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HORTA SENSORIAL: UM ESTUDO DE CASO COM DEFICIENTES VISUAIS NO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ CLÁUDIO ROBERTO GÉA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JANEIRO – 2011

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HORTA SENSORIAL: UM ESTUDO DE CASO COM DEFICIENTES VISUAIS NO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

CLÁUDIO ROBERTO GÉA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

JANEIRO – 2011

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HORTA SENSORIAL: UM ESTUDO DE CASO COM DEFICIENTES VISUAIS NO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

CLÁUDIO ROBERTO GÉA

Monografia apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Orientadora: Profa. Rosana Rodrigues

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ JANEIRO – 2011

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HORTA SENSORIAL: UM ESTUDO DE CASO COM DEFICIENTES VISUAIS NO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ

CLÁUDIO ROBERTO GÉA

Monografia apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Aprovada em 25 de Janeiro de 2011. Comissão Examinadora: Dra. Cláudia Pombo Sudré (D.Sc,Genética e Melhoramento de Plantas) – UENF

Prof. Fábio Cunha Coelho (D.Sc, Fitotecnia) - UENF

Profa. Rosana Rodrigues (D.Sc, Produção Vegetal) – UENF Orientadora

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DEDICO

À minha amada família, meus pais Francisco e Creusa (in memorian), a

tia Ceninha por todo amor, incentivo e amparo nos momentos difíceis.

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AGRADECIMENTOS

A Deus;

À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, pela

oportunidade concedida para a realização deste curso;

À Pró-Reitoria de Extensão da UENF, pela concessão das bolsas de

Apoio Acadêmico (de 2007 a 2008) e de Extensão (2010), que possibilitaram a

minha participação neste projeto;

À Profa. Rosana Rodrigues pela orientação, confiança e amizade;

À Dra. Cláudia Pombo pela atenção, incentivo e amizade;

Ao Professor Silvério pela confiança e apoio nos momentos difíceis.

Aos professores, Silvaldo, Paulo Marcelo, Elias Fernandes, Gabriel, Janie,

Roberto Ferreira, Henrique pelo incentivo em suas aulas;

Aos amigos de laboratório, Claudinha, Cíntia, Monique, Hérica, Soraia,

Rebeca, Sarah, Artur, Leandro, Fred, Tiago, Marcinho e Ozias;

As empresas Isla Sementes, Eternit, Areal Anastácia, Indústria Cerâmica

Primeira, Rural S4, Gegê Cantarino e Isocamp pelas doações recebidas;

A Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro

(PESAGRO) pelo apoio no transporte de materiais;

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iv

Ao Serviço de Assistência São José Operário por permitir a realização do

trabalho.

Aos meus amigos de república antigos e atuais, Léo Jacó, Tiago

Micuinha, Gonzaga, Fabinho, Velhinho, Arthur Bolão, Ricardo Firula, Marcel,

Ronaldinho, Joãopiru, Dijone, Max Willians, Max Aleluia, Léo Moço, Mucamo,

Cão, Milene, Nara Géa, Marina Blume, Eli, Shureck, Miltonha, Dourado,

Claudinho, Gafanhoto, Bogus pelos bons tempos;

A todos os amigos do “Bonde da Cirrose”, Francisco Garcia “Chiconha”

Sumerhead, Baixinho, Caduzão, Joãozinho, Ismael, Reynaldo Amin, Thiago Costa

Braga, Gualandi, Fernandão, Jorge, Edízio, Peruá, Eurico, Betão, pelas farras e

porres;

Ao Dr. Vitor Mussi, sem o qual não estaria aqui hoje;

Aos meus amigos de Formiga – MG, Serginho, Dudu, Geraldo Thunder,

Michele e Kellen, pela longa amizade;

Aos meus irmãos, Júlio, Lílian, Alexandre e Douglas, pelo carinho mesmo

a longa distância;

Aos meus sobrinhos, Maria Eduarda, Guilherme, Gabriel, Manoela, Julia,

Rafael, por serem tão especiais;

Ao meu avô João (in memorian) e a vovó Fia por acreditarem que

chegaria aqui;

A minha querida prima Nara Gea pelo carinho e amor;

A Cláudia e Maria de Barra de São João, pela ajuda nos momentos

difíceis.

Aos amigos Erica Fernandes, Fernanda Fernandes, Graciane Barbosa e

Saulo pela amizade;

A meu compadre Marcos Fassarella e comadre Gabriela; pelo carinho e

amizade;

Aos amigos Emerson, Paulinho e Marcelo de Barra de São João;

Aos amigos Lála, Maria Augusta, Marilene Duran e Leonardo Duran

durante minha estadia no Rio de Janeiro;

Aos amigos Rafael Dionello, Francisco Garcia R.B.O e Roberto Carvalho

“Betinho” pelas intensas loucuras realizadas;

A todos os amigos da UENF, Araxá – MG, Barra de São João – RJ,

Formiga – MG que não tenham sido citados.

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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS...........................................................................................vi

LISTA DE FIGURAS.............................................................................................vii

RESUMO...............................................................................................................x

ABSTRACT............................................................................................................xii

1. INTRODUÇÃO..................................................................................... 1

2. OBJETIVOS......................................................................................... 4

3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................... 6

3.1 Levantamento do perfil dos DV........................................................... 6

3.2 Preparo e realização das aulas teórico-práticas................................. 9

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................... 14

4.1 Questionários: Aplicação e avaliação.................................................. 14

4.2 Aulas Práticas...................................................................................... 22

4.3 Implantação da Horta Sensorial.......................................................... 22

5. CONCLUSÕES.................................................................................... 25

5.1 Considerações Finais.......................................................................... 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................... 27

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Questionário para caracterização do perfil dos DV e sua

interação e conhecimento sobre plantas em geral e

especificamente hortaliças abrangendo informações sobre

preferências por consumo, conhecimento botânico e

nutricional de hortaliças. Campos dos Goytacazes, RJ,

2010......................................................................................... .

6

Quadro 2. Tabela de composição nutricional das hortaliças...................... 10

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vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Primeira aula teórica sobre hortaliças folhosas para

estudantes portadores de Deficiência Visual (DV). Campos

dos Goytacazes, RJ, 2010......................................................

12

Figura 2. Visão geral da área de implantação da horta sensorial no

Serviço de Assistência São José Operário. Campos dos

Goytacazes, RJ, 2010.............................................................

12

Figura 3. Grau de escolaridade dos estudantes portadores de

deficiência visual no Educandário São José Operário.

Campos dos Goytacazes, RJ,

2010........................................................................................

15

Figura 4. Faixa etária dos estudantes portadores de deficiência visual

do Educandário São José Operário. Campos dos

Goytacazes, RJ, 2010.............................................................

