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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da
mulher na questão socioambiental1
Higor Henrique Mouro
Tese de Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais
Contemporâneos
Junho de 2017 1Versão corrigida e melhorada após defesa pública.
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Tese apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de
Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos, realizada sob a
orientação científica da Professora Doutora Iva Miranda Pires.
A presente investigação teve o apoio financeiro do
programa Fellow Mundus, através de uma Bolsa de
Mestrado.
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Nota: A tese “Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel
da mulher na questão socioambiental” foi redigida em
Português (Brasil).
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão
socioambiental
Resumo:
Este trabalho visa estudar as particularidades presentes na questão de gênero que se
materializam na relação que as mulheres compartilham com o ambiente. Dessa forma, o presente
estudo tem como intuito compreender como o gênero feminino ao se relacionar com a natureza,
contribui para a construção da sociedade contemporânea. O estudo também pretende abarcar a
relevância dos ideais ecofeministas possibilitando uma reflexão da opressão que as mulheres e o
ambiente sofrem pelo sistema patriarcal. Após ponderar sobre o papel da mulher na questão
socioambiental iremos pensar a questão de gênero frente aos desafios atuais, em um cenário em
que a sociedade busca o Desenvolvimento Sustentável. Considerando instituições de ensino
superior enquanto espaços de construção de conhecimento, inclusive na área ambiental, optou-se
pela realização de uma pesquisa empírica nesse universo. As entrevistas realizadas contribuíram
para o entendimento da relação que mulheres estudantes compartilham com a natureza, através dos
seus hábitos de consumo, posicionamento político e saber comum. O trabalho revelou que três das
entrevistadas relacionam essa ligação entre mulher e natureza à uma construção social, que
perpassa sobre as relações sociais e as divisões de classe, raça, gênero e casta; que duas
entrevistadas apontam o aspecto biológico na centralidade dessa relação e que outras três
entrevistadas não veem distinção de gênero no processo de aproximação com o ambiente. As
considerações finais apontam o ecofeminismo como uma das alternativas que contestam as
desigualdades e violências existentes no corpo social e que se apresenta enquanto uma variação
onde as relações interpessoais e com a natureza são pensadas de maneiras antiautoritárias. Assim,
a teoria ou filosofia ecofeminista deve ser pensada em uma perspectiva que visa contribuir para a
emancipação política e de empoderamento das mulheres, contestando aspectos que reforcem
estereótipos de gênero, reduzindo e classificando aspectos sociais e biológicos da mulher no
processo por uma sociedade mais sustentável.
Palavras-chaves: gênero, ambiente, mulher, ecologia humana, desenvolvimento sustentável.
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Gender and Environment: Thoughts on the role of women in the
socioenvironmental issue
Abstract:
This study, intended to realize how the particularities present in the gender issue are expressed in
the correlation between women and the environment. Therefore, the following objectives are to
comprehend how a woman contributes to construction of a contemporary society regarding
environmental issues in the process. The study also intends to include the relevance of ecofeminist
ideals, allowing a reflection of the oppression that women and the environment endure on a
patriarchal system. After reflecting on the role of women in the socio-environmental issue this
work will consider the gender issues face current challenges, in a scenario where the civil society
seeks a sustainable development. Regarding the role of Higher Education Institutions as essential
sources of knowledge, specially relating to the environment, this case study was decided upon.
The empirical research contributed to understanding of the relation that women share with a nature
environment, through their habits of consumption, political positioning and common knowledge.
Results showed that three of the interviews relate this approach between women and environment
to a social factor, regarding social relations as class distinction, race, gender and caste; it also
indicates that two consider the biological aspect as the center of this relation. On the other hand,
three of the interviews does not see gender distinction in the process of environment approach.
Final considerations pointed ecofeminism as one of the alternatives that contest social inequalities
and other forms of social violence, that also presents itself as a variation where interpersonal and
nature relationships are thought in an anti-authoritarian way. Therefore, Ecofeminist theory or
philosophy must be thought in a perspective that aims to contribute to political emancipation and
women empowerment, contesting gender stereotypes that reduce and classify women’s social and
biological issues during the process to achieve a more sustainable society.
Key words: gender, environment, women, human ecology, Sustainable Development.
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Conteúdo Índice de Gráficos ................................................................................................................... xii
1 Introdução .........................................................................................................................13
2 Metodologia ......................................................................................................................16
2.1 Pergunta de Partida ....................................................................................................17
2.2 Objetivos ....................................................................................................................17
2.3 Hipóteses ...................................................................................................................17
2.4 Materiais e Métodos ..................................................................................................18
3 Ecofeminismo ...................................................................................................................21
3.1 Introdução ao Ecofeminismo .....................................................................................22
3.2 A Teoria Ecofeminista ...............................................................................................24
3.3 Vandana Shiva e as Principais Percursoras do Ecofeminismo ..................................27
3.4 Reflexões sobre a perspectiva Ecofeminista .............................................................29
3.5 Discutindo o Ecofeminismo. .....................................................................................31
4 Gênero e Desenvolvimento Sustentável ...........................................................................33
4.1 Mulher e Ambiente: Desigualdades de gênero e o acesso aos recursos naturais. .....34
4.2 Desenvolvimento Sustentável....................................................................................38
4.3 Sociedade do Consumo .............................................................................................43
4.4 Contribuições de gênero para a Sustentabilidade ......................................................46
5 Gênero e Ambiente em Portugal .......................................................................................52
5.1 Alguns Dados da Realidade Portuguesa ....................................................................53
5.2 Reflexões sobre a relação entre natureza e mulheres estudantes do Ensino Superior.
61
6 Considerações finais .........................................................................................................89
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Índice de Gráficos
Quadro 1 – Algumas iniciativas para a introdução da igualdade de género no ambiente e
recursos naturais ……………………………………………………………………………………..49
Quadro 2 – PNI 2007-2010: Perspectiva de género nos domínios prioritários de política
Território e Ambiente …………………………………………………………….…………………54
Figura 1 – Vigilantes da Natureza 2007 ………………………………………………………………55
Figura 2 – Região Norte: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por
gênero, 2007………………………………………………………..……………………………….….56
Figura 3 – Região Centro: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por
gênero, 2007 ……………………………………………….……………………………………….….56
Figura 4 – Região LVT: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por
gênero, 2007 ……………………………………………………………….……………………….….57
Figura 5 – Região Alentejo: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por
gênero, 2007 …………………………………….……………………………………………….…….57
Figura 6 – Região Algarve: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por
gênero, 2007……………………………………….………………………………………………..….58
Figura 7 – Nº de diplomados do ensino superior, por área de educação e formação e gênero, 2005 …58
Figura 8 – Género dos (as) presidentes das ONGA´s e equiparadas…………………….………....….59
Figura 9 - Faz-lhe sentido falar em uma ligação especial entre mulher e a natureza? ………………..84
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1 Introdução
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A definição e reprodução de papéis sociais ao longo da história têm particularidades
relacionadas com o contexto histórico e social, além de possuir características distintas de acordo com
a categoria de análise gênero. Partindo desse pressuposto é importante compreender que a construção
do gênero também é um fenômeno da sociedade e segundo Simone de Beauvoir (1949) ser mulher é
uma construção social que vai para além do sexo biológico.
Considerando que a representação do tipo ideal feminino ao longo da história está sujeita a
alterações, a mulher torna-se responsável por determinados papéis sociais, entre eles compartilha
funções que estão ligadas à questão ambiental, seja no cultivo e plantio de alimentos, na captação de
água, no uso de plantas medicinais e outras. Segundo Puleo (1997), podemos dizer que: “(...) a
interação com o meio ambiente e a correspondente sensibilidade ou falta de sensibilidade ecologista
gerada, dependem da divisão sexual do trabalho e da distribuição do poder e da propriedade segundo
as divisões de classe, gênero, raça e casta”. (Puleo 1997, 03)
Sendo assim, em diferentes contextos históricos a mulher contribui em maior ou menor
medida no processo de transformação da natureza participando no desenvolvimento societário. Elas
detêm um importante papel na gestão e conservação de recursos naturais e frequentemente possuem
um conhecimento profundo acerca do ambiente.
Além da gestão e proteção de recursos naturais, a problemática ambiental e a questão de
gênero se relacionam nos mais diversos contextos. Na contemporaneidade problemas de caráter
ambiental, como desastres naturais, atingem em maior número as mulheres, que normalmente se
encontram em situação de maior vulnerabilidade2. Sendo assim, em uma maneira de refutar e mudar
esse cenário os movimentos ambientalistas, ecologistas e feministas discutem possibilidades que
visem alcançar uma sociedade mais igualitária (Hernández 2010, 16).
De acordo com Rico (1998) existem três grandes áreas de estudos que interligam essas duas
temáticas, a mulher e o ambiente, e elas são: a abordagem ecofeminista; outra centrada na mulher e no
ambiente e uma última que relaciona gênero, ambiente e desenvolvimento sustentável.
A respeito da abordagem ecofeminista, mesmo com suas diferentes interpretações todas
defendem a ideia de que a mulher e a natureza dividem uma ligação, que é consequência de um
processo cultural e de atributos biológicos, que resultam em uma sensibilidade ecológica mais apurada
para defender as questões ambientais. (Rico 1998, 22).
2 “Os ciclones, em 1991, mataram 140 mil indivíduos no Bangladesh e 90% das vítimas eram do sexo feminino. Na Europa,
durante a onda de calor de 2003, morreram mais mulheres que homens. Em 2006, os tsunamis na Indonésia e Sri Lanka
foram responsáveis pela sobrevivência numa proporção de 3 a 4 homens por cada mulher” – Além das estatísticas
apresentadas se faz necessário averiguar as particularidades de cada um desses eventos para compreender as razões que
levaram a morte de mais mulheres, para além da questão de gênero. (Gaspar e Queirós 2009, 64)
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A segunda perspectiva que tem como objeto de estudo a mulher e o ambiente descreve que
além da relação que o gênero feminino compartilha com a natureza, o potencial papel das mulheres
como administradoras e gestoras dos recursos naturais no quotidiano é o motivo que dá suporte à
defesa da inclusão da mulher nos programas e políticas ambientais, visto que ao estarem em situação
de maior vulnerabilidade em contextos de desastres ambientais e alterações climáticas, as mulheres
seriam mais eficientes para abordar e superar momentos de crise. (Rico 1998, 23 e 24).
A terceira abordagem que relaciona gênero, ambiente e desenvolvimento sustentável, sustenta
sua linha de pensamento em três aspectos: na divisão sexual do trabalho; na desigualdade de gênero,
que se materializa no acesso a recursos e benefícios, e o terceiro nos obstáculos presentes no processo
de decisão e participação das mulheres nos espaços públicos (Rico 1998, 25). Na última abordagem
verifica-se uma mudança de paradigma, porque a problemática principal deixa de ser as mulheres e o
foco passa a ser as relações sociais, através da perspectiva de gênero. Porém ao pensarmos a situação
em que a mulher se encontra na contemporaneidade, analisando essas mesmas relações sociais, a
história e a cultura que as mesmas compartilham com a natureza, vemos que o gênero feminino ainda
é objeto de opressão do sistema patriarcal, assim como a natureza. Dessa forma, o feminismo ainda é
representado na luta por igualdade e vai de encontro com os três aspectos que norteiam essa
abordagem.
Reconhecendo as diferentes abordagens que fazem referência ao tema gênero e ambiente, ao
longo do presente estudo será realizada uma revisão de literatura da função social da mulher dando
ênfase para sua relação com o ambiente de acordo com o pensamento ecofeminista. Essa aproximação
com o ecofeminismo tem o objetivo de analisar as contribuições que essa teoria fornece para a
visibilidade da mulher frente a problemática ambiental e as particularidades dessa relação. Já em um
segundo momento, iremos pensar o papel da mulher dentro de um fenômeno social que busca o
desenvolvimento sustentável e as contribuições do gênero feminino para o mesmo.
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2 Metodologia
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2.1 Pergunta de Partida
Mulheres que realizam cursos de ensino superior ou técnico relacionados a área ambiental,
reconhecem que existe uma ligação especial entre o gênero feminino e a natureza direcionada para
uma sociedade mais sustentável?
2.2 Objetivos
Os objetivos desta tese são:
1. Pesquisar a partir da teoria ecofeminista as particularidades presentes na questão de gênero
que se materializam na relação que as mulheres compartilham com o ambiente.
2. Verificar o posicionamento de mulheres estudantes frente a forma de como o consumo se
manifesta na contemporaneidade e outros aspectos que constituem o caminho na busca por
um Desenvolvimento Sustentável.
3. Investigar se as mulheres entrevistadas reconhecem que existe uma ligação especial entre o
gênero feminino e a natureza direcionada para uma sociedade mais sustentável.
2.3 Hipóteses
Reconhece-se as particularidades presentes na relação que a mulher compartilha com a natureza
e as contribuições do gênero feminino para um desenvolvimento sustentável. Defendendo assim, que
a relação entre mulher e natureza depende da divisão sexual do trabalho e da distribuição do poder e
da propriedade segundo as divisões de classe, gênero, raça e casta.
Defende-se a ideia de que a mulher tem uma ligação especial com a natureza, que homens não
partilham. Essa aproximação teria origem em um fator biológico (nascer mulher), assim o gênero
feminino está sujeito às mesmas opressões que a natureza.
Não se reconhecem as particularidades do gênero feminino frente a questão ambiental. Mas
ainda assim, acredita-se que homens e mulheres podem ter um papel importante no processo que visa
um desenvolvimento sustentável.
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2.4 Materiais e Métodos
A pesquisa exploratória teve início por meio de documentos que contemplam a temática de
gênero e ambiente, como relatórios, leis, normas, entre outros. A análise dos documentos foi
acompanhada por uma revisão de literatura visando corroborar a construção de conhecimentos e de
conceitos relevantes para o desenvolvimento do trabalho, possibilitando uma maior aproximação com
tema.
Após a revisão de literatura inicial foi verificado que a questão de gênero e a questão ambiental
são fenômenos que contemplam os setores econômico, através da divisão sexual do trabalho e do
acesso aos bens e serviços; cultural e social, visto que cada sociabilidade tem códigos morais distintos
e que são resultado de um processo histórico; e por último o ecológico, compreendendo que a
disposição geográfica dos recursos naturais é fator significante na construção da sociedade
contemporânea e sua relação com a natureza. Pensando na necessidade de refletir sobre esses
aspectos, optamos por realizar a pesquisa com uma abordagem qualitativa visando atingir os objetivos
do trabalho e fornecendo assim, a possibilidade de discussão crítica dos dados obtidos frente à revisão
de literatura.
Ao definir a abordagem qualitativa Minayo (1994) nos trás que:
“A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis”. (Minayo 1994, 22)
Iremos utilizar enquanto instrumento de coleta de dados entrevistas semiestruturadas com
mulheres que realizam algum curso a nível superior ou técnico relacionado a questão ambiental. O
objetivo dessas entrevistas é compreender para além do consumo e da relação que as entrevistadas
partilham com a natureza, qual o posicionamento das mesmas frente a problemática ambiental. Outro
aspecto que se pretende obter durante a realização da entrevista é o que as mulheres pensam sobre a
desigualdade salarial, posição de liderança, políticas sociais e outros fatores da questão de gênero que
são fundamentais para se pensar uma sociedade sustentável e igualitária.
As mulheres entrevistadas estavam inscritas em cursos superiores em áreas relacionadas com a
questão ambiental. Trata-se de um estudo exploratório pelo que foram realizadas um total de 8
entrevistas, onde 5 eram estudantes de mestrado ou doutorado em Ecologia Humana e Problemas
Sociais Contemporâneos e 3 dívidas entre Técnicas do Meio Ambiente, Saúde Coletiva e Serviço
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Social3. Vale pontuar que as estudantes de mestrado possuem graduações distribuídas em diversas
áreas, tal como Ciências Biológicas, Fisioterapia, Sociologia, Engenharia Informática, Marketing,
mostrando a pluralidade no processo de construção do conhecimento.
Parte das entrevistas foram realizadas de forma presencial e outra parte através do auxílio da
tecnologia, por meio de chamadas de vídeo. A tecnologia se mostrou uma ferramenta facilitadora
durante esse processo e que permitiu o alcance de sujeitos com realidades distintas, de diferentes
nacionalidades e culturas conforme mostra o quadro:
Entrevistada Mestrado/Doutorado Graduação Nacionalidade Idade
E1 Serviço Social Serviço Social Brasil 25
E2 Ecologia Humana e PSC4 Ecologia Brasil 28
E3 Ecologia Humana e PSC Sociologia Uruguai 29
E4 Saúde Coletiva Fisioterapia Brasil 27
E5 Ecologia Humana e PSC Ciências Biológicas Brasil 29
E6 Ecologia Humana e PSC Eng. Florestal Portugal 38
E7 Ecologia Humana e PSC Eng. Informática Portugal 39
E8 Técnica do Meio Ambiente Marketing Brasil 23
As informações recolhidas nas entrevistas foram sistematizadas e organizadas, através da
análise do conteúdo em três grandes temas: A questão de gênero; a problemática ambiental e por
último; questões ecofeministas. As respostas foram distribuídas em forma de tabela de acordo com as
perguntas que foram utilizadas na elaboração do guião. Durante todo o processo de análise houve a
comparação das informações fornecidas pelas entrevistadas e a revisão de literatura, além da busca
por novos dados considerados importantes para a concretização dos objetivos do trabalho.
O trabalho foi pensado em três capítulos, o primeiro vai de encontro com o objetivo da tese de
discutir a teoria ou filosofia ecofeminista e as particularidades presentes na questão de gênero que se
materializam na relação que as mulheres compartilham com o ambiente. Para atender esse objetivo foi
estudado o conceito de Ecofeminismo; os (as) principais pesquisadores (as) da temática; e as reflexões
referentes ao tema. Os (as) principais autores (as) que contribuíram para a revisão de literatura foram:
Angelin, 2006, Flores e Trevisan 2015, Souza e Gálvez 2008, Siliprandi 2000, Shiva 1991.
Já no segundo capitulo, foi realizada uma revisão de literatura com o objetivo de compreender o
papel da mulher dentro de um contexto que visa uma sociedade sustentável. Dessa forma, primeiro
foram trabalhadas informações que refletem a relação entre gênero, ambiente e o acesso aos recursos
3 Além de compreender o Serviço Social enquanto profissão plural e que tem como objeto de trabalho as expressões da
questão social que se materializam em diversos contextos, inclusive na área ambiental, a entrevistada é componente de um
grupo de pesquisa e extensão que tem como objeto de estudo e intervenção social o Movimento Sem Terra, na cidade de
Franca – SP, Brasil 4 Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos.
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naturais na atualidade; o conceito e as variantes presentes no fenômeno de Desenvolvimento
Sustentável; o ato de consumir, que tem ligação intrínseca não só com o desenvolvimento societário,
mas com a natureza e por último; as contribuições que as mulheres podem fornecer para a sociedade
se aproximar de um Desenvolvimento Sustentável. Os (as) principais autores (as) que contribuíram
para a revisão de literatura foram: Dankelman 2005, Torreão 2007, Hernandez 2010, Portilho 2005,
Freitas 2005 e Lima 2003.
No terceiro e último capítulo inicialmente é apresentado uma aproximação com a realidade
Portuguesa, no que se refere a questão de gênero e ambiente. Em um segundo momento foi realizado
o tratamento de dados obtidos através das entrevistas. A elaboração desse capítulo deparou-se com a
escassez de produção científica que relacione as temáticas de gênero e ambiente em Portugal. Sendo
assim, grande parte desses dados foram obtidos através do relatório Gênero, Território e Ambiente, de
2009 coordenado por Jorge Gaspar e Margarida Queiroz.
É importante destacar que durante a realização do trabalho foram encontradas algumas
dificuldades referentes ao tempo entre a construção teórica da dissertação e a execução do trabalho
empírico, o que resultou em um número reduzido de sujeitos entrevistados. Visto que o objetivo do
trabalho foi uma aproximação com a realidade de mulheres unindo duas grandes áreas de estudos,
gênero e ambiente, apesar dessas limitações do estudo, verificou-se que as informações captadas nas
entrevistas contribuíram para a compreensão e discussão de aspectos intrínsecos á temática e que
poderão ser relevantes para estudos futuros.
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3 Ecofeminismo
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3.1 Introdução ao Ecofeminismo
A abordagem do ecofeminismo faz uma associação às diferenças de gênero que existem em
nossa sociedade e a problemática presente nas relações ambientais O movimento ecofeminista
defende uma “ relação estreita existente entre a exploração e a submissão da natureza, das mulheres e
dos povos estrangeiros pelo poder patriarcal” (Mies e Shiva 1995, 23).
Para compreendermos o conceito e preceitos do ecofeminismo, denominado de teoria,
movimento ou filosofia, é necessário realizar uma reflexão do ambiente enquanto espaço integrado na
sociabilidade e não entendendo a natureza enquanto produto separado do convívio humano. Para
Rodrigues (1998, 13): “A questão ambiental deve ser compreendida como um produto da intervenção
da sociedade sobre a natureza. Diz respeito não apenas a problemas relacionados à natureza, mas às
problemáticas decorrentes da ação social”.
Esse pensamento reflete a mudança de paradigma na análise da relação entre o ser humano e o
ambiente, onde inicialmente essa área de estudo se restringia as ciências naturais e após a década de
60 se consolida a ideia de que a interação entre ser humano e natureza não é neutra, abrindo espaço
para uma análise de gênero. Então para estudar a filosofia ecofeminista é necessário ter como preceito
que a natureza, também está na esfera social ao entrar em contato com o homem, e que essa relação
além de não ser neutra, também perpassa pelas relações de gênero, raça e etnia, casta, classe e outras.
O ecofeminismo sendo pensado enquanto um movimento feminista e assim protagonizado
pelas mulheres, também implica definir a categoria de análise gênero. Joan Scott rediscutiu o conceito
gênero e nos apresenta uma definição que explícita o caráter de instrumento de análise da sociedade
que o termo nos trás:
“Por “gênero”, eu me refiro ao discurso sobre a diferença dos sexos. Ele não
remete apenas a ideias, mas também a instituições, a estruturas, a práticas cotidianas e a
rituais, ou seja, a tudo aquilo que constitui as relações sociais. O discurso é um
instrumento de organização do mundo, mesmo se ele não é anterior à organização social
da diferença sexual. Ele não reflete a realidade biológica primária, mas ele constrói o
sentido desta realidade. A diferença sexual não é a causa originária a partir da qual a
organização social poderia ter derivado; ela é mais uma estrutura social movediça que
deve ser ela mesma analisada em seus diferentes contextos históricos”. (Scott 1998, 15).
Louro (1992) reflete que gênero é um processo em construção, sendo assim passível de
mudança e que se compromete com as discussões pautadas para além do sexo biológico:
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“[...] gênero, bem como a classe, não é uma categoria pronta e estática. Ainda
que sejam de naturezas diferentes e tenham especificidade própria, ambas as categorias
partilham das características de serem dinâmicas, de serem construídas e passiveis de
transformação. Gênero e classe não são também elementos impostos unilateralmente
pela sociedade, mas com referência a ambos supõe-se que os sujeitos sejam ativos e ao
mesmo tempo determinados, recebendo e respondendo às determinações e contradições
sociais. Daí advém a importância de se entender o fazer-se homem ou mulher como um
processo e não como um dado resolvido no nascimento. O masculino e o feminino são
construídos através de prática sociais masculinizantes ou feminizantes, em consonância
com as concepções de cada sociedade. Integra essa concepção a ideia de que homens e
mulheres constroem-se num processo de relação”. (Louro 1992, 57)
Diante dessas definições e entendendo o gênero enquanto uma categoria que coopera para a
organização social e está presente na relação que o ser humano mantém com o ambiente, suas
contribuições consistem em mais uma forma de análise que leva em consideração diversas funções
que o ser humano desempenha, como a prática laboral por exemplo. Em uma única temática, o objeto
de análise é divido em inúmeros elementos essenciais para compreender como o gênero perpassa essa
relação, como a representação social que o trabalho tem na nossa sociedade, a estrutura que o mesmo
é concebido, o reconhecimento enquanto trabalhador e a subjetividade presente no exercício da
função, as diferentes remunerações, a hierarquização, a divisão sexual do trabalho e outros. Todos
esses aspectos são constituintes não só de uma análise que é intrínseca a questão de gênero, mas que
são importantes para um possível Desenvolvimento Sustentável. (Torreão 2007, 4)
Essas contribuições presentes nas relações de gênero colaboram para compreendermos as
desigualdades que se manifestam de diversas formas, desde atitudes que estão consideradas como
“naturais”, até outras que fogem as normas em nossa sociedade. Alguns exemplos são a desigualdade
salarial, a violência contra a mulher, a invisibilidade do trabalho doméstico não remunerado, os
estereótipos e a sexualidade que também se dão de forma desiguais.
O ecofeminismo assim como os demais movimentos feministas visam diminuir essas e outras
desigualdades de gênero, e contribuir para uma sociedade mais sustentável que reduza a opressão que
o patriarcado exerce sobre a mulher e a natureza. Dessa forma, as políticas públicas que em sua
concepção destaquem as questões de gênero, reconhecendo as particularidades que a mulher possuí,
são essenciais para o desenvolvimento e autonomia das mulheres, contribuindo para o seu
empoderamento, enquanto fator que representa liberdade no processo de escolha e acesso a direitos
visando uma melhoria na qualidade de vida, contribuindo assim, para um Desenvolvimento
Sustentável. (Torreão 2007, 14)
Compreendendo o conceito de gênero e reconhecendo a natureza de forma presente nas
relações sociais, no decorrer do trabalho iremos estudar a teoria ecofeminista, enquanto um dos
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movimentos sociais contemporâneos que visa contribuir para o empoderamento de mulheres, a
diminuição das desigualdades de gênero e reduzir a degradação do ambiente.
3.2 A Teoria Ecofeminista
Algumas mudanças na sociedade são de suma importância para compreendermos como a
relação da mulher com a natureza teve alterações ao longo da história. A religião, o modo de
produção, as legislações e a cultura de cada país e comunidades compõem os fatores que vão
explicitar o grau de proximidade e relevância social dessa relação.
A “Mãe Terra” ou Gaia foi uma das primeiras divindades a serem cultuadas por diversas
religiões, principalmente na mitologia grega. Porém, com a expansão do cristianismo e o do
monoteísmo, que pratica a adoração de um Deus do gênero masculino, a mulher e a natureza deixam
de ter a mesma importância. (Angelin 2006, 01).
Além do advento do cristianismo e do monoteísmo outro fator importante para uma transição
societária que tem o patriarcado nas suas bases, foi a descoberta do papel do homem no processo de
fecundação. Com essa informação inicia-se o culto a um Deus fálico, visto que a geração da vida não
se dá exclusivamente através do corpo feminino. (Dias 2008, 05).
