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Sousândrade

Harpas SelvagensRevisão e atualização ortográfica

Iba Mendes

Publicado originalmente em 1863.

Joaquim de Sousa Andrade de Caukazia Perreira

(1832 — 1902)

 “Projeto Livro Livre”

Livro 484

Poeteiro Editor Digital

São Paulo - 2014www.poeteiro.com

 

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Projeto Livro Livre

O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que propõeo compartilhamento, de forma livre e gratuita, de

obras literárias já em domnio p!blico ou quetenham a sua divulga"#o devidamente autori$ada,especialmente o livro em seu formato %igital&

'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo .,os direitos patrimoniais do autor perduram porsetenta anos contados de / de janeiro do ano

subsequente ao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundoo 12digo dos %ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e

artigo 7), o direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anosap2s a morte do criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicadaou divulgada postumamente&

O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol dadivulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhumdireito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por algumara$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe,a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo&

:speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejamrepensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectualuma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidorao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos;

3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento daeduca"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obrassob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro 0ous<ndrade= “Harpas

Selvagens”&

> isso; 

Iba [email protected]

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BIOGRAFIA 

Durante a 2ª fase romântica, no Brasil, Joaquim de Sousa Andrade ou

Sousândrade, como preferia que fosse chamado, despontou-se como um poeta

pouco conhecido entre seus contemporâneos. Segundo Haroldo de ampos,dotado de um estilo irre!erente e ousado, o citado autor acentua tal

caracter"stica por meio, dentre outras coisas, da #i$arria de seu pr%prio nome,

que consiste na aglutina&'o de seu nome de fam"lia.

(studos so#re sua #iografia retratam que Sousândrade nasceu na fa$enda )ossa

Senhora da *it%ria, pr%+ima ao rio ericum', munic"pio de uimar'es, no

estado do aranh'o, a no!e de /ulho de 012, !indo a falecer em S'o 3ui$, a 20

de a#ril de 0452, le!ando consigo uma !ida repleta de a!enturas e de di!ersas

peregrina&6es por todo o mundo.

7ilho de Jos8 Joaquim de Sousa Andrade e de aria B9r#ara ardoso,

importantes fa$endeiros pertencentes : elite no#re de Alcântara, muito

precocemente, o poeta e sua irm' Ana ficaram %rf'os de pai e m'e,

desencadeando a desestrutura familiar e a ru"na da fortuna herdada. )as

pala!ras de ampos, tais acontecimentos foram e+plorados anos depois pelo

poeta, na o#ra ;< uesa=, em que 8 e!ocada sua infância feli$ e e+posto todo

seu inconformismo pro!ocado pela fal>ncia da fa$enda *it%ria.

A estes dados a respeito de sua !ida familiar, tais estudos #iogr9ficos re!elam a

fase errante que marcou a !ida de Sousândrade. ampos cita !iagens deste

poeta pela (uropa, Ama$onas, (stados ?nidos e por !9rios pa"ses da Am8rica

3atina, destacando que,durante sua perman>ncia no pa"s norte-americano, o

poeta maranhense tra#alhou incansa!elmente partes do longo poema ;<

uesa=, cu/as primeiras data&6es remontam o ano de 01@1.

Dado seu contato com as mais di!ersificadas culturas, po!os e realidades

sociais, Sousândrade !i!enciou de forma muito pr%+ima as ma$elas humanas e

sociais. ampos re!ela que a e+peri>ncia deste autor com os di!ersos estilos de!ida, caracter"sticos de diferentes po!os, contri#uiu para acender seu fer!oroso

esp"rito a#olicionista e repu#licano, o que 8 compro!ado pela sua atua&'o como

um desprendido cidad'o e patriota de seu tempo. 3utou com muita !eem>ncia

pela a#oli&'o da escra!atura, pela proclama&'o da ep#lica, pela reforma de

desen!ol!imento da educa&'o, #em como pela morali$a&'o dos costumes.

---Referência bibliográfica:Gisele Alves: “Para um glossário neológico da obra “O Guesa”, de Sousândrade: uma proposta”.(Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Lingüística.

Orientador: Prof. Dr. Evandro Silva Martins). Universidade Federal de Uberlândia, 2006.

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ÍNDICE

ESTÂNCIAS I – DESESPERANÇA.....................................................................................

II – HINO.....................................................................................................III - AO SOL.................................................................................................IV - TE DEUM LAUDAMUS.......................................................................... V - A LEGENDA...........................................................................................VI - A HÉCTICA............................................................................................VII - A... ......................................................................................................VIII - VISÕES...............................................................................................IX - O ROUXINOL........................................................................................X - CANÇÃO DE CUSSET.............................................................................

XI - UM DIA É SEMELHANTE À ETERNIDADE..............................................XII - MINH’ALMA AQUI! ............................................................................XIII - A VIRGENZINHA DAS SERRAS.............................................................XIV - HORA COM VIDA................................................................................XV - VEM NOITE....................................................................................XVI - "... .....................................................................................................XVII - SONHOS DA MANHÃ........................................................................XVIII - M... ..................................................................................................XIX - PO#RE $ILHA DA POL%NIA.................................................................XX - #ERÇOS DO AMOR PRIMEIRO.............................................................XXI - O PR&NCIPE A$RICANO.......................................................................XXII - PRIMEIRAS-"GUAS...........................................................................XXIII - VAMOS 'UNTOS! .............................................................................XXIV - O INVERNO.......................................................................................XXV - " PARTIDA DE UM VELHO EN$ERMO................................................XXVI - $RAGMENTOS DO MAR....................................................................

NOITES

XXVII - O CIPRESTE......................................................................................

XXVIII - A VELHICE.......................................................................................XXIX - A ESCRAVA........................................................................................XXX - A MALDIÇÃO DO CATIVO...................................................................XXXI - VISÕES..............................................................................................XXXII............................................................................................................XXXIII..........................................................................................................XXXIV - VISÕES...........................................................................................XXXV - VISÕES............................................................................................XXXVI..........................................................................................................

SOLIDÕES 

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XXXVII - V 222...........................................................................................XXXVIII - DIA DE NATAL..............................................................................XXXIX - A MUSA..........................................................................................XL - O TRONCO DE PALMEIRA.....................................................................

XLI...............................................................................................................XLII - O CASAL PATERNO.............................................................................XLIII - $RONDOSOS CEDROS D’OUTRORA...................................................XLIV - MEUS NOVE ANOS N’ALDEIA...........................................................XLV.............................................................................................................XLVI............................................................................................................

ÚLTIMA PÁGINA........................................................................................

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ESTÂNCIAS

I - DESESPERANÇA 

Ó tarde dos meus dias!Ó noite da minha alma!...

A vida era tão calmaAqui na solidão!

o rio, que corrias,Tuas águas vão secar...A flor no seu murchar

Que importa a viração?

Ó sol da minha infncia,Que valemme os teus raios?

A lua em seus desmaios"m t#mulo em$ranquece.

% tu, que na distncia&e deste a vida e a dor...

%u surto ' a esp(rança, o amor&eu peito não aquece.

% eu que sonhei tanto!% eu que tanto via

)o longe d(algum diaA vida aparecer...

)o rio do meu pranto&eus anos vão passando*

Assentome, esperando+ meu triste morrer.

Assim, rápidas floreson-elas da manhãem terdes amanhã

)as l/mpidas capelas,

0assais1 vãose os amores

% o hino da $ele-a*)em deume a nature-a

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"m dia! assim como elas.

ivago os olhos lentoso plano ao monte, aos c2us*

%u lá ve3o um s4 eus,%m eus somente o amor1

Aqui, levamme os ventos%u, nada tenho sorte!

)o cume eu ve3o a morte,)os vales morta a flor.

A mim pranto e saudade,A mim f#ne$re e5/lio,

6antando um$roso id/lioa morte 7 som$ra fria*

%m pálida orfandadeAs dores me aca$am

&is2rias me em$alam)os $erços da agonia.

Adeus... palma, que ouvias

&inha harpa 7 som$ra tua*Tu 2s a vo- que 2 sua,

%u sou tua criação.

Ó tarde dos meus dias!+i noite da minha alma!

A vida era tão calma%m pa- na solidão!

Adeus 7 doce vida,Adeus 7 rosea esp(rança% o c2u! que era $onança6o$rindo o campo e o lar1

Adeus, terra querida!Adeus, formosa infante!0or li, no mundo errante,e novo eu corro o mar.

II - HINO

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8 li$erdade os cantos!A filha destes c2us,A filha do meu eus

% minha irmã do peito,&eus sonhos do meu leito,os vales minha flor,a vida o meu amor*

Ó doce li$erdade,9magem da verdade

os meus altares santos!

)a tua divindade+s astros nos parecem

Que pelos montes descem1+ mar so$e o rochedo1+s ventos o arvoredoiceras transportar1

A fonte a suspirare perde na soidão*

Quem vi$ra o coraçãoTu 2s, 4 li$erdade!

Ainda na saudadea pátria, na distncia

:s tu que dás constncia,Que fa-es tanto amar+ sol, o campo e o lar!

+ /ndio prisioneiro)ão teme o cativeiro,)em era por ser vivo

+ t/mido cativo6horando a li$erdade...

6oitada filomelaeu canto desfiguraTirada da espessura*

Qual perde o murm#rio&udado o leito o rio*

Tam$2m a cor perderas,%m tiras te fi-eres...

% o mar que tens na face,

Que em$e$e um sol que nasce,;oi s4 cadente estrela

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% o sol que do arvoredo6rescia docemente

<aiando resplandente,

0or eus despedaçado)o espaço foi lançado!% o mundo todo eu trevas,

6onfuso o tronco, e as fervas,+s mares e o ri$eiro%m negro paradeiro,

6aiu monte e penedo!

% quando um astro novo=iesse duvidando

%m ve- do sol andando,A vaga n(outros climas,+ c2u por outras cimasA desdo$ra? se achara*Tremera e se apagara!

"ns campos e outro monte>á frma outro hori-onte,

% a l/ngua 2 d(outro povo...

=irenteáurea $andeira,%u choro assim te olhando

)o ar desenrolando*A virgem d(inocente

+uviu o homem que mente*%nleiate ao pendão,

:s morto coração*A raça está perdida1)em fora denegrida

)ão sendo $rasileira...

os lá$ios criadores% a fronte, 4 li$erdade,

Tu foste a claridadeQue o astro edificou,)ossa alma irradiou1

8 crença tu me elevas)a vo- do vento e as selvas1

&e levam nesta vida,

Qual ave ao c2u perdida,+s teus, os teus amores!

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@ela árvore da gl4ria,Teus frutos 3á penderam,Teus filhos 3á morreram*

Apenas 7 tua som$ra,Tão rota, e qu(inda assom$ra,8 morte se arrastando,

Teu nome estre$uchando+s ve3o! indiferentes

8 terra e o eus1 descrentes<ompendo a vil mem4ria...

% d(águia ensanguentada)as serras, pelo a$ismo

emendo ao despotismo,Ó v/tima piedosa,

8 vo- $aça e ruinosaisseste 7 eternidade

+ adeus! não há verdade,<a-ão, virtude, amor,

)os campos não há flor8s mãos da foice afiada.

Ó mãe da humanidade,Ó raio de meu eus,

+h! lançate dos c2us,Que o gelo se desfaça!

Teu eco em plena praçaesdo$re a palma de ouro

0or entre o verde louro!' Ao peso de sua dorA força caia, horror!

Aos p2s da li$erdade.

6audal açoita o rio+ mar, n(alta corrente1

% o mar, que 2 mais potente,<ugiu ' 7s ca$eceiras<eflui pelas $alseiras*

Assim que$remse os ferroso despotismo d(erros)os infernais altares!

<epousa nos palmares,Ó livre sol d(estio.

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Maranhão, 1856

III - AO SOL

T/mida e $ela e taciturna virgem0elos campos, na -ona solitária,o mar no isolamento, lá do a-ul

@anhando a terra de uma lua argBntea,8 matinada so$ressalta e foge*

6hama aos seios o manto, os p2s retiraa terra e voa, desco$rindo os $osques

Que estremecem, do monte a som$ra arranca,Toma 7 pressa os vestidos que vão soltos

% as grinaldas d(estrelas, fugitiva.<oda o plaustro de um pr/ncipe, os cavalos

=em nevados nos vales do oriente16o$re os ares a poeira do caminho

Alva como o p4 d(água1 se arrepiam)o ninho as aves desatando o $ico1@risa fresca e geral passa acordando+s vegetais, o oceano1 $elas nuvense marinhe coral, nuvens de p2rola

6omo a face de um lago os c2us a$riram1%stende o colo o pássaro cantando

0or detrás da palmeira, qual perguntaAos pastores, ao gado apascentando

CQuem fa- este rumor?D desli-a o orvalho)a flor, derrama o vento, o vento leva

+ndulaçEes d(incenso1 a nature-a)as $arras da manhã respira amores*

A noiva docemente $oce3ando)(alva da noite da esperança longa

%m$alada nos $erços con3ugais.

ol! id2ia de meu eus, me aquentaelada a fronte pálida, sulcada

o ceticismo horrendo1 sol, m(inspira"m cntico de pa-, que a musa afeita

)este cantar selvagem, rude, asp2rrimo,Que o temporal da sorte ao peito ensina,

6omo ao rochedo a vaga, ao monte o raio,

6omo a torrente 7s som$ras da espessura,uro golpe ao carvalho, ave enfe-ada

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>amais cantou de amor* a$riume a $oca%sta sede eternal, que eu mesmo ignoro,

e um dese3ar... que secame a e5istBncia,Que minha alma lacera, como ao peso

(um africo samoun sem fim rolando!

A$re um lado da a$4$ada celeste,Amostra o rosto, s4, cent4clo e $elo,

<ege de lá seu mundo* apaga os c/rioso seu altar da noite1 arrasta a nuvem

% em$alança nos ares, som$reando+ vale do pastor e das $oninas1

%ncarna de mil cores o arvoredo10ousa um raio na p2tala das flores

6omo virgens a$rindo alegremente1%spalha almo chuveiro. ol! 4 sol,

eus dos meus olhos, meu caminho francoA unidade invis/vel, me suspende

este lodo da terra onde hei manchadoA alma de meu eus! rios, montanhas,

Fevantai minha vo-1 aves, favnios,)ão pergunteis que nasce de alegria%m vosso seio que vos move os ecos*

6antai, cantai de amor, su$i louvores,@atei as asas, penetrai os ventos*

: nosso pai! enchendo os nossos camposa terra de mil dons1 as nossas veias,

6omo do pensamento eus nossa alma,@anha de sangue e vida. A $or$oleta

o$re as folhas dormindo, a água passando,8 $eira da corrente, a ti se eleva

%m tur$ilhEes de lu-es centelhando,eslaçando seus vos, que um raio fura1

e cada ve- que $rilha, mati-adoo p4 das asas d(/ris1 a velhice

Arrasta a li seus passos1 minha vistaAmo co$rir de lágrimas te olhando,;alar contigo, consultarte o que 2s*

%m$ora a minha vo- nos teus fulgoresTu percas desdenhoso, e não respondas.

Quantas ve-es passava a contemplarte

olitário no mar! sem pai nem mãe,Teus raios ensopei com minhas lágrimas,

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Que os teus raios secaram* então contigoomente e o mar, meu pensamento erravaAnte os meus olhos, mas sem ver a$ertos,

)em despertava me roçando a fronte.

Amigos mendiguei, meu peito aos homens,&eus $raços, minha fronte, a$ri minha alma16omo os homens vi rindome um momento!

&e odiavam depois, logo amanhã*+utros $uscava1 mas, as mesmas ondaso mesmo oceano mentiroso e amargo1

6orri terras em fora e passei mares,=i novos climas ' sempre os mesmos homens!

)em um s4... nem um s4 achei que o nomeanto de amigo merecesse ao menos!

Ah! se um ente nascera, que eu amasseeste amor todo que meu peito espaça!

u$lime erupção, nasceu minha alma!

esde então, na descrença ressequido&urchou, caio meu coração, e os homens,

Que minh(alma lho rude calcinaram,)unca mais pude amar vou solitário

0elas praias som$rias da e5istBncia.

Gs ve-es recostado num penhasco,A minha criação faço ideal*

;ormo um coro de virgens de1 anos d(ontem)uas e puras1 me rodeiam, cantam,%u adormeço... mas, desperto, ru3o!Tu, deus im4vel, su$alterno, seiva,

espertador da terra, ergues meus sonhos,&aterial hip2r$ole dos c2us!

&entira, ou não sei que ve3o em sua frenteQue não entendo, e me repugna eu fu3oAs minhas solidEes, não posso amálos*

Ah! se eu pudesse, $em feli- que eu fora!' &esmo de um eus descri... perdão, enhor!

% mirrado na dor, pelos desertos@uscava som$ra* ' as árvores murchavam,

esfolhavam! da fronte que eu sostinhaescansar pelo colo de seus troncos,

Tocar meus p2s sua leiva! e5posto ao clima,+ sol fendeume o dorso, como açoite

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a 0rovidBncia, e amei p(ra sempre o sol.

Ó tu, dia primeiro, em que no espaçoA fogueira de ouro o sopro eterno

Acendeu* quando a terra estremecia%m pasmo se revendo, e tudo em vo-es)aturalmente! Ó tu, dia vindouro,

%m que a mão, que a ergueu, desça apagála 'Que $ela cena! quanto denso fumo

)ão há de se e5alar d(entre os seus dedos,a tocha imensa no morrer! quisera

entir ranger meus ossos, pertur$arme)essa emoção de horror! verte apagando,Qual verte ao mundo vindo, eu s4 quisera

%sses dois dias vida, entre eles morte.ol esplBndido e $elo! deus vis/vel!

Tu, corpo do meu eus, queima o meu corpo1=á minh(alma 7 tua alma, ao eus somente!

ilBncio. 0assa o vento em meus ouvidos,C%mudece!D disseramme* quem foi?...

<ios, montanhas, /ncolas do $osque,6egos nascemos, meus irmãos da morte,

em sa$er quem n4s somos, onde vamos...0ara cantar?... 6antemos harmoniasAo sol que se levanta do arvoredo,Fá das terras de al2m, fruto d(estio*

%nchamos nossos olhos de seus raios,)osso peito de f2 ' eus 2 mais longe!

IV - TE DEUM LAUDAMUS

El ego, et terra, mafequeCoelumque, tibi canticum damus!

>á longe de mim vai comprida a margema infncia feli-* navego ao largo,

a $arca ao leme1 os gon-os ferrugentos<angendo são custosos meneados

0elo meu $raço que os tufEes cansaram.)a pesada corrente eu vou descendo,

A $risa voa fresca, a-ul o c2u1

@alança, entesa ou $ate o pano e$#rneo,6onforme a direção1 n(alta ri$eira

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+ndulaçEes sonoras levantando9ndolente e penosa a vaga aduncaArruinada em pedras, na fragura,

)a costa, no rochedo. Agora eu canto.

+s rios que deságuam se entorpecem1A nuvem desce mais dos c2us de seda,=em suspensa escutarme1 acalma o vento,

6a/da vela1 fora d(água os pei5es+ dorso ondeiam1 mudamente alcione

o #mido ninho serpenteia o colo1istante a vo- do mar, distantes praiaso$re si mesmas desterrando vãose1

Aceleradas som$ras das palmeirasAs seguem para o e5tremo, as cumiadas

As som$ras deitam para trás da serra,Que co$riamlhe o rosto* 2 amplo o $erço!

6alada a nature-a espera em torno&inha vo- responder. Agora eu canto*

C&eu enhor +nipotente!&inha harpa, as harpas do monte,

o rio caudal e a fonte,Fi$rada a nuvem nos ares,

0erante et2reos altarese humilharam. anto! anto!

eus imenso! eterno sopro+s lá$ios teus fecundaram*

+s c2us de soes s(estrelaram,o$re os soes outros c2us vão*

)asce o mundo, a criação)asce, e canta. anto! anto!

6heio o vácuo, o espaço ondulao infinito1 retum$ante

eme o caos, e palpitante6omeça $rilharviver

6ontemplarse, estremecer1<ugir de herror! anto! anto!

% nos ventos, e nas ondas,)o universo equili$rado,

Harmonioso, animado% num átomo da terra,

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)uma flor, penedo ou serraTeu nome está. anto! anto!

%co infindo envolve o mundo

9nfindo se renovando*+ntem vime alevantando,Ho3e me ve3o a cantar1Amanhã no meu lugar

Talve- serei... anto! anto!

Ande o mar lam$endo a areia&anso e calmo e deleitoso,

+u se estorça proceloso6ortado da ventania,

+ mar teu nome di-ia,ilo ainda. anto! anto!

=e-es quando o filho ingratoo$re o p4 dorme indolente,

% renegado ou descrente)ão te vB na doce esp(rança,

=ingativo e sem $onançaei5a os leitos. anto! anto!

%rre a lua em $rancas noites,oure o sol ru$ras celagens1%stas montanhas selvagens,%stas compridas palmeiras

6antando pelas ri$eiras,ão louvores. anto! anto!

&eu enhor +nipotente!enhor eus da criação!%scuto o meu coração,

=erguemse os cumes do c2u,Queime o raio o a-ul do v2u '

<epetiram! anto! anto!

anto! anto! eus dos astros,Que lá no Hore$ Adonai,

+ ru$o cercarte vai%m flamas de um fogo inalo,

6amadas de um fumo grato6irculando! anto! anto!

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&e o$edeceram* pelos c2us um coro=ai ondulando d(encantados 4rgãos '

A vo- dos animais, dos elementos,

as plantas o meu cntico entoando.

CTu, que enriquecesA$rahão nos desertos,Que livras da infmia

&ois2s e >aco$1Que fa-es avid

onhar o &essias,Que o nome estremece,

estr4i reis so$er$os,

uas águas que desce<emonta o >ordão,uas altas muralhas

esfa- >eric4Aos olhos im4veiso sol suspendido

)as mãos do >osu2 'Teus filhos encontras

)a ingratidão!

)o para/so esquecemTeu preceito* as feras

;raternais, tão mansas,9nimigas são1

=enenoso inseto+s consome1 os prados

&urcha como o sol!>á cidades vingam,

e corrompem, morremo dil#vio aos p2s.

)o c2u arco de rosasTraçou nova aliança,

% novas plantas nascem.@alta-ar so$er$a

)o festim ruidosoFá profana os vasos

e >erusal2m*

a tua mão de fogo0elo muro errante

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aniel amostraAs impressEes fatais

Ao assom$rado conviva*eslocouse o %ufrates!

@a$ilnia pream<u$ras mãos de 6iro!

Amavas 9srael,A idolatria a ru/na1

<ainha que levantas,Tam$2m perdes >udá!...

' &eu eus, tão grande que 2sA terra que não sente

9gnorate, e sorri!

' )os seios te compreendo,Tua gl4ria me engrandece,Tu 2s minh(alma, 4 eus!&inh(alma um reino teu.D

)o firmamento os ares se em$alaram1<emovidas as margens se apro5imam1

alta o pei5e no mar, desprende alcioneAtado o longo $ico e 3á revoa1

A $arca m4$il nas argBnteas asas0elas correntes l/quidas se alegra.

V - A LEGENDA

C+nde vais? pertur$ado no sem$lante,a som$ra de ti mesmo perseguido!

+ que entre os dedos te relu- mal preso)a mão se enegrecendo, 4 desleal?)ão ouves um gemido lá no monte?

+ 6risto 2 quem suspira... e porque foges?...D0erguntava o ple$eu d(asco. + disc/puloTreme, seus olhos se desconcertaram.A e5alação de um $ei3o nos seus lá$ios

9nda fa-ia nuvens* 2 maldisseA$ominosa venda... ouro fatal!

' Fava 0ontius suas mãos nas mãos da esposa,CTu disseste que eu sou Cdi-endo o 3usto*

%ntão ringiulhe o coração do crime,% de remorsos afrou5ando os $raços,

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+ templo ressoou d(argBnteas moles+s p2s rodeando de 6aifás* Csangu/neas,A c4r$ona as não quer, aos peregrinos

angu/neos campos d(Haceldama comprem.D

' % no outro dia uma árvore encontrouse%stendida no chão, fogo nem tinha,% em cin-as desfa-iase fumante!

emia o )a-areno ao longo açoiteo fariseu. 6horava o caro 0edro

Quando o galo cantou* negar trBs ve-es+ rei de alil2ia! ' em nardos ' triste,

As oliveiras do horto entristecendo% as torvas águas que de ouvilo voltam.

+ sonho confirmouse dos profetas*+ que viste morrendo era o &essias!

;alava >eremias inspirado 'á$ias revelaçEes* C6aim primeiro9nve3ou, foi traidor* dinheiros vis

o primeiro assassino a terra os ve3a6ometa errante despertando longe,

Fonge, e fa-Bla estremecer de assom$ra6ada ve- que gemerem malfadadas%ntroncadas irmãs no cofre impuro1

(/gneo facho perseguido,A$re as mãos o irmão d(A$e9,

=endidos serão d(escravosTristes filhos d(9srael1

=endido verão d(infmiaagrado, puro &essias!

&uitos soes hão de tur$arse...D0or2m, calou >eremias.

6omo ao chefe poderoso,;atal 7 $ela +rleans,

6omo ao rude pegureiro,6omo 7s rosas cortesãs!

% quantas ve-es nas grutas)ão verás teu coração,

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6omo do demnio opresso,acudirte a vi$ração?...

<ecolhe so$re o teu peito

0uras virgens argBnteas1&aculado nunca o ouro;atal a dor do &essias.

Quase ao sol posto, nos lugares santos<omeiro velho, entrou, de p4 co$erto1% de fora uma vo- se ouviu correndo

%ntre soluços por hist4ria longa*C=Bs, filha minha, aquela cru- pendente?

Ali gemeu profundo, doce e manso1

Aqui estas naves assom$rosas,Açoitado de varas... arrastado...uores ru$ros derramou >esus!

%stas paredes salpicadas, negras,edenta a terra que pisavam monstros

%nsanguentou de pranto... e roto o corpoe lançadas cru2is... desfalecia

a lagrimosa mãe nos castos $raços,Que a fronte $ei3a que os 3udeus cuspiram!

;ugiram seus disc/pulos1 a preçoeus vestidos os cães dilaceravam!...

Ali a fenda pavorosa, escura+nde os supl/cios uma ve- descansam '

6áli5 amargo de a-edado fel,6(roa tecida d(espinhosa vime...

9nda este vento que na cru- se enleia' &eu eus! meu eus! porque me a$andonaste? '

0arece repetir como se o lenho)essa vo- eternal fundida fora*

entro ainda de um sol ve3o uma fronte,% dentro dela uns olhos de piedade!...

+ c2u trBs horas s(envolveu de som$ra1o dia a nona o v2u do templo rasga,

6omo o raio divide a noite densa,% caio trove3ando em duas partes1

Tremeu a terra e se fenderam as pedras!%rguemse os mortos que dormiam, correm

)ovos viventes visitar seus lares!

o$re esta rocha deslocada um an3oe sem$lante de lu-, de argBnteas vestias

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Assentouse, e de um $raço tão nevado+ caminho apontou de alil2ia

orrindo 7 lamentosa &adalena,Que chora de pra-er compridos dias,

%ncarnada visão dourando as nuvens...D

9a falando como o vento grosso)a mata, a filha pela mão, que ouvia

&ovida e terna o compassar prof2tico*)a garganta gelou sua vo- dorida,

6horo rouco vertendo* era tão triste,o passo tateando, os olhos cheios,"ma entrada por onde ele sa/sse!

+s ecos desca/am das ru/nas,

%ntre os p2s delas repousaram lentos.' antos sepulcros! perenal sossego,

&isteriosa pa-, soidão profundauspensa em som$ras ' qual vapor dei5ando

Fevantarse a verdade nua e $ela!Que não em cornos de loquace fama.

+nde vais, po$re don-ela?CAh, senhor meu pai morreu!...

A todos ela a$raçava,6orria louca e gritava*

C=ede a lu-! a lu- 2 $ela...&as a 4rfã desgraçada

Ho3e s4 por essa estrada...Ah! senhor, meu pai morreu...D

A rou5idão do ocaso apenas dava0elas montanhas da cidade santa*% num silBncio pensativo o velho,

6omo o que a noite fa- su$indo os astros,escansou numa lasca da ru/na1

Favada do crep#scu(lo a fronte calva,%rmo rochedo que as escumas cercam,

)os om$ros virginais da filha amada"m pouco recostando adormecia...

% meiga infante com seus dedos r4seosas faces lhe tirava os regos d(água.

' a noite a $risa se alevanta e verte

as suas asas em torno dela o sono*6oros celestiais cantando ouvia

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%m seráfica vo- num sonho vago,Quando ao seu grito despertou* d(aurora9nundada ' e seu pai $uscava em vão!

9nda alguns dias, nessas mesmas horas,+ clarão $oreal se apresentava1;ormado a pouco e pouco, e se e5tinguindo

Tão docemente. )em not/cias houve&ais da po$re filhinha que o guiava.

VI - A HÉCTICA

De amor e gozo, ela ai morrer

a"enas a laran#eira da ida come$aaabrir%lhe a ig&sima%nona flor' suas

 folhas crestaram no i$o, a seia nãocircula mais((( mulher!

)ascer ontem, morrer amanhã,"m s4 dia na vida e5istir,

Ho3e s4! como a flor da romã,=er sua p2tala ru$ra cair*

&ariposa das noites mimosa,=endo a aurora na $ela candeia,o$ressalta ao nascer, e amorosaeu encanto sua morte incendeia*

Alvo p4 de suas asas trementes,Todo o corpo em amor desfa-endo1+lhos grandes de =Bnus umentes9nda $elos de morte languendo,

9nda amores pedindo famintos)o pesado levar derradeiro

+u caindo, qual lmpada e5tintose envolvendo no crepe agoureiro*&ulher! tu não vieste so$re a terra

0ara a impura e5istBncia* nessa idade(infantes anos, folha tenra e verdeFançada pelo vento so$re o t#mulo,

6ontra/da e mirrada. 9gnorante,Que de ti tu não sa$es*... 0rovidBncia!

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Que ao menos morres sem sa$Blo ainda.frega, acesa, devorando amores

em temperança, num s4 golpe o cáli5,erramando d(e5cesso e de ofegante,

Aca$asteo, ca/ste em$riagada,=oluptuosa1 num suspiro longo+ veneno tomoute. % tu nem pensas0orque medrosa e trBmula palpitas10orque $atem tuas fontes, fugitiva,

9nconstante te a$raças toda inquieta62us frios $raços de marfim1 2 as trancasesdo$radas penduramse em teu corpo*

Anelante, fren2tica, dementee um go-ar... que não há nem 2 da terra*

;usão terr/vel do inferno e o c2u!ecos lá$ios em fogo e os olhos #midos

Fampe3ando fugaces... % eu maldigoe minha ve- o amor! o amor, que 2 vida.

&ulher, an3o celeste que minha almaToda a$ranges n um riso, 4 meus amores!)ão tu, que me ouves* eu te choro, sim,6om piedade sincera e dor que sangra1

&as so$re os teus meus lá$ios nem meu peito

)ão se alimentam, não* mulher sem mancha,@ela e simples, mulher como eu compreendo,

An3o, irmã, doce esposa e mãe do homem,eu amor e ideal, com essa eu falo.

Ó desespero, 4 fado! e sempre, e sempre)essa queda a$ismosa! lindo fruto

a manhã suspendido 7 fl4rea comaQue a $orrasca fatal, que a mente acende,

Agita e lança ao p4* co$reo a poeira,0asto dos $ichos, apodrece e aca$a!% o mundo todo escarnecendo dela,ua v/tima, se o $rilho a cor apaga

% as faces murcham. %ntão passa mendiga1% os homens que de amor ontem nutrira,

Que em seus lá$ios arderam, desdenhosos6ospemlhe a fronte! e na mis2ria some.

Amor material d(imundas v/timas,)ada tens de comum com os meus amores!

Ó sorte da mulher, destino horrendoe apascentando em casta virgindade,

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Tigre tão farto! e descansar nem sa$eo cndido re$anho todo avaro

&atar ' somente o sangue $e$e e a $ocaAma eterna em cruor $anhada, e dorme!

em vida o coração, pisado o corpo,8rido e vil $agaço agora o dei5ao$re os campos aos corvos, 7 imund/cia.

Ó sorte da mulher! An3o coitado,em asas, sem voar... quem fe-te assim?

: tua vida somente o despontar,Quando longe do amor o peito dorme(ecos va-io do estrondar das veias,

Que vão som$rias, e os sentidos livres

9nocente se e5pandem, como esta árvore!)a face o fresco virginal, e os olhos

6heios de humor de lu-1 2 flor a$rindoToda perfumes, nitide- e cores,

Que os insetos rodeiam ' não na toquem!Toda doçura e mansidão, agora

Toda selvagem, d(infantis crue-as,(inconstncia infantil1 ora piedosa,

Toda um riso e $rincar, toda esquivança,

=ergntea ao vento, singele-a toda ';oi sua vida em $otão. % o vento sopra*

% mais forte a vergntea 3á resiste,0ara o $reve estalar... e sopra o vento*% 3á n(alma lhe anseia amor1 seus olhos,eu coração, suas veias, todo o corpo%m$o$orado em amor, o cáli5 pende,

A flor a$re ' ai, coitada, o fim Istá pr45imo,As folhas pelo chão vãose perder

' e queres ser feli-, amor não queiras*&as onde há vida quando amor não ha?Antes a morte ' ou ama eternamente,

% nem te iludas porque não viveste...A vida toda está no fugir dela.

% o homem ruge contra ti d(impura,)o3osa, imunda criação da terra,Tu, fraco, sedutor, monstro fala-,

0orque de 3oelhos lhe $ei3aste os p2s?

onde veiote a fala tão sonora,Que em $alido amoroso a ovelha arrasta,

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@ranca, indecisa da e5istBncia ao t#mulo?onde veiote o pranto, mentiroso?...% a po$re crente, que tu di-es, finges

%la o teu deus que teus des/gnios rege,

Arrancoute da morte, e triunfante,%m seus del/rios natural perdida,eme em teus $raços... 0álida desperta,

olitária se achou! espalha a vistae si em torno, em solidEes va-ias,

% rompe fundos ais! ningu2m a entende.@aço medo escorreuselhe no corpo1=estiuse de mortalha, 7 terra, e s4!

Fongos adeuses, por2m tarde, e5pira.% o homem? como ave ensanguentada

a rapina noturna alça o seu canto,)em olha para trás fugindo ' a infame.

+h! não te rias da po$re-a sua*;raca e amante, que grande-as d(almaHumana e franca! @ruto, que a calcaste8s plantas vis, demnio dos infernos!

)isboa

VII - A...

Tu não 2s como a ára$e infante%ncantada no $ranco corcel

)os desertos d(areia $rilhante,8urea adaga no cinto de anel,

+u na doce ca$ilda ' ondulante)os amores de louro don-el1

)os floridos quiosques saltando,+u n(ogiva fumosa a dormir,

6ousas d(8sia amorosa sonhando,Que sonhadas se fa-em sentir*

Tu não 2s como a ára$e ' amandoTens no rosto mais santo sorrir!)em semelhate a r#tila estrela,)em as ondas douradas do mar,

)em a flor mais esplendida e $ela1Terra e c2u não te sa$e imitar*

@rilha uns olhos de $ron-e a don-ela,ocemente te ve3o a me olhar.

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 *lto Mar

VIII - VISÕES

+ui, mademoiselle, adieu(adieis "our tou#ouras(

im, don-ela, te amei, v/tima po$reos caprichos do homem vão do mundo*

&inha fala escutaste, a vo- sonoraos lá$ios teus $randiu lá na minha alma,

Tanto dentro a calar e tão suave...&as, um momento* esvaecia aragem

0elos sinos da torre que dormiam,

% passou. 9ndeciso inda o silBncio%slava e $elo, quando estala o raio*6ndidos seios virginais tremeram,

ensitiva mimosa se fechava*;ormosa lu- do sol se esverdeando

0or frescos ramos de frondoso estio,Que a nuvem tolda, que o tufão desloca.' "ns olhos infernais, $lasfBmia a $oca

Fatiu danosa contra ti, 4 deuses!

)em tu mesma o sa$ias, d(inocente% descuidada amando, os sentimentose flores pela morte assim te davam.;i-eramte sa$er que era de amoresQue vermelha te vias, tão vaidosa,

+ pensamento meu, no fundo espelhoA radiar de formosura e encanto

0assando, te enlevando, ora assaltadaQuando o sangue alterado reflu/a

%nvenenado ao coração* me vendo,Que tu amavas para sempre o creste.%ras como ave-inha que 7s primeiras

+ndas do sol sacode e estende as asas.Ah, que o mesmo nascer dessa manhã

;oi pr do sol do amor, am$os morremos!>á foges diante mim, teus olhos $elos

o$re os meus, vergonhosos 3á se apagam%m mudo prantear do que passouse.

ua ca$eça me encostou no peito)amorado, sua nuvem de ca$elos

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(am$rosiadas noites na montanhaespe3ou nestes om$ros longos crespos!

6heirosa e pura, como os l/rios são)o vaporoso e cndido crep#sculo

o luar da lua ' respirei, por nuvens,+ corpo seu de vaga suspirando.%u vi fundido um s2culo numa hora!

% ho3e as horas seculares sintoe desencadeando dos meus dias...

oluçaste, ovelhinha mansa, ouvindo+ tronco de que 2s fruto 7 ventania<ugir horrendo e mau* Camores vis,

Amor de poeta nos teus seios, louca!

=aga criança, ou foge a lira torpe,+u de teu pai e a corte a$andonada...

% os teus paços doirados, e esse mundoQue luminoso te rodeia? oh, crime!A filha da rique-a amando o artista

Que vive d(ilusEes! sonhar, que vale?eus cofres de papel somente aos vermes%stão cheios, $em como os raios vergam

e seus armários de volumes áridos

os outros seus irmãos, que assim viveram.<aça de loucos, po$res e orgulhosos,

;ormando uma fam/lia e s4s se amando,0orque s4 uma sorte 2 para todos

%m todo o tempo1 voam pelas nuvens,Feves como elas* n4s de ouro $rilhantes,

%quil/$rio da terra, o c2u go-amos!...D

0or2m, tu, inocente, sim, perdoa*Fancei 4dio a teu pai1 quis dentro em mim<omper as leis da nature-a, odiandote!8 vo- do pensamento eu vi minh(alma

6air de horror! morrendo nos meus p2s!%u piseia! e sorrime, de tão fraca...

Ai tu, que me fi-este? amar somente,% o homem ingrato te maldisse, an3o!

% ho3e, enraivecido, ho3e eu te dei5o*+deio o mundo, 2s dele. á perdão,

0erdão... 4 virgem! se me amaste um dia,% s(inda o podes* não porque eu mereça*

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0or minha imagem não manchar teu peito*Tão puro como o achei respire eterno.

