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INTERNATIONAL JOURNAL ON WORKING CONDITIONS
ISSN 2182-9535
Publicação editada pela RICOT (Rede de Investigação sobre Condições de Trabalho) Instituto de Sociologia da Universidade do Porto Publication edited by RICOT (Working Conditions Research Network) Institute of Sociology, University of Porto
http://ricot.com.pt
Publicação editada pela RICOT (Rede de Investigação sobre Condições de Trabalho) Instituto de Sociologia da Universidade do Porto
Publication edited by RICOT (Working Conditions Research Network) Institute of Sociology, University of Porto
http://ricot.com.pt
Avaliação ergonômica em uma empresa produtora de plantas ornamentais no Brasil
Vanessa Marques Camargo, Paula Karina Hembecker, Inês Alessandra Xavier Lima, Antônio Renato Pereira Moro, Leila Amaral Gontijo
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, E-mail: [email protected].
Ergonomic assessment in a producer of ornamental plants in Brazil
Abstract: The present study is an ergonomic assessment in a company that produces and commercializes ornamental plants which is located in Brazil. The company headquarters and two producing units were analyzed. Thirteen workers participated in the study that acted in the role of general services. The analysis of the activities involved in gathering information at the time of the effective exercise of work and direct observations. The evaluation of postural load was carried out based on the Rapid Entire Body Assessment (REBA) protocol. According to biomechanical analysis,
the application of the method resulted in medium risk, REBA scores between 4 to 7, to development of musculoskeletal injuries in most activities performed. It was possible to identify movements and postures that offer to employees’ health risks with a possibility to modify the work situation, including the layout and organization of work. The recommendations proposed will be implemented and validated in conjunction with the workers. It is intended that the improvements generated by the ergonomic intervention contribute to the reduction of human costs in the work. Keywords: ergonomics, workload, agriculture, ornamental plants.
Resumo: O presente estudo trata de uma avaliação ergonômica do trabalho em uma empresa de produção e comercialização de plantas ornamentais localizada no Brasil. Foram analisadas a matriz da empresa e duas unidades produtoras. Participaram do estudo treze trabalhadores que atuavam na função de serviços gerais. A análise das atividades implicou na coleta de informações no momento do exercício efetivo do trabalho e de observações diretas. A avaliação da carga postural foi realizada com base no protocolo do método Rapid Entire Body Assessment (REBA). De acordo com a análise biomecânica, a aplicação do método REBA resultou em risco médio, escores entre 4 a 7, para o desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas na maioria das atividades executadas. Foi possível identificar posturas e movimentos que oferecem riscos à saúde dos funcionários com vistas à modificar a situação de trabalho, incluindo o layout e a organização do trabalho. As recomendações propostas serão implementadas e validadas em conjunto com os trabalhadores. Pretende-se que as melhorias geradas pela intervenção ergonômica contribuam para a redução dos custos humanos no trabalho. Palavras-chave: ergonomia, carga de trabalho, agricultura, plantas ornamentais.
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1. Introdução O setor agrícola é frequentemente considerado como um dos mais perigosos quando
comparado com outros setores industriais. A ampla variedade de fatores de risco e de
problemas de saúde prevalentes no trabalho agrícola indicam a complexidade da prática e
do ambiente ocupacional (Chisholm, Bottoms, Dwyer, Lines & Whyte, 1992; ILO, 2011).
Estima-se que 1.3 bilhão de trabalhadores dependam da agricultura e que cerca de 500
milhões destes estejam empregados em plantações. A força de trabalho brasileira é
estimada em 96 milhões, dos quais 14.5% são ocupados na agricultura, 22.6% na
indústria e 62.9% no setor de serviços (ILO, 2015). No Brasil, o setor agrícola
desempenha um papel importante no desempenho econômico e contribui para a balança
comercial. Em 2013, as exportações totalizaram mais de US$ 86 bilhões, sendo
responsável por 36% do total. Nesse período, as exportações agrícolas compensaram o
déficit de outros setores (FAO, 2015).
As plantas ornamentais são cultivadas em todo o mundo, a demanda se dá
principalmente em razão de serem muito utilizadas na arquitetura de ambientes interiores
e no paisagismo de espaços externos. A floricultura comercial, entendida como a
atividade profissional e empresarial de produção, comércio e de distribuição de flores e
plantas cultivadas com finalidade ornamental, representa um dos mais promissores
segmentos do agronegócio brasileiro contemporâneo. Enquanto a atividade rural
geralmente está vinculada a produtos para atender às necessidades básicas e
fisiológicas, o mercado de flores e plantas ornamentais se desenvolve num contexto
relacionado ao bem-estar (Smorigo, 1999; Junqueira & Peetz, 2013).
