house of night livro #08.5 - o juramento de dragon (p.c.cast e kristin cast)

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Livro extra da Série House Of NightConta a história do professor Dragon Lankford

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    CAPTULO UM

    Oklahoma, dias atuais

    A ira e a confuso se agitavam dentro de Dragon Lankford. Neferet estava mesmo deixando-os

    depois de to pouco tempo desde a morte do garoto e a visita catastrfica de sua deusa?

    Neferet, o que h com o corpo do novato? No deveramos seguir mantendo viglia? Com um

    esforo, Dragon Lankford manteve seu tom de voz calmo enquanto se dirigia a sua Alta-Sacerdotisa.

    Neferet virou seus belos olhos cor de esmeralda para ele. Sorriu-lhe suavemente.

    Est certo em me recordar, Mestre da Espada. Aqueles de vocs que honraram Jack com velas

    de esprito prpuras, atirem-nas na pira enquanto se pem em marcha. Os guerreiros Filhos de Erebus

    mantero a viglia sobre o corpo do pobre novato pelo resto da noite.

    Ser como disse, Sacerdotisa.

    Dragon se inclinou profundamente ante ela, perguntando-se por que sentia comiches em sua

    pele quase como se estivesse coberto de sujeira e p. Ele teve de repente um desejo inexplicvel de

    tomar um banho com gua muito, muito quente. Neferet, sua conscincia lhe falou suavemente. Ela

    no faz a coisa certa desde que Kalona se libertou da terra. Voc costumava sentir isso.

    Dragon sacudiu sua cabea e trincou os dentes. Os acontecimentos secundrios no tinham

    importncia. Os sentimentos j no tinham importncia. O dever abarcava tudo a vingana era

    extrema.

    Foco! Devo manter minha mente no trabalho que h para fazer!, ordenou a si mesmo, e logo

    assentiu rapidamente para alguns guerreiros.

    Dispersem a multido!

    Neferet fez uma pausa para falar com Lenobia antes de sair do centro do campus e se dirigir s

    habitaes dos professores. Dragon apenas lhe deu uma espiada. Logo depois, sua ateno se voltou

    para a grande pira e para o corpo em chamas do menino.

    A multido est sendo dispersa, Mestre da Espada. Quantos de ns ficaremos para fazer a

    viglia com o senhor? Christopher, um de seus oficiais superiores, perguntou.

    Dragon vacilou antes de contestar, lhe tomou um momento para concentrar-se o suficiente para

    absorver o fato de que os novatos e professores que se aglomeravam incertamente ao redor da

    brilhante pira ardente estavam agitados e completamente angustiados. O dever. Quando todo o resto

    falha, recorra ao dever!

    Que dois guardas escoltem os professores de volta a suas residncias. O resto de vocs ir

    com os novatos. Assegurem-se de que todos regressem a suas habitaes. Permanecero perto de seus

    dormitrios pelo resto desta terrvel noite. a voz de Dragon estava rouca pela emoo. Os

    estudantes precisam sentir a presena protetora de seus guerreiros Filhos de Erebus para que possam

    ao menos sentir-se seguros, mesmo que no paream muito seguros disso.

    Mas a pira do garoto...

    Eu ficarei com Jack. Dragon falou em um tom que no permitia discusso. No deixarei o

    menino at que o resplendor vermelho de suas cinzas se transforme em xido. Cumpra seu dever,

    Christopher, a Morada da Noite precisa de voc. Me ocuparei para que a tristeza fique apenas aqui.

    Christopher fez uma reverncia e logo comeou a distribuir ordens, seguindo as ordens do

    Mestre da Espada com fria eficincia.

    Parecia que s haviam passado segundos quando Dragon percebeu que estava s. Ali estava o

    som da pira ardente o enganosamente tranquilizador estalido do fogo. Exceto por isso, s havia a noite

    e o enorme vazio no corao de Dragon.

    O Mestre da Espada mirava fixamente as chamas como se pudesse descobrir o blsamo que

    apaziguaria sua dor dentro delas. O fogo tremeluzia do mbar ao ouro e ao vermelho, recordando a

    Dragon uma joia nica, delicada, atada por um fio de cabelo cor de sangue na lenha.

  • 3

    Como se por conta prpria, sua mo enfiou-se no bolso. Seus dedos se fecharam ao redor de um

    disco oval que encontrou ali. Era fino e macio. Ele podia sentir o fino indcio do pssaro azul que uma

    vez havia estado gravado to clara e belamente no verso. A pea dourada descansava comodamente

    em sua mo. Agarrou-a, protegeu-a e segurou-a antes de puxar lentamente o medalho o bolso. Dragon

    enrolou a tira de couro aveludada pelos seus dedos, esfregando-a com seu polegar num movimento

    distrado e familiar que era mais por hbito que tenso. Expulsando uma profunda respirao que soava

    mais como um soluo que um suspiro, abriu sua palma e mirou o que havia.

    A luz da pira de Jack se refletiu na superfcie dourada do medalho, capturando o desenho

    do pssaro.

    Pssaro azul, Sialia sialis, a ave do estado do Missouri! Dragon disse em voz alta.

    Sua voz estava desprovida de emoo, embora a mo que segurava o medalho tremesse.

    Me pergunto se todavia posso te encontrar no ambiente selvagem, no alto dos girassis que

    ficam junto ao rio. Ou a sua beleza e a de todas as flores se extinguiram tambm, junto com toda a

    beleza e a magia deste mundo?

    Sua mo se cerrou to fortemente sobre o medalho que seus ns dos dedos ficaram brancos.

    E logo, to rapidamente quanto seu punho havia fechado, Dragon afrouxou o aperto, abrindo sua

    mo e voltando a admirar respeitosamente a joia de ouro outra vez.

    Idiota! sua voz era entrecortada. Podia ter quebrado!

    Dedos temerosos tocaram nervosamente a pea, tentando abri-la. O medalho abriu facilmente,

    ileso, mostrando uma imagem que, embora desvanecida pelo tempo, ainda mostrava o rosto sorridente

    de uma pequena vampira cujo olhar parecia capturar e reter o dele.

    Como voc pde ir? Dragon murmurou.

    Um dedo traou o antigo retrato do lado direito do medalho, e logo se moveu para a metade

    esquerda da joia para acariciar um nico cacho loiro que havia ali, onde seu retrato mais jovem havia

    estado uma vez. Seu olhar se moveu do medalho para o cu noturno e repetiu a pergunta mais forte,

    de sua alma, pedindo uma resposta.

    Como voc pde ir?

    Como que em resposta a Dragon, ele escutou o ressonante grasnar peculiar de um corvo. A ira

    inundou Dragon, to forte e fervente que suas mos outra vez tremeram s que desta vez no de dor

    ou perda, mas pela necessidade de controlar seu instinto de golpear, mutilar, vingar.

    Te vingarei. a voz de Dragon era como a morte. Mirou o medalho mais uma vez e falou para

    o trmulo cacho loiro. Seu drago te vingar. Corrigirei o que permiti que sasse mal. No cometerei o

    mesmo erro outra vez, meu amor. A criatura no sair impune. Te dou meu juramento.

    Uma rajada de vento clido da pira soprou repentinamente forte, levantando a mecha de cabelo

    enquanto Dragon tentava, sem xito, det-la, o cacho flutuou fora de seu alcance cada vez mais para

    cima, pela clida corrente de ar, quase como uma pluma. Imediatamente depois, com um som parecido

    com o arquejo de uma mulher, o clido vento mudou, levando a mecha de cabelo at a fogosa pira,

    onde se transformou em fumaa e recordaes.

    No! Dragon gritou, caindo de joelhos com um soluo. E agora perdi a ltima parte de ti.

    Foi minha culpa... disse, comeando a chorar. Foi minha culpa, a sua morte foi minha culpa.

    Atravs das lgrimas que enchiam seus olhos, Dragon viu que a fumaa da mecha de cabelo de

    sua amada companheira redemoinhou e danou diante dele e logo comeou a brilhar magicamente,

    mudando de fumaa a um p com flashes amarelos, verdes e marrons que seguiram girando vrias

    vezes at que comearam a separar-se e formar partes distintas de uma imagem: os brilhos verdes se

    converteram em um caule largo e grosso as delicadas ptalas amarelas de uma flor com seu centro

    marrom.

    Dragon limpou seus olhos inundados de lgrimas para acreditar no que estava vendo.

    Um girassol?

  • 4

    Seus lbios se sentiam to anestesiados pelo choque quanto seu crebro. a sua flor!, sua

    mente gritou. Deve ser um sinal dela!

    Anastsia! Dragon gritou apesar do entorpecimento, dando um passo terrvel e

    maravilhosa centelha de esperana. Est aqui, minha amada?

    A imagem do girassol tremulou e comeou a flutuar e mudar. O amarelo fluiu em uma cascata

    que se transformou em louro dourado. O marrom clareou para tomar o tom da pele beijada pelo sol, e o

    verde se fundiu com a pele, derretendo-se e tornando-se brilhantes orbes que se converteram em olhos

    que eram de um turquesa familiar e adorado.

    Oh deusa, Anastsia! voc!

    A voz de Dragon se quebrou enquanto tratava de alcan-la. Mas a imagem se elevou um

    brilho brincalho alm da ponta de seus dedos. Ele gritou em frustrao e logo reprimiu o som de seu

    sofrimento enquanto a voz de sua companheira comeava a verter-se ao redor dele como uma corrente

    de gua musical sobre seixos. Dragon se conteve em alento e escutou a mensagem.

    Eu enfeiticei este medalho para ti, meu amado, meu companheiro.

    Chegou o dia em que a morte nos obrigou a nos separar.

    Deve saber que, para sempre, estarei esperando por ti.

    At que nos encontremos, mantenho seu amor seguro dentro do meu corao.

    Lembre, seu juramento era equilibrar a fora com a misericrdia.

    No importa quanto tempo estivermos separados, tem que cumprir esse juramento.

    Eternamente... eternamente...

    A imagem sorriu-lhe uma vez antes de perder sua forma e voltar a ser fumaa, e logo nada.

    Meu juramento! Dragon gritou, colocando-se de p. Primeiro Nyx e agora voc me recorda.

    No entende que por culpa desse maldito juramento voc est morta? Se tivesse escolhido de maneira

    diferente h muitos anos, talvez tivesse evitado tudo isso que passou. A fora equilibrada pela

    misericrdia foi um erro. No se lembra, minha amada? No se lembra? Eu sim. Nunca esquecerei...

    Enquanto Dragon Lankford, Mestre da Espada da Morada da Noite, mantinha viglia sobre o

    corpo de um calouro cado, manteve-se olhando a ardente pira e deixou que as chamas o levassem de

    volta para que ele pudesse reviver a dor e o prazer a tragdia e o triunfo de um passado que havia

    dado forma a um futuro desolador.

    CAPTULO DOIS

    1830, Inglaterra

    Pai, no pode renegar-me e expulsar-me para as Amricas, sou seu filho!

    Bryan Lankford, terceiro filho do Conde de Lankford, sacudiu sua cabea e olhou incrdulo para

    seu pai.

    meu terceiro filho. Tenho outros quatro, dois mais velhos e dois mais jovens. Nenhum to

    problemtico quando voc. A sua existncia e seu comportamento fazem com que seja muito simples

    fazer isto.

    Bryan ignorou a comoo e o pnico que tentavam se libertar de seu interior por causa das

    palavras do pai. Se forou a relaxar e se curvar despreocupadamente contra a porta de madeira prxima

    enquanto lhe dava um sorriso, aquele encantadoramente belo que as mulheres no resistiam e que

    fazia os homens desejarem ser como ele.

