insones: a origem – parte 1

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Imagine se grande parte dos mamíferos de todo o planeta deixasse de dormir. Se o sono não lhes fizesse mais nenhuma falta. Muita gente comemorou. Vinte e quatro horas para aproveitar o dia? Parecia um sonho... A anomalia, inicialmente avaliada pelas autoridades como uma evolução, revelou-se um mal que poderia extinguir bilhões de vidas em todo o mundo. Porém, em meio ao caos, na iminência de uma provável extinção, algumas pessoas inexplicavelmente ainda conseguem dormir. Rapidamente se tornam as únicas cobaias na busca desesperada de uma cura para todos os que se tornaram insones. E esta busca não terá limites ou princípios, pois o relógio contra a humanidade corre depressa. A caçada começou. Sonhar com dias melhores não é uma opção.

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Juniorossi

São Paulo, 2015

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

INSONESa origemparte 1

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Insones: a origemCopyright © 2015 by Paulo Rossi de Moura JúniorCopyright © 2015 by Novo Século Editora Ltda.

gerente editorial

Lindsay Gois

editorial

João Paulo PutiniNair FerrazRebeca LacerdaVitor Donofrio

gerente de aquisições

Renata de Mello do Valeassistente de aquisições

Acácio Alvesauxiliar de produção

Luís Pereira

coordenação

Letícia Teófilo

preparação

Fernanda Guerriero Antunes

projeto gráfico e diagramação

Equipe Novo Século

capa

Equipe Novo Século

revisão

Bruno Martins Costa

novo século editora ltda.Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455-000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – BrasilTel.: (11) 3699-7107 | Fax: (11) 3699-7323www.novoseculo.com.br | [email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 10 de janeiro de 2009.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

JuniorossiInsones: a origemJuniorossiBarueri, SP: Novo Século Editora, 2015.

(Coleção Talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira. I. Título. II. Série.

15-02917 cdd-869.93

Índice para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

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Para Thalissa OS, minha principal fonte de inspiração, incentivo e reprovação.

Eu te amo.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a todos os meus santos de devoção.A Gustavo Nunes. Aos familiares que sempre foram um porto seguro nos momentos de “insônia” e tormenta. A todos os amigos que acreditaram. Aos futuros leitores, meu muitíssimo obrigado.

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PREFÁCIO

“Vocês viverão em constante incerteza, cheios de terror, dia e noite, sem nenhuma segurança na vida. De manhã dirão: ‘Quem me dera fosse noite!’, e de noite dirão: ‘Ah, quem me dera fosse dia!’” (Deuteronômio 28, 66-67).

“E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um gran-de tremor de terra; o sol tornou-se negro como saco de carvão; e a lua tornou-se toda vermelha como sangue. As estrelas do céu caíram sobre a terra. Então os reis, os grandes, os ricos, os chefes, os podero-sos, todos, tanto escravos como livres, esconderam-se nas cavernas e grutas de montanhas. Era chegado o Grande Dia, Dia de sua Ira, e quem conseguiria subsistir?” (Apocalipse 6, 12.13.15.17).

Janeiro de 1993 – Nápoles (Itália) Ao retornarem após paralisação por conta das festividades de

fim de ano, pesquisadores italianos descobriram o roubo de todo

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um estudo feito até então sobre príons.1 Tudo foi levado: décadas de pesquisa, fichas médicas, laudos, acompanhamento de famílias cujos distúrbios causados pela falta de sono eram severos, relatos de pacientes, certidões de óbitos, jornais da época, dados científi-cos após experimentos em ratos.

Material semelhante também desapareceu misteriosamente em outro laboratório, este, porém, em território norte-americano. Ladrões levaram até os fragmentos de hipotálamos que serviam como base de pesquisa.

Neurocientistas e a comunidade acadêmica internacional la-mentaram os dois roubos. A polícia local iniciou uma investigação, mas, como não houve suspeitos, os casos continuam em aberto até os dias de hoje.

Dezembro de 1999 – Taguatinga, cidade-satélite próxima a Brasília (Brasil)

Em um ritual realizado no Vale do Amanhecer, médiuns pre-viram grandes transformações no cosmos. Os seguidores presentes ouviram que somente o amor e o conhecimento dos descendentes do Planeta Capela poderiam salvar a todos.

