industria textil vestuario
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Esse relatório analisa as indústrias têxteis e de vestuário, subproduto do Produto 4 – “Indústrias objeto de programas para fortalecer a competitividade” do Projeto “Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam conhecimento para realizar inovação tecnológicaTRANSCRIPT
Estudos Setoriais deInovaçãoEstudos Setoriais deInovação
Indústria Têxtil e de VestuárioIndústria Têxtil e de Vestuário
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
Projeto: Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais
acumulam conhecimento para realizar inovação tecnológica ABDI – FUNDEP/UFMG
Relatório Setorial:
INDÚSTRIA TÊXTIL E DE VESTUÁRIO
Pesquisadores:
Mauro Borges Lemos (Cedeplar/UFMG)
Eduardo Gonçalves (FEA/UFJF)
Edson Paulo Domingues (Cedeplar/UFMG)
Pedro Vasconcelos Amaral (Cedeplar/UFMG)
Ricardo Machado Ruiz (Cedeplar/UFMG)
Assistentes de Pesquisa:
Bernardo Abreu Fajardo
Marcelo de Brito Brandão
Márcia Alves Pereira
Verônica Lazarini Cardoso
Belo Horizonte, Fevereiro de 2009
1
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2
2. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA TÊXTIL-VESTUÁRIO ........................................................ 4
2.1 ANÁLISES DE INSUMO-PRODUTO ................................................................................... 4
2.2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS DUAS INDÚSTRIAS DA CADEIA .................................... 10
2.3 MUDANÇAS E TENDÊNCIAS MUNDIAIS DA CADEIA TÊXTIL-VESTUÁRIO ............................. 24
3. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA TÊXTIL ..................................................................................... 28
4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA TÊXTIL ...................................................................................... 40
5. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ...................................................................................... 47
5.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL ................................................................................ 47
5.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO ................................................................... 56
5.3 FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS ....................................................... 58
6. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS .......................................... 60
7. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO .......................................................................... 70
8. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO ........................................................................... 74
9. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ...................................................................................... 80
9.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL ................................................................................ 80
9.2. PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO .................................................................. 85
9.3. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS ...................................................... 86
10. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS ........................................ 87
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 96
2
1. INTRODUÇÃO
Esse relatório analisa as indústrias têxteis e de vestuário, subproduto do Produto 4 –
“Indústrias objeto de programas para fortalecer a competitividade” do Projeto “Estudo
sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam
conhecimento para realizar inovação tecnológica”. Está organizado em 10 seções além
desta introdução.
A Seção 2 descreve a cadeia têxtil-vestuário em seu conjunto, quantificando e mostrando
as transações de compra e venda internas a essa cadeia, assim como as transações com
outras indústrias fornecedoras e compradoras fora da cadeia. Embora sejam inter-
relacionadas através de relações de venda e compra, possuem dinâmicas
organizacionais, tecnológicas e empresariais bem distintas. Por isso, o presente relatório
aborda separadamente a indústria têxtil e a indústria de vestuário nas seções
subseqüentes. O objetivo da seção 2 é fornecer um quadro produtivo da cadeia, indicando
o peso relativo de cada setor, o volume dos fluxos intra e inter-industriais da cadeia, os
efeitos multiplicadores diretos e indiretos de produção e emprego gerados para o conjunto
da economia brasileira.
A Seção 3 apresenta a estrutura da indústria têxtil com base na classificação de liderança
tecnológica, através das categorias empresas líderes, seguidoras, frágeis e emergentes e
dos quatro subsetores que a compõem, beneficiamento de fibras naturais, fiação e
tecelagem, fabricação de artefatos têxteis e artigos e tecidos de malhas.
A Seção 4 fornece a evolução temporal da participação de mercado e das margens de
lucro dessa indústria. Tais indicadores são analisados no período 1996/2005, construídos
a partir da Pesquisa Industrial Anual (PIA). É feito um cruzamento da classificação
segundo a liderança tecnológica com o corte segundo tamanho, pela maior participação
na produção e vendas setoriais.
A Seção 5 analisa o sistema setorial de inovação tecnológica da indústria têxtil. São
apresentados os indicadores de inovação segundo as categoriais de firmas líderes,
3
seguidoras, frágeis e emergentes, procurando caracterizar os regimes tecnológicos dos
quatro subsetores da indústria, segundo oportunidades tecnológicas, formas de
acumulação de conhecimento e de apropriação dos retornos da inovação. A participação
do capital estrangeiro e o papel do BNDES no financiamento dos investimentos são
também considerados. De modo geral, a seção evidencia forte heterogeneidade
tecnológica presente nas firmas têxteis brasileiras.
A Seção 6 apresenta as oportunidades tecnológicas, as estratégias empresariais e
tecnológicas e algumas propostas de políticas setoriais.
As Seções 7, 8, 9 e 10 se destinam a fazer a mesma análise para a indústria de vestuário.
4
2. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA TÊXTIL-VESTUÁRIO
2.1 ANÁLISES DE INSUMO-PRODUTO
A Tabela 2.1 apresenta a decomposição das vendas setoriais da cadeia têxtil-vestuário.
Os dois subsetores mais a montante da cadeia, que são o beneficiamento de fibras
naturais e a fiação e tecelagem, fornecem mais de 90% de sua produção para outros
setores da economia (demanda intermediária). Por outro lado, o subsetor de vestuário
vende essencialmente para consumidores domésticos (89,5%), enquanto que nos casos
de artefatos têxteis e malhas há maior equilíbrio das vendas entre demanda intermediária,
com cerca de 46%, e demanda final, com 54%. Uma observação importante é que as
fibras naturais, setor de primeira transformação e menos dinâmico em termos de
agregação de valor, é o que possui maior parte da demanda final puxada pelas
exportações. O subsetor de vestuário possui pequena parcela das vendas finais destinada
a consumidores estrangeiros (1,9%). Qualquer estratégia para fortalecer e integrar a
cadeia têxtil-vestuário brasileira precisa melhorar a representatividade externa do
subsetor de vestuário, que é aquele com maior contato com os consumidores finais e, por
isso, capaz de sinalizar para todo o restante da cadeia as mudanças dos padrões de
consumo e as novas tendências da moda.
Tabela 2.1
Distribuição das vendas setoriais, por categoria da demanda final e intermediária (% das vendas totais, 2005)
Demanda Final (% do Total) Demanda
Intermediária (% do Total)
Exportações (1)
Consumo das
Famílias (2)
Formação Bruta de Capital Fixo (3)
Outras Demandas
(4)
Total (1+2+3+4)
Fibras Naturais
16,2 0,2 0,0 -6,6 9,8 90,2
Fiação e Tecelagem
6,9 0,7 0,0 1,4 9,0 91,0
Artefatos Têxteis
7,5 39,7 0,2 -1,4 46,0 54,0
Malhas 7,4 40,7 0,0 -1,4 46,6 53,4
Vestuário 1,9 89,5 0,1 -0,2 91,3 8,7
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005, RAIS, PIA.
5
A Figura 2.1 apresenta a cadeia têxtil-vestuário. As setas representam fluxos monetários
partindo dos setores de origem (vendedores) para os de destino (compradores). Para a
indústria de vestuário, as vendas se destinam exclusivamente para o consumo das
famílias, enquanto que suas compras são provenientes da fiação e tecelagem, que
representa 53% dos fluxos, artefatos têxteis (27%), fibras naturais (13%) e malhas (7%).
O subsetor de fibras naturais possui relações intensas com a agricultura e a silvicultura,
através das quais obtém fibras, como algodão, linho, seda, sisal, juta e rami, para
beneficiamento. Da pecuária são provenientes a lã e a crina.
O subsetor de fiação e tecelagem compra insumos principalmente do subsetor de fibras
naturais e, em seguida, do setor petroquímico. A preponderância dos fluxos monetários
oriundos de fibras naturais vis-à-vis o de produtos petroquímicos reflete as vantagens
competitivas que o Brasil possui em fibras naturais, especialmente em tecidos de algodão
e mesclas com outras fibras naturais.
Por outro lado, o subsetor de artefatos têxteis tem a maior parte das compras oriundas
dos setores de química, por causa da natureza das operações realizadas nessa etapa da
cadeia produtiva, como alvejamento, texturização, estamparia e tingimento. Os fluxos
intersetoriais entre o setor químico e os subsetores de fiação e tecelagem e de artefatos
têxteis são relevantes não apenas pela sua magnitude, mas também pela possibilidade de
absorção de inovações de processos provenientes do setor químico.
O subsetor de malhas revela fluxos monetários relevantes, oriundos da fiação e
tecelagem, de artefatos têxteis, de fibras naturais e do setor petroquímico, nessa ordem.
Nas compras das famílias, possuem maior peso as vendas do vestuário (80%), dos
artefatos têxteis (16%), que incluem a linha cama-mesa-lar, por exemplo, e as malhas
(4%), com artigos como tricotagens e meias.
A Tabela 2.2 apresenta os multiplicadores simples de produção dos subsetores da cadeia
têxtil-vestuário. Os multiplicadores revelam o tamanho do impacto potencial sobre a
atividade econômica decorrente da elevação da produção (ou demanda) do subsetor
6
considerado. Nesse caso, se a demanda por artigos do vestuário crescer 1%, o
crescimento da produção do próprio setor (efeito multiplicador direto) será de 1,01% e o
aumento da produção dos outros setores da economia (efeito multiplicador indireto) será
de 0,84%. Nota-se que todos os subsetores da cadeia, com exceção da fiação e
tecelagem, possuem efeito multiplicador total menor que o da média da indústria de
transformação, estimado em 1,95. Por se tratar de uma indústria de natureza
intermediária, o subsetor de fiação e tecelagem apresenta o maior efeito multiplicador da
cadeia (2,47), com predomínio do efeito direto sobre o indireto. Isso mostra que o
subsetor possui natureza estratégica na economia brasileira, posicionando-se com um
número significativo de encadeamentos intersetoriais.
Figura 2.1 Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil e de Vestuário, transações intersetoriais
2005 (milhões de reais)
Agricultura e Silvicultura
Pecuária
Fibras Naturais
Fiação e Tecelagem
Artefatos Têxtil Malhas
Vestuário Consumo das Famílias
Resinas e Elastômeros Químicos
2351
241
1823
2544
7101 3621
513
979
877
6952173
13524
38732
7707
164
1376 1175 376
2082
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005.
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Tabela 2.2 Multiplicador Simples de Produção (2005)
Multiplicador Simples de Produção Participação no mult. (%)
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
Direto (A/Total)
Indireto (B/Total)
Fibras Naturais 1,60 1,02 0,58 63,6 36,4 Fiação e Tecelagem 2,41 1,05 1,36 43,7 56,3 Artefatos Têxteis 1,77 1,03 0,73 58,6 41,4 Malhas 1,86 1,01 0,85 54,4 45,6 Vestuário 1,85 1,01 0,84 54,5 45,5
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005.
Para avaliar o impacto dos subsetores da cadeia têxtil-vestuário sobre a geração de
empregos nos próprios setores assim como nos outros setores da economia brasileira,
foram calculados os coeficientes setoriais de emprego (Tabela 2.3). Os indicadores
revelam que os subsetores de vestuário, de fiação e tecelagem e de malhas, nessa
ordem, possuem maior capacidade geradora de empregos totais. Em termos de nível
educacional dos empregos gerados, nota-se que o de fibras naturais é o que possui
menor impacto potencial sobre a criação de empregos com curso superior. Essa
capacidade é liderada pelo setor de fiação e tecelagem que apresenta indicador de 0,57.
Esse resultado é coerente com a natureza das funções exercidas no subsetor, que
exigem maior conhecimento de natureza físico-químico em virtude das intensas inter-
relações com setores como o petroquímico. É também nesse setor que ocorrem maiores
possibilidades de incorporação de novo conhecimento a novos produtos (fibras especiais),
que demandam especial envolvimento com P&D. Em contraste, o subsetor de vestuário é
o que apresenta maior coeficiente de geração de empregos com qualificação inferior, o
que é coerente com as características da maior parte das firmas desse subsetor, a saber,
porte pequeno, baixa necessidade de capital por trabalhador, natureza simples das
operações de costura e baixo grau de envolvimento com inovação, como será descrito
posteriormente. De modo geral, as parcelas do coeficiente setorial de emprego que são
vinculadas à qualificação superior apenas representam de 3 a 5% do total do coeficiente,
sendo clara a predominância, em toda a cadeia, das ocupações de nível inferior.
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Tabela 2.3 Coeficientes setoriais de emprego
(ocupações/valor da produção em milhões de reais de 2005) Coeficiente de emprego Total Superior Médio Inferior
Fibras Naturais 1,57 0,06 0,52 0,99 Fiação e Tecelagem 10,59 0,57 4,32 5,71 Artefatos Têxteis 8,63 0,42 3,58 4,63 Malhas 10,46 0,52 4,24 5,69
Vestuário 14,08 0,39 6,01 7,68 Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
A Tabela 2.4 decompõe os multiplicadores de emprego, também considerando a
qualificação da mão-de-obra. Nesse caso, nota-se que o subsetor de fibras naturais
possui multiplicador de 39,1 e o subsetor de fiação e tecelagem possui multiplicador de
36,4. Isso revela uma capacidade de geração de 39 e 36 empregos para cada R$ 1
milhão de produção de cada setor, respectivamente. Destes empregos totais, a grande
maioria (32) é de qualificação inferior no caso de fibras naturais. Na fiação e tecelagem,
porém, 2 são de qualificação superior e cerca de 13 são de qualificação média,
enfatizando novamente a capacidade desse subsetor de criar empregos na economia que
possuam maior qualificação.
Tabela 2.4 Multiplicador Simples de Emprego (ocupações/milhões de reais de 2005)
Total Superior Médio Inferior (A+B+C) (A) (B) (C)
Fibras Naturais 39,1 1,0 5,5 32,6 Fiação e tecelagem 36,4 2,3 12,7 21,4 Artefatos texteis 22,7 1,4 8,1 13,2 Malhas 25,9 1,6 9,1 15,3
Vestuário 28,3 1,3 10,9 16,0 Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
As Tabelas 2.5 a 2.9 realizam o mesmo tipo de análise, porém por subsetor. Nota-se que
o de fibras naturais apresenta capacidade muito reduzida de criar empregos no próprio
setor a partir de um aumento de demanda (Tabela 2.5). Nos outros casos, a participação
do efeito indireto no multiplicador total é inferior à do subsetor de fibras naturais, embora
seja predominante sobre o efeito direto em todos os subsetores e em todas as
qualificações.
9
Tabela 2.5 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Fibras Naturais (2005)
Qualificação do Emprego
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
Direto (A/Total) Indireto
Superior 1,04 0,06 0,97 5,81 94,19 Médio 5,52 0,53 4,98 9,65 90,35 Inferior 32,58 1,00 31,58 3,07 96,93
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
Tabela 2.6 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Fiação e Tecelagem (2005)
Qualificação do Emprego
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
Direto (A/Total) Indireto
Superior 2,32 0,60 1,72 25,69 74,31 Médio 12,71 4,55 8,16 35,81 64,19 Inferior 21,41 6,02 15,40 28,09 71,91
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
Tabela 2.7 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Artefatos Têxteis (2005)
Qualificação do Emprego
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
Direto (A/Total) Indireto
Superior 1,39 0,44 0,95 31,69 68,31 Médio 8,15 3,71 4,44 45,51 54,49 Inferior 13,18 4,79 8,39 36,33 63,67
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
Tabela 2.8 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Malhas (2005)
Qualificação do Emprego
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)
Direto (A/Total) Indireto
Superior 1,55 0,53 1,02 34,17 65,83 Médio 9,09 4,29 4,80 47,22 52,78 Inferior 15,28 5,75 9,53 37,64 62,36
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
Tabela 2.9 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Vestuário (2005)
Qualificação do Emprego
Multiplicador Simples de Emprego Participação no mult. (%)
Total (A+B) Direto (A) Indireto (B)Direto
(A/Total) Indireto Superior 1,34 0,39 0,95 29,02 70,98 Médio 10,92 6,05 4,86 55,44 44,56 Inferior 16,05 7,74 8,31 48,20 51,80
Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.
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2.2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS DUAS INDÚSTRIAS DA CADEIA
Essa seção descreve a importância da indústria têxtil e de vestuário em relação ao total
da indústria de transformação brasileira. Entre 1996 e 2006, o valor de transformação
industrial (VTI) da cadeia têxtil sofreu queda substantiva de participação na indústria
brasileira. Em 1996, a fabricação de produtos têxteis representava 3,42% do VTI da
indústria de transformação. Contudo, em 2006 tal participação se reduziu para 2%, o que
representa queda de 42% na participação do valor agregado da indústria nacional. Pode-
se perceber que tal resultado ocorreu de forma generalizada em todos subsetores,
principalmente do segmento de fiação, com queda de 60% de sua representatividade em
10 anos (de 0,72% para 0,29%). No caso da indústria de vestuário, houve queda de 32%
na participação do valor agregado industrial. Todas essas quedas refletem baixo
crescimento da economia nacional até 2003 e a consequente estagnação dos níveis de
renda e emprego em grande parte do período considerado. No entanto, o
recrudescimento da competição com produtos importados parece ter sido decisivo para
este resultado. A não recuperação da participação dos dois componentes da cadeia na
indústria de transformação a partir de 2003 parece indicar que a perda de competitividade
para as importações tornou-se um problema crônico dessa cadeia.
Tabela 2.8 Participação da Cadeia Têxtil-Vestuário no Valor de Transformação Industrial da
Indústria Brasileira (1996-2006) 1996 2006
Fabricação de Produtos Têxteis 3,42% 2,05%
Beneficiamento de Fibras têxteis 0,06% 0,03%
Fiação 0,72% 0,29%
Tecelagem 1,03% 0,60%
Fabricação de artefatos têxteis 0,41% 0,24%
Serviços de acabamentos em fios e tecidos 0,22% 0,15%
Fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos - exclusive Vestuário 0,68% 0,54%
Fabricação de tecidos e artigos de malha 0,30% 0,20%
Confecção de artigos do vestuário e acessórios 2,32% 1,58%
Confecção de artigos do vestuário 2,20% 1,49%
Confecção de acessórios do vestuário 0,12% 0,09%
Total 5,75% 3,63% Fonte: PIA/IBGE.
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Em termos de composição interna da cadeia integrada têxtil-vestuário, o Gráfico 2.1 não
revela mudanças bruscas na participação de cada indústria no total da receita líquida de
vendas. Entre 1996 e 2006, a indústria têxtil perdeu 1% na cadeia, que foi absorvido pela
indústria de vestuário e acessórios.
Corroborando os dados da Tabela 2.8, ambas as indústrias apresentam encolhimento da
receita líquida de vendas no período 1996-2006 de, aproximadamente, 27% para a
indústria têxtil e de 25% para vestuário. Esses percentuais significam a perda de R$ 10
bilhões na indústria têxtil e R$ 6 bilhões em vestuário num período de 10 anos. Apenas a
partir de 2005, é possível notar uma interrupção da tendência de queda da receita líquida
de ambas as indústrias. No caso da têxtil, sua receita estabiliza-se em torno de R$ 25
bilhões, enquanto que, para vestuário e confecções há uma retomada da trajetória de leve
crescimento das vendas a partir de 2004 (Gráfico 2.2; Tabela 2.9). Os indicadores de
valor bruto da produção e valor de transformação industrial (Tabela 2.10) também
confirmam os números acima.
Gráfico 2.1
Composição da Receita Líquida de Vendas Industriais da Cadeia Têxtil-Vestuário
60% 59%
40% 41%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fabricação de Produtos Têxteis Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA.
