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Faculdade de Ciências e Letras FCL - Assis Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP
20 e 21
09
2012
II Jornada de Psicanálise de Crianças
ANAIS
CADERNO DE RESUMOS
Programação 20/09/2012 (Quinta feira)
M Auditório: Antônio Merisse
M
Z M M 8h30m: Abertura oficial 9h - 12h: Palestra: "Intervenções grupais com crianças e famílias"
M "Intervenções Psicoterapêuticas Grupais na Clínica do Adoecimento" Vera Mencarelli (Ser e Fazer USP) 14h - 17h: Oficinas
1. Angela Flexa Di Paolo: Indicadores Clínicos de Risco para o Desenvolvimento Infantil (IRDI): protocolo de detecção de sinais iniciais de risco em bebês.
2. Kátia Burle Guimarães (Núcleo de Psicanálise de Marília): título a confirmar
3. Marcia Torresi: Técnicas de relaxamento para crianças.
4. Vera Lúcia Mencarelli: Intervenções clínicas grupais.
19h30m: Atividade Cultural 20h: Conferência de Abertura: A psicanálise da criança na atualidade. Teresa Rocha Leite Haudenschild Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo SBPSP
21/09/2012 (Sexta-feira) Auditório: Salão de Atos
9h: Palestra Identificação de sinais iniciais de transtornos do
desenvolvimento em bebês a partir de um protocolo orientado
pela psicanálise Angela Flexa Di Paolo - Mestre e doutoranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Membro do Grupo de Pesquisa (CNPq) "Transtornos do espectro de autismo: detecção de sinais iniciais e intervenção". 14h - 16h: Palestra Transferência e a clínica com crianças Audrey Setton Lopes de Souza - Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade Doutora, Instituto de Psicologia, USP.
16h30 17h30: Avaliação dos pôsteres
Apoio: Departamento de Psicologia Clínica
Centro de Pesquisa e Psicologia Aplicada "Dra. Betti Katzenstein" - CPPA
Organização: Grupo de Estudos e Assistência à Infância (GEAI)
Faculdade de Ciências e Letras - FCL - Assis A
Comissão Organizadora Coordenadora
Mary Yoko Okamoto
Membros GEAI
Diana Pancini de Sá Antunes Ribeiro Helena Rinaldi Rosa
Jorge Luís Ferreira Abrão Maria Luisa Louro de Castro Valente
Mary Yoko Okamoto Rita de Cássia S. de Sillos Gardim
Rosa Maria R. de Carvalho Walter José Martins Migliorini
Comissão Científica
Helena Rinaldi Rosa
Iúri Yrving Müller da Silva Marcos Leandro Klipan
Maria Luisa Louro de Castro Valente Walter José Martins Migliorin
Discentes
Bruna Luise Fernandes
Cibeli Paganelli de Freitas Cleyton Monteiro Nascimento
Ellen Francine Amadio Laila Suiama Gomes de Lima
Karina Rocha Bueno Mariana Pereira Dermindo
Mayara Aparecida Bonora Freire Paula Caroline Parra Zamboni
Rosana Maria Schwerz Tamires Wedekim de Toledo
RESUMOS
ESTADOS PRIMITIVOS DA MENTE: AS CONTRIBUIÇÕES DE FRANCES
TUSTIN.
Juliana Araújo Ferreira; Jorge Luís Ferreira Abrão (Programa de Pós-Graduação em
Psicologia e Sociedade, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
Assis, São Paulo).
Frances Tustin foi uma reconhecida terapeuta de crianças e uma das pioneiras na
compreensão psicanalítica sobre os estados primitivos da mente. Suas concepções
originais e sua efetividade terapêutica advindas, sobretudo, do trabalho clínico com
crianças autistas e psicóticas, ampliaram as teorias vigentes sobre o tema e se
expandiram por todo o mundo influenciando terapeutas em seu trabalho clínico e
acadêmico. Objetiva-se sistematizar as principais ideias da autora ao longo de mais de
quarenta anos de pesquisa, rastreando a gênese e evolução dos conceitos-chave de sua
obra desde sua concepção às formulações finais, preenchendo uma lacuna na literatura
sobre o tema no Brasil, que atualmente tem à disposição uma visão fragmentada da obra
de Frances Tustin, resultando em uma compreensão parcial e a-histórica de seu sistema
conceitual. Para tal, utilizou-se como método de pesquisa uma abordagem histórico-
epistemológica, que consiste em um estudo dos principais conceitos de um autor,
através da leitura e análise minuciosa de sua obra completa no idioma original em que
foi produzida, levando-se em consideração diversos fatores de influência, tais como: o
momento histórico e psicanalítico da época, a biografia do autor, sua experiência
clínica, assim como qualquer outro fator que possa ter exercido influência significativa
em sua produção teórica. Frances Tustin escreveu e publicou vários livros, assim como
artigos sobre suas descobertas em periódicos de grande prestígio, realizou várias
palestras e grupos de estudo na Grã-Bretanha e no exterior e recebeu estudantes de todo
o mundo para supervisão de casos de crianças autistas e psicóticas. Suas teorias foram
se delineando gradualmente, à medida que foi adquirindo experiência no tratamento
analítico das crianças que atendia. Desenvolveu vários conceitos originais a partir de
suas observações clínicas como: Autismo Encapsulado e Autismo Confusional, Objetos
e Formas Autísticos e Barreiras Autísticas em pacientes neuróticos. Suas contribuições
teóricas ultrapassaram as origens junto às crianças, em direção à compreensão e
tratamento de pacientes adultos psicóticos, borderline e neuróticos. Nos últimos anos de
vida, publicou um livro e alguns artigos de revisão, corrigindo aspectos de sua obra dos
quais não mais concordava. Seu trabalho possibilitou o contato e a troca de experiências
com trabalhadores de diversas instituições elucidando os aspectos afetivos envolvidos
tanto no funcionamento dos pacientes quanto na dinâmica de suas relações com os
cuidadores. As obras completas de Frances Tustin são amplamente conhecidas e
respeitadas em diversos países do mundo e suas contribuições teórico-técnicas
proporcionaram significativos desdobramentos depois de sua morte.
Palavras-chave: Frances Tustin; História; Psicanálise.
Agência financiadora: CAPES
O ATENDIMENTO PSICANALÍTICO COM CRIANÇAS: AS DIFICULDADES
QUANDO OS PAIS SÃO SEPARADOS.
Camila Fernanda Sant’ Ana; Heloísa Maria Heradão Rogone* (Departamento de
Psicologia Clínica, Universidade Estadual Paulista, Júlio de Mesquista Filho, Câmpus
Assis, São Paulo).
A prática realizada a partir do projeto “A Psicanálise com Crianças e Adolescentes de
Freud a Lacan” se dá pelo atendimento a crianças, que em sua maioria buscam a clínica
a partir de uma demanda dos pais, que esperam que suas angústias em relação aos seus
filhos sejam acolhidas através do trabalho terapêutico. Fazemos uso da abordagem
psicanalítica, pois esta busca possibilitar a constituição de um setting, para que a
transferência seja estabelecida e que a criança possa, a partir do brincar, dar vazão aos
seus conteúdos inconscientes, possibilitando, assim, que o terapeuta analise e faça
considerações acerca deste. O brincar é a forma pela qual a criança expressa os seus
conteúdos, se para Lacan o inconsciente se expressa por meio da linguagem, o brincar
se constitui como a linguagem da criança. O atendimento de crianças compreende não
só o trabalho realizado exclusivamente com ela, durante as sessões de ludoterapia, mas
também, é necessária a participação dos pais, em sessões distintas, para que seja
realizado um processo conjunto, pois a criança, enquanto pertencente ao ambiente
familiar, traz questões sobre essa dinâmica nos atendimentos. A criança que tem como
constituição familiar pais separados tem suas rotinas alteradas por ter que compartilhar
seu tempo entre os pais, geralmente essas crianças passam a maior parte do tempo com
a mãe, fazendo visitas frequentes ao pai, passando também um tempo significativo com
este. Esta dupla jornada de trânsito entre a casa da mãe e do pai é uma das questões
trazidas pela criança através do brincar. Por vezes a relação entre os pais da criança não
é harmoniosa e isso se torna um complicador para o terapeuta, pois, como já
explicitado, é essencial que os pais participem do processo terapêutico, já que estes
trazem informações a respeito da vida da criança que são de suma importância para a
compreensão do psiquismo desta. Uma vez que a criança divide seu tempo entre as
casas dos pais, é interessante que ambos estejam implicados e sejam ouvidos durante
todo o processo. Mas, a dificuldade se encontra justamente nessa comunicação, pois os
pais podem encarar essa conversa de diversas formas, geralmente, estas são feitas em
sessões separadas, na medida em que, por conta da separação, não aceitam ter uma
conversa em conjunto, e esse procedimento pode gerar fantasias nos pais de que o
terapeuta levaria e traria informações de um para o outro, ou tomaria partido de um dos
lados, o que pode prejudicar o objetivo do trabalho com os pais, que é obter
informações que auxiliariam no processo terapêutico da criança. Portanto, há uma
dificuldade grande na tentativa de estabelecer um contato contínuo com os pais, que
deve ser bem manejado pelo terapeuta de modo a explicitar a estes a importância de sua
participação, o papel deles na vida da criança e o papel do psicólogo enquanto terapeuta
da criança e que tem como único objetivo propiciar o bem estar dela.
Palavras-chave: Psicanálise, Crianças, Pais separados.
BEBÊS EM UTIN: VIVÊNCIAS EM GRUPO DE MÃES.
Cintia Ribelato Longhini; Gislaine Fátima de Oliveira (Graduandas de Psicologia pela
Universidade Estadual do Centro-Oeste e participantes do Projeto de Extensão Escuta
Psicanalítica de País/Cuidadores e bebês, Irati, Paraná); Cléa Maria Ballão Lopes
(Universidade Estadual do Centro-Oeste, coordenadora do Projeto de Extensão Escuta
Psicanalítica de País/Cuidadores e bebês, Irati, Paraná).