Tam$2m não sei... não quero verte, e morro

e penso que esse amor desses tre-e anosQue primeiro por mim saiute n(alma6omo o sol no oriente que esperasseomente por seu dia inda nas trevas,0ara 7 vo- do enhor apresentarse,Tão de ontem faleça a lu- das alvas!

&inha flor que eu plantei! +rvalho dela,J2firo dela fui... quem que arrancoute

a terra pr4pria, para transplantada)(outro clima te dar, onde lá cresças,

% 3á planta mais fraca e triste e pálida?Ah! com que viço o teu amor vingava!

Ah! se somente a mim, don-ela, amasses,6omo feli- tu foras, ensopando

)um s4 amor lua alma!... Tu, sem crença,/mpio, assassino, homem, que eu mordera

Teu sangue! mas, respeito* dele correeiva de flor* a veia torna l/mpida

8lveo puro. 6o$arde eu fui, 4 meiga,

0elo mundo fugir, darte o despre-o!' + Fuso como 2 $elo ao deus da sorte=ida, amor e5alando! o Tasso amante,

=/tima assim, os dias seus prolonga)um t#mulo que os ecos lhe esfriavam

os ais doridos, de um ou dois seus passos)a terra entrando* >osafá piedoso,

Teu pranto vai morrer no lago impuro,%st2ril 7s cidades, e o orrento

&esmo, viste o orrento como as cin-asas prostitutas que cercavam o Asfaltito!% o cantor de &ar/lia, quando os campos

uas ervas estremecem de escutálo%m tão saudoso adeus lá se ausentando,

@ranco touro amoroso das pastagens&ugindo aos montes, arrastado o levam

0elas torpes correntes da pol/ticaemer em negros climas! 9nda amam

Todos eles morrendo* eu 3á não te amo '

%u que te amava, e não co(amor de lá$ios*6om amor d(alma, em que eu amo angustiarme,

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%m contraçEes de morte me e5aurindo1%ssa pai5ão de f#ria ardente, horr/vel,Que soe peito de poeta arder sem fim!

arte ao mundo, sua filha, por no mundo%smagarte infeli-, -om$ar de ti!)ão sa$es, atro cão, que a $ranca virgem(homem carece para amála, e amanteoces harpas lhe afine, onde ela passe

=iva e mimosa 7 idade que não morre?...asta o ouro a mão d(homem, o tempo o mármor

;a- cair das cidades, podres frutos,=ãose com o tempo os deuses1 mas a lira,

+ s2c(lo, as geraçEes passando ouviram

8 eternidade, e o tempo asas nem corta.% ver não temes da inocBncia os dias,

Fongo viver, finados tristemente,%scorrendo das mãos de vil mat2ria,

Quantas ve-es no v/cio mergulhadas?

+h! tu, porque me amaste? e os no$res tantos,Que te incensam de roda, não $asta vão?0ara que me quiseste, eu longe andando?

;oges deles para mim... )ão* emudece8 po$re-a, ao candor* tam$2m no $osque

ei5a a selva frondosa ingBnua pom$a,=ai no pálido e fraco e humilde ramo

<ecostarse e gemer ' assim no peitoonoro 2 livre, de singela, a virgemAma a$rigarse e suspirar, morrer.

Que longos dias, dos tão curtos, poucosias que eu tenho a percorrer ligeiroAs campinas da vida, eu hei perdido%m tua adoração, penosos, tristes!

Arrependerme... não, que esta e5istBnciaToda minha não vale um teu sem$lante,"m teu rápido olhar. Quanto me custa

A tua ausBncia sopesar ainda!Amo ao longe te ver1 roçar os muros

Que ha$itas1 Istremecer 3ulgando ouvirte1)utrirme de ilusEes, de que me nutro,

6antando nas soidEes da minha vida,%m #midos suspiros meus amores

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%5pirando em teu peito1 esta saudadeQue dei5aste em$alandome nas lágrimas...

%u sou ditoso de perderte! adeus...

Adeus! perdoa, se inda o podes, virgem!

IX - O ROUXINOL

<ou5inol, o que procuras0or entre o verde murtinho,0or entre a grama cheirosa,0or entre as moitas da rosa*

0rocuras acaso o ninho

Que a torrente deslocou?

Teu amor inda dormia)a ramagem do espinheiroando 7 prole almo calor*% vais perguntando 7 flor,6omo 7s águas do ri$eiro,Quem teu ninho te levou.

Teu s4 possuir no mundo,oces filhos, doce amor,

Tudo, tudo te aca$aram...Ai, porque não te mataram

%ssa torrente de horror% os gritos do vendaval!

+ra somes na toiceira,+ra na pedra musgosa% pelas fendas da terra,

6omo quem se desenterra1Fevantas na vo- quei5osa

Teu canto, que di- teu mal.

enegre a terra tuas penas,<ompe tuas penas o espinho)ão sentes? e vais cantando,Teus amores demandando,

%m$ora perdido o ninho

6heio de frutos de amor.

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=Bs o sol como refulgeepois que a chuva estiou,<efletindo so$re o orvalho0elas folhas do carvalho?

)unca o sol não rutilou,Quando o peito anseia a dor.

+s pimpolhos resplandecem,0erfuma a $risa o 3asmim*

)ada sentes, filomela,Que no mundo sem tua $ela,

+ mundo ledo carmim,ão trevas nos olhos teus.

o$re a margem do ri$eiro,T#mido e torvo correndo,

Triste e muda a terna amante,esplumada e delirante,

e tempo em tempo gemendoAca$a os instantes seus.

%ila 3unto de seus filhos,Am$os mortos! roto o ninho

<ou5inol, pára o teu canto,<espeita seu mudo pranto,)as coifas do rosmaninho

=ai solitário chorar.

%la não te ouve, não te olha,Toda na prole sem vida!%les morreram da sorte1

A mãe lhes dará sua morte1% tu 7 amante querida*

A todos ve3o aca$ar!

Tu, amor, que cegas o homem,ás mortes mil 7 mulher1

Tu, que eu te chamo deus1Tu, que dimanas dos c2us,0orque não fa-es morrerA mim que tudo perdi?

X - CANÇÃO DE CUSSET

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e fosses, moreninha, sempre $ela,Tão $ela como 2s ho3e nesta idade,

%u fora e5p(rimentar se amor perdura,

Te amando muito.

%u sei que amor e5iste %nquanto $rilhaA flor da mocidade resplandente1

0or2m, que logo morre, quando os anosA vão murchando.

+ sonho que de noite nos em$ala%m vagas estranhe-as não sonhadas,

Apagase com o sol ' rompendo as nuvens,

%le 2 qual 2*

)ão sa$es, moreninha, que os amoresão astros deste c2u do nosso tempo?: noite que, passando, al2m d(aurora

ei5a a lem$rança?

)ão quero pois amar, sentir não queroA dor que sempre d4i, que sempre dura

aquilo que passou tão docemente% tão de pressa!

%u tenho inda saudades dos $rinquedosos tempos festivais da minha infncia,

os $ei3os que $e$i da mãe querida% a $enção de meu pai1

%u tenho inda saudades da don-ela,A quem dei meu amor, o amor primeiro!

% ela ao romper d(anos tão queimada)essa pai5ão!

+s lares paternais, meu $erço amado,6om quem no $osque andava os companheiros,

Amigos que eu perdi... $asta p(ra a vidaFevarme ao fim.

ich-  

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XI - UM DIA É SEMELHANTE À ETERNIDADE

)asce a menina, e suspensa

6omo um fruto matinalorme nos seios da mãe,@ela serpente do mal.

>á desperta no outro dia,@ranca rosa a$rindo amor,e co$re de pe3o e graças,6omo os mist2rios da flor.

% foi virgem s4 num dia,

% no outro dia 2 don-ela,%sposa e mãe 3á mais tardeTam$2m cria a prole $ela.

Quando não foi prostituta% n(alva a estrela apagou,

)em foi a fria velhiceQue so$ os p2s a calcou...

Quando no crime e nos v/cios)ão afoga o coração,

Quando maldita não somee$ai5o da perdição.

% 2 sempre a mesma cenaQue repete, ilude o mundo,

6omo a página dos anos,6omo o sol no c2u profundo.

XII - MINH’ALMA AQUI!

%is o c2u todo estrelado.%is as campinas do prado,

%is o monte cultivadoQue tantos anos não vi!

Andei por terras estranhas,

%ntre amor, $2licas sanhas,rande-as eu vi tamanhas!

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% sempre minh(alma aqui!

0ela cndida capelao vale, sonora e $ela,

+nde o pastor, a don-elaalvas cantão do enhor1

0ela campestre harmonia,0or esta vaga poesia,0ela inata simpatia

a nature-a do amor1

0or este $osque de flores%ntrelu-indo em verdores,

)o pa/s dos arredores+ndeando o plano e o monte1

0or minha terra palmosa8 tarde, enferma e saudosa,

Quando manada formosa=aria as margens da fonte1

0ela r#stica choupana

o lavrador, da silvana,a co$erta americana

%rguendo espiral o fumo,

Qual no hori-onte do mar@ranca vela a $alançar,A lu- d(aurora a cortar

ereno, transverso rumo*

%squeço o mármor lavrado)as cidades levantado,6omo figuras do fado

0or nuvens metendo a coma1

%squeço o c2u so$re a terra1oirado gelo na serra,

As torres que desenterraagrada, ruinosa <oma!

Maranhão

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XIII - A VIRGENZINHA DAS SERRAS

=Bs, 4 mãe, que vão di-endo,Toda a gente do arra$alde?Que eu amo, por2m de $alde,

Que o meu amor vaise em$ora,Que na lira se evapora

Tanto amor que ele me tem...

%le deume um $ei3o, ardente!Tão doce como a sua fala,Que de sua $oca se e5ala

6omo o perfume da flor1&as... foi um $ei3o de amor,

Que ainda me queima o rosto.

&eu coração estremece,&inh(alma foge de mim*

%u nunca senti assim+ correr da minha vida...

A pa- da infncia 2 perdida,

&inha mãe, eu vou morrer.

%u agora o compreendo*%le chamoume infeli-,

)em mais afagarme quis,)o3ento da sorte sua*Ho3e $ela como a lua.0ara enoitar a manhã.

%le chorou uma lágrima)a minha face, coitado!

%ra tão triste e mudado...&eu eus! me vendo, di-ia,

% eu de ouvilo tremiaem sa$er o que ora entendo*

Centir amor nessa idade,C)esses tre-e anos de flor,CQual manhã tinta de cor,

CQue logo se esvai no dia...C6omo a tua sorte, &aria,

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C6omeçate ho3e enganar!

CTu sa$es? eu vou partir...CQuem dera que eu não partisse!

Cempre comigo te visseC%m vida eterna de amar!CAdeus, &aria, chorar

Ce3a sempre a nossa vida.D

&eu senhor! porque me olhaste?0orque me ensinaste amar?

% tu vais correr o mar%, talve-! queimar por hiTeus olhos que so$re mi

e amorosos se e5tinguiam.

Que queres do mundo? e sa$es+nde vais? o que procuras)essa sede de loucuras?

+h, não vás... fica comigo...0or estes vales te sigo

as minhas serras de 6intra.

9rei de ru$ra saloia0lantar a terra lavrada,% de$ai5o da ramada

)a calma te acolherei*Teus suspiros $e$erei,

)a serra gemendo as águas.

&e vestirei como as flores...0ara a lira te enflorar,

4 por mim doce a tocar!Humilde no teu mandado,

0astora de nosso gado,%u serei, oh! tua escrava.

% uma escrava te não! $asta% uns amores de tre-e anos?

0elos c2us americanose 6intra a filha não queres...Tu choras... não tem poderes

+s olhos que a pátria choram.

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%u te sigo... Queres livreTer no mundo o coração.

"ma cativa 2 prisão?% s4 maldi-es tua sorte,

% s4 me falas de morte*a$erei te consolar.

' :s selvagem dos teus $osques,os teus climas do equador*

olta a vida, solto o amorAo falar da nature-a1

Tu amas pela aspere-a<esvalar teu pensamento.

Terás, 4 vento da selva,Terás, 4 vo- natural,

6om o meu amor virginal+ teu ser livre senhor...

0or2m, chorando? sua dor,@ei3oume... não sei... voou!

onhos mãos eu vi de noite,6om rios d(água sonhei!

&eu choro, 4 mãe, verterei,% como as ondas andandoTristemente e soluçando

=ou morrer tam$2m no mar.

&inha, infncia pertur$aram*6om minha mãe sossegada1&e dei5aram desgraçada,Que docemente eu vivia...%ra a noite! irmã do dia*&eu amor tudo aca$ou!

&eu amor foi s4 d(uma hora,;oi como o l/rio sorrindo*entia minh(alma a$rindoQual filha do sol num raio!0or2m murcha 3á desmaio)os seios de minha mãe.

Cintra 

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XIV - HORA COM VIDA

%u contemplava o c2u no pr do sol,+lhando para o sul. Ana comigo,

epois de toda a tarde em nossos $rincos,)o cair do crep#sculo assentouse)os meus 3oelhos, pensativa olhando1% depois nos meus om$ros por dormirei5ou pender sua fronte sonolenta,6omo essas flores de alegria, como

A rosa $ranca matutina, infante@ela entristece no fechar da noite.

orme, flor da manhã, sono sem sonhos)a árvore do amor, pom$a celeste

Que adormeceu na terra, sB meu -2firo6om teu alento virginal* teus seios

6omo nos seios de tua mãe eu sinto.

6omo et2reo rochedo, negra nuvem6omeçou a crescer1 atrás se a$riam

<elmpagos, relmpagos, que fendem6omo o fogo da casa dos pastores%ntre a parede r#stica acendendo.

A noite desentrançase em desordem0or toda a terra1 os ventos furiosos

oltaramse acocando a chuva adiante1+ $osque estronda, como em desfilada

&il cavaleiros nos despenhadeiros1+ mar repete o c2u1 perto o trovão,Qual so$re n4s rolando pelos tetos,0esado $rama, e so$ a terra o sinto

+s meus p2s levantar, qual de medrosa<efletindo sua vo- que cai dos ares,

% o mar de$ai5o arremessando os uivos!+s raios despe3avamse em distncia

o$re uma torre negra* e o $ron-e rompem,Todo o templo arru/nam, como os an3oso fogo, que o enhor aqui mandasse

estruir seus altares profanados.&as, passou. @ranquearam mansamente

As estreladas ondas, morre o vento,%spalhase o luar pela montanha,

A limpide- do c2u $rilha a torrente0ara os vales sonoros, e eu desperto

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6omo de um sonho mati-ado d(B5tases.6orri a minha mão no corpo d(Ana*

Qual num raio do sol mimosa pom$aArrepia o pescoço, estende as asas

%m sensaçEes gostosas, se encolhendo,&e apertando com os $raços longos, $rancos,%stremece, e tão plácida ondulava!)o manto meu agasalhada, #mido

0elas ra3adas que de um lado entravam.

%is uma hora da vida que me encanta.Ah, que um(hora eu vivi nesta e5istBncia!

' &eus sentidos, minha alma 7 tempestadeHorr/vel, $ela1 e so$re o coração

"m an3o virginal, uma criança.' %la depois faloume dos trovEes,Que vendome tão quieto não temia

ormindo1 e deume um $ei3o, e pela mãoFevame 3unto de sua mãe re-ando.

XV - VEM NOITE

 ./ "artem do ocaso as sombras "rimog0nitas da noite' #/ imagens de amor diante mim reoam, nascem meus lado,

chamam%me 2 e eu estreme$o!

=em, 4 noite esperançosa,o$re a montanha descer,)as asas som$rias, longas,Tantos crimes esconder.

Fá fuma a linda ca$ana+nde irei morrer de amores.

=em, 4 noite, me arre$ata0ara a filha dos pastores.

6om teus mádidos alentos,=arrendo a flor e os perfumes,

Amorna o fogo em$alado0elo aquilão dos ci#mes.

;u3o a eus, que me condena,;oge a filha ao velho par '

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0ara amor! oh, vem, 4 noite,Tantos crimes ocultar.

 *utcuil  

XVI - "...

3amb&m "or entre os cardos abre a rosa(

Amor! amor! na mangueira>á cantaram os passarinhos*Acorda, 4 linda, no monte=amos ver nascer o alvor*

&esmo assim desentrançada

=em, não tardes, meu amor!

G frescura repousemoso $oninoso pomar,

&eigas auras, meiga flor6ontemplando, 4 doce amor!

A $or$oleta respira% deslaca 2$rios revos,

6omo a folha solta ao ar*&as 7s correntes do olor

)ão, não anda, 4 virgen-inha,Fouca, louca vai de amor.

0rateado rompe o l/rio)evinitentes casulos,<oda dele o $ei3aflor9ludese vendo amor.

A laran3eira ofereceFindo adorno 7 linda noiva...&ati-a os verdes raminhos

e cintilante candor*% $elo o pomar! mais graças=e3o nele ao verte, amor!

>á se douram teus ca$elos,ourouse toda a manhã,

Teus olhos dão mais fulgor)ão fu3as... 4 doce amor!

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;oi o sol como 2 formoso,Feda $arca em mar de a-ul ';a-es do mundo um primor!

% mais que o mundo o teu rosto(e$#rneor4seo palor*0or ele que tudo alegra,

0or ele ru3o de amor.

o$re n4s verga a ramagem+ murmuroso espinheiro

im$oli-ando o pudor*Ó virgen-inha os espinhos

)ascem mais onde há mais flor*

0udi$unda e rigorosaTam$2m me foges, amor.

Tens medo que o sol te ve3a?este -2firo em tuas trancas?Tens medo que o sai$a a flor

Que tens nos olhos amor?

6oitadinha, an3o inocente!

As asas de musa temes&anchar da manhã na cor

o primeiro sol da vida!% delirante em ru$or

Ao seio as fechas, nem sa$es!0lantando rosais de amor.

4erlcuman, 185 

XVII - SONHOS DA MANHà*(((

;oge do sol, 4 noite, lenta $arca,=ais no golfo do dia naufragar*

Aqui somente os temporãos me agitam*<emonta ao largo mar.

<ecomeça tuas horas sonolentaso cume das estrelas para o monte

6adentes d(astro em astro1 o sol que morra)o fundo do hori-onte.

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+h, maior do que um deus, do$rado escravoo$re a terra, meus olhos te adoravam!

%stranha de me ver assim, teus olhos

6astos se envergonha vão.

%u $ei3ava os teus p2s, que nos meus lá$iose contra/am fugitivos, frios,

Qual trBmula mimosa sensitiva)o calor dos estios.

(inocente, ignorante, qual murmurasT/midas negativas amorosas,

Que somente se lBem na cor das faces

6omo vermelhas rosas.

6ercada de uma lu- religiosa,Tens dentro das tuas mãos a minha mão*)ão se ouve uma vo-, somente arque3a

A $oca e o coração.

)ossos olhos formavam longo pranto...+h, quantas ve-es l/mpidas torrentes

%ngrossaram de novo adormecidas&ori$undas correntes!

0or so$re o nosso peito ondeante $ai5ose$ruçavam sua lu- morta, em$e$ida)as águas dos seus rios da esperança

6omo d(e5tinta vida*

6omo dois coraçEes que se $uscavam,%rrantes som$ras de soidão, de d4*

Que$rados de emoção estremeceram,4 pranto... e pranto s4.

+h, tu nunca me olhaste! e o que mais falao que essa lágrima espontnea, pura?

6omo o sulco celeste, como as veias<etratando a espessura.

% um respeito de amor prendeume os lá$ios,

% eu pedia aos c2us tu não falasses,An3o mudo... terror $elo su$iume,

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>ulguei a vo- soltasses*

;oi $rando soluçar1 como na areia6ai suas ondas a-uis quei5oso mar,

6omo a lua, passando as 3ardas nuvens,<espira outro luar.

>á sentia no teto as andorinhas,A calhandra no ramo, o rou5inol

%ntrando pelas fendas, e os o$reiros,Tudo di-ia o sol.

' Temeste acaso que de ti sou$essem?...6a$ia a minha mão* eu despertava

a tua adoração* perulea som$ra>á longe se apagava.

Qual linfático sol ve3o rodeando&eu corpo como a terra, que fecundas

e força e vida1 qual de amor, d(esp(rançaToda minh(alma inundas*

epois, desfe-se em raios vaporosos1

&eu peito era s4 lágrimas* eu via,Toda minha e5istBncia desgraçada

)o sonho se esva/a.

% de hora em hora mais eu tenho amor*%u a$ro diante mim som$ras da morte

0or verte no long/nquo duvidoso,%m$ora, em$ora a sorte!

: por ti que estes montes frutificam,Que estes campos do mar são meus amores1

: por ti que nos c2us tenho um s4 eus,)o prado tantas flores!

Tu 2s a vo- que e5primo, 2s o meu eco,:s minh(alma, 2s a minha eternidade!

Ó noite, volta a minha vida, apagao dia a claridade!

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XVIII - M...

&aria, porque choravas)a minha triste partida?

ou tão longe, escuto aindaA tua quei5a perdida!

+ nosso amor educadoos $erços, na solidão,

;oi como a flor enganadaAos $afos da viração.

6rescemos* e d(inocente&e davas o teu amor.

Ameite! porque te amava,;ui teu sevo ceifador.

0or2m, essa flor colhidaA grata som$ra da palma,%ncanto! ideal mimoso!

Aroma eterna minh(alma.

Ameite! tua vo- d(aragem

Ainda ouço, don-ela,)os olhos meus em$e$ida

;oste para sempre $ela.

:s comigo em c2us estranhos,Toda formosa aldeã.

9nda 3untos nos deitamos)as ramas do pirinã.

+s anos que vão descendoe3am dias d(esperança1A noite de tempestade

ucede o sol da $onança.

&aria, dos olhos $elosAs veias l/mpidas pára,

)ão laves do fogo as facesQue eu amoroso $ei3ara.

&aria, constncia e vida,% todo esse amor d(outrora*

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+s anos a flor não murchamQuando o amor não descora.

4aris

XIX - PO#RE $ILHA DA POL%NIA

"ns olhos d(eterno, saudoso cantarQue em ondas van-eam, se arqueam no mar

Que em pranto se fa-emQue em lu- se desfa-eme enchendo de amor1"ns lá$ios tão tintos

e vida e pudor

)ão vendas, don-elae fronte d(estrela!

%m$ora mendiga, chorando na terra(estranhos, sem pais,

)ão manches essa alma no go-o mundano,Que o c2u vale mais!

Tiranos oprimem tua po$re fam/lia,Tua pátria infeli-...

A ;rança 2 tão $ela! coitada ave-inha,

Tu se3as feli-!%ncontres um ramo nas selvas gaulesas.+h, lua mãe te faltou, virgem, $em cedo,

;lor sem rocio, rou5inol sem ninho!% nossa mãe perdida... chora! chora!Qual pára o via3ante, e mudo e triste

Ante o a$ismo... não foi da morte a id2ia*% nem pranto e nude- sem dor os homens

Te viram, lindo c2u d(alvas estivas.4aris

XX - #ERÇOS DO AMOR PRIMEIROKE47D9L

Tristes recordaçEes! a mãe chorosa,6omo quem $usca confirmar um sonho

Ante a som$ra que fica do passado%rrante pelos s/tios tão queridos

)uma saudade sem poder dei5álos,6arpe sua filha amada* 3ulgou vBla

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)aquela flor ao vento s(inclinando1=aga promessa a nature-a e5prime

%m doces gestos de quem vai ser mãe,% ela 3á sente palpitarlhe os seios,

%la em$alalhe os $raços d(esperança '%spera ' assalta ' vai ' por2m sorriuse,;oi leve sussurrar daquele ramo.

+ amor materno triunfou, que$rouse&undano orgulho aos p2s da humanidade*

Tudo a convida 7s lágrimas, e o mundo: tão mesquinho, que um amor somente

+ fa- esva-iar! elira e geme,=endo harmonia a$ençoada em tudo,ua filha amando como as aves amam,

9nocente e divina, e ser maldita;ugitiva do lar* remorso a come '

6erdosos 3avalis a acometendo,%m gritos, sem lhe a vo- sair dos lá$ios '

% seu vivo sonhar. % contra o filho+ homem, que 2 mais $ruto, inda fremia!

)os $erços viviam d(argBntea e5istBnciaTenrinha don-ela, 2fe$o gentil*

&ais eles cresciam, mais neles vi$ravamAssnias d(amores na crença infantil.

Tão linda era a virgem! mais linda que a lua)a <ice das folhas, nas ondas do mar '

eu rosto era nota de lira encantada,eu corpo cadBncia de um vago pensar*

% ele tão no$re, sisudo e formoso,)o raio dos olhos derrama a pai5ão ';eridos centelham de morte, na calma

ão 4rgãos sagrados cm $randa canção.

9ntriga se erguera, vai lisa serpente;ala-, venenosa minando as fam/lias*

+s velhos rugiram vingança de sangue1+s moços choravam compridas vig/lias.

;urtivos uma hora no templo se viam*

)a h4stia e no cáli5 seus olhos 3uraram*)o eterno da noite da vida distante

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"m sonho de um dia somente sonharam.

%m lá$ios ardidos não dormem suspiros,Qual aves de fogo perdidas no espaço

6arpindo seu ninho, seus olhos se fecham,6oitados amantes, ouvindo o fracasso.

% filhos da infncia que amavam seus pais,>á ouvem suas $Bnçãos em mudo terror*Tão doce d(outrora, sua mãe a$orrece '

&ais crua se a leva, mais nutrea de amor.

o$re os 3oelhos paternais o moçoelirante caiu nas mãos sostida

A fronte apai5onada. %la inocenteAs disc4rdias senis* CenhorD di-ia,

C&inha vida não dais, eu sou mendigoC0or serdes pai, e s4... na divindade

Ceste amor que 2 do c2u minh(alma apuro*CQue não se3ais maldito nos meus lá$ios

C&eneai a ca$eçaC6respa de cãs* de$alde não são elas

C+ selo da prudBncia...D

em$lante de punhal cingiulhe o aspeto,e amarelo clarão $anhado e tinto

os olhos dentro de uma som$ra negra,Qual se gBmeos não fossem, transtornados1

=acila o corpo1 os dentes se arrastaram%m seus rancores1 convulsando os $raços,

=/scida $oca $iliosa impreca*C=aite!De repete* C=aite!

C% o pranto, fraco! desses olhos tira.D

olitária estava a virgem)o seu e5/lio de amor,%m torno dela gemia,

%nquanto a $risa corria9ndecisa, $reve flor '

Timidamente e5primindoeu viver encantador.

6om seus p2s sua mãe se a$raça

Toda em lágrima $anhada*eus olhos eram piedosos,

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eus ca$elos envirosos,6omo a sua alma cortada,olorosa a cru- do 6risto)a mão de cera a3untada.

Apresentalhe nos $raços+s lácteos seios que amou

e maternais vi$raçEes,+nda n(alva dos verEes

Que o mar na praia ondulou*C%la nossa ilha pre-ada

C% este sol que eus criou,

C0elas flores que plantaste

C)as terras do teu 3ardim,C0or este lago dormenteC% pela verde corrente

CQue cerca os p2s do 3asmim,C%las aves que te amaram,C;ruto que nasceu de mim!

C)ão queiras de um pranto f#ne$reCTudo murchar que foi teu*

CQue valem do mundo amores,C6omo estação de verdores,C6omo uma aurora do c2u?...

Cesgraçado o amor que a filhaC%m fera vil converteu!

C&eu caminho tu levasteC0ra o encontro do amor*C%u era ovelha inocente,

CTu vias essa alma ardente,C% nem vias com terror

C"ma pai5ão que cresciaC6omo para a morte a dor!

C+ amor com os anos mudaC%m cada quadra da vida*

CHo3e 7 mãe pertence a filhaCQue depois o amor humilha.C:s culpada, 4 mãe querida,

Cigo as leis da nature-a...C)em sou maldita perdida.D

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9ra de pais da terra si$ilava6ontra o casal de eus e de natura.

;lores, a$rivos, perfumai a relva)os $raços da soidão1 som$ra da $alsa,6ai fresca e trBmula dos -2firos1

=inde do monte, estrelas taciturnas,o monte, 4 sol de raios criadores,

Aos cantos matinais da cotovia!

% o colono cantava*C)os meus vales da ermnia,

C&eu amor 3unto de mim,

C)unca o dia foi tão $elo,C)unca a noite amei assim!

C&orremos num sol ' do c2uC)osso amor foi tão somente

C"m raio puro do %terno,CQue logo a si se recolhe

Cestes pedestais do inferno.D

' : vo- et2rea ' os amantesi-em sempre quando a ouviam

air do rio ou do campo '&orreram num sol! tão $reve0assa na esfera o relampo. '

)uma noite de pra-eresQuando as lu-es se apagaram,

% long/nquas desmaiaramonorosas vi$raçEes

as copias que eles cantavam)o mui saudoso violão,6omo opresso coraçãoAlmas irmãs e5alando1

Quando pelo ameno riou$iam longas canoas

Fonga palma em curvas proas,

=ela de ramos ao vento1

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0elos $ancos de remeiros)oturnas alas cantando,

&elodias $alançando)o silBncio dos mangueiros,

&elodias encantadas,&elodias que chora vão

Que nas correntes $oiavamas mansas águas do Anil '

os regolfos 7 cadBnciao remo na pá tangida,

6omo 7s ve-es comprimida0arece a nuvem cantar1

Quando num leito de som$ras0álida lua descia,

6omo que seu rosto erguiaFá de trás dos hori-ontes '

0or ver os astros ficando,0or ver a terra 3a-endo,

0or ver 7s auras correndo

@rando arfar o palmeira!

%sse rumor indecisoa nature-a, a ardentiaQue ruga a proa e desfiau$indo na mar2 cheia1

Quando o monte está dormindoo$re os vales de$ruçado,

% som$rio e rodeadoe vago e $elo pavor '

"m(ave parou no teto,)(asas o sono estendeu*

)em mais o vento correu,)em mais ouviuse uma vo-.

%ra o tempo em que os campos do outro anoQueimam os pastores ao pascigo novo*

"m fogo oculto da 3uncosa terra+s seios lavra e lam$e. o$re o rio.

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4, pendia a ca$ana graciosao par amante em páramo espaçoso

@ranco ar$usto de flor entre a verdura.

=irentes trepadeiras nas paredes+ $u5o e a primavera s(estendiam,0erfumadas de flor*

% arde o fogo na flor, arde a pindo$a%m rápido estridor.

%ntre o fumo de altar, $atendo as nuvensuave claridade entrou no c2u.

>á nada e5iste!0assando os pescadores na corrente,

0erguntam C=iste?D

% o $oato correu. 6onta na hist4ria>unto do fogo de 7 noitinha 7 porta,

A calada da r#stica fam/lia,6ndida e crente o camponBs vi-inho*C)ão descam$avam as estrelas ainda*

C=i florir no oriente uma roseiraC6omo o dia* so$re ela revoaram

Cuas rodas de nuvem tão $onitas,CTão l/mpidas, tão alvas como o pom$o!C% a roseira as levou ' rosas e o dia '

CFá para o fundo do anilado c2u.CTornou anoitecer* e so$re as margens

CA ca$ana das vo-es arcang2licas,CQual na entrada do estio os passarinhosC;a-em seu ninho, se aninhando cantam,

C)ão viuse mais1 assim desaparecemCFá nos mares do )orte ás luas mortas

C0alácios encantados a desoras.D

Quanto 2 doce a desgraça dos amores,A lem$rança das lágrimas en5utas

ervindo de horas vagas namoradasAs camas d(ara$rosia, são prel#dios

e um eterno go-ar que os c2us ensaiam!' &as os dias feli-es são tão poucos...

>á nada e5iste!

0assando os pescadores na corrente,0erguntam C=iste?D

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XXI - O PR&NCIPE A$RICANOKE47D9L

9 amor do c&u em terra s:4or um dia, e morre como

as flores morrem(

C@ela escrava da minha alma,o leu pr/ncipe senhora,Adeus ' a ilha m(espera,

>á desponta a ru$ra aurora.D

C)ão, 4 pr/ncipe, não fu3asa som$ra da tamareira*4 contigo, como 2 doceescansar nesta ri$eira!

+lha, a praia 2 tão deserta,Tão deserto este areai...=e3o o mar leão sanhudo6om sua 3u$a de cristal.D

C;ilha da noite sem astrosÓ filha minha, )Mdah!

;lor do verde sicmoro,ias de sol do aarah,

&il homens levam a guerra8s margens do enegal*

%m ferros trarei mil homens)estes caminhos de sal.

Quando a lua andar trBs ve-es,=indo depois a nascer,

os teus $raços desatado)os meus $raços te hás dever.D

C)ão, 4 pr/ncipe, não fu3as!)ão sei o que n(alma eu sinto...

&orrerei... se assim te fores*

6rB nos meus olhos, não minto.

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A vo- d(a$estru- n(aurora,%stes soluços do mar,

+ vento morno, o c2u triste)ão sentes tanto falar?...

>á de$ai5o do $ao$a$=Bem com o sol saudar o dia*

agrado o fogo se acende,Templo de folhas lumia*

@atendo o p2 das ra/-es,i-em aos teus antepassadosQue 3a-em dentro do troncoHá dois mil anos passados'

Que venham ver seus dom/nios,Que ainda e5iste a nação '

Todos adoram cantando,Todos 3oelhos no chão.

Acordam... vão pelos galhosAs som$ras dos velhos reis...+ povo e o reino $endi-em

=ivendo n(antigas leis...

;i-eram o giro... lá descem)a ordem da sucessão...

%m torno o povo 3á dança,<uidosas palmas na mão.

espediuse o aniversárioo que foi vivo primeiro.

%ntraram as almas... s4 pende"m $raço do derradeiro...

rita o átropos ao lado,;a-endo voltas, -um$indo,

6rnio pálido em seu dorso.estos sinistros a$rindo...

+h, não vás! calamidade&ove o $raço e dá sinal*

A morte voa na guerrao peão ao principal.

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% esse vegetal sarc4fago+nde dormem teus av4s,

)au perdida ve3o em mares...

ervindo de terra a n4s!...D

Amor de gl4ria insensata=ence os amores dá escrava*% o coração que não mente

=ingança dele $radava.

6omo ave a fugir do ramo,Que prende o laço, a don-ela

ua alma tem pelas asas

%m forças nos $raços dela*

% mais longe indo a piroga,&ais a luta se animava*% d(asas longas o alado

6onsigo o ramo arrancava.

eus gritos aterram os ventos=oltando as vagas no mar,

+ cavo da vela e$#rnea=eiose oposto formar.

<olou nas a$as do monte,emeu na $eira arenosa,As ondas vieram mansas

Fam$erlhe a pele mimosa*

a/am d(água por vBla,;a-iamlhe um $erço amigo,

"mas escumas de floresTra-endo vo-es consigo.

0ávidas fogem. as praiasFonga o $erro a penedia*

C&inha sorte ela sonhava,0endente o $raço a di-ia.D

0arou seus ramos o tronco,

Nalofo no$re ululando*As rochas foram sens/veis,

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eu choro 7s rochas levando.

9nda os olhos se desfiam0or negron/tido rosto,

9nda gelava na $oca&udas falas de desgosto,

"ns frutos nas mãos guardando,ostoso pasto de amor.

Tomoua nos largos om$ros*C&orre o que comigo for!D

6omo o elefante mordidoo insondi no palmar,

e vBlo as vagas recuamAmedrontadas ao mar.

CAs correntes! as correntes!Tempestade e o vento largo!

&eu rumo o a$ismo, do nauta=o- de agouro o pranto amargo.D

0assa a ilha de or2a,

0assa as terras de acar,)(outro dia o 6a$o=erde

;icava longe a $oiar.

)avegando 7 negra popa,%le a vive, ela o matava*

eu pranto era fumo se e5alao corpo frio que lava*

%le a cinge so$re o peito6omprimindo o coração*

A frialdade da morte;a-lhe querida ilusão.

Fi$rase no ar indecisa,audosa e tarda a pairar*

+lha aos c2us, olha na terra,)ão pde a terra dei5ar

A alma que a terra amou*Ave muda esvoaçando

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%m volta do $elo pássaro,0artindo sempre e ficando.

&orria contente o amante*

0or nuvens a som$ra vendo,A$raçavase com a morte,&em$ros a ela estendendo.

%le 3á vBse em caminho,A vida na morte está1

&as, vBse vivo* m(espera!@rada C4 alma de )Mdah!D

)ingu2m sa$e aonde o 3unco

Acaso fora encostar ')aufragado, em terra imiga,

0elas costas de al2m mar*

Qual n(areia a caravana=e-es some nos desertos,As ondas nada disseram

)estes campos desco$ertos.

9nda ho3e pelos vales,0elos montes vai gemendo

%rrante, som$ria gente,+s nomes deles tra-endo.

%, tão lenta, vem com a noite)os cumes da penedia

Arrancar ave estrangeira;undos pios de agonia*

epois revoa, chorandoo$re a praia e so$re o mar,

% se perde no hori-onte0ara outro dia assomar.

i-em ser a alma do pr/ncipeQue futuros vem contar*

0erderam seu rei, sua tri$oTerras altas de acar.

7eneg;mbia 

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XXII - PRIMEIRAS-"GUAS

Ó tempo onde a poesia tam$2m nasce!

6oroa triunfal das mãos das auras,ãote louvor os animais contentes16onversa a nature-a com suas ervas16resce a vegetação, cantando o rio1

+ c2u de transparente a-ul, e os mares0ela corrente $alançosa o levam

)um leito de liquor* eu tam$2m vivo

+ c2u, a terra sorri,@rilham astros, nascem flores,

6antam aves na montanha,;ormosa estação de amores!

)as plantas do prado ameno;avnio passa e volteia,;alam naiades na fonte,

;ala na vaga a sereia*

)ovo o campo, a rBs esmalta,

&imosa cria a pular1Fisa fusca novilhinha

Anda a manada inquietar*

<oça as pontas aguçadas)o touro, foge ligeira,

6ava ou $erra, e na plan/cieoude3a incerta carreira.

=erdura matinal da criação!0rimeiros dias da e5istBncia, quando

)as mãos de eus o mundo palpitava!%ncantado pra-er da nature-a!)ua don-ela peregrina, cndida

A sair da espessura aos campos verdesA$rindo as flores, despertando os -2firos!' + hori-onte se em$ala, como os olhos

a formosura preguiçosos li$ram=agas frmas de amor* mati-a o monte1

0ela $ai5a odorante o inseto gira1A serrania se tra3ou de galas1

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%m seus galhos os troncos se encurvaramesdo$rando suas folhas vigorosas,

Aos esmaltes do sol pendendo a fruta1eitouse a onda, por adormentála

esce apenas galerno1 em seus clamores=ai quei5oso ri$eiro, qual perdido,As pedras compungindo e o penhasco.

o$re a margem do ri$eiro,)o regaço da espessura

Terno 7 vo- que$rada d(água%5alta o moço gentio

+s encantos da tapuia,a caça quando voltou1

)os seus $raços cor do cocooirado no man-ari,

e ramo em ramo o 3api,6huva de flores por ele,

e leito em leito a corrente,+lhando ao c2u descansou*

% tão ditoso de amores@rincos engendra cora ela,

Tecelhe as trancas corridas

% depois uma capela,% depois, de vivas tintas

%nchelhe a face de cores.

