instituto de biologia roberto alcantara gomes departamento ......monografia (especialização no...
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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes
Departamento de Ensino de Ciências e Biologia
Bruna Sarpa Miceli
Genética e divulgação científica: Um olhar para os livros
didáticos de Biologia do Ensino Médio
Rio de Janeiro
2017
1
Bruna Sarpa Miceli
Genética e divulgação científica: Um olhar para os livros didáticos de
Biologia do Ensino Médio
Monografia apresentada, como requisito parcial, para obtenção do título de Especialista no Ensino de Ciências, ao Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Orientadora: Prof.ª Dra. Andréa Carla de Souza Góes
Coorientadora: Mª. Rafaela Magalhães Aires
Rio de Janeiro
2017
2
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC-A
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total
ou parcial desta monografia, desde que citada a fonte.
__________________________________ __________
Assinatura Data
Miceli, Bruna Sarpa. Genética e divulgação científica: um olhar para os livros didáticos de
Biologia no ensino médio/ Bruna Sarpa Miceli. – 2017. 89 f. : il.
Orientadora: Andréa Carla de Souza Góes. Coorientadora: Rafaela Magalhães Aires Monografia (Especialização no Ensino de Ciências) - Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes.
1. Ciências – Estudo e ensino – monografias. 2. Livros didáticos -
Avaliação - Monografias. 3. Divulgação científica – Monografias. 4. Biologia (Ensino médio) – monografias. I. Góes, Andréa Carla de Souza. II. Aires, Rafaela Magalhães. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes. IV. Título.
CDU 50:37
CDU
M619
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3
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus familiares, pelo exemplo
que me deram, em especial, ao meu avô, Salvatore, que
hoje deixa muitas saudades.
4
AGRADECIMENTOS
Na realização deste trabalho devo minha gratidão:
Primeiramente a Deus, pelas oportunidades impostas na minha vida, por me
dar forças para lutar diante das minhas maiores dificuldades.
Aos meus pais pelo incentivo, pelo amor incondicional, carinho, dedicação e
paciência durante todos esses 22 anos e pelo apoio nos momentos de maiores
dificuldades.
À minha irmã, pela cumplicidade, apoio e inspiração.
Aos meus avós, em especial, ao meu avô Salvatore que hoje, deixa muitas
saudades, e à minha avó, Maria, por todo amor e carinho.
À minha querida orientadora Andréa Carla Góes e à minha Co-orientadora,
Rafaela Aires, por toda a paciência que tiveram, pelo suporte e carinho durante
toda a monografia.
A toda equipe de professores da Especialização em Ensino de Ciências da
UERJ que participaram da minha educação, dando-me a oportunidade de
crescer e aprender um pouco mais.
5
RESUMO
MICELI, B. S. Genética e Divulgação Científica: Um olhar para os livros didáticos de Biologia do Ensino Médio, 2017. 87f. Monografia de Especialização em Ensino de Ciências. Departamento de Ensino de Ciências e Biologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
A Divulgação Científica (DC) corresponde à veiculação do conhecimento científico para a população, seja por meio de espaços formais ou não formais de ensino. Assim como a genética, a DC ganhou espaço no mundo contemporâneo, principalmente no ensino, sendo, inclusive, incorporada nos livros didáticos (LDs) em forma de textos didáticos (TD) presentes em boxes e/ou seções as quais abordam a interdisciplinaridade da Ciência. Sendo os LDs, a ferramenta mais utilizada no processo de ensino aprendizagem durante todos esses anos e considerando as preocupações da forma que a DC é abordada no ambiente escolar, esta pesquisa tem o objetivo de contribuir para o conhecimento de como é realizada a re-elaboração de textos de divulgação científica (TDC) relacionados ao tema genética nos livros didáticos de Biologia. Para este trabalho, selecionou-se 8 LDs pertencentes ao Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2015 e 2009. Ao todo, foram analisados 12 TD e suas fontes originais quanto à re-elaboração entre o TDC e o TD (número de palavras e parágrafos, assim como acréscimos, eliminações, reordenações e substituições de informações) e quanto à linguagem. Os resultados da análise indicaram que a maioria dos textos analisados apresentaram uma linguagem menos formal e com discurso jornalístico, além de alterações que variam de eliminações, substituições e acréscimos de informações. Concluiu-se que alguns TDs estavam concentrados nos capítulos referentes à reprodução celular e que as versões antigas dos LDs apresentaram mais TD para a análise do que as versões recentes. Em relação às adaptações sofridas do TDC para o TD, estas foram importantes para facilitar o entendimento do conteúdo e de termos científicos para os alunos, representando ferramentas auxiliadoras importantes para o processo de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Divulgação Científica; Re-elaboração de texto; Ensino de
genética; Livros didáticos.
6
ABSTRACT
MICELI, B. S. Genetics and Scientific Divulgation: A Look at High School Biology Textbooks, 2017. 87f. Monografia de Especialização em Ensino de Ciências. Departamento de Ensino de Ciências e Biologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
The Scientific Divulgation (SD) corresponds to the dissemination of scientific
knowledge to the population, either through formal or non-formal educational
spaces. Like genetics, SD has gained space in the contemporary world,
especially in teaching, and is even incorporated into textbooks (LDs) in the form
of didactic texts (DTs) present in boxes and / or sections which address the
interdisciplinarity of Science . Being the LDs, the tool most used in the process
of teaching learning during all these years and considering the concerns of how
the DC is approached in the school environment, this research aims to
contribute to the knowledge of how is carried out the re-elaboration of texts of
scientific divulgation (TSD) related to the genetic theme in Biology textbooks.
For this work, 8 LDs belonging to the National Textbook Program (NTP) of 2015
and 2009 were selected. In all, 12 DTs and their original sources were analyzed
for the re-elaboration between TSD and DT (number of words and paragraphs,
as well as additions, deletions, rearrangements and substitutions of information)
and language. The results of the analysis indicated that most of the analyzed
texts presented a less formal language and journalistic discourse, besides
changes that vary from deletions, substitutions and additions of information. It
was concluded that some DTs were concentrated in the cell reproduction
chapters and that the older versions of LDs presented more DT for analysis
than the recent versions. Regarding the adaptations undergone by the TSD for
DT, these were important to facilitate the understanding of content and scientific
terms for students, representing important auxiliary tools for the teaching-
learning process.
Key-words: Scientific Divulgation; Re-elaboration of text; Genetics teaching;
Textbooks.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
CTS Ciência, Tecnologia e Sociedade
DC Divulgação Científica
EM Ensino Médio
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
LD Livro Didático
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
PNLD Programa Nacional do Livro Didático
PNLEM Programa Nacional do Livro Didático para Ensino Médio
TD Texto Didático
TDC Textos de Divulgação Científica
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: O quadro apresenta os livros didáticos de Biologia analisados e
suas respectivas informações...........................................................................20
Quadro 2: Descrição da apresentação dos textos de DC nos livros didáticos de
Biologia analisados...........................................................................................21
Quadro 3: Títulos dos textos didáticos analisados e seus respectivos LDs de
onde foram retirados..........................................................................................22
Quadro 4: Diferença no nome científico da bactéria da tuberculose do TDC
para o TD...........................................................................................................24
Quadro 5: Ocultação da palavra ‘hoje’ que foi substituída por
reticências..........................................................................................................24
Quadro 6: Diferença de parágrafos entre o TDC e o TD................................24
Quadro 7: Diferença nos títulos do TDC e do TD...........................................27
Quadro 8: Acréscimo de uma introdução e sugestão de pesquisa feita pelo
autor do LD........................................................................................................27
Quadro 9: União de parágrafos no TD............................................................28
Quadro 10: Exemplo de ocultações realizadas pelo TD durante a re-
elaboração discursiva........................................................................................30
Quadro 11: Diferença entre os títulos do artigo científico e do TD de T2....32
Quadro 12: Eliminação e substituição de termos entre o artigo científico e o TD......................................................................................................................33
Quadro 13: Unificação de parágrafos do texto original no TD.....................33
Quadro 14: Acréscimo realizado entre as palavras ‘inflamada’ e ‘quebra’.....33
Quadro 15: Unificação de parágrafos do TDC no TD.....................................35
Quadro 16: Substituição presente no 8º parágrafo do TD..............................36
Quadro 17: Alteração (reordenação) encontrada entre o TDC e o
TD......................................................................................................................37
Quadro 18: Adequação da palavra destacada de acordo com o novo acordo
ortográfico..........................................................................................................38
9
Quadro 19: Ocultação de uma informação no início do TD e de informações
referentes ao pesquisador.................................................................................40
Quadro 20: Substituição feita pelo autor do TD do verbo
‘trazer’................................................................................................................41
Quadro 21: Quadro referente às informações entre os TDC e
TD......................................................................................................................42
Quadro 22: Eliminação de informações e unificação dos 3 primeiros parágrafos
do TDC1 para o TD............................................................................................43
Quadro 23: Acréscimo, reordenação e substituição feitas pelo autor do TD
com base no TDC 1 e 2.....................................................................................44
Quadro 24: Acréscimo e eliminação realizados pelo autor do
TD......................................................................................................................45
Quadro 25: Eliminação, substituição e acréscimo de informações do 1º e 2º
parágrafo do TDC..............................................................................................47
Quadro 26: Adaptações do TDC para o TD e inserção de conteúdo no 6º
parágrafo............................................................................................................49
Quadro 27: Reordenação e eliminação de informações do TDC para o
TD......................................................................................................................50
Quadro 28: Comparação do 9º parágrafo do TD com o TDC e seus acréscimos
de informações..................................................................................................50
Quadro 29: Substituição, acréscimo e eliminação de informações realizadas
pelo TD..............................................................................................................53
Quadro 30: Informações que podem ter sido retiradas de ambos os TDC para
o TD...................................................................................................................54
Quadro 31: Substituição de informações errôneas feitas pelo
TD......................................................................................................................54
Quadro 32: Ocultação , substituição e reordenação presentes no 1º
parágrafo do TD................................................................................................56
Quadro 33: Substituição, reordenação e eliminações no 2º parágrafo do
TD.....................................................................................................................58
Quadro 34: Eliminação e acréscimos de palavras no 3º parágrafo do TD...59
Quadro 35: Ocultações (eliminação e substituição por reticências) realizadas
pelo TD..............................................................................................................59
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...............................................................................................10
1.1 A Divulgação Científica...........................................................................10
1.1.2 A importância dos textos de Divulgação Científica............................11
1.1.3 Os desafios enfrentados pela DC.....................................................12
1.2 Livros didáticos: Sua evolução e importância..........................................12
1.2.1 A estruturação do tema genética nos LDs..........................................13
1.2.2 Divulgação científica e livros didáticos................................................14
1.3 A incorporação da genética no ensino: desafios no processo de ensino-
aprendizagem ...............................................................................................15
1.3.1 Genética e a DC..................................................................................16
2.OBJETIVOS...................................................................................................18
2.1 Objetivo geral..........................................................................................18
2.2 Objetivos específicos..............................................................................18
3.METODOLOGIA.............................................................................................19
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................21
4.1 Apresentação dos textos de DC nos livros didáticos............................21
4.2.Análise dos textos de DC.......................................................................22
4.2.1 Análise de L1:Ser protagonista-2013.......................................................22
4.2.2 Analise de L2 Biologia-2013.....................................................................26
4.2.3 Análise de L5: Ser protagonista-2009......................................................28
4.2.4 Análise de L6.:Biologia Hoje-2010............................................................42
4.2.5 Análise de L8: Biologia-2004....................................................................55
4.3 Comparação entre as edições recentes e antigas...................................61
5.CONCLUSÃO.................................................................................................64
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................67
ANEXO 1. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2013............................72
ANEXO 2. TD presente no livro “Biologia”, 2013..........................................73
ANEXO 3. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2009............................74
ANEXO 4. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2009............................75
ANEXO 5. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2009............................76
ANEXO 6. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2009............................77
ANEXO 7. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2009............................78
ANEXO 8. TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2009............................79
ANEXO 9.TD presente no livro “Biologia Hoje”, 2010...................................80
ANEXO 10. TD presente no livro “Biologia Hoje”, 2010................................81
ANEXO 11. TD presente no livro “Biologia Hoje”, 2010................................83
ANEXO 12. TD presente no livro “Biologia 1- Biologia das Células”, 2004.......84
11
1. INTRODUÇÃO
1.1 A Divulgação Científica
As atividades de Divulgação Científica (DC) não são recentes na
sociedade. Apesar de ter surgido juntamente com a ciência moderna, ela já era
apresentada como uma forma de exposição do conhecimento científico, como
afirmado por Silva (2006). Nos dias de hoje, ela ainda é amplamente abordada
e é encontrada em revistas científicas como a Superinteressante, Ciência Hoje,
Galileu, em jornais, livros didáticos (LDs), espaços não-formais de ensino ou
em outros meios de comunicação como a televisão. A DC é compreendida
como uma série de recursos e técnicas que podem ser utilizados para
transmitir o conhecimento científico a todos os cidadãos que não possuem uma
formação técnica e científica, para que, desta forma, os mesmos possam ter
acesso a tal conhecimento e sejam cientificamente alfabetizados (ALBAGLI,
1996; BUENO, 2010). Ressalta-se que este conceito de DC se diferencia da
disseminação científica, que corresponde ao conhecimento que é direcionado a
cientistas e especialistas (KEMPER et al, 2010).
Conforme afirma Ferreira e Queiroz (2012), a presença da DC no meio
escolar garante uma série de vantagens que contribui para o enriquecimento
da aprendizagem dos jovens por levar questões a serem trabalhadas e
discutidas, proporcionando uma gama maior de saber a respeito de um
determinado assunto.
Ainda de acordo com a DC, vale lembrar aqui, que segundo Marandino e
colaboradores (2009, p.191):
o conhecimento apresentado em uma revista ou programa de divulgação para diferentes públicos, não possui o mesmo formato (...) daquele que aparece em artigos ou publicações científicas.
Isto se deve aos diferentes discursos pelos quais a DC é veiculada. De
acordo com Martins e colaboradores (2001, p.2) a DC “engloba uma série de
formações discursivas” e está relacionada com diversos tipos de discursos: o
científico (geralmente produzido por cientistas), o jornalístico (que é adaptado
das fontes iniciais e está presente em jornais e revistas) e o discurso presente
nos livros didáticos, que pode ser adaptado dos discursos anteriores. Portanto,
é necessário entender de que forma se dá suas adaptações.
12
Complementando a ideia acima, ainda em relação ao discurso da DC:
... o discurso da DC veicula conteúdos próprios à temática científica e engloba temas sobre “ciência e tecnologia” de forma mais abrangente. No que diz respeito ao estilo, por ser dirigido a um destinatário leigo, o discurso da DC deve dispensar a linguagem esotérica (compreensível apenas por poucos, nesse caso apenas por cientistas) exigida pelo discurso científico preparado por e para especialistas e abrir-se para o emprego de simplificações. (FERREIRA e QUEIROZ, 2012, p.2)
Portanto, vale ressaltar que o discurso científico não é igual ao discurso
transmitido nas salas de aula por meio dos LDs. Esse conhecimento passa por
adaptações, principalmente no que diz respeito a sua linguagem, que deve ser
acessível a qualquer público e estar diretamente ligado com temas modernos e
que abordem a ciência e a tecnologia. Aqui, chamaremos estas adaptações do
discurso de re-elaborações discursivas e será este o enfoque do nosso
trabalho.
1.1.2 A importância dos textos de DC no ensino
Os textos de divulgação científica (TDC) podem ser utilizados como um
complemento a outras ferramentas de ensino, sendo úteis para reforçar o
conteúdo de diversos recursos didáticos como os livros, sendo capazes de
facilitar o conhecimento dos jovens. Por esta razão, não devem ser utilizados
apenas com uma finalidade e sim, como um instrumento auxiliador (FERREIRA
e QUEIROZ, 2012). Conforme já dito, esse tipo de texto pode ainda ser
adaptado e re-elaborado e pode integrar-se ao LD, e desta forma, é conhecido
como texto didático (TD). Nos livros didáticos, muitas vezes são encontrados
em ‘boxes’ intitulados de diversas formas (‘Você sabia?’, ‘Ciência e
Tecnologia’, etc..).
A importância destes textos de DC está baseada na necessidade de se
debater questões e conceitos científicos, além da necessidade de abordar, no
ensino, conteúdos e questões relacionados à perspectiva Ciência, Tecnologia e
Sociedade (CTS). Desta forma, a DC pode contribuir para a formação de
indivíduos alfabetizados cientifica e tecnologicamente que sejam capazes de
criticar, opinar e resolver questões do cotidiano (KEMPER et al, 2010; PUIATI
et al, 2007).
13
1.1.3 Os desafios enfrentados pela DC
Apesar da sua relevância no ensino, a DC enfrenta alguns empecilhos.
