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Inibidor da atividade tireoperoxidase encontrado em bócios humanos: caracterização parcial Flávia Martins Nobrega Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Fisiologia). Orientadores: Profª Doris Rosenthal Profª. Denise Pires de Carvalho Rio de Janeiro Fevereiro/2006

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Inibidor da atividade tireoperoxidase

encontrado em bócios humanos:

caracterização parcial

Flávia Martins Nobrega

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências (Fisiologia).

Orientadores:Profª Doris RosenthalProfª. Denise Pires de Carvalho

Rio de JaneiroFevereiro/2006

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Nobrega, Flávia Martins

Inibidor da atividade tireoperoxidase encontrado em bócios humanos: caracterização parcial / Flávia Martins Nobrega. Rio de Janeiro:UFRJ, IBCCF, 2006. x, 61f. il.

Orientadora: Doris Rosenthal.Co-orientadora: Denise Pires de Carvalho

Dissertação de Mestrado – UFRJ / IBCCF/ Ciências Biológicas – Fisiologia, 2006.Referências: f.51-61.

1. Inibidor. 2. Tireoperoxidase. 3. Bócios. 4. Tireóide. 5. Tireoglobulina. I. Rosenthal, Doris. II Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas – Fisiologia. III. Título.

FICHA CATALOGRÁFICA

A Deus por permitir que tudo isso fosse possível.

A minha orientadora Dra. Doris Rosenthal por ter me recebido em “sua

Este trabalho é dedicado a minha mãe, que

guerreira e lutadora sempre me fez sonhar e

acreditar que é possível. Aqui está a

recompensa. Muito obrigada por tudo!

AGRADECIMENTOS

casa”, abrindo-me as portas da UFRJ. Sua dedicação ao saber é estímulo

fundamental a qualquer trabalho, além de um exemplo a ser seguido. Muito

obrigado por ter aceitado esse desafio.

A Denise Pires de Carvalho que com seu extremo profissionalismo está

sempre nos incentivando. Sua alegria e otimismo fazem falta por aqui.

A amiga Renata Grozovsky por ser cúmplice e companheira. Obrigado

pelas inúmeras vezes em que o cair da noite no laboratório não foi o limite.

Você sempre esteve presente, até nas horas mais difíceis e, portanto também

faz parte deste trabalho.

As amigas Alba, Michelle Marassi, Sabrina, Renata Araújo e Valmara por

todo carinho e pelo tempo que passamos juntas.

A professora Tânia Ortiga pela contribuição e revisão deste trabalho.

Aos amigos e colegas do LFE Advaldo, Álvaro, Andréa Ferreira, Andréia,

Camilla Antonieta, Daniele, Elaine, Glória, Lívia, Luciene, Michelle Bento,

Mônica, Nathércia, Norma, Rodrigo, Tamar, Thiago, Vânia e Wagner pelo

companheirismo e pelo tempo compartilhado, sempre muito divertido.

Ao Maurício por todo carinho e cumplicidade. Obrigado por me incentivar

sempre. Eu adoro você!

Enfim, agradeço a toda minha família pai, irmãos, avós, tios, primos,

sobrinhos... Eu sei que vocês torcem muito por mim.

INIBIDOR DA ATIVIDADE TIREOPEROXIDASE ENCONTRADO EM

BÓCIOS HUMANOS: CARACTERIZAÇÃO PARCIAL

Flávia Martins Nóbrega

Orientadora: Doris Rosenthal

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação

em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho,

RESUMO

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas (Fisiologia).

Vários tipos de doenças tireóideas apresentam deficiência na organificação do iodo, devido à diminuição ou ausência na atividade da tireoperoxidase (TPO). Há relatos da presença de uma substância inibitória da atividade da TPO em alguns bócios. O presente trabalho teve como objetivo a identificação do inibidor da atividade TPO em diferentes doenças tireóideas e a caracterização bioquímica dessa molécula. Amostras de Bócios Multinodulares Atóxicos (BMNA), Adenomas (AD) e Bócio Difuso Tóxico (BDT) foram homogeneizadas e centrifugadas (105.000g). A fração Tg foi obtida por solubilização (tampão fosfato 50mM, pH 7,4) após “salting-out” (50% sulfato de amônio 4M) e usada para testes de inibição da atividade TPO de oxidação do iodeto. A atividade inibitória foi expressa como mg de fração Tg capaz de inibir 50% da atividade inicial (IC50). O inibidor foi encontrado em todos os bócios avaliados, porém esteve ausente em, pelo menos, uma das áreas em 4 dos 6 BMNA, em um dos 3 AD e no BDT. Além de inibir a oxidação do iodeto, o inibidor diminuiu significativamente a concentração de H2O2 do meio. A incubação da fração Tg com espermina 1mM (co-fator de fosfatase alcalina) reverteu o efeito inibitório, quando este esteve presente. Concluímos que o inibidor pode ser encontrado em diversos tipos de bócio e tem distribuição heterogênea entre as diferentes áreas do mesmo bócio. Sugerimos que um grupamento fosfato seja essencial à ação inibitória da TPO e que a mesma possa ser devida a um mecanismo indireto, a redução do H2O2, co-fator enzimático da TPO.

Palavras-chave: Inibidor, Tireoperoxidase, Bócios, Tireóide, Tireoglobulina.

Rio de JaneiroFevereiro, 2006.

IDENTIFICATION AND PARTIAL CHARACTERIZATION OF

THYROPEROXIDASE ACTIVITY INHIBITOR FOUND IN HUMAN GOITERS

Flávia Martins Nobrega

Orientadora: Doris Rosenthal

Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-

graduação em Ciências Biológicas (Fisiologia), Instituto de Biofísica Carlos

Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas

(Fisiologia).

ABSTRACT

RESUMO

Deficient iodine organification is usual in many types of thyroid diseases, due to absence or impaired activity of thyroperoxidase (TPO). The presence of an inhibitory substance(s) in some goiters has been reported by several groups. This work aims to evaluate the presence of a TPO activity inhibitor in different thyroid diseases and to characterize its biochemical structure. Atoxic multinodular goiters, adenomas, and toxic diffuse goiter samples were homogenized and centrifuged (105.000 x g). The Tg fraction was obtained by solubilization (phosphate buffer 50mM, pH7.4) after salting out (50% ammonium sulfate 4M) and used to test the ability to inhibitory of TPO activity. The inhibitory activity was expressed as Tg fraction (mg) able to inhibit 50% of initial activity (IC50). The inhibitor was found in all goiters evaluated, but was absent, at least, in one area at four out of six BMNA, one out of three AD, and in BDT. The inhibitor not only decreased “in vitro” iodide oxidation, but also decreased H2O2 (the TPO cofactor) significantly. The Tg fraction incubation with spermine 1mM (alkaline phosphatase cofactor) reversed the inhibitory effect. Our data reveal that the inhibitor can be found in several types of goiters and its distribuition is heterogeneous in a given thyroid gland. We suggest that a phosphate group may be essential for the TPO inhibitory action and that this may happen due to an indirect mechanism, the reduction of H2O2.

Key words: Inhibitor, Thyroperoxidase, Goiters, Thyroid, Thyroglobulin.

Rio de JaneiroFevereiro, 2006.

AD adenomas foliculares

AMPc monofosfato de adenosina cíclico

ASGPR receptor para asialoproteína

ATP adenosina trifosfato

BDT bócio difuso tóxico

BMNA bócio multinodular atóxico

DIT diiodotirosina

EGF fator de crescimento da epiderme

FAD flavina adenina nucleotídeo

FGF fator de crescimento de fibroblastos

FSH hormônio folículo-estimulante

GMPc guanosina monofosfato cíclico

ABREVIATURAS

ABREVIATURAS

ABSTRACT

GH hormônio do crescimento

HRP peroxidase de raiz forte

IGF fator de crescimento insulina-símile

IP3 inositol trifosfato

IPG inositolfosfoglicano

LH hormônio luteinizante

MCT transportador monocarboxilato

MIT monoiodotirosina

MMI metilmazole

NADPH nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato

NCTP co-transportadores taurocolatos de Na+

NIS co-transportador sódio/iodeto

OATP transportador de ânion orgânico

Pax 8 fator de transcrição de domínio pareado

PKA proteína cinase A

PKC proteína cinase C

PTU 6n-propil-tiouracil

rT3 3,3’,5’ triiodotironina (T3 reverso)

T3 3,5,3’ triiodotironina

T4 3,5,3’,5’, tetraiodotironina ou tiroxina

TBG globulina ligadora de hormônio tireóideo

Tg tireoglobulina

ThOX oxidase tireóidea

TPO tireoperoxidase

TRH hormônio liberador de tireotrofina

TSAb anticorpo estimulador tireóideo

TSH hormônio estimulador da tireóide ou tireotrofina

TSHR receptor para TSH

TTF fator de transcrição tireóideo

TTR transtiretina

Tyr tirosina

VEGF fator de crescimento endotelial vascular

VPF fator de permeabilidade vascular

ABREVIATURAS

ILUSTRAÇÕES

ABREVIATURAS

Pág.Figura 1 Aspecto anatômico da glândula tireóide (visão

anterior)................................................................ 1Figura 2 Representação esquemática de um folículo tireóideo ... 2Figura 3 Representação esquemática do transporte de iodeto na

célula folicular ....................................................... 5Figura 4 Representação esquemática da biossíntese dos

hormônios tireóideos na membrana apical da célula

folicular................................................................. 11Figura 5 Endocitose de tireoglobulina iodada e liberação dos

hormônios tireóideos............................................... 13Figura 6 Regulação da atividade do eixo hipotálamo-hipófise-

tireóide ................................................................. 17Figura 7 Representação da regulação da função tireóidea pela

Tg folicular ............................................................ 20Figura 8 Efeito inibitório da fração Tg .................................... 38

ILUSTRAÇÕES

Figura 9 Efeito inibitório das frações Tg e albumina ................. 39Figura 10 Quantificação de peróxido de hidrogênio (H2O2) .......... 40Figura 11 Efeito inibitório das frações Tg na presença de

espermina ............................................................. 42Tabela 1 Número de pacientes e áreas com os respectivos

diagnósticos .......................................................... 30Tabela 2 Valores de IC50 provenientes de BMNA ...................... 36Tabela 3 Valores de IC50 provenientes de BDT ......................... 36Tabela 4 Valores de IC50 provenientes de AD .......................... 37

SUMÁRIO x

I. INTRODUÇÃO ........................................................................ 1 1. ASPECTOS ANATOMOFUNCIONAIS .................................... 1

2. BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREÓIDEOS................... 3 2.1 Transporte de iodeto 4 2.2 Tireoglobulina 6 2.3 Tireoperoxidase 7 2.3.1 Atividade catalítica da TPO 8 2.4 Sistema gerador de peróxido de hidrogênio 9 2.5 Liberação e transporte dos hormônios tireóideos 11 2.5.1 Transcitose 14

3. REGULAÇÃO DA FUNÇÃO TIREÓIDEA................................. 15 3.1 Eixo hipotálamo-hipófise-tireóide 15 3.2 Autorregulação 18 3.2.1 Iodo 18 3.2.2 Tireoglobulina folicular 18 3.3 Outros reguladores 20

4. BOCIOGÊNESE................................................................... 20 4.1 Etiopatogenia dos bócios 22 4.1.1 Adenomas foliculares (AD) 22 4.1.2 Bócio Difuso Tóxico (BDT) 22 4.1.3 Bócio Multinodular Atóxico (BMNA) 23

5. INIBIDORES DA TIREOPEROXIDASE ................................. 24

SUMÁRIO

II. OBJETIVOS .......................................................................... 28

III. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................... 29 1. TECIDOS TIREÓIDEOS ...................................................... 29

2. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS .................................... 30 2.1 Fração solúvel 30 2.1.2 Purificação parcial por “salting out” 31 2.2 Fração particulada contendo a TPO 31

3. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TIREOPEROXIDASE ............... 32 3.1 Oxidação do iodeto 32 3.2 Avaliação da potencial inibitório das frações Tg sobre atividade tireoperoxidase

32

4. QUANTIFICAÇÃO PROTÉICA .............................................. 33

5. QUANTIFICAÇÃO DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO (H2O2).. 33

6. EFEITO DA ESPERMINA SOBRE ATIVIDADE INIBITÓRIA ... 33

7. ANÁLISE ESTATÍSTICA...................................................... 34

IV. RESULTADOS ....................................................................... 35 1.EFEITO INIBITÓRIO DA FRAÇÃO Tg ................................... 35

2. QUANTIFICAÇÃO DE H2O2 NA PRESENÇA DE INIBIDOR ..... 40 3. EFEITO DA ESPERMINA SOBRE A ATIVIDADE INIBITÓRIA 41

V. DISCUSSÃO .......................................................................... 43

VI. CONCLUSÕES ...................................................................... 50

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 51

I. INTRODUÇÃO

1. ASPECTOS ANATOMOFUNCIONAIS

A glândula tireóide tem papel primordial na manutenção da homeostase

corporal através da ação dos hormônios tireóideos, por ela produzidos (Lisi e

cols., 2003). A tireóide desenvolve-se a partir do endoderma e migra da boca

primitiva para a porção anterior do pescoço. Em seres humanos adultos

normais, a glândula pesa em torno de 15-20g, e é composta por dois lobos,

unidos pelo istmo, situando-se logo abaixo da cartilagem cricóide, ao nível do

segundo e do terceiro anel traqueal (Figura 1). Sendo o lobo direito

normalmente maior do que o esquerdo (Utiger, 2001).

