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GESTÃO DO DESIGN: ANÁLISE SOBRE A APLICAÇÃO
DOS CONCEITOS E RELAÇÃO COM A GESTÃO DE
PROJETOS EM ESCRITÓRIOS DE DESIGN GRÁFICO NA
MICRORREGIÃO DE ITAJAÍ – SC.
Marcos Roberto Ramos
(UNIVALI)
Flávio Anthero Nunes Vianna Santos
(UNIVALI)
Eugenio Andrés Díaz Merino
(UFSC)
Cibele Eschner Lin
(UNIVALI)
Resumo: Com a globalização presente na atualidade, cada vez mais as empresas buscam por
diferenciação no mercado, recorrendo à diversas estratégias, dentre elas a inserção do Design.
Assim, esta pesquisa busca analisar como é realizada a Gestão do Design em Escritórios de Design
Gráfico, responsáveis principalmente pela inovação nas áreas de Identidade visual e corporativa,
editorial, superfície e estamparia, sinalização, tipografia, material promocional e de divulgação,
entre outras. Essa abordagem fundamenta-se em conceitos de Gestão de Projetos e na forma como
estes são introduzidos para organização das atividades destes escritórios, bem como para a
obtenção de resultados positivos junto aos clientes. A obtenção de dados é realizada através de uma
pesquisa em uma amostragem de escritórios da microrregião de Itajaí – Estado de Santa Catarina e
proporciona a análise da relação entre Gestão do Design e Gestão de Projetos nas atividades destes
escritórios.
Palavras-chaves: Design; Escritórios de Design Gráfico; Gestão do Design; Gestão de Projetos
ISSN 1984-9354
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1 INTRODUÇÃO
Atualmente, a dinâmica da economia mundial decorrente da globalização e de aceleradas
inovações tecnológicas, tem impulsionado a adoção de estratégias por parte das empresas visando
ao aumento da competitividade e inovação. Assim, para manter-se competitiva no mercado,
qualquer empresa precisa estar em constante atualização e mantendo uma velocidade acelerada de
criação associada a uma gestão sustentável e socialmente responsável. De acordo com Kim e
Mauborgne (2005), através da incorporação de estratégias de inovação uma empresa pode, não só
buscar espaço no mercado competitivo, como também buscar inovações que lhe permitam abrir um
mercado livre de concorrência.
Com base neste conceito e na preocupação relacionada às crescentes exigências dos
consumidores, as empresas têm se voltado principalmente, à busca pela inovação nos produtos e/ou
serviços prestados, onde, de acordo com Bes e Kotler (2011), há um grande consenso entre os
empresários e pesquisadores de que é necessário inovar, mas falta difusão sobre como concretizá-la.
Neste contexto então, a função do design como fator de diferenciação e de competitividade vem se
evidenciando significativamente; a procura por empresas prestadoras de serviços e especializadas
em promover a inovação, tem sido cada vez mais significativa. Assim, temos os escritórios de
Design, requisitados para elaboração de projetos com diferentes finalidades: criação e/ou
aperfeiçoamento de produtos, conceituação e elaboração de identidades visuais, marcas,
embalagens, entre outras, visando sempre proporcionar a seus clientes, um critério de destaque
frente a este concorrido mercado.
Esta importância da aplicação de Design em projetos de empresas de diversos segmentos é
enfatizada com o Programa Brasileiro do Design - PBD, criado em 1995 pelo Decreto de 09 de
novembro, qual se destina a promover o desenvolvimento do design no Brasil, dado o fato deste
país ter forte identidade criativa, apto a desenvolver a marca “Brasil” no competitivo mercado
internacional. O PBD resultou da aglutinação e articulação de subprogramas de abrangência geral e
específica, promovendo uma orientação estratégica única e caráter descentralizado, buscando
motivar os empresários e engajá-los no alvo principal, que é inserir o binômio design e inovação no
sistema produtivo (PBD, 2012).