Segundo Valério (2005) ainda é possível encontrar insuficiência de uma
organização educacional capaz de promovê-la, sendo pouco o
comprometimento social das instituições de ensino. Além disto, Kemper e
colaboradores (2010) sinalizam a unilateralidade da DC, o que leva a um
conhecimento equivocado. Esse problema também é descrito por Valério
(2005), que chama a atenção para os destaques inapropriados na transmissão
da DC. Em outras palavras, Bueno (2010, p.4) reforça esta ideia:
O jornalista ou o divulgador, com raras exceções, não está capacitado para o processo de decodificação ou recodificação do discurso especializado e o processo de produção jornalística pode (o que acontece de maneira recorrente) privilegiar a espetacularização da notícia, buscando mais a ampliação da audiência do que a precisão ou a completude da informação. (BUENO, 2010, p.4)
Outro fator que chama atenção para os desafios enfrentados trata-se, de
acordo com Valério e Bazzo (2006, p.5), da falta de preocupação por uma
educação mais crítica, uma vez que “são poucas as iniciativas que têm
considerado esse potencial da divulgação”. A pouca comunicação entre
divulgador-público também pode representar um empecilho para a
simplificação da informação para uma linguagem mais acessível (BUENO,
2010). Marandino e colaboradores (2009) ainda destacam a necessidade de ter
certa atenção para esse tipo de divulgação, procurando meios para reavaliar
essas “espetacularizações”.
1.2 Livros didáticos: Sua evolução e importância
Sendo a ferramenta mais utilizada no processo de ensino-aprendizagem
desde os anos 50, tanto por professores quanto por alunos, os LDs, de acordo
com Fiorese e Delizoicov (2015, p.3) “foram compreendidos historicamente
como agentes determinantes de currículos”. Além disso, segundo Rocha Filho
e Queiroz (2014), ele é o método mais recorrido pelos docentes, já que os
auxiliam na estruturação e organização dos conteúdos. Porém, para que este
recurso tenha eficácia, é necessário que esteja sempre sendo atualizado e
remodelado (XAVIER et al, 2006).
14
Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação,
conhecido como FNDE, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) foi
inicialmente denominado como Instituto Nacional do Livro (INL) em 1929, o
qual foi criado para “dar maior legitimidade ao livro didático nacional” e dessa
forma, aprimorar a qualidade dos LDs (BRASIL- FNDE, 2012).
O Decreto nº 91.542, de 19 de agosto de 1985 (BRASIL, 1985) institui o
PNLD, que por sua vez, irá garantir algumas modificações como a
possibilidade de sugestão desses materiais pelos professores e de se reutilizar
os LDs. Já em 1994, o critério de avaliação deste recurso didático foi definido e
no ano seguinte, a distribuição dos LDs para Ensino Fundamental de forma
gratuita começou a se fazer presente (BRASIL- FNDE, 2012).
Apesar da sua devida importância, o Programa Nacional do Livro
Didático para o Ensino Médio (PNLEM) foi implantado apenas em 2005, dez
anos após a implantação no Ensino Fundamental, e se baseia na propagação
dos mesmos para o Ensino Médio (EM) de escolas públicas de todo o país. Os
livros disponíveis neste período eram apenas de Português e Matemática, e os
de Biologia só foram incluídos em 2007 (XAVIER, et al, 2006).
1.2.1 A estruturação do tema genética nos LDs
Observamos que, em sua maioria, os livros didáticos de Biologia do EM
apresentam de forma fragmentada o tema “Genética”. Deste modo, é frequente
encontrar ‘Genética molecular’ disposta no primeiro volume, para o 1º ano do
EM, e a ‘Genética mendeliana’ apenas no último volume, para o 3º ano do EM.
Goldbach e El-Hani (2008) observaram tal fragmentação, e afirmam que isto
faz com que o aluno não relacione os conteúdos. Ferreira e Justi (2004)
também observaram que o DNA é abordado de forma “independente do estudo
de genética e hereditariedade.” (FERREIRA e JUSTI, 2004, p.5).
Além disso, as autoras acima também afirmam que:
Nesse momento fica evidente a fragmentação do ensino, uma vez que inicialmente se estuda a composição e estrutura do DNA e, em um segundo momento, quando se estuda genética ou mesmo divisão celular, não é feita nenhuma relação direta com esse primeiro estudo. (FERREIRA e JUSTI, 2004, p.5)
Tal fato pode ser comprovado através de uma análise minuciosa da
apresentação dos conteúdos encontrados na parte denominada “resenha” nos
15
Guias dos PNLDs desta área. Vale lembrar que todos os recursos didáticos
disponíveis nestes Guias passaram por uma análise crítica, onde para serem
aprovados, foram observados segundo uma série de critérios de avaliação.
(BRASIL, 2014; GUSMÃO, 2016).
Ao analisarmos o Guia do PNLD de 2015 (o mais recente e que será
utilizado neste trabalho), nota-se que dos nove LDs aprovados, apenas dois
apresentaram uma organização contínua do tema genética, ou seja, que
abordam a genética molecular e em seguida, a genética mendeliana. Estes
temas são encontrados no primeiro e segundo volumes respectivamente. Em
relação aos outros sete LDs, os conteúdos de genética são exibidos,
separadamente, no primeiro e terceiro ano do EM.
Já o Guia do PNLD de 2009 (que também será utilizado nesta
monografia) apresentou uma composição de livros diferente do atual padrão.
Dos nove LDs, cinco eram de volume único e os outros quatro restantes,
possuíam volumes separados (volumes 1, 2 e 3). Com relação a essa maioria
de livros de volume único, acredita-se que a organização do LD em volume
único seria uma opção ao professor de organizar e escolher o conteúdo de
acordo com seu planejamento. Nesta monografia, nós nos preocupamos em
atentar para temas referentes à Genética Molecular, geralmente abordada nos
livros de 1º ano do Ensino Médio, já que é nesta seção que encontraremos
textos de DC.
1.2.2 Divulgação científica e livros didáticos
Segundo Rojo (2008) a DC no início do século XVIII, tinha necessidade
de disseminar os conhecimentos da ciência para além do ambiente escolar, ou
seja, para a população. A autora cita o exemplo da ‘Enciclopédia’, produzida
por Diderot e D’Alembert. Esta coletânea visava divulgar os conhecimentos
científicos para o povo de forma facilitada através dos ‘verbetes’, que eram
textos não muito longos, elaborados por cientistas especializados, os quais
transmitiam “conceitos de diversas áreas do conhecimento humano” (ROJO,
2008, p.11). Este tipo de texto foi o “primeiro a surgir nessa esfera de
circulação de textos” (ROJO, 2008, p.12).
Atualmente, percebe-se que tal DC se faz presente a partir de diversas
outras fontes de divulgação do saber como, por exemplo, textos impressos (em
16
jornais, LDs, revistas), além dos textos presentes nas mídias digitais. No caso
dos LDs, os antigos ‘verbetes’ podem ser observados por meio de boxes e
seções que correlacionam assuntos da Ciência com a realidade dos alunos
além de veicularem a Divulgação Científica. São conhecidos como textos
didáticos (TD). Em outras palavras, os TD propiciam que a ciência seja
integrada com a tecnologia e o ensino, favorecendo o desenvolvimento da
alfabetização científica. Eles contribuem também “para uma vinculação, uma
ponte entre conteúdo escolar e a sua própria cultura, criando momentos
diferenciados durante as aulas” (PUIATI et al, 2007, p.4) e dessa forma,
instigam mais a curiosidade dos alunos por abordarem questões ligadas ao seu
cotidiano (PUIATI et al, 2007).
1.3 A incorporação da genética no ensino: desafios no processo de
ensino-aprendizagem
Conforme descrito por Marandino e colaboradores (2009) as áreas da
Ciência eram divididas em ramos como a Zoologia, Botânica, Citologia,
Embriologia e Fisiologia humana. No início do século XX, a Genética não era
consolidada no ensino. Seu surgimento se deu a partir do movimento chamado
de positivismo lógico, onde o conhecimento era baseado “na realidade
empírica” (MARANDINO et al, 2009, p.38). Além disso, as redescobertas dos
trabalhos do monge Gregor Mendel neste mesmo período (início do século
XX), os quais correspondiam às expectativas de produção de conhecimento
relacionado à transmissão de caracteres entre gerações, representou um
grande avanço para a criação do ramo específico da Genética.
No entanto, até o final dos anos 40, o DNA ainda não tinha adquirido
notável importância, principalmente pelo fato dos cientistas da época
concentrarem seus estudos nas proteínas por estas estarem presentes em
diversos processos do organismo. Em 1953, é proposto ao DNA o modelo de
dupla hélice, atribuído por James Watson e Francis Crick, publicado na revista
Nature (MORAES e GOÉS, 2016).
A descoberta da configuração espacial do DNA, o início dos estudos
sobre a clonagem e o DNA recombinante proporcionaram grandes avanços e
prestígio à genética (MORAES e GOÉS, 2016), assim como sua incorporação
no ensino, integrando a ciência e a tecnologia às salas de aula. Estas novas
17
abordagens trazem à tona questões éticas relacionadas aos temas citados
acima, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem do aluno, assim
como sua maneira de se posicionar em relação a tais assuntos perante a
sociedade. Ressalta-se ainda a importância da vinculação desses temas com o
dia-a-dia dos estudantes, o que proporciona um aprendizado mais eficaz, uma
vez que se aproxima da realidade vivenciada por estes jovens (MELO e
CARMO, 2009).
Diante de tal importância, a Genética por sua vez, ainda é vista como
uma disciplina com um alto grau de complexidade para os jovens. Moura e
colaboradores (2013) chamam atenção para a falta de contextualização na
genética e o fato dos discentes a considerarem desestimulante (ESCODINO e
GÓES, 2013; NASCIMENTO, et al, 2015). Goldbach e El-Hani (2008) também
destacam as dificuldades de ensinar Genética. Os autores supracitados
afirmam que temas ligados à questões científico-tecnológicas como os
transgênicos e o genoma, por exemplo, são temas que ao mesmo tempo,
despertam interesse e dúvidas neste público escolar (GOLDBACH e EL-HANI,
2008).
1.3.1 Genética e a DC
A DC ganhou força na área da Genética e da Biologia Molecular a partir
dos avanços biotecnológicos, principalmente após a divulgação do processo de
clonagem da ovelha Dolly em 1997. Este noticiário, segundo Nascimento e
Martins (2005) expandiu-se para todos os meios de comunicação (jornais,
revistas e entre outras mídias) até passarem a ser incorporadas com mais
frequência.
No caso da DC presente nos TD dos livros, especialmente os que
envolvem temas de Genética, estes são de grande importância para seu
público, pois representam bem as relações entre a tríade ‘Ciência’, ‘Tecnologia’
e ‘Sociedade’ (CTS). Este ensino CTS busca auxiliar na compreensão de
mundo, com conteúdos abordados de relevância social, tornando os indivíduos
capazes de exercer cada vez mais a sua cidadania, sem abrir mão do
conhecimento científico. Além disso, esta abordagem é capaz de fornecer e
aproximar conhecimentos e informações da realidade e do dia-a-dia do
leitor/aluno. Desta forma, esta relação com a Genética ajuda a facilitar o
18
conteúdo, tornando-o mais claro, já que esta área do ensino ainda representa
uma barreira para os alunos (MOURA et al, 2013).
O ensino de Genética foi escolhido para ser abordado neste estudo,
devido à sua importância, pois compreende uma parte da Ciência que permite
que a tecnologia e o saber científico sejam inseridos na escola, dando aos
estudantes as oportunidades de vivenciar, observar, analisar, comparar e julgar
diversas questões e aplicá-las ao seu cotidiano. De acordo com o que afirma
os PCNEM a respeito do tema ‘Genética’:
o desenvolvimento da Genética e da Biologia Molecular, das tecnologias de manipulação do DNA e de clonagem traz à tona aspectos éticos envolvidos na produção e aplicação do conhecimento científico e tecnológico, chamando à reflexão sobre as relações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade. (BRASIL-PARTE III, 2000, p.14)
Pelo fato deste tema ser considerado “novo” e moderno no ensino, deve
ser minuciosamente abordado, não só pelos recursos didáticos, mas também
pelos professores ao ministrarem aulas expositivas e práticas.
Badzinsk e Hermel (2015) chamam atenção para o livro que, por ser o
recurso mais utilizado, deve ser selecionado pelos docentes de forma
cuidadosa, principalmente porque os conteúdos presentes podem enfocar
conceitos vagos, confusos. Puiati e colaboradores (2007, p.4) afirmam que os
LDs “muitas vezes, trazem assuntos desvinculados da realidade dos alunos, o
que causa desinteresse”.
Melo e Carmo (2009) pesquisaram quanto ao caráter dos trabalhos
publicados referentes ao ensino de Genética e Biologia Molecular no Ensino
Médio. Eles revelaram que ainda são poucos os trabalhos pertencentes a
‘análise de livro didático’ nesta área. Ou seja, apesar de o LD ser a ferramenta
mais utilizada pelos docentes em salas de aula, ainda há poucos estudos e
publicações a respeito da análise deste material, principalmente dentro do
ensino de Genética.
Porém, de acordo com o PCN (BRASIL, 1997), há outros recursos que
também podem ser trabalhados com os estudantes:
Além do livro didático, outras fontes oferecem textos informativos: enciclopédias, livros para-didáticos, artigos de jornais e revistas, folhetos de campanhas de saúde, de museus, textos da mídia informatizada, etc. É importante que o aluno possa ter acesso a uma diversidade de
19
textos informativos, pois cada um deles tem estrutura e finalidades próprias... (BRASIL, 1997, p.81)
Com isso, em relação à DC, estas fontes podem ser uma boa opção aos
professores. Estes recursos didáticos teriam a finalidade de aproximar e
divulgar a Ciência e os conceitos científicos da sociedade. Além do mais, estes
TDC geralmente despertam interesse e são capazes de reorganizar o
conhecimento do aluno (SILVA, 2006; MARTINS et al, 2004; SOUZA e
ROCHA, 2015).
Diante disso, sendo ainda os livros didáticos a ferramenta mais utilizada
no ensino de Ciências e Biologia e a Genética, uma Ciência moderna
amplamente abordada no EM, é questionado de que forma estes recursos
didáticos do EM abordam os textos de Divulgação Científica acerca do tema
acima.
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Considerando as preocupações de como a divulgação científica é
abordada no ambiente escolar, esta pesquisa tem como objetivo contribuir para
o conhecimento de como é realizada a re-elaboração de textos de Divulgação
Científica relacionados ao tema ‘genética’ nos livros didáticos de Biologia.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Analisar os textos didáticos presentes no livro através da observação dos
métodos de re-elaboração com os textos-fonte de DC indicados pelos autores;
- Comparar os textos didáticos entre as edições recentes e antigas dos LDs;
- Verificar como a re-elaboração do texto de DC pode auxiliar ou prejudicar o
conhecimento científico do aluno.
20
3. METODOLOGIA
Este trabalho baseou-se em uma pesquisa qualitativa (GÜNTHER, 2006)
onde foram analisados 8 livros didáticos de Biologia do 1º ano do Ensino
Médio, sendo três recentes e pertencentes ao PNLD de 2015, quatro
pertencentes ao PNLD de 2012 e um do PNLD de 2009. Os LDs foram
escolhidos com base nos dados fornecidos pelo FNDE, na listagem das
coleções mais distribuídas por componente curricular nas escolas de todo o
Brasil do ano de 2015. Os livros antigos (PNLD de 2012 e 2009) foram
comparados com suas edições recentes (de 2015) a fim de notar se houve
alguma alteração com relação à quantidade e qualidade aos textos de
Divulgação Científica encontrados. Em relação ao livro dos autores José M.
Amabis e Gilberto R. Martho, a versão do PNLD de 2012 foi comparada com a
presente no PNLD de 2009 devido a uma dificuldade de acesso na versão
recente, do PNLD de 2015. Os livros de 1º ano do EM foram escolhidos por
abordar temas referentes à Genética molecular como estudos sobre o núcleo
celular e cromossomos, divisão celular e material genético. Tais capítulos
serviram de base para a referida análise dos TDC. Ao contrário da Genética
mendeliana, estes temas costumam vir acompanhados de textos de DC. No
quadro 1 estão listados os LDs analisados.
Foram analisados um total de 12 textos didáticos (14 de Divulgação
Científica, visto que alguns textos possuíam duas referências). Geralmente
esses textos são encontrados nos livros em forma de ‘boxers’ intitulados de
formas variadas de livro para livro (como “saiba mais”, ”Ciência e Sociedade”,
“Ciência e Tecnologia”, entre outros).
