoplado indutivamente (ICP) com a determinação da
concentração por espectrometria de massa (MS). Comparados ao ICP-AES, os limites de
Capa Índice 6728
detecção no ICP-MS são muito menores, permitindo determinar com maior facilidade a
concentração de elementos traço. A digestão da amostra é geralmente feita por uma
combinação de HF e HNO3. Entretanto, em alguns casos, minerais resistentes, como o zircão,
podem não ser totalmente digeridos por este método. Para garantir a digestão completa da
amostra o ideal é fundi-la com metaborato ou tetraborato de lítio e dissolver o vidro resultante
em meio ácido. Desta maneira não ocorre efeito mineralógico, pois as estruturas cristalinas
dos minerais são destruídas durante a fusão. O método da fusão seguida de digestão ácida foi
o escolhido para as análises utilizadas neste trabalho.
Os ETRs são apresentados em um diagrama de concentração versus número atômico,
onde as concentrações são normalizadas com base em valores de referência, como os
condritos. A escala vertical do diagrama é sempre logarítmica.
Resultados e Discussões
As Figuras 2 a 5 comparam a composição de carbonatitos e rochas silicáticas
associadas das províncias do Alto Paranaíba, de Kola (Rússia) e de carbonatitos da Namíbia,
com base em dados da literatura e dados inéditos do Grupo de Pesquisa em Rochas Alcalinas
e Mineralizações associadas.
Os carbonatitos podem ser classificados de acordo com o carbonato predominante em
calciocarbonatitos (predomínio de calcita), magnesiocarbonatitos (dolomita),
ferrocarbonatitos (ankerita/siderita) e natrocarbonatitos (predomínio de carbonatos alcalinos).
Alternativamente eles podem ser classificados com base na composição química, de acordo
com o esquema de Woolley e Kempe (1989). Este último esquema de classificação é
mostrado na figura 2. Observa-se que o campo dos calciocarbonatitos avança para o interior
do campo dos ferrocarbonatitos, mas este provavelmente é um efeito da acumulação de
magnetita em calciocarbonatito, não se tratando, portanto, de ferrocarbonatitos verdadeiros.
Os magnesiocarbonatitos evoluem progressivamente para ferrocarbonatitos.
Capa Índice 6729
Fig. 2 - Classificação de carbonatitos segundo Woolley e Kempe (1989), mostrando os campos composicionais de calciocarbonatitos (laranja) e magnesiocarbonatitos a ferrocarbonatitos (amarelo) das Províncias do Alto Paranaíba, Kola e Namíbia. Os símbolos preto e cinza representam, respectivamente, a média de carbonatitos pobres (precoces) e ricos (tardios) em Ba. As setas contínuas representam o sentido da evolução de calciocarbonatitos e magnesiocarbonatitos. A seta tracejada representa a provavel acumulação de magnetita, que pode aumentar artificialmenteo teor de ferro dos calciocarbonatitos. Fonte dos dados: Balaganskaya (2007), Barbosa (2009), Brod (1999), Buhn (2008); Buhn et al. (2001), Cordeiro (2009); Gibson et al. (2005), Gomes e Comin-Chiaramonti (2005), Grasso(2010) Morbidelli et al. (1997), Palmieri (2011), Traversa et al. (2001) e dados inéditos,
A figura 3 compara a composição dos carbonatitos com as rochas silicáticas associadas
em diversos complexos carbonatíticos mundiais, pertencentes às Províncias de Kola, Namíbia
e Alto Paranaíba. Observa-se que as rochas silicáticas evoluem inicialmente por diminuição
de sílica e magnésio, mas a partir de certo ponto passam a evoluir por aumento de sílica com
diminuição de magnésio, sugerindo a ocorrência de um episódio de imiscibilidade de líquidos
(e.g. Brod et al., 2012)
Capa Índice 6730
Fig. 3 - Diagrama MgO x SiO2 mostrando os campos composicionais de rochas silicáticas (tracejado), calciocarbonatitos (laranja) e magnesiocarbonatitos (amarelo). Setas representam possíveis sentidos de evolução magmática. Fonte dos dados: Balaganskaya (2007), Barbosa (2009), Brod (1999), Buhn (2008); Buhn et al. (2001), Cordeiro (2009); Gibson et al. (2005), Gomes e Comin-Chiaramonti (2005), Grasso(2010) Morbidelli et al. (1997), Palmieri (2011), Traversa et al. (2001) e dados inéditos,
A figura 4 compara calciocarbonatitos e magnesiocarbonatitos das províncias do Alto
Paranaíba, Kola e Namíbia. Observa-se que nas três províncias os magnesiocarbonatitos
apresentam um intervalo de variação mais amplo que os calciocarbonatitos, atingindo valores
mais altos de terras raras e maiores graus de fracionamento entre terras raras leves e pesadas
(La/Yb). De acordo com os dados disponíveis, a Província Ígnea do Alto Paranaíba possui
carbonatitos que são mais ricos em terras raras e com maior grau de fracionamento entre
terras raras leves e pesados do que as outras duas.
Capa Índice 6731
Fig. 4 - Diagrama relacionando o conteúdo total de terras raras com o grau de fracionamento entre terras raras leves e pesados, para carbonatitos das províncias de Kola (verde), Alto Paranaíba (vermelho) e Namíbia (azul). As linhas contínuas representam a composição de magnesiocarbonatitos e as linhas tracejadas representam a composição de calciocarbonatitos. Fonte dos dados: Balaganskaya (2007), Barbosa (2009), Brod (1999), Buhn (2008); Buhn et al. (2001), Cordeiro (2009); Gibson et al. (2005), Gomes e Comin-Chiaramonti (2005), Grasso(2010), Morbidelli et al. (1997), Palmieri (2011), Traversa et al. (2001) e dados inéditos.
A figura 5 mostra os padrões de ETR normalizados ao condrito, para as médias de
diferentes tipos de rocha da Província Ígnea do Alto Paranaíba. Pode-se observar na figura
que os carbonatitos são mais enriquecidos em terras raras do que a maioria das demais rochas.
Comparando-se os carbonatitos entre si observa-se que os magnesiocarbonatitos são mais
enriquecidos em terras raras do que os calciocarbonatitos. Calciocarbonatitos e
magnesiocarbonatitos ricos em Ba são mais enriquecidos em terras raras e mostram maior
fracionamento de ETR leves/pesados do que seus equivalentes pobres em Ba. O padrão geral
de evolução é de enriquecimento das rochas em terras raras com a evolução magmática.
Capa Índice 6732
Fig. 5 - Diagrama de terras raras normalizado ao condrito, mostrando os padrões de terras raras médios de diversos tipos de rochas em complexos alcalino-carbonatíticos da Província Ígnea do Alto Paranaíba. O campo cinza representa o espectro composicional dos flogopita-picritos, que são os magmas parentais das demais rochas. Fonte dos dados: Barbosa (2009), Brod (1999), Cordeiro (2009); Gibson et al. (2005), Gomes e Comin-Chiaramonti (2005), Grasso(2010) Morbidelli et al. (1997), Palmieri (2011), Traversa et al. (2001) e dados inéditos,
Conclusões
Os dados apresentados neste trabalho mostram que a composição dos carbonatitos da
Província Ígnea do Alto Paranaíba é comparável à de carbonatitos de outras províncias
alcalinas, como os de Kola, na Rússia, e da Namíbia.
A evolução das rochas silicáticas plutônicas no Alto Paranaíba inicia com a formação
de cumulados duníticos, seguidos de bebedouritos e finalmente sienitos. O sentido da variação
de SiO2 com a diminuição de MgO é invertido a meio caminho da evolução magmática,
inicialmente decrescendo e subsequentemente aumentando com a diferenciação, o que sugere
a participação de um episódio de imiscibilidade de líquidos silicático e carbonático.
Tanto calciocarbonatitos quanto magnesiocarbonatitos evoluem no sentido de termos
ricos em bário. Estes últimos são enriquecidos também em terras raras, e apresentam padrões
mais inclinados em diagramas normalizados ao condrito, indicando um grau
progressivamente maior de fracionamento entre terras raras leves e pesados, com
enriquecimento dos leves.
Os elementos terras raras, portanto, ficam concentrados nas fases finais da evolução
dos complexos carbonatíticos do Alto Paranaíba, que são os alvos preferenciais para
prospecção de jazidas destes elementos na província.
Capa Índice 6733
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio do PIBIC/PIVIC/UFG, IESA/UFG e CNPq ao presente
trabalho
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Capa Índice 6736
Análise da coordenação de fluxo de produção em cadeia de suprimentos através de
simulação de sistemas – estudo de caso
José Victor Silvério – [email protected]
Aunério da Silva Garrote Neto – [email protected]
Maico Roris Severino (orientador) – [email protected]
Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão (UFG-CAC)
Palavras-chaves: Gestão da Cadeia de suprimentos, Fluxo de Produção, Simulação de
Sistemas.
1. Introdução
Cada vez mais tem se notado as constantes mudanças existentes no cenário industrial, fato
este que tem feito às empresas adotarem novas soluções para gerir não somente seus
processos de manufatura, mas todos os fatores que de alguma forma impactam sobre seus
resultados, buscando uma consolidação e ampliação de seu market share, tornando-as mais
competitivas.
É de suma importância que uma empresa visando se sobressair no mercado em que está
inserida tenha um bom controle das diversas atividades que envolvam sua produção,
principalmente aquelas que são de caráter crítico, como a área de suprimentos. Assim, a
necessidade de se gerenciar as relações existentes entre a empresa e seus fornecedores
principais ou de maior importância, controlando e conhecendo o fluxo de materiais e
informações entre as mesmas, tem se tornado indispensável para qualquer organização.
A importância de uma coordenação adequada da cadeia de suprimentos é para que todos
os envolvidos no complexo industrial estejam focados e organizados para atingirem os
mesmos objetivos de desempenho evitando algumas distorções relacionadas aos pedidos do
cliente da empresa a jusante da cadeia produtiva. Estas distorções estão relacionadas a o que,
quando e quanto produzir ou emitir a ordem de produção, compra ou serviço em cada elo da
cadeia de suprimentos. Tais distorções são conhecidas na literatura como Efeito Forrester, ou
popularmente como Efeito Chicote. Este efeito é o fenômeno da amplificação das ordens de
demanda através da cadeia de suprimentos (SILVA e COLENCI Júnior, 1997).
Analisar toda a cadeia de suprimentos pode aumentar a eficiência, o que permite a
manutenção de estoque somente onde necessário, identificando gargalos, balanceando a
capacidade e coordenando um fluxo suave de materiais.
Capa Índice 6737
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6737 - 6749
Neste sentido, a Gestão da Cadeia de Suprimentos (GCS) ou Supply Chain Management
(SCM), torna-se um dos principais métodos a serem adotados pelas empresas atualmente
como um meio de controle das relações existentes ao longo de toda cadeia produtiva, de modo
a interagir as empresas, buscando uma grande sinergia, facilitando o fluxo de materiais e
informações entre as mesmas.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas atualmente é a realização de
uma gestão da cadeia de suprimentos de modo efetiva, fazendo com que as relações
estabelecidas entre fornecedores e clientes dentro da cadeia permitam que tal complexo
industrial tenha vantagens competitivas e que atinjam seus objetivos de desempenho
almejados, sejam eles referentes a custo, qualidade, rapidez, flexibilidade ou confiabilidade
(SLACK et. al., 2007).
Em conjunto com a SCM outra técnica tem ganhando notoriedade e importância, a
Simulação Computacional. Com o uso de seus métodos e ferramentas é possível representar a
cadeia produtiva através de softwares especializados tornando mais fácil à visualização do
fluxo de informações e materiais ao longo de toda a cadeia produtiva, possibilitando então a
detecção de falhas e erros, bem como uma experimentação de novos cenários que
possivelmente trarão ganhos.
A falta de coordenação do fluxo de materiais e informações e todas as consequências
causadas por ela não são exclusividade da cadeia de suprimentos. Muitas empresas enfrentam
esse tipo de problema dentro de suas plantas, de maneira especifica ocorre uma falta de
coordenação entre seus processos de manufatura. Entretanto, para esse tipo de cenário já
existem muitos instrumentos que conseguem de maneira satisfatória coordenar os fluxos entre
os processos, tais instrumentos são conhecidos como sistemas de coordenação de ordens.
O objetivo do presente estudo é a elaboração de uma proposta de utilização de Sistemas
de Coordenação de Ordens (SCOs), que apresentam aplicabilidade usual em processos de
manufatura, em conjunto com práticas logísticas e suas avaliações quanto à coordenação de
produção através de simulação de sistemas.
Portanto, objetiva-se a construção de um modelo, via simulação computacional, que seja
capaz de aliar as práticas logísticas com SCOs para uma melhor coordenação do fluxo de
matérias e informações em uma cadeia de suprimentos especifica, através de um estudo de
caso.
Capa Índice 6738
2. Metodologia
Para a execução deste estudo foi realizado um estudo de caso com abordagem qualitativa.
Ponte (2006) define estudo de caso como: [...] uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo fenômeno de interesse. (PONTE, 2006)
O instrumento de pesquisa utilizado para a realização das entrevistas foi o questionário
semi-estruturado, em forma de roteiro de assuntos. A entrevista semi-estruturada, para
TRIVIÑOS (1994), é um dos “instrumentos mais decisivos para estudar os processos e
produtos nos quais está interessado o investigador qualitativo”. ALENCAR (1999) afirma que
“a vantagem deste tipo de questionário é permitir que o entrevistado manifeste suas opiniões,
seus pontos de vista e seus argumentos”.
Em termos operacionais, inicialmente fez-se pesquisa bibliográfica sobre os temas
gestão da cadeia de suprimentos, simulação e simulação na cadeia de suprimentos, de modo
especial estudos de casos. Posteriormente foi realizada a coleta de dados nas empresas da
cadeia a ser estudada. Em seguida foi realizada a simulação através do Software PROMODEL
e realizada a análise dos dados.
3. Revisão bibliográfica
Uma cadeia de suprimentos engloba todos os estágios envolvidos, direta ou indiretamente,
no atendimento de um pedido ao cliente (CHOPRA e MEINDL, 2003). Por englobar tais
fatores a cadeia de suprimentos é dinâmica e envolve um fluxo constante de informações,
produtos e fundos monetários entre os diversos estágios.
A Gestão da Cadeia de Suprimentos (GCS) consiste no planejamento e gerenciamento de
todas as atividades que envolvem o fornecimento e vendas, transformação, e todas as
atividades da gestão logística. Elas também incluem a coordenação e colaboração entre os
parceiros do canal, na qual podem ser fornecedores, intermediários, prestadores de serviços
terceiros, e consumidores. Em essência GCS integra a gestão de fornecimento e demanda
entre e através das empresas (BALLOU, 2007).
Para Rudberg e Olhager (2003), a Gestão da Cadeia de Suprimentos inclui a integração de
todas as funções e processos de negócios de toda a cadeia de suprimentos, incluindo
marketing, produção, distribuição, etc.
Capa Índice 6739
GCS é um conceito cujo objetivo principal é o de integrar e gerir os recursos, fluxos, e
controlar os materiais usando um sistema total que abrange várias funções internas e vários
níveis de fornecedores (MONCZKA, TRENT e HANDFIELD, 1998).
A GCS apresenta dois objetivos principais que são:
Maximizar a sinergia entre todas as partes da cadeia, a fim de atender ao cliente final
de maneira mais eficiente possível;
Tornar os processos de negócios mais eficientes e eficazes, reduzindo custos, níveis de
estoque, melhorando a qualidade e criando vantagem competitiva e valor para a cadeia
de suprimentos.
Com o intuito de conseguir alcançar os objetivos principais da GCS, os Sistemas de
Coordenação de Ordens (SCOs) são ferramentas que apresentam grande potencial por já
serem usados e conseguirem bons resultados na coordenação entre processos de manufatura.
Os SCOs, traduzido do termo em inglês Ordering Systems, segundo FERNANDES e
GODINHO Filho (2007) podem ser definidos como sistemas que programam ou
organizam/explodem as necessidades em termos de componentes e materiais, e/ou controlam
a emissão/liberação das ordens de produção, compra e serviços, e/ou programam/seqüenciam
as tarefas nas máquinas. Dentre eles destacam-se os sistemas kanban, PERT/CPM, tambor-
corda-pulmão, CONWIP, MRP, PBC, entre outros. No entanto quando se observa a aplicação
destes sistemas para a coordenação de ordens entre fornecedores e clientes, eles não obtêm o
mesmo desempenho quando comparados na coordenação de ordens entre máquinas no
interior de uma planta.
Um dos SCOs que apresentam grande potencialidade para a cadeia de suprimentos é o
CONWIP que tem como principal pressuposto que o estoque em processo deve ser igual ao
número de containers na linha (FERNANDES e GODINHO Filho, 2007). BONVIK, COUCH
e GERSHWIN (1997) apontam este sistema como sendo uma estratégia de controle da
produção que limita o número máximo de peças permitidas dentro de um sistema ao mesmo
tempo e permite um apropriado mix de tipo de peças e variação do posicionamento do
estoque. O CONWIP é baseado na utilização cartões, assim como o Kanban. A principal
diferença é a de que, enquanto o Kanban realiza a coordenação do fluxo de materiais e
informação entre centros de trabalhos, no CONWIP os cartões realizam um circuito que inclui
a linha de produção inteira.
O CONWIP funciona da seguinte maneira, cada container transporta determinada
quantidade de material a ser processada e carrega consigo um cartão. O cartão é fixado ao
container no início da linha quando a produção de determinado item é liberada, o mesmo
Capa Índice 6740
passa por todos os estágios da produção até chegar ao estoque de produtos finais. Quando o
item final é requisitado pelo cliente (externo ou interno) e é retirado do estoque que ocorre a
variação do sistema. O container retorna ao estoque de containers vazio e o cartão vai para o
departamento de Planejamento e Controle da Produção (PCP). Tal departamento, a partir da
explosão do MPS gera o número de ordens que deve ser processa e aloca os cartões em um
backlog list. No entanto, só ocorre a movimentação de materiais a partir da baixa de um item
processado, sinalizado com a disponibilidade de um container vazio. A FIGURA 1 ilustra tal
mecanismo de funcionamento.
FIGURA 1: Funcionamento do CONWIP
Fonte: Elaborado pelos autores.
Almejando alcançar os principais objetivos da GCS muitas decisões de como gerenciar e
quais técnicas serão utilizadas em uma determinada cadeia de suprimentos são tomadas bom
base no feeling dos gestores da cadeia. Essas decisões podem ser acertadas, entretanto, tomar
decisões com base nas experiências e nas percepções pode ser arriscado por não apresentar
nenhum embasamento que comprove a eficácia e eficiência das decisões a serem tomadas.
Para reduzir os riscos das decisões a serem tomadas a Simulação Computacional é uma boa
ferramenta que permite a elaboração de cenários, para que os resultados atuais e futuros
possam ser comparados tornando a decisão mais sólida.
A simulação segundo Harrel et al (2002, p.2) “é um processo de experimentação com um
modelo detalhado de um sistema real para determinar como o sistema responderá a mudanças
em sua estrutura, ambiente ou condições de contorno”.
A simulação visa um processo de melhoria e otimização de resultados, partindo de uma
situação real para experimentações de diversas possibilidades de intervenção, caracterizando
cenários diferentes para o mesmo problema.
Simular é muito mais do que apenas utilizar um determinado software, o processo de
simulação é entendido com um projeto onde existem etapas a serem realizadas e recursos
necessários para sua execução. (BELGE, s.d.)
Capa Índice 6741
Harrel et al (2002) aborda diversos motivos para simular dentre eles que: através da
simulação pode prever resultados, é possível levar em conta as variâncias do sistema, a
simulação gera uma solução total e por ultimo ela pode ser financeiramente viável, pois não
são necessárias mudanças reais antes de testada sua eficiência e eficácia.
O projeto de simulação deve seguir algumas etapas para que o objetivo final de melhoria
seja atendido da melhor forma. Essas etapas se encontram disponíveis em diversas fontes
bibliográficas, e geralmente elas são dispostas de forma semelhante. As etapas serão aqui
apresentadas de maneira resumida com base em duas obras distintas, uma de autoria da Belge
Simulação (s.d.) e outra de Harrel et al (2002). Segundo esses autores para o sucesso de um
projeto de simulação é necessário que se siga alguns passos. Deve-se realizar um
planejamento do estudo realizando atividades como definição de objetivos, identificação de
restrições, preparação de especificações para a simulação, desenvolvimento de cronograma
dentre outras atividades. O próximo passo seria uma definição do sistema determinando dados
necessários, coleta e validação de dados, lembrando que esses dados devem representar toda a
aleatoriedade do sistema e devem ser coletados nas fontes corretas. O seguinte passo seria a
construção do modelo em si que representa a situação real, tal modelo deve ser verificado e
validado, com o modelo estruturado e validado deve-se partir para a condução dos
experimentos onde serão obtidos dados amostrais das situações reais e desejadas, e
estabelecimento de critérios para as replicações do modelo, tempos para inicio da coleta de
dados, etc.
Os dados obtidos através da simulação devem então ser analisados e então escolhidas as
melhores opções encontradas, tais opções passam por avaliações para que então possam ser
implementadas.
Mesmo os projetos de simulação tendo como objetivo a melhoria de requesitos ligados às
operações realizadas pela empresa o indicador mais importante e satisfatório para as empresas
está ligado ao retorno financeiro que o projeto gerou para a empresa. (HARREL et al, 2002).
4. Estudo de Caso
O estudo foi realizado na cadeia de suprimentos de uma empresa do ramo automobilístico
situada fora da grande São Paulo. O mesmo foi focado principalmente em como se dá a
relação entre um fornecedor especifico, que entrega componentes plásticos e realiza
montagem de subconjuntos, estando localizado dentro do condomínio industrial da
montadora.
Capa Índice 6742
A relação entre eles é muito estreita, a empresa fornecedora consegue visualizar
periodicamente os planos de produção mensal e diário juntamente com o sequenciamento da
produção para que possa realizar assim seu planejamento, esses documentos, principalmente o
de produção diária, recebem várias atualizações ao longo do dia e são enviados
automaticamente ao fornecedor via email aproximadamente a cada meia hora, entretanto essas
novas versões dos planos e sequenciamentos ainda sofrem alterações que o fornecedor não
consegue visualizar a tempo de conseguir enviar de maneira sequenciada os subconjuntos. A
variação do sequenciamento se dá, na maioria dos casos, pela falta de capacidade do setor de
pintura que não consegue entregar carrocerias pintadas de acordo com o sequenciamento
ideal, fazendo então com que o sequenciamento inicial seja alterado de acordo com
disponibilidades de carros pintados contido na seletividade, para que se possa produzir de
acordo com o takt-time e que possibilite o alcance das metas de produção diárias, mensais e
anuais.
Devido a essa grande variação, principalmente no sequenciamento da produção, é
necessário que o fornecedor envie os subconjuntos antes mesmo de serem necessários na
montagem, para que não faltem os mesmos no momento de ser montado o automóvel, e em
uma grande quantidade formando um estoque desnecessário ao lado da linha de produção
próximo ao local onde o subconjunto entra na linha de montagem e se junta às demais partes.
Além da formação desse estoque desnecessário na linha a empresa fornecedora ainda se
depara com outro problema, ela atualmente aloca três funcionários na linha de montagem para
que eles realizem o sequenciamento dos subconjuntos de acordo com o que está sendo
montado no momento, esses colaboradores selecionam o subconjunto o retiram da embalagem
e fazem o “pagamento” da linha, ou seja, eles colocam os subconjuntos na linha de montagem
no momento em que os mesmos são requeridos.
A alocação desses colaboradores na linha da montadora além de causar uma redução na
capacidade da mão de obra da fornecedora ainda esbarra em questões trabalhistas, pois não se
podem colocar funcionários de uma empresa trabalhando dentro de outra sem que as mesmas
apresentem algum vinculo de terceirização ou equivalente.
É de interesse de ambos, principalmente do fornecedor, que os subconjuntos sejam
enviados para a linha de montagem sequenciados para que possam reduzir ou até mesmo
eliminar o estoque de painéis anexo a linha de montagem, possibilitando também a retirada
dos colaboradores da planta da montadora dando um fim as irregularidades trabalhistas.
Capa Índice 6743
4.1 Proposta
Após o estudo de como está estruturado o relacionamento e como se dá o fluxo de
materiais e informações ao longo da cadeia produtiva foi possível então buscar através dos
SCOs disponíveis qual deles melhor se encaixaria e apresentava mais potencialidade para a
situação e atendesse melhor as necessidades das empresas.
Realizada a análise da bibliografia disponível com um estudo detalhado dos SCOs e suas
aplicabilidades foi então selecionado o sistema CONWIP, pois se acredita que com ele será
possível uma melhor coordenação do fluxo de materiais gerando uma redução de níveis
estoque (neste caso especifico do estoque de subconjuntos anexo a linha) e possibilitando a
retirada dos colaboradores do fornecedor da planta da montadora.
A escolha de deu por ele ser um SCO recomendado para sistemas de produção que
tenham baixa variedade, organizados em linhas de produção, a seqüência de fabricação seja a
mesma independente do produto e permite a reprogramação no curto prazo.
4.2 Análise comparativa de cenários via simulação
Os dois cenários passaram por um processo de validação para que os dados coletados pelo
software de simulação ProModel (sistema utilizado para a modelagem e simulação dos
cenários) pudessem ser considerados de boa qualidade e confiáveis. Dentro do processo de
validação o software Stat Fit foi utilizado para a obtenção do número necessário de
replicações que com um grau de confiança igual a 95% seriam necessários para a validação do
modelo. Foram então apontadas as necessidades de se realizar 31 replicações do cenário
proposto e 32 do cenário atual. Na simulação a interface gráfica pode ser observada na
FIGURA 2.
Capa Índice 6744
FIGURA 2: Interface gráfica cenário proposto no software ProModel
Fonte: Elaborado pelos autores
De posse dos resultados os dados obtidos via simulação foram então tabulados
constituindo assim a TABELA 1 que apresenta uma comparação entre os resultados médios
obtidos através dos cenários estudados.
TABELA 1: Análise comparativa de cenários Cenário Atual Cenário Proposto
Locais
Seletividade
168 entradas de entidades 176 entradas de entidades
Intervalo médio de 21,76 minutos entre as
entradas
Intervalo médio de 36,31 minutos entre as
entradas
Ocupada por 7,61 componentes em média Ocupada por 11,50 componentes em média
Ocupação máxima de 12 entidades Ocupação máxima de 19 entidades
Ocupada por uma entidade ao fim da
simulação
Ocupada por uma entidade ao fim da
simulação
Utilizado em 6,19 % do tempo Utilizado em 9,35% do tempo
Linha de Montagem
127 entradas de entidades 167 entradas de entidades
Capa Índice 6745
Intervalo médio de 2,87 minutos entre as
entradas
Intervalo médio de 2,87 minutos entre as
entradas
Ocupada por 1 componentes em média Ocupada por 1 componentes em média
Ocupação máxima de 1 entidades Ocupação máxima de 1 entidades
Ocupada por uma entidade ao fim da
simulação
Ocupada por uma entidade ao fim da
simulação
Utilizado em 99,93% do tempo Utilizado em 99,93% do tempo
Encontra-se em operação por 89,77% do
tempo
Encontra-se em operação por 89,77% do
tempo
Apresenta capacidade disponível 0,07% do
tempo
Apresenta capacidade disponível 0,07% do
tempo
Encontra-se em estado de espera por 10,16%
do tempo
Encontra-se em estado de espera por 10,16%
do tempo
Estoque Subconjuntos Linha
236 entradas de entidades 184 entradas de entidades
Intervalo médio de 146,26 minutos entre as
entradas
Intervalo médio de 60,60 minutos entre as
entradas
Ocupada por 71,91 componentes em média Ocupada por 23,23 componentes em média
Ocupação máxima de 81 entidades Ocupação máxima de 38 entidades
Ocupada por 69 entidades ao fim da
simulação
Ocupada por 9 entidades ao fim da simulação
Utilizado em 74,91% do tempo Utilizado em 52,80% do tempo
Chegadas Subconjuntos
158 entradas de entidades 166 entradas de entidades
Intervalo médio de 46,82 minutos entre as
entradas
Intervalo médio de 27,75 minutos entre as
entradas
Ocupada por 15,41 componentes em média Ocupada por 9,60 componentes em média
Ocupação máxima de 25 entidades Ocupação máxima de 22 entidades
Ocupada por 2 entidades ao fim da simulação Ocupada por 4 entidades ao fim da simulação
Utilizado em 0,10% do tempo Utilizado em 0,01% do tempo
Entidades
Subconjuntos
Saíram do sistema 167 subconjuntos Saíram do sistema 167 subconjuntos
Capa Índice 6746
Ao fim da simulação se encontravam 71
unidades de subconjuntos
Ao fim da simulação se encontravam 13
unidades de subconjuntos
Cada subconjunto permaneceu no sistema por
em média 186,96 minutos
Cada subconjunto permaneceu no sistema por
em média 79,90 minutos
Em movimentação a entidade subconjuntos
utilizou em média 0,29 minutos
Em movimentação a entidade subconjuntos
utilizou em média 0,29 minutos
Durante a simulação os subconjuntos
esperaram em média 8,19 minutos para serem
processadas
Durante a simulação os subconjuntos
esperaram em média 25,97 minutos para
serem processadas
A entidade fica impedida de ao próximo
local, por falta de capacidade do local, por em
média 162,85 minutos
A entidade fica impedida de ao próximo
local, por falta de capacidade do local, por
em média 53,64 minutos
Carroceria
Saíram do sistema 166 carrocerias Saíram do sistema 166 carrocerias
Ao fim da simulação se encontravam 2
unidades de carroceria
Ao fim da simulação se encontravam 2
unidades de carroceria
Cada subconjunto permaneceu no sistema por
em média 24,62 minutos
Cada carroceria permaneceu no sistema por
em média 24,62 minutos
Durante a simulação os subconjuntos
esperaram em média 18,85 minutos para
serem processadas
Durante a simulação as carrocerias esperaram
em média 18,85 minutos para serem
processadas
A entidade fica impedida de ir ao próximo
local, por falta de capacidade do local, por em
média 2,86 minutos
A entidade fica impedida de ir ao próximo
local, por falta de capacidade do local, por
em média 2,86 minutos
Em processamento a entidade fica no sistema
por em média 2,92 minutos
Em processamento a entidade fica no sistema
por em média 2,92 minutos Fonte: Elaborada pelos autores
É importante ressaltar que os dados mais expressivos para o julgamento e análise
comparativa entre o desempenho dos cenários são os que de algum modo se referem
diretamente ao subconjunto ou estão diretamente relacionados a ele como os locais Estoque
Subconjuntos Linha e Chegada Subconjuntos, isso porque o objetivo é analisar como a
utilização de SCOs para a coordenação de fluxo de materiais dentro da cadeia de suprimentos
contribui para a melhoria do desempenho da cadeia. Para este caso o esperado é uma redução
Capa Índice 6747
nos estoques de subconjuntos que ficam anexos a linha e a retirada de colaboradores do
fornecedor que trabalham na planta da montadora automobilística de maneira irregular.
5. Considerações Finais
A utilização de SCOs aliados às práticas logísticas abordando o escopo do gerenciamento
de relacionamentos entre elos de uma cadeia de suprimentos se mostrou uma ferramenta que
pode ser cada vez mais difundida e bastante útil, que pode trazer grandes benefícios às
empresas envolvidas fazendo com que as mesmas consigam em conjunto alcançar seus
objetivos.
Neste estudo de caso a utilização do SCO CONWIP foi bastante oportuna, com sua
utilização foi possível gerar uma redução dos níveis de estoque algo que é pretendido pelas
envolvidas, como mostra os dados obtidos.
Vale ressaltar que decisões a cerca da viabilidade da utilização de SCOs para
gerenciamento de algum relacionamento não se pode ser tomada de modo aleatório ou de
acordo com o feeling, é importante que se realize um estudo detalhado para que a escolha do
SCO seja adequada e sua utilização não cause prejuízos ao invés de danos, o ideal é tomar
decisões com base em resultados concretos.
Mais uma vez a simulação computacional mostrou-se uma ferramenta útil pela sua grande
flexibilidade possibilitando com que a cadeia estudada fosse representada de maneira mais
próxima da atual realidade, além de gerar dados que embasam de maneira sólida a tomada de
decisão.
Com isso o objetivo foi alcançado, pois este estudo mostra que é possível a utilização de
SCOs para gerenciamento de relações na CS de maneira satisfatória, abrindo porta para novos
estudos e também iniciando uma abordagem a cerca da coordenação do fluxo de materiais e
informações na cadeia de suprimentos.
Destaca-se que o trabalho ficou limitado em uma proposta teórica visto que tal proposta
não foi implementada na empresa. Assim, não foi possível a análise do funcionamento na
realizada da proposta realizada. No entanto, como trabalhos futuros, sugere-se a realização da
implementação na empresa estudada e a avaliação da proposta, bem como, o estudo de
utilização de outros SCOs em outros relacionamentos na cadeia de suprimentos. Como
principal contribuição acadêmica deste trabalho, destacam-se proposições de estudos do uso
de SCOs em cadeias de suprimentos para a coordenação de fluxo de produção.
Capa Índice 6748
6. Referências bibliográficas
ALENCAR, E. Introdução à metodologia de pesquisa social. Lavras: UFLA/FAEPE, 1999.
BALLOU, R. H. The evolution and future of logistics and supply chain management. IN:
European Business Review, v.16, n.4, 2007.
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Sistemas Ltda, São Paulo – SP (s.d.)
BONVIK, A. M.; COUCH, C. E.; GERSHWIN, S. B. A comparison of Production-Line
Control Mechanisms. International Journal of Production Research, v. 35, n. 3, p. 789-
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CHOPRA, Sunil; MEINDL, Peter. Gerenciamento da cadeia de suprimentos. São Paulo:
Prentice Hall, 2003.
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revisão, classificação, funcionamento e aplicabilidade. IN: Gestão & Produção, São
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PONTE, João Pedro. Estudos de caso em educação matemática. Bolema, 25, 105-132.
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Atlas, 2007.
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XVII encontro nacional de engenharia de produção – ENEGEP. Gramado/RS, 1997.
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SP, 2002.
“REVISADO PELO ORIENTADOR”
Capa Índice 6749
Equipamentos de Proteção Individual na área de expurgo em Centro de Material e
Esterilização: adesão e conhecimentos dos trabalhadores.
Joyce Rutyelle da Serra1
Anaclara Ferreira Veiga Tipple2
Resumo: O objetivo deste estudo foi identificar a adesão dos trabalhadores da área de
expurgo aos EPI durante as atividades realizadas neste setor, verificar a disponibilidade dos
EPI e descrever o conhecimento destes trabalhadores a respeito do uso dos EPI indicados.
Estudo de caráter transversal, descritivo, observacional e quantitativo realizado na unidade de
expurgo do Centro de material e Esterilização de um hospital escola de Goiânia. A coleta de
dados foi realizada por meio de observação direta dos trabalhadores e aplicação de um
questionário estruturado aos sujeitos da observação. Participaram 21 trabalhadores e os dados
identificaram que houve baixa adesão as luvas grossas e máscara N95. Concluimos que a
adesão dos trabalhadores aos EPI foi inferior ao uso relatado, o profissional afirma uma
prática, entretanto, a realidade verificada pela observação revelou que nenhum dos sujeitos
obteve adesão a todos os EPI recomendados. O hospital disponibilizou os EPI em quantidade
suficiente para todos os trabalhadores no período de quatro meses do estudo. Indentificou-se
frágil conhecimento com repercussão na adesão referente aos EPI indicados para o trabalho na
unidade de expurgo. Ninguém soube citar corretamente todos os EPI nem utilizou todos os
recomendados, contribuindo para a compreensão de que a educação continuada a esse respeito
precisa ser reforçada na unidade. .
Palavras chave: Enfermagem, Exposição a agentes biológicos, Risco ocupacional
Equipamentos de Proteção, saúde do trabalhador.
1 Acadêmica de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: joyce [email protected]
2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. Orientadora e revisora da pesquisa. E-mail: [email protected]
Capa Índice 6750
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6750 - 6763
Introdução
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) define o risco biológico como a probabilidade
da exposição ocupacional a agentes biológicos como microrganismos, geneticamente
modificados ou não; as culturas de células; os parasitas; as toxinas e os príons. Essa exposição
acontece em locais de trabalho por meio de perfurações com agulhas, objetos cortantes,
respingos em mucosa oral, nasal e ocular, ou ainda por contato direto com a pele lesionada
(MIRANDA et al, 2011).
Em uma exposição ocupacional a sangue, causada por acidente com perfurocortante,
pelo menos vinte patógenos podem ser transmitidos, dentre eles destacam-se pela maior
importância epidemiológica os vírus da imunodeficiência humana - HIV, da hepatite B - HBV
e hepatite C – HCV (CARDO, 1997).
Associação Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e
Centro de Material e Esterilização (SOBECC) conceitua o CME como uma unidade que tem a
função de realizar o processamento de artigos odonto-medico-hospitalares: limpeza, preparo,
empacotamento, esterilização, armazenamento e distribuição e seus trabalhadores devem ser
exclusivamente da equipe de enfermagem (SOBECC, 2009).
A primeira etapa do processamento é a da limpeza dos artigos. Esta etapa é
considerada de extremo risco para seus trabalhadores, principalmente quando é realizada
manualmente. O uso de EPI pelos trabalhadores durante a limpeza dos artigosminimiza o
risco de contato direto da pele e das mucosas com qualquer material contaminado
(GRAZIANO et al 2002)
Segundo orientações da (SOBECC, 2009) na área de expurgo os equipamentos de proteção
individual recomendados são: luvas grossas de borracha antiderrapante e de cano longo,
avental impermeável, gorro, máscara, óculos e botas impermeáveis.
Tipple et al (2004), identificou que entre os trabalhadores de enfermagem do CME,
que exerciam atividades no expurgo 29,8%relataram ter sofrido acidente com material
biológico.Dados que reforçam a necessidade da utilização de todos os EPI recomendados para
essa unidade hospitalar.
Carvalho e Chaves (2010) identificaram em seu estudo, que apesar da maioria dos
trabalhadores da enfermagem afirmar que em seu local de trabalho havia os equipamentos de
proteção individual disponíveis, metade dos que sofreram acidentes não usavam os EPI
recomendados e quando questionados sobre os motivos do não uso alegaram ser
desnecessário por não haver contaminação.
Capa Índice 6751
Quais os motivos da diferença entre disponibilidade e uso dos EPI, seria uma
deficiência no conhecimento dos trabalhadores da área de expurgo quanto à importância
desses equipamentos e sua finalidade? Os trabalhadores sabem quais são os EPI indicados
para essa unidade?
Esse estudo se propõe a realizar um diagnóstico situacional quanto ao conhecimento
por parte dos trabalhadores a respeito dos equipamentos de proteção individual recomendados
para uso no expurgo e a adesão por esses trabalhadores aos EPI. Dessa forma pode contribuira
compreensão do risco biológico na prática laboral nessa unidade hospitalar e subsidiar ações
de educação continuada.
Os objetivos desse estudo foram:
- Identificar a adesão dos trabalhadores da área de expurgo aos Equipamentos de
Proteção Individual recomendados para o trabalho nesta unidade;
-Verificar a disponibilidade pelo hospital dos Equipamentos de Proteção Individual
para os trabalhadores da área de expurgo;
- Descrever o conhecimento dos trabalhadores de Centro de Material e Esterilização
sobre os Equipamentos de Proteção Individual indicadose sua importância para o trabalho no
setor de expurgo.
Procedimentos Metodológicos
Este estudo é parte do projeto “Risco biológico relacionado ao processamento de
artigos odonto-médico-hospitalares em um hospital de ensino de Goiânia: implicações para os
trabalhadores e usuários”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e
Animal do hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás sob o protocolo CEP/ HC/
UFG nº 167/ 2011. A participação dos sujeitos foi livre e mantivemos fiel observação às
recomendações da Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
Trata-se de um estudo transversal, descritivo, observacional e quantitativo que fo i
realizado no Centro de Material e Esterilização de um hospital de ensino, de grande porte. O
estudo transversal analisa e coleta os dados relacionados ao individuo num único momento. O
estudo descritivo tem como foco a descrição e a distribuição de determinado assunto e/ou
subgrupo (GREENHALGH, 2008).
O hospital, local do estudo, tem por finalidade assistência, pesquisa, ensino e extensão.
A demanda cirúrgica e alta, no ano de 2010 (última estatística publicada) foram realizadas
9327 cirurgias, 690 partos e 2250 pequenas cirurgias. O hospital conta com 316 leitos, o CME
Capa Índice 6752
é centralizado sendo que o fluxo de artigos é unidirecional com barreiras físicas entre as áreas
suja, limpa e de material estéril. A limpeza dos artigos e realizada predominantemente pelo
processo manual (HOSPITAL DAS CLÍNICAS, 2010).
Foram critérios de inclusão: ser trabalhadores do CME ou estagiário que realizar
atividades no setor de expurgo e estar presente no período da coleta de dados.
Os dados foram coletados de duas formas:
1) Observação direta dos trabalhadores na realização do processo de limpeza dos artigos
visando identificar a adesão do trabalhador aos EPI recomendados para uso no expurgo. As
observações foram realizadas duas vezes por semana seguindo um roteiro semi-estruturado,
construído considerando as recomendações da (SOBECC, 2009) sobre EPI na área de
expurgo. Foram escolhidos os horários de maior demanda de trabalho na unidade para a
realização da observação, que corresponde ao final dos procedimentos cirúrgicos por turno,
das 11:30 às 13:30 e das 17:30 às 19:00h, no período de agosto a dezembro de 2011.
Para as observações um pesquisador ficou posicionado no corredor de circulação, externo ao
CME, que possui amplas janelas de vidro e permite ótima visão do interior da unidade. A
disponibilidade dos EPI foi registrada semanalmente totalizando 16 oportunidades de
conferência.
2) Aplicação de um questionário estruturado aos sujeitos da observação de acordo com
disponibilidade de cada um. O trabalhador foi abordado individualmente e informado sobre os
objetivos do estudo e quanto à observação realizada, sendo convidado a participar e aos que
consentiram, a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de ambas as etapas.
Nos casos de recusa os dados da observação foram descartados. A aplicação do questionário
foi realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 2012 e obteve-se o consentimento do
enfermeiro gerente da unidade que facilitou o acesso às informações quanto à escala dos
trabalhadores e disponibilidade dos EPI.
Os instrumentos foram previamente avaliados e foi realizado um teste piloto em um hospital
de outro município. Para análise foi utilizada a frequência simples e os dado s foram
apresentados em forma de tabelas e figuras posteriormente revisado pelo professor orientador.
Resultados
A média mensal de trabalhadores na escala do CME nos turnos de trabalho
investigados no período de estudo foi de 62 profissionais, desses ao longo do período de
Capa Índice 6753
estudo 31 cumpriram escala de trabalho no expurgo nos períodos matutino e vespertino. A
figura 1 mostra o número de participantes no estudo.
Total de trabalhadores escalados no expurgo e
observados = 31
Trabalhadores de licença = 1
Recusas = 9
Total de participantes do estudo = 21
Figura 1: Fluxograma dos trabalhadores da unidade de expurgo do Centro de Material e Esterilização nos períodos matutino e vespertino de um hospital escola de Goiânia que participaram do estudo, 2012
Dos 21 sujeitos participantes; 16 desempenhavam atividades regulares no setor de
expurgo e eram lotados no CME e cinco desempenhavam atividades ocasionalmente
incluindo estagiários e trabalhadores em Adicional de Plantão Hospitalar – APH. A tabela 1
apresenta as características dos sujeitos
Tabela 1: Caracterização dos trabalhadores da unidade de expurgo do Centro de Material e Esterilização de um Hospital escola. Goiânia-GO, 2012
Variável N %
Categoria Técnico de enfermagem 15 71,4 Enfermeiro 3 14,2 Estagiário de enfermagem 2 9,5 Auxiliar de enfermagem 1 4,7
Tempo de serviço
Inferior a 1 ano
4
19,0 De 1 a 5 anos 7 33,0 De 5 a 10 anos 2 9,5 Superior a 10 anos 8 38,0
TOTAL 21 100,0
Capa Índice 6754
Houve predomínio de técnicos de enfermagem e quanto ao tempo de atuação no
serviço foi superior a 10 anos. Todos relataram ter recebido orientações sobre o uso de EPI e
referiram que seu uso é importante e indispensável para as atividades desempenhadas no
expurgo. Entretanto, nenhum soube citar corretamente todos os EPI necessários para o
trabalho nessa unidade. A tabela 2 apresenta os dados relatados pelos trabalhadores a respeito
da disponibilidade e da frequência de uso dos Equipamentos de Proteção Individual.
Tabela 2: Disponibilidade dos Equipamentos de Proteção Individual e frequência da adesão referida por trabalhadores da unidade de expurgo de um Centro de Material e Esterilização de um Hospital escola. Goiânia-GO, 2012
Variável
Disponibilidade Uso
N % N %
Gorro 21 100,0 21 100,0 Máscara cirúrgica 21 100,0 20 95,2 Luva de procedimento 21 100,0 21 100,0 Luva cirúrgica 21 100,0 20 95,2 Unissex 21 100,0 21 100,0 Capote 21 100,0 20 95,2 Avental impermeável 21 100,0 20 95,2 Propé 21 100,0 20 95,2 Óculos de proteção 20 95,2 15 71,4 Luva grossa 19 90,4 3 14,2 Botas 19 90,4 16 76,1 Protetor facial 18 85,7 3 14,2 Máscara N95 10 47,6 0 0 Sapato fechado impermeável - - 1 4,7
TOTAL 21 100,0 21 100
A maioria dos trabalhadores relatou a disponibilidade da maioria dos EPI, bem
como o seu uso para as atividades no expurgo. Para o gorro, luva de procedimento e unissex a
disponibilidade e o uso relatado foram de 100%. Para a máscara cirúrgica, luva cirúrgica,
capote, avental impermeável e propé a disponibilidade relatada foi de 100% e o uso relatado
foi de 95,2%. Para os demais EPI houve maiores variações entre a disponibilidade e o uso
relatados, sendo as maiores diferenças para o protetor facial e a máscara N95 que obtiveram
85,7% e 47,6% e 14,2% e zero respectivamente.
No período de quatro meses que totalizou 16 semanas de conferência da
disponibilidade dos EPI, constatou-se que gorros, máscaras cirúrgicas, máscaras N95, óculos
de proteção, protetores faciais, unissex, capotes, luvas de procedimento, luvas cirúrgicas,
Capa Índice 6755
luvas grossas de borracha antiderrapante com cano médio (tipo doméstica) e botas estavam
disponíveis para todos os trabalhadores. Apenas os aventais impermeáveis não estavam
disponíveis em duas oportunidades.
No setor de expurgo da unidade eram escalados de um a três trabalhadores por
turno. Considerando que a observação da adesão foi realizada duas vezes por semana, no
período do estudo foram realizadas 54 oportunidades de observação, sendo que o número de
observações por sujeito variou de uma a seis vezes, conforme figura 2 Número de trabalhadores observados
TO
TAL
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Núm
ero
de d
ias o
bser
vado
s
1 X X X 3
2 X 1
3 X X 2
4 X X 2
5 X 1
6 X X 2
7 X X 2
8 X 1
9 X X 2
10 X X 2
11 X X 2
12 X X 2
13 X X 2
14 X 1
15 X X 2
16 X X 2
17 X 1
18 X X 2
19 X X 2
20 X X 2
21 X 1
22 X 1
23 X X 2
24 X X 2
25 X X 2
26 X 1
27 X X 2
28 X X 2
29 X 1
30 X X 2
31 X 1
32 X 1
TOTAL 4 3 6 4 3 1 4 2 2 3 3 1 4 2 3 3 1 1 2 1 1 54
Figura 2: Indicativo da realização das observações que referente a adesão dos trabalhadores da unidade de expurgo aos Equipamentos de Proteção Individual do Centro de Material e Esterilização de um Hospital escola. Goiânia-GO. 2012
Capa Índice 6756
A tabela 3 apresenta os dados que foram observados pelo pesquisador e representa,
portanto, a adesão dos trabalhadores ao EPI durante as atividades laborais na unidade de
expurgo nas 54 oportunidades.
Tabela 3: Adesão dos trabalhadores aos Equipamentos de Proteção Individual (N=54) na unidade de expurgo de um Hospital escola. Goiânia-GO, 2012
Adesão
Sim Não
N % N %
Máscara cirúrgica
54
100,0
0
0 Unissex 54 100,0 0 0 Capote 54 100,0 0 0 Botas de borracha/ Sapato fechado impermeável 54 100,0 0 0 Luva cirúrgica 53 98,1 1 1,8 Luva de procedimento 53 98,1 1 1,8 Gorro 52 96,2 2 3,7 Óculos de proteção 32 59,2 22 40,7 Avental impermeável 26 48,1 28 51,8 Propé 4 7,4 50 92,6 Protetor facial 3 5,5 51 94,4 Máscara N95 1 1,8 53 98,1 Luva grossa 1 1,8 53 98,1
TOTAL 54 100,0 54 100,0
Os EPI que obtiveram 100% de adesão foram; máscara cirúrgica, unissex, capote e
botas de borracha/ sapato fechado. A luvas de procedimento, cirúrgicas e gorro obtiveram
adesão superior a 90%. A adesão aos óculos protetores foi de 59,2% e obtiveram índices de
adesão inferiores a 50% o avental impermeável, o protetor facial, a mascara N95 eas luvas
grossas; 48,1%, 5,5%, 1,8% e 1,8%, respectivamente. A adesão aos EPI foi menor quando
comparada a adesão relatada.
A tabela 4 relaciona os dados que foram relatados pelos trabalhadores e os dados
observados pelo pesquisador com relação à adesão aos EPI durante as atividades laborais na
unidade de expurgo.
Capa Índice 6757
Tabela 4: Adesão relatada (N=21) e adesão observada (N=54) aos Equipamentos de Proteção Individual por trabalhadores da unidade de expurgo de um Hospital escola. Goiânia-GO, 2012
Variável
Uso relatado Adesão
N % N %
Unissex
21
100,0
54
100,0 Gorro 21 100,0 52 96,2 Luva de procedimento 21 100,0 53 98,1 Máscara cirúrgica 20 95,2 54 100,0 Luva cirúrgica 20 95,2 53 98,1 Capote 20 95,2 54 100,0 Avental impermeável 20 95,2 26 48,1 Propé 20 95,2 4 7,4 Botas 16 76,1 50 92,5 Óculos de proteção 15 71,4 32 59,2 Luva grossa 3 14,2 1 1,8 Protetor facial 3 14,2 3 5,5 Sapato fechado impermeável 1 4,7 4 7,4 Máscara N95 0 0 1 1,8
TOTAL 21 100,0 54 100,0
Foi questionado os motivos da baixa adesão a alguns EPI e as justificavas foram
agrupadas segundo o tipo de equipamento:
Luvas grossas: Perda de sensibilidade edificuldade nos movimentos, desconforto,
falta de disponibilidade, não ajuste do cano ao braço o que permite a entrada da água e
molhar os braços e torna o serviço mais lento.
Máscara N95: Falta de disponibilidade, dificuldade para respirar, calor e falta de
cobrança.
Óculos de proteção: Embaça facilmente, esquecimento e desconforto quando
utilizado sobre os óculos de grau.
Botas: são muito pesadas, machucam os pés, são de uso coletivo, provocam alergia,
numeração incorreta, possuem mal cheiro e medo de micoses.
Visando buscar relação entre uso de EPI e ocorrência de acidentes com
material biológico na unidade de expurgo, uma vez que nessa unidade o trabalhador
manuseia, constantemente, material perfuro-cortante contaminado investigou-se a ocorrência
de acidentes com material biológico no cotidiano dos trabalhadores participantes. Assim foi
solicitado que o trabalhador descrevesse os dados referentes a um acidente ocorrido no
Capa Índice 6758
expurgo, que poderia ter ocorrido com ele ou que foi presenciado por ele, portanto esse índice
não reflete a incidência de acidentes envolvendo material biológico nesse grupo.
Cinco trabalhadores foram vítimas e outros nove presenciaram acidentes,
totalizando 14 descrições de casos de acidentes no expurgo. Os acidentes foram provocados
por pinça (9/64,2%), Lâmina de bisturi (1/ 7,1%) e fio de Stainer (1/ 7,1%) e três (21,4%) não
souberam informar. Em todas as exposições foi realizada a lavagem local com água e sabão e
em oito (57,6%) as vítimas foram encaminhadas para atendimento médico. Com relação aos
EPI no momento do acidente, a maioria não soube relacionar o conjunto dos EPI, entretanto
todos afirmaram que a vítima não utilizava luvas grossas. Discussão
Os trabalhadores atuantes no expurgo são na maioria técnicos de enfermagem,
correspondendo ao preconizado pela SOBECC (SOBECC, 2009) que considera a limpeza dos
artigos uma responsabilidade principalmente de técnicos e auxiliares de enfermagem, sendo
que o enfermeiro deve atuar na supervisão dessas atividades.
A limpeza é a etapa fundamental do processamento de artigos, mas apesar de sua
relevância essa atividade é considerada de menor importância, sem necessidade de
treinamento e supervisão. Essa crença favorece a ocorrência de falhas no processo que acaba
sendo delegado a pessoas despreparadas, desmotivadas e desvalorizadas (GRAZIANO;
PSALTIKIDIS, 2011). Para a limpeza dos artigos são recomendados os seguintes EPI: luvas
grossas de borracha antiderrapante e de cano longo, avental impermeável, gorro, máscara,
óculos e botas impermeáveis (SOBECC, 2009).
A disponibilidade conferida pelo pesquisador (100% para todos os EPI, exceto para o
avental impermeável - 87,5%) atende a recomendação da Norma Regulamentadora nº 32 que
preconiza que os EPI descartáveis ou não, deverão estar à disposição em número suficiente
nos postos de trabalho de forma que seja garantida o imediato fornecimento ou reposição
(Brasil, 2005). Um estudo (TIPPLE et al, 2008) também verificou que a disponibilidade dos
EPI para a área de expurgo foi maior do que os trabalhadores consideraram como necessário
porém a adesão foi menor que a disponibilidade.
Verificou-se que as luvas grossas possuíam tamanho único e inadequado para os
trabalhadores contrariando a legislação citada que prevê que os EPI devem ter adequado
ajuste ao corpo do trabalhador evitando assim a ampliação do risco de contato direto com a
matéria orgânica (BRASIL, 2005). Dados desse estudo mostram que os trabalhares apontaram
Capa Índice 6759
motivos para o não uso da luva grossa disponível na unidade que incluem: a perda de
sensibilidade, dificuldade nos movimentos, desconforto e ainda que o não ajuste do cano ao
braço permite a entrada da água. Assim o não cumprimento da legislação, nesse caso,
representou um maior risco de exposição a material biológico por parte do trabalhador como
previsto na legislação.
Um estudo sobre EPI em CME de 12 hospitais do município de Goiânia que
incluía o local desse estudo mostrou que a maioria dos trabalhadores do setor de expurgo
utilizava luvas de procedimento durante a limpeza dos artigos, que foram consideradas
inapropriadas pelos autores por apresentar microfuros, além de serem facilmente perfuradas e
rasgadas por artigos pontiagudos (TIPPLE et al, 2008). Observa-se, portanto que a prática do
uso de luvas finas durante a lavagem dos artigos permanece ao longo desse tempo.
Neste estudo observamos que dos 21 trabalhadores participantes 14 (66,6%)
sofreram ou presenciaram algum tipo de acidente envolvendo material biológico e em
nenhum dos casos houve relato da utilização das luvas grossas. Mesmo que as luvas grossas
não sejam capazes de impedir um acidente percutâneo, é consenso que elas diminuem a
quantidade de inoculo, portanto também o risco de transmissão de patógenos vinculados pelo
sangue (RAPPARINI; REINHARDT, 2010).
Em nosso estudo a adesão foi baixa também para os óculos de proteção e o protetor
facial. Levamos em conta que a SOBECC (2009) considera que um pode substituir o outro
para a proteção dos olhos , mesmo somando a adesão dos ambos 35,3% dos trabalhadores não
utilizaram proteção alguma para os olhos. Em contraponto, apesar da substituição ser
recomendada pela literatura, vale lembrar que o protetor facial não oferece vedação lateral
que é indispensável no caso da lavagem manual como predominante no local do estudo. Na
lavagem manual ocorre a formação e dispersão de aerossóis para os quais o protetor facial não
confere barreira total, podendo haver exposição do rosto e da mucosa ocular.
Ressalta-se a importância da adesão de 100% dos trabalhadores às botas de
borracha/ sapato fechado impermeável que são preconizadas (SOBECC, 2009), sendo as
botas disponibilizadas pelo hospital, uma vez que a limpeza manual mantem constantemente a
área do expurgo molhada.
Alguns trabalhadores que substituíam as botas pelo sapato fechado impermeável
utilizavam também o propé que não confere maior segurança e ainda pode aumentar o risco
de exposição do trabalhador no momento da sua retirada (SANTOS et al, 2005). Entretanto,
algumas dificuldades em usar as botas referidas pelos trabalhadores como: machucar os pés,
ser de uso coletivo, provocar alergia, possuir cheiro e oferecer risco de micoses, poderiam ser
Capa Índice 6760
minimizadas pelo uso dos propé antes do o uso das botas ou seja com a finalidade de antepor.
Hipótese que precisa ser investigada e testada na prática do trabalho em expurgo.
Para Rapparine e Reinhardt (2010) a baixa adesão a alguns EPI se deve ao fato de
que os trabalhadores tem dificuldade em alterar práticas antigas que já se tornaram hábitos e
acreditam que o risco de ser vítima de acidente envolvendo material biológico é inexistente ou
mínimo. Para os autores alguns fatores psicossociais influenciam na adesão do trabalhador ao
EPI recomendado para sua própria proteção, como: baixa percepção do risco, acreditar que as
precauções não são justificadas na maioria das situações e aumento da demanda de trabalho
exigindo um ritmo rápido de produtividade (RAPPARINI; REINHARDT, 2010).
Verificou-se entre os fatores impeditivos à adesão que alguns são correspondentes
aos motivos citados acima e, por outro lado, quando os trabalhadores foram questionados
sobre os EPI recomendados para o trabalho no expurgo, ninguém soube citar corretamente
todos os EPI necessários, embora 100% os considerem indispensáveis para o trabalho nessa
unidade.
Conclusão
A adesão dos trabalhadores da área de expurgo aos EPI foi inferior ao uso relatado, o
profissional afirma uma prática, entretanto, a realidade verificada pela observação revelou que
nenhum dos sujeitos obteve adesão a todos os EPI recomendados e o hospital disponibilizou
os EPI em quantidade suficiente para todos no período de quatro meses do estudo.
Indentificou-se frágil conhecimento dos trabalhadores em relação aos EPI com
repercussão na adesão aos indicados para o trabalho na unidade de expurgo. Ninguém soube
citar corretamente todos os EPI nem utilizou todos os recomendados, contribuindo para a
compreensão de que a educação continuada a esse respeito precisa ser reforçada na unidade.
Capa Índice 6761
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Capa Índice 6763
POPULAÇÕES RURAIS E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS: a comunidade
São Domingos em Catalão (GO)1
Jozimar Luciovânio Bernardo Graduando do Curso de Letras, Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão.
Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq). E-mail: [email protected]
Estevane de Paula Pontes Mendes
Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão. Núcleo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (NEPSA/CNPq).
E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Cultura. Léxico. Religiosidade. Catalão (GO).
1 Introdução
As populações rurais são foco de estudos que buscam identificar aspectos culturais
preservados desde tempos em que a produção se baseava em saberes e técnicas tradicionais,
uma vez que, no decorrer do tempo, a modernização resultante do avanço do capitalismo nos
vários setores da sociedade acabou, também, se refletindo no campo. Ressalta-se que esse
progresso trouxe aperfeiçoamento e evolução das técnicas de produção praticadas por grupos
familiares agrícolas em suas propriedades e, assim, facilitou o processo produtivo, bem como
gerou renda capaz de surtir melhorias na qualidade de vida dos produtores desse setor.
Todavia, o progresso capitalista sobre o meio rural afetou as relações de trabalho, a
organização, a produção e os costumes que os sujeitos, outrora, exerciam em suas
comunidades. Do mesmo modo, deve-se ter consciência que há pontos negativos resultantes
desse avanço como, por exemplo, redução da qualidade dos alimentos pelo uso excessivo de
agrotóxicos, baixa diversidade dos gêneros cultivados e aumento do preço dos produtos.
Logicamente, isto não se generaliza a todas as esferas da produção agrícola, entende-se que,
atualmente, ainda existam grupos possuidores de um modo de produzir no qual procuram
preservar técnicas e conhecimentos herdados de seus antepassados, como também elementos
da cultura deles que contribuem para o processo produtivo e para as relações sociais
estabelecidas na comunidade onde vivem e se relacionam dentro da coletividade.
Os grupos familiares de produção agrícola se enquadram no contexto acima, pois,
diferente dos grandes produtores, eles ainda mantêm muitos dos traços tradicionais e possuem
uma intensa correlação entre terra, trabalho e família, além do mais, buscam preservar e
Capa Índice 6764
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6764 - 6778
valorizar seu patrimônio sociocultural. Assim sendo, esta pesquisa toma produtores agrícolas
familiares da comunidade São Domingos em Catalão (GO) como objeto de estudo para
identificação de fatores socioculturais que estes ainda preservam e/ou mantém em suas
memórias. Isso coopera para o estudo da religiosidade presente nessa Comunidade, posto que
esta variável introduz-se no acervo cultural da sociedade e auxilia na compreensão do
comportamento dos sujeitos sociais dentro de seu meio de vivência.
Com o intuito de tornar este estudo interdisciplinar, optou-se por levantar questões de
linguagem que oferecessem subsídios que melhor evidenciem a existência dos aspectos da
religiosidade pesquisada na Comunidade. A partir dessas considerações, objetivou-se estudar
as manifestações religiosas, na comunidade São Domingos no município de Catalão (GO), a
partir da relação entre língua e cultura e tendo o léxico como fator da língua que melhor
reflete o ambiente físico e social em que os falantes se inserem.
A justificativa para realização deste trabalho parte do pressuposto de que os moradores
de comunidades rurais são indivíduos ligados aos valores e crenças que herdaram de seus
antepassados, e que é no seu dia-a-dia e nas ocasiões de manifestações culturais que melhor se
percebe como a religiosidade permeia a vida deles em seus vários aspectos, e a língua, como
transmissora dessa cultura, depende de toda a cultura porque tem que expressá-la a cada
momento e refleti-la no seu sistema de signos, o qual os falantes se utilizam para
comunicação. A motivação pessoal advém do fato de eu fazer parte desse mundo rural,
mesmo que atualmente já esteja morando na área urbana do município de Catalão (GO), vivi
durante 20 anos na Comunidade alvo da pesquisa. Vejo esta oportunidade como importante
para o desenvolvimento de uma perspectiva científica em torno do assunto, o que propicia
uma discussão compartilhada com outros autores que trabalham o mesmo.
O artigo se divide em duas seções; a primeira trata de um estudo teórico acerca da
agricultura familiar, para caracterização do objeto de estudo. Tal estudo requer analisar as
condições de vida das famílias rurais em seus vários aspectos, como relações de trabalho,
produção, organização, religiosidade, costumes, parentesco e vizinhança. A segunda seção
discorre sobre linguagem, léxico e aspectos culturais, o que colabora para o entendimento do
léxico como o campo da língua que melhor evidência o ambiente físico e social no qual os
falantes se inserem, e, através da relação entre teoria e empiria, esta última parte ocupa-se da
análise dos dados empíricos obtidos na Comunidade durante a pesquisa de campo.
2 Objetivos
Capa Índice 6765
2.1 Objetivo geral
a) Estudar as manifestações religiosas a partir da relação entre língua e cultura, na
comunidade São Domingos em Catalão (GO), tendo o léxico como fator da língua que melhor
reflete o ambiente físico e social em que os falantes se inserem.
2.2 Objetivos específicos
a) Abordar a religiosidade presente na dinâmica sociocultural de produtores rurais familiares
da comunidade São Domingos em Catalão (GO);
b) Analisar a preservação dos conhecimentos de natureza religiosa e das manifestações de
valores e tradições ligados à religiosidade;
c) Verificar a influência da religiosidade no léxico das narrativas orais de moradores da
Comunidade.
3 Metodologia
Uma pesquisa científica deve ser guiada por um método que assegure seu
desenvolvimento de forma clara e objetiva, segundo Santos (2004) a pesquisa científica é
prioritariamente intelectual e que a produção de conhecimentos é o resultado mais importante.
De acordo com o autor, a construção do conhecimento desenvolve-se por etapas, e que estas
se organizam num método, num caminho facilitador do processo. Em consonância, Rudio
(2007, p. 17, grifos do autor) diz que “o método é o caminho a ser percorrido, do começo ao
fim, por fases ou etapas”. Então, esta seção exprime os caminhos da pesquisa, as etapas e
procedimentos usados para sua realização.
Assim, realizou-se uma pesquisa teórica fundamentada pela revisão bibliográfica
(livros, artigos de periódicos, trabalhos de conclusão de curso, relatórios –
(PROLICEN/PIBIC/PIVIC), dissertações, teses e sites) que possibilitou a construção de um
corpo teórico-conceitual que aborda os temas mais relevantes sobre agricultura familiar;
Lamarche (1998), Mendes (2005; 2008), Wanderley (2001), mundo rural; Candido (1998),
Tedesco (1999), Woortmann e Woortmann (1997), cultura; Coelho (1977), Santos (1996)
religiosidade; Andrade (2008), Tedesco (1999), e léxico; Biderman (2001), Vilela (1994).
Tal levantamento partiu de procedimentos como a escolha das melhores fontes, leitura,
fichamento, interpretação e compilação das informações. Para obtenção dos dados empíricos foi
Capa Índice 6766
feita uma pesquisa de campo indireta junto a algumas famílias produtoras rurais da comunidade
São Domingos em Catalão (GO), onde foram realizadas visitas às casas dessas famílias com
intuito de conversar sobre religiosidade e suas manifestações culturais, o que possibilitou
compreender a realidade sociocultural da Comunidade. Considera-se que empírico se refere à
experiência, tudo aquilo que existe e pode ser reconhecido por meio desta, a fim de poder
descrever e interpretar a realidade (RUDIO, 2007, p. 9-10). A partir desse processo pretendeu-
se fazer um registro da memória do diálogo entre pesquisador e objeto de estudo, essa memória
constituiu o material de análise que possibilitou o estudo da linguagem, logo a análise do léxico
e, consequentemente, um estudo das práticas culturais religiosas. A pesquisa de campo indireta
foi feita através do diálogo com 8 moradores da Comunidade São Domingos em Catalão
(GO): 2 casais entre 50 e 70 anos; 1 casal entre 30 e 50 anos e 2 jovens entre 15 e 25 anos
(filho e neto dos indivíduos mais antigos), durante o mês de julho de 2012.
Justifica-se o uso deste procedimento pelo fato de que o tempo da pesquisa não foi
suficiente para realização de uma pesquisa de campo direta com aplicação de roteiros de
entrevistas e/ou gravações de fala. Acredita-se que a metodologia estabelecida para coleta de
dados empíricos contempla o objetivo definido, haja vista que a proposta gira em torno da
análise da cultura religiosa sob a ótica do estudo da linguagem, como também do
entendimento dos aspectos socioculturais que constituem as famílias escolhidas para estudo.
O município de Catalão, Estado de Goiás, está compreendido entre os meridianos de
47º17 e 48º 12’ Long. W Grt e os paralelos 17º28’ e 18º Lat. S, abrangendo uma área de
3.778,6km² (IBGE - Censo, 2007), o que corresponde a 1,11% do território goiano. A
Microrregião de Catalão integra-se à Mesorregião do Sul Goiano (SEPLAN/SEPIN, 2007). A
população está estimada em 81.109 habitantes, sendo que 70.212 residem em área urbana e
5.411 em área rural. Distando-se 30km da sede municipal, a comunidade São Domingos
localiza-se na parte nordeste de Catalão e possui duas vias de acesso; a GO-220, que liga
Catalão ao município de Davinópolis (GO), e a BR-050, que liga Catalão à Brasília (DF). A
Comunidade contém 92 sedes/residências, e é dividida em São Domingos I (comunidade de
cima) e II comunidade de baixo), a área de estudo selecionada é o anucleamento do Centro
Comunitário da comunidade São Domingos I (VENÂNCIO, 2008).