O Design então é forte elemento de competitividade empresarial, em especial para os
segmentos pressionados pela concorrência internacional. É um diferencial estratégico visto que
possibilita a otimização no uso de matéria-prima, melhoria nas fases de projeto, produção e até
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mesmo no consumo, quando associada sua prática ao desenvolvimento de produtos, assegurando
melhores níveis de satisfação do cliente. Sendo assim, principalmente na atuação de escritórios de
Design Gráfico, é fundamental o conhecimento pleno de técnicas e processos desenvolvidos para se
atingir esses níveis de satisfação.
Neste sentido, a investigação desta pesquisa se dará partir deste problema, que discute como o
Design é gerenciado e desenvolvido dentro desses escritórios responsáveis por gerir produtos cada
vez mais inovadores que atendam as necessidades dos clientes.
2 OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo principal evidenciar a forma como é elaborado o Processo de
Design nos escritórios de Design Gráfico e especificamente, analisar como essa organização ou não
do processo influencia nos resultados, de forma que todo o processo executado seja fluente e que
todos os envolvidos, tanto interna quanto externamente, sejam beneficiados.
3 GESTÃO DO DESIGN
O Design é uma atividade que vem se desenvolvendo e com o passar dos anos, ganha cada
vez mais destaque no mercado. Fundamentando na visão de Damazio (2006) a atividade de design é
passível de muitas interpretações diferentes entre si, mas todas concordam que o Design pressupõe
uma atividade ligada a soluções de necessidades. e para Kotler (2003), o Design fornece um
conjunto de ferramentas e conceitos para o desenvolvimento de produtos e serviços de sucesso.
Segundo o SEBRAE/SP (2011) a atividade se divide tradicionalmente em áreas, de acordo
com sua atuação:
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Área Atividades
Design Gráfico
Identidade visual e corporativa, editorial, superfície e
estamparia, sinalização, tipografia, material promocional e de
divulgação.
Design Industrial
ou de Produto
Mobiliário, objetos de uso pessoal, utensílios domésticos e de
decoração, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, iluminação,
acessórios de construção civil, transportes, máquinas e ferramentas,
produtos médico-hospitalares, etc.
Design de
Interiores
Espaços, postos e estações de trabalho, chão de fábrica, pontos de
venda, vitrines, feiras e eventos, recepção e áreas de circulação.
Design de
Embalagem
Rótulos, cartonados e flexíveis - mais relacionados ao Design
gráfico; embalagens de consumo e de transporte (frascos, vidros,
containers, caixas e pallets) - mais ligadas ao Design de produto.
Design da
Informação
Apresentação, estatísticas, algarismo, códigos ou dados geográficos.
Web Designer Desenvolvimento para Websites, internet.
Design de Moda Joias, roupas, bolsas, calçados e acessórios.
Tabela 01: Áreas de atuação do Design
Fonte: Adaptado de Martins e Merino (2011) e SEBRAE/SP (2011).
Com o passar dos anos, além de o reconhecimento mais detalhado sobre o Design, as práticas
estão ficando mais detalhada, assim a introdução da Gestão do Design vem ganhando força em
diversas organizações mais abertas à inovação e reconhecedoras de que o Design não pode ser
trabalhado de maneira isolada. De acordo com Magalhães (2006), a gestão de design pode ser
incorporada à empresa como uma de suas áreas ou ainda pode ser contratada como serviço
terceirizado, e ele quando bem gerenciado se constitui numa fonte de vantagens competitivas, uma
eficaz metodologia para a inovação de produtos e processos e um fator de rentabilidade econômica
em qualquer setor. (DDI, 2005).
Esta Gestão do Design pode ser definida em uma organização como a proposição de valores
bem definidos que é a estratégia da corporação, seguida por claras definições de visão, missão,
objetivos, estratégias e planos de ação que unam a corporação e o negócio. (WALTON, 1998, p.4).
Segundo Martins & Merino (2011) Gestão do Design é um conjunto de técnicas de gestão
dirigido a maximizar, ao menor custo possível, a competitividade que a empresa obtém pela
incorporação e utilização do Design como instrumento de sua estratégia empresarial.
