hÁ um lugar para a arte? vii - nota manuscrita...2019 / organizado por: lindomberto ferreira alves,...
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COLARTES VII
AGOSTO, 2019
VITÓRIA/ES
HÁ UM LUGAR PARA A
ARTE?
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VII COLÓQUIO DE ARTE E PESQUISA DOS ALUNOS DE PÓS-GRAUAÇÃO EM ARTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
HÁ UM LUGAR PARA A ARTE?
ORGANIZADORES: Lindomberto Ferreira Alves
Jessica Dalcolmo Rosemery Casoli Paulo Santos Silva
Gabriela Ferreira Lucio
Centro de Artes (CAR) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Vitória/ES, agosto de 2019
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(CIP) DADOS INTERNACIONAIS DE PUBLICAÇÃO DE FONTE
C719a
Colóquio de Arte e Pesquisa dos Alunos do Programa de Pós Graduação
em Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (7. : 2019 : Vitória, ES). Anais [...] COLARTES: Há um Lugar Para a Arte? 20 a 22 de agosto de
2019 / Organizado por: Lindomberto Ferreira Alves, Jessica Dalcomo, Rosemery Casoli, Paulo dos Santos Silva, Gabriela Lucio Ferreira. Vitória: 2019. 796 p. ; il. Inclui referências. ISSN - 2316-963X
1. Há um lugar para a arte. 2. Teoria e história da arte. 3. Pesquisa em arte. 4. Crítica em Arte. 5. Estética (Arte). 6. Cultura. I. Alves, Lindomberto Ferreira; II. Dalcolmo, Jessica; III. Casoli, Rosemery. IV. Silva, Paulo dos Santos; V.Ferreira, Gabriela Lucio; VI. Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Artes.
Elaborada pelo Sistema de Geração Automática de Ficha Catalográfica da Biblioteca Central
da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
A presente documentação é um desdobramento do VII COLARTES 2019: Há um lugar para a arte?, realizado nos dias 20, 21 e 22 de agosto de 2019 no Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, organizado pelos alunos da Turma 2018/1 do Programa de Pós-Graduação Artes da Universidade Federal do Espírito Santo.
O teor dos textos aqui reproduzidos é de inteira responsabilidade de cada um dos autores.
Capa: Ana Mendieta (1948-1985). Untitled (from the Silueta Series), 1976. 9 color chromogenic prints, 20 × 16 in (50.8 × 40.6 cm). Richard Saltoun Gallery. Mayfair, Londres.
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VII COLÓQUIO DE ARTE E PESQUISA DOS ALUNOS DE PÓS-GRAUAÇÃO EM ARTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (COLARTES)
HÁ UM LUGAR PARA A ARTE?
Coordenação Geral: Lindomberto Ferreira Alves
Jessica Dalcolmo Rosemery Casoli Paulo Santos Silva
Gabriela Ferreira Lucio
Comissão Organizadora: Ana de Almeida
Arlane Gomes Marinho Arnoll Jonathan Cardales Garzon
Camila de Souza Silva Carolina Tiemi Takiya Teixeira Claudio Victor Costa de Araujo
Ernandes Zanon Guimarães Flávia Sangiorgi Dalla Bernardina
Hugo Bernardino Rodrigues Jéssica Galon da Silva Macedo Karolline de Oliveira Lourenço
Lays Gaudio Carneiro Léa Araujo Rodrigues da Silva Lília Marcia de Sousa Pessanha
Maria Marta Morra Tomé Marina Pedreira Aragão
Michele de Almeida Rosa Rodrigues Reyan Perovano Baptista
Roney Jesus Ribeiro
Comissão Científica: Profª. Drª. Aissa Afonso Guimarães (PPGA/UFES)
Profº. Drº. Alexandre Siqueira de Freitas (PPGA/UFES) Profª. Drª. Almerinda da Silva Lopes (PPGA – PPGHis/UFES) Profº. Drº. Aparecido José Cirillo (PPGA – POSCOM/UFES)
Profº. Drº. David Ruiz Torres (PPGA/UFES) Profº. Drº. Gabriel Menotti Miglio Pinto Gonring (PPGA – POSCOM/UFES)
Profº. Drº. Gaspar Leal Paz (PPGA/UFES)
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Produção Editorial, Projeto Gráfico e Diagramação: Lindomberto Ferreira Alves Divulgação: Lília Marcia de Sousa Pessanha Equipe de Apoio: Álvaro Leite Ferreira César Silva Barcelos Júnior Erani Ferreira Silva Karoline Flegler de Souza Penha de Fátima da Cruz de Souza Rita Mychelly dos Santos Salles Realização:
Apoio:
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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 1
ENSAIOS & RELATOS A ARTE DE INVENTAR GEOGRAFIAS Alexandre Siqueira de Freitas ........................................................................................................... 4
ARTE EM CIRCULAÇÃO: PERSPECTIVAS DECOLONIAIS Ananda Carvalho ............................................................................................................................ 6
MEDIAÇÃO INFORMACIONAL E NEGUENTROPIA: ESPACIALIDADES, TEMPORALIDADES, SINGULARIDADES DA ARTE NA ÉPOCA PÓS-DIGITAL Daniel de Souza Neves Hora ......................................................................................................... 11
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A SENSORIALIDADE NA EXPERIÊNCIA AUDIOVISUAL: SUJEITOS CINESTÉSICOS, VISUALIDADES HÁPTICAS E RESSONÂNCIAS CARNAIS Erly Vieira Jr. ................................................................................................................................. 16
POÉTICA, DISCUTINDO AS GENEALOGIAS DAS OBRAS DE ARTE NA CONTEMPORANEIDADE E AS PARTICULARIDADES DE SUAS NARRATIVAS Flávia Sangiorgi Dalla Bernardina ................................................................................................... 24
CORPO, ARTE E POLÍTICA COMO TERRITÓRIOS DE RESSIGNIFICAÇÃO Gabriela Santos Alves .................................................................................................................... 29
A PERFORMATIVIDADE E OS RECORTES CONTEMPORÂNEOS DE RESISTÊNCIA Geovanni Lima ............................................................................................................................. 34
(I)MEDIAÇÕES - MUSEUS E OUTRAS FORMAS DE FALAR SOBRE HISTÓRIA DA ARTE Julia Rocha ................................................................................................................................... 41
[EM] DESLOCAMENTO Mara Perpétua ............................................................................................................................. 48
RUPTURAS E RESISTÊNCIAS PARA UM ENSINO CONTEMPORÂNEO DA ARTE Margarete Sacht Góes .................................................................................................................. 53