É uma alternativa técnica viável economicamente para a geração de emprego e
renda no Brasil, onde clima e os solos de todas as regiões são apropriados para o cultivo
das espécies comercializadas nos principais mercados. O processo de produção
apresenta diferenças em função das condições climáticas, do solo e a das espécies
cultivadas. O cultivo é realizado com técnicas apropriadas para atender ao padrão de
qualidade do mercado (Tombolato & Costa, 1998). Tem como característica marcante a
possibilidade de retorno econômico a curto prazo em pequenas áreas, sendo uma
atividade típica da agricultura familiar. Apresenta grande impacto econômico-social como
geradora de postos de trabalho, superando a marca de 10 empregos/ha, o que contribui
para a fixação do homem no campo e para a ocupação de áreas com aptidão agrícola em
torno das grandes cidades (Rooijen & Gedaken, 2012).
Contudo, as taxas de acidentes de trabalho entre os agricultores são altas
(Rautiainen et al, 2008). O trabalho na agricultura é uma das principais causas de
doenças profissionais incluindo distúrbios osteomusculares, doenças respiratórias, perdas
auditivas e doenças relacionadas com exposição à agrotóxicos e à produtos químicos
(Villarejo & Baron, 1999; Kirkhorn & Schenker, 2002). Distúrbios osteomusculares são as
lesões mais frequentemente relacionadas com atividades que exigem consideráveis
cargas físicas dos trabalhadores agrícolas (Gallagher, 2005; Kirkhorn, Earle-Richardson &
Banks, 2010). Especificamente no cultivo de mudas e produtos hortículas, Meyers e
colaboradores (1997) identificaram que as lesões mais prevalentes foram entorese e
distensões com 48,9% do total, acima da proporção do setor agricultura como um todo.
Lesões na região da coluna vertebral são um problema reconhecidamente significativo
tanto sob a perspectiva de incidência quanto de custos.
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As condições de trabalho têm múltiplas incidências sobre a vida social e profissional
dos trabalhadores, que podem ser diretas ou decorrentes de efeitos intermediários. Muitos
acontecimentos ligados ou não às condições de trabalho têm consequências a longo
prazo para os trabalhadores, dentre elas, sequelas de um acidente de trabalho e doenças
ocupacionais crônicas ou incapacitantes (Guérin, Laville, Daniellou & Duraffourg, 2001).
No entanto, são escassas as evidências científicas que consideram a aplicação da
ergonomia na melhoria das condições de trabalho nos sistemas de produção agrícolas
(Meyers, Miles, Faucett, Janowitz, Tejeda & Kabashima, 1997). A aplicação da ergonomia
no setor agrícola e recente quando comparada com outros setores da economia, grande
parte dos estudos é focada na indústria e poucos concentram-se na agricultura de
pequena escala (Jafry & O’Neill, 2000). Ao considerar que a maioria da população nos
países em desenvolvimento vive ou trabalha em áreas agrícolas, maior atenção deve ser
dirigida para esse setor (Fathallah, 2010).
Existe um campo em ascensão de pesquisas no âmbito da ergonomia na agricultura,
que dispõem de grande potencial de contribuição tanto na concepção de produtos quanto
nos sistemas de trabalho. Cerf e Sagory (2007) sustentam que as demandas dirigidas aos
ergonomistas estão relacionadas em torno de três grandes finalidades: a busca de
melhoria das condições e/ou da organização do trabalho, o auxílio na compreensão das
consequências da introdução de novas técnicas de produção e a concepção de futura
organização do trabalho ou de novas edificações.
Desde a sua origem, a ergonomia é orientada para a adaptação do trabalho ao
homem e pretende associar a saúde dos trabalhadores e a eficácia do trabalho. A eficácia
da intervenção ergonômica consiste em gerar resultados positivos nas situações de
trabalho para se tornarem mais apropriado para os trabalhadores que neles operam
(Daniellou, 2007; Montmollin e Darses, 2011). Todavia, a proposta de ações só é possível
mediante a compreensão das atividades e das pressões que pesam sobre os agricultores.
Leva em consideração a atividade do trabalhador numa situação que não se limita ao
posto de trabalho, mas considera o conjunto das condições de trabalho (Cerf & Sagory,
2007).
As condições de trabalho insatisfatórias causam altos índices de erros, incidentes,
acidentes, doenças, redução da motivação e de produtividade, absenteísmo, retrabalho e
diminuição da qualidade de vida (Iida, 2005; Kroemer & Grandjean, 2005). A ergonomia
contribui decisivamente para que os trabalhadores agrícolas tenham condições
satisfatoriamente adequadas para executar as atividades. Doenças musculoesqueléticas
relacionadas ao trabalho podem ser reduzidas se os postos de trabalho forem projetados
com ênfase no conforto e na segurança (Eklund, 1997; Silverstein & Clark, 2004).