Os textos didáticos (TD) foram comparados com suas fontes originais
(nomeados de textos de divulgação científica- TDC) e analisados de acordo
com os seguintes critérios:
A- Quanto à re-elaboração entre o texto de Divulgação Científica (TDC)
e o TD: número de palavras, número de parágrafos, além da exclusão (com
destaque em itálico), acréscimos (sublinhado), substituições/ ocultações (em
negrito) e reordenações (negrito e sublinhado) de informações.
B- Quanto à linguagem: Adequação lingüística (linguagem coloquial e
linguagem culta); emprego de termos explicativos, comparativos ou
21
semelhantes; utilização e explicação de termos (tanto científicos como o
emprego de palavras de difícil compreensão para o leitor que exigem a
utilização do dicionário).
Quadro 1: O quadro apresenta os livros didáticos de Biologia analisados e suas respectivas informações.
Código Livros
didáticos
PNLD Autores Editora Edição
L1 Ser
protagonista
2015 Tereza Costa Osório SM 2ª ed.,
2013
L2 Biologia 2015 César da Silva Jr.,
Sezar Sasson e
Nélson Caldini
Saraiva 11ªed.,
2013
L3 Biologia
Hoje
2015 Sérgio Linhares,
Fernando
Gewandsznajder
Ática 2ª ed.,
2013
L4 Biologia 2012 José M. Amabis;
Gilberto R. Martho
Moderna 3ª ed.,
2010
L5 Ser
protagonista
2012 João Batista Aguilar;
André Catani,
Fernando Santiago
SM 1ª ed.,
2009
L6 Biologia
hoje,
2012 Sérgio Linhares,
Fernando
Gewandsznajder
Ática 1ª ed.,
2010
L7 Biologia 2012 César da Silva Jr.,
Sezar Sasson e
Nélson Caldini
Saraiva 10ª ed.,
2010
L8 Biologia 1-
Biologia das
Células
2009 José M. Amabis;
Gilberto R. Martho
Moderna 2ª ed.,
2004
Fonte: A autora, 2017.
Os livros de L1, L2 e L3 representam LDs recentes do PNLD de 2015. Já
L5, L6 e L7, representam as versões mais antigas dos mesmos livros, porém
22
do PNLD de 2012. Já L8 representa sua versão mais antiga de L4, e, portanto,
pertence ao PNLD de 2009.
4.RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Apresentação dos textos de DC nos livros didáticos
Dos oito livros analisados, três tiveram a disponibilidade dos textos de
DC comprometida (L3, L4 e L7), seja por possuir referências retiradas de livros
(o que dificultou o acesso), por não possuir referências para realizar a análise
da re-elaboração ou, ainda, por suas referências não estarem disponíveis nos
endereços eletrônicos oferecidos. Por esta razão, foram descartados. A tabela
abaixo (Quadro 2) apresenta os dados de cada livro analisado, de acordo com
a presença dos textos de DC.
Quadro 2: Descrição da apresentação dos textos de DC nos livros didáticos de Biologia analisados. Códig
o
Nº de
textos
de DC
Nº de textos
com
referências
bibliográfica
s
Referênci
as
retiradas
de livros
Textos
sem
referênc
ia
Referênci
as não
disponíve
is
Total de
textos de
DC
analisados
L1 09 03 01 06 01 01
L2 05 02 01 03 - 01
L3 05 01 TD (02
TDC) *
01 04 01 -
L4 03 - 0 03 - -
L5 10 06 0 04 - 06
L6 21 04 TD (08
TDC) *
02 17 01 03 TD (05
TDC)*
L7 04 - 0 04 - -
L8 04 04 - - 03 01
Fonte: A autora, 2017.
*Os textos de divulgação científica de L3 e L6 possuíam duas
referências bibliográficas por texto, sendo algumas retiradas de
livros.
23
Ressalta-se novamente que as referências retiradas de livro também
foram descartadas pela dificuldade de acesso a essas fontes e por não ser o
enfoque da nossa pesquisa, uma vez que objetivamos analisar a re-elaboração
de TDCs em TDs. Sendo assim, os TDCs analisados foram retirados apenas
de artigos, jornais e revistas científicas.
Na Tabela abaixo (Quadro 3) estão listados os títulos dos 12 textos
didáticos que foram analisados neste trabalho. Os TD estão apresentados na
seção ‘Anexos’. Já os TDC, tiveram seus ‘links’ disponibilizados durante a
análise de re-elaboração.
Quadro 3: Títulos dos textos didáticos analisados e seus respectivos LDs de onde foram retirados.
TÍTULOS DOS TDs ANALISADOS LDs
“Bactéria da tuberculose obstrui resposta imunológica natural” L1
“Diálogos interdisciplinares: Produção e fruição das artes" L2
“A turma do desmanche” (T1) L5
“A colchicina como bloqueadora da mitose” (T2) L5
“Bactéria da tuberculose obstrui a resposta imunológica natural” (T3) L5
“Cientistas afirmam ter criado espermatozóides em laboratório” (T4) L5
“Pesquisa identifica células-tronco ‘adormecidas” (T5) L5
“Alternativa animal” (T6) L5
“Embrapa apresenta segundo bezerro de clone bovino” (T1) L6
“Câncer” (T2) L6
“Divisão celular e os telômeros” (T3) L6
“O DNA mitocondrial” L8
TOTAL DE TDs 12
4.2 Análise dos textos de DC
4.2.1 Análise de L1: Ser protagonista- 2013
Em L1, a maioria dos TD não possuía referências (conforme destacado
na Tabela 2) e, portanto, apenas 2 textos foram selecionados, sendo que um
deles, não foi encontrado na referência determinada pelo LD, tampouco em
outro endereço eletrônico. Logo, apenas um texto foi analisado.
24
O TDC analisado, cujo noticiário foi retirado do site “Estadão”
(http://saude.estadao.com.br/noticias/geral,bacteria-da-tuberculose-obstrui-
resposta-imunologica-natural,241667). O texto foi publicado em 14 de setembro
do ano de 2008 e não possui autoria, é intitulado “Bactéria da tuberculose
obstrui resposta imunológica natural". Este texto apresenta um discurso
jornalístico, que visa a divulgação de informações por diversos meios
midiáticos e impressos, por exemplo, como a televisão, jornais e revistas,
respectivamente. Este discurso representa uma adaptação do discurso
presente em publicações acadêmicas (discurso científico) e necessita ser
utilizado com cautela, uma vez que se pretende levar a informação científica a
um público mais leigo (TARGINO, 2007; BUENO, 2010). Ele descreve a ação
inativadora de resposta imunológica, no organismo hospedeiro, da bactéria
causadora da tuberculose, a Mycobacterium tuberculosis. O TDC representa
um texto pequeno de apenas 211 palavras, com apenas 1 parágrafo e não faz
uso de ilustração.
O texto presente no livro didático (anexo 1) que possui a mesma
intitulação foi retirado do capítulo referente à divisão celular. O mesmo possui
ligação com o conteúdo apresentado neste mesmo capítulo, uma vez que ao
abordar tal tema (divisão celular), estuda-se também os processos de morte
celular e apoptose, retratados logo acima do TD. Este texto foi praticamente
inalterado da sua fonte original, com o mesmo número de palavras (211), mas
com 7 parágrafos, fazendo uso do mesmo vocabulário, inclusive mantendo-se
vírgulas e pontos.
Pôde-se notar poucas alterações e/ou edições no corpo do texto. Na
primeira linha, o nome da bactéria causadora da tuberculose (Mycobacterium
tuberculosis) não foi escrito conforme os padrões científicos no TDC (Quadro 4)
e é possível perceber que o TD realiza tal correção. Este tipo de erro também
se faz presente no trabalho de Souza e Rocha (2015 b), onde durante uma
análise de textos de divulgação científica da Scientific American referentes à
sistemática filogenética, foram encontrados nomes científicos sem destaque e
em alguns casos, com a escrita errada. Segundo estes autores, estes erros
não alteraram o escopo dos textos, assim como também não foi modificado
neste trabalho.
25
Quadro 4: Diferença no nome científico da bactéria da tuberculose do TDC para o TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “A principal bactéria causadora da
tuberculose, a mycobacterium
tuberculosis, bloqueia...”
1ºP: “A principal bactéria causadora
da tuberculose, a Mycobacterium
tuberculosis, bloqueia...”
A segunda diferença é encontrada no segundo parágrafo do texto
didático (TD), onde há a eliminação da palavra "hoje", que foi substituída por
reticências (Quadro 5). Isso faz pensar no porquê da supressão desta palavra.
Provavelmente o autor quis ocultar que este dado era referente ao texto
publicado em 2008 e, portanto, não era recente, já que a edição do LD é de
2015.
Quadro 5: Ocultação da palavra ‘hoje’ que foi substituída por reticências.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “Em uma pesquisa publicada hoje
pela revista científica britânica "Nature
Immunology", cientistas ...”
2º P: “Em uma pesquisa publicada
[...] pela revista científica britânica
"Nature Immunology", cientistas ...”
A terceira diferença é encontrada na distribuição de parágrafos. O TDC
apresenta apenas 1 parágrafo em todo seu conteúdo e o TD possui 7
parágrafos (Quadro 6).
Quadro 6: Diferença de parágrafos entre o TDC e o TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “Em determinado momento, as
novas bactérias geradas causam a
ruptura dessas células para poder
infectar outras saudáveis e seguir
se reproduzindo. No final, o destino
do macrófago também é morrer,
mas, em vez de fazê-lo por mãos
do sistema imunológico por
apoptose, faz por necrose, o que
permite a multiplicação das
5ºP: “Em determinado momento, as
novas bactérias geradas causam a
ruptura dessas células para poder
infectar outras saudáveis e seguir se
reproduzindo.
6ºP: No final, o destino do macrófago
também é morrer, mas, em vez de fazê-
lo por mãos do sistema imunológico por
apoptose, faz por necrose, o que permite
a multiplicação das bactérias e a
26
bactérias e a conseqüente
propagação da doença. Segundo
os cientistas, a descoberta...”
conseqüente propagação da doença.
7ºP: Segundo os cientistas, a
descoberta...”
A linguagem de ambos os textos (que são semelhantes) é coloquial,
embora se utilizem de alguns termos científicos. O mesmo é observado na
pesquisa de Kemper e colaboradores (2010) durante a análise de TDC das
revistas Superinteressante e Galileu, onde a maioria dos textos apresentou
uma linguagem fácil e compreensível ao público.
Observamos uma explicação confusa para o leitor leigo e com
vocabulário restrito na seguinte expressão: “A resposta natural do corpo é
provocar a morte dos macrófagos - chamada apoptose -, que são as células
que as bactérias invadem para se reproduzir.” A explicação parece vaga e
ineficiente na explicação dos termos “apoptose” e “macrófagos”, devido à
posição das palavras na frase. Para que o texto fosse claro, a palavra
“apoptose” deveria vir após a palavra “morte”, assim como a palavra
“macrófagos” deveria estar associada à frase “células que as bactérias
invadem para se reproduzir”.
No segundo parágrafo do TD, o autor utiliza a palavra ‘incubadoras’
entre aspas para fazer uma analogia ao fato de que as células macrófagos
acabam tornando-se um ambiente de propagação favorável para estas
bactérias. Este termo também foi encontrado no TDC visando simplificar e
facilitar a compreensão do leitor. Segundo Nascimento (2005) e Martins e
colaboradores (2001) as palavras entre aspas servem para enfatizar algum
termo que geralmente não é utilizado no discurso científico, mas que está mais
interligado com o discurso utilizado no dia-a-dia.
Apesar disso, há palavras que foram empregadas que podem causar
dúvidas/não entendimento de seu significado para o interlocutor, como:
“obstrução”, “propagação”, “ruptura”, “necrose”, “sistema imunológico”. Um
exemplo parecido foi encontrado nas análises dos TDC de Kemper e
colaboradores (2010) onde se observou que alguns termos científicos não
possuíam explicação, como as palavras ‘enzima’, ‘caloria’, ‘células-tronco’.
Ainda segundo as autoras, estas palavras muitas vezes não possuem
explicações por serem conhecidas e retratadas no cotidiano.
27
4.2.2 Análise de L2: Biologia- 2013
Este livro apresentou em sua maioria, textos de DC sem referências (03)
e uma retirada de livro (conforme destacado na Tabela 2), restando apenas um
texto para análise, intitulado “Diálogos interdisciplinares: Produção e fruição
das artes" (anexo 2).
O TDC, intitulado “Laboratório de células tronco da UFRJ cria obras de
arte com DNA”, foi retirado do noticiário do site “G1”, o qual corresponde a um
site cujo conteúdo é veiculado por meio do discurso jornalístico, realizado por
jornalistas científicos que adaptam o conteúdo do discurso científico, visando
aproximá-lo do leitor (TARGINO, 2007). Por outro lado, segundo Bueno (2010),
isso também pode contribuir no comprometimento da informação que está
sendo veiculada, já que muitos erros também podem ser transmitidos,
necessitando de certos ‘cuidados’. A autoria deste texto é de Mônica Teixeira,
datado em 10 de outubro de 2012, possui 261 palavras distribuídas em 7
parágrafos e fala sobre a possibilidade de utilizar imagens de análises
laboratoriais de DNA como obras de arte. (http://g1.globo.com/jornal-
hoje/noticia/2012/10/laboratorio-de-celulas-tronco-da-ufrj-cria-obras-de-arte-
com-dna.html). Vale lembrar que o texto presente no livro foi retirado do
capítulo referente ao núcleo celular e, portanto, está relacionado ao conteúdo,
uma vez que o texto trata do material genético em questão, o DNA. O TD
intitulado “Diálogos interdisciplinares: Produção e fruição de artes”, apresenta
317 palavras distribuídas em 7 parágrafos.
A primeira alteração se relaciona ao título do texto, que é modificado em
relação ao TDC. O título presente no TDC é pertinente ao discurso de
divulgação científica, sendo adaptado no TD para um vocabulário mais
didático, porém, mais rebuscado que o TDC devido às palavras “fruição” e
“interdisciplinaridade”. Com estas palavras buscou-se destacar a relação de
‘arte’ com ‘ciência’ (Quadro 7). Esse tipo de alteração também foi observada no
trabalho de Martins e colaboradores (2001), onde o TDC é intitulado “O
Cerrado e a Ecologia do Fogo”, e o TD foi adaptado para “O Fogo e os
Cerrados no Brasil”. Acredita-se que essas alterações tendem a tornar mais
clara a ideia que será apresentada no corpo do texto.
28
Quadro 7: Diferença nos títulos do TDC e do TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
“Laboratório de células tronco da UFRJ
cria obras de arte com DNA”
"Diálogos interdisciplinares:
Produção e fruição das artes"
Observou-se no primeiro parágrafo do TD que o autor acrescenta uma
breve introdução sobre o assunto que será abordado, resumindo de que
maneira pode-se utilizar o DNA como produção de arte (Quadro 8). A presença
deste resumo auxilia o leitor a compreender e refletir, de maneira mais
resumida e simplificada, o que será tratado posteriormente na leitura. De
acordo com a pesquisa realizada por Martins e colaboradores (2001), os
questionamentos acrescentados no início do TD geram reflexão e conduzem o
estudante na leitura do texto.
Quadro 8: Acréscimo de uma introdução e sugestão de pesquisa feita pelo autor do LD. TEXTO DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “O quadro de Christian e
Marla pode não ter a cara deles,
mas é o retrato mais fiel que os
dois poderiam ter. A peça, que
em breve vai decorar a parede
da sala do casal, é a reprodução
do DNA, o código genético de
cada um. “É uma arte
personalizada para gente, com a
nossa informação. Ninguém tem
igual”, diz Christian Malheiro
Dinesen.”
1ºP: “Temas biológicos muitas vezes
exerceram um grande fascínio em artistas
plásticos. A pesquisa que vocês poderão
realizar, neste momento, é bastante livre.
Trata-se de descobrir casos em que artistas
utilizaram moléculas biológicas, como
proteínas ou DNA, como fonte de
inspiração para a produção de pinturas ou
esculturas. Veja o texto abaixo, que fornece
um exemplo destes.
2ºP: “O quadro de Christian e Marla...”
Em seguida, o autor repetiu o texto de autoria de Mônica Teixeira, fato
observado pelo uso das aspas a partir do segundo parágrafo. Outra
modificação em relação ao TDC foi por uma pequena diferença de parágrafos
que acabou sendo unificada (Quadro 9). No entanto, o número de parágrafos
não foi modificado entre os textos, já que houve um acréscimo no início do TD
29
(Quadro 8) e a unificação de dois parágrafos do TDC (Quadro 6). O número de
palavras variou de um texto para o outro (de 261 no TDC para 317 no TD).
Quadro 9: União de parágrafos no TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
2º P: “A invenção surgiu no Laboratório
Nacional de Células Tronco
Embrionárias da UFRJ. Ideia de um
pesquisador que soube enxergar toda a
beleza do código genético.
3º P: “A ideia é tirar a ciência do
armário....”