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FAZERES ARTÍSTICOS SOBRE CULTURAS QUILOMBOLAS: ANÁLISE DE SÍMBOLOS DE IDENTIDADE EM OBRAS DO ARTISTA PLÁSTICO THIAGO BALBINO Osvaldo Martins de Oliveira ........................................................................................................... 60
ENSAIO SOBRE DIA DE MEDIAÇÃO – CORPO II Reyan Perovano ............................................................................................................................ 69
FRAGMENTARIEDADE Rodrigo Hipólito ............................................................................................................................ 74
CAXAMBU E TICUMBI: TRADIÇÕES CULTURAIS QUE LEGITIMAM OUTROS LUGARES À ARTE Rosemery Casoli ........................................................................................................................... 81
ARTIGOS REPRODUÇÃO TÉCNICA E SONORIDADE DIALÉTICA: A MÚSICA NA TEORIA DA ARTE DE WALTER BENJAMIN Abraão Carvalho Nogueira ............................................................................................................ 89
EM NOME DA MORAL E DOS BONS COSTUMES: ANTONIO DA SILVA, E O DIÁLOGO COM A DIVERSIDADE DE CORPOS E ESTRATÉGIAS DA PORNOGRAFIA AMADORA NA ARTE Álvaro Leite Ferreira .................................................................................................................... 103
AFETO, MEMÓRIA E EXPERIÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE ESPACIALIDADES NO CAMPO AMPLIADO DA SERIE DE VÍDEOS ―SEM TÍTULO‖ Amanda Gonçalves Amaral ......................................................................................................... 111
O CONTEXTO SÓCIO-POLÍTICO BRASILEIRO DOS ANOS 1930 E A AFIRMAÇÃO DA OBRA DE CANDIDO PORTINARI Ana Carolina Machado Arêdes .................................................................................................... 124
ARTE E PSIQUIATRIA: AS CONTRIBUIÇÕES DE MÁRIO PEDROSA NA PESQUISA DE NISE DA SILVEIRA Ana de Almeida .......................................................................................................................... 135
ESTÉTICA, ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE DOS REFUGIADOS NO CINEMA DE AKI KAURISMÄKI E ENTRE ESCRITOS DE HANNAH ARENDT E GIORGIO AGAMBEN André Nascimento Arçari ............................................................................................................ 144
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DITADURA MILITAR E CENSURA ARTÍSTICA NO BRASIL Arlane Gomes Marinho ............................................................................................................... 156
LA ACCIÓN CIUDADANA COMO CONTÁGIO Y EL ARTE COMO TELÓN DE FONDO. EL CASO DE LA ARGENTINA POST-GOLPE Arnoll Cardales ........................................................................................................................... 168
AS CULTURAS TRADICIONAIS DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO NA OBRA DO FOLCLORISTA HERMÓGENES LIMA FONSECA Bartolomeu Boeno de Freitas ....................................................................................................... 180
ÍNDICES-ICÔNICOS: A FOTOGRAFIA ENTRE DESLOCAMENTOS FÍSICOS E VIRTUAIS Camila de Souza Silva ................................................................................................................. 191
MULHERES QUE RIMAM: A ARTE COMO ESPAÇO DE LUTA FEMINISTA Carolina Ofranti Sampaio ............................................................................................................ 201
GRAFITE FEMININO, ESCALAS E ATROPELOS Carolina Tiemi T. Teixeira ............................................................................................................ 210
É POSSÍVEL UTILIZAR O ―MÉTODO‖ WARBURGUIANO NA BUSCA DE UMA ARTE HOMOAFETIVA? César Silva Barcelos Júnior ........................................................................................................... 219
O SIGNO NA IMAGEM DIGITAL Claudio Victor Costa de Araujo ..................................................................................................... 230
CONTRAINFORMAÇÃO E RESISTÊNCIA NAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS CONCEITUALISTAS LATINO-AMERICANAS Deborah Moreira de Oliveira ....................................................................................................... 241
INFLUÊNCIA DA IMIGRAÇÃO ITALIANA NA ARQUITETURA DO ESPÍRITO SANTO Diana Pérez Angarita .................................................................................................................. 252
VANGUARDA CAPIXABA: AS RELAÇÕES ENTRE ARTE, CIDADE E PAISAGEM URBANA A PARTIR DA OBRA ―O ESTILINGUE‖, DE NENNA Douglas Gomes Silva ................................................................................................................... 260
TRANÇANDO UM CONTEXTO DE REPRESENTATIVIDADE, AFETO E PERTENCIMENTO Elissangela Gonçalves Ferreira ..................................................................................................... 270
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INSTÂNCIAS DA ARTEMÍDIA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO: REDES, CIRCUITO E PLATAFORMAS Elvys Chaves .............................................................................................................................. 278
LYGIA PAPE: ARTE, LINGUAGEM E HIBRISMO Eraní Ferreira Soares ................................................................................................................... 286
FOTOPINTURA: ALTERIDADE E A FOTOGRAFIA DA FOTOGRAFIA Erika Maria Mariano Ribeiro ........................................................................................................ 293
LINGUAGEM VIDEOGRÁFICA: UM NOVO MEIO DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA NOS ANOS 1980, EM VITÓRIA/ES Ernandes Zanon Guimarães ........................................................................................................ 302
NOTA MANUSCRITA: PROCESSO CRIATIVO COMO PROCESSO DE PESQUISA Fabiana Pedroni & Rodrigo Hipólito .............................................................................................. 313
APONTAMENTOS SOBRE APROPRIAÇÃO NA ARTE CONTEMPORÂNEA Flávia Dalla Bernardina ............................................................................................................... 324
