instituto de pesquisas jardim botânico do rio de janeiro escola...
TRANSCRIPT
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical
Conhecimento local e uso da floresta em comunidade rural circunvizinha à Unidade de Conservação
no Sudeste do Brasil: uma abordagem quantitativa
Alexandre Gabriel Christo
2009
ii
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical
Conhecimento local e uso da floresta em comunidade rural circunvizinha à Unidade de Conservação
no Sudeste do Brasil: uma abordagem quantitativa
Alexandre Gabriel Christo
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Botânica, Escola Nacional de Botânica Tropical, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Botânica.
Orientação: Dra. Ariane Luna Peixoto Dra. Rejan R. Guedes-Bruni
Rio de Janeiro 2009
iii
Conhecimento local e uso da floresta em comunidade rural circunvizinha à Unidade de Conservação no
Sudeste do Brasil: uma abordagem quantitativa
Alexandre Gabriel Christo
Dissertação submetida ao corpo docente da Escola Nacional de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - JBRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
______________________________________
Prof. Dra. Rejan R. Guedes-Bruni (Co-orientadora)
______________________________________ Prof. Dr. Fábio Pedro Souza de Ferreira Bandeira
______________________________________ Prof. Dr. Haroldo Cavalcante de Lima
______________________________________ Prof. Dr. Inês Machline da Silva (Suplente)
em _____ / _____ / 2009
Rio de Janeiro 2009
iv
C556
Christo, Alexandre Gabriel.
Conhecimento local e uso da floresta em comunidade rural circunvizinha à Unidade de Conservação no Sudeste do Brasil : uma abordagem quantitativa / Alexandre Gabriel Christo. – Rio de Janeiro, 2009.
ix, 120 f. : il. Dissertação (mestrado) – Instituto de Pesquisas Jardim
Botânico do Rio de Janeiro/Escola Nacional de Botânica Tropical, 2009.
Orientadora: Ariane Luna Peixoto. Co-orientadora: Rejan R. Guedes-Bruni. Bibliografia. 1.Etnobotânica. 2. Recursos florestais. I. Título. II. Escola Nacional de Botânica Tropical.
CDD 634.9
v
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
Fernando Pessoa sob o heterônimo de Alberto Caeiro
em “O Guardador de Rebanhos - Poema II”,
escrito na noite de 8 de março de 1914.
vi
"Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande,
fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi" (Fernando Pessoa)
Dedico esta dissertação à Marino e Romilda,
meus pais e primeiros professores,
a quem devo muito do que sou.
vii
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos aqueles que tornaram possível a realização desse
trabalho. Tão logo peço desculpas pelos nomes que, por ventura, esqueci, pois, pela minha
felicidade, muitos são os queridos que me cercam.
Pelo apoio material e financeiro, agradeço:
Ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro pela infra-estrutura e
apoio logístico e à Petrobras pelo apoio financeiro ao Prorama Mata Atlântica, do qual este
estudo faz parte, imprescindíveis ao desenvolvimento do projeto;
À Escola Nacional de Botânica Tropical, por toda sua infra-estrutura e pela vaga
na residência estudantil, essencial para o bom rendimento durante o período de mestrado;
À Capes, pela bolsa de mestrado concedida.
Aos mestres que serviram de fonte de inspiração profissional, pelos conselhos pessoais e
formação científica:
Agradeço especialmente a minha orientadora e amiga Dra. Rejan R. Guedes-Bruni,
que aqui faltariam linhas para expressar todo o meu carinho, admiração e gratidão. A você
devo muito do que sou. Muito mais do que orientar, você sonhou junto e acreditou no
nosso projeto. Aqui deixo o meu muito, muito obrigado!
À Dra. Ariane Luna Peixoto por quem tenho profunda admiração e que, com muito
carinho, aceitou compartilhar seus conhecimentos comigo nesta fase final de orientação.
Obrigado mesmo!
Ao Dr. Ary Gomes da Silva, amigo e grande inspirador. Sempre, com toda a
simplicidade do mundo, me recebeu e compartilhou seus conhecimentos matemáticos e
estatísticos que foram fundamentais para a execução deste estudo. Quando eu for grande,
quero ser igual a você!
E se aqui faltaram palavras para agradecer vocês três, deixo apenas uma frase:
vocês foram fundamentais na minha vida acadêmica.
Aos Professores e colaboradores nas disciplinas cursadas na ENBT pela dedicação
aos alunos durante as disciplinas e fora das salas de aula. Em especial: Adriana Q. Lobão,
Angela S. F. Vaz, Ariane L. Peixoto, Carlos A. Ditadi, Cecília G. Costa, Claudia F. Barros,
viii
Elsie F. Guimarães, Gustavo Martinelli, Haroldo C. de Lima, Helena de G. Bergallo, Jean
Paul Metzger, José F. A. Baumgratz, Lana S. Sylvestre, Leandro Freitas, Marcelo C.
Souza, Márcio S. Werneck, Maria de Fátima Freitas, Marli P. Morim, Nivaldo Peroni,
Rejan R. Guedes-Bruni, Renata Perpétuo Reis, Ricardo Reis, Sebastião J. Silva-Neto,
Sérgio R. Cardoso, Solange Pessoa, Tânia S. Pereira e Tarciso de S. Filgueiras. A todos o
meu muito obrigado!
A todos queles que, de alguma forma, contribuíram para o desenvolvimento da dissertação:
Aos pesquisadores, funcionários e prestadores de serviço do Jardim Botânico do
Rio de Janeiro, que tornaram a realização deste trabalho mais tranquila e prazerosa, em
especial à Kátia (Katita), Nilson e Cristiana (Bilioteca), Rosembergue e Luis Alexandre
(Informática), Rosália (Herbário) e Rachel (Anatomia). Obrigado pela contínua
disponibilidade.
A todos os funcionários da ENBT, especialmente aos secretários Janúzia, Catarina,
Nilson e Diego, muito atenciosos nos momentos em que precisei;
Ao Dr. Rogério Ribeiro de Oliveira leitura crítica das versões preliminares da
dissertação durante as duas disciplinas de Seminários II, pelas correções e importantes
sugestões e, também, pela oportunidade de realização de estágio acadêmico sob sua tutoria;
A Antônio Tavares de Oliveira e Adilson Pintor, antes de tudo grandes amigos, que
estiveram presentes em todas as coletas de campo e que abriram as portas da comunidade
Gleba Aldeia Velha para a execução deste estudo, o meu sincero muito obrigado!
A Rodrigo Varella Mayerhofer, diretor da Reserva Biológica de Poço das Antas,
pelo apoio logístico disponibilizado às excursões para coleta de material botânico;
Aqueles que conviveram comigo, me apoiaram, incentivaram, compreenderam, criticaram,
estimularam, respeitaram...
Aos grandes amigos que fizeram estes dois anos serem inesquecíveis: Alexandre,
Jakeline, Verônica, Robson, Dudu, Ana Luiza, Elaine, Alessandra, Fabiana, João, Gustavo,
Maurício, Nívea, Jacira, Vanessa, Mariana, Luciano, Rafael, Ana Angélica... obrigado,
principalmente, pela grande amizade, pelos importantes momentos de trabalho e
descontração, pelos almoços, pelos conselhos, por terem compartilhado ótimos momentos
que ficarão para sempre guardados em minha lembrança.
A Francisco A. Baroni que se fez presente nos momentos em que eu mais precisei.
Obrigado pelos conselhos, apoio e incentivo, foram muito valiosos.
ix
A Verônica, pelas sugestões, risadas, conselhos, brigas, enfim... A cada dia vejo o
quanto você é especial. Obrigado por tudo!
A Felipe, amigo, parceiro de trabalho e fundamental nos inventários
fitossociológicos. Esse estudo também é seu!
À Inês Machline da Silva, professora, amiga e grande incentivadora dos estudos
etnobotânicos. Obrigado pelos conselhos, pela oportunidade de participar da disciplina de
etnobotânica da UFRRJ e pelos momentos de convívio e troca de experiências.
A Flavio do Nascimento Coelho, amigo, compadre e irmão que eu escolhi. Você foi
um grande inspirador para os primeiros passos na academia. Em ti me espelhei para trilhar
este caminho!
Aos “etnoamigos” que muito contribuíram, ao longo de demoradas (e tensas)
discussões, para o enriquecimento deste estudo: Verônica, Inês, Felipe, Mariana e Rubia.
Valeu mesmo!
A Ruyter, por quem tenho grande carinho, obrigado pelo prazeroso convívio e pelo
suporte na formatação desta dissertação. Valeu mesmo!
Àqueles que, mesmo à distância, sempre torceram, rezaram, acreditaram na realização de
mais esse sonho...
Agradeço imensamente a minha família e amigos, especialmente ao meu pai
Marino, minha mãe Romilda e meus irmãos: Adriana, Fábio, Fabiano e Andréia, que, com
muito carinho e compreensão, entenderam minha ausência durante esse período tão
importante de minha vida.
10
Resumo
Os usos de recursos florestais por comunidade rural são reunidos valendo-se de: (1)
consenso de seis especialistas locais sobre espécies com DAP ≥ 5 cm amostradas em 0,5 ha
de floresta e coletas assistemáticas na área; (2) quantificação do valor de uso (VU) e (3)
análises multivariadas para identificação e verificação de associações entre disponibilidade
de recurso correlacionada ao VU atribuído e características sócio-econômicas associadas à
variação do conhecimento entre os especialistas locais, respectivamente. Na amostragem
assistemática foram identificadas 143 espécies úteis de 39 famílias, destacando-se:
Leguminosae (31 spp), Lauraceae (11), Euphorbiaceae (9) e Bignoniaceae (8). Os
empregos na construção (40,0%), na produção de combustível (21,2%) e na confecção de
ferramentas e mobiliários (17,1%) são os mais expresivos. É evidenciado através da análise
de correspondência canônica (CCA) que o conhecimento acerca dos usos das plantas não é
previsível a partir do perfil sócio-cultural dos especialistas locais. Na amostragem
sistemática foram coletadas 131 espécies, das quais 69 possuem usos reconhecidos,
subordinadas a 29 famílias. Destacam-se: Lauraceae (10 spp), Leguminosae (8), Myrtaceae
(5) e Euphorbiaceae (5). O caule é a parte mais utilizada dos táxons (81,9%), o que, em
maior parte, acarreta na extração integral dos indivíduos e que representa risco para as
populações nativas. Dentre as espécies com maior VU encontram-se: Xylopia sericea,
Lecythis lanceolata, Guarea macrophylla, Jacaranda micrantha e Alchornea triplinervia.
A análise de regressão entre VU e as densidade, dominância e freqüência das espécies nas
parcelas demonstrou que a disponibilidade do recurso não implica na sua importância
cultural. Contudo, existe uma relação significativa entre a riqueza de família e seu valor de
uso (r² = 0,723; F = 70,542; p < 0,01) o que corrobora a hipótese de que a riqueza da
família é caráter preditivo da importância cultural a ela associada. Analisando do ponto de
vista biológico a extração seletiva pretérita, decorrente da ação de madeireiras no norte do
Rio de Janeiro, constitui um dos fatores de redução de populações típicas à floresta, eg.:
Tabebuia cassinoides, Picramnia ciliata, Melanoxylon brauna e Dalbergia nigra. Esta
ação econômica, do ponto de vista social, favoreceu a fixação de conhecimento sobre usos
de espécies arbóreas, ainda que num pequeno segmento da população que responde,
atualmente, pelo reconhecimento destes táxons (especialistas locais). A comunidade rural
reconhece a importância da conservação das florestas da região como forma de resguardar
os recursos vegetais de que fazem uso.
11
Abstract
The use of forest resources by rural communities were gather based on: (1) the consensus
of six local specialists about species with BDH ≥ 5 cm, that were sampled in ≥ 0.5 ha of
forest that were collected by hazard sampling in this area; (2) the quantification of useful
value index (UVI), and (3) multivariate analysis to identify and verify associations
between the resource availability and the estimated UVI and social-cultural attributes of
local specialists associated with their knowledge pattern of plant uses. After sampling, 143
useful plant species were identified, belonging to 39 botanic families, mainly:
Leguminosae (31 spp), Lauraceae (11), Euphorbiaceae (9) e Bignoniaceae (8). Plant uses
in building (40%), in biofuel production (21.2%), and in manufactures of tools and
furniture (17.1%) were the most expressive ones. The Canonical Correspondence Analysis
(CCA) had evidenced that the knowledge about plant uses was not predictable on the basis
of socio-cultural attributes of local specialists. Among 131 species, under 29 families that
were collected by systematically sampling, 69 had recognized utilities. The most important
families were Lauraceae (10 spp), Leguminosae (8), Myrtaceae (5) e Euphorbiaceae (5).
The steam is the most useful part of the identified taxa (81.9%), what leads to total
individual extraction and endangers that native plant populations. Among plant species
with majou UVI were: Xylopia sericea, Lecythis lanceolata, Guarea macrophylla,
Jacaranda micrantha, and Alchornea triplinervia. Simple regression analysis of UVI
predicted by plant density, dominance, and frequency of species in quadrats had shown
that the resource availability do not determine its cultural importance. However, there is a
highly significant relationship between the family richness and UVI (r² = 0.723; F =
70.542; p < 0.01), what support the hypothesis that family richness is a predictor for plant
cultural importance. At the biological sight, the ancient selective tree gathering made by
logger companies from northern Rio de Janeiro was one of the most important factors of
decreasing in forest typical plant populations, e.g. Tabebuia cassinoides, Picramnia ciliata,
Melanoxylon brauna e Dalbergia nigra. On the other hand, at the social sight, that
economical activity had favored the establishment of the knowledge on the use of tree
species, even in a small population segment that can identify those taxa (local specialists).
The rural community recognizes the importance of the forest conservation in that region as
a way to save the plant resources that they use.
12
Sumário
Resumo .......................................................................................................................... 10
Abstract .......................................................................................................................... 11
Introdução Geral ............................................................................................................ 14
Revisão de Literatura .................................................................................................... 19
Artigo I - The structure of the shrub-arboreal component of an Atlantic Forest
fragment on a hillock on the central lowland of Rio de Janeiro, Brazil ........................ 24
Abstract ................................................................................................................. 25
Resumo .................................................................................................................. 26
Resumen ................................................................................................................ 27
Introduction ........................................................................................................... 28
Materials and Methods .......................................................................................... 29
Study Area .................................................................................................... 29
Methodological Procedures .......................................................................... 29
Results and Discussion .......................................................................................... 32
Conclusions ........................................................................................................... 46
Acknowledgements ............................................................................................... 47
References ............................................................................................................. 48
Artigo II - Local knowledge and use of Atlantic Forest resources by a rural
community in southeastern Brazil: a quantitative approach ......................................... 52
Abstract ................................................................................................................. 53
Resumo .................................................................................................................. 54
Introduction ........................................................................................................... 55
Materials and Methods .......................................................................................... 56
Study Area .................................................................................................... 56
Methodological Procedures .......................................................................... 58
Results and Discussion .......................................................................................... 61
Conclusions ........................................................................................................... 75
Acknowledgements ............................................................................................... 76
References ............................................................................................................. 77
13
Artigo III - Uso e diversidade de espécies arbóreas nativas em comunidade rural
adjacente à Unidade de Conservação no Sudeste do Brasil: uma abordagem cultural .. 80
Resumo .................................................................................................................. 81
Abstract ................................................................................................................. 82
Introdução ............................................................................................................. 83
Material e Métodos ............................................................................................... 84
Área de Estudo ............................................................................................. 84
Procedimentos Metodológicos ..................................................................... 86
Resultados e Discussão ......................................................................................... 88
Conclusões ............................................................................................................ 102
Agradecimentos ..................................................................................................... 103
Referências Bibliográficas .................................................................................... 103
Considerações Finais ..................................................................................................... 106
Referências Bibliográficas Gerais ................................................................................. 108
Anexos
Ficha de dados do informante ............................................................................... 111
Fotos ...................................................................................................................... 113
14
Introdução Geral
A conservação da biodiversidade representa um dos maiores desafios deste início
de século em função do elevado número de intervenções antrópicas nos ecossistemas
naturais. Na Floresta Atlântica, por exemplo, a maior parte dos remanescentes florestais,
especialmente em paisagens intensamente cultivadas, encontra-se na forma de fragmentos,
muitas vezes, altamente perturbados, isolados e pouco protegidos (Viana 1995).
A Floresta Atlântica encontra-se entre os cinco primeiros ecossistemas da lista dos
hotspots mundiais, definidos como áreas de alta diversidade biológica, elevadas taxas de
endemismo e sob forte ameaça à sua integridade, tornando-as prioritárias para ações de
conservação (Myers et al. 2000).
Neste cenário, imersas nesta matriz antrópica, encontram-se as comunidades rurais
que, através dos cinco séculos de ocupação e uso do solo do país, desenharam um modelo
de classificação e utilização dos recursos naturais para sua própria sobrevivência bem
como formas de expressão e reprodução do seu sistema cultural.
A acelerada perda de extensas áreas verdes decreta ao desaparecimento desse
conhecimento sobre o ambiente natural. Este fato não só justifica, mas também induz que
estudos etnobotânicos sejam desenvolvidos. Resgatar o conhecimento tradicional acerca
dos recursos vegetais, transmitido de forma oral, de geração a geração, por parte das
comunidades rurais que residem no interior ou às margens das Unidades de Conservação
(UCs), deve constituir uma das ações prioritárias para a inserção dessas comunidades como
importantes atores no processo de conservação da diversidade biológica.
As UCs ou áreas naturais protegidas são um importante instrumento dentro da
política nacional, pois possibilitam ordenar o desenvolvimento de uma região através de
porções de território, intensamente utilizados pelo homem, com áreas destinadas à proteção
dos processos naturais em diferentes estágios. As características do ecossistema e as
formas de sua utilização, de acordo com sua categoria proposta pelo Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC 2002), contam com diferentes níveis de restrições às
atividades humanas, podendo ir de áreas de proteção integral até as de uso sustentável.
A presença de moradores nos arredores das UCs, sobretudo quando suas
propriedades ou posses fazem limites ou sobrepõem-se às áreas de UCs, geram frequentes
expectativas de conflito de interesses e, em situações extremas, de litígio entre as partes. O
15
senso comum, desde a década de 70, de que as UCs teriam suas áreas reduzidas pelas
bordas e de que com o passar do tempo representariam, para diferentes setores, áreas
improdutivas e, por conseguinte, potenciais à produção agropecuária, agravada nos anos 90
pelas invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acabou por
gerar uma relação de desconfiança ainda maior entre as populações circunvizinhas às UCs
e o setor ambientalista (Christo et al. 2006).
A presença humana em UCs continua sendo um dos pontos polêmicos quando se
trata de conservação ambiental no Brasil, pois a implantação e salvaguarda de parques
naturais seguem o modelo norte-americado, cuja ideologia visa a manutenção de partes da
natureza intocada, impedindo, assim, a permanência de população humana em seu interior
(Diegues 2000).
Muitas unidades de proteção integral como, por exemplo, as Estações Ecológicas,
Reservas Biológicas e Parques Nacionais, por exemplo, que não permitem a coexistência
de populações humanas dentro dos seus limites, foram estabelecidas em áreas particulares
ou comunais. Nesses casos, a lei brasileira prevê a desapropriação dessas terras
particulares o que, muitas vezes, efetivamente não acontece, devido aos procedimentos
necessários para a compra das terras e realocação das populações serem extremamente
dispendiosos e, igualmente, morosos.
Essa discussão sobre as relações existentes entre as comunidades tradicionais ou
locais e as áreas naturais protegidas tem sido objeto de estudo de diversos autores, como
Diegues (1995), Beduschi-Filho (2002), entre outros.
De maneira geral, as práticas tradicionais dos produtores agrícolas na utilização da
queimada para preparação do solo, o hábito da caça, a extração de lenha, tanto para
consumo próprio como para comercialização, bem como a expansão dos limites de
propriedade decorrentes, muitas vezes, da fragilidade do sistema de fiscalização,
resultaram numa expectativa negativa em relação às comunidades vizinhas às UCs (Christo
et al. 2006).
Mas existem autores que relatam outro ponto de vista, como Larrère et al. (2003)
que tratam da biodiversidade, sob o ponto de vista interativo, entre as ciências da vida e as
ciências sociais. Estes autores incentivam os leitores, à luz de diferentes pensadores, a
desenvolverem reflexões que considerem questões como: a biodiversidade é resultante da
interação entre processos naturais e atividades humanas ocorridas numa longa escala
temporal; as atividades humanas não são, necessariamente, desfavoráveis à diversidade
biológica; a conservação, por sua vez, não se restringe, unicamente, à natureza, mas
16
também à cultura e, ainda, que a biodiversidade, assim como a diversidade cultural, são
duas faces da mesma moeda. Reconhecem que as ações implementadas, de forma
aparteada entre os especialistas envolvidos na temática, acabaram por favorecer
interpretações equivocadas. Um exemplo seria o de que a proteção da natureza, ainda que
sobrepujando a proteção da diversidade cultural, poderia ser feita contra as populações
locais (e não com elas) mesmo que para seu cumprimento fosse necessário, até mesmo,
expulsá-las de seus territórios.
Na perspectiva de avaliar o conhecimento sobre o uso de espécies vegetais nativas
por comunidades rurais que vivem no entorno de UCs, foi estudada a comunidade Gleba
Aldeia Velha, composta por cerca de 60 núcleos familiares e localizada no entorno da
Reserva Biológica de Poço das Antas (Rebio), parte central-costeira do estado do Rio de
Janeiro, no município de Silva Jardim, distando cerca de 130 km da capital do referido
estado (Christo et al. 2006). A comunidade possui aproximadamente 30 anos e foi
estabelecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para
assentar famílias rurais. Uma parte dos moradores outrora era residente em áreas que
compõem hoje a Rebio e detém parcela significativa do conhecimento histórico da região
tendo alguns, inclusive, acompanhado seu processo de criação. Outros são oriundos de
diferentes áreas do estado do Rio de Janeiro, principalmente da região norte fluminense,
onde houve um declínio da produção sulcro-alcooleira, fazendo que muitas famílias rurais
migrassem para as proximidades da Rebio.
A Rebio, com cerca de 5.000 hectares, abriga uma das últimas manchas de floresta
na baixada fluminense. Possui grande faixa de vegetação arbórea típica à Floresta
Ombrófila Densa submontana e aluvial em diferentes estados de maturidade (Guedes-
Bruni 1998).
A Rebio foi estabelecida a partir da desapropriação de três propriedades rurais:
Fazenda Poço D’Antas, Fazenda Bandeirantes e Fazenda Boi Branco. O nome da Rebio
deve-se à estação ferroviária existente em seu interior e ao lugarejo de mesmo nome - Poço
D’Antas (IBAMA 2003). Na época de sua criação, em 1974, existiam ainda na área 35
posseiros que praticavam agricultura de subsistência e criação de pequenos animais, os
quais foram indenizados e retirados da unidade. As frutíferas encontradiças no interior da
Rebio constituem testemunhos vivos das antigas roças cultivadas. À retirada da vegetação
na baixada e à subseqüente produção de lenha para os fornos de olarias e padarias,
sobrevinha o cultivo de banana na região, especialmente para a produção de doces. As
indústrias beneficiadoras, ali estabelecidas, tiveram, no passado, importante papel para a
17
economia local e cuja demanda resultou na exploração de espécies arbóreas para uso da
madeira no fabrico de caixotaria para acondicionamento dos produtos. Esta atividade
gerava renda para os residentes das comunidades rurais estabelecidas nas adjacências da
Reserva, o que, juntamente com o aproveitamento seletivo de espécies de uso medicinal, e
essencialmente extrativista, podem ser identificados como os principais fatores para a
diminuição das populações vegetais nativas.