4 Discussões e resultados
4.1 Agricultura familiar: conhecendo o objeto de estudo
Capa Índice 6767
Esta seção inicia-se com a abordagem da agricultura familiar e suas principais
características, a partir de concepções de autores que trabalharam com essa temática.
Posteriormente, são debatidas as relações socioculturais que envolvem esse grupo de
produtores e o meio de vivência deles. Justifica-se o uso desta variável pelo fato de a mesma
ser mais compatível ao modo de produção, cultura e relações sociais identificados na
Comunidade São Domingos, no município de Catalão (GO), como também nas outras
comunidades rurais que integram o município.
Wanderley (2001, p. 23), em sua análise sobre o campesinato no Brasil e ação deste
sobre a agricultura familiar moderna, afirma que a agricultura familiar pode ser a princípio
“[...] entendida como aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos
meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo [...]” Assim sendo, todo
o processo de produção está ligado à família, fator fundamental na diferenciação desse
segmento das demais unidades de produção agrícolas.
Sobre o assunto, Tedesco (1999), em suas pesquisas concernentes a terra, ao trabalho e
à família dos colonos no sul do Brasil, descreve uma interessante caracterização fornecida por
Chayanov a respeito da agricultura familiar, conforme o autor [...] a unidade familiar organiza
a produção e a sociabilidade interna e externa ao redor do grupo doméstico e de convivência,
como trabalhadora e proprietária, fundada em âmbitos valorativos e tradicionais na sua
dinâmica com o social [...] (TEDESCO, 1999, p. 18).
No excerto supracitado já se percebe que o autor entende a agricultura familiar como uma
unidade ligada aos valores e tradições que abarcam e fundamentam a realidade social desses
indivíduos, ou seja, as famílias, além de serem proprietárias dos meios de produção e assumirem o
trabalho no campo são também caracterizadas por seus valores e tradições a partir do seu meio
social, estes são aspectos importantes para construção das relações do sujeito com o ambiente.
Convém ressaltar, agora, três fatores fundamentais para a caracterização da agricultura
familiar: a terra, o trabalho e a família. Para Lamarche (1998, p. 63) esses temas determinam
o grau de intensidade das lógicas familiares, ele (LAMARCHE, 1998, p. 89) destaca que a
terra por sua dimensão de território de produção, resultado do trabalho de gerações, expõe sua
natureza ambivalente de bem patrimonial e de bem de produção. Mendes (2008, p. 142), em
seus estudos concernentes a produção rural familiar nas comunidades rurais do município de
Catalão (GO), coloca que “a interdependência estabelecida entre esses três fatores orienta sua
dinâmica de reprodução do grupo familiar, a produção do saber produzir (experiência), o
processo de trabalho e o valor da terra.”
Capa Índice 6768
Mendes (2005), ao conceituar a agricultura familiar, lista algumas características das
unidades produtivas desse domínio, sendo: a) centralização dos meios de produção; b) os
proprietários asseguram diretamente a gestão e o trabalho; c) é dada ênfase na diversificação
da produção de gêneros alimentícios e na multiplicidade de atividades; d) a produção é
voltada tanto para o autoconsumo quanto para o mercado consumidor; e) há uma valorização
dos recursos naturais e culturais; f) o trabalho assalariado complementar é utilizado somente
quando necessário; g) os rendimentos são frutos da associação das receitas geradas por
atividades agrícolas e não agrícolas; h) as estratégias de reprodução são imediatamente
subordinadas às condições externas; i) a área total menor ou igual a quatro módulos fiscais de
terra, que são quantificados de acordo com a legislação em vigor, ou no máximo seis
módulos, quanto se trata de pecuária familiar.
O autor (LAMARCHE, 1998) destaca, então, que a terra possui um caráter
ambivalente, ou seja, o patrimônio além de ser consequência do trabalho de outras gerações,
também é o próprio meio de produção dessas unidades familiares rurais. Isso demonstra a
importância que tem a terra para esses produtores, pois é nela que eles trabalham e produzem,
garantindo a subsistência da família, é também onde eles garantem sua reprodução, baseados
nas tradições e nos valores que herdaram das gerações anteriores repassando-os às futuras.
Mendes (2008) enfatiza a importância que a terra, o trabalho e a família possuem na
reprodução do grupo e na experiência a ser adquirida pelas entidades, além da valorização da
terra, afinal, é ela a base para todas as atividades produzidas pelo grupo.
Para Tedesco (1999) quando se fala de divisão do trabalho é a unidade familiar que se
envolve toda, organizando uma espécie de trabalho cooperativo. Assim, todos os membros da
família se envolvem no trabalho, cada qual exercendo o papel que lhe é conferido. Nesse
sentido, Mendes (2005 p. 166) diz que “essas unidades produtivas apresentam centralidade
dos meios de produção; trabalho e gestão assegurados diretamente pelos proprietários (divisão
das atividades por sexo e idade) [...]”
Woortmann e Woortmann (1997) fazem uma análise do processo de trabalho agrícola
de camponeses nordestinos, buscando revelar sua lógica interna. Estes autores
(WOORTMANN;WOORTMANN, 1997, p. 7) concordam que “[...] ao trabalhar a terra, o
camponês realiza outro trabalho: o da ideologia, que, juntamente com a produção de
alimentos, produz categorias sociais [...]” depois justificam que tal fato se dá porque o
processo de trabalho, além de ser um encadeamento de ações técnicas, é um encadeamento de
ações simbólicas, assim consideram o trabalho como um processo ritual que além de produzir
cultivos, também produz cultura.
Capa Índice 6769
Ainda, no contexto das relações de trabalho, é importante enfatizar outro fator: a
solidariedade intracomunitária, ou seja, as relações sociais de trabalho que envolvem o âmbito
vicinal. A respeito desse tema, Andrade (2008) quando analisa, entre outros aspectos, as
práticas socioculturais e religiosas na comunidade Tenda do Moreno no município de
Uberlândia (MG) e a influência desses fatores no cotidiano dos moradores, verifica que:
[...] Além do trabalho familiar foram identificados outros tipos de relações sociais, baseadas na ajuda mútua e na prestação de serviços entre as propriedades vizinhas. As principais formas de solidariedade intra-comunitária pesquisadas, ligadas às relações sociais de produção, foram o mutirão e a traição. (ANDRADE, 2008, p. 188, grifos do autor).
Segundo Candido (1998), em sua pesquisa relacionada à cultura do caipira no
município de Bofete (SP), na qual busca traçar um perfil do caipira paulista, a prática
tradicional do mutirão consiste:
[...] na reunião de vizinhos convocados por um deles a fim de ajudá-lo a efetuar determinado trabalho: derrubada, roçada, plantio, limpa, colheita, malhação, construção de casa, fiação, etc. Geralmente os vizinhos são convocados e o beneficiário lhes oferece alimento e uma festa, que encerra o trabalho. Mas não há remuneração direta de espécie alguma, a não ser a obrigação moral em que fica o beneficiário de corresponder aos chamados eventuais dos que o auxiliaram [...] (CANDIDO, 1998, p. 68).
Sobre a traição, ou treição, Candido (1998, p. 69, grifo do autor) colocou que
acontecia quando “[...] era o caso dos vizinhos, percebendo que um deles estava apurado de
serviço, combinarem entre si ajudá-lo sem aviso prévio [...]” O autor explica que a diferença
desta prática com o mutirão consiste na motivação do auxílio que ocorria de forma
espontânea, e também na questão do beneficiado não precisar dar uma festa, pois muitas
vezes era a falta de recursos para promovê-la que o impedia de convocar um mutirão.
Convém ressalvar que nos dois casos a prestação de serviços envolve retribuição eventual.
Em consonância com Candido (1998), Tedesco (1999) afirma que a solidariedade não é algo
natural e gratuito, e completa: [...] Há princípios de solidariedade que se fundam na auto-ajuda, na prestação de serviços, na troca de bens e/ou mercadorias, no empréstimo de produtos no momento de carência, bem como de dias de serviço, etc. No entanto, a solidariedade precisa ser recíproca; há um grau de cobrança que não é explícito, mas que regula o grau de solidariedade e o ‘crédito’ futuro. (TEDESCO, 1999, p. 117, grifo do autor).
Outro fator importante a ser destacado é o parentesco, pois é uma relação que envolve
afetividade entre os indivíduos ligados por laços consanguíneos. Woortmann (1995) diz que a
relação de parentesco tende a funcionar como fator que liga ações sociais e familiares. Tedesco
(1999) corrobora com Woortmann (1995) ao dizer que o parentesco possui mais seu lado
Capa Índice 6770
simbólico do sangue do que propriamente vinculado à solidariedade e ‘precisão’. O autor
observa, então, que “a relação de parentesco [...] funciona mais como dimensão de
consideração, obrigação e reconhecimento e/ou ‘conhecido’ do que por amizade, coleguismo e
solidariedade; é um reconhecimento de sangue [...]” (TEDESCO, 1999, p. 116, grifo do autor).
No que diz respeito ao vínculo simbólico entre o produtor rural e o lugar onde vive,
Tedesco (1999) fala que as relações construídas e organizadas no vivido dessas unidades
familiares fundamentam-se nas relações com o espaço e com as dinâmicas do sistema de
trabalho, e também na junção funcional entre família e seu entorno sociocultural. Candido
(1998, p. 28), discorrendo sobre o meio de vivência dos agricultores familiares, mostra que
este meio “se torna [...] um projeto humano nos dois sentidos da palavra: projeção do homem
com suas necessidades e planejamento em função destas - aparecendo plenamente, segundo
queira Marx, como uma construção da cultura.” Através dessa observação entende-se que o
local onde vivem esses agricultores familiares pode ser considerado como sua projeção nos
dois sentidos apresentados, assim o autor constata que esses indivíduos são constituídos a
partir das situações que o ambiente impõe a eles, envolvendo suas necessidades e relações,
gerando, assim, suas feições culturais.
A religiosidade, como parte da cultura, tem um importante papel na vida desses
produtores, pois é nela que as unidades familiares fundamentam a sua fé, a devoção aos Santos,
suas tradições festivas, bem como sua própria conduta. Nesse sentido, Andrade (2008) observa
que a presença de capelas estabelece centralidade nas comunidades definindo assim laços
comunitários entre os moradores, pois, é o local que as famílias se reúnem nos momentos de
manifestações religiosas, lógico, não se descarta a possibilidade de reunirem-se também nas
próprias residências. O autor (ANDRADE, 2008) enfatizou também que o centro da vida religiosa
nesse meio é orientado pelo culto aos Santos. Em relação ao tema, Tedesco (1999) observa que: Os santos fazem parte do cotidiano não só religioso, estando também ligados à morte, às plantações, às curas, aos castigos, às benesses, à vida afetiva e social; enfim, marcam presença no vivido do colono e da comunidade social, bem como repercutem na normatividade familiar. (TEDESCO, 1999, p. 77).
Então, a religiosidade além de ser fator constituinte de sociabilidade e preservação da
memória, repercute também na vida cotidiana dos indivíduos que, baseados na crença, conduzem
suas ações e seu vivido, além de funcionar como preservação de identidade, pois o sujeito
participa dos eventos religiosos, como as festas tradicionais e as missas, a fim de conservar um
valor que herdou dos antecedentes, e como maneira de identificar-se com os demais sujeitos
participantes e, ao mesmo tempo, compartilhantes das memórias que fazem sentido ao todo.
Capa Índice 6771
Abarcando os temas discutidos até o momento, vale fazer uma citação de Brandenburg
(1998), em sua análise dos padrões de relações sociais que surgem na formação da sociedade
brasileira, baseado na organização social dos grandes domínios agrícolas e dos pequenos
agricultores familiares da região do estado do Paraná. Segundo o autor: participar de uma comunidade constituída por uma relação com a natureza em que a terra não tem apenas um significado econômico, por uma relação espiritual ou religiosa capaz de determinar procedimentos na dimensão temporal, por uma relação social que funda, a partir das relações de vizinhança ou parentesco, o sentimento de pertencer a um espaço social, é também participar da construção de um modo de ser e de viver, ou seja, de um ‘modo de vida’ [...] (BRANDENBURG, 1998, p. 106, grifo do autor).
A partir dessas considerações é possível compreender que o sentimento de
pertencimento ao local onde vive o agricultor familiar se constrói a partir das relações surgidas
através dos tempos, relações estas permeadas de sentimento pela terra, pelos vizinhos, parentes,
pelas manifestações religiosas e tradições herdadas dos antepassados. E como destacou o autor,
todos esses aspectos constituem o modo de ser e de viver, com o qual esses indivíduos se
identificam. É a esse modo de ser e de viver que foi possível identificar afinidades na
Comunidade escolhida para pesquisa. Assim, para o estudo das manifestações religiosas na
Comunidade, na próxima seção é analisada a preservação dos conhecimentos de cunho religioso
e das manifestações de valores e tradições atrelados à religiosidade. Como também, verifica-se
a influência desta no léxico das narrativas orais de moradores da Comunidade.
4.2 Cultura e léxico: a religiosidade na comunidade São Domingos em Catalão (GO)
Nesse estudo dá-se foco à religiosidade presente no meio rural, correlacionando-a aos
fatores linguísticos, ou seja, utiliza-se a língua para compreender os elementos religiosos
registrados na mesma, como reflexos da própria cultura. A metodologia utilizada para fazê-lo
parte do processo de relação entre teoria e empiria, isto é, conforme são colocados os
postulados teóricos são estabelecidas as relações que estes possuem com o que foi observado
e registrado na pesquisa de campo.
Para início da discussão, o estudo em questão parte da ideia de que “qualquer sistema
léxico é a somatória de toda a experiência acumulada de uma sociedade e do acervo da sua
cultura através das idades.” (BIDERMAN, 2001b, p. 179). Assim, o léxico utilizado, na forma
oral, pelos indivíduos pesquisados, compõe parte do patrimônio cultural deles, no contexto
estudado o foco cai sobre as manifestações e costumes de natureza religiosa, logo as palavras
Capa Índice 6772
utilizadas para designá-los fazem parte do léxico religioso que estes falantes utilizam no seu
cotidiano, como parte da realidade dos mesmos e/ou que conheceram de alguma forma.
Reconhece-se que cultura é um campo movediço e que apresenta diversos sentidos. No
contexto deste estudo compreende-se cultura como construção histórica que reporta a
conhecimentos, ideias, crenças, costumes e manifestações, bem como o modo como tais
elementos existem na vida social do grupo a que pertence, enfim cultura é um produto coletivo da
vida humana (SANTOS, 1996, p. 35-46). Sobre sua correlação com a língua Coelho (1977), em
sua obra que aborda a comunicação verbal e suas implicações didático-pedagógicas, diz que: O sistema linguístico reflete a cultura, posto que fruto dela, produzida e acumulada pela sociedade desde sua formação inicial. É uma produção das pessoas dessa sociedade em seus esforços de compreender, explicar e transformar o mundo com o qual entram em contato e no qual vivem suas existências concretas. (COELHO, 1997, p. 54).
Tratar do léxico, elemento constituinte da língua, é abordar a cultura do grupo social
ao qual serve. A cultura, assim como a língua, é dinâmica, e é esse dinamismo que permite
entender as transformações que as sociedades contemporâneas sofrem. Nessa perspectiva,
falar sobre léxico é falar sobre o aspecto mais dinâmico de uma língua, que com o tempo
vai se modificando, ampliando, outras vezes, caindo em desuso. Sendo o inventário total das
palavras de uma língua (VILELA, 1994, p. 10), o léxico constitui o patrimônio vocabular de
uma dada comunidade no decorrer de sua história (BIDERMAN, 2001a, p. 14). A partir
dessa premissa surgiu a ideia de estudar a religiosidade pelo viés linguístico, uma vez que o
patrimônio cultural de uma comunidade de falantes inclui a língua, e esta registra em seu
seio todas as denominações necessárias à comunicação entre os falantes, como também as
regras que regulam o uso dessas denominações, a gramática. No caso desta pesquisa a
atenção volta-se às denominações (o léxico).
Biderman (2001a, p. 13), ao abordar a relação entre o léxico e o processo de nomeação e
cognição da realidade, diz que, ao dar nome aos seres e objetos, o homem os classifica
simultaneamente, estruturando o mundo que o cerca e rotulando essas entidades discriminadas,
diz ainda que, ao nomear, o indivíduo se apropria do real. Vilela (1994, p. 6), em seu estudo
sobre lexicologia e semântica do português, corrobora com a autora ao destacar que “[...] o
léxico é a parte de uma língua que primeiramente configura a realidade extralinguística e
arquiva o saber linguístico duma comunidade.” Esse saber linguístico, segundo Biderman
(2001a), está cristalizado em signos linguísticos, ou seja, em palavras. Por meio destas
considerações entende-se que a formação do léxico se deu e se dá a partir do momento que o
homem conheceu e categorizou a realidade extralinguística.
Capa Índice 6773
Nesse sentido, a categorização da realidade dos sujeitos da Comunidade São
Domingos, a partir do diálogo estabelecido com os moradores selecionados, fez referência a
várias manifestações culturais que fizeram e, também, daquelas que ainda fazem parte do seu
cotidiano. Ou seja, a memória desses sujeitos serviu como fonte de conhecimento da história
dos mesmos, tendo como meio de expressão a linguagem oral e seu registro em signos
linguísticos, os quais compõe o léxico, no caso desse estudo, o léxico de palavras relacionadas
ao plano cultural-religioso.
Sob esta ótica, o modo como o indivíduo nomeia o universo cognoscível varia de cultura
para cultura, pois mesmo que exista a possibilidade de que as línguas naturais possuam tipos de
semântica universalmente compreensíveis, “[...] as Taxionomias que embasam os modelos de
categorização constituem elaborações específicas de cada cultura.” (BIDERMAN, 2001a, p.14).
Desse modo, as categorias léxicas alteram de língua para língua. Nesse contexto, convém
enfatizar que o léxico é o único domínio da língua que constitui um sistema aberto, isto é, está
em constante expansão, na medida em que novas coisas e fatos surgem e passam a fazer parte
do universo cognoscível do homem, há a necessidade de criar uma designação à esse novo
referente, então é no léxico que este novo conceito será inserido, como também poderá ser
extinto, no caso de palavras que caem em desuso devido ao fato de seu referente deixar de
existir e/ou ser substituído por outro termo que o designe.
Vilela (1994, p. 12) diz que “a língua no seu conjunto e as unidades léxicas [...] são o
resultado heterogêneo dum processo histórico.” Nesse sentido, o autor inicia sua perspectivação
histórica do léxico do português e afirma ser o léxico do português atual, resultado de um fio
condutor essencial, provindo do Latim e de vários elementos de diferentes idades e origens, em
que há empréstimos múltiplos e variados condicionamentos socioculturais. Em suma, o autor
alega que o português é o resultado: de uma longa história, e o léxico é o subsistema da língua mais dinâmico, porque é o elemento mais directamente chamado a configurar linguisticamente o que há de novo, e por isso é nele que se reflectem mais clara e imediatamente todas as mudanças ou inovações políticas, econômicas, sociais, culturais ou científicas. (VILELA, 1994, p. 14).
Com base nessa citação pode-se dizer que as lexias ditas pelos sujeitos da pesquisa
formaram uma amostra da realidade, nesse caso aquela de cunho cultural-religioso um dia
vivenciada pelos mesmos, quando abordaram os nomes das festas, santos, costumes, enfim, das
manifestações que já presenciaram, ou mesmo, daquelas que apenas ouviram em relatos dos
moradores mais antigos.
Capa Índice 6774
Biderman (2001a) e Vilela (1994) contribuíram para o entendimento do léxico como
inventário total de signos linguísticos disponíveis aos falantes de uma língua. Campo
riquíssimo para os estudos da linguagem, o léxico é o patrimônio vocabular do saber
linguístico de um povo, através dele é transmitido e preservado todo o conhecimento
adquirido e acrescentado ao longo da história.
Na Comunidade São Domingos, município de Catalão (GO), constatou-se que a
cultura religiosa atual se difere da existente há alguns anos atrás. Em conversa com antigos
moradores da Comunidade, os quais vivem na Comunidade em média há 35 anos, estes
relataram que antigamente havia uma maior fidelidade à realização de eventos religiosos, tais
como a festa em Louvor a São Sebastião, a Festa em louvar à Nossa Senhora da Abadia, os
terços de São João e os batismos de fogueira, bem como a existência de costumes como
guardar os dias santos, o ato de pedir benção aos mais velhos, as penitências quaresmais, o
“aguar da cruz” em intenção de obter chuva, benzedeiras, terços cantados por rezadores da
Comunidade, entre outros. Interessante ressaltar que, em meio a essas manifestações citadas,
os senhores também fizeram alusão ao mutirão e à treição como eventos muito recorrentes
nos “tempos de primeiro”, eles disseram que o povo era mais preocupado com a situação dos
vizinhos, principalmente quando se tratava de parentes, que havia uma relação mais respeitosa
em que a conduta era, na maioria das vezes, guiada “por questão de religião”, de consideração
aos ditames divinos (Informação verbal, julho, 2012).
Os sujeitos mais novos alegaram saber que antigamente a cultura religiosa da
Comunidade apresentava-se mais rica que nos dias atuais. Para eles essa cultura deveria ter
sido preservada, uma vez que constituía o patrimônio sociocultural e histórico dos seus
antepassados, e seria importante que eles pudessem conhecer e vivenciar esses costumes em
sua manifestação real, e não só através de relatos de seus pais e avós. Eles também disseram
que se lembram de terem participado de algumas edições da festa em louvor a São Sebastião,
a qual não acontece desde 2008, e que queriam que essa tradição tivesse continuação, assim
como ainda acontecem em outras comunidades do município, como na Comunidade Cisterna,
Tambiocó, Custódia, Coqueiros etc.
Na comunidade São Domingos, os eventos que ainda acontecem, segundo os moradores
pesquisados, são; as missas sob presidência de padres da Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus,
sediada na cidade de Catalão (GO); as reuniões semanais religiosas promovidas por
representantes da própria Comunidade; os eventos anuais da Igreja como os ritos do período
quaresmal e a Novena de Natal, na ocasião desta última a Comunidade se divide em quatro
grupos e cada qual organiza um encontro diário alternando de casa em casa. Nesses encontros os
Capa Índice 6775
moradores discutem o tema anual proposto pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) realizado pela igreja Católica, no último dia dessas reuniões todos se reúnem no Centro
Comunitário São Sebastião (sede da Comunidade São Domingos) para finalização da novena, este
é um momento festivo em que cada família contribui com algum alimento, geralmente bolos,
biscoitos, roscas, doces, salgados, sucos, refrigerantes etc. Outro evento importante e que acontece
a mais de duas décadas é a Festa do Arroz, um evento promovido pelos moradores da
comunidade para festejar a colheita farta, geralmente ocorre no mês de maio. Porém, até o período
da pesquisa de campo, junho de 2012, a edição do presente ano não havia sido realizada. Quando
os sujeitos pesquisados foram questionados do porquê a festa não ocorreu, eles responderam que
os responsáveis pela organização do evento ainda não haviam justificado o fato.
É realizado, ainda, o terço quinzenal, segundo os indivíduos pesquisados, este acontece
desde de setembro de 2011 e é uma iniciativa dos próprios moradores da Comunidade, ocorre aos
sábados nas próprias residências alternando de local de quinze em quinze dias. O terço mistura
elementos do terço cantado com a reza oficial do rosário, no final de cada terço o anfitrião serve
um lanche aos participantes e fica, durante os 15 dias, com a imagem da Sagrada Família, tendo o
compromisso de levar a imagem à residência onde acontecerá a próxima reza do terço.
Através da pesquisa, constatou-se que na Comunidade não há mais a presença de
benzedeiras como havia há pelo menos uma década atrás, elas eram procuradas nas ocasiões
em que as pessoas precisavam curar um cobreiro ou doenças de outros tipos, tirar quebranto
(mau-olhado), espantar cobras dos pastos e quintais, abençoar casas e arredores da
propriedade, benzer bebês recém-nascidos, etc. É lamentável saber que este tipo saber,
antigamente repassado dos mais velhos aos mais novos, se perdeu na Comunidade em estudo,
assim como os outros costumes de caráter mais popular, que já não são mais recorrentes no
local da pesquisa, tais como as tradicionais festas em louvor a São Sebastião e Nossa Senhora
da Abadia, o terço de São João juntamente com os batismos de fogueira que ocorriam nessas
ocasiões, os terços cantados, entre outros.
Os eventos festivos, mesmo tendo sofrido mudanças ao longo do tempo, são momentos
em que há o reforçamento dos laços afetivos entre os moradores, oportunidade para reencontrar
amigos e parentes e, assim, manter a dinâmica social e cultural com a qual esses produtores se
identificam, afinal, é parte da vivência deles. É importante salientar que, no contexto deste
estudo, a cultura rural, expressa nos relatos dos sujeitos pesquisados, se manifesta através de
realizações linguísticas, portanto é a cultura divulgada através da língua por aqueles que a
praticam esta cultura ou que têm conhecimento da mesma. Ressalta-se que os aspectos
analisados não valem especificadamente à Comunidade São Domingos em Catalão (GO), os
Capa Índice 6776
mesmos podem ser encontrados em outras localidades que possuam características
econômicas, sociais e culturais semelhantes àquela.
Todas essas práticas culturais citadas pelos sujeitos da pesquisa, e descritas nesse trabalho,
compõem parte do léxico religioso que os mesmos utilizaram no momento de suas narrativas. Isso
auxiliou no estudo desses costumes, presentes na Comunidade São Domingos, uma vez que a
língua, e o léxico, funciona como acervo cultural do povo ao qual serve.
5 Considerações finais
O estudo realizado propiciou conhecer aspectos da cultura rural na Comunidade rural
São Domingos em Catalão (GO), o que também serve como base para entender as dinâmicas
culturais das demais comunidades rurais do município, posto que esta cultura não é exclusiva
da Comunidade pesquisada, pois faz parte de uma teia de conhecimentos, costumes e valores
que se estendem além do locus onde foi realizada a pesquisa. Do mesmo modo, os signos
linguísticos (palavras) expressos nas narrativas para referir-se à manifestação cultural ou ao
costume não são usados apenas pelos sujeitos da pesquisa, uma vez que a língua é um sistema
de signos autônomos disponíveis à coletividade. Portanto, o léxico estudado não representa
aspectos próprios da cultura dos narradores com os quais foi estabelecido o diálogo, mas de
quaisquer outros que possuam semelhanças culturais a estes.
A partir das considerações da primeira seção, acerca da agricultura familiar,
religiosidade, vizinhança e parentesco, compreendeu-se que as famílias do meio rural, como
no caso dos pequenos agricultores familiares, são gerentes das atividades e dependem tanto da
terra quanto dos vínculos culturais, sociais, econômicos e afetivos que criaram durante sua
história. É a partir desses vínculos com o local e com os elementos que o integra que a ela se
desenvolve e estabelece suas estratégias, para manter a subsistência e garantir sua reprodução.
A língua, como parte indissociável da sociedade, responsável pela comunicação oral
entre os humanos e pelos registros escritos, funciona, também, como meio de divulgação,
preservação e transmissão da cultura. As narrativas dos sujeitos pesquisados mostraram
aspectos da cultura dos mesmos, através da memória transmitida em realizações linguísticas
orais foi possível identificar as práticas religiosas que estes ainda mantêm, e aquelas que
deixaram de ser praticadas, mas que jazem nas lembranças. Nesse sentido, examinar os signos
linguísticos usados para denominar tais práticas, é enveredar-se na cultura dos que os usam.
Assim, o léxico, através das narrativas orais, permitiu verificar as práticas culturais religiosas
na Comunidade São Domingos em Catalão (GO), bem como propicia conhecer e
Capa Índice 6777
compreender a cultura de quaisquer outros povos, comunidades, enfim de outros grupos
sociais.
REFERÊNCIAS
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1 Revisado pelo Orientador.
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3
3 Co-o
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6779 - 6791
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ANÁLISE DOS EVENTOS ADVERSOS OCORRIDOS NA UNIDADE DE
PEDIATRIA DE UM HOSPITAL DE ENSINO DE GOIÂNIA-GOIÁS
Judite Pereira Rocha1, Ana Elisa Bauer de Camargo Silva2, Ana Lúcia Queiroz
Bezerra3, Maiana Regina Gomes de Sousa4
Universidade Federal de Goiás - Faculdade de Enfermagem
Email: [email protected]; [email protected]; [email protected];
Palavras-Chaves: Enfermagem; Pediatria; Eventos Adversos; Segurança do Paciente.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente as consequências dos incidentes ocorridos durante a assistência em
saúde têm ganhado espaço na mídia televisiva e escrita. Segundo a World Health
Organization (WHO) (2007), os danos causados por incidentes que ocorrem durante a
prestação do cuidado à saúde são denominados Eventos Adversos (EA), e podem ser de
natureza física, social ou psicológica.
Os EA podem acontecer em diversos serviços de uma instituição hospitalar,
incluindo as unidades de pediatria, onde a ocorrência desses eventos é comum devido às
características peculiares de desenvolvimento e crescimento dessa faixa etária, além das
lacunas deixadas na assistência pela presença de vários atores envolvidos no cuidado à
criança hospitalizada, tais como equipe multiprofissional, pais e/ou acompanhantes
(LEAL et al., 2011; WEGNER, 2011).
Revisado pelo orientador. 1 Orientanda. Acadêmica do 7° período do curso de graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal
de Goiás. Voluntária do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Integrante do Núcleo de Estudos de Enfermagem em Gestão de Instituições de Saúde e Segurança do Paciente – NEGISP. 2 Orientadora. Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Líder do Núcleo de Estudos de Enfermagem em Gestão de Instituições de Saúde e Segurança do Paciente – NEGISP. 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Líder do Grupo de Estudos em Gestão e Recursos Humanos em Saúde e Enfermagem – GERHSEn. 4 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Integrante do Núcleo de Estudos de Enfermagem em Gestão de Instituições de Saúde e Segurança do Paciente – NEGISP.
Capa Índice 6792
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6792 - 6806
Estudo realizado em hospitais americanos mostrou que os EA ocorreram em 1%
das hospitalizações pediátricas, sugerindo que aproximadamente 70.000 crianças sofrem
um EA a cada ano (WOODS et al., 2005).
No Brasil, em uma unidade de cuidados intensivos pediátricos de um hospital
universitário de São Paulo, foram identificados, em três meses, 113 EA de vários tipos
sendo que os eventos mais frequentes foram relacionados à medicação (32,7%), seguido
de eventos relacionados à ventilação pulmonar mecânica/via aérea (29,2%),
cateteres/sondas e drenos (14,13%) e eventos relacionados a procedimentos de
enfermagem (16,8%). Dentro dessa última categoria, destacaram-se a não execução da
prescrição de enfermagem, a utilização de curativo inadequado ao tratamento, a
execução incorreta de técnica e omissão do cuidado (HARADA; MARIN;
CARVALHO, 2003).
Os EA em crianças podem ser mais graves do que em adultos, pois elas são mais
vulneráveis aos danos devido à sua imaturidade funcional. Segundo Woods et al. (2005)
as crianças diferem dos adultos em muitos aspectos no que diz respeito à assistência
médica, portanto, é provável que a epidemiologia dos EA em crianças também seja
significativamente diferente.
A equipe de saúde, principalmente a enfermagem, por ser uma das categorias
com maior força de trabalho, deve ter competências para conhecer e analisar os fatores
de risco a que as crianças podem estar expostas, com o objetivo de prevenir falhas
durante a assistência, assegurando um cuidado livre de EA (WEGNER, 2011; COFEN,
2007).
Desta forma, este estudo se propõe a realizar um levantamento dos principais
eventos adversos relacionados à criança, fornecendo assim, informações para o
planejamento de estratégias de melhorias que aumentem a segurança do paciente
pediátrico e desperte o interesse e investimento de profissionais e pesquisadores em
desenvolver mais pesquisas nessa área, garantindo a qualidade no atendimento à
criança.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Analisar os eventos adversos ocorridos na unidade de pediatria de um hospital
ensino de Goiânia-Goiás.
2.2. Objetivos específicos
Capa Índice 6793
- Identificar os eventos adversos ocorridos em pacientes internados na unidade
de pediatria de um hospital de ensino de Goiânia-Goiás.
- Classificar os eventos adversos identificados, quanto ao tipo e frequência.
3. METODOLOGIA
Foi realizado um estudo descritivo, retrospectivo e documental, com abordagem
quantitativa, desenvolvido na unidade de pediatria de um hospital ensino de Goiânia-
Goiás.
A escolha dessa instituição se deve ao fato dela fazer parte da Rede de Hospitais
Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e ser área de formação de
recursos humanos em saúde. Esse hospital possui cerca de trezentos leitos, destinados
exclusivamente aos pacientes do Sistema Único de Saúde.
A unidade de Pediatria dispõe de cinco enfermarias, com total de 26 leitos,
divididos em especialidades médicas, da seguinte forma: cinco leitos de Nefrologia;
cinco leitos para Cirurgias Pediátricas; cinco leitos de Reumatologia e Geral; cinco
leitos de Gastrologia e Geral; cinco leitos de Pneumologia e um leito para Isolamento.
As crianças internadas na unidade, geralmente, são encaminhadas pelo Serviço
de Urgências Pediátricas do próprio hospital (SERUPE), ou são pacientes ambulatoriais
que precisam ser internados para tratamento clínico.
A equipe de enfermagem, durante a pesquisa, estava composta por oito
enfermeiros, sendo sete assistencialistas e um coordenador da unidade, dezesseis
técnicos de enfermagem, seis auxiliares de enfermagem e dois bolsistas estudantes de
enfermagem. Os profissionais da unidade cumpriam carga horária de 30 horas semanais,
com exceção do coordenador que realiza 40 horas semanais.
A coleta foi realizada no período de outubro de 2011 a fevereiro de 2012 e os
dados foram obtidos de livros de relatórios de enfermagem, nos quais a enfermagem da
unidade faz registros de passagens de plantão, intercorrências, de comunicados internos
e de solicitações. Foram analisados os livros preenchidos no período de junho de 2006 a
dezembro de 2010. A unidade de análise foi o registro de enfermagem.
Para obtenção dos dados foi realizada a leitura dos registros de enfermagem
visando identificar as anotações relacionadas à ocorrência de EA. As anotações
encontradas foram registradas em um instrumento de coleta de dados, elaborado pelas
pesquisadoras e validado por três especialistas.
Capa Índice 6794
A população do estudo foi constituída por 356 incidentes, descritos nos livros de
enfermagem no período em análise.
Os dados foram digitados em planilha eletrônica do programa Microsoft Excel
versão 2007 e serão apresentadas as frequências absolutas e relativas.
Este estudo é parte do projeto “Análise de ocorrências de eventos adversos em
um hospital da rede sentinela na região Centro Oeste”, o qual foi submetido à apreciação
pelo Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Goiás, recebendo parecer favorável (Protocolo Nº 064/2008).
Todos os critérios foram atendidos conforme a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996), que
regulamenta pesquisa envolvendo seres humanos.
4. RESULTADOS
A análise dos registros de enfermagem possibilitou a identificação e
classificação de 356 incidentes ocorridos durante a assistência na clínica Pediátrica, no
período de junho de 2006 a dezembro de 2010. Ressalta-se que estes incidentes foram
considerados EA por terem causado algum dano às crianças, seja de natureza física,
social ou psicológica.
Devido ao fato de livros de relatórios e registros de enfermagem não serem
instrumentos de notificação de EA, muitos registros encontrados estavam incompletos,
o que dificultou a análise dos eventos adversos. A tabela 1 demonstra os tipos de EA
encontrados, assim como as frequências absolutas e relativas.
TABELA 1- Distribuição dos eventos adversos identificados na clínica pediátrica por
tipo de evento, segundo ano de ocorrência e frequência. Goiânia, GO – 2012
TIPO DE EVENTO ANO
N % 2006 2007 2008 2009 2010
Relacionados ao acesso vascular 15 36 27 46 35 159 44,7 Relacionados a sondas, cateteres, drenos e tubos
06 23 23 20 23 95 26,7
Relacionado a medicamentos 08 11 13 04 17 53 14,9 Queda 01 02 01 02 02 08 2,2 Evasão -- -- 02 02 03 07 2,0 Infecção -- -- 05 01 -- 06 1,7 Sinais de Infecção em Feridas -- 02 -- 02 01 05 1,4 Úlcera por Pressão 01 01 -- -- 02 04 1,1 Processos Alérgicos -- 01 -- -- -- 01 0,3 Outros -- 01 02 02 13 18 5,0
TOTAL 31 77 73 79 96 356 100,0
Capa Índice 6795
Com a análise da evolução temporal do quantitativo de EA identificou-se
aumento de registro de EA em todos os anos, com um incremento de 209,7% em 2010,
em relação a 2006. Este fato pode ser proveniente de pesquisas científicas relacionadas
à segurança do paciente e de trabalhos educativos que estão sendo feitos com a equipe
de enfermagem do hospital nos últimos 10 anos.
Os eventos relacionados ao acesso vascular foram os mais prevalentes com um
quantitativo de 159 (44,7%), por este motivo eles serão descritos de forma mais
detalhada na tabela 2.
TABELA 2 - Distribuição dos eventos adversos relacionados ao acesso vascular,
identificados na clínica pediátrica, segundo tipo de evento e frequência. Goiânia, GO –
2012
TIPO DE EVENTO N % Insucesso na punção venosa 79 49,7 Retirada não programada 31 19,5 Sangramento 15 9,4 Obstrução 15 9,4 Sinais flogísticos 12 7,5 Extravasamento 04 2,5 Cateter ineficaz 03 1,9 TOTAL 159 100
Os eventos de insucesso na punção venosa referem-se a tentativas exaustivas de
punção venosa sem sucesso. Já os eventos que se referiram a retirada não programada
do acesso vascular, 18 (58,1%) estavam relacionados a acesso vascular periférico e 13
(41,9%) a acesso vascular central.
Todos os eventos de sangramento se referiam a sangramento na incisão do
cateter venoso, tendo alguns relatos que os sangramentos eram em forma de “jato”,
sangramento vivo, contínuo e importante na incisão do acesso vascular.
Nos eventos sobre sinais flogísticos foi observada a presença de hiperemia,
edema e secreção purulenta. Em relação às punções dos acessos vasculares que
apresentaram extravasamento de substâncias, o mais citado foi o soro fisiológico. Os
eventos relacionados a cateter ineficaz ocorreram devido dobramento e rachadura dos
cateteres.
Capa Índice 6796
A distribuição dos 95 eventos relacionados a sondas, cateteres, drenos e tubos,
também muito prevalentes, será apresentada na tabela 3.
TABELA 3 - Distribuição dos eventos adversos relacionados a sondas, cateteres,
drenos e tubos na clínica pediátrica, quanto a tipo e frequência. Goiânia, GO - 2012
TIPO DE EVENTO N % Relacionados a Sondas Nasogátrica 34 35,7 Vesical 11 11,5 Nasoentérica 10 10,4 Gastrostomia 07 7,4 Orogástrica 06 6,3 PHmetria 04 4,2 Uretral 02 2,1 Retal 01 1,1 Cistostomia 01 1,1 Oxigênio 01 1,1 Não especificado 06 6,3 Subtotal 83 87,2 Relacionados a Drenos 07 7,4 Relacionados a Cateteres Abdominal 01 1,1 Não especificado 03 3,2 Subtotal 04 4,3 Relacionados à Cânula de Traqueostomia 01 1,1 TOTAL 95 100,0
Dentre os 34 eventos envolvendo sondas nasogástricas, 25 (73,5%) foram por
retirada não programada da sonda, cinco (14,7%) por obstrução da sonda e quatro
(11,8%) devido a insucesso na passagem da sonda.
Nos eventos relacionados a sondas nasoentéricas, seis (60%) foram por
saída/retitada acidental da sonda e quatro (40%) por obstrução da sonda.
Dos 11 eventos que se referiam a sonda vesical, cinco (45,5%) foram por
retirada não programada da sonda, três (27,3%) por insucesso na passagem, dois
(18,2%) por ineficiência da sonda, devido à presença de rachadura na mesma, e um
(9,1%) por sangramento no momento do procedimento de passagem da sonda.
Com relação aos eventos ocorridos com sonda de gastrostomia, cinco (71,4%)
foram por retirada não programada da sonda, um (14,3%) devido a presença de sinais de
infecções e o outro (14,3%) por ineficiência da sonda, por apresentar furos em sua
extensão.
Capa Índice 6797
Entre os eventos relacionados a sonda orogástrica, sonda de pHmetria, sonda
uretral, sonda retal e sonda de oxigênio, todos ocorreram por retirada não programada
das sondas.
O único evento relacionado à sonda de cistostomia ocorreu por ineficiência da
sonda, com vazamento de urina na inserção.
Por fim, em relação aos seis eventos ocorridos que não foram especificados os
tipos de sondas, dois (33,3%) foram por retirada não programada da sonda, um (16,7%)
por insucesso na passagem, um (16,7%) por obstrução, um (16,7%) por sangramento
contínuo na inserção da sonda e um (16,7%) por sonda ineficaz, devido à presença de
rachadura.
Os eventos que se referiram aos tipos não especificados de cateter foram por
retirada não programada do cateter. O único evento relacionado a cateter abdominal foi
devido à presença de sangramento.
Com relação aos drenos, os EA ocorreram em quatro (57,1%) casos por retirada
não programada do dreno e, os demais, foram por obstrução (14,3%), sinais de infecção
(14,3%) e sangramento (14,3%).
No concernente aos eventos relacionados aos medicamentos, a maior parte foi
por erro de omissão, como mostra a tabela 4.
TABELA 4 - Distribuição dos eventos adversos relacionados a medicamentos
identificados em uma clínica pediátrica, segundo tipo e frequência. Goiânia, GO - 2012
TIPO DE EVENTO N % Erro de omissão 25 47,2 Processos alérgicos 13 24,5 Reação 10 18,9 Erro de horário 03 5,7 Administração de medicamento não prescrito 02 3,8
TOTAL 53 100
Dentre os erros de omissão, seis (24%) ocorreram por que as doses dos
medicamentos prescritos (Bromoprida, Nifedipina, Proponolol, Adalat Retard,
Cefuroxima e Clexane) eram diferentes das existentes no hospital e, portanto, a equipe
de enfermagem não realizou a administração de tais medicamentos; quatro (16%) pelo
fato da farmácia não ter levado os medicamentos prescritos para a clínica; em dois (8%)
casos a omissão ocorreu devido à mãe da criança não estar presente na enfermaria no
momento da administração dos medicamentos prescritos, uma vez que é preconizado
Capa Índice 6798
pelo hospital que qualquer procedimento realizado na criança, seja feito somente na
presença do responsável.
Na unidade pediátrica, para alguns medicamentos, é institucionalizado que uma
ficha de controle, assinada pela Central de Controle de Infecção hospitalar- CCIH, deve
ser anexada à prescrição, autorizando a liberação e administração do mesmo. Foram
encontrados quatro (16%) eventos de erro de omissão devido à falta dessa ficha de
controle, sendo que os medicamentos foram Carbamazepina, Tramal, Albendazol e
Avermectina.
Em três (12%) casos a farmácia não liberou os medicamentos, um porque o
medicamento (Rofecin) quebrou na clínica e a farmácia só liberaria perante um ofício
feito pela enfermeira, justificando o fato, e a mesma não se encontrava no local para
fazê-lo; e nos outros dois (Domperidona, Enoxipan) não foi relatado o motivo da não
liberação.
Ainda dentro dos erros de omissão, um (4%) caso ocorreu porque o
medicamento (Diazepan) estava ausente no kit da criança, organizado e enviado pela
farmácia; um (4%) pelo fato da CCIH ter suspendido os medicamentos sem justificativa
fazendo com os medicamentos não fossem enviados da farmácia para a clínica; um
(4%) (hemoderivado) não foi administrado por falta de acesso venoso eficaz; um (4%)
(Insulina Aspart) por falta de seringa apropriada para a administração deste
medicamento no hospital; dois (8%) devido à falta dos medicamentos Cefataxina e
Bactrin no hospital.
Os medicamentos envolvidos nos processos alérgicos foram: Claritromicina,
Oxacilina, Ceftriaxone, Ibuprofeno, Diclofenaco, Hemoderivados, Antibiótico (não foi
especificado o nome do medicamento), Ciprofloxacino e Dipirona.
Dentro dos eventos relatados como reação a medicamentos, não foi possível
identificar a natureza de tais reações, entretanto sabe-se que foram decorrentes de
Hemoderivados, Anfotericina, Vancomicina, Tramadol e Meronem.
Em relação aos erros de horário, estes ocorreram devido ao atraso na entrega dos
medicamentos (tiabendazol) pela farmácia e devido a não realização das prescrições de
medicamentos pelos médicos.
Quanto aos EA do tipo queda, três (37,5%) foram da cama, duas (25,0%) da
própria altura, uma (12,5%) da maca, uma (12,5%) do berço e uma (12,5%) de local não
especificado.
Capa Índice 6799
No concernente aos eventos de evasão, em todos os casos a mãe evadiu-se
levando a criança e interrompendo o tratamento. Já em relação a processos alérgicos, o
caso se referia ao uso de esparadrapo. Quanto às úlceras por pressão ocorreram nas
regiões sacral, glúteo esquerdo e lombosacral.
Nos casos de infecção, três (50,0%) foram por pseudomonas, dois (33,3%) por
sepse e um (16,7%) por herpes zoster. Constataram-se ainda cinco ocorrências com
sinais de infecção em feridas, porém sem o diagnóstico, apresentando secreção
purulenta, secreção de cor verde e odor forte.
Houve 18 eventos que não foram enquadrados dentro das categorias sendo
classificados como “outros tipos”. Desses, 13 (72,2%) se referiam a exames cancelados,
um (5,6%) a insucesso na punção suprapúbica, um (5,6%) a cirurgia cancelada, um
(5,6%) a queda de glicemia, um (5,6%) por uso inadequado de oxigênio e um (5,56%)
relacionado à troca de água por álcool na mamadeira.
No evento relacionado à queda de glicemia a criança ficou cinco horas de dieta
zero para punção central na sala de operação, e houve redução da glicemia sendo
necessária a administração de glicose; em relação ao evento sobre uso inadequado de
oxigênio a prescrição era de 2L/min de oxigênio, porém a acompanhante da criança
colocou menos de 1L/min, mesmo após várias explicações da enfermagem sobre a
importância de manter a terapia de acordo com a prescrita. No evento identificado como
troca de água por álcool foi oferecido álcool ao paciente ao invés de água:“A mãe do
menor deixou a mamadeira cheia de álcool em cima do criado, a avó chegou para
troca de acompanhante e ofereceu a mamadeira para a criança achando que era
água”.
5. DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo mostraram o potencial dos registros de enfermagem
como fonte de informações sobre EA. Com estas informações é possível fazer um
diagnóstico situacional, pois foi identificada a ocorrência de muitos e variados tipos de
EA na unidade de pediatria, durante o período analisado.
Neste estudo, os EA identificados foram predominantemente os relacionados a
acesso vascular e, dentre eles, prevaleceu o insucesso durante o procedimento de punção
venosa. É importante destacar que a punção venosa é uma prática rotineira nas unidades
de pediatria devido ao fato da terapia intravenosa ser um dos procedimentos mais
realizados durante a hospitalização. No entanto, para realização deste procedimento com
Capa Índice 6800
eficácia e efetividade é necessário conhecimento de anatomia, fisiologia da pele e do
sistema venoso, conhecimento técnico além de preparar a criança emocionalmente,
informar a mesma sobre o procedimento a ser realizado, e valorizar a presença de seu
acompanhante. Todas essas variáveis tem que estar presentes, para minimizar a dor,
medo e o sofrimento nas crianças, que podem ser submetidas a exaustivas tentativas de
punções venosas (GOMES et al., 2011).
As crianças internadas estão susceptíveis a inúmeros procedimentos dolorosos,
desta forma cabe à enfermagem planejar bem os cuidados a serem prestados de forma a
minimizar as oportunidades de sofrimento da criança. Isso pode ser feito por meio de
pequenos atos como: ponderar o momento da sua realização; usar técnica com perícia e
delicadeza; escolher criteriosamente o material (flexibilidade, tamanho); usar medidas
não farmacológicas, aplicar anestésicos locais e envolver os pais nos cuidados
(BATALHA, 2010).
Faz-se necessário então, que os profissionais sejam capacitados e treinados para
realizarem esse procedimento adequadamente. Outro aspecto que pode contribuir com
essa prática, é o emprego da tecnologia, como a ultra-sonografia para guiar a punção
venosa com o intuito de aprimorar essa intervenção, reduzindo dessa forma as várias
tentativas de punção em um mesmo paciente (PEDREIRA; PETERLINI;
PETTENGILL, 2008).
Os eventos relacionados a cateteres, sondas, drenos e tubos são comuns, sendo
que em outro estudo desenvolvido pela enfermagem, em Goiás, utilizando os relatórios
de enfermagem como fonte de informação, foram encontrados 162 (61,36%) EA
relacionados a tais artefatos terapêuticos (CARNEIRO et al., 2011). Em outro estudo,
realizado em uma unidade de cuidados intensivos pediátricos de um hospital
universitário em São Paulo, de um total de 113 ocorrências investigadas os EA com
cateteres, sondas e drenos corresponderam a 14,3% (HARADA; MARIN;
CARVALHO, 2003).
A maioria dos eventos envolvendo cateteres, sondas, drenos e tubos foi por
retirada não programada de tais dispositivos, o que evidencia a necessidade de maior
atenção por parte dos profissionais com a manipulação e cuidado com esses artefatos,
assim como de monitoração dos pacientes e orientações ao acompanhante e à própria
criança, para evitar que ocorra esse tipo de evento.
A maior parte dos EA relacionados a medicamentos foram erros de omissão,
assim como em estudo realizado em uma unidade de cuidados intensivos pediátricos em
Capa Índice 6801
São Paulo, no qual foram registradas 71 notificações de 110 erros de medicação em 92
dias, e destes o erro de omissão foi o mais frequente (22,7%) (BELELA; PETERLINI;
PEDREIRA, 2010).
Dentre os medicamentos que não foram administrados estão vários antibióticos.
Para Sousa, Silva (2009) os erros de omissão de antibióticos são falhas que devem ser
evitadas, pois a omissão de uma dose pode comprometer a eficácia de todo o
tratamento.
Uma das estratégias prevenção de erros de omissão de medicamentos é instituir
meios eficazes de comunicação entre a equipe multiprofissional e entre os integrantes da
equipe e o paciente e família (COREN-SP, 2011) para reduzir o risco da não
administração do medicamento prescrito ao paciente.
Os EA do tipo queda no ambiente hospitalar, também presentes neste estudo, são
outro tipo de intercorrência considerado comum no contexto da segurança do paciente
(SCHATKOSKI et al., 2009) e isso deve ser um sinal de alerta, uma vez que pode trazer
complicações à integridade física e emocional dos pacientes, além das consequências
econômicas para a instituição (NASCIMENTO et al., 2008). Um estudo realizado em
prontuários de pacientes, que apresentaram quedas em um hospital nos Estados Unidos,
identificou que 82% das crianças estavam acompanhadas dos pais durante as quedas
(RAZMUS et al., 2006 ).
Um outro estudo identificou que crianças com menos de 05 anos de idade e do
sexo masculino caíram com mais frequência; a maior parte das quedas ocorreu no
quarto da criança (32,4%), seguida pelo banheiro (29,6%). Das 71 quedas relatadas,
45% sofreu uma lesão documentada (KISSINGER; MARIN, 2010).
Os conhecimentos sobre as quedas podem auxiliar no reforço da adoção de
medidas de prevenção como a elevação de grades nas camas, aplicação de técnicas de
restrição de movimentos e a participação da família da criança na identificação e
prevenção desse tipo de evento. O desenvolvimento de um instrumento de avaliação de
risco para identificar as crianças internadas com risco de quedas também é importante
(KISSINGER; MARIN, 2010).
Os eventos de evasão reforçam que a equipe de enfermagem deve ficar em
constante vigilância aos pacientes e acompanhantes da criança hospitalizada, pois,
segundo o parecer da Consulta número 23.606/97, do Conselho Regional de Medicina
de São Paulo (1997), o hospital é responsável juridicamente por esse tipo de evento.
Capa Índice 6802
Os eventos relacionados à infecção e feridas com sinais de infecção
apresentaram um quantitativo de seis (1,69%) e cinco (1,49%) ocorrências
respectivamente. As infecções são um problema de saúde pública podendo ser causadas
por microrganismos pertencentes a própria microbiota do paciente ou transmitidas pelas
mãos dos profissionais de saúde ou outras pessoas que entrem em contato com o
paciente (CARMAGNANI, 2002).
O primeiro Desafio Global para Segurança do Paciente da Aliança Mundial Para
Segurança do Paciente é sobre o tema “Uma assistência segura, é uma assistência
limpa” que visa o desenvolvimento de ações para reduzir os casos de infecções
relacionadas à assistência à saúde (IRAS) em todo o mundo, pois estão entre as
principais causas de morte em pacientes hospitalizados (WHO, 2008).
As consequências das IRAS implicam em prejuízos tanto para a instituição
quanto para o paciente, como hospitalização prolongada, aumento da resistência de
microorganismos aos agentes antimicrobianos e elevação dos custos financeiros.
Portanto, IRAS é um grande problema para a segurança do paciente e sua vigilância e
prevenção deve ser uma prioridade para as instituições para garantir um cuidado mais
seguro (WHO, 2009).
A higienização das mãos é a medida mais importante de evitar a transmissão de
microorganismos (BRASIL, 2005), portanto, é fundamental que os profissionais de
saúde tenham consciência da importância desse ato e adotem essa prática para reduzir a
ocorrência de IRAS, garantindo a qualidade do cuidado.
Apesar de terem sido identificados apenas quatro casos de úlcera por pressão
acredita-se importante que este tipo de EA seja analisado pela equipe de enfermagem.
No presente estudo, as úlceras por pressão ocorreram nas regiões sacral, glúteo esquerdo
e lombosacral, diferindo de um estudo realizado em unidade de terapia intensiva
pediátrica, por meio do qual foi constatado que a região mais frequente de úlcera por
pressão em crianças era a cabeça, principalmente na região occipital (CARVALHO et
al., 2011). Mesmo tendo tais divergências, entre as regiões de maior ocorrência de
úlcera por pressão, o que importa é que esse tipo de evento pode ser prevenido a partir
de medidas simples como monitoramento, inspeção e proteção da pele, além de
mudança de decúbito do paciente de 2/2h (BLANES et al., 2004).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Capa Índice 6803
O principal objetivo desse estudo foi analisar a ocorrência dos eventos adversos
na unidade pediátrica. O conhecimento dos tipos de EA prevalentes na unidade de
pediatria é fundamental para analisar os riscos a que as crianças estão expostas e
planejar as prioridades a serem trabalhadas para a melhoria no processo de cuidado.
Para realizar uma assistência de qualidade, faz-se necessário que os processos de
trabalho sejam revisados, os profissionais sejam capacitados e treinados, sendo
importante também que a instituição disponibilize tecnologias que possam ajudar nesse
aprimoramento.
Outro fator importante é que haja uma cultura de notificação nas instituições,
para que as informações sobre falhas ou eventos adversos sejam claras e completas,
promovendo a análise das suas causas. Ressalta-se que, como os relatórios de
enfermagem são uma fonte de informações, porém não sistematizada, de ocorrências de
incidentes e eventos adversos, muitos registros encontrados estavam incompletos, o que
dificultou a análise dos eventos adversos e de suas causas.
Considera-se que os resultados do estudo, possibilitem uma maior reflexão sobre
a necessidade de que medidas de prevenção de eventos adversos sejam adotadas,
minimizando complicações e sofrimento às crianças hospitalizadas. A prevenção de tais
eventos exige esforços conjuntos de gestores, profissionais de saúde e pais para garantir
a segurança do paciente pediátrico e qualidade na assistência prestada.
7. REFERÊNCIAS
BATALHA, L.M.C. Intervenções não farmacológicas no controle da dor em cuidados intensivos neonatais Revista de Enfermagem Referência. III Série – n.2, p.73-80, 2010. BELELA, A.S.C.; PETERLINI, M.A.S.; PEDREIRA, M.L.G. Revelação da ocorrência de erro de medicação em unidade de cuidados intensivos pediátricos. Rev Bras Ter Intensiva., v.22, n.3, p.257-263, 2010. BLANES, L., et al. Avaliação clínica e epidemiológica das úlceras por pressão em pacientes internados no hospital São Paulo. Rev. Ass. Med. Bras.,v.50, n.2,p.182-187, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196/96. Pesquisas com seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde, p.26, 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Pediatria: prevenção e controle de infecção hospitalar – Brasília : Ministério da Saúde, 2005. 116 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Capa Índice 6804
CARMAGNANI, M.I.S. Segurança e Controle de Infecção. Rio de Janeiro: Reichmann e Affonso Editous. 2002. CARNEIRO, F.S., et al. Eventos Adversos na Clínica Cirúrgica de um Hospital Universitário: Instrumento de Avaliação da Qualidade. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v.19, n.2, p.204-11, 2011. CARVALHO, G. B., et al. Epidemiologia e riscos associados à úlceras por pressão em crianças. Cogitare Enferm. v.16, n.4, p.640-646, 2011. CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Resolução COFEN n. 311/2007. AB Editora. CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM (COREN-SP). Erros de Medicação Definições e Estratégias de Prevenção. SÃO PAULO – 2011. Disponível em: <http://intra.coren-sp.gov.br/sites/default/files/erros_de_medicacao-definicoes_e_estrategias_de_prevencao.pdf >. Acesso em: 08 Ago 2012. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE SÃO PAULO. Consulta n0 23.606/97. Disponível em: <http://www.cremesp.com.br/legislação/pareceres/parcrm/23606_1997.htm>. Acesso em: 08 Ago 2012. GOMES, A.V. O., et al. Punção venosa pediátrica: uma análise crítica a partir da experiência do cuidar em enfermagem.Enfermería Global, p.287-297, 2011. HARADA, M. J. C. S.; MARIN, H. F.; CARVALHO, W. .B. Ocorrências Adversas e consequências Imediatas para os Pacientes em Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos. Acta Paul Enferm. v.16, n.13, p.62-70, 2003. KISSINGER, E.; MARIN, A. Pediatric falls risk assessment in the hospitalized child. Thesis Master of Science in Nursing . California State University, Sacramento, 2010. LEAL, E., et al. Iatrogenia em Pediatria: repensar atitudes. Acta Med Port, p.375-378, 2011. NASCIMENTO, C.C.P., et al. Indicadores de Resultados da assistência: Análise dos eventos adversos durante a internação hospitalar. Rev Latino Am Enfermagem. v. 16, n.4. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rlae/v16n4/pt_15.pdf >. Acesso em: 02 ago 2012. PEDREIRA, M.L.G., PETERLINI, M.A.S., PETTENGILL, M. A. M. Ultra-sonografia na punção intravenosa periférica: inovando a prática de enfermagem para promover a segurança do paciente. Rev Acta Paul Enferm. v.21,n.4, p.667-669, 2008. RAZMUS, I., et al. Falls in Hospitalized Children. Pediatric Nursing. v.32, n.6, p.568-572. 2006 . SCHATKOSKI, AM, et al. Segurança e proteção à criança hospitalizada. Rev Latino Am Enfermagem. v.17, n.3. 2009.
Capa Índice 6805
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Capa Índice 6806
ANÁLISE E ESPACIALIZAÇÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS DOS
MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE GOIÂNIA, PROVENIENTES
DOS CONVÊNIOS COM O GOVERNO FEDERAL, PERÍODO - 2009 A 2011*
Juheina Lacerda Ribeiro Viana (PIVIC)1, Tadeu Pereira Alencar Arrais (Orientador)2
Instituto de Estudos Socioambientais - Universidade Federal de Goiás
E-mail: [email protected]; [email protected]
Palavras-chave: Região Metropolitana de Goiânia. Convênios. Ministérios. Recursos.
Espacialização.
INTRODUÇÃO
O trabalho tem o propósito de analisar a dinâmica de distribuição de recursos advindos
de convênios firmados entre o Governo Federal e os municípios da Região Metropolitana de
Goiânia (RMG), entre 2009 e 2011. Para atingir os objetivos propostos foi necessário
compreender a composição das receitas municipais, as demandas por infraestrutura urbana e
serviços espacializadas nos municípios e posteriormente, os convênios firmados. As receitas
orçamentárias isoladas não conseguem atender às demandas existentes nos municípios, em
função do que Lanzana (2010), destacou como rigidez orçamentária. Essa tendência ocorre,
sobretudo, nos municípios de menor peso demográfico (em função do modelo de distribuição
dos recursos públicos) e com economia pouco dinâmica. Sendo assim, os convênios tornam-
se importante ferramenta de ação na produção do espaço no território nacional. Por meio
dessa análise podemos observar a funcionalidade desse instrumento na configuração sócio
espacial dos municípios, uma vez que, os convênios celebrados com os ministérios
selecionados são de fundamental importância para a constituição da "Justiça Distributiva
Territorial", da forma como definiu Harvey (1980).3 A análise partirá da perspectiva de
Lefebvre (2009) ao conceber que para a pesquisa de processos decorrentes do espaço urbano é
1 Graduanda do curso de geografia/ Bacharelado em Planejamento Urbano. 2 Professor Adjunto do Instituto de Estudos Socioambientais. 3 Harvey (1980, p. 86) destaca nove necessidades básicas da população urbana que permanecem constante no tempo, dentre elas, a Habitação, Cuidados Médicos, Educação e Oportunidades de Lazer. Correlacionando a análise do autor com o atual momento político administrativo no Brasil nota-se que através dos convênios os Ministérios selecionados agem de forma a prover a Justiça Distributiva Territorial, por exemplo: do Ministério das Cidades que proporciona desenvolvimento de projetos voltados para habitação popular. Ministério da Saúde que volta sua atenção para a aquisição de equipamentos e melhorias na infraestrutura voltados a oferta de saúde pública, assim como o Ministério da Educação que age de forma semelhante com os serviços educacionais. Por fim, o Ministério do Turismo que por meio de reformas e construção equipamentos de lazer e eventos culturais proporciona momentos de lazer à população.
Capa Índice 6807
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6807 - 6821
necessário partir de diferentes níveis de análise (Estado, Instituições e Indivíduos), e como
esses níveis se correlacionam.
OBJETIVOS
Analisar e espacializar a dinâmica de distribuição de recursos advindos de convênios
firmados entre o Governo Federal e os municípios da RMG, entre 2009 e 2011.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados os seguintes procedimentos
metodológicos:
1. Levantamento bibliográfico com enfoque no processo de metropolização no
Brasil. Estudos desenvolvidos por Gouvêa (2005) Garson (2009) e Machado
(2009) foram utilizados como ponto de partida. Também, foram utilizados
manuais, apostilas e a legislação referente aos convênios;
2. Coleta de dados secundários sobre a RMG, entre 2009 e 2011. Esses dados estão
disponíveis nas seguintes fontes: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)- dados demográficos, socioeconômicos e aspectos sobre as finanças dos
municípios goianos; Tribunal de Contas dos Municípios-GO (TCM-GO)-
informações a respeito das receitas municipais; Portal da Transparência do
Governo Federal- coleta de dados referentes á natureza dos convênios, valores e
datas das liberações;
3. Espacialização dos recursos provenientes de convênios firmados entre o Governo
Federal e os municípios da RMG, buscando compreender como esses recursos são
geridos diante das possibilidades de estratégias pelos governos municipais.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Dinâmica metropolitana: o caso da Região Metropolitana de Goiânia
O estudo realizado se desenvolve em escala regional ao buscar a compreensão das
dinâmicas socioeconômicas relacionadas à RMG, ressaltando elementos que sejam capazes de
identificar a ineficiência dos arranjos institucionais frente às demandas da população.4
4 A importância da utilização do recorte regional no estudo realizado decorre do fato de que os equipamentos e serviços espacializados em determinado município podem ser utilizados pelos demais, pois no contexto metropolitano, ambos estão integrados.
Capa Índice 6808
As Regiões Metropolitanas (RMs) foram instituídas em 1973 com a criação de 8
RMs.5 Um de seus objetivos principais era viabilizar um plano de desenvolvimento integrado
que contemplasse todos os municípios pertencentes às regiões, promovendo um
desenvolvimento econômico e social integrado. Além disso, os municípios teriam
preferências de investimentos e empréstimos em relação aos demais, junto à União. Após a
promulgação da constituição de 1988 a responsabilidade pela criação das RMs passou a ser
controlada pelos Estados. Com isso, foram criadas várias outras regiões, totalizando 37 RMs e
três regiões integradas de desenvolvimento (Ride) em 2011, segundo estudos publicados pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2011).
Figura 1 . Região Metropolitana de Goiânia: população e densidade demográfica, 2010.
A RMG foi institucionalizada pela lei complementar número 27, de 30 de dezembro
de 1999, e modificada pela lei complementar número 78, de 25 de março de 2010, que incluiu
sete municípios passando a ser composta por 20 municípios cujo padrão demográfico,
5 Ficam estabelecidas pela Lei Complementar n° 14, de 8 de Junho de 1973, as regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp14.htm
Capa Índice 6809
espacial e social é bastante heterogêneo. A figura 1 apresenta o padrão demográfico
metropolitano. Em 2000, a RMG possuía população total de 1.743.297, passando para
2.173.006 habitantes em 2010, representando 34,83% do total do Estado (IBGE, 2011).
Analisando a dinâmica demográfica contemporânea, percebe-se maior incremento relativo de
municípios como Goianira (1,82%), Senador Canedo (1,59%) e Santo Antônio de Goiás
(1,51%). Goiânia (1,19%) foi o sétimo município da RMG com menor crescimento relativo e
sua representação no total da população da RMG passou de 62,69% em 2000 para 59,91% em
2010.
Esse perfil se justifica pela valorização fundiária crescente na capital e à incorporação
de estoques de áreas rurais, principalmente nos municípios limítrofes para saldar as demandas
por habitação que não são absorvidas pelo núcleo metropolitano, ao favorecer, assim, os
movimentos migratórios para estes locais, como indicou Arrais et al.(2012).
Composição das receitas municipais
Para compreender as especificidades da RMG é preciso levar em conta sua dinâmica
econômica do ponto de vista dos recursos disponíveis para a gestão municipal e a polarização
exercida pelo núcleo metropolitano. Na medida em que se centralizam serviços e
equipamentos consequentemente se polarizam os recursos, como se observa a composição dos
recursos municipais: 1. as transferências federais analisadas variam de acordo com o padrão
demográfico municipal; 2. as transferências estaduais reverberam o perfil econômico
municipal, ao refletir a disposição espacial dos equipamentos públicos e privados, assim como
o de veículos automotores; 3. As receitas tributárias são dispostas sobre o uso do solo
municipal, com a finalidade de habitação ou desenvolvimento de serviços de qualquer
natureza; 4. os fundos para manutenção de serviços básicos denotam como a centralização dos
equipamentos públicos e como a migração pendular para uso desses são funcionais para
financiamento de tais serviços. A figura 2 indica as principais receitas dos municípios da
RMG.
Esses recursos são utilizados para a manutenção das atividades básicas dos
municípios, como despesas com saúde, educação, pagamento de funcionários e realização de
obras de infraestrutura urbana, como já mencionado por Lanzana (2010) ao analisar a política
fiscal nas esferas Federal, Estadual e Municipal.
Capa Índice 6810
Figura 2. Constituição das receitas municipais. Fonte: Tesouro Nacional, Tribunal de Contas dos Municípios - GO (2010).
É importante destacar que tais recursos não podem ser utilizados de forma livre pelos
municípios, exceção para as receitas tributárias. Do total das receitas arrecadadas pelo
executivo na RMG em 2010, Goiânia concentrou 69,80%, enquanto municípios como
Brazabrantes, Caturaí e Caldazinha concentraram juntos 0,98% das receitas arrecadadas e
distribuídas na região (TCM - GO/2010).6 Esse padrão desigual de arrecadação é resultado da
posição ocupada pela capital, com intensa concentração demográfica, valorização fundiária e
concentração dos equipamentos de serviços (públicos e privados).
