Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF GOIANO), Campus Rio Verde ­Rodovia Sul Goiana, Km 01, Zona Rural, caixa postal 66 Rio Verde/GO, CEP: 75.901­970

AS BARATAS PODERIAM SOBREVIVERA UMA GUERRA NUCLEAR?

A ENERGIA DISSIPADA NA DETONAÇÃO DE UMA BOMBA ATÔMICA É TÃO ALTA

QUE É CAPAZ DE DESTRUIR TUDO AO SEU REDOR. TUDO MENOS AS BARATAS? ARESPOSTA VOCÊ ENCONTRA NAS PÁGINAS 04 E 05.

VOCÊ JÁ PENSOU EM COMO SERIA BOM ACABAR COM AS BARATAS? MAS

VOCÊ JÁ PENSOU QUAIS PODERIAM SER AS CONSEQUÊNCIAS? LEIA UM

POUCO MAIS SOBRE ECOLOGIA DAS BARATAS NA PÁGINA 03.

E ENTÃO, O QUE SIGNIFICA DESBARATAR A BIOLOGIA?O BIÓLOGO PRODUZ CONHECIMENTO QUE PODE MUDAR E MELHORAR A

VIDA DAS PESSOAS. AS BARATAS SE ESPALHAM POR DIFERENTES LUGARES.ASSIM, DESBARATAR (ESPALHAR) A BIOLOGIA SIGNIFICA TORNA­LA

CONHECIDA EM TODO LUGAR PARA MUDAR PARADIGMAS INCLUINDO A

VISÃO QUE A SOCIEDADE TEM DA CIÊNCIA E DO BIÓLOGO.

CIÊNCIA E SAMBA: BIOLOGIA EM TOM MAIOR.O QUE A EXPRESSÃO “LEVANTA, SACODE A POEIRA E DÁ A VOLTA POR CIMA”TEM A VER COM A BIOLOGIA? A RESPOSTA ESTÁ NA PÁGINA 05 NA COLUNA

CIENTISTAS BRASILEIROS QUE APRESENTA A VIDA DO ZOÓLOGO E COMPOSITOR

BRASILEIRO PAULO EMILIO VANZOLINI.

30.NOV2018

Nº 101Volume.

QUEM QUER CASAR COM A DONA BARATINHA?

INSTITUTO FEDERAL GOIANO (IF GOIANO), CAMPUS RIO VERDE VOL. 01 Nº 1 ­ 30/11/201802Certamente lontras, pandas, bichinhos “fofos”não causam a mesma reação nas pessoas quemorcegos, roedores, cobras, lagartos e alguns insetoscomo moscas, mosquitos e baratas. Esses últimosnão são exatamente o que poderíamos chamar deanimais carismáticos. Contudo, ao contrário do quese imagina, esses animais possuem papéis ecológicosfundamentais na manutenção de florestas e saúdeambiental. Além disso, animais como a jararaca,por exemplo, podem ser fonte de medicamentoscapazes de salvar pessoas controlando pressãoarterial e diabetes. Morcegos e roedores podematuar na dispersão de sementes e são fonte dealimento para serpentes e aves de rapina. Atéaqueles tidos como mais “asquerosos”, como asbaratas, são importantes para fragmentar detritos elixo, facilitando a sua decomposição tanto nosambientes naturais quanto nas cidades.Ok. Muitos dirão que isso é papo de biólogo queleva uma vida contemplativa e romântica apenasadorando a natureza e nada mais. Mas, afinal, o quefaz um biólogo? De onde vem essas ideias?O biólogo é um pesquisador que se dedica alevantar dados, analisar criticamente informaçõespara produzir novo conhecimento que, muitasvezes, contradiz o senso comum. Um exemplo dessaatuação é o estudo do papel ecológico das baratasna ciclagem de materiais e diminuição do volumede resíduos e lixo no ambiente urbano. Porém, nãoé incomum que esse conhecimento fique restrito aopúblico dito acadêmico, à comunidade científica eque seu potencial transformador/inovador

não se efetive.O desafio então é fazer com que esse conhecimentoultrapasse os muros das universidades e centros depesquisa e chegue à população em geral, às salas deaula, às ruas e ajude a mudar concepções econceitos pré­estabelecidos (preconceitos). Ou seja,fazer divulgação cientifica, divulgar as CiênciasBiológicas. Esse conhecimento precisa ganhar“asas”, se espalhar por vários lugares como asbaratas que conseguem atingir e se dispersar pordiferentes locais sendo difícil contê­las e controlá­las. Espalhar é justamente um dos sinônimos dedesbaratar. Espalhar a Biologia, divulgar oconhecimento produzido nessa área, valorizar aprodução e os profissionais, mudar paradigmasincluindo a visão que a sociedade tem da ciência edo Biólogo é justamente o foco desse conjunto deestratégias de divulgação cientifica reunidas sob onome “Desbaratando a Biologia”.