Nesse contexto, a demanda inicial desse estudo teve origem na solicitação da
equipe médica responsável pela saúde ocupacional de uma empresa produtora de plantas
ornamentais, em decorrência das frequentes queixas de desconforto musculoesquelético
em membros superiores e na região lombar de trabalhadores que atuam na função de
serviços gerais. Os pesquisadores optaram pela aplicação do método da Análise
Ergonômica do Trabalho por considerarem como prioritária a identificação e análise dos
principais fatores de risco biomecânicos com objetivo de propor ações de melhorias para
minimizar os riscos para a saúde desses trabalhadores.
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2. Materiais e Métodos
A presente pesquisa, de natureza aplicada e de caráter exploratório-descritivo,
utilizou a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) para a compreensão das
atividades realizadas pelos trabalhadores que exercem função de serviços gerais em uma
empresa produtora de plantas ornamentais localizada. A AET constitui-se em um conjunto
estruturado de análises sistêmica e integrada dos determinantes da atividade de trabalho
de pessoas em uma organização (Guérin, Laville, Daniellou & Duraffourg, 2001). Os
pesquisadores basearam-se na análise da atividade de trabalho, ou seja, na compreensão
da natureza dos problemas da forma como são tratados pelos operadores.
O ergonomista busca identificar a rede das exigências e de constrangimentos que
envolvem o trabalho dos operadores a partir de uma perspectiva global. A constituição
dos problemas a tratar é um componente permanente de toda atividade de trabalho
(Wisner, 1995). A exploração pelo ergonomista da distância entre o trabalho prescrito e o
real o leva a contribuir na concepção ou reconcepção dos meios de trabalho em
referência à dinâmica global e ao contexto global no qual se inserem (Daniellou, 2007).
2.1 Local do estudo
A empresa estudada atua na produção e comercialização de plantas ornamentais há
vinte e cinco anos e está localizada na região sul do Brasil. O perfil econômico da região
centra-se na produção agrícola familiar, destacando-se a fruticultura e a produção de
plantas ornamentais.
A matriz está instalada em uma área de 9.000m2 com galpão de plantio, viveiro e
terminal de cargas. As duas unidades produtoras analisadas possuem, respectivamente,
184.000 e 17.000m2. Trabalham na empresa um total de quarenta e um funcionários nas
funções de aplicador de inseticida, motorista, serviços gerais, operador de empilhadeira,
arrancador de plantas e tratorista.
2.2 Coleta e tratamento dos dados
Treze trabalhadores que atuam na função de serviços gerais participaram do
estudo, entre eles, cinco mulheres e oito homens. Todos possuíam, pelo menos, um ano
de experiência na função analisada. As avaliações foram realizadas durante o mês de
julho de 2015.
Durante os primeiros contatos com os trabalhadores, os pesquisadores realizaram
observações livre e assistemáticas das situações de trabalho em sua globalidade. Nessa
fase, procurou-se compreender o processo técnico, as tarefas incumbidas aos operadores
e as estratégias adotadas por eles. Essa fase de observação permite aos pesquisadores
a elaboração de uma representação partilhada com os trabalhadores sobre a situação de
trabalho, em concordância com os critérios especificados na demanda (Montmollin &
Darses, 2011).
A partir das hipóteses formuladas no pré-diagnóstico optou-se por focalizar as
observações e estabelecer um plano de observação. Tal fase de coleta de dados foi
realizada em duas etapas: (1) entrevistas semi-estruturadas com os trabalhadores sobre o
desempenho das tarefas, dificuldades operacionais e a percepção de desconforto
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musculoesquelético; (2) avaliação biomecânica do trabalho manual nos postos
selecionados pelos pesquisadores.
A avaliação da carga postural foi realizada com base no protocolo do método Rapid
Entire Body Assessment (REBA), proposto por Hignett e McAtamney (2000). É um dos
métodos mais comumente aplicados em estudos de avaliação de postura em ergonomia
(Hermawati, Lawson & Sutarto, 2014). Foram registrados os movimentos e as amplitudes
de seis segmentos corporais (tronco, coluna cervical, membros inferiores, ombros,
cotovelos e punhos) nas diversas etapas das atividades. Para a obtenção do escore final,
também foram levados em consideração a força utilizada e a repetitividade do movimento.
