impacto psicológico das vítimas de trauma em reabilitação
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
ESCOLA DE ENFERMAGEM DE RIBEIRO PRETO
LUCAS FELIX DE OLIVEIRA
Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao
Ribeiro Preto
2014
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LUCAS FELIX DE OLIVEIRA
Impacto psicolgico das vtimas de trauma
em reabilitao
Tese apresentada Escola de
Enfermagem de Ribeiro Preto da
Universidade de So Paulo, para obteno
do ttulo de Doutor em Cincias da Sade,
Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem Fundamental.
Linha de pesquisa: Processo de cuidar do
adulto com doenas agudas e crnico-
degenerativas.
Orientadora: Maria Clia Barcellos Dalri
Ribeiro Preto
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2014
Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Felix de Oliveira, Lucas
Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao.
Ribeiro Preto, 2014.
143 p.: il. ; 30cm
Tese de Doutorado apresentada Escola de Enfermagem de
Ribeiro Preto/USP. rea de concentrao: Enfermagem
Fundamental.
Orientadora: Dalri, Maria Clia Barcellos.
1. Vtimas de acidentes. 2. Reabilitao. 3. Ansiedade. 4.
Depresso.
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FELIX DE OLIVEIRA, Lucas
Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao
Tese apresentada Escola de Enfermagem de
Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo
para obteno do ttulo de Doutor em Cincias
da Sade, Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem Fundamental.
Aprovado em: 05 / 12 / 2014
Comisso Julgadora
Profa. Dra. Maria Clia Barcellos Dalri
Instituio: Presidente - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto - USP
Profa. Dra. Adriana Inocenti Miasso
Instituio: Titular - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto - USP
Prof. Dr. Cesar Eduardo Pedersoli
Instituio: Titular - Externo
Profa. Dra. Renata Karina Reis
Instituio: Titular - Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto - USP
Profa. Dra. Suzel Regina Ribeiro Chavaglia
Instituio: Suplente - Externo
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DEDICATRIA
queles que me amam e que no pouparam esforos para me apoiar neste grande projeto do
doutorado, e que no so poucos. Para no preencher uma longa lista e correr o risco de deixar
algum importante de fora, citarei os maiores representantes desta fantstica jornada:
Aos meus quatro grandes amores:
Tiozinho, meu querido pai e heri, exemplo de implacabilidade e ternura;
Dona Yvone, minha queridssima mezinha, cone de fora, lucidez e amor;
Tata, minha amadssima madrinha, sogrinha, e segunda me, presena de respeito,
doura e carinho;
E Paulinha, minha cmplice, amada, companheira, meu todo.
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AGRADECIMENTOS
Esta conquista mrito de muitas pessoas. Foram tantos que colaboraram para este
doutorado que sei de antemo que no conseguirei externar o quanto sou grato por cada um
que participou desta fantstica jornada.
Peo que me perdoem aqueles que no virem seu nome aqui, pois por um lapso de
memria poderei deixar algumas importantes pessoas sem o devido reconhecimento. Porm,
podem ter certeza que na primeira oportunidade os agradecerei pessoalmente.
Deus, o grande arquiteto do universo, presenteou-me com o dom da perseverana, do
extremo esforo e da capacidade de ir alm dos meus limites para fazer sempre algo a mais. O
Grande Pai o Mrito e o Objetivo desta tese. Que a Sua Paz esteja sempre comigo e com
aqueles me rodeiam ou que entrarem em contato com este estudo!
Agradeo minha linda famlia, por sempre acreditarem que eu conseguiria. Pela
fora, pelo incentivo e pela doao, muito obrigado!
Meus pais, Tiozinho e D. Yvone, muito obrigado pela vida e pela VIDA!
Sonia e Joo, Daniel e Mrcia, Marco e Juliana, Elias e Mrcia, Andreza e Halley,
irmos e amigos, que tanto se esforaram para me apoiar, me ajudar e me dar fora, muito
obrigado! Sonia, obrigado ainda, pelas dicas e correes propostas que tanto me orientaram
no estudo; Joo, pelo olhar crtico e certo que me fizeram desfazer incongruncias. Mrcia e
Mrcia, gratido pelas auspiciosas correes em tempo to restrito e com tanta prontido;
Mateuzinho, Rafa, Isabela e Jlia, obrigado pela presena alegre e descontrada em
minha vida;
Vincius, recm-chegado e motivo de esperana e mais alegria a esta bela famlia;
Mateuzo, aquele forte abrao, de tio, de amigo e de companheiro. Agradeo
profundamente as tradues e as correes, que tanto contriburam para a formatao final da
tese;
Kin, obrigado de todo corao, pelas madrugadas a fora, elaborando e corrigindo as
tabelas e os lanamentos dos dados;
Obrigado, Madrinha Vanete, pelos conselhos e pela boa escuta, nos momentos de
dificuldades sem fim neste processo de doutoramento;
Giselle e Fernando, obrigado pela presena constante e efetiva em cada passo da
caminhada;
S Conoi, obrigado por participar de maneira tranquila e serena em nossa vida;
Yuri, obrigado pela alegria contagiante e expressiva nesta afetiva famlia;
Agradeo aos meus tutores desde o ensino fundamental at o mestrado, que me
ensinaram o gosto pela pesquisa, pela busca, pela procura de respostas. So muitos e cada um
agregou mais um pouco na nsia pelo conhecimento e pela cincia. De modo especial
Trindade, minha professora da segunda srie primria, que com carinho e afeto me recebeu de
braos abertos na escolinha da Abadia; e ao grande cone de toda minha revoluo intelectual,
que me convenceu a questionar a verdade, dando um n em minhas convices arbitrrias e
me mostrando a necessidade de olhar para o mundo de forma mais independente: Paulo
Roberto Ferreira - O Filsofo -, o meu eterno agradecimento pelo que voc conseguiu fazer
com minhas frgeis bases intelectuais, me transformando em um eterno buscador;
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Lucy Penna, Edvaldo Pereira, Rosa Maria Viana e Carlos Brando, obrigado por
permitirem que eu transformasse minha experincia clnica em uma dissertao de mestrado.
Foi uma ideia audaciosa e cheia de riscos que vocs acreditaram e apoiaram, dando-me a
oportunidade de apresentar academia uma viso profunda e de vanguarda da psicologia e
dos cuidados clnicos em psicoterapia;
Roberto Crema e Pierre Weil (in memoria), agradeo efusivamente pelos nossos
encontros e reencontros onde pude constatar que existem muitos outros conspiradores pela
PAZ;
Madrinha Alci Cabral, minha terapeuta, professora e mestra que tanto me ensinou a
viver;
s psiclogas e amigas Marli Irene e Selma Amui, muito obrigado, por ajudarem a me
conhecer e a me tornar algum melhor;
Agradeo a tantos amigos que participaram desta caminhada, me incentivando, me
apoiando, me desculpando pela ausncia fsica e me dando corda para dar sempre mais um
passo;
Aos meus colegas de trabalho da UER, agradeo com muita nfase pelo apoio
incondicional sem o qual dificilmente alcanaria os resultados deste estudo. Sintam-se
abraados carinhosamente, pois vocs foram demais!
Ao professor Iale Bontempo, meu assessor em Estatstica, por tanto trabalho e tantas
instrues ao longo da tese, o meu reconhecimento e agradecimento;
Aos funcionrios da Biblioteca Central da USP/Ribeiro, o meu muito obrigado: pelas
inmeras correes, orientaes e dicas de como elaborar uma tese;
coautora, professora, orientadora e mestra Maria Celia, o meu mais sincero
agradecimento por tanto esforo, tanta dedicao, tanto suor nesta difcil tarefa de me orientar
nesta tese. O tempo era mnimo, a minha preparao acadmica era incompleta e o meu
conhecimento muito diferente da sua atuao profissional. Por isso o seu desafio foi muito
maior, muito mais ousado, muito mais complexo. E voc conseguiu! Parabns e muito, muito
obrigado pela pacincia e coragem;
Enfim, minha fonte de inspirao, razo de todo meu esforo, sacrifcio e
superao: Paulinha! Sem voc no teria valido a pena... Um beijo no corao.
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Para mim s existe percorrer os caminhos que tenham corao,
qualquer caminho que tenha corao. Ali viajo, e o nico desafio que
vale atravess-lo em toda sua extenso. E por ali viajo olhando,
olhando, arquejante. Carlos Castaneda (1968)
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RESUMO
FELIX DE OLIVEIRA, L. Impacto psicolgico das vtimas de trauma em reabilitao.
2014. 123 f. Tese (Doutorado) Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto, Universidade de
So Paulo, Ribeiro Preto, 2014.
O objetivo deste estudo foi avaliar a presena de ansiedade e depresso em vtimas de trauma
que foram referenciados para reabilitao em unidade especializada. Trata-se de um estudo
descritivo, de corte transversal e abordagem quantitativa, desenvolvido com 85 participantes
em Unidade Especializada em Reabilitao, do SUS, localizada no municpio de Uberaba. A
coleta de dados ocorreu nos meses de outubro de 2013 a janeiro de 2014, aps aprovao do
Comit de tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de
So Paulo. Foram aplicados trs instrumentos: um questionrio semiestruturado, de autoria do
pesquisador, com variveis sociodemogrficas e hbitos de vida; Inventrio de Ansiedade de
Beck e o Inventrio de Depresso de Beck. Aps a coleta, os dados foram inseridos em um
banco de dados eletrnicos no Microsoft Excel. Foram utilizadas ferramentas de estatstica na
realizao de anlise exploratria da relao entre os fatores depresso e ansiedade com
diversas variveis. Como resultado do estudo constatou-se que a idade dos participantes
variou de 19 a 81 anos, com predomnio do sexo feminino 57,7%, raa branca 54,1%, religio
catlica 54,1%, renda de dois a quatro salrios mnimos 61,2% e 35,3% de casados. O
afastamento do trabalho deu-se em 29,4% da amostra e 40,0% no completou o ensino
fundamental, e 10,6% eram analfabetos. Os dias de tera feira 20,0%, quarta feira 16,5% e
quinta feira 14,1% representaram os dias de maior ocorrncia de acidentes. O perodo da tarde
apresentou a maior incidncia dos traumas 45,9%. Declararam-se tabagistas 28,2% dos
participantes e 30,6% disseram fazer uso de algum tipo de bebida alcolica. A alterao do
sono se deu em 56,5% e alterao do apetite aps o acidente 24,7% dos participantes.