O presente trabalho tem por objetivo fornecer apoio psicológico para grupos de mães
com bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), ampliando as
modalidades de atendimento psicológico na unidade da Santa Casa de uma cidade do
interior do Paraná, a fim de aprimorar o trabalho que já vem sendo realizado pelo
serviço de psicologia. Entendemos que para as mães o nascimento de um bebê já é em si
uma ruptura com o bebê imaginário e, no caso do bebê prematuro, o cenário que se
apresenta inicialmente não corresponde, em absoluto, às expectativas delas e demais
familiares, e pode despertar nas mães sentimentos de incompetência, frustração e culpa
por não terem dado à luz ao filho sonhado. O desafio imposto às mães é grande, pois
além do luto pelo bebê imaginário, existe o luto pelo bebê real, que corre risco de vida
ou está com a morte anunciada. Deste modo, acreditamos que as mães com bebês
internados na UTIN, também, se encontram em estado de prematuridade, uma vez
frente ao rompimento do processo de gestação, o desenvolvimento das condições
psíquicas compatíveis com as de uma mãe suficientemente boa igualmente será
favorecido, se houver, durante o período de internação, condições de proteção e
acolhimento das angústias desestruturantes. Assim, este apoio psicológico é realizado
por meio de uma escuta psicanaliticamente orientada e oferece espaço para que essas
mães possam falar sobre suas angústias e suas histórias, sentimentos de dor e conforto
que possam estar experimentando em função da hospitalização do bebê, dando-se conta
de que algumas guardam pontos de semelhança entre si e facilite suas elaborações. Este
trabalho, ainda, se configura como um grupo informativo, no qual discutimos algumas
temáticas referentes à maternidade, principalmente, o que tange a maternidade de bebês
internados/ prematuros e seus cuidados, além de abarcar temas de demanda das mães:
problemas familiares, saudade de outros filhos, higiene pessoal, entre outros e tirar suas
dúvidas. Para que estas discussões aconteçam, além da escuta, utilizamos alguns
recursos, como: dinâmicas, jogos, atividades (com materiais diversos, recorte e
colagem, pintura, desenhos, vídeos), entre outros. O grupo ocorre em uma sala
reservada às mães, semanalmente às quartas-feiras e tem duração de duas horas.
Notamos, então, que o grupo com as mães proporciona um melhor entendimento e
aceitação por este ser homogêneo, pela razão de se utilizarem de uma mesma linguagem
e partilharem das mesmas experiências; possibilita que as mães aceitem e assumam sua
condição, de forma menos conflituosa; permite novos modelos de identificação;
representa um estímulo à socialização; exerce uma função continente, isto é, de conter e
absorver angústias de dúvidas; propicia um estímulo às capacidades positivas;
representa um reasseguramento às integrantes de que elas não estão sozinhas, além de
trabalharmos a relação-bebê por meio do empréstimo de algumas palavras a esta mãe
que está fragilizada. Pensamos, ainda, que esta modalidade de atendimento permite
atender possibilitando a elas ter acesso as suas vivências internas e detectar quadros
extremos, os quais serão encaminhados para outro tipo de intervenção.
Palavras-chave: Bebê prematuro; Grupo com mães; Escuta psicanalítica.____________
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DEPRIVAÇÃO E TENDÊNCIA ANTISSOCIAL: UMA REVISÃO DE
LITERATURA.
Laila Suiama Gomes de Lima; Melissa Yumi Suzuki (Graduandas em Psicologia,
UNESP – Univ. Estadual Paulista, Assis, SP); Walter José Martins Migliorini
(Departamento de Psicologia Clínica, UNESP – Univ. Estadual Paulista, Assis, SP).
O psicanalista D. W. Winnicott fez uma importante contribuição sobre o papel do
ambiente na constituição da subjetividade, abrindo um campo de observações e
teorizações até então inexplorado pela psicanálise. Por exemplo, a observação de que na
psicogênese de alguns casos de tendência antissocial há (1) uma alteração significativa
e, muitas vezes sutil, do ambiente, (2) ocorrida num período do desenvolvimento
emocional em que a criança é madura o suficiente para perceber que algo em sua vida
foi irremediavelmente perdido. Inicialmente, pode haver um período de retraimento e
uma aparente aceitação da perda, seguido do surgimento de sintomas, tais como a
enurese noturna, o furto, a mentira, o consumismo, a rebeldia e a crueldade compulsiva.
Ocorre um processo dissociativo e a criança não reconhece esses sintomas como seus. O
termo deprivação (deprivation) foi utilizado por Winnicott para se referir a esse
fenômeno e não cobre os casos em que, por exemplo, o convívio diário da criança com a
violência do entorno social ou as condições psíquicas da família não favorecem a
constituição de um sentido ético. O desenvolvimento do projeto tem envolvido os
seguintes procedimentos: (1) revisão da literatura psicanalítica sobre deprivação e
tendência antissocial, publicada no Brasil nos últimos onze anos (2001 – 2012), com a
finalidade de investigar os desdobramentos recentes da investigação e da clínica da
tendência antissocial em nosso meio; (2) leitura e análise de textos de Winnicott sobre
deprivação e tendência antissocial, com a finalidade de estabelecer um panorama
conceitual e histórico para o trabalho de revisão da literatura. O material de investigação
é composto basicamente: (1) pelos artigos, dissertações, teses e capítulos de livros
oriundos do levantamento bibliográfico e (2) pelos artigos, cartas, conferências e
palestras radiofônicas publicadas de 1939 até o momento. As palavras-chaves utilizadas
nas buscas foram deprivação, de-privação, tendência anti-social e tendência antissocial.
Foram encontradas 18 dissertações, 6 teses e 151 artigos. Os resultados parciais,
referentes à produção acadêmica de teses e dissertações, publicadas nos últimos dez
anos, apontam a predominância de: (1) investigações que utilizam essencialmente
procedimentos clínicos; (2) desenvolvidas em contexto institucional; (3) tendo por
sujeitos, na maioria dos casos, crianças e adolescentes. Entretanto, duas pesquisas
tiveram bebês como sujeitos e duas envolveram a análise e uma proposta de intervenção
mais direta no próprio ambiente da instituição. O mapeamento da produção sobre o uso
da teoria da tendência antissocial de Winnicott, é uma ferramenta para a reflexão de
como é tratada essa questão na psicologia clínica contemporânea.
Palavras Chave: Deprivação; tendência antissocial; Winnicott
Bolsa RENOVE
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REFLEXÕES PSICANALÍTICAS WINNICOTTIANAS SOBRE A ATENÇÃO
PSICOLÓGICA EM SAÚDE PÚBLICA.
Ana Carolina Ramalho Amorim; Drª Diana Pancini de Sá Antunes Ribeiro; Eloá Ulliam
(Departamento de Psicologia Clinica, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Assis,
São Paulo.)
Atualmente, há um número considerável de psicólogos atuando nas instituições públicas
de saúde, mas nem sempre se pôde observar isso. A entrada desses profissionais, bem
como a formação de equipes multiprofissionais nesses serviços, não data de muito
tempo. Na atualidade, o Sistema Único de Saúde prevê ações e serviços públicos de
saúde funcionando dentro de uma rede regionalizada e hierarquizada. Com essa nova
organização, os psicólogos ganharam espaço na atenção básica à saúde, compondo a
equipe de profissionais destas unidades de saúde. No entanto, os profissionais de
psicologia passam por algumas dificuldades em relação às condições de trabalho nestes
novos espaços. O projeto de extensão “Enquadres clínicos winnicottianos na saúde
pública” desenvolvido em três Unidades Básicas de Saúde observa, principalmente, o
grande contingente de pessoas a ser atendido, o baixo número de profissionais, além do
significativo número de pessoas que procuram por atendimento psicológico e
abandonam o processo logo após a primeira entrevista. Para propor uma atuação
condizente com as necessidades do paciente, o projeto de extensão norteia suas ações de
acordo com o que o psicanalista e pediatra inglês Donald W. Winnicott nomeou como
Consultas Terapêuticas. Pensar a demanda como ele propôs, e a partir do modelo por
nós já destacado, pode auxiliar o psicólogo da atenção básica a desempenhar suas
funções sem que o imediatismo e o grande número de pacientes que buscam por
atendimento, desencadeiem um acolhimento sem encantamento e qualidade. As
consultas terapêuticas permitem uma nova possibilidade de avaliação, intervenção e
ajuda psicológica, uma vez que o encontro analítico consiste basicamente em uma
comunicação significativa que se dá a partir de mediadores dialógicos (fala, brincar,
desenhos) entre a dupla psicólogo-usuário da saúde pública. Por meio desse contato, o
usuário pode encontrar o objeto necessário para a superação de sua dificuldade e desse
modo, retomar seu amadurecimento emocional. Objetiva-se neste ensaio
especificamente analisar o possível uso da Consulta Terapêutica, para que profissional e
demandas caminhem em sintonia, especialmente quando falamos da demanda de
crianças. O presente trabalho, portanto busca uma reflexão psicanalítica winnicottiana
sobre a atuação de psicólogos em formação em Unidades Básicas de Saúde e a
possibilidade do uso de um encontro terapêutico com crianças, tal como em uma
Consulta Terapêutica winnicottiana. Pode-se concluir que o valor desse tipo de escuta
proposta se evidencia, ainda, por privilegiar o ser humano em sua totalidade e não
apenas procedimentos técnicos pré-estabelecidos.
Palavras-Chaves: Unidade Básica de Saúde; Winnicott; Consultas Terapêuticas.
Apoio financeiro: PROEX
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AIMPORTÂNCIA DOS PRIMEIROS CUIDADOS À CRIANÇA PARA SEU
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL.
Paula Mayra Napolitano Ramos, Dra. Heloisa Maria Heradão Rogone (Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Assis/SP. Departamento de Psicologia
Clínica).
