idosos-necessidades de aconselhamento em diferentes contexto
TRANSCRIPT
-
Universidade do Algarve
Faculdade de Cincias Sociais e Humanas
IDOSOS: NECESSIDADES DE ACONSELHAMENTO EM
DIFERENTES CONTEXTOS
(Dissertao para a obteno do grau de mestre em Psicologia- especializao em Psicologia da Sade)
Slvia do Carmo Martins Guerreiro
Faro (2008)
-
NOME: Slvia do Carmo Martins Guerreiro DEPARTAMENTO: Departamento de Psicologia ORIENTADOR: Gabriela Maria Ramos Gonalves DATA: 13 de Maro de 2008 TTULO DA DISSERTAO: IDOSOS: NECESSIDADES DE ACONSELHAMENTO EM DIFERENTES CONTEXTOS. JRI: Presidente: Doutor Jos Carlos Pestana dos Santos Cruz, Professor Auxiliar da Faculdade de Cincias Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. Vogais: Doutora Maria Filomena Lopes Capito Bayle, Professora Associada do Instituto Superior Dom Afonso III de Loul. Doutora Gabriela Maria Ramos Gonalves, Professora Auxiliar da Faculdade de Cincias Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.
-
AGRADECIMENTOS
Desde o incio ao trminus deste estudo, houve todo um percurso desenvolvido. Percurso
este, repleto de avanos e vrios recuos, de reformulaes e de pequenos passos que
diariamente conduziram ao todo final. Neste longo percurso no estive s, pois justo que,
ao finalizar, lembre algumas pessoas que pelo seu apoio, cumplicidade, pacincia, estmulo,
disponibilidade e at carinho, me ajudaram a concretizar os meus objectivos.
- minha Orientadora, muito especial, Professora Gabriela Gonalves;
- A Santa Casa da Misericrdia de Loul;
- Aos idosos aos quais foram aplicados os questionrios;
- Ao meu pai, Fernando Guerreiro;
- minha me, Maria Nomia Guerreiro;
- minha mana, que muito me ajudou, Fernanda Guerreiro;
- Ao meu namorado, Filipe Bento;
- s minhas queridas avs. Deolinda. Alice.
- Aos meus amigosaos meus colegas. C.N.O.
A TODOS MUITO OBRIGADO.
-
RESUMO Nas ltimas dcadas a populao da terceira idade, maiores de 65 anos tem
aumentado quer em nmero, quer em proporo. Esta problemtica adquire cada vez mais
relevncia e actualidade, quer a nvel nacional, quer a nvel mundial, dado o crescimento da
populao idosa.
O propsito desta investigao, foi abordar o fenmeno do envelhecimento
observando as necessidades de aconselhamento percepcionadas pelos idosos em trs grupos
distintos.
O estudo recaiu sobre trs grupos de idosos: os idosos que residem com familiares;
os idosos que residem sozinhos e o terceiro grupo, idosos que residem em instituies de
apoio terceira idade.
A amostra foi constituda por 302 pessoas idosas, residentes no Concelho de Loul,
com idades superiores ou iguais aos 65 anos.
Os dados foram recolhidos atravs do instrumento Verso Portuguesa da Escala
de Necessidades de Aconselhamento de Idosos (OPCNS) (Nunes, 1997). Foi tambm
aplicado um questionrio scio-demogrfico aos participantes.
Os resultados sugerem que o grupo em estudo que sente mais necessidades de
aconselhamento, so os idosos que habitam sozinhos e que tm mais de 75 anos, quer sejam
do sexo masculino, quer sejam do sexo feminino. Os que sentem menos necessidades de
aconselhamento so os idosos do sexo masculino, com idade inferior a 75 anos e que
habitam com familiares. Observmos assim, no estudo realizado, uma relao forte entre as
necessidades sentidas pelos idosos e o contexto no qual habitam.
Palavras- chave: idosos; necessidades de aconselhamento.
-
ABSTRACT
In the last decades, the geriatric population is growing, people over 65 years old
has grown, in number and in proportion. This problematic acquires more relevance
nowadays, nationally and internationally, because elder population is growing compared to
the youngest generations.
The main reason of this study consists in the observation of perceived needs on the
elder people in three distinct groups.
It was selected for these study three main groups: elder people who lived alone;
elder people who lived with their families and elder people who lived in geriatrics
institutions.
The sample consisted of 302 participants, aged 65 and older, who lived in Loul.
To the development of the study, it was selected the Portuguese scale of perceived
needs on elder people. It was also applied a demographic and social inquire.
Results show that the group who feels more perceived needs are the participants
who lived alone, older than 75 years old, both genders. The participants, who feel less
perceived needs, are men, younger than 75 years old, who lived with their family. It was
observed a significant relation between context and needs, which means that perceived
needs increase or decrease depending on who the participants live with, alone, with their
family or in geriatric institution.
Key words: elder people; perceived needs.
-
NDICE
INTRODUO ............................................................................................................................... 1
Parte I- ENQUADRAMENTO TERICO
CAPITULO I
1. O Envelhecimento ...7 1.1. Alteraes psicossociais do envelhecimento ...12 1.2 Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso...... ..18
CAPITULO II
2. Necessidades do idoso.. ......................25 2.1 Suporte social para a Terceira Idade..................... 29 2.2 A Familia Cuidadora......................... 35 2.3 Institucionalizao.....38 2.4 Qualidade de vida na velhice.........41
Parte II- ESTUDO EMPIRICO
Objectivos e Metodologia de Investigao
3. Overview. ............52 3.1. Exposio das variveis ...........................................................54 3.2. Metodologia..57 3.2.1. Populao e amostra...................................................................57
-
3.2.2. Procedimento.66
3.2.3. Instrumento.. 67
4. Apresentao e Anlise de resultados......69
4.1. Necessidades de Aconselhamento....69
4.1.2. Contexto.....76
4.1.3. Classe etria...78
4.1.4. Gnero....79
4.1.5. Necessidades Pessoais....80
4.1.6. Necessidades Sociais..81
4.1.7. Necessidades de Actividade...82
4.1.8. Necessidades Ambientais...83
4.1.9. Regresso Mltipla....87
4.2. Desejos de Aconselhamento.90
4.2.1. Contexto.91
4.2.2. Classe Etria...93
4.2.3. Gnero94
4.2.4. Desejos Pessoais95
4.2.5. Desejos Sociais......96
4.2.6. Desejos de Actividade96
4.2.7. Desejos Ambientais97
4.2.8. Regresso Mltipla- Desejos de Aconselhamento...101
4.3. Anlise Correlacional..108
4.4. Discusso de resultados..................................................................................109
Concluses gerais.......118
Referncias Bibliogrficas..................................................................... 122
ANEXOS
Anexo A)- Questionrio Scio-demogrfico. Anexo B)- Verso Portuguesa da Escala de Necessidades de Aconselhamento de Idosos.
-
INDCE DE QUADROS
Quadro 3.1- Distribuio da varivel Gnero.58
Quadro 3.2- Distribuio da varivel Idade....59
Quadro 3.3- Distribuio da varivel Contextos vs Classe etria e Gnero...61
Quadro 3.4- Distribuio da varivel Escolaridade62
Quadro 3.5- Iniciativa de Internamento......64
Quadro 3.6- Motivo de Internamento65
Quadro 4.1- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos....70
Quadro 4.2-Anlise de varincia para as necessidades (Mdia Total) ......72
Quadro 4.3- Teste T-Student- Gnero / Necessidades- Total.73
Quadro 4.4- Teste T-Student- Classe etria / Necessidades- Total....73
Quadro 4.5- Teste T-Student- Contexto / Necessidades- Total......74
Quadro 4.6- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos....75
Quadro 4.7- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos76
Quadro 4.8- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos78
Quadro 4.9- Mdia e desvio padro para as necessidades de aconselhamento nos grupos....79
Quadro 4.10-Anlise de varincia para necessidades pessoais......80
Quadro 4.11-Anlise de varincia para necessidades sociais.....81
Quadro 4.12-Anlise de varincia para necessidades de actividade..82
Quadro 4.13-Anlise de varincia para necessidades ambientais......83
Quadro 4.14-Teste t-student para as necessidades- Gnero...84
Quadro 4.15- Teste t-student para as necessidades- Classe etria..84
Quadro 4.16- Teste t-student para as necessidades85
-
Quadro 4.17- Teste t-student para as necessidades86
Quadro 4.18- Teste t-student para as necessidades86
Quadro 4.19- Regresso Mltipla- necessidades pessoais.87
Quadro 4.20- Regresso Mltipla- necessidades Sociais...88
Quadro 4.21- Regresso Mltipla- necessidades de Actividade....88
Quadro 4.22- Regresso Mltipla- necessidades Ambientais....89
Quadro 4.23- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos......90
Quadro 4.24- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos..91
Quadro 4.25- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos..93
Quadro 4.26- Mdia e desvio padro para os desejos de aconselhamento nos grupos..95
Quadro 4.27-Anlise de varincia para desejos pessoais...95
Quadro 4.28-Anlise de varincia para desejos sociais..96
Quadro 4.29-Anlise de varincia para desejos de actividade...96
Quadro 4.30-Anlise de varincia para desejos ambientais...97
Quadro 4.31- Teste t-student para as necessidades de aconselhamento- Gnero..98
Quadro 4.32- Teste t-student para as necessidades de aconselhamento- Classe etria..98
Quadro 4.33- Teste t-student para os desejos de aconselhamento.....99
Quadro 4.34- Teste t-student para os desejos de aconselhamento...100
Quadro 4.35- Teste t-student para os desejos de aconselhamento...100
Quadro 4.36- Regresso Mltipla- Desejos Pessoais...101
Quadro 4.37- Regresso Mltipla- Desejos Sociais.....101
Quadro 4.38- Regresso Mltipla- Desejos de Actividade......102
Quadro 4.39- Regresso Mltipla- Desejos Ambientais......102
Quadro 4.40- Regresso Mltipla- Necessidades de aconselhamento- total103
-
Quadro 4.41- Regresso Mltipla- Necessidades pessoais..104
Quadro 4.42- Regresso Mltipla- Necessidades sociais.....104
Quadro 4.43- Regresso Mltipla- Necessidades de actividade...105
Quadro 4.44- Regresso Mltipla- Necessidades ambientais..105
Quadro 4.45- Regresso Mltipla- Desejos pessoais...106
Quadro 4.46- Regresso Mltipla- Desejos sociais..106
Quadro 4.47- Regresso Mltipla- Desejos de actividade...107
Quadro 4.48- Regresso Mltipla- Desejos ambientais...107
Quadro 4.49- Matriz de correlao- Nec. de Aconselh. vs Des. de Aconselh.....108
-
INDCE DE GRFICOS
Grfico 3.1- Iniciativa de Internamento.64
Grfico 3.2- Motivo de Internamento.....65
Grfico 4.1- Mdias para as Necessidades (Mdia Total) em cada condio....71
Grfico 4.2- Necessidades pessoais nos trs grupos...77
Grfico 4.3- Necessidades sociais nos trs grupos.77
Grfico 4.4- Necessidades de actividade nos trs grupos...77
Grfico 4.5- Necessidades ambientais nos trs grupos...77
Grfico 4.6- Necessidades para as classes etrias..78
Grfico 4.7- Necessidades para cada gnero..80
Grfico 4.8- Desejos pessoais nos trs grupos...92
Grfico 4.9- Desejos sociais nos trs grupos..92
Grfico 5.10- Desejos de actividade nos trs grupos..92
Grfico 4.11- Desejos ambientais nos trs grupos.....92
Grfico 4.12- Desejos para a classe etria..93
Grfico 4.13- Desejos de aconselhamento nos dois gneros..........94
-
A vida na minha idade no fcil,
mas a Primavera est magnfica e o amor como ela
Sigmud Freud, carta a Hilda Doolittle, 24 de Maio de 1936
-
INTRODUO As investigaes relativas ao fenmeno envelhecimento humano assumem,
presentemente, uma grande actualidade e pertinncia devido, sobretudo, ao rpido aumento
da populao da chamada terceira idade.