A ideia é produzir materiais, começando por umjornal, passando por programas de rádio (podcast),vídeos no qual esse conhecimento será apresentadopara a comunidade em geral em uma linguagemacessível, explicando os termos técnicos e científicospara que se torne inteligível e desperte o interesse.A matéria prima para essas ações e seus principaisoperadores serão professores, alunos do IF GOIANO

e outras instituições de Rio Verde e região. Começaaqui e não se sabe onde vai parar. A formula não éfechada, não está pronta. Que tal juntar­se a nós edescobrir que a Biologia, a ciência é um barato epertence a todos nós?

Jânio C. Moreira é mineiro, fã da série “De Volta para o Futuro”, esposo daGiselle e pai do Paulo Henrique, biólogo pela Universidade Federal de Viçosa,zoólogo, mestre e doutor pela UFRJ e professor do IF GOIANO/Campus Rio Verde.

PUBLICAÇÃO QUADRIMENSAL DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DO INSTITUTO FEDERAL GOIANO

CAMPUS RIO VERDE/LABORATÓRIO DE BIOLOGIA ANIMALEditores Gerais: Jânio C. Moreira e Fábio DyszyEdição e Design Gráfico: Leticia C. Lopes Carvalho (bolsista de extensão do IF GOIANO/Campus Rio Verde)Revisão: Ada BispoCriação e design do simbolo: Victor Alves de Freitas (Graduando em Licenciatura em Ciências Biológicas peloIF GOIANO/Campus Rio Verde).

DESBARATANDO A BIOLOGIA

03Após se deparar com uma barata, muitas pessoasentram em pânico só de pensarem na possibilidadede uma “infestação”. Nesse momento, é possívelque você, algum familiar ou conhecido já tenhampensado em como seria bom acabar com todas asbaratas do mundo. Mas, seria uma boa ideia? Deprimeira, pode até parecer que sim, mas será quepodemos mesmo acabar com as baratas? Então,vamos falar um pouco sobre estes insetos. Bom, nãodá para chamar estes insetos exatamente de bonitose fofos, mas eles são muito importantes. Paracomeço de conversa, é bom saber que existem cercade 5 mil espécies diferentes de baratas, quepertencem à ordem Blattodea. As baratas urbanas,estas que vivem nas cidades e dentro da sua casa,representam apenas cerca de 1% desse total. Umdado interessante revelado por um estudo é que nacidade de São Paulo existem cerca de 200 barataspor habitante!O tamanho das baratas também é bastante variado,desde espécies com apenas alguns milímetros até asmaiores, que podem chegar a cerca de 10 cm decomprimento (que ocorrem na Austrália). Asbaratas são organismos muito importantes emambientes silvestres e mesmo nos ecossistemasurbanos. Elas se alimentam de restos de animaismortos (inclusive humanos), fezes, detritos ematerial vegetal. Além disso, são presas de animaiscomo lacraias, aranhas, escorpiões, aves, ratos emorcegos. Por isso, o desaparecimento das baratascausaria um desequilíbrio no ecossistema. Como sealimentam de animais mortos, ajudam nadecomposição desses animais devolvendo osnutrientes presentes nesses cadáveres aoecossistema; e como presas de outros animais, aextinção das baratas poderia causar efeitos negativosnas populações dos seus predadores. Agora, um fatocurioso sobre as baratas: você sabia que estes insetos

também fazem parte da dieta humana? Em muitospaíses, especialmente na Ásia, as pessoas comembaratas! Na China, por exemplo, é comumencontrar espetinhos de baratas. E elas são umótimo alimento, ricas em gorduras e carboidratos, etambém uma ótima fonte de cálcio!Outra curiosidade sobre as baratas é sualongevidade. São animais que surgiram há cerca de300 milhões de anos. Sobreviveram à extinção emmassa que extinguiu os dinossauros, há cerca de 65milhões de anos! Além disso, suportam cerca de 20vezes mais radiação do que o homem. No entanto,são tão suscetíveis a um ataque nuclear quanto oshumanos. A diferença é que, por viverem emgalerias subterrâneas e terem seus ovos protegidospor uma cápsula, as baratas poderiam ter maischance de sobreviver a esse tipo de ataque.As baratas também têm um jeito bastanteinteressante de se comunicarem entre elas.Cientistas descobriram que bactérias presentes nasfezes das baratas emitem cheiros que atraem outrasbaratas. É assim que uma barata avisa a outra sobreuma fonte de alimento, por exemplo. E, por isso, asbaratas tendem a ser vistas em grupos. Pode parecerengraçado ou até mesmo nojento estudar baratas,mas a verdade é que estes estudos são importantes,pois podem ajudar no desenvolvimento deinseticidas mais específicos e no controle dessesinsetos, que, afinal, por viverem em esgoto e lixourbano, também podem ser vetores de doenças.Agora que você conhece um pouco mais sobre asbaratas, elas não se tornaram um pouco maisatraentes? E será que acabar com elas continuasendo uma boa ideia? O que você acha? Que talestudar e conhecer mais sobre elas e sobre outrosinsetos, e também sobre os outros animais e plantasque existem no nosso país e no mundo? Sejacurioso! Conhecer é a melhor forma de preservarnossa biodiversidade!