Constatou-se neste estudo que o padro de ansiedade nas formas moderada representa 30,6%
e na grave pde ser observado em 12,9% dos entrevistados, enquanto 16,5% apresentaram
nveis moderados e 5,9% graves de depresso. Dos participantes do estudo que foram vtimas
de acidente de trnsito pde-se observar que 39,3% e 14,3% apresentaram nvel de ansiedade
moderada e grave, respectivamente. Este percentual de ansiedade significativa decai nos
acidentes domsticos 26,1% moderada e ansiedade grave 17,4%. Nos acidentes de trabalho a
ansiedade moderada foi 28,0% e grave 8,0%, e em outros tipos de acidentes 22,2% e 11,1%,
respectivamente para ansiedade moderada e grave. Quanto aos nveis de depresso, os
acidentes de trnsito apresentaram 17,9% e 7,1% de vtimas com estado de depresso
moderada e grave; nos acidentes domsticos 21,7% apresentaram depresso moderada; nos
acidentes de trabalho observou-se que 12,0% dos participantes apresentaram nvel moderado
e 12,0% nvel grave de depresso. Estes dados mostram a necessidade de suporte psicolgico,
com um acompanhamento psicoteraputico voltado necessidade da vtima de trauma, at sua
reabilitao emocional. Uma situao inusitada, como um acidente, pode desencadear um
comprometimento da vida do ser humano, tanto fsica quanto psicolgica.
Palavras-chave: Vtimas de acidentes; Reabilitao; Ansiedade; Depresso.
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ABSTRACT
FELIX DE OLIVEIRA, L. Psychological impact on victims of trauma on
rehabilitation. 2014. 123 f. Dissertation (Doctoral) School of Nursing of Ribeiro Preto,
University of So Paulo, Ribeiro Preto, 2014.
The aim of this study was to assess the presence of both anxiety and depression in
victims of trauma who were conducted to a trauma rehabilitation center. This study
is descriptive, transversal and quantitative. Whose sample was 85 participants that belonged
to the Specialized Rehabilitation Unit, of SUS, in Uberaba. The data collection happened
from October 2013 to January 2014, after being approved by the ethical committee of the
Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. Three instruments
were used: a semi-structured questionnaire made by the author himself, which assessed socio-
demographic aspects and life habits; Becks Anxiety Questionnaire and Becks Depression
Questionnaire. After the data being gathered, it was put on an electronic data base in
Microsoft Excel. Statistical tools were used for the exploratory analysis of the relation
between depression and anxiety with the others variables. There was an age variation from 19
to 81 years-old, with prevalence of females 57,7%, Caucasians 54,1%, Catholics 54,1%,
mensal income two to four minimum salary 61,2% and married is 35,3%. 29,4% of the
sample had been dismissed due to trauma consequences. 40,0% of the sample did not have the
basics studies finished and 10,6% are illiterate. Tuesday 20,0%, Wednesday 16,5% and
Thursday 14,1% were the highest days to accident occurrence. The afternoon period presented
the highest prevalence of traumatic events 45,9%. 28,2% of the sample is composed by
smokers and 30,6% say that drink alcohol. Sleep alteration after the accident was present in
56,5% of the patients and appetite alteration in 24,7% of them. In this study, the anxiety
pattern for moderate anxiety were 30,6% and severe form 12,9%. For moderate depression
16,5% and severe depression 5,9%. Among this sample, the victims of traffic trauma 39,3%
shows moderate anxiety and 14,3% severe. On domestic traumas 26,1% had moderate anxiety
and 17,4% had severe. On work traumas, 28% had moderate anxiety and 8% severe. In the
category Other, 22,0% for moderate anxiety and 11,1% for severe. It was found moderate
17,9% and severe 7,1% levels of depression in trauma related to traffic. On domestic trauma,
the levels of depression are 21,7% (moderate). On work accidents it was observed 12,0% of
moderate depression and 12,0% severe. These data show the necessity of psychological
support to the trauma victims, because, as exposed, an unexpected life event, like an accident
that may lead to a physical or emotional impairment.
Keywords: Accidents Victims, Rehabilitation, Anxiety, Depression.
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RESUMEN
FELIX DE OLIVEIRA, L. El impacto psicolgico en las vctimas en rehabilitacin del
trauma. 2014. 123 f. Tesis (Doctorado) - Escuela de Enfermera de Ribeiro Preto,
Universidad de So Paulo, Ribeiro Preto, 2014.
El objetivo de este estudio fue evaluar la presencia de ansiedad y depresin en victimas de
trauma que acudieron a la rehabilitacin en unidad especializada. El estudio es descriptivo,
transversal, cuantitativo y fue desarrollado con 85 personas en una Unidad Especializada de
Rehabilitacin, de lo SUS, en la ciudad de Uberaba. La recopilacin de datos fue desde
octubre 2013 hasta enero 2014, despus de aprobada por el Comit de tica em Investigacin
da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo. Se utiliz tres
instrumentos: un cuestionario semiestructurado, hecho por el investigador mismo, con
variables sociodemogrficas e hbitos de vida; Inventario de Ansiedad de Beck e Inventario
de Depresin de Beck. Despus de la recopilacin, los datos fueron manipulados en el banco
de datos electrnicos en el Microsoft Excel. Se utiliz herramientas estadsticas en la
realizacin del anlisis exploratoria en la relacin de depresin e ansiedad con otras variables.
Hubo variacin de edad fue de 19 hasta 81 aos de edad, con prevalencia del sexo femenino
57,7%, blancos 54,1%, religin catlica 54,1% y con un promedio salarial de dos a cuatro
salarios mnimos 61,2%. 29,4% de la muestra fue despedido por las consecuencias del trauma.
40,0% de la muestra no haba terminado los estudios bsicos y 10,6% eran analfabetos. Los
martes 20%, los mircoles 16,5% y los jueves 14,1% fueron los das de mayor ocurrencia de
accidentes. El perodo vespertino fue el que presento mayor prevalencia de traumas, 45,6%.
28,2% se declararon fumadores y 30,6% dicen hacer uso de bebidas alcohlicas. La alteracin
del sueo est presente en 56,5% y hubo tambin alteracin en el apetito para 24,7%. En este
estudio, 30,6% presentaron ansiedad moderada y 12,6% para ansiedad grave. Para depresin
los datos fueron 16,5% para el nivel moderado y 5,9% para severo. En las vctimas de
accidente de trnsito, se puede observar que 39,3% presentan niveles de ansiedad moderada y
14,3% grave. En los accidentes domsticos, 26,1% de los pacientes presentaron niveles de
ansiedad moderada y 17,4% grave e en los accidentes en el trabajo, 28,0% de los pacientes
presentaron niveles de ansiedad moderada y 8,0% grave, e en otros tipos de trauma 22,0% de
los pacientes presentaron moderada ansiedad y 11,1% grave. En el trauma relativo al trfico,
se encontr 17,9% nivel de depresin moderada y 7,1% para depresin grave. En los traumas
domsticos, los niveles de depresin fueron moderados 21,7%. En los accidentes de trabajo,
se encontr 12,0% de depresin moderada y 12,0% grave. Estos datos subrayan la necesidad
de un suporte psicolgico a las vctimas de trauma, desde sus necesidades hasta su
recuperacin psicolgica, pues se observa que una situacin inesperada, como el trauma,
puede desencadenar un deterioro tanto fsico cuanto emocional.
Palabras clave: Vctimas de Accidentes, Rehabilitacin, Ansiedad, Depresin.
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LISTA DE TABELAS E GRFICO
Tabela 1 - Caracterizao das vtimas de trauma segundo os fatores: sexo, faixa etria, cor/raa, crena religiosa, ocupao atual, renda mensal, situao conjugal,
escolaridade, dia do trauma, perodo do dia do trauma, tabagismo, tipo de tabaco, aumento do consumo de tabaco, consumo de bebida alcolica, tipo de bebida,
aumento do consumo de bebida, alterao do sono aps o trauma e alterao do
apetite aps o trauma. UER de Uberaba (MG), 2013-2014...................................
81
Tabela 2 - Distribuio das vtimas de trauma de acordo com as respostas referentes frequncia de indicadores (sinais e sintomas) de ansiedade significativa. UER de
Uberaba (MG), 2013-2014......................................................................................
86
Tabela 3 - Distribuio das vtimas de trauma de acordo com as respostas referentes frequncia de indicadores de depresso significativa. UER de Uberaba (MG),
2013-2014.......................................................................................................
87
Tabela 4 -
Distribuio dos nveis de ansiedade e depresso das vtimas de trauma conforme os tipos de acidentes UER de Uberaba (MG),
2013/2014..................................................................................................................
89
Tabela 5 -
Anlise univariada dos fatores associados ansiedade significativa com: sexo,
faixa etria, cor/raa, crena religiosa, ocupao atual, renda mensal,
escolaridade, situao conjugal, dia do trauma, perodo do dia do trauma, tabagismo, aumento do consumo de tabaco, consumo de bebida alcolica,
aumento do consumo de bebida, alteraes do sono e alteraes do apetite, nas
vtimas de trauma atendidas em unidade especializada em reabilitao (UER).
Uberaba (MG), 2013-2014................................................................................
90
Tabela 6 - Anlise univariada dos fatores associados depresso significativa com: sexo, faixa etria, cor/raa, crena religiosa, ocupao atual, renda mensal, escolaridade, situao conjugal, dia do trauma, perodo do dia do trauma,
tabagismo, aumento do consumo de tabaco, consumo de bebida alcolica,
aumento do consumo de bebida, alteraes do sono e alteraes do apetite, nas
vtimas de trauma atendidas em unidade especializada em reabilitao (UER). Uberaba (MG), 2013-2014.......................................................................................
93
Grfico 1 - Apresentao dos transtornos de ansiedade e depresso significativos das vtimas de trauma referenciados a uma unidade especializada em reabilitao.
UER, Uberaba (MG), 2013-2014...................................................
