instituto federal de educaÇÃo, ciÊncia e tecnoloica de

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOICA DE SANTA CATARINA CAMPUS FLORIANÓPOLIS DEPARTAMENTO ACADÊMICO METALMECÂNICA CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO FLORIANÓPOLIS, FEVEREIRO DE 2017 JHONATAS DA SILVEIRA CONSTRUÇÃO DE UM CAIAQUE DE MADEIRA UTILIZANDO STRIP PLANKING

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOICA

DE SANTA CATARINA

CAMPUS FLORIANÓPOLIS DEPARTAMENTO ACADÊMICO

METALMECÂNICA

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM DESIGN DE PRODUTO

FLORIANÓPOLIS, FEVEREIRO DE 2017

JHONATAS DA SILVEIRA

CONSTRUÇÃO DE UM CAIAQUE DE MADEIRA

UTILIZANDO STRIP PLANKING

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JHONATAS DA SILVEIRA

CONSTRUÇÃO DE UM CAIAQUE DE MADEIRA

UTILIZANDO STRIP PLANKING

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Santa Catarina como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Tecnólogo em Design de Produto.

Professor Orientador: Heitor Eckeli.

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RESUMO

O desenvolvimento de um caiaque de madeira utilizando técnicas de

construção naval tradicional capaz de transportar um animal de estimação é um projeto ímpar e autêntico que busca de maneira criativa a elaboração de alternativas para a viabilidade de transportar animais por meio aquático. O resgate histórico sobre embarcações, sobretudo caiaques, mostra que esse objeto passou por inúmeras adaptações e ainda se mostra suscetível à ajustes, seja ela na geometria, estética ou função. Os inuits desenvolveram os caiaques através de materiais disponíveis na época e no ambiente gélido do círculo polar ártico, usados para caça e transporte de famílias os inuits foram aprimorando as técnicas de construção até a chegada dos europeus, que mudaram a forma do emprego do caiaque, passando de um instrumento essencial para sobrevivência em um instrumento de lazer e transporte. Para que a construção do caiaque tivesse início, foi preciso elaborar modelagem tridimensional e gerar gabaritos para montagem, as ripas, foram postas de maneira alternada, sendo que a emenda ficou à meia nau e nas extremidades, o que constatou uma fragilidade considerável, uma vez que as ripas emendadas no meio com caiaque tornam-se quebradiças e resistem a conformação. No entanto, cada erro serviu de aprendizagem para que nos futuros projetos não aconteça imprevistos. Desde os inuits as mudanças nos caiaques foram feitas para seu próprio desempenho, pensar em um caiaque tendo a principal função o transporte seguro de um animal de estimação mostra que há uma outra possibilidade de intervenção de novos desenhos de produto.

Palavras Chave: Caiaque, Strip Planking, Inuits, Embarcação, Construção.

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ABSTRACT

The design and execution of a wooden kayak able to carry not only a person but also a pet using traditional shipbuilding techniques is an authentic project that aims to develop in a creative way alternatives for the feasibility of transporting pets by water. The historic research about boats, specially kayaks, shows the product conceived in this project went through several adaptations and is still susceptible to adjustments, either in geometry, aesthetics or function. The kayaks were developed by the Inuit people using

the materials they had available at the time and in their hostile environment of the Arctic Circle. They were used to hunting and families transportation and, as time passed by, they had their building techniques improved until the arrival of the Europeans who had changed the function of the kayak. It went from an essential tool for survival to an instrument of leisure and transportation. The research for the development of this project was made from discussions with boatbuilders and kayak users, as well as bibliographies about ships and boats, mostly with emphasis on wooden kayak projects. To start the building process of the kayak, it was necessary to make a 3D modeling and generate assembling templates and jigs. The wooden clapboards were placed alternately, with the seam at midship and at the extremities, which provided a substantial fragility, once the wooden clapboards placed in the middle of the kayak become brittle and resistant to conformation. However, each mistake was turned into learning to avoid unexpected situations in future projects. It is important to highlight that since the Inutis, the

modifications in kayaks were made for its own performance improvement. Conceive the idea of a kayak which the main function is the safe transportation of a pet shows a new Industrial Design possibility for this product.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

1.2 Formulação do Problema ............................................................. 1

2 JUSTIFICATIVA .................................................................................. 2

3 OBJETIVOS ........................................................................................ 3

3.1 Objetivo Geral .............................................................................. 3

3.1.2 Objetivos Específicos............................................................. 4

4 MÉTODO UTILIZADO ........................................................................ 4

5 AQUILES TOR .................................................................................... 6

6 EMBARCAÇÕES ................................................................................ 7

6.1 Embarcação e Humanidade ......................................................... 8

6.2 Evolução do caiaque .................................................................. 10

6.2.1 Características ..................................................................... 12

6.3 Tipos de Caiaques ..................................................................... 18

5.3.1 Caiaque de recreação ou lagoa ........................................... 18

6.3.2 Caiaque oceânico ................................................................ 19

6.3.3 Caiaque Duplo ..................................................................... 21

6.3.4 Caiaque de corrida .............................................................. 21

7 MÉTODOS DE CONSTRUÇÃO ....................................................... 23

78.1 STRIP PLANKING.................................................................... 24

7.2 COLD MOLDED ......................................................................... 25

7.3 PLYWOOD ................................................................................. 25

8 MATERIAIS ...................................................................................... 27

8.1 Madeira ...................................................................................... 27

8.2 Compensado .............................................................................. 29

8.3 Cola ............................................................................................ 31

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8.4 Resina ........................................................................................ 31

8.4 Fibra de Vidro ............................................................................. 32

9 ANÁLISE DE SIMILARES................................................................. 33

9.1 Sekani Kayaks ........................................................................... 33

9.1.1 Penache .............................................................................. 33

9.1.1.2 Ootek ................................................................................ 35

9.2 Rob Macks ................................................................................. 36

9.2.1 Shooting Star Baidarka ........................................................ 36

9.3 Guillemot Kayaks ....................................................................... 37

9.3.1 Guillemot ............................................................................. 37

9.4 Tabela Comparativa dos caiaques analisados ........................... 38

9.5 Análise de uso ............................................................................ 39

10 PERSONA ...................................................................................... 40

10.1 Erick ......................................................................................... 41

11 CICLO DE VIDA DO PRODUTO .................................................... 44

12 REQUISITOS .................................................................................. 44

13 CONCEITOS GERADOS................................................................ 48

13.1 Painel Imagético ....................................................................... 48

13.1.1 Inspiração .......................................................................... 49

13.1.2 Desenhos .......................................................................... 52

13.1.3 Palêmon 14 ....................................................................... 57

13.1.4 Característica do Caiaque ................................................. 59

14 PROTÓTIPO ........................................................................... 60

15 DOMÍNIO PÚBLICO ....................................................................... 71

16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 73

REFERÊNCIAS ................................................................................... 75

APENDICE A ......................................................................................... 1

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APÊNDICE B ......................................................................................... 3

APÊNDICE C ......................................................................................... 8

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1

1 INTRODUÇÃO

Uma embarcação, segundo a Marinha do Brasil, nada mais é do que

uma construção, que tenha como objetivo se locomover na água, por meios

próprios ou não, transportando pessoas ou carga. A história da navegação está

diretamente ligada com a antropologia e a descoberta de novos territórios na

qual a barreira, que até então era algo intransponível pode ser vencida com a

utilização de materiais menos densos para transportar seres humanos, víveres,

objetos pessoais através dos mares.

A escolha de uma embarcação é determinada para qual tipo de ambiente

ela será utilizada, qual a capacidade de transporte de carga e sua propulsão.

Para uma embarcação de pequeno porte, saber o tipo de ambiente é

extremamente importante, já que para essas dimensões qualquer alteração no

ambiente, influencia diretamente no desempenho e segurança.

Um caiaque é uma ótima oportunidade para se explorar, tendo em vista

que seu desempenho e modo de fabricação são satisfatório para diferentes

corpos d’água, existe uma enorme possibilidade de arranjos entre casco e

convés que fornecem ao caiaque a versatilidade de navegação, indo do mais

calmo lago às traiçoeiras corredeiras.

É importante frisar que a denominação caiaque oceânico não se trata de

uma modalidade do canoísmo, mas sim, de um estilo clássico de embarcação

desenvolvido pelos povos primitivos do atlântico norte, desse modo, o caiaque

oceânico descrito neste projeto, refere-se a um conjunto de requisitos onde a

prioridade está na similaridade, ainda que em uma escala um pouco menor,

estabilidade e capacidade de transporte de carga.

1.2 Formulação do Problema

Como construir uma embarcação de pequeno porte, individual e segura

utilizando o método de construção strip planking, para navegação em águas

abrigadas e pequenas travessias em mar aberto?

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2 JUSTIFICATIVA

Uma embarcação é um produto ímpar, indo de uma simples peça de

decoração e coleção ao complexo meio de transporte diário. Executar um projeto

naval requer disciplina e conhecimento dos materiais e suas propriedades,

entretanto, segundo Nasseh (2013), descreve que a criatividade para construção

naval é infinita e essencial para descobertas de novas técnicas e materiais.

Uma embarcação miúda, que segundo a Marinha do Brasil configura-se

em uma embarcação de até 5 metros. Hoje é possível encontrar diversos

projetos gratuitos com inúmeras formas de execução, além da infinita

possibilidade de criação, desde que respeite alguns requisitos de flutuabilidade,

impermeabilização correta e cuidados gerais com a embarcação, com esses

requisitos em ordem, a criatividade no campo náutico, especialmente na

construção amadora vem ganhando espaço. Para Nasseh (2013),

independentemente do tipo de construção todas têm que ter responsabilidade,

segurança e utilidade. “A criatividade ocupou e ocupa um papel chave na história

da humanidade. Criativos de todas as épocas, ajudaram a impulsionar a raça

humana com novos métodos e produtos.” (NASSEH, 2013). Ainda sobre o

mesmo artigo, o autor enaltece que “facilitar e simplificar faz parte do mundo

moderno onde você assimila uma quantidade absurda de informações e estas

devem ter algum fim para que sejam aplicadas na vida gerando algo diferente,

novo.” (NASSEH, 2013).

A criatividade nasce também na necessidade de sobrevivência, isso é

de fato mostrado em muitas civilizações que utilizaram as embarcações como

meio essencial para descoberta de novas terras, transporte de carga e para

caça, este último recurso utilizando as embarcações, deu origem a muitas

técnicas e diversos barcos encontrados no mundo. Uma dessas embarcações,

que sofreu uma evolução e um novo emprego foi o caiaque, (qajaq) que

originalmente era usado para caçar nos mares do norte pelos Inuits, e

construídos com materiais disponíveis naquele ambiente hostil: ossos, peles,

madeira, gordura, etc.

Hoje é possível fabricar caiaques como inúmeros materiais e técnicas,

com o avanço da tecnologia e a descoberta de novos polímeros o ser humano

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conseguiu explorar novas formas de concepção. A madeira, por sua vez, é um

dos materiais mais antigos usado na construção naval e até hoje demonstra ser

uma excelente escolha sendo possível usar combinações para, além da função

prática, ter um apelo estético ressaltado.

Para uma embarcação de madeira é essencial que o construtor saiba as

propriedades dos materiais utilizados, na técnica strip planking, toda a estrutura

da embarcação é construída em madeira sobre um cavalete, alinha-se as

cavernas longitudinalmente e só então são postas as ripas de madeira e coladas

adequadamente utilizando cola de madeira e grampos para fixação temporária.