Ainda segundo Angelin (2006, 02), com o início da propriedade privada, após o ser humano
deixar de ser nômade inicia-se a opressão e submissão das mulheres. Isso se dá devido a divisão do
trabalho, onde mulheres cuidavam do lar e filhos, desenvolvendo assim a agricultura e os homens
eram responsáveis pelas caçadas.
O capitalismo foi um intensificador das diferenças de gênero, visto que nesse modo de
produção a mulher foi encarregada dos trabalhos domésticos e da função de cuidadora, enquanto ao
homem foi reservado o direito a civilização e intervenção no espaço público. Contudo, esse processo
aproximou a mulher da natureza e assim, ao associar o equilíbrio do ambiente com a qualidade de
vida, sentiram necessidade de preservação do espaço natural. (Angelin 2006, 02)
Pensando na importância de conhecer essas particularidades existentes na relação entre
mulher e ambiente e tendo entre as primeiras preocupações a ligação entre ciência, mulher e natureza
o termo ecofeminismo teria sido utilizado pela primeira vez em 1974, por Françoise d‘Eaubonne, que,
em 1978, fundou, na França, o movimento Ecologia e Feminismo. (Flores e Trevisan 2015,12).
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Como foi exposto na introdução desse trabalho a desigualdade de gênero existe em nossa
sociabilidade e a teoria ecofeminista, assim como a feminista, tem como um dos objetivos romper
com a herança do patriarcado e com o machismo que perpassa as relações sociais, buscando a
igualdade e a equidade entre gêneros. De acordo com Saffioti “o patriarcado não se resume a um
sistema de dominação, modelado pela ideologia machista. Mais do que isto, ele é também um sistema
de exploração. Enquanto a dominação pode, para efeitos de análise, ser situada essencialmente nos
campos políticos e ideológicos, a exploração diz respeito diretamente ao terreno econômico.” (Saffioti
1987, 50).
No pensamento ecofeminista a mulher e a natureza são vítimas do sistema patriarcal e esse,
enquanto uma forma de exploração, usa o capital como viés de apropriação dos recursos naturais,
corrompendo o ecossistema e subjugando o gênero feminino. Pensando a mulher e o ambiente
enquanto atores fundamentais na reprodução social, as agressões que o patriarcado exerce sobre
ambos, são semelhantes ao machismo e a agroindústria, que através da submissão inferiorizam o
importante papel que esses sujeitos executam na proteção do espaço natural. (Flores e Trevisan 2015,
12).
Souza e Gálvez (2008) comentam que “o ecofeminismo contando com distintas significações,
compõe uma ideia fundamental, que é a existência de uma interconexão entre a dominação da
natureza pelos seres humanos e a sujeição feminina aos homens, expressando a predominância de
formas patriarcais na estruturação ocidental, que remete o papel da mulher apenas à reprodução
social”. (Souza e Gálvez 2008, 6).
De acordo com essa perspectiva e reconhecendo as particularidades que mulheres e natureza
compartilham, também é importante refletir sobre as conexões que os seres humanos compartilham de
forma antropológica com outros seres vivos. Resgatar essas conexões, a origem e história de um povo
pode refletir em uma maior proximidade com a natureza, através de escolhas conscientes no uso dos
recursos naturais e na preservação de outras espécies. Sendo assim, a defesa dos direitos dos
indivíduos também não deve ser feita de forma desconexa ao pensarmos uma sociedade sustentável,
rompendo com a ideia de que a ciência seja contra a vida. (Flores e Trevisan 2015,13).
Enquanto movimento político o ecofeminismo realiza uma crítica a ciência e a visão
androcêntrica5 de ver o mundo. Nos países “desenvolvidos” do norte o movimento tem suas
particularidades e além dos princípios aqui explicitados, a teoria é relacionada a dois principais
aspectos: a luta contra a guerra e a proliferação de armas nucleares e a defesa dos direitos dos animais.
5 O termo está relacionado a noção de patriarcado, porém tem a centralidade na construção da história pela visão do gênero
masculino como única e universal (Moreno, 1986)
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Nessa perspectiva, mulheres e animais, enquanto parte da natureza, também estão sujeitos a
subjugação pelo patriarcado. As críticas ecofeministas nesse contexto são direcionadas ao uso de
animais em laboratórios pelas empresas de limpeza e cosméticos e a indústria alimentícia,
principalmente ao consumo da carne. Cerca de 75% dos participantes da marcha6 em defesa dos
animais realizada em Washington (EUA) em 1990 eram mulheres. (Gárcia 1999, 47 e 48)
Assim como outros movimentos que defendem a questão de gênero, o ecofeminismo ganha
força no Ano Internacional da Mulher realizado em 1975, período em que se deu abertura para a
discussão pública entre o “feminismo igualitarista” e o “feminismo da diferença”. Siliprandi (2000,
64) faz uma reflexão sobre as particularidades das duas vertentes, sendo que o segundo considera as
características femininas na luta política, enquanto o primeiro pugnava pela entrada das mulheres no
espaço público disputando posições de poder e pela sua autonomia econômica, social e política.
Quase 20 anos depois a realização da Conferência Meio Ambiente e Direitos Humanos no Rio
de Janeiro - a Eco-92 foi de suma importância para a visibilidade do movimento ecofeminista na
década de 90, onde organizações como a REDEH (Rede de Defesa da Espécie Humana) e RME
(Rede Mulher de Educação) fizeram parte da coordenação do Planeta Fêmea, no Fórum Global
(atividade paralela à conferência oficial). As mulheres organizaram o maior espaço do Fórum, de
nome Planeta Fêmea7. Estima-se que diariamente o espaço recebeu a visita de aproximadamente cinco
mil pessoas. Durante o evento houve a realização de mesas-redondas, debates, feira de produtos
artesanais, venda de publicações, exposições de fotos, danças e cantorias. Durante a Conferência
componentes como a saúde da mulher e o ambiente; a forma de consumo (muitas vezes devastador
oriundo do Norte, contribuindo para a reprodução da pobreza nos países do Sul); formas de impedir a
degradação ambiental e outros aspectos foram discutidos. (Siliprandi 2000, 62).
O ecofeminismo tem como base um olhar crítico para as problemáticas ambientais e de
gênero e abarca uma perspectiva que visa contemplar todos os aspectos que estão intrínsecos nessa
relação. Segundo Souza e Gálvez (2008) o pensamento ecofeminista tem três pressupostos: o primeiro
refere-se a perspectiva econômica, onde a natureza fica a mercê do capital através da apropriação de
recursos naturais e a mulher é inferiorizada nessa mesma sociedade patriarcal, que isenta ambas de
direitos. O segundo diz respeito a hierarquia que ainda está presente nos dias atuais e que se
materializa em uma dualidade onde o homem e a cultura são superiores a mulher e a natureza,
resultando na opressão das últimas. Já o terceiro e último pressuposto está relacionado ao fato da
6 Marcha realizada em Junho de 1990 em Washington D.C. (EUA) organizada por Peter Linck em prol dos direitos dos
animais. Estimativas da polícia local mostram a participação de 24 mil pessoas, enquanto os organizadores afirmam a
participação de 50 mil pessoas. (Savage 1990, 01) 7 O intuito do Planeta Fêmea era propor uma mudança para o mundo que corrigisse os danos causados pelo desequilíbrio da
relação com o Planeta Terra. Era uma imensa vontade política de pensar uma transformação que não perpetuasse as
exclusões da sociedade capitalista e que construísse uma ética baseada no respeito às diferenças. (Brito 2012, 01)
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desigualdade de gênero ser refletida no campo científico durante o processo de desenvolvimento, onde
mais uma vez o gênero feminino é excluído na formulação e construção das políticas científicas e
tecnológicas. (Souza e Gálvez 2008, 7).
As autoras Souza e Gálvez (2008) ainda completam que no Ecofeminismo podem ser
consideradas três correntes: o pensamento Clássico, onde devido a características biológicas e
culturais a mulher possuiria uma predisposição a proteção dos seres vivos, conservação da natureza e
ao pacifismo, que é contrária as características masculinas, que entendem o homem enquanto
possuidor de atributos ligados a competição e destruição. A segunda linha de pensamento, nomeada
Ecofeminismo Espiritualista do Terceiro Mundo, ainda ligado a características do pensamento
clássico, reproduz a ideia de um “princípio feminino” ou “Prakriti”, pensado por Vandana Shiva em
1988. Esse pensamento tem influências de políticos como Ghandí e da religião com a Teoria da
Libertação. Uma das principais críticas de Shiva que perpassa essa perspectiva, é a oposição ao
modelo de desenvolvimento que visa a acumulação do capital, a opressão e exploração da mulher e
natureza e a centralização no pensamento ocidental. (Souza e Gálvez 2008, 8).
A terceira e última vertente do ecofeminismo seria a perspectiva Construtivista, que deixa de
pensar a mulher enquanto detentora de atributos biológicos responsáveis pela sua aproximação com a
natureza e centra-se nas relações sociais e culturais que foram construídas aproximando o gênero
feminino da questão ambiental, como a divisão sexual do trabalho. (Souza e Gálvez 2008, 8).
Todas as abordagens que o ecofeminismo utiliza para trabalhar a relação entre mulheres e o
ambiente tem sua importância e fomentam a discussão sobre o papel que o gênero feminino e natureza
ocupam na sociedade contemporânea, porém verifica-se um avanço na perspectiva construtivista,
onde a gestão de gênero ultrapassa a fator biológico contemplando o aspecto social que é intrínseco
nessa relação.
3.3 Vandana Shiva e as Principais Percursoras do Ecofeminismo
Vandana Shiva, que escreveu o livro Staying Alive: Women, Ecology and Development, em
1988, está entre as principais precursoras do Ecofeminismo. Participou do Movimento Chipko na
Índia, e devotou sua vida na luta contra a exploração industrial da Ásia, América do Sul e África. Ela
relaciona as formas de dominação sobre os povos desses países, através das quais se orientavam os
programas de “desenvolvimento”, com a destruição da Natureza, cuja consequência principal foi (e é)
a destruição das condições para a própria sobrevivência das mulheres (pela extinção das fontes de
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alimentação, água, da biodiversidade etc.) (Dias 2008, 06).
De acordo com a autora historicamente as mulheres realizavam o trabalho levando em
considerações questões como a diversidade e a sustentabilidade, onde não se tinha um viés de
acumulação do capital e pensavam a manutenção de todos igualmente, visto que se tinha a visão da
natureza em uma posição de equidade. Também não existia a produção de excedentes ao extrair
recursos naturais, inclusive em algumas culturas essa prática poderia ser considerada uma forma de
roubo. A monocultura e a apropriação dos recursos naturais visando a privatização dos lucros é
contrária a essa ideia, que além de privar as mulheres do contato com a natureza de forma tradicional,
tem como resultado o aumento da desigualdade social, gerando menos renda para a população mais
pauperizada. (Siliprandi 2000, 65).
Um dos motivos para a perpetuação dessa desigualdade social a partir de uma perspectiva
ecológica é a restrição do acesso aos recursos naturais que é limitado as grandes economias de
mercado e a monocultura, que em sua concepção não tem uma preocupação no sentido de preservar a
diversidade ecológica. O acesso sendo desigual, a distribuição desses mesmos recursos tende a
acolher os interesses do capital, mesmo que isso contribua para o aumento da desigualdade. Em
sociedades com discrepância elevada na distribuição de renda os recortes de gênero, raça e casta vão
ser fatores essenciais para compreender a posição da mulher em um processo de aumento da pobreza.
Dessa forma, a mulher que é privada de acesso aos recursos ou aos produtos encontra-se limitada em
uma situação de pauperidade e a mulher negra ou de casta inferior se tornam vítimas de outras
mazelas sociais, aumentando seu nível de opressão. (Hernandez, 2010, 22)
Um dos principais motivos da monocultura ser um dos agentes que vai contra a igualdade e a
diversidade das formas tradicionais de cultivo, é o fato da mais-valia obtida no processo de trabalho
ser o maior orientador dessa prática, além de resultar na erosão, fragilidade dos ecossistemas, poluição
da água e do solo, dependência de insumos externos e outros. (Siliprandi 2000, 65).
Outra ideia que Shiva defende é o conceito de Prakriti ou princípio feminino, que se resume
em uma força de carater criativo presente na essência dos seres vivos, racional ou não, sendo assim
representando também a natureza. O primórdio dessa energia está relacionado a criatividade,
atividade, produtividade e diversidade que cada individuo possui, além de fazer a ligação entre o ser
humano e a vida natural, entendendo toda a vida como parte de um mesmo universo e em posição de
igualdade. De acordo com essa linha de pensamento, o início da problemática causada pela ação do
ser humano sobre a natureza nas suas mais diversas formas, por exemplo o desmatamento, a poluição
dos rios e solos e a extinção de espécies, representam a interrupção do princípio feminino, assim como
a subjugação das outras formas de vida, inclusive das mulheres. (Siliprandi 2000, 65).
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Mesmo que em sua concepção o Prakriti corresponda a um princípio feminino, entendendo os
organismos vivos enquanto uma unidade, o mesmo não se restringe apenas a relação que a mulher
compartilha com a natureza, mas a formas de se relacionar de maneira igualitária reconhecendo o
ambiente em posição de paridade. O gênero masculino nesse contexto ficaria responsável por pensar
formas que promovam a vida, sem práticas que possam ameaça-la ou reduzi-la. (Shiva 1991, 77).
Além de Shiva, outro nome importante do Ecofeminismo é a bióloga marinha Rachel Carson,
autora da obra: “Silent Spring”, lançado em 1962. Apesar do termo Ecofeminismo ainda nem ter sido
criado, a ativista fez despertar a consciência da sociedade sobre o movimento ecológico. (Dias 2008,
06).
No movimento ecofeminista outra importante ativista é a filósofa australiana Val Plumwood,
falecida em fevereiro de 2008. A filósofa explorava uma nova ideia de ética no meio ambiente e em
1992 escreveu o livro: “Feminism and the Mastery of Nature”. (Dias 2008, 06).
3.4 Reflexões sobre a perspectiva Ecofeminista
Pensar mudanças no modo societário atual sem compreender que as relações de gênero estão
intimamente ligadas ao movimento ecológico, é ter uma visão estratificada da realidade que
impossibilita as mulheres de uma maior liberdade no que se refere as relações de poder e
socioeconômicas no modo de produção em que vivemos. Um dos motivos para a união desses dois
movimentos é o fato de que os resultados dos impactos ambientais, afetam em uma quantidade
desproporcional as mulheres, que sofrem por exemplo com resíduos de dioxina na amamentação,
distúrbios na gravidez e outros. (Flores e Trevisan 2015,13).
O ecofeminismo no contexto que foi apresentado se torna um dos caminhos que pode
contribuir para essa mudança societária e pensar o desenvolvimento sustentável dentro de parâmetros
que respeitem a igualdade que ambos os movimentos (ambientalista e feminista) buscam. Yayo
Herrero (2007) sintetiza as propostas ecofeministas para um ambiente sustentável, dentre elas está o
reconhecimento da saúde de comunidades humanas e ecossistemas, frente a maximização de
benefícios monetários no processo de desenvolvimento; a apreciação e a inclusão do conhecimento
popular, principalmente de mulheres que foram construídos historicamente a partir do contato com a
natureza nas atividades de subsistência; pensar a atuação das mulheres nas atividades políticas e
econômicas com o objetivo de buscar alternativas que minimizam situações que corroborem para o
aumento da pauperização de mulheres e perpetuação da crise ecológica; respeito a diversidade e a
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autossuficiência nas atividades relacionadas a questão ambiental. (Herrero 2007, 1)
O ecofeminismo clássico que considera a biologia enquanto fator para corroborar a ideia de
que a mulher tem uma associação particular com a natureza, tem como base dois argumentos: o
primeiro diz respeito as funções reprodutivas e da alimentação do novo ser vivo, que é único do
gênero feminino. Correspondendo assim não só a geração da vida, mas a conservação da mesma. Já a
segunda tem como base a exploração e opressão que ambas, mulher e natureza, sofrem pela sociedade
patriarcal. (Tavolaro, 1998, 113)
Contudo, restringir a associação da mulher com a natureza à um determinismo biológico é
redutor, visto que a maternidade e a fertilidade por um fim único, não são responsáveis pelo papel que
as mulheres desempenham na luta ecológica. A história, o conhecimento popular, as relações sociais,
a divisão sexual do trabalho, o contexto social das comunidades e os ecossistemas, são todos fatores
essenciais para compreender o papel que as mesmas desempenham, inclusive a opressão que o
patriarcado exerce sobre as mulheres e o ambiente.
É importante situar enquanto categoria de análise social tanto mulheres, quanto a natureza. E
para além disso, ambas são construídas socialmente e assim passiveis de mudanças de acordo com o
tempo, a história e o contexto social em que se apresentam. Ter como pressuposto e de forma especial
a relação que a mulher compartilha com a natureza, impede e anula o contexto social que inclusive os
homens experimentam de acordo com sua vivência, de acordo com a classe, casta, idade,
nacionalidade, gênero, raça e etnia em que pertencem. (Hernandez, 2010, 23)
Mesmo considerando a participação da história e do contexto social na construção do vínculo
que mulher e a natureza dividem, é importante continuar pensando as especificidades que esse
processo de construção tem na formação dos papéis sociais que as mulheres ocupam. Ainda que esse
seja um fenómeno social, ele se dá de maneiras diferentes com a base no fator biológico. Papéis
sociais como a docilidade ou a afetividade, são ainda reproduzidos socialmente, limitando e
oprimindo mulheres na esfera doméstica, enquanto aos homens é reservado o espaço público. Dessa
forma, mesmo esse processo sendo histórico e social, atinge de maneira diferente e opressora, apenas
as mulheres. (Souza e Gálvez 2008, 10).
Em suas reflexões Sandra Garcia (1992, 165) afirma:
“O debate ecofeminista enfatiza o efeito das construções ideológicas nas
relações de gênero e nas formas de ação em relação ao meio ambiente. No entanto,
precisamos ir mais adiante e examinar criticamente as bases materiais que são
subjacentes a estas construções, ou seja, analisar o trabalho que a mulher e o homem
produzem, a divisão sexual da propriedade e do poder e a realidade material das
mulheres das diferentes classes, raças e castas (no caso da Índia), pressupondo que essas
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diferentes inserções sociais devem afetar de forma diferenciada a vida das mulheres,
possibilitando diversas respostas à degradação do meio ambiente” (Garcia 1992, 165)
Tendo o que foi explicitado até agora enquanto pressupostos para a compreensão do
pensamento ecofeminista, ao pensarmos a inserção dessa teoria ou linha de estudos, enquanto
alternativa que contribui para um possível desenvolvimento sustentável temos que refletir sobre
alguns aspectos. As contribuições das mulheres ao pensarem formas alternativas e criação de
propostas que visem uma sustentabilidade, não devem ocorrer pelo simples fato de terem nascido
mulheres, mas sim porque ocupam socialmente atividades que possuem particularidades e porque em
resultado da sua vivência socialmente e historicamente construída, podem oferecer pontos de vistas
que o pensamento masculino não consegue abranger. Mesmo a mulher ocupando grande parte da mão
de obra no setor agrícola, seu trabalho ainda é invisibilizado e sem esse reconhecimento e as
particularidades que são necessárias respeitando as questões de gênero, não se pode pensar em
sustentabilidade. Só a partir disso podemos pensar em políticas equitativas e abrangentes que
corroborem para o empoderamento das mulheres. (Siliprandi 2000, 70).
Mesmo compreendendo os limites que o pensamento ecofeminista possuí, se faz necessário o
reconhecimento das contribuições que o mesmo tem a oferecer nas discussões referentes a
problemática ambiental, incluindo a militância e as preocupações do movimento ecológico em relação
ao feminismo e ao discutir a opressão que mulheres e natureza sofrem pelo poder patriarcal, o que se
torna plausível levando em consideração a dicotomia entre homem e natureza. (Hernandez, 2010, 23)
Pensando em alternativas no processo de Desenvolvimento Sustentável, o ecofeminismo é
uma das linhas de pensamento que pugna pelo reconhecimento do papel das mulheres na conservação
da biodiversidade ao dar importância à cultura local, ao valorizar o conhecimento popular sobre o uso
e manejo de recursos e ao estimular a participação no resgate e aumento da biodiversidade. As
comunidades tradicionais desfrutam de um conhecimento que é produto de práticas milenares, que
contribuem para o aumento da biodiversidade, não só enquanto diversidade genética de indivíduos e
de espécies de diversos ecossistemas, mas também incluindo práticas de domesticação de espécies em
algumas comunidades, como por exemplo, o caso da participação das mulheres (de comunidades
rurais ou indígenas) na produção de hortas e plantas medicinais que contribuíram para o aumento da
diversidade local. (Hernandez, 2010, 23)
3.5 Discutindo o Ecofeminismo.
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Diante do que foi explicitado, tanto a teoria feminista, quanto o ecofeminismo sofreram
algumas modificações ao longo do tempo ou no mínimo foram abertas outras possibilidades de
discussão para além dos objetivos iniciais, reconhecendo o protagonismo das mulheres, devido suas
particularidades especificas. Dentre as três perspectivas do movimento ecofeminista, nota-se que a
visão Construtivista8 tem maior similaridade com a categoria de análise gênero, visto que abandona a
ideia de características intrínsecas ao sexo biológico.
Enquanto estudantes da temática gênero, ao pensarmos no movimento ecofeminista não
podemos ter uma visão estratificada sem fazer os outros recordes de gênero, classe e etnia, visando
uma reflexão completa que abarque uma noção de direito sem reforçar estereótipos, como exemplo,
ao fazer analogia a “mãe natureza” e a condição biológica de ser mãe, visto que a maternidade não se
constitui em um dever feminino.
O ecofeminismo deu uma grande contribuição para o reconhecimento do protagonismo das
mulheres que historicamente lutam contra a opressão que o patriarcado (perpassando pelo modo de
produção capitalista) exerce sobre seus corpos e sobre a natureza. Ao olhar para a natureza enquanto
um organismo de igualdade e que sofre o mesmo tipo de exploração, as ecofeministas questionam
inclusive relações de poder que a sociedade reproduz diariamente sem questionar, buscando uma
relação de paridade e dando visibilidade para as trabalhadoras do campo.
Ao trazer um conceito que busca uma nova forma de sociabilidade, que visa a equidade de
gênero e que rompe com a dualidade entre cultura e natureza, valorizando assim, a igualdade entre
povos, o ecofeminismo é de suma importância para colocarmos em pauta as problemáticas da
sociedade contemporânea, como a divisão sexual do trabalho, a violência contra a mulher e a
natureza, a reforma agrária nos países em desenvolvimento e os caminhos do Desenvolvimento
Sustentável.
Para além de objetivos teóricos também é preciso ter em mente que a luta das trabalhadoras
rurais nunca deixou de existir. Um exemplo disso é a inserção das mulheres em outros movimentos
sociais rurais que abordam tanto a questão de gênero, quanto a problemática ambiental, como a
Marcha das Margaridas, movimento feminista de trabalhadoras rurais no Brasil.
8 Verificar página 27.
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4 Gênero e Desenvolvimento Sustentável
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4.1 Mulher e Ambiente: Desigualdades de gênero e o acesso aos recursos
naturais.
Como foi exposto na introdução o papel social que mulheres e homens compartilham com a
natureza é diferente de acordo com as particularidades do contexto histórico e social de cada ser
humano, da sua vivência na esfera individual, em família e em suas comunidades. Isso se materializa
no acesso e na forma de utilização de recursos naturais, nos cargos de liderança e no processo de
tomada de decisão.
Homens e mulheres sempre contribuíram de formas distintas na conservação e no
gerenciamento dos recursos naturais. No princípio a mulher era coletora de alimentos e o homem
responsável pela caça, papéis esses que se invertiam em determinados momentos e culturas, como
exemplo em períodos de guerra. Muitas mulheres ainda são responsáveis pelo trabalho agrícola,
determinados cultivos de plantas e criação de animais, na coleta de água potável e comida, assim
como de madeira e biocombustíveis. Essas atividades mudam de acordo com o tempo e as
particularidades de cada comunidade e o seu nível de desenvolvimento, bem como o espaço que
ocupam dentro da dualidade urbano/rural. Mesmo compreendendo as diferenças agregadas á essas
características, ao desempenhar essas funções as mulheres reproduzem e criam um conhecimento
próprio, que é passado ao longo das gerações, deixando como herança um saber que é rico e que
coloca a diversidade e a preocupação ambiental como preceito para a realização de tarefas ligadas a
natureza. Além disso, as diferentes tarefas realizadas por mulheres são de suma importância na
contribuição do desenvolvimento de suas comunidades. (Dankelman 2005, 04).
O relatório Gênero, Território e Ambiente (Gaspar e Queirós, 2009) complementa esse
pensamento, refletindo sobre a importância em compreender os desafios com que homens e mulheres
lidam ao se relacionar com as questões ambientais, reconhecendo as particularidades de cada gênero,
que são resultado dos diferentes papéis sociais, relações e responsabilidades que exercem em cada
contexto. Reconhecer essas individualidades é um dos primeiros passos para desconstruir a ideia de
que as mulheres mesmo possuindo um vasto saber comum e realizarem tarefas que a conduta
masculina não abarca, tem seu conhecimento limitado a parte prática, e por esse motivo
consequentemente muitas vezes são excluídas dos espaços de elaboração e tomada de decisões. Dessa
forma, as políticas e programas não atuam de modo equitativo, principalmente no que se refere a
atividade agrícola e a preservação da biodiversidade, visto que não identificam as tais particularidades
no trato dos recursos naturais. (Gaspar e Queiroz 2009, 53).
Para que a questão de gênero seja refletida no planejamento de leis, projetos e políticas
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públicas que tenham como objetivo a preservação do espaço natural reconhecendo as especificidades
das mulheres que lidam com a questão ambiental diariamente, como foi mencionado, as mesmas não
podem estar desligadas da esfera social, cultural e histórica da nossa sociedade. A igualdade de gênero
para além de um direito é sine qua non, condição essencial para pensarmos desenvolvimento:
“Gender equality and equity are not only a question of fundamental human rights and social justice.
But as the World Bank and others have found: gender equality is essential for countries’ economies
and the success of development initiatives” (Özyol e Çobanoğlu 2013, 10)
As desigualdades de gênero se materializam em diversos setores da sociedade e um deles é o
acesso a terra e o direito de produção, visto que mesmo as mulheres representando a maior força
laboral no setor rural, em muitos países o direito a terra ainda é resultado de uma sociedade patriarcal,
que priva através de leis e formas de financiamento um acesso não igualitário entre homens e
mulheres. E para compreender essa desigualdade é necessário refletir sobre as condições da mulher no
mercado de trabalho e econômico.
