gerenciamento da rotina no setor de papel e celulose: um estudo de caso...
TRANSCRIPT
GERENCIAMENTO DA ROTINA NO
SETOR DE PAPEL E CELULOSE: UM
ESTUDO DE CASO EM UMA
AGROINDÚSTRIA SITUADA NO MATO
GROSSO DO SUL
Matheus Vink Abreu (UFV)
Juliana Brenda Teles Palma (UFV)
Maria Gabriela Mendonca Peixoto (UFV)
O mercado mundial tem se tornado cada vez mais competitivo, fazendo
com que as empresas busquem ferramentas e métodos de
sobrevivência. Uma das abordagens utilizadas para garantir a
competitividade das organizações é o gerenciamento da qualidade,
cuja implantação pode ser considerada fator decisivo de diferenciação
frente aos concorrentes. Neste contexto, surgem as atuais abordagens
de gestão da qualidade, as quais discutem a importância da visão
sistêmica e a participação dos funcionários dentro das organizações.
Dessa forma, este estudo teve como objetivo realizar um estudo de
caso, com o intuito de observar e analisar a implementação do
gerenciamento da rotina em uma empresa do setor de papel e celulose.
Dentre os resultados obtidos, pode-se evidenciar que a empresa Alfa
utiliza-se do gerenciamento da rotina, juntamente com as cartas de
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
2
controle estatístico, de forma customizada. A empresa apoia-se na
visão sistêmica, controlando e identificando os microprocessos
prioritários por meio de indicadores de desempenho, além de alinhá-
los com o gerenciamento da rotina em prol da resolução de possíveis
problemas. Observou-se também a importância dos funcionários para
a organização, os quais podem relatar problemas no âmbito do
processo produtivo e, buscando-se contribuir para com a solução de
erros e falhas, propôs-se a utilização da metodologia CEDAC, e de
treinamentos aos funcionários, buscando-se melhorar e aperfeiçoar o
sistema de gerenciamento da qualidade total na empresa Alfa.
Palavras-chave: Gerenciamento da rotina; gestão da qualidade total;
papel e celulose; agroindústria.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
3
1. Introdução
A gestão da qualidade vem sendo estudada e modificada no decorrer dos anos, de forma que
observa-se uma preocupação em estruturar a qualidade de forma sistêmica, garantindo-a em
todos os processos e microprocessos (CORDEIRO, 2004). Ao pesquisar os problemas atuais,
percebe-se que os mesmos não podem ser entendidos de forma isolada, pois trata-se de
problemas sistêmicos, que estão interligados e são interdependentes (ANDRADE, 2006).
Entretanto, Milan (2009), relata que as empresas ainda mantêm um foco no gerenciamento
tradicional, buscando apenas resultados, não importando-se quanto a aspectos de melhoria
contínua e sistêmica da organização. De acordo com o autor, as tomadas de decisão são feitas
pelo nível estratégico, e repassadas para o nível operacional, onde os mesmos somente
executam as decisões, não tendo a oportunidade de dar orientações referentes ao processo ou
produto existindo, portanto, uma limitação por parte desses funcionários, os quais não se
sentem valorizados e motivados pela organização.
Neste cenário, visto que o ramo de papel e celulose é de suma importância para a economia
do país, as empresas desse segmento precisam trabalhar visando o aprimoramento das práticas
e cultura de gestão, tendo em mente que aspectos organizacionais devem ser implantados
visando obter o sucesso no mercado atual. Assim, a utilização das novas abordagens
gerenciais da qualidade têm se tornado uma obrigatoriedade para as empresas inseridas nesse
setor, com o intuito de se obter uma certificação e uma padronização, visando à
competitividade (AVÓ; ALTMANN, 2009).
Este artigo tem como objetivo realizar uma análise em uma empresa multinacional do setor de
papel e celulose, sob a perspectiva do processo de implantação das novas abordagens
gerenciais da qualidade, com ênfase no gerenciamento da rotina. Para tanto, procurou-se
contextualizar o setor de papel e celulose, e realizar o mapeamento do processo de produção
da empresa estudada; identificar os aspectos decisivos que levaram à implementação de
ferramentas de qualidade, e do gerenciamento da rotina, apontando as dificuldades e barreiras
enfrentadas; e analisar a utilização do gerenciamento da rotina no setor, propondo melhorias
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
4
para o mesmo.