3º P: “A invenção surgiu no
Laboratório Nacional de Células
Tronco Embrionárias da UFRJ.
Ideia de um pesquisador que soube
enxergar toda a beleza do código
genético. A ideia é tirar a ciência do
armário...”
Em relação à linguagem, ambos os textos apresentaram uma linguagem
próxima do leitor, mais ‘leve’ do que a apresentada em L1, com termos
relacionados ao dia-a-dia do interlocutor, como pode ser observado na seguinte
afirmação: “O DNA das células é separado e fica misturado em um líquido
verde. A máquina tira uma espécie de foto. O resultado vai para a tela do
computador. Depois de usada, a amostra de DNA é destruída”. Nota-se que o
autor utiliza-se de termos simples típicos do discurso jornalístico como ‘em um
líquido verde’ e ‘ tira uma espécie de foto’ a fim de simplificar o conteúdo ao
invés de utilizar-se de termos científicos próprios para tais procedimentos. Este
tipo de aproximação pode ser observada no trabalho de Nascimento e Martins
(2005) durante a análise de textos de 4 LDs. Segundo as autoras, as palavras
observadas por elas (‘receitas’, ‘instruções’) servem para aproximar e facilitar o
conteúdo com a vida cotidiana do jovem.
4.2.3 Análise de L5: Ser protagonista- 2009
Este livro representa uma edição mais antiga de L1. Ao todo, foram
analisados 6 TDC, sendo 5 retirados de revistas e 1 de artigo. Os TDC foram
nomeados de T1 à T6.
T1- “A turma do desmanche”
O TDC foi encontrado em um site de revista eletrônica da FAPESP
(http://revistapesquisa.fapesp.br/2008/04/01/a-turma-do-desmanche/) da edição
30
146, datado em abril de 2008, cuja autoria é de Carlos Fioravanti e representa
um texto veiculado pelo discurso científico, principalmente pela sua capacidade
de persuasão (TARGINO, 2007). Intitulado “A turma do desmanche”, fala sobre
as observações do pesquisador Marcelo Damário Gomes sobre o fato de o
núcleo celular possuir proteínas (denominadas ubiquitinas e que ficam
armazenadas em um compartimento localizado no núcleo, o fand) as quais
realizam a destruição, o ‘desmanche’ de outras proteínas que já
desempenharam sua função. O texto possui 1.311 palavras divididas em 9
parágrafos.
Por outro lado, o TD (anexo 3) que foi encontrado no capítulo referente
ao núcleo celular e também está relacionado ao conteúdo, possui 627 palavras
distribuídas em 3 parágrafos e o mesmo título do TDC. Vale ressaltar que o
título chama a atenção do leitor pelo uso da palavra “desmanche” que faz uma
inferência sobre o que vai ser comentado no texto, mostrando uma forma mais
fácil de entender o que vai ser abordado. Segundo Kemper e colaboradores
(2010), a presença de títulos fortes serve para chamar a atenção do aluno e
despertar a curiosidade pela leitura. O mesmo recurso foi encontrado no
trabalho de Nascimento (2005), onde o título do texto analisado pela autora foi
considerado atrativo à leitura.
A re-elaboração entre os textos é marcada, principalmente por
ocultações e eliminações - de frases e parágrafos inteiros - em seu conteúdo
para o TD. Essas eliminações de parágrafos também foram observadas por
Martins e colaboradores (2001) durante a re-elaboração do TDC para o TD. Ao
todo, foram feitas 8 ocultações as quais são destacadas pelo uso de reticências
no TD (exemplo no Quadro 10). Tais ocultações se relacionam com dados
complementares (onde eram citados outros pesquisadores) ao tema abordado
no texto (Quadro 10) assim como, em sua maioria, com informações sobre o
pesquisador citado (Marcelo Damário Gomes) que foram eliminados e
substituídos por reticências. Essas ocultações contribuem para uma visão
deformada de ciência já elaborada, conforme afirmado por Martins e
colaboradores (2001). Nesta visão errônea e neutra da ciência, não se
evidenciam os meios pelos quais a ciência é realizada (MARTINS et al, 2001;
PASSERI et al, 2017). Além do mais, em algumas re-elaborações, os cientistas
são retratados de forma estereotipada, assim como o ensino de ciências, onde
31
não se evidencia que a ciência é reconstruída a cada dia com novas
descobertas e observações.
Quadro 10: Exemplo de ocultações realizadas pelo TD durante a re-elaboração discursiva.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
2ºP: “Gomes descobriu um deles, o fand.
Apresentado em fevereiro na Molecular
Biology of the Cell, o fand, curiosamente,
limita-se por si mesmo, sem uma
membrana externa como a que separa o
núcleo do citoplasma.”
7ºP: ... “É o caso, lembra Gomes, da coréia
de Huntington, que se agrava à medida que
se acumulam os resíduos que o
proteassoma não consegue nem
reconhecer nem desfazer. Em um artigo
de revisão publicado em fevereiro deste
ano na Cellular & Molecular Biology
Letters, Halina Ostrowska, bióloga da
Universidade de Bialystok, Polônia,
mostra como esse mecanismo, por estar
ligado à degradação da maioria das
proteínas intracelulares ...”
1ºP: “Gomes descobriu um
deles, o fand. (...) o fand,
curiosamente, limita-se por si
mesmo, sem uma membrana
externa como a que separa o
núcleo do citoplasma.”
3ºP: ... “É o caso, lembra
Gomes, da coreia de Huntington,
que se agrava à medida que se
acumulam os resíduos que o
proteassoma não consegue nem
reconhecer nem desfazer. (...)
esse mecanismo, por estar
ligado à degradação da maioria
das proteínas intracelulares...”
Há também a exclusão do subtítulo “Ubiquitina e genes” para o TD.
Conforme afirmado por Kemper e colaboradores (2010), tão importante quanto
à presença de um título atrativo, o subtítulo também auxilia a despertar e
manter o interesse do leitor pelo texto em questão. Acredita-se que tal exclusão
feita pelo autor tenha sido realizada com o objetivo de sintetizar a informação e
transmitir o que foi considerado apenas essencial.
O texto “A turma do desmanche” possui uma linguagem culta em ambos
os textos, contendo diversos termos lexicais, alguns com explicações
(“citoplasma”, “fand”, “nucléolo” e “proteassoma”) e apresentação de sinônimo
para palavras que são consideradas incomuns no dia-a-dia como mostra a
frase a seguir com as palavras ‘ubíqua’ e ‘onipresente’: “As ubiquitinas, assim
32
chamadas por serem ubíquas ou onipresentes, funcionam como etiquetas que
marcam quem deve morrer...”
Ainda na frase supracitada, o uso da conjunção ‘como’ faz uma
comparação entre “ubiquitinas” e “etiquetas que marcam”, reforçando o papel
que é desempenhado pela ubiquitina. Esta comparação facilita a compreensão
do aluno. Segundo Kemper e colaboradores (2010) e Ferreira e Queiroz
(2011), as metáforas e termos explicativos oferecem uma aproximação com o
cotidiano do aluno.
Ressalta-se que os dois textos, muito semelhantes, ainda apresentam
palavras como ‘eliminação’, ‘degradação’, ‘destruição’, ‘carrasco’, ‘morte’ em
uma tentativa de facilitar a leitura do leitor e fazer possíveis comparações.
Porém, ao mesmo tempo, a utilização destes vocábulos é um tanto quanto
agressiva, pois transmite uma ideia de “guerra” no organismo. Na seguinte
frase (retirada do 2º parágrafo do TD e 6º do TDC) é possível observar o
emprego de analogia no seguinte termo: “... Mas as ubiquitinas não
representam apenas o carrasco que leva pela mão os condenados à morte a
uma espécie de triturador...”. Segundo Souza e Rocha (2015b) a utilização de
analogias tendem a tornar o texto mais claro para seus leitores.
T2- “A colchicina como bloqueadora da mitose”
Esse TDC foi retirado de um artigo publicado pela revista “Anais
Brasileiros de Dermatologia”, volume 64, número 6 do ano de 1989 cuja autoria
pertence à Orley Alvaro Campagnolo, Rubem David Azulay e colaboradores
(http://www.anaisdedermatologia.org.br/detalhe-artigo/741/Colchicina-em-
dermatologia). O texto, intitulado “Colchicina em dermatologia”, apresenta um
texto com discurso científico, com padrões diferentes do texto didático e do
discurso jornalístico, sendo geralmente utilizado em publicações acadêmicas
como os artigos e dissertações, com uma linguagem mais formal e com mais
precisão (TARGINO, 2007). A partir disso, espera-se, portanto, que o autor do
LD saiba fazer a re-elaboração para o TD de forma mais clara e compreensível
para o aluno, exigindo uma re-elaboração mais ‘profunda’. O artigo fala sobre o
alcalóide colchicina, responsável pela interrupção da mitose e que está sendo
utilizado para tratar dermatoses. A pesquisa também aborda suas propriedades
33
farmacológicas e indicações terapêuticas. Tal artigo possui em torno de 3.308
palavras distribuídas em 55 parágrafos (sem levar em consideração os
parágrafos de autoria e referências bibliográficas).
O TD (anexo 4) é intitulado “ A colchicina como bloqueadora da mitose”
(Quadro 11). observado A adaptação de títulos também foi observada na
pesquisa de Souza e Rocha (2014), onde o TDC é intitulado “Onças cativas” e
o TD de “Riscos nas cadeias alimentares”. O texto contém 286 palavras e 5
parágrafos e foi encontrado no capítulo de reprodução celular (assim como T3,
T4 e T5) e mais uma vez estava adequado ao conteúdo presente no livro.
Ressalta-se que o texto em questão (T2) foi significativamente reduzido em
relação à fonte original, já que o TDC é um artigo científico. Exemplos
semelhantes foram observados por Souza e Rocha (2014) durante a re-
elaboração do texto (de 2.467 palavras pra 264 no TD) e por Martins e
colaboradores (2001) onde o TDC continha 5.000 palavras e o TD, apenas
1.300. Desta forma, nesta nossa análise, o autor do LD focaliza nos subtítulos
“histórico” e “propriedades farmacológicas” para a construção do texto,
excluindo os dados referentes à toxicologia e indicações terapêuticas da
colchicina, assim como o comentário final.
Quadro 11: Diferença entre os títulos do artigo científico e do TD de T2.
ARTIGO CIENTÍFICO TEXTO DIDÁTICO
“Colchicina em dermatologia” “A colchicina como bloqueadora da mitose”
O TD realizou, ao todo, 5 ocultações sinalizadas pelo uso de reticências.
A maioria destas ocultações foi feita no início dos parágrafos. Dentre as
alterações mais relevantes, na primeira linha do 2º parágrafo do TD, o autor do
LD suprimiu a expressão “e tem sido” sem a utilização de reticências (Quadro
12). Esta expressão parece ter sido eliminada para evitar a citação da data
relacionada à publicação do artigo. Há ainda a substituição da palavra
‘utilizada’ que, no TDC, faz referência a palavra ‘colchicina’ e no TD, ‘utilizado’
refere-se a ‘agente antimitótico’ (Quadro 12). Essa substituição foi feita devido
à mudança de concordância do verbo em questão (‘utilizada’ antes
concordando com ‘colchicina’) para o termo “agente antimitótico”. Um exemplo
de substituição é observado por Souza e Rocha (2014) na re-elaboração de um
34
TDC para o TD através da alteração da palavra ‘agropecuária’ por ‘cultivo de
plantas. Segundo os autores, esse tipo de alteração visa a troca de palavras
por outras semelhantes, o que torna o texto mais compreensível.
Quadro 12: Eliminação e substituição de termos entre o artigo científico e o TD.
ARTIGO CIENTÍFICO TEXTO DIDÁTICO
8ºP: ... “A colchicina é um agente
antimitótico e tem sido amplamente
utilizada ...”
2ºP: “A colchicina é um agente
antimitótico amplamente
utilizado...”
Foi possível notar que no TD houve a união dos 6º e 7º parágrafos do
texto original (Quadro 13) e um acréscimo da expressão “há uma” entre a
palavra “inflamada” e “quebra” (Quadro 14). Essa inserção de palavras
“ligadoras” tem o objetivo de tornar o texto mais ‘claro’ e de fácil compreensão
para seu público (MARTINS et al, 2001). Notou-se também, de um modo geral,
alterações de pontuação no TD, como exclusões de linhas (representadas
pelas reticências).
Quadro 13: Unificação de parágrafos do texto original no TD.
ARTIGO CIENTÍFICO TEXTO DIDÁTICO
6º P: “A colchicina é um agente
antimitótico e tem sido amplamente
utilizada como recurso experimental no
estudo da função e divisão normal e
anormal da célula(10).
7º P: “Em virtude de sua capacidade de
se ligar às proteínas microtubulares, a
colchicina interfere...”
2º P: “A colchicina é um agente
antimitótico amplamente utilizado
como recurso experimental no
estudo da função e divisão normal e
anormal da célula. Em virtude de
sua capacidade de se ligar às
proteínas microtubulares, a
colchicina interfere....”
Quadro 14: Acréscimo realizado entre as palavras ‘inflamada’ e ‘quebra’.
ARTIGO CIENTÍFICO TEXTO DIDÁTICO
...“Ao inibir a migração de granulócitos
para dentro da área inflamada, quebra o
ciclo que leva a reações inflamatórias.”...
...“Ao inibir a migração de granulócitos
para dentro da área inflamada, há
uma quebra do ciclo que leva a
reações inflamatórias.”...
35
A linguagem é culta em ambos os textos (principalmente no TDC,
representada por um discurso científico). Observamos a presença de grande
quantidade de termos científicos (‘fusos mitóticos’, ‘microtúbulos fibrilares’,
‘metáfase’, ‘divisão celular’) que no caso do TD, está relacionado com o
conteúdo do capítulo (“reprodução celular”) em que foi encontrado. Esses
termos científicos podem ser observados a seguir: “... a colchicina interfere com
a função dos fusos mitóticos causando despolimerização e desaparecimento
dos microtúbulos fibrilares dos granulócitos e outras células móveis.” Nesta
expressão, não há preocupação em explicar tais termos científicos,
provavelmente pelo fato de o texto estar localizado no capítulo referente à
divisão celular e pelo autor subentender a compreensão destas palavras
presentes neste conteúdo pelos alunos.
Porém, há algumas palavras que não apresentaram sinônimos ou
explicação de seu significado como acontece no início do texto com o vocábulo
“alcalóide”. A ausência de explicação destes termos, considerados mais
complexos para os alunos, pode dificultar a leitura e a compreensão do texto,
tornando o conteúdo um tanto quanto abstrato.
T3- “Bactéria da tuberculose obstrui a resposta imunológica natural”
Esse texto (anexo 5) foi igualmente encontrado em L1 (anexo 1), exceto
pela palavra “hoje”, presente no 2º parágrafo do TD que não foi ocultada e
substituída por reticências conforme visto no primeiro livro analisado. Este fato
pode ser explicado, provavelmente, pela proximidade da data de publicação da
notícia em 2008, com a edição do livro L5 em 2009, já que o L1 representa sua
versão recente, de 2013. No entanto, ambos os textos foram localizados nos
capítulos 10, referentes à divisão celular, de L1 e L5.
T4- “Cientistas afirmam ter criado espermatozóides em laboratório”
O TDC foi encontrado em um noticiário retirado do site “Uol”
(https://noticias.uol.com.br/bbc/2009/07/08/ult2282u1714.jhtm), publicado em
08 de julho de 2009 e com autoria da British Broadcasting Corporation Brasil
(BBC Brasil). O mesmo representa um texto veiculado através do discurso
jornalístico, principalmente por ter a impessoalidade como característica
marcante, além de centrar-se em transmitir a mensagem para o público leitor.
36
Este TDC aborda a criação de espermatozoides em laboratório a partir de
células-tronco removidas de embriões masculinos que passaram por
sucessivas meioses até se tornarem células sexuais (espermatozoides nesse
caso), representando um avanço para os estudos sobre a infertilidade de
homens. O TDC apresenta 16 parágrafos e 539 palavras e é intitulado
“Cientistas afirmam ter criado espermatozóides em laboratório”. O TD (anexo
6), com a mesma titulação, possui 15 parágrafos e 537 palavras e foi
encontrado no capítulo “Reprodução celular”. A presença de títulos iguais
também é percebida por Nascimento (2005) durante a análise de re-elaboração
de um texto de genética intitulado ‘Hello, Dolly!’.
A principal diferença observada entre os textos foi em relação a união e
separação de parágrafos. Houve a unificação dos 4 primeiros parágrafos do
TDC no TD (Quadro 15) e a substituição de um travessão “-” presente no texto
original por uma vírgula, tanto no 8º quanto no 10º parágrafo do TD (Quadro
16) a qual não alterou o caráter o texto. Outro fato que chamou atenção foi que
o TD manteve os dois subtítulos presentes no TDC: ‘Células-tronco’ e
‘Entendendo os espermatozoides’.