6omo minha alma s(engrandece ao verte0rinc/pio da e5istBncia do equador!)em os anos caducos envelhecem

)a -ona perenal, formosa, esplendida*)asce o inverno em cndida menina,

%ducada e nutrida do alvo leitea camponesa forte, e como a planta=içosa desenvolvese uma virgem '=e-es nos olhos centelhando o raio,

A $ela vo- nas asas do trovão,0elo corpo ro$usto lhe ondulando%sta vegetação d(:den ' 7s ve-ese uma triste-a pensativa e doce.

"ra vago contemplar ' ve-es risonha

e difundindo em trinos contendores)a fresquidão dos ramos, so$re a aurora

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A espalharse de amor ' ou se amostrando)a flor a$erta da geniparana,o maracu3á ro5o, aos afagos

a nature-a rindose, a fugirse

Aos seus $ei3os na ponta da vergntea.os castelos argBnteos do -od/aco=enha agora o verão, nem desfaleceandolhe o reino florescente a irmã,

Que seis meses depois torna a ser dela,Quando 7s flechas do sol o campo fuma

6alcinado e fendido e o vento move@ranco areai os astros retratando1

Quando dos montes para a $eira descemFedas tropas ' eu amo ouvir suas vo-es,

ormir na choça, levantarme cedo,A malhada mugindo a alvoroçarse,

6omo o grupo das nuvens no oriente.

+ $osque molemente se sacode)os vapores da terra em$alsamada1

As palmeiras se a$raçam pela encosta,Amorosas don-elas se esquivando

Aos enleios dos -2firos que gemem,

eus esgalhos e as pencas arre$entam,Aonde o sa$iá guarda o seu ninho,+s cachos pelo colo suspendidos10ericumã que passa $race3ando0elo longo d(areia ecos repete

a vo- dos vegetais, por toda a parte<enascente harmonia1 acordam os salmos

%ntre as aves palustres pela $ordaa a-ulada lagoa1 o cisne a corta;ormosa 3açanã dálhe acidentes

%rguendo as asas esmaltadas, longas1)a moita do capim depEe seus ovos,

Qual outros picam, qual 3á estão tirando1Atra/da ao seu canto uru$arana

=em no $ico morrer da $ela alcione1)os ares a araponga, alimentando

oce pom$asemf2l no ramo a prole.

Fá ronca o pecori, restruge a onça

as entranhas da $renha ' amor a leva,Amor a mata no cair da som$ra

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a ta$oca frondosa* as feras te amam,9nocente sorrir da nature-a!

<e#nemse os vaqueiros nos currais,

%stão ferrando o gado* as ancas fumam)a chapa dos senhores, $erra a ane3a*<ompemse as festas* das cortinas saltam

0ara o touro que parte e a vaca $ravae apro5imando inquieta 7 vo- dos filhos

9nda encostados* na plan/cie amansam+s poldros, e 7 parelha se desfilam.

0ercorre a $acalar o senhorio,+s agr/colas falam de suas lavras.

+ camponBs na r#stica choupana0assa alegre o serão 3unto da amante*8 terna viola que nas mãos lhe treme6omo em doce gemer se evaporando

eus amores reconta apai5onado;lores perenes aos que são ditosos

K&eu cipreste fatal que nunca murcha,6(oa negra lança me escrevendo letrasL*

CTe lem$ras, -agala, aindaQuando o amor nos ferio?

%sses dias tão formososa quente sesta do estio.%sses floridos no inverno;a-iam pelos meus olhos,

%u te não vendo, o inferno!Bs que a terça escurecia,6omo a noite eu a chorar*&ocho noturno me ouvia,

+uviame a lua $ranca)estes c2us a divagar1

9nda acordado me achava+ canário, o rou5inol

Quando a romper começava&imosas cançEes ao sol1

% eu so-inho levavaAs ovelhas 7s campinas1

)ão me alegravam matinas

%m lindo ro5o arre$ol...D% desperta, e dei5a o canto,

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)os olhos a prlhe um $ei3o*C6omo tudo está sorrindo,Jagala, que assim te ve3o!D

0or2m no prado da ri$eira guiam%m $alada amorosa alvo armentio1<elu- o orvalho no capim rasteiro,

Que mais se atenra pela som$ra irmã*% ali se $rindam de murtinho e flores,% em virentes 3uncais passam na sesta.

4ericumã, 185

XXIII - VAMOS 'UNTOS!

3u ser/s ma bergerette, .e serai ton "astoureau'

 * nous chante l<alouette, * nous bondit le taureau(

;ormosa Ana dos campos, vem comigo,=amos ver pascentar nosso re$anho,6omo salta na relva o teu castanho

6arneirinho que tanto e tanto estimas*

=em tra-erlhe nas mãos cheiroso trevo,A lã mimosa lhe afagar* tremente=irá de manso, cndido, inocente

<esvalar em teus p2s, lam$er de amor.

A tarde 3á se estende na campina,% 3á $alando a ovelha a3unta os filhos

Tangendo para o cerco* os verdes trilhos,As alvas ancas d(alvas tetas $anha.

+ gado 2 todo alegre nesta quadraQuando a terra floriu, primeiras águas1

6ontente o peito humano esquece as magoas,+ >aneiro a sorrir pintando os montes.

<isonhos c2us, na lavra as plantas nascem*%rrar 2 doce os campos viridantes,

A vista dilatar pelas distantesolidEes melanc4licas, caladas1

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=er como $randamente em$ala o ventoAs folhas meneantes da palmeira,

6omo ao choro lá cantam da ri$eira

As aves que com ela vão descendo.

u$iremos o cimo da colunaA fresquidão go-ar da tarde amena,

as filhas do silvedo a cantilena)as som$ra da espessura realçando1

=er como do salgado 3á rumina)2dia manada 7 som$ra dos mangueiros,

6ontemplando das ondas os cru-eiros

Quando passa a canoa a navegar.

% depois, o serão gostoso e grato%m prática inocente e deleitosa*6ontarás em tua fala sonorosa

Aquilo que mais sou$e te agradar*

% eu te escutarei nessa harmoniaQue fa- minh(alma delirar, morrer!

A lua tão vaidosa em seu correr)os ares sentirá tanta ventura.

;ormosa Ana dos campos, vamos 3untos0elos s/tios do nosso alvo re$anho,

0ela relva onde $rinca o teu castanho6arneirinho gentil, que são teus mimos.

4ericumã, 185

XXIV - O INVERNO

ão lágrimas, são lágrimas fecundasA chuva no arvoredo carregado

Arrastando no chão sua flor e os ramos*%5ala o campo os mádidos aromasAs $or$oletas esmaltadas, $elas,

(asas largas e a-uis, aos mil confusos9nsetos de ouro* lá no $osque longe

+ lago $errador. ;resca roseiraToda a$erta de rosas encarnadas,

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omo um an3o da guarda se arrepia,ussurra ao $ei3aflor que ruge as asas,

efendendo suas filhas* e amoroso%le pia e fa- c/rculos, defuma

uas penas em seus $afos virginais10or2m, respeita a vo- materna e maga,&imosas folhas, e os $otEes que inclina+ viço esplBndido e o cristal ' humanas

on-elas, que verteis na mocidadeA r#$ea seiva que de e5cesso monta.

alve! felicidade melanc4lica,oce estação da som$ra e dos amores '%u amo o inverno do equador $rilhante!

A terra me parece mais sens/vel.Aqui as virgens não se despem negras

8 vo- do outono desdenhoso e d2spota,Ai delas fossem irmãs, filhas dos homens!

Aqui dos montes não nos foge o tronoessas aves perdidas, nem do prado

esaparece a flor. G co$ra mansa,6or d(a-ougue, tardia, um$rosa e d#ctil,

)o marfim do caminho endurecido

erpenteia, como onda de ca$elosa formosura no om$ro. A noite a lua,

Qual minha amante d(inocente riso,64(a face $ranca assentase nas palmas

a montanha estendendo os seus candores,&ãe da poesia, solitária, errante*

+ sol nem queima o c2u como os desertos,impáticas manhãs 2 sempre o dia.

eme 7s cançEes d(aldeia apai5onadas&4i saudoso violão* as vo-es cantam

6om náutico e celeste modulado.6hama 7s tácitas asas o silBncio

Ao repouso, aos amores* as torrentes0rolongam uma saudade que medita*

=aga contemplação descora um pouco+ adolescente e o velho* doce e triste

%u ve3o o meu sentir a nature-a<espirar do equador, selvagem $elae olhos alados de viver, 7 som$ra

Adormecendo d(árvore espaçosa.

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+ touro muge1 a ondulação passandoeita o 3unco, que torna a levantarse,

% de novo se acama e s(em$alança.A filha das soidEes e dos mist2rios

o meio dia e da tarde desmaiada,A mãe dos ais, a rola desgraçadaeme, geme! ' se cala a nature-a,

Tudo se despovoa e se deserta,%ntrando a revocar reminiscBncias,

Que a lem$rança perdida ela desperta.=Bse um gBnio a vagar por toda a parte

e mãos no rosto, de pendido colo% os 2$anos compridos em desfios '

%u amo o inverno! ' e o gBnio que divaga

escera coluna pelo vale 7s praias,% lá perante as águas pára e chora,9rmãs tão $elas que se simpati-am1

% os seus prantos consomemse nas fendas%negrecidas pela encosta parda.

6ai a tarde dos serros emanando+s vermelhos vapores do ocidente.

)ão teve sol o dia, suspendido

a chuva por detrás, vento nem houverosso orvalho se escoa na espessura*

+ c2u d(um a-ul vasto se evapora.ai da varanda do casal a filha,

Tão cheia da amplidão que está na tarde10ura e cndida e vaga, tudo amando,

6hega ao p2 de uma flor, afagaa e passa,6omo quem disse Cnão 2s tuD* se nascemas ervas que a rodeiam com suas flores

@or$oletas de prata, se estremecem% vem suas asas lhe encostar nos $raços,

0ousar em seu vestido e seus ca$elosos seios almos umectando a alvura.=irgem das $renhas, eu no teu regaçoormirei plácido? eu nesses teus olhosFongos esquecerei meu pensamento,+ coração de amores s(inflamando?...

=ai distra/da pela estrada nova,o ca3u ru$ro e o limoeiro em fruto

)o manto florescido se enco$rindo.%u amo o inverno! 4 mata silenciosa,

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+nde suspira a nam$upreta, e cantasalmos o sa$iá d(/ntimas harpas!

eu mais um passo a nature-a, e nasce

A vi ração mimosa do crep#sculo*Quando a canoa do ana3á se a$rindoa parte do poente a flor mi#da

(e$#rnea fenda pelo tronco entorna,6omo a p2rola corre perfumada

os lá$ios de uma esposa1 se desprende"m coco e fa- a vi$ração no solo.

A cigarra se esvai penosa, e morre.' á mais um passo a nature-a, e s(ergue

)oturna $risa pelos negros ramos1

% 3á somente senhoreia a noite>uncada de luar. %spasma os gritos

+ urutau/ na um$au$eira alvar,Tão conchegado a se perder no tronco,6omo se o tronco que desconcertasse

"ma vo- vegetal pelas soidEes.Qual d(estrelas em p4 que os c2us filtrassem,

Treme o hori-onte de folhame argBnteo,orme aos piados de desagasalho

o ca$or2 friento. Agora estendese"ma nuvem de chum$o* e n(alta noiteemia a chuva* a madrugada 2 $ela,Finda menina a amanhecer na fonte.

%strala a ave no $osque, aves ignotas<ompem alegre matinada* o rio%nlaça o p2 da languida 3ussara,

+nde o tucano em$alase engasgado6antando so$re os cachos* -um$e a a$elha,

A silvestre uruçu se envermelhece)os #midos mati-es, se revolve)a dourada resina que destila

+ $acuripanã de amenos $álsamos% amorenada fruta. + sol fechouse.

oida acorda a ave-inha que dormia,An3o da tempestade, ela a conhece,% começa a gritar voando inquieta*

+s ramos fervem* fogem se a$rigando0ela $arreira os r4seos trova dores1

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% ela s4 temperasse estridente(/gneos carmes! o cedro range e os montes,

% entre os p4los van-eia a tempestade*=ai lançada tinindo pelas nu v2us

6ontra os trovEes que se arre$entam1 guinchaeguindo o raio, e, no cru-ar dos ares,as asas solta el2tricas fa/scas!

6omo ela, tam$2m pre-o os $alançoso vendaval furioso e do relmpago,% minha alma agitar na vo- dos c2us.

%u amo o inverno! aqui durmo de amores,<edo$rando a galharda seriquara

)os $am$urrais do rio1 a espreguiçarse)a montanha a palmeira ao doce fluido

o áureo dedo do sol, doirada fBni5A renascerse da cin2rea noite '

+u minh(alma agitando 7 vo- dos c2us.Maranhão 

XXV - " PARTIDA DE UM VELHO EN$ERMO

C% eu dei5ar este c2u... como este clima

)a sua eternidade de verdura...Ó maravilha vegetal do :den!

Trinta anos passei, como nos $erços(uma hora encantada* ouvia apenasArrastaremse as águas pelos vales,

%m seus saltos partidas so$re a rocha...+h, vi por toda parte a nature-a

%loquente, orgulhosa em ma3estade6omo a lua de Agosto em flor a$erta!

;i- aqui minha pátria... ho3e estrangeiro+ filho teu verás, fria ermnia,%rrante e deslocado como a ave

Que desconhece ao manhecer seu pouso1% t/mido o meu passo não se fi5a

0elas margens do <eno... ah, sorte do homem!% eu dei5ar este c2u... )em vim faminto

omente ouro $uscar* amei no peito&inha alma dilatar ante a harmonia1

%5tenso o coração sentir rugindo,

&eu ser engrandecendo!... Adeus, @rasil!...D+s olhos alimpando, assim falava

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+ tão no$re ancião descendo 7s praias)o seu enfermo andar* em$arca1 e a vista

%lástica dei5ava so$re a terra6omo presa, quando ele 3á navega.

As costas para o rumo do navio,%ncostado na popa, em longo prantoeneroso desfa- os c2us e o monte+nde 3a- o gigante, e so$ os mares

+ <iode>aneiro se escondia1% ele inda nos p2s se suspendendo0rocura as cumiadas no hori-onte.

XXVI - $RAGMENTOS DO MAR

 *( )(4aris

Adeus, 4 Fu5em$ourg d(árvores grandes,(estátuas $elas e marm4reo lago,

%u não vos verei mais! 6horai comigo,%u s4 não vos amei, tam$2m me amastes,

)o estrondo vegetal ouvi meu nome 'Adeus, Fu5em$ourg! Tronco d(outrora,

;rondoso castanheiro, a cu3a som$ra&editava as liçEes d(alta or$ona,

&eu velho amigo aonde eu recosteime6heia a ca$eça dessa vida d(alma

Que as sonoras paredes e5alavam,Qual feridas do eco d(eloquBncia

o F2vOque e aint&arc, senti meu peitoA$raçarvos! da casca onde eu vos $ei3o<e$ente um galho, e nele um nome viva.

9nda ontem, dos ramos d(esmeralda6heirosa e fresca e doce primavera%scorr/eis em mim* ho3e somente%stremeceis 7 minha vo-, adeus!

@risas do Fu5em$ourg e as flores dele.

Qual dos $osques saindo, ainda se armaA vo- da pátria mori$unda a filha

o pastor, generoso an3o da guerra!;oi seu primeiro amor a li$erdade,

eu esposo fatal desfalecendo0or entre os homens! % ela enverga a espada,

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+s seios tece virginais e a fronte(aço lu-ido, e a cru- pende do 6risto

)o cinto feminino. %ila hero/na!ando pátria 7 sua pátria, ao rei sua c(roa1

A sua vo- de >osu2 treme +rleans%sperançosa1 e despese do manto%nsanguentado que a cercava opressa.

%ila atada a coluna, qual detida0ara aos c2us não voai pelas suas asas

Que as chamas crestam e os vales de <uãoa fogueira sua vo- separam e di-em*C=endida na traição fraterna... vedea,

C&ártir do amor da pátriaD1 4 dores d(alma!Aurora $oreal nos c2us suspensa,

% de vergonha a terra envermelheceAo long/nquo clarão. 0assando o vento,As aves que a rodeiam quando canta o

)a vi-inha ramagem, todos 3untos,Con-ela d(Are!D repetimos sempre.

% de uma a uma percorria as alasestas mulheres mudas, pelo nome

6hamandoas e di-endolhes sua morte.

Fedo casal de cisnes so$re o lago6orta dois sulcos docemente iguais*%u peço a eus a vida destas aves,% uma esposa feli-, an3o, amorosa,

&anso e piedoso e cndido cordeiro,&udos levando assim nossa e5istBncia.

Quantas meninas vão por entre as florese $elas graças, de formoso corpo!

0isando a relva de iana a casta&ontanhesa e da mágica =elleda*=irgens materiais, 4 lindas flores!

Humanas flores, cndidas don-elas!&inh(alma diante v4s ama e revive

%m sol, orvalho, amor, $risas desfeita.

%u parto, a torre 3á marcou meu tempo,Adeus, Fu5em$ourg! 9nda as muralhas

0assando eu vou $ater co(as minhas mãos

a longeva or$ona, a mãe das letras19nda uma ve- eu vou mirarlhe as ondas,

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6omo a desoras ao luar do enao$re a ponte das artes de$ruçado

9ndo 7 pátria, indo 7 pátria 7s vo-es d(água.

olfo de @iscaia.6omo fogeme a terra dos p2s,(envolvendo nesse amplo hori-onte!

=ãose terras da ;rança, perdidas!Fá sumiuse 0aris trás do monte*

6omo o sol quando no ocaso0alpitante desfalece.

uvida um(hora entre nuvens,0or nuvens desaparece.

Ce3as feli-!D me disseram.e3as feli-... ah, quem dera!

)ão mais que um dia! e mais triste)a minha infncia eu morrera.

Quantas lágrimas dásme, 4 $ela ;rança!A$rivos, solidEes, quero chorar1

@risas da noite, emudecei1 oceano,

A$afai minha vo- nas vossas ondas...

%lo vasto de vo-es grasnadoras+ hori-onte cingiu, se enrouquecendoD.

+ vento alevantou1 gritaram aves0elo em torno da nau1 procura a$rigo

A andorinha nas velas1 meio corpo%rguemse os pei5es1 enfurece o mar1

6ru-am raios no c2u em ve- d(estrelas,0ousam nos montes de suspensas nuvens,<aios nos mastros pousam* tudo horrores

% raiva, tudo ameaça! o claro verde,+ puro a-ul das águas florescidas,

6omo campo murchou, que sangue anegra.Amo viver no seio compulsado

o vendaval, $atendo impuras asase n4cteo corvo1 os ares corta o $osque,

"iva o mar 7 sua som$ra fugitiva*% minha alma estremeça muito em$ora,

A morte os om$ros a calcarme, amigo&inha face afagando 7 fala ao menos

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)ão dorme no 4cio de cansada pa-.' %ncastelamse as ondas* qual cidade

(homens, que no orgulho vão suspendemeus ricos tetos som$reando os vales

% a casa humilde do pastor, que os raiosAqueciam do sol su$indo os montes.

á sinal de perigo, leva rota@andeira de socorro ao mastar2u*

Fi$rados todos vão, ningu2m socorre,)as asas infernais da tempestade.

)em olha eus 7 terra, o c2u fechouse.A vo- do oficial apenas se ouve

F#gu$re, como o vento que falasse,

+u da vela que rasgase e desfraldaAntes de ser colhida. Homens tão fracos,

+ que fa-eis agora murmurandoe$ai5o do conv2s, mudado o rosto?...

' % a não que passou desarvorada,Qual ferido tapir salvando a$ismos,

Fá que$rouse na ponta do rochedo 'ormindo, mudo! e os mares levantaram

ua vo- noturna 7 vo- da ventania,

Aves, que no cair da presa mortaoltam em desordem triunfante grito.FamentaçEes humanas, tudo a morte<espirou, consumiu em si, somente

%sparsos restos do naufrágio ondeiam*anguinárias coroas tem na fronte,+ medonho livor mais carregando.

% as vagas toam, e t#midas se atiramo$re as vagas ' mulheres desgraçadas,

0erdidos filhos, seus esposos mortos.

+ tempo serenou1 rise o sem$lante,6omo vai se compondo o mar* 3á so$em

8 co$erta, 7s ru/nas se arrepiam,Que 3a-em como a selva descomada.

6anta o nauta, redondamse alvos panos.0or ver $rincar o atum, se a3untam ledos

A tarde so$re a $orda os passageiros.

ensas nuvens de fumo doloroso;a-emse em tiras, despregadas caem

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Atrav2s do hori-onte* a lua francaA$re seus seios de don-ela, e despe

eus vestidos no mar, como estas ondasArdentia de prata espane3ando1

6ndidas pom$as vaporosas voam,Tecem com as asas por seu rosto um v2u '&enina ru$ra pondo a mão nos olhos

"m(hora se escondeu, um(hora os astrosAmostram seu $rilhar, depois se apagão.

A lua feminina, 2 fresca noiva*As $rancas nuvens que a rodeiam manso

+s en5ovais de sedas ondulantes1+ c2u cheio d(estrelas o seu templo

+nde espera o amante, incensos auras1

% o oceano os 4rgãos levantando%m doces, divinais epitalmios.

)a $atida em que vai, fare3a e resnaAlado negro cão mordendo as ondas.%u s4 medito, a eus s4 me alevanto1

6onfusa multidão povoa errante+ conv2s, e da terra os homens falam*

0ara eles 2 mudo o isolamento

o mar, caindo a tarde fria e triste.% o mar som$rio despenteia a grenha,

escrente e sem esp(rança, de loucura,e frenesi, que o desespero arrasta*

%ngolirnos d(um golpe, os nossos ossosespedaçar o ve3o num momento!

% os homens re#nemse, amontoam+uro sanguinho e 3ogam1 se enraivecem

"ns contra os outros, sfregos de sangue.)a vo- da nature-a o eus nem ouvem!Amote, 4 mar, em louca tempestade,

&ais do que os homens com $onança n(alma16om as cousas do mundo eles procuram

+ %terno esquecer! são condenadoserrando ouvidos, sacudindo a fronte

8 3ustiça que falalhes da v/tima,Que geme ainda ensanguentada e quente.

Traga o dia so$re a fronte

Aurora láctea dourada,+u distante precipite

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%m som$ra negra e pesadaanguento ocaso a seus p2s*

' eus quem 2? quem 2 que adoro? '

%stas vagas eloquentesAo seio desçam das águas,%rgam seu colo, se empinem,e despedacem nas fráguas,6onvulsas, enfermas, $elas*

' eus quem 2? quem 2 que adoro? '

A onda pergunta ao vento,Quando a levanta a passar1&as o vento a despertava*

0ara lam$em perguntar*% a mesma vo- se repele,=agando de mar era mar.

% somente a mude- destes desertose responde ao seu eco no infinito.

7erras de Cintra

+h, ma3estade do oceano! eu vite

Ampla fronte de c2u de eus* so$re ela,6omo ante o sol nevoeiro transparente,

+ pensamento em ondas infinitas0assar... passar! e calmo o rei do s2c(9o)em toscane3a ou estremece a testa.

%u sentime nascer, e tu me visteTur$ado nos teus olhos, era um raioQue mais l#cido raio engole e apaga*

6alor vital correume pelas veiase prisioneiro que por muitos anos;echado em negros cárceres a vista

A$re ao dia, e de 3#$ilo pranteia,elira o coração, de vida e5ulta!

6omparava tua fronte esse universoe sentimento e meditar que e5ala1%u pesava tua vo- nos meus ouvidos

6onsultando a harmonia1 um ar celeste0alpitava umas ondas rodeandote.

uia na cerração, $ei3ei tua destra,Que se esfria nos anos mergulhada,

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6o$erta dessas rugas generosas1%ssa mão su3eitada envelhecida)o doce cativeiro das insnias,

%m metro moldurando o pensamento*

% de tua ve-, senil, piedoso pranto%m teus olhos que$rouse! 4 sentimento,Que $rande 7 alma do poeta sempre virgem

F/mpido choro, que os verEes não seção!

0ensador solitário, 4rfão, proscrito0oeta! eilo assentado1 estão com ele

omente os seus dois cães, 3unto 7 lareira,@rancos como a candura1 mansos, t/midos

6omo a fidelidade. % não encontras

)os homens um amigo? e os animaisAmamte mudos e naturalmente.

A pa- te rodeava, e nas paredes0endiam quadros dos que amaste, e foram1

% todos no silBncio da saudadeA página da vida pareciam

esenrolar a li, cora a vista lenta&emorando o passado. Qual se mem$ro

essa fam/lia eu fora, há longo tempo0erdido, ausente, no meu lar chegado,

enti minh(alma a$rirse ingBnua e largaA $randa atmosfera que eu respiro*

"m dos cães te afagava, como vendo)os teus olhos lu-ir o amor paterno1

+ outro vinha a mim lam$erme a face% as mãos, inquieto de alegria e festas

;elicitarme do rever meu pai!

%u parti1 tu virás 7 pátria verme.

%is, minh(alma se e5pande! 6omo o ventoTão livre e solto, meu irmão me entende,&e esperta e espalha pela fronte ardente

6om pedaços de nuvens meus ca$elos!Qual amigos achados, que se a$raçam

+ coração no coração vi$rando(entusiasmo, e ofegos derramam

a $oca a$erta generosa chama,% os sentimentos 7s feiçEes remontam.

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Aqui @Mron cantou. &esmo esta pedra,Que ora sente uma gota fria e rápidao meu pranto que apaga a viração,

Talve- estremecera de escutálo,Qual do raio ferida. +h! me pareceQue aqui te ve3o, 4 @Mron, a meu lado,A rainha esquerda unido me incitando

Ao desespero da descrença imiga6om tua vo- infernal ' verdade horr/vel!

' % 7 minha destra o tenho, an3o da guarda0reso a meu $raço contra a forca tua,

&e arrancando de ti* co(um dedo santoApontame p(ra o sol que sai das serras

0iedoso Famartine! e o penhasco@randia e geme no pesar da luta*

% d(um lado o demnio e o an3o d(outro,% eu no meio, minh(alma despedaçam!

' =oa comigo, 4 an3o, nas tuas asas6ndidas salvame* o demnio em$ora&e persiga mostrandome os meus dias6omo são desgraçados... por2m, antes

;ala- esp(rança, que a descrença eterna.

Aqui tam$2m virás, sol dos teus dias,ol dos dias depois, de todo o tempo,

e tua ve- suspirar* e tu, 4 pedra,Hás de moverte então, e não do medo

a tempestade $ela, e nem do pioa andorinha perdida que não so$e,

Que nas fendas descai1 por2m de ouviloTão sonoro e divino, que no monte

%m$atendose os montes e os penedos,% o olmo e o pinheiro, que de antigos

0assa o vento e não do$ramse ' entoaram6omo o coro do templo 7 vo- solene

Que do altar se levanta* o plano e o valeAos c2us, aos mares levaram seus ecos*

% do seio dormente a nature-a9gnoto o canto universal desperte!

+h, minha alma s(e5pande! ampla se e5ala

)o c2u! e o corpo que terreno 7 terraFanguido cai, ainda 2 $elo verse

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Que $elo templo, se aca$ado o mundo!)atural harmonia a um eus somente,"ma vista, uma vo-1 não este inferno*

+ $ruto contra o $ruto, o homem do homem

%scondese da terra nas entranhas!A fera amara ao cndido cordeiro,)em de morte manchara a lã mimosa1As aves não perderamse nas nuvens

0erdendo o ninho e o $osque de medrosas1)em os filhos do 6risto sangrariam

)em morreram na lança muçulmana1)ão viram tantos s2culos idolatras

euses de ouro $anhar fumante sangue*+ mar sempre $onança, o c2u d(auroras,

+ raio não voara entre o negrume0ousar no velho tronco, ave de fogo,% fa-Blo cair, gritando aos homens!

Ó grande-a su$lime! oh, eu quisera=er com meus olhos esse dia, quando

+ eco da palavra era o nascer,ravitar e cair, o amontoar

os seres ' confusão negre3a os ares,

)(hora tudo surgindo! oh, eu quisera&eus ouvidos nutrir desses terroreso fracasso das águas e dos montes,

% ver divino o vulto suspendido0elo espaço, que rasgase ante dele,

Atrás dele ondulando! A$erta e franca)asce a lua sem cPr, cintilam astros,

Fampeia o sol... 0or2m, meu eus di-iaQue s4 ho3e eu devera remontarmeAo princ/pio e nascer, e contemplar,<ugir d(ignaro, e de $lasfBmias ve-es+s lá$ios escumar, fender minh(alma!

% $ando alado de fantasmas giram%m manadas no ar comosas nuvensQue o pastor Aquilão condu- ao sul*

&(envolvem, passam, amam estar comigoA minha imagem pro3etando nelas10ela face do sol se espalham lentas,

+ plano e o monte som$reando, e as floresArrefecendo e os homens do tra$alho.

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A lua desmaiada está na serrae saudade e luar $anhando o p/ncaro*

impatia e candor trou5e no rosto

Que move a terra, qu(emudece ao vBla.o$re a grama cheirosa estendo o corpo,)um meio sono amolecidos olhos,

TrBmulos raios so$re as minhas pálpe$ras%nvergam seus fulgores, que anteve3o

;rescos, long/nquos, l/mpidos, saudosos,6omo a lu- virginal d(alvas deleite.

' : tarde pura* muito longe encontro,Tão longe! apenas onde a vista alcança,

6omo elásticas águas se estendendo,

6omo restos de lu-, mimosa relvaAmena e verde1 um(árvore a som$reia

Que $elo monstro enrola, e frutos pende."m homem como o dia transparente,

<odeado de sol, com frmas de homem,&as, que as perde se as $uscas, que 2 tamanho,

Que na simple unidade 2 s4 vis/vel!Fá está no cume de dourado3nonte*"m formoso casal anda a seu lado

e ro$usto mance$o e loura moca,<edondos seios e os ca$elos lisos,9nocentes $rincando com as feras

Que andam tão mansas que não fa-em mal.+ vulto cristalino contemplando

A harmonia geral da criação,9nterdi- um s4 fruto! e os a$ençoa*%ntrou no seu repouso as se5to dia,

)o cair do ocidente... Horror! das nuvensFonga espada de fogo meneando,

@radando um an3o dentro d(asas desceG vo- de maldição tudo se aterra!

;ogem deles os $rutos! vão $anidos,6oitados...=ão chorando desses campos...

Fá se assentaram tão cansados... olham0ara trás de saudade... árida a terra

>á regam de suor, pedindo um fruto...0erseguidos do inseto o corpo co$rem,

antes tão $elo ao sol!... filhos 3á nascem

0ervertidos tam$2m* nascem nas doresa mãe, que hão de amanhã, seios que os criam,

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0artir de mágoa... de mis2ria os homens>á desfa-emse! ' + c2u cresce d(encantos1)a porta da choupana há quem m(espere*

As vo-es de &acia as serras desço,

<espondendo ao meu nome, que ela chama.

+h, selvagem que eu sou* maldigo um(horaA inocBncia que eu amo! ela inda n(alva

TrBmula, esquiva e t/mida de verme,As ve-es so$ressalta, aperta os seios6omo sustendo o coração que foge

6o(as mãos frias e $rancas1 se enru$esce)as faces am$as, e seus lá$ios tremem,

% seus olhos fugaces não se filam

o$re os meus... e ela amame! ela foge!% eu... quero assentála em meus 3oelhos,

6orrer a minha mão nos seus ca$elos,6o$rila minha irmã toda de $ei3os,

)utrirme da sua fala... +h, desespero!%u manchála ela teme! e 3á tem n(alma%sse amor de mulher, o amor do go-o,

ele em$ora estremeça?... + an3o! 4 virgem!&eu amor não 2 esse, o amor da fera*

%u nutrome de amar, vivo porque amo(e5istBncia e poesia encher minh(alma,Que não de torpe e languida e cansada

%svaece em desmaios, e os sentidos6om o pensamento em$rutecido morrem.

&as, idade feli-! po$re inocente,Ho3e teus olhos s4 movem teu peito,Teus ouvidos tua vo-. Fá vai cantandoeus cnticos d(infncia, que sua mãe

%nsinoulhe levar a eus. % eu ru3o,)ão sei de que... de amor! $race3o os $raços,

acudo a fronte ao respirar mais livre.+h, não cantes* se queres que eu te escute,

e3a dos meus 3oelhos, an3o! virgem!' Aqui eu vivo* em mim tudo renasce,

entimento de amor e d(esperançaQue a multidão gastavame do peito.

3e#o 

Quando o sol de al2m das nuvensespe3a os raios no mar,

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Todo encarnado o hori-onte,Fonge, longe a se afastar,6omeçam auras do Te3oA$erta vela a em$alar.

"m chora o adeus da pátria,"ra cai nos $raços do amigo

audosos, sem perigo1Aquele $ei3ou sua mãe.

"ma s4, mimosa e virgem,)ão teve quem a$raçar,

o pai aos lados pendente6orria a vista no mar.

Tão 4rfã! tão piedosa... eu logo ameia% para sempre! eu creio... e a virgem amoume!

Tinha tre-e anos de idade!9dade da transição,

Quando da vida assaltadaente mimosa emoção.

;ormosa e pálida e $ela,Toda e5pansiva de amor,

)a graça pudica verte%manaçEes de pudor.

Am$os n4s 4rfãos na terra,Achados acaso assim...

&eus olhos iam so$re ela,eus olhos vem so$re mim.

%is vultos nascem no hori-onte, crescem,Assom$ram c2us e mar* quem sois, fantasmas?

esco$ri vosso rosto e os vossos olhos...6intra! 6intra, que sem mim ficais!

Tudo de lá me acena, 4 meus amores,&onte saudoso, 4 0ena! que me ouvias,@race3ando com as nuvens e orgulhoso

o c2u, do sol, meu canto qu(ensinavas.

Tudo me acena! as fontes mais suspiram,&aria 3ovem lá me $ate o lenço

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Alvo como ela, e #mido do pranto6omo o seu peito, que como ele ondula1

Alvoroçada grita... ai! que parece6(os os $raços arrancar a alma e mandarm(a*

i-erme Cnovo amor guardamte os mares*C&e foges* lá nos c2us te encontrarei...DTão nova, como as $reves primaveras

Que tem florido nesse vale ameno.' Ó $ela 6intra! arrancame, saudade,

&eu coração do peito, e que palpiteo$re as ondas da serra1 ou v4s, 4 penhas.

&ontes, ergueivos, me segui com ela!6intra! 6intra, que ficais! 4 mares,

Que a verde coma desfolhais ao vento,

)ão regaceis o vosso colo undoso0ara enco$rila... 4 nuvens derrocadas,

)ão cai diante mim... Ó 6intra! 4 6intra!Qual meus olhos no pranto, vos sepultam

)o 2ter espaçoso os hori-ontes...lha de 7( icente

8 palavra de eus caia o mundo*;oi um gigante o que surgiu no espaço!

(homem que era, a$rindo os olhos ávidos% a garganta inflamada, hiante ' rise,

>ulgando seu irmão defronte dele '% so$re o 6riador, 7 imagem humana

%nquanto sua o$ra contemplava um pouco,Fançase! ' eus se retirou de um lado*% devorando o viu sua pr4pria som$ra,=eloso coração rangendo, um monte

)as cavernas do peito! de cansaçoA l/ngua pendurava, imensa serpe,

6omo espada de sangue fumegandoQue de dentro dos om$ros arrancasse!

Horrendo $erro, como o vendaval.As nuvens separou ' no desengano*

% de novo a ca$eça suspendendo,+ndulante muralha se antepunha

% o monstro gira por detrás mugindo.' %ntão, contra esse filho o eus dos astros

eu raio d(indignado fulminando,

+ fe- despedaçar* di- Cdo teu sangue+ oceano se forme, e dos teus mem$ros

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A dura terra, que produ-a vermes6omo tu 2sD* e novos homens nascera,)asce a serpe o germina a morte deles1% este mar de verdete 2 sangue humana

Acre, e sempre a ferver polutas fe-es1A mais árida rocha, onde se que$ram=entos, naufrágios co$rem, e nunca treme,

=em do seu coração1 e os outros 4rgãosão essas outras terras, mato, a$rolhos1

% o homem que do c2re$ro lhe sai,0ior do que ele foi aqui respira,6omo essBncia volátil delet2ria,

&/nimo em corpo, em ser cruel grand/ssimo!

0orque não repousais uma hora, oceano?6omo o esp/rito do homem, que não dorme

At2 morrer! um eco indo passando0ela esfera* Cquem sou? quem deume o ser?+nde me levam? donde eu vim?...D perdeuse

=os espera tam$2m o fim do homem?Quão grande não será, solene e $ela,

e vossa morte a hora! num momentoulcando o c2u, qual raio luminoso,

o aceno da mão divina a som$ra,6ontraireis1 d(imenso estremecendo% como a vacilar da vo- que ouvistes,

Fevantando um gemido ' e depois... nada!% como o homem, sem sa$er que fostes,

=ossas cin-as varrendo o vento leva0elas soidEes sem fim. Que sois, oceano?

%terna agitação, suspiro eternoTendes no seio* emudecei, dormi...

)ão podeis, qual minha alma, e força oculta,Que sempre contra mim se ergue e me que$ra

6omo hástea resistente, vos ameaça*Al2m a tempestade se revolve

0ara açoitarvos. >á, como eu, convulso<ugis, lutais1 como eu v4s pereceis,

esangrado cais* inda e5pirandoomos irmãos, oceano, inda o $uscamos '

%m$alde! e sem viver n4s morreremos.' %rguei, erguei a vo-! ide entre os astros,

@atei as praias, sacudi os montes,espertai o universo, que responda,

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As ve-es em tempestade,&uitas ve-es em $onança*0or2m vãose desondandoA nossa vida 2 mudança.