O acesso a crédito e o tratamento que mulheres recebem tanto de instituições públicas, como
na esfera do mercado formal e informal também contém diferenças, que em diversos casos diminuem
a oportunidade de acesso das mulheres ao financiamento e aos recursos. Como resultado dessas
diferenças, as mulheres são responsáveis pela produção de 30 á 80 porcento do que se é produzido
anualmente e que é gerenciado por homens. Um questionário do Banco Mundial, mostrou que 103 de
141 países onde a pesquisa foi realizada continuam a impor diferenças legais com base no gênero, que
podem diminuir as oportunidades econômicas de mulheres. Isso se torna uma contradição, quando
pensamos que dois terços da pulação mundial, ou seja 743 milhões de adultos, são mulheres.
(Habtezion 2013, 02)
Tendo isso como pressuposto é necessário refletir que a posição de inferioridade que a mulher
ocupa – em especial a mulher em situação de pobreza e em países em desenvolvimento – reduz a
inserção da mesma no mercado de trabalho e consequentemente seu acesso a terra e aos meios de
produção.
Considerando esse aspecto além de compreender que gênero é uma construção social e que
homens e mulheres realizam papéis sociais diferentes na nossa sociedade, inclusive nas práticas
ligadas a questão ambiental, não podemos perder de vista que essas diferenças são refletidas em
relações de poder, onde o acesso a recursos também se dá de maneira diferente e não igualitária. A lei
nesse contexto é um dos instrumentos que viabiliza a reprodução dessa desigualdade, visto que existe
todo um sistema legal caracterizado por normas para o acesso e manutenção de tais recursos. Mesmo
em países onde supostamente existe um sistema igualitário no que se refere a questões de gênero,
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relações de poder podem empoderar ou não sujeitos, e sua individualidade (mesmo que legal) não é
tida com a devida importância. O patriarcado, principalmente em parte de países no continente
Africano é outro fator que ainda fornece aos homens direitos legais, frente a mulheres,
impossibilitando igualdade e equidade em um sistema de direitos de gênero desiguais que é necessário
alterar. (Kamerimbote 2006, 44)
Mesmo as leis sendo neutras no que diz respeito a temática gênero, não significa que sua
aplicação não seja genderizada. A maior parte das propriedades no Kenya são registradas no nome do
homem mais velho da casa, bem como nas sociedades patriarcais. Isso significa que além de isentar a
mulher do processo de ser proprietária legal do imóvel e assim excluída de todos os direitos que
agregam ao título de proprietária, também não existe um suporte legal que defina como o homem
titular da propriedade age perante os outros moradores do local, inclusive as mulheres. (Kamerimbote
2006, 45)
Outro fator importante é o papel que a mulher desempenha no processo de decisão no que se
refere ao uso de recursos naturais, visto que a representação da mulher em cargos públicos e de
liderança é minoria em quase todos os setores, isso também é refletido nos órgãos e associações
ligadas a questão ambiental que reduz o poder feminino no processo de decisão, inclusive no que se
refere a alternativas de adaptação e mitigação. Mulheres representam grande parte da mão de obra no
setor agrícola e possuem um vasto conhecimento que pode contribuir para alternativas de mitigação,
como as estações de semeadura, culturas regionais, árvores, variedades de ervas que prosperam em
climas locais, variedades de comestíveis selvagens, seleção de sementes para armazenamento,
preparação de biofertilizantes e biopesticidas, aplicação de estrume, manejo de pragas, processamento
pós-colheita e adição de valor e outros. O reconhecimento desse conhecimento local é essencial no
processo de decisão e ele só pode ser realizado em sua totalidade com a devida representação das
mulheres nesses espaços. (Habtezion 2013, 03)
A ausência de mulheres não se restringe a espaços locais de decisão, globalmente apenas 17
porcento das vagas em gabinetes ministeriais e 19 porcento do parlamento no mundo são ocupadas
por mulheres e num estudo realizado em Ilhas do Pacifico que estão em um processo de
desenvolvimento econômico, cinco não tinham mulheres em nenhum cargo. (Habtezion 2013, 03)
A insuficiência de mulheres nos espaços de poder dentro da sociedade impede que os direitos
e as particularidades das mesmas sejam bem representados. Mesmo que homens em suas
peculiaridades elaborem leis e normas que não distingam os gêneros, não significa que a
individualidade resultado da vivência de mulheres esteja presente. Essa diferença no número de
mulheres nos espaços de decisão também priva que o conhecimento na manutenção dos recursos
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naturais – que é construído de acordo com os papéis sociais que a mulher desempenha em suas
comunidades, famílias e sociedade - seja utilizado na elaboração das alternativas e soluções que
busquem uma sociedade sustentável.
Para além da participação feminina em cargos políticos, outro aspecto a ser estudado é como e
de que forma esse envolvimento acontece. Dados do Asia-Pacific Human Development Report on
Gender (UNDP, 2011) mostram que mulheres tendem a ter uma maior preocupação no que se refere a
questões ambientais e durante o processo de suporte em políticas, leis e projetos que visam a
sustentabilidade, elas geralmente votam positivamente9. Essa preocupação pode ser revertida em
ganhos, que inclusive são essenciais para se pensar os objetivos do Desenvolvimento do Milénio.
(Habtezion 2013, 01)
Pensar a participação de mulheres na elaboração de políticas públicas é essencial
principalmente no contexto atual onde a problemática ambiental pede alternativas que visem à
diminuição da degradação da natureza. Um dos motivos fundamentais é o fato de homens e mulheres
serem afetados de formas diferentes pelas alterações do ambiente e do clima.
O estudo “The Gender Dimension of Climate Justice” (Anne Bonewit, 2015) mostra que no
fenômeno de alterações climáticas as mulheres são as mais afetadas, visto que são maioria na
população representada por pessoas em situação de pobreza, reduzindo assim suas possibilidades e de
suas famílias de diminuir e amenizar as consequências no processo de alterações climáticas. Visto que
o nível de desigualdade em países em desenvolvimento tende a ser maior, mulheres são ainda mais
vulneráveis em tais contextos, um dos motivos é a disparidade no acesso a recursos, educação, e
oportunidades de trabalho comparadas aos homens. Outro fator que vai de encontro a esses dados, é
que mulheres também representam maioria na posição de chefes de famílias, responsáveis assim, pelo
fornecimento de comida e todas as necessidades do núcleo familiar (Bonewit 2015, 06)
Reconhecendo a necessidade da inserção da questão de gênero no cenário político e o
aumento da preocupação mundial no que se refere as questões ambientais, a temática passa a ser
inserida no processo de reflexões e se torna pauta visando a igualdade no papel da mulher na
utilização e preservação dos recursos naturais. Um exemplo é a IV Conferência Mundial sobre a
Mulher: Igualdade, Desenvolvimento e Paz da UN realizada em Pequim, na China em 1995.
9 Outra pesquisa realizada no ano de 2000 nos Estados Unidos da América revela que: “Similar proportions of men and
women support more government spending for environmental protection—in fact, over half of both men and women are in
favor of such a spending increase. Women, though, are more likely than men to support maintaining current levels. Men are
more likely than women to support cutting spending (based on IWPR calculations of data from the American National
Election Study, a nationally representative, biennial survey of political attitudes and behavior with over 1,500
respondents)”. (Caiazza and Barrett 2003, 4)
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Durante a conferência da UN em Pequim 1995, milhares de mulheres juntaram-se para
discutir a Plataforma de ação, particularmente na seção K com o tema “Mulheres e Ambiente”, que
possuí três objetivos: o envolvimento de mulheres no processo de decisão nas mais diferentes
instâncias; a integração da perspectiva de gênero em políticas e programas relacionadas ao
desenvolvimento sustentável e por último, o fortalecimento e o planejamento de mecanismos no nível
nacional, regional e nacional, para compreender o impacto das políticas ambientais e de
desenvolvimento nas mulheres. (Dankelman 2005, 07)
Tendo essas reflexões como pressupostos, no decorrer do capítulo iremos pensar o conceito de
Desenvolvimento Sustentável e as contribuições que a questão de gênero trás para a temática.
4.2 Desenvolvimento Sustentável
O termo Desenvolvimento Sustentável foi resultado de um processo histórico que remonta a
segunda metade do século XX, onde a Assembléia Geral da ONU em 1961 estabeleceu a década de
1960 como a Primeira Década para o Desenvolvimento10
, solicitando que os Estados membros e a
sociedade fortalecesse a coopereração internacional para que o processo de crescimento e autonomia
enquanto nação fosse intensificado à nível econômico e social. Nessa década também se intensifica a
discussão sobre a questão ambiental, o livro “Silence Spring11
” de Rachel Carson em 1962 e a criação
do Clube de Roma em 1968, que em 1972 publicou o estudo “Limites do Crescimento12
”,
contribuíram para refletir sobre as formas de degradação e o uso insustentável dos recursos naturais.
Nesse mesmo ano acontece a Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo13
, organizada pela
ONU.
10
“The UN Secretariat, involving among others Hans Singer and Barbara Ward, published a report entitled ‘The
Development Decade: Proposals for Action’ with a call to action in the introduction by then Secretary-General U Thant, who
wrote: Development is not just economic growth, it is growth plus change. Change, in turn, is social and cultural as well as
economic, and qualitative as well as quantitative. The key concept must be improved quality of life.”(Manifesto 2017,01) 11 O livro “Primavera Silenciosa” - referência ao silêncio dos pássaros mortos pela contaminação dos agrotóxicos -, um
alerta para os males causados pelo dicloro-difenil-tricloro-etano (DDT). A autora foi alvo de inúmeras críticas constrárias
pela indústria química, porém mais tarde contribuiu para o banimento do uso do (DDT) nos E.U.A e a criação da “United
States Environmental Protection Agency”. (Bonzi, 2013, 212) 12 “Publicado em 1972, culmina o resultado do trabalho de investigação realizado por uma equipa do Massachusetts Institute
of Technology (MIT), coordenada pela Donella Meadows, a pedido do Clube de Roma, uma associação informal e
internacional de empresários, estadistas e cientistas que se debruçavam sobre um vasto conjunto de assuntos, considerados
cruciais para o futuro desenvolvimento da humanidade. O relatório foi construído baseado num modelo global articulado em
cinco parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, insuficiência crescente da população de
alimentos, esgotamento dos recursos naturais não renováveis e degradação irreversível do meio ambiente”. (Dias, 2015, 19) 13 “Este evento constitui-se como um importante marco ambiental, não só pelo facto da elevada representatividade
(estiveram presentes delegações de 113 países), mas, igualmente, por ter contribuído para o conciliar de diferentes pontos de
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A criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento pela ONU em
1983, presidida pela Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, motivo pelo qual ficou
conhecida como Comissão Brundtland foi resultado das discussões anteriores e tinha os seguintes
objetivos: reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e formular propostas realistas
para abordá-las; propor novas formas de cooperação internacional nesse campo para orientar as
políticas e ações no sentido de promover as mudanças necessárias e dar a indivíduos, organizações
voluntárias, empresas, institutos e governos uma melhor compreensão desses problemas. (Torreão
2007,105).
Segundo o Relatório Brundtland, de 1987 o conceito de Desenvolvimento Sustentável seria o
“desenvolvimento que corresponde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades
das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”. Essa definição pensada de forma
descolada das diretrizes para as execuções de políticas públicas é vaga, por isso se faz importante a
criticidade (Nunes 2012 e Freitas 2014 e Lima 2003) na utilização do conceito e na criação e
efetivação de políticas que visem atingir esse objetivo. (UN, Nosso futuro em Comum, 1987)
No que se diz respeito as principais diretrizes produzidos pela Comissão Brundtland
(Relatório O Nosso Futuro Comum) foi destacado: “a) Política: limitação do crescimento
populacional; garantia de alimentação a longo prazo; preservação da biodiversidade e dos
ecossistemas; diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o
uso de fontes energéticas renováveis; aumento da produção industrial nos países não-industrializados
à base de tecnologias ecologicamente adaptadas; controle da urbanização selvagem e integração entre
campo e cidades menores; satisfação das necessidades básicas. b) Política Externa: as organizações do
desenvolvimento devem adotar a estratégia do desenvolvimento sustentável; a comunidade
internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antártica, os oceanos, o espaço; as
guerras devem ser banidas; a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentável.”
(Torreão 2007, 105 e 106)
Bond e Morrison-Saunders (2009, 321) consideram três aspectos enquanto intrínsecos ao
conceito de Desenvolvimento Sustentável: a dimensão social, econômica e ambiental, considerando as
interrelações entre os mesmos. Ainda segundo os autores o conceito teria três objetivos: crescimento
econômico, a proteção do meio ambiente e a valorização e o bem estar do ser humano.
Torreão (2007) destaca pré-requisitos para se iniciar um processo de Desenvolvimento
Sustentável: o papel que cada individuo desempenha e a importância do mesmo, enquanto ser
vista, extremamente divergentes, entre os países ricos e países pobres em várias matérias, uma das quais de caráter
ambiental”. (Dias, 2014 33)
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coletivo; a responsabilidade e receptividade de organizações aos seus membros; o respeito as
particularidades das mais diversas sociedades e comunidades, necessitando assim diversidade de
organizações; a colaboração entre as diferentes organizações, considerando o conhecimento local das
tarefas, ações e formas a serem executadas e do contexto social e econômico com o ambiente.
(Torreão 2007, 107)
Outro marco histórico importante foi a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (a ECO-92) e um dos resultados do evento
foi a Agenda21. Essa agenda apresenta um plano que visa alcançar os objetivos do desenvolvimento
sustentável, utilizando como material de trabalho os documentos organizados durante as reuniões e
debates no ano anterior. (Torreão 2007,105)
Um dos principais critérios para atingir esse objetivo e que relaciona a Agenda 21 com a
questão de gênero é o princípio 20 da Declaração do Rio 92, afirmando que: “As mulheres têm um
papel vital no gerenciamento do meio ambiente e no desenvolvimento. Sua participação plena é,
portanto, essencial para se alcançar o desenvolvimento sustentável.” (The Rio Declaration on
Environment and Development 1992, 4)
O capítulo da Agenda 21 de nome “Ação mundial pela Mulher, com vistas a um
Desenvolvimento Sustentável e Equitativo”, tem como alguns dos objetivos a participação da mulher
no manejo dos ecossistemas e da degradação ambiental; fomentar a participação da mulher no
desenvolvimento sustentável e na vida pública; fazer cumprir uma legislação que proíba a violência
contra a mulher em todas suas formas; formular e implementar políticas governamentais para
conseguir a igualdade em todos os aspectos da sociedade, bem como a participação dela em postos-
chaves de tomada de decisões e no manejo do meio ambiente. Além desses objetivos, outras
atividades e áreas de ação descritas no documento reforçam a relevância da questão de gênero ao ser
inserida nesses ambientes de discussão. (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento 1992, 363)
Mesmo ambos os documentos sendo de suma importância para a inserção da discussão do
conceito de Desenvolvimento Sustentável (Rico 1998) apresentam sérios obstáculos que limitam a
operacionalização da Agenda 21, entre os quais se destacam a falta de clareza de como atingir um
possível Desenvolvimento Sustentável; a concreticidade de ações políticas relacionadas a utilização
de recursos em prol de um Desenvolvimento Sustentável e por último, a redução do papel das
mulheres enquanto administradoras nas problemáticas relacionadas ao ambiente. (Rico 1998, 18).
A Cúpula do Milênio que ocorreu em setembro de 2000 na cidade de Nova York, é outro
evento de suma importância ao pensarmos o conceito de Desenvolvimento Sustentável que relaciona a
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questão de gênero frente a problemática do ambiente. O evento deu origem a Declaração do Milênio,
aprovada por 191 países membros da ONU comprometidos com a sustentabilidade. Com o prazo
inicial de completar oito objetivos até o ano de 2015, a Declaração do Milênio buscando ações
pragmáticas de cada país em seu contexto particular pretendia: 1) Erradicar a extrema pobreza e a
fome; 2) Atingir o ensino básico universal; 3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das
mulheres; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde das gestantes; 6) Combater o
HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7) Garantir a sustentabilidade ambiental (qualidade de vida e
respeito ao meio-ambiente; 8) Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento. (Torreão
2007, 110)
Após 15 anos da Declaração do Milênio o “The Millennium Development Goals Report”
realiza uma análise com a intenção de avaliar se os objetivos do Milênio foram alcançados. De acordo
com o relatório além de melhorar a vida de milhões de pessoas, com intervenções direcionadas,
estratégias sólidas, recursos adequados e vontade política, mesmo os países mais pobres podem fazer
progressos dramáticos e sem precedentes. No que diz respeito ao objetivo número 3, Promover a
igualdade entre os gêneros e o empoderamento das mulheres, houve alguns avanços: as mulheres
agora representam 41 por cento dos trabalhadores remunerados fora do setor agrícola, um aumento de
35% comparado a 1990; as mulheres ganharam terreno na representação parlamentar em quase 90 por
cento, ainda assim, apenas um em cinco membros são mulheres; no sul da Ásia, apenas 74 meninas
foram matriculadas na escola primária por cada 100 meninos em 1990 e hoje 103 garotas estão
matriculadas por cada 100 meninos. (UN 2015, 5)
Mesmo com esses avanços, segundo o relatório para alcançar a igualdade de gênero e o
empoderamento das mulheres a nível global é fundamental abordar as principais áreas da
desigualdade de gênero, incluindo: discriminação gênero; violência contra mulheres; as desigualdades
de gênero no mercado de trabalho; a divisão do trabalho doméstico não remunerado; e a participação
de mulheres no processo de tomada de decisões. (UN 2015, 31)
Em 2016 foram definidos outros novos 17 objetivos para o Desenvolvimento Sustentável 14
que continuam a orientar a política e o financiamento do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) criado em 1965. O PNUD tem como foco as principais áreas:
14 Os novos 17 objetivos do milênio são: 1 Acabar com a pobreza; 2 Acabar com a fome; 3 Assegurar uma vida saudável e
promover o bem-estar; 4 Educação de qualidade; 5 A igualdade de gênero; 6 Assegurar a disponibilidade de água potável e
saneamento; 7 Acesso sustentável e a preço acessível à energia para todos; 8 Promover o crescimento e trabalho decente para
todos; 9 Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; 10
Reduzir a desigualdade; 11 Tornar as cidades e comunidades sustentáveis; 12 Assegurar padrões de produção e de consumo
sustentáveis; 13 Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos; 14. Conservação e uso
sustentável dos recursos marinhos; 15 Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres; 16.
Promover sociedades pacíficas e construir instituições eficazes; 17 Fortalecer a parceria global para o desenvolvimento
sustentável. (UNDP, 2016, 01b)
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Desenvolvimento Sustentável; igualdade de gênero; governança democrática e construção da paz; a
resiliência frente aos desastres naturais e as alterações climáticas; e possíveis ações em situações de
crise, seja ambiental ou em situações de violência. Além disso uma das maiores contribuições do
PNUD é a publicação anual do Índice de Desenvolvimento Humano15
.
Refletindo sobre os dados apresentados é possível verificar que existe uma intervenção dos
órgãos públicos no sentido de criar diretrizes que visem uma sociedade mais igualitária e com uma
preocupação mais intervencionista em relação ao meio ambiente. Porém mesmo com esses objetivos,
a aplicação e execução dos mesmos cabe ao governo local e levando em conta a diversidade
econômica, social e cultural muitas vezes alguns desses objetivos não são alcançados ou são de forma
parcial. De acordo com Pires (2017) “é consensual que esta evolução positiva variou muito entre
objectivos, entre países, com alguns a conseguiram melhorias consideráveis em quase todos ODM e
outros em quase nenhuns, e entre regiões, nomeadamente urbanas e rurais, e que desde o início o
cumprimento das metas foi muito desigual.” (Pires 2017, 68)
E tendo todos esses aspectos como pressuposto cabe nos questionar se é realmente possível
um desenvolvimento sustentável. Segundo Lima (2003, 106) seria impossível e ela nos trás três
razões: a incompatibilidade entre os tempos biofísico e econômico, onde os interesses do mercado
impossibilitam a realização plena dos objetivos da preservação ambiental; a dificuldade da
intervenção do Estado em relação ao mercado, na elaboração de diretrizes que façam restrições
econômicas; a incapacidade de responder à crise social, visto que a acumulação de capital é uma das
práticas que norteia as relações do mercado, refletindo na desigualdade social. (Lima 2003, 106).
Frente a isso nos vemos em uma situação onde se reconhece a problemática ambiental e a
importância de se pensar uma sociedade mais sustentável, porém ao mesmo tempo observamos uma
dualidade onde essas mudanças societárias muitas vezes não são realizadas visto que os contextos
econômico e social não estão em uma posição de compatibilidade com os objetivos desejados.
Pensando em alternativas para um Desenvolvimento Sustentável no que se refere às pessoas o
PNUD propôs um novo conceito: o do Desenvolvimento Humano Sustentável, no qual coloca o ser
humano como centro e razão de ser do desenvolvimento. Esse conceito reproduz a ideia onde o
conceito de desenvolvimento econômico que geralmente é pensado na esfera política, passa a ser
pensado no individuo que é parte intrínseca desse processo, visto que a melhoria na qualidade vida de
uma comunidade é refletida diretamente na vida dessas pessoas. Pensar a sustentabilidade é refletir
15 O IDH foi criado para enfatizar que as pessoas e suas capacidades devem ser o critério final para avaliar o
desenvolvimento de um país e não o crescimento econômico sozinho. Assim, o IDH, para além da dimensão da riqueza dos
estados, representada no Produto Interno Bruto, inclui também dois outros aspectos, a da esperança média de vida e a da
alfabetização. (UNDP, 2016 01a)
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sobre a integração nas esferas ambientais, política, social, histórica, econômica e cultural de uma
comunidade. Aproximar o desenvolvimento das pessoas, é uma forma de complementar o conceito de
Desenvolvimento Sustentável, aproximando a luta por uma sociedade mais preocupada com as
questões ambientais das pessoas. (Torreão 2007,111)
Refletindo sobre essa ambiguidade da temática e a necessidade de encontrar outras
alternativas Leff (2000) e nos trás que:
“En el mundo interdependiente de la globalización económica, bajo el dominio
de una visión unipolar y monolítica, cada nación y cada población juegan su viabilidad y
sobrevivencia en esta encrucijada histórica. El tránsito hacia la democracia y la
sustentabilidad implica una nueva concepción y nuevas formas de apropiación del
mundo; allí se definen nuevos sentidos existenciales para cada individuo y cada
comunidad, trazando nuevas líneas de fuerza que atraviesan las relaciones de poder
donde se forjan nuevos proyectos históricos y culturales” (Leff, 2000, 11).
Mesmo com essa dualidade, o conceito de desenvolvimento sustentável é de suma
importância para pensarmos quais são os objetivos de uma sociedade ideal no que se diz respeito as
questões ambientais e como podemos contribuir para alcança-la. O conceito de Desenvolvimento
Sustentável através da materialização da preocupação da sociedade civil e do Estado deu abertura para
a criação e efetivação de iniciativas nos níveis locais, regionais e através de leis e políticas, que tem
como resultado mudanças na relação que o ser humano divide com o ambiente de forma mais
sustentável do ponto de vista ecológico. Entendendo que o aspecto econômico é intrínseco a uma
sociedade sustentável a seguir iremos discutir o consumo na contemporaneidade.
4.3 Sociedade do Consumo
Para pensarmos o Desenvolvimento Sustentável também precisamos pensar o ser consumidor
na atualidade, Portilho (2005) nos mostra que o ser cidadão e o ser consumidor se misturam na relação
público/privado: “Os problemas e agruras pessoais não se transformam em causas coletivas, assim
como as causas coletivas não são identificadas na esfera privada”. (Portilho 2005, 5). Como resultado
o consumidor (ser coletivo) passa a ser considerado apenas o usuário de um determinado produto ou
serviço.
Seguindo essa linha de raciocínio devemos refletir sobre o conceito de cidadania dentro do ser
coletivo, onde a concepção de direito deveria ser fruto de uma luta política que representa a
necessidade e os interesses de uma parte considerável da população. Tanto os interesses, tal como as
necessidades, desejos e aspiração de um povo são formados de maneira coletiva e de acordo com o
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contexto histórico e suas particularidades. Estas necessidades apenas são atingidas ou conquistadas, na
medida em que são integradas na Constituição enquanto direitos. Sendo assim, “o conceito de
cidadania é definido pelos que dela se sentem excluídos”. (Portilho 2005, 6)
Estes interesses também mudam de acordo com as particularidades de cada sociabilidade,
bem como a relação que se tem entre mercado e ambiente. Na atualidade fatores como as alterações
demográficas, o crescimento populacional, migrações, urbanização e os mecanismos do mercado
podem levar ao uso insustentável dos recursos naturais. O consumo de forma exagerada exerce uma
pressão sobre os recursos naturais, impedindo um processo de renovação dos ecossistemas. (Pires
2015, 3)
As trocas ecológicas entre países também nem sempre acontecem de forma favorável para
duas nações. Os países com um maior nível de desenvolvimento tendem a consumir mais e para isso
muitas vezes dependem da importação de recursos de países com um menor nível de industrialização.
Na comercialização dos recursos naturais, além de analisar o aspecto econômico também é necessário
pensar como o acesso aos recursos contribui para o Desenvolvimento Sustentável. (Rice 2007, 1)
A relação entre mercado e ambiente no processo de desenvolvimento também se materializa
através do marketing verde, onde existe uma readequação dos produtos ou serviços, com o objetivo de
diminuir a degradação ambiental, resultando em produto com características ecológicas. Assim, o
marketing verde incorpora uma ampla gama de atividades, incluindo modificação do produto para o
processo de produção, na embalagem, bem como a modificação da publicidade. Termos como livre de
fosfato, reciclável e amigo do ambiente geralmente são relacionados á esses produtos, embora o
marketing verde seja um conceito mais amplo, que pode ser aplicado a bens de consumo, bens
industriais e até serviços. (Polonski 1994, 01)
Ao refletirmos sobre o marketing verde existiram avanços significativos e eles foram em
grande parte devido aos movimentos ambientalistas, visto que tanto a legislação referente à
identificação de produtos, quanto ao nicho de mercado que está aberto para o setor da população que
consumem produtos verdes, necessitavam de mudanças tanto na forma de consumir, quanto na forma
de produzir. Um exemplo é a ISO 14000 16
que estabelece normas para padronizar rótulos de produtos
com características ambientais.
16
“The ISO 14000 family of standards provides practical tool for companies and organizations of all kinds looking to
manage their environmental responsibilities” (ISO 2010, 2)
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Infelizmente essa mudança não se dá de forma correta em todos os casos, no greenwashing17
além de utilizar o marketing verde como mídia de divulgação de empresas, produtos e serviços, à
relação entre empresa e ambiente não acontece de forma a resguardar os interesses da natureza.
Sabemos que a prática do greenwashing para além de uma ação que tem objetivos econômicos
encobertos por uma prática que transmite a mensagem de “amiga do ambiente”, ela também pode ser
tida como objeto de análise no campo ideológico. Então, além da busca pelo aumento da venda de
determinados produtos para um público específico, o greenwashing também vende uma ideia de um
produto ecológico e isso retoma a discussão que se tem sobre a interferência do homem no espaço
natural. Ou seja, ao comprar produtos que vendem esse conceito, indiretamente ao fazê-lo se compra a
ideia de estar contribuindo para a causa ambiental.