Partindo da premissa que a conservação não se restringe, unicamente, à natureza,
mas também à cultura (Larrère et al. 2003), neste estudo buscou-se: 1) descrever a
estrutura vertical e horizontal de um fragmento florestal localizado no entrono da
comunidade, verificando sua similaridade com outros fragmentos da região; 2) registrar as
espécies reconhecidas como úteis pelos informantes (aqui denominados especialistas
locais); 3) identificar se especialistas locais, que tiveram maior proximidade com as
atividades madeireiras, ali estabelecidas entre as décadas de 70 e 80, detêm maior
conhecimento sobre o uso de recursos vegetais; 4) verificar qual a contribuição de
características sócio-econômicas (idade, tempo de residência, renda e escolaridade) para o
conhecimento associado ao reconhecimento e uso das espécies arbóreas nativas; e 5)
avaliar a associação entre o valor de uso das espécies, atribuídas pelos especialistas locais,
e a disponibilidade do recurso vegetal no ambiente natural (obtida pelos valores de riqueza,
freqüência, densidade e dominância).
Os resultados obtidos são apresentados em três artigos. O primeiro sob o título:
“The structure of the shrub-arboreal component of an Atlantic Forest fragment on a
hillock on the central lowland of Rio de Janeiro, Brazil”, descreve a estrutura horizontal e
vertical de um fragmento florestal localizado nos limites da comunidade Gleba Aldeia
Velha e avalia sua similaridade com outros fragmentos presentes no município de Silva
Jardim.
O segundo artigo, cujo título é: “Local knowledge and use of Atlantic Forest
resources by a rural community in southeastern Brazil: a quantitative approach”,
correlaciona valores de uso atribuídos por seis especialistas locais que, cujas entrevistas,
uma por vez, foram realizadas nas parcelas estabelecidas no interior do fragmento. Neste
artigo, as espécies (considerando densidade, freqüência, dominância e riqueza das famílias
encontradas) são avaliadas segundo sua importânica cultural (expressa pelo valor de uso
atribuído).
O terceiro artigo, “Uso e diversidade de espécies arbóreas nativas em comunidade
rural adjacente à Unidade de Conservação no Sudeste do Brasil: uma abordagem
18
cultural”, faz uma análise do conhecimento acerca das espécies arbóreas reconhecidas
como úteis, presentes em três fragmentos no entorno da comunidade, contando com 10
especialistas locais. Analizou-se as características sócio-econômicas que poderiam
influenciar num maior ou menor conhecimento sobre as espécies, empregando para tanto
análises multivariadas.
19
Revisão de Literatura
Estudos etnobotânicos visando não só a relação do homem com a floresta, mas
também, a análise de populações naturais de espécies vegetais associadas aos impactos
oriundos do uso e manejo por populações humanas, têm sido realizados por diversos
autores Prance et al. 1987, Phillips & Gentry 1993a, 1993b; Hernandez et al. 2005; entre
outros), os quais têm contribuído para o manejo de espécies úteis, bem como subsidiado
ações para conservação de espécies cujas populações encontram-se ameaçadas. Para tanto,
metodologias que buscam compreender as relações existentes entre o homem e o
ecossistema, assim como quantificar a importância de uso de seus recursos, têm sido
utilizadas.
Através desses estudos pode-se responder a questões, tais como: quais espécies são
reconhecidas como úteis; como se dá o acesso a este recurso, sua disponibilidade e se a
espécie sofre (ou poderá sofrer) pressão de extração; como o conhecimento tradicional está
distribuído e como se dá sua transmissão nas populações humanas; como os indivíduos
diferenciam e classificam a vegetação e como a manejam; quais os benefícios econômicos
gerados por estes recursos vegetais; e quais os processos de seleção e domesticação de
espécies cultivadas. Os estudos etnobotânicos, assim concebidos, podem contribuir para o
desenvolvimento planejado da região onde os dados foram coletados (Alcorn 1995).
Para Galeano (2000), somente nas últimas décadas o desenvolvimento e aplicações
de métodos quantitativos em etnobotânica receberam maior atenção. Phillips & Gentry
(1993a, b) buscaram abordagens quantitativas e estatísticas para os dados de levantamentos
etnobotânicos, de forma a proporcionar o uso de testes de hipóteses e de técnicas de
estimativas de parâmetros, ao mesmo tempo em que defenderam a adoção do valor de uso
(VU) como uma variável quantitativa capaz de refletir a importância de cada espécie.
Ainda para Galeano (2000), é importante que a avaliação do VU seja feita por categorias
de uso para que assim reflita o manejo aplicado à floresta pela comunidade e possibilite
identificar as espécies objeto de coletas destrutivas.
A utilização do VU de espécies vegetais se iniciou com o estudo de Prance et al.
(1987), que realizaram inventários fitosociológicos em quatro áreas indígenas na floresta
amazônica: Ka’apor e Tembé (Brasil), Chácobo (Bolívia) e Panare (Venezuela), utilizando
parcelas de 1 ha para amostragem da vegetação, com todos os indivíduos com dap
20
(diâmetro à altura do peito) ≥ 10 cm marcados, coletados e identificados para posterior
análise de dados etnobotânicos. Para a realização do cálculo do VU, procederam à
categorização dos usos indicados pelas populações indígenas estudadas sob os termos:
comestível, material de construção, tecnologia, remédio, comércio e outros usos. “Outros
usos” incluem plantas utilizadas em rituais mágicos, brinquedos para crianças, bebidas
fermentadas e perfumes. Estimaram o VU conforme a importância cultural de cada
espécie, avaliando o seu maior ou menor uso, atribuindo valores de 1,0 ou 0,5,
respectivamente, para cada cultura. O somatório desses valores para cada espécie, em cada
sistema cultural, influi no VU da espécie.
Adotando a mesma metodologia, outros autores se empenharam em avaliar VU da
floresta por populações não indígenas. Piñedo-Vasquez et al. (1990) realizaram um
inventário etnobotânico em Loreto, Peru, onde observaram que 60% de todas as espécies
inventariadas possuíam algum uso e, entre estas, se destacou Unonopsis floribunda Diels
(Annonaceae) que atingiu o valor máximo (3,5) e com versatilidade de quatro usos. As
famílias mais importantes, segundo o uso, foram: Annonaceae (20,0), Arecaceae (18,0) e
Mimosaceae e Sapotaceae (12,0 cada).
Shanley & Rosa (2004) desenvolveram um estudo no Pará, Brasil, onde observaram
o uso para 60% das espécies inventariadas em 1 ha de floresta e concluíram que a
comunidade estudada possui um alto índice de espécies utilizadas como madeireiras, em
detrimento ao uso de espécies não-madeireiras, o que poderia acarretar sérios riscos à
conservação. Além disso, observaram a diminuição de espécies para fins tecnológicos e
reportaram a declaração de que várias espécies eram utilizadas no passado, mas, que no
momento da realização da pesquisa não eram mais, o que foi considerado uma evidência
da perda acelerada do conhecimento tradicional sobre o uso de recursos vegetais.
Com a introdução de uma nova técnica quantitativa, Phillips & Gentry (1993a)
refinaram ainda mais o estudo do VU das espécies florestais pelas comunidades locais. Na
equação proposta pelos autores, se considera o somatório de usos mencionados pelo
informante dividido pelo número de entrevistas realizadas com este mesmo informante.
Deste modo, obtém-se o VU de uma determinada espécie para um dado informante. O VU
total da espécie é então obtido pelo somatório dos VU desta mesma espécie por cada
informante, dividido pelo número total de informantes que a citaram. Os autores
apresentam, também, um estudo comparativo entre diferentes metodologias para o cálculo
de estimativa de valores culturais das espécies utilizadas. Neste estudo realizado em
Tambopata, Peru, os autores testam diferentes hipóteses onde buscaram comparar o uso
21
das espécies e famílias, em suas diferentes categorias de uso, além de identificar famílias
merecedoras de maior esmero no que tange a programas de conservação devido à sua
excessiva utilização. Um segundo estudo, realizado pelos mesmos autores (Phillips &
Gentry 1993b) objetivou testar a associação entre a importância das categorias de uso,
expressa pelo seu VU, à idade dos informantes, à riqueza de espécies nas respectivas
famílias e, também, aos seus descritores estruturais.
Phillips et al. (1994), em estudo também realizado em Tambopata, Peru, utilizaram
a mesma metodologia proposta por Phillips & Gentry (1993a, b) para avaliar o uso e a
associação entre seis unidades florestais distintas. Reconheceram ser este um bom índice
para comparações entre estudos quantitativos.
Em Chocó, Colômbia, Galeano (2000) registrou 89 usos para as espécies ocorrentes
em 1,8 ha de floresta amostrada. Observou que 62,8% das espécies possuem algum tipo de
uso, cuja maior parte relaciona-se às atividades de subsistência, sendo que os mais
importantes envolvem a extração seletiva de madeira para construção, lenha e material
para aplicações tecnológicas. As análises demonstraram que o uso de espécies e famílias
dependem de sua abundância. Lauraceae, Annonaceae e Sapotaceae foram as famílias com
VU muito acima do esperado, sugerindo que as espécies subordinadas a essas famílias,
provavelmente, estão sendo sobre-explotadas.
Em Quintana Roo, México, Torre-Cuadros & Islebe (2003) examinaram o
conhecimento ecológico tradicional da comunidade local, avaliando o uso de dois
fragmentos florestais em diferentes estágios sucessionais, buscando entender a
classificação da vegetação e a importância das espécies, expressas através do VU.
Concluíram que nem todas as espécies são usadas de acordo com sua disponibilidade no
ambiente natural e que o uso e manejo do recurso pode gerar um impacto tanto positivo
quanto negativo à sustentabilidade do sistema.
No Brasil, poucos estudos têm sido realizados valendo-se do VU e relacionando-o à
abundância das espécies nos sistemas naturais, dentre os quais destacam-se: Albuquerque
et al. (2005), Cunha & Albuquerque (2006) e Ferraz et al. (2006), todos realizados no
nordeste do país.
Albuquerque et al. (2005) verificaram que áreas perturbadas não detêm a
preferência das pessoas, e que isso pode estar relacionado com a disponibilidade temporal
dos recursos (adaptação à estacionalidade do tipo vegetacional) e à permanência dos
valores culturais dos conhecimentos básicos sobre as plantas de vegetação nativa, as quais
são de maior importância para a comunidade. Reconheceram dentre as espécies mais
22
importantes para a comunidade local: Myracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. All.,
Schinopsis brasiliensis Engl., Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud., Caesalpinia
pyramidalis Tul., Croton argirophylloides Muell Arg. e Anadenanthera colubrina (Vell.)
Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul, as quais atingiram valores de importância (VI)
superiores a 1,0. Comparando seus dados com outros estudos, sugerem que existem
diferenças nos padrões de uso e de conhecimento de recursos vegetais nas regiões tropicais
e que a farmacopéia da Caatinga, bioma estudado, é caracterizada por um grande número
de espécies de uso medicinal.
Ferraz et al. (2006) em Pernambuco identificaram oito categorias de uso para as
espécies locais, atribuídas a 34 espécies, dentre as quais destacaram-se, com maiores VU,
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore, com 6,44 para os
informantes-chave e 4,10 para a comunidade em geral; Anadenanthera colubrina (Vell.)
Benan. var. cebil (Griseb) Altschul., 4,81 para os informantes-chave e 3,53 para a
comunidade em geral e Schinopsis brasiliensis Engl., 4,25 para os informantes-chave e
4,47 para a comunidade em geral. Indicaram, ainda, que o maior número de espécies
conhecidas é utilizado para forragem, embora o maior componente do VU total tenha sido
as construções rurais. Concluíram que a importância das formações ciliares não se
restringe à conservação dos recursos hídricos e ao atendimento das necessidades da
comunidade local, mas também como garantia de perpetuação das espécies restritas a esses
ambientes. Assim, observaram que, como não há relação entre os parâmetros
fitossociológicos que descrevem a estrutura da vegetação lenhosa às margens do riacho do
Navio e a importância relativa das espécies representadas pelo VU, não se pode afirmar se
os usos atribuídos resultam em impactos positivos ou negativos para a conservação e,
consequentemente, não corroborando com os estudos de Phillips & Gentry (1993a) e
Torre-Cuadros & Islebe (2003).
Cunha & Albuquerque (2006) identificaram uma grande versatilidade de usos para
algumas espécies, tais como: Vouacapoua virgilioides (Kunth) Kuntze, cujo uso do caule,
presente em 18 tipos de uso, foram agrupados nas categorias tecnologia, construção e
combustível. Através de análise de regressão, encontraram possíveis associações existentes
entre o VU das espécies e os seus respectivos descritores estruturais, observando que
apenas a freqüência relativa e o VI são estatisticamente significativos. Destacaram que a
relação entre os parâmetros estruturais da vegetação e os dados etnobotânicos constitui
uma importante informação para o entendimento das relações estabelecidas entre o homem
e natureza.
23
Vendruscolo & Mentz (2006), em estudo realizado no sul do Brasil, a partir do uso
de plantas cultivadas, preconizam que, segundo o critério do cálculo de VU para estas
plantas, o número de usos mencionados para uma espécie estabelece a importância dela
para a comunidade estudada. Assim, quanto maior o número de usos mencionados para a
espécie, independente da categoria, maior será a importância da mesma para a
comunidade. Observaram que como 48% das 21 espécies mais importantes para a
comunidade local são nativas das Américas, das quais 38% delas nativas do Rio Grande do
Sul, este índice pode representar relevante argumento para a promoção da conservação “in
situ” tanto quanto estimular o cultivo das plantas utilizadas pelas populações em hortos
comunitários, quintais ou pátios.
Em Roraima, Alarcón & Peixoto (2008) registraram que os caboclos ribeirinhos
usavam 98% das 189 espécies amostradas em 1 ha de floresta de terra firme. A família
com maior VU foi Arecaceae. Bertholletia excelsa foi o táxon com maior VU entre as
espécies, sendo 1,6 a média deste índice para as espécies da área estudada.
Baseando-se no conhecimento tradicional, nas classificações do mundo natural e na
importância de cada espécie para a população que dela faz uso, podem-se traçar medidas e
projetos conservacionistas em diversas áreas como: quantificação da biodiversidade,
monitoramento de impacto ambiental, manejo sustentável e desenvolvimento de políticas
públicas para conservação.
24
ARTIGO I
The structure of the shrub-arboreal component of an Atlantic
Forest fragment on a hillock on the central lowland
of Rio de Janeiro, Brazil
Alexandre Gabriel Christo1,3
Rejan R. Guedes-Bruni1
Felipe de Araújo P. Sobrinho1
Ary Gomes da Silva2
Ariane Luna Peixoto1
[Artigo submetido à Revista Interciencia]
1 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão, 915, 22.460-030 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil (JBRJ). 2 Universidade de Vila Velha, Rua Comissário José Dantas de Melo, 21, 29.102-770 - Vila Velha, ES, Brasil (UVV). 3 Autor para correspondência: [email protected]
25
Abstract
The present study describes and evaluates the horizontal and vertical structures of a
lowland forest fragment on a hillock in the municipality of Silva Jardim (RJ). Twenty
plots (10x25 m) totaling 0.5 hectare were laid out following the slope grade using DBH≥ 5
cm as the inclusion criterion. A total of 734 individuals were encountered, yielding a total
density of 1,468 ind.ha-1 and a total basal area of 10.783 m2. The richness values (129
species/39 families), Shannon diversity (4.22) and equitability (0.87) indices indicated an
accentuated floristic heterogeneity and low ecological dominance. Lauraceae, Myrtaceae,
Leguminosae, and Euphorbiaceae demonstrated the greatest species richness, corroborating
other studies that had indicated these species as the most representative of Atlantic Forest
areas in southeastern Brazil. The species with the greatest importance values (VI) were:
Aparisthmium cordatum, Guapira opposita, Lacistema pubescens, Xylopia sericea,
Tapirira guianensis, and Piptocarpha macropoda. The elevated diversity observed was
influenced by earlier anthropogenic actions and by the current sucessional stage. The
forest fragment studied demonstrated closer floristic similarity to areas inventoried in the
interior of the Reserve than to fragments dispersed throughout the coastal plain.
Similarities in soil type, degree of soil saturation, and use-history of the forest resources all
support these relationships. The fragmented physiognomy of the central lowland in this
region of Rio de Janeiro and the use-history of the landscape make these small remnant
forest areas important in terms of establishing strategies for landscape restoration and
species conservation.
Key words: Structure, Floristic similarity, Submontane forests, Atlantic Forest, Rio de
Janeiro.
26
Resumo
Neste estudo objetivou-se descrever e avaliar as estruturas horizontal e vertical de floresta
de baixada sobre morrote mamelonar (22o31’56”S e 42o20’46”W) no município de Silva
Jardim (RJ). Para tanto, alocou-se ao longo do eixo de aclive, 20 parcelas (10x25m),
totalizando 0,5 hectare, com critério de inclusão DAP ≥ 5cm. Registrou-se 734 indivíduos,
perfazendo densidade total por área de 1.468 ind.ha-1 e 10,783m2 de área basal total. Os
valores de riqueza (129 espécies/39 famílias), diversidade de Shannon (4,22) e de
eqüitabilidade (0,87) indicam acentuada heterogeneidade florística e baixa dominância
ecológica. Lauraceae, Myrtaceae, Leguminosae e Euphorbiaceae apresentaram as maiores
riquezas, corroborando outros estudos que as indicam como as mais representativas na
composição florística da Floresta Atlântica do Sudeste do Brasil. As espécies de maior
importância (VI) foram: Aparisthmium cordatum, Guapira opposita, Lacistema pubescens,
Xylopia sericea, Tapirira guianensis e Piptocarpha macropoda. A elevada diversidade
encontrada se justifica pelas ações antrópicas pretéritas e pelo atual estágio sucessional. O
fragmento estudado apresenta maior similaridade florística às áreas inventariadas no
interior da Rebio do que aos fragmentos dispersos pela região da planície. As semelhanças
do tipo de solo, grau de saturação hídrica e histórico de uso dos recursos florestais
suportam esta similaridade. A condição de fragmentação que caracteriza a região da
planície central costeira do Rio de Janeiro, acrescida dos dados disponíveis desta paisagem,
tornam estes pequenos remanescentes florestais como áreas de relevância para o
estabelecimento de estratégias de restauração da paisagem e conservação de espécies.
Palavras-chave: Estrutura, Similaridade florística, Florestas submontanas, Floresta
Atlântica, Rio de Janeiro.
27
Resumen
Este estudio tuvo como objetivo describir y validar las estructuras horizontal y vertical de
bosques de tierras bajas en pequeñas colinas (22o31’56”S e 42o20’46”W) en el municipio
de Silvia Jardim (RJ). Fueron asignados a lo largo de la pendiente 20 parcelas (10x25m),
en total 0,5 hectáreas, con un criterio de DAP ≥ 5cm. Se registraron 734 individuos, con
una densidad total por área de 1.468 ind/ha y 100,783 m2 de área basal total. Los valores
de riqueza (129 especies/39 familias), diversidad de Shannon (4,22) y de homogeneidad
(0,87) indican una acentuada heterogeneidad floristica y baja dominancia ecológica.
Lauraceae, Myrtaceae, Leguminosae y Euphorbiaceae presentan la mayor riqueza,
corroborando otros estudios que las muestran como las mas representativas en la
composicion floristica de la Selva Atlantica en el sudeste de Brasil. Las especies de mayor
valor de importancia (VI) fueron: Aparisthmium cordatum, Guapira opposita, Lacistema
pubescens, Xylopia sericea, Tapirira guianensis y Piptocarpha macropoda. La elevada
diversidad encontrada es justificada por la acción antropica realizadas y por el actual
estado de sucesión. El fragmento estudiado presenta una mayor similaridad floristica que
las areas inventariadas en el interior de la Rebio y con los fragmentos dispersos por la
región plana. Las semejanzas de tipo de suelo, saturación hidrica e historico de uso de los
recursos forestales soportan esta similaridad. La condición de fragmentación que
caracteriza la región de planicie costera central del estado de Rio de Janeiro, el aumento de
los datos disponibles del área, hacen de estos pequeños remanescentes forestales areas de
marcada relevancia para el establecimiento de estrategias de restauración del paisaje y
conservación de las especies.
Palabras claves: Estructura, Similaridad floristica, Bosque submontano, Selva Atlantica,
Rio de Janeiro.
28
Introduction
After five centuries of occupation and the effects of various economic cycles, the
Brazilian Atlantic Forest has been reduced to about only 7.6% of its original extension
(Ministério do Meio Ambiente 1998). This drastic deforestation was driven by
anthropogenic pressure on the forest, principally due to the selective extraction of valued
arboreal species, agricultural expansion, lumbering, and the use of wood as firewood by
many industrial sectors (brick and tile manufacturing, residential expansion, etc.).
Within this historical context, remnant tracts of lowland forests in Rio de Janeiro
State are now mostly limited to granite hillocks less than 300 m in altitude and to fluvial
plains along the coast. These low hills are surrounded by alluvial forest areas that have
been occupied by homes and agricultural plots due to their level topography, even though
they are often swampy (Guedes-Bruni et al. 2006a).
The forests that cover the low hills are generally altered remnants of the native
vegetation that existed before anthropogenic processes dominated the lowland regions
around Rio de Janeiro. These low hills are often totally deforested, but they are sometimes
covered by remnant forests of different dimensions and in diverse successional states.
Cattle-raising is the most evident sign of human intervention, and hand in hand with fire,
has determined the alteration of these landscapes and the species growing there (Guedes-
Bruni et al. 2006a).
Although greatly fragmented, the lowland Atlantic Forest in the central region of
Rio de Janeiro State is of great ecological importance, and not only because of the species
typical of this vegetation formation, but also because it is the only habitat of the golden-
lion-tamarin (Leonthopitecus rosalia Lesson, 1840), a primate species endemic to this
region and threatened with extinction.
Numerous authors have contributed to our knowledge of the composition and
floristic structure of this environment, which is characterized by extensive fragmentation
and a diversity of successional stages in the remnant areas (e.g. Guedes (1988), Borém &
Ramos (2001), Borém & Oliveira-Filho (2002), Carvalho et al. (2006a), Pessoa & Oliveira
(2006), Guedes-Bruni et al. (2006a, b), Carvalho et al. (2007), among others).
The present study describes and evaluates the horizontal and vertical structure of a
section of lowland forest growing on hillocks in order to investigate the natural processes
29
acting there and provide information than can contribute to conservation programs in the
region - which is one of the most degraded areas in the state of Rio de Janeiro.
Materials and Methods
Study area
The study area is part of the Santa Helena farm (22o31’56”S and 42o20’46”W) (fig.
1), which is located along the BR 101 federal highway in the municipality of Silva Jardim
(RJ), about 5 km from the Poço das Antas Biological Reserve (Rebio) in an area of Dense
Ombrophilous Lowland Forest (IBGE 1992). The forest fragment examined has an area of
4.25 hectares, and is surrounded by agricultural and grazing areas. The regional climate is
classified as As by the Köeppen system (Bernades 1952) - rainy-tropical, with a winter dry
season. The average annual rainfall is 1,995 mm and the average annual temperature is
25.5 oC (Lima et al. 2006).
Methodological Procedures
Twenty plots (10x25m) were laid out along the line of the hill slope, covering a
total sampling area of 0.5 ha. In laying out the plots a minimum distance of 20 m was
maintained from any trail, so that essentially only the central area of the fragment was
sampled. All plants with trunk diameters at 1.3 m above soil level (DBH) ≥ 5 cm were
measured and identified. All testimonial material was deposited in the herbarium of the
Rio de Janeiro Botanical Garden (RB).
The classification system adopted followed Cronquist (1988), except for the
Leguminosae, which was considered a single family, according to Polhill et al. (1981). All
nomenclature was conferred by consulting the IPNI data base (2008).
30
Figure 1. Map of the inventoried area in a remnant of Dense Ombrophilous Submontane
Forest in Silva Jardim, RJ, Brazil.
31
To elaborate a vegetation profile, a 50x5 m plot was established following the slope
of the hillock according to the methodology suggested by Melo (2002). The profile
diagram was elaborated in true height and diameter scales, using the AutoCAD 2000
software program.
Sampling effort was measured by determining the simple linear regression line (Zar
1999) of the accumulation of taxon richness (Whittaker 1975) in regards to the
accumulated number of observations (Loss & Silva 2005), corresponding to the sequential
implantation of the plots.