12
Gráfico 2.2 Receita Líquida de Vendas Industriais da Cadeia Têxtil-Vestuário
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Bilhões (R$)
Fabricação de Produtos Têxteis Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios
Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
Tabela 2.9 Receita Líquida com Vendas Industriais – Têxtil e Confecções
R$ bilhões de 2006 Taxa de crescimento a.a. (%)
Ano Têxtil Confecçõe
s Têxtil Confecções
1996 36,6 24,7 - -
1997 32,7 23,2 -10,67 -5,82 1998 32,7 24,0 0 3,27 1999 33,8 20,9 3,61 -13,00 2000 32,5 19,6 -4,02 -6,04 2001 30,8 18,9 -5,22 -3,37 2002 29,3 16,5 -4,82 -12,81 2003 27,0 14,4 -7,95 -12,78 2004 28,3 14,6 4,82 1,48 2005 25,6 16,6 -9,46 13,83 2006 26,7 18,6 4,25 11,72
1996-2005 - - -3,09 -2,78 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.
13
Tabela 2.10 Valor Bruto da Produção (VBP) e da Transformação Industrial (VTI) -
Têxtil-Vestuário Ano VBP VTI
Têxtil Vestuário Têxtil Vestuário
1996 37,50 24,97 16,33 11,08
1997 34,14 23,47 14,20 10,14
1998 33,27 23,83 14,38 9,99
1999 34,91 21,12 15,52 9,32
2000 33,70 19,70 14,21 8,85
2001 32,04 18,82 13,07 8,65
2002 30,15 16,48 12,37 7,54
2003 27,72 14,30 10,43 6,49
2004 28,76 14,63 11,09 6,74
2005 26,18 16,73 10,41 7,02
2006 27,42 18,50 10,94 8,42 Notas: R$ bilhões de 2006 e Deflator IPA-OG. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
As reduções na receita líquida de vendas, no valor bruto da produção industrial e no valor
de transformação industrial contrastam com a evolução do número de empresas, que
aumentou 21,6% e 33,8%, respectivamente, na indústria têxtil e na de confecções, no
período 1996-2005 (Tabelas 2.11 e 2.12), indicando queda na produtividade por empresa.
Entretanto, a tendência de crescimento ocorre principalmente nos estratos de micro e
pequenas empresas, enquanto que o número de grandes empresas caiu
significativamente no período (46% no têxtil e 34% no vestuário). Este quadro sinaliza
claramente um processo de enfraquecimento e perda de competitividade do conjunto da
cadeia.
Enquanto a taxa de crescimento no período 1996-2005 é de, respectivamente, 23,7%,
28% e de -2,56% para as faixas de até 49 empregados, de 50 a 99 e de 100 a 249 na
indústria têxtil, é possível constatar que na indústria de vestuário as taxas para as
mesmas faixas são 32,9%, 76,4% e 44,28%. As maiores taxas para a indústria de
vestuário denotam a existência de menores barreiras à entrada, representadas por menor
volume de capital por trabalhador, em relação à indústria têxtil. Convém salientar, porém,
que essa última possui empresas de tamanho médio bem inferior na comparação com
seus fornecedores de fibras e filamentos artificiais e sintéticos da indústria química. Logo,
trata-se de uma cadeia em que a montante há empresas fornecedoras de grande porte e,
em geral, de capital estrangeiro, enquanto que a indústria têxtil em si é formada por
14
empresas de porte intermediário em relação às empresas do setor de vestuário e
acessórios, ambas de capital majoritariamente nacional.
Tabela 2.11 Número de empresas da Indústria Têxtil em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento (%)
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 7.857 8.521 9720 8,45 14,07 23,71
DE 50 A 99 357 376 457 5,32 21,54 28,01
DE 100 A 249 313 270 305 -13,74 12,96 -2,56
DE 250 A 499 162 153 163 -5,56 6,54 0,62
DE 500 A 999 100 61 54 -39,00 -11,48 -46,00
1000 OU MAIS 38 35 36 -7,89 2,86 -5,26
Total 8.827 9.416 10735 6,67 14,01 21,62 Fonte: RAIS/MTE.
Alguns autores1 apontam o elo da indústria química como o que compromete a
competitividade brasileira nos produtos derivados de fibras químicas, tendo em vista o
crescente uso mundial dessas na confecção de roupas em virtude de suas vantagens vis-
à-vis fibras naturais.2 O fato é que a indústria nacional de fibras e filamentos químicos não
possui oferta adequada à cadeia têxtil-vestuário, criando a necessidade de volumes de
importações crescentes ao longo do tempo, principalmente a partir de 2003 (Gráfico 2.3).
Tabela 2.12 Número de empresas da Indústria de Vestuário em 1996, 2000 e 2005
Número de empresas Taxa de crescimento
Pessoal ocupado 1996 2000 2005 96/00 00/05 96/05
ATÉ 49 30.305 33.480 40.293 10,48 20,35 32,96
DE 50 A 99 661 781 1.166 18,15 49,30 76,40
DE 100 A 249 332 360 479 8,43 33,06 44,28
DE 250 A 499 94 89 96 -5,32 7,87 2,13
DE 500 A 999 32 24 21 -25,00 -12,50 -34,38
1000 OU MAIS 12 11 11 -8,33 0,00 -8,33
Total 31.436 34.745 42.066 10,53 21,07 33,81 Fonte: RAIS/MTE.
1 Como, por exemplo, Prochnik (2002). 2 Fundação Vanzolini (2001) destaca que as roupas com fibras químicas se assemelham às confeccionadas com fibras naturais em relação ao conforto e as superam em termos de características de uso (menor necessidade de passar, maior repelência a sujeira, menores cuidados na lavagem doméstica), durabilidade, além de possuírem preço competitivo. Viana et al. (2008) destacam que elas são mais resistentes a atritos e tensionamentos, gerando aumento da produtividade dos teares.
15
Gráfico 2.3 Comércio Exterior de Fibras Artificiais e Sintéticas, em milhões de Dólares (1990-
2007)
‐1000
‐500
0
500
1000
1500
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
O déficit comercial em fibras químicas do Gráfico 2.3 contrasta com o desempenho da
balança comercial das fibras naturais (Gráfico 2.4). A produção brasileira de fibras
naturais, com base em algodão, apresenta forte competitividade devido à grande
produtividade e aos baixos custos de produção. Os fatores que contribuíram para esse
sucesso são: a pesquisa tecnológica da EMBRAPA que adaptou a produção de algodão
ao cerrado, o apoio financeiro dado pelo governo do estado do Mato Grosso após a
transição da produção do Nordeste para o Centro-Oeste e a facilidade de mecanização da
lavoura nessa macrorregião. Tal desempenho da balança comercial de fibras naturais
ocorre após o período em que o Brasil chegou a ser deficitário em fibras naturais entre
1992 e 2001, em conseqüência da praga do bicudo que desarticulou a produção
nordestina.
No entanto, o bom desempenho das fibras naturais (Gráfico 2.4) e das fibras mescladas
(Gráfico 2.5) não foi capaz de gerar superávit comercial no total da balança comercial de
fibras a partir de 2006, por causa do forte crescimento das compras externas de fibras
químicas, como pode ser observado no Gráfico 2.6. As importações do total de fibras
16
apresentaram aumento de 52% no período 2000-2007. Grande parte dessa dinâmica é
explicada pelo comportamento das importações de fibras artificiais e sintéticas, cuja
participação no total das importações de fibras saltou de 55% em 2000 para 76% em
2007 em conseqüência de compras 113% maiores que as do ano de 2000.
Gráfico 2.4
Comércio Exterior de Fibras Naturais, em milhões de Dólares (1990-2007)
‐800
‐500
‐200
100
400
700
1000
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
17
Gráfico 2.5 Comércio Exterior de Fibras Mescladas, em milhões de Dólares (1990-2007)
‐50
0
50
100
150
200
250
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Gráfico 2.6 Comércio Exterior do Total de Fibras, em milhões de Dólares (1990-2007)
‐1500
‐1000
‐500
0
500
1000
1500
2000
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
18
Ainda assim, o segmento de fibras naturais foi o item de maior valor exportado em 2007
na pauta de exportações da cadeia têxtil-vestuário, atingindo US$ 651 milhões (Gráfico
2.7), enquanto os tecidos e as confecções alcançaram, respectivamente, US$ 564
milhões e US$ 631 milhões (Gráfico 2.8).
As exportações de artigos da cadeia têxtil-vestuário apresentam tendência crescente
nessa década, no entanto as importações desses produtos crescem ainda mais
intensamente. Ainda que exista superávit comercial nas confecções até o ano de 2007,
que aliás é decrescente (Gráfico 2.9), no caso dos tecidos passa a existir déficit (Gráfico
2.10).
Gráfico 2.7 Exportações por Tipos de Fibras, em milhões de Dólares (1990-2007)
0
100
200
300
400
500
600
700
Milhões (US$)
Fibras Naturais Fibras Artificiais e Sintéticas Fibras Mescladas
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
19
Gráfico 2.8 Exportações por Tipos de Produtos Têxteis, em milhões de Dólares (1990-2007)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
Tecidos Malhas Confeccções Outros artigos têxteis confeccionados
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Gráfico 2.9 Comércio Exterior de Confecções, em milhões de Dólares (1990-2007)
0
200
400
600
800
1000
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
20
Gráfico 2.10 Comércio Exterior de Tecidos, em milhões de Dólares (1990-2007)
‐400
‐200
0
200
400
600
800
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Excluindo fibras, tecidos e confecções são os itens com maior participação média no total
de importações de produtos têxteis, com, respectivamente, 59% e 32%, no período 1990-
2007. Contudo, a participação das importações de tecidos decaiu de 57% em 2000 para
40% em 2007, ao passo que a participação de confecções no total das importações de
produtos têxteis aumentou de 28% para 40% no mesmo período. No período 2000-2007,
as importações de tecidos cresceram em 71%, enquanto que as de confecções
aumentaram em 242%. Os dados comprovam uma falta de competitividade crônica do
segmento de confecções, que é justamente o elo de maior valor agregado e
potencialmente mais dinâmico da cadeia têxtil-vestuário.
Em relação às exportações, as fibras apresentaram aumento de 195% no período 2000-
2007, graças ao desempenho das fibras naturais que aumentaram em 290%, como
assinalado anteriormente. As exportações de produtos têxteis, excluindo fibras, devem-se
principalmente às confecções e aos tecidos, cujas participações médias na pauta de
exportações de têxteis são de 60% e 30%, respectivamente, no período 1990-2007. Dois
indicadores revelam que as exportações de confecções vêm perdendo importância em
21
relação às exportações de tecidos, no período 2000-2007. O primeiro é a participação das
confecções na pauta de exportações de têxteis, que decaiu de 62% para 49%, enquanto
que no caso dos tecidos o indicador aumentou de 32% para 44%. O segundo indicador é
a taxa de crescimento das exportações no período 2000-2007, a qual aumentou 108%
para tecidos e apenas 18% para confecções. O resultado modesto para confecções
contrasta com a tendência do comércio mundial, no qual este segmento é o de maior
crescimento. As explicações para a pouca representatividade das exportações brasileiras
de confecções são tradicionalmente atribuídas ao amplo mercado interno e à baixa
competitividade da cadeia produtiva têxtil brasileira.
Além desses argumentos acima, para explicar a dinâmica das exportações e importações
brasileiras é preciso considerar também a política cambial e os momentos de crescimento
econômico. A desvalorização cambial de 1999 está intimamente associada à trajetória
das exportações de produtos têxteis, que iniciam fase de crescimento exatamente a partir
desse ano, após relativa estabilidade desde início dos anos 90 (Gráfico 2.11). As
importações, por outro lado, crescem de 1990 a 1994, quando iniciam trajetória declinante
até início do processo de valorização do real, a partir de 2003. Esse movimento também é
explicado pela estagnação econômica brasileira no final dos anos 90, a qual começa a se
reverter a partir 2004 e as importações passam a crescer também por causa do aumento
de demanda interna. Com isso, é possível observar duas fases de déficit na balança
comercial brasileira de produtos da cadeia têxtil-vestuário: o período 1994-2001 e o
período recente a partir de 2006. Tais fases estão inegavelmente associadas ao
comportamento do câmbio, mas também ao acirramento da competição internacional,
principalmente de produtos asiáticos.
22
Gráfico 2.11 Exportações, Importações e Saldo Comercial de Produtos da Cadeia Têxtil-
Vestuário, em milhões de Dólares (1990-2007)
‐1500
‐750
0
750
1500
2250
3000
3750
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006
Milhões (US$)
Exportações Importações Saldo Comercial
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.
Como efeito da maior pressão competitiva exercida pelas importações de produtos têxteis
acabados ou mesmo da importação de insumos mais baratos (fibras químicas), o Gráfico
2.12 revela queda de preços relativos dos artigos da cadeia têxtil-vestuário, ao comparar
alguns índices de preços no atacado (IPA) com o índice geral de preços (IGP-DI). Nota-se
que o IPA-Tecidos, Vestuário e Calçados apresenta queda relativa em relação ao IGP
durante todo o período considerado. A tendência de queda se mostra mais proeminente
até início de 2003, quando os preços desses artigos passam a apresentar relativa
estabilidade. Tal comportamento coincide com a inversão da tendência de desvalorização
da moeda brasileira, que ocorre ao final de 2002. O processo de valorização do real
ocorrido a partir de então só se reverte recentemente em meados de 2008. O
comportamento do IPA-Vestuário (exceto malharia) apresenta redução de preços relativos
ainda mais drástica, pois a série situa-se abaixo da anterior, apresentando tendências
similares. O IPA-Malharia se comporta de forma análoga ao do IPA-Tecidos, Vestuário e
Calçados, com perda relativa de preços em comparação com os outros preços da
economia.
23
Gráfico 2.12 IPA da Cadeia Têxtil-Vestuário em relação ao IGP-DI (normalizado para 100)
0
20
40
60
80
100
120
ago/94
abr/95
dez/95
ago/96
abr/97
dez/97
ago/98
abr/99
dez/99
ago/00
abr/01
dez/01
ago/02
abr/03
dez/03
ago/04
abr/05
dez/05
ago/06
abr/07
dez/07
IGP‐DI / IGP‐DI IPA‐Vestuário e Calçados / IGP‐DI
IPA‐Vestuario (exceto malharia) / IGP‐DI IPA‐Malharia / IGP‐DI
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IpeaData.
Para não interromper a significativa trajetória de aumento de exportação de produtos
têxteis, que alcançou 93% no período 2000-2007, é preciso avaliar algumas estratégias
que sustentem esse dinamismo e aumentem a representatividade do comércio exterior
brasileiro.
O fim do Acordo de Têxteis e Vestuário em 2005, baseado em cotas e restrições às
importações, e a transição para as regras gerais da OMC afetaram o desempenho das
exportações brasileiras. Informações do setor revelam que as exportações de brins e
denim de empresas, como a Santista Têxtil, caíram 50% na comparação entre 2008 e
2004.3 No entanto, a saída para enfrentar problemas como esse e a concorrência de
países asiáticos tem sido a internacionalização, assim como a realização de fusões e
joint-ventures. O Grupo Santista Têxtil, por exemplo, uniu-se à espanhola Tavex
Algodonera para assegurar presença no mercado internacional. Além de compra de
3 Dados da Internet, 28 de março de 2008. (disponível em: http://valoresdefatos.blogspot.com/2008/03/s.html)
24
terreno em Honduras, o grupo adquiriu duas fábricas no México para acessar de forma
privilegiada o mercado norte-americano. De forma complementar, acordos bilaterais
poderiam ser realizados para compensar o fim das cotas que privilegiavam países em
desenvolvimento.
O principal fato a observar aqui é a rápida deterioração da competitividade externa dos
produtos da cadeia têxtil-confecção ao longo do processo recente de valorização do real
frente ao dólar, iniciado em 2004. Ao contrário de outros setores da indústria de
transformação nacional que conseguiram enfrentar relativamente bem esta mudança
cambial, enviesada para o barateamento das importações e encarecimento de das
exportações, a cadeia têxtil-confecção caminha rapidamente para a sua
desindustrialização na ausência de políticas de proteção compensatórias. A repentina
reversão do câmbio pela crise internacional no final de 2008, com a desvalorização do
real em relação ao dólar em torno de 40%, certamente pode contribuir para deter tal
processo, dependendo da sensibilidade da variação do preço dos importados têxteis e de
confecções frente à apreciação do dólar. A política chinesa, por exemplo, de desovar os
estoques gerados pelo esfriamento da demanda americana para mercados periféricos
deve avolumar os problemas de dumping desses produtos no país.
2.3 MUDANÇAS E TENDÊNCIAS MUNDIAIS DA CADEIA TÊXTIL-VESTUÁRIO
Ao longo das últimas décadas, a cadeia têxtil-vestuário tem passado por um processo de
reorganização que possui múltiplas dimensões, que são nesse texto resumidas em
tecnológicas, organizacionais e regionais.4
Mudanças tecnológicas
Houve incorporação de máquinas e equipamentos com componentes microeletrônicos e
avanços da indústria química, em termos de corantes e tintas, ou petroquímica, como no
caso das fibras sintéticas. Nesse sentido, destaca-se o próprio surgimento de fibras
4 As informações estão baseadas nos seguintes estudos: Lupatini (2004), Pio et al. (2003), Garcia et al. (2005), Monteiro Filho e Santos (2002), Antero (2006), Prochnik (2002), Serra e Carvalho (1999), Campos e Paula (2006), Garcia (2008) e Hiratuka et al. (2008).
25
alternativas ao algodão, que vem sendo incorporadas de forma crescente na fabricação
de têxteis e confecções, seja substituindo as fibras naturais ou mescladas a essas.
Mais recentemente, segmentos mais a montante da cadeia, especialmente o de produção
de fibras químicas, sinalizam significativas oportunidades para o setor através da
incorporação de conhecimento científico aos produtos, como nos casos de aplicação de
nanotecnologia às propriedades das fibras, como resistência, conforto, efeitos antiodor,
bactericidas, hidratação e proteção ultravioleta. As trajetórias tecnológicas dos diversos
segmentos da cadeia têxtil-vestuário são especificadas a seguir:
Fiação: espessura e resistência de fios, atendimento a especificações físico-
químicas, diferenciação de fibras. Também houve desenvolvimentos nas formas de
sistemas de transporte interno de materiais, como carregamento, descarregamento
e alimentação de máquinas, além de transporte de uma máquina para a
subsequente, como no caso do transporte de fitas e bobinas por um “veículo
guiado automaticamente” (VGA).
Tecelagem: velocidade, redução de perdas com manutenção, maior facilidade na
gravação de parâmetros estabelecidos dos teares; uso de do sistema VGA para
troca rápida de fios de urdume e de artigos têxteis.
Acabamento: redução do consumo de energia através de máquinas de
reaproveitamento de energia, melhoria de conservação, maior controle ambiental
através, por exemplo, de máquinas com sistema de coleta de efluentes aéreos ou
utilização de produtos químicos que não agridem o meio ambiente, controle de
temperatura da água e da variação na composição da mistura química para
tingimento. Outro desenvolvimento foi a automação da cozinha de cores destinada
à pesagem de produtos químicos e preparo de soluções para beneficiamentos. No
segmento de tinturaria, tem havido esforços para P&D de corantes cujas estruturas
causem menor dano ecológico, como corantes biodegradáveis. No segmento de
estamparia, fornecedores de produtos químicos buscam composições que façam
pastas de estampar sem substâncias tóxicas.
26
Confecções: melhorias dos moldes de base com diversos tamanhos, melhorias de
corte e desenho com sistemas CAD/CAM, integração de operações e ampliação e
flexibilidade das operações, dentre as mais importantes.
Mudanças organizacionais
Houve valorização e especialização em algumas funções corporativas por parte de
grandes empresas da cadeia, como marcas globais, marketing, desenvolvimento de
produtos, design, canais de comercialização, capacidade de coordenação da cadeia,
gestão de fornecedores e aportes financeiros. Essas funções propiciam o comando na
cadeia têxtil-vestuário e garantem maiores ganhos e apropriabilidade. Logo, o comando
da cadeia têxtil-vestuário passou a ser exercido por produtores, comerciantes e grandes
varejistas com marcas, exatamente porque focaram nas funções corporativas acima
citadas ou por causa do seu poder de compra. Em paralelo, houve tendência de
transferência a terceiros de atividades produtivas propriamente ditas. De fato, passou a
ser comum o esquema de produção triangular, em que o grande comprador faz
encomendas a um fornecedor, o qual, por sua vez, possui diversas fábricas afiliadas.