É importante pontuar que o consumo desses “produtos verdes” contém contradições e que
existem movimentos ambientalistas que questionam o mesmo. No processo de reestruturação o
mercado se apropria de formas de continuar seu crescimento e acumulação do capital. O consumo
verde pode ser analisado como uma forma de regular essa relação ao criar mecanismos de
autorregulação do Estado para o Mercado; e do Estado e do Mercado para o cidadão,
responsabilizando os mesmos por suas escolhas de consumo. Essa última responsabilidade que cabe
aos consumidores, é exercida através de conceitos de moralidade, bem estar comum, coletividade e
cidadania. Ao impor esse tipo de comprometimento ao individuo, temos que pensar sobre o conceito
de escolhas, visto que ao vivermos em uma sociedade desigual, a grande massa é privada desse direito
ou no mínimo, o ato de escolher é restringido. (Portilho 2005, 3)
Mesmo com as diferenças no acesso aos produtos e aos recursos naturais, o consumo ocupa
um espaço cultural na nossa sociedade que foi construído historicamente visto que tanto o estilo de
vida da burguesia, enquanto do proletariado tinham como centralidade as atividades laborais. Com o
avanço da sociedade pós-industrial, essa centralidade abre espaço para outras formas de sociabilidade,
assim o lazer e o consumo passam a ocupar parte essencial na vida tanto das classes mais abastadas,
quanto da esfera da população que representa a mão de obra. O consumo nesse contexto se torna um
dos aspectos que refletem a identidade e representação cultural, tanto na vida coletiva ao pensamos
em classe, quanto na individualidade representada pelo ato de consumir. (Portilho 2005, 2)
Essa ideia naturaliza uma prática social e isso se materializa no momento de consumir.
Segundo Lovato (2013,65) “O que se pode observar é que o ser humano da pós-modernidade
descarrega uma grande carga de seus medos, culpas e anseios no momento que adquire algum bem ou
17 “Entende-se por greenwashing as estratégias no âmbito da comunicação e marketing que buscam “eco embranquecer” a
imagem pública de produtos, serviços e instituições, como forma de agregar valores atrelados aos benefícios
socioambientais, diferenciando-os perante a concorrência, conquistando assim diferencial competitivo.” (Siqueira 2012, 71).
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serviço. Acabamos por delegar a solução de nossas crises a terceiros ou a algo”. Pensando o consumo
nessa configuração, existe um aumento do mesmo e com isso uma maior degradação ambiental,
gerando uma mobilização frente às questões ambientais.
Mesmo com as dualidades presentes no processo de consumo, essa preocupação com as
questões ambientais abriu espaço para um consumidor bem informado e crítico e se mostra como uma
das soluções para os problemas ambientais, direcionando para uma sociedade mais sustentável.
(Portilho 2005, 3)
Reconhecendo a prática de um consumo como uma escolha consciente e crítica, a mesma
pode se tornar uma das possíveis alternativas para alterar esse quadro de culpabilização individual do
cidadão e estimular o empoderamento do consumidor. Portilho (2005) faz outra reflexão sobre o que
significa ser consumidor na atualidade, compreendendo o consumidor para além do sujeito alienado
no que diz respeito as manobras do Estado e Mercado. “No ato de consumir, os indivíduos também
ocupam o espaço de um ator social crítico, superando a ideia de racionalidade utilitária e rompendo
com a ideia de controle total. Mesmo com escolhas restringidas, o consumidor “consome” políticas e
atitudes, arte e lazer”. (Portilho 2005, 07)
De acordo com o que foi exposto temos uma relação de dualidade, visto que o mercado se
apropria do ato de consumir fazendo essa uma ação desigual e restringindo o direito a cidadania e por
um outro lado, temos inúmeros avanços principalmente no que se refere a preocupação coletiva e
individual no que se refere a problemática ambiental, criando um novo nicho de consumidores com
formas de consumo mais sustentáveis.
4.4 Contribuições de gênero para a Sustentabilidade
De acordo com os capítulos anteriores e refletindo sobre as particularidades que a questão de
gênero possui ao ser agregada na discussão da problemática ambiental, observou-se que homens e
mulheres mantêm uma relação com a natureza que é diferente. Dando continuidade a esse raciocínio,
na perspectiva que visa um desenvolvimento mais sustentável, iremos pensar as contribuições da
mulher na busca por esse tipo de sociedade.
Refletir sobre a relação entre mulheres e Desenvolvimento Sustentável é um dos caminhos
para reconhecer que a participação e o envolvimento em grande escala de mulheres nas questões
ligadas ao ambiente é um dos fatores mais negligenciado. Entender a mulher enquanto agente nos
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aspectos de liderança política, econômica e social nos assuntos relacionados com a natureza é
compreender que o papel da mulher é questão intrínseca e essencial para se pensar o desenvolvimento
societário, fornecendo outras formas de empoderamento feminino. (Sen 2000, 235)
Hernández (2010) ao estudar a participação da mulher no processo de uma sociedade mais
sustentável, além de analisar os acontecimentos históricos que contribuíram para a discussão de
gênero e sustentabilidade, também reflete sobre algumas perspectivas teóricas que abordam a
temática. A primeira delas é a abordagem ecofeminista que foi objeto de discussão no decorrer do
primeiro capítulo desse trabalho e que no cerne da discussão clássica defende que a mulher mantém
uma relação diferenciada com a natureza, mas que não se resume apenas a tal. As outras duas linhas
de pensamento são a nomeadas de Meio Ambiente e Desenvolvimento (MAD) e Gênero, Ambiente e
Desenvolvimento (GMAD), como mostra o quadro a seguir:
Meio Ambiente e Desenvolvimento (MAD) Gênero, Ambiente e Desenvolvimento (GMAD)
“Essa linha de pensamento surge na metade da década de
1980 e tem influência da teoria ecofeminista, reconhecendo
a afinidade que mulheres compartilham com a natureza.
Essa abordagem defende a inclusão da mulher enquanto
participante ativa no processo de tomada de decisão e
instrumentalização, principalmente no que se refere a
planejamento de políticas e programas de Desenvolvimento
Sustentável”. (Hernández 2010, 24)
“A abordagem Gênero, Ambiente e Desenvolvimento
(GMAD) surge na década de 90 e defende a inclusão da
questão de gênero na construção de políticas e programas
relacionados a questões ambientais e de desenvolvimento.
Sendo assim, as relações sociais com os recortes de gênero,
etnia, classe, raça e geração, e o vínculo com as formas
diferenciadas de acesso, uso, controle e conhecimento sobre
os recursos naturais são mais importantes, desconstruindo a
ideia da afinidade diferenciada que mulheres teriam em
relação ao ambiente”. (Hernández 2010,26)
O surgimento dessas abordagens acompanha o processo da inserção da questão de gênero nos
eventos oficiais que discutiam a problemática ambiental. Um dos eventos vanguardistas foi a III
Conferência Internacional das Nações Unidas para Mulheres, Desenvolvimento e Paz, realizada em
Nairobi (Quênia), em 1985 onde ouve um esforço resultado da organização das mulheres presentes no
sentido de tornar oficiais e incorporar as particularidades do gênero feminino nos documentos
governamentais e de interesse mundial. (Torreão 2007, 108)
A Comissão Brundtland, que teve um papel essencial para rever a problemática do ambiente e
para pensar alternativas sustentáveis, também contribuiu, de certa forma, para a discussão da questão
do gênero e ambiente. Como discutimos, o conceito de Desenvolvimento sustentável que foi
apresentado pelo Relatório O Nosso futuro comum, coordenado por uma mulher Gro Brundtland, foi
de suma importância para que a problemática referente as questões ambientais fossem discutidas por
órgãos internacionais e a criação de diretrizes para uma sociedade mais sustentável. Mesmo sem
apresentar conclusões sobre a relação que o gênero compartilha com o ambiente, no documento é
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salientado o papel das mulheres nos temas de população18
e segurança alimentar19
. (Hernández 2010,
18)
Já na década de 90 a perspectiva de Gênero, Ambiente e Desenvolvimento (GMAD) ao
reconhecer as desigualdades de gênero, reflete sobre a necessidade de alcançar a igualdade em todas
as esferas da sociedade, através de projetos e políticas públicas com as especificidades e
particularidades que a mulher possui frente as questões ambientais, contribuindo para o seu
empoderamento. (Hernández, 2010, 18)
Esse tipo de reconhecimento e avanços na discussão de gênero e sustentabilidade só foi
possível em parte graças aos acontecimentos históricos que contribuíram para se repensar uma
sociedade com maior preocupação ambiental. Como vimos um deles foi a ECO-92, que reuniu mais
de 50 ativistas e intelectuais de 31 países na sua preparação e teve a liderança de duas mulheres
estadunidenses Bella Abzug e Mim Kelber, que formaram o Comitê Internacional para Ação Política
(IPAC). A participação das mulheres na ECO-92 foi de suma importância para a internacionalização
da questão de gênero no processo de Desenvolvimento Sustentável, que foi consolidado no I
Congresso Mundial de Mulheres por um Planeta Saudável, realizado em Miami (Flórida – EUA), em
novembro de 1991. (Torreão 2007, 108)
No congresso ouve a participação de 1.500 mulheres de 83 países, foi discutido e
documentado como a problemática ambiental e do desenvolvimento influenciava e envolvia as
mulheres. Desse debate resultou a Agenda 21 de Ação das Mulheres, que retratava assuntos pertinente
a questão de gênero: direitos reprodutivos, combate à violência sexual e doméstica e reconhecimento
pela carga do trabalho domiciliar. Na agenda foram incluídas 120 recomendações sobre gênero,
divididas em seus 40 capítulos, e nos capítulos 24 – Ação Global das Mulheres pelo Desenvolvimento
Sustentável Equitativo e 28 – Participação Cidadã nas Políticas de Desenvolvimento Local
Sustentável, pretende estabelecer diretrizes para a inserção da discussão de gênero em níveis local,
regional e nacional. (Torreão 2007,108)
18
“A population policy should set out and pursue broad national demographic goals in relation to other socio-economic
objectives. Social and cultural factors dominate all others in affecting fertility. The most important of these is the roles
women play in the family, the economy, and the society at large Fertility rates fall as women's employment opportunities
outside the home and farm, their access to education, and their age at marriage all rise. Hence policies meant to lower
fertility rates not only must include economic incentives and disincentives, but must aim to improve the position of women
in society. Such policies should essentially promote women's rights” (Managing Population Growth) (UN, our commum
future, 1987) 19
“Women farmers, though they play a critical role in food production, are often ignored by programmes meant to improve
production. In Latin America, the Caribbean, and Asia they form a large agricultural labour force, while most of sub-Saharan
Africa's food is grown by women. Yet almost all agricultural programmes tend to neglect the special needs of women
farmers”. (Chapter 5 Food Security: Sustaining The Potential). (UN, our commum future, 1987)
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Outro evento importante para a consolidação desse processo foi a reunião realizada em
Joanesburgo, em 2002 na Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), que devido a
participação proativa de mulheres, conseguiram incluir diversas sugestões para a aplicação em
governo local. Essas propostas foram nomeadas de Agenda 21 de Ação das Mulheres pela Paz e por
um Planeta Saudável organizada em cinco diretrizes: Paz e Direitos Humanos; Globalização e
Sustentabilidade; Acesso e Controle dos Recursos; Segurança Ambiental e Saúde; e Governança para
o Desenvolvimento Sustentável (Torreão 2007, 109).
Ao discutir o conceito de equidade de gênero e Desenvolvimento um documento elaborado
pela UN WOMEN em 2014 segue essa mesma linha de raciocínio defendida pela abordagem Gênero,
Ambiente e Desenvolvimento (GMAD) e relata que:
“We recognize that gender equality and women’s empowerment are important
for sustainable development and our common future. We reaffirm our commitments to
ensure women’s equal rights, access and opportunities for participation and leadership
in the economy, society and political decision making.… We recognize the leadership role
of women, and we resolve to promote gender equality and women’s empowerment and to
ensure their full and effective participation in sustainable development policies,
programmes and decision making at all levels”. (General Assembly resolution 66/288,
annex, paras. 31 and 45) (UN - The World Survey on the Role of Women in Development,
on the theme of “gender equality 2014, 19)
Refletindo sobre o impacto da participação e inclusão de mulheres nas discussões que tem
como objetivo pensar diretrizes para uma sociedade sustentável a conclusão é que a questão de gênero
pensada em um contexto de Desenvolvimento Sustentável e na problemática ambiental, foi resultado
de um esforço conjunto de movimento sociais de mulheres, como os movimentos ambientalista,
intelectualistas e feministas. Esse processo perpassa pela inclusão das particularidades das mulheres
em políticas, projetos e diretrizes governamentais para pensar alternativas e construir um
desenvolvimento com carater mais igualitário e equitativo. (Hernández 2010, 31)
O quadro 1 sistematiza esses e outros acontecimentos históricos que tiveram a participação
ativa de mulheres e onde se discutiu a questão de gênero pensando a sustentabilidade:
Quadro 1. Algumas iniciativas para a introdução da igualdade de género no ambiente e no acesso aos
recursos naturais
Datas Iniciativa
1984
Na 16ª Assembleia-geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em Madrid,
fizeram-se recomendações relativamente às mulheres e à conservação da natureza e foi estabelecido um
grupo de trabalho para promover o envolvimento das mulheres na organização.
1985
3.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mulheres, em Nairobi, e lançamento das Nairobi Forward Looking Strategies.
Do programa da Conferência fez parte uma secção sobre Mulheres e Ambiente. Durante a conferência
foi constituído o UNEP’s Senior Women Advisors Group (SWAG) responsável por incorporar o género no Programa Ambiental das Nações Unidas.
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1988
No seguimento das recomendações da Assembleia-geral da IUCN, na Costa Rica, foi criado o programa
Mulheres e os Recursos Naturais, com o objectivo de desenvolver programas de conservação chamando a atenção para os papéis específicos de homens e mulheres.
1992
Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, onde o
secretariado da conferência, em conjunto com o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a
Mulher (UNIFEM) e algumas ONG, como a WEDO e a WorldWide, encarregaram-se de divulgar um conjunto de actividades que foram de encontro às conclusões de Nairobi, propondo que se
considerassem relacionados o desenvolvimento sustentável e o incremento do poder das mulheres.
Da Conferência do Rio, resulta a Agenda 21 e no seu Capítulo 24 - Global Action for Women Towards
Sustainable Development - contempla uma maior participação das mulheres em todos os níveis
governamentais e em todas as agências das Nações Unidas relacionadas com o desenvolvimento sustentável.
1995
4.ª Conferência das Nações Unidas sobre Mulheres, em Pequim e criação da Beijing Platform for Action. Na secção K, sobre mulheres e ambiente, está redigido: as mulheres têm um papel
essencial nos padrões de consumo e produção sustentáveis e abordagens à gestão dos recursos naturais.
2000
Cimeira do Milénio, em Nova Iorque e consequente definição dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: promover a igualdade de género e o empoderamento das mulheres como formas de combater a
pobreza, a fome e as doenças e estimular o desenvolvimento sustentável.
2002
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e definição da Declaração de Joanesburgo (Princípio 20 onde se afirma o compromisso em assegurar o empoderamento e a
emancipação das mulheres, e a integração da igualdade de género em todas as actividades da Agenda 21,
dos objectivos do Milénio e do Plano de Implementação de Joanesburgo.
2004
1ª Conferência Women as the Voice for the Environment, em Nairobi. Identificação de áreas prioritárias:
aspectos do género das alterações climáticas, género no interface do conflito e do ambiente, saúde ambiental e género, género e ambiente urbano, e reforço das ligações local-global com particular ênfase
no papel da mulher indígena.
2005
A Comissão sobre o Status das Mulheres (CSW – Comission on the Status for Women), uma comissão funcional da Comissão Económica e Social das Nações Unidas, tem como objectivo promover a
igualdade de género e o avanço dos direitos humanos das mulheres. O Relatório Final da 49ª Sessão da
CSW, no Anexo V refere a ausência de dados e falhas metodológicas na recolha de informação acerca da participação económica das mulheres na gestão do ambiente e recursos naturais. No Anexo VI a
descriminação das mulheres indígenas é apresentada, sobretudo destacadas a extrema pobreza, a
discriminação estrutural e a degradação do ambiente e dos habitats naturais que exacerbaram a posição desvantajosa das mulheres indígenas.
2008
A CSW na 52ª Sessão, incentiva as instituições governamentais e não governamentais a apoiarem a
produção de reformas para dar às mulheres acesso pleno aos recursos económicos, incluindo o direito
à herança a propriedade de terra, de recursos naturais e tecnologias apropriadas.
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 15)
Ao pensar os movimentos e organizações ecofeministas enquanto unidade, sem
descaracterizar a realidade local e as particularidades que cada contexto social exprime, nota-se que o
reconhecimento da luta pela igualdade de gênero e autonomia das mulheres pela Declaração do
Milênio20
, corrobora enquanto um dos meios efetivos de combate à pobreza, à fome, às enfermidades,
refletindo assim em um desenvolvimento societário realmente sustentável. O principal motivo dessa
luta é o fato dessas mazelas sociais atingirem de formas diferentes homens e mulheres, além de
igualdade ser um direito, visto que mulheres compõem grande parte da mão de obra agrícola,
contribuindo assim, para a diminuição da pobreza e além de assumirem responsabilidades sociais no
cuidado das crianças, dos enfermos ou dos idosos e de todas as atividades vinculadas com a
reprodução social. Relações sociais mais igualitárias significam o benefício de todos membros da
sociedade, tornando possível assim pensar o Desenvolvimento Sustentável. (Torreão 2007, 112)
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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A pobreza e a exclusão social, assim como outros fenómenos societários atingem mulheres de
formas distintas na perspectiva da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), as
mulheres encontram-se mais expostas ao desemprego; permanecem as diferenças salariais entre
ambos os sexos, os obstáculos de acesso a cargos de chefia e sua maior presença nas atividades
informais. Porém devido aos avanços no último milênio já é possível verificar alguns aspectos
positivos como o crescimento da escolaridade feminina, o aumento de sua esperança de vida e o
decréscimo da taxa de fecundidade, especialmente entre aquelas com mais anos de estudos, refletindo
no incremento da taxa de participação feminina na população economicamente ativa. (Torreão 2007,
118)
Além de compreender participação das mulheres na problemática ambiental ao longo da
história e na construção do conceito de Desenvolvimento Sustentável, reconhecendo as contribuições
após a inclusão das mulheres nas reuniões e eventos governamentais e no desenvolvimento de
políticas e programas que possuem o recorte de gênero, outro aspecto que permeia esses espaços e
acontecimentos são as relações de poder entre os gêneros. Apenas a participação das mulheres sem a
consolidação de políticas que busquem uma sociedade mais igualitária e que rompa com as correntes
do patriarcado, não fornece subsídio para uma emancipação política e empoderamento de mulheres,
restringindo a questão de gênero e a problemática ambiental a uma reformulação frente aos desafios
atuais. Os avanços das mulheres ao longo da história são essenciais para continuar a busca por uma
sociedade sem opressão e com carater igualitário.
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5 Gênero e Ambiente em Portugal
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5.1 Alguns Dados da Realidade Portuguesa
Como vimos no primeiro capítulo, gênero além de ser construído socialmente, ele também é
uma categoria de análise social e reconhecendo a importância da mulher frente à problemática
ambiental, o relatório Género, Ambiente e Território elaborado por Gaspar e Queiroz (2009) analisa a
realidade de Portugal. Esse relatório será utilizado para a elaboração desse subtítulo e aproximação da
realidade local.
Um dos fatores que Gaspar e Queiroz (2009) utilizam de primazia para a realização do estudo
é o reconhecimento das particularidades da questão de gênero em âmbito local, respeitando as
alterações ao longo da história e as modificações do papel social que as mulheres ocupam. Essas
particularidades representam o conhecimento que mulheres e homens carregam de acordo com sua
vivência cultural e a forma como se relacionam não só com pessoas, mas com o ambiente.
Segundo Gaspar e Queiroz (2009) “diversos estudos internacionais revelam que as diferenças
de gênero se manifestam, sobretudo: a) nas representações/percepções sobre o ambiente e os
problemas ambientais; b) no conhecimento e nas práticas/tradições relacionadas com a utilização dos
recursos naturais; c) nas responsabilidades atribuídas às mulheres para atividades de planeamento e
gestão dos recursos naturais; d) no relacionamento familiar, na comunidade e em outras esferas
públicas que medeiam o acesso das mulheres aos recursos naturais” (Gaspar e Queiroz 2009, 66)
Mesmo reconhecendo a relevância desses estudos e os aspectos em que as diferenças de gênero se
manifestam, segundo os autores em Portugal os dados existentes não são o bastante para realizar uma
análise sobre o papel que a mulher ocupa, nas atividades agrícolas e silvícolas sustentáveis, nas pescas
e aquicultura e respectivas fileiras produtivas. (Gaspar e Queiroz 2009, 66)
Também se faz necessário situar Portugal enquanto membro da União Europeia desde 1986 e
com isso refletir sobre as diretrizes que relacionam gênero e ambiente. Gaspar e Queiroz (2009),
chamam atenção para o Fundo Europeu das Pescas (FEP) que dentre as intervenções a realizar no
âmbito do novo instrumento financeiro destaca o objetivo de promover a valorização dos recursos
humanos e a igualdade entre homens e mulheres no desenvolvimento do sector das pescas e das zonas
costeiras de pesca. Outra resolução do Parlamento Europeu, de 12 de Março de 2008, sobre a situação
das mulheres nas áreas rurais da UE tece inúmeros considerandos sobre a questão de gênero. Segundo
Gaspar e Queiroz (2009) além de contribuir para o crescimento e desenvolvimento da economia local
e rural, essas resoluções se tornam estratégias essenciais para a introdução e promoção da igualdade
de gênero no setor rural. (Gaspar e Queiroz 2009, 67)
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Já a nível nacional o relatório Género, Ambiente e Território (2009) trás o III Plano Nacional
para a Igualdade — Cidadania e Género 2007-2010 (RCM nº.82/2007, de 22 de Junho), considerando
que a perspectiva de gênero deve estar presente na Área Estratégica de Intervenção 2; nesta, identifica
um objetivo orientado para o Território e Ambiente.
Quadro 2. PNI 2007-2010: Perspectiva de género nos domínios prioritários de política Território e
Ambiente
Medidas
Entidades
envolvidas na
execução
Indicadores de processo
Indicadores
de
resultados
Calendarização
A – Integrar a dimensão de
género nas políticas de
planeamento urbano e
desenvolvimento do território
MAOTD
R/ CCDR
Realizar estudos sobre a
integração da dimensão de
género no
desenvolvimento do
território
Publicar os
estudos
mais
relevantes
nesta área
A iniciar em 2008
e durante toda a
vigência do Plano
B – Estimular uma maior
utilização, nomeadamente por
parte das mulheres, dos
incentivos ao desenvolvimento
de atividades ligadas à
conservação da Natureza e da
Biodiversidade
MAOTDR
/ CCDR,
MEI
Divulgar os
incentivos
existentes
Monitorizar
a divulgação
dos
incentivos
Início em 2008
e durante a
vigência do
Plano
C – Reforçar as
acessibilidades, a qualidade e
adaptação dos transportes
públicos às necessidades de
homens e mulheres,
assegurando trajectos que
facilitem a conciliação entre a
vida profissional, familiar e
pessoal
MOPTC;
MAOTD
R
Integrar nos protocolos
de exploração das
empresas de transportes
públicos a dimensão de
género
Avaliar o
grau de
melhoria das
acessibilidad
es
A iniciar em 2008
e durante toda a
vigência do Plano
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 15)
Ao analisar a Medida B, os autores destacam que a mesma está direcionada
especificamente para a política ambiental, que tem como objetivo o incentivo de mulheres no
envolvimento de atividades ligadas à Conservação da Natureza e Biodiversidade.
Gaspar e Queiroz (2009) reforçam a importância da medida ao relacioná-la com o quadro do
Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional (MAOTDR)
no que se refere a profissão de vigilante da natureza (da Comissão de Coordenação e
Desenvolvimento Regional - CCDR), onde a grande maioria dos funcionários são do sexo masculino
nas diferentes regiões do território nacional português (Fig. 1). Por exemplo se olharmos para os
vigilantes da natureza do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), em cada
100 funcionários, apenas 17 são do sexo feminino, ou seja, a representação feminina está bem longe
de uma margem de igualdade. (Gaspar e Queiroz 2009, 68)
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Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 68)
Figura 01. Vigilantes da Natureza, 2007
Ao realizar uma análise sobre os cursos superiores com temas ligados a questão ambiental os
autores identificam que os alunos do sexo masculino são maioria nos cursos de proteção civil, tal
como nos cursos com maior componente tecnológica, nas engenharias ligadas às Energias, Florestas e
Agronómica. O estudo também mostrou um número maior de mulheres e preferência por carreiras
relacionadas a vocação ambiental de forma geral, por exemplo nos cursos de Saúde Ambiental,
Educação Ambiental, Biologia e Recursos Naturais, Engenharia Alimentar e outros. As regiões com
maior cobertura destes cursos estão destinadas são o Centro e Lisboa e Vale do Tejo (Gaspar e
Queiroz 2009, 68)
Ao realizar a análise desses dados, Gaspar e Queiroz (2009, 69) chamam a atenção para
aspectos relevantes para compreender a questão de gênero, o primeiro é que apesar das mulheres
representarem maior número no que se refere aos cursos de ensino superior ligados a questão
ambiental, isso não garante que as mesmas ocupem cargos de chefia. Esse fenómeno ocorre em outras
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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áreas de atuação, inclusive em profissões que historicamente estão ligadas ao gênero feminino e que
reproduzem o papel que a sociedade patriarcal espera que mulheres reproduzam. Um dos exemplos é
a profissão de cozinheira que mulheres exercem, mas que os chefes de cozinha muitas vezes são
homens. O segundo aspecto é justamente a reprodução de papéis sociais, como vemos na Figura 3, o
curso de Proteção Civil é em sua maioria composto por homens.