O envelhecimento demogrfico considerado um fenmeno social actual que
caracteriza os pases industrializados e muito particularmente a Europa. Portugal no
constitui excepo a esta regra, prevendo-se que no ano 2020 a populao com 65 anos e
mais atingir nesta data os 18,1% (INE, 1999).
Nos dias de hoje, o grupo etrio da terceira idade representa j 16,4% do total da
populao portuguesa, ultrapassando assim o nmero da populao com idades
compreendidas entre os 0 e os 14 anos (INE, 1999).
O facto de, actualmente, termos muito mais idosos, quer como proporo da
populao total, quer em termos absolutos, implica uma diferente ponderao dos problemas
que os afectam. Por esse motivo tem vindo a ser accionado o reconhecimento social das
necessidades de intervir com polticas orientadas especificamente para a velhice.
A gesto da velhice foi por muito tempo considerada, em sociedades ocidentais
modernas, como uma problemtica especfica da vida privada e familiar. Em meados do
sculo XX, o envelhecimento adquiriu visibilidade social, ou seja, conquistou publicidade,
expresso e legitimidade no campo das preocupaes sociais e transformou-se numa questo
da esfera pblica dessas sociedades (Debert, 1999).
1
-
Introduo
Neste sentido, tem existido uma maior ateno para com esta populao, no s no
que se refere ao lugar e ao papel que o idoso ocupa na sociedade, mas tambm no que
respeita aos servios e equipamentos disponveis, que procuram combater o isolamento e a
falta de condies dignas, bem como, as necessidades e as dificuldades que os idosos
enfrentam (Pimentel, 2001).
Apesar das disparidades entre pases e regies, o envelhecimento demogrfico
hoje uma realidade generalizada ao conjunto dos pases ocidentais, constatando-se o
aumento das pessoas idosas dependentes.
Neste mbito, os cuidadores familiares representam actualmente um papel
importante junto das pessoas idosas dependentes, dado o nmero crescente que necessita de
cuidados de longa durao e da satisfao das suas necessidades (Imaginrio, 2004).
Em Portugal a maioria dos cuidados aos idosos continuam a ser efectuados pelas
famlias. Dos cuidados informais prestados s pessoas idosas, 80% so exercidos pela
famlia, vizinhos, amigos e voluntrios (Verssimo, 2003).
Tambm tem aumentado a conscincia das implicaes desta mudana para a vida
da famlia e do cuidador principal, pois a responsabilidade de proporcionar ajuda pessoa
idosa dependente, tem sido identificado como um dos factores que pode precipitar crises
familiares e afectar especialmente o cuidador familiar, que o membro da famlia que
suporta a maior sobrecarga fsica e emocional dos cuidados, como refere o autor Jani-le Bris
(1994, cit. in Verssimo, 2003).
2
-
Introduo
neste mbito, que surge a necessidade de realizarmos este estudo, no qual
pretendemos conhecer melhor o contexto em que se desenvolve a situao de apoio ao
idoso, analisando as necessidades que esta populao sente, tendo em conta que a interaco
dos diferentes factores contribui, de forma salutar, para a sua formao e desenvolvimento e,
consequentemente, para todo o desenvolvimento e comportamento pessoal e social do
indivduo idoso.
Assim, o estudo que aqui apresentamos descritivo-correlacional de cariz
exploratrio que teve como objectivo principal comparar trs grupos de idosos: idosos que
habitam com familiares, idosos que habitam sozinhos e idosos que habitam em Lares de
terceira idade, comparando-os ao nvel das suas necessidades de aconselhamento.
Esta investigao decorre da necessidade de desenvolver medidas de apoio e
programas de interveno ao nvel comunitrio, de modo a promover uma maior qualidade
de vida do idoso dependente, institucionalizado ou residente no seu prprio domiclio.
Compreendendo estes factores, podem ser implementadas estratgias e/ ou
programas mais eficazes que permitam uma actuao conjunta dos profissionais e entidades
envolvidas, que contemplem a conciliao da vida activa com as necessidades da famlia,
dos agregados familiares e dos indivduos, assegurando que os idosos tenham uma melhor
qualidade de vida, quer na sua prpria residncia, quer em Lares de apoio Terceira idade.
Para uma melhor compreenso do trabalho realizado, apresentamos na primeira
parte, a fundamentao terica, na qual foram abordados temas subjacentes ao estudo,
3
-
Introduo
tais como: o envelhecimento; as alteraes psicossociais do idoso; a autonomia e a
dependncia do idoso; a institucionalizao; as necessidades sentidas pelos idosos, a nvel
fsico, social e psicolgico e a qualidade de vida na velhice, temas importantes para uma
melhor compreenso do trabalho.
Na segunda parte apresentamos o estudo realizado, assim como os resultados
obtidos e consequente discusso dos mesmos. Por fim, apresentar-se-o as consideraes
finais do estudo.
O presente trabalho pretende ser um contributo e uma reflexo sobre a temtica do
envelhecimento, tendo como objectivo abrir novos caminhos, quer de aco, quer de
investigao, para este grupo populacional.
4
-
Parte I
ENQUADRAMENTO TERICO
-
CAPTULO 1
O Envelhecimento
PRIOR VELHICE
Sou velha e triste. Nunca o alvorecer Dum riso so andou na minha boca!
Gritando que me acudam, em voz rouca, Eu, nufraga da Vida, ando a morrer!
A Vida, que ao nascer, enfeita e touca
De alvas rosas a fronte da mulher, Na minha fronte mstica de louca Martrios s poisou a emurchecer!
E dizem que sou nova... A mocidade
Estar s, ento, na nossa idade, Ou est em ns e em nosso peito mora?!
Tenho a pior velhice, a que mais triste,
Aquela onde nem sequer existe Lembrana de ter sido nova... outrora...
Florbela Espanca
-
1. O Envelhecimento
Binet e Bourliere (1998, cit in Fernandes, 2002), referem que o envelhecimento
diz respeito a todas as modificaes morfolgicas, fisiolgicas, bioqumicas e psicolgicas
que aparecem como consequncia da aco do tempo sobre os seres vivos.
Outro autor, Robert (1994) define o envelhecimento como a perda progressiva e
irreversvel da capacidade de adaptao do organismo s condies mutveis do meio
ambiente.
Biologicamente falando, o envelhecimento compreende os processos de
transformao do organismo que ocorrem aps a maturao sexual e que implicam a
diminuio gradual da probabilidade de sobrevivncia (Neri, 2001).
As pessoas envelhecem de forma diferenciada, dependendo de como organizam a
sua vida, das circunstncias histricas, culturais, econmicas, sociais em que vivem e
viveram, da ocorrncia de problemas de sade durante o processo do envelhecimento e da
interaco entre factores genticos e ambientais, de forma a facilitar a sua adaptao s
mudanas ocorridas em si e no mundo que os cerca (Imaginrio, 2004).
O processo de envelhecimento ocorre em diferentes pessoas e grupos. Muitos
ainda pensam que envelhecer deixar de desenvolver-se, adoecer e afastar-se de tudo. Na
verdade o indivduo pode envelhecer e continuar a viver bem e com uma boa qualidade de
vida, para isso necessrio que as suas necessidades bsicas sejam satisfeitas.
importante implementar a ideia do envelhecimento activo e saudvel, como
factor da possibilidade de a pessoa idosa permanecer autnoma e capaz de se bastar a si
prpria, no seu meio natural de vida, ainda que com recurso a pequenas ajudas.
7
-
O Envelhecimento
A realidade mostra, porm, que h um nmero considervel de pessoas idosas em
condies de acentuada dependncia, que no encontram resposta capaz nesse meio, por
inexistncia ou insuficincia de meios econmicos e apoios, nomeadamente familiares
(Imaginrio, 2004).
Torna-se, por isso, frequente a necessidade do recurso a respostas sociais, em que
se inclui o alojamento em estrutura residencial, a ttulo temporrio ou permanente.
Particularmente nestes ltimos anos, a esperana de vida aumentou, no existindo
qualquer previso de uma inverso nesta tendncia, antes, pelo contrrio, pensa-se que este
fenmeno se ir generalizando, progressivamente, aos pases em vias de desenvolvimento e
aos do terceiro mundo (Robert, 1994).
De acordo com Fernandes (2002), o envelhecimento no uma doena: vive-se,
logo envelhece-se. no entanto, um processo complexo e universal, sendo comum a todos
os seres vivos, nomeadamente ao homem.