    A expresso fechada e inalterada do Conde dizia que estava consciente do sorriso de Bryan

    Lankford e era totalmente indiferente a ele.

    Minha deciso est tomada, garoto. No se desonre ainda mais com splicas inapropriadas.

  • 5

    Splicas! Bryan sentiu uma ira familiar agitar-se. Por que seu pai tinha sempre que diminu-

    lo? Nunca havia suplicado por nada em sua vida e no seria agora que iria comear, sem importar as

    consequncias. No te imploro, pai. Simplesmente estou tratando de raciocinar contigo.

    Raciocinar? Novamente me causa vergonha por culpa de seu temperamento e sua espada e

    me pede para raciocinar?

    Pai, foi apenas uma briga, e com um escocs! Nem sequer o matei. Na realidade, feri mais sua

    vaidade que seu corpo.

    Bryan tentou uma risada, mas foi cortado pela tosse que o esteve incomodando o dia todo, s

    que dessa vez foi seguida por uma onda de fraqueza. Estava to distrado pela traio de seu corpo que

    no tentou resistir quando de repente seu pai diminuiu a distncia entre eles e com uma mo pegou o

    leno que rodeava o pescoo de Bryan e o colocou contra a parede do estbulo com uma fora que o

    pouco ar que lhe restava escapou. Com a outra mo o Conde golpeou a ainda sangrenta espada do dbil

    aperto de Bryan.

    Seu pequeno fanfarro presunoso! Esse escocs era um Lorde vizinho! Suas terras fazem

    fronteira com as minhas, como voc sabe, j que sua filha e sua cama esto a uma curta cavalgada de

    nossa propriedade!

    O rosto do Conde, enrijecido pela fria, estava to perto de seu filho que sua saliva choveu sobre

    Bryan.

    E agora as suas aes impetuosas deram a esse Lorde todas as provas que precisa para ir ao

    nosso tonto novo rei falante e pedir reparaes pela perda da virgindade de sua filha.

    Virgindade! Bryan conseguiu falar a virgindade de Aileene estava perdida muito antes que

    eu a encontrasse;

    Isso no importa! o Conde apertou ainda mais o punho com que sustentava seu filho. O

    que importa que voc foi um imbecil atrapalhado e agora esse dbil rei tem todas as desculpas que

    precisa para olhar para o outro lado quando um grupo de ladres do norte se precipitar at o sul para

    roubar o gado. Atrs do gado de quem acha que eles iro, meu filho?

    Bryan podia apenas arquejar e sacudir sua cabea. Com um olhar de desprezo, o Conde de

    Lankford soltou seu filho, permitindo-lhe cair, tossindo violentamente, no sujo cho do estbulo. Ento o

    nobre falou aos jaquetas vermelhas, membros de sua guarda pessoal que estiveram observando

    suavemente o infortnio de seu filho, e acenou ao alto comandante, salpicado de varola, de sua

    esquadra.

    Jeremy, como te ordenei, amarre-o como o sem-vergonha que . Escolha mais dois homens

    para te acompanhar. Levem-no ao porto. Coloquem-no no prximo barco para as Amricas. No quero

    v-lo nunca mais. J no meu filho.

    Ento se virou para o rapaz dos estbulos.

    Traga meu cavalo. Desperdicei tempo suficiente de meu precioso tempo com esta estupidez.

    Pai! Espere, eu... Bryan comeou, mas outro ataque de tosse cortou suas palavras.

    O Conde s se deteve para olhar seu filho de cima.

    Como j te expliquei, substituvel e j no de minha incumbncia. Levem-no!

    No pode deixar-me assim! chorou. Como viverei?

    Seu pai fez um gesto para a espada de Bryan, que jazia no cho longe dele. Havia sido um

    presente pelo seu dcimo terceiro aniversrio, e mesmo na penumbra do estbulo, as joias incrustadas

    no punho brilhavam.

    Talvez isso seja de melhor uso em sua nova vida do que foi para mim em sua antiga vida.

    Permitam-lhe levar sua espada se dirigiu aos guardas. e nada mais! Tragam-me o nome do barco e

    a marca de seu capito como prova de que deixou a Inglaterra que tenha ido antes que a manh

    chegue, e haver uma bolsa de prata esperando para ser dividida entre vocs. falou o velho homem e

    logo se dirigiu ao cavalo que esperava.

  • 6

    Bryan Lankford tentou gritar a seu pai para dizer-lhe o quanto se arrependeria depois, quando

    recordasse que seu terceiro filho era, de fato, o mais problemtico, mas tambm talentoso, inteligente e

    interessante mas outro ataque de tosse se apoderou do garoto de dezessete anos to fortemente que

    apenas pde arfar sem fazer nada e ver seu pai galopar para longe. No pde nem lutar quando a

    guarda do Conde lhe amarrou e o arrastou pelo cho do estbulo.

    J era hora de um pequeno galo de briga como voc ser humilhado. Vamos ver o quanto voc

    gosta ser comum.

    Rindo bastante, Jeremy, o mais antigo e pomposo dos guardas do pai de Bryan, atirou o garoto

    na traseira de uma charrete, inclinando-se antes para alcanar a espada de Bryan e, com um olhar

    ganancioso ao ver a brilhante empunhadura, meteu-a em seu cinto.

    ***

    No momento em que Bryan chegou ao porto estava escuro, tanto o cu quanto o seu corao.

    No apenas havia sido deserdado por seu pai e expulso de sua famlia e da Inglaterra, mas tambm

    estava tornando-se cada vez mais claro que estava nas garras de uma horrvel praga. Quo rpido o

    mataria? Antes que entrasse num dos fedidos navios, ou morreria depois de ser arrastado para dentro

    de um dos barcos mercantes que se balanavam nas guas escuras da baa?

    No vou levar nenhum jovenzinho tossindo como esse a bordo. o capito do barco levantou

    sua lamparina mais acima, examinando o rosto do garoto amarrado que tossia. No. franziu o cenho

    e sacudiu a cabea. Ele no cruzar o mar comigo.

    Este o filho do Conde de Lankford. Voc o levar ou ter que responder ao senhor o porqu

    de no ter feito. grunhiu o guarda superior do Conde.

    No vejo nenhum conde aqui. Vejo um garoto salpicado de merda que tem febre. o homem

    do mar cuspiu na areia. E no responderei a ningum, especialmente a um conde inexistente, se eu

    morrer por causa da doena desse moleque.

    Bryan tentou sufocar a tosse no para tranquilizar o capito, mas para descansar a queimao

    no peito. Estava segurando sua respirao quando o homem saiu das sombras, alto, magro e vestido de

    negro, sua pele plida em contraste com a escurido que parecia rode-lo. Bryan tremeu, perguntando-

    se se seu olhar febril o estava enganando aquilo era realmente uma tatuagem de lua crescente no

    meio de sua testa, rodeada de mais tatuagens? Sua viso estava borrada, mas Bryan estava quase

    seguro de que as tatuagens luziam como espadas cruzadas.

    Ento a razo alcanou a viso e Bryan sentiu uma sacudida de reconhecimento. A lua crescente

    e as tatuagens ao redor s podiam significar uma coisa: o homem no era um homem era um

    vampiro! Foi ento que a criatura levantou a mo, com a palma virada para cima, apontando

    diretamente para Bryan. O garoto observou assombrado as espirais que decoravam a palma, e o

    vampiro falou algumas palavras que alterariam para sempre a sua vida.

    Bryan Lankford! A Noite escolheu a ti. Tua morte ser o teu renascimento. A Noite o chama;

    escute a Sua doce voz. Seu destino o espera na Morada da Noite!

    O dedo comprido da criatura apontou para Bryan e seu rosto explodiu em dor enquanto sentia o

    contorno de uma lua crescente queimar em sua pele. Os homens de seu pai reagiram

    instantaneamente. Tiraram Bryan e se afastaram dele, mirando com horror o menino vampiro. Notou

    que o capito do barco havia deixado sua lamparina balanando na areia e desapareceu na escurido.

    Bryan no viu nem escutou o vampiro chegar perto viu apenas os guardas moverem-se

    nervosamente, se agrupando atrs de Jeremy, as espadas meio desembainhadas, a indeciso clara em

    seus rostos e aes. Os vampiros guerreiros tinham uma impressionante reputao. Seus servios de

    mercenrios eram muito solicitados, porm excetuando a beleza e a fora de suas mulheres, e o fato de

    que adoravam uma deusa escura, a maioria dos humanos sabia pouco de sua sociedade e de seu

  • 7

    funcionamento. Bryan observou Jeremy tentar decidir se aquela criatura, que era obviamente o que

    chamavam de rastreador, era tambm um perigoso vampiro guerreiro.

    Logo sentiu um forte agarre em seu brao, e Bryan foi posto de p para enfrentar a criatura.

    Regressem de onde vieram. Esse garoto agora um calouro Marcado, e como tal, j no sua

    responsabilidade. o vampiro falou com um estranho sotaque, falando as palavras languidamente, o

    que s aumentava o mistrio e a sensao de perigo que ele emanava.

    Os homens vacilaram, todos olhando seu chefe, que falou rapidamente, chegando a soar

    arrogante e agressivo ao mesmo tempo.

    Necessitamos de provas para seu pai de que deixou a Inglaterra.

    Suas necessidades no me interessam. o vampiro disse solenemente. Diga ao pai do

    garoto que ele estar a bordo de um barco esta noite, embora um mais escuro do que aquele que vocs

    humanos planejaram. No tenho nem o tempo nem a pacincia para dar-lhes mais provas que minha

    palavra.

    Ento o vampiro virou-se para Bryan.

    Venha comigo. Seu futuro te espera.

    Com um movimento de seu sobretudo negro, o vampiro girou e comeou a andar pelo porto.

    Jeremy esperou que a criatura fosse tragada pela escurido. Ento encolheu os ombros e mirou

    Bryan com desgosto, antes de dizer:

    Nossa misso est completa. O senhor ordenou que pusssemos seu filho doente em um

    barco, e para onde ele est indo. Vamos sair deste lugar malfico e regressar s nossas camas

    quentes na propriedade Lankford.

    Os homens estavam se afastando quando Bryan se ergueu. Ele tomou um instante para respirar

    fundo e saborear o alvio que sentiu quando a tosse debilitante e asfixiante no veio. Logo, deu um

    passo a frente e falou com uma voz que era, novamente, forte e firme.

    Devem deixar minha espada.

    Jeremy se deteve e enfrentou Bryan. Lentamente, sacou a espada de seu cinto. Ignorou Bryan e

    em seu lugar estudou as pedras preciosas incrustadas no punho. Seu sorriso era ganancioso e seus

    olhos estavam frios quando finalmente virou para Bryan.

    Tem ideia de quantas vezes seu pai me chamou de minha cama quente para te buscar de

    alguma briga em que tinha se metido?

    No, no tenho. Bryan respondeu bruscamente.

    Claro que no. A nica coisa com que voc se preocupa so seus prprios prazeres. Assim,

    agora que foi deserdado e no mais da nobreza, ficarei com a espada e o dinheiro que ganhar por

    vend-la. Pense nisso como pagamento pela dor no traseiro que voc tem sido nesses ltimos anos.