85
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APA American Psychological Association
AVC Acidente Vascular Cerebral
BAC Blood Alcohol Concentrations
BAI Beck Anxiety Inventory
BDI Beck Depression Inventory
CID Cdigo Internacional de Doenas
CNAE Classificao Nacional de Atividade Econmica
CNPS Conselho Nacional de Previdncia Social
CNS Conselho Nacional de Sade
CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito
DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito
DPVAT Seguro de Danos Pessoais Causados por Veculos Automotores
de Via Terrestre
DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EERP Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto
EPI Equipamentos de Proteo Individual
EUA Estados Unidos da Amrica
EUROSAFE European Association for Injury Prevention and Safety Promotion
HAM-D Escala de Depresso de Hamilton
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
MG Minas Gerais
MMSE Mini Mental State Examination
MS Ministrio da Sade
NHTSA National highway traffic safety administration
NTEP Nexo Tcnico Epidemiolgico Previdencirio
OIT Organizao Internacional do Trabalho
ONSV Observatrio Nacional de Segurana Viria
ONU Organizao das Naes Unidas
OPAS Organizao Pan Americana de Sade
PAV Projeto gua Viva
PIB Produto Interno Bruto
PMU Prefeitura Municipal de Uberaba
RPG Reorganizao Postural Global
RUE Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias
SAMU Servio de Atendimento Mvel de Urgncia
SBAIT Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado
SMS Secretaria Municipal de Sade
SIDA Sndrome da Imunodeficincia Adquirida
SIM Sistema de Informao de Mortalidade
SP So Paulo
SUS Sistema nico de Sade
TEPT Transtorno de Estresse Ps-Traumtico
TCC Terapia Cognitivo-Comportamental
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UER Unidade Especializada em Reabilitao
UFTM Universidade Federal do Tringulo Mineiro
-
UNIC United Nations Information Centres
USP Universidade de So Paulo
WHO World Health Organization
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Sumrio
APRESENTAO
1 INTRODUO.................................................................................. 19
2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS................... 24
2.1 Tipos de traumas.................................................................................. 26
2.1.1 Acidente de trnsito............................................................................. 26
2.1.2 Acidente domstico............................................................................. 31
2.1.3 Acidente de trabalho............................................................................ 34
2.2 Avaliao psicolgica.......................................................................... 38
2.2.1 Escala de avaliao de ansiedade e depresso..................................... 39
2.3 Ansiedade............................................................................................ 39
2.4 Depresso............................................................................................. 41
2.5 Suporte psicolgico na reabilitao de trauma.................................... 43
3 JUSTIFICATIVA.............................................................................. 46
4 HIPTESES....................................................................................... 48
5 OBJETIVOS...................................................................................... 50
5.1 Objetivo geral...................................................................................... 51
5.2 Objetivos especficos........................................................................... 51
6 MTODO........................................................................................... 52
6.1 Tipo de estudo...................................................................................... 53
6.2 Local de estudo.................................................................................... 53
6.2.1 Uberaba................................................................................................ 53
6.2.2 Unidade Especializada em Reabilitao (UER).................................. 55
6.3 Amostra do estudo............................................................................... 56
6.4 Perodo de investigao....................................................................... 57
6.5 Aspectos ticos.................................................................................... 57
6.6 Instrumentos para a coleta de dados.................................................... 58
6.6.1 Questionrio para caracterizao da amostra...................................... 58
6.6.2 Inventrio de Ansiedade de Beck / Beck Anxiety Inventory (BAI).... 59
6.6.3 Inventrio de depresso de Beck / Beck Depression Inventory (BDI-I) 60
6.7 Procedimentos de coleta...................................................................... 61
6.8 Riscos e benefcios da pesquisa........................................................... 63
6.9 Anlise dos dados................................................................................ 63
7 RESULTADOS.................................................................................. 65
7.1 Validao do questionrio para coleta dos dados................................ 66
7.2 Caracterizao da amostra e apresentao de resultados.................... 66
7.3 Relao entre ansiedade, depresso e seus sinais e sintomas............. 71
7.4 Relao entre ansiedade, depresso e os tipos de trauma................... 74
7.5 Anlise univariada dos fatores associados ansiedade
significativa.........................................................................................
75
7.6 Anlise univariada dos fatores associados depresso
significativa.........................................................................................
79
8 DISCUSSO...................................................................................... 82
8.1 Dados sociodemogrficos gerais......................................................... 84
8.2 Transtornos psicolgicos..................................................................... 97
8.2.1 Ansiedade em vtimas de trauma......................................................... 98
8.2.2 Depresso em vtimas de trauma........................................................ 101
9 CONCLUSES................................................................................. 105
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10 CONSIDERAES FINAIS........................................................... 108
REFERNCIAS................................................................................ 111 APNDICES..................................................................................... 126
Apndice A TCLE para participantes.............................................. 127
Apndice B Questionrio para caracterizao da amostra............... 129
Apndice C TCLE para juzes........................................................ 131
Apndice D Formulrio para juzes................................................. 132
ANEXOS........................................................................................... 134 Anexo A Autorizao do Secretrio de Sade de Uberaba............. 135
Anexo B Autorizao da Coordenadora da UER............................ 136
Anexo C Mini-mental...................................................................... 137
Anexo D Autorizao para uso dos instrumentos BAI e BDI......... 138
Anexo E BAI.................................................................................... 140
Anexo F BDI.................................................................................... 141
Anexo G Aprovao do CEP............................................................ 143
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APRESENTAO
Durante toda minha vida identifiquei-me com a busca da compreenso do outro, e neste
caminhar sempre propus maneiras de facilitar sua expresso de sentimentos, de receios e de
sonhos. Eu fui diretor de teatro; tcnico de time de futebol; coordenador de grupo de jovens;
diretor de relaes humanas em grmio estudantil; presidente de centro acadmico na
universidade; palestrante em eventos religiosos, escolas e creches, empresas e instituies;
organizador e coordenador de equipe em eventos esportivos; colunista de jornal; e professor
de ensino fundamental, mdio, universitrio e de ps-graduao.
Quando ainda era universitrio levava ao meu grupo de jovens de uma Parquia qual
participava, momentos de recreao e meditao atravs de dinmicas de grupo de grande
impacto.
Quando me formei busquei sem demora uma ps-graduao, j que estava ansioso por
aprender mais sobre o ser humano. Fiz uma ps-graduao latu-senso em sade pblica, mas
isto no me trouxe a realizao que eu buscava. E depois de muitas tentativas em diversas
universidades do Brasil, consegui um mestrado em Cincias e Valores Humanos. Foi um
curso espetacular, no qual me identifiquei desde o incio. Aprofundei o estudo sobre o ser
humano e propus uma tcnica de interveno teraputica na qual o prprio ser se
responsabilizaria por sua sade, a partir do autoconhecimento. A apresentao da dissertao
de mestrado foi aprovada com honra e recomendao, por uma banca de professores doutores
de qualificao internacional. A minha dissertao transformou-se em livro e est em sua
segunda edio.
Findo o mestrado, era a vez de me desafiar em um doutorado. Busquei incessantemente
o curso, mas minhas limitaes financeiras e at mesmo fsicas (tenho sequela de
poliomielite) me atrasaram um pouco. Porm, depois de muito procurar, tive a satisfao de
ser aceito na Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto (EERP), onde iniciei minha trajetria
at aqui. Foram muitas ideias, muitas idealizaes, muito trabalho, at que fui apresentado a
minha grande mestra Profa. Maria Clia, que depois de muito deliberar, ajudou-me a formular
esta tese, em que se v a busca do conhecimento do outro, para ento se propor uma estratgia
de enfrentamento de sua dificuldade, de sua limitao, de sua inquietude.
Conhecer o impacto psicolgico de vtimas de trauma pode ser o estopim para a busca
de uma possvel estratgia de manejo do sistema de sade para enfim fornecer um tratamento
mais adequado e mais humano para quem se envolveu em um acidente. O ser precisa ser visto
-
no s como uma unidade fsica funcional, mas como um todo, em suas diversas
caractersticas fsicas, emocionais e psicolgicas.
Tenho cincia que este trabalho ainda pouco para se conhecer este impacto
psicolgico, porm minha expectativa de que ele possa contribuir para este processo
grandioso que trar uma melhor qualidade no cuidado do ser.
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1 INTRODUO
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20 1 INTRODUO
Estudos epidemiolgicos revelam que ao longo da vida, estima-se que 51,2% das
mulheres e 60,7% dos homens tenham vivenciado pelo menos um evento potencialmente
traumtico: acidentes, violncia, hospitalizao, conflitos interpessoais graves, catstrofes
naturais ou causadas pelo homem, entre outros (PERES, 2005).
Dadalt e Eizerik (2013) dizem que se entende por trauma ou traumatismo uma leso de
extenso, intensidade e gravidade variveis, que pode ser produzida por agentes externos
diversos (fsicos, qumicos, etc.), de forma acidental. Tambm pode ser agresso emocional
capaz de desencadear perturbaes psquicas e, em decorrncia, somticas.
Independente de sua melhor definio, o fato que o trauma, fsico ou emocional,
um agravo que pode gerar vrias doenas e representa um problema de sade pblica de
grande magnitude e transcendncia no Brasil, que tem provocado forte impacto na morbidade
e na mortalidade, com profundas repercusses nas estruturas sociais, econmicas e polticas
de nossa sociedade (BRASIL, 2012a).
A American Psychological Association (APA, 2013), apresenta a seguinte definio
para trauma psicolgico:
Trauma uma resposta emocional a um evento terrvel como desastre, estupro ou
desastre natural. Imediatamente aps o evento, choque e negao so tpicos.
Reaes a longo prazo incluem emoes imprevisveis, flashbacks, relaes tensas e
at sintomas fsicos, como dores de cabea ou nuseas. Embora esses sentimentos
sejam normais, algumas pessoas tm dificuldade em seguir em frente com suas
vidas.
A Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado (SBAIT, 2013)
apresenta definio de trauma, como um conjunto das perturbaes causadas subitamente por
um agente fsico, de etiologia, natureza e extenso muito variadas, podendo estar situadas nos
diferentes segmentos corpreos. Entre as causas de trauma, incluem-se os acidentes e a
violncia, que configuram um conjunto de agravos sade, que pode ou no levar a bito, no
qual fazem parte as causas ditas acidentais e as intencionais. Estes correspondem a acidentes
de trnsito, suicdios, homicdios, afogamentos, queimaduras, ferimentos de guerra,
envenenamentos, quedas. Esse conjunto de eventos consta na Classificao Internacional de
Doenas - CID, sob denominao de causas externas (SBAIT, 2013).
A WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO, 2014) refere que os traumas
(acidentes e violncia) so uma ameaa sade em todos os pases do mundo. Eles so
responsveis por 9% da mortalidade mundial - mais de cinco milhes de mortes todos os
anos. Oito das 15 principais causas de morte de pessoas entre as idades de 15 e 29 anos so
devido a leses relacionadas aos traumas.
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21 1 INTRODUO
De acordo com os dados sobre Acidentes na Unio Europeia, EUROPEAN
ASSOCIATION FOR INJURY PREVENTION AND SAFETY PROMOTION
(EUROSAFE, 2013), uma mdia anual de 40 milhes de pessoas que vivem na regio,
necessitam de tratamento hospitalar e 233.000 (mdia anual 2008-2010), morrem por
resultado da ocorrncia de um acidente, correspondendo a cerca de uma morte a cada dois
minutos. O estudo ainda revela que, para cada caso de ferimento fatal, 25 pessoas so
internadas em um hospital e 145 so tratados como pacientes externos ao hospital,
procurando, por exemplo, mdicos de famlia. O documento ainda cita que as leses por
trauma, so um grande problema de sade pblica na regio e so a quarta causa mais comum
de morte, depois das doenas cardiovasculares, cnceres e doenas respiratrias.
Nos Estados Unidos, Sise et al. (2014) colocam que as mortes relacionadas ao trauma
entre 2002 a 2010, diminuram 6%. No entanto, as tendncias de mortalidade diferiram por
mecanismo. Houve uma diminuio de 27% na taxa de mortalidade relacionada aos acidentes
de trnsito, provavelmente devido a menor gravidade da leso e melhores resultados em
atendimentos nos centros de trauma. No entanto, a mortalidade por armas de fogo permaneceu
relativamente inalterada, a mortalidade causada por suicdios aumentou e a mortalidade por
homicdios diminuiu. Em contraste, a mortalidade relacionada com queda aumentou em 46%.
Mehmood et al. (2013) dizem que noventa por cento dos traumas e mortes e
incapacidades relacionadas com acidentes de causas externas ocorrem em pases de renda
baixa e mdia.
No Brasil, de acordo com o Ministrio da sade (BRASIL, 2013a), em 2012, as causas
externas (acidentes e violncia), provocaram 997,4 mil internaes no pas, 2,5% a mais do
que em 2011, quando os registros chegaram a 973 mil. Em 2010, o nmero foi menor ainda:
929,2 (8,2%) do total de internaes.
Deste total de internaes em 2010, 145.920 (15,7%) foram devido a acidentes de
trnsito terrestre. A faixa etria de 15 a 59 anos concentrou 84,9% das internaes em homens
e 70,8% das internaes em mulheres. Entre idosos (acima de 60 anos), 6,2% eram homens e
14,5% eram mulheres. A regio sudeste foi responsvel por 44,9% do total das internaes
devido a acidente de trnsito (BRASIL, 2013b). A evoluo dos gastos tambm foi crescente:
R$ 1,076 bilho, em 2012, R$ 1,023 bilho, em 2011, e R$ 940,6 milhes, em 2010
(BRASIL, 2013a).
Os dados de mortalidade reforam a dimenso do problema. Em 2004, as causas
externas foram responsveis por 127.470 bitos, no Brasil. A concentrao dos acidentes e
das violncias visivelmente mais clara nas reas urbanizadas, que acumulam
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22 1 INTRODUO
aproximadamente 75% do total das mortes por causas violentas, com uma correlao direta
entre a porcentagem de populao urbana nos estados brasileiros e o coeficiente de
mortalidade por causas externas por habitante (SBAIT, 2013).
Em 2010, o Brasil registrou 143.256 bitos por causas externas, os homicdios
responderam por 52.260 (36,5%), acidentes de trnsito 42.884 (30%) e outras causas 48.112
(33,5%), o que corresponde a 12,5% do total das mortes registradas no pas (BRASIL,
2013a). a terceira causa de bitos entre os brasileiros perde apenas para as doenas do
aparelho circulatrio (29%) e cnceres (16%) (ALVES, 2009; BRASIL, 2013a).
De Carlo et al. (2007) dizem que as leses traumticas so comumente geradoras de
deficincias e levam a limitaes na execuo de atividades, como tambm restrio de
participao deste indivduo em situaes concretas de vida.
Disfunes psicolgicas prvias ao traumatismo podem atuar como fatores de risco para
agravos na sade mental e as principais implicaes incluem histria prvia de transtorno
mental, caractersticas de personalidade e estilos de enfrentamento (SAREEN et al,. 2013).
Silveira (2011) diz que perceptvel, aps o acidente, os aspectos fsicos e psicolgicos
serem afetados, concomitantemente s crenas que podem gerar um desconforto maior,
associadas ao estado de ansiedade, raiva, culpa, medo, impotncia, tristeza, entre outros.
Sousa Filho, Xavier e Vieira (2008) constataram que as vtimas de trauma atriburam
suas ansiedades demora na recuperao da sade, ao tratamento hospitalar prolongado, s
suspenses de cirurgias e ao retardo para agend-las. Segundo os autores, a ansiedade
manifesta-se no cognitivo (preocupao, obsesso, autoconfiana), no comportamental
(retraimento, fuga, repetio compulsiva), no afetivo (constrangimento e disforia) e no fsico
(manifestao e exacerbao de vrios sinais e sintomas, que interferem no restabelecimento
da sade).
Wrenger et al. (2008) dizem que o aumento da ateno no episdio traumtico pode
fomentar outras desordens e sequelas psicolgicas no indivduo acidentado. Esta revivncia
pode ter um impacto negativo na pessoa e influenci-la em sua capacidade de lidar com o
evento e de se ajustar s suas consequncias. Doena psiquitrica previamente ao evento foi
identificada como um preditor ao desenvolvimento de transtornos do EIXO 11. A incidncia
de doenas desenvolvidas do Eixo I na amostra do estudo foi de 14,2% (6 meses) e 12,3% (12
1 Critrios Diagnsticos do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV) - Eixo
I: Descreve transtornos clnicos propriamente ditos, por exemplo: Transtorno de Pnico sem Agarofobia,
Transtorno Depressivo Recorrente, Ansiedade, Transtorno Delirante, Dependncia do lcool, etc.
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23 1 INTRODUO
meses). Segundo os autores, a depresso outro sintoma encontrado nessas vtimas de trauma
do estudo.
Os transtornos psicolgicos decorrentes de um trauma so com frequncia
subdiagnosticados pela desinformao sobre o possvel impacto que este pode provocar na
vida do indivduo. As mltiplas expresses secundrias que podem ocorrer aps um trauma,
como exemplo cefaleia, vertigens, incapacidade fsica, diminuem as chances para o
diagnstico assertivo ocorrer. Por outro lado, se as causas no forem tratadas de forma
precoce, as queixas em geral tornam-se crnicas com prejuzos crescentes qualidade de vida.
O expressivo nmero de pessoas afetadas pelo trauma psicolgico requer tratamento
especializado (PERES, 2005).
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 25
O Ministrio da Sade (MS) investe no atendimento s vtimas de trauma (BRASIL,
2013a). Em informe datado de 18/07/2013 o MS divulga um investimento da ordem de R$
570 milhes at 2015 para a ateno ao trauma. Um dos objetivos do governo reduzir
mortes e sequelas provocadas por causas externas, como acidentes de trnsito e violncias.
Foram publicadas duas portarias para criar a Linha de Cuidado do Trauma na Rede de
Ateno s Urgncias e Emergncias do Sistema nico de Sade (SUS). Com esta estratgia
o governo pretende humanizar o atendimento, organizar a rede hospitalar, padronizar e
agilizar o atendimento s vtimas de traumas.
Em 2012, o MS lanou a consulta pblica Linha de Cuidado ao Trauma que oferecia a
ateno domiciliar (Programa Melhor em Casa) como modelo assistencial continuado aos
pacientes que no podiam se deslocar de suas residncias, alm do aprimoramento s aes de
reabilitao ambulatorial e hospitalar e a criao de diretrizes clnicas assistenciais para o
tratamento das vtimas de trauma (BRASIL, 2012b).
Em 2013, foi publicada a portaria n 1365, de 8 de julho de 2013, do MS que, aprova e
institui a Linha de Cuidado ao Trauma na Rede de Ateno s Urgncias e Emergncias.
Destacam-se os objetivos: estruturar e descrever a Linha de Cuidado ao Trauma desde a cena
ateno hospitalar e reabilitao, bem como na preveno ao trauma (Art. 2, inciso VII) e
disseminar o conhecimento de que o trauma um agravo que se tornou um problema de
sade pblica, sendo hoje uma das principais causas de adoecimento e mortalidade da
populao brasileira e que pode ser prevenido e evitado (Art. 2, inciso VIII) (BRASIL,
2013a).
Estudos internacionais apontam para um decrscimo de 17% na mortalidade das vtimas
de traumas automobilsticos onde este tipo de estratgia foi utilizado (BRASIL, 2013b).
Para organizar a rede hospitalar, o Ministrio da Sade estabeleceu critrios para a
habilitao de Centros de Trauma, que sero unidades de sade especializadas nesse tipo de
atendimento. A Portaria 1366 traz 148 procedimentos que tero pagamento diferenciado, com
80% a mais nos valores pagos para o servio profissional e 80% a mais para o servio
hospitalar (BRASIL, 2013b).
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=38016&janela=1http://portal.saude.gov.br/portal/saude/Gestor/visualizar_texto.cfm?idtxt=38016&janela=1http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24627
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 26
2.1 Tipos de traumas
Os traumas podem ser acidentais (ex. acidentes de trnsito, afogamentos, quedas) ou
intencionais (ex. agresso fsica, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, sequestro, guerra).
De acordo com o MS (BRASIL, 2013a), no grupo de causas externas as mais frequentes
so os acidentes de trnsito, as quedas (acidentes domsticos) e agresses fsicas, acidente de
trabalho, afogamentos, entre outras. Essas so a terceira causa de atendimento e de internao
no SUS. As outras duas, so o infarto do miocrdio e o acidente vascular cerebral (AVC).
Para esta pesquisa foram selecionados trs tipos de traumas mais frequentes
enquadrados nas categorias acidentais: acidente de trnsito, acidente domstico e acidente de
trabalho.
