Re». Inst. Adolfo Lutz,40 (2) :89-96, 1980.

IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS ORNAMENTAISCOMO VEíCULOS DE PROPAGAÇÃO DE VETORES

MANSONI *

DOS AQUÁRIOSDE SCHISTOSOMA

Lúcia de Lacerda CORRtA **Marcelo Osvaldo Álvares CORRl!:A **Jorge Faria VAZ ***Maria Ivani P. Gonçalves da SILVA **Rita Maria da SILVA **Maria Terumi YAMANAKA ••

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CORRtA, L.L.; CORRtA, M.O.A.; VAZ, J.F.; SILVA, M.I.P.G.; SILVA, R.M.& YAMANAKA, M.T. - Importância das plantas ornamentais dos aquárioscomo veículos de propagação de vetores de Schistosoma mansoni. Re». Inst.Adolio Lutz, 40 (2) :89-96, 1980.

RESUMO: Em 1970, CORRtA et alii comprovaram a introdução de Biompha-laria straminea em São Paulo, através de peixes provenientes do Amazonas eCeará, que foram colocados em tanques de criação em Barra Bonita e Americanaem São Paulo. Este fato e a introdução, na Austrália, de vetores de Schistosomamansoni através da importação de aquários de Hong-Korig, levaram os autoresa pesquisar aquários comercializados na cidade de São Paulo, Brasil. Os peixesornamentais desta pesquisa provêm do exterior, do Norte e do Nordeste do Brasil e asplantas aquáticas, de várias regiões do país. Foram visitadas onze lojas do ramoe, em nove, foi comprovada a existência de vetores de S. mansoni; B. straminea,o mais importante vetor do Nordeste, foi encontrado em oito lojas e B. teruiçophila,em três. Em face da permanente imigração de nordestinos para o Estado deSão Paulo, e da atual expansão da esquistossomose mansoni avulta o interesseno encontro de novos mecanismos de dispersão de planorbídeos, a exigir adequadasmedidas de vigilância epidemiológica.

DESCRITORES: Biomphalaria sp., dispersão através de aquar ios ; Schistosomamansoni, vetores; esquistossomose, São Paulo, Brasil; Biomphalaria straminea noVale do Ribeira, São Paulo, Brasil.

Em 1970, CORRÊAet alii 1 comprovaram aintrodução de Biomphalaria straminea emtanques de criação de peixes das estações depiscicultura de Barra Bonita e Americana, emSão Paulo, através da importação de peixes

do Amazonas e Ceará, estados em que oreferido planorbídeo se constitui no principaltransmissor da esquistossomose mansoni. Em1973, a B. straminea foi identificada no Valede Larn Chung, Hong-Kong, por MEIER-BRoóK2,

* Realizado no Setor de Esquistossomose do Instituto Adolfo Lutz, São Paulo, SP.* * Do Instituto Adolfo Lutz.

*** Da Superintendência do Controle de Endemias, São Paulo, SP.

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CORRÊA, L.L.; CORRÊA, lVI,O.A.; VAZ, J.F.; SILVA, M.I.P.G.; SILVA, R.M. & YAMANAKA, M.T.Importância das plantas ornamentais dos aquários como veículos de propagação de vetores deSchistosoma mansoni. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 40 (2) :89-96, 1980.

sendo aventada a possibilidade de ter sidoesse planorbídeo transportado para lá junta-mente com plantas aquáticas importadas paraornamentar aquários. Sendo Hong-Korig fre-qüentado por numerosos turistas, muitos dosquais provenientes de zonas endêmicas deesquistossomose mansoni, haveria real perigona introdução dessa parasitose no Sudeste daÁsia. Alguns anos mais tarde foi revelada aintrodução, na Austrália, de vetores deSchistosoma mansoni através de importação deaquários provenientes de Hong-Kong.

Tais eventos levaram-nos a pesquisar, sobeste enfoque, os aquários de peixes comerciali-zados na cidade de São Paulo, oferecidos àaquisição pública em lojas adequadas.