Nos primeiros anos de vida, a partir das relações entre o bebê e sua mãe (ou cuidador),
são estabelecidas as bases da saúde mental da criança. Tais relações (afetivas, corporais
e simbólicas) irão inserir o sujeito na cultura e na linguagem, possibilitando a
construção de sua subjetividade. A prematuridade e o desamparo do recém-nascido o
coloca em uma situação de dependência em relação a um outro ser humano que se torna
responsável por suprir suas necessidades e o faz segundo um código de linguagem. A
expressão da necessidade do bebê é suposta como uma demanda, como um pedido, um
apelo endereçado a este outro, que o atende oferecendo-lhe um objeto sustentado em
seu próprio desejo. Para a psicanálise, é deste entrelaçamento que a vida psíquica
emerge. É no atendimento ao corpo real do bebê que o outro possibilita a construção
das representações constituintes do psiquismo. O aparelho biológico é o arcabouço
básico sobre o qual se constitui o sujeito, porém, não há desenvolvimento possível sem
uma estrutura subjetiva (de linguagem) que o origine e o sustente. O desenvolvimento
do corpo, dos seus aspectos motores, verbais, mentais, supõe um processo de
construção, de aprendizagem e de maturação, que só se constrói em relação com a
demanda do Outro. Não há, portanto, um desenvolvimento igual a outro: a estrutura
subjetiva singulariza-o. O trabalho materno que possibilitará que o desenvolvimento de
uma criança se organize, vai se tecendo em torno de quatro eixos - Supor um sujeito,
Estabelecer a demanda da criança, Alternar presença-ausência, e Função paterna.
Porém, poderá haver um enodamento no entrelaçamento destes eixos, e a criança
poderá apresentar sinais, muito precocemente, de que está havendo alguma dificuldade
no processo do seu desenvolvimento. Por seu lado, se estes sinais forem detectados
também precocemente, há a possibilidade de uma intervenção nos cuidados que estão
sendo prestados à criança. Isto possibilita grandes chances de bloquear ou alterar a
evolução de possíveis distúrbios. O presente estudo tem por OBJETIVO refletir sobre a
importância dos primeiros cuidados e do estabelecimento de vínculo inicial com a
criança para o seu bom desenvolvimento. Como MÉTODO buscou-se bibliografia que
orientassem um melhor entendimento sobre o desenvolvimento infantil e seus fatores
de risco. Conclui-se assim, que muitas das dificuldades apresentadas pelas crianças,
podem ser compreendidas como sinais de riscos para o seu desenvolvimento psíquico,
advindos dos laços afetivos constituídos com seu cuidador. O olhar, então, direciona-se
para os dois: criança e entorno.
Palavras-chave: Desenvolvimento psíquico; Função materna; Psicanálise com crianças.
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DEVOLUTIVA COM HISTÓRIAS NO PSICODIAGNÓSTICO
INTERVENTIVO INFANTIL.
Mariana Alves Porto; Bruna Viviane Sordi Silva; Bruna Gomes Garcia; Renato Yoshio
Arai; Nayara Cristina Cavalheiro; Helena Rinaldi Rosa (UNESP – Univ. Estadual
Paulista - Assis –SP); Fatima Itsue Watanabe Simões (Universidade Paulista).
O processo de psicodiagnóstico tem por principal objetivo conhecer o funcionamento
psicológico do sujeito a partir de possíveis sinais e sintomas apresentados, resultando de
uma avaliação. Contudo, para alcançar esse objetivo é necessário que sejam percorridas
determinadas etapas, a saber: a entrevista inicial, na qual se faz o primeiro contato com
o paciente; planejamento de hipóteses, as quais seriam norteadoras do processo
subseqüente; aplicação de testes e entrevistas familiares a fim de investigar as hipóteses
pré-estabelecidas; e por fim a entrevista devolutiva. O presente trabalho apresenta casos
de psicodiagnóstico interventivo infantil, com os quais se destaca a importância da
construção, junto com os pais e a criança, da compreensão e conclusão do caso.
Enfatiza-se, então, a relevância da devolução, pois constitui o momento em que o
terapeuta irá apresentar o que foi observado durante o processo ao paciente. Essa
devolução deve ser apresentada em linguagem acessível para que seja de fácil
compreensão a quem a recebe. Para que tal objetivo seja alcançado, uma possibilidade é
a de utilizar histórias como modo de apresentação do resultado à criança, a fim de que
esta se identifique com o personagem e, consequentemente, compreenda, de forma
lúdica, o que está acontecendo com ela. O roteiro dessa história deve ser constituído das
informações adquiridas durante o processo de psicodiagnóstico, contendo as principais
angústias e medos da criança. No entanto, tomam-se certas precauções para que tal
história contenha apenas informações as quais o paciente consiga suportar. Dessa forma,
ao se apropriar da história apresentada, a criança apropria-se de sua própria história,
elaborando assim seus desejos, conflitos e seu modo de se relacionar com o ambiente
em geral. A história contada pode ser feita de diversas maneiras, dependendo da
criatividade de quem a formula. Eis alguns exemplos: elaboração de livros, fantoches e
cenários, dentre outros. No estágio de Psicologia Clínica no Centro de Pesquisa e
Psicologia Aplicada – CPPA, alunos do 4º e 5º anos do curso de psicologia usaram essa
técnica em três casos clínicos com crianças, apresentando histórias através da confecção
de livros. Essa experiência tem sido realizada também junto aos alunos de
Psicodiagnóstico Interventivo da Universidade Paulista. O resultado foi satisfatório,
uma vez que as crianças se identificaram com as histórias contadas a elas. Dessa forma,
compreende-se que as crianças entendem melhor as informações que o estagiário está
lhe passando, por estarem próximas do universo infantil. Elas se reconhecem e,
portanto, compreendem e elaboram o que está acontecendo com elas.
Palavras-chave: Psicodiagnóstico Interventivo, Clínica Infantil, Devolutiva.
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O MANEJO WINNICOTTIANO NO SETTING ANALÍTICO COM CRIANÇAS.
Flávia Moraes; Lídia Pereira da Silva; Diana Pancini de Sá Antunes Ribeiro (UNESP –
Univ. Estadual Paulista, Assis, São Paulo. Departamento de Psicologia Clínica).
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre o manejo de setting winnicottiano
na clínica psicanalítica com crianças, relativo notadamente à sobrevivência do terapeuta.
Para tanto se utilizará como base a teoria do amadurecimento humano, formulada pelo
pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, bem como discussões realizadas
em supervisão clínica com docente, co-autora deste trabalho. De acordo com o autor,
todo ser humano nasce com tendência a integrar-se por meio das funções maternas
oferecidas por uma mãe suficientemente boa. Cabe à mãe oferecer holding – sustentação
psíquico-emocional ao bebê; handling – manuseio do bebê de modo a oferecer-lhe
segurança e os cuidados físicos necessários e realizar a apresentação de objetos, na qual
a mãe deve apresentar o mundo externo de modo gradual, afim de que o bebê passe a
compartilhar do mundo real. Tais funções abrangem inicialmente a preocupação
materna primária, que compreende entrar em sintonia com o seu bebê para ir de
encontro com suas necessidades. Este estado materno inicia-se desde o final da gestação
e perdura durante a fase de dependência absoluta do bebê para com sua mãe, que vai
aproximadamente até os quatro meses, período no qual ainda não se diferencia desta.
Uma falha grave neste período ou mesmo no posterior, de dependência relativa do bebê
para com a mãe e/ou outro cuidador, pode acarretar um rompimento no processo de
amadurecimento emocional, e esta lacuna pode ser retomada pela própria mãe e/ou
outro cuidador e também por meio da psicoterapia. Cabe ao terapeuta oferecer um
setting confiável para possibilitar que a criança que sofre este trauma retome o processo
de amadurecimento a partir da falha original e possa revivê-lo ou vivê-lo em sua
plenitude, tal como uma experiência completa. A regressão é necessária para dar
continuidade ao processo de amadurecimento emocional, e muitas vezes esta vem
acompanhada de elementos agressivos direcionados transferencialmente ao terapeuta
que, neste momento assume papel semelhante ao materno. O terapeuta iniciante,
deparando-se com os sentimentos de angústia e raiva que podem ser despertados
contratransferencialmente com estas vivências, relata-os em supervisão, que o
possibilita compreender a importância de sua sobrevivência e, de fato, sobreviver sem
retaliar para que, assim, seu paciente possa retomar seu amadurecimento emocional e,
portanto seu agir com espontaneidade. Conclui-se sobre a necessidade de o manejo
adequado a cada paciente, com as necessidades que lhe são próprias em acordo com a
falha que sofreu em seu processo maturacional emocional. E, para que este venha a se
efetivar, é necessário ao terapeuta iniciante supervisão clínica que também lhe ofereça
holding, assim como embasamento teórico consistente e análise pessoal, estabelecendo
para sua formação clínica o tripé psicanalítico.
Palavras-chave: Psicanálise; Winnicott; Manejo de setting.
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INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA NO TRANSTORNO GLOBAL DO
DESENVOLVIMENTO: AMPLIAÇÃO DE OLHARES SOBRE A CRIANÇA E
SEU FAMILIAR.
Flávia Arantes Táparo, Gabriela Callile Marques de Paula, Gisele Aparecida Godoy
Merlin, Luana Valera Bombarda (Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria
da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB/Unesp, Botucatu, São Paulo).
O Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) consiste em alterações qualitativas
nas interações sociais, nas habilidades de comunicação e no repertório de interesses, que
se caracterizam por atividades restritas, estereotipadas e repetitivas. É marcante a
dificuldade no contato emocional com outras pessoas. Nestes quadros, observa-se,
desde o início do desenvolvimento, a existência de dificuldades na interação
mãe/criança, o que denota a existência de conflitos na mesma. A relação dos cuidadores
com a criança quase sempre é ambivalente, ora tendendo para a superproteção e o
cuidado extremo, ora apontando para o cansaço, a raiva e a culpa. O presente trabalho
tem como objetivo apresentar a proposta terapêutica do grupo de crianças com TGD,
realizado no Ambulatório de Saúde Mental da Criança e do Adolescente (SAMECA) do
Hospital das Clínicas da FMB – UNESP/Botucatu. Atualmente, são atendidas cinco
crianças com seus respectivos familiares. O grupo se divide em três momentos,
coordenados por três psicólogas e uma terapeuta ocupacional, sendo cada momento com
duração de trinta minutos. O objetivo comum dos atendimentos é identificar os conflitos
existentes na relação mãe/criança e intervir sobre eles, considerando-os em um processo
dinâmico. Inicialmente, o atendimento é realizado em dupla do familiar com a criança.