Considerado como um processo contnuo, o envelhecimento diferente de
indivduo para indivduo, no entanto, inevitvel e observvel em todos os seres humanos.
O envelhecimento pode ser caracterizado em trs fases sucessivas, podendo no
entanto, o idoso no chegar a atingi-las todas, ou pelo contrrio, atingi-las em simultneo
como refere o autor Lidz, (1983, cit. in Fernandes, 2002).
8
-
O Envelhecimento
A primeira fase denomina-se, Idoso, no existindo grandes alteraes orgnicas,
as modificaes observam-se no modo de vida provocado pela reforma, sendo que o
indivduo ainda se considera capaz de satisfazer as suas necessidades pessoais.
A segunda fase denominada por Senescncia, que ocorre no momento em que o
indivduo passa a sofrer alteraes na sua condio fsica, que o levam a ter de confiar nos
outros para satisfao das suas necessidades.
Por ltimo, surge uma terceira fase, a fase da Senilidade, aqui o crebro j no
exerce a sua funo como rgo de adaptao, o indivduo torna-se dependente e necessita
de cuidados completos.
Existem vrios factores a considerar, para alm dos genticos, quando falamos em
envelhecimento e que vo interferir no processo, assim sendo, importante considerarmos
os factores externos ou ambientais os socio-econmicos e os profissionais.
A nvel individual, tm influncia negativa no envelhecimento, os problemas de
obesidade, hbitos txicos e o no respeito por factores higinicos. Contudo os factores que
mais parecem contribuir para o envelhecimento so a incidncia de doenas, como refere o
autor Fernandes (2002).
9
-
O Envelhecimento
Motta (2006) defende que, a idade, evidentemente, no um factor natural, mas,
sobretudo, simblico, como definio cultural, a considerao de uma certa representao
corporal e idealista referida passagem do tempo, que se convencionou para regular a
participao social, primeiro de grupos, grupos etrios, em graus etrios, mais tarde na
histria em relao aos indivduos.
A condio de idade, principalmente no que se refere ao envelhecimento,
realmente afecta de modo diferencial homens e mulheres, bem como as suas necessidades.
Tendo vivido, homens e mulheres, processos socializadores muito diversos, na
sua juventude e trajectria de vida, por mais que tenham, no processo de envelhecimento,
experincias que sejam ou aparentem ser comuns sua condio etria e tempo geracional,
a condio de gnero d origem a experincias e representaes distintas (Motta, 2006).
Um dos grandes equvocos em relao ao envelhecimento a tendncia para
considerar todos os membros de uma mesma faixa etria como iguais. O tempo no a
nica, nem a mais importante dimenso da vida, o que evidencia a falta de exactido de
termos como terceira idade (Motta, 2006).
O envelhecimento um processo e a velhice um perodo cujos limites nem sempre
so ntidos.
Sem pretender ignorar as manifestaes comuns do envelhecimento, impe-se
considerar os aspectos individuais que fazem com que cada um apresente particularidades
ao longo de sua vida e uma condio distinta nos anos finais de sua existncia (Guimares,
2006).
10
-
O Envelhecimento
Guimares (2006), refere que o desenvolvimento individual multidimensional,
ocorrendo nas dimenses biolgica, psicolgica e social. Desenvolve-se em mltiplas
esferas, como famlia, trabalho, educao, lazer e outras tantas. tambm multidireccional
uma vez que, simultaneamente, registam-se ganhos (crescimento) e perdas (declnio),
fazendo com que aqueles que maximizam os ganhos e tenham perdas minimizadas sejam
candidatos ao envelhecimento bem sucedido.
O envelhecimento satisfatrio envolve a preservao e a expanso das reservas
para o desenvolvimento pessoal, e visto como a capacidade do indivduo para responder
com flexibilidade aos desafios resultantes das mudanas que acontecem no seu corpo, na
sua mente e no ambiente, como resultado do processo do envelhecimento (Freitas, 2002).
Essa capacidade vista pelo autor Freitas (2002) como competncia adaptativa e
tem trs diferentes dimenses: emocional (estratgias e habilidades para lidar com os
factores estressores); cognitiva (capacidade para resoluo do problema) e comportamental
(desempenho e competncia social).
Se os indivduos envelheceram com autonomia e independncia, com boa sade
fsica, desempenhando papeis sociais, permanecendo activos e desfrutando de senso de
significado pessoal, a Qualidade de Vida pode ser muito boa refere o autor Paschoal (2000
cit. in Freitas, 2002).
necessrio ter conscincia que envelhecer sem incapacidade um factor
indispensvel para a manuteno de boa Qualidade de Vida.
11
-
1.1. Alteraes Psicossociais do Envelhecimento
Segundo Chambel (2003) alm das alteraes biofisiolgicas, o envelhecimento
acarreta uma srie de alteraes psicolgicas, que podem resultar em futuras necessidades
sentidas pelos idosos:
- Dificuldade em se adaptar a novos papis;
- Falta de motivao e dificuldade em planear o futuro;
- Necessidade de trabalhar as perdas orgnicas, afectivas e sociais;
- Dificuldade em se adaptar s mudanas rpidas, que tm reflexos dramticos nos
idosos;
- Alteraes psquicas que exigem tratamento;
- Depresso, hipocondria, somatizao, parania, suicdios;
- Diminuio da auto-imagem e auto-estima.
Tal como as caractersticas fsicas do envelhecimento, tambm as de carcter
psicolgico esto relacionados com a hereditariedade, com a histria e com as atitudes de
cada indivduo. As pessoas mais saudveis e optimistas tm mais capacidade em se adaptar
ao processo psicolgico do envelhecimento (Chambel, 2003).
Os indivduos com mais de 65 anos de idade apresentam muitas vezes quadros de
depresso, que, muitas vezes passam despercebidos aos familiares e profissionais de sade,
sendo encarados como caractersticas naturais do envelhecimento.
12
-
Alteraes psicossociais do envelhecimento
Com o avano dos anos, as pessoas deparam-se com uma srie de perdas
significativas.
Segundo Levet (1995), o que afecta primeiro o psiquismo da pessoa idosa a perda
dos seus diferentes papis. Esta autora refere que a maioria das teorias da personalidade
insiste na importncia dos papis na construo da personalidade. Da que a perda dos
diferentes papis que foi ganhando ao longo da vida, provoque na pessoa idosa algumas
alteraes.
O primeiro papel a ser perdido o papel de pai. Apesar de continuarem a ser pais
ou mes, deixam de ter responsabilidades para com os filhos, nem moral, nem econmica,
fica apenas a dimenso afectiva, o que vai deixar um vazio doloroso, geralmente chamado
de complexo do ninho vazio (Levet, 1995).
O segundo papel a ser abandonado o profissional. A perda deste papel muitas
vezes acompanhada pela perda de outros papis: sindical, social e poltico, o que vai
acentuar o vazio social. O facto de deixar de produzir leva o reformado a sentir que perdeu
toda a utilidade social (Levet, 1995).
Segundo o mesmo autor, Levet (1995), o vazio social criado pela perda do estatuto
profissional pode provocar uma perturbao do equilbrio psquico, o que implica uma nova
estruturao da personalidade, a busca de novos centros de interesse e de ocupao.
13
-
Alteraes psicossociais do envelhecimento
Vivendo numa sociedade fortemente marcada por regras econmicas e bastante
orientada pelo e para o trabalho, a vida profissional de cada indivduo assume, uma
condio de exigncia social e de estatuto pessoal, assumindo um papel importante na
definio e desenvolvimento da identidade.
Segundo Fonseca (2005) a ocorrncia da reforma e a vivncia da condio de
reformado so realidades susceptveis de gerar um conjunto de percepes, expectativas e
sentimentos caractersticos de um processo de transio-adaptao, com eventuais
consequncias ao nvel da satisfao de vida e do bem estar psicolgico, da sade, do
relacionamento com os outros, dos hbitos da vida quotidiana e at mesmo da
personalidade.
A reforma um momento de viragem na vida das pessoas, que vale a pena estudar
quer em termos de factores implicados na passagem reforma, quer em termos dos
factores implicados na adaptao nova condio de vida enquanto reformado refere o
autor Prentis (1992, cit. in Fonseca & Paul, 2005).
No estudo efectuado por Fonseca (2005) sobre os aspectos psicolgicos da
passagem reforma os dados evidenciaram uma perspectiva global da forma como os
idosos lidaram com a transio inerente passagem da reformae da vida que actualmente
levam, dando claramente a entender que, no geral, a reforma no prejudicou, alguns at
beneficiou, o seu bem estar psicolgico, tanto pelo facto de esse bem estar se encontrar j
adquirido, como pelo facto de as pessoas terem conseguido lidar com sucesso com as
tarefas adaptativas que este acontecimento imps.
14
-
Alteraes psicossociais do envelhecimento
Quando esse bem-estar est comprometido, tal fica a dever-se sobretudo a:
solido, ausncia de sade, incapacidade de ocupao do quotidiano com actividades
gratificantes, ausncia de objectivos.
O ltimo papel a desaparecer o de cnjuge, o que vai instaurar a solido afectiva
e sexual.
O envelhecimento, pois um perodo de grande mudana e permanente adaptao
s novas condies de vida, todas elas mais ou menos marcadas pela limitao e pela perda.
essencialmente caracterizado pelo luto que a pessoa de idade vai ter de fazer de uma certa
imagem de si prprio, como pessoa, como ser social e como membro da comunidade
Oliveira (2005).
Sousa et al (2004), referem que enfrentar a morte do prprio e dos outros uma
tarefa emocional marcante, especialmente na velhice, assim sendo, fazem referncia aos
trabalhos de Howarth (1998) que verificou que os idosos, em relao morte, se
comportavam com elevada diversidade, uns afirmavam a sua preparao para a morte,
outros preferiam pensar s no presente ou expressar sentimentos que demonstravam o seu
claro apego vida (os mais activos socialmente).
Os mesmos autores (Sousa et al, 2004) identificaram quatro dimenses
interligadas de pensamentos acerca da morte de si prprio: morte boa ou m, grau de
controlo sobre este momento da vida, formas que podem tornar a morte legtima ou
significativa e questes relacionadas com os rituais de funeral e desejo de ser relembrado.