A análise biomecânica constituiu-se na coleta de informações no momento do
exercício efetivo do trabalho e de observações diretas. Cada trabalhador foi filmado por
curtos períodos de 10 a 15 minutos de forma aleatória. As atividades foram analisadas e
registradas a partir dos planos sagital e posterior e os segmentos de vídeo foram
revisados e avaliados por dois pesquisadores treinados. Tal abordagem permitiu uma
identificação mais precisa dos fatores de risco estudados.
3. Apresentação dos Resultados
3.1 Caracterização das situações de trabalho
A jornada de trabalho dos trabalhadores na função de serviços gerais é de oito horas
diárias, quarenta e quatro horas semanais, com intervalos de uma hora para descanso e
alimentação. Entre as tarefas prescritas para os trabalhadores constam: poda, plantação,
adubação, roça e limpeza das áreas plantadas, carregamento e descarregamento de
plantas e de mercadorias, acondicionamento, controle e organização dos vasos de
plantas no viveiro.
A configuração dos postos de trabalho permite que as atividades sejam realizadas
tanto na posição ortostática quanto sentada. Quanto ao mobiliário, bancadas de trabalho
móveis (1,20 x 2,00m) com alturas da superfície de trabalho variando entre 0,77 e 0,97
metros em relação ao piso e bancadas fixas em madeira (1,10 x 2,80 x 0,80m) são
utilizadas durante o plantio de mudas em vasos. Bancos em madeira (0,20 x 0,26m) são
utilizados para apoio durante as pausas e nas atividades de extração de vegetação não
cultivada (mato e ervas-daninhas) (Figura 1).
Ferramentas manuais como facão e tesoura de poda são utilizadas nos postos de
trabalho. Dispositivos para auxílio nas atividades de manuseio e transporte de cargas
como carrinhos de mão, empilhadeira hidráulica manual, paletizadoras e carrinhos tipo
plataforma são disponibilizados para os trabalhadores (figura 1). Devido à dificuldade de
encontrar no mercado ferramentas e equipamentos apropriados às atividades
desenvolvidas, os próprios trabalhadores realizam adaptações e ajustes conforme a
necessidade e, por muitas vezes, a saúde e a segurança dos agricultores é colocada em
risco. Tal condição, também, foi identificada em estudo realizado em uma propriedade
agrícola familiar de produção orgânica de frutas (Gemma, Abrahão & Sznelwar, 2004). O
risco de acidentes no setor agrícola é aumentado devido à fadiga, uso de ferramentas
inadequadas, plantações em terrenos irregulares e exposição às condições
meteorológicas extremas (ILO, 2011).
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Figura 1. Materiais, ferramentas e equipamentos utilizados pelos trabalhadores no
desempenho das atividades agrícolas analisadas.
Embora a análise das atividades seja a principal ferramenta do ergonomista,
conforme a situação a ser avaliada, pode ser necessário a análise das ambiências físicas
para complementar a análise ergonômica (Millanvoye, 2007). Os níveis de iluminação
mensurados nos postos de trabalho estavam adequados à natureza das atividades. Os
níveis de ruído encontravam-se abaixo do limite de tolerância e do nível de ação definidos
pela legislação vigente no Brasil, ou seja, inferior a 80 dB(A). Algumas atividades
relacionadas ao plantio, ao cultivo e à extração de vegetação não cultivada (ervas
daninhas) são realizadas a céu aberto e os trabalhadores permanecem expostos à
radiação não ionizante (sol). A empresa fornece chapéus de palha, bonés e protetor solar
para os funcionários.
3.2 Análise biomecânica e da carga postural
Os trabalhadores agrícolas envolvidos em regimes intensos de trabalho são
expostos a uma multiplicidade de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças
musculoesqueléticas que afetam a região de tronco, as extremidades superiores e
inferiores. A natureza manual do trabalho agrícola resulta, principalmente, em entorses,
distensões e lesões na coluna vertebral e em membros superiores (Osorio et al., 1998;
Villarejo & Baron, 1999). Elevação e transporte de cargas acima de 23 quilogramas,
postura sustentada ou repetida de flexão anterior de corpo inteiro e trabalho manual
altamente repetitivos são os principais fatores de risco evidenciados na literatura (Meyers
et al., 2001; Fathallah, 2010).
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A organização das observações sistemáticas da presente pesquisa se deu em
função das hipóteses que guiaram a análise e das limitações das situações de trabalho
específicas. Foram objeto de análise as seguintes atividades: plantação das mudas em
vasos; extração manual da vegetação não cultivada (ervas daninhas); preparação das
plantas ornamentais e transplante dessas plantas em vasos; movimentação e organização
dos vasos nas estufas e viveiros (Figura 2).
