infecÇÃo secundÁria ao vÍrus da leucemia felina em …
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INFECÇÃO SECUNDÁRIA AO VÍRUS DA LEUCEMIA
FELINA EM GATO DOMICILIADO: RELATO DE
CASO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CAMPUS CURITIBANOS
MEDICINA VETERINÁRIA
VICTÓRIA MOTTA ZORTÉA
2019
Trabalho de Conclusão de Curso
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CAMPUS DE CURITIBANOS
CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
VICTÓRIA MOTTA ZORTÉA
INFECÇÃO SECUNDÁRIA AO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA EM GATO
DOMICILIADO: RELATO DE CASO
Curitibanos 2019
VICTÓRIA MOTTA ZORTÉA
INFECÇÃO SECUNDÁRIA AO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA EM GATO
DOMICILIADO: RELATO DE CASO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária do Campus de Curitibanos da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. Orientadora: Profª. Draª. Sandra Arenhart.
Curitibanos 2019
VICTÓRIA MOTTA ZORTÉA
INFECÇÃO SECUNDÁRIA AO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA EM GATO
DOMICILIADO: RELATO DE CASO
Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do
Título de Bacharel em Medicina Veterinária e aprovado em sua forma final pelo
curso de Graduação em Medicina Veterinária
Curitibanos, 27 de junho de 2019.
______________________________________________
Prof. Dr. Alexandre de Oliveira Tavela
Coordenador do Curso
Banca examinadora:
______________________________________________
Profª. Draª. Sandra Arenhart - Orientadora
______________________________________________
Profª. Drª. Marcy Lancia Pereira
______________________________________________
Prof. Dr. Álvaro Menin
Este trabalho é dedicado à minha mãe, meu
noivo Ricardo e nosso gato Eddie. Meus maiores
companheiros na graduação.
AGRADECIMENTOS
A minha mãe, que foi quem mais me apoiou e incentivou antes e durante a
graduação e independente das circunstâncias não me deixou desistir dos meus
sonhos, alegrando-se com todas as conquistas, sendo sempre meu maior exemplo
de força e determinação. Ao meu Pai, por ter sido um pai incrível, mesmo que por
pouco tempo, pelos valores que inspiram a minha vida e pelo amor que sempre
dedicou a mim, você nunca deixou de estar comigo, em meus pensamentos todos
os dias. Ambos não estão mais presentes fisicamente, mas estarão para sempre
presentes em meu coração. Não tenho palavras para expressão a gratidão e o amor
por vocês.
Ao Ricardo, meu noivo, melhor amigo e companheiro de vida, pelos cuidados,
compreensão e amor que você tem dedicado a mim durante esses 8 anos.
Ao meu irmão Luiz, por me dar motivação para seguir em frente e tentar ser
uma pessoa melhor.
A minha tia Fabiane, madrinha, segunda mãe e melhor amiga. Meu tio
Fabiano, padrinho, segundo pai, conselheiro, sempre com a maior boa vontade para
me ajudar. Aos meus tios Henrique, também meu assistente para assuntos
aleatórios e Eleide, sempre confidente e companheira. Vocês são os melhores tios
do universo.
A Dona Rosana, por cuidar tão bem da minha família durante a minha
ausência, sem você com certeza não conseguiria me ausentar para terminar o
curso.
A minha amiga-irmã Marcela, por estar presente nos melhores e piores
momentos, sempre ao meu lado.
Aos meus amigos Ana Paula, Fernanda, Wanessa e Yago, que mesmo
distantes se fizeram perto.
As minhas amigas Marcella, Amábilli e amiguinho Bernardo por esses anos
de convivência e pareceria morando juntos.
As minhas amigas Nathália e Maria Eduarda, por me acolherem tão bem
nesse último semestre e fazer dele o melhor e mais leve de toda a faculdade. Foi
maravilhoso morar com vocês, parece que as conheço de toda a vida.
A minha orientadora Sandra Arenhart, pela paciência, dedicação e ser um
exemplo de profissional.
A todos os demais professores da graduação por serem sempre profissionais,
dedicados, atenciosos e sempre dispostos a ajudar.
A minha companheira de estágio Gabriela Rodrigues, por fazer meus dias
mais leves e felizes.
A Amanda, que conheci há pouco tempo, mas colaborou imensamente nesta
etapa.
A toda equipe do HVD, pelo acolhimento, paciência e compreensão, além de
todo o conhecimento repassado.
Aos animais da minha vida, em especial meu companheiro felino Eddie, que
esteve comigo durante toda a graduação, sendo minha família e porto seguro,
aquecendo meu coração nos dias mais frios. Te amo meu eterno filhotinho.
Fonte: Fineart, 2017.
“Gatos não morrem de verdade: eles apenas se reintegram ao ronronar da eternidade. Gatos jamais morrem de fato: suas almas saem de fininho atrás de alguma alma de rato.” (Nelson Ascher)
RESUMO
O vírus da leucemia felina encontra-se disseminado na maioria dos países no mundo. A principal via de infecção do FeLV consiste no contato prolongado com a saliva e as secreções nasais de gatos infectados, geralmente contactantes. Os proprietários costumam levar os gatos infectados por FeLV para consulta e exames devido a sinais clínicos inespecíficos, tais como anorexia, perda de peso e depressão ou anormalidades associadas a sistemas orgânicos específicos. A anemia pode ser a única manifestação primária da FeLV, bem como associada a outras. O diagnóstico da doença se baseia na detecção da proteína p27, que é abundante no plasma e no citoplasma das células infectadas, sendo essa a base dos kits de testes de triagem básica. O tratamento inespecífico consiste no suporte a gatos infectados, no controle das infecções secundárias e oportunistas, também como desidratação, anemia e desnutrição. O tratamento específico se baseia em drogas antivirais ou imunomoduladoras. O isolamento de gatos sadios em suas residências ainda é a melhor forma de prevenção, assim não terão contato com animais infectados, visto que
eficácia da vacinação contra o vírus a FeLV ainda não é amplamente estudada. Neste estudo tem-se o objetivo de examinar e discutir possibilidades de diagnóstico e tratamento para um felino com infecção secundária ao vírus da leucemia felina.
Palavras-chave: Leucemia Viral Felina. Tratamento. Vírus. Diagnóstico.
ABSTRACT
The leukemia virus is widespread in most countries in the world. The main route of infection of FeLV is prolonged contact with saliva and nasal secretions of infected cats, usually contact. Tenderloids usually take FeLV-infected cats for consultation and testing because of nonspecific clinical signs such as anorexia, weight loss and depression, or abnormalities associated with a specific organ system. Anemia may be a single primary manifestation of FeLV, as well as associated with others. The diagnosis of the disease is constantly linked to the p27 protein, which is abundant in plasma and does not contain infected cells during an acute phase, which is a basis for basic screening tests. Non-specific treatment is not a support for infected cats, such as infection control and opportunists, such as dehydration, anemia and malnutrition. The specific treatment is based on antiviral or immunomodulatory drugs. The isolation of healthy cats in their residences is a better prevention, will not leave contact with infected animals, which is seen to be extra vaccinated against the virus at FeLV
also not studied.This study aims to examine and discuss possibilities for diagnosis and treatment for a feline with infection secondary to the feline leukemia virus.