Até o presente momento visitamos 11 lojas,com o seguinte resultado: em g lojas encon-tramos aquários com Biomphalaria straminea(f'ig, 1 e 2), onde 281 exemplares foram cole-tados; em 2 destas lojas encontramos tambémB. tenagophila (92 exemplares). Em uma outraloja, a 9.a, encontramos 16 exemplares de B.tenagophila em seus aquários e, finalmente, na10.a e 11.a lojas coletamos somente exemplaresde Ampullaria sp., pois a água dos aquáriostinha sido renovada momentos antes, porém,recebemos' a informação de que o apareci-mento dos planorbídeos nos aquários era fre-qüente. Outros mol uscos coletados foramLurnruiea sp. (38 exemplares), Physa sp. (67),Helisoma sp. (18) e Ay/acostoma sp, (11).

Os aquários, via de regra, contêm peixes eplantas ornamentais destinadas a provera oxigenação l!.a água e é através destas plan-tas que os planorbídeos são introduzidos neles(fig. 3 e 4). As plantas mais usadas são aelódea, a valisnéria, a cabornba, a samambaia--de-água, a amazonense, a criptocorina e asagitária.

As plantas e os peixes ornamentais provêmdo Norte e Nordeste do Brasil e de diferenteslocalidades do Estado de São Paulo; apenasdeterminados peixes provêm do exterior. Algu-mas lojas dispõem de fornecedores de peixes eplantas aquáticas; em outras, os proprietáriosdispõem de chácaras ou sítios próprios dotadosde tanques de criação de peixes, localizadosnos municípios vizinhos da Capital, no interiorou no litoral de São Paulo.

Temos encontrado muita dificuldade emestabelecer contato com os fornecedores depeixes e plantas ornamentais, em face dasrestrições opostas pelos proprietários das lojas.Entretanto, encontramos compreensão e rece-bemos colaboração de um dos maiores forne-cedores do ramo, o qual dispõe, ademais, de

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loja própria e de um sítio no município deJuquiá, em São Paulo, onde existem amplasinstalações para a criação de peixes orna-mentais.

Visitando o referido sítio constatamos apresença de enorme quantidade de B. stramineae de B. tenagophila, esta em menor escala,em seus criadouros de peíxes e de plantasornamentais, os quais são constituídos por pe-quenos lagos, escavados no solo (fig. 5 e 6),dispostos em níveis diferentes, em grandenúmero, e irrigados por meio de canalizaçõesadequadas, de tal maneira que a água recebidade um riacho, depois de irrigar os diferenteslagos, é lançada de volta ao mesmo riachoque contorna a região dos pequenos lagos, indolançar-se mais adiante no rio Juquiá-açu queé afluente do rio Ribeira de Iguape. Coletamosnesses lagos mais de 300 exemplares deB. straminea e 42 exemplares de B. tenagophila(fig. 7).

Foi esta a primeira vez em que foi encon-trada a B. straminea no Vale do Ribeira. Atéentão, de acordo com RAMOS ei alii a, a B.tenagophila era a única espécie vetora de S.mansoni encontrada nessa região.

Por ocasião de chuvas intensas e conse-qüente aumento do volume do riacho irrigador,os pequenos lagos transbordam e suas águascarreiam com a maior facilidade exemplaresda fauna malacológica. Em meados de feve-reiro de 1980, Juquiá foi atingido por verda-deira tromba d'água, caracterizada por preci-pitação pluviométrica de 240 mm em cerca de12 horas, a qual arrasou totalmente os cria-douros de peixes do sítio que visitamos.

PARAENSE3.4. , afirma que: "A B. stramineaé uma espécie altamente bem sucedida, vivendoem habitats permanentes e temporários eadaptando-se perfeitamente a todas as varie-dades de clima do Brasil. Sua ausência dazona temperada meridional não resulta demera influência climática, visto como tambémela ocorre na província de Buenos Aires, Ar-gentina, que pertence à mesma zona de climatemperado chuvoso (Koeppen). Apesar de sermuito menos suscetível à infecção porS. mansoni, a B. straminea é mais im-portante que a B. glabrata como vetora daesquistossomose no Nordeste do Brasil, devidonão só à sua distribuição muito mais amplacomo também à sua associação com altos índicesde infecção humana".