G tarde, quando o sol da Isfera atirase% no ocidente, qual guerreiro, morre

(al2m fun2reas nuvens que suspensas&il $i-arras figuras, mil castelos,

elvas, rui nas pelo c2u desenham,9ludindo de maga fantasia

<u$ras campinas solitárias, amplas,6omo 3uncadas de sangu/nea relva,

A som$ra de um com$ate que ficara,

Que pelas fendas dei5am ver as nuvensTão longe! so$re o sol pousa minh(alma,>untos naufragam. %ntão amo perderme

)a soledade et2rea, e divagandoG discrição da minha imagem, eu erro.&as a tarde s(esvai, os c2us s(estrelam,

A meditar cansado ora me assento)oturno e triste na sonora proa,

olitário co(o mar e a fresca $risa1

+ pensamento a$erto, mas torvadoa grande-a ideal, pasma somente,

Admira e não sente o que compreende,6omo de amor em$rutecido, cai.

%rrante, agora me de$ruço 7 $orda,=endo as ondas passar em$ranquecidas

6omo plumas de cisne, minha fronteA umedecer de p4. e noite eu ve3o0ovoado de som$ras, de florestas,e fogos de pastor o mar deserto,

% rodeado de mude-, acordo.Ana roçoume o $raço* fria, trBmula

0elas som$ras procurame* CQue eu ve3oDTanta triste-a e solidão na lua alma!

%nchea de mim... Tua fronte desdo$radaAo longo pensamento, o que tens nelaQue a fa- tão pálida e piedosa e doce6omo a lu- do crep#sculo long/nquo?

Que frie-a te $anha o coração!

&urchando como 7 vo- d(ave agoureiraAmanhã inda há sol... não morres ho3e...

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+h! desperta, $rinquemos nesta idadea risonha manhã, nevada e pura,

@or$oletas do campo, a flor colhamos!D

% eu sonhava* e eu vime solitário,+lhando o espaço $alançando estrelas.

% esses sonhos que eu via, onde 3á forama apai5onada aurora? e foise o dia*

% eu que fui? e amanhã, quando outro solFançandose em seu vo arre$atado(água que se a$re para o cume a-ul

)ovos sonhos prestarme e nova esp(rança,Que eu serei amanhã, nesse outro dia?...

%u não tenho amanhã* minha e5istBnciaToda aca$o sempre ho3e, em$ora triste,

&ais triste o meu porvir me aterra sempre.

% tu, esperança, e tu, consoladorae todos, que me falas? oh, não queiras

&ais perseguirme1 vaite, 4 inimiga,ão mui longas tuas horas, mui comprido

Tu me fa-es o tempo... que ele passe

0ara mim, como um ai de mori$undo!%nfadonha, pesada, a$orrecida,

Ó vida d(esperança, que 2s penosaTortura deste inferno do e5istBncia!

&anga esvelta das nuvens se despenha;are3ando o mar, penoso e longe

A vo- das vagas se em$ateu no ocaso*"m $raço de gigante monstruoso(et2rea serrania se alongando

0enetra as águas, famintando presaAs entranhas revolve1 longas ondas+ rodeiam e $rave3am, como feras

eus irmãos defendendo* lentamente,e um pulso cheio, convulsivo, igual,9ndiferente vai colhendo, engoleas,

% se recolhe, e so$re o peito encru-a.% o chuveiro passou, desfe-se a trom$a,

A onda que a $ei3ava ao mar se aplana

e recentes rosais* assim da torre+ preso se de$ruça e estende o corpo

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0or a amante chegar, que se suspende)as pontas do alvo p2, que as mãos se tocam

(uma invis/vel atração chegadas.=olta 7s som$ras da torre o prisioneiro1

0elas paredes resvalou saudosaQual raio fugitivo, e desparece.

&eneia a larga cauda e as $ar$atanasFimoso leviatã cheio de conchas

6om dorso de rochedo que ondas cercam16ristalinos pendEes planta nas ventas,

e $rilhantes vapores, que em $andeiras/ris enrolam de formosa som$ra.)egra fragata lá circula as asas

o$re a nuvem dos pei5es voadores.Agora rompe a não lenç4is infindos

Que o mar t2pido choca, e vindo a aurora>á salta a criação d(escamas $elas.

=em formosa galera a largos panosArque3ando ansiosa1 silva o apito,A cortesia náutica respondese.>á ia $em mon4tona a viagem

)esta mortificante calmaria*Tristes campinas da água, se não foram%ssas novas surdindovos dos flancos,;a-endo de alegria estes sem$lantes,+u torva tempestade a desfa-Blos.

e novo 3á nos vamos isolando*Apenas desta ilha so$re ess(outra,

Que vai ficando atrás do p4 que erguemos,+s olhos inda estão1 e os meus somente

0rocuram naufragar, morrer... quem dera0orto de salvação onde ancorassem!

' "m mar tempestuoso eu tenho dentro,6omo este mar desesperado eu ando*

%stes raios da noite almofluentes)ão me afagam. A lua cor das alvas

Atravessa o ocidente matutino,H4stia cristã nas sacrossantas aras1

%m fogos de ru$i fronteira rosa,Fu-ente cáli5 se suspende no ar

0ela mão invis/vel criadorao sacerdote rei, do eus dos astros.

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)em as horas do sol são minhas horas,A noite para mim perde o seu sono,

)em 2 meu nem sou dele o mundo ' eu amo!

Quem foi que t(ensinou tão triste pouso,Ó solitária virgem? onde vagueiamTeus pensamentos? que um suspiro corta

)esse mimoso, cndido, tenu/ssimoArfar ' teus seios l/mpidos se erguendo

9gualmente, e de ti mesma esquecida,Teus olhos onde vão? quanto 2s do c2u0ousada assim! de claroa-ul vestida,

%svelta e simples, singele-a toda,esma-elada e virginal e infante,

)o $raço longo reclinada, n(haste@otam pendido ao cristalino peso

a aromosa manhã. =e-es s(enrugamTua fronte e os olhos, so$ o pensamento

Que numa ave passou na face d(água."ra doce encanto, amores espontneos

6orrem como onda do teu rosto, e o corpoQue$rado pelo meio! % tu nem pensas,

0o$re inocente, o ar que tu respiras

: minha vida derramada em torno.

&eu pensamento delirante, oh, nunca6o(essas asas não voes! ave atrevida,

Arro3ada num c2u deliciosoe fantasias magas! tenho -elos

o meu louco ideal pensando nela,Jelos dos sonhos meus minh(alma açoito,<epreendo os meus olhos, meus dese3os,

Quando por ela l/quidos fluindo,Querem morrer, devanear d(amores

esterrados por ela e tão coitada,Tão d(inocente mansidão... Horror!

+h, remorsos! mancheia na minh(alma*om$rio a$ismo, um antro, a$rime o inferno,

+nde eu possa esconderme do meu eus!Costas do =rasil

alve! p/ncaros frondosos

o meu frondoso @rasil,+s p2s em verde esmeralda,

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A fronte num c2u de anil.

ão meus irmãos estes aresQue vem meu rosto afagar,

)o meu encontro saudosos6orrendo por so$re o mar.

As aves so$em que eu venho,%scuto seu doce canto

)a montanha realçando

0elo c2u longo descanto.<eque$randose as palmeiras

<espiram suavemente,

6omo virgens encantadas1

+ regato ergue a corrente.+ sol desonda seus raios0elos decl/vios do monte1As nuvens se purpureiam,

=estem galas o hori-onte*6omo a fam/lia que espera

+ filho por muito ausente,%m festas tudo se enova,Tudo alvoroça contente.

Ó terras que o ser me deram,<ecolheime em vosso seio,

6omo os irmãos a >os2,Quando d(escravo lhes veio.

a cara pátria, 4 musa do crep#sculo,Ao c2u a-ul que está sorrindo, acorda+s pretos olhos, e os ca$elos d(2$ano

Aos ventos, solta aos ventos, doce amada!A vo- d(alma desprende 7 vo- do monte

as palmeiras sonoras e dos rios

Que nos campos se erguendo ao mar se lançam!Ó musa, 4 musa! acorda o sono eternoo leito de al2mmar, da fria %uropa.

8 som$ra do deserto, erguido o vento,o$ tuas mãos tuas harpas se desatem*

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e tua ve- adormenta a selva antigaQue te sou$e educar feli- d(outrora)a vida maternal d(alva dos anos,

%scutarte o vagido acalentado

)o canto de seus pássaros $rilhantes.<ece$e o filho teu, pátria adorada1&ãe piedosa, não sequeislhe o seio.

>io de .aneiro

)em olhes para o chão servil dos homens,;alcão divino1 das tuas nuvens sentea terra a vida, o inspirado encanto*Qual /ndia virgem das florestas suas,Que seu leito são ramos de folhagem

+nde ela dorme 7 nature-a e cresce%n2rgica e selvagem, nua e $ela,Ao eco de Ama-onas e palmeiras

Que em toda parte lhe renasce, e em$ala+ deserto e os sertEes. %la divaga

0orque a alma tem cheia d(e5istBncia*+ra pende no rio e dálhe ouvidos

0or entenderlhe a ondulação das vo-es,=endo co(s $raços se uma estrela apanha,

Fu-entes $4ias nos espelhos d(água1+ra a$raça uma selva e lhe pergunta

Que di- no seu falar ' quando ela acena6om seus ramos ao c2u ' que di- o vento?

' % a criação seus cnticos esmaltaAos 4rgãos perenais da nature-a,

% a /ndia virgem por seus montes erraem medo d(homens, sem temer as feras.

Torrentes de poesia, essa poesiaQue a muita dor talve-, talve- a idade<epresou no teu peito, há de e5alarse6om tua alma desfeita, como o fumoQue do cedro que arde erguese puro%m long/nquo hori-onte do crep#sculo

em ser dos ventos pertur$ado aos c2us.% as douradas cadeias sonorosas

Que em $ons tempos viris eterni-avas,+ mundo todo arrastaram de novo

6om m/stico poder que tens dos c2us.

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%ste c2u tão a-ul, e o sol num fogo(americana lu-1 este mar verdeu$indo pela encosta enegrecida

os p/ncaros do sul sempre de galas,

<o5as nuvens no cimo, um r2gio mantoe opulenta, eternal, fresca e cheirosa=egetação ondeandolhes nos flancos,

aias por corpo de mulher formosa,<omperam... romperam, cisne celeste,

+ teu canto final! que vais partir...0or2m, tudo isto, 4 pai, dáme s4 lágrimas,

)ão entendo porque* parou no peito&eu coração, minh(alma de medrosa

o$ si se recolhe, e de uma noite

Tão pálida como ela envolta, cai.: minha vida um pesadelo eterno

(uma noite afrontosa* quando um dia<aiará para mim? quando este peso

0oderei sacudir, que tanto mata?Acordar, levantarme deste leito

a terra, duro e triste, e sudoradoo meu peito que em forças se desfa-?...

=ahia

Ó minha sorte d(ho3e! 4 sorte d(ontem!)ão me viste passando, 4 mar, tão ledo)as asas da esperança? e uns doces ares

em esforço levavamme inspirado)(um c/rculo de amores vaporoso,0rimaverosas graças respirando,

<osa encarnada ao sol e5posta a$rindo.

Que viagem feli-! quanta $onança,Quanto galerno! as ondas se humilhavam

0or dei5ála passar, que amor sentiam% murmurando amor se de$ruçavam

)os $raços do oceano indo em suspiros...ia, encanto difunde em torno dela

oce lu- d(inocBncia erguendo os raios.)ão a viste, matrona $rasileira,

0assar na glauca relva? pom$a nova)um voar titu$ante 7 flor do lago '

<oçando a ponta d(asas docementeFminas dei5a vinculando, tintas

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o carmim matinal, do verde lácteo,<espiraçEes do dia em frescos $erços.

' &eigas rolas a-uis do um$roso norte,=ossa irmã se perdeu, gemei na selva.

)em ouro nem rique-as a fa-iam,eu ser todo era ela, uma flor nua,Toda cheirosa e $ela de si mesma*

oces nuvens de um puro firmamentoepois da chuva 7 tarde, os seus vestidos

0elo seu corpo algodoso e tenro,+s $raços longos de vergntea, os om$ros

e seda, se anilando se a$randavam1%spreguiça no seio alvoreas p2rolas,

6omo 7s $onanças do alto mar vivendo1)as conchas de marfim, como de p2talas,Astros nos p4los dois orvalhos tremem*

ingela como a estrela do crep#sculoo c2u a-ul tra3ada, e como o l/rioomente de suas folhas inocentes,

%u viaa minha noiva! matutina,)essa idade fatal, quando eu as amo1

Quando esparso o pudor na lu- do rosto,

uvidosa a pai5ão, ignoram e temem10orque naturalmente inda s4 sentem

A dor que os olhos vertem, e assaltadas6om vaga timide- nos fogem* pensão)o seu recolhimento, e de piedosas

4 nos sa$em fugir1 po$res! nos amame um amor virginal apenas d(alma,

Que os vis sentidos não se nutrem dele.' 6ai tuas folhas, @ahia, das mangueiras,a 3aca murcha a flor, teus frutos morre1' =4s, 4 rolas a-uis do um$roso norte,

ei5ai as penas* a perdi... perdivos.

)ovil#nio na #mida montanha@rando claro das faces estilando

e a-ulado cristal, que lava o temploas compridas palmeiras, que amorosas%stremecem dos p2s 7 rama e envergam

oces arcos aos -2firos dos cumes,

%nquanto a $ai5a de sereno empasta*+ astro se perdeu1 deste hori-onte

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=e3o a terra em meus p2s desfalecendo!Agora os temporais são meus encantos,

&esmo o naufrágio amara, em noite horrenda@rigar com a morte* compulsar minha alma

osto em sonhos de amor, ou nos perigos%ntão eu vivo. +s mares Istão mudados,+h, ela não vem mais... olhai as ondas!

6aio a noite em mim, nem mais seus olhos+ dia me alevantam, como d(antes.

>ecife 

alve, 4 $arca formosa! alve, 4 $arca!0a/s dos meus amores do alto mar*

em tBla vossas asas vos erguendo,

6omo as ondas correis? onde a dei5astes?' A direção do acaso, nos meus olhos&il ve-es eu a vi, que nela eu penso*;oi somente a ilusão da imagem pura

%manandome d(alma 7 diante... 4 som$ra,Que em tua som$ra me cansas fugitiva!

9nda a impressão guardais dos p2s mimosos,Ó $arca, no conv2s ' quando ela andava

istraindo, radiando o pensamento

0ela verdura da água? Que respeito!6omeçavam nos c2us as tempestades,

As nuvens desfa-iamse ao vBla!' e$alde a multidão rompe de noite,

%strela su$alterna que perdeuseo seu astro, e, sem lu-, por trás do espaço

=ai apagada errante1 oh, foi de$aldeQue tudo pareceume a ti! não era.0orque dei5aste o teu vestido a-ul?Que fa-iame ao longe conhecerte,

6omo pelas suas flores qual a planta,6omo pelas suas nuvens a manhã.

Maranhão 

e so$ a proa se levanta d(águaTão pura como o c2u, coroada d(ervas

@ela ninfa do norte* o 0indo heleno+ sol que tessalino alumiava

Fem$rar fa-ia1 americana 0alas

e enlevando no mar, como vaidosa6orre os olhos em torno pelos om$ros

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)os filhos, como selvas que a rodeiam*' Aquele vB, que as ta$as desenterra

epultas na folhagem do carvalho,Ao clima das palmeiras transplantado,

%ncheas das festas do guerreiro e os cantosA vo- do maracá ruidoso e $elo16aminho de 0ascal, so$e os altares

@ei3ar suas mãos, sacrificar a )eton,6ingida a fronte1 a corrupção moderna

Açoita vo- romana. >á mais perto,A minha vista me pertur$a, sinto

@anharme o peito um ar... que eu não estranho,&as, que procuro conhecer... %u amo

%stas costas, aquele pedregulho,

Que a resposta de um /ndio fe- o nome.9solado e limoso ali suspenso,

%strela refletindo ao navegante,Apertado nos $raços das escumas,<ei d(água sacudindo a ca$eleira

%ntre as $rancas ocenidas risonhas!&ais longe espalhase uma terra... Alcntara!

)egra ossada d(incgnito cadáver%ra sepultura a$andonada, $ela

6ingida das $arreiras como sangue1% pelas torres tristemente errando

=e3o as som$ras dos meus antepassados,0elos ávitos t#mulos se encostam.

9lha de ão Fui-! meu eus, eu morro!@andeira de ão &arcos, entre as palmas

=erdes como ela! oce claridade6ircundame, em transportes, qual a morte

&e adormece d(enlevos! eus, 4 eus!)as águas deste mar lava a minha alma,Ao lado de meus pais dei5a o meu corpo

)esta hora de rever o &aranhãoAs rainhas terras, minhas ondas glaucas

% o meu sol do equador meu c2u minh(almaQue 2 tudo isto que frma a minha pátria!

elvagem sou, nos montes eu nasci0or entre as camponesas e os pastores

Amo a vida levar entre os louvoresas aves do meu lar cantando a mi1

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Amo os costumes em que fui criado,6orrer livre no $osque e na ri$eira,&eus amores 7 som$ra da palmeira

escantar, e dormir sono enlevado1

Amo a vo- de poesia na floresta,% o -um$ido noturno dos insetos,9nvernosos concertos incompletos

os lagos, invernosa a tarde e nesta1

%u amo o trove3ar, tremer do monteQuando em lascas o tronco atira o raio,=er os astros caindo em seu desmaio,

)as torrentes perder seu leito a fonte1

)a mata o sa$iá melodiandoQuando, a chuva estiou, e os passarinhos

a meia noite1 andar pelos caminhos,Amo ouvir os tropeiros ir cantando1

Amo a vo- da cigarra no hori-onte,A tarde quando pousa ave som$ria

Ante a fronte da noite e os p2s do dia,A mãe com os filhos a voltar da fonte*

: esta a minha terra, este o meu sol,%stes meus ares que eu respiro n(alma,%sta a rama que a$rigame da calma,%ste o meu c2u da tarde e do arre$ol.

uspenso nestes cumes arenososou ave do seu ninho em torno olhando,

%, vaidosa! suas asas levantando6anta, e percorre os climas tão saudosos1

Triunfante adormece, ine$riadae B5tase e pra-er ao som das vagas6aindo no areal, $atendo as fragas,

%ncantando os 3ardins d(água salgada1

% longa o eco pelas praias lento1

e sensaçEes as penas arrepia,%stremece de amor, e a onda fria

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Qual vo- do derradeiro menestrel)o monte quando sua harpa suspendia!

9nda 7 som$ra da lua na choupana

@ai5o canta na viola essas cantigas,Que eu amava da infncia, tão antigas,Triste escravo... 2 sua dor que ali dimana.

0elas dunas me estendo, qual de amorA$raçoas mesmo 7 face do luar1

e dia inda me sentem delirar%ntre os raios plangentes do equador.

(um c2u de negro a-ul t2pido velo

rosso e l/mpido cai, nevando a terra,A mim e os vales e o rochedo e a serra,

% eu m envolvo da noite e o c2u tão $elo!

ias do meu pa/s! como eu revivoe$ai5o do meu sol de um clima ardente!

+ vento muge e sopra duramente;endida encosta do calor estivo.

=e3o em torno de mim minhas irmãs,% as minhas virgen-inhas mais crescidas,

&ais t/midas, sisudas, mais queridas,&eus amigos, meus velhos d(alvas cãs*

%m todos $raços eu me lanço e choro,% todos emudecem me revendo,

oce pranto dos olhos escorrendo,oce peito me a$rindo, aonde eu moro*

%scutam minha fala, a reconhecem1&eus ouvidos eu encho d(harmonias*

+h, que eu torno encontrar meus outros diasos outros tempos, que nos anos descem!

a minha vida recomeço o fio*o dia de ho3e ao dia da partida,

eus! apaguemos... 7 estação florida9nverno sucedeu, renasça o estio!

Qual n(um sonho eu vacilo, eu paro, eu olho,

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=ácuo o peito d(ausBncia quero encher...into necessidade de morrer!

)a minh(alma som$ria me recolho.

0or2m de novo o c/rculo me estreitam6ontemplativos, tocamme, se chegam1"m momento meus olhos não en5ergam,

)os seus om$ros me atiro, em meus se deitam.

Aqui a vida corre docemente6omo a e5istBncia dos primeiros anos,Fhana e despida e l/mpida de enganos,

+nda a-ul pelas voltas da corrente.

Aqui sinto nascer alegre o dia 'A andorinha no teto, a vo- d(infante

6horando, o rou5inol* marm4rea amante,A lua que comigo adormecia,

esmaiou, s(escondeu nos meus lenç4is;ugindo como adultera1 e, -eloso,

@elos dardos despede o $elo esposouerreiro so$re mim dos arre$4is.

% no silBncio a lua vai tão $ela!ei5o minh(alma, dei5o o pensamento0erderse na amplidão do isolamento,

%nquanto eu vou saudar minha don-ela.

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NOITES 

XXVII - O CIPRESTE

C%m horas silenciosas,Quando a lua desmaiada

<oça os decl/vios celestes,e pranto a face cortada1

Quando arranca dos meus ramosTrBmula som$ra e restampa,6omo o vo so$re o cadáver,

)a lisa face da campa '

e estendendo, alva $alança0endida lá no ocidente1

Que volta e $ei3ame os p4s,=oando $ela e crescente '

?em "resumo serem meus os "ensamentos filos:ficos nesta segunda "arte' emtodo o tem"o eles e@istiram, desde que o homem, descendo os bra$osestendidos ao c&u, olhou sobre si, e interrogou a natureza com a razão que lhed/ a erdade de uma E@ist0ncia infinita, e que "arece negar%lhe a ida al&m(Aoram sim"les disserta$Bes escritas em erso( Eu res"eito, amo a id&ia uniersal2 encantadora! 7ublime!

%u sinto pelo meu tronco,esatadas so$re a aragem,Trancas leves se a$raçarem,

6aindo prantos na la3em.

0rantos regamme as ra/-es,@anhamme as folhas, suspiros,

A$ro os seios aos gemidosos mais long/nquos retiros.

+s quei5umes soluçados)o sepulcro materna!

0enetram, vi$ram meu corpo,;antasma piramidal.

a vi#va meiga e triste

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Facerados sentimentoseus lá$ios vertendo puros,

%m$alamme como os ventos.

olitário e mudo e grave)o meio do cemit2rio,Terra pálida de mortos

%nvolvo em fundo mist2rio*

ou som$ra aos ossos da campa,;aço o passante pensar,

o negro $osque do inverno%u presido o desfolhar1

Tra3ado de folhas negras,0intame o gesto a triste-a...

&as, aos t#mulos dou som$ra,% uma vo- 7 nature-a.

&edrosa e tão fida aos votos,Amparo a virgem que chora,

A minha seiva alimentaA que ela perde e descora1

Fouco amante, qual fechado)a minha vestia fatal,

o$re a campa da don-elaei5a o corpo e um punhal*

% do peito qu(inda $ateArranca a alma! e qual vento0assando levame, 7s nuvensFançada num pensamento!

% no sossego da noite,Quando as estrelas esvoaçam,

At2 que os raios do dia&ui de longe a terra ameaçam,

)o frio 3ardim dos mortos%u ve3o espectros nascer*

Todos irmãos me rodeiam,

Ave noturna a gemer1

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esaparecem n(uma hora,)um duvidoso rumor1

<enascem, vagam, murmuramom$rias longas de amor1

0elas muralhas contemplam,Acenam passada a vida...

0or2m, tão tristes caminhão0ara a eternal dormida*

)as sepulturas os ve3oo$re os ossos se estendendo,% depois com o v2u da terra,

Que romperam, se envolvendo*

A cada pedra que a$ateFongo gemido se e5ala.

Acorda o mundo dos vivos1)o meu pa/s tudo cala.

% do nascer ao sol por0lantam mortos no 3ardim,

)ovas flores que com a noite

=ingam em torno de mim.

&/stica som$ra da vida,a morte a negra e5pressão '

%u amo o ci presta1 a rosa)ão me esmalta o coração*

%ncantos do afortunadoAmoroso trovador.

e cipreste a minha lira&eneia cançEes de dor.

XXVIII - A VELHICE

3alez ainda uma noite((( seus olhos foram no horizonte' um inculo de l/grimaassomou' e o elho distraio o "ensamento(

;ria e pálida velhiceesce lá no fundo vale '

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Tão fundo, que não se en5erga)as som$ras envolto o leito!

esce, a pa- leva no peito

6omo quando a palma envergao 3usto a vida se e5ale)os $erços da meninice.

emendo ao peso da idade;raquea o languido passo1

% desce, e pára, rodeia0or toda a parte seus olhos*

Adiante tecemse a$rolhos!

Atrás um monte se arqueia!este lado encontra o espaço!este lado enche a saudade!

% depois num mar de pranto)aufraga, $anha o hori-onte1% depois... sem remo e $arca

)ão tem senão mar e c2u!

Toda a esperança perdeu,eu pulso a vida não marca,

Apagase o sol no monte0or entre noturno canto.

&onte fatal d(anos seuse seus dias tão pesados,%rguidos tão lentamente,

Tudo 3a- no pr do sol!

)o cum(stá murcha a frol1<oda a terra do ocidente

%m passos tão apressados0ara o nascente de eus!

>á sua fronte empalidece,eus olhos lá se fitaram

Fonge, al2m... riso da morte<oçalhe o velo da face*

6eleste e5pressão 3á nasce

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%m seu sem$lante. Tão forte,6omo sua alma arrancaram,+lhando o$l/quo estremece!

6oragem! mais um s4 passo,a porta não recueis*A casa de vosso pai,

onde partistes, chegastes*

)o caminho não cansastes?escansai, entrai, entrai!' %le passou. 0erce$eiso via3ante o fracasso?...

)ada. Tudo emudeceu*A poeira do caminho

o$re os seus rastos caio*&orre uma vo- no hori-onte.

ecou a veia da fonteQue pela terra sumiu,

A ave parte ao seu ninho,"m homem ho3e morreu.

XXIX - A ESCRAVA

CTriste sorte me arrasta nesta vida!%scrava eu sou, não tenho li$erdade!Tenho inve3a da $ranca, que tem dela

Todas horas do dia!

%u sinto me crescer vida nos anos,% mais velo- que a vida amor eu sinto

Querer a$rir em mim... eu sou escrava,&inha fronte 2 servil.

0or estes c2us meus olhos amorteço,)estas plagas de anil piedosa os canço1

Ah! neste horror da escravidão perdida...)estes c2us não há eus!

Tenho amor, sinto dor, minha alma 2 $elaAqui na primavera a espane3arse!

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0or2m nas pr4prias asas me recolho,+ cativeiro as cresta.

"m s4 raio do sol não me pertence,

%u nunca o vi nascer1 quando ele morreAinda o encarnado do ocidente)ão posso contemplar*

&esmo esta hora que furto 7 meia noiteAo meu repouso do alque$rado corpo,

A ver as estrelinhas nos meus olhos6omo no manso rio,

%u não tenho segura! o vento leve,

A lua como eu sou d(alvas camisas,;a-emme estremecer1 eu ve3o em tudo

&eus so$er$os senhores.

%u me escondo, que a terra não me ve3a,)as som$ras da folhosa $ananeira*% os insetos noturnos me parecem

enunciar meu crime...

+h! não digam que eu venho ao astro pálido&inha sorte chorar... %u tenho inve3aa $ranca, porque tem todas as horas

o dia todo inteiro!

%u sou $ela tam$2m, minha alma 2pura,&ais do que ela talve-... cansa o meu corpo

omente o cru servir, nervosos medos% o del/rio da morte...

o mundo o meu amor não se alimenta,Que não há li$erdade* eu sonho os c2us...

&as, nos c2us não há eus... na minha vida)ão há nenhuma esp(rança!

%m$ora, o sangue do meu peito se3a0reces ao 6riador, meu coração

=irgem deilhe* gemendo ao sacrif/cio,0or ele inda se e5ale.

Tenho inve3a da $ranca, com tal sorte

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Quanto eu fora feli-! os dias todos!0assara todo o tempo aos c2us olhando,

Quisera ver meu eus!

+uvira todo o cntico dos pássaros,os ventos e das selvas e dos mares1As flores eu amara como adorno

o meu templo d(estrelas...

%scrava eu sou, em$ora a$rase a vida,%smoreceme tudo e desanima1

Al2m deste hori-onte eu nada espero,Aqui me ve5a a sorte...D

6antava o galo preto* ela esquecida,=eio a aurora encontrála, que at2 ho3e)ão vira, nunca. Fhe pasmava a vista,

&as enlevada e doce, prolongando)as faces novas relu-entes fios*

% de um encanto rodeada esteve,Quando o açoite vi$rou longe. ' %ra um preso

Que gemia ao nascer, ao pr do sol,Harpas memnnias se escorrendo em dores,

At2 que desmaiasse, e adormecia8 cadBncia dos golpes que o rompiam.

% o dei5avam 3a-endo* a vida e o sangue@ofa em golfadas d(e5pirante $oca.

' Todo o dia dormiu, talve- sonhasse...9nda dormindo está, no $raço o corpo%m desmem$ros lanhado se amontoa

Transudando uma água* a ver se 2 morto,6om a ponta do açoite o tocam* im4vel,

%rgue os olhos de vidro, e lento os caia lu- aos passos lh(inundando os ferros

e som$ria prisão. =ive* e começae novo a desfa-er nos ais um nome1

% tornava a dormir, at2 que aca$a*9nda o sacodem, gritam, e ferem ainda!

' %ra da escrava o irmão* 3ovem como ela,Bmeos do mesmo amor, am$os sonhando

este ideal que as almas arre$atae generoso enlevo. A linda filha

e seus senhores, da crioula inve3a,%le amara, coitado! 4 cor, 4 sorte,

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Que negro e escravo o fe-! entenciado;oi aos ferros morrer de fome lenta,e sede lenta1 e na manhã, no ocaso,im$oli-ando o sol, ir pouco e pouco

A vida mais sens/vel derramando)os laços infernais do viramundo!% do seu peito retalhado nasce

6omo da terra um som su$terrneo,0uros 4rgãos de amor crescendo aos c2us.

T/mida espantase a crioula, e foge*Feva o dia a vagar so-inha errante,

6omo quem da e5istBncia em despedidaa#da o sol e os campos.

&endigando piedade, chora 7s portasa fa-enda vi-inha* os homens riam,%m troco lhe pediam seus amores,

o$re o seu colo uma hora*

% ela estremecia, e, d(inocenteQual vagas de pudor vinham so$re ela.

% como o sol ca/sse, ela voltava

e si mesma ao senhor.

eu erro a confessar, os p2s lhe $ei3a,Que a magoam* soluços não lhe valem)em pranto virginal nem eus do c2u,

Tudo emudece 7 escrava!

%stendida no chão de finas pedras,Que 3á sangramlhe o corpo que se arqueia,

0edia a eus 3ustiça da inocBncia,6ompai5ão ao tirano.

0eiada em duros n4s, lhe começavamespir o corpo e o seio* ela tran-iu*

argalhada infernal o$l/qua ao mundo...%mudeceu. &ist2rio!

% seu irmão gemeu no mesmo tempo,%m seu t#mulo o sol tam$2m fechouse,

% todos para o eus partiram 3untos '6rioula, escravo e sol.

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XXX - A MALDIÇÃO DO CATIVO

ou cativo, na cor trago a noiteesta vida d(escravo tão má!&ãos do dia que algemas nos tecem

anguinosas, no inferno são lá!

)o silBncio d(um$roso passado"m gemido recorda sua dor*

% o fracasso dos soes qu(inda vemerão sempre gemidos de horror.

9nda mesmo que mudese a sorte,9nda mesmo que mude a nação,Terra onde gememos em ferros

>unquem flores servis ' maldição!

)ão dormido nos $raços da esposa,Que por terras estranhas vendida)unca mais eu verei* eu que a via

%ntre os dentes d(uma onça incendida.

=i seu colo arque3ante cru-ado,&agoada sua face de amor...

&uito em$ora, mas nunca do$radae mulher que era minha ao senhor!

%ntrançada com peias na escada,6ompassados açoites si$ilam,

% $anhados da carne que tra-em=ão n(areia, e de novo cintilam*

% a cadBncia do golpe e dos gritos&ais o horr/vel da cena redo$ra*

<uge a fera de um lado1 a inocente+h, de dores se morde, se enco$ra!

=i seu corpo de negras correntes%nleado, que o roto vestido

@em mostravalhe, e os ferros e o corpo...

&uito em$ora, mas nunca vendido!

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&uda e lenta passou, fatigadae um tra$alho d(insano sofrer*

% os seus olhos e os meus se encontraram,% entre pranto vi pranto correr.

ura vida, que amava, onde foi?% nem mais minha filha e mulher,

Que em la$ores d(escravo eram $risasQue em seus seios me vinham colher.

A desoras, sopito o tirano,Ao mortiço clarão da candeia

&inha filha afagou minha destraFá no rancho palhoso d(aldeia.

&inha filha cresceu, e formosa6omo a flor lhe nascia a feição '%ram faces de um preto retinto,%ram olhos de um vivo loução.

%, depois da ign4$il vingança,>á vendida na praça, e por hi,

em respeitos 7 igre3a ' qual eus,

;a- um(orfã, uma vi#va, ai de mi!

%, da magoa infantil esquecido,oce mãe quando a o$riga açoitar...

% eu craveilhe as cadeias... n4s am$os4 por ela esta vida a levar '

A$re os olhos de fera sedenta,Amoroso da po$re filhinha,

Amoroso... que fera não ama*i-, fa-Bla, rendida, rainha

0or2m eu que no peito co-iaÓdio ingrato de um vil coração,

Aguardava pretido a don-elaa serpeia, fala- sedução.

&as a filha d(outrora paterna,@em depressa, qual sempre a mulher

elirante do mundo, de amores%m seus $raços se foi recolher*

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espre-ou minha $enção! perdido,estru/los pensei* desgraçado,

Am$os 3untos segui pelas som$ras,

6omo espectro d(infernos armado.

)ão que em sangue insensato alme3asse&inha faca tingir* que ante o risoa filhinha a que$rara, coitada,Tam$2m %va pecou no 0ara/so*

&as nas ervas da dor, mutiladoo tão cru meu senhor vingativo '

6epa f2rtil, que frutos lhe dava

e alimento e de amor... ah! % cativo

%u fui cão de fare3os danadosTrás da prole infeli- e o senhor*

% esta faca como inda se escorre%m dois sangues! mas de uma s4 cor.

% eu agora por $renhas erradas,0or /nvias me fu3o a vagar1

ecas folhas meu leito da noite,)egra coifa por cima a em$alar*

% fantasmas me cercam, medrosas=ãose as feras no antro esconder1Feve aragem, passando por longe,into os gritos que$rar do descrer*

Tudo pasma de verme! naturaTreme q monstro como ela não gera!

)ão, sou homem tam$2m... % eu matara&ais mil ve-es laivada pantera!

;u3o as mádidas horas da tarde,&oles raios da lua me aterram,% esses hinos do sol dessas aves

ão si$ilas que dentro me $erram.

% no eterno da dor som$ras l#$ricas

=emme a fronte d(insnias pisar,e destorce o meu corpo, em minh(alma

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e desfarpa o remorso a calar!

&as de eus não sou r2pro$o, o peito)em malvado nem $rn-eo 2 meu*

%nsopado nos 4leos do crime+nde geme a inocBncia, acendeu.

% d(impuro que era, inda sinto+s meus ossos tremerem rangendo1

+h! são lavas que as veias me inundam,;2$reas l/nguas me a pel refrangendo.

% eu matar minha filha... e nem pre-o(a$rir sangue tirnico, ignavo.

0or2m, sou renegado, assassino '% eis a sorte, e eis a vida do escravo.

@aldo em corpo, que outro homem domina1Alma est2ril minando nos v/cios,esgarrada nas trevas da morte,

Fongo inferno de longos supl/cios*

+h! quem foi que for3ounos os ferros?

+h! quem fe- neste mundo o cativo?Açoitado, faminto, sem crença,

em amor ' sem um eus! ' vingativo.

=4s, 4 $rancos, calcando so$er$os,9numanos assom$ros sangrentos,)egra relva de humildes ca$eças,6omo alados de presa sedentos*

)ão sentis esfolhada no peito&urcha pa- d(esmaiada virtude,

% de grata poesia estalarvos8ureas cordas de um santo ala#de?

)ão sentis sentimentos su$limes,62us divinos d(enlevo e pai5ão,%strangeiros medrosos fugirvos

em asilo no mão coração?...

=ossos filhos 3á nascem amandoAs del/cias do açoite $randido,

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6omo os cães esfaimados se agarram0elo flanco ao tapir perseguido*

)ascem vendo essa nuve agoureira

A formarse de em torno dos olhos,Quando fa-emse em vidros, raivososespe3ando sangu/neos desolhos.

6astigando sua mãe tão querida&ãos piedosas de trBmula filha 'Quem fi-era! e sorrirase ao choro

Que ante os olhos maternos humilha?...

+h, no inferno viveis que vivemos,

0ara n4s não, os c2us não se espraiam*=4s a$utres as carnes nos comem1os cordeiros as pragas vos caiam.

% mirrado da vida que sofro,Quero a triste na morte aca$ar*

% o a$ismo que a vo- me sepulta,=á meu corpo tam$2m sepultar...

(escura grota 7 pedregosa $ordaFançando maldição

+ escravo sumiu. +co fracasso@ateu na solidão.

% as aves em coro levantaramTriste cantar,

&on4tono e carpido, eram lamentose longe mar.

% na selva ululada do fugido+ silBncio caio.

% o vento estendeu compridas asas,% a folhagem Istrugiu.

% eu prendo o ouvido contra a terraQue vi$ra os seios*

onora ondulação de longe tra-meFatidos feios*

Tra-me por pedras deslocadas lenta

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6adeia longa(elos de ferro, que arrastada eterna,

Fá se prolonga*

Tra-me rugir de fera1 7 vo- do açoiteemer profundo,Tão doloroso, tão de piedade '

)um vasto mundo!4aris

XXXI - VISÕES

%isme s4! nem os -2firos me cercam,

)em ouço a vo- da nature-a B do homem*Que para sempre os meus ouvidos percam%sses horrores que o meu ser consomem!

"m momento feli- da solidão 'Quanto tempo não fa- que eu não respiro!

6omo treme de amor meu coração*e estre$uchando esta alma! +h, que eu deliro!

%u s4! nem o meu eus! que, desdenhoso,%m troco de um amor do peito ardente,os meus ais e do pranto esperançoso,espede so$re mim sarcasmo algente.

)em o meu eus! que enchiame de vida*Ó minha doce esp(rança! 4 minha crença!

Ó desespero, 4 alma perseguida,' em crimes ' quem te deu tão má sentença?

)a mis2ria eu nasci, nela crescido0ara nela morrer, sempre mis2ria!

0or toda a parte, e sempre! um vão gemido '6horo e morte a cair da vil mat2ria.

Que! tudo 2 miserável neste mundo!6omo as cousas se dão tanto valor!...Famenteio de o ver o verme imundo

e 3ulgando feli-, se dando amor...

ecou meu pranto1 e s(inda o vou chorar,

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%u delire, me espasmo de risada!6uspo so$re o meu ser* vi o pisar

0rimeiro o eus e o levantou do nada!