As regiões articulares dos ombros e da coluna lombar foram apontadas como
regiões de maior desconforto pelos trabalhadores. A avaliação biomecânica das principais
atividades de trabalho permitiu identificar os gestos e posturas adotadas pelos
trabalhadores que atuam na função de serviços gerais, bem como os esforços físicos
envolvidos.
Alguns movimentos específicos que podem representar risco de sobrecarga
biomecânica foram identificados pelos pesquisadores. Movimentos de flexão anterior em
grandes amplitudes combinados com rotação e inclinação de tronco foram identificados.
Durante o processo de extração de ervas daninhas os agricultores modificam
frequentemente as posturas entre curvada anteriormente (com joelhos estendidos e flexão
completa do tronco), agachada (flexão completa de joelhos e tronco semi-flexionado) e
ajoelhada (joelhos flexionados posicionados no chão e tronco semi-flexionado). Tal
processo resultou em ângulos de flexão de tronco acima de 40 quando realizado na
posição sentada e em ângulos acima de 60 em postura em pé inclinada.
Figura 2. Visualização das principais atividades realizadas pelos trabalhadores avaliados.
Conforme relatado pelos trabalhadores, a estratégia de alternância postural é
adotada para obtenção de alívio do desconforto ocasionado pelos esforços musculares
estáticos em diversas regiões do corpo, principalmente durante atividades que requerem
que a execução seja realizada próxima ao nível do solo durante longos períodos de
tempo. Posturas de flexão anterior de tronco são relacionadas com disfunções lombares,
existindo associação entre o aumento da amplitude de flexão com o nível de desconforto,
assim como movimentos de lateralização e de rotação quando repetidos podem se
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constituir em fator de risco para a coluna (Chaffin, Anderson & Martin, 1991; Bernard,
1997).
O ritmo de trabalho não é imposto aos trabalhadores e o tempo de ciclo padrão varia
conforme a diversidade de plantas produzidas. O planejamento das atividades e a
realização de pausas são determinados pelos trabalhadores. O rodízio de atividades
ocorre informalmente entre as equipes de trabalhadores alocadas na matriz e nas
unidades produtoras.
De acordo com a análise da carga postural realizada mediante aplicação do
protocolo REBA (Hignett & McAtamney, 2000) as atividades de extração de vegetação
não cultivada resultaram em alto risco para desenvolvimento de lesões
musculoesqueléticas tanto na postura em pé inclinada quanto na sentada (figura 3). Esses
resultados corroboram com o estudo de Dieën, Jansen e Housheer (1997) que
demonstraram que a postura sentada não pode ser considerada ideal, apesar da carga de
trabalho ser relativamente menor quando comparada com a posição dos joelhos
flexionados. A posição sentada se reflete em considerável esforço e desconforto muscular
para o trabalhador e, portanto, a utilização de um banco ou de uma cadeira nessas
atividades não poderia ser recomendada como opção para permitir a variação de postura
com o método de trabalho convencional.
Figura 3. Resultados da aplicação do método REBA nas etapas dos processos analisados.
PROCESSO ATIVIDADES ANALISADAS
ESCORE REBA
GRUPO A
GRUPO B
ESCORE FINAL
Plantar mudas em vaso
- coletar planta e vaso; - colocar substrato no vaso; - inserir muda no vaso; - completar vaso com substrato; - acondicionar muda em carrinho.
2 3 3 3 5
4 3 3 3 4
4 3 3 3 5
Extrair vegetação não cultivada (ervas-daninhas) das plantas - posição sentada
- extrair e retirar mato; - descartar mato retirado em baldes / carrinho de mão.
6 6
3 3
8 8
Extrair vegetação não cultivada (ervas-daninhas) das plantas - posição em pé inclinada
- extrair e retirar mato; - descartar mato retirado em baldes / carrinho de mão.
6 6
3 3
8 8
Preparar plantas ornamentais para transplantá-las em vasos
- realizar inspeção visual; - cortar galhos, ramos e folhas com auxílio de tesoura; - descartar ramos e galhos cortados em balde; - cortar raízes excedentes com auxílio de facão.
4 4
4
4
3 5
3
5
5 7
5
6
Plantar plantas ornamentais em vasos
- coletar vaso e inserir substrato; - coletar planta e posicioná-la no vaso; - completar vaso com substrato; - socar terra em volta das mudas transplantadas; - posicionar vasos com plantas em paletes.
4 4 5 4
4
4 4 4 5
4
4 4 5 5
4
Transportar e acondicionar vasos
- transportar paletes com plantas para expedição com auxílio de paletizadora.