15
-
Alteraes psicossociais do envelhecimento
A viuvez um acontecimento muito marcante na velhice. As tarefas mais
relevantes neste perodo so o luto pela perda e reinvestimento no funcionamento futuro.
O luto representa um grave risco de depresso em idosos, especialmente se
associado a pouco apoio social, solido e incapacidade (Oliveira, 2005).
O luto um conflito permanente entre a busca de um passado ao qual no se pode
voltar, e a necessidade de aprender a viver com essa ausncia permanente, mesmo contra os
desejos mais ntimos. um desafio difcil e que requer esforos e energia nem sempre
fceis de reunir (Doll, 2006).
Dibelius (2000, cit. in Doll, 2006) destaca a necessidade, especialmente nos
primeiros meses aps o falecimento, de criar uma atmosfera de conforto e de segurana.
Nesse sentido, poder continuar a morar no mesmo lugar, onde tudo conhecido, pode
contribuir para encontrar essa atmosfera. Uma mudana, forcada por questes econmicas,
percebida, muitas vezes, como uma segunda morte.
Um outro elemento de conforto relatado por Hoonaard (2001, cit. in Doll, 2006),
a partir de entrevistas com mulheres vivas mais velhas: quando, na primeira fase depois da
perda, surgiram manifestaes ou ajudas sem terem sido esperadas, despertava uma
sensao de aconchego e conforto especial, mostrando s vivas a continuao dos vnculos
com a comunidade.
16
-
Alteraes psicossociais do envelhecimento
Ao serem retirados os seus interesses, actividades habituais, os seus amigos e
familiares, toda a energia libidinosa posta nestas relaes pessoais e nestes investimentos
sociais e profissionais, a pessoa idosa sente um vazio. Este um momento crtico para a
pessoa de idade, ela encontra-se bruscamente com tempos livres em excesso e dispensada
de participao na sociedade, Levet (1995).
Para Chambel (2003) na terceira idade, as perdas aceleram-se e as crises tornam-
se cada vez mais frequentes e difceis de ultrapassar.
A vivncia de perda de objecto, quer se trate de perdas reais ou imaginadas e
receadas, bem como a forma como a personalidade ser capaz de reagir a essa situao
desempenham um papel essencial no decurso do envelhecimento.
A solido, o isolamento e o abandono so as grandes problemticas do processo
de envelhecimento, conduzindo a uma crescente quebra de laos sociais.
As inmeras perdas pelas quais a pessoa passa, com especial nfase na velhice,
conduzem a pessoa idosa a um estado progressivo de isolamento, deixando de estabelecer
relaes com a sociedade, com aqueles que o rodeiam, deixando de se interessar pelo
mundo e acabando por pensar que j nada tem para fazer (Chambel, 2003).
Pode-se assim compreender a importncia que o tipo de relaes humanas que
existem na sociedade tem para a sade mental da pessoa de idade. Numa sociedade em que
a pessoa conta, apenas, na medida em que produtora de riqueza, em que apenas um elo
de uma organizao marcada pela produtividade e pela rentabilidade, no h, muitas vezes,
lugar para a pessoa de idade, que frequentemente marginalizada, suportada ou esquecida.
17
-
1.2 Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso
A forma como a velhice vivida paradoxal: Tememos a velhice quase tanto
como tememos no viver o suficiente para a atingir Walsh (1989, cit. in Sousa, Figueiredo,
& Cerqueira, 2004).
Hoje em dia constata-se uma clivagem e um distanciamento social entre o que
pode ser considerado uma velhice autnoma e uma velhice dependente. Esta ltima integra
os que se encontram em maior situao de risco, devido a situaes de dependncia fsica,
psicolgica e social. Em oposio, a velhice autnoma demarca-se da anterior, na medida
em que ao inserir-se num sistema de trocas recprocas em redes sociais prximas (filhos
adultos e netos, vizinhos, amigos) possui um papel importante em termos de solidariedade
intergeracional (Simes, 2006).
Contudo, no caso da velhice duplamente dependente, isto , institucionalizada, ela
apresenta configuraes especficas, parecendo ser mais solidria, predominantemente
feminina, marcada pela viuvez, pouco escolarizada e com poucos recursos econmicos,
procurando nas instituies funes e suportes que necessita a vrios nveis, econmico,
social, afectivo, de sociabilidade e lazer.
Segundo Fernandes (2002), muitas vezes a forma como a sociedade considera a
velhice afecta a imagem que os idosos fazem de si mesmos, aumentando o risco de que as
pessoas idosas se tornem incapazes e acabem por desenvolver uma atitude em que
sentem apenas os aspectos negativos da sua condio. Envelhecer torna-se, por si s, um
problema.
18
-
Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso
A dependncia um estado transitrio ou de longa durao em que, por razes
ligadas falta ou Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso perda de autonomia
fsica, psquica ou intelectual, as pessoas tm necessidade de assistncia para realizar actos
da vida quotidiana.
Num estudo realizado em Portugal com 1747 idosos de 75 anos ou mais (Sousa &
Figueiredo, 2004) verificou-se que 12,5% eram totalmente dependentes, 14,7% muito
dependentes, 54% completamente independentes e 15,8% apenas com limitaes nas
actividades de vida diria.
Neste estudo de salientar que, eram os idosos que respondiam e a amostra
integrava idosos a viver na comunidade, ss ou com familiares, e em lares.
Segundo Sousa e colegas (2004), importante fazer uma distino entre
dependncia, Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso independncia e autonomia.
Os autores referem que a independncia e dependncia tm sido consideradas
como estados que s podem existir em relao a algo ou a algum para realizar uma
determinada tarefa.
A independncia definida como condio de quem recorre aos seus prprios
meios para satisfao das suas necessidades, a dependncia encarada enquanto
incapacidade do individuo para se bastar a si prprio, necessitando da ajuda de outro(s)
para alcanar um nvel de aceitvel de satisfao das suas necessidades.
19
-
Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso
A autonomia ser um comportamento do indivduo em relao a si mesmo, como
autor das suas decises, regras e escolhas (Sousa & Figueiredo, 2004).
Sixsmith (1980, cit in Sousa & Figueiredo, 2004) estudou o significado e
importncia da independncia para os mais velhos. Os resultados indicam que sinnimo
de idependncia: a capacidade de tomarem conta de si prprios, sem estarem dependentes
dos outros para tarefas domsticas e cuidados pessoais; a competncia de auto-deciso e
liberdade para fazer escolhas (autonomia); no se sentir um fardo/ obrigao para os outros.
Meiser- Ruge (1988, cit in Fernandes, 2002), refere que a imagem sobre as
pessoas idosas a de que so pessoas gastas, solidrias e pobres. Esta imagem contrasta
com a de muitos pases do terceiro mundo onde se considera que as pessoas idosas possuem
sabedoria e afinado julgamento, pelo que so distinguidas e respeitadas, como alis o
eram nas nossas sociedades antigas.
Esta atitude social negativa impede as pessoas idosas de apreciarem e assumirem
os valores positivos da velhice. A sociedade dever estar sensibilizada para a integrao
social dos idosos, contribuindo para a reduo da dependncia, preservando a auto-
confiana e elevando a auto-estima (Fernandes, 2002).
Segundo Neri (1999), a autonomia a meta primordial do desenvolvimento,
depender dos outros na vida adulta algo rejeitado e temido pela maioria das pessoas,
principalmente quando a dependncia fsica acompanhada por perda da capacidade de
decidir por e para si prprio, que configura incapacidade cognitiva emocional.
20
-
Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso
Na velhice, a manuteno da autonomia e da independncia est intimamente
ligada qualidade de vida. Uma das formas de se verificar a qualidade de vida de um idoso
avaliando-se o grau de autonomia que ele possui e o grau de independncia com que
desempenha as funes do dia-a-dia, sempre levando em conta o contexto scio- cultural
em que vive. Isso porque este que vai-lhe oferecer oportunidades ou restries para o
exerccio total ou parcial da independncia e da autonomia (Fernandes, 2002).
Contextos aceitadores e respeitadores dos direitos de todos os cidados, e que, por
isso, oferecem compensaes e ajudas arquitectnicas, ergonmicas, econmicas, estticas,
educacionais a cada um, segundo a sua singularidade, tem maior capacidade para garantir a
autonomia e a independncia de seus membros, entre eles os idosos (Neri, 1999).
Na literatura gerontolgica, a dependncia definida como a incapacidade de a
pessoa funcionar satisfatoriamente sem a ajuda de um semelhante ou de equipamentos que
lhe permitam adaptao.
Segundo Neri (2001), a dependncia na velhice pode estar ligada a um ou vrios
dos seguintes elementos:
H um aumento nas perdas fsicas e nas experincias de incapacidade.
Os problemas de sade j existentes tendem a se agravar, e as doenas tpicas
da velhice podem comear a instalar-se.
21
-
Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso
Tende a aumentar a presso exercidas por pequenos eventos na vida quotidiana
(por exemplo: pequenos conflitos e contratempos domsticos; pequenas preocupaes com
os familiares e o cnjuge) e por grandes eventos estressantes da vida pessoal e da vida dos
entes queridos (por exemplo: perda dos pais; e divrcio dos filhos).
Ocorre uma tendncia para acumular os efeitos das presses exercidas por
perdas em vrios domnios (por exemplo: morte de entes queridos, perda do trabalho e do
emprego, afastamento dos filhos, e doenas).
Com a idade, ocorre progressiva reduo da expectativa de vida. A conscincia
desse facto requer esforo de adaptao do idoso. Dependendo da sade fsica e mental e de
factores de personalidade, os idosos podem envolver-se de maneiras diferentes na
manuteno de uma vida activa, produtiva e saudvel e no cultivo da espiritualidade. Tais
actividades podero ajud-los a manter a independncia e a autonomia por mais tempo,
mesmo na presena de limitaes fsicas e sociais.
O ambiente pode impor barreiras arquitectnicas e ergonmicas, ou no
proporcionar equipamentos que ajudem o idoso a adaptar-se a um ambiente que no foi
construdo para ele.