A figura 3 demonstra a centralidade de Goiânia em relação aos demais municípios que
compõem a RMG por meio de sua concentração equipamentos de serviços básicos como
loterias, agências bancárias, hospitais e escolas. Dos 1.787 equipamentos verificados, 65,47%
se concentram na capital. Isso motiva o deslocamento de pessoas em busca de serviços que
não são oferecidos nos municípios onde residem, ou quando estes serviços não atendem as
demandas da população. Em 12 municípios com padrão demográfico inferior a 11 mil
habitantes, a presença de loterias, agências bancárias e hospitais se restringem a um
equipamento ou mesmo nenhum. Dentre estes, destacam-se Caldazinha e Caturaí, que de
modo geral possuem apenas seis e oito equipamentos de uso coletivo, respectivamente.
6 As receitas do executivo são formadas por impostos e taxas recolhidos diretamente pela prefeitura e transferências de recursos do governo estadual e federal, por meio do repasse de parte dos impostos que recebem.
ORIGEM DAS PRINCIPAIS RECEITAS MUNICIPAIS
TRANSFERÊNCIAS INTERGOVERNAMENTAIS Receitas
Tributárias FUNDOS
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Capa Índice 6811
Figura 3. Região Metropolitana de Goiânia: distribuição dos equipamentos de serviço, 2010.
Dentre estes equipamentos, o ensino, é o único de uso diário que é ofertado em todos
os municípios, conforme previsto na Constituição Federativa de 1988. Entretanto, esse serviço
não atende as demandas de parte da população, principalmente porque grande parte das
instituições de ensino básico, superior, técnico, profissional, público ou privado, se
concentram na capital, fator que motiva a mobilidade para o estudo.
Além da prestação de serviços, outros importantes elementos devem ser considerados,
como exemplo, a distribuição de infraestrutura, entre os municípios. Num contexto regional,
investimentos em infraestrutura urbana são fundamentais para um crescimento econômico
homogêneo entre os municípios, atraindo população e investimentos financeiros, gerando e/ou
aquecendo os fluxos econômicos entre os municípios.
A figura 4 informa a porcentagem de residências com tratamento de esgoto, água
tratada, coleta de lixo e energia elétrica. O serviço mais ineficiente dentre os contemplados é o
serviço de tratamento de esgoto, ausente em 10 dos 20 municípios da RMG, e quando é
disponível atende principalmente os municípios que possuem faixas populacionais superiores
Capa Índice 6812
a 11 mil habitantes. Os demais tipos de serviços são ofertados em todos os municípios, mas
não são oferecidos a todos os domicílios. Goiânia concentra maior infraestrutura, se
comparada aos demais municípios, sua média entre os equipamentos contemplados na análise
é de 79,70% (IBGE, 2010). Por outro lado, Caldazinha é o município mais carente em
infraestrutura, atendendo uma média de 42,58% da população, seguido por Hidrolândia
(44,23%), Aragoiânia (46,94%) e Caturaí (48,04%).
Figura 4. Região Metropolitana de Goiânia: infraestrutura básica, 2010.
Ao se observar tal padrão, percebe-se que as disparidades geradas no campo político-
econômico são reverberadas diretamente no cotidiano da população, haja visto a
heterogeneidade na prestação de serviços básicos à população dos municípios que compõe a
RMG. A respeito dessa dinâmica Garson (2009) analisa a atual conjuntura econômica dos
municípios problematizando a rigidez orçamentária, pois esta "rigidez" impossibilita que os
governos municipais arquem com compromissos de grande impacto. Segundo ele:
Capa Índice 6813
A rigidez da despesa de todos os níveis de governo, a magnitude dos investimentos requeridos e a dimensão extraterritorial que têm as ações de desenvolvimento urbano tornam indispensável a articulação de ações entre os três níveis de governo e o setor privado, de forma a atender as demandas da sociedade. (Garson, 2009, p. 20)
Com base na tendência apresentada é possível concluir que as esferas governamentais
tem a necessidade de buscar outros tipos de recursos que os auxiliem na realização de obras
de infraestrutura urbana, disponibilidade de serviços básicos (educação e saúde) ou na
realização de eventos festivos, como o “Arraiá do Cerrado” realizado em Nerópolis
anualmente.
Convênios
No Brasil, após a constituição federativa de 1988 no discurso de descentralização de
poder e recursos foram definidos três entes autônomos, União, Estados e Municípios.
Entretanto, dadas ás heterogeneidades socioeconômicas regionais e intrarregionais a
autonomia não ganhou caráter efetivo em todo território nacional.
Dessa forma, para analise da organização espacial torna-se necessário conceber as
relações político-administrativas das esferas governamentais, assim como observou Corrêa
(2011), ao dizer que:Dada a complexidade da ação do Estado, envolvendo múltiplos papéis, com pesos distintos no tempo e espaço, torna-se necessário que novos estudos sejam realizados, tanto nas esferas federal e estadual como na municipal. Estas esferas ou escalas espaciais podem implicar diferentes ações que, no entanto, não devem estar desconectadas. (Corrêa, 2011, p.46)
Nessa perspectiva, o município exerce importante funcionalidade na conexão das três
esferas governamentais, de modo que, todas as ações, independente da esfera, se materializam
no município, como já afirmado por Arrais (2008). Em função dos orçamentos enrijecidos, os
convênios representam uma das alternativas para que através de um objetivo comum os
gestores municipais possam realizar obras ou serviços que sejam capazes de atender
demandas do desenvolvimento municipal, sendo importante mecanismo para a produção do
espaço urbano. Na Portaria Interministerial número 507, de 24 de novembro de 2011, o
convênio é definido como: Acordo ou ajuste que discipline a transferência de recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscais e Seguridade Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração pública estadual, do Distrito Federal ou municipal, direta ou indireta, consórcios públicos, ou ainda, entidades privadas sem fins lucrativos, visando à execução de programa de governo,
Capa Índice 6814
envolvendo a realização de projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime de mútua cooperação. (BRASIL, 2011). 7
Os convênios estão contemplados inicialmente pela Lei nº 8.666, de 21 de junho de
1993, e podem ser consolidados por meio de parcerias entre as três esferas de governo e com
o setor privado. Para a sua realização é necessário que haja um objetivo comum, mediante a
apresentação da documentação e do plano de trabalho junto ao Governo Federal.
Foram selecionados para análise os convênios firmados com o Ministério das Cidades,
Ministério da Saúde, Ministério da Educação e Ministério do Turismo, tendo em vista os
valores destinados a essas esferas administrativas. Os valores repassados entre 2009 e 2011
foram destinados principalmente para obras de infraestrutura urbana, cujo destino mais
recorrente nos municípios foi pavimentação asfáltica, construção de galerias pluviais e
implantação de sistemas de drenagem. Em Goiânia além da realização desses serviços, foram
realizados planos habitacionais, construção de unidades habitacionais e ampliação do sistema
de esgotamento sanitário. As figuras 5 e 6 informam o número de convênios firmados em
2009 e 2011 com os Ministérios selecionados e os valores destinados a cada município da
RMG.
Em 2009 a RMG foi contemplada com R$ 11.499.375,77, repassados ao Ministério
das Cidades para a realização das obras e serviços solicitados. Os maiores repasses foram
destinados a Goiânia, Aparecida de Goiânia e Inhumas, respectivamente. Outros nove
municípios também firmaram convênios com esse Ministério, somando um repasse total de
R$ 1.750.694,39. Em 2010 os valores repassados por meio deste Ministério tiveram os
maiores repasses no período analisado. O valor total repassado foi de R$ 32.517.649,06, e
assim como em 2009 os maiores valores foram destinados aos municípios anteriormente
mencionados. Goiânia concentrou R$ 27.796.781,63 para a realização de pavimentação
asfáltica, construção de meio fio, e construção de 1.600 unidades habitacionais. Assim como
em 2009 nove municípios receberam um repasse total de R$ 1.210.534,27 por intermédio
desse mecanismo. Já em 2011, observou-se uma maior distribuição de recursos, o que é
importante para municípios de menor peso populacional como Bonfinópolis e Caturaí, tendo
em vista que a rigidez orçamentária dificulta a implantação de obras em tais ambientes. Os
recursos destinados ao Ministério das Cidades nesses municípios proporcionaram a
construção de calçadas e meio fio. Enquanto municípios como Goiânia concentram a maior
7 Como consta no Artigo 241 da Constituição Federal: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos”. (BRASIL, 1988)
Capa Índice 6815
parte dos recursos verificou-se que Abadia de Goiás, Brazabrantes, Caldazinha e Guapó não
apresentaram nenhum convênio com esse Ministério entre 2009 e 2011, o que nos leva a
pensar sobre a estrutura admirativa municipal que por inadimplência, ou por não atender aos
requisitos mínimos não estavam aptos a receber tais transferências.
Figura 5. Região Metropolitana de Goiânia: Repasses realizados por meio de convênios com os Ministérios da Saúde, Educação, Cidades e Turismo, 2009.
Os valores destinados ao Ministério da Educação tiveram como principal finalidade a
melhoria da estrutura física das escolas, compra de equipamentos mobiliários, áudio visuais e
materiais para servir de aporte aos professores. Em 2009 o valor total foi de R$ 4.613.046,25.
Os maiores repasses foram observados em Goiânia, Senador Canedo e Bonfinópolis. Outros
cinco municípios receberam uma transferência total de R$ 1.136.892,94. Verifica-se que tanto
em 2009 quanto 2010, os valores repassados por meio deste Ministério foram os menores ao
estabelecer uma comparação entre os Ministérios observados. Em 2010, o valor total das
transferências foi de R$ 3.023.844,52. Os municípios com maiores repasses foram
Goianápolis, Goiânia e Bela Vista de Goiás, respectivamente. Em Goianápolis e Bela Vista de
Goiás por meio desse mecanismo foram adquiridos veículos para o transporte escolar de
estudantes da rede básica de ensino e em Goiânia para melhoria das condições da educação
Capa Índice 6816
básica para os alunos com deficiência visual. Já em 2011, os valores totais das transferências
foram de R$ 21.938.675,12. Os maiores repasses foram para os municípios de Goiânia, Bela
Vista de Goiás e Abadia de Goiás. Desse total, Goiânia concentrou R$ 20.569.149,24,
destinados principalmente em infraestrutura, recursos pedagógicos e construção de escolas.
Os demais cinco municípios que firmaram convênios nesse período receberam R$
1.369.525,88.
Figura 6. Região Metropolitana de Goiânia: Repasses realizados por meio de convênios com os Ministérios da Saúde, Educação, Cidades e Turismo, 2011.
Os convênios realizados com o Ministério da Saúde tiveram como principais objetivos
as reformas de unidades de saúde, aquisição de equipamentos de uso permanente e materiais
de consumo, cursos de treinamento profissional, serviços de aperfeiçoamento dos serviços de
urgência e emergência nas unidades de saúde. Em 2009, o valor total repassado aos
municípios foi R$ 14.840.878,38. Os municípios que obtiveram os maiores valores foram
Goiânia, Aparecida de Goiânia e Trindade. Goiânia concentrou 12.351.145,38 do valor total
repassado. Os demais municípios concentraram R$ 2.489.733,00. Dentre esses municípios,
Aparecida de Goiânia se destacou ao utilizar o recurso adquirido na construção de uma
maternidade. Em 2010, o repasse total foi de R$ 16.219.131,69. Os maiores repasses foram
Capa Índice 6817
destinados a Goiânia, Aparecida de Goiânia e Goianápolis. Nesses municípios os principais
investimentos realizados foram em materiais de uso permanente nas unidades. O ano de 2011
apresentou os menores valores de repasses se comparado aos anos anteriores. O total foi de
R$ 5.985.022,34, e os maiores valores destinaram-se a Goiânia, Aparecida de Goiânia e
Goianápolis. Esses recursos foram utilizados na aquisição de um veiculo para Goiânia, e de
materiais hospitalares, e na melhoria das condições sanitárias domiciliares, com a realização
de reformas nos domicílios para atender parte das demandas, de modo a proporcionar
melhorias na qualidade sanitária dos domicílios contemplados.
O Ministério do Turismo proporcionou aos municípios a urbanização de parques
ecológicos, realização de eventos festivos, revitalização de praças e reforma de parques. Em
2009 os valores totais adquiridos somaram R$ 15.798.628,77. Apenas seis municípios foram
contemplados com transferências nesse mesmo ano e em 2010. Os principais repasses foram
destinados a Goiânia, Trindade e Nova Veneza. Em Trindade, o recurso foi destinado à
construção de uma passarela a ser utilizada em festas religiosas e na implantação de um
portal. Em 2010, o valor foi de R$ 14.682.901,53. O destaque desse ano foi Goiânia, ao
concentrar R$ 12.032.255,53 do valor destinado aos municípios. Os principais objetivos dos
repasses para a capital foram para revitalização de praças, e auxilio nas reformas do Parque
Mutirama para melhora dos equipamentos turísticos do parque. Em Nova Veneza, os recursos
foram destinados à festa gastronômica de cultura italiana realizada anualmente no município.
Na RMG, os municípios que não celebraram nenhum convênio nesse período foram:
Brazabrantes, Guapó e Teresópolis. A falta de utilização desse mecanismo nesses municípios
decorre de assuntos ligados à estrutura administrativa municipal, a falta de conhecimento
sobre a utilização desse instrumento, ou mesmo a escolha dos gestores por não utilizar os
convênios como forma de saldar demandas e promover integração com outros municípios da
RMG. O acumulo de demandas nesses ambientes e a dificuldade de absorção das demandas
nos demais dificulta a instalação de ações conjunturais capazes de promover um
desenvolvimento integrado que seja capaz de proporcionar melhorias na qualidade de vida da
população, objetivo inicialmente pensado com a instituição das RMs no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da exposição de dados secundários e análise bibliográfica foi possível
compreender as disparidades existentes entre os municípios da RMG. Esse padrão foi
identificado por meio da polarização que Goiânia exerce diante dos demais municípios da
RMG ao concentrar grande parte dos equipamentos de serviços, infraestrutura, bem como a
Capa Índice 6818
estrutura administrativa do Estado. Dos vinte municípios, oito consolidaram convênios de
repasses inferiores a 40.000,00 com algum dos Ministérios selecionados, mas que no contexto
em que estão inseridos, podem representar importantes melhorias. Entretanto, tais ações são
realizadas de forma isolada, impedindo que esses ambientes se tornem integrados entre si.
Associando essas informações com a bibliografia consultada nota-se que esse padrão está
presente não só na RMG, aparecendo como causa estrutural da organização política
administrativa brasileira.
Percebe-se a importância dessa espécie de política pela possibilidade de ação dos
governos municipais no espaço, sobretudo o espaço urbano, uma vez como já mencionado por
GARSON (2009) e LANZANA (2010) os recursos para a gestão municipal encontram-se de
certa forma “engessados”. Desta forma, é importante às pesquisas relacionadas ao
planejamento urbano, geografia política e econômica com frequência questionar a distribuição
espacial desses recursos, uma vez que, constantemente municípios ficam sem celebrar
convênios com nenhum ministério. Será que não há necessidade de obras ou recursos nesses
municípios?
Enfim, constata-se que os convênios são importante instrumento a ser utilizado para
diminuir as disparidades socioeconômicas entre os municípios da RMG, pois permitem aos
mesmos:
1. Saldar as demandas por obras de grande porte, tendo em vista a
impossibilidade dos gestores municipais de arcar com tais investimentos diante
de um cenário de receitas orçamentárias “enrijecidas”;
2. A possibilidade de ação conjunta no espaço entre as três esferas
governamentais (União, Estados e Municípios), com a presença dos gestores e
planejadores como mediadores desse processo;
3. Pensar em estratégias para a integração metropolitana, de forma que os
municípios com recursos financeiros insuficientes para atender as demandas da
população não se tornem dependentes dos equipamentos de outros municípios;
4. Evolução na qualidade de prestação de serviços públicos básicos, adquirindo
equipamentos, contratando serviços, ou mesmo, disponibilizando eventos
culturais;
5. Descentralização de recursos, desde que os gestores dos demais municípios se
adaptem às normativas constitucionais que estabelecem os critérios para
consolidação dos convênios.
Capa Índice 6819
Enfim, a analise da distribuição espacial dos convênios tem importante contribuição
para a agenda de pesquisa geográfica, pois através desse instrumento é possível desenvolver
estratégias no âmbito econômico-social espacializadas nos municipios de modo a atender
principais demandas da população.
REFERÊNCIAS
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ARRAIS, Tadeu Alencar; SILVA, Cristiano Martins; VIANA, Juheina Lacerda; ALENCAR, Diego Pinheiro. Economia metropolitana pela ótica das receitas municipais: o caso da Região Metropolitana de Goiânia. In: ALMEIDA, Maria Geralda; TEIXEIRA, Karla Annyelly; ARRAIS, Tadeu Alencar (Orgs.). Metrópoles: teoria e pesquisa sobre a dinâmica metropolitana. Goiânia: Cânone Editorial, 2012;
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_______. Lei complementar n° 78, de março de 2010. In: http://www.gabinetecivil.go.gov.br/pagina_leis.php?id=9457. Acesso em 10/05/2012;
GOUVÊA, Ronaldo Guimarães. A questão metropolitana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005;
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Capa Índice 6820
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* Revisado pelo orientador.
Capa Índice 6821
Empresas goianas: caracterização das exportações (2007-2011)
Juliana Teixeira Leite, Andréa Freire de Lucena (orientadora)
Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (FACE)
[email protected]; [email protected]
Palavras-chave: exportação; Goiás; empresas.
1. Introdução
A partir dos dados disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC) é possível perceber que as exportações brasileiras e as
exportações do estado de Goiás entraram no século XXI apresentando taxas de crescimento
positivo. De 2000 a 2002, o crescimento das exportações goianas foi em média 28% maiores
de que as exportações do Brasil, que foi de cerca de 8%. Analisando com mais detalhe este
período, nota-se que, no país e no estado de Goiás, houve, em 2000, um elevado aumento das
exportações, 67% em Goiás e 14% no Brasil, que foi seguido por crescimento muito menor
nos dois anos posteriores, 4% para o Brasil e cerca de 9% para o estado de Goiás. Mesmo
com a queda, as exportações goianas ainda apresentavam-se acima da média do país (MDIC,
2012).
Os dados da balança comercial mostram o crescimento negativo das exportações no
ano de 1999 no Brasil e também em Goiás, provavelmente ligado à crise cambial daquele ano,
que trouxe consigo a desvalorização cambial e a recessão econômica. Mesmo que o resultado
das exportações tenha sido negativo, o nível de produção já se recuperava e retornava ao
crescimento normal. Em 2000, dando continuidade à melhora apresentada no ano anterior e
com a diminuição das taxas de juros, houve uma queda do déficit comercial do Brasil.
Cabe destacar que a diminuição do déficit em 1999 se deu devido a uma maior queda
das importações (14%), e menor queda das exportações (6%). Um crescimento maior, apesar
de que muito próximo, das exportações do ano 2000 (de 14,8%) e um crescimento de 13,28%
das importações fizeram com que o déficit comercial diminuísse mais ainda em 2000. Em
Goiás, o saldo da balança comercial se manteve positivo nesse período, apesar de oscilante
devido à queda menor nas exportações do que nas importações em 1999 e ao crescimento
maior do valor exportado do que do valor importado em 2000.
O aumento dos preços agrícolas e o problema de escassez de energia elétrica, em
2001, fizeram com que o volume exportado do Brasil diminuísse. No período 2003-2008, as
exportações cresceram, em média, 37% ao ano para todo o Brasil e 22% para Goiás. Houve
Capa Índice 6822
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6822 - 6834
aumento nos investimentos para tentar dinamizar a indústria depois de 2003 e, até 2005, a
balança comercial do país teve um bom desempenho (BAHIA; ARAÚJO, 2007). De 2006 a
2008, as exportações do Brasil cresceram 15%, 52% e 28%, respectivamente. Em
comparação, as exportações de Goiás, no mesmo período, se mostraram mais constantes,
16%, 16% e 23%, respectivamente. As exportações brasileiras, em 2009, caíram 11% e, as
goianas, 22% em razão da crise financeira de 2008 que diminuiu a demanda mundial e,
consequentemente, as exportações. Em 2010 e 2011, houve a retomada do crescimento das
exportações, 11% e 38%, para o Brasil, e 32% e 26%, para Goiás.
2. Objetivo
O objetivo deste artigo é caracterizar as exportações goianas no período de 2007 a
2011, primeiramente classificando o mercado exportador por atividade econômica e,
posteriormente, descrevendo a logística de exportação dos produtos e os principais destinos
das exportações.
3. Metodologia
Inicialmente, montou-se um banco de dados sobre as exportações goianas a partir do
sistema de informação chamado de aliceweb, que é um banco de dados organizado pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que disponibiliza
informações sobre países importadores, produtos exportados, vias e portos utilizados para
exportação, valores e peso das mercadorias. Depois, as empresas goianas que exportaram
continuamente no período 2007-2011 foram selecionadas e classificadas de acordo com sua
atividade econômica. A classificação segundo a atividade econômica seguiu o mesmo critério
da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
4. Resultados e Discussões
Esta seção está dividida em cinco partes. A primeira apresenta os valores das
exportações e compara a variação de valores com a variação do volume das exportações. A
segunda caracteriza o mercado exportador de Goiás baseado nas atividades econômicas. A
terceira parte especifica o tipo de transporte utilizado para a atividade exportadora. A quarta
parte mostra os principais portos utilizados. E, por fim, a quinta parte detalha o destino dos
principais produtos exportados.
Capa Índice 6823
4.1. Exportações de Goiás: valor e volume exportado
Para comparar o valor dos produtos exportados e o volume dos produtos exportados
foram utilizados os dados do sistema aliceweb do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC). Cabe destacar que os produtos são os objetos de uma exportação
ou importação, que as exportações são consideradas como sendo as mercadorias embarcadas
para o exterior, que os valores são expressos em dólares norte-americanos, na condição de
venda FOB (Free on Board), e que o volume das exportações está em quilograma líquido.
Gráfico 1 – Valor das Exportações de Goiás, em US$ FOB (2007-2011)
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012)
De 2007 a 2008, as exportações de Goiás, de acordo com o gráfico 1, subiram 28,5%.
Elas sofreram uma queda de 11,7% em 2009 e, em 2010, cresceram 11,9%. O ano de 2011
fechou com crescimento de 38,6%. O período 2007-2011 fechou com crescimento de 76%,
que foi maior do que a média do crescimento das exportações do país, 59,4%.
Gráfico 2 – Volume das exportações de Goiás, em quilogramas (2007-2011)
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012).
Capa Índice 6824
Considerando o peso das exportações em quilogramas, as variações anuais não
acompanharam as variações de valores. De 2007 para 2008, o volume de exportação, segundo
o gráfico 2, cresceu 0,185% em comparação com o valor que cresceu 28,5%. Em 2009, o
volume recuou 1,25%, mas não no mesmo patamar do valor das exportações, que foi de
11,7%. Em 2010, o crescimento foi de 9,1% e, em 2011, continuou no mesmo nível de
crescimento, 9,16%. O período 2007-2011 fechou com crescimento total do volume das
exportações de 17,8%.
4.2. Caracterização por atividade econômica
Utilizando a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para
classificar as atividades econômicas, pode-se dizer que 99% dos produtos exportados pelo
estado de Goiás, no período de 2007-2011, são originadas das seguintes atividades:
agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (58%); indústrias extrativas
(27%) e indústria de transformação (14%). Alguns produtos exportados que foram originados
de outras atividades econômicas - como água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e
descontaminação; artes, cultura, esporte e recreação; eletricidade e gás; informação e
comunicação; outras atividades de serviços e organismos internacionais e outras instituições
extraterritoriais - representam pouco menos de 1% das exportações e, no gráfico 3, foram
agregadas como outras atividades.
Gráfico 3 – Atividades econômicas dos produtos exportados por Goiás (2007-2011)
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de dados do MDIC (2012) e IBGE (2012)
No ano de 2007, a indústria de transformação exportou US$1.851.616.907, que
representou 58,14% do valor total exportado. A atividade de agricultura, pecuária, produção
florestal, pesca e aquicultura foi a segunda maior exportadora, US$831.928.522, que
Capa Índice 6825
significou 26,12% da totalidade desse ano. A indústria extrativa, com 15,69% de sua
participação nas exportações, vendeu US$499.850.241. Das outras atividades, nesse ano, as
que tiveram participação nas exportações foram organismos internacionais e outras
instituições extraterritoriais, com US$1.374.175, e informação e comunicação, com
US$10.573, tendo, elas juntas, uma participação de 0,04%.
Em 2008, a indústria de transformação, com US$2.288.159.004, apresentou
crescimento de 23,58% em comparação com o ano anterior, mas sua participação nas
exportações diminuiu para 55,92% do total. Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e
aquicultura exportaram nesse ano US$1.232.582.863, um crescimento de 48,16% em relação
ao ano anterior e com participação de 30,12% no total, que foi maior que o ano anterior. A
participação de indústria extrativa foi de 13,94%. Ela cresceu 14,09% em relação a 2007. Em
2008, além de organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais, com
US$494.923, e informação e comunicação, com US$35.673, as outras atividades que
participaram das exportações foram outras atividades de serviços, que exportou US$612, e
água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação, que exportou US$191.032.
Essas quatro atividades exportaram 0,02% do total desse ano.
No ano de 2009, a indústria de transformação, com 60,9% de parcela do total de
exportações, vendeu US$2.201.696.921 e foi a que menos decresceu de 2008 para 2009,
3,78%. A agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura exportaram nesse ano
US$1.001.540.725, uma diminuição de 18,74% em relação ao ano anterior, representando
27,71% do total. A indústria extrativa exportou US$411.407.2 e foi a que apresentou a maior
queda, 27,86% em relação ao ano anterior. As outras atividades desse ano foram organismos
internacionais e outras instituições extraterritoriais, com US$232.840, informação e
comunicação, com US$4.234, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e
descontaminação, que exportou US$81.326 e, por fim, artes, cultura, esporte e recreação, com
US$472.
Em 2010, as atividades, no geral, apresentaram uma melhora. Todas tiveram
crescimento positivo, exceto a atividade agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e
aquicultura que teve uma queda de 1,68%. Ainda assim, essa atividade arrecadou
US$984.732.450. A indústria de transformação cresceu 11,44% e exportou nesse ano
US$2.453.496.951. As indústrias extrativas, com participação de 14,81%, foram a que mais
cresceram nesse período, um total de 45,63%. As outras atividades desse ano foram
organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais, com US$233.041, informação
e comunicação, com US$464, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e
Capa Índice 6826
descontaminação, que exportaram US$197.615 e, por fim, eletricidade e gás, com
US$6.862.087. Juntas, elas representaram 0,18% do total exportado.
No ano de 2011, a indústria de transformação cresceu 27,14% em relação ao ano
anterior, arrecadou US$3.119.272.793 e sua participação foi de 55,65% do total. Agricultura,
pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura cresceram 54,58% em relação ao ano anterior
e exportaram US$1.522.151.894, que representou 27,16% do total exportado. As indústrias
extrativas cresceram 33,65% e exportaram US$800.724.265, sendo sua participação nas
exportações de 14,29%. Esse ano foi o único ano em que a participação das outras atividades
foi maior que 1%. Neste ano, sua participação foi de 2,91% e se deu mais em questão do
grande valor exportado por eletricidade e gás, que foi de US$163.040.910. Organismos
internacionais e outras instituições extraterritoriais exportaram US$160, informação e
comunicação, com US$1.456, e água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e
descontaminação, com US$1.566.
Em geral, a participação da indústria de transformação foi em média 58,26%,
agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura foi 27,09%, indústrias extrativas,
14,02%, e as outras atividades ficaram, em média, 0,63%. No período todo, a indústria de
transformação cresceu 68,46%, a agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura
cresceram 82,97% e as indústrias extrativas 60,19%.
4.3. Exportações goianas por modal de transporte utilizado para exportar
Logística é a “junção de quatro atividades básicas: as de aquisição, movimentação,
armazenagem e entrega de produtos” (FERRAES; KUEHNE, 2002, p. 40) e possui papel
determinante em uma empresa, já que influencia bastante a formação de preços e, portanto, a
competitividade de uma empresa. Os modais de transporte são referentes à parte de
movimentação no processo de logística. Os tipos de modais utilizados pelas empresas goianas
no processo de exportação são escolhidos a partir da melhor via para o país de destino.
Nos dados do aliceweb, as vias de transporte, na exportação, são as modalidades
utilizadas para o transporte da mercadoria a partir do último local de embarque para o
exterior. Essas vias podem ser visualizadas no gráfico 4. Cabe destacar que o tópico outros é
utilizado para caracterizar as vias ferroviárias, linha de transmissão, meios próprios, postal e
tubo conduto.
Capa Índice 6827
Gráfico 4 – Valor exportado por cada via de escoação das exportações (2007-2011)
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012).
A via marítima é certamente o mais importante meio utilizado nas exportações
goianas. Elas representam no período em média 94% do volume exportado por Goiás. A via
aérea é responsável por cerca de 3% das exportações do período. As exportações por via
rodoviária eram em 2007 e 2008 muito próximas dos valores exportados por via aérea, mas a
partir de 2009 passou a ser cerca de metade das exportações por essa via. Para o tópico outros
é possível notar um crescimento maior nos últimos dois anos, mas esse crescimento ocorreu
devido à exportação pela via tubo conduto, pois sem esta via a média dos outros meios de
exportação seria de 0,20%.
4.3.1. Exportações por via Marítima
A via marítima é o meio mais utilizado para a movimentação de produto para o
exterior, sendo esta responsável por 96,64% dos transportes para o exterior no ano de 2007.
Em 2008, sua participação foi de 95,58% no total exportado. Em 2009, essa participação caiu
para 94,31%. Em 2010, representou 92,89% e, em 2011, sua participação foi de 91,43%.
Nota-se que sua participação vem a cada ano diminuindo, mas é incontestável sua importância
para as exportações do estado, principalmente por ser o melhor meio para transporte de cargas
pesadas, sendo responsável em média pelo transporte de 5.619.834.397 kg de produtos, ou
seja, mais de 5 milhões de toneladas.
Capa Índice 6828
Gráfico 5 – Principais produtos exportados por Goiás por via Marítima (2007-2011)
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012).
O valor exportado dos produtos do gráfico 5 foi de US$2.501.196.796, em 2007,
US$3.250.849.180, em 2008, US$2.802.380.235, em 2009, US$3.090.183.300, em 2010, e
US$4.019.709.245, em 2011. Eles representam, respectivamente, 81%, 83%, 82%, 82% e
78% do total das exportações por via marítima. Dentre estes produtos o que é mais exportado
é outros grãos de soja mesmo triturados que, no período, foi responsável por 24% das
exportações por este modal. Seguido vem sulfetos de minérios de cobre, carnes desossadas de
bovinos e bagaços e outros resíduos sólidos, sendo estes, respectivamente, em média, 13%,
13% e 12% das exportações. Juntos, estes quatro corresponderam, no período, 62% do valor
exportado pela via marítima.
4.3.2. Outras vias de exportação
As outras vias de exportações, como mostra o quadro 1, são substancialmente menores
que a via marítima, juntas elas representaram, em 2007, 3,36% das exportações de Goiás. Em
2008, sua participação foi de 4,42% e, em 2009, foi de 5,69%. Em 2010, elas representaram
7,11% do volume exportado. Finalmente, em 2011, essa participação subiu para 8,57%.
Capa Índice 6829
O crescimento da participação ao longo do período se deve por dois motivos.
Primeiro, houve um crescimento das exportações por via aérea, em que é exportado por ano
cerca de 1000 tipos de produtos, mas dentre eles o que mais se destaca é ouro em barras, fios,
perfis de sec. macica, bulhão dourado que, em 2007, representou 57,34% das exportações por
essa via. Em 2008, 2009, 2010 e 2011, esse produto foi responsável por 83,14%, 93,2%,
94,05% e 94,15%, respectivamente, das exportações por via aérea. A segunda razão é o
aumento da utilização da via tubo conduto que é usado para transmissão de energia elétrica
para a Argentina. A participação dessa via, em 2010, foi baixa (0,17%), mas, em 2011, essa
participação subiu para 2,91%.
Quadro 1 – Participação das outras vias em relação ao total exportado (2007-2011) 2007 2008 2009 2010 2011 Rodoviária 1,60% 1,89% 1,14% 1,76% 1,69% Aérea 1,52% 2,25% 4,41% 5,03% 3,79% Meios Próprios 0,18% 0,20% 0,07% 0,06% 0,08% Ferroviária 0,03% 0,05% 0,05% 0,05% 0,08% Linha de Transmissão 0,03% 0,05% 0,01% 0,03% 0,02% Tubo conduto 0,00% 0,00% 0,00% 0,17% 2,91% Postal 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012).
As exportações por via ferroviária é de aproximadamente 0,05% do total de
exportações. Os principais produtos transportados por essa modalidade são adubos ou
fertilizantes c/nitrogênio, fósforo e potássio, outras formas de amianto (asbesto) e milho para
semeadura. Os produtos exportados por esta modalidade são transportados pela Corumbá -
Ferrovia – MS e são todos direcionados para a Bolívia.
Os principais produtos exportados por Goiás têm variado bastante com relação ao uso
do modal rodoviário. Por exemplo, carnes desossadas de bovino frescas ou refrigeradas, que
não eram exportadas por essa via em 2007 e em 2008, foi o segundo produto mais exportado
por esse modal (15%) em 2009 e, em 2010, foi o produto mais exportado (41%). Em 2011,
carnes desossadas de bovino frescas ou refrigeradas representaram 49% das exportações que
utilizaram o modal rodoviário. Cabe destacar que, em todos os anos, este produto foi
direcionado para o Chile. Outro exemplo que merece ser destacado é adubos ou fertilizantes,
que são exportados para o Paraguai. Em 2007 e em 2008, 42% e 50% das exportações que
utilizaram o modal rodoviário eram de adubos e fertilizantes. Entretanto, em 2009, essa
participação caiu para 20%, em 2010, para 18% e, em 2011, para 1%.
Por meios próprios já foi exportado mais de 290 tipos de produtos. Em 2007, os
Capa Índice 6830
principais produtos exportados foram lecitinas e outros fosfoaminolipidios (29,8%) e os
chamados consumo de bordo – combustíveis e lubrificantes para aeronaves (23,5%). Em
2008, o principal produto foi algodão simplesmente debulhado que representou 41,4% das
exportações por essa via. Em 2009, os mais exportados foram fraldas de papel (32,9%) e
outros tomates (15,8%). Em 2010, os principais produtos foram carnes de galo (17,9%) e
fraldas de papel (18,9%). Em 2011, o principal produto exportado foi carnes de galo (43,5%).
4.4. Portos utilizados para exportação
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2012) considera
como Porto o local onde ocorrerá o efetivo embarque da mercadoria, ou seja, o último local
habilitado do território nacional de onde sairá à mercadoria com destino ao exterior. Os portos
apresentados no quadro 2 são todos utilizados para exportações por via marítima. O porto
mais utilizado é o Porto de Santos-SP (52,3%). O Porto de Vitória-ES, com 28,4% do total
exportado, o Porto de Paranaguá-PR, com 9,2%, e o Porto de Itajaí-SC, com 5,2%, ocupam a
segunda, terceira e quarta colocação, respectivamente. Ao todo, as exportações por vias
marítimas foram, em média, 97,28% feitas por estes portos.
Quadro 2 – Principais portos utilizados para exportação, em US$ (2007-2011)
2007 2008 2009 2010 2011
SANTOS – SP 1.664.593.684 2.066.996.808 1.705.068.149 1.958.952.795 2.663.090.451
VITORIA -
PORTO – ES 903.748.170 1.150.622.144 1.006.190.776 1.133.029.610 1.533.682.637
ITAJAI – SC 228.055.245 311.487.348 212.725.844 196.294.813 289.899.531
PORTO DE
PARANAGUA - PR 162.282.704 278.343.742 389.463.429 396.836.792 517.605.675
Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012).
Os principais produtos exportados no porto de Santos-SP são outros grãos de soja,
mesmo triturados, que representam em média 25,8% do valor exportado por este porto. O
outro produto é carnes desossadas de bovino, congeladas, que representam 21,4% das
exportações feitas por este porto. No Porto de Vitoria-ES os principais produtos são sulfetos
de minérios de cobre (42,3%), outros grãos de soja (35,5%) e bagaços e outros resíduos
sólidos (18,1%). No Porto do Itajai-SC, os principais produtos são pedaços e miudezas
Capa Índice 6831
comestíveis de galos/galinhas congelados (28,2%), outras carnes de suíno congeladas (22,6%)
e carnes de galos/galinhas não cortadas em pedaços e congeladas (18,6%). Por fim, no Porto
de Paranaguá-PR, os principais produtos são bagaços e outros resíduos sólidos, da extração do
óleo de soja (28%) e pedaços e miudezas comestíveis de galos/galinhas não cortadas em
pedaços e congeladas (14,5%).
4.5. Principais produtos exportados por destino
Os produtos exportados por Goiás são, em geral, exportados para vários países. No
quadro 3 estão dispostos os principais países de destino dos principais produtos exportados. É
considerado país de destino como sendo o ultimo país onde os bens se destinam. Outros grãos
de soja, mesmo triturados, é o produto mais exportado por Goiás. Os principais países
importadores desse produto são China, Países Baixos (Holanda) e Espanha.
A China, em 2007, foi responsável por importar 42,2% desse produto. Em 2008 e
2009, esse país importou 63% do produto e, em 2010 e 2011, 72%. As importações da
Holanda foram, ao contrário da China, diminuindo. Em 2007, 26,1% das exportações desse
produto eram para a Holanda. Nos anos seguintes, as exportações caíram para 6,5%. As
exportações para a Espanha foram, em 2007, de 15,4%. Em 2008 e 2009, as exportações
caíram para 7%. Em 2010, para 3% e, em 2011, subiram para 7,3%. Juntos estes países
importaram no período 80,9%.
Quadro 3 – Principais países de destino dos principais produtos exportados de 2007 a 2011
Principais produtos exportados
Principais países importadores 2007 2008 2009 2010 2011
Outros grãos de soja, mesmo triturados
China 42,2% 64,1% 61,7% 71,5% 73,1% Países Baixos (Holanda) 26,1% 6,3% 10,1% 5,1% 4,4%
Espanha 15,4% 6,3% 7,6% 3,0% 7,3%
Sulfetos de minérios de cobre
Índia 47,5% 44,8% 40,6% 47,8% 59,2% Espanha 10,3% 37,4% 47,4% 45,7% 24,1%
Alemanha 36,6% 14,4% 8,0% 4,2% 11,0%
Carnes desossadas de bovino, congeladas
Rússia, Federação da 35,3% 39,8% 33,7% 31,4% 33,5%
Irã 8,7% 14,6% 24,0% 35,6% 26,8% Egito 6,8% 3,3% 7,3% 9,0% 5,9%
Argélia 5,8% 6,0% 9,0% 3,5% 0,5%
Bagaços e outros resíduos sólidos, da extração do óleo de
soja
Países Baixos (Holanda) 65,8% 48,5% 47,0% 60,7% 65,2%
França 21,7% 23,6% 15,0% 9,0% 5,5%
Reino Unido 0,3% 10,9% 8,8% 11,9% 7,6% Fonte: Elaborado pelas autoras com dados do MDIC (2012).
Capa Índice 6832
Outro produto que é muito exportado, como pode ser verificado no quadro 3, é o
sulfeto de minérios de cobre. Os principais países importadores desse produto são Índia
(48%), Espanha (33%) e Alemanha (14,9%). Estes três países foram os destinos de 95,8% da
exportação desse produto. Os principais países de destino de carnes desossadas de bovino
congeladas são Federação da Rússia (34,7%), Irã (21,9%), Egito (6,5%) e Argélia (5%). O
quarto principal produto exportado por Goiás é bagaços e outros resíduos sólidos da extração
do óleo de soja e os principais países importadores desse produto são Holanda (57,4%),
França (15%), Reino Unido (7,9%) e Coréia do Sul (5,3%).
5. Considerações finais
A indústria de transformação, e sua participação nas exportações, mostra a tendência à
crescente industrialização do estado. Mesmo que a indústria de transformação tenha
apresentado maior participação nas exportações, o estado ainda é fortemente caracterizado
pela atividade agropecuária, uma vez que os principais setores da indústria de transformação
são aqueles que utilizam o insumo originário da agropecuária. Se a indústria de transformação
é a mais participativa nas exportações, pode-se imaginar que os produtos goianos que estão
sendo exportados têm possuído cada vez mais valor agregado.
O meio de transporte mais utilizado pelos exportadores goianos é o marítimo. A via
aérea é uma alternativa de transporte para longas distâncias, mas existe um limite de volume
de carga muito menor que a via marítima e isso acaba por tornar inviável o uso deste
transporte. Os outros meios de transporte, como rodoviário, ferroviário ou tubo condutor, só
podem ser usados para exportar mercadorias para países que estão próximos ao Brasil.
A escolha do meio de transporte, enfim, é essencial para garantir a competitividade do
produto goiano, já que o mercado internacional é dinâmico, possui muitos concorrentes e
exige escolhas eficientes que diminuam custos. Essa escolha leva em consideração tanto o
tipo de mercadoria que é exportada quanto o local para onde a mercadoria se destina. Pelos
principais produtos exportados por Goiás é possível perceber o porquê da preferência para
com o meio de transporte marítimo. Primeiro, os produtos mais exportados apresentam
grandes volumes, o que explica a necessidade de um tipo de transporte que possa sanar essa
necessidade. A segunda razão seria a localização dos países que importam esses produtos,
pois, como foi possível verificar, a maioria dos importadores está distante de Goiás.
Capa Índice 6833
6. Referências bibliográficas
FERRAES, Francisco Neto; KUEHNE, Maurício Jr. Logística Empresarial. In: MENDES, Judas Tadeu Grassi. (Org.) Gestão Empresarial. Curitiba: Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus, 2002. p. 39-49. (Coleção gestão empresarial, v. 2). BAHIA, Luiz Dias. ARAÚJO, Rogério Dias. Panorama da Indústria Brasileira. Brasília: ABDI/IPEA, 2007. 173 p. (Série Cadernos da Indústria ABDI, v. 1). MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR (MDIC). Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (Aliceweb). Disponível em: < http://aliceweb2.mdic.gov.br//index/home > Acesso em: 6 jul. 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Disponível em: <http://subcomissaocnae.fazenda.pr.gov.br/ > Acesso em: 6 jul. 2012.
Revisado pela orientadora.
Capa Índice 6834
Relatório Final
Área de Sociologia
Um Olhar Sobre os Festivais de Música Independente no Brasil
Juliana Guimarães Pires
Aluna do curso de Ciências Sociais
Matrícula n° 092891
Projeto de Pesquisa
AS CENAS INDEPENDENTES NO BRASIL:
Processos de identificação e formas de organização
Coordenador
Prof. Dr. Rubens de Freitas Benevides
Curso de Ciências Sociais
Capa Índice 6835
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6835 - 6849
Introdução
Banda: Ratos de Porão
Música: Capitalismo
Cultiva guerras Destrói nações Dinheiro e poder Suas razões Capitalismo Um mal incurável Capitalismo O homem é irresponsável Capitalismo Destrói natureza Mata animais Só o dinheiro importa O restante são coisas banais Mal incurável Capitalismo Ganância e ambição Em qualquer situação Está gerando um caos na humanidade Esta é a triste realidade.
A letra dessa música é uma forma direta de dizer o que é o capitalismo e seu
modo inconsequente de tratar a natureza e a humanidade. O capitalismo se junta a
ciência para se tornar um “mal incurável”, a ciência descobre, cria e o capitalismo
possibilita o consumo, afinal para o capitalismo “só o dinheiro importa”. Segundo
Jürgen Habermas (1968), a ciência desde o seu início tinha e tem o objetivo de dominar
a natureza e também levou os homens a dominarem os outros homens. Para que se
dominasse a natureza foi necessário instrumentos, os donos destes instrumentos se
tornaram então os dominadores dos outros homens. Com isso a ciência se tornou
Capa Índice 6836
também técnica, fazendo com que o homem não tenha liberdade de ser autônomo e ter
seus próprios meios de produção, se acomodando às regras dominantes. Afinal as
tecnologias trazem conforto assim como aumentam a produção. É difícil notar no dia-a-
dia como se dá a dominação, onde todo o dia é dia de aprender a trabalhar e trabalhar,
afinal, terão os dias de descanso programados para nós. A televisão, assim como outros
meios de comunicação que usam a imagem, são aliadas do sistema capitalista. Podemos
ver isso, observando o que as pessoas fazem no seu tempo livre, quando estão em casa
ficam em frente a Tv mas ao usar o tempo livre fora de casa, fazem isso saindo pra
consumir os produtos que patrocinam a Tv. Ivana Bentes (2002) fala que nossa atenção
como telespectador é disputada pelos meios de comunicação, há uma constante luta para
que possamos consumir tudo que é produzido pelo capitalismo. O capitalismo de
certa forma usa a ciência para valorizar o consumo, mas a ciência não pode ser egoísta,
deve se analisar os riscos futuros que as suas descobertas podem causar. Um exemplo
disso, é a busca pela descoberta da Bomba Atômica, se pararmos pra estudar o que ela
causou ao mundo veremos que ela não foi apenas uma ação isolada, porque tudo que a
ciência cria pensando em um fim pode causar sérias consequências futuras. A ciência
quer criar, quer descobrir, quer avançar tecnologicamente assim como o capitalismo.
Mas e por que a ciência, assim como o capitalismo, não consegue pensar que a sua
ambição é muito mais cara do que parece? Por que não lembrar que o importante somos
nós, os seres humanos? Boaventura de Sousa Santos (2011) vai falar de um novo
conhecimento, o conhecimento-emancipação, que vai diferenciar a ciência da ciência
moderna. Neste conhecimento duas coisas são levadas em consideração, a solidariedade
e o caos. O caos seria uma forma de saber diferente do da ordem. Prever o caos que as
ações presentes podem causar no futuro é o princípio deste conhecimento. E a
solidariedade vai ser o contrário do colonialismo, é quando as pessoas se unem de forma
solidária e juntas se preocupam com as ações que a ciência produz no presente, tendo
assim, medo dos riscos dessas ações no futuro. A solidariedade é a libertação do
colonialismo, onde todos de uma comunidade podem se juntar e participar juntos dos
acontecimentos sociais. Boaventura (2011) fala nos movimentos sociais como
movimentos que poderiam ser globais, pois deve se pensar coletivamente em, por
exemplo, nos problemas que a ciência causa na natureza. Seria essa a ciência da pós-
modernidade, diferente da ciência da modernidade que era inconsequente. Seria esse o
conhecimento emancipação, quando todos participam das ações que influenciam o
Capa Índice 6837
mundo. O conhecimento do senso comum passaria a ser levado em consideração, não
existiria uma verdade linear, uma resposta linear aos problemas e etc.
Segundo Fredric Jameson (2000), se na modernidade a referência era a ciência,
no pós- modernismo a referência vai ser a cultura. Ou seja, a ciência da modernidade
era a verdade única, o que não fosse comprovado cientificamente não era verdade, mas
agora, no que Jameson afirma ser o pós-modernismo, não terá uma verdade única, e
nem historicidade. Cada fenômeno poderá ter várias explicações, o que vai acontecer é a
perda da profundidade, pois as pessoas poderão fazer ligações de várias verdades sobre
um tema para explicar esse tema. No pós-modernismo o capitalismo (tardio) segundo
Jameson, está em sua terceira etapa, onde a cultura se torna uma segunda natureza, as
empresas vão investir pesado em projetos culturais e a tecnologia vai exercer um papel
importante na arte.
Nesse trabalho o foco não é apenas a música independente, mas acima de tudo
a nova cultura independente que tem surgido através desses festivais de música, que tem
mudado a forma de consumo e de uso do tempo livre na nossa sociedade brasileira. O
Circuito Fora do Eixo faz parte da rede de festivais independentes, ele faz uso de várias
tecnologias que vão ser a favor do meio ambiente, dentre elas, a reciclagem de todos os
materiais usados nos festivais. Ensinam em suas casas FDE, uma forma revolucionária
de se viver coletivamente, respeitando o meio ambiente e reaproveitando esses
materiais, o que evitará o consumo exacerbado. A pesquisa surgiu com a ideia de
entender como se dá a cena independente através do Fora do Eixo e dos festivais
organizados por ele. O objetivo era poder visitar alguns festivais e congressos e
observar as formas de gestão, o público que frequenta, a estética destes festivais dentre
outras coisas e dessa forma divulgar este trabalho dentro do meio acadêmico e pelo
Brasil. De inicio o principal objetivo era apenas pesquisar a cena independente em
geral, o principal foco era o Fora do Eixo e toda sua abrangência. Como o recurso
financeiro da pesquisa não arcava com custos maiores e o tempo de previsão da
pesquisa era relativamente curto, tive que optar por escolher focar o minha pesquisa no
coletivo Goma da cidade de Uberlândia em Minas Gerais, por ficar mais próximo da
cidade de Catalão/Goiás.
Metodologia
Para a realização da pesquisa utilizamos vários métodos, dentre eles a
observação de campo que foi nossa observação participante, fomos no Grito Rock em
Capa Índice 6838
Uberlândia, fizemos o registro fotográfico, observação do público e das bandas que
tocaram, colhemos folhetos e algumas revistas, além de observarmos várias
intervenções teatrais e declamações poéticas. Durante as semanas fizemos pesquisa
documental pela internet, que é o principal meio de trabalho e divulgação do Fora do
Eixo, recolhemos vários e-mail trocados entre os coletivos sobre programações,
descoberta de novas tecnologias, divulgação de shows e outras milhares de coisas que
eram publicadas abertamente para todos na internet.
Realizamos uma visita na casa Fora do Eixo em São Paulo em julho de 2011,
conhecemos pessoas que passavam na casa, integrantes de coletivos, bandas, artistas,
produtores, várias pessoas que vinham do Brasil inteiro, visitar ou se hospedar por
alguns dias na casa. Outra vivência feita foi no Congresso Fora do Eixo também
realizado em São Paulo, em dezembro de 2011, participamos de oficinas, debates,
discussões regionais onde discutimos até mesmo sobre a cena cultural de Catalão e
falamos do Festival de Artes Integradas Siriema e sobre o Festival de Música o
Jaratataca que realizamos baseados nas vivências com o Fora do Eixo. Realizamos
também várias entrevistas durante a vivência na casa FDE e no Congresso FDE, com os
integrantes da Casa Fora do Eixo e realizei uma pesquisa com uma integrante do
coletivo Goma e coleta de materiais como panfletos, jornais e etc.
Objetivos
Os objetivos do plano de trabalho foram alterados durante o processo da
pesquisa e o foco foi analisar como se dá a organização do coletivo Goma e seu público
alvo, a forma que ele dialoga com a cidade de Uberlândia. Além disso fazer vivência em
outros festivais, na casa Fora do Eixo e no Congresso Fora do Eixo em São Paulo.
Realizar revisão bibliográfica sobre produção cultural e musical, economia solidária,
juventude, movimentos sociais e etc. Realizar pesquisa documental sobre o processo de
identificação nas cenas independentes, disponibilizados pelos gestores como flyers,
folders, revistas, Cds, camisetas e outros documentos disponibilizados na internet. E
também realizar entrevista com as bandas independentes, os gestores, os artistas e os
integrantes dos coletivos.
Grito Rock de Uberlândia de 2011
Capa Índice 6839
O Grito Rock existe há dez anos e tem por objetivo, fazer circular os artistas
independentes pelo Brasil e fora do Brasil, acontecendo também em algumas cidades da
América Latina. Para poder conhecer como é esse festival, fomos até a cidade de
Uberlândia (MG), onde o festival aconteceu nos dias 18 e 19 de março de 2011. O local
utilizado para o festival foi o Vinil Cultura Bar, um dos bares da cidade onde o Coletivo
Goma, integrado ao Circuito Fora do Eixo, atua para produzir os festivais
independentes. O Grito Rock, como todos os festivais independentes, tem uma mesma
característica de organização: é realizado em um lugar onde os coletivos da cidade já
atuam, uma casa de shows por exemplo, tem uma banquinha para vender os produtos do
coletivo local e dos coletivos integrados ao Circuito Fora do Eixo, além de ter parcerias
com artesãos da própria região, ajudando na divulgação de seus produtos.
No primeiro dia de festival ocorreu um pequeno imprevisto, a energia acabou e o
festival teve que começar a luz de velas, o que evidenciou ainda mais a decoração já
existente no bar, os desenhos na parede, os vinis e é claro, a luz das velas trouxe um ar
de nostalgia para o ambiente. Podemos observar como o público se identificava com as
bandas, mesmo não sendo bandas midiáticas, elas causavam uma resposta ao estilo de
vida que essas pessoas buscavam. O estilo alternativo e as bandas autorais são autores
de uma mesma cena, de um mesmo mundo, buscando revolucionar o modo capitalista
de viver. Enquanto o festival acontecia tiramos fotos do espaço do Vinil e das pessoas
que estavam no local. No intervalo de uma banda pra outra havia declamações de
poema no palco, além do pessoal da Banquinha Goma/Fora do Eixo, circularem pelo
bar, distribuindo o OrFEL (primeira edição do fanzine do Fora do Eixo Letras), e pedir
para que as pessoas declamassem os poemas escritos enquanto eram filmados. O OrFEL
possui poesias de escritores das cinco regiões do Brasil, os poemas foram declamados
tanto no primeiro dia (18) do festival como no segundo dia(19), nos intervalos dos
shows. Quando a energia chegou, as bandas subiram ao palco e começaram a tocar, as
bandas que tocaram nesse dia foram: Dom Capaz (MG), Lupe de Lupe (MG), Space
Monkeys (GO) e Bye Billy. No dia 19 de março tudo ocorreu normalmente e as bandas
que tocaram foram: Killer Klows (MG); Visitantes (SP); Utopia (MG) e Ultrasom
(MG). Fizemos a mesma coisa que na noite anterior, tiramos fotos das pessoas,
observamos as bandas e a reação do público presente. Tiramos fotos também da
Banquinha do Fora do Eixo que faz parte da programação do Grito Rock de todos os
lugares e de alguns dos outros festivais vinculados ao Fora do Eixo. A banquinha expõe
CDs e camisetas de várias bandas que circulam no Fora do Eixo de vários lugares do
Capa Índice 6840
Brasil e até da América Latina, além de revistas de trabalhos realizados dentre outras
coisas.
Visita a Casa Fora do Eixo São Paulo (julho de 2011)
A Casa Fora do Eixo de São Paulo (CaFESP), surgiu com o objetivo de ajudar
na circulação de bandas, assim como todas as casas FDE espalhadas pelas capitais
brasileiras. O FdE funciona em rede, onde todos os pontos dessa rede comunicam entre
si de forma igual, fazendo com que cada ponto possa influenciar, não sendo nenhum
desses pontos um ponto central. O autor André Parente vai citar o conceito de Rizoma
de G. Deleuze e F. Guattari pra explicar como funciona a rede, através de seis
princípios. Utilizarei aqui o princípio onde ao rizoma em que não existe um centro, pois
qualquer ponto se conecta a outro, sem obedecer a nenhuma ordem hierárquica. “As
conexões ou agenciamentos provocam modificações nas linhas conectadas, imprimindo-
lhes novas direções, condicionando, sem determinar, condições futuras.” (PARENTE,
2004, p. 81). E é isso que acontece com o processo de rede do FDE, todos os coletivos
existem de forma real, mas estão ligados invisivelmente através de linhas que
transmitem informações de uns para os outros, fazendo com que se modifiquem o
tempo todo.
A visita à casa ocorreu no mês de julho do ano de 2011, e nesse período a casa já
estava ocupada havia seis meses e contava com dezessete moradores. O ritmo dos
moradores é intenso o dia todo e se estende até altas horas da noite. Mas a casa é uma
casa como qualquer outra, precisa de manutenção diariamente e a colaboração de todos
os moradores, cada um tem que saber fazer todas as tarefas da casa. O espaço conta com
várias salas, quartos e a cozinha. Os moradores tem um estilo de vida coletivo, onde até
as roupas são dividas com todos, ou seja, o guarda roupa é coletivo. Os visitantes da
casa também devem colaborar com a arrumação das camas e a lavagem da louça,
porque têm várias reuniões durante o dia, os quartos também podem se tornar um lugar
pra reunião. O objetivo é potencializar os espaços da casa, fazendo com que se tornem
dinâmicos. O FDE vive em um processo de produção muito grande, mas segundo os
moradores, é um trabalho muito prazeroso, um trabalho que tem retorno, ao contrário do
trabalho estilo fordista, por exemplo, onde o trabalhador produz o produto, mas não se
sente realizado, pois ele não se vê naquele produto. Marx vai dizer que o trabalhador
estilo fordista se torna estandardizado como a mercadoria que é estandardizada.
Capa Índice 6841
(MARX, 1985 vol. I: 283). Ao contrário disso, a economia nos dias de hoje gira em
torno de outra forma de trabalho, um trabalho que dá valor ao que o trabalhador conhece
e usa esse conhecimento como forma de agregar mais ainda ao produto, melhorando sua
qualidade. Michael Hardt no livro Multidão vai falar sobre, o que ele chama de,
produção biopolítica:
Assim o FDE usa o estimulo como uma das formas mais importantes de
sustentabilidade, quem trabalha na casa trabalha fica o tempo todo estimulado, fazendo
algo que gosta e sabendo das responsabilidades que tem, Carol Tokuyo, moradora da
casa, falou sobre uma das ferramentas que usam, que é a “prática do bom humor”, se
alguém tiver com algum problema sabe que deve relevar e não descontar nos outros.
Outro ponto importante com relação a isso, é que eles não separam trabalho da vida
pessoal, acreditam que o nossa vida pessoal de qualquer forma influencia na nossa vida
profissional, por isso quando alguém está com algum problema é interessante que fale
sobre esse problema ao grupo pra que o grupo como uma família ajude dando apoio,
para que o trabalho continue de forma rápida.
O FDE usa muito a expressão “F5”, que quer dizer atualizar; tem muito a ver
com esse trabalho de rede, que é sempre estar atualizando algo, revendo, ainda mais
porque recebem informações diferentes de todos os lados, é como uma esponja que vai
sugando todo tipo de informação e revendo sempre velhos conceitos. Como trabalham
muito com a prática a dinâmica muda o tempo todo por causa desse F5 mesmo, se algo
não está dando certo de um jeito, é hora de mudar de rever, de atualizar. É o que
Virgínia Kastrup afirma que: o tempo real é na verdade uma atualização, um retorno ao
passado, ou seja, o tempo é um processo constante de volta ao passado e ao futuro.
[...] hoje em dia a produção econômica é sob muitos aspectos ao
mesmo tempo cultural e política. Sustentaremos que a forma
dominante de produção contemporânea, que exerce sua hegemonia
sobre as demais, cria ‘bens imateriais’ como ideias, conhecimento,
formas de comunicação e relações. Nesse trabalho imaterial, a
produção ultrapassa os limites da economia tradicionalmente
entendida pra investir diretamente a cultura, a sociedade e a
política. O que é produzido, nesse caso, não são apenas bens
materiais, mas relações sociais e formas de vida concreta.
(HARDT, 1960, pág.134-135)
Capa Índice 6842
(KASTRUP, 2004). Virgínia cita Latour para explicar esse processo de atualização, que
segundo ele, é incompreensível para os modernos. Pois se o passado sempre retorna
quer dizer que nada é criado? O modernismo, para Latour, é radical em dizer que tudo
tem que ter uma denominação certa, o que é passado, o que é presente, o que é atrasado,
o que é civilizado, por isso ele acredita que a modernidade tão pregada pelos
“modernos” pode nunca ter existido. (LATOUR, 1994). O FDE mostra que aceitar este
fato, não é ruim, mas pelo contrário, somos mais “modernos” do que nunca justamente
quando não somos modernos. O conhecimento é algo que também é levado bem a sério
para FDE, ele tem que ser compartilhado na rede e o local mais usado pelo circuito é a
internet e as vivências, o conhecimento forma as tecnologias que são aplicadas na
prática. Se o uso da reciclagem deu certo de tal forma, eles aprimoram como uma
tecnologia e jogam na rede pra que todos os coletivos possam usar a mesma tecnologia,
assim o circuito inteiro fica compartilhando informações, e isto é uma das formas de
funcionamento da Universidade Fora do Eixo (UniFdE), o aprendizado se dá de várias
maneiras e não só na sala de aula. Por isso vários editais de vivência são abertos nas
várias casas FdE no Brasil, as pessoas interessadas se inscrevem e vão passar um tempo
na casa. Presenciei muitos moradores da área da comunicação, como jornalismo, por
exemplo, que foram fazer vivência na casa e alguns acabam ficando de vez. A vivência
ajuda a compreender a teoria, e é uma revolução, por apregoar um ensino livre, livre de
qualquer sala, de métodos, de longas teorias, onde não existe regras de onde deve se
aprender, pois o aprendizado também se consegue através do senso comum, também se
consegue em uma mesa de bar e etc, a práxis para o FdE é muito importante para que o
fluxo chegue ao nível 2.0 que eles se auto intitulam.
IV Congresso Fora do Eixo O IV Congresso Fora do Eixo em São Paulo aconteceu durante sete dias e
contou com a participação de mais de duas mil pessoas de várias regiões do país. Foi
um congresso bem dinâmico onde todos os congressistas tiveram a oportunidade de
falar sobre suas experiências ou suas ideias acerca do que era auto nas conversas feitas
no congresso. O primeiro dia foi aberto a ouvidorias, para que as pessoas que fossem
chegando pudessem dar a sua opinião sobre a programação. A programação foi aberta,
podendo ser alterada conforme o ritmo do congresso. O Congresso também ocupou
vários espaços culturais da cidade de São Paulo, como o Parque Ibirapuera e várias
Capa Índice 6843
casas de shows, além da Universidade de São Paulo (USP). As reuniões aconteciam o
dia todo, reuniões das regionais, da ABRAFIN (Associação Brasileira dos Festivais
Independentes). A mesa de abertura no auditório do Ibirapuera contou com a presença
de: Leandra Leal (Teatro Rival), Andreia Gama (Fundação Vale), Eliane Costa
(Petrobrás) Gaby Amarantos, Ivana Bentes (UFRJ), Cláudia Leitão (MINC), Sylvie
Duran (FDE Latino), Maristela Fonseca ( Conexão Vivo), Lenissa Lenza (Bancult),
Marielle Ramires (Pcult), Carol Tokuyo (Unicult). O primeiro dia, também foi noite de
abertura do Festival Fora do Eixo que aconteceu paralelamente ao Congresso FdE. A
programação da noite foi, Saravacalé (Esp/Brasil) e Thiago DJ, que agitaram a noite,
recebendo pessoas que vinham de vários lugares do Brasil e da América Latina pra
prestigiar o Congresso.
As programações diárias eram; miniconferências, reuniões das regionais,
oficinas, exposições de filmes, documentários e várias outras programações, que
acontecia em um espaço dentro da USP chamado Paço das Artes. No dia 13 de julho
ocorreu o Seminário de Música no Anfiteatro da USP, esse seminário compunha a mesa
com o que eles chamaram de “provocadores”, uma vez que não tinha um tema
específico, mas a proposta era provocar temas a serem tratados coletivamente. Alguns
provocadores eram pessoas conhecidas nacionalmente pela mídia e outros conhecidos
no cenário independente, como parceiros do FdE e etc. A mesa compunha vários nomes
conhecidos como: Emicida, Miranda, Alex Antunes, Talles Lopes, Gaby Amarantos e
Ale Youssef, Tata Aeroplano (Cérebro Eletrônico), Cláudio orge (Petrobras e eorge
udice ( niversidade de iami . O Miranda falou sobre pontos importantes a respeito
da cena musical, falou sobre a preparação técnica que as bandas devem ter etc. Gaby
Amarantos falou sobre a cena tecnobrega do Pará de onde ela veio. A cena tecnobrega
no Pará é importante para reforçar a cultura paraense e inseri-la na música brasileira.
Também aconteceu nesse dia o segundo dia do Festival Fora do Eixo, que foi no Studio
SP na rua Augusta. As Bandas que tocaram foram: Macaco Bong (MT); Pública (SP);
Cérebro Eletrônico (SP); DJ Barata (DF). A casa ficou cheia e podemos contemplar
como as músicas autorais também tem um público forte, Macaco Bong por exemplo, é
uma banda instrumental autoral e tem “fãs” em vários lugares do Brasil, ela tem um
importante papel na cena independente.
Resolvemos não participar do terceiro dia do Festival Fora do Eixo e no dia
seguinte tivemos reunião com as regionais do Fora do Eixo, nossa regional era a do
centro-oeste, com os coletivos Brejo de Piracanjuba (GO); Coletivo de Anápolis (GO) e
Capa Índice 6844
o Coletivo Siriema de Catalão (GO), que estava e está em processo de formação. Na
reunião falamos das dificuldades do Centro Oeste, planejamos uma forma de organizar
o Grito Rock em Catalão articulando com o pessoal de Anápolis. Também tivemos uma
reunião importante com Pablo Capilé e Marielle, que nos ajudou a ter uma visão como
futuro coletivo e as possíveis parcerias com os outros coletivos do Centro Oeste. A
tarde, fomos para o Capão Redondo para participarmos de um Sarau com o pessoal da
comunidade de lá. O Sarau acontece com pessoas da própria comunidade que tocam
suas músicas e leem poemas. Participar desse evento foi de grande riqueza cultural,
possibilitando que conhecêssemos um pouco da cultura das favelas paulistas, chamadas
de comunidades.
Na sexta-feira participei da Miniconferência que o Talles Lopes deu, o tema era:
Abrafin, Pcult, Música e Circuito Mineiro de Cultura. A Abrafin é a Associação
Brasileira de Festivais Independentes, que agora conta com Talles Lopes como seu novo
presidente. Na miniconferência Talles falou coisas muito interessantes, como por
exemplo, que cada dia tem mais gente trabalhando integralmente com a cultura. E que
para fazer um festival o primeiro compromisso que tem que ter é com a localidade, as
pessoas envolvidas também precisam estar atualizadas constantemente com as
mudanças que acontecem, sempre procurando fazer contato com os outros pontos da
rede. Quando se termina um festival já tem que ter o compromisso de pensar no
próximo festival e em trocar tecnologias o tempo todo. Ele também perguntou a todos
que estavam participando de qual coletivo era, de qual cidade e quando tinha sido o
último festival e contou as mãos levantadas. Cada um falou então de seu coletivo,
inclusive o Paulo que estava conosco, representou Catalão levantando e falando do
Festival Siriema de Artes Integradas e Festival Jaratataca Rock de música, que tinha
acontecido a pouco tempo em Catalão. Nesse dia também entrevistei Letícia Rezende,
uma representante do meu objeto de estudo, o coletivo Goma de Uberlândia. Ela me
falou um pouco de como foi o processo que a levou a entrar no Goma, sobre como o
Goma nasceu e sobre como ele estava no momento.
No último dia participamos da oficina de Malabares e eu participei da
Miniconferência sobre a Agência Solano Trindade e Banco União Sampaio que são
parceiros do Fora do Eixo. O banco comunitário oferece serviços bancários e
financeiros gerenciados pela comunidade, seus funcionários também são pessoas da
própria comunidade, nesse banco existe uma moeda social sem juros. E a Agência
Solano Trindade tem como objetivo fomentar a cultura popular através da viabilização
Capa Índice 6845
financeira da produção artística da periferia, construindo estratégias de
autofinanciamento e de sustentabilidade econômica. Nessa miniconferência, podemos
entender o que acontece nas favelas de São Paulo por exemplo que trabalha com uma
moeda social. Quando visitamos o Capão Redondo conhecemos um pouco de como
funciona esse banco, e com certeza foi uma experiência única ver uma forma financeira
alternativa pra essas comunidades. A noite fomos para o último dia do Festival Fora do
Eixo, que aconteceu no Centro Cultural Rio Verde, as bandas que tocaram foram: Vitor
Santana + Marcos Suzano; Vitoriano (CE); Vejaluz (SP); Independência ou Marte (SP).
Coletivo Goma O coletivo Goma é um coletivo de Uberlândia que está integrado ao Circuito
Fora do Eixo, ele foi criado no ano de 2007 com intuito de ser uma base de circulação
de artistas em inas erais. No mesmo ano também foi criado o “ oma Cultura em
ovimento”, que é uma casa de shows do coletivo. Essa casa de shows possui um bar e
uma loja funcionava em horário comercial e a noite o local da loja era usado como bar.
Nessa loja vendia-se produtos de outros coletivos, do coletivo Goma, que é chamado de
grife Goma, camisetas, Cds das bandas independentes que tocam nos festivais, revistas,
fanzines e etc. A grife Goma tem como parceiro o projeto Flor de Chita, que produz a
maioria dos produtos para o Goma, assim o Goma divulga o trabalho do projeto Flor de
Chita nos festivais e na loja.
O Festival Goma de Artes Integradas faz parte do Circuito Mineiro de Festivais
Independentes (CMFI) e do Fora do Eixo Minas (FEM), apoiado pela Lei Estadual de
Incentivo à Cultura. São ao todo doze cidades que compõem o FEM, facilitando a
circulação dos artistas por Minas Gerais e para outros pontos do Brasil. O festival ocupa
vários espaços da cidade, levando atrações culturais bem interessantes, envolvendo
vários parceiros. A programação conta com bandas de vários lugares, inclusive
estrangeira, oficinas, vários debates sobre meio ambiente dentre outros. O Goma tem a
sua própria moeda que é o Goma Card. Para sua utilização é preciso parcerias com
empresas, agricultores, artesãos, músicos etc, para que a moeda possa ser uma forma
alternativa de troca por serviços prestados ou por produtos. Como o coletivo busca
incentivar a cultura local, busca a maioria das parcerias com agentes locais.
Para terminar vou relatar a entrevista que fiz com Letícia Rezende, uma das
integrantes da casa Fora do Eixo de Uberlândia, no IV Congresso Fora do Eixo em São
Capa Índice 6846
Paulo. Ela começou falando que antes de entrar no Goma ela era de Uberaba e não fazia
parte de nenhum coletivo, mas que trabalhava em uma rádio e começou a fazer contato
com o pessoal do Jambolada de Uberlândia pra levar umas bandas pra lá. Com isso ela
acabou entrando em contato com o Fora do Eixo e foi como observadora para o
Primeiro Congresso Fora do Eixo, quando voltou pra Uberaba montou o Coletivo
Megalozebu. Ela ficou dois anos em Uberaba e depois mudou para Casa Fora do Eixo
de Uberlândia, porque achou que Uberaba já não tinha mais desafios pra ser
enfrentados, ela precisava de novos desafios e de conhecer a cena de Uberlândia. Hoje,
Letícia diz entender, ser uma agente fora do eixo que está sempre a disposição pra
circular, por isso não acredita que ficará muito tempo em Uberlândia. Segundo ela a
Casa Fora do Eixo Uberlândia começou depois do III Congresso Fora do Eixo,
completando um ano em janeiro de 2012. O Goma era uma casa noturna que durou três
anos, onde Letícia disse ter conhecido o Talles que organizava o Jambolada. Letícia
falou também das experiências pessoais dela, que hoje ela tem dificuldade de se
relacionar com quem não é do Fora do Eixo porque é tudo diferente, a linguagem o
comportamento e etc. Disse também que o circuito acaba não trabalhando só com
música e arte, mas também com o comportamento humano. Letícia acredita ser
importante a convivência dentro da casa FDE, porque é diferente de tudo que ela já
viveu e ela proporciona a aquisição de muitas experiências.
Conclusão
O que pode-se dizer é que os resultados da pesquisa realizada foram ótimos e
satisfatórios, na media em que, mesmo com algumas alterações, foi possível aproveitar
os recursos disponibilizados. Foram realizadas observações no festival Grito Rock, com
registros fotográficos, vivência na Casa Fora do Eixo São Paulo, participação do
Congresso Fora do Eixo São Paulo, colhimento de material documental na internet e
nos próprios locais, entrevistas tanto na casa FDE como no congresso e revisão
bibliográfica que era realizada toda semana, o que auxiliou muito para a observação in
loco e a execução das entrevistas.
A pesquisa realizada contribuiu muito para minha formação acadêmica, cultural
e política. O Fora do Eixo faz um trabalho muito importante não só no Brasil mas em
alguns outros pontos da América Latina. Nos festivais pode-se perceber a identificação
Capa Índice 6847
que o público tem com a sua cena independente local e com o circuito todo através das
roupas e as vozes que acompanham as músicas além do estilo de vida. Podemos notar
com este trabalho como a cultura musical brasileira tem mudado, as pessoas baixam os
Cds de seus artistas favoritos, fazendo com que a compra e venda de Cds deixe de ser
uma forma de lucrar. E o lucro passa ser um lucro cultural, o circuito Fora do Eixo
trabalha com a prática, com as experiências, descobrindo outras formas de espalhar
música, arte de forma barata, acessível e sustentável, fazendo com que toda a população
participe.
Acredito que o Fora do Eixo tem um potencial imenso pra crescer cada vez mais,
resgatando a cultura de cada parte do Brasil e criando um novo modo de vida cada vez
mais sustentável e coletivo, ensinando que a política é feita por todos e não de forma
patriarcal e atrasada como acontece no nosso Brasil. A experiência que pude ter com as
vivências foi muito rica, me fazendo entender que o conhecimento é livre e que ele não
está trancado entre quatro paredes de uma universidade e que é na prática que a teoria se
torna verdade, crescente e mutável, deixando de ser cristalizada pelos únicos meios
legítimos que a distribuem.
Referências Bibliográficas
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Giuseppe, VAZ, Paulo. (org.). O Trabalho da Multidão: Império e Resistências. Rio de
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experiência. - 8.ed. - São Paulo: Cortez, 2011.
Capa Índice 6849
1
USO DO DRIS NA AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DA CANA-DE-AÇÚCAR ORGÂNICA EM ÁREA COMERCIAL DE GOIATUBA, GOIÁS
DANTAS, Jessica Estabile 1, GONÇALVES, Helenice Moura²,LEANDRO, Wilson Mozena³
1Orientanda: Graduanda do curso de Agronomia da Universidade Federal de Goiás.
Bolsista PIBIC/CNPq. Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos – Universidade
Federal de Goiás. [email protected] Agrônoma, Pós-graduanda do PPGA- Escola de Agronomia e Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal de Goiás. [email protected]; 3Orientador: Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor Adjunto do Setor de Agricultura da
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás.
Palavras-chave: análise foliar; DRIS; produtividade.
INTRODUÇÃO
Os métodos de diagnose mais utilizados atualmente tem sido as análises de
terra e a análises de folhas, interpretados através dos Níveis Críticos. Tais métodos
demonstram resultados satisfatórios na diagnose de alguns elementos, porém, apresentam
certas limitações; as principais relacionam-se com a interpretação dos nutrientes
independentemente um do outro, não levando em consideração as interações entre eles, as
variações das concentrações dos nutrientes com a idade, estádio de desenvolvimento da
planta e diferenças varietais. Quando mais de dois nutrientes encontram-se abaixo dos
níveis críticos, seja na folha ou no solo, o método interpretativo não permite avaliar qual
nutriente foi o mais limitante na produção. Entretanto, a avaliação do estado nutricional de
plantas, por meio da aplicação dos métodos de análise do solo e foliar, relacionando os
teores de nutrientes entre si, tem se destacado dos métodos tradicionais de diagnose que
consideram os teores dos nutrientes individualmente, como, por exemplo, o do nível crítico
(Malavolta et al, 1997).
O Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS), proposto por
Beaufils, é o principal método bivariado utilizado. Foi criado com o objetivo de classificar
1 Artigo revisado pelo orientador
Capa Índice 6850
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6850 - 6862
os nutrientes quanto à ordem de limitação ao desenvolvimento e crescimento das plantas,
independentemente da idade ou órgão da planta a ser amostrado (Bailey et al., 1997). A
partir do DRIS, são calculados índices que expressam o equilíbrio relativo dos nutrientes
numa planta, por meio da comparação de relações duais (N/P, P/K, K/Ca, Ca/Mg, etc) na
amostra, com valores padrões ou normas (Alvarez & Leite, 1992).
Nesse contexto, o método DRIS (Sistema Integrado de Diagnose e
Recomendação), desenvolvido por Beaufils (1973), é um método que utiliza as razões
entre as concentrações dos nutrientes na interpretação dos resultados de análise foliar e de
solo, suprindo as limitações dos métodos tradicionais de diagnose. O método DRIS
estabelece índices que significam, em uma escala numérica contínua, o efeito de cada nutriente
no balanço nutricional da planta. Esses índices são expressos por valores positivos ou negativos.
Valores negativos indicam que o referido nutriente se encontra deficiente, e valores positivos
significam que o nutriente se encontra em excesso em relação aos demais. Quanto mais
próximos de zero estiverem os índices de todos os nutrientes, mais próxima estará a planta de seu
equilíbrio nutricional (Beverly,1987).
As normas DRIS são obtidas sempre de uma população de alta produtividade,
denominada população de referência, que é selecionada a partir de uma população maior
dentro de um conjunto de dados também criteriosamente selecionado. Os bancos de dados
para obtenção das normas podem ter tamanho variável em razão das premissas a serem
adotadas no método, e devem ser uniformes quanto às características da cultura (Letzsch &
Sumner, 1984).
Para a cultura da cana-de-açúcar não existem muitos trabalhos utilizando o
DRIS. Trabalhos envolvendo cana-de-açúcar orgânica são mais escassos. Atualmente o
DRIS está popularizando-se como método de diagnose do estado nutricional, sendo
aplicado com sucesso em várias culturas, tais como seringueira (Beaufils, 1971), soja
(Summer, 1977a; Leandro, 1998; Cunha, 2002; Oliveira, 2002), trigo (Summer, 1977b),
cana-de-açúcar (Zambrello Jr. et al., 1981; Elwali & Gascho, 1984; Reis Júnior & Monerat,
2002), laranja (Beverly et al., 1984; Mourão Filho et al., 2002), milho (Elwali et al.,1985;
Cunha, 2005), mamão (Costa,1995), macadâmia (Costa & Costa,1996) e pimenta-do-reino
(Oliveira & Takamatsu, 2004), dentre outras culturas.
A demanda por alimentos orgânicos cresce de maneira significativa no mundo
inteiro e atualmente a agricultura de base ecológica é considerada o ramo da agropecuária
mais promissor com um crescimento em torno de 10% ao ano. Entre os produtos de maior
Capa Índice 6851
importância esta o açúcar orgânico. O Estado de Goiás e São Paulo são os estados que
apresentam a maior produção deste produto (Ambiente Brasil, 2012).
Para cana-de-açúcar convencional no Brasil existem alguns relatos de trabalhos
desenvolvidos, sendo o mais referenciado desenvolvido por Reis Júnior (1999) na região
de Campos dos Goytacazes-RJ. Recentemente outro trabalho foi desenvolvido por Piperas
(2008) na região de Presidente Prudente-SP onde foram estabelecidas normas DRIS para a
cultura da cana-de-açúcar em diferentes níveis de produtividade. Para o estabelecimento de
um banco de dados e a formulação de um critério de recomendação de adubação
regionalizado para a região do Cerrado para a cana orgânica foi realizado o trabalho de
Nascimento (2012) para o municipio de Goianésia.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o estado nutricional, através do método do
DRIS da cana-de-açúcar orgânica na Usina Goiasa.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho foi avaliar o estado nutricional da Cana-de-açúcar
orgânica por meio do método DRIS na análise foliar em área comercial no município de
Goiatuba, Goiás.
METODOLOGIA
A presente pesquisa foi conduzida em condições de campo, nas áreas cultivadas
com a cana-de-açúcar (Saccharum officinarum L.) sob cultivo orgânico, na empresa
Goiasa, no município de Goiatuba, GO.
A época de amostragem para a cana-planta foi entre os quatro e seis meses
após o plantio. As folhas para análise foram coletadas simultaneamente à coleta de solos,
segundo metodologia proposta por Malavolta et al (1989), onde foi retirada uma folha por
planta em quinze plantas diferentes, considerando as seguintes situações: a) Uniformidade
da área quanto ao tipo de solo, variedade, idade e tratos culturais; b) Tipo de folha
(coletou-se a folha TDV ou +3); c) Parte da folha (20 cm centrais, desprezando-se a
nervura in loco); d) Época: início da estação chuvosa, de acordo com o manejo, sendo no
caso da cana-planta tal época é ao redor de 4 a 6 meses de idade. Para a cana-soca, a época
é aos quatro meses após o corte.
Aos quatro meses após o plantio se coletou material para análise foliar, utilizando-
se os 20 cm da porção central de 15 folhas +3 aleatórias.
Capa Índice 6852
Após coletadas, as folhas foram embaladas em sacos de papel, etiquetadas e
transportadas para o Laboratório de Análise de Solo e Foliar da Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, onde foram analisadas. Após
a coleta das folhas, estas foram embaladas em sacos de papel, etiquetadas e transportadas
para o Laboratório de Análise de Solo e Foliar da Escola de Agronomia e Engenharia de
Alimentos da Universidade Federal de Goiás, onde serão analisadas.
No laboratório as amostras foram lavadas em água corrente e em seguida em água
destilada e colocadas para secar à sombra sobre papel poroso, e posteriormente colocadas
em estufa com ventilação forçada a 65°C por 72 horas.
Após a secagem, triturou-se as amostras em moinho de aço do tipo Wiley, com
peneira de malha de 0,841 mm, armazenando-as em saquinhos de plástico onde
permaneceram até a realização da análise foliar prevista. Os teores foliares totais de N, P,
K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Mn, Zn e B foram determinados segundo metodologia descrita por
Bataglia et al., (1978).
Para determinação dos teores de P, K, Ca, Mg, Fe, Mn e Zn, o material vegetal,
seco e moído, foi submetido à digestão nitroperclórica. O P foi determinado pelo método
de espectrométrico pela redução do fosfomolibdato pela vitamina C. O K foi determinado
por fotometria de chama. Ca, Mg, Fe, Mn e Zn foram quantificados por espectrofotometria
de absorção atômica. Para determinação dos teores de N, o material vegetal foi submetido
à digestão sulfúrica, sendo o nutriente submetido à microdestilação.
Para o cálculo dos Índices DRIS, de acordo com Beaufils (1973) e Malavolta
et al. (1989), seguindo-se o critério de produção, as análises foliares foram divididas em
dois subgrupos, um de alta produtividade (acima ou igual a 140 Mg ha-1 para as áreas sob
sistema cana-planta) e outro de baixa produtividade (abaixo de 140 Mg ha-1 para as áreas
sob sistema cana-planta e cana-soca).
Após a divisão dos sub-grupos foi realizado o teste de normalidade nos grupos
pelo teste de Shapiro-Wilk. Para cada grupo também foi calculado a média, o coeficiente
de variação e a variância de todas as possíveis relações. Também foram calculadas as
razões de variância dos sub-grupos de baixa e alta produtividades. Para o cálculo dos
índices DRIS primários, foi utilizado todas as relações N, P, K, Ca, Mg, S, Zn, Fe, Mn e
Cu nas análises foliares. O procedimento utilizado para o cálculo dos índices DRIS foi o
proposto por Alvarez & Leite (1992). Os índices DRIS foram calculados pela média das
relações diretas e inversas conforme a Fórmula 1.
Capa Índice 6853
1)2(n
Z(N/A)...Z(C/A)Z(B/A)Z(A/N)...Z(A/C)Z(A/B)A Índice
−−−−−+++=
(1)
Onde:
• Z(A/B) até Z(N/A) são as relações normais reduzidas diretas ou inversas dos teores de todos os nutrientes em relação ao nutriente A;
• n = o número de nutrientes envolvidos.
As funções reduzidas foram calculadas pelo procedimento de Beaufils (1971),
conforme Fórmulas 2 e 3.
a/bA/B SeCVa/b
Kt1
a/b
A/BZ(A/B) >
−= (2)
A/Ba/b SeCVa/b
Kt
A/B
a/b1Z(A/B) >
−= (3)
Onde:
• A/B - é o quociente dos teores dos nutrientes A e B da amostra em análise e interpretação;
• a/b - é a média da razão dos nutrientes A e B da população de referência;• CVa/b - é o coeficiente de variação da razão dos nutrientes A e B da população de
referência, que satisfaz definido nível mínimo de produtividade; • Kt - é o coeficiente de sensibilidade que tem valor arbitrário, normalmente 100, 500
ou 1.000.
Os índices DRIS foram interpretados pelo procedimento padrão proposto por
Beaulfils (1971), onde todos os nutrientes com índices menores que zero serão
considerados deficientes. O cálculo do índice de balanço nutricional foi calculado pela
soma, em módulo, dos índices DRIS. Quanto menor for o IBN, mais próxima a amostra
estará do equilíbrio nutricional (Beaufils, 1973; Walworth & Summer, 1987). Após a
determinação dos índices DRIS foi determinada a matriz de correlação entre os índices
DRIS das variáveis analisadas.
Foi determinada uma faixa de suficiência para os nutrientes analisados. Para a
determinação dessa faixa de suficiência foi feito uma regressão entre os valores dos índices
DRIS e os dos valores dos nutrientes no solo e folha. Das equações geradas nessas
Capa Índice 6854
regressões, igualou-as a zero e o resultado foi somado ao desvio padrão (± Desvio Padrão)
extraído da população de referência (alta produtividade) e da população total. A estratégia
de se usar o desvio padrão dos dados totais da população permite a obtenção de amplitudes
maiores nos valores da faixa de suficiência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 são apresentadas as concentrações médias, o desvio padrão e o
coeficiente variação dos nutrientes e suas relações dois a dois nas populações mais
produtivas.
Comparando-se as médias dos nutrientes nas folhas no subgrupo mais
produtivo da cana-planta orgânica com as faixas de concentração propostas por Malavolta
et al (1997), verifica-se que os nutrientes que estão abaixo da faixa adequada são o S, Cu,
Zn e Mn. Ainda pelos critérios de Malavolta et al (1997), o N; o P e o Mg estão acima da
faixa adequada, porém muito perto do limite entre o adequado e o excesso.
Na Tabela 1 são apresentadas as normas para as análises de folha, respectivamente. Comparando
as médias e as relações dos nutrientes com o trabalho feito por Reis Júnior (1999) com DRIS em
cana-de-açúcar convencional no Rio de Janeiro observa-se que os resultados são discordantes.
Divergências ocorreram também com as normas de Piperas (2008) para a cana de açúcar
convencional em São Paulo e Nascimento (2012) para a cana de açúcar orgânica em Goianésia,
Goiás. Deve-se, portanto, enfatizar a importância da obtenção de dados regionalizados para
interpretação de análises foliares, pois diagnósticos errados podem levar à aplicação
desnecessária de fertilizantes, e, assim comprometer a rentabilidade econômica do
empreendimento e comprometimento do sistema orgânico de produção.
Capa Índice 6855
Tabela 1. Normas para as variáveis da análise de folha e suas relações dois a dois utilizadas para o cálculo dos índices DRIS considerando o subgrupo mais produtivo.Variável Média CV (%) DP
Prod (Mg/ha) 208,67 27,79 58,00
N (dag/kg) 1,24 26,17 0,33
P (dag/kg) 0,37 26,50 0,10
K (dag/kg) 1,25 16,88 0,21
Ca (dag/kg) 0,24 30,35 0,07
Mg (dag/kg) 0,14 39,19 0,05
S (dag/kg) 0,17 21,19 0,04
Cu (mg/kg) 3,56 41,55 1,48
Fe (mg/kg) 467,58 25,46 119,03
Mn (mg/kg) 55,92 40,56 22,68
Zn (mg/kg) 9,33 63,65 5,94
N/P 3,50159 28,49734 0,99786
P/N 0,30783 27,05241 0,08327
N/K 1,02561 36,62180 0,37560
K/N 1,06377 27,45741 0,29208
N/CA 5,57711 37,40129 2,08591
CA/N 0,20566 40,51016 0,08331
N/MG 10,15610 40,29941 4,09285
MG/N 0,11685 45,22839 0,05285
N/S 8,03055 48,99728 3,93475
S/N 0,14408 36,88634 0,05315
N/CU 0,39462 42,87740 0,16920
CU/N 2,99600 41,03211 1,22932
N/ZN 0,18089 59,85799 0,10828
ZN/N 8,40544 87,78238 7,37849
N/MN 0,02781 63,70172 0,01771
MN/N 46,56012 42,76122 19,90968
N/FE 0,00285 38,15700 0,00109
FE/N 403,86187 39,29579 158,70070
P/K 0,30869 36,41871 0,11242
K/P 3,66297 35,53535 1,30165
P/CA 1,66311 41,33609 0,68746
CA/P 0,69206 39,23063 0,27150
P/MG 2,98275 36,51424 1,08913
MG/P 0,39070 44,08297 0,17223
P/S 2,36300 42,76034 1,01043
S/P 0,48257 32,71777 0,15789
P/CU 0,11740 41,02885 0,04817
CU/P 10,21900 45,65827 4,66582
P/FE 0,00086 45,00421 0,00039
FE/P 1386,22000 43,31867 600,49135
P/MN 0,00816 59,64067 0,00487
MN/P 156,58064 43,25815 67,73389
P/ZN 0,05505 70,20410 0,03865
ZN/P 27,45721 69,91275 19,19609
K/CA 5,67934 34,50932 1,95990
Capa Índice 6856
CA/K 0,20232 45,92896 0,09292
K/MG 10,29703 34,93307 3,59707
MG/K 0,11463 49,59241 0,05685
K/S 7,94989 31,83898 2,53116
S/K 0,13841 32,50996 0,04500
K/CU 0,40567 43,19283 0,17522
CU/K 2,97027 47,77718 1,41911
K/FE 0,00283 28,54252 0,00081
FE/K 384,22271 30,69939 117,95401
K/MN 0,02934 70,18667 0,02059
MN/K 46,62137 47,49234 22,14158
K/ZN 0,17496 48,94432 0,08563
ZN/K 7,64756 65,51891 5,01060
CA/MG 1,92175 35,31669 0,67870
MG/CA 0,60681 47,93516 0,29087
CA/S 1,51286 41,54296 0,62849
S/CA 0,74108 31,32645 0,23215
CA/CU 0,07540 41,44530 0,03125
CU/CA 15,68075 43,62328 6,84046
CA/FE 0,00054 36,50185 0,00020
FE/CA 2072,66000 32,72270 678,23176
CA/MN 0,00563 75,23009 0,00423
MN/CA 253,94366 51,84654 131,66101
CA/ZN 0,03275 51,87535 0,01699
ZN/CA 40,64085 68,45912 27,82237
MG/S 0,89133 58,58729 0,52220
S/MG 1,37715 37,28628 0,51349
MG/CU 0,04267 45,35388 0,01935
CU/MG 28,42723 44,21845 12,57008
MG/FE 0,00032 51,84364 0,00017
FE/MG 3898,33000 42,60708 1660,96000
MG/MN 0,00322 75,96309 0,00244
MN/MG 467,80125 54,82403 256,46750
MG/ZN 0,01913 65,21181 0,01247
ZN/MG 74,59624 69,60606 51,92351
S/CU 0,05432 42,64392 0,02317
CU/S 24,13535 87,43336 21,10235
S/FE 0,00037 25,92498 0,00010
FE/S 2886,48000 26,77419 772,83262
S/MN 0,00387 68,63557 0,00266
MN/S 357,33014 51,53944 184,16594
S/ZN 0,02321 51,84760 0,01204
ZN/S 58,38419 68,90559 40,22997
CU/FE 0,00842 61,34071 0,00517
FE/CU 156,00461 55,10085 85,95986
CU/MN 0,08359 83,89296 0,07013
MN/CU 17,86004 52,62128 9,39818
CU/ZN 0,49805 60,24411 0,30005
ZN/CU 2,97899 70,26778 2,09327
FE/MN 11,04821 72,78571 8,04152
MN/FE 0,12994 52,34301 0,06801
FE/ZN 63,02587 43,51041 27,42281
ZN/FE 0,02054 67,73577 0,01391
Capa Índice 6857
MN/ZN 8,79713 77,70881 6,83614
ZN/MN 0,23174 88,55863 0,20523
Capa Índice 6858
10
Nutrientes como Cobre, manganês e zinco, que mostram grande variabilidade
de concentrações, principalmente devido às condições edafoclimáticas, são alguns
exemplos preocupantes. Algumas estratégias têm sido testadas para minimizar esses
desvios causados pela interdependência no cálculo dos índices (Beverly, 1987; Baldock &
Schulte, 1996; Bataglia et al., 2000; Bataglia et al., 2004), mas ainda não se chegou a um
consenso sobre o assunto.
Dos índices foi extraída a ordem de limitação para as diferentes áreas amostradas
sob o sistema de cana-planta (Figura 1), onde tem-se que a interpretação dos índices DRIS mais
negativo para as variáveis foliares da seguinte ordem S>P>Mn>Zn>Cu>Mg>N>K>Fe>Ca.
Nutrientes mais limitante deficiência
4,69%
14,06%
3,91%
0,78%
5,47%
39,84%
6,25%
2,34%
12,50%10,16%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
40,00%
45,00%
N P K Ca Mg S Cu Fe Mn Zn
Nutrientes
% d
e o
co
rren
cia
nas g
leb
as
Figura 1. Resumo da interpretação dos índices DRIS mais negativo para as variáveis foliares para as diferentes áreas amostradas sob o sistema de cana planta
A ordem de limitação por excesso para as diferentes áreas amostradas sob o sistema
de cana-planta, com as normas para produtividade maior que 110 Mg ha-1 (Figura 2), onde tem-
se que a interpretação dos índices DRIS mais positivo para as variáveis foliares da seguinte
ordem Cu >P>Mn>Zn> N=Mg >Fe>Ca>K=S.
Capa Índice 6859
Nutrientes mais limitante excesso
9,38%
23,44%
0,78%
3,13%
9,38%
0,78%
25,00%
5,47%
12,50%
10,16%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
N P K Ca Mg S Cu Fe Mn Zn
Nutrientes
% d
e o
co
rrên
cia
nas g
leb
as
Figura 2. Resumo da interpretação dos Índices DRIS mais positivos para as variáveis foliares para as diferentes áreas amostradas sob o sistema de cana de açúcar orgânico no município de Goianésia, Goiás.
CONCLUSÕES
1. A ordem de limitação por deficiência na analise foliar pelo DRIS foi a seguinte ordem S>P>Mn>Zn>Cu>Mg>N>K>Fe>Ca.
2. A ordem de limitação por excesso na interpretação pelo DRIS as variáveis foliares da foi na seguinte ordem Cu >P>Mn>Zn> N=Mg >Fe>Ca>K=S.
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Capa Índice 6862
AVALIAÇÃO DO MECANISMO DE ADSORÇÃO DO ÍON NÍQUEL (II) EM COLUNAS DE LEITO FIXO
JÉSSICA G. BARBOSA, PEDRO H. R. da SILVA, JÚLIO R. B. NETO, INDIANARA C. OSTROSKI
IQ – Universidade Federal de Goiás Curso de Engenharia Química
E-mail para contato: [email protected]
Palavras-Chave: carvão ativado; níquel II; coluna de leito fixo.
1. INTRODUÇÃO
Uma classe particularmente perigosa de compostos contaminantes é a dos metais
pesados, pois a maioria deles estão ligados a alterações degenerativas do sistema nervoso
central, uma vez que não são metabolizados pelos organismos, o que produz o efeito de
bioacumulação (Barros, 2003).
São várias as fontes industriais que poluem as águas com metais pesados, mais
especificamente contendo o íon níquel, destacam-se as indústrias de papel, de fertilizantes,
refino de petróleo e fundições que trabalham com aço. Os principais processos de tratamento
desses efluentes incluem precipitação química, oxidação/redução, filtração por
membranas/osmose reversa, troca iônica e adsorção, cada um desses processos tem vantagens
e desvantagens, mas os métodos de adsorção/troca iônica oferecem o método mais efetivo
para o tratamento de águas (Ko et al., 2001).
Visando atingir as concentrações de metal exigidas pela legislação para o descarte do
efluente líquido industrial, o processo de adsorção aparece como um processo complementar
ao tratamento convencional de efluentes. Os metais pesados podem ser removidos através da
percolação da solução por um leito fixo de adsorção.
Os processos operacionais que envolvem colunas de leito fixo apresentam como
vantagens o pequeno espaço, a possibilidade de tratamento de grandes volumes de efluentes
de forma contínua e variações na concentração de metais na alimentação (Costa, 1998).
A adsorção é o processo de transferência de um ou mais constituintes (adsorvatos) de
uma fase fluida para a superfície de uma fase sólida (adsorvente) devido às forças superficiais
não balanceadas. Em escala industrial, a adsorção ocorre preferencialmente em sistemas
Capa Índice 6863
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6863 - 6876
contínuos, utilizando para isso equipamentos de leito fixo. No leito fixo, o comportamento da
adsorção é observado por meio das curvas de ruptura, necessárias para identificar as zonas de
transferência de massa (ZTM). Este conceito corresponde a uma “macro” aproximação,
estruturada no movimento da zona de transferência de massa durante a operação de adsorção,
sendo a ZTM considerada como a proporção do leito na qual o componente iônico presente na
solução de alimentação é transferido pra a fase sólida do sistema (Geankoplis, 1993).
Portanto, a partir da curva de ruptura é possível calcular diversos parâmetros de transferência
de massa, como o comprimento da ZTM, a quantidade retida do metal até o ponto de ruptura
e saturação, a variância adimensional de adsorção e a razão operacional.
As curvas de ruptura propiciam a aquisição das isotermas dinâmicas, que são gráficos
que relacionam a quantidade retida em cada curva de ruptura até a saturação do leito em
relação à concentração de alimentação. O “equilíbrio dinâmico” é essencial para a modelagem
das curvas de ruptura, pois é a partir destas isotermas que se pode predizer a quantidade
máxima retida efetivamente em um leito.
A preocupação com o pH é uma constante nos trabalhos que envolvem cátions
metálicos. Em soluções aquosas, variações de pH promovem o aparecimento de diversas
espécies e podem, inclusive, favorecer a precipitação do cátion como hidróxido. Em
fenômenos de troca iônica e/ou adsorção, a preocupação com o pH também está presente na
medida em que vários trocadores e/ou adsorventes são sensíveis a soluções muito ácidas ou
muito básicas. Desta forma, os experimentos devem estar limitados a determinada faixa ótima
de trabalho, que possa garantir que a estrutura esteja inalterada.
A utilização de carvão ativado de osso de boi no processo de adsorção é uma
alternativa atraente, pois além do reaproveitamento de um rejeito (granulometria fora da
especificação são considerados, pelos fabricantes, rejeitos industriais e podem ser utilizadas
com adsorventes de cátions metálicos), o carvão é utilizado com sucesso na remoção de
metais (Choy e Mckay, 2005). Além de ser considerada uma tecnologia limpa, que minimiza
os rejeitos do processo. Na verdade, além da regeneração (Walker e Weatherley, 1998), o
carvão de osso pode também ser utilizado como integrante do concreto (Rao et al., 2009).
Dentro desse contexto, a proposta deste trabalho é avaliar o processo de adsorção
monocomponente na remoção do íon Ni2+ utilizando o carvão de osso Bonechar em coluna de
Capa Índice 6864
leito fixo. Para alcançar o objetivo proposto serão avaliados: a vazão ótima de trabalho e a
construção da isoterma de equilíbrio.
2. OBJETIVOS
A proposta deste plano de trabalho é avaliar o processo de adsorção monocomponente
na remoção do íon Ni2+ utilizando o carvão de osso Bonechar em coluna de leito fixo.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Caracterização do Carvão
Segundo a empresa Bonechar do Brasil LTDA,o carvão granulado é produzido a partir
da matéria-prima (ossos bovinos) rígida, adquirindo dureza necessária para evitar perdas
excessivas, devido à fricção e manuseio. Possuem elevada área superficial, proporcionando
alto poder de adsorção nas aplicações a que se destinam. São utilizadas em coluna de leitos
fixos ou podem ser usadas em processos de adsorção em fase líquida ou gasosa. As
especificações do carvão de osso granulado podem ser encontradas na Tabela 1. O carvão
utilizado nos experimentos se apresentou na forma de pó residual do processo de produção do
carvão. O diâmetro médio de partícula foi de 0,0225 mm
Tabela 1 – Especificações do carvão de osso de boi granulado
Propriedades Especificação
Carbono 9 – 11%
Cinza solúvel em ácido <3%
Fosfato tricálcico 70 –76%
Carbonato de cálcio 7 – 9%
Sulfato de cálcio 0,1 – 0,2%
Área superficial específica total (BET N²) 200m²/g
Área superficial do Carbono 50m²/g
Ferro < 0,3%
Tamanho de poro 7,5 – 60000 nm
Volume de poro 0,225 cm²/g
Umidade <5%
Densidade Aparente 0,65 gr/cm³
Dureza >80
Capa Índice 6865
3.2. Metodologia Analítica
As soluções utilizadas neste trabalho foram preparadas a partir dos seguintes reagentes
PA, marca Nuclear: NiCl2 (cloreto de níquel) e HCl (ácido clorídrico). A análise de
concentração dos cátions na saída da coluna, bem como das concentrações iniciais, foram
realizadas por Espectrometria de Absorção Atômica, utilizando-se um espectrofotômetro
Perquim Elmer Analyst 400.
3.3. Determinação do pH ótimo
Para a determinação do pH ótimo foi analisado a variação de pH e a quantidade
adsorvida. Utilizou-se onze erlenmeyers enumerados, cada um, contendo 50 mL de solução
de cloreto de níquel com concentração inicial de 10 meq/L. Os pHs foram variados de 1 a 11,
utilizando-se um pHmetro e soluções de hidróxido de sódio e ácido nítrico. A cada
elernmeyer, foi adicionado 0,25 g de carvão. Estes foram colocados em um shaker, com a
temperatura regulada em 30°C e a velocidade em 150rpm. As amostras permaneceram no
shaker por 24 horas, após esse tempo, elas foram retiradas, separadas do carvão por meio de
filtração e suas concentrações finais foram analisadas.
3.4. Unidade de Adsorção
A unidade de adsorção era composta de dois reservatórios para a solução de
alimentação e um para água deionizada usada na lavagem dos leitos. A unidade era equipada
com uma bomba peristáltica (Milan) que alimentava os dois leitos encamisados, de diâmetro
interno de 0,9 cm em fluxo ascendente e um banho termostático (Solab banho
ultratermostático sl 152/10), conforme mostrado na Figura 1.
As seguintes condições operacionais foram utilizadas: altura do leito de 2,3 cm, 1,0g de
carvão ativado, temperatura da alimentação e da água da camisa de 30ºC. A temperatura foi
escolhida devido a uma aproximação com os processos reais e também por ter sido utilizada
com sucesso em diferentes trabalhos de troca iônica/adsorção (Ostroski et al., 2009 e 2011;
Oliveira 2012).
A montagem do leito para a realização dos ensaios foi iniciada com o preenchimento de
um quarto das colunas com esferas de vidro (diâmetro de 3,94 mm) a fim de sustentar o leito e
criar uma zona de normalização do fluxo na entrada do mesmo. Em seguida, foi colocado um
pequeno chumaço de algodão, garantindo que o carvão não penetrasse entre as esferas. Depois
Capa Índice 6866
deste procedimento, a coluna foi alimentada com água até próximo ao topo, sendo o fluxo
interrompido e a massa de carvão adicionada. Após a decantação do carvão, outro chumaço
de algodão foi colocado e, a partir daí, uma nova camada de esferas de vidro introduzida,
completando a montagem da coluna. Depois da vazão e da temperatura serem ajustadas nos
valores desejados, o ensaio era iniciado. A alimentação da coluna foi em fluxo ascendente e as
amostras foram coletadas em intervalos regulares de tempo até o fim do ensaio, para se obter
as respectivas curvas de ruptura (C/Co x t). Antes dos ensaios, o pH das soluções era ajustado
com ácido clorídrico (HCl). Não foram realizados testes em branco neste trabalho.
Figura 1- Unidade de adsorção.
3.5. Estimativa de Parâmetros para a Transferência de Massa
O efeito da vazão é comumente investigado nos processos de adsorção e troca iônica.
Para tanto, faz-se necessário calcular os parâmetros de transferência de massa. No cálculo da
ZTM é necessário inicialmente calcular os tempos equivalentes à capacidade útil da coluna (tu)
e o tempo de saturação (tt).
De acordo com Geankoplis (1993), considerando o ponto de ruptura com a coordenada
(Cb, tb) e realizando um balanço de massa na coluna, a quantidade removida até o ponto de
ruptura é proporcional à integral dada pela Equação 1:
Capa Índice 6867
∫
−=
bt
outu dt
C
Ct
0 0
1 (1)
Da mesma forma, o tempo equivalente à quantidade de soluto adsorvida se todo o leito
estivesse em equilíbrio com a alimentação (tt) pode ser calculado conforme a Equação 2:
∫∞
−=
0 0
1 dtC
Ct out
t
(2)
O parâmetro tu tt /=τ é considerado como a fração do comprimento útil da coluna até
o ponto de ruptura. A partir do tempo adimensional τ é possível obter quantitativamente o
comprimento da ZTM. Assim, a altura útil da coluna é dada pela Equação 3:
tu HH ⋅=τ (3)
em que tH é a altura total do leito.
A ZTM pode ser calculada pela Equação 4 (Geankoplis, 1993):
( ) tHZTM τ−= 1 (4)
Em processos de adsorção, é importante também estudar o tempo de residência médio
no leito ( t ) e pode ser descrito pela Equação 5 (Barros, 2003):
( )∫∞
=0
dtttEt (5)
em que E(t) é a distribuição do tempo de residência do fluido e pode ser calculada a partir da
curva degrau F(t), ou seja, a própria curva de ruptura do processo de adsorção, como é
mostrado nas Equações 6 e 7:
dt
dFE =
(6)
Capa Índice 6868
0C
CF out=
(7)
Analogamente à estrutura de t para processos de adsorção, a variância adimensional,
que reflete o grau de dispersão do íon no leito, pode ser estimada de forma matematicamente
igual à da distribuição do tempo de residência (DTR) para reatores reais com na Equação 8
(Barros, 2003):
( )
( )20
22
2
)(
t
tdttEt∫∞
−=σ
(8)
Quanto menor à dispersão, maior será a aproximação a uma curva de ruptura ideal, na
qual as resistências difusionais são minimizadas. Assim, juntamente com o comprimento da
ZTM, este parâmetro indica a existência das etapas limitantes no processo de adsorção na
coluna.
Para que o processo ocorra com mínima resistência difusional é importante que o
tempo de residência médio seja próximo ao tempo equivalente à capacidade útil do leito.
Quando isto ocorre, o tempo que o contra-íon leva até ser retido na coluna não é maior do que
o ponto de ruptura do leito. Em outras palavras, 0R (razão operacional) apresenta-se como a
“distância” entre a condição ótima da coluna e a condição de operação da mesma, essa razão
pode se calculada pela Equação 9 (Barros, 2003):
u
u
t
ttR
−=0
(9)
Valores de R0 próximos a zero indicam que a condição operacional ( t ) está próxima à
condição ideal de trabalho ( ut ), ou seja, a condição ótima de operação. Portanto, a razão
operacional R0 pode ajudar na análise das condições de mínimas resistências difusionais.
Outra avaliação que também merece destaque é a capacidade dinâmica da coluna
(tbiU ), que é definida como a quantidade de metal retida até o ponto de ruptura (C/Co = 5%),
que pode ser calculada pela Equação 10 abaixo (Gazola, 2004):
Capa Índice 6869
us
tbi t
m
QCU ⋅
⋅⋅
=1000
.
0
(10)
3.6. Cálculo da Capacidade de Adsorção da Coluna em Isotermas Dinâmicas
A quantidade de níquel retido no leito de carvão ativado de osso de boi é obtida por
um balanço de massa na coluna usando os seus dados de saturação e monitoramento da
concentração de saída da coluna em função do tempo. Para efetuar esse cálculo, é necessário
garantir que a coluna esteja saturada. A capacidade de adsorção da coluna pode ser
representada pela Equação 11:
( )dt /C-11000m
t
0
0outs
0 ∫= CQC
qeq (11)
em que eqq é a concentração de equilíbrio dos íons níquel no adsorvente (meq/g), sm é a
massa seca de carvão ativado de osso de boi (g), Q é a vazão volumétrica da solução em
mL/min e t o tempo em minutos.
3.7. Isotermas para Sistemas Monocomponentes
Para construção da isoterma em sistemas monocomponentes, levaram-se em
consideração dois modelos.
Na isoterma de Langmuir, considera-se que o sistema é ideal: as moléculas são
adsorvidas e aderem à superfície do adsorvente em sítios definidos e localizados, com
adsorção em monocamada e em superfície homogênea. Cada sítio pode acomodar apenas uma
única espécie, a energia de adsorção é a mesma em todos os sítios da superfície e não é
afetada pelos sítios vizinhos, mesmo se eles estiverem ocupados, ou seja, apresenta interação
desprezível entre as moléculas adsorvidas. O modelo de Langmuir é dado pela Equação 12:
eq
eqmeq bC
bCqq
+=
1 (12)
Capa Índice 6870
A isoterma de Freudlinch é uma das mais usadas para representar a adsorção. É muito
utilizada para baixas concentrações de soluto (soluções diluídas) e admite que exista uma
distribuição exponencial de calores de adsorção. O modelo de Freudlinch não prevê a
saturação do adsorvente, como no modelo de Langmuir e é dado pela Equação 13:
neqeq Caq /1)(= (13)
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Estudo do pH ideal
Após a leitura da concentração final de cada uma das onze amostras, foi possível obter
a tabela 2, que apresenta o pHinicial, pHfinal (que foi verificado após às 24 horas no shaker), a
concentração final (CF), a quantidade retida (qeq) e a quantidade removida em porcentagem
(%removida).
Tabela 2 – Dados para análise do pH ótimo
pHinicial pHfinal Cf (meq/L) qeq (meq/g) %removida
1,31
2,12
3,13
4,08
4,92
6,10
7,13
8,06
8,99
10,15
10,90
3,03
5,64
7,10
7,35
7,40
7,43
7,36
7,46
9,39
9,64
10,30
9,684
7,06
4,978
4,501
4,413
4,678
4,593
4,392
1,056
0,995
0,945
0,063
0,588
1,004
1,099
1,117
1,064
1,081
1,121
1,788
1,8
1,811
3,157
29,395
50,215
54,986
55,872
53,214
54,066
56,076
89,436
90,05
90,561
Observou-se que a partir do pH 8 ocorreu a precipitação do cloreto de níquel, dessa
forma, a faixa de pH 8 até 11 não é adequada. Assim, de acordo com a Tabela 2 observa-se
Capa Índice 6871
que a solução de pH 5, foi a que obteve maior porcentagem de remoção sem que a ocorrência
da precipitação do cloreto de níquel. Sendo assim, o pH 5 foi escolhido como sendo o pH
ótimo para a realização dos experimentos à 30°C.
4.2. Estudo da Vazão
A vazão pode ser considerada como o principal parâmetro operacional. Tal afirmação
está baseada no fato de que qualquer elemento de volume da solução está em contato com
uma dada camada do leito somente por um tempo limitado, e a vazão controla esse tempo de
contato. Além disso, o fluxo em leitos pode estar sujeito a não idealidades como canais
preferenciais, o que pode reduzir a eficiência do processo (Zambon, 2003). A fim de
investigar o efeito da vazão na adsorção monocomponete do íon níquel pelo carvão ativado de
osso de boi, foi utilizado uma concentração de alimentação de 2,24 meq/L, enquanto as
vazões estudadas foram de 4, 6, 8, 10 e 12 mL/min. As curvas de ruptura obtidas nessas
vazões de operação, em fluxo ascendente, estão representadas na Figura 2.
Figura 2- Curvas de ruptura nas diferentes vazões para o íon níquel.
Por meio da Figura 2, pode-se perceber que as curvas de ruptura apresentam diferentes
comportamentos, indicando forte influência das vazões nas resistências difusionas. É possível
Capa Índice 6872
notar que com o aumento da vazão o alcance do ponto de ruptura, assim como a saturação do
leito, ocorre de maneira cada vez mais rápida. Segundo Watson (1999), o aumento da vazão
promove alterações nas resistências tanto do filme quanto intrapartícula e o aumento da vazão
pode diminuir o tempo de contato do íon com o adsorvente. Acredita-se que nessas condições,
as resistências difusionais não são inversamente proporcionais ao aumento da vazão.
Na Tabela 3, são apresentados os valores calculados do comprimento da ZTM, as
quantidades de níquel retidas até o ponto de ruptura, considerando como o tempo equivalente
à saída de 5% (McCABE et al., 2001) da concentração da solução de alimentação, a
capacidade de adsorção do leito , Utb, a razão operacional RO e a variância adimensional
2σ.
Tabela 3- Valores dos parâmetros calculados para adsorção do íon níquel
Vazão(mL/min) ZTM (cm)
Utb
(meq/g) Variância Ro
4 1,064 0,261 0,119 0,757
6 1,734 0,052 0,262 3,062
8 1,754 0,055 0,302 3,207
10 1,794 0,051 0,581 3,223
12 1,405 1,673 0,342 1,615
De acordo com a Tabela 3, observa-se que em 4mL/min foi obtido o menor valor de
zona de transferência de massa (ZTM), em relação às quantidades retidas de níquel até o
ponto de ruptura (Utb). Além disso, observa-se que o leito empacotado retém mais cátions de
níquel nesta vazão. Em relação às razões operacionais, o 0R assume o menor valor na vazão
de 4 mL/min e que a variância adimensional 2σ é mínima nesta vazão, indicando menor grau
de dispersão. Com está análise, identifica-se que a vazão ótima de trabalho é 4 mL/min, ou
seja, para esta vazão os efeitos difusionais no leito serão minimizados.
4.3. Isoterma Dinâmica
Os dados experimentais de equilíbrio obtidos nos ensaios em coluna para a adsorção do
níquel foram utilizados para calcular a quantidade de metal removida até a saturação da
Capa Índice 6873
coluna. As curvas ajustadas pelas equações do modelo de Langmuir e Freundlich são
apresentadas na Figura 3. Os dados de equilíbrio foram utilizados para calcular os valores das
constantes das isotermas de Langmuir (qm e b) e de Freundlich (a e n) e são apresentados na
Tabela 4.
Pode-se verificar que o modelo de isoterma de Langmuir e o modelo de Freundlich,
para o sistema, representaram adequadamente os dados de adsorção de equilíbrio e que ambos
os modelos apresentaram coeficientes de correlação e valores do erro muito próximos (tabela
4). Na Figura 3, observa-se que a isoterma é do tipo convexa, e que segundo McCabe et al.
(2001) esse tipo de isoterma é favorável. Também segundo McCabe et al. (2001) quando o
parâmetro do modelo de Freundlich n é menor que 1, pode-se afirmar que a remoção é
favorável, e a remoção do composto ou íon inicialmente em solução é, muitas vezes, mais
adequada para adsorção de líquidos, como é o caso do níquel (tabela 4).
Figura 3- Isoterma dinâmica de adsorção
Capa Índice 6874
Tabela 4- Parâmetros ajustados dos modelos de Langmuir e Freundlich
Íon Modelo de Langmuir
qm (meq/g) b (L/meq) R2 Erro
Ni(II) 0,74648 1,3396 0,974 0,00032
Modelo de Freundlich
a (meq/g) n R2 Erro
Ni(II) 0,12048 0,78191 0,975 0,00031
No entanto a capacidade máxima de remoção (qm) do níquel foi baixa, de apenas 0,746
meq/g (tabela 4), mostrando que o carvão não teve muita afinidade com o íon em questão nas
concentrações estudadas. Krishnan et al., 2011 obtiveram um valor de qeq de 4,8 meq/g para
o Ni2+ utilizando biomassa. E para outros metais (Pb2+, Cr3+ e Mn2+) utilizando o carvão de
osso, o valor de (qm) obtido por Oliveira (2012) foi bem superior a 0,746 meq/g.
4. CONCLUSÃO
Neste trabalho foi investigada a remoção do íon níquel em colunas de leito fixo e
concluiu-se que para o sistema de adsorção Ni2+ no carvão ativado de osso de boi, a vazão
ótima, que é aquela que minimiza as resistências difusionais no leito, foi de 4 mL/min. Tanto
o modelo de Langmuir como Freundlich representaram adequadamente os dados
experimentais, no entanto baixos valores de qeq do íon foram obtidas para altas concentrações
de equilíbrio, mostrando que o carvão de osso de boi não é altamente favorável à adsorção do
níquel.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Zeolíticos. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Maringá - UEM, Maringá- PR,
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Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, Brasil, 1998.
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Revisado pelo Orientador
Capa Índice 6876
1 .Graduanda da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás-FEN/UFG. Voluntária do Programa Institucional de Iniciação Científica PIVIC/CNPq/UFG. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa de Enfermagem em Prevenção e Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde - NEPIH. 2. Enfermeira. Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Goiás/UFG. 3. Enfermeira. Doutora. Professor Adjunto da FEN/UFG, Pesquisadora do NEPIH. 4. Orientadora. Enfermeira. Doutora em Ciências da Saúde. Professora da FEN/UFG. Pesquisadora do NEPIH. * Revisado pelo orientador
TRABALHADORES DA ÁREA DE SAÚDE DE UM HOSPITAL ONCOLÓGICO
COLONIZADOS POR MICRO-ORGANISMOS MULTIRRESISTENTES
Júnnia Pires de Amorim Trindade¹, Thais Kato de Sousa², Marinésia Aparecida do Prado
Palos3, Silvana de Lima Vieira dos Santos4.
Faculdade de Enfermagem/UFG, Goiânia-GO 74605-080, Brasil
e-mail: [email protected], [email protected]
Palavras-chave: Farmacorresistência Bacteriana; Infecção Hospitalar; Lavagem de Mãos
INTRODUÇÃO
Trabalhadores da saúde estão expostos a vários riscos devido à função que
desempenham nas instituições de saúde, considerados locais insalubres. Os riscos podem ser
classificados em físicos, químicos, psicológicos, mecânicos e biológicos¹.
Riscos ocupacionais relacionados aos agentes biológicos estão amplamente
distribuídos na estrutura de uma unidade de saúde, sendo mais evidente quando envolve o
contato direto com sangue, secreções e outros fluidos corporais².
O risco biológico é a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos
como: micro-organismos geneticamente modificados ou não; a cultura de células; aos
parasitas; as toxinas e os príon³.
Ao atuarem os profissionais da área da saúde não se deparam somente com estes
agentes, mas com bactérias resistentes aos antimicrobianos devido ao uso indiscriminado
destes, de maneira que estas se tornem multirresistentes, representando um importante
problema à saúde do trabalhador4.
O aparecimento de resistência a antibióticos e outras drogas é um dos grandes
problemas nas instituições de saúde, do ponto de vista clínico e de saúde pública, pois o
Capa Índice 6877
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6877 - 6890
desenvolvimento de resistência por bactérias patogênicas pode ser mais rápido que a
capacidade da indústria farmacêutica em produzir novas drogas 5,6.
Os micro-organismos multi-droga-resistentes (MDRO) são aqueles resistentes a um ou
mais classes de agentes antimicrobianos e, geralmente, são resistentes a todos menos um ou
dois antibióticos comercialmente disponíveis7.
Nesse contexto, os micro-organismos multi-droga-resistentes (MDRO) merecem
atenção por parte dos profissionais da área da saúde, já que muitos destes trabalhadores são
portadores destes micro-organismos, podendo disseminá-los no ambiente principalmente
quando em contato com os pacientes durante a assistência, bem como adquirí-los durante o
processo de trabalho8.
Em relação à aquisição de MDRO durante a assistência a saúde, merece destaque as
instituições que tem assistência especializada no tratamento aos pacientes oncológicos, por
estes apresentarem déficit imunológico, facilitando a sua colonização e consequente
desenvolvimento de infecções graves8. O diagnóstico de infecção pode ser difícil no paciente
oncológico, não só pela diversidade de agentes microbianos, como também pelas
peculiaridades da apresentação clínica9.
Diante disso medidas devem ser implementadas pelas instituições de saúde para o
controle da disseminação dos MDRO entre profissionais da área da saúde e pacientes. Entre
diversas medidas, destaca-se a importância da higiene de mãos para todos os profissionais de
saúde, visitantes e acompanhantes e o reforço da aplicação de precauções baseadas na
transmissão em adição às precauções-padrão para as pessoas que, em algum momento,
tenham contato com pacientes sabidamente colonizados10.
Assim, torna-se imprescindível a realização de vigilância dos profissionais da área da
saúde em busca da colonização por estes micro-organismos permitindo o estabelecimento de
critérios para diminuição dos riscos de colonização, tempo de internação e custos com o
tratamento.
Nesse sentido, os objetivos desse estudo foram caracterizar o perfil dos profissionais
colonizados por micro-organismo multirresistentes e verificar a adesão desses a Higiene das
Mãos e ao uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
METODOLOGIA
Estudo descritivo realizado com trabalhadores da área de saúde de um Hospital
referência em tratamento oncológico integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) em
Goiânia-Goiás, no período de fevereiro de 2009 a dezembro de 2010.
Capa Índice 6878
População
A população do estudo foi constituída por 295 profissionais sendo estes constituintes
das equipes de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e
instrumentadores cirúrgicos) e trabalhadores dos serviços de Processamento de Roupas,
Higiene e Limpeza, além de secretários, técnicos em radioterapia, auxiliar de gesso,
cozinheiros e copeiros.
Fizeram parte da amostra os profissionais que prestavam assistência direta aos clientes
em um dos setores descritos, exercia função/cargo administrativo no STI e que estivesse
presente no hospital no momento da coleta. Os trabalhadores que exerciam função/cargo
administrativo, exceto no STI, e aqueles que estavam em uso de antimicrobiano ou havia feito
uso nos últimos sete dias antecedentes à coleta foram excluídos.
Considerou-se para os profissionais colonizados com MDRO, estar colonizado com
micro-organismos resistentes a uma ou mais classes de antimicrobianos, ou micro-organismos
resistentes à droga de escolha para seu tratamento, como recomendado pelo CDC (2006).
Procedimentos para a coleta de dados
A coleta de dados foi realizada por meio de duas estratégias: aplicação de um
questionário e coleta de saliva dos sujeitos.
O questionário foi composto por questões abertas e fechadas que contemplaram dados
pessoais e profissionais pertinentes ao tema e aos objetivos propostos. Foram abordadas
questões como escolaridade, idade, tempo de atuação na instituição, função atual, turno de
trabalho, horas semanais de trabalho, trabalho em outras instituições de saúde, uso de EPI na
assistência e adesão a higiene de mãos.
O instrumento de coleta dos dados foi validado por três especialistas na área de estudo
e submetido a um teste piloto.
A coleta dos dados foi iniciada após a aquiescência dos sujeitos da pesquisa por meio
da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para a identificação dos profissionais colonizados por micro-organismos
multirresistentes a saliva coletada foi encaminhada ao laboratório de bacteriologia do Instituto
de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP). As análises laboratoriais microbiológicas de
isolamento, identificação e antibiograma seguiram as técnicas recomendadas pelo Clinical
and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2009). Estas foram realizadas pelo grupo de
Capa Índice 6879
pesquisa composto por doutorandos e mestrandos do projeto intitulado: “Micro-organismos
isolados na saliva de profissionais de saúde e áreas de apoio de um Hospital Oncológico da
Região Centro-Oeste do Brasil”, o qual deu origem a este estudo.
Aspectos ético – legais
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Associação de Combate
ao Câncer em Goiás (CEP/ACCG), sob protocolo-CEPACCG/040/08.
Tratamento dos dados
Os dados foram processados e analisados no Software Statistical Package for the
Social Sciencies - SPSS® (versão 19.0). Realizaram-se procedimentos de estatística descritiva
e inferencial (teste de Qui-quadrado e Exato de Fisher) adotando-se p<0,05.
RESULTADOS
Foram avaliados 295 profissionais, destes 148 (50,2%) estavam colonizados por
bactérias. Os micro-organismos isolados foram analisados quanto ao perfil de resistência e
verificou-se que 44 (29,7%) dos profissionais estavam colonizados por micro-organismos
multirresistentes, sendo que todos os isolados tratavam-se de cepas multirresistentes de
Staphylococcus coagulase-negativo (ECN) resistente a meticilina.
Predominou-se entre os participantes o gênero feminino, 37 (84,1%) com idade que variou de
22 a 61 anos e média de 39,2 anos. Quanto ao nível de escolaridade, observou-se que 28
(63,6%) cursaram o ensino médio, 12 (27,3%) ensino superior e quatro (9,1%) o ensino
fundamental. Em relação ao tempo de atuação este variou de 0 a 324 meses (27 anos), com
média de 90 meses (7,5 anos). Com relação à carga horária, 11 (25%) referiram trabalhar
menos de 40 horas e 33 (75%) relataram carga horária maior ou igual a 40 horas semanais.
Quanto ao turno de trabalho, destacaram-se o diurno 24 (54,5%) e o matutino 10 (22,8%).
Em relação à área de atuação dos profissionais colonizados com micro-organismos
multirresistentes, destacou-se os técnicos em enfermagem 23 (52,2%). Ao verificar a relação
entre a categoria profissional e estar colonizado por micro-organismo multirresistente esta não
foi observada (Tabela 1).
Capa Índice 6880
Tabela 1: Distribuição dos profissionais colonizados com micro-organismos multirresistentes segundo a categoria profissional (n=44). Goiânia – GO.
Colonizados com micro-organismos multirresistentes
Categoria Profissional Sim Não X² P
n (%) n (%)
Médico 1 2,3 9 3,6 0,197 0,545
Enfermeiro 4 9,1 8 3,2 3,344 0,086
Técnico em Enfermagem 23 52,3 115 45,8 1,661 0,197
Serviço de higienização e limpeza 6 13,6 64 25,5 2,910 0,088
Copeiro 7 15,9 29 11,6 0,121 0,728
Técnico em Radiologia 1 2,3 5 2,0 0,002 0,719
Auxiliar Administrativo 1 2,3 1 0,4 0,810 0,385
Instrumentador Cirúrgico 1 2,3 2 0,8 0,849 0,694
Categoria profissional e colonizados com micro-organismos multirresistentes (X²: 12,445; p: 0,200)
Ao avaliar o vínculo de trabalho dos profissionais colonizados, 26 (59%) tinham
vínculo apenas com a instituição do estudo e 18 (41%) possuíam vínculo com outras
instituições. Ao verificar a relação entre a categoria profissional dos trabalhadores
colonizados com micro-organismos multirresistentes e o vínculo de trabalho, esta não foi
observada (Tabela 2).
Tabela 2. Distribuição da categoria profissional de trabalhadores colonizados com micro-organismos multirresistentes (n=44) de acordo com vínculo em uma instituição ou mais. Goiânia – GO.
Categoria Profissional
Vínculo somente com a instituição de saúde do estudo
Sim Não X² P
n % n %
Enfermeiro 1 2,3 0 0,0 0,274 0,487
Técnico em Enfermagem 11 25,0 12 4,8 0,175 0,676 Auxiliar de enfermagem 6 13,6 0 0,0 0,430 0,512
Outros 8 18,2 0 0,0 0,575 0,448
Vínculo com outras instituições de saúde
Categoria Profissional Sim Não X² P
n % n %
Médico 1 2,3 0 0,0 0,510 0,422
Enfermeiro 3 6,8 3 1,2 1,823 0,185 Técnico em Enfermagem 12 27,3 2 0,8 0,601 0,438
Outros 2 4,5 0 0,0 0,136 0,529 Vinculo com a instituição do estudo (X²: 14,773; p: 0,01); Vínculo com outras instituições (X²: 4,107; p: 0,300)
Capa Índice 6881
Quanto à higienização das mãos ao serem questionados sobre sua realização na
assistência, todos os participantes do estudo referiram realizar a higienização das mãos e 43
(97,8%) mencionaram que higienizavam com frequência.
Em situações de assistência à saúde, nas quais os profissionais colonizados higienizam
as mãos, 42 (95,5%) mencionaram higienizá-las após a remoção das luvas, 39 (88,7%) após o
procedimento, 38 (86,4%) antes do procedimento, 30 (68,2%) ao realizar procedimentos em
clientes diferentes, 25 (56,8%) afirmaram higienizar entre procedimentos no mesmo cliente e
dois(4,6%) não realizam a higiene de mãos entre clientes diferentes (Tabela 3).
Ao serem questionados sobre a assistência a indivíduos sabidamente colonizados, 28
(64%) dos profissionais entrevistados referiram que realizavam a higiene das mãos com a
mesma frequência de quando prestavam cuidados a indivíduos não colonizados e 16 (36%)
referiram não higienizar com a mesma frequência.
Tabela 3. Distribuição da frequência e porcentagem de trabalhadores colonizados com micro-organismos multirresistentes, segundo situações, na assistência à saúde nas quais estes higienizam as mãos (n=44). Goiânia-GO.
Higienização das Mãos
Situações f (%) Higienização das mãos antes do
procedimento Não 1 2,3 Sim 38 86,4
Não se aplica 5 11,3 Higienização das mãos após o
procedimento Não 0 0,0 Sim 39 88,7
Não se aplica 5 11,3
Higienização das mãos entre procedimentos no mesmo cliente
Não 9 20,5 Sim 25 56,8
Não se aplica 10 22,7 Higienização das mãos entre clientes
diferentes Não 2 4,6 Sim 30 68,2
Não se aplica 12 27,2 Higienização das mãos após remoção
das luvas Não 0 0,0 Sim 42 95,5
Não se aplica 2 4,5 Higienização das mãos na mesma
frequência com pacientes colonizados com multirresistentes e não colonizados
Não 16 36,3 Sim
Não se aplica 28 0
63,7 0,0
Em relação ao uso de EPI pelos trabalhadores colonizados com micro-organismos
multirresistentes verificou-se que 40 (91%) relataram fazer uso de EPI e 2 (4,5%) referiram
não utilizá-los (Tabela 4).
Capa Índice 6882
Tabela 4. Distribuição dos profissionais colonizados com micro-organismos multirresistentes, de acordo com a utilização dos EPI durante a assistência. Goiânia – GO.
Profissionais colonizados com micro-organismos
multirresistentes
Uso de EPI f (%)
Não 2 4,5
Sim 40 91
Não se aplica 2 4,5
DISCUSSÃO\
De acordo com a cadeia epidemiológica de infecção, gotículas de saliva carreando
micro-organismos virulentos podem constituir fonte de contaminação cruzada e
consequentemente à colonização de clientes e trabalhadores. Esse mecanismo condiciona-os a
disseminar esses agentes tanto para o ambiente hospitalar quanto para a comunidade11.
Identificar micro-organismos colonizando profissionais da área de saúde configura risco a
saúde dos pacientes assistidos12.
Esse risco aumenta ao se verificar a presença de micro-organismos multirresistentes
aos antimicrobianos de última geração, como os do gênero Staphylococcus, que são
importantes patógenos associados a infecções hospitalares13.
Estas bactérias são provenientes da microbiota transitória da pele de até um terço da
população em geral, e tem sido associadas mais comumente a infecções em pacientes adultos
com fatores de risco como: internações prolongadas, uso de antimicrobianos, procedimentos
invasivos, cirurgias e pacientes submetidos a hemodiálise ou diálise peritoneal 14.
No presente estudo foram identificadas cepas de Staphylococcus coagulase-negativo
resistente a meticilina (ECN). Esses micro-organismos são de extrema importância, pois são
encontrados na pele e mucosas, causando infecções no sítio primário de infecção ou podem
ainda disseminar, causando bacteremias e septicemias15.
ECN são frequentemente reconhecidos como uma das principais causas de infecções
de corrente sanguínea nosocomiais em pacientes críticos, podendo levá-los a morbidade e até
mesmo morte16.
Estudos reportam que a prevalência de ECN oxacilina resistente é elevada na maior
parte dos hospitais no Brasil e no mundo e a identificação das espécies desse grupo é de
extrema importância, já que são frequentemente relacionados a septicemias neonatais,
Capa Índice 6883
infecções em pacientes imunodeprimidos e em uso de nutrição parenteral total, além de
pacientes pós-cirúrgicos e em uso de dispositivos intravasculares15,17.
Em estudo cujo objetivo foi avaliar a prevalência de S. coagulase-negativo resistente a
oxacilina em saliva de profissionais da saúde, foi obtida prevalência de 32 (32%)15, superando
ao encontrado no presente estudo, o qual foi de 29,7%.
Quanto à área de atuação dos profissionais colonizados com micro-organismos
multirresistentes, destacou-se os técnicos em enfermagem. Nas instituições de saúde a
enfermagem representa a maior parte dos profissionais da área de saúde, o que justifica uma
maior representatividade da categoria 18,19.
Em relação à associação da categoria profissional com a colonização por micro-
organismo multirresistente não houve diferença estatisticamente significativa (p>0,05),
corroborando com Ibarra et al., (2008), que verificaram que não houve associação entre a
colonização por MRSA e as categorias dos profissionais de saúde. Já outros estudos
verificaram a existência da relação entre categoria profissional e a colonização por micro-
organismos multirresistentes18,19.
Estudos apontam que a maior colonização entre técnicos de enfermagem justifica-se
pelo fato de que estes profissionais passam mais tempo em contato com pacientes
potencialmente infectados ou colonizados, bem como, a baixa adesão ao uso de EPI13.
Foi avaliado o vínculo do trabalhador com uma ou mais instituições de saúde, sendo
observado que neste aspecto não há associação com o fato de estar colonizado. Embora não
exista associação deve-se lembrar que as instituições de saúde são ambientes insalubres e os
trabalhadores da área de saúde estão expostos constantemente a estes micro-organismos.
Estudo refere à ausência de associação em decorrência de ter sido foi pouco expressiva
a presença ou não de colonização entre os trabalhadores que relataram trabalhar em uma ou
em mais instituições19 .
Nesse contexto, sabe-se que a adesão à técnica adequada de higiene de mãos por parte
dos profissionais é fundamental para a redução da disseminação de micro-organismos
multirresistentes. Essa medida é fundamentada no fato de que estes podem estar diretamente
envolvidos na disseminação desses micro-organismos, principalmente nas atividades
envolvidas na assistência ao paciente20.
Aponta-se ainda a possibilidade dos micro-organismos resistentes persistirem nas
mãos, objetos inanimados e superfícies e de serem transmitidos de um paciente a outro
quando os profissionais de saúde não aderem à higienização das mãos, perpetuando assim a
cadeia de transmissão20.
Capa Índice 6884
Os resultados do presente estudo mostraram que todos os profissionais colonizados
por micro-organismos multirresistentes referiram realizar a higiene de mãos, sendo que as
situações na assistência em que referiram realizar com maior frequência foram após a
remoção de luvas (95,5%), após o procedimento (88,7%) e antes do procedimento (86,5%).
Embora um número pouco expressivo destaca-se o fato de dois (4,6%) afirmarem não realizar
a higiene de mãos entre procedimentos em clientes diferentes. Essa medida é fundamental
para evitar a infecção cruzada e a consequente disseminação desses micro-organismos de um
cliente para outro.
Apesar dos resultados encontrados, estudos evidenciam a baixa adesão à técnica de
higienização das mãos, sendo que de 43 profissionais observados no setor de terapia intensiva
neonatal de um hospital, 56% higienizaram as mãos ao entrarem na unidade, sendo que
nenhum dos observados lavou com a técnica preconizada21,22,2324 .
Estudo que buscou avaliar a colonização por ECN resistente a oxacilina em 100
profissionais antes e após a higienização das mãos, demonstrou a frequência de quatro
profissionais colonizados antes da realização da higienização das mãos, reduzindo para um
profissional após a higiene de mãos25.
É importante ressaltar que a finalidade da higienização das mãos é a remoção da
microbiota transitória que coloniza a superfície da pele, que incluem micro-organismos
considerados de baixa virulência, como os ECN20,21.
Mesmo com este perfil vale lembrar que para indivíduos imunocomprometidos o
desenvolvimento de infecção por ECN pode ser significativo26.
Salienta-se que a higienização das mãos deve ocorrer antes e após o contato com o
cliente, antes de calçar as luvas e após retirá-las, entre um cliente e outro, entre um
procedimento e outro, ou em ocasiões onde possa existir transferência de patógenos para
cliente e/ou ambientes, entre procedimentos com o mesmo cliente e após o contato com
sangue, líquido corporal, secreções, excreções e artigos ou equipamentos contaminados28.
Outra medida de proteção utilizada pelos profissionais da área de saúde é o uso do
equipamento de proteção individual (EPI). Este foi relatado pela maioria dos profissionais
colonizados por micro-organismos multirresistentes, corroborando com um estudo realizado
por Palos et al., (2010), o qual identificou-se que 97,2% dos profissionais referiram seu uso30.
É necessário salientar que o uso de EPI é indispensável para a redução da transmissão
destas cepas aos indivíduos hospitalizados, principalmente os imunocomprometidos, como os
pacientes oncológicos, visando à diminuição da ocorrência de infecções hospitalares29.
Capa Índice 6885
CONCLUSÃO
Após a realização deste estudo foi possível concluir que:
Os trabalhadores da saúde estavam colonizados por ECN resistente a oxacilina. Houve
predominou do gênero feminino, com idade que variou de 22 a 61 anos.
Quanto à categoria profissional, houve maior representatividade dos técnicos de
enfermagem e dos trabalhadores do setor de higiene e limpeza.
Houve uma maior prevalência de profissionais com carga horária semanal de 40 horas.
Destacaram-se os profissionais que não possuíam vínculo com outras instituições.
Não houve associação entre categoria profissional, colonização com micro-organismo
multirresistente e vínculo com as instituições.
A maioria dos sujeitos referiu higienizar as mãos, sendo que destacaram-se a
realização após a remoção das luvas, após o procedimento, antes do procedimento, entre
clientes diferentes, entre procedimentos no mesmo cliente.
Mais de 50% referiram que realizavam a higiene das mãos ao prestar cuidados a
indivíduos não colonizados, com a mesma frequência ao prestarem assistência a clientes
sabidamente colonizados.
O uso de EPI foi relatado pela maior parte dos profissionais.
A análise da colonização por micro-organismos multirresistentes, traçando o perfil dos
profissionais colonizados, deve ser uma rotina nas intituições de saúde, pois possibilita o
planejamento e avaliação de normas para controle de infecção por esses agentes nos
ambientes de assistência a saúde.
A prevenção e controle de micro-organismos multirresistentes constituem-se num dos
maiores desafios das instituições de saúde no mundo. Medidas de prevenção e controle de
infecções devem ser implementadas, principalmente como a adoção de vigilância ativa (de
cepas hospitalares e seu perfil de sensibilidade), ações educativas sobre os riscos e prevenção
da transmissão e disseminação de micro-organismos multirresistentes. Medidas simples de
controle das infecções como a importância da realização da técnica de higiene de mãos nas
situações recomendadas e a utilização dos EPI a cada situação também devem ser abordadas.
É indispensável salientar que os pacientes oncológicos necessitam de uma assistência
segura, o que inclui medidas que reduzam as infecções por micro-organismos. Sendo assim,
os resultados deste estudo apresentaram um alerta às instituições de saúde, enfatizando a
necessidade de investimento em ações que previnam a colonização dos profissionais da área
da saúde.
Capa Índice 6886
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Capa Índice 6890
Recém-nascidos com infecção por micro-organismos multidrogas resistentes em
unidades de cuidados intermediários e intensivo neonatal: análise do conhecimento das
mães.
Kamilla Lelis Rodriguês de Araujo, [email protected], Faculdade de Enfermagem FEN-UFG.
Mayara Regina Pereira, [email protected], FEN-UFG.
Ludimila Cristina Souza Silva, [email protected], FEN-UFG.
Marinésia Aparecida Prado Palos, [email protected], FEN-UFG.
Introdução
A ocorrência de infecção relacionada ao ambiente do cuidado em saúde (IRACS)
foi evidenciada inicialmente nos registros da antiga Roma e Europa medievais. Entretanto,
esse evento adverso recebeu atenção das autoridades públicas, sob a ótica do cuidar a partir do
século XVIII e inicio do século XIX (SIEGEL et al., 2007; ANVISA, 2009).
Contudo, observa-se um recrudescimento de tais estados mórbidos associados a
uma maior gama de procedimentos médicos invasivos e o uso indiscriminado de
antimicrobianos aumentando o potencial de surgimento por microrganismos resistentes as
medicações hoje disponíveis no arsenal médico (ANVISA, 2011). Com isso mais recursos
financeiros são necessários para desenvolvimento de novas drogas e formas de tratamento,
com ônus também crescente a todo sistema econômico-social, inerentes ao usuário e a
instituição de saúde.
Inicialmente, tais infecções atreladas aos cuidados em saúde relacionavam-se a
tipos muito característicos de usuários expostos a cuidados igualmente, aos admitidos em
unidades de terapia intensiva por períodos prolongados e submetidos a diversos
procedimentos invasivos, entre outros. A incidência dessas infecções no Brasil apresenta taxa
de 13 a 15%, acima da media mundial em gira em torno de 8% (SILVA, 2008).
Na população infantil, estes índices ilustra em parte o crescente recrudescimento
da mortalidade infantil, neonatal precoce, conforme indicadores disponíveis no DATASUS
(2011). Logo, este recrudescimento não se explica de forma tão simplista por apenas um
fator, estando ainda em analise à qualidade do pré-natal oferecido e aos cuidados envolvidos
no parto (GOULART et al.,2006; PINHEIRO et al., 2009).
Mas em se tratando de recém-nascidos (RN) somam-se ainda os riscos de
exposição às infecções por micro-organismos multirresistentes o que potencializará o risco de
Capa Índice 6891
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6891 - 6903
morte desses RN (OLIVEIRA et al.,2008; Silva et al., 2008). Com exceção das infecções
transmitidas por via transplacentárias ou por complicações do parto, as infecções podem
ocorrer após 72 horas do nascimento ou até 12 meses, quando da implantação de órteses e
próteses (ANVISA, 2008; SIEGEL, 2007).
No Brasil, cerca de 50 a 60% das mortes entre as crianças no primeiro ano de vida
ocorrem durante o período neonatal (PESSOA-SILVA et al., 2004; DATASUS, 2011), sendo
que em Goiás este indicador tem um impacto de 14,8% entre todas as causas de óbito, não
somente as infecciosas na população em diferentes faixas etárias.
Nas unidades de terapia intensiva neonatal, o manuseio frequente dos RN por
profissionais de saúde e mães, bem como o imunocomprometimento destes, reforçam sua
vulnerabilidade a esses eventos adversos. Para evitar que os RN sejam acometidos por micro-
organismos e consequentemente a esse evento adverso (EA) conhecido por infecção,
recomenda-se que medidas de prevenção e controle sejam instituídas, conforme as diretrizes
vigentes. Essas medidas são compostas por, uso de equipamentos de proteção individual (EPI)
para os profissionais e da higienização das mãos tanto para os profissionais, quanto para as
mães. Essas medidas reforçam a importância do manuseio seguro dos RN e a prevenção e
controle desses EA (SIEGEL et al, 2007; PRADO-PALOS et al., 2009).
A Higienização das Mãos (HM) é recomendada pela Organização Mundial de
Saúde antes e após o manuseio do RN, (RHEE et al., 2008). É importante reforçar que tal
medida, embora simples, é uma das mais efetivas frente ao controle das IRAS, reduzindo
significativamente os custos hospitalares (ANVISA, 2011).
É importante ressaltar que o RN, com a sua vulnerabilidade natural, aliada à
atitudes inseguras dos profissionais e das mães durante o manuseio e o cuidado, aumentam o
risco a infecção por contaminação tegumentar. Haja vista que os profissionais e as mães são
capazes de veicular e disseminar micro-organismos virulentos, comumente envolvidos em
surtos infecciosos graves em RN (BOUSSO, 2009).
A colonização dos RN inicia-se logo após nascimento, assim em circunstâncias
normais, o RN com a microbiota da mãe, por meio do leite materno, durante a amamentação,
troca de fraldas, banho, curagem do coto umbilical, além do ambiente e dos profissionais de
saúde (FREDERICO, et al .; 2000).
Estudo mostrou que a mortalidade neonatal foi significativamente menor entre
RN cujo nascimento foi precedido de HM pela parteira, apresentando um risco 25% menor de
morte. Nesse mesmo estudo, as crianças cujas mães faziam HM antes de manusear seus bebês
tiveram um risco 60% menor de morte neonatal (RHEE et al., 2008).
Capa Índice 6892
Frente às evidências na literatura, e a vivencia nos campos de prática enquanto
aluno do curso de graduação em enfermagem, observamos que a adesão às práticas seguras
relacionadas ao manuseio do RN pelas mães, apresentava-se falhas. Além da superlotação e
da não adesão dos profissionais as medidas preventivas preconizadas, a Higienização das
Mãos (HM), a falta de insumos necessários à essa prática, é um agravante a problemática das
IRAS (BRASIL, 2005).
Tal observação despertou o interesse sobre o contexto das medidas de prevenção e
o controle das IRAS. Além disso, surge a necessidade de verificar o conhecimento dessas
mães sobre a temática, visando à segurança do cuidado ao RN por elas durante o cuidado. Há
de ressaltar a relevância da equipe de enfermagem na interrupção da cadeia epidemiológica
desses agentes, uma vez que essa é responsável por grande parte dos procedimentos
terapêuticos envolvidos no cuidado e manuseio do RN, e pela utilização de estratégias de
educação permanente em serviço, atuando inclusive durante do pré-natal.
Sabe-se que a qualidade e segurança tanto do usuário como dos trabalhadores em
unidades de terapia intensiva, em especial a neonatal deve ser aliada a uma política eficaz de
controle e prevenção desses EA. Nessa perspectiva, conhecer o nível de conhecimento das
mães sobre a colonização de neonatos por micro-organismos multidrogas resistentes em
unidade de terapia intensiva neonatal, corroborará com as estatísticas e com subsídios para
nortear a elaboração de ações educativas para essas mães durante o manuseio de seu rebento,
refletira na segurança do neonato e na minimização dos fatores inerentes a sua colonização
respectivamente.
Objetivo
- Analisar o conhecimento das mães sobre a infecção de recém-nascidos por micro-
organismos multidrogas resistentes em unidade de terapia intensiva neonatal.
Metodologia
Estudo descritivo realizado em uma unidade de terapia intensiva neonatal de uma
instituição especializada em saúde materna e infantil de referência, integrada ao Sistema
Único de Saúde, de Goiânia - Goiás.
A escolha por esta instituição se justifica por se tratar de um centro de referência
em nível nacional para atendimento materno-infantil de média e alta complexidade.
Capa Índice 6893
Considerou-se ainda as especificidades assistenciais, dentre elas, disponibilizar sistema de
alojamento conjunto e unidades de cuidados intermediário e intensivo neonatal, bem como de
intervenção cirúrgica, uso de antimicrobianos, procedimentos invasivos, entre outros, agravos
à saúde do binômio.
A Instituição contempla atividades de Ensino e Pesquisas, com enfoque nas
temáticas: Estudo Prospectivo Sequencial de Aborto Induzido, Comitê de Mortalidade
Materna e Neonatal, entre outros.
Os usuários da instituição tem uma assistência em saúde, executada por uma
equipe multidisciplinar com profissionais de diferentes categorias, sendo 92 enfermeiros, 227
técnicos em enfermagem, 213 auxiliares de enfermagem, 253 médicos, 19 farmacêuticos, 12
assistentes sociais, 11 psicólogos, dez biomédicos, dez fisioterapeutas, oito fonoaudiólogos,
cinco nutricionistas, entre outros (DATASUS, 2011).
A pesquisa está inserida em um projeto maior intitulado: Preditores para
colonização/contaminação de profissionais, usuários, artigos e superfícies de uma Instituição
de Saúde Materna e Infantil integrada ao SUS, com parecer favorável pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Hospital Materno Infantil, sob o protocolo de Nº 03/2012.
A população foi constituída por quatro mães de recém-nascidos admitidos em
unidades de cuidados intermediários e intensivo neonatal, com infecção e ou resultados de
exames de hemocultura positiva, nos arquivos da Comissão de Controle de Infecção
Hospitalar da instituição em estudo e dos respectivos prontuários, cujos dados foram
analisados em outro estudo, que compuseram o banco de dados do projeto maior.
A inclusão dos participantes obedeceu aos seguintes critérios: mães de RN
admitidos nas unidades acima referidas, que se encontravam presentes no momento da coleta
de dados.
O estudo percorreu as seguintes etapas, encaminhamento do projeto ao comitê de
ética; coleta das informações a partir da aplicação de um formulário semi-estruturado de e
analisado por experts na temática, quanto ao conteúdo e pertinência com os objetivos do
estudo e assinatura do Termo de Consentimento e Livre Esclarecido (TCLE).
As variáveis contempladas nesse estudo foram idade, escolaridade, profissão,
renda familiar, estado civil, procedência, moradia, saneamento básico, tipo de parto, aborto,
DST, realização de pré-natal e teste da mamãe.
As informações foram digitadas em banco de dados do Programa Epi-info v. 7.0
(CDC, 2010) e procedeu-se a interpretação e analise dos resultados.
Capa Índice 6894
Resultados
Dos 18 (100%) dos RN internados nas unidades de cuidados intermediário e
intensivo neonatal, no período em que transcorreu a coleta de dados do estudo, participaram
quatro mães (4,5%) RN. As variáveis investigadas encontram-se na tabela 1.
Tabela 1. Distribuição das mães (n-4) de RN em unidades de cuidados intermediários e intensivo neonatal segundo as variáveis investigadas. Goiânia, 2012.
VARIÁVEIS f %
Cor Branca 01 25 Parda 03 75 Idade <30 anos 03 75 >30 anos 01 25 Escolaridade Não alfabetizada 03 75 Ensino Fundamental Completo 01 25 Profissão Do lar 04 100 Renda Familiar Total < que um salário 02 50 >que um salário 02 50 Estado Civil União Estável < que 5 anos 04 100 Procedência Goiânia-GO 02 50 Barra do Garça-MT 01 25 Nova Olinda-TO 01 25 Moradia Casa própria 02 50 Casa alugada 01 25 Barracão de Lona 01 25 Saneamento Básico Sim 03 75 Não 01 25 Tipo de Parto Cesariana 01 25 Normal/Natural 01 25 Não Informado 02 50 Aborto Sim 02 100 Não 02 100 DST Não 04 100
Capa Índice 6895
Realização de Pré-natal e Teste da Mamãe Sim 03 75 Não 01 25 Número de Filhos < Que três 02 50 > Que três 02 50
Com relação aos antecedentes de saúde da gestante no perinatal, enfatiza-se que
estes podem contribuir para o estado de saúde dos neonatos, inclusive no que confere a
infecção pós-natal, quanto a esse aspecto teve-se, tabela 2.
Tabela 2. Distribuição das mães (n-4) de RN em unidades de cuidados intermediários e intensivo neonatal, segundo os antecedentes de saúde investigados. Goiânia, 2012.
VARIÁVEIS DE ANTECEDENTES f %
Antecedentes Pessoais Transfusões sanguíneas 01 25 Doenças neuropsiquiátricas 01 25 Anemias 01 25 Antecedentes Familiares HAS 02 50 DM 02 25 Cardiopatias 01 25 Cancer de mama 02 50 Outro 02 50
O entendimento sobre a via de transmissão dos micro-organismos configura-se
num facilitador para a adesão as medidas preventivas, e o controle de infecção em ES. Nesse
contexto foi pertinente verificar o conhecimento das mães sobre a transmissão desses agentes
durante o manuseio do RN, figura 1.
Figura 1. Perfil de conhecimento de mães sobre infecção de recém-nascidos por micro-organismos multidrogas resistentes. Goiânia, 2012.
Capa Índice 6896
Dentre as medidas de controle de infecção a higienização das mãos (HM)
configura-se como a principal, assim considerou-se de suma importância identificar o
conhecimento das mães sobre essa conduta de segurança durante o manuseio do RN, tabela 3.
Tabela.3 Distribuição das mães de RN (n-4), segundo a frequência de higienização das mãos ao visitar e ou manusear o RN em unidades de cuidados intermediários e intensivo neonatal. Goiânia, 2012.
HIGIENIZAÇÃO DE MÃOS
SIM NÂO Total
f % f % f %
Hábito de HM 02 50 02 50 04 100
Realiza HM antes da visita 04 100 00 00 04 100
Realiza HM após a visita 03 75 01 25 04 100
Antes do manuseio do RN 03 75 01 25 04 100
Antes de amamentar 03 75 01 25 04 100
Após utilizar o vaso sanitário 03 75 01 25 04 100
Foi orientada na UTIN quanto a HM 03 75 01 25 04 100
Teve supervisão de funcionário para HM 00 00 04 100 04 100
Capa Índice 6897
Discussão
Das quatro mães (100%) que participaram da pesquisa, identificou-se que o nível de
escolaridade de três (75 %) dessas eram analfabetas, uma (25%) habitava em barraco de lona
e não possuía saneamento básico. O nível educacional da mãe está relacionado com
comportamentos de cuidados de saúde, o que tem efeito na mortalidade infantil. Assim como,
a renda que é um fator determinante no processo saúde-doença, onde os agentes conseguem
consumir bens e serviços, essenciais para a manutenção da saúde (SARINHO, et al., 2001.
Logo, a escolaridade se traduz num fator decisivo relacionado à concepção de mães,
sobretudo as primíparas sobre o desenvolvimento infantil. Não obstante, em função da
dificuldade de acesso à educação formal, a pessoa de camadas sociais menos favorecidas
economicamente surge à necessidade de disponibilizar para mães e pais conhecimentos sobre
cuidados a manutenção da saúde infantil (SILVA et al., 2005).
Quanto à realização do pré-natal e o teste da mamãe uma (25%) não realizou. Esse
dado pode sinalizar a predisposição da mãe à falta de conhecimento sobre o manuseio seguro
do RN. Segundo, Maluf; Perin (2012), durante o pré-natal, podem surgir dúvidas e a partir
dessas procede-se as orientações sobre o manuseio seguro do RN. Além disso, identificam-se
os fatores de riscos para infecção e respectivas ações de prevenção e promoção à saúde.
O teste da mamãe é solicitado durante o pré-natal, abrange a sorologia para diversas
doenças de relevância para a gestação, tais como HIV, chagas, toxoplasmose, HTLV,
citomegalovirus, hepatite B, rubéola e sífilis, entre outras (SHIMIZU; DE LIMA, 2009).
No presente estudo identificou-se que uma mãe não realizou pré-natal, assim esta mãe
deixou de receber informações de suma importância para o desenvolvimento da gestação, bem
como de realizar exames clínicos e laboratoriais que auxiliariam no conhecimento do estado
de saúde da criança (SHIMIZU, DE LIMA, 2009).
A ocorrência de infecções maternas durante a fase gestacional pode resultar em
intercorrência do tipo, abortamento espontâneo, corioamionite, prematuridade, óbito fetal e
infecções fetais congênitas (MALUF; PERIN, 2012).
Quanto aos antecedentes de saúde identificou-se que uma (25%) referiu anemia. Há
evidencias na literatura de que a anemia na gestação por carência de ferro pode estar
relacionada ao aumento de morbi-mortalidade materna e neonatal, bem como a
prematuridade, baixo peso ao nascer, entre outros (BRESANI et al., 2007; WHO, 2001;
TAPIA et al., 2010).
Capa Índice 6898
No tocante ao tipo de parto uma (25%), foi submetida ao parto cesariana, uma (25%)
ao parto normal e duas (50%) não informaram. O risco de morte do RN, em gestantes
submetidas a parto cesariana, é 60% maior, em detrimento das gestantes submetidas ao parto
normal (ARAUJO, et al., 2000). Duas (50%) sofreram aborto anteriormente. Mulheres com
história de aborto anterior apresentam maior risco de morte neonatal em gestações futuras.
Todas as mães (100%) não apresentavam qualquer DST. Sabendo que DST é um dos
fatores de risco para infecção neonatal precoce e podem desenvolver patologias no ciclo
gravídico-puerperal, durante o pré-natal deve ser realizada uma avaliação quanto ao risco de
DST, bem como, diagnosticadas e tratadas precocemente, para que as consequências para a
mãe e para o bebê possam ser minimizadas (MARTINS, et al.,2004).
Com relação à orientação prévia sobre a necessidade de HM ao manusear o RN,
verificou-se a falta de consenso sobre essa medida, uma vez que, duas referiram adotar esse
hábito, porém, apenas três (75%) higienizavam as mãos antes e após a visita do filho na
unidade e ao amamentar.
Outro ponto preocupante foi o fato de que uma (25%) não recebeu orientação sobre a
necessidade da HM na UTIN e (100%) não teve a supervisão de um profissional durante a
realização desse procedimento. Consequentemente não entende a importância da cadeia
microbiológica do ambiente se saúde para a ocorrência de infecção por micro-organismos
multidrogarresistentes.
Evidências na literatura destacam que as mães e ou acompanhantes nesse serviço
podem permanecer em contato com os recém-nascidos durante todo o período de sua
permanência na UTIN. Esse contato ocasiona riscos de dessas mães e ou acompanhantes
colonizar-se por micro-organismos da microbiota ambiental em poucos dias. Uma vez
colonizadas, passam a atuar como disseminadoras desses agentes que podem ser
multidrogarresistentes, corroborando com a cadeia epidemiológica da infecção neonatal na
UTIN (PRADO-PALOS, 2009; MARTINEZ, CAMPOS, NOGUEIRA, 2009).
Apesar das mães não de manusearem dispositivos invasivos dos RN, o risco de elas se
colonizarem é certo, pelo contato principalmente com artigos não críticos e ou superfícies,
pois duas (50%), referiram higienizar as mãos, porém, apenas três (75%) higienizavam as
mãos antes e após a visita do filho na unidade e ao amamentar (RODRIGUES et al, 2012).
Adicionalmente sabe-se do impacto importante que a HM desempenha sobre a cadeia
epidemiológica das infecções em estabelecimentos de saúde, entretanto, ela deve obedecer aos
setes momentos e a utilização de antissépticos recomendados pelas diretrizes vigentes.
Capa Índice 6899
Os dados analisados nesse estudo sobre essas recomendações revelaram que duas
(50%), referiram adotar esse hábito, porém, apenas três (75%) higienizavam as mãos antes e
após a visita do filho na unidade e ao amamentar (ANVISA , 2008; WHO, 2010).
Conclusão
Após a interpretação e análise dos dados pôde-se concluir que quanto aos aspectos
relacionados ao conhecimento das mães dos RN investigados, sobre as medidas preventivas
de infecção, pode-se inferir que é ineficaz e incompleto, e compromete a segurança de seus
filhos, como corrobora para a contaminação cruzada e disseminação de micro-organismos de
impacto para esse evento adverso em nível institucional e comunitário.
Com relação ao conhecimento das mães sobre a infecção de recém-nascidos por
micro-organismos multidrogas resistentes em unidade de terapia intensiva neonatal, nenhuma
das mães referiu orientação prévia sobre a necessidade de HM ao manusear o RN. Verificou-
se ainda a falta de incoerência entre a prática da HM realizada e as recomendações
preconizadas, além disso, não houve supervisão de um profissional da unidade durante a
realização dessa prática pelas mães.
As evidências elucidam a necessidade de elaboração de um protocolo norteado pelas
diretrizes vigentes no país, com o objetivo de orientar as mães para o manuseio seguro de seus
filhos durante o primerio ano de vida e em especial durante a sua permanência em
estabelecimentos de saúde. Logo, este deverá ser construído em consonância com as normas
da segurança do paciente delineadas pela Organização Mundial de Saúde.
Há que se considerar uma limitação importante do estudo, motivada pelo N reduzido,
uma vez que as entrevistas estavam condicionadas à visita das mães aos RN. Dos 18 (100%)
RN internados na UTI, apenas quatro (22,2%) mães compareceram no período de coleta.
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REVISADO PELO ORIENTADOR.
Capa Índice 6903
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO HEPÁTICA DE BOVINOS ALIMENTADOS COM
FENO DE Brachiaria sp SUBMETIDOS A TRATAMENTOS COM DIFERENTES
ANTIOXIDANTES
Kamilla Malta LAUDARES1, Gustavo Lage COSTA1, Roberta Dias da SILVA1, Maria
Clorinda Soares FIORAVANTI1
1Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás
E-mail: [email protected]/[email protected]
Palavras-chave: bovino de corte, estresse oxidativo, radicais livres.
INTRODUÇÃO
Para um país como o Brasil, com grandes vantagens naturais e forte tradição
exportadora de alimentos, o grande mercado interno e o crescente mercado externo
representam boas oportunidades comerciais. Considerando esses fatores, os setores da
produção animal e da indústria da carne são extremamente importantes para a economia
brasileira (LUCHIARI FILHO, 2000), em que a pecuária contribui com mais de 150 bilhões
de reais para o PIB brasileiro (CEPAE/USP, 2005).
Porém, a baixa produtividade do rebanho brasileiro torna parte importante dos
criatórios inviáveis e despreparados para competir com rebanhos e segmentos mais eficientes
e organizados (CARNEIRO, 2001). Uma das vantagens competitivas da cadeia produtiva da
carne brasileira reside na possibilidade de criar os bovinos a pasto. Porém, esse sistema de
criação pode acarretar algumas ineficiências na produção pela presença de contaminantes nas
pastagens, ou mesmo pelo desenvolvimento de fungos com produção de toxinas ou de fungos
endolíticos (RADOSTITS & BLOOD, 1986).
Algumas espécies como Brachiaria brizantha, Brachiaria humidicola e,
especialmente, Brachiaria decumbens, forrageira que ocupa a maior parte da área de
pastagens cultivadas brasileiras, têm sido descritas como causadoras de fotossensibilização
hepatógena em bovinos, ovinos, caprinos e equinos (GRAYDON et al., 1991; SMITH &
MILES, 1993; LEMOS et al., 2002). A presença de macrófagos espumosos também é relatada
no fígado de bovinos saudáveis alimentados com gramíneas do gênero Brachiaria
(FIORAVANTI, 1999; BRUM, 2006; SANDRINI, 2006).
Capa Índice 6904
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6904 - 6918
Laboratorialmente, as principais alterações observadas no fígado de ruminantes
com fotossensibilização são as alterações nas enzimas hepáticas, ocasionadas por lesões
hepáticas, devido à presença de macrófagos espumosos e a ocorrência de danos celulares
pelos radicais livres, o que leva ao desenvolvimento de muitos mecanismos de defesa
antioxidante para limitar os níveis intracelulares e impedir a indução de danos (ARTEEL &
SIES, 2001).
O desequilíbrio entre moléculas oxidantes e antioxidantes tem sido denominado
estresse oxidativo. Durante o metabolismo celular a redução do oxigênio na fosforilação
oxidativa é parcial com consequente formação de espécies reativas de oxigênio (EROS), tais
como O2ˉ (superóxido de oxigênio) e H2O2 (peróxido de hidrogênio). Esses compostos têm a
capacidade de provocar danos irreversíveis à célula devido a sua capacidade de penetrar nas
células, causando dano nos tecidos e posteriormente gerando a morte celular por necrose ou
apoptose (BIANCHI & ANTUNES, 1999).
O estresse oxidativo é resultado do desequilíbrio existente entre a formação e a
transformação de EROS em produtos menos noviços (ARTEEL & SIES, 2001). As EROs
provocam severas mudanças a nível celular levando a morte celular devido a sua extrema
reatividade. As EROs atacam os constituintes celulares, como proteínas, lipídeos e ácidos
nucléicos levando a formação de compostos tóxicos (KAHARAMAN et al., 2003).
Os antioxidantes são substâncias que direta ou indiretamente protegem os
sistemas celulares dos efeitos tóxicos produzidos por radicais oxidativos (HALLIWELL,
1995). Existem diversos compostos com ação biológica e importante função antioxidante,
entre eles: vitamina C, glutationa, glutationa peroxidase (principal sistema antioxidante no
organismo), superoxido dismutase e catalase (HALLIWELL, 1999; EVANS et al., 1997;
McKENZIE et al., 1998; INEU, 2007).
A vitamina E é o mais importante antioxidante lipossolúvel. Está inserida nas
membranas lipídicas e as protege contra o ataque de radicais superóxido (COMBS &
COMBS, 1986). O selênio é um micronutriente essencial presente nos tecidos do corpo é
parte integrante da enzima glutationa peroxidase que atua no citosol celular convertendo
peróxido de hidrogênio em compostos atóxicos (COMBS & COMBS, 1986). A vitamina E
aumenta a retenção de selênio e previne a auto-oxidação de lipídeos no interior das
membranas celulares, evitando a formação de peróxidos, contudo, somente a glutationa
peroxidase pode destruir os peróxidos já formados (MURRAY et. al., 1998). O zinco é
componente integral de membranas biológicas e faz parte de um dos mecanismos que
Capa Índice 6905
controlam sua integridade, tem efeito estabilizador nas membranas lisossômicas (CHVAPIL,
1973).
Para avaliar a função hepática são indicados vários parâmetros que incluem: os
que medem o transporte (secreção, conjugação e excreção), tais como a bilirrubina e sais
biliares e os bioquímicos que avaliam a capacidade hepática de metabolização de nutrientes
(KRAMER & HOFFMAN, 1997). As enzimas são indicadoras de disfunção morfocelular,
destacando-se para bovinos a aspartato aminotranferase (AST), encontrada principalmente no
fígado, eritrócitos e músculos esquelético e cardíaco e a gama glutamiltransferase (GGT),
originária das membranas dos canalículos e ductos biliares (RADOSTITS et al., 2002).
A bilirrubina existente no plasma sob a forma indireta (hemobilirrubina) e direta,
que somadas representam a bilirrubina total, quando alteradas as concentrações, podem
indicar distúrbio funcional hepático ou processo hemolítico (ROSENBERGER, 1993). A
insuficiência hepática resulta ainda na falha da síntese de aminoácidos e proteínas,
principalmente albumina, podendo resultar em edema por decréscimo na pressão osmótica do
plasma, caso a queda dos níveis plasmáticos seja acentuada (RADOSTITS et al., 2002).
As células dos mamíferos e por consequência os macrófagos são normalmente
protegidos dos efeitos tóxicos do excesso de colesterol por múltiplos e complexos
mecanismos. Porém, durante o processo de aterosclerose, estes mecanismos homeostáticos
falham nos macrófagos e as respostas adaptativas não são suficientes para processar os
lipídeos carregados. O acúmulo de colesterol para a formação de macrófagos “carregados” de
colesterol, chamados macrófagos espumosos, envolve a síntese de novo colesterol, a entrada
acelerada e o efluxo reduzido de colesterol da célula (WINTHER et al., 1999).
Diante de todas essas considerações fica evidente a necessidade de estudos com o
objetivo de esclarecer a participação dos radicais livres no processo de estresse oxidativo no
fígado de bovinos aparentemente saudáveis alimentados por feno de Brachiaria sp., medindo-
se os parâmetros envolvidos nas alterações hepáticas (bilirrubina, albumina, AST e GGT) e o
colesterol.
OBJETIVOS
Com esse projeto espera-se determinar se antioxidantes de baixo custo, portanto
passíveis de serem usados como suplemento, são capazes de prevenir o surgimento ou
amenizar a gravidade de lesões hepáticas em bovinos alimentados com feno de Brachiaria sp,
diagnosticadas por meio da bioquímica clínica.
Capa Índice 6906
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido na Fazenda Tomé Pinto de propriedade da Escola de
Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, localizada no Município de São
Francisco de Goiás, Estado de Goiás, distante a 110 km da capital.
Durante o período de experimentação, os animais permaneceram alojados em
baias de confinamento e foram alimentados com volumoso (feno de braquiária) e concentrado
(ração). A dieta obedeceu à proporção entre volumoso e concentrado de 70:30, sendo que o
concentrado foi balanceado para atender as exigências nutricionais dos animais, de acordo
com o NRC (1996). O feno de B. brizantha foi produzido e armazenado em uma área da
Fazenda da Escola de Veterinária da UFG. O manejo, vacinação, tratamento com ecto e
endoparasiticidas foi similar para todos os grupos.
Foram utilizados 40 bovinos de peso aproximado de 360 kg e idade entre 24 a 36
meses, criados em pastos de Brachiaria sp. O delineamento experimental foi inteiramente
casualizado, com cinco tratamentos e oito repetições, em que cada repetição foi representada
por um animal. Os tratamentos foram representados pelos diferentes antioxidantes e pelo
grupo controle. Após um período de adaptação de 14 dias nas instalações e com a
alimentação, os animais foram divididos em cinco grupos, que receberam os tratamentos
seguintes:
QUADRO 1 - Tratamentos oferecidos individualmente para os bovinos dos diferentes grupos do experimento.
GRUPO TRATAMENTO Grupo 1 Controle (sem suplementação)
Grupo 2 Suplementação com 1000UI de vitamina E e 10mg de selênio (2g na forma de acetato de α-tocoferol à 50% e 10g na forma de selênio metionina)
Grupo 3 Suplementação de 600mg de zinco/animal/dia (6g na forma de zinco metionina)
Grupo 4 Suplementação com selênio 10mg de selênio/animal/dia (10g na forma de selênio metionina)
Grupo 5 Suplementação com 1000UI de vitamina E/animal/dia (2g na forma de acetato de α-tocoferol a 50%)
Os antioxidantes foram pesados em uma balança de precisão da marca
Shimadzu®, modelo AY 220, diariamente em copos descartáveis, nas quantidades de 10g de
selênio, 6g de zinco, 2g de vitamina E, de forma a propiciar que cada animal recebesse a
quantidade de antioxidante diariamente conforme o seu tratamento no cocho. Para melhorar o
consumo, o antioxidante era ofertado individualmente e os demais animais eram impedidos de
Capa Índice 6907
se alimentarem no mesmo momento, garantindo o consumo total de cada animal. Os animais
foram mantidos confinados em grupo, de acordo com o tratamento, em baias providas de
bebedouros, comedouros e áreas de sombra. Após o período de adaptação, os animais
permaneceram confinados por mais 105 dias para determinação do consumo voluntário dos
grupos e desempenho animal.
Os animais foram alimentados duas vezes ao dia, às 8:00 e às 15:00 horas. A
alimentação foi fornecida sob a forma de dieta total. As sobras de alimentos foram pesadas e
descartadas diariamente antes do fornecimento matinal, para se determinar o consumo de
alimento pelo grupo e evitar que as sobras não ultrapassassem mais de 10% do total
fornecido. A água foi fornecida à vontade. As colheitas se sangue foram realizadas a cada 28
dias conforme o Quadro 2.
QUADRO 2 - Momento das pesagens
Pesagem 1ª (M0) 2ª (M1) 3ª (M2) 4ª (M3) 5ª (M4)
Colheitas Colheita 1
Início 13/08/11
Colheita 2 28 dias
10/09/11
Colheita 3 56 dias
08/10/11
Colheita 4 84 dias
05/11/11
Colheita 5 105 dias 26/11/11
O sangue foi colhido por venopunção jugular em tubo sem anticoagulantes
previamente identificados, após as pesagens, para a realização das provas de função hepática e
proteinograma e lipidograma sérico. As amostras foram centrifugadas depois da retração do
coágulo. O soro foi separado em alíquotas e congelado à –20°C até o momento da realização
dos exames de proteína sérica, albumina, bilirrubina, colesterol. As amostras de soro
destinadas à determinação da bilirrubina foram acondicionadas protegidas da luminosidade
com papel alumínio. A determinação da atividade sérica da AST e GGT foi realizada antes do
congelamento das amostras.
As atividades enzimáticas foram determinadas na temperatura de 37ºC;
utilizando-se reagentes comerciais padronizados. A atividade sérica da AST foi determinada
pelo método ultravioleta (UV) otimizado, sem piridoxal fosfato. A atividade sérica da GGT
pelo método cinético utilizando-se como substrato glutamil-p-nitroanilida.
Os teores séricos de bilirrubina total e direta foram determinados pelo método
colorimétrico direto (Jendrassik-Grof), as proteínas séricas pelo método colorimétrico, por
reação com o biureto, e a albumina pelo método colorimétrico pela ligação como o corante
Capa Índice 6908
verde de bromocresol. O nível sérico do colesterol foi determinado pelo método enzimático
colorimétrico, em uma reação catalisada pela colesterol oxidase.
Até o presente momento as proteínas séricas foram avaliadas até a terceira
colheita devido a problemas técnicos na fonte e cuba de eletroforese, o que atrasou o
cronograma de análises, inviabilizando a execução da eletroforese das proteínas séricas das
amostras das últimas duas colheitas. Como a avaliação das bilirrubinas são realizadas
juntamente às avaliações de proteínas séricas a partir da mesma amostra de soro, estas
também foram realizadas somente até a terceira colheita.
Inicialmente, a análise dos dados foi realizada pela estatística descritiva (média,
desvio padrão e coeficiente de variação) dos parâmetros estudados. Posteriormente, foi
utilizado o teste de Kolomogorov-Smirnov para a verificação da normalidade, e o teste de
Bartlett para a verificação da homogenidade. Como todas as variáveis utilizadas seguiram a
distribuição normal e foram homogêneas, foi realizada a análise de variância (ANOVA), e
utilizado o teste de Tukey como pós-teste. Em todos os testes estatísticos o grau de
significância adotado foi de P=0.05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para diagnosticar a presença de alterações hepáticas nos animais, os testes
laboratoriais podem ser utilizados. Devido à multiplicidade de funções do fígado a exploração
hepática deve basear-se em vários exames. Entre eles, destacam-se testes que medem a função
excretória tais como a bilirrubina, testes que avaliam a integridade dos hepatócitos e das
células do ducto biliar como a atividade enzimática da gama glutamiltransferase (GGT) e
aspartato aminotransferase (AST). Ainda devem ser realizados os testes bioquímicos que
avaliam a capacidade hepática de metabolização de nutrientes como as dosagens de colesterol,
proteínas, albumina (KERR, 2003; AMORIM et al., 2003). Todos estes testes foram
utilizados no presente estudo. Os resultados estão explicitados nas tabelas 1, 2 e 3.
Os resultados obtidos para as enzimas AST e GGT (Tabela 1) estiveram dentro
dos valores de normalidade relatados por SANDRINI (2006), indicando que não houve dano
significativo à membrana dos hepatócitos (YASUDA et al., 1988). Os valores médios da
atividade sérica da AST e GGT não apresentaram diferença significativa (p>0,05) entre os
grupos.
Os valores médios das bilirrubinas (total, direta e indireta) não diferenciaram entre
os grupos (p>0,05) e estiveram muito próximos dos valores de normalidade relatados por
diversos autores para a raça Nelore no Brasil (LIMA & FIORAVANTI, 2010).
Capa Índice 6909
TABELA 1 - Valores médios (X), desvio padrão (s) e coeficiente de variação (CV) de AST, GGT e bilirrubinas total, direta, indireta de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp. E diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
GR
UPO
1 -
CO
NTR
OLE
COLHEITAS
AST (U/L) GGT (U/L) BILIRRUBINA DIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA INDIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL)
X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV 1° 61,5 8,7 14,2 20,1 3,8 19,1 0,05 0,02 32,59 0,17 0,03 18,26 0,22 0,04 19,99
2° 75,3 10,8 14,4 25,8 6,8 26,4 0,08 0,03 39,71 0,22 0,08 34,10 0,29 0,06 18,98
3° 72,0 18,7 26,0 19,9 5,8 29,2 0,10 0,05 51,48 0,13 0,07 50,92 0,23 0,05 23,64
4º 68,1 19,2 28,2 19,8 3,4 17,2 - - - - - - - - - 5° 78,5 20,9 26,6 20,7 3,2 15,3 - - - - - - - - -
GR
UPO
2 –
SEL
ÊNIO
E
VIT
AM
INA
E
COLHEITAS
AST (U/L) GGT (U/L) BILIRRUBINA DIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA INDIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL)
X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV 1° 66,8 14,7 22,1 19,6 4,7 23,8 0,04 0,02 56,49 0,12 0,07 59,12 0,16 0,05 31,67
2° 82,5 12,8 15,5 23,6 8,2 34,8 0,07 0,02 27,87 0,20 0,03 16,53 0,28 0,05 17,39
3° 71,8 17,6 24,5 21,0 3,4 16,2 0,08 0,03 40,84 0,18 0,04 20,14 0,22 0,04 20,52 4º 63,5 6,5 10,3 21,5 3,9 18,0 - - - - - - - - - 5° 84,4 11,2 13,2 21,2 3,8 18,2 - - - - - - - - -
GR
UPO
3 - Z
INC
O
COLHEITAS
AST (U/L) GGT (U/L) BILIRRUBINA DIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA INDIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL)
X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV 1° 74,0 20,5 27,7 18,6 4,0 21,3 0,05 0,02 39,59 0,15 0,06 43,35 0,20 0,07 33,52 2° 82,5 9,2 11,1 22,8 4,5 19,7 0,09 0,05 55,75 0,23 0,08 33,85 0,31 0,06 18,22 3° 72,0 19,3 26,9 20,2 3,6 18,0 0,10 0,05 53,57 0,18 0,06 31,77 0,27 0,10 37,73 4º 68,7 11,7 17,0 21,8 4,6 21,3 - - - - - - - - - 5° 83,1 10,8 12,9 22,5 5,6 24,8 - - - - - - - - -
GR
UPO
4 -
SELÊ
NIO
COLHEITAS
AST (U/L) GGT (U/L) BILIRRUBINA DIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA INDIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL)
X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV 1° 59,1 10,1 17,2 20,7 6,1 29,6 0,06 0,02 38,76 0,14 0,06 44,20 0,21 0,07 31,20 2° 67,6 11,4 16,9 22,3 5,1 22,9 0,06 0,02 37,47 0,17 0,05 30,48 0,22 0,05 22,12 3° 65,4 8,8 13,5 20,9 2,6 12,6 0,06 0,03 44,01 0,18 0,08 43,61 0,23 0,06 27,37 4º 64,3 17,5 27,3 21,8 2,0 9,1 - - - - - - - - - 5° 74,5 20,3 27,2 22,6 2,3 10,3 - - - - - - - - -
GR
UPO
5 -
VIT
AM
INA
E
COLHEITAS
AST (U/L) GGT (U/L) BILIRRUBINA DIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA INDIRETA (mg/dL)
BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL)
X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV X ±s CV 1° 71,4 11,9 16,6 20,6 3,9 18,9 0,05 0,02 50,29 0,15 0,05 31,95 0,19 0,06 31,81 2° 83,0 21,7 26,2 24,2 4,1 17,1 0,07 0,04 54,67 0,19 0,05 25,11 0,25 0,06 23,81 3° 73,3 18,2 24,8 21,5 3,8 17,8 0,08 0,04 45,79 0,17 0,04 22,03 0,25 0,03 10,74 4º 61,8 7,6 12,3 23,2 3,6 15,7 - - - - - - - - - 5° 85,6 16,0 18,7 21,5 3,8 17,8 - - - - - - - - -
Para todas as variáveis, em todas as colheitas, não houve diferença estatística (P>0,05)
Mesmo não havendo diferença estatística e os valores estando na normalidade,
notou-se um discreto aumento da bilirrubina total e direta e da atividade sérica da AST
(Figura 1). Esse aumento observado pode ser explicado por algum dano hepático, conforme
descrito por FIORAVANTI, 1999. Para a confirmação dessa hipótese será necessária a
avaliação histopatológica do fígado.
Capa Índice 6910
FIGURA 1 - Comportamento da AST, GGT e bilirrubina nos diferentes grupos experimentais, ao longo das colheitas
Os valores médios de proteínas totais não mostraram diferença significativa
(p>0,05) entre os grupos (Tabela 2). Estes resultados estão próximos aos obtidos por
FLAGLIARI et. al. (1998), FIORAVANTI (1999) e SANDRINI (2006). Não houve diferença
significativa (p>0,05) entre os valores médios de albumina e estes foram próximos aos
demonstrados por FIORAVANTI (1999) e SANDRINI (2006).
Os resultados obtidos para o colesterol estão demonstrados na tabela 3. Os
animais dos grupos 2 e grupo 5 apresentaram maiores valores médios de colesterol (p<0,001)
que os animais do grupo controle (68,58 mg/dL) na segunda colheita, como pode ser
observado na figura 2. Para os seres humanos existem evidencias de que a elevação da
vitamina pode determinar elevação do colesterol e do selênio (PAN et al., 2004 e
STRANGES et al., 2009), mas esta relação não é descrita para bovinos.
Capa Índice 6911
TABELA 2 - Valores médios (X), desvio padrão (s) e coeficiente de variação (CV) de proteínas totais e albumina de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp. E diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
COLHEITAS 1ª COLHEITA 2ª COLHEITA 3ª COLHEITA
PROTEÍNAS
TOTAIS (g/dL)
ALBUMINA (g/dL)
PROTEÍNAS TOTAIS
(g/dL)
ALBUMINA (g/dL)
PROTEÍNAS TOTAIS
(g/dL)
ALBUMINA (g/dL)
Gru
po1 Média 6,62 2,42 7,78 2,87 7,68 2,93
S 0,66 0,27 0,91 0,25 0,44 0,26 CV 9,97 11,26 11,72 8,82 5,71 9,03
Gru
po 2
Média 7,19 2,63 7,75 2,63 8,00 2,86 S 0,49 0,20 0,93 0,24 1,37 0,41
CV 6,76 7,61 12,00 9,03 17,17 14,50
Gru
po 3
Média 6,95 2,58 7,63 2,77 1,61 3,11 S 0,37 0,29 1,63 0,57 1,37 0,58
CV 5,30 11,19 21,42 20,73 19,89 18,74
Gru
po 4
Média 7,13 2,55 7,69 2,81 7,71 2,91 S 0,84 0,32 0,63 0,19 0,57 0,20
CV 11,82 12,65 8,17 6,77 7,37 6,80
Gru
po 5
Média 7,36 2,68 7,25 2,72 8,62 3,30 S 0,55 0,17 1,00 0,33 0,94 0,38
CV 7,51 6,22 13,75 12,09 10,95 11,47 P 0,16 0,39 0,85 0,69 0,43 0,16
TABELA 3 - Valores médios (X), desvio padrão (S) e coeficiente de variação (CV) de colesterol de bovinos da raça Nelore alimentados com feno de Brachiaria sp. E diferentes antioxidantes, Goiânia, 2012
COLHEITAS 1ª COLHEITA 2ª COLHEITA 3ª COLHEITA 4ª COLHEITA 5ª COLHEITA
Gru
po1 Média 85,42 68,58 90,62 70,54 77,94
S 12,56 10,37 15,41 9,78 15,20 CV 14,70 15,13 17,01 13,87 19,51
Gru
po 2
Média 74,99 92,72 80,44 73,38 71,25 S 15,41 17,18 12,56 7,89 19,02
CV 20,55 18,52 15,62 10,76 26,69
Gru
po 3
Média 84,59 75,44 97,64 70,76 73,36 S 15,43 4,75 9,94 12,62 14,31
CV 18,23 6,30 10,18 17,84 19,50
Gru
po 4
Média 95,33 81,90 85,01 70,87 79,85 S 16,81 17,26 27,77 4,08 10,71
CV 17,63 21,07 32,67 5,75 13,41
Gru
po 5
Média 69,01 90,71 65,48 75,66 77,80 S 15,78 15,78 15,78 15,78 15,78
CV 22,87 12,14 31,93 16,30 18,23
P 0,015 0,003 0,017 0,799 0,763
Capa Índice 6912
FIGURA 2 - Comportamento do colesterol nos diferentes grupos experimentais, ao longo das colheitas
Os valores de colesterol dos grupos 2, 3, 4 e 5 foram semelhantes aos encontrados
nos estudos de FIORAVANTI (1999) e SANDRINI (2006). Já os do grupo controle
encontram-se abaixo dos valores médios citados anteriormente, mas condizem com os
encontrados por AMORIM et al. (2007). Sugerindo que fatores ambientais podem interferir
neste parâmetro.
A concentração de colesterol nos herbívoros é normalmente muito baixa e um
aumento não tem associação específica com qualquer quadro. Elevações no colesterol sérico
são observadas na obstrução biliar extrahepática (SANTOS et al., 2008). Fatores dietéticos
também interferem com o colesterol sanguíneo. Sua diminuição indica deficiência de energia
(fibra) e seu aumento indica excesso de gordura na dieta (WITTWER, 2000).
Como o principal local de síntese de colesterol é o fígado, seguido do intestino,
quando o valor calórico dos alimentos ingeridos em um determinado tempo supera o total da
energia consumida no mesmo período, os alimentos excedentes são convertidos em gorduras
corporais. Essa conversão acontece mais facilmente quando se ingere gorduras do que quando
são fornecidos proteínas ou carboidratos (VILELA, 2006). Como os glicolípidios são uma
segunda classe de lipídeos, encontrados principalmente em forragens (gramíneas e
leguminosas) e o metabolismo dos mesmos serve para explicar os valores de colesterol
maiores no grupo dos animais alimentados com feno que ingeriram juntamente a vitamina E
(WARTTIAUX & GRUMMER, 2006).
Capa Índice 6913
É importante salientar que os dados bioquímicos devem ser analisados em
conjunto, pois, isoladamente, resultados alterados podem ser encontrados em processos
patológicos de outros sistemas não relacionados com doença hepática (MENDES &
TORRES, 1995).
CONCLUSÃO
A administração de antioxidantes não altera os parametros laboratoriais de avalição de
função e integridade hepática mensurados por bioquímica clínica.
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Capa Índice 6918
Introducao aos Modelos de Regressao Linear Multipla
com Erros nas Variaveis
Karen Cristina Alves Pessoa
Orientanda - PIVIC
email: [email protected]
Tatiane Ferreira do Nascimento Melo da Silva
Orientadora
email: [email protected]
Instituto de Matematica e Estatıstica, Universidade Federal de Goias
Campus Samambaia, CP 131, Goiania/GO, 74001-970, Brazil
Resumo:
Covariaveis em um modelo de regressao, em muitas situacoes praticas, nao sao observadas
diretamente e sim com erros de medida. Modelos envolvendo este tipo de variaveis ex-
plicativas sao denominados modelos com erros nas variaveis, tambem conhecidos como
modelos com erros de medicao. Neste trabalho estudamos a parte estrutural e inferencial
dos modelos de regressao linear multipla com erros nas variaveis. Assumimos que os erros
tem distribuicao marginal normal e sao supostamente independentes. Uma aplicacao a
dados reais foi analisada para estes modelos, com o objetivo de compara-los com modelos
sem erros nas variaveis.
Palavras-chave: Erros de mensuracao; Inferencia; Modelo estrutural; Regressao multipla.
Capa Índice 6919
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6919 - 6927
1 Introducao
Aoki et al. (2001) realizaram um estudo em que o interesse e comparar a eficacia de
dois tipos de escovas de dentes na remocao de placa bacteriana; a covariavel e o ındice de
placa antes da escovacao e a variavel resposta e o ındice de placa apos a escovacao. Neste
caso, e razoavel supor que a covariavel nao e observada diretamente, ou seja, esta sujeita
a erros de medicao, pois a quantidade de placa bacteriana e avaliada imprecisamente e e
determinada de forma semelhante antes e apos a escovacao. Neste exemplo, o modelo com
erros nas variaveis, pode ser usado. Tal modelo e uma generalizacao do modelo classico de
regressao. Quando se assume que as covariaveis nao-observadas seguem uma distribuicao
de probabilidades temos o modelo estrutural e quando sao tratadas como parametros
desconhecidos temos o modelo funcional. O modelo estrutural apresenta problema de
identificabilidade enquanto o funcional conduz a uma funcao de verossimilhanca ilimitada.
Para resolver tais problemas supoe-se que algumas variancias sao conhecidas; veja, por
exemplo, Chan e Mak (1979). O modelo de regressao linear multipla com erros nas
variaveis e uma extensao do modelo de regressao linear simples com erros nas variaveis.
Detalhes sobre este modelo podem ser encontrados em Fuller (1987, § 2.1) e Cheng e Van
Ness (1999, § 5.1). Aqui, estudamos somente os modelos estruturais.
O principal objetivo deste trabalho foi um estudo, de forma introdutoria, aos modelos
de regressao linear multipla com erros nas variaveis (MRLMEV) e a parte inferencial do
mesmo, permitindo tirar conclusoes acerca de dados presentes em problemas praticos.
Realizamos uma aplicacao a dados agropecuarios, devido a quantidade de erros prove-
nientes dos processos nesta area.
Na regiao Centro-Oeste do Brasil, mais especificamente no estado de Goias, a “pro-
ducao de carne”e uma atividade comercial de grande representatividade e impacto na
economia. Em geral, o sistema adotado e o de confinamento, que por sua vez e descrito
atraves da criacao extensiva de bovinos, podendo envolver varias racas, com a finalidade
de abastecer o mercado de consumo. Neste trabalho estamos interessados em descrever
o ganho medio de peso real do animal, variavel dependente (Y ), atraves das variaveis
(x1 e x2) que representam a media diaria de ingestao de materia seca por animal (de-
notada por IMS) e custo medio de alimentacao diaria por animal (denotada por CMA),
respectivamente. Devido ao processo de reposicao de alimentos dentro dos lotes de um
Capa Índice 6920
confinamento, nao e possıvel observarmos x1 diretamente. Isso se deve ao fato de que as
balancas posicionadas no caminhao de abastecimento podem sofrer erros de medida no
decorrer do abastecimento. Um indıcio dessa afirmacao pode ser visto quando somamos
a quantidade (em kilogramas) de racao fornecida dentro de uma linha do confinamento,
pois desta forma nao obtemos a mesma quantidade fornecida atraves da diferenca do
peso do caminhao entre o inıcio e o final desta linha. Podemos observar ainda, que a
variavel x2 nao e fixa, devido a lei de mercado no qual o insumo pode variar de preco
dia a dia. Vale salientar que os valores obtidos para esta variavel sao gerados de acordo
com a compra de insumo e dados orcamentarios realizados no inıcio do confinamento.
Sabemos que a IMS e uma variavel expressiva para o ganho de peso do animal. Alem
disso, o CMA e uma variavel de interesse para se estimar o ganho real de peso do animal,
pois esta reflete diretamente o lucro final dentro do processo de confinamento. Por esse
motivo, neste trabalho, iremos propor um modelo no qual a ingestao de materia seca e
custo medio de alimentacao por animal expliquem o ganho de peso real. Baseado no
exposto acima iremos analisar os dados atraves do modelo linear multiplo com erros nas
variaveis, fazendo tambem uma breve comparacao com o modelo linear multiplo (sem erro
de medida). Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos junto ao Diretor Tecnico
Comercial da Gestao Agropecuaria, Paulo Marcelo Amorim Dias.
O trabalho esta organizado da seguinte forma. Na Secao 2, apresentamos a estrutura
do modelo de regressao linear multipla com erros nas variaveis. A inferencia e descrita,
de forma resumida, na Secao 3. Uma aplicacao a dados reais e apresentada na Secao 4.
Finalmente, na Secao 5 apresentamos as conclusoes.
2 O Modelo
Considere o modelo de regressao simples com erros nas variaveis (estrutural):
Yt = β0 + β1xt + et
Xt = xt + ut,(1)
com t = 1, 2, . . . , n. Admitimos as seguintes suposicoes sobre o modelo:
Capa Índice 6921
xt
et
ut
∼ NI
µx
0
0
,
σxx 0 0
0 σee 0
0 0 σuu
.
Neste caso, a quantidade xt nao e observada diretamente, mas com erros de medida.
Considerando as suposicoes acima, temos que o vetor Z∗t = (Yt, Xt)
� tem distribuicao
normal bivariada com media e variancia dados, respectivamente, por:
E(Z∗t ) =
µY
µX
=
β0 + β1µx
µx
,
V ar(Z∗t ) =
σY Y σY X
σXY σXX
=
β2
1σxx + σee β1σxx
β1σxx σxx + σuu
.
Temos que o modelo (1) nao e identificavel, pois o vetor de parametros da dis-
tribuicao de Z∗t = (Yt, Xt)
� e o vetor θ� = (β0, β1, µx, σxx, σuu, σee) nao e um-a-um;
veja, Fuller(1987, p.10).
Como dito anteriormente, o modelo de regressao linear multipla com erros nas variaveis
e uma extensao do modelo (1) e pode ser escrito da forma:
Yt = β0 + β�xt + et
X t = xt + ut,(2)
com t = 1, 2, . . . , n, em que β� = (β1, β2, . . . , βk) e xt = (xt1, xt2, . . . , xtk)�. Neste caso,
a quantidade xt nao e observada diretamente, mas com erros de medida. Fazemos as
seguintes suposicoes sobre o modelo: et ∼ N(0, σee), ut ∼ Nk(0, Σuu), xt ∼ Nk(µx, Σxx),
Cov(et, ut) = Σeu, Cov(xt, et) = 0 e Cov(xt, ut) = 0. Para tornar o modelo identificavel
consideramos Σuu e Σue conhecidas. Temos que Zt =(Yt, X
�t
)� ∼ Nk+1(µ, Σ) com
µ =
β0 + β�µx
µx
e Σ =
β�Σxxβ + σee β�Σxx
Σxxβ Σxx + Σuu
. (3)
O vetor de parametros do modelo e dado por θ =(β0, β
�, µ�x , σee, vech(Σxx)
)�, de
dimensao, ((k + 1)(2 + k/2)) × 1. O modelo estrutural pode ser definido em termos da
Capa Índice 6922
funcao densidade de Z = (Z�1 , Z�
2 , . . . ,Z�n )� dada por
pZ(z, θ) = (2π)−(k+1)n
2 |Σ|−n/2
n∏t=1
exp
[−1
2(zt − µ)� Σ−1 (zt − µ)
].
O logaritmo da funcao de verossimilhanca e dado por
�(θ) = −(k + 1)n
2log(2π) − n
2log |Σ| − 1
2
n∑t=1
(zt − µ)� Σ−1 (zt − µ) .
3 Inferencia no MRLMEV
Os parametros no modelo de regressao linear multipla com erro nas variaveis podem
ser estimados atraves do metodo dos momentos, mınimos quadrados e maxima verossimi-
lhanca.
Os estimadores de maxima verossimilhanca irrestritos de θ sao dados por, veja Fuller(1987,
pg. 105):
β0 = Y − Xβ,
β = (mXX − Σuu)−1 (mXY − Σue) ,
µ�x = X,
σee = mY Y − 2mXY β + β�mXXβ + 2Σueβ − β
�Σuuβ,
Σxx = mXX − Σuu,
com Y =∑n
t=1 Yt/n, X = (∑n
t=1 X1t/n,∑n
t=1 X2t/n, . . . ,∑n
t=1 Xkt/n)�, mXX =
∑nt=1(X t−
X)�(X t − X), mXY =∑n
t=1(X t − X)(Yt − Y ) e mY Y =∑n
t=1(Yt − Y )2, em que
X t = (X1t, X2t, . . . , Xkt)�.
Um teste que pode ser realizado aqui e o teste da razao de verossimilhancas sob, por
exemplo, um subvetor de β. Considere as hipoteses H0 : (β1, β2, . . . , βr)� = 0 contra
H1 : (β1, β2, . . . , βr)� �= 0, com r ≤ k. A estatıstica da razao de verossimilhancas, para
testar H0 e
LR = 2{
�(θ) − �(θ)}
,
com θ sendo o estimador de maxima verossimilhanca irrestrito de θ e θ o estimador de
maxima verossimilhanca sob a hipotese nula. A estatıstica da razao de verossimilhancas
LR, sob H0, tem distribuicao X 2r .
Capa Índice 6923
4 Aplicacao
Nesta secao apresentamos uma aplicacao a dados reais ajustando um modelo de
regressao linear multipla com erros nas variaveis e um modelo sem erros nas variaveis.
Esta aplicacao foi conduzida usando o software R (R. Development Core Team). O modelo
considerado e dado em (2), com Σuu = I2×2 e Σue = 02×1.
O conjunto de dados usado aqui foi descrito anteriormente na Secao 1. Nosso objetivo
e estudar a relacao entre o ganho medio de peso de bovinos durante um perıodo de
confinamento (Y ), a ingestao media diaria de materia seca por animal (X1) e o custo
medio de alimentacao diaria por animal (X2). O confinamento de bovinos tem tamanho
amostral igual a 134.
Uma medida que representa a correlacao linear entre duas variaveis pode ser expressa
atraves do coeficiente de correlacao de Pearson. Para as variaveis analisadas neste estudo,
encontramos um p-valor de 0.0002751 quando realizado o teste de hipotese de Pearson
para correlacao entre Y e X1 e p-valor de 0.001769 para o teste de correlacao entre Y e
X2. Uma das suposicoes previstas no modelo e a normalidade das variaveis supracitadas,
assim realizamos o teste Shapiro-Wilk para averiguar tal hipotese. O teste sugere, ao
nıvel de 5%, que a hipotese de normalidade das variaveis e satisfeita. A mesma conclusao
chegamos quando observamos o grafico qqplot (Figura 1), que tambem evidencia que nao
ha violacao da suposicao de normalidade.
Realizamos o teste H0 : (β1, β2)� = 0 contra H1 : (β1, β2)
� �= 0 e tanto para o modelo
com erros quanto para o modelo sem erros rejeitamos a hipotese nula ao nıvel de 5%.
Com o objetivo de apresentar criterios para selecao de modelos, usaremos dois metodos
de selecao expressivos na literatura, os criterios AIC e BIC. Estes criterios serao utilizados
com o intuito de fornecer uma medida de escolha do modelo que melhor se ajusta aos
dados, veja por exemplo, Sakamoto et al. (1986).
Na Tabela 1, temos as estimativas dos parametros nos modelos com erros e sem erros.
Alem disso, podemos observar, nesta tabela, que tanto o AIC quanto o BIC trazem indıcios
estatısticos de que o modelo com erros nas variaveis se ajusta melhor aos dados analisados
neste trabalho.
Capa Índice 6924
−2 −1 0 1 2
68
12
Ingestão de Matéria Seca
Theoretical Quantiles
Sam
ple
Qua
ntile
s
−2 −1 0 1 2
34
56
Custo Médio de Alimentação
Theoretical Quantiles
Sam
ple
Qua
ntile
s
−2 −1 0 1 2
5015
0
Ganho Médio de Peso Real
Theoretical Quantiles
Sam
ple
Qua
ntile
s
Figura 1: Normal Q-Q Plot
Capa Índice 6925
Modelos β0 β1 β2 AIC BIC
Sem erro de medida 242.232 -34.110 59.760 1309.812 1321.403
Com erro de medida 272.686 -11.399 -5.851 1174.134 1200.215
5 Conclusoes
Neste trabalho, estudamos a parte estrutural e inferencial do modelo de regressao
linear multipla com erros nas variaveis. Para isso, fizemos um levantamento bibliografico
sobre o tema e aplicamos a teoria a um conjunto de dados reais.
Na aplicacao realizada neste trabalho tınhamos interesse em explicar o ganho medio de
peso durante um perıodo de confinamento (variavel resposta) atraves da ingestao media
diaria de materia seca e o custo medio de alimentacao diaria por animal (variaveis re-
gressoras) de bovinos de um confinamento agropecuario no estado de Goias. No processo
de reposicao de alimentos dentro dos lotes de um confinamento, nao e possıvel observar-
mos a ingestao media diaria de materia seca por animal diretamente, ja que as balancas
posicionadas nos caminhoes de abastecimento podem sofrer erros de medida no decorrer
do processo. Alem disso, o custo medio de alimentacao diaria por animal pode sofrer
variacoes devido a lei de mercado. Baseando-se nestes fatos, investigamos como se com-
porta um modelo de regressao linear multipla com erros nas variaveis, e o comparando
com um modelo sem erros de medida observamos que o primeiro tem desempenho melhor.
Vale salientar que a aplicacao realizada neste trabalho foi apresentada (poster) no XX
Simposio Nacional de Probabilidade e Estatıstica (SINAPE) realizado de 29 de julho a
03 de agosto de 2012 em Joao Pessoa - PB.
Agradecimentos
Nos agradecemos ao Programa Institucional de Iniciacao Cientıfica da Universidade
Federal de Goias (PIIC-PRPPG/UFG). Agradecemos ainda o professor David Henriques
da Matta pela contribuicao na aplicacao do modelo e ao diretor tecnico comercial da
Gestao Agropecuaria, Paulo Marcelo Amorim Dias, pelos dados usados na aplicacao.
Capa Índice 6926
Revisado pela orientadora
Referencias
[1] Aoki, R., Bolfarine, H. and Singer, J.M., Null intercept measurement error regression
models, Test, 10, 441-457 (2001).
[2] Chan, L.K. e Mak, T.K., On the maximum likelihood estimation of a linear structural
relashionship when the intercept is known, Journal of Multivariate Analysis, 9, 304-
313 (1979).
[3] Cheng, C.L. e Van Ness, J.W., Statistical Regression with Measurement Error. Oxford
University Press (1999).
[4] Fuller, S., Measurement Error Models. Wiley, New York (1987).
[5] R. Development Core Team. R Foundation for Statistical Computing. R: A language
and environment for statistical computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0,
URL. Disponıvel em :http://www.R-project.org.
[6] Sakamoto, Y., Ishiguro, M., e Kitagawa G., Akaike Information Criterion Statistics.
D. Reidel Publishing Company (1986).
Capa Índice 6927
Orientanda: Kassila Conceição Ferreira Santos Orientadora: Sandra Aparecida Benite Ribeiro 1Universidade Federal de Goiás - Campus Jataí - BR 364, Km 192, No 3800, Setor Industrial CP 03 - CEP. 75801-615, Jataí GO 2 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP - Departamento de Farmacologia - Av. Bandeirantes, 3.900, Monte Alegre - Ribeirão Preto – SP, CEP: 14.049-900
Revisado pelo Orientador
Efeito da Atividade Física e da Dieta Alimentar em Hipertensos
Acompanhados por uma Equipe de Saúde nos Anos de 2006 à 2010.
Kassila Conceição Ferreira Santos1, Nathanne dos Santos Ferreira2, Claudio Andre Barbosa
de Lira1, Sandra Aparecida Benite-Ribeiro1
Email: [email protected]; [email protected] [email protected]
Palavras-chave: hipertensão arterial, atividade física, dieta alimentar, massa corporal
1 INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença crônica, considerada um grave
problema de saúde pública em todos os estratos socioeconômicos (1, 2) É um importante fator
de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e doenças
renais crônicas, que podem levar a morte (3, 4, 5). Em 2000 estimou-se que havia 972
milhões (26,4%) de pessoas com HAS no mundo e espera-se que em 2025 esse quadro atinja
uma cifra de 1,56 bilhões de pessoas. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (6) a
proporção passou de 21,6% em 2006 para 23,3% em 2010.
O diagnóstico de HAS é feito quando a média de duas ou mais aferições, em pelo
menos duas consultas subsequentes, é maior ou igual a 140/90 mmHg, ou seja, pressão
sistólica ≥ a 140 mmHg e diastólica ≥ a 90 mmHg, em indivíduos que não estão fazendo uso
de medicação anti-hipertensiva (7). A HAS pode ser classificada como primária (ou essencial)
e secundária. Vários fatores são apontados como causa da hipertensão primária, dentre eles, a
obesidade, a resistência à insulina, o sedentarismo (8), o alcoolismo e o envelhecimento (9). A
hipertensão arterial primária é responsável por 95% dos casos, enquanto a secundária
corresponde aos outros 5% (10).
Alterações simples no estilo de vida são fatores que contribuem para a prevenção e
controle da HAS primária e, de acordo com a literatura, a prática de exercício físico e de dieta
Capa Índice 6928
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6928 - 6938
alimentar têm sido de grande auxílio no controle da massa corporal, na prevenção e no
controle da HAS e das complicações secundárias (11, 12, 13).
Haja vista que a HAS representa um grave problema à saúde pública, que pode estar
relacionada aos hábitos de vida dos cidadãos, e que seu tratamento e controle são
dispendiosos, o Ministério da Saúde desenvolveu o Caderno de Atenção Básica nº 15 (14) que
preconiza a abordagem multiprofissional no tratamento da hipertensão arterial, de forma a
desenvolver ações destinadas à prevenção de riscos às doenças cardiovasculares, prevenção
primária e atendimento às pessoas com HAS (15). Em Jataí – GO, o programa de apoio ao
hipertenso recebe o nome de Programa de Educação e Controle da Hipertensão e é
desenvolvido na Unidade James Phillip Minelli da Secretaria Municipal de Saúde, desde o
ano de 1998. Neste programa os pacientes recebem, além de prescrição medicamentosa para o
controle da pressão arterial, orientação nutricional, atendimento psicológico e instruções para
a prática de exercícios físicos. Apesar disso, os resultados do programa não têm sido
analisados sistematicamente para o planejamento de estratégias que possam fomentar suas
ações.