)ão quero a lu- do sol* se apague o dia0ara o meu e5istir... que mundo horr/vel!;ugi de mim, perseguição som$ria,

0ensamento de um eus, e o ser vis/vel.

)egra noite, eu vos amo, quando a terra0assos d(homem não vi$ra, e nem dá estreita

"m s4 clarão1 profundo o mocho $erra*Amo essa ave, de horror essa hora 2 $ela!

Antro da fera, escondeme como elae sua pele nas do$ras mosqueadas.

ois meu an3o do amor, desgraça $ela1ois meu :den, cavernas assom$radas.

Aqui podem meus olhos apagadose tornar acender, se encandear1

&ordido o corpo em tBne$ros rosnados,;elicidade Cpde inda encontrar...

=ida, que 2s tu? %storcese convulsa&inh(alma, e estala! + rei lá se em$e$eda)a farsa da e5istBncia... A morte impulsaTodos 7 mesma $arca, 7 mesma queda*

o$re os olhos aperta estreita fronte1Acena escarnicando* Ceila, em$arcaiD*

% passa a humanidade humilde, insonte1o alto mar nos escolhos* Cnaufragai!D

% o que resta do homem? =entos, vagas,Astros $rilhantes, não emudecei...

+h, verdade fatal, que assim me tragas!%m$ora inda ficais e eu aca$ei,

Tendes noites tam$2m na vida evada,)ão triunfais de mim, nem vos lamento*

Todos! descemos 7s soidEes do nada,

)o$res, eu, e o mendigo vil, no3ento.

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% tu ouves, acaso, eus, tu ouves%m contorçEes me arre$entarem as veias)egras d(agro cruor? )ão, não me louves,

áme pálido rir1 por2m, me creias!

7erras de Cintra

XXXII 

os ru$ros flancos do redondo oceano6om suas asas de lu- prendendo a terra

+ sol eu vi nascer, 3ovem formosoesordenando pelos om$ros de ouro

A perfumada luminosa coma,)as faces de um calor que amor acende

orriso de coral dei5ava errante.%m torno de mim não tragas os teus raios,

uspende, sol de fogo! tu, que outrora%m cndidas cançEes eu te saudava

)esta hora d(esperança, erguete e passaem ouvir minha lira. Quando infante

)os p2s do laran3al adormecido,+rvalhado das flores que choviam

6heirosas dentre o ramo e a $ela fruta,

)a terra de meus pais eu despertava,&inhas irmãs sorrindo, e o canto e aromas,

% o sussurrar da r#$ida mangueira%ram teus raios que primeiro vinham<oçarme as cordas do ala#de $rando

)os meus 3oelhos t/midos vagindo.+uviste, sol, minh(alma tBnue d(anosToda inocente e tua, como o arroio

%m pedras estendido, em seus soluçosAndando, como o fe- a nature-a*e uma lu- piedosa me cercavas

Aquecendome o peito e a fronte $ela.9nda apareces como antigamente,

&as o mesmo eu não sou* ho3e me encontrasA $eira do meu t#mulo assentado

6om a maldição nos lá$ios $ranquecidos,A-edo o peito, resfriada cin-a

+nde resvalas como em rocha l$rega*%scurece essa esfera, os raios que$ra,

Apagate p(ra mim, que tu me cansas!A flor que lá nos vales levantaste

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u$indo o monte, 3á na terra inclina.

%u vi caindo o sol* como relevosos et2reos salEes, nuvens $ordaram

As cintas do hori-onte, e nas paredes%státuas negras para mim voltadas,Tristes som$ras daqueles que morreram1

Fogo depois de funerais co$riuseToda amplidão do c2u, que recolheume.

As flores da trindade se fecharam,% 3á a$rem no c2u t/midos astros1

Apenas se amostrou marm4rea deusa.Que sossego! me deito nesta la3em,

&eus ouvidos eu curvo, o pensamento0enetra a sepultura* o caminhante

Assim vai pernoitar em fora d(horas,% $ate ao pouso, e descansando espera.

@elos t#mulos, verde ciparisso,aime um $erço e uma som$ra. 6omo inve3o

%sta vegetação dos mortos! rosas&eu corpo tam$2m pde alimentar.

Al2m passa o sussurro da cidade,

% nem quero dormir neste retiro0elo amor d(4cio* mais feli- o 3ulgo

Quem fa- este mist2rio que me enleva,eus somente alumia este caminho.

)asce de mim, prolongase qual som$ra,)egra serpe crescendose anelando,

6adeia horr/vel* sonoroso e lento"ra elo cada dia vem com a noite

<olando dessas fráguas da e5istBncia0renderse lá no fim ' a morte de ho3eQue procurava a de ontem1 a d(amanhã

=irá unirse a ela... e vai tão longa!6omo palpita! % eu deste princ/pio,&udo, e sem poder fugirme dele,

>á estou traçando com dormentes olhosFá diante o meu lugar ' oh, dores tristes!

Todos então ao nada cairemos!% o ru/do do crime esses an2is

)ão, não hão de fa-er* num s4 gemido,;undo, emudeceram sono da pa-.

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+h, este choro natural dos t#mulos+nde dormem os pais, indica, amigos,

0erda... nem as asas ao futuro

)ão sei voar* a dor 2 do passadoQue se esquece na vista enfraquecida,6omo fica o deserto muito longe.

enão a morte me tra-endo a noite,)ada mais se apro5ima* solitário

As $ordas me de$ruço do hori-onte,)utro o a$ismo de mágoas, de mis2rias!

0orto de salvação não há na vida,esmaia o c2u d(estreitos arenoso...

%u fui amado... e ho3e me a$andonam...

&eiEes do nada, desapareceime!

XXXIII

Quando nessas horas vagasocemente me encantavas

+ pensamento de amor,0or essas del/cias magas

)ovo sol me alumiavas6ampos formados de flor*

% eram minhas horas vagas+ feli- passar contigo...o$ a vo- de murm#rio

6omo da fonte nas fragas,6omo de mar sem perigo,6omo das folhas d(estio.

eguimos sol da vida at2 o ocaso,% o passado e os anos e a idade

eguindo os nossos passos nos despertam%m repetidos gritos* morre o eco

)o late3ante a$ismo, as flores murcham...)as florestas do horror a alma se enoita,=ai gemendo a rasgarse pelos troncos.

A vida está minada de desgostos*o pão da vil mis2ria se alimenta

)a mesa da desgraça, a sede amansa)as águas da amargura1 vem a morte

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0iedosa em$alar seu leito e estendeA mão que alve3a d(ossos amarelos,

%ntoa uma vo- pálida, qual choroQue em mori$undos lá$ios adormece*

C9nda tens de ver a aurora,C=er o ocidente a cair,

C9nda do mundo ao sorrirCTens de sofrer, de gemer1

CAinda verão teus olhosCÓdio e sangue os c2us de eus!

C&entira nos lá$ios seusC)os teus ouvidos de horror!

Corme, filho da desgraça,Cono da po$re inocBncia,

Corme, dorme ' na e5istBnciaC9nda terás de acordar.D

@em cedo eu despertei1 antes quiseraormir eternamente. Achei verdade4 na morte* o porvir estremecendo,

Apagando o que passa, e o dia d(ho3e0or trás das costas sacudindo ao nada,

%, por despre-o, ao sol somente ossadas.ei um passo, escutei, voltando os olhos

%ra um festim* as lu-es se apagaramu$itamente 7 e5alação da tur$a*6onfusão infernal! na escuridade

+s dentes $atera, se mordiam os homens.)ova lu- aparece, o sangue lava,

% para envergonharse um s4 não vive.

)em olho ao mundo sem me rir de vBlo*altadores delfins ledos de vida,

e a$raçando com a morte, dançam. ente*Teu passo mais risonho 7 morte chega1

0ela senda mais doce e mais florida0elas mãos ao destino ela te leva1

As lu-es do pra-er mentem que há c2u,Atrás dos prismas da ilusão 3ogando*

+lha so$re li mesmo ' homem, que horror!esde ti a perderse pude tu penses

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Tudo 2 mis2ria, e tudo 2 s4 desgraça.

XXXIV - VISÕES 

=arre aquilão* frondoso et2reo $osqueespe as folhas do dia1 sa-onado

6ai atrav2s da tarde o fruto de ouro,%ntre nuvens de aroma o sol vermelho1

)oturno prado de mati-es cheio<oça a lua com as asas prateadas1

%ncostado no sul pende o cru-eiro1=ai d(estreitos "rano rodeado.

Tudo perdi na vida... hei muito amadoTodavia, e sem fim! meus dias, noites,&eus anos todos, todas minhas horasA amor eu dei* $em ve-es soluçando...&inha alma 2 secas folhas em pedaços

0artidas pelo vento1 pelo espaço0erdese est2ril som meu pensamentoe que$rado ala#de. %m teu sossego,om$ra da tarde, fugitivo guardame*

4 tu sa$es calarme a vo- dos lá$iosAmargo-os, descrentes1 $randa calma

%stender so$re mim no desespero&e ro5eando em contusEes de morte '

%u não sei o que eu sou, porque amo e choro*el/rio, esforço vão! om$ra da tarde,

;a-e cair a noite na minha alma0ara um sono sem sonhos. 6omo 2s $ela,

;alecendo entre coros de suspiros9ndo por toda a parte! 2 melanc4licoilencioso o $osque, a vo- do vento1

&elanc4lico o mar, nos seus desertos%m$alando a canção dos marinheiros1

A montanha palmosa, o rio mudo,+s campos melanc4licos, gemendoA lenta vo- do gado, e dos pastores0elas cortinas tristemente, e $ai5o,+u sentados 7 porta da choupana.

Horas da tarde, quem vos fe- tão frias

0ara me adormecer?... &ão pesadelo,;oge, noite, de mim1 tuas som$ras caiam,

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Quero ver inda o sol! +h! malfadadaorte do homem* quanto mais fadigas,Quanto mais e5istBncia ' mais um dia,

0ara ainda sofrer na mesma terra

+nde em vão desesperas, tu mendigas!"m s4 dia 2 tua vida, o mesmo solT(o repete continuo, o mesmo sempre

6o(a mesma noite e aurora, e os sonhos mesmos4 promete a esperança1 ela s4 mente.

&eu destino fatal! de meu não tenho)em uma hora sequer* esta em que eu falo,

>ulgueia minha, quis d(ego/smo tBla,0ara dála ao meu t#mulo... passou,

% perdeuse. &eu eus, como eu te ve3o0residindo o teu or$e, e a mira no leito

o sofrimento que me dás, e a terra%m mil frmas ' de frutos, d(homens, d(aves

Ho3e a fa-erse, por comerse inda ho3e,e tão má, tão faminta que a fi-este!

% ris deste espetáculo, impassivoFá no teu c2u dormindo ao nosso pranto!% ris mofando ao mori$undo em vascas,

Quando em $erros estorce o corpo e os $raços,e$ai5o do carrasco em negra luta,

%m sinistro $randear ringindo o leito!

<2ptil criador comendo os filhos,Quis compararme a ti! fui assassino,

0or ver a dor, que tu amas, no meu peito.

Amei a formosura* mansa e t/mida8 minha vo- seguiume... como inda amo,

Que estremeço de ouvirme a negra hist4ria!Amando por amar, toda ela amores,

"m desma-elo virginal, infante1&eu amor, minha escrava, minha filha,

6ndida mai, senhora, que adorava1ua vida minha s4, vida que eu deilhe1Que ela sou$e me dar, sua minha alma*

6riação de n4s am$os n4s somente.epois que dentro dos desertos vime,

4 com ela e contigo, eus, ferindo%ssa corda afinada ao som mais alto1

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Quando a vi delirante a desalmarsee envergando em meus $raços, d(inocente

e um choro natural, sentime fera,%nfe-ada e com sede, aos teus escárnios!

% um deus me vendo Kcomo tu, crieia,Rnica esfera sua, em mim te via1Quis matála lam$em, nem criminoso%u sou, qual tu não 2s, tu, enlevado)os dolorosos gritos de teus filhosL,

Ave $ranca, rompilhe o liso colo)as minhas mãos de ferro! %la e5pirava...9nda o meu nome doce em seus suspiros;ormava, e desfa-iase1 inda uns olhos

F/quidos, lentos, trBmulos voltavam

)os meus olhos d(inferno! Tão piedosa,uvidar, parecia do meu peito

;erino e monstro! como em sonhos, $usca;eli- realidade, ouvirme ainda

A vo- do caro amante* repudiada...)uma comprida esp(rança esvaecendo

%m lágrimas em ondas, desfalece0endente aos $raços pálidos da morte,

Que o homem $ruto lhe estender não sou$e,

6ndido l/rio vivo. %ram meus olhosFançando um fogo... e o que lança vão era alma!

Ave $ranca! ondulou morrendo, e a terra+nde fria caio foi no meu peito.

Quero a morte deter tomoa nos $raços,acudoa, grito ' que me digam antes

o alento final esse mist2rioQue fa- desesperar... omente um nomeAchei, meu nome lhe passou nos lá$ios*)egra morte nos meus, quando eu di-ia,

0redispondo os sentidos miseráveis,C%spera ' espera ' agora ' morre ' morre!D

+s teus fi2is a ti no passamento@radam tam$2m, tam$2m mandas que morram.

Ali tudo ficou, gelou no sangue+ ar que 2 nossa vida %nquanto ondula

Quente e agita o coração e as veias,

;a- o peito sonoro e as faces tintas.+nde a alma?... %u vi! seu corpo 7 terra

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Tudo arrastou, se consumiu com ela.

6omo eu era, enhor, te encontro sempreem ter descanso, pelos teus dom/nios.

"ma v/tima s4 dor deume eterna1&il em cada momento apenas podeme suspiros formar o ar que respiras!

"ma s4 vo- e5tinta a mim gritava,"ns olhos s4 me olharam* eus somente

e uma s4 criatura, uma s4 vida&inha foi, aca$eia, e5austo eu morro.0or2m tu viverás* quando este mundo>á não derte alimento, crias mundos.

o teu re$anho os #ltimos $alidos

i-em teu nome, como t(e5pro$rando1%spasmase nos teus o derradeiro

@ranquear dos seus olhos, tão mendigos% tão fi2is 7 prometida esp(rança...

Tal nas mãos do pastor agno mimoso,Que deu tantos carinhos, que dormia

%ntre os seus p4s, nos rastos seus andava '+ sangue derramando, espera aindaK&aterial esperança!L e crB na vida.

0or2m, 3urote, eus ' farto para sempre,into minha alma de remorsos cheia!

% tu?... 6om a vista me rodeio* as aves,Que no entrar da espessura nos saudaram,

Tinham fugido1 pelos ramos indaeus desplumes seu medo me disseram1

% os meus ca$elos eriçados, grossos,e alisavam c(oa fronte1 o rio, os ventos,

+ tronco vegetal tinham parado&e vendo! %u despertava em meu del/rio

Ante a realidade! a virgem morta,0álida e fria a reconheço, eu ru3o!

% de homem verme, comecei chorar.' Quis seu corpo aquecer so$re o meu corpo1

"ni sua $oca 7 minha, a vo- lhe dando,Que o t#mulo não guarda. %m verdes folhas

)ua deiteia, as mãos postas, e as trancas%scorreramlhe em torno. ias, dias

0reso a seus p2s levei a contemplála!

randes e a$ertos so$re mim ficarãoeus olhos fi5os e vidrados, longos

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6omo a meditação de uma sentença!

% a terra animada desfigurase*rão de poeira que o vento ergueu numa hora,

0asseou so$re a massa de que 2 parte,% so$re si caio, se envolve e perde.%u vi! ' seu corpo transparente inchando10erderemse os seus olhos nas suas faces1

Humor f2tido escoase da carne,Tão pura e fresca, tão cheirosa inda ontem,Que ela amou apertar em mira, d(insonte

;ren2tica de amor, nervosa e trBmula!;ormosa ondulação das castas ancas,

os seios virginais, da alva cintura

@ela voluptuosa... disformouse%m repugnante, Kquem que a vira e amara!L

%m no3enta, esverdeada, monstruosa+nda de podridão! Jum$iam moscas,;amintos corvos so$re mim se atiram,<ecurvas unhas regaçando e a$rindo

)egras asas e o $ico, triunfantesoltando agouros! %u a defendia

a ave e do inseto, que irritados vemme.

0resenciei desfa-erse esse mist2rio,Que foi meu c2u na terra, onde eu pensava

%5istir e morrer! Homem o que 2s?...e dia vinha o sol ferir so$re ela,

% como a lua o n/tido cadávere a-ulado am$iente rodeouse1

=apores levantavamse era coroas(inflamando, perdendose* de noite

@ranco fogo pairava docemente,6omo as roupas de um an3o so$re as pontas

e verdoso 3uncal, no espaço aonde%nfraquecia a e5alação na aragem=aporoso espalhandose. % depois,

=ermes internos que espontneos nascem=em rompendolhe a pele se delindo...

+s lá$ios pudi$undos re$entaram...eus olhos!... se fendiam seios, faces

% os castos flancos!... um soroso l/quido

6orrendo pela terra... %u quis limpálaesses monstros horr/veis, que a comiam

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)o tronco das palmeiras, olho ao longe*Ara o campo o colono, o sulco e5ala6heirosa emanação l2pida, umente1

+ carro cantador passa no vale

%ntre as r#sticas vo-es sonolento16o$rem a selva os areais de prata,6o$rem o dorso dos $ois1 verte lamentos

&ori$undo acauã no fundo $osque,&esta espessura de soluço enchendo.

&as, inda o que eu sou não m(o disseste,)ingu2m m(o respondeu* me fale em$ora

Que tu se3as, a mata, este penhasco,+ sopro deste vento assim mugindo,

6omo as almas dos mortos te $uscando '

)elas não posso crer, não posso crerte,Que em mim não creio! eus, dáme outra essBncia.

&uda o meu ser, su$stitui minh(alma0ara poder te amar, crente e feli-,;eli-! : meu sofrer o desespero,

%ste dese3o e carecer... que aspiro...&inha morte eternal! muda o meu ser.

% 2s tu mesmo que dás minha descrença!

0assava a vida a procurarte ' %scuta*e dia ao desespero me levaste1

Tiram meu sono 7 noite os teus sarcasmos.)um deserto, mui s4, de terras vastas,

em um vento e nem vo-, o sol somenteo$re a minha ca$eça achei $atendo1)ão havia mais ar, $aldava as forças

0or soltarme, e mil $raços me enleavam1% eu apenas pensava na e5istBncia,

Alma e corpo, e um eus. + sol se apaga*%m cima dele um monte alcantilouser

% u(a face de ferro se $runiao$ ele, como liso era o meu plano*

Asas nasceram.1 e uma mão, que o tinha,+ larga so$re mim ' foi um momento*

&ais negra se fa-ia a escuridade%le mais perto 3á1 lá vem! lá vem!

;a- um vento, que a som$ra espessa, acalca10enetra a atmosfera, que se estala1

>á range e arre$entase nos ares,;uracão na floresta 7 meia noite,

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Aos ecos infernais dei5ando lascas,6entelhas vivas. %smagoume em átomos.

"ma dor me passou, qual uma nuvemQue se inunda de lu-, vaise escoando*

Feve fumaça alevantou, perdeuse.Assustado acordei ' lá ia o sol.' +utras ve-es sonhei prisEes d(inferno,0or onde eu era horror, e horror vi tudo.+utras ve-es sonhei na concha de ouro.

4, no ar em$alado. +utras sonhava.%ntão cora asas de mimoso fogo

Sgneos p2s a$raçar da %ternidade,% de lá ver o tempo so$re o mundo

=oando, de que eu mais não carecia.

+utras ve-es sonhei, morrer meu corpo0orque morria a alma dentro dele.

+utras, que não há morte* o corpo e a alma%ra sua luta final que se separam,

6omo a que a sorte das naçEes decide*%la por ir viver por hi ' no c2u '

%m descanso talve-, ou livre ao menos,+u nova terra, e amar novos amores1%le por desfa-erse em outros seres,

Que se desfa-em n(outros, a perdersee vida era vida. % eu inda acordava

)as torturas do adeus, nesses estorços,0ara trás a ca$eça, em vasca os olhos,

A mastigada l/ngua despe3ando.+h! dáme ao menos que de ti me esqueça*

)a pa- dos coraçEes talve- tu desças%stes est2reis, desgraçados campos

;lorir verdes ' de li, do amor, da crença.

)asce a manhã no c2u, alvas formosasão tur$antes do sol* hino encantado

<ompe a terra, que leva ao som dos 4rgãos%t2reos, do regato e do arvoredo1

=ai no hori-onte uma ave1 pelos camposaltam flores e orvalhos, mil doiradas@or$oletas ao sol se em$alançando.Ainda a minha vo- di- o teu nome,

9nda te escuto... mas, descreio ainda!

Que minha alma arrancou de mim passando,

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6omo folhas do mato o vento leva?Que m#sicas divinas oprimiram

&eus ouvidos de afagos de harmonias!Que 2 isto que me enleia, que me prende,

Que me atira p(ra as nuvens que me em$alam)o ocidente de fogo, e a vo- me a$afa?

enhor! enhor! perdoa, eus, perdoa!+uvi tuas harpas, na sua vo- esta vão

=o-es celestiais ' l/quidas veiasTeciamse na relva do teu solo,

0elos teus p2s divinos se humilha vão.0ara o verme vaidoso em t2rreo lodoesdenhaste falar1 por2m eu te ouço

)as vi$raçEes sonoras do instrumentoQue em suspiros degela o peito meu.

o$ um montão de ru/nas, um tug#rio,e palácio que foi, ora ocultava

o sol do mundo uma fam/lia* outrorao$er$a e radiosa, de mil homens

+u de amigos Kno3entos mascarados,Homens e amigos, raça desgraçadaL

<odeada d(incensos, de sorrisos,e meiga adulação. ;ulmina a sorte1

As ondas inconstantes da fortunao$re si refluindo, 7 praia seca

ei5ou ao desamparo o po$re náufrago*%, esse $ando de a$utres, quando o viram

4, dessecado, desapareceram!

Ho3e somente o caminhante pára,escansa uma hora 7 som$ra das paredes,

6aindo os torreEes, passeia a vista,&edita a vida, e se levanta e segue,

Ao punhal da saudade a$rindo o sangueas veias da alma. )o montar das ru/nas,

6ontempla. Ali a sala onde rugira+iro sanguinho, no fulgor das lu-es)o veludo e cristal* pulverulenta,

es$otada a pintura, ondeia o teto(aranhoso tecume, o um$ral pendente1

Que$rados moveis, apagados, t2rreos*Ali a seda resvalou das $elas,

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Ali 3orrou clarão de amor, que e5cita...Fu-ente o chão ' lá está, fendido e su3o,

Que não pde fender ruidosa dança...+ tempo, a sorte como tudo estraga!

"m escravo que apenas da rasoura%scapou, lento passa, mal co$erto1+ vento o leva, os olhos fundos, tristes,antes tão ledos nos serEes cantados1&agro, s4 geme, que sua mãe vendida,

=endidos seus irmãos, vai aca$ando%m mudo tra$alhar penosos dias...

ias da escravidão v4s sois $em longos!Tempo, correi, passai, sumi sua vida.' "m eco doloroso prolongavase

0or esses desolados aposentosom$rios ' d(outrora... % tu fi-este mais...

+ mar van-eia preguiçosas ondas)o oleoso deserto, e muge e $errao$re a praia arenosa, longe* 4 mar

Ó meu irmão do isolamento e lágrimas,Ó mar, como eu te amo! + que tu di-es

)esse choro profundo? acaso triste

Famentas meu del/rio? acaso sa$esQuem deute a vo- a ti, dor 7 minha alma?

<esponde, mar! Ai! não, tam$2m demandasQuem prendeute nas margens, que não salvas,

% dentro delas assanhado $ramas,+ peito ensanguentando pelas rochas.' % árido este c2u com tantos astros,

6emit2rio d(espectros luminosos6om ar de menospre-o cortesão,4 reflete mon4tonos esgares '9ncentivo da dor, do desespero1

o despre-o, talve-! escrença eterna,9nesgotável cálice me encheste

)este mundo sem fim, para nutrirme)esta morte eternal que arranco 7s noites!

ias d(alma, que o sol lu- 7 mat2ria.

XXXV - VISÕES

Aonde eu vou, enhor, onde me levas?

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% isto que me arrasta, e que eu não ve3o,: tua mão? +h, então levame, levame!

Tenho fome* mas, sangue não me nutre,

<epugno de comer os meus irmãos,entarme 7 mesa dos humanos corvos,8ridos olhos de faminta chama,

0astar sanguentas postas de cadáver 'Teus filhos como eu sou, nasci da terra.

Tenho sede* horrori-ame sorvBlasF/mpidas ondas nos meus p2s tão mansas!

&as, tenho sede... Fevame 7 tua fonte,Ó eus, dáme $e$er a água da crença.

0orque fu3o dos homens? porque eu amo,=agar pela montanha e pelas praias,

Qual d(outra essBncia, qual d(areia ou d(onda;ormado, e como espectro, e como som$ra,

%rrante uma hora e desaparecendo,0ara nascer de novo e inda perderse,

;igura he$raica que os desertos formam0ela face arenosa escorregando?...

)ão tenho uma fam/lia na minh(alma(irmãos, d(irmãs tamanha? e porque amo

4 tBlos na minh(alma, e longe deles?: que a distncia prende mais o amigo,

6omo a dor que eus dá fa- mais amálo?Que encantos ve3o em verme s4 comigo,6om a lem$rança dos mortos e o passado,

6emit2rio de crnios florescido?%star com minha lágrima espontnea,

Que eu nem sei porque choro1 e solitário)uma isolada solidão, que eu ve3a

&uito longe, que eu s4 viva no meio% por mim, sem ningu2m que dBme a vida,om$ra pesada e vil?... KCnão tens nas mãosTeus dias?... eus t(en3eita... ei5a os vivos,

%nteado da terra, est2ril peso,%les respirem livre...D +uço o demnio!L&as, no deserto eu vivo, nem procuro

<ama d(árvore* o sol me queima a fronte,

e seus raios me visto qual de fogo,6hamo o sol meu irmão e a nature-a1

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A manhã minha virgem nova e $ela0or quem morro de amores1 amo a tarde,

Que minha mãe semelha1 o vento, os montesão meus amigos1 minha musa a noite1

)oite minha alma, os sonhos as estreitosQue me adormecem na piedosa lu-1+ rio, o mar, o lago melanc4lico,

&eu ser d(ho3e e o passado1 e o meu futuro...+h, meu futuro! a tempestade e o raio

onoras velas do navio rasgamTão quase a naufragar cortando o golfo.

Quando cair meu corpo so$re a terra,e uma alma eu tiver que eus não queira,

9rei então morar so$re um rochedo6omo ave do mar, que dB s4 pousoA mim, o mais, cercado de oceano

0or toda a parte e c2u que perca a vista1+ceano remoto, onde não passe"ma vela, que qual fanal me ve3a

uspenso no hori-onte. % se minh(almaeus a quiser, 4 v4s que mais me amastes,

)essa pedra isolada como eu sonho,

Fançai meus tristes ossos espalhadoso$re essa pedra de soidão* 7 noite

@ranca aurora virá tra-endo orvalhos6air fagueira. % se alma n4s não temos...

ei5aios inda lá dormir tranquilos,Tão cansados da vida! com suas ondasomente e o sol e a tempestade $ela,

6(os irmãos que eu amava os rodeando.

Tu, essBncia imortal do nosso corpo,)asces com ele? 2s filha dele? o crias?...

=ive sem alma o $ruto, o homem morrera!% porque? e organi-ados todos somos,

A alma, que do corpo não carece,%la que vive s4 mais venturosa,

0orque o não dei5a como o $ruto, quando9ndigno dela? 6on3unção su$limeiu$lime aniquilar! A eternidade

omente a eus* a n4s, homens d(argila,

+ gBnio para olhálo, o amor, o canto,% este vago anelar... alma, e5istBncia

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o pensamento, que mais so$e e lu-e,A ele todo! )utrese em desgostos

rosseira esp(rança, e nada a satisfa-*Triste e cansada a $emaventurança

esse dia sem noite, que descansa,)ão valera depois* Ce eus que importa,eparamos aqui...D tam$2m o avaro

)unca se farta de ouro, a águia mais alta&ais quer su$ir as solitárias nuvens1Ao mármore da estátua que talhaste

eras vida, tam$2m morrera humana1;i-erate imortal, mil outros deuses

Quiseram derri$ar seu pai, mais go-oonhariam al2m. A eternidade

)o homem!... eus, perdoa1 deste o sonho,Tão fresco em$alançar, suave engano

a vaidosa loucura. Quanta vida,Quanta felicidade neste mundo!

Amor desde o nascer, e sempre amorAt2 nas tristes lágrimas da morte!

K<eligioso terror! lá passa enterro...ons de sino rodeiamme tão f#ne$res!...

Avante!L 7s nossas mãos fecunda terra

oira ru$entes frutos, flores a$re1"ma vo- doce e maternal no $erço,

Fedice inata vB sorrir a infncia1+s amores depois1 inda a velhice

Tem pra-er e ilusão. i-nos cada anoAs estaçEes o c/rculo da vida,

ilo um dia ligeiro* ve3o a esferaair das frias som$ras e tornar,

as mesmas cin-as renascerem vidas.Qual instru/da a terra de seus filhos,

ores ho3e, amanhã go-os lhes verte,Que seriam mon4tonos. enhor!

)ada sei. )o mist2rio que geroute9rás perderte, lu- de teda pálida

Que arde enquanto o ar rodeia flama*Acenderamte aqui, al2m te apagam,% depois? e depois!... +lha a teu lado,

%is teus ossos ali! A eternidadeA n4s nos levantando desta terra,

%stá na sucessão da vida e morte*+ndulação dos ventos animados

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Que 3á vimos vivendo neste tempo.igam em$ora os profetas, não sa$emos

Qual foi seu nascimento* ve3o tudoempre na mesma idade1 houveram sempre

á$ios e hão de e5istir1 o dia 2 mudoesde a aurora ao sol pr. iro dos ventos!6/rculo eterno que descreve o sol!

a/mos de uma noite, entramos n(outra,)4s somos um s4 dia, e n4s contamos

)ossos minutos pelas nossas dores.

Alma do homem, se imortal tu 2s,6omo cresces com os anos da criança?

6omo desmaias quando o corpo enferma?

0endurados nos seios maternais+ da r2cia, o de <oma sempre foram

6omo quando da idade aos ecos longos(encostavam ao $ordão septuagenário,0endiam a vista, o pensamento imenso,6omo se ao peso dele opresso o corpo;rou5o se desfi-esse em eternidade.)ão tens idade, 2s infinita, 2s uma*% 7 mat2ria momentnea desces,

eguila engrandecendote com ela19nimiga que 2 tua, vens amála,

=estir a virgem de pudor, de encantos,Apodrecer ao pestilente clima

a prostituta imunda, e por vontade,Que do corcel as r2deas tu governas!

+ que vens cá $uscar? romper tuas asasQue são divinas, sucum$ir 7s dores,

As torturas da carne* oh! foras louça,H4spede errante das regiEes et2reas,

=ir so$re a pedra repousar tão vil,escansar uma sesta, e 3á partida

A presença de um eus ir ser 3ulgada!% não foi ele que mandoute 7 terra,

% porque tudo fe-1 tudo sa$endo,&edindo os passos teus antes que os movas?.

;a-em de eus um monstro, te fa-endoimples escárnio seu. &orta a ra-ão% o sentimento livre e a consciBncia,

+ corpo vale mais* cndida filha,A gl4ria do enhor, leu ser eterno

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&edem teus altos vos1 mais vais, mais vives,Que a eus somente a a$soluta vida!

)ossa vida este sangue, a seiva d(árvore,

esta árvore pensante e divinal1ão perfumes nossa alma, diferentes,empre anelante a se perder nos c2us1

+ pensamento, o resplendor que a cinge,A atmosfera vegetal am$iente1

: seu tronco o amor, a gl4ria1 os ramos,+s frutos e o som$rio gasalhoso

% as flores ' a virtude, o crime. : $eloAmar um eus, oh! sim, que um pai n4s temos

Amor, que fa-es dor, que a dor esqueces!

% para amar nem peço alma infinita '&aterial condição do mundo aos c2us.

Amemos de amor santo, amor sem esp(rança,&ãe enganosa da am$ição, dos v/cios*

%sse amor natural 2 mais divino,o que quando nos di-em duramente*

CAdora o que a vingança aguarda, o raio&anda e a peste, o eus de sangue e morte!D

% curvamse os co$ardes, mas não amam,

o medo infame e do terror1 escravosAmantes!... como o pai vi$rando o açoite0ede a $enção do filho. Amor mais puro

emos ao eus dos homens, por n4s mesmos,6omo os pássaros cantam na espessura.%m$ora o sol se apague, os rios sequem,

)ão vamos d(interesse ante os altaresFágrimas d(olhos espalhar, vilmente&is2rias confessar aos impostores,

&ais miseráveis inda, que se enovam)a esperança de que eles purificam.

6omercio d(alma nos marm4reos c2us%ntre o povo e o ministro, o rei sopito

0ela alta nuvem* e, quando despertadoAos latidos do crime, iremos, no3o!

6horar, pedir... 6horemos todo o dia,0or2m, movidos de um amor ' da crença!

Triunfo 7 consciBncia, e sufocado%stale dentro o coração perverso!

eus deunos para n4s o mundo todo,

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+ sol, os astros e este mar2 a selva1eunos vida e sa$er. % o homem pede,

0or pedir, por sonhar pede somente,+ salário do go-o em recompensa

e uma e5istBncia d(asas soltas, pura,Que ele pr4prio s4 mancha! então gemendoente do v/cio as farpas. + inocente@em ve-es sofre* mas, o sangue dele@anha a sociedade que o condena*

+ homem cria o mal ' por consumilo '6ontra o seu deus, oh, prole generosa!

A eternidade em recompensa ainda0ela sua morte e as horas que passasse)a adoração divina! e eus nem fBlo

0ara id2ia tão vil* negando $rutoA 3ustiça infinita, ele não sendo

Tam$2m por esses c2us infindo n(alma.' : c2u em si a caridade, o amor*

6ndidas palmas seu caminho 3unção,Fágrimas vB correr sua morte, e rindo%m piedosa alegria e5tingue os olhos.(alma eterna a virtude não carece1

)em por não ser eterna o crime, os v/cios

a nature-a pendem. %m letras /gneaso$re o rosto da lua aparecesse

A verdade imortal, e as leis da terra)ão fossem mais ' 4 mundo desgraçado,

%u quisera te ver... a lua fora&entirosa* ' a verdade fa- escravos* '

uvidar 2 viver* o homem 2 livre!' e eu lenho eternidade, não m(o digamHomens como eu* no espelho do universo

=e3o uma s4 imagem refletida*0ura religião da consciBncia,

o sentimento da moral divina&e levaram naturalmente e cego.=e3o s4 pedras o falar dos homens*A fera de ra-ão $erre aos cordeiros.

' )em quero recompensa 7 minha vida,8s minhas dores, meu amor de um eus '

Amando tenho o c2u, tenho o meu 0ai!%u sou da terra* a terra, o vento, 7s águas

ão por preço seus cantos? não são eles0reço de amor 7 criação somente?...

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er feli- 2 amar, feli- eu eraAmando a doce mãe na doce infncia.

' + navegante sol passa na esfera,&iramse estreitos nele, e dános dia

Aos nossos olhos e o calor ao sangue*=oa ao sol deste sol, muito al2m dele,A alma do meu corpo na e5istBncia,Ao clima et2reo de sua vida e flores.

)ão 2 amor divino o amor da terra,+nde 2 fanal da longitude o lucro.

Ó santo, 4 generoso amor da pátria!Ai dele o que disser* Cos sacrif/cios

Ao nosso corpo, que o enhor amansam,

A n4s as portas das del/cias a$re1A pátria dávos ouro, augustas gl4rias,6om$atei peto pátria, salvo a morte!D

Hão de cair teus dentes, e os teus lá$ios@a$a infecta derramem do teu peito!

' 6aiam os templos aos p2s da nature-a,: mais $elo este sol de lu- de dia*6omo do mori$undo 7 ca$eceira

0arece a vela insinuar piedosa

+ caminho a passar, mudoeloquente%le nos di- Cal2m!D mais do que os ecoseslavados, que estão se desmaiandoAnte a paternidade desses homens,

Que se di-em do 6risto a imagem pura,0or di-erem* C$atei! feri os peitos!

6horai agora!De as lágrimas s(entornam,ela o terror a vista pela terra*9nteresse servi!!D $randi o remo

o $ai5ei da esperança, al2m dos maresa vida ' o porto d(inefável go-o!D

)ão me ensinem os cnticos sagrados.%nquanto lava de harmonia a a$4$ada

As imagens que impuras mãos talharam,%ntre as paredes tão mesquinhas postas1

%nquanto verte lu- de terra o c/rioo$re a tur$a sonora, gemem 4rgãos% o sino ' que o dinheiro vil comprou

=ou na campina me deitar cheirosae$ai5o deste c2u 7 vo- do vento,

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as águas e do $osque, e a nature-a6heia d(um solitário sol! como ela,entir meu coração valente e novo

(inspiraçEes formosas1 que não dessas

;rases diárias que aprendi, mon4tonas,9nsens/veis na máquina dos lá$ios.

: tão feli-, em$ora o mundo e a sorte,em ser por gratidão do leite e a cama,

)aturalmente amar o filho os seios+nde nascera, a mãe seu filho amando!% essa mãe que adoramos nos promete

+utro sonoro $erço al2m da morte?)ão 2 na morte que ela 2 mais querida?

0orque a perdemos que a amamos tanto?...+ puro amor não tem, não tem esp(rança.

Amai a eus na pa-, na ru$ra guerra,)as ondas do pra-er amai a eus,

)a a$undncia ou no fundo da mis2ria,)a morte, desgraçada amaio ainda.Tirese o filho, a mãe seu leite perde*

eus morrera, seu mundo aniquilando*0erdida a vo- da nature-a e os astros,

+ mar e os homens, quem seu nome ouvira?Quem dissera que ele 2?... 6edro infinito,eus frutos somos n4s aos c2us olhando.%le o quis. e consuma a alma do ingrato!

%rgase a crença que natura ensina,6omo a corrente perenal descendo!

' %sperança do go-o o amor dos homens,% sempre esp(rança e go-o! Amor da terra

Querem darte, enhor* não alimentaelicado man3ar corruptos seios.