1 4 4
Organizar estufa/viveiro - guardar vasos com plantas. 3 5 6
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Outro potencial fator de risco para os trabalhadores rurais são as lesões em
membros superiores resultantes de atividades com posturas inadequadas de punhos e
mãos, movimentos de preensão repetitivos e de aplicação de forças associados a
movimentos de pinça (Meyers et al, 1997). Os procedimentos de preparação das mudas e
das plantas resultaram em escores entre 5 a 7, considerados como médio risco (figura 3).
As atividades constituem-se em coletar a planta manualmente, cortar ramos e folhas
deterioradas com auxílio de tesoura de poda e cortar raízes excedentes com auxílio de
facão. São executadas predominantemente na posição sentada em bancos de madeira
com altura fixa.
Foram registrados movimentos dos ombros com amplitudes que variavam de 20 a
60 de flexão associados à abdução e dos cotovelos com angulação acima de 100.
Alguns autores recomendam amplitudes de movimentos reduzidas para os ombros, de até
25 para flexão e abdução (Chaffin, Anderson & Martin, 1991). O aumento da sobrecarga
nas estruturas da região causa compressão tendinosa dos músculos supra-espinhal e
porção longa do bíceps braquial e instabilidade na região posterior da cavidade glenóidea
(Hammil & Knutzen, 2000). De acordo com a literatura, a faixa entre 85 e 110 para os
cotovelos é a de maior vantagem biomecânica para os flexores dos braços e antebraços
(Kroemer & Grandjean, 2005).
Atividades que envolvem desvios de punho e movimentos de abdução dos ombros
em conjunto com ação de preensão manual são fatores de risco para doenças
musculoesqueléticas em mãos, punhos, cotovelos e ombros (Armstrong, Chaffin & Foulke,
1979). Foi identificada flexão dos punhos de leve a moderada, associado a desvio ulnar,
presente em todo o ciclo de corte das mudas. O facão e tesoura de poda são as
ferramentas utilizadas pelos trabalhadores. O trabalhador normalmente utiliza a tesoura
de poda com a mão dominante, apoiando a pega da ferramenta na base do polegar e a
pressionando mediante flexão dos dedos.
O uso de ferramentas como tesouras para atividades de corte é comum na
agricultura, principalmente durante a fase de cultivo de mudas de plantas em berçários ou
viveiros, o que expõe os trabalhadores a riscos graves de lesões musculoesqueléticas em
mãos e punhos (Fathallah, 2010). A atividade de poda impõe altas cargas biomecânicas
na região de punhos e mãos tendo em vista a repetitividade da tarefa e tem sido
associada com distúrbios osteomusculares em membro superior dominante. Esta requer
movimentos de preensão da mão e de flexão dos punhos repetidos associados ao esforço
estático de braços e membros superiores (Meyers, Miles, Faucett, Janowitz, Tejeda &
Kabashima, 1997; Roquelaure, Dano, Dusolier, Fanello & Penneau-Fontbonne, 2002).
Outros fatores de risco para ocorrência de distúrbios osteomusculares como uso de
instrumentos vibrantes, compressões localizadas sobre estruturas anatômicas das mãos
ou antebraços, exposição a temperaturas ambientais ou de contato muito frias e uso de
luvas que interferem na habilidade manual não foram identificados durante as etapas do
estudo.
Em relação às questões de manuseio de cargas, durante o período de análise não
foi verificada a elevação ou transporte manual de plantas ou de matérias-primas acima de
10 quilogramas (figura 4).
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Figura 4. Produtividade e peso dos vasos de plantas ornamentais mais frequentemente produzidas na
empresa.
VARIEDADES DE PLANTAS ORNAMENTAIS PRODUZIDAS
› Liriope muscari 1,5 kg cada vaso / produção diária de 1.200 vasos
› Dietes bicolor 2,0 kg cada vaso / produção diária de 1.000 vasos
› Arundina bambusifolia 2,5 kg cada vaso / produção diária de 800 vasos
› Cycas revoluta 3,0 a 4,0 kg cada vaso / produção diária de 800 vasos
› Rhapis excelsa 4,0 kg cada vaso / produção diária de 500 vasos
› Podocarpos macrophylos 5,0 kg cada vaso / produção diária de 350 vasos
› Eugenia spreengelli 5,0 kg cada vaso / produção diária de 700 vasos
Fonte: dados do estudo.
Em média, são produzidas diariamente de 800 a 1.200 plantas de menor porte. A
produção diária de plantas de médio porte (peso de cada vaso entre 3 e 5 quilogramas) é
de 500 a 800 vasos por dia. A empresa disponibiliza dispositivos como carrinhos de mão,
empilhadeira hidráulica manual, paletizadoras e carrinhos tipo plataforma para auxiliar no
transporte de cargas, produtos e paletes.