Maio de 2006 – Zona rural próxima a Bhopal (Índia)

Dois fazendeiros locais conversavam na varanda de um ca-sebre. Juntos, terminavam de amarrar pequenos fardos de lã. No transporte de parte da produção para acondicioná-la em um

1 Moléculas proteicas que possuem propriedades infectantes. Não existe ne-nhum mecanismo de defesa imunológica capaz de neutralizar essa partícula infectante, o que torna sua disseminação muito rápida. (NE)

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cômodo seco, assistiram aos cães correndo em círculos pastorean-do as ovelhas de uma forma bem estranha.

– Precisa trocar ou adestrar melhor esses cachorros. Nunca vi latirem tanto. Não te incomoda?

– Não são os cães. O problema é com as ovelhas. Essas dana-das mesmo à noite teimam em voltar para o pasto.

– Melhore sua tranca.– Prendê-las é pior. Ficam agressivas. Só se acalmam pastando.

Ficam tanto tempo desse jeito que nem sei mais quando dormem.

Novembro de 2007 – Fermilab, Illinois, Chicago (EUA)Campus universitário próximo a Tevatron

Tyler percorria os corredores; como de costume, limpava sala a sala. Uma luz acesa chamou sua atenção. Ao abrir a porta ele de-parou com Joseph, sozinho, ainda trabalhando.

– Não vai embora? – perguntou Tyler.– Vou dar mais um tempo. Adiantar um pouco o de amanhã.

Não tenho conseguido dormir quando chego em casa – respondeu Joseph, debruçado para fazer a correção de uma pilha de textos.

Setembro de 2008 – Dallas, Texas (EUA)

Pensando já na janela de lançamento proporcionado pelo ali-nhamento da Terra, da Lua e de Marte em 2020, cientistas come-çaram a desenvolver nanorrobôs para a Nasa. Sua missão era criar dispositivos microscópios capazes de monitorar mesmo a distância, além de tentar manter saudável toda uma tripulação de astronau-tas que seria enviada ao espaço. Os nanorrobôs iriam atuar como verdadeiros médicos dentro do organismo dos viajantes, evitando

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doenças e se aliando ao sistema imunológico para combater qual-quer distúrbio. Pesquisadores acreditavam que essa nova tecnologia, depois de aprovada, teria grande impacto na luta contra o câncer.

Um dos funcionários que participavam do projeto, e que foi demitido, copiou parte dos arquivos e os disponibilizou por meio de um site dois anos depois. Por conta disso, foi condenado, preso e responde hoje em liberdade por crimes praticados na internet. Proibido de pisar em solo americano, ele recebeu de muitos países ofertas de asilo político. FBI e Interpol continuam oferecendo re-compensa a toda e qualquer informação sobre seu paradeiro. Sua exata localização no globo continua sigilosa.

Dezembro de 2010 – Região próxima ao LHC, Grande Coliser de Hádrons (França)

Laboratório de pesquisas – Centro de Desenvolvimento Cosmético

Marcílio entrou na sala e deparou com seu assistente de pé, em frente às gaiolas de confinamento dos animais. Wallis observava alguns roedores.

– Prestando atenção no quê? – perguntou Marcílio.– No comportamento das cobaias C2 e A5. Elas estão agindo de

uma forma estranha há pelo menos dois dias – explicou Wallis, olhan-do fixamente para as gaiolas.

– Estranha como? – quis saber Marcílio, sem dar muita im-portância, enquanto se dirigia para sua mesa de trabalho.

– Não repousam, estão inquietas, agitadas. Passaram o dia se movimentando nos brinquedos – respondeu Wallis.

– Efeito colateral do medicamento? – arriscou Marcílio, aco-modando-se em sua cadeira.

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– Pior que não. Já me certifiquei. A5 e C2 fazem parte do gru-po do placebo – explicou Wallis, bastante intrigado.

Anos de 2010 e 2011 – Fumaça vulcânica expelida na Islândia e no Chile se espalhou pela atmosfera causando o cancelamento de milhares de voos em todo o globo. As partículas das erupções co-briram casas, ruas, cidades inteiras. Muitos moradores contraíram doenças respiratórias graves.

Ano de 2011 – Lixo do Japão após tsumani foi encontrado na costa do Alasca. Houve grande preocupação com a direção dos ventos. Prevendo que nuvens radioativas atingiriam Tóquio, japo-neses e turistas esgotaram estoques de máscaras.

