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GRAFFITI & MOVIMENTO
Amanda Cristina de Sousa * Mariza Barbosa de Oliveira ** Vanessa Bianca Sgalheira ***
Comunicação: Relato de Experiência
Resumo:
O projeto Graffiti & Movimento foi aprovado pela Lei de incentivo à cultura do
Município de Uberlândia sob inscrição: EDITAL DO PROGRAMA MUNICIPAL DE
INCENTIVO A CULTURA - PMIC Nº 014/2009.
O Projeto acontece por meio de oficinas que estão sendo realizadas em quatro escolas
da periferia de Uberlândia: E.M. do Bairro Shopping Park,- bairro Shopping Park, E.M. Prof.
Mario Godoy Castanho - bairro Tocantins, E M. Profª Orlanda Neves Strack - bairro Minas
Gerais e E. M. Freitas Azevedo - bairro Morada Nova.
As oficinas acontecem por meio de uma proposta interdisciplinar e híbrida que mescla
as linguagens da performance e do graffiti, atendendo a 30 adolescentes com idade de 13 a 17
anos por escola.
O Projeto Graffiti & Movimento espera envolver o público adolescente em atividades
artísticas por meio de oficinas que lhes proporcionem a criação coletiva, bem como a
expressividade de suas idéias, de suas vivências, de suas leituras de mundo e de seus espaços
sociais.
Portanto, nos interessa colocar em diálogo os resultados já alcançados dentro desta
perspectiva interdisciplinar.
* Professora de artes da E.M. Freitas Azevedo bairro Morada Nova. Graduada em Artes Plásticas – Universidade Federal de Uberlândia - 2008. E-mail: [email protected]. ** Professora de artes da E.M. Eugênio Pimentel Arantes, bairro Morumbi. Mestranda do Programa de Mestrado em Artes da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected]. ***Professora de artes da E.M. Shoping Park, bairro Shoping Park. Mestranda do Programa de Mestrado em Artes da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected].
Reflexões Gerais
“Educar é, portanto, socializar, preparar indivíduos para uma sociedade concreta e
ideologicamente definida”.
Francisco Gutiérrez
Tendo a experiência no Ensino de Artes na Rede Municipal de Ensino como
parâmetro, percebemos muitas dificuldades em que deparam a maioria dos professores da
área, como: a falta de materiais básicos (papel, lápis, tinta, pincéis, cola, tesoura etc.); falta de
espaço apropriado; tempo reduzido e fragmentado em sala de aula e muitas vezes falta de
respaldo da parte administrativa, entre outros entraves.
Refletindo estas questões e buscando alternativas para solucioná-las tivemos a idéia
de desenvolver um projeto que pudesse suprir parte das carências citadas acima. Para tanto,
esta proposta deveria ter como pressupostos questões diferentes das enfrentadas no espaço
restrito da sala de aula, tais como, a não obrigatoriedade de participação na atividade
proposta, o oferecimento de todos os materiais necessários, uma equipe de apoio para a
realização das oficinas e tempo suficiente para o cumprimento de cada etapa da atividade.
As oficinas tiveram início na Escola Municipal do Bairro Shopping Park (realizada no
período de 18/06/2010 a 10/07/2010) e já podemos perceber a conquista de alguns dos
resultados almejados.
Dentro desta perspectiva temos alcançado os objetivos propostos, desta forma nos
interessa compartilhar nossa experiência no desejo de acrescentar novas reflexões sobre as
possibilidades de melhorias no ensino de arte nas escolas municipais de Uberlândia, em
especial. Sabendo que a discussão e a troca de experiências constituem momentos decisivos
no avanço e construção do conhecimento, como atividade inevitavelmente coletiva.
Trânsitos interdisciplinares: Graffiti e Performance
O Graffiti é uma linguagem que dialoga com os interesses de adolescentes,
possibilitando a estes, a inserção de sua marca de maneira positiva na cidade. Pois, o grafite
está ligado a expressões da arte urbana e pertence ao imaginário social apresentando-se como
meio de expressão dos anseios, da visualidade e da expressividade da experiência, em relação
à percepção e vivência na cidade, juntamente com a expressão cênica que potencializa a
vivência artística.
Neste sentido, a Performance traz a expressão por meio de gestos, a possibilidade de
manifestação poética usando o corpo e, portanto, aliada ao Graffiti na construção de Telas
Vivas sendo um instrumento bastante positivo para elevar a auto-estima destes adolescentes.
Pois, trabalha a consciência corporal e o potencial expressivo que se dá pela própria relação
com o corpo e com a criação de imagens, onde este corpo será parte da imagem e a construirá.
A Performance tem por si só um caráter interdisciplinar, pode acontecer como forma
de teatro, expressão cênica e dramática, como também de forma plástica. Neste caso a
Performance será organizada de acordo com o tempo e o espaço reais e imaginários.
De acordo com Renato Cohen a Perfomance é uma expressão artística de fronteira,
visando escapar às delimitações e ao mesmo tempo incorporar elementos da várias artes.
(2004, p.139) Desta maneira não pode ser considerada como uma arte isolada, mas como uma
manifestação de um movimento maior. (ibidem, p.158)
Entendendo a Performance e o grafite como linguagens que estão em consonância com
o nosso contexto atual, a primeira por mostrar uma relação de ambivalência entre tempo e
espaço real e tempo e espaço ficcional e o segundo por partir já da intervenção urbana usando
a cidade não somente como tema, mas também como suporte para criação.
A possibilidade de intervenção no meio em que estes adolescentes vivenciam seu
espaço cotidiano, sua vivência social, possibilitará maior interação com o bairro e o espaço
urbano, gerando também uma consciência artística e participativa, sendo que a comunidade
poderá reconhecer seu potencial criativo, enquanto estes se reconhecerão como sujeitos e
agentes sociais.
Sendo assim, a importância deste projeto justifica-se pela necessidade de intervenções
culturais envolvendo adolescentes, mostrando-lhes a perspectiva criativa em atividades
culturais e artísticas. Criando uma situação de ensino e aprendizagem a respeito da Arte, sua
história e sua importância no contexto sócio-cultural, de uma forma autônoma, em que a
relação, educador e educando não é estática e unilateral.
Das oficinas:
Cada oficina é composta por módulos de quatro encontros com duração de quatro
horas em cada escola, totalizando 16 encontros com atividades teóricas e práticas das técnicas
relacionadas ao Graffiti e ao fazer teatral com jogos e improvisações, com a duração de 256
horas aulas ao todo, e atenderá a 120 participantes.
No primeiro módulo, realizamos a apresentação da proposta para os alunos
participantes (previamente selecionados, por idade e disponibilidade). Iniciamos as atividades
com a leitura de imagens de Graffiti e do movimento muralista mexicano. Em seguida,
apresentamos imagens de pichações e discutimos as diferenças entre o Graffiti e a pichação.
Propomos aos participantes duas atividades de elaboração, a primeira utilizar um
elemento de cada obra apresentada e construir uma nova composição. A segunda consistiu em
criar uma marca identificatória associando o nome a uma forma, pensando também a forma
gráfica do nome de cada participante, resultando na construção de uma imagem.
No segundo módulo, utilizamos metade do tempo para realização de jogos teatrais e
improvisações, que visavam à elaboração da cena a ser apresentada junto ao painel de
Graffiti. No momento seguinte, partimos para a da técnica do estêncil, a partir da imagem
criada como marca identificatória de cada aluno na primeira aula. Esta imagem foi adaptada
para a técnica de estêncil, sendo que cada aluno criou sua matriz de acetato.
No terceiro módulo, inicialmente continuamos o desenvolvimento da criação cênica,
com atividades teatrais relacionadas aos temas levantados pelos alunos. Na segunda parte da
aula iniciamos a graffitagem do painel que comporia o ambiente cênico.
No último módulo, recebemos a comunidade do bairro (Shopping Park) para
apresentação da composição plástico-cênica e por fim realizamos uma confraternização.
Oficina na E. M. do Bairro Shopping Park:
1ª aula – Apresentação 2ª aula – Corte da matriz de estêncil
3ª Aula – Improvisação – criação de cena
4ª aula – Execução da pintura do painel
4ª aula – Apresentação de performance
Referências Bibliográficas:
BARBOSA, Ana Mãe. Arte-Educação: Leituras no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.
COHEN, Renato. Performance como linguagem. 2 ed. São Paulo: perspectiva, 2004.
COSTA, José da. Os sertões urbanos do Teatro Oficina: imagem e registro. In: COSTA, Luiz
Cláudio da (org). Dispositivos de registro na Arte Contemporânea. Rio de Janeiro: Contra
Capa Livraria / FAPERJ, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. São Paulo. SP, Paz e Terra. 1996.
____________. Pedagogia do Oprimido. São Paulo. SP, Paz e Terra. 1985.
GUTIÉRREZ, Francisco. Educação como práxis política. São Paulo, SP: Summus, 1988.
PALLAMIN, Vera M. (org.). Cidade e cultura: esfera pública e transformação urbana.
São Paulo: Estação Liberdade, 2002.