Key-words: Feline Viral Leukemia. Treatment. Virus. Diagnosis.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Lesões e coágulos na cavidade oral do felino Tite............... 31
Figura 2 – Lesões e coágulos na mucosa oral do felino Tite................. 32
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Subtipos do vírus da leucemia viral felina (FeLV)..................... 16
Tabela 2 – Hemograma realizado no gato Tite............................................. 33
Tabela 3 – Exame bioquímico no gato Tite.................................................. 34
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALT Alanina Aminotransferase
AZT Azidotimidina
CHCM Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média
CVF Coronavírus Felino
ELISA Ensaio de Imunoabsorção Enzimática
FELV Vírus da Leucemia Felina
FIV Vírus da Imunodeficiência Felina
FOCMA Antígeno membrana celular Oncornavirus Felino
G-CSF Fator Estimulante de Colônia de Granulócitos
H.C.M Hemoglobina Corpuscular Média
HVF-1 Herpesvírus felino tipo - 1
IgG Imunoglobulina G
IV Via Intravenosa
PCR Reação em cadeia da Polimerase
VCM Volume Corpuscular Médio
VSF e FeSV Vírus do Sarcoma Viral Felino
SUMARIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................... 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................. 12
2.1 ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA........................................... 16
2.2 PATOGENIA........................................................................ 17
2.3 MANIFESTAÇÕES E ASPECTOS CLÍNICOS............................ 19
2.3.1 Neoplasia........................................................................... 19
2.3.2 Anemia.............................................................................. 21
2.3.3 Imunodeficiência................................................................ 23
2.3.4 Distúrbios Imunomediados............................................... 23
2.3.5 Distúrbios Reprodutivos..................................................... 24
2.4 DIAGNÓSTICO.................................................................... 24
2.5 TRATAMENTO INESPECÍFICO............................................ 26
2.6 TRATAMENTO ESPECÍFICO.................................................. 26
2.6.1 Antivirais........................................................................... 27
2.6.2 Imunomoduladores............................................................ 27
2.7 CUIDADOS ESPECIAIS...................................................... 28
2.8 PROGNÓSTICO.................................................................. 28
2.9 PREVENÇÃO..................................................................... 28
2.10 VACINAÇÃO....................................................................... 29
3 RELATO DE CASO............................................................ 31
3.1 DESCRIÇÃO DO CASO...................................................... 31
3.2 EXAMES LABORATORIAIS................................................. 33
3.3 DIAGNÓSTICO.................................................................... 34
3.4 TRATAMENTO.................................................................... 34
4 DISCUSSÃO....................................................................... 36
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................... 42
REFERÊNCIAS.......................................................................... 43
14
1 INTRODUÇÃO
A Leucemia Viral Felina (FeLV) foi descrita pela primeira vez em 1964 e por
muito tempo foi considerada a principal causa da morbidade e mortes relacionadas a
doenças em filhotes de gato, além de responsável pelo maior número de síndromes
clínicas, em relação a outros agentes. (GREENE, 2015).
O FeLV é um patógeno significante para gatos domésticos pois causa uma
variedade de desordens neoplásicas e degenerativas, como linfomas, sarcomas,
imunodeficiências e doenças hematopoiéticas. A severidade da doença vai ser
dependente das características genéticas da variante infectante do vírus. (SOUZA,
2003)
Os gatos são infectados a partir de contato íntimo com portadores
assintomáticos, através de mordeduras, cuidados mútuos com pêlos, uso em comum
de vasilhas sanitárias e fômites de água. Sua incidência é maior em animais de 1 a 5
anos (SOUZA, 2003).
Os gatos com maior risco à infecção são machos, não castrados, felinos que
possuem acesso à rua ou que vivem em locais com outros gatos, dos quais não se
tem conhecimento se são infectados ou não. Um gato infectado pode viver por anos,
desde que seja fornecido um suporte e tratamento adequado ao mesmo, mas para
isso deve-se ter conhecimento da situação do animal: se é positivo ou não para o
FeLV. Por isso o diagnóstico correto é um dos fatores cruciais nessa doença.
(ALVES et al., 2015)
Uma vez exposto ao vírus, o felino pode apresentar infecções regressivas ou
progressivas, e o que pode influenciar nesse desfecho é a resposta imune do
animal, a cepa viral a que ele foi exposto, a idade do gato, o tempo dessa exposição
e o estado de saúde desse felino. Uma vez infectado, o animal pode apresentar
inúmeros sinais clínicos, desde sinais mais inespecíficos (como apatia, febre,
vômitos) até leucemia, anemia arregenerativa, supressão da medula óssea,
tumores, dentre outros. (ALVES et al., 2015)
A forma mais comum de apresentação clínica da doença é a
imunodeficiência, resultada de disfunção imunológica e depressão do sistema
linfoide. O animal se torna susceptível a infeções secundárias, apresentando sinais
como: estomatites, gengivite, lesões de pele, abcessos, enterites, problemas
15
respiratórios, perda de peso, diarreia persistente, leucopenia e diversos graus de
anemia. (BRAZ et al., 2012)
Este trabalho possui o objetivo de apresentar as manifestações clínicas,
diagnósticos e possíveis tratamentos para a leucemia viral felina e também analisar
o relato de caso apresentado, discutindo opções de tratamentos não utilizadas;
16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
Como o vírus da FeLV foi descrito pela primeira vez em um gato com linfoma,
ele estava na subfamília Oncovirinae, devido a essa capacidade oncogênica. Mas
como as subfamílias de Retroviridae foram renomeadas, atualmente o FeLV é
classificado como um gamarretrovírus, podendo apresentar 4 subgrupos, de acordo
com a antigenicidade e a célula hospedeira visada (LITTLE, 2018).
Os 4 subtipos do FeLV são: A, B,C e T. De maneira geral o FeLV- A é
moderadamente patogênico e é transmitido horizontalmente, já os sorogrupos B,C e
T ocorrem por mutações genéticas a partir do vírus A. No caso do FeLV-B, sua
formação vai ocorrer a partir da mutação do A com outros vírus endógenos, visto
que todo gato possui material genético retroviral hereditário e presente no genoma.
Esses pedaços de DNA vão se juntar ao FeLV-A, aumentando a patogenicidade e
formando os subgrupos (Tabela 1) (LTTLE, 2018)
Quadro 1 - Subtipos do vírus da leucemia viral felina (FeLV)
SUBGRUPO DESCRIÇÃO
FeLV-A
• Encontrada em 100% dos gatos infectados;
• É a menos patogênica;
• Altamente contagiosa;
• Associada a neoplasia hematopoiética.
FeLV-B
• Ocorre em 50% dos gatos que também possuem doença
neoplástica (linfoma);
• É virulento de associado ao subgrupo A;
• Não transmissível;
• Associado a ocorrência de linfoma.
FeLV-C
• Raramente isolado;
• É virulento se acompanhado ao subgrupo A;
• Não transmissível;
• Associado a ocorrência de anemia arregenerativa e
mieloide.
FeLV-T
• Altamente citolítico aos linfócitos T;
• É virulento se combinado ao subgrupo A;
• Não transmissível;
• Associado a imunodeficiência, linfopenia, febre e diarreia.
Fonte: Adaptado de Little, 2018.
17
O FeLV é um retrovírus comum, possui RNA de fita simples, sendo transcrito
pela transcriptase reversa (TR) em DNA. A sequência de genes contém repetições
terminais longas. A proteína p27 é produzida em células infectadas pelo vírus em
quantidades que ultrapassam a necessária para formar novas partículas virais, então
ela é rotineiramente usada para detectar a presença do vírus (GREENE, 2015).
A principal via de infecção do FeLV consiste no contato prolongado com a
saliva e as secreções nasais de gatos infectados, geralmente contactantes, a auto
higienização dos mesmos e compartilhamento de fontes de água e comida resultam
em transmissão. Como o organismo não sobrevive no ambiente é improvável que
ocorra transmissão por fezes ou urina, fômites e aerossóis. A transmissão
transplacentaria, por lactação e por via venérea é menos importante que o contato
direto. (NELSON; COUTO, 2010)
O vírus da FeLV pode também ser transmitido por uso de agulhas e
instrumentos contaminados com sangue, visto que o mesmo ele também está
presente em outros líquidos corporais, como plasma, leite e lágrimas. A transmissão
por leite e placenta pode ocorrer em fêmeas matrizes viremicas. (NELSON; COUTO,
2010)
Na natureza, o reservatório natural do vírus da FeLV é o gato assintomático e
persistentemente virêmico, que pode eliminar até um milhão de partículas virais em
cada milímetro de sua saliva. O animal irá excretar o vírus durante meses, mesmo
antes de adoecer. A infecção por saliva contaminada ocorre facilmente pelo
comportamento social de felinos (SOUZA, 2003).