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 69)
Figura 2 . Região Norte: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 70)
Figura 3. Região Centro: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Nº
de
Alu
no
s
Mulheres Homens
140
120
100
Ecoturismo Educação Energia e Engenharia Engenharia Engenharia Engenharia Engenharia Protecção Saúde
Ambiental Ambiente Agronómica do do dos Florestal Civil Ambiental
Ambiente Ambiente e Recursos
Biológica Florestais
Mulheres Homens
Ciências e Tecnologia do Ambiente Engenharia do Ambiente
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Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 70)
Figura 4. Região LVT: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 71)
Figura 5. Região Alentejo: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Mulheres Homens
Engenharia Engenharia
Agronómica Alimentar
Engenharia do
Ambiente
Engenharia Engenharia da Engenharia do
Florestal Energia e do
Ambiente
Ambiente
Saúde
Ambiental
Mulheres Homens
Recursos
Naturais
Engenharia
Agronómica
Engenharia
Saúde
Ambiente Ambiental
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Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 71)
Figura 6. Região Algarve: Nº de alunos inscritos em cursos superiores com formação ambiental, por gênero, 2007
Ao analisar uma outra pesquisa efetuada para os diplomados do Ensino Superior em 2005,
Gaspar e Queiroz (2009, 72) mostram que as mulheres têm maior presença nos cursos ligados as áreas
de saúde, as ciências da vida e da educação, os serviços pessoais e sociais, direito, humanidades e artes.
Homens continuam sendo maioria nos cursos de componente tecnológica, tal como arquitetura e
engenharia na área de construção (Figura7). Gaspar e Queiroz (2009,72).
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 72) Figura 7. Nº de diplomados do ensino superior, por área de educação e formação e gênero, 2005
Mulheres Homens
Nº
de
Alu
no
s
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Ao refletir sobre o contexto do ativismo ambiental Gaspar e Queiroz (2009, 72) de
acordo com os dados do MAOTDR (Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e
do Desenvolvimento Regional) mostram que em 2008 a liderança das ONG´s ainda é
maioritariamente representada por pessoas do sexo masculino (num total para o país de 141
presidentes homens e 23 presidentes mulheres) (Figura 8).
Essas informações vão de acordo com a pesquisa que traz o número de alunos inscritos
em cursos superiores com formação ambiental, visto que mesmo sabendo da não
obrigatoriedade dos presidentes de ONG´s terem nível superior em carreiras relacionadas a
questão ambiental, esses dados ainda assim, revelam que os homens em sua grande maioria
estão em cargos de liderança.
Fonte: Relatório Género, Ambiente e Território (Gaspar e Queiroz, 2009, 72)
Figura 8. Género do(a)s Presidentes das ONGA e Equiparadas
Pensando em atividades destinadas a proteção ambiental incluídas nas medidas
agroambientais e silvo-ambientais do MADRP (Ministério da Agricultura do Desenvolvimento
Rural e das Pescas), Gaspar e Queiroz (2009) acham relevante referir as iniciativas dos
agricultores (as) ligadas à manutenção da atividade agrícola em áreas de montanha e outras
regiões desfavorecidas, como os modos de produção agrícola ambientalmente sustentáveis,
agricultura biológica, atividades relacionadas com a conservação e melhoramento de recursos
genéticos, proteção da biodiversidade doméstica, ações de proteção dos solos, etc. (Gaspar e
Queiroz 2009, 73). Porém o número de mulheres que se dedicam a essas atividades ainda não
estão claros, o que o relatório apresenta são os dados referentes as mulheres que exercem algum
tipo de atividade ligado a agricultura:
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“Portugal é o país da União Europeia com maior percentagem de
agricultoras. Os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística
indicam que em 2002 existiam em Portugal 639 200 indivíduos registados na
agricultura, dos quais 50,1% eram mulheres. As estatísticas também dizem que as
mulheres são um terço dos jovens agricultores. Apesar de as mulheres sempre
terem tido uma importância fundamental na agricultura, a gestão e liderança das
explorações agrícolas continua maioritariamente entregue aos homens.” (Gaspar
e Queiroz 2009, 73).
Pensando as atividades associadas ao aproveitamento das potencialidades do espaço
florestal enquanto um dos fatores para uma sociedade mais sustentável, segundo o relatório
Género, Ambiente e Território (2009), sobretudo dos territórios rurais de maior interioridade,
por exemplo, a melhoria produtiva dos povoamentos florestais ou a produção de cogumelos
silvestres, plantas aromáticas, condimentares e medicinais e/ou frutos silvestres, etc. não são
divulgadas discriminados por gênero, nem ao nível nacional, nem regional. (Gaspar e Queiroz
2009, 73).
Outro fator para se pensar a sociedade sustentável, seria a criação de políticas que
tenham a questão gênero na sua cerne, juntamente relacionadas à problemática ambiental, visto
que a relação que a mulher mantém com o ambiente possuí suas particularidades. Reconhecer
esses tipos de políticas, também significa a representação da questão de gênero nos apoios
governamentais de crédito. Em Portugal não existe uma discriminação positiva que reconheça
as particularidades de gênero nas linhas e fundos de crédito comunitários no setor da agricultura
e silvicultura, tal como não são realizadas propostas para mulheres presentes nesse setor.
(Gaspar e Queiroz 2009, 73).
De acordo com os dados obtidos no relatório Género, Ambiente e Território,
verificamos que a mulher ainda ocupa grande parte da mão de obra agrícola, está inserida no
ambiente acadêmico em carreiras que tem como objeto de estudo a questão ambiental e que o
país já possuí legislação que estimule o recorte de gênero frente às políticas públicas ligadas ao
espaço natural. Mesmo com esses avanços nota-se que apenas os dados obtidos não são o
necessário para compreender em sua totalidade o espaço que a mulher ocupa no que diz respeito
à problemática ambiental e o relatório também não faz uma abordagem cronológica no
tratamento dos dados, com o objetivo de monitorar os avanços e retrocessos relacionados ao
gênero e ao ambiente em Portugal.
O reconhecimento da necessidade de alterações no seio da sociedade no que se refere a
igualdade de gênero e na busca de soluções para a problemática ambiental, já é considerado um
grande passo para futuras mudanças estruturais. A atuação de mulheres na luta por uma
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sociedade que tem esses princípios já é refletida nas relações sociais contemporâneas,
materializada através dos avanços legais que prezem pela igualdade de gênero. A busca
contínua por essa sociedade igualitária é condição primária para a consolidação de uma
sociedade isenta de opressão, seja em relação as mulheres ou a natureza. (Leff, 2000, 6).
5.2 Reflexões sobre a relação entre natureza e mulheres estudantes
do Ensino Superior
Após aproximar da realidade de Portugal através da pesquisa documental onde se
constatou a inserção de mulheres em instituições de ensino superior em carreiras relacionadas a
área ambiental e as diferenças de gênero que se manifestam nesse contexto, sentiu-se a
necessidade de conhecer a percepção das mulheres estudantes no que se refere a problemática
do ambiente e de gênero, questionando assim, através de uma entrevista semiestruturada como
se dá essa relação.
Uma das teorias que utilizamos nesse trabalho foi o ecofeminismo e de acordo com
essa linha de pensamento mulheres e natureza estão à mercê do patriarcado, dessa forma se
tornam objetos de exploração (tanto no campo econômico, quanto no nível social) e
consequentemente se veem em uma posição de inferioridade. Mas antes de saber se essa
desapropriação que subjuga a mulher se materializa na contemporaneidade, era necessário
verificar se as mulheres se enxergam em posição de igualdade em relação aos homens e a
natureza.
E1 Eu considero que na teoria deveria estar, mas na prática não estão. Porque o homem se sobrepõe a mulher e
a natureza. De formas diferentes, mas ele acaba se impondo.
E2 Sim, se eu não acredito nas histórias religiosas ou da filosofia que colocam os seres humanos em vantagem
ou mais elevados em relação aos outros seres vivos. [...] Se eu analisar por esse ponto de vista, pode haver
algum tipo de hierarquia, mas na prática eu não acho que isso não ajuda nada e nem ninguém.
E3 Sim, se calhar alí acho que há dois planos, um plano que é da realidade mais profunda e essencial, das
coisas, uma realidade intrínseca que nos coloca a todos no mesmo nível, ou seja, que todos partimos e
crescemos de uma mesma origem. Os homens, mulheres e tudo que vem da natureza vieram do mesmo sítio,
da mesma força geradora de vida. Então nesse plano, a um ponto muito importante de igualdade que nos une
a todos e apaga qualquer diferenças, não as diferenças, mas os conflitos. Ou seja, esse ponto de igualdade
onde existe harmonia, um entendimento. Depois também, homens e mulheres, como seres vivos que somos,
diversos de toda a natureza, como que temos diferenças físicas no corpo e isso também vem com diferenças
ao nível hormonal e são bastantes importantes e interferem no nosso comportamento e então obviamente,
não podemos negar a diferença social e cultural que vem depois de muitos anos de civilização […] Então
nesse sentido a muitas diferenças entre homens e mulheres e acho que é interessante poder tanto aceitar em
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um ponto e de outro lado poder um pouco mais fundo e também ver todo que nos uni.
E4 Não. Na sociedade capitalista e de base patriarcal a mulher historicamente é secundarizada e tem o papel de
garantir a reprodução da força de trabalho, a prole, mesmo com todas as lutas legítimas por direitos, ainda há
uma lacuna…A natureza é historicamente espoliada e expropriada e tida como infinita para o Capital.
E5 Creio que a dualidade entre os gêneros relativa à natureza esta no pensamento e não na relação.
E6 Não, não considero de todo que estejam em posição de igualdade. Vivemos ainda hoje em sociedades
machistas, em que o homem continua a ver legitimado o poder sobre a mulher, resultando em abusos graves.
Esta relação acontece a vários níveis, começando em casa, no seio familiar, passando pelo ambiente de
trabalho, até a um simples passeio na rua.. A natureza… não, creio que a natureza é ainda encarada como
uma ferramenta acessível à espécie humana. Talvez o que tenha mudado seja a consciência de que os
recursos não são infinitos e logo o esforço para mudar as formas de exploração. Trabalha hoje a ciência no
sentido de perceber como manter o mesmo nível de exploração mas com menor impacto sobre o meio, e
logo sobre a espécie humana. Mas a natureza, no sentido do meio que nos envolve e onde se incluem as
restantes espécies animais e as vegetais, continua a ser encarada, de uma forma geral, como se de uma oferta
à nossa espécie se tratasse.
E7 Não, não estão em posição de igualdade. Nas várias relações, entre homem e mulher, entre homem e
natureza e entre mulher e natureza. Quer dizer, entre mulher e natureza acho que há mais igualdade, do que
homens e natureza. Entre mulher e natureza acho que a de certa forma mais afinidade com a natureza, na
minha opinião. Também por nós mulheres estarmos em um ritmo de ciclos e que isso está bem integrado
com a natureza, por exemplo com a lua e o sol. Alias uma outra coisa se relaciona com a natureza,
independentemente de serem homens ou mulher, é o plantio em que na agricultura se respeita mais os ciclos
da natureza. Mas só nesse aspectos, em termos de equilíbrio com a natureza e de danificação acho que os
dois estão em desequilíbrio. Entre homens e mulheres, acho que há aí um desequilíbrio muito, é claro que
ouve muitas melhorias, mas ainda existes muitos desequilíbrios a nível profissional, a nível social e respeito
pelas diferenças.
E8 Não, porque ainda existe muito machismo. Os homens ainda veem a mulher como mais fraca. E as mulheres
também têm certa dificuldade de estar na natureza.
Diante das respostas obtidas temos alguns aspectos para reflexão, de forma geral o que
se nota é que grande parte das entrevistadas pensam que mulheres, homens e natureza deveriam
estar em posição de igualdade, porém na realidade não estão. Na entrevista E2 verificamos
alguns fatores que justificam a desigualdade, o primeiro que ela apresenta é o cultural
nomeadamente construído historicamente através da religião e o outro é por meio da filosofia.
No decorrer do nosso trabalho ao analisarmos a linha de pensamento ecofeminista
verificamos que esse processo de alteração religiosa para o monoteísmo e o culto a um único
Deus masculino, refletiu cultural e socialmente na relação que o homem compartilha com a
natureza e as mulheres. A bíblia enquanto principal livro da doutrina cristã exemplifica essa
posição de superioridade que o homem se encontra:
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o
gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. [...]
Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a;
e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal
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que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que
dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto
que dê semente, ser-vos-á para mantimento”. (Bíblia, Gênesis 1, 26-30)
Nessa citação nota-se que de acordo com a doutrina do cristianismo Deus fornece uma
“autorização” que justifica a dominação dos outros seres vivos, colocando o homem em uma
posição de superioridade. O mesmo acontece em relação a mulher, onde o homem foi feito a
imagem e semelhança de Deus, enquanto a mulher teria sido feita a partir da ação de Deus sobre
uma costela21
do homem e assim, a mesma estava sujeita22
as vontades do mesmo.
Tal como no campo religioso, a filosofia também reproduzia o ideário de inferiorização
da mulher, Aristóteles23
enxergava a mulher como um homem incompleto e já Platão24
mesmo
reconhecendo o potencial da mulher no contexto social da época, ainda acreditava que para
alcançar posição de igualdade a mulher deveria se abdicar de sua feminilidade. (Ferreira 2006,
143)
Na entrevista E3 vemos uma análise muito interessante que divide a relação de
igualdade em dois principais planos. O primeiro está ligado a uma força geradora de vida que se
assemelha ao Prakriti ou princípio feminino (conceito idealizado por Shiva) e o segundo está
relacionado as diferenças biológicas e socioculturais. Enquanto o primeiro plano de análise
coloca todos em posição de igualdade, visto que todos os seres vivos tiveram origem a partir da
mesma força, o segundo reflete as diferenças que foram construídas ao longo dá história
(biológicas e sociais) que são refletidas nos comportamentos de homens e mulheres. Reconhecer
esses dois aspectos segundo a entrevistada é um dos meios para atingir uma igualdade, ou seja,
reconhecer que todos temos similaridades e ao mesmo tempo singularidades que fazem parte do
nosso ser e que nos torna diferentes.
Como verificamos no decorrer do trabalho o modo de produção capitalista foi um
intensificador das diferenças de gênero e a entrevista E4 reconhecendo isso, chama a atenção
para a mulher enquanto reprodutora da força de trabalho e ainda relata que a natureza sempre
21
“E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é
agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada.” (Bíblia, Gênesis 2, 22 e 23) 22
“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu
desejo será para o teu marido, e ele te dominará”. (Bíblia, Gênesis 3, 16) 23
“Para Aristóteles a mulher é uma espécie de desvio relativamente a um tipo mais perfeito que se concretiza no
homem. É uma privação. O homem é a medida da humanidade e ela é uma falha, uma falta, um homem incompleto
ou mesmo mutilado” (Ferreira 2006, 143) 24
“Platão anula a mulher pois esta só tem possibilidade de sobreviver se se transformar num homem, perdendo todas
as características da sua feminilidade. ” (Ferreira 2006, 143)
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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será um bem infinito (nesse modo de produção) e um objeto de expropriação a favor da
acumulação do capital.
A entrevistada E6 justifica a desigualdade entre homens e mulheres através do
machismo que é um dos meios para a diminuição da mulher e inclusive se materializa através da
violência, nas mais diversas formas. Outro ponto importante que a entrevistada destaca é que
esse fenómeno social não é restrito a um espaço físico, vivemos na contemporaneidade casos de
machismo institucional, público, dentro da família e em outros ambientes. Nessa resposta
verificamos mais uma vez a ideia de natureza enquanto “ferramenta” em prol da humanidade,
um bem a ser usado, porém destaca-se a preocupação atual com a problemática ambiental e as
formas que o uso inconsciente da natureza pode refletir de forma negativa na humanidade.
Também nota-se que a preocupação da sociedade talvez seja em maior proporção em como e de
que forma a degradação irá afetar o ser humano, do que com os outros seres vivos.
Na resposta E7 verifica-se que apesar de reconhecer que ambos os gêneros são
responsáveis pela danificação dos ecossistemas e se encontram em desequilíbrio com a
natureza, a entrevistada coloca a mulher em posição de maior proximidade da mesma. Essa
relação de intimidade com a natureza segundo a aluna justifica-se pela comparação entre os
ciclos hormonais e a menstruação com os ciclos lunares25
, visto que no passado os mesmos
eram uma das formas das mulheres verificarem se estavam grávidas e preverem quando
ocorreria o nascimento da criança. (Ribeiro 2004, 16)
Na resposta seguinte E8 verificamos que além do machismo, outro fator que a
entrevistada destaca é que mulheres também possuem dificuldade em estar em ambientes
naturais, ou seja, com menor intervenção do homem. Essa fala além de mostrar que a
aproximação entre natureza e mulheres é uma construção (independentemente da proporção em
que o fator biológico pode ser ou não um facilitador), também mostra que na perspectiva da
entrevistada não é natural do gênero feminino essa relação.
Outro fator a ser analisado seria a compreensão das entrevistadas diante da sociedade
patriarcal e como esse sistema de dominação e exploração se apresenta na contemporaneidade.
Todas as alunas entrevistadas reconhecem que na atualidade ainda vemos expressões do
patriarcado, modelado e idealizado por ideologias machistas que fica exposto nos atos e
diferenças de gênero que as mesmas relatam.
25
“A palavra menstruação vem do latim mens, que significa mês, uma derivação de lua. (A palavra grega para lua é
mene). Não escapou à observação dos antigos o fato de que a duração média do ciclo feminino é quase idêntica ao
período de tempo entre duas luas cheias. Além disso, achados pré-históricos em ossos, mostram que mulheres
marcavam seu ciclo menstrução de modo a contam o tempo”. (Ribeiro 2004, 16)
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65
E
E1
Sim, porque o homem se sobressai no ambiente da família, do trabalho, de tudo. Ele ainda tem muito mais
força no dizer e no fazer do que a mulher e isso se sobre cai de várias formas. O impacto disso sobre as
mulheres é muito maior, em todos os ambientes.
E
E2
Sim, vivemos em uma sociedade patriarcal. Tudo depende do seu círculo social. Na verdade o patriarcado
está em todo o lugar, mas a forma como ele é expresso difere. Então, por exemplo, minha avó e do interior,
do interior da Bahia, se você for lá é o patriarcado tradicional. O homem que manda, a mulher que obedece,
a mulher que planta e o homem que cuida dos negócios e tudo mais. Mas, dentro de um grupo de
acadêmicos na universidade as pessoas já tem um maior cuidado com esse tipo de coisa, mas a nossa
sociedade aprendeu a valorizar características masculinas. E isso eu sinto mais predominante na minha vida
pelo menos. Hoje para você ser uma pessoa de sucesso, que consegue fazer aquilo que se propõe você tem
que ter certas características tidas como masculinas, então não é uma questão de ser homem ou mulher, mas
é claro que os homens já são criados com essas ideias, são criados para terem essas características então é
um modelo menos óbvio de patriarcado, mas ainda existe.
E3
Sim, se calhar não sei bem o conceito de patriarcal. Mas, acredito que há como uma, se calhar como uma
ilusão de que o homem governa o mundo e que as características masculinas do ser humano, ou seja, que o
mundo como que, move-se por questões de poder, dinheiro, de hierarquias, de uma questão, como de
necessidade e produtividade, de ser eficiente, que se calhar, são características mais masculinas e que muitas
vezes essa questão de ilusão no patriarcado, sinto que no fundo as mulheres tem uma coisa muito importante
de se reconhecer no âmbito social, que como seres naturais que tem seu corpo e toda sua estrutura hormonal
e tudo, que tem como uma capacidade de gerar vida, de conter vida e muito protetora, com possibilidades de
escutar e dar carinho e proteger. E são características muito similares as que a mãe natureza tem, a nossa
terra, e elas tem essa sabedoria, por estar nesse tipo de corpo, de ter determinada sensibilidade que é muito
importante na sociedade, mesmo nessa mais civilizada. E mesmo que no fundo pareça que o patriarcado, as
mulheres são as que sustentam muito a sociedade, se calhar de uma maneira mais invisível. No nível dos
lugares, da família e da contenção.
E4 De forma ampla e geral, sim, basta pensarmos nos casos de violência contra mulher no Brasil por exemplo, é
alarmante. A inserção no trabalho é menor, a representatividade na política, salários, etc., em comparação ao
homem
E5 Sim, ainda vemos o patriarcado na sociedade hoje em dia, nas desigualdades de género, na violência contra
as mulheres, na questão da legalização do aborto.
E6
Acredito que sim. E vou focar-me em Portugal para responder, porque noutras sociedades mais
religiosamente radicalizadas, é claríssimo que sim, aqui há ainda quem se engane...Vivemos numa sociedade
patriarcal na medida em que muitos dos preconceitos do passado relativamente à superioridade e supremacia
do homem, e aquela imagem do homem viril, forte e dominante, mantém-se presente nos nossos dias nas
mais pequenas coisas do dia-a-dia. A mais recente luta das mulheres, de que é exemplo a luta pela
despenalização do aborto; o facto de só há pouco tempo ter sido legislada uma licença paternal, para que o
pai acompanhe também o período mais difícil e mais frágil do crescimento dos filhos; o facto de serem
necessárias quotas impostas de fora, para que as mulheres sejam tidas em conta na selecção para
determinados cargos em empresas e na esfera política; o confronto da heterossexualidade com a
homossexualidade, demonstrando que o homem sensível e frágil não é concebível na nossa sociedade; o
facto de ainda hoje nos casamentos ser tendencialmente o nome do pai que prevalece, enfim… as anedotas
corriqueiras, as conversas de café, os assobios, os casos recorrentes de violência domestica, a política do
“ela estava mesmo a pedi- las, com aquela roupa sexy…”… enfim… sim.
f
E7
Sim, acredito que sim. Exatamente por isso, por estarmos em uma sociedade em que o homem assumiu um
poder e também sua própria natureza acabou por assumir um poder nas relações profissionais e econômicas
e isso desenvolveu essa sociedade patriarcal que o homem se encontra no topo da pirâmide. Depois, nas
relações sociais ainda é muito visível isso, tanto nas relações entre homem e mulher ainda existe uma
diferença muito grande que o homem ainda acha que tem que ter determinado comportamento em relação a
mulher. Ainda trata a mulher devido as diferenças que existe em uma posição inferior, que a mulher que tem
que respeitar o homem, não haver traição, tudo isso.... É muito mais exigido da mulher do que do homem.
Mesmo tendo uma sociedade em que a mulher vai trabalhar, ainda acaba por ser ela que tem que fazer muito
os trabalhos domésticos ou trabalho de mãe e adicionalmente o trabalho profissional em que lhe é exigido o
mesmo que a nível masculino, mas que depois não são compensadas. Isso na minha opinião, na minha
experiência que tenho a nível profissional. Por isso sim, acho que vivemos totalmente em uma sociedade
patriarcal.
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E
E8
Sim, já tem muitas mulheres que tem cargos de poder, mas é a minoria que estão. Nesses cargos, enquanto a
maioria são homens. Ainda não existe essa igualdade. E ainda tem muito preconceito.
Na resposta E1 ao justificar uma sociedade patriarcal a entrevistada relata que o homem
se sobressai no dizer e no fazer, e enquanto discurso de fala notamos que a participação de
homens no espaço público suprime a voz de mulheres em espaços de decisão, mas não se
restringe a tal, também reflete diretamente no campo econômico, seja no trabalho ou no espaço
doméstico.
Mesmo reconhecendo que o patriarcado se faz presente em todos os âmbitos da
sociedade, tal como na primeira resposta, a entrevistada E2 chama atenção para as
particularidades de cada contexto social. De acordo com a entrevistada, em cidades ou vilas
menores e de um desenvolvimento tecnológico e econômico reduzido, a cultura patriarcal tende
a ser mais forte quando comparamos com cidades cosmopolitas na contemporaneidade, isso
causa um grau de subjugação e de reprodução de papéis sociais que impede a mulher de
desenvolver todas as suas potencialidades, tal como restringe o homem ao papel do “macho”
provedor. O segundo aspecto está relacionado a “falsa sensação de igualdade”, que conforme
explicito pela aluna, é um modelo menos óbvio de atitudes e pensamentos que no fundo
continuam a refletir o pensamento machista.
Assim como na entrevista E2, a entrevistada E3 refere-se as características masculinas,
nomeadamente eficiência, produtividade e poder, como condições que justificam uma
perpetuação do patriarcado e uma “ilusão” de acordo com a aluna, de que para as mulheres
conquistarem uma igualdade, as mesmas deveriam ter tais características. A entrevistada coloca
tais atributos de forma ilusória porque entende que a feminilidade e consequentemente as
aptidões que a sociedade classifica como típicas do gênero feminino, são tão importantes quanto
as que os homens possuem, nomeadamente a aluna cita: proteção, escutar e dar carinho, gerar
vida.
Ao refletir sobre a reprodução de papéis sociais a entrevistada E7 cita a inferiorização
do homem que possui características femininas, como sensibilidade, que demonstra com maior
facilidade emoções ou que tem uma orientação sexual ou de gênero que não corresponde com
seu sexo biológico. Com isso se constrói uma visão negativa do homem que se aproxima da
feminilidade, “abrindo mão” do seu direito à masculinidade.
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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Outro aspecto relacionado a assimilação de características segundo a entrevistada E7, é
que mesmo as mulheres ao adotarem para si atributos que são considerados masculinos
(entendendo que para isso existe um esforço maior no sentido de que os homens são educados a
ter certos tipos de comportamentos sociais, enquanto as mulheres tem que desenvolver tais
características e em certa medida adequar sua conduta de acordo com o patriarcado) não
possuem um reconhecimento da entidade empregadora ou da sociedade durante situações em
que a mulher apresenta particularidades que expressam sua feminilidade, como a gravidez por
exemplo. Ou seja, mesmo a mulher alcançando posições de poder, muitas vezes ela realiza
outras funções que reproduzem papeis sociais tipicamente femininos, como uma segunda
jornada de trabalho no ambiente doméstico, o papel de cuidadora e educadora dos filhos e da
família. Mesmo quando a mulher em uma posição privilegiada socialmente não realiza tais
funções, geralmente existe a delegação de tais papéis sociais a uma outra mulher de classe
econômica inferior.
Além das diferenças de gênero serem refletidas na divisão sexual do trabalho, a
entrevistada E4 chama atenção para a violência doméstica na atualidade. Em Portugal ouve
alguns avanços, mas a violência doméstica enquanto expressão de uma sociedade patriarcal e
machista ainda é uma prática recorrente26
. Desde o ano 2000 a violência doméstica tem natureza
de crime público, assim o julgamento acontece independe da queixa da mulher. Isso tem um
grau de significância enorme ao entendermos que muitas vezes a mulher se encontra em um
nível de vulnerabilidade tão grande que à incapacita de romper com o ciclo de violência.
A entrevista E6 chama atenção para alguns aspectos que discutimos nesse trabalho,
como a ideia do tipo de homem ideal que possui e reproduz características masculinas, a
entrevistada utiliza nomeadamente viril, forte e dominante. O conflito entre heterossexualidade
e homossexualidade, e a reprodução da mulher enquanto cuidadora, expressado entre outras, nas
diferenças legais entre licença maternidade e paternidade27
. Outro aspecto importante que a
26
O Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), indica que as 25.985 ocorrências de mulheres vítimas violência
doméstica, registadas em 2016, representam um aumento de 1,67% face aos 25.557 casos em 2015. (Gabinete do
Secretáriado Geral 2017, 35) 27
Em Portugal apenas em março de 2016 passou a entrar em vigor a extenção de 10 dias, para 15 dias a subsidio
parental obrigatório pelo pai. Ainda assim vemos uma desigualdade perante ao subsidio parental materno obrigatório
que atualmente é de 42 dias. Vale pontuar que mesmo com essa diferenciação a divisão do subsidio paternal que pode
chegar até 180 dias, pode ser feita de forma igualitária entre pai e mãe. (Instituto da Segurança Social 2016, 5)
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68
entrevistada aborda é a despenalização do aborto, que em Portugal ocorreu em Abril de 200728
,
mas que socialmente ainda é um tabu.