16

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Figura 5. Tipos de plantas que mais interessam aos estudantes

portadores de deficiência visual do Educandário São José

Operário. Campos dos Goytacazes, RJ,

2010........................................................................................

17

Figura 6. Registro da satisfação dos estudantes portadores de

deficiência visual Educandário São José Operário em

relação à experiência com plantio e cultivo de espécies

vegetais. Campos dos Goytacazes, RJ,

2010........................................................................................

18

Figura 7. Local onde os estudantes portadores de deficiência visual

do Educandário São José Operário tiveram experiências de

plantio ou cultivo de espécies vegetais. Campos dos

Goytacazes, RJ, 2010.............................................................

18

Figura 8. Proporção de estudantes portadores de deficiência visual

do Educandário São José Operário, entrevistados em

relação à possibilidade de voltar a plantar espécies

vegetais. Campos dos Goytacazes, RJ,

2010........................................................................................

19

Figura 9. Porcentagem de estudantes portadores de deficiência visual

do Educandário São José Operário em Campos dos

Goytacazes que sabem ou não diferenciar hortaliças

(folhosas, frutos, raízes e tubérculos). Campos dos

Goytacazes, RJ, 2010.............................................................

20

Figura 10. Frequência semanal de consumo de hortaliças por

estudantes portadores de deficiência visual do Educandário

São José Operário. Campos dos Goytacazes, RJ,

2010........................................................................................

21

Figura 11. Apresentação de pôster com os resultados parciais do

trabalho durante o Workshop de Extensão da UENF,

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realizado em outubro de 2010. Campos dos Goytacazes,

RJ, 2010..................................................................................

24

Figura 12. Participação em evento comemorativo ao dia Internacional

dos Portadores de deficiência, realizado na Praça São

Salvador em Campos dos Goytacazes no dia 03 de

dezembro de 2010..................................................................

24

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RESUMO

GÉA, Cláudio Roberto. Monografia de Conclusão de Curso – Agronomia; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Janeiro de 2011. Horta Sensorial: um estudo de caso com deficientes visuais no município de Campos dos Goytacazes, RJ. Orientadora: Profa. Rosana Rodrigues.

A cidade de Campos dos Goytacazes possui apenas uma instituição de

ensino voltada especificamente para deficientes visuais: o Serviço de Assistência

São José Operário, que abrange o Educandário para Cegos, com localização na

Avenida Gilberto Cardoso, bairro Parque Califórnia. O desenvolvimento de

atividades que estimulem a integração desses indivíduos na sociedade e que

associem conhecimentos acadêmicos e práticos é fundamental para a melhoria

da qualidade de vida e da auto-estima dos portadores de deficiência visual. Uma

horta sensorial é uma atividade educativa e recreativa que pode ter um papel

importante na inclusão social do deficiente visual (DV), no estímulo ao

conhecimento sobre biologia vegetal, e no melhor conhecimento sobre

alimentação humana e valores nutritivos dos alimentos. Os objetivos deste

trabalho foram: traçar o perfil dos estudantes DV e professores do Serviço de

Assistência São José Operário sobre suas preferências e conhecimentos sobre

plantas, e sobre o consumo e importância nutricional das hortaliças; ensinar como

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cultivar hortaliças, e ministrar aulas teóricas e práticas sobre botânica, utilizando-

se como base as plantas da horta; implantar uma horta sensorial no Serviço de

Assistência São José Operário. Para o levantamento do perfil dos alunos e

professores um questionário composto de 32 perguntas foi preparado

previamente e aplicado para 46 pessoas no formato de entrevistas. Após as

informações obtidas por meio dos questionários foi feita análise descritiva dos

dados que revelou que cerca da metade dos entrevistados eram mulheres. O

nível de escolaridade variou bastante com uma minoria possuindo curso superior

completo (9,75%) e pós-graduação (4,87%). A idade dos entrevistados variou

entre cinco a 84 anos e a maior causa de deficiência visual foi o diabetes. Os

entrevistados manifestaram interesse por plantas e seu cultivo, porém poucos

sabiam diferenciar hortaliças folhosas de frutos, tubérculos e raízes. Entretanto,

61% se declararam capazes de identificar as partes que compõem um vegetal. A

implantação da horta foi feita com apoio da UENF, por intermédio do programa de

bolsas de Extensão e também contou com o patrocínio de empresas privadas que

doaram recursos e materiais. Materiais reciclados foram utilizados na implantação

da horta, enfatizando-se a importância da re-utilização para a preservação do

meio ambiente. Foi construída uma bancada de bambu para servir de suporte

para bandejas de isopor, vasos e mudas em copos, e também canteiros feitos de

pneus usados na proporção de três pneus para cada canteiro. Foram ministradas

aulas teóricas e práticas com as plantas mais citadas pelos respondentes no

questionário mostrando suas diferenças anatômicas, através do tato, olfato e até

audição. Houve interesse dos estudantes DV em aprender sobre outros tipos de

plantas, bem como interesse em aprender mais sobre saúde e alimentação. A

intensa participação nas aulas teóricas e práticas permitiram a conclusão de que

é grande o interesse dos alunos DV em aprender mais sobre hortaliças e seu

cultivo em geral. Ganhos não só em termos de conhecimentos na área de

agricultura, de biologia vegetal, mas também nas áreas de saúde, nutrição e

alimentação poderão advir da implantação e das atividades rotinas da horta

sensorial.

Palavras chaves: Horta sensorial, deficiência visual, hortaliças, saúde,

alimentação.

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ABSTRACT

GÉA, Cláudio Roberto. Monograph Course Completion – Agronomy; Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, December 2010. Sensory vegetable garden: a case study for visually impaired students in Campos dos Goytacazes, RJ, Brazil. Advisor: Profa. Rosana Rodrigues.