Figura 1- Aspecto anatômico da glândula tireóide (visão anterior)

(www.geocities.com.br).

Histologicamente, a tireóide é composta de folículos que constituem 70%

do tecido tireóideo. O restante é constituído por, aproximadamente, 20% de

células endoteliais dos capilares e 10% de fibroblastos. Há ainda, a presença

de células parafoliculares ou células C, as quais são responsáveis pela

produção e secreção do hormônio calcitonina, caracterizadas pela presença de

grânulos eletrodensos no citoplasma (Larsen e cols., 1998).

Os folículos são considerados unidades morfofuncionais da tireóide. São

INTRODUÇÃO

compostos de uma camada simples de células epiteliais, as células foliculares

ou tireócitos que rodeiam o lúmen folicular, preenchido por um colóide protéico

(Figura 2). Variações na altura do epitélio folicular podem ocorrer, dependendo

do nível de estimulação recebida pela glândula. Quando estimulado, o epitélio

é colunar e é achatado quando não ativado (Larsen e cols., 1998). Cerca de

80% do colóide é constituído por tireoglobulina (Tg), o principal produto de

secreção das células epiteliais tireóideas e substrato essencial para síntese dos

hormônios tireóideos.

A membrana basolateral permite o contato dos folículos com os capilares

sanguíneos, já o contato com o lúmen folicular, é estabelecido pela membrana

apical que apresenta numerosas microvilosidades (Figura 2), aumentando a

área de interface entre as células e o colóide (Larsen e cols., 1998; Lisi e cols.,

2003).

A estrutura folicular permite que o tireócito funcione como uma célula

exócrina, já que secreta Tg para o lúmen folicular, uma célula absortiva, assim

como as células do epitélio intestinal, já que absorve a Tg folicular, e uma

célula endócrina que secreta os hormônios tireóideos na corrente sanguínea

(Suzuki e cols., 2000).

Colóide

MembranaBasolateral

MembranaApical

Colóide

MembranaBasolateral

MembranaApical

Colóide

MembranaBasolateral

Membrana Figura 2 – Representação esquemática de um folículo tireóideo.

A função de cada folículo não é sincronizada ao seu adjacente: folículos

quiescentes co-existem perto de folículos altamente funcionais.

Conseqüentemente, variações morfológicas entre os folículos são notadas em

decorrência do seu estado funcional (Suzuki e cols., 2000). A glândula tireóide

humana, como a de muitos outros mamíferos, é caracterizada por grande

heterogeneidade funcional e morfológica (Gérard e cols., 2002). A

heterogeneidade folicular existe mesmo sendo cada folículo exposto à mesma

concentração de TSH, sugerindo que pode ser causada por regulador(es) ainda

não identificado(s), não dependente(s) de TSH (Suzuki e cols., 2000).

2. BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS TIREÓIDEOS

A glândula tireóide é o local da síntese, armazenamento e secreção dos

hormônios tireóideos: 3,3’,5,5’-tetraiododotironina (tiroxina ou T4), de 3,3’,5-

triiodotironina (T3) e, em menor quantidade 3,3’,5’-triiodotironina reversa

(rT3). Os hormônios tireóideos, T3 e T4, são críticos para a diferenciação, o

crescimento e o metabolismo celular em mamíferos, desempenhando

importante função no crescimento e desenvolvimento normais (Yen, 2001).

Estimulam o metabolismo basal, aumentando o consumo de oxigênio e, assim,

têm papel importante na manutenção da temperatura e da homeostase

corporal (Yen, 2001; Lisi e cols., 2003).

A síntese dos hormônios tireóideos requer a ação de um maquinário

complexo (Gérard e cols., 2003) portanto um estudo mais detalhado de seus

componentes torna-se necessário.

2.1 TRANSPORTE DE IODETO

O iodo é o elemento essencial à biossíntese dos hormônios da tireóide. O

iodeto proveniente da dieta é absorvido no trato gastrintestinal, sendo captado

pela tireóide, a partir da corrente sanguínea, por um transportador específico

existente na membrana basolateral dos tireócitos (Figura 3), o co-

transportador sódio-iodeto (NIS, Na+/I-symporter) (Kaminsky e cols., 1993). O

NIS também tem sido identificado em outras células que concentram iodeto

como as glândulas salivares e mamárias, mucosa gástrica e, ainda,

citotrofoblasto e sinciciotrofoblasto (Bidart e cols., 2000; De La Vieja e cols.,

2000).

A captação do iodeto pelas células foliculares ocorre por um mecanismo

de transporte ativo secundário, contra o potencial intracelular eletronegativo

do I-, mas a favor do gradiente eletroquímico gerado pelo Na+ (Kaminsky e

cols., 1993). O transporte de dois Na+ resulta na entrada de um I-. Portanto, a

atividade do NIS está intimamente relacionada à bomba Na+/K+ ATPase na

membrana basolateral dos tireócitos (Eskandari e cols., 1997). Este transporte

é regulado positivamente pelo TSH (tireotrofina – hormônio estimulador da

tireóide) (Raspé & Dumont, 1995), como discutiremos adiante. Além disso, o

excesso de iodo é capaz de inibi-lo, enquanto a deficiência de iodo estimula a

captação de I- pelas células foliculares tireóideas. Tais mecanismos

estimulatório e inibitório ainda não estão bem elucidados, entretanto sabe-se

que ocorrem de forma independente do TSH (Utiger, 2001).

Mutações no gene NIS são associadas ao desenvolvimento de

hipotireoidismo congênito e a formação de bócio por deficiência em concentrar

iodo. Vários casos de adenomas e carcinomas tireóideos têm sido

documentados nos quais há diminuição da expressão gênica e protéica do NIS

(Filleti e cols., 1999; Spitzweg e cols., 2000).

A biossíntese hormonal é dependente da disponibilidade de iodo na

região apical da célula folicular. O iodo chega a essa região através da

pendrina, um transportador apical Cl-/I- (Figura 3). A pendrina é um produto

do gene PDS, com massa molecular de, aproximadamente, 86kDa; incluída na

grande família de transportadores aniônicos que contém 11 ou 12 domínios

transmembrana (Scott e cols., 1999; Royaux e cols., 2000). Na tireóide, está

expressa na membrana apical e também pode ser encontrada no rim e no

ouvido. Como descrito por Everett e cols. (1997), pacientes com Síndrome de

Pendred (síndrome autossômica recessiva do gene PDS), possuem mutações

na pendrina que levam a má formação coclear, e conseqüentemente, a surdez.

Entretanto, nem todos os indivíduos têm bócio, sugerindo a existência de

outros transportadores envolvidos no aporte de iodo à região apical do folículo

(Scott e cols., 1999).

Fato incomum para marcadores tireóideos, a expressão da pendrina não

é regulada pelo TSH e parece ser regulada diretamente pelo conteúdo de Tg no

folículo (Royaux e cols., 2000). Destaca-se sua relevância na síntese dos

hormônios tireóideos, já que o sítio catalítico da tireoperoxidase (enzima-chave

envolvida no processo), encontra-se na região extracelular da membrana

apical, voltado para o colóide (Vaisman e cols., 2004).

Figura 3- Representação esquemática do transporte de iodeto na célula folicular.

2.2 TIREOGLOBULINA (Tg)

A Tireoglobulina (Tg) é a proteína mais abundante da tireóide, sendo o

principal produto de secreção das células epiteliais foliculares. O RNAm da Tg

tem 8-8,5kb e codifica uma subunidade precursora com 330kDa e coeficiente

de sedimentação 12S. A partir destes monômeros, tem-se a formação da Tg

dimérica, como uma glicoproteína de 660kDa e coeficiente de sedimentação de

19S, que serve de suporte para a biossíntese dos hormônios tireóideos (Larsen

e cols., 1998). Esta macromolécula dimérica glicosilada corresponde a 85% do

total da Tg em glândulas normais. Um componente mais pesado, a Tg 27S,

com peso molecular de 1200kDa, representa a forma tetramérica, formada a

partir da Tg 19S, e corresponde a 5-15% da Tg madura em muitas espécies

(Carvalho e cols., 1987). Logo após a tradução, ainda no retículo

I-

I-Na

+

Na+

K+

ATPase

Na+

Colóide

NIS

I- Membrana basal

I-Na

+

Na+

K+

ATPase

Na+

Colóide

NIS

P

I- Cl-

endoplasmático, resíduos glicídicos são adicionados à proteína, sendo

posteriormente incorporada a vesículas endocíticas, no complexo de Golgi, que

migram para o lúmen folicular, sítio de estocagem da Tg. A Tg madura,

presente no complexo de Golgi, contém 10% de carboidratos e o grau de

glicosilação está associado à funcionalidade da proteína (Medeiros-Neto e cols.,

1996).

Há relatos sobre a ligação da Tg a uma proteína ligadora na membrana

apical, similar ao receptor de asialoproteína (ASGPR) descrito no fígado. Essa

ligação favoreceria o transporte vetorial da Tg recém-sintetizada para o lúmen

folicular. Porém, as características deste processo, bem como seu papel

funcional, ainda não estão bem elucidados (Consiglio e cols., 1979). Tem sido

demonstrado que o conteúdo de Tg no lúmen folicular, age como regulador da

função tireóidea (Ulianich e cols., 1999 e Kohn e cols., 2001).

O iodo é incorporado em regiões específicas da Tg – resíduos tirosil

hormonogênicos (Di Lauro e cols., 1985; Larsen e cols., 1998; Taurog, 2000).

Apesar do seu grande tamanho, a molécula de Tg possui apenas em torno de

134 resíduos tirosil, dos quais somente 4 a 8 resíduos são capazes de originar

moléculas de hormônios (Medeiros-Neto e cols., 1993).

Mutações genéticas que resultam em uma molécula protéica

estruturalmente defeituosa, prejudicam a capacidade funcional da Tg de servir

como matriz para a síntese hormonal. Anormalidades no RNAm, na síntese, no

transporte celular ou na glicosilação da Tg podem produzir bócio congênito e

vários graus de hipofunção tireóidea (Medeiros-Neto e cols., 1993).

2.3 TIREOPEROXIDASE (TPO)

A TPO é a principal enzima envolvida na iodação da Tg e no acoplamento

de resíduos iodo-tirosil durante a síntese dos hormônios tireóideos. É uma

hemoproteína glicosilada, com 933 aminoácidos e peso molecular de 103kDa,

sendo 10% desse peso equivalente aos resíduos glicídicos presentes em sua

estrutura. Encontra-se ancorada à membrana plasmática apical da célula

tireóidea, com seu domínio catalítico voltado para o colóide (Pohl e cols., 1993;

Taurog, 2000). Possui alta homologia com outras peroxidases como a

mieloperoxidase e a lactoperoxidase (Kimura e cols., 1989).

A conformação da TPO e a presença do grupamento heme em sua

estrutura são igualmente importantes para a função enzimática. Le Fourn e

cols., (2004), demonstraram que a glicosilação pós-traducional é pré-requisito

para a completa maturação e endereçamento da enzima à membrana apical,

assim como ocorre com a Tg.

O gene da TPO humana localiza-se no braço curto do cromossomo 2 e a

seqüência completa possui 3048 nucleotídeos. As células tireóideas contêm

outros RNAm da TPO de tamanhos variados, mas sua importância fisiológica e

fisiopatológica é ainda desconhecida, sendo provável que a maioria não possua

função enzimática (McLachlan & Rapoport, 1992). A expressão do gene da TPO

é restrita ao tecido tireóideo (Francis-Lang e cols., 1992) e controlada

positivamente pelo TSH, através de um sistema dependente de 3’, 5’-

adenosina monofosfato cíclico (AMPc)/proteína cinase A (Zarrilli e cols., 1990).

Além do TSH, outros fatores, tais como a insulina e fatores de crescimento

dependentes de insulina, também regulam os níveis de RNAm para TPO

(Isozaki e cols., 1989).

A ausência ou função anormal da TPO é reconhecida como causa de

disfunção tireóidea, bócio e hipotireoidismo (Fayadat e cols., 1999). Embora

carcinomas tireóideos diferenciados expressem RNAm TPO (Elisei e cols.,

1994), Gérard e cols. (2002) demonstraram que a expressão protéica da

enzima não é mantida em carcinomas papilíferos. Entretanto, em carcinomas

foliculares nos quais a expressão protéica era normal, a TPO estava distribuída

pelo citoplasma, diferindo da localização apical encontrada em doenças

benignas tireóideas. Porém nada foi relatado sobre atividade tireoperoxidase

citoplasmática.