A infecção pelo vírus da leucemia felina ocorre em gatos domésticos por todo
mundo, porém felinos selvagens também são susceptíveis. A prevalência do vírus
concentra-se geralmente em países e terceiro mundo ou ilhas longínquas, onde se
tem poucas informações difundidas a respeito da infecção. No entanto, tem se
observado que os resultados positivos para os testes têm se tornado menos
comuns, visto que houve uma diminuição global da prevalência, isso pode ser
atribuído pela implementação de medidas de controle (GREENE, 2015).
18
2.2 PATOGENIA
A patogenia da FeLV inicialmente ocorre por 6 estágios: Primeiramente o
vírus entrará pela cavidade bucal, se replicando em leucócitos mononucleares nas
tonsilas. Ocorrerá então a disseminação linfática, com viremia transitória para
linfonodos regionais e então ocorre disseminação para o tecido linfoide sistêmico. As
células precursoras sanguíneas na medula óssea serão infectadas e a viremia
secundária irá disseminar o vírus. O vírus se replica em muitas células epiteliais,
incluindo glândulas salivares, intestinos e conjuntivas (GREENE, 2015)
A infecção pelo vírus pode apresentar 4 tipos de resultados, cada um com
diferentes consequências. A primeira delas é a Forma abortiva, um pequeno número
de animais a desenvolvem, ocorre quando a resposta imune é eficaz e o vírus é
eliminado. Na forma progressiva ocorre uma ampla multiplicação viral, gerando a
viremia persistente, o prognostico é mais desfavorável. Já na forma regressiva
ocorre uma infecção latente, a viremia é transitória visto que não há replicação viral,
o gato pode eliminar por vários meses e mesmo assim processos tumorais e
imunodepressões podem ser desenvolvidos. A última delas é a forma Focal ou
atípica, ela é rara, ocorre a replicação persistente do vírus em locais diferentes (e
não apenas na medula óssea, a evolução vai ser variável (SALES, 2017).
A evolução da infecção vai ocorrer de maneira bastante distintas de gato para
gato, dependendo principalmente do estado imunológico e idade do felino e da
patogenicidade e concentração do vírus invasor. Os primeiros estudos defendiam
que em torno 1/3 dos gatos iriam apresentar viremia persistente, 2/3 então
apresentariam a resolução da infecção, porém atualmente se sabe que a maioria
dos animais infectados irão permanecer infectados por toda a vida (GREENE, 2015)
A maioria dos animais com infecção regressiva são considerados
saudáveis, no entanto, nem todos abrigam o vírus de forma latente e não produtiva.
Existe risco potencial de reativação, o provírus de FeLV também pode ser inserido
em muitos locais diferentes no genoma do hospedeiro, carregando sinais
regulatórios potentes. No desenvolvimento de tumores ou distúrbios
mielossupressores, o provírus de FeLV integrado pode interromper ou inativar genes
celulares nas células infectadas(HARTMAN,2017).
19
A patogênese de várias síndromes induzidas por FeLV é complexa, mas inclui
indução de linfoma pela ativação da oncogênese pelo vírus ou a inserção de um
provirus no genoma de precursores linfoides; indução de anemia aplástica pelo
grupo C, proveniente da secreção aumentada de fator de necrose tumoral; a
imunodeficiência é atribuída a depleção ou disfunção de linfócitos T( tanto linfócitos
CD4+ quando CD8+); a neutropenia; distúrbio da função dos neutrófilos;
transformação maligna e indução viral de substancias promotoras de crescimento da
medula óssea que levam a doenças mieloproliferativas (NELSON; COUTO, 2010)
2.3 MANIFESTAÇÕES E ASPECTOS CLÍNICOS
Os proprietários costumam levam os gatos infectados por FeLV para consulta
e exames devido a sinais clínicos inespecíficos, tais como anorexia, perda de peso e
depressão ou anormalidades associadas a sistemas orgânicos específicos. Em
estudos observa-se que os gatos infectados por FeLV examinados na necropsia
23% apresentavam evidências de neoplasia (96% de linfoma e leucemia); o restante
morreu de doenças não neoplásicas. (REINACHER, 1989 apud NELSON; COUTO,
2010). As síndromes clínicas específicas podem resultar de efeitos específicos do
vírus ou de infecções oportunistas causadas pela imunossupressão (NELSON;
COUTO, 2010)
No município do Rio de Janeiro, entre os anos de 1998 e 1999, 126 gatos
foram avaliados pelo teste de ELISA. Dos felinos positivos para FeLV, 1,58%
também foram positivos para FIV. As principais manifestações clínicas encontradas
foram linfoma e afecção periodontal. (SOUZA, 2003)
Caso o animal desenvolva infecção persistente, o gato pode desenvolver
diversos distúrbios. As malignidades mais associadas ao FeLV são os linfomas,
porém as mais encontradas são hematológicas (LITTLE, 2018)
20
2.3.1 Neoplasias
O antígeno da membrana celular por oncoronavírus felino (FOCMA), é um
antígeno tumoral específico induzido pelo vírus da FeLV e pelo FeSV (vírus do
sarcoma felino). Ocorre quando o vírus entra em contato com a células do gato, irá
imprimir o FOCMA nas membranas, tornando-o susceptível a desenvolver
neoplasias (SOUZA, 2003).
Gatos infectados podem apresentar baixas concentrações nos fatores do
sistema complemento no sangue, isso pode contribuir para a imunodeficiência e
oncogênese visto a importância do sistema complemento para algumas formas de
lise de células tumorais mediadas por anticorpos (MERCK, 2014).
Segundo Greene (2015), o que ocasiona neoplasias malignas pode ser
explicado pela inserção do genoma da FeLV no genoma celular a um oncogênese
celular, resultando numa hiper expressão desses genes, levando a uma proliferação
descontrolada dessa célula clone. Por consequência ocorre o aparecimento de
neoplasias quando não ocorre uma reação imune adequada. O FeLV-A também
pode incorporar a oncogênese, formando assim um vírus recombinante como o
FeLV-B que contenha sequencias do oncogênese celular, sofrendo rearranjos e
ativação. Então, pode-se concluir que essas neoplasias induzidas são causadas em
parte por mutagênese insercional adquirida somaticamente.
Alguns gatos apresentam resultados negativos para o vírus da FeLV e mesmo
assim apresentam tumores linfoides e mieloides. Isso se deve ao fato de que estes
gatos apresentam sequencias virais que podem ser detectados pela
imunoistoquímica e PCR, esses gatos podem ter sido previamente infectados pelo
vírus, a presença transitória dele pode desencadear linfomas (MERCK, 2014).
As neoplasias mais comuns associadas ao vírus da FeLV são linfomas,
linfosarcomas e doenças mieloproliferativas, sendo o linfoma a mais comum delas. O
mesmo pode ser classificado de acordo com a sua localização, sendo mediastinico,
multicêntrico, alimentar e extra nodal, os dois primeiros são mais comuns (SOUZA,
2003).
Em doenças mieloproliferativas, a proliferação de uma ou mais linhagens
celulares na medula óssea resultando em exclusão de outras células medulares.
21
Gerando sinais inespecíficos, anemias e trombocitopenias progressivas e não
responsivas, além de hepatomegalia difusa (BICHARD; SHERDING, 2003)
Os linfomas mediastinicos são caracterizados por linfadenopatia mediastinica
com ou sem infiltração na medula óssea e costumam ocorrer em gatos jovens com
menos de 3 anos. Eles apresentam dispneia, tosse, regurgitação e cianose. Quase
sempre vai causar lesões na cavidade torácica visto que ocorre deslocamento
pulmonar e cardíaco (SOUZA, 2003).
