ilê erô opará ofá odé asé jaynã: a experiência estética

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Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã: a experiência estética-cognitiva no Candomblé de Ketu Alice de Carvalho Lino Lecci Universidade Federal de Rondonópolis No presente comunicação, propõe-se uma análise crítica sobre os elementos constitutivos dos rituais do Candomblé de Ketu, tais como, os cantos entoados aos Òrìsàs em língua yorubá, as danças coreografadas, os toques dos atabaques, as indumentárias, de modo a compreendê-los a partir dos ìtàn, as mitologias das divindades africanas. Observa-se, desde já, que essas práticas e saberes representam em solo brasileiro a nossa ancestralidade africana, em especial, relativa aos povos yorubás, originários de Benin, Togo e da Nigéria. Isto é, os ritos no Candomblé de Ketu conformam a expressão de um sistema de conhecimento yorubá manifesto em uma linguagem artística própria. Essa, por sua vez, configura resistência política, capaz de propiciar uma formação, tanto nos iniciados quanto nos observadores/as, relativa ao enfrentamento da dominação eurocêntrica e seu intento ininterrupto de subjugar os/as afrodescendentes, juntamente com os povos autóctones, e suas respectivas manifestações culturais. Para tanto, apoia-se nos diálogos estabelecidos com ìyálòrìsà Márcia Cristina de Jesus Moura , filha de Oxum, com o bàbálòrìsà Fábio de Jesus Moura, iniciado de Odé, com seus filhos e filhas de santo, do Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã. Utiliza-se também de uma literatura especializada escrita por José Beniste, Kabengele Munanga, Abdias do Nascimento, Achille Membe, Pierre Verger, Reginaldo Prandi, entre outros/as. Brasília (on-line), Datas: 21-23 e 28-30 de Junho de 2021 Mesa 14: Viagens e Epistemologias

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Page 1: Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã: a experiência estética

Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã: a experiência estética-cognitiva no Candomblé de Ketu

Alice de Carvalho Lino Lecci

Universidade Federal de Rondonópolis

No presente comunicação, propõe-se uma análise crítica sobre os elementos constitutivos dos rituais do Candomblé de Ketu, tais como, os cantos entoados aos Òrìsàs em língua yorubá, as danças coreografadas, os toques dos atabaques, as indumentárias, de modo a compreendê-los a partir dos ìtàn, as mitologias das divindades africanas.

Observa-se, desde já, que essas práticas e saberes representam em solo brasileiro a nossa ancestralidade africana, em especial, relativa aos povos yorubás, originários de Benin, Togo e da Nigéria. Isto é, os ritos no Candomblé de Ketu conformam a expressão de um sistema de conhecimento yorubá manifesto em uma linguagem artística própria. Essa, por sua vez, configura resistência política, capaz de propiciar uma formação, tanto nos iniciados quanto nos observadores/as, relativa ao enfrentamento da dominação eurocêntrica e seu intento ininterrupto de subjugar os/as afrodescendentes, juntamente com os povos autóctones, e suas respectivas manifestações culturais.

Para tanto, apoia-se nos diálogos estabelecidos com ìyálòrìsà Márcia Cristina de Jesus Moura , filha de Oxum, com o bàbálòrìsà Fábio de Jesus Moura, iniciado de Odé, com seus filhos e filhas de santo, do Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã. Utiliza-se também de uma literatura especializada escrita por José Beniste, Kabengele Munanga, Abdias do Nascimento, Achille Membe, Pierre Verger, Reginaldo Prandi, entre outros/as.

Brasília (on-line), Datas: 21-23 e 28-30 de Junho de 2021

Mesa 14: Viagens e Epistemologias

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"Somos capazes de sonhar muito longe": viagens oníricas e deslocamentos epistêmicos

Mariana Andrade

Universidade Federal de Goiás

Qualquer investigação que tenha como horizonte a temática da viagem enfrenta, inicialmente, a vertigem provocada pela vastidão dos seus territórios e das suas possibilidades de exploração. A experiência da viagem carrega consigo um atributo que certamente salta aos olhos: constitui-se historicamente como uma grande produtora de matéria-prima para todos campos do conhecimento humano. Essa evidência histórica sinaliza o vínculo profundo que a viagem possui com a produção do pensamento, isto é, enquanto experiência humana é uma forma privilegiada de estímulo para o exercício do pensamento. Talvez derive daí a especial afinidade da viagem com a reflexão filosófica: o deslocamento e a transitoriedade atiçam e desafiam o pensamento ao colocá-lo em confronto com o desconhecido, o estrangeiro, o estranho, ou seja, com tudo aquilo que é (do) outro. Esse choque com o outro, propicia ao “eu” viajante atravessamentos e deformações de si e essa mudança de perspectiva funciona como um catalisador para o pensamento. Aqui já estamos nos movendo no interior de um emaranhado de questões que povoa o imaginário das viagens: esse mesmo complexo de questões é articulado quando falamos do universo dos sonhos, assim, não é sem razão que comumente façamos referência aos sonhos como uma forma de viagem. Viajar e sonhar certamente têm muito em comum, e é justamente a busca desse itinerário partilhado que move o presente ensaio: interessa-nos explorar essa complexa relação. Para tal, propomos um exercício filosófico de viagem pela imaginação conceitual indígena, particularmente através do pensamento de Davi Kopenawa e Ailton Krenak, com o propósito de investigar as experiências xamânicas dos sonhos como viagens e o estatuto epistemológico privilegiado que as viagens oníricas possuem no pensamento indígena.