FRAGMENTOS RÍTMICOS: METODOLOGIA EXPERIMENTAL PARA PROJETO EXPOGRÁFICO DO ACERVO DO MAES Flora Simon Gurgel & Martha Machado Campos .......................................................................... 338
GUERRILHEIROS DO CAPARAÓ: ARTE, HISTÓRIA E NATUREZA, A ESTRATÉGIA DE OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS Gabriela Ferreira Lucio ................................................................................................................ 348
ENTRELAÇOS: CRUZANDO FIOS ENTRE O BISPO DO ROSÁRIO E AS CRIANÇAS Helena Pereira Barboza & Margarete Sacht Góes & Julia Rocha .................................................... 359
A RELEVÂNCIA DOS FUNDAMENTOS DA PINTURA PARA A CONSTRUÇÃO DE CONCEPT ARTS Hugo Bernardino Rodrigues ......................................................................................................... 371
A FOTOGRAFIA NA MEDIAÇÃO DA ARTE: REPRODUTIBILIDADE E DISTORÇÃO Ignez Capovilla Alves ................................................................................................................... 381
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CEMITÉRIO MONUMENTAL DE SANTO ANTÔNIO: UM MUSEU A CÉU ABERTO E O ABANDONO DO PODER PÚBLICO Isis Santana Rodrigues ................................................................................................................. 388
O CENÁRIO INTERDISCIPLINAR: A CONTRIBUIÇÃO DA REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL PARA AS ARTES VISUAIS Ivânia Cristina Lima Moura .......................................................................................................... 398
DO MOUSION À MUSEÁLIA Jessica Dalcolmo ......................................................................................................................... 407
A CONTEMPORANEIDADE DE HILAL SAMI HILAL E OS ANOS 1960 Jéssica Galon da Silva Macedo ..................................................................................................... 417
O PEQUENO PRÍNCIPE ALÉM DO LIVRO João Ricardo da Silva Meireles ...................................................................................................... 429
DO PAPEL AO MUNDO SENSUAL: UMA ANÁLISE DE UM PROCESSO CRIATIVO DE APROPRIAÇÕES José Henrique Rodrigues de Souza ................................................................................................ 439
TENTATIVAS DE SE MANTER CORPO Josélia Andrade Santos ................................................................................................................ 450
SOBRE CORPOS E MICROPOLÍTICAS: ARTE CONTEMPORÂNEA PARA CRIANÇAS Julia Rocha & Any Karoliny Wutke Souza & Isabela Vieira Martins .................................................. 457
PERFORMANCE E REBELDIA DE NIKI DE SAINT PHALLE Karoline Flegler de Souza ............................................................................................................ 469
CONGO: PATRIMÔNIO IMATERIAL AFRO-BRASILEIRO DE ARAÇATIBA, VIANA, ES Karolline de Oliveira Lourenço ...................................................................................................... 475
A FORMAÇÃO DA IMAGEM NA LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA DE JÚLIO BRESSANE Lays Gaudio Carneiro .................................................................................................................. 485
VIDA E ANTIARTE DE ROBERT JASPER GROOTVELD NO ZEITGEIST SESSENTISTA Léa Araujo Rodrigues da Silva ....................................................................................................... 496
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ESPAÇOS ÍNTIMOS: O CANTO E O PLANO FECHADO EM O ABISMO PRATEADO Leonardo Ribeiro ......................................................................................................................... 505
ARTISTAS FOTÓGRAFOS BRASILEIROS DOS ANOS 1980 E 1990: CONTAMINAÇÕES IMAGÉTICAS Lília Márcia de Sousa Pessanha ................................................................................................... 515
ENTRE CONVERGÊNCIAS E INDISCERNIBILIDADES: ARTE, VIDA E OBRA NO ÂMBITO DAS POÉTICAS ARTÍSTICAS CONTEMPORÂNEAS Lindomberto Ferreira Alves .......................................................................................................... 522
ELA É: UMA PERFORMANCE DRAG COMO EXERCÍCIO ARTÍSTICO-POLÍTICO Lívia Rocha Helmer & Reyan Perovano ......................................................................................... 533
A MULTIFACETADA ARTE DRAG E TRANFORMISTA: CARTOGRAFANDO ASPECTOS TEATRAIS Lucas Bragança .......................................................................................................................... 542
ELEMENTOS CULTURAIS E SABERES TRADICIONAIS DO BATE-FLECHA: COMUNIDADE QUILOMBOLA CÓRREGO DO SOSSEGO, GUAÇUÍ/ES Luciana Cruz Carneiro ................................................................................................................ 553
ESTAÇÃO CULTURAL MOSTEIRO ZEN MORRO DA VARGEM: FRAGMENTOS DA MEMÓRIA DA PRIMEIRA RESIDÊNCIA ARTÍSTICA - LUIZ HERMANO (1996) Margarete Sacht Góes ................................................................................................................ 562
PROJETO A VOZ DA COMUNIDADE - ARTE QUE PROMOVE INCLUSÃO Maria Cláudia Bachion Ceribeli .................................................................................................... 574
RE-TRATO FEMININO Maria de Fátima Gonzaga .......................................................................................................... 586
ECOLOGIA E RESISTÊNCIA NA ESTÉTICA DE FRANS KRAJCBERG Maria Marta Morra Tomé ........................................................................................................... 596
CINDERELA CONTEMPORÂNEA: A (DES)CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA EM SALA DE AULA Maria Tereza Aigner Menezes & Larissa Fabrício Zanin ................................................................ 607
DESENHANDO E OBSERVANDO: DESAFIOS NO ENSINO DA ARTE Mariana Sperandio Teixeira & Andréia Salvador Lemker ................................................................. 617
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A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA EM RILKE REVISITADA A PARTIR DE INTERPRETAÇÕES DE GERD BORNHEIM Marina Pedreira Aragão .............................................................................................................. 628
A LINGUAGEM FOTOGRÁFICA PARA ALUNOS SUPERDOTADOS Mary Louis Bachour & Virgilio Cesar de Mello Libardi ..................................................................... 638
AS MEMÓRIAS E SUAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO MONUMENTO A IEMANJÁ, EM VITÓRIA-ES Maurílio Mendonça de Avellar Gomes .......................................................................................... 645
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A OBSERVAÇÃO E A PARTICIPAÇÃO COMO RITMISTA Michele de Almeida Rosa Rodrigues ............................................................................................. 655
OCUPAR ESPAÇOS E CRIAR DIÁLOGOS: AS EXPERIÊNCIAS DOS COLETIVOS MARUÍPE E HNA EM VITÓRIA/ES Michele Medina & Ananda Carvalho ............................................................................................ 663
PINTURAS ENCONTRADAS, POR UMA PINTURA QUE NÃO PRECISA SER PINTADA Natalie Supeleto ......................................................................................................................... 674
A OPÇÃO DESCOLONIAL NA ARTE: UM OLHAR PELAS OBRAS DE FRED WILSON E AYRSON HERÁCLITO Paulo dos Santos Silva ................................................................................................................. 684
UMA ANALOGIA ENTRE O MURALISMO MEXICANO E OS MURAIS DA CONTEMPORANEIDADE Penha de Fátima da Cruz de Souza ............................................................................................. 692
ANARCHORPUS: POÉTICA POLÍTICA DO CORPO REBELDE Reyan Perovano Baptista ............................................................................................................. 703
TEMPO, MATÉRIA E MEMÓRIA NO PROCESSO PICTÓRICO DE JOSÉ BECHARA Rita Mychelly dos Santos Salles .................................................................................................... 712
―RE-VIVO DITO‖ E ―SACI URBANO‖ PENSADOS ATRAVÉS DOS CONCEITOS DE SEÑALAMIENTO, DISCONTINUIDAD E DESHABITUACIÓN Rodrigo Hipólito & Fabiana Pedroni .............................................................................................. 721
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PERCEPÇÕES INTERARTÍSTICAS E EROTIZAÇÃO DO FEMININO NAS RELAÇÕES ENTRE A ILUSTRAÇÃO DE MILTON DACOSTA E A POESIA DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Roney Jesus Ribeiro ..................................................................................................................... 733
CORPO TRANSGRESSOR FEMININO: A ARTE ROMPENDO ESTIGMAS NUM DIÁLOGO DE ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA PRATICADA CONTRA A MULHER Rosemery Casoli ......................................................................................................................... 745
INTERVENÇÃO URBANA E (RE)SIGNIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS Thiago Sobreiro dos Santos & Maria Tereza Aigner Menezes & Elvys Souza Chaves ......................... 757
MUDANÇAS ESTÉTICAS NA FOTOGRAFIA: DO DOCUMENTAL AO IMAGINÁRIO Virgilio Cesar de Mello Libardi & Mary Louis Bachour ..................................................................... 765
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NOTA MANUSCRITA: PROCESSO CRIATIVO COMO PROCESSO DE PESQUISA NOTA MANUSCRITA: CREATIVE PROCESS AS RESEARCH PROCESS
Fabiana Pedroni185 Rodrigo Hipólito186
RESUMO Este texto analisa os métodos de trabalho presentes no projeto NOTAmanuscrita, ativo desde 2012. Através dos documentos presentes no site notamanuscrita.com, disponibilizados nos últimos sete anos, discutimos conceitos operatórios em processos poéticos. Trabalhamos com uma análise entre Teoria da Arte e Crítica Genética, para ressaltar as trilhas que partem da gênese do processo criativo e seguem ao encontro de formas de expressão, comunicação e aportes teóricos. Sublinhar tais caminhos nos permite compreender os enlaces entre uma variedade de etapas do processo de criação como Metodologia de Pesquisa em Arte. Ao fim, nossas conclusões se voltam para a compreensão da estrutura teórica, prática e experimental de tais realizações, como uma contribuição para as Metodologias de Pesquisa em Arte. PALAVRAS-CHAVE Processo Criativo; Metodologias de Pesquisa; Experimentação; Crítica Genética. ABSTRACT
This text analyzes the working methods presents in the NOTAmanuscrita project, active since 2012.
Through the documents presents in the site notamanuscrita.com, available in the last seven years, we
discuss operative concepts in poetic processes. We work with an analysis between Art Theory and Genetic
Criticism, to highlight the trails that start from the genesis of the creative process and follow the meeting
of expression forms, communication and theoretical contributions. Underlining such paths allows us to
understand the links between a variety of steps in the creative process such as Art Research Methodology.
In the end, our conclusions turn to the understanding of the theoretical, practical and experimental
structure of such achievements as a contribution to Art Research Methodologies.
KEYWORDS
Creative process; Research Methodologies; Experimentation; Genetic Criticism.
185 Fabiana Pedroni é doutoranda em Artes na UNESP, desenvolve pesquisa na área de Arte Educação e participa do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Imagem, História e Memória, Mediação, Arte e Educação (GPIHMAE - UNESP); Formada em Artes Visuais na UFES; Editora da Revista do Colóquio; Redatora do site notamanuscrita.com; Integrante do podcast Não Pod Tocar. Contato: [email protected]. 186 Rodrigo Hipólito é mestre em Teoria, História e Crítica de Arte pelo PPGA-UFES; Professor do Departamento de Teoria da Arte e Música (UFES) e dos cursos de Psicologia e Pedagogia da Faculdade Europeia de Vitória (FAEV); Editor da Revista do Colóquio; Redator do site Nota Manuscrita (notamanuscrita.com); Integrante do podcast Não Pod Tocar. Contato: [email protected].