2.1.1 Acidente de trnsito
As leses por acidentes de trnsito so um grande problema global, diz Franzn et al.
(2009). Segundo os autores, s na Sucia, 14 em cada mil habitantes sofrem algum tipo de
leso a cada ano.
Diniz et al. (2008) dizem que s em 1893, chegou o primeiro automvel ao Brasil, e o
primeiro acidente aconteceu quatro anos depois, no Rio de Janeiro:
Em termos histricos, a ocorrncia de acidentes de trnsito no recente. Relatos do conta de que o primeiro automvel teve sua fabricao concluda no dia 2 de
julho de 1771, sendo capaz de se deslocar a uma velocidade de 4 km/h. Data
tambm desta poca o primeiro registro de acidente de trnsito no planeta, ocorrido
na Frana.
Aps a morte de Zenani Mandela, bisneta de Nelson Mandela, que morreu
tragicamente em um acidente de automvel, antes da Copa do Mundo de 2010, e apenas
dois dias depois de seu 13 aniversrio, foi lanada uma campanha internacional para a
preveno de acidentes de trnsito com crianas. A campanha tem o nome de Zenani
Mandela e liderada por sua me, Zindzi Mandela, e sua av, Zoleka Mandela. A iniciativa
consta da pauta da DCADA DE AO PELA SEGURANA NO TRNSITO 2011
2020 e tem como objetivo melhorar os nveis de proteo das crianas no trnsito,
principalmente as mais vulnerveis e que vivem em pases em desenvolvimento. A Dcada
de Ao pela Segurana no Trnsito 2011-2020 foi oficialmente lanada em todo o mundo
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 27
pelas Naes Unidas em 11 de maio de 2011 (OBSERVATRIO NACIONAL DE
SEGURANA VIRIA - ONSV, 2012).
O progressivo agravamento da violncia no trfego das vias pblicas levou as
Naes Unidas a proclamar a Dcada de Ao pela Segurana no Trnsito
2011/2020, procurando estabilizar e, posteriormente, reduzir as cifras de vtimas
previstas, mediante a formulao e implementao de planos nacionais, regionais e
mundial (WAISELFISZ, 2012).
No ONSV (2012) consta que, no lanamento da campanha em Nova Iorque, Zindzi
Mandela disse: Assim como muitas pessoas, eu costumava pensar que a sinistralidade viria era
apenas um fato trgico da vida, sobre o qual nada poderia ser feito. At que
aconteceu comigo e descobri que estava errada. Podemos e devemos fazer muito
mais para proteger nossas crianas. Apoiar a Campanha Zenani, exigindo
absoluta proteo para as crianas no trnsito a garantia de que, no futuro,
outras famlias no sofram a dor que minha famlia sofreu.
Todos os anos quase 1,3 milho de pessoas so mortas e milhes so feridas nas
estradas do mundo. Ao dia morrem cerca de 3.500 pessoas. As crianas e jovens so os mais
afetados, tanto que acidentes de trnsito hoje constituem a maior fonte isolada de mortes de
pessoas na faixa dos 10 a 24 anos de idade em todo o mundo. Em 2004, o ltimo ano para o
qual h dados abrangentes disponveis, acidentes de trnsito mataram mais crianas de 5 a 14
anos que a malria, diarreia e da Sndrome da Imunodeficincia Adquirida (SIDA) (ONSV,
2012).
O relatrio, lanado na Campanha pela Segurana Global nas Estradas, diz que a
segurana rodoviria um dos maiores desafios de desenvolvimento do planeta e prev que,
se no forem tomadas medidas urgentes, o nmero de mortos no trnsito subir de 1,3 milho
para dois milhes por ano (ONSV, 2012).
O Centro de Informaes das Naes Unidas-Rio (ORGANIZAO DAS NAES
UNIDAS (ONU), 2011), ou United Nations Information Centres (UNIC), em ocasio do Dia
em Memria das Vtimas de Acidentes de Trnsito e seus Familiares, teve o pronunciamento
do Secretrio-Geral da ONU, Ban Ki-moon, dizendo que 90% das mortes e leses de trnsito
ocorrem em pases de baixa e mdia renda sendo a maioria das vtimas pedestres, ciclistas e
motociclistas. Estimativas da WHO indicam que, sem uma ao urgente, os acidentes de
trnsito se tornaro a quinta causa de morte em 2030.
Naumann et al. (2010) dizem que muitos fatores contriburam para as mudanas das
taxas de mortalidade no trnsito ao longo do tempo, incluindo polticas de segurana nas
estrada. Os Estados Unidos no esto entre os pases que tiveram os maiores xitos nas
estratgias de reduo de acidentes, mas comprovadamente j existe um avano neste setor.
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 28
Em quase todos os pases europeus tm leis que regulamentam o uso do cinto de
segurana em todos os assentos; o teor de lcool no sangue no pode ultrapassar o limite de
0,05 (Blood Alcohol Concentrations - BAC), e leis que obrigam o uso do capacete do
motociclista e de seu acompanhante (NAUMANN et al., 2010). Ainda assim, o estudo de
Pulido et al. (2014) na Espanha, mostrou que em 2011, a estimativa foi de que o uso de lcool
foi responsvel por 30% das mortes no trnsito.
Ban Ki-moon (ONU, 2011) observou que os governos tm tomado medidas positivas
para enfrentar acidentes de trnsito j que mais de 100 pases se comprometeram no ano
passado a salvar cinco milhes de vidas por meio de implementao de estratgias de
segurana nas estradas e campanhas de informao no lanamento da Dcada de Ao pelo
Trnsito Seguro 2011-2020.
Os governos esto agindo, disse Ban (ONU, 2011):
A lei chilena agora exige que as pessoas viajando em nibus interurbanos usem
cinto de segurana. A China criminalizou beber e dirigir e aumentou as penas para
os infratores e a Nova Zelndia introduziu controles mais rgidos sobre lcool para
motoristas mais jovens. Na Turquia, o uso de cinto de segurana aumentou de 8%
para 50% e no Vietn, o uso de capacete de moto triplicou, passando de 30% para
90%. Outros pases, como Gana, ndia, Moambique e Paquisto esto melhorando
o atendimento s pessoas que sofreram acidentes de trnsito.
Neste Dia em Memria das Vtimas de Acidentes de Trnsito e seus Familiares, vamos
nos comprometer a minimizar as mortes de trnsito e leses como parte de nossa busca por
um futuro justo e sustentvel, disse Ban Ki-moon (ONU, 2011).
Naumann et al. (2010) dizem que possvel montar estratgias de baixo custo que
visem incrementar o uso do cinto de segurana, o uso do assento de segurana para crianas,
incentivar o uso do capacete para ciclistas e motociclistas e impedir a conduo de veculos
por motoristas que tenham ingerido bebida contendo lcool.
Outras intervenes devem ser feitas no ambiente, na inteno de manter seguros os
pedestres, incluindo caladas bem cuidadas, meio-fio, aumento do tempo nos semforos,
declaram Naumann et al. (2010).
Franzn et al. (2009) disseram que estando de posse da informao de que os acidentes
de trnsito se tornaram um problema crescente em nvel mundial, importante, investir no s
na preveno dos acidentes, mas tambm fornecer um bom atendimento e um tratamento
adequado s pessoas feridas. Os autores indicaram em seu estudo, falhas no tratamento,
cuidados e reabilitao depois de um acidente no trnsito.
Em 2005 o nmero de mortes no trnsito, nos Estados Unidos, foi de 43.510 contra
33.561 em 2012. Neste ano uma estimativa de 2,36 milhes de pessoas ficou ferida em
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 29
acidentes de trnsito (NATIONAL HIGHWAY TRAFFIC SAFETY ADMINISTRATION,
NHTSA, 2013).
Esses nmeros decrescentes de mortes e gravidade de leses por acidentes de trnsito
nos Estados Unidos, na ltima dcada, apontam para uma melhoria na preveno e no
atendimento as vtimas de acidentes no trnsito (SISE et al., 2014). Segundo a Eurosafe
(2013), nos ltimos cinco anos os acidentes relacionados com o trfego rodovirio na Unio
Europeia tambm mostraram declnio.
No Brasil, de acordo com o Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN), a frota
geral de veculos era de 64.817.974, no ano de 2010. Com o objetivo de fortalecer a
economia, o governo federal diminuiu o Imposto sobre Produto Industrializado, incentivando
o acesso da populao aos veculos novos, possibilitando, assim, um aumento na produo
para atender as necessidades das demandas. Proporcionalmente aumentou o nmero de
acidentes de trnsito (SILVEIRA, 2011).
Marin e Queiroz (2000) relatam que a Organizao Pan Americana de Sade (OPAS)
mostra que no mundo 6% das deficincias fsicas so causadas pelos acidentes de trnsito. O
Brasil est entre os pases que registram as maiores frequncias de indivduos feridos por
acidentes de trnsito (TREVISOL; BOHM; VINHOLES, 2012). Por ano, so mais de 500 mil
pessoas envolvidas diretamente em acidentes de trnsito s nas rodovias federais
(CAVALCANTE; MORITA; HADDA, 2009). A cada 11 acidentes h uma vtima fatal
(diagnosticada no local do acidente ou aps o acidente) e a cada 1,3 acidentes h um ferido
(INSTITUTO DE PESQUISA ECONMICA APLICADA (IPEA) e DENATRAN, 2006).
De acordo com o Sistema de Informaes de Mortalidade do Brasil (SIM), entre 2002 e
2010, o nmero total de bitos por acidentes com transporte terrestre cresceu 24%: passou de
32.753 para 40.610 mortes. Entre as regies, o maior percentual de aumento na quantidade de
bitos (entre 2002 e 2010) foi registrado no Norte (53%), seguido do Nordeste (48%), Centro-
Oeste (22%), Sul (17%) e Sudeste (10%) (BRASIL, 2011).
Com relao s internaes hospitalares, o SUS congrega em torno de 70% de todas as
internaes hospitalares no pas. De nove milhes de internaes hospitalares, 8,1% so
decorrentes de causas externas; destas, 15% devidas a acidentes de transportes terrestres
(OPAS, 2005).