3.3 Recomendações ergonômicas
A ergonomia pretende compreender o trabalho para, progressivamente, definir vias
possíveis para a sua transformação (Guérin, Laville, Daniellou & Duraffourg, 2001). Nesse
sentido, a partir da análise dos aspectos físicos do trabalho dos funcionários que atuam
na função de serviços gerais de uma empresa produtora de plantas ornamentais e da
identificação dos principais fatores de risco biomecânicos envolvidos nas atividades
avaliadas optou-se pelo direcionamento de algumas propostas de adequação. Conforme a
identificação de alguns fatores de riscos para lesões musculoesqueléticas, existem várias
oportunidades para o desenvolvimento e implementação de intervenções ergonômicas
que visam o controle dessas exposições.
Trabalhar ao nível do solo em postura inclinada e ajoelhada constitui claramente um
risco para saúde do agricultor. De acordo com a avaliação da carga postural realizada no
estudo as atividades de extração das ervas daninhas foram consideradas críticas. Como
tentativa de melhorar essas situações de trabalho algumas ações foram propostas em
conjunto com as equipes de saúde ocupacional, de recursos humanos e diretoria da
empresa.
Diversas estratégias podem ser utilizadas para minimizar o desconforto
musculoesquelético dos agricultores que executam suas atividades ao nível do solo.
Protetores de joelho oferecem proteção parcial, geralmente são considerados como
desconfortáveis e não promovem a alteração da postura crítica da região. A opção de
utilizar um banco ou uma cadeira não pode ser considerada ideal, ainda que a carga de
trabalho seja menor quando comparada com a posição ajoelhada (Dieën, Jansen &
Housheer, 1997). Ressalta-se que a redução do pico de intensidade da carga física de
trabalho tem produzido melhores resultados (Dieën & Vrielink, 1994).
Dessa forma, optou-se por sugerir o desenvolvimento de alguma ferramenta manual
para auxiliar na extração das ervas daninhas ou da adaptação de um extrator mecânico já
existente no mercado. Considera-se que a utilização de ferramentas ou de dispositivos
mecânicos auxiliares podem reduzir a necessidade de adoção de posturas inadequadas
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ou podem reduzir as tensões e os desconfortos associados à manutenção de tais
posturas (Gallagher, 2005).
Estudos demonstram que a implementação de melhorias ergonômicas no projeto de
ferramentas manuais utilizadas na agricultura é eficaz tanto em termos de aumento de
produtividade quanto, indiretamente, em diminuição dos custos de operação. As
ferramentas manuais adaptadas para as atividades requerem menos energia do
trabalhador e, consequentemente, conduzem à melhor eficiência no trabalho (Jafry &
O'Neill, 2000).
Recomendou-se, ainda, a adequação antropométrica dos postos de trabalho
existentes com características dimensionais de forma garantir o espaço necessário à
execução das atividades. As estações de trabalho devem ser adequadas para uso nas
posições ortostática e sentada com cadeiras ajustáveis. O dimensionamento foi baseado
nas características dos usuários, na natureza das atividades e nas limitações físicas e
mecânicas envolvidas. Os percentis extremos (5 e 95) foram utilizados como referências
antropométricas (Kroemer & Grandjean, 2005). Dispositivos de ajuste de regulagem de
altura foram considerados. Os assentos de trabalho reguláveis atendem aos requisitos de
conforto preconizados pela Norma Regulamentadora (NR) vigente no Brasil.
Quanto aos aspectos ambientais, a empresa fornece chapéus de palha, bonés e
protetor solar como meio de controle existente. Recomendou-se a organização das
planilhas de trabalho para reduzir e evitar a exposição solar ou ao frio intenso. O trabalho
deve, portanto, ser planejado de modo diferente nas diversas épocas do ano para evitar
altos índices de carga térmica.
A combinação de estressores físicos em conjunto com o tempo limitado e
insuficiente para recuperação da fadiga muscular acrescenta risco considerável para o
desenvolvimento de transtornos musculoesqueléticos em trabalhadores rurais (Faucett,
Meyers, Miles, Janowitz, & Fathallah, 2007). Portanto, outra estratégia adotada pelos
pesquisadores foi a de sugerir a introdução de breves e frequentes pausas de descanso
para trabalhadores envolvidos em atividades extenuantes. Recomendou-se a concessão
de pausas de 5 minutos de descanso a cada hora de trabalho, além dos intervalos já
existentes.