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INTRODUÇÃO. CAMINHOS DA EXPERIÊNCIA
―A que horas eu acordo?‖ Eu acordo com este pensamento e, em seguida, durmo. ―A que
horas eu acordo?‖ A mesma frase volta e me desperta. Assim sigo, repetidas vezes, até
anotar a voz num bloquinho. Palavras cheias de erros ortográficos, um tanto ilegíveis,
resultado de mão trêmula e de apenas um olho alerta e outro já a dormir. A anotação
continua em sono tranquilo, mas, sem lembrança.
Seria mentira se nós disséssemos que esse é o modo ideal de se trabalhar um texto, com
interrupções do sono, mas, foi o modo mais sincero que encontramos para iniciar uma fala
sobre processo criativo e Metodologias de Pesquisa em Arte. Muito do que aqui
trabalharemos percorrerá demandas de uma escrita que brinca com o cotidiano e com o
ficcional, direcionada à pesquisa como objetivo maior.
"Eu comecei a compreender a construção deste texto não pelas referências que aqui serão
apresentadas, mas pelo cafuné na cabeça do cachorro que vive aqui em casa."187 Esta seria
outra boa frase de abertura para o texto. O que esses dois inícios têm em comum? Ambos
aproximam a experiência quotidiana com a atenção teórica da experiência e mostram que
há vários gatilhos possíveis que apontam para diversos caminhos a se percorrer até a
compreensão de conceitos.
Os trajetos os quais analisaremos estão expostos no projeto NOTAmanuscrita. Desde
2012, o projeto, sediado em notamanuscrita.com, reúne variadas linguagens e arquivos:
anotações, contos, crônicas, textos críticos, ilustrações, rascunhos, fotografias, vídeos,
montagens, vídeo-performances, datilografados, artigos acadêmicos, podcasts, livros de
artista, poemas, objetos, registros de intervenções públicas (e rurais) e instalações dos
artistas e pesquisadores envolvidos. Construído inicialmente pelos autores deste texto, o
projeto conta, hoje, com a colaboração de Alana de Oliveira, André Martins (ambos
participantes do podcast Não Pod Tocar) e Maria Angélica Pedroni. Essa grande variação de
linguagens responde à diversidade de meios de se relacionar com o mundo e traçar
caminhos poéticos para a Pesquisa em Arte.
187 Algumas das frases marcadas entre aspas e sem referências, contidas neste artigo, provêm de conversas ocorridas num aplicativo de mensagens. De certo modo, isso já reflete e exemplifica parte do processo criativo aqui discutido. Construir um artigo com duas cabeças, atualmente, é uma ação que exige o rompimento com certas tradições da pesquisa acadêmica, pois as notas de fichas de pesquisa, os diálogos e a edição do texto ocorrem de modo mais acelerado e atravessam o nosso quotidiano de maneiras muito mais profundas e constantes do que há duas ou três décadas.
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Mas, afinal, o que é Pesquisa em Arte? Em sentido amplo, são as investigações realizadas no
campo das Artes; ―É uma forma de abordar artistas, seus processos e os seus produtos‖
(FORTIN; GOSSELIN, 2014, p. 01). Podemos incluir, nesse bojo, Pesquisa Sobre as Artes
(sobre determinado ponto artístico, linguagem, artista, obra, etc.), Pesquisa Para as Artes (o
estudo de linguagens que possam contribuir para o alargamento do fazer e do pensar
artísticos) e Pesquisa em Artes (compreensão de um conhecimento incorporado pelo artista,
ou seja, teoria e prática dialogam ao longo do processo criativo e na produção poética).
Longe de tentar encontrar uma definição engessada, essa breve explanação evidencia que a
investigação é um ponto de partida e, junto dela, apontamos para a relevância da
experiência.
A experiência é uma ferramenta para se adentrar e examinar o mundo. Esse exame não
deve ser compreendido como uma observação distante de objetos da natureza, mas um
modo de aproximação. Estamos numa linha de pensamento avessa àquela concebida pelo
Positivismo. Isso modifica nossos objetivos, pois não nos interessa explicar o mundo,
tampouco erigir um conhecimento imparcial sobre os objetos examinados. Aproximar-se é
ver, sentir, tatear com o corpo, é comunicar-se. Aproximar-se de um objeto de estudo é
tornar-se íntimo dele, ao ponto de que seja possível extrair dele conteúdos que somente
poderiam existir a partir de tal intimidade.
Jorge Larrosa (2011) nos fala dos princípios da experiência: os princípios de alteridade,
exterioridade e alienação; princípios de reflexividade, subjetividade, transformação e tantos
outros que definem e alimentam a ideia de experiência.
Poderíamos dizer, portanto, que a experiência é um movimento de ida e volta. Um movimento de ida. Porque a experiência supõe um movimento de exteriorização, de saída de mim mesmo, de saída para fora, um movimento que vai ao encontro com isso que passa, ao encontro do acontecimento. E um movimento de volta, porque a experiência supõe que o acontecimento afeta a mim, que produz efeitos em mim, no que eu sou, no que eu penso, no que eu sinto, no que eu sei, no que eu quero, etc. Poderíamos dizer que o sujeito da experiência se exterioriza em relação ao acontecimento, que se altera, que se aliena (LARROSA, 2011, p. 6-7).