Como verificamos na maioria das respostas o machismo ainda se faz presente na nossa
sociedade refletindo as diversas facetas de uma sociedade patriarcal. Ao serem questionas sobre
as formas de manifestação desse fenômeno, as respostas ainda revelam que a Universidade
enquanto um espaço de reprodução da sociedade, consequentemente ainda reproduz situações
de discriminação e opressão da mulher.
E1
Sim, em diversos ambientes. Na Universidade principalmente entre alunos, mas também entre professores e
alunas. Entre alunos é mais em ambientes … é em todos os ambientes na verdade. As vezes é mais em
ambientes informais, como festas por exemplo. Mas também no ambiente de pesquisa e eventos científicos,
onde o aluno homem sempre acaba tendo mais moral, mais credibilidade do que as meninas, é mais
valorizado. Entre professores homens e aluna menina, no sentido de brincadeiras, que não são brincadeiras.
Dizeres com segundas intenções, que depois são desculpadas com: “ah! Você que entendeu errado”. E no
caso do curso de Serviço Social, por exemplo, todos os professores homens tem muito mais credibilidade e
valorização do que a mulher. Não sei explicar muito bem, isso não deveria acontecer.
E
E2
Sim, é … A forma mas obvia que encontrei de machismo é de professores homens que objetificavam as
alunas e que se aproveitavam da posição deles enquanto professores para isso também. Eu tive um professor
que fazia campo de ecologia, então ele escolhia duas alunas para ir com ele acompanhar no meio da floresta
para procurar aranhas. E é muito nítido como ele falava dessas experiências que ele estava muito mais
interessado nas meninas do que nas aranhas. Então sim, esse é um exemplo muito forte de machismo, é daí
pra baixo.
E3
Na verdade, posso dizer que ultimamente tenho prestado atenção e tenho tentado não por muita atenção nas
atitudes machistas, então como que, não as percebo muito. Ou seja, sinto que grande parte é como uma
pessoa se coloca no âmbito social e como as outras pessoas vão em atitudes, ou seja por exemplo, se uma
mulher está com uma percepção de igualdade de gênero, de igualdade de oportunidades, isso já é um passo
importante. Não se considerar nem superior e nem inferior, isso já nos coloca em uma situação de não
perceber o machismo e olhar as coisas com outros olhos. Por isso, a mim não me toca tanto, mas na rua, mas
na américa latina do que em Portugal, sim os homens dizem coisas na rua. Mas não acho que isso realmente
seja algo que socialmente não é muito bonito e é ofensivo, mas não sinto que seja algo que afete muito.
E4 Sim, como falei. Na universidade há casos rotineiros de assédio moral e sexual com alunas e professoras.
E
E5
A Universidade é uma estrutura patriarcal, motivo pelo qual explica a presença da desigualdade de gênero.
No entanto com o aumento dos movimentos sociais e feministas, com a ajuda das redes sociais, as mulheres
estão dando voz e denunciando.
E6
Sim, sem dúvida nenhuma que o machismo está presente nos dias atuais. Como referi na primeira resposta
esta relação desigual entre homens e mulheres está inscrita na cultura, na forma como as pessoas se
expressam, como partem de determinados princípios pré-concebidos, nas simples e corriqueiras anedotas e
brincadeiras generalizadas, entre colegas e amigos, dia após dia. Portanto, não, homem e mulher não estão
em posição de igualdade. A diferença que existe de hoje para ontem, a meu ver, é que hoje se fala mais disso
e como resultado obriga-se que as forças políticas ajam, embora por vezes de uma maneira ainda algo
confusa. Parece-me é meu entender que está presente nas várias esferas da sociedade. Em Portugal
muito mesmo. Na universidade… por acaso ainda no outro dia recebi um e-mail de uma editora de revistas
científicas que enviava um artigo que apresentava formas de como evitar a discriminação de género aquando
da submissão de artigos a revistas. Não abri ainda o e-mail porque não tenho nenhum artigo preparado para
submeter. Mas fiquei surpreendida com a abertura e normalidade com que o assunto foi abordado, assumido
e como se estão a iniciar diligencias para o colmatar… portanto, sim, existe machismo nas universidades e
na academia. Embora seja aluna de doutoramento não estou presente de forma assídua na faculdade há
28
A lei 16/2007 prevê a alteração no artigo 142 do Código Penal, não punindo a interrupção da gravidez em
estabelecimento de saúde oficial, caso venha a ser realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de
gravidez. (Código Penal Português 2017, 01a.)
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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muitos anos, não sinto na pele esse tipo de pressões. Mas sei que, porque leio artigos e falo com pessoas
associadas ao meio, que a discriminação de género, designadamente para aceder a determinados lugares na
hierarquia institucional, é uma realidade.
E7
Eu acho que há machismo na universidade, porque ela é feita de pessoas que vivem na nossa sociedade.
Mesmo talvez essas pessoas tendo um nível de educação mais elevado onde há um conhecimento do que
deverá ser uma igualdade de direitos. Depende também de qual universidade estamos a falar, uma
universidade de engenharias ou de mais de ciências sociais, acho que aí existe uma diferença, mas posso
tentar falar a nível global. Principalmente nas relações de pessoas dentro da universidade ainda se ouve
muitos relatos de mulheres, raparigas que se sentem inferiores nas suas relações com seus namorados, ou
que sentem ainda que há machismo. Portanto acho que não tem á ver com o conhecimento que se possa
adquirir que pode ser científico ou um conhecimento de habilitações. Mas é um conhecimento que tem a ver
com mentalidades, viemos de gerações que nos embutiram essas diferenças entre homem e mulher, como se
deve comportar um homem e uma mulher e apesar de ainda haver esse conhecimento científico, reflete-se na
mesma no dia a dia, nas relações entre as pessoas.
E
E8
Sim, não só dentro da Universidade, mas em qualquer lugar. Por exemplo na minha sala, tem 30 homens e
apenas 4 mulheres. Ainda se vê muito assédio, inclusive nos transportes. Não existe essa igualdade, as
mulheres já conseguiram muito espaço, mas não existe essa igualdade não.
Logo na entrevista E1 dois pontos chamam atenção, o primeiro é a certa “credibilidade”
que os alunos homens têm em espaços de fala, como eventos, apresentações de trabalhos
científicos, dentro da sala de aula e outros. Como vimos um dos motivos para que isso aconteça
é a educação que os homens recebem quando se compara as mulheres. Homens são educados
em maior proporção para ocuparem ambientes públicos e com isso existe uma posição ativa ao
se relacionarem socialmente. Outro aspecto que fica ainda mais claro na entrevista E1 e E2 é o
uso da hierarquização institucional para a reprodução do machismo, tal como acontece com
professores e alunas, além de existir uma culpabilização dessas últimas.
A entrevistada E3 faz uma análise de sua percepção enquanto vítima dessa sociedade
machista e de como se posicionar frente a episódios de reprodução desse ideário. De acordo
com a aluna, mesmo compreendendo que algumas atitudes sejam ofensivas e de carater
depreciativo, a mulher possuindo uma visão de igualdade e entendo que essas posições
reproduzem um problema societário, a mesma tem uma menor dificuldade em agir diante dessas
transgressões, seja na busca pelos seus direitos ou de outras alternativas.
O aumento de intervenções da sociedade em casos de misoginia e da conscientização de
mulheres sobre assuntos relacionadas a questão de gênero são aspectos de destaque nas
entrevistas E5 e E6. O empoderamento é uma forte arma para se romper com ciclos de violência
nas mais diversas formas, inclusive grupos de mulheres são essenciais para a construção de
coletivos que dividem vivência similares e que se auto ajudam no processo de conquista de
igualdade.
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Na resposta E7 mesmo sem o aprofundamento da entrevistada verifica-se uma certa
diferença entre a apresentação do machismo em diferentes universidades e ela usa como
exemplo uma universidade de engenharias e outra de ciências humanas. Isso se dá porque como
vimos no decorrer do trabalho algumas das áreas de atuação são compostas maioritariamente
por homens e ao ocupar esses espaços a mulher se vê em um ambiente que segundo o
patriarcado não lhe pertence, existe um rompimento da “normalidade”.
Outro fator que a entrevistada chama atenção é que as diferenças de gênero perpassam o
nível de instrução literária da sociedade. Mesmo na universidade que supostamente seria um
ambiente de construção de conhecimento, ainda na contemporaneidade verifica-se casos de
assédio, violação e todas as outras formas de violência contra a mulher.
Como verificamos as diferenças de gênero se manifestam nos mais diversos espaços da
sociedade, inclusive no mercado de trabalho. Entender quais as perspectivas das mulheres e sua
vivência nos ajudam a compreender como o patriarcado também é uma das formas de
exploração, atingindo de forma desigual homens e mulheres economicamente.
E1
Não, porque por exemplo. Eu vejo os poucos homens que tinham na nossa turma e alguns deles já
conseguiram trabalho e não é proporcional a quantidade de mulheres que não conseguiram trabalho.
Parece que os poucos homens, a maioria já conseguiram e as mulheres não. Isso está relacionado com o
machismo no geral, que envolve tanta política, no sentido de criar políticas públicas e lidar com o
próximo, parece que o homem tem muito mais valor na fala e é mais respeitado do que mulher, então eu
acho que é por aí.
E2
Não. Na verdade é engraçado isso, porque essa minha percepção de que não terei as mesmas chances elas
vem muito mais das leituras, do que por experiências próprias, porque é muito difícil você perceber
sexismos. Então se você for fazer uma entrevista em uma empresa, você não consegue saber se aquela
pessoa que está te entrevistando, vai preferir o cara que está depois de você ou não, porque ele é um
homem e você é uma mulher. Mas vendo pesquisas e relatos de outras pessoas e tudo mais, é … eu acho
que não. E por uma perspectiva bastante pessoal, eu estou tentando construir uma profissão e uma
carreira, pensando de forma bastante estratégica e estou tentando jogar com isso, porque é um fato.
Mulheres são vista de uma maneira, homens são vistos de outra, uns tem maior preferência para alguns
tipos de coisas e mulheres para outros tipos de coisas. Então, quais os tipos de coisas que as mulheres têm
mais preferências que eu me encaixaria que as mulheres geralmente têm, então por exemplo. Hoje mesmo
eu estava vendo uma portuguesa que trabalha com flores, do campo e ela faz arranjos de flores do campo.
Isso é uma carreira feminina, acho que ela poderia ter uma retórica de sustentabilidade ou de contato com
a natureza, claro. Do meu ponto de vista ela está perdendo por não ter, por só foca nas belezas das flores
do campo, então eu pessoalmente acho que vou escolher uma atividade pra mim que entende essas
características e essas dificuldades das mulheres, e não é nem se aproveitar, porque eu não estou
ganhando exatamente. Mas é abraçando o que a gente tem hoje.
E
E3
Acredito que não, mas como disse nesse aspecto acho que a atitude de uma pessoa pode ser muito
importante, muito transformadora na sociedade. Embora, se observarmos a sociedade podemos descobrir
muitos movimentos, muitas coisas que sim, denotam ou mostram uma desigualdade.
E
E4
Talvez as oportunidades aconteçam, mas as condições serão diferentes, pois há maternidade, jornada
doméstica, há dificuldade de compatibilizar certas circunstâncias.
E
E5
Não só após o término curso, porque não existe uma mudança de posição social. Entende? Eu creio que
minhas possibilidades vão ser desiguais, como sempre foram. Porque eu acho que a sociedade vê, pelo
menos as empresas, a mulher como menos produtiva, porque vai ter filhos e outros aspectos e o trabalho
vai ser sempre em segunda instância.
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71
E
E6
Embora nunca tenha sentido isso no meu percurso pessoal, não tenho duvidas que existe descriminação
no acesso aos postos de trabalho, em todas as áreas. E portanto, sim, creio que dependendo de quem
estiver responsável pela seleção, porque no fundo estamos sempre dependentes da pessoa “por trás do
balcão”, poderá acontecer haver algum desvio na seleção, por se considerar que “um homem” é mais
isto ou mais aquilo do que uma mulher e por isso será mais seguro escolher um homem… e essa
tendência existe igualmente ao contrario, quando se considera ser aquela uma tarefa mais indicada para
mulheres… conclusão, existe sexismo na selecção de trabalhadores. De qualquer forma, e no meu caso
pessoal, e supondo que o meu objetivo será manter-me na área da investigação, não me parece que seja a
área mais afetada por esse tipo de comportamentos, pelo menos avaliando pela quantidade de artigos
científicos escritos por mulheres e publicados em revistas de destaque que me passam pelas mãos
diariamente. E nomes de mulheres associados a obras de charneira e a cargos de direção das revistas, etc.
Mas lá está, essa é uma seleção internacional, revistas internacionais, em que os modos são outros. Em
Portugal as coisas ainda têm muito que avançar.
E
E7
Não vai ser o curso que vai mudar o rumo da sociedade, não é? Já tive no mundo profissional e senti
essas diferenças, agora estou a tirar o mestrado em ecologia humana, não sei se a parte mais social ou de
ecologia existe um núcleo de pessoas em que pensam diferente, espero que sim, que aja uma maior
consciência. Mas a minha experiência no mundo mais business é que ainda não tive essa igualdade
completa. Mesmo tendo trabalhado em um país que foi a Alemanha, que teoricamente a uma maior
igualdade, mas mesmo aí senti diferença.
E
E8
Eu acho que sim, porque eu vou atrás, eu corro atrás das oportunidades. No meu curso anterior tive uma
oportunidade, mas eu não me mudei de cidade porque fiquei grávida.
Com exceção de uma aluna, todas as outras entenderam que não terão as mesmas
oportunidades que homens e consequentemente isso pode ser refletido não só no desemprego,
mas em condições onde a mulher tem salario inferior, pode ser objetivada dentro do seu espaço
profissional e em alguns casos, ainda terem que exercer uma segunda jornada de trabalho não
remunerado no ambiente doméstico. A entrevista E8 respondeu que teria a mesmas condições
de trabalho reconhecendo uma responsabilidade individual no processo de criar oportunidades.
Porém sabemos que a mulher ainda é minoria em diversas áreas de atuação e a mesma
reconhece que devido a uma gravidez não pode exercer determinada função. Então para além de
existir ou não possibilidades, também se faz necessário questionar em quais condições elas
acontecem, tal como referenciado pela entrevistada E4.
Na resposta E2 alguns aspectos chamam atenção, o primeiro é a dificuldade em verificar
as descriminações de gênero, inclusive dentro do ambiente de trabalho, visto que muitas vezes
essas situações são encobertas por outros fatores, como a meritocracia por exemplo. O segundo
é a aceitação das características das mulheres enquanto potencialidades e o uso das mesmas em
uma área de atuação que a sociedade classifica enquanto feminina. O problema que a questão de
gênero discute, se encontra ao limitar os papéis sociais das mulheres á apenas essas funções. E o
último fator é o uso da sustentabilidade enquanto agregação de valores. Como verificamos a
apropriação do discurso verde tem diferentes abordagens, perpassando pelo marketing verde e
pelo greenwashing.
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Após compreender qual a apreciação que as alunas têm a respeito da questão de gênero,
verificou-se a opinião das mesmas referente ao cultivo em forma de monocultura. Como
verificamos no decorrer do texto a monocultura não respeita a diversidade entre espécies e é um
dos meios para a maximização dos lucros e acumulação do capital. Consequentemente o cultivo
dentro desses pilares vai contra os ideais ecofeministas de respeito a natureza e de igualdade
entre os seres vivos.
E1
Eu não entendo muito, mas enquanto participante do NATRA29 eu conheço o SAF , que é o sistema
agroflorestal que traz benefícios para a terra e para o trabalhador também que trabalha com o sistema
agroflorestal que são diversas culturas e a monocultura também, além dos impactos para a terra e para a
natureza, ela economicamente traz prejuízos pro homem.
E2
Horrível, nossa é enfim. Eu penso gente, estamos nos preparando para levar as pessoas para Marte e a
gente não consegue resolver o problema da monocultura no mundo. Não existe porque, a gente já tem um
monte de pesquisas que mostram que é mais produtivo você ter modelos de agricultura que não são
monoculturas. Na verdade todo o problema que amarra e mantém a monocultura em pé é a tecnologia,
porque ninguém quer ficar fazendo trabalho braçal, então na monocultura você tem um monte de maquina
que faz tudo pra você e também a industria dos químicos que quem não faz monocultura são pessoas que
querem trabalhar de forma orgânica e biológica. Enfim, tudo que tem de errado no mundo pode ser
explicado através da monocultura.
E
E3
No que diz respeito aos problemas que há na natureza, na nossa casa, o monocultivo é um dos efeitos que
o homem causa hoje sobre a natureza que é muito desrespeitoso, isso acho que o monocultivo é um
problema bastante grande em vários níveis, no nível da mãe terra e no nível ecológico e ambiental, tem os
problemas de perca de biodiversidade e de destruição do solo. E também da contaminação através dos
químicos, e ao nível social também há uma grande dificuldade alí que é a perca da diversidade das
sementes, que é um link entre o social e o ambiental, porque a biodiversidade de sementes é também uma
diversidade cultural, de riqueza cultural, de possibilidades de criação, de possibilidades de alimentação.
Então acho que é um risco muito grande e monocultivo é uma ameaça a essa diversidade de cultura que as
sociedades têm. Ao nível econômico acho que também elimina possibilidades de dependência e
sustentabilidade para os pequenos produtores familiares e pequenos agricultores.
E
E4
A monocultura extensiva é nociva para qualquer país. No Brasil o agronegócio adota tal modelo ancorado
no uso de agrotóxicos e transgénicos, há uma apropriação da vida, da semente, é péssimo para a soberania
alimentar da população, produtores campesinos, consumidores, é uma falácia e crime ambiental.
E
E5
É prejudicial ecologicamente falando, porque havendo só uma espécie de plantas nem todos os animais
poderão ocupar aquele espaço e com isso pode haver o aumento de pragas. O certo seria um ecossistema
diverso.
E
E6
É contraproducente e insustentável. É um modo de cultivo que pretende maximizar a produção de
uma determinada espécie, em detrimento de todas as outras. Eliminando-as de formas artificiais, ou
deixando que o crescimento da espécie alvo vá gradualmente dizimando as espécies anteriormente
existentes, por exemplo através do ensombramento de espécies que precisam de sol, ou do forte
enraizamento que passa a dominar o subsolo. Estou obviamente a referir-me a espécies vegetais… defeito
de formação. É uma técnica que por valorizar uma só espécie, através da sua dispersão leva ao
esgotamento dos recursos de que essa espécie depende para se manter. Esse esgotamento pode ser
colmatado através da introdução artificial desses recursos necessários ao crescimento da espécie, contudo,
e por isso mesmo, a monocultura a breve trecho tenderá a tornar o sistema caro e insustentável, pela
destruição de recursos primários como o solo. Outras questões se levantam em ambiente de monocultura,
como a propagação de doenças e pragas que, perante a falta de diversidade específica, arrasam por
completo essa comunidade mono específica. Tudo se resume a isso mesmo: sistemas monoculturais, ou
29
“Núcleo Agrário Terra e Raiz é um Extensão Comunicativa da Universidade Estadual Paulista, Campus de Franca.
O Núcleo desenvolve atividades em um assentamento e um acampamento da Reforma Agrária na região de Franca e
Ribeirão Preto – SP, tais como: ciranda da terra com crianças; aulas de informática e ações culturais com jovens e
adultos; rodas de conversas com as mulheres para discutir temas sobre gênero; Cinema da Terra que consiste em
exibição de filmes e posterior debate com todas/os”. (Lozzi e tal 2015, 01)
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pouco diversos, são necessariamente sistemas mais frágeis e condenados ao desaparecimento ou à
necessidade eterna de adição artificial de recursos.
E
E7
É errado claro, porque vivemos em um mundo de diversidades e tudo que é mono é mau [risos]. Porque
mono está a nos limitar e pode ser no que comemos e principalmente no que nos comemos tem efeitos
enormes a nível de saúde e a nível do planeta e isso já reflete não é? Nas doenças que adquirimos e nas
manifestações que tem no planeta. Porque o planeta é feito de biodiversidade e plantar uma cultura só,
tanto tem efeitos a nível do solo, que o solo acaba por começar a rejeitar, então é necessário químicos, que
exigem ainda mais do solo. E depois, a nível de ecossistemas que não existe o efeito da chuvas, efeito da
vaporização não acontece como deveria acontecer, não existe uma simbiose entre plantas que permitem o
ecossistema funcionar naturalmente. Ou seja, é o pior que poderíamos fazer para o planeta e para nós.
E
E8
Em Franca (São Paulo, Brasil) é propício para o cultivo do café, não seria propício para arroz ou feijão.
Pro ambiente seria bom ter todos os tipos de cultivo, atrair mais pessoas para a cidade e gerar mais
dinheiro.
Na primeira resposta a entrevistada E1 apresenta o SAF (Sistema Agroflorestal)
enquanto modelo alternativo de cultivo, que compreende no uso de sistemas produtivos
agrícolas, pastoril e florestal realizados de forma conjunta e integrada para uma reprodução mais
diversificada do ecossistema. Assim como o SAF, outras práticas de cultivos como a
Permacultura30
, rompem com esse modelo de plantio que preza pela maximização de lucros e
agride o solo e o ambiente de forma geral. (Ulate 2013, 4)
Alguns aspectos para a manutenção e propagação da monocultura foram identificados
nas respostas E2 e E6. O primeiro é a automatização no ambiente de trabalho e o segundo é o
uso de químicos. A automatização da mão de obra na agricultura é uma extensão do que
acontece no mercado, mas que se intensificou durante a chamada “Revolução Verde31
”. Mesmo
com os avanços tecnológicos, nos vemos em um cenário onde 53% da produção mundial de
oleaginosas e 38% da produção de cereais é destinado ao alimento de animais na indústria
pecuária32
. Além disso, 1.3 milhões 33
de toneladas de alimentos são desperdiçadas ao ano.
Esses dados mostram que para além da quantidade de alimentos produzida, é necessário colocar
em questão outros fatores como a distribuição de renda, o consumo, a insegurança alimentar, a
desigualdade social e a sociedade de classes, todos esses aspectos são essenciais para
30
“Permacultura é um sistema de planejamento para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em
equilíbrio e harmonia com a natureza. Surgiu da expressão em inglês “Permanent Agriculture” criada por Bill
Mollison e David Holmgren na década de 1970. Hoje propõe uma “cultura permanente”, ou seja uma cultura que visa
a nossa permanência neste planeta em harmonia com a natureza”. (Santos e Venturini 2017, 1) 31
“Termo utilizado por William Gaud diretor da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
(USAID) em 1968 para nomear os avanços tecnológicos e de logística na agricultura”. (Coelho 2014, 1) 32
Dados obtidos através do relatório The Impact of Industrial Grain Fed Livestock Production on Food Security: an
extended literature review de 2012 (Erb, Karl-Heinz et al. 2012, 32). 33 (FAO 2013, 6)
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compreender a problemática que gira em torno da fome34
, situação que a sociedade ainda não
superou.
Além da degradação do solo através do uso de químicos, na resposta E3 nota-se uma
preocupação com a perca da diversidade nas espécies de sementes e a afirmação de como o
nosso alimento reflete diretamente na construção cultural de nossa sociedade. Essa preocupação
representa um fenômeno da contemporaneidade sobre o uso de sementes transgénicas35
. Um dos
motivos da insegurança em torno do uso desse novo tipo de alimento é a insuficiência de
estudos sobre o impacto que esse consumo tem sobre a saúde humana. A aluna ainda destaca a
posição de inferioridade a nível econômico que os pequenos produtores, com destaque para a
agricultura familiar, se encontram quando comparados a monocultura extensiva.
Outro aspecto a ser destacado na resposta E3 é a forma de como a aluna se refere a
natureza, nomeadamente como “nossa casa” e “mãe terra”, isso revela uma relação diferenciada
e uma percepção de ambiente que não se verificou nas outras alunas (com exceção da entrevista
E7).
Três das entrevistadas descreveram o quanto esse modo de cultivo é prejudicial ao solo
e que esse recurso é finito. Além do envenenamento do mesmo através de químicos, da injeção
de fertilizantes de forma exagera, do forte enraizamento de vegetais, as entrevistadas ainda
citam uma interrupção no processo de reciclagem de nutrientes e o desenvolvimento de pragas.
Todas as entrevistadas entenderam que a monocultura não é a forma de cultivo com
maior vantagem ecológica. Ao realizar uma análise semântica das palavras utilizadas para
expressarem sua opinião isso fica ainda mais explícito e algumas das palavras usadas foram:
“horrível”, “contraproducente”, “falácia e crime ambiental”, “desrespeitoso”, “insustentável”,
“ruim”, prejudicial” e “a pior coisa que poderíamos querer para o nosso planeta e para nós”.
Conforme verificamos o fator econômico é uma das causas para a propagação do
cultivo da monocultura extensiva. Isso nos faz pensar em outros contextos onde o capital pode
se tornar potencializador da degradação ambiental e assim, as alunas foram questionadas sobre o
impacto que o consumo de bens e serviços pode ter sobre a natureza de acordo com suas
perspectivas.
34
Para mais detalhes verificar: Global Report on Food Crises. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-br323e.pdf 35
“Transgénicos são plantas criadas em laboratório com técnicas da engenharia genética que permitem "cortar e
colar" genes de um organismo para outro, mudando a forma do organismo e manipulando sua estrutura natural a fim
de obter características específicas”. Denifição disponível em: http://www.esquerda.net/dossier/12-perguntas-e-
respostas-sobre-transgenicos/16911
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E1
Sim, porque o homem pensa em cada vez mais produzir aquilo que um dia pode acabar para manter seu
conforto por mais tempo. Ele acaba deixando de se preocupar com a natureza e com as coisas que ele pode
produzir de forma natural, porque ele pode produzir mecanicamente em fábricas. Então eu acho que tem
relação.
E2
Sim, com certeza. Em compensação eu fico pensando em qual a solução. Eu sou culpada de hipocrisia
porque eu sei que tenho que morar em cidade grande, porque eu nasci e fui criada em uma e não consigo
ser feliz em uma cidade pequena. O meu estilo de vida precisa de um monte de bens que eu tenho certeza
que são muito prejudiciais para o meio ambiente. Sim é isso, eu abracei a culpa.