Este trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: na primeira seção tem-se a
introdução; a segunda apresenta a contextualização do setor de papel e celulose; a terceira traz
o referencial teórico sobre a gestão da qualidade; a quarta aborda a teoria sobre gerenciamento
da rotina; a quarta apresenta o método que foi adotado, e faz uma breve apresentação do
estudo; a quinta expõe os pontos que foram observados na empresa estudada; a sexta
apresenta os resultados e as propostas de melhoria e, na sétima, são apresentadas a conclusões
do estudo. A seção oito finaliza o artigo apresentando a bibliografia utilizada.
2. Contextualização do setor de papel e celulose
A agroindústria é de grande importância para a economia brasileira, representado parte do
território nacional utilizado para plantação agrícola e criação de bovinos. Neste sentido, o
setor de papel e celulose vem se desenvolvendo no Brasil desde 1950, onde se produzia
apenas celulose de fibra longa. Naquela época a produção era pequena, pois a matéria prima
(Araucária Angustifólia) só era encontrada em quantidades relevantes em lugares distantes
das indústrias de celulose (VALVERDE; SOARES; SILVA, 2006).
Ainda nos anos 50, com o avanço da tecnologia e pesquisa por uma nova matéria prima,
surgiu a celulose de fibra curta. A Cia Suzano foi a primeira empresa no mundo a fabricar
celulose 100% a base de eucalipto, mesmo que em fase experimental. A partir desta
descoberta, outras empresas passaram a fabricar exclusivamente celulose de fibra curta e
exportá-la, alavancando o Brasil no ranking da exportação (HILBERG; BACHA, 2001).
Nos primeiros oito meses de 2014, foram exportados 6,9 milhões de toneladas de celulose,
enquanto no mercado interno foram vendidas 1,2 milhão de toneladas. Ademais, atualmente
existem no Brasil 240 empresas em 540 municípios que pagam, no total, R$3,5 bilhões em
impostos, e geram 128 mil empregos diretos e 640 mil empregos indiretos (BRACELPA,
2014).
O setor de papel e celulose vem crescendo no cenário brasileiro, principalmente com o
incentivo governamental, e com o surgimento de novas linhas de crédito, acarretando no
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
5
desenvolvimento de um mercado cada vez mais competitivo. Para manter na concorrência, as
empresas precisam investir cada vez mais em tecnologia e na gestão da qualidade, buscando
alinhar ferramentas ao seu planejamento estratégico (AVÓ; ALTMANN, 2009).
3. Gestão da qualidade total no setor de papel e celulose
A qualidade faz-se ciência importante desde o feudalismo, onde a preocupação era apenas
encontrar produtos defeituosos, até os dias atuais, sendo a qualidade tratada como diferencial
estratégico para sobrevivência das organizações (LONGO, 2006). A competição entre as
empresas, o início da flexibilização da produção, a ocorrência da fragmentação dos mercados,
a incorporação de elementos comportamentais, e novas práticas gerencias, acarretaram e
mostraram a importância da implantação de uma gestão da qualidade total nas organizações.
(WOOD Jr, 1995).
Para Campos (1992), a gestão da qualidade total é uma visão estratégica que, aliada a uma
abordagem humanista, identifica as necessidades dos clientes (empregados, acionistas,
sociedade), e estabelece padrões com o intuito de atender suas necessidades. Segundo
Carpinetti (2012), a gestão da qualidade total é uma estratégia que tem, por finalidade, elevar
ao máximo a competitividade das empresas. Assim, busca as bases onde à qualidade é
elaborada, tratando-se de um processo circular em prol de aprimorar produtos, processos, e
serviços.
O principal objetivo do gerenciamento da qualidade é assegurar que as metas estabelecidas no
planejamento estratégico sejam concluídas, garantindo as necessidades e expectativas dos
clientes e, por consequência, a competitividade e sobrevivência da organização
(CARPINETTI, 2012).
Neste sentido, as empresas do setor de papel e celulose precisam assegurar a qualidade, e
controle de seus processos e matérias primas. Ao longo da produção existem laboratórios que
caracterizam as matérias primas, controlam os processos, e auxiliam na tomada de decisão.
Estes são utilizadas a fim de garantir que os laboratórios gerem dados metrologicamente
confiáveis (D’ALMEIDA; ZOUAIN, 2010).
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
6
Entretanto, de acordo com Avó e Altmann (2009), além de controlar o processo por meio de
laboratórios, o setor de papel e celulose encontra-se em um processo de elevação no nível da
gestão da qualidade, onde as empresas baseiam-se em critérios, dados claros, conceitos, e
técnicas para alcançar as decisões estabelecidas pela cúpula estratégica.