As prticas sociais discriminatrias em relao ao idoso podem restringir
substancialmente a sua autonomia e a sua independncia por fazerem dele um ser mais
pobre, desamparado, doente, frustrado, ressentido e sem esperana. Recusar emprego ou
demitir; tratar como incapaz; restringir salrios e benefcios; tratar de modo desrespeitoso
ou infantil.
22
-
Autonomia, Dependncia e Independncia no Idoso
O facto de uma pessoa no poder efectuar sem ajuda, porque idosa ou por outros
motivos, as principais actividades de vida, quer sejam fsicas, psicolgicas, sociais ou
econmicas, torna-o dependente.
O autor Fernandes (2002), faz referncia a que a dependncia nos idosos surge com
mais frequncia face a obstculos que o impedem de satisfazer as suas necessidades como:
falta de apoio e afecto familiar; isolamento e solido devido a perda de familiares e
amigos (com significado afectivo); a inactividade proveniente da reforma ou perda de
foras, originando diminuio dos rendimentos econmicos; alterao do estatuto e perda
do prestgio ou a passividade, porque no tem compromissos.
Estes e outros factores provocam ansiedade e estresse da o resultando o
desequilbrio que d origem a problemas que se manifestam atravs de mltiplos sinais e
sintomas.
23
-
CAPITULO II
Necessidades do Idoso
Recordando a Mocidade
Mocidade porque foges De mim que no te esqueci
Volta atrs mocidade No posso viver sem ti.
Passam meses, passam anos
Tudo tem princpio e fim S no passa esta saudade Que sinto dentro de mim.
Saudades, tenho saudades
Dos anos que j vivi Saudades, tantas saudades Quando me lembro de ti.
Mocidade por onde andas?
Volta, preciso de ti Tantos anos so passados
E hoje sei que te perdi.
Ermelinda Laginha Santa Casa da Misericrdia de Loul
-
2. Necessidades do Idoso
No ltimo censo populacional (INE, 2002) os idosos constituem 16,4% da
populao geral. A maioria dos idosos do sexo feminino 59%. A esperana de vida
actualmente de 79,4 anos para as mulheres e 72,4 anos para os homens. A taxa de iliteracia
entre os idosos, ainda que em plano descendente dada a renovao geracional, continua a
ser muito elevada (55,1%), sendo mais expressiva nas mulheres (64,7%) do que nos
homens (41,3%). A percentagem de famlias com pelo menos um idoso 32,5% e, dentro
destas, 50,5% consistem em idosos a viverem sozinhos e 48,1% correspondem a casais de
idosos, sendo a coabitao reduzida, ou seja, o nmero de famlias de idosos est a
aumentar.
De acordo ainda com dados do INE (2002), a actividade social mais importante
nomeada pelos idosos conversar com os vizinhos (68% fazem-no diariamente). Ver
televiso a actividade de lazer mais frequente, mencionada por 96% dos idosos.
O nvel de actividade e participao comunitrio muito baixa. Em mdia, menos
de 5% dos indivduos referem participar em qualquer iniciativa ou organizao comunitria
e a maioria diz permanecer em casa durante todo o dia. As mulheres dizem ter pior sade
que os homens e referem ter ido ao mdico pelo menos uma vez nos ltimos trs meses.
Um tero do total dos idosos pode ser considerado pobre, de baixos rendimentos,
especialmente em relao aos que vivem ss.
25
-
Necessidades do idoso
Barreto (1988), refere que o status social influencia os problemas da terceira idade
e a maioria das perturbaes nesta fase da vida so devidas pobreza e s privaes
econmicas-sociais. Indivduos com elevado status social tm maiores probabilidades de
participao activa na resoluo dos seus problemas.
Os idosos reformados deparam-se com vrios problemas, entre os quais a perda de
rendimentos. Outro problema com que se deparam que numa sociedade moderna, assente
na rentabilidade e no lucro, os idosos no sendo produtores mas sim consumidores de bens
e de servios, so vistos como improdutivos, tornando-se caros para a nossa sociedade,
especialmente quando se trata de idosos dependentes. A sociedade moderna valoriza ainda
a juventude e beleza, e uma vez que os idosos se afastam desse modelo, so relegados para
segundo plano, Hasse e Cadete (1992, cit in Grcio,1999).
Segundo os autores, Vicente, Alvarez, Cadete, Quintela, Lopes e Cordeiro,
(2005), todas as pessoas tm necessidades bsicas - fsicas, intelectuais, emocionais,
sociais e espirituais, assim sendo, e tendo em conta os idosos, os autores consideram vrios
tipos de necessidades :
- As necessidades fsicas, relacionadas com a alimentao equilibrada, a higiene, a
preveno de doenas, a habitao e a necessidade de segurana.
- As necessidades intelectuais, como a capacidade de comunicar, de relacionar-se
com o meio envolvente, de raciocinar e de cultivar-se.
26
-
Necessidades do idoso
- As necessidades emocionais, a capacidade de amar e ser amado, a autoconfiana,
a auto-estima, o ser valorizado e respeitado.
- As necessidades sociais, relacionadas com sentimento de pertena, relaes
sociais, familiares e de amizade
- As necessidades espirituais, que compreendem a reflexo sobre o ser humano e o
mundo, as crenas religiosas ou metafsicas.
Para alm destas necessidades bsicas comuns a toda a humanidade, qualquer
pessoa pode ter necessidades especficas, temporrias ou permanentes, decorrentes de
situaes como por exemplo: estar fisicamente dependente devido a uma queda ou outro;
ter dificuldades auditivas ou de viso; sofrer de demncia, ou de outra doena mental.
As necessidades especficas tm uma repercusso sobre as necessidades bsicas,
na medida em que impedem ou limitam a possibilidade de a pessoa as satisfazer sozinha.
Se, por exemplo, fracturarmos uma mo, vamos precisar de ajuda para realizar actividades
do quotidiano como as refeies, a higiene, as compras. Isto significa perder alguma
autonomia e, provavelmente, sofrer restries no que respeita vida social.
De acordo com Lowy (1983, cit in Nunes, 1999), na categorizao das
necessidades dos idosos so definidos 4 grupos de necessidades:
- Necessidades de coping, que segundo o autor so o ponto fulcral de todo o
sistema de necessidades dos indivduos, porque podem condicionar a forma como estes
indivduos se iro adaptar a esta fase do ciclo da vida;
27
-
Necessidades do idoso
- Necessidade expressa, que se prende essencialmente como a manuteno do
status quo, manter o nvel de actividade que lhes permite manter a sua auto-estima,
sentimentos de competncia assim como um sistema de relaes;
- Necessidades de contribuio, a obrigao por parte dos idosos de contribuir
para o bem-estar dos outros. Esta obrigao, mais uma necessidade, uma vez que neste
intercmbio existe uma potencializao dos sentimentos de auto-estima; poder e controle
das relaes para com os idosos;
- Necessidade de poder, influenciar os factores externos que agem sobre as
nossas vidas.
A este propsito Lowy (1983, cit in Nunes, 1999) afirma que se os idosos no
forem capazes de influenciar os outros, tm uma certa dificuldade em lidar com as suas
necessidades bsicas. Da que os indivduos idosos tenham necessidade de manterem um
certo nvel de autonomia e de controle nalguns aspectos do seu espao vital. Estas
necessidades devem ser analisadas tendo em conta os aspectos Fsico; Psicolgico;
Econmico e Social dos idosos.
28
-
2.1. Suporte Social para a Terceira Idade
Embora velhice no seja sinnimo de doena, na idade mais avanada h maior
risco de comprometimento da capacidade funcional, com consequente perda de autonomia
e independncia. A maioria dos idosos permanece capaz de cuidar de si mesma at idade
bem avanada. S uma minoria deles torna-se incapacitada a ponto de necessitar de ajuda
para as actividades de vida diria.
Cerca de 5% dos idosos de mais de 65 anos tm algo grau de incapacidade
funcional; 20% apresentam leve grau de incapacidade; 13% dos que tm entre 65 e 74 anos
e 25% dos que esto entre 75 e 84 apresentam incapacidade moderada; aos 85 anos, mais
46% so moderadamente incapacitados referem os autores Gatz, Bengston & Blum (1990,
cit. in Medeiros & Lemos, 2006).
Quando as funes deterioram, surgem as dificuldades e a necessidade por
cuidados cada vez mais intensos, abrangentes e constantes. Entram em cena, ento, as redes
de suporte ou de apoio social.
O cuidado pode ser classificado como formal e informal. Segundo Campedelli
(1993, cit. in Medeiros & Lemos, 2006) no cuidado informal o conjunto de aces de
ajuda e proteco total ou parcialmente exercido pelos familiares, vizinhos ou amigos de
idosos que vivenciam situaes temporrias ou permanentes de comprometimento da
capacidade de auto cuidado e de exercer actividades prticas do dia-a-dia.
29
-
Suporte Social para a Terceira Idade
Fala-se em cuidado formal quando o conjunto de aces de ajuda e proteco ao
idoso com problemas eventuais ou permanentes de sade prestado por profissionais e pela
rede de servios de sade, estatais e particulares.
Veremos que o suporte ou apoio ao idoso pode assumir vrias feies,
dependendo das suas necessidades fsicas, sociais e psicolgicas e das condies do
contexto em que vive.
No atendimento s necessidades especficas desse grupo, os sistemas de suporte
social so fundamentais.
Redes de suporte social so conjuntos hierarquizados de pessoas que mantm
entre si laos tpicos das relaes de dar e receber. Elas existem ao longo de todo o ciclo
vital, atendendo motivao bsica do ser humano vida gregria. No entanto, a sua
estrutura e suas funes sofrem alteraes dependendo das necessidades das pessoas (Neri,
2001).
A mesma autora Neri (2001), resume a literatura psicogerontolgica sobre as
principais funes das redes de relaes e suporte social para os adultos e idosos em:
Dar e receber apoio emocional, ajuda material, servios e informaes.
Manter e afirmar a entidade social.
Estabelecer novos contactos sociais.
Permitir s pessoas crer que so cuidadas, amadas e valorizadas.
Dar-lhes garantia de que pertencem a uma rede de relaes comuns e mtuas.
30
-
Suporte social para a Terceira Idade
Auxiliar as pessoas a interpretar expectativas pessoais e grupais e avaliar as
prprias realizaes e competncias.