The town of Campos dos Goytacazes has a single educational institution

geared specifically for the visually impaired, named São José Operário which

includes a Blind School, located on Gilberto Cardoso Avenue, Parque California

neighborhood. The development of activities that stimulate the integration of these

individuals with society and also that associate academic and practical knowledge

is fundamental for enhancement of life quality and self-esteem of visually impaired

people. The sensory vegetable garden is an educational activity and recreative

that can play an important role in social inclusion of the visually impaired

individual, stimulating the knowledge about vegetal biology and yet about human

nutrition and the food value. The objectives of this work were: to perform a survey

about basic knowledge of the students on vegetal biology, management,

consumption and nutritional importance of vegetables; to teach how to grow

vegetable crops; to give classes about botany using the plants of the sensory

vegetable garden and to start a sensory vegetable garden on Serviço de

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Assistência São José Operário. A query with 32 items was prepared and applied

fro 46 people using interview approach. The information from queries was

analyzed in a descriptive way and we found that half of the interviewed were

women. The education level has a strong variation with the minority having

finished the graduate course (9.75%) and post-graduate course (4.87%). The age

of the assisted by Educandário ranged from five to 84 years and the major cause

for blindness was diabetes. The interviewers showed interest for plants and how to

grow them; however few knew the differences between leaf vegetables and fruit

vegetables as well as tubers and roots. Nevertheless, 61% were capable to

identify the parts of the plants. The work was done with support of UENF, through

the scholarship extension program and also was sponsored by several private

companies that donate resources and materials. Recycled materials were also

used in vegetable garden construction, giving attention to reuse as strategy in

environmental preservation. Aerial growing beds were made with bamboo and old

tires for vegetable cultivation and practical classes training. Theoretical and

practical classes were presented considering the plants most cited in the queries

as examples, showing their anatomical differences, through texture, smell and

even sound. There was genuine and enthusiastic interest from students in

knowing about other types of plants, as well as about health care and nutrition.

The enthusiastic participation during theoretical and practical classes allowed

concluding that there is real interest in learning more about vegetables and how to

grow them. So, it is possible to admit that gains could be obtained in agriculture

knowledge and also in vegetal biology, health care, human nutrition could be

derived from sensory vegetable garden.

Key Words: Sensory garden, visual impairment, vegetables, health, food.

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1. INTRODUÇÃO

Na maioria das vezes as pessoas portadoras de alguma deficiência física

são tratadas com preconceitos e discriminadas, sendo consideradas pessoas

incapazes de exercer certas atividades, ficando subestimadas suas

potencialidades e capacidades.

Educacionalmente são consideradas cegas as pessoas que não

apresentam potencial para o planejamento ou execução de uma tarefa por meios

visuais, após a verificação de todos os recursos específicos necessários. Utilizam-

se do sistema Braille como recurso de acesso à leitura e escrita. Já o conceito de

baixa visão foi revisto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) num encontro

na Tailândia em 1992 e são consideradas pessoas com baixa visão aquelas que

possuem comprometimento no funcionamento visual, em ambos os olhos, mesmo

após tratamento ou máxima correção de refração, apresentando medida

quantitativa inferior a 20/70 até percepção luminosa e campo visual inferior a 10

graus do ponto de fixação (Bruno, 2001).

Segundo o censo 2007 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), a população no Brasil é composta por cerca de 180 milhões de

habitantes, com aproximadamente 15 milhões no Estado do Rio de Janeiro, o

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terceiro estado mais populoso do Brasil (IBGE, 2007). Estimativas da

Organização Mundial de Saúde (OMS), apontam que em 2020 a população de

cegos no Brasil chegue a 1.100.000 pessoas e aproximadamente 4 milhões de

deficientes visuais sérios (OMS, 2010).

O Censo 2000 revelou que existiam 148.000 pessoas cegas e 2.400.000

com algum tipo de deficiência visual; destes 77.900 eram mulheres e 77.100,

homens. A região nordeste teve o maior número de pessoas cegas, 57.400

cegos, contra 54.600 da região sudeste; São Paulo representou o estado com o

maior número, com 23.900 cegos (IBGE, 2000).

A cidade de Campos dos Goytacazes, localizada na Região Norte

Fluminense no Estado do Rio de Janeiro, possui aproximadamente 13,67% da

sua população com algum tipo de deficiência (IBGE, 2009). O Educandário para

Cegos no Serviço de Assistência São José Operário, localizado a Avenida

Gilberto Cardoso, nº 116/203, no bairro Parque Califórnia, no município de

Campos dos Goytacazes, em parceria com o Instituto Benjamin Constant da

Cidade do Rio de Janeiro, é a única instituição que atua na cidade na educação

aos deficientes visuais. O Educandário atende cerca de 200 alunos portadores de

deficiência visual com idades variando entre 0 a 80 anos. As principais causas

das deficiências visuais dos alunos assistidos pela instituição são decorrentes de

doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabetes. Brito e Veitzman. (2000)

constataram que as causas mais frequentes da cegueira e baixa visão em

crianças foram o glaucoma congênito, a retinoplastia da prematuridade, a rubéola,

catarata congênita e a toxoplasmose congênita.

O uso de jardins e cultivo de plantas em geral vem sendo considerado uma

alternativa importante como auxiliar terapêutico no tratamento e na recuperação

de pacientes, suas famílias e na própria equipe que presta assistência aos

pacientes (Whitehouse et al., 2001).

Um exemplo interessante é Jardim Sensorial do Osaka's Oizumi Ryokuchi

Park no Japão. Este parque foi construído especificamente para pessoas cegas e

por isso é conhecido também por Jardins dos Cegos. Entretanto, todos os

visitantes são convidados a aproveitar as muitas oportunidades recreacionais e

educativas através de sons, cheiros e toques. Por isso, este parque é citado como

exemplo de sucesso em Universal Design for Learning uma proposta americana

de ensino que visa entre outros itens, estabelecer um currículo nas escolas que

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permita a todos os indivíduos conhecimentos, habilidades e entusiasmo em

aprender (Wu, 2010).

Por outro lado, uma horta escolar melhora o aprendizado e muda os

hábitos alimentares, existindo hoje em várias escolas no Brasil. A horta sensorial

surgiu a partir de uma variação do conceito implantado dos jardins sensoriais, a

qual visa estimular os sentidos sensoriais dos DV. Nestes casos, as plantas

utilizadas são, de preferência, aquelas as quais estimulem os DV em cheiros,

texturas, diferentes formas e alturas, sempre visando aumentar a percepção dos

sentidos (tato e olfato) (Ely et al., 2006). A inclusão do DV e sua consequente

autonomia são favorecidas pelo aprendizado e conhecimento adquirido junto à

horta sensorial. Seus hábitos alimentares tendem a mudar e seu conhecimento é

passado a outros, socializando seus conhecimentos.

Um aluno matriculado numa escola passa cerca de 5 horas por dia na

instituição (FGV). Uma parte desta carga horária pode ser aproveitada para

estímulo a atividades realizadas em grupos com enfoque no meio ambiente e

numa conscientização dos alunos sobre a importância de bons hábitos

alimentares. As hortas educativas se tornam uma oportunidade para os alunos

terem uma melhor percepção da importância nutricional dos alimentos, permitindo

o enriquecimento do conhecimento em hortaliças, socialização, mudanças

alimentares e o conhecimento teórico e prático para implantação de hortas com

fins lucrativos.