Structural analyses were made by calculating the absolute and relative values of
density (DR), frequency (FR) and dominance (DoR), whose sum, in relative terms, defines
the Importance Value index (VI) of the species. Estimations of vegetation structure were
obtained according to Mueller-Dombois & Ellenberg (1974). The Shannon diversity index
(H’) and equitability (J) were calculated according to Magurran (1988) and Pielou (1975),
respectively. The Fitopac 1 software package was used to calculate all phytosociological
parameters (Shepherd 1995).
To evaluate the horizontal structure of the vegetation, histograms of the frequency
of diameter classes were elaborated for all individuals encountered. The diameter classes
were established at 5 cm intervals.
The vertical structure, as a characterization of the forest layers studied, was
evaluated based on the allometric relationships between diameter and height (log
transformed) (Sneath e Sokal 1973), identifying the canopy with a dotted line as seen on
the correlation diagram, and characterizing the canopy element individuals as having a
specified diameter and height, confirmed by verifying the first discontinuity among the
points in the diagram (Guedes-Bruni 1998).
A graph was elaborated of the vertical space occupied by the sampled species that
attained 75% of the importance value index. To determine the minimum number of classes,
as well as their amplitude, we used the formula proposed by Spiegel (1977) apud Lopes et
al. (2002).
Relationships of floristic similarity were sought between the study area and the
other forest fragments inventoried in this coastal plain region. To that end, a
presence/absence matrix was elaborated of the species encountered in this study and
combined with 17 other areas (totaling 279 species), eight of which were on private lands
and nine of which were within the Rebio Poço das Antas. The private lands are represented
32
by: Fazendas Imbaú (Faz. Imb.), Andorinhas (Faz. And.), Estreito (Faz. Est.), Afetiva-
Jorge (Faz. Aft.), Sítio do Professor (Faz. Stp.) (Carvalho et al. 2006a), Santa Fé (Faz. Sfe)
(A. G. Christo et al., unpublished data); and two topographic sequences at the Biovert
Agroflorestal farm: F. Bio(TPA) (Borém & Ramos 2001) e F. Bio(TMA) (Borém &
Oliveira-Filho 2002). There are also ares in the Rebio Poço das Antas: Rebio (20a e 40a)
(Neves 2005), Rebio (Mor) (Guedes-Bruni et al. 2006a), Rebio (Aluv) (Guedes-Bruni et
al. 2006b), Rebio (Fr1, Fr2 e Fr3) (Pessoa & Oliveira 2006) e Rebio (Ari e Cam)
(Carvalho et al. 2006b).
Any species only registered from a single area was excluded from the list as these
do not bring any variation to the analysis. Based on this matrix, Sorensen’s similarity
coefficient was calculated for all of the areas, forming a dendrogram using the UPGMA
method. Calculations were performed utilizing the Fitopac 1 software package (Shepherd
1995).
Results and Discussion
Our results indicated a high species richness in the area, and it is probably far from
the real one, because the sampling effort diagram exhibits an still ascending curve that was
not highly significant different from a straight line in terms of the richness of the sampling
points (fig. 2), indicating that there were still new taxa to be collected in the area.
The vegetation sampling encountered 734 live individuals, yielding a total density
of 1,468 ind.ha-1, a total basal area of 21.566 m2.ha-1, and generating a taxon richness index
of 19.85.
Among the sampled individuals were 129 species, subordinated to 39 families. A
species list, with their respective parameters, is presented in Table 1 in decreasing order of
their importance value (VI). The Shannon diversity index (H’) was 4.22 nats/ind., while
equitability (J) was 0.87.
Earlier studies in central lowland forests (Borém & Ramos 2001, Borém &
Oliveira-Filho 2002, Neves 2005, Pessoa & Oliveira 2006, Guedes-Bruni et al. 2006a, b,
Carvalho et al. 2007) yielded H’ values varying from 1.75 to 4.57, corroborating with the
general pattern of the local landscape that has suffered from continuous processes of
anthropogenic interferences, whether as a result of fire, or the establishment of small farm
33
plots or grazing areas. Added to these alterations was the construction of the Juturnaíba
reservoir in the 1970s, which had a strong impact on vegetation cover along the valley of
the São João River (Cunha 1995).
The families with the greatest de abundance values were: Euphorbiaceae,
Lauraceae, Myrtaceae, Annonaceae, Nyctaginaceae, Rubiaceae, and Leguminosae
respectively. When their importance values were considered together, these families were
found to be responsible for approximately 50% of the total VI. Previous studies in lowland
and montane forests of Rio de Janeiro (Guedes-Bruni 1998) have reported similar results,
which reflect the wide geographic distribution of the species that compose this vegetation
type.
The families with the greatest species richness in the forest fragment studied were:
Lauraceae (18 spp.), Myrtaceae (17 spp.), Leguminosae (11 spp., with Papilionoideae
having 5 spp., Caesalpinioideae 3, and Mimosoideae 3), Euphorbiaceae (8 spp.), and
Meliaceae (6 spp.). These families together were responsible for 46.51% of all the species
collected, with Myrtaceae alone yielding 13.95%.
Oliveira-Filho & Fontes (2000) analyzed 125 areas of Atlantic Forest (sensu lato)
and reported that the families Myrtaceae, Rubiaceae, Euphorbiaceae, and Melastomataceae
had the greatest species richness in ombrophilous forests in southeastern Brazil. This data
corroborates with that of other authors (e.g. Borém & Ramos (2001), Borém & Oliveira-
Filho (2002), Guedes-Bruni et al. (2006a, b), Pessoa & Oliveira (2006), Carvalho et al.
(2006a), among others) in their floristic analyses of the central-coastal region of the state
of Rio de Janeiro.
The families Euphorbiaceae, Lauraceae, and Annonaceae all contributed
considerably to the total basal area (39.0%). The elevated number of individuals of
Euphorbiaceae and Lauraceae stood out, while Annonaceae showed the highest average
basal area of individuals.
In terms of the sizes of the various populations occurring in the fragment, the
species Aparisthmium cordatum Baill., Guapira opposita (Vell.) Reitz, Lacistema
pubescens Mart., Myrcia anceps O. Berg, and Bathysa mendoncaei K. Schum. stood out as
having the greatest numbers of individuals. As this forest was in an intermediate stage of
succession, the large numbers of individuals of these species were to be expected. Xylopia
sericea A. St.-Hil., Jacaranda micrantha Cham., and Piptocarpha macropoda (DC.) Baker
had the largest individuals encountered in the survey: 26, 23, and 21 meters respectively;
34
with an individual of Licaria sp. having the largest recorded diameter (51.3 cm). A
schematic physiognomic-structural profile of the vegetation is shown in Figure 3.
Figure 2. Sampling effort diagram of the inventory made in a remnant of Dense
Ombrophilous Submontane Forest in Silva Jardim, RJ, Brazil.
The most frequent (FR) species in the sampling area was Guapira opposita, present
in 80% of the surveyed plots. This species was followed by: Aparisthmium cordatum
(75%), Cabralea canjerana (Vell.) Mart. (70%), and Lacistema pubescens (65%). These
species were expected considering the altered state of the vegetation - not only because
they are characteristically initial secondary species (Gandolfi et al. 1995) but (as a result of
this status) they are among the most widely geographically distributed species, showing the
35
highest frequencies in most inventories performed in Atlantic forests (Siqueira 1994,
Oliveira-Filho & Fontes 2000).
Piptocarpha macropoda, Tapirira guianensis Aubl., Aparisthmium cordatum,
Guapira opposita, and Xylopia sericea had the highest dominance (Do) values. Together,
these five species retained 24.64% of the total relative dominance of the fragment studied.
Of a total of 129 species, 43 were responsible for 75.54% of the importance value, with
Aparisthmium cordatum demonstrating the greatest VI of all the species present.
Table 1. Structural parameters of the arboreal species with DBH ≥ 5 cm sampled in 0.5 ha
at the Fazenda Santa Helena farm in the municipality of Silva Jardim, Rio de Janeiro,
Brazil, listed in decreasing order of their importance value (VI). Ni = number of
individuals, DR = relative density (%), DoR = relative dominance (%), FR = relative
frequency (%), C = collection number of A. G. Christo.
Species Ni DR DoR FR VI C
1. Aparisthmium cordatum Baill. 51 6.95 4.91 3.42 15.28 497
2. Guapira opposita (Vell.) Reitz 43 5.86 4.89 3.65 14.4 482
3. Lacistema pubescens Mart. 34 4.63 2.25 2.74 9.63 499
4. Xylopia sericea A. St.-Hil. 17 2.32 4.54 2.51 9.37 508
5. Tapirira guianensis Aubl. 12 1.63 5.11 2.05 8.8 415
6. Piptocarpha macropoda (DC.) Baker 12 1.63 5.19 1.60 8.42 498
7. Cabralea canjerana (Vell.) Mart. 20 2.72 2.60 2.97 8.30 411
8. Guatteria xylopioides R.E.Fr. 19 2.59 3.39 2.28 8.27 470
9. Siparuna brasiliensis (Spreng.) A. DC. 22 3.00 2.29 2.51 7.80 503
10. Mabea fistulifera Mart. 17 2.32 3.78 1.60 7.70 618
11. Myrcia anceps O. Berg 28 3.81 1.74 2.05 7.61 467
12. Albizia polycephala (Benth.) Killip 16 2.18 3.98 1.14 7.30 452
13. Bathysa mendoncaei K. Schum. 23 3.13 1.13 2.05 6.32 447
14. Ocotea divaricata (Nees) Mez 18 2.45 1.35 2.51 6.31 525
15. Hieronyma oblonga (Tul.) Müll. Arg. 11 1.50 2.45 1.60 5.54 517
16. Aniba firmula (Nees & C. Mart.) Mez 16 2.18 1.27 2.05 5.50 468
17. Rinorea guianensis Aubl. 15 2.04 1.46 1.60 5.10 637
18. Nectandra oppositifolia Nees & Mart. 11 1.50 2.14 1.37 5.01 438
19. Casearia arborea (Rich.) Urb. 16 2.18 0.52 2.28 4.98 420
20. Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. 11 1.50 2.36 0.68 4.55 603
36
Table 1. Continuation.
Species Ni DR DoR FR VI C
21. Psychotria vellosiana Benth. 15 2.04 0.57 1.83 4.44 455
22. Cupania furfuracea Radlk. 13 1.77 0.82 1.60 4.19 418
23. Cupania racemosa (Vell.) Radlk. 8 1.09 1.47 1.60 4.16 416
24. Licaria sp 3 0.41 2.85 0.68 3.94 584
25. Virola oleifera (Schott) A.C. Sm. 7 0.95 2.02 0.91 3.88 430
26. Helicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby 10 1.36 0.46 1.83 3.65 483
27. Simarouba amara Aubl. 5 0.68 1.78 1.14 3.60 568
28. Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret 10 1.36 0.75 1.37 3.48 -
29. Jacaranda micrantha Cham. 5 0.68 1.83 0.91 3.42 413
30. Calyptranthes lucida Mart. ex DC. 9 1.23 0.66 1.37 3.25 450
31. Annona cacans Warm. 2 0.27 2.15 0.46 2.88 505
32. Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. 3 0.41 1.97 0.46 2.83 500
33. Himatanthus bracteatus (A. DC.) Woodson 8 1.09 0.59 1.14 2.82 518
34. Mollinedia sp 7 0.95 0.72 1.14 2.81 550
35. Miconia sp 9 1.23 0.37 0.91 2.51 424
36. Jacarandá puberula Cham. 7 0.95 0.39 1.14 2.48 544
37. Indet1 3 0.41 1.34 0.68 2.44 474
38. Ocotea schottii (Meisn.) Mez 5 0.68 1.03 0.68 2.39 419
39. Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand 6 0.82 0.40 1.14 2.36 429
40. Erythroxylum citrifolium A. St.-Hil. 7 0.95 0.26 1.14 2.35 480
41. Cecropia hololeuca Miq. 6 0.82 0.72 0.68 2.23 427
42. Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez 5 0.68 0.57 0.91 2.17 513
43. Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin 4 0.54 0.91 0.68 2.14 425
44. Eugenia oblata Roxb. 4 0.54 0.89 0.68 2.12 523
45. Rollinia dolabripetala (Raddi) R.E. Fr. 4 0.54 0.86 0.68 2.09 502
46. Ormosia cf. minor Vogel 4 0.54 0.62 0.91 2.08 443
47. Roupala sculpta Sleumer 5 0.68 0.62 0.68 1.99 590
48. Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P. Lewis & M.P.
Lima 4 0.54 0.65 0.68 1.88 566
49. Stryphnodendron polyphyllum Mart. 4 0.54 0.37 0.91 1.83 462
50. Ocotea sp1 4 0.54 0.31 0.91 1.77 475
51. Pera heteranthera (Schrank) I.M. Johnst. 5 0.68 0.16 0.91 1.75 510
52. Psychotria carthagenensis Jacq. 4 0.54 0.29 0.91 1.75 442
53. Lecythis lanceolata Poir. 4 0.54 0.49 0.68 1.72 532
54. Miconia lepidota Schrank & Mart. ex DC. 4 0.54 0.42 0.68 1.65 423
55. Tibouchina arborea Cogn. 3 0.41 0.52 0.68 1.62 428
56. Maytenus samydaeformis Reissek 4 0.54 0.14 0.91 1.60 527
37
Table 1. Continuation.
Species Ni DR DoR FR VI C
57. Chrysophyllum lucentifolium Cronquist 1 0.14 1.19 0.23 1.56 484
58. Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. 3 0.41 0.41 0.68 1.50 511
59. Phyllostemonodaphne geminiflora Kosterm. 2 0.27 0.69 0.46 1.42 596
60. Ecclinusa ramiflora Mart. 3 0.41 0.52 0.46 1.39 478
61. Erythroxylum cuspidifolium Mart. 4 0.54 0.13 0.68 1.36 476
62. Marlierea obscura O. Berg 3 0.41 0.13 0.68 1.22 454
63. Siparuna guianensis Aubl. 3 0.41 0.10 0.68 1.19 432
64. Euterpe edulis Mart. 3 0.41 0.09 0.68 1.18 -
65. Vitex polygama Cham. 1 0.14 0.74 0.23 1.10 589
66. Hirtella angustifolia Schott ex Spreng. 2 0.27 0.59 0.23 1.09 575
67. Ocotea glaziovii Mez 2 0.27 0.34 0.46 1.07 579
68. Guarea guidonia (L.) Sleumer 3 0.41 0.42 0.23 1.06 446
69. Indet3 2 0.27 0.27 0.46 1.00 465
70. Malouetia arborea (Vell.) Miers 1 0.14 0.61 0.23 0.98 549
71. Mollinedia oligantha Perkins 2 0.27 0.21 0.46 0.94 562
72. Leretia cordata Vell. 2 0.27 0.14 0.46 0.87 472
73. Indet6 2 0.27 0.14 0.46 0.87 581
74. Urbanodendron cf. bahiense (Meisn.) Rohwer 2 0.27 0.13 0.46 0.86 451
75. Ocotea laxa (Nees) Mez 3 0.41 0.22 0.23 0.86 533
76. Kielmeyera excelsa Cambess. 2 0.27 0.11 0.46 0.84 604
77. Eugenia speciosa Cambess. 2 0.27 0.10 0.46 0.82 555
78. Acacia sp 2 0.27 0.09 0.46 0.80 453
79. Indet2 2 0.27 0.07 0.46 0.79 515
80. Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo 2 0.27 0.06 0.46 0.78 592
81. Guarea macrophylla Vahl 2 0.27 0.05 0.46 0.78 569
82. Miconia prasina (Sw.) DC. 2 0.27 0.05 0.46 0.77 433
83. Pourouma guianensis Aubl. 2 0.27 0.04 0.46 0.75 577
84. Ocotea daphnifolia (Meisn.) Mez 2 0.27 0.25 0.23 0.75 516
85. Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. 2 0.27 0.25 0.23 0.72 545
86. Copaifera langsdorffii Desf. 1 0.14 0.35 0.23 0.63 421
87. Trichilia martiana C. DC. 1 0.14 0.27 0.23 0.59 534
88. Alchornea sidifolia Müll. Arg. 2 0.27 0.09 0.23 0.59 506
89. Calyptranthes brasiliensis Spreng. 2 0.27 0.09 0.23 0.59 558
90. Guarea kunthiana A. Juss. 2 0.27 0.07 0.23 0.57 536
91. Strycnos sp 1 0.14 0.20 0.23 0.56 546
92. Pouteria bangii (Rusby) T.D. Penn. 2 0.27 0.05 0.23 0.55 583
93. Polyandrococos caudescens (Mart.) Barb. Rodr. 1 0.14 0.17 0.23 0.53 -
38
Table 1. Continuation.
Species Ni DR DoR FR VI C
94. Ocotea brachybotrya (Meisn.) Mez 1 0.14 0.17 0.23 0.53 422
95. Copaifera lucens Dwyer 1 0.14 0.16 0.23 0.52 464
96. Persea sp 1 0.14 0.14 0.23 0.50 514
97. Eugenia sp2 1 0.14 0.12 0.23 0.49 481
98. Machaerium brasiliense Vogel 1 0.14 0.12 0.23 0.49 571
99. Solanum inaequale Vell. 1 0.14 0.12 0.23 0.48 520
100. Swartzia oblata R.S. Cowan 1 0.14 0.10 0.23 0.46 449
101. Indet5 1 0.14 0.09 0.23 0.46 495
102. Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns 1 0.14 0.08 0.23 0.45 541
103. Calophyllum brasiliense Cambess. 1 0.14 0.07 0.23 0.44 547
104. Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. ex Roem. & Schult. 1 0.14 0.07 0.23 0.44 414
105. Myrcia splendens (Sw.) DC. 1 0.14 0.07 0.23 0.43 561
106. Eugenia sp3 1 0.14 0.07 0.23 0.43 563
107. Eugenia sp1 1 0.14 0.07 0.23 0.43 642
108. Indet7 1 0.14 0.06 0.23 0.43 501
109. Calyptranthes cf. lanceolata O. Berg 1 0.14 0.06 0.23 0.42 435
110. Ocotea sp2 1 0.14 0.06 0.23 0.42 599
111. Indet4 1 0.14 0.06 0.23 0.42 600
112. Trichilia casaretti C. DC. 1 0.14 0.05 0.23 0.42 538
113. Cupania schizoneura Radlk. 1 0.14 0.05 0.23 0.41 504
114. Inga tenuis (Vell.) Mart. 1 0.14 0.05 0.23 0.41 565
115. Tabebuia sp3 1 0.14 0.04 0.23 0.41 564
116. Eugenia magnifica Spring 1 0.14 0.04 0.23 0.41 553
117. Myrcia sp1 1 0.14 0.04 0.23 0.40 440
118. Calyptranthes sp 1 0.14 0.03 0.23 0.40 556
119. Licania octandra (Hoffmanns. ex Roem. & Schult.)
Kuntze 1 0.14 0.03 0.23 0.40 512
120. Tachigalli pilgeriana (Harms) Oliveira-Filho 1 0.14 0.03 0.23 0.39 441
121. Duguetia pohliana Mart. 1 0.14 0.03 0.23 0.39 622
122. Cupania oblongifolia Mart. 1 0.14 0.03 0.23 0.39 639
123. Brosimum guianense (Aubl.) Huber 1 0.14 0.03 0.23 0.39 601
124. Gomidesia sp 1 0.14 0.02 0.23 0.39 554
125. Cyathea corcovadensis (Raddi) Domin 1 0.14 0.02 0.23 0.39 605
126. Eugenia tinguyensis Cambess. 1 0.14 0.02 0.23 0.39 417
127. Myrcia sp 1 0.14 0.02 0.23 0.39 561
128. Couepia venosa Prance 1 0.14 0.02 0.23 0.38 586
129. Simaba sp 1 0.14 0.02 0.23 0.38 535
Total 734 100 100 100 300 -
39
The large VIs of these species was due to either their large relative density, large
relative dominance, or large relative frequency. The relative density of Aparisthmium
cordatum (6.95%) was larger, for example, than Guapira opposita (5.86%); the relative
dominance of Piptocarpha macropoda (5.19%) was greater than that of Tapirira
guianensis (5.11%); and the relative frequency of Guapira opposita (3.65%) was larger
than that of Aparisthmium cordatum (3.42%). Although Lacistema pubescens
demonstrated only intermediate levels of density, dominance, and frequency as compared
to the other species, these consistent values were sufficient to place it among the species
with the highest overall VI values.
Borém & Oliveira-Filho (2002) previously reported Euterpe edulis Mart.,
Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret, Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P. Lewis
& M.P. Lima, Casearia sylvestris Sw., and Vochysia laurifolia Warm. as having large VI
values; Neves (2005) reported Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin, Gochnatia
polymorpha (Less.) Cabrera, Pithecellobium pedicellare (DC.) Benth., Astrocaryum
aculeatissimum and Sparattosperma leucanthum (Vell.) K. Schum. in an area under
recovery for 20 years, and Lacistema pubescens, Myrcia fallax (Rich.) DC., Cupania
racemosa (Vell.) Radlk., Cupania schizoneura Radlk. and Guatteria sp. in an area left
undisturbed for 40 years. Pessoa & Oliveira (2006) evaluated three forest fragments inside
the Poço das Antas Biological Reserve and recorded Senefeldera verticillata (Vell.)
Croizat, Trema micrantha (L.) Blume, Andradea floribunda Allemão, Annona cacans
Warm. and Astocaryum aculeatissimum in fragment II, which was approximately the same
size as the fragment examined in the present study.
The histogram presented in Figure 4 demonstrates that most of the 734 individuals
encountered (88.01%) were concentrated in the 5 up to 20 cm diameter-classes, indicating
the presence of very few large individuals. The average diameter observed during the
sampling was only 11.77±7.06 cm (average ± SD), and only four species (Licaria sp,
Tapirira guianensis, Chrysophyllum lucentifolium Cronquist and Annona cacans) had
individuals with diameters > 40 cm.
Analyses of the fragment indicated a concentration of individuals in the smallest
diameter classes (and inverted “J” pattern) - indicating natural regeneration of the site.
40
Fig
ure
3.
Pro
file
dia
gra
m o
f a
sect
ion
of
Den
se O
mb
roph
ilou
s S
ubm
onta
ne F
ore
st i
n S
ilva
Jar
dim
, R
J, B
razi
l. T
he
spec
ies
list
ed f
oll
ow
th
e
num
beri
ng u
sed
in T
able
1.
41
Figure 4. Diameter distributions among individuals sampled (n = 734) in a remnant of
Dense Ombrophilous Submontane Forest in Silva Jardim, RJ, Brazil.
The three species with the greatest VI (Aparisthmium cordatum, Guapira opposite
and Lacistema pubescens) also demonstrated an inverted “J” pattern (Fig. 5) indicating,
again, the process of natural regeneration in the fragment.
The individuals of Xylopia sericea demonstrated a discontinuous aging structure
pattern, which may be explained by the selective cutting of these trees by the local
population. This species is preferentially used for building roofs for houses and barns, and
42
individuals with diameters between 5 and 15 cm are harvested specifically for this purpose
(Christo et al. 2006).
Figure 5. Diameter distributions among individuals of the four species with the greatest VI
values in a remnant of Dense Ombrophilous Submontane Forest in Silva Jardim, RJ,
Brazil.
43
A selective extraction of species from the fragment was also indicated by the
population size of the palm species Euterpe edulis (0.41% of the relative frequency), as
well as by physical evidence of harvesting in the area. The whole individual must be cut in
order to obtain the palm-heart, as this species does not ramify. This species is considered
one of the most important plants in the Atlantic Forest and is one of the principal non-
wood forest resources (Fantini & Guries 2007) available in both well-conserved and
disturbed areas (Guedes 1988, Borém & Oliveira-Filho 2002).
Some authors consider the absence of large trees to be related to selective cutting
and to natural mortality as a result of edge-effects - as has been observed in tropical forest
fragments (Laurance et al. 2000, and Scariot et al. 2003). Scariot et al. (2003) recognized
that the removal of canopy individuals facilitated the growth of juvenile plants, provoking
alterations in successional processes and in the internal organization of the forest.
Figure 6. Allometric relationships between diameter and height of the individuals sampled
(n = 734) and used to define the canopy limits in a remnant of Dense Ombrophilous
Submontane Forest in Silva Jardim, RJ, Brazil.