A unidade os cegou* multiplicarameuses aqui nascidos filhos deles1% pelos mil altares que divagam

ão migalhas de amor. %u não conheço)em mais que um eus, nem deuses su$alternos*

Ao primeiro me elevo, amo o primeiro.' 9dolatria eterna! as $entas águas

@rutal gentilidade não lavaram*

A fam/lia cristã se degeneraesde a morte de um pai. %lege o povo

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"m para santo, e dá poder divinoe suas mãos 7s dele... Homens da terra,

Tão n2scios, que $uscais? como os insetos)oturnos, ante o dia deslum$rados,

A ca/rem se agarram pelas folhas.' Fá se em$ala na praça o enforcado*+ carrasco em seus p2s se dependura,

=ai nos om$ros saltarlhe... esperta o peitoAo t/mido mance$o ' a tur$a aplaude!

As carpideiras torres não choraram*)em se alegrão passando o inocentinhoQue viu antes a morte que o $atismo*

>á leva deste mundo o 3ulgamento*%ra fogo lento vai gemer, nem pde

%m coros celestiais ser queru$im...An3os te negam, enhor eus, não sendo

%ducados e feitos por mãos deles!Hip4critas, eu vi monstros do incesto,

Que ungidos foram, qu(inda o são no ocaso!' 6urvaram os animais antigamente

As ru$ras aras d(ouro a fronte do homem*e mil homens os p2s ho3e $ei3amos.

Todos um coração sangrando mordem,

Todos vivem da vida que era d(outrem,Que para si aos seus irmãos arrancam.

Humanas feras, muito mais que os homens,;erinos homens, muito mais que as feras,

A nature-a verte* indiferente"m e outro adorara, se não fosse

&eu amor todo s4 de um eus ' um eus!% s4 de um sentimento pio e irmão

=e3o o mundo ' do monte ao $ruto ao homem.

Fia a @/$lia por noite indo os gemidoso 6risto neste dia d(endoenças1

Fogo o enfado da vida adormeceume.C=oa, terra do sol que vem nascendo,C<ece$er os seus raios que se perdemC)o árido espaço, de fecundas flores

C&urchas regiEes a$rir...D %u so$ressalto,6aindo o livro. 0elas ruas corro,

6omo levado de u(a mão* no peito

e engrossando o coração me estronda1%m destroçado pensamento a fronte

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&e sussurrava. Agora tudo pára.+ c/rculo em que eu ia, se escoando,

esencantoume em terra. eus! a som$ra(Ana fronteira a mim! Quantos amores

e um sentir tão m/stico se li$ram)este espaço, infinito! encadeado,(entre os meus olhos e os seus olhos!... e ela,

% eu, mão grado nosso, nos fugindo,Bnio invis/vel nos sustinha* encanto,

;lecha atrativa se irradia dela,%u era o astro do meu centro em torno.

%u senti uma vo- #mida e vaga6omo $risas de seda me enleandoe asas vaporosas, e um perfume

e $oca virginal1 rumor depois,6omo do estremecer das folhas verdes,

% as rolas quando voam. Que me arrasta?...6omo d(aurora afugentado sonho,

&inha alma foi de mim. <angeram pedras,@em como outrora na cidade santa.6hamoume louco atropelada tur$a.

' &ais divina que amor, oh, mais celesteo que o reino dos c2us e o ser dos an3os!

% eu $em cansado desta vida morta,=iveume o seu amor! entro de um astro

6orrendo penetrei na minha grutaem lu-* tudo uma som$ra povoava.

%stendime no chão dando uns a$raços,@ei3ando uns p2s em soluçar de amante

;eli- ' felicidade o amor somente '%u era o esposo dessas som$ras todas,Todas uma, ou meus olhos todas elas,

Ternas de mira, chorando aos meus del/rios.' Tu me fa-es cristão, tu dásme a crença,

Tu 2s o signo santo dos meus lá$iosQuando a aluada em l/mpidas endechas

e ti falando despertarme vem*Ó ave da manhã, quem que ensinoute

i-Bla?... &e alevanto, e ve3o o dia)o oriente indeciso. %ntão, $randindo

)a minha vo- teu nome, eu vi a erguerseas montanhas o sol1 risonhas lu-es

e suspenderam nas fitaceas palmas,Que se do$raram refletindo orvalhos

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Adiante dele1 $alançouse o vento1%stremeceu a selva, como as virgens

)o fim do sono sem sonhar suspiram1: pelo em torno se afinaram r#sticos

alt2rios de alegria. =iste, 4 Ana,Ó som$ra da mulher que não e5iste,(uma e5istBncia d#$ia a nature-a

A$rirse como a flor? assim minha alma.0or2m, eu sonho que de mim te arrancam*&eus gritos, meu chorar de nada valem...

&esmo som$ra de amor, que eu ame, eu perco!

Tudo 2 mentira em miserável mundo!Tu, que eu 3ulgueite dom celeste e santo,

A maldição a ti, que me enganaste,;alsa ami-ade... não 2s mais que do homem

Hipocrisia e erpe. % eu pensavao amor na eternidade... maldiçãoA toda esta e5istBncia! )uvem $ela

6o$ria uma hora a flor que o vale cresce.Apareceu o sol ' negra verdade!

% tudo não foi mais do que uma som$ra,"ma estação da momentnea infncia.

Ho3e, 4 irmã, eu rece$i tua carta,)a flor do amanhecer me alevantando,6omo essas aves que n(aurora cantam)o teto da choupana e estão di-endo

Que o sol 3á nasce* e eu que no meu leitoArque3ava do$rado dos mãos sonhos,;oste lágrimas d(alva, o dia d(ho3e...%nchesteme de amor todo este dia!e nossa mãe, tão doce, me falavas*

Ceus lem$rese de sua alma... eu sou tua mãe...C)ão me fales assim... morrer tão longe,Ce dor e de saudade, onde não sai$am

Ce ti homens e o mundo... 4 meu amigo,CQuantos punhais no coração me em$e$es!...Ceus quer nos consolar... do esposo ao lado,

C"m $em perto do outro n4s vivamosCempre, sempre, meu eus!... serei tua mãe,

CTeu consolo, depois desse gran 0ai

Co$erano, a quem sempre eu rogareiCTão triste pressentir, e os sonhos mude,

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CTire do solitário pensamento...C)ão desanimes ' tão esmorecido!...C>á estás cansado de viver? 2 cedo '

C+h! 2 tão cedo ' vive mais um dia!...D

Que palavras do c2u! ainda a terraá flores que nos dBem tão grato aroma?...+h, fala sempre dela, nossa mãe!

Há tanto tempo morta... oh, fala sempre!+ que derrama no meu peito a lágrima,

or, orfandade, dáme tam$2m vida*% minha alma viver, 2 na triste-a

olitária e5ilarse1 o d4 dos t#mulos,a saudade co$rila. &e rodeiam

Tristes som$ras da noite, frias, mudas,

ão mist2rios do morto* e tu disseras&eu limite amanhã, ho3e chorando1

0or2m não, 2 minh(alma que 2 tão triste,)em tenho tanto amor, que a vida chore.

ão teus melhores dons o pranto e as dores,enhor, porque mais perto a ti nos levam*0or isso eu amo a noite, amo o deserto '

Fá se desatam as prisEes magoadas,

% s4 contigo estou, e não nos ouvem.)os perigos do mar, so$re o naufrágio,

Quem teu nome ensinou, que o nauta ignora?Ao mori$undo que se estorce e do$ra,

Que sua vida passou salteando os montes,escrente as veias qu(inda rompem sangue6om suas unhas cortou ' seus ais da morte

Quem do teu nome encheu, ferindo os troncos% as penedias que seu leito o ouviram?...

Ó 0ai, 4 eus dos homens, eus dos astros,Que nessa hora tua mão piedosa estendes

% uma esmola de graças nela $rilha!Horas feli-es do perigo e dores,

olenes, $elas, do enhor tão perto!' ão teus filhos eleitos esses $ardos

emendo pela terra sem ter pátria,<odeados de morte, os p2s te $ei3am.

o$re o mar, procurando o c2u, se eleva

%m colunas de som$ra e de ar e d(água"m templo* ve3o um ser $ai5ar so$re ele,

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Que as colunas $randeiam, o mar se arqueia,Humildemente geme, e o mar indmito!

&ais puro do que a noite, eu mal o en5ergo,6omo o sol... não, não 2, que o sol num disco

%ncerra as frmas de ouro* não tem frma,0arece a eternidade e o infinito!isseras qual uma ave transparente

Que com as asas envolve a imensidade!"ma lu-, que concentrase a e5tinguirse,

ando mais claridade ao pensamento,Quanto a tire aos sentidos1 que tão pura

%stendese d(ali por toda a parte,A terra, os astros e os celestes ares

em refração seus raios trespassando,

%m$e$endo de vida e de piedade1Que tudo anima e fa- amor tão santo,

Que de um s4 pulso inteiro este universo"ma respiração palpita eterna

A ela s4! )ela s4 tudo desperta*As aves vivem mais a ela cantando1As plantas quando o -2firo as agita1+ mar quando mugindo $al$ucia,

9nfante o nome de seu pai, mais vive1

+ $osque amigos não teria e os ventose fossem mudos, não dissessem ' eus!

%u tam$2m vivo mais, morrendo nele1+h, tudo vive mais nele vivendo!

ai minha alma de mim, ante os altares)ão su$iu* filho ingrato, arrependido,Que apro5ima seu pai timidamente1

6ão que mordera seu senhor, que humildee arrasta e escondese em lugar so-inho,

A vista lenta, e doce como a crença,%spiandoo por ver se ele o perdoa 'Assim piedosa por detrás das ondas

0ede som$ra 7s colunas... &as, quem tudoAfugentou, co$riu de horror do mundo?...

eme a festa nos flancos do castelo,9mpura ondulação d(infrenes vo-es

Tolda o espaço* minha alma recolheuseTrBmula e fria a emudecer de susto1

% da poeira sonora que ergue a terra%u não ve3o mais nada, os olhos turvos.

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% depois outras vo-es me perguntam*Ce fosses um caminho, onde encontrasses

alteadores mil e um homem preso,

% te dissessem* este homem vai morrer*e queres passar livre, matao1 ou morres*:s simples instrumento. + que farias?D

<espondi* eu sou livre, não matara,&e perseguira a som$ra do assassino1&orresse em$ora. <iramse de mim.0ergunteilhes* se fosse o prisioneiro

=osso amigo mais /ntimo? C&atávamos10orque ele ia morrer, e n4s somente

)ossa vida salvávamos, podendo

er #teis inda a ele e aos que ficassem.D

e fosse vossa amante, vossa filha,e fosse vossa mãe? C9nda matávamos1

Assassinos não 2ramos, da morteendo o punhal por mãos d(outrem vi$rado.D

<ime deles então. &as, vossa mãe6om um sem$lante de c2u pelo seu rosto1

6om seus olhos de lágrimas olhando

eu filho que ela amou, $ei3ou na infncia,6om seu canto da tarde so$re o leito

%m$alou e adormeceu ' seu filhoQue ela a$ençoava ao sol nascendo,

)as estreitos da noite, e 7 flor do campo,Ao vento quando move a nature-a1

ua alma da e5istBncia era o seu filho,eu filho os seios lhe romper, sangrálo

e morte! donde a vida em lácteas ondas6orrialhe, num rio espontneo

o c2u por climas divinais passando!%la piedosa vos pedira a morte,

im, por vida inda darvos* leopardos!% a maternal doçura feminina

+ peito d(homem não $randira ' ego/smo!0or um dia talve- 3á s4 no mundo,

Que se passa a dormir, que nada vale,ereis a morte ao que teria inda anos

e vivo tervos na moral do amor...

"m cão 3á vi morrer salvando um homem!' % eu matar minha mãe... meu eus! viessem

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<aios do inferno so$re mim, serpentes(asas e olhos de fogo, com mil mortes

Todas Isfaimadas, com mil deuses, todos"nhas e dentes regaçando em f#ria

0ara aca$arme ' ainda eu me sorrira '+s monstros friamente desdenhando,)os p2s de minha mãe eu suspirara&eu #ltimo suspiro1 e ela morrera,

)4s am$os morrer/amos! Ó homens,ei5aime com meus sonhos, com minh(alma,

)ão vinde pertur$ála1 diferentes=4s não sois meus irmãos, vos tenho horror!

)aqueles ares, vede, há pouco estava%dificado um templo* eu sossegado

G som$ra do meu eus parava uma hora*;alastes, tudo se sumiu! dei5aime

6o a minha noite e as minhas ondas, tendes+ dia inquieto para v4s e o mundo.

=em, 4 musa, modesta divindade,%m pedaços minha alma na poesia

=erter* eu te amo! que minha alma rompes% mais leve me dei5as do seu peso,

Tão descorada! quem das faces #midas+ veludo celeste matutino,

As rosas virginais tão cedo esfolha?Tam$2m a dor apaga, como a onda+ dourado fulgor da areia $ranca,

As faces1 nos teus olhos lá se e5tingueA esperança* mulher enganadora,

0or quem morrem os homens iludidos,%sgotados de vida e crentes nela.

i-endo inda ela no cair do t#mulo6o(os $raços de cadáver suplicantes,

% ela voa risonha d(inconstncia.&inha terr/vel inimiga, esp(rança!

ecaste os meus 3ardins e as minhas linfas1%u morra ao menos sem te ouvir long/nqua

Teu canto sirenal1 roçar tua vestia6repitante a ca/rem minhas pálpe$ras,e estendendo na morte1 deusa falsa,=á tranqila, minh(alma deste inferno,

+nde 7 tua vo- somente errante andava1% cansada da vida, outra não pede1

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&as, inda viverá se eus o manda.)em para os c2us nem para a terra, esp(rança,

)ão careço de ti, mulher perdida!

0elos vales do espaço a vista eu solto0or detrás do hori-onte, quando as nuvensAo c2u limpo não traçam seus limites1Tão amplo e tão va-io o Armamento4 adormece e eleva* então me sinto

T#mido o c2re$ro, esquecer meu peito&eu coração, d(uma alma entorpecida,% de um pesado pensamento assom$ras

A$atemme* enhor, dá vida e forçaQue eu possa compreenderte para amarte,

i-emm(o os homens1 mas a voa dos homens%st2ril para mim, ouvir nem posso*

ou como eles1 me fala tu somente!' Tu vens no galopar da tempestade?=ens no pavor da noite e so$re o sol?)o tempo derri$ando nos seus passos

Tão largas geraçEes e geraçEes?6om p2s de fogo a terra verde3ante

;a-er passando adusta, esses imp2rios,

6idades em pedaços palpitantes? '&as os meus olhos materiais não $astam!

=em tu mesmo, a verdade e o infinito,<efletir na minh(alma, que se esmaga

o$ o imposs/vel no estupor que fa-es!' 6omo tu fa-es delirar O matas

+ que em terra se arrasta /nvio 7s tuas portas!+h! que pai que tu 2s! oh! maldição!

e eu pudesse dormir sono de um morto,0or não sonhar em ti, dera esta vida!

@alar da vaga humilde, 2s s4 7s praias.

% aquele sol co$arde vai fugindoA voltarme o seu rosto! se eu pudesse

0elos ca$elos arrancálo 4 ocaso,% destes $raços o suster im4vel

Fá no meio do espaço, e frente a frente,;enderlhe o peito, que uma vo- soltasse

%m fumo envolta!... A lua desmaiando

e enco$re por detrás dos arvoredos,"ns olhos timoratos da don-ela

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issimulando a id2ia, e detençosa;e- dois passos no a-ul, tremeu de mim.

% este vento, que há pouco nos meus om$rosAs elásticas asas meneava,

%scapouse tam$2m, me ouvindo ' eu s4!...

&as, o rio que passa a-ul, vermelho,6onforme a cor do c2u, quem foi que o fe-?

Quem 2 que do despenho alcantiladoFevao saudar os campos e esses vales?

% este vento que me açoita as facese condenado e arrancame os ca$elos?

% este coro florestal da terra,olene e cheio, como dos altares,

=o-es, 4rgãos, incensos todo o templo?%ste meu pensamento pressuroso

<olando dentro em mim? este meu corpo)inho dessa ave de tão =astas asas?...Quanto 2 su$lime todo este universo!

Quem te negara o ser? ' quando houve tempoQuando nada e5istiu, que tudo fe-se!

&ás, o infinito compreender não posso.onde sa/ste, eus, onde vivias,

<odeado do espaço? ele geroute0or dominálo sol onipotente?

&ais ele fora. )ão. Acaso o caos,<evolvido incessante 7s tempestades,%stalado em lascEes, lavas $rilhantes,+utras t2rreas, li$randose em$aladas

)as asas da atração fraterna entre elas,Qual presas pelas mãos por não perderemse,

+rdenouse por si? ou fora acasoA criação fatal, tudo se erguendo

egundo as circunstncias? +h, infernoa o$scura ra-ão ' mofa, ludi$rio

6om que eus pisa o homem! "m eus fe- tudo!"m eus... palavra a$strata, incompreens/vel...

&as a sinto tão ampla, que me perde!' % então, quem aos mares suspendidos

A verdura defende, e que se atirem"ns astros so$re os outros? eus... um eus

Ao sol dá cetro e lu-, asas ao vento,

Feito 7s águas dormir, del/rio ao homemQuando queira a$raçálo. orme o infante

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o$ os p2s de sua mãe, que ama e não sa$e*A nature-a ao 6riador se humilhe.

)ão tenho alma infinita, porque 2 cegaA verdade imortal* visse ela o eterno '

Quanto eu amara! quanto! %u sou $astardo,)ão sei quem são meus pais... se amar não posso,A e5istBncia me enfada* en3eitoa, e morro!

%u estava num mar de calmariaAmplo e cheio de sol, meu peito o esquife&udo arque3ava1 as velas da minha alma

)ão arredonda nem um vento ' descem,0elo coração se escorrem1 durmo

)o meio das soidEes de minhas mágoas.

enti na minha face um doce alentoTra-er os meus ca$elos* fria e t/mida

&ão seráfica a testa levantoume6om li$erdade fraternal1 meus olhos

e pranto escuros não puderam vBla.uvidava uma vo- de sensitiva,

e fle5/vel luar, long/nquo incerto,0orque era virgem e amante1 mas, coragemeulhe a piedade, o amor* eu tenho ouro,

C&uito ouro p(ra darte1 ergue a tua vistaCa terra, qual meditas que ela guarda

CTantas rique-as, te denega escassaC+ teu pão de amanhã... sB meu esposo...

C&eu esposo feli-! ' al2m desta alma,C"ns anos alvorais e os meus amores

C6astos, muito ouro para darte eu tenho.D+s meus olhos na terra pelo ouro!...)ão, pesados de morte descaiam*

"m s4 meu pensamento ao ser mundano,Ao sangu/neo motor nunca eu dei,%u andava $em longe! e eriçava

A longas do$ras de um espanto $elo% de nervosas comoçEes minha alma

o$re as $ordas do nada* lá nascia+ mundo, os campos se estendiam, os montes

o$repunhamse, e logo o $osque, as ervas6oroam e co$rem de folhagem e som$ra1

%u sentia esmagaremse na esfera

+s astros seu caminho procurando,<e$anho alvoroçado em campo estranho,

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epois se acomodavam1 o sol despedeeus raios primogBnitos1 mais fracas%streitos 7s mais fortes se rodeiam,6omo o rei do +riente está no meio

e mulheres tão $rancas, tão mimosas.0or2m sem lu-, que o seu amor reflete%m distncia. %u choro, virgem moça,+ amor, por2m não o amor da carne1

%u choro a dor que o corpo não conhece)em teu ouro não cura. ' e repente+ mar tremeu1 as ondas sepultavam*se

Assim, perto de n4s, como s4 a terrae$ai5o as devorasse, nos ouvindo1

urdo estrondo $anhou todo o hori-onte,

Terremoto passou su$marino.As mãos prende nos seios assustados,

<espirando perdão nos olhos $elos)o rosto meiacor, tal pousalousa

;olheia as asas que de sol se orvalham0or c2u de $rando, d(inocente a-ul.

)ão te aterres de mim, fala um defuntoA virgem longos $raços amorosos.

%u 3á não vivo mais* vBs, como eu fu3oe ti, mugindo 7s solidEes e 7s noites,

e monte em monte, como a fera errante?Amo a$raçar a rocha sonorosa,

Quanto amava a mulher inda homem mesmo&eu peito aquece a pedra, e destas mãos

Afago as ondas suas que me cercam.+ $ardo d(ilusEes, que ia cantando

&imosos carmes do equador esplBndido0elas margens risonhas da esperança,

Aca$ou*tenho 4dio aos c2us, aos homens,Troco a lu- peto som$ra, e s4 respiro

estruição e tempestade e morte!

6omo ia tão fresca a primavera!% eu me sinto cair do verde cume,

Qual fruto apodrecido pelo inverno,+ velho d(alvas cãs d(envira $ranca

Que de viver cansou1 nem tenho inve3a

Ao homem que em seus cálidos estios6ontempla o vasto da e5istBncia. Ai dele

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+ que desesperou deste mist2rio!este silBncio est#pido nos c2us!+ pavoroso assom$ro de natura

%m vago e n2scio sussurrar! Ai dele...

espre-o ao mundo, e maldição a esta alma,Que os olhos a$re para ser mais cega!

"ma onda no mar levando o eco,&eu coração 2 campa solitária%rrante petos naves ruinosas

e t#mulos desfeitos, rotas som$raso peito meu1 2 como ave ferida,

Que somente estre$ucha, entesa as asas0ara os gemidos no estertor da morte*

)em F/$ano sagrado eu sou, e a gle$aa eternidade os cedros meus não plantão1

)em olho para o longe, envolta a fronte%m negros $raços de ata#de, eu durmo.

6ansado via3or, descanso 7 $aseo monte que desci ' frondosos campos!

+nde as imagens duvidosas, $elas,=erdes folhas arrancamme passando

+s ventos a perder* eu estremeçoQue nos v2us d(ilusão que al2m s(estendem

)ão durma o raio da desgraça, e as florese p2talos rosados não me arro3em

6om seu peso de ferro. +h! doce aurora! '

%ra fantasma1 a vo- de escuridão)a carreira dos ventos misturouse*

CQue faço, qu(inda e5isto? a morte! a morte!% os te4logos di-em ' nossa vida

0ertence a eus, que a dá ' &is2ria ao homem=il e5istBncia mendigando, fraco!

9nda aos dias mais fundos de desgraça!% eu in#til no mundo, e lasso dele,

&inha vida nas mãos, não quero os dias...%spinhados ca$elos se amoleçam,

A fronte alisese aos que me ouvem mudos6om fi5o terror passar nas som$ras

0ela esfera infernal das minhas noites 'D

onho, sonho de amor, que me adormeceD

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Tumultuosa, amotinada esta alma!"ma inefável am$ição me segue*

&ulher, uma somente, como os an3os,%m cu3as mãos eu desfolhasse todo

%ste amor que me anseia, vaga vivaA querer se perder. ;eli- da virgemQue nasceu para mim! que eu acordálaAo meio dia do amor! como essas flores

Que a$rem 7 força do calor do sol10or isso ainda mortas vertem cheiro% o vivo do escarlate não descoram,6omo as d(aurora que favnio anima4 %nquanto do orvalho umedecidas,

e fresca mocidade as faces tintas.

%ssa que so$re mim primeiro os olhosAcender de pai5ão, que ainda estavam

%ntre as capelas virginais fechados1%ssa, onde o candor de um riso infante%nvergonhou primeiro o gesto ameno,

% o coração repreenda O de mimosa@usque, po$re! tirar de si minh(alma1%ssa, dormindo da e5istBncia o sono

esde os seios da mãe It2 ao meu peito,

Alto o sol, viuse nua diante dele ')ão era vol#pias sensuais enferma

escamisandose, espasmando o corpo ')um assalto de amor vago, encantado,0udica rosa em flor, se esconde, crenteQue no seu rosto o coração lhe salta*

Ó virgem, onde estás? 4 rainha noiva!...' Fá das partes do c2u a ve3o... vem...

=4s podeis começar os nossos dias,Fácteas manhãs e as $risas da montanha!

6asal ditoso, n4s não pecaremos,Aqui não há serpente. A minha fronte

omente por dormir o teu regaço,Teus p2s hão de em$alar, nos meus ca$elos

entindo o afago da tua mão cheirosa.)osso universo s4 de n4s composto,

Amores respirando no ar, amores+ coração $anhando, iremos longe...

+nde s4 testemunhe a nature-a,

A terra, o vento e as estreitos altas+ nosso corpo nu... an3os selvagens!

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+s $erços de roseiras e a ramada)ão murcharão neste :den* novo sol

Há de ver se murchando o velho monte,)ovas flores nascer, nova esmeralda

ourando nova relva, se estendendoos p2s aos 3oelhos, como 7 lu- aspira,0or o cinto lam$er, $raços d(esposo)o enlear de enlevos ' oh, triunfo!

)estes 3ardins há eus, so$re este clima+ndula o Armamento dos amores.

A tempestade, o mar, a vo- d(ameaças)os provocara o riso* o sol somente)ossos quentes vestidos, muda lua

)os seus serEes de luar tão s4 nos vira '

Fonge d4s vivos, evocando os c2us!%terna vida! amor eterno! esta alma,Ave perdida, errante, ho3e somente

Ao ninho conhecido, ao ninho amadoFevantará seus vos, e do passado

em ler nem crença não terá saudades.

' =Bla saudosoolhar mui longamente+ caminho que eu fui, quando lhe ouvia*

CAdeus, vem cedoD* e vBla inda so-inha,Qual presa 7 minha imagem que a circunda,

0ensativa e $em triste* e quando, $ela6omo c2u, num relmpago assaltada

=oando me encontrar, darme tão linda"ma face de amor ao $ei3o amante,

% de alegre de mim desapareça...% sempre, sempre no primeiro dia,

% di-erme lá da alma* C6omo podes%ssas horas passar sem mim tamanhas?...D

%m$ora o sonho se rompesse, eu vite!6hameite an3o dos mares* oh! me salva,

Terra onde eu tenho de aportar, ou morro)os escolhos da sorte, a não perdida!

6hameite estrela do pastor1 chameiteA flor dos c2us, que eu ve3o solitária

&inha irmã, como eu sou, no mundo d(homensA mim teus olhos s4 te amostrem, como

Ao sol nos c2us do dia os astros morrem.' &as, nada foi* em$alde nos meus olhos,

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6omo a lu-, eu 3ulguei tudo ela ser1As árvores em flor eu sacudia,

As que eu achava mais como ela1 em$alde%u vi $rancas imagens se gerando

)a rainha vo- ' perdiamse qual nuvens,Qual pom$as vaporosas no hori-onte(alvas da esp(rança e da felicidade*"m eco prolongavase, e somente,%m rápidos, sens/veis ondulados,

6anto d(ave da tarde ap4s a chuva.' An3o mimoso, de nevadas roupas,

% os ca$elos de sol, os p2s argBnteos!...Amo esta som$ra ' tu, mulher não 2s.

0or2m tu me di-ias no descermosaquele morro 7 tarde* Cnestas virgens

Amor não ha, poeta, ouro somente+s pais lhes mostram1 teu cantar desdenham,

:s po$re, nada vales* e que importaAlma capa- de suspender os c2us

A$ai5ados aqui na vida /ntima,Que 7 nature-a o coração desdo$ra

% o corpo despe desta impura terra?...

Que importa ' 2s po$re, nada vales. +lha,+ homem que lá vBs delas cercada: vil traficador, nasceu tão $ai5o*% ho3e um potentado numeroso,

=ai 7s salas do rei, $rilhante o peito!A velha po$re mãe Istá pelas ruasA mendigar o pão, ele a desmente

Quando a $enção lhe dá! Órfãos, vi#vas+ nome seu maldi-em1 mas tem ouroTanto, 7 vista pertur$ar! uas filhas

&ais l/mpidas e tenras são presentesQue os pais ricos lhe levam1 e esses olhos

Tintos em menospre-o, resvalados0elas costas a amor, que ouro s4 que$ra,Arrasta nos seus p2s, deita era seu chão

&arm4rea cortesã de frios risos,e fáceis prantos que seu peito ignora.

)ão há felicidade, isto que 2 d(alma)as metálicas frmas se mareia1

Amor do corpo s4 ' n um dia, cansa,%nfastia a e5istBncia, a alma se fecha.D

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' &as, eu te respondia* e que me imporia+ ouro e os amores das mulheres?

%u, descrente do mundo, adeus eternoisse 7s suas virgens. ;ale a nature-a,

6ala a fortuna* a timide- dos campos,+u a filha do pr/ncipe so$er$oHá de ser minha, morrerei por ela,

&ão grado o meu destino* indiferença,%u despre-o o que possa a terra darmo.

Amava uma criança outrora, quandoAos seus $rinquedos inocentes via

=oltar minha e5istBncia1 e tanto amoume,Aos carinhos dei5ar da mãe querida

0elo vir suspendesse em meu pescoço@ei3andome, apertandome* parece

Que nela estava a aurora dos meus dias%m cada amanhecer se enru$escendo1

% 3á corriam negros de triste-a% de orfandade. +h! tudo era alegria

iante dela, nascer* lu- matutinaQue um -2firo alevanta afugentando

+s primeiros negrumes da minha alma.

@or$oleta do prado ao sol voandoAs asas $rilha e esmalta, a mim se lança

)os raios de um amor do coração*=e3oa l/mpido l/rio rodeado

o candor virginal, despenteada,6o a camisa infantil nevada e pura,

+s $raços nus e o colo, os p2s de rosas,Fevantarse do leito e vir correndo,

&imosa e $arulheira como a criaQue salta na campina ao vir do dia,

eus $ei3os matinais prme na fronte,As mão-inhas correr nas minhas faces,

Que no seio lhe encosto perfumado+ndeando de ang2lica inocBncia,

e vapores de amor, que e5alam an3os.=e3oa no sol pender, cantando os pássaros

6om saudade, e nos hinos vegetais0elos desterros da montanha e o vale1)as palmeiras cadentes no hori-onte

Qual lmpadas et2reas, ou de noiteAlve3andose os campos estrelosos

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6omo frota no mar1 e sempre e5ata&inha som$ra, meu raio me seguindo

)(um cativeiro que o amor prendia,Finda a$elha que em mim seu mel formava.

6aminhando o c2u d(astros, nos co$rimosos seus moles e trBmulos clarEes,6omo das $arras da manhã vermelha

o formoso equador1 e eu lhe mostravaA nature-a esplendida nas flores.

C=em comigo* desponta alvo açucena!D%u lhe disse, e por vBla acompanhoume

"m meu contemporneo, meu amigo(infncia, $elo, namorado e ledo,

Quanto eu era som$rio e mudo e triste*6adeias trança deslum$rantes, grossas1

%ra a flor dos salEes e da $ele-a% na lira cantava os seus amores.

' +lhounos a menina friamente,% d(entre os meus 3oelhos desdenhosa

;oge ao gentil, ao festival mance$o1% os an2is afagando que pendiam,

;e- um ar de mulher e a$andonoume!

%u senti meus ca$elos se entesarem!&ofou da minha vo- desconcertada,% que o luto e a po$re-a me co$riam,% nunca mais amoume. Ó nature-a,Ó eus, que fa-es a mulher tão $ela

esde o $erço, e tão fraca! inocentinha,Que má sorte 2 a tua, que o teu peito

angue tão mão $anhou! e eu te amava,6om que amor eu não sei, mas 2 verdade.

Ho3e mais fortes te coroam os anos,% a minha vo- escutaras piedosa.

' %spera a nature-a aos teus amores*A terra 2 falsa, não te iluda a terra.% eu de minha ve- 3urei que o ouro

)unca $rilhara so$re mim* não queroQue por ele me adorem. Quando a virgem,

Quando eu nos encontrarmos, que a correnteo amor nos 3unga e comunique, entre am$os

&ais nada al2m de n4s ' triunfe o amor!

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XXXVI

Ó noites infernais da minha vida!esespero e descrença os c2us e a terra*

Fá não tem uma vo- que diga ' esp(rança!Aqui não há sorrir que diga ' amor!

"ma lua cansada e sempre morta,ormindo pelos cumes das montanhas1

"ma hip2r$ole $ruta1 uns pirilampos)uma a$4$ada f2rrea pendurados '

8ridos campos onde moram pedras!)ão ve3o a aurora mais do que um sem$lante

(escárnio 7 humanidade1 o feio ocaso+s olhos a fechar s4 lem$ra a morte.

A terra por si mesma fa-se em homens*Jum$e espectro inconstante de urnas horas,

)em mata a fome, e vaise desfa-endo '9nda a sonhar, que não viveu, sonhava.

&eu sonho dos feli-es, que passouse,

0orque me despertaste? %ntrei num c2u.+uvindo ' eu te amo! ' foi mentira. + inferno

Ho3e me envolve, me envolvendo o amor!

(esperança em esperança corre a vida '%5istir 2 esperar* porque eu morri

esde que a vela suspendendo 4 acaso+ meu canto entoei desta desgraçai

&ar sem praias! ' seus ventos me di-iam1)ão vBs lá no hori-onte os verdes cumes>untos ao c2u? ' Andei! fagueiro e ledo.% tão cansado, e sem chegar mata nunca,

=i caindo a verdade! %is porque eu morro*=ive quem dorme e sonha. A dor me uivando,

%u quis aniquilar minha e5istBncia,Que era fantasma o ser, mentira a vida.

&eus ecos delirantes retum$aram)a minha alma em suas chamas consumida,

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%m vão!... Quero viver ' vem, c2u da noite,@anharme do teu sono* eu durmo, eu vivo.

emnio d(alma, ceticismo horrendo,

;ilosofia cega, oh, vaite! vaite!as opressoras escarnadas garrasoltame ' aos vales da o$scura crença.

%squecete de mim, fechame as asasinistras de som$rio noiti$4*

%u quero amar a eus, homem e os an3os*=aite! dei5ame em pa- ' feli- eu sou!

6onsumiste minha alma enegrecida.

Tu disseste, que um eus não me acompanha1=ã fumaça minha alma, que meu corpo%m cin-as perderá passando o vento.

&e negas um repouso, um doce amigo1&(incitas duvidar no amor da virgem*

% murcho e frio me recolho 7s som$rasa minha vida a me a$raçar co(a morte.

+lhei... &eus dias vi do sol caindo.%scutei... ;oi meus lá$ios estalando

%m maldiçEes ao ser desta e5istBncia,Ao er que so$re o sol conta os meus dias!

% eu que me assentava ao p2 da serra,=endo as estreitos como ninfas de ouro

u$indo lá do fundo da corrente,6omeçandose a noite a encher de som$ras1

%sperando que a lua atravessasse)o vale, por saudála destes nomes '

CAna e minha mãeD ' achei s4 t#mulos*0álido o amor, pálida ami-ade!

Achei a minha vida ser tão longa!6omo o passar da eternidade* em$alde

ormia as horas, e nas dores de ho3e&eus dias de depois eu descontei.

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SOLIDÕES

XXXVII - V (((

K  M?* >M M*>*%.97F L

?ão mais o amor fatal, o amor do inferno'Encanto o amor da natureza 2 7ale!

Quando fores mais crescida,Quando sou$eres falar

Quando mu dares os dentes,ei5aremos o palmar*

% este p2 de mangueiroQue som$reia este lugarHá de cair de saudade

o$re estas águas do mar.

)a leiva de terra estranha6ai do $ico d(ave errante+ grão que preso levava%ra seu voar inconstante1% dali nasce uma planta*

Quem foi que a plantou? Avante,0or entre as moitas da ur-eesmaia en3eitada infante*

)em da quadra cultivada0elas mãos do lavrador,

)em da semente aquecida%m seios fortes de amor,%la não foi... desfalece,

6omo os mist2rios da flor,+lhando a sorte de eus%m muda, inocente dor.

)os seus $anquetes o mundo%spera a filha sem pai1

+s homens lançamlhe o preço1%m vil mis2ria descai*

<ode a os olhos mendigos,

% nada encontra... um s4 ai!A morte sua presa arrasta1

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0or2m, eu digo* esperai!

Triunfo! triunfo, 4 eus!)ão morres, filha, sou eu1

:s aos lados de teu pai,%rgue a fronte, o sol 2 teu.' )ão mintas... como eu te amara!

&eu pranto nunca escorreu0or uma felicidade...

%stou nas portas do c2u! '

Órfã da mãe perdida,)em 2s a filha do amor,

Que o fogo d(alva dos anos

4 queima, não ama a flor*)esse qual vago saudoso,)esse qual perder da cor

@em di-es que 2s d2$il frutoe adolescente candor*

esanimado crep#sculo%m teu sem$lante esmorece,

:s $otão misterioso

Que de manhã desfalece*)em a $rancura da rosa+ corpo teu não aquece1+ pardo destas campinas

o$re o teu colo adormece*

:s a irmã da parda rolaolitária e s4 don-ela,

Quando co(a vo- despovoaA tarde assom$rada e $ela*6omo o gBnio da triste-a,Tudo cala em torno dela1e ela passa, tudo e5ila,

6oitada flor amarela!

6orça morena dos montes,@astarda cor do ana3á,

Todo o mundo te despre-a,6omo a tua sorte 2 tão má!

)ão!... do mundo eu nada quero*;ilha amor, tudo aqui Istá!

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=ivamos como as correnteso tortuoso &apa. '

>ibeiro da it:ria

%scondido na espessuraFá da =it4ria deserta*Que eu se3a tudo o que tenhas.

Teu astro da vida incerta1% s4 tu minha e5istBncia

Que eu sinto que em ti desperta,&eu canto da nam$upreta,;lor nos meus 3ardins a$erta.

Ó filha da escrava negra!

%u encontro em ti poesia.&esmo no teu nascimento

o crep#sculo do dia,% no a$andono dos $rancos,Que te fa- tão triste e fria*

Tudo passa, a fira vive,Tu não tens noite som$ria.

6ativa no ocaso d(ontem,

%is o sol da li$erdade!...%u choro, que tenho o peito*Tão cheio desta ami-ade 9...Ao leito impuro desceras,

esceras antes da idade 'Horror! as asas de um an3o

4 voem 7 %ternidade.

Quando fores mais crescida% 3á sou$eres faltar,

Quando mudarei os denteDei5aremos o palmar*;a-enda de meus paia.9remos ver o =es#vio

uas lavas aos c2us lançar,A $ela ;rança há de verte,% as louras filhas do mar.

Tu, perfume dos meus dias,

Que dar somente quis eus*%le o sou$e... 2 que na terra

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%u nada tenho dos c2us,Al2m dos vago del/rios

Que ve3o nos sonhos meus1+s meus amores são sonhos,

9nda um sonho eu 3ulgo os teus.

Tu serás a companheiraa minha triste e5istencialTe mostrarei dos estreitosA harmoniosa cadBncia1as harpas misteriosasA virginal confidBncia,

+uvirás meus sons noturnosa noite n(alta dormBncia.