O aluno com deficiência visual não precisa de um currículo ou método de

alfabetização diferente dos demais; mas sim, de adaptações e complementações

curriculares, tais como: adequação de recursos específicos, tempo, espaço,

modificação do meio, procedimentos metodológicos e didáticos e processos de

avaliação adequados as suas necessidades. O sistema Braille, as formas de

comunicação alternativas e Programas de Orientação e Mobilidade compreendem

suplementações ou complementações curriculares de acesso ao currículo (Bruno,

2001).

Para uma horta sensorial, os canteiros elevados do chão auxiliam na

condução do plantio de hortaliças, ficando mais cômodo e ergonômico o

manuseio pelos deficientes visuais. Estes canteiros suspensos permitem que os

DV fiquem sentados, em pé e também facilita o acesso a DV que utilizam cadeira

de rodas. Assim, os DV podem utilizar a horta sensorial e a partir do olfato, tato e

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audição, sentindo texturas diferentes, cheiros e sabores terem acesso ao

conhecimento das diferentes hortaliças.

A conscientização dos DV quanto aos benefícios à saúde humana pelas

hortaliças, pelo seu manuseio, preparo, consumo, valor nutricional, contribuirá

significativamente para uma melhor qualidade de vida para o próprio DV, bem

como de seus amigos, familiares e a comunidade ao seu redor.

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2. OBJETIVOS

Este trabalho teve por objetivos fazer um levantamento sobre os

conhecimentos básicos de alunos e professores desta instituição na área de

biologia vegetal, e no cultivo, consumo e importância nutricional das hortaliças;

ensinar como cultivar hortaliças, e ministrar aulas sobre botânica, utilizando-se

como base as plantas da horta, e implantar uma horta sensorial orgânica no

Serviço de Assistência São José Operário.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no Serviço de Assistência São José

Operário, localizado na Av. Gilberto Cardoso nº 161/203, bairro Parque Califórnia,

na Cidade de Campos dos Goytacazes no período de março a dezembro de

2010.

3.1. Levantamento do perfil dos DV

Para fazer o levantamento do perfil das pessoas assistidas pela instituição

foi aplicado um questionário com 32 perguntas que abordavam desde dados

pessoais (nome, idade, gênero, escolaridade, causa da deficiência visual, entre

outros) até as preferências por consumo alimentar e produção de hortaliças,

conhecimento botânico e nutricional (Quadro 1).

O questionário foi aplicado para os alunos e professores no formato de

entrevistas individuais.

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Quadro 1. Questionário para caracterização do perfil dos DV e sua interação e conhecimento sobre plantas em geral e especificamente hortaliças abrangendo informações sobre preferências por consumo, conhecimento botânico e nutricional de hortaliças. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

Projeto: Horta Orgânica Sensorial: Um Espaço de Oportunidades Para Treinamento de Portadores de Deficiência Visual em Agronomia, Biologia e Ciência de Alimentos 1- Nome completo: ________________________________________________

2- Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

3- Escolaridade: ( ) Ensino Fundamental do 1º Segmento Incompleto ( ) Ensino

Fundamental do 1º Segmento Completo ( ) Ensino Fundamental Incompleto

( ) Ensino Fundamental Completo ( ) Ensino Médio Incompleto ( ) Ensino

Médio Completo ( ) Ensino Superior Incompleto ( ) Ensino Superior Completo

( ) Pós-graduação

4- Idade? ______

( ) 0-5 ( ) 5-9 ( )10-14 ( ) 15-19 ( )20-24 ( )25-29 ( )30-34 ( )35-39 ( )40-

44 ( )45-49 ( )50-54 ( )55-59 ( )60-64 ( )65-69 ( )70-74 ( )75-79 ( )80-84

5- Grau e causa da deficiência visual:_________________________________

6- Gosta de plantas? ( ) Sim ( ) Não

7- Qual grupo de plantas que mais gosta? ( ) arbóreas ( )aromáticas

( )frutíferas ( ) hortaliças ( )ornamentais ( ) outras

8- Qual o grupo de plantas que você menos gosta?

( ) hortaliças ( )ornamentais ( )aromáticas ( ) arbóreas ( )frutíferas ( )

outras

9- Já cultivou uma planta? ( ) Sim ( ) Não

10- Caso nunca tenha cultivado, por quê?

( ) Falta de oportunidade ( ) Medo ( ) Nunca desejou ( )Outros: __________

11- Onde cultivou? ( )casa ( )escola ( )trabalho ( )outros: ________________

12- Qual (is) foi(ram) a(s) planta(s)?___________________________________

13- Como foi a experiência? ( ) Péssima ( ) Ruim ( ) Mediana ( ) Boa ( )Ótima

14-Gostaria de voltar a plantar? ( ) Sim ( ) Não

15 - Qual planta você gostaria de cultivar? ____________________________

16- Qual(is) a(s) hortaliça(s) que você mais gosta de comer?

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8

Quadro 1, continuação.

( )Abóbora ( )Abobrinha ( )Acelga ( )Agrião ( )Alface ( )Almeirão ( )Baiano

( )Batata-doce ( )Batata inglesa ( )Berinjela ( )Beterraba ( )Brócolis (

)Cebola ( )Cebolinha ( )Cenoura ( )Chicória ( )Chuchu ( )Couve ( )Couve-flor

( )Espinafre ( )Feijão-de-vagem ( )Inhame ( )Mostarda ( )Pimentão (

)Quiabo ( )Repolho ( )Rúcula ( )Salsa ( )Tomate ( )

Outros:_________________________ Por quê? ________________________

17- Você já preparou algum prato com os seus vegetais preferidos?

( ) Sim ( ) Não.

Quais?__________________________________________________________

18- Você sabe a diferença entre verduras, legumes, frutas, frutos e raiz

comestível?______________________________________________________

19- Com que freqüência você consome hortaliças em geral?

( )uma vez por semana ( )duas vezes por semana ( )três vezes por semana ( )

diariamente ( )não consome.

20- Você sabe dos benefícios que as hortaliças podem trazer para sua saúde?

_________________________________________________________________

21-Você sabe como é feita a reprodução das plantas? ( ) Sim ( ) Não

22- Você acha que existe planta masculina e feminina? ( ) Sim ( ) Não

23- Caso sim, você saberia identificar as flores femininas e masculinas de uma

planta?

( ) Sim ( ) Não

24- Você acha que as plantas possuem óvulos? ( ) Sim ( ) Não

25- Você conhece as partes de um vegetal? ( ) Sim ( ) Não

26- Você sabe a diferença de raiz tuberosa para rizomas? ( ) Sim ( ) Não

27- Você sabe a diferença entre agricultura orgânica e convencional?

( ) Sim ( ) Não

28- Você já frequentou jardins ou hortas? ( ) Sim ( )Não.