4. Gerenciamento da rotina na agroindústria
Segundo Galgano (1993), o gerenciamento da rotina é um processo que pode ser aplicado em
qualquer parte de uma estrutura organizacional, por meio de um controle sistêmico e de uma
melhoria contínua de cada microprocesso, permitindo a solução de problemas enfrentados
diariamente, e a diminuição das responsabilidades de supervisores e gerentes.
Para tanto, esta abordagem de gestão da qualidade deve ser aplicada considerando-se quatros
etapas, isto é, orientação para o microprocesso, para o cliente, para o controle do
microprocesso, e para a melhoria. A orientação para o microprocesso visa identificar os
microprocessos da organização, e selecionar os mais importantes, para que possam ser
analisados e caracterizados. Após a assimilação dos microprocessos prioritários, deve-se
aplicar a orientação para o cliente, com o intuito de identificar os clientes do mesmo,
mensurando suas características, expectativas, necessidades, e exigências. Com esse
levantamento, estabelece-se um indicador de desempenho para monitorar, e avaliar as
características mensuráveis preestabelecidas (BOUER, 2012).
Posteriormente é aplicada a orientação de controle do microprocesso, onde são estabelecidos
objetivos e limites para os indicadores de qualidade, métodos, frequência, bem como quem irá
desenvolver e implementar tais controles de qualidade. Em seguida, aplica-se a orientação
para a melhoria, por meio da qual verificam-se os efeitos e analisam-se as causas indesejáveis
de cada uma das etapas do microprocesso. Por fim, propõem-se melhorias, definindo a forma
mais adequada de execução destas ações, gerenciando os resultados e prováveis correções que
venham a ser necessárias (BOUER, 2012).
No gerenciamento da rotina, as responsabilidades são atribuídas a todos os níveis e funções
das organizações, com o objetivo de comprimento de metas e resultados. Essa nova
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
7
abordagem da gestão da qualidade facilita o desenvolvimento dentro da empresa, onde será
centrada a responsabilidade de cada pessoa dentro da organização, na padronização e
monitoração dos resultados, comparação com as metas, na ação corretiva, e na busca contínua
pela perfeição (CAMPOS, 2013). Portanto, o gerenciamento da rotina trata de um sistema de
gestão de desempenho, onde são consultados indicadores para a tomada de decisão e ação
gerencial, influenciando a conduta dos colaboradores (WAAL, 2003).
De acordo com Pasche e Ferreira (2010), em estudo realizado com 15 agroindústrias no
município de Marau – RS, as ferramentas da qualidade que mais são utilizadas envolvem o
controle estatístico de processo (CEP), folha para coleta de dados, gerenciamento da rotina, e
matriz de prioridades e círculos de controle da qualidade. Ainda de acordo com os autores, as
empresas encontram-se em processo de evolução, deixando de se enquadrar nas eras da
inspeção e do controle estatístico do processo, passando para um controle e uma gestão da
qualidade no setor da agroindústria.
5. Procedimento metodológicos
A gestão da qualidade no setor de papel e celulose pode ser considerada um campo da
pesquisa científica em crescimento. Assim, a presente pesquisa possui caráter exploratório,
que conforme Gil (2008), pode ser entendida como a familiarização de um assunto pouco
conhecido ou pouco estudado, a fim de conhecê-lo melhor. Apoiou-se também na abordagem
de pesquisa qualitativa, por meio da qual obteve-se dados, contato direto com a condição
estudada, procurando compreender a situação de estudo (GODOY, 1995). O método de
pesquisa é o estudo de caso que, segundo Yin (2005), trata-se de uma investigação, onde
existe um planejamento, técnica de coleta de dados e a utilização dos mesmos.
Para tanto, o objeto de estudo refere-se a uma multinacional do setor de papel e celulose,
situada no estado de Mato Grosso do Sul, cujas operações iniciaram-se ao final do ano de
2012, sendo uma das mais modernas e competitivas empresas de celulose do mundo. A
empresa utiliza-se do gerenciamento da rotina, tomando como base para a realização deste
programa de gestão da qualidade, o livro “Gerenciamento da rotina do trabalho do dia a dia”,
do Campos (2013), atualmente em implantação dentro da organização. Além disso,
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
8
buscando-se manter anônima a empresa estudada, esta será mencionada, ao longo do trabalho,
como empresa Alfa.
Como técnica de coleta de dados utilizou-se de um questionário aberto, o qual foi aplicado
junto ao gerente de controