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 1 Notas da disciplina HAC-A46 - TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS: ‘A Subjetividade Numa Descrição d a Realidadedo INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS (IHAC-UFBA), ministrada pelo prof. Helio Campos - Sem. 2012.1 ....................................................................................................................................................................................................................   Alterius non sit qui su us esse potest (“quem pode ser aquele que é, não deve seguir os outros ”) - Paracelso -------------------------------------- --------------------------------------- ---------------------------------------- -------- ------------------- IV A HERANÇA ALQUÍMICA IV. 1 Sobre a Origem da Alquimia De acordo como a literatura acadêmica a Alquimia surgiu no Oriente (Mesopotâmia, Egito, Pérsia, Índia, China) como um despertar do ser humano para os processos transformativos rotineiramente observados. O movimento diário do Sol, que aparece e desaparece, as fases da Lua, as estações do ano, o nascer, o crescer e o desaparecer de todos os seres vivos, certamente instigaram os antigos a pensar que existe algo mais, um mundo transcendente ou um „managovernando todas as coisas. Na China antiga, a exemplo de outras culturas tradicionais, a Alquimia estava inteiramente mais ligada à preservação da saúde do que no desejo de uma vida eterna. E ssa busca pelo „elixir da vida 1 , a droga mágica que daria imortalidade, foi crucial para o desenvolvimento de uma química, farmacopéia e da metalurgia a partir do aprimoramento dos processos alquímicos. Já no Egito antigo, a origem da Alquimia é atribuída ao deus da sabedoria, Thoth, o inventor de todas as artes e ciências, o que possibilitou a elaboração dos processos de mumificação visando a imortalidade e a divinização dos mortos. Independente de onde era praticada a Alquimia, os seus elementos básicos revelavam uma mesma visão antagônica complementar tipo quente/frio, masculino/feminino, positivo/negativo, etc. A palavra Alquimia, que em árabe significa „fusão e transformação, surgiu na Europa Latina no século XII e possui várias origens. Em antigos escritos árabe constam ao menos duas versões: numa delas,  Alquimia veio de  Al-Khem, o nome como esse povo se referia ao Egito na época 2 (certamente por isto a Alquimia ficou conhecida como  Arte Egípcia, ou simplesmente A Arte). A outra versão sugere que a palavra Alquimia é o resultado da combinação do artigo em árabe  Al (o ou a, em português) com o nome egípcio Kema, que significa „ciência por excelência, portanto, a Alquimia é „a ciência por excelência. Também existe referência a palavra árabe Kimiya, que precedida do artigo  Al, adquire a forma final como é conhecida. A Alquimia ganhou notoriedade quando os gregos antigos identificaram o deus egípcio Thoth com o seu Hermes Trismegisto (‘Hermes, o três vezes grande’ , em grego ou „  Mercúrio, o máximum’, em latim), o deus da comunicação interpretativa. Durante toda a Idade Média, e até a Renascença, o Corpus Hermeticum’  , a obra escrita entre o primeiro e o terceiro século de nossa era e atribuída ao lendário Hermes Trismegisto, foi a base para a denominada „tradição herméticaenvolvendo Alquimia, Astrologia, Mágica, e outros temas relacionados. Nesses períodos, havia uma tendência para considerar a Alquimia e a Astrologia como fontes complementares de conhecimento: enquanto a Astrologia relacionava o ser humano ao „mundo das estrelas(incluindo o sistema solar), por outro lado, a Alquimia procurou uma conexão com a natureza terrestre. IV.2 Do Propósito Alquímico A afirmação da Alquimia deu-se através da combinação de práticas mágico-míticas com a meditação sobre a „unidadee a „verdade, com o propósito de captar ou conhecer segredos desse „podersutil. Trata -se de um poder que a natureza disponibiliza ao ser humano para manter-se vivo bem como desenvolver o conhecimento. Talvez isso explique 1  A palavra ‘elixir’ é forma adotada na Europa, derivada do árabe al-iksir . 2  A Alquimia foi também conhecida como ‘arte negra’ isto porque a palavra grega chemeia derivada do termo chem, de origem egípcia, designa a coloração negra. Talvez por isso os gregos chamavam o Egito de ‘terra negra’, por conta da coloração de seu solo fér til.

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Notas da disciplina HAC-A46 - TÓPICOS ESPECIAIS EM CIÊNCIAS: ‘A Subjetividade Numa Descrição da Realidade’ do INSTITUTO DEHUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS (IHAC-UFBA), ministrada pelo prof. Helio Campos - Sem. 2012.1....................................................................................................................................................................................................................  

