introdução a psicanálise - 1ª tÓpica · conscientes e inconscientes e estes como parte do id,...

46
1 Departamento Acadêmico Curso de Psicanálise Módulo I Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA JOÃO PAULO KOTZENT Psicanalista / Psicólogo APVP-00104.01-SP / CRP 06/90433 São José dos Campos 2014

Upload: phamcong

Post on 08-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

1

Departamento Acadêmico Curso de Psicanálise Módulo I

Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA

JOÃO PAULO KOTZENT Psicanalista / Psicólogo APVP-00104.01-SP / CRP 06/90433

São José dos Campos

2014

Page 2: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

2

SUMÁRIO

I - INTRODUÇÃO

- APRESENTAÇÃO............................................................................. 03 - OBJETIVO GERAL........................................................................... 04

II – CONTEÚDO - INTRODUÇÃO A PSICANÁLISE..................................................... 06 -1ª TÓPICA......................................................................................... 37 - APARELHO PSÍQUICO.................................................................... 44 - ORIENTAÇÕES QUANTO AO TRABALHO...................................... 45 III – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 46

Page 3: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

3

- APRESENTAÇÃO

Na constante busca e diante às descobertas empíricas, Freud segue o

engendramento do seu constructo teórico, aperfeiçoando-o, buscando dar

conta do dinamismo psíquico, reconhecendo as limitações da 1º tópica, suas

propriedades demasiadamente estáticas, expostas como um lugar, uma

espécie de “geografia das funções psíquicas”; estes espaços eram

substantivados como ICS – PCS – CS: era o psiquismo sendo visto como um

território, algo descritivo, concebido como inato, era o inconsciente produzindo

algo. Logo Freud percebeu sérias limitações desta teoria, tais como: imaginar

que a instância crítica - aquela que decide do que podemos ter consciência -

era parte da mente consciente, assim, portanto, racional e oposto às exigências

e desejos instintivos. Contudo, descobertas evidenciaram existir esta instância

crítica inconsciente - não sabiam que estavam sofrendo críticas e punições

do seu próprio interior – assim como este exemplo, existem muitos outros, mas,

que não pretendo abordá-los nesta introdução.

Ampliou-se, então, a concepção topográfica para uma concepção de estrutura

mental: a 2º Tópica. Houve então, uma sensível evolução dos conceitos

psicanalíticos, um marco na teoria Freudiana, datado de 1923, com a

publicação O EGO e o ID, influenciado já por uma metapsicologia apresentada

na publicação Além do Princípio do Prazer, onde Freud começa a demonstrar

como os diversos elementos interagem entre si, não isoladamente. Desta forma

como uma “estrutura” estes elementos são interdependentes. Assim, neste

interjogo das funções, surge a dinâmica do pensar, sendo, os resultantes dos

pensamentos, as ações e suas conseqüências.

Page 4: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

4

- OBJETIVO GERAL

Este texto tem como proposição, apresentar uma introdução a Psicanálise,

tentando concentrar-se no eixo teórico da 1ª tópica Freudiana, de maneira

resumida, baseando-se na pesquisa das bibliografias clássicas de autores

reconhecidamente destacados do meio psicanalítico, buscando elucidar os

pontos de relevância desta teoria, nunca esgotando o seu conteúdo, pois, é

vasto e complexo à abrangência destes conceitos.

A primeira tópica foi inspirada pela análise do sonho e da histeria, será

sucedida, após 1920, por uma segunda tópica, elaborada em resposta aos

experimentos clínicos, que abrange o id, o ego, e o superego.

Da primeira, Freud dizia que tinha um valor descritivo, ao passo que na

segunda reconhece um valor sistemático, ativo e dinâmico.

“Daremos o nome de inconsciente”, escrevia ele em 1900, “ao sistema situado

mais atrás; ele não poderia ter acesso à consciência, a não ser passando pelo

pré-consciente, e durante essa passagem o processo de excitação deverá se

submeter a certas modificações”.

Insatisfeito com o “modelo topográfico” - 1º tópica - porquanto esse não

conseguia explicar muitos fenômenos psíquicos, em especial aqueles que

emergiam na prática clínica. Freud vinha gradativamente elaborando uma nova

concepção, até que, em 1920, mais precisamente a partir do importante

trabalho metapsicológico “Além do princípio do prazer”, ele estabeleceu de

forma definitiva a sua clássica concepção do aparelho psíquico, conhecido

como modelo estrutural (ou dinâmico), tendo em vista que a palavra “estrutura”

significa um conjunto de elementos que separadamente tem funções

específicas, porém que são indissociados entre si, interagem

Page 5: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

5

permanentemente e influenciam-se reciprocamente. Ou seja, diferentemente

da Primeira Tópica, que sugere uma passividade, a Segunda Tópica é

eminentemente ativa, dinâmica. Essa concepção estruturalista ficou cristalizada

em “O ego e o id” de 1923 e consiste em uma divisão tripartite da mente em

três instâncias: o id, o ego e o superego.

Acredito que todo trabalho como este, que hora apresento, tentando resumir,

sintetizar, algo tão rico em conteúdo como são as teorias psicanalíticas,

invariavelmente incorre em um reducionismo, sendo assim, em sérios riscos,

podendo, desde uma interpretação distorcida, indo até a uma compreensão

errônea dos conceitos fundamentais. Creio que se conseguirmos marcar um

pouco da história, os conceitos fundamentais da 1ª tópica, suas funções e

algumas atualizações conceptuais, por hora, devemos nos satisfazer.

De modo algum este trabalho substitui a leitura obrigatória dos livros clássicos,

entre eles as Obras Freudianas às pós Freudianas e às de outros autores

contemporâneos da psicanálise, entendam este trabalho como um suplemento

do encontro em que teremos e um embrião do qual o colega deverá nutri-lo

porquanto mantenedor do seu conhecimento.

É sabido que no decorrer de sua leitura, duvidas irão surgir, procure anotá-las

para que possibilite a sua manifestação em sala de aula ou por outros meios de

esclarecimentos que a Associação poderá dispor.

Page 6: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

6

Introdução a Psicanálise

Sigmund Freud (1856-1939), médico vienense, se especializou no tratamento

das doenças do sistema nervoso e em particular sobre as desordens

neuróticas, criando uma teoria a que denominou de “Psicanálise”. Assim esta

surge no cenário mundial com a proposta de trabalhar as questões subjetivas e

relativas aos conflitos mentais. Essas desordens mentais de que trata o autor

são as ansiedades excessivas, depressão, fadiga, insônia, paralisia e outros

sintomas relacionados com conflitos e tensões.

Impactado pela força de suas descobertas na clínica, Freud

questionava se as mesmas teriam alcance além daquele paciente específico ou

daquele grupo de pessoas. Durante seus estudos e proposições, já na

maturidade, procurou analisar alguns problemas da civilização, apresentando

em seus grandes textos, afirmando nestes que só depois de uma longa

experiência de vida e trabalho e após ter enfrentado perdas fundamentais e a

doença, pode retomar o pensamento, alguns escritos e elaborações, com

interrogantes sobre a extensão dos problemas do homem e sua cultura.

No século XVII o estudo da loucura e da histeria, era visto como uma

ciência com um vasto processo de apropriação das prerrogativas divinas,

portanto, como doenças incuráveis. O homem na idade Média percebia que as

doenças eram desejadas por Deus e como tal não tinham cura. A histeria e a

loucura adquirem uma dimensão humana a partir das descobertas de Sigmund

Freud.

A formação de Freud o preparava para suas descobertas. Durante o

curso de medicina, sua inquietação, inquirições e indagações o levaram para o

campo da investigação. Um médico judeu apaixonado pela pesquisa esperava

que um dia algum sucesso lhe colocasse numa posição que valesse renome e

reconhecimento na sociedade médica de Viena. No entanto não esperava que

entrasse em conflito violento com esse meio devido à sua descoberta do

inconsciente. Falando sobre si mesmo, o autor da “Interpretação dos sonhos”

diz ter “ousado tomar partido da antiguidade e da superstição popular contra o

ostracismo da ciência positiva”.

Page 7: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

7

As formas de desordens observadas por Freud não possuem um

padrão humano apesar de apresentarem sintomatologia específica. Os

sintomas iguais em suas manifestações no adoecimento, porém suas causas

são sempre diferentes. A neurose manifesta por uma pessoa possui “causa” ou

“origem” diferente, não objetiva e que possa ser compartilhada com a de outra

pessoa, ou mais de um indivíduo, porque é subjetiva, pertencem unicamente a

cada pessoa, acontece de forma singular a um sujeito... logo, os métodos são

subjetivos também, embora a orientação seja de ordem técnica com

parâmetros determinados. A lógica segue na contramão de tudo o que for da

ordem do consciente, seguir a contracorrente faz parte da essência da

psicanálise o que ocorre até nossos dias.

A magnitude e o volume da obra de Freud pela sua importância

histórica e humanística na civilização do homem moderno passou a ser um

verdadeiro marco cultural e um tempo de exercício teórico e de pratica, estagio

na evolução dos conhecimentos sobre a psique humana. A descrição de

fenômenos psicológicos nas mais diversas teorias dinâmicas do

relacionamento, sobre a interpretação sobre os processos mentais como

conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego,

os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica psíquica e que surjam

os sintomas de ordem psicopatológicos, nos diversos modelos ou formas

teóricas, em escolas doutrinárias todos são, e sem exceção, de caráter

observacional, e estão agrupados em processos descritivos das reações e

respostas observadas nos seres humanos.

A posição de abertura aos novos acontecimentos e às surpresas de seu

tempo, a capacidade de renovação e o rigor de Freud permitem afirmar que a

psicanálise está incorporada à cultura contemporânea. Isto implica na

responsabilidade da psicanálise, e mais ainda do profissional de psicanálise, o

“psicanalista” em sustentar a “atenção flutuante”, essa “escuta” singular

introduzida por Freud. Ele descobre o inconsciente e inventa a psicanálise na

separação com a medicina e a psiquiatria de sua época, abandonado a

neurologia, a hipnose e a técnica da sugestão para avançar “por mares nunca

dantes navegados” o que possibilitou que elaborasse um estatuto

completamente novo para a condição e o sofrimento humano.

Page 8: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

8

Sobre os primórdios da Psicanálise

A jovem ciência, a “Psicanálise”, recebeu de seu criador influência de

princípios da biologia materialística da época, avançando para o campo das

doenças mentais. Para alguns teóricos isto fez com que Freud se limitasse ao

campo biológico, deixando de lado determinantes sociais, culturais e

fenômenos mentais. O pai da psicanálise, nesse período em que as ciências

naturais estavam em seu apogeu, voltou-se ao contrário dos tempos, e forçou a

reconhecer o irracional e o psicogênico, e assim desafia a superstição que se

fazia do racionalismo.

A Psicanálise não se localiza num lugar cartesiano, cuja ação se

caracteriza por deveres ou interesses no exercício de suas atividades. Se a

Psicanálise ofender a razão e bons costumes, ela está apontando para a

consciência como um lugar de mentira e não de verdade, de ocultação e

distorção, ou seja, um lugar da ilusão. Isso por considerar que a consciência é

essencialmente farsante, pois a consciência em sua pureza racional, ou a

razão estando num lugar de suspeita pela dúvida cartesiana, a psicanálise

pode ser vista como um “filho natural”.

Às voltas com seus descobrimentos Freud viveu uma solidão teórica,

pois ás vezes às voltas com seus descobrimentos, pela sua importância e

alcance se sentia na marginalidade. Desejava que sua teoria psicanalítica se

transformasse numa prestigiosa prática e de conhecimento de um grande

público, não apenas no meio científico. Em pouco tempo a Psicanálise se

transformou numa das mais prestigiosas práticas, tão ameaçada em seu

surgimento, rapidamente conquista o lugar de objeto de disputa. A

fenomenologia, as filosofias da existência, a antropologia, o culturalismo

americano, a biologia, a linguística, e a psicologia foram alguns dos saberes

oficiais que desejavam adotar o conhecimento que surgia com a psicanálise.

Desde muito, por séculos e séculos a psicologia foi considerada como

campo especial da filosofia especulativa, considerando questões mais ou

menos metafísicas, importantes e cujos problemas discutidos continuavam a

refletir nas antíteses: “corpo e alma”; “humano e divino”; “natural e

sobrenatural”. O século XIX se caracteriza por avanços nas ciências naturais e

a ideia de natureza propagou as ciências da vida, evolução das espécies com

Page 9: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

9

os teóricos evolucionistas e avanços na medicina, e assim vencendo

gradativamente o pensamento mágico. A magia, no entanto não foi superada

em seu processo contínuo, pois se observou recuos e avanços na história das

ideias.

A psicanálise foi influenciada pela história dos gregos e história bíblica,

mas nessa luta o pensamento pré-psicanalítico já se apresentava no campo

das manifestações mentais sobre o ponto de vista cientifico natural. Às vezes

Freud era como que um arqueólogo a cavar a “psique humana” para poder

entender os mitos e mistérios da cultura na maioria, escondidos na superfície

desta.

Alguns acontecimentos marcaram o ser humano de forma tal que

foram consideradas como “feridas narcísicas” da humanidade. O matemático e

astrônomo Nicolau Copérnico com sua teoria heliocêntrica do sistema solar

veio afirmar que o “Sol” era o centro do Sistema Solar contrariando a teoria

geocêntrica. Com esta descoberta desferiu o primeiro grande golpe, ao afirmar

que o homem era apenas coadjuvante que “brincava no carrossel” do sol,

abrindo a primeira ferida narcísica.

O homem gozava ainda, nesta época, da condição de ser “Filho de

Deus”. Ao fazer suas descobertas e criar a teoria do evolucionismo Charles

Darwin traz à humanidade a má notícia de que o “homem não é uma criatura

saída das mãos de Deus”, mas sim ocupa a condição de ser o mero “resultado

da evolução natural dos seres”, ou seja “descendente de primatas” melhorados,

provocando a abertura de uma segunda ferida narcísica para o homem.

A última esperança que restava ao “ser humano” era “racionalidade

exclusiva da espécie”, quando então, Freud com suas descobertas e propostas

teóricas dá o golpe derradeiro e que faz sangrar até hoje, no amago do ser

humano: “a consciência é a menor parcela da vida psíquica” dos humanos.

Assim diz ele que o “homem não é rei em sua própria casa” escancarando o

quanto o comportamento humano é guiado mais pelos impulsos inconscientes

e pulsões biológicas do que por princípios racionais. Desta forma a psicanálise

freudiana abriu a terceira grande ferida narcísica, provocando um padecimento

no saber ocidental com o des-centramento da razão e da consciência. Tal qual

o homem, a vida do ser humano – de modo individual – a cada momento faz

sofrer feridas que abalam sua estrutura e o faz repensar “o que é” e “o que

Page 10: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

10

quer” a cada instante. O ser humano ao descobrir em seu meio um mundo

natural e hostil provavelmente sentirá angústias que podem gerar tormentos

psíquicos e crises de valor, segundo Freud (1927), que assim aponta: “A

autoestima do homem, seriamente ameaçada, exige consolação; a vida e o

universo devem ser despidos de seus terrores; ademais, sua curiosidade pede

uma resposta.”

Freud segue lembrando a primeira ferida narcísica que sofreu foi aos

sete anos. Relata que quando pequeno pensava que seu pai era o homem

mais alto do mundo. Por ele e por meio de sua altura aspirava às coisas do

alto. Foi quando diz ter conhecido outro maior do que ele… Além disso, aponta

que restava ainda a condição de “super-herói” inerente a todo pai. Foi aos treze

anos que viu seu pai chorar pela primeira vez. Percebeu que o “homem”

inatingível também sentia medo, também sentida dor, também chorava. O

“super-herói” tinha lá as suas fraquezas, e após, quando homem feito, pensou

ele que nada mais o abalaria, aí bate à sua porta a “morte”. Esse foi o

momento em que Freud se “deu conta de que ninguém é eterno” e que mesmo

as pessoas mais queridas têm prazo definido para estar na Terra. Diz ele: “eis

a ferida que sangra até hoje”, e continua afirmando que é uma “ferida que

nunca vai cicatrizar”.

Eis então uma questão: “onde situar a psicanálise?” A Psicanálise se

situa em nenhum lugar preexistente. Ela produziu o seu “próprio lugar” por

provocar uma ruptura com o saber existente. Arqueologicamente ela está

ligada a um conjunto de saberes sobre o “homem” que se formou a partir do

século XIX, porém epistemologicamente ela não se encontra em continuidade

com saber algum.

O caminho empreendido por Freud, não pode ser dito como “original”.

No começo é uma produção do conceito de “inconsciente”. É um momento em

que a subjetividade deixa de ser entendida como um todo unitário, identificado

com a consciência e sob o domínio da razão para ser uma realidade dividida

em dois grandes sistemas – o Inconsciente e o Consciente – sob o domínio de

uma luta interna, cuja razão é apenas um efeito de superfície.

Muitos avanços revolucionários surgiram a partir da ciência positivista

do homem, e Freud seguiu esta tradição determinista e mecanicista. A

Page 11: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

11

contribuição que ele encontrou, para a construção de sua teoria, foi através de

alguns elementos de base encontrados em:

Biologia: a revolução na biologia provocada pela construção de Teoria de

Darwin contagiou outras ciências. Freud foi muito influenciado,

principalmente no que diz respeito à noção de desenvolvimento biológico, a

ideia de estágios sucessivos, ao determinismo biológico e aos conceitos de

regressão e fixação. A importância que Freud dá ao evolucionismo e à

biologia é típica do século XIX.

Positivismo: a ciência só pode liderar com entidades observáveis, ao alcance

direto da experiência, segundo o positivismo. A necessidade de elaboração

de leis gerais que descrevam as relações entre os fenômenos. A filosofia

tomou emprestada esta abordagem das ciências naturais e ela passou a

influenciar quase todo o tipo de pensamento. Freud tentou aplicá-la à mente,

procurando determinar com precisão algo que era abstrato.

Psicologia: é uma área bastante ampla, e as suas ideias são muito antigas. A

psicologia da associação (ideia que esta ligada a outras ideias e forças) já

havia sido desenvolvida na filosofia por Berkeley, Hume e outros filósofos. A

psicologia estudava o funcionamento da mente influenciada pelo positivismo,

procurando comprovar descobertas através de experiências e buscava o

determinismo. Wilhelm Wundt ( 1832-1920) publicou Princípios de Psicologia

Fisiológica, chamando a atenção para a importância do determinismo

biológico e da experimentação.

Psiquiatria: desenvolveu-se no final do século XIX. Estava interessada numa

nova visão da mente. Tratava de algumas doenças que a medicina oficial

não levava em consideração: a histeria, a letargia e a catalepsia. Ao estudar

as doenças nervosas, a psiquiatria chegou à concepção das doenças e dos

distúrbios nervosos, chegando assim à ideia de energia mental. Kraeplin

(1856-1926) publica um compendio com a síntese da psiquiatria moderna, e

tentou encontrar uma definição para as doenças mentais.

A genialidade de Freud de aventurar-se por um caminho tão

espinhoso, o de correlacionar cientificamente os fenômenos mente-cérebro,

que o mesmo, ainda hoje e com todos os recursos das neurociências

contemporâneas não conseguiu clarificar a contento o problema genético dos

distúrbios psicológicos. Todo um excepcional arsenal científico e toda uma

Page 12: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

12

possibilidade de comunicação, informações, registros e processamento de

dados espalhados pelos laboratórios nos mais variados ramos da neurociência

e da biologia, o cientista moderno sente e carrega a mesma ansiedade de

Freud desde os primórdios de sua construção do “Projeto”.

A teoria freudiana tem como objeto de estudo os fenômenos

inconscientes colocando em cena uma problematização sobre o sujeito na

medida em que questiona várias categorias - tais como autonomia, liberdade,

determinação -, categorias que definem a noção de sujeito segundo a tradição

filosófica do pensamento moderno. Reconhecendo que a psicanálise promove

a terceira ferida narcísica quando preconiza que "o homem não é senhor de

sua própria morada", Freud vai propor uma metapsicologia dos mecanismos

psíquicos normais e patológicos, visando um entendimento do humano que

abala esta concepção.

A fisiologia é usada por Freud no início de seus estudos para explicar

as doenças mentais, o que permitiu que criasse a “cura pela fala” a partir da

escuta de suas histéricas, e desta forma encontrou o inconsciente com a

descoberta do funcionamento complexo da psique humana. Este autor foi um

descobridor da mente e das doenças que afetam o comportamento humano.

Sofreu muito pela sua ousadia, mas livrou-se de ser queimado nas fogueiras,

costume da época, pelo menos os nazistas só queimaram seus livros.

A proposição Freudiana, segundo a qual a civilização se baseia na

permanente subjugação dos instintos humanos, foi aceita como axiomática.

Seu interrogante sobre os benefícios da cultura em relação a terem

compensado o sofrimento assim infligido aos indivíduos, não foi levado muito a

sério — ainda menos quando o próprio Freud considerou o processo inevitável

e irreversível. A livre gratificação das necessidades instintivas do homem é

incompatível com a sociedade civilizada: renúncia e dilação na satisfação

constituem pré-requisitos do progresso. Disse Freud: “A felicidade não é um

valor cultural”. A felicidade deve estar subordinada à disciplina do trabalho

como ocupação integral, à disciplina da reprodução monogâmica, ao sistema

estabelecido de lei e ordem. O sacrifício metódico da libido, sua sujeição

rigidamente imposta às atividades e expressões socialmente úteis, é cultura.

Freud, de inegável talento poético, que por problemas de tradução

muitas vezes ficou reduzido a um disciplinado homem de ciência (uma verdade

Page 13: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

13

parcial), tinha preferência pelo uso de palavras simples e populares, como se

pode verificar a partir dos originais em alemão. Lançou mão da palavra “alma”,

atribuindo-lhe um novo sentido. Antes do advento da psicanálise, a “alma” era

entidade pertencente ao campo religioso ou místico; a ciência da época, por

sua vez, religiosamente, elegia a razão como recurso para o domínio das

forças da natureza, o que incluía as manifestações intempestivas, inerentes à

natureza humana, entre as quais, a sexualidade. Não obstante, a racionalidade

contida no ideário iluminista contribuía para as descobertas psicanalíticas, pois

representava, no plano da organização política e social, a flexibilização

progressiva da cultura ocidental em favor da lei, dos direitos universais do

cidadão e de um estatuto para a individualidade.

O que hoje se entende por “vida psíquica” ou “anímica”, e nesta uma

nova concepção de alma, na qual o desejo e a demanda por prazer figuram

como elementos naturais do psiquismo, foi postulação sustentada pela

psicanálise, que a moral racionalista da ciência tinha por inspiração recusar.

A inclusão da “sexualidade” e da “primazia do desejo” ensejava uma

representação de alma formada por forças contrastantes, o que levou a

pesquisa freudiana à conclusão de que, a todas as formas de absolutismo,

singular ou coletivo, corresponde um universo paralelo que o subverte. Na

verdade, em todos os tempos encontramos infindáveis testemunhos culturais

do secreto pulsar da alma humana, sobretudo na literatura: no mundo

mitológico dos gregos, no romantismo germânico do século XIX, em

Shakespeare, em Sade e outros.

Freud, homem de seu tempo, fez surgir a psicanálise no centro da

modernidade vienense, período conhecido pelo contraste cultural. Ao lado do

progresso, da expansão metropolitana e dos avanços da ciência, o seu avesso:

desemprego, prostituição e produções da contracultura, que denunciavam um

mundo em decadência. Era um tempo de fragmentações políticas e

geográficas, marcado por movimentos nacionalistas de independência contra a

unidade imperial. A literatura romântica de Viena apresentava os dilemas do

homem dividido e incendiado por paixões, num paralelo claro com a produção

freudiana, ambas centradas na tensão entre amor e morte.

É instigante na obra de Freud sua automática capacidade de

atualização. Ainda que pese o contexto histórico em que nasce a psicanálise, o

Page 14: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

14

autor parece transcender seu próprio tempo; universalizou-se, por assim dizer,

ao construir a ponte entre mundos frequentemente isolados, o místico e o

científico, o clássico e o romântico, situando a alma num quase indizível

espaço volátil entre luzes e sombras – realidades co-habitantes de um todo

anímico.

Do saber sobre a loucura à hipnose e histeria

No século XIX, mesmo com todo o esforço da Psiquiatria, esta seguia

na procura de um critério seguro para fazer a distinção entre “loucura” e

“simulação”. O psiquiatra era capaz de identificar a loucura, porém não sabia o

que a mesma era, tornando-se assim uma relação de exclusão: “Sei quem é

louco e sei que não sou louco, mas não sei o que é a loucura”. Os

experimentos com “ópio” eram feitos com pacientes loucos para determinar a

“verdade” ou “falsidade” de sua loucura. Com o uso do “haxixe” Moreau de

Tours inverte o procedimento e aplica a droga em si mesmo com o objetivo de

produzir os sintomas da loucura e poder voltar ao normal. Dessa forma ele

adquire um saber sobre a loucura produzido pela experimentação. Moreau foi

mais longe com seu pensar sobre a loucura, percebendo que o fundo

homogêneo entre o normal e o patológico não precisava ser produzido

artificialmente. Entendeu que o sonho reproduz as mesmas características da

loucura em cada indivíduo adormecido, enquanto os loucos são sonhadores

acordados. Assim, mais do que qualquer outro acontecimento é o que mais se

aproxima da loucura e favorece a sua compreensão, vindo quebrar a

heterogeneidade entre o normal e o patológico. Freud tomou esse fato como

um princípio de análise.

Historicamente a hipnose e estados hipnóticos estiveram presentes

em toda a história da humanidade. Os sacerdotes nas culturas mais antigas

usavam processos e procedimentos hipnóticos para a cura de dores e

doenças. O sacerdote trabalhava simbolicamente sobre as imagens que

irrompiam automaticamente à consciência do doente, fornecendo “sugestões

hipnóticas” de cura.

Paracelso médico e alquimista, o pai da “medicina hermética”

confeccionava talismãs com inscrições planetárias e zodiacais, pois acreditava

Page 15: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

15

que a influência das estrelas curava as pessoas doentes. Assim a hipnose

deste período era impregnada de misticismo, magia e religiosidade, utilizando

cantos, danças, orações, rituais e palavras.

Com a experimentação cientifica nos séculos XVIII e XIX, surge Franz

Anton Mesmer, médico austríaco que se estabeleceu em Paris. Ele acreditava

na influência dos fluidos dos astros e corpos celestes na cura das doenças,

pela presença de um fluido universal ligado aos mesmos, para mais tarde falar

em “magnetismo humano”, de forma a realizar cirurgias e anestesias sobre o

“sono mesmérico”. Apesar de cair em descrédito seus experimentos após

análise no meio cientifico, suas teorias e métodos ao que foi denominado de

“psiqueísmo” continuaram a ser empregados por seus seguidores. Mesmer

com suas descobertas tem importância indireta na história da histeria, pois

embora não se dedicando ao estudo deste estado patológico, quase todos os

seus pacientes sofriam de histeria. Com seus experimentos ele deu o primeiro

passo para as descobertas da hipnose, o que levaria posteriormente à

psicanálise. Foi com a popularidade do “fluidismo” que levou o governo e a

comunidade cientifica à condenação de Mesmer por charlatanismo, concluindo

que em seus experimentos não existia fluido magnético e que a cura se dava

pela sugestão. Freud inicialmente vai empregar exatamente esse mesmo efeito

da sugestão como princípio da técnica hipnótica que emprega com suas

histéricas.

Mais tarde James Braid assistindo a uma cirurgia efetuada por Mesmer,

cuja anestesia foi provocada pelo uso da hipnose, passou a estudar esse

processo, reformulando a teoria do mesmo. Braid definiu o estado hipnótico

como sendo um “sono do sistema nervoso”, partindo da mitologia grega com o

termo “Hypnus” que simbolizava o “Deus do Sono”, inventando uma nova

técnica, para mais tarde perceber cientificamente que a hipnose era não um

estado de sono, mas um estado de intensa “atividade psíquica e mental”. Por

longo tempo a hipnose foi conhecida como “braidismo” com o abandono do

“mesmerismo”. A técnica hipnótica não faz nenhum apelo a fluidos magnéticos

como também a nenhum poder especial do hipnotizador, pois o efeito obtido

depende apenas do estado físico e psíquico do paciente.

Após muitos anos a hipnose é resgatada na França, pelas escolas: de

La Salpêtrière em Paris, liderada por Jean-Martin Charcot (1835-1893), médico

Page 16: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

16

neurologista e mestre muito conceituado e o mais importante da época. Ele

estudava a hipnose e seus “estados hipnóticos” com uma perspectiva de

transformar os “estados sonambúlicos” em terapêutica, aplicando no

tratamento de pacientes histéricos; e a Escola de Nancy sob o comando dos

médicos August Liebeault (1823-1904) e Hipolyte Bernheim (1840-1919) que

estudavam a hipnose e seus fenômenos, pensados estes como um “estado

normal de consciência”, normal e natural do ser humano. Assim as duas

escolas tinham pontos de vista distintos e discutiam o uso da hipnose como

alvo de interesses no meio acadêmico e cientifico.

Charcot em 1889 organizou o “I Congresso Internacional de Hipnotismo

Experimental e Terapêutico” contando com a presença do psicólogo americano

William James, do criminalista italiano Lombroso e do jovem médico

neurologista Sigmund Freud. Muitos livros e revistas científicas foram escritos e

publicados sobre hipnose. Esse reconhecimento profissional sobre a hipnose

se deve ao trabalho de Charcot na clínica com mulheres com doenças

mentais. A sua dedicação e o tratamento de pacientes histéricas por meio da

hipnose lhe renderam o sucesso e êxito profissional no circulo médico.

O início do século XIX foi funesto para a evolução do conceito cientifico

de histeria. A publicação em 1816, do “Tratado das enfermidades nervosas e

vaporosas e particularmente da histeria e da hipocondria” pelo conde de

Maxime de Puységur, cuja influência foi nefasta entre os médicos. Ele cai no

mesmo erro de Galeno e Hipocrates quando admitem a existência de esperma

na mulher e sustentam como causa etiológica da histeria o deslocamento do

útero e as sufocações. A histeria é apresentada como uma afecção

vergonhosa, por Loyer-Willermay, apontando as mulheres vítimas desse mal

como objeto de piedade ou desagrado, negando e combatendo ao mesmo

tempo a existência da histeria masculina.

A descrição dos sintomas da histeria e do uso da hipnose com abordagem de

aspectos neurológicos e ênfase nos aspectos físicos, como a paralisia foi uma

das mais importantes contribuições de Charcot. Adotou uma terminologia

médica, o que facilitou a aceitação da técnica proposta e utilizada, pela

academia de Ciências. No entanto a maioria dos médicos continuou a atribuir à

histeria, causas somáticas ou físicas até Pierre Janet tornar-se diretor do

laboratório de psicologia da Salpêtrière. Janet que fora aluno de Charcot,

Page 17: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

17

entendia a histeria como um distúrbio mental, por ideias fixas e forças

inconscientes. Freud ao iniciar sua carreira na sociedade medica prestava

muita atenção à hipnose e às causas psicológicas da doença mental.

Era o inverno de 1885, Freud vai a Paris para fazer um curso com

Charcot. Entusiasmado com as aulas do mestre adere entusiasticamente ao

modelo fisiológico oferecido por ele para o tratamento da histeria. Tanto

Charcot como Freud a partir de suas observações e estudos salientaram nesse

período, que a histeria era uma doença funcional cujo conjunto de sintomas

seria bem definido, enquanto que na simulação os sintomas desempenhavam

um papel desprezível. Ambos concluíram que a histeria era uma doença tanto

feminina quanto masculina, desfazendo a ideia de que apenas as mulheres

padeciam de histeria.

A “histeria” como sugere o termo, deriva da palavra grega “hystéra” que

significa “útero”. Porém a sintomatologia regular da histeria constituía um

problema, considerando o diagnóstico diferencial versus diagnóstico absoluto.

Em Paris, na Salpêtrière, Freud aprendera que um sintoma histérico

poderia ser produzido em estado hipnótico, este usado como um método de

pesquisa e tratamento. Ao voltar à França, em Nancy, ele comprovou que

apenas por meio de persuasão e insistência, sem o hipnotismo seria possível

trazer de volta o sintoma às representações e afetos que o causavam.

O vocábulo “hipnose” deriva do termo grego hipnos que significa

“sono”, portanto, “hipnose” designa um estado alterado de consciência

provocado pela sugestão de uma pessoa em outra. Com o uso da hipnose,

Freud estava mais interessado em obter subsídios sobre os mistérios do

psiquismo inconsciente que os experimentos hipnóticos poderiam lhe propiciar.

Isto fazia com que a aplicação desse recurso em sua prática clínica na época,

o deixasse frustrado, e o fizesse reconhecer-se como um mau hipnotizador.

Ao regressar a Viena, Freud lembrou um caso de uma jovem histérica

atendida por Josef Breuer, um famoso médico da sociedade vienense, a qual

tinha reagido diante de uma determinada técnica. Este caso entrou ara a

historia com o nome de “Anna O.” por ser a primeira paciente tratada com o

acesso a regiões do inconsciente. Os sintomas histéricos desta paciente

despareciam após a sessão hipnótica, porém reapareciam sob a forma de

outros sintomas corporais. Ele solicitou a Breuer que ampliasse os dados

Page 18: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

18

sobre esta jovem de educação e dotes pouco comuns e que adoeceu quando

cuidava do pai enfermo, por quem sentia grande afeto. Em sua doença, a

jovem apresentava um quadro de contraturas variadas, inibição e um estado de

confusão mental, saindo de seu “estado nebuloso de consciência” quando

induzida a expressar verbalmente o estado afetivo ou emocional que a

dominava. Breuer submetia a paciente a um estado de hipnose profundo

determinando que relatasse tudo sobre o que a perturbava.

Ao estudar o caso Freud diz tratar-se de pensamentos e impulsos que

a jovem tivera que “reprimir” enquanto se achava ao lado do pai enfermo. Mais

tarde os sintomas de que se queixava haviam se apresentado como substitutos

destes. Quando a paciente recordava uma cena traumática de forma

alucinatória, no estado de hipnose, expressava livremente o ato que

originariamente reprimia, o sintoma desaparecia e não voltava a se apresentar.

Dessa forma, após longo tempo, para Breuer a hipnose passou a consistir em

“sugestionar o doente contra seus sintomas”, com uma finalidade terapêutica.

Esta sugestão provocava uma descarga de afetos ligados a fantasias, desejos

proibidos e lembranças penosas de fatos traumáticos reprimidos no

inconsciente trazidos ao consciente pela “fala”, ao que chamou de “ab-reação”.

A partir desse processo ele propõe o método “catártico” (de Kátharsis =

purgação) para designar essa descarga emocional que ocorria durante o

tratamento, usando a hipnose para descobrir os eventos que tinham causado o

sintoma, assim como a relação entre o incidente provocador e o fenômeno

patológico. Desta forma Breuer tem seu caso mais famoso ao atender a jovem

“Anna O.” sua primeira e única paciente atendida por este método.

A partir das interessantes observações de Breuer, Freud passou a

pesquisar entre seus pacientes para constatar se estes apresentavam as

mesmas situações e a sintomatologia se modificava com o método ao qual se

dedicou durante quatro anos, período em que publicou seus “Estudos sobre a

histeria”. Esta obra não teve a pretensão de esclarecer sobre a natureza da

histeria, mas o objetivo de demonstrar a origem dos sintomas e assinalar a

importância fundamental da vida emocional, bem como, a necessidade de

considerar, no âmbito do psiquismo, a existência de duas zonas, uma

consciente e outra inconsciente.

Page 19: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

19

O que é psicanálise?

Hoje, quando definimos psicanálise, valemo-nos do que disse Freud que aqui

vai adaptado:

Um método de investigação do significado inconsciente de palavras,

atos e produções imaginárias, baseado nas associações livres que

hão de servir para fundamentar as interpretações.

Posta a psicanálise em tais termos, convém que voltemos ao inteiro teor do

conceito para destrinçá-lo e para tirar das palavras que o compõem o que quis

Freud dizer quando delas se valeu.

Começando pelo termo método, tem-se uma expressão grega que significa

caminho para se chegar a um fim, que no caso há de ser alcançado por meio

de um processo investigatório.

Ora, investigar implica em observar-se um acontecimento, um fenômeno

qualquer, a partir dos vestígios que se saiba levantar sem, contudo, deixar-se,

o investigador, envolver com os componentes da situação – emocionar-se,

reprovar, desfrutar – e sim trabalhar nos termos de quem pesquisa, vale dizer,

de quem age com total isenção.

Quanto ao significado inconsciente, quis Freud se referir ao essencial em

psicanálise: “o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos

“conteúdos” só se tornam acessíveis depois de superadas certas resistências.”,

um conceito que ele mesmo aditou a um outro, dizendo que a vida psíquica é

“(...) cheia de pensamentos eficientes embora inconscientes e que era destes

que emanavam os sintomas.”” (Laplanche e Pontalis).

Segue-se o destaque de três expressões: palavra, atos e produções

imaginárias.

Comecemos por palavra para se ressaltar a importância do discurso verbal,

por causa de um detalhe fundamental: o ser humano se vale das palavras não

para se explicar, mas para ocultar desejos: “eis que toda palavra é uma

metáfora.”1.

1 A frase é de Nietzsche.

Page 20: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

20

Em segundo lugar se tem atos, outro ente capital na avaliação do analista, já

que na psicanálise se toma o ato como o conceitua a filosofia: é o que se

realizou ou se vai realizando.

Depois se tem produções imaginárias, por se querer dizer de sonhos, de

devaneios e de fantasias.

Começando-se pelo sonho, tem a psicanálise neste ente um fenômeno que

“(...) não é um mero processo somático... não é sem sentido... não é absurdo... é

um fenômeno psíquico do mais alto valor, algo que preenche os desejos: algo

que pode ser inserido na seqüência dos atos mentais inteligíveis quando da

vigília, vez que é construído a partir de uma atividade altamente complicada da

mente. (Freud in A Interpretação dos Sonhos, 1900).

Do devaneio nos diz a psicanálise que se trata de um “(...) enredo imaginado

no estado de vigília. (...) Os sonhos diurnos (outro nome para devaneio),

constituem, como o sonho noturno, realizações de desejo (...).”

Na continuidade vem o vocábulo fantasia, que conforme a síntese apresentada

por Laplanche e Pontalis, pode assim ser conceituada:

Roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa, de modo

mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um

desejo e em última análise, de um desejo inconsciente.

Neste ponto chega-se ao próprio método psicanalítico, chega-se à associação

livre, que entrou para a psicanálise quando Freud analisava uma paciente a

quem ele chamava de Emmy Von N, que ante as insistências dele no buscar

das origens de um determinado sintoma, ouviu dela que não devia “(...) ficar

sempre a perguntar de onde vem isto ou aquilo, mas deixá-la contar o que quer

que ela tivesse para contar.”

Pois isto foi o que se tornou o que realmente importa no consultório, que é

atentar para o que, não obstante todo o processo defensivo usado para

assegurar coerência aos discursos verbais consiga “passar disfarçado” em

Page 21: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

21

meio ao dito conscientemente, pondo a descoberto uma verdade intra-psíquica

que o paciente, conscientemente, jamais apresentaria.

Na verdade o termo que Freud usou foi Einfall (invasão) e não a expressão

associação livre que não retrata com precisão a desejável a “ordem

determinada do inconsciente” (Laplanche e Pontalis.).

Terminando a conceituação de psicanálise se tem o verbete interpretação que

corresponde à intervenção do analista que durante a escuta, considera os

signos, as resistências e a simbologia de que o paciente se valha para falar de

si e da constelação social em que encontre inserido.

Da interpretação se diz também que resume o ofício do analista que a

apresenta para levar o paciente à compreensão dos fenômenos psíquicos que

vivencie no setting analítico e naquilo que experiencie na sua vida de relação.

Tudo começou com os trabalhos de Breuer e Freud quando do tratamento de

um paciente portador de sintomas histéricos, sugerindo esquecidas

reminiscências relacionadas com experiências traumáticas arcaicas

rememoradas sob hipnose, fazendo com que afetos estrangulados com elas

associados fossem descarregados, desaparecendo os sintomas neuróticos.

Mais tarde vai Freud descartar2 a hipnose, passando a usar a sugestão e

exigência do lembrar: era o tempo do método catártico de terapia e de outros

até chegar à associação livre, que até hoje define o que seja fazer psicanálise.

Dos trabalhos de Freud se tem que ele foi o primeiro a dizer que as

comunicações feitas pelo paciente, conquanto aparentemente sem sentido,

deveriam ser tratadas como um código formulado com elementos derivados do

inconsciente, vendo-se, na continuidade de suas observações, o destaque da

importância dos conflitos internos resultantes dos efeitos das expressões da

instintualidade, independentemente dos eventos externos traumáticos.

Quanto ao objetivo do tratamento, em um primeiro momento, vai Freud dizer:

“Tornar o inconsciente consciente”, a exigir do analista uma postura ativa, fosse

para interpretar diretamente a natureza das várias pulsões inconscientes, fosse

para reconstruir o material dito reprimido.

2 Freud in Fluctuat nec Mergitur: “O emprego da hipnose ocultava essa resistência, por conseguinte, a

história da psicanálise, propriamente dita, só vai começar com a nova técnica que dispensou a hipnose.”

Page 22: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

22

Para tanto se queria o paciente em um “estado marcado por uma transferência

positiva” e por isso mesmo apto para aceitar as interpretações, sendo que

eventuais manifestações de repúdio (às interpretações) definiriam um “estado

de resistência”, ante o qual o analista deveria suspender as interpretações até

que as resistências fossem eliminadas.

Observações posteriores acabaram por exigir revisões da teoria vigente,

passando-se a considerar em primeiro plano a função do ego, fazendo com

que novos conceitos fossem adotados, todos tomados da nova doutrina

sintetizada no “Onde houver id há de haver ego.”

Assim, as interpretações passaram a ser apresentadas não somente em

função do conteúdo das pulsões instintuais, mas ante o comportamento

manifesto produzido pelas funções superegóicas inconscientes, bem como por

causa das defesas inconscientes e das resistências egóicas.

Com isso a ênfase foi posta sobre: (i) o desenvolvimento e a resolução da

neurose de transferência e (ii) as trocas psíquicas estruturais internas, por

sinalizarem progressos terapêuticos. A par de tudo, a análise dos traços de

caráter foi intensificada e do mesmo modo o relacionamento do indivíduo com

a realidade vigente no seu meio ambiente.

Instalava-se assim a fase das descobertas: (i) dos processos mentais

inconscientes e o dinamismo dos processos de relacionamento da vida

consciente e afetiva3; (ii) dos fatores etiológicos de alguns estados

psicopatológicos como a existência da compulsão à repetição e do processo

transferencial e da fenomenologia do desenvolvimento psicossocial e

agressivo.

Neste ponto Freud definia a psicanálise como “uma terapia que reconhecia o

significado da resistência inconsciente, da transferência e das raízes genéticas

infantis da neurose.”

A vida mental e o comportamento podem ser vistos como o resultado final de

uma interação contínua entre várias forças complexas que são integradas pelo

3 Afeto (e derivados do termo) nada tem a ver com o significado de carinho, de boa vontade e sim de

penoso e de tensão. De Freud, sintetizado por Laplanche e Pontalis, se tem que afeto “é a expressão

qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações.” De maneira simples, se pode dizer

que afeto é tudo que afete.

Page 23: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

23

indivíduo a partir de poderosas influências internas e externas descritas por

meio de seis conceitos: o genético, o dinâmico, o econômico, o estrutural, o

topográfico e o adaptativo.

O conceito genético busca explicar o comportamento do indivíduo em

termos de estágios do desenvolvimento e dos modos de adaptação, ou

seja, uma ampla compreensão do comportamento atual a requerer também

uma compreensão dos seus antecedentes incluindo o passado remoto. Na

teoria psicanalítica o desenvolvimento do indivíduo na primeira e

segunda infâncias, a solução da neurose infantil, bem como a solução

dos conflitos acerca da sexualidade infantil tornaram-se os três itens

que assumiram particular importância por serem prototípicos enquanto

experiências que repercutem na escalada do desenvolvimento

subseqüente.

No conceito dinâmico se considera o comportamento atual do indivíduo,

compreendendo-o como o resultado do interjogo de todas as forças mentais

internas geneticamente determinadas que, continuadamente, exercem

influência sobre o seu desempenho determinado por impulsos instintuais,

defesas, interesses do ego e conflitos. Assim observam-se no

comportamento dos indivíduos interações e contraposições de forças

internas, pelo que interessa ao observador não apenas os fenômenos em

si, mas principalmente as forças atuantes, considerando-se o sensível nos

processos de desenvolvimento e de regressão.

O conceito econômico, que se refere à hipótese acerca da distribuição,

transformações e investimentos da energia psíquica, é explicado pela

concepção do que seja a dita energia psíquica, bem como suas contínuas

variações na intensidade de suas expressões no âmbito do aparelho

mental, já que ali coexistem forças em contraposição, cujo somatório dos

efeitos reflete intensidades e mútuas interações observáveis nas respostas

comportamentais denotando prejuízos nas percepções e nos

relacionamentos em geral. O uso do termo econômico se justifica em Freud

quando dele se vale para descrever situações em que o indivíduo, por toda

Page 24: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

24

uma vida ou eventualmente, age visando algo com especial interesse, por

investir sua atenção, dedicação, preocupação, interesse, etc. em alguma

coisa.

O conceito estrutural se explica considerando-se uma divisão tripartite do

psiquismo: id, ego e superego, estando o ego sob os influxos da

instintualidade (o id), das demandas ideais (o superego) e da observação

permanente do mundo exterior (a realidade).

O conceito topográfico (ou tópico), na leitura de Laplanche e Pontalis,

supõe “(...) uma diferenciação do aparelho psíquico em certo número de

sistemas dotados de características ou funções diferentes e dispostos e,

uma certa ordem, uns em relação aos outros, o que permite considerá-los

metaforicamente como lugares psíquicos de que podemos fornecer uma

representação figurada espacialmente.”

O conceito adaptativo enfatiza o papel central e crucial do ego para

organizar, sintetizar e integrar as condições e influências (externas e

internas) incidentes sobre o organismo (mente e corpo).pelo fato de

existirem incidindo sobre o indivíduo constantes flutuações e dinamismo

nas forças psicológicas e sociais do meio ambiente a exigir um grande

esforço para a manutenção de um estado de equilíbrio ótimo ou mesmo

próximo do ótimo para ser alcançada a adaptação.

Page 25: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

25

Desde o tempo de Freud caracterizou o consultório do analista a presença de

um divã4, um equipamento que hoje em dia já não é muito encontradiço, pois

vem sendo substituído por uma poltrona.

Como método conta-se com a associação livre, um fenômeno definido por

Laplanche e Pontalis como a expressão indiscriminada de “(...) todos os

pensamentos que ocorram ao espírito, quer a partir de um elemento dado

(palavra, número, imagem de um sonho, qualquer representação), quer de

forma espontânea.”

Tal visão ditada pelos dois grandes nomes citados, para muitos, sugere uma

correlação com associação de idéias, um erro que ambos nunca admitiram, já

que o termo que Freud usou para descrever o fenômeno foi Einfall (invasão)

para preconizar a valorização do que, sem discriminação, i. e., sem censura da

parte do paciente, venha em meio de qualquer manifestação verbal.

Com isso se tem que na análise se buscam nos discursos os elementos que, à

revelia do indivíduo, invadam suas produções, elementos estes considerados

como valiosos por conseguirem ultrapassar as barreiras interpostas pelo ego

no esforço para manter o que quer que ele entenda por coerência nas

expressões além de buscar neutralizar as possibilidades de desprazer e de

rejeição.

Por causa disso a importância do que se chamou de representação, um ente,

que na filosofia fica estritamente referido à subjetividade, enquanto Freud, sem

negar o filosófico, agrega um toque psicanalítico, propondo, a par da

subjetividade, a consideração do inconsciente quando fala das “representações

inconscientes”, assim tornando a representação próxima do que Saussure em

1916 vai chamar de significante – o fator desencadeador.

Resumindo-se o que se tem por representação na psicanálise, será o “como o

que de algum objeto venha a se inscrever nos sistemas mnésicos”,

destacando-se aí a idéia de haver uma experiência anterior que resulte em

investimento em uma lembrança.

Quanto a sessão em si, esta exige do analista uma postura definida como

atenção uniformemente flutuante, por ser indispensável, como o diz Freud

(1912):

4 Em havendo o divã, o analista se coloca fora da visão direta do analisando.

Page 26: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

26

(...) a suspensão tão completa quanto possível de tudo aquilo que a atenção

habitualmente focaliza: tendências pessoais, preconceitos, pressupostos

teóricos, mesmo os mais bem fundamentados.

A par da postura citada, fazem parte ainda da postura do analista a regra de

abstinência e a frustração.

A regra de abstinência refere-se a um modo de tratar marcado pela

suspensão da possibilidade de vir o paciente a desfrutar satisfações

substitutivas para os seus sintomas. Assim há de o analista se recusar a

atender aos requerimentos do paciente, bem como recusar o desempenho de

papéis que ele tente impor.

Por isso mesmo, o analista não se permitirá em elogiar melhoras, interessar-se

por situações pessoais extra-analíticas tais como cumprimentar pela passagem

de aniversários, de festas como Natal, Páscoa, etc., tudo feito com o fim

precípuo de evitar comportamentos repetitivos (porque socialmente usuais) que

dificultem o trabalho de rememoração e de elaboração.

Quanto a frustração, esta se refere às pulsões de autopreservação por

exigirem um objeto sobre quem recaia uma exigência, uma demanda.

A palavra portuguesa frustração inclui o sentido de haver alguém passivamente

frustrado, não o sendo assim em alemão, a língua do Freud, que usava a

expressão (verbo) versagen, correspondendo, em português, a falhar,

fracassar.

Veja-se que tal compreensão no nível psicanalítico, coloca a frustração no

próprio paciente – como uma autofrustração – por sentir-se como alguém que,

por um motivo com o qual não atina, não consegue passar o desejado para o

analista, que na verdade está impondo a condição, mas de uma maneira tal

que não deixa no analisando senão a impressão de incapacidade.

No frustrar tem-se então a intenção de se por o paciente a externalizar várias

abordagens e requerimentos que sirvam de subsídios para formulação de

hipóteses e interpretações. Com isso se tem que analista há de manter-se

firme no papel de um observador-participante, preservando o estado de

abstinência.

Sobre o tema, de Freud (1918) se tem um texto exemplar:

Page 27: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

27

O tratamento analítico deve ser efetuado, na medida do possível, sob privação,

em um estado de abstinência. (...) Lembrar-se-ão os senhores de que foi uma

frustração que tornou o paciente doente e que seus sintomas servem-lhe de

satisfações substitutivas. (...) Cruel como possa parecer, devemos cuidar para

que o sofrimento do paciente, em grau, de um modo ou de outro efetivo, não

acabe prematuramente.

Mas há a questão da interpretação, em que o analista demonstra ao paciente

os seus sintomas neuróticos e os seus traços de caráter (representados nas

suas frustrações e nas gratificações parciais obtidas das suas tendências

infantis) que o protegem de se tornarem conscientes as ameaças infantis

mantidas não resolvidas não obstante o seu desenvolvimento.

Na verdade, acerca do trabalho psicanalítico, resumidamente, se pode

dizer que se desenvolve em duas partes:

com o analista todo o tempo e o paciente, às vezes, tentando examinar

e isolar os problemas que parecem sem sentido, o que é relativamente

simples no referido às neuroses, mas bastante complexo quando

referido aos traços de caráter, vez que estes, instalados, se tornam ego-

sintônicos;

com o analista valendo-se do material trazido, expondo os significados

subjacentes, com o fim de tornar significativo o que quer que pareça

sem sentido, levantando com habilidade o que na atualidade ainda

mantêm as mesmas condições vigentes nas diversas fases infantis e da

adolescência. Tal trabalho só será válido se levar o paciente ao

processo de elaboração que, por sua vez, desembocará no processo de

insight, i. e., na instalação da compreensão interna, tendo-se o paciente

articulando idéias, sentindo-se e comportando-se de forma amadurecida

por terem se tornado obsoletos as necessidades infantis, os sentimentos

de culpa, os déficits de auto-estima e de autoconfiança, os sentimentos

de inferioridade, a necessidade de punição e de autopunição, tudo isso

por ter passado a vigorar independência moral e intelectual.

Page 28: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

28

1. A energia psíquica e o funcionamento mental

Freud ao introduzir o conceito de energia psíquica propõe os termos

opostos de energia livre e energia ligada a partir do princípio da termodinâmica.

A essa energia ele denominou de “libido” e propões uma ligação, ou conexão à

pulsão sexual. É um conceito que aparece de modo geral em toda a literatura

psicanalítica. O termo “libido” vem do latim e quer dizer “desejo”, “vontade”,

energia própria da pulsão e que se manifesta na vida psíquica. O autor parte da

postulação de que toda a pulsão, assim como a sexual, situa-se no limite entre

o soma e o psiquismo.

Inicialmente Freud considerou que todo o prazer derivado da satisfação

das necessidades básicas como a fome, sede, e necessidades excretórias

tinham a finalidade de auto-conservação, e o prazer que provém de

necessidades que não são devidas à satisfação foram consideradas por ele

como sexuais ou eróticas. Enfatizou assim, que a libido podia ser investida

tanto no próprio corpo e no ego como no caso do “auto-erotismo” e do

“narcisismo primário”, como nos objetos da realidade exterior. Mais tarde com a

introdução da teoria da “pulsão de morte” (1920), a libido é então dita como a

energia própria de Eros, e como tal, a “pulsão de vida” em oposição à Tânatos,

tal como o significado, a “pulsão de morte”. A partir de então, Freud reafirmado

a essa concepção (1921) de libido diz que: “todas as pulsões responsáveis por

tudo o que compreendemos sob o nome de amor”.

O inconsciente é constituído por uma “energia psíquica” proveniente

das pulsões, segundo Freud, as quais operam em conjunto com as

“representações” que se forma no ego, caracterizando especificamente dois

tipos de processamento psíquico. Estes dois modos de funcionamento do

aparelho psíquico ele definiu como processos: primário e secundário.

Freud emprega a palavra “pulsão” cujo termo original vem do alemão

“trieb” que alude às necessidades biológicas, psicológicas que precisam ser

descarregadas. Essas precisam ser distinguidas do termo “instinto” derivado de

“instinkt”, que surge na obra do autor, designando os padrões hereditários de

comportamento tipicamente da espécie animal. Pulsão, portanto, é o “processo

dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator da

Page 29: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

29

motricidade) que faz o organismo tender a um objetivo” (LAPLANCHE &

PONTALIS, 1998, PG. 394).

A pulsão é conceituada por Freud como “o representante psíquico dos

estímulos somáticos” e seus componentes são: fonte – diz respeito ao órgão,

partes do corpo de onde procedem os estímulos; força – refere-se a uma

quantificação da energia que busca descarga motora (aspecto econômico);

finalidade – consiste na necessidade de satisfação imediata, por meio de uma

descarga motora ou pela eliminação de um estímulo que procede de uma

fonte; objeto – aquilo em relação ao qual, ou pelo qual a pulsão finalidade. O

investimento pulsional, também denominado de catexis, que significa

“ocupação” é outra característica da pulsão. Exemplificando pode ser tomada a

“fome”, cuja finalidade é a satisfação desta e o objeto é o alimento. As pulsões

apresentam ainda as características: deslocamento pulsional; intercâmbio das

pulsões; compulsão à repetição; e transformações pulsionais.

A pulsão pode sofrer resistência que a tornam inoperante e que sob

certas condições pode passar para o estado de “recalque”. Para que ocorra o

recalque é necessário que a força do desprazer adquira uma força superior ao

prazer obtido na satisfação. Freud afirma que existe um recalcamento primitivo

a que denominou de repressão primária, por ser uma primeira fase do

recalque, pois consiste no fato de que o representante psíquico da pulsão

tenha barrado desde o inicio sua entrada no consciente. O recalque, termo do

alemão “Verdrängung”, também entendido como “recalcamento” ou

“repressão”, assim conceituado: “o recalque que está ligado a um processo

pelo qual o sujeito procura repelir ou manter oculto no inconsciente, as

representações de pensamentos, imagens, fantasias e recordações que

estejam ligadas a algum desejo pulsional proibido de surgir no inconsciente”.

Uma confusão semântica ocorre entre os termos “recalque” e “repressão”, pois

muitos tradutores e autores consideram ambos sinônimos, enquanto que outros

teóricos da escola francesa fazem distinção entre recalque e repressão.

A distinção mais entre estes conceitos, recalque é repressão, é feita

pelos autores Laplanche & Pontalis (1982) que assim expressam: “O “recalque”

é um processo que consiste essencialmente na participação do inconsciente,

enquanto a “repressão” estaria ligada a um mecanismo de exclusão da

consciência, atuando no nível da segunda censura”. A censura para Freud

Page 30: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

30

ocorre entre o consciente e o pré-consciente, portanto, não como acontece no

recalcamento, ou seja, a passagem de um sistema para outro sistema =>

consciente-pré-consciente-inconsciente.

Freud (1897) inicialmente tentou explicar as neuroses através de sua

teoria que denominou “sedução” devido às reminiscências de traumas infantis

realmente acontecidos. O relato de suas histéricas o impressionava, pois estas

responsabilizavam os adultos, principalmente os pais, por abusos ocorridos

passivamente na infância. A partir desta descoberta passa a considerar que as

“fantasias” tem o mesmo valor da patogenia destas reminiscências infantis,

atribuindo ao inconsciente o primado do aparelho psíquico. O autor afirma que

“as fantasias possuem uma realidade psíquica oposta á realidade material (...)

o mundo das neuroses é a realidade psíquica que desempenha o papel

dominante”. O recalque em sentido próprio, seguindo Laplanche e Pontalis

(1998):

“(...) operação pela qual o sujeito procura repelir da ou manter fora do consciente representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. O recalque produz nos caso em que a satisfação de uma pulsão – suscetível de proporcionar prazer por si mesma – ameaçaria provocar desprazer relativamente em outras exigências. (...) processo psíquico universal, na medida em que estaria na constituição do inconsciente como campo separado do resto do psiquismo. (...) termo ‘recalque’ é tomado por Freud numa acepção que aproxima de ‘defesa’ (...)” (pg. 430)

Considerando a energia psíquica, a qual constitui um “substrato

energético postulado como um fator quantitativo de operações do aparelho

psíquico” são encontrados dois tipos de processamento psíquicos: o “processo

primário” que é caracterizado por um deslocamento fácil e uma descarga da

libido com escoamento livre da energia; e o “processo secundário” onde a

energia passa a estar “ligada” antes de iniciar um escoamento de forma

controlado.

Na energia livre, a do processo primário, as várias cadeias de

representações com seus respectivos significados inconscientes produzem

uma condensação, portanto, a energia circula de forma liberada o que favorece

a uma tendência de descarga imediata tal como acontece no princípio de

prazer. Essa noção é elaborada com maior consistência a partir da

Interpretação dos sonhos, e Freud propõe a noção de processo primário com

Page 31: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

31

energia livre, deslocável e condensada, com inscrições de significações às

quais conceituou como “representação coisa”. Essas significações seguem as

leis do inconsciente, as quais não apresentam uma lógica, não tem noção de

tempo, espaço, relações de causa e efeito ou contradição.

No “processo secundário”, a energia psíquica que está presa, ligada, e

circula de maneira mais compacta, as representações são investidas de

maneira mais estável, onde a satisfação é adiada, permitindo assim

experiências mentais que põem a prova os diferentes momentos e caminhos

da satisfação. É uma energia sempre ligada a uma representação psíquica,

mais precisamente ligada ao sistema pré-consciente e consciente. A este tipo

de energia Freud denominou de “representação palavra”. Estes processos

foram descritos de forma linear e temporal, sendo o primário precedido pelo

secundário, segundo Freud. A oposição entre o processo primário e o

processo secundário, é o correlato da oposição entre o principio de prazer e o

principio de realidade.

“Representação” é um termo empregado por Freud que tem origem no

vocabulário clássico da filosofia alemã e designa “aquilo que se representa

como sendo o conteúdo de um ato de pensamento”. Freud concebe este termo

“representação” de forma distinta devido às suas descobertas referentes ao

“Projeto” e sobre as “afasias” o qual passou a ocupar um lugar de relevância na

literatura psicanalítica. Com representação, portanto no dizer do autor “aquilo

que se representa” e que “forma o conteúdo concreto de um ato de

pensamento” e que pode ser dito como que especialmente é uma “reprodução

de uma percepção anterior”. O termo “afasia” pode designar um transtorno de

memória (sentido amplo), como também, pode aludir a uma perturbação da

linguagem (sentido mais restrito). Freud propõe uma oposição entre a

representação e o afeto por entender que cada um destes dois elementos tem

destinos diferentes nos processos psíquicos. O que o que é recalcado é a

representação originária a qual se inscreve no inconsciente sob a forma de

traços mnésicos, distinguido assim, entre a “representação de coisa” e a

“representação de palavra”. O “afeto” consiste em tudo o que “me afeta”, pois

exprime “qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou

qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga maciça, quer

como totalidade geral”. Toda a pulsão é expressa pelo registro do afeto e pelo

Page 32: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

32

registro de representação. Em termos de energia psíquica, o afeto consiste na

expressão da “qualidade” da quantidade da energia. O afeto não

necessariamente estará ligado às representações e sua separação - se afeto

sem representação, ou se representação sem afeto - é que ira garantir seu

destino. Freud aponta possibilidades diversas de transformações de afeto: - a

conversão do afeto na histeria; o deslocamento do afeto na obsessão; - e a

transformação do afeto na melancolia e na neurose de angústia.

As “representações-coisa” consistem em um investimento de energia

(quantidade) direto da coisa, ou nos restos mnêmicos mais distanciados e

derivados da mesma em si, ou seja, essencialmente “visual”. Portanto as

representações- coisa são próprias do inconsciente e não pode ser equiparada

a alguma forma de copia de um objeto ou de uma imagem deste. Assim a

representação-coisa não é a representação de um objeto que seria

representado, mas designa a matéria, a qualidade do texto da representação.

Freud fala do funcionamento do psicótico a coisa é tomada como uma

representação em si mesma, onde a palavra é tratada como uma “coisa”,

prescindindo de significado.

As “representações-palavra” é uma representação que deriva da

palavra, e por isso, essencialmente “acústica”. A representação é entendida

pelo autor como um “traço mnésico” que têm como sede o sistema pré-

consciente e está vinculada à verbalização, e como tal, a uma possível tomada

de consciência. Freud (1915) afirma que “a representação consciente engloba

a representação-coisa mais a representação-palavra correspondente, enquanto

a representação inconsciente é a representação-coisa só”. Em 1896, no

capítulo VI de seus escritos sobre as “Afasias” ele afirma que para a

“psicologia, a palavra é uma unidade de base da função da linguagem, que

evidencia ser uma representação complexa, composta de elementos acústicos,

visuais e cenestésicos (...) geralmente são mencionados quatro componentes

da representação-palavra: a imagem acústica; a imagem visual da letra; e a

imagem motora da escritura”. As perturbações a linguagem segundo Freud

podem ocorrer com qualquer pessoa em estado de perturbação emocional

mais forte ou em situações de cansaço ou estresse.

Page 33: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

33

2. O funcionamento mental e seus princípios

O termo “princípio” é muito empregado pelas ciências em geral, e

designa um ponto de partida para a construção de teorias, sistemas e

construções lógico-dedutivas. Muitos são os princípios que existem e de forma

as mais distintas, agindo e reagindo de forma distinta, embora cada um possa

manter autonomia conceitual com regras especificas e com leis também

específicas.

Freud ao conceber o funcionamento mental do incipiente aparelho

psíquico que irá se formando, a partir do desenvolvimento do ser humano,

percebe estímulos carregados de energia que provocam uma movimentação

interna, o que determinará o surgimento de um processo ao qual denominou de

“princípio do prazer-desprazer”. A atividade psíquica no seu conjunto em por

objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. Pelo fato deste principio ter

que desfazer-se, livrar-se ou descarregar todo e qualquer estímulo que

provoque desprazer é um principio econômico na medida em que o desprazer

está ligado ao aumento das quantidades de excitações e o prazer à sua

redução. Com isto todo o estímulo provocaria uma redução e ao mínimo da

tensão provocada pelo acúmulo de energia psíquica, para manter em estado

constante (princípio de constância). A partir de suas observações e com a

experiência ele percebe e descreve que os aumentos da tensão psíquica

poderiam ser prazerosos no acúmulo de energia e com uma retenção

temporária da excitação sexual.

A “catexia pulsional” que demanda uma gratificação imediata

corresponde ao que Freud denominou de “principio de prazer”, pois esta não

leva em conta a realidade externa. A palavra “catexia” foi traduzida do alemão

“besetzung” a qual tem vários sentidos: investimento, ocupação, e que na

tradução para o português, chama-se também de “cateixa”. Portanto, “catexia”

ou “investimento” é um conceito econômico, pelo fato de determinada energia

psíquica pode estar ligada a uma representação, ou grupo de representações,

ou a uma parte do corpo, ou a um objeto. Este princípio pode ser exemplificado

com o bebê, que ao sentir a fome, ou a necessidade prazerosa do “seio” real,

não tendo este sente prazer e se alivia com a sucção do próprio polegar. No

adulto podem ser citados os devaneios, as crenças ilusórias e as produções

Page 34: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

34

delirantes. Essa satisfação mágica em ambas as situações produzem uma

frustração e se tornar decepcionante, pois as exigências e necessidades da

realidade não serão satisfeitas, como no caso da fome física e real, a sucção

do dedo não satisfaz a fome, pois não produz o leite, a fantasia não torna

realidade o objeto imaginado e alucinado. Isto vem determinar o “principio da

realidade”.

O princípio de realidade pode ser olhado a partir dos pontos de vista:

econômico, considerando a relação da energia ligada e a energia livre;

topográfico, pela conexão entre os sistemas consciente-pré-consciente (Cs-

Pcs); dinâmico, estrutural, considerando o destino das pulsões a partir do ego.

Ambos os princípios de prazer e de realidade foram valorizados por Freud e

pelos pós-freudianos a partir de seus opostos: satisfação – frustração e

necessidades-desejos.

O bebê na vigência do “princípio de prazer” e diante da ausência da

mãe busca uma “satisfação alucinatória” para seu desejo, a fome. Na medida

em que a mãe não vem com “seio-leite” para saciar sua fome, o bebê vai

desenvolvendo a capacidade de espera e com isso aprendendo a postergar a

“satisfação” de seus desejo: de satisfação, saciar a fome. Freud (1911) em

“Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental” faz estas

afirmações e acrescenta que os surgimentos posteriores da mãe, não só o

bebê deixa para trás, faz progressos na utilização de seus órgãos sensoriais,

progredindo em sua maturidade e vai desenvolvendo uma aproximação com a

realidade, cedendo espaço no imaginário. Assim, vai surgindo o “princípio da

realidade” proposto pelo autor.

Freud foi descrevendo estes princípios a partir do surgimento dos

mesmos em sua teorização, e por isso de maneira sequencial e sucessiva,

porém os mesmos vão se constituindo e se desenvolvendo a partir do

psiquismo e do crescimento do bebê de forma simultânea, e ainda com a

interação ao longo da vida mesmo nos adultos, mesmo que as demandas

sejam ocultas e o prazer possa estar oculto de acordo com esse princípio.

O deslocamento fácil da energia psíquica e descarga da libido

caracteriza o “processo primário”. Neste processo as várias cadeias de

representações com seus significados inconscientes correspondentes irão

produzir as condensações. A condensação é uma operação psíquica que reúne

Page 35: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

35

imagens e representações em quantidade e que se funde em uma só imagem

ligada a um único símbolo. Esse processo caracteriza-se pela facilidade de

deslocamento e descarga da libido. A noção de processo primário decorre da

descrição primitiva do aparelho neurônico, cuja energia psíquica circula de

forma livre e tende a descarregar imediata e totalmente, como ocorre no

principio de prazer. Portanto o principio de prazer esta ligado ao processo

primário, a energia é livre e as representações são de coisas. Estas

significações todas seguem as leis do inconsciente onde não há lógica com

referencia a tempo, espaço, contradições, relações de causa e efeito, entre

outras.

A energia psíquica que fica ligada, esta presa e circula de forma mais

compacta, assim está ligada a uma representação psíquica situada nos

sistema consciente e pré-consciente. Essa energia ligada a uma

representação é característica de um processo que freud denominou se

“secundário”, quer dizer, vem se formar após a energia livre, pois seu

movimento para a descarga é controlado e retardado pelo ego. Este processo

vai se desenvolvendo e se estrutura com o desenvolvimento do sujeito num

nível mais estruturado do aparelho mental e psíquico. O processo secundário

caracteriza-se pelas representações de palavras, pertinente à parte neurótica

da personalidade do individuo.

Os fenômenos psíquicos repetitivos de natureza não-prazerosa

observados com frequência nos sonhos de angústia, nos atos-sintomas

masoquistas entre outros intrigavam Freud. De outro lado percebeu que as

crianças também repetiam jogos, brincadeiras e relatos de histórias de maneira

a elaborar ativamente o que tinham sofrido passivamente, como susto

traumático, perda de pessoa querida ou importante entre outros. Essa

compulsão à repetição constatada por Freud (1920) era oriunda de uma força

intensa provinda do interior do indivíduo, percebendo que a mesma estava

situada na pulsão, e ligada a uma forma de destruição, e por isso mesmo uma

“pulsão de morte”.

A afirmação de Freud em a publicação de “A interpretação dos

sonhos” vem publicar um novo princípio em relação ao psiquismo, onde afirma

que “nada acontece ao acaso ou de modo fortuito na mente”, pois “cada

acontecimento psíquico é determinado por outros acontecimentos que o

Page 36: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

36

precederam” e assim afirma que “há uma descontinuidade na vida mental”. Ele

postula ideia de causalidade, dizendo que tudo o que possa parecer uma

“causalidade” é sempre fortemente determinado por múltiplas “causalidade”. A

múltipla causalidade esta ligada ao fato de que varias causas podem produzir o

mesmo efeito, e uma causa pode produzir vários efeitos, e estas podem ser

responsáveis pela determinação e produção dos sintomas.

A psicanalise desde seu início se viu confrontada com os fenômenos da

repetição. As manifestações dessas repetições aparecem nos sintomas e

rituais obsessivos, por exemplo, pois o que produz o sintoma é justamente o

fato de reproduzir de maneira disfarçada certos elementos de um fato passado.

De modo geral o recalcado procura retornar ao presente na forma de sonhos,

atuações, sintomas “que permaneceu incompreendido retorna (...) até que seja

encontrada a solução ou alívio”.

Page 37: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

37

SOBRE A PRIMEIRA TÓPICA

OU TEORIA TOPOGRÁFICA

Na verdade, o que prepondera na visão da primeira tópica é um substantivo: o

inconsciente. Vejamos como isto aconteceu.

Em 1885, Freud embarcou para a França para estudar hipnose com Charcot e

lá observou um aspecto que para muitos poderia ser secundário: o fato de

pessoas executarem ordens que lhes houvessem sido ditadas quando

submetidas aos transes. Pois foi isto que levou Freud a pensar que ações se

desencadeavam a partir de causas reais não conscientes, i. e., inconscientes.

Tomando este detalhe Freud concluiu que:

I. os determinantes de muitos atos nem sempre são conscientes;

II. há processos psíquicos ocultos;

III. há um liame entre o não-consciente (o inconsciente, ou seja, o não

sabido) e os sintomas, pelo que a terapia deve se haver com a

inconsciência e não com as idéias fixas e

IV. seria possível mapear-se o psiquismo delineando regiões virtuais em

que estivessem sendo operados os processos psíquicos.

Dessas conclusões vai, ele, compor suas primeiras concepções, que vão

resumidas na seguinte frase:

Foi em Nancy que eu recebia as mais fortes impressões, relativas às

possibilidades de poderem os processos psíquicos permanecer ocultos à

consciência dos homens.

Na frase que acima vai destacada se tem Freud sublinhando a importância da

atividade inconsciente como causal e por isso mesmo atuando poderosamente

Page 38: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

38

sobre a consciência, com aquele se impondo como realidade conquanto

mantido sob ocultação, condição que ele explica como decorrente de um outro

fator: a repressão, o que o levou a compreender o inconsciente como o

reprimido.

É desta visão que ele fala quando escreveu para Ernest Jones:

O inconsciente representa a região do espírito, cujos elementos se acham no

estado de repressão.

Pois com a frase acima Freud, resumiu até a técnica psicanalítica que ele veio

a propor fundada na nascente Teoria Topográfica, tendo como pedra angular a

eliminação da repressão e a recuperação-elaboração dos traumas da infância.

Partindo desta conceptualização, competia, então, ao analista, ao interpretar,

revelar ao seu paciente o que quer que houvesse de reprimido no seu

inconsciente.

Assim, em 1912 (in Recomendações aos Médicos que Exercem Psicanálise),

Freud preconizava:

(...) o paciente deve relatar tudo o que sua auto-observação possa detectar, mas

impedindo todas as objeções lógicas e afetivas que procurem induzi-lo a fazer

uma seleção entre elas. Também o médico deve se colocar em posição de fazer

uso de tudo o que lhe seja dito para os fins de interpretação e de identificação do

material oculto sem substituir sua própria censura pela seleção do que vier o

paciente a abrir mão. Para melhor formulá-lo, deve voltar o seu próprio

inconsciente, como um órgão receptor na direção do inconsciente transmissor do

paciente. Deve ajustar-se ao paciente como um receptor telefônico se ajusta ao

microfone transmissor.

Lendo-se com atenção o excerto acima, vê-se com bastante clareza Freud

colocando

o paciente em um papel ativo na clínica,

o analista atento ao material produzido e

Page 39: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

39

ambos dedicados à auto-observação com um fim específico: o de

neutralizar influências diversionistas que pudessem interferir tanto na

emissão como na recepção do exposto como material inconsciente,

este provindo do psiquismo do paciente, sendo que o analista age

como um encarregado de superar as resistências.

A comparação com o aparelho telefônico dá uma boa idéia acerca da

necessidade de manter-se o profissional descomprometido com a lógica (já que

não há lógica no inconsciente!) e com o dito emocional, ambos fatores

geradores do que hoje chamamos de processos resistenciais geradores dos

mecanismos de defesa, sendo que, ao tempo dos ensinamentos aqui

cogitados, só se sabia de um mecanismo de defesa: a repressão.

Sim, a psicanálise ao tempo da Primeira Tópica esteve empenhada na

superação das resistências conduzindo o paciente a uma confrontação pontual

ante a sua fenomenologia intrapsíquica inconsciente, principalmente quando

destacava, nas interpretações, aspectos tipológicos simplistas ao interpretar,

por exemplo, o movimento intenso e repetido da perna como desejo de

masturbação, ou o nunca comer bananas explicado por uma eventual

experiência forçada de felação, etc.

Na verdade o tipo de interpretação referido acima vinha de um ensino de Freud

que escreveu (Etiologia da Histeria. Volume III):

(...) formar uma opinião sobre a causação de um estado patológico como a

histeria, começamos por adotar o método de investigação anamnésica,

interrogando o paciente ou aqueles que o cercam, com o fim de descobrir a que

influências danosas ele próprios atribuem seu adoecimento e o desenvolvimento

desses sintomas neuróticos.

Ora, assim o sendo, na Primeira Tópica tinha-se o analista como uma espécie

de autoridade em sentimentos conscientes e inconscientes, em costumes, em

ética, por serem as suas interpretações ditadas a partir de suas reações e

julgamentos formulados a partir das características da natureza humana por ele

mesmo consideradas boas e/ou pervertidas.

Page 40: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

40

Freud, em 19155, desenvolvendo suas primeiras descobertas no âmbito

do psiquismo humano adotou, para descrevê-lo, o que veio a ser chamado de o

ponto de vista topográfico.

Para tanto, valeu-se, de uma palavra que nos vem do grego: topoi (local)

com isso formulando algo que se poderia chamar de teoria dos lugares,

fazendo-o influenciado pela neurofisiologia da época que falava das

localizações cerebrais das personalidades múltiplas, dos estados

crepusculares nas mulheres ditas histéricas.

Considerando-se sua proposta, o temos expressamente caracterizando

os fenômenos mentais partindo da consciência e por isso mesmo postulando

três regiões (inconsciente, pré-consciente e consciente) não anatômicas e não

espaciais, antes postas nos termos de uma metáfora descritiva por formular um

dito aparelho psíquico composto por um eixo vertical que partindo da superfície

afundava nas profundezas do espaço intra-psíquico.

Quanto às regiões, para denominá-las, Freud, de saída, levou em conta

o nível em que se encontrassem lembranças, idéias, desejos, fantasias,

sentimentos, etc. Assim, tudo o que estivesse disponível, estaria na tona, ou

numa dita superfície e por isso mesmo de fácil rememoração, uma condição

que ele chamou de o consciente (cs).

O logo abaixo da dita superfície, também com condições de ser

recuperado, mas por meio de esforços mais ou menos intensos, território que

ele denominou pré-consciente6 (pcs) e abaixo deste aquele que é total,

absoluta e definitivamente inalcançável: o inconsciente (ics).

Sobre o último, há que se considerar que o termo inconsciente em

alemão, a língua de Freud, é das Unbewusste7, literalmente, o não sabido, uma

expressão a sugerir um adjetivo, sendo que o temos, também, com o formato

de um substantivo.

A Primeira Tópica ou Teoria Topográfica trata da compreensão do

funcionamento dos conteúdos mentais e eventos quando se considera os

relacionamentos com a consciência, quais sejam as lembranças, os fatos, os

5 In O Inconsciente.

6 Os seguidores de Jung chamam o preconsciente de subconsciente. Freud disse que o preconsciente é

muito importante para carregar consigo o prefixo “sub”. A propósito: são freudianos os seguidores de

Jacques Lacan e de Melanie Klein. 7 Pronuncia-se “dáçumbevusste.”

Page 41: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

41

sentimentos, os pensamentos, os julgamentos, os desejos, as idéias, estes

ditos...

Inconscientes: porque fora da percepção consciente, por isso mesmo não

podendo se tornar consciente por meio da atenção focal;

Pré-conscientes: porque mediante atenção focal podem ser levados à

consciência;

Conscientes: porque facilmente disponíveis na memória.

Com a teoria topográfica se tem o primeiro e importante esforço de Freud ao

propor uma sistematização da psicanálise de então para assim se

compreender melhor os fenômenos psíquicos.

Para tanto, vamos tê-lo concebendo uma perspectiva até as profundezas do

psiquismo.

Resumindo: um modelo topográfico da mente com os seus conteúdos

distribuídos em três sistemas:

O Inconsciente contendo desejos de vida operando via processo primário que é

baseado no princípio do prazer e separado de tudo o mais pela repressão e

pela censura;

O Consciente buscando funcionar de acordo com a razão e com as normas e

regras familiares, mantendo a conexão com o mundo exterior;

O Pré-consciente referido aos conteúdos mentais possíveis de se tornarem

conscientes não no momento da percepção, mas com amplas possibilidades

posteriores de acesso.

Destacando-se o inconsciente dele se pode dizer que contém os desejos dos

primeiros anos de vida e operando via processo primário que se baseia no

princípio do prazer, separado dos demais pela repressão e pela censura.

Page 42: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

42

Por repressão se tem que é um mecanismo que faz desaparecer da

consciência um conteúdo desagradável, inoportuno como o são algumas

idéias, afetos, vergonha, culpa, etc.

Quanto à censura esta é uma atividade defensiva dirigida contra a admissão na

consciência de estímulos perturbadores provindas do mundo exterior e/ou de

pulsões proibidas derivadas do inconsciente.

Assim sendo, se pode dizer que o ponto de vista topográfico organizou os

dados psicológicos estando associado ao primeiro objetivo (inteiramente

superado em 1923) da psicanálise de então, a que chamou de ponto de vista

topográfico.

Sendo, na verdade uma composição de três regiões não-anatômicas e não-

espaciais dispostas no aparelho psíquico, indo da superfície até às

profundezas do inconsciente de que se vêem derivados com os mais diversos

formatos e expressões.

“A psicanálise visa tornar consciente o inconsciente”.

A par do posto acima há que se considerar que Freud, ao seu tempo, já

considerava o analisando a partir de três outros pontos de vista, por visar a

compreensão da fenomenologia psíquica:

1. O topográfico que aparece no capítulo sete do A Interpretação dos

Sonhos, quando ele descreve os tipos de funcionamento regentes da

fenomenologia consciente e inconsciente, dizendo que é o processo

primário o que controla o material inconsciente ao lado do processo

secundário, este o controlador dos fenômenos conscientes, com o

material inconsciente objetivando apenas a descarga.

Page 43: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

43

2. O dinâmico (pulsões) quando tratava da existência de forças

psicológicas atuantes na mente, cada uma delas com uma fonte, uma

magnitude e um objeto. Assim, há a fonte: um estado de tensão (uma

tensão corporal), uma meta (objetivo): a supressão do estado de tensão

e o objeto em que a pulsão atinge sua meta;

3. O econômico quando tratava da energia (a questão da intensidade) no

aparelho psíquico gerando excitações, importando os seus formatos e a

natureza das descargas.

Assim, com a teoria topográfica Freud demonstrou:

como os comportamentos e os sentimentos são influenciados por idéias,

pensamentos e sentimentos inconscientes conflitantes entre si, bem

como pelos desejos e pensamentos conscientes;

que tais influências podem resultar em confusão mental, sintomas e

mesmo doenças como as classificadas como somáticas que são

aquelas que se valem do corpo como expressão das condições

psicológicas.

Pois com este modo de observar a problemática humana no nível psicológico,

propôs Freud aquilo a que chamou de metapsicologia psicanalítica referida à

algumas hipóteses que usou para basear a sua Teoria Psicanalítica que

continuamos a estudar.

- APARELHO PSÍQUICO.

Freud conceituou que a função do aparelho psíquico consistiria em:

1. O trabalho de transformar uma determinada energia pulsional.

Page 44: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

44

2. Promover inscrições e traduções das primitivas impressões psíquicas,

com as respectivas e distintas significações de cada uma delas, porém

todas entrelaçadas entre si numa rede de significantes.

3. Manter no mesmo nível possível a energia interno psiquismo, conforme

o princípio da constância.

4. Efetuar uma diferenciação em sistemas ou instâncias psíquicas,

obedecendo a uma organização estrutural, ou seja, uma disposição de

elementos psicológicos que ocupam um lugar definido na mente, com

uma certa ordem e com recíprocas influências.

Freud pretendeu deixar claro que sua concepção de uma coexistência de

sistemas ocupando lugares na mente não deve ser entendida no sentido

anatômico, de localizações cerebrais, mas sim como uma forma de definir que

as excitações pulsionais transitam em lugares, vias ICS – PCS – ICS o que

mais tarde deu nova dimensão elaborando a teoria estrutural ID – EGO –

SUPEREGO.

O termo aparelho foi utilizado por Freud porque na época pioneira da

psicanálise ele estava impregnado pela visão mecanicista da medicina.

Estas observações indicam que o aparelho psíquico tem para Freud um valor

de modelo, ou, como ele próprio dizia, de “ficção”, assim a expressão nos

remete para uma apreciação de conjunto da metapsicologia Freudiana e das

metáforas que põe em jogo.

Page 45: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

45

Trabalho referente a este módulo:

Com tudo que compartilhamos neste módulo, segue minha orientação para

a elaboração do trabalho, a ser entregue até o próximo módulo em julho de

2014.

Solicito que você descreva, com suas palavras, resumidamente, sua

compreensão da 1ª tópica.

Como complemento, saliento que, nas suas citações quando você

mencionar qualquer conceito visto em nosso módulo, como mecanismos de

defesa, consciente, inconsciente, repressão ou recalque, em fim qualquer

um citado, você deve buscar descrever no final do trabalho o conceito

“formal”, que pode estar na apostila ou em qualquer pesquisa que você se

põe a fazer, indicando a fonte e autores.

Sempre nomeie seu trabalho, a que módulo ele se refere e data de

entrega, deverá ser entregue impresso, não apenas por arquivo digital,

salvo aqueles alunos impossibilitados por qualquer motivo, estes deverão

responsabilizar alguém pela impressão e conferência do conteúdo do

trabalho. Lembrando que a avaliação dos trabalhos se dará no âmbito do

seu conhecimento sobre o assunto e não sobre você! fique a vontade,

escreva despretensiosamente, caso qualquer dificuldade minha de

compreensão entraremos em contato para esclarecimentos.

Boas inspirações e estudos!

João Paulo Kotzent

Page 46: Introdução a Psicanálise - 1ª TÓPICA · conscientes e inconscientes e estes como parte do id, do ego e do superego, os aspectos sociais, familiares e individuais da dinâmica

46

BIBLIOGRAFIA.

FREUD, SIGMUND Obras Psicológicas Completas Vol. XIX, XXII – Imago

EditoraRJ-1982.

ROUDINESCO, ELISABETH - Dicionário de Psicanálise - Jorge Zahar Editor,

RJ-1997.

LAPLANCHE E PONTALIS – Vocabulário da Psicanálise - Martins Fontes, SP-

2000.

ZIMERMAN, DAVID E. – Fundamentos Psicanalíticos - Artmed, RS-1999.

NICOLA ABBAGNANO, Dicionário de Filosofia – Martins Fontes, SP-2000

HANNS, LUIZ – Dicionário Comentado do Alemão de Freud - Imago, RJ-1996.

FENICHEL, OTTO, Teoria Psicanalítica das Neuroses - Atheneu, SP-2000

ZIMERMAN, DAVID E. – Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise - Artmed,

RS-2001.

TALLAFERRO, ALBERTO – Curso Básico de Psicanálise – Martins Fontes, SP-2001. MANNONI, OCTAVE – Freud Uma Biografia Ilustrada - Jorge Zahar Editor, RJ-1994.

Filmes indicados:

Freud Além da Alma, é um filme norte-americano de 1962 dirigido por John Huston, Elenco principal:

Montgomery Clift ... Sigmund Freud Susannah York ... Cecily Koertner Larry Parks ... Dr. Josef Breuer Susan Kohner ... Martha Freud