Essa atividade tem como objetivo promover a interação da dupla com o auxílio da
terapeuta, que atua como modelo. Durante este atendimento, os conflitos na relação se
tornam evidentes e configuram-se o alvo de intervenção das terapeutas. Em seguida, as
mães e as crianças se reúnem no mesmo grupo. Nesse momento, as terapeutas buscam
auxiliar a interação mãe/crianças, principalmente através do brincar. Acredita-se que
esta relação pode ser modelada pelas condutas terapêuticas e pelas outras mães com
seus respectivos filhos, a fim de tornar as relações mais naturais, espontâneas e afetivas.
Esse grupo também tem como objetivo dar maior segurança e apoio aos familiares na
execução de seus papéis maternais e maior sensibilidade para perceber as respostas de
suas crianças. Finalmente, há a realização do grupo de mães e do grupo de crianças,
separadamente. O trabalho psicoterápico com crianças objetiva significar suas ações e
sentimentos, contextualizando-os num processo de subjetivação e interação com outras
pessoas, bem como fornecer acolhimento e continência aos pacientes em situações
geradoras de angústias. No grupo de familiares, por sua vez, há o relato de conflitos e
dificuldades nas relações familiares, e as intervenções terapêuticas estimulam que os
pacientes entrem em contato com seus sentimentos, angústias, ansiedades frente às
necessidades da criança e conteúdos infantis que ainda precisam ser elaborados. Durante
o processo psicoterápico, foi possível avaliar melhora significativa dos pacientes,
comparando com sua entrada no serviço. A melhora é observada tanto em suas
interações com terapeutas e com os demais participantes, quanto no relacionamento
familiar-criança, sendo que este passa a ver seu filho como um sujeito, que apesar das
limitações, apresenta desejos. Essa mudança no olhar do familiar para a criança
possibilita que esta ocupe outro lugar na dinâmica familiar, o que favorece e estimula o
desenvolvimento.
Palavras - chave: Transtorno Global do Desenvolvimento; Psicoterapia grupal; Equipe
multidisciplinar.
O PSICODIAGNÓSTICO INTERVENTIVO FENOMENOLÓGICO-
EXISTENCIAL: UMA FERRAMENTA DIFERENCIADA.
Renato Yoshio Arai (discente do 4º ano do curso de Psicologia; UNESP - Univ. Estadual
Paulista - Assis - SP); Helena Rinaldi Rosa; Maria Luísa Louro de Castro Valente
(UNESP - Univ. Estadual Paulista - Assis - SP).
O processo psicodiagnóstico consiste em obter o máximo de informações possíveis do
paciente para a compreensão acerca do que está ocorrendo a fim de oferecer um
encaminhamento mais adequado. Desta maneira o Psicodiagnóstico Interventivo
Fenomenológico-Existencial aparece como mais uma ferramenta que o psicólogo pode
utilizar. Objetivo: Esse trabalho apresenta um caso em que trabalhou com esse modelo:
um menino de 09 anos, estudante do 4º ano do Ensino Fundamental, que mora com a
mãe de 32 anos, pedagoga; o pai, de 40 anos, construtor; e o meio-irmão de 18 anos,
estudante do supletivo e construtor como o pai; a queixa era a dificuldade de
aprendizagem e da substituição do lápis pela caneta na escrita. O objetivo do
atendimento era experimentar e documentar a eficácia desse modelo de
psicodiagnóstico, além de promover o atendimento da criança. Os procedimentos eram
os mesmos de um psicodiagnóstico tradicional: entrevista livre, anamnese, hora lúdica,
aplicação de testes, visita escolar (se houver necessidade) e devolutiva. No entanto, cabe
destacar algumas diferenças no preenchimento da ficha de anamnese: o psicólogo
entregou a ficha aos pais da criança e orientou que ambos a preenchessem em casa e que
no próximo atendimento retornassem com a ficha, momento em que enfocou como foi
esse preenchimento e os dados que constavam na ficha apenas serviram como
orientação. Foi feita a visita domiciliar em que consiste em fazer uma visita ao ambiente
em que a criança vive, com duração de no máximo de uma hora e cabe o psicólogo
observar desde a estrutura física do local até a convivência familiar, sendo importante
que todos os membros que residem no local estejam no momento da visita. Resultados:
Com o preenchimento da ficha de anamnese os pais relembraram fatos que haviam sido
esquecidos e que foram importantes para o processo; a visita domiciliar que demonstrou
uma ampliação no campo de compreender melhor a demanda da criança, revelando o
espaço dedicado a ele e sua importância na família. Na devolutiva à criança é
confeccionado um livro de história infantil focado no problema da criança para que ela
possa se identificar com o personagem e que compreender o que se passa com ela. Os
resultados obtidos foram uma experiência diferenciada ao método tradicional do
psicodiagnóstico convencional. A conclusão do caso é que a mãe representava a parte
intelectual e o pai, a parte bruta, sendo que a criança se identificava mais com o pai e se
angustiava por não atender a demanda da mãe pelos estudos. Foi encaminhado para o
atendimento em Psicopedagogia. O estagiário de Psicologia vivenciou assim uma
experiência com o Psicodiagnóstico Interventivo Fenomenológico-Existencial, com
uma perspectiva inovadora.
Palavras-chave: psicodiagnóstico interventivo; família; psicologia infantil.
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CUIDANDO DAS CRIANÇAS E DOS FAMILIARES NO SERVIÇO DE SAÚDE
PÚBLICO.
Renata Santos Munhoz; Gisele Aparecida Godoy Merlin (Aprimoramento em
Psicologia da Saúde, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu, São Paulo).
A relação familiar é tema de vários estudos em diferentes áreas do conhecimento. A
partir do referencial teórico psicanalítico, temos que sua importância se dá
principalmente como instituição promotora de saúde entre seus membros ou também de
perturbações, com autores que argumentam que disfunções na família podem ocasionar
sintomas nos seus integrantes. São frequentes em nosso ambulatório entrevistas com os
cuidadores e suas crianças, nas quais as queixas trazidas se resumem a problemas de
comportamento, ansiedade e depressão; sintomas apresentados por vezes sem
compreensão de seu inicio e origem. Desta forma, o sintoma da criança é emergente de
um sistema intra-psíquico que está, por sua vez, inserido no esquema familiar também
doente. Este procedimento oferece elementos para contra-indicar o tratamento
individual quando não há condições de mudança da patologia familiar e a criança seria
considerada como única culpada pela disfunção; a melhora pode ocasionar
descompensação de outro membro da família; os pais reforçam, de forma inconsciente,
a sintomatologia do filho. É pensando nessa relação que a equipe de psicologia do
ambulatório de saúde mental da criança e do adolescente do Hospital das Clinicas da
Unesp de Botucatu realiza atendimentos grupais com crianças, convocadas a partir da
queixa apresentada pelos responsáveis na triagem do serviço. No total são formados
cinco grupos divididos pela faixa etária com idades que variam de zero a quatorze anos,
atendendo no máximo oito crianças em cada grupo. Ao mesmo tempo, os cuidadores
são convidados para atendimento em uma sala distinta e por outro profissional em um
grupo psicoterápico de familiares. O grupo é um espaço privilegiado para o trabalho a
partir das dinâmicas interpsíquicas, no qual as dinâmicas familiares são muitas vezes
reproduzidas. Assim, através da possibilidade de relatar suas dificuldades no lidar com
suas crianças, estes cuidadores aos poucos entram em contato com as próprias
dificuldades, sendo remetidos às suas relações parentais enquanto filhos. Sendo assim,
pensar sobre o que foi vivido permite uma maior elaboração das situações atuais e
passadas, compreendendo melhor seus sentimentos de culpa, desejos, fracassos e
frustrações, muitas vezes atribuídos à figura da criança que, com pouca capacidade de
elaboração, pode tornar-se o que lhe é esperado como ser. Desta forma, o grupo objetiva
a promoção na qualidade das relações familiares através da orientação e cuidado com o
cuidador também, possibilitando à criança uma percepção de si como individuo de
desejos. Ou seja, é perceber nesta dinâmica familiar que sua construção sintomática traz
a marca da função simbólica dos pais, sem, no entanto, ser redutível a ela. Isto significa
reconhecer a ligação importante entre a criança e seus cuidadores fundamentais,
procurando delimitar um espaço no qual pais e crianças possam diferenciar suas
questões, imprimindo um cunho singular e único às suas narrativas. Finalmente, esse
processo pelo qual passa a criança e cuidador no trabalho psicoterápico grupal resulta na
compreensão dos psicodinamismos da criança e contribui para melhores resultados no
processo psicoterapêutico.
Palavras-chave: Familiares; psicoterapia infantil; psicoterapia de grupo
Apoio Financeiro: FUNDAP.
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CARACTERÍSTICAS AUTISTAS: O OLHAR PARA A CRIANÇA NA
PSICOTERAPIA GRUPAL.
Renata Santos Munhoz; Gisele Aparecida Godoy Merlin (Aprimoramento em
Psicologia da Saúde, Universidade Estadual Paulista – UNESP, Botucatu, São Paulo).
O autismo é parte de um grupo de síndromes do chamado “Transtorno Global do
desenvolvimento”. Definido como uma alteração que afeta a capacidade de
comunicação, de socialização e de comportamento do indivíduo, seu diagnóstico muitas
vezes é dado e sentido como uma sentença da qual não há libertação, um eterno
isolamento do mundo, reunido em um apanhado de espectros, tornando-se o autista, um
ser estranho, extinguido de sua singularidade e subjetividade. Esse rótulo acaba por
existir para aplacar a angústia do outro, sejam eles os pais, médicos ou a escola; tem se
tornado, se não um dos, o mal-estar da pós-modernidade. É pensando no ser humano
como um sujeito dinâmico, em construção e desenvolvimento que a equipe de
psicologia do ambulatório de saúde mental da criança e do adolescente do Hospital das
Clínicas da Unesp de Botucatu atende crianças que apresentam características autistas.