Quadro 15: Unificação de parágrafos do TDC no TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
1º P: “Uma equipe de cientistas de
Newcastle, na Inglaterra, anunciou ter
criado espermatozoides em laboratório
pela primeira vez no mundo.
2º P: Os pesquisadores acreditam que,
eventualmente, seu trabalho poderia
ajudar homens com problemas de
fertilidade.
3º P:Outros especialistas, no entanto,
não se convenceram com os resultados.
4º P:Em um artigo publicado....”
1ºP: “Uma equipe de cientistas de
Newcastle, na Inglaterra, anunciou ter
criado espermatozoides em
laboratório pela primeira vez no
mundo. Os pesquisadores acreditam
que, eventualmente, seu trabalho
poderia ajudar homens com
problemas de fertilidade. Outros
especialistas, no entanto, não se
convenceram com os resultados. Em
um artigo publicado...”
Quadro 16: Substituição presente no 8º parágrafo do TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
10ºP: “... em detalhes como os 8ºP: “... em detalhes como os
37
espermatozoides se formam e levar a
uma melhor compreensão sobre a
infertilidade entre os homens - por que
ocorre e o que a causaria".
12º P: “... inférteis para o resto da vida- e
possivelmente levar a uma solução.”
espermatozoides se formam e levar
a uma melhor compreensão sobre a
infertilidade entre os homens, por
que ocorre e o que a causaria".
10º P: “... inférteis para o resto da
vida, e possivelmente levar a uma
solução.”
A linguagem utilizada nos textos foi considerada coloquial, portanto, de
fácil entendimento para o seu público. Há o emprego de palavras da própria
ciência (neste caso como: ‘células-tronco’, ‘cromossomos’, ‘células sexuais’,
‘meiose’, ‘leucemia’ e ‘óvulo’), porém sem explicação do que significam no
texto, fato semelhante ao encontrado no trabalho de Kemper e colaboradores
(2010,) onde palavras como ‘células-tronco’ e ‘clonagem’ não apresentaram
explicação porque “já pertencem ao vocabulário corrente” (KEMPER, et al,
2010, p.13). Ainda sim, as autoras ressaltam que seria relevante que os TDC
por elas analisados apresentassem tais conceitos.
Há, porém, a preocupação em explicar, em ambos os textos, que o
processo de meiose é reducional e por isso, nas células sexuais, o número de
cromossomos serão reduzidos pela metade, como pode ser observado: “As
células-tronco masculinas passaram pelo processo de meiose, dividindo pela
metade seu número de cromossomos. As células sexuais (óvulos e
espermatozoides) têm apenas 23 cromossomos, enquanto todas as outras
células do corpo têm 23 pares de cromossomos, num total de 46.” Outra
preocupação foi tornar o texto mais compreensível para o leitor com a
utilização de aspas na palavra ‘rotulada’, presente em ambos os textos. Em
alguns casos, segundo Martins e colaboradores (2001), as aspas representam
“uma leitura metafórica das expressões” (MARTINS, et al, 2001, p.5). Mas,
consideramos que, neste caso, a metáfora “rótulo” não foi bem empregada. O
autor quis dizer que as células-tronco foram inicialmente identificadas (ou
caracterizadas) como masculinas ou femininas, já que não há interesse em
desenvolver a pesquisa com as células femininas. A palavra “rotulada” pode
gerar uma confusão na compreensão do texto, pois esta expressão também é
38
comumente utilizada para expressar formas negativas de personalidade (rotular
pessoas).
T5-“Pesquisa identifica células-tronco ‘adormecidas”
O TDC não foi encontrado em sua fonte original (site “Estadão”) indicada
no LD, sendo então retirado do endereço eletrônico do “O Globo”
(https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/pesquisa-identifica-celulas-tronco-
adormecidas-3603848), contendo um discurso jornalístico (TARGINO, 2007). O
TDC foi publicado no dia 08 de dezembro de 2008 com autoria da British
Broadcasting Corporation (BBC). Possui 405 palavras e 13 parágrafos. O TD
(anexo 7), intitulado da mesma forma, possui 403 palavras e 10 parágrafos e
foi encontrado no capítulo “Reprodução celular”. Ambos os textos falam sobre
células-tronco ‘adormecidas’ em ratos. Estas células-tronco podem ser
despertadas caso ocorra algum tipo de ferimento, e em seguida, voltam para o
seu estado ‘adormecido’, como possivelmente ocorre com as células
cancerígenas resistentes à quimioterapia. Isto permite entender melhor as
células cancerígenas.
Observou-se poucas diferenças na análise da re-elaboração entre os
textos, que estão baseadas na maneira de escrever certas palavras. Os
subtítulos presentes no TDC foram mantidos no texto didático com a mesma
nomeação: ‘Emergência’ e ‘Resistência’. No segundo parágrafo do TD, na 7ª
linha com o verbo “dividir” (Quadro 17). Segundo as normas cultas, deveria ser
usada a ênclise (posição do pronome átono após o verbo) com verbos no
gerúndio. Portanto, a forma correta está escrita do TD.
Quadro 17: Alteração (reordenação) encontrada entre o TDC e o TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
2ºP: “... afirmam que esse tipo de
células-tronco pode ficar "adormecido"
durante toda a vida, sendo "despertado"
apenas em caso de um ferimento ou de
hemorragia, se dividindo
imediatamente...”
2ºP: “... afirmam que esse tipo de
células-tronco pode ficar
"adormecido" durante toda a vida,
sendo "despertado" apenas em
caso de um ferimento ou de
hemorragia, dividindo-se
imediatamente...”
39
Outra diferença foi encontrada no 5º parágrafo do TD, com a palavra
“autorrenovar” e “auto-renovar” no TDC (Quadro 18). Com esta substituição,
nota-se que o TD adequou a palavra de acordo com o novo acordo ortográfico.
Este parágrafo a qual está sendo referido, por sinal, é proveniente da união do
5º e 6º parágrafos do TDC.
Quadro 18: Adequação da palavra destacada de acordo com o novo acordo ortográfico.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
6ºP: ...“Uma vez "acordadas", elas
apresentam o potencial mais alto de se
auto-renovar já visto em células-tronco.”
5ºP: ...“Uma vez "acordadas", elas
apresentam o potencial mais alto de
se autorrenovar já visto em
células-tronco.”
A linguagem de ambos os textos é de fácil compreensão. Nota-se a
simplificação de palavras que foram colocadas entre aspas possivelmente para
facilitar a compreensão do texto, como observado na frase: “... afirmam que
esse tipo de células-tronco pode ficar "adormecido" durante toda a vida, sendo
"despertado" apenas em caso de um ferimento ou de hemorragia...”. Neste
caso, as palavras entre aspas “adormecido” e “despertado” representam
exemplos de uma personificação, onde são atribuídas características humanas
às células-tronco. Na frase: “Os cientistas “marcaram” o material genético...” a
palavra ‘marcaram’, no 3º parágrafo do TD também apresenta aspas,
representando uma metáfora.
Há a utilização de palavras da ciência como ‘células sanguíneas’,
‘material genético’, ‘células-tronco’, ‘medula óssea’. Nestes textos, tais palavras
não são explicadas quanto às suas definições, provavelmente por serem
consideradas de entendimento do leitor. Porém, seria interessante que estes
TDC apresentassem tais explicações. Outra forma de lidar com estas
ausências de explicações dos vocábulos poderia ser feita através do professor,
que também pode explicar aos alunos o significado de alguns termos durante a
aplicação do texto com os jovens, apresentando seu significado ou discutindo-
os (KEMPER et al, 2010).
T6- “Alternativa animal”
40
O TDC foi encontrado em um site de revista eletrônica da FAPESP
(http://revistapesquisa.fapesp.br/2008/05/01/alternativa-animal/), edição 147, de
maio de 2008, cuja autoria pertence a Marcos de Oliveira. Este texto apresenta
um conteúdo mais formal considerado típico do discurso científico (TARGINO,
2007). Apresenta 2.492 palavras dispostas em 17 parágrafos.
O TD (anexo 8), também intitulado de “Alternativa animal” possui 637
palavras e 6 parágrafos. Vale lembrar que esta igualdade de títulos também é
observada na re-elaboração de Passeri e colaboradores (2017), onde o título
‘Vai faltar água?’ é mantido no LD. Esse texto aborda a utilização de diversos
animais como cabras e mosquitos para a fabricação de medicamentos. Ele
está relacionado ao conteúdo apresentado em seu capítulo “O controle celular”,
que aborda os estudos dos materiais genéticos, das mutações e da capacidade
de manipulação genética (engenharia genética). O texto, por sua vez, assim
como este capítulo do LD, também apresenta ligação com a temática ‘Ciência
Tecnologia e Sociedade’ (CTS) por tratar de questões científico-tecnológicas
relacionadas com a ética e com o cotidiano da população (o que justifica a
titulação do box em que o texto foi encontrado: ‘Ciência, Tecnologia e
Sociedade’).
Durante a análise de re-elaboração, o TD faz 10 ocultações sinalizadas
de diversas linhas e parágrafos, como por exemplo, da descrição física do
medicamento em questão citado no 1º parágrafo dos textos (Quadro 19). A
retirada de tal informação no TD não afetou o corpo do texto, uma vez que este
dado representa uma descrição desnecessária para o aprendizado do aluno.
O TD também faz exclusão do 10º ao 13º e do 15º ao 17º parágrafos.
Outras informações como dados sobre simpósios referentes aos transgênicos,
opiniões de pesquisadores, dados de pesquisas realizadas e citadas no texto,
dados de um antitrombótico e seu preço no mercado e algumas informações
sobre a vida profissional de pesquisadores (especialmente de João Bosco
Pesquero), assim como o porquê de se utilizar os biorreatores, como pode ser
observado no quadro 16, também foram retiradas. Essas eliminações
possivelmente podem parecer informações muito complexas para o aluno (no
caso dos dados do antitrombótico), sendo descartadas. No entanto, reflete-se
novamente no que foi observado em T1/L5 e no trabalho de Martins e
colaboradores (2001) em relação à eliminação de dados dos pesquisadores
41
citados no TDC para o TD e na questão do texto não transmitir de que maneira
a ciência é feita: por pesquisadores.
Quadro 19: Ocultação de uma informação no início do TD e de informações referentes ao pesquisador.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
1º P:“Um medicamento em forma de ampolas
com caixa azul e branca semelhante a
muitos outros existentes em farmácias e
hospitais acaba de ser lançado na Europa para
tratamento de tromboembolismo em cirurgias
de pacientes com deficiência antitrombina
hereditária...”
4ºP: “Os animais transgênicos usados para
produção de proteínas, chamados de
biorreatores, (...) para se obter fármacos que
funcionam como repositórios de substâncias
produzidas naturalmente pela maioria dos
humanos, mas ausentes ou em níveis diminutos
em alguns. “Esse sistema é mais barato que
as técnicas de produção de proteínas
recombinantes feitas (...) de plasma humano
para ser produzida”, diz o professor João
Bosco Pesquero, diretor do Centro de
Desenvolvimento de Modelos Experimentais
para Medicina e Biologia (Cedeme) da
Unifesp e coordenador do simpósio.”
1º P:“Um medicamento [...]
acaba de ser lançado na
Europa para tratamento de
tromboembolismo em
cirurgias de pacientes com
deficiência antitrombina
hereditária...”
3º P: “Os animais
transgênicos usados para
produção de proteínas,
chamados de biorreatores, ...
para se obter fármacos que
funcionam como repositórios
de substâncias produzidas
naturalmente pela maioria
dos humanos, mas ausentes
ou em níveis diminutos em
alguns. [...].”
4º P: “Entre os
medicamentos fabricados” ...
Outro fato que chamou a atenção foi no 5º parágrafo do TD na seguinte
expressão: “... Com eles fica mais fácil e barato testar novas drogas porque se
experimenta o princípio ativo contra determinada proteína humana no
camundongo, por exemplo, diz Pesquero.” Na re-elaboração não é informado
quem seria Pesquero (já que tal informação foi eliminada dois parágrafos antes
(3º) no TD) deixando o leitor, que provavelmente não leu o TDC, sem saber
quem é Pesquero e suas contribuições neste estudo dos transgênicos. Um
42
caso parecido é observado no trabalho de Passeri e colaboradores (2017) onde
algumas falas de pesquisadores são retiradas durante a re-elaboração do
texto, impossibilitando o aluno de refletir sobre tal informação retirada.
Além disso, observou-se uma mudança na pessoa do discurso do verbo
‘trazer’ no TDC para o LD (“traz” / “trazem”) que representou uma correção
onde “trazem” está corretamente relacionado com “animais transgênicos”
(Quadro 20). Nascimento (2005) também observou uma substituição em sua
análise de re-elaboração, onde a palavra ‘trabalham’ foi substituída por
‘trabalhavam’.
Quadro 20: Substituição feita pelo autor do TD do verbo ‘trazer’.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
7ºP: “Pela ajuda que traz ao estudo de
doenças e no desenvolvimento de novas
drogas, os animais transgênicos mais
presentes são aqueles destinados a
laboratórios.”
5ºP: “Pela ajuda que trazem ao
estudo de doenças e no
desenvolvimento de novas drogas,
os animais transgênicos mais
presentes são aqueles destinados a
laboratórios.”
Há o emprego de uma linguagem coloquial e com termos que
possibilitam a compreensão do leitor. Os textos fazem uso de diversos termos
lexicais (como ‘transgênicos’, ‘DNA recombinante’, ‘genoma’, ‘gene’,
‘manipulação genética’), assim como também foi observado na pesquisa de
Passeri e colaboradores (2017) com os termos ‘bacia transnacional’,
‘saneamento básico’ e ‘mananciais’. Ambos os textos apresentam a explicação
de alguns termos científicos como o que é a deficiência da antitrombina
hereditária, como pode ser observado a seguir: “... para tratamento de
tromboembolismo em cirurgias de pacientes com deficiência antitrombina
hereditária, doença que provoca coágulos no interior dos vasos sangüíneos.”
Isso explicita a preocupação do TDC e do TD em transmitir informações aos
leitores. A utilização de procedimentos explicativos também foi observada por
diversos autores em suas análises como Nascimento (2005) durante a re-
elaboração do TDC para o TD, onde em ambos os textos é explicado em um
pequeno fragmento, que o óvulo é um tipo de célula.
43
4.2.4 Análise de L6: Biologia hoje-2009
Neste livro, os 3 TD são constituídos da fusão de 2 TDC. Dentre as
referências dos TDC, algumas foram retiradas de livros e outras não estavam
disponíveis em seus endereços eletrônicos e foram descartadas. Os TDC
foram nomeados de T1 à T3.
T1-“Embrapa apresenta segundo bezerro de clone bovino”
Neste TD (anexo 9), as duas referências não estavam disponíveis nos
seus respectivos endereços eletrônicos (Agência Brasil e Panorama Brasil) e
ambas foram encontradas no site “Terra”, sendo considerados textos com um
discurso jornalístico (TARGINO, 2007), com uma linguagem mais próxima da
utilizada no cotidiano, muitas vezes por conter recursos lingüísticos como
metáforas e analogias que auxiliam na compreensão da leitura. Foi
considerada a primeira fonte citada como TDC 1
(http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI1216362-EI238,00.html) e a
segunda, TDC 2 (http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI535862-
EI1434,00-Nascem+dois+clones+bovinos+com+risco+de+extincao.html). O
quadro 21 sintetiza as informações dos textos:
Quadro 21: Quadro referente às informações entre os TDC e TD.
TDC 1 TDC 2 TD
TÍTULO “Embrapa
apresenta
segundo
bezerro de
clone bovino”
“Nascem dois
clones bovinos
com risco de
extinção”
“Embrapa
apresenta
segundo bezerro
de clone bovino”
ENDEREÇO
ELETRÔNICO
Agência Brasil
(Terra)
Panorama Brasil
(Terra)
-
AUTORIA “Agência
Brasil”
- -
Nº PALAVRAS 629 850 200
Nº PARÁGRAFOS 16 11 3
44
Vale ressaltar que no TD, consta o título do texto igual ao encontrado no
TDC 1, “Embrapa apresenta segundo bezerro de clone bovino”. O TDC 1
comenta sobre um clone bovino que deu a luz ao seu segundo filho e cita
também outras técnicas de clonagem feitas pela Embrapa no Brasil. Esse texto
foi publicado em 27 de outubro de 2006. Já o TDC 2, aborda o nascimento de
dois clones bovinos de uma raça com risco de extinção, além de tratar um
pouco sobre o projeto de conservação desta raça e de como a clonagem foi
feita, foi publicado em 20 de maio de 2005.