2.3.1 ATIVIDADE CATALÍTICA DA TPO

A TPO desempenha uma importante função na biossíntese dos hormônios

tireóideos, catalisando a oxidação do iodeto, a iodação dos resíduos tirosil e o

acoplamento das iodotirosinas para gerar as iodotironinas (Figura 4)

(McLachlan & Rapopport, 1992). O mecanismo de iodação da Tg tem sido

estudado por vários autores e ocorre na interface celular do colóide com a

membrana apical, em acordo com a localização da TPO nesta membrana

(Taurog, 2000). Para sua ação, a TPO requer, como co-fator, o peróxido de

hidrogênio (H2O2), um aceptor de elétrons essencial para as reações de

iodação e acoplamento catalisadas pela enzima (Taurog, 2000). Nunez &

Pommier (1982), postularam a existência de dois sítios catalíticos na TPO

oxidada, um favorecendo o I- e outro, a tirosila. O I- e Tyr sofrem oxidação

monoeletrônica, com formação dos radicais livres I• e Tyr•. Estes radicais se

unem, enquanto ligados à enzima, formando um complexo ternário, originando

a monoiodotirosina (MIT). Esta pode sofrer nova oxidação monoeletrônica e

reagir com I•, formando a diiodotirosina (DIT) (Taurog, 2000). A TPO catalisa

também o acoplamento entre duas iodotirosinas (Figura 4). Caso ocorra o

acoplamento de dois DITs haverá a formação da 3,5,3’,5’- tetraiodotironina,

T4, ou tiroxina; quando há o acoplamento de um MIT com um DIT, ocorre a

formação da 3,5,3’-triiodotironina (T3) ou 3,3’,5’-triiodotironina reversa, ou rT3

(Larsen e cols., 1998).

Apesar dos diferentes métodos para quantificação da atividade

tireoperoxidase (geração de triiodeto, oxidação do guaiacol e iodação da

albumina), há concordância de que a atividade está geralmente aumentada em

adenoma tóxico e bócio difuso tóxico ou doença de Graves (Fragu e cols.,

1977; Moura e cols., 1989), enquanto esta é diminuída em tireoidite crônica

(doença de Hashimoto) (Mizukami & Matsubara, 1981). Resultados variados

têm sido encontrados em bócio multinodular atóxico, justificados pela

heterogeneidade morfológica, funcional e bioquímica características destes

bócios, como veremos adiante (Mazini-Repiso e cols., 1994).

2.4 SISTEMA GERADOR DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO (H2O2)

A organificação do iodo tireóideo é dependente da tireoperoxidase,

sendo a geração de H2O2 tireóidea um passo limitante na biossíntese hormonal

(Laurent e cols., 1991; Carvalho e cols., 1996). Entretanto, apesar da

relevância do H2O2 na biossíntese dos hormônios tireóideos, a NADPH-oxidase

tireóidea foi apenas recentemente caracterizada em glândulas humanas

(Cardoso e cols., 2000; De Deken e cols., 2000).

A geração de H2O2 não se restringe a fagócitos ou ao tecido tireóideo,

onde desempenha papel citotóxico e co-fator da biossíntese hormonal,

respectivamente, mas também pode ser observada em outros tecidos: cólon,

rins, baço, pulmão e linfonodo (Lambeth, 2002).

Existem vários sistemas enzimáticos geradores de H2O2 como:

monoamina oxidase, xantina oxidase, NADH-citicromo b5 redutase, NADPH-

citocromo c redutase, e superóxido desmutase. Inicialmente sugeriu-se que a

geração tireóidea de H2O2 seria similar à encontrada nas células fagocitárias.

No leucócito polimorfonuclear, o H2O2 é obtido pela ação da superóxido

desmutase, com formação de O2- (Nakamura e cols., 1991). Entretanto, Dupuy

e cols. (1992) demonstraram que a geração tireóidea de H2O2 ocorre de forma

direta, sem a formação deste intermediário.

O sistema gerador de H2O2 tireóideo localiza-se na superfície apical do

tireócito (Figura 4), utiliza NAPH como substrato (NADPH-oxidase) e é

dependente de cálcio (Nakamura e cols., 1991; Dupuy e cols., 1992; Dème e

cols., 2001).

Foram clonados dois cDNAs da NADPH-oxidase tireóidea humana, os

quais codificam duas proteínas com 177kDa, denominadas ThOX 1 e ThOX 2

(De Deken e cols., 2000). A enzima é formada por seis domínios

transmembrana e, em seu terminal NH2, há um domínio ectoperoxidase

transmembrana, voltado para o meio extracelular. A função deste domínio

ainda não foi estabelecida, mas acredita-se que ele possa evitar os efeitos

deletérios do excesso de H2O2 na célula (Lambeth, 2002).

O terminal COOH da proteína, voltado para o citosol, contém o domínio

flavoprotéico da enzima, que é o sítio de ligação do NADPH e, adjacente a este

domínio está o sítio de ligação do cálcio. Uma vez ligado, o NADPH reduz o FAD

que por sua vez, transfere elétrons, via mecanismo desconhecido, para uma

molécula de O2, levando a formação direta de H2O2 (Dupuy e cols., 1992).

Desta maneira, assim como a TPO e a Tg, o sistema gerador de H2O2 (NADPH-

oxidase tireóidea) passou a ser considerado mais um marcador de

diferenciação celular tireóideo, já que sua síntese é estimulada por TSH (Raspé

& Dumont, 1995; Carvalho e cols., 1996). Assim como observado em outras

proteínas tireóideas, eventos de gilocosilação da NADPH-oxidase parecem estar

envolvidos com maturação e endereçamento para membrana apical. Cinco

sítios de N-glicosilação foram identificados em proteínas humanas (Morand e

cols., 2003).

Há uma grande variabilidade na expressão dos genes ThOX 1 e ThOX 2.

Com relação a expressão protéica, em bócio multinodular e adenoma de

células de Hurtle, a expressão é similar à encontrada em tecidos normais. A

expressão é diminuída em tecidos hiperfuncionantes e aumentada em tecidos

hipofuncionantes (Caillou e cols., 2001). Nota-se intensa variabilidade também

em carcinomas papilíferos e foliculares (Lacroix e cols., 2001). Apenas

recentemente foi padronizado o método para quantificação da atividade da

NADPH-oxidase tireóidea humana (Cardoso e cols., 2000).

Figura 4 – Representação esquemática da biossíntese dos hormônios tireóideos na membrana apical da célula folicular.

2.5 LIBERAÇÃO E TRANSPORTE DOS HORMÔNIOS TIREÓIDEOS

A secreção dos hormônios tireóideos requer a endocitose de Tg iodada

(contendo MIT, DIT, T3 e T4) pela membrana apical da célula folicular. A Tg é

recaptada da membrana apical, por endocitose/pinocitose, formando vesículas

endocíticas (Figura 5). Estas vesículas são incorporadas a fagolisossomas e a

Tg sofre clivagem proteolítica, liberando MIT, DIT, T3 e T4 (Dumonst & Vassart,

1995; Larsen e cols., 1998; Yen, 2001).

ColóideColóide

CitoplasmaCitoplasma

TPOTPO

NADPHNADPH--OXIDASEOXIDASE

iodeto

TirTirTirTir

TirTir

TirTirDITDIT

MITMIT

TgTg

Membranaapical

HH22OO22

II--

OO22

NADPHNADPH NADPNADP++

TgTg

tireoglobulina

TT33

TT44ColóideColóide

CitoplasmaCitoplasma

TPOTPO

NADPHNADPH--OXIDASEOXIDASE

iodeto

TirTirTirTir

TirTir

TirTirDITDIT

MITMIT

TgTg

Membranaapical

HH22OO22

II--

OO22

NADPHNADPH NADPNADP++

TgTg

tireoglobulina

TT33

TT44

Há relatos de que proteínas, como o receptor para asialoproteína

(ASGPR) e gp330/megalina, possam ligar-se a Tg, interferindo no processo

endocítico. Essas têm em comum o fato de se ligarem a glicoproteínas (Suzuki

e cols., 2000). Sugere-se que além de estar envolvido com o transporte

vetorial da Tg para o lúmen folicular, (Consiglio e cols., 1979; Berndorfer e

cols., 1996), o receptor para asialoproteína (ASGPR), estaria envolvido num

processo de pinocitose seletiva: ao ligar-se à Tg com baixo conteúdo

hormonal, na membrana apical, favoreceria a endocitose de moléculas de Tg

rica em hormônios (Van den Hove e cols., 1982; Ulianich e cols., 1999; Suzuki

e cols., 2000). A megalina estaria envolvida num processo conhecido como

transcitose (Marino & McCluskey, 2000), abordado a seguir.

MIT e DIT oriundos da proteólise são rapidamente desiodados, por uma

iodotirosina-desalogenase específica (DEHAL1) (Figura 5). Essa desiodação

enzimática leva a formação de I- e Tyr que poderão ser reutilizados pela célula

folicular (Gnidehou e cols., 2004).

Após a clivagem proteolítica, as moléculas de T3 e T4 são liberadas na

corrente sanguínea (Figura 5). A quantidade de T4 secretada é maior do que a

de T3, numa proporção de aproximadamente 14 moléculas de T4 para 1 de T3,

no homem (Larsen e cols., 1998). Essa quantidade pode ainda variar

decorrente da desiodação intratireóida de T4 a T3 pelas enzimas iodotironina-

desiodases. Cerca de 80% do T3 sérico total é oriundo da desiodação do T4 a

T3, nos tecidos periféricos (Bianco e cols., 2002).

Embora as moléculas de T3 e T4 sejam lipofílicas, logo capazes de

atravessar a membrana por difusão passiva, existem evidências de

mecanismos de transporte para hormônios tireóideos. Este sistema de

transporte para T3 e T4 é saturável e dependente de ATP, mas não há

competição pelo mesmo sítio de ligação. Parecem estar envolvidos neste

transporte polipepitídeos co-transportadores de taurocolato e Na+ (NTCP) e

membros da família de transportadores de ânion orgânico (OATP), que são

capazes de transportar hormônios tireóideos para dentro do hepatócito

(Friesema e cols., 1999).

Recentemente, foi clonado um transportador para aminoácidos

aromáticos, o MCT8, que pertence à família dos transportadores

monocarboxilatos (MCT). O transportador monocarboxilato 8 (MCT8) tem alta

atividade e especificidade para os hormônios tireóideos, é muito expresso no

fígado e cérebro, mas também é encontrado em outros tecidos (Friesema e

cols., 2003).

Cerca de 0,03% do T4 total sérico está livre, estando o restante ligado a

proteínas carreadoras como a globulina ligadora de hormônios tireóideos (TBG)

(aproximadamente 80%), transtiretina (TTR) (15%) e albumina (5%). Já o

conteúdo de T3 sérico livre corresponde a 0,3% do T3 total, estando,

aproximadamente, 38% ligado a TBG; 35%, à albumina; 27%, à transtiretina.

De fato, o T4 se liga com mais afinidade às proteínas séricas do que o T3, e, por

isso, tem uma taxa de depuração metabólica menor e meia-vida sérica mais

longa do que a de T3. Em humanos, a meia-vida sérica do T4 é de sete dias,

enquanto a do T3 é de apenas 1 dia (Yen, 2001).

São os hormônios livres que interagem com as células-alvo, gerando

respostas biológicas. O T3 é considerado o hormônio tireóideo metabolicamente

ativo por ter afinidade com o receptor nuclear de 10 a 15 vezes maior do que o

T4 (Yen, 2001).

2.5.1 TRANSCITOSE

Caso a Tg iodada não sofra clivagem proteolítica, ela pode ser reciclada

no colóide ou ainda, ligar-se a megalina, sendo transportada pela célula por

transcitose. Esta é a principal rota pela qual a Tg chega à corrente sanguínea,

caso a estrutura folicular tenha sido mantida intacta (Marinó & McCluskey,

NISNIS

exocitose

síntese

I-

glicose aminoácidos

I-

proteólise

endocitose

T3

T4

MIT

DIT

T4

T4T3

MIT DIT

33TT44 e Te T

T3

5’ desiodase

NISNIS

exocitose

síntese

I-

glicose aminoácidos

I-

proteólise

endocitose

Membrana basal

Tg

Tg

T3T3

MIT

DIT

T4T4

MIT

DIT

T4T4

T4T3T4T3

MIT DIT MIT DIT

33TT44 e Te T

T3T3

5’ desiodasedesiodaçãoDEHAL1

NISNIS

exocitose

síntese

I-

glicose aminoácidos

I-

proteólise

endocitose

T3T3

T4T4

MIT

DIT

T4T4

T4T3T4T3

MIT DIT MIT DIT

33TT44 e Te T

T3T3

5’ desiodase

NISNIS

exocitose

síntese

I-

glicose aminoácidos

I-

proteólise

endocitose

Membrana basal

Tg

Tg

T3T3

MIT

DIT

T4T4

MIT

DIT

T4T4

T4T3T4T3

MIT DIT MIT DIT

33TT44 e Te T

T3T3

5’ desiodase

T3T3

5’ desiodasedesiodaçãoDEHAL1

Figura 5- Endocitose de tireoglobulina iodada e liberação dos hormônios tireóideos

2000).