Em linfomas multicêntricos costumam ocorrer formações neoplásicas em
linfonodos e órgãos como fígado, baço e rins. Tendo assim sinais clínicos variáveis,
de acordo com o órgão acometido. Os alimentares costumam estar presentes no
tecido linfoide que está associado ao intestino e linfonodos mesentéricos, gerando
alterações relacionadas ao sistema gastrointestinal. Já as formas extra nodais
podem se envolver olhos, sistema nervoso e pele, tendo alterações extremamente
variáveis (SOUZA, 2003).
Os fibrossarcomas que estão associados ao FeLV são causados pelo VSF,
que é um vírus recombinante que se desenvolve em gatos infectados pelo FeLV-A
por recombinação do genoma do mesmo com oncogênese celular. Eles são
multicêntricos e ocorrem habitualmente em animais jovens. O VSF é incapaz de
sofrer replicação se não houver o FeLV-A como auxiliar para suprir proteínas
(GREENE, 2015).
Algumas cepas do VSF tendem a causar neoplasias que crescem
rapidamente, são fibrossarcomas cutâneos ou subcutâneos localmente invasivos
que conferem metástase para pulmões e até outros locais. Os fibrossarcomas que
ocorrem sozinhos e em gatos idosos não são causados pelo VSF. Os sarcomas
associados ao local da injeção ocorrem pela reação inflamatória granulomatosa no
local da injeção, após a inoculação da vacina que contém adjuvantes, nem o VSF e
nem o FeLV tem papel importante nos sarcomas de injeção (GREENE, 2015).
O sarcoma na forma multicêntrica está associado ao vírus do sarcoma felino
(FeSV), que são híbridos resultantes da recombinação entre o genoma do FeLV e os
proto-oncogenese celulares presentes no gato, como ‘’fes, fms ou fgr’’. Então os
gatos que são apenas infectados com a FeLV podem gerar o FeSV (DALECK,
2016).
Grande parte dos gatos que se recuperam da infecção desenvolvem
anticorpos neutralizadores de vírus. Esses anticorpos são considerados importantes
22
na proteção contra a reinfecção e em conferir imunidade passiva aos filhotes jovens
através do colostro. Quem consegue produzir esses fatores também desenvolvem
anticorpos contra o antígeno de membrana celular associado ao oncavírus felino
(FOCMA). A origem precisa do FOCMA não é clara, mas o desenvolvimento de
anticorpos contra este antígeno protege contra o desenvolvimento de doença
neoplásica relacionada ao FeLV(HARBOURA,2002).
23
2.3.2 Anemia
A anemia pode ser a única manifestação primária da FeLV, bem como
associada a outras. Podendo ser uma anemia não-regenerativa, resultando de
destruição, supressão ou maturação anormal dos precursores de hemácias na
medula óssea. Os sinais laboratoriais consistem em anemia severa, contando com
hematócrito abaixo de 10%), leucopenia ou trombocitopenia, macrocitose
eritrocitária. (BICHARD; SHERDING, 2003)
Grande parte dos casos serão de caráter não regenerativo, esse fator pode
ser atribuído a doenças inflamatórias ou desordens primarias na medula óssea.
Caso ocorra o desenvolvimento de doença inflamatória secundária, pode ocorrer a
retenção das reservas de monócito fagocitário. A anemia hemolítica imunomediada
também pode ser encontrada, devido aos imunocomplexos na circulação ou em
decorrência de desordens, mielo ou linfo proliferativas (SOUZA, 2003).
Também pode ocorrer anemia hemolítica (que vai ser regenerativa) em gatos
imunossuprimidos pela FeLV geralmente ocasionadas por infecção secundárias
hematopicas. Pode ocorrer anemia por perda de sangue (regenerativa) em alguns
gatos que apresentam hemorragia em consequência a trombocitopenia ou defeitos
plaquetários (GREENE, 2015).
Pode ocorrer trombocitopenia devido a diminuição na produção de plaquetas.
Não ocorrendo alteração apenas em quantidade, mas também no tamanho, formato
e função. O tempo de sobrevida delas também é reduzido. Em alguns gatos com
infeção progressiva foram observadas plaquetas gigantes e trombocitose (GREENE,
2015).
24
2.3.3 Imunodeficiência
A imunossupressão é uma manifestação muito complexa ocasionada pela
FeLV, visto que algumas proteínas virais (principalmente a transmembrana 015e)
são diretamente imunossupressoras, ela vai afetar diretamente a via de sinalização
da interleucina 2, além de linfopenia, granulocitopenia e alteração na função dos
neutrófilos. (LITTLE, 2018)
O vírus causa atrofia linfoide profunda e supressão do sistema imune,
aumentando a ocorrência de todos os tipos de infecções. Sendo essa considerada a
consequência mais importante, pois ocorrem vários tipos de infecções oportunistas.
A exemplo disso podemos citar outros vírus (peritonite infecciosa felina e herpes
vírus); fungos (Cryptococcus, aspergillus e cândida); protozoários (Toxoplasma e
Cryptosporidium); Bactérias, que se manifestam na cavidade oral (na forma de
gengivites, periodontites e estomatites), podem ocorrer também enterites (causadas
por Salmonella), Cutânea (Pio-dermite, feridas não-cicatrizantes, abscessos e
fístulas drenantes), além de septicemia. (BICHARD; SHERDING, 2003)
Grande parte da morbidade e taxa de mortalidade dos felinos infetados
ocorrem devido a doenças secundárias a imunossupressão causada. Gatos com
infecções progressivas tem predisposições a esse tipo de infeções. Os mecanismos
por trás da imunodeficiência não são bem elucidados, mas pode observar que a
linfopenia e a neutropenia são muito comuns, além disso os neutrófilos de gatos em
viremia apresentam uma diminuição em sua função de quimiotaxia e fagocitose
(GREENE, 2015).
Os neutrófilos e precursores mieloides costumam ser afetados pela viremia,
causando neutropenia induzida pelo vírus. Ela pode ser transitória, persistente ou
cíclica. A transitória vai ocorrer entre a terceira e a quinta semana de infecção da
medula óssea. Já as formas persistentes e cíclicas vão ocorrer de 10 a 14 dias. Os
sinais clínicos consistem em infecções crônicas bacterianas a septicemia fulminante.
(BICHARD; SHERDING, 2003).
25
2.3.4 Distúrbios Imunomediados
O papel da FeLV nestes casos não é ainda muito bem esclarecido mas
acredita-se que envolve a relação antígeno-anticorpo. Esses distúrbios consistem
em: Glomerulonefrites; poliartrite progressiva crônica; anemia hemolítica
imunomediada; trombocitopenia; distúrbios muco cutâneos ulcerativos. (BICHARD;
SHERDING, 2003)
Os antígenos do FeLV são abundantes e os anticorpos IgG anti-FeLV são
escassos, dessa maneira, ocorre a formação exagerada de imunocomplexos,
causando vasculite sistêmica, glomerulonefrite, poliartrite e vários distúrbios imunes
(MERCK, 2014).
Podem ocorrer várias doenças imunomediadas, que são causadas pela
resposta imune hiperativa ou desregulada ao vírus. Elas podem ser: anemia
hemolítica autoimune, glomerulonefrite, uveíte com depósito de imunocomplexo na
íris e no corpo ciliar, poliartrite. A perda da atividade das células supressoras T e
formação de complexos antígeno anticorpo contribuem para essas doenças
(GREENE, 2015)
2.3.5 Distúrbios Reprodutivos
Há relatos de que problemas reprodutivos são comuns, de 68 a 73% das
fêmeas inférteis e 60% das que abortam são FeLV positivas. Ocorre morte fetal,
reabsorção e involução placentária no segundo trimestre da gestação. Acredita-se
que seja devido a resultado da infecção uterina dos fetos pelo vírus transportado nos
leucócitos maternos através da placenta. Ocasionalmente os filhotes nascem
viremos e fêmeas com infecção latente podem transmitir viremia através do leite
(MERCK, 2014).