    Bryan sentiu uma onde de raiva, e com ela veio uma onde calor por todo seu corpo. Agindo por

    instinto, o garoto diminuiu a distncia entre ele e o arrogante guarda. Em alguma parte de seu crebro,

    Bryan sabia que seus movimentos eram inexplicavelmente rpidos, mas se manteve centrado na ideia

    que era uma fora impulsiva nele: a espada minha ele no tem nenhum direito.

    Como um borro em movimento, Bryan pegou a mo da espada de Jeremy, e com o mesmo

    movimento a tomou. Quando os outros guardas se adiantaram, ele arremeteu por baixo e cravou a

    ponta da espada diretamente no p do homem mais prximo, fazendo o guarda dobrar-se em dois e cair

    no cho em agonia. Bryan puxou-a automaticamente e, mudando de direo, golpeou o segundo guarda

    de um lado da cabea, deixando-o aturdido. Movendo-se com uma graa mortal, Bryan seguiu o

    movimento de sua espada, girando ao redor, e terminando com a ponta afiada pressionada to

    firmemente contra o pescoo de Jeremy que sua pele pingava gotas de sangue.

    Essa espada minha. No tem nenhum direito sobre ela. Bryan escutou sua voz falando

    seus pensamentos em voz alta, e estava surpreso do quanto soou normal no estava sequer

    respirando com dificuldade.

  • 8

    No havia como Jeremy ou algum dos outros guardas cados saberem que todo o seu interior

    estava queimando em ira e desejo de vingana.

    Agora diga porque no deveria cortar sua garganta.

    Adiante. Golpeie-me. Seu pai uma vbora, e mesmo deserdado filho de uma serpente.

    Bryan ia mat-lo. Ele queria sua raiva e seu orgulho pediam isso. E por que no deveria mat-

    lo? O guarda era apenas um campons, e um que o havia insultado, ao filho de um conde! Porm antes

    que Bryan pudesse cortar o pescoo do guarda, a voz do vampiro deslizou no ar entre eles.

    No desejo ser perseguido e talvez interrogado pela Marinha Britnica. Deixe-o viver. Seu

    destino, voltar a servir aqueles que deprecia, um castigo muito maior que uma morte rpida.

    Ainda sustentando a ponta da espada no pescoo do guarda, Bryan olhou para trs, para o

    vampiro. O vampiro falou com uma voz calma que soou quase zangada, contudo sua ateno estava na

    garganta do guarda e nas pequenas gotas escarlates que a espada havia libertado. O bvio desejo do

    vampiro intrigou tanto quanto horrorizou o jovem. nisso que me transformei? Bryan empurrou o guarda

    para longe.

    Ele tem razo. Sua vida um castigo muito maior que minha espada. Volte a ela e amargura

    com que a vive.

    Sem olhar ao homem mais uma vez, Bryan lhe deu a espada e caminhou para junto do vampiro.

    O vampiro inclinou sua cabea em um pequeno gesto de reconhecimento.

    Tomou a deciso correta.

    Me insultou. Deveria t-lo matado.

    O vampiro inclinou a cabea para um lado, como se pensasse na soluo de um problema.

    Foi um insulto cham-lo de serpente?

    Bem, sim. Chamar-me de dor no traseiro e roubar-me o que meu tambm foi um insulto.

    O vampiro riu suavemente.

    No um insulto ser chamado de serpente. H criaturas aliadas com a nossa Deusa, mas no

    creio que ele estivesse nomeando-o como uma. Vi que venceu esses trs homens. Parece mais com um

    drago que com uma serpente.

    Enquanto Bryan ficava sem palavras em surpresa, ele continuou.

    E os drages esto por cima dos pequenos insultos que os simples mortais pudessem lanar-

    lhes.

    H drages na Amrica? Bryan soltou o primeiro dos confusos pensamentos que enchiam

    sua mente.

    O vampiro riu novamente.

    No ouviu? A Amrica est cheia de maravilhas.

    Ento fez um movimento de varrer com a mo, gesticulando para mais ao longe no porto.

    Vamos, temos que marchar para que possamos nos cobrir. Passamos tempo suficiente nestas

    costas arcaicas. Minhas lembranas da Inglaterra no eram boas, e nada do que encontrei enquanto te

    esperava fez algo para melhor-las.

    O vampiro comeou a descer aos limites do porto com Bryan quase correndo para acompanhar

    as longas passadas.

    Disse que estava me esperando?

    Sim, estive te esperando. ele confirmou, ainda movendo-se deliberadamente pelo porto

    escuro.

    Sabia sobre mim?

    O vampiro assentiu, fazendo com que seu longo cabelo castanho cobrisse seu rosto.

    Sabia que havia um calouro que devia esperar para Marcar. ele olhou para Bryan e seus

    lbios se inclinaram em um leve sorriso. Voc, jovem drago, o ltimo novato que Marcarei.

    Bryan franziu as sobrancelhas.

  • 9

    Seu ltimo novato? O que vai acontecer?

    Bryan tentou no soar preocupado. Depois de tudo, no conhecia bem o vampiro. E a criatura

    era um vampiro: misterioso, perigoso e estranhamente convincente. O sorriso do vampiro aumentou.

    Terminei meu servio como Rastreador de Nyx. Agora posso retornar a minha posio de

    guerreiro Filho de Erebus a servio da Morada da Noite de Tower Grove.

    Tower Grove? Isso fica na Amrica?

    O estmago de Bryan se tencionou. Quase havia esquecido que sua vida tinha virado de cabea

    para baixo em menos de um dia.

    De fato, fica na Amrica. Saint Louis, Missouri, para ser exato.

    O vampiro havia chegado ao final do porto o escuro final, Bryan observou, enquanto ouvia a

    gua chapinhando ao redor de um grande barco, mas no podia ver mais que uma sombra descomunal

    flutuando na gua. Notou que o vampiro havia parado junto a ele e o observava cuidadosamente. Bryan

    olhou diretamente em seus olhos, embora seu corpo se sentisse mais como uma mola prestes a ser

    lanada a qualquer momento.

    Eu sou Shaw. o vampiro apresentou-se finalmente, e estendeu a mo para Bryan.

    Eu sou Bryan Lankford. Bryan fez uma pausa e esboou um sorriso que era apenas meio-

    sarcstico. Sou o ex-filho do Conde de Lankford, mas acho que j sabia disso.

    Quando Shaw tomou a mo de Bryan, saudou-o maneira tradicional dos vampiros, agarrando

    seu antebrao em vez da mo. Bryan imitou seu movimento.

    Merry meet, Bryan Lankford. Shaw falou. Ento soltou o brao do jovem e fez um gesto na

    direo da escurido e ao barco que estava escondido nela.

    Este o Barco da Noite, que levar a mim, e talvez a ti, at a Amrica, para a minha amada

    Morada da Noite em Tower Grove.

    Talvez a mim? Mas pensei...

    Shaw levantou uma mo, silenciando Bryan.

    Deve, de fato, deve unir-se a uma Morada da Noite, e rpido. Essa Marca... Shaw apontou

    para o contorno azul-safira de uma lua crescente que ainda doa no centro da testa de Bryan. ...

    significa que deve estar na companhia de vampiros adultos at que complete a Mudana, ou at que...

    Shaw vacilou.

    Ou at que morra. Bryan completou.

    Shaw assentiu solenemente.

    Assim que souber algo acerca do mundo em que est para entrar, jovem drago, ou

    completar a transformao em algum momento dos prximos quatro anos ou morrer. Esta noite

    comeou um caminho do qual no h volta. Agora, os guardas disseram a seu pai que se uniria comigo

    em minha viagem ao Novo Mundo, mas a verdade que voc no precisa ir para l. Pode escolher ficar

    na Inglaterra. No foi s o seu destino que mudou quando foi Marcado.

    Para melhor ou para pior? Bryan perguntou.

    Para exatamente o que fizer dele, e Nyx estar de acordo. disse enigmaticamente e em

    seguida continuou: No pode controlar se completar ou no a Mudana com xito, mas pode

    controlar onde passar os prximos anos. Se deseja permanecer na Inglaterra, posso fazer com que seja

    levado Morada da Noite de Londres.

    O rastreador descansou brevemente sua mo no ombro de Bryan.

    No necessita da permisso da sua famlia para perseguir o futuro que mais deseja.

    Posso escolher ir com voc? Bryan perguntou.

    Sim, mas antes que tome sua deciso, creio que h algo que deveria ver.

    Shaw virou para enfrentar o barco, que para o garoto era uma sombra enorme e escura

    descansando sinistramente sobre a gua, atada por cordas incrivelmente grossas. Como se no tivesse

    problemas para ver na espessa cobertura da noite, Shaw deu dois passos para a borda do cais e fez

  • 10

    algo que desconcertou Bryan totalmente. Girou para enfrentar o sul, levantou as mos e disse quatro

    palavras em voz baixa:

    Fogo, venha a mim.

    Instantaneamente Bryan ouviu um crepitar e sentiu uma onda de calor no ar ao seu redor. Ficou

    sem ar quando uma bola de fogo tremeluzente se formou entre as mos estendidas de Shaw. O vampiro

    jogou o fogo, como se lanasse um bola, e o que Bryan via agora era uma comprida tocha, a parte

    superior empapada em leo se acendeu instantaneamente.

    Demnios! Bryan no pde conter sua surpresa. Como fez isso?

    Shaw sorriu.

    Nossa Deusa me abenoou com mais habilidades que as de um guerreiro, mas no era isso

    que eu queria que visse.

    Shaw levantou a tocha e a manteve na frente deles para que a orgulhosa proa do enorme barco,

    feita de uma madeira to negra de Bryan pensou que havia sido moldada da prpria noite, tornou-se

    visvel de pronto. E logo o garoto ficou surpreso quando se deu conta do que realmente estava vendo.

    um drago. disse, mirando a figura da proa.

    Era verdadeiramente espetacular um drago negro com as garras estendidas, mostrando os

    dentes, ferozmente pronto para tomar o mundo.

    Me parece que, depois dos eventos dessa noite, um bom agouro. disse Shaw.

    Bryan se pegou mirando o drago e se encheu com a mais intensa inundao de sentimentos

    que jamais havia experimentado. Tomou-lhe um momento para compreender o que eram: excitao,

    antecipao e saudade, todos unidos em seu interior para criar um simples sentido de propsito.

    Encontrou o olhar do vampiro.

    Eu escolho o drago.

    CAPTULO TRS

    Tower Grove, Morada da Noite

    Saint Louis, 1833

    Merry meet, Anastsia! Por favor, venha. uma coincidncia que esteja aqui. Diana e eu

    estvamos discutindo quo feliz estamos por ter um professor em tempo integral, e eu ia cham-la para

    te dizer que estou contente de voc ter se adaptado aqui em Tower Grove.

    Merry meet, Pandeia, Diana. respondeu Anastsia, colocando a mo direita sobre seu

    corao e inclinando a cabea respeitosamente Grande Sacerdotisa, Pandeia, e depois Diana, antes

    de entrar na ampla habitao decorada.

    Oh, vamos, no precisa ser to formal conosco quando no estamos na companhia de

    calouros. replicou Diana, professora de Sociologia e companheira vampira da Sacerdotisa.

    A Sacerdotisa deu-lhe as boas-vindas enquanto acariciava uma gata Calica. um raro gato de

    trs cores que repousava sobre seu colo, ronronando fortemente.

    Obrigada. Anastsia disse em uma voz tranquila que soava mais velha que seus vinte e dois

    anos.

    Diana sorriu.

    Ento, conte-nos, s est aqui faz quinze dias. J se estabeleceu? como estar em casa para

    voc?