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Na definição do Sebrae/SP (2011) esse termo teve origem em meados da década de 1960 se
referindo a forma como projetos de Design deveriam ser gerenciados, acompanhados de
fluxogramas, diagramas e métodos sistemáticos, na relação entre um escritório de Design e seus
clientes. A partir de então, são introduzidos cada vez mais, critérios da área de Design como, por
exemplo: atenção aos detalhes, priorização pela qualidade e foco no usuário, ao campo da Gestão
(Administração).
Com essa mudança no pensamento corporativo, o Design deixou de ser um setor isolado e
passou a atuar de forma multidisciplinar na empresa, enfatizado em conectar a organização (e suas
estratégias) à geração de valor e inovação, fatores estes, que devem ser evidenciados ainda mais por
se tratar de escritórios de Design.
Segundo Phillips (2008), através da gestão de design, o designer participa na construção da
visão, estratégia e vantagens competitivas da corporação.
Percebendo o valor gerado pela aplicação e ação de conceitos de Design nas organizações, os
gestores implantam um processo que engloba este conceito desde o “pensamento inicial” da
empresa. Seragini (2006) reforça que "o Pensamento de Design é o novo modelo de gestão capaz de
enfrentar os desafios e a complexidade do mundo atual, não apenas no âmbito dos negócios como
também nos temas públicos, como a saúde, a habitação a educação e o lazer".
De acordo com Fascioni (2006) e Merino & Martins (2011) e Mozota (2011), a Gestão do
Design está dividia em três níveis que se relacionam diretamente. A divisão por níveis de atividades
busca facilitar o mecanismo no processo de implantação do Design nas empresas:
Níveis de Decisões Níveis de Criação de valor
Gestão Estratégica do Design Atuação do Design sobre o ambiente empresarial
ou função transformadora de Design.
Gestão Tática ou Comercial do Design Atuação sobre a empresa ou função coordenadora
de Design.
Gestão Operacional do Design Atuação sobre a oferta da organização ou função
diferenciadora do Design.
Tabela 02: Gestão do Design sobre os três níveis de especialidade
Fonte: Adaptado de Fascioni (2006) e Martins & Merino (2011) e Mozota (2011)
De modo geral e com base no que afirma Mozota (2011, p. 63- 64) “O design é um processo
que nunca termina, e sua gestão é essencial para o sucesso da política de inovação de uma
empresa”, assim, as empresas que hoje são líderes em seus mercados já identificam que a
organização do processo de Design é fundamental para mantê-las competitivas e conforme Best
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(2006, p.28) “o gestor de Design é responsável tanto pela coerência e consistência da mensagem de
Design na organização quanto por assegurar que ela esteja alinhada à sua estratégia de negócios”,
neste sentido o sucesso da empresa passa a estar intimamente relacionado à forma como organiza e
aplica o seu processo de Design.
Com a preocupação voltada à associação de conceitos de Design também na parte de Gestão
da empresa, os escritórios geralmente utilizam uma estrutura de trabalho, que serve como um guia
para a execução de projetos organizando-os em etapas.
Etapa Ação
01 Briefing do Cliente
02 Criação
03 Apresentação de propostas
04 Aprovação
05 Revisão Final
06 Finalização Eletrônica
07 Pré-produção
08 Produção
09 Produto / Serviço Final
Tabela 03: Exemplo de estrutura de trabalho utilizada em escritórios de Design
Fonte: Adaptado do Escritório MetaDesign, 2011.
Assim, levando em consideração que criação e desenvolvimento de novos produtos são de
competência do designer/escritórios de Design, evidencia-se que estes necessitam de uma atuação
mais abrangente e organizada interna e externamente, para tornar o processo ainda mais eficiente.
Segundo Brunner e Emery (2010), uma vez que a empresa esteja focada no Design, é preciso
que ela mantenha o compromisso de seu padrão de qualidade, pois o cliente torna-se mais exigente,
sendo assim, para que estes resultados obtidos pelos escritórios de Design sejam satisfatórios, é
fundamental ainda que o processo seja organizado com a aplicação de uma gestão mais específica e
relacionada ao processo administrativo da empresa, que envolva a organização dos projetos,
processos, etapas, tempo, ferramentas e/ou investimento necessário para a elaboração dos mesmos.