Houve também clara segmentação do mercado, de forma que os mercados com alto
preço, qualidade e criatividade coexistem com mercados de preços baixos e bens
padronizados.
De fato, os avanços tecnológicos em bens de capital e insumos e os investimentos
realizados em funções corporativas que garantem maior controle da cadeia produtiva
constituem dois conjuntos de fatores competitivos, que podem ser resumidos em ativos
materiais e imateriais.
Mudanças regionais
Houve deslocamento de atividades produtivas através de investimento direto ou
terceirização/subcontratação para regiões ou países em que o custo do trabalho é baixo.
Em termos mundiais, a subcontratação de atividades produtivas têm se estendido para
Ásia, América Central e Caribe, países do norte da África e leste europeu.
27
No Brasil, esse processo ocorreu à medida que algumas empresas (p.ex., Hering)
passaram a importar artigos, como jaquetas e bermudas sintéticas da China, e à medida
que grandes empresas dos ramos de tecelagem transferiram unidades produtivas para o
Nordeste em busca de custos mais reduzidos de trabalho e de benefícios fiscais e
creditícios. Por outro lado, tais empresas mantiveram em São Paulo outras funções
corporativas vinculadas a desenvolvimento de produto, design, marketing,
comercialização e distribuição de produtos e finanças.
Tal movimento esteve restrito às grandes empresas. Por isso, os sistemas locais de
produção continuam a exercer atração sobre as pequenas e médias empresas, as quais
se beneficiam de economias externas. No caso da indústria têxtil e, especialmente
vestuário, existe uma tendência de organização espacial das empresas de menor porte
em torno de pólos. Os exemplos mais conhecidos são os pólos de Americana (SP), Vale
do Itajaí (SC), Cianorte (PR), Maringá (PR), São João Nepomuceno (MG), Nova Friburgo
(RJ) e Jaraguá (GO).
28
3. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA TÊXTIL
Nessa seção, são descritos indicadores da estrutura da indústria têxtil, analisada a partir
de quatro grupos industriais, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE). A composição dos subsetores é detalhada a seguir:
Beneficiamento de Fibras Naturais (CNAE-171): compreende o beneficiamento de fibras de algodão (cardação, penteação, etc.); a obtenção de subprodutos, inclusive os desperdícios (lanolina); o descaroçamento do algodão quando não associado ao cultivo; os beneficiamentos (lavagem, cardação, penteação, etc), de outras fibras têxteis naturais (linho, seda, sisal, juta, rami, lã, crina, etc.). Fiação e Tecelagem (CNAE-172 e CNAE-173): compreende a produção de fios de algodão, inclusive mesclas, com predominância de algodão; de tecidos de fios e filamentos contínuos artificiais ou sintéticos, inclusive mesclas, com predominância de fios artificiais ou sintéticos; de tecidos de polipropileno; de tecidos de fibra de vidro; de fios de papel; de fios de fibras artificiais ou sintéticas, inclusive mesclas, com predominância de fios de fibras artificiais ou sintéticas; de linhas e fios para costurar e bordar, de qualquer material (algodão, artificiais, sintéticos, sedas, lãs, etc.); de tecidos planos de algodão, inclusive mesclas, com predominância de algodão; de veludos, tecidos felpudos, tecidos de gaze e outros tecidos elaborados, com predominância de fios de algodão; de tecidos de fios de fibras têxteis naturais (lã, linho, juta, seda, rami, etc.), inclusive mesclas, com predominância de fibras naturais; e de fibras têxteis naturais (linho, rami, juta, seda, lã, etc.), inclusive mesclas, com predominância de fibras têxteis naturais.
Artefatos Têxteis (CNAE-174, CNAE-175 e CNAE-176): compreende a produção de artefatos têxteis diversos, integrada com as fiações e tecelagens (sacos de algodão e de outras fibras têxteis, bandeiras, etc.), de artefatos têxteis para uso doméstico (roupas de cama, mesa, copa, cozinha, etc.), integrada com as fiações e tecelagens; o alvejamento, texturização, estamparia, tingimento, torção e outros acabamentos em fios, tecidos e artigos têxteis, inclusive peças do vestuário, realizados para terceiros; a fabricação de artigos de tecidos de uso doméstico (roupas de cama, mesa, copa, cozinha, etc.) a partir de tecidos; de artigos de colchoaria a partir de tecidos (almofadas, travesseiros, edredons, etc.); de sacos a partir de tecidos; de tapetes, forrações para revestimento de pisos (carpete) e outros artefatos de tapeçaria; de barbantes, cordas, cabos e cordéis e de outros artefatos de cordoaria; de redes de pesca a partir de fios e fibras; de feltros e artigos de feltro; de tecidos e artefatos de crinas e cerdas de origem animal ou de fibras vegetais; de tecidos impermeáveis e de acabamento especial (têxteis técnicos, geotêxteis, tecidos revestidos de náilon, polipropileno e poliéster, panos-couro, lonas, etc.); de artefatos têxteis técnicos, geotêxteis, lonas ou de outros tecidos de acabamento especial; não-tecidos (falsos tecidos) e seus artefatos, para usos industrial, sanitário ou doméstico; de mantas de fibras artificiais ou sintéticas, agulhadas e/ou prensadas, para usos industriais (entretelas, forros, filtros industriais e outros produtos para uso técnico e industrial); de telas para
29
pneumáticos; de tecidos para telas de desenho, pintura, etc.; de barracas para acampamento, toldos, velas e semelhantes; de artefatos de não-tecidos (falsos tecidos), integrada com a fabricação de não-tecidos; de artefatos de passamanaria (galões, vieses, etc.); de fitas elásticas e de tecidos elásticos; de filós, rendas, bordados e de tecidos bordados; e de fitas de tecidos.
Fabricação de Tecidos e Artigos de Malhas (CNAE-177): compreende a fabricação de tecidos de malha; de meias; e de outros artigos do vestuário produzidos em malharias (tricotagens).
O primeiro subsetor analisado, de beneficiamento de fibras naturais, é o de menor
dimensão da indústria têxtil, em termos de número de firmas, pessoal ocupado,
faturamento, valor agregado e exportações. O setor é também o de menor pujança
tecnológica, em termos de quantidade de firmas líderes (apenas três). No entanto, todas
as líderes e seguidoras são inovadoras, embora as empresas inovadoras de processo
superem em quantidade as inovadoras de produto em ambos os casos. Nenhuma
empresa frágil inova em produto.
Gráfico 3.1
Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Beneficiamento de Fibras Naturais (%)
0%
25%
50%
75%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Nota: 3 Firmas Líderes, 7 Firmas Seguidoras, 30 Firmas Frágeis Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
30
Tabela 3.1 Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de
Beneficiamento de Fibras Naturais (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 3 7 30
(7,5%) (17,5%) (75,0%) Pessoal Ocupado (número de pessoas) 234 622 2546
(6,9%) (18,3%) (74,8%) Salários Totais (R$ milhões) - 21,6 20,1
- (51,8%) (48,2%) Faturamento (R$ milhões) - 362,5 90,0
- (80,1%) (19,9%) Lucros Totais (R$ milhões) - 15,8 9,6
- (62,2%) (37,8%) Investimento Total (R$ milhões) 0,0 14,1 4,1
(0,0%) (77,5%) (22,5%) Exportação Total (R$ milhões) 0,2 54,8 0,0
(0,5%) (99,5%) (0,0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
Tabela 3.2 Indicadores da Indústria de Beneficiamento de Fibras Naturais para Líderes,
Seguidoras e Frágeis (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 3 7 30 Salário médio mensal (R$) - 2893,7 656,6
Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) - 819,8 709,6 Faturamento médio (R$ milhões) - 51,8 3,0
Lucro/Custo (%) - 4,8% 11,9%
VTI/Faturamento (%) - 17,5% 51,1%
Exportações/Faturamento (%) - 15,1% 0,0%
Importações/Custos (%) - 10,9% 0,0%
Investimento/Faturamento (%) - 3,9% 4,5%
P&D/Faturamento (%) - 0,0% 0,0%
P&D/Investimento (%) - 0,0% 0,0% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
Para evitar individualização das informações, os indicadores presentes nas Tabelas 3.1 e
3.2 omitem a maior parte dos dados referentes às líderes desse subsetor. Em termos de
pessoal ocupado, as empresas frágeis são responsáveis por quase 75% de todo o
emprego do subsetor. Em contraste, apenas 48% da massa total de salários são providos
pelas frágeis, revelando a existência de empresas com baixos indicadores de salário
médio. A diferença é maior, contudo, para remuneração do pessoal não ligado à produção
(distribuição, marketing, design, controles administrativo, financeiro e comercial), em
31
relação ao pessoal do “chão de fábrica”. As empresas frágeis superam as seguidoras nos
indicadores de lucro/custo, VTI/faturamento e investimento/faturamento.
O setor de fiação e tecelagem possui 29% do número de empresas da indústria têxtil,
41% do pessoal ocupado, 43% dos salários totais, 44% do valor de transformação
industrial, 46% do faturamento, 50% do investimento, 43% das exportações, 52% das
importações e 68% dos gastos em P&D. De todos os quatro agrupamentos considerados
na indústria têxtil, nota-se que esse subsetor lidera a investigação que conduz a novos
produtos e processos. Esse subsetor possui, do ponto de vista tecnológico, papel chave
na cadeia têxtil-vestuário porque produz insumos, no caso fios e tecidos, para os demais
setores a jusante, determinando, em última instância, a possibilidade de inserção
competitiva nos mercados doméstico e internacional.
No setor de fiação e tecelagem foram identificadas 21 empresas líderes, 227 seguidoras,
221 frágeis e quatro emergentes (Gráfico 3.2). Todas as líderes são inovadoras de
produto, enquanto que 86% inovam em processo e 76% apresentam esforço (interno ou
externo) de P&D. Cabe salientar que no segmento fiação e tecelagem as inovações de
produto são incrementais, envolvendo, principalmente, o desenvolvimento de novas fibras
e a melhoria constante de sua qualidade. No caso de inovações de processo, o que
ocorre é a introdução de máquinas mais velozes e automatizadas, o que torna tal
segmento especialmente dependente de fornecedores de bens de capital e muito
intensivo em capital vis-à-vis setores mais a jusante da cadeia produtiva, como
confecções. No subsetor de fiação, por exemplo, os desenvolvimentos de processos
objetivam o aumento da velocidade de produção e o aumento do controle de qualidade do
produto.5
As líderes de fiação e tecelagem são empresas grandes, possuindo em média 719
empregados, o que representa duas vezes o tamanho das seguidoras ou sete vezes o
tamanho das frágeis (Tabela 3.3). O maior porte explica a capacidade de suportar custos
fixos elevados de P&D e a maior capacidade de inovar em produto e em processo. A
5 Segundo Melo et al. (2007), atualmente um processo novo é o de fiação por compactação, no qual há compressão das fibras estiradas por elementos mecânicos com aspiração e, depois, a torção. O processo permite redução da torção e melhor estiragem, resultando em fio de maior resistência, com menor número de pontos fracos e uma baixa pilosidade.
32
heterogeneidade industrial intragrupo em termos de tamanho reflete-se em
heterogeneidade quanto ao desenvolvimento tecnológico, pois a inovação de processo
representa capacidade de modernização da planta que amplia a capacidade de fornecer
produtos padronizados. Ao mesmo tempo, a tendência em inovar em produto constatada
significa capacidade em diferenciar e segmentar o mercado com base na inovação de
produto.
No caso das seguidoras, as duas tendências de inovação apontadas acima não ocorrem
com tanta frequência. Parcela bem menor das seguidoras inova (55%) e a atividade de
inovar, quando ocorre, é mais frequente em processo (45%) do que em produto (31%),
sendo também mais raro o envolvimento das firmas com atividade de P&D (16%). No
caso das frágeis, apenas 21% destas inovam, não possuindo nenhum envolvimento com
P&D.
Gráfico 3.2 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de Fiação e
Tecelagem (%)
0%
25%
50%
75%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 21 Firmas Líderes, 227 Firmas Seguidoras, 221 Firmas Frágeis, 4 Firmas Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
33
Embora constituam apenas 4% do número total de empresas, as líderes de fiação e
tecelagem são responsáveis por 23% do faturamento, 24% dos salários, 23% dos
investimentos, 24% dos lucros e 33% das exportações. Esse último dado confirma uma
característica estrutural do setor de fiação e tecelagem, no qual há forte concentração das
exportações em um número reduzido de grandes e eficientes empresas. Informações da
literatura do setor, referentes ao inicio da década, revelam que os três maiores grupos
empresariais do setor (Vicunha, Santista e Coteminas) respondiam por cerca de um terço
das exportações da cadeia têxtil-vestuário.
Tabela 3.3 Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de
Fiação e Tecelagem (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 21 227 221 4 (4,44%) (47,99%) (46,72%) (0,85%)
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 15101 77494 22428 1455 (12,96%) (66,53%) (19,26%) (1,25%)
Salários Totais (R$ milhões) 347,22 903,96 172,66 12,50 (24,17%) (62,93%) (12,02%) (0,87%)
Faturamento (R$ milhões) 3058,71 9336,69 745,20 127,55 (23,05%) (70,37%) (5,62%) (0,96%)
Lucros Totais (R$ milhões) 208,48 593,81 49,53 2,22 (24,41%) (69,53%) (5,80%) (0,26%)
Investimento Total (R$ milhões) 176,97 559,96 20,40 9,62 (23,07%) (73,01%) (2,66%) (1,25%)
Exportação Total (R$ milhões) 179,72 371,23 0,00 0,00 (32,62%) (67,38%) (0,00%) (0,00%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
A Tabela 3.4 também aponta diferenças salariais em relação às seguidoras e frágeis, que
refletem a absorção de pessoal mais qualificado tanto no “chão de fábrica”, quanto no
pessoal ligado à área administrativa.
As seguidoras representam 48% do número de empresas, 67% do pessoal ocupado, 63%
dos salários, 70% do faturamento, 73% do investimento total e 67% das exportações
(Tabela 3.3). Embora as exportações representem 4% do faturamento, e não 5,9% como
nas líderes (Tabela 3.4), há grande capacidade de inserção externa, garantida pela
existência de plantas relativamente atualizadas do ponto de vista produtivo, o que as
capacita alcançar ganhos de produtividade e baixos custos de produção.
34
Tabela 3.4 Indicadores da Fiação e Tecelagem para Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes
(2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis EmergentesNúmero de empresas 21 227 221 4 Salário médio mensal (R$) 1916,1 972,1 641,5 715,7 Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) 1338,3 882,5 722,2 606,0 Faturamento médio (R$ milhões) 145,7 41,1 3,4 31,9 Lucro/Custo (R$) 7,1% 6,5% 6,2% 1,7% VTI/Faturamento (%) 38,5% 34,3% 35,8% 29,6% Exportações/Faturamento (%) 5,9% 4,0% 0,0% 0,0% Importações/Custos (%) 4,2% 3,3% 0,5% 8,5% Investimento/Faturamento (%) 5,8% 6,0% 2,7% 7,5%
P&D/Faturamento (%) 0,5% 0,2% 0,0% 2,1% P&D/Investimento (%) 9,5% 4,1% 0,0% 28,3%
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
Cabe ressaltar que as quatro emergentes do subsetor possuem faturamento médio nove
vezes maior que as frágeis, assim como relação Investimento/Faturamento maior que o
das próprias empresas líderes (Tabela 3.4). As emergentes constituem nicho dinâmico do
setor à medida que possuem alta intensidade de P&D para os padrões do setor têxtil,
tendo em vista que gastam mais de 2% do faturamento em P&D vis-à-vis 0,5% das
líderes. Nota-se que, em proporção do investimento total realizado, os gastos em P&D
são muito elevados (28%) nas emergentes, face aos 9,5% das empresas líderes. As
emergentes são muito dinâmicas do ponto de vista tecnológico, pois inovam em produto e
processo, além de realizarem gastos com P&D. Logo, são empresas de porte
intermediário que merecem apoio em termos de políticas públicas de financiamento e
subsídios para inovação.
As frágeis apenas atendem o mercado interno e são responsáveis por pequenas parcelas
do faturamento, do investimento total e tecnológico realizado pelo subsetor. Novamente,
destaca-se a heterogeneidade tecnológica intragrupo do setor de fiação e tecelagem, no
qual nada menos do que 221 empresas (cerca de 47% do subsetor), não possuem
condições efetivas de inserção no mercado externo nem sequer estão protegidas da
acirrada concorrência internacional, tendo em vista o aumento de 71% da importação
brasileira de tecidos no período 2000-2007.
A fabricação de artefatos têxteis constitui o maior subsetor da indústria têxtil, possuindo
56% do número de empresas, 48% do pessoal ocupado e dos salários totais, 45% do
35
valor de transformação industrial, 42% do faturamento e do investimento total e 50% das
exportações totais da indústria têxtil. Como enfatizado anteriormente, esse subsetor
apenas não possui liderança em termos de investimentos em P&D e importações, uma
vez que possui participações de 31% e 35%, respectivamente, contra 68% e 52% para os
mesmos indicadores do subsetor de fiação e tecelagem.
O Gráfico 3.3 indica que todas as empresas líderes são inovadoras, sendo que 86%
inovam em produto e 69% inovam em processo. Em relação às líderes de fiação e
tecelagem, proporção menor de empresas está engajada com atividade de P&D (42%).
Seguindo o padrão encontrado na taxonomia líder-seguidora-frágil, as seguidoras inovam
mais em processo (36%) do que em produto (27%) e, algumas delas, envolvem-se com
atividade de P&D (9%).
Nas empresas produtoras de artefatos têxteis, a participação das líderes nas exportações
situa-se em torno de um terço, embora representem apenas 4% do número total de
empresas (Tabela 3.7). Isso também é refletido nos indicadores de coeficiente de
exportação da Tabela 3.8, que apresenta indicador de 8,4% contra 5,1% das seguidoras.
Tabela 3.7
Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Artefatos Têxteis (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 36 274 616 (3,89%) (29,59%) (66,52%)
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 17805 76833 43570 (12,88%) (55,59%) (31,52%)
Salários Totais (R$ milhões) 287,63 1001,78 332,49 (17,73%) (61,77%) (20,50%)
Faturamento (R$ milhões) 2494,29 8344,19 1272,46 (20,60%) (68,90%) (10,51%)
Lucros Totais (R$ milhões) 169,09 511,09 72,22 (22,47%) (67,93%) (9,60%)
Investimento Total (R$ milhões) 107,67 492,70 40,47 (16,80%) (76,88%) (6,31%)
Exportação Total (R$ milhões) 208,56 424,97 0,00 (32,92%) (67,08%) (0,00%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
As frágeis do subsetor de artefatos têxteis constituem foco para intervenção de políticas
públicas porque existem em grande número e empregam 32% da mão-de-obra do
36
subsetor, embora não possuam inserção externa e sejam caracterizadas por baixa
produtividade, baixa participação nos lucros (9,6%) e nos investimentos totais (6,3%). Em
termos de faturamento por empregado, a diferença entre as líderes e as frágeis é 4,6
maior para as primeiras.
Gráfico 3.3
Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de Artefatos Têxteis (%)
0%
25%
50%
75%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 36 Firmas Líderes, 274 Firmas Seguidoras, 616 Firmas Frágeis. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
Tabela 3.8
Indicadores da Indústria de Artefatos Têxteis para Líderes, Seguidoras e Frágeis (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 36 274 616 Salário médio mensal (R$) 1346,2 1086,5 635,9
Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) 1236,5 940,8 652,3 Faturamento médio (R$ milhões) 69,3 30,5 2,1
Lucro/Custo (R$) 7,0% 6,2% 5,5%
VTI/Faturamento (%) 40,6% 38,3% 45,0%
Exportações/Faturamento (%) 8,4% 5,1% 0,0%
Importações/Custos (%) 1,7% 3,1% 0,1%
Investimento/Faturamento (%) 4,3% 5,9% 3,2%
P&D/Faturamento (%) 0,4% 0,1% 0,0%
P&D/Investimento (%) 9,8% 1,8% 0,0% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
37
A representatividade do subsetor de tecidos e artigos de malhas é mais modesta, com
apenas 9% do valor de transformação da indústria têxtil e do faturamento ou 13% do
número de empresas e 10% do pessoal ocupado. Os investimentos em P&D são quase
inexistentes (1%), assim como há pouca inserção externa, medidas tanto pelas
participações nas exportações (3%) e importações (9%).