Primeiramente identificada por Kerjaschki & Farquhar (1982), a megalina

é um receptor endocítico, composto de um domínio transmembrana, um

grande ectodomínio e uma pequena cauda citoplasmática, fazendo parte da

família de receptores para lipoproteínas com baixa densidade (Hjalm e cols.,

1996). No rim, está envolvida no transporte tubular de proteínas de baixo peso

molecular. Tem importante papel fisiológico no desenvolvimento do sistema

nervoso central, apesar de seu mecanismo de ação nesse sistema não estar

bem elucidado (Christensen & Birn, 2002). Na tireóide, a megalina é expressa

de forma TSH-dependente e encontrada na superfície apical dos tireócitos

(Marinó e cols., 2000).

Recentemente, Lisi e cols. (2003) demonstraram que a via da transcitose

serve para desviar moléculas de Tg com baixo conteúdo hormonal dos

lisossomos, favorecendo a degradação de moléculas de Tg rica em hormônios.

Usando anticorpo anti-megalina, demonstraram que quando se bloqueia a

megalina, inibindo a transcitose, a Tg com baixo conteúdo hormonal compete

com a Tg com alto conteúdo hormonal pela via lisossomal. Portanto, acreditam

que a via da transcitose, mediada pela megalina, é um processo seletivo para

descartar moléculas de Tg com baixo conteúdo hormonal e não apenas uma

rota para redução da liberação dos hormônios tireóideos, como sugerido por

Marinó & McCluskey (2000).

Quando há baixa disponibilidade de iodo, deficiência no transporte de

iodeto ou ainda, no acoplamento das iodotirosinas, prevalece a formação de

moléculas de Tg com baixo conteúdo hormonal. Assim, nessas condições, são

observadas altas concentrações de Tg sérica (Marinó & McCluskey, 2000).

3. REGULAÇÃO DA FUNÇÃO TIREÓIDEA

Os dois maiores reguladores fisiológicos da função tireóidea, de ação

direta nesta glândula, são o hormônio estimulador da tireóide (TSH ou

tireotrofina) e o iodeto. Entretanto, a tireóide também é influenciada por vários

outros hormônios ou fatores não-específicos, como o fator de crescimento

similar à insulina I e II, fator de crescimento epidérmico, norepinefrina, entre

outros (Utiger, 2001).

3.1 EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-TIREÓIDE

A constância na concentração circulante dos hormônios T3 e T4 é

resultante de um sistema regulatório dinâmico entre hipotálamo, hipófise e

tireóide (Figura 6) (Utiger, 2001). O tamanho e a função da glândula tireóide

são controlados por um mecanismo de retroalimentação negativa, no qual os

hormônios T3 e T4 inibem a secreção do TSH pelos tireotrofos hipofisários.

Quando a secreção dos hormônios tireóideos diminui, como nos defeitos do

metabolismo do iodo, deficiência de iodo ou após a administração de drogas

antitireóideas, há aumento na secreção de TSH e TRH, levando a ativação da

função e do crescimento tireóideo (Larsen e cols., 1998).

O hormônio liberador de tireotrofina (TRH), um tripeptídeo, sintetizado

por neurônios do núcleo paraventricular do hipotálamo, é liberado próximo ao

sistema porta hipotálamo-hipofisário, pelo qual chega à adenohipófise onde

estimula a secreção de TSH. O TRH liga-se a um receptor na membrana do

tireotrofo e, via fosfolipase C, aumenta os níveis de cálcio intracelular. Este,

juntamente com monofosfato de guanosina cíclica (GMPc), agem como

mensageiros secundários para indução da transcrição gênica do TSH (Utiger,

2001). O TRH ainda modula a bioatividade do TSH, por aumentar a adição de

oligossacarídeos na molécula de TSH, uma vez que o grau de glicosilação do

TSH está diretamente relacionado a sua bioatividade. O TRH tem efeito

estimulador, enquanto a somatostatina, um tetradecapeptídeo, também

sintetizado e liberado pelo hipotálamo, inibe a liberação de TSH (Yamada &

Wilber, 1990) que pode ainda ser modulada por outros fatores periféricos ou

centrais, como: glicocorticóides, serotonina, hormônio do crescimento (GH),

noradrenalina, estrogênios e androgênios (Larsen e cols., 1998).

O TSH é um hormônio glicoprotéico, com peso molecular de

aproximadamente 28kDa, formado por duas cadeias, α e β, unidas por ligação

não-covalente. A subunidade α é comum ao hormônio luteinizante (LH), ao

folículo-estimulante (FSH) e a gonadotrofina coriônica. A subunidade β

corresponde à subunidade específica, responsável pela ligação do TSH ao seu

receptor na tireóide (Utiger, 2001). O TSH estimula todas as etapas da

biossíntese e secreção hormonal tireóidea, pela ativação de várias vias de

transdução de sinal. A atividade biológica é desencadeada pela ligação do TSH

ao seu receptor, ativando a proteína Gs que estimula a adenilato ciclase, com

conseqüente aumento da formação de AMPc. Este se liga à subunidade

regulatória da PKA, liberando a subunidade catalítica. Outros tipos de proteína

G podem ser ativados, o que leva à ativação da fosfolipase C, com formação

de IP3 que aumenta cálcio intracelular, e diacilglicerol que ativa a PKC (Larsen

e cols., 1998).

Fisiologicamente, o TSH induz a expressão e ativação dos genes NIS, Tg,

TPO e NADPH-oxidase, além de aumentar o conteúdo de NADPH, utilizado na

geração de H2O2 e estimula a endocitose de Tg. Logo, há aumento da secreção

de T3 e T4 (Larsen e cols., 1998). O TSH é dito responsável pela manutenção

das características da célula diferenciada, por estimular a síntese dos

marcadores de diferenciação dos tireócitos como NIS, TPO, Tg e NADPH-

oxidase (Carvalho e cols., 1996). O gene PDS, que codifica a pendrina, não

está sob regulação do TSH e parece ser modulado pelo conteúdo de Tg

folicular (Kohn e cols., 2001).

Cronicamente, o TSH induz hiperplasia e hipertrofia da glândula tireóide,

levando à formação de bócio, o que mostra sua capacidade de estimular a

síntese de DNA, RNA e de proteínas estruturais tireóideas (Utiger, 2001).

Os hormônios tireóideos inibem diretamente a secreção de TSH e TRH,

além de diminuir a resposta dos tireotrofos ao TRH. Sabe-se que os hormônios

tireóideos diminuem a transcrição dos genes de ambas as subunidades do

TSH, e também diminuem a glicosilação do mesmo, o que reduz sua atividade

biológica (Utiger, 2001). Sabe-se que a maior parte do T3 sérico é gerada

através da desiodação periférica do T4, pelas enzimas iodotironina desiodases.

Contudo, tanto o T3 produzido pela tireóide, quanto aquele oriundo da

conversão de T4 em tecidos periféricos, contribuem para o mecanismo de

feedback negativo (Bianco e cols., 2002).

Figura 6- Regulação da atividade do eixo hipotálamo-hipófise-tireóide. (Adaptado de Reichlin, 1966).

3.2 AUTORREGULAÇÃO

Além da regulação da função tireóidea pelo eixo hipotálamo-hipófise-

tireóide, existe um mecanismo de autorregulação independente de TSH, que

serve para estabilizar a taxa de síntese hormonal frente às flutuações na

disponibilidade do iodeto (Larsen e cols., 1998).

3.2.1 IODO

O aumento da quantidade de iodo disponível para organificação promove

resposta bifásica: inicialmente, ocorre aumento da organificação, seguido de

diminuição até completo bloqueio desta etapa da biossíntese hormonal. A

diminuição do iodo organificado, em virtude do aumento de iodo intraglandular

é conhecido como efeito Wolff-Chaikoff (Wolff & Chaickoff, 1948). O excesso

de iodo também é capaz de inibir a resposta das células foliculares ao TSH

(Utiger, 2001). O principal mediador do efeito inibitório do iodo parece ser um

composto lipídico iodado cuja identidade não foi definida (Pereira e cols.,

1990). Recentemente, Cardoso e cols. (2001 e 2002) demonstraram que a

enzima bloqueada pelo aumento de iodo intraglandular, é a peroxidase

tireóidea (ThOX), e não a TPO, como anteriormente sugerido.

O iodo é capaz de inibir a hipervascularização e a hiperplasia,

características da doença de Graves (bócio difuso tóxico), motivo pelo qual é

utilizado no período pré-operatório (Michalkiewicz e cols., 1989).

3.2.2 TIREOGLOBULINA FOLICULAR

Recentes trabalhos têm demonstrado que o conteúdo de tireoglobulina

folicular é um potente regulador da função tireóidea (Ulianich e cols., 1999;

Royaux e cols., 2000; Kohn e cols., 2001). A Tg folicular age diminuindo a

atividade de TTF-1, TTF-2 e Pax-8, fatores de transcrição para genes tireóideos

(Figura 7). Ela é capaz de diminuir os níveis de RNAm destes fatores, bem

como, diminuir a ligação destes fatores de transcrição à regiões promotoras

dos genes-alvo (Ulianich e cols., 1999; Kohn e cols., 2001).

O conteúdo de Tg folicular suprime a expressão gênica de TPO, NIS e Tg,

agindo contrariamente ao TSH. Entretanto, age em sinergismo com o mesmo

ao suprimir a expressão gênica de TSHR (Figura 6). Tais efeitos são específicos

e não mimetizados por albumina, imunoglobulinas, manitol, iodo, ou T3/T4

(Suzuki e cols., 2000). Nada ainda foi relatado sobre o efeito da Tg folicular na

peroxidase tireóidea.

O efeito supressor parece estar relacionado à capacidade da Tg de ligar-

se ao receptor de asialoproteína (ASGPR), localizado na membrana apical dos

tireócitos (Consiglio e cols., 1979; Ulianich e cols., 1999). A ligação ocorre

num fragmento de 60kDa na porção N-terminal da Tg, na qual existem

resíduos de serina/treonina. A fosforilação destes resíduos, assim como a

fosforilação do ASGPR eliminam o efeito supressor (Ulianich e cols., 1999).

A Tg folicular suprime a síntese do fator de crescimento endotelial

vascular-fator de permeabilidade vascular (VEGF-VPF), diminuindo a

disponibilidade de iodo ao tireócito (Suzuki e cols., 2000; Kohn e cols., 2001).

Entretanto, para que não haja deficiência no aporte de iodo à membrana

apical, a Tg folicular aumenta a expressão do gene PDS e este parece ser o

principal regulador da expressão gênica da pendrina (Royaux e cols., 2000).

A heterogeneidade folicular tem sido atribuída ao efeito supressor e/ou

estimulador do conteúdo de Tg folicular, já que age como um regulador

autócrino/parácrino dentro de cada folículo, limitando individualmente, o

tamanho do folículo, o crescimento e a função (Ulianich e cols., 1999).

Portanto, a Tg não é apenas um sítio inerte para formação dos

hormônios tireóideos, mas também um regulador dinâmico da função tireóidea

(Ulianich e cols., 1999).

Figura 7- Representação da regulação da função tireóidea pela Tg folicular (Kohn e cols., 2001. TRENDS in Endocrinology & Metabolism, vol.12:10-16).

3.3 OUTROS REGULADORES

Outros hormônios têm sido mencionados como reguladores do

crescimento da glândula tireóide: hormônio do crescimento (GH), insulina,

fator de crescimento similar à insulina I e II (IGF-1, IGF-2, respectivamente),

hormônio gonadotrófico coriônico e hormônio luteinizante (LH). Os tireócitos,

como outras células, respondem a uma série de fatores autócrinos e parácrinos

que são mitogênicos ou co-mitogênicos, como por exemplo, fator de

crescimento da epiderme (EGF) e fator de crescimento de fibroblastos (FGF)

(Emoto e cols., 1991).

4. BOCIOGÊNESE

Define-se bócio como o aumento de volume da tireóide através de

hipertrofia e hiperplasia glandulares. As anormalidades no controle do

crescimento da tireóide e bócio são comuns à maioria das doenças da

glândula. Vários fatores de crescimento podem estar implicados, sendo o TSH

o mais importante. Pode ainda haver a formação de nódulos, a partir de

expansões clonais de populações celulares. Já é bem conhecido que a carência

de iodo favorece a formação de bócio (Medeiros-Neto, 1993).

Os bócios podem ser classificados segundo suas características

morfológicas e funcionais. Distinguem-se em difusos ou nodulares, tóxicos ou

atóxicos e hipocaptantes (frios), normocaptantes (mornos) ou hipercaptantes

(quentes). Os bócios difusos resultam de um crescimento uniforme e

generalizado da glândula (bócio simples), ao passo que os nodulares se

formam a partir de crescimento neoplásico verdadeiro (uninodulares ou bócios

adenomatosos) ou a partir de pseudonódulos delimitados por áreas de retração

fibrótica (multinodulares). Bócios difusos tendem a se tornar nodulares com o

passar do tempo, daí sua maior freqüência em pacientes idosos (Burow,

1981).