% estas aves da tarde,% estas terras do lar

6horando te acompanharão)o dei5armos o palmar1% este p2 de mangueiroQue som$reia este lugar

Há de cair de saudadeo$re estas águas do mar.

9a tão triste o meu choro,Que o rio, o vento chorava1

&esmo a som$ra do mangueiro6omo a triste-a esfolhava*

A minha po$re filhinha9gnorante e terna olhava,

% de t/mida e medrosa)o meu corpo se apertava.

o$re os p2s do velho mangueA minha fronte pendia,% minha filha $rincando

0arece mimosa cria)a relva do praturá1

Fonge a tarde se esva/a*As noites do &ariano

0elos meus olhos eu via...

Margens do 4ericumã

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XXXVIII - DIA DE NATALK *97 MEG7 C9?3EM49>H?E97 D9 4E>CGML

>aia o sol, brilha no talo

Morre o sol, fenece a flor(

Tudo passa e vai com o tempo,)ossa vida e nosso amor1

oce quadra em que go-amosFogo muda em dissa$or.

;a-em anos que n(aldeia,0átria nossa onde nascemos,

Feda gente concorria,

Fedas festas desfrutemos*

)ossas virgens mati-avam)osso prado como a flor16orria o vento nas folhas,&eigas palavras de amor*

%stendiase o hori-ontee fumarentas choupanas,

)os pa/ses d(arredores6antavam $rando as silvanas*

<ugia o tam$or alpestre,6adBncia vão os cativos

Toada africana 7s dançasas crioulas d(olhos vivos*

"ma viola harmoniosa,oce frauta pastoril,

&imosa esteira de relva,)osso teto um c2u de anil,

)oite e dia eram momentosQue como o vento passavam!

)a minha infante don-ela&eus olhos não se fitavam*

)em mais os tempos meus dias

6om suas asas me arrancaram,%m som$ras de amor desfeitos

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%m torno dela a$ai5arão.

% nessa pura inocBnciaTanto amor me arre$atava,

Que minh(alma no meu peite@elos sonhes delirava*

CAn3o do c2u, flor do campo,CQue me diceste que eu sou!

C;ui como a noite o$scuraCQue n(alva o sol despertou1

CFevantaste a minha fronte,C&eus olhos d(4rfão ca$idos*

C&inha vida, amor, esp(rançaC%u ve3o em ti renascidos!

C+h! 3uro pela minh(alma,C0or ti, que di-es que eu sou,C0or este amor que me deste,

C% 7 vida que me em$alou*

C+u morrer, ou suspenderte

C)os louros da eternidade,C6om$ater pelo teu nomeCA sorte, a adversidade!

CArrancarte deste infernoC0ara o meu clima dos c2us,

CArrancarte 7 morte, ao nada,Ce poss/vel fosse, a eus!...

C)o romper desses nove anos,C%5pande as asas de amor,C0ura e cndida, remonta

C)as harpas do teu cantor.D

0or2m ho3e no desterroeste long/nquo saudoso

&inh(alma perdese, esvaise+nda do eco vaporoso1

&inhas horas vão pesadaso$re a corrente da vida*

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&e desanima a e5istBnciae uma tarde esmorecida.

% eu a choro, que a amava!

A ela meu doce amor*;eli-! que os homens ignoramQuem dáme tão pura dor*

A ela que apareceumee formosura radiante,

% deume o dia 7 minh(alma0ela noite escura errante*

A ela som$ra encantada

Que d(inocente me amou1A ela que despertoume

% que me disse, que eu sou.Dezembro de 185I( >io de .aneiro

XXXIX - A MUSA *( J( D(

9 "rimeiro me falaste ao cora$ãodoce da inf;ncia( Minha musa des"ertou'

e ao "Kr%do%sol da ida ef0mera,ainda se e@ala ao seu astro

da aurora(

: noite e solidão! noite e silBncio!)oite e minh(alma! noite e meus amores!

F/mpidas alvas não respira a lua,)em ondas d(harpa e4lia nem de vo-es

)ão vagam* desce a som$ra e co$re os valesa penedia, na verdura um$rosa.

<ecolheme em teu seio, nos teus om$rosei5a cairme a fronte mutilada

o triste pensamento e da triste-a1ei5a correr meu choro e os meus soluços,

;ilha da noite, minha musa, dei5ai&inha coitada mãe por toda a parte%rguendome piedosa se enfraqueço

)o caminho da vida tão dif/cil16o(os ca$elos me en5uga a fronte e os olhos

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a mágoa e do sofrer pisados, mortos*i-me C6oragem!De me consola e anima.

' Qual será meu destino? porque eu choro,6omo quem vai morrer n(alva do dia,

ei5ando a pátria e toda esta e5istBnciaQue eu tinha no meu gBnio, e toda esta almaQue me em$ala num c2u que tanto eu sonho?

Tu, que 2s do c2u, 4 minha musa, fala...Ah! estremeces... 2 que eu vou morrer.

olitário nas plagas do deserto,%rrante como o vento, ou pelos mares,)a sepultura de meus pais chorando,

e som$ra em som$ra procurando a$rigo

)os ramos do cipreste, eu s4 contigoTenho me achado, minha filha e amores,

Tu, mãe que minha mãe deume em morrendo,@afe3ando o meu corpo nos teus $raços

6omo um $erço d(infante, como um pássaro&ovendome em seu ramo 7 viração1

Tu, fiel 3unto a mim sempre te encontro,empre tu, sempre tu ' numa alegria,

+lhando para trás desse passado

e lágrima e saudade, olhando adiante+ astro d(amanhã long/nquo e frio

)a sua lu- duvidoso. +h! quanta vida,Quanta poesia, quanto amor eu tinha,

Qual n(um glo$o de ferro um sol fechadoomente 7 espera de uma vo- divina,

a inspiração de eus para nascer,entro desta alma d(ontem! vacilante,Que há de se apagar voltando a aurora,Fogo no amanhecer! 0erdido 6Mgnus,

)ão mais, não te ouviram... Quantas mil floresHei plantado! e um sol somente ao tempo,

eus, pedia por dartas perfumadas)os 3ardins do ideal, puras e a$ertas.

&elanc4lica noite, minha musa,6omo eu te amo assim! som$ra nos campos,om$ra nos montes, nem a lua e estreitos1

omente o vento no deserto, longe

+ mar na costa, um l2pido sussurro%5alando a folhagem. Horas tristes!

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&eu corpo de cansado se desmem$ra,+ dia nem passei rasgando a terra.

&eus ca$elos som$rearam minha fronteQue pende no meu peito, que a levanta

)o pesado $ater, vi$ramme as fontes.%ntão rios de mágoa e de triste-a)as suas ondas me levam. Tremo a morte

Que sinto vir andando1 eu a$ro os olhosAo tacto de sua mão* ve3o um sepulcroAonde eu vou cair! 3á está tão cheio...As cin-as de meu pai, de minha mãe,Tantos amigos, muito amor perdido0ela foice do tempo, na minh(alma

6oros, incensos, lu-es do meu templo,Que al2m do meu peito se e5tinguiram!...

Hiante para mira, não vos fecheis,epulcro de meus pais ' eu venho 3á,

Quero ver minha mãe... por2m, me aterra,Tenho medo da morte, nesta idade,

)em sei porque... os tempos não me esperam,l4ria não vinga po$re flor dos vales,

6oroas do carvalho da montanha.0or2m 7 minha pátria, 7s minhas virgens

=indo a$rindo tão puras, encantadas,0or2m 7 minha mãe dei5ar quisera

0endurada ao seu t#mulo uma lmpadae lu-, d(4leos eternos1 ao cipreste

Que dálhe som$ra uma harpa que gemesse0assando o vento, ao homem que so-inho

<epousasse so$ ela, a dor no peito*o$ o musgo do tempo, na folhagem

Temporã, não perderase ho3e mesmo(um noturno clarão piedoso e doce

eu leito d(an3o alumiado em som$ras*=iria o coração sens/vel, triste

)o caminho da lu- peregrinando,erramarlhe seus $ei3os com suas flores,

orido pranto sufocando n(alma.

+h, não mates ainda, o sol nascendo!

&ais um dia, meu eus! dá mais um diaG minha vida como a flor, tão pouco

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Te pede um filho ' dá! na eternidade"m dia o que 2? enhor! adiante!

Adiante! vai morrer* em negra torreo destino a tua hora está soando*

6hegaste ao porto de manhã1 Ó musa,;ilha da noite, a$raçame e morramos!Adeus, $elo universo de poesia,

Que de em torno o meu corpo, nos meus olhos% na mente ralavame* um chãos vivo,

Que, como tu fa-ias num acenoAs estreitos e o sol, na harpa que inspiras,

Que sa$es dar, enhor, puros arroios(harmonia tu viras, teus incensos1

a casa do pastor humilde fumo

umido aos tur$ilhEes que os c2us escurãoos castelos dos reis1 mas, rece$eras

A po$re criação, tam$2m divina...+ homem, o inseto são teus filhos, te amam*

=ale tanto p(ra ti -um$ido incerto6omo um hino, que o mesmo amor os move.

Tão tristes minhas cndidas irmãs,Amigos que tenho ho3e, e mesmo os outros

Que d(outrora eu amei ' ah, não me amavam!% esse l/mpido coro d(inocentes

Qu(inda não sa$em amar, que inda não sentem;eridas que homens fa-em 7 morte eterna1

0or isso rindo e amando, rindo ignaras,Que o outro amor s4 chora1 as minhas rosas,&eus an3os do meu c2u do pensamento '

=e3oas errantes, pálidas vestidas,@radando por meu nome1 eu não respondo*esentrançamse e choram pelas margens

o rio onde eu vaguei por esta vida10erguntamlhe por mim, pegam suas águas

0or uma onda deter nas mãos tão frias,Que lhes diga onde estou1 escutam, esperam...

% nas águas suas vo-es vão perdidasTão $elas que a ave emudeceu no ramo!

+s louros da =it4ria qu(inda esperam%stremecer 7 minha vo- so$ eles,

uas folhas me chovendo e a grata som$ra,

+nde espiamme os pássaros calados<econhecendome a tão longa ausBncia,

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emendo murcharam de mil saudades,e desesp(rança mugiram na ru/na.

' %is porque eu choro de morrer tão cedo*0or2m, dos an3os rodeado, eu morro*

Qual palmeira de argBnteas $or$oletase co$re esvoando na manhã d(estio,Que fogem, quando ao golpe do colono

6aio1 coitadas, cintilando as asas=em de novo pousar, erram nos ares+nde a rama ondeava, e se retiram1A metade inda volta, uma s4, duas,

Que mais o orvalho e o som $e$erlhe amaram,6hegam perto, por2m desaparecem,

e acostumadas1 por si mesma, triste,

9nda o dia seguinte aquela vinhaQue ainda o amor engana1 então sumiram

0or uma ve-, e a palma a terra envolve.Assim quero morrer1 inda descendoG noite quero ouvilas suspirando,%m trepida candura as asas d(ave

Tremendo desdo$radas na corrente1+uvilas medrontadas do cadáver

Que amaram apertar1 mesmo fugindo

0erdendome, esquecendo, amara vBlas)o hori-onte do t#mulo espalhadas.

;ora $elo voltar depois da morte% muda vista percorrer ao mundo1

%, antes de tornar ao pouso eterno,6antar saudoso adeus, nessa triste-a

esse solene soluçar dos montes*% traçar so$re as páginas da la3em

eus mist2rios, mist2rios desta vidaQue eu não posso entender, e o eus que adoro

XL - O TRONCO DE PALMEIRA

+h! eu sou como a palma sem folhasolitária nas praias do mar*

&inha fronte seus ventos romperam9nda $ranca da infncia doirar.

+s passantes aqui nesta fonte,

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Quando outrora, tão doce, corria,=inham todos $e$er* ho3e seca,

i-em tristes olhando Cum s4 dia!D

A verdura perdeuse co(as aveseste monte co$erto de relva,)em as som$ras por ele se estendem

6omo vagas dos ramos da selva1

6omo em fendas que o raio fi-era,Ho3e o vento s4 vem si$ilar,

Fisas pedras da encosta rolando,04 fumante no cume a soprar.

e$ruçadas no roto penhasco.Fongas águas seu canto entristecem0elas som$ras da tarde, e com ela

o hori-onte selváticos descem

Fentos ecos pousar, lentas rolas,Tristes filhas, do isolamento,

A$stratas no tronco sem folhas,em ter vo-es, sem ter pensamento.

esco$ertas ra/-es lhe secam,%nvergarse disseras de dor*

o$re as ondas seus arcos descreveAnte os raios do sol do equador.

em a veia que cerquelhe os p2s,uspendida na pedra cortada,Qual da foice do /ncola negro%squecida na terra queimada,

9nda 2 $ela a gemer aos tufEes,<ama a rama perdendo a murchar

+h! eu sou como a palma sem folhas.olitária nas praias do mar!

Aortaleza d<*lc;ntara

XLI

)oite silenciosa! #nico a$rigoQue ficoume no mundo! nesta praia

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Tão solitária me lançaram* triste,9ndiferente, mudo, nada encontra

&inha vista por longe ' murchas ervas% o tronco desfolhado me rodeiam.

)ão sai deste rochedo veia d(água0ara o vale sem flor1 e a onda amarga"m choro est2ril nos meus p2s derrama.

+ cipreste espiral dáme somenteua mão de t#mulo! t#mulo piedoso

% a som$ra frou5a, mori$unda 7 fronte0endida minha, $ranca e sem esp(rança*

% no deserto dela eu sinto erranteA nuvem da alma... 4 musa desgraçada!

Apagamse os meus olhos friamente,

em uma onda de lu-, sem raio e5tremo,%m fundo ocaso pálido* minha alma

)em mais corre de amor, de amor os gritos)em mais a chama do meu peito espertam.

&inhas asas ca/ram, como outono=era despindo o meu corpo1 folhas mortas

A crepitar se escoam... tudo era torno)ada lenho de mim! dorme o silBncio

)o caminho deserto, e s4 palpitam

&eus rastos apagados pelo vento*% mugi$undo ao longe o mar contando+s meus desgostos 7s sonoras plagas,

Ao peito meu sonoro d(oco tronco,Que o vapor fraco do meu pranto e5ala,

;endido ao coração que se convulsaem verter uma seiva! %u sou cadáver

G mão divina estremecendo ' chora! '% minha alma começa nos meus olhos

esfa-erse e cair, se esvaecendo.

ilenciosa noite! um c2u apenasAdiante eu vi raiar* mostroume a terraos meus pedaços espalhada, e eu s4,A dor me contraiu* oh! como 2 longo

+ caminho que eu vou! ' por este monte%u tenho de passar* cada uma pedra

Que eu ergo, e sinto atrás de mira cair,"m passo eu dou ' de menos este sol

&e dei5a respirar. 6ansado e morto)a minha tum$a eu 3á me deito* noite,

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+cultame em tua som$ra!... >á $ranqueiaA$ertas margens do hori-onte a aurora*

Ave de >uno desplumando estreitos)as saias ondulantes, tu mentiste!

+ perfumado mel que dás 7 a$elha,6om a mão d(ouro espremendo dos ca$elos1Tão mimoso sorrir com que te inundas% fa- poesia aos pássaros e ao vento.

e que valem p(ra mim? )a terra onde)ão há vegetação, tua lu- de lua

Que vem fa-er? nasci perto da morte,+ meu nascente escureceu no ocaso.

' >ulguei a noite eterna! e desdenhoso+ c2u mostrame ainda o dia d(ontem

Que matame de novo em cada dia...A noite do infeli- não tem manhã.Feito da vida, morte, leito da alma,

eca a fonte de mim, que inda esperais?Aca$ei de viver ' nem sou$e o mundo.&eu inc4gnito adeus somente 7 noite,

6ora quem lenho vivido, ao monte, 7s praias!

)(aurora ' eu penso no descer da tarde1

&al fecha a noite ' 3á procuro o dia*Quem me dera esquecer dormindo as horas,

6onsumilas!... desperto, e ve3o o tempo%m seu lento cair! pouco avancei

)o querer apressar minha e5istBncia*+ tempo d(asas para mim não voa,

;alta muito p(ra noite, oh! muito! muito!

6hega trBmulo velho suspirandoA $eira do seu t#mulo, com a vista+ fundo mede, e foge horrori-ado*

=olta ainda, e vacila* 4 tempo ' olhaistante o mundo com saudade e pranto.

%spanta, se uma $risa fria e leve"m pedaço da neve ergueulhe 7 fronte

Que as idades som$reiam, quando um eco=ago perto passou, atrás sentindo

<umor d(inseto* a morte sai de tudo,e toda a parte surde ' da flor-inha,

a corrente que deitase no valeo ramo que no p2 se meneou '

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C6omo tudo era morte, nature-a,Ce$ai5o dessas frmas $em fagueirasC6om que tu me iludias, te escondendoC)(uns vestidos de amor, ledice e vida!

CHo3e, porque rompeste as fantasiasCQue em outro tempo eu vi te em$ele-avam?C+cultavas na flor tantos fantasmas?C%sta a verdade, dura, horrenda, feia,CQue com tanto sorrir preludiaste?...

CA $ondade de eus não está nas doresCQue o fim da vida magoado pisam...D

% voltase1 e de novo arrepiado%stremece, correr tenta, de$alde*

0ara aonde? ' chegaste em toda a parte!

)ão há partida ao porto do infinito!+ mundo todo 2 sepultura a$erta,

Fousa silenciosa o c2u1 da esp(rança)ão reverdecem os ramos que murcharam.

+ pensamento t/mido afrou5adoa vista, pelos raios, se irradia.

' Que tens, velho? inda queres vida? ainda?...6omo 2s feli-, que tanto vives! e eu,

Tão cansado dos meus primeiros dias,

=a-ia a terra achei, sem ter esperança.6erro os olhos, e atirome contente)a eternidade sossegar ' ao )ada!

;ica no meu lugar, dáme a tua noite,esta manhã teus anos recomeça.

' : tempo! sente no cair das horasQue$rarse o coração, como hei sentido

0assando a vida. Aqui dei5arás a alma)a saudade do mundo e dos amores,

e primeiro não visses descarnadaerpe co(as faces da mulher sorrindo,

;eiçEes e5teriores de natura*@ár$ara a doce morte antes das dores,

)a alegria não salva, ela assassina.' )em mais o amor, o amigo! horror ao mundo*

)em olhes para trás saindo dele.&anhã por entre as noites da e5istBnciaA esperança lá está nas mãos de eus...% eus está na dor ' nossa alma inteira

A ele, no sofrer divini-ada.

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Amor, felicidade 2 toda a terra,+ infeli- sou eu* em c/rc(lo estreito

<odeiame o pra-er e a vida1 e triste,(uma outra nature-a, em mi me fecho '

)em digo a minha dor que o homem sinta,+s homens não me podem consolar.

XLII - O CASAL PATERNO K3>*L

Eu era o =en#amin queridodestes lugares(((

Tetos! que o vagido ouviramQuando despertoume o mundo1

&ontes! que a$ai5ei su$indo1=ales! que descendo ergui1

Troncos! meus contemporneos,>ulguei que estiv2sseis mortos.

Fua! que correndo eu viaAma a segurar meus passos1

ol! que meu pai mostroume,=enho viver convosco.

/tios da minha infncia! então qual concha0elas auras tangida ao mar d(aurora,6ndidos anos foramme, 4 infncia!

Ó árvores, que vistesme em seus om$rosAos em$alos da vo- adormecido,

Qual vosso fruto $alançais ao vento1eguindome a crescer, depois ao lado

0ela mão de meu pai de um passo lentoA correr e saltar, e me ensinando+ nome deles e do c2u, 4 árvores,%u vos sa#do! não desconheçais,

6o$rime deste ramo ' a calma 2 forte...Hei medo de estar s4 com estas som$ras

Ó meu casal, 4 meu casal amigo!6omo está repetindo a nature-a

Tudo o que 3á passou!... fala! que e5istes.

6omo as flores se erguem diante dela!6omo crescem suas folhas!... %nganosas

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9magens atrav2s 7s minhas lágrimas*epois que o pranto cai, tudo 2 triste-a.

Acorda, minha mãe, que tanto dormes

Fá na pálida campa! vem ouvirmeilacerado o canto das ru/nas,este assom$rado solitário o canto.' Tudo 2 silBncio, solidEes 2 tudo*

Apenas o eco magoado e lentoa minha vo- e5pira no fracasso

a folhagem cadente, nos rumorese amortecido vento pelas fendas

&usgosas, e os destroços espalhadosa fa-enda, que foi, que assola o tempo.

;oi um go-o e $rincar a infncia minha,;oi del/cias de amor*

&eus dias matinais! dias que eu tinha,Finfas no p2 da flor.

0or2m, tão poucos! despontando a vida6errouse o meu nascente1

A noite se despenha denegrida

6aindo tristemente.

% esses lindos verdoresesse $elo solnascer,

0enhores por entre o riso,0or entre a vo- a correr,

Tudo passou tão de pressa,;oi tão de pressa morrer!

oce nome de mãe, que eu amei tantoentro do coração!

oce nome de mãe que era o meu cantoo anoitecer na $enção.

% perdeuse para sempre)o meu peito a minha vida,6omo nos c2us enu$ladosA minha estrela querida*

Assim de tarde aparece<amo d(ouro na espessura

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6ercado d(aves cantando*0assa o )atal, e não dura.

% como o ledo paud(arco

4 numa tarde sorri,&imosas tão $reves flores&urchas nos meus p2s as vi.

eus olhos por seu rosto se estendendo,%rrava a claridade que espalhavam.

Tão $oa minha mãe! tão maternal!...Tão má! tão homicida esta saudade!

' As árvores vi#vas se despiramo verdemar esplBndido e frondoso,

0elo silBncio m/stico e som$rio*entimentos fi2is que estão guardando

+s t#mulos sagrados de seus reis,Qual dom2sticos =elhos mudos vagam

0elos salEes va-ios dos senhores.Acompanharvos venho1 neste p4rtico

Tomo o meu posto, aqui fico encostado*6horemos 3untos, companheiras minhas1

6horai, amigas, soluçai comigo.

Tinha sua fronte o repousoa piedade e do amor1@onança divina, eterna

;ormava seu resplandor*%ssas coroas se romperam,

o$re um cadáver penderam.

@ei3ei seus lá$ios tão frios,@ei3ei seus olhos fechados*

9nda amor seus lá$ios tinham,9nda em pranto desfiados

eus olhos eu vi chorando,0elos seus 4rfãos clamando.

A escravidão toda errante,Que sonho inquieto inspirava,0or meio da noite andando,

)oturnamente ululava?

&esmo os cedros pareciamQue soluçando se erguiam.

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As laran3eiras do s/tio"mas morreram, murcharam1

A criação fugitiva,

+s pom$ais se a$andonaram1Tudo mudava n(um dia,+ vale fundo gemia.

+ olho d(água secou,0erderam o trilho os caminhos,ei5aram as folhas os troncos,

ei5aram as aves os ninhos*Tudo num dia mudava,+ monte longe chorava.

Todas as aves e o gado,Tudo o que a viu nestes s/tios

Tudo morreu de saudades,Tudo com ela aca$ou*

&urcharam flores no prado,)o monte o cedro murchou.

Aonte da it:ria

% eu penetro os anos que passaram,o minha mãe ao lado aqui me assento1

+uço tocar a campa avemaria,o pai religioso o grave acento.

6omo 2 triste o espetác(lo da tapera!)o fundo do deserto ondeia o vento.

' + eco de uma pedra... desmoronamAntigos torreEes onde eu nasci!"m gemido... suspira mori$undo+ confidente velho, esse africano;ilho da li$erdade, escravo aqui.

%squecera o velho d(8frica+ pa/s onde há poesia,

A longa margem que o Jaire0or mBs d(inverno floria1%squecera a lua argBntea,

As lu-es do sol do dia,0elo nome dos finados

Que revive n(agonia.

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)esta orfandade des$otada eu vivo...&eu eus! quero fugir aos vossos reinos.

)esse tempo eu não sonhava*

)ão viume o sol delirar,)ão viume o cume dos astros)os fundos vales do mar.

0or2m, desço dessas nuvens% sou na terra a chorar,)o meio da soledade

os desertos do palmar1ou de$ai5o das fruteiras

<enascer vendo o passado*%m cima responde a rola

+ meu suspiro cortado*e meus pais a eus eu falo

Fá no orat4rio sagrado.9magens mortas povoam+ mundo do desgraçado.

&inha mãe, pede que eu morra,0ede que eu morra, meu pai1

0ede a eus descendo 7s pontas

a montanha do inai,Quando a lei gravou nas tá$uas,

i- ao profeta Cespalhai!D

XLIII - $RONDOSOS CEDROS D’OUTRORA

;rondosos cedros d(outrora,Que destes som$ra ao meu gado,

Quando na calma do estioAndava errante no prado1

0equi-eiro envelhecido,Que lh(estendeste a ramada

6heia de trBmula som$ra,o tosco fruto envergada1

&eus campos d(antigamente,Que longas olas cercavam1

@ela colina, o penhascoQue no ocidente enrou5avam*

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alve! ' c2us da nature-a4 viva para chorar '

;oste agigantada virgem,

:s murcho outono a esfolhar.

Ó dias dos outros tempos!Ó dias da minha aurora!

6omo encantado me vistes,;rondosos cedros d(outrora!

@rada a noite, e despovoa+s negros cumes do c2u1+s vossos vestidos novos

Tam$2m a noite os rompeu.

%ra o sol da minha idade,:ramos gBmeos da selva,6om ele $rincava 3unto

)estas campinas de relva*

8s mesmas horas dormimos,As mesmas nos despertaram,

A mesma fonte $anhounos,% as mesmas aves cantaram.

%u era gBmeo co(as palmas,A crescer nos comparando '

"ra dia acheias mais altas,=iramme n(outro as passando.

@elo pássaro que amava@ateu as asas, voou*

Aqui ' nos p2s destes troncos&inha e5istBncia findou...

it:ria 

XLIV - MEUS NOVE ANOS N’ALDEIA

+uemL numa "edra do caminhodescansando uma hora

 #/ "elas sombras da ida, não

oler/ em religioso sil0nciouns olhos agarosos aos ales

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da inf;nciaL #/ ão tão longena e@tensão "rofunda e obscura,

e a"enas a lembran$aos amolece ainda de fresquidão

e de rela, caindo o "ranto saud/el e tão ternocomo esses mesmos noe anos

d<aldeia!

)ove anos eu tinha e vivia)os desertos do 0ericumã,

% meu pai ensinavame a @/$lia% os preceitos da igre3a cristã1

% meu pai educava minh(alma,&inha mãe fa- o meu coração

6ada dia mais amplo, de amoresQual de flores o enchendo com a mão.

6omo eu era feli- nesse tempo!em da vida a lem$rança de horror,

Alegrando meus olhos num riso,%spontneos chorados na dor.

&uitas ve-es 7 pedra assentado,Quando o sol começava a sumir,

&editando confuso no livro,%u perdia com o sol o e5istir!

%ntre as mãos o meu rosto escondido,6rendo imagens, que eu via, apagar1

&inha fronte estalava e $atia,Tur$ilhEes vindo nela roçar*

A$ismavamme os astros da noite,Quando a lua suas fases mudava1+ pra-er da manhã há minh(alma,

Qual meu pai, não sei que me animava.

% pensando que o mundo s4 era%ntre as nossas montanhas d(aldeia,

Que depois do hori-onte s4 eus,

%u tremia no mar dessa id2ia*

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Qual sa$ido de um sonho me olhava,Que sentia me o ar comprimir1% medroso fugindo das trevas

Gs irmãs que lá $rincam me "nir '

&eu sem$lante inda pálido viam10or2m nunca ningu2m revelou*Tinha medo di-er meu pensar,

6onhecBlo inda mais me aterrou!

' @em amava do velho africanorave o aspeto, nevada sua fronte1

Fonga hist4ria lhe ouvi, tão saudosa,6omo a chuva descendo do monte.

0rocuravao 7 tarde* assentado)o $atente, rugia na mão

Foura palma, vedando 7 palhoça0o$re e limpa gentil criação.

=er o /ndio, suas penas, sua flecha1os ciganos o $ando esmaltado,

;ui confuso que eus outras gentes

&ais que a n4s tanto houvesse criado!

% eu di-ia* por tua grande-a)ão $astaram teus filhos, meu eus,

% estes montes e o vale florido% as estreitas que pisas nos c2us?

0or2m, tudo me enova, me alegra*)2dia rBs condu-indo o vaqueiro,0ascentar o re$anho, a chegadaQuase 7 noite de um cavaleiro.

' alvas santas amei de &aria,;oime noite de festas o sá$ado,Fento o sino do$rando sonoro,<epetindo na selva e no prado.

% prop/nquas vi-inhas fam/lias>untas ledo passavam o serão*

%5ultounos a infncia de vida,&esmo infncia e5ultou no ancião.

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Altas alvas tocavam matinas,Quando $rilha o domingo no c2u1

@ela, acesa, fumosa a capela

%ra harpe3os de um cntico he$reu.

erramavamse so$re a montanhaFongas ondas de um sol tão formoso,6omo vestias, como harpas et2reas

esdo$radas pelo ar vaporoso.

6almo o tempo, o descanso de eusAmplas horas fa-iam lem$rar,

&uito ao longe uma pom$a arrulhando,

Fonge harmnico o galo a cantar*

Tinha o dia mais eco, nas árvores@alançavase o vento mais $rando,oce e mesta canção das sen-alas&inha mãe no seu fuso levando*

Toda a casa mais clara, mais nova1%ram os trilhos mais longos, nitentes,

Que o da lua nascendo ang#stia,&urcha as flores do sol inocentes.

%u corria nos ralos do ocaso&e vestir todo de ouro no campo,9nda as filhas da noite me achavam

%sperando acender pirilampo.

' + inverno pasmávamos 3untos<eunidos no grande casal,

)o verão nossos pais nos levavamAos retiros, 7 roça, ao curral.

)os dissemos a prole da lua<ecolhidos no seio de um(asa1

9ndo o sol para a tarde, $rincamos0elas som$ras da $eira da casa.

=ia o monte, as palmeiras suspensas

0elas $ordas de um c2u todo em cor '@elas campas, qual flores de fogo

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)as vermelhas manhãs do equador.

e amoroso estendime na relvaa campina co$erta d(enfeite,

+u na tosca fumante ramadaos pastores das vacas de leite1

e amoroso nos p2s me deitavaa laran3a cheirosa e florida,

6omo a cria que a som$ra procura,Que so-inha encontrouse perdida*

%sperando cantar filomelaQue suspira na moita do mato,

% as palmeiras sonoras erguerem@elos 4rgãos co(a vo- do regato.

0erto o vento passava long/nquo% o pomar de sens/vel tremia,

6omo a fonte que vai modulada,Que entre as huraidas ervas corria.

Tinha areia de prata o o9hod(água,

Tinha conchas e encantos sem fim,<edolentes suas margens, seus pei5es

=inham mansos em torno de mim.

' 6omo as rolas do s/tio a conhecemQue em seus om$ros desciam pousar!

<evoavam seus pom$os so$re ela,&inha mãe vindo a aurora saudar*

Feda escolta das aves domesticas=ai trás dela num coro selvagem1

% ela fe- seu passeio matino,6olhe um fruto envergando a ramagem.

+ terreiro lhes co$re de grãos,+nde fervem qual folhas na serra1

% depois estendendo suas asas9nda estão se lavando na terra*

% levantamse as rolas aos galhos+nde passam nas calmas do dia,

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0ara dar 7s irmãs a criareus filhinhos do ninho eu pedia.

6omo pousa na rBs, tão coitado

0erguntoume gentil $emtevi*C+nde a vida me levas nos filhos?D"m açor eu não sou* respondi.

CTu quiseras que 7 mãe te arrancassem?C=er seu pranto que os olhos vertessem?...

C4 as vo-es de mãe adormentam1C+utras asas, que a mãe não aquecem.

CTu me queres tirar do tra$alho?

C6omo 2 doce o tra$alho dos filhos!C%u não ve3o tua mãe doces frutas

CApanhando por darte nos trilhos?

CTerei sempre o que darlhes nos ares1CQuando a mim me faltar, oh, com $ei3os

C&inha fome eu irei enganando,C&inha sede e os meus outros dese3os*

C&olhes vBs a garganta $atendoCQuando os tocas, a$rindo o $iquinho?

C6omo quando eu chegava no ramoCão suas vo-es, oh, dáme o meu ninho!

C%les choram tremendo de frio,C>á tem fome* não queiras trocar

C%ssa cama que eu fi-lhes das penasCQue eu podia do corpo arrancar,

C% estas asas que os co$re da noite,C"m calor natural neles dando,

C% a comida 3á meia digestaCo meu seio em seus seios passando,

C%los panos que aquentas no fogo,C%la dura e tão fria comida...

C6omo 2 grato o viver com sua mãe!C6omo 4 triste o perderse essa vida!...D

Apertouseme o meu coração,

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)unca mais nem um ninho eu tirei*Qual da minha estar 3unto eu amava,

=Blos 3untos sua mãe eu amei.

% ficoume um pesar no meu peito...6omo quando ave triste cantou,6omo quando suspira a ri$eira

Que a torrente passando dei5ou.

Toda a parte por onde eu andasse<odeoume um temor de perdBla*

%u corria a$raçar minha mãe,)unca farto de amála e revBla.

Aquela ave faloume p(ra sempre,Todas mais ela s4 repetiam1

%u pedi minha mãe não cantasse,0orque mesmo os seus cantos di-iam.

Apertavaa sens/vel, suas faces)os meus $ei3os de filho amoroso 'Que entristecea mil ve-es olhando

6omo agouro em meu rosto piedoso...

' 9de ho3e 7 =it4ria, e vereis...6ai o dia formoso do sol,

0or2m so$re ru/nas, vest/gioso que foi meu amor no arre$ol1

"ma s4 laran3eira e nem flores,+ olhod(água secou! nem as casas...

4 tu ficas, 4 tempo, 4 eterno,Tudo a n4s nos arrancas com as asas!

' &inha vida era toda o presente,;oime um sonho da noite o passado

Que se apaga com a lu- matutina,&eu porvir um s4 passo apressado*

&inha vida era um vale o$scuro,@rilho honesto de cndida estrela...+nde fostes, meus $elos nove anos?

+nde fostes, aldeia tão $ela?...

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Ó descanso no colo materno!Ó desertos do 0eriçumã!...

% meu pai ensinavame a @/$lia% os preceitos da igre3a cristã.

 *uteuil

XLV

Dorme cm leito de bonan$aG feliz, na "az da cren$a'

7em sonhos no sono "l/cido7onhando, s: sonha amor(

Eu sonho quando não durmo,

4or ier nesse "assado'Dormindo, maus "esadelos

Me sobressaltam de horror(

Ó tu! que nos relmpagos dos olhos%m$alaste minh(alma, vaga incerta

6a/da nos tens p2s, n um c2u d(amoresFevada por encanto ' e convulsosa,

% ávida de ti, ampla qual nuvens,

&e enlouqueceste de uma vida eterna!Aonde foste? onde estás? porque morreste,

=irgem co(as formas da nevada nuvem)(alvacenta manhã co(a graça ang2lica?...

Tu, que $ei3aste minha face e amanteesli-avas por mim, me estremecendo,&imosa e mansa, linda rosa d(ontem,%ra suspirar s4 teu, a$rindo ao -2firo1

Tu, que era teus seios, tão feli-, sentias+ late3ar da minha fronte cálida,

&eus lá$ios quentes ofegando amores1Que aos meus del/rios piedosa andavasTeus olhos so$re mim, de apai5onados

)uma lu- pranteada se que$rando1%nleando os teus $raços indolentes

0elos meus om$ros... onde foste? ' 9nda amo!Amote, eu sinto, de tuas som$ras fu3o,

a vida eu fu3o que contigo amei.

A m#sica celeste, essa poesiaQue foi minha de harmnicos enlevos,

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Quando em teu peito tres$ordava esta alma%m ondas de um pensar tão melanc4lico

e tantos ignorados sentimentos,)ão quero ouvira m#sica, essas harpas

Que no meu coração notas coavam1)ão quero o canto nem tremor dos $osques)em vo- da fonte nem clarão da lua!

onhos tão $elos, que no amor se geram,)o meu passado, como horror tra-eisTão de som$ria morte a rodearme,&e roçando a passar! eu estremeço*0or2m não sei correr da minha sorte1% porque? como a ovelha ignorante

Que pasma ao c2u, que relampeia e estala6omo o pestane3ar do deus das som$ras,

% sacode a ca$eça e nada entende,+u que aos olhos da fera os seus aperta

% $alido inocente apenas solta)a morte penetrante* eu sou como ela.

' Ó vida desgraçada, 4 minha vida,Quem que te fe- assim? quem te vivera

e eu não fora? faminta, miserável,

;ugindo aos homens, s4, assim na terraA rugir do meu ser 7 vo- que eu sinto

Fá dentro d(alma remorderme! os vivosAterrando de mim1 persigo os mortos.

%u careço de amar, viver careço)os montes do @rasil, no &aranhão,ormir aos $erros da arenosa praia

a ruinosa Alcntara, evocandoAmor...0ericumã!... morrer... meu eus!Quero fugir d(%uropa, nem meus ossos

escansar em 0aris, não quero, não!+h! porque a vida despre-ei dos lares,+nde minh(alma sempre forças tinha0ara elevarse 7 nature-a e os astros?

Aqui tenho somente uma 3anela% uma geira de c2u, que uma s4 nuvemA seu grado me tira1 e o sol me passa

Ave rápida, ou como o cavaleiro*

% lá! a terra toda, este sol todo '% num c2u anilado eu m(envolvia,

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6omo a águia se perde dentro dele.

9ngrato o filho que não ama os $erçoso seu primeiro sol. %u se algum dia

Tiver de descansar a vida errante,6aminhos de 0aris não me verão*A trav2s os meus vales solitários

%u irei me assentar, e as $risas t2pidasQue os meus ca$elos pretos perfumavam,

os meus ca$elos velhos a asa trBmula%m$ranqueceram* quando eu nascia&eu primeiro suspiro elas me deram1

&eu #ltimo suspiro eu lhes darei.

Quando eu for navegando 7 minha terra,A viração mareira no meu rosto,

%spane3ando esta alma no oceano,6omeçarei amar! e o sol co(os raios,

6omo $raços de amante, as mariposas,As inconstantes ondas afagando,

Amansandoas de amor em re$eldia1% a lua formosa, como a rosa

Quando as p2talas todas desdo$rando

=ai, qual virgem de amor descamisada)evado seio a arregaçar dormindo

%m seus leitos de a-ul resvala, ondula1% as long/nquas montanhas fumarentas

A $alançarem na água1 e o nevoeiroesrolando dos c2us, difuso ao longa

)o hori-onte1 e quando so$re as margens%nlevado da pátria o meu $ai5ei,

inete inquieto aos conhecidos s/tios,%u vir1 so$ os meus olhos, que uma lágrima

0artem, partem de alegres as palmeiras,%sses rios e serras, esses campos,

9rmãs, amigos, tudo... então morrer!