44
The evaluation of the allometric relationships between diameter and height of the
734 individuals sampled did not demonstrate any clear stratification in the fragment, as the
dispersal diagram did not shown any height discontinuities in relation to arboreal/shrub
diameters (fig. 6).
The individuals within the fragment had an average height of 9.44 ± 3.96 m
(average ± SE) and were distributed among ten height classes at 2.25 m intervals - which
was rounded off here to 2.5 m due to the calibration of the measure scale of tree height in
units of 0.5m. Most individuals were between 5 and 10 m tall, with only one individual of
each of the species Xylopia sericea, Piptocarpha macropoda, and Jacaranda micrantha
reaching heights greater than 20 m.
Figure 7 demonstrates the vertical space occupied by 43 species, representatives of
ca. 75% of the total VI, classified in increasing order of their Importance Value index.
Xylopia sericea, Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez, Licaria sp, Cabralea canjerana,
Guatteria xylopioides R.E.Fr., and Mabea fistulifera Mart. stood out as demonstrating the
greatest amplitude within the vertical space they occupied. These species are not only
typical of lowland forests in Rio de Janeiro (Guedes-Bruni et al. 2006a, b) but are also
characteristic of the canopy layer, where they are encountered as large adult individuals,
sometimes emergents, especially Ocotea diospyrifolia and Cabralea canjerana in well-
conserved forests.
Figure 7. The vertical space occupied by the 43 species with the largest VI values in a remnant of
Dense Ombrophilous Submontane Forest in Silva Jardim, RJ, Brazil. The species follow the
numbering used in Table 1.
45
The dendrogram of floristic similarity produced by grouping analysis based on the
presence/absence of species in the 18 areas evaluated can be seen in Figure 8. The results
demonstrate a considerable fit of the similarity matrix to the estimated clustering that
produce the dendrogram (rcs = 0.8806) and reveals the formation of five groups with a
fusion level of 30%. Group 1 is formed by six areas (Faz. Imb., Faz. Est., Faz. And., Faz.
Aft., and Faz. Sfe) all of which are located in the District of Imbaú. This assemblage is
justified by having most of its species in the initial stages of ecological succession, and
because theses areas are close by one another and are all on private hands, and thus more
vulnerable to disturbances. Group two is formed by two areas that have gone undisturbed
for 20 and 40 years (Rebio [40a] and Rebio [20a] respectively), the present study area
(Faz. She), as well as two areas with inclusion criteria of BDH ≥ 10 cm (Rebio [Aluv] and
Rebio [Mor]) which are located in the interior of the Rebio. These areas are characterized
by being more conserved (having been protected from cutting) and having a wide range of
canopy species and having species that belong to later stages of ecological succession.
Group three is formed by two privately held areas belonging to the same topographic
sequence (F. Bio [TPA] and F. Bio [TMA]) but having distinct use-histories. Group 4 is
formed by three different sized fragments that are isolated from each other but located
within the Rebio (Rebio [Fr1], Rebio [Fr2] and Rebio [Fr3]). Group five is formed by the
remaining two areas, which are also located in the interior of the Rebio (Rebio [Ari] and
Rebio [Cam]) but are located in alluvial areas and contain species typical of this
physiognomy, and are distinguishable from the other areas in terms of their floristic
composition.
The species of the 18 areas analyzed are distributed among 52 botanical families,
with 10 families (Leguminosae (sensu lato), Lauraceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae,
Annonaceae, Sapotaceae, Rubiaceae, Bignoniaceae, Meliaceae, and Melastomataceae)
concentrating 59.5% of the species diversity.
The species with the widest distribution (occurring in at least 10 areas) are:
Casearia sylvestris, Guapira opposita, Xylopia sericea, Alchornea triplinervia (Spreng.)
Müll. Arg., Brosimum guianense (Aubl.) Huber, Tapirira guianensis, Astrocaryum
aculeatissimum, Lacistema pubescens, Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr.,
Pseudopiptadenia contorta, Miconia cinnamomifolia, Cabralea canjerana, and Guarea
guidonia (L.) Sleumer.
Experimental plantings in the Rebio based on floristic-structural studies have
shown the importance of a number of species recorded in the present inventory (including
46
Guarea guidonia, Calophyllum brasiliense Cambess., Copaifera langsdorffii Desf.,
Alchornea triplinervia, Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns, Tapirira
guianensis, Nectandra oppositifolia Nees & Mart., Euterpe edulis, and Guapira opposite)
(Moraes et al. 2006), and these taxa have significant potential for use in the recuperation of
altered areas in the region.
Figure 8. Dendrogram of floristic similarity among 18 areas of Dense Ombrophilous
Submontane Forest in the municipality of Silva Jardim, RJ, Brazil.
Conclusions
The presence of known primary sucessional species among the plants with the
greatest VI indices (Aparisthmium cordatum, Guapira opposita, Lacistema pubescens, and
Xylopia sericea), associated with an accentuated concentration of individuals in the 5 to 20
cm diameter classes, and with the diminishing use of the forest resources by humans, are
47
all signs that the study fragment is in a secondary phase of succession and natural
regeneration.
The floristic similarity observed between this fragment and other areas inventoried
in the interior of the Rebio is supported by their geographic proximity, similarities of soil
types, the water content of the soils and the use-histories of the forest resources, while at
the same time differentiating it from other fragments encountered in the lowland region.
We therefore recommend that restoration efforts directed towards degraded areas in
the central coastal region of the Baixada Fluminense include the planting of the following
species: Lacistema pubescens, Cabralea canjerana, Mabea fistulifera, Tapirira guianensis,
and Guapira opposita. These taxa stand out in terms of their high VI indices in the survey
fragment as well as in terms of their wide distribution in lowland regions, and their
association with late-sucessional understory species – and their planting will help generate
well diversified forests.
The characteristic fragmented condition of the central coastal plain and the northern
portion of Rio de Janeiro State make these small fragments very relevant to the
establishment of landscape restoration strategies and subsequent species conservation.
Acknowledgements
The authors would like to thank PETROBRAS for financially supporting the
“Programa Mata Atlântica” of the Rio de Janeiro Botanical Garden, including the present
study; the Reserva Biológica de Poço das Antas/IBAMA for their logistic support; the
Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT) for the use of their facilities; Antônio
Tavares de Oliveira, Adilson Pintor, and Jonas Alves Dias of the “Programa Mata
Atlântica” for their help with the field work; the taxonomists of the Rio de Janeiro
Botanical Garden, including Alexandre Quinet, Haroldo Cavalcanti Lima, José Fernando
Baumgratz, and Marcelo Costa Souza; the owners of the Santa Helena Farm for allowing
us free access to the study area; the CAPES for the Masters grant to the first author, and to
the biologist Roy Funch for the English version and its revision.
48
References
Bernardes LNC (1952) Tipos de clima do estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de
Geografia 1: 57-80.
Borém RAT, Oliveira-Filho AT (2002) Fitossociologia do estrato arbóreo em uma
topossequência alterada de Mata Atlântica, no município de Silva Jardim-RJ, Brasil.
Revista Árvore 26: 727-742.
Borém RAT, Ramos DP (2001) Estrutura fitossociológica da comunidade arbórea de uma
toposseqüência pouco alterada de uma área de floresta atlântica, no município de Silva
Jardim-RJ. Revista Árvore 25: 131-140.
Carvalho FA, Nascimento MT, Braga JMA, Rodrigues PJFP (2006b) Estrutura da
comunidade arbórea da Floresta Atlântica de baixada periodicamente inundada na
Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguesia 57: 503-518.
Carvalho FA, Nascimento MT, Braga JMA (2006a) Composição e riqueza florística do
componente arbóreo da Floresta Atlântica submontana na região de Imbaú, Município
de Silva Jardim, RJ. Acta Botanica Brasílica 20: 727-740.
Carvalho FA, Nascimento MT, Braga JMA (2007) Estrutura e composição florística do
estrato arbóreo de um remanescente de Mata Atlântica submontana no município de
Rio Bonito, RJ, Brasil (Mata Rio Vermelho). Revista Árvore 31: 717-730.
Christo AG, Guedes-Bruni RR, Fonseca-Kruel VS (2006) Uso de recursos vegetais em
comunidades limítrofes à Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ:
estudo de caso na Gleba Aldeia Velha. Rodriguesia 57: 519-542.
Cronquist A (1988) The evolution and classification of flowering plants. The New York
Botanical Garden, New York. 555pp.
Cunha, SB (1995) Impactos das obras de engenharia sobre o ambiente biofísico da Bacia
do rio São João (Rio de Janeiro – Brasil). Instituto de Geociências da UFRJ, Rio de
Janeiro. 378pp.
Fantini AC, Guries RP (2007) Forest structure and productivity of palmiteiro (Euterpe
edulis Martius) in the Brazilian Mata Atlântica. Forest Ecology and Management 242:
185–194.
Gandolfi S, Leitão-Filho HF, Bezerra CLF (1995) Levantamento florístico e caráter
sucessional das espécies arbustivo-arbóreas de uma floresta mesófila semidecídua no
município de Guarulhos, SP. Revista Brasileira de Biologia 55: 753-767.
49
Guedes RR (1988) Composição florística e estrutura de um trecho de mata perturbada de
baixada no município de Magé, Rio de Janeiro. Arquivos do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro 29: 155-200.
Guedes-Bruni RR (1998) Composição, estrutura e similaridade florística de dossel em seis
unidades de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Tesis, Universidade de Universidade de
São Paulo, São Paulo. 175pp.
Guedes-Bruni RR, Silva-Neto SJ, Morim MP, Mantovani W (2006a) Composição
florística e estrutura de dossel em trecho de Floresta Ombrófila Densa Atlântica sobre
morrote mamelonar na Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de
Janeiro, Brasil. Rodriguesia 57: 429-442.
Guedes-Bruni RR, Silva-Neto SJ, Morim MP, Mantovani W (2006b) Composição
florística e estrutura de trecho de Floresta Ombrófila Densa Atlântica Aluvial na
Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguesia
57: 413-428.
IBGE (1992) Manual técnico da vegetação brasileira. Ser. Manuais Técnicos em
Geociências, Rio de Janeiro. 166pp.
IPNI (2008) The international plants names index. http://www.ipni.org/ (accessed 2008
May.).
Laurance WF, Delamônica P, Laurance SG, Vasconcelos HL, Lovejoy TE (2000)
Rainforest fragmentation kills big trees. Nature 404: 836.
Laurance WF, Ferreira LV, Merona JMR, Laurance SG, Hutchings RW, Lovejoy TE
(1998) Effects of forest fragmentation on recruitment patterns in Amazonian tree
communities. Conservation Biology 12: 460-464.
Lima HC, Pessoa SVA, Guedes-Bruni RR, Moraes LFD, Granzotto SV, Iwamoto S, Di
Ciero J (2006) Caracterização fisionômico-florística e mapeamento da vegetação da
Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguesia 57: 369-389,
Lopes WP, Silva AF, Souza AL, Meira-Neto JAA (2002) Estrutura fitossociológica de um
trecho de vegetação arbórea no Parque Estadual do Rio Doce - Minas Gerais, Brasil.
Acta Botanica Brasílica 16: 443-456.
Loss ACC, Silva AG (2005) Comportamento de forrageio de aves nectarívoras de Santa
Teresa - ES. Natureza on line 3: 48-52.
Magurran AE (1988) Ecological Diversity and its Measurement. Princeton University
Press, Princeton. 192 pp.
50
Melo MMRF (2002) Diagrama de perfil. Sylvestre LS, Rosa MMT (Eds.) Manual
metodológico para estudos botânicos na Mata Atlântica. Editora da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica. 123 pp.
Ministério do Meio Ambiente (1998) Diretrizes para a política de conservação e
desenvolvimento sustentável da Mata Atlântica. Caderno n. 13, Brasília. 30 pp.
Moraes LFD, Assumpção JM, Luchiari C, Pereira TS (2006) Plantio de espécies arbóreas
nativas para a restauração ecológica na Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de
Janeiro, Brasil. Rodriguesia 57: 477-489.
Mueller-Dombois D, Ellenberg H (1974) Aims and methods of vegetation ecology. John
Wiley & Sons, New York. 262 pp.
Neves GMS (1999) Florística e estrutura da comunidade arbustivo-arbórea em dois
remanescentes de Floresta Atlântica secundária - Reserva Biológica de Poço das Antas,
Silva Jardim, RJ. Tesis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 115
pp.
Oliveira-Filho AT, Fontes MAL (2000) Patterns of floristic differentiation among Atlantic
Forests in southeastern Brazil and the influence of climate. Biotropica 32: 793-810.
Pessoa SVA, Oliveira RR (2006) Análise estrutural da vegetação arbórea em três
fragmentos florestais na Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil.
Rodriguesia 57: 391-411.
Pielou EC (1975) Ecological diversity. John Wiley & Sons, New York. 165 pp.
Polhill RM, Raven PH, Stirton CH (1981) Systematics of the Fabaceae. Polhill RM, Raven
PH, Stirton CH (Eds.) Advances in Legume Systematics. Royal Botanic Gardens,
London. 1050 pp.
Scariot A, Freitas SR, Neto EM, Nascimento MT, Oliveira LC, Sanaiotti T, Servilha AC,
Villela DM (2003) Efeitos da fragmentação sobre a biodiversidade: vegetação e flora.
Rambaldi DM, Oliveira DAS (Eds.) Fragmentação de ecossistemas: causas, efeitos
sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas. MMA/SBF, Brasília.
506 pp.
Shepherd GJ (1995) FITOPAC 1: manual do usuário. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas. 93 pp.
Siqueira MF (1994) Análise florística e ordenação de espécies arbóreas da Mata Atlântica
através de dados binários. Tesis, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 143
pp.
51
Sneath PHA, Sokal RR (1973) Numerical Taxonomy. W.H. Freeman & Co., San
Francisco. 573 pp.
Whittaker RH (1975) Communities and ecosystems. MacMillan, New York. 387 pp.
Zar JH (1996) Biostatistical analysis. Prentice Hall, New Jersey. 663 pp.
52
ARTIGO II
Local knowledge and use of Atlantic Forest resources by a rural
community in southeastern Brazil: a quantitative approach
Alexandre Gabriel Christo1,3
Rejan R. Guedes-Bruni1
Felipe de Araújo P. Sobrinho1
Ary Gomes da Silva2
Ariane Luna Peixoto1
[Artigo submetido à Revista Biodiversity and Conservation]
1 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão, 915, 22.460-030 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil (JBRJ). 2 Universidade de Vila Velha, Rua Comissário José Dantas de Melo, 21, 29.102-770 - Vila Velha, ES, Brasil (UVV). 3 Autor para correspondência: [email protected]
53
Abstract
The use of forest resources by a rural community adjacent to the Poço das Antas Biological
Reserve, Rio of Janeiro, Brazil, was examined using quantitative methodologies based on
the consensus of six local specialists. Plants with DAP ≥ 5 cm were sampled in 0.5 ha of
forest and their use-value (UV) was calculated, and its association with structural
descriptors of that forest was analyzed. A total of 129 species belonging to 29 families
were identified in the sample plots, of which 69 had recognized uses. Lauraceae (12 spp.),
Leguminosae (11 spp.), Euphorbiaceae (6 spp.), and Myrtaceae (5 spp.) had the greatest
species richness. The species with largest UV were: Xylopia sericea (“imbiú”, 3.40),
Lecythis lanceolata (“papante”, 2.80), Guarea macrophylla (“carrapeta”, 2.67), Jacaranda
micrantha (“carobinha”, 2.60), and Alchornea triplinervia (“tapiá”, 2.60). The analysis of
the association of use-values with structural descriptors (using linear regression analysis)
demonstrated that neither the degree of recognition of the species by the local specialists
nor their use-versatility depended on their abundance in nature. The results corroborate the
hypothesis that the species richness of a family is a predictive character of its cultural
importance. The community studied recognizes the importance of conserving the forest
remnants in the area as form of protecting the plant resources that they use, and this in turn
makes them important agents in the processes of conservation and management of the
Atlantic Forest.
Key words: ethnobotany, Atlantic Forest, rural community, use-value, conservation.
54
Resumo
São reunidos os usos de recursos florestais de comunidade rural (22o30’20”S e
42o16’30”W), adjacente à Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil,
utilizando metodologia quantitativa baseada no consenso de seis especialistas locais sobre
as espécies com DAP ≥ 5 cm amostradas em 0,5 ha de floresta, cálculo do valor de uso
(VU) e análise de sua associação com os descritores estruturais da floresta estudada. Nas
parcelas amostrais foram identificadas 129 espécies, das quais 69 possuem usos
reconhecidos e são subordinadas a 29 famílias. Lauraceae (12 spp.), Leguminosae (11
spp.), Euphorbiaceae (6 spp.) e Myrtaceae (5 spp.) apresentaram as maiores riquezas. As
espécies com maior VU são: Xylopia sericea (imbiú, 3,40), Lecythis lanceolata (papante,
2,80), Guarea macrophylla (carrapeta, 2,67), Jacaranda micrantha (carobinha, 2,60) e
Alchornea triplinervia (tapiá, 2,60). A análise da associação do valor de uso com os
descritores estruturais, através de regressão linear, demonstrou que o grau de
reconhecimento das espécies e suas versatilidades de uso, pelos especialistas locais,
independe da abundância na natureza. Os resultados obtidos corroboram a hipótese de que
a riqueza de família é um caráter preditivo da importância cultural a ela associada. A
comunidade reconhece a importância da conservação dos remanescentes da região como
forma de resguardar os recursos vegetais de que fazem uso e desta forma se tornam agentes
importantes no processo de conservação e manejo da Floresta Atlântica.
Palavras-chave: etnobotânica, Floresta Atlântica, comunidade rural, valor de uso.
55
Introduction
The conservation of biological diversity represents one of the greatest current
challenges to humans due to the high degree of anthropogenic disturbance of essentially all
of the world’s natural ecosystems. Most of the remnant Atlantic Forest areas, for instance,
persist only in the form of small fragments that are highly disturbed, isolated, little known
and little protected, especially in intensely cultivated landscapes (Viana, 1995).
The Atlantic Forest is among the five most important global hotspots - threatened
areas with high biodiversity that should have priority for conservation actions (Myers et al.
2000).
The high rate of destruction of forest cover, as well as the limited knowledge we
have about the identity and use of their plant species, not only justifies, but demands, the
mobilization of efforts to sample these remaining areas using different floristic and
ethnobotanical analyses in the expectation that these diagnoses will help in the formulation
of appropriate conservation measures.
Ethnobotanical studies directed towards examining the relationships between
humans and the forest as well as the natural populations of plant species and the impacts
caused by use and management by human populations have been undertaken by numerous
authors (Torre-Cuadros & Islebe, 2003; Aguilar & Condit, 2001; Calderon et al., 2000;
Galeano, 2000; Chazdon & Coe, 1999; Phillips et al., 1994; Phillips & Gentry, 1993a,
1993b; Piñedo-Vasquez et al., 1990, entre outros), although in insufficient numbers for a
mega-diverse country such as Brazil, (Prance et al., 1987; Cunha & Albuquerque, 2006;
Alarcón & Peixoto, 2008), and contain valuable information that can assist the
management of useful species and the in situ conservation of threatened species.
Various studies have shown local knowledge to be extremely important in
environmental diagnoses, especially in terms of its historical comprehension and long term
observations (Chalmers & Fabricius, 2008; Donovan & Puri, 2004; Cundill et al., 2005).
The knowledge retained by human populations living near remnant forests,
especially those near conservation areas, can help indicate options for sustainable use and
in situ conservation of valuable resources based on the history of that community and
knowledge that it transmits orally from generation to generation. This knowledge (like the
Atlantic Forest itself) is threatened with extinction with the death (or lose of memory) of
the oldest citizens and by the disinterest of the younger community members who are now
56
living in a globalized world with its emphasis on urban values. Ethnobotanical studies are
important for strengthening the cultural identity of rural communities while at the same
time strengthening concepts and scientific methodologies that synergistically influence the
use and conservation of natural systems as demanded by public environmental policies.
The present study sought to: (1) quantify the important uses of the arboreal species
in an Atlantic Forest fragment as indicated by local specialists of a rural community near
the Poço das Antas Biological reserve, in the municipality of Silva Jardim, Rio of Janeiro,
Brazil, and (2) identify associations between the importance of these resources and their
structural descriptors.
Materials and Methods
Study Area
The Gleba Aldeia Velha rural community (22o30’20”S e 42o16’30”W) is located in
the municipality of Silva Jardim, on the central coast of Rio of Janeiro State, about 120 km
from the state capital, and neighboring the Poço das Antas Biological Reserve (fig 1.). The
predominant regional vegetation can be characterized as Dense Ombrophilous Submontane
Atlantic Forest (Velloso et al., 1991), in different states of maturity.
The Reserve occupies approximately 5,000 ha, principally within the São João
River water basin. The forests there harbor many important plant species, such as “pau-
tamanco” (Tabebuia cassinoides (Lam.) DC.), a tree that is highly sought after for its wood
and that has had its natural populations greatly reduced by harvesting (Christo et al., 2006).
The Reserve currently has a distinctly impoverished phytophysiognomic aspect
when compared to its original vegetation. Anthropogenic alterations, principally driven by
the selective extraction of trees and by wildfires as well as by alterations in drainage
systems and water courses, have all contributed to the disappearance of large tracts of
forest especially in temporarily flooded lowland areas (Lima et al., 2006).
57
Figure 1. Localization of the Gleba Aldeia Velha rural community, municipality of Silva
Jardim, RJ, Brazil.
58
Although distinctly fragmented, the present plant cover in the Reserve represents
one of the most important remnant lowland forest areas in Rio of Janeiro State - not only in
terms of its botanical richness, but also because it contains important populations of the
Golden-Lion Tamarin (Leonthopithecus rosalia, Lesson 1840) and the collared sloth
(Bradypus torquatus, Illiger 1811), both species threatened with extinction (Guedes-Bruni,
1998).
Some of the inhabitants of the study community formerly lived in what is now part
of the Reserve and were resettled along its borders after its creation at the end of the
1970’s.
The community is composed of approximately 60 families whose economic
activities are based on small-scale agriculture, principally planting “manioc” (Manihot
esculenta Crantz) and corn (Zea mays L.), as well as on animal husbandry, raising cattle
for milk and meat (Christo et al., 2006).
More detailed information concerning the vegetation, soils and the local climate, as
well as the local community itself (particularly its history, way of life, and economic
activities) can be found in Lima et al. (2006) and Christo et al. (2006) respectively.
Methodological Procedures
During the fieldwork phase of the present study, it was established that women
possess less detailed knowledge concerning the use of arboreal species than men (see
Christo et al. 2006). Traditionally, the women’s role in the community is directly related
to taking care of the family – and this entails, in large part, the management of the family
gardens that supply food and folk remedies. Although some of the women have knowledge
about forest species that was transmitted to them by their fathers or grandfathers, the
growth of that knowledge is made difficult by the social norms that discourage female
informants from accompanying a researcher or research teams into the forest interior. As
such, we chose to work only with male informants.
Field work was carried out between March 2007 and March 2008, during which
time we interviewed six local specialists (men that retain specialized knowledge
concerning the local native arboreal species) using questionnaires during semi-structured
interviews (Alexiades & Sheldon, 1996) focusing on their personal life histories and their
relationships with, and use of, forest resources. The informants that participated in these
studies where not selected randomly, as seen in Phillips & Gentry (1993a) but were chosen
59
on the basis of indications from the community itself, taking into account their significant
knowledge about the forest elements (see Christo et al. (2006)).
A second semi-structured interview was later held with the same informants to
obtain information about the use (use-categories and the plant parts utilized) of the plant
species harvested and the localities where they were collected.
In order to identify possible associations between species use and their natural
abundance and diversity, 20 sample plots (10 x 25 m), totaling 0.5 ha. were laid out, and all
individuals with stem diameters at breast height (DBH) equal or greater than 5 cm were
recorded. The phytosociological parameters calculated were: relative density (DR), relative
frequency (Fr), relative dominance (DoR), and importance value (VI), employing the
formulas suggested by Mueller-Dombois & Ellenberg (1974) and using the Fitopac 1
software program (Shepherd, 1995).