Os termos tóxico e atóxico referem-se à concomitância ou não de

hiperfunção. Classifica-se como tóxico o bócio que tem expressão clínica de

produção hormonal excessiva, os demais, com produção hormonal normal ou

diminuída, são considerados como atóxicos. Cintigraficamente, os nódulos

hipocaptantes ou “frios” concentram menos radiotraçador do que o resto do

perênquima, os hipercaptantes ou “quentes” concentram mais radiotraçador, e

normocaptantes ou “mornos” quando a concentração de radiotraçador não

difere da do resto da glândula (Rosenthal, 1975).

Apesar de relativamente comuns, os nódulos tireóideos têm risco

relativamente baixo de malignidade e a prevalência e o tipo de bócio pode

variar consideravelmente entre diferentes populações (Dumont e cols., 1992).

4.1 ETIOPATOGENIA DOS BÓCIOS

Quanto a etiopatogenia, abordaremos o bócio difuso tóxico (BDT),

característico da Doença de Graves, os adenomas foliculares e o bócio

multinodular atóxico (BMNA), utilizados neste estudo.

Como observado por Apel e cols. (1995), as hiperplasias tireóideas

podem ter origem monoclonal ou policlonal, porém sugeriram que adenomas

monoclonais em glândulas hiperplásicas refletem um estágio de progressão

neoplásica. Acreditam que o acúmulo de mutações somáticas favorece,

seletivamente, o crescimento de uma população celular.

4.1.1 ADENOMAS FOLICULARES (AD)

Os adenomas foliculares verdadeiros são neoplasias benignas uni- ou

oligoclonais da tireóide. Do ponto de vista histopatológico, esses nódulos são

formados por folículos de aspecto morfológico e funcional homogêneos,

encapsulados e circundados por parênquima tireóideo normal (Thomas e cols.,

1989). Os adenomas foliculares podem ser classificados em subtipos de acordo

com o tamanho, quantidade de folículos e o grau de celularidade, entretanto

essas variações não têm significado clínico (Rosai, 1991). Alguns adenomas,

principalmente nódulos autônomos, podem apresentar estruturas papilares,

sugerindo um diagnóstico errôneo de carcinoma papilífero (Schlumberger e

cols., 2002).

Os nódulos autônomos assemelham-se a lesões quentes, cincundados

por tecido frio e geralmente levam ao hipertireoidismo. A sua etiologia tem

sido atribuída à presença de mutações pontuais, ativadoras, no receptor de

TSH (Parma e cols., 1993; Van Sande e cols., 1995).

4.1.2 BÓCIO DIFUSO TÓXICO (BDT)

O bócio difuso tóxico (BDT) é o bócio característico da Doença de

Graves. Trata-se de uma doença auto-imune com incidência de 2,7% e 0,1%

em mulheres e homens adultos, respectivamente. É a causa mais comum de

hipertireoidismo entre pacientes com menos de 40 anos (Schlumberger e cols.,

2002).

A causa da doença de Graves é a presença de um estimulador tireóideo

de longa duração (TSAb), identificado como uma imunoglobulina do tipo IgG.

O TSAb constitui então, um anticorpo que se liga ao receptor de TSH (TSHR),

na membrana plasmática da célula tireóidea, mimetizando o efeito do TSH

nesta célula. De fato, este anticorpo, exerce efeito estimulatório mais

prolongado do que o próprio TSH, no tireócito. Em outras palavras, uma vez

ligado ao receptor de TSH, o TSAb estimula o crescimento celular e a

transcrição gênica (De Groot e cols., 1996).

Anticorpos estimuladores do TSHR detectados no soro de pacientes com

doença de Graves são capazes de estimular a adenilato ciclase, a captação de

iodeto, a síntese e a liberação de T3 e T4 pelos tireócitos. Com aumento sérico

dos hormônios tireóideos, há supressão da secreção de TSH, refletida com

níveis séricos deste hormônio indetectáveis (De Groot e cols., 1996).

Freqüentemente, na doença de Graves, há alteração do estado metabólico,

bioquímico e fisiológico do organismo (tireotoxicose), resultante do excesso de

hormônios tireóideos nos tecidos (Buescu, 1998).

Histologicamente, as células foliculares apresentam padrão típico de

células hiperestimuladas, ou seja, são hipertróficas. Os folículos são pequenos,

delimitados por células colunares, e possuem quantidades diminuídas de

colóide. O número de mitocôndrias, bem como a largura das cisternas de

Golgi, estão aumentados. Nota-se a presença de numerosos microvilos na

região apical (Utiger, 2001).

Apesar da baixa incidência de malignidade, a estimulação crônica da

tireóide aumenta o número de mitoses, aumentando a chance de ocorrerem

eventos mutagênicos que levam a carcinogênese (Mazzaferri, 1990).

4.1.3 BÓCIO MULTINODULAR ATÓXICO (BMNA)

Os bócios multinodulares atóxicos definem-se pelo aumento não

homogêneo da tireóide associado a eutireoidismo e não relacionado a

inflamação ou neoplasia. O termo é usualmente qualificado como bócio

esporádico ou bócio endêmico, comum em áreas com deficiência de iodo. São

caracterizados por grande variedade de aspectos clínicos, morfológicos e

funcionais (Buescu, 1998).

Apesar do BMNA ser a forma mais comum de bócio, suas causas ainda

não foram adequadamente definidas. Suspeita-se de uma predisposição

genética já que nem todos os habitantes de regiões deficientes de iodo

apresentam bócio. Em contrapartida, há relatos de bócios em regiões onde

não há carência de iodo. Apesar de estar relacionado ao eutireoidismo e do

conceito de bócio atóxico, sugere-se que o TSH seja responsável pela

manutenção do bócio, já que alguns autores observaram redução no seu

tamanho com doses supressivas de hormônio tireóideo (Schlumberger e cols.,

2002).

Kopp e cols. (1994) reportaram que em glândulas multinodulares pode

haver um ou mais de um nódulo monoclonal e que nódulos monoclonais e

policlonais podem co-existir na mesma glândula.

Histologicamente, os nódulos são de tamanho irregular, podendo

apresentar áreas de hemorragia e calcificação. Não são completamente

encapsulados e são pobremente demarcados do resto do parênquima, que

também apresenta alterações em sua arquitetura (Schlumberger e cols.,

2002).

Apesar da baixa incidência de malignidade desses bócios, o aumento na

taxa mitogênica aumenta a probabilidade de mutações e posterior progresso

para autonomia e/ou tumorigênese (Dumont e cols., 1992).

5. INIBIDORES DA TIREOPEROXIDASE

A TPO tem sido alvo de interesse para biologistas tireóideos há mais de

20 anos, tendo em vista seu papel essencial na biossíntese dos hormônios

tieóideos (Zhang & Arvan, 2000). Nunez e Pommier (1982), postularam a

existência de dois sítios catalíticos de ligação para segundo substrato na TPO,

um favorecendo o I- e o outro, a tirosila; este seria um sítio hidrofóbico e,

possivelmente, apto a ligar outros compostos, incluindo compostos orgânicos.

Estes relatos foram de grande importância para melhor compreensão dos

efeitos inibitórios sobre atividade tireoperoxidase com grande importância

clínica no controle de estados hipertireóideos.

Divi e Doerge (1996) elucidaram três mecanismos diferentes para

inibição das reações catalisadas pela TPO. O mecanismo de inativação

irreversível consiste na ligação covalente entre radicais reativos formados no

sítio ativo da TPO e aminoácidos catalíticos, promovendo a degradação da

enzima, o que ocorre, por exemplo, no caso da inibição pelo resorcinol e seus

derivados, presentes em alguns flavonóides. O mecanismo de inibição não-

competitivo é dito quando não há competição pelos sítios de ligação a TPO, ou

seja, os inibidores e o substrato ligam-se a sítios diferentes. Neste caso, a

inibição pode ser reversível ou irreversível, de acordo com o tipo de ligação

entre o inibidor e a enzima. Além disso, há o mecanismo competitivo, no qual

inibidores e substrato competem pela ligação no mesmo sítio catalítico da

enzima, como ocorre com os etilenotiourea.

Para melhor compreensão, os inibidores foram agrupados em 5

categorias: (a) iodo, (b) inibidores iônicos que interferem no mecanismo de

transporte do iodeto, (c) drogas antitireóideas, como os tiourelenos, (d)

flavonóides e (e) inibidores endógenos.

Apesar de recentemente Cardoso e cols., (2000), postularem ser a

NADPH-oxidase tireóidea a enzima bloqueada quando o iodo intraglandular

aumenta excessivamente, o efeito Wolff-Chaikoff foi inicialmente descrito como

resultante da inibição da atividade TPO por elevada concentração de iodo na

glândula. Esta inibição seria decorrente da formação de um composto

intermediário iodado (Wolff & Chaickoff, 1948). Tal fato teve grande

importância clínica levando à utilização de compostos iodados como o lugol

(solução saturada de KI) e o ácido iopanóico (66,7% de iodo) no tratamento

da tireotoxicose por bloquear a síntese hormonal. O iodeto diminui a

quantidade AMPc, gerado em resposta ao TSH, diminuindo a endocitose de Tg

e, portanto, independentemente do fato de ser a NADPH-oxidase a enzima-

alvo do iodeto, estes compostos continuam sendo comuns na prática clínica. O

iodo radioativo (131I) utiliza as partículas β para destruir o parênquima

tireóideo, não tendo ação específica sobre atividade tireoperoxidase.

Os inibidores iônicos interferem na concentração de iodo pela tireóide.

São ânions hidratados, monovalentes e com tamanho similar ao iodo, com

exceção do tiocianato, que não é concentrado pela glândula, mas que inibe a

organificação do iodeto (Delange, 1994). Fluoborato (BF4) e perclorato (ClO4-)

são classificados como inibidores iônicos, sendo este último amplamente

utilizado como “descarga” para iodo inorgânico no teste diagnóstico de

organificação. Outros íons, como o Lítio, inibem a liberação dos hormônios

tireóideos, mas o mecanismo de ação é pobremente conhecido (Lazarus,

1998).

Clinicamente, as drogas antitireóideas mais utilizadas são as tionamidas:

propiltiouracil (PTU), metilmercaptoimidazol (MMI) e carbamizole. Interferem

com a incorporação de iodo nos resíduos tirosil e também inibem a formação

das iodotironinas (Taurog, 2000). O PTU, mas não o MMI, ainda é capaz de

inibir a atividade da enzima iodotironina-desiodase tipo 1 responsável pela

conversão de T4 a T3, nos tecidos periféricos (Beech e cols., 1993). A principal

desvantagem do uso das tionamidas consiste no período de latência para

diminuição dos hormônios tireóideos circulantes, já que diminuem a

biossíntese mas não a secreção destes hormônios. Isso só acontece quando há

depleção na concentração de Tg iodada (De Groot e cols., 1996). Há

evidências de que a reação de acoplamento seja mais sensível a drogas

tireóideas do que a reação de iodação (Taurog, 2000).

Os flavonóides constituem uma classe de compostos naturais,

amplamente distribuídos no reino vegetal (Middleton, 1984). Alguns trabalhos

reportaram que, em animais de experiência, o consumo experimental de

flavonóides e xenobióticos reduziu a concentração tireóidea de iodo, bem como

a atividade TPO, produzindo bócio e alterações histológicas na glândula tireóide

(Cody e cols., 1989). Dentre os diversos flavonóides com atividade

antitireóidea já descritos, destaca-se a myricetina, naringina e biochanina A

(Divi & Doerge, 1996).

Em adição, Ferreira e cols. (2000) demonstraram que Kalanchoe

brasiliens, uma erva medicinal brasileira, rica em flavonóides, além de inibir a

atividade TPO, foi capaz de interagir com H2O2, essencial para reações

catalisadas por peroxidases, corroborando achados que sugeriram efeito

antioxidante de alguns flavonóides (Middleton, 1984).

O estudo de substância inibidora da atividade TPO tem sido objeto de

diversas pesquisas em nosso laboratório. Cardoso e cols. (2000)

demonstraram que alguns aminoácidos como cisteína, metionina e triptofano,

foram capazes de inibir a atividade TPO, entretanto, tirosina, histidina e

fenilalanina não têm o mesmo efeito. O mecanismo de inibição não foi

específico para TPO e parece ser o mesmo proposto por Taurog (2000) para

tiourulenos, como PTU e MMI.

Vários tipos de disfunções tireóideas caracterizadas por deficiência na

organificação do iodo têm sido descritas, nas quais a TPO está ausente inativa

ou é anormal (De Groot e cols., 1996). Alguns bócios dishormonogênicos e

outros multinodulares apresentaram uma significativa diminuição da atividade

TPO in vitro (Pommier e cols., 1976). Defeitos qualitativos e quantitativos da

TPO são freqüentemente identificados em diferentes doenças tireóideas.