Atualmente a faixa etária dos pacientes varia de zero a dez anos e são divididos em dois
grupos principais: grupo de TGD e outro de zero a cinco anos, cujas sessões acontecem
semanalmente. A seleção é feita através da queixa trazida pelos responsáveis na triagem
e o atendimento é realizado com intuito de estimular o que a criança tem de singular,
incentivando no espaço grupal sua interação com os terapeutas e colegas, assim,
atribuindo significados aos seus desejos e reações, ajudando-os na busca pelo seu
subjetivo. Além disso, como em todos os grupos realizados nesse ambulatório, os
atendimentos são bifocais, ou seja, os familiares também são atendidos em psicoterapia
em outro grupo que acontece concomitantemente ao das crianças. Nele o tema principal
é a dificuldade em lidar com a criança autista, inclusive na questão da aproximação e
diferenciação entre eles como sujeitos. Aliando o atendimento dos dois grupos, o
terapeuta serve como modelo para esses familiares, que progressivamente se
reorganizam para uma dinâmica que inclui a criança, entendendo-a como um ser que
compreende e significa, porém necessita de ajuda para superar as dificuldades na
comunicação e interação, pois ainda estará passando pelo processo de individualização.
Com o desenrolar das sessões, a criança anteriormente tão bem marcada pelo estigma e
presa às amarras do transtorno global ou invasivo do desenvolvimento, passa a se
misturar às outras, a desenvolver uma comunicação compreensível e engajada, realizar
atividades contextualizadas e mais independentes e brincar com o outro se assim
desejar. Ou seja, aos poucos desconstrói e põe em dúvida o diagnóstico definido.
Palavras-chave: autismo; familiares; psicoterapia grupal.
Apoio Financeiro: FUNDAP.
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PSICOTERAPIA EM GRUPO PARA CRIANÇAS E FAMILIARES: EFICÁCIA
TERAPÊUTICA NO TRATAMENTO E NA CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO.
Eloísa Pelizzon Dib, Dra. Flávia Helena Pereira Padovani, Dra. Gimol Benzaquen
Perosa, Gisele Aparecida Godoy Merlin, Luana Valera Bombarda (Departamento de
Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu;
FMB/Unesp, Botucatu, São Paulo).
O paciente que adoece é representante de uma estrutura tanto individual como familiar.
À medida que se conhece essas estruturas, os aspectos relacionados ao adoecimento
poderão ser manejados como partes da mesma. Nossa experiência nos mostra que no
tratamento de crianças que apresentam sofrimento psíquico, a participação da família é
imprescindível. No Ambulatório de Saúde Mental da Criança e do Adolescente
(SAMECA) do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP),
o atendimento de crianças em psicoterapia grupal é realizado juntamente com o da
família. O tratamento ocorre concomitantemente, no qual duas terapeutas acompanham
o grupo de crianças, ao mesmo tempo em que outras duas conduzem o grupo de
familiares. No atendimento, a escuta, o acolhimento e o incentivo à expressão de
conteúdos internos possibilitam continência e suporte, oferecendo oportunidades para
trocas e reflexões dos relacionamentos e dificuldades do cotidiano, tanto da criança
como de seus familiares. Este trabalho visa promover uma reflexão sobre a eficácia do
atendimento de psicoterapia em grupo de crianças de 6 e 7 anos que apresentam
diferentes tipos de sofrimento psíquico, simultaneamente ao atendimento de seus
familiares. A proposta do grupo tem como objetivo promover às crianças e seus
familiares um espaço de orientação e reflexão sobre a problemática emocional e sua
relação com a dinâmica familiar, como proporcionar aos mesmos um momento de
elaboração de conflitos psíquicos, angústias e fantasias acerca de sua doença. Durante as
sessões identificam-se como temas mais frequentes trazidos pelos familiares:
dependência da criança, sentimentos ambivalentes, rejeição, culpa, omissão do pai,
problemas escolares, sexualidade, rebeldia, simbiose, entre outros. Algumas vezes, o
sintoma da criança pode representar a demanda materna e significar a resolução de seus
próprios conflitos internos na história pregressa de interação com seus pais. As
vivências em grupo com crianças nos permitem perceber que, muitas vezes, a demanda
trazida por estas, divergem daquela apresentada pelos pais. Ao utilizarem materiais
intermediários, atividades lúdicas e processos identificatórios com as outras crianças,
tais pacientes podem expressar seu sofrimento e desenvolver recursos para enfrentar
situações de conflito. Quando levados a considerar o sentido dos sintomas e sua relação
com a dinâmica familiar, abrem-se novas possibilidades, operam-se mudanças. O
importante nos grupos é trabalhar com as crianças e seus familiares, no sentido de fazê-
los perceber o que os estão levando a apresentar determinado tipo de comportamento,
podendo ressignificar a suas atitudes tanto para si quanto para outras pessoas, com
quem se relacionam. Portanto, observamos que a intervenção apresentada, favorece a
possibilidade de não só a criança, mas também seus familiares, se apropriarem e se
comprometerem com o tratamento dos sintomas por eles trazidos, na tentativa de
elaboração e resolução dos conflitos, com investimento emocional dos mesmos,
gerando efeitos na relação familiar e no desenvolvimento da criança, o que torna o
relacionamento com esta, emocionalmente mais adequado. Consequentemente, observa-
se o quanto a criança se sente reconhecida e cuidada no ambiente familiar após essa
técnica grupal.
Palavras-chave: Psicoterapia em grupo; atendimento de crianças e familiares;
sofrimento psíquico.
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A SAÚDE MENTAL INFANTO-JUVENIL E OS SERVIÇOS DISPONÍVEIS
PARA SEU ATENDIMENTO EM UMA INSTITUIÇÃO DE NÍVEL DE
ATENÇÃO SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA DE SAÚDE.
Gabriela Callile Marques de Paula, Laura Keiko Hyppolito e Gisele Aparecida Godoy
Merlin (Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria, Faculdade de Medicina
de Botucatu - SP, UNESP).
Estudos epidemiológicos, realizados no Brasil e no mundo, vêm apontando para o
representativo número de incidências de transtornos mentais em crianças e adolescentes.
Esses estudos nos chamam atenção para a importância de haver oferta de serviços
qualificados e articulados, afim de dispender maior atenção e promover ações que visem
à prevenção e promoção em saúde mental, através de diagnóstico e tratamento precoce
dos mesmos, para diminuir a incidência, gravidade e cronificação de casos na idade
adulta, bem como suas consequências. O Ministério da Saúde vem se organizando e
construindo equipamentos e ferramentas para melhoria da atenção à saúde mental da
criança e do adolescente, visando os cuidados e modificação do modelo institucional.
Em conformidade com as exigências, dos documentos oficiais, criou-se os Centro de
Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi), que constituem serviços de média e grave
complexidade, que priorizam o atendimento de transtornos mentais graves na população
infanto-juvenil. Dessa forma, o principal dispositivo criado pelo Ministério da Saúde
não atende a todas as necessidades da saúde infanto-juvenil. Nesse contexto, outros
dispositivos seriam necessários, articulando uma rede, em que estariam envolvidos
Ambulatórios, Atenção Básica, Serviços Projetos socioeducativos, Centros de
Convivência e Cultura, entre outros espaços dentro das cidades. Porém, as estratégias
nos demais níveis de atenção à saúde e rede de assistência se apresentam pouco
delineadas para essa população específica, exceto para transtornos mentais graves,
assim como, se apresenta difícil a articulação entre todos esses setores. Considerando
tais implicações para a saúde mental da população infanto-juvenil, bem como a
importância em haver oferta de serviços que atendam aos interesses dessa população, o
presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise qualitativa de caráter
descritivo de um serviço especializado: o Ambulatório de Saúde Mental da Criança e do
Adolescente (SAMECA) do Hospital das Clínicas da FMB/UNESP – Botucatu, que
atende à sua cidade e região, a fim de ampliar o conhecimento deste e pensar em
propostas para implementação de melhorias no atendimento e oferta de serviços
realizados, bem como a melhoria na articulação da rede de cuidados a essa população.
Pode-se observar que, mesmo se tratando de um serviço especializado que atende
Botucatu e região, há presença de dificuldades tanto relacionadas à questões de espaço
físico, quanto à falta de profissionais, tendo em vista a grande demanda de pacientes
atendidos e acolhidos neste serviço. Entretanto, constata-se que tal dispositivo de
atendimento em saúde mental conta com uma boa articulação com a rede básica de
saúde e, além de proporcionar diagnóstico e tratamento em saúde mental à população,
realiza atividades direcionadas ao ensino, como supervisões, discussões de casos e
reuniões multidisciplinares, ações que fazem parte da formação de profissionais na área
da saúde mental.
Palavras – chave: SUS; Saúde mental; Criança e adolescente.
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ATENÇÃO E CUIDADO NO ATENDIMENTO A FAMÍLIAS E CRECHES: UM
OLHAR SOBRE O DESENVOLVIMENTO INFANTIL.
Camila Duarte; Camila Rippi Moreno; Douglas Linhares Coelho; Mayara Aparecida
Bonora Freire; Rafaela Biagio Felix; Tatiana de Oliveira Guerra; Thaís Rodrigues de
Sousa; Mary Yoko Okamoto (Departamento de Psicologia Clínica - Universidade
Estadual Júlio Mesquita Filho, Câmpus Assis - SP).