Além do exposto anteriormente, a adesão do paciente à terapia é essencial para o
controle da HAS. A adesão pode ser definida pela extensão na qual o paciente coloca em
prática as recomendações da equipe multiprofissional. Tem sido descrito que grande
porcentagem de pacientes com hipertensão tem consciência da doença e encontra-se
cadastrado em programas para tratamento, mas pequena fração obtém sucesso no controle da
HAS. O principal fator apontado para a falta de controle é o fato do indivíduo não praticar as
recomendações da equipe de saúde para alterações no estilo de vida para redução da massa
corporal e não seguir o tratamento medicamentoso prescrito pelo médico, ou seja, a não
adesão à terapia (16).
Assim, no presente estudo foi avaliada a adesão dos pacientes ao tratamento não
medicamentoso, tais como a prática regular de atividade física e de dieta alimentar, no
controle da HAS e da massa corporal.
2 METODOLOGIA
O presente estudo consistiu na compilação dos dados dos prontuários dos pacientes do
programa de Educação e Controle da Hipertensão. Foi realizado com a autorização do Comitê
Capa Índice 6929
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (protocolo Nº 062/2009) e do
Secretário de Saúde do Município.
O desenho experimental foi longitudinal, caracterizado por uma amostra não aleatória
de pacientes com hipertensão assistida por uma equipe multiprofissional do Programa de
Educação e Controle da Hipertensão do Município de Jataí – GO. Foram coletados os dados
de pacientes que ingressaram no programa entre os anos de 2006 a 2008. A investigação da
evolução do quadro clínico foi feita a partir da análise de 3 consultas por ano, com intervalo
mínimo de 2 meses entre elas, totalizando 12 consultas. Nestas análises, somente 33 entre 74
pacientes que ingressaram no programa até 2008 atenderam aos critérios de inclusão no
estudo que foram: adesão ao programa determinada pelos profissionais da saúde e anotada
nos registros dos prontuários, idade mínima de 30 anos, diagnóstico de HAS de difícil
controle e ausência de complicações secundárias à HAS. De acordo com as normas do
programa, as frequências dos pacientes às consultas definem sua adesão, entretanto, isso não
significa que o paciente pratique as recomendações prescritas pelos agentes de saúde.
A pressão arterial (PA) foi aferida no braço esquerdo com o paciente confortavelmente
sentado, por meio de um esfignomanômetro mecânico (Missouri) e um estetoscópio (Wuxi
Kaishun Medical Apparatus and Instrument Factory). Segundo a VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial (9) a PA foi considerada como compensada ou controlada quando os
valores pressóricos dos pacientes foram <140mmHg para a pressão arterial sistólica (PAS) e
<90mmHg para a pressão arterial diastólica (PAD) e considerada como descompensada
quando os pacientes apresentavam valores ≥ 140 mmHg para a PAS ou ≥ 90 mmHg para a
PAD.
Os índices de massa corporal (IMC) individuais foram calculados pela equação
IMC=peso/altura2. Em concordância com a Associação Brasileira para o estudo da Obesidade
e da Síndrome Metabólica (17). A classificação do IMC foi de eutrofia se IMC < 25 kg/m²,
pré obesidade se IMC entre 25 e 29,9 kg/m² e obesidade para IMC ≥ 30 kg/m². Foram
considerados com excesso de peso os indivíduos com IMC ≥ 25 kg/m². Para os indivíduos
maiores de sessenta anos, o sobrepeso foi definido a partir do IMC igual ou superior a 27
Kg/m2 (18).
Para avaliação da prática de atividade física regular, os profissionais da equipe
multiprofissional de saúde consideravam ativos aqueles que relatavam praticar caminhadas
(ou outro tipo de atividade semelhante), pelo menos três vezes por semana, com duração
Capa Índice 6930
mínima de 30 minutos, e inativos ou sedentários os que não atingiam esse valor ou relatavam
não praticar nenhum tipo de atividade física regular.
A dieta foi avaliada a partir do recordatório alimentar e foi considerada regular ou
irregular de acordo com os critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde que
estão descritos no Guia do Ministério da Saúde (19) de fracionamento das refeições, reduzido
uso de açúcar simples e adição de sal em alimentos já servidos, baixa ingestão de frituras e de
alimentos gordurosos, de refrigerantes, ingestão diária e semanal de frutas e vegetais, uso de
fibras (pães e cereais integrais) e quantidade diária de ingestão de água. Caso o paciente
seguisse 50% ou mais das recomendações, a dieta era considerada pelo agente de saúde como
dieta alimentar regular, mas se o paciente seguisse menos de 50% do recomendado, a dieta era
considerada como irregular. A redução do uso de sal de cozinha foi classificado como dieta
com restrição de sódio e a não redução como dieta com alto teor de sódio.
A análise estatística dos dados foi realizada com o programa GraphPad Prism version
5.00 for Windows, GraphPad Software, San Diego, California. A amostra não apresentou
normalidade de distribuição (teste de Shapiro-Willk), assim foram usados testes não
paramétricos. Para a caracterização da população estudada foi utilizado o teste de Mann
Whitney, enquanto para as análises longitudinais foi utilizado o teste de Friedman para
amostras repetidas complementado por Dunns. O nível de significância estabelecido no
estudo foi de 5%.
3 RESULTADOS
A redução do número de pacientes frequentes às consultas associada à redução dos
registros comprometeu as análises, tanto da prevalência dos fatores de risco associados à HAS
quanto da evolução do quadro clínico dos pacientes. Na figura 1 pode-se observar que o
número de pacientes presentes às consultas diminuiu de maneira drástica com o decorrer do
tempo, sendo que na décima segunda consulta havia somente sete pacientes, ou seja, 90,5%
dos pacientes iniciais não aderiram ao programa. Pode-se observar também que os registros
sobre dieta alimentar dos prontuários são insuficientes para as análises estatísticas a partir da
terceira consulta, contando somente com 5 registros na sétima consulta (17,2% do total de
pacientes). Apesar de não demonstrados na Figura 1, os registros referentes ao tabagismo e ao
alcoolismo seguem o mesmo padrão dos registros de atividade física, estando bem
Capa Índice 6931
documentados. Por causa do exposto anteriormente, as análises de dieta alimentar foram feitas
somente para a primeira consulta e as demais análises apresentadas são somente até a sexta
consulta.
Na figura 2 pode-se observar que a porcentagem de indivíduos sedentários e com
excesso de massa corporal foi elevada na amostra, enquanto que as porcentagens de tabagistas
e de indivíduos que faziam uso de álcool foram relativamente baixas. Além disso, observa-se
que com o decorrer do tratamento não há redução do percentual dos fatores de risco
associados à HAS. Pela análise da prática de dieta alimentar na primeira consulta, foi
detectada prevalência de indivíduos que relataram usar pouco sal de cozinha no alimento
(N=55 - 79,7% - Dieta hipersódica: N=14 – 20,3%) e não praticantes de dieta hipocalórica
(N= 47 - 71,2% - Dieta hipocalórica: N= 19 - 28,8%).
Figura 1 – Número de pacientes e de registros dos fatores de risco associados à hipertensão arterial nos
prontuários. Jataí – 2012.
Capa Índice 6932
Figura 2 – Porcentagem de indivíduos que apresentaram os fatores de risco à HAS analisados. O excesso de
massa corporal foi determinado a partir do IMC ≥25kg/m2. Jataí – 2012.
As características dos pacientes estratificados pelo gênero são apresentadas na
Tabela 1. Em ambos os gêneros foi detectada excesso de massa corporal e pressão arterial
descompensada. Na terceira e na sexta consultas foi observado controle da pressão arterial,
mas manutenção do IMC médio acima dos valores de normalidade. Não houve diferença
significativa entre os sexos em nenhuma das consultas.
Capa Índice 6933
Tabela 1 – Caracterização da amostra estratificada pelo gênero na primeira, terceira e na sexta consultas. Jataí-
2012.
1ª consulta 3ª consulta 6ªconsulta
Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino
Idade (anos) 49,08,1
(N=44)
48,9 8,4
(N=28)
49,77,6
(N=21)
51,39,1
(N=14)
52,37,3
(N=18)
52,39,4
(N=13)
IMC (Kg/m2) 31,4 6,3
(N=45)
29,5 5,6
(N=28)
31,95,9
(N=11)
28,14,8
(N=6)
28,74,6
(N=10)
30,63,6
(N=5)
PS (mmHg) 146,6 23,3
(N=46)
150,4 26,2
(N=28)
130,517,7
(N=21)
134,319,5
(N=14)
122,29,7
(N=18)
131,517,5
(N=13)
PD (mmHg) 92,2 14,1
(N=46)
96,314,2
(N=28)
84,312,1
(N=21)
87,97,7
(N=14)
78,97,4
(N=18)
83,810,8
(N=13)
Mann-Whitney test – p>0,05
Figura 3 - Evolução do quadro clínico de 34 pacientes cadastrados no Programa de Educação e Controle da
Hipertensão Arterial entre os anos de 2006 a 2008 (Média±DP). Friedman complementado por Dunns. *
diferença significativa da pressão arterial em comparação com a primeira consulta, # diferença significativa da
pressão arterial em comparação com a 5ª consulta (p< 0,05). Jataí – GO, 2012
A análise da pressão arterial dos pacientes que permaneceram no programa evidenciou
o controle dos níveis pressóricos a partir segunda consulta (Figura 3). Na primeira consulta
somente 26,4% dos pacientes apresentavam a pressão arterial compensada, na segunda
consulta 58,8% e na sexta consulta 68,9% dos pacientes demonstravam controle da PA.
Capa Índice 6934
Apesar de na décima segunda consulta só haver 11 pacientes, 90,9% mantinham a PA
compensada.
4 DISCUSSÃO
O presente estudo aponta para a importância do cuidado institucionalizado à saúde
das pessoas sob uma abordagem multifatorial, associando o tratamento farmacológico ao não
farmacológico e almejando alterações no estilo de vida dos pacientes para a prevenção de
complicações decorrentes da HAS. Este fato torna-se evidente ao observar os resultados da
primeira consulta dos pacientes do Programa de Educação e Controle da Hipertensão Arterial,
pois apesar de estarem previamente sendo acompanhados por agentes de saúde de Unidades
de Saúde da Família e fazendo uso de medicamentos anti-hipertensivos, a pressão arterial
estava descompensada e, após a intervenção multiprofissional, logo na segunda consulta,
apresentaram melhora no controle da PA.
A prevalência de sedentários, tanto no início quanto no final do período avaliado,
demonstra baixa adesão ao tratamento não medicamentoso, o que nos leva a supor que o
controle da PA foi decorrente do esquema da terapia medicamentosa adotada pelos
profissionais do programa. Pode-se supor que se os pacientes tivessem aderido ao plano de
atividade física e à dieta alimentar, o controle teria sido mais eficiente, pois vários estudos
demonstram que a prática de exercício físico regular a curto e em longo prazo produz efeitos
benéficos para indivíduos com hipertensão. Após o exercício físico pode-se observar redução
de 11 mmHg para a PS e 6 mmHg para a PD com manutenção por até 22 horas. O exercício
em longo prazo promove redução nos níveis pressóricos associando-se a redução da massa
corpórea, redução da resistência vascular periférica e da atividade do sistema renina-
angiotensina-aldosterona (20-22).
A baixa adesão dos pacientes ao programa também tem sido encontrada em outras
populações (16,23-25). Alguns fatores são apontados como causas de baixa adesão ao
tratamento como: idade, situação conjugal e personalidade do paciente (24). Tem sido
descrito que a baixa adesão pode ser decorrente da falta de informação sobre a importância do
tratamento medicamentoso e não-medicamentoso (25), falta de percepção e cuidado do
paciente com a sua saúde e do descaso, principalmente dos médicos, com pacientes de menor
renda (16). Os fatores que podem ser apontados para a baixa adesão na população de Jataí
Capa Índice 6935
podem ser: a falta de conhecimento sobre a importância dos cuidados com a própria saúde
e/ou a distância entre o agendamento de uma consulta e outra, uma vez que há poucos
profissionais para um contingente muito grande de pacientes (a equipe multiprofissional
também atende a todos os pacientes com diabetes e aos idosos do município).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que o Programa de Educação e Controle da Hipertensão do Município
de Jataí – GO foi de grande importância para o controle da hipertensão arterial, entretanto,
não foi eficaz em promover a adesão dos pacientes ao tratamento não medicamentoso. Além
disso, a falta de registros corretos nos prontuários dos pacientes comprometeu a investigação
apropriada dos fatores de risco associados à HAS, tais como o sedentarismo e o excesso de
massa corporal.
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1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DOS CAPS DO INTERIOR DO ESTADO DE GOIÁS
KellyKan Carvalho da Silva 1, Elizabeth Esperidião 2, Nathália dos Santos Silva 3, Adrielle
Cristina Silva Souza 4, Ana Caroline Gonçalves Cavalcante 5
Palavras chave: Saúde Mental, Serviços de Saúde Mental, Assistência em Saúde Mental
Introdução
A Reforma Psiquiátrica acontece num cenário onde a pessoa com transtorno mental
não tinha assistência adequada para o seu agravo(1). Sua proposta assistencial tem como base
as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que consiste em romper com
práticas excludentes, ao buscar um modelo que permite um olhar diferenciado sobre os
portadores de transtorno mental. Nesse contexto de modificação da realidade, vários serviços
foram criados e revistos, procurando atender a Política Nacional de Saúde Mental – PNSM (2).
A orientação da assistência em Saúde Mental enfatiza a disponibilização de serviços
de forma integrada e articulada que possa sustentar o tratamento dos usuários, na perspectiva
do modelo de atenção psicossocial.
Nesta lógica foram criados serviços substitutivos que integram a rede especializada em
Saúde Mental. Trata-se dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Residências
Terapêuticas, Ambulatórios, Hospitais Gerais, Centros de Convivência, Hospitais-dia,
Núcleos de Atenção Psicossocial (NASF), oficinas terapêuticas e beneficiários com o
Programa de Volta para Casa(3) .
Se por um lado a PNSM propõe o trabalho que supere o modo asilar, por outro
existem serviços com estrutura física e materiais inadequados, contratos temporários,
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Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6939 - 6950
1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
rotatividade dos trabalhadores, baixos salários, déficit na formação em saúde mental, ou seja,
condições de trabalho muito precárias(4) .
A estrutura física e organizacional dos estabelecimentos destinados ao tratamento dos
transtornos mentais deve estar adequadas, de modo a possibilitar a implementação das
diversas modalidades terapêuticas(5) .
Tais considerações remetem ao conceito de ambiência, o qual foi incorporado ao
ambiente de saúde destinado as cuidados dos portadores de doença mental. Na arquitetura
dos espaços de saúde este conceito vai além da composição técnica, simples e formal dos
ambientes, considerando principalmente a situação em que os mesmos foram construídos(6) .
É, portanto, um espaço social, profissional e relacional.
Nas unidades de saúde, o ambiente de trabalho se configura como cenário em que
atuam diversos atores, entre eles gestores, trabalhadores, usuários e famílias, que se inter-
relacionam constantemente(7) . A satisfação no trabalho é determinada, principalmente, por
elementos presentes no próprio ambiente em que os profissionais realizam suas atividades.
No sentido de garantir a qualidade da assistência e também alcançar as metas do
movimento da Reforma Psiquiátrica a OMS propõe que os serviços de Saúde Mental sejam
avaliados internacionalmente(8) .
Diante do contexto de transição que passa a assistência psiquiátrica e em Saúde
Mental no Estado de Goiás, é premente investir esforços no sentido de avaliar os serviços a
fim de se obter subsídios para possíveis orientações e desdobramentos rumo à qualidade da
assistência aos seus usuários.
Acredita-se que a caracterização de um serviço é o primeiro e um dos mais
importantes passos para desencadear o processo avaliativo. O ponto primordial para qualquer
intervenção em saúde é o conhecimento apropriado e o diagnóstico amplo e preciso de todo o
contexto em que a assistência estiver envolvida.
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1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo caracterizar os CAPS do interior do
Estado de Goiás quanto sua estrutura física, recursos humanos e abrangência dos serviços.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa.
O estudo foi realizado em todos os municípios do interior do Estado de Goiás, que
possuem Centros de Atenção Psicossocial habilitados pela Secretaria da Saúde do Estado de
Goiás até dezembro de 2010. Assim, encontraram-se apenas serviços do tipo CAPS, em 19
municípios, num total de 21 serviços.
Para a obtenção dos dados foi elaborado um instrumento, cujo conteúdo baseou-se
na Portaria 336/2002(9) , que permite identificar e detalhar o espaço físico de cada serviço,
bem como os materiais e equipamentos neles disponibilizados. Possibilita ainda, identificar
área de abrangência, demanda de usuários, relação com outros serviços, estrutura física,
funcionamento e equipe envolvida. No sentido de obter maior detalhamento da realidade
encontrada, utilizou-se também o registro fotográfico. Tal procedimento visou oportunizar a
identificação de pormenores das condições estruturais, por vezes não captadas pela
observação informada no instrumento.
Os registros das observações feitas pelos pesquisadores foram analisados com base
nos documentos oficiais do Ministério da Saúde e nos achados da literatura sobre o tema.
O projeto de pesquisa “Fortalecimento da Política Nacional de Saúde Mental:
caracterização dos serviços de Saúde Mental no Estado de Goiás” do qual esse estudo faz
parte, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás, em
atendimento às orientações da Resolução CNS 196/96, com o protocolo 303/10.
Resultados e Discussão
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1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
Encontra-se no interior desse Estado apenas serviços do tipo CAPS os quais, de
acordo com a Portaria n.º 336 GM/2002, estão voltados ao atendimento de pacientes adultos
com transtornos mentais graves e persistentes, ao atendimento de crianças e adolescentes com
estes transtornos ou ao atendimento dos transtornos devido ao uso de substâncias psicoativas.
Todos os CAPS implantados e habilitados até dezembro de 2010 no interior do Estado
de Goiás foram visitados obtendo uma gama de informações, cujos resultados possibilitaram
o cumprimento dos objetivos propostos.
Foram encontrados 7 CAPS do tipo I, 11 CAPS do tipo II, 1 CAPSi , e 2 CAPS ad,
totalizando 21 serviços (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuição dos CAPS do interior do Estado de Goiás por município e
número de habitantes.
NOME DO MUNICÍPIO
N° HABITANTES DO
MUNICÍPIO TIPO DE SERVIÇO
Águas Lindas 157.323 CAPS II
Anápolis 334.616 CAPSi/ CAPS II/ CAPSad
Aparecida de Goiânia 442.978 CAPS II
Aragarças 18.310 CAPS II
Caldas Novas 69.320 CAPS II
Catalão 86.647 CAPS II
Cidade de Goiás 24.727 CAPS II
Formosa 97.903 CAPS I
Itumbiara 91.892 CAPS I
Jataí 88.970 CAPS II
Luziânia 165.492 CAPS II
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1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
Mineiros 52.935 CAPS I
Niquelândia 42.380 CAPS I
Padre Bernardo 27.176 CAPS I
Palmelo 2.260 CAPS I
Porangatú 40.469 CAPS I
Quirinópolis 38.064 CAPS I
Rio Verde 176.502 CAPS II
Trindade 98.159 CAPS ad /CAPS II
Fonte: [Internet] IBGE- instituto brasileiro de Geografia e Estatística (2010). Available from:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1
Nos últimos quatro anos, a rede CAPS no Brasil se expandiu e se interiorizou, embora
as regiões Norte e Centro-Oeste sejam as que mais apresentam dificuldades para a expansão
de suas redes de serviços. Ao final de 2010, o país tinha uma cobertura de 0,66 CAPS por
100.000 habitantes, enquanto que no Estado de Goiás a cobertura é de 0,42 CAPS por
100.000, índice abaixo da média brasileira. Embora haja recomendação de criação de CAPS
III em todo território nacional, até o presente momento Goiás não possui nenhum desse
serviço(3) .
Em relação aos recursos humanos observou-se grande disparidade nas realidades dos
serviços visitados, uma vez que há alguns com equipes multiprofissionais adequadas e outros
com número extremamente reduzido de profissionais. Há de se destacar que dentre os 21
serviços apenas três contam com equipe mínima constituída conforme orienta a Portaria n°
336/02(9, 10) .
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1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
Este resultado mostra um panorama preocupante nos serviços especializados no
interior do Estado de Goiás, na medida em que 18 deles funcionam com o quantitativo de
profissionais muito abaixo do preconizado(9, 10), além da composição da equipes contrariarem
frontalmente as recomendações oficiais brasileira. Em destaque, houve um CAPS tipo I que
conta apenas com 1 enfermeiro e 2 auxiliares de serviços gerais. Por outro lado, há equipes
em alguns serviços que não tem a presença do profissional de enfermagem.
Segundo a legislação, o CAPS I deve ter no mínimo 9 profissionais, (1 médico, 1
enfermeiro, 3 profissionais de nível superior e 4 profissionais de nível médio), enquanto que o
CAPS II deve ter, minimamente, 1 médico, 1 enfermeiro, 4 profissionais de nível superior e 6
de nível médio. Considerando suas especificidades, o CAPSi deve contar com uma equipe de
11 profissionais (1 médico, 1 enfermeiro, 4 profissionais de nível superior e 5 profissionais de
nível médio) e o CAPSad com no mínimo 2 médicos, 1 enfermeiro, 4 profissionais de nível
superior e 6 profissionais de nível médio(9, 10) .
Certamente com a configuração encontrada das equipes nos CAPS avaliados haverá
comprometimento na assistência especializada oferecida por esses serviços. Há situações em
que um mesmo profissional é responsável por várias funções no serviço, gerando sobrecarga
de trabalho, insatisfação com o que faz e da maneira que faz. Estudos mostram que equipes
estruturadas inadequadamente podem se constituir num ponto crítico de trabalho, havendo
sobreposições de papéis, prejuízo nas relações estabelecidas com consequente influência na
qualidade do atendimento, gerando sensação de trabalho mal realizado, tanto pela equipe que
oferece a assistência como pelo usuário que a recebe(4, 11) .
Este cenário também favorece o desgaste do trabalho podendo incidir no adoecimento
dos profissionais, preocupação expressa no cotidiano desses serviços(11) .
Vale ressaltar a importância da díade enfermeiro-paciente durante o tratamento com
um papel recíproco e existencial para a atuação nos entraves sociais e relacionais, que vai
além da condição humana psiquicamente enferma(12). Nesta lógica, a presença do enfermeiro
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1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
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3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
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na equipe multiprofissional contribuirá para o fortalecimento das ações terapêuticas
propostas.
Avaliando-se as condições estruturais dos 21 serviços visitados, um dos aspectos que
chamam a atenção é que somente 7 apresentam sede própria e os demais funcionam em
imóveis alugados, situação que pode desfavorecer as condições ambiência desejadas.
Entretanto há de considerar, em tese, que independente se em sedes próprias ou alugadas os
serviços devem manter a estrutura, localização e funcionamento em sintonia com a proposta
terapêutica da PNSM.
A realidade encontrada aponta instalações adaptadas, muitas vezes conservando o
ambiente como em instituições asilares fechadas, alguns serviços mantém cadeados nas portas
de acesso quando dividem o espaço com serviços de outra natureza, como ambulatório. Tal
situação condiz com as características de hospitais psiquiátricos, num nítido conservadorismo
assistencial em acordo com os moldes de reclusão, diferentemente do modelo de atenção
psicossocial proposto pela legislação vigente.
A perspectiva assistencial que mantém um serviço de saúde mental funcionando em
instalações onde figurava um hospital psiquiátrico, reafirma o conservadorismo com tradições
arcaicas que impedem o progresso e configuração definitiva do modelo de atenção
preconizado pela PNSM.
O CAPS é um serviço de atenção diária que preconiza um atendimento em liberdade,
sendo o usuário um cidadão com direitos e deveres(13). ). As portas do serviço devem estar
abertas para livre circulação respeitando prioritariamente a subjetividade de quem lá chega ou
está(11). Implica, portanto em mudança da postura paradigmática sobre o olhar que a equipe de
profissional tem da pessoa portadora de transtorno mental com capacidade para escolher e
opinar sobre seu tratamento como também a forma de viver sua vida.
Embora diante de possíveis episódios ao longo do tratamento de transtornos mentais,
os pacientes precisam de atendimento intenso, em que os profissionais mantenham próximos
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Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
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e orientados, facilitando suas ações, em ambiente protegido e acolhedor. Historicamente
pode-se perceber que o fechamento de portas trouxe o enclausuramento da loucura e exclusão
social(11).
Também como herança da concepção estigmatizadora encontrou-se em Goiás alguns
CAPS situados na periferia das cidades, localizados em ruas sem asfalto, outros funcionando
em espaços sem a devida sinalização do serviço dificultando o acesso e sua respectiva
identificação pelos usuários.
A acessibilidade dos serviços pode comprometer o tratamento e sua continuidade e
pode representar retrocesso à Reforma Psiquiátrica, caso deixe de ser facilitada(4) .
O conceito de ambiência envolve o espaço físico, na perspectiva do espaço social,
profissional e de relações interpessoais de modo a promover assistência humanizada,
acolhedora e resolutiva(6). Abrange três eixos: o espaço que considera conforto, privacidade e
individualidade dos sujeitos envolvidos; aquele que favorece a otimização de recursos e a
reflexão da produção do sujeito e do processo de trabalho.
A avaliação das condições estruturais possibilita afirmar que a maioria dos serviços é
arejada, faz uso exclusivo do ar ambiente, pois poucos dispõem de ar condicionado e
ventilador. Considerando o quesito limpeza, muitos deles se encontravam limpos, embora
fossem encontrados alguns com suas instalações sanitárias e ou copa em situação não
recomendada para o uso. Determinados CAPS no interior goiano não possuem pessoal de
serviços gerais com a tarefa de limpar suas acomodações, prejudicando as condições de
higienização dos mesmos.
As condições das paredes e tetos encontram-se, em vários serviços, inadequadas, com
pinturas antigas, descascando, sujas e com infiltrações. As instalações elétricas, por sua vez,
nem sempre são favoráveis uma vez que foram encontrados serviços cujas condições os
impediam de ter o funcionamento de telefone e internet.
Capa Índice 6946
1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
A maioria dos serviços dispunha de sanitários para os usuários e para profissionais,
embora nem sempre fossem divididos por sexo. Quanto a acessibilidade para portadores de
necessidades especiais, poucos serviços encontram-se adaptados, sendo que 2 deles
apresentam escadas. O quesito transporte próprio nos serviços é também deficitário, pois
apenas um CAPS do interior do Estado de Goiás possui este recurso como ferramenta
assistencial.
Neste sentido, pode-se dizer que há muito a se conquistar em grande parte dos serviços
visitados, visto que eles funcionam em espaços inapropriados para as ações terapêuticas que
dispensam aos usuários. Se por um lado todos têm salas para atendimentos individuais,
praticamente inexistem espaços apropriados para atividades grupais e oficinas que ocorrem
em consultórios, áreas externas ou em salas que não estejam sendo ocupadas no momento.
As oficinas terapêuticas consistem em espaços psicoterapêuticos por excelência,
apropriados à socialização e à integração social, impossibilitando, portanto, a desconsideração
do sujeito que dela participa14. É provável que esta modalidade de atendimento não esteja
sendo devidamente aplicada nos serviços goianos em razão das suas condições estruturais.
Segundo Ministério da Saúde (2007) preconiza que esses serviços devem oferecer
atendimentos individuais e em grupo, visitas domiciliares, atendimento à famílias dos
usuários além de e atividades comunitárias que se direcionam à integração do portador de
transtorno mental.
Estrutura física inapropriada gera falta de condição adequada para o profissional
realizar seu trabalho, o que desencadeia em atendimento insatisfatório aos usuários, não
correspondendo com o objetivo do atual modelo de assistência em Saúde Mental(4) .
Este estudo mostra que a maior parte dos serviços tem área externas disponível
embora estejam subutilizadas por se encontrarem inapropriadas para o desenvolvimento de
práticas esportivas, cultivo de hortaliças que podem ter finalidades sócio-educativas e
reintegradoras.
Capa Índice 6947
1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
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Os recursos físicos e materiais disponíveis nas instituições analisadas permitem revelar
as desigualdades existentes entre si, a despeito que o espaço físico é aprendido pelos
funcionários de diversos serviços de saúde mental como um dos meios e instrumentos de
trabalho(15) .
Vale ressaltar que um arranjo espacial adequado é de extrema importância para que o
processo de trabalho flua de forma harmônica e produtiva. Portanto há de se reconhecer que
estrutura física apropriada vai muito além de instalação apresentável, em que condições e
recursos devem ser voltados ao conceito de ambiência que modo a contribuir para a
efetividade da proposta terapêutica.
Considerações Finais
A compreensão do conceito de ambiência é abrangente e relaciona-se,
necessariamente, aos aspectos da estrutura física, e das relações sociais de trabalho tendo
como foco o conforto e a qualidade, para proporcionar o ambiente terapêutico nas unidades de
saúde.
Os resultados deste estudo mostram claramente a heterogeneidade das condições da
estrutura física dos serviços de saúde mental do interior do Estado de Goiás, assim como seus
aspectos referentes ao espaço de trabalho quer seja o espaço social, profissional e relacional,
que em conjunto delineiam as características da ambiência das unidades de saúde.
Entretanto, além das condições insatisfatórias que grande parte deles funciona, o mais
preocupante é o modelo assistencial que ainda está atrelado ao legado hospitalocêntrico, tanto
pelas características de suas instalações e espaço geográfico que interfere diretamente na
qualidade to tratamento oferecido.
De acordo com as recomendações da PNSM o modelo de atenção psicossocial prevê
que suas ações sejam desenvolvidas com disponibilidade de recursos físicos e humanos
compatíveis suas metas e propósitos terapêuticos.
Capa Índice 6948
1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
Embora reconhecendo o esforço da gestão da área da Saúde Mental da Secretaria de
Estado da Saúde de Goiás no sentido de enfrentamento de suas dificuldades, é preciso maior
investimento na área com a contratação e capacitação de seus profissionais, melhorias e
readequação das instalações físicas e acima de tudo, ações reflexivas voltadas ao alcance da
ambiência conforme é entendido pelo Ministério da Saúde brasileiro em continência com a
proposta da Reforma Psiquiátrica.
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6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo
Técnico da Política Nacional de Humanização. Ambiência. 2° Ed. Brasília, D.F: 2007.
Capa Índice 6949
1- Acadêmica de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de
Goiás (FEN/UFG). Bolsista PIVIC. Email: [email protected]
2- Professora Adjunta FEN/UFG. Orientadora PIBIC. Email: [email protected]
3- Enfermeira, Mestre. Egressa Programa Mestrado FEN/UFG Email:
4- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIBIC. Email: [email protected]
5- Acadêmica de Enfermagem FEN/UFG. Bolsista PIVIC. Email:
7. Guimarães, JMX; Jorge, M.B; Assis, MMA. (In)satisfação com o
trabalho em saúde mental: um estudo em Centros de Atenção Psicossocial. Ciência e
Saúde Coletiva, 16(4), 2145- 2154, 2011.
8. WHO. The world Health Report, Mental Health: New Understading,
New Hope. Geneva: World Health Organization, 2001.
9. Brasil. Ministério da Saúde. Postaria GM n.336, de 19 de fevereiro de
2002. Define e estabelece diretrizes para o funcionamento dos Centos de Atenção
Psicossocial. Brasília, D.F: 2002.
10. Brasil. Ministério da Saúde. Legislação em Saúde Mental. 2 ed.
Brasília, D.F:2002.
11. Olschowsky, A; et. al. Avaliação de um Centro de Atenção
Psicossocial: a realidade em Foz do Iguaçu. Rev. Esc Enferm USP, 43(4):781-7, 2009.
12. Vilela, SC; Scatena, MCM. A enfermagem e o cuidar na área da saúde
mental. Rev Bras Enferm. 57(6):738-41, 2004.
13. Amarante, P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no
Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1995.
14. Botti, NCL. Oficinas em saúde mental: história e função [tese].
Ribeirão Preto (SP): Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem; 2004.
15. Minayo, MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 10°ed. São Paulo: Hucitec; 2007.
Capa Índice 6950
Estudo Comparativo entre Perfil Clínico e Perfil
Psicométrico das Interações Interpessoais nas Relações Conjugais1
Laisa Gonçalves Teixeira2, Marina Portilho Pereira3, Gleiber Couto4
Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão
Endereço eletrônico: [email protected]; [email protected];
PALAVRAS-CHAVE: Relações interpessoais, Conjugalidade, Cloit-II.
Introdução
Este estudo adota o modelo circumplexo, especialmente o circulo interpessoal
elaborado por Donald Kiesler (1983), que prioriza a representação das atitudes interpessoais
características da personalidade, e isto compreende o domínio bi-dimensional da
personalidade. Este modelo baseia-se na teoria interpessoal de Sullivan (1953 como citado em
Vandenberghe, Couto, & Van Hattum, 2010), para o autor, a causalidade dos processos
psicológicos é decorrente das interações interpessoais, isto significa que só é possível
entender a personalidade de uma pessoa quando se estuda o comportamento que esta
apresenta bem como este é direcionado para outra pessoa, ou seja, o enfoque é a interação.
Nesse sentido, Sullivan (1953 como citado em Vandenbergh et al., 2010), entende que
a causa das emoções e ações não estão dentro dos indivíduos, mas entre as pessoas em
interação. O sentido dos comportamentos emitidos pelos sujeitos é evocar nos outros reações
que correspondam às suas necessidades. À medida que um par de indivíduos interage
repetidamente, logo são estabelecidos padrões de reciprocidade e complementaridade, que
1Revisado pelo orientador.
2Estudante de Psicologia pela Universidade Federal de Goiás - UFG/Campus Catalão – Orientanda.
3Estudante de Psicologia pela Universidade Federal de Goiás - UFG/Campus Catalão – Orientanda.
4Laboratório de Avaliação, Medidas e Instrumentação em Ciências da Saúde - LAMI Catalão, GO – Brasil – Orientador.
Capa Índice 6951
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6951 - 6961
apresentam certa regularidade. Assim, a personalidade pode ser entendida como a totalidade
dos padrões consistentes das interações que cada pessoa tem com as outras.
A exemplo de interações interpessoais típicas e significativas na vida dos sujeitos tem-
se as relações conjugais. A conjugalidade parte do princípio de uma vivência compartilhada
entre os parceiros da díade, marcada por certa estabilidade e continuidade do vínculo
conjugal. Nesse sentido, Ziviani, Féres-Carneiro, Magalhães e Bucher Maluschke (2006)
atribuem ao casal a construção de uma identidade conjugal, caracterizada pelas expectativas,
fantasias, ideias, emoções, sentimentos e projetos compartilhados.
Féres-carneiro, Ponciano e Magalhães (2007) propõe um lugar no psiquismo de cada
sujeito para a organização da conjugalidade. Neste lugar é articulado a história de cada
cônjuge, seus ideais de conjugalidade, seus desejos, as imagens e fantasias sobre a
conjugalidade de seus pais e alguns mitos familiares e culturais. Todos esses aspectos serão
determinantes no modo como cada casal estabelecerá sua conjugalidade.
Na vida conjugal ora se observa momentos de fusão ora momentos de separatividade.
Logo, se torna indispensável que os membros da díade consigam estar só, estando
acompanhado. A construção de espaços individuais possibilita o reconhecimento e
preservação da alteridade do cônjuge, é um indicativo de saúde emocional do casal (Ziviani et
al., 2006). É nessa perspectiva que Féres-Carneiro (1998) coloca para o casal o desafio de:
Como ser dois sendo um? Como ser um sendo dois? Dessa forma, o casal que consegue
manejar esses dois pontos consegue ter uma relação de maior qualidade.
Ziviani et al. (2006) caracteriza o amor como o componente importante para a noção
de conjugalidade na atualidade, embora ressalte que este seja um ideal cada vez mais difícil
de ser atingido. Assim sendo, o casamento na atualidade, está diretamente relacionado a um
alto grau de intimidade e envolvimento afetivo, sendo considerado como a relação mais
significativa estabelecida pelos sujeitos contemporâneos. Em contrapartida se percebe o
aumento do número de divórcio, pelo fato do relacionamento só se manter se este for
vantajoso e prazeroso para ambos os cônjuges. Dessa forma, o casamento passou a ser uma
escolha individual, responsável e autônoma, baseada principalmente em laços de afeto e
afinidade. Por conta disso que Magalhães e Féres-Carneiro (2003) consideram a relação
conjugal como o locus privilegiado da afetividade.
Seguindo essa perspectiva Féres-carneiro et al., (2007) destacam algumas
transformações no que concerne o casamento na contemporaneidade, dentre elas, a autonomia
na escolha do parceiro e a exigência de exclusividade da relação amorosa, o que envolve a
grande valorização da intimidade e aumento das expectativas quanto à complementaridade
Capa Índice 6952
entre os membros da díade. É notório o crescimento das expectativas em relação ao parceiro,
a alta exigência de si mesmo e a idealização da relação amorosa. Com isso, é comum ocorrer
tensões na relação conjugal, devido a impossibilidade de se atender a demandas tão exigentes.
Segundo Ziviani et al. (2006), o casal é um todo constituído de três partes: os dois
cônjuges e a relação formada entre eles. A partir da decomposição desse todo em suas
menores partes é viável a investigação da contribuição de cada um dos sujeitos para a sua
relação, a fim de saber se essa contribuição é positiva ou negativa para a conjugalidade. Nesta
perspectiva, o projeto de pesquisa aqui apresentado visou abordar como os membro da díade,
ou apenas um deles, interagem com seu cônjuge, e em outros estudos foi avaliado como esses
padrões de interações contribuem (positivamente ou negativamente) para a relação, gerando
ou não satisfação conjugal e suas implicações para a saúde mental dos cônjuges.
Objetivos
Tendo em vista os aspectos ligados a conjugalidade o objetivo deste trabalho é
apresentar um estudo a respeito dos padrões de interações interpessoais de casais casados e
não casados obtidos a partir da aplicação do CLOIT-II e compará-los com os dados da
entrevista. Destarte, serão apresentados os pontos de convergência e divergência entre as
medidas produzidas por procedimentos idiográficos e nomotéticos. Assim, este estudo almeja
explorar fontes de evidências de validade para o Checklist de Relações Interpessoais – II.
Ademais, este trabalho visa contribuir com novas produções no campo da conjugalidade,
psicometria e nos estudos sobre as interações interpessoais em geral.
Metodologia
Participantes
Participaram dessa etapa da pesquisa 26 sujeitos heterossexuais, residentes na região
sudeste do estado de Goiás, com idades entre 17 e 50 anos. A amostra é composta por 14
sujeitos casados e 12 namorados, dentre eles há 10 homens e 16 mulheres, cujo nível
socioeconômico varia entre classe D, 2 participantes, classe C, 12, classe B2, 8 e classe B1, 4.
Em relação ao grau de escolaridade, 2 pessoas apresentam fundamental I (1ª a 4ª)
completo/fundamental II (5ª a 8ª) incompleto; 2 com fundamental II completo / médio
incompleto; 13 com médio completo/superior incompleto; e 9 com superior completo.
Capa Índice 6953
Materiais
CheckList de Relações Interpessoais – II (CLOIT-II), trata-se de um inventário
construído com a finalidade de mapear o comportamento interpessoal de Pessoas Alvo. É
apresentado em três formas, Autoclassificação, Transator e Observador, cada uma delas deve
ser respondida respectivamente, pela Pessoa Alvo, por uma pessoa que interage com ela,
também chamada de transator e por um observador que presencia as interações da Pessoa
Alvo. No entanto para esta pesquisa foi utilizado apenas a forma de Autoclassificação.
Cada inventário contém 96 proposições que descrevem ações que podem ocorrer em
interações entre pessoas, as proposições são as mesmas em cada forma, ou seja, apresentam as
mesmas ações características de interações interpessoais mudando apenas os pronomes de
acordo com a forma. Na forma de Auto Classificação todas as proposições são iniciadas com
a partícula Quando estou com meu cônjuge... Na forma do Transator, o participante responde
aos itens avaliando as interações de uma terceira pessoa começando pela partícula: Quando
está comigo, meu cônjuge...
Os sujeitos são solicitados a ler as proposições e marcar aquelas que descrevem os
tipos de interações mais característicos de sua conduta e em seguida, a conduta do seu
cônjuge. As proposições estão divididas nas 16 escalas bi-dimensionais, a saber, Dominância
(A), Competição (B), Desconfiança (C), Frieza Afetiva (D), Hostilidade (E), Isolamento (F),
Inibição (G), Insegurança (H), Submissão (I), Deferência (J), Confiança (K), Calor Afetivo
(L), Amigabilidade (M), Sociabilidade (N), Exibicionismo (O), Segurança (P).
Classificação Socioeconômica – Abipeme, que consiste em um procedimento
desenvolvido pela Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado, para dividir a
população em categorias segundo padrões ou potenciais de consumo. Esse critério cria uma
escala ou classificação socioeconômica por intermédio da atribuição de pesos a um conjunto
de itens de conforto doméstico, além do nível de escolaridade do chefe de família.
A classificação socioeconômica da população é apresentada por meio de cinco
classes, denominadas A, B, C, D e E correspondendo, respectivamente, a uma pontuação
determinada. Alguns dos itens de conforto no lar (aparelho de videocassete, máquina de lavar
roupa, geladeira com ou sem freezer, e aspirador de pó) recebem uma pontuação
independentemente da quantidade possuída; outros (automóvel. TV em cores, banheiro,
empregada mensalista e rádio) recebem pontuações crescentes dependendo do número de
unidades possuídas. Da mesma forma, a instrução do chefe da família recebe uma pontuação
segundo o grau de escolaridade.
Capa Índice 6954
Entrevistas de livre estruturação com objetivo de avaliar os padrões típicos de
interações estabelecidos pelos sujeitos em seus relacionamentos. Para Tavares (2000), a
entrevista de livre estruturação é um instrumento de grande utilidade quando se pretende
conhecer o sujeito em profundidade, pois abre espaço para as manifestações individuais. Por
conta disso, essa pesquisa optou por essa modalidade de entrevista, tendo em vista uma
investigação ampliada das interações interpessoais no contexto conjugal. Segundo esse
mesmo autor, toda entrevista pressupõe alguma forma de estruturação, mesmo que o
entrevistador não a reconheça explicitamente. Na entrevista é indispensável que quem a
conduz conheça o seu papel e os procedimentos necessários para alcançar os objetivos
estabelecidos, então desde já tais requisitos conferem a entrevista uma estrutura. Na pesquisa
em questão, o foco da entrevista de livre estruturação esteve voltado para a avaliação dos
padrões de interações interpessoais.
Procedimento de coleta de dados
Inicialmente, foram aplicados os questionários em casais que se disponibilizaram a
participar da pesquisa. Os mesmos eram esclarecidos a respeito dos objetivos do estudo, sobre
as questões éticas e eram solicitados a assinarem um termo de consentimento livre e
esclarecido, que prioriza o princípio da autonomia. Após essa etapa, foram convidados alguns
participantes, de forma aleatória, para se submeterem a uma entrevista gravada, realizada por
um dentre os cinco examinadores cegos. Na entrevista, os sujeitos foram solicitados a
descreverem a relação estabelecida com o cônjuge/namorado e a caracterizarem os momentos
em que compartilham com o parceiro. Em seguida foram atribuídos valores aos padrões de
interações de cada sujeito, avaliados durante a entrevista, de acordo com as 16 subescalas do
CLOIT-II. Os resultados obtidos pelo grupo foram tratados como critério externo e
comparados aos resultados do teste. Em síntese, avaliou-se as estatísticas descritivas dos
escores dos sujeitos nos testes e nas entrevistas, e em seguida ocorreu uma comparação
usando a correlação de Pearson.
Resultados e Discussão
Na pesquisa cada um dos indivíduos teve o perfil de suas interações interpessoais nas
relações conjugais designado pelo CLOIT-II, comparado com o perfil designado pela
entrevista. O objetivo da comparação é designar proporcionalmente os pontos de
Capa Índice 6955
convergência e divergência entre as medidas produzidas por procedimentos idiográficos e
nomotéticos.
Na Figura 1 são observadas algumas discrepâncias, em destaque as subescalas
dominância, exposição, submissão e segurança, respectivamente. Isso significa que os
entrevistadores atribuíram aos participantes maior pontuação nessas subescalas após as
entrevistas, enquanto que o sujeito, em seu autorrelato, atribuiu uma pontuação inferior. Em
outras palavras, os indivíduos da pesquisa causaram a impressão nos entrevistadores de serem
mais dominantes, expositivos, submissos e seguros do que admitiram no autorrelato. Ocorreu
também dos participantes se descreverem como mais confiantes e deferentes no autorrelato,
porém em situação de entrevista tais padrões não foram percebidos pelos entrevistadores na
mesma intensidade sugerida pela autodescrição, dessa maneira, os sujeitos causaram a
impressão de serem menos confiantes e cordiais.
Figura 1. Perfil Clínico e Perfil Psicométrico das Interações Interpessoais nas relações
Conjugais.
Capa Índice 6956
Os sujeitos da pesquisa se definem como amigáveis, sociáveis, confiantes e deferentes
nas suas relações afetivas. Em relação aos padrões menos apresentados por eles se destacam
isolamento, desconfiança, submissão e hostilidade. Já o perfil desses participantes
estabelecido pelos entrevistadores é caracterizado principalmente por posições interpessoais
de amigabilidade, sociabilidade, dominância e segurança, sendo as características de
isolamento, hostilidade, desconfiança e inibição menos percebidas durante a entrevista.
Atendendo aos objetivos da pesquisa o passo seguinte foi verificar as correlações
existentes entre os padrões observados no CLOIT-II e aqueles atribuídos pelos
entrevistadores. A tabela 1 apresenta os valores das correlações.
Tabela 1 - Correlação entre autodescrição e entrevista.
AE BE CE DE EE FE GE HE IE JE KE LE ME NE OE PE
A 0,36
B 0,22 0,12
C 0,22 0,13 0,57**
D 0,30 0,15 0,40* 0,314
E 0,38 0,35 0,66** 0,28 0,35
F 0,72 0,16 0,22 0,58** 0,35 0,32
G 0,10 0,18 0,23 0,35 0,45* 0,22 0,41*
H -0,11 -0,26 0,19 0,16 -0,15 0,04 -0,28 0,31
I -0,43* -0,50** -0,38 0,291 -0,14 0,13 0,26 0,16 0,49*
J 0,290 0,05 -0,20 -0,32 -0,21 -0,22 0,11 0,21 0,37 -0,06
K -0,25 -0,05 -0,60** -0,44* -0,29 -0,12 -0,25 -0,11 0,17 0,06 0,12
L -0,41* -0,08 -0,60** -0,43* -0,50** -0,20 -0,36 0,19 0,47* 0,27 0,49* 0,61**
M -0,15 0,18 -0,43* 0,15 -0,16 -0,23 -0,17 0,19 0,17 0,34 0,46** 0,60** 0,43*
N -0,21 -0,32 -0,40* -0,15 -0,37** -0,17 -0,21 0,41* 0,21 0,31 0,54** 0,50** 0,37 0,25
O -0,19 -0,25 -0,31 -0,12 -0,24 -0,23 -0,30 0,25 -0,22 0,08 0,21 0,11 0,16 -0,10 -0,09
P -0,22 0,25 -0,36 0,10 0,06 -0,140 -0,10 -0,37 -0,27 -0,03 0,36 0,25 0,38 -0,23 -0,08 0,004
* Correlação é significativa no nível de 0.05. ** Correlação é significativa no nível de 0.01. Significância marginal (p>0,05 e < 0,10). E Entrevista
Os resultados apontaram correlações diretas e significativas entre o autorrelato e as
características atribuídas pelos entrevistadores nas subescalas de calor afetivo, desconfiança,
submissão, amigabilidade e inibição, e marginalmente significativas (p > 0,05 e < 0,10) em
Capa Índice 6957
dominância, hostilidade e sociabilidade. Dessa forma pode-se dizer que características
interpessoais, socialmente positivas, marcadas por carinho e gentileza; disponibilidade para
ajudar e encorajar, interesse pela companhia do parceiro, curiosidade e atenção sobre as
opiniões e atividades desenvolvidas pelo companheiro, são desejavelmente percebidas e
relatadas pelos sujeitos e facilmente expressadas, ao menos em situação de entrevista. A
mesma hipótese interpretativa se aplica às posições socialmente negativas, como
desconfiança, submissão, inibição, dominância e hostilidade, caracterizadas respectivamente
por demonstrações de esquiva social, quando em algumas circunstâncias os sujeitos evitam
falar sobre si ou dar opiniões, ou estão atentos às possíveis intenções prejudiciais advindas do
outro; cumprimento dos direcionamentos, dependência da iniciativa do outro, e
susceptibilidade de ser persuadido pelo cônjuge/namorado; dificuldades de expressão dos
próprios sentimentos e pensamentos; tentativas de afirmar as preferências e defender as
próprias ideias e opiniões; e demonstração de pouco interesse sobre os sentimentos, ideias e
sugestões do parceiro.
De forma semelhante, o padrão observado nas correlações negativas reforça as
interpretações sugeridas, pois observou-se que as escalas que apresentaram relação direta
entre o resultado do teste e a entrevista mostraram relações negativas com as escalas que
descrevem padrões opostos. Por exemplo, calor afetivo, submissão e desconfiança
correlacionaram negativamente com frieza afetiva, dominância e confiança, respectivamente.
Isto permite a interpretação de que durante a entrevista os indivíduos afetuosos ao
descreverem suas relações, atentaram-se para circunstâncias nas quais a frieza de afeto não
aparece. Assim, quanto mais circunstâncias de calor afetivo, submissão e desconfiança são
relatadas menos frequentemente circunstâncias que ilustram posições contrarias aparecem.
Além disso, os resultados também apontaram que algumas posições interpessoais se
relacionaram a padrões distintos de interação, em muitos casos devido às similaridades
comportamentais. Às vezes, o sujeito interpreta as suas atitudes e ações como sendo próprias
de um determinado padrão interpessoal, mas o outro com quem interage, ou mesmo aquele
que observa as interações e, nesse caso, aquele que avalia as circunstâncias de interação
relatadas pelos sujeitos, acaba classificando as atitudes e comportamentos relatados de forma
diferente. Pôde-se observar que calor afetivo correlacionou-se negativamente às subescalas
dominância, frieza afetiva, hostilidade e desconfiança, e positivamente à confiança e
submissão. Tal constatação significa dizer que ao avaliar os sujeitos que se descrevem a partir
de posições interpessoais de calor afetivo, os entrevistadores formam uma impressão
interpessoal, ou percebem que estes participantes apresentaram-se menos controladores,
Capa Índice 6958
insensíveis, opositores e desconfiados com os seus parceiros, ao invés disso se mostraram
mais confiantes e, em algumas circunstâncias, até mesmo dependentes do parceiro.
A posição interpessoal de submissão, caracterizada por docilidade, dependência e não
assunção de posições que exigem responsabilidade correlacionou negativamente com
desconfiança, dominância e competição. O padrão amigabilidade correlacionou positivamente
com as subescalas calor afetivo, confiança, deferência e negativamente com desconfiança.
Assim, os participantes prestativos são também cordiais, disponíveis a ajudar os seus
parceiros, afetuosos, carinhosos, tolerantes, respeitosos e confiantes, portanto apresentam
poucos padrões de desconfiança, isto explica a correlação negativa. A posição interpessoal
inibição foi associada à hostilidade e desconfiança. Uma hipótese explicativa é que os sujeitos
tímidos, precavidos ao demonstrar os seus sentimentos e pensamentos se apresentam de
maneira mais séria e com dificuldades para se expressarem, deste modo, tais características
tendem causar a impressão de hostilidade.
A característica hostilidade correlacionou positivamente com padrões de desconfiança,
dominância e competição. Tal correlação pode ser entendida ao se levar em consideração que
sujeitos opositores não gostam de ficar dependendo do cônjuge/namorado para a realização de
uma atividade ou tomada de decisão e também em algumas situações se opõem as ideias e
sugestões advindas do outro com quem relaciona.
Os indivíduos que no autorrelato se descreveram como sociáveis, durante a entrevista
causaram a impressão nos entrevistadores de também serem confiantes, calorosos
afetivamente, inseguros e amigáveis (correlação marginalmente significativa), além disso,
foram encontradas correlações negativas nas subescalas hostilidade e desconfiança. Pode-se
compreender que sujeitos extrovertidos são mais confiantes na relação que estabelece com o
cônjuge/namorado, se sentem mais a vontade para demonstrar carinho ao companheiro e
serem cordiais e prestativos com os mesmos, dessa maneira, apresentam poucos
comportamentos de oposição e desconfiança, até mesmo para poderem manter a companhia
do parceiro. Há de se notar que o padrão sociabilidade correlacionou também com
insegurança, uma hipótese explicativa está baseada no apelo pelo desejo de sociabilidade, em
que sujeitos com traços de insegurança procuram compensá-la por meio de atitudes de
exposição a situações sociais. No entanto, as características de insegurança continuam
aparecendo associadas a sociabilidade.
Além dessas constatações, notou-se que os padrões Segurança, Isolamento, Confiança,
e Deferência não apresentaram correlações diretas entre o autorrelato e os dados observados
pelos entrevistadores. Entretanto, segurança esteve associada a confiança e amigabilidade e
Capa Índice 6959
correlacionou negativamente com desconfiança e insegurança, isto se explica pela
característica de segurança descrever ações de autonomia, independência e autoconfiança. O
padrão isolamento correlacionou com frieza afetiva, uma hipótese explicativa para isso está
relacionada ao fato de quando os sujeitos se retraem, se distanciam das pessoas, ou deixam de
demonstrar curiosidade pelas ocupações e pontos de vista do outro, tais atitudes são
interpretadas por aqueles com quem interagem como comportamentos de apatia e
insensibilidade. Ademais, verificou-se que Deferência correlacionou positivamente com
submissão e Confiança correlacionou negativamente com desconfiança e frieza afetiva.
Considerações Finais
A partir deste estudo foi possível estabelecer comparações entre o perfil clínico e o
perfil psicométrico dos padrões de interações interpessoais apresentados no contexto da
relação conjugal. Para contemplar tal objetivo, foi realizada a comparação entre os resultados
do CLOIT-II, em sua forma autoclassificação e os escores obtidos mediante a entrevista de
livre estruturação, realizada com 26 sujeitos escolhidos de forma aleatória. Em suma,
verificou-se correlações significativas e diretas entre a entrevista e o autorrelato, nas
subescalas calor afetivo, desconfiança, submissão, inibição e amigabilidade além de
correlações marginalmente significativas em dominância, hostilidade e sociabilidade, dentre
outras correlações indiretas.
Este estudo conseguiu atingir os objetivos propostos, tendo em vista os resultados
apresentados, em que foi possível estabelecer a comparação entre o perfil clínico dos casais e
o perfil psicométrico, obtidos via procedimentos idiográficos e nomotéticos. A pesquisa
também explorou fontes de evidência de validade para o Checklist de Relações Interpessoais
– II, com vistas ao aperfeiçoamento do instrumento para aplicação na população brasileira,
oferecendo contribuições para os estudos referentes à conjugalidade, psicometria e interações
interpessoais.
Capa Índice 6960
Referências
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semântica e adaptação do Check List of Interpersonal Transactions – Revisado. Avaliação
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contemporâneas: o parceiro como instrumento de legitimação do Eu. Estados Gerais da
Psicanálise: Segundo encontro mundial, RJ.
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Féres-carneiro, T., Ponciano, E. L. T., & Magalhães, A. S. (2007). Família e casal: da tradição
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Capa Índice 6961
1
AS INFLUÊNCIAS RELIGIOSAS NO DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
ACADÊMICO
Laise Barros e Silva*
Resumo
Este artigo tem como objetivo, assimilar as influências religiosas e o ensino acadêmico
dentre a juventude, sendo observado no espaço físico da Universidade Federal de Goiás,
Campi Goiânia, estabelecendo como recorte os alunos do curso de Ciências Sociais,
relacionando o cotidiano destes com o conteúdo científico, sendo utilizada a metodologia
observacional e a perspectiva Weberiana. O desdobramento da pesquisa identifica vários
aspectos onde se encontra a presença da religião e procura através dela expor e debater
sobre o tema, onde o campo científico através da ação da juventude religiosa é
transformado em campo de missão.
Palavras-chave: Religião. Influência. Juventude.
1. INTRODUÇÃO
A pesquisa aqui exposta é resultado do projeto de iniciação científica realizada no
período de agosto de 2011 à julho de 2012, tendo como ponto de partida o projeto
“Juventude universitária e religião: um estudo de grupos carismáticos” realizado pelo
professor Dr. Flávio Munhoz Sofiati, também orientador da pesquisa.
O projeto final obteve várias modificações a partir do tema proposto inicialmente,
levando se em consideração as reformulações conforme indicado no projeto de recepção do
_____________________ * Graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela Universidade Federal de Goiás. E-mail:
* Coautor: Flávio Munhoz Sofiati, Dr. em Sociologia pela Universidade de São Paulo.
plano de trabalho, como também o auxílio do orientador, professores no decorrer do curso e
o Núcleo de Estudos sobre Religião “Carlos Rodrigues Brandão” (NER), sendo este, um
local de discussão e reflexões interdisciplinares, possibilitando o desenvolvimento da
pesquisa no decorrer do processo.
Capa Índice 6962
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6962 - 6973
2
O projeto inicial se encontrava com objetivos não muito claros, proposta extensa e
a grande complexidade dos assuntos a serem trabalhados, não tendo condições de tempo
disponível para o período de realização da pesquisa.
Foi proposto inicialmente o desenvolvimento do conceito de representação que as
igrejas e paróquias depositavam em seus fiéis dentro da universidade, utilizando o
universitário como meio para sua propagação, juntamente com o estudo de como a religião
se manifestava na vida do estudante dentro da universidade, mais especificamente no
ensino formal.
Com o caminhar do projeto, as observações constantes e o contato com os
materiais científicos, definiu-se como proposta estudar a influência religiosa, nos quais os
estudantes da universidade (juventude dentre 18 à 30 anos) apresentavam como também
promoviam, assim como entraves e desafio enfrentados por eles em meio a Universidade
Federal de Goiás (UFG) no espaço físico do Campi Goiânia (Câmpus Samambaia e
Câmpus Colemar Natal e Silva) relacionando-os com a educação laica e concentrando
interesses nas aulas da Faculdade de Ciências Sociais. (FCS)
O estudo presente parte de uma curiosidade iniciada nos ensinos fundamental e
médio, onde nas escolas públicas existe uma matéria denominada: Ensino Religioso, mas
que em diversos locais, o ensino religioso serve para “fechar” as mentes dos pequeninos,
inserindo um conteúdo de acordo com a visão religiosa da escola e não a exploração da
quantidade de religiões existentes no mundo. Outras instituições sociais também são fortes
desencadeadores da influência à princípios religiosos como: o ambiente familiar, a mídia
(vivendo um momento de grande aumentando da quantidade de canais e programas
religiosos) assim como, em vários outros ensinos de ações cotidianas, que colaboram para
internalização dos princípios da visão religiosa, muitas vezes ocorridas sem
questionamentos, mas ao iniciar o ensino superior em uma universidade pública que tem
como princípio o ensino laico, surgiu-se a interrogação de como esses jovens que durante
todo seu processo de construção social foram influenciados pela visão religiosa passa a se
comportar em meio a essa “nova forma de pensar”.
Durante um passeio corriqueiro nos ambientes da universidade, estudantes do
curso de artes visuais comentavam sobre as aulas de: Desenho: Figura Humana, onde tem-
se o objetivo de desenvolver as habilidades do desenho sobre o corpo humano. A aula no
Capa Índice 6963
3
momento em questão teria como proposta, a realização de um desenho de um homem nu. A
universidade traz como “material” de trabalho na intenção de auxiliar o estudante, um
modelo, o mesmo trabalha com planos, eixos e movimentos de acordo com o indicado pelo
docente responsável pela disciplina. Uma estudante religiosa, ao se deparar com o corpo nu
do modelo preferiu tapar seu olhos e desenhar o corpo pela sua imagem mental, não
visualizando a forma e não usufruindo do conhecimento ali disponibilizado pela
universidade. Essa ação desenvolvida pela universitária, despertou o desejo de estudar os
entraves em que os estudantes sofrem na universidade por adotarem costumes religiosos e
suas possíveis interferências na educação.
Levando se em consideração o pequeno número de pesquisas relacionadas ao
tema: juventude e religião e a necessidade do conhecimento do assunto iniciou-se o
trabalho.
“As Influências Religiosas no Desenvolvimento do Ensino Acadêmico”
continuam em pesquisa mesmo após seu término com reformulações no título e buscando
objetivos mais específicos, crescendo a partir da experiência adquirida.
2. OBJETIVOS
Estudar a influência religiosa nos quais a juventude dentre 18 e 30 anos está
inserida, relacionando-a no seu contexto acadêmico no espaço físico da UFG Campi
Goiânia (Câmpus Colemar Natal e Silva e Câmpus Samambaia) realizando um recorte nas
aulas do curso de Ciências Sociais. Conhecer a forma como os universitários religiosos
constroem para inserir a religião no campo científico e a comparação da absorção de
conteúdos e interferência da religião na educação formal.
Em resumo:
¥ Estudar a juventude em sua relação com a religião dentro de um contexto acadêmico;
¥ Investigar as formas como a religião se manifesta na universidade;
¥ Conhecer a forma como os universitários religiosos encontram para infiltrar a religião
em um contexto “onde ele não é aceito”;
¥ Observações da juventude estudante do curso de ciências sociais em debates e
discussões durante as aulas.
Capa Índice 6964
4
3. METODOLOGIA
Foi utilizado como metodologia teórica a sociologia compreensiva de Max Weber.
O conceito entendido por influência é o mesmo caracterizado por poder, ou seja: “a
possibilidade de encontrar obediência a uma ordem determinada”. (WEBER, 1979) Ação
social refere-se a toda conduta dotada de sentido para quem a efetua. O entendimento sobre
religião, não se preocupa com uma definição ao certo, mas sim, a subjetividade do
indivíduo.
Para explicar o conceito atribuído a juventude, utilizei como metodologia teórica a
autora Marialice M. Foracchi, que afirma que “juventude é, ao mesmo tempo, uma fase da
vida, uma força social renovadora e um estilo de existência”, sendo que cada sociedade
constitui o jovem a sua própria imagem.” (FORACCHI, 1965) Para Foracchi: “Menos do que uma etapa cronológica da vida, menos do que uma
potencialidade rebelde e inconformada, a juventude sintetiza uma forma
possível de pronunciar-se diante do processo histórico e de constituí-lo.”
(FORACCHI, 1965, p. 303)
E como prática de pesquisa atribui o trabalho de observação no interior da
universidade assim como nas aulas do curso de Ciências Sociais e nos grupos religiosos
vinculados ao espaço universitário, como também o estudo de materiais teóricos de
sociologia e antropologia da religião.
4. RESULTADOS
Conhecendo o interior da universidade, em aspectos físicos, explorei no local a
presença da religião. Em várias das faculdades se encontravam mensagens bíblicas escritas
em papéis afixados nas paredes do local, que exploravam mensagens remetentes na maioria
das vezes a juízo final (O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-
vos e crede no evangelho. Marcos 1.15) e convites para conhecer a Jesus, com apelos
relacionados a estímulo e desafio (Quem tem coragem de ouvir?). As mensagens nem
sempre se encontram de forma explícita como: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser
receba de graça a água da vida” levando se em consideração que a comunidade
universitária tem um certo conhecimento sobre a bíblia e consegue interpretar a frase de
maneira lógica.
Capa Índice 6965
5
Na grande maioria das copiadoras se centralizava o maior índice de informações
religiosas contidas na universidade, mas se estabeleciam de forma esporádica e sempre
acompanhados de convites para festas e eventos seculares. Na copiadora da FCS se
encontra um quadro com a imagem de Jesus e quando questionado aos colaboradores do
local, me informaram que o dono da copiadora era católico por isso a imagem se
encontrava ali, e com a interrogação de como seria a sua recepção dentro da universidade
foi respondido que os universitários perguntavam com pouca frequência sobre o objeto, na
sua opinião era uma imagem que não era percebida por eles.
No CA da Faculdade de História (FH) se encontra algumas mensagens falando do
amor de Jesus, desenhadas nas paredes, como também mensagens consideradas por mim de
forma antagônica e presença constante de universitários fumando no local.
No prédio da Faculdade de Artes Visuais (FAV) e Escola de Músicas e Artes
Cênicas (EMAC) desenhos com mensagens repressoras como também favoráveis a religião
se encontravam desenhados nas paredes dos prédios.
É possível pensar nos exemplos citados em uma disputa que se estabelece na
universidade entre religiosos e não religiosos, onde em todo tempo um tenta se sobressair
ao outro.
Lanchonetes, corredores e locais de grande visualização, devido ao movimento
constante, como próximos ao Restaurante Universitário (RU) e Restaurante Executivo (RE)
também são locais onde existe grande fluxo de material religioso, sendo sua maioria
convites para participação de grupos de oração que se reúnem no Campi. Além da proposta
de divulgação por cartazes, alguns grupos buscavam auxílio de marcadores de página
juntamente com calendário onde continham a informação dos locais, horários das reuniões
e contato. A entrega dos marcadores de páginas são frequentes no período do almoço nos
restaurantes e corredores da universidade juntamente com grande sorriso daqueles que
entregavam e a prontidão em se trazer informações não contidas no objeto.
Em um período de trabalho informativo eu visualizei a ação dos religiosos que
propagavam o grupo, como também a ação daqueles que pegavam os objetos oferecidos
(marcadores de página). A ação se dava na parada de ônibus no horário de grande
movimento, os universitários eram receptivos, todos que ali se encontravam
(aproximadamente 20 pessoas) pegavam o objeto sem nenhuma repressão visual ou verbal,
Capa Índice 6966
6
mas quando grande parte deles entravam no ônibus, os objetos recebidos eram depositados
no lixo. Sendo entendido por mim como forma de respeito a religião/religioso de pegar o
objeto, mas não sendo de interesse o seu guardar, conhecer o grupo.
Um senhor idoso no período da pesquisa tinha o costume de entregar folhetos que
continham mensagens espíritas psicografados dentro das salas. Todas as vezes em que pude
acompanhar a entrega, os professores abriam as portas das salas em horário de aula e
esperavam a entrega dos folhetos com expressões que mostravam ansiedade na saída do
velho senhor e os estudantes alguns atenciosos outros não, recebiam inserindo em seus
materiais escolares ou deixando em suas carteiras após o fim da aula.
Assim como papéis, folhetos e a presença dos grupos de oração trazem visualidade
a religião na universidade, os próprios universitários com sua individualidade também são
“objetos” que mostram que a religião está presente: camisetas, terço, orações anteriores a
alimentação, cabelos grandes e saias grandes que demonstram a presença da religião mais
tradicionais nas mulheres e a comunicação entre estudantes e funcionários da faculdade
marcam o espaço com a religião.
Foi preocupação do NER o mapeamento dos grupos de oração encontrados no
Campi Goiânia. Dois grandes grupos se encontravam com mais “peso” na universidade o
Aliança Bíblica Universitária (ABU) e Grupos de Oração Universitária (GOU).
Os ABU são grupos que se reúnem alguns na parte externa da universidade e
outros na parte interna como é o caso da Faculdade de Física e Faculdade de Letras que
possuem reuniões em uma sala reservada, eles contam com média de 5 à 12 pessoas como
participantes e seus principais objetivos são: estudar a bíblia, fazendo com que os capítulos
sejam acessíveis e difundidos entre os participantes, onde se preza o esclarecimento e sua
aplicação, orar pelos objetivos dos universitários, louvar a Deus e fazer com que Jesus seja
conhecido na universidade. O grupo possui como convite a reunião um cartaz muito
chamativo, nele retrata-se um Jesus jovem e informal, exercendo a influência caracterizada
por mim como de identificação, onde o universitário se identifica com aquele que é
exposto, ou seja, Jesus e através disso procura reproduzir suas ações.