Esse subsetor possui quatro empresas líderes, 59 seguidoras e 153 frágeis. Nesse caso,
as líderes inovam em produto e processo em idêntica proporção, enquanto 25% delas
envolvem-se com atividade de P&D. Apenas 8% das seguidoras implementam gastos
com P&D, sendo que nas frágeis essa atividade é inexistente (Gráfico 3.4).
O desempenho econômico das líderes do segmento de malharias é ainda mais marcante,
pois apenas 4 empresas são responsáveis por 74% das exportações, 23% dos empregos,
25% dos salários totais, 27% do faturamento e 15% do investimento do subsetor. Nesse
segmento industrial, as frágeis também são bem numerosas, constituindo 71% do total de
empresas e empregando um terço do pessoal ocupado, embora não sejam exportadoras
(Tabela 3.9).
Tabela 3.9
Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Tecidos e Artigos de Malhas (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 4 59 153 (1,90%) (27,30%) (70,80%)
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 6246 12005 9228 -
(22,70%) (43,70%) (33,60%) Salários Totais (R$ milhões) 70,2 139,5 69,1
(25,20%) (50,00%) (24,80%) Faturamento (R$ milhões) 728,4 1529,5 450,9
(26,90%) (56,50%) (16,60%) Lucros Totais (R$ milhões) 35 121,9 32,4
(18,50%) (64,40%) (17,10%) Investimento Total (R$ milhões) 15,9 77,4 11,1 (15,20%) (74,10%) (10,70%) Exportação Total (R$ milhões) 29,2 10,2 0
(74,10%) (25,90%) (0,00%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
38
Gráfico 3.4 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Tecidos e Artigos de Malhas
(%)
0%
25%
50%
75%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Nota: 4 Firmas Líderes, 59 Firmas Seguidoras, 153 Firmas Frágeis. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.
Tabela 3.10
Indicadores da Indústria de Tecidos e Artigos de Malhas (2005) Indicador Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 4 59 153 Salário médio mensal (R$) 936,0 968,3 624,0
Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) 770,4 873,7 600,2 Faturamento médio (R$ milhões) 182,1 25,9 2,9
Lucro/Custo (R$) 4,9% 8,7% 7,7%
VTI/Faturamento 33,6% 36,2% 35,6%
Exportações/Faturamento (%) 4,0% 0,7% 0,0%
Importações/Custos (%) 2,1% 4,1% 0,1%
Investimento/Faturamento (%) 2,2% 5,1% 2,5%
P&D/Faturamento (%) 0,0% 0,0% 0,0%
P&D/Investimento (%) 0,3% 0,7% 0,0% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC. Pela Tabela 3.10, é possível notar que o salário médio das líderes é inferior ao das
seguidoras, tanto para o pessoal do “chão de fábrica” quanto para o pessoal ligado à
administração. Esse indicador pode ser reflexo das estratégias de relocalização de
unidades produtivas industriais dos segmentos mais a jusante da cadeia produtiva têxtil
para regiões de baixo custo de mão-de-obra em face à crescente ameaça representada
39
pela concorrência com produtos importados, especialmente chineses. Indicadores de
tamanho, como faturamento por empresa, mostram a disparidade intrassetorial, uma vez
que as líderes são sete vezes maiores que as seguidoras e equivalem a 60 vezes o
tamanho das frágeis.
40
4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA TÊXTIL
Os indicadores de participação de mercado e mark-up das firmas da indústria têxtil são
apresentados para o período de 1996 a 2005, na classificação de líderes-seguidoras-
frágeis. A metodologia consiste em identificar estas empresas em 2005 e calcular seus
indicadores ao longo do período, para se obter uma análise temporal das firmas do setor
classificadas como líderes, seguidoras e frágeis.
Com base no Gráfico 4.1, nota-se que a participação de mercado (nacional) das 64
líderes tecnológicas da indústria têxtil decresceu de 26% em 1996 para 21% em 2004,
voltando a crescer em 2005 para 24%. Por outro lado, as 567 empresas seguidoras do
setor apresentam tendência de crescimento nas vendas do mercado de 66% para 71%,
entre 1996 e 2003. A categoria das frágeis, que engloba 1020 empresas, possui
participação estável no período, geralmente inferior a 9%. As 4 emergentes possuem
participação residual, menor que 1%, mas que evolui de 0,26% para 0,55%.
As evidências permitem inferir que a grande maioria das firmas com maior participação no
mercado, entre as 4 e 8 maiores (CR-4 e CR-8) é empresa tecnologicamente líder, ou
seja, as líderes tecnológicas de maior porte são as maiores firmas da indústria têxtil. No
entanto, o crescimento da participação no mercado doméstico das seguidoras revela que
estratégia dessas firmas é de grande relevância para o mercado brasileiro de produtos
têxteis. Ao mesmo tempo, tal estratégia não exclui a importância das estratégias das
líderes que vêm procurando vender “menos quantidade” e “mais qualidade”, e embora sua
participação de mercado tenha decrescido relativamente no período vis-à-vis as
seguidoras.6 Portanto, é provável que as líderes tecnológicas explorem nichos de
mercado de alto valor agregado na produção de têxteis.
O Gráfico 4.2 corrobora a tese de que é preciso inovar para sustentar margens de lucro
em períodos de intensa concorrência com produtos padronizados oriundos, sobretudo, da
Ásia. Se for considerado o indicador das firmas líderes, nota-se que há uma redução de
6 Em pronunciamento à imprensa, o presidente da Santista Têxtil, Ricardo Weiss, confirma essa nova tendência das grandes empresas do setor, afirmando que “agora exportamos mais qualidade e menos quantidade” (http://valoresdefatos.blogspot.com/2008/03/s.html).
41
37% para 34% entre 1996 e 2005, sendo este valor igual à média do indicador em todo o
período analisado. No caso das seguidoras, após o crescimento das margens de lucro
entre 1996 e 2000, de 24% para 39%, observam-se reduções sucessivas até o ano de
2005, quando o indicador atinge o patamar de 32%. A média das margens em todo o
período é de 31%. Como o desvio-padrão da série de margem de lucro das seguidoras é
o dobro do das líderes, isso indica que há forte instabilidade nas margens das primeiras, o
que reflete a maior concorrência com os importados têxteis que estas empresas estão
expostas.7 A categoria de empresas que mais sofre com reduções de margens de lucro é
a das emergentes, em que o indicador se reduz de 38% para 13% no período analisado.
As frágeis possuem indicador que oscila entre 11% e 15% entre 2001 e 2005, após atingir
o pico (24%) em 1998 e se reduzir sucessivamente.
Gráfico 4.1 Participação de Mercado das Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de 2005
Indústria Têxtil (1996-2005, %)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
7 No caso das seguidoras e das líderes o desvio-padrão é de, respectivamente, 6% e 3%.
42
Gráfico 4.2 Mark-up das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de 2005
Indústria Têxtil (1996-2005, %)
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
O Gráfico 4.3 reúne trajetórias bem diferentes em relação à participação de mercado das
quatro maiores empresas de cada grupo industrial. Em relação ao início do período
analisado, os únicos subsetores que apresentam tendência clara de aumento dos
percentuais de participação de mercado das quatro maiores empresas são os de fiação e
tecelagem e o de fabricação de artefatos têxteis, que passaram, respectivamente, de 15%
para 23% e de 18% para 21%. No caso do beneficiamento de fibras naturais houve forte
oscilação, acompanhada de tendência de queda da concentração de mercado das quatro
maiores, de 47% para 24%. Na fabricação de artigos de malhas, o subsetor experimentou
crescente concentração até 1998, que foi se reduzindo até atingir 26% em 2005, patamar
levemente superior ao de 1996. Isso pode estar associado à crescente importação de
malhas, que deteriorou a posição das líderes de mercado do grupo. As mesmas
tendências podem ser observadas para a participação de mercados das oito maiores
empresas (Gráfico 4.4).
43
Gráfico 4.3 Participação de Mercado das Quatro Maiores Empresas da Indústria Têxtil (1996-
2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Beneficiamento de fibras naturais Fiação e tecelagem
Artefatos têxteis Fabricação de tecidos e artigos de malha
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 4.4 Participação de Mercado das Oito Maiores Empresas da Indústria Têxtil (1996-2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Beneficiamento de fibras naturais Fiação e tecelagem
Artefatos têxteis Fabricação de tecidos e artigos de malha
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
44
O indicador de primazia entre as quatro maiores atingiu maiores níveis em 2005,
comparativamente a 1996, nos casos de fiação e tecelagem e artefatos têxteis (Gráfico
4.5), embora neste último tenha havido retração de 65% para 53% entre 2004 e 2005. No
caso das malharias, há uma certa estabilidade do indicador, especialmente entre 1999 e
2005, em torno de 32%. O mesmo pode ser dito da primazia em relação às oito maiores
do subsetor (Gráfico 4.6). De forma coerente com o comportamento do CR4, o setor de
beneficiamento de fibras naturais apresenta forte tendência de redução no período 1996-
2005, em que o indicador de primazia passou de 54% para 36%. A primazia em relação
às oito maiores apresenta maior queda ainda para esse subsetor, de 40% para 24%
(Gráfico 4.6).
Gráfico 4.5 Primazia em Relação às Quatro Maiores Empresas da Indústria Têxtil Por
Subsetores (1996-2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Beneficiamento de fibras naturais Fiação e tecelagem
Artefatos têxteis Fabricação de tecidos e artigos de malha
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
45
Gráfico 4.6 Primazia em Relação às Oito Maiores Empresas da Indústria Têxtil Por Subsetores
(1996-2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Beneficiamento de fibras naturais Fiação e tecelagem
Artefatos têxteis Fabricação de tecidos e artigos de malha
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Em relação aos indicadores de mark-up das 4 maiores firmas (Gráfico 4.7), nota-se, em
geral, uma tendência de redução para a maior parte dos subsetores. Isso é claro, a partir
de 2002, para o subsetor de beneficiamento de fibras naturais, artefatos têxteis e artigos
de malhas e, entre 1999 e 2003, para fiação e tecelagem. Neste último, porém, a margem
de lucro das quatro maiores veio apresentando tendência de recuperação, atingindo 46%
em 2005. Em relação ao mark-up para o conjunto das empresas de todos os subsetores
(Gráfico 4.8), há relativa estabilidade desse indicador a partir de 2001, exceto para o
subsetor de beneficiamento de fibras naturais.
Comparando-se o mark-up das 4 maiores com o mark-up do total de firmas, nota-se que
no subsetor de artigos de malhas, a margem de lucro do total de firmas é um pouco
superior ao das 4 maiores desse setor. Isso contraria o padrão observado para os outros
subsetores em que a margem do total de firmas é sempre inferior à das 4 maiores.
46
Gráfico 4.7 Mark-up (MK) das Quatro Maiores Firmas da Indústria Têxtil (1996-2005)
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Beneficiamento de fibras naturais Fiação e tecelagem
Artefatos têxteis Fabricação de tecidos e artigos de malha
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 4.8 Mark-up (MK) Total das Firmas da Indústria Têxtil (1996-2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Beneficiamento de fibras naturais Fiação e tecelagem
Artefatos têxteis Fabricação de tecidos e artigos de malha
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
47
5. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO
5.1 Regime Tecnológico Setorial
A dinâmica inovadora do setor têxtil depende substancialmente de desenvolvimento
tecnológico exógeno, especialmente da indústria química e de bens de capital, o que
caracteriza o setor como dominado por fornecedores. Tal característica, contudo, não
exclui a necessidade de esforços inovadores endógenos ao setor. Verificam-se esforços
de desenvolvimento de produto, de desenvolvimento e gestão de ativos intangíveis e de
atualização do sistema produtivo, que garantam flexibilidade em face das freqüentes
mudanças de demanda e da necessidade de encurtar o ciclo de lançamento de novos
produtos.
Ciclos de vida menores dos produtos constituem um mecanismo pelo qual as empresas
líderes se protegem contra a baixa apropriabilidade que caracteriza o setor, uma vez que
patentes não são um meio eficaz de proteção contra cópias e imitações. Isso vale
principalmente para os setores de tecelagem e confecções, tendo em vista que o
segmento produtor de fios ainda se vale das patentes para proteger novos produtos
desenvolvidos. Através de lançamentos mais frequentes de produtos, as líderes também
coordenam melhor a sua cadeia. O lançamento de novos produtos exige investimentos
em ativos tangíveis e intangíveis. Os primeiros são medidos por indicadores que refletem
a compra de máquinas e equipamentos, sinalizando a compra de conhecimento
tecnológico incorporado em bens tangíveis. Os segundos podem ser medidos pelos
investimentos em P&D, indicando o grau de conhecimento em ciência básica e,
especialmente, em aplicada que a inovação de produto e processo exige.
A intensidade de P&D da indústria têxtil, medida pela proporção dos gastos de P&D em
relação ao faturamento, é de 0,22% bem abaixo da média da indústria de transformação
(0,66%). Isso indica que a probabilidade de inovar a partir de recursos investidos em
atividades de busca é pequena, o que denota que o setor possui baixa oportunidade
tecnológica, além de pequena cumulatividade, pois a compra de conhecimento
incorporado nos insumos químicos e em máquinas e equipamentos tende a prevalecer
sobre a aquisição de conhecimento intangível.
48
No caso da indústria de beneficiamento de fibras naturais, setor de primeira
transformação para tecidos feitos com esse tipo de fibra, não se observa intensidade em
capital ou em conhecimento (Tabela 5.1). Apenas 1% do investimento total realizado na
indústria têxtil é atribuído a esse setor, que também não implementa gastos com P&D.8 A
melhoria tecnológica das empresas, quando ocorre, dá-se via compra de conhecimento
incorporado em bens de capital.
No caso do segmento de fiação e tecelagem, as seguidoras concentram a maior parte dos
investimentos totais e dos gastos em P&D, ainda que a dinâmica da inovação de produto
esteja particularmente vinculada às líderes, como visto na seção 3. No esforço de P&D,
porém, a participação das seguidoras é menor em termos relativos, tendo em vista que
possuem 54% dos gastos contra 40% das líderes, enquanto que nos investimentos a
participação é de 73% contra 23% (Gráfico 5.1). Indicadores de intensidade de
investimento da Tabela 5.1 exibem semelhanças entre as líderes (5,8%) e as seguidoras
(6%). Por outro lado, em termos de intensidade de P&D, as diferenças são substantivas,
pois o indicador das líderes (0,5%) é 150% maior que o das seguidoras (0,2%).
Tabela 5.1 Importância para a Inovação na Indústria Têxtil
(números de empresas e participação no total, 2005)
Setor Indicadores Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Beneficiamento de Fibras Naturais
Número de empresas 3 7 30 -
Investimento/Faturamento (%) - 3,9% 4,5% - P&D/Faturamento (%) - 0,0% 0,0% -
Fiação e Tecelagem
Número de empresas 21 227 221 4
Investimento/Faturamento (%) 5,8% 6,0% 2,7% 7,5% P&D/Faturamento (%) 0,5% 0,2% 0,0% 2,1%
Artefatos Têxteis
Número de empresas 36 274 616 -
Investimento/Faturamento (%) 4,3% 5,9% 3,2% - P&D/Faturamento (%) 0,4% 0,1% 0,0% -
Tecidos e Artigos de Malhas
Número de empresas 4 59 153 -
Investimento/Faturamento (%) 2,2% 5,1% 2,5% - P&D/Faturamento (%) 0,0% 0,0% 0,0% -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
8 Dados sobre P&D de líderes não estão disponíveis para evitar individualização da informação. Mas, isso não altera a natureza das conclusões extraídas.
49
Gráfico 5.1
Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Fiação e Tecelagem
23%
73%
3% 1%
Investimento Total
40%
54%
0% 6%
Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
Na indústria de artefatos têxteis, há clara segmentação do regime tecnológico. Ao
contrário dos outros subgrupos da indústria têxtil, as empresas líderes realizam maior
parcela do gasto em P&D (54%), ao passo que seus investimentos perfazem apenas 17%
do total do subsetor. Esses números são corroborados pelos indicadores da Tabela 5.1,
que mostram intensidade de P&D das líderes (0,4%) 300% maior que das seguidoras
(0,1%). As seguidoras realizam 77% dos investimentos, enquanto que as frágeis investem
apenas 6% do total. Em relação ao esforço de P&D, as seguidoras realizam 46% dos
gastos e as frágeis não implementam tal estratégia de acumulação de conhecimento para
inovar (Gráfico 5.2).
Gráfico 5.2 Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Artefatos Têxteis
17%
77%
6%
Investimento Total
54%
46%
0%
Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.
No que tange aos artigos de malhas, há pequena participação das líderes tanto nos
investimentos totais (15%) quanto nos gastos de P&D (9%) – Gráfico 5.3. Esse fato está
50
associado à existência de apenas quatro empresas líderes nesse subsetor. Entretanto, a
concentração dos investimentos e dos gastos de P&D nas seguidoras contrasta com a
baixa taxa dessas empresas que são inovadoras de produto (29%), analisada no Gráfico
3.3. Através da Tabela 5.1, nota-se que o subsetor apresenta intensidade de P&D
próxima de zero, embora a intensidade de investimento das seguidoras (5,1%) seja muito
próxima das empresas da mesma categoria dos subsetores de fiação e tecelagem (6%) e
de artefatos têxteis (5,9%). Por outro lado, nesse subsetor as líderes possuem
intensidade de investimento (2,2%) significativamente inferior à das seguidoras (5,1%),
sendo menor que o próprio indicador das frágeis (2,5%).
Gráfico 5.3 Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Tecidos e Artigos de
Malhas
15%
74%
11%
Investimento Total
9%
91%
0%
Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A indústria de beneficiamento de fibras naturais possui líderes que atribuem importância
alta para diversas fontes externas de conhecimento para inovar: clientes e consumidores,
empresas de consultoria, universidades, centros de capacitação e instituições de testes,
feiras e exposições, além de redes de informação (Tabela 5.2). Essa forma de acumular
conhecimento para inovar é condizente com a condição de serem inovadoras de produto
e processo, simultaneamente, como visto no Gráfico 3.1, ainda que a participação dos
investimentos e gastos em P&D no total da indústria têxtil seja muito pequena.
As seguidoras desse subsetor evidenciam apenas duas formas de acesso a
conhecimento para inovar: empresas de consultoria (43%) e feiras e exposições (57%).
Dentre as frágeis, apenas 60% usam alguma fonte para inovar, que, nesse caso, são os
clientes e consumidores. Nenhuma empresa assinalou o departamento de P&D como
51
fonte para inovar, ressaltando uma particularidade desse subsetor de primeira
transformação da cadeia têxtil, que é o da dependência exclusiva de fontes externas,
principalmente clientes e feiras e exposições, tradicionalmente usadas pela indústria têxtil
para fins de mudança tecnológica.