Trata-se de um projeto de extensão realizado em uma escola de educação infantil do
município de Assis/SP que objetiva identificar as principais dificuldades dos cuidadores
em relação às crianças e propiciar espaços que permitam reflexões sobre infância e
família, pautadas nas contribuições da Psicologia, buscando auxiliar no
desenvolvimento integral das crianças. A contemporaneidade trouxe a presença
marcante do efêmero, o instável torna-se parte das relações e permeia a experiência
cotidiana, levando à maior demanda para o atendimento infantil em clínicas
psicológicas nos últimos anos. Os cuidados e a educação das crianças extrapolam o
âmbito exclusivamente familiar; estas logo são inseridas nas escolas de educação
infantil. Com base no perfil da dinâmica familiar atual, crianças entre 0 a 5 anos passam
a maior parte do dia em creches; a instituição torna-se, portanto, um ambiente
imprescindível para o desenvolvimento infantil. Este aspecto do espaço, entrelaçando-se
também à importância do âmbito afetivo e social, colabora decisivamente para o
desenvolvimento simbólico das crianças, fazendo-se necessário que a escola repense
sobre o seu papel e função desempenhados com as crianças e as famílias, no sentido de
atender adequadamente às demandas. Nesse projeto, realizamos encontros mensais com
os pais e os educadores separadamente, nos quais discutimos temas sobre o
desenvolvimento infantil, aspectos sociais, cognitivos e afetivos da criança, bem como
sobre o desempenho das funções de pais e professores, considerando a teoria
psicanalítica e sempre enfatizando a importância do ambiente. A cada encontro discute-
se coletivamente o tema para o próximo, conforme os interesses e necessidades
levantadas. Semanalmente, fazemos observações das atividades realizadas com as
crianças em ambiente escolar e supervisões monitoradas pela coordenadora do projeto
objetivando o preparo e a discussão teórica para os encontros com professores e pais, as
dificuldades e os avanços obtidos nas atividades. Acontecem, quinzenalmente,
atividades musicais, cujo objetivo é contribuir para o desenvolvimento da capacidade de
simbolização e musicalização das crianças. Percebemos interesse na participação de
ambos os grupos. Verificou-se que o espaço oferecido funciona como local de
continência, no qual pode-se compartilhar angústias e dúvidas vividas na rotina e refletir
sobre o papel e a função desenvolvidos na relação com as crianças. Muitos pais
apresentam-se inseguros e culposos, submetendo-se aos desejos das crianças,
atribuindo-lhes responsabilidades precoces. Vários professores demonstram-se confusos
em relação à função de educador/cuidador e com dificuldades em diferenciar, nos
comportamentos das crianças, características consideradas “normais” ao
desenvolvimento. Com base nesse processo, fica evidente que o enfraquecimento e
fragilidade das funções cuidadoras têm outra consequência, a atribuição de uma
autoridade às crianças, as quais passam a ser compreendidas como poderosas e
exigentes, enquanto estes tornam-se reféns das mesmas. No momento em que há um
espaço para a reflexão, pais e professores podem sentir-se mais confiantes no exercício
de suas funções, reconhecendo a importância que têm para o desenvolvimento das
crianças. É necessário, assim, ofertar um espaço para a família no contexto escolar, com
um olhar de atenção e cuidados para a compreensão do comportamento infantil que
possa contribuir para a minimização da visão patologizante sobre as crianças.
Palavras-chave:
Apoio PROEX
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EXPERIÊNCIAS DE INTERVENÇÕES PSICANALÍTICAS COM CRIANÇAS
AUTISTAS EM UMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL.
Camila Delatin de Toledo; Camila Rippi Moreno; Diego Tenorio Batista; Larissa
Pereira Gonçalves; Maria Cristina Gonçalves; Marilia Munhoz Bezerra; Nathália
Senger Medeiros; Rafaela Luana Câmara; Jorge Luis Ferreira Abrão (Departamento de
Psicologia Clínica - Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho - Câmpus Assis – SP).
O autismo começou a ser estudado por Leo Kanner, psiquiatra americano, na década de
1940 e, atualmente, está classificado segundo DSM-IV, como Transtorno Global de
Desenvolvimento, ou ainda como Transtorno Invasivo do Desenvolvimento pelo CID-
10, sendo suas principais características: dificuldade na interação social e estabelecer
vínculos afetivos; prejuízo acentuado na aquisição e no uso da linguagem e presença de
comportamento estereotipado e repetitivo. É necessário ainda que os sintomas se
manifestem antes dos 36 meses de idade. De acordo com a teoria psicanalítica o brincar
é um elemento de extrema importância para a constituição da subjetividade da criança,
uma vez que por intermédio da atividade lúdica a criança pode demonstrar tanto suas
experiências de prazer quanto as de desprazer, expressando seus sentimentos e conflitos
inconscientes, podendo assim, ressignificá-los e elaborá-los. Em crianças que
apresentam graves transtornos de desenvolvimento evidenciamos um prejuízo na
capacidade simbólica e por extensão, uma grande dificuldade no desenvolvimento de
atividades lúdicas. O presente projeto de extensão universitária tem como objetivo
principal favorecer o desenvolvimento da capacidade cognitiva e emocional das
crianças atendidas, sob a luz das perspectivas teóricas psicanalíticas de Klein e Bion,
por intermédio da realização de atividades lúdicas acompanhadas por estagiários de
psicologia. Os estagiários atuam em um centro de atendimento especializado - Fênix:
Educação para Autistas, na cidade de Assis, procurando favorecer a expressão de
sentimentos e ideias das crianças atendidas por intermédio do brincar. A convivência
com as crianças portadoras deste transtorno comprovou que, apesar de seus
comprometimentos marcados por um forte retraimento da interação social e da
comunicação, elas podem se desenvolver e estabelecer contato afetivo e social com as
outras pessoas. O precário desenvolvimento da capacidade simbólica da criança autista
é um dos fatores que contribui para o aparecimento de sintomas, desta forma, propor
estratégias de intervenção que ofereçam a criança autista possibilidades de uma melhor
expressão simbólica tem ampla repercussão, tanto em seu desenvolvimento emocional
quanto cognitivo. Até o momento, dentre os resultados observados, pode-se destacar
que as tendências iniciais das crianças se resumiam a aproximar-se dos brinquedos de
forma estereotipada e, posteriormente, com o desenrolar das atividades evidencia-se
uma ampliação de suas capacidades simbólicas, representadas pelo brincar mais
diversificado, coletivo e com maior interação uns com os outros e com os estagiários.
Por meio dos resultados verificados até o momento, podemos concluir que por
intermédio das atividades lúdicas realizadas na brinquedoteca, ocorreu uma ampliação
da capacidade simbólica das crianças, através da diversificação e ressignificação das
brincadeiras. Além disso, evidenciou também um rudimento de interação entre os
participantes do grupo, que passaram a considerar a presença do outro e a interagir a
partir dela.
Palavras chave: criança; autismo; brincar.
APOIO: PROEX.
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CLÍNICA PSICANALÍTICA COM CRIANÇAS: O PAPEL DAS MÃES NÃO
SUFICIENTEMENTE BOAS NAS DEMANDAS PSICOLÓGICAS DE SEUS
FILHOS.
Dra. Diana Pancini de Sá Antunes Ribeiro, André Masao Peres Tokuda, Bruna Isabella
Russo (Departamento de Psicologia Clínica - Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” - Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Assis-SP).
O presente trabalho tem como base teórica os preceitos do psicanalista e pediatra inglês
Donald Winnicott, que será utilizada para analise psicanalítica de casos que estiveram
em atendimento em psicoterapia psicanalítica individual em um serviço-escola de uma
universidade pública do interior do estado de São Paulo. Entendemos a importância dos
primeiros cuidados oferecidos ao bebê como fundamentais na constituição de sua
humanização. O primeiro cuidador, em geral a mãe que o gestou, assume importância
fundamental no processo de amadurecimento de seu filho. Ao exercer as três funções
maternas - handling, holding e apresentação de objetos -, de acordo com Winnicott, a
mãe possibilita que este possa seguir rumo ao amadurecimento, exercendo sua tendência
inata à integração. Esta mãe é chamada de suficientemente boa ao adaptar-se as
necessidades do bebê, por meio dos cuidados que oferece, na condição denominada, de
preocupação materna primária. Este estudo analisa atendimentos psicoterápicos de
crianças que sofreram falhas ambientais precoces em virtude da depressão pós-parto
vivenciada por suas mães. Estas mães possivelmente podem ser consideradas como não
suficientemente boas, na medida em que, em acordo com a Teoria do Amadurecimento
Pessoal de Winnicott, não puderam ir ao encontro das necessidades iniciais de seus
filhos recém nascidos. Os sintomas apresentados por estas crianças na atualidade,
agressividade, impulsividade, desobediência às regras, bem como a falta de continência
dos cuidadores e a necessidade das mães de levar os filhos para serem cuidados por
diferentes especialistas (psicólogo, psicopedagogo e psiquiatra), nos remetem à hipótese
de falhas ambientais primitivas. Estas mães parecem se encaixar na categoria de mães
que não conseguem se entregar à condição da preocupação materna primária, sendo
incapazes de estabelecer uma empatia com o bebê e não podendo oferecer-lhes, em
principio, o necessário suporte egóico. Estas crianças denotam não se sentir seguros no
ambiente para amadurecer, solicitando que o meio vá ao encontro de suas necessidades
iniciais de humanização. São definidas três categorias de mãe não suficientemente boa:
1) a mãe psicótica: aquela que pode atender as necessidades do bebê, mas não é capaz
de se separar quando necessário; 2) A mãe que não pode se entregar à preocupação
materna primária: que pode se achar por demais deprimida ou preocupada com algo e
posteriormente pode vir a procurar um terapeuta para seu filho o que pode ser visto
como forma de compensação por achar que o privou de algo precocemente; 3) A mãe
atormentadora, que violenta os sentimentos do self do bebê com sua inconstância. Em
sua maioria na clínica com crianças nos deparamos com a mãe da segunda “categoria”,
que, mesmo tardiamente, procura ser boa ao seu filho procurando auxílio para seu
amadurecimento. Em todos os casos o que parece ser de supra importância na clínica
psicanalítica com crianças é a não culpabilização das mães, mas a responsabilização de
todo um contexto nos cuidados a serem oferecidos tendo em vista as necessidades dos
bebês e as necessidades das crianças em suas demandas pessoais.
Palavras-chave: Psicanálise com crianças; Winnicott; Mães suficientemente boas.
Apoio financeiro: PROEX
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MANEJO CLÍNICO COM CRIANÇAS ADOTADAS E SEUS FAMILIARES.
Elisa Mariana Carvalho Ribeiro; Larissa Bergamo Zanardo; Fábio Henrique Martins
Silva; Melissa Yumi Suzuki; Mariana Frizzas; Barbara Nunes; Thyfani Domingues;
Fernando Silva Teixeira Filho (Departamento de Psicologia Clínica, UNESP FCL
Assis- SP; Grupo de Estudos e Pesquisas sobre as Sexualidades - GEPS).