 Alterius non sit qui suus esse potest  (“quem pode ser aquele que é, não deve seguir os outros”) - Paracelso----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- -------------------

IV – A HERANÇA ALQUÍMICA

IV. 1 – Sobre a Origem da Alquimia

De acordo como a literatura acadêmica a Alquimia surgiu no Oriente (Mesopotâmia, Egito, Pérsia, Índia, China)

como um despertar do ser humano para os processos transformativos rotineiramente observados. O movimento diário

do Sol, que „aparece e desaparece‟, as fases da Lua, as estações do ano, o nascer, o crescer e o desaparecer de todos os

seres vivos, certamente instigaram os antigos a pensar que existe algo mais, um mundo transcendente ou um „mana‟

governando todas as coisas. Na China antiga, a exemplo de outras culturas tradicionais, a Alquimia estava inteiramente

mais ligada à preservação da saúde do que no desejo de uma vida eterna. Essa busca pelo „elixir da vida1‟, a droga

mágica que daria imortalidade, foi crucial para o desenvolvimento de uma química, farmacopéia e da metalurgia a partirdo aprimoramento dos processos alquímicos. Já no Egito antigo, a origem da Alquimia é atribuída ao deus da sabedoria,

Thoth, o inventor de todas as artes e ciências, o que possibilitou a elaboração dos processos de mumificação visando a

imortalidade e a divinização dos mortos. Independente de onde era praticada a Alquimia, os seus elementos básicos

revelavam uma mesma visão antagônica complementar tipo quente/frio, masculino/feminino, positivo/negativo, etc.

A palavra Alquimia, que em árabe significa „fusão e transformação‟, surgiu na Europa Latina no século XII e

possui várias origens. Em antigos escritos árabe constam ao menos duas versões: numa delas, Alquimia veio de Al-Khem,

o nome como esse povo se referia ao Egito na época2 (certamente por isto a Alquimia ficou conhecida como Arte Egípcia,

ou simplesmente A Arte). A outra versão sugere que a palavra Alquimia é o resultado da combinação do artigo em árabe

 Al (o ou a, em português) com o nome egípcio Kema, que significa „ciência por excelência‟, portanto, a Alquimia é „aciência por excelência‟. Também existe referência a palavra árabe Kimiya, que precedida do artigo  Al, adquire a forma

final como é conhecida.

A Alquimia ganhou notoriedade quando os gregos antigos identificaram o deus egípcio Thoth com o seu Hermes

Trismegisto  (‘Hermes, o três vezes grande’, em grego ou „ Mercúrio, o máximum’, em latim), o deus da comunicação

interpretativa. Durante toda a Idade Média, e até a Renascença, o Corpus Hermeticum’ , a obra escrita entre o primeiro e o

terceiro século de nossa era e atribuída ao lendário Hermes Trismegisto, foi a base para a denominada „tradição hermética‟

envolvendo Alquimia, Astrologia, Mágica, e outros temas relacionados. Nesses períodos, havia uma tendência para

considerar a Alquimia e a Astrologia como fontes complementares de conhecimento: enquanto a Astrologia relacionava

o ser humano ao „mundo das estrelas‟ (incluindo o sistema solar), por outro lado, a Alquimia procurou uma conexão

com a natureza terrestre.

IV.2 – Do Propósito Alquímico

A afirmação da Alquimia deu-se através da combinação de práticas mágico-míticas com a meditação sobre a

„unidade‟ e a „verdade‟, com o propósito de captar ou conhecer segredos desse „poder‟ sutil. Trata-se de um poder que a

natureza disponibiliza ao ser humano para manter-se vivo bem como desenvolver o conhecimento. Talvez isso explique

1 A palavra ‘elixir’ é forma adotada na Europa, derivada do árabe al-iksir .2 A Alquimia foi também conhecida como ‘arte negra’ isto porque a palavra grega chemeia derivada do termo chem, de origem egípcia, designa a

coloração negra. Talvez por isso os gregos chamavam o Egito de ‘terra negra’, por conta da coloração de seu solo fér til.

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porque a Alquimia contempla Arte, Ciência e Religião em diferentes tradições onde os termos  philosophia, sapientia e

scientia têm essencialmente o mesmo significado.

A Alquimia pode ser descrita como um processo evolutivo que leva a um final feliz, embora contenha um

período de degradação. Os primeiros alquimistas foram os curandeiros, ferreiros, feiticeiros, bruxos, pajés, sacerdotes e

outras denominações para pessoas esquisitas que falavam de coisas ininteligíveis, preocupados com os „mistérios da

vida e da morte‟. Hoje, esses personagens são representados (aproximadamente) pelos atuais médicos, filósofos e

cientistas em geral, ou seja, estudiosos que almejam conhecer os processos de transformação do corpo e da alma, da

natureza como um todo.

Os alquimistas antigos buscavam, insistentemente, evidências sensoriais de um poder soberano e mágico que

lhes permitisse escapar dos ciclos de transformações. A partir de suas observações dos fenômenos naturais eles

maginaram um „poder internalizado‟ em todas as manifestações da natureza e, então aspiravam pela ajuda divina para

ampliar o papel do ser humano como participante na preservação do mundo. Na prática, significa realziar o labor

alquímico, que consiste em tratar a prima materia, a substância inicial, e „encontrar‟ o „espírito da natureza‟ a ser liberado

nas várias etapas da obra.

Enquanto um ser humano, o alquimista procurava a  prisca sapientia, a sabedoria primordial, o saber secreto quefoi transmitido a uma figura arquetípica, sendo passada através de uma linha sucessória (para muitos deles, essa figura

seria Pitágoras, Platão e muitos outros). Muitos acreditavam que essa „sabedoria‟ era o derradeiro instrumento para

compreender o universo e, por isso, ao obtê-la o ser humano estaria num estado transmutado e aprofundado. Esse

estado, realizado com o Lapis Philosophorum - a Pedra Filosofal - expressaria o domínio exercido pelo alquimista sobre

todas as formas e forças pertencentes ao mundo físico.

IV.3 - Unus Mundus e Lapis Philosophorum 

Visando resguardar suas concepções acerca de si próprios, do ambiente ao redor e do universo como todo, osalquimistas usaram uma linguagem simbólica estabelecendo analogias entre conceitos químicos e físicos a

correspondentes esotéricos e místicos. A depender da época e do contexto, esses aspectos metafísicos tornaram-se tão

preponderantes que os processos químicos passaram a serem vistos como meros símbolos de processos espirituais.

Imbuídos da noção da totalidade, esses precursores do conhecimento sustentaram que o mundo originou-se de

um „quatérnio primordial‟, constituído pelo fogo, ar, água e terra. Para eles, o mundo físico era uma parte de um imenso

aglomerado de outras realidades interconectadas, imaginando uma conjunção primordial. Assim designou o filósofo,

médico e alquimista belga Gerhard Dorn (1530-1584) (apresentava-se como Gerardus Dorneus) inferindo uma coniunctio 

além da nossa percepção, ou seja, no mundo uno subjacente a toda natureza material e imaterial. Essa coniunctio figurava

a noção de uma realidade una, o Unus Mundus, concebido como o fundo transcendente que reside em toda unidade danatureza.

O processo, interno e externo, para vivenciar a concepção do Unus Mundus depende de alcançar o Lapis

Philosophorum  (a „Pedra Filosofal‟) porquanto este amplificava misticamente o conhecimento alquímico, imaginando

despertar o poder espiritual oculto. Trata-se do estado da consciência em que a pessoa torna-se um membro do reino

superior, criando condições para interagir mais proximamente com o divino.

Na Alquimia hermética, o Lapis Philosophorum é a forma mais tangível e densa da cristalização ou condensação

de uma substância sutil. Normalmente o Lapis era assimilado como uma metáfora de um potencial interior do espírito e

da razão que evolui de um estado inferior de imperfeição para tornar-se um estado elevado de iluminação e de

perfeição, simbolizado pelo ouro3. Numa analogia, esperava-se que o Lapis Philosophorum transformasse os seres

3 Esta analogia se justifica considerando que o ouro é um metal particularmente valioso que não enferruja tampouco mancha ou sofre qualquer

alteração. A simbologia do  ouro expressa o significado  Lápis Philosophorum, o verdadeiro objetivo dos alquimistas para alcançar um estado de

compreensão e de sabedoria das transformações, e não o ouro físico objeto de desejo das pessoas comuns.

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humanos mortais (corruptíveis) em seres imortais (incorruptíveis). Isto porque o ouro também é o símbolo terrestre do

Sol eterno, o elemento incorruptível pelo tempo - o ouro não se transforma, tampouco pode ser misturado (lembrando

que o Sol era a divindade máxima em culturas antigas como a egípcia, inca, persa). Nos textos alquímicos mais antigos o

tema do Lápis Philosophorum, a pedra enviada por Deus, representa o ponto de partida e o alvo do opus alchimica, que tem

o poder de transformar todo o metal em ouro, a qual, metaforicamente, „está oculta no ser humano e portanto deve ser

extraída dele‟. 

Fig. 1 – Projeção do Unus Mundus -Fig.2 - Camille Flamarion representando a curiosidade humana para saber o que haveria além do

visível, das "estrelas fixas". Do livro L’Atmosphere Météorologie Populaire – Paris, 1888.

IV. 4 - O Processo de Transmutação e o Ouroboro 

A Alquimia foi por muito tempo definida como a „ciência química medieval‟ cujos objetivos principais se

consistiam na realização da obra para a transmutação de metais comuns: o chumbo e o cobre em ouro, o descobrimento

da cura universal para as enfermidades e os meios de prolongar a vida indefinidamente. Uma descrição bastante

utilizada no período da Inquisição para camuflar o verdadeiro propósito da obra alquímica.

A transmutação é a palavra mais apropriada para designar o que se conhece como Alquimia. Ela pode ser

exemplificada de várias maneiras, como é o caso das alterações de ordem química ou, ainda, as mudanças fisiológicas

que modificam o estado físico de uma pessoa. Na Alquimia, a transmutação sempre envolve uma alteração positiva,

nunca ocorre degradação, salvo como um estágio intermediário em um processo que termina positivo. O que é natural

considerando-se o objetivo de depurar a matéria bruta ( prima materia), livrando-a das impurezas. Portanto, a transmutação 

é a purificação das substâncias materiais modificando suas características, exaltando suas qualidades de modo a elevá-la

a um estado mais avançado de sua evolução.

Definindo como a „arte da transmutação‟, a Alquimia fundamenta o ato de transformar algo em outra coisa que

é de uma natureza superior. Para alcançar esse nível é necessário realizar os processos transformadores de materiais, os

mais caóticos possíveis. O processo completo da transmutação é projetado na figura do Ouroboro, um símbolo

encontrado em várias culturas tradicionais representando a conjunção cíclica onde o fim e o princípio, coincidem.

Explicitamente, o Ouroboro representa a natureza cíclica das coisas, o eterno retorno e tudo mais que começa de novo

assim que termina4. Em diferentes culturas a imagem do Ouroboro aparece como uma serpente ou um dragão, mordendo

a própria cauda, formando um círculo que representa a criação a partir da destruição. Tal imagem, recorrente, sugere

que o animal morde a própria cauda para sustentar a vida em uma eterna recriação.

4. Após anos tentando desvendar a estrutura do benzeno, o químico alemão Friedrich August Kekulé Kekulé ‘vivenciou’ em um devaneio diurno a imagem de uma

serpente mordendo o próprio rabo - o símbolo do Ourobouros  – e então deduziu que o benzeno tivesse a estrutura de um "anel" com seis átomos de carbono.8 A imitação dos movimentos dos animais foi o que inspirou o Tai Chi Chuan.

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IV. 5 – A Opus Alquímica

A obra alquímica (opus alchimica) abrange processos em que a prima  materia (matéria caótica, bruta)

„contaminada‟ ) é transformada em etapas ou processos através de aquecimento, resfriamento, solução, sublimação, etc, a

fim de obter um produto puro e estável. A forma de execução consistia de experiências com animais, pedras,

substâncias em geral, fogo e água numa época que o ser humano era bastante influenciado por idéias, conceitos,

símbolos e imagens intuitivas enquanto lidava com os materiais, os quais pareciam conter um elemento mágico. Os

alquimistas acreditavam na existência de uma força viva em cada ser, animado ou não. Essa força teria um fogo

misterioso, uma espécie de „força do calor‟ – Phlofiston – ligado ao espírito inerente à matéria, e que emana da queima de

um objeto. Uma noção se aproxima da idéia de força viva onipresente e que tem o poder de curar, que os antigos

denominam de mana.

Fig.1 – Phlogiston Fig. 2 - Henning Brand na descoberta do Fósforo - Joseph Wright - 1771 Fig.3 – Nigredo, Albedo e Rubedo

A Grande Obra, como também era conhecida a opus, consistia de operações (etapas) secretas que provocavam

alterações profundas tanto no corpo físico quanto na personalidade do seu operador. Por volta de 1576, o médico,

alquimista e diplomata francês Joseph Quercetanus formalizou a opus em doze etapas: Calcinação, Solução, Separação,

Conjunção, Putrefação, Coagulação, Nutrição, Sublimação, Fermentação, Exaltação, Ampliação e Projeção, inicialmente

reunidas em quatro estágios da opus, assinalados pelas cores originais descritas pelo filósofo pré-socrático Heráclito:

melanosis (enegrecimento), leukosis („embranquecimento‟), xanthosis (amarelecimento) e iosis (enrubescimento), formando

a „Tetrametria da Filosofia‟, numa equivalência aos quatros elementos fundamentais da natureza (terra, ar, água e fogo)

bem como as quatro qualidades (quente, frio, sêco e úmido).

Mais tarde, por volta do século XV, as cores foram reduzidas a três, resultado numa mudança de uma

simbologia quaternária para uma trinitária. O resultado foi este: a nigredo, o estado inicial, caracterizado pelo caos da

matéria prima, ou a „massa indiferenciada‟ que deve ser torturada pelo fogo provocando; a albedo, embora valorizada

pelos alquimistas como se fosse a última meta, representa o estado lunar ou de prata, a „aurora da ordem sapiencial‟ 

esclarecedora anunciando o nascer do Sol e, por fim, a rubedo, o nascer do Sol quando o fogo é elevado à sua maior

intensidade5. Quer dizer, o albedo (o branco simbolizando a figura da rainha) e o rubedo (o vermelho, simbolizando o rei)

podem celebrar suas nuptiae chymicae (núpcias químicas).

Carl Gustav Jung explicita esse processo da opus alchimica:

“Logo no começo, encontramos o „dragão‟, o espírito ctônico, o "diabo" ou, como os alquimistas o chamavam, o

"negrume", a nigredo, e esse encontro produz sofrimento... Na linguagem dos alquimistas, a matéria sofre até a nigredo 

desaparecer, quando a aurora será anunciada pela cauda do pavão (cauda pavonis) e um novo dia nascerá, a leukosis ou

albedo. Mas nesse estado de „brancura‟, não se vive, na verdadeira acepção da palavra; é uma espécie de estado ideal,

abstrato. Para insuflar-lhe vida, deve ter „sangue‟ deve possuir aquilo que o alquimistas chamam de rubedo a

vermelhidão, da vida.

No processo de realização da opus alchimica, um alquimista era acompanhado por uma mulher, a sóror mística. 

por acreditar na complementaridade como necessária para assimilar o conhecimento transcendental, com o qual

5 Rubedo: o estado ‘avermelhado’ the last "reddening" of the four alchemical stages. In the reddening, a dawning consciousness makes contact with

the Self , symbolized by the Lapis Philosophorum 

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curariam todos os males, uniriam todos os opostos e todos os abismos e, ainda, reconheceriam aquelas „raízes

arquetípicas‟ que tanto precisamos descobrir em nós próprios. Imaginava-se que a partir dessa transformação poder-se-

ia „obter‟ intuitiva e metaforicamente, o Lapis Philosophorum, o agente transmutador universal que simboliza a „pedra do

conhecimento‟ enviada por Deus. Na verdade, tratava-se da busca pessoal dos alquimistas para compreender a si

próprio e sua relação com o cosmo, embora seja provável que alguns tentassem vislumbrar o que seria „o momento

original‟ da criação6.

IV. 7 – Concepções Alquímicas

A – China

A Alquimia chinesa era extreitamente dedicada à Medicina, especialmente na procura do elixir mágico que iria

acabar com as doenças, proporcionando uma vida longa. A partir do século V a.C. a Alquimia chinesa sofreu influência

de várias doutrinas filosóficas e místicas, a exemplo do Taoísmo criado por Lao-tze em sua famosa obra Tao-te-Ching.

Para o Taoísmo, todo aquele que se unifica com o Unus Mundus viaja sobre os céus e as nuvens, cavalga sobre o

Sol e a Lua, vagueia para além do mundo. Os sábios taoistas buscavam na origem dessa tradição respostas para a

própria superação e então alcançar o equilíbrio de si mesmo com o todo. Por isso eles procuraram compreender o

processo de transformação de metais comuns em ouro, orientados na busca da perfeição e não da riqueza. Eram

estimuados por duas razões cruciais: a primeira é que para seguir o princípio do Tao  – o caminho do universo - era

preciso despojar-se de todos os bens materiais; enquanto a outra trata-se do simples fato que o ouro não era objeto de

troca na antiga China. Todavia, a motivação maior era a lenda sobre seres imortais – os Hisien – os quais ensinavam a

ingerir as chamadas „ervas da imortalidade‟ que devolviam o vigor e a força da juventude, garantindo até a imortalidade

a quem soubesse dosar devidamente. Esse era o ouro a lquímico dos chineses foi assimilado como o „elixir‟ que transmite

o potencial da vida.

O primeiro alquimista chinês conhecido foi Ko Hung ou Ge Hong (283-343) cujo tratado Pao P'u Tzu 

(pseudônimo de Ko Hung) contém os métodos físicos para „elevação‟ inclui dieta, meditação, alquimia interior (nei-tan

ou nei-dan), alquimia exterior (wai-tan) viabilizando produzir o „elixir da imortalidade‟ através da ingestão de compostose metais purificados, técnicas de respiração, práticas sexuais, exercícios físicos, yoga e o desenvolvimento de habilidades

médicas. 

No Ocidente é bastante conhecida a tradução do famoso texto chinês

 

Tai I Ging Hua Dsung Dschi (o Segredo da 

Flor de Ouro)7, do século VIII d.C., onde enfatiza uma tendência à interiorização da Alquimia ao estabelecer que o ser

humano deveria buscar o Nei Tan (o elixir interno) em si mesmo, e não apenas no exterior. Para alcançar esse grau de

transformação, era preciso realizar três etapas fundamentais: a primeira é a transformação do Ching (essência) em chi 

(energia), feita com a prática sistemática de exercícios físicos, provocando, assim, um aumento da capacidade de

concentração interna e menor dispersão no mundo externo. A segunda se refere a transformação do sopro ( chi) em

energia espiritual (shen) simbolizada por um processo de circulação da luz em uma profunda e contínua meditação.

6 Podemos considerar que a metodologia exploratória dos alquimistas foi assimilada pelos fundadores da ciência moderna, a exemplo de Francis

Bacon, o precursor da metodologia científica no século XVI.7 O mais antigo tratado alquímico chinês é Chou-i ts'an t'ung ch'i ("Comentários sobre o I Ching"). 

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Nesta etapa, os fenômenos fisiológicos são indissociáveis daqueles psicológicos permitindo que o corpo adquira uma

maior flexibilidade e vigor, quando o ser humano sente que perde sua materialidade, unindo-se aos demais seres do

universo. Na terceira etapa, dá-se a sublimação da energia espiritual (shen) e seu retorno aos primórdios da criação. É

nesta etapa que ocorre a conjunção do yin e o yang, o princípio feminino e masculino do Tao com a obtenção do „elixir da

vida‟, o remédio para curar todas as doenças. (Outra descrição sugere que dessa conjunção nasce a „flor de ouro‟, a

essência espiritual de nossa existência).

B – Egito

No Egito antigo a Alquimia era tratada como a „ciência da vida eterna‟, sendo estabelecida com a incorporação

do caráter sapiencial advindo de meditações sobre a unidade e a verdade. Esse sincretismo alquímico reuniu o

Neoplatonismo grego, a cabala judaica, a mântica caldaica e a mítica egípcia e consta do famoso tratado Corpus

Hermeticus (de Hermes Trismegisto) no qual o cosmo é descrito como uma unidade de partes interdependentes, o que se

tornou um princípio orientador na Alquimia.

Considerando a especificidade do seu conhecimento, a Alquimia egípcia provém de técnicas mágico-místicas

ligadas ao culto aos mortos. Os primeiros alquimistas do Egito (e da Grécia antiga) ficaram conhecidos como „gnósticos‟,

os quais tinham uma concepção filosófica-religiosa do mundo e buscavam reforçar suas premissas por meio deexperiências8. No Egito antigo comungava-se a idéia da imortalidade da alma, uma das razoes para o desenvolvimento

de técnicas revolucionarias de embalsamento para preservar o corpo físico acreditando que após a morte a essência do

ser habitaria o mundo dos deuses. É o que compõe a Protoquímica – o processo de mumificação – utilizada com o objetivo

de alcançar a imortalidade e divinização dos mortos9.

As operações protoquímicas de destilação, sublimação e coagulação foram realizadas com instrumentos inventados

pela alquimista grega Maria Prophetissa (viveu em Alexandria por volta de 273 a.C.) 10. De acordo com a Tabula

Smaradigna (Esmeraldina), um dos principais textos do Corpus Hermeticus, o corpo humano (microcosmos) é afetado pelo

mundo externo (macrocosmos) que inclui os Céus (através da Astrologia) e a terra (através dos elementos). Quando um

desses consegue um dominio do mundo interior, e então torna-se capaz de controlar o mundo exterior de maneiraspouco convencionais. Esta visão, captada por Zózimo de Panápolis (século III d.C.) e sua filosofia mística e gnóstica, é

traduzida no legado de imagens luxuriantes, análises sobre a composição das águas, movimentos, crescimentos,

corporificação e desincorporificação, desenhos mostrando espíritos „associados‟ a corpos. Por exemplo, o ato de realizar

um processo com a prata exige uma posição adequada da Lua, do mesmo modo que operar com sucesso o cobre é

necessário que Vênus ocupe uma posição correta no céu 11. Para Zózimo, a Alquimia era a técnica sagrada da

transformação de metais em ouro (por sua „morte e renascimento‟), podendo ser tomada como uma alegoria da

transformação do ser humano: do corpo em espírito.

C – Árabe A alquimia árabe caracterizou-se por expressar uma espécie de síntese entre as visões do oriente e do ocidente, e

se propagou na Europa medieval. Ao lado da prática química (tingimento de materiais e manipulação de metais) havia

uma medicina e seu vasto receituário de remédios vegetais e minerais. A atividade alquímica era desenvolvida pelos

ismailis – filósofos dedicados a desvendar os segredos da matéria e pelos sufis – estudiosos do pensamento filosófico e

oculto e, também, se preocupavam com o aspecto espiritual da obra.

8 Os gnósticos tinham a ideia de que o mundo é imperfeito porque foi criado de maneira imperfeita e que a aprendizagem sobre a natureza da

substância espiritual levaria a salvação.9

De acordo com papiro que está em Leiden, Holanda.10.Essa alquimista ensinava que o segredo do vaso hermético é a sua forma totalmente arredondada, semelhante ao cosmos esférico, em que as estrelas

possam influenciar para o sucesso das operações. Ele se referia à forma ovalada da ‘matrix’ ou ‘uterus’ do qual deve nascer o Filius Philosophorium,

a milagrosa Pedra Filosofal. Dentre suas invenções estão o kerotakis, uma espécie de barril fechado e o banho de vapor , daí o nome de ‘banho-maria’ usado para esterelizar instrumentos nos laboratórios.11 Desta época surgiu a associação dos sete deuses-planetas com seus respectivos metais. Sob a nomenclatura usada hoje seria: Sol/ouro; Lua/prata;

Vênus/cobre; Mercúrio/mercúrio; Marte/ferro; Júpiter/estanho e Saturno/ chumbo. 