Ano de 2012 – Milho transgênico causa tumores em ratos e reacende o debate: “Alimentos geneticamente modificados podem fazer mal ao ser humano?”/“Em longo prazo, que tipo de problema a ingestão regular desse tipo de alimento pode nos causar?”.

Cientistas continuam as buscas por respostas.Enquanto isso, no Brasil, no mesmo período, foram veicula-

dos na mídia: “Pipoca faz bem para o intestino”/“Milho é rico em fibras”/“Dieta e saúde, comer uma tigela de pipoca sacia a fome; porção equivale a menos de 100 calorias”.

15 de fevereiro de 2013 – Chelyabinsk, região central da Rússia, a 1,6 mil quilômetros de Moscou

Um meteorito cruzou os céus da cidade. Uma grande bola de luz e fogo, com luminosidade maior que o Sol e seguida pelo som forte do que parecia ser um trovão, foi vista e ouvida por todos. O

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fenômeno instantaneamente recebeu repercussão mundial. Câme-ras de vigilância do trânsito instaladas pela cidade registraram tudo. Equipes da Cruz Vermelha foram imediatamente acionadas e servi-ços de saúde registraram mais de mil feridos. Bases militares, tanto na Rússia quanto nos Estados Unidos, ficaram em estado de alerta. Gases emanando de silos de mísseis e tropas reforçando as frontei-ras podiam ser vistos em diversos lugares. Sites como o da agência internacional de notícias Reuters e o YouTube congestionaram com tamanho acesso de internautas por todo o mundo.

Especialistas explicaram que o objeto, ao colidir com as altas camadas atmosféricas, explodiu com força equivalente a mais de 30 bombas nucleares como as que atingiram Nagasaki e Hiroshima em 1945, no Japão. O rastro do impacto se fez presente por horas no céu, e pôde ser avistado a quilômetros de distância. Astrônomos divergiram quanto à possibilidade de se prever com antecedência tal acontecimento, por se tratar de um corpo celeste de tamanho muito reduzido. Políticos locais pediram calma à população.

Em um dos muitos pontos da cidade, dois paramédicos que prestavam auxílio aos moradores feridos começaram a apresentar estranho comportamento.

– Cansada? – perguntou Pavlov a sua parceira.– Não sei você, mas por mim faria mais uns 80 atendimentos

– respondeu Nadezhda.– É estranho, também não me sinto cansado – disse Pavlov.– Deve ser a adrenalina.– Deve. Vamos continuar, que pelo visto ninguém aqui vai

dormir hoje – falou Pavlov.O paramédico tinha razão. Por conta do pânico e do medo

que tomaram conta daquela pequena faixa territorial do planeta,

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todos os moradores preferiram passar a noite na rua, fora de suas casas e bem acordados.

15 de fevereiro de 2013 – 17h25, horário de Brasília

O asteroide 2012DA14, de aproximadamente 130 mil tonela-das e 45 metros de comprimento, passou a uma distância de 27,6 mil quilômetros da Terra, a menos de um décimo da distância que nos separa da Lua. Astrônomos de todo o mundo e cientistas da Alemanha afirmaram não haver nenhuma relação entre a passa-gem do asteroide e a queda do meteorito na Rússia. “Ambos vieram em sentidos opostos”, disseram à imprensa.

16 de fevereiro de 2013

Uma bola de fogo foi avistada cruzando os céus da Califórnia e de Cuba.

17 de fevereiro de 2013

A Nasa registrou a maior tempestade solar dos últimos anos. Ondas eletromagnéticas que atingiram a Terra provocaram falhas em sistemas de comunicação. Fotógrafos registraram lindas ima-gens de auroras boreais.

18 de fevereiro 2013

Para ganhar dinheiro, moradores recolheram fragmentos do possível asteroide que caiu na Rússia, e sites como Ebay e Amazon começaram a comercializá-los. Internautas de todos os continentes

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compraram o objeto como peça de decoração e o item logo se tornou um dos mais vendidos, uma febre de consumismo mundial.

19 de fevereiro de 2013

Nova bola de fogo foi visualizada, dessa vez no Brasil. Mora-dores de estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais afirmaram ter registrado a passagem do estranho e incandescente objeto cruzando os céus. Astrônomos concluíram que o fenômeno foi causado pela reentrada na atmosfera da Terra de um foguete de lançamento de satélites chinês.