    Casa, Anastsia pensou automaticamente, nunca havia estado to bem e to livre. Rapidamente

    mandou os pensamentos para longe e respondeu com cortesia e honestidade.

    No minha casa ainda, mas sinto que ser. Gosto muito da pradaria e dos exuberantes

    jardins.

  • 11

    Seu olhar se moveu da gata Calica para o macho rajado de cinza que havia comeado a andar

    ao redor das pernas da Sacerdotisa. Ento ela notou surpresa que os dois gatos tinham seis dedos em

    cada para dianteira.

    Eles tm seis dedos nas patas? Nunca vi tal coisa.

    Diana tomou a pata da gata Calica.

    Alguns dizem que os polidctilos so aberraes da natureza. Mas creio que so apenas mais

    avanados que os gatos comuns. So meio que como os vampiros, mais avanados que os seres

    humanos normais.

    Oh, Deusa, se parecem com luvas! Espero que agora que encontrei a minha Morada da Noite,

    um gato me escolha tambm. Seria maravilhoso se tivesse seis dedos em suas patas! ento se deu

    conta de que estava dizendo seus tolos pensamentos em voz alta e se apressou a acrescentar:

    naturalmente, estou desfrutando muito de meus alunos e da minha nova sala de aula.

    Me deixa feliz ouvir isso. Pandeia falou, rindo em voz baixa. E no h nada de mal em

    desejar um gato, com ou sem seis dedos em suas patas. Jovem Anastsia, Diana e eu estvamos a

    ponto de tomar um vinho com gelo na varanda. Por favor, junte-se a ns.

    Agradeo o convite. Anastsia falou com humildade, lembrando-se de no dizer nenhuma

    besteira.

    Ela seguiu as mulheres e seus gatos, passou pelas portas francesas e saiu para uma varanda. A

    encantadora luz da lua banhava os assentos de mrmore branco e a mesa, sobre a qual havia um vaso

    de cristal gravado com uma lua crescente perfeita, cheio de rosas vermelhas, e ao seu lado havia um

    cubo de prata cheio de gelo e uma jarra de vinho da cor de cerejas maduras. A vidraria gravada com os

    crescentes se emparelhava ao magnfico vaso de flores que brilhava com a luz prateada da lua cheia.

    As rosas, o gelo, o vinho e a vidraria. Estou acostumada simplicidade e s regras, apesar de

    que ambos tenham sido atenuados pelo amor. Alguma vez me acostumarei a tais luxos?, Anastsia

    refletiu, sentindo-se completamente incomodada enquanto sentava em uma das cadeiras e tratava de

    no alisar seus compridos cabelos loiros ou arrumar obsessivamente o seu vestido. E logo ela se ps de

    p.

    Eu... Eu, deveria servir o vinho a voc, Sacerdotisa. ela falou rindo nervosamente para a

    Grande Sacerdotisa.

    Pandeia riu e com cuidado afastou a mo de Anastsia da jarra.

    Anastsia, filha, por favor, sente-se e se recomponha. Sou uma Grande Sacerdotisa, o que

    quer dizer que sou mais do que capaz de servir vinho para mim e meus convidados.

    Diana beijou sua companheira suavemente na bochecha antes de sentar.

    Voc, minha querida, mais do que capaz em muitas, muitas coisas.

    Anastsia viu as bochechas de Pandeia corarem ligeiramente enquanto o par compartilhava um

    olhar ntimo. As bochechas de Anastsia esquentaram quando pensou em seus ltimos seis anos na

    sociedade da Morada da Noite. Primeiro como uma novata, logo como uma sacerdotisa em formao e

    agora como professora. s vezes ela ainda se surpreendia com a sexualidade aberta.

    Se perguntava o que sua me pensaria dessa sociedade matriarcal. Aceitaria tranquilamente ter

    sua filha Marcada e transformada em vampira? Ou seria demais para ela uma impresso demasiada

    forte e a condenaria, como o resto da comunidade?

    Ns a envergonhamos? Diana perguntou com um sorriso em sua voz.

    Anastsia mudou seu olhar rapidamente para a Sacerdotisa e sua companheira.

    Oh, por amor a terra viva, no! ela exclamou, e logo sentiu seu rosto esquentar e sabia que

    estava ruborizando.

    Havia soado igual a sua me, e saber disso lhe deu vontade de meter-se debaixo da mesa e

    desaparecer. Voc j no uma criana tmica, Anastsia se recordou com firmeza, uma vampira

  • 12

    completamente mudada, uma professora e sacerdotisa. Ela levantou o queixo e tratou de agir confiante

    e madura.

    Pandeia lhe sorriu amavelmente e levantou uma das trs taas de cristal que acabara de encher.

    Eu gostaria de propor um brinde. Ao seu sucesso, Anastsia, e concluso da sua primeira

    quinzena de ensino como nossa professora de feitios e rituais. Para que possa amar a Morada da Noite

    de Tower Crove como ns o fazemos.

    A Sacerdotisa levantou a mo que sustentava a taa de vinho. Fechou os olhos e Anastsia viu

    que ela movia os lbios em silncio, e logo fez um movimento de pegar o ramo de rosas, como se

    estivesse recolhendo sua fragrncia, antes de estalar os dedos em cada uma das trs taas. Anastsia

    viu com assombro o modo como o vinho de sua taa redemoinhou por um instante, e esse redemoinho

    lquido era o desenho de uma rosa perfeita.

    Oh, Deusa, ela evocou o esprito no vinho! Anastsia exclamou.

    Pandeia no evocou o esprito. O esprito sua afinidade. Nossa Sacerdotisa fez uma petio

    de amor em honra a ti, jovem Anastsia, e a rosa felizmente a cumpriu. Diana explicou.

    Anastsia exalou um grande suspiro.

    Tudo isso... fez um pausa e seu olhar se fixou na mesa, nas duas vampiras, em seus

    contentes gatos e no ambiente que as rodeava. ... me enche com tal sentimento que como se meu

    corao estivesse aponto de explodir em meu peito! ento ela se sentiu envergonhada. Perdoem-

    me. Sou como uma criana. Apenas quero expressar o meu agradecimento por estar aqui, por terem me

    escolhido para esta Morada da Noite como professora.

    Vou compartilhar um segredo com voc, Anastsia. A afinidade de Pandeia com o esprito fez

    muitos vampiros maiores e mais experientes que voc sentirem que seu corao poderia explodir.

    disse Diana. S que eles estavam demasiado cansados para admitir. Gosto de sua honestidade. No

    a perca medida que envelhecer.

    Vou tentar no perd-la. Anastsia concordou, e tomou um gole rpido de seu vinho

    enquanto tratava de ordenar seus pensamentos para decidir exatamente como revelaria a Pandeia e a

    Diana a verdadeira razo pela qual ela tinha vindo esta noite.

    Ento se arrependeu de ter bebido o vinho. Estava, claro, mesclado com sangue, e o poder

    faiscava em todo o seu corpo, aumentando seu nervosismo junto com o resto de seus sentidos.

    A mim tambm agrada a sua honestidade. a Alta-Sacerdotisa falou para Anastsia entre as

    sorvidas de seu prprio vinho, que parecia no afet-la em nada. Foi uma das razes por que foi

    escolhida para preencher a vaga como nossa professora, apesar de s ter tido dois anos de treinamento

    formal em feitios e rituais. Voc deve saber que veio muito bem recomendada pela sede da Morada da

    Noite da Pensilvnia.

    Meu mentor era amvel, Sacerdotisa. Anastsia respondeu, deixando sua taa na mesa.

    Recordo que tambm expressou que estava estreitamente ligada ao elemento terra.

    Pandeia lembrou. Qual a outra razo pela qual sentiu que seria uma boa opo para a nossa

    Morada da Noite? Esta realmente a porta para o oeste. Aqui, o mistrio e a majestosa terra selvagem

    se estendem, como um convite para ns lugar que pensei que voc apreciaria e encontraria seu dom.

    Sim, mas eu no pretendo ter uma afinidade real com a terra. Anastsia explicou. Admito

    que sinto uma forte conexo com a terra e, s vezes, quando tenho um pouco de sorte, a terra me

    empresta um pouco de seu poder.

    Pandeia assentiu e sorveu seu vinho.

    Voc sabe que as sacerdotisas no descobrem que tm uma verdadeira afinidade com um

    elemento at que no tenham servido a deusa por muitas dcadas. Voc, por outro lado, tem uma

    afinidade com a terra que bastante desenvolvida, e ainda muito jovem, Anastsia.

  • 13

    No se ofenda com a minha pergunta, mas qual exatamente a sua verdadeira idade? Voc

    parece quase exatamente como uma recm-Marcada que ainda no passou pela Mudana. disse

    Diana, atenuando sua dura pergunta com um sorriso.

    Diana. a voz de Pandeia era amvel, mas seu olhar de desaprovao era claro enquanto

    olhava para sua bela companheira. Eu no convidei Anastsia para interrog-la.

    A pergunta no me incomoda, Sacerdotisa. Na realidade, estou acostumada a isso. falou

    para Pandeia.

    Ento voltou-se para Diana. Anastsia levantou um pouco o queixo.

    Tenho vinte e dois anos. Minha Sacerdotisa e mentora da Pensilvnia me disse que acreditava

    que eu era o vampiro mais jovem dos Estados Unidos a lecionar integralmente. uma honra estar a

    altura das expectativas e, na realidade, serei muito aplicada na sala de aula com meus alunos.

    Filha, no tenho dvida de que aplicada, mas gostaria que fosse mais como a terra.

    Pandeia observou.

    Como a terra? Perdoe-me, mas ento entendi o que quis dizer.

    Ser como a terra tomar suas caractersticas. Ser vibrante como um ramo de flores, frtil

    como um campo de trigo, sensual como um pessegueiro maduro. No apenas sentir-se conectada com a

    terra, mas deixar que ela te inspire com suas maravilhas.

    E lembre-se que voc uma vampira e leciona para calouros. No h necessidade de se vestir

    como uma professora de escola para humanos oprimidos. Diana acrescentou.

    Eu... eu no quero ser leviana. Anastsia admitiu vacilante, mirando seu decote alto, a blusa

    sem adornos e saia simples que sempre havia usado e odiado desde que se uniu Morada da Noite

    e comeou a ensinar h duas semanas. Tenho quase a mesma idade que meus alunos, s vezes

    difcil para eles lembrar que sou uma professora.

    Pandeia assentiu em sinal de compreenso.

    A verdade que est perto da idade de muitos de nossos calouros. Meu conselho fazer algo

    mais com a semelhana entre vocs.

    Estou de acordo. Diana concordou. Utilize sua juventude como algo positivo em vez de

    tentar escond-la atrs dessa roupa, que qualquer anci abandonaria se tivesse gosto.

    Com a pausa de Diana, Anastsia notou pela primeira vez o esvoaante vestido negro de seda

    que ela usava, e ento a cala de cintura alta e a blusa de decote baixo que sua companheira vestia.

    Anastsia, o que Diana est tentando dizer que no h nada de mal em ser jovem.

    Pandeia falou, retomando o dilogo. Estou segura de que as crianas se sentiriam mais vontade

    falando de suas preocupaes com voc, j que no tem a coragem de falar com qualquer um de ns.

    Anastsia suspirou de alvio, pois era a oportunidade perfeita para falar o que tinha em mente.

    Sim, verdade. Na realidade, foi por isso que as procurei esta noite.

    Pandeia franziu o cenho.

    H algum problema com os estudantes do qual eu deveria ser notificada?