Após a estrutura ficar pronta, inicia-se o acabamento com lixa para

subtrair as imperfeições e, por fim, a embarcação recebe uma laminação com

resina epoxy e fibra de vidro por dentro e por fora para assegurar resistência e

impermeabilização. Os caiaques fabricados em madeira geralmente são, em sua

maioria destinados ao lazer e competições de velocidade.

Ainda que haja caiaques voltados para caça e pesca, a maior parte

dessas embarcações são destinadas ao lazer. O caiaque é, para o próprio

Fridtjof Nansen (1861 - 1930), norueguês, explorador polar, cientista e premiado

com o Nobel da Paz em 1922, de longe o melhor barco que existe para um único

remador.

3 OBJETIVOS

Nos itens abaixo serão abordados os objetivos, gerais e específicos para

realização de um projeto de embarcação miúda utilizando algumas técnicas de

construção naval.

3.1 Objetivo Geral

Desenvolver um caiaque de madeira individual para águas abrigadas

com comprimento entre 12 a 15 pés utilizando técnica de construção naval.

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3.1.2 Objetivos Específicos

a) Fazer um resgate histórico sobre caiaques;

b) Estudar e comparar o processo produtivo envolvendo a madeira.

c) Investigar usuários dessas embarcações assim como especialistas

da área.

d) Estudar sobre design dos caiaques construídos em strip planking;

e) Disponibilizar o projeto para domínio público;

f) Construir um protótipo.

4 MÉTODO UTILIZADO

Um projeto, segundo Amaral, et al. (2006) é um empreendimento com

começo meio e fim bem definidos, com objetivo de criar um produto ou um

serviço bastante delimitado. O método é a forma de como esse empreendimento

será conduzido, otimizando a realização de tarefas e a utilização de recursos,

entretanto o método possibilita uma intervenção para que atinja um desempenho

melhor ao planejado.

O processo de desenvolvimento de produtos (PDP) é o processo pelo

qual uma organização transforma dados sobre oportunidades de mercado e

possibilidades técnicas em informações de valor para a produção comercial. O

objetivo do PDP é criar algo novo e único. Para isso é necessário que haja um

acúmulo de informações necessárias para se criar um repertório na qual seja

possível uma intervenção.

Muito importante para a realização do projeto é ter em mente o

acompanhamento do projeto, “e a busca de equilíbrio entre requisitos muitas

vezes conflitantes, com a duração do projeto, os seus parâmetros de qualidade,

e os recursos necessários.” (AMARAL; et al. 2006. p.151)

O plano do projeto é um documento que agrupará informações relevantes para a execução do projeto. Essas informações são o escopo do projeto, escopo do produto, previsões das atividades e sua duração, prazos e

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orçamentos, assim como os recursos necessários para a realizar o projeto. (IDEM, p.151)

O PDP é dividido em três macro etapas, sendo elas o pré-

desenvolvimento; desenvolvimento e pós-desenvolvimento, estas apresentam

respectivamente suas subdivisões. O trabalho em questão está elaborado da

seguinte maneira, conforme o PDP:

Planejamento – Na qual busca-se delimitados os objetivos do projeto, a

justificativa para o desenvolvimento do projeto, seguida de uma breve descrição

acerca dos assuntos abordados, definição do método a ser seguido, elaboração

do cronograma de trabalho e resultados esperados.

Projeto Informacional – para uma melhor compreensão do tema a ser

estudado, essa etapa é importante para recolhimento e análise de dados

pertinentes ao assunto estudado.

A pesquisa sobre o tema abordado inicia-se pelas fontes primárias que

nada mais é do que artigos, periódicos e bases de dados relevantes para o

projeto em andamento, essas fontes podem ser obtidas por meio de revisões

bibliográficas, opinião de especialistas, vídeos ou qualquer outro meio de

divulgação relevante. “Essas fontes são extremamente úteis para definição de

palavras-chave e identificação dos principais autores e artigos da área.” (AMIGO,

IRITANI & ROZENFELD, 2012)

A lista de artigos referentes ao assunto abordado foi definida com a partir

de pesquisas no Google.com, buscando palavras chaves: caiaque, kayak,

história da navegação, strip planking, caiaque oceânico, canoísmo, entre outras

palavras chaves compostas pelos termos citados; em livros de biblioteca

particular e da Instituição de Educação, assim como qualquer estabelecimento

que possibilitasse o uso de material pertinente à pesquisa. Uma breve conversa

com especialistas Seu Aquiles Tor, Rommel Castro, Danilo Lunardi e Roberto

Geyer foi essencial para que o projeto obtivesse uma direção, e objetivo

concreto. E conversas mais aprofundadas com usuários dessas embarcações:

Adson Loth, Daniel Garcia e Heráclito Antunes da Silveira.

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Os parâmetros básicos do produto, resume-se em duas perguntas: o que

é e para que serve o produto? Amaral, et al (2006) sinaliza que esses parâmetros

precisam ser preferencialmente quantitativos e apresentar metas claras e

inequívocas.

Projeto Conceitual – A parte conceitual do projeto parte de um acúmulo

de informações coletadas na parte informacional, após compreender o assunto

uma série de ferramentas é necessária para auxiliar a etapa como elaboração

de painéis imagéticos, estudo morfológico de caiaques, desenvolvimento de uma

matriz de seleção das alternativas desenvolvidas, modelagem virtual 3d

utilizando SolidWorks, e escolha da alternativa final.

Projeto Detalhado – assume o desenvolvimento e finalização de todas as

especificações do produto para encaminha-lo à manufatura e etapas posteriores,

encerrando a etapa de desenvolvimento deste projeto.

5 AQUILES TOR

A empresa Aquiles Tor, do proprietário, Aquiles Tor, de 64 anos, a

empresa atua em Florianópolis, atualmente com manutenção de barcos.

Fundada por Seu Aquiles, carpinteiro naval de origem Uruguai que reside no

brasil desde meados anos 1980. Seu Aquiles Se formou em carpintaria naval

pela Escola Técnica do Uruguai, aos 14 anos de idade construiu seu primeiro

barco junto com um colega, trabalhou no Puerto Buceo – Montevidéu – Uruguai.

Mudou-se para o Brasil na década de 1980 para trabalhar em São Paulo. Seu

Aquiles é um senhor que tem a técnica e a paixão por barcos desde criança e

um carisma contagiante.

A ajuda do Seu Aquiles foi notável desde o primeiro momento, com a

elaboração do plano para executar a construção de um barco até o tipo de

madeira e corte que deve ser feito para determinadas partes de uma

embarcação. Foi com um exemplar de BRADLEY CLIFF 1963, titulada como

Construccíon de Embarcaciones Pequeñas que se iniciou o projeto. Os

encontros com Seu Aquiles e equipe foi no Iate Clube de Santa Catarina Veleiros

da Ilha – Florianópolis, após alguns dias de conversa sobre experiências vividas,

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7

viagens e construção era a hora de dar início à pesquisa voltada ao caiaque. A

parceria tornou-se uma espécie de consultoria, não importava o dia, e horário,

sempre Seu Aquiles ou alguma pessoa da equipe mostrava-se atencioso.

O caiaque foi construído fora das dependências da empresa, por mim,

meu pai e alguns amigos que, pela curiosidade, acabavam se envolvendo no

projeto, mesmo não estando presente, Seu Aquiles foi, de longe, a pessoa que,

mesmo não me conhecendo apostou sua confiança e seu livro neste projeto e

essas pequenas atitudes é que tornaram o sonho de construir uma embarcação

se realizar.

6 EMBARCAÇÕES

A Marinha do Brasil (2011) define uma embarcação como sendo

qualquer construção, inclusive plataformas móveis, [...] suscetível de se

locomover na água, por meios próprios ou não, transportando pessoas ou

cargas. As embarcações de esporte e recreio são aquelas utilizadas para lazer,

com fins não comerciais.

São classificadas em três tipos, segundo a Marinha do Brasil (2011):

Grande Porte, com comprimento maior que 24 metros; Médio Porte, cujo

comprimento é menor que 24 metros e maior que 5 metros e por fim, as Miúdas,

que são as embarcações menor ou igual a 5 metros, entretanto a Marinha do

Brasil classifica com embarcação miúda, aquelas que possuem comprimento

maior a cinco metros que possuem convés aberto, convés fechado, as sem

cabine habitável e sem propulsão mecânica fixa e que, caso utilizem motor de

popa, este não exceda 30HP.

De acordo com uma publicação feita pelo site Guillemot Kayaks, a força

física atuante em um petroleiro e um caiaque é a mesma, assim com a ciência

por trás destes dois notáveis projetos; o que os tornam diferentes são as metas

que cada um foi projetado a alcançar, por exemplo, o pretoleiro necessita de

deslocamento para transportar cargas extremamente pesadas, atravessar

canais estreitos e enfrenter mares agitados, um caiaque, por outro lado pode ser

projeto para desafiar corredeiras, ondas, grandes travessias e participar de

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competições esportivas. Nota-se, então, que a diferença de um petroleiro

parecer diferente de um caiaque não está na sua forma física, senão o fato de

os dois apresentarem propostas distintas.

6.1 Embarcação e Humanidade

Os rios, lagos, mares e oceanos eram obstáculos que os seres humanos

do passado muitas vezes precisavam ultrapassar. Segundo (SERAFIM, 2006)

primeiro, eles se agarravam a qualquer objeto flutuante, a partir deste ponto,

nasceu a necessidade de descobrir como transformar materiais necessários

para se sustentar sobre a superfície.

Ainda sobre o mesmo autor, com o passar do tempo, cada lugar foi

desenvolvendo uma solução, que dependia do material disponível, como por

exemplo a canoa feita de um tronco cavado; a canoa feita de uma casca de

árvore; jangada de vários troncos amarrados, bote de feixes de junco ou de

papiro; além do bote de couro de animais entre outros materiais encontrados.

É importante mencionar que a primeira expedição marítima realizada

que se tem conhecimento aconteceu há pelo menos 40.000 anos através de

canoas e jangadas rudimentares, realizadas por “grupos de Homo sapiens

sapiens deixaram o continente asiático que se estende então até Bali e Bornéu.”

(CHIESA, 2009 p.10), estes seres humanos atravessaram a remo diversos

quilômetros do arquipélago de Sonda, isso os levou à Austrália e Nova Guiné,

que segundo o autor, formavam uma única terra. O autor menciona que o

povoamento da Polinésia por navegadores do sudeste da Ásia foi realizada muito

mais tarde, há cerca de 5.000 anos para terminar na Ilha de Páscoa em torno de

500 e pela Nova Zelândia por volta do ano 800. No círculo polar ártico, os inuits

desenvolveram os primeiros caiaques de que se tem notícias, usados

principalmente para caça.

Ainda assim, essas soluções primitivas de se locomover sobre a

superfície da água se mostravam um tanto perigosa ou frágil em águas agitadas,

assim como a capacidade de transporte de carga precária. O próximo passo era

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aumentar o controle da embarcação assim como a capacidade de carga, levando

em conta uma rígida estrutura.

No Sec. XV os portugueses investiram todo seu potencial em busca de

comércio com a Índia através do Atlântico, para isso dispuseram inúmeras horas

de trabalho para que uma embarcação pudesse fazer a viagem em segurança.