Devido ao fato de o vírus ter a capacidade de ser transmitido por via
transplacentária, a morte e reabsorção do feto pode ser confundida com infertilidade.
Habitualmente os abortos ocorrem em fase avançada da gestação, os fetos
costumam ser expelidos e ter aparência normal, no entanto, especialmente em
fêmeas com neutropenia esses quadros podem estar acompanhados de endometrite
bacteriana (GREENE, 2015).
26
2.4 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da doença se baseia na detecção da proteína p27, que é
abundante no plasma e no citoplasma das células infectadas durante a fase aguda,
sendo essa a base dos kits de testes de triagem básica. Esses testes estão
disponíveis em ensaios de imunoadsorção ligada a enzima (ELISA) e em formatos
de imunocromatografia de membrana para uso em clínicas veterinárias, abrigos e
laboratórios (JERICÓ; ANDRADE NETO; KOGIKA, 2014).
Os filhotes de gatos poderão ser testados a qualquer momento, visto que os
anticorpos maternos adquiridos passivamente não irão interferir para o teste do
antígeno, porém os filhotes infectados como resultado da transmissão materna
podem ser negativos ao teste de semanas a meses após o nascimento (JERICÓ;
ANDRADE NETO; KOGIKA, 2014).
Segundos estudos recentes, foi concluída a acurácia diagnóstica aceitável
para muitos testes de triagem para o antígeno solúvel p27 do FeLV comercialmente
disponíveis, a sensibilidade variou de 92 a 94% e a especificidade variou de 92% a
mais de 99%. Os resultados negativos dos testes de triagem são confiáveis devido à
alta sensibilidade e da alta prevalência da infecção. (JERICÓ; ANDRADE NETO;
KOGIKA, 2014)
O valor preditivo positivo, que significa a probabilidade que um com resultado
positivo esteja realmente infectado para os testes de triagem atualmente disponíveis
para o p27 do vírus da FeLV é baixo, menos de 90%, especialmente em pacientes
assintomáticos e de baixo risco. Sendo assim, é recomendado que se confirmo o
resultado de um teste de triagem positivo com outro teste (JERICÓ; ANDRADE
NETO; KOGIKA, 2014).
Os resultados discordantes dos testes podem ocorrer da seguinte maneira:
quando os resultados dos testes de antígeno solúvel e os confirmatórios de
imunofluorescência não coincidem, sendo difícil a determinação da verdadeira
condição do animal. Sendo possível que os resultados sejam discordantes se forem
testados durante a fase aguda da doença, antes que o vírus chegue a medula
óssea. Observa-se que em contraste a isso, os gatos que são progressivamente
infectados, eventualmente podem reverter ao estado negativo em qualquer teste de
detecção do antígeno. (JERICÓ; ANDRADE NETO; KOGIKA, 2014)
27
O teste de isolamento viral é o aceito como referência, sendo classificado
como padrão ouro para a confirmação dos testes de triagem para antígenos do
FeLV. Consistindo na detecção da replicação correta do vírus, assim normalmente
coincide com os resultados de testes de triagem com antígeno. 25% dos gatos
testados pelos testes de detecção de antígeno tiveram resultados discordantes com
o isolamento viral. Conclui-se então que estes gatos foram reagentes ao antígeno
p27, porém não ao isolamento viral. (JERICÓ; ANDRADE NETO; KOGIKA, 2014)
O uso do teste de PCR para a infecção do vírus da FeLV modificou a
compreensão da fisiopatologia e desfecho da doença, visto que só com ele pode-se
identificar não apenas a forma progressiva, mas também quando é regressiva ou
abortiva, pois consegue selecionar baixos níveis de RNV e DNA viral integrados ao
genoma felino, obtendo resultados mais sensíveis(SPARKES,2015).
As neoplasias induzidas pelo vírus da Leucemia são diagnosticadas de
maneira similar aos outros tumores, ocorrem a partir de exames citológicos de
aspirados por agulha fina de massas tumorais, linfonodos, fluidos de cavidade
corporal e órgãos afetados. Muitas vezes o sangue periférico a medula óssea
encontra-se sem alterações, mas pode envolvimento leucêmico é necessário realizar
o exame na medula óssea. Biópsia e exames histopatológicos dos tecidos
acometidos podem ser necessários também (MERCK, 2014).
2.5 TRATAMENTO INESPECÍFICO
O tratamento inespecífico consiste no suporte a gatos infectados, no controle
das infecções secundários e oportunistas, desidratação, anemia e desnutrição. A
transfusão de sangue pode ser necessária, visto que grande parte das doenças
relacionadas ao FeLV podem gerar anemia não regenerativa ou síndrome
panleucopenica. A anemia hemolítica pode ser encontrada, sendo consequência do
vírus ou do parasito Haemobartonella felis, respondendo bem ao tratamento com
doxiciclina. Gatos neutropênicos irão apresentar um aumento transitório de
neutrófilos com a administração do fator estimulante de colônia granulocítica.
(SOUZA, 2003)
28
2.6 TRATAMENTO ESPECÍFICO
Existem relatos de tratamentos utilizando antivirais e imunomoduladores que
conseguem reverter a viremia ou diminuir os sinais clínicos associados a infecção,
dessa maneira prolongam a sobrevida(MERCK, 2014).
2.6.1 Antivirais
O tratamento específico se baseia em drogas antivirais. Sendo as principais
suramin, zidovudina e derivados do nucleosideo fosfonilmetoxietil, que são inibidoras
da transcriptase reversa. O AZT (Azidotimidina) é o mais utilizado até o momento
tanto em humanos quanto em felinos para infecções por retrovírus. Sendo um
inibidor da enzima viral transcriptase reversa, prevenindo a conversão do RNA viram
em DNA. O tratamento com o mesmo logo após a exposição viral pode fazer com
que não ocorra a viremia persistente, porém não consegue evitar uma viremia pré-
existente (SOUZA, 2003).
A administração do AZT para felinos doentes e infectados pelo vírus, ou até
pela FIV, resulta em uma melhora tanto no estado clínico como no imunológico.
Aumentando assim a qualidade de vida e a expectativa. É importante que durante a
administração prolongada deste fármaco, os parâmetros hematológicos sejam
monitorados em função de possível anemia, que pode ser facilitada pela formação
dos corpúsculos de Heinz e a depressão da medula óssea. Em casos graves de
anemia o tratamento deve ser suspenso por alguns dias (hematócrito abaixo de
20%) (SOUZA, 2003).
2.6.2 Imunomoduladores
Medicamentos imunomoduladores tem sido usados em gatos infectados pelo
Vírus da FeLV. Tem como função reestabelecer a função imunológica
comprometida. Seu uso é controverso devido a ausência de dados em estudos
comprovados. Os agentes incluem interferon alfa, Staphylococcus proteína A,
Propionbacterium acnes, acemannan e dietilcarbamazina. (SOUZA, 2003)
29
O uso de imunomoduladores, como o interferon alfa humano e levamisol,
resulta em um estímulo da resposta imunológica do animal, reduzindo assim os
antígenos virais circulantes e gerando uma melhora no quadro clínico. Já o
interferon tipo 1 e o interferon-ω apresentam propriedades antivirais, prejudicando a
replicação do vírus e prevenindo infeções secundárias (BRAZ et al., 2012).
2.7 CUIDADOS ESPECIAIS
Os gatos infectados deveriam ser mantidos no interior de residências, em
ambientes limpos e calmos para reduzir a chance de infecções secundárias. As
vacinas essenciais (Raiva, Panleucopenia, Calicivirose e Rinotraqueíte viral) podem
e devem ser administradas para animais que sejam positivos, porém assintomáticos.
As mesmas devem ser inativadas e após o protocolo de primeira imunização, a
revacinação deve ser a cada 3 anos (SOUZA, 2003).