Em relação ao TD, observa-se que este foi adaptado e sintetizado a
partir de ambas as referências. Esse TD estava presente no início do capítulo
“Núcleo, cromossomos e clonagem” e provavelmente foi inserido como uma
exemplificação e informação sobre como esses temas estão relacionados no
processo da clonagem. Observou-se também que o subtítulo “A clonagem”, do
TDC 2 não foi mantido no TD.
Nas análises de re-elaboração dos TDC para o TD, nota-se que já no 1º
parágrafo do TD, que foi retirado do TDC1, há várias ocultações não
sinalizadas pelo uso de reticências (eliminações) como no caso da locução
adverbial de lugar ‘no campo experimental Sucupira, em Brasília’, da expressão
‘que já é mãe de Glória’ e ‘segundo técnicos da Embrapa’, todas encontradas
no 1º, 2º e 3º parágrafo do TDC 1. Além disso, é possível observar a união
desses três primeiros parágrafos no TD (Quadro 22). Tais eliminações de
informações parecem ter sido feitas apenas com a finalidade de sintetizar o TD
com dados considerados mais relevantes pelo autor. Os parágrafos excluídos
de ambos os TDC (4º ao 9º parágrafo no TDC1 e no TDC 2 do 3º ao 5º, 10º e
11º parágrafos) apresentavam informações e explicações adicionais sobre a
clonagem, assim como exemplificações feitas por pesquisadores sobre outros
projetos (atuais e futuros) em relação a esse tema.
Quadro 22: Eliminação de informações e unificação dos 3 primeiros parágrafos do TDC1 para o TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA 1 TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “Galante, um bezerro de dois meses,
é a principal atração do Dia de Campo,
uma feira de biotecnologia promovida pela
1ºP: “Galante, um bezerro de dois
meses, é a principal atração do
Dia de Campo, uma feira de
45
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), no Campo
Experimental Sucupira, em Brasília.”
2ºP: “O animal é o segundo filho natural
de um clone bovino da raça Simental, a
fêmea Vitória, que já é mãe de Glória, hoje
com dois anos.”
3ºP: “A importância de Galante, segundo
técnicos da Embrapa, está na
possibilidade de se obter várias gerações
de Simental, normais, a partir de uma
clonagem.”
biotecnologia promovida pela
Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa). O
animal é o segundo filho natural
de um clone bovino da raça
Simental, a fêmea Vitória (figura
12.1). A importância de Galante
está na possibilidade de se obter
várias gerações de Simental,
normais, a partir de uma
clonagem.”
O segundo parágrafo do TD se inicia com um acréscimo de informação
feita pelo autor do LD. Em seguida, o autor reordena a informação do 11º
parágrafo do TDC 1 e ainda substitui a frase ‘já no ano passado’ por ‘em 2005’
e termina a frase com uma informação retirada do TDC 2. Sobre o acréscimo
de informação, Martins e colaboradores (2001) afirmam que o mesmo contribui
para uma melhor compreensão do texto (Quadro 23).
Quadro 23: Acréscimo, reordenação e substituição feitas pelo autor do TD com base no TDC 1 e 2.
TDC 1 TDC 2 TEXTO DIDÁTICO
11º P: ... “Já
no ano
passado,
nasceram
dois clones
bovinos
(Potira e
Porã) da
raça
Junqueira,
em risco de
extinção.”
1ºP: “A Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa
Agropecuária) anunciou hoje o
nascimento de dois clones
bovinos. De acordo com a
entidade, o fato tem um sentido
especial por serem clones de uma
mesma vaca doadora de uma raça
em alto risco de extinção, com um
número de animais inferior a 100
em todo o país.
2ºP: ...“Ela foi clonada de
células extraídas de um
embrião de cinco dias. Em
2005 nasceram dois
clones bovinos (duas
bezerras: Potira e Porã)
da raça Junqueira, em
risco de extinção, com
um número de animais
inferior a 100 em todo
país.”
46
Ressalta-se também que a frase “Ela foi clonada de células extraídas de
um embrião de cinco dias” não foi encontrada em nenhum dos dois TDC, o que
nos faz pensar em uma possível terceira fonte de consulta não explicitada no
TD.
O restante do 2º parágrafo do TD foi retirado do TDC 2 (7º parágrafo),
onde o autor suprime informações detalhadas referentes à gestação e
nascimento dos animais, mas esclarece que estes foram clonados a partir de
um pedaço da orelha da vaca doadora. Desta forma, no TD o termo “Os
animais” é acrescentado na 4ª linha, o que acaba também, alterando a palavra
“clonadas”, do TDC 2, que é substituída por “clonados” no TD (Quadro 24).
Durante a análise de re-elaboração de Nascimento (2005) também foi possível
notar diversas substituições (de palavras e termos) como: ‘células somáticas’
no TDC para ‘células do corpo’ no TD.
Já no último parágrafo (terceiro), o autor retorna para o TDC 1, de onde
também retira a informação.
Quadro 24: Acréscimo e eliminação realizados pelo autor do TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA 2 TEXTO DIDÁTICO
8ºP: ...“ ‘Porã’, que nasceu no dia 10 de abril,
pesando 25 kg depois de 292 dias de gestação,
e "Potira" no dia 24 de abril, com 29 kg e 290
dias de gestação, foram clonadas a partir de
um pedaço da orelha da vaca doadora, quando
ela tinha nove anos de idade.”
2ºP: “Os animais foram
clonados a partir de um
pedaço da orelha da vaca
doadora, quando ela tinha
nove anos de idade.”
A linguagem, tanto dos TDC 1 e 2 quanto no TD é coloquial e de fácil
compreensão para o leitor, assim como observado no trabalho de Kemper e
colaboradores (2010, p.13), onde os TDC apresentaram uma linguagem “leve,
fluida, agradável e compreensível com facilidade”. O TD é bem adaptado e
resumido com as informações mais importantes provenientes de TDC 1 e 2. Há
utilização de termos próprios da ciência (como ‘células’, ‘embrião’, ‘clone’,
‘DNA’), também presentes no trabalho de Ferreira e Queiroz (2011) durante
análise de um TDC de química. As autoras ressaltam, porém que estes termos
47
léxicos são amenizados devido à presença de termos explicativos. Neste nosso
caso, as explicações não são encontradas nos textos. A presença destes
termos científicos não explicados, como já citado em análises anteriores,
também foi observada por Kemper e colaboradores (2010) nos TDC
examinados, onde, na maioria das vezes entende-se que o leitor já tenha um
certo conhecimento sobre o significado destes termos. A única explicação
presente refere-se à Embrapa, que foi retirada do TDC 1 e está presente no 3º
parágrafo do TD.
Em relação aos TDC 1 e 2, estes apresentam informações mais
complexas e detalhadas sobre a clonagem, porém continuam sendo
considerados de fácil compreensão. Em ambos os textos encontrou-se outras
palavras próprias e termos da ciência e que não foram citadas no TD. No TDC
1 foram encontradas “inseminação”, “transgenia”, “produção in vitro”, entre
outras. Já no TDC 2 encontrou-se “biotecnologia”, “ovócito”, “melhoramento
genético”, “variabilidade genética”. Essa eliminação de palavras ‘técnicas’ de
ambos os TDC leva a crer que o autor do TD buscou sintetizar o conhecimento
e levar unicamente o essencial para seu público. Este é um processo é
fundamental na re-elaboração de TDC para o LD, uma vez que o discurso da
DC precisa ser adaptado para uma linguagem mais acessível ao seu público
através de alterações no texto (eliminações, acréscimos, reordenação,
substituição de ideias) e da utilização de termos comparativos e metafóricos.
(NASCIMENTO, 2005).
Para este TD, destacamos uma observação inusual. O autor apresenta
um box, com o título ‘ATENÇÃO’, explicando que as questões de saúde
tratadas neste capítulo não substituem orientação médica. O autor ainda
acrescenta que as informações deste texto não devem ser utilizadas para
diagnóstico, prevenção ou tratamento de doenças.
T2-“Câncer”
As referências para este texto foram encontradas no capítulo de divisão
celular, na qual uma delas foi retirada de um livro e, portanto, não foi por nós
analisada e a segunda, do site do INCA -Instituto Nacional do Câncer-
(http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/cancer/site/oquee), cuja análise
segue abaixo.
48
O TD (anexo 10) é intitulado “Câncer”, está presente no box “Biologia &
saúde”, possui 516 palavras distribuídas em 9 parágrafos. Neste texto, o autor
explica o que é o câncer, como ele pode evoluir, formas de prevenção e de
tratamento. Já o TDC, encontrado no endereço eletrônico do INCA, apresenta
um formato diferente dos demais TDC analisados até o momento, porém ainda
com a presença de um discurso jornalístico (TARGINO, 2007). O texto é
dividido em diversos tópicos de leitura: ‘o que é câncer’ (852 palavras),
‘prevenção e fatores de risco (300 palavras)’, ‘tratamento’ (210 palavras), ‘tipos
de câncer’(aproximadamente 292 palavras), ‘transplante de medula
óssea’(1.689 palavras), ‘orientações aos pacientes e familiares’
(aproximadamente 252 palavras) e ‘detecção precoce’(169 palavras).
O primeiro parágrafo do TD foi, aparentemente, retirado e adaptado dos
dois primeiros parágrafos do TDC do tópico ‘o que é câncer’ (Quadro 25). É
possível notar que há alterações como pequenas eliminações (que não
alteraram o sentido do TD) além de substituições e acréscimo de informações
que contribuem para um texto com uma linguagem mais clara e compreensível.
O 3º parágrafo do TD foi retirado da seção ‘Como se comportam as células
cancerosas’ presente no mesmo tópico.
Quadro 25: Eliminação, substituição e acréscimo de informações do 1º e 2º parágrafo do TDC.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “Câncer é o nome dado a um
conjunto de mais de 100 doenças
que têm em comum o crescimento
desordenado (maligno) de células
que invadem os tecidos e órgãos,
podendo espalhar-se (metástase)
para outras regiões do corpo.
2ºP: Dividindo-se rapidamente, estas
células tendem a ser muito
agressivas e incontroláveis,
determinando a formação de
tumores (acúmulo de células
1ºP: “As células cancerosas dividem-se
indefinidamente, ou seja, não
respondem aos mecanismos de
controle que fazem uma célula iniciar
ou parar a divisão de acordo com as
necessidades do organismo.”
2ºP: “Elas podem invadir os tecidos
normais e formar tumores e
neoplasmas malignos (há tumores
benignos, que crescem devagar e
permanecem separados do tecido que
os rodeia, podendo ser removidos por
49
cancerosas) ou neoplasias
malignas. Por outro lado,
um tumor benigno significa
simplesmente uma massa
localizada de células que se
multiplicam vagarosamente e se
assemelham ao seu tecido original,
raramente constituindo um risco de
vida.”
cirurgia com relativa facilidade).”
3ºP: “Pode ainda acontecer de as
células cancerosas migrarem para
outras partes do corpo através do
sangue ou da linfa- processo chamado
metástase- e interferir no
funcionamento normal do órgão
invadido (...).”
Nota-se que houve uma re-elaboração do TDC para o TD, onde é
possível perceber que o autor tenta facilitar a compreensão do leitor
sintetizando e alterando expressões como observado na seguinte expressão do
TDC: “... multiplicam vagarosamente...” para “... que crescem devagar...” no
TD. Outro fato que chama atenção no quadro acima é a explicação de
‘metástase’ no 3º parágrafo do TD e a não-explicação do termo ‘neoplasma’.
Os 4º, 5º e 6º parágrafos do TD abordam a questão da relação dos
genes com o câncer (genes que podem ativar o câncer- proto-oncogenes- e
proteínas que são codificadas por genes que reparam possíveis erros-
supressores de tumor). Este dado, por sinal, é encontrado no mesmo tópico
citado acima, com o uso de uma linguagem mais coloquial e com uma
compreensão mais fácil de termos científicos. Comparando tal citação do TDC
abaixo (Quadro 26) com a encontrada no LD, pode-se dizer que a linguagem
encontrada no TD apresenta mais termos lexicais, o que leva a supor que estes
parágrafos também tenham sido adaptados com base na referência que não foi
utilizada para análise, o livro citado na referência (BRENTANI, 2003) ou ainda,
acrescentados pelo autor, como no caso do 6º parágrafo.
Ainda sim, esses três parágrafos acima (4º, 5º e 6º do TD) apresentam
explicações corretas de termos científicos como ‘proto-oncogene’, ‘apoptose’,
além do uso de sinônimos para termos que poderiam causar a incompreensão
do leitor, como na frase: “O câncer pode ser formado por mutações que ativam
um oncogene ou suprimem ou inativam um gene supressor da divisão celular.”
Quadro 26: Adaptações do TDC para o TD e inserção de conteúdo no 6º parágrafo.
50
TEXTO DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
TEXTO DIDÁTICO
14ºP: “Uma célula normal pode
sofrer alterações no DNA dos
genes. É o que chamamos
mutação genética. As células
cujo material genético foi
alterado passam a receber
instruções erradas para as suas
atividades. As alterações
podem ocorrer em genes
especiais, denominados
protooncogenes, que a princípio
são inativos em células
normais. Quando ativados, os
protooncogenes transformam-
se em oncogenes,
responsáveis pela malignização
(cancerização) das células
normais. Essas células
diferentes são denominadas
cancerosas.”
4º P:...“No entanto, se sofrerem alguma
mudança, sendo ativados em momento
inadequado, eles se transformam em
oncogenes (onco=tumor) e provocam o
câncer. Por isso, são chamados de proto-
oncogenes.”
5º P: “O câncer pode ser formado por
mutações que ativam um oncogene ou
suprimem ou inativam um gene supressor da
divisão celular. Essas mudanças podem ser
provocadas por: radiação (raios-x,
ultravioleta,etc.); certos tipos de vírus (como
hepatite b, que pode provocar o câncer no
fígado)....”
6º P: “A proteína p53, codificada pelo gene
de mesmo nome, pode detectar mutações no
código genético e ativar a produção de
proteínas que reparam o erro ou induzir a
morte da célula com a mutação por apoptose
(morte celular programada)...”
O 7º parágrafo aparenta ter sido retirado do tópico ‘detecção precoce’,
que não estava disponível no dia em que a análise foi feita (13/04/17), onde o
conteúdo era redirecionado para a página que continham os tópicos referentes
ao câncer.
O 8º parágrafo do TD aparenta ter sido retirado do tópico ‘tratamento do
câncer’ que cita as possíveis formas de tratamento e logo abaixo, explica como
é feito cada um dos procedimentos, que foi retirado igualmente, porém
resumido e reordenado pelo TD (Quadro 27). Lembra-se aqui que as
reordenações são feitas buscando tornar o conteúdo mais compreensível e
claro.
51
Quadro 27: Reordenação e eliminação de informações do TDC para o TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
1ºP: “O tratamento do câncer pode ser
feito através de cirurgia, radioterapia,
quimioterapia ou transplante de medula
óssea. Em muitos casos, é necessário
combinar mais de uma modalidade.”
(...)
2ºP: “Tratamento no qual se utilizam
radiações para destruir um tumor ou
impedir que suas células aumentem....”
8ºP: “Dependendo do tipo, podem
ser usadas a cirurgia, que retira o
tumor; a radioterapia, que mata
as células cancerosas com
radiação; ou a quimioterapia
(uso de medicamentos que matam
as células cancerosas). Essas
terapias podem ser
combinadas.”
O 9º e último parágrafo do TD foi retirado do tópico ‘prevenção e fatores
de risco’ onde o autor do LD fez uma adaptação dos 3º, 4º e 6º parágrafos
presentes nesta mesma subdivisão do TDC e acrescentou algumas pequenas
informações (Quadro 28). Nota-se que o autor misturou e adaptou os 3º e 4º
parágrafos do TDC no TD. No 6º, o autor acrescenta informações que não
estavam presentes no texto. Vale lembrar mais uma vez, que o acréscimo de
informações, segundo Martins e colaboradores (2001), torna o TD mais rico e
esclarecido.
Quadro 28: Comparação do 9º parágrafo do TD com o TDC e seus acréscimos de informações.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
3ºP: Vários fatores de risco podem estar
envolvidos na origem de uma mesma
doença. Estudos mostram, por exemplo,
a associação entre álcool, tabaco, e o
câncer da cavidade oral.
4ºP: Nas doenças crônicas, como o
câncer, as primeiras manifestações
podem surgir após muitos anos de uma
exposição única (radiações ionizantes,
por exemplo) ou contínua (no caso da
radiação solar ou tabagismo) aos fatores
9ºP: “Muitos casos podem ser
evitados se certos hábitos forem
adotados: evitar o cigarro (principal
responsável pelo câncer de
pulmão) e o álcool (fator para o
desenvolvimento do câncer na
boca); usar filtro solar (os raios
ultravioleta podem causar câncer
de pele), evitando o sol,
principalmente, entre 10 e 15 horas
(mesmo com o filtro solar); evitar o
52
de risco. A exposição solar prolongada
sem proteção adequada durante a
infância pode ser uma das causas do
câncer de pele no adulto.