Tabela 5.2 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Beneficiamento de Fibras
Naturais (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Número de empresas 3 7 30 Importância alta para departamento de P&D 0 0 0 (0%) (0%) (0%) Importância alta para Fornecedores 0 0 0 (0%) (0%) (0%) Importância alta para Clientes e Consumidores 3 0 18 (100%) (0%) (60%) Importância alta para Concorrentes 0 0 0 (0%) (0%) (0%) Importância alta para Empresa de Consultoria 3 3 0 (100%) (43%) (0%) Importância alta para Universidade 3 0 0 (100%) (0%) (0%) Importância alta para Centro de Capacitação 3 0 0 (100%) (0%) (0%) Importância alta para Instituições de Teste 3 0 0 (100%) (0%) (0%) Importância alta para Feiras e Exposições 3 4 0 (100%) (57%) (0%) Importância alta para Redes de Informação 3 0 0 (100%) (0%) (0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Ao contrário do subsetor anterior, a maior parte das líderes da indústria de fiação e
tecelagem atribui importância superior para fontes internas de conhecimento para inovar
através de departamento de P&D (Tabela 5.3). São também fontes altamente relevantes
para parte substantiva das líderes as feiras e exposições (63%), clientes e consumidores
(48%), redes de informação (40%), fornecedores (35%) e concorrentes (32%). Observa-
se que todas as fontes são altamente importantes para a grande maioria das emergentes,
ressaltando que todas elas consideram clientes e consumidores como fonte altamente
importante. Isto evidencia a hipótese de que este número restrito de firmas está
direcionado para nichos de mercado customizado. Em contraste com as líderes que não
usam as universidades como insumo para mudança tecnológica, estas empresas
emergentes desse subsetor, em sua maioria (72%), as utilizam certamente na busca de
52
conhecimentos direcionados para o desenvolvimento de produtos sob encomenda dos
clientes.
Tabela 5.3 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Fiação e Tecelagem
(Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Número de empresas 21 227 222 4 Importância alta para departamento de P&D 11 21 0 3 (51%) (9%) (0%) (72%) Importância alta para Fornecedores 7 61 21 0 (35%) (27%) (9%) (0%) Importância alta para Clientes e Consumidores 10 79 40 4 (48%) (35%) (18%) (100%) Importância alta para Concorrentes 7 36 19 3 (32%) (16%) (9%) (72%) Importância alta para Empresa de Consultoria 0 10 2 3 (0%) (4%) (1%) (72%) Importância alta para Universidade 0 9 0 3 (0%) (4%) (0%) (72%) Importância alta para Centro de Capacitação 1 11 0 3 (5%) (5%) (0%) (72%) Importância alta para Instituições de Teste 1 34 0 3 (5%) (15%) (0%) (72%) Importância alta para Feiras e Exposições 13 72 39 3 (63%) (32%) (18%) (72%) Importância alta para Redes de Informação 8 69 13 4 (40%) (30%) (6%) (100%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Em relação à indústria de artefatos têxteis, a inovação nas líderes é induzida por fontes
múltiplas de conhecimento para inovar. As mais citadas são: clientes e consumidores
(55%), fornecedores (44%), feiras e exposições (44%), redes de informação (43%), centro
de capacitação (38%), departamento de P&D (37%) e universidade (29%). Ao contrário
das líderes, as seguidoras utilizam tais fontes de forma pouco frequente. As fontes mais
usadas são as feiras e exposições (25%) e as redes de informação (18%). Para as
frágeis, somente 25% das empresas usam clientes e consumidores como fontes de
conhecimento para inovar, sendo essa a fonte mais citada (Tabela 5.4).
53
Tabela 5.4 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Artefatos Têxteis
(Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Número de empresas 36 274 616 Importância alta para departamento de P&D 13 16 0 (37%) (6%) (0%) Importância alta para Fornecedores 16 37 96 (44%) (14%) (16%) Importância alta para Clientes e Consumidores 19 54 154 (55%) (20%) (25%) Importância alta para Concorrentes 3 28 61 (10%) (10%) (10%) Importância alta para Empresa de Consultoria 2 15 10 (7%) (6%) (2%) Importância alta para Universidade 10 12 14 (29%) (4%) (2%) Importância alta para Centro de Capacitação 14 12 8 (39%) (4%) (1%) Importância alta para Instituições de Teste 8 8 4 (22%) (3%) (0,7%) Importância alta para Feiras e Exposições 16 68 90 (45%) (25%) (15%) Importância alta para Redes de Informação 16 48 77 (44%) (18%) (12%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Na fabricação de artigos de malhas, duas das quatro líderes atribuem importância alta
para o departamento de P&D da empresa, assim como para feiras e exposições. Uma
entre as quatro declara a relevância para clientes, concorrentes e redes de informação.
Informações oriundas do meio universitário não são úteis para as líderes desse subsetor.
Dentre as seguidoras, fornecedores (27%), feiras e exposições (25%) e clientes e
consumidores (20%) são as três fontes mais usadas pelas empresas. Nas frágeis, a
situação é ainda mais precária, pois a fonte mais usada, clientes e consumidores, é
restrita à 18% das empresas. As outras, fornecedores, concorrentes, feiras e redes de
informação, são mencionadas por cerca de apenas 5% das empresas (Tabela 5.5).
Logo, das 216 empresas que constituem o segmento de malharias, apenas duas (líderes)
indicam grande relevância para geração interna de novos produtos e processos. Por outro
lado, grande parcela das restantes (seguidoras e frágeis), quando adota a inovação como
arma de competição, apenas é capaz de imitar, de forma defasada, produtos expostos em
feiras e exposições ou de realizar apenas pequenas adaptações (inovação incremental).
54
Tabela 5.5 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Artigos de Malhas
(Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 4 59 153
Importância alta para departamento de P&D 2 5 0
(50%) (9%) (0%)
Importância alta para Fornecedores 0 16 9
(0%) (27%) (6%)
Importância alta para Clientes e Consumidores 1 12 27
(25%) (20%) (18%)
Importância alta para Concorrentes 1 11 7
(25%) (19%) (5%)
Importância alta para Empresa de Consultoria 0 5 0
(0%) (9%) (0%)
Importância alta para Universidade 0 1 0
(0%) (2%) (0%)
Importância alta para Centro de Capacitação 0 5 0
(0%) (9%) (0%)
Importância alta para Instituições de Teste 0 5 0
(0%) (9%) (0%)
Importância alta para Feiras e Exposições 2 15 7
(50%) (25%) (5%)
Importância alta para Redes de Informação 1 11 7
(25%) (19%) (5%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A cooperação para inovar não é praticada por nenhuma das 40 empresas do subsetor de
beneficiamento de fibras naturais. No subsetor de fiação e tecelagem (Tabela 5.6),
também há evidências de que a cooperação para inovação é pouco representativa para
tal subsetor, uma vez que apenas cinco das 21 líderes declararam que cooperam para
inovar, sendo que tal indicador é ainda menos significativo para seguidoras. A não
cooperação das emergentes possivelmente está relacionada ao foco que possuem em
inovação de produtos customizados, envoltos em segredo industrial. No caso das líderes
que cooperam, isso ocorre primordialmente com fornecedores, sendo que em dois casos
há cooperação através de P&D.
55
Tabela 5.6 Cooperação para Inovação na Indústria de Fiação e Tecelagem (Números de empresas que declararam importância alta, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 21 227 222 4
Cooperação para inovação 5 10 0 0
(24%) (5%) (0%) (0%)
Importância alta para cooperação com clientes e consumidores 1 5,72 0 0
(5%) (3%) (0%) (0%)
Importância alta para cooperação com fornecedores 3 3 0 0
(14%) (1%) (0%) (0%)
Importância alta para cooperação com concorrentes 1 0 0 0
(5%) (0%) (0%) (0%)
Cooperou PeD com fornecedores 2 2 0 0
(10%) (1%) (0%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Na fabricação de artefatos têxteis, a cooperação também somente é realizada, em maior
proporção (28%), pelas líderes, que possivelmente são as de maior porte, as quais
cooperam especialmente com fornecedores (25%) e clientes e consumidores (19%). Para
nove empresas líderes, a cooperação ocorre através de P&D com fornecedores. No caso
de seguidoras e frágeis, a cooperação é praticamente inexistente, restrito a somente 1%
das firmas de cada categoria (Tabela 5.7).
Tabela 5.7
Cooperação para Inovação na Indústria de Artefatos Têxteis (Números de empresas que declararam importância alta, 2005)
Líderes Seguidoras FrágeisNúmero de empresas 36 274 616 Cooperação para inovação 10 3 8 (28%) (1%) (1%) Importância alta para cooperação com clientes e consumidores 7 0 4 (19%) (0%) (0,7%)Importância alta para cooperação com fornecedores 9 2 0 (25%) (1%) (0%) Importância alta para cooperação com concorrentes 0 0 0 (0%) (0%) (0%) Cooperou PeD com fornecedores 9 0 0 (25%) (0%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
No segmento de artigos e tecidos de malhas, apenas ¼ das líderes cooperam para
inovar. Nesses casos, a cooperação geralmente ocorre mais freqüentemente com clientes
e fornecedores (Tabela 5.8).
56
Tabela 5.8 Cooperação para Inovação na Indústria de Artigos e Tecidos de Malhas
(Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Número de empresas 4 59 153 Cooperação para inovação 1 1 20 (25%) (2%) (13%) Importância alta para cooperação com clientes e consumidores 1 1 20 (25%) (2%) (13%) Importância alta para cooperação com fornecedores 1 1 0 (25%) (2%) (0%) Importância alta para cooperação com concorrentes 0 0 0 (0%) (0%) (0%) Cooperou PeD com fornecedores 1 0 0 (25%) (0%) (0%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
De modo geral, a interação e a cooperação com fornecedores para inovar envolvem
pequeno número de empresas, ainda que seja uma das formas mais frequentemente
citadas. Estudos realizados juntamente com fornecedores sobre novos materiais e
tendências, a partir de solicitações de clientes, são importantes para integrar a cadeia
têxtil. A cooperação junto a fabricantes de bens de capital e fornecedores de bens e
componentes eletroeletrônicos auxilia no desenvolvimento de novos processos. A
interação com fornecedores de insumos e componentes é vista também como forma de
encurtar o ciclo de inovações, para dominar os canais de fornecimento e de
comercialização e de fidelizar marcas.
5.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
A participação do capital estrangeiro na indústria têxtil é muito pouco expressiva. O
subsetor de fabricação de artigos e tecidos de malhas é composto em sua totalidade por
firmas de capital nacional. No subsetor de beneficiamento de fibras naturais não há firmas
estrangeiras líderes, somente seguidoras e frágeis, que equivalem a 57% e 16% do total
de firmas de cada categoria. O único indicador que diferencia nacionais de estrangeiras
na categoria frágeis é o relativo ao percentual de firmas que inovam. Cerca de 80% das
nacionais inovam, enquanto que, dentre as estrangeiras, não há nenhuma inovadora
(Tabela 5.9).
57
No subsetor de fiação e tecelagem, somente na categoria de seguidoras é possível
observar comportamento mais voltado à inovação das estrangeiras em relação às
nacionais. Nas líderes, todas inovam e exportam. Nas categorias frágeis e emergentes,
não há firmas de capital estrangeiro (Tabela 5.10).
Tabela 5.9 Firmas Estrangeiras na Indústria de Beneficiamento de Fibras Naturais
(Números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis
Nacional Estrangeira Nacional Estrangeira Nacional EstrangeiraN° de firmas 3 0 3 4 26 5 Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total)
- - 100% 89% 74,5% -
Exportadoras 100% - 100% 100% 0% 0% Inovadoras 100% - 100% 100% 79,8% 0% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 5.10 Firmas Estrangeiras na Indústria de Fiação e Tecelagem
(Números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nacional Estrangeira Nacional Estrangeira Nacional Estrangeira Nacional EstrangeiraN° de firmas 16 5 216 11 222 0 4 0 Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total)
85% 63% 80% 46% 93% - 90% -
Exportadoras 100% 100% 69% 100% 0% - 0% - Inovadoras 100% 100% 54% 73% 21% - 100% -
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 5.11
Firmas Estrangeiras na Indústria de Artefatos Têxteis (Números de empresas e participação no total, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis
Nacionais Estrangeiras Nacionais Estrangeiras Nacionais Estrangeiras
N° de firmas 32 3 248 26 612 4 Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total) 62% 77% 72% 77% 76% 72%
Exportadoras 100% 100% 66% 73% 0% 0%
Inovadoras 100% 100% 54% 8% 35% 0% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
58
No subsetor de artefatos têxteis, as líderes estrangeiras, que equivalem a 9% do número
total de empresas, diferenciam-se pouco das nacionais, tendo em vista que todas inovam
e exportam, além de apresentarem indicador de investimento em máquinas e
equipamentos pouco superior às nacionais. No caso das seguidoras e das frágeis, há
significativa diferença entre estrangeiras e nacionais no que tange à inovação. Nesse
caso, apenas as nacionais dessas categorias têm algum esforço inovador (Tabela 5.11).
5.3 FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
As tabelas abaixo mostram a distribuição do financiamento do BNDES ao setor têxtil.
Cabe ressaltar que os dados apresentados referem-se a todos os contratos de
empréstimos do BNDES entre 1996 e 2006. Por isso, mais de um empréstimo pode estar
vinculado a uma só empresa.
Através das Tabelas 5.12 a 5.15, nota-se que o acesso das líderes ao financiamento
público só não ocorre na indústria de beneficiamento de fibras, em que as seguidoras
absorvem 89% e as frágeis 11% de todo o financiamento. Na fiação e tecelagem e na
fabricação de artefatos têxteis, mais de 60% das líderes recorrem aos empréstimos do
BNDES, sendo que nas malharias esse indicador alcança a 100%. No entanto, a maior
parte do recurso emprestado é tomado pelas seguidoras, com cerca de 73% na fiação e
tecelagem, 65% na fabricação de artefatos têxteis e 54% na fabricação de malhas. Em
relação às frágeis, o percentual de financiamentos só é significativo nas malharias, com
participação de 25%. Nota-se que o BNDES possui importância fundamental para
financiamento da atualização tecnológica das seguidoras, propiciando inovações de
processo.
Tabela 5.12
Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria Beneficiamento de Fibras Naturais (Valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis Número de empresas 3 7 30 N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 0 7 6 (0%) (100%) (20%) Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 0 45652,80 5646,13 (0%) (89%) (11%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
59
Tabela 5.13 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Fiação e Tecelagem
(Valores acumulados no período 1996 a 2006) Líderes Seguidoras Frágeis EmergentesNúmero de empresas 21 227 222 4 N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 13 123 57 4 (63%) (54%) (26%) (100%) Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 411206,45 1336761,88 57827,19 20352,63 (23%) (73%) (3%) (1%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 5.14
Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Artefatos Têxteis (Valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 36 274 616
N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 22 144 91
(62%) (53%) (15%)
Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 244819,73 600909,79 85501,99
(26%) (65%) (9%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE
Tabela 5.15
Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Artigos e Tecidos de Malhas
(Valores acumulados no período 1996 a 2006)
Líderes Seguidoras Frágeis
Número de empresas 4 59 153
N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 4 41 28
(100%) (69,5%) (18,3%)
Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 52937,37 134630,01 61479,29
(21,3%) (54,1%) (24,7%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE
60
6. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS
O processo de acumulação de conhecimento da indústria têxtil é marcado por baixo nível
de oportunidades tecnológicas e de apropriação, tendo em vista a dependência de fontes
exógenas para inovar, como insumos químico-petroquímicos e bens de capital, os
reduzidos níveis de gastos em P&D e, em geral, a inexistência de barreiras legais ou
econômicas para evitar imitação e cópia. Entretanto, o processo de acumulação de
conhecimento tecnológico do setor têxtil, de modo geral, depende de investimentos de
dois tipos. No primeiro, há a necessidade de realização de P&D para dialogar com os
fornecedores de insumos, como no caso da fiação para acompanhar os lançamentos de
novos produtos dos grandes produtores mundiais de fibras químicas, como Dow
Chemical, Rhodia e Dupont. No segundo, há a necessidade de construir uma linha de
produção atualizada em termos de máquinas e equipamentos para produção em larga
escala e com alta produtividade.
Há significativa heterogeneidade tecnológica na cadeia têxtil. As oportunidades
tecnológicas diferem em temos intersetoriais e intrassetoriais, quando a indústria têxtil é
avaliada sob seus diferentes segmentos setoriais e sob a tipologia líderes-seguidoras-
frágeis.
O subsetor de beneficiamento de fibras naturais parece ser o de menor oportunidade
tecnológica da cadeia têxtil. Em termos de regime tecnológico, o setor não é intensivo
nem em capital nem em conhecimento. Alguns indicadores econômicos das empresas
frágeis superam os das seguidoras, embora as últimas tenham maior envolvimento com
inovação de processo e produto.
O subsetor de fiação e tecelagem é o de maior oportunidade tecnológica da indústria têxtil
e abriga empresas líderes grandes e eficientes, integradas verticalmente e com boa
inserção externa. É possível que combinem economias de escala e capacidade de
diferenciar produtos, enquanto as seguidoras de maior porte do subsetor são capazes de
exportar bens padronizados em larga escala, produzindo sob plantas atualizadas
operacionalmente, como demonstra o indicador de investimento sobre faturamento (6%).
Embora possuam, em média, intensidade de P&D de apenas 0,2%, realizam 37% do P&D
61
de toda a indústria têxtil, enquanto as líderes respondem por 27%. De fato, líderes e
seguidoras não se distinguem tanto, em relação aos indicadores de investimentos e
inserção externa, ainda que a intensidade de P&D possua diferença mais significativa.
Isso denota que ambas as categorias seguem o mesmo regime tecnológico, existindo
maior homogeneidade entre as empresas.
No subsetor de artefatos têxteis há dois regimes tecnológicos diferenciados. As empresas
líderes, com 17% dos gastos de P&D e 7% dos investimentos totais da indústria têxtil, são
mais intensivas em conhecimento e menos em capital, em relação às seguidoras, que
possuem 14% e 32% para os mesmos indicadores, respectivamente. Isso se reflete numa
relação P&D sobre investimento da ordem de 9,8% para as líderes e 1,8% para as
seguidoras. Logo, nota-se que as líderes estão em regime tecnológico de maiores
oportunidades, cumulatividade e apropriação, explorando nichos de mercado de alto valor
agregado, dada sua ótima performance exportadora. Essa estratégia tem produzido
concentração na maior empresa líder de mercado, conforme o indicador de primazia.
Alguns grupos nacionais atuam em diversos subsetores da cadeia têxtil, possuindo
competitividade externa em produtos de cama, mesa e banho e em tecidos (denin e brim).
A entrada de empresas brasileiras em segmentos de alto valor agregado é vista como
alternativa ao segmento de commodities, em que há grande concorrência mundial.
Informações do setor revelam que os tecidos da linha “premium” têm preços, em média,
50% maiores que os convencionais. O exemplo da empresa Cedro Cachoeira ilustra que
a entrada nesses segmentos requer, porém, capacidade tecnológica interna, propensão a
interagir com empresas da indústria química como Basf e Clariant e preocupação com
certificação e selos de qualidade. Outro segmento de produtos de alto valor agregado é o
que inclui fios com partículas nanotecnológicas, capazes de conferir propriedades
bactericidas e antichama, por exemplo, às roupas. É o caso da linha profissional que
abastece confecções que fabricam uniformes para hospitais, forças de segurança e outros
segmentos em que há riscos aos empregados. No caso da Cedro Cachoeira, os tecidos
dessa divisão respondem por 35% das receitas, além de possuírem selo de aprovação da
universidade canadense de Alberta, especializada nesse tipo de certificação.
62
O subsetor de tecidos e artigos de malhas é caracterizado por um único regime
tecnológico que representa todas as empresas. O padrão do subsetor é de baixas
oportunidades tecnológicas, pequena acumulação de conhecimento incorporado no
produto e baixo nível de apropriação. As baixas taxas de investimentos das líderes (2,2%)
indicam que elas operam com baixos níveis de economia de escala e a baixa intensidade
de P&D, que não alcança 0,01%, sinaliza que atuam em mercados de bens padronizados,
concorrendo via preço. Embora as quatro líderes exportem muito em relação ao próprio
subsetor a que pertencem (74%), suas exportações representam apenas 2% do total
exportado pela cadeia têxtil. Logo, as empresas exploram basicamente o mercado interno
e não possuem competitividade externa significativa.