A experiência em Larrosa apresenta o ex de exterior e o per de travessia. Trata-se de um
―sair‖, o ex que aproxima a experiência da noção de experimentação. A própria palavra
experiência origina-se do verbo latino periri, que significa "experimentar", mas, ao mesmo
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tempo, guarda, em sua etimologia, a noção de "arriscar-se". Se John Cage (1961, p. 39)
afirma que "[...] uma ação experimental é aquela cujo resultado não está previsto", Hélio
Oiticica nos chama a "experimentar o experimental" (1972):
o exercício experimental da liberdade evocado por MARIO PEDROSA não consiste na 'criação de obras', mas na iniciativa de assumir o experimental [...] o experimental não tem fronteiras para si mesmo é a metacrítica da 'produção de obras' dos artistas de produção188.
Oiticica, ainda no mesmo texto, ao citar John Cage e o uso do termo experimental, afirma
que o experimento é etapa, é caminho não-convencional. Da noção de travessia,
pertencente à experiência, Larrosa (2011, p. 08) nos indica um princípio de paixão, que é o
"[...] movimento mesmo da experiência". A experiência que nos afeta e se direciona ao afeto
do outro.
O ato de comunicação parte, no projeto NOTAmanuscrita, da experiência particular com o
mundo, para atingir o Outro. Neste ato de atingir, a gênese do processo criativo trilha os
caminhos ao encontro de formas de expressão, comunicação e aportes teóricos. Sublinhar
tais caminhos nos permite compreender os enlaces entre uma variedade de etapas do
processo de criação como Metodologia de Pesquisa em Arte.
CONCEITOS OPERATÓRIOS PARA TER INTIMIDADE COM FENÔMENOS CORRIQUEIROS
Através dos documentos presentes no site notamanuscrita.com, disponibilizados nos últimos
sete anos, é possível discutir conceitos operatórios em processos poéticos. Ao redor de
cada trabalho, orbitam diferentes conceitos que os põem em ação. Sem a necessidade de
nos determos detalhadamente sobre as descrições formais de todos os projetos, nos
dedicamos às suas amarrações conceituais e aos elementos dos processos criativos que se
mostraram mais comuns.
Para retornarmos a presença de Hélio Oiticica neste texto, podemos pensar nas ideias de
Crebehaviour, Crelazer e Suprasensorial. Tais conceitos aprofundam a relação Arte e Vida
quotidiana. Com a noção de Suprasensorial, Oiticica visa o potencial criativo interior do
sujeito/espectador/participador, que seria revelado a partir de uma atividade de lazer/prazer,
isto é, de desinteresse e espontaneidade. É no âmbito do lazer/prazer que se concebe o
188 Mantém-se, nessa citação, as indicações visuais presentes no arquivo datilografado por Hélio Oiticica, sublinhado e letras maiúsculas.
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conceito de Crelazer: lazer não-repressivo. Já na ideia de Crebehaviour
(―crecomportamento‖), Oiticica afirma que não se trata de criar um objeto, nem mesmo de
transformar atos da vida em atos criativos, mas da necessidade de se incitar atos de vida que
brotem como necessidades, a partir de uma situação de conflito (PEDRONI, 2012): o
conflito com a própria vida, o conflito que é o lazer. Na cota lazer/prazer, encontramos o
conceito de crelazer. O lazer é o inverso do trabalho (de Arte), é "[...] mudar do 'trabalho
de arte' para o 'lazer inventivo na arte'‖ (BRAGA, 2007, p. 113).
Estes conceitos são desdobrados em ações como ―Faça, Reduza e Empilhe Barquinhos‖,
inserida no projeto ‗Engenharia Naval em Papel‖.
Depare-se com uma atitude despretensiosa. Aceite, observe e conduza sua atenção até chegar ao sentido, pois esse nunca é dado. A Lógica do Corriqueiro é o caminho de sua grandeza. Faça, reduza e empilhe barquinhos. Ou dê nós no tecido achado, até o tecido se perder, desaparecido. Ainda, apanhe papéis e faça bolinhas. Arranje algumas pedras e deixe um desenho na areia. Transforme a banalidade em presente e construa significado. Veja o novo e instigante, o bobo, o potente e o sem base, sem fundo. Saia da base da montanha e suba ao cume. Depois retorne a base para poder olhar [11.2011] 189.
Essa ação consistia no ato descrito pelo título, na concentração envolvida nesse ato artesanal
e sem utilidade e na sensação simplória de ter realizado algo voltado para satisfazer um
universo de vontades particulares (como caminhar sem pisar nas brechas da calçada,
organizar moedas por ordem de tamanho e tantos outros microdesafios íntimos). Um
modelo ilustrado de como realizar a ação foi impresso e espalhado por livros de uma
biblioteca pública para serem encontrados ao acaso.
Mas, aqueles barquinhos de papel seriam tão desprovidos de função assim? Esses
microdesafios do quotidiano não detém significado? Caso eliminássemos de nossas vidas
pequenas vontades e a sensação de ter realizado algo inútil, todas as nossas outras ações
continuariam a ter o mesmo valor? Para pensar as funções daquilo que parece mais
desprezível, devemos recorrer a outro conceito, o qual, para nós, também se tornou
operatório.
189 ―Faça, Reduza e Empilhe Barquinhos‖, inserida no conjunto de ações ―Engenharia Naval em Papel‖, fez parte do projeto mais extenso e instalações, ações e intervenções urbanas e rurais ―Ínfimos Corriqueiros – Pormenores Possessivos‖. As ligações internas de ―Faça, Reduza e Empilhe Barquinhos‖ estão disponíveis em: .
https://notamanuscrita.com/2012/12/20/engenharia-naval-em-papel
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O conceito de imagem-objeto, inicialmente utilizado por Jérôme Baschet (1996), nos põe a
frente de elementos que muitas vezes são excluídos da compreensão de uma imagem.