    Se refere a Jesse Biddle? Diana falou o nome como se deixasse um gosto amargo na boca.

    Biddle um problema para todos ns, vampiros e calouros por igual, sobretudo desde que,

    desacertadamente, o povo de Saint Louis o nomeou delegado. Pandeia acrescentou. Ento seu olhar

    se estreitou enquanto encarava Anastsia. Ele est importunando nossos novatos?

    No, no que eu saiba. Anastsia fez uma pausa e engoliu em seco, tratando de ordenar

    seus pensamentos, de modo que sua Alta-Sacerdotisa encontrasse valor em suas palavras. Os

    calouros no gostam de Biddle, mas ele no o tema principal em nossa conversa. Outra pessoa , em

    minha opinio, o verdadeiro problema na Morada da Noite.

    Quem a preocupa tanto?

    O novato que eles chamam de Dragon Lankford. Anastsia respondeu.

  • 14

    Ambas as vampiras ficaram caladas por vrios batimentos do corao de Anastsia. Ento

    pareceu que Diana tentou ocultar um sorriso tomando um gole de seu vinho enquanto Pandeia levantou

    uma sobrancelha para Anastsia e perguntou:

    Dragon Lankford? Mas ele esteve longe de Tower Grove competindo nos Jogos Vampricos

    nessas suas ltimas semanas. Vocs nem se encontraram ainda, e j diz que ele de alguma maneira

    um problema para voc?

    No, para mim no. Bom, sim, suponho que o problema tem a ver comigo, mesmo que

    tecnicamente no seja meu. Anastsia massageou sua testa. Espere, comearei outra vez. Voc me

    perguntou se havia um problema entre os estudantes do qual deveria ser notificada. Minha resposta

    sim, realmente sei de um problema, e ele foi criado pelo que s posso chamar de uma obsesso por

    esse estudante quintanista a quem os alunos chamam de Dragon.

    Diana no tratou de ocultar seu sorriso por mais tempo.

    Ele dinmico e popular, sobretudo entre as calouras.

    Pandeia assentiu em acordo.

    O rapaz em questo no apenas superou todos os seus oponentes novatos e vampiros por

    igual para ganhar o cobiado ttulo de Mestre da Espada nos Jogos Vampricos; quase indito na

    histria que um jovem ganhe um ttulo assim.

    Sim, eu sei de sua vitria. do que todas as garotas falam hoje. Anastsia replicou com

    ironia.

    E voc v como um problema? O manejo da espada de Dragon j impressionante, mesmo

    ele no tendo completado a Mudana. disse Diana.

    Embora no me surpreendesse ver suas tatuagens de adulto logo mais. Pandeia

    acrescentou. Estou de acordo com Diana, no h nada de mais sobre o fato de as garotas se

    distrarem com Dragon.

    A Grande Sacerdotisa sorriu.

    Quando encontrar com ele, tambm poder compreender a distrao delas.

    No uma simples distrao que me preocupa. Anastsia explicou rapidamente. o fato

    de que depois do trmino da aula desta noite, um total de quinze calouros treze meninas e dois

    meninos vieram a mim, um de cada vez, perguntar-me sobre feitios para agarrar Dragon Lankford.

    Anastsia se aliviou de que dessa vez as duas mulheres mostraram expresses de assombro e

    surpresa em lugar de diverso.

    Finalmente Pandeia falou:

    Essa notcia decepcionante, mas no to trgica. Os calouros so conscientes de minha

    poltica sobre os feitios de amor, que so bobos e podem ser perigosos. O amor no pode ser obtido

    por obrigao ou coao. a Sacerdotisa negou com a cabea, evidentemente chateada com os

    novatos. Diana, eu gostaria de ensinar uma lio na semana que vem do que acontece quando a

    obsesso se confunde com o amor.

    Diana assentiu.

    Talvez devesse comear com a histria de Hrcules e sua obsesso com a sacerdotisa

    vampira Hiplita, e o trgico final de ambos. uma advertncia que todos deveriam saber, mas

    obviamente se esqueceram.

    Uma excelente ideia. Pandeia girou seus grandes olhos castanhos at Anastsia. Tenho

    certeza de que voc recordou aos calouros que sob nenhuma circunstncia realizaria feitios de amor

    para eles.

    Anastsia respirou fundo.

    No, Sacerdotisa, no foi minha resposta.

    No foi sua resposta? Por que... Diana comeou, mas a mo levantada de sua companheira

    a cortou.

  • 15

    Explique. foi tudo o que a Sacerdotisa disse.

    Anastsia encontrou o firme olhar da vampira.

    Eu nunca usei os feitios de amor. Mesmo quando fui recm-Marcada e comecei a mostrar

    talento em feitios, meu instinto mostrou que os feitios de amor eram desonestos. Eu sou inexperiente,

    mas no ingnua. Sei que o amor no pode existir sem honra.

    Esclarecedor, mas no uma explicao. Pandeia falou.

    A jovem professora endireitou sua coluna e mudou seu olhar para Diana.

    Lankford dinmico e popular, no?

    Correto.

    Tambm arrogante?

    Diana deu de ombros.

    Suponho que sim. Mas bastante comum. Muitos de nossos guerreiros com mais talento tem

    um senso de arrogncia sobre eles.

    Um senso de arrogncia, sim. Mas no temperado com a experincia e o controle de um

    vampiro adulto? Anastsia perguntou.

    Sim, assim. ela concordou.

    Anastsia assentiu com a cabea e ento seu olhar voltou a sua Sacerdotisa.

    Tem se falado muito de Dragon. E tenho escutado com ateno. Tem razo quando diz que

    no o conheo, mas tudo o que ouvi falar de Dragon Lankford se baseia em sua espada e seus sorrisos

    em vez de sua sabedoria e sagacidade. Meus instintos dizem que se os alunos apaixonados virem o que

    ele realmente , perdero o interesse no mesmo momento.

    O que foi exatamente que disse aos calouros? Pandeia perguntou finalmente.

    Lhes disse que possivelmente eu no poderia quebrar as regras da Morada da Noite e realizar

    feitios de amor, mas que eu poderia criar um feitio de atrao para cada um deles.

    H uma fina linha entre um feitio de amor e um de atrao. Diana replicou.

    Sim, e essa linha criada pela honestidade, verdade e sinceridade. Anastsia contestou.

    Mas tenho a sensao de que cada estudante que veio at voc estava sendo honesto,

    verdadeiro e sincero sobre o desejo de ser amado por Dragon Lankford. Pandeia falou, mirando com

    decepo a jovem professora. Portanto, lanar um feitio assim em Dragon ir funcionar como um

    feitio de amor. A semntica a nica diferena entre os dois.

    Isso estaria correto se o feitio fosse lanado em Dragon. Em vez disso, o feitio de atrao

    ser lanado em cada um dos estudantes que vieram a mim.

    A decepo de Pandeia mudou para um sorriso de satisfao.

    A inteno desse feitio fazer com que os calouros vejam Dragon com mais clareza.

    A viso de cada um deles sobre Lankford se basear na honestidade e na sinceridade e no

    estar contaminada por um superego e um sorriso bonito.

    Poderia funcionar! Diana exclamou. Mas o feitio delicado e requer habilidade.

    Meu instinto diz que nossa jovem professora tem sabedoria em abundncia. Pandeia

    respondeu.

    Agradeo a confiana em mim, Sacerdotisa. Anastsia quase gritou de animao. Ento se

    levantou. Com sua permisso, eu gostaria de lanar o feitio esta noite, durante a lua cheia.

    Pandeia assentiu em acordo.

    o momento perfeito para faz-lo. Tem minha permisso, filha.

    minha inteno pr fim a qualquer paixo obsessiva esta noite. Anastsia disse, colocando

    a mo sobre seu corao e fazendo uma reverncia para sua Sacerdotisa e a sua companheira.

    Algum que ganha tudo com arrogncia e sorrisos, com encantos egostas. Diana falou

    depois.

    Ento essa pessoa recebe exatamente o que merece Anastsia murmurou.

  • 16

    CAPTULO QUATRO

    O feitio comeou perfeita e completamente bem. Mais tarde, Anastsia s pde sacudir a

    cabea e perguntar-se como algo que comeou to bem terminou to desastrosamente.

    Talvez porque havia tomado um tempo para trocar a horrvel roupa que erroneamente tinha

    comeado a usar desde que se converteu em professora. Afinal de contas, se ela no estivesse nessa

    parte em particular do feitio, no momento exato e no lugar especfico se um desses elementos

    tivesse se modificado, num piscar de olhos, tudo teria mudado.

    Bom, tudo mudou sim, s que no como ela tinha previsto.

    A luz da lua estava to boa em seus braos nus. Essa foi uma das razes pela qual ela havia ido

    mais e mais longe, aproximando-se do poderoso rio Mississipi mais do que era necessrio. A lua parecia

    estar lhe atraindo, liberando-a de todas as tolas restries que ela havia se imposto na tentativa de ser

    algum que no era.

    Anastsia usava agora o tipo de roupa que mais gostava: sua longa e macia saia azul-topzio e

    uma tnica simples.

    Um ms antes de ser chamada a esta nova e maravilhosa Morada da Noite, ela havia se

    inspirado em um vestido das ndias donzelas Lenni Lenape e costurou contas de vidro, conchas e

    franjas ao redor da bainha da saia e no arredondado decote de sua tnica sem mangas. Anastsia fez

    um pequeno passo de dana e girou, fazendo as conchas e as miangas tilintarem.

    Nunca usarei aquela horrvel roupa outra vez. Quando era humana, isso era tudo o que me era

    permitido usar. No cometerei esse erro outra vez, disse a si mesma severamente, e logo lanou sua

    cabea para trs e falou com a lua que pendia no escuro cu.

    Isto o que eu sou! Sou uma professora vampira, uma especialista em feitios e rituais! Sou

    jovem e livre!

    Ela iria seguir o conselho de sua Alta-Sacerdotisa. Anastsia iria ser como a terra. Iria encontrar

    sua fora em sua juventude.

    Tambm vou me vestir como desejo, e no como se fosse uma antiga professorinha do

    interior.

    Ou como uma Quakeress da Pensilvnia, como a famlia humana que deixei para trs quando fui

    Marcada h seis anos, acrescentou silenciosamente. Ela lembraria as partes boas e pacficas de seu

    passado, sem seus limites e restries.

    Sou como a terra! exclamou com alegria, praticamente danando sobre a grama alta que

    rodeava a Morada da Noite de Tower Grove.

    No foi apenas a liberdade fsica de uma troca de roupa que a fez se sentir melhor a confiana

    que Pandeia depositou nela tambm significou muito.

    A noite era clida e clara, e Anastsia ia fazer algo que lhe traria uma alegria indescritvel: ia

    lanar um feitio que realmente beneficiaria uma Morada da Noite, a sua Morada da Noite.

    Mas deter-se em um campo salpicado de girassis silvestres havia sido um erro descuidado. Ela

    sabia que os girassis atraam amor e luxria, contudo Anastsia no estava pensando no amor,

    pensava na beleza da noite e no encanto da pradaria. E a verdade que ela sempre amou girassis!

    O prado era impressionantemente exuberante. Estava to perto do Mississipi que Anastsia

    podia ver os salgueiros alinhados ao longo da alta e ngreme margem ocidental. No podia ver o rio

    devido s rvores e ao penhasco, mas podia ouvi-lo: esse rico som que sussurrava com a fertilidade da

    terra, poder e promessas. No centro da pradaria, perfeitamente situada para capturar toda a luz

    prateada da lua cheia, estava uma enorme rocha plana de arenito, exatamente como o altar que

    precisaria para seu feitio de atrao.