Surgiram pelo menos três categorias, Serafim (2006) explica que as caravelas

que foram baseadas nos barcos de pesca que existiam na península Ibérica

entre os séculos XV e XVI; foram os navios mais importantes para os

portugueses antes da descoberta do Cabo da Boa Esperança, desde esse

momento, “o transporte de mercadorias por naus passou a ser mais importante”

(SERAFIM, 2006 p15)

As naus possuíam grandes porões para acomodar as mercadorias, um

navio com capacidade de carga enorme, devido a isso, a embarcação não

possuía muitos espaços para peças de artilharia, o que as deixavam vulneráveis

para corsários ou piratas, eis que Portugal desenvolve a terceira peça para jogo

do comércio marítimo, o galeão, eram maiores que as caravelas e

consequentemente carregavam mais peças de artilharia. Os galeões eram

encarregados de escoltar as naus enquanto as caravelas faziam o

reconhecimento do território.

Esses projetos são evoluções de técnicas e de outas embarcações, isso

não ocorreu apenas com Portugal, no Brasil,

“Os barcos muitas vezes feitos de um único tronco de árvore, escavado com admirável precisão, sofreram influências indígenas, mediterrâneas, orientais, africanas, ibéricas e norte-europeias. A chamada canoa baiana, por exemplo tem o casco construído de acordo com modelos indígenas e africanos, quilha holandesa e vela latina.” (IPHAN, 2008 p39).

Por outro lado, “a precariedade da forma com que se dá a transmissão

das tecnologias de construção dos barcos, que variam em cada região.” (IPHAN,

2008. p.45). A mistura de técnicas portuguesas e de povos indígenas “resultaram

em modelos de barcos bem adaptados às condições de navegabilidade em

águas marítimas, fluviais e lacustres, em diversos ambientes regionais.” IPHAN,

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2008. p.45). Amyr Klink, no seu primeiro livro, cem dias entre céu e mar destaca

que “o Brasil é no mundo, o país mais rico em diversidade de estilos, feitios e

técnicas de construção naval primitiva” Amyr Klink (1998. p.5).

6.2 Evolução do caiaque

Baseando-se na Marinha do Brasil, o caiaque configura-se em uma

embarcação miúda e uma forte influência, como destaca Kohnen (1989) quando

se trata de canoagem, sendo pela sua importância como um sofisticado

instrumento de locomoção ou de caça.

De acordo com a Confederação Brasileira de Canoagem, [s.d] a origem

das atuais canoas poderiam, segundo alguns historiadores, terem surgidas com

os antigos egípcios e mais tarde com os astecas, já no séc. III ao IX, estes povos

usavam embarcações propulsionadas com pás. Entretanto, é mais aceito que a

utilização de canoas na América do Norte, utilizando madeira e peles, eram leves

e rápidas, ideal para enfrentar os rios canadenses, já as canoas propulsionadas

com pás, eram utilizadas por indígenas no interior do continente, enquanto os

caiaques eram usados pelos inuits para pesca, caça e transporte de carga.

Os caiaques (Qajag) – bote de caçador – surgiram na Groelândia há

cerca de 3.000 anos, quando os Inuits sentiram a necessidade de procurar no

mar alimentos para sustentar suas famílias, munidos de instrumentos e materiais

rudimentares, foram capazes de desenvolver simples embarcações, pequenas

e bastante ágeis, o que facilitava na caça e pesca (FIGURA 01). Com tempo

instável, temperaturas abaixo de zero e em busca de alimentos para levar para

a tribo, molhar-se, como lembra Kohnen (1989) era fatal, capotar e desvirar sem

se molhar é uma técnica usada até hoje na canoagem que “sem dúvida alguma

o caiaque é a embarcação mais engenhosa que já se inventou” (KOHNEN, 1989

p.12).

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FIGURA 01

Inuit caçando sobre caiaque – FONTE: : Wikipedia.com

Sua estrutura era composta de osso flexível de baleia revestido com

peles de animais costurados com tendões. Os tratamentos utilizados para

melhorar a capacidade dos materiais era a submersão das peles durante longos

períodos, tornando-as impermeáveis (FIGURA 02). Utilizavam gordura de baleia

como calafeto para vedar as uniões das peles e para finalizar e auxiliar na

flutuabilidade, enchiam bexigas de focas e posicionavam-nas à proa e a popa.

FIGURA 02

Típico caiaque groenlandês – FONTE: Wikipedia.com

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Com a necessidade de transportar as famílias, os inuits acabaram

evoluindo o caiaque para o uniaques, no qual eram transportadas tanto as

famílias como os seus pertences e mantimentos. “Algumas destas barquetas

tinham mais de 18 metros”. (BRANCO, FERREIRA & GONÇALVES, p. 08).

Os ingleses inspirados nas embarcações citadas acima, criaram as

groenlandais, que eram embarcações utilizadas para lazer com propulsão a

remos contendo duas pás. Estas embarcações tornaram febre na Alemanha e

outros países na Europa Central.

John Mac Gregor, advogado escocês, segundo a Confederação

Brasileira de Canoagem, (s.d) é considerado o primeiro a utilizar o caiaque em

percursos desportivos, ele desenhou seu próprio barco e foi batizado de ROB

ROY, com este barco, Mac Gregor realizou várias expedições que estão em um

livro chamado Um millier de miles dans lê canoe Rob Roy.

Nos anos 1950, surgiram os rígidos de fibra de vidro e “em 1980 que o

“polietileno de media densidade surgiu como alternativa” (BRANCO,

GONÇALVES, & FERREIRA, 2012 p.09), mesmo tornando as embarcações em

até 20% mais pesadas, o fator preço determinava na escolha. Com a descoberta

de compósitos, como a resina epóxi, fibras de vidro, carbono e aramida a

fabricação de caiaques pôde inovar em formas e técnicas de fabricação.

6.2.1 Características

Mais importante do que em outros casos, no caiaque a relação entre

casco e convés é muito importante. Não somente pelos ventos ou a quantidade

de água que passa pelo convés ou nos bordos. “É a estrutura fechada, feito um

ovo, que torna o caiaque tão versátil. ” (KOHNEN, 1998 p. 21).

Para ter uma noção de como se configura um caiaque, a (FIGURA 03)

mostra as principais partes de um caiaque.

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13

FIGURA 03

Partes de um caiaque. FONTE: laughingloon.com. Modificado pelo autor.

Um caiaque que apresenta um casco com uma linha de quilha reta tem

um comportamento direcional estável, torna-se difícil de manobrar e geralmente

é utilizado para velocidade. Em contrapartida, um casco com linha de quilha

arqueada tende a ter uma melhor performance nas trocas de bordo, ideal para

águas agitadas.

Rocker (FIGURA 04) é a curvatura do casco entre a proa e a popa. O

rocker é proporcional à capacidade de manobra, ou seja quanto maior o rocker,

maior a capacidade de manobrar o caiaque, segundo Dowdy (2012) isso se deve

ao fato de que a proa e a popa tendem a enfrentar menos resistência.

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14

FIGURA 04

Rocker. FONTE: Ilustração do autor.

Um caiaque com fundo plano, ou com menos rocker irá navegar bem

com a proa e terá uma maior resistência na parte da popa, impedindo o giro fácil.

Os caiaques podem apresentar diversos rockers e podem estar deslocado para

a parte da proa ou da popa.

Um convés alto, como salienta KOHNEN (1989) garante uma grande

flutuação e proteção ao canoísta, mas em compensação, a embarcação sofrerá

com os efeitos dos ventos, já um convés baixo, a embarcação não sofrerá com

os ventos, mas em águas agitadas os respingos serão maiores, molhando o

canoísta.

Existem pelo menos 4 tipos básicos de fundo, segundo Dowdy (2012)

cada qual com suas características, são eles: os arredondados (rounded), em

forma de V (v-shaped), plano (flat) e do tipo flutuante (pontoon).

Flat (FIGURA 05) - São empregados para uma variedade surpreendente

de efeitos, que segundo Dowdy (2012) vão desde barcos de competição a

caiaques de pesca. A razão para a escolha deste tipo de fundo parte de outros

fatores, como comprimento, largura e curvatura, Kohnen (1989) e Dowdy (2012)

concordam que cascos flat combinam a estabilidade e manobrabilidade. Um

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15

fundo totalmente plano é caracterizado pela sua estabilidade, geralmente

utilizados em águas abrigadas, uma embarcação com este tipo de casco é capaz

de suportar muito peso.

FIGURA 05

Fundo Flat. FONTE: KOHNEN, 1989.

Rounded (FIGURA 06) - são aqueles com as bordas arredondadas, dando

ao caiaque "uma forma de torpedo" (DOWDY, 2012), esse tipo de fundo tende a

aumentar a velocidade de deslocamento do caiaque, já que apresenta uma

menor resistência à água. Fundos arredondados com deck muito próximo à linha

d'água combinado com uma quilha arqueada é a combinação ideal, segundo

Kohnen (1989) para quem busca descidas em rios de águas agitadas. “São muito

ágeis, insensíveis aos movimentos das águas, permitem incríveis manobras"

(KOHNEN, 1989 p. 21), com deck bastante acima da linha d'água fornece uma

combinação excelente para quem busca estabilidade, velocidade e agilidade.

Kohnen (1989) completa que com uma quilha moderadamente curva, tem-se

caiaques excelente para longos percursos em rios volumosos ou no mar, e

ressalta que são muito fáceis de manobrar ou esquimotar – manobra na qual o

remador rola junto com o caiaque sem precisar sair da embarcação - mesmo

sendo compridos.

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16

FIGURA 06

Fundo Rounded. Fonte: KOHNEN, 1989.

Kohnen (1989) indica que nos fundos mais acentuados os caiaques

tendem a ficar cada vez mais instáveis, porém são fáceis de voltar à posição

normal, é o caso dos cascos em V ou v-shaped.

V-Shaped (FIGURA 07) – de acordo com Dowdy (2012) estes cascos tem

uma forma em V mais nítida em comparação com os cascos rounded, este

design permite que o caiaque corte melhor a água tornando-o eficaz em linhas

retas. São geralmente ágeis, em contrapartida, tornam-se instáveis.

FIGURA 07

V-Shaped. FONTE: KOHNEN, 1989.

Pontoon (FIGURA 08) – A característica mais marcante dos cascos de

flutuação, segundo Dowdy (2012), é a estabilidade. Este casco é uma junção do

fundo flat com uma espécie de túnel.

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FIGURA 08

Fundo Pontoon. FONTE: KOHNEN, 1989 modificada pelo autor.

Figura 09

Relação entre fundo, estabilidade e velocidade. FONTE: Elaborado pelo autor

A Figura 09 tem como objetivo ilustrar o capítulo e demonstrar

visualmente qual a melhor opção para um caiaque equilibrado entre estabilidade

e velocidade.

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18

6.3 Tipos de Caiaques

Os tipos de caiaques estão diretamente relacionados ao meio em que

serão usados, como são inúmeros corpos d’agua, entre eles, rios, lagos, lagoas,

mares e oceanos, os caiaques foram pensados por diferentes pessoas para

diferentes objetivos. Alguns autores classificam os caiaques em seis tipos, como

Branco, Gonçalves & Ferreira (2012), são eles: os de velocidade, rafting, slalom,

polo, maratona e os de mar, ou oceânicos. Já na página da Guillemot Kayaks

aparecem apenas 4 modelos: de recreação ou lagoa, caiaque oceânico, caiaque

duplo e o caiaque de corrida.

Os caiaques citados a seguir, referem-se aos modelos da Guillemot

Kayks devido as suas características, os descritos por Banco, Gonçalvez &

Ferreira (2012) são descritos quanto à modalidade praticada.