Pensar a imagem-objeto não é coisificar a imagem, dar a ela o caráter de objeto, mas de
encarar sua materialidade como parte constitutiva, assim como seus usos e funções. Quer
dizer, mesmo que a imagem não possua corpo, ela faz parte de um contexto histórico-social
e tudo que orbita seus usos e entendimentos são essenciais. Isso significa que elementos
antes ignorados pelos historiadores e teóricos de um modo geral, passam a ser
considerados. É nesse sentido que abrimos a compreensão do ornamento e da
ornamentalidade como parte da imagem e parte do mundo. O sentido de ornamentalidade,
por sua vez, foi cunhado pelo medievalista francês Jean-Claude Bonne (1997) e, no nosso
caso, operou tanto para nos auxiliar a pensar a imagem medieval quanto as ações do
quotidiano. O ornamental configura-se como um ―poder‖, aquilo que a ornamentação pode
fazer, a depender do contexto em que se insere190. A ornamentalidade é orquestradora de
nosso relacionamento com o mundo, ela nos marca e direciona nossa experiência. Esta
noção opera em trabalhos como ―Ventiladores-cata-ventos‖ (2013).
Às margens de uma rodovia entre os municípios de Domingos Martins e Afonso Cláudio foi
instalada um pequeno ―bosque de cata-ventos‖ (Figura 1). Esses cata-ventos foram feitos
com hélices de ventiladores elétricos e finos troncos de eucalipto. Afixados em meio a flores
silvestres, no inverno, os cata-ventos amanheciam com a neblina e giravam em conjunto
para o olhar transversal dos motoristas.
Figura 1 - Coletivo Monográfico (Fabiana Pedroni, Joani Caroline Souza e Rodrigo Hipólito. ―Ventiladores-
cataventos: homenagem ao ornamento degenerado‖. Sítio força verde, 2013. Fonte: https://notamanuscrita.com/2013/06/01/ventiladores-cataventos-ornamento-degenerado/
190 Sobre esta questão cf., dentre outros PEDRONI, 2016.
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Formado por um cano de pvc e hélice de ventilador, o item fotografado é questionado: De que serve um catavento escondido num prédio velho? Dificilmente foi feito com o prédio [construção pomposa e muito anterior aos restos de utensílio usados na composição do objeto]. Para quem essa coisa mostra que o vento existe? Poderia ser anexado à construção para conferir valor. Mas que espécie de enfeite é esse, que não se coloca para ser visto?
O olhar chegou até esse pequeno item da realidade. Sob as incontáveis veladuras e colagens do cenário urbano, um foco de luz incide sobre a coisa e através deste pormenor, é proposta uma construção. Trata-se de um desdobramento. Um fazer algo por aquilo que já está feito, dando-lhe novo status e sentido. Tenta-se duplicar o modo de aparição de um objeto para reestruturá-lo de um jeito demonstrável daquele ambiente íntimo que antes não o seria (PEDRONI, 2013).
Como chegamos a um item perdido em meio ao mundo funcional, mas passível de ser
desdobrado em experiência estética através da sua ornamentalidade, isto é, das suas funções
de conferir valor ao mundo quotidiano? Dois eixos são fundamentais para compreender a
dinâmica desse processo de desdobramento. O primeiro foi comentado acima: o contato
com os escritos de Hélio Oiticica, o qual nos rendeu a compreensão prática da não
dissociação entre pensar e sentir191. O segundo eixo envolve dois artistas argentinos, Alberto
Greco e Edgardo Antonio Vigo.
A partir do ―Manifesto vivo dito‖, de 1962, nós pensamos o conjunto de ações intitulado
―RE-vivo dito‖, no qual reativamos as estratégias poéticas de Alberto Greco, autor do
manifesto (HIPÓLITO; PEDRONI, 2014). Na primeira metade da década de 1960, Greco
circulava pedestres e objetos com riscos de giz e firmava tais elementos como ―trabalhos de
arte de Alberto Greco‖. Do giz, Greco passa para placas com sua assinatura e com os
dizeres ―obra de arte de Alberto Greco‖, com as quais demarca paisagens e cenários. Em
―RE-vivo dito‖, nós retomamos a assinatura do artista e continuamos a demarcar itens da
realidade com o seu nome. O ato de demarcar espelha o sentido de señalamiento,
trabalhado por Edgardo Vigo a partir de 1968. 191 Não podemos nos furtar a apontar para a contribuição das leituras e discussões em torno da concepção de sujeito fenomenológico de Merleau-Ponty, a qual acompanha também a formação das ideias de Oiticica. No nosso caso, embora não haja espaço, neste texto, para discutir todos os conceitos que mais nos tocaram, deve ser ressaltado o valor de um ponto pouco discutido do pensamento merleaupontiano, o sentido de ―carne do mundo‖. ―A ideia de carne transparece a porosidade das fronteiras entre o corpo sujeito e o corpo objeto. Para Merleau-Ponty em O visível e o invisível (2007) o corpo como carne do mundo não é matéria, mas por uma dada consciência perceptiva sentimos que nosso corpo e o corpo dos objetos fazem parte de uma mesma carne. Entre meus dedos e a superfície da mesa que toco existe um tocar que dá corporeidade a ambos. Nessa possibilidade de estabelecimento da corporeidade encontramos a carne do mundo. Perceber/pensar, isto é, existir, é corporizar e significar. O corpo cria movimentos e ao mover-se cria sentidos, desequilibra, inverte. São noções pontuadas pela fenomenologia e que aparecem nas definições de Oiticica, principalmente quanto à função da dança e do corpo no significar a obra‖ (PEDRONI, 2012, Nota 13). Cf. também OITICICA, 1986, pp. 72-76.
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Com o objetivo de ―revulsionar‖, isto é, causar estranhamento no olhar do dia-a-dia, Vigo
propõe que observemos elementos funcionais da realidade para além de suas funções.