Ajud-las a encontrar sentido nas experincias do desenvolvimento,
principalmente quando elas so no-normativas e estressantes.
Possibilitar que as pessoas desenvolvam estratgias de comparao de suas
competncias e realizaes com as de outras pessoas (mecanismos de comparao social)
com isso elas podem manter a auto- imagem e a auto-estima e aprender sobre si prprias.
Esses mecanismos so muito importantes na velhice, principalmente se e quando os idosos
tm que se adaptar s perdas fsicas e sociais.
Embora os apoios sociais e financeiros terceira idade no nosso pas ainda sejam
insuficientes face s carncias da populao idosa, ser importante salientar os existentes.
No mbito da aco social podemos encontrar uma srie de respostas sociais para a
populao idosa, desde as mais tradicionais s mais inovadoras (Grcio, 1999).
Como respostas tradicionais temos os Lares de Idosos, que so equipamentos
colectivos de alojamento permanente ou temporrio, destinados a fornecer respostas a
idosos que se encontram em risco, com perda de independncia e/ou autonomia.
Tm como objectivos proporcionar servios permanentes e adequados
problemtica do idoso; contribuir para a estabilizao ou retardamento do processo de
envelhecimento, desenvolver apoios necessrios s famlias dos idosos, fortalecer a relao
inter-familiar.
31
-
Suporte Social para a Terceira Idade
Os servios proporcionados pelos lares so o alojamento, a alimentao, cuidados
de sade, higiene e conforto, convvio, ocupao, animao e recreio.
Os Centros de Dia, constituem um apoio atravs da prestao de um conjunto de
servios dirigidos a idosos da comunidade, cujo objectivo fundamental desenvolver
actividades que proporcionem a manuteno dos idosos no seu meio scio-familiar.
O objectivo do Centro de Dia reintegrar os idosos na comunidade, mantendo-os
no seu domicilio, prestar servios que satisfaam as necessidades bsicas, alertar os idosos
para um diagnstico e tratamento de preveno, prestar apoio psicossocial, fomentar as
relaes interpessoais entre os idosos e dos idosos com outros grupos etrios, tendo com
finalidade evitar o isolamento.
Os servios prestados consistem no fornecimento de refeies, proporcionar o
convvio, recreio, animao e ocupao, proporcionar cuidados de higiene e conforto e
fornecer o tratamento de roupas.
Nas respostas inovadoras destaca-se o Apoio Domicilirio, que consiste na
prestao de servios por ajudantes familiares no domicilio dos utentes, quando estes por
motivo de doena ou outro tipo de dependncia, sejam incapazes de assegurar temporria
ou permanentemente a satisfao das necessidades bsicas e realizar as suas actividades
dirias.
32
-
Suporte Social para a Terceira Idade
Os objectivos deste apoio domicilirio so contribuir para melhorar a qualidade de
vida dos idosos, contribuir para retardar ou evitar a institucionalizao, assegurar s pessoas
idosas a satisfao das suas necessidades bsicas, prestar cuidados fsicos e psicossociais
aos idosos, contribuindo para o seu equilbrio e bem-estar e colaborar na prestao de
cuidados de sade.
Os servios prestados incluem cuidados de higiene e conforto, trabalhos de
limpeza e arrumao da casa, confeco, transporte e/ou distribuio de refeies,
tratamento de roupas, aquisio de artigos necessrios para a casa, acompanhamento,
recreao e convvio, pequenas reparaes em casa, contactos com o exterior e
administrao de medicamentos.
A problemtica crucial dos idosos na sociedade actual, e em particular na famlia,
hoje mais cadente, no s pela percentagem cada vez maior de velhos em comparao
com outras faixas etrias, mas tambm pelo abandono a que podem ser votados (Fernandes,
2002).
No so s os familiares e as Instituies sociais que tm o dever de apoiar e
confortar o idoso, mas tambm os responsveis da Nao, para cumprirem minimamente o
que diz a Constituio da Republica Portuguesa que dedica aos idosos o artigo 72: 1- As
pessoas idosas tem o direito segurana econmica e a condies de habitao e convvio
familiar e comunitrio que respeitem a sua autonomia e evitem e superem o isolamento ou
a marginalizao social.
33
-
Suporte Social para a Terceira Idade
2- A poltica da terceira idade engloba medidas de carcter econmico, social e cultural,
tendentes a proporcionar s pessoas idosas oportunidade de realizao pessoal, atravs de
uma participao activa na vida da comunidade. (Oliveira, 2005).
34
-
2.2. A Famlia cuidadora
Em qualquer idade, a famlia considerada, social e culturalmente a base e o
habitat de uma pessoa. Observa-se, porm, que tanto na fase da infncia, quanto na fase da
velhice exigem do ambiente familiar cuidados frente s alteraes hormonais, culturais e
psicossociais. No caso de idosos, h necessidades que exigem cuidados fisiolgicos e
psicolgicos (Imaginrio, 2004).
Antigamente, existia como que um culto aos antigos, num ritual de respeito
sabedoria de antecedentes, as famlias tradicionalmente honravam cuidar de seus idosos.
A famlia como instituio fundamental tem sofrido transformaes, devido ao
envelhecimento demogrfico e a uma vasta gama de mudanas econmicas e sociais,
apesar das mudanas sociais influenciarem a estrutura familiar e afectarem a sua
capacidade de cuidar, mesmo assim, a famlia proporciona aproximadamente 80 a 90% dos
cuidados aos familiares idosos refere o autor Haley (1995, cit in Lage, 2002).
O papel da famlia na prestao de cuidados aos idosos dependentes comea a ser
reconhecido e tornou-se um assunto de prioridade crescente nos ltimos anos.
De acordo com Imaginrio (2004), uma percentagem significativa de idosos
encontra-se alojado em casa de familiares e entre os idosos que mudaram de residncia o
principal motivo para a mudana foi a necessidade de apoio da famlia.
35
-
A Famlia Cuidadora
ainda de salientar que, por vezes o motivo que est na origem da mudana de
casa pelo idoso, so os maus tratos por parte do cuidador anterior, tal facto, parece
evidenciar de algum modo a vulnerabilidade dos idosos e particularmente dos idosos
dependentes (Lage, 2002).
A maioria dos estudos realizados com familiares prestadores de cuidados apontam
para o predomnio das mulheres nas relaes entre geraes e redes de apoio familiar. As
principais razes pelas quais os cuidadores se ocupam do idoso, prendem-se com motivos
de obrigao familiar ou pessoal seguindo-se a solidariedade familiar ou conjugal
(Imaginrio, 2004).
frequentemente referenciado, que o apoio pessoa idosa dependente, origina
um estresse crnico, com efeitos negativos para a sade dos vrios membros da famlia
envolvidos (Lage, 2002).
Outros autores, tais como Mendona (2000) referem que a maioria dos cuidadores
mencionam que o facto de cuidarem interferiu com a sua vida, ressaltando as interferncias
com a sade, com a esfera afectiva, com o plano econmico e com a profisso.
Lage (2002), faz uma distino entre trs categorias de cuidadores: primrios,
secundrios e tercirios. Os primrios so os principais responsveis pelo idoso e pelo
cuidado e os que realizam a maior parte das tarefas; os secundrios no tm o mesmo nvel
de responsabilidades em geral actuam de forma pontual em algumas tarefas de cuidados
bsicos e principalmente em tarefas instrumentais.
36
-
A Famlia cuidadora
Os cuidadores tercirios no tm responsabilidade pelo cuidado, actuam
esporadicamente e geralmente realizam tarefas externas que no implicam contacto com o
idoso.
Na realidade, o grupo familiar e a comunidade so lugares naturais de proteco e
incluso social. Sempre estiveram presentes, como suporte a programas voltados a criar
processos de incluso social, vnculos relacionais e de implementao de projectos
colectivos de melhorias da qualidade de vida. na casa, na famlia, no convvio com
vizinhos que o indivduo constri relaes primrias que constituem a sua base de
sustentao para o confrontar das dificuldades quotidianas.
37
-
2.3 Institucionalizao
Os servios institucionais representam um recurso importante para os idosos,
tendo em conta a perda da autonomia e o estado de sade geral, deste modo importante
compreender as necessidades sentidas pelo idoso que a determinada altura de sua vida
internado numa instituio.
De acordo com Fernandes (2002), quando as incapacidades fsicas e psicolgicas
da pessoa idosa aumentam e as capacidades do meio ambiente diminuem, torna-se
necessrio, encarar a hiptese de internamento numa instituio.
A institucionalizao do idoso surge, normalmente para a famlia ou para o idoso,
como a ltima alternativa, quando todas as outras so inviveis. No entanto, as respostas
sociais nem sempre tm tido em conta as dimenses em que se decompe a problemtica
social da velhice e os resultados afastam-se muitas vezes dos objectivos inicialmente
propostos.
Ao contrrio do que muitas vezes se pensa, a percentagem de idosos
institucionalizados relativamente baixa. Segundo dados do INE (1999), 97,5% da
populao idosa vive em famlias clssicas e apenas 2,5% vive em instituies.
Os principais motivos da admisso de idosos em instituies so, segundo uma
pesquisa realizada por Prado e Petrilli (1999, cit in Vicente et al, 2005), a falta de
disponibilidade familiar relacionado a dificuldades financeiras, distrbios de
comportamento, e precariedade nas condies de sade.
O ambiente um factor importante a ter em conta na problemtica das pessoas
idosas.
38
-
Institucionalizao
Se elas se sentirem em perigo, refugiam-se para a segurana de um mundo interior, entram
em regresso e a sua sade pode ser por tal facto afectada, Fernandes (2002).
O mesmo autor, Fernandes (2002) considera que o ambiente deve ser avaliado,
quer no domiclio quer em instituies, a fim de assegurar que este suficientemente eficaz
e simultaneamente estimulante. Os idosos so particularmente vulnerveis s modificaes
do ambiente, dado que sofrem com muita frequncia dfices sensoriais e ou outros
problemas. Quando o ambiente no adequado e ameaa a integridade do idoso, este pode
regredir e o seu estado de sade deteriorar-se de forma rpida.