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CAPÍTULO 1

20 de fevereiro de 2013, BrasilSaguão de desembarque – Aeroporto Internacional Antônio

Carlos Jobim, Ilha do Governador (Rio de Janeiro)

Usando jeans e calçando sapatos confortáveis de camurça, Marcos andava apreensivo de um lado para o outro. Confuso

em meio a tantas obras, tapumes e andaimes, buscava pelo portão que achava ser o certo.

Mesmo apressado, perdeu alguns instantes prestando aten-ção em um homem com aspecto de sujo que segurava uma placa amassada de papelão com a inscrição: “O sossego dos maus se fin-dará quando todos estivermos acordados”. Marcos não entendeu o que aquela frase queria dizer, mesmo assim sorriu de volta para aquele homem maltrapilho, em um gesto de quem se solidarizou com a causa.

Poucos metros mais à frente, ao se ver refletido no vidro de uma placa publicitária, aproveitou para ajeitar a gola do paletó e retocar o penteado, escondendo entre mechas alguns dos fios

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brancos que teimavam em se sobressair. Depois, retomou sua aten-ção no que de fato o trouxera ali.

Novamente conferiu as horas em seu relógio de pulso. Não satisfeito e desconfiado de que o horário estaria errado, retirou do bolso o celular. Destravada a tela, leu “9h32”.

Já era para ela ter chegado, pensou Marcos.Procurando à sua volta, encontrou um monitor com informa-

ções sobre horários, destinos, empresas e situação dos voos. Apro-ximando-se, começou a prestar mais atenção.

– Atrasados no momento. Atrasados. Previsão… Confirmado: voo 04649, dia 20, Miami-Rio, observação em solo, desembarque no terminal 1, portão 18 – Marcos leu para si.

Marcos percebeu que estava aguardando no local errado, en-tão se apressou. Ofegante, conseguiu chegar a tempo de ver sua filha Gabriella surgindo em meio a uma dezena de outros passagei-ros que pareciam protestar contra alguma coisa.

Linda e jovem, Gabriella trazia consigo, além de uma bolsa a tiracolo e uma mala com rodinhas, uma case com seu precioso violino dentro.

– Eu estava perdido, estava lá do outro lado. Chegou agora, minha filha? – Marcos beijou Gabriella no rosto e a ajudou com a bagagem.

– Bênça, pai. – Ela retribuiu o abraço.– O que é aquela fila? – questionou Marcos, estranhan-

do um pequeno tumulto e apontando para uma das saídas do desembarque.

– A fila é para os que chegam da Europa. Pelo que entendi, são agentes de saúde fazendo perguntas. – A garota referia-se a um gru-po de agentes da Anvisa que recepcionavam os recém-chegados.

– Estou curioso para saber: o que disse sua mãe?

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– Sermão tradicional de sempre. Não entende minha prefe-rência em querer morar em um país subdesenvolvido – respondeu de modo bem natural Gabriella.

– Também não entendi sua decisão repentina de abandonar seus estudos. Tão perto agora! Não era seu sonho se tornar a pri-meira violinista da filarmônica de Nova York?

– Longa história, senhor Marcos. Explico em casa após um bom banho.

– Por falar em banho e em casa, também tenho explicações a dar a você – avisou Marcos, coçando a cabeça, enquanto caminha-va em direção à saída.

Méier, Hospital do Estado – Centro Cirúrgico, zona norte da cidade do Rio de Janeiro

Ao som de “How Far We’ve Come”, da banda Matchbox Twenty, a equipe médica se preparava para dar início a um novo procedi-mento. Roberto Lima, o cirurgião responsável, após uma breve ora-ção, usava uma caneta para demarcar a coluna cervical do paciente.

Ao término de suas marcações, um instrumentador recolheu a caneta e entregou a ele uma pequena lâmina. Com mãos firmes, Roberto iniciou uma incisão. O corte foi preciso. Utilizando-se de uma gaze, uma enfermeira secou o sangramento que surgiu.

Trabalhando agora com um bisturi elétrico, Roberto aumen-tou o tamanho da incisão, e à medida que avançava com o corte, cauterizava o tecido no entorno. Interrompeu abruptamente a ação acreditando que houvesse algo de errado.

Sem entender exatamente o que o cirurgião desejava, uma das enfermeiras auxiliares ofereceu uma toalha para que ele secasse o suor do rosto.

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