indicação de uso de espécies vegetais para o tratamento da celulite com fins cosméticos

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61 ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013 INDICAÇÃO DE USO DE ESPÉCIES VEGETAIS PARA O TRATAMENTO DA CELULITE COM FINS COSMÉTICOS INDICATION OF USE OF PLANT FOR TREATING CELLULITIS FOR COSMETIC PURPOSES Beatrice Helfstein de Magalhães 1 Monica Fernandes de Camargo 2 Célio Takashi Higuchi 3 Resumo A celulite acomete mais mulheres em idade pós-puberal do que homens, causando alterações topográficas na região ginóide cuja aparência se assemelham ao aspecto “casca-de-laranja”. É caracterizado por uma sobrecarga de gordura localizada decorrente do número de adipócitos (hipertrofia dos adipócitos) ou devido à associação dos dois fenômenos aos quais se somam uma acumulação de toxinas e de água. Já os produtos naturais têm desempenhado um papel importante nos tratamentos estéticos, em geral, devido ao fato de que as plantas possuem uma ampla variedade de metabólitos secundários. O presente estudo visa um levantamento bibliográfico sobre a ação de substâncias ativas fitoterápicas no tratamento da celulite, procurando uma alternativa não invasiva para o tratamento. Foram utilizados livros e artigos científicos específicos da área para a realização desta pesquisa. São encontrados em ambas das literaturas a utilização dos extratos da Coffea arabica; Paullinia cupana; Lycium barbarum; Vitis vinifera; Melilotus officinalis; Centella asiatica; Aesculus hippocastanum; Zingiber 1 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, farmacêutica pela Unisa, SP; 2 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, farmacêutica pela Universidade São Francisco, SP; 3 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected].

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Artigo publicado na edição Vol. 8 nº 3 - Revista InterfacEHS Publicação Científica do Centro Universitário Senac - ISSN 1980-0894 Acesse a edição na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/?page_id=1353 Resumo A celulite acomete mais mulheres em idade pós-puberal do que homens, causando alterações topográficas na região ginóide cuja aparência se assemelham ao aspecto “casca-de-laranja”. É caracterizado por uma sobrecarga de gordura localizada decorrente do número de adipócitos (hipertrofia dos adipócitos) ou devido à associação dos dois fenômenos aos quais se somam uma acumulação de toxinas e de água. Já os produtos naturais têm desempenhado um papel importante nos tratamentos estéticos, em geral, devido ao fato de que as plantas possuem uma ampla variedade de metabólitos secundários. O presente estudo visa um levantamento bibliográfico sobre a ação de substâncias ativas fitoterápicas no tratamento da celulite, procurando uma alternativa não invasiva para o tratamento. Foram utilizados livros e artigos científicos específicos da área para a realização desta pesquisa. São encontrados em ambas das literaturas a utilização dos extratos da Coffea arabica; Paullinia cupana; Lycium barbarum; Vitis vinifera; Melilotus officinalis; Centella asiatica; Aesculus hippocastanum; Zingiber officinale e Rosmarinus officinalis para o tratamento e/ou prevenção. Em todos os extratos, há substâncias que reduzem a permeabilidade vascular, além de antioxidantes, antiinflamatórios e calmantes.

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ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013

INDICAÇÃO DE USO DE ESPÉCIES VEGETAIS PARA O

TRATAMENTO DA CELULITE COM FINS COSMÉTICOS

INDICATION OF USE OF PLANT FOR TREATING CELLULITIS FOR

COSMETIC PURPOSES

Beatrice Helfstein de Magalhães1

Monica Fernandes de Camargo2

Célio Takashi Higuchi3

Resumo

A celulite acomete mais mulheres em idade pós-puberal do que homens, causando

alterações topográficas na região ginóide cuja aparência se assemelham ao aspecto

“casca-de-laranja”. É caracterizado por uma sobrecarga de gordura localizada

decorrente do número de adipócitos (hipertrofia dos adipócitos) ou devido à associação

dos dois fenômenos aos quais se somam uma acumulação de toxinas e de água. Já os

produtos naturais têm desempenhado um papel importante nos tratamentos estéticos, em

geral, devido ao fato de que as plantas possuem uma ampla variedade de metabólitos

secundários. O presente estudo visa um levantamento bibliográfico sobre a ação de

substâncias ativas fitoterápicas no tratamento da celulite, procurando uma alternativa

não invasiva para o tratamento. Foram utilizados livros e artigos científicos específicos

da área para a realização desta pesquisa. São encontrados em ambas das literaturas a

utilização dos extratos da Coffea arabica; Paullinia cupana; Lycium barbarum; Vitis

vinifera; Melilotus officinalis; Centella asiatica; Aesculus hippocastanum; Zingiber

1 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, farmacêutica pela Unisa, SP; 2 Especialista em Cosmetologia aplicada à Estética, Senac, SP, farmacêutica pela Universidade São Francisco, SP;

3 Mestre e farmacêutico pela UNESP, Araraquara, e pesquisador responsável pela linha de pesquisa “Cosméticos

Sustentáveis”, Senac, SP. E-mail: [email protected].