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Na Síria, o filósofo e alquimista neoplatônico Jâmblico (250-330) transformou a filosofia mítica de Plotino numa

teurgia ou conjugação dos deuses. Ele acreditava na possibilidade de manipular a magia dos deuses para satisfazer os

desejos humanos. Séculos depois, Al-Razi (Rhazes) e Jabir ibn Hayyan (chamado de Geber  na Europa latina)

contribuiram para desenvolver técnicas de destilação (alambique e „aqua vitae’, como era chamado o álcool), para obter

ácidos (muriático ou clorídrico, sulfúrico e nítrico), substâncias como o potássio e o sódio, e a „ aqua regia’ (mistura de

acidos nítrico e clorídrico) para dissolver o metal mais nobre, o ouro. (Particularmente Geber buscou o takwin, a criação

artificial da vida em laboratório). Esses feitos mostraram uma tendência da Alquimia árabe (na verdade, sua medicina)

para utilizar minerais em vez de ervas, no tratamento de enfermidades.

Provavelmente o mais conhecido literato da ciência árabe é Avicena, como é chamado no Ocidente o médico,

filósofo e cientista „Abu „Ali al-Hussain ibn 'Abd Allah ibn al-Hassan ibn 'Ali ibn Sina, nascido Afshcena, Pérsia em 980

desta era, cuja legado influenciou profundamente al-Razi ou Rhazes, Ali ibn al-Abbas, Averroes e outros pensadores.

Profundo conhecedor e divulgador da obra de Aristóteles, o qual defendia que na realidade cósmica do mundo,

há uma inteligência criativa que existe nas coisas em si mesmas. Para Avicena essa intencionalidade que guia tudo é uma

obra divina, o nous poetikos. Isto configura uma noção de que o cosmo não é o caos nem um motor que simplesmente

continua funcionando de acordo as leis causais, e sim é um mistério. A principal crítica de Avicena se referia àpossibilidade de um metal ser transformado em outro, mas não pelas mãos dos „artífices‟. Para ele, as substâncias

sintetizadas em laboratório podem imitar muito bem as criadas pela natureza, mas nunca serão exatamente iguais a estas

uma vez que as propriedades percebidas pelos sentidos não são as diferenças que distinguem uma espécie metálica de

outra, e sim meros acidentes ou consequências.” 

Fig 1 – Nei Dan ou Nei Tan Fig.2 – Tabula Smaradigna Fig. 3 – Canon de Medicina

C – Alquimia na Europa

A Alquimia chegou a Europa no século XI através dos árabes, quando ocuparam a península ibérica, e foi

considerada uma „ciência séria‟ até o século XVII12. Em 1144, Robert de Chester traduziu pra o latim o primeiro texto

árabe, „Livro da  Composição Alquímica‟ (Kitab al-Kimya), do príncipe sírio Chalib ibn Yazid (viveu no século VII).

Todavia, a obra mais difundida na Europa foi „ De Chemia’ (embora o título original em árabe seja equivalente a „Água de

Prata e Terra Estrelada‟) escrito por Mohammed ibn Umail Al-Tamini (900–960) sendo traduzido para o latim por volta

do século XII13. Nessa obra, Al-Tamini traça um paralelo entre a conjunção dos astros, a fusão dos metais e a união

sexual tentando explicar porque a conjunção (coniunctio) é tema central na Alquimia da qual surge a „criança imortal‟ (o

Lápis Philosophorum).

Um dos nomes mais proeminentes nesta arte foi o fransciscano Roger Bacon (1214-1294), quem ensinou a Física

e Metafisica de Aristóteles, tópicos até então proibidos pela Igreja Católica. Bacon propôs uma „ciência da experiência‟ 

imbuído da idéia de abranger e descrever todos os fenômenos singulares do “mundo de Deus”. Então atrelou a

Alquimia à „ciência da experiência‟, resultando numa „ciência geral da matéria‟, a mediadora entre a Alquimia operativa,

proveniente de pequenas práticas ainda não sintetizadas, e a Alquimia especulativa que provém da crença ou da

13 Ainda no século XI, Constantino, médico muçulmano formado em Bagdá, e conhecido como o Africano, introduziu a farmacopéia árabe naEspanha tornando-se, depois, mestre na Escola de Medicina de Salerno, Itália.13Al-Tamini, mais conhecido na Europa por Sênior Zadith ou apenas Senior  (deriva de ‘Sheikh’, título honorífico), pressupôs que os egípcios

conheciam Alquimia. Encontrando um texto elucidativo em busca da câmara mais secreta da pirâmide, ele não consegui ler o escrito em hieróglifos.

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revelação. Ele ainda formalizou o lado „experimental‟ da Alquimia a partir de uma concepção animista da natureza,

onde tudo é movida por uma „alma‟ da qual a alma humana participa. Uma maneira de perscrutar o que acontecia com a

matéria durante a sua transformação e o que ocorria na alma do alquimista.