29- A sensação foi? ( ) péssima ( ) ruim ( ) mediana ( )boa ( )ótima

30- Você já visitou uma horta sensorial? ( ) Sim ( ) Não

31- Desejaria ajudar a cultivar uma horta sensorial na escola? ( ) Sim ( ) Não

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9

Quadro 1, continuação.

32- Sugestão de algum assunto (tema) que tenha interesse em aprender ou

discutir em sala de aula: ___________________________________________

Os resultados do questionário foram submetidos à análise descritiva e

foram utilizados como base para tomada de decisão sobre quais hortaliças seriam

apresentadas aos estudantes e que tipo de abordagem deveria ser feita nas aulas

teórico-práticas. Dessa forma, buscou-se atender a demanda detectada nas

entrevistas. A partir dos resultados dessa etapa, foram organizadas seis turmas

para a realização das aulas teóricas e práticas.

3.2. Preparo e realização das aulas teórico-práticas

Nesta etapa, primeiro buscou-se o entrosamento dos monitores, Claudio

Roberto Géa, Ozias Vieira dos Santos da Silva e Márcio Couto Pontes, bolsistas

de extensão e Universidade Aberta da UENF, com os alunos e professores do

Educandário para que o conteúdo das aulas se fizesse da forma mais acessível

para os estudantes DV. Este entrosamento foi feito por meio de apresentação em

sala de aula para os alunos, reuniões com a direção da instituição e visitas ao

diversos setores e dependências do Educandário (cozinha, pátio, casa-modelo,

diretoria, entre outros) apresentando a equipe a todos os funcionários. Inclusive,

foi realizada uma reunião do grupo, bolsistas e pós-graduandos voluntários, com

a psicóloga do educandário, que foi fundamental no direcionamento do

comportamento do grupo perante os alunos, funcionários e professores. Esse

período foi importante para definição de métodos e materiais a serem utilizados

nas aulas teóricas e de campo. Após esse período de conhecimento e adaptação

de ambas as partes, tiveram início as aulas prático-teóricas, cujos temas foram

hortaliças folhosas, hortaliças-fruto; sementes de hortaliças; flores de hortaliças.

Deve-se destacar que cada uma dessas aulas foi ministrada para seis turmas

diferentes conforme agrupamento definido pelo questionário previamente

analisado. O tempo de duração de cada aula foi de quarenta minutos.

Como material didático da primeira aula utilizou-se folhas de almeirão,

alface, cebolinha, chicória, couve, inhame, mostarda e taioba. Durante a

apresentação das folhas foi ressaltado seu valor nutricional, em termos de

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vitaminas A, B e C, bem como de sais minerais (Quadro 2). Além disso, os

estudantes DV tiveram oportunidade de verificar as diferentes texturas, formatos,

aromas, e outras diferenças entre as folhas (Figura 1); os DV sentiram como a

folha da alface era lisa, a de almeirão mais comprida, a de chicória picotada,

verificando suas diferentes formas e tamanho. Discutiu-se também a importância

do cultivo orgânico.

A segunda aula, sobre hortaliças-fruto, teve como material didático frutos

de tomate, jiló, maxixe, chuchu e berinjela, buscando-se nesta aula diferenciar

principalmente o formato utilizando o tato.

Quadro 2. Tabela de composição nutricional das hortaliças

Espécies (em

100g)

Vit A

Vit B1

Vit C

Potássiomg

Sódio mg

Cálcio mg

Ferro mg

Fósforo

mg Abobrinha 5 23

0 5,8 19 0,600 32

Abobrinha 2 187

1,5 15 0,560 30

Aipo 77 30 1,9+

291,0 96,00 72 0,700 46

Alface 102 110 7,6+ 140,0 12,00 38 1,100 42 Almeirão 263 213 11,0+ 371,2 81,70 70 1,700 23 Berinjela 5 60 1,2

+ 112,7 38,20 17 0,400 29

Berinjela 38 76 1,30

112,1 27,50 6 0,350 22

Beterraba 2 50 35,2+

325,00

78,00 32 2,500 40

Cebola 2 60 9,7 27,20 36,40 32 0,500 44

Cenoura 900

35 9,5 26 0,600 26

Cenoura 1100

60 26,8

238,6 53,70 56 0,600 46

Chicória 330

70 6,8 519,5 105,3 29 1,500 27

Chuchu 2 30 10,8

116,7 14,60 12 0,400 30

Chuchu 2 15 8,3 173,00

1,00 13 0,220 29

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Quadro 2, continuação.

Couve comum

650

200

92 294,00 15 388 1,980 89

Couve comum

100

90 33,5+

228,00

23,00 72 0,900 28

Espinafre 585

70+

15,3+

490,1 320,8 95 3,080 92

Espinafre 570

35 7,3+

466,00

70,00 136 3,570 56

Inhame 3 30 5,8

+ 65,90 30,70 25

4,000 50

Inhame 5 100

9,8+

648,00

3,00 43 0,550 84

Jiló 66 70 12,4+

186,5 21,80 22 1,000 34

Jiló 8,6+

256,5 26,80 18 2,440 71

Maxixe 0 20 5,0 3 0,040 23 Mostarda 35

0 65 23,

9+ 111,9 49,00 220 2,900 38

Pepino 2 30 14,0+

75,80 20,40 22 0,440 4

Salsa 7000 120 183,4+ 365,8 48,10 195 3,100 52 Taioba 30

0 18

0 77,

8+ 591,2 61,90 98 2,000 49

Taioba 33,5+

Tomate 60 80 34,3+

209,4 42,00 9 1,670 43

LEGENDA Cru / Crua com casca

sem casca raiz

cozido/cozida folha

inteiro / inteira bulbo

fresca flores

grão seco grão verde

rizoma folhas e talos

talo

Fonte. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

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12

Na terceira aula, sobre sementes, foram utilizadas amostras de alface,

cenoura, couve-flor, beterraba e quiabo, dando-se ênfase à variabilidade existente

em termos de tamanho e formato das sementes, discutindo-se a facilidade e, ou

dificuldade de plantio de cada uma delas.

O último tema desse segmento de aulas teóricas foram as flores,

destacando-se suas diferentes formas, tamanhos e odores. Foram levadas

amostras de flores das seguintes culturas: Cucurbitáceas (abóbora e pepino),

Brássicas (couve-flor e brócolis) e Solanáceas (tomate). Também foi mostrada a

diferença entre flores masculinas, femininas e hermafroditas.