Additional ethnobotanical data was collected by way of a third series of interviews
with the specialist informants during walks in the sample plots. During these walks the
men identified the plants by name and indicated their uses and the plant parts used.
This ethnobotanical data was used to calculate the use-value index of each species s
for each informant i (UVis) as well as the use-value of each species s (UVs), as proposed by
Phillips & Gentry (1993a) – with the objective of quantifying the importance of each
species for each informant. UVis is defined as: UVis = ∑ (Uis/nis), where Uis is the number
of uses cited by informant i for each species s in each interview (event) and nis is the
number of interviews with the informant i for the species s. The total use-value of species s
(UVs) is defined as: UVs = ∑ (UVis/ns), where ns is the total number of informants
interviewed that cited species s.
An event was defined as the process of questioning an informant i during the
interval of one day about the uses attributed to a given species s (Phillips & Gentry,
1993a).
To calculate the use-value of the plant families, the methodology suggested by
Phillips & Gentry (1993a) and modified by Galeano (2000) was adopted, in which the use-
values (UV) for each species s belonging to family F are summed, without dividing by the
total number of useful species per family.
The uses identified by the informants, according to the proposal of Rios (2002) and
adapted by Christo et al. (2006), were grouped into nine categories: foods, medicinal,
construction, fuel, ornamental, ritualistic, technological, and toxic. These same categories
have been used in other ethnobotanical studies that have analyzed arboreal vegetation
60
Torre-Cuadros & Islebe (2003), Galeano (2000), Phillips et al. (1994), Phillips & Gentry
(1993a, 1993b), Piñedo-Vasquez et al. (1990), Prance et al. (1987)).
Plants included within the category “fuels” are normally grouped within the
category “technology” (Phillips & Gentry, 1993a), but in the present study we chose to
consider them as distinct categories, in light of the importance that fuel use has for the
local community (as identified by Christo et al. (2006), and corroborating with the
categories adopted by Galeano (2000) and Cunha & Albuquerque (2006).
Linear regression analysis was used to identify the association between the
importance of each species for the community in relation to its availability, comparing the
use-value of each species with its structural descriptors (density, dominance, and
frequency) in the fragment studied, and with the richness of the families.
The identification of the botanical families that were sub-utilized or highly used, in
relation to their species richness, was performed by processing the residuals obtained by
the linear regression calculated with an independent variable (richness) and a dependent
variable (the use-value of the family), following Phillips & Gentry (1993a) and Galeano
(2000). Assuming α = 0.05, the families that have residual values either greater or lesser
than 1.96 were identified as families that are either super- or sub-utilized respectively in
relation to the richness values obtained in the structural analysis of the forest fragment
(Phillips & Gentry, 1993a).
Samples of all botanical material, whether gathered during the structural analyses or
the ethnobotanical analyses, were collected according to the indication of (and in the
presence of) the informant. The material was identified using analytical keys, taxonomic
reviews, comparisons with herbarium collections and with the help of taxonomists in the
more difficult groups. All testimonial material was deposited in the herbarium of the Rio
of Janeiro Botanical Garden (RB).
The classification system adopted follows (Cronquist, 1988), except for the
Leguminosae, which was considered a single family, according to (Polhill et al., 1981).
Plant names were conferred using the IPNI data base (2008).
61
Results and Discussion
Our evaluation of the ethnobotanical knowledge of local specialists from the Gleba
Aldeia Velha community reveled that 74.36% of the plant families (39), 53.49% of the
species (129) and 78.20% (734) of the individuals in a 0.5 ha area of remnant forest were
recognized by the informants and have some type of utility (tab. 1).
A total of 30 different uses were registered for the species (tab. 2) and these were
grouped into eight principal categories, with construction (11) and technology (10)
concentrating most of the indications.
Most of the species demonstrated low levels of use-versatility, having from one to
at most four uses. Cunha & Albuquerque (2006) reported finding between six and ten uses
for 15 species (among the 42 reported as being useful) in an area of Atlantic Forest in
northeastern Brazil, while Alarcón & Peixoto (2008) reported that 43% of the 185 species
inventoried in an area of Amazonian Forest had from six to ten uses.
The construction category had the largest number of useful species cited (40 spp.),
followed by fuels (24 spp.), and then technology (20 spp.) (Fig. 2). When considering the
total numbers of citations, construction had 51.77% of the use-indications of the local
specialists, while 22.79% were indications for technological purposes, and 18.56% for
fuels (Fig. 3).
Most of the species demonstrated low use-values and few had high use-versatilities
according to the local specialists, indicating that each species has essentially only one
typical use.
The distribution of the number of use-citations per family in the various use-
categories is presented in Figure 4. Lauraceae stands out in terms of the absolute number of
citations, although it demonstrates low versatility among the different use categories, with
its component taxa being restricted to the categories of construction and technology.
Leguminosae, with a slightly smaller number of citations than Lauraceae, is distributed
among six distinct use-categories (medicinal, construction, fuels, ornamental, ritualistic,
and technological). The third most important family in terms of the number of citations
was Euphorbiaceae, being cited in three categories (construction, fuels, and technology).
62
Table 1. List of species (DBH ≥ 5 cm) indicated as being useful by local specialists in the
Gleba Aldeia Velha rural community that were encountered in 0.5 ha of remnant forest
surveyed in the municipality of Silva Jardim, RJ, Brazil. Uses: food – food; med –
medicinal; cons – construction; fuel – fuel; orn – ornamental; rit – ritualistic; tec –
technological; tox – toxic. C = collection number of A. G. Christo.
Family / Species Local name Uses C
ANACARDIACEAE
Tapirira guianensis Aubl. canela-cedro cons 415
ANNONACEAE
Annona cacans Warm. imbiú-branco fuel 505
Guatteria xylopioides R.E.Fr. imbiú-preto cons 470
Xylopia sericea A. St.-Hil. imbiú cons, fuel, tec 508
APOCYNACEAE
Himatanthus bracteatus (A. DC.) Woodson paratudo fuel 518
ARECACEAE
Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret iri food -
Euterpe edulis Mart. palmito-doce food, cons -
Polyandrococos caudescens (Mart.) Barb. Rodr. palmito-amargo food -
ASTERACEAE
Piptocarpha macropoda (DC.) Baker aroeira-preta cons 498
Indet1 camará-açú fuel 474
BIGNONIACEAE
Jacaranda micrantha Cham. carobinha cons, orn 413
J. puberula Cham. carobinha med, orn 544
CECROPIACEAE
Cecropia hololeuca Miq. embaúba-branca fuel, tec 427
CHRYSOBALANACEAE
Hirtella angustifolia Schott ex Spreng. oiti cons 575
CLUSIACEAE
Calophyllum brasiliense Cambess. guanandí cons, tec 547
EUPHORBIACEAE
Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. tapiá cons, fuel, tec 500
Aparisthmium cordatum Baill. iricurana cons 497
Hieronyma oblonga (Tul.) Müll. Arg. guapeba-sabão cons 517
Mabea fistulifera Mart. canudo fuel 618
Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. gema-de-ovo cons 603
LACISTEMATACEAE
Lacistema pubescens Mart. candeia fuel 499
63
Table 1. Continuation.
Family / Species Local name Uses C
LAURACEAE
Aniba firmula (Nees & C. Mart.) Mez canela-cheirosa cons, tec 468
Nectandra oppositifolia Nees & Mart. canela cons 438
Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez canela cons 513
O. divaricata (Nees) Mez canela cons 525
O. glaziovii Mez canela-amarela cons 579
O. schottii (Meisn.) Mez canela cons 419
Licaria sp. canela cons 584
Ocotea sp. canela tec 475
Phyllostemonodaphne geminiflora Kosterm. canela cons 596
Indet2 canela cons 465
LECYTHIDACEAE
Lecythis lanceolata Poir. papante cons 532
LEG. CAESALPINIOIDEAE
Copaifera langsdorffii Desf. copaíba med 421
C. lucens Dwyer copaíba med 464
LEG. MIMOSOIDEAE
Albizia polycephala (Benth.) Killip angico cons, tec 452
Inga tenuis (Vell.) Mart. ingá-mirim fuel 565
Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P. Lewis & M.P.
Lima
angico-preto cons 566
Stryphnodendron polyphyllum Mart. barbatimão cons 462
LEG. PAPILIONOIDEAE
Ormosia cf. minor Vogel olho-de-cabra rit 443
LOGANIACEAE
Strycnos sp. cuaça tec 546
MELASTOMATACEAE
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin jacatirão cons 425
M. lepidota Schrank & Mart. ex DC. mirindiba fuel 423
Tibouchina arborea Cogn. quaresmeira fuel, orn 428
Miconia sp. jacatirão-branco cons 424
MELIACEAE
Cabralea canjerana (Vell.) Mart. canjerana cons, tec 411
Guarea guidonia (L.) Sleumer carrapeta cons, tec, tox 446
G. kunthiana A. Juss. carrapeta cons, tec 536
G. macrophylla Vahl carrapeta cons, tec 569
64
Table 1. Continuation.
Family / Species Local name Uses C
MONIMIACEAE
Siparuna brasiliensis (Spreng.) A. DC. canela fuel 503
S. guianensis Aubl. fedegoso fuel 432
MORACEAE
Brosimum guianense (Aubl.) Huber canudo fuel 618
MYRISTICACEAE
Virola oleifera (Schott) A.C. Sm. bicuíba cons 430
MYRSINACEAE
Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. ex Roem. & Schult. capororoca fuel 414
MYRTACEAE
Calyptranthes brasiliensis Spreng. gaiabeira tec 558
Eugenia oblata Roxb. guapeba tec 523
Eugenia sp1 goabeira-do-mato tec 642
Marlierea obscura O. Berg goiabeira tec 454
Myrcia anceps O. Berg caipuna tec 467
NYCTAGINACEAE
Guapira opposita (Vell.) Reitz bucho-de-sapo fuel 482
PROTEACEAE
Roupala sculpta Sleumer carne-de-vaca tec 590
RUBIACEAE
Bathysa mendoncaei K. Schum. guapeba-branca fuel 447
SAPINDACEAE
Cupania furfuracea Radlk. camboatá fuel 418
C. oblongifolia Mart. camboatá fuel 639
C. racemosa (Vell.) Radlk. camboatá-miúdo fuel 416
C. schizoneura Radlk. camboatá fuel 504
SAPOTACEAE
Ecclinusa ramiflora Mart. acá cons, tec 478
Pouteria bangii (Rusby) T.D. Penn. abiurana cons 583
SIMAROUBACEAE
Simarouba amara Aubl. caixeta cons 568
VIOLACEAE
Rinorea guianensis Aubl. arapoca cons 637
65
Cunha & Albuquerque (2006) noted the importance of Leguminosae,
Melastomataceae, Burseraceae, and Anacardiaceae in terms of numbers of uses, the
majority of which were related to construction and technology. In studies undertaken in
two indigenous areas in the Amazonian Forest in Brazil, Prance et al. (1987) indicated the
families Arecaceae, Apocynaceae, Clusiaceae, and Chrysobalanaceae as being most
important for the Ka’apor Amerindians; while for the Tembé indigenous tribe Arecaceae,
Chrysobalanaceae, Annonaceae, and Lauraceae stood out. It is worth pointing out that the
families Leguminosae, Lauraceae, Melastomataceae, and Arecaceae are widely distributed
in the country, occurring in many different vegetation formations, and have significant
roles in the characterization of those physiognomies.
The low species richness of some families is compatible with their restriction to
only a single use-category, as was seen in 12 of the 29 families inventoried.
The selective extraction of lumber for construction constitutes the most expressive
use of forest products, and they are used in residences and in shelters for domestic animals.
Among all of the species encountered, 58% were used for this end, and 70% of those
species where used exclusively in this category. The families most indicated for
construction use are Lauraceae, Leguminosae, Euphorbiaceae, Meliaceae,
Melastomataceae, Annonaceae, Anacardiaceae, and Sapotaceae.
Figure 2. Distribution of the numbers of species in the various use-categories encountered
during an ethnobotanical survey in the Gleba Aldeia Velha rural community, municipality
of Silva Jardim, RJ, Brazil.
66
Figure 3. Distribution of the numbers of citations in the various use-categories of plants
encountered during an ethnobotanical survey in the Gleba Aldeia Velha rural community,
municipality of Silva Jardim, RJ, Brazil.
Use-pressure associated with knowledge about in situ species populations must be
analyzed individually for each species. When the use of a species requires the cutting down
of an individual, information about the species (including the size and the characteristics of
their respective populations) take on special importance in terms of the adequate
management and the sustainable use of those forest resources.
The biofuel category represents the second largest category of citations, uniting 24
species used for this end. The families most used as fuelwoods are Sapindaceae and
Euphorbiaceae, the latter having the greatest number of use-citations. These biofuels are
used directly for cooking and for preparing manioc flower, as well as to produce charcoal.
Some residences have their own charcoal-manufacturing kilns made of mud, called
“balões”.
In the technology category, wood is used basically for making handles for tools as
well as crates for transporting farm produce. According to some of the local specialists, the
practice of making these wooden crates greatly reduced the number of certain plant species
in the region due to excessive demand in the past for box-wood to supply an industry
installed in the region.
67
Figure 4. Distribution of the numbers of citations by use-categories of plants encountered
during an ethnobotanical survey in the Gleba Aldeia Velha rural community, municipality
of Silva Jardim, RJ, Brazil.
The food uses of forest species were concentrated within the family Arecaceae - the
source of palm-hearts. Within the fragment studied, three palm tree species are harvested
for this purpose: Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret, Euterpe edulis Mart., and
Polyandrococos caudescens (Mart.) Barb. Rodr.). The search for Euterpe edulis, the most
desired palm-heart, was responsible for the accentuated destruction of the forests of Rio of
Janeiro, as this species was once very abundant along the Atlantic coast, growing even on
the mountainsides. Vestiges of cut palms were found in the sample plots. As this plant
produces only a single shoot, cutting the individual to retrieve the palm-heart eliminates
the whole individual - making the conservation of this species more difficult.
68
Table 2. List of the types of uses attributed to arboreal species by local specialists in the
Gleba Aldeia Velha rural community, municipality of Silva Jardim, RJ, Brazil, grouped
into use-categories.
Categories of use / Use
Food
edible fruit
Fuel
wood
Construction
rafter, fence, coping, split trunk for oven structure, house construction, leaves for
thatching, house foundations and beams
Medicinal
bath for itching, inflammations, gastric disorders
Ornamental
ornamentation of houses and gardens
Ritualistic
offering
Technological
toy, brooms, tool cable, boxes, shoes, basket, cages, forniture, household goods
Toxic
toxic to cattle
Only three species were recognized as having medicinal properties. Jacaranda
puberula Cham. was indicated for treating itching (using the leaf to prepare an infusion).
Copaifera langsdorffii Desf. and Copaifera lucens Dwyer were indicated for treating
afflictions of the digestive system, using the plant sap.
The ornamental category had three species: Jacaranda micrantha Cham.,
Jacaranda puberula, and Tibouchina arborea Cogn. The local specialists indicated that
these plants were considered ornamental due to their large size and showy flowers.
Two categories had only one indicated species: Guarea guidonia (L.) Sleumer is
considered toxic to cattle; and the seeds of Ormosia cf. minor Vogel are used for
adornment in Afro-Brazilian cult rituals.
69
The association between abundance, frequency, and dominance of the species
sampled in the forest and the use-values attributed to them by the local specialists were
evaluated by linear regression analysis (tab. 3).
The data demonstrated that although the species in the fragment with high use-
values appeared to have low relative densities – suggesting that the species with the
greatest versatility had reduced populations – this association was not in fact found to be
significant (UV = 1.59 – 2.57*DR; r² = 0.004; F = 0.266; p > 0.05). Of the three species
that stood out as having the highest use-values: Xylopia sericea A. St.-Hil., Lecythis
lanceolata Poir., and Guarea macrophylla Vahl; the last two did demonstrate very low
relative densities in the study fragment (0.54 and 0.27 respectively).
A similar situation was noted in terms of the association between high use-values
and high relative dominance. The results also were not significant (UV = 1.45 +
8.64*DoR; r² = 0.049; F = 3.447; p > 0.05), although the species with the greatest UV was
also the species with the greatest relative dominance (4.54) - which may be related to the
size of the population (17 individuals) and to their bulk.
The analysis of diameter distributions among the first three species having the
highest UV as well as populations greater than 15 individuals (Fig. 5) demonstrated that
Aniba firmula and Cabralea canjerana had inverted “J” distribution patterns, indicating
normal regeneration patterns. Xylopia sericea, on the other hand, did not demonstrate the
same inverted “J” distribution pattern, suggesting problems during its regeneration process
in a given stage of the community, or an alteration directly related to the taxon. In
examining the structural descriptors of this species and associating them to ethnobotanical
data, it could be seen that Xylopia sericea is heavily used in constructing roofs for local
residences, and trees with stem diameters between 5 and 20 cm are preferentially
harvested. This specific diameter selection results in reduced numbers of individuals in the
first two diameter classes in the forest fragment studied. Those individuals not selectively
harvested will grow and occupy the canopy layer at maturity, making up the tallest
individuals in the fragment.
In analyzing the relative frequency of the species, it was observed that the use-value
was independent of the frequency of the species (UV = 1.53 + 2.66*FR; r² = 0.002; F =
0.111; p > 0.05). As such, the species with the greatest use-values are not necessarily those
having the greatest frequencies in the plots we analyzed.
70
Figure 5. Diameter distribution of the three tree species with the greatest UV and largest
numbers of individuals in an ethnobotanical survey in the Gleba Aldeia Velha rural
community, municipality of Silva Jardim, RJ, Brazil.
The association between the use-value of a given family and its species richness
(Fig. 6) was significant and positive (UVf = 1.02 + 0.66*N.Spp; r² = 0.723; F = 70.542; p <
0.0001). The best predictor of a species’ usefulness is therefore associated with family
richness, corroborating with the data presented by Moerman et al. (1999). Our data
indicates that morphological similarities between species subordinated to the same family
influence the local specialists and suggest similarities in their uses - so much so, in fact,
that they sometimes attribute the same vernacular name to distinct taxa.
In the graph of the residual (Fig. 7), the families are represented by observation
points. Assuming α = 0.05, the family Myrtaceae is apparently under-used in light of its
high species richness but the low use-values attributed to it by the local specialists. In spite
of the fact that this family is recognized as having a large number of species in the Atlantic
71
Forest, these plants were basically only used to make tool handles, as they have smooth
trunks and their soft-textured wood is comfortable to grip. Additionally, the species that
occur in the study area are small and thus less valued by the local specialists who are more
attentive to lumber species. The family Meliaceae, however, demonstrated over-utilization
- due to its low species richness but elevated use-value. Six species of this family
werefound to occur in the area, all of them valued for producing wood used is house
construction and for making furniture.
Figure 6. Regression analysis of the use-values of the plant families and their respective
use-values from an ethnobotanical survey in the Gleba Aldeia Velha rural community,
municipality of Silva Jardim, RJ, Brazil.
It is interesting to note that selective extraction to supply the demands of saw-mills
in northern Rio of Janeiro State was one of the principal factors responsible for the
reduction in the populations of coastal forest species that are currently priority targets for
conservation (such as Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth., Melanoxylon brauna
72
Schott, and Tabebuia cassinoides) - but this same economic demand for wood imparted a
great deal of specialized knowledge about the uses of arboreal species to a small segment
of the local population – the local specialists – who can now be tapped to aid in forest
conservation.
Larrère et al. (2003) observed that “Biodiversity is the result of the interaction of
natural processes and human activities acting over long time scales. Human activities are
not necessarily unfavorable to biological diversity. Conservation, in itself, is not restricted
solely to nature but includes human culture”. As such, local knowledge concerning the
uses and populations sizes of forest species should be consulted when preparing proposals
for management activities that intend to conserve plant resources and when developing
sustainable alternatives to guarantee the permanence and well-being of these rural
communities.
Figure 7. Analysis of the residual standard errors obtained by the linear regression
between the use-values of the families and their respective use-values from an
ethnobotanical survey in the Gleba Aldeia Velha rural community, municipality of Silva
Jardim, RJ, Brazil.
73
Table 3. Use-value and structural descriptors of the arboreal species considered useful by
local specialists in the Gleba Aldeia Velha rural community (with DBH ≥ 5 cm) that were
encountered in a 0.5 ha forest fragment in the Santa Helena Farm, municipality of Silva
Jardim, Rio of Janeiro, Brazil, presented in decreasing use-value order (UV). UV = use
value, Ni = number of individuals, DR = relative density (%), DoR = relative dominance
(%), FR = relative frequency (%), VI = importance value.
Species UV Ni DR DoR FR VI
1. Xylopia sericea 3.40 17 2.32 4.54 2.51 9.37
2. Lecythis lanceolata 2.80 4 0.54 0.49 0.68 1.72
3. Guarea macrophylla 2.67 2 0.27 0.05 0.46 0.78
4. Jacaranda micrantha 2.60 4 0.54 1.77 0.68 3.42
5. Alchornea triplinervia 2.60 3 0.41 1.97 0.46 2.83
6. Aniba firmula 2.50 16 2.18 1.27 2.05 5.50
7. Guarea guidonia 2.50 3 0.41 0.42 0.23 1.06
8. Calophyllum brasiliense 2.40 1 0.14 0.07 0.23 0.44
9. Cabralea canjerana 2.40 20 2.72 2.60 2.97 8.30
10. Hirtella angustifolia 2.25 2 0.27 0.59 0.23 1.09
11. Ecclinusa ramiflora 2.20 3 0.41 0.52 0.46 1.39
12. Tapirira guianensis 2.17 12 1.63 5.11 2.05 8.80
13. Albizia polycephala 2.17 16 2.18 3.98 1.14 7.30
14. Stryphnodendron polyphyllum 2.00 4 0.54 0.37 0.91 1.83
15. Guarea kunthiana 2.00 2 0.27 0.07 0.23 0.57
16. Hyeronima oblonga 1.83 11 1.50 2.45 1.60 5.54
17. Tibouchina arborea 1.83 3 0.41 0.52 0.68 1.62
18. Guatteria xylopioides 1.80 19 2.59 3.39 2.28 8.27
19. Licaria sp 1.80 3 0.41 2.85 0.68 3.94
20. Eugenia oblata 1.80 4 0.54 0.89 0.68 2.12
21. Virola oleifera 1.75 7 0.95 2.02 0.91 3.88
22. Pogonophora schomburgkiana 1.67 11 1.50 2.36 0.68 4.55
23. Nectandra oppositifolia 1.67 11 1.50 2.14 1.37 5.01
24. Ocotea divaricata 1.67 18 2.45 1.35 2.51 6.31
25. Phyllostemonodaphne geminiflora 1.67 2 0.27 0.69 0.46 1.42
26. Copaifera langsdorffii 1.67 1 0.14 0.35 0.23 0.72
27. Cecropia hololeuca 1.60 6 0.82 0.72 0.68 2.23
28. Miconia cinnamomifolia 1.60 4 0.54 0.91 0.68 2.14
29. Rinorea guianensis 1.60 15 2.04 1.46 1.60 5.10
30. Piptocarpha macropoda 1.50 12 1.63 5.19 1.6 8.42
31. Pseudopiptadenia contorta 1.50 4 0.54 0.65 0.68 1.88
74
Table 3. Continued.