Os gatos infectados podem apresentar uma sobrevida de qualidade por
muitos anos se forem evitados estresse e fontes de infecções secundárias. Exames
para detecção de ectoparasitos, infecções cutâneas, dentárias, tamanho de
linfonodos e conferir o peso corporal a cada 6 meses são de extrema importância
(MERCK, 2014).
2.8 PROGNÓSTICO
Os gatos infectados pela FeLV podem permanecer assintomáticos por muitos
anos, mas a sobrevida média costuma ser de 2 a 3 anos, para um gato saudável. Já
os gatos sintomáticos possuem um prognóstico mais reservado, os que possuem
doenças proliferativas tem uma média de 6 meses, quando é realizado tratamento
com quimioterapia agressiva. No caso de linfomas e anemias arregenerativas, o
tratamento com sucesso vai resultar em remissão, mas não em cura, podendo
ocorrer reincidência (SOUZA, 2003).
30
2.9 PREVENÇÃO
O isolamento de gatos sadios em suas residências ainda é a melhor forma de
prevenção, assim não terão contato com animais infectados. O controle da FeLV em
gatis e abrigos dependem da identificação precoce através de testes e remoção de
gatos que apresentem viremia persistente, isolamento de gatos com viremia
transitória. (SOUZA, 2003)
Este vírus é instável no ambiente, sendo muito sensível ao calor e inativado
por dessecação em poucas horas. Em ambientes com umidade pode permanecer
viável por vários dias. É facilmente eliminado com desinfetantes comuns, por seu
involuntório ser lipídico é rapidamente inativado por detergentes. Sem uso desses
produtos, o vírus pode permanecer no ambiente por até uma semana. (SOUZA,
2003)
2.10 VACINAÇÃO
Várias vacinas foram introduzidas no mercado, que demonstraram, elas
demonstraram proteção contra a viremia persistente. Costumam ser mais utilizadas
as vacinas inativadas com a presença de adjuvantes. De acordo com testes de
rotina, pode-se concluir que elas são responsáveis pela redução da prevalencia das
infecções na população de gatos domésticos. Porém, observa-se grande dificuldade
em mostrar o grau de proteção destas vacinas.Dado este fato, a eficácia da vacina é
demonstrada pela comparação da proteção após um desafio virulento a um grupo de
gatos vacinados em relação a um grupo de gatos controle (GROSENBAUGH,2017).
Os gatos vacinados contra o vírus e que são expostos ao mesmo costumam
desenvolver viremia transitória e algumas vezes latente apesar da vacinação. Mas
de modo geral gatos vacinados normalmente estão protegidos contra a viremia
persistente. (BICHARD; SHERDING, 2003).
As vacinas disponíveis no mercado são inativadas, porém são utilizadas
tecnologias de produção, adjuvantes e cepas vacinais diferenciadas. A maioria é
produzida com o vírus completo, mas algumas são a partir de recombinação
genética. (SOUZA, 2003)
31
A vacina contra a FeLV é considerada não essencial “American Association of
Feline Practioners and Academy o f Feline Medicine Adviory Panel on Felin e
Vaccines”, mas ela deve ser recomenda em casos dos gatos estarem em risco de
exposição ao vírus, ou seja, os que tem acesso a rua ou vivem em casas com gatos
infectados (TATIBANA; COSTA-VAL, 2019).
A primeira vacina contra a FeLV foi aprovada em 1985, desde então essa
vacina sofre diversas modificações. Nem todos os gatos respondem igualmente a
vacinação, gatos imunossuprimidos podem não apresentar imunidade. O
desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz contra esse vírus ainda representa
um desafio. Alguns pesquisadores também se encontram preocupados com a
possibilidade do vírus da vacina se integrar ao genoma do hospedeiro e
posteriormente causar linfomas, por esse motivo os produtos aprovados apresentam
o vírus inativado e a maioria contém adjuvantes ou partes recombinantes obtidos
pela engenharia genética (GREENE, 2015).
Sua eficácia é controversa e são relatadas baixa incidência de reações
adversas, porém uma reação adversa a longo prazo é a indução a sarcomas, o
desenvolvimento de fibrossarcomas agressivos foi relatado após a aplicação da
vacina da FeLV repetidas vezes no mesmo local .Os adjuvantes da vacina
antirrábica e do FeLV causam a maior parte das inflamações e tem sido associadas
com frequência a formação de tumores. (SOUZA, 2003)
A eficácia vacinal ainda é muito controversa, visto que os protocolos de testes
variam muito de um estudo para outro, sendo difícil uma comparação significativa.
Com exceção do estímulo com vírus virulento, não existem medidas pró vacinais
acuradas para determinar se esses gatos estão protegidos (GREENE, 2015).
As vacinas contra o vírus da FeLV são feitas com o vírus inativado, então é
necessário a inclusão de um adjuvante. Alguns casos de sarcomas estão atribuídos
a inclusão do adjuvante de alumínio nas vacinas. Alguns estudos relatam que a
chance de um gato desenvolver o sarcoma após uma única aplicação dessas
vacinas é 50% maior em relação a um gato não vacinado, caso sejam realizadas
duas aplicações a chance sobe para 127% (DALECK, 2016).
Para demonstrar a verdadeira eficácia, as vacinas devem ser testadas por um
modelo de desafio, e testes de FeLV usando pelo menos p27 ELISA, PCR para RNA
viral e PCR para DNA proviral devem ser conduzidos. O teste de PCR é de suma
32
importância na determinação do verdadeiro estado de FeLV em gatos vacinados ou
não vacinados desafiados( PATEL,2015).
33
3 RELATO DE CASO
3.1 DESCRIÇÃO DO CASO
No dia 26 de abril de 2019 foi atendido no Hospital Veterinário Darabas
(HVD), o felino macho Tite, de aproximadamente 1 ano, pesando 3,4kg. Animal não
é castrado nem vacinado; possuía acesso à rua e apresentava pulicose. Os sinais
relatados se repetiram por em torno de 10 dias.
A proprietária relatou sangramento na cavidade oral, afagia, emagrecimento,
um possível episódio de hematúria, temperatura corporal elevada, e que a felina
contactante da residência evita contato com o Tite.
No exame físico, observou-se desidratação moderada, escore corporal baixo(
escore 2), sangramento importante na cavidade oral, gengivite, estomatites, úlceras
e lesões mais profundas espalhadas por toda a mucosa oral com presença de
coágulos e odor fétido (Figuras 1 e 2). Apresentou mucosas ictéricas, com exceção
da oral, que estava hipercorada; e temperatura de 40,1°C. A suspeita clínica foi
leucemia viral felina com infecção secundária por herpes vírus, devido às lesões
encontradas.
Figura A – Lesões e coágulos na cavidade oral do felino
Fonte: Arquivo pessoal, 2019.
34
Figura B – Lesões e coágulos na mucosa oral do felino Tite
Fonte: Arquivo pessoal, 2019.
Foram realizados exames bioquímicos, hemograma e o teste rápido de
detecção da FeLV confirmou a infecção por ele. O teste diagnóstico para herpes
vírus não foi realizado, pois não foi autorizado pela tutora, logo, não foi possível
confirmar se as lesões foram causadas pelo vírus.
O tratamento sugerido foi internação, sondagem esofágica e medicamentos.
A tutora autorizou apenas um dia de internação, então foram realizados
procedimentos de fluido terapia com solução fisiológica, anestesia com propofol,
colocação de sonda esofágica (para que o animal pudesse ser alimentado) e
medicamentos, que foram prescritos posteriormente (Petprazol, orgax, lysin cat,
stomorgyl e cerenia). Durante internação recebeu alimentação com o alimento
pastoso recovery, da marca Royal Canin.
Mesmo em quadro geral ruim, se alimentando apenas por sonda e
prognóstico ruim, a tutora o levou para casa no dia seguinte, com tratamento
domicilia prescrito, e mediante termo de consentimento devidamente assinado de
que o animal não havia recebido alta médica.