6ºP: Os principais fatores de risco para o
câncer são:Tabagismo, Alimentação,
Peso corporal, Hábitos sexuais, Fatores
ocupacionais, Bebidas alcoólicas,
Exposição solar, Radiações,
Medicamentos.
sedentarismo; adotar uma
alimentação adequada; usar
preservativo nas relações sexuais
(alguns tipos de vírus sexualmente
transmissíveis podem causar
câncer no útero); realizar exames
médicos periódicos, como
papanicolau e o exame das mamas
nas mulheres e o de próstata nos
homens.
A linguagem de ambos os textos foi considerada coloquial e de fácil
compreensão para o leitor, embora o 4º, 5º e 6º parágrafo do TD tenha feito
uso de mais termos lexicais e palavras da ciência do que o TDC. Porém, o
autor do LD apresentou diversos termos explicativos, como exemplo, nos
vocábulos ‘oncogenes’, ‘biópsia’, ‘punção’, ‘quimioterapia’, ‘câncer’. A presença
destes termos ressalta a preocupação do autor com o seu público e sua
compreensão a respeito do tema. A presença de termos lexicais e explicativos
também foi observada na pesquisa de Ferreira e Queiroz (2011) durante a
análise de TDC retirados da revista Ciência Hoje envolvendo a área de
química.
Este texto também chama a atenção para a importância e necessidade
das consultas médicas, principalmente pelo autor reconhecer que o livro
apenas apresenta explicações sobre um tema e não a solução para o mesmo.
Os tratamentos e indicações necessárias devem ser feitos por uma pessoa
especializada, ou seja, um médico.
T3- “Divisão celular e os telômeros”
Para este TD, uma das referências foi retirada da revista científica
“Ciência Hoje” (TDC 1), onde apesar de seu acesso ser restrito apenas para
assinantes dessa revista pela internet, conseguiu-se a versão impressa da
mesma para análise. O TDC1, cuja autoria é de Maria Isabel Nogueira Cano e
foi retirado do volume 39, número 229, de agosto de 2006, da revista científica
‘Ciência Hoje’, possui aproximadamente 2.564 palavras, e com 32 parágrafos e
53
é intitulado “A vida nas ‘pontas’ dos cromossomos”. Apresenta um discurso
mais próximo do científico (TARGINO, 2007) e aborda a relação dos telômeros
com a divisão celular, a sua possível implicação no desenvolvimento do câncer
e a ligação com o envelhecimento celular.
A segunda referência (TDC 2) foi retirada de um livro de biologia online
que apresenta informações a respeito dos telômeros (http://www.biology-
pages.info/T/Telomeres.html). O TDC 2 possui cerca de 1.477 palavras
distribuídas em 70 parágrafos que tratam dos telômeros e da telomerase
relacionados a vários fatores como câncer e clonagem. O TDC 2 faz uso de
diversos subtítulos como ‘telomeres’, ‘telomeres and cellular aging’, ‘telomerase
and cancer’, entre outros. A importância dos subtítulos é ressaltada por
Kemper e colaboradores (2010), onde a presença dos mesmos mantém a
curiosidade de seus leitores. O conteúdo encontrado estava em inglês e para a
análise, foi utilizado desta forma.
O TD (anexo 11), por sua vez, possui 189 palavras e 3 parágrafos. O
texto aborda o significado de telômeros, assim como a enzima telomerase e a
sua presença em células cancerosas. Ele é intitulado diferentemente das duas
referências: “A divisão celular e os telômeros”.
Na análise de re-elaboração dos textos, notou-se que no primeiro
parágrafo do TD, o autor reaproveita uma informação contida no TDC 1 e a
reordena para o TD. Depois, ele suprime a informação sobre o número de
repetição das sequências dos telômeros dadas em ambos TDC
(aproximadamente 2.000) e substitui pelo termo “repetidas muitas vezes”,
provavelmente por ser um dado considerado muito detalhado e de pouca
relevância para o leitor. Segundo Passeri e colaboradores (2017), durante a
análise de re-elaboração de um TDC para o TD, a substituição da frase ‘Nada
mais enganoso’ do TDC para ‘Essa ideia, no entanto, é bastante enganosa’ no
TD, possivelmente teve como objetivo esclarecer ou até mesmo tornar a
expressão mais suave e clara para o leitor.
Outro fato que chamou a atenção foi a diferença na ordenação da
sequência repetida dos telômeros entre os TDC (TTAGGG para TDC1 e
GGTTAG para TDC2) que também pode ser observada no quadro abaixo
(Quadro 29). O TD divulgou a informação sobre a sequência repetida do
telômero obtida a partir do TDC1. Kemper e colaboradores (2010) chamam
54
atenção para certos cuidados que se deve ter em relação à procedência de
informações contidas no texto. O autor adiciona o termo “nos vertebrados” a
qual não ficou explicitada nos dois TDC, o que se leva a pensar em uma
possível terceira fonte de consulta.
Para sanar nossas dúvidas a respeito de qual sequência seria correta,
consultamos o livro “Biologia molecular das células”, de Alberts e
colaboradores (2004, p.262). De acordo com o livro, “nos humanos, essa
sequência é GGGTTA, e estende-se por cerca de 10 mil nucleotídeos.”
Portanto, a mesma é diferente das demais que são apresentadas tanto no
TDC1 quanto no TDC2, embora se pareça muito com a encontrada no TDC2.
Em relação às diferentes sequências encontradas, permanece nosso
questionamento do porquê de cada autor (do TDC1, TDC2 e do livro citado
para consulta) ter utilizado diferentes dados.
Quadro 29: Substituição, acréscimo e eliminação de informações realizadas pelo TD.
TDC 1 TDC 2 TEXTO DIDÁTICO
4º P: “... Já os telômeros
(...), localizados nas
‘pontas’ dos cromossomos
funcionam como capas
protetoras dessas
extremidades, tendo papel
muito importante na
manutenção da integridade
do genoma”
7º P: “... Assim, imaginando
que cada porção perdida
tivesse 16 repetições da
sequência TTAGGG (...) e
que os telômeros
contivessem duas mil
repetições dessa
sequência...”
8º P: “The
telomeres of
humans consist of
as many as 2000
repeats of the
sequence
5' GGTTAG 3'.”
1º P: “Na ponta dos
cromossomos há
pequenos fragmentos de
proteínas e material
genético chamados
telômeros. O material
genético é formado por
uma sequência de
nucleotídeos (TTAGGG,
nos vertebrados)
repetida muitas vezes.”
2º P: “Os telômeros
protegem o
cromossomo contra
danos e permitem que a
duplicação do DNA
ocorra corretamente...”
55
Outra informação que pode ter sido adaptada para o TD está presente
no meio do 2º parágrafo, onde nota-se que o autor mescla e adapta as
informações de ambos os TDC (Quadro 30).
Quadro 30: Informações que podem ter sido retiradas de ambos os TDC para o TD.
TDC 1 TDC 2 TEXTO DIDÁTICO
18º P: “Existem, porém,
células normais com alta
capacidade proliferativa, como
células germinativas jovens
(esperma e óvulo não
maduros), células-tronco
embrionárias (...) a telomerase
se mantém ativa.”
“…Telomerase is
generally found only
in:
the cells of the
germline,
including embryonic
stem (ES) cells;…”
2º P: “... nas células
germinativas, que
originam gametas e em
algumas outras células
do corpo que se
dividem rapidamente,
como as células-
tronco...”
Nota-se desde já, a preocupação do autor do TD em explicar o que são
células germinativas e células-tronco para facilitar o entendimento do leitor.
Segundo Ferreira e Queiroz (2011) a presença deste tipo de termo auxilia a
traçar certa proximidade com o dia-a-dia do leitor.
Observou-se, no 3º parágrafo do TD, que o autor preferiu utilizar a
expressão “crescer de forma descontrolada” para a célula cancerosa, ao invés
de utilizar ‘dividir descontroladamente’ (Quadro 31). A expressão presente no
TDC1 teria sido a expressão mais apropriada. O autor do TD provavelmente
fez a tradução literal do TDC2 (em inglês). A palavra “grow” pode ser utilizada
neste contexto científico, na língua inglesa, embora não seja a mais adequada
para este contexto na língua portuguesa.
Quadro 31: Substituição de informações errôneas feitas pelo TD.
TDC 1 TDC 2 TEXTO
DIDÁTICO
“… aquelas células que não
têm esse poder de
proliferação e que transpõem
o chamado limite de ‘crise’
reativam a atividade da
“The crucial feature that
distinguishes a cancer
from normal tissue is its
ability to grow
indefinitely. Most (85–
3º P: “A
telomerase está
presente na
maioria das
células
56
telomerase e continuam a se
dividir indefinidamente (...),
e é isso que acontece com
85% a 90% das células
cancerígenas.
90%) cancers express
telomerase — at least in
the population of cancer
stem cells that divide
uncontrollably causing
the tumor to grow.”
cancerosas, que
não morrem e
passam a crescer
de forma
descontrolada.”
Em relação à linguagem, observa-se que ambos os TDC utilizam mais
termos lexicais e palavras da ciência do que o TD, além de utilizarem-se de
perguntas. Segundo Nascimento (2005) a utilização de perguntas pelo autor,
como uma forma de interlocução com o leitor visa estabelecer laços que
possam levar a uma maior participação, curiosidade e interesse por parte do
leitor ao se utilizar de perguntas para divulgar um tema. O TDC1 utiliza-se de
comparações e abordagens históricas de estudos do telômero para tentar
facilitar a leitura e a compreensão do texto. O TDC2 é mais direto e apenas
informativo.
Em relação ao TD, observa-se que o autor tentou simplificar o
vocabulário com palavras mais comuns ao cotidiano do leitor além de fazer uso
de termos explicativos, conforme já supracitados (como no caso dos termos
‘células germinativas’ e ‘células-tronco’). Esta aproximação pode ser vista no
trabalho de Kemper e colaboradores (2010) pelo uso de comparações. Ainda
segundo as autoras, as comparações servem para aproximar e facilitar o
entendimento de duas ideias, o que leva o aluno a utilizar a sua imaginação
para compreender como é feito esse processo.
4.2.5 Análise de L8: Biologia-2004
Este LD, cuja edição é pertencente ao ano de 2004, apresenta 4 textos
didáticos retirados da revista Scientific American, apresentando um discurso
mais próximo do científico, com linguagem mais formal (TARGINO 2007). Ao
todo, apenas um estava disponível na internet para análise e o restante,
possuía acesso restrito.
O TDC é um artigo da revista científica Scientific American, cuja autoria
pertence à Douglas C. Wallace e é intitulado “Mitochondrial DNA in Aging and
Disease”, no ano de 1997
57
(http://chemistry.creighton.edu/~jksoukup/MitochonDNAAging.pdf). Este artigo
possui 4.201 palavras distribuídas em 53 parágrafos e aborda a questão do
DNA mitocondrial estar relacionado às diversas doenças que podem contribuir
para o envelhecimento, assim como às doenças degenerativas, principalmente
em idosos.
O TD (anexo 12), por sua vez, é intitulado “O DNA mitocondrial”
(diferentemente da fonte original) e foi traduzido e adaptado, possuindo 646
palavras dispostas em 7 parágrafos. Este texto aborda, assim como a fonte
original, as possíveis e ocorrentes mutações no DNA mitocondrial e suas
consequências relacionadas ao desenvolvimento de doenças. O texto está
presente no capítulo referente ao citoplasma. Já de início, é possível perceber
uma significativa diferença no número de palavras do TDC para o TD, que
também foi descrito e observado no trabalho de Souza e Rocha (2014) na re-
elaboração de um texto de ecologia, como já citado anteriormente.
Provavelmente, tais reduções são feitas com o objetivo de sintetizar as
informações do TDC.
Na análise de re-elaboração, notou-se que primeiramente, o autor do TD
faz exclusão dos dois primeiros parágrafos (que apresentava um exemplo de
doença degenerativa ocorrido em um jovem rapaz e uma breve introdução
referente às mitocôndrias) e os substitui pelas reticências. Essa ocultação,
assim como observado em análises anteriores, provavelmente foi realizada
com o objetivo de sintetizar apenas dados mais relevantes para o leitor. Em
seguida, ele transfere a informação, realizando apenas uma reordenação,
como pode ser observada no quadro 32.
Quadro 32: Ocultação , substituição e reordenação presentes no 1º parágrafo do TD. TEXTO DE DIVULGAÇÃO
CIENTÍFICA
TEXTO DIDÁTICO
3º P: “Scientists have known since
1963 that mitochondria in animals
harbor their own genes, but errors in
those genes were not linked to
human ailments until 1988. In that
year, my laboratory at Emory
1º P: “(...) os cientistas sabem, desde
1963, que as mitocôndrias têm seus
próprios genes mas, até 1988, a
ocorrência de defeitos nesses genes
não havia sido associada a doenças
humanas. Naquele ano, meu laboratório
58
University traced the origin of a form
of young-adult blindness (Leber’s
hereditary optic neuropathy) in
several families to a small inherited
mutation in a mitochondrial gene. At
about the same time, Ian J. Holt,
Anita E. Harding and John A.
Morgan-Hughes of the Institute of
Neurology in London connected
deletion of relatively large segments
of the mitochondrial DNA molecule to
progressive muscle disorders.”
na universidade Emory relacionou a
origem de uma forma de cegueira
juvenil (neuropatia óptica hereditária de
Leber), presente em diversas famílias”
(...) “Na mesma época, Ian J. Holt, Anita
E. Harding e John A. Morgan-Hughes,
do Instituto de Neurologia de Londres,
associaram a deleção (perda) de um
pedaço da molécula de DNA
mitocondrial a doenças musculares
progressivas.”
Ainda neste fragmento, é possível observar em ambos os textos o autor
explicita o nome da doença que causa a cegueira juvenil (neuropatia óptica
hereditária de Leber). Em seguida, percebe-se que o TD não faz exclusão da
descoberta dos pesquisadores de Londres, e os cita em seu texto, o que,
diferente das demais análises anteriores, percebe-se que o autor do LD
preocupa-se em relatar tal dado, tratando e mostrando uma visão de ciência da
maneira correta como ela ocorre, de como ela é feita: por pesquisadores. Outro
fato que ainda chama atenção neste parágrafo está relacionado com a
substituição da palavra ‘segments’, do inglês, segmentos, por ‘pedaços’. Mais
uma vez, nota-se a preocupação do autor em facilitar e aproximar a linguagem
ao cotidiano dos leitores, substituindo uma palavra por uma de sentido
semelhante, fato observado por Souza e Rocha (2014) a partir da alteração da
palavra ‘supressões’ (encontrada no TDC) para ‘eliminações (presente no TD).
No segundo parágrafo do TD são feitas diversas substituições e algumas
eliminações que não alteraram o contexto apresentado (Quadro 33).
Primeiramente, o autor retira o termo relacionado aos pesquisadores da
universidade de Emory e substitui por “Hoje sabemos” incluindo-se nos dados.
Isto se deve a uma possível tentativa de inclusão e aproximação com o leitor,
além de deixar claro que este dado já faz parte do conhecimento dos cidadãos.
Segundo Nascimento e Martins (2005, p.17), este é um recurso comum, na re-
elaboração de TD a partir de TDC, onde o autor, por vezes assume “uma
59
determinada posição social sinalizada por frases na primeira pessoa do plural”,
incluindo-se nos dados dos trabalhos apresentados por pesquisadores.
Ainda neste parágrafo, há uma reordenação de informação e uma
substituição de ‘heart failure’- insuficiência cardíaca, para ‘problemas cardíacos’
que não representam a mesma coisa, uma vez que este último engloba
diversas doenças que não se aplicam meramente à insuficiência, que está mais
relacionada com o envelhecimento dos indivíduos (BARRETTO e
WAJNGARTEN, 1998).
Quadro 33: Substituição, reordenação e eliminações no 2º parágrafo do TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
4º P: “Investigators at Emory and
elsewhere have now learned that flaws
in mitochondrial DNA cause or contribute
to a wide range of disorders, some of
which are obscure but potentially
catastrophic. Of perhaps more general
interest, mutation of this DNA has a
hand in at least some, and perhaps
many, cases of diabetes and heart
failure…”
2ºP: “Hoje Sabemos que defeitos
no DNA mitocondrial causam ou
contribuem para o aparecimento de
diversas doenças, algumas delas
potencialmente catastróficas.
Muitos casos de diabetes e de
problemas cardíacos são
causados por mutações do DNA
mitocondrial ou estão
relacionados a elas ...”