Species UV Ni DR DoR FR VI
32. Eugenia sp 1.50 1 0.14 0.12 0.23 0.49
33. Simarouba amara 1.50 5 0.68 1.78 1.14 3.60
34. Mabea fistulifera 1.40 17 2.32 3.78 1.60 7.70
35. Euterpe edulis 1.33 3 0.41 0.09 0.68 1.18
36. Jacaranda puberula 1.33 7 0.95 0.39 1.14 2.48
37. Copaifera lucens 1.33 1 0.14 0.16 0.23 0.52
38. Cupania oblongifolia 1.33 1 0.14 0.03 0.23 0.39
39. Brosimum guianense 1.25 1 0.14 0.03 0.23 0.39
40. Cupania furfuracea 1.25 13 1.77 0.82 1.60 4.19
41. Aparisthmium cordatum 1.20 51 6.95 4.91 3.42 15.28
42. Lauraceae sp 1.20 1 0.14 0.06 0.23 0.42
43. Ocotea diospyrifolia 1.20 5 0.68 0.57 0.91 2.17
44. Ocotea sp 1.20 4 0.54 0.31 0.91 1.77
45. Miconia lepidota 1.20 4 0.54 0.42 0.68 1.65
46. Miconia sp 1.20 9 1.23 0.37 0.91 2.51
47. Siparuna brasiliensis 1.20 21 2.86 2.25 2.28 7.40
48. Siparuna guianensis 1.20 3 0.41 0.10 0.68 1.19
49. Marlierea obscura 1.20 3 0.41 0.13 0.68 1.22
50. Roupala sculpta 1.20 5 0.68 0.62 0.68 1.99
51. Cupania racemosa 1.20 8 1.09 1.47 1.60 4.16
52. Cupania schizoneura 1.20 1 0.14 0.05 0.23 0.41
53. Pouteria bangii 1.20 2 0.27 0.05 0.23 0.55
54. Ocotea glaziovii 1.17 2 0.27 0.34 0.46 1.07
55. Calyptranthes brasiliensis 1.17 2 0.27 0.09 0.23 0.59
57. Annona cacans 1.00 2 0.27 2.15 0.46 2.88
58. Himatanthus bracteatus 1.00 8 1.09 0.59 1.14 2.82
59. Astrocaryum aculeatissimum 1.00 10 1.36 0.75 1.37 3.48
60. Polyandrococos caudescens 1.00 1 0.14 0.17 0.23 0.53
61. Asteraceae sp 1.00 3 0.41 1.34 0.68 2.44
56. Myrcia anceps 1.17 28 3.81 1.74 2.05 7.61
62. Lacistema pubescens 1.00 34 4.63 2.25 2.74 9.63
63. Ocotea schottii 1.00 5 0.68 1.03 0.68 2.39
64. Ingá tenuis 1.00 1 0.14 0.05 0.23 0.41
65. Ormosia minor 1.00 4 0.54 0.62 0.91 2.08
66. Strycnos sp 1.00 1 0.14 0.20 0.23 0.56
67. Myrsine coriacea 1.00 1 0.14 0.07 0.23 0.44
68. Guapira opposita 1.00 43 5.86 4.89 3.65 14.4
75
Table 3. Continued.
Species UV Ni DR DoR FR VI
69. Bathysa mendoncaei 1.00 23 3.13 1.13 2.05 6.32
Other species
(without a recognized use) - 160 21.83 12.32 29.53 63.56
Total - 734 100 100 100 300
Conclusions
The background of the local informants had a very strong influence on the results of
the research reported here, as these men were predominantly ex-harvesters of lumber
resources and most of their knowledge about the forest was focused on forest species used
as timber resources. Their former occupations likewise explain their accuracy in
recognizing fully 78.20% of the arboreal individuals sampled and 53.49% of the species
encountered.
Most of the species demonstrated low use-versatility, having from one to a
maximum of four uses.
The construction category had the largest number of species, followed by fuels and
technology – and the previous association of the informants with harvesting wood from the
Atlantic Forest for biofuel use surely contributed to these proportions.
The local specialists’ knowledge about forest species and their use-versatilities
were found to be independent of their actual abundance in nature.
The association between the use-value of a family and its species richness was
found to be significant and positive. Morphological similarities between the species within
a given family greatly influenced the local specialists, to the point of not only indicating
similar uses for them but also using the same vernacular name for distinct taxa.
The diameter-class distributions noted for Xylopia sericea, when associated to the
characteristics of its use by the community exemplify how the local management of a
given resource can interfere in the ecological parameters of and entire forest fragment.
The sub-utilization of the Myrtaceae family and the over-use of the Meliaceae
demonstrated the degree of influence of the historical profiles of the local specialists on our
results. The knowledge accumulated during their work harvesting native trees influenced
76
their manner of seeing the forest, and even though they were assisting a scientific research
project (and were aware of the importance of conserving the forest as a whole), these
specialists consistently attributed greater value to arboreal species, especially those valued
as lumber species.
Interdisciplinary investigations that evaluate the structure of forest fragments
together with the use of those resources by local rural communities can provide important
information for future in situ conservation programs, while at the same time offering the
prospect of sustainable management and use of natural products by those same
communities.
The community studied recognized the importance of conserving the remnant
forests as a way of protecting the resources they use - thus presenting the possibility of
recruiting them as front-line agents for the conservation and management of the Atlantic
Forest – a forest that is currently reduced to only 6% of its original area in Rio of Janeiro
State (with 30% of that area at least nominally safeguarded in conservation areas).
Acknowledgements
The authors would like to thank PETROBRAS for financing the “Mata Atlantic”
Program of the Rio of Janeiro Botanical Garden, which included the present this study; the
Poço das Antas Biological Reserve / IBAMA for their logistical support; the Escola
Nacional of Botânica Tropical (ENBT) for the use of their facilities; Antônio Tavares of
Oliveira, Adilson Pintor, and Jonas Alves Dias of the Programa Mata Atlantic for their
help with the field work; the taxonomists Alexandre Quinet, Haroldo Cavalcanti Lima,
José Fernando Baumgratz, and Marcelo Costa Souza of the Rio of Janeiro Botanical
Garden; the owners of the Santa Helena Farm for allowing us free access to the study site;
the CAPES for the Masters grant to the first author, and to the biologist Roy Funch for the
English version and its revision.
77
References
Aguilar, S. & Condit, R. 2001. Use of native tree species by an hispanic community in
Panama. Economic Botany 55(2): 223-235.
Alarcón, J. G. S. & Peixoto, A. L. 2008. Use of terra firme forest by Caicubi caboclos,
middle Rio Negro, Amazonas, Brazil: a quantitative study. Economic Botany, XX(X):
1–13.
Alexiades, M. N. & Sheldon, J. W. (eds.) 1996. Selected guidelines for ethnobotanical
research: A field manual. The New York Botanical Garden Press. New York.
Advances in Economic Botany 10: 1-306.
Calderon, A. I.; Angerhofer, C. K.; Pezzuto, J. M.; Farnsworth, N. R.; Foster, R.; Condit,
R.; Gupta, M. P.; Soejarto, D. D. 2000. Forest plot as a tool to demonstrate the
pharmaceutical potential of plants in a tropical forest of Panama. Economic Botany 54
(3): 278-294.
Chalmers, N., and C. Fabricius. 2007. Expert and generalist local knowledge about land-
cover change on South Africa’s Wild Coast: can local ecological knowledge add value
to science? Ecology and Society 12 (1): 10. [online] URL:
http://www.ecologyandsociety.org/vol12/iss1/art10/
Chazdon, R. L. & Coe, F. G. 1999. Ethnobotany of woody species in second-growth, old-
groth, and selectively logged forest of Northeastern Costa Rica. Conservation Biology
13(6): 1312-1322.
Christo, A. G.; Guedes-Bruni, R. R. & Fonseca-Kruel, V. S. 2006. Uso de recursos
vegetais em comunidades rurais limítrofes à Reserva Biológica de Poço das Antas,
Silva Jardim, Rio de Janeiro: estudo de caso na Gleba Aldeia Velha. Rodriguésia 57
(3): 519-542.
Cronquist, A. 1988. The evolution and classification of flowering plants. 2ª ed. The New
York Botanical Garden, New York, 555p.
Cundill, G. N. R., C. Fabricius, and N. Marti. 2005. Foghorns to the future: using
knowledge and transdisciplinarity to navigate complex systems. Ecology and Society
10(2): 8. [online] URL: http://www.ecologyandsociety.org/vol10/iss2/art8/
Cunha, L. V. F. C. & Albuquerque, U. P. 2006. Quantitative ethnobotany in na Atlantic
Forest Fragment of Northeastern Brazil - implications to conservation. Environmental
Monitoring and Assessment 114: 1-25.
78
Donovan, D. and R. Puri. 2004. Learning from traditional knowledge of non-timber forest
products: Penan Benalui and the autecology of Aquilaria in Indonesian Borneo.
Ecology and Society 9(3): 3. [online] URL:
http://www.ecologyandsociety.org/vol9/iss3/art3
Galeano, G. 2000. Forest use at the Pacific Coast of Chocó, Colombia: a quantitative
approach. Economic Botany 54 (3): 358-376.
Guedes-Bruni, R. R. 1998. Composição, estrutura e similaridade de dossel em seis
unidades fisionômicas de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Tese de Doutorado.
Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 231p.
IPNI. 2008. The international plants names index. http://www.ipni.org/ (Acessado em maio
de 2008).
Larrère, R.; Lepart, J.; Marty, J. & Franck-Dominique, V. 2003. École thematique du
CNRS: Biodiversité: quelles interactions entre sciences de la vie et sciences de
l’homme et de la société?. Natures Sciences Sociétés 11: 304-314.
Lima, H. C.; Pessoa, S. V. A.; Guedes-Bruni, R. R.; Moraes, L. F. D.; Granzotto, S. V.;
Iwamoto, S. & Di Ciero, J. 2006. Caracterização fisionômico-florística e mapeamento
da vegetação da Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, Rio de Janeiro,
Brasil. Rodriguésia 57(3): 369-389.
Moerman, D. E. 1996. An analysis of the food plants and drug plants of native North
America. Journal of Ethnopharmacology 52: 1-22.
Mueller-Dombois, D. & Ellenberg, H. 1974. Aims and methods of vegetation ecology.
New York: John Wiley & Sons. 547 p.
Myers, N; Mittermeler, A. R.; Mittermeler, C. G.; Fonseca, G. B. A.; Kent, J. 2000.
Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 853-858.
Phillips, O. L. & Gentry, A. H. 1993a. The useful plants of Tambopata, Peru: I. Statistical
hypotheses tests with a new quantitative technique. Economic Botany 47 (1): 15-32.
Phillips, O. L. & Gentry, A. H. 1993b. The useful plants of Tambopata, Peru: II.
Additional hypotheses testing in quantitative ethnobotany. Economic Botany 47 (1):
33-43.
Phillips, O. L.; Gentry, A. H.; Reynel, C.; Wilkin, P.; Galvez-Durand, C. 1994.
Quantitative ethnobotany and amazonian conservation. Conservation Biology 8 (1):
225-248.
79
Piñedo-Vásquez, M.; Zarín, D.; Jipp, P. & Chota-inuma, J. 1990. Use-Values of tree
species in a communal forest reserve in Northeast Peru. Conservation Biology 4(4):
405-416.
Polhill, R. M.; Raven, P. H. & Stirton, C. H. 1981. Evolution and systematics of the
Fabaceae. In: Polhill, R. M. & Raven, P. H. (eds). Advances in Legume Systematics.
London. Royal Botanic Gardens, Kew 1: 1-26.
Prance, G. T.; Boom, B. M.; Baleé, W. & Carneiro, R. L. 1987. Quantitative ethnobotany
and the case for conservation in Amazonia. Conservation Biology 1(4): 296-310.
Rios, M. 2002. La comunidad Benjamin Constant y las plantas útiles de la “capoeira”: un
enlace etnobotánico en la Región Bragantina, Pará, Amazonía Brasileña. Tese de
Doutorado. Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos-Estudos Amazônicos,
Belém, 539p.
Shepherd, G. J. 1995. FITOPAC 1: Manual do usuário. Departamento de Botânica.
Unicamp.
Torre-Cuadros, M. A. & Islebe, G. A. 2003. Traditional ecological knowledge and use of
vegetation in southeastern México: a case study from Solferino, Quintana Roo.
Bodiversity and Conservation 12: 2455-2476.
Veloso, H. P. ; Rangel-Filho, A. L. R. & Lima, J. C. A. 1991. Classificação da vegetação
brasileira adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro. IBGE, 123 p.
Viana, V. M. 1995. Conservação da biodiversidade de fragmentos de florestas tropicais em
paisagens intensivamente cultivadas. In: Abordagens interdisciplinares para a
conservação da biodiversidade e dinâmica do uso da terra no novo mundo. Belo
Horizonte/Gainesville: Conservation International do Brasil/Universidade Federal de
Minas Gerais/ University of Florida, 1995. p. 135-154.
80
ARTIGO III
Uso e diversidade de espécies arbóreas nativas em comunidade
rural adjacente à Unidade de Conservação no Sudeste do
Brasil: uma abordagem cultural
Alexandre Gabriel Christo1,3
Rejan R. Guedes-Bruni1
Felipe de Araújo P. Sobrinho1
Ary Gomes da Silva2
Ariane Luna Peixoto1
1 Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão, 915, 22.460-030 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Universidade de Vila Velha, Rua Comissário José Dantas de Melo, 21, 29.102-770 - Vila Velha, ES, Brasil 3 Autor para correspondência: [email protected]
81
Resumo
Foi investigado o uso da Floresta Atlântica por comunidade rural, na parte central-costeira
do estado do Rio de Janeiro (22o30’20”S e 42o16’30”W), através do consenso de 10
especialistas locais. Métodos multivariados foram empregados para análise dos dados.
Foram registrados usos para 143 espécies arbóreas, subordinadas a 39 famílias botânicas.
As famílias mais reresentativas em número de espécies foram: Leguminosae (13 Mim., 10
Caes. e 8 Pap.), Lauraceae (10 espécies), Euphorbiaceae (9) e Bignoniaceae (8).
Reconheceram-se 30 usos diferentes para as espécies, sendo as categorias construção e
tecnologia as que reúnem os maiores números de uso, 11 e 10, respectivamente. É
evidenciado através da análise de correspondência canônica (CCA) que o conhecimento
acerca dos usos das plantas não é previsível a partir do perfil sócio-cultural dos
especialistas locais, mas que, através da análise de regressão, verifica-se uma associação
positiva e significativa entre as idades dos especialistas locais e o número de espécies
arbóreas conhecidas. A análise de agrupamento formou dois grupos distintos e este fato
pode ser atribuído à concentração em um dos grupos de especialistas locais que
participaram de extração de madeira no passado e que moram no local. Estas
características contribuíram para um maior conhecimento sobre as espécies empregadas
para fins de construção, tecnologia e combustível. A polivalência funcional e ocupacional
desses especialistas locais pode operar como um canal de abertura para a exploração de
novas frentes de ocupação, emprego e renda em atividades não agrícolas e, assim, num
contexto de implementação de políticas de conservação ambiental, colaborarem para
ativamente para este fim. Explorações interdisciplinares que avaliem a estrutura de
fragmentos florestais associadas ao uso dos recursos que as comunidades rurais dela
fazem, constituem importantes fontes de dados que podem subsidiar a conservação de
espécies in situ e, ao mesmo tempo, oferecer às comunidades formas sustentáveis de
manejo e sustento familiar.
Palavras-chave: etnobotânica, Floresta Atlântica, comunidade rural, conservação.
82
Abstract
The use of Atlantic Forest was investigated at a center coastal are at Rio de Janeiro State
(22o30’20”S e 42o16’30”W), by means of consensus of 10 local specialists. Multivariate
techniques were used in data analysis. The uses of 143 tree species, belonging to 39
botanic families, were recorded. The most representative families were Leguminosae (13
Mim., 10 Caes. e 8 Pap.), Lauraceae (10 species), Euphorbiaceae (9) e Bignoniaceae (8). A
total of 30 different kinds of uses were registered for the species, and the categories of
building and technology were the ones that assembled the highest values, 11 and 10,
respectively. The Canonical Correspondence Analysis (CCA) had evidenced that the
knowledge about plant uses was not predictable on the basis of social-cultural profile of the
local specialists, but there were a significant positive association between the ages of local
specialists with the number of known tree species that were evidenced by simple linear
regression. Cluster analysis had shown two distinct groups, probably because of the
assembling in one of them of local specialists that took part in timber gathering in the past
who are also longer local inhabitants that are established in that site. These attributes may
probably contribute to their higher knowledge about the plant species used in building,
technology, and fuel. The functional and occupational polyvalence of those local
specialists may work as an open way for exploring new fronts for occupation, employ, and
pay in non agricultural activities that may collaborate to biological diversity conservation
in the context of public policies of environmental preservation. Interdisciplinary
approaches that evaluate forest fragment structure associated with their uses by local
communities are important data sources to support in situ species conservation and, at the
same time, offering sustainable ways of management and familiar livelihood to local
communities.
Key words: ethnobotany, Atlantic Forest, rural community, conservation.
83
Introdução
A Floresta Atlântica é o bioma mais ameaçado do Brasil, representando o quinto na
lista dos hotspots mundiais, definidos como áreas de alta diversidade biológica, elevadas
taxas de endemismo e que se encontram sob forte ameaça a sua integridade, o que as torna
prioritárias para ações de conservação (Myers et al. 2000). Neste bioma a maior parte dos
remanescentes florestais, especialmente em paisagens intensamente cultivadas, encontra-se
na forma de pequenos fragmentos, altamente perturbados e pouco protegidos (Viana 1995).
Neste cenário, imersas nesta matriz antrópica, encontram-se comunidades rurais
que desenharam um modelo de classificação e utilização dos recursos naturais para sua
própria sobrevivência e formas de expressão e reprodução do seu sistema cultural.
A acelerada perda de extensas áreas verdes coloca em risco a reprodução e
transmissão do conhecimento sobre o ambiente natural. Este fato não só justifica como
também induz que estudos etnobotânicos sejam desenvolvidos.
Desta forma, estudos etnobotânicos que avaliem a interferência da ocupação
humana no uso da paisagem, afetando a estrutura de comunidades vegetais, a evolução de
espécies e alterações morfológicas através dos processos de domesticação, a biologia
reprodutiva de determinadas populações de plantas de interesse, não apenas sob aspectos
negativos, como comumente se credita à intervenção humana, mas beneficiando e
promovendo os recursos manejados, devem constituir uma das ações prioritárias de estudo
para a inserção dessas comunidades como importantes atores no processo de conservação
da diversidade biológica, principalmente por àquelas comunidades rurais que coexistem no
interior ou às margens das Unidades de Conservação (UCs), cujo conhecimento acerca do
uso dos recursos vegetais são transmitidos de forma oral, de geração à geração.
Este estudo objetivou: (1) identificar as espécies arbóreas da Floresta Atlântica,
reconhecidas como úteis por especialistas locais numa comunidade rural, circunvizinha à
Reserva Biológica de Poço das Antas, município de Silva Jardim, Rio de Janeiro e (2)
testar a ocorrência de associações entre as características sócio-econômicas e o
conhecimento local acerca da utilização do recurso vegetal.
84
Material e Métodos
Área de Estudo
A comunidade rural de Gleba Aldeia Velha (22o30’20”S e 42o16’30”W) localiza-se
no município de Silva Jardim, parte central-costeira do estado do Rio de Janeiro, distando
cerca de 120 km da capital do estado (fig 1.) e é circunvizinha à Reserva Biológica de Poço
das Antas (Rebio), cuja vegetação predominante caracteriza-se como Floresta Ombrófila
Densa Atlântica submontana (Velloso et al. 1991), em diferentes estados de maturidade.
A Rebio, com ca. 5.000 ha, encontra-se sob influência direta da bacia hidrográfica
do rio São João, que a inunda parcialmente. A ação antrópica, principalmente decorrente
da extração seletiva de essências florestais e da ação do fogo, além da drenagem artificial e
retificação dos rios, contribuiu para o desaparecimento de amplos trechos de formações
florestais, sobretudo, nas planícies de inundação (Lima et al. 2006).
A cobertura vegetal atual da Rebio, embora nitidamente fragmentada, ainda assim,
representa um significativo remanescente florestal de baixada do estado do Rio de Janeiro,
não só pelos elementos típicos a esta fisionomia vegetal, como também por abrigar
populações do mico-leão-dourado (Leonthopithecus rosalia Lesson, 1840) e a preguiça-de-
coleira (Bradypus torquatus Illiger, 1811), espécies ameaçadas de extinção (Guedes-Bruni
1998).
O município de Silva Jardim não é conhecido somente por abrigar esta importante
UC, mas como também deter o maior número de Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPN) do estado do Rio de Janeiro, fazendo com que ganhe destaque no que
tange à conservação de espécies animais e vegetais e à ampliação da conectividade das
ilhas de vegetação (Fundação SOS Mata Atlântica 2007).
Parte dos habitantes, desta comunidade, vivia, no passado, na área que hoje
constitui a Rebio, tendo sido assentados, na ocasião de sua criação no final da década de
70, em área limítrofe à unidade de conservação.
A comunidade é composta por ca. de 60 famílias, cujas atividades econômicas
baseiam-se na agricultura de pequena escala, com o plantio de mandioca (Manihot
esculenta Crantz) e milho (Zea mays L.), e nas atividades pecuárias, com criação de gado
bovino, tanto para corte quanto para leite (Christo et al. 2006).
85
Figura 1. Mapa de localização da comunidade rural Gleba Aldeia Velha rural, município
de Silva Jardim, RJ, Brasil.
86
Informações mais detalhadas sobre a vegetação, solo e clima local podem ser
obtidas em Lima et al. (2006), e no que se refere a sua história, modo de vida e atividades
econômicas da comunidade Gleba Aldeia Velha, em Christo et al. (2006).
Procedimentos metodológicos
Durante o desenvolvimento das atividades de campo identificou-se que as mulheres
detinham um menor conhecimento sobre o uso de espécies arbóreas quando comparado aos
homens (Christo et al. 2006). Historicamente coube às mulheres o papel de cuidar da
família e isto se verifica pelo manejo das hortas familiares de onde são retirados alimentos
e remédios. Na relação com a floresta, ainda que algumas delas disponham de
conhecimento transmitido por pai ou avô, sobre espécies típicas a este ambiente, a
transmissão deste conhecimento é dificultada pelas regras sociais na comunidade que, se
não impedem, pelo menos dificultam o acesso ao recurso florestal. O acompanhamento,
por parte de um informante do gênero feminino, a um pesquisador ou equipe, no interior da
floresta foi dificultado e, assim, optou-se por trabalhar somente com informantes do gênero
masculino.
A seleção dos especialistas locais foi realizada através da técnica da bola de neve,
que consiste em localizar um ou mais informantes-chave que indicam outros candidatos
que poderão participar da pesquisa (Bernard 1989). Desta forma obteve-se a participação
de 10 especialistas locais, pessoas detentoras de conhecimento sobre o uso da flora arbórea
local, com idades entre 38 e 72 anos. O trabalho de campo foi realizado entre março de
2007 a março de 2008, onde foi aplicado formulário em entrevistas semi-estruturadas
(Alexiades & Sheldon 1996) enfocando o histórico de vida do indivíduo e sua relação com
o uso dos recursos da floresta.
Os dados etnobotânicos das espécies foram coligidos por meio de caminhadas
livres, em uma área amostral de 0,5 hectare e em outros fragmentos ao redor das
residências, sendo identificado o nome do espécime botânico, seus usos e partes do vegetal
utilizadas.
Os usos identificados pelos especialistas locais, seguindo o proposto por Rios
(2002) e adaptado por Christo et al. (2006), foram agrupados em nove categorias:
alimentício, medicinal, construção, combustível, ornamental, ritualístico, tecnológico e
tóxico. Os usos encontram-se definidos na tabela 1. Estas mesmas categorias têm sido
empregadas em estudos etnobotânicos que analisam vegetação arbórea (Torre-Cuadros &
87
Islebe 2003; Galeano 2000; Phillips et al. 1994; Phillips & Gentry 1993a, 1993b; Piñedo-
Vasquez et al. 1990; Prance et al. 1987).
Amostras do material botânico foram coletadas sob indicação e na presença do
informante. O material foi identificado através de chaves analíticas, revisões taxonômicas,
comparação a exsicatas de herbários e auxílio de taxonomistas para grupos de difícil
identificação. O material testemunho encontra-se depositado no herbário do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro (RB).
O sistema de classificação adotado segue Cronquist (1988), excetuando-se
Leguminosae, que foi considerada como família única, de acordo com Polhill et al. (1981).
A nomenclatura foi conferida através das bases de dados do IPNI (2008).