So mltiplos os factores de risco que integram o ambiente dos idosos, que podem
representar uma ameaa satisfao das suas necessidades bsicas e que podem ameaar a
sade.
Os idosos quando integram na Instituio, geralmente vivenciam uma radical
ruptura de seus vnculos relacionais afectivos, convivendo quotidianamente com pessoas
que no possuam qualquer vnculo afectivo. Independentemente da qualidade da
instituio, ocorre normalmente o afastamento da vida social e familiar. Na instituio, o
idoso torna-se obrigado a se adaptar e aceitar normas e regulamentos, como horrios e
alimentao.
Papaleo Netto (2000), defende que mesmo estando numa instituio, para a vida
do idoso o ambiente familiar crucial, pois o contacto com a famlia permite que os idosos
se mantenham prximos ao seu meio natural de vida (a prpria famlia). Alm disso, o
contacto familiar preserva o seu auto-conhecimento, valores e critrios.
39
-
Institucionalizao
A institucionalizao do idoso surge, normalmente para a famlia ou para o idoso,
como a ltima alternativa, quando todas as outras so inviveis. No entanto, as respostas
sociais nem sempre tm tido em conta as dimenses em que se decompe a problemtica
social da velhice e os resultados afastam-se muitas vezes dos objectivos inicialmente
propostos.
Assim sendo, uma vez o idoso institucionalizado, importa evitar todos os factores
negativos da institucionalizao (Vicente et al, 2005).
Devem ser aceites e respeitadas as necessidades sociais, psicolgicas, religiosas,
culturais, polticas e sexuais dos idosos. Permitindo apenas as restries necessrias
consecuo de um bom nvel de cuidados, proteco da sade e segurana do idoso,
Fernandes (2002).
As estruturas residenciais para pessoas idosas apesar de uma evoluo
significativa, ainda se encontram pouco sensibilizadas para novos modelos de interveno,
que privilegiem um projecto institucional dinamizador, orientador e respeitador dos
projectos individuais dos residentes.
Tomar a deciso e entrar para uma estrutura residencial uma grande mudana na
vida de uma pessoa. Com ela vem, quase sempre, a separao do meio familiar, obrigando
a pessoa idosa a adaptar-se a um novo ambiente. , pois, um acto de grande impacto
emocional, que representa muitas vezes uma ruptura em relao vida e aos hbitos
anteriores.
40
-
2.4 Qualidade de vida na velhice
Nas ltimas dcadas a populao da terceira idade, tem aumentado quer em
nmero, quer em proporo. Esta problemtica adquire cada vez mais relevncia e
actualidade, quer a nvel nacional, quer a nvel mundial, dado o crescimento da populao
idosa e o seu peso cada vez maior em relao populao jovem. Assim, j que o
envelhecimento populacional est a generalizar-se necessrio viver esta idade de uma
forma positiva (Neri, 1999).
Diminuir dificuldades, melhorar as condies de habitao, ter sade, estar
prximo da famlia, entre outras, so necessidades importantes para o idoso e para a sua
qualidade de vida.
Para Shumaker, Anderson e Czajkowski (1990, cit In Ribeiro, 1994)
Qualidade de Vida consiste numa satisfao global e individual com a vida, uma sensao
de bem-estar geral e pessoal.
Segundo Ribeiro (1994) h que considerar algumas concepes subjacentes
definio de qualidade de vida. Para tal e de modo a obter uma melhor compreenso deste
conceito, podem considerar-se vrias abordagens:
- A abordagem psicolgica, que se centra na distribuio entre o ter doena e
sentir, a doena;
- a abordagem custo benefcio, que se centra na anlise da quantidade e da
qualidade de vida;
41
-
Qualidade de Vida na Velhice
- a anlise centrada na comunidade, que avalia o impacto da doena numa
comunidade;
- a abordagem funcional que enfatiza os aspectos funcionais, fsicos, psicolgicos
e sociais como um todo.
Ribeiro (1999) refere que vrios dos resultados encontrados em diferentes
trabalhos, permitem observar, que o conceito de sade dos que apresenta correlao mais
elevada com a qualidade de vida.
Segundo o mesmo autor Ribeiro (1999), interagindo na sade melhora-se a
qualidade de vida.
De facto, o avano da idade aumenta a possibilidade de ocorrncia de doenas e
de prejuzos funcionalidade fsica, psquica e social. Mais anos vividos podem ser anos de
sofrimento para os indivduos e suas famlias; anos marcados por doenas, com sequelas,
declnio funcional, aumento da dependncia, perda da autonomia, isolamento social e
depresso (Simes, 2006).
Cramer (1993, cit In Ribeiro, 1994) define Qualidade de Vida como bem estar
fsico, mental e social completo, e no apenas a ausncia de doena.
O autor Paschoal (2006), refere que se os indivduos envelhecerem com
autonomia e independncia, com boa sade fsica, desempenhando papis sociais,
permanecendo activos e desfrutando de senso de significado pessoal, a qualidade de sua
vida pode ser muito boa.
42
-
Qualidade de Vida na Velhice
Segundo Ribeiro (1994), a Qualidade de Vida relacionada com a sade avaliada,
considerando cinco componentes: sade fsica, sade psquica, nvel de independncia,
relaes sociais e ambientais.
Lawton (1983, cit. in Paschoal, 2006), construiu um modelo de qualidade de vida na
velhice em que a multiplicidade de aspectos e influncias inerentes ao fenmeno
representada em quatro dimenses interrelacionadas:
- A primeira, condies ambientais, diz respeito ao contexto fsico, ecolgico e ao
construdo pelo homem, que influi na competncia adaptativa (emocional, cognitiva e
comportamental) e lhe d as bases. Ou seja, o ambiente deve oferecer condies adequadas
vida das pessoas.
- A segunda, competncia comportamental, traduz o desempenho dos indivduos
frente s diferentes situaes de sua vida e, portanto, depende do potencial de cada um, de
suas experincias e condies de vida, dos valores agregados durante o curso da vida e do
desenvolvimento pessoal, que, por sua vez, influenciado pelo contexto histrico
cultural.
- A terceira, qualidade e vida percebida, reflecte avaliao da prpria vida,
influenciada pelos valores que o indivduo foi agregando e pelas expectativas pessoais e
sociais. Igualmente, a pessoa avalia as condies do seu ambiente, fsico e social, e a
eficcia de suas aces nesse ambiente.
43
-
Qualidade de Vida na Velhice
- A quarta, bem- estar subjectivo, significa satisfao com a prpria vida,
satisfao global e satisfao especfica em relao a determinados aspectos da vida;
reflecte as relaes entre condies objectivas (ambientais), competncia adaptativa e
percepo da prpria qualidade de vida, as trs dimenses precedentes.
analisada pelos antecedentes pessoais (histricos, genticos e socioeconmicos,
culturais), pela estrutura de traos de personalidade e pelos seus mecanismos de auto-
regulao (e senso de significado pessoal, sentido da vida, religiosidade/ transcendncia,
senso de controle, senso de eficcia pessoal e adaptabilidade.
O autor Paschoal (2006) faz referncia a estudos empricos que indicam existirem
fortes associaes entre a qualidade de vida percebida, o bem-estar subjectivo e
mecanismos da personalidade, como, por exemplo o senso de controle, o senso de eficcia
pessoal, o senso de significado e as estratgias de coping. Elas tm fortes relaes com a
competncia adaptativa, que se expressa em competncia emocional (capacidade de lidar
com factores de estresse), em competncia cognitiva (capacidade de resoluo de
problemas) e em competncia comportamental (desempenho e competncia social).
No que diz respeito imagem social da velhice, muitas vezes esta vista como
uma poca de perdas, incapacidades, impotncia, dependncia, mas, tambm, pela situao
objectiva de reformas insuficientes, analfabetismo, oportunidades negadas, desqualificao
tecnolgica, exclusosocial. Mesmo em condies to adversas, encontramos idosos que se
sentem felizes, que se dizem contentes com suas vidas (Neri, 1999).
44
-
Qualidade de Vida na Velhice
Paschoal (2006) refere que uma parte da literatura gerontolgica tem trabalhado
os conceitos de envelhecimento bem sucedido, envelhecimento positivo e qualidade da
velhice sob o enfoque de satisfao de vida e do estado de nimo (moral), tanto que
satisfao de vida no s representa qualidade de vida, como tambm uma dimenso
chave nas avaliaes de estado de sade na velhice.
Larson (1978, cit. in Paschoal, 2006) pesquisou factores associados satisfao de
vida entre idosos e encontrou sade ptima, nvel socio-econmico mais alto, ser casado e
maior actividade social. Em contrapartida, idade, raa, sexo e emprego no mostraram
relao significativa. Os factores predisponentes mais importantes foram sade, actividade
social e prazer sexual.
Paschoal (2006) refere uma reviso de literatura feita por Diener e Suih (1998)
que apontam os seguintes dados sobre a relao entre eventos objectivos e subjectivos e a
avaliao da qualidade de vida na velhice:
(a) Os eventos subjectivos mostram maior associao com qualidade de vida na
velhice do que os objectivos, tais como a renda, arranjos de moradia e sade fsica;
(b) H forte relao entre ter medo de ficar velho, solido e isolamento, senso de
desamparo e de incompetncia comportamental, como depresso, baixa sade percebida e
insatisfao com a vida;
(c) A despeito do declnio na sade, da viuvez e da diminuio de renda que
ocorrem na velhice, existe estabilidade no senso de bem-estar dos idosos, que geralmente
pontuam alto em escalas de satisfao;
45
-
Qualidade de Vida na Velhice
(d) Os jovens so mais pessimistas e exigentes quanto qualidade de vida do que
os idosos;
(e) Os idosos mais ajustados so os que tm metas de vida e que so mais capazes
de adapt-las s condies impostas pela velhice;
(f) Doenas e incapacidade que determinam restries nas oportunidades de
acesso estimulao satisfatria e ao envolvimento social relacionam-se com a depresso e
com afectos negativos;
(g) Os idosos tm vida emocional menos intensa do que os adultos, possivelmente
como resposta adaptativa aos limites da velhice, ou, ento, como reflexo de um processo de
seleco de interesses;
(h) Os homens idosos so mais satisfeitos do que as mulheres idosas, que so mais
doentes e mais queixosas do que aqueles;
(i) As mulheres idosas tendem a apresentar pior qualidade de vida do que os
homens porque em geral so mais velhas, mais doentes, mais isoladas, mais pobres e mais
oneradas por cuidados casa e ao conjugue do que os homens.