Esse subsetor é o mais vulnerável à concorrência externa, principalmente se
considerarmos o aumento de 628% das importações de malhas no período recente (2005-
2007). Logo, como o setor possui pequena representatividade em termos de valor
agregado, faturamento e pessoal ocupado, em relação aos outros subsetores da cadeia
têxtil, existe o risco de desindustrialização. O Brasil não possui competitividade nos
chamados “tecidos tecnológicos” que envolvem misturas de, por exemplo, algodão com
inox e com linho. Os melhores desempenhos de tecelagens de malhas brasileiras, em
termos de adoção de inovações e capacidade de exportação, estão em confecções
integradas com malharias, como nos casos da moda praia e de produção de roupas
esportivas, que serão abordados na próxima seção. Mesmo assim, dada a falta de
competitividade brasileira em fibras químicas, toda inovação usada por tais empresas
resultam de progressos técnicos oriundos de empresas multinacionais como Dow
Chemical, que investe em fibras elásticas de alta resistência, de menor espessura e com
propriedades específicas, como não desbotar e ser resistente à radiação solar e ao cloro.
Isso significa dizer que processos de integração vertical na cadeia, que internalizem
etapas intensivas em P&D, como a produção de fios, até a etapa de confecção, devem
ser estimulados para exploração de melhores oportunidades tecnológicas no setor.
O bom desempenho brasileiro em fibras naturais e mescladas, a partir de 2001 e 2002,
respectivamente, em termos de saldo da balança comercial, opõe-se ao desempenho em
fibras químicas, em que o Brasil tem déficit estrutural.
63
De modo geral, o processo de redução da importância produtiva, medida em termos de
participação da cadeia têxtil no valor de transformação da indústria de transformação,
contrasta com o aumento do número de micro e pequenas empresas no setor nos últimos
dez anos, em virtude de pequenas barreiras à entrada. Em paralelo, tem havido fusões de
grandes empresas que levaram à redução do seu número no mesmo período. Evidências
mostradas no que tange à capacidade de exportar, adquirir maquinário novo, investir em
P&D e em ativos intangíveis são favoráveis às grandes empresas, líderes ou seguidoras,
dependendo do subsetor considerado. Isso significa dizer que fusões entre empresas
nacionais e entre estas e estrangeiras podem propiciar o surgimento de grandes grupos
nacionais que possam se internacionalizar. A internacionalização pode ocorrer via
investimento direto externo e/ou aquisições de empresas no exterior, a exemplo dos
grupos Santista Têxtil e Coteminas. Grandes grupos nacionais possuem melhores
condições para conquistar posições internacionais e coordenar a cadeia têxtil.
Considerando os quatros grupos industriais (CNAE) avaliados, nota-se que a convivência
de 64 empresas líderes, 630 seguidoras, 1020 frágeis e 4 emergentes é um indicador de
quão heterogênea é a cadeia têxtil brasileira. Ou seja, do total de 1718 empresas, apenas
3,7% possuem eficiência produtiva, por inovarem em processo, e boa capacidade de
desenvolvimento de produtos. Ambas são pré-requisitos para alcançar o mercado
internacional de forma competitiva. A capacidade de desenvolver novos produtos permite
atingir nichos de especialização que não concorram diretamente com a produção das
cadeias que são organizadas por grandes produtores e compradores globais que já
possuem marcas próprias e consolidadas, assim como já construíram redes produtivas
nas quais as etapas produtivas mais intensivas em trabalho já se deslocaram para regiões
com vantagens competitivas nesses fatores, como a Ásia, América Central e México.
Em termos de diretrizes de política industrial para o setor têxtil, apresentamos abaixo
algumas propostas em consonância aos resultados encontrados na pesquisa:
1. Estimular a consolidação de um regime tecnológico das empresas líderes e
seguidoras do subsetor de fiação e tecelagem mais intensivo em
conhecimento na geração de novos produtos, pela posição estratégica que
ocupam. A capacidade de diferenciar produtos nessas empresas determina,
em última instância, grande parte da competitividade da cadeia. Isso também
64
implica em estipular metas para aumentar a intensidade de P&D dessas
empresas, tendo em vista que as médias de 0,5% e 0,2%, respectivamente,
para líderes e seguidoras estão abaixo da média da indústria de
transformação e são proporções reduzidas para assimilação de novas
tendências tecnológicas para produção de fibras. Atenção deve ser dada à
nanotecnologia e às possibilidades de produzir tecidos com fios que possuem
nano partículas que alteram propriedades das fibras, como resistência,
conforto, efeitos antiodor, bactericidas, hidratação e proteção ultravioleta.
Nesse sentido, são positivas as medidas da PDP que busquem maior controle
das propriedades das fibras9, como: novas fibras para criar produtos
inovadores para a saúde e segurança do homem; novas fibras que propiciem
a fabricação de produtos inovadores saudáveis com características de
conforto, segurança e bem-estar; compósitos mais fortes, melhores e mais
eficientes; aumento da sustentabilidade de fibras e compósitos com redução
dos impactos no ambiente relacionados ao seu uso e à sua produção; fibras
como materiais que capacitem a fabricação de micro e nanotecnologias; fibras
para novos produtos têxteis com propriedades que facilitem limpeza e
lavagem; fibras como meio para mecanismos inovadores de transferência e
transporte, como gradual liberação de medicamentos; aperfeiçoamento de
métodos de fabricação de fibras, não-tecidos e compósitos fibrosos. Por isso,
os grupos de trabalho que venham a ser criados pela PDP para fins de
desenvolvimento da nanotecnologia devem conter representantes das
empresas mais intensivas em P&D do subsetor de fiação e tecelagem. Tais
proposições equivalem a criar maiores oportunidades tecnológicas e maior
acumulação de conhecimento setorial. Apenas através disso é que insumos e
processos necessários para produção de “tecidos inteligentes” poderão ser
alcançados, como: materiais poliméricos eletricamente ativos, tecidos e fibras
termo sensíveis, materiais fibrosos inteligentes, redes poliméricas com
capacidade de resposta a estímulos, membranas poliméricas com controle de
permeabilidade, sensores de fibras óticas, integração de componentes
fibrosos nas estruturas têxteis, integração com tecnologias fotônicas e
9 Essas propostas constam no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.
65
eletrônicas, estruturas têxteis responsivas e adaptativas e integração com
aplicações biomédicas10;
2. Articuladas às medidas citadas acima, podem ser implementadas políticas
que visem à criação de centros de excelência na área têxtil no Brasil para que
a política industrial possa conferir competitividade a nível mundial para as
empresas brasileiras. Ações como essas são reivindicadas por industriais do
setor. O foco dessa política poderia estar na criação de capacidade de P&D
voltada para a industrial têxtil, pois segundo os empresários do setor “nós não
temos no Brasil centros de excelência na área têxtil, tão fortes como existem
lá fora [...]”.11
3. Estimular a integração vertical do setor têxtil. A verticalização das empresas
com know-how em um segmento industrial possibilita reduzir custos de
transação, dominar outros processos industriais, agregar valor aos seus
produtos, ter aprendizado tecnológico, ampliar economias de escala ao longo
da cadeia e criar condições para maior apropriação de investimentos e
retornos da inovação. Um exemplo disso, é uma empresa de fiação e
tecelagem adquirir unidade industrial de acabamento, com vistas a dominar
processos de tinturaria, estamparia e acabamento, para entrada em mercados
de produtos mais sofisticados. Outro exemplo é uma empresa de confecções
que produza seu próprio fio, com capacidade de realizar P&D nessa etapa, a
fim de assimilar novas tendências tecnológicas e articular demandas
específicas aos seus fornecedores de fibras. O crescimento bem sucedido da
Coteminas foi decorrente da estratégia de integração vertical, que também
ocorria em outras partes do mundo, iniciado ao final da década de 90, que a
transformou na maior empresa de produtos têxteis manufaturados no âmbito
do Mercosul, com posição de liderança nos segmentos de artigos para o lar e
malharia (camisas polo, camisetas e meias).12
10 Idem. 11 Entrevista concedida ao IPEA, dentro do programa PAEDI, por Alvim Fauh Neto da Karsten. 12 Herrmann e Nassar (2000). Disponível em: http://www.pensa.org.br/anexos/biblioteca/2212008111743_EC00_Coteminas.pdf
66
4. A maior apropriação sobre retornos de investimentos e inovação requer
construção de canais de distribuição, comercialização e marcas próprias.
Design para tecelagem e malharias é fundamental para garantir
competitividade em setores mais a jusante da cadeia, em que há maior
agregação de valor. Nesse sentido, podem ser eficazes as metas da PDP que
vislumbrem o desenvolvimento da capacidade de design têxtil;
5. A PDP deveria estimular a internacionalização de líderes nacionais de tal
forma que se transformem em grandes atores no mercado mundial da cadeia
têxtil. Para tal, uma forma de conquistar essa meta é implementar ações
propostas pelo Estudo Prospectivo T&C que visem aumentar a capacidade de
P&D de empresas líderes da cadeia.13 Outros instrumentos para a
internacionalização poderiam ser processos de fusões e aquisições entre
empresas nacionais e entre estas e estrangeiras, investimentos diretos
externos em países que detenham vantagens comparativas, como baixo custo
de trabalho, ou que possuam acesso privilegiado aos grandes mercados
consumidores. Além disso, as políticas de incentivos à exportação da
indústria, como PROEX-Financiamento, PROEX-Equalização e o Novo
Revitaliza Exportações, poderiam fortalecer as empresas seguidoras para
atingirem metas de aceleração do crescimento de suas exportações. Também
em relação à política externa, deveriam ser buscados acordos preferenciais
de acesso aos mercados dos Estados Unidos e União Européia;
6. Atingir mercados de bens com maior valor agregado não significa deixar de
focar os mercados internacionais commoditizados. Isso porque há líderes e,
principalmente, seguidoras que possuem capacidade tecnológica para
produção em larga escala e com baixos custos, por causa de vantagens
associadas ao nível salarial do pessoal de “chão de fábrica”, a exemplo de
plantas que se deslocaram para o Nordeste, ou porque se aproveitam de
mesclas de fibras naturais (algodão), nas quais o Brasil tem competitividade, e
químicas (poliéster), como no caso da Coteminas;
13 Ação proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.
67
7. Logo, tanto líderes quanto seguidoras dos subsetores de fiação e tecelagem
como do subsetor de artefatos têxteis devem ser o foco da PDP, em relação
às políticas de capacitação tecnológica, que inclui modernização de bens de
capital, investimentos em P&D e políticas de integração vertical. O foco se
justifica porque, além dos argumentos acima expostos, os setores
representam juntos 85% das firmas da indústria têxtil, concentrando 89% do
pessoal ocupado, 89% do faturamento, 92% do investimento e 93% das
exportações. No entanto, a participação das frágeis nesses números é
preocupante, tendo em vista que constituem 51% do número de firmas e 23%
do pessoal ocupado da indústria têxtil, enquanto respondem por apenas 4%
do investimento total e 7% do faturamento;
8. Embora o número de emergentes seja muito reduzido (4), deveriam receber
maiores aportes ou condições mais favoráveis em programas de estruturação
de empresas emergentes do BNDES, do qual já participam captando 1% dos
recursos financiados ao subsetor a que pertencem. O seu potencial
tecnológico é muito grande, tendo em vista que suas relações
P&D/faturamento e P&D/investimento são de 2,1% e 28%. Segundo
panorama setorial da ABDI (2008), o envolvimento das universidades poderia
ocorrer via incubação de pequenos negócios inovadores da cadeia da moda,
intensivos em tecnologia de comunicação e informação, em técnicas de
beneficiamento, de design ou de montagem de peças. Outra proposta que
poderia atingir pequenas empresas emergentes seria a subvenção de projetos
de inovação, ao invés de financiamento, nos quais os riscos seriam repartidos
com o BNDES e parte dos royalties seriam empregados para financiar outros
projetos. Esta proposta deveria estar articulada à capacidade embrionária de
inovação, já existente em empresas emergentes ou empresas pequenas e
médias das categorias líderes e seguidoras;
9. Como a cadeia têxtil brasileira é pouco integrada, em termos de coordenação
vertical entre fornecedores e usuários e integração de capital a montante e a
jusante, que constitui desvantagem em relação à cadeia têxtil de países
competidores asiáticos, é mister articular os instrumentos de incentivo da PDP
68
ao longo de toda a cadeia, a fim de fortalecer seus elos. A competitividade do
setor têxtil depende de todos os elos da cadeia e não apenas de uma
empresa ou grupo de empresas. Para tal, medidas que promovam cursos
sobre gerenciamento da cadeia de suprimentos (“supply-chain management”),
em instituições de suporte às empresas, permitiriam acompanhar tendências
mundiais do setor e difundir o uso dessa técnica de gestão no Brasil para que
as trocas de informações entre clientes e fornecedores pudessem ser
ampliadas.
10. A questão ambiental é importante porque organismos internacionais já criaram
o “selo verde” para produtos têxteis que respeitem aspectos ecológicos e
toxicológicos. A indústria têxtil chega a consumir 15% da água usada por todo
o setor industrial, além de gerar efluentes tóxicos, como no subsetor de
acabamento. A certificação pode facilitar a entrada em mercados
internacionais. Outras iniciativas, como a certificação do algodão
ambientalmente sustentável em seu ciclo de produção, lideradas por
Coteminas, Marisol, Santista Têxtil/Tavex e Springs Global, também são
exemplos que devem ser apoiados pela PDP. Explorar a vantagem
competitiva em produtos de algodão, como denin e outros da linha cama,
mesa e banho, envolve melhoria constante na produtividade e na qualidade
da fibra de algodão brasileiro. Nesse sentido, o aproveitamento do know-how
de centros de pesquisa como a EMBRAPA e IAC são importantes para fazer
melhoramento genético e desenvolvimento de novas variedades de algodão,
como o “algodão colorido”, o qual pode propiciar produtos diferenciados e
dispensar o uso de corantes, com benefícios vinculados à redução de
efluentes químicos e tóxicos ao meio ambiente;
11. Aumentar a competitividade do elo produtor de fibras químicas, que possui
déficit estrutural. Associações entre grupos empresariais privados e o Estado
podem contribuir para isso. Essa possibilidade é ilustrada pelo projeto que
envolve a Petroquisa, o governo do Estado de Pernambuco e o grupo formado
pelas empresas Vicunha Têxtil, FIT e Polyenka (Companhia Integrada do
Nordeste – CITENE), que pretende criar a Companhia Integrada Têxtil de
69
Pernambuco (Projeto CITEPE). Tal companhia será uma unidade fabril
verticalizada para produção de fibras sintéticas, segundo padrões asiáticos de
competitividade, prevista para 2010. Outro exemplo é a construção da
refinaria de petróleo da Petrobrás/PDVSA no Estado de Pernambuco,
possibilitando a criação do Pólo de Poliéster do Nordeste. O empreendimento
será sustentado pela Petrobrás, pelo grupo italiano Mossi & Ghisolfi (M&G) e
uma fábrica de tecidos sintéticos finos do grupo coreano Kabul Synthetics
Fiber.
12. A PDP deve contemplar medidas de desoneração tributária, previstas e
aprovadas pelo Comitê Executivo de T&C, como14: ampliação do prazo de
recolhimento do PIS e COFINS para 60 dias; redução de IPI de insumos sem
similar nacional, como o GLICOL que entra na confecção da “lycra”; ampliar
as possibilidades de créditos das indústrias na apuração do PIS/COFINS não
cumulativos; desoneração de produtos têxteis considerados essenciais, como
uniformes e roupas profissionais; elevação do limite de empréstimo do
governo federal para viabilizar o financiamento, a estocagem e o processo de
industrialização do algodão de produção nacional. Outras medidas de
desoneração tributária deveriam estar condicionadas ao aumento dos gastos
em P&D, ao desempenho exportador das seguidoras e à internacionalização
das líderes, como regras de reciprocidade para suporte de natureza creditício
e tributário da PDP.
13. Outras medidas são associadas aos determinantes de caráter político-
institucional da competitividade, como o uso do poder de compra do Estado
para produtos com maior nível de agregação tecnológica.
14 Medidas propostas no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.
70
7. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO
Essa seção analisa os dados da PINTEC para a indústria de vestuário, que compreende
dois subsetores: confecção de artigos do vestuário (CNAE-181) e fabricação de
acessórios do vestuário e de segurança profissional (CNAE-182).
A indústria de vestuário possui grande quantidade de empresas, mesmo considerando
apenas o estrato certo da PIA, restrito a firmas acima de 30 pessoas ocupadas (3.647). A
maioria é de pequeno porte, em média 86 empregados por firma, e pouco intensiva em
capital. A intensidade de P&D (0,18%) é inferior ao da indústria têxtil (0,22%) e bem
abaixo da média da indústria de transformação (0,66%). Nesse universo de 3.647
empresas foram identificadas 12 líderes, 623 seguidoras, 3000 frágeis e 12 emergentes.
Ressalta-se, portanto, a proporção elevada de firmas dessa indústria que são
classificadas como frágeis (82%), em contraste com apenas 0,3% das firmas
consideradas líderes, 17% seguidoras e outras 0,3% emergentes.
Ainda assim, a literatura da área aponta algumas empresas brasileiras que se destacam
em termos de esforço de concepção e criação de novos produtos. No segmento de moda
praia e de roupa íntima destacam-se, no mercado doméstico e até mesmo internacional,
as empresas Rosa Chá, Cia. Marítima e DuLoren. Outras marcas como Zoomp, M. Officer
e Ellus ocupam liderança de mercado doméstico, obtendo bons resultados também no
mercado internacional.
O Gráfico 7.1 indica que as líderes são principalmente inovadoras de produto e de
processo, estando envolvidas, em sua maior parte, com esforço interno de P&D. A
inovação nas seguidoras e frágeis é uma atividade bem menos frequente, pois apenas
40% das seguidoras e 31% das frágeis são inovadoras. As seguidoras realizam inovação
de processo numa frequência superior à inovação de produto, sendo que o mesmo ocorre
para as frágeis. É interessante notar que todas as emergentes são inovadoras de produto
e 75% realizam P&D. A atividade de P&D ocorre numa fração muito modesta das
seguidoras (2,7%) e está ausente nas frágeis.
71
Gráfico 7.1 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis da Indústria de Vestuário (%)
0%
25%
50%
75%
100%
Inovadoras Inovadora de produto Inovadora de processo P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 12 Firmas Líderes, 623 Firmas Seguidoras, 3000 Firmas Frágeis e 12 Firmas Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
As Tabelas 7.1 e a 7.2 mostram características estruturais das empresas do setor de
vestuário de acordo com a classificação por inovação e liderança. Comparando líderes e
seguidoras, as líderes pagam salários médios 33% maiores e têm faturamento médio 6,6
vezes superior. A inserção externa das líderes é maior do que a das seguidoras e ausente
nas frágeis, como evidenciada pelas relações entre exportações e faturamento e
importações e custos. Sobre esse aspecto, é interessante notar a capacidade de geração
de divisas das líderes, pois as 12 empresas líderes exportam 17% do total enquanto 623
seguidoras exportam 83%. O padrão exportador das seguidoras é de bens padronizados,
competindo via preços, tendo em vista o baixo envolvimento com P&D. Pela sua
capacidade de exportação, tanto líderes quanto seguidoras merecem atenção
diferenciada por políticas industriais.
Proporcionalmente ao faturamento, as emergentes investem mais em P&D do que todas
as outras categorias de empresas, embora não tenham ainda inserção externa.
Entretanto, é razoável supor que, com tal intensidade de P&D (2,1%), em pouco tempo
72
algumas delas alcancem o mercado internacional com produtos novos, produzidos sob
processos mais atualizados, tendo em vista que todas inovam em produto e metade inova
em processo.