Brasília (on-line), Datas: 21-23 e 28-30 de Junho de 2021

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A arte de viajar

Jairo Barbosa Moreira

Universidade Federal de Goiás

Viajar é uma ação que revela o existir humano, pois consiste em sair de si em busca de um outro – ser, mundo, coisas; um dar-se a outros – partilha, mas também um trazer, um receber, um acolher. O viajar revela o duplo do acontecimento, da experiência sensível: interioridade e exterioridade, razão e sensibilidade. Nenhuma viagem parece ser casual. Este estudo objetiva demonstrar, por meio de uma análise filosófica de cinco músicas populares brasileiras, como os compositores percebem o ato de viajar. A reflexão que ora se apresenta tem como referencial o conceito de partilha do sensível, em Jacques Rancière e o conceito de experiência em Canguilhem e Jorge Larrosa. Para isso, serão analisadas as letras das músicas: A majestade e o sabiá, Tocando em frente, Coração do agreste, Idas e voltas e Eu, caçador de mim.

Brasília (on-line), Datas: 21-23 e 28-30 de Junho de 2021

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Cabos Submarinos e o Conhecimento Sobre o Oceano Profundo: Oscilações Epistemológicas Entre as Ciências Marinhas e a Comunicação

Ruy Cézar Campos Figueiredo

UERJ

Falhas de comunicação casualmente podem acabar se tornando a força epistemológica que põe o conhecimento em relação com a vida. É isso que se pode concluir ao pensar como a Ciência começou a ser encarada pela vida marinha das profundezas do oceano quando cabos submarinos rompidos, durante as décadas de 1850 e 1860, eram imersos do abismo para reparo e se revelavam superfície organicizada pelo habitar de moluscos.

O imaginário racional de então pressupunha que na escuridão do ôco do mundo a existência estava esvaziada, mas os cabos provaram com seu revestimento tecnorgânico que se vive na escuridão. De acordo com Helen Rozwandowski (2008, p. 142) “O fato de que o cabo estava encrustado por animais marítmos provava que eles viveram por um longo período nas profundezas. Nesse tempo os animais sob questão encontraram caminho nas mãos dos naturalistas para serem preservados, estudados, identificados, listados e publicados”.

O conhecimento sobre o oceano profundo começou apenas no século XIX a se tornar crescentemente relevante devido à expansão da rede telegráfica submarina, intensificada a partir da década de 1850, dado os esforços pela instalação de um cabo transatlântico. Nas embarcações que viajavam os mares com uma finalidade de promover o avanço da infraestrutura comunicacional dos impérios coloniais e de seus aliados sub-imperiais, como o Brasil, os embarcados por vezes eram tanto cientistas e inventores quanto empreendedores da indústria de cabos. Na mentalidade que foi se instalado entre empreendimento infraestrutural e empreendimento científico naturalista, começou a se desenhar uma compreensão de que as profundezas oceânicas haviam sido projetadas idealmente para a instalação dos cabos, vigorando inclusive cientificamente por um período a existência de um Planalto Telegráfico. Os cabos submarinos eram uma justificativa de desenvolvimento econômico e político apropriada pelos emergentes cientistas do oceano para buscar recursos de pesquisa, inspirados em campos científicos aliados que tentavam entender o ambiente global, afirmando perante comitês como detinham o conhecimento essencial para colaborar com uma cartografia planetária útil aos impérios estabelecidos e em ascensão. Mais do que um mero negócio, os cabos eram também um evento epistemológico onde público, ciência, governos e investidores se tornavam superfícies absorventes de novidades do fundo do mar, uma fronteira nova para

Brasília (on-line), Datas: 21-23 e 28-30 de Junho de 2021

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tempos em que todas as terras já tinham declarado seus conquistadores europeus. A ciência hidrográfica do meio do século prometeu abrir as profundezas para a passagem do primeiro cabo telegráfico transoceânico, crucial infraestrutura de comunicação moderna.