A presença de substâncias endógenas, dialisáveis, inibidoras da atividade

TPO, foi primeiramente reportada na década de 60, em frações solúveis de

homogeneizados de glândulas bovinas e ovinas (Schussler e cols., 1961;

Klebanoff e cols., 1962), Em humanos, foi reportada por Pommier e col.

(1977) em preparações de Tg, oriundas de bócios “simples” e

dishormonogênicos. Posteriormente, em nosso laboratório, Rosenthal e cols.

(1990) também identificaram atividade inibitória da TPO em duas preparações

de bócios dishormonogênicos. A atividade inibitória era termoestável e

dialisável, assim como a reportada por Pommier (Pommier e cols., 1977),

porém, foi identificada em frações particuladas, solubilizadas, enriquecidas em

TPO (Rosenthal e cols., 1990). Quando analisados bócios dishormonogênicos

com defeito de organificação do iodo, a inibição foi encontrada tanto em

frações de TPO solubilizada, como em frações de Tg, mantendo-se quando a

preparação foi submetida a 100°C, porém sendo removida por diálise

prolongada (Carvalho e cols., 1994).

Há alguns anos, culturas de células tireóideas constituem um bom modelo de estudo para análise da fisiologia e regulação glandular. Em culturas primárias de tireócitos bovinos, foi também observada uma

diminuição na organificação do iodo, devido à presença de um inibidor solúvel da atividade TPO (Bocanera e cols., 1999), possivelmente relacionado à substância inibidora presente nos bócios humanos. Quando esta substância foi purificada, identificou-se uma molécula de inositolfosfoglicano (IPG) que, mesmo em alta temperatura, foi capaz de inibir a atividade TPO de maneira não específica (Krawiec e cols., 2004). Como reportado nos bócios humanos, (Pommier e cols., 1977; Carvalho e cols., 1994), a inibição não foi mantida após diálise.

Vários autores têm sugerido que o IPG mimetiza a ação da insulina nos adipócitos, na placenta e no fígado, agindo como mensageiro secundário para os efeitos mitogênicos da insulina também em culturas de fibroblastos (Vasta e cols., 1992). Sabe-se que a insulina também é capaz de estimular a proliferação dos tireócitos, como descrito por Dumont e cols. (1992). É válido ressaltar que Bocanera e cols. (1999) e Krawiec e cols. (2004), apesar das tentativas, não conseguiram identificar o inibidor em glândulas humanas.

Atualmente, o pouco que se sabe acerca da inibição da atividade tireoperoxidase em bócios humanos é que ela é mantida a 100°C, mas perdida após diálise. E apesar de não haver relatos da estrutura química da(s) substância(s) responsáveis pela inibição, tal fato fundamenta a hipótese de tratar-se de substância(s) pequena(s). Embora tenha sido relatada em bócios com defeito de organificação do iodo, a importância da inibição da atividade TPO na regulação da função tireóidea ainda permanece incerta e, portanto, torna-se necessária a melhor caracterização do inibidor da TPO presente em bócios humanos, a fim de esclarecer seu possível papel fisiológico.

II. OBJETIVOS

1) Estimar o efeito inibitório de amostras de bócios não dishormonogênicos

sobre a atividade tireoperoxidase.

2) Avaliar os possíveis mecanismos responsáveis pela inibição da atividade

TPO.

3) Caracterizar, mesmo que parcialmente, a estrutura bioquímica da(s)

molécula(s) inibidora(s).

4) Avaliar a importância desse efeito inibitório na fisiopatologia das diferentes

doenças tireóideas.

OBJETIVOS

III. MATERIAIS E MÉTODOS

1. TECIDOS TIREÓIDEOS

Utilizamos amostras de tireóides humanas provenientes do Hospital

Universitário Clementino Fraga Filho, obtidas em tireoidectomias eletivas. Os

diagnósticos foram determinados clinicamente e através de exames anátomo-

patológicos/histológicos feitos pelo serviço de patologia do mesmo hospital.

Cerca de 80% dos pacientes eram do sexo feminino, cuja idade variou entre

45 e 76 anos, com exceção de uma paciente com 27 anos de idade. A idade

variou entre 56 e 65 anos, entre os pacientes do sexo masculino. As amostras

foram congeladas imediatamente (nitrogênio líquido), após a retirada e

armazenadas a -20°C, até o processamento.

Tabela 1 – Número de pacientes e áreas com os respectivos diagnósticosDIAGNÓSTICOS N° DE

PACIENTES

N° DE ÁREAS

ESTUDADASBócio Difuso Tóxico (BDT) 1 5Bócio Multinodular Atóxico (BMNA) 6 17Adenoma Folicular (AD) 3 8

TOTAL10 30

2. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

2.1 FRAÇÃO SOLÚVEL

As amostras de tecidos foram dissecadas em placa de Petri, sobre gelo,

MATERIAIS E MÉTODOS

sendo removidas todas as áreas hemorrágicas, calcificadas e císticas, e o

tecido conjuntivo fibroso. Amostras de no máximo 1g foram homogeneizadas

em 3mL de tampão fosfato de sódio 50 mM, pH 7,2, contendo 250 mM

Sacarose, 1mM EGTA e 200µM DTT (homogeneizador Ultra-Turrax). O

homogeneizado foi centrifugado a 3.000 xg, durante 15 minutos a 4°C (rotor

SS-34, Sorval). O sobrenadante foi submetido a nova centrifugação a 100.000

xg, por 30 minutos a 4°C (Beckman modelo L8M)

e separado em sobrenadante, ou fração solúvel, e precipitado que foi

descartado.

2.1.2 PURIFICAÇÃO PARCIAL POR “SALTING OUT”

A fração solúvel, contendo Tg, foi precipitada em 50% de sulfato de

amônio 4M, pH 7,2. Após a adição do sulfato de amônio, a mistura foi agitada

por 20 minutos, à temperatura ambiente e deixada a 4°C por no mínimo 24

horas, sendo posteriormente centrifugada a 27.000 xg, durante 30 minutos a 4

°C (rotor SS-34, Sorval). O sobrenadante foi desprezado e o precipitado

ressuspenso em 1 mL de tampão fosfato de sódio 50mM, pH 7,4, conforme

anteriormente feito em nosso laboratório (Cravalho e col., 1994).

Considerando que o excesso de sal contido na fração Tg parcialmente

purificada, poderia interferir na detecção da atividade tireoperoxidase de

oxidação do iodeto e, assim, na detecção da atividade inibitória (como

veremos adiante), utilizamos como controle a albumina sérica bovina,

submetida a “salting out” em 80% de sulfato de amônio 4M, pH 7,2 e, depois,

processada como a Tg (vide acima).

2.2 FRAÇÃO PARTICULADA CONTENDO A TPO

As amostras foram dissecadas como descrito acima. Quantidades de no

máximo 1g foram homogeneizadas em 3mL de tampão Tris-HCl 50 mM, pH

7,2, contendo 1mM de KI (homogeneizador Ultra-Turrax). O homogeneizado

foi centrifugado a 105.000 xg, durante 60 minutos a 4°C, em ultracentrífuga

Beckman modelo L8-M. O sobrenadante foi descartado e a fração particulada

foi solubilizada com digitonina a 1% (2mL), sendo as amostras incubadas a 4°

C por 24 horas. Seguindo-se este período, as amostras foram centrifugadas a

105.000 xg por 60 minutos a 4°C (ultracentrífuga Beckman modelo L8-M). O

sobrenadante contendo a TPO solubilizada foi separado e armazenado a -20°C

até a realização da dosagem enzimática (Carvalho e cols., 1994)

3. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE TIREOPEROXIDASE

3.1 OXIDAÇÃO DO IODETO

O teste baseia-se na atividade de geração de triiodeto (I-3) a partir da

oxidação do iodeto na presença de quantidades constantes de H2O2, geradas

pelo sistema glicose-glicose oxidase (Nakashima e Taurog 1978; Moura e col.,

1989).

Em uma cubeta de 3 mL, adicionou-se 1 mL de tampão fosfato de sódio

50 mM, pH 7,4, contendo 24 mM de KI e 11 mM de glicose, concentrações

crescentes, variando de 10 a 120 µL, da fração TPO. O volume final da reação

(2mL) foi completado com tampão fosfato de sódio 50 mM pH 7,4, e a reação

foi iniciada por adição de 10 µL de glicose-oxidase (1 mg/mL). O aumento da

absorbância a 353 nm (∆abs353) foi monitorado em espectofotômetro Hitachi

U-3300 acoplado a um computador (386-PC). O cálculo da atividade foi feito a

partir da variação da absorbância por minuto (∆abs353/min) em função do

volume de amostra utilizado, sendo usada a porção linear para determinar,

através da regressão linear, a velocidade de geração do triiodeto (I-3) em

função do volume utilizado nas preparações (∆abs353nm/min.µL).

3.2 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL INIBITÓRIO DAS FRAÇÕES Tg SOBRE

ATIVIDADE TIREOPEROXIDASE

O potencial inibitório das frações Tg foi avaliado usando-se a dosagem de

atividade TPO descrita acima, porém adicionando-se quantidades crescentes da

fração Tg, antes de completar o volume (2mL) e iniciar a reação pela adição de

glicose oxidase. Os resultados foram expressos como quantidade de Tg (mg de

proteína) capaz de inibir em 50% a atividade original da preparação TPO

(IC50). Quando não foi possível determinar o valor do Ic50, consideramos

atividade inibitória indetectável.

4. QUANTIFICAÇÃO PROTÉICA

A quantidade de proteína foi determinada de acordo com o método

descrito por Bradford (1976).

5. QUANTIFICAÇÃO DE PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO (H2O2)

A concentração de H2O2 foi determinada pela diminuição progressiva da

fluorescência emitida pela escopoletina, quando esta é oxidada pela peroxidase

de raiz forte (HRP), que tem o H2O2 como co-fator enzimático, sendo, portanto,

a fluorescência máxima emitida pela escopoletina medida na ausência de H2O2.

Esta oxidação ocorre praticamente na razão mol escopoletina por mol H2O2

(Cardoso e cols. 2000).

Incubamos o volume da fração Tg correspondente aos valores de IC50,

expressos em mg de proteína, determinados pela geração de I-3, com azida

sódica 0,1M, por 10 minutos, a fim de eliminarmos qualquer atividade TPO

residual na fração solúvel. Adicionamos H2O2 nas concentrações 1.0, 2.5 e 4.0µ

M, completando o volume (1mL), com tampão fosfato 50mM, pH 7,4. O

mesmo procedimento foi utilizado para fração Tg sem atividade inibitória e

albumina. A seguir, transferimos alíquotas de 100µL provenientes das

diferentes misturas (em triplicata), para outro tubo de ensaio e adicionamos

solução reveladora contendo 5µM de escopoletina e 5µg HRP em tampão

fosfato 0,2M, pH 7,4 (1mL). A fluorescência foi medida em fluorômetro Hitachi

(F4000) (excitação: 360 nm e emissão: 460 nm) e assim determinamos a

concentração de H2O2 na presença e na ausência da(s) substância(s)

inibidora(s)

6. EFEITO DA ESPERMINA SOBRE ATIVIDADE INIBITÓRIA

A espermina é uma poliamina com importante papel fisiológico no

crescimento e proliferação celular (Moinard e cols., 2005). Tem sido

amplamente utilizada no controle da tumorigênese, entretanto seu mecanismo

de ação é pouco conhecido (Seiler, 2005). Sabe-se que as poliaminas são

capazes de aumentar a atividade de proteína-fosfatases (Tung e cols., ) e

também que, dentre todas as poliaminas, a espermina é mais efetiva em

aumentar a atividade de fosfatase alcalina (Vittur e cols., 1986). Utilizamos a

espermina a fim de verificarmos a ação da fosfatase alcalina e, o possível

envolvimento de um grupamento fosfato na(s) substância(s) inibidora(s) da

atividade tireoperoxidase.

A fração solúvel, contendo Tg, foi submetida a “salting out” em 50% de

sulfato de amônio 4M, pH 7,2, sendo processada da mesma forma como a Tg

(vide acima). Porém, o precipitado foi ressuspenso em 1 mL de tampão Tris-

HCl, pH 9,2, contendo 1 mM MgCl2 e 0.1 mM ZnCl2.

As amostras foram incubadas com 1 mM de espermina durante 12 horas

a 37°C. Após este período, a reação foi parada com 5mM de EDTA e as

amostras mantidas a 95°C por 10 minutos. O potencial inibitório foi avaliado

usando-se a dosagem de TPO, porém adicionando-se quantidades crescentes

das frações Tg incubadas com espermina. Os resultados foram expressos como

quantidade da fração Tg incubada com espermina, capaz de inibir em 50% a

atividade TPO inicial (IC50). Quando não foi possível determinar o valor do

Ic50, consideramos atividade inibitória indetectável.

7. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Para análise estatística dos resultados experimentais foi aplicado teste de

Kruskal-Wallis (ANOVA) associado a testes Dunn de comparação múltipla,

utilizando “GraphPad Prism”,versão 4.0.