Tabela 7.1 Estrutura da Indústria de Vestuário por Liderança Tecnológica (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 12 623 3000 12
(0,3%) (17,1%) (82,3%) (0,3%)
Pessoal Ocupado (número de pessoas) 14395 109055 189874 2083 (4,6%) (34,6%) (60,2%) (0,7%)
Salários Totais (R$ milhões) 179,95 1023,30 1009,44 14,65 (8,1%) (45,9%) (45,3%) (0,7%)
Faturamento (R$ milhões) 1049,94 8195,55 3414,74 62,02 (8,3%) (64,4%) (26,8%) (0,5%)
Lucros Totais (R$ milhões) 93,23 728,22 209,96 2,80 (9,0%) (70,4%) (20,3%) (0,3%)
Investimento Total (R$ milhões) 27,08 245,33 69,44 0,20 (7,9%) (71,7%) (20,3%) (0,1%)
Exportação Total (R$ milhões) 29,26 140,34 0,00 0,00
(17,3%) (82,7%) (0,0%) (0,0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Tabela 7.2
Estrutura da Indústria de Vestuário por Liderança Tecnológica (2005)
Indicador Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Número de empresas 12 623 3000 12 Salário médio mensal (R$) 1041,7 781,9 443,0 586,2
Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) 858,4 685,3 462,5 540,7 Faturamento médio (R$ milhões) 87,5 13,2 1,1 5,2
Lucro/Custo (R$) 9,5% 9,4% 6,0% 4,2%
VTI/Faturamento (%) 50,3% 37,9% 42,2% 35,1%
Exportações/Faturamento (%) 2,8% 1,7% 0,0% 0,0%
Importações/Custos (%) 1,2% 1,0% 0,1% 1,8%
Investimento/Faturamento (%) 2,6% 3,0% 2,0% 0,3%
P&D/Faturamento (%) 1,0% 0,1% 0,0% 2,1%
P&D/Investimento (%) 39,2% 4,7% 0,1% 653,5% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
A agregação de valor (relação VTI/Faturamento) é maior para as líderes, sendo coerente
com a capacitação tecnológica. A possível explicação para as frágeis possuírem maior
agregação de valor do que as seguidoras deve-se, paradoxalmente, ao fato de serem
tecnologicamente mais defasadas e, portanto, mais intensivas em trabalho. Por sua vez,
73
os elevados custos fixos relativos aos dispêndios em P&D das emergentes podem
explicar sua menor agregação de valor..
O salário médio do pessoal industrial é maior nas líderes, seguidoras, emergentes, nessa
ordem, em relação às frágeis. Isso reflete a utilização de pessoal mais qualificado, o que
condiz com a capacitação tecnológica das empresas.
74
8. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO
Os indicadores de participação de mercado e mark-up das firmas da indústria de vestuário
são apresentados para o período de 1996 a 2005, na classificação de líderes-seguidoras-
frágeis. A metodologia consiste em identificar estas empresas em 2005 e calcular seus
indicadores ao longo do período, para se obter uma análise temporal das firmas do setor
classificadas como líderes, seguidoras e frágeis.
Gráfico 8.1 Participação de Mercado das Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de 2005
Indústria de Vestuário (1996-2005, %)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Com base no Gráfico 8.1, nota-se que a participação das 12 líderes tecnológicas da
indústria de vestuário apresenta trajetória declinante, reduzindo pela metade a sua
magnitude entre 1996 e 2005. Por outro lado, as 623 empresas seguidoras do setor
apresentam participação de mercado que oscilou entre 64% e 67%, embora haja
tendência levemente decrescente no período. A categoria das frágeis, que engloba 3000
empresas, possui participação crescente, tendo em vista que o indicador evoluiu de 20%
para 27%. As 12 emergentes possuem participação residual, menor que 1% em todo o
período, mas que cresceu de 0,40% para 0,49%. Tais números evidenciam o quadro geral
75
de perda de competitividade da indústria nacional de vestuário, em que suas empresas
maiores e com maior capacidade tecnológica perderam significativamente participação no
mercado doméstico.
Gráfico 8.2
Mark-up das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de 2005
Indústria de Vestuário (1996-2005, %)
‐30%
‐20%
‐10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
A situação descrita acima é confirmada pelo Gráfico 8.2, em que as margens de lucro das
seguidoras, amplamente dominantes no mercado doméstico, com 65% de participação,
apresentaram tendência declinante entre 1996 e 2002. A recuperação que se segue não é
suficiente para fazer as margens alcançarem o mesmo patamar do início do período
analisado. Por outro lado, as líderes apresentaram margens crescentes no período, com
crescimento do mark up de 28% em 1996 para 49% em 2005. É paradoxal, por sua vez, a
perda significativa de mercado das líderes tecnológicas simultaneamente ao forte
crescimento do mark up, o que seguramente lhes é assegurado pela atuação em nichos
de mercado em que a inovação é importante. Uma provável explicação para esse
paradoxo é o aumento vigoroso do poder aquisitivo dos estratos de renda mais baixos da
população brasileira nesse período, que resultou em um crescimento mais rápido dos
76
segmentos de vestuário popular relativamente aos nichos dos estratos de alta renda.
Refletindo a pressão competitiva as importações sobre as empresas frágeis o mark up
desta categoria é fortemente reduzido, passando de 41%, em 1996, para 10%, em 2005.
Em suma, ainda que as frágeis tenham ganhado participação no mercado nacional em
relação às firmas domésticas de maior porte e melhor capacidade tecnológica, as líderes
e seguidoras, sua posição competitiva frente às importações é de crescente
vulnerabilidade.
O Gráfico 8.3 mostra o crescimento do número de empresas da indústria de vestuário
(CNAE-181) entre 1996-2005, especialmente a partir do ano de 2000. Esse crescimento
ocorre simultaneamente a uma queda da participação de mercado das quatro maiores
empresas desse subsetor, cuja tendência de queda se inicia em 1999. Em relação ao
subsetor de acessórios,CNAE-182, o número de empresas oscilou ao longo dessa
década, situando-se num patamar ligeiramente superior ao de 1996 (Gráfico 8.4). No caso
do subsetor CNAE-182, houve maior oscilação do indicador CR4, com tendência recente
de declínio da participação das 4 maiores, o que resultou numa participação similar ao do
início da década (Gráfico 8.5).
Gráfico 8.3
Número de Empresas da Indústria de Vestuário – CNAE-181 (1996-2005)
13972
18723
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
77
Gráfico 8.4 Número de Empresas da Indústria de Vestuário – CNAE-182 (1996-2005)
736
799
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Número de empresas
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
Gráfico 8.5 Primazia da Indústria de Vestuário (1996-2005)
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Primazia 4 Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
78
A relativa redução da concentração setorial é indicada pelo indicador de primazia
(participação da maior empresa no grupo das 4 maiores). O Gráfico 8.5 ilustra uma
redução sistemática do peso da maior empresa na receita das quatro maiores no período
entre 1996 e 2005, de 36% para 29%.
O mark-up da indústria de vestuário cresceu apenas de 1998 a 2002, quando se reduz e
atinge nível similar a de 1996. Essa trajetória acompanhou o mark-up do setor (Gráfico
8.7), que também declina sistematicamente a partir de 2001.
Gráfico 8.6 Mark-up das Quatro Maiores Firmas da Indústria de Vestuário (1996-2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
MK 4 maiores
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
79
Gráfico 8.7 Mark-up das Firmas da Indústria de Vestuário (1996-2005)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
MK total
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.
80
9. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO
9.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL
Nessa seção serão descritos o regime tecnológico da indústria de vestuário e as
condições de desenvolvimento de um sistema setorial de inovação.
Alguns aspectos que caracterizam a indústria têxtil também marcam a indústria de
vestuário, como baixo grau de apropriação, oportunidade tecnológica e cumulatividade. O
grau de oportunidade tecnológica pode ser medido pela intensidade de P&D da indústria
de vestuário, de 0,18%, que se situa abaixo da média da indústria de transformação
(0,66%) e da indústria têxtil (0,22%). Isso caracteriza o setor como de baixa oportunidade
tecnológica. Como as barreiras à entrada são pequenas por causa da existência de firmas
pouco intensivas em capital, a competitividade do setor é dependente da estratégia de
diferenciação ou moda, com investimentos em marca, concepção de produto, qualidade e
canais de distribuição e comercialização. A rapidez de resposta da empresa aos sinais de
mercado é uma forma de se antecipar aos concorrentes e aumentar a participação de
mercado. O encurtamento do ciclo de vida dos produtos é uma forma de lidar com a
ausência de mecanismos de apropriação efetiva dos benefícios provenientes de
investimentos realizados na criação de produtos novos.
No setor de vestuário há firmas que procuram diferenciar ao máximo seus produtos, que
são de maior valor agregado, baseados em fashion design, feitos a partir de pequenos
lotes. As vendas são feitas em lojas de griffe, muitas vezes sob franchising. Outras, no
entanto, não possuem marcas, nem capacidade de realizar P&D para diferenciar
produtos, sendo subcontratadas. Algumas possuem economias de escala para produção
de grandes volumes a preços baixos, enquanto outras são de pequeno porte, sendo
contratadas sob regime de facção. 15
15 Empresas faccionistas ou maquiladoras, em geral, não tem linha de produção própria, trabalhando sob encomenda para terceiros. Tais empresas contam apenas com instalações, equipamentos e mão-de-obra próprios. A empresa contratante orienta a faccionista em relação à matéria-prima, aos insumos e à fabricação. Esta modalidade de operação é bastante comum na fase de costura.
81
A terceirização ou subcontratação ocorre a partir de firmas do próprio setor que possuem
marcas ou a partir de comercializadores e varejistas com marcas.16 No caso de
produtores com marcas o foco é totalmente sobre design e comercialização, sem
envolvimento com produção. Ilustram tal categoria empresas como Nike, Donna Karan,
Ralph Lauren, sendo emblemáticos os casos da Levi Strauss & Co. e o da Benetton. Suas
vantagens comparativas estão centradas nas atividades a jusante, como design,
marketing e comercialização, contratando atividades de produção. Monteiro Filha e
Santos (2002) destacam que tais empresas precisam ter capacitação em gerenciamento
de marcas, de canais de distribuição e comercialização e operação dos pontos de venda;
desenvolver P&D para dialogar com fornecedores de fibras e insumos químicos para o
acabamento na especificação correta; dominar os conceitos de práticas de gestão de
suprimentos para que se possa terceirizar a produção e a logística. Essas empresas
investiram em tecnologias (Eletronic Data Interchange) para controlar a cadeia de
fornecedores e para obter informações de mercado.
Grandes varejistas, que têm investido crescentemente em marcas, também exercem o
papel de coordenar a cadeia de vestuário por causa do seu grande poder de compra.
Supermercados, hipermercados e redes varejistas privilegiam grandes volumes e baixos
preços, tornando-se opção para empresas que possuem economias de escala para
fabricação de mercadorias padronizadas, com baixos preços. São exemplos dessa
categoria empresas como The Gap, C&A e Marks & Spencer.
As diferenças tecnológicas intragrupo tornam-se mais evidentes à medida que os
indicadores são apresentados a partir da taxonomia líderes-seguidoras-frágeis. As líderes
brasileiras na indústria de vestuário parecem que estão focando em etapas mais criativas
do processo produtivo. Essa constatação é feita com base no fato de que as líderes
concentram 8% dos investimentos totais mas respondem por 45% dos gastos em P&D
(Gráfico 9.1). Ou seja, 12 empresas, que são 0,33% do total, possuem em média uma
participação de P&D em relação ao faturamento de 1%, enquanto a participação dos
investimentos em capital fixo em relação ao faturamento é de 2,6%, abaixo da
participação média das seguidoras, de 3% (Tabela 7.2), que por sua vez possuem uma
participação média de P&D de apenas 0,1% (Tabela 7.2). Isso mostra que parte
16 Essa tipologia de modelos de organização de empresas foi realizada por Fleury et alii (2001).
82
expressiva dos investimentos das líderes é concentrada em ativos mais intangíveis,
enquanto as seguidoras provavelmente concentram seus gastos em tecnologia
incorporada em máquinas e equipamentos, por serem intensivas em capital e atingirem
economias de escala suficientes para competirem por preço. Em suma, o regime
tecnológico das líderes baseia-se em maior grau cumulatividade de conhecimento, que
aumenta a apropriabilidade dos novos produtos e maiores oportunidades para novos
lançamentos, em geral determinado pelas 4 estações do ano. Em contraste, o regime
tecnológico das seguidoras é de baixa cumulatividade e apropriabilidade, baseado em
ganhos de escala de logística de produção, inclusive subcontratação, e principalmente
rede de distribuição.
Gráfico 9.1
Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Vestuário
8%
72%
20%0%
Investimento Total
45,1%
49,2%
0,2% 5,5%
Gastos em P&D
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
Com intensidade média de P&D de 2,1% (Tabela 7.2), as emergentes respondem por
5,5% dos gastos em P&D (Gráfico 9.1). A preocupação das líderes e emergentes em
desenvolver formas de conhecimento intangíveis para inovar reflete-se nos indicadores da
Tabela 9.1.
No caso das líderes, as fontes de conhecimento para inovar mais indicadas são
fornecedores (76%) e departamento interno de P&D (57%), seguidas de feiras e
exposições (49%) e clientes e consumidores (43%). Nas emergentes, nota-se que as
fontes consideradas mais importantes são as redes de informação (69%), as concorrentes
(61%) e os clientes e consumidores (59%), seguidas de feiras e exposições (55%) e
departamento interno de P&D (40%). É interessante também observar que são também
relevantes para um percentual significativo de firmas as universidades (28%) e as
83
instituições de teste (28%), enquanto os fornecedores são pouco importantes (14%), em
contraste com sua alta importância para a grande maioria das líderes.
Tabela 9.1 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Vestuário (Números de empresas que declararam importância alta, 2005)
Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Número de empresas 12 623 3000 12 Importância alta para departamento de P&D 7 4 0 5 (57%) (1%) (0%) (40%) Importância alta para Fornecedores 9 104 459 2 (76%) (17%) (15%) (14%) Importância alta para Clientes e Consumidores 5 103 439 7 (43%) (17%) (15%) (59%) Importância alta para Concorrentes 2 42 190 7 (16%) (7%) (6%) (61%) Importância alta para Empresa de Consultoria 1 6,33 42,53 0 (8%) (1%) (1%) (0%) Importância alta para Universidade 2 8 9 3 (16%) (1%) (0,3%) (28%) Importância alta para Centro de Capacitação 1 12,28 82,65 0 (8%) (2%) (3%) (0%) Importância alta para Instituições de Teste 2 9 8 3 (16%) (2%) (0,3%) (28%) Importância alta para Feiras e Exposições 6 94 413 6 (49%) (15%) (14%) (55%) Importância alta para Redes de Informação 2 103 340 8 (16%) (17%) (11%) (69%)
Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.
Nota-se que o departamento de P&D é citado nas duas categorias de empresas como
forma usada para aquisição de conhecimento para geração de inovações, com a
diferença de que as líderes a utilizam em maior frequência do que as emergentes. Isso
deve estar associado ao maior tamanho daquelas em relação a estas. De acordo com a
literatura, a atividade de P&D vem se tornando mais custosa ao longo dos anos, o que
acentua o caráter de custo fixo desse tipo de gasto, o qual somente pode ser bem
suportado por grandes empresas. Além disso, o acesso a redes de informação externas e
a universidades por empresas emergentes são indícios de que tais empresas utilizam
mecanismos para atenuar a desvantagem associada ao seu menor tamanho que, por sua
vez, reflete-se na dificuldade de suportar os custos fixos elevados da P&D.
Entretanto, formas tradicionais ao setor de acesso a conhecimento, como participação em
feiras e exposições, são comuns a ambos os tipos de empresas. No entanto, formas
84
ligadas diretamente à inovação induzida de produto e, assim, a sua efetiva diferenciação,
expressas nos quesitos “sugestões de clientes e consumidores” e “concorrentes”, é bem
mais presente entre as emergentes do que entre as líderes, o que sugere que aquelas
são “tailor made”, operando em pequena escala que permite a customização. Convém
aqui ressaltar que, para as líderes, os fornecedores, possivelmente de máquinas e
equipamentos e de tecidos, são muito citados como forma de acesso a conhecimento
relevante para inovar, ao contrário das emergentes. Isso deve refletir a maior integração
das líderes com empresas mais a montante da cadeia têxtil-vestuário. Esse é um aspecto
importante que deve ser incentivado por políticas industriais, tendo em vista que grande
parte da competitividade asiática está vinculada à grande integração existente entre
vários segmentos da cadeia têxtil-vestuário.
Nas empresas frágeis, em que a atividade inovadora é pouco frequente (31% das firmas),
o acesso a informações ocorre por meio dos mecanismos tradicionais, fornecedores,
clientes e feiras, que apenas capacitam tais firmas para imitar, de forma defasada,
produtos já criados no exterior ou por líderes nacionais. A situação nas empresas
seguidoras pouco difere da descrita nas frágeis porque as fontes de informação são
acessadas em proporção muito similares e porque a ordem de importância das fontes
usadas não se altera substancialmente entre as duas categorias de firmas. O fato de as
seguidoras usarem poucas fontes de informações é condizente com a pequena parcela
destas que são inovadoras de produto (18%). Como visto, a maioria (36%) inova apenas
em processo, o que dispensa conexões complexas em termos de redes de informações
com diferentes agentes do sistema de inovação, requerendo, ao contrário, inter-relações
com fornecedores de bens de capital, na maior parte das vezes. Isso revela uma situação
preocupante porque as empresas seguidoras são numerosas e respondem por grande
parcela de exportações, investimentos, faturamento, lucros, pessoal ocupado e salários,
como visto anteriormente.
Corroborando os dados acima, a Tabela 9.2 informa que as empresas líderes e as
emergentes cooperam para inovar em uma proporção bem superior (33% e 25%,
respectivamente) que as frágeis e seguidoras. No caso das líderes que cooperam para
inovar (33%, i.e., 4 no total de 12 firmas), a grande maioria (76%, i.e., 3 firmas) coopera
com fornecedores, enquanto apenas uma firma (24%),coopera com clientes, concorrentes
85
e outra empresa do grupo. Das emergentes que cooperam para inovar (25%, i.e., 3 no
total de 12 firmas), a cooperação ocorre com firmas de consultoria e fornecedores.
Apenas 3% das seguidoras cooperam, sendo o percentual ainda bem menor para as
frágeis (1%).
Tabela 9.2 Cooperação para Inovação na Indústria Vestuário
(Números de empresas que declararam importância alta, 2005)
Número de empresas 12 623 3000 12 Cooperação para inovação 4 20 24 3 (33%) (3%) (1%) (25%) Clientes e consumidores 1 10 6 0 (8%) (2%) (0,2%) (0%) Fornecedores 3 18 6 2 (25%) (3%) (0,2%) (14%) Concorrentes 1 0 3 0 (8%) (0%) (0,1%) (0%) Outra empresa do grupo 1 4 0 0 (8%) (1%) (0%) (0%) Empresa de consultoria 0 2 0 2 (0%) (0,4%) (0%) (14%) Universidade 0 1 0 0 (0%) (0%) (0%) (0%) Centro de Capacitação 0 1 18 0
(0%) (0,2%) (1%) (0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.
9.2. PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO
A participação do capital estrangeiro na indústria de vestuário não era muito significativa
em 2005 (Tabela 9.3). Destacam-se duas estrangeiras como líderes, que inovam e
exportam, assim como as líderes nacionais. Como seguidoras, todas exportam, mas
somente 33% delas são inovadoras. As estrangeiras classificadas como frágeis não
exportam e não inovam.
Os indicadores de investimentos em máquinas e equipamentos são favoráveis às líderes
e seguidoras nacionais, enquanto que, dentre as frágeis, as estrangeiras parecem ter
investido mais em 2005.
86
Tabela 9.3 Firmas Estrangeiras na Indústria de Vestuário
(Números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes
Nacional
Estrangeira
Nacional
Estrangeira
Nacional
Estrangeira
Nacional
Estrangeira
N° de firmas 10 2 617 6 2984 17 12 0 Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total) 52% 12% 44% 0% 60% 90% 89% - Exportadoras 100% 100% 73% 100% 0% 0% 0% -
Inovadoras 100% 100% 41% 33% 31% 0% 100% - Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
9.3. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS
A Tabela 9.4 apresenta as características da distribuição do financiamento do BNDES ao
setor de vestuário, entre 1996 e 2006. Convém ressaltar que uma mesma empresa pode
ter tomado vários empréstimos ao longo desse período. As seguidoras absorvem cerca de
83% dos financiamentos concedidos ao vestuário brasileiro, contra 7% das líderes. Vale
notar que os recursos destinados às frágeis (10%) são também superiores aos recursos
atribuídos às líderes. Esses dados parecem não colocar o BNDES como um financiador
importante das empresas líderes do setor.