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officinale e Rosmarinus officinalis para o tratamento e/ou prevenção. Em todos os

extratos, há substâncias que reduzem a permeabilidade vascular, além de antioxidantes,

antiinflamatórios e calmantes.

Palavras-chave: Celulite, cafeína e ativos fitoterápicos.

Abstract

Cellulite affects most women in post - pubertal age than men, causing topographic

changes in gynoid region whose appearance resemble the look "orange -peel". It is

characterized by an overload of fat located due to the number of adipocytes (adipocyte

hypertrophy) or due to the association of the two phenomena to which are added an

accumulation of toxins and water. Natural products have already played an important

role in aesthetic treatments in general due to the fact that plants have a wide variety of

secondary metabolites. This study aims to review the literature on the action of herbal

active substances for the treatment of cellulite looking for a non-invasive alternative for

treatment. Specific books and scientific articles in the field were used for this research.

Both of them are found in the literature the use of extracts of Coffea arabica, Paullinia

cupana; Lycium barbarum, Vitis vinifera, Melilotus officinalis, Centella asiatica,

Aesculus hippocastanum, Zingiber officinale and Rosmarinus officinalis for the

treatment and /or prevention. In all the extracts, there are substances that reduce

vascular permeability include antioxidants, anti-inflammatory and soothing.

Key words: Cellulitis, caffeine and herbal active.

1. Introdução

O termo celulite foi descrito pela primeira vez em 1920. Palavra de origem latina,

Cellulite, foi utilizada para descrever uma alteração estética da superfície da pele.

Celulite não seria o termo mais apropriado, pois a derivação da palavra significa

inflamação celular e estudos sugerem que não foram encontrados sinais de inflamação

no tecido em questão (GIMENEZ, 2001).

Diversos são os termos utilizados para definir estas alterações do tecido

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subcutâneo, na tentativa de adequar às alterações histomorfológicas, sendo eles:

Lipodistrofia, Lipoedema, Fibroedema Geloide, Hidrolipodistrofia, Hirolipodistrofia

Ginoide, Paniculopatia edemato fibro esclerótica, Paniculose, Lipoesclerose Nodular,

Lipodistrofia Ginoide (SCHNEIDER, 2010).

A celulite é considerada um problema esteticamente preocupante para milhões de

mulheres. Uma das possibilidades do surgimento da celulite é, em consequência, pelo

aumento do número e o volume dos adipócitos e, por fim, a ação do estrogênio

(hormônio sexual secundário feminino) durante a puberdade. Este hormônio é

responsável por reter líquidos ricos em sódio (GOMES & DAMAZIO, 2009;

LEONARDI, 2008). A celulite é uma infiltração edematosa do tecido conjuntivo

subcutâneo, não inflamatório, seguido de polimerização da substância fundamental, que,

infiltrando-se nos traumas, produz uma reação fibrótica consecutiva, ou seja, os

mucopolissacarídeos que a integram sofrem um processo de geleificação (CIPORKIN &

PASCHOAL, 1992). A celulite é considerada uma patologia multifatorial por ser

determinada por efeitos hormonais, predisposição genética, inatividade, dietas

inadequadas, obesidade, distúrbios posturais, bem como o tabagismo (TOGNI, 2006).

Uma das hipóteses atribuída à celulite é a possível alteração na microcirculação,

envolvendo compressão dos sistemas venoso e linfático (RAWLINGS, 2006; SMALLS

et al 2006, RAO et al, 2005). Esta alteração circulatória está relacionada com a

obesidade, uma vez que, durante a fase inicial de desenvolvimento celulite, os

adipócitos estiveram associados ao edema e à dilatação dos vasos linfáticos

(TERRANOVA et al, 2006).

Como a celulite afeta quase exclusivamente mulheres, o fator hormonal merece

atenção neste sentido. A distribuição de celulite na mulher ocorre em regiões específicas

e segue o mesmo padrão que o depósito de tecido adiposo (de GODOY & de GODOY,

2009).

Um estudo concluiu que fatores mecânicos podem afetar a aparência da celulite,

tais como: alterações ortostáticas, descalço e alterações da coluna lombar, como a

hiperlordose (SANDOVAL, 2003). Além disso, houve relato na literatura que, nas áreas

onde a celulite foi evidente, a aparência da pele mudou em função da posição do

membro inferior (AVRAM, 2004; QUATRESOOZ, 2006).