Qualidade de vida do idoso parte importante da pesquisa em qualidade de vida,
devido relevncia que a longevidade trouxe vida humana. Para os idosos, populao
com prevalncia aumentada de doenas, a dimenso Sade tem importncia fundamental
para sua qualidade de vida (Neri, 1999).
46
-
Qualidade de Vida na Velhice
O desafio que se prope aos indivduos e s sociedades conseguir uma esperana
de vida cada vez maior, com uma qualidade de vida cada vez melhor, para que os anos
vividos em idade avanada sejam plenos de significado e dignidade.
Paschoal (2006), numa pesquisa recente, entrevistando 193 idosos da cidade de
So Paulo, divididos em quatro grupos (doentes de um ambulatrio de geriatria; saudveis,
pertencentes a grupos de terceira idade; doentes, com dificuldade de sair de casa; saudveis,
praticantes de actividade fsica regular), encontrou oito dimenses extremamente relevantes
para a qualidade de vida de idosos. So elas: Sade fsica, Capacidade Funcional/
Autonomia Psicolgica, Social/ Famlia, Econmica, Espiritualidade/ Transcendncia,
Hbitos/ Estilos de Vida e Meio Ambiente.
Neri (1999) refere que, felizmente, aumenta a conscincia de que ter uma boa
velhice, no atributo ou responsabilidade pessoal. Depende sim, da interaco entre o
indivduo e o seu contexto, ambos em constante transformao. Os limites de envelhecer
bem significam ento um referencial, horizonte ou ideal, sujeitos a condies e valores
histrico-culturais.
Com a previso do crescimento do nmero de idosos que necessitam de
assistncia ao longo dos prximos anos, surge o objectivo de promover uma vida
satisfatria para os idosos, satisfazendo as suas necessidades, tanto a nvel fsico como
mental, tentando fazer do envelhecimento uma recompensa e no um enorme fardo, que o
idoso acarreta, possuindo assim uma vida com qualidade refere o autor Paschoal (2000, cit
In Freitas, 2002).
47
-
Qualidade de Vida na Velhice
A natureza das necessidades dos idosos situam-se a vrios nveis (so de
ordem social, familiar, fsica e psicossocial e de ordem socio-econmica) e vrios so os
autores (e.g. Neri, Paschoal e Ribeiro) que reflectem sobre a influncia destes factores
na sade do idoso.
Os idosos raramente tm problemas de sade especficos, nicos e precisos,
eles so qualificados como vulnerveis, susceptveis e frgeis. no mundo dos
cuidados ao e com o idoso que necessrio entrar, entrando nele de forma a perceber os
idosos como alvo principal de cuidados, na perspectiva que diz respeito ao idoso que
est nossa frente, com caractersticas muito especificas, as suas, das quais decorre
aquilo que chamado, cuidados personalizados (Paschoal, 2006).
Neri (1999) aponta vrios elementos como determinantes ou indicadores de
bem-estar na velhice: longevidade; sade biolgica; sade mental; satisfao; controle
cognitivo; competncia social; produtividade; actividade; eficcia cognitiva; status
social; renda; continuidade de papeis familiares e ocupacionais e continuidade de
relaes informais em grupos primrios.
Segundo Neri (1999) identificar as condies que permitem envelhecer bem,
com boa qualidade de vida e senso pessoal de bem estar, a tarefa de vrias
disciplinas no mbito das cincias biolgicas, da psicologia e das cincias sociais. A
investigao sobre as condies que permitem uma boa qualidade de vida na velhice,
bem como sobre as variaes desse estado reveste-se de grande importncia cientfica e
social.
48
-
Qualidade de Vida na Velhice
Ao tentar resolver a aparente contradio que existe entre velhice e bem-estar,
a pesquisa pode no s contribuir para a compreenso do envelhecimento e dos limites
para o desenvolvimento humano, como tambm para a gerao de alternativas vlidas
de interveno visando ao bem-estar de pessoas maduras (Neri, 1999).
De acordo com Paschoal (2006) para os idosos que vivem em lares e
instituies, so vrios os factores que podem contribuir para o aumento da qualidade
de vida, que passam desde a preservao da identidade, fazendo com que o idoso
mantenha: uma percepo pessoal com uma histria, sentimentos de utilidade e uma
noo de realizaes pessoais; o direito privacidade; tomada de deciso e uma
continuidade dos papis sociais normais,s assim o idoso poder sentir que as suas
necessidades esto a ser respeitadas.
Reconhece-se, no entanto, que o envelhecimento um processo de perdas
biolgicas e sociais, que traz vulnerabilidades que so diferenciadas por gnero, idade,
grupo social, raas e regies geogrficas, entre outros (Neri, 1999).
diferenciado tambm o momento (a idade) em que elas se iniciam. Tais
vulnerabilidades so afectadas pelas capacidades bsicas (com as quais o indivduo
nasceu), pelas capacidades adquiridas ao longo da vida e pelo contexto social em que os
indivduos se encontram.
Conclui-se assim, que a satisfao das necessidades na velhice depende da
capacidade de manter ou restaurar o bem-estar subjectivo, justamente numa poca da
vida em que a pessoa est mais exposta a riscos e crises de natureza biolgica,
psicolgica e social.
49
-
PARTE II
ESTUDO EMPRICO
-
OBJECTIVOS E METODOLOGIA DE INVESTIGAO
-
3. OVERVIEW A questo do envelhecimento vem ganhando representatividade tendo em
conta o prolongamento da esperana de vida da populao e consequente crescimento
do nmero de idosos em todo o mundo.
As diversas reas do conhecimento vm dando nfase, nas suas pautas de
investigao e interveno, velhice e ao processo de envelhecimento bem como
disponibilizando aparatos tcnico-cientficos para a melhoria das condies de vida
dessa populao, cujo crescimento gira em torno de 11 milhes a cada ano (Neri, 2002).
A Psicologia Social, particularmente nas ltimas dcadas, tem desenvolvido
microteorias contemplando a velhice, de modo que tem contribudo, ao lado da
Psicologia da Personalidade, para o entendimento dos diversos factores intrnsecos ao
processo de envelhecimento, possibilitando, com isso, intervenes psicossociais que
propiciem melhores condies de vida ao idoso (Neri, 2002).
Muitos estudos tm sido desenvolvidos com a populao idosa, no entanto
importante ter em conta, as necessidades especficas dos idosos, no esquecendo que
muitas vezes esses mesmos idosos, esto inseridos em contextos diferenciados.
Assim, nosso propsito abordar neste estudo, o envelhecimento,
relacionando as necessidades de aconselhamento percepcionadas pelos idosos, tendo em
conta o contexto em que os idosos habitam.
Para tal foi elaborado um estudo descritivo correlacional de cariz
exploratrio, com o objectivo de comparar trs grupos, ao nvel das necessidades de
aconselhamento.
52
-
O estudo incide sobre a populao idosa e participaram nesta investigao 302
participantes, divididos por trs grupos de idosos: idosos institucionalizados; idosos que
residem sozinhos e idosos que residem com os seus familiares.
Pretende-se assim comparar estes trs grupos ao nvel das necessidades de
aconselhamento em funo do design: 3 (contexto: habitam com familiares vs habitam
sozinhos vs institucionalizados) x 2 (gnero: homem vs mulher) x 2 (classe etria: igual
ou inferior a 75 anos vs superior a 75 anos).
No sentido de elaborar este trabalho procedeu-se ao levantamento de algumas
questes fundamentais para este estudo.
Pergunta 1- Em que medida que existe relao entre as necessidades de
aconselhamento e os desejos de aconselhamento, tendo em conta os diferentes
contextos (grupo de idosos - institucionalizados, que residem sozinhos e que residem
com os seus familiares).
Pergunta 2- Em que medida que existe relao entre as necessidades de
aconselhamento e os desejos de aconselhamento, tendo em conta o gnero.
Pergunta 3- Em que medida que existe relao entre as necessidades de
aconselhamento e os desejos de aconselhamento, tendo em conta diferentes classes
etrias.
.
53
-
3.1. EXPOSIO DAS VARIVEIS
Variveis Organsmicas
Definio Operacionalizao
Classe etria 1- Igual ou inferior a 75 anos
2 -Superior a 75 anos
Gnero 1- Masculino
2- Feminino
Contexto 1- Idosos que habitam com familiares
2- Idosos que habitam sozinhos
3- Idosos institucionalizados
Variveis em Estudo
Alpha Global
Necessidades de aconselhamento
Desejos de aconselhamento
0.914
Definio Operacionalizao
Necessidades de Aconselhamento
Todas as variveis que a seguir se apresentam so operacionalizadas atravs de uma escala tipo Likert, de 5 pontos, em que os extremos vo de Discordo Totalmente (1) a Concordo Totalmente (5). So 18 itens avaliados no total, distribudos por 4 dimenses, necessidades pessoais (7 itens), necessidades sociais (4 itens), necessidades de actividade (4 itens) e necessidades ambientais (3 itens).
54
-
1.Necessidades Pessoais 3-Eu no tenho visitas suficientes. 4- Eu estou preocupado com a minha sade. 5- difcil, para mim, tomar decises. (Alpha- 0.457) 6- Estou preocupado(a) com as mudanas do meu corpo medida que envelheo. 7- Sentia-me melhor comigo prprio(a) quando era mais novo(a). 15- Eu tenho problemas em lidar com a morte. 18- Eu estou preocupado(a) com a minha sade.
2.Necessidades Sociais 2- difcil, para mim, lidar com os meus familiares. 8- difcil, para mim, fazer amizades. (Alpha-0.741) 10- Eu estou preocupado(a) com os meus sentimentos Sexuais. 16- Eu estou preocupado(a) com a minha situao Marital.
3.Necessidades de Actividade 1- Eu no estou feliz com as minhas actividades de tempos livres. 12- Eu estou preocupado(a) com a adaptao minha (Alpha- 0.423) reforma. 13- difcil, para mim, encontr