5.3.1 Caiaque de recreação ou lagoa

Talvez seja o modelo mais popular de caiaques que existe (FIGURA 10),

com uma gama quase infinita de combinações de casco e convés, sobre esse

modelo, a Guillemot Kayaks descreve como embarcações fáceis de manobrar,

não necessita de muita habilidade por parte do condutor, é confortável e bastante

estável. Estes modelos tendem a serem curtos, para facilitar as manobras e

fáceis de transportar, além disso, o peso também é um fator importante, devido

as suas dimensões o caiaque torna-se mais leve. Não é recomendado para

águas agitadas pelo fato de se tornarem instáveis devido a sua geometria.

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FIGURA 10

Caiaque de recreação ou Lagoa. FONTE: guillemot-kayaks.com [modificado pelo

autor]

6.3.2 Caiaque oceânico

Os primeiros caiaques que se tem notícia surgiram nos mares do norte,

eram originalmente oceânicos, subdivididos em dois grupos, o caiaque

groenlandês e o baidarca (FIGURA 11 e 12). O primeiro tem suas origens do

atlântico, desenvolvido pelos inuits a oeste da Groenlândia, possui os perfis da

roda de proa e popa suaves e convés com maior proteção para o abdômen e

membros inferiores, em contraste com os baidarcas, que foi desenvolvida pelos

inuits das ilhas Aleutas – arquipélago que constituem a península do Alasca,

banhadas pelo Mar de Bering - possui um casco bastante alongado com uma

linha decrescente na popa, Kohnen (1989) suspeita que os groenlandeses

aparentam ser uma embarcação individual, enquanto os baidarcas, eram

construídos para um, dois e até três ocupantes.

Figura 11

Caiaque Groenlandês – FONTE: laughingloon.com/ootek, modificado pelo autor

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Figura 12

Caiaque Baidarca – FONTE: http://laughingloon.com/shootingstar, modificado pelo autor

Para a Confederação Brasileira de Canoagem, 2014, os caiaques

oceânicos são originalmente com casco e convés, no qual o usuário fica sentado

dentro do cockpit fechado, a propulsão é feita através de um remo com duas pás

e as pernas ficam cobertas pelo convés. Os caiaques ainda podem ser

individuais ou duplos, tendo as dimensões mínimas de 4,00m para caiaques

individuais e 5,00m para caiaques duplos, além de não possuírem limites de

largura e peso, podendo ser construídos com qualquer material. Entretanto, os

caiaques oceânicos devem, obrigatoriamente, possuir um compartimento

estanque (FIGURA 13).

FIGURA 13

Caiaque com compartimentos estanque em evidência [Típico baidarca]. FONTE:

laughingloon.com

Os caiaques oceânicos são aqueles que servem para quase todos os

tipos de situações, são eficientes em longa distâncias, mesmo com ventos e

ondas. Em uma página no site da Guillemot Kayaks mostra que os caiaques

oceânicos são geralmente feitos com um cockpit pequeno com uma proteção

para que dificulte a entrada de água, possuem compartimentos para guardar

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21

comida ou equipamento de camping, por exemplo. Devido ao seu comprimento,

esses caiaques são mais pesados do que os de recreio.

6.3.3 Caiaque Duplo

Os caiaques foram desenvolvidos para serem barcos individuais,

entretanto, houveram projetos para mais de um remador, é o caso do caiaque

duplo (FIGURA 14). Tem basicamente as mesmas características dos caiaques

oceânicos, uma embarcação que não exclui a possibilidade de navegar solo, tem

o comprimento e a largura um pouco maior que os caiaques oceânicos, isso é

devido a sua objetividade, ser estável e poder transportar mais carga. Deve

tomar nota quanto a distância entre os remadores, um caiaque que tenha os

remadores muito próximos corre o risco de colisão entre os remos.

FIGURA 14

Caiaque duplo. FONTE: guillemot-kayaks.com [Modificado pelo autor]

6.3.4 Caiaque de corrida

São geralmente caiaques compridos e estreitos (FIGURA 15),

assemelham-se aos caiaques oceânicos e caiaques duplos, mas estes, em

especial, são projetados para cortar a água com mais eficiência e menos esforço.

Um caiaque estreito é sinônimo de instabilidade, deve-se tomar muito cuidado

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22

ao projetar caiaques desse estilo, pois uma geometria de casco extremamente

estreita pode por todo o projeto em decadência.

FIGURA 15

Caiaque de corrida. FONTE: guillemot-kayaks.com. [Modificado pelo autor]

Os caiaques são excelentes veículos marítimos, independente da sua

forma de construção e material, foi com estas embarcações que muitos povos

conseguiram progredir e se alimentar, hoje o emprego que se faz destas

embarcações é mais voltada ao turismo ecológico (FIGURA 16) e esporte.

FIGURA 16

Observação de fauna marinha com utilização de um caiaque. FONTE: Pixabay.com

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23

Os caiaques são utilizados em várias regiões do mundo para explorar

lagos, rios, lagoas, pequenas baías, observar fauna e flora marinho e até mesmo

para travessias oceânicas.

É notável as diferenças entre os distintos tipos de caiaques, um

groenlandês apresenta linha com pouca curvatura, em comparação com o

baidarca, isso promete ao primeiro um melhor desempenho em linha reta, com

uma possibilidade de manobra mais difícil. Os caiaques apresentados até aqui

seguem em um desenho muito semelhante, mas suas finalidades são diferentes,

o que mais se aproxima da proposta deste projeto são os ditos oceânicos e os

de turismo ou de lagoa.

7 MÉTODOS DE CONSTRUÇÃO

Existem diversos métodos para construir uma embarcação, desde

compósitos, materiais recicláveis, madeira, entre outros. A construção de um

caiaque está ligada ao método utilizando a madeira como principal elemento de

estrutura aliada à resina epoxy. “O desenvolvimento da construção em madeira

hoje [...] se tornou possível pela utilização de adesivos a base de epoxy, que

promovem uma completa impermeabilização da estrutura da madeira. ”

(NASSEH, 2011 p.477). Além da impermeabilização da madeira, o autor salienta

que os adesivos a base de epoxy tem a função de fixar diversos tipos de

materiais à madeira.

Os caiaques de madeira são feitos artesanalmente, por profissionais que

conhecem todas as etapas do processo, desde a preparação do molde ao

detalhamento. O processo é iniciado cortando a madeira em ripas (strip) para

depois serem pregadas e coladas sobre o molde removível, após essa etapa o

casco é lixado e verificado para que não haja fissuras entre as madeiras, caso

tenha ocorrido, é passado uma massa para que essa fissura seja consertada. A

parte da laminação externa começa ainda com o casco sobre o molde,

posicionado o a fibra de vidro e aplicando a resina epoxy, após a secagem o

caiaque é desmoldado e laminado por dentro.

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24

O processo de acabamento envolve lixar o caiaque para que não haja

imperfeições no casco e convés, recorte das escotilhas e acabamento das

mesmas. Esse processo é um dos que mais necessitam de atenção, pois

qualquer parte enfraquecida pode causar infiltrações.

78.1 STRIP PLANKING

Segundo Jorge Nasseh (2012), autor do livro Manual de Construção de

Barcos, da Editora, Barracuda Composites, explica que o processo de strip

planking é um método, na qual uma

Estrutura simples de madeira, que pode ser temporária ou permanente no caso de cavernas, anteparas, roda de proa, quilha, e espelho de popa, todos fixados em uma base de madeira de cabeça para baixo. ” (NASSEH, 2011 p.483)

Neste tipo de construção a madeira faz parte ativa da rigidez longitudinal

do casco e as camadas de fibra (Figura 17), aplicadas pela parte de fora, têm

apenas a função de proteger a madeira contra a umidade. Sobre o comprimento

das ripas é importante saber que: “Os strips normalmente são maiores que o

comprimento do barco, o que facilita a curvatura das peças. Juntas de topo nem

pensar! ” (NASSEH, 2001 p. 485. Grifo do autor)

FIGURA 17

Método Strip Planking. FONTE: NASSEH, 2001. Modificado pelo autor.

Sobre a largura das ripas o autor menciona que há dois fatores que irão

determinar sua dimensão: necessidade de prender uma ripa na outra e a

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25

facilidade de curvar na direção lateral, sendo assim, as ripas mais largar a serem

usadas devem ser no máximo 32mm. O autor ainda ressalta que as ripas de

maior largura e espessura são usadas em embarcações maiores que 60 pés.

Fica explicito então que para um caiaque as ripas não devem ultrapassar

os 32mm de largura, e 10mm de espessura, devem ser cortadas de maneira que

ultrapassam o comprimento da embarcação e devidamente coladas e pregadas.

7.2 COLD MOLDED

Este método é similar com o strip planking, o que difere entre eles é que

o cold molded, as ripas podem ser fixadas da maneira que desejar com pregos

ou grampos (FIGURA 18). É preferível que primeira lâmina seja fixada no meio do

molde no ângulo desejado, isso, segundo Nasseh (2011) faz com que os

restantes das lâminas sigam o mesmo caminho da primeira. A segunda

laminação deve ficar em um ângulo perpendicular à primeira, isso garante uma

maior rigidez ao casco.

FIGURA 18

Cold Molded. FONTE: NASSEH 2001. Modificado pelo autor.

7.3 PLYWOOD

Uma das maiores dificuldades presentes neste método são as limitações

que o compensado em relação à forma do casco (FIGURA 19), como destaca

Nasseh (2011), o compensado é excelente para fabricação de peças de convés.

Como é um material previamente laminado e com padrões de dimensão já

estabelecidos usá-lo possibilita uma notável economia de mão de obra.

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Como se torna difícil o manuseio do compensado em curvaturas de

casco, as embarcações que utilizam esse método apresentam cascos com

quinas. “Na maioria dos barcos quinados, todas as estruturas construídas ou

montadas para a sua construção ficarão neles para sempre” (NASSEH, 2011,

p.518)

FIGURA 19

Plawood. FONTE: NASSEH, 2001. Modificado pelo autor

O autor ainda descreve que as cavernas quinadas utilizadas para a

montagem facilitam a montagem das chapas de compensado, já que as quinas

servem como ponto de referência para montagem e localização das cavernas ou

estruturas. Outra diferença na construção de um casco quinado que o autor

ressalta é que a quina deve possuir um suporte apropriado para uma área

potencialmente vulnerável do casco.

“Para a fixação das chapas é necessário saber onde estão as estruturas

[...] isso pode ser feito marcando as posições de todo o cavername na parte

externa do painel. ” (NASSEH, 2011 p.524). Fica nítido que este método é, de

longe, um dos mais complicados para a fabricação de uma embarcação de

pequeno porte. Além da dificuldade em posicionar as chapas, a

instalação do segundo painel se torna um pouco mais complicada devido à dificuldade adicional em fazer a operação de colagem de no mínimo uma junta ao mesmo tempo em que está se instalando o painel. (NASSEH, 2011 p. 525)

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27

A finalização desse método é a parte mais fácil da construção, já que as

chapas formarão o perfil do casco suave e regular o que facilita na hora de lixar

e pintar.

O método de construção mais adequado para a fabricação de um

caiaque ainda é o strip planking, já que atende de maneira eficaz as etapas do

processo e possibilita a curvatura do casco e fundo. O método de moldagem a

frio (cold molded) é uma alternativa já que manterá a rigidez assegurada pelas

ripas e cavernas. Sem excluir o método plywood, este mostra eficiente, e ágil em

uma embarcação com quinas, já que a curvatura das chapas não é primordial.