A celulite se caracteriza pela presença de depressão na pele, assemelhadas à

textura da casca de laranja ou do queijo cottage, observadas regularmente nas coxas e

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nádegas (TREU et al., 2009). É uma condição fisiopatológica mais prevalente em

mulheres independentemente do peso corpóreo do que nos homens. A principal

alteração histológica é a hipertrofia ou, inversamente, o enfraquecimento dos fios do

tecido conjuntivo que sustenta os adipócitos encontrados, caracterizando-se por uma

desordem do metabolismo lipídico e no fluxo de líquidos do organismo, e ocorre

quando há problemas na microcirculação sanguínea fazendo com que os resíduos

adiposos acumulem-se na região hipodérmica. Esta afecção produz importantes

alterações que deixam um aspecto pouco agradável visualmente, pois modifica

profundamente a estrutura histológica da pele, dificulta o aporte nutritivo e a possível

tendência ao agravamento do quadro (SANCHEZ, 1990; PIÉRARD et al., 2006). A

FEG é classificada em quatro tipos de formas clínicas: dura ou compacta, flácida ou

branda, edematosa e mista. Para cada tipo, há variação na consistência e natureza da

celulite e incidência prevalente em diferentes períodos durante a vida (KEDE, 2010).

Além disso, a FEG passa a ser considerada como uma patologia dependendo do estágio

ou grau evolutivo, distinguindo-se em quatro estágios os quais se baseiam na avaliação

anatômica e na semiologia, pois são de demarcação difícil e imprecisa já que a celulite

ocorre de forma gradual e progressiva, intercalando por períodos de estagnação e de

reatividade (SABARÁ et al., 2008; MURAD, 2006; CIPORKIN & PASCHOAL,

1992).

Quanto a sua localização, ela afeta várias regiões do corpo, mas, em destaque, na

região glútea, na região lateral, a face interna e posterior da coxa, o abdômen, a parte

posterior e lateral dos braços e a face interna dos joelhos (LEONARDI & CHORILLI,

2010; GOLIK, 1995). Leonardi (2008) afirma que, na região dos quadris, os adipócitos

tem seu volume aumentado durante o período gestacional e da amamentação. Na

menopausa também ocorre uma enorme variação hormonal o que poderá predispor ao

aparecimento de ondulações. Por esse motivo, é preciso muita atenção para as diferentes

fases da vida (menarca, gravidez e menopausa) para a construção de um projeto de

prevenção e dentre as medidas se faz necessário à aplicação de produtos tópicos, com

substâncias ativas capazes de alcançar a camada da hipoderme, para que ocorra a

diminuição seletiva e bem sucedida dos adipócitos e descreve que a formação deste

processo, geralmente parte da combinação de vários fatores. Essa tese gênese

multifatorial, Kede (2010) ressalta os vários fatores responsáveis pelo aparecimento da

FEG, entre eles, a herança genética, etnia, fototipo de pele, alimentação inadequada,

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falta de prática de atividades físicas, uso de nicotina e o uso de determinados

medicamentos como terapia de reposição de estrógenos, anticoncepcionais,

corticosteroides, antialérgicos, antitireoidianos e betabloqueadores podem agravar a

situação. Eles ativam o receptor alfa 2 adrenérgico, diminuindo a ação lipolítica e

quanto maior o número de receptores, maior é a dificuldade de realizar a ação,

independente da localização da célula (RIBEIRO, 2010; LEONARDI, 2008). O

agravante neste caso, em especial, é o estresse, pois também promove a retenção de

toxinas (ILIES, 2002; GOLIK, 1995).

A esteticista pode avaliar e constatar de forma mais precisa o estágio da celulite,

solicitando que o paciente permaneça em posição ortostática (CARNEIRO et al., 2010;

MORAES et al., 2010).

Há outras maneiras de diagnosticar a celulite, como macrofotografia (método

fotográfico); medidas antropométricas (medidas de peso, altura, circunferência e pregas

cutâneas); bioimpedanciometria (método que permite acessar o tecido através de

corrente elétrica); xenografia (avalia os tecidos por radiotransparência ou radio-

opacidade); ecografia bidimensional (analisa a morfologia do tecido subcutâneo);

tomografia computadorizada (método pouco acurado na avaliação do tecido adiposo);

Ressonância Nuclear Magnética (possibilita detalhamento das imagens e tecidos);

fluxometria de Doopler por Laser (avalia a microcirculação tecidual); biópsia de pele

seguida de exame histopatológico (acessa direta e invasivamente o tecido subcutâneo

normal ou alterado e analisa sua microestrutura). No entanto não existe método melhor

ou aceito unanimemente, pois tais conceitos dependem de variáveis como custo, grau de

invasão, riscos, acessibilidade e outros (AFONSO et al., 2010).