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4 GESTÃO DE PROJETOS
A Gestão de Projetos tem sido identificada cada vez mais nas organizações, como uma
ferramenta primordial para estruturar, organizar e aprimorar as práticas realizadas, bem como para
alinhar projetos a seus objetivos estratégicos. Como fonte principal, alguns autores que abordam o
assunto, fundamentam-se no guia de Gestão de Projetos (Project Management Body of Knowledge
– PMBOK) elaborado pelo Project Management Institute (PMI) órgão internacional que trata do
gerenciamento de projetos, criado na Filadélfia, Estados Unidos em 1969 e que define projeto como
sendo “um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo”
(PMBOK, 2013, p.5). Este instituto considera que os projetos podem causar impactos sociais,
econômico e ambientais com duração bem maior que o projeto em si.
Nesta visão, gerenciar projetos é aplicar conhecimentos, habilidades, ferramentas e técnicas às
atividades do projeto, a fim de gerar resultados positivos e alcançar objetivos, ou seja, trazendo para
o ambiente dos escritórios de Design Gráfico, a satisfação do cliente. Assim, para analisar como
essa Gestão de Projetos associada a Gestão do Design pode gerar resultados positivos ou não, o
PMBOK identifica e descreve os princípios e práticas mais aplicadas e aceitas na maioria dos
projetos fundamentando-as em 5 grupos de processos e 9 áreas de conhecimento primordiais na
gestão de Projeto.
Processo de Iniciação: Definição do projeto, identificação das necessidades;
Processo de Planejamento: Definição e detalhamento do objetivo do Projeto;
Desenvolvimento de planos auxiliares como plano de qualidade, comunicação, riscos,
suprimentos e recursos humanos;
Processo de Execução: Integração de pessoas e outros recursos para executar o
projeto;
Processo de Controle: Avaliação e Controle do andamento do projeto;
Processo de Encerramento: Formaliza a aceitação do projeto, serviço ou resultado.
Quanto às áreas de conhecimento temos:
Gerenciamento do Escopo do Projeto: Permite que o projeto inclua todas as
atividades necessárias para a obtenção dos resultados esperados;
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Gerenciamento do Tempo do Projeto: Assegura que o projeto seja concluído no
prazo previsto;
Gerenciamento do Custo do Projeto: Possibilita que o projeto seja concluído dentro
do orçamento aprovado;
Gerenciamento da Qualidade do Projeto: Controla o projeto para manter níveis de
qualidade fundamentais para satisfazer as necessidades para as quais ele foi criado;
Gerenciamento dos Recursos Humanos do Projeto: Organiza que todos os recursos
humanos envolvidos no projeto, estão alocados de forma correta e eficaz.
Gerenciamento de Comunicação do Projeto: Gerencia a questão de coleta,
divulgação, armazenamento e distribuição das informações do projeto para todos os
envolvidos.
Gerenciamento dos Riscos do Projeto: Analisa os riscos relacionados ao
desenvolvimento do projeto;
Gerenciamento de Aquisições do Projeto: Processos necessários para a aquisição de
produtos e serviços a fim de cumprir o escopo do projeto;
Gerenciamento da Integração do Projeto: Analisa que vários aspectos do projeto
estejam coordenados.
Com base nestes conceitos, então, realizando-se a pesquisa buscar-se-á evidenciar nos
escritórios de Design Gráfico, de que forma estes são desenvolvidos na rotina de trabalho, e de que
forma na presença ou ausência destes, o resultado do projeto é influenciado.
5 METODOLOGIA
Este estudo trata-se primeiramente de uma pesquisa exploratória e descritiva. Para Gil (2010)
a finalidade da pesquisa exploratória é oferecer um panorama global sobre determinado tema pouco
explorado, assim, esta foi elaborada através de procedimentos técnicos como pesquisa bibliográfica
e de campo (entrevistas e questionário). Segundo Marconi e Lakatos (2010), a pesquisa
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bibliográfica proporciona a análise de um assunto através de um novo olhar e não a simples
reprodução de algo falado ou registrado sobre este tema. Quanto à natureza, está classificada sendo
do tipo básica, de acordo com Gil (2010) pois, prevê a análise e conceituação dos procedimentos
“reunindo estudos com propósito de preencher uma lacuna no conhecimento” e não aborda neste
primeiro momento, a aplicação destes conceitos reformulados para possíveis experimentos e testes.