IV. RESULTADOS

1. EFEITO INIBITÓRIO DA FRAÇÃO Tg

Nas tabelas 2, 3 e 4 encontram-se os valores individuais, expressos em

proteína (mg), da quantidade da fração Tg capaz de inibir em 50% a atividade

tireoperoxidase inicial (IC50). Como podemos observar, a análise do efeito

RESULTADOS

inibitório foi feita em, pelo menos, duas áreas diferentes de cada bócio

estudado.

O inibidor esteve presente em todos os bócios avaliados, entretanto em

4 dos 6 BMNA, o inibidor não foi encontrado em pelo menos uma das áreas

testadas, mostrando que a distribuição glandular desta substância é bastante

heterogênea. O mesmo padrão heterogêneo foi observado na amostra de BDT

e também em 1 dos 3 AD analisados (Tabelas 2, 3 e 4).

Entre os BMNA, os valores de IC50 diferiram em até 67% entre alguns

bócios, variando de 0,26 a 0,80mg, mas não entre as diferentes áreas do

mesmo bócio (Tabela 2). Já entre as diferentes áreas do BDT estudado houve

diferença de até aproximadamente 60%, com valores de IC50 variando entre

0,15 e 0,45 mg de ptn da fração Tg (Tabela 3). Observamos padrão bastante

heterogêneo no AD analisados, notando-se grande variabilidade dos valores de

IC50 entre os diferentes bócios, e entre as diferentes áreas do mesmo bócio

(Tabela 4).

Em amostras de BDT, em 1 BMNA e em 1 dos AD, o IC50 foi menor do

que 0,3 mg de ptn, caracterizando áreas com maior atividade inibitória. Essas

amostras foram submetidas a outros ensaios enzimáticos para melhor

caracterização do inibidor. O maior potencial inibitório foi encontrado em um

dos AD estudados (IC50 = 0,12mg) (Tabela 5).

Tabela 2- Valores de IC50, determinados em ptn (mg), de diferentes áreas provenientes de BMNA.

PACIENTES ÁREAS IC50 (mg)

1 A 0.31

B 0.26

2 A ND

B 0.36

3 A 0.43

B 0.41

4 A 0.35

B ND

C 0.34

5 A ND

B 0.63

C 0.80

6 A 0.54

B ND

C ND

D 0.64

E 0.63

ND – Atividade inibitória não detectada

Tabela 3- Valores de IC50, determinados em ptn (mg), de diferentes áreas provenientes de BDT.

PACIENTE ÁREAS IC50 (mg)

1 A ND

B 0.24

C 0.45

D 0.26

E 0.15

ND – Atividade inibitória não detectada

Tabela 4- Valores de IC50, determinados em ptn (mg), provenientes de diferentes áreas de AD.

PACIENTES ÁREAS IC50 (mg)

1 A 0.30

B 0.84

C 0.28

2 A 0.12

B 0.53

C 0.016*

3 A 0.85

B ND

ND – Atividade inibitória não detectada(*) – Maior potencial inibitório encontrado durante o estudo

Nos preocupamos em expor graficamente curvas obtidas de duas

diferentes áreas de um dado bócio (Tabela 2 - paciente 2), das quais uma não

apresentou atividade inibitória, para melhor ilustrar a diferença entre áreas

com e sem atividade inibitória (Figura 8A e B). Como podemos observar, as

curvas apresentaram perfis bem distintos. A curva correspondente à área cuja

fração Tg apresentou atividade inibitória decresceu a medida com que

adicionamos maior quantidade desta fração (Figura 8A). Já a curva

correspondente à área onde o inibidor esteve ausente, embora tenha tido uma

queda inicial, permaneceu constante mesmo com adição de maior quantidade

da própria fração (Figura 8B). Portanto, mais de 80% da atividade

tireoperoxidase é mantida na presença da fração Tg que não apresenta

potencial inibitório.

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.20.30.40.50.60.70.80.91.01.1

ptn (mg)Ativi

dad

e re

lativa

a a

tivi

dad

e bas

al A

0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.60.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

ptn (mg)Ativi

dad

e re

lativa

a a

tivi

dad

e bas

al

Figura 8- Efeito inibitório da fração Tg. Atividade TPO inicial de um BDT, (considerada 100%), determinada pela geração de I3

-, na presença de fração Tg, obtida de BMNA(2). (A) Fração Tg correspondente à área com atividade inibitória (área A). (B) Fração Tg correspondente à área sem atividade inibitória (área B). Resultados expressos em média ± EPM.

A fração Tg parcialmente purificada foi obtida por “salting out”. A fim de

verificarmos se a presença de sulfato de amônio estaria interferindo com os

nossos resultados de inibição da atividade tireoperoxidase, avaliamos o perfil

inibitório da fração Tg comparado ao perfil da atividade tireoperoxidase na

presença de albumina que foi submetida a “salting out” com maior

concentração de sulfato de amônio (80%).

Consideramos 100% a atividade inicial de um BDT. Como podemos

observar, o excesso de sal não interferiu com a detecção da atividade

inibitória, já que a preparação de albumina, após “salting out”, foi capaz de

aumentar a atividade tireoperoxidase em até 70% (Figura 9). Consideramos a

fração Tg sem atividade inibitória, aquela capaz de inibir a atividade inicial

TPO, em no máximo 20%, mantendo-se estável, mesmo com o aumento da

concentração de proteína da fração Tg em questão. Esse padrão não é

observado na fração Tg com alto potencial inibitório, já que a curva decresce

com aumento da concentração protéica da fração, chegando a inibir 80% da

B

atividade TPO inicial (Figura 9).

0.0 0.3 0.6 0.9 1.2 1.5 1.80.00

0.25

0.50

0.75

1.00

1.25

1.50

1.75

2.00Albumina

Tg sem atividade inibitória

Tg com atividade inibitória

*

ptn (mg)Ati

vida

de r

elat

iva

a at

ivid

ade

basa

l

Figura 9 – Efeito inibitório das frações Tg e albumina. Atividade TPO inicial de um BDT (considerada 100%), determinada pela geração de I3

-, na presença das frações Tg e albumina. Foram realizados três experimentos. Resultados expressos em média±DP (*P<0,05).

2. QUANTIFICAÇÃO DE H2O2 NA PRESENÇA DO INIBIDOR

A reação de oxidação do iodeto catalisada pela TPO requer como co-fator

o peróxido de hidrogênio (H2O2), um aceptor de elétrons essencial para as

reações de iodação e acoplamento (Taurog, 2000). Para verificarmos se a

inibição não estaria ocorrendo pela diminuição ou falta do co-fator enzimático,

avaliamos a interação do inibidor com o H2O2. Porém, antes, incubamos o

volume(µL) da fração Tg correspondente aos valores de IC50 (determinados em

mg) com azida sódica 0,1M, a fim de eliminarmos qualquer atividade

tireoperoxidase residual na fração solúvel.

A incubação com azida sódica, quando comparada ao controle, não

alterou, significativamente, a concentração de H2O2 no meio, sendo, portanto

eficaz sua utilização como valor de referência para controle no experimento

(Figura 10). As frações Tg sem atividade inibitória, bem como albumina, não

foram capazes de alterar significativamente a concentração de H2O2, mesmo 4µ

M, a maior concentração de H2O2 utilizada. Já a fração Tg com atividade

inibitória interagiu com o H2O2, diminuindo significativamente a proporção do

peróxido no meio em todas as concentrações utilizadas (Figura 10).

0

1

2

3

4Controle

Controle com azida

Albumina

Tg sem atividade inibitória

Tg com atividade inibitória

**

*

1.0µ M 2.5µ M 4.0µ M

H2O

2µM

Figura 10 – Quantificação de H2O2. Concentração final de H2O2 no meio na presença do inibidor após incubação com azida sódica 0,1M. Determinada pelo método de oxidação da escopoletina. Foram obtidas triplicatas de dois experimentos. Resultados expressos em média ± EPM (*p< 0,05).3. EFEITO DA ESPERMINA SOBRE ATIVIDADE INIBITÓRIA

Utilizamos espermina 1mM a fim de verificarmos ação da fosfatase

alcalina sobre inibidor da atividade tireoperoxidase (Vittur e cols., 1986;

Krawiec e cols., 2004).

Após a incubação com espermina, o perfil apresentado pelas frações Tg

com e sem atividade inibitória foi similar ao reportado anteriormente nos

ensaios de inibição (Figura 11). Na ausência do inibidor, observamos uma

diminuição da atividade tireoperoxidase de no máximo 20%, característica da

fração Tg sem atividade inibitória, como observado anteriormente. A incubação

com a espermina em nada alterou este resultado (Figura 11A).

A fração Tg com atividade inibitória diminuiu em 80% a atividade inicial

TPO, o mesmo observado nos ensaios de inibição. Este efeito inibitório foi

revertido após incubação com espermina. O percentual de inibição foi de no

máximo 20%, assim como o representado pela fração Tg sem atividade

inibitória (Figura 11B). Ao compararmos as amostras nas quais houve adição

de EDTA, sugerimos que a capacidade de reverter a inibição parece relacionar-

se somente a presença da espermina, já que não observamos alteração com a

utilização do EDTA, tanto no controle (EDTA) quanto no incubado

(Espermina+EDTA) (Figura 11A e B).

Fração Tg sem atividade inibitória

0.00 0.25 0.50 0.75 1.000.00

0.25

0.50

0.75

1.00

1.25Controle

Espermina + EDTA

Espermina

EDTA

ptn (mg)Ativi

dad

e re

lativa

a a

tivi

dad

e bas

al

A

B

Fração Tg com atividade inibitória

0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.250.00

0.25

0.50

0.75

1.00

1.25Controle

Espermina + EDTA

Espermina

EDTA

ptn (mg)Ativid

ade

rela

tiva

a a

tivid

ade

bas

al

Figura 11 – Efeito inibitório das frações Tg na presença de espermina. Atividade TPO inicial de um BDT (considerada 100%), medida pela oxidação de iodeto após incubação com espermina 1mM, por 12h a 37°C. Resultados expressos em média ± DP. Foram realizados três experimentos. (A) Fração Tg sem atividade inibitória. (B) Fração Tg com atividade inibitória. V. DISCUSSÃO

A peroxidase tireóidea (TPO) é uma hemoglicoproteína, ancorada na

membrana apical dos folículos tireóideos que, na presença de H2O2, catalisa

oxidação do iodeto, iodação dos resíduos tirosil e o acoplamento das

iodotirosinas na molécula de tireoglobulina, levando à formação dos hormônios

tireóideos (Taurog, 2000).

A atividade tireoperoxidase geralmente está diminuída em tireoidite de

Hashimoto, porém a diminuição pode ser bem mais acentuada em bócios

dishormonogênicos (DeGroot e cols., 1996). Esta diminuição pode ser oriunda

de defeitos quantitativos ou qualitativos da TPO, porém alguns autores já

identificaram substâncias inibidoras da atividade TPO endógenas em alguns

bócios simples (Pommier e cols., 1977), bócios dishormonogênicos (Carvalho e

cols., 1994) e, ainda, em cultura primária de tireócitos bovinos (Bocanera e

cols., 1999).

O presente trabalho teve como objetivo caracterizar, mesmo que

parcialmente, a(s) substância(s) inibidor(as) da atividade TPO encontrada em

bócios humanos, para que possamos ter uma idéia de seu eventual papel na

DISCUSSÃO

função tireóidea.

Utilizamos amostras de tireóides humanas de pacientes submetidos a

tireoidectomia eletiva. De forma não surpreendente, cerca de 80% dos

pacientes eram do sexo feminino e mais de 90% tinha acima de 45 anos.

Como reportado na literatura, a incidência de disfunção tireóidea é maior em

mulheres do que em homens e parece aumentar com a idade (Schlumberger e

cols., 2002).

Analisamos adenomas foliculares, bócios multinodulares atóxicos e bócio difuso tóxico. O inibidor esteve presente em todos os bócios avaliados até agora (Tabela 2, 3 e 4). A atividade inibitória foi detectada na fração solúvel, rica em Tg, corroborando os primeiros resultados obtidos a partir da análise de bócios humanos. Pommier e cols. (1977) demonstraram a presença de inibidor em preparações de Tg, oriundas de bócios simples e dishormonogênicos, o que mais tarde foi confirmado por

Carvalho e col. (1994), que observaram atividade inibitória tanto em

frações Tg, como em frações enriquecidas em TPO.

Atualmente, são conhecidos diferentes métodos para quantificação da

atividade tireoperoxidase in vitro: iodação da albumina, iodação da tirosina,

oxidação do guaiacol e oxidação do iodeto (DeGroot e cols., 1996). Bocanera e

cols. (1999) identificaram inibição da atividade TPO, em cultura primária de

tireócitos bovinos, através dos métodos da iodação da tirosina e geração de I-3,

mas não pela oxidação do guaiacol. Utilizamos a dosagem da TPO pelo método

de oxidação do iodeto, pois corresponde à metodologia que mais se aproxima

da reação que ocorre “in vivo”, quando comparada ao ensaio de oxidação do

guaiacol.