  • 17

    Anastsia ps sua cesta de encantamentos no cho ao lado da grande rocha e comeou a dispor

    os ingredientes para o ritual. Em primeiro lugar, sacou o clice prateado que seu mentor havia lhe dado

    como presente de despedida. Era simples, mas bonito, adornado somente com o contorno de Nyx, os

    braos levantados sustentando um crescente.

    Ento Anastsia desembrulhou um tecido verde reluzente e revelou um pequeno frasco de rolha

    contendo vinho com sangue e o abriu, deixando-o repousar em cima da rocha. Colocou o clice no

    centro da pedra e logo puxou um grande pedao de papel encerado da cesta, abrindo-o para expor uma

    grande fatia de po fresco, um pedao de queijo e as grossas fatias de toucinho cozido. Sorrindo,

    colocou o papel e a comida junto ao clice, e encheu-o.

    Satisfeita com os aromas e a viso do banquete, que representava a generosidade da Deusa,

    retirou cinco velas da cesta. Anastsia encontrou o norte facilmente virando na direo do rio, e foi at a

    parte mais setentrional da rocha para deixar a vela verde, que representava o elemento da qual ela se

    sentia mais prxima, a terra. Enquanto colocava o resto das velas em suas direes correspondentes:

    amarelo para o ar, no leste; vermelho para o fogo, no sul; azul para a gua, no oeste e a vela prpura do

    esprito no centro, Anastsia controlou sua respirao. Tomou respiraes profundas, imaginando que

    extraia o ar impregnado do poder da terra atravs do solo para seu corpo. Ela pensou em seus alunos e

    o quanto queria o melhor para eles, e como o melhor significava que eles deveriam ver-se claramente e

    avanar em seus caminhos com verdade e honestidade.

    Quando as velas estavam prontas. Anastsia retirou o resto do contedo da cesta de

    encantamentos: uma comprida trana de erva-doce, uma lata que continha fsforos, luz fluorescente e

    trs pequenas bolsas de veludo uma contendo folhas secas de louro, outra, agulhas de cedro e a

    terceira recheada de sal marinho.

    Anastsia fechou seus olhos e enviou a sua Deusa a mesma orao sincera e silenciosa que

    fazia antes de realizar algum feitio ou ritual.

    Nyx, tem meu juramento de que pretendo fazer apenas o bem durante o feitio que realizarei

    esta noite.

    Anastsia abriu seus olhos e virou primeiro para o leste, acendendo a vela amarela para o ar e

    chamando o elemento ao seu crculo com uma voz clara, utilizando palavras simples:

    Ar, por favor, una-se ao meu crculo e fortalea o meu feitio.

    Movendo-se no sentido dos ponteiros do relgio, ela acendeu todas as cinco velas, chamando

    cada elemento em sua vez, completando o crculo do feitio ao acender a vela do esprito no centro do

    altar. Ento encarou o norte, tomou outra respirao profunda e comeou a falar de corao e alma.

    Eu comeo a limpar este espao com erva-doce.

    Ela fez uma pausa para sustentar o final da trana sobre a chama da vela verde da terra.

    Quando pegou fogo, comeou a passar ao redor de si graciosamente, enchendo o ar por cima da rocha

    com uma espessa fumaa que girava em ondas.

    Qualquer energia negativa deve ir sem deixar rastro.

    Ela deixou de lado a trana ainda esfumaando e estendeu sua mo esquerda em concha.

    Pegou ento a primeira bolsa de veludo. Enquanto esmigalhava as folhas secas em sua palma,

    continuou o feitio.

    Conscincia e claridade vm com essas folhas de louro. Atravs da terra, eu chamo hoje o seu

    poder.

    As agulhas do cedro vieram depois. Anastsia cheirou sua fragrncia enquanto as misturava com

    as folhas trituradas em sua palma, dizendo:

    Cedro, de ti vem a coragem, a proteo e o autocontrole que busco. Empreste-me sua fora

    para que meu feitio no seja fraco.

    Da ltima bolsa de veludo, retirou os pequenos cristais de sal marinho, contudo no os misturou

    aos outros ingredientes. Ela levantou sua palma, agora cheia de louro de cedro. Ela inclinou a cabea

  • 18

    para trs, sentindo o vento clido beijado pelo fogo levantando seus abundantes cabelos loiros e

    ouvindo a gua do rio, mostrando-lhe que os elementos, de fato, haviam se unido ao seu crculo e

    estavam ali, esperando para receber e cumprir seu pedido.

    Enquanto comeava a dizer as palavras do feitio, a voz de Anastsia tomou uma encantadora

    entonao que soava como se ela estivesse recitando um poema com uma melodia que s sua alma

    podia ouvir.

    Esta noite trabalho em um feitio de atrao

    Meu desejo lanar clareza viso

    Com folhas de louro revelarei a verdade

    O amor no deve vir de arrogante atitude

    O cedro protege das travessuras da juventude

    Empresta coragem e controle para suas necessidades.

    O sal marinho estava escorregadio contra os dedos de Anastsia no momento em que o

    ingrediente final era acrescentado ao seu feitio.

    O sal a chave que me ata a este feitio.

    Ela se moveu a um lado da vela verde, respirou profundamente e ordenou seus pensamentos.

    Era agora que precisaria evocar o nome de Dragon Lankford e, em seguida, nomear cada um dos quinze

    estudantes jogando uma pitada da mistura na chama da terra enquanto esperava e rezava para que o

    feitio aderisse e que cada estudante pudesse ver Dragon claramente, com verdade e honra.

    Que nesta chama a magia corte como uma espada,

    Invocando somente a verdade de Bryan Lankford!

    Logo que falou o nome, aconteceu. Anastsia devia ter jogado a primeira pitada da mistura e dito

    o nome de Doreen Ronney, que estava totalmente obcecada por Dragon Lankford, porm a noite

    explodiu ao seu redor em caos e testosterona enquanto um jovem calouro saiu de trs de uma rvore

    para mais perto, com uma espada na mo.

    Saia! Est em perigo! gritou para Anastsia, dando-lhe um brusco empurro.

    Fora de equilbrio, seus braos se moveram descontrolados, fazendo com que a mistura do

    feitio fosse lanada para cima, elevando-se cada vez mais enquanto Anastsia ia para baixo, caindo

    bruscamente sentada no cho.

    Ela ficou sentada, mirando boquiaberta e completamente horrorizada quando o vento clido que

    estivera presente desde que ela abriu o crculo soprou a mistura mgica no rosto do calouro.

    O tempo pareceu parar. Foi como se a realidade, por um instante, tivesse mudado e se dividido.

    Em uma hora, Anastsia estava olhando para o novato, congelado no momento, a espada levantada

    como a esttua de um jovem deus guerreiro. Ento o ar entre ela e o calouro imvel comeou a brilhar

    com uma luz que lhe recordava a chama de uma vela. Se mexia e agitava, to brilhante que ela teve que

    levantar a mo para cobrir seus olhos. Enquanto ela fechava seus olhos por causa do brilho, a luz se

    dividiu no meio, circundando o calouro em um globo de luz tangvel, e do seu centro, justaposto na

    frente do garoto, Anastsia contemplou outra figura. No inicio era indistinta. Ento ela deu um passo

    adiante, mais perto de Anastsia, de modo que a luz iluminou a professora e bloqueou totalmente a

    viso do calouro.

    No geral, a figura tinha a mesma altura e tamanho do garoto. E tambm estava brandindo uma

    espada. Anastsia observou o seu rosto. Seu primeiro pensamento, seguido rapidamente por comoo e

    surpresa, foi: tem um rosto amvel... e realmente muito bonito. E ento ela balanou a cabea, dando-

    se conta do que estava vendo.

  • 19

    Voc ele! O calouro atrs de voc! voc!

    S que no era realmente o garoto. Era claro. Esta nova figura era um homem adulto, um

    vampiro completo com incrveis tatuagens de aspecto extico de dois drages, com a lua crescente no

    meio da testa, o corpo, asas e caudas se estendendo pelo seu rosto para marcar uma mandbula firme e

    lbios cheios, lbios que sorriam de modo encantador e arrebatador para ela.

    No, no o calouro. ela falou, observando de seus lbios at seus olhos castanhos, que

    brilhavam em reflexo de seu sorriso.

    Voc me convocou, Anastsia. Deve saber quem sou.

    A voz dele era profunda e agradvel a ela.

    Te convoquei? Mas eu... sua voz sumiu.

    O que ela havia dito momentos antes que o calouro tivesse aparecido e acabado com seu

    encantamento? Ento ela se lembrou.

    Eu tinha acabado de dizer Que nesta chama a magia corte como uma espada, Invocando

    somente a verdade de Bryan Lankford! Anastsia se cortou, mirando fixamente as tatuagens do

    vampiro... tatuagens de drago...

    Como possvel? Voc no pode ser Bryan Lankford. E como sabe o meu nome?

    O sorriso dele se ampliou.

    to jovem. Eu havia me esquecido. sustentando o seu olhar, ele se inclinou em uma

    reverncia corts. Anastsia, minha... minha sacerdotisa, Bryan Lankford exatamente quem

    convocou. Sou ele. ele riu entre dentes brevemente. E ningum me chama de Bryan h muito

    tempo, exceto voc.

    No quis te convocar literalmente! E est velho! ela retrucou, e depois sentiu seu rosto

    esquentar. No, no quis dizer velho velho. Quero dizer que est mais velho que um calouro. Voc

    um vampiro Mudado. Embora, no velho.

    Anastsia desejava desesperadamente desaparecer embaixo do altar de pedra.

    O riso de Dragon era suave, bondoso e muito atraente.

    Pediu a verdade de mim, e foi o que conjurou. Minha Anastsia, assim eu serei no futuro, e

    como disse, um velho vampiro completamente Mudado. Esse novato ali, atrs de mim, quem sou hoje.

    Mais jovem, sim, mas tambm impulsivo e demasiado seguro de si.

    Como me conhece? Por que me chama de minha Anastsia?

    E por que faz com que meu corao se sinta como um pssaro emocionado que est prestes a

    alar voo?, acrescentou silenciosamente para si mesma.

    Ele fechou o pequeno espao entre os dois e se inclinou junto a ela. Lentamente,

    cuidadosamente, ele tocou seu rosto. Ela no podia sentir sua mo, mas seu alento estava claramente

    visvel.

    Te conheo porque minha, assim como sou seu. Anastsia, olhe nos meus olhos. Diga-me

    sinceramente o que v.

    Ela tinha que fazer o que ele pedia. No tinha outra opo. Seu olhar a havia hipnotizado, como

    tudo o mais relacionado a esse vampiro. Ela olhou em seus olhos e se perdeu em tudo o que via ali:

    bondade e fora, integridade e humor, sabedoria e amor, muito, muito amor. Em seus olhos, Anastsia

    reconheceu tudo o que havia imaginado em um homem.

    Vejo um vampiro que poderia amar. ela falou sem duvidar. E acrescentou apressadamente:

    Mas voc obviamente um guerreiro, e eu no posso...

    V um vampiro que ama. ele corrigiu.