Até a afirmação da Ciência Moderna como a geradora do conhecimento, vários alquimistas contribuíram

significativamente para as técnicas e interpretações de natureza alquímica. Naquela época, floresciam lendas sobre a

„obtenção‟ do Lapis Philosophorum. Dizia-se, por exemplo, que Alberto Magnus foi o primeiro europeu a „descobrí -lo‟por

volta de 1280 e teria passado ao seu discípulo Tomas de Aquino, embora isso não tenha sido comprovado em seus

escritos e sim que ele testemunhou a criação de ouro pela transmutação. Contudo, um mistério rondou a figura de

Nicolas Flamel (1330-1418), um arquiteto francês e místico que enriqueceu rapidamente com o seu conhecimento

alquímico. O seu testamento detalhada como ele conseguiu a Pedra Filosofal através de uma viagem alegórica. (Um

relato consta que ele foi visto dois séculos após a sua morte!).

Certamente o mais audacioso alquimista europeu foi o médico suíço conhecido como Paracelso (1493-1541).

Nascido Phillip Bombastus von Hohenheim, ele adotou o nome de Phillipus Aureolus Teophratus Bombastus von

Hohenheim ou simplesmente Paracelsus14, autor de um dos textos mais completos da Alquimia, De Vita Longa. Ele deu

uma nova feição a Alquimia ao recusar (em parte) o ocultismo acumulado por anos, defendendo o „uso da observação edo experimento para apreender sobre o corpo humano ‟. Com uma visão holística da realidade, Paracelso acreditava que

havia uma ligação entre o ser humano e o céu e então ensinava que a saúde e a doença no corpo dependia da harmonia

do ser humano (microcosmo) com a Natureza (macrocosmo): „através do exterior o médico deve ver o interior‟. (Com o

„alfabeto mágico‟ criado por ele pode gravar nomes de anjos em talismãs para tratar de questões de saude e protenção ao

possuidor).

O universo de Paracelso era como um organismo coerente permeado por um espírito revigorador e este, na sua

totalidade, incluindo o ser humano, era Deus. Para categorizar essa ligação transcendental, Paracelso, introduziu a idéia

da tria prima, as três substâncias espirituais, ou seja,  Mercúrio, Enxofre e Sal. Contudp, não são essas as substâncias que

conhecemos, e sim princípios que dão aos objetos tanto a sua essência interna quanto a sua forma. Mercúrio representa oagente transformativo (volátil); Enxofre, o agente de ligação entre a substância e a transformação („inflamável‟); e Sal

representa o agente „solidificador‟ (fixidez). Então, ele identificou a tria prima com o ser humano, associou Mercúrio ao

espírito (imaginação, as faculdades mentais mais elevadas), Enxofre corporifica a alma (emoções e desejos) e Sal

representando o corpo.(Nesta época foi publicado em Frankfurt, Alemanha, o tratado Rosarium Philosophorum contendo

referências sobre as mais variadas concepções dos alquimistas sobre o Lapis Philosophorum bem como imagens em

xilogravura do Hierogamos15.)

Fig 1 – A Receita de Flamel Fig. 2 – Imageria do Enxofre, Sal e Mercurio - Paracelso Fig.3 – Alfabeto Mágico de Paracelso.

14 Supõe-se que ele queria homenagear Teofrasto, filosofo naturalista da ilha de Lesbos, Grécia, que ficou amigo de Aristóteles quando este lá seexilou. A designação ‘Paracelso’, traduzido como ‘igual ou maior que Celsus’, fazia referência ao literato romano Aulus Cornelius Celsusconhecido por escrever um tratado medicina De Medicina, primeiro século da era cristã.15 O termo hierosgamos é geralmente usado para designar a união de duas divindades, entre um ser humano e uma divindade ou ainda entre dois seres

humanos (sob condições especiais)

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É neste contexto que se dá a transformação da Alquimia, como uma evolução do vitalismo de Bacon para o

mecanicismo de Robert Boyle. Esse paralelismo poderia ser aceito sem recorrer a magia, tanto pelo Aristotelismo vigente

no final da Idade Média – com sua noção de „natureza animada‟ – quanto pelo Platonismo do Renascimento – com seu

realismo de idéias. Tal consideração vigorou até o advento da Filosofia e da Ciência moderna no século XVII, quando

„espírito e matéria‟ foram separados como „substâncias‟ distintas e incomunicáveis entre si. A partir de então, a

Alquimia, a „arte alquímica‟, tornou-se Química, perdendo seu lado subjetivo, humano, místico.

Finalizando, lembramos a lição da totalidade da Alquimia hermética na forma da Tabula Smaradigna, que

simboliza a conjunção harmoniosa no universo de Hermes Trismegisto.

Céu em cima / céu em baixo

Estrelas em cima / estrelas em baixo

Tudo que tem em cima / também tem embaixo

Percebe-o e rejubilita-te.

BIBLIOGRAFIA:

1. ALFONSO-GOLDFARD, Ana Maria, Da Alquimia a Química, Ed. Landy: São Paulo, 2001. 2. Von FRANZ, Marie-Louise, Alquimia, Introdução ao Simbolismo e à Psicologia, Ed. Cultrix: São Paulo, 1991.