A análise do efeito inibitório foi feita em, pelo menos, duas diferentes

áreas de cada bócio (Tabelas 2, 3 e 4), já que alguns autores reportaram uma

grande variabilidade da atividade TPO em tireóides humanas, quando a enzima

foi extraída de diferentes partes da mesma glândula (Moura e cols., 1989).

O perfil inibitório foi determinado pela quantidade suficiente da fração

Tg, expressa em ptn (mg), capaz de inibir em 50% a atividade TPO inicial,

considerada 100%, de um BDT (IC50). Embora não saibamos a natureza

química da(s) substância(s) inibidora(s), estudos prévios em nosso laboratório

sugeriram que o inibidor poderia estar associado à Tg (Carvalho e cols., 1994;

Mouço, 1997). Logo, optamos por expressar os valores de IC50 em função da

concentração protéica da fração Tg. Houve variabilidade dos valores de IC50

entre os diferentes bócios e, entre as diferentes áreas de um mesmo bócio

(Tabela 2, 3 e 4), assim como anteriormente descrito para atividade TPO

(Moura e cols., 1989). Do ponto de vista quantitativo essa variabilidade foi

pequena, uma vez que como reportado na literatura não há diferença

significativa entre a expressão protéica de Tg nas diferentes disfunções

tireóideas.

A determinação dos valores de IC50 tem sido o principal parâmetro utilizado para avaliação do potencial inibitório (Carvalho e cols., 2000; Ferreira e cols., 2000). Como podemos observar a capacidade inibitória foi

diferente entre as amostras processadas e avaliadas pelo mesmo procedimento

(Figura 8), embora a identidade da(s) substância(s) inibidora(s) permaneça

desconhecida.

Em mais da metade dos BMNA, no BDT e em um dos três adenomas, o

inibidor não foi encontrado em pelo menos uma das áreas analisadas (Tabelas

2, 3 e 4). Isso pode ser explicado pela grande heterogeneidade funcional e

morfológica, normalmente encontrada na glândula tireóide. Ë válido ressaltar

que utilizando anticorpos para TSHR, pendrina, NADPH-oxidase, TPO e NIS,

Gérard e cols. (2002) observaram marcação positiva em folículos ativos,

enquanto folículos hipofuncionantes, apresentaram marcação apenas para

TSHR. A distribuição do NIS foi bastante heterogênea entre os folículos da

mesma glândula, confirmando a hipótese de que folículos ativos e inativos co-

existem na mesma glândula, conforme sugerido por Suzuki e cols. (2000).

O processamento da tireóide para obtenção da fração solúvel enriquecida

em Tg inclui “salting out” em sulfato de amônio. A possível interferência do sal

na detecção da atividade inibitória TPO foi excluída, uma vez que utilizamos

como controle, uma fração de albumina submetida ao mesmo procedimento.

Esta fração foi capaz de aumentar atividade TPO (Figura 9), assim como

reportado por Carvalho e cols. (2000), que adicionalmente verificaram que

este efeito estimulatório era revertido pela incubação com enzimas

proteolíticas.

Quando avaliamos, isoladamente, frações Tg com e sem atividade

inibitória, observamos uma pequena queda na atividade inicial tireoperoxidase,

em ambas as frações, que só então passam a comportar-se de forma

diferenciada, com a adição de maior quantidade da fração Tg correspondente

(Figura 9). Não consideramos esta queda de caráter inibitório porque

acreditamos que represente apenas variabilidade do ensaio enzimático, já que,

mesmo que as condições experimentais estejam bem definidas, pequenas

variações são observadas em sistemas in vitro, e nem sempre representam

com fidelidade variações in vivo.

Recentes trabalhos têm mostrado que algumas substâncias exógenas,

como os flavonóides presentes em alguns vegetais, são capazes de inibir a

atividade TPO (Divi & Doerge, 1996). Ferreira e cols. (2000) demonstraram

que a erva medicinal brasileira K. brasiliensis, rica em flavonóides, além de

inibir a atividade TPO, interagiu com H2O2. Há muito se discute a

essencialidade da produção de H2O2 na biossíntese hormonal tireóidea, como

co-fator das reações catalisadas pela TPO (Nakamura e cols., 1991). Cardoso e

cols. (2001) demonstraram que o aumento do iodo intraglandular tireóideo,

antes considerado responsável pela inibição da atividade TPO, é capaz de inibir

a NADPH-oxidase e, portanto, a produção tireóidea de H2O2, o que

compromete a biossíntese hormonal mesmo se a atividade TPO não estiver

alterada.

A possibilidade de um mecanismo de inibição indireto, pela interação do

inibidor com H2O2, foi avaliada pela quantificação de H2O2, na presença do

inibidor. O inibidor foi capaz diminuir significativamente, a quantidade de H2O2

original, o que não foi observado na presença da fração Tg sem atividade

inibitória e de albumina (Figura 10). De fato, a concentração de H2O2 gerada

pela glândula tireóide (NADPH-oxidase) in vitro, é similar à concentração

utilizada neste ensaio. Assim, é provável que o inibidor interaja com H2O2 in

vivo reduzindo-o e, assim, diminua a atividade TPO.

Ainda assim, não podemos descartar a possibilidade de existir um

mecanismo direto de inibição da atividade TPO em bócios humanos, já que a

geração de H2O2 pelo sistema glicose-glicose oxidase, utilizado nos ensaios de

inibição, ocorre na ordem de mM, ou seja, cerca de mil vezes maior do que a

concentração utilizada para quantificação de H2O2 na presença do inibidor.

Dessa forma, a interação do inibidor(es) com o co-fator enzimático otimizaria o

efeito inibitório sobre atividade TPO.

A redução de H2O2 ou outros mecanismos que diminuam a quantidade de

H2O2 no meio, não são os únicos meios pelos quais inibe-se a atividade TPO.

Alguns aminoácidos com comprovada ação inibitória da atividade TPO, tais

como cisteína, metionina e triptofano, promovem inibição sem afetar a

concentração de H2O2, embora a metodologia utilizada tenha sido a mesma

(Carvalho e cols., 2000). Isso sugere que aminoácidos inibidores da atividade

TPO e inibidores encontrados em bócios humanos podem ter mecanismos de

inibição diferentes.

Divi & Doerge (1996) sugeriram três mecanismos de inibição diferentes:

inativação irreversível da enzima, mecanismo não-competitivo e mecanismo de

competição pelos sítios enzimáticos. Infelizmente, ainda não realizamos testes,

senão a quantificação de H2O2, que nos permitam avaliar qual destes

mecanismos corresponde ao inibidor da TPO. Isto será feito posteriormente.

Há anos culturas de células tem servido como um bom modelo para

estudo da regulação da função tireóidea. Baseados em tal fato, Bocanera e cols

(1999) identificaram, em fração solúvel de cultura primária de tireócitos

bovinos, a presença de inibidor da atividade TPO. Quando mais tarde

purificaram esta substância inibitória (Krawiec e cols., 2004), verificaram

tratar-se de uma molécula de inositolfosfoglicano, que tinha seu efeito

inibitório revertido pela incubação com espermidina. Sabe-se que as

poliaminas funcionam como co-fatores enzimáticos das proteínas fosfatases,

com importante papel fisiológico no crescimento e proliferação celular (Tung

H.Y., 1985). Entretanto, Vittur e cols. (1986) reportaram que a espermina é

mais eficiente do que a espermidina em estimular a atividade fosfatase. Uma

vez que sugeriram ser a espermina o principal co-fator da atividade fosfatase

alcalina, incubamos a fração Tg de caráter inibitório com espermina, para

verificarmos a importância de um possível grupamento fosfato na atividade

inibitória. A espermina foi capaz de reverter o efeito inibitório, quando este

esteve presente, sugerindo a participação de um grupamento fosfato essencial

à ação inibitória (Figura 11).

O fato da poliamina reverter o efeito inibitório corrobora os resultados

obtidos por Krawiec e cols. (2004) que sugeriram que o inibidor purificado a

partir da cultura primária de tireócitos era similar à substância inibidora da

atividade TPO encontrada em bócios humanos, uma vez que apresentaram

características em comum. O inibidor purificado a partir de cultura de tireócitos

bovinos teve sua atividade inibitória mantida, mesmo quando submetido a 100

°, porém perdida após diálise, como reportado em bócios humanos, por

Pommier e cols. (1977) e Carvalho e cols. (1990; 1994). Portanto, apesar de

não haver relatos sobre a estrutura química de inibidores da atividade TPO

encontrados em bócios humanos, esses resultados reforçam a hipótese de

tratar-se de substâncias similares, porém mais estudos são necessários para a

efetiva conclusão.

É válido ressaltar que Krawiec e cols. (2004), apesar das tentativas, não

conseguiram identificar o inibidor da TPO em glândulas humanas. No estudo

destes autores, a quantificação da atividade TPO foi feita pela iodação da

tirosina. Já em nosso laboratório é comum utilizarmos o método de oxidação

do iodeto para identificar inibidores da atividade TPO em bócios humanos.

Ainda não sabemos os mecanismos pelos quais o(s) inibidor(es) da

atividade TPO são formados em bócios humanos e sua presença ou ausência

não é previsível. Como podemos observar, o(s) inibidor(es) podem até mesmo

ser encontrados em tireóides estimuladas, como no bócio difuso tóxico (Tabela

3), corroborando estudos prévios em nosso laboratório (Mouço, 1997). Esses

resultados sugerem que a atividade inibitória não tenha impacto significante

sobre a produção hormonal tireóidea, uma vez que o BDT é característico da

doença de Graves, quando são observadas altas concentrações séricas de

hormônios tireóideos. Além disso, a atividade inibitória também foi reportada

em bócios multinodulares atóxicos (Tabela 2), característicos pela manutenção

do eutireoidismo.

Mesmo que não tenhamos avaliado tecidos paranodulares, ou seja,

presumivelmente normais, cremos que a presença do inibidor da atividade TPO

não seja fator determinante de malignidade, já que foi encontrado em doenças

tireóideas benignas. Apesar disso, seria importante caracterizar grupamentos

químicos responsáveis pela inibição, levando-se em consideração que várias

substâncias inativadoras da atividade tireoperoxidase poderiam induzir o

aparecimento de bócios, o que poderia ser fator coadjuvante no aparecimento

de carcinomas tireóideos (Divi & Doerge, 1996).

De fato, a diminuição da atividade TPO in vivo pela presença do inibidor

poderia diminuir a quantidade de iodo organificado intracelular, o que

proporcionaria maior resposta a estímulos proliferativos. O processo

representaria um efeito oposto ao efeito Wolff-Chaikoff, no qual o aumento do

iodo intraglandular organificado diminui a resposta do tireócito ao estímulo do

TSH. A isto adiciona-se o fato de que Corvilain e cols. (1994) sugeriram que a

inibição da via de sinalização do inositol fosfato poderia ser responsável pelo

efeito Wolff-Chaikoff.

Em que pese o papel mitogênico do inositolfosfoglicano, agindo como

mimetizador dos efeitos insulínicos reportado em vários tecidos (Vasta e cols.,

1992) e o fato da espermina estar sendo amplamente utilizada na prática

clínica para controle da tumorigênese (Moinard e cols., 2005), nada podemos

afirmar ainda sobre o papel fisiológico do inibidor da atividade TPO em

mecanismos de proliferação celular.

Futuramente pretendemos avaliar essa hipótese correlacionando

celularidade com a presença do inibidor. Para isso podemos dosar DNA das

amostras com atividade inibitória e compará-lo ao DNA das amostras nas quais

a inibição esteve ausente. Além disso, podemos avaliar a capacidade

proliferativa (em resposta ao TSH), de células em cultura, na presença e

ausência do inibidor, mas para isto é necessário obter mais características,

bem como purificar a(s) substância(s) inibidora(s), o que será feito a seguir.

Dessa forma, estes estudos revelam a importância dos mecanismos de auto-regulação tireóideos e o quão pouco ainda se conhece acerca da fisiologia tireóidea sob este aspecto.

VI. CONCLUSÕES

• A maior parte das amostras estudadas continha a atividade inibitória da

TPO na fração solúvel do homogeneizado.

• Em mais da metade dos BMNA, em um dos adenomas e no BDT, houve

pelo menos uma área na qual o inibidor não foi identificado.

CONCLUSÕES

• O inibidor da tireoperoxidase tem distribuição heterogênea entre os

diferentes bócios e entre as diferentes áreas do mesmo bócio, o que

reflete a heterogeneidade funcional e morfológica, normalmente

encontrada na tireóide.

• O inibidor da tireoperoxidase foi capaz de diminuir a concentração de

H2O2 no meio, sugerindo um mecanismo de inibição indireto, através da

interação com o co-fator da tireoperoxidase.

• A espermina foi capaz de reverter a atividade inibitória. Uma vez que

esta poliamina é co-fator da fosfatase alcalina, este resultado sugere a

importância de um grupamento fosfato para a ação inibitória.

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