8 MATERIAIS

Material natural é todo aquele extraído pelo homem da natureza, de

forma planejada ou não, sendo que para a utilização artesanal ou industrial não

tenha havido modificações profundas em sua constituição básica.

Um material natural pode ser orgânico se obtido de um animal ou de um

vegetal, ou inorgânico se obtido de um mineral (LIMA, 2006).

Dos materiais naturais para construir o caiaque, a madeira é sem

dúvidas um dos mais adequados materiais, leve, resistente e abundante, é com

ela que toda a embarcação será feita, o que irá mudar é a espécie da madeira e

espessura. A madeira ainda conta com o auxílio da resina epoxy e fibra de vidro,

que combinadas fornecem a embarcação enorme resistência física, além de

tornar o caiaque impermeável.

8.1 Madeira

A madeira é um dos materiais mais utilizados em construções navais, a

abundancia e o acesso ao material são alguns dos fatores que contribuíram para

seu emprego.

A madeira é o material mais antigo utilizado pelo ser humano,

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28

[...] Sendo até hoje explorada pela facilidade de obtenção, e pela flexibilidade com que permite ser trabalhada. Estes fatores aliados a possibilidade da renovação de reservas florestais por meio de manejos adequados, permite considerarmos este grupo de materiais praticamente inesgotável, se explorada de forma consciente. ” (LIMA, 2006 p.86).

“A madeira possui boas propriedades de resistência específica à tração

e a flexão” (NASSEH, 2011. p.156). Além disso, Nasseh (2011) afirma que

madeira é bastante resistente à fadiga e a concentração de tensões, também

pode-se considerar que este material é um bom isolante térmico e acústico e

completa que um material agradável para trabalhar e ver.

Para Galante, (2003) a madeira é um compósito natural que possui uma

matriz de lignina, na qual se encontram as fibras de celulose, e justamente a

orientação dessas fibras que determina em qual sentido a madeira terá uma

melhor resistência à flexão. Para uma embarcação essa ortotropia, ou seja, a

propriedades mecânicas independentes e únicas nas direções dos três eixos

mutualmente perpendicular – longitudinal, radial e tangencial.

Essa ortotropia natural pode e é utilizada para se acrescentar resistência mecânica à embarcação, de acordo com a utilização que esta terá. [...] as propriedades da madeira são determinadas pela sua composição física e química. Sua principal característica é a estrutura celular [...] composta de aproximadamente 70% celulose, 12 a 28% de lignina e 1% de outros materiais. Esses produtos são responsáveis por sua propriedade higroscópica, sua decomposição e resistência. (SILVA, 2009 apud GALANTE, 2003)

Conforme Galante (2003) as principais características da madeira na

construção de embarcações são de flutuabilidade, durabilidade e com uma oferta

aparentemente inesgotável.

Galante (2003) complementa que no Brasil a madeira teve um papel

fundamental para a integração de áreas inteiras e cita o documentário "Do Tejo

ao Tietê", da Futura Filmes, onde descreve que durante os séculos XVI e XVII o

transporte fluvial era a única opção de transporte de passageiros e cargas.

"Barcos de madeira possuem alma" (GALANTE, 2003).

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Galante (2003) afirma que a indústria naval existe a mais de 7.000 anos

e sua flexibilidade é enorme. Completa que a cada novo projeto naval, serão

levados em conta inúmeros fatores que estarão relacionados com a utilização da

embarcação em questão.

Os caiaques feitos com madeira, segundo BRANCO, GONÇALVES &

FERREIRA (2012), são usados frequentemente como embarcações de turismo,

e priorizam a durabilidade.

“Longe de ser um material do passado, a madeira possui muitas

vantagens que a tornaram utilizável na construção de barcos one-off ou na

produção de séries limitadas. ” (NASSEH, 2011 p.478)

Dentre os tipos de madeiras mais utilizadas para a fabricação de

caiaques, está o cedro rosa (Cedrela fissilis), Carvalho, 2005, comenta sobre a

etimologia, cita Longhi, (1995) em que os indígenas da tribo Tupi-Guarani a

conhecem como acaiacá, que significa árvore-piramidal e, também, como

ygaribá, que significa árvore-das-canoas.

8.2 Compensado

O processo de construção para esta embarcação será a partir da técnica

strip planking, utilizando madeira compensada para a fabricação da estrutura,

que segundo Lima (2006) o compensado foi pensando para diminuir o grau de

deformação que uma peça de madeira plana sofre.

O compensado constitui em sobrepor diversas chapas de madeira

fazendo com que suas fibras fiquem dispostas perpendicularmente entre si. Isto

torna o compensado rígido, resistente à flexão e “estabilidade dimensional pela

eliminação, quase que por completo, os movimentos de dilatação bem como de

utilizar o alburno que normalmente é desprezado nas peças de madeira maciça”

(LIMA, 2006, p100).

O processo de fabricação do compensado consiste em basicamente cola

e prensagem do material, posteriormente e lixar a superfície com o intuito de

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30

fornecer um melhor acabamento à peça. Lima (2006) completa que devido ao

modo de como é fabricado o compensado, a possibilidade de impregnar uma

grande variedade de madeira existentes pode-se encontrar uma boa variedade

de compensados.

São confeccionados com lâminas de madeiras (nobres, não nobres ou mistas) unidas por meio de cola fenólica ou melamínica. [...] Estes compensados apresentam elevada resistência geral, resistência à água, intempéries, chama e por solicitação prévia, podem receber tratamento contra fungos e bactérias, insetos bem como tratamento acústico. (LIMA, 2006, p101)

A maioria das embarcações convencionais são feitas de madeira maciça

e tábuas prensadas para que se forme uma estrutura solida, Nasseh (2011)

enfatiza que a madeira possui excelentes propriedades, especialmente de

resistência que se deve somente a orientação das fibras.

O compensado comercializado em chapas, segundo Nasseh (2011) é

feito com várias lâminas com os veios correndo perpendicularmente à adjacente.

O autor ainda enaltece que “em compensados navais é essencial que sejam

utilizadas lâminas de primeira qualidade e que o adesivo para a laminação

destas seja à prova d’água e resistente à temperatura” (NASSEH, 2011. p. 163).

O compensado naval é comumente utilizado em embarcações de baixo

custo, ainda falando do mesmo autor, Nasseh (2011) afirma que o compensado

naval é forte e rígido, também possui menos chances de empenar em

comparação que uma tábua maciça. O compensado naval em conjunto com a

resina Epoxy consegue preservar todas as propriedades sem desvantagens em

comparação à construção convencional em tábuas.

Para finalizar, Nasseh destaca que o compensado naval mesmo que

tenha ficado esquecido nos últimos anos devido ao desenvolvimento de outros

materiais, ainda é uma alternativa viável, “especialmente quando o preço e a

velocidade de construção são considerados importantes” (NASSEH, 2011. p.

164).

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8.3 Cola

Utiliza-se a cola branca ou cola de madeira (FIGURA 20) para unir as ripas,

ambas são feitas com os mesmos ingredientes, mas a cola de madeira é a

indicada para esse serviço já que as suas propriedades são adequadas. A cola

branca, por sua vez, tem um tempo de secagem superior em comparação com

a cola de madeira, que mesmo sendo da mesma fórmula da cola branca, um

adesivo à base de PVA (Poliacetato de Vinila).

FIGURA 20

Comparação entre as colas. FONTE: Elaborado pelo autor.

Utilizar a cola adequada para colar madeira auxilia a montagem do

caiaque, caso a opção seja utilizar a cola branca, é recomendado que o tempo

de secagem seja respeitado.

8.4 Resina

A resina é um material derivado do petróleo, tem o objetivo de

impermeabilizar, associado à fibra de vidro, torna-se extremamente resistente.

Comumente é utilizada a resina Poliéster.

São sem dúvida as mais comuns para laminação e 90% dos barcos construídos em todo mundo usam este produto. Existe

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32

uma grande quantidade de tipos disponíveis que apresentam as mais variadas combinações de propriedades, cada uma delas desenvolvida para uma aplicação específica. O desenvolvimento contínuo de matérias-primas para a fabricação desse tipo de resina, aliado à pressão sobre o custo final do produto e sua alta demanda, tem aumentado o número de fabricantes e tipos de resinas poliéster comercializadas hoje em dia. (NASSEH, 2012).

A resina ainda precisa ser combinada com um catalisador para acelerar

o processo de cura.

“O tempo de trabalho para resinas epoxy pode variar de 30min a 6h, a

uma temperatura de 25ºC, o que é suficiente para trabalhar com toda calma.”

(NASSEH, 2011 p.477)

A resina poliéster utilizada para impermeabilizar a madeira na

construção naval não é adequada para tal uso. Pode até ser que dependendo

do estado da madeira, como adverte, Nasseh 2011, a impermeabilização dure

algum tempo, mas a resina se desprenderá da madeira em alguns pontos,

quando isso acontece a umidade começa a se infiltrar e saturar toda a estrutura

da embarcação. O alerta sobre a utilização da resina poliéster é notável quando

o autor descreve que:

O construtor deve sempre que possível, mesmo sabendo que o

custo da resina poliéster é infinitamente mais barato que qualquer

outro produto, não utilizá-la em construções de barcos de

madeira, devido ao baixo poder de colagem e baixa resistência à

absorção de água. (NASSEH, 2011 p.479. Grifo do autor)

8.4 Fibra de Vidro

A fibra de vidro é um material de grande importância para construção de

barcos, devido às suas propriedades mecânicas de tração, elasticidade

associada à resina.

A fibra de vidro teve origem na Síria, Grécia e Egito, de acordo com Aymeyer (2013), a aproximadamente cerca de 2500 anos atrás artesãos começaram a produzir fibra através de uma vara de vidro aquecido com a finalidade aplicar sobre a superfície de produtos acabados.

E finaliza:

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33

Poucos materiais superam a fibra de vidro em termos de custo benefício. Barcos construídos com este material tem certamente menos depreciação ao longo do tempo, além de apresentarem incrível resistência a impactos e serem mais leves, tornando a fibra, a melhor opção para construtores amadores, na maioria dos casos. (NASSEH, 2014)

Não existe material melhor ou pior, mais ou menos seguro, mas sim,

projetos de construção mal ou bem feitos. Os materiais devem se ater ao projeto

e suas intenções de navegação, seja esportiva ou apenas passeio, devem ser a

base para que se possa escolher os materiais corretamente. (NASSEH, 2014).

A fibra empregada neste projeto tem o papel de servir como reforço e

junto com a resina agente de impermeabilidade para a embarcação.

9 ANÁLISE DE SIMILARES

A coleta e análise de similares desempenha um papel fundamental na

elaboração das alternativas, com a análise é possível observar linhas e formas

de embarcações, assim como materiais utilizados e ter um repertório imagético

para desenvolvimento de uma alternativa que concretize o objetivo deste projeto.

9.1 Sekani Kayaks

Empresa de Portugal especialista em caiaques de madeira feito à mão.

O empreendimento surgiu como um hobby, depois de tantos elogios, a família

começou a fabricar para terceiros.

9.1.1 Penache

Caiaque groenlandês de cedro vermelho americano (FIGURA 21),

segundo o fabricante, utiliza-se o método strip planking, reforçado com fibra de

vidro e resina por dentro e por fora com acabamento em verniz marítimo e polido.