E
E3
Podemos dizer que o ponto de origem de onde nasce todos os problemas ambientais é pelo tipo de vida que
levamos, o consumo, esse estilo de vida ocidental, onde estamos a consumir muitíssimo mais do que a
natureza pode sustentar.
E
E4
Também, sobretudo o modo de produção em massa.
E
E5
Em grandes quantidades sim, porque vai acontecer uma exploração maior dos recursos naturais.
E6
Definitivamente sim. O consumo despoleta a oferta… se se compra mais de um determinado produto esse
vai ser produzido em maior quantidade… lei da oferta e da procura. E nos nossos dias a produção de uma
forma geral é efetuada no sentido da maximização do lucro, sendo o esforço posto no menor gasto para o
maior ganho. Dessa forma a produção, seja do que for, alimentação, vestuário, objetos utilitários, não
procurará primar pela qualidade mas sim pela quantidade ao menor custo. A produção de monoculturas, já
aqui referidas, por exemplo, é um dos reflexos deste modelo com grandes consequências ao nível da
degradação dos recursos naturais. Ao mesmo tempo, implementou-se a política do descartável. Lá está,
produção de baixa qualidade a baixos preços e com qualidade suficientemente baixa para que haja
recorrência na compra, para que sejam necessárias frequentes substituições do produto no lugar dos
tradicionais arranjos: “tenho de pôr a arranjar” “levar à costureira, ao mecânico, ao sapateiro…”, o que
for… caiu em desuso, uma vez que comprar novo – e de fraca qualidade – sai mais barato. Isso fomenta a
utilização do plástico, produto produzido com petróleo. Para além das consequências ambientais dos furos
para extração do petróleo, veja-se a acumulação de plástico que está a acontecer a nível mundial. Nem
todo o plástico é reciclável e nem todo o plástico reciclável é reciclado… a sua degradação natural não se
faz, à nossa escala temporal, pelo menos. Sem me alongar mais neste tema, sim, a resposta é sim.
E7
Sim, depende do tipo de serviço, se for algum serviço que está a trazer algum prejuízo para a natureza ou o
consumo exagerado de algum bem é negativo. Porque o planeta tem limites, a nível de recursos naturais. E
os serviços que se refletem nesse consumo de bens naturais exageradamente claro que trás um problema,
que é o caso que está a acontecer. Por isso o consumo exagerado, é algo que já sabemos que não vai durar
para sempre, principalmente quando sabemos que em países emergentes em que a classe média está a ficar
cada vez maior, tipo países como China e Índia, que são muito mais que nós. Vai chegar a um ponto de
ruptura, por isso sim, é prejudicial.
E
E8
Afeta muito o ambiente, porque quando a matéria prima fica escassa o ambiente é o primeiro a sofrer.
Na resposta E1verificamos um processo de distanciamento entre o homem e o produto
de seu trabalho. Um dos fatores que a aluna apresenta para isso é o uso de máquinas na
execução de um trabalho que foi ou poderia ser feito de forma manual. Esse estranhamento
remonta a alienação do trabalhador que Marx explicitava: “A apropriação do objeto aparece
como alienação a tal ponto que quanto mais objetos o trabalhador produz menos pode possuí-
los, sendo dominado pelo seu produto, o capital”. (Marx 1982,81).
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Na entrevista E6 verificamos que o processo de produção que busca a maximização do
lucro, característico do modo de produção capitalista é um dos fatores que potencializam a
degradação ambiental, através do uso de tecnologias, da contratação de mão de obra barata, da
baixa qualidade dos produtos e outros. A obsolescência programada que seria “a redução
artificial da durabilidade de produtos ou do ciclo de vida de seus componentes, para que seja
forçada a recompra prematura” é outro fator que a entrevistada aponta como um dos
intensificadores do consumismo. (Miragem 2013, 325)
O crescimento populacional e da classe média em países emergentes enquanto um dos
agravantes no consumo é um dos argumentos que a entrevistada E7 destaca. Segundo o “PNUD,
entre 1990 e 2010, a classe média que vive nos chamados países do Sul (a forma como o PNUD
se refere às nações emergentes) passou de 26% a 58% do total desse grupo no mundo. Até 2030,
80% desse segmento social deverão viver nesses países e responder por 70% do consumo do
mundo”. (Paula 2013, 01)
Assim como entender a apreciação das entrevistadas perante a relação consumo e
ambiente, a pesquisa buscou verificar se as mesmas compreendiam que a questão de gênero
seria ou não um fator a ser considerado nessa análise e se para as alunas algum dos gêneros
possui ou não práticas de consumo com escolhas mais conscientes.
E1 Eu acho que aí está envolvido mais uma questão de classe, do que de gênero. Mas não sei explicar.
E2 Complexo de novo, porque eu acho que depende muito das diferentes culturas. Mas eu acho que sim, no
geral. A ideia da construção da mulher, não sei se na atualidade, hoje em dia existe muita atenção a
questão da sustentabilidade, então acho que as próximas gerações estão vindo mais conscientes. A ideia de
uma mulher de 40 anos hoje foi criada achando que ela tem que se maquiar, que ela tem que ter vários
sapatos e várias roupas e que enfim, tudo isso gera um consumismo, porque ela tenta atender as
expectativas da sociedade ao redor dela. O homem em compensação nem tanto e dependendo da cultura
que você está inserido, tem essa coisa do homem desbravador sabe? O homem que vai acampar, que vai
caçar, principalmente aqui na europa a coisa da caça. Da pesca, para trazer peixe para casa. Do homem que
vai para o mato e está tudo bem sabe. Mesmo entre as pessoas que são híper sustentáveis, é só ver no
instagram assim. Quem são os fotógrafos? Porque agora estou prestando muita atenção em fotografia,
todos os fotógrafos de aventuras são todos homens, são eles que vão acampar nas montanhas, são eles que
vão fazer trekkings infinitos, são eles. Porque a mulher ainda não faz parte da cultura de desbravamento da
natureza.
E3 Acho que se calhar não é tanto uma questão de gênero, mas de classe e entornos sociais e partilha de
preocupações no seu entorno, quando as pessoas se interessem pela natureza, homens e mulheres iguais.
No âmbito do consumo, a mulheres que também consomem muitíssimo, muito mas do que preciso e
homens da mesma forma.
E4 Ambos consomem, há um hábito de consumir na sociedade.
E5 Pra mim o ato de consumir não tem um sexo muito definido, como era no passado. Eu não vejo o consumo
ligado a um sexo.
E6 Sem querer generalizar, e apoiando-me apenas na minha realidade, creio que existe maior tendência dos
homens para o consumo de carne. Por outro lado, e mais uma vez sem querer generalizar, parece-me
igualmente que existe uma maior tendência das mulheres para a poupança, para a escolha baseada na
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77
qualidade mas também nos gastos.
E7 Talvez, homens e mulheres consomem muito. A mulher porém tem uma sensibilidade maior durante as
escolhas ligadas a natureza.
E8 Depende, mulher gasta mais, consome mais e com isso consome mais sacolas e afeta o meio ambiente. O
homem consome menos. Depende do ponto de vista também né? Como te disse o homem consome, sem
consciência, deixa o lixo em qualquer lugar. Mas as mulheres consomem mais.
Em uma análise geral das respostas nota-se que parte das entrevistadas designam o
consumo a uma questão de classe ou não fazem propriamente uma diferenciação de gênero. Já a
outra parte confirma que a mulher consome de forma igual ou até superior ao homem.
A entrevistada E2 justifica o consumismo feminino enquanto uma construção social da
mulher e do seu tipo ideal em determinas culturas e ainda acredita que essa representação muda
de acordo com a faixa etária. A entrevistada ainda complementa que os homens dividem uma
relação com a natureza na posição de “desbravador”, onde a caça e a pesca, a busca pelo próprio
alimento e da família se fazem presentes.
Na entrevista E6 a aluna chama atenção para o fato dos homens comerem carne em
maior quantidade. Uma pesquisa realizada em 2006 com 47.557 pessoas nos 26 estados e
Distrito Federal do Brasil vem corroborar essa tendência, mostrando que além das mulheres
consumirem alimentos mais saudáveis de forma geral, os homens tem um consumo superior no
que diz respeito a carnes gordurosas, bem como a adição de sal a comida pronta (52,7% vs
30,06%, p<0,01; e 9,8% vs 6,9%, p<0,01, respectivamente). (Castro 2012, 09)
Como foi verificado na resposta E2 e no decorrer do trabalho, as entrevistadas notaram
um aumento da preocupação relacionada a problemática ambiental e com isso a ampliação de
práticas destinadas a diminuição da degradação ambiental. Dessa forma as entrevistadas foram
questionadas se acham ou não possível um Desenvolvimento Sustentável na sociedade atual.
E
E1
Eu não acredito na sustentabilidade, porque eu penso que é uma forma do homem dar permissão para a
destruição, como se ele fosse repor depois. Isso da margem para muita coisa errada, então eu não acho
uma coisa saudável.
E2
Não, sou bem pessimista. A única solução radical é diminuir a população da humanidade. Que só vai
acontecer se um grande desastre acontecer, vai ser bem complicado isso. Não existe modelo sustentável,
eu sou uma grande questionadora das ecovilas por exemplo, porque elas são lindas do ponto de vista
pessoal. Então você vai lá e fala: Eu escolhi esse estilo de vida que é mais sustentável. Ótimo, mas não
funciona como uma proposta para a sociedade como um todo, porque não da para imaginar que todas as
pessoas vão abrir mão do estilo de vida delas, para viver em uma ecovila. Estamos perdidos, não acredito
que vamos alcançar uma sustentabilidade.
E
E3
Acho que sempre temos essa fé de poder melhorar, em termos reais hoje em dia é muito difícil … em
termos globais. Mas sim, confio nas pequenas mudanças a nível local, hoje em dia temos a perspectiva
global, então cada vez mais fazer mais mudanças a nível íntimo, o que cada pessoa pode fazer no seu
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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círculo próximo e da sua vida.
E
E4
Não acredito que seja possível um desenvolvimento sustentável sob os pilares da sociedade capitalista e
de classes, acredito na via do rompimento e construção de outras perspectivas.
E
E5
Sim, depende das atitudes e caso as pessoas mudem o comportamento.
E
E6
Eu creio que a mudança é possível. Mas que o percurso é longo e terá de se iniciar, como já está a
acontecer alias, pelo “local”. Existem já vários exemplos de empresas produtoras de bens alimentares,
agrícola sobretudo, que recorrem por um lado a fontes de energia renováveis e que recorrem ao
conhecimento científico para implementar técnicas de baixo impacto no solo e na atmosfera, com
baixo recurso a fertilizantes e outros que tais. Há muita gente neste momento a trabalhar para
conceber e implementar soluções alternativas ao modelo vigente e às técnicas de produção vigentes. Para
além de cada vez maior tendência das pessoas para quererem controlar o que consomem, produzindo
elas próprias ou adquirindo o mais próximo do produtor possível. Creio que o papel do consumidor é
fulcral aqui.
E7
Já sabemos que o termo desenvolvimento sustentável está a ser interpretado de diversas formas, mas se
estiver a falar de um desenvolvimento sustentável em que consigamos viver de forma saudável e que
consigamos utilizar os recursos de uma forma de reciclagem em que se fala muito da economia circular,
em que tudo que tiramos da terra repomos a terra. Se isso chamar desenvolvimento sustentável eu acho
que começam a existir diversos projetos nesse sentido, a questão é: quanto tempo para atingir esse tipo de
desenvolvimento a uma grande parte do planeta? A minha opinião é que, não quero estar a ser cética ou
pessimista, mas eu acho que vai ser bem difícil no tempo que precisamos, vai ser bem difícil. Mas não
quero perder a motivação de que poderá ser possível se cada um começar a ter essa consciência cada vez
maior. Por isso é preciso alimentar nas pessoas esse tipo de mentalidade e sabemos que o mercado
financeiro é gerido pelas necessidades das pessoas. Enquanto as pessoas ainda aceitarem o mesmo, que é
consumir exageradamente, então as empresas vão continuar a produzir dessa forma. Começa pelas
pessoas.
E
E8
Sim, mas depende da educação desde criança. Ou pessoas mais velhas que tenham a cabeça aberta para
poder mudar os hábitos de consumo.
Na resposta E1 a entrevistada faz uma análise da apropriação do termo sustentabilidade,
que pode ser usado de forma indevida. Como verificamos no decorrer do trabalho uma dessas
práticas é o greenwashing, onde empresas se apropriam do “discurso verde” com o objetivo de
maximização do lucro através da venda de produtos e serviços, porém as práticas relacionadas a
produção ou comercialização desses mesmos produtos não são pensadas de forma ecológica.
Já na entrevista E2 verifica-se um questionamento da aplicação de um dos estilos de
vida alternativos (o que seria uma das possibilidades para um desenvolvimento sustentável,
visto que questionam a sociabilidade da forma que está posta na contemporaneidade) em ampla
escala, nomeadamente as ecovilas36
. A entrevistada ainda coloca o crescimento populacional
como um dos problemas atuais e que consequentemente reproduz e amplifica os impactos que a
humanidade causa no ambiente, tal como verificamos isso reflete no aumento da classe média e
consequentemente na forma de consumo nos países emergentes.
36
“(…) uma grandeza humana, um povoado autônomo no qual as atividades humanas são harmoniosamente
integradas na natureza, de forma a promover um desenvolvimento humano saudável e que possa ser mantido
indefinidamente.” (Gilman 1991, 10):
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Além de colocar as mudanças locais em perspectiva, na entrevista E3 verifica-se a
parcela de atitudes e ações em que o indivíduo pode contribuir no seu contexto social. Como
verificamos no decorrer do trabalho mudanças individuais representam o aumento do cuidado
com questões ligadas a problemática ambiental, mas ao mesmo tempo a culpabilização do
indivíduo de forma isolada não é o bastante para atingir mudanças a um nível ecológico mais
profundo, principalmente porque nesse fenômeno verifica-se a isenção de responsabilidade do
Estado, tal como do mercado.
A entrevistada E4 diz ser impossível a sustentabilidade na sociedade contemporânea
que tem com base o modo de produção capitalista. Essa análise vai de encontro com os mesmos
motivos que Lima aponta que são: a incompatibilidade entre os tempos biofísico e econômico; a
dificuldade da intervenção do Estado em relação ao mercado, na elaboração de diretrizes que
façam restrições econômicas e a incapacidade de responder à crise social. (Lima 2003, 106).
Além de destacar o papel do consumidor enquanto fulcral, a entrevistada E6 aponta
práticas alternativas como forma de baixo impacto ambiental, nomeadamente ela cita o uso da
tecnologia na criação de fontes de energias renováveis 37
à nível local. Portugal vem mostrando
avanços nesse tipo de energia, em 2015 comparando com outros países da EU, Portugal foi o
terceiro país da EU-28 com o melhor desempenho na incorporação de energias renováveis no
setor da eletricidade. (Agência Portuguesa do Ambiente 2017, 1).
A entrevistada E7 trás o conceito de necessidade e como o mercado responde aos
anseios da sociedade. Porém como vimos no decorrer do trabalho, um dos aspectos a serem
analisados ao pensarmos nas implicações das necessidades na contemporaneidade é o
reconhecimento do mercado enquanto criador dessas carências e não restringido o mesmo
enquanto resposta, principalmente porque o capital se apresenta enquanto uma das molas
propulsora da economia.
Na última resposta a entrevistada E8 apresenta a educação enquanto uma ferramenta de
transformação social. Nesse sentido a Educação Ambiental 38
se mostra uma das alternativas
que visa mudança nas práticas de consumo, no trato do lixo produzido, na reciclagem e
atitudes, buscando uma sociedade mais sustentável.
37
“Fontes de energia renováveis são as provenientes de recursos naturais que se renovam de forma natural e regular,
de um modo sustentável, mesmo depois de serem usadas para gerar eletricidade ou calor. São exemplos a água da
chuva, o vento, a biomassa, o Sol, as ondas do mar e o calor da Terra”. (Agência Portuguesa do Ambiente 2017, 01) . 38
“Educação Ambiental desponta na perspectiva de gerar novos valores, visando a construção da racionalidade
ambiental, objetiva ainda inserir nos processos educativos temas que discutam e promovam a melhoria do ambiente e
da qualidade de vida... surge como instrumento capaz de provocar na sociedade as mudanças de comportamento
requeridas pela realidade ambiental.” (Martins, 2004, 53).
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Tendo em perspectiva a concepção das entrevistadas no que se refere a questão de
gênero e ambiente, as mesmas foram questionadas sobre o ecofeminismo e a relação entre
mulher e ambiente. Esse questionamento teve o objetivo de compreender se essa teoria se
materializa na sua vivência e na percepção que as mesmas têm enquanto mulheres e estudantes
da área ambiental.
R
E1
Não conheço.
E
E2
Conheço, é … confesso que nunca parei para pensar como eu me coloco em relação ao ecofeminismo.
Acho que o raciocínio faz sentido, de que o homem subjuga a mulher, da mesma maneira que subjuga a
natureza e etecetera. Mas confesso que se o discurso ficar só em torno do ecofeminismo … Porque gente
hoje a distância entre homem e natureza é tão grande, tão grande, em termos de igualdade e as questões
feministas não são tão distantes. Então se a gente ficar falando de ecofeminismo, eu acho que o feminismo
vai se aproximar, ou seja, a mulher vai se aproximar da igualdade com o homem, mas eu não acho que a
teoria sustenta uma mudança de paradigma grande o suficiente para você conseguir enxergar plantas em pé
de igualdade com o ser humano.
E
E3
Tenho ouvido falar de ecofeminismo e o que entendi é basicamente a relação dos problemas sociais com a
discriminação da mulher e o esquecimento da mulher e da sua importância, assimilasse com o
esquecimento da importância e falta de sensibilidade com a mãe terra. E acho que a visualização em
conjunta das duas coisas, da importância das duas coisas, acho que é muito importante que cada vez mais
seja mais visibilidade, de forma pacífica, com informação e debates.
E4 Sim. Muito importante e necessário para romper com o modelo de agronegócio, e para além disso, pautar
uma estratégia produtiva agroecológica, de respeito à natureza, e criar outro espaço de sociabilidade de
vida.
E
E5
Na verdade eu conheci o ecofeminismo ano passado, até então eu desconhecia o termo.
E
E6
Conheço… não aprofundadamente contudo. Creio que se baseia na premissa de a mulher ter uma relação
mais próxima com a natureza, também relacionada com o ciclo reprodutivo e com a maternidade. Esta
relação superior com a natureza foi atacada, por feministas inclusivamente, que punham em causa por um
lado o excesso de misticismo, que retiraria alguma da seriedade aos argumentos feministas, e por
outro, o retrocesso que a imersão da mulher na natureza, digamos assim, significava ao voltar a
colocá-la no papel de mãe, cuidadora, etc. algo que tinha sido alvo de luta até aí. A meu ver, a existência
de movimentos com ideologias que desafiam o status quo, digamos assim, são importantes, por
desnivelarem a média do que é usual e aceitável “pensar-se”. É esse o motor da mudança. São eles que
provocam e iniciam a discussão. Que introduzem questões que ao serem discutidas moderam as
actualmente vigentes. Portanto, desde logo, sim, considero que se trata de um movimento importante.
Neste caso, considero mais importante ainda por se tratar de uma luta a meu ver já longa e ainda muito
actual, que é a luta pela igualdade de género.
E
E7
Bom, eu ouvi falar, principalmente na sala de aula, mas devo confessar que antes não estava muito
consciente dessa relação. Não estou bem certa do termo, a relação entre mulher e natureza ou entre
ecologia e feminismo, normalmente existe uma proximidade maior entre os dois. E as diferenças, é
necessário que as notemos, que as tomemos como verdadeiras e não as negar. Mas essas diferenças não
significam que devem ter diferenças a nível de direitos e é o que esta a acontecer, principalmente com as
nossas diferenças genéticas e talvez essa maior afinidade com a natureza, em relação a mulher. Põe na em
uma posição mais sensível, em uma posição mais débil, então talvez por aí tenhamos essa sociedade
ambiental. Mas o que está acontecer é que a mulher como se sente nessa posição débil tenta equiparar-se
ao homem e comportar-se como homem, a nível profissional vê-se muito isso. O que ainda exige mais dela
e não está fazer respeitar o que é dele essencialmente, então eu acho na minha opinião que o ecofeminismo
traz essa consciência que somos diferentes, mas não podemos fazer a diferença uma inferioridade um
relação a eles. É a vontade de assumir todas essas diferenças para vivermos em equilíbrio com a natureza e
com o gênero masculino, entre o gênero masculino e feminino. Então na minha opinião o ecofeminismo
trás essa consciência de respeitar essas diferenças e de assumi-las, não como uma deficiência ou uma
debilidade, mas como uma força que a mulher tem muito interior, e a mulher não esta a reconhecer essa
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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força interior, pelo contrário, esta a tentar achar uma força que não é dela, que é do homem. É uma força
ilusória que a sociedade está a provocar, por isso todo sentido no ecofeminismo.
E
E8
Não ouvi, mas tenho interesse em pesquisar.
Mesmo fazendo sentido falar em ecofeminismo e na opressão que natureza e mulheres
sofrem pelo poder patriarcal, a entrevistada E2 chama atenção para o distanciamento entre
natureza e seres humanos. Atualmente tal como a aluna nos descreve, vemos uma aproximação
entre os gêneros principalmente a nível de direitos sociais, porém os direitos ambientais ainda
reproduzem a ideia da natureza enquanto um bem e não em posição de igualdade. Dessa forma,
a aluna aponta que apenas o ecofeminismo enquanto alternativa para uma sociedade mais
sustentável não é o bastante, principalmente no que diz respeito as questões do ambiente.
O ecofeminismo de acordo com a entrevistada E3 é composto por um conjunto de três
aspectos: os problemas sociais, a discriminação e o esquecimento da mulher e por último, a falta
de sensibilidade com a mãe terra. Colocar esses três aspectos em uma perspectiva, além de
exemplificar questões que o ecofeminismo discute, traz uma visão conjunta de problemas
característicos da contemporaneidade e que segundo a entrevistada se mostram importantes para
a visibilidade e consequentemente a busca por soluções e políticas que no mínimo amenizem
essa problemática.
A entrevistada E6 reflete sobre a problemática do ecofeminismo clássico e a ideia de
ligação entre mulher e natureza por meio da biologia. De acordo com a entrevistada para as
feministas seria um retrocesso devido ao excesso de misticismo que colocaria a mulher restrita
novamente aos papéis sociais de mãe e cuidadora. No decorrer do nosso trabalho apontamos
esse mesmo tipo de preocupação, visto que em vez de romper com estereótipos de gênero, essa
linha de pensamento pode ser usada como uma reprodutora desses ideais. Vale pontuar que
além da teoria clássica, existem outras perspectivas como a construtivista, onde nota-se uma
mudança de paradigma e as questões de gênero passam a ser o centro das discussões entre
mulher e ambiente.
Assim como na entrevista E4, a aluna ainda chama a atenção para o fato desse
movimento ser um questionador do status quo e assim, possuindo uma visão crítica com o
objetivo de discutir os pilares que sustentam a sociedade e que perpassam as relações sociais, de
gênero, de classe, raça, etnia e casta.
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Na entrevista E7 a aluna resgata alguns ideais ecofeministas e reproduz o pensamento
de características e comportamentos de gênero. Ao mesmo tempo que aceitar as diferenças é
uma forma de empoderamento e de aumentar as potencialidades, existe um pequeno problema
ao reproduzirmos e separarmos comportamentos através de gêneros. A consciência das
diferenças biológicas e sociais e a relação que as mesmas compartilham com o ambiente se
fazem importantes, mas na mesma proporção não se pode limitar em uma classificação de
gênero, o que cabe aos homens ou mulheres. É importante ter como norte uma sociedade igual e
livre de conceitos que rotule pessoas impossibilitando um desenvolvimento de forma diversa e
sustentável.
Continuando as perguntas com o objetivo de compreender a visão das entrevistadas
frente ao ecofeminismo, as mesmas foram questionadas se as mulheres possuem ou não uma
relação diferenciada com a natureza.
E1
Sim, tanto por conta de crença, religião por exemplo. Por conta da relação de maternidade mesmo. Talvez
até soe meio machista o que estou dizendo, mas a maternidade e alimentação, a sensibilidade que a mulher
tem. Acho que de troca e semelhança, ela consegue se ver na natureza e sua importância. Tanto no sentido
amplo, tanto na vida das mulheres quanto dos homens, na vida de um coletivo, da sociedade.
E2
Não, não, não, não gente. Isso foi criado pela cultura. Sim, temos diferenças biológicas e talvez por causa
das diferenças biológicas a gente tenha mais sensibilidade ou preste atenção em alguns elementos que os
homens, por serem mais distantes daquelas questões não prestam. Mas eu não acho que isso seja, eu não
acho que a mulher seja especialmente próxima da natureza de nenhuma maneira, além do que a cultura
acredita que sim. Então é isso.
E3
As mulheres têm a maternidade e conter dentro de nós vida e gerar vida, é uma força muito importante e
que de alguma maneira por ter essa característica biológica, e também cultural, temos desenvolvido todas
essas tarefas de cuidado e proteção do bem estar da família, da saúde da família e ser especialmente, dar
amor e várias coisas. Acho que as vezes as mulheres tem certa sensibilidade e aproximar da natureza e
assim podemos compreende-la. Também acho interessante também poder ver a parte dos homens e cada
vez partilhar e focar na integração e ver menos as diferenças.
E
E4
Talvez, pela ancestralidade do cuidado com a mãe terra, ou pelo seu lugar que coube na divisão social do
trabalho, de cultivar
E
E5
No que diz ao misticismo sim, porque tem relação com a mãe terra e outros aspectos. Mas, eu não acredito
que tenha.
E6
Creio que a pergunta aponta para a diferença entre homens e mulheres no que diz respeito à sua relação
com a natureza… creio que não. Creio que talvez pela subjugação a que foram votadas as mulheres ao
longo do tempo, e estou agora aqui a congeminar, a sua relação com a natureza, e com o místico, poderá
de alguma forma ter sido mais desenvolvida, no sentido da busca espiritual – já que física era difícil - de
uma vida melhor. Por outro lado, desde os primórdios que a maternidade colocou as mulheres num lugar
de destaque, tanto pela positiva – culturas matriarcais, focadas e dinamizadas em torno da fecundidade,
atribuindo à mulher um lugar de destaque – como pela negativa – perspectivadas como “ferramentas” de
produção de descendência para o homem. O facto de a gestação acontecer dentro do corpo da mulher
definitivamente coloca-a num lugar de superioridade, na medida em que é uma experiência que o homem
nunca vai ter e no fundo a experiência que garante a continuidade da espécie no planeta. Não retirando à
fertilização, junção dos gametas sexuais masculino e feminino que acontece antes, a sua fundamental
importância, contudo se a gestação corre mal... E deste fato, e de outros associados à biologia da mulher,
como o fato de os ciclos menstruais mimetizarem outros ciclos da natureza, é fácil criar uma posição
mística para a mulher, e uma sua relação com a natureza superior à do homem… mas não é minha
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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crença que assim seja.