Figura 1. Primeira aula teórica sobre hortaliças folhosas para estudantes portadores de Deficiência Visual (DV). Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

Simultaneamente às aulas teóricas em sala de aula, foi demarcada uma

área de campo para condução prática da horta sensorial. Esta área, que

corresponde a 153 m2 está localizada nos fundos da instituição, ao lado do jardim

sensorial e foi cercado com mourões e tela plástica, para evitar acidentes e o

trânsito de animais, pois na instituição existem cavalos utilizados para aulas de

equoterapia (Figura 2) que poderiam danificar as plantas da horta.

Após a demarcação do local, foi construída uma bancada de bambu para

a colocação de bandejas de isopor e vasos, visando um melhor alcance dos DV.

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13

Figura 2. Visão geral da área de implantação da horta sensorial no Serviço de Assistência São José Operário. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

Terminado o primeiro módulo, que correspondeu às aulas teóricas e à

definição do local da horta e o preparo da área para receber os DV, teve início o

segundo módulo: as aulas práticas.

Nesta nova fase, o que foi ensinado nas aulas anteriores foi colocado em

prática com uma aula de semeadura de alface e divisão de touceira de cebolinha.

Foram utilizadas sementes sem tratamento químico (sementes orgânicas) doadas

pela Empresa Isla Sementes®, pois o toque é essencial para o desenvolvimento

psicomotor e não se pode aceitar o toque em sementes tratadas com agrotóxicos.

As sementes de alface foram semeadas em bandejas de isopropileno com 128

células com substrato organovegetal Vivato®.

Ocorreram também aulas práticas

de semeadura de tomate e abóbora, bem como plantio de mudas de couve e

cebolinha em copos descartáveis.

Nesta etapa de implantação da horta do ponto de vista prático, foi

fundamental o apoio da iniciativa privada e foram doados para a execução deste

módulo: 1.800 tijolos (Indústria Cerâmica Primeira); 08 pacotes de sementes sem

agrotóxicos (Isla Sementes®); pá e enxada (Rural S4); 20 bandejas de 200 células

e 10 de 128 células (Isocamp); 5 metros cúbicos de areia (Areal Anastácia); 12

mourões (Gegê Cantarino); uma caixa d’água de 1.000 litros (Eternit); dezesseis

pneus de carros usados. Para o transporte desse material bem como na

locomoção de pessoas houve apoio do setor de transportes da Universidade

Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e da Empresa de Pesquisa

Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (PESAGRO).

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14

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Questionários: Aplicação e Avaliação

Um total de 46 pessoas, que corresponde a cerca de ¼ do total de

assistidos pelo Educandário, responderam ao questionário. No item referente à

pesquisa quanto ao sexo, observou-se que 48% dos entrevistados são do sexo

masculino e 52% do sexo feminino. Embora a diferença seja pequena, tem-se um

ligeiro predomínio de pessoas do sexo feminino sendo atendidas pelo

Educandário São José Operário.

O nível de escolaridade variou bastante entre os entrevistados: 41,46%

cursaram o ensino fundamental do 1º segmento incompleto (antiga 1ª a 4ª série);

4,87% ensino fundamental do 1º segmento completo (antiga 1ª a 4ª série); 14,63

% com ensino fundamental incompleto (antiga 5ª a 8ª série); 2,43 % ensino

fundamental completo (antiga 5ª a 8ª série); 4,87% ensino médio incompleto (1º

ao 3º ano do segundo grau); 2,43 % ensino médio completo (1º ao 3º ano do

segundo grau); 14,63 % ensino superior incompleto; 9,75% superior completo e

4,87 % com pós-graduação (Figura 3).

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15

Escolaridade

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 6 7 8 9

% E

scol

arid

ade

Figura 3 – Grau de escolaridade dos estudantes portadores de deficiência visual no Educandário São José Operário. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010. (1. Ensino Fundamental 1º segmento incompleto; 2. Ensino Fundamental 1º segmento completo; 3. Ensino Fundamental incompleto; 4. Ensino Fundamental Completo; 5. Ensino Médio Incompleto; 6. Ensino Médio Completo; 7. Ensino Superior Incompleto; 8. Ensino Superior Completo; 9. Pós-graduação).

Somando-se as classes de entrevistados que têm o ensino superior

completo e pós-graduação observa-se que nesse segmento, que corresponde a

14,63%, estão os professores com deficiência visual. Uma provável causa para a

baixa escolaridade dos entrevistados pode ser uma grande rejeição ao sistema de

aprendizado em Braille, que foi verificado no momento das entrevistas. Embora

essa questão não tenha sido incluída no questionário aplicado, vários

entrevistados manifestaram essa opinião, que foi anotada pelo entrevistador.

Segundo Bruno (2001), os alunos que perdem repentinamente a visão podem

apresentar rejeição pela adoção do sistema braile, e nesses casos torna-se

importante o apoio psicológico para o aluno e seus familiares no período de

adaptação à nova situação.

Do total de entrevistados, 59% possuíam idade entre cinco e 39 anos e os

outros 41% idade entre 40 e 84 anos (Figura 4).

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16

Distribuição dos Alunos por Idade

0

5

10

15

20

0-5

5-9

10-1

4

15-1

9

20-2

4

25-2

9

30-3

4

35-3

9

40-4

4

45-4

9

50-5

4

55-5

9

60-6

4

65-6

9

70-7

4

75-7

9

80-8

4

anos

%

Figura 4 – Faixa etária dos estudantes portadores de deficiência visual do Educandário São José Operário. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010. De acordo com o levantamento feito, 98% dos alunos declararam gostar

de plantas e destas, as plantas ornamentais com 41% (Figura 5) foram apontadas

como aquelas preferidas pelos DV. As fruteiras, as aromáticas e as hortaliças

aparecem em seguida, com 22%, 15% e 9% de aceitação, respectivamente. Tal

interesse pelas ornamentais pode estar relacionado com o fato de alguns

entrevistados terem plantado rosas, samambaias e jasmins antes de perderem a

visão e também pelo fato dos DV já terem acesso e aulas em um jardim sensorial

dentro do Educandário. As fruteiras também tiverem um bom nível de interesse

provavelmente por estarem mais presentes no dia a dia e serem de mais fácil

consumo, quando comparada com as hortaliças, não necessitando de cozimentos

e outros tratos mais sofisticados que são de realização mais complexa para os

DV. No caso do consumo de hortaliças, exige-se um tempo maior de preparo

como a limpeza cuidadosa de folhas de alface, o cozimento de abóboras, repolho,

couve-flor, além de outras práticas que as tornam menos atrativas para os DV. É

interessante ressaltar que nenhum dos entrevistados mencionou espécies

arbóreas em suas respostas.

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17

Grupo de Plantas que mais gosta.