    Detendo suas palavras, ele se inclinou adiante, segurando seu rosto com as mos e

    pressionando seus lbios contra os dela. Anastsia no deveria ter sido capaz de sentir nada. Mais tarde

    repetiu a cena vrias e vrias vezes em sua mente, tratando de decidir como um fantasma conjurado de

    um homem possivelmente poderia t-la feito sentir tanto sem realmente poder toc-la. Porm tudo o

  • 20

    que ela podia fazer era tremer e conter seu alento enquanto o desejo por ele, real ou imaginrio,

    pulsava atravs de seu corpo.

    Ohhh. ela sussurrou suspirando enquanto ele se movia lamentavelmente para longe dela.

    Meu amor, minha Anastsia, sou um vampiro e um guerreiro. Sei que agora parece impossvel,

    mas creio que a verdade. Para me converter na pessoa que v o homem de bondade e fora,

    integridade e humor, sabedoria e amor preciso de voc. Sem voc, sem ns, sou s uma casca do que

    deveria ser, sou um drago sem homem. S voc pode tornar o homem mais forte que o drago.

    Lembre-se disso quando a verso jovem, precipitada e arrogante de mim tentar deix-la louca.

    Ele continuou se afastando dela.

    No v!

    Seu sorriso encheu seu corao.

    No vou. Nunca te deixarei voluntariamente, minha Anastsia. Vou estar aqui, crescendo e

    aprendendo. Olhou para trs, para a esttua congelada do novato e riu, reencontrando seu olhar.

    Apesar de que possa ser difcil acreditar s vezes. D uma oportunidade, Anastsia, seja paciente

    comigo, valer a pena. Ah, e no me deixe matar o urso. No ir te machucar. Ele, como eu, s veio a

    voc devido um feitio que saiu ligeiramente mal. Nem ele, nem eu... ele fez uma pausa e sua voz

    profunda suavizou-se. ... nem sequer meu eu jovem e arrogante tem algo de malvolo em mente esta

    noite. E, meu amor, nunca permitirei que algo te faa mal.

    Enquanto dizia essas ltimas palavras, Anastsia sentiu um vento frio atravs de seu corpo

    como se algum deus ou deusa de repente tivesse derramado gua e gelo em suas veias.

    No momento em que ela contemplava, com uma estranha mescla de pressentimento e desejo, o

    espectro adulto de Bryan Lankford, seu olhar, ainda preso ao dele, retrocedeu. A luz brilhou e ele foi

    absorvido pela sua verso mais jovem, que imediatamente comeou a mover-se de novo.

    Sentindo como se tivesse sido atingida por um trem, Anastsia viu a verso mais jovem do

    vampiro, cujo toque etreo ainda fazia seu corpo estremecer. Ele estava limpando seus olhos chorosos

    com uma mo enquanto com a outra brandia a espada na direo do enorme urso pardo que de repente

    apareceu diante dele de p sobre as patas traseiras. Era to grande que, por um instante, Anastsia

    pensou que tal como a verso do futuro de Dragon Lankford, o urso havia sido conjurado pelo seu feitio

    de alguma maneira, e era apenas magia, fumaa, nvoa e sombras. S quando o urso rugiu, fazendo

    vibrar o ar ao seu redor, que Anastsia descobriu que no era nenhuma iluso.

    Os olhos de Lankford se clarearam rapidamente e ele avanou com inteno mortal na direo

    da criatura.

    No o machuque! Anastsia gritou. O urso foi atrado acidentalmente para c por meu

    feitio no tem ms intenes.

    Bryan retrocedeu, fora do alcance imediato das garras da enorme criatura. Anastsia o viu

    estudando o urso.

    Atravs da sua magia? ele perguntou, sem tirar os olhos do animal.

    Sim! Te dou a minha palavra. ela disse.

    Bryan olhou-a rapidamente e Anastsia sentiu uma estranha sacudida de reconhecimento com o

    olhar. Ento o novato lhe fez uma reverncia e disse:

    Ser melhor que tenha razo.

    Anastsia teve que pressionar seus lbios firmemente para no gritar: foi a sua verso adulta

    que me disse isso! Ela duvidava que ele fosse escut-la gritar. Ele tinha voltado sua ateno para o urso.

    A grande criatura se levantava sobre o garoto, mas Bryan simplesmente se agachou, pegou a vela mais

    prxima e levantou-a contra o urso. A chama da vela vermelha ardia como uma tocha.

    X! Sai! gritou em uma voz que tinha mais autoridade do que ela esperava de algum que

    ainda no era um vampiro.

    Saia daqui! X! Tudo isso foi um acidente, a sacerdotisa no quis te convocar.

  • 21

    O urso se afastou do brilho da vela, bufando e grunhindo. Bryan deu um passo adiante.

    Eu disse que v!

    Com um enorme sentimento de alvio, Anastsia observou a besta descer para as quatro patas e,

    com um grunhido ao calouro, trotar serenamente at o rio. Atuando unicamente por instinto, ela se

    colocou de p.

    Certo, est bem, estou segura agora. Tudo est sob controle. ela falou enquanto o ignorava

    e tomava a vela vermelha de sua mo, ainda acesa. No rompa o crculo. Este feitio tem poder

    demais para desperdiar. disse firmemente.

    Ela no olhou para ele, no queria se distrair. Em vez disso, focou sua ateno na chama,

    protegendo-a com a mo e colocando cuidadosamente a vela em seu lugar antes de voltar a enfrentar

    Bryan Lankford.

    Seu cabelo ela loiro, longo, grosso e atado atrs, o que a fez recordar do cabelo do Bryan adulto,

    que tambm era da mesma cor clara, mas caa livremente pelos ombros, emoldurando o seu rosto

    amvel. Havia um pouco de cinza em suas tmporas? De alguma forma, ela no conseguia se lembrar

    mais. No entanto, podia recordar perfeitamente a cor exata de seus lindos olhos castanhos.

    O que foi? No rompi o crculo. A vela no se apagou. Olhe, est exatamente onde estava

    antes.

    Anastsia se deu conta de que havia ficado observando-o sem falar. Ele deve pensar que sou

    completamente louca.

    Ela abriu sua boca para dizer algo que explicasse um pouco da estranheza da noite, e ento o

    olhou realmente, o jovem Bryan diante dela. Ele tinha ingredientes espalhados por todo o rosto cristais

    de sal nas sobrancelhas e louro e cedro nos cabelos.

    Sua repentina risada surpreendeu a ambos.

    As sobrancelhas dele se levantaram.

    Eu arrisco a minha vida para te salvar de uma criatura selvagem e voc ri de mim?

    Ele estava tratando de soar srio e ofendido, mas Anastsia podia ver uma centelha de humor

    em seus olhos castanhos.

    Voc est coberto por meus ingredientes, e sim, isso te faz parecer engraado.

    Tambm o fazia parecer juvenil e bonitinho, mas ela guardou essa parte para si. Ou ao menos

    assim pensou. Enquanto os dois estavam de p ali, contemplando-se, o brilho nos olhos de Bryan era

    cmplice.

    Quando seus lbios comearam a elevar-se num sorriso, o estmago de Anastsia deu uma

    estranha sacudida, e ela rapidamente falou:

    Embora eu no devesse rir, sem importar o quo engraado esteja. Meu encantamento sobre

    voc significa que terei que refazer toda a mistura.

    Ento no devia ter jogado em cima de mim. ele replicou com um arrogante movimento de

    cabea.

    A diverso de Anastsia comeou a desvanecer-se.

    No joguei em voc. O vento soprou em seu rosto quando eu ca porque voc me empurrou.

    Verdade? ele levantou um dedo, como se testando a direo do vento. Que vento?

    Anastsia franziu o cenho.

    Deve ter se extinguido, ou talvez se acalmado pela interrupo do meu feitio.

    Eu no te empurrei. continuou como se ela no tivesse falado. Coloquei-a atrs de mim

    para poder te proteger.

    No precisava me proteger. O urso foi um acidente. Estava confuso, no era perigoso. Eu

    estava lanando um feitio de atrao, e de alguma forma o urso foi atrado por ele. ela explicou.

  • 22

    Ento foi um feitio de atrao. a irritao que havia comeado a aparecer em sua voz se

    desvaneceu para ser substituda por um riso arrogante e outro olhar cmplice. Por isso disse o meu

    nome. Voc me deseja.

    CAPTULO CINCO

    Dragon sorriu enquanto o rosto da jovem sacerdotisa ruborizava.

    Voc confundiu a minha inteno. ela falou.

    Voc mesma disse: estava lanando um feitio de atrao. Escutei quando falou o meu nome.

    Obviamente, estava me atraindo. fez uma pausa, pensando que tudo tinha sentido agora. No me

    estranha que deixei Shaw e o restante dos guerreiros para ir para casa por conta prpria desde o porto.

    Pensei que fosse por causa de Biddle. Eu j o tinha visto antes de ir aos Jogos Vampricos, assim j

    sabia que no gostava dele, mas esta noite foi to dura, to estranha, que suponho que me fez sentir

    diferente tambm, quase como se eu no pudesse respirar, e precisasse estar aqui fora, onde tem ar,

    espao e... ele se interrompeu, rindo um pouco e mostrando o indcio de seu famoso sorriso. ... mas

    no importa. A verdade que estou aqui porque me deseja. ele coou o queixo, considerando. No

    nos conhecemos ainda. Eu me lembraria de tal beleza. Foi minha reputao pela proeza com a espada

    que captou seu interesse ou foi um tipo de proeza mais pessoal que...?

    Bryan, eu no te desejo!

    Me chama de Dragon. ele respondeu automaticamente e continuou. claro que sim.

    Acabou de admitir o seu feitio de atrao. No precisa ficar envergonhada. Me sinto lisonjeado.

    Realmente.

    Dragon. ela falou num tom que se aproximava do sarcasmo. Estou envergonhada, mas

    no por sua causa. Tenho vergonha de voc.

    No tem nenhum sentido.

    Ele se perguntou brevemente se ela havia batido a cabea quando caiu.

    A sacerdotisa respirou fundo e deixou o ar sair em sinal de exasperao. Ento lhe ofereceu a

    mo e o antebrao, dizendo:

    Merry meet, Bryan Dragon Lankford. Eu sou professora Anastsia, a nova mestra de Feitios e

    Rituais da Morada da Noite de Tower Grove.

    Merry meet, Anastsia. ele respondeu, agarrando o seu brao nu, que era macio e quente ao

    toque.

    Professora Anastsia. ela corrigiu. Rpido demais, soltou-o e falou: No deveriam saber

    deste feitio.

    Porque no quer que ningum saiba que me quer?

    Incluindo eu?

    No. O feitio no tem nada a ver com te querer. o contrrio, na realidade. explicou. E com

    uma voz que soava como se estivesse ensinando a uma sala de calouros, continuou. Isto vai soar

    cruel, mas a verdade que estou aqui para lanar o equivalente a um feitio anti-Dragon Lankford.

    Suas palavras o surpreenderam.

    Eu, de alguma maneira, fiz algo para te ofender? Nem sequer me conhece. Como pode no

    gostar de mim?

    No que no goste. ela contestou rapidamente, quase como se estivesse tratando de

    ocultar algo. Aqui est a verdade: nas duas semanas que estive ensinando na Morada da Noite de

    Tower Grove, quinze calouros vieram me procurar perguntando por feitios de amor com as quais te

    prender.

    Os olhos de Dragon se arregalaram.

  • 23

    Quinze? srio? fez uma pausa e contou mentalmente. S posso pensar em dez meninas

    que gostariam de me enfeitiar.

    A professora no via nenhuma graa.