O 3º parágrafo do TD não passou por grandes alterações. Foi excluída a
palavra ‘human’ no TD e outras foram inseridas neste local (...‘sérias e que’...),
que, de acordo com Souza e Rocha (2014), o acréscimo de palavras busca dar
mais integridade e fluidez no TD, assim como simplificar o vocabulário. Além
disso, percebeu-se que ambos os textos preocupam-se em explicar uma das
funções desempenhadas pelas mitocôndrias (fornecer energia). Observa-se
que há uma ocultação do conteúdo referente ao complexo processo de gerar
energia, como pode ser visto no quadro abaixo (Quadro 34).
Quadro 34: Eliminação e acréscimos de palavras no 3º parágrafo do TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
6º P: “Although most biologists paid little
attention to mitochondrial DNA until quite
3º P: “Apesar de a maior parte
dos biólogos ter, até
60
recently, mutation of the genetic material in
mitochondria might have been predicted to
have consequences for human disease.
Mitochondria provide about 90 percent of
the energy that cells—and thus tissues,
organs and the body as a whole—need to
function. They generate energy through a
complicated process that involves the relay
of electrons along a series of protein
complexes …”
recentemente, dado pouca
atenção ao DNA mitocondrial, já
se podia prever que mutações no
material genético das
mitocôndrias teriam
conseqüências sérias e que
podiam originar doenças. As
mitocôndrias fornecem 90% da
energia que as células-e,
portanto, os tecidos, os órgãos e
o corpo como um todo-
necessitam para funcionar. (...)”
Ainda no 3º parágrafo, há mais duas ocultações realizadas no TD. Uma
delas refere-se à uma informação de uma pesquisa realizada (Quadro 35).
Entende-se por essa alteração que, neste parágrafo, o autor buscou fornecer
ao leitor somente o necessário para a compreensão do contexto. Acredita-se
que a última ocultação deste parágrafo (substituição pelas reticências do 9º
parágrafo do texto original) foi realizada a fim de facilitar, reduzir e sintetizar
uma informação considerada um tanto quanto difícil para a compreensão do
público.
Quadro 35: Ocultações (eliminação e substituição por reticências) realizadas pelo TD.
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA TEXTO DIDÁTICO
8º P: “… and so cause tissues to malfunction and
symptoms to develop. Indeed, in 1962 Rolf Luft and
his coworkers at the Karolinska Institute and the
University of Stockholm reported that an impairment
in mitochondrial energy production caused a
debilitating disorder. Eventually it became clear that
the tissues ... by heart and skeletal muscle, the
kidneys and hormone-producing tissues.
9º P: “Scientists initially sought the explanation for
mitochondrial disorders in mutations of nuclear
3º P: “... provocando,
assim, o
malfuncionamento dos
tecidos e todos os
sintomas conseqüentes.
(...) Hoje está claro que
os tecidos ... pelo
coração e músculos
esqueléticos, rins e
tecidos produtores de
61
genes, some of which give rise to mitochondrial
components. But by the early 1980s ...”
hormônio (...)
4º P: “A partir de 1988...”
O 4º parágrafo do TD não foi alterado do original (10º parágrafo do TDC)
exceto por uma ocultação de informação (retirada do 11º parágrafo do TDC),
também representada pelo uso de reticências no TD. A informação ocultada
referia-se ao processo de fertilização de um óvulo e das sucessivas divisões
celulares, assim como a duplicação de cromossomos antes dessas etapas. O
restante do parágrafo não passou por alterações e foi retirado do 12º parágrafo
do texto original. Os demais parágrafos do TD (5º, 6º e 7º) também não
passaram por mudanças e foram retirados do 11°, 12º, 13º do TDC. Vale
lembrar que o 7º parágrafo foi retirado de uma imagem a qual apresenta a
descrição de uma tabela referente às doenças causadas pelas mutações de
DNA mitocondrial, que é retratada logo em seguida.
A linguagem encontrada no TDC era formal principalmente pelo mesmo
apresentar um discurso igual ao discurso científico. O TD, apesar de conter
uma linguagem parecida, adaptou-se e utilizou-se de informações que o autor
julgou serem mais relevantes para constituir o texto. Tanto o TDC quanto o TD
apresentaram diversos termos lexicais (como DNA, mutação, genes,
mitocôndrias, divisão celular, homoplasmia, heteroplasmia, energia celular).
Porém, também observou-se a presença de alguns termos explicativos, como
dos vocábulos ‘heteroplasmia’ e ‘homoplasmia’ (presentes no 5º parágrafo do
TD) e sobre as funções desempenhadas pelas mitocôndrias (no 3º parágrafo).
A presença de termos lexicais, bem como a presença de termos
explicativos foram observados por diversos autores durante suas análises de
re-elaboração como Martins e colaboradores (2001); Nascimento (2005) e
Kemper e colaboradores(2010).
4.3 Comparação entre as edições recentes e antigas
L1 e L5
Estes dois livros do ‘Ser Protagonista’ pertencem à versão de 2013 e
2009. A versão recente (L1) possuiu um total de 9 textos de divulgação
científica, onde 6 estavam sem referência, 1 não disponível e 1 foi retirada de
62
um livro. O único texto analisado (cujo tema era reprodução celular e bactérias
causadoras da tuberculose) era idêntico ao original (TDC) e sem grandes
alterações, com uma linguagem acessível ao público e pertence ao capítulo de
reprodução celular. Já o TDC, foi retirado de um endereço eletrônico o qual
possuía um discurso jornalístico.
A versão antiga (L5), possuiu um total de 10 TDC, onde 4 não possuíam
referências e as 6 restantes, foram analisadas. Desses 6 textos, um foi retirado
de um artigo e dois da revista científica da FAPESP, com o discurso
tipicamente científico. Os outros 3 restantes, foram retirados de endereços
eletrônicos como ‘Estadão’, ‘UOL’ e ‘O Globo’, com um discurso jornalístico.
Isso mostrou que L5 buscou mais variedade de discursos (tanto científico como
jornalístico) para constituir os TD. A linguagem de um modo geral foi
considerada coloquial, embora os textos retirados da revista da FAPESP e do
artigo fossem um pouco mais complexos, com uma presença de diversos
termos da ciência. A análise de re-elaboração dos TDC para o TD destes dois
livros mostra que não houve muita alteração, apresentando em alguns
momentos eliminações, substituições e alguns acréscimos de informações,
além de correções.
Em relação aos TDs de L5, quatro deles foram retirados do capítulo de
reprodução celular (assim como o TD de L1), e os outros 2 restantes, em
menor quantidade,foram extraídos dos capítulos referentes ao núcleo celular e
ao controle celular. Em relação ao tema desses TDs, estes eram bem variados:
Núcleo celular e compartimento de proteínas (T1), divisão celular e colchicina
(T2), reprodução celular e bactérias causadoras da tuberculose (T3), células-
tronco (T4 e T5) e animais transgênicos (T6).
L2 e L7
Estes livros representam a versão mais recente e antiga do livro
‘Biologia’ de César, Cezar e Nelson Caldini, respectivamente. A versão recente
(L2) apresentou um total de 5 TDC, onde 3 não possuíam referências , 1 foi
retirada de livro e apenas 1 foi analisada. Nesta análise, o TDC foi retirado do
endereço eletrônico ‘G1’ e não apresentou significativas mudanças para o TD
(porque a linguagem do texto já era bem leve e esclarecedora e com termos da
ciência compreensíveis ao leitor). O discurso presente foi o jornalístico, o qual,
63
conforme já dito, deve ser utilizado com cautela ao adaptar a linguagem do
discurso científico para não veicular possíveis erros para o público. As
alterações mais relevantes foram encontradas na mudança de título durante a
re-elaboração, além do acréscimo de um parágrafo no TD elaborado pelo
próprio autor. Este TD foi retirado do capítulo sobre núcleo celular, uma vez
que seu tema era referente ao DNA e o código genético.
A versão antiga (L7) possuiu um total de 7 TDC onde nenhum continha
referências e portanto, não apresentou textos para análise.
L3 e L6
Representam a versão mais atual e mais antiga do livro ‘Biologia Hoje’,
de Sérgio Linhares e Fernando Gewadsznajder, respectivamente. L3 possuiu
um total de 5 textos de divulgação científica no LD. Quatro destes textos não
possuíam referência e a restante, que possuía duas referências bibliográficas
no TD, uma foi retirada de livro e a outra não estava disponível para análise.
L6 apresentou 21 textos, onde 17 não continham referências, restando 4
TD para analise, cada um com 2 referências, totalizando 8 TDC. Destes 8, um
não estava disponível e dois foram retirados de livros, restando 3 TD e 5 fontes
originais (TDCs).
Os 5 TDCs foram analisados e retirados de diversas fontes de consulta
como endereços eletrônicos (como observado em L5), como ‘Terra’, site do
Inca, apresentando um discurso jornalístico. Além disso, as outras referências
foram retiradas de um livro online e da revista científica Ciência Hoje, com um
discurso mais científico do que os demais.
Já em relação aos 3 TD de L6, dois textos (T2 e T3) foram encontrados
no capítulo de divisão celular (cujos temas relacionavam a própria divisão
celular com o câncer e com os telômeros) e um (T1), no capítulo referente ao
núcleo e clonagem (cujo texto abordava a questão da clonagem em animais
bovinos). De um modo geral, a linguagem também foi considerada coloquial em
ambos os textos (TDC e TD), embora no livro online e na revista científica
Ciência Hoje, estes tenham apresentado um maior número de termos lexicais e
palavras da ciência. A re-elaboração do TDC para o TD em sua maioria foi
realizada por meio de algumas adaptações como eliminações, substituições e
alguns acréscimos de informações.
64
Apesar de apenas L6 ser analisado, ambos os livros chamaram atenção
por apresentarem mais de uma fonte para consulta. Este fato mostra a atenção
dedicada pelo autor a fim de permitir, por meio de mais de uma fonte, o acesso
à informação do conteúdo original da qual aquele TD foi adaptado.
L4 e L8
Diferente dos demais livros, o livro Biologia, de José M. Amabis e
Gilberto R. Martho teve a sua edição mais recente datada do ano de 2010 e a
mais antiga (L8), do ano de 2004. L4 possuiu 3 TDC onde os 3 não possuíam
referências. Já L8, possuiu 4 TDC retirados da revista científica Scientific
American, onde 3 não estavam disponíveis, restando um para análise.
Vale ressaltar que a utilização da revista científica Scientific American
em L8 veicula um discurso científico, que, quando comparado com o discurso
apresentado pelo TD, apresenta diferenças. Por possuir mais precisão,
formalismo, persuasão (TARGINO, 2007), muitas vezes o discurso científico
acaba sendo incorporado para o TD sem a devida explicação de termos
científicos. Isso acontece pelo fato destes termos já serem considerados
compreensíveis para os alunos daquela faixa etária. Já o TD (retirado do
capítulo referente ao citoplasma e que aborda a questão do DNA mitocondrial),
se utiliza de um vocabulário acessível ao aluno, muitas vezes com a explicação
de termos científicos e/ou com a utilização de analogias e comparações, como
foi observado em alguns TD analisados neste trabalho.
Com relação à re-elaboração, nota-se a utilização de substituições,
reordenações e exclusões de informações com uma linguagem mais formal do
que alguns textos que utilizaram-se do discurso jornalístico.
65
5. CONCLUSÃO
A necessidade de incorporar a participação da sociedade nas questões
científico-tecnológicas promove principalmente uma alfabetização científica a
partir do desenvolvimento de um pensamento reflexivo e crítico a respeito
desta vertente conhecida como CTS. Esta participação pode ser articulada com
a apresentação de temas que envolvem contextos de cunho científico e
tecnológico, como a genética e a partir de diversos meios de divulgar a ciência
como a mídia, através de jornais e revistas científicas e também pelos livros
didáticos, que ainda hoje são amplamente utilizados no ensino, através da re-
elaboração de TDC em TD.
Tendo em vista o nosso objetivo de contribuir para o conhecimento de
como é realizada a re-elaboração de textos de divulgação científica
relacionados ao tema ‘genética’ nos livros didáticos de Biologia e após a
análise de re-elaboração realizada dos TDC para os TD, chegou-se as
seguintes conclusões:
Os TDs
Concluiu-se que os TDs, em sua maioria, foram retirados dos capítulos
referentes à reprodução celular, seguido pelos capítulos referentes à divisão
celular, controle celular, núcleo celular, clonagem e citoplasma. Em relação ao
tema desses TDs, estes foram heterogêneos e na maioria das vezes, atrelados
a outros elementos. Três TDs (L5/T2 e L6/T2 e T3) abordaram a divisão celular
relacionado à outros elementos (colchicina, câncer e telômeros,
respectivamente). Dois textos (L5/T4 e T5) trataram a questão de células-
troncos e dois (L1 e L5/T3) retrataram a relação da reprodução celular com as
bactérias causadoras da tuberculose. Já os cinco TDs restantes, abordaram
temas diversos como: DNA e o código genético (L2), núcleo celular e
compartimento de proteínas (L5/T1), animais transgênicos (L5/T6), clonagem
(L6/T1) e DNA mitocondrial (L8).
Estes TDs utilizaram-se principalmente de ocultações, substituições e
eliminações de informações (muitas vezes referentes a pesquisadores e seus
trabalhos realizados, tornando a ciência como parte de um processo já
elaborado e não que vem sendo construído). Acredita-se que tais alterações
66
tenham sido feitas de forma a sintetizar e transmitir apenas as informações
mais relevantes para os leitores. Já os acréscimos, estes foram encontrados
em menor quantidade e foram utilizados para tornar os textos mais claros e
compreensíveis. O TD ainda, em alguns casos, realizou a adaptação de
palavras para o novo acordo ortográfico assim como a correção de empregos
errôneos de português.
Os TDC
Em relação aos TDC, estes foram retirados de fontes heterogêneas, ora
apresentando um discurso jornalístico, ora um discurso científico. Porém,
conclui-se que o discurso jornalístico foi mais predominante, apresentando uma
linguagem mais próxima do leitor. Neste momento, fica claro o grau de
adaptação feito pelo TD através da seleção de partes mais relevantes, com a
utilização de aspas, analogias e explicações de termos.
A linguagem
Devido a predominância do discurso jornalístico, a maioria dos textos
(tanto TDC quanto TD) apresentou uma linguagem coloquial, de fácil
compreensão para o leitor. Todos os textos contaram com a presença de
palavras da ciência. Foi possível notar também a presença de termos
explicativos, assim como a utilização de metáforas e analogias, que são
recursos que visam auxiliar e facilitar a leitura e compreensão de determinados
termos para o leitor.
Comparação das edições recentes e antigas
Em relação à comparação entre as edições atuais e antigas, nota-se que
em grande parte dos LDs, as versões mais antigas possuíram uma maior
quantidade de textos de DC, o que pode ser explicado, possivelmente, por uma
maior preocupação e dedicação destes livros atuais em preparar o jovem para
o vestibular. Outro fato que chamou a atenção foi o número de textos sem
referência, ou seja, sem explicitar a fonte de consulta de onde os textos foram
retirados e/ou adaptados, o que impossibilitou a análise. Por outro lado, houve
a presença de mais de uma referência por texto em L6, o que mostra o
67
empenho e preocupação do autor deste LD em informar as fontes originais
para um leitor curioso, que gostaria de acessar tal informação.
Portanto, a utilização de TDC e TD foram considerados relevantes para
serem utilizados como uma ferramenta auxiliar no ensino, uma vez que
objetivam informar o aluno, além de serem capazes de promover debates e
discussões a respeito dos temas. Os mesmos ainda contribuem para
aproximar o aluno leitor das questões científicas e tecnológicas a qual os temas
estão relacionados, levando este público a uma participação mais crítica e
reflexiva acerca dos avanços da ciência, assim como visa a divulgação
científica.
68
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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tecnologia e sociedade. Revista de Ensino de Engenharia, v. 25, n. 1, p. 31-
39, 2006.
72
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a genética nos livros didáticos de biologia no ensino médio. Ciência &
Educação, v. 12, n. 3, p. 275-289, 2006.
73
ANEXO 1- TD presente no livro “Ser Protagonista”, 2013.
74
ANEXO 2- TD presente no livro “Biologia”, de 2013.
75
ANEXO 3- TD presente no livro “Ser protagonista”, 2009.
76
ANEXO 4- TD presente no livro “Ser protagonista”, 2009.
77
ANEXO 5- TD presente no livro “Ser protagonista”, 2009.
78
ANEXO 6- TD presente no livro “Ser protagonista”, 2009.
79
ANEXO 7- TD presente no livro “Ser protagonista”, 2009.
80
ANEXO 8- TD presente no livro “Ser protagonista”, 2009.
81
ANEXO 9- TD presente no livro “Biologia Hoje”, 2010.
82
ANEXO 10- TD presente no livro “Biologia Hoje”, 2010.
83
84
ANEXO 11- TD presente no livro “Biologia Hoje”, 2010.
85
ANEXO 12- TD presente no livro “Biologia 1- Biologia das Células”, 2004.
86
87