Consideramos a adoção como uma possibilidade legítima de configuração familiar.
Porém, não é incomum que muitas famílias procurem tratamento psicológico por
acreditarem que a adoção em si mesma implique em “traumas” para a criança adotada.
Felizmente, sabemos que a adoção em si não é problemática. Então, por que isso
ocorre? Por que e como estas famílias acreditam que a adoção seja “traumática”? A
prática de adoção de crianças está entre muitos outros campos de nossa existência que
são produzidos e guiados pelos discursos normatizadores. Tais discursos, nesta
conjuntura, são fundamentados a partir de uma matriz bioparental, que reforça o
binômio filho/a adotivo/a versus filho/a biológico/a. Através da modalidade de
intervenção e atendimento que oferecemos pretendemos analisar os efeitos dessa matriz
em crianças adotadas. Por meio de nossa atuação clínica visamos proporcionar
atendimento psicológico à crianças e/ou adolescentes cujo sofrimento esteja associado à
estigmatização da adoção, bem como informar e orientar famílias adotivas acerca do
conteúdo preconizado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim busca-se uma
re-significação da adoção como uma das práticas sociais e subjetivas estruturantes da
família, no sentido de contribuir para a promoção da cidadania e direitos das pessoas
adotadas (ou em vias de adoção) e seus familiares. Objetiva-se, desse modo, criar uma
nova cultura da adoção em nossa comunidade por meio do projeto “Laços de Amor:
Adoção, Gênero, Cidadania e Direitos”. Desde sua criação em 2006, este oferece
atendimento psicológico individual a filhos adotivos ou em processo de adoção. Nosso
trabalho envolve também a elaboração de cines-debates e Jornadas discutindo a
temática e suas vicissitudes, bem como a distribuição de materiais informativos com
reflexões sobre os diversos modos de adoção e a produção de textos e artigos.
Realizamos, em paralelo, apresentações dos resultados de nosso trabalho em eventos
acadêmicos e da militância pró-adoção. O projeto já totalizou 46 atendimentos desde
sua criação em 2002. De modo geral, o que problematizamos e questionamos em nossa
atuação junto a estas crianças e/ou adolescentes e suas famílias gira em torno das
perguntas: “O que possibilita a um grupo de pessoas ser chamado de família?, e mais,
do lado da pessoa adotada: “o que queres de mim para que eu “pertença” a ti?”.
Questões que remetem diretamente à legitimidade dos laços de amor em detrimento dos
constituídos por laços bioparentais, expresso, por exemplo, no uso indiscriminado do
binômio “mãe/pai biológica/o” e “mãe/pai adotiva/o”, quando, em nossa língua, em
substituição à “mãe/pai biológica/o”, temos a palavra genitor/a, a qual quase nunca é
usada. Como conclusão, acreditamos que o processo terapêutico auxiliou e ainda auxilia
estas pessoas a encontrarem suas próprias respostas a estas questões. Do ponto de vista
social, a pergunta que as interpela subjetivamente, advém, justamente, da produção de
verdade em torno dos laços biológicos em detrimento dos laços de amor no qual estão
inseridas. É, a partir desta constatação, que o atendimento clínico-psicológico deve
investir na desnaturalização desta premissa relativa à filiação/parentalidade, bem como
na desconstrução dos mecanismos históricos que fazem dela uma verdade inexorável na
produção da subjetividade.
Palavras-chave: Infância; Adoção; Psicologia Clínica.
Apoio financeiro: PROEX e PIBIC.
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VIVÊNCIAS LÚDICAS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
INSTITUCIONALIZADOS.
Karina Xavier Mello; Jussara De Bortoli; Cleide Silvane Wachholz; Verônica Suzuki
Kemmelmeier (Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO, Departamento
de Psicologia, Irati, PR, Brasil).
O presente estudo busca apresentar o trabalho realizado por meio do Projeto de extensão
Integração no abrigo: vivências lúdicas, desenvolvido em instituições de abrigo de uma
cidade do interior do Paraná. Este projeto teve início em 2012, com o intuito de
promover a integração entre as crianças e adolescentes em situação de abrigamento,
visando o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo das mesmas, a reconstrução da
história de vida dessas, bem como a busca em propiciar um ambiente agradável. O
projeto é formado por dez estudantes de psicologia que atuam semanalmente nas
instituições da cidade, desenvolvendo atividades lúdicas. Desse modo, baseou-se na
concepção legislativa de que as instituições de abrigo devem prestar serviços de
qualidade, condizentes com os direitos e as necessidades físicas, psicológicas e sociais
de crianças e adolescentes. Isto corresponde com o que alguns autores sugerem, sobre a
importância de proporcionar aos abrigados, ambientes mais saudáveis, com maior
segurança, estabilidade e promotores de resiliência, de forma a tornar um local no qual
exista fatores de proteção para o desenvolvimento humano, visto que essas crianças só
podem se estruturar novamente se o ambiente onde se encontram garantir que isso seja
possível. Para tanto, a literatura aponta que as instituições responsáveis devem se
organizar e se estruturar de forma a atender às necessidades das crianças, considerando
que apesar do caráter transitório da instituição, seu papel não deve se limitar a um
ambiente no qual a criança somente passe o tempo, aguardando outra solução para sua
vida, é essencial que o abrigo exerça uma função terapêutica, associando qualidade do
cuidado a um espaço no qual a criança possa explorar, manipular, movimentar-se,
experimentar. Dessa forma, este estudo pretende compartilhar a experiência em uma
instituição não governamental, com nove crianças e adolescentes, sendo estes com
idades de cinco a quinze anos. As atividades lúdicas desenvolvidas são voltadas a
reflexões sobre auto-conhecimento, cotidiano, medos, desejos e vínculos afetivos. Tais
atividades são realizadas através de desenhos, cartazes, pinturas, brincadeiras, diálogos,
ações e outros recursos que são utilizados para engrenar uma discussão acerca da
temática. Percebeu-se que a instituição tem grande dificuldade em trabalhar as questões
que conduziram ao abrigamento, constituindo-se, a história de vida desses sujeitos,
como um tabu dentro da instituição. Em vista disso, observa-se a importância de
intervenções psicológicas nessas instituições, no sentido de resgatar os aspectos
vivenciados pelas crianças e adolescentes, visto que quanto mais escassos os fragmentos
de memória sobre seu passado, mais auxílio necessitam para evitar a criação de uma
falsa história, eventualmente deformada por lembranças e fantasmas passíveis de
tornarem-se penosos fardos para suportar.
Palavras-chave: Vivências Lúdicas; Abrigos; Crianças/adolescentes.
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A IMPORTÂNCIA DA TEORIA DO AMADURECIMENTO PESSOAL EM
WINNICOTT PARA SE AVALIAR AS NECESSIDADES DE PACIENTES.
Gabrieli Franciscatti Dias (UNESP – Assis/São Paulo); Dra. Diana Pancini de Sá
Antunes Ribeiro (Departamento de Psicologia Clínica, UNESP – Assis/São Paulo).
O presente trabalho tem como objetivo articular a teoria winnicottiana sobre o
amadurecimento pessoal e a psicopatologia subjacente às etapas de amadurecimento de
cada ser humano, que é vivenciada de modo muito particular e articulada com os
contextos nos quais cada um vive. A partir dos estudos teóricos sobre desenvolvimento
humano, articulada também por meio de sua prática em consultório médico, foi possível
a Winnicott chegar a uma Teoria de Amadurecimento Pessoal. Com embasamento na
Teoria do Amadurecimento Pessoal pode-se buscar uma compreensão acerca da
natureza dos distúrbios, com aspectos que indiquem a etapa em que houve falhas
ambientais que tenham dificultado o processo maturacional e, a partir do momento
possível deste ‘trauma’, traçar um psicodiagnóstico. Este não é de natureza somente
pessoal, mas também social na medida em que busca compreender qual o cuidado
oferecido para aquele paciente ao longo de sua vida, a partir de seu nascimento, ou até
mesmo de sua concepção. Por meio deste psicodiagnóstico se pode considerar qual
setting é necessário para aquele paciente. A psicopatologia subjacente às posições
propostas por Winnicott, de dependência absoluta, dependência relativa e busca pela
independência, sempre relativa, pelo ser humano nos possibilita, portanto, inferir qual a
constituição defensiva de cada paciente e, então, buscar uma adaptação às suas
necessidades de relacionamento humano para retomar seu processo maturativo
emocional. Ainda segundo Winnicott, as necessidades de um paciente com falhas na
posição de dependência absoluta, correspondente aos primeiros quatro ou cinco meses
de vida, aproximadamente, devem ser bastante diferenciadas daqueles com falhas na
dependência relativa, que vai dos quatro meses até os dois anos e meio,
aproximadamente. Falhas na dependência absoluta solicitam manejo de setting
específico para que os pacientes vivam as primeiras experiências constitutivas na
presença do terapeuta, pois a psicopatologia é, em geral, de ordem psicótica, falso-self
ou borderline, tais como a esquizofrenia infantil ou autismo, a esquizofrenia latente e a
personalidade esquizóide. Já as falhas na dependência relativa, remetem à tendência
antissocial, à hipocondria, à paranóia, à psicose maníaco-depressiva e algumas formas
de depressão e solicitam uma atuação do contexto no qual a criança vive, além de um
setting semelhante ao proposto por Freud para esta psicopatologia quando falamos de
neurose. Ao realizar análise de cada paciente de maneira a considerar em qual posição
de amadurecimento pessoal este se encontra, o psicólogo fica em melhor preparo para
possíveis mudanças de demanda, já que com a retomada do seu amadurecimento
pessoal, ou seja, de constituição de personalidade sem necessidade de uso de defesas
para proteger o self verdadeiro, suas necessidades poderão variar durante o transcorrer
do tratamento. O brincar, para Wininicott é considerado terapêutico por si, tenha o
paciente características defensivas neuróticas ou psicóticas. Pode-se concluir que a
questão maior seja quando o paciente ainda não consegue brincar, vivenciar uma
experiência de jogo completa, e precisar fazê-lo na presença de outro que se adapte às
suas condições psíquicas, que pode ser o terapeuta ou outro ser humano que seja
sensível e reconheça sua necessidade inicial.