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34

FIGURA 21

Caiaque de cedro vermelho americano. Fonte: sekanikayaks.com

O caiaque apresenta linhas clássicas, originárias dos típicos caiaques

groenlandeses. Possui um assento em EVA e neoprene na cor vermelha e uma

proteção contra entrada de água no barco em preto.

Um caiaque estreito com um fundo em V na proa bastante acentuado,

associado à largura reduzida o que facilita a passagem na água, uma

embarcação veloz que não sofrerá influência significativa dos ventos. Possui

duas escotilhas, um dianteiro e outro traseiro, o primeiro mantem uma distância

do remador maior que o segundo, isso é devido ao acesso, como o remador se

mantem remando olhando para a proa, o alcance torna-se maior, outro fator

notável para a escolha da escotilha mais à frente se dá pelo comprimento das

pernas (FIGURA 22) dentro do caiaque. Mede 5,6m e pesa 15,8kg, segundo o site

do fabricante.

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35

FIGURA 22

Interior do caiaque Panache. FONTE: sekanikayaks.com

Contém duas alças para transporte posicionadas nas extremidades da

embarcação.

9.1.1.2 Ootek

O Ootek possui um desenho baseado nos caiaques Groenlandeses

(FIGURA 23), feito em madeira por strip planking, tem um comprimento de 5,3m

com apenas 15kg. Uma embarcação leve e manobrável, apesar da acentuação

em V na proa e popa, apresenta um fundo rounded, com suave transição para o

convés.

FIGURA 23

Ootek. FONTE: laughingloon.com/ootek

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36

9.2 Rob Macks

Macks é um designer/construtor no Laughing Loon, onde constroi

canoas e caiaques clássicos utilizando técnicas de strip planking, pode-se

encontrar entre seus trabalhos, dois modelos de caiaques, os badarcas e os

groenlandeses.

9.2.1 Shooting Star Baidarka

Um caiaque baidarca construido em strip plankig, (FUGURA 24) segundo

o próprio site, este caiaque é construido com uma combinação de três madeiras

nobres, cedro americano, mapple e makore – madeira de origem africana similar

à maçaranduba.

O cedro é utilizado para a maior parte da embarcação, apresenta-se em

cores avermelhadas, fazendo contraste com a makore de cor castanho escuro

com bordas em mapple, cor creme.

O cockpit é notavelmente amplo, podendo ter seus prós e contras,

primeiro torna o embarque rápido e a acomodação tende a ser confortável, por

outro lado, com um cockpit maior a chance de respingos aumenta tornando

águas agitadas dias com vento um grande problema.

FIGURA 24

Caiaque Badarca de Rob Macks. FONTE: laughingloon.com

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37

As escotilhas –dianteiras e traseiras - são fixadas com auxílio de ímãs

de neodímio Terras Raras e revestidos com neoprene para impedir a entrada de

água, também foi um dos caiaques mais velozes em 2000. O preço sugerido pelo

caiaque shooting star no site do fabricante é de U$8.900,00.

9.3 Guillemot Kayaks

Nick Schade é construtor de barcos de madeira que são apreciados e

construído em todo o mundo além disso seu trabalho tem sido destaque em

grandes revistas, premios significativos, e exposição em grandes museus.

9.3.1 Guillemot

Um caiaque clássico (FIGURA 21), estilo groenlandês, fabricado com

madeira e laminado com resina epoxy e fibra de vidro, individual e com duas

escotilhas, semelhante ao shooting star

FIGURA 25

Guillemot. FONTE: guillemot-kayaks.com

É um caiaque confortável, e bastante manobrável, segundo o fabricante,

com um deck baixo, esse caiaque tem uma vantagem de estabilidade em dias

com vento de través. Mede 5,2m e pesa quase 15kg, o que demonstra que a

madeira utilizada e a laminação mantém uma embarcação muito leve.

O caiaque possui a proa e a popa inclinadas devido ao seu uso, em

águas agitadas ou com ondas. Um caiaque com menos rocker e aparentemente

fundo rounded.

Os caiaques de madeira da Sekani Kayaks, Guillemot e Rob Macks são

feitos com o método de construção naval strip planking, o que é notável na

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38

disposição das ripas de madeira posicionadas longitudinalmente, são polidos

para realçar o brilho e diminuir o atrito com a água, o que os tornam eficazes em

longas remadas. Há a possibilidade de construir com diferentes tipos de madeira

utilizando o mesmo método de construção, como o modelo de Rob Macks,

chamado de Shooting Star Baidarka.

9.4 Tabela Comparativa dos caiaques analisados

A tabela comparativa serve para auxiliar na análise dos caiaques em

relaçaõ aos materiais e dimensões descritos acima a fim de tornar mais objetiva

a definição de requisitos de produto.

Tabela 01

CAIAQUE

TIPO

MATERIAIS UTILIZADOS

COCKPIT

COMP.

(m)

PESO (kg)

Baidarca Cedro

Mapple

Makore

Resina Epoxy

Fibra de Vidro

1

5,6

__

Groenlandês Cedro

Resina Epoxy

Fibra de Vidro

5,6

15,8

Groenlandês

Cedro

Resina Epoxy

Fibra de Vidro

5,2

14,9

Groenlandês Cedro

Resina Epoxy

Fibra de Vidro

5,3 15

Análise de caiaques.

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39

Todos os caiaques apresentados nesta análise são feitos do mesmo

modo e utilizam a mesma madeira na fabricação. Possuem comprimento

superior a 5m e fundo rounded, com acentuação em V na proa e popa, além

disso é notável a presença de duas escotilhas e alças de transporte na proa e

popa do caiaque.

9.5 Análise de uso

Diferentes das embarcações convencionais, o caiaque é guardado em

casa, ocupando um espaço relativamente pequeno e não gera alterações no

tráfego. São geralmente guardados sobre suportes fixados na parede, em pé e

em último caso posto no chão ou sobre móveis.

O transporte (FIGURA 26) geralmente é feito de carro até o ponto mais

próximo ao embarque, sendo que alguns caiaques, geralmente com dois cockpit

são levados por duas ou mais pessoas devido ao seu peso.

FIGURA 26

Transporte do caiaque. FONTE: Feita pelo autor.

Quanto ao compartimento estanque do caiaque, este se mostra amplo e

seguro, porém é aconselhado levar eletrônicos em um saco estanque para maior

segurança. Em caiaques oceânicos maiores que 5 metros o volume do

compartimento estanque, em alguns casos chega a exceder as necessidades,

Danilo Garcia, que é instrutor ACA Level 4 (open water) e primeiro-socorrista,

planeja e guia expedições oceânicas. Conta que a capacidade de carga do seu

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40

caiaque de 28 kg feito de polímero é de aproximadamente 200 litros, mais que

necessário para uma viagem autossuficiente de até 7 dias, com água. ”

Geralmente os caiaques oceânicos - de polímero, fibra de vidro ou

madeira - utilizam a combinação de duas geometrias de casco (FIGURA 27),

começando pela proa, observa-se um fundo em V acentuado que vai se

transformando em um fundo rounded onde percorre quase toda a embarcação e

finaliza com um fundo V acentuado, com menos rocker e proa e popa inclinadas.

FIGURA 27

Linha de casco do caiaque Panache. FONTE: sekanikayaks.com

Para travessias é importante que o caiaque possua pelo menos um

compartimento estanque para abrigar utensílios de camping, celular, roupas

secas, alimentos e água.

10 PERSONA

Uma persona é um modelo fictício de um usuário ideal para o produto,

são geradas a partir de uma análise que busca características comuns dessas

pessoas, de pesquisas com público alvo.

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41

10.1 Erick

Erick tem 27 anos, solteiro, nasceu em Florianópolis e mora no Ribeirão

da Ilha, é formado em Arquitetura e trabalha com bioconstrução, gosta de se

exercitar em caminhadas ao ar livre acompanhado de sua cachorra, Lilica.

Lilica, foi adotada por Erick ainda filhote, de um abrigo de animais, é uma

vira-lata de porte médio, similar a um Border Collie como mostra a tabela de

raças de Agostini (2009), tabela 02 e que hoje faz parte fundamental da família.

Erick costuma fazer caminhadas e explorar trilhas junto com sua companheira,

mas em algumas situações Lilica precisa ficar sob cuidados de sua vizinha, Ana

já que os meios de transporte não aceitam animais.

Tabela 02

Tabela de porte de cães. FONTE: AGOSTINI, 2009 modificado pelo autor

Florianópolis é uma ilha repleta de trilhas e paisagens naturais

belíssimas, de norte a sul, a ilha guarda segredos, é sobre esses segredos que

Erick se sente motivado a descobrir e cuidar. A Lagoa do Peri, Ilha do Campeche,

Ilha das Vinhas, Ilha das Laranjeiras e Ilha Dona Francisca são alguns dos

lugares na qual Erick e Lilica não estiveram juntos. É raro as vezes em que os

dois passeiam para ilhas, quando acontece é devido a algum conhecido que tem

embarcação e aceita cães a bordo. Por essa inconveniente situação, Erick busca

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42

uma embarcação que possibilite levar Lilica com segurança e a liberdade de

poder voltar quando quiser.

Erick utilizou um stand up paddle (SUP) e caiaque, o primeiro foi um

desastre, já que a estabilidade e deslocamento não cumpriram com o desejado,

já o segundo caso, por mais que Erick não possuísse muita habilidade, teve de

enfrentar algumas dificuldades em uma travessia, mas a segurança que

proporcionou a ele e à Lilica compensou.

FIGURA 28

Painel sobre persona. FONTE: Elaborado pelo autor.

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FIGURA 29

Erick – FONTE: Elaborado pelo autor.

FIGURA 30

O caiaque mais adequado para Erick tem que prezar pela estabilidade e

segurança de seu animal de estimação, com escotilha para mantimentos e

vestimentas.

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44

11 CICLO DE VIDA DO PRODUTO

Assim como qualquer produto, o caiaque também possui um ciclo de

vida, na qual inicia-se na concepção do modelo passando por diferentes estágios

até o descarte.

Seguindo o método PDP, Amaral et al (2006) explica que o cliclo de vida

forncem de modo geral uma descrição da história do produto, desde a

manufatura ao descarte, enaltece que o ciclo não encerra quando a manufatura

ou a venda é finalizada, desde que o fabricante forneça peças e suporte

adequados para que o produto continue em funcionamento.

É importante ressaltar que cada produto possui seu próprio ciclo de vida, que as informações levantadas [...] busca-se definir as fases de ciclo de vida do produto, baseando-se no conhecimento existente sobre produtos similares ou baseando-se nos produtos que o antecederam. (AMARAL et al, 2006 p217).

Apesar disso, o ciclo de vida, como descreve o autor, depende de vários

fatores, dentre os quais se destacam:

tipo de produto que ser projetado; tipo de projeto a ser executado; escala de produção; característica de funcionamento; características de uso e manuseio; serviço de manutenção e filosofia de desativação. (AMARAL et al, 2006 p.217)

O caiaque de madeira é um produto artesanal destinado ao lazer, é

usado por uma pessoa, que utilizando remos, desloca o caiaque na direção

escolhida. A manutenção dessa embarcação deverá ser feita toda vez que o

caiaque for exposto a umidade, salinidade e radiação. É importante que depois

de usá-lo, verificar se há acúmulo de água no interior da embarcação, enxaguar

com água doce e secar à sombra. Caso haja avaria, o caiaque deve ser levado

a um especialista.

12 REQUISITOS

A característica mais notável em um caiaque é seu conjunto casco –

convés. Uma embarcação singular que possibilita inúmeros usos, apesar do

caiaque ser estreito e comprido ele apresenta uma estabilidade notável.