O GOU possui em média 15 participantes por reunião que acontece semanalmente
e realizam uma missa em cada mês, contando nesse período com um fluxo grande de
universitários. O grupo está ligado a Renovação Carismática Católica (RCC) ao Movimento
Capa Índice 6967
7
das Universidades Renovadas (MUR) e a Associação Servos de Deus (ASD). Seus
objetivos principais são louvar a Deus, cantar, fazer acolhidas e reflexões. Em todas
reuniões evidenciam que são amigos e estão juntos nesse processo, o “dar força”, o confiar,
a união, são propósitos chaves dentro do grupo. É de costume para simbolizar a união deles
um ritual, onde todos as pessoas ali presentes dão as mãos formando um grande círculo, de
forma com que todos fiquem bem próximo um do outro e com as pontas do pés fazem um
movimento de abdução tocando as pontas dos pés da pessoa ao lado, todos dentro da roda
ficam ligados através dessa ação, esse processo além de extremamente belo, auxilia na
socialização dos indivíduos ali presentes como também de acordo com a líder do grupo
simboliza a união deles quanto aos problemas enfrentados, encontrando ali companheiros
onde pode-se confiar.
Os grupos religiosos afirmam que o espaço funciona também como um local de
conversão da juventude, mas percebe-se que os jovens participantes já são religiosos e
buscam o grupo para estar mais próximos a sua fé. Os grupos funcionam ao meu ver como
forma de disputa entre forças. O ambiente acadêmico é muitas vezes entendido pelo recém
universitário como um espaço de estudo, mas também de festas, de conhecer pessoas, de
entrar em contato com um mundo “mais livre” onde “tudo” é permitido. Quando existe a
chegada dos calouros na universidade eu percebo entre eles uma adequação ao meio onde
estão, onde se busca a reprodução das ações dos universitários veteranos e os grupos
religiosos e as manifestações da religião são formas de lembrança como também de
incentivo e força para se continuar na fé.
Os grupos de oração são formas que os estudantes encontraram para transformar o
campo de estudo em campo de missão.
Todos os grupos de reuniões religiosas efetuadas nos campus, em que tive acesso,
contam com pessoas muito receptivas, mostrando interesse em acolher o universitário em
um processo de ajuda para enfrentar os problemas da vida, sendo ele em qualquer direção.
Carlos Procópio ao falar sobre o GOU diz: “Essa dimensão motivacional transforma o campo do conhecimento da
universidade em campo de missão na medida em que valoriza a condição do
jovem universitário enquanto agente de mudança, estendendo sua capacidade
de transformação aos espaços de liderança vislumbrados pelo universitário,
uma vez que introjeta uma crença num status dirigente que seria consequência
Capa Índice 6968
8
natural do fato de se ter cursado o ensino superior.” (PROCÓPIO, 2009, pág.
101.)
Sendo objetivo da pesquisa de identificar se existe influência da religião no
cotidiano universitário da juventude, assisti aulas a fim de estudar a forma como o
estudante universitário discute assuntos relacionados a religião e com a necessidade de se
delimitar o assunto, optei por trazer para pesquisa somente ações percebidas pela FCS, por
motivo de ser uma área das ciências humanas, possui um fácil acesso e explora
questionamentos religiosos.
Os docentes em sua grande maioria passam a noção de que são preparados para
debater assuntos relacionados a essa área de grande sensibilidade dos universitários. Nos
primeiro, segundo e terceiro períodos nota-se uma forte influência da religião, dificuldade
em se trabalhar com o conceito de existir várias verdades, a não aceitação da crítica
impulsionando a saída da sala de aula e o estímulo a discussão da desconstrução do
estudado que se contradiz com a religião. A partir do quarto período, há uma certa
adequação ao sistema de estudo das ciências humanas, sem questionamentos.
Uma universitária do quinto período de licenciatura, católica praticante e
educadora da paróquia, não apresentava problemas em se trabalhar com várias verdades no
ensino, estudando sem dificuldades e respeitando pontos de vistas contrárias aos impostos
em sua religião, segundo ela desde de pequena é ensinada a respeitar a visão de cada um e
as discussões a certas dos pontos de vistas não apresentavam nenhum incômodo.
Já uma estudante do terceiro período de licenciatura, cristã pentecostal se
apresentava como religiosa em todo tempo em sala, tanto verbalmente como através de
manifestações em suas ações corporais, vestimentas, chaveiros com frases cristãs e etc, a
mesma em uma aula após não concordar com expressões do professor de acordo com ela
desrespeitosas com o seu Deus, deixou a sala e apresentava posteriormente a ela grande
dificuldade em frequentar as aulas. A estudante desistiu do curso afirmando que queria
estudar Teologia e ser missionária.
Um rapaz também do terceiro período do bacharelado se questionava a todo o
momento se era da vontade de Deus que continuasse no curso, devido às contradições
quanto a sua religião. Outros exemplos como de um universitário do sétimo período de
licenciatura se diz começar seus estudos com pesquisas a cerca da religião por ter repulsa
do mesmo, afirmando se ateu, mas desistindo no decorrer do processo no tema.
Capa Índice 6969
9
Percebi uma atenção especial por parte dos professores de Ciência Política III,
Sociologia I, Sociologia II, Etnologia Indígena, Antropologia II e Teoria Social e Educação
II a necessidade de se trabalhar com o tema religião e seus diferentes olhares, expondo
visões de diferentes autores como Sigmund Freude, Karl Marx e Émile Durkheim,
permitindo ao universitário dialogar sobre eles e provocar a aceitação e o respeito ao
diferente. Resultado percebido em uma universitária que nasceu em uma ambiente cristão,
mas que com o decorrer do curso principalmente nos estudos de antropologia, adquiriu a
capacidade de aceitação do diferente, a mesma debatia temas polêmicos de forma muito
ampla, se apresentava com as melhores notas da turma e elogios constantes dos professores,
ocorrido segundo ela pela sua dedicação ao conteúdo abordado nas aulas, juntamente com a
sensibilidade ao se trabalhar com o assunto pelos professores do curso.
A juventude universitária estudada, traz muitos elementos apresentados por Silas
Guerriero, ao se trabalhar com a descentralização, ele diz: “As instituições produtoras de
sentido perdiam seu poder e o indivíduo se via, cada vez mais, sem amarras e com a
possibilidade dele próprio constituir seu universo de crenças.” (GUERRIERO, 2009.) onde
a relação com Deus se desenvolve no interior do indivíduo mas sem a necessidade de uma
instituição, religião e mandamentos ditados por ela.
Os exemplos que mesclam, conceitos religiosos para com a visão secular, lembra
ao conceito de religião do self citado também pelo mesmo autor que diz: “Uma das características mais fortes das novas espiritualidades, e que marcou
muitos dos estudos realizados, é a centralidade no indivíduo, uma verdadeira
religião do self. A percepção de que a divindade encontra-se no interior do
sujeito levou a uma desconfiança e uma ruptura com os modelos tradicionais
centrados na instituição, notadamente as formas eclesiásticas tradicionais.”
(GUERRIERO, 2009, pag. 38.)
tudo passa a ser permitido contando somente com a consciência do próprio indivíduo.
Dentre o recorte estudado muitos dos jovens acreditam em Deus e prezam pelo
respeito, vêem a Ele como abrigo nos momentos difíceis, mas não gostam das imposições
da religião que sacrificam o homem.
Capa Índice 6970
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5. DISCUSSÃO
Os pontos centrais da pesquisa se concentram em debater a influência religiosa na
juventude em um contexto universitário, sobre a forma como a religião tem sido tratada na
universidade, assim como problemas e embates enfrentados pelos religiosos.
A pesquisa foi realizada tentando trabalhar com conceitos de atuação social da
juventude nas suas respectivas profissões. A pesquisa se preocupou em conhecer a forma
como o religioso relaciona assuntos que entram em conflito com aquele imposto por sua
religião.
Atualmente temos vivido debates em relação o casamento homoafetivo, a possível
legalização do aborto, drogas e etc. Levando em consideração que na universidade está
sendo formada por possíveis representantes da sociedade, que podem auxiliar nos debates
acerca disso, porque não interrogar a inserção da religião na esfera científica?
Procópio traz elementos que mostram o papel de uso da universidade para a
evangelização dos estudantes e evidencia o seu papel de influência e liderança para com a
sociedade. “Procurando ter influência sobre a vida moderna, a RCC tenta inserir-
se nos mecanismos que determinam seus rumos. Visando à ampliação
das bases comunicacionais, a RCC está na mídia, por meio da qual a
mensagem cristã pode ser levada. Ela está na política, e procura
compor um programa respaldado em valores e projetos cristãos para os
candidatos legados à própria RCC. E ela está na universidade
procurando explorar as potencialidades próprias desse meio, ou seja, a
formação de um contingente de lideranças para a sociedade e a
formação de profissionais qualificados para atividades de ponta no
mercado de trabalho.” (PROCÓPIO, 2009, pág. 82.)
Já Guerriero traz contribuições acerca do trabalho, mostrando as diferentes formas
de modificações a cerca da religião, trazendo elementos como a religião do self e a
descentralização, mostrando um indivíduo que consegue não abandonar o lado mágico, mas
que altera conceitos impostos como verdade.
Os resultados obtidos contribuem no contexto da universidade, mostrando a
preocupação em neutralizar os ensinos e reforçar o papel científico, onde se evidencia o
papel da neutralidade e a discussão racional de temas de grande relevância a sociedade.
Capa Índice 6971
11
Preparando o universitário para ter ciência de várias verdades e a provocar
questionamentos acerca das imposições, auxiliará para a formação de um profissional mais
qualificado.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mediante as observações realizadas até então, os objetivos aqui expostos foram
concluídos, atribuindo a meios de comunicações as formas como a religião se manifesta no
espaço físico da universidade, como também através da individualidade do universitário
religioso e os grupos de oração que aproveitam o espaço para se propagarem.
As informações que continham material religioso, em sua grande maioria foram
trazidas ao espaço físico da universidade pelos próprios universitários.
Os grupos de reunião religiosa são formas que os estudantes religiosos
encontraram, para transformar o campo de estudo em campo de missão, aproveitando desse
espaço para inserir a religião num campo até então fechado, trazendo-a a memória da
juventude universitária nesse espaço secular e auxiliando na permanência do universitário
na fé, além do vínculo entre amigos e interação social provocada por eles.
A juventude universitária estudada trazem elementos de descentralização, religião
do self.
A influência religiosa é presente na universidade e se manifesta de diferentes
formas no desenvolvimento acadêmico, seja pela desistência do universitário do curso pelo
incomodo trazido pelo conflito com a fé do religioso, seja pela dúvida da permanência dele
no curso, a superação dos dogmas impostos formando um profissional com diferentes
visões e conhecimento aprimorado ou simplesmente a influência que a religião desempenha
no universitário não lhe impõe preconceito algum, não desempenhando nenhuma
dificuldade no mesmo, não impedindo de debater questões de aplicação social, sabendo o
universitário separar religião e ciência.
Evidencio aqui o papel extremamente importante do docente, que quando possui
clareza e conhecimento para se trabalhar com religião, estando ele bem preparado, orienta
seus discentes e constroem respeito e entendimento das várias verdades existentes no meio
científico.
Capa Índice 6972
12
7. REFERÊNCIAS
COHN. Gabriel. A "objetividade" do conhecimento nas ciências sociais. São Paulo: Ática,
2006
GABRIEL, Eduardo. A evangelização carismática católica na universidade: o “sonho” do
Grupo de Oração Universitário. São Carlos, 2006
GUERRIERO, Silas. Novas configurações das religiões tradicionais: resignificação e
influência do universo Nova Era. Tomo. Revista do Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa
em Ciências Sociais/Universidade Federal de Sergipe. Nº 1. São Cristóvão-SE,
NPPCS/UFS, n. 14 jan./jun., 2009
FORACCHI, Marialice. A juventude na sociedade moderna. São Paulo: Pioneira, 1972
FORACCHI, Marialice. O estudante e a transformação na sociedade brasileira. São Paulo:
Nacional, 1965
PROCÓPIO, Carlos. A RCC na universidade: transformando o campo de conhecimento em
campo de missão. Aparecida-SP: Ideias & Letras, 2009
SOFIATI, Flávio M. Religião e Juventude: os novos carismáticos. Aparecida-SP: Ideias &
Letras, 2011
TEIXEIRA, Faustino. Sociologia da Religião: Enfoques Teóricos. Petrópolis. RJ: Vozes,
2003
WEBER, Max. Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 2002
WEBER, Max. Weber: Sociologia. Coleção grandes cientistas sociais. São Paulo: Ática,
1986
REVISADO PELO ORIENTADOR
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* Trabalho final de iniciação científica revisado pelo orientador. 1 Acadêmica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (FEN/UFG) bolsista PIVIC. E-mail: [email protected] 2 Orientadora. Enfermeira. Doutora. Professora adjunta da FEN/UFG. E-mail: [email protected] 3 Pesquisadora participante. Enfermeira. Doutora. Professora adjunta da FEN/UFG. E-mail: [email protected] 4 Pesquisadora participante. Acadêmica da FEN/UFG. E-mail: [email protected]
Prevenção e controle de infecção de sítio cirúrgico
na promoção de segurança cirúrgica.
Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás.
Lima, Laís Araújo ¹; Barreto, Regiane A. S. S. ²; Palos, Marinésia Aparecida Prado³; Araújo,
Nadja Leyne Ferreira de4.
Palavras chave: Enfermagem perioperatória, Segurança Cirúrgica, Infecção Hospitalar.
Introdução
A preocupação com a segurança do paciente tem dispendido a atenção dos gestores da
área da saúde e, neste sentido, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou em 2004 cinco
desafios que integram os países de uma Aliança Mundial de Segurança do Paciente. Dentre
esses desafios, a Organização Pan-americana de Assistência à Saúde (OPAS), em 2009, deu
início ao programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas. A questão da segurança do paciente
relacionada à cirurgia é uma preocupação pública mundial, devido às elevadas taxas de
mortalidade e morbidade, relacionadas aos procedimentos anestésico-cirúrgicos, além das
repercussões socioeconômicas (WHO, 2009; OMS/OPAS, 2009).
O programa propõe a implementação de uma lista de verificação de segurança cirúrgica
a fim de alcançar a redução de danos sabidamente conhecidos, assim como operar o paciente
ou o local errado; propiciar risco de infecção no sítio cirúrgico, bem como a retenção
inadvertida de instrumentais ou compressas nas feridas cirúrgicas; manejo inadequado dos
espécimes cirúrgicos; e problemas de comunicação e de vigilância nas instituições (WHO,
2009; OMS/OPAS, 2009).
A referida lista de verificação divide a cirurgia em três fases, cada qual correspondendo
a um momento específico no fluxo normal de um procedimento. O período anterior à indução
anestésica (entrada), após a indução e antes da incisão cirúrgica (pausa cirúrgica) e durante ou
imediatamente após o fechamento da ferida, anterior à remoção do paciente da sala operatória
(SO) (Saída) (WHO, 2009; OMS/OPAS, 2009).
Dentre os eventos adversos (EA) que podem estar relacionados ao procedimento
cirúrgico, as infecções de sítio cirúrgico (ISC) ocupam o primeiro lugar. Esses eventos são
Capa Índice 6974
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6974 - 6987
danos não intencional que podem resultar em incapacidade ou disfunção, temporária ou
permanente, e/ou prolongamento do tempo de permanência e até mesmo óbito, como
consequência do cuidado prestado (MENDES et al, 2008).
As ISC representam 38% das infecções relacionadas à assistência á saúde (IRAS),
sendo responsáveis por 77% dos óbitos de pacientes cirúrgicos (MANGRAM, 1999). Estima-
se que no Brasil ocorra após 9 a 11% dos procedimentos hospitalares. Apresentam graus de
acometimento variáveis, desde restritas ao local da incisão até coleções intracavitárias e
infecções relacionadas a próteses que podem levar o paciente a quadros graves de septicemia
e a novas abordagens cirúrgicas causando, dor, cicatrizes, deformidades e incapacidades,
podendo levar ao óbito (APECIH, 2009).
Pacientes que desenvolvem ISC, quando comparados aos sem infecção, têm 1,6 vezes
mais chances de serem admitidos em unidades de terapia intensiva, 5,5 mais riscos de serem
readmitidos no hospital (tempo médio de permanência de 12 dias), mortalidade atribuída de
4,3% dos casos (SOBECC, 2009).
Diante da problemática da ocorrência das ISC, a análise de ações de promoção de
segurança dentro dos diversos contextos da saúde se faz necessária, levando a repensar
exercícios profissionais que gerem elevado risco aos pacientes e aos próprios profissionais de
saúde e à mudança de comportamento que beneficie as boas práticas de segurança do
paciente. Nesta perspectiva, este estudo buscou investigar o uso das medidas de prevenção e
controle de ISC na sala operatória.
Objetivo
Descrever a prática da equipe multiprofissional quanto às medidas de prevenção e
controle de infecção no centro-cirúrgico.
Metodologia
Estudo descritivo exploratório desenvolvido no centro cirúrgico (CC) de um hospital de
ensino de Goiânia-GO, de setembro de 2011 a maio de 2012, aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (018/2011).
A população constituiu-se da equipe multiprofissional que atua junto a pacientes no
período transoperatório do citado serviço.
A coleta de dados foi realizada por meio de observação com aplicação de um
instrumento tipo checklist, elaborado para tal fim, contendo dados de verificação de medidas
de prevenção e controle de infecção de sítio cirúrgico em sala operatória. Tal instrumento foi
baseado na lista de verificação de segurança cirúrgica da OMS e Sociedade Brasileira de
Capa Índice 6975
Enfermeiros de Centro Cirúrgico, Recuperação Anestésica e Centro de Material e
Esterilização (SOBECC) (Apêndice 1).
Os dados foram analisados por estatística descritiva simples.
Resultados
Foram observados 34 procedimentos cirúrgicos. Em todos ocorreu pelo menos uma falha no
processo, envolvendo quebra na cadeia asséptica ou outro fator colaborador para a diminuição da
segurança relacionada à prevenção de ISC. Os resultados estão demonstrados nas tabelas abaixo. Tabela 1: Distribuição dos 34 procedimentos segundo fatores ambientais da Sala Operatória (SO). Goiânia-GO,
2012.
Variável Sim Não Não se aplica Total
Limpeza pré-operatória 33 (97,1%) 01 (2,9%) ---- 34 (100%)
Teste prévio de equipamentos 11 (32,4%) 23 (67,6%) ---- 34 (100%)
Excesso de pessoas 10 (29,4%) 24 (70,6%) ---- 34 (100%)
Limpeza operatória ---- 02 (5,9%) 32 (94,1%) 34 (100%)
Troca de material/instrumental
contaminado antes do uso
03 (8,8%) 01 (2,9%) 30 (88,2%) 34 (100%)
Portas fechadas durante todo
procedimento
16 (47,1%) 18 (52,9%) ---- 34 (100%)
Limpeza concorrente em até 20
minutos do término da cirurgia
10 (29,4%) 23 (67,6%) 01 (2,9%) 34 (100%)
Não houve utilização de material não esterilizado ou não reprocessado e fora do prazo
de validade nos procedimentos observados; todos (100%) os materiais estavam íntegros e
secos e possuíam indicadores químicos de processos externos (fita zebrada). Em três casos
(8,8%) houve a utilização de material industrializado esterilizado por óxido de etileno, não
havendo no período estudado o uso de qualquer material esterilizado em outro local. A
abertura asséptica foi efetivada nos procedimentos e em nenhum foi necessário o uso de
esterilização rápida (flash). Somente em um (2,9%) caso não foi realizada a limpeza
concorrente antes da próxima cirurgia.
Quanto ao tabagismo (tabela 2), dois pacientes (5,9%) eram ex-tabagistas. No caso de
um paciente tabagista, o mesmo fez pausa de oito dias antes da operação. O banho pré-
operatório com água e sabão foi realizado em 29 casos (85,3%), e em dois (5,9%), com
clorexidina degermante a 2%. A tricotomia em todos os casos foi realizada com lâmina. Nos
casos em que a tricotomia não foi realizada em 24 (88,9%) não foi necessário devido ao local
de incisão ou pouca presença de pelos, e em três casos (11,1%) a mesma já havia sido
Capa Índice 6976
realizada fora da SO. Em 15 casos (44,1%) a antibioticoprofilaxia foi realizada com menos de
30 minutos antes da incisão, e em 15 (44,1%) casos a mesma não foi realizada, somente em
quatro (11,8%) ocasiões, essa foi realizada em tempo hábil. Tabela2. Distribuição dos 34 procedimentos de acordo com fatores relacionados ao preparo do paciente.
Goiânia-GO, 2012.
Variável Sim Não Não se aplica Ignorado Total
Tratamento prévio de
infecção
03 (8,8%) ---- 31 (91,2%) ---- 34 (100%)
Tabagista 01 (2,9%) 30 (88,2%) ---- 01 (2,9%) 32 (100%)
Banho pré-operatório 31 (91,2%) 02 (5,9%) ---- 01 (2,9%) 34 (100%)
Tricotomia na SO 07 (20,5%) 03 (11,1%) 24 (88,9%) ---- 34 (100%)
Glicemia para pacientes
diabéticos
01 (2,9 %) ---- ---- 33 (97,1%) 34 (100%)
Antibióticoprofilaxia até
30 minutos antes da
incisão
04 (11,8%) 15 (44,1%) 15 (44,1%)
---- 34 (100%)
Degermação da pele 13 (38,2%) 09 (26,5%) 11(32,4%) 01 (2,9%) 34 (100%)
Antissepsia do campo
operatório
32 (94,1%) 01 (2,9%) ---- 01(2,9%) 34 (100%)
A degermação não foi realizada em 11 casos (32,36%), pois a via de acesso era mucosa;
e dentre os casos em que essa foi realizada somente em três (23,1%) utilizou-se a técnica
preconizada, ou seja, em sentido centrífugo circular (do centro para a periferia) por cinco
minutos. O produto utilizado para antissepsia do campo operatório foi em 25 casos (73,5%) o
PVPI tópico/alcoólico; em três (8,8%) clorexidina alcoólica; em três casos (8,8%) PVPI
aquoso; em um (2,9%) álcool a 70%, e um (2,9%) o tipo de antisséptico foi ignorado.
O serviço observado não possui sistema de ar condicionado central com filtros, sendo a
temperatura da sala a critério da equipe cirúrgica.
A tabela 3 mostra que em seis casos (17,6%) houve o uso somente de óculos corretivo
para proteção, e somente em um (2,9%) os óculos de proteção pela equipe em campo. Quanto
à fricção antisséptica das mãos em dois casos (5,9%) houve somente a higienização simples
das mãos pelo cirurgião com água e sabão e posterior calçamento de luvas estéreis sendo que
também em dois casos (5,9%) não houve a colocação de capote para realização da cirurgia. O
tipo de antisséptico utilizado para antissepsia cirúrgica das mãos foi PVPI degermante a 1%
em 28 casos (82,4%), em três casos (8,8%) clorexidina degermante a 2%, e em um caso
Capa Índice 6977
(2,9%) não foi observado. Em 11 procedimentos observados, por serem ortopédicos ou com
implantes, somente em um caso (9,1%) foram utilizados dois pares de luvas estéreis.
Não foi observada a necessidade de troca da paramentação cirúrgica devido à infiltração
com sangue ou outro fluído corpóreo. Também, no período observado, não ocorreu nenhum
acidente com material biológico.
Tabela 3: Distribuição dos 34 procedimentos segundo fatores relacionados à equipe cirúrgica. Goiânia-GO, 2012.
Variável Sim Não Não se aplica Ignorado Total
Retirada de adornos 11(32,4%) 23(67,6%) ---- ---- 34 (100%)
Uso de sapato fechado 31 (91,2%) 03 (8,8,%) ---- ---- 34 (100%)
Uso de máscara cirúrgica na
área restrita
04 (11,8%) 30 (88,2%) ---- ---- 34 (100%)
Uso de óculos de proteção 01 (2,9%) 33 (97%) ---- ---- 34 (100%)
Uso de máscara durante toda a
operação
17 (50 %) 17 (50%) ---- ---- 34 (100%)
Todo cabelo coberto pelo gorro
cirúrgico
26 (76,5%) 08 (23,5%) ---- ---- 34 (100%)
Antissepsia das mãos de toda
equipe em campo
31 (91,2%) 02 (5,9%) ---- 01 (2,9%) 34 (100%)
Após degermação cirúrgica
mãos longe do corpo de modo
que a água escorra da ponta dos
dedos em direção aos cotovelos
30 (88,2%) ---- 02 (5,9%) 02 (5,9%) 34 (100%)
Secagem das mãos com
compressa estéril
32 (94,1%) ---- ---- 02 (5,9%) 34 (100%)
Colocação de capote na técnica
asséptica
28 (82,4%) 03 (8,8%) 02 (5,9%) 01 (2,9%) 32 (100%)
Colocação de luvas estéreis na
técnica asséptica
32 (94,1%) 01 (2,9%) ---- 01(2,9%) 34 (100%)
Substituição de capote/luvas
estéreis contaminados
04 (11,8%) 02 (5,9%) 28 (82,4%) ---- 34 (100%)
Troca de luvas estéreis se
perfuradas
03 (8,8%) ---- 31 (91,2%) ---- 34 (100%)
Capa Índice 6978
Tabela 4: Distribuição dos 34 procedimentos segundo fatores relacionados à manutenção da técnica
asséptica. Goiânia-GO, 2012.
Variável Sim Não Ignorado Total
Técnica asséptica na instalação e
dispositivos intravasculares
10 (29,4%) 23 (67,6%) 01 (2,9%) 34 (100%)
Técnica asséptica na indução
anestésica
23 (67,6%) 11 (32,4%) ---- 34 (100%)
Técnica asséptica na administração
de drogas intravenosas
19 (55,9%) 14 (44,1%) ---- 34 (100%)
Montagem de equipamentos e
soluções estéreis imediatamente
antes do uso
25 (73,5%) 09 (26,5%) ---- 34 (100%)
Uso de solução estéril em sistema
fechado para irrigação do campo
operatório (equipo ou bico)
32 (94,1 %) 02 (5,9%) ---- 34 (100%)
Discussão
O centro-cirúrgico (CC) se encontra em uma área crítica na qual existe o risco
aumentado de transmissão de infecção, devido aos procedimentos realizados. Portanto requer-
se o controle do fluxo de pessoal e material, instituindo-se medidas como manutenção das
portas fechadas e diminuição do número de pessoas na sala operatória (SO), com objetivo de
diminuir a contaminação ambiental e movimentação de partículas pelo ar. Nesse sentido, ao
corredor interno que dá acesso às SO e as mesmas são consideradas áreas restritas, onde é
exigido o uso de máscaras cirúrgicas, além da roupa privativa ou unissex, devendo as medidas
de assepsia ser rigorosamente seguidas e controladas para evitar a contaminação do ambiente
(BRASIL, 2002; SOBECC, 2009).
Em relação ao ambiente, temperatura, umidade relativa, pressão e número de trocas
realizadas por hora, os protocolos de paramentação e utilização de roupas, controle de tráfego
e do número de pessoas nas salas, forma de limpeza e manutenção do ar condicionado das SO
são fatores intervenientes na prevenção de ISC (AFONSO et al, 2006).
Para manutenção da higiene do ambiente, a realização da limpeza operatória na queda
de sujidades e/ou fluídos corpóreos durante o procedimento previne que os mesmos se
acumulem nas superfícies e formem uma crosta de difícil limpeza após o procedimento o que
diminui a proliferação de micro-organismos dentro da mesma. Nesse sentido, recomenda-se
também a limpeza concorrente em até 20 minutos do término do mesmo ou o mais rápido
Capa Índice 6979
possível, cabendo à equipe de enfermagem sua realização sob a supervisão do enfermeiro
(SOBECC, 2009; APECIH, 2009; BARRETO et al, 2011).
Estudo realizado no CC de um hospital de ensino acerca do processo de limpeza das
SO constatou que a limpeza preparatória foi efetuada em 87,5% mesmas, sendo a necessidade
em todas elas. Durante 37,5% dos procedimentos foi necessária a limpeza operatória da sala,
porém a mesma não foi realizada; além disso, a desinfecção de superfícies e equipamentos
com álcool a 70% não foi observada em nenhum dos turnos (BARRETO et al, 2011).
Quanto aos equipamentos da SO, a realização de teste prévio antes do início do
procedimento diminui o risco de interrupção da cirurgia e aumento do tempo de exposição do
paciente, consequentemente há risco de ISC (SOBECC, 2009). Os EA que se referem ao
gerenciamento dos recursos materiais denotam falhas nas etapas do planejamento, controle e
supervisão do trabalho por parte da equipe de enfermagem quanto às demandas na previsão,
provisão e manutenção dos equipamentos da unidade, interferindo na segurança do paciente
durante o procedimento cirúrgico (SOUZA et al, 2011).
Tratando-se dos aspectos relacionados ao paciente, sabe-se que o tabagismo, o nível
glicêmico e o controle da temperatura são fatores que influenciam a ocorrência de ISC. A
coleta de histórico do paciente no pré-operatório, recomendação para parar de fumar pelo
menos um mês antes do procedimento, acompanhamento do nível glicêmico durante o
procedimento, especialmente em pacientes diabéticos, e controle térmico com padronização
da temperatura e ar condicionado central, são fatores que aumentam a segurança do paciente
(APECIH, 2009; SOBECC, 2009).
Outro aspecto relevante é a antibioticoprofilaxia adequada com administração em
intervalos regulares (de 30 minutos à uma hora antes da incisão cirúrgica) e no momento
exato para garantir níveis sanguíneos e teciduais adequados no momento da incisão.
Entretanto, muitas vezes esta não é realizada adequadamente e torna-se ineficaz na prevenção
da ISC, apesar de ser simples e comprovadamente eficaz (FERREIRA et al, 2009).
Nesse sentido, pesquisa realizada nos Países Baixos, em cirurgias de artroplastia total
de joelho confirmou a importância da antibioticoprofilaxia pré-operatória além demonstrar
uma taxa mais baixa de infecção associada à administração dentro de 30 minutos antes da
incisão (DELLINGER, 2007; VAN KASTEREN, 2007).
Em se tratando da remoção de pelos, ou tricotomia, não se recomenda pelo risco de
ISC, mas se estritamente necessária sua realização deverá ser feita com tricotomizador
Capa Índice 6980
elétrico, em até duas horas antes do procedimento, pois a utilização de lâminas aumenta o
risco de infecção (SOBECC, 2009; LEAPER et al, 2010).
Com relação à degermação da pele do paciente, a escolha do produto deve se feita de
acordo com o local do procedimento e em todos os procedimentos que envolverão áreas
íntegras. Também devem ser utilizados degermantes com iodopolvidona ou clorexidina, e
como medida adicional pode ser realizada a cobertura das incisões com campos iodoforados,
na antissepsia posterior (SOBECC, 2009; LEAPER et al, 2010).
Idealmente, os antissépticos devem ter uma resposta rápida, potente e largo espectro
microbiocida com efeitos duradouros e nenhum risco de desenvolvimento de resistência
antimicrobiana. Devem ser biocompatíveis com os produtos médicos, e não prejudicar os
processos de cura e serem bem tolerados em feridas com nenhuma toxicidade ou absorção
sistêmica (LEAPER et al, 2010).
Um fator importante para a segurança do paciente é a prevenção da hipotermia, pois os
tecidos se recuperam bem com nível de oxigenação, perfusão e temperatura corporal
adequados. Existem muitas causas de hipotermia (<36ºC) no ambiente frio e seco da SO,
incluindo fluídos intravenosos frios e gases anestésicos, e vasodilatação (ou vasoconstrição
inibida). Suas complicações fisiológicas incluem tremores, aumento da demanda de oxigênio,
um deslocamento da curva de dissociação de oxigênio, acidose, isquemia relativa de órgãos e
infarto do miocárdio. Portanto, esse aspecto deve compor o plano de cuidados, podendo
ajudar a reduzir o uso abusivo de antibióticos, além de estar associado com baixa incidência
de EA e diminuição do tempo de internação hospitalar (LEAPER et al, 2010).
Considerando os aspectos relacionados à equipe, é vedado aos profissionais o uso de
adornos e sapatos abertos na prestação de cuidados em saúde. No CC, além desses cuidados,
os mesmos devem fazer uso da roupa privativa para entrada no setor, bem como uso de gorro
que cubra totalmente os cabelos, máscara cirúrgica e óculos de proteção por ser uma área de
circulação restrita (SIEGEL et al, 2007; BRASIL, 2005; SOBECC, 2009; APECIH, 2009).
Em relação à manutenção da técnica asséptica na instalação de dispositivos
intravasculares, indução anestésica, e administração de drogas IV, esses são fatores que devem
ser rigorosamente observados, pois se feitos de maneira inadequada podem ser portas de
entrada e veículos de transmissão de patógenos ao paciente, além da própria exposição
causada pela abertura do sitio cirúrgico (SIEGEL et al, 2007).
Valores relacionados a boas práticas de manutenção da técnica asséptica pelos
anestesistas foram encontrados em um estudo realizado em um hospital universitário após a
Capa Índice 6981
aplicação de questionário aos mesmos, e mostrou que 95,2% desses faziam uso de máscara
cirúrgica e 96,3% usavam luvas frequentemente, 98,8% afirmaram fazer uso de luva estéril
para bloqueio do neuroeixo, 91,3% alegaram adotar técnica estéril para realização de punção
venosa central, 95,1% disseram lavar as mãos entre os casos, e 91,6% procuravam manter
estéril a cânula de intubação orotraqueal (KISHI e VIDEIRA, 2011).
Além disso, a montagem de soluções e equipamentos estéreis, imediatamente antes do
uso, reduz o tempo de exposição e contaminação dos mesmos pelo ambiente o que diminui a
carga microbiana que entra em contato com o paciente. Desse modo, o uso de solução estéril
em sistema fechado para irrigação do campo operatório impede a contaminação da solução e
do campo pela abertura inadequada dos recipientes que a contém, como os frascos de soro
abertos utilizando lâmina de bisturi ou pinças cirúrgicas, garantindo a assepsia da mesma
(SOBECC, 2009). Sugere-se o uso de bico produzido especialmente para esse fim ou até
mesmo o uso do bico do equipo do soro cortado de forma asséptica para irrigação do campo.
Na prevenção de infecções, os anestesistas tem um importante papel, pois realizam
rotineiramente procedimentos invasivos, que ultrapassam as barreiras fisiológicas, como
intubação traqueal, acesso venoso ou bloqueios do neuroeixo. Tais procedimentos
possibilitam a contaminação do paciente por micro-organismos, portanto a não adesão dos
mesmos às práticas recomendadas facilita a transmissão de micro-organismos e
desenvolvimento de infecções (KISHI e VIDEIRA, 2011).
Aponta-se para um estudo observacional, similar a esse, realizado para avaliar a
aplicação de procedimentos de prevenção e controle de infecção no preparo pré-cirúrgico do
paciente e práticas rotineiramente utilizados pelas equipes nos departamentos de cirurgia geral
de 49 hospitais na região de Piemonte da Itália (CASTELLA, 2006).
Os resultados mostraram que dentre 799 procedimentos, em 70,6% foi feito a
tricotomia, banho pré-operatório em 28,8% no dia anterior ao procedimento;
antibioticoprofilaxia realizada em 63,3% dos casos (68,4% na indução anestésica e 26% com
média de 30 minutos antes da incisão), tendo a mesma continuado até o período pós-
operatório, em 43% dos casos. A média de pessoas na SO foi de seis; a abertura de portas
durante o procedimento foi em média 12 vezes; 88% dos membros da equipe cirúrgica fez uso
de gorro e máscara corretamente; 25 % dos cirurgiões e 41% dos instrumentadores usava
proteção ocular; a antissepsia pré-operatória das mãos foi correta em 78% dos casos
(cirurgiões, 74,6%; instrumentadores, 86,6%) (CASTELLA, 2006).
Capa Índice 6982
A existência de dados similares aos encontrados neste estudo mostra a necessidade da
melhoria das práticas de prevenção de ISC, sendo a implementação do checklist um
instrumento eficaz para auditar as práticas de controle de infecção.
Conclusão
Esse estudo se propôs a analisar as práticas da equipe multiprofissional que atua junto
a pacientes no período transoperatório, muitas vezes inseguras e sem resolutividade. Contudo,
o mesmo apresentou duas importantes limitações: a amostra reduzida e a baixa rotatividade
entre os membros da equipe, o que limitou a abrangência da análise das práticas dos mesmos.
Apesar disso, puderam-se obter algumas conclusões acerca das práticas observadas.
Os resultados apontaram para a não adesão às medidas de biossegurança para a
prevenção e controle de ISC, quanto à retirada de adornos e uso de paramentação adequada à
área (roupa privativa, gorro, máscara cirúrgica, calçados fechados, óculos de proteção),
displicência no cuidado com o ambiente, preparo inadequado do paciente relacionado à
tricotomia, antibioticoprofilaxia em tempo hábil, controle glicêmico e de temperatura
adequados, bem como a falta de manutenção e não observância rigorosa da técnica asséptica
desde a indução anestésica até o encaminhamento do paciente para a sala de recuperação pós-
anestésica. Esses fatores comprometem a segurança cirúrgica na SO e expõem o paciente a
ocorrência de EA que podem causar desde danos físicos, com aumento do tempo de
internação hospitalar e até óbito, além do aumento dos custos com a internação.
Tal realidade reforça a necessidade de realização de novos estudos sobre o tema, além
da implementação de mudanças na condução do transoperatório, como a utilização de
checklists que vise à verificação adequada de cada etapa, contribuindo para o aumento da
segurança cirúrgica, além de prevenir erros por falta de preparo e comunicação da equipe.
Sugere-se a adoção do checklist da OMS, reforçando a busca pela melhoria da assistência,
oferecendo um cuidado de qualidade aos pacientes.
Referências
APECIH. Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar. Prevenção
da Infecção de Sítio Cirúrgico. 2. ed. São Paulo: APECIH, 2009.
Capa Índice 6983
AFONSO et al. Condicionamento de ar em salas de operação e controle de infecção – uma
revisão. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2006; v.08, n.01, p134-43. Disponível
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BARRETO et al. Processo de limpeza da sala operatória: riscos à saúde do usuário e do
trabalhador. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2011 abr/jun; v.13, n 02, p 269-75. Disponível em:
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<http://whqlibdoc.who.int/publications/2009/9789241598552_eng.pdf>.Acesso em 07/01/11.
Capa Índice 6986
Apêndice I – Lista de verificação de prevenção e controle de infecção cirúrgica
Lista de verificação de prevenção e controle de infecção cirúrgica Cirurgia:__________________________________Especialidade:___________________________ Cirurgião:_________________________________Anestesista:_____________________________ Sala: hora: data: / / Circulante: Itens de verificação Sim Não Limpeza preparatória com álcool a 70%
Equipamentos testados quanto ao funcionamento antes da cirurgia Excesso de pessoas na SO, considerando o fato de ser de ensino (Equipe +2) Limpeza operatória (caso haja queda de matéria orgânica durante a cirurgia) em equipamentos, superfícies ou no piso Utilização de instrumental não esterilizado ou reprocessado Utilização de instrumental ou material reprocessado em outro local ou instituição Instrumental dentro do prazo de validade da esterilização Presença de indicadores químicos externo de processo nos pacotes (fita zebrada) Pacotes íntegros e secos Abertura dos pacotes na técnica asséptica Em caso de contaminação de instrumental e materiais, houve troca do mesmo, antes do uso Especificar: Esterilização rápida (flash) apenas em situação de emergência e somente para itens que serão usados imediatamente Portas fechadas durante toda a cirurgia Limpeza concorrente ao final da cirurgia. Em até 20 ( ) Em ______min ( ) Preparo do Paciente: Tratamento prévio de infecção. Local: Prescrição antibiótico:
Tabagista / Tempo de pausa antes da cirurgia: Banho pré-operatório. Especificar produto: água e sabão ( ) clorexidina ( ) Tricotomia até 2 horas antes do procedimento. Com tricotomizador elétrico ( ) lâmina ( ) outro método ( ) Glicemia (no caso de pacientes diabéticos) valor:_____ml/dl Antibioticoprofilaxia até 30 min antes da incisão. Qual/dose: Degermação da pele com solução estéril e degermante, antes da antissepsia Degermação da pele por no mínimo 5 min, sentido centrífugo circular (centro para periferia, retirada do excesso de solução com outra compressa umedecida e secagem da pele: sentido centrífugo circular (do centro para periferia).
Antissepsia no campo operatório: No sentido centrífugo circular (do centro para periferia) durante 1 min: ( ) Obs:
Tipo de antisséptico: Equipe cirúrgica Retirada de adornos (aliança, pulseiras, relógios, anéis, brincos, outros) Uso de sapato fechado Uso de máscara cirúrgica que cubra totalmente a boca, barba e nariz ao entrar no corredor que dá acesso as SO Uso de óculos de proteção Uso de máscara durante toda a operação: Profissional:
Todo o cabelo coberto pelo gorro cirúrgico Antissepsia das mãos de toda equipe em campo Tipo de antisséptico para antissepsia das mãos: Após degermação cirúrgica mãos longe do corpo (cotovelos em posição flexionada), de modo que a água escorra das pontas dos dedos em direção aos cotovelos Secagem das mãos com compressas estéreis Colocação de capote na técnica asséptica Colocação de luvas estéreis na técnica asséptica Em caso de contaminação de capote e/ou luvas estéreis houve substituição dos mesmos: Especificar: Troca de paramentação cirúrgica quando visivelmente suja ou infiltrada com sangue ou outro fluido corpóreo potencialmente infectante Troca de luvas estéreis, se perfuradas Uso de dois pares de luvas estéreis em cirurgias ortopédicas ou com implantes Acidente com material biológico / Tipo: Conduta: Obs: Notificação à CCIH Assepsia e técnica cirúrgica: Manutenção de técnica asséptica na instalação de dispositivos intravasculares Manutenção de técnica asséptica na indução anestésica (bloqueio de plexo, raquianestesia, peridural, anestesia geral). Manutenção de técnica asséptica na administração de drogas intravenosas Montagem de equipamentos e soluções estéreis imediatamente antes do uso Utilização de solução estéril em sistema fechado para irrigação do campo operatório (bico ou equipo) Observações adicionais: _____________________________________________________________data:___/___/___ Assinatura e carimbo do profissional responsável
Adaptado de WHO,2009; OMS,2009. Modificado de acordo com SOBECC, 2009.
Capa Índice 6987
INVESTIGAÇÃO DA TOXICIDADE PRÉ-CLÍNICA IN VIVO E IN VITRO DE UMA
SERIE DE COMPOSTOS CANDIDATOS A FÁRMACOS INIBIDORES DE
FOSFODIESTERASE 3.
Lara Barroso BRITO, Soraia Santana de MOURA, Marize Campos Valadares BOZINIS
1rio de Farmacologia e Toxicologia Celular – FarmaTec – Faculdade de cia –
UFG
Email: [email protected]
Palavras-chave: fármacoscardiotônicos, testes in vitro.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o mercado farmacêutico mundial cresceu consideravelmente devido
ao aumento da demanda por novos medicamentos. A previsão para as vendas globais do
mercado farmacêutico é de crescimento de 4 a 7% sobre o crescimento anual até 2013,
atingindo 1,3 trilhões de dólares em 2020. Dessa forma, o desafio para indústria farmacêutica
é aumentar sua produtividade em pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas para
capitalizar as oportunidades (PHRMA, 2010).
Frente às principais doenças que acometem a população, as desordens do sistema
circulatório são a principal causa de mortalidade no Brasil e no mundo. Tais doenças superam
outras, p. ex., câncer, problemas respiratórios crônicos e acidentes combinados, quanto ao seu
impacto sócio-econômico (PHRMA, 2011). A redução de mortes por doenças
cardiovasculares, observada recentemente, deve-se em grande parte ao desenvolvimento de
medicamentos eficazes para controlar a pressão arterial e redução dos níveis de colesterol
(PHRMA, 2011). Isto ratifica a busca constante por novos medicamentos que sejam mais
efetivos, seguros e que apresentem menos efeitos colaterais, quando comparados aqueles
disponíveis na terapêutica.
No ano de 2011, a “PharmaceuticalResearchandManufacturersofAmerica” (PHRMA)
publicou uma lista com 299 candidatos a protótipos de fármacos para o tratamento de doenças
do coração e acidente vascular cerebral, que se encontram em fase clínica ou em curso para
aprovação pelo “FoodDrugandAdministration” (FDA). Neste mesmo ano, 35 novos
medicamentos desenvolvidos pela America’sBiopharmaceuticalResearch foram aprovados
pelo FDA, sendo três deles para o tratamento de doenças cardiovasculares. Destes, um foi
Capa Índice 6988
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6988 - 6994
desenvolvido para o tratamento da síndrome coronária aguda e para prevenção da trombose
de veias profundas (PHRMA, 2012).
A inovação em fármacos e medicamentos representa um processo de características
multidisciplinares, demandando competências, em diversas áreas do conhecimento. O
processo de desenvolvimento de um novo fármaco associa-se, normalmente, a uma sequência
hierárquica de estudos onde uma imensa gama de ferramentas é empregada nos vários
estágios, desde a identificação dos alvos farmacológicos, seleção inicial de compostos
bioativos, caracterização de compostos protótipos e metabólitos, esclarecimento do
mecanismo de ação, perfil farmacocinético até a avaliação da eficácia e segurança (PHRMA,
2010).
Para o desenvolvimento de novos protótipos a fármacos é imprescindível o estudo da
segurança pré-clínica e clínica, os quais se utilizam de métodos in vivo e in vitro. A
investigação pré-clínica é conduzida em sua maior parte pelo uso de animais em laboratório.
No entanto, durante as duas últimas décadas, a redução do número de animais em pesquisa
tem sido substancialmente empregada à medida que métodos alternativos, validados e
padronizados, são propostos e desenvolvidos por órgãos de regulamentação (PEREIRA;
SILVA; ROMEIRO, 1988).
A citotoxicidade basal, pelo método de captação de vermelho neutro é considerada
uma grande aliada para a seleção das doses iniciais para o teste de toxicidade oral aguda de
acordo com o protocolo clássico OECD 423, em camundongos. Este teste fornece
informações sobre efeitos desconhecidos de compostos químicos e podem predizer a provável
DL50 in vivo do composto testado (VIEIRA M.S. et al., 2011). Neste trabalho, investigamos a
citotoxicidade basal de 7 compostos (LQFM011, LQFM012, LQFM020, LQFM021,
LQFM022, LQFM023 e LQFM024) originalmente planejados a partir da estratégia de
hibridação molecular, tendo como compostos protótipos os fármacos cilostazol e milrinona,
ambos inibidores da enzima fosdiesterase 3, e classificamos o composto LQFM021 conforme
a Global Harmonized System (GHS) através do teste de toxicidade oral aguda.
Cabe aqui justificar que o projeto inicial tratava da avaliação do potencial citotóxico
desta serie de compostos frente células tumorais. Realizamos uma triagem da avaliação de
citotoxicidade e constatamos que todos os compostos não apresentaram um perfil adequado
para prosseguir com a investigação. Diante de dados promissores acerca da atividade
inibidora de fosfodiesterase 3 obtidos por pesquisadores do nosso grupo e da importância de
avaliar a toxicidade de novos candidatos a farmacos, optamos por avaliar a toxicidade desta
serie de novos compostos.
Capa Índice 6989
2 OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo estimaraDL50 dos sete candidatos a tipos de
rmacos cardiotônicos,através do todoin vitro de captac o do vermelho neutro.
3 METODOLOGIA
3.1 Compostos teste
Os compostos LQFM011, LQFM012, LQFM020, LQFM021, LQFM022, LQFM023 e
LQFM024 foram sintetizadas no rio de mica Farmace utica Medicinal, sob a
coordenac o do Prof. Dr. Ricardo Menegatti.
3.2 Ensaio de captação do vermelho neutro
As lulas 3T3 (3x104lulas/mL) foram semeadas em placas de 96 poc os em meio
DMEM suplementado com 10% de soro fetal bovino e incubadas por 24h em estufa de
cultivo celular (37 °C, 5% de CO2). Em seguida, foram incubadas com oito concentrac es
seriadas (0005 - 0,602 mg / mL) de cada cula, em sexplicata, por 48h conforme
protocolo do ICCVAM
(InteragencyCoordenationCommiteeontheValidationofAlternativeMethods). Foram realizados
dois experimentos independentes. A absorba ncia foi medida em 540 nm e os resultados foram
analisados estatisticamente usando o software GraphPadPrism 5. Os valores de IC50 (ug/mL)
encontrados foram usados para estimar a DL50 (mg/kg) de acordo com a equac o (log
(LD50) = 0,435 x log (IC50) + 0,628) validada pelo ICCVAM em 2006,utilizado para
suportar a seleção da dose na avaliação da toxicidade oral aguda.
3.3 Toxicidade oral aguda
A toxicidade oral aguda foi realizada de acordo com o guia recomendado na OECD
423 "Classe de Toxicidade Oral Aguda", de 2001. A dose inicial para LQFM021(molécula de
maior eficácia como cardiotônico selecionada da serie) foi selecionado a partir de dados
obtidos in vitro no ensaio de incorporação de vermelho neutro com células basais 3T3. A
molécula foi preparada com óleo vegetal comestível (óleo de girassol) e administrado por via
oral, pelo método de gavage, com volume de 0,2 mL em camundongos fêmeas suíços. Esta
dose foi testada duas vezes e, assim, estimado a categoria da toxicologia do extrato de acordo
Capa Índice 6990
com as especificações do guia. Os animais foram restrito ao alimento durante 2 horas antes da
dosagem. Durante o período experimental, os animais foram observados continuamente
durante 12 horas e em seguida observados diariamente para a verificação de qualquer
alteração no comportamento geral ou atividades fisiológicas. Os animais foram avaliados pelo
método de rastreio hipocrático que verifica os efeitos da substância sobre o estado de
consciência, eliminação de atividade, e coordenação do sistema motor e tónus muscular, a
atividade do sistema nervoso autónomo e central do animal. Ou seja, irritabilidade,
sensibilidade ao toque, resposta ao aperto de cauda, torção posição posteriores, reflexo de
endireitamento, tomada de poder, reflexo da córnea, tremores, Straub, anestesia,
lacrimejamento, ptose palpebral, piloereção, cianose e morte.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Ensaio de captação do vermelho neutro
A exposição das células 3T3 de cada uma das moléculas LQFM011, LQFM012,
LQFM020, LQFM021, LQFM022, LQFM023 e LQFM024 resultou em um declínio da
proliferação celular, de forma concentração dependente como mostra a figura 1, com valores
de IC50 de 70,8 µg/mL; 56 µg/mL; 69 µg/mL; 59,8 µg/mL; 38,7 µg/mL; 43,6 µg/mL; 59,4
µg/mL respectivamente, para as moléculas descritas acima.
Vermelho Neutro
0.001 0.010 0.100 1 10-50
0
50
100
150
200M011M012M020
M022M021
M023M024
mM
Viab
ilidad
e (%
)
Figura 1. Citotoxicidade de sete candidatos a protótipos de fármacos pelo método de captação
do Vermelho Neutro (ICCVAM,2006). Ensaio realizado em sexplicata e dois experimentos
Capa Índice 6991
independentes. Os IC50 encontrados foram: LQFM011 = 70,8 µg/mL, LQFM012 = 56
µg/mL, LQFM020 = 69 µg/mL, LQFM021 = 59,8 µg/mL, LQFM022 = 38,7 µg/mL,
LQFM023 = 43,6 µg/mL e LQFM024 = 59,4 µg/mL.
Estudos independente desse indicaram que a molécula LQFM021 apresenta melhor
atividade cardiotônica, em razão destes dados escolhemos esta moléculas para os demais
estudos.
Considerando o valor de IC50 da molécula LQFM21 estimou-se aDL50in vivo (533
mg / kg), o que nos ajudou na escolha da dose inicial da molécula a ser administrada para
avaliação da toxicidade oral agudain vivo (figura 2).
Figura 2. Ensaio de citotoxicidade NRU 48h após a exposição a LQFM021, dentro de 12
repetição ± DP usando oito concentrações (0005 - 0,602 mg / mL). O teste resultou num
declínio da proliferação celular, dependente da concentração. A exposição de células 3T3 a
LQFM021 fornece um valor de IC50 o qual foi utilizada para estimar provável DL50 in vivo.
Em momento seguinte, estes dados foram usados para escolher a dose inicial da molécula a
ser administrada para avaliação da toxicidade oral aguda (2000 mg / kg). A toxicidade aguda
por via oral foi realizada de acordo com o guia recomendado na OCDE 423 "Classe de
Toxicidade Oral Aguda", de 2001.
4.2 Avaliação da toxicidade oral aguda da LQFM021
Capa Índice 6992
A administração de 2000mg/kg de LQFM021 nos animais causou sinais de toxicidade.
Nas primeiras quatro horas, eles apresentaram apatia e paresia posterior nas pernas traseiras.
Um animal mostrou um comprometimento maior do sistema motor e morreu. Os demais
recuperaram completamente após 24 horas. Passado 14 dias, não foram apresentados outros
sinais de anormalidade, até a eutanásia dos animais, sendo LQFM021 classificados como
"classe 4" no Sistema Harmonizado Global (GHS), ou seja, a toxicidade letal aguda entre 300
e 2000 mg / kg. Não houve diferenças significativas no peso corporal (dados não mostrados).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo completo da toxicidade pré-clínica da molécula LQFM021ainda deve ser
desenvolvido. Neste trabalhado, apresentamos a citotoxicidadeda serie e a toxicidade oral
aguda do composto LQFM21.Os dados obtidos futuramente serão utilizados para estudos de
maior duração como a toxicidade subaguda, subcrônica e crônica. Alguns destes ensaios
fazem parte de um projeto maior e já estão sendo desenvolvidos no nosso laboratório, porém
ainda não foram concluídos.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ICCVAM, 2006.Test method evaluation report (TMER): in vitro cytotoxicity test methods
forest imating starting doses for acute oral system cictoxicity tests. NIH publication, p.07-
4519. Research triangle park, NC: National institute for environmental health sciences.
Disponível em: </http://iccvam.niehs.nih.gov/S>. Acesso em 30 jul 2012.
PEREIRA, C.E.M.; SILVA, J.D.M; ROMEIRO, V.R. Aspectos Éticos da Experimentação
Animal. ActaCirurgicaBrasileira, v.13, n.2, São Paulo, 1998.
PHRMA. Pharma 2020: The Vision – Which Path Will You Take?.Pharmaceuticals and Life
Sciences, 2010.
PHRMA. 2011 Report: For heart disease and stroke. Biopharmaceutical Research Companies
Are Developing Nearly 300 Medicines for Cardiovascular Disease. Medicines in
development, 2011.
PHRMA. 2012 Report: New Drug Approvals in 2011. Biopharmaceutical Research
Companies Receive Approval for 35 New Treatments in 2011. Medicines in development,
2012.
ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND DEVELOPMENT
(OECD).Guideline for the Testing of Chemicals, OECD 423.Acute Oral Toxicity – Acute
Toxic Class Method.Organization for Economic Cooperation and Development, Paris, 1997.
Capa Índice 6993
VIEIRA, M.S. et al. In vitro basal cytotoxicity assay applied to estimate acute oral systemic
toxicity of grandisin and its major metabolite. Experimental andToxicologicPathology, v.63,
p. 05–510, 2011.
REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 6994
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ENFERMAGEM1
PREVALÊNCIA DE FRAGILIDADE EM IDOSOS
NO MUNICÍPIO DE GOIÂNIA-GO
Lara Dayse de Paula Limiro2
Dálete Delalibera Corrêa de Faria Mota3
¹ Nome do Grupo de Pesquisa Cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq:
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias de Avaliação, Diagnóstico e Intervenção de
Enfermagem e Saúde (NUTADIES)
²Acadêmica da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás.. Goiânia,
Brasil. E-mail: [email protected] 3 Doutora em Enfermagem. Professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal
de Goiás. Goiânia, Brasil. e-mail: [email protected]
RESUMO: Introdução: Fragilidade é uma síndrome clínica de natureza multifatorial,
caracterizada por um estado de vulnerabilidade fisiológica resultante da diminuição das
reservas de energia e da habilidade de manter ou recuperar a homeostase após um evento
desestabilizante. Suas repercussões são negativas e medidas preventivas são necessárias para
que idosos vivam por mais tem sem prejuízos à sua qualidade de vida. Objetivo: Avaliar a
prevalência de fragilidade em idosos do município de Goiânia/GO. Metodologia: Pesquisa de
caráter epidemiológico, transversal e de base populacional. Dados coletados entre janeiro e
abril de 2010 em toda a área urbana do município de Goiânia/GO. Resultados e discussão:
Um total de 533 idosos foram avaliados quanto a presença de 5 fenótipos: exaustão, perda de
peso não intencional, redução de força de preensão, marcha lenta e baixo nível de atividade
física. Foram considerados frágeis 40,5 % dos idosos, pré-frageis, 52,4% dos idosos e não
frágeis, 7,1%. Os idosos goianienses apresentaram-se mais frágeis do que os idosos de outros
estudos nacionais e internacionais. Conclusão: O presente estudo traz contribuições inéditas
quanto aos dados locais de fragilidade entre idosos. O resultado é alarmante não só pela alta
prevalência de idosos frágeis, mas também pelo alto número de idosos pré-frágeis pois
sabemos que há tendência de que estes se tornaram frágeis caso nenhuma medida seja tomada.
PALAVRAS-CHAVES: envelhecimento, idoso fragilizado, prevalência.
Capa Índice 6995
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 6995 - 7006
1. INTRODUÇÃO:
O conceito de fragilidade é bastante divergente, sendo que ainda não há um consenso
em relação. Entre estas variadas definições, podemos encontrar algumas como a de que
fragilidade é uma síndrome clínica que se caracteriza por redução da reserva e da resistência
diminuída aos estressores, o que advêm do declínio cumulativo dos sistemas fisiológicos e
causa vulnerabilidade a condições adversas, tais como doenças, variações ambientais e
acidentes (FRIED, WALSTON 1998). Atualmente, o conceito de fragilidade que vem sendo
amplamente aceito é o de que a fragilidade é uma síndrome clínica de natureza multifatorial,
caracterizada por um estado de vulnerabilidade fisiológica resultante da diminuição das
reservas de energia e da habilidade de manter ou recuperar a homeostase após um evento
desestabilizante (ARANTES et.al. 2009).
A fragilidade pode acometer pessoas de todas as idades, levando em consideração que
ela é uma alteração fisiológica, podendo ocorrer em qualquer fase da vida. Apesar disto, é
inegável que o envelhecimento está bastante ligado à fragilidade, sendo assim, pode-se
concluir que esta afeta os idosos, porém não deve ser entendida como sinônimo de velhice
(FERNANDES apud FABRICIO-WEHBE 2010).
Segundo estudos, a fragilidade está relacionada a vários determinantes. Fernandes,
Andrade e Nóbrega (2010) afirmam que existem determinantes demográficos, psicossociais e
físico-biológicos. Determinantes estes que estão descritos abaixo:
Determinantes demográficas e psicossociais: baixo nível de renda e escolaridade;
ausência/déficit de suporte social; idade avançada; sexo; auto percepção negativa; entre
outros.
Determinantes físico-biológicos: declínio cumulativo em múltiplos sistemas
orgânicos; comorbidades crônicas; depressão; baixo nível de atividade física; déficit
cognitivo; ingestão nutricional inadequada; aterosclerose; obesidade; uso de fumo; história de
queda; entre outros.
São vários os parâmetros para se definir um idoso como frágil, o modelo mais aceito
atualmente apresenta os seguintes parâmetros:
Perda de peso não intencional (≥ 4,5 Kg ou ≥ 5% do peso corporal do ano anterior);
Exaustão avaliada por auto-relato de fadiga por duas questões da Center for
Epidemiological Studies – depression (CES-D);
Diminuição da força de preensão da mão dominante medida pelo pinamômetro e
ajustada ao sexo e ao IMC (índice de massa corpórea);
Capa Índice 6996
Baixo nível de atividade física medido pelo dispêndio de energia semanal em Kcal,
ajustado ao sexo (com base no auto-relato das atividades e exercícios físicos realizados,
avaliados através do Minnesota Leisure Time Activities Questionnarie);
Lentidão avaliada pelo tempo gasto em segundos para percorrer uma distância de 4,6
metros, ajustada pelo sexo e altura.
De acordo com esses dados, o idoso é considerado não frágil se não apresentar
nenhum destes parâmetros; pré-frágil se apresentar 1 ou 2 dos parâmetros; e frágil se
apresentar 3 ou mais parâmetros. (FRIED et Al, 2001).
Outro método utilizada para definir idosos frágeis foi a proposta por Van-Kan et al
(2008), baseando-se na palavra Frail, que traduzida significa frágil. A escala é ilustrada a
seguir:
Fatigue Sensação de fadiga predominando na maior parte do tempo
Resistance Habilidade para subir um lance de escadas
Ambulation Habilidade para caminhar uma quadra
Illness Presença de 5 comorbidades ou mais
Loss of Weight Perda de peso corporal maior de 5%
Outros fatores - não determinantes - que são encontrados em idosos frágeis são, por
exemplo, quedas, sintomas depressivos, anormalidade da marcha, redução da massa óssea,
alterações cognitivas e déficits sensitivos. Há também, uma maior vulnerabilidade dessas
pessoas a um processo traumático e a apresentação de má resposta às terapêuticas instituídas.
(FERRIOLI, MORIGUTI, FORMIGHIERI, 2011)
Além de todos estes critérios fisiopatológicos, pode-se observar também critérios
laboratoriais, já que alguns exames como: marcadores de aumento da atividade inflamatória;
redução da creatinina sérica; redução da albumina sérica; anemia; e alterações hormonais
podem estar alterados. Porém, estes testes aplicados isoladamente ou em conjunto acabam por
não contribuir de forma significativa para a definição ou não da fragilidade. (FERRIOLI,
MORIGUTI, FORMIGHIERI, 2011)
A prevalência da fragilidade em idosos varia de um estudo para outro, em decorrência
destes adotarem diferentes definições de fragilidade. Estudos anteriores mostram que a
prevalência da fragilidade em idosos é alta, e que esta se intensifica naqueles que são
considerados “muito, muito idosos” (acima de 85 anos). (FERNANDES et al 2010).
Capa Índice 6997
A rede FIBRA (Rede de Pesquisa sobre Fragilidade em Idosos Brasileiros), que é uma
rede de pesquisa brasileira sobre a fragilidade em idosos, realizou uma pesquisa com 113
idosos, em que 13,3% destes eram considerados idosos frágeis (FERNANDES et al 2010). A
mesma rede divulgou um estudo avaliando a prevalência de fragilidade em idosos na cidade
de Ribeirão Preto, com um total de 385 idosos, com média de idade de 74 anos, o resultado
obtido foi uma prevalência de fragilidade de 7,4% dos homens para 10% das mulheres.
A Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo realizou pesquisa com
uma amostra de 689 indivíduos com idade maior ou igual há 75 anos, teve uma prevalência de
fragilidade igual a 45% nos idosos, o que mostra um crescimento significativo, em relação a
2006, em que se observou prevalência de fragilidade igual a 14,1% nos mesmos idosos. O
estudo SABE que integra o projeto SABE (Saúde, bem-estar e envelhecimento), também
realizado em São Paulo pela mesma universidade citada acima, identificou uma prevalência
de fragilidade igual 15,4% em idosos com 60 anos ou mais (CAMARANO, 2010).
O presente estudo se mostra importante por dois principais aspectos. Primeiramente,
estudos anteriores mostram que os idosos considerados frágeis apresentam maior taxa de
hospitalização, passam por mais quedas, apresentam piora nas atividades de vida diária e
maior mortalidade (FERRIOLI, MORIGUTI, FORMIGHIERI, 2011) o que mostra que é
necessário conhecer esses idosos frágeis, para que estes agravos decorrentes da fragilidade
possam ser prevenidos e tratados, a fim de que haja uma diminuição na ocorrência destes.
Além disso, observando variados estudos em revisão de literatura, observou-se que não há
estudos sobre fragilidade em idosos da região Centro-Oeste. Consequentemente, não se sabe a
dimensão deste problema nessa região do país, o que dificulta o planejamento de estratégias
de prevenção de complicações relacionadas à fragilidade. Desta forma, pode-se concluir que a
realização deste projeto será de grande valia para a sociedade.
2. OBJETIVO:
Avaliar a prevalência de fragilidade em idosos do município de Goiânia/GO.
3. METODOLOGIA:
O projeto terá como base o banco de dados proveniente da Pesquisa “Situação de
Saúde da População Idosa do município de Goiânia/GO”, dados estes que foram
disponibilizados pela Rede de Vigilância à Saúde do Idoso (REVISI). Essa pesquisa foi um
estudo de caráter epidemiológico, transversal e de base populacional que teve os dados
coletados no período de janeiro a abril de 2010 em toda a área urbana do município de
Capa Índice 6998
Goiânia/GO. Houve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Goiás (protocolo n.050/09) e a pesquisa recebeu financiamento pela Fundação de Amparo a
pesquisa do Estado de Goiás (FAPEG -Edital 001/2007). A qualidade do banco de dados foi
verificada por meio de dupla checagem.
A população do estudo foi composta por 934 indivíduos com idade maior ou igual a
60 anos, capazes de verbalizar as respostas para as perguntas do instrumento de coleta de
dados e que residiam no local da entrevista, no município de Goiânia/GO. Foram excluídos
aqueles que não estavam no domicílio após três tentativas do entrevistador ou que estavam no
domicílio sorteado, mas não residiam nele. Os idosos que participaram da pesquisa
responderam a um questionário, o que durou em média 60 minutos.
Da amostra total inicial (n=934) foram considerados “missing” os idosos que tiveram
uma ou mais variáveis relacionadas ao fenótipo de fragilidade em branco no banco de dados
(n=224) e também aqueles que não tinham escore para a breve avaliação cognitiva realizada
por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM; n= 177). Sendo assim, ao final, a
amostra válida foi de 533 idosos.
As variáveis do estudo utilizadas na definição do fenótipo de fragilidade estão
descritas a seguir:
Fadiga: Auto relato do entrevistado identificado por duas questões do Center for
Epidemiologic studies – Depression (CES-D), validado para idosos brasileiros por
BATISTONI et al (2007). As perguntas utilizadas foram: a) Na última semana o senhor (a)
sentiu que teve que fazer esforço para dar conta das tarefas habituais? b) Na última semana
o senhor (a) não conseguiu levar adiante suas tarefas? A opção de resposta era dicotômica
(sim ou não), caso a resposta fosse positiva era perguntado ainda o número de dias em que
estes sintomas foram percebidos. Considerou-se portador de fadiga, o idoso que respondeu
“sim” por mais de 3 dias em pelo menos uma das questões ou “sim” para as duas questões
independente do número de dias.
Velocidade de marcha: Foi utilizado o teste de velocidade de caminhada, parte do
Short Physical Performance Battery Assessing Lower Extremity Function, no qual é solicitado
ao idoso que deambule por um percurso de três metros sem obstáculos em sua velocidade de
marcha habitual podendo fazer uso de dispositivo auxiliar de marcha, se necessário e usual
(GURALNIK et al. 1994). Cada participante realizou o percurso uma vez e o tempo foi
registrado em segundos. Após aplicação do teste, a velocidade da caminhada foi estratificada
por altura e sexo. Foi calculada a média da altura por sexo, e cada estrato de altura segundo
sexo foi dividido em quintis de velocidade de caminhada. A altura média dos homens foi de
Capa Índice 6999
1,69m e das mulheres, 1,58m. Após a identificação do maior quintil segundo a estratificação
por altura e sexo, observou-se que o maior quintil foi igual independente da média da altura.
Assim, foram considerados lentos os homens que apresentaram tempo igual ou superior a 7
segundos e as mulheres que apresentaram tempo igual ou superior a 8 segundos, ou seja, os
20% mais lentos.
Perda de peso não intencional: Perda de peso auto referida, através da seguinte
questão: No último ano o Sr (a) perdeu peso sem fazer nenhuma dieta ou atividade física?). A
opção de resposta era dicotômica (sim ou não), caso a resposta fosse positiva era perguntada a
quantidade de quilos perdida. Foi considerado positivo para perda de peso aquele idoso que
referiu perda de peso maior que 3 Kg nos últimos 12 meses. Se o entrevistado referiu perda de
peso no último ano, porém sem especificar a quantidade, este foi considerado “missing”.