Quanto à forma de abordagem será predominantemente qualitativa com alguns dados
analisados quantitativamente, que visam ao fim da pesquisa, identificar e analisar a forma como são
gerenciados os projetos em escritórios de Design. Segundo Vieira (2008), a pesquisa quantitativa
busca classificar, ordenar ou medir as variáveis, enquanto a pesquisa qualitativa procura levantar as
opiniões, o significado das coisas nas palavras dos participantes da pesquisa.
Em função do tempo de aplicação desta pesquisa, considera-se como transversal simples,
onde foi retirada uma amostra de entrevistados da população para obtenção das informações uma
única vez (MALHOTRA, 2006). Estas entrevistas e a aplicação dos questionários foram realizadas
em escritórios de Design Gráfico da microrregião de Itajaí-SC. O levantamento realizado apontou
um total de 10 escritórios com atividade reconhecida que possibilitariam a obtenção de dados. Após
análise do perfil destes escritórios, atendimentos que realizam, ramo de atuação e quantidade de
funcionários, foi realizado contato telefônico onde foram verificadas mais algumas informações
principais a respeito da empresa e após, agendamento e visita na sede evidenciando a rotina de
trabalho e a forma como gerenciam os trabalhos, aplicando-se também o questionário para coleta de
dados. Dos 10 escritórios contatados, em 05 obteve-se retorno do questionário, qual foi
encaminhado via e-mail após a entrevista inicial realizada no escritório para registro das
informações. Este procedimento permite que a empresa preencha o questionário com maior
tranquilidade, incluindo mais detalhes e informações que ainda julgar necessário. Para esta coleta de
dados primários, utilizou-se de um questionário elaborado com um total de 10 questões baseadas
nos principais conceitos do guia PMBOK, visando identificar nos escritórios os procedimentos
relacionados à aspectos da gestão de projetos contando com perguntas abertas, permitindo ao
informante responder livremente, usando linguagem própria e emitir opiniões (MARCONI e
LAKATOS, 2010). Após um pré-teste do questionário e algumas alterações realizadas, o
questionário ficou com a estrutura relacionando os conceitos abordados e em qual questão foi
aplicado, conforme pode ser evidenciado a seguir:
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Conceitos abordados Questão
Escopo / Tempo 1) É feita uma previsão do tempo necessário para a conclusão
de um trabalho e esta costuma ser cumprida?
Escopo / Tempo / Riscos
2) O tempo disponível para elaboração do projeto influência
diretamente na qualidade do mesmo? Já ocorreu de recusarem
algum projeto por indisponibilidade de tempo?
3) Costuma-se definir o resultado a ser alcançado ao término
do projeto já no início das atividades?
Escopo / Tempo /
Qualidade / Custo
4) Na elaboração dos projetos já se pensa uma aplicação dos
resultados de forma contínua?
Tempo / Qualidade 5) Todos os projetos são totalmente repensados, sem a
utilização de qualquer Padrão (Templates)?
Escopo / Comunicação 6) Há alguma metodologia que organize as etapas dentro do
Processo de Design executado no escritório?
Recursos Humanos
7) No processo de seleção para contratação de funcionários,
dentro os principais itens considerados, há por exemplo,
exigência de curso de nível superior?
8) Há políticas visando a valorização dos funcionários?
Aquisições
9) Existe algum planejamento de compra ou atualização dos
recursos físicos necessários para o desenvolvimento dos
projetos?
Integração 10) O Planejamento de um projeto é realizado com
participação de toda a equipe?
Tabela 04: Questionário aplicado nos escritórios de Design
Fonte: Desenvolvido pelos autores
Após obtenção dos resultados na aplicação destes questionários, algumas análises podem ser
realizadas, conforme consta no capítulo seguinte.