    Eu diria que se subestima, mas no creio que isso seja possvel. Assim, apenas suponho que

    melhor com o manejo da espada do que com somas. Seja como for, vim aqui fora esta noite com a

    inteno de lanar um feitio que levaria a cada uma de suas admiradoras a verdade sobre voc, e

    assim pudessem ver com clareza e honestidade que voc no o companheiro adequado para elas, o

    que colocaria fim aos seus tontos caprichos. terminou rapidamente.

    Ele no podia lembrar da ltima vez que havia estado to surpreso. No, isso no estava certo. A

    ltima vez que havia sentido esse tipo de profunda surpresa foi quando a noite havia sido iluminada

    para revelar o mastro de um barco e uma nova vida. Ele sacudiu a cabea e replicou a primeira coisa

    que lhe veio a mente.

    Isto difcil de acreditar para mim. Eu te desagrado de verdade. Eu normalmente agrado as

    mulheres. Bastante, na realidade.

    Obviamente. Foi por isso que treze delas me pediram para te enfeitiar.

    Ele franziu o cenho.

    Pensei que havia dito quinze antes.

    Treze garotas. Dois garotos. ela falou secamente. Ao que parece, os garotos gostam

    bastante de voc tambm.

    Inesperadamente, Dragon comeou a rir.

    L vai voc! Todos gostam de mim, menos voc.

    O que no gosto dessa ideia de que tantos calouros impressionveis esto obcecados por

    voc. Simplesmente no saudvel.

    No saudvel para quem? Eu me sinto muito bem.

    Ele sorriu ento, iluminando cada parte de seu encanto. Dragon acreditou ver seu severo olhar

    relaxar um pouco e os grandes olhos azul-turquesa suavizarem, mas suas palavras seguintes foram

    como um balde de gua fria.

    Se fosse mais maduro, se importaria com os sentimentos dos demais.

    Ele franziu o cenho.

    srio? Tenho quase vinte. Dragon fez um pausa e a examinou de cima a baixo, apreciando

    Quantos anos tem?

    Vinte e dois. ela respondeu, esfregando o queixo.

    Vinte e dois! jovem demais para ser uma professora e para estar me dando um sermo

    sobre ser mais maduro.

    E, entretanto, sou sua professora de Feitios e Rituais, e algum deveria te dar um sermo

    sobre o que agir como adulto. Quem sabe, com um pouco de orientao, poderia amadurecer e ser um

    guerreiro ntegro e honrado.

    Acabo de regressar dos Jogos onde obtive o ttulo de Mestre da Espada. J tenho integridade e

    honra, mesmo que no seja um vampiro completamente Mudado.

    No pode ganhar integridade e honra nos Jogos. S se pode obt-las em uma vida dedicada a

    esses ideais.

    Seus olhos sustentaram os dele e se deu conta de que ela no lhe falava com condescendncia.

    Sua voz soava estranhamente triste, quase derrotada. E Dragon no tinha ideia do por que quis, de

    repente, dizer ou fazer algo, qualquer coisa que fizesse com que o pequeno sulco de preocupao

    desaparecesse do rosto dela.

    Eu sei, Anastsia. Professora Anastsia. ele se corrigiu dessa vez. J estou dedicado ao

    treinamento dos Filhos de Erebus. Serei um guerreiro algum dia, e defenderei seus estandartes de

    honestidade, lealdade e valor.

  • 24

    Ele se alegrou ao ver o seu sorriso, apesar de leve.

    Espero que sim. Creio que poder ser um extraordinrio guerreiro algum dia.

    J sou extraordinrio. Dragon replicou, seu sorriso de volta.

    E ento ela o surpreendeu uma vez mais ao encar-lo firmemente nos olhos, quase como se ela

    mesma fosse uma guerreira, e dizendo:

    Se to extraordinrio, ento demonstre.

    Dragon brandiu sua espada e se inclinou ante ela, mo em punho contra o peito, como se ele

    fosse um completo guerreiro Filho de Erebus e ela sua sacerdotisa.

    Envie-me em uma busca! Indique o urso que tenho que matar para demonstrar o meu valor!

    Desta vez seu sorriso foi to completo, que Dragon pensou que isso iluminava seu j bonito rosto

    com uma felicidade que parecia brilhar ao seu redor. Sua boca, com os lbios carnudos inclinados

    estavam distraindo-o, de modo que ele gaguejou confuso e disse:

    Que? Eu?

    Quando se deu conta de que ela estava apontando diretamente para ele.

    Inclusive uma vampira que jovem demais para dar aulas deveria ser capaz de ver que no

    sou um urso.

    Assumi que estvamos falando metaforicamente quando me pediu que te enviasse em uma

    busca para demonstrar o seu valor.

    Busca? repetiu.

    Ele s estava brincando. O que ela estava pensando?

    Bom, suponho que na realidade no se qualifica como uma busca, mas uma maneira de me

    mostrar que extraordinrio.

    Deu um passou arrogante at ela.

    Agora, estou gostando disso! Estou disposto a fazer sua vontade, minha senhora. respondeu

    com sua voz mais encantadora.

    Excelente. Ento suba ao meu altar. Vai me ajudar a lanar este feitio.

    Sua arrogncia desapareceu.

    Quer que eu te ajude com um feitio que far com que as garotas no gostem de mim?

    No se esquea dos garotos. E o feitio no os far desgostarem de voc. Eles apenas o vero

    com mais claridade, j que estaro livres de sua obsesso por voc.

    Devo te dizer, isso soa arriscado. Parece mais como me cortar um brao para demonstrar que

    sou um extraordinrio espadachim.

    No tem que me ajudar.

    Ela se voltou para o altar, onde as velas dos elementos e as trs bolsinhas de veludo estavam

    colocadas ao lado do clice e da comida.

    Dragon de ombros e comeou a se afastar. No era problema seu que a estranha sacerdotisa

    estivesse decidida a dificultar sua vida amorosa. E se treze novatas j no estivessem interessadas

    nele? (No contou os garotos). Uma das coisas que havia aprendido desde que descobriu os prazeres

    das mulheres era que sempre tinha mulheres que o queriam. Havia inclusive comeado a rir de si

    quando as seguintes palavras dela flutuaram at ele.

    Na verdade, esquea o meu pedido. Deveria estar voltando Morada da Noite. O amanhecer

    se aproxima. A maioria dos calouros j est em suas camas.

    Ele se deteve e virou-se para ela, com vontade de cuspir fogo. Ela falou-lhe como se fosse uma

    criana!

    Mas Anastsia no havia se dado conta de como o tinha afetado. Estava de costas para ele,

    como se tivesse apagado completamente Dragon Lankford de sua mente. Ela estava equivocada a seu

    respeito. Ele no era uma criana e no lhe faltava honestidade, lealdade ou valor. Ele lhe provaria... e

    ento se ouviu dizer:

  • 25

    Eu ficarei e a ajudarei com o feitio.

    A professora olhou-o por cima do ombro e ele viu surpresa e algo mais, algo que poderia ser

    prazer e calor naqueles grandes olhos azuis. Sua voz, no entanto, era indiferente.

    Bom. Venha aqui e sente-se ali, na borda da rocha. assinalou. Tenha cuidado para no

    bagunar o altar ou derrubar uma vela.

    Sim, minha senhora. O que quiser. murmurou.

    Ao se reunir a ela, esta levantou uma sobrancelha, mas no disse nada e voltou a colocar as

    velas e arrumar o altar.

    Dragon a estudou enquanto ela trabalhava. Sua primeira impresso foi a delicada beleza de

    seus longos cabelos cor de trigo que caam retos e grossos at a cintura. Apesar de pequena, possua

    generosas curvas, as quais podia ver facilmente atravs de sua fina tnica de linho e sua longa e larga

    saia azul. Ele no costumava prestar ateno no que as mulheres usavam preferia v-las sem pea

    alguma mas a roupa de Anastsia era decorada com conchas, contas e franjas, dando-lhe um aspecto

    surreal e de outro mundo, um efeito realado por suas tatuagens elegantes videiras e flores, to

    requintados em detalhes que pareciam reais.

    Tudo bem, estou pronta para comear de novo. E voc? ela perguntou.

    Ele pestanejou e desviou sua ateno para o altar. No lhe agradava que ela o tivesse pegado

    estudando-a.

    Estou pronto. Na realidade, tenho vontade de ouvir os nomes das novatas que pediram feitios

    de amor.

    Voltou seu olhar para encontrar o dela, assegurando-se de colocar desafio em sua voz. Anastsia

    se manteve imperturbvel.

    J que est me ajudando com a conjurao, no terei que nomear as novatas. A sua presena

    e cooperao acrescentam fora ao meu feitio, o que afetar todos que esto atrados por voc.

    Dragon exalou com fora.

    Soa como algo bom que eu no tenha uma namorada neste momento. O que vamos fazer sem

    dvida estragaria tudo.

    No, no estragaria. No se essa pessoa estivesse verdadeiramente interessada em voc e

    no em sua imagem exagerada.

    Me faz soar como um idiota arrogante.

    E ?

    No! Sou apenas eu.

    Ento esse feitio no afetar ningum que te queira.

    Est bem, est bem. Entendo. Vamos terminar com isso. O quer que eu faa?

    Ela respondeu com outra pergunta:

    Teve trs anos de aulas de Feitios e Rituais, certo?

    Sim.

    Bem, vou misturar as ervas do feitio em sua mo. Coloque-a em concha... ela demonstrou

    com a prpria mo. ... assim. As plantas em contato o ajudaro emprestando fora ao feitio. Acredita

    que poder realizar algumas partes do feitio se eu o guiar?

    Ele conteve sua irritao. Ela no soava condescendente. Soou como se tivesse considerado que

    ele no aproveitou nada de suas aulas como se no pudesse ser bom em nada alm do manejo da

    espada. A professora se surpreenderia.

    Se tem que perguntar, no deve ter checado meu histrico de trabalho nas aulas de Feitios e

    Rituais com o professor anterior. falou baixinho, com a esperana de que seu tom de voz fizesse

    parecer que haveria encontrado baixas qualificaes.

    A jovem professora suspirou pesadamente.

    No, no chequei.

  • 26

    Ento, tudo o que sabe de mim quo obsessivas algumas calouras esto por mim.

    Seus olhos se encontraram e, de novo, ele viu uma emoo que no pde identificar no profundo

    azul.

    Eu sei que algum dia ser um guerreiro, mas no significa que possa lanar um feitio.

    Tudo o que posso fazer dar a minha palavra de que farei o melhor esta noite. ele disse,

    perguntando-se porque se importava com o que ela pensava.

    Anastsia fez uma pausa, como se estivesse escolhendo cuidadosamente sua resposta. Quando

    finalmente falou, foi para soltar um simples:

    Obrigada, Bryan.

    E inclinou a cabea respeitosamente para ele.

    Me chame de Dragon. respondeu, tratando de no mostrar o quanto esse pequeno sinal de

    respeito o havia afetado.

    Dragon. ela repetiu. Sinto muito se esqueo. s que Bryan me parece bom.

    Saiba que Dragon me parece bom quando se est do outro lado da minha espada. ele

    replicou. E logo se deu conta de que havia soado arrogante, e acrescentou apressadamente: No que

    eu algum dia atacaria uma sacerdotisa. Eu s quis dizer que se me visse em um duelo de espadas,

    entenderia meu apelido. Quando luto, me transformo num drago.

    Isso provavelmente no acontecer logo.

    Voc realmente no gosta de mim.

    No! No tem nada a ver com voc. Eu no gosto da violncia. Cresci... Anastsia se

    interrompeu, sacudindo a cabea.