O Relatrio Executivo do IPEA e DENATRAN (2006) descreve que o custo anual dos
acidentes de trnsito nas rodovias brasileiras alcanou a cifra de R$ 22 milhes, a preos de
dezembro de 2005 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A maior parte refere-se
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 30
perda de produo, associada morte das pessoas ou interrupo de suas atividades, seguido
dos custos de cuidados em sade e os associados aos veculos.
Em relao s consequncias relacionadas aos traumas, Anjos (2012) constatou que
17,6% dos familiares tiveram que deixar seus empregos para auxiliar o paciente em sua
recuperao, o que agravou mais ainda suas dificuldades financeiras. Para Anjos (2012) ficou
evidente que a questo financeira uma das implicaes sociais mais importantes para as
vtimas de trauma, pois estes, s vezes, se tornam dependentes da ajuda de terceiros.
Em 2011 o total de indenizaes pagas entre janeiro e setembro superou a casa de R$
1,6 bilho. O nmero de vtimas indenizadas aumentou aproximadamente 42% em relao ao
mesmo perodo do ano de 2010. O Seguro de Danos Pessoais Causados por Veculos
Automotores de Via Terrestre (DPVAT) indenizou, em mdia, 52.000 sinistros de morte de
2002 a 2013. O nmero de indenizaes por invalidez permanente cresceu de forma explosiva
a partir de 2004, chegando a 444.000 em 2013. Segundo a pesquisa do IPEA, o custo mdio
unitrio de um acidente com morte em rodovia no Brasil de mais de R$ 566 mil. O custo
anual dos acidentes de trnsito no Brasil de aproximadamente R$ 40 bilhes (BRASIL,
2012a).
Sallum e Sousa (2012) destacam que as ocorrncias de trnsito com jovens,
principalmente do sexo masculino, tem maior predomnio, com destaque para os acidentes
com motocicleta. relevante apontar para a taxa de mortalidade de motociclistas que
apresentou grande aumento no perodo de 1996 a 2005: 540%, ao passar de 0,5 para 3,2 por
cem mil habitantes.
Nos ltimos anos o governo brasileiro tem investido em polticas de segurana no
trnsito. Algumas medidas foram tomadas e a fiscalizao est mais rigorosa, sobretudo
quanto ao ato de beber e dirigir. A lei seca (12.760/2012) imps ao Conselho Nacional de
Trnsito (CONTRAN) determinar a nova margem de tolerncia, definida agora pela
Resoluo 432. A medida acaba com a margem de tolerncia de um dcimo de miligrama
(0,10) de lcool por litro de ar, permitida anteriormente pelo Decreto 6.488/2008, quando o
condutor assoprava o bafmetro, e de no mximo dois decigramas por litro de sangue, no caso
de exames. Agora o limite no teste de etilmetro no pode ser igual ou superior a 0,05
miligrama de lcool por litro de ar alveolar expirado (0,05 mg/L) (BRASIL, 2013d).
O Pacto Nacional pela Reduo dos Acidentes de Trnsito Pacto pela Vida,
lanado em 2011, pelos Ministrios da Sade e das Cidades tem como objetivo mobilizar a
sociedade e reunir aes para reduzir pela metade, at 2020, o nmero de vtimas de acidentes
de trnsito no Pas. A medida atende ao apelo feito pela ONU, por meio da Resoluo
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 31
A/64/L44, proclamando o perodo de 2011 a 2020 como a Dcada de Aes para a
Segurana no Trnsito".
2.1.2 Acidente domstico
Nos Estados Unidos de 2002 a 2010, a mortalidade relacionada ao trauma, diminuiu
6%. Entretanto, as tendncias de mortalidade diferiram conforme o tipo de trauma (SISE et
al., 2014). Houve diminuio de 27% na taxa de mortalidade por acidentes de trnsito
associada a uma diminuio de 20% nas colises de veculos a motor. Enquanto a mortalidade
por armas de fogo permaneceu relativamente inalterada e os suicdios por armas de fogo
aumentaram, os homicdios diminuram. Por outro lado, a mortalidade relacionada com
quedas aumentou 46% (SISE et al., 2014).
Na Unio Europeia, nos ltimos cinco anos, os acidentes relacionados com o trfego
rodovirio e o trabalho esto em constante declnio, porm o mesmo no se verifica em
relao aos traumatismos por acidentes domsticos e de lazer, que corresponde a 73% de
todos os acidentes, afetando particularmente grupos vulnerveis, indivduos com menos
recursos, como crianas e idosos (EUROSAFE, 2013).
Turner et al. (2011) dizem que os acidentes domsticos ocorrem como resultado de
complexas interaes entre os indivduos e o meio ambiente e sempre podem ser consideradas
de natureza multifatorial. Estes fatores de risco nas residncias devem desempenhar algum
papel na causa de acidentes domsticos, porm a literatura internacional no destaca o quanto
uma modificao no ambiente previne uma leso ou minimiza seu efeito (TURNER et al.,
2011).
No Brasil, os acidentes domsticos tem se tornado ao longo dos anos, uma das
principais causas de atendimentos por causas externas em muitas instituies de sade,
contribuindo significativamente para a crescente taxa de morbidade e mortalidade em vrios
estados (PESTANA et al., 2013).
Mascarenhas et al. (2009) dizem que a proporo de acidentes ocorridos no domiclio
de um tero de todos os tipos de acidentes, pois o ambiente onde a maioria das pessoas
passa a maior parte do tempo. Ainda segundo Mascarenhas et al. (2009), dentre as causas
externas, as quedas representam a principal causa de internaes no sistema pblico de sade
brasileiro.
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 32
Kent e Pearce (2006) referem que nos acidentes domsticos, o nmero de leses
decorrentes de quedas est em constante aumento. Kennedy, Grant e Blackwell (2001) dizem
que as quedas de baixa altura so uma fonte comum de leso, cuja gravidade muitas vezes
subestimada. Como resultado, os pacientes deste tipo de trauma geralmente no so
transferidos para centros de trauma (KENNEDY; GRANT; BLACKWELL, 2001). Segundo
os autores, h surpreendentemente poucos dados sistemticos relativos s exigncias feitas
aos sistemas de cuidados de trauma por pacientes com quedas de baixa altura.
De acordo com a EUROSAFE (2013), mais de um quarto de todas as pessoas que
sofrem uma fratura de quadril devido principalmente s quedas, morrem dentro de um ano,
outros 50 por cento nunca mais voltam ao seu nvel anterior de mobilidade e independncia.
Condies mdicas crnicas esto associadas a um aumento da mortalidade e
permanncia mais prolongada no hospital, aps uma queda de baixa altura (KENNEDY;
GRANT; BLACKWELL, 2001).
Helling et al. (1999) referem que quedas de baixa altura, como as domsticas, por
exemplo, podem causar leses significativas, mais comumente na cabea e coluna vertebral.
Os autores dizem que baseado no mecanismo de leso por si s, os pacientes feridos em
quedas de baixa altura, na maioria das vezes, no so levados para centros de trauma. No
entanto, muitos desses pacientes apresentam leses graves multissistmicas, mesmo que eles
paream estveis inicialmente.
Gulati et al. (2012) dizem que queda da prpria altura uma causa potencialmente
evitvel de leses sseas, como a maioria dos ferimentos sofridos em residncias. De acordo
com as pesquisadoras a maioria das quedas da prpria altura ocorre em unidades habitacionais
mais pobres.
A queda da prpria altura gera prejuzos fsicos e psicolgicos nos idosos, dizem Leite
et al. (2006), alm de aumentar os custos com os cuidados de sade e provocar mudanas no
processo familiar.
Entre os idosos, as quedas possuem um significado muito relevante, pois podem lev-
los incapacidade, sequelas ou leses permanentes e morte (MASCARENHAS et al., 2009).
Porm, Pfortmueller et al. (2014) referiram que as quedas na residncia, o ambiente
principal de quedas de seu estudo, no se correlacionaram com ferimentos graves.
Segundo Nnodim e Alexander (2005), quedas so responsveis por significativa
morbidade e mortalidade na populao idosa. Kent e Pearce (2006) dizem que as quedas nas
residncias tendem a ser mais relacionadas populao de idosos e os riscos de que estes
traumas sejam mais srios tornam-se mais significativos. Ainda segundo os autores, a
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Kennedy%20RL%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11586165http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Grant%20PT%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11586165http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=Blackwell%20D%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=11586165
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 33
possibilidade de uma prolongada hospitalizao considervel. Aproximadamente 30% dos
adultos mais velhos caem pelo menos uma vez por ano, sendo a queda a principal causa de
leses fatais e no fatais para as pessoas nessa faixa etria. Por causa do aumento projetado na
populao idosa, o custo anual de leses relacionadas com quedas fatais e no fatais
estimado a chegar a 32,4 bilhes de dlares em 2020 (FRAIX, 2012).
Liu, Chan e Yan (2014) diz que a depresso est associada a quedas em idosos.
Lojudice et al. (2010) referem que a queda um problema significante na vida dos idosos, que
pode trazer consequncias nefastas e interferir diretamente na qualidade de vida dessa
populao.
Em seu estudo, Lojudice et al. (2010) dizem que indispensvel uma boa avaliao dos
idosos e do ambiente em que eles vivem, pois uma vez diagnosticados os fatores de risco
envolvidos, possvel realizar intervenes para corrigir ou para minimizar as chances de
quedas.
De acordo com o Ministrio da Sade (PORTUGAL, 2005) os acidentes domsticos so
muito comuns naquele pas. Mesmo quando a famlia se acerca de cuidados, objetos e
situaes podem representar riscos e provocar acidentes, principalmente para crianas e
idosos, em especial, todas as divises da casa podem representar um enorme risco.
Um tapete que no est devidamente assentado com proteo antiderrapante, uma
gaveta da cmoda aberta, a porta de um armrio, um fio do telefone solto, podem provocar
quedas e traumatismos com consequncias muito graves. Por vezes, esses acidentes so to
graves que podem levar morte (PORTUGAL, 2005). Ainda, os relatos mostram que os
acidentes com idosos sucedem-se tambm em alojamentos coletivos (casas de repouso, lares e
outras instituies de acolhimento), no ambiente circundante ou por escorregamento na rua
(PORTUGAL, 2005).
Leite et al. (2006) referem que um tero dos atendimentos por leses traumticas nos
hospitais do nosso pas ocorre em pessoas com mais de 60 anos. E aproximadamente 75% dos
acidentes acontecem no interior da residncia.