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6 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Inicialmente, para analisar os resultados da melhor forma, buscou-se identificar os perfis
destes escritórios onde se realizou a entrevista e efetivamente aplicaram-se os questionários,
organizando-os em ordem numérica para preservar a identidade dos mesmos, como pode ser
conferido a seguir:
Escritório Perfil
1
Com menos de 4 anos de atuação no mercado possui equipe de apenas 3
sócios. Trabalha com projetos gráficos e web e concentra principalmente
suas atividades na elaboração de identidades visuais.
2
Formado por 2 sócios, atua exclusivamente na área gráfica e integra
profissionais específicos à equipe de acordo com a necessidade do
projeto.
3
Composto atualmente por 1 proprietário e 1 Designer Gráfica, que atua no
mercado desenvolvendo projetos de identidade corporativa, editoriais e
promocionais para empresas dos mais diversos setores e está no mercado
há mais de 5 anos.
4
Líder de mercado no segmento, possui uma estrutura completa em
equipamentos e equipe multidisciplinar (Designer, Administrador,
Publicitário).
5
Desde 1999, atua na área de Design Gráfico, com criação de logotipo,
layout de materiais promocionais (folders, placas, fachadas), papelaria
(papel carta, cartões de visita, pastas, etc.), websites, com ênfase na
identidade visual. É formada por uma equipe enxuta.
Tabela 05: Perfil das agências
Fonte: Desenvolvido pelos autores
Considerando então o perfil de cada escritório, na aplicação da entrevista buscou-se
evidenciar questões envolvendo a gestão de projetos para organização no desenvolvimento das
atividades de cada escritório. Por se tratar de um questionário com questões abertas, para auxiliar
em uma visualização inicial, estas respostas foram tabuladas de acordo com o teor, identificando-se
como “negativa” as respostas contrárias à questão, e “positiva” as respostas que atendiam ao
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solicitado na questão. Estes resultados servirão de base para uma posterior análise qualitativa das
mesmas.
Resultados dos questionários e entrevistas
Questões Escritório 1 Escritório 2 Escritório 3 Escritório 4 Escritório 5
1 Negativa Positiva Positiva Positiva Negativa
2 Positiva Positiva Positiva Negativa Positiva
3 Positiva Negativa Positiva Negativa Positiva
4 Negativa Positiva Positiva Positiva Positiva
5 Positiva Positiva Positiva Positiva Positiva
6 Positiva Positiva Negativa Positiva Positiva
7 Negativa Positiva Negativa Negativa Positiva
8 Positiva Positiva Negativa Positiva Negativa
9 Negativa Negativa Negativa Positiva Negativa
10 Positiva Positiva Positiva Positiva Positiva
Tabela 06: Resultados dos questionários e entrevistas.
Fonte: Desenvolvido pelos autores
De modo geral, o fundamento mais importante no ramo do Design e também primordial na
Gestão de Projetos é atendido em todos os escritórios, ou seja, todos eles atuam com a elaboração
de resultados únicos e exclusivos evidenciados no resultado unânime da questão 5. Como visto
anteriormente, de acordo com PMBOK (2013), “projeto é um empreendimento único que deve ser
claramente definido seu início e fim e que conduzido por pessoas possa atingir seus objetivos,
respeitando o prazo, custo e qualidade” e no contexto da inovação, analisa-se que todos os
escritórios atuam com o desenvolvimento de trabalhos visando à diferenciação que segundo Oda
(2011), em relação aos concorrentes se dá pela utilização de estratégias que sejam difíceis de serem
imitadas.
Ainda nesta análise de acordo com o PMBOK (2013), temos na relação prazo, custo e
qualidade que a maioria dos escritórios cumpre os prazos acordados junto aos clientes (questão 1), e
que o tempo influencia diretamente na qualidade do trabalho entregue (questão 2), ou seja, quanto
maior for o tempo disponível para elaboração do projeto, melhor será o resultado obtido, porém o
custo também será reajustado em função da maior quantidade de horas trabalhadas, enfim, quanto
mais prazo, mais qualidade e maior custo.