05

1015202530354045

Arbórea

s

Aromáti

cas

Frutífe

ras

Hortali

ças

Ornamen

tais

Outras

%

Figura 5 – Tipos de plantas que mais interessam aos estudantes portadores de deficiência visual do Educandário São José Operário. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010. Devido à existência de um jardim sensorial no Educandário, muitos

alunos, cerca de 90%, já plantaram ou cultivaram algum tipo de espécie vegetal.

Sessenta e um por cento consideraram a experiência boa e 32% declararam a

experiência como ótima (Figura 6). Este índice de envolvimento com a terra

(cerca de 90%) e a satisfação dos 93% que declararam a experiência como boa

ou ótima indica um aspecto positivo e apontam para o estímulo a iniciativas dessa

natureza.

Quando perguntados sobre o local onde plantaram, 51% disseram que

haviam plantado em casa e 42% no Educandário (Figura 7). Perguntados se

gostariam de voltar a plantar, 86% disseram que sim.

A dificuldade dos DV em relação às hortaliças fica demonstrada quando

apenas 52%, ou seja, um pouco mais da metade declarou saber diferenciar as

hortaliças (folhosas, frutos, raiz e tubérculo) (Figuras 8 e 9). Assim, um

contingente de 48% dos entrevistados não sabe reconhecer as hortaliças pelo

tato e olfato. Isso sem dúvida irá interferir na escolha dos itens com os quais eles

irão se alimentar. Considerando que as hortaliças são importantes fontes de

vitaminas e sais minerais, a não inclusão desse grupo de alimentos na dieta diária

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18

pode acarretar em perdas para saúde. Jaime et al. (2007) afirmam que o baixo

consumo de hortaliças e frutas, aumenta o risco de doenças cardiovasculares e

câncer.

Como foi a experiência.

0

10

20

30

40

50

60

70

Péssima Ruim Mediana Boa Ótima

%

Figura 6 – Registro da satisfação dos estudantes portadores de deficiência visual Educandário São José Operário em relação à experiência com plantio e cultivo de espécies vegetais. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

Local onde cultivou.

0

10

20

30

40

50

60

Casa Escola Trabalho Outros

%

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Figura 7 – Local onde os estudantes portadores de deficiência visual do Educandário São José Operário tiveram experiências de plantio ou cultivo de espécies vegetais. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

Gostaria de voltar a plantar

0102030405060708090

100

Sim Não

%

Figura 8 – Proporção de estudantes portadores de deficiência visual do Educandário São José Operário, entrevistados em relação à possibilidade de voltar a plantar espécies vegetais. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

Sabe diferenciar verduras, legumes, frutas, frutos e raiz comestíveis

0

10

20

30

40

50

Sim Não

%

Figura 9 – Porcentagem de estudantes portadores de deficiência visual do Educandário São José Operário em Campos dos Goytacazes que sabem ou não diferenciar hortaliças (folhosas, frutos, raízes e tubérculos). Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

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20

Apesar de terem dificuldades no reconhecimento das hortaliças e de

demonstrarem um interesse menor em seu plantio quando comparado a outros

grupos como ornamentais e fruteiras, surpreendentemente 59% dos entrevistados

declararam que consomem hortaliças diariamente. Esse resultado, considerado

inesperado devido aos outros dados já apresentados anteriormente, foi

considerado bastante positivo, especialmente quando associado ao fato de que

33% declararam consumir hortaliças pelo menos de duas a três vezes por

semana (Figura 10). Um ponto a ser considerado e que não foi abordado no

questionário foi quanto à variedade de hortaliças utilizadas na alimentação. Por

exemplo, um entrevistado que declarou se alimentar de hortaliças diariamente

pode fazer isso somente se alimentando de alface todo dia, o que não é a

situação ideal. Ainda, 13 % declararam não consumir hortaliças, o que deixa uma

margem para em trabalhos futuros sensibilizar esses indivíduos para a

importância do consumo desses alimentos. Esse resultado, de certa forma,

contradiz o que foi verificado por Jorge et al. (2008) , que afirmaram que o baixo

consumo de hortaliças e frutas nas dietas diárias está diretamente relacionado à

baixa escolaridade da população.

Frequencia de consumo de hortaliças

010203040506070

Uma vez Duas vezes Três vezes Diariamente Nãoconsome

Quantidade por semana

%

Figura 10 – Freqüência semanal de consumo de hortaliças por estudantes portadores de deficiência visual do Educandário São José Operário. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010.

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21

Quando perguntados se sabiam dos benefícios que as hortaliças podem

trazer para sua saúde, 72 % responderam que sim enquanto 28% não sabiam

desses benefícios. Mais uma vez foi um resultado inesperado, considerando-se o

menor interesse nessas culturas quando comparado com as plantas ornamentais.

Neste ponto, pode-se inferir que a preferência dos entrevistados pelas

ornamentais se dá quase que exclusivamente pelo fato de que eles já tinham uma

experiência prévia de plantio e vivência com o jardim sensorial do Educandário.

Esse fato alerta para a necessidade de se inserir no cotidiano dessas pessoas

outras opções de vivência com plantas para ampliar seus conhecimentos e

melhorar sua qualidade de vida.

Sobre o conhecimento das partes que compõem uma planta, 61%

disseram saber reconhecer as suas partes, ou seja, o que é um caule, uma raiz,

as folhas, as flores e os frutos. Mais uma vez, esse foi um resultado inesperado

visto que anteriormente questionados sobre se sabiam reconhecer uma hortaliça

(folhosa, frutos, raízes e tubérculos) apenas 52% dos entrevistados disse saber

fazer esse reconhecimento. Entretanto, deve-se considerar a hipótese de que

muitas vezes os entrevistados omitem o fato de não terem conhecimento sobre

determinada pergunta por que não desejam se sentir discriminados. Ainda,

quando perguntados se os mesmos sabiam diferenciar uma raiz tuberosa de um

rizoma, 87% disseram que não, o que não é surpresa, pois, a maioria dos

consumidores não sabe mesmo fazer essa distinção.

Quanto ao tipo de agricultura, perguntados se sabiam diferenciar a

agricultura orgânica da agricultura convencional, 61% dos alunos não sabiam as

diferenças, enquanto 39% disseram saber diferenciar os dois sistemas de cultivo.

Segundo Archanjo et al. (2001) apenas uma pequena fração da população tem

um interesse em alimentação orgânica. Isso indicou a necessidade de se incluir

nas aulas teóricas e práticas noções de agricultura orgânica.

Dentre os entrevistados, a maioria (76%) declarou que nunca visitou uma

horta sensorial e 87% deles manifestaram o desejo de cultivar uma horta

sensorial no educandário, resultado considerado muito animador. Isso vai de

encontro com o observado por Araújo e Pires (2009), que estudando fruteiras no

Cerrado, constataram por meio de entrevistas que uma grande parcela da

população nunca tinha plantado uma árvore frutífera, porém os mesmos

gostariam que essas árvores fossem plantadas.