E
E7
Sim, primeiro através dos seus ciclos, depois também se calhar da parte da mãe natureza, chamamos de
mãe natureza toda essa proximidade que existe também com gerar filhos, também é bastante integrada com
aquilo que a terra nos oferece. Toda essa energia feminina tem realmente um poder muito forte com a
natureza. Por isso sim.
E
E8
Sim, porque até dentro de casa são as mulheres que cuidam das plantas e jardins. O homem vai para a
natureza para caçar, pescar, destruir. A mulher não.
Três das entrevistadas defendem que as mulheres não possuem uma aproximação
diferenciada com a natureza. Porém todas reconhecem um ou mais aspecto utilizado para a
justificação dessa aproximação, nomeadamente uma construção cultural, o misticismo e o fator
biológico, através da gestação e dos ciclos menstruais. Uma das alunas se posicionou de forma
nem positiva e nem negativa, mas reconhece que a divisão sexual do trabalho pode ter
determinado o lugar da mulher durante o cultivo e com isso existir uma aproximação.
Na resposta E1 a aluna nota que ao reproduzir o pensamento da mulher enquanto mãe e
sensível (justificando assim uma aproximação com a natureza) reconhece que esse tipo de
reflexão pode ter características machistas, resgatando a mesma problemática que a entrevistada
E6 apontou na questão anterior.
O papel da mulher enquanto mãe e o processo gestacional ainda aparece em outras três
respostas. Na resposta número E6 verificamos que de acordo com a entrevistada o papel que a
gestação ocupou ao longo da história teve diferentes importâncias e representações, tanto
positiva (com destaque para as culturas matriarcais), como negativamente.
As entrevistadas ainda responderam uma questão que visava conhecer qual das
abordagens apresentadas mais se aproximava de sua percepção no que diz respeito ao
ecofeminismo e a questão de gênero. Foram fornecidas três opções onde duas das alternativas
reconhecem uma aproximação da mulher com a natureza e a última não: A primeira tem foco
nas relações sociais, a partir da divisão sexual do trabalho; a segunda no fator biológico e nas
opressões que mulheres e natureza sofrem; a última não reconhece tal ligação, afirmando que a
aproximação de homens e mulheres dependem do contexto histórico de cada individuo. O
gráfico a seguir mostra como foi distribuída as respostas:
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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Nota-se que parte das entrevistadas que responderam que o fator social é central no
processo de aproximação com a natureza, reconhecem aspectos biológicos enquanto
justificativa para essa aproximação (mesmo que não concordem) e vice e versa. O mesmo
acontece com aquelas que não identificam o recorte de gênero nesse processo.
Outro aspecto que fornece informações para a compreensão das respostas providas e a
motivação que as entrevistadas encontram ao refletirem sobre a relação entre mulher e natureza
é o compartilhamento das experiências que as alunas dividem com o ambiente e como elas se
veem nessa analogia.
E1
Eu considero que eu estou me aproximando, a nossa relação com a família eu já considero como natureza.
Mas no sentido de fauna e flora, eu tento me aproximar mais, eu tenho hortinha desde o ao passado, eu
comecei a valorizar os alimentos orgânicos. Com a fauna e com a flora, eu amo meu animal de estimação,
não consigo me ver sem ele. E há muito tempo eu venho trabalhando na minha mente a ideia do
vegetarianismo, tento por questão de energética, de energia assim, mas também pelo impacto econômico,
social e politico. Vim trabalhando na minha cabeça o desejo, você não precisa disso... Você não precisa
disso, e a muito pouco tempo, a duas semanas, eu comecei a colocar em prática e agora tudo faz mais
sentido. O não consumo baseado na parte racional, política e econômica. E agora os desejos não existem
também, então eu tenho me sentido muito feliz.
E2 É uma relação bastante paradoxal, porque como eu disse, eu nasci e vivi toda a minha vida em São Paulo,
minha família não tem a menor intimidade com a natureza, eles tem pavor de ir para um parque. E eu claro,
cresci com as mesmas referências e eu não tenho a menor destreza física. Então quando eu fui agora para a
Serra da Estrela e para o Gêres, algumas pessoas sentem muita facilidade para fazer trekking por exemplo, e
eu é um sofrimento absurdo sabe? Caminhar nas pedras, sei lá, é um tipo de intimidade com a natureza que
eu nunca aprendi a ter. Em compensação eu aprendi a ter atenção as pequenas naturezas que a gente tem ao
redor e que geralmente as pessoas não têm noção. Então, para elas irem para a natureza, elas precisam de ir
para um parque nacional, e pra mim sabe? Se eu andar aqui na rua, vou encontrar um tanto de coisas que
pode passar batido para outras pessoas, então é isso assim. Eu preciso morar em uma cidade grande para ser
feliz e, a natureza que eu busco é a do dia-a-dia. Você não precisa de uma viagem para encontrar, você tem
natureza em todos os lugares, só é preciso prestar atenção nisso.
3
2
3
Faz-lhe sentido falar em uma ligação especial entre mulher e a natureza?
Sim, essa aproximação éconstruída socialmente.
Sim, essa aproximaçãotem origem em um fatorbiológico.
Não, a aproximação deambos os gênerosdepende do contextohistórico e social.
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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E3 Na natureza me sinto em casa. Talvez porque acredite que as diferenças culturais, vêm gravadas na nossa
genética, isso é uma coisa que ultimamente tenho lido, ou seja os comportamentos e os padrões de
comportamentos que parece só terem origem no nível social e cultural e que aparecem só através da
socialização das pessoas, na verdade, também são comportamentos que vem na genética das nossas células,
que as nossas mães e as nossas avós e as outras gerações viveram. Então essa relação com a natureza é
ancestral.
E4 É de respeito, em busca da ampliação consciente da sua força. É preciso romper com a ideia de nós e a
natureza, somos um só! Acredito no poder de cura das ervas.
E5 Eu sou suspeita para falar, porque eu sou bióloga. Mas não acredito no misticismo. A natureza traz uma
sensação de relaxamento muito grande, eu sempre gostei desde criança, até porque eu morava em frente a
praia. E isso me auxiliou na minha personalidade, ela é intrínseca a minha pessoa.
E6 Eu considero-me uma pessoa de baixo impacto… e vou explicar o que quero dizer com isto. Não sou uma
ecologista radical nem faço parte de nenhuma ONG ambientalista. Mas tenho os meus princípios e sigo-os
à risca. Por exemplo, desloco-me o menos possível de carro, na cidade a bicicleta e os pés são o meu
transporte, como pouquíssima carne ou peixe, não consumo ovos, a não ser para um bolo eventual em que
escolhos os ovos de galinhas de campo. Quando era mais nova era mais radical nas minhas posições
“ecológicas”. Cheguei a achar que gostava mais de animais do que de pessoas. A verdade é que o meu
percurso profissional me foi colocando alguns desafios, que foram pondo à prova essas convicções. Com o
passar do tempo, e do conhecimento de pessoas incríveis, e que lidam com os recursos de forma incrível,
e de reconhecer no fundo que a interacção interespecífica faz parte da dinâmica do mundo, fui colocando as
pessoas, os da minha espécie, à frente. E creio que essa escolha não tem de ter como consequência o
desrespeito pelas restantes espécies. Simplesmente hoje preocupo-me mais com os “da minha espécie”. E
como tenho a convicção de que o mundo é um todo, em que tudo está interligado, ao preocupar-me com as
pessoas, necessariamente terei de me preocupar com os animais, com os vegetais, com os oceanos… porque
as pessoas não vivem sem esses elementos. Facilmente e naturalmente poderei assumir também um
discurso romântico e ingênuo de como “adoro animais” e árvores e tudo o mais, e entrar na onda de que
é pelo meu amor a eles que tento que a minha conduta tenha o mínimo impacto. Mas na verdade é pelo
meu amor ao próximo e sim ao mundo onde vivemos, que cada dia tento, no mínimo deixar, se não melhor,
pelo menos não pior para que ele possa existir ainda amanhã. No que diz respeito ao meu uso da natureza…
sem dúvida que estar ao ar livre, longe dos efeitos urbanos das grandes cidades, ruídos, cheiros, tendências
comportamentais. E mais próxima daquilo que associamos inevitavelmente ao início, ao início de tudo não
é, antes de se construírem cidades, antes de existirem carros, antes… existiam colinas, rios, vegetação. É
algo que me acalma e que me dá um prazer inatingível noutras situações. De resto, não recorro à medicina
natural, a não ser no básico “chá com mel e gengibre” ou na laranja como provedora de vitamina C, ou
na banana para me dar energia e evitar cãibras… tenho uma alimentação saudável e equilibrada, creio,
e sinto-me bem na minha pele. Creio que se poderá incluir esta preocupação na ideia de “medicina
natural”, no lado da prevenção. Mas não sigo um modo de vida baseado na medicina natural, não. Por
fim, sim, já realizei trabalhos agrícolas pontualmente, participei em várias vindimas, na apanha da batata e
na apanha da azeitona. Com animais… sim, já ordenhei vacas e cabras, também pontualmente. Já pesquei
e já recolhi mel…
E7 A minha relação com a natureza foi um processo em desenvolvimento, em que eu sinto que nesse momento
estou a ter muito mais consciência e entendimento nessa relação, porque tal como muita gente fui educada
em que os pais querem dar o melhor aos filhos e não tem essa consciência muito grande com a natureza.
Vivemos em uma geração no passado em que o importante era extrair da natureza para dar ao ser humano,
sem pensar nos seus limites ou no seu equilíbrio. Para eu ter esse conhecimento começou primeiro com a
alimentação, em que eu senti que não era saudável para o meu corpo determinadas coisas e agora esta a
crescer de uma forma bem mais ampla, no sentido que eu me sinto uma espécie na natureza e não um ser
humano em que controlamos a natureza, me sinto cada vez integrada e a sentirmos nós como espécie, como
um todo. Só uma questão de unicidade, em que estamos todos no mesmo barco, que estamos nesse planeta e
que o temos que respeitar e essa forma de pensar mudou bastante a minha atitude com a natureza. Em que
pra mim ela agora, a um respeito muito grande, é quase como uma crença. É quase como uma religião, as
pessoas acreditam em Deus, eu acredito na natureza, como parte dela. E essa forma de pensar, alterou muitas
coisas, que é o meu consumo, as implicações que tem as relações sociais na natureza, ou seja, trouxe uma
consciência bem maior. Essa é minha relação com a natureza nesse momento, que se desenvolveu dessa
forma mais nos últimos sete anos, foi um processo.
E8 Eu faço trilha, eu gosto da natureza. Me sinto a vontade.
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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Tanto na resposta E1 quanto na E2 verifica-se uma percepção de ambiente e natureza
enquanto um espaço de sociabilidade e não restrito a concepção de fauna e flora, resgatando a
ideia de que o social é fator indissociável ao natural. Além disso agregar aspectos como hortas
residenciais ou até mesmo uma mudança na alimentação, com vista a fazer escolhas menos
prejudiciais ao ambiente (veganismo ou vegetarianismo), já mostram um olhar diferenciado para
a problemática ambiental.
Nas respostas E4, E5 e E6 confirmamos o reconhecimento da natureza enquanto parte
constituinte não só da vida das alunas, mas do espaço que ela ocupa na construção social da
personalidade e do modo de pensar. Nomeadamente verifica-se as expressões: “É preciso
romper com a ideia de nós e a natureza, somos um só!”; “E isso auxiliou na minha
personalidade, ela é intrínseca a minha pessoa” e “tenho a convicção de que o mundo é um todo,
em que tudo está interligado”. Então para além da noção de igualdade, essas frases implicam na
ideia partilha, de identificação e de unicidade.
Algumas respostas mostram a diversidade de como se dá essa relação e reafirmam que
essa troca de experiências entre mulheres e natureza está em constante construção. As
expressões utilizadas pelas entrevistadas revelam isso: “eu considero que eu estou me
aproximando”, “a minha relação com a natureza foi um processo em desenvolvimento”; “Com
o passar do tempo”, “essa é minha relação com a natureza nesse momento, que se desenvolveu
dessa forma mais nos últimos sete anos”.
Como verificamos no decorrer do trabalho a teoria ecofeminista se apresenta enquanto
alternativa na construção de uma sociedade mais sustentável e que luta por uma igualdade de
gênero. Uma das formas para se aproximar desses ideais é a construção de políticas públicas,
dessa forma, as entrevistadas foram questionadas sobre a participação de mulheres no processo
de elaboração dessas políticas.
E1
Muito importante, é uma coisa que eu tenho pensado bastante porque se a política pública é para ser
vivenciada por todos, ela tem que ser criada por todos. Como se constrói uma política pública, sem levar em
consideração a vivência, a experiência, a diversidade? Então eu acho que cada vez mais as minorias têm que
estar obrigatoriamente nas políticas públicas, é uma forma de enriquecer a gestão.
E2
É só ver né? As fotos que mostram os ministros no Brasil e nos EUA e em outros países a predominância de
homens. De novo, acho que tem a ver como uma mistura de preconceito e a criação de homens e mulheres
com características diferentes, então os homens são para passar de cima e de todos, porque eles são
conquistadores e as mulheres são emotivas, porque elas tem que cuidar de tudo e de todos. Então, isso cria
características diferentes e essas características acabam abraçando trabalhos diferentes na nossa sociedade.
Então os governos são um desses trabalhos. Acho que na Inglaterra que tem uma mulher no parlamento que
leva o bebê dela, e ela não está nem aí, ela trabalha com o bebê do lado e acho aquilo maravilhoso. Porque
uma das coisas que cai em cima da mulher é: ah então você quer trabalhar? Então tá bom, você vai deixar
sua filha e sua família em casa? Você vai dar as costas para sua família porque você quer trabalhar igual um
homem? Acho esse pensamento muito antigo, enfim… Acho que é sempre mais difícil para as mulheres do
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Gênero e Ambiente: Reflexões sobre o papel da mulher na questão socioambiental FCSH - UNL
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que para os homens, mas as mulheres que querem ter uma família e que querem priorizar a família igual o
trabalho, elas tem que ter a cara e a coragem de fazer isso acontecer.
E
E3
A voz das mulheres não está muito representada, se estivesse seria muito mais cuidadosa para com o meio
ambiente também. Essa ideia de que o modo económico de vida da cultura ocidental, muito que também
patriarcal no sentido de que predomina esses valores masculinos de produtividade, da terra como extrair e
sem cuidado. O fato do sistema político ser mais masculino, é um reflexo também de que o sistema político é
uma ferramenta econômica do modo de produção capitalista na representação da natureza. Então seria
revolucionário que as mulheres tivessem mais representação e que isso implicasse nas políticas.
E
E4
A representatividade das mulheres (mais de 50% da pop. brasileira é feminina) e outras maiorias são
fundamentais na luta por direitos e isso passa pela garantia de políticas públicas, a organização por segmento
social evidencias vários exemplos de conquistas.
E
E5
Sim, elas fazem parte da democracia.
E
E6
Sem dúvida, e de uma forma ou de outra creio que já respondi em outras questões anteriores a esta. A
diversidade nas instituições é importantíssima e fulcral para um processo de decisão informado. As mulheres
e outras minorias na história não foram ouvidas. Perdeu-se com esse silenciamento todo o seu mundo
intelectual e emocional. Todos temos a ganhar com a sua inclusão agora, antes que seja tarde. Repetindo-me,
já vimos como é um mundo, um país, gerido por homens, claramente desequilibrado, creio que todos
concordamos. É altura, e pode ser já tarde, de perceber como é um mundo gerido de forma inclusiva e
igualitária, em que todos têm igual direito de intervir e decidir. É na diversidade que está a sustentabilidade,
seja do que for.
E7
Sim, sem dúvida. Porque a mulher é um ser humano. Não tem que haver diferença nesse aspecto. Porque não
a mulher poder realizar um trabalho de cidadania? Aliás acho que tem mais sensibilidade pra isso do que a
energia masculina, aliás a energia feminina trás uma maior consciência nas relações socias e com a natureza.
Por isso sim, as políticas públicas são um meio bastante importante para o uso da energia feminina.
E
E8
Sim é importante, porque mostra que as mulheres ocupam todas as áreas, inclusive na política. Mas, tem
muitas mulheres que fazem as mesmas coisas que os homens, vai da ética de cada um. Mas é importante, a
atuação das mulheres em qualquer área de relevância.
As entrevistadas foram unanimes em afirmar a importância das mulheres nos espaços de
criação e elaboração de políticas e também enquanto alvo dessas políticas públicas que de
acordo com a entrevistada E1 respeitem a sua vivência, a experiência e sua diversidade. As
entrevistadas E2, E3, E7 e E8 reafirmam essa importância ao refletir sobre a discrepância entre
homens e mulheres que ocupam cargos públicos. Em Portugal ainda se verifica um
distanciamento de gênero na ocupação de cargos de liderança, tanto a nível do mercado, quanto
em cargos públicos. Porém se faz importante destacar a lei de paridade39
, enquanto avanço na
inserção de mulheres no processo de candidatura e consequentemente inserção no ambiente
político.
Entre 1974 e 2016 em Portugal houve a nomeação de 492 homens (92,5%) para o cargo
de ministro e apenas 40 mulheres (7,5%). A nível mundial Portugal ocupa a posição 69º no
39
“Lei da Paridade Estabelece que as listas para a Assembleia da República, para o Parlamento Europeu e para as
Autarquias Locais são compostas de modo a assegurar a representação mínima de 33% de cada um dos sexos”.
(Código Penal Português 2017, 01b)
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ranking elaborado pelas Nações Unidas40
em Janeiro de 2017, com 4 mulheres (22.2%)
ocupando posições de ministras. Nos 42 anos de Governo houve um total 160 mulheres (8,6%)
e 1699 homens (91,4%), revelando a discrepância de gênero em posições de poder. (Soares
2016, 01)
O processo educativo em uma sociedade patriarcal e consequentemente a reprodução de
características denominadas enquanto masculinas e femininas foram usadas pelas entrevistadas
E2 e E3 enquanto justificativa para o número reduzidos de mulheres nesses espaços. As
entrevistadas E2 e E7 ainda chamam atenção para a importância de romper com a
normatividade e trazer para esses espaços características e situações que historicamente se
tornaram obrigações femininas, como por exemplo a liberdade em cuidar de uma criança
durante a realização do trabalho. Já a entrevistada E7 cita que a sensibilidade e a energia
feminina tornam a mulher mais apta para a realização dessas funções.
A entrevistada E4 faz uma analogia onde mesmo a mulher sendo historicamente
desprovida de direitos, atualmente na população brasileira, assim como portuguesa, elas
representam mais da metade da população. A mesma ainda revela que reconhecer as
particularidades desse e outros seguimentos sociais é uma das formas para atingir conquistas e
consequentemente direitos. A frase da entrevistada E6 corrobora a ideia: “É altura, e pode ser já
tarde, de perceber como é um mundo gerido de forma inclusiva e igualitária, em que todos têm
igual direito de intervir e decidir. É na diversidade que está a sustentabilidade
40
(UN Women 2017, 01)
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6 Considerações finais
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Ao colocar natureza e mulheres em posição de igualdade e abordar a similaridade de
opressões sofridas pelo patriarcado rompe-se com a ideia de ambiente enquanto bem à serviço e
disponibilidade dos seres humanos. A construção desse outro olhar para o ecossistema além de
instigar a reflexão de toda a problemática ambiental e com isso compreender as entrelinhas na
relação íntima entre cientista e objeto de estudo, também causa comoção no sentido de
transformação social. Enquanto pesquisador de gênero e Assistente Social esse processo de
questionamento e construção é contínuo, porém através da Ecologia Humana poder aprofundar
nas discussões pertinentes ao ambiente, nomeadamente o Ecofeminismo, trouxe uma outra
perspectiva voltada para a equidade entre espécies, a unicidade entre seres vivos e uma visão
macro da interação entre homem e natureza.
Devido ao aumento da preocupação na contemporaneidade no que diz respeito a
problemática ambiental e a inserção do gênero enquanto categoria mainstream, principalmente
no que diz respeito a elaboração e construção de políticas públicas, nota-se também uma maior
congruência entre ambas as temáticas e assim uma unicidade e a consideração de fatores sociais
ligados as particularidades do gênero feminino no ambiente público, caracterizando como um
avanço no caminho para sociabilidade com menor desigualdades. As entrevistas realizadas
corroboraram as reflexões realizadas ao longo do trabalho, afirmando que o papel das mulheres
nesses espaços é essencial para a representação dos interesses e singularidades do gênero
feminino.
De acordo com a revisão de literatura realizada o Desenvolvimento Sustentável e
principalmente o discurso de sustentabilidade pode ser interpretado e utilizado em contextos
diferentes e com distintas intencionalidades. Mesmo reconhecendo que existe uma apropriação
indevida do termo em fenômenos contemporâneos, como o greenwashing, vale pontuar que a
mobilização social e pública em discutir a problemática ambiental e as diferentes manifestações
das alterações climáticas e dos hábitos de consumo, refletem uma abertura para a inclusão de
práticas que contribuem para o uso consciente dos recursos naturais. Inclusive atualmente se
manifestam na forma de acordos e alterações legais, como aconteceu em 2015 na 21ª
Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (Paris,
França), com o objetivo principal de impedir o aumento da temperatura global aos 2ºC.
Outo aspecto identificado durante o estudo contínuo é o distanciamento entre natureza e
humanidade, mesmo quando colocamos em perspectiva as opressões através do patriarcado e as
desigualdades de gênero. Questionar os pilares sociais que são constituintes no processo do
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manuseio dos recursos naturais é parte desse processo de busca por alternativas sustentáveis e
de respeito com o meio.
Entende-se que a tese atingiu o objetivo inicial, compreendendo a relação entre as
mulheres estudantes de ensino superior e natureza. O trabalho mostrou que 3 das entrevistas
designam essa ligação à uma construção social, que perpassa as relações sociais e as divisões de
classe, raça, gênero e casta; que 2 entrevistadas apontam o aspecto biológico na centralidade
dessa relação e as outras 3 entrevistadas não vê distinção de gênero no processo de aproximação
com o ambiente.
Ao realizar a análise das respostas obtidas através das entrevistas também nota-se um
grau de criticidade expressivo e a compreensão dos processos que permeiam a temática. Diante
disso, mesmo as alunas que responderam a pergunta proposta de modo positivo colocando o
aspecto biológico enquanto principal fator na relação entre mulher e natureza, compreendem
que as relações sociais também se fazem presente nesse contexto e são parte integrante da
correlação entre gênero e ambiente. Na mesma medida as alunas que colocaram o aspecto social
ou reconheceram não haver distinção de gênero na construção da ligação entre mulher e
natureza, também realizam esse processo dialético ponderando sobre os motivos que podem ser
relevantes para outras mulheres ao fazerem essa reflexão.
Seria interessante num trabalho futuro incluir também a percepção do gênero masculino
como um atributo enriquecedor e complementar a pesquisa que foi realizada. Considerando que
o trabalho possui a mulher e natureza enquanto objeto de estudo e consequentemente tanto na
teoria ecofeminista, quanto nos dados obtidos através das entrevistas, existir uma reflexão entre
os gêneros binários que é intrínseca a categoria de análise gênero, se reconhece a importância de
estender o conceito de gênero e abarcar todo tipo de diversidade.
Reconhecendo o ambiente universitário enquanto um espaço que reproduz aspectos da
sociedade de forma geral, entende-se a importância de estender a pesquisa realizada em outros
universos e em outros cursos, para além dos que tem a área ambiental enquanto objeto de
estudo. Sabe-se que o ser humano é uma construção social e consequentemente a escolha de
mulheres por um curso que discute questões relacionadas a natureza, pode ser um dos fatores
para justificar uma prévia inclinação no que diz respeito a problemática ambiental. Dessa forma
o resultado da pesquisa será diferente em contextos diversos. Num trabalho futuro incluir outros
cursos permitirá fazer um estudo comparativo e perceber se a perceção das mulheres para estas
temáticas é diferente em função dos cursos que frequentam.
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Um dos obstáculos durante a realização do trabalho foi a dificuldade em conciliar o
tempo para a concepção do estudo e a realização da parte empírica. A utilização de outros
instrumentos de coleta de dados, tais como questionários e grupos focais, com o objetivo de
conhecer hábitos de consumo e a interação entre mulheres ao manifestarem suas opiniões frente
á teoria ecofeminista, poderão contribuir para potencializar o entendimento dos objetivos
propostos. Dessa forma, entende-se que a continuação do estudo em grande escala é de suma
importância para conhecer com maior profundidade as particularidades presentes na relação
entre mulher e ambiente na contemporaneidade.
Outro aspecto que pode ser trabalhado com uma diferente abordagem em um outro
estudo é o enfoque na realidade portuguesa, visto que as entrevistas em grande parte foram
realizadas com alunas do mestrado e doutorado em Ecologia Humana e Problemas Sociais
Contemporâneos da Universidade Nova de Lisboa, curso que tem um número elevado de
estudantes internacionais.
Durante a investigação e a consciência dos fatores e críticas que compõem a teoria
ecofeminista conclui-se que essa linha de pensamento é uma das alternativas que contesta as
desigualdades e violências existentes no corpo social e que se apresenta enquanto uma variação
onde as relações interpessoais e com a natureza são pensadas de maneiras antiautoritárias.
Assim, como acontece em grande parte dos movimentos e teorias sociais, cabe o uso dessa linha
de estudos voltado para a emancipação política e empoderamento, contestando aspectos que
reforcem estereótipos de gênero, reduzindo e classificando aspectos sociais e biológicos da
mulher no processo por uma sociedade mais sustentável.
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Apêndice
Guião para a realização das entrevistas:
1. Considera que homens, mulheres e natureza estão em posição de igualdade?
2. Acredita que ainda vivemos em uma sociedade patriarcal?
3. O machismo está presente nos dias atuais? E na Universidade?
4.Após o término do curso teve ou acredita que terá as mesmas oportunidades e as mesmas
condições de trabalho que homens? Porque?
5. Qual sua opinião referente ao modo de cultivo da monocultura?
6. Considera que o consumo de bens e serviços está relacionado a degradação do meio
ambiente?
7. Acredita que homens e mulheres têm hábitos diferentes de consumo? Quais as diferenças?
8. Defende que na sociedade em que vivemos é possível um desenvolvimento sustentável?
9. Conhece o termo ecofeminismo? Discorra sobre o assunto caso conheça.
10. Pensa que mulheres e natureza têm uma ligação diferenciada?
11. Como você descreveria sua relação com a natureza? Considera a natureza um espaço de
lazer? Já realizou trabalhos agrícolas ou com animais? Faz uso da medicina natural?
12. Considera a representatividade de mulheres e outras minorias na elaboração de políticas
públicas importantes? Por que?