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Outra associação importante de ser realizada nos resultados obtidos é que, mesmo que os
escritórios não se identifiquem fundamentalmente como adeptos da Gestão de Projetos, os trabalhos
elaborados possuem uma organização, caracterizada em alguns por uma metodologia de Projeto e
em outros por um roteiro de etapas para a conclusão do projeto. Neste contexto esta gestão vem
contribuir com o design permitindo-lhe aplicar ferramentas de decisões, diagnósticos, articulação e
coordenação para a eficácia dos projetos, inclusive de diversos projetos inter-relacionados
(MARTINS e MERINO, 2011).
Em relação principalmente a questão 4, a maioria dos escritórios entrevistados identifica
qualquer projeto como algo contínuo, parte de um processo mais complexo que inicia, por exemplo,
com a criação de uma peça gráfica específica, e depois se desdobra para a criação de um logotipo da
empresa ou até mesmo, toda a identidade visual.
Nesta visão, a forma como é conduzida o projeto seria muito interessante, pois se tem o
planejamento, execução, conclusão bem definidos e ainda a proposta de novos projetos que podem
agregar mais valor para o cliente. Porém um ponto preocupante na análise seria a questão
relacionada à qualidade de vida do profissional destes escritórios bem como a profissionalização
destes serviços, uma vez que se identifica na maioria dos escritórios, que não é necessário
possuírem um curso de nível superior, ou seja, formação específica na área para atuar com Design.
Uma dificuldade do mercado até, como evidenciado por Fascioni (2008), em todo o estado de Santa
Catarina existem 28 cursos de Design, e destes 14 possuem disciplinas de Gestão de Design. Com
certeza o conhecimento obtido ao longo dos anos auxilia muito na qualidade com que são
confeccionados os materiais por um profissional, porém, a integração de profissionais não
graduados com especialistas na área é um caso para uma análise mais específica e que pode gerar
alguns conflitos analisando-se o ambiente organizacional.
Na abordagem geral dos escritórios, outro critério de instabilidade na prestação de serviços e
que influi diretamente no prazo, é a falta de planejamento de aquisições, atualização de
equipamentos, que poderia evitar muitas “surpresas” no meio de um projeto, que acabam
prolongando o prazo para entrega.
Por fim, em uma análise individualizada dos escritórios, percebe-se que o tempo de mercado,
influencia diretamente nos aspectos de organização do trabalho, planejamento e desenvolvimento
dos projetos. Ao longo da atuação, estes identificam que a organização dos processos e visualização
de resultados é fundamental para uma melhor gerência do processo e consequentemente, maior
diferencial frente ao mercado, sendo percebida pelos clientes. A gestão de design embasa-se em
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projetos e em qualidade, visando contribuir para a mudança do comportamento e da visão
corporativa (MOZOTA, 2011, p. 91).
7 CONCLUSÕES
Nesta fase conclusiva, apresenta-se uma síntese dos resultados da pesquisa como um resultado
satisfatório principalmente em função de todas as dificuldades encontradas com confidencialidade
de informações e dados, indisponibilidade de horários, entre outros.
Quanto à relação de Gestão do Design e Gestão de Projetos, identificou-se como uma prática
fundamental para a organização dos escritórios, uma vez que estrutura toda a questão de prazo,
qualidade, custo, entre outros, que influenciam diretamente no resultado do projeto, precisam ser
detalhados e necessitam de atenção especial. Através das análises foi possível perceber que os
escritórios que não possuem uma organização de seu trabalho, possuem certas dificuldades que
influenciam diretamente nos resultados obtidos, na elaboração de orçamentos e comprometem de
certa forma, os serviços prestados pelos mesmos.
Pretende-se ainda, ampliar esta análise desdobrando o tema de forma mais abrangente e
aprofundada em dados mais específicos e detalhados.
A prática de Design vem sendo cada vez mais reconhecida no cenário nacional e acredita-se
que com pesquisas aplicadas principalmente na área da gestão, o ramo só tende a crescer e se tornar
um setor ainda mais representativo, valorizado e importante na economia.
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