Após a avaliação do quadro, indicam-se cuidados de forma multidisciplinar. No

campo e na proposta estética ocorra de forma não curativa, tenha finalidade de corrigir

as causas, previna complicações e diminua a gravidade do quadro (GUIRRO &

GUIRRO, 2010). A drenagem linfática tem como princípio realizar movimentos

manuais, suaves e precisos com o objetivo de drenar o líquido excedente que banha as

células, mantendo o equilíbrio hídrico nos espaços extracelulares e auxiliando no

retorno venoso; o ultrassom (3MHz) emite ondas mecânicas que são convertidas na pele

em energia térmica, estimulando o metabolismo celular e a circulação dermo-

hipodérmica local e, além disso, aumentar a permeabilidade cutânea a substâncias

ativas. A combinação do ultrassom com outros métodos, como a endermologia e

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massagens, trazem resultados favoráveis na redução de medidas, associada a melhora no

tônus, textura e aparência; a endermologia ou vacuoterapia é uma técnica francesa que

associa drenagem linfática e massagem. O aparelho succiona a pele como ventosas.

Esta sucção, associada a massagem, estimula a circulação local, diminui a viscosidade e

a drenagem linfática; a eletrolipólise sem agulha utiliza placas que emitem corrente

elétrica de baixa intensidade. Esta corrente atravessa a pele e atua diretamente nos

adipócitos, fazendo com que haja uma excitação celular, aumentando na produção do

AMPc e estimulando, desta forma, a lipólise, além de aumentar a circulação local; a

radiação infravermelha longa penetra profundamente na superfície do corpo e aumenta

lentamente a temperatura, induzindo a um incremento do metabolismo corporal e

dilatação dos capilares; a radiofrequência unipolar trata-se de ondas hertzianas (de

rádio), produz radiação eletromagnética de 40 MHz e induz oscilações rotacionais nas

moléculas de água. Tais efeitos físicos produzem aquecimento que se dissipa nos

tecidos subjacentes e leva a uma retração tecidual local entre derme e fáscias e, por fim,

a prática de exercícios físicos.

Complementa-se ao melhora do quadro clínico da celulite, o uso de produtos

cosméticos de origem natural ou sintético que têm desempenhado um papel importante

por diferentes mecanismos de ação nos tratamentos estéticos em geral com resultados

eficientes e satisfatórios. A formulação para obtenção de cosméticos naturais significa

dar a preferência, sempre que possível, aos derivados vegetais, evitando a sua

substituição por substâncias sintéticas (RODRIGUES, 2001).

Nos últimos anos, pesquisa de plantas medicinais tem atraído muito a atenção

global para fins alimentícios, medicinais e cosméticos como, por exemplo, Coffea

arabica, Vitis vinifera e Zingiber officinale. As plantas são ricas em uma ampla

variedade de metabólitos secundários. Diversas classes desses compostos podem ser

citadas: fenois e polifenois, quinonas, flavonois, flavanonas, flavanonois, flavonoides,

taninos, cumarinas, terpenoides, óleo essencial e alcaloides (SHER, 2009; ALMEIDA et

al., 2002).

1.1. Fitocosméticos

A utilização de extratos vegetais é cada vez mais empregada, pois o conhecimento

de sua atividade é baseado na medicina popular e é acessível a todos. Eles são

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incorporados a concentrações que variam entre 3 a 10% de inúmeros fitocosméticos em

função de sua atividade como, por exemplo, em antirrugas, regeneradores, anti-acne

entre outras (PEYREFITTE et al., 1998). Os vegetais possuem um grande número de

compostos ou substâncias ativas, onde alguns destes são entidades químicas definidas

ou misturas de substâncias que formam grupos verdadeiros, devido a seus caracteres

físicos (CIPORKIN & PASCHOAL, 1992).

Várias plantas estão ganhando aceitação por parte dos profissionais da área

cosmética e dos consumidores, sendo que o uso de extratos vegetais em produtos

cosméticos tem sido cada vez mais motivado pelos pesquisadores e formuladores da

área, porém é preciso cautela e um estudo minucioso da eficácia de cosméticos

contendo extratos vegetais para a obtenção de produtos de alta qualidade (DWECK,

2001).

Os produtos fitocosméticos destinados ao tratamento da FEG podem atuar em

diversos aspectos desta afecção, sendo em locais que sofrem acometimento da

microcirculação, perda de elasticidade da pele, diminuição endógena da atividade

lipolítica e alteração do relevo cutâneo (LEONARDI & CHORILLI, 2010; GUIRRO &

GUIRRO, 2010; AFONSO et al., 2010).

2. Objetivo geral

O objetivo deste trabalho foi realizar um levantamento bibliográfico, indicando os

principais princípios extratos vegetais com ação anticelulítica e apontar os mecanismos

de ação e seus efeitos. Além disso, demonstrar os benefícios do uso de plantas

medicinais respeitando suas concentrações, modo de usar e indicação, e justificando que

a associação da mudança nos hábitos alimentares e a prática de atividades físicas são

extremamente interessantes em benefício ao tratamento da celulite.