35
3.2 EXAMES LABORATORIAIS
Os exames realizados apresentaram as seguintes alterações: leucopenia,
linfopenia, trombocitopenia, ALT, e a glicose encontravam-se aumentadas (Tabelas
2 e 3). Além disso, observou-se linfócitos reativos, monócitos ativados, presença de
agregados plaquetários e icterícia.
Quadro 2 – Hemograma realizado no gato Tite
HEMOGRAMA
Resultado Vlr. Ref.
Absoluto Valor de Referência
ERITROGRAMA
Eritrócitos 5,29 milhões/μL - 5 a 10 milhões/μL
Hematócrito 27% - 24 a 45 %
Hemoglobina 8,4 g/dL - 8 a 15 g/dL
V.C.M 51,04 fl - 39 a 55 fl
H.C.M 15,88 pg - 13 a 17 pg
C.H.C.M 31,11% - 30 a 36 %
LEUCOGRAMA
Leucócitos 1,39 mil/μL - 5,50 a 19,50 mil/μL
Mielócitos 0,00% 0 /μL 0 /μL
Metamielócitos 0,00% 0 /μL 0 /μL
Bastonetes 0,00% 0 /μL 0 a 300 /μL
Segmentados 2,00% 27,8 /μL 2500 a 12500 /μL
Linfócitos 96,00% 1334,4 /μL 1500 a 7000 /μL
Monócitos 2,00% 27,8 /μL 0 a 850 /μL
Eosinófilos 0,00% 0 /μL 0 a 1500 /μL
Basófilos 0,00% 0 /μL 0 a 200 /μL
PLAQUETAS 50 mil/μL - 175 a 500 mil/μL
PROTEÍNA
TOTAL 6,4 g/dL - 6,0 a 8,0 g/dL
Fonte: Dados da pesquisa, 2019. Fonte: Vet Análises
36
Quadro 3 – Exame bioquímico realizado
BIOQUÍMICA SÉRICA
Resultado Resultado Valor de Referência
Ureia (mg/dL) 34,5 30 - 65
Creatinina (mg/dL) 0,86 0,5 - 1,4
ALT (UI/L) 167,9 08 - 52
Albumina (mg/dL) 2 2,1 - 3,9
Glicose (mg/dL) 194,2 70 - 136
Fonte: Dados da pesquisa, 2019.
3.3 DIAGNÓSTICO
O paciente recebeu diagnóstico confirmado de infecção pelo vírus da
leucemia viral felina, porém, também existia uma infecção secundária associada. A
suspeita principal é de que fosse por herpes vírus, mas não foi possível confirmar
essa suspeita, pois não foi autorizado pela proprietária a realização de mais exames.
Com as alterações hepáticas, acredita-se que o felino estivesse acometido por
lipidose hepática, mas não pode ser confirmada pela ausência de exames.
3.4 TRATAMENTO
Primeiramente o animal iniciou a fluido terapia com ringer lactato a fim de
tratar a sua desidratação. Posteriormente ele foi anestesiado com propofol na dose
de 2 mg por kg (o animal apresentava 3,4 kg), por via intravenosa, para que fosse
possível a passagem e fixação da sonda esofágica para possibilitar a alimentação
do animal. Durante o tempo no hospital foi utilizado o seguinte protocolo
medicamentoso: Dipirona 0,17 ml uma vez ao dia, ondasetrona 0,34 ml 3 vezes ao
dia, metronidazol 6,8 ml duas vezes ao dia, tramal 0,13 ml duas vezes ao dia, todos
por via intravenosa e hexomedine tópico a ser aplicado nas lesões duas vezes ao
dia. Além de ser realizada a fluido terapia com solução fisiológica 5,6 ml por hora
para melhora do quadro de desidratação. A alimentação pela sonda auxiliaria no
tratamento da lipidose hepática.
Os medicamentos prescritos foram: Petprazol(omeprazol) 10 mg /KG, uma
vez a cada 24 horas,por 15 dias, que é um inibidor de secreção ácido-gástrica;
37
Orgrax 500(ácido eicosapentaenoico e ácido docosahexaenoico) uma cápsula cada
24 horas por uso contínuo, que é um suplemente mineral, na tentativa de melhorar o
suporte nutricional do animal; Lysin Cat SF que é um suplemento vitamínico para
reposição de lisina, que é um aminoácido essencial que contribui para a manutenção
da fisiologia do sistema respiratório dos felinos, duas gramas ao dia durante trinta
dias; Stomorgy 10( Espiramicina e metronidazol) que é um antibiótico muito utilizado
para combater infecções na cavidade oral, uma dráguea a cada 10 kg a cada 24
horas durante sete dias; e Cerenia(Citrato de Maropitant) 8 mg /,kg, pois, por mais
que o gato não apresentasse êmese, ele apresentava náuseas, meio comprimido a
cada 24 horas por quatro dias. Também foi solicitado o retorno em sete dias, ou
antes se necessário. Em relação a alimentação, foi recomendada a administração do
alimento pastoso recovery da marca royal cannin.
38
4 DISCUSSÃO
Foi recomendado para o felino Tite alguns dias de internação, porém a
proprietária optou por retirá-lo no dia seguinte. Foi prescrito um tratamento suporte
domiciliar. A tutora do animal não voltou para a consulta do retorno, nem para a
retirada da sonda esofágica, e não conseguiu contato com ela. Acredita-se então
que o gato não tenha sobrevivido.
A terapia convencional de leucemia viral felina abrange quimioterapia
primária, transfusão sanguínea (quando são necessárias) e terapia suporte com
fluido terapia, suplementação nutricional controle de infecções oportunistas, imuno
estimulantes e corticoides (COUTINHO, 2008).
A fluido terapia e os complementos nutricionais são de grande importância
para melhorar a resposta imune frente as infecções oportunistas, para isso deve-se
utilizar medicamentos como Diazepam, oxazepam e cobalamina para estimular o
apetite do animal. A antibioticoterapia com medicamentos como o metronidazol são
amplamente utilizados para solucionar as infecções secundárias (SILVA, 2017). Por
isso era de grande importância que o gato mantivesse seu tratamento hospitalar,
auxiliando na desidratação e dando continuidade à terapia com metronidazol por via
intravenosa.
Mesmo que as concentrações de eritropoetina estejam frequentemente
elevadas em gatos com anemia relacionada ao FeLV, o tratamento com
eritropoetina humana recombinante poderia ser útil, visto que também aumenta o
número de plaquetas e megacariócitos, alguns estudos mostram que também
aumenta a contagem de leucócitos (GREENE, 2015).
O gato Tite não apresentava anemia, mas o tratamento com eritropoetina
humana poderia ser benéfico para o mesmo que contava com baixa contagem de
plaquetas e leucócitos.
No caso de neutropenia, pode levar a imunossupressão grave; deve ser
necessário o uso de antibacterianos em alguns gatos para evitar infecções
bacterianas secundárias e até o desenvolvimento de sepse (GREENE, 2015).
Mesmo que tenha sido recomendado o uso de antibioticoterapia em casa, seria ideal
que o animal estivesse internado e realizasse o tratamento IV além de fluido terapia
para tratar a desidratação.
39
Os vírus da leucemia felina (FeLV) e da imunodeficiência viral felina (FIV)
causam imunodepressão, favorecendo o aparecimento de infecções oportunistas e
aumentando a gravidade das lesões na cavidade oral dos animais (FERREIRA,
2012). Por isso a importância de investir na imunidade do animal para promover a
cura das infecções secundárias.
Pode ser administrado o fator estimulante de colônias granulocíticas (G-CSF);
pode-se utilizá-lo para indução de aumento rápido nas contagens de neutrófilos
tanto em gatos normais quanto neutro penicos (SOUZA, 2003). Seria essa uma
opção para reduzir essa imunossupressão dele, porém é um tratamento de valor
financeiro significativo e continua sendo necessário diagnosticar exatamente e tratar
a infecção secundária.