Palavras-chave: Psicanálise; Winnicott; Psicopatologia.
Apoio Financeiro PROEX
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INTERVENÇÃO NAS RELAÇÕES INICIAIS PAIS-BEBÊ: FAVORECENDO
CONEXÕES.
Monique Vaz Marques; Cecília Harumi Tomizuka. Orientadora: Mariângela Mendes de
Almeida (Setor de Saúde Mental/ Departamento de Pediatria / Universidade Federal de
São Paulo – São Paulo/SP).
Este trabalho tem por objetivos apresentar a modalidade de atendimento baseado nos
aportes psicanalíticos (D. W. Winnicott, S. Lebovici, F. Dolto), a Intervenção nas
Relações Iniciais Pais-Bebês, e ilustrá-la com recortes de um caso clínico atendido no
Setor de Saúde Mental da Universidade Federal de São Paulo. A Intervenção nas
Relações Iniciais Pais-Bebês tem como proposta o atendimento conjunto pais, bebês e
terapeutas, em um setting permeado por diversas formas de comunicação (verbal, não
verbal, lúdica) que possibilita dar voz a conflitos existentes nos respectivos núcleos
familiares e conectá-los com os microeventos que ocorrem ao vivo, na sessão, por meio
intervenções de valor metafórico compartilhados com toda a família. A demanda para
tal atendimento geralmente surge a partir do olhar dos pais/cuidadores para algum sinal
de risco no desenvolvimento da criança ou questões conflitivas na interação entre eles.
A proposta inicial de trabalho são quatro a seis sessões, incluindo o núcleo familiar da
criança e duas terapeutas. O caso descrito será o de Enzo, uma criança de três anos e
sete meses que, dentro de seu sistema familiar, mantinha-se como porta-voz das
angústias maternas e como depositário de um mandato intergeracional que o
impossibilitava de ter sua própria identidade construída. A queixa inicial trazida pela
mãe era agressividade no contexto escolar e foram realizados onze atendimentos no
formato referido acima. O espaço de acolhimento oferecido nos atendimentos, sendo
facilitador para expressão de fantasias e angústias da mãe, possibilitou que “tabus”
pudessem deslocar-se do campo da atuação para o verbal: todos puderam ouvir o que
antes não era dito. Enzo expressava-se simbolicamente por meio de brincadeiras e
histórias, mostrando-se conectado ao que emergia verbalmente de sua mãe. Tal
comunicação que, inicialmente, não era compreendida por ela, pôde, a partir de
apontamentos empáticos das terapeutas com a díade, ir ressignificando-se e tomando
novos rumos. Ao final do atendimento, a queixa inicial trazida pela mãe havia cessado e
houve um favorecimento na conexão entre mãe e filho e suas “comunicações”: lúdico e
verbal associaram-se. Puderam, então, participar ativamente do fechamento dos
atendimentos, brincando de conto de fadas, onde o “cavaleiro” já não conseguia mais
salvar a “princesa” dos perigos, e esta, teria de se haver consigo mesma e seus conflitos.
A partir do recorte do caso, pode-se concluir o quão significativos foram os
atendimentos para a dupla mãe-bebê, remitindo sintomas e possibilitando um novo
olhar para a relação.
Palavras-chave: Relação pais-bebês; intervenção precoce; caso clínico.
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O TERAPEUTA INFANTIL EM FORMAÇÃO NOS INSTERSTÍCIOS DE
AMBIENTES (IN) SUFICIENTEMENTE BONS E AS PRÁTICAS CLÍNICAS
NA CONTEMPORANEIDADE. Irene Kill Dias (Faculdades Adamantinenses Integradas - (FAI) Adamantina – SP); Ana
Vitória Salimon C. dos Santos (Faculdades Adamantinenses Integradas – (FAI),
Adamantina – SP). O presente trabalho busca analisar estratégias clínicas utilizadas para atendimento de
uma criança do sexo masculino, 9 anos, estudante do 4º ano do Ensino Fundamental,
com queixa de agressividade e comportamento de risco com colegas, encaminhada à
uma Clínica-Escola de Psicologia, num município paulista. Queixas agressivas entre
crianças têm aumentado na Clínica-Escola, suscitando reflexões sobre a adequação das
estratégias interventivas utilizadas, bem como seu impacto na formação do terapeuta.
Winnicott (1975) descreve que se o ambiente fornece cuidados satisfatórios e mostra-se
capaz de reconhecer e integrar essa manifestação humana, a fonte agressiva integra-se à
personalidade total do indivíduo e será elemento central em sua capacidade de
relacionar-se. Se não integrada, ela terá que ser cindida ou resultara em comportamento
antissocial. Caberia ao terapeuta proporcionar-lhe um ambiente suficientemente bom,
que permitisse elaborar aspectos de seu desenvolvimento. Para compreender as questões
propostas foi realizado um estudo qualitativo, aliando-se pesquisa ao serviço prestado
pelo Estágio Supervisionado em Psicologia Clínica. Realizado como pesquisa-ação de
base psicanalítica que se iniciou dentro das práticas tradicionais ludoterápicas,
ocorreram entrevistas de anamnese periódicas com a genitora, atendimentos semanais
com o paciente, sendo as intervenções modificadas ao longo desses. O paciente é o
terceiro filho de um casal separado há dois anos, o pai tem uma filha com outra parceira
e a mãe reside com os filhos junto aos avós maternos, trabalhando como cuidadora de
idosos. As queixas caracterizam-se por destruição material e agressões físicas, ocorridas
predominantemente na escola. Em casa e nos atendimentos, o paciente é ativo,
receptivo, apresenta linguagem e raciocínios adequados. Suas atitudes mudaram após a
separação conjugal e com nascimento da irmã. Podem-se avaliar questões familiares
significativas, como o exercício das funções paternais, Devido as faltas do paciente e
pelas regras da clínica, ele seria desligado, e assim, qual a possibilidade em fazer algo
por ele? Tal questionamento somado a angústias da terapeuta, de perceber suas
necessidades, levou a uma intervenção clínico-social, passou-se a contatar outros órgãos
locais: escola, APAE, Ambulatório de Saúde Mental. Por sua conduta inadequada na
escola, foi desligado do projeto sócio-educativo que frequentava; foi encaminhado à
avaliação em Saúde Mental e diagnosticado como portador de Transtorno de Conduta,
sendo medicado com antidepressivo-calmantes. Concomitante ao atendimento no
NUPFAI iniciou uma avaliação no Ambulatório de Reabilitação Global da APAE,
focando a questão da possível hiperatividade, porém não concluindo a avaliação, pois
entenderam que seu desempenho foi alterado pela medicação, sendo repetida
futuramente. Assim, vê-se construir uma perspectiva iatrogênica. Demonstrando que o
ambiente que esta inserido não se caracteriza como suficientemente bom e apresenta
dificuldades para auxiliá-lo na organização de impulsos e desenvolvimento criativo.
Reforçando o sentimento de impotência do terapeuta, visto a complexidade envolvida
nas vertentes sociais. Até o momento, o trabalho tem sido acolher a genitora, buscar o
paciente às sessões e buscar um diagnóstico mais preciso. Conclui-se pela insuficiência
das técnicas tradicionais, pela importância de setting terapêutico diferenciado e pela
necessidade do trabalho em rede unindo paciente, NUPFAI, família e instituições em
prol da potencialização do processo psicoterapêutico e existência humana.
Palavras-chave: Clínica-escola, psicoterapia infantil, Winnicott.
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A PSICANÁLISE DE CRIANÇAS SOB O OLHAR DE MELANIE KLEIN E
ANNA FREUD.
Iúri Yrving da Silva Müller; Jorge Luís Ferreira Abrão (UNESP – Univ. Estadual
Paulista - Assis –SP).
A consolidação da psicanálise de crianças começa na primeira década do século XX,
com Hermine Von Hug-Helmuth, estimulada por Freud. Entretanto, é de domínio
comum a todos que se interessam por esta modalidade de atendimento infantil, que seu
primórdio foi marcado por grandes controvérsias entre suas principais fundadoras:
Melanie Klein e Anna Freud. Em 1927 Anna Freud publica o livro O Tratamento
Psicanalítico de Crianças. No presente trabalho, ela expõe seu posicionamento diante
da análise de crianças, apontando as características básicas que definiam sua técnica.
No mesmo ano, Klein apresenta o trabalho “Simpósio sobre Análise de Crianças”.
Neste artigo a psicanalista faz fortes críticas ao livro de Anna Freud. A crítica por não
acreditar no estabelecimento da situação analítica, evitar a transferência negativa,
utilizando somente a transferência positiva para ligá-la a criança; considerar que não há
possibilidade de trabalho analítico completo porque a criança tem poucos recursos
verbais para a associação livre; rejeitar a ludoterapia, preferindo desenhos e associações
sobre os sonhos da criança; não acreditar que o motivo principal para a criança brincar
seja simbólico e que o brincar corresponde à associação verbal do adulto; e postular que
a criança não cria neurose de transferência. Outro ponto de embate entre Klein e Anna
Freud, discutido no simpósio, era de que a filha de Freud presumia que o superego da
criança se forma lentamente e que a influência pedagógica exercida pelo analista
poderia modificar o superego da criança, preconizando que o analista devia tomar a
dupla função de analisar e educar, assumindo, dessa forma, a direção da personalidade
da criança. Com o passar do tempo, Anna Freud acabou dando razão a sua oponente em
vários aspectos. Descartou a função educativa do analista e passou a atender crianças
abaixo do período de latência, até com dois anos de idade. Aceitou a técnica lúdica
como necessária, ampliando os tipos de distúrbios aceitos para tratamento. Dessa
maneira, o principal objetivo desse trabalho, é acompanhar uma parte da história dessa
especialidade sob o olhar das divergências entre Melanie Klein e Anna Freud,
concluindo que foi a partir dessas duas escolas psicanalíticas, que muitos avanços foram
conquistados na análise infantil.
Palavras-chave: Melanie Klein; Anna Freud; Psicanálise de Crianças.