Tabela 1. Lista dos usos das espécies arbóreas indicados por especialistas locais da
comunidade rural Gleba Aldeia Velha, município de Silva Jardim, RJ, agrupados em oito
categorias.
Categorias de uso / Uso
Alimentícia
fruto comestível
Combustível
carvão, lenha
Construção
caibro, cerca, engradamento, escoramento, esteio, haste, linha, mourão, ripa, tábua, viga, folhas para
cobertura.
Medicinal
banho para coceira, inflamações, problemas gástricos
Ornamental
ornamentação de casas e jardins
Ritualística
Oferenda
Tecnológica
brinquedo, broto para fazer vassoura, cabo de ferramenta, caixotaria, calçado, cestaria, gaiola,
movelaria, peneira, utensílios domésticos
Tóxica
tóxica para o gado
88
Buscando reconhecer quais fatores sócio-econômicos são responsáveis por um mais
apurado conhecimento local, em termos de riqueza de espécies e versatilidade de usos,
aplicou-se uma análise de correspondência canônica (Jongman et al. 1997). Concomitante
a esta, aplicou-se uma análise de agrupamento, utilizando a distância euclidiana simples e
o método de agrupamento UPGMA, para averiguar a similaridade em termos de uso das
espécies locais (Jongman et al. 1997).
Já para testar a associação entre o conhecimento adquirido acerca do uso dos
recursos vegetais e a idade do especialista local, conforme proposta apresentada por
Phillips & Gentry (1993b), utilizou-se uma análise de regressão linear entre o número de
espécies citadadas e a idade do entrevistado (Sneath e Sokal 1973).
Resultados e Discussão
Foram reconhecidas 143 espécies arbóreas úteis, distribuídas em 105 gêneros e 39
famílias botânicas (tab. 2). As famílias mais expressivas em numero de espécies foram:
Leguminosae com 31 spp. (13 Mim., 10 Caes. e 8 Pap.), Lauraceae (10 spp.),
Euphorbiaceae (9 spp.) e Bignoniaceae (8 spp.) (fig. 2).
O valor de riqueza de espécies é considerado alto quanto comparado a outros
estudos etnobotânicos realizados em áreas florestais. A tabela 3 mostra que os especialistas
da comunidade Gleba Aldeia Velha detém um elevado conhecimento acerca da floresta.
Quanto aos usos, foram registrados 30 usos diferentes para as espécies, conforme
apresentado na tabela 3, os quais foram agrupados em oito categorias, sendo que:
construção (11) e tecnologia (10) concentram o maior elenco de usos (fig. 3).
A elevada porcentagem de espécies conhecidas nas categorias construção,
tecnologia e combustível (80,42%) reafirma a importância destes tipos de usos nos
recursos florestais da Floresta Atlântica, ao mesmo tempo em que demanda cuidados, uma
vez que sua obtenção pode acarretar danos à conservação das espécies. Outros estudos
(Albuquerque et al. 2005; Cunha & Albuquerque 2006; Alarcon & Peixoto 2008) mostram
que estes usos são costumeiramente encontrados quando o foco o estudo é a floresta.
89
Tabela 2. Lista das espécies arbóreas, em ordem alfabética de família, reconhecidas como
úteis por especialistas locais da comunidade rural Gleba Aldeia Velha, município de Silva
Jardim, RJ, Brasil. Usos: ali - alimentação; med – medicinal; cons – construção; comb;
combustível; orn – ornamental; rit – ritualistico; tec – tecnológico; tox – toxico. NC =
número de coleta de A. G. Christo.
Família/Espécie Nome local Usos NC
ANACARDIACEAE
Astronium graveolens Jacq. aroeira comb 360
Schinus terebinthifolia Raddi aroeira med 215
Tapirira guianensis Aubl. canela-cedro cons 415
ANNONACEAE
Annona cacans Warm. imbiú-branco comb 505
Guatteria latifolia (Mart.) R.E.Fr. bicuibuçú comb 267
G. xylopioides R.E.Fr. imbiú-preto cons 470
Xylopia sericea A. St.-Hil. imbiú cons, tec 388
APOCYNACEAE
Himatanthus bracteatus (A. DC.) Woodson paratudo,
orelha-de-burro
comb, med, ali 518
Malouetia arborea (Vell.) Miers coerana-preta tec 549
Peschiera affinis (Müll. Arg.) Miers leiteira comb 628
ARECACEAE
Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret iri ali, tec, cons -
Euterpe edulis Mart. palmito-doce ali, cons -
Polyandrococos caudescens (Mart.) Barb. Rodr. palmito-amargo ali -
ASTERACEAE
Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera camará med, cons 611
Piptocarpha macropoda (DC.) Baker aroeira-preta cons 498
Vernonia discolor (Spreng.) Less. camará comb 316
Indet sp1 camará-açú comb 474
BIGNONIACEAE
Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. caroba-do-
campo
med 545
Jacaranda micrantha Cham. carobinha cons, orn 413
J. puberula Cham. carobinha med, orn 544
Sparattosperma leucanthum (Vell.) K. Schum. cinco-folhas comb 613
Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. pau-tamanco tec 490
T. chrysotrycha (Mart. ex A. DC.) Standl. ipê-tabaco cons, orn -
T. heptaphylla (Vell.) Toledo ipê-roxo med, orn 592
90
Tabela 2. Continuação.
Família/Espécie Nome local Usos NC
BIGNONIACEAE (cont.)
T. umbellata (Sond.) Sandwith ipê-do-brejo orn 331
BOMBACACEAE
Bombacopsis glabra (Pasq.) Robyns castanheira orn 355
CARICACEAE
Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC. mamão-jacatiá ali 354
CECROPIACEAE
Cecropia glaziovi Snethlage embaúba-preta comb 145
C. hololeuca Miq. embaúba-branca comb, tec 427
C. lyratiloba Miq. embaúba-miúda comb 397
CHRYSOBALANACEAE
Hirtella angustifolia Schott ex Spreng. oiti cons 575
CLETHRACEAE
Clethra scabra Pers. canela-abacate cons 638
CLUSIACEAE
Calophyllum brasiliense Cambess. guanandí cons, tec 493
Symphonia globulifera Mart. guanandirana cons 488
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum citrifolium A. St.-Hil. catuaba ali 587
EUPHORBIACEAE
Actinostemon communis (Müll. Arg.) Pax mirindiba-ipê cons 282
Alchornea sidifolia Müll. Arg. iricurana cons 506
A. triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. tapiá, iricurana cons, comb, tec 500
Aparisthmium cordatum Baill. iricurana cons 497
Croton floribundus Spreng. capixingui cons 381
Hieronyma oblonga (Tul.) Müll. Arg. guapeba-sabão cons 517
Mabea fistulifera Mart. canudo comb 618
Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. gema-de-ovo,
milho-cozido
cons 603
Senefeldera multiflora Mart. sucanga cons 268
LACISTEMATACEAE
Lacistema pubescens Mart. candeia comb 499
LAURACEAE
Aniba firmula (Nees & C. Mart.) Mez canela-cheirosa cons, tec 468
Licaria sp. canela cons 584
Nectandra oppositifolia Nees & Mart. canela cons 438
N. puberula (Schott) Nees canela cons 318
91
Tabela 2. Continuação.
Família/Espécie Nome local Usos NC
LAURACEAE (cont.)
Ocotea diospyrifolia (Meisn.) Mez canela cons 513
O. divaricata (Nees) Mez canela cons 525
O. glaziovii Mez canela-amarela cons 579
O. schottii (Meisn.) Mez canela cons 419
Ocotea sp. canela tec 475
Phyllostemonodaphne geminiflora Kosterm. canela cons 596
Indet sp2 canela cons 465
LECYTHIDACEAE
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze jequitibá cons -
Lecythis lanceolata Poir. papante cons 532
L. pisonis Cambess. sapucaia orn 406
LEG. CAESALPINIOIDEAE
Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F. Macbr. garapa cons 369
Bauhinia forficata Link. pata-de-vaca med 486
Chamaecrista ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & Barneby oiti comb 271
Copaifera langsdorffii Desf. copaíba med 421
C. lucens Dwyer copaíba med 464
C. trapezifolia Hayne copaíba med 366
Hymenaea courbaril L. jatobá cons -
Melanoxylon brauna Schott braúna cons -
Schizolobium parahyba (Vell.) Blake guapuruvu orn -
Senna multijuga (Rich.) H.S. Irwin & Barneby aleluia orn 630
LEG. MIMOSOIDEAE
Albizia polycephala (Benth.) Killip angico cons, tec 452
Balizia pedicellaris (DC.) Barneby & Grimes cambuí-branco cons 328
Ingá edulis Mart. ingá ali 353
I. laurina (Sw.) Willd. ingá-feijão ali 494
I. leptantha Benth. ingá-da-folha-
fina
ali 356
I. subnuda Benth. ingá ali 489
I. tenuis (Vell.) Mart. ingá-mirim comb 565
Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze maricá comb 632
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. pau-jacaré comb 364
P. paniculata Benth. angicão cons 329
Plathymenia foliolosa Benth. vinhático cons 317
92
Tabela 2. Continuação.
Família/Espécie Nome local Usos NC
LEG. MIMOSOIDEAE (cont.)
Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P. Lewis & M.P.
Lima
angico-preto cons 566
Stryphnodendron polyphyllum Mart. barbatimão cons, med 462
LEG. PAPILIONOIDEAE
Andira anthelmia (Vell.) J.F. Macbr. angelim-pedra cons 633
Centrolobium tomentosum Benth. araribá tec -
Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth. jacarandá-
cabiúna
cons 332
Erythrina speciosa Andrews mulungu orn -
Lonchocarpus cultratus (Vell.) A.M.G. Azevedo &
H.C.L.
mal-casado comb 312
Machaerium nyctitans (Vell.) Benth. guaxumbé comb 333
Myrocarpus frondosus Allemão óleo-pardo cons 621
Ormosia cf. minor Vogel olho-de-cabra rit 443
LOGANIACEAE
Strycnos sp. cuaça tec, med 546
MELASTOMATACEAE
Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin jacatirão cons 425
M. lepidota Schrank & Mart. ex DC. mirindiba comb 423
M. prasina (Sw.) DC. mirindiba comb 401
Miconia sp. jacatirão-branco cons 424
Tibouchina arborea Cogn. quaresmeira comb, orn 428
T. granulosa (Desr.) Cogn. quaresmeira orn 330
MELIACEAE
Cabralea canjerana (Vell.) Mart. canjerana cons, tec 411
Cedrela odorata L. cedro cons 610
Guarea guidonia (L.) Sleumer carrapeta cons, tec, tox 446
G. kunthiana A. Juss. carrapeta cons, tec 536
G. macrophylla Vahl carrapeta cons, tec 569
MONIMIACEAE
Siparuna brasiliensis (Spreng.) A. DC. canela comb 503
S. guianensis Aubl. fedegoso comb 432
MORACEAE
Brosimum guianense (Aubl.) Huber canudo comb 618
Ficus gomelleira Kunth & C.D. Bouché figueira tec 609
F. insipida Willd. figueira comb 400
93
Tabela 2. Continuação.
Família/Espécie Nome local Usos NC
MORACEAE (cont.)
Sorocea guilleminiana Gaudich. espinheira-santa med 280
MYRISTICACEAE
Virola gardneri (A. DC.) Warb. imbiú-preto comb 273
V. oleifera (Schott) A.C. Sm. bicuíba cons 430
MYRSINACEAE
Myrsine coriacea (Sw.) R. Br. ex Roem. & Schult. capororoca comb 414
MYRTACEAE
Calyptranthes brasiliensis Spreng. goiabeira tec 558
Eugenia oblata Roxb. guapeba tec 523
Eugenia sp. goabeira-do-
mato
tec 642
Marlierea obscura O. Berg goiabeira tec 454
Myrcia anceps O. Berg caipuna tec 467
Myrciaria floribunda (H. West ex Willd.) O. Berg goiabeira-do-
mato
comb 275
NYCTAGINACEAE
Guapira opposita (Vell.) Reitz bucho-de-sapo comb 482
PHYTOLACCACEAE
Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms pau-d'alho tec -
PROTEACEAE
Roupala sculpta Sleumer carne-de-vaca tec 590
RUBIACEAE
Bathysa mendoncaei K. Schum. guapeba-branca comb 447
Genipa americana L. genipapo ali 362
Simira viridiflora Steyerm. araribá-rosa cons 284
RUTACEAE
Zanthoxylum rhoifolium Lam. mamica-de-
porca
tec 645
SAPINDACEAE
Cupania furfuracea Radlk. camboatá comb 418
C. oblongifolia Mart. camboatá comb 639
C. racemosa (Vell.) Radlk. camboatá-miúdo comb 416
C. schizoneura Radlk. camboatá comb 504
SAPOTACEAE
Ecclinusa ramiflora Mart. acá cons, tec 478
94
Tabela 2. Continuação.
Família/Espécie Nome local Usos NC
SAPOTACEAE (cont.)
Micropholis crassipedicellata (Mart. & Eichler ex Miq.)
Pierre
bacubichá comb 279
Pouteria bangii (Rusby) T.D. Penn. abiurana cons 583
P. caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. abiu ali 168
P. cuspidata (A. DC.) Baehni massaranduba cons 623
Pradosia lactescens (Vell.) Radlk. mamãozinho cons 376
SIMAROUBACEAE
Picramnia ciliata Mart. pau-pereira med 272
Simarouba amara Aubl. gameleira,
caixeta
cons 568
SOLANACEAE
Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn. canema comb 350
TILIACEAE
Luehea grandiflora Mart. baba-de-boi orn 385
ULMACEAE
Trema micrantha (L.) Blume crandiúba Comb 313
VERBENACEAE
Aegiphila sellowiana Cham. bico-de-
papagaio
Comb 324
Citharexylum myrianthum Cham. tarumã Comb 321
VIOLACEAE
Rinorea guianensis Aubl. arapoca, papante Cons 637
VOCHYSIACEAE
Vochysia bifalcata Warm. canela Cons 461
O menor número de espécies arbóreas citadas pelos especialistas locais na categoria
medicinal faz supor que o conhecimento sobre o uso dessas plantas é próprio de um
número ainda mais reduzido de pessoas e cujo domínio faz com que o detentor obtenha
destaque entre os demais. Fato este foi assinalado por um grupo de especialistas locais que,
quando questionados sobre o uso medicinal de espécies arbóreas, reportaram-se a um único
especialista local para tal.
Para testar quais carcterísticas sócio-econômicas são responsáveis por um maior
conhecimento de espécies úteis pelos especialistas locais, utilizou-se análise de
correspondência canônica, a qual contou com duas matrizes: a primeira para expressar o
95
conhecimento dos especialistas locais contendo o número de espécies citadas em cada
categoria de uso; a segunda expressando as características sócio-econômicas considerando
a idade, o tempo de residência na comunidade, o grau de escolaridade (em número de
anos) e a renda familiar (em número de salários mínimos) de cada especialista local.
Figura 2. Famílias mais representativas em número de espécies indicadas como úteis por
especialistas locais da comunidade rural Gleba Aldeia Velha, município de Silva Jardim,
RJ, Brasil.
Tabela 3. Riqueza de espécies e famílias com representantes arbóreos citados como úteis
em estudos realizados em comunidades situadas no território brasileiro.
Local de estudo Ne Spp Fam Referência
Caracarai, RR 11 185 42 Alarcón & Peixoto (2008)
Rio Formoso, PE 17 42 26 Cunha & Albuquerque (2006)
Floresta, PE 16 34 17 Ferraz et al. (2006)
Silva Jardim, RJ 10 143 39 Este estudo
Ne = número de entrevistados; Spp = número de espécies; Fam = número de família.
96
A inércia total determinada pela análise de correspondência canônica (CCA) foi
baixa (0,0599) e os dois primeiros eixos explicam juntos 30,4% da inércia total da matriz
original de dados (tab. 4). Foram baixos, também, os autovalores, todos menores que 0,02.
Apesar dos coeficientes de correlação de Pearson e de Kendall terem sido superiores a 0,3
nos três primeiros eixos canônicos, eles não foram significativos para nenhum deles (tab.
5), da mesma forma que não foram significativos os autovalores estimados para os eixos
calculados (tab. 6). O resultado da CCA evidenciou que o conhecimento sobre os usos das
plantas, neste caso, não é explicada a partir do perfil sócio-cultural dos especialistas locais.
Este fato advem do alto grau de correlação entre as variáveis sócio-econômicas
(explicativas) e representa dificuldade para avaliação do conhecimento, já que muitas das
variáveis na análise sociológicas são de origem categórica e, desta forma, inapropriadas
para análises multivariadas.
Figura 3. Distribuição do número de espécies por categoria de uso na comunidade rural
Gleba Aldeia Velha, município de Silva Jardim, RJ, Brasil.
97
Tabela 4. Resultado estatístico para os eixos canônicos. Número de eixos canônicos = 3.
Variânica total (inércia) nos dados de espécie = 0,0599.
Eixo 1 Eixo 2 Eixo 3
Autovalores 0,014 0,004 0,003
Variância nos dados de espécie
% da variância explicada 24,0 6,3 4,9
% da variância explicada acumulada 24,0 30,4 35,3
Correlação de Pearson (Spp-Envt)* 0,795 0,492 0,677
Correlação de Kendall (Rank), (Spp-Envt) 0,644 0,433 0,333
* Correlação entre os pontos amostrais para um eixo derivado das espécies e os dados dos pontos amostrais
que são combinações lineares das variáveis ambientais.
Tabela 5. Resultado do teste de Monte Carlo para os autovalores.
Dados aleatorizados
Dados reais Teste de Monte Carlo, 998 permutações
Eixos Autovalores Média Mínimo Máximo P
1 0,014 0,013 0,005 0,028 0,3443
2 0,004 0,006 0,002 0,011 -
3 0,003 0,003 0,000 0,006 -
p = proporção de permutações aleatorizadas com autovalor igual ou maior que o observado, ou seja, p = (1 +
número de permutações ≥ observado) / (1 + número de permutações). p não é relatado para eixos 2 e 3,
devido aos teste de aleatorização desses eixos.
Tabela 6. Resultado do teste de Monte Carlo para as correlações entre os dados sócio-
ecoômicos e os dados de uso das espécies.
Dados aleatorizados
Dados reais Teste de Monte Carlo, 998 permutações
Eixos Corr. Spp-Envt Média Mínimo Máximo p
1 0,795 0,768 0,475 0,972 0,3954
2 0,492 0,750 0,374 0,993 -
3 0,677 0,613 0,190 0,967 -
p = proporção de permutações aleatorizadas com a correlação espécie-ambiente igual ou maior que o
observado, ou seja, p = (1 + número de permutações ≥ observado) / (1 + número de permutações); p não é
relatado para eixos 2 e 3, devido aos teste de aleatorização desses eixos.
98
A avaliação da similaridade entre o conhecimento sobre o uso de espécies arbóreas
nativas, a partir do dendrograma produzido pela análise de agrupamento (fig. 4), com base
no número de espécies indicadas por cada especialista local, em cada categoria de uso,
mostrou um considerável ajuste à matriz de coeficientes calculada (rcs = 0,8310) e formou
dois grupos distintos. O primeiro é formado por cinco especialistas locais que participaram
no passado de atividades de extração de madeira e que são também os moradores há mais
tempo fixados no local - características estas que contribuíram para um maior
conhecimento sobre as espécies empregadas para fins de construção, tecnologia e
combustível. O segundo grupo, mais misto, se caracteriza por especialistas que
ingressaram mais recentemente na comunidade e que estabeleceram contato mais curto
com a flora local. Em sua maioria, eles reconhecem um maior número de espécies para uso
medicinal, porém um menor elenco de espécies.
Figura 4. Análise da similaridade do conhecimento sobre espécies arbóreas úteis entre os
especialistas locais da comunidade Gleba Aldeia Velha, município de Silva Jardim, RJ,
Brasil.
99
Pode-se inferir que a construção do conhecimento local acerca das espécies
arbóreas teve grande influência da cobertura vegetal contínua, predominantemente arbórea,
que recobria a região da baixada central-costeira fluminense e da atividade madeireira ali
outrora estabelecida. Este fato evidencia a importância daquela atividade econômica,
mesmo que degenerativa, para o conhecimento gerado e estabelecido.
A análise de associação entre o conhecimento e a idade dos especialistas locais se
mostrou significativa e positiva (fig. 5), aceitando o nível de 5% de probabilidade de erro.
Esta análise demostrou que o maior número conhecido de espécies úteis é característico
dos especialistas de maior idade. Num futuro próximo tal fato configura um problema,
visto que os integrantes mais jovens da comunidade atêm pouco vínculo ou mesmo
interesse pelas atividades agrícolas, fazendo que este conhecimento venha a ser perdido
pela ausência de transferência aos demais membros da comunidade.
A educação para a conservação da natureza, recorrente na prática cotidiana dos
ambientalistas, e muitas vezes incidindo sobre as estratégias de geração de renda para essas
comunidades, não só altera o relacionamento social com o entorno natural, mas, ainda,
redefine aspectos da cultura dos grupos, favorecendo a produção de novas subjetividades e
reinventando os laços com o território (Cavalcanti & Barros 2006).
Essa assertiva se baseia na constatação de que os agricultores, não raro expulsos de
suas terras para a criação de Unidades de Conservação - e que, por muitas vezes, partem do
campo para as cidades interioranas ou para capitais devido ao modelo regional da
economia agrária latifundiária e mecanizada - têm, em suas experiências pregressas,
vocação para as novas diretrizes da reforma agrária, que é a pluriatividade produtiva no
campo, através da empregabilidade rural não-agrícola e da diversidade de oportunidades
que a esta particularidade pode oferecer para a permanência não predatória do homem num
território com tais características (Cavalcanti & Barros 2006).
A polivalência funcional e ocupacional desses “novos agricultores”, pode, portanto,
operar como um canal de abertura para a exploração de novas frentes de ocupação,
emprego e renda em atividades não agrícolas e, assim, num contexto de implementação de
políticas de preservação ambiental, colaborarem para a conservação da diversidade
biológica. Isto evidencia a importância das RPPNs na assimilação destes especialistas
locais ao trabalho ligado em atividades de turismo ecológico e na recuperação e
conservação de áreas naturais.
O que Cavalcanti & Barros (2006) chamam de “desejos de cidade”, ou seja,
imaginários urbanos dessas novas ruralidades podem (e vão) provocar a perda do
100
conhecimento local sobre o uso dos recursos vegetais. Acaba-se com isto desfavorecendo a
fixação do homem do campo, perdendo atores importantes que potencialmente poderiam
desenvolver, à luz do conhecimento local, formas de manejo que auxiliassem na
manutenção e conservação da diversidade biológica e cultural do país.
A organização social e econômica de unidades familiares especializadas na
agricultura compete com as formas de organização pluriativas fundamentadas na inserção
plural dos indivíduos no mercado de trabalho. Se a organização social do trabalho agrícola,
baseado na família, não desaparece totalmente, a tendência é que ela se retraia e passe a
Figura 5. Análise de regressão entre a idade dos especialistas locais e o conhecimento
acerca do uso das espécies arbóreas nativas, representado pelo número de espécies
conhecidas, na Gleba Aldeia Velha, município de Silva Jardim, RJ, Brasil.
101
ocupar apenas um indivíduo, sendo os demais direcionados para outras atividades
(Carneiro & Teixeira 2004).
Para Silva (2002) essas novas ruralidades estão sendo expressas na gestão de
pequenas e médias propriedades agropecuárias as quais estão se individualizando, e onde
as atividades ficam sob responsabilidade apenas do pai e/ou de um dos filhos, enquanto os
demais membros da família procuram outras formas de inserção produtiva, em geral fora
da propriedade. Em muitos casos hoje quem dirige efetivamente a propriedade não é mais
a família como um todo e sim alguns dos seus membros.
No que tange à conservação das espécies, a maior parte das reconhecidas como
úteis pelos especialistas locais têm grande valor madeireiro o que sinaliza a necessidade de
cuidados especiais para que se garanta a sobrevivência de espécies no ambiente.