Porém, ainda que as pausas para descanso e a rotatividade das atividades de
trabalho sejam métodos considerados eficazes para redução da fadiga e da tensão
muscular associada ao trabalho, o redesign do trabalho deve ser levado em consideração.
O cultivo, a colheita e o manuseio manual de produtos agrícolas são reconhecidamente
considerados como extenuantes e, apesar disso, poucas melhorias têm sido
implementadas em ferramentas ou nas práticas de trabalho agrícolas (Faucett, Meyers,
Miles, Janowitz, & Fathallah, 2007).
Propostas referentes à melhorias ergonômicas nos projetos das ferramentas
manuais de corte devem ser priorizadas com vistas à redução de movimentos de flexão
do punho associado a desvio ulnar nas atividades de preparação das plantas
ornamentais. O projeto adequado de ferramentas manuais e das estações de trabalho
requer a aplicação de aspectos fisiológicos, anatômicos, cinesiológicos, antropométricos e
de segurança (Tichauer & Gage, 1977).
Pretende-se que as ações propostas promovam melhorias na eficiência do trabalho
e na redução da exposição a fatores de risco osteomusculares sobre os métodos
tradicionais. Ressalta-se ainda, que a participação dos trabalhadores é fundamental no
desenvolvimento e implantação das intervenções ergonômicas na agricultura (Fathallah,
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2010). As melhorias das condições de trabalho não dependem unicamente dos
conhecimentos técnicos e científicos, exigem igualmente a cooperação dos atores
envolvidos (Wisner, 1994). Qualquer intervenção ergonômica bem sucedida em setores
agrícolas exige ampla comunicação e colaboração entre pesquisadores, produtores e
trabalhadores (Fathallah, 2010). Portanto, foi proposto que após a fase de reprojeto dos
postos de trabalho e das ferramentas de trabalho sejam instalados protótipos nos setores
para determinar os efeitos das modificações no conforto dos trabalhadores e na
usabilidade dos equipamentos. Ao trabalhador deverá ser fornecida a oportunidade de
opinar e de contribuir para o sucessivo desenvolvimento dos projetos.
4. Conclusão
Os resultados da avaliação ergonômica realizada na função de serviços gerais da
empresa produtora de plantas ornamentais estudada forneceram uma visão geral sobre
as situações de trabalho. Os dados coletados contribuíram para a compreensão a respeito
dos potenciais fatores de risco que envolvem a atividade e serviram de base para as
recomendações e propostas de melhorias na tentativa de redução da carga de trabalho e
prevenção de doenças musculoesqueléticas.
O foco desse estudo foi a análise e identificação dos fatores de risco físicos
relacionados com lesões musculoesqueléticas entre trabalhadores de uma empresa
produtora de plantas ornamentais. A avaliação do nível de exposição de fatores de risco
musculoesqueléticos foi útil em termos de esforços na prevenção e os dados resultantes
poderão ser utilizados por profissionais de saúde e ergonomistas para a priorização de
intervenções e para o planejamento de programas de ergonomia com vistas à melhorias
na saúde e na segurança do trabalho agrícola.
De acordo com os resultados da avaliação postural evidenciados nesse estudo, a
carga física exigida nas atividades manuais realizadas na produção de plantas
ornamentais é relevante e os trabalhadores encontram-se expostos à uma variedade de
fatores de risco ergonômicos. Dessa forma, períodos frequentes de pausas para
descanso e utilização de ferramentas e equipamentos adequados para as atividades
agrícolas são consideradas estratégias essenciais na redução da carga de trabalho e de
desconfortos ocasionados por posturas inadequadas.
Embora reconhecidamente os riscos físicos sejam importantes contribuintes para o
desenvolvimento de distúrbios osteomusculares, os riscos psicossociais, organizacionais
e socioeconômicos, também, devem ser considerados na prevenção das doenças
ocupacionais. Tais fatores podem representam uma série de barreiras para o sucesso da
implementação de medidas de intervenção.
Essa é uma pesquisa preliminar acerca dos riscos físicos que afetam o trabalho de
produtores de plantas ornamentais, no entanto, é um passo essencial para sugestões de
melhorias ergonômicas nas situações de trabalho avaliadas. Os avanços nas condições
de trabalho nesse setor dependerão de ação conjunta e da colaboração dos trabalhadores
e dos empregadores. Pesquisas futuras são necessárias para esclarecimento de alguns
aspectos analisados no presente estudo, sendo imprescindível focar em medidas
preventivas e intervenções apropriadas que possam auxiliar na redução da prevalência de
doenças musculoesqueléticas entre os trabalhadores agrícolas desse setor específico da
agricultura.
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