Diminuição da força de preensão manual: Perda de força auto referida em reposta a
seguinte questão: O (a) Sr. (a) acha que sua força (mãos e braços) diminui? A resposta era de
opção dicotômica. Sendo assim, quando o idoso referiu redução da força de preensão no último
ano foi considerado positivo para diminuição da força de preensão manual.
Redução de atividade física: Redução auto referida em resposta a seguinte questão: O
(a) Sr. (a) acha que faz hoje menos atividade físicas do que fazia há um ano atrás (12
meses)? Se o idoso respondeu que sim, realiza menos atividades físicas hoje que há um ano
atrás, foi considerado positivo para redução da atividade física.
MEEM = 18: Segundo FRIED et al (2001), o declínio cognitivo por si só, conduz a
um estado de fragilidade. Dessa forma, neste estudo, foram considerados com declínio
mental, aqueles idosos que apresentaram o escore do MEEM menor ou igual a 18. Assim,
sendo todos os idosos com escore = 18 foram automaticamente considerados frágeis.
A avaliação destas variáveis se deu através do padrão-ouro proposto por FRIED et al
(2001), onde aqueles idosos que não apresentaram nenhum dos critérios acima descritos
foram considerados não frágeis; os idosos que apresentaram 1 ou 2 dos critérios acima foram
considerados em processo de fragilização (pré frágeis) e finalmente aqueles idosos que
apresentaram 3 ou mais do critérios acima foram considerados frágeis. Os dados estão
apresentados em número absoluto e percentual e organizados em tabelas.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Primeiramente foram analisados os dados referentes às variáveis referentes aos
fenótipos de fragilidade. Assim, calcularam-se quantos indivíduos apresentavam cada uma
das variáveis de fragilidade.
Capa Índice 7000
Conforme apresentado na Tabela 1, pode-se observar que a variável fadiga é a mais
frequente entre os idosos (n=356), seguida pela diminuição da força de preensão palmar
(n=261) e pela diminuição do nível de atividade física (n=255). Fatos como estes atuam como
norteadores das ações de enfermagem direcionadas diretamente para essas áreas. Por
exemplo, poderiam ser realizadas ações em prol da prevenção e diminuição da fadiga, e
também ações que promovessem a prática de atividades físicas entre a comunidade de idosos
de Goiânia (GO).
Não foram encontrados estudos anteriores que relacionem a quantidade de idosos
portadores de determinado fenótipo de fragilidade, o que não nos permite uma comparação
exata, deixando uma abertura para estudos posteriores que aprofundem-se especificamente
nessa área, para um maior conhecimento e planejamento de melhores ações para prevenção e
atuação direta na fragilidade e pré-fragilidade.
O número de critérios de fragilidade para cada idoso e a classificação segundo o nível
de fragilidade, como disposto na Tabela 2, foi calculado a partir da presença ou não de cada
fenótipo. Vemos que a maioria dos indivíduos da pesquisa encontram-se apresentando um ou
dois critérios de fragilidade, ou seja, a maioria desses indivíduos encontram-se em processo
de fragilização (n=279), seguido pelo número de pessoas que já são consideradas frágeis
(n=193) e por último aqueles indivíduos que não apresentam nenhum critério de fragilidade, o
que é um número extremamente pequeno comparado a amostra total da pesquisa. O que nos
impressiona nestes resultados foi o fato de que a grande maioria desta população encontra-se
em processo de fragilização, ou seja, são pré-frágeis e necessitam de intervenções imediatas,
para que uma futura fragilidade seja prevenida agora.
Após estes cálculos, foi realizada a avaliação dos exames de MEEM dos indivíduos
participantes da pesquisa, observando os que apresentaram score ≤ 18 (n=51). Estes foram
considerados frágeis. Assim, de acordo com o número de critérios do fenótipo de fragilidade
atendido e o escore do MEEM, calculou-se a prevalência de idosos não frágeis, pré frágeis e
frágeis, conforme apresentação da Tabela 3.
Observamos que, no município de Goiânia, a prevalência de idosos frágeis é de
40,5%, de idosos pré frágeis é de 52,4% e a de idosos não frágeis é de 7,1%. Os números
encontrados são relativamente altos se comparados a outras pesquisas anteriores realizadas no
Brasil. Por exemplo, MACEDO, GAZOLA e NAJIS (2008) realizaram um estudo em São
Paulo com uma população de idosos com mais 65 anos, onde a prevalência encontrada para
idosos frágeis foi de 6,3%; a rede FIBRA (Rede de Pesquisa sobre Fragilidade em Idosos
Capa Índice 7001
Brasileiros), realizou uma pesquisa com 113 idosos, em que 13,3% destes eram considerados
idosos frágeis (FERNANDES et al 2010).
Um estudo realizado nos Estados Unidos pelo Cardiovascular Health Study (CHS)
encontrou uma prevalência em idosos com idade > 65 anos variando de 7% a 12%; números
também relativamente menores que aos encontrados no presente estudo. Já em um estudo
realizado na Europa uma prevalência maior foi encontrada quando SANTOS-EGGMANN et
al (2009) registraram que indivíduos de dez países participantes do SHARE (Survey of
Health, Aging, and Retirement in Europe) com idade acima de 65 anos apresentaram índice
de prevalência de fragilidade variando entre 5,8% (Suíça) e 27,3% (Alemanha).
Uma explicação plausível para essa grande variação de valores é o fato de que, como
já dito anteriormente, não existe um conceito predefinido para a fragilidade. Sendo assim,
adotam-se conceitos, escalas e avaliações diferentes em cada estudo, o que acaba por
apresentar, algumas vezes, resultados divergentes.
Outra explicação para tal acontecimento é que o presente estudo apresentou algumas
limitações como o fato de que as perguntas foram subjetivas e, devido a isso, não captaram o
dado real e sim a percepção do sujeito, a qual pode estar distorcida pela adaptação progressiva
ao seu próprio quadro. Um exemplo de pergunta limitante são as perguntas em relação à
atividade física (O (a) Sr. (a) acha que faz menos atividade físicas hoje do que há 12 meses
atrás (1 ano)?) e diminuição de força de preensão manual (O (a) Sr. (a) acha que sua força
(mãos e braços) diminuíram?). Apesar de limitações como esta, fica claro durante todo o estudo
que no atual momento, a prevalência de fragilidade na cidade de Goiânia é alta, e tende a
aumentar, com o quantitativa de idosos pré-frágeis.
Esta pesquisa serve de base para novos estudos sobre o tema na cidade de Goiânia,
estudos estes que a partir de agora podem ser mais específicos e abrangentes, cobrindo algumas
lacunas em aberto neste e trazendo novas informações e contribuições para a saúde pública. Uma
grande sugestão para futuros estudos é que sejam usadas neles escalas específicas para o fenótipo
de fragilidade, como por exemplo, a Edmonton Frail Scale, instrumento desenvolvido nos
Estados Unidos que foi traduzida e validada para pesquisas no Brasil por FABRICIO-WHEBE
(2008). O uso de uma escala/instrumento específico garantirá mais fidedignidade e
especificidade ao estudo.
5. CONCLUSÃO:
Capa Índice 7002
Neste estudo concluiu-se que a prevalência de fragilidade em idosos no município de
Goiânia – GO é de 40,5% em uma amostra total de 533 idosos. A prevalência de pré-fragilidade
foi de 52,4% e a de não fragilidade foi de 7,1%.
Diante de tais resultados, concluímos que este estudo traz contribuições tanto no âmbito
municipal, quanto nacional e até mesmo internacional. No que diz respeito à cidade de Goiânia,
este é o primeiro estudo sobre fragilidade realizado, o que irá proporcionar um conhecimento da
realidade dos idosos, e consequente trará a possibilidade da criação de políticas de saúde pública
e ações que atuem diretamente no tratamento e auxílio dos idosos frágeis e também ações
preventivas a serem realizadas com os idosos pré-frágeis e principalmente com os idosos não
frágeis, para que não cheguem a tal ponto. Nos âmbitos nacional e internacional temos a
contribuição de mais um estudo sobre fragilidade, já que esta ainda é uma área pouco estudada e
pouco conhecida.
6. REFERÊNCIAS:
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Capa Índice 7004
Tabela 1: Apresentação de idosos segundo presença de fenótipos de fragilidade (n=533),
Goiânia/GO 2012.
FENÓTIPO DE
FRAGILIDADE
POSITIVO NEGATIVO MISSING*
N % n % N %
FADIGA 356 66,8 175 32,8 2 0,4
VELOCIDADE DE
MARCHA 110 20,6 404 75,8 19 3,6
PERDA DE PESO 135 25,3 392 73,5 6 1,1
DIMINUIÇÃO DA
FORÇA DE
PREENSÃO
261 49,0 267 50,1 5 0,9
DIMINUIÇÃO DA
ATIVIDADE
FÍSICA
255 47,8 274 51,4 4 0,8
*Idosos que não tiveram respostas às perguntas em relação as variáveis de fragilidade.
Tabela 2: Distribuição dos idosos (n=533) segundo o número de critérios do fenótipo de
fragilidade presente e a classificação segundo nível de fragilidade. Goiânia/GO, 2012.
Nº DE CRITÉRIOS
DE FRAGILIDADE N %
0 38 7,1
1 140 26,3
2 139 26,1
3 130 24,4
4 48 9,0
5 15 2,8
MISSING* 23 4,3
*Os casos de missing se referem aos idosos que apresentaram escore do MEEM inferior
ou igual a 18.
Capa Índice 7005
Tabela 3: Prevalência de fragilidade. Goiânia/GO, 2012.
N %
NÃO FRÁGIL 38 7,1
PRÉ FRÁGIL 279 52,4
FRÁGIL 216 40,5
TOTAL 533 100
RELATÓRIO RETIFICADO REVISADO PELA ORIENTADORA
Dálete DCF Mota
Capa Índice 7006
*Revisado pelo Orientador 1 Pivic, Graduanda em Engenharia de Alimentos, Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos 2 Mestrando, Programa de Pós Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos 3 Orientadora, Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos
Aproveitamento de resíduo da extração de óleo da amêndoa de baru
(Dipteryx alata Vog.)
Lara Francielle Freire CARVALHO¹*, Jean Carlos rodrigues LIMA2, Thays Helena Pereira
BORGES2*, Adriana Régia Marques de SOUZA3*
Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Goiás
*E-mail: [email protected], [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Baru, Resíduo, Aproveitamento.
1. INTRODUÇÃO
O Dipteryx alata Vogel, conhecido como cumbaru, cumaru, baru, barujo, coco-feijão,
cumarurana, emburena-brava, feijão-coco, pau-cumaru, é de ocorrência no cerrado e na
floresta estacional semidecídua, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e São Paulo (FERREIRA et al., 1998). Apresenta frutos do tipo drupa, ovoides,
levemente achatados e de coloração marrom, com uma única semente (amêndoa) comestível e
comercializada em empórios nos grandes centros, bastante apreciada pela população local
(VERA et al., 2009).
Lima (2012) relatou que a amêndoa contém um alto teor de lipídios, sendo
considerada uma boa fonte energética e também de minerais, principalmente, cálcio, ferro e
zinco. O óleo extraído da amêndoa é fino, possui um elevado grau de insaturação e um alto
teor de ácido oléico e linoléico (OLIVEIRA et al., 2011). O óleo de baru é constituído por
ácidos graxos com cadeias entre 16 e 24 átomos de carbono e apresenta quantidades
consideráveis de alfa-tocoferol (SANO, RIBEIRO, BRITO, 2004).
Capa Índice 7007
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 7007 - 7014
O consumo de alimentos com esta composição de ácidos graxos é importante para a
saúde, contribuindo para a redução das frações de lipoproteína de baixa densidade e de muito
baixa densidade, responsáveis pelo aumento do colesterol sérico (CARLOS, 2010).
Existem vários métodos para extração de óleos vegetais. Os principais são por
prensagem mecânica, fermentação, extração por Soxhlet e Goldfish. A extração por
prensagem é a mais comum, sendo seguida por extrações com solventes (OLIVEIRA et al.,
2011). Quando se extrai óleos, de uma maneira geral, seus resíduos são descartados,
representando um problema crescente devido ao aumento da produção industrial. As
indústrias procuram uma finalidade para esses resíduos, e o desenvolvimento de novos
produtos e subprodutos em muitos casos, é a solução.
Acredita-se que resíduo da extração do óleo de Baru possui uma porcentagem elevada
de proteínas e carboidratos, tendo um grande potencial para o desenvolvimento de
subprodutos. Desta maneira, o objetivo deste estudo é desenvolver um novo produto oriundo
da torta de baru.
2. MATERIAL E MÉTODOS
A idéia inicial do presente trabalho era o desenvolvimento de novos produtos a partir
do resíduo da extração do óleo do baru (Dipterix alata Vogel). Porém, devido ao tempo de
armazenamento do resíduo, após a extração do óleo, foram realizadas análises para a
caracterização e verificação da qualidade desse resíduo, para posterior aplicação. Assim as
análises previstas no Plano de Trabalho, foram alteradas.
2.1 MATERIAL
Os frutos do barueiro foram colhidos na época da safra, na região Sul do estado de
Goiás, nos municípios de Indiara, Jandaia, Palmeiras, Paraúna e Piracanjuba. Estes foram
transportados para a Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos, onde ocorreu a
abertura do endocarpo lenhoso para a retirada das amêndoas, que foram embaladas à vácuo
em sacos de polipropileno e congeladas a -4°C até a sua utilização.
Capa Índice 7008
2.1.1 Obtenção da torta
O óleo de baru foi extraído pelo método de prensagem em prensa mecânica da marca
Komet, tipo CA 59G, 1998, com capacidade de 3 a 5 kg/h. Foi utilizado o bico n°6 e
velocidade de rosca variando de 15 a 80 RPM. O resíduo das amêndoas de baru foram
separados e armazenados em sacos plásticos em câmara fria até o início das análises.
2.2 ANÁLISES FÍSICA E QUÍMICA
O resíduo da estração de óleo de baru foi moído em liquidificador industrial, marca
Imago Siemsen, até se tornar um pó (farinha).
2.2.1 Composição centesimal
A composição centesimal foi determinada por meio das análises de umidade,
proteínas, lipídios e cinzas conforme Instituto Adolfo Lutz (2008). Os carboidratos foram
estimados por diferença.
2.2.2 Cor
A determinação da cor das amostras foi realizada utilizando o sistema de leitura em
um colorímetro, o CIELAB. Para o cálculo do Chroma, utilizou-se a equação (1):
C= (1)
Onde:
C – croma
a* - parâmetro que varia do verde ao vermelho
b* - parâmetro que varia do azul ao amarelo
2.2.3 Índice de Saponificação
A determinação do índice de saponificação das amostras foi realizada conforme
Instituto Adolfo Lutz (2008). Foram pesados 2g de amostra em um balão volumétrico
previamente tarado. Em seguida, colocou-se 25mL da solução de KOH 0,5M. A solução foi
Capa Índice 7009
aquecida durante 30 minutos em condensador de refluxo. Após esse período, a amostra foi
filtrada, acrescentado 1mL de fenolftaleína e titulada. A análise foi feita em triplicada.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
3.1 Composição Centesimal
Informações sobre a composição nutricional de alimentos no Brasil são escassas,
principalmente de resíduos de frutas nativos de certas regiões do país (MARQUES et al.,
2010). Na tabela 1 podem ser observados os resultados da composição centesimal do resíduo
da extração do óleo de baru.
Tabela 1. Composição centesimal do resíduo gerado a partir da extração de óleo da amêndoa
de baru.
Análises Torta (%)
Umidade 9,32 ± 0,05*
Cinzas 4,20 ± 0,08
Proteínas 30,46 ± 0,4
Lipídios 10,75 ± 0,2
Carboidratos 45,26
*Média ± Desvio Padrão
O teor de umidade foi mais elevado que o encontrado por Ferreira et al. (2006) (6,80
%) que avaliou a torta desengordurada da Castanha-Brasil. O método utilizado para a análise
de umidade da torta desengordurada da Castanha-Brasil foi secagem por infravermelho, esse
pode ter sido o motivo de tal diferença, a secagem por infravermelho é melhor, pois a
penetração no alimento é mais eficiente. Melo et al. (1998) encontraram 2,40 % de cinzas em
amêndoas da castanha de caju, valores baixos comparados com os encontrados neste presente
trabalho, o método de obtenção dos valores de cinzas não difere entre ambas. A quantidade de
proteína está correspondente com a quantidade encontrada por Freire et al. (1997) que avaliou
Capa Índice 7010
a composição centesimal de sementes de amendoim de três tipos Botânicos (amendoim do
tipo Valência, Spanish e Virgínia) (26,10 – 30,65).
Takemoto et al. (2001) avaliando a composição química da semente e do óleo de baru,
encontraram 38,2% de lipídios na semente, enquanto na torta, foi encontrado 10,7%, tal
diferença se deve a extração do óleo da mesma. A quantidade de carboidrato foi mais alta que
a encontrada por Glória e Regitano-d’Arce (2000) (32,7%), que analisou o concentrado e
isolado protéico de torta de castanha do Pará. O baru possui uma semente muito rica em
proteína e carboidrato, comparada-a com as aqui citadas.
3.2 Cor
Os valores obtidos para a análise de cor do resíduo da extração de óleo de baru estão
sendo apresentados na tabela 2.
Tabela 2. Resultado da análise de cor da torta de Baru.
Parâmetros L* a* b* C*
Média¹ 72,88 3,91 7,71 8,64
A luminosidade é uma coordenada do espaço de cores CIELAB que pode variar do 0
ao 100, ou seja, do preto ao branco (LIMA, 2012). De acordo com os valores encontrados (L*
= 72,88) o resíduo de baru apresenta coloração clara. O parâmetro a* varia de verde a
vermelho, e apresentou média (3,91), tendo uma leve tendência ao vermelho. Já o parâmetro
b* teve tendência ao amarelo, pois este varia de azul a amarelo.
O croma indica a saturação ou a intensidade da cor, sendo este uma relação entre os
parâmetros a* e b*, representando à medida que mais se aproxima do que o ser humano
visualiza como cor (LIMA, 2012; ITO et al., 2007). O valor do croma foi de (8,64), sendo este
baixo comparado com Camargo et al. (2011) que avaliou os efeitos da radiação gama na cor,
capacidade antioxidante e perfil de ácidos graxos em amendoim, ele obteve, sem dose de
radiação, (33,69) para o amendoim cultivar IAC-Tatu ST e (28,03) para o amendoim cultivar
IAC-Runner 886.
Capa Índice 7011
3.3 Índice de Saponificação
O índice de saponificação é a quantidade de álcali necessário para saponificar uma
quantidade definida de amostra. É expresso como o número de miligramas de hidróxido de
potássio (KOH) necessário para saponificar 1 g de amostra. Na tabela 3 se encontra o valor do
índice de saponificação do resíduo de baru.
Tabela 3. Índice de saponificação da torta de Baru.
I.S.(mgKOHg-¹)
Torta de Baru 297,44
O índice de saponificação encontrado foi alto comparando com o encontrado por
Chaves et al. (2004) (175 KOH.g¯¹) que caracterizou a amêndoa de chicha. Valores altos do
índice de saponificação significam que os triglicerídios da torta possuem um baixo peso
molecular (VIEIRA et al., 1991). Valores altos do índice de saponificação também
representam que o resíduo está apto a ser utilizado na preparação de alimentos, representando
também que não ocorreu oxidação lipídica.
4. CONCLUSÃO
O resíduo gerado a partir da extração do óleo de baru tem grande potencial para ser
empregado no desenvolvimento de novos produtos, como uma fonte de proteínas visando
também minimizar o desperdício na indústria alimentícia.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Capa Índice 7014
Estudos de QSAR de inibidores da enzima diidrooroato desidrogenase de Plasmodium
falciparum como novos candidatos a agentes antimaláricos
Larissa de Oliveira Magalhães1, Carolina Horta Andrade2 1 [email protected], [email protected]
Laboratório de Modelagem Molecular – LabMol, Faculdade de Farmácia – Universidade
Federal de Goiás.
Palavras-chave: malária, planejamento de fármacos, diidrooroato desidrogenase, HQSAR,
QSAR-3D,
1. INTRODUÇÃO
As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) são definidas como doenças infecciosas
que ocorrem principalmente em áreas tropicais, que levam à significante mortalidade e
morbidade e são responsáveis por prejuízos no desenvolvimento econômico e qualidade de
vida de muitos países (CHATELAIN; LOSET, 2011). A pesquisa de novos alvos terapêuticos
para esse grupo de doenças recebe pouco estímulo financeiro, uma vez que os recursos para
pesquisa são direcionados para os países desenvolvidos (MORAN et al., 2009).
Entre as doenças parasitárias destaca-se a malária, que está presente em praticamente
todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo além de ser considerada um dos maiores
problemas de saúde global e um desafio em questões de terapêutica (FRANÇA et al., 2008).
Estima-se que a malária afeta mais de 300 a 500 milhões de pessoas por ano e causa a morte
de aproximadamente 1 milhão de pessoas. Além disso, analisando-se as estatísticas atuais e o
mapa global da malária observa-se que aproximadamente 40% da população mundial vive em
países em que a doença é endêmica (WHO, 2011).
A malária é causada por parasitos do gênero Plasmodium que é transmitido ao homem
por fêmeas do mosquito do gênero Anopheles infectadas. O parasito infecta e destrói as
hemácias, levando à febre, anemia severa, malária cerebral e uma vez sem tratamento pode
levar à morte (WELLS et al., 2009). Entre as espécies de protozoários da malária, o
Plasmodium falciparum causa a forma mais grave de malária, a cerebral, que pode levar à
morte (FRANÇA et al., 2008).
A quimioterapia é a principal forma de tratamento e prevenção da doença, uma vez
que vacinas eficazes para malária ainda não foram desenvolvidas. Porém, o controle da
malária pela via medicamentosa possui limitações relacionadas à resistência aos fármacos
(WELLS et al., 2009). A resistência aos fármacos apareceu em décadas recentes e há
indicações de que em algumas regiões do mundo essa resistência aparece em taxas mais
Capa Índice 7015
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 7015 - 7026
rápidas. Uma estratégia utilizada é a combinação de agentes antimaláricos que, no entanto,
oferecem apenas uma ajuda temporária (FIDOCK et al., 2004).
O estudo das vias bioquímicas essenciais à sobrevivência do P. falciparum revelou
novos alvos moleculares para o planejamento de quimioterápicos. A enzima diidrooroato
desidrogenase de P. falciparum (PfDHODH, EC 1.3.99.11) é considerada um alvo validado
para o tratamento da malária por ter um papel essencial na biologia do parasito. Esse papel foi
evidenciado por meio da identificação de inibidores através de ensaios de atividade de triagem
biológica automatizada em alta escala (HTS, High Throughput Screening) na enzima e foram
subsequentemente descritos por ter atividade antimalárica tanto in vitro quanto in vivo
(PATEL et al., 2008; PHILLIPS et al., 2008; GUJJAR et al., 2011).
A enzima DHODH participa da quarta etapa da biossíntese pela via de novo de
pirimidinas, moléculas essenciais para a construção de DNA e RNA. É uma enzima
mitocondrial flavina-mononucleotídeio (FMN) dependente que catalisa a oxidação de
dihidrooroato para produzir oroato. A coenzima Q é requerida para catalisar a reoxidação do
cofator flavina e estudos mostram que a principal função do transporte de elétrons
mitocondrial no parasito é suprir a Coezima Q para essa reação, confirmando o papel
essencial que a DHODH tem na biologia do parasito (PHILLIPS, RATHOD, 2010).
O planejamento de novos fármacos deve explorar as propriedades da estrutura química
dos compostos e sua interação com o alvo selecionado. Entre as ferramentas disponíveis na
química farmacêutica medicinal, o método de estudo das relações quantitativas entre estrutura
química e atividade biológica (QSAR, Quantitative Structure-Activity Relationships)
(JÓNSDÓTTIR, JØRGENSEN, BRUNAK, 2005) relaciona a informação em conjuntos de
dados e gera modelos estatísticos com capacidade preditiva externa. Dessa forma, auxilia no
planejamento de moléculas com propriedades farmacodinâmicas e farmacocinéticas
otimizadas (GUIDO et al., 2010).
2. OBJETIVOS
Face ao exposto, o objetivo do presente trabalho é a aplicação de diferentes
metodologias de QSAR, com a finalidade de gerar modelos preditivos para o conjunto de
dados selecionado e utilizá-los como guias em futuros trabalhos no planejamento de
inibidores de PfDHODH apresentando maior potência, afinidade e seletividade, que possam
ser ativos contra a malária.
Capa Índice 7016
3. METODOLOGIA
Todos os estudos realizados na busca de inibidores seletivos da PfDHODH através de
técnicas de QSAR foram realizados em estações computacionais disponíveis no Laboratório
de Modelagem Molecular da Faculdade de Farmácia, UFG, operando em sistema operacional
Windows XP e/ou Linux.
¥ Caracterização e organização do conjunto de dados: Um conjunto de inibidores de
pfDHODH (92 derivados triazolopirimidínicos) com atividade inibitória
correspondente à concentração inibitória de 50% (IC50) necessária para inibir 50% da
atividade da enzima pfDHODH foram identificados na literatura (COTERON et al,
2011; GUJJAR et al., 2009). Os compostos foram divididos em um conjunto
treinamento (n = 70) e um conjunto teste (n = 22) com o auxílio de análise estatística
de cluster, que equilibrou os conjuntos em termos de similaridade química e atividade
biológica. Esta análise foi realizada com o software Canvas (Schrödinger, LLC)
utilizando o método de agrupamento por grupos funcionais e faixa de atividade
biológica, que agrupou os compostos em 5 clusters maiores equilibrados em termos de
diversidade química e atividade biológica. Os valores de IC5O foram convertidos em
pIC50 = -log IC50.
¥ Modelagem molecular: Os cálculos de modelagem molecular foram realizados
utilizando o pacote SYBYL-X v.1.2 (Tripos Inc. USA). A estrutura cristalina da
pfDHODH em complexo com o ligante (composto 1) foi retirado do Protein Data
Bank (PDB ID: 3I6R ). As estruturas 3D das moléculas ligantes foram desenhadas no
módulo 'sketch' do SYBYL, em seguida as estruturas foram minimizadas utilizando o
campo de força Tripos e as cargas foram calculadas pelo método de Gasteiger-Huckel.
¥ Alinhamento estrutural: essa etapa é de suma importância para a obtenção de modelos
de Análise Comparativa de Campos Moleculares (CoMFA) confiáveis (ANDRADE,
2009), assim o método utilizado envolveu a obtenção do composto 1 da estrutura
cristalina da pfDHODH como composto de referência, em seguida as moléculas do
conjunto foram sobrepostas utilizando a opção 'align database' disponível no SYBYL.
¥ Cálculo dos descritores de HQSAR: nesse método a estrutura molecular é decomposta
em fragmentos estruturais únicos, que são organizados em um holograma molecular
para gerar modelos. É um método que estabelece a relação entre a estrutura do
Capa Índice 7017
composto e sua atividade biológica e possui as vantagens de não necessitar da geração
de conformação bioativa e de alinhamento molecular para gerar modelos. A geração
do modelo pode ser influenciada pelo comprimento do holograma, tamanho do
fragmento e parâmetros de distinção de fragmentos. Assim, a combinação de
diferentes parâmetros é considerada durante a geração do modelo de HQSAR. Além
disso, essa análise oferece informação sobre a contribuição atômica individual para
atividade biológica utilizando código de cores (MODA, 2007).
¥ A etapa seguinte consistiu na seleção de parâmetros para a geração de hologramas.
Assim, as estruturas moleculares são decompostas em todos os fragmentos possíveis
possuindo um número de átomos mínimo e máximo definidos pelo usuário (tamanho
do fragmento). Em seguida, cada fragmento é definido pelos parâmetros de distinção
de fragmentos, incluindo átomo (A), ligações (B), conectividade (C), quiralidade (Ch),
hidrogênio (H) e doadores e aceptores (DA). O comprimento de holograma pode ser
selecionado a partir de 12 comprimentos de holograma padrão (53, 59, 61, 71, 83, 97,
151, 199, 257, 307, 353 e 401), que são oferecidos pelo módulo de HQSAR (HQSAR TM MANUAL, 2006).
¥ A significância estatística interna do modelo de HQSAR é derivada do conjunto
treinamento e é produzida por várias análises de mínimos quadrados parciais (PLS,
Partial least squares). A validação cruzada determina no número de componentes
principais que produziram os modelos mais consistentes e é feita por meio do
procedimento de ‘leave-one-out’ (LOO). Nesse procedimento um composto foi
removido do conjunto de dados e sua atividade foi prevista usando o modelo gerado a
partir do conjunto de dados restante. O modelo final foi utilizado para a predição
externa utilizando-se o conjunto teste (HQSAR TM MANUAL, 2006).
¥ Cálculo de descritores do QSAR-3D-CoMFA: para entender melhor e explorar as
contribuições estéricas e eletrostáticas para a ligação dos derivados
triazolopirimidínicos e para construir modelos de QSAR-3D preditivos, as moléculas
do conjunto treinamento alinhadas foram colocadas em uma caixa virtual 3D com
espaçamento de 2,0 Å entre os vértices das células da grade nas direções x, y e z. As
propriedades estéricas e eletrostáticas foram calculadas de acordo com os potenciais
de Lennard-Jones e Coulomb, respectivamente. Os campos estéricos e eletrostáticos
foram gerados em cada ponto da grade utilizando o campo de força Tripos usando um
átomo de prova sp3 com carga +1. O valor de corte para as energias de interação
eletrostáticas e estéricas foi de 30 kcal/mol (ANDRADE, 2009).
Capa Índice 7018
¥ O método de PLS é usado para correlacionar com linearidade os descritores do QSAR-
3D (CoMFA) com a atividade biológica. Na geração do modelo de CoMFA, os
descritores foram usados como variáveis independentes enquanto que os valores de
pIC50 foram usados como variáveis dependentes na análise de PLS. Para selecionar o
melhor modelo, o procedimento de validação cruzada foi realizado usando o método
'leave-one-out' (LOO). Os modelos foram selecionados de acordo com o maior
coeficiente de validação cruzada (q2) e menor desvio padrão de predição (CoMFA TM
MANUAL, 2006).
¥ Validação externa – HQSAR e CoMFA: embora o q2 ofereça uma representação
adequada do poder preditivo do modelo para os compostos não testados, a validação
externa é considerada, por vezes, um processo de validação muito importante
(TROPSHA, 2010). Assim, a habilidade de predição externa dos modelos de HQSAR
e CoMFA gerados do conjunto de treinamento, foi avaliada pela predição dos valores
de IC50 dos 22 compostos do conjunto teste, que foram processados da mesma maneira
que os compostos do conjunto treinamento. Além disso, o r2pred, considerado um dos
coeficientes para validação externa (TROPSHA,2010) foi calculado para os dois
modelos.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
HQSAR
Os estudos de HQSAR foram realizados em um conjunto de 70 moléculas (conjunto
treinamento) derivadas de triazolopirimidinas usando três parâmetros distintos (tamanho de
fragmento, comprimento de holograma e distinção de fragmentos). Os modelos iniciais foram
gerados utilizando-se o tamanho de fragmentos padrão (4-7) combinados com vários tipos de
fragmentos e comprimentos de hologramas. A tabela 1 mostra os resultados para diferentes
tipos de fragmentos e comprimento de holograma. A combinação de distinção de fragmentos
átomos (A), ligações (B), conectividade (C), átomos de hidrogênio (H), quiralidade (Ch) e
doadores e aceptores (DA) ofereceram o melhor modelo com os tamanhos de fragmento
padrão (4-7) (q2 = 0,804, r2 = 0,913, SEE = 0,326). A partir desse modelo foi realizada a
análise PLS para investigar o efeito de diferentes tamanhos de fragmentos nos resultados
estatísticos.
Capa Índice 7019
Tabela 1 - Análise de HQSAR para o modelo de afinidade de ligação para várias
combinações de distinção de fragmento utilizando o tamanho padrão de fragmento (4-7)
Distinção de
fragmentos
q2
SEP
r2
SEE
HL
N
A/B/C 0,595 0,701 0,808 0,482 307 6
A/B 0,521 0,763 0,707 0,597 61 6
A/B/C/H/Ch/DA 0,804 0,488 0,913 0,326 307 6
A/B/C/H/DA 0,791 0,504 0,904 0,341 307 6
A/B/C/H 0,740 0,562 0,887 0,371 257 6
A/B/C/DA 0,570 0,723 0,763 0,536 257 6
A/C/DA 0,529 0,757 0,734 0,569 307 6
A/C/H/DA 0,728 0,574 0,873 0,393 257 6
A/B/DA 0,535 0,751 0,753 0,548 401 6
A/C/H 0,679 0,624 0,824 0,463 59 6
A/C 0,555 0,729 0,717 0,582 257 5
q2: coeficiente de correlação da validação cruzada (LOO); r2: coeficiente de correlação linear; SEP: erro padrão da validação cruzada; SEE: erro padrão estimado; HL: comprimento do holograma; N: número de variáveis latentes ou componentes PLS. Distinção de fragmentos: A, átomo; B, ligação; C, conectividade; H, hidrogênio; DA, doador e aceptor.
Tabela 2 - Análise de HQSAR para o modelo de afinidade de ligação em função da
variação do tamanho de fragmentos (distinção de fragmentos: A/B/C/H/Ch/DA)
Tamanho de
fragmento
q2 SEP r2 SEE HL N
2-5 0,736 0,566 0,866 0,403 353 6 3-6 0,770 0,529 0,896 0,355 401 6 4-7 0,804 0.488 0,913 0,326 307 6 5-8 0,736 0,566 0,888 0,369 199 6 6-9 0,752 0,549 0,907 0,336 257 6 7-10 0,727
0,576 0,871 0,396 61 6 q2: coeficiente de correlação da validação cruzada (LOO); r2: coeficiente de correlação linear; SEP: erro padrão
da validação cruzada; SEE: erro padrão estimado; HL: comprimento do holograma; N: número de variáveis
latentes ou componentes PLS.
A influência do tamanho de fragmento é analisada na tabela 2. Os resultados
estatísticos mostraram que não há melhora significativa a partir da variação de tamanho de
fragmentos.
Capa Índice 7020
A figura 2-A mostra a predição interna e externa, em que os valores preditos de IC50
são plotados versus os valores de IC50 experimentais. O valor de r2pred foi de 0,88.
Os resultados da análise de HQSAR incluem informações sobre a contribuição
individual atômica que pode ser mostrada graficamente a partir do mapa de contribuição de
HQSAR. Neste, um diagrama da estrutura codificado por cores reflete a contribuição do
átomo na atividade total da molécula. As cores na região do vermelho do espectro (vermelho,
laranja avermelhado e laranja) refletem contribuições desfavoráveis ou negativas. Cores na
região do verde (amarelo, azul esverdeado e verde) refletem contribuições favoráveis ou
positivas. Átomos com contribuições intermediárias são representados em branco (HQSAR TM
MANUAL, 2006). A estrutura máxima comum encontra-se destacada em azul. As
contribuições atômicas individuais são mostradas na figura 1.
A partir da figura 1 observa-se que o composto 35, mais ativo do conjunto, apresenta o
hidrogênio meta e um dos átomos de flúor do substituinte tri-flúormetila destacados em verde,
representando alta contribuição para a atividade biológica. Esse resultado pode ser
confirmado por estudos de docking molecular de Ojha e Roy (2010), que mostra que
substituintes de alta hidrofobicidade e alto volume e hidrofobicidade na posição para do anel
fenila são favoráveis para atividade. O composto 35 também apresenta o fragmento -CF2CH3
destacado em amarelo devido à sua contribuição positiva, em paralelo, o composto 43 um dos
compostos com menor atividade biológica, apresenta destacado em vermelho o fragmento -
OCH2CH2 considerado, assim, desfavorável à atividade. Uma hipótese para tal resultado é de
que grupos hidrofóbicos e receptores de elétrons como -CF2CH3 substituídos no anel 2-
metiltriazolopirimidina favoreçam a atividade, uma vez que grupos menos hidrofóbicos e com
menos capacidade retirante de elétrons como o -OCH2CH2 diminuem a atividade (COTERON
et al., 2011).
Figura 1 - Representação dos mapas de contribuição do HQSAR para os compostos 35 e 43,
mais e menos potentes do conjunto de dados, respectivamente.
Capa Índice 7021
QSAR 3D - CoMFA
As estruturas das moléculas alinhadas do conjunto treinamento juntamente com suas
atividades inibitórias foram empregadas para construir modelos preditivos através do método
de regressão por PLS. Os modelos de CoMFA obtidos apresentaram boa preditividade interna,
que pode ser visualizada pelos valores de q2 e r2. A tabela 3 mostra os resultados estatísticos
para o modelo de CoMFA.
Tabela 3 - Parâmetros estatísticos do modelo de CoMFA
q2
r2
SEE
N
F
Fração
S E
Modelo 0,679 0,913 0,327 5 9,134 0,41 0,59
q2: coeficiente de correlação de validação cruzada (LOO); r2: coeficiente de correlação linear; SEE: erro padrão
estimado; N: número ótimo de componentes PLS ou variáveis latentes; F: valor do teste F; S: contribuição
estérica; E: contribuição eletrostática.
A predição interna e externa para o modelo de CoMFA é mostrada na figura 2-B, em
que os valores preditos de IC50 são plotados versus os valores de IC50 experimentais. O valor
de r2pred foi de 0,85.
Figura 2 – Valores experimentais e previstos de IC50 dos conjuntos de treinamento (triângulos)
e teste (quadrados) para os modelos de HQSAR (A) e CoMFA(B).
A figura 3 mostra os mapas de contorno de CoMFA obtidos do conjunto treinamento
alinhado. O mapa de contorno eletrostático mostra poliedros vermelhos envolvendo
principalmente o anel fenil e o substituinte -CF2CH3 do anel 2-metiltriazolpirimidina, o que
permite dizer que substituintes com alta densidade eletrônica nessas regiões favorecem a
atividade. Por outro lado, a presença de poliedros azuis na região central do anel 2-
Capa Índice 7022
metiltrizolpirimidina indica que substituintes de alta densidade eletrônica nessa região
desfavorecem a atividade.
O mapa de contorno estérico mostra que substituintes volumosos na região para-CF3 e
na região -CF2CH3 do anel 2-metiltriazolpirimidina favorecem a atividade.
Figura 3 - Representação dos mapas de contorno CoMFA para o composto 35, o mais potente
do conjunto de dados. A. Estrutura 2D do composto 35. B. Mapa de contorno eletrostático,
vermelho: densidade eletrônica favorável à atividade biológica; azul: densidade eletrônica
desfavorável à atividade biológica. C. Mapa de contorno estérico, verde: efeito estérico
favorável à atividade biológica; amarelo: efeito estérico desfavorável à atividade biológica.
5. CONCLUSÃO
Nesse estudo, 92 triazolopirimidinas com atividade anti-malárica foram utilizadas para
construir modelos preditivos de HQSAR e CoMFA. Os modelos apresentaram boa
consistência interna e externa e bom ajuste, o que sugere que os modelos gerados são estáveis
e robustos.
Os mapas de contorno de CoMFA e os mapas de contribuição de HQSAR sugerem
informações úteis para o planejamento e otimização de novos compostos que interajam com a
enzima PfDHODH. Assim, esse estudo apresenta bases para o planejamento e
desenvolvimento de novos agentes anti-maláricos.
Capa Índice 7023
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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REVISADO PELO ORIENTADOR
Capa Índice 7026
EFEITO DA PRIVAÇÃO HÍDRICA CRÔNICA DURANTE AS PRIMEIRAS FASES DO
PERÍODO PÓS-NATAL SOBRE OS AJUSTES CARDIOVASCULARES INDUZIDOS POR
ALTERAÇÕES DO VOLUME CIRCULANTE
Larissa Garcia Neves, Nathalia Oda Amaral e Gustavo Rodrigues Pedrino
Universidade Federal de Goiás, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Ciências
Fisiológicas – Goiânia, GO, 74001-970, Brasil
e-mails: [email protected] / [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Pressão Arterial, Desidratação, Infusão de Salina Hipertônica, Ajustes
Cardiovasculares e Renais.
1. INTRODUÇÃO
A manutenção da composição do meio interno é condição essencial para vida. O
sistema nervoso central regula a composição do meio interno principalmente através do
hipotálamo. Este por sua vez está envolvido intimamente com o controle neural de
comportamentos como o alimentar e ingestão hídrica que garantem a sobrevivência do
indivíduo.
Em situações de privação hídrica, o organismo reage com uma série de respostas
autonômicas, neuroendócrinas e comportamentais para ajustar a desidratação e conseqüente
hipovolemia desencadeada pela privação de água. Em mamíferos, um pequeno aumento de 1-
2% da osmolaridade plasmática ou uma redução de 8-10% no volume do compartimento
extracelular é suficiente para induzir ajustes comportamentais (ingestão de água),
cardiovasculares e renais (Antunes-Rodrigues e cols., 2004; Fitzsimons, 1998). Em conjunto,
estas respostas visam corrigir as alterações da composição e/ou volume do compartimento
extracelular. Alterações ou a ineficiência desses ajustes podem acarretar patologias, como a
hipertensão arterial que acomete grande parte da população mundial. Atualmente, estudos
sugerem que o desenvolvimento de doenças na fase adulta está relacionado com condições
específicas ocorridas nos estágios iniciais da vida, incluindo a fase pré-natal. Bao e cols.
(1995) demonstram que o risco de se desenvolver hipertensão na fase adulta está relacionado
com os níveis de pressão arterial nas fases iniciais da vida.
Larissa Garcia Neves – OrientadaGustavo Rodrigues Pedrino - OrientadorRevisado pelo orientadorCapa Índice 7027
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 7027 - 7036
Corroborando com esses resultados, Nicolaidis e cols. (1990) demonstraram que ratas
grávidas submetidas à desidratação extracelular geravam filhos com o apetite ao sódio
aumentado. Nesse mesmo estudo os autores evidenciaram que os níveis de angiotensina II
circulante nas ratas grávidas que foram submetidas à desidratação era oito vezes maior do que
nas ratas controle, sugerindo que esse aumento de angiotensina II afetou a organização do
substrato neural nos fetos.
Assim, estes vários estudos demonstraram que alterações do equilíbrio eletrolítico durante as
fases uterinas acarretam em alterações comportamentais e cardiovasculares durante a vida
adulta. No entanto, nenhum desses autores se preocupou em analisar quais as alterações que
poderiam ocorrer em decorrência de modificações na composição ou volume do
compartimento extracelular nas fases iniciais de vida pós-uterina.
2. OBJETIVOS
O presente estudo tem por objetivo determinar se a privação hídrica crônica em ratos
nas primeiras semanas de vida altera os níveis de pressão arterial e ingestão induzida de água
e sódio em ratos adultos.
3. METODOLOGIA
3.1. Modelo animal utilizado
Foram utilizados ratos jovens da linhagem Wistar, com 21 dias de idade, fornecidos
pelo Biotério da Universidade Federal de Goiás. Os animais foram individualizados em
gaiolas e mantidos com ração ad libitum. Cabe ressaltar que todos os protocolos utilizados
neste projeto foram previamente submetidos à aprovação do comitê de ética da UFG
(processo número: 051/2010).
3.2. Protocolo de privação hídrica
Os ratos do grupo experimental foram submetidos a um período de tratamento que
teve duração de dois meses, tendo inicio no 21º dia de vida do animal, que é o dia de
desmame, e término no 81º dia. Nesse período os ratos do grupo experimental foram
submetidos a um período de privação hídrica, sendo ofertada água da seguinte forma: um dia
Capa Índice 7028
sem e um dia com livre acesso. Os animais do grupo controle tiveram livre acesso à água de
torneira durante todo o período de tratamento. Após esse período tanto o grupo controle
quanto o grupo experimental foram submetidos a um período de recuperação, com livre
acesso a água, que teve duração de duas semanas, tendo início no 81º dia e término no 96º.
Tanto o grupo experimental quanto o grupo controle tiveram livre acesso á comida
durante todo o período de tratamento e recuperação.
3.3. Análise da ingestão induzida de água e sódio em ratos adultos
Após o período de recuperação, os animais dos diferentes grupos foram ambientados
em gaiolas metabólicas onde duas buretas, uma contendo água e outra contendo salina
hipertônica (NaCl 0,3 M), foram ofertadas aos ratos. Após 24 horas de ambientação, os
animais foram submetidos a administrações subcutânea de furosemida (diurético/ natriurético
que reduz a reabsorção renal de sódio e água, atuando no ramo ascendente espesso da alça de
Henle; 10 mg · Kg-1 da massa corpórea) e privados de comida, tendo acesso apenas a bureta
com água. Após 24 horas da administração, foi ofertado novamente aos animais duas buretas,
uma contendo água e a outra contendo solução salina hipertônica (NaCl 0,3 M), para
avaliação cumulativa da ingestão de água e sódio por um período de 2 horas em intervalos de
30 minutos.
3.4. Registro da Pressão Arterial Média (PAM), Freqüência Cardíaca (FC), Fluxo
Sanguíneo Renal (FSR) e Condutância Vascular Renal (CVR) em ratos anestesiados e
submetidos à infusão de salina hipertônica.
Os animais foram anestesiados inicialmente com halotana (2% em O2 100%;
Tanohalo; Cristália, Itapira, SP, Brasil). Em seguida foi feita a infusão do anestésico
intravenoso uretana (1,2g / Kg, intravenoso; i.v.; Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA)
através de uma cânula inserida na veia femoral direita. Posteriormente, foi realizada a
traqueostomia, técnica na qual ocorre a implantação de uma cânula na traquéia do animal com
o objetivo de facilitar a respiração. Em seguida, os animais foram colocados em decúbito
ventral em um aparelho estereotáxico (David Kopf Instruments, Tujunga, CA, EUA) e o
dorso foi aberto, expondo o rim esquerdo para o registro do FSR. Durante todo o
experimento, a temperatura retal foi mantida entre 36 e 37°C com o auxílio de uma mesa
térmica.
A PAP, nos animais anestesiados, foi obtida conectando a cânula arterial - inserida na
artéria abdominal através da femoral direita - a um transdutor de pressão (BP-100, iWorx
Capa Índice 7029
Systems, Inc., Dover, NH, EUA) acoplado a um amplificador (DA100c, BioPac Systems,
Inc., Goleta, CA, EUA). Os dados foram digitalizados em uma freqüência de 1000 amostras.s-
1 utilizando um conversor analógico digital (MP150, BioPac Systems, Inc., Goleta, CA,
EUA). A PAM foi calculada a partir da integral do sinal da PAP (Acqknowledge, v3.7.3.;
BioPac Systems, Inc., Goleta, CA, EUA). A FC foi calculada como freqüência instantânea do
sinal de PAP (Acqknowledge, v3.7.3.; BioPac Systems, Inc., Goleta, CA, EUA).
O FSR foi registrado por fluxometria de tempo de trânsito como descrito por Welch et
al. (1995). Para isso, a sonda em miniatura foi conectada a um fluxômetro T206 (Transonic
Systems, Inc., Ithaca, NY, EUA), que permite determinar o fluxo em valores absolutos
(mL.min-1). Os sinais obtidos foram enviados ao sistema de aquisição e análise de dados
MP150 (Biopac Systems, Inc., Goleta, CA, EUA). Os dados foram digitalizados em uma
freqüência de 200 amostras por segundo. As variações do FSR foram calculadas como a razão
percentual em relação ao valor basal (%FSR).
A CVR foi obtida pela razão do FSR e da PAM. As variações da CVR foram
calculadas como variação percentual em relação ao valor basal (%CVR).
3.5. Sobrecarga de sódio
A sobrecarga de sódio foi realizada através da infusão de salina hipertônica (NaCl 3M;
Morris e Alexander, 1988). Esta infusão foi realizada com uma cânula implantada no átrio
direito, através da veia jugular direita. Foi injetado em dose única, durante 60 segundos, no
volume de 0,18 ml/100g de massa corpórea.
3.6. Análise Estatística
As variações da ingestão de água e sódio induzidas e da PAM, FC, FSR e CVR foram
expressas como média ± EPM e analisados através de análise de variância de duas vias para
medidas repetidas, seguido pelo teste LSD de Fischer, nos casos em que o f atingiu o valor
crítico assumindo-se p < 0,05.
Capa Índice 7030
4. RESULTADOS
4.1. Ingestão induzida de água e sódio nos grupos controle e experimental
As médias ± EPM da ingestão de água e sódio induzida pela depleção de sódio do grupo
controle e experimental estão expressos no gráfico da figura 5. Como podemos verificar não houve
uma diferença significativa de ingestão de água entre o grupo controle (7,0 ± 1,3 ml; n=13) e o grupo
experimental (6,3 ± 1,3 ml; n=11). Verificamos que para ingestão de sódio o mesmo padrão acontece,
pois também não houve diferença significativa entre os grupos (controle; 12,5 ± 1,2 ml; n=13;
experimental; 13,0 ± 1,4 ml; n=11; p < 0,05).
4.2. Análise PAM, FC, FSR e CVR nos animais submetidos à infusão de salina
hipertônica do grupo experimental e controle.
Na figura 2 podemos observar que a infusão de salina provocou aumento transitório da
PAM (experimental; 18 + 5,2 mmHg; n= 8; controle; 9,2 + 2,2 mmHg n=8; p < 0,05) entre os
grupos entre 10 e 30 min após infusão de salina hipertônica e que o aumento foi
significativamente maior no grupo experimental comparado com o grupo controle entre 10 e
20 min.
Não houve um aumento significativo na FC no grupo experimental (12,3 + 10,8 bpm;
n=6), contrario ao que foi observado no grupo controle (-20,9 + 8,8 bpm) onde ocorreu uma
diminuição significativa da FC entre 10 e 20 min após infusão de salina hipertônica. A
diferença significativa entre os grupos se deu entre 10 e 30 min após a infusão.
A infusão de salina hipertônica provocou no grupo controle aumento do FSR (60,5 +
8,6%) e da CVR (58,1 + 7,0%) que se mantiveram elevados até 60 min após a infusão. No
grupo experimental provocou aumento da FSR (37 +10,4%) e CVR (31,1 + 8,6%; p < 0,05)
que também se mantiveram elevados até 60 min após a infusão de salina hipertônica. A
diferença significativa entre os grupos se deu de 20 a 40 min no fluxo sanguíneo renal e de 20
a 60 min na condutância vascular renal.
Capa Índice 7031
Figura 1: Média ± EPM da ingestão cumulativa de água (ml) e da ingestão cumulativa de
sódio 0,3M (ml), em resposta a administração subcutânea de furosemida (10 mg • Kg-1), em
ratos controle (n=11) e submetidos (n=13) a privação hídrica durante as primeiras fases pós-
natais (experimental). * diferente do tempo 0; p < 0,05.
Experimental Controle
Capa Índice 7032
-10 0 10 20 30 40 50 60-5
5
15
25
*
*†
*†
**
*
Tempo (min)
∆ P
AM
(mm
Hg)
-10 0 10 20 30 40 50 60-40
-20
0
20
40
*
††
†
*
Tempo (min)
∆ F
C(b
mp)
-10 0 10 20 30 40 50 6090
110
130
150
170 **
**
**
*† **†*†*†*
Tempo (min)
∆ F
SR(%
bas
al)
-10 0 10 20 30 40 50 6090
110
130
150
170 **
*
***
*†
*†*
*† *† *†
Tempo (min)
∆ C
VR (%
bas
al)
Experimental (n=6) Controle (n=7)
Figura 2: Efeitos cardiovasculares induzidos por infusão de salina hipertônica no grupo controle (n=8)
e no grupo experimental (n=8). A) pressão arterial média (PAM), B) freqüência cardíaca (FC), C)
variação percentual do fluxo sanguíneo renal (∆ FSR, % basal). D) variação percentual da
condutância vascular renal (∆ CVR, % basal). * diferente do tempo 0; † diferente do grupo controle. p
< 0,05.
5. DISCUSSÃO
Em conjunto os resultados obtidos demonstram que não foram evidenciadas diferenças
significativas na ingestão induzida de água e sódio entre os grupos. Ademais, a sobrecarga de
sódio induzida pela infusão de salina hipertônica nos ratos anestesiados promoveu aumentos
transitórios da PAM, aumentos mantidos do FSR e da CVR nos animais do grupo controle e
Experimental Controle
Capa Índice 7033
experimental, sendo que no grupo controle o aumento foi significativamente maior, e
bradicardia no grupo controle.
Atualmente, estudos sugerem que o desenvolvimento de doenças na fase adulta está
relacionado com condições específicas ocorridas nos estágios iniciais da vida, incluindo a fase
pré-natal. Nicolaidis et al. (1990) demonstraram que os níveis de angiotensina II circulante
nas ratas grávidas que foram submetidas à desidratação eram oito vezes maiores do que nas
ratas controle, sugerindo que esse aumento de angiotensina II afetou a organização do
substrato neural nos fetos. Outros estudos evidenciaram que mães que sofreram episódios de
vômitos e desidratação durantes os três primeiros meses da gravidez geravam filhos que na
adolescência possuíam menor sensibilidade ao sódio e pressão sistólica aumentada (Málaga et
al., 2005). Em conjunto estes trabalhos evidenciam que alterações na homeostase
hidromineral ocorridas na fase pré-natal propicia alterações na sensibilidade ao sódio na fase
adulta.
Vários estudos têm evidenciado que alterações na osmolalidade do fluido corporal
assim como aquelas induzidas por infusões intravenosas de pequenos volumes de salina
hipertônica promovem ajustes comportamentais, humorais e cardiovasculares. Um aumento
na concentração plasmática de sódio estimula a ingestão de água e a liberação de peptídeos
vasoativos como a vasopressina, peptídeo atrial natriurético (ANP) (Morris et al., 1988) e
ocitocina (Morris et al., 1989), aumento da atividade simpática lombar e redução na descarga
do nervo renal e esplâncnico (Pedrino et al., 2008; Weiss et al., 1996), causa um padrão de
ajustes cardiovasculares caracterizados por hipertensão acentuada e transitória e sustentado
aumento no fluxo sanguíneo renal e na condutância vascular (Weiss et al., 1996; Fujita et al.,
1991; Pedrino et al., 2005).
Corroborando com esses resultados o presente trabalho também demonstrou que a
infusão de salina hipertônica intravenosa gera padrões semelhantes nos animais do grupo
controle, como era o esperado, que seriam respostas iniciais para gerar ajustes homeostáticos
a fim de excretar o sódio em excesso. Entretanto, os animais do grupo experimental que
foram submetidos a períodos de privação hídrica crônica nas primeiras fases do período pós-
natal apresentaram padrões diferentes. Se este primeiro mecanismo não for capaz de reduzir
apropriadamente a concentração de sódio plasmática, um aumento generalizado da atividade
simpática promove aumentos da pressão arterial, acarretando aumentos na pressão de
perfusão renal, na taxa de filtração glomerular e consequente natriurese (Schad & Seller,
1975; Chen & Toney, 2001). Os padrões observados nos animais do grupo experimental que
Capa Índice 7034
sofreram privações hídricas crônicas durante as primeiras fases do período pós-natal podem
ser explicados pela ativação dessa segunda via de defesa contra uma hiperosmolalidade.
Os resultados até aqui obtidos demonstram que as alterações na homeostase hidromineral
no período pós-natal não parecem alterar de forma significativa o comportamento de apetite
ao sódio e a sede induzidos por depleção de sódio. É possível que apenas o estímulo induzido
pelo protocolo de depleção de sódio não tenha sido suficiente para gerar uma mudança no
comportamento de ingestão de água e sódio nos ratos tratados. Entretanto, as alterações na
volemia no período pós-natal parecem alterar de forma significativa os ajustes
cardiovasculares induzidos pela sobrecarga de sódio.
6. CONCLUSÃO
As alterações na homeostase hidromineral no período pós-natal não parecem alterar de
forma significativa o comportamento de apetite ao sódio e ingestão hídrica induzidos pela
depleção de sódio, entretanto as respostas cardiovasculares estão alteradas. Estes dados são
importantes para verificarmos se desidratação induzida nas primeiras fases da vida pós-natal
seria capaz de produzir alterações na pressão arterial, resultando em um quadro patológico de
hipertensão arterial.
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Capa Índice 7036
A DIALÉTICA DO DESEJO DESCRITA NA SESSÃO CONSCIÊNCIA-DE-SI DA
FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO (1807) DE HEGEL
Larissa Rodrigues MoreiraΨ
Pedro Gomes Netoϕ
RESUMO
O presente artigo tem como objetivos: explicitar a crítica de Hegel ao dualismo moderno, analisar e descrever as dialéticas das figuras Certeza Sensível e Percepção, compreender e expor a categoria infinitude e o surgimento da figuração Consciência-de-si, e descrever a dialética do desejo. Este artigo não se propõe esgotar a discussão acerca desse autor, mas sim apresentar as compreensões que são produto de um período de estudo exaustivo da obra Fenomenologia do Espírito.
Palavras-chave: Dialética; Desejo; Outro.
1. Introdução
A obra Fenomenologia do espírito de G. W. F. Hegel (1770-1831), escrita de 1805 a
1807, se propõe a analisar o processo de formação e para isso o autor utiliza figurações,
figuras e momentos. “A Fenomenologia do Espírito é uma propedêutica a Filosofia, enquanto
mostra como o saber, passando por várias figuras, eleva-se sofridamente do conhecimento
sensível a ciência” (MENESES, 1992, p. 18). No decorrer da obra ocorre o diálogo entre duas
consciências: filosófica e natural. A consciência filosófica é a responsável por guiar, através
do método dialético, a consciência natural até o seu desenvolvimento como ciência.
A figura Consciência é composta pelas figuras: 'Certeza Sensível', 'Percepção' e 'Força
Ψ Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás. E-mail: [email protected] ϕ
Professor de Filosofia da UFG/FE e PUC Goiás. E-mail: [email protected]
Capa Índice 7037
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 7037 - 7043
e Entendimento'. Nessas três figuras o saber se modifica a medida que a consciência
experiencia o mundo. Na 'Certeza Sensível', o saber, para a consciência, é simples e imediato,
mas ao término dessa figura ele se torna universal mediatizado. Esse saber universal
mediatizado é o início da figura 'Percepção', que termina como universal incondicionado. Este
é o início da figura 'Força e Entendimento' que se transforma em Infinitude ou reunião interna
da consciência como conceito. Nesse momento a consciência sabe de si, e, portanto dá suporte
ao surgimento da figura 'Consciência-de-si'.
Para o entendimento da obra hegeliana é necessário compreender o conceito de
suprassunção, pois esse explica como o saber se modifica. Suprassumir é negar e conservar ao
mesmo tempo, ou seja, depois de uma experiência a consciência se modifica, mas permanece
a “mesma” porque guarda em si a experiência pela qual passou. Afirma Hegel: “O
suprassumir apresenta sua dupla significação verdadeira que vimos no negativo: é ao mesmo
tempo um negar e um conservar. O nada, como nada disto, conserva a imediatez e é, ele
próprio, sensível; porém é uma imediatez universal.”(HEGEL, 2011, p. 96)
A 'Consciência-de-si' surge como suprassunção da consciência e nessa figuração Hegel
descreve a relação entre consciências-de-si. Esse momento é marcado pela junção da
exterioridade mundana na interiodade do Eu. Nessa seção a consciência torna-se ciente de si e
da necessidade de sua auto-preservação e autodeterminação. Nela também são descritas as
três dialéticas do desejo.
A dialética do desejo perpassa três momentos, a saber: a destruição do outro em
função de si, o recolocar do outro como possibilidade de sua existência e seu reconhecimento
mediante o outro de si. Analisar o problema do desejo pelo viés filosófico foi de suma
importância à teoria da Psicologia, principalmente no campo da Psicanálise, pois esta
reutilizou o discurso hegeliano.
Este artigo disserta sobre a problemática do desejo descrita por Hegel em sua obra
Fenomenologia do Espírito, mais especificamente na parábola dominação e servidão,
expressa na figuração ‘Consciência-de-si’. Propõe-se enfocar a questão da dialética do desejo
no âmbito da figuração acima aludida, sem pretender encerrar o tema na teoria hegeliana.
Trata-se, portanto, de uma análise teórica, pelo viés da dialética histórica hegeliana.
Capa Índice 7038
2. Crítica de Hegel ao dualismo moderno
Na introdução da obra supracitada, Hegel faz uma crítica ao dualismo proposto pela
filosofia moderna e esse é o ponto de partida da construção de seu método do
desenvolvimento. René Descartes (1596-1650) e Immanuel Kant (1724-1804) compreendem
a filosofia como teoria do conhecimento. Sua tarefa é conhecer efetivamente o que a Coisa é
em sua essência. Para isso essas filosofias partem do pressuposto de que há um objeto
separado daquele que o observa, ou seja, Hegel as identifica como dualistas, isto é, sujeito e
objeto se encontram separados. Porém, para que o processo de conhecimento se torne viável é
necessário um instrumento que intermedie essa relação entre sujeito e objeto, no caso, o
método. Sobre o método, Hegel faz a seguinte afirmação:
Pois, se o conhecer é o instrumento para apoderar-se da essência absoluta, logo se suspeita que a aplicação de um instrumento não deixe a Coisa tal como é para si, mas com ele traga conformação e alteração. Ou então o conhecimento não é instrumento de nossa atividade, mas de certa maneira um meio passivo, através do qual a luz da verdade chega até nós; nesse caso também não recebemos a verdade como é em si, mas como é nesse meio e através dele. (HEGEL, 2011, p. 71)
Essa crítica hegeliana nos chama a atenção para o fato de que o método pode
conformar os resultados da experiência, ou seja, quando a filosofia moderna parte do Eu e
separa este do Absoluto, torna inviável o conhecer verdadeiro. Pois estando fora da verdade,
qualquer discurso seria – de início – falso. Para Hegel o Absoluto – verdade – está desde o
início presente naquele que o busca, e, por isso ele não admite a dicotomia entre sujeito e
objeto.
3. Figuras da Consciência e Dialéticas do Desejo
A figuração ‘Consciência’ demarca o início do processo de conhecimento da
consciência natural. Nesse momento esta inicia o diálogo com a consciência filosófica. Essa
figura, como dito anteriormente, é composta por três momentos: ‘Certeza Sensível’,
Capa Índice 7039
‘Percepção’ e ‘Força e Entendimento’.
Esse processo acontece à medida que a consciência experiencia o mundo, ou seja,
experiencia os fenômenos. Na ‘Certeza Sensível’ a consciência compreende o mundo partindo
do pressuposto de que os dois estão separados e sua apreensão do objeto é baseada na maneira
como ele se apresenta, sem conceituá-lo. Na ‘Percepção’ a consciência tenta compreender o
objeto definindo suas características internas, ou seja, é como se a consciência entrasse no
objeto. Até este momento Eu e objeto são compreendidos como separados pela consciência,
de forma objetiva.
A primeira reconciliação entre o Eu e o objeto no âmbito da “efetividade do Eu”
ocorre com o último momento da figura ‘Força e Entendimento’ – Infinitude. O dado da
Certeza Sensível e a coisa da Percepção são elevadas da objetividade externa à objetividade
interna da consciência-de-si e se modifica do campo da percepção ao da função. Pois, a partir
do momento em que o mundo está dentro da consciência na forma de conceito, o que a ela
sabe não é só o que ela vê, mas aquilo que ela entende do que vê, ou seja, qual a função do
que ela vê. Porém, nesse momento o conceito ainda não se mistura com a consciência, mas
apesar de distinto se move livremente em seu interior.
Depois disso o conceito interno à consciência se converte em conceito incondicionado
com sua verdade. A consciência surge marcada pela coincidência do ser-para-outro (visar de
outro sobre) com o ser-para-si (reflexão sobre si). A consciência ultrapassa a coisa na
concentração de si mesma, dando origem à verdade de sua certeza. Anuncia-se a verdade da
consciência na interiorização do mundo na interioridade da consciência de si. O objeto
coincide com sua certeza e a reflexão transpõe a relação entre consciência e objeto para o
âmbito de consciências conscientes de si. A reflexão só é possível na presença de um ser-outro
que ela mesma. A coincidência da multiplicidade mundana com a consciência eliminou a
diferença, o que permite o surgimento do desejo. Segundo Hegel
Para a consciência-de-si, portanto, o ser-Outro é como um ser, ou como momento diferente; mas para ela é também a unidade de si mesma com essa diferença, como segundo momento diferente. Com aquele primeiro momento, a consciência-de-si é como consciência e para ela é mantida toda a extensão do mundo sensível; mas ao mesmo tempo, só como referida ao segundo momento, a unidade da consciência-de-si consigo mesma. Por isso, o mundo sensível é para ela um subsistir, mas que é apenas um fenômeno, ou diferença que não tem em si nenhum ser. Porém essa oposição, entre seu fenômeno e sua verdde, tem por sua essência somente a verdade,
Capa Índice 7040
isto é, a unidade da consciência-de-si consigo mesma. Essa unidade deve vir-a-ser essencial a ela, o que significa: a consciência-de-si é desejo, em geral. (HEGEL, 2011, p. 136).
O surgimento do desejo só é possível com a consciência-de-si, pois sabendo de si ela
consegue perceber o outro, apesar de nesse momento ainda não reconhecê-lo como diferente
dela. Portanto, agora ela é saber de si expresso pela categoria da identidade na consciência
desse outro se manifestando nela e o conceito que ela tem desse outro nela. Como a
consciência ainda não é capaz de se diferenciar do outro, ela deseja a si mesma.
Nesse momento é inaugurada a dialética do desejo, que é composta por três
momentos. Primeiro, o puro eu: “a consciência-de-si é desejo”. (HEGEL, 2011, p. 140)
Segundo, a consciência-de-si retorna ou reflete em si: “pois a satisfação ocorre através do
suprassumir desse Outro; para que haja suprassumir, esse Outro deve ser”.(HEGEL, 2011, p.
140) Terceiro, surge o Outro, pois a consciência-de-si se duplica em outra consciência-de-si:
Mas quando o objeto é em si mesmo negação, e nisso é ao mesmo tempo independente, ele é consciência. Na vida, que é objeto do desejo, a negação ou está em um Outro, a saber, no desejo, ou está como determinidade em contraste com uma outra figura independente; ou então como sua natureza inorgânica universal. Mas uma tal natureza universal independente, na qual a negação está como negação absoluta, é o gênero como tal, ou como consciência-de-si. A consciência-de-si só alcança sua satisfação em uma outra consciência-de-si. (HEGEL, 2011, p. 141).
Na primeira dialética do desejo a consciência, para se afirmar, necessita de matar o
Outro. Ela se reconhece pela morte de tudo aquilo que não é ela. Na segunda dialética do
desejo, a consciência se dá conta de que ao matar o outro é a si mesmo que mata. Na terceira
dialética, a consciência se recoloca como suprassunção dos dois momentos anteriores. Ela se
dá conta de que seu reconhecimento pressupõe outra consciência em um processo de contínua
formação.
Capa Índice 7041
4. Considerações Finais
A obra Fenomenologia do espírito de Hegel é extremamente rica e complexa. Ela
influenciou a cultura e a filosofia Ocidental. Trata-se de texto erudito e de difícil
entendimento. Por esse motivo e motivada pelo estudo do tema dialética do desejo elaborei
um recorte da mesma. A investigação das dialéticas do desejo se restringiu à apresentação que
Hegel faz do tema na obra supracitada. Portanto, este artigo teve a pretensão de descrever, de
forma sucinta, a primeira teoria hegeliana sobre o desejo, expressa na obra em questão.
Consequentemente, a dialética do desejo não se encerra nas descrições apresentadas por Hegel
em sua Fenomenologia do espírito, mas deixa indagações para possíveis trabalhos
posteriores.
As dialéticas do desejo contribuíram decisivamente para o embate entre filosofia e
formação, não menos na investigação psicanalítica. A necessidade da consciência se
reconhecer pela morte do outro a conduz ao entendimento de que sua permanência depende
exatamente da alteridade. Nesse sentido, o percurso da consciência, em busca de si mesmo,
aponta para a urgência da consciência em se formar mediante o seu outro. Nesse sentido, o
tema em questão é de suma relevância tanto à Filosofia quanto à Psicologia, em geral e à
Psicanálise, em particular.
Capa Índice 7042
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