Mascarenhas et al. (2009) constataram que o fluxo do atendimento de reabilitao foi
apresentado de forma fragmentada e sem diferenciaes para idosos, vtimas de acidentes e
violncias. Os autores colocam que o idoso requer mais ateno e tratamento diferenciado
devido s suas especificidades, e da forma como o segmento realizado, no contribui de
forma eficaz no tratamento. A reabilitao do idoso aps a ocorrncia do trauma ocorre de
forma mais sutil do que em um paciente jovem e deveria merecer melhor acolhimento,
afirmam Leite et al. (2006).
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 34
A reabilitao da pessoa idosa est relacionada sua motivao, s suas alteraes
neuro-comportamentais da memria e do estado emocional anteriores ao trauma, bem como
ao apoio prestado pelos familiares/cuidadores (LEITE et al., 2006).
Mascarenhas et al. (2009) dizem que na reabilitao a teraputica no pode ser
finalizada em sesses presenciais, devendo ser um processo contnuo, reforado pelos
familiares e cuidadores no domiclio.
Pestana et al. (2013) afirmam que a promoo da sade deve envolver a populao
como um todo, no contexto da vida cotidiana, em vez de concentrar-se unicamente nas
pessoas em risco de serem afetadas.
necessria a realizao de uma avaliao domiciliar, para orientao de familiares e
cuidadores, preparando-os para a alta do paciente, pois a realidade do idoso em seu ambiente
domiciliar e social pode exigir adaptaes (MASCARENHAS et al., 2009).
Alves et al. (2009) referem em seu estudo que a experincia cotidiana indica que as
abordagens clnicas oferecidas aos pacientes vtimas de trauma na cidade de Ribeiro Preto
no tm sido suficientes para restabelecer um padro esperado de qualidade de vida.
De Carlo et al. (2007) colocam que a reabilitao bem-sucedida dever restaurar tanto
o funcionamento fsico e psicolgico, quanto promover a vida ocupacional e a participao
social das pessoas no ps trauma.
A promoo da sade vem apresentando uma evoluo no seu conceito e na sua forma
de atuao, tornando-se uma grande aliada na reduo dos acidentes no ambiente domiciliar
(PESTANA et al., 2013).
Na Europa, segundo dados da Eurosafe (2013), h um projeto de rede de divulgao
na preveno de quedas. Esse projeto aumenta a conscincia da importncia do problema e
vai aumentar a disponibilidade de recursos e orientao para atendimento multidisciplinar, e
realizar diagnstico precoce (avaliao de risco).
2.1.3 Acidente de trabalho
No Brasil, o termo acidente de trabalho foi oficializado em 1991 (Lei n. 8.213, de 24
de julho de 1991). De acordo com a legislao, "acidente de trabalho o que ocorre pelo
exerccio do trabalho a servio da empresa ou pelo exerccio do trabalho dos segurados
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 35
referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando leso corporal ou perturbao
funcional que cause a morte ou a perda ou reduo, permanente ou temporria, da capacidade
para o trabalho" (BRASIL, [201-]).
O International Labour Organization (2003) aponta que at 10% do Produto Interno
Bruto dos pases em desenvolvimento so gastos com problemas decorrentes de doenas e
agravos ocupacionais. No Brasil, dos 376.240 agravos ocupacionais registrados no ano de
2000, 81% resultaram em incapacidade temporria, 4% em incapacidade permanente, e 1%
em bitos.
Achcar (2012) diz que:
A presena da fatalidade na representao das causas de acidente quase to frequente para o acidente vivido quanto para os acidentes em geral. A presena desta
"causa" sobre a qual nenhum controle pode ser exercido e que, alm do mais,
instvel, certamente no benfica para a promoo da segurana na empresa.
Prochnow et al. (2011) postularam que a instituio deve oferecer os equipamentos de
proteo individual (EPI) aos funcionrios e tambm capacit-los sobre seu uso, mantendo
vigilncia constante sobre o uso dos mesmos.
Hinkka et al. (2013) afirmaram que:
Respostas frequentes do supervisor, boas oportunidades para o crescimento pessoal,
bom clima da equipe, e de alta valorizao foram associados a uma diminuio de
absentesmo por doena no trabalho. Uma boa comunicao no trabalho foi
associada com uma reduo na violncia por parte do cliente e a presso no trabalho
foi associada a um aumento do risco de acidentes de trabalho.
Bezerra e Schumann (2013) comentam em seu estudo sobre a responsabilidade do
empregador nos acidentes de trabalho, que o acidente acontece no exerccio da funo do
trabalhador dentro ou a servio da empresa, que pode ocasionar leses leves, graves,
gravssimas e at o bito do trabalhador, alm das doenas laborativas. Referem que o nmero
de acidentes de trabalho est aumentando, tornando-se uma questo de sade pblica. Devem
ser tomadas medidas urgentes por parte do Estado e sociedade, para que sejam minimizadas
as consequncias fsicas, morais e psicolgicas causadas por este sinistro (BEZERRA;
SCHUMANN, 2013).
Em se tratando de programas de preveno de acidentes de trabalho, Van Der Molen et
al. (2012) constataram em estudo que no h evidncias de que as campanhas de segurana,
treinamento e inspees reduzam os ferimentos no-fatais entre trabalhadores da construo
civil. Os autores recomendam que para se ter um efeito a longo prazo na reduo de acidentes
no trabalho necessrio criar campanhas melhor direcionadas a estes trabalhadores, alm de
elaborar um programa para reduo de uso de drogas.
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 36
De acordo com o Ministrio da Previdncia Social (BRASIL, 2013e), em 2011 foram
registrados 711.164 acidentes e doenas do trabalho, entre os trabalhadores assegurados da
Previdncia Social. Segundo o documento, este nmero no inclui os trabalhadores
autnomos (contribuintes individuais) e as empregadas domsticas. E continua: estes eventos
provocam enorme impacto social, econmico e sobre a sade pblica no Brasil.
Contabilizou-se ainda 15.083 doenas relacionadas ao trabalho, e parte destes acidentes e
doenas tiveram como consequncia o afastamento das atividades de 611.576 trabalhadores
devido incapacidade temporria (309.631 at 15 dias e 301.945 com tempo de afastamento
superior a 15 dias), 14.811 trabalhadores por incapacidade permanente, e o bito de 2.884
cidados (BRASIL, 2013e).
O Brasil ocupa o 4 lugar no mundo e 1 na Amrica Latina no ranking dos acidentes de
trabalho (SOUSA; MEDEIROS; MEDEIROS, 2014). Com isto, o Brasil perde, por ano, o
equivalente a 4,0% do PIB por causa dos acidentes de trabalho.
Oliveira (2007) diz que a sociedade no pode desviar a ateno dos traumas oriundos de
acidentes de trabalho, comemorando os avanos tecnolgicos. Agir com indiferena, desviar
o olhar dessa ferida social aberta (acidente de trabalho), ainda mais com tantos dispositivos
constitucionais e princpios jurdicos entronizando a dignificao do trabalho no mais
possvel, completa Oliveira (2007).
De acordo com Oliveira (2007) possvel implementar medidas preventivas simples e
de baixo custo para reduzir acidentes de trabalho, o que resultar em muitas vidas poupadas.
Impe-se perceber que o trabalhador, em sede da relao laboral, no se divorcia de
sua condio humana, razo pela qual, que se confira inalienvel proteo ao obreiro
tambm em seu mbito pessoal, reconhecendo-lhe direitos que contemplem a sua
segurana e a sua sade, inclusive a psicolgica, no se mensurando o trabalhador
esfera patrimonial apenas, uma vez que direitos exorbitam os limites estreitos das
horas extras, do fundo de garantia e afins (ROSA, 2007).
Pfortmueller et al. (2014) afirmam que o nmero de quedas atinge 7,0% de todos os
acidentes no trabalho. Malta et al. (2012a) relatam que quedas em adultos estiveram
associadas ao local de trabalho, queda de andaimes, telhados, escada/degrau e buracos e uso
de lcool. Concluem que estratgias para a preveno das quedas devem ser implantadas
particularmente em residncias, escolas e ambientes de trabalho (MALTA et al., 2012a).
No somente as quedas podem ser percebidas nos acidentes de trabalho. Amorim et al.
(2012) sinalizam para as causas de leses ou mesmo de morte nas pessoas no exerccio do seu
trabalho, sendo acidentados no trnsito, como os moto taxistas. Esta profisso cresce
vertiginosamente, no Brasil, afirmam os autores, trazendo grande preocupao para as
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 37
autoridades, pois a informalidade da profisso alta. Com isto estes trabalhadores no
possuem os benefcios de proteo da legislao trabalhista.
Estima-se que 30% dos acidentes de trabalho atingem mos, dedos e punhos. Isto
poderia ser evitado com investimentos em mquinas mais modernas, dispositivos de
segurana e maior capacitao dos trabalhadores (SOUSA; MEDEIROS; MEDEIROS, 2014).
Cestari e Carlotto (2012) dizem que possvel observar condies de trabalho que no
favorecem a preservao e a promoo da sade do trabalhador. Segundo as autoras, ainda
predomina a viso utilitarista e mecanicista que no respeita os limites fsicos, cognitivos e
emocionais do trabalhador, o que pode acarretar acidentes ou doenas relacionadas ao
trabalho.
Para Jardim (2011) necessrio que se busque respostas ou solues viveis para os:
Trabalhadores empregados, desempregados, adoecidos, em auxlio-doena,
aposentados por doena, com risco de perda de emprego, sem acesso reabilitao
profissional, ou seja, sujeitos marcados pelo ideal do trabalho, mas vivendo num
mundo em que o estatuto social desse valor est em derriso.
importante uma avaliao criteriosa sobre a atividade a ser realizada pelo trabalhador,
anlise que deve avaliar no somente suas condies fsicas, tcnicas e operacionais, mas
tambm suas condies emocionais (CESTARI; CARLOTTO, 2012).
Jardim (2011) diz que:
A articulao entre o que temos assistido nas estatsticas das depresses no mundo e a precarizao das relaes de trabalho quase se coloca por si. Se o trabalho no o
nosso nico valor, ocupa sem dvida certa centralidade tanto em relao
subsistncia, quanto insero social e constituio subjetiva, num mesmo lao.