0renhes de raios, de trovEes as nuvensArrastam pelos c2us pesados elos

e cadeia inegual, por despertarme.+ c2u estremeceu* de a-ul, prescito

As faces retraiu1 negrento fumo

6orreu1 a terra densa vestia cai.% eu dormia o meu sono de acordado

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Quando a dor amortece* olhos desvairos,eslavados das lágrimas, não olham.

&inha alma errante, de voar nas trevas;echa as cansadas escorridas asas1

&eu pensar afadigame* do mundo;ugitivo eu serei... oh, minha sorte!&inha mãe pelos c2us a$andonoume9nda infante, meu pai tam$2m morreu1

Amei doces irmãs, eu não sei delas16ompanheiros gentis da meninice,

a carreira nos prados, se perderam1&eigas adolescBntulas celestes,

Que descer dos mais anos me fa-iam)o 3ardinoso al$or andar com elas,

;echadas flores, tão cheirosas, foram!0erdi tudo o que amei! tudo me foge,

% nem a morte eu sou ' tudo o que eu tocoesfa-se, horror! % o meu c2u, meu $erço,

% os an3os do meu sonho, e o meu sol d(ouro,isudo ancião cora fronte de meu pai,

% os meus amores... )ão! quando sonhandoAuguramme a$andono, e solitário

6omo o >4 piedoso, ainda a ve3o

Bmea do meu amor, em n4s nascido,0or n4s criado, que ela amou primeiro,

Que primeiro eu amei, que amemos tanto!=e3oa correndo não sei donde, e doida,

eus vestidos no vento desdo$rados% os #midos ca$elos1 $raços longos

espedaçando o ar, que diante ondeia,0or mais solta chegar1 incertos gestos

)a face, nos seus lá$ios, nos seus olhose choro, de alegria ou de piedade,Tremente por ditosa e de triste-a

=endome como o >4* dos c2us, do mundo%5ulado e faminto, e sem a$rigo

A ventania, aos vermes! po$re filha,0o$re escrava de amor, porque inda o amas?

=erte consolaçEes, tra- salvamento,oces afagos tão de mãe saudosa,

oce fresco da tarde me alentando16om seus ca$elos a nude- me co$re,

&oles ondas no mar se desfa-endo,e desdo$rando, rodeando a praia1

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0alma ao sol, so$re mim seu corpo inclina,%u sinto a som$ra me passar na fronte

6aindo co(o murm#rio da sua fala,Quando eu acordo!... % que me importa o mundo,

% que me importa o c2u que me a$andona!"nidade o poeta a$solutaem depender dos astros nem da terra,

6anta por nature-a como o pássaro.0or nature-a as lágrimas espalha,

=endo os homens mis2ria, ele mis2ria1A escorregar co(os mais so$re a desgraça,

6urte saudades do que vai passandoArrastado do tempo, e que ele amara*Amor, de que se nutre, e nunca farto,

eu alimento devorando, morre!' ofre o homem vivente, ao menos o homem

a$e di-er sua dor, que eus afaga,)ão sare em$ora1 mas o po$re $ardo,Ai dele ' de gemer suas veias rompe,

6omo ignoto do er, vai delirante,=ai sem sa$er de si, do que sentira,

Que foi tão fundo1 que ningu2m lhe entende!"m fantasma sumiuse espavorido,

@elo voando 7 noitidão do a$ismo,onde aparece* Cpassa, eleva o eco

a tua vo-, 4 som$ra misteriosa,Que n4s da crençaD di-em Cnão sa$emos

Teus latidos ouvir, del/rios torvos%m candentes marasmos reve-ados.D

' ecava, se ergue e se $alança a onda%m seus trBmulos p2s so$re o oceano*

;ilho dos mares, filho das estreitos,%rrante como a onda ao p4lo eu sigo.

A som$ra da palhoça americana%ila assentada ao lado de sua mãe

Aprendendo a tecer n(alva almofada,0o$re inocente! %isme a$andonado)o meio da =it4ria, entre as ru/nas,

0or entre os laran3ais sem flor nem folhas,em ra/-es nem fruto, semeados

0or mãos do furacão por so$re a terra!

6orro a$raçar os seios tão fecundos,@ei3ar tão ampla, tão piedosa fronte,

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ifusos meus afagos derramarlhe)o pensamento, que se lança, ondeia%5pansivo e materno, aos p2s de eus)os olhos de seu filho... os lá$ios firo

)a dura casca do longevo troncoo $acuri-eiro e a pedra1 em ve- da $oca0erfumada da vo- celeste e t2pida,%m ve- do colo amorenado e fresco

e minha mãe de vi$raçEes pac/ficas!' &e de$ruçava lá na infncia longe,

Tão f2rtil, matinal e tão amada...6omo 2 árido o pranto que eu espalho!

A erva, o musgo não estavam nela,

%u ve3o a sala em chão enegrecido% liso pelo tempo, alegre e limpa,

6om seus r#sticos moveis d(angelim1Atada a $ranca rede neste canto,

<ainha minha mãe do trono argBnteo<epartindo suas ordens $randamente*Amiga escravidão contente a escuta,

@asta mata derri$a, os montes queima.a terra quente e #mida do fogo

%manam das entranhas os vapores,o lavrador o sacrif/cio aos c2us,

9n4cuo, a cada passo repetido)o cair de uma en5ada, erguer d(um eco,

A vo- saudosa e náutica da escravaAcompanhando os cavadores no eito1

)o $raço pende a cesta de pindo$a6o(a semente do outro ano conservada,

&elhor 7 plantação1 e o vento leve&onta e $alança as o$laçEes divinas

o tronco quB inda fuma e os longos sulcosQue o grão sepultam. >á loureia o milho,

=erde3a o arro-al na $ai5a, e so$e)a ladeira viçosa o algodoeiro,

Que vermelha maniva a cima entouça*epois, rica a colheita ' oh, tão feli-es!

% eus tudo nos dava, largas eiras,Amplos terreiros a$undante enchia.

)a lavra a padroeira se feste3a6om festas, com selváticos cntaros,

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Que dera inverno copioso 7s plantas,0ara o rio que sai do fundo leito1

=erão formoso na colheita, aos campos,8s pingues pescas e u$ertosos $osques.

%m fresca madrugada n4s partimosratos dias passar na doce quinta

6ora sua vida de um ano ou dois1 a lua)os raios da manhã sua lu- perdia.)o seio do caminho se enco$rindo,

ritando por seus pais, que cedo a$raçam,=ão saltando os crioulos1 vão nos mansos,

)os es$eltos corc2is $rancomimosos&eu pai, minhas irmãs1 atrás os servos,

% os cães ladrando 7 fugitiva corsaQue na volta da lua sai na estrada1

)o meio minha mãe, eu no seu colo,)o carro cantador, sonoro e lento,0or formosa parelha igual tirado,

;umante o dorso, sacudindo a frontee ramos enfeitada, um lácteo $afo

%5alando saudável1 pelos ares0oenta nuvem de marfim desonda

o caminho de fita. A vo- confusaa leda caravana matinava

Harmonia selvagem, mas tão $ela!

Que risonho pa/s, que novidadeo$ressaltou minha alma! alto hori-onte

+ tu3upar domina, se amontoa8urea colheita pelo em torno1 as aves

6antam no meio do arro-al que ondeiaAo vento estivo1 serpenteia o rio

Turvo e plácido, al2m perdido, al2m0assando 7 som$ra do algodão plumoso

Que das margens se a$raça, entrança os ramos16ortado, al2m, da estiva que de$ruço;ormou naturalmente o pequi-eiro1

% pela ri$a as verdes ca$aceiras%ra floridos cordEes se dependuram*

)uvem co$re o terreiro, vagam nuvens&ati-adas no ar, como folhagem

<ugidora que o vento cerca e arranca,A árvore queimada enverdecendo,

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Tristes, pálidas torres que não do$ram,9nconstante despindo o m4$il manto0ara outra enramar, co$rir de flores

6om a $reve estação desta que esfolha.

=oltávamos, passada uma semana,&ui saudosos, da lavra. )os tra-iam)ossa mãe preta e todos os escravos&il presentes d(infncia* a cuia nova

Tingida e resinosa1 o cará ro5o1ois ovos de perdi-, da glauca tona1

A leda, $erradeira seriquarae p2s e olhos vermelhos, verdoengosFongo $ico e a plumagem1 uns filhinhos

o como viridante em quentes plumas.

G tarde, quando a lua no hori-onteesco$ria de prata o rosto umenteAgitado no mar de um c2u d(a-ul,

+s cumes do ocidente se e5tinguindo,6omo o casal do :den se assentavam&eus pais 7 fresca porta no $atente=endo o nosso folgar* interrompido

Quando o sino vi$rava na capelaAngelusave1 renascendo logo.

Fá chegava o feitor, depunha a foice,% a meu pai relatava o dia findo1

o$re a queima lhe fala, as chuvas teme*C6orre mais a$undante no caminho

CTortuoso &apa, $anhou das margensCA lustrosa cantã, que se ergue olente1

C>á taiocas se alastram doidamenteC+u vão su$terrneas1 n(alta mata

C+ acauã cantou, ecos de longeCFevaram por mais longe os outros ecos1

CAcimamse nos c2us os seteestrelos,CAcentrada num forno a lua pende 'C+utros sinais eu vi ' todos os astros

Cão maiores mais lu-em1 são mais fundosC+s campos, perto os matos d(outra $anda,

C% mais amplo o hori-onte1 7 madrugadaCritavam gansos para o sul passando1

C6omprido $ando eu vi passar 7 tardeCa colhereira r4sea1 o sol no poente

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C=ermelho* tudo as chuvas anuncia.D

)os $raços maternais que me em$alavam,%m ondas de alegria derramando

+ cansaço infantil, eu me atirei"m dia e, de pra-er, preso em soluços.>á mudo e descansado olhando os outros

)o tecume em que andavam, despedirme,0or entre eles perderme, ia pensando*

)o lançarme, senti na minha fronte6air gotas de pranto, eu estremeço...

&inha mãe me apertava, e como alegre;oi di-endo* CHo3e $rincas, no meu colo,CQual na pátria, depois da vida errante,

CHo3e vens descansar... oculta sorteCQuantas ve-es não muda os seios almos,

Cel/cias da mãe terna e o doce filho,C0or um leito de pedra! estes rosais,

CTanto c2u, tanto amor, por tantas dores,CFongo penar, morrer! oh, eus te salve

Cos frios dentes d(assassina sorte...D)ada pude entender1 mas, comoveume

A vo- dorida lhe escutar, tão triste!

% assim como a progne implume aindae encolhendo tremente so$ as asas%stendidas da mãe, quando na torre

Que$rou a tempestade, eu a seu lado9gnaro emudeci tam$2m chorando.

' 9ndu-iume a voltar aos meus $rinquedos,%nquanto era feli-, %nquanto infante.

)unca mais ser contente eu não sa$ia*&inha mãe nunca mais contente olhoume

6om sua vista de esp(rança* um que piedoso% de triste-a estava em seu sem$lante

+lhando para mim, tão carinhosa!6omecei a passar todos meus dias

>unto dela, onde quer que ela estivesse,+u na rede da sala, ou passeando

0or entre a laran3eira, ou nos pom$ais1ormia no seu leito, a vo- lhe ouvindo 'Tremendo adormecer! ' e quando n(alva

6antava o galo, eu despertava, a via,

% como triunfante e pra-enteiroessa noite salvar, $ei3eilhe a fronte!

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)ão podia perdBla um s4 momento,Temia não sei que, porque nem sei...

% morreu minha mãe, perdi meu pai,

A =it4ria, os escravos aca$aram!...ou 4rfã, sou perdida andorinhaArrancada do ninho pelo vento,

)ão sei por onde eu vou... murchando a vida)esta minha invernosa primavera.

Assim, meu eus, no mundo os 3ustos passam,em ru/do ' vai som$ra solitária

Que refletiste uma hora. Ah! se eu pudesse=oltaram meu pa/s ah, se eu pudesse!

0assando, resgatar 7 li$erdade%sses vendidos, miserandos velhos

a =it4ria feli-es! po$res criase minha mãe, por hi morrendo, c2us!

arlhes a respirar no fim da vida+s ares do palmar onde nasceram*

% pasmados d(encanto ao ninho amado.Qual aves da saudade erguendo o coto

0ara o colo esconder fechando os olhos.

%ntão morrerem... mas, ouvindo ainda+ som dos $osques, o gemer da rola,

% o lago $errador por muda noiteHarmoniosa, e as aves da alvorada,% o suspiro e5alarem no seu canto!

Ainda a solidão nos conhecera,+ deserto ecoara, e so$ os p2sent/ramos a terra estremecer!

A campa quando mãos de amor a tocam,%scorrendo uma vo- que$rada, um pranto.

)ossa casa erguer/amos da noiteessas mesmas ru/nas do casal,

%ntre elas1 serviria a mesma porta,+s esteios os mesmos, o $atente,

%sses mesmos terrEes desmoronados)ovas paredes levantarão1 tudo

)os falara o passado... tudo lágrimas!: fagueiro chorar por muitos olhos,

0or muitos coraçEes, por muitos lá$ios+ mesmo choro, o sentimento e amores

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os tempos que 3á foram! ' e eu pudesse&eus amigos vendidos li$ertar!Ainda ver passando a colhereira,

+ ganso 7 madrugada, os meus palmares

% a rola da =it4ria e as aves todas!...% mudo a minha dor come a minha alma)os anos verdes, como verde fruto&astigado com força nos vora-es,

)os ri3os dentes a estralar que$randoa homicida, fatal, da minha sorte*

0or2m, não perca o fio da e5istBncia,eus no meu peito, amor nos olhos am$os,

Fonge do mundo, o r#stico ala#de)a destra sonorosa ' hei de vencBla!

ou como a cria desmamada e triste,Que uma gota de leite mendigando@ale em torno de todas as ovelhas*

A$anamlhe a ca$eça* eu não sou filho.Andorinha dos mares, so$re as ondas0erdida, as asas de cansada arrasta10assa a frota alve3ando qual cidade,

=oa aos mastros de um, d(outro navio,

+s marinheiros gritam, e ela voltae t/mida outro $ordo, e deste aquele*

Ai de ti coitadinha, fecha as asas,olta um gemido e lançate da vida,=ai na morte pousar1 cai desse cumeos teus dias $em l#gu$res n(aurora!

Ah, se eu tivesse mãe! então... ah! sim,)em como ave do mar, nem como a ovelha*

A seus lados feli-, $em 3unto dela,&eus $raços enlaçandolhe o pescoço,

@e$endo os olhos seus, seus doces lá$ios,ua respiração $randa, amorosa,

Que alentou minha infncia e fora eterna1=ivendo nela s4, toda minha alma

erramando so$re ela, ao mundo, ao tempo&ostrara o meu amor! ' Ó v4s, que a tendes,

Amai a vossa mãe, amaia sempre,Amai ainda ' quanto amei, quanto amo

&inha mãe... minha mãe!... tu, divindade,

&eu sol da infncia que me davas tudoenti meu pranto como triste corre1

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=ede meus dias solitários, áridos,;ruto que não vingou* tão cedo, a selva&orreu, caio* 7 calma e5posto, o sueco

e perdeu, e mirrou não tenho mãe.

6om o são lentos, longos, e pesados+s dias deste mundo! como custaArrastar este arado da e5istBncia,

<ompendo a leiva pedregosa e secaQue não dá uma flor! Tu me a$andonas,

eus, na terra ingrata? ' eu vou seguirte,e depois deste mundo asas me derdes...

XLVI

3ua oz na inf;ncia adormeceu no ber$oMeu dormir de flor

E de saudade e amor, mãe, & sobre um tmulo que eu canto(

om$ria morte me acompanha, eu sintoeu faminto alentar* cada um meu passo

A$re um sepulcro, e me desaparece.A lu- me aterra, desconheço o dia,

)oite que treme apresentarse ao solAntes da vida eu morro. +lhava apenas

%ssa terra de vastos hori-ontes...&eus olhos cam$aleiam pelas faces,

6omo o ocaso despedese dos p/ncaros.)ascem ecos distante... um s4 minuto,

Ó ecos, esperaime ' eu vou cair!

)ão me vBs, minha mãe, neste deserto?em pátria, como a nuvem desgarrada<esvalando por c2us de noite pálida*em parar numa terra d(e5istBncia '

6orrente cristalina por amores,0or amores a c#pula palmosa,

om$ria e mui sonora, do folhedoeus aromas com os cnticos das aveso$re mim derramando em casto leito

e vai cheiroso, do penhasco ao seioescansada a ca$eça, e o 3unco e as flores

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o pá ramo por virgens do meu peito,% por meu teto o c2u1 cndida lua

)o meio da cer#lea ca$eleira%5alando o seu rosto de don-ela,

6laro manto de sedas perfumadas6o$rindome da noite, árida esta alma&(em$evecendo d(orvalhoso efl#vio1ormindo o sono plácido da crença,

Afagarte em meus sonhos de ventura,=erme infante em teus $raços, em tua fronte

>uncar, 3uncar meus $ei3os... minha mãe!)ão me vBs, doce mãe, neste deserto?

% o 3ardineiro sol da madrugada

@anhando as flores de perfume e tintas,+u quando da palmeira aos p2s arro3a

A meneante imagem, no ocidente6armini-ando o mar, e a nature-a

%ntre as m/sticas som$ras de uma tarde,Quanto eu amara! que esta vida enchera

e todo este universo, minha mãe!

)ão tenho um s4 amigo, sou tão po$re...

Que eu ve3o um mundo... ningu2m sa$e ao menos*%5tintos olhos e uma t2rrea fronte

)ão vão c(o ledo romanesco em galas.+h, quem pudesse penetrarlhe o e5/lio,ondar seus mares d(ilusEes e a$ismo,

% os mist2rios erguer n alma do $ardo 'om$ria diante o sol, por entre as lu-es,

0ara os dias da noite solitária!em gemer uma dor, choraas consigo,Ao mundo que sorri, sorriso empresta1

)a pa- da solidão rasga sua alma1Fucu$raçEes 7 hora evosa e tácita,

% umas gotas de lágrima espontneao$re essas flores de triste-a e insnia.

&eu corpo 7 terra a$andonei mis2rrimo*e saudades, de amor, sonhos, esp(ranças,e ti, de um eus alimentei meu peito '% para o mundo, minha mãe, tão po$re!...

%rrante pelas ondas do oceano,+ som das vagas temperoume a lira,

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%cos delas seus ecos repetiram.olitário dos homens, forasteiro,

)a soledade do ideal ouviasimpáticas, soluços me ensinando

Arrancar ao coração1 com elas%rrei a mente n(amplidão calada1emi com elas na canção do nauta,

<ealçando na proa sonorosa%m silBncio a desoras1 pelo $o3o

<ompendo as trancas, quando a lua enflora,Quando a lua umedece, $ela em mares,

@ela no c2u a-ul, no cavo pano.uspenso e$#rneo pelas vergas longas16horei com elas na e5tensão profunda

0ovoada do 2ter anilado,Quando da noite a $alançarse ao colo

em $osque ave sentida ia piando1%nsinaramme a vo- rude e selvagemArando o vendaval rouco e ruinoso1

%m calma eu vias açoitando as rochase &arrocos, d(%spanha, ou docementeAs velas $alouçando, e, qual mulheres

(ardentia vestidas, de$ruçadas

0elo &editerrneo, o pensamentoA descantar perdidas, suspirando1

% quando 7 matinada saltam pei5es,<u$ente caravela esmalta 7 tona,% de mansas e languidas dormiam

esfalecidos ventos nos seus $raços.% no vago ondular da vida alheia

)ão $usco a nature-a, amoa* nos homens%ncontrar meus irmãos... ah! minha mãe,

Ao meu amor s4 tu. ;oste* ' a tua som$ra,Alma, ou o que houvesse de imortal em ti,

;icoume triste musa do crep#sculo1a saudade uma lira encordoei

)o meu pranto por ti, no amor a eus.' @al$o, fl2$il infante ao desamparo,

enti necessidade* eu quis vi$rála0or meu consolo1 e t/mido, aos meus olhos

%nvolveume pudor, fugia crBla1<u$esce a musa, inocentinha virgem

&eiga nota de amor passar sentindo.% eu cresci na crença de meu pai.

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&eu pai tam$2m morreu, erguilhe as cordasa lira que me deste, em noite escura

Ao mundo esquivo 7s som$ras do sepulcro.

%m pálida orfandade eu fui qual folha)as asas dos tufEes ludi$riada*a selva me arrancaram tenra e murcha,

Quando o sol rodeavame num $erçoe flores e favnios, quando as aves

)o trino virginal d(argBntea infncia...Que amanhecer, 4 mãe, quanto era horror!

6olocado me achei num hori-onte+nde o fogo queimara a terra, as flores,

Tanto sorriso pradinal no monte,

)o vale a pragana aureando ao sol!A terra estava negra, re$uçada

%m camadas de cin-a1 al2m, al2m6repe alvacento levantando apenas '

% o c2u nem sou$e darme um fresco orvalho!6horei! perdidas lágrimas de 4rfão.0edi consolaçEes! por2m, 7 terra.

% os meus gemidos as soidEes comeram1&eu pranto aquece resfriada cin-a1

% ningu2m me entendeu. ivago ignoto.

Feviano $ai5ei das águas todas,=ergntea e5ile do frescor movida,

Amei, oh, quanto amei! an3os da infncia,Que os meus anos d(aurora mati-aram!

%ram ondas saltando, s(infiltravam,6omo em praia, em meu peito sonoroso1% como ondas de vida os meus suspiros

0iedosos caindo, me escutaram*oces cantos teci de amor travessos,

esalentada mansidão da serpe."m rápido sorriso 7 flor dos lá$ios

)asceu, tingiu de amor, passou, morreu.uav/ssima aragem desprendendo

Amena rosa de recentes cores,;agueira linfa vinculando a concha,

% nem mais divaguei... morreste?... virgem!An3o coitado, que tremeu de amarme,

Arder as asas na silvestre chamao meu amor1 almpada sagrada,

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Fu- delirante me sentir nos seios(4leos divinos suspirar, morrer.

Fongos, pranteados em$alava os olhos,

Que a face afrescam de uma lu- infante,Ao c2u de a-ul asserenado, manso,9deal d(harmonias respirando,

6omo a rosa em seus $afos se difunde1% nos fracassos desse peito alheioAn3os, nuvens divinas se e5alavam*

C=irgem de vaporosas criaçEes,Cáme um $ei3o por asas, dá com elas

CQue eu su$a 7 salvação, 4 casta! 4 noiva!CTu, que alvoreces entre o coro e as harpas

Ca nature-a, que as montanhas vi$ramC0or estes vales onde o vento dorme1

CTu, que te inclinas 7 espaçosa som$raCa tarde, como a t2pida lem$rança,

C% o saudoso passado, dáme um $ei3o!C%nche meu coração dos teus mist2rios!D

' % ela não falou* confusa e $ela,ei5ou nos olhos melindroso assomo.' % ela não falou* meus olhos $ai5os

Fampe3aramlhe aos p2s, doce mendigoo$rado ante os altares da esperança.

uaves l/nguas de mimosa flamaentiase a sair no puro alento

a aromosa $oca* ar$ena alpinaQue na calma foi do ávido assaltada,

%m cansaço e medrosa um ar faminta.=aguei por so$re as pálidas ru/nas,

8 rota som$ra do espinheiro agreste*)em mais ouvi a rola solitária,

Famentoso acauã deume o seu canto)as horas do silBncio taciturno,

% outras aves do sol desconcertadasoleni-aram o amanhecer e a tarde.0ercorri as campinas lá da infncia,

)ão encontreias, de mudadas que eram1<egou meu pranto os cardos do alpestrio

6rescidos no álveo do olhod(água. As floresQue plantavas no pátio, o p2 ramoso

o $ugari morreu, nem mato as co$re!A capela das salvas +h! quem pde

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+ casal da =it4ria interdi-erme?>á vacila o esteio, alta parede

%ra seus p2s se amontoa, a$ate o teclo1%m sentido asso$io lá se envolta

Amarela 3i$4ia, ao lado gemeA coru3a d(agouro, das ru/nas0residindo o cair, noturno esvoaça

+ morcego e pende, rumoreia o vento.

% o teu casal me foi negado um dia0ela terra tão má! pecoreando

Ao relento passei noite sem fim,)o meio das soidEes do meu passado,%m pedras estendido. Quantas dores

A$afavamme as som$ras! meus gemidosApenas iam se perder no vale.

e lassidão sonhava, adormecia*%u era o teu sepulcro misterioso,

)a minh(alma encerrei teu pensamento,&eu peito a lousa do epitáfio* em mim=isEes senti que os t#mulos rodeiam

<oçarem fugitivas como o vento0or muda folha1 imagens dolorosas

&e acenavam de longe, revoavam,6a/am como! do ar, feridas pom$as

Quando cegas do sol vão contra os muros,%m saudade convulsas me a$raçando1e tão chorosas me acordaram %u s4!)as ondas do suor, espectro errante,

esca$elado e pálido entre as árvores 'espovoado c2u! Ó mãe, 4 mãe!

&eu eus! porque mataste minha mãe?0orque mudaste as flores destes s/tios?0orque murchaste todas estas árvores?

6omo tantas ru/nas se amontoam!A verdura risonha do outro tempoesfalece do prado, e triste as avesFevantamse 7s colinas do hori-onte

%negrecidas, áridas. Quem dera=ivesses inda aqui! doce velhice,

Apoiada em meus om$ros, titu$antes

)ossos passos, feli- te condu-ira)as margens odorantes de tua fonte

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Keca e perdida em carrascais sem florL,Te dando água na mão, que tanto amavas

)a folha da cantã, e 7 tua vistaorrindo as linfas gárrulas passaram1

A tarde, vagarosa, em doce prática,)o teu passeio a respirar no monteo $osque perfumado $rasileiro

Ar t2pido e saudável* so$re a pedraa ladeira, encostadaa mim, por longe

=agando os olhos d(afrou5ada vista6omo esses cantos vesperais desmaiam,)uma hist4ria sem fim, mas agradável,@randa fita de mel, por entre as frases.

+ nome do teu filho acentuando1

% depois, quando a som$ra 3á ca/sseos laran3ais perante os astros todos,

0elos trivios 7 morta claridade=irmos tra-idos para o teto amado,+nde 3á passam as primeiras lu-es1

escansando no toro de paud(arco,Tu falarás então, por2m sem lágrimas*

CAqui tuas irmãs contigo 3untasCHá vinte anos $rincavam1 lá, teu pai

C%sse p2 de loureiro que inda cresceC0lantou quando nasceste, esperançosoC)o teu futuro ' a idade dele 2 a tua.D

% no terreiro se a3untando os pretos,6omeçamse acender os fogos r#sticos.)em mais o canto das sen-alas ouço...

+h, quantas cousas tem mudado o tempo!Ó eus, porque mataste rainha mãe?

6urveime 7 rama do palmar atlante,)o esto de uma quadra da e5istBncia,

0erto 7 sorte minguada ouvindo a morte...&as, foi sonho. Açoitado do destino

0erdi as margens que eu amava, ingratas!&inha dor comprimi, pranto de sangue0or dormila chorei! chorei saudades,o peito a fronte a levantar gravosa

=ergada ao pensamento, fundos olhosTremulando no vulto do gigante

<e$uçado em seu manto de penhascos,%ntre os c2us a ca$eça, 9h(entoucando

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ilencioso nevoeiro a grenha1;alecendo no a-ul das serranias

os Órgãos endentados ' qual n(areiao l/$ico deserto, o sol aceso,

(em$alançam palmeiras no espelhoso,%ncantadas cidades, ilha ou selva,+nde elevase muda a caravana ')o remanso das águas desenhadas

&el/fluas do >aneiro. +h, meus encantos!&ãe despiedada que seu filho en3eita,

A pátria me negaram... 0osto 7s chuvas,enti murchar meus anos inda a$rindo1

&inha vida pendeu e5tenuadae suspiros e dores1 esta seiva

a minha alma s(evapora, esvaise10ela a2rea rai- repousa o outono,

% os tur$ilhEes ardentes a laceram.

%u vou su$indo o rio da e5istBncia6ontra as correntes em penosa $alsa*

%stendo a vista pelo esteiro, $uscoeter co(as mãos as ondas, que me fogem!rito, que se não perca o meu passado '

% perdese com o eco... e pelas margensApenas uma lu- se e5tingue, um monte

%mpalidece e seca, as minhas torresesfa-emse em ru/nas, um cipreste

Fá no fim do hori-onte o corpo estende!...% voltome ao caminho para adiante*+ tempo se apro5ima, e passa* e digo,

+ futuro lá 3a- atrás da nuvem '0or2m $ranqueia a nuvem... peço ainda

G noite, que me espere %nquanto há dia '+ sol desaparece, e tudo 2 noite!

' %stá minh(alma se escorrendo em chagasTão vivas, de sangu/neos meteoros

)ela cheia de noite, ou como os raios)a sua tempestade serpenteiam!

%u via o tempo segundarme 7s pressas*C6orre! corre! que eu passo.D %u corri tanto,

Que a vida toda numa aurora andei

At2 aos pedestais desta muralha!Ainda as verdes p#rpuras me cercam,

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% esta desgraça que eu radeio as cresta.)ão posso mais seguir* num desalento,

%u caio, e de fadiga mal me arrastoG $eira de uma som$ra, so$re o marco

A fronte delei5ar em desca$elos9ndiferente pela terra o corpo*&eus olhos apagados, pelo vale

%m$alde se demoram nos meus rastos,Que palpitam, que somemse e os aturvam.

+ sol vacila a contemplarme, e pára!=oltolhe as costas, meu despre-o ao sol,

Que não 2 mais a mim como da noiva+ $anho perfumado do noivado10or2m onda que o l/vido cadáver

"medece insens/vel. + a$andono: meu leito da morte* e5piro, aca$o,

em terno pranto, sem amigos $raços*=e3o um inverno a desfolharme apenas,

% p#rpuras crestadas1 vo-es mortasinto apenas vi$radas na montanha.

Que leito $elo, e preguiçoso, e morno!)este en3o da vida ao menos diga*

%ternidade de dor $e$eu minha alma,0or ela fui nutrido, e me sepulta1

4 aqui não achei mentira o mundo.' : rochedo meu peito 7 flor estranho*

% do pra-er nas g2lidas cavernasomente encova horror, linfas amargas!

6riação desgraçada ' nasce o $ardo0ara sofrer, e maldi-er os c2us.

%nsopada nos $álsamos do go-o,os amores, da vida a infncia minha

;oi uma hora, e passou, tão leda e $ela!&eu corpo da doença corrompido&isturase co(a terra1 anoitecido,

A noite emprestame as som$rias frmas*% nem espero amanhecer mais nunca...&orrer! tão cedo, no quartel primeiro,+ sol no monte a palpitar d(esp(ranças)um vidroso fulgor... +h, enhor eus!

+s dias eu não choro para o mundo,)ão carecem de mim go-os, pra-eres*

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on-ela vacilante minha pátria,)ova e rica d(encantos, e tão po$re,

Tão 4rfã como eu sou de pais e amores,e todo o peito meu quisera amála,

A$rir com ela no su$ir dos anosQue não sa$em murchar celestes flores '&is2rrimo sonhar! vãose os meus dias

)a corrente indomável tropeladosos pendores da sorte ao fundo a$ismo.

0orque, eus, me criaste? em minha auroraou v/tima ' o que fi-? ' 6orre, homem louco!

Ave magra e sem ninho vai cantando,e morta a descansar de vo em vo,

6onforme a terra ataviada, mia,

(um c2u alpestre, ou desatando encantos.

oloroso cipresteda minha alma+ndeia no meu rosto a som$ra errante

os ramos denegridos, anuncia6omo os em$alos de noturno sino

+ enterro que passa, a minha morte '&inha morte amanhã... talve- inda ho3e.

6horam verme e5alar a vida d(ontem

)o $erço adolescente1 eu sinto o prantoo fundo peito, que s4 meu 3ulgava,)(olhos estranhos, a doer na fronte

os que me cercam, repetindo mudos*C&orrer tão cedo!D 6omo 2 $elo, vede,

A morte do poeta nesta idade!&imoso cisne pelo c2u de um lago

esplumando suas alvas sem ter mancha6omo as virgens gemeu, gemeu l gemeu!

)em sa$e s(inda 7 terra um corpo fica,e fica a terra, as flores e as campinas1em para cima os olhos d(esperança,

&udo e candidamente está sorrindo '%5pirando e sorrindo. ' &as, a pátria?

(enlevando ine5perta pousalousa)o sorriso fala-, da humana serpe,+ra, com sede, sedu-indo a cega1

Fogo depois, escarnecendo a n2sciaesflorada* Cs4 farta os vis dese3os,

Tão va-ia de amor divino!DÓ pátria!enhor, salvaa! enhor! %u morra, em$ora.

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' o desco$rimento não morreram os d2spotas,)ão, que o cndido povo, o povo infante

)ão cessou de gemer. ' Ah! contra o d2$il

+ forte não triunfa* ele envilece.Tem a alma no peito espaço igualo mesquinho senhor, do escravo fraco.

6o$ardia 2 pisar o choro humilde,6o$ardia 2 chorar nos p2s tiranos*A sorte comutada, eles semelham.

)ão tem sorte o magnnimo, tão alto%stá no trono ou no servil gra$ato.' <apina simulada, a fronte 2 clara0erante o dia, no favor das som$ras

esusando ao trav2s, t(insulta, e passa*6om ar d(escravidão te distra/ste!

' Tão indolente, quem te dá piedade=endo os teus campos se esterili-arem?

+ eus, o pr4prio eus, se ofende e vinga*0este, desolação, mis2ria, seca,ritos de cativeiro e maldiçEes,

+ horror que fa-es, s4 nas mãos te estende!' espre-/vel te olharam, em torpe estagno

A ressonar, em gurgitada em gulae tão pesada tradição retr4grada*+lharamte vistosa, como a Fimace

Arrastando na concha o fátuo ego/smoe$ruçarse mui lenta so$re as praias

e um vasto mar, em camas de ouro ' de ouroe alimentando ali do limo e d(ervas

Que as ondas tra-em das opostas margens,as margens todas que não se3am suas,

&ove a ca$eça apenas, e um dos cornos,Aonde os olhos se arredondam, fura

As cápreas -onas, e no 0rata o molha1+ outro, ao norte pelas nuvens dentro,Acende no equador por entre os signos,

% nas águas seus arcos esverdeiao primonato filho dos oceanos!

% o corpo se perdeu quase nos Andes,% al2m dos Andes, lhe a$raçando as plantas,

6om vo- dos s2c(los que o futuro a$alam,

<esponde o grande mar ao mar Atlntico!

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' %rguete! movete! sB senhora, impera,%stende as asas, voa ao sol candente,6ampeia so$ranceira pelas nuvens,9magem do condor das serranias!

Arma a 3ustiça no ama-nio $raço,%rgue os teus filhos que te erguer sonharam16urva os teus filhos quando ingratos foram1Fava tua fronte que os estranhos cospem,

aliva /nvida, mas despre-o há nela!' A onde 2 viva a rique-a o homem corre,

Todos amam viver, a pátria encontram*%m seu 3a-er dormente, não amigos,

%5aurila s4 vem, como $andidosQu(im$ele v/tima inda insultam quando

%m seus congressos da montanha $ailam.' +h, desperta! dormindo em pleno dia...

+ $ruto pesadelo da pol/tica)ão dá sonhos ' afoga e cansa e mata '

0isando nos seus p2s a Fi$erdade...% a Fi$erdade nos teus seios geme!

0or amor de si mesma. A nuvem presaesespera e se arro3a na tormenta*Ap4s os seus destroços miserandos

A $onança virá, por2m, tão tarde!...e $riosa, prepara 7 nature-a

Templos 7 eterna lu-* ' na superf/cie=em rolando do glo$o* eila $em perto,

a#da nossas plagas os primeiros6larEes e o crepitar! =e3o o +riente6in-a vasta, por onde ela passara,

e um fumo $ranco se perdendo e leve.A$ar$arando vãose os que ela dei5a,

+ tempo em$ora lhe não lave os traços,% o $ár$aro +cidente ora resplende.

As ondas transporá* que 3á se espelha)as 6olm$ias dos Andes e dos mares1

% a som$ra então, que nos envolve ainda,9rá longe de n4s, e a cauda fria

%stenderá no c2u que nos eclipsa '+ dia aqui(stará ' ;oi lei do ol.

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)LTIMA P"GINA

e eu escrevesse um pr4logo, seria tão somente pedindo ao p#$lico medesculpasse de lhe haver oferecido os meus concertos ' frios, tão mal

entoados e r#sticos. A dor, os sofrimentos, a saudade foram o an3o desgraçadodessas inspiraçEes como o grito fatal das aves da noite. %u nunca os pretendipu$licar ' os restos disputados aos vermes e ao tempo seriam roto cipreste aomeu t#mulo ' que, se um dia o pensasse, certamente não os teria escrito,nunca eu seria poeta, ainda s4 pelos escrever. %u os cantava descuidado, semdarlhes nome os perdia ' quando o peito mais leve como que adormeceu.0or2m, a sorte falou mais perto... e ho3e os procuro para dálos. %stremeço 7sfráguas por onde eles tem de rolar, e tenho remorsos de haver dado cousa tãomá. %u nunca os pretendi pu$licar* foi a sorte que falou de mais perto* perdoai.

afara e inculta, aos ausp/cios da 9nfortuna pálida, a terra s4 produ-iu floresvenenosas* não as respireis1 passai longe do vale ' eis o caminho. Toda via, euamo naturalmente esta vida errante, sem lei nem futuro* inseto em arri$açãocont/nua, tuas asas cortaram, cairás em teus primeiros -um$idos. 8 som$ra doteu nome, doce irmã, $ela e feli- &aria>os2, eu teria a$rigado os meusprimeiros ensaios1 por2m, não encontrei neles um refle5o divino da poesia deque s4 mereces de ser rodeada, e encolhi o meu dese3o. : a sorte que me andailudindo, eu não morrerei ainda.

%u ve3o um firmamento de vasto a-ul, um astro se levanta no meio. Tudodesmaia em torno de mim* 2 que nada era estável1 e tu, #nica realidade que euve3o, eu vivo, tu e5istirás!

A$stenhome de a3untar a este volume, por 3á tão longo e de certo fatigante,notas so$re lugares, costumes e nomes naturais, que por falta de indagaçEescient/ficas possam ainda ser desconhecidos.

>io de .aneiro, 185N .9*+GM DE 79GO*%*?D>*DE

www.poeteiro.com

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