Em face da permanente migração de nordes-tinos para o Estado de São Paulo e da atualexpansão da esquistosomose mansoni, avultao interesse no encontro de novo mecanismo dedispersão de planorbídeos, a exigir adequadasmedidas de vigilância epidemiclógica,

CORRÊA, L.L.; CORRÊA, M.O.A.; VAZ, J.F.; SILVA, M.I.P.G.; SILVA, R.M. & YAMANAKA, M.T.Importância das plantas ornamentais dos aquários como veículos de propagação de vetores deSchistosoma lIlansoni. Rev, Inst. Adoljo Lutz, 40 (2) :89-96, 1980.

FIGURA 1 - Aquário com exemplar de Biom)Jhala?'ia st?'aminea.

FIGURA 2 - Biomph alaria st ra mi.neti na parede de vidro de aquário.

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CORRÊA, L.L.; CORRÊA, M.O.A.; VAZ, J.F.; SILVA, M.I.P.G.; SILVA, R.M. & YAMANAKA, M.T.Importância das plantas ornamentais dos aquários como veículos de propagaçâo de vetores deSchistosoma mansoni. Re». Inst. Adolfo Lut.z, 40(2) :89-96, 1980.

FIGURAS 3 e 4 - Aquários de peixes ornamentais com planorbídeos.

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FIGURAS 5 e 5 - Pequenos lagos encravados no solo ecnstituindo-se em criadouros de planorbídeos.

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FIGURA 7 - Coleta de exemplares de planorbídeos.

FIGURA 8 - Biomphala1'ia straminea encontrada no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo.

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MATOGROSSO

VALE DO RIBEIRA

PROVÁVELDA

PARAU

B. straminea

FIGURA 9 - Região do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo.

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CORRÊA, L.L.; CORRÊA, M.O.A.; VAZ, J.F.; SILVA, M.I. P.G.; SILVA, R.M. &YAMANAKA, M.T. - The importance oi ornamental plants oi aquaria asvehicles of Schistosorna rnansoni vectors propagation. Re». Inst, Adolf o Lute,40 (2) :89-96, 1980.

ABSTRACT: In 1970, CORRf:A et alii evidenced the introduction of Biornpha-laria strarninea in São Paulo through iishes proceeding irom Amazonas and Ceará,whích were placed into ponds oi breeding in Barra Bonita and Americana, SãoPaulo. Because of this iact and acco rdi ng to the previous surveys about theintroduction of Schistosorna mansoni vectors in Australia, through importation ofaquaria from Hong-Kong, th e authors regarded to search the aquaria commercial-ized in São Paulo city, Brazil. The ornamental fishes studied in this wo rk proceedirom abroad and northeastern Brazil, and the aquatic plants from several areasof country. It were visited eleven special branch shops and it was evidenced theexistence of Schistosoma rnansoni vectors in nine of them; B. strarninea, the mostimportant vector in northeast area was found in eight shops and B. tenagophilain three. In view of the constant immigration of northeastern people to São Paulo,and the present expansion of Manson's schistosomiasis increases the interest infinding new mechanisms for planorbids dispersion, to demand proper measures ofepidemiological vigilance.

DESCRIPTORS: Biornphalaria sp., dispersion through aquaria; Schistosornarnansoni, vectors; schistosomiasis, São Paulo, Brazil; Biornphalaria strarninea inVale do Ribeira, São Paulo, Brazil.

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CORRtA, L.L.; CORRl1:A, M.O.A.; VAZ, J.F.; SILVA, M.I.P.G.; SILVA, R.M. & YAMANAKA, M.T.Importância das plantas ornamentais dos aquários como veículos de propagação de vetores deSchistosoma mansoni. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 40 (2) : 89-96, 1980.

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Recebido para publicação em 6 de junho de 1980.