Numa expansão da operação duchampiana, Vigo não se contenta em deslocar os objetos
para o interior de instituições de Arte e assim destituí-los de suas funções corriqueiras. O
artista posiciona-se a favor da radicalização da aproximação entre Arte e Vida e afirma que a
experiência mental do público como participar ativo é capaz de fazer surgir um trabalho de
arte da observação do quotidiano. Para isso, bastaria o exercício do señalamiento, do olhar
direcionado para um elemento, com o objetivo de percebê-lo deslocado de sua
funcionalidade (GAMANOL, 2010, pp. 214-215). A eleição de tais elementos, por sua vez,
deveria se dar através do exercício de outra operação, herdada, de certo modo, dos
Situacionistas franceses. Trata-se da prática da ―Deriva‖, mas, diverso da abrangência da
deriva situacionista, que almejava sobrepujar as regras de urbanização, nesse caso, falamos
na ―deriva estética‖. O princípio de ―deriva estética‖ está no cerne da própria defesa do
―revulsivo‖ (Cf. DAVIS, 2009) e se relaciona com o ―exercício experimental da liberdade‖,
comentado no início deste texto. É possível observar a realidade a partir das funções práticas
dos elementos que a compõem, ou observá-la com proximidade e intimidade, com uma
atenção que lhe permita, como observador ativo, considerar cada objeto e situação como
um fenômeno do qual você faz parte.
Começou a chover.
Uma chuva fina, daquelas que molham de verdade. Pela janela, é possível ver os canos de
PVC instalados no telhado do prédio vizinho para escoar a água da chuva. Os fios de água
dançam em variações do vento, alguns mais densos, outros mais pingados. Ninguém mais os
observa nesse momento. São dois, três, quatro canos que se projetam mais de trinta
centímetros para fora do concreto. Há quantos anos a água os atravessa? Talvez décadas. O
limo formado em seus interiores faz com que cada fio de água tenha um formato único e
isso cria um ínfimo balé de transparências e reflexos. Levanto e abro a janela. O balé produz
sons. Cada impacto da água no chão, quatro andares abaixo, ressoa mais oco ou mais
metálico. Somente eu observo essa orquestra do gotejar, pois eu me aproximei para
examiná-la. Quando eu percebi que esse fenômeno não é apenas o cumprimento de uma
função, nós nos tornamos mais íntimos.
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Nota-se que boa parte das exigências continuas em operações como a ―deriva estética‖ e o
Crelazer envolvem o exercício de um olhar atencioso para si mesmo. Em certa medida,
lidamos com autorreflexão, mas não o ―ensimesmamento‖ do sujeito moderno e sim como
a aceitação do reflexo mais próximo que possuímos dos fenômenos, dos acontecimentos
reais.
Toda descrição é, de fato, uma interpretação no sentido de que é a seleção de informações e atribuição de significações a partir de uma memória e de um imaginário individual e coletivo. A crise da representação, longe de ver a descrição como um simples exercício de transcrição e de adequação entre as palavras e a realidade, impõe firmemente a presença e a subjetividade do pesquisador até fazer deste o objeto central nos estudos auto-etnográficos. De fato, se a pessoa que conduz a investigação é indissociável da produção de pesquisa, por que, então, não observar o observador? Por que não olhar a si mesmo e escrever a partir de sua própria experiência? (FORTIN; MELLO, 2009, p. 82).
Falamos, assim, de autoetnografia. Como metodologia, a autoetnografia provém da
antropologia e o termo foi usado pela primeira vez por David M. Hayano (1979). Distante
de uma concepção tradicional de pesquisa etnográfica, pela qual seria possível manter certo
afastamento de uma comunidade ou fenômeno estudado, de modo a descrever o mais
fielmente possível os acontecimentos e as formas, a autoetnografia defende mais do que a
aproximação, mas o ponto de partida de quem está dentro do fenômeno. Assim, seria a
metodolgia mais adequada para o desenvolvimento de pesquisas nas quais não apenas é
impossível realizar um afastamento, pois o pesquisador está no centro do fenômeno
pesquisa e dele parte, mas também por que tal afastamento seria prejudicial.
Como método, a autoetnografia se efetiva através de cinco eixos de trabalho. O olhar para
si, que é a consideração de que o pesquisador não poderia, ainda que assim desejasse,
excluir-se do ambiente que o rodeia, de modo que deve aceitar-se como agente dos
fenômenos estudados. O forte teor reflexivo, que é a constante consideração das relações
entre os agentes do fenômeno estudado, com a ponturação de que tal reflexão é exercida
pelo observador. O trabalho engajado, que é o posicionamento inevitável do pesquisador
como agente envolvido num fenômeno para o qual dispensa desejos e que será influenciado
pela realização ou não de tais desejos. A explicitação da vulnerabilidade, pois a narrativa
pessoal, o teor emotivo, os desejos, vontades e frustrações do pesquisador passam a ser
dados de trabalho, logo, não devem ser encobertos da percepção do leitor/espectador. E a
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rejeição de conclusões, pois o encerramento das possibilidades de análise do fenômeno
seria impraticável e não é objetivado quando se processa uma análise antipositivista, mais
construtiva e estrutural (Cf. JONES; ADAMS; ELLIS, 2016).
CONSIDERAÇOES FINAIS
Se falamos em autoetinografia, não haveria, aqui, ―conclusões‖. Outros conceitos
operatórios e muitos outros trabalhos, que compõem a rede de produções do projeto
NOTAmanuscrita, não figuraram neste texto. Cada um desses trabalhos é, de certo modo,
um estudo autoetnográfico, mas, além de uma descrição reflexiva de fenômenos dos quais
somos agentes ativos, também são desdobramentos de tais descrições. Se pudermos
sintetizar o processo aqui comentado, diremos que tanto nossas produções teóricas como
as produções poéticas ocorrem por uma autoetnografia, fundada no exercício da ―deriva
estética‖, a partir da qual desdobramos práticas de Crelazer e señalamientos de elementos
que conferem valor a vida quotidiana através da sua ornamentalidade.
A reflexão aqui construída nos permitiu observar como conceitos operatórios compõem as
construções poéticas e teóricas por relações simbióticas entre teoria e prática, nas mesclas
de referências a artistas/pesquisadores, teóricos, historiadores e críticos de arte.
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