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22

4.2. Aulas Práticas

Foram ministradas aulas práticas duas vezes por semana para seis

turmas de alunos DV divididos em grupos conforme levantamento dos dados do

questionário. As turmas dos DV tinham diferentes faixas etárias e alguns além da

deficiência visual, tinham deficiência motora. A abordagem aos DV foi

diferenciada de acordo com sua faixa etária, para um melhor entendimento

didático do assunto hortaliças.

A primeira aula foi uma apresentação do grupo de trabalho para toda a

instituição, estando presentes, funcionários de apoio, administrativos, professores

e alunos; nesta primeira aula foram apresentados para todos os presentes, folhas,

frutos, sementes, plantas inteiras e sementes para mostrar a todos como seriam

as aulas seguintes. Posteriormente, começaram os primeiros contatos dos DV

com as hortaliças, quando então foram apresentados aos mesmos, hortaliças

folhosas como alface, couve, espinafre e cebolinha. Numa segunda aula já era

possível os alunos diferenciarem pelo tato as diferentes folhas, por suas

diferentes texturas. Nas aulas seguintes, foi dada ênfase a frutos, flores,

sementes. Os alunos se mostraram bem impressionados com os diferentes tipos

de frutos e pela grande variedade de formas e tamanhos das sementes, tendo

suas curiosidades muito estimuladas. Foi perceptível durante as aulas, o grande

interesse das propriedades funcionais das hortaliças, principalmente nos DV mais

idosos. Estes perguntavam sobre quais alimentos eram bons para a pele, cabelo,

ossos e intestino.

4.3. Implantação da Horta Orgânica Sensorial, aulas práticas e divulgação das

atividades

A horta sensorial foi construída ao lado do jardim sensorial, e cercada

com tela plástica, para evitar o trânsito de animais e acidentes. Os canteiros de

pneus usados foram construídos de forma a ficar a 1,0 m do solo, para maior

comodidade, garantindo assim a acessibilidade dos DV. Foi feita uma bancada de

bambu, o que serviu para exemplificar o uso de materiais diversos e a reciclagem

na construção da horta.

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Com a construção dos canteiros e o treinamento preliminar dos

estudantes DV será possível manter a horta sensorial funcionando. Nas próximas

etapas do trabalho será feito o treinamento de monitores que possuem deficiência

visual para a disseminação do conhecimento e uma maior independência da

instituição em relação aos bolsistas da UENF.

A execução deste trabalho no Educandário São José Operário foi

apresentado à comunidade em três momentos distintos: no Congresso Brasileiro

de Olericultura em agosto de 2010; no Workshop de Extensão da UENF realizado

em outubro de 2010 quando foi apresentado pôster com os resultados (Figura

11); e no evento comemorativo ao dia do Deficiente Físico, realizado na Praça

São Salvador em Campos dos Goytacazes no dia 03 de dezembro de 2010

(Figuras 12 e 13).

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Figura 11. Apresentação de pôster com os resultados parciais do trabalho durante o Workshop de Extensão da UENF, realizado em outubro de 2010. Campos dos Goytacazes, RJ, 2010. (De pé, á esquerda, bolsista de extensão da UENF Cláudio Roberto Géa; no centro Ozias Vieira e à direita, de pé, Marcio Couto, bolsistas Universidade Aberta da UENF).

Figura 12. Participação em evento comemorativo ao dia Internacional dos Portadores de deficiência, realizado na Praça São Salvador em Campos dos Goytacazes no dia 03 de dezembro de 2010. (Da esquerda para direita: Marcio Couto, bolsista Universidade Aberta da UENF); Maria Tereza Ramalho (Pedagoga do Educandário São José Operário); Stela (Diretora da Escola para cegos do Educandário São José Operário); Cláudio Géa (Bolsista de extensão da UENF), Ozias Vieira (Bolsista Universidade Aberta da UENF).

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5. CONCLUSÕES

A aplicação do questionário permitiu traçar um perfil preliminar dos

assistidos pelo Educandário dos Cegos revelando que:

• Houve ligeira predominância do sexo feminino entre os deficientes visuais

entrevistados;

• O nível de escolaridade dos alunos do educandário São José Operário é

baixo;

• A maioria gosta de plantas, já plantou ou cultivou algum vegetal e tem

preferência por ornamentais, embora manifestem também interesse por

fruteiras, aromáticas e hortaliças;

• A maioria respondeu que consome hortaliças diariamente, sabe dos

benefícios gerais das mesmas à saúde humana, porém, a variedade de

consumo é pequena, sendo as hortaliças preferidas a alface e o tomate;

• Grande parte dos deficientes visuais declarou que sabe reconhecer as

partes constituintes de uma planta, ou seja, o que é caule, raiz, folhas,

flores e fruto, porém isso não se confirmou quando da realização das aulas

teórico-práticas quando então eles aprenderam a fazer tal diferenciação.

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• A maioria dos entrevistados não sabe a diferença entre agricultura

orgânica e convencional;

• A quase totalidade dos DV tem o desejo de cultivar uma horta sensorial

no educandário São José Operário.

5.1 Considerações Finais.

Apesar de ter sido detectada uma preferência dos deficientes visuais por

plantas ornamentais, há um potencial muito grande para que a implantação da

horta sensorial seja de grande importância para esses indivíduos. Isso porque há

interesse dos estudantes DV em aprender sobre outros tipos de plantas, bem

como interesse em aprender mais sobre saúde e alimentação. A intensa

participação nas aulas teóricas e práticas permitem a conclusão de que é grande

o interesse em aprender mais sobre hortaliças e seu cultivo em geral. Assim,

ganhos não só em termos de conhecimentos na área de agricultura, de biologia

vegetal, mas também nas áreas de saúde, nutrição e alimentação poderão advir

da implantação e das atividades rotinas da horta sensorial, como as aulas teóricas

e práticas.

A realização de palestras educativas para toda a comunidade escolar,

incluindo familiares, sobre o valor nutricional das olerícolas, estimulando o

preparo e o consumo de hortaliças e a adoção de hábitos alimentares mais

saudáveis também é uma ação que trará muitos benefícios a essa comunidade.

Outras perspectivas que podem interferir positivamente neste processo é

o preparo de apostilas em Braille sobre uma horta sensorial, a reprodução

vegetativa das plantas e demais assuntos relacionados ao tema a serem

sugeridos pelos professores do educandário, além da formação de monitores com

deficiência visual para condução de hortas sensoriais.

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