Tabela 9.4 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Vestuário
(Valores acumulados no período 1996 a 2006) Líderes Seguidoras Frágeis EmergentesNúmero de empresas 12 623 3000 12 N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 5 190 383 5 (41%) (30%) (12%) (42%) Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 39839,15 472327,29 59394,55 577 (7%) (83%) (10%) (0,10%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.
87
10. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS
Tal como na indústria têxtil, a indústria de vestuário possui em média baixos níveis de
oportunidades tecnológicas e de apropriabilidade. As oportunidades são dependentes
especialmente de insumos fornecidos pela indústria têxtil, como tecidos mais sofisticados
tecnologicamente, e pela indústria de bens de capital, como máquinas de costura. A
apropriabilidade depende de estratégias de diferenciação de produto e de segmentação
da demanda em nichos. A diferenciação de produto envolve substancial capacitação em
design e qualidade das peças produzidas para que se possam explorar mercados com
preços elevados para lojas de griffe e marcas valorizadas.
Neste sentido, o regime tecnológico das líderes parece ser bem distinto do regime das
seguidoras. Embora representem um número muito reduzido de firmas (0,3%), as líderes
parecem ser as únicas com capacidade de implementar estratégias de agregação de
valor às roupas. Alguns indicadores demonstram isso, como exportação/faturamento
(2,8%), P&D/faturamento (1%) e P&D/investimento (39,2%). Algumas seguidoras também
poderiam ter condições de focar em estratégias de agregação de valor, tomando por
referência os mesmos indicadores, ainda que sejam mais modestos que os das líderes,
como exportação/faturamento (1,7%), P&D/faturamento (0,1%) e P&D/investimento
(4,7%). Isso envolveria mudança de foco das empresas que teriam que se afastar da
estratégia que geralmente adotam, que é a de produção de bens padronizados e
competição por preços. Entretanto, é preciso ressaltar que tal migração entre as
categorias de empresas pode não ser estrategicamente interesse para as empresas
seguidoras, especialmente as de grande porte, que estão assentadas em distintas
vantagens competitivas relacionadas a escala de suas redes de distribuição e vendas,
pertencendo a outro regime tecnológico. Como visto, a relativa estabilidade do market
share das seguidoras pode reforçar essa última posição, mas a queda das suas margens
de lucro mostra que a estratégia das líderes em investir em P&D, design e atuar em
nichos de alto valor agregado é uma estratégia sustentável. Nota-se que, pelo menos
para as maiores seguidoras, sua estratégia de crescimento está baseada em escala e
padronização. Assim, as margens menores podem ser compensadas por uma massa de
lucros maior, que viabilizam seu crescimento consistente com sua estratégia competitiva.
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Logo, a sua progressão para a categoria de líderes é improvável, afinal suas vantagens
competitivas são diferentes, baseadas em distintos regimes tecnológicos.
Essa indústria contém empresas emergentes com grande potencial de sucesso na
estratégia de exploração de nichos de mercados diferenciados, a partir dos indicadores de
P&D/investimento (653%) e P&D/faturamento (2,1%). O lucro anual por empresa é de
apenas R$ 233 mil, o que demonstra que tais empresas ainda estão em fase de
investimentos, especialmente em ativos intangíveis, que ainda alcançarão a fase de
maturação. A partir disso, a inserção externa que ainda não é uma característica
importante para tais empresas, poderá se constituir em fonte de receita relevante para tais
empresas.
Lideres e emergentes parecem seguir o mesmo regime tecnológico, centrado na
capacidade de realizar P&D e na preocupação em diferenciar produtos com base em
design. Por outro lado, as seguidoras e as frágeis aparentam seguir outro regime
tecnológico, no qual não existem estrutura interna de P&D ou valorização de fontes
internas de acumulação de conhecimento tecnológico. Embora haja essa semelhança, as
seguidoras de maior porte não podem ser comparadas com as frágeis, que são “firmas de
produção”, possivelmente em arranjos produtivos locais, enquanto as seguidoras são
firmas de distribuição”, essencialmente comerciantes de grande escala. O faturamento
médio das seguidoras, que é 13 vezes maior do que o das frágeis, ajuda a sustentar essa
tese.
No que tange às frágeis, ampla maioria do setor (82%), dificilmente poderiam aderir a
uma estratégia individual de agregação de valor, tendo em vista que são empresas,
geralmente, de pequeno porte, de origem familiar, prestadoras de serviços às maiores
confecções sob o regime de facção e pertencem ao setor informal da economia. Com
lucro médio anual de R$ 70 mil e ausências de inserção externa e de estrutura interna de
P&D, seria muito pouco provável que suportassem despesas relativas à implantação de
um núcleo de design na própria empresa, principalmente para aquelas que são
faccionistas, dada a ausência de autonomia, recursos humanos qualificados e estrutura
produtiva limitada. Para as outras, resta a opção de consórcio de empresas, na qual
várias pequenas podem se aglutinar para suportar custos de design, de estrutura de
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exportação e participações em feiras nacionais e internacionais com apoio de instituições
como o SEBRAE e poderes públicos locais.
A estratégia de desenvolver marcas próprias em nichos de mercado que não concorrem
com produtos asiáticos parece ser a melhor alternativa para escapar da acirrada
concorrência nos segmentos de mercado mais padronizados e de baixo preço, mesmo
para pequenas empresas que pertençam à categoria das frágeis, desde que haja suporte
institucional adequado. O caso da cidade de Jaraguá (GO), que contempla parceria entre
instituições e empresariado locais, ilustra um crescente grau de formalização das
empresas e de criação de marcas próprias, investimentos em design de roupas feitas a
partir de jeans, certificações de qualidade, além de promoção de eventos e feiras para o
setor.
Do ponto de vista regional, o suporte às formas espaciais de organização da indústria de
confecções, como os pólos, permite atingir objetivos de desconcentração espacial da
atividade econômica e recuperação de regiões economicamente deprimidas. Isso porque
o elo do vestuário é o de menor gasto de capital por posto de trabalho. Ao contrário da
tendência brasileira recente de instalação de grandes unidades fabris do ramo de
tecelagem no Nordeste, pólos de confecções podem ser incentivados em regiões pobres
nordestinas e unidades de fiação e tecelagem em regiões do Centro-Oeste, que possuem
vantagens na produção de fibras naturais.17
O apoio às empresas frágeis se justifica porque suas desvantagens, em termos de
escassez de recursos financeiros e humanos, tornam difícil qualquer estratégia de fugir do
poder de coordenação da cadeia exercido pelas grandes redes varejistas. Além do poder
que possuem para ditar preços para as peças de roupas e escolher os insumos a serem
usados, as grandes redes varejistas podem ainda deslocar suas encomendas para outros
países, pois contam com amplo leque de fornecedores devido à existência de fabricantes
que dispõem de trabalho barato em várias partes do globo. Dessa forma, participar de
uma rede de fornecedores mundiais pode representar uma estratégia perigosa, além de
limitar a autonomia econômica e tecnológica empresarial.
17 Propostas como essa também aparecem na literatura do setor, particularmente em Prochnik (2002).
90
Em contraste com as desvantagens competitivas das frágeis que induzem sua
aglomeração em busca de externalidades positivas, as grandes empresas líderes de
confecções possuem diversas vantagens competitivas: 1) recursos disponíveis para
investimento em P&D e estruturação de um núcleo de design, além de valorização de
fontes internas de inovação; 2) capacidade operacional atualizada, com máquinas
automatizadas e de alta produtividade; 3) recursos para investimento em ativos
intangíveis (marcas), em marketing, em canais de distribuição e comercialização,
reforçando representação comercial no exterior; 4) capacidade de coordenação da
cadeia; e 5) possibilidade de explorar nichos de mercado de alto valor agregado tanto no
mercado doméstico quanto no externo.
De fato, a coordenação da cadeia a montante, a partir do elo confecções, e a
especialização em funções vinculadas ao design, à consolidação de redes de distribuição
e à valorização de marcas própria são tendências internacionais consolidadas da cadeia.
Ainda que a coordenação vertical da cadeia seja uma alternativa muita usada a nível
mundial, pode-se considerar a estratégia de integração vertical em alguns casos, ou seja,
tal estratégia envolve um passo além da coordenação da cadeia de fornecedores,
resultando em efetivo controle de capital da empresa âncora dos elos tecnologicamente
estratégicos para a competitividade da cadeia. Com isso, grandes empresas líderes
podem controlar etapas do processo produtivo que são estratégicas do ponto de vista de
introduções de inovações ou para aferir maior apropriabilidade dos retornos econômicos.
No ramo de confecção de jeans, por exemplo, há uma tendência de os clientes exigirem
das tecelagens não apenas o tecido, mas também o jeans já confeccionado.
Segundo Rocha e Nunes (2008), que pesquisaram a viabilidade dessa estratégia na
cidade de Fortaleza, a integração vertical à jusante para a pequena confecção mostrou-se
eficiente, pois a loja da fábrica funciona como canal de distribuição eficiente e acessível à
empresa de pequeno porte, por causa do contato entre o empresário e os clientes no que
tange às tendências de moda, fazendo com que aquele possa planejar e controlar a
produção de forma mais eficiente. Para as empresas de médio e grande porte, a melhor
forma de integração vertical é à montante, em direção à fiação, tecelagem e malharia,
tendo em vista que à jusante haveria concorrência com seus próprios clientes. Os
91
benefícios dessa última forma de integração estão vinculados à obtenção de vantagens
de custo e aquisição de fornecedores importantes.
Se, além da liderança, a empresa for integrada verticalmente, podem-se adicionar as
vantagens associadas à produção dos próprios tecidos com fibras especiais para
produção de roupas que podem ser lançadas no mercado a partir da estratégia de
“technology push” e as vantagens de poder responder rapidamente às mudanças de
sinais do mercado como alteração de gostos, hábitos e de tendências da moda. Porém,
mesmo grandes empresas podem se valer da transferência de atividades produtivas
rotineiras para empresas que funcionam sob regime de facção, por causa das vantagens
em termos de menores custos de trabalho. Não se pode esquecer que a opção de
coordenação vertical de uma rede de sub-contratação pode ser alternativa mais atraente
nas funções mais simples do processo produtivo, uma vez que os ganhos de escala estão
centrados na rede de distribuição e de escopo na capacidade de design.
Quando as empresas não são integradas verticalmente, os custos de transação e as
desvantagens associadas à distância em relação aos consumidores finais podem ser
atenuados com investimentos em tecnologia de informação, como no caso de empresas
que investem em sofisticados sistemas de informação, que incluem capacidade de
previsão e administração de toda a cadeia de suprimentos para atendimento rápido das
mudanças dos padrões de consumo, ou seja, em técnicas de supply chain management
combinadas com tecnologias de informação (Electronic Data Interchange e Efficient
Consumer Response). Além desses investimentos, o custo de transação torna-se baixo
quando as empresas que coordenam verticalmente a cadeia impõem ao produtor
terceirizado o molde, originário do design, e fornece todos os materiais. Dessa forma,
existem poucos ativos específicos, tornando os custos de transação relativamente baixos.
Caso a alternativa de fusão ou aquisição de empresas de tecelagens e confecções não
seja uma opção desejável, no mínimo, parcerias informais deveriam ser realizadas, a fim
de atingir maior grau de sintonia entre as empresas das diferentes etapas produtivas da
cadeia e as exigências do mercado.
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No caso das empresas frágeis, que são relativamente de menor porte, as políticas de
apoio são semelhantes às micro e pequenas empresas abaixo de 30 pessoas ocupadas,
que estão no estrato da amostra aleatória da PIA. Neste caso, instituições como o
SEBRAE e SENAI podem atuar em diversas áreas, como: 1) apoiar a realização de feiras
para o setor, suportando parte dos custos e exigindo, como contrapartida das empresas,
sua legalização; 2) instituir certificações, como a criação de selos que atestem a
qualidade e a legalidade das roupas, estimulando a criação de marcas próprias; 3)
patrocinar parte dos custos relativos à capacitação e treinamento de funcionários e à
formação de estilistas para criação de roupas com design próprio.
É preciso ampliar a capacidade nacional de formação e treinamento em design, com
criação de cursos novos em escolas federais e instituições de suporte à indústria, tendo
em vista que o design é visto como uma maneira de fugir à concorrência de produtos
chineses.
Outras medidas, também com caráter de suporte institucional, estão vinculadas à
ampliação dos esforços de promoção da moda brasileira no exterior através de
instituições do setor como Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), Agência
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEXBRASIL) e Associação
Brasileira de Estilistas (ABEST). Um exemplo disso é o Programa Estratégico da Cadeia
Têxtil Brasileira (TEXBRASIL), na qual foram investidos R$ 51,7 milhões, dos quais R$
25,8 milhões vieram da APEX, com o desenvolvimento de 250 ações no exterior por ano.
Ações como essas podem auxiliar os produtores com marca própria a reforçar
representações comerciais no exterior, tendo em vista o alto custo da montagem de rede
própria de distribuição, cujo domínio é importante para aumentar o grau de apropriação de
retornos econômicos.
Tais medidas são condições para o Brasil adicionar mais valor ao elo da cadeia que é o
mais dinâmico em termos mundiais e o que o País possui menor competitividade, com
pequena inserção internacional em termos de volume de vendas, qualidade e
diferenciação de produto. Para isso, o maior apoio financeiro, creditício e fiscal ao setor,
especialmente às maiores firmas (líderes e seguidoras), deveria estar associado ao
atendimento de metas vinculadas à construção de marcas próprias, capacidade interna de
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design e de incorporação de insumos com maior conteúdo tecnológico. Várias empresas
brasileiras foram bem sucedidas no esforço de criar marca própria, a exemplo do Grupo
Santista Têxtil, ou no esforço de investir em design e em redes varejistas de distribuição,
reforçando a representação comercial no mercado doméstico, como no caso da Hering.
Outros segmentos de mercado, como surf wear, roupa de praia, moda esportiva e linha
cama-mesa-banho, constituem exemplos de promissoras possibilidades.
Além de ativos intangíveis, quaisquer prescrições de políticas industriais também não
podem prescindir da melhoria do sistema de financiamento público para compra de
máquinas e equipamentos, tendo em vista que grande parte da competitividade também
depende de investimentos em ativos materiais. Isso ganha maior relevância quando se
constata que apenas 36% das seguidoras e 29% das frágeis inovam em processo.
Em resumo, propõem-se as seguintes medidas de política industrial, de acordo com a
tipologia líder-seguidora-frágeis-emergentes:
1) Incentivar a consolidação do regime tecnológico das líderes e emergentes,
centrado em P&D, capacidade de design e atuação em nichos de alto valor
agregado. Para tanto, é fundamental a construção de redes de distribuição
próprias, reforçando a representação comercial no exterior, para aumentar
exportações destes itens de alto valor agregado. Instituições como ABIT,
APEXBRASIL e ABEST deveriam envidar esforços para maior promoção da moda
brasileira no exterior. Logo, medidas da PDP que criam o “Comitê da Moda” para
promover o diálogo entre as cadeias produtivas vinculadas à moda (têxtil e
confecções, gemas e jóias, cosméticos e couro e calçados) são iniciativas úteis
para maior integração da cadeia, difundindo oportunidades e informações.18 Além
disso, também são importantes investimentos para aumentar a eficiência de
coordenação vertical da cadeia, gerenciando toda a cadeia de suprimentos. Nesse
sentido, cursos sobre “supply chain management” para difusão dessa técnica nas
empresas do setor auxiliariam na difusão de informações entre clientes e
18 Medida proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.
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fornecedores, sendo uma meta da PDP que permitiria maior coordenação da
cadeia.
2) Potencializar oportunidades de negócios a partir do conceito de franquias através
da difusão dos benefícios desse sistema entre as empresas brasileiras é uma
medida prevista e aprovada pelo Comitê Executivo T&C que deve ser estimulada, a
exemplo de outras marcas que utilizam tal sistema com sucesso, como Hering,
Recco Confecções e Rosa Chá.
3) Para as seguidoras que prefiram permanecer na estratégia de produção de bens
padronizados e competição por preços, são fundamentais a atualização
tecnológica, o ganho de escala de produção e a construção de rede de distribuição
própria.
4) Para as frágeis, é interessante incentivar a opção de consórcios de empresas, em
que se pode contar com núcleo de design coletivo, estrutura de exportação e
participações em feiras nacionais e internacionais. Tal suporte deve partir de
instituições como o SEBRAE, SENAI e de poderes públicos locais, que, além do
que foi acima citado, pode contribuir para criação de marcas próprias e
certificações de qualidade. O Selo QUAL, previsto como medida pelo Comitê
Executivo T&C, pode ser um instrumento para conquista de qualidade e
produtividade.
5) Independentemente da categoria, apoio financeiro e creditício deve ser dado à
atualização operacional das empresas por meio de investimentos em máquinas e
equipamentos, mas também à construção de marcas próprias. Também é
necessário, ampliar a capacidade nacional de formação e treinamento em design,
com criação de cursos novos em escolas federais e instituições de suporte à
indústria. Incentivar arranjos cooperativos entre empresas de diferentes etapas da
cadeia têxtil-vestuário, a fim de promover maior grau de sintonia entre as
empresas, para que possam responder rapidamente a quaisquer sinais de
mudança do mercado da moda, incorporando insumos de maior tecnologia aos
produtos do vestuário. Em alguns casos, a alternativa de integração vertical parece
também ser adequada mesmo à indústria de vestuário.
6) Como muitas das empresas da indústria de vestuário são de pequeno e médio
porte, são interessantes as medidas da PDP que criam linha de crédito para tais
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empresas por meio da disponibilização de parte do compulsório bancário19. Da
mesma forma, o apoio pretendido aos arranjos produtivos locais são bem-vindos,
principalmente se forem direcionados a atingir as medidas por nós propostas no
item 4 acima.
7) São adequadas as medidas que focam componentes políticos-institucionais da
competitividade, como desoneração tributária de produtos nacionais, políticas de
proteção comercial contra dumping, atenção às regulamentações internacionais e
firmamento de acordos bilaterais, não só para acesso privilegiado a outros
mercados como também para acesso a tecnologias de EUA e União Européia.
8) Investir em formação e qualificação de recursos humanos, como costureiras,
modistas, estilistas, vendedores, designers.20 Esse objetivo encontra-se nas ações
propostas pelo Estudo Prospectivo T&C, no campo da criação de talentos,
principalmente em design. Essa ação, se implementada, permite atingir muitas das
propostas inseridas nos itens anteriores, em termos de inserção de produtos
brasileiros com maior valor agregado de nichos de mercado específicos, porque
estão sendo previstos21: investimentos na capacitação tecnológica ancorada em
tecnologias de informação de novos designers; desenvolvimento de departamentos
de P&D em empresas e em institutos cujo foco sejam novos materiais e roupas
inteligentes; formação de novas competências em design de produtos e processos
intensivos em tecnologia; investimentos na formação de competências técnicas
múltiplas para ampliar a capacidade de tradução de impulsos criativos;
disseminação de desafios de P&D na área de têxteis e de confecções na formação
de profissionais-chave (físicos, químicos, engenheiros, administradores,
economistas, sociólogos etc.); disseminação da criação de áreas de pesquisa
voltadas para inovação no setor por parte de universidades brasileiras; e ampliação
do número de dissertações e teses, assim como a produção científica em têxtil e
confecções.
19 Medida proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo. 20 Pesquisa da CNI registra que 75% das empresas de vestuário e 32,5% das têxteis carecem de mão-de-obra qualificada (ABDI, 2008). 21 Medida proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.
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