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45

Para este projeto é importante que o caiaque seja estável, ideal para

uma pessoa iniciante na canoagem. O Quadro 01 mostra as necessidades dos

usuários enquanto o Quadro 2, as necessidades do fabricante.

Quadro 01

Estabilidade

Conseguir remar sem se molhar em demasia; Conseguir acessar utensílios sem que o caiaque vire.

Segurança Não acumular água no interior do caiaque; Ter as escotilhas devidamente vedadas; Conseguir transportar o caiaque com segurança até o carro e local de embarque.

Transporte de carga Ter um compartimento na qual consiga levar 4 peças de roupa; Ter compartimento para estocar pelo menos 3L de água; Conseguir transportar um cachorro de médio porte;

Facilidade de acesso

aos objetos do caiaque

Conseguir acessar os pertences com facilidade; Ter acesso direto aos compartimentos do caiaque;

Facilidade de transporte

do produto

Ser transportado por uma pessoa até o local de embarque; Possibilidade de ser carregado em um automóvel.

Resistência do produto Minimizar danos quando houver choque com rochas, sedimentos ou solo.

Tabela de necessidades dos usuários

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Quadro 02

Facilidade de

construção

Possuir gabaritos e desenhos representando encaixes e recortes. Materiais adequados para a construção; Local arejado para manuseio de materiais químicos;

Segurança pessoal Usar equipamento de proteção

individual; Respeitar orientações de fornecedores quanto ao uso de produtos químicos. Verificar se os encaixes entre as ripas estão devidamente alinhados. Possuir partes reforçadas para transporte, colisões ou tensão.

Transporte do produto

Possuir subsídios para transporte em veículos;

Facilidade de acesso

aos objetos do caiaque

Ser possível transportar em um veículo; Conseguir acessar os pertences com facilidade; Ter acesso direto aos compartimentos do caiaque;

Facilidade de transporte

do produto

Possibilitar o transporte por uma pessoa até a água; Alças para transportar o caiaque sobre o carro.

Resistência a impacto Reforçar o caiaque com fibra de vidro.

Resistência a umidade Usar materiais resistentes à água; Impermeabilizar a madeira com resina epoxy.

Tabela de necessidades do fabricante

Com as tabelas de necessidades do usuário e do fabricante, é possível

extrair os requisitos e especificação meta que definirão o projeto Quadro 3.

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47

Quadro 03

Segurança para objetos

Vedação com material emborrachado para escotilhas. Impermeabilização do caiaque por resina Epoxy; Reforço com fibra de vidro.

Transporte do caiaque Possibilidade de ser transportado por, no mínimo 1 pessoa; Possibilidade de transportar em um veículo. Peso máximo 20kg

Resistência mecânica

Reforço com pelo menos mais uma camada de fibra de vidro e resina epoxy; Reforço em emendas e cavernas; Roda de proa de madeira maciça com laminação epoxy; Cadaste de madeira maciça com laminação epoxy.

Quadro 04

Estabilidade

Peso da embarcação

Largura entre 600mm a 800mm; Comprimento entre 4.000mm a 5.2000mm; Fundo Flat; Pesar no máximo 40kg

Facilidade de acesso a

pertences e

mantimentos

Compartimento na proa entre 450mm a 580mm largura x 600mm x 750mm de comprimento; Cockpit com comprimento entre 1500 a 1200mm; Abertura do cockpit superior entre 600mm e 750mm; Escotilha para pertences - água e comida com abertura de 500mm a 700mm x 200mm a 350mm

Facilidade de

montagem do caiaque

Ripas de 30mm x 220mm x 6mm; Ripas planas e uniformes; Fibra de vidro Resina Epoxy

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Cola de madeira Pregos 10 x 10

Resistência a umidade

Reforço com pelo menos mais uma camada de fibra de vidro e resina epoxy; Reforço em emendas e cavernas;

Especificação meta. FONTE: Elaborado pelo Autor

Os dados apresentados são essenciais para o desenvolvimento de

conceitos adequados para uma pessoa que deseja um caiaque seguro e estável,

que consiga transportar com segurança seus pertences, alimentação e seu

animal de estimação. A partir dos requisitos e especificações meta definidos,

parte-se para geração de alternativas e a escolha de uma adequada para o

projeto.

13 CONCEITOS GERADOS

Os conceitos, sketches, renderings e identidade visual do produto

requerem um aprofundamento imagético acerca do tema estudado: caiaque;

madeira; inuit; água, entre outras palavras que lembrem o projeto são pertinentes

ao projeto.

13.1 Painel Imagético

Os painéis imagéticos servem como referências para a elaboração de

sketches e conceitos para a embarcação a ser desenvolvida.

O primeiro painel (FIGURA 31) refere-se à linhas de caiaques já

existentes,

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49

FIGURA 31

Painel imagético – Linhas e simplicidade. Fonte:

Esse painel é dividido em LINHAS e SIMPLICIDADE, como mencionado o

primeiro refere-se à linhas de caiaques de madeira construído pelo método strip

planking, o segundo mostra um pouco da simplicidade da forma tornando a

embarcação um produto refinado e com identidade.

13.1.1 Inspiração

O painel de inspiração (FIGURA 32) foi elaborado com base em imagens

e fragmentos de texto que mais se assemelham ao uso e característica do

caiaque. Viagem, liberdade e processo produtivo bastante artesanal são

algumas das imagens contidas no painel.

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FIGURA 32

Painel de Inspiração. FONTE: Elaborado pelo autor.

O painel misto (FIGURA 33) concentra boa parte de figuras, anotações e

alguns fragmentos textuais que ilustram o conceito de caiaque, uma embarcação

delicada que ao longo da história foi se moldando, buscando sempre atender as

necessidades humanas.

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FIGURA 33

Painel de inspiração misto. FONTE: Elaborado pelo Autor.

FIGURA 34

Painel de inspiração – Identidade. Fonte: Elaborado pelo Autor

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13.1.2 Desenhos

Os sketches são traços provisórios para chegar a uma representação de

um produto. São essenciais para elaboração e análise de modelos, uma vez que

mostram, ainda que de forma trivial como o conjunto se comportará em um

desenho refinado.

Abaixo estão alguns dos sketches gerados para as alternativas de

caiaques respeitando os requisitos de projeto (Figura 35).

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56

Desenhos elaborados para projeto de caiaque.

A partir dos desenhos foi possível determinar uma matriz de seleção

Tabela 03 para a escolha do modelo, essa matriz leva em conta, principalmente

a construção do modelo, um requisito fundamental para quem deseja construir

por conta própria. Sem deixar de lado, estabilidade e segurança contam mais do

que navegação, já que a última depende das duas primeiras.

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Tabela 03

Matriz de seleção. FONTE: Elaborado pelo Autor.

O modelo escolhido foi o desenho número 9, um modelo com um nível

de construção adequado para o projeto, assim como o número 04, mas o fundo

flat do último desenho foi configurado para oferecer uma maior estabilidade, com

isso a navegação ganha ponto e o escolhido está pronto para a próxima etapa,

modelagem tridimensional virtual.

13.1.3 Palêmon 14

O caiaque foi batizado com o mesmo nome do deus grego Palêmon,

divindade cujo poder era de “salvar os homens de naufrágios e eram invocados

pelos marinheiros” (BULFINCH, 2006, p.173). O modelo virtual (Figura 36, 37 e

38) mostra como se tornará o caiaque físico. Tem um papel fundamental na

elaboração e representação volumétrica do desenho.

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FIGURA 36

Palêmon 14 – Ambientação virtual do caiaque e descrição do nome. FONTE: Elaborado pelo

autor.

FIGURA 37

Palêmon 14 – Modelagem 3d. FONTE: Elaborado pelo autor.

FIGURA 38

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Palêmon, modelagem 3d com referencial para noção de dimensão do caiaque. FONTE:

Elaborado pelo autor.

13.1.4 Característica do Caiaque

O caiaque Palêmon 14 conta com o notável espaço para acomodar um

cachorro de médio porte, estabilidade para navegar em águas calmas e escotilha

de popa para transportar objetos pessoais, o caiaque ainda é dividido em três

partes, separadas por duas cavernas, na qual isolam os compartimentos,

impedindo que o caiaque inunde por completo (Figura 39).

FIGURA 39

Painéis sobre madeirite. FONTE: Arquivo pessoal

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60

As escotilhas são presas por elásticos que pressionam a tampa contra a

abertura, aqui não há a necessidade de usar ferragens ou outros meios para

garantir o travamento da escotilha. A entrada de água no compartimento torna-

se difícil pelo simples fato do caiaque, ainda que na sua capacidade máxima de

carga – 240 kg – fica com o convés muito acima da água.

14 PROTÓTIPO

Um protótipo é, segundo o Dicionário Aurélio [s.d] 1. Primeiro tipo ou

exemplar. 2 Exemplar único feito para ser experimental antes da produção de

outros exemplares. Ou seja, o primeiro caiaque a ser produzido para que possa

identificar melhorias para produções futuras.

Para a execução do protótipo foi necessário realizar uma série de

preparativos antes da montagem do caiaque como: os cortes das cavernas para

formar a estrutura do caiaque que foram impressas na proporção 1:1 e coladas

sobre uma placa de madeirite de 15mm (Figura 40).

FIGURA 40

Painéis sobre madeirite. FONTE: Arquivo pessoal

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O caiaque foi construído sobre três cavaletes (Figura 41) que foram

feitos com madeira pinus 70mm x 20mm.

FIGURA 41

Alinhamento das cavernas. FONTE: Arquivo pessoal

A Figura 42 (à esquerda) um gabarito para fazer pressão sobre a

madeira em relação à caverna. Sem isso a ripa tende a não acompanhar o

desenho do casco.

FIGURA 42

Fixação das primeiras ripas (strips). FONTE: Arquivo pessoal

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Os grampos de marceneiro são utilizados para garantir que a emenda

fique firme e se mantenha no mesmo lugar até que a cola esteja completamente

seca (Figura 42 direita).

FIGURA 44

Fixação das primeiras ripas (strips). FONTE: Arquivo pessoal

Os grampos e pregos são essenciais para a montagem do caiaque, eles

garantem que as ripas fiquem presas e devidamente coladas. À esquerda, um

gabarito foi feito para que a ripa acompanhasse a curvatura das cavernas.

O costado começa a tomar forma após a colocação das ripas, à

esquerda, um detalhe do corte em 45º para encaixe da próxima ripa (Figura 45).

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FIGURA 45

Fixação das primeiras ripas (strips) e detalhe no corte em 45º para emenda. FONTE: Arquivo

pessoal

FIGURA 46

Acidente de trabalho. FONTE: Arquivo pessoal

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FIGURA 47

Fechamento do casco. FONTE: Arquivo pessoal. Foto: Mauricio Chagas.

O casco foi finalizado com a ajuda de alguns amigos, Adson Loth e

Maurício Chagas.

Uma das maiores referências em construção naval para esse projeto,

livro Manual de Construção de Barcos do autor Jorge Nasseh. À direita, a

cobertura do convés. É importante ressaltar que a emenda, entre o casco e o

convés não deve ser colado, já que as cavernas sairão após lixar a superfície.

FIGURA 48

Convés. FONTE: Arquivo pessoal.

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O andamento da construção do caiaque manteve-se durante uma

semana, para o fechamento do convés, obteve-se mais uma ajuda, do Adson

Loth, graduando em Artes Visuais pela UDESC, ajudou com algumas dicas de

fixação das ripas e ajustes (Figura 49).