O uso do RG-CFS tem crescido nos últimos anos tanto na medicina humana
quanto veterinária, devido a sua disponibilidade no mercado. Eles regulam
produção, desenvolvimento e função hematopoiéticas, possuindo indicação para
reduzir a morbidade dos pacientes (LUCIDI; TAKAHIRA, 2007). Mesmo que o valor
seja mais alto, hoje em dia se tem mais facilidades em encontrar esse tipo de
medicamentos.
Também pode-se utilizar o tratamento imunomodulador em gatos infectados,
tem-se investigado o uso da proteína A estafilocócica (SPA), que é conhecido como
componente da parede celular de bactérias com atividade imune. A interferona, que
é uma citocina antiviral também é avaliada para tratamentos em gatos infectados
com FeLV. Estudos mostram melhora no quadro e na sobrevida. Um protocolo de
tratamento sugerido é com 1 milhão de U/kg SC, a cada 24 h por 5 dias
consecutivos (LITTLE, 2018).
O imunomodulador de Linfócitos T estimula a produção de interleucina 2 e
interferon por linfócitos T, facilitando a atividade citotóxica dos linfócitos T. Costuma
ocasionar melhora clínica de parâmetros hematológicos (LITTLE, 2018).
O interferon ômega felino também pode ser utilizado; como os gatos não
desenvolvem anticorpos contra ele, pode fazer um uso parenteral a longo prazo. Sua
função é inibir a replicação do vírus ao diminuir sua viabilidade e aumentando a
apoptose das células infectadas. Não foram relatados efeitos colaterais (GREENE,
2015). É uma opção que tem bons resultados na sobrevida do animal e não
apresenta efeitos colaterais visto que se trata de um recombinante de origem felina,
que foi desenvolvido para diminuir os possíveis problemas de intolerância e o
40
aparecimento de anticorpos interferon humanos que podem ocorrer em gatos
(AZEVEDO, 2008).
O interferon humano também costuma ser utilizado, porém o felino acaba não
sendo identificado como um componente exógeno, sendo essa uma vantagem. Ele é
indicado para tratamentos contra vírus da FeLV e FIV e seu uso também é descrito
como eficaz a infecções por calicivírus, coronavírus e herpes vírus (SIRAGE, 2014).
O uso de interferon seria benéfico tanto ao tratamento contra o vírus da FeLV,
quanto para o caso de o animal estar acometido por calicivírus ou herpes vírus.
Lipidose hepática gera uma síndrome associada a anorexia, perda de peso,
atrofia muscular, icterícia, atividade elevada das enzimas hepáticas e acumulação
grave de lípidos no fígado (SILVA, 2012). Havia a suspeita de que o paciente
estivesse acometido por esta enfermidade, devido aos sinais clínicos (icterícia) e aos
exames laboratoriais que indicavam alterações hepáticas, a provável causa seria o
quadro de inapetência e anorexia que o animal apresentava e seu estado debilitante.
Porém, seria interessante realizar um exame diagnóstico de raio X para confirmar a
lipidose hepática, ter conhecimento sobre a gravidade da lesão e de outras áreas
possivelmente envolvidas.
A lipidose hepática ocorre devido a mobilização de gordura periférica que
excede a capacidade hepática. Sendo potencialmente letal e multifatorial, na maioria
dos casos existe uma doença primária que causa anorexia, assim induzindo-a. Pode
não apresentar ação necroinflamatória, mesmo assim a colestase grave. A síndrome
está associada a várias deficiências metabólicas (MERCK, 2014).
No tratamento da lipidose hepática é de grande importância o tratamento do
processo debilitante que a iniciou. Não seria necessário que haja restrição proteica,
a menos em casos de hepatoencefalopatia e hiperamonemia. Hipopotassemia é
relatada em cerca de um terço dos gatos acometidos pela lipidose, sendo
necessário uma dieta repleta de potássio. Administrar uma dieta com antioxidantes
ou suplementar antioxidantes, pode ser benéfico, visto que muitas vezes, o início da
doença está associado ao estresse oxidativo. A administração de L- Carnitina,
mesmo que não ocorra deficiência da mesma, pode ser benéfica a animais com
esse quadro (LITTLE,2018). A sonda esofágica é considerada um dos tratamentos
padrões para a lipidose hepática, porém existem outras terapias que seriam
benéficas na recuperação deste paciente. A L- Carnitina, por exemplo, é um
41
suplemento bastante comum em rações e auxilia na produção de ATP, na síntese de
ácidos graxos e limita seu acúmulo no sangue e no citoplasma.
Os sinais clínicos do herpes vírus felino 1 costumam ser depressão, espirros
acentuados, inapetência e pirexia, seguidas rapidamente por corrimentos serosos
ocular e nasal, é comum haver conjuntivite e corrimento óculo-nasal abundante e
mucopurulentos. Ulceração bucal é possível, mas rara. Já o calicivírus felino
costuma gerar sinais similares ao herpes, porém seu sinal mais característico é a
ulceração bucal, podendo ser o único sinal clínico existente, ocorrendo
hipersalivação e umidade nos pelos em torno da boca. Ambos fazem parte do
complexo respiratório felino (GREENE,2015). O calicivírus felino (CVF) é um
patógeno com elevada infectividade entre os gatos, causando uma doença oral e
respiratória agudas, sendo amplamente disseminada entre a espécie (LARA, 2012).
O diagnóstico pode ser feito a partir de sinais clínicos, ulceração
predominantemente bucal poderia ser indício de infecção pelo CVF, enquanto
espirros acentuados com sinais respiratórios mais graves e conjuntivais seriam
sugestivos de infecção pelo HVF-1(GREENE,2015). A principal suspeita defendida
era de que o responsável pela infecção secundária fosse o herpes vírus, porém,
além do animal não apresentar mais nenhum sinal característico da doença,
afecções orais não são tão comuns nessas infecções, então é mais provável que as
lesões fossem causadas pelo Calicivírus.
O vírus é eliminado a partir de várias excreções do corpo, especialmente a
saliva, então a melhor forma de prevenir a disseminação é isolar os gatos
contaminados e evitar sua interação (BOTELHO, 2014). Animais não castrados
podem e devem ser castrados, quando estiverem clinicamente estáveis para serem
submetidos à cirurgia (Levy et al., 2008; Alves,2015). Após estar recuperado da
infecção seria importante que o felino Tite fosse castrado e isolado em sua
residência para evitar que ele dissemine a doença e seja acometido por outros
agentes.
Opções de tratamentos como as citadas no texto, além das recomendadas
pela médica veterinária que o atendeu, poderiam ser utilizadas para melhorar a
qualidade e a sobrevida do animal, tratando os sintais debilitantes apresentados,
porém, dificilmente seriam aceitas pela tutora do animal.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O vírus da FeLV em suas várias formas, é extremamente debilitante e reduz a
qualidade e a expectativa de vida de gatos infectados, além de ser bastante
disseminado e de fácil contaminação. Visto que sua vacinação não é tão eficiente, é
de suma importância que os proprietários mantenham seus gatos domiciliados
sadios e sempre que forem adquirir outros animais, realizem testes e re testes.
A vacina é uma boa opção para prevenção para felinos quando não se
consegue evitar que os animais tenham contato com outros gatos que não se sabe a
condição.
No caso de gatos já contaminados, o diagnóstico precoce é de grande
importância para que o animal consiga aumentar sua sobrevida com qualidade, visto
que é possível evitar complicações como infecções secundárias e prever futuras
enfermidades, além de isolar o animal para que não dissemine a doença.
Apesar de já se tenham obtidos grandes avanços no estudo do vírus da FeLV,
ainda se devem realizar muitas pesquisas para buscar novos tratamentos para
aumentar o prognóstico dos animais infectados.
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REFERÊNCIAS
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