3. Metodologia

A metodologia utilizada foi a pesquisa de livros específicos e revistas científicas

nas áreas cosmética e estética e sites de busca como Scielo e Pubmed.

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4. Levantamento de literatura

Cafeína

Coffea arabica

A análise fitoquímica dos grãos de café registra a cafeína como sua substância

ativa, também encontrado em outras partes da planta com exceção das raízes,

acompanhada de teofilina e teobromina, hemicelulose e outros carboidratos, ácido

clorogênico e trigonelina (ácido-metil-nicotínico), ácidos graxos, esteróis, fenóis, ácidos

fenólicos, proteínas e taninos. As folhas contém, além destes mesmos componentes, os

ácidos benzóico, cinâmico e ascórbico, quercetina e outros flavonóides (LORENZI &

MATOS, 2008).

A cafeína é um composto químico de fórmula C8H10N4O2 — classificado como

alcalóide do grupo das xantinas e designado quimicamente como 1,3,7-trimetilxantina.

É extraído do Coffea arabica, mas também pode ser encontrado nas folhas e talos da

Ilex paraguariensis; nas folhas da Camellia sinensis, nos frutos da Theobroma cacao e

nos frutos da Paullinia cupana (SIMÕES et al., 2003).

O uso de produtos tópicos a médio e longo prazo indutores da lipólise derivados

de extratos vegetais ajudam a melhorar inclusive a aparência da pele. Dentre as

substâncias utilizadas com este propósito, destacam-se a utilização do Amarashape® o

qual é composto por sinefrina, uma substância extraída de laranja amarga (Citrus

aurantium) e cafeína (Coffea arabica), tipicamente presentes em produtos cosméticos

destinados ao tratamento da celulite. No sentido de ultrapassar o estrato córneo que

constitui a principal barreira à penetração da cafeína e, atingir o tecido subcutâneo, os

pesquisadores desenvolvem formulações cosméticas, constituídas por substâncias que

promovam a penetração cutânea, utilizando-se veículos, como a incorporação em

lipossomas, que depositam os ingredientes ativos no local de ação, de uma forma

direcionada e em maior quantidade. Sabe-se que além de manter a estabilidade dos

ativos, os lipossomas aumentam a absorção pelas camadas da pele (CHORILLI et al.;

2007; LEONARDI & CHORILLI, 2008; PIRES-DE-CAMPOS et al., 2008;

RAMALHO & CURVELO, 2006).

Há registros de outros ativos cosméticos que apresentam a cafeína associados para

o tratamento da celulite como, por exemplo, o Biotannicol® (associado a teofilina,

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glicina, extrato de semente de cola); Cafeisilane® (associado ao metilsilanol manurato);

Glycosan cafeína® (em ciclodextrina) e o Unislim® (associado com mate) (RIBEIRO,

2010).

No caso do Slimbuster® (associado com fitoesteróis de canola de Brassica

campestris L.), estudos mostram a capacidade de estimular significativamente a lipólise,

a síntese de leptina em cultura de adipócitos humanos, colágeno, elastina e

glicosaminoglicanas (GAGs) em cultura de fibroblastos humanos, a contração de

fibroblastos em gel de colágeno, bem como promover a melhora das características

histológicas gerais da pele em ensaios ex-vivo (STASI et al., 2009).

A cafeína, associada ao tiratricol (ácido triiodotiroacético), segundo estudos

experimentais, atuam por inibição da fosfodiesterase, enzima que induz a degradação de

AMPc transformando-o em 5'AMP inativo, acarretando na manutenção da taxa de

AMPc que ativa a proteinoquinase A e, consequentemente, a lipase hormônio sensível

(LHS), induzindo a lipólise através da mobilização de ácidos graxos e glicerol

(EASTWOOD, 2011).

A ação da cafeína pode ser potencializada pela coenzima A e aminoácido L-

carnitina os quais potencializam os efeitos da cafeína por aumentar o consumo e a

quebra dos ácidos graxos livres, induzindo o seu transporte ativo através da membrana

mitocondrial, que libera ATP, aumentando a eficiência da triglicéride lipase, facilitando

a hidrólise dos triglicérides (LEONARDI & CHORILLI, 2010).

Guaraná

Paullinia cupana K.

O guaraná extraído na espécie Paullinia cupana K. é usado na indústria

farmacêutica e na fabricação de refrigerantes, xaropes, sucos, pó e bastões. São

atribuídos ao guaraná, entre outras, as seguintes propriedades: estimulante, afrodisíaco,

adstringente, ação tônica cardiovascular, combate a cólicas, diarreias crônicas,

nevralgias e enxaquecas e ação diurética e febrífuga (LORENZI & MATOS, 2008;

SIMÕES et al., 2003).