Considerando especialmente a situação dos fragmentos florestais, situados na parte central-
costeira do estado do Rio de Janeiro, esta situação é ainda mais crítica visto que estes
táxons são característicos ou até mesmo restritos a este ambiente. A manutenção de áreas
com cobertura florestal no entorno da comunidade, por outro lado, pode ser promovida
através de incentivos ao manejo adequado da vegetação e com políticas públicas que
incentivem a restauração ecológica da região.
Explorações interdisciplinares que avaliem a estrutura de fragmentos florestais
associadas ao uso dos recursos que as comunidades rurais dela fazem, constituem
importantes fontes de dados: que podem subsidiar a conservação das espécies in situ e, ao
mesmo tempo, oferecer às comunidades formas sustentáveis de manejo e sustento familiar.
A condição de fragmentação que caracteriza a região da planície central costeira do
Rio de Janeiro, acrescida dos dados disponíveis de estrutura e uso desta paisagem, tornam
estes pequenos remanescentes florestais como áreas de relevância para o estabelecimento
de estratégias de restauração da paisagem e conservação de espécies.
Os especialistas locais reconhecem a importância da conservação dos
remanescentes florestais como forma de resguardar recursos de que fazem uso e, desta
forma, se tornam agentes fundamentais à conservação e manejo da Floresta Atlântica,
atualmente reduzida a 6% de sua cobertura original, dos quais 30% salvaguardados em
Unidades de Conservação no estado Rio de Janeiro.
102
Conclusões
Neste estudo verificou-se o elevado conhecimento acerca dos recursos vegetais da
Floresta Atlântica por parte dos especialistas locais, registrando um total de 143 espécies
arbóreas reconhecidas como úteis.
O perfil dos informantes locais teve forte influência sobre os resultados obtidos,
visto que, na qualidade de ex-extratores de madeira, em sua maioria, o conhecimento
concentrou-se nas espécies florestais de uso madeireiro.
Com o uso da análise de correspondência canônica (CCA) verificou-se que o
conhecimento acerca dos usos das plantas não é previsível a partir do perfil sócio-cultural
dos especialistas locais.
No entanto, verifica-se associação positiva e significativa, evidenciada na análise de
regressão, entre a idade dos especialistas locais e o número de espécies arbóreas
conhecidas, o que indique os indivíduos de maior idade são os detentores do maior
conhecimento sobre o uso das espécies arbóreas nativas.
A análise de agrupamento formou dois grupos distintos e este fato se deu devido à
concentração em um dos grupos por especialistas locais que participaram no passado de
atividades de extração de madeira e que são também os moradores há mais tempo fixados
no local, características estas que contribuíram para um maior conhecimento sobre as
espécies empregadas para fins de construção, tecnologia e combustível.
A polivalência funcional e ocupacional desses especialistas locais pode operar
como um canal de abertura para a exploração de novas frentes de ocupação, emprego e
renda em atividades não agrícolas e, assim, num contexto de implementação de políticas de
preservação ambiental, colaborar para a conservação da diversidade biológica.
A condição de fragmentação que caracteriza a região da planície central costeira do
Rio de Janeiro, acrescida dos dados disponíveis de estrutura e uso desta paisagem, tornam
estes pequenos remanescentes florestais como áreas de relevância para o estabelecimento
de estratégias de restauração da paisagem e conservação de espécies.
Explorações interdisciplinares que avaliem a estrutura de fragmentos florestais
associada ao uso dos recursos que as comunidades rurais dela fazem, constituem
importantes fontes de dados: que podem subsidiar a conservação das espécies in situ e, ao
mesmo tempo, oferecer às comunidades formas sustentáveis de manejo e sustento familiar.
103
A conservação das espécies, assim como da cultura local acerca do usos das
mesmas, não só é importante, mas também prioritária para a inserção dos especialistas
locais como importantes atores na conservação da diversidade biológica.
Agradecimentos
À PETROBRAS pelo financiamento ao Programa Mata Atlântica do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro, ao qual este estudo faz parte; à Reserva Biológica de Poço das
Antas/IBAMA pelo apoio logístico; à Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT) pelas
facilidades concedidas; à Antônio Tavares de Oliveira, Adilson Pintor e Jonas Alves Dias,
do Programa Mata Atlântica, pelo auxílio nos trabalhos de campo; aos taxonomistas do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro: Alexandre Quinet, Haroldo Cavalcante de Lima, José
Fernando de A. Baumgratz e Marcelo Costa Souza; aos proprietários da Fazenda Santa
Helena, por permitirem o livre acesso à área de estudo e à CAPES pela bolsa de mestrado
concedida ao primeiro autor.
Referências Bibliográficas
Alarcon, J. G. S. & Peixoto, A. L. 2008. Use of terra firme forest by Caicubi caboclos,
middle Rio Negro, Amazonas, Brazil: a quantitative study. Economic Botany 62(1):
60–73.
Alexiades, M. N. & Sheldon, J. W. (eds.) 1996. Selected guidelines for ethnobotanical
research: A field manual. The New York Botanical Garden Press. New York.
Advances in Economic Botany 10: 1-306.
Bernard, R. H. 1989. Research methods in cultural anthropology. SAGE Publications, Inc.
London. 520p.
Carneiro, M. J. & Teixeira, V. L. 2004. Pluriatividade, novas ruralidades e identidades
sociais. In: Campanhola, C. & Silva, J. G. (orgs.). O novo rural brasileiro: novas
ruralidades e urbanização. Volume 7.Ed. Embrapa, Brasília, DF. 216 p.
104
Cavalcanti, B. C. & Barros, R. R. A. 2006. Desejos de cidade – imaginários urbanos em
assentamentos rurais numa área de Reserva de Mata Atlântica brasileira. Horizontes
Antropológicos 12(25): 217-235.
Christo A. G., Guedes-Bruni R. R., Fonseca-Kruel V. S. 2006. Uso de recursos vegetais
em comunidades limítrofes à Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ:
estudo de caso na Gleba Aldeia Velha. Rodriguesia 57: 519-542.
Cronquist, A. 1988. The evolution and classification of flowering plants. 2ª ed. The New
York Botanical Garden, New York, 555p.
Cunha, L. V. F. C. & Albuquerque, U. P. 2006. Quantitative ethnobotany in na Atlantic
Forest Fragment of Northeastern Brazil - implications to conservation.
Environmental Monitoring and Assessment 114: 1-25.
Ferraz, J. S. F.; Albuquerque, U. P. & Meunier, I. M. J. 2006. Valor de uso e estrutura da
vegetação lenhosa às margens do riacho do Navio, Floresta, PE, Brasil. Acta bot.
bras. 20(1): 125-134.
Fundação SOS Mata Atlântica. 2007. Minha terra protegida: histórias das RPPNs da Mata
Atlântica. Conservação Internacional: Belo Horizonte, MG. 272 p.
Galeano, G. 2000. Forest use at the Pacific Coast of Chocó, Colombia: a quantitative
approach. Economic Botany 54 (3): 358-376.
Guedes-Bruni R. R. 1998. Composição, estrutura e similaridade florística de dossel em
seis unidades de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Tese de doutorado, Universidade
de Universidade de São Paulo, São Paulo. 175pp.
IPNI. 2008. The international plants names index. http://www.ipni.org/ (Acessado em maio
de 2008).
Jongman, R. H. G.; Ter Braak, C. J. F. & Van Tongeren, O. F. R. 1997. Data analysis in
community and landscape ecology. New York: W. H. Freeman and Company. 299 p.
Lima H. C., Pessoa S. V. A., Guedes-Bruni R. R., Moraes L. F. D., Granzotto S. V.,
Iwamoto S., Di Ciero J. 2006. Caracterização fisionômico-florística e mapeamento da
vegetação da Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil. Rodriguesia
57: 369-389,
Myers, N; Mittermeler, A. R.; Mittermeler, C. G.; Fonseca, G. B. A.; Kent, J. 2000.
Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 853-858.
Phillips, O. L. & Gentry, A. H. 1993a. The useful plants of Tambopata, Peru: I. Statistical
hypotheses tests with a new quantitative technique. Economic Botany 47 (1): 15-32.
105
Phillips, O. L. & Gentry, A. H. 1993b. The useful plants of Tambopata, Peru: II.
Additional hypotheses testing in quantitative ethnobotany. Economic Botany 47 (1):
33-43.
Phillips, O. L.; Gentry, A. H.; Reynel, C.; Wilkin, P.; Galvez-Durand, C. 1994.
Quantitative ethnobotany and amazonian conservation. Conservation Biology 8 (1):
225-248.
Piñedo-Vásquez, M.; Zarín, D.; Jipp, P. & Chota-inuma, J. 1990. Use-Values of tree
species in a communal forest reserve in Northeast Peru. Conservation Biology 4(4):
405-416.
Polhill, R. M.; Raven, P. H. & Stirton, C. H. 1981. Evolution and systematics of the
Fabaceae. In: Polhill, R. M. & Raven, P. H. (eds). Advances in Legume Systematics.
London. Royal Botanic Gardens, Kew 1: 1-26.
Prance, G. T.; Boom, B. M.; Baleé, W. & Carneiro, R. L. 1987. Quantitative ethnobotany
and the case for conservation in Amazonia. Conservation Biology 1(4): 296-310.
Rios, M. 2002. La comunidad Benjamin Constant y las plantas útiles de la “capoeira”: un
enlace etnobotánico en la Región Bragantina, Pará, Amazonía Brasileña. Tese de
Doutorado. Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos-Estudos Amazônicos,
Belém, 539p.
Silva, J. G. 2002. Velhos e novos mitos do rural brasileiro: implicações para as políticas
públicas. In: Castro, A. C. (org.) Desenvolvimento em debate: painéis do
desenvolvimento brasileiro II. Mauad: BNDES. Rio de Janeiro. Pp. 411-436.
Sneath, P. H. A., & Sokal, R. R. 1973. Numerical taxonomy: the principles and practice of
numerical classification. San Francisco: Freeman.
Torre-Cuadros, M. A. & Islebe, G. A. 2003. Traditional ecological knowledge and use of
vegetation in southeastern México: a case study from Solferino, Quintana Roo.
Bodiversity and Conservation 12: 2455-2476.
Veloso, H. P. ; Rangel-Filho, A. L. R. & Lima, J. C. A. 1991. Classificação da vegetação
brasileira adaptada a um sistema universal. Rio de Janeiro. IBGE, 123 p.
Viana, V. M. 1995. Conservação da biodiversidade de fragmentos de florestas tropicais em
paisagens intensivamente cultivadas. In: Abordagens interdisciplinares para a
conservação da biodiversidade e dinâmica do uso da terra no novo mundo. Belo
Horizonte/Gainesville: Conservation International do Brasil/Universidade Federal de
Minas Gerais/ University of Florida, 1995. p. 135-154.
106
Considerações Finais
A conservação da diversidade biológica nos ambientes tropicais, especialmente em
áreas sob avançado processo antrópico, intervém em diferentes escalas que vão desde a
paisagem até espécies. No caso da Floresta Atlântica, que neste estudo está representada
pela vegetação de planície, em despeito do elevado nível de fragmentação, é observado a
ocorrência de espécies arbóreas restritas a este tipo de ambiente e com populações
reduzidas.
Os resultados obtidos, bem como outras abordagens na estrutura da floresta e seus
usos pelos habitantes circunvizinhos, mostram muitas dúvidas no que tange ao que é
característica real da floresta e o que é resultado da intervenção humana no uso de seus
recursos vegetais. Desta forma, os remanescentes florestais fornecem informações sobre as
atividades econômicas pretéritas ali realizadas.
A despeito dos impactos produzidos pela indústria madeireira, antagonicamente
esta foi a principal razão para promover a fixação do conhecimento local acerca da
vegetação arbórea após quatro décadas depois que a atividade foi finalizada.
O conhecimento local acumulado durante o trabalho de identificação e corte da
flora arbórea, influenciou o homem na sua maneira de ver a floresta e, mesmo antes de
estarem colaborando nos projetos de investigação científica, já estavam cientes da
importância de conservar a floresta. Estes especialistas locais atribuíram, consistentemente,
um maior valor às espécies arbóreas, principalmente as de uso na construção civil.
Hoje há uma rede intricada de relacionamentos nas áreas naturais que permanecem
em contato com as populações locais que devem ser estudadas. Tais situações incluem:
trabalhadores rurais; atividades da indústria madeireira; cientistas; ONG’s; políticos locais;
escassez florestal de recursos; alternativas econômicas de geração de renda aos
trabalhadores rurais; e interesses conflitantes entre os atores sociais.
Investigações interdisciplinares que avaliem a estrutura de fragmentos florestais,
junto com o uso de seus recursos pelas comunidades rurais podem fornecer importantes
informações para futuros programas de conservação in situ e, ao mesmo tempo, oferecer
alternativas de manejo e sustento familiar.
Plantios experimentais realizados nas florestas de baixada, baseados em estudos
florístico-estruturais, depois de dez anos de monitoramento, tem mostrado a importância de
107
inúmeras espécies registradas neste presente inventário, incluindo: Guarea guidonia,
Calophyllum brasiliense, Copaifera langsdorffii, Alchornea triplinervia, Pseudobombax
grandiflorum, Tapirira guianensis, Nectandra oppositifolia, Euterpe edulis, e Guapira
opposita (Moraes et al. 2006), com potencial significativo para o uso na recuperação de
áreas degradadas na região. Desta forma, programas de capacitação profissional na
identificação de espécies (parataxonomia) e produção de mudas para projetos de
restauração ambiental da paisagem deveriam ser oferecidos de modo a criar oportunidades
de empregabilidade no campo e subsequente geração de renda, fortalecendo a agricultura
familiar e a conservação dos remanescentes florestais.
Os especialistas locais da comunidade estudada, através de depoimentos orais,
reconheceram a importância da conservação dos remanescentes florestais como forma de
salvaguardar os recursos florestais que dela fazem uso, assim apresentando a
potencialidade no recrutamento como agentes fundamentais para atuar na conservação e
manejo da Floresta Atlântica, atualmente reduzida a 6% de sua área original no estado do
Rio de Janeiro.
A forma de uso e a demanda pelo recurso da floresta por comunidades locais deve
ser envolvida nos programas da conservação, considerando a dependência imediata de
trabalhadores rurais nos recursos da floresta para beneficiar seus produtos agrícolas
(farinha de mandioca, por exemplo), bem como para uso em construção de residências e
benfeitorias nas propriedades rurais.
Através dos resultados obtidos neste estudo, conclui-se que a conservação de
espécies deve ser feita individualmente, considerando, ainda, seus padrões de abundância e
distribuição na natureza.
A condição de fragmentação florestal, que caracteriza a região da planície central
costeira do Rio de Janeiro, acrescida dos dados disponíveis de estrutura e uso da paisagem,
torna os remanescentes florestais locais áreas de relevância para o estabelecimento de
estratégias de restauração da paisagem e conservação de espécies.
108
Referências Bibliográficas Gerais
Alarcon, J. G. S. & Peixoto, A. L. 2008. Use of terra firme forest by Caicubi caboclos,
middle Rio Negro, Amazonas, Brazil: a quantitative study. Economic Botany 62(1):
60–73.
Albuquerque, U. P.; Andrade, L. H. C. & Silva, A. C. O. 2005. Use of plant resources in a
seasonal dry forest (Northeastern Brazil). Acta bot. bras. 19(1): 27-38.
Alcorn, J. B. 1995. The escope and aims of ethnobotany in a developing world. In:
Schultes, R. E. ; Reis, S. V. (ed.). Ethnobotany: evolution of a discipline. Portland:
Dioscorides Press. p: 23-39.
Beduschi-Filho, L. C. 2002. Sociedade, natureza e reforma agrária: assentamentos rurais e
unidades de conservação na região do Pontal do Paranapanema. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental, Universidade de
São Paulo, São Paulo.
Christo A. G., Guedes-Bruni R. R., Fonseca-Kruel V. S. 2006. Uso de recursos vegetais
em comunidades limítrofes à Reserva Biológica de Poço das Antas, Silva Jardim, RJ:
estudo de caso na Gleba Aldeia Velha. Rodriguesia 57: 519-542.
Cunha, L. V. F. C. & Albuquerque, U. P. 2006. Quantitative ethnobotany in na Atlantic
Forest Fragment of Northeastern Brazil - implications to conservation.
Environmental Monitoring and Assessment 114: 1-25.
Diegues, A. C. 2000. O mito moderno da natureza intocada. 3ª ed. Hucitec, NUPAUB,
USP, São Paulo, 169p.
Diegues, A. C. S. (org). 1995. Conflitos entre populações humanas e áreas naturais
protegidas na Mata Atlântica. NUPAUB/USP. Série documentos e relatórios de
pesquisas – no. 21. 282 p.
Ferraz, J. S. F.; Albuquerque, U. P. & Meunier, I. M. J. 2006. Valor de uso e estrutura da
vegetação lenhosa às margens do riacho do Navio, Floresta, PE, Brasil. Acta bot.
bras. 20(1): 125-134.
Galeano, G. 2000. Forest use at the Pacific Coast of Chocó, Colombia: a quantitative
approach. Economic Botany 54 (3): 358-376.
109
Guedes-Bruni R. R. 1998. Composição, estrutura e similaridade florística de dossel em seis
unidades de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Tese de doutorado, Universidade de
Universidade de São Paulo, São Paulo. 175pp.
Hernandez, T.; Canales, M.; Caballero, J.; Durán, A. & Lira, R. 2005. Análisis cuantitativo
del conocimiento tradicional sobre plantas utilizadas para el tratamiento de
enfermedades gastrointestinales en Zapotitlán de las Salinas, Puebla, México.
Interciencia 30 (9): 17-27.
IBAMA. 2003. Unidade: Reserva Biológica de Poço das Antas/RJ. Disponível na internet
em: [http://www.ibama.gov.br/]. Consulta: 26/10/2003.
JBRJ. 2003. Descrição da Reserva Biológica de Poço das Antas. Disponível na internet
em: [http://www.jbrj.gov.br/]. Consulta: 22/02/2003.
Larrère, R.; Lepart, J.; Marty, J. & Franck-Dominique, V. 2003. École thematique du
CNRS: Biodiversité: quelles interactions entre sciences de la vie et sciences de
l’homme et de la société?. Natures Sciences Sociétés 11: 304-314.
Moraes LFD, Assumpção JM, Luchiari C, Pereira TS (2006) Plantio de espécies arbóreas
nativas para a restauração ecológica na Reserva Biológica de Poço das Antas, Rio de
Janeiro, Brasil. Rodriguesia 57: 477-489.
Myers, N; Mittermeler, A. R.; Mittermeler, C. G.; Fonseca, G. B. A.; Kent, J. 2000.
Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature 403: 853-858.
Phillips, O. L. & Gentry, A. H. 1993a. The useful plants of Tambopata, Peru: I. Statistical
hypotheses tests with a new quantitative technique. Economic Botany 47 (1): 15-32.
Phillips, O. L. & Gentry, A. H. 1993b. The useful plants of Tambopata, Peru: II.
Additional hypotheses testing in quantitative ethnobotany. Economic Botany 47 (1):
33-43.
Phillips, O. L.; Gentry, A. H.; Reynel, C.; Wilkin, P.; Galvez-Durand, C. 1994.
Quantitative ethnobotany and amazonian conservation. Conservation Biology 8 (1):
225-248.
Piñedo-Vásquez, M.; Zarín, D.; Jipp, P. & Chota-inuma, J. 1990. Use-Values of tree
species in a communal forest reserve in Northeast Peru. Conservation Biology 4(4):
405-416.
Prance, G. T.; Boom, B. M.; Baleé, W. & Carneiro, R. L. 1987. Quantitative ethnobotany
and the case for conservation in Amazonia. Conservation Biology 1(4): 296-310.
Shanley, P. & Rosa, N. A. 2004. Eroding Knowledge: an ethnobotanical inventory in
Eastern Amazonia´s logging frontier. Economic Botany 58(2): 135-160.
110
SNUC. 2002. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. 2 ed. Brasília:
MMA/SBF, 52p.
Torre-Cuadros, M. A. & Islebe, G. A. 2003. Traditional ecological knowledge and use of
vegetation in southeastern México: a case study from Solferino, Quintana Roo.
Bodiversity and Conservation 12: 2455-2476.
Vendruscolo, G. S. & Mentz, L. A. 2006. Estudo da concordância das citações de uso e
importância das espécies e famílias utilizadas como medicinais pela comunidade do
bairro Ponta Grossa, Porto Alegre, RS, Brasil. Acta bot. bras. 20(2): 367-382.
Viana, V. M. 1995. Conservação da biodiversidade de fragmentos de florestas tropicais em
paisagens intensivamente cultivadas. In: Abordagens interdisciplinares para a
conservação da biodiversidade e dinâmica do uso da terra no novo mundo. Belo
Horizonte/Gainesville: Conservation International do Brasil/Universidade Federal de
Minas Gerais/ University of Florida, 1995. p. 135-154.
111
Anexos
ETNOBOTÂNICA
Ficha de dados do informante
Data: ___/ ___/ _______
Nome: ___________________________________________________________________
Idade: _____________________ Sexo: ( ) f ( ) m
Local de nascimento: _______________________________________________________
Quanto tempo vive nesta comunidade? _________________
Antes onde residia? ________________________________________________________
Você estudou? Qual a sua escolaridade? ________________________________________
Qual é a sua religião? É praticante? ___________________________________________
Quais são as principais festas religiosas? ________________________________________
Que trabalho desempenha? ___________________________________________________
Quantos membros tem sua familia? ____________________________________________
Quantos membros de sua familia ajudam no seu trabalho? __________________________
Há horta, quintal ou roça familiar em sua casa? ___________________________________
Qual o tamanho? ___________________________________________________________
Vocês utilizam plantas da região? Quais e em que época do ano utilizam?
1. ___________________________ 2. ___________________________
3. ___________________________ 4. ___________________________
5. ___________________________ 6. ___________________________
7. ___________________________ 8. ___________________________
9. ___________________________ 10. __________________________
11. __________________________ 12. __________________________
13. __________________________ 14. __________________________
15. __________________________ 16. __________________________
17. __________________________ 18. __________________________
19. __________________________ 20. __________________________
21. __________________________ 22. __________________________
23. __________________________ 24. __________________________
112
ETNOBOTÂNICA
Ficha de dados do informante
25. __________________________ 26. __________________________
27. __________________________ 28. __________________________
29. __________________________ 30. __________________________
31. __________________________ 32. __________________________
33. __________________________ 34. __________________________
35. __________________________ 36. __________________________
37. __________________________ 38. __________________________
39. __________________________ 40. __________________________
Há comercialização de plantas ou troca entre comunidades/ famílias? _________________
Em que época do ano? ______________________________________________________
Onde são feitas suas compras para casa? ________________________________________
Qual o salário da sua família por mês/semana/dia? ________________________________
Quando há alguma doença na sua casa, como e onde procuram tratamento? ____________
Quais são as principais doenças da comunidade?
1. ___________________________ 2. ___________________________
3. ___________________________ 4. ___________________________
5. ___________________________ 6. ___________________________
7. ___________________________ 8. ___________________________
9. ___________________________ 10. __________________________
Observações:
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
113
1
2
3
4
5
6
Fotos 1-6. Caracterização da comunidade rural Gleba Aldeia Velha: 1. Vista da Reserva
Biológica de Poço das Antas com a BR 101 fazendo limite com a comunidade rural de
Gleba Aldeia Velha; 2. Vista da comunidade rural Gleba Aldeia Velha; 3. Casa de morador
da comunidade rural Gleba Aldeia Velha; 4. Balão para fabricação de carvão; 5. Frutos de
carrapeta (Guarea guidonia); 6. Flores de ingá (Inga edulis).
114
7
8
9
10
11
12
Fotos 7-10. Caracterização da comunidade rural Gleba Aldeia Velha: 7. Flores de
guanandirana (Symphonia globulifera); 8. Frutos de mamão-jacatiá (Jacaratia spinosa); 9.
Espécies madeireiras: guanandi (Calophyllum brasiliense), vinhático (Plathymenia
foliolosa) e braúna (Melanoxylon brauna); 9. Trabalho de campo com um especialista
local; 11. Fragento amostrado para uso nas análises quantitativas; 12. Auxiliares técnicos:
Antônio de Oliveira e Adilson Pintor.