O tema preveno e proteo contra os riscos derivados dos ambientes do trabalho e
aspectos relacionados sade do trabalhador felizmente ganha a cada dia maior visibilidade
no cenrio mundial e o Governo Brasileiro est sintonizado a esta onda (BRASIL, 2013e). A
Previdncia Social props ao Conselho Nacional de Previdncia Social (CNPS), rgo de
natureza quadripartite com representao do Governo, Empresrios, Trabalhadores e
Associaes de Aposentados e Pensionistas, que se adotasse um mecanismo auxiliar: o Nexo
Tcnico Epidemiolgico Previdencirio (NTEP) (cruzamento das informaes de cdigo da
Classificao Internacional de Doenas (CID-10) e de cdigo da Classificao Nacional de
Atividade Econmica (CNAE) que aponta a existncia de relao entre a leso ou agravo e a
atividade desenvolvida pelo trabalhador, embasada em estudos cientficos baseados nos
fundamentos da estatstica e epidemiologia) (BRASIL, 2013e).
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 38
2.2 Avaliao psicolgica
Avaliao psicolgica uma das reas mais antigas da psicologia. No princpio foi
aplicada seleo de soldados nas grandes guerras. Dessa forma, a avaliao foi identificada
com um segmento particular da psicologia dedicado criao de instrumentos e tcnicas. Isto
permitiu o desenvolvimento dos testes psicolgicos e da psicometria, o que contribuiu para
dar um carter mais cientfico a prpria psicologia. Assim, a avaliao psicolgica representa
uma rea central da psicologia porque permite a objetivao e operacionalizao de teorias
psicolgicas (PRIMI, 2010).
Batista (2012) afirma que a avaliao psicolgica dinmica e configura-se fonte de
informaes de carter explicativo sobre os fenmenos psicolgicos, com o propsito de
subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuao do psiclogo.
Segundo Gioia-Martins, Medeiros e Hamzeh (2009), um diagnstico psicolgico
adequado permite um trabalho preventivo e interventivo eficaz junto aos pacientes e seus
familiares.
De acordo com Muniz (2004) apud Primi (2010),
O processo de validao de instrumentos psicolgicos se constitui em um caso
particular de um processo mais geral, de validao de hipteses cientficas. Em
ambos os casos, tenta-se validar explicaes por meio de um processo hipottico-
dedutivo, no qual se levantam hipteses tericas, planejam-se estudos empricos,
coletam-se e analisam-se dados, buscando-se testar as hipteses explicativas,
falseando-as ou corroborando-as. Esse processo interativo teoria-hiptese-
falseamento encontra-se na base do desenvolvimento do conhecimento e da
maturidade da psicologia como cincia.
De acordo com Rodgers (2010) a avaliao psicolgica uma rea de vital importncia
para a psicologia por aproxim-la e defini-la como cincia. Em primeiro lugar porque envolve
a objetivao dos conceitos tericos em elementos observveis. Em segundo lugar porque
requer aplicao de mtodo cientfico baseado no conhecimento sobre quais delineamentos
(levantamento, correlacional, quase experimental e experimental) so mais adequados ao
conhecimento que se deseja ter. Em terceiro lugar porque envolve tambm o uso de
modelagem matemtica na representao dos processos psicolgicos, abordagem que vem
gradativamente substituindo o modelo clssico de anlise de dados baseado somente no teste
de significncia da hiptese nula. Ainda, segundo o autor, os instrumentos de medida so
primordiais para a sustentao da psicologia como cincia. Deste modo, ao se tratar de
avaliao, de sua histria e do seu desenvolvimento, est-se tratando dos fundamentos bsicos
da psicologia.
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 39
2.2.1 Escala de avaliao de ansiedade e depresso
Mensurao por escala uma forma sistematizada de observao, na qual os
fenmenos a serem avaliados foram previamente definidos. Mesmo antes do
surgimento de escalas de avaliao, a observao cuidadosa sempre foi a mais
valiosa fonte de informao sobre fenmenos psiquitricos (NARDI, 1998).
O Beck Anxiety Inventory (BAI) foi desenvolvido para avaliar os sintomas de
ansiedade em pacientes com depresso. Seus itens devem refletir os sintomas afetivos,
somticos e cognitivos da ansiedade, e no os da depresso (MALUF, 2002).
Moreno e Moreno (1998), dizem que as escalas de avaliao servem para medir e
caracterizar o fenmeno, isto , traduzem o fenmeno clnico em informaes objetivas e
quantitativas.
O Beck Depression Inventory, o BDI, foi traduzido para o portugus em 1982 e
validado por Gorenstein e Andrade (1998). Segundo as autoras, o BDI discrimina os
indivduos com ndice de normalidade daqueles que apresentam depresso.
Gioia-Martins, Medeiros e Hamzeh (2009) dizem que:
O BDI, apesar de ter sido criado como instrumento de medida da intensidade da
depresso, atualmente utilizado tambm como instrumento de avaliao da
depresso em indivduos que no apresentam um diagnstico psiquitrico prvio
sua aplicao.
2.3 Ansiedade
Na Idade da Pedra, ou perodo Pleistoceno, os perigos eram reais, imediatos e
constantes, a humanidade enfrentava em seu dia a dia, inundaes, ataque de animais e outras
adversidades que colocavam sua vida em risco (VIECILI, 2003). A ansiedade uma condio
natural do ser humano, presente desde os nossos ancestrais e est inexoravelmente ligada a
nossa sobrevivncia (SILVA, 2012).
Porm, de acordo com Batista (2012), na atualidade a ansiedade tem se revelado um dos
grandes problemas do ser humano, pois a vida agitada, a presso e o stress tem se somado
para gerar um mal-estar que prejudica a qualidade de vida dos indivduos.
Asmundson et al. (2013) dizem que a ansiedade o mais comum transtorno mental da
atualidade, e a APA (2013) define ansiedade como uma emoo caracterizada por sentimentos
de tenso, pensamentos de preocupao e mudanas fsicas, como aumento da presso
arterial.
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 40
A ansiedade pode provocar no indivduo uma dificuldade de controlar seus pensamentos
e elevar sua tenso, criando um sentimento de apreenso que ameaa sua personalidade total,
diz Menezes Pinto (2011).
Pessoas com transtornos de ansiedade geralmente tm recorrentes pensamentos ou
preocupaes intrusivas. Tentam evitar certas situaes de preocupao. Tambm podem
apresentar sintomas fsicos, como sudorese, tremores, tontura ou um batimento cardaco
acelerado (APA, 2013).
De acordo com Batista (2012), a ansiedade no pode ser evitada, mas pode ser reduzida.
O problema do controle da ansiedade o de reduzi-la a nveis normais e us-la, depois, como
estimulao para aumentar a conscincia, a vigilncia e o gosto pela vida.
Os transtornos de ansiedade esto entre os transtornos psiquitricos mais frequentes na
populao geral, com prevalncias de 12,5% ao longo da vida, 7,6% no ano e 6% no ms
anterior entrevista (ANDRADE; GORENSTEIN, 1998).
Sareen et al. (2013) dizem que as leses fsicas, especialmente quando graves, podem
dificultar o retorno ao trabalho. Segundo os autores, constrangimentos financeiros resultantes
da renda limitada ou aumento dos custos de cuidados com a sade podem adicionar estresse
considervel e ansiedade. Estressores pessoais e financeiros adicionais poderiam ser
associados com litgio em processos ps-trauma, o que poderia aumentar a vulnerabilidade
psicolgica para temas como transtornos de ansiedade.
Segundo Soutenho (1999), j em 1999 a ansiedade era apontada, baseado em modelo
terico, na origem do aumento dos ndices de acidentes.
Clapp et al. (2011) referem em seu estudo, que o histrico de stress pode conferir risco
para o comportamento de conduo ansiosa o que poder facilitar o envolvimento com
acidentes de trnsito.
Mey-Guillard et al. (2005) salientam que a ansiedade se torna mais evidente em vtimas
de trauma que estiveram envolvidas com infraes penais, como agresso fsica,
demonstrando este sintoma na forma de agressividade com os cuidadores.
Em estudo com vtimas de acidentes graves em Portugal (de trnsito, de trabalho,
domstico e de lazer), Freitas, Rodrigues e Maia (2009) demostraram que a percepo de
ameaa do acidente e a dissociao peri-traumtica se relacionam com perturbao atual e que
o suporte social uma varivel muito importante para a sade mental aps acidentes graves.
Batista (2012) salienta que muitos especialistas no consideram a ansiedade um
problema, mas, sim, uma reao normal do organismo. Porm, quando a ansiedade comea a
prejudicar o cotidiano da pessoa, preciso procurar ajuda profissional.
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2 CONCEPES TERICAS E METODOLGICAS 41
Garieballa et al. (2006) apontaram em seu estudo que muitos profissionais de sade
mental sinalizam para a importncia do tratamento de vtimas de experincias traumticas
com transtornos graves, que inclui a ansiedade e depresso, pois estes sintomas podem levar
tanto tentativa quanto ao ato suicida.
Asmundson et al. (2013) sinalizam para a prtica de exerccios fsicos para se combater
a ansiedade. Segundo os autores h evidncias que corroboram a prescrio de atividade fsica
em adio ao tratamento farmacolgico e psicolgico no tratamento da ansiedade.
Corroborando o trabalho de Asmundson et al. (2013), De Moor et al. (2006) dizem que
a literatura recomenda que a atividade fsica e o acompanhamento psicolgico contribuem
para o tratamento da ansiedade e da depresso em pacientes vtimas de traumas.
2.4 Depresso
A WHO (2012) assinala que a depresso um distrbio mental comum, caracterizado
por tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou baixa autoestima,
perturbao do sono, apetite alterado, sensao de cansao e falta de concentrao.
Berrios (2012) diz que a antiga noo de melancolia foi remodelada em significado e
sua transio para a doena depressiva foi facilitada pelo conceito de lipemania de Esquirol,
que, pela primeira vez, enfatizou a natureza afetiva primria da doena.
Cardoso (2011) afirma que a depresso um dos transtornos psiquitricos mais
prevalentes no mundo. A autora diz que a APA estima que 5% da populao mundial tenha
algum tipo de depresso.
De acordo com a WHO (2012) ao menos 350 milhes de pessoas tem depresso. a
principal c