Fábio M.V. Carvalho é carioca, torcedor do Flamengo, fã de futebol e samba,biólogo e mestre em Ecologia pela UFRJ, Doutor em CiênciasAmbientais/UFG e professor do IF GOIANO/Campus Rio Verde.

QUEM QUER CASAR COM A DONA BARATINHA?INSTITUTO FEDERAL GOIANO (IF GOIANO), CAMPUS RIO VERDE VOL. 01 Nº 1 ­ 30/11/2018

04“Se houvesse um grande desastre nuclear, ou uma guerra utilizando armas nucleares,

apenas as baratas sobreviveriam”.

Você já deve ter ouvido ou lido isso em algumlugar, não é? Será que isso é verdade? E o que éradiação nuclear? Vamos falar um pouco disso.Primeiramente, vamos falar sobre o que é radiação.Certamente, ao ouvir essa palavra, você já ficapreocupado. Radiação tomou uma conotaçãonegativa, mas radiação nada mais é do quepropagação de alguma forma de energia de umlugar a outro. A lâmpada que ilumina sua sala éuma fonte de emissão de radiação de luz visível. Oseu celular é uma fonte de radiação de microondas,que também estão presentes no forno que vocêutiliza para esquentar sua comida. Os exames deRaios­X, ressonância magnética nuclear, tudo issose baseia em radiação, assim como as temidasbombas nucleares. Mas qual a diferença entre essestipos de radiação?Basicamente, a diferença entre as formas deradiação é a quantidade de energia que elas sãocapazes de propagar. A energia está associada adiferentes características dessa radiação. É como sea radiação fosse um determinado veículo, e aenergia, a carga a ser transportada. Você não vaiusar um carro popular para transportar 20toneladas de grãos, assim como você não vai usarum guindaste para levantar dois travesseiros, certo?Cada tipo de radiação é capaz de propagar umadeterminada quantidade de energia. Assim, aenergia contida na radiação propagada pelalâmpada da sua sala é insuficiente para produzirqueimaduras na sua pele. A energia contida nasmicroondas é suficiente para agitar moléculas deágua, mas seu celular emite microondas com tãobaixa potência que nenhum estudo sério conseguiudemonstrar algum tipo de dano à saúde. A energiacontida nos Raios­X, por outro lado, é alta osuficiente, a ponto de causar danos à saúde, caso apessoa seja exposta a ela de modo excessivo. Já aenergia contida em uma bomba atômica é tão altaque é capaz de destruir tudo ao seu redor.Tudo menos as baratas? O fato é que as baratas são

insetos como quaisquer outros, e seu esqueletoexterno – o exoesqueleto – é composto por umcarboidrato chamado de quitina, assim como osdemais insetos. Assim, não há nada de especial nafisiologia das baratas que explique essa ideia. Masde onde surgiu? A resposta é que a sobrevivênciadas baratas, assim como a de qualquer outra formade vida, a um evento catastrófico como uma bombanuclear depende de uma série de fatores. Dependeda distância que essas formas de vida estarão docentro da explosão, de onde elas estiveremescondidas, se acharão alimento após sobreviveremà explosão.Vamos lá: o centro da explosão da bomba detonadasobre a cidade de Hiroshima, na Segunda GuerraMundial, atingiu um milhão de graus Celsius,causando um vento de 1.500 km/h, produzindouma radiação luminosa que, mesmo a 3quilômetros, era 100 vezes mais luminosa que o Sol.As quantidades de energia propagadas foramimensas, e temos que concordar que essascondições são extremamente adversas à vida,portanto, a chance de sobrevivência nessa região éextremamente baixa. A vantagem das baratas – e dequalquer outro inseto – é que, em tese, elaspoderiam facilmente se esconder em frestas,protegendo­se da alta temperatura, dos ventos fortese da própria radiação proveniente nos núcleosatômicos radioativos. Um animal maior, como umser humano, por exemplo, dependeria de todo umaparato, como um porão para fazer o mesmo.Então temos um ponto: proteção. Animais menoresconseguem se proteger mais facilmente do queanimais maiores. Vamos ao segundo ponto: e após asobrevivência?Após – e se – sobreviver, um animal precisa de águae alimento. Como vimos no texto “A Ecologia dasBaratas”, também publicado nesse número, asbaratas são onívoras, isto é, podem sobreviver sealimentando de praticamente qualquer coisapresente na crosta terrestre: animais mortos, fezes,