A análise fitoquímica das sementes registra a presença de pequena quantidade de

um óleo formado de constituintes voláteis e fixos, 30% de amido, 15% de proteína, 12%

de taninos e até 5,8% de cafeína acompanhada de pequenas quantidades de teofilina,

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além de resina, ácido málico, saponinas, catequina, epicatequina e alantoína (LORENZI

& MATOS, 2008).

Há séculos, por via oral, o extrato de guaraná vem sendo utilizado como

estimulante do sistema nervoso central, e tal propriedade pode ser associada

especialmente à cafeína, um das substâncias ativas mais abundantes nesse extrato, além

da possibilidade de se usar topicamente. Além de possuir compostos por bases

xantínicas (cafeína, teofilina e teobromina), inclui-se saponinas e taninos em altas

concentrações, sendo que estes apresentam atividade antioxidante (MURAD, 2006;

ESPINOLA, 1997).

Dessa forma, sugerem-se o uso em formulações tópicas para o tratamento da

celulite. No entanto, a eficácia do uso do extrato de guaraná topicamente ainda não foi

comprovada na literatura científica, sendo às vezes empregada a cafeína em

formulações tópicas para o tratamento e a prevenção, sendo concentração usual da

cafeína até 8% e das outras metilxantinas até 4% (GAMA, 2010; CHORILLI et al.,

2004; ACCÚRSIO, 1999; DI SALVO, 1996).

Goji berry

Lycium barbarum

Estudos de GROSS (2005) confirmam que as bagas de Goji da espécie Lycium

barbarum despertaram interesse na comunidade científica ocidental pela sua riqueza

nutritiva e ação antioxidante. Conhecido como Goji (ou wolfberry) no mercado, L.

barbarum é popular por suas propriedades nutritivas e é chamado de "super frutas" ou

"Super alimento" (Karp, 2009; McLaughlin, 2006; Sohn, 2008). L. barbarum,

distribuídos predominantemente em todo o Mediterrâneo e da Ásia, é um arbusto de

folha caduca que é amplamente cultivada na província de Ningxia no noroeste da China

para fins comerciais.

Contêm o espectro completo de carotenoides, incluindo o betacaroteno,

zeaxantina e a luteína. Além disso, elas apresentam 500 vezes a quantidade de vitamina

C em comparação com a laranja, e são ricas em B1, B2, B6 e E. As bagas maduras

contêm -sisterol, sesquiterpenoides como a ciperona, solavetivona, tetraterpenoides,

betaína e fisalina. Um polissacarídeo demonstrou ser um poderoso estimulante da

regeneração celular (MIGUEL, 2007). Estudos têm demonstrado efeitos benefícios da

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L. barbarum relacionadas ao envelhecimento, neuroproteção, bem-estar geral, fadiga /

resistência, controle glicêmico em diabéticos, glaucoma, imunomodulação,

citoproteção, atividade antitumoral e antioxidante (State Pharmacopoeia Committee,

2010).

Uva vermelha

Vitis vinifera L.

As partes utilizadas da espécie Vitis vinifera L. são as folhas, os frutos e as

sementes e, em cosméticos, as sementes (SCHLEIER, 2004). As uvas vermelhas

possuem em sua composição: flavonoides (ação antioxidante), leucocianidinas, pró-

cianidinas que auxiliam no aumento da permeabilidade das vesículas microarteriais e

linfáticas) e taninos que auxiliam na redução da peroxidação lipídica. As frutas contêm

diversos ácidos, como o oxálico, málico, tartárico e racêmico. Nos produtos tópicos, o

óleo essencial é usado na concentração de 2 a 7% (LEONARDI & CHORILLI, 2010;

GAMA, 2010; MAFFEI FACINO et al., 1994).

Trevo amarelo

Melilotus officinalis

A parte da planta do trevo amarelo da espécie Melilotus officinalis que se

encontram os princípios ativos são as folhas e flores. Um dos componentes do extrato

vegetal é a cumarina que reduz o edema linfático e diminui a permeabilidade capilar. É

comum a recomendação para pacientes com insuficiência venosa crônica e congestão

linfática, condições que se acredita estar associada à celulite. A concentração

recomendada é de 2 a 5% (LEONARDI & CHORILLI, 2010).

Centela

Centella asiática

A parte da planta utilizada da espécie Centella asiatica é as folhas as quais seus

extratos são compostos por 40% de asiaticosídio, 30% de ácido madecássico, 30% de

ácido asiático, além de derivados triterpênicos como madecasósido e terminolósido. A

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união dessas substâncias atuam no tecido conjuntivo, nos fibroblastos e bem como na

microcirculação (LEONARDI & CHORILLI, 2010; GAMA, 2010).

Castanha da Índia

Aesculus hippocastanum

A composição fitoquímica da Castanha da Índia varia de saponinas triterpênicas

(principalmente aescina, aesculina e aescigenina), flavonoides (quercetina, canferol,

rutina, astragalin, quercetrina e esculina), heterosideos cumarínicos (fraxina, escopolina,

aesculetina, aesculosídeo e aesculina), óleos fixos (ácidos oléico, linoléico, palmítico,

esteárico e linoleico), vitaminas (B, C e provitamina D), ácidos graxos (2-5%), proteínas

(8-10%), fitosterol, açúcar e taninos (ácido esculitânico, epicatequina, leucocianidina e

leucodelfinina) (GAMA, 2010). A principal ação farmacológica da Castanha da Índia é

sobre o sistema circulatório, particularmente sobre o sistema venoso. Seus ativos

aumentam a resistência e o tônus das veias, diminuindo a fragilidade e a permeabilidade

dos capilares. Essa ação resulta em vasoconstrição periférica, ativa a circulação

sanguínea e favorece o retorno venoso. Suas indicações na fitocosmética variam na

formulação de cremes e loções para embelezamento de pernas. Também indica-se como

tônicos capilares e xampus voltados ao tratamento de queda de cabelo (MULTI

VEGETAL, 2012).

Na fitoterapia, as indicações são diversas, em casos de flebites, na prevenção de

varizes, em tratamento de processos reumáticos, para o alívio dos sintomas das

hemorroidas, graças a presença da escina e o esculósido presentes no extrato. Eles

apresentam ações venotônicos e estimuladores da resistência capilar, aliviando dores e

inflamações (SIRTORI, 2001).

Os derivados cumarínicos agem nos distúrbios vasculares periféricos e nos

edemas proteicos, retiram as proteínas do interstício e promovem a drenagem linfática.

A escina é o principal componente em formulações cosméticas para a celulite, pois

demonstram a capacidade de reduzir a atividade enzimática lisossomal, além de reduzir

a permeabilidade capilar. A concentração usual recomendada é de 1 a 3% (LEONARDI

& CHORILLI, 2010; MIGUEL, 2007).

Os flavanoides possuem ação anti-inflamatória, por inibirem o ciclo da

lipoxigenase e cicloxigenase. Como resultado destas funções, não há liberação dos

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principais mediadores inflamatórios (prostaglandinas e leucotrienos), com redução da

permeabilidade capilar, redução da inflamação e da dor, além de possuir a capacidade

de melhorar o fluxo sanguíneo ao preencher buracos microscópicos em vasos

sanguíneos. Ao reforçar estas veias, ocorre a prevenção de danos futuros no sistema

circulatório (NÈGRE-SALVAYRE et al., 1991).

A rutina é um flavonóide com potente ação sobre o endotélio capilar. Atua na

bioquímica da via do ácido araquidônico, inibindo a síntese de prostaglandinas e da

ciclooxigenase, inibindo a ação dos leucotrienos pela lipoxigenase. Como consequência

desse bloqueio, ocorre a lipólise estimulada pelas catecolaminas e hormônios lipolíticos,

reduzindo os processos inflamatórios por diminuição da histamina e diminuição da

permeabilidade capilar e ação vasoconstritora por bloqueio da síntese dos leucotrienos.

Atua também na formação de um complexo, com os radicais livres, protegendo as

estruturas vasculares contra sua ação lesiva, pois possui ação antilipoperoxidante,

impedindo a oxigenação das gorduras. Sua ação também se verifica no colágeno,

elastina e proteoglicanos, aumentando a síntese destes nas paredes dos vasos tornando-

as mais resistentes (NEVES & PAES, 1998).

Gengibre

Zingiber officinale R.

Seus rizomas são utilizados como especiarias para temperos de carnes e bebidas.

Pode ser utilizada medicinalmente para asma, bronquite, menorreia, estimulante

digestivo, anti-inflamatória, antirreumática, antiviral, antimicrobiana, antitussígena,

antitrombose, cardiotônica, antialérgica, colagoga, protetora do estômago e da garganta.

Sua análise fitoquímica mostrou a presença de 1 a 2,5% de óleos voláteis, sendo estes os

citral, cineol, borneol e os sesquiterpenos zingibereno e bisaboleno, além de um óleo-

resina rico em gingeróis. Outros constituintes são os açúcares, proteínas, vitaminas do

complexo B e C (LORENZI & MATOS, 2008).

O canfeno, felandreno, zingibereno e zingerona são óleos essenciais encontrados

no gengibre para promover o aquecimento dos membros frios, sendo utilizados para

ativarem a circulação de áreas afetas pela celulite (Plant cultures: botany, history and

uses of ginger 2011; Hearth-Care-Clinic, 2011).

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ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013

Alecrim

Rosmarinus officinalis L.

As folhas, flores e frutos secos de alecrim são utilizados em temperos de carnes e

massas quando triturados. Seu uso medicinal em forma de chá (folhas) é utilizado para

os casos de má digestão, gases no aparelho digestivo, dor de cabeça, hipertensão,

problemas digestivos, perda de apetite, dismenorréia, fraqueza e memória fraca. É

utilizado também nos tratamentos tópicos como em reumatismo, cicatrizante e anti-

inflamatório. A análise fitoquímica registrou para as folhas a presença de óleo essencial

constituído de uma mistura de componentes voláteis que é responsável pelo odor típico,

dentre os quais os principais são cineol, alfa-pineno e cânfora e, entre os compostos não

voláteis, o ácido caféico, ácido rosmárico, diterpenos amargos, flavonoides e

triterpenoides (LORENZI & MATOS, 2008).

Quando o extrato aquoso de alecrim foi analisado, sua composição química

revelou a presença de muitas substâncias cujas propriedades antioxidantes e anti-

lipoperoxidante tem sido demonstradas nos quais podem citar o ácido rosmarínico,

ácido caféico, ácido clorogênico, ácido carnosólico, rosmanol, diterpenos carnosol,

rosmari-diphenol, rosmariquinona e muitos outros antioxidantes naturais, ácido

ursólico, ácido e do alcaloide rosmaricina glucocólico. O óleo de alecrim contém ésteres

(2-6%) em grande parte como borneol, cineoles e vários terpenos (SENA et al,. 1999).

5. Discussão

O resultado mais expressivo encontrado foi a substância ativa cafeína extraída da

espécie Coffea arabica, muito utilizado para o tratamento anticelulítico. Pode ser

associado com outros ativos com mesmos fins. As associações de substâncias ativas

naturais tem como propostas presentes atuarem em diferentes vias e mecanismos de

ação para tornarem mais efetivos.

Os metabólitos secundários mais presentes com apelo de ação anticelulítica

encontrados são os alcaloides (cafeína, teofilina e teobromina) como, por exemplo, o

extrato vegetal de Paullinia cupana. Como ação antioxidante, os flavonoides, taninos ou

óleos essenciais são exemplos encontrados nas espécies Vitis vinifera, Aesculus

hippocastanum, Lycium barbarum, Paullinia cupana, Zingiber officinale e Rosmarinus

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officinalis. O extrato de Centella asiatica auxilia na melhora do quadro do tecido

conjuntivo, estimula a síntese de colágeno e na microcirculação. A cumarina extraída do

Melilotus officinalis é uma substância que auxilia na redução do edema local linfático e

também diminui a permeabilidade capilar.

Segue-se abaixo, na tabela 1, os agentes ativos do tratamento tópico da celulite

com base no seu mecanismo de ação mais usualmente indicados de acordo com as

espécies pesquisadas:

Ação cosmética Espécie vegetal Metabólito (ativo presente)

Antioxidante Paullinia cupana taninos

Lycium barbarumvitaminas e -sisterol

Vitis vinifera flavonoides e taninos

Rosmarinus officinalis óleos essenciais voláteis

Permeabilidade capilar Melilotus officinalis cumarina

Lipólise Coffea arabica metilxantinas (cafeína)

Paullinia cupana metilxantinas (cafeína, teobromina e teofilina)

Aesculus hippocastanum escina e rutina

Termoterápica Zingiber officinale óleos essenciais voláteis

Restauração dérmica Centella asiática asiaticosídio

ácido madecássico, asiático e derivados

triterpênicos

Tabela 1: Agentes ativos do tratamento tópico da celulite com base no seu mecanismo de ação

6. Conclusão

Conclui-se que para um tratamento eficaz contra a celulite torna-se necessário, a

princípio, consultar um dermatologista e/ou outro profissional da área de saúde para

fazer a avaliação e a recomendação de qual substância ativa incorporada num

fitocosmético é o melhor indicado para o caso específico em si, pois, às vezes, somente

com mudança de hábitos de vida associadas a uma alimentação saudável, sem vícios e

com a prática de algum esporte, poderá melhorar o aspecto celulítico.

As substâncias ativas fitoterápicas extraídas da Coffea arabica; Paullinia cupana;

Lycium barbarum; Vitis vinifera; Melilotus officinalis; Centella asiatica; Aesculus

hippocastanum; Zingiber officinale e Rosmarinus officinalis são eficazes no tratamento

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ISSN 1980-0894 Dossiê, Vol.8 Nº3, Ano 2013

da celulite, pois melhoram o aspecto "casca de laranja".

Acredita-se que a tendência seja a procura de outras substâncias ativas

fitoterápicas que atuam em todas as vias de tratamento e/ou prevenção da celulite.

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Recebido em 29/10/2013

Aceito em 11/12/2013