FIGURA 49

Linha do casco e convés. FONTE: Arquivo pessoal.

É normal os pregos e grampos ficarem aparentes nesse processo

(Figura 50). O detalhe para essas ferragens ajuda a entender o quão as ripas

devem estar coladas para ter um bom acabamento.

Assim como a aparência destas ferragens, é normal que quando o casco

for laminado apareçam os furos dos pregos usados na montagem, os furos dos

grampos são tão pequenos que passam despercebidos e não incomodam o

olhar.

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FIGURA 50

Materiais sobre o convés. FONTE: Arquivo pessoal.

A última ripa a ser colada (Figura 51) marca o fim do segundo processo

de modelagem do caiaque, a primeira foi a montagem da estrutura para receber

as ripas e dar forma ao casco, após a última ripa ser totalmente fixada, começa

o processo de retirada das ferragens e tratamento da superfície utilizando as

lixas.

FIGURA 51

Última ripa a ser pregada, aproximadamente 34h50min de trabalho. FONTE: Arquivo pessoal.

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A retirada das ferragens (Figura 52) – grampos e pregos – é feita com o

auxílio de pelo menos três ferramentas: alicate, chave de fenda e martelo. É uma

das atividades mais demoradas, já que alguns grampos ficam no mesmo nível

das ripas dificultando a retirada.

FIGURA 52

Retirada das ferragens do convés. FONTE: Arquivo pessoal.

A lixadeira foi uma das ferramentas de melhor auxílio no processo de

tratamento de superfície (Figura 53). Com uma superfície uniforme, a laminação

acaba ficando sem bolhas o que mantem a rigidez em todo o comprimento do

caiaque.

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FIGURA 53

Preparando a superfície para receber a resina. FONTE: Arquivo pessoal.

O processo de laminação é demorado e trabalhoso, a cura total da resina

é de 24h, com umidade do ar inferior a 80% e temperatura na faixa dos 25ºC. A

figura 54 mostra o casco com laminação externa, as cavernas aparentes serão

fixadas com auxílio da resina e fibra de vidro, formando assim, dois

compartimentos além do acento. Esses compartimentos são vedados impedindo

que, em um acidente, a água inunde toda a embarcação.

FIGURA 54

Preparando a superfície para receber a resina. FONTE: Arquivo pessoal.

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Após a laminação externa e interna curar, deve-se ajustar as cavernas

em seus devidos lugares, colá-las e posteriormente cobrir com o convés -já

laminado e curado, como mostra a Figura 55. Nota-se que a emenda entre o casco

e o convés não foi colada, isso é resolvido com o acréscimo de laminação, interna e

externa com resina, e 2 camadas de fibra de vidro (interna e externa).

FIGURA 55

Preparando a superfície para receber a resina. FONTE: Arquivo pessoal.

Espera-se que o processo de cura se concretize, após esse intervalo são

recortadas as aberturas no convés (FIGURA 56) – cockpit, escotilha de proa e

escotilha de popa – com o gabarito e uma serra tico-tico.

Das aberturas, são reservadas as tampas das escotilhas de proa e de

popa, já que estas duas têm o perfil de corte para o encaixe.

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FIGURA 56

Preparando a superfície para receber a resina. FONTE: Arquivo pessoal.

FIGURA 57

Primeiro teste noturno sob vento sul intenso na Lagoinha Pequena – Florianópolis. FONTE:

Arquivo pessoal.

O teste foi realizado na Lagoinha Pequena, Campeche, com forte vento

sul/sudeste e baixa visibilidade. O caiaque se comportou de maneira magnífica,

com poucas remadas o Palêmon 14 avançou com fluidez sobre, mas devido ao

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vento forte, ele foi arrastado para o norte. Foi impossível vencer a força do vento

com o auxílio dos remos. Lembrando de Kohnen, (1998), caiaques com proa alta

tendem a sofrer com força do vento, mas impedem que a água entre em demasia

no interior da embarcação.

FIGURA 58

Atendimento das especificações meta. FONTE: Elaborado pelo autor

O Palêmon 14 é um projeto singular que expande o conhecimento para

outras áreas além do design, as técnicas utilizadas para a concepção do caiaque

foram adquiridas através de pesquisas e vivências, erros e acertos até que cada

ripa estivesse no seu devido lugar. O caiaque corresponde com as expectativas

e lança um desafio a qualquer pessoa que inicie um projeto dessa magnitude.

Para simplificar, a Figura 58 mostra o caiaque e suas respectivas especificações

meta.

15 DOMÍNIO PÚBLICO

Disponibilizar um projeto acadêmico para domínio público é uma

contribuição para que pessoas com anseio de fabricar seu próprio caiaque

possam realizar esse objetivo.

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O leitor estará seguro quanto à Autorização de Uso e Permissão de Uso,

que Bulamarque (s.d) esclarece:

Autorização de Uso - é ato unilateral, gratuito ou oneroso,

independente de lei, discricionário, sem forma especial, revogável precariamente pela Administração, e que não gera direitos para o particular. Ex.: autorização para ocupação de terreno baldio, retirada de água de fontes não abertas ao uso comum do povo, ou outras que não prejudiquem à coletividade e que só interessem a particulares. Inexiste interesse público. Permissão de Uso (de bem público, e não de serviços públicos) - é ato negocial (porque pode ser feito com ou sem condições, por tempo certo, etc.) unilateral, gratuito ou oneroso, independente de lei, discricionário, revogável precariamente pela Administração e que não gera direitos para o particular, salvo se o contrário se dispuser no contrato. Agora, pela nova Lei 8.666/93, exige procedimento licitatório (artigo 2º). Ex.: permissão para a instalação de uma banca de jornais em calçada, instalações particulares convenientes em logradouros, vestiários em praias,

etc. (BURLAMAQUE, s.d).

Sob esses termos, o projeto torna-se de domínio público, sendo capaz

de ser produzido por qualquer pessoa que utilize dos conhecimentos reunidos

neste projeto de produto. O projeto ainda fica aberto para alterações quanto ao

tipo de madeira a ser utilizada, e resina, mas é aconselhado que a resina seja

epoxy pela capacidade de absorção da madeira.

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16 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os caiaques foram instrumentos de locomoção para caça e

deslocamento de famílias no extremo norte do planeta, teve sua origem com o

povo inuit, que utilizavam materiais extremamente precários para o

desenvolvimento de uma embarcação – ossos de baleia, peles, tendões, gordura

de baleia e bexigas de focas. Com apenas esses materiais o povo inuit passou

a ser referência em construção de embarcações primitivas que posteriormente

foram adaptadas pelo povo europeu para lazer.

Este trabalho mostra a importância do estudo sobre essas embarcações

primitivas e como é possível projetar um modelo autêntico tendo como

referências caiaques tradicionais groenlandeses e baidarcas.

O êxito na conclusão de cada etapa foi crucial para que o projeto tivesse

um proposito e conseguisse atender os requisitos listados, acompanhando a

metodologia escolhida foi possível compreender cada fase do processo para

chegar ao produto final.

Gerar alternativas viáveis respeitando os requisitos de produto associado

ao painel imagético é uma tarefa que exige um esforço considerável. Deve-se

ter em mente as limitações de cada material para que não haja conceitos

descartáveis. A parte estética é peculiar, não presente nos caiaques tradicionais

– baidarca e groenlandês – o caiaque Palêmon 14 foi elaborado com fins

específicos para transportar um animal de estimação, uma vez que o caiaque

geralmente é utilizado para lazer mostra-se viável e eficaz.

O Palêmon 14 só foi possível devido à grande vontade de aprender a

construir barcos, curiosidade pelo tema, e determinação em concluir o projeto.

Sem deixar de citar, a ajuda de diferentes saberes foi de suma importância,

desde os professores envolvidos, equipe da Aquiles Tor, família e amigos que

sempre estiveram presentes.

O Palêmon 14, diferente dos caiaques vistos e analisados nesse projeto,

é o primeiro caiaque fabricado por uma pessoa que até então só conhecia a

teoria, planejar com detalhe cada peça fez com que o Palêmon 14 se

concretizasse, ainda que longe do ideal – feito com cedro rosa, com mais tempo

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para execução de cada etapa e infusão à vácuo – consegue cumprir com seu

objetivo sem dificuldade. É um caiaque ágil e estável, possibilita o transporte de

materiais de camping, roupas e mantimentos e contém dois compartimentos

estanques, isolando o usuário de possíveis inundações e assegurando a

flutuabilidade da embarcação.

Fica como futuros estudos, uma melhor disposição das ripas de

compensado sobre o costado da embarcação, neste projeto as ripas foram

moldadas alternadamente o que não ficou adequado ao projeto, já que, mesmo

com o devido cuidado com a colagem e conformação as ripas tendem a se soltar

e um sistema simples de mastreação, que é possível e interessante para o

caiaque tendo em vista um prévio levantamento teórico sobre disposição do

mastro e confecção e geometria da vela.

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REFERÊNCIAS

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Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo 2011 NASSEH, Jorge. Manual de construção de barcos. 4ª ed. Barracuda Composites: Rio de Janeiro 2011. NASSEH, Jorge. Strip planking em espuma de pvc. 2012. Disponível em:

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APENDICE A

Tabela de materiais usados na fabricação do caiaque e peso

MATERIAL QUANTIDADE PREÇO (R$) PESO (g) [caiaque]

Resina Epoxy 5 Litros 450 5800

Fibra de Vidro 4 oz 20 metros 120 100

Compensado Naval 6mm (Virola) 3 unidades 195 18000

Madeirite 15mm 1 unidade 37 4000

Madeira Pinus 70mm x 30mm x 3000mm 6 unidades 41,9

Lixa 10 unidades 10

Impressão A0 4 unidades 26

Cola para Madeira 1 Litro 13 1000

Grampos de Marceneiro 15 unidades 27

Corte Serralheria 144 unidades 90

Fita Crepe 1 unidade 4,3

Grampo 106 x 6mm 1 unidade 5

Pregos 10x10 1 kg 34,5

Plaina Manual 140mm x45mmm 1 unidade 35

Pack com 5 Lixas Circulares 80 1 unidade 11,9

TOTAL 1100,6 28900

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Tabela de horas trabalhadas na montagem do caiaque.

HORAS TRABALHADAS TEMPO

Transporte 40min

Corte das Cavernas 4h25min

Acabamento dos Paineis 2h40min

Montagem dos Cavaletes 3h45min

Montagem das Cavernas 3h05min

Montagem do Caiaque 5h50min

Acabamento do Caiaque 10h00

Laminação 20h50min

Acabamento da Laminação 12h30

TOTAL 8h30min

Primeiro dia 14h00 - 19h50min

Segundo dia 10h30 - 13h40min 19h40min - 20h30min

Terceiro dia 09h30 - 12h40 19h10min - 20h00

Quarto dia 09h15 - 12h30

Quinto dia 10h00 - 12h30

Sexto Dia 11h00 - 13h00

Sétimo Dia 10h00 - 11h30 19h00 - 22h00

Oitavo Dia 09h30 - 11h00

Nono Dia 19h00 - 21h00

Décimo Dia 09h40min - 12h00 19h00 - 20h00

Décimo Primeiro Dia 09h00 - 10h20

Décimo Segundo Dia 13h00 - 17h50min

TOTAL 44h20min

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APÊNDICE B

Respostas de questionários aplicado à alguns proprietários de caiaque.

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APÊNDICE C

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