AS BARATAS E A RADIAÇÃO NUCLEARINSTITUTO FEDERAL GOIANO (IF GOIANO), CAMPUS RIO VERDE VOL. 01 Nº 1 ­ 30/11/2018

05material vegetal. As baratas podem absorver águaque cai sobre sua carapaça de quitina, podemsobreviver por até uma semana sem nenhuma águae por até um mês sem nenhum alimento. Paracomparar, um ser humano, após três dias semingestão de água, põe sua vida em sério risco.

Assim, uma barata, em um mundo apocalíptico,conseguiria encontrar meios de sobreviver muitomais facilmente do que animais maiores e maisseletivos no que diz respeito à sua alimentação.Aliás, provavelmente, foi isso que ocasionou aextinção dos dinossauros e permitiu a ascensão dosmamíferos. Mas, isso já é outra história.

Fábio Henrique Dyszy é paulista, fã de Star Wars, marido da Shirlei, pai doMatheus, biólogo formado na Universidade de Mogi das Cruzes, doutor embioquímica (IQ-USP) e professor do IF GOIANO/Campus Rio Verde.

Você já se deparou com um desenho, um filme,um comercial ou algo que aguçou sua curiosidade eo fez pensar “Nossa, que criativo!”? Bem,criatividade e curiosidade, matéria prima paraproduzir essas obras, são duas das mais singularescaracterísticas do homem que se fazem notar nassuas diversas atividades. Por incrível que possaparecer, esses dois elementos estão presentes eunem campos que, à primeira vista, podem parecerdistantes como a ciência e a arte. Juntas, essas duasatividades, produtos diretos da criatividade ecuriosidade humanas, são responsáveis por algumasdas mais belas realizações da humanidade.Mas, simplesmente por terem esses aspectos emcomum, seria possível conciliar arte e ciência?Haveria cientistas artistas? Sim, há exemplos!Inclusive no Brasil! E a coluna Cientistas Brasileirosdesse mês trata de um deles: o zoólogo Paulo EmilioVanzolini. Entre 1946, ano em que começou atrabalhar no Museu de Zoologia da Universidade deSão Paulo (MZUSP), e 2013, ano de sua morte,Vanzolini conciliou o trabalho como pesquisador eprofessor com a sua vida de compositor. Ao longo

de sua vida, ele deu importantes contribuições aoconhecimento sobre as espécies de lagartosocorrendo no Brasil e participou de estudoscientíficos em várias partes do país, com destaquepara a Amazônia. Desses estudos, em colaboraçãocom o geografo Aziz Ab’Saber e com o pesquisadornorte­americano Ernest Williams, concebeu achamada “Teoria de Refúgios” que explicava ainfluência dos ciclos climáticos (incluindoglaciações como as retratadas no filme “A Era doGelo”) na origem e manutenção dos ecossistemas daAmérica do Sul e da grande riqueza biológica queeles abrigam. No campo artístico, compôs cançõescomo “Ronda”, “Samba Erudito” e “Volta porcima”. Nessa última canção, ele cunhou a expressão“dar a volta por cima” que acabou incorporada àlinguagem popular. Boa parte do dinheiro obtidocom os direitos dessas composições era revertido nacompra de livros para o seu acervo pessoal e dabiblioteca no MZUSP. A trajetória de Vanzolinimostra que ciência e arte podem andar de mãosdadas e que a Biologia dá samba.

Jânio C. Moreira é mineiro, fã da série “De Volta para o Futuro”, esposo daGiselle e pai do Paulo Henrique, biólogo pela Universidade Federal de Viçosa,zoólogo, mestre e doutor pela UFRJ e professor do IF GOIANO/Campus Rio Verde.

> Cientistas Brasileiros é uma coluna fixa do Desbaratando a Biologia que tem comoobjetivo trazer, em cada número, um pouco da história, biografia e contribuições de nossos

compatriotas cientistas mostrando que o Brasil também pode ser a pátria da ciência.

CIÊNCIA E SAMBA: BIOLOGIA EM TOM MAIOR

INSTITUTO FEDERAL GOIANO (IF GOIANO), CAMPUS RIO VERDE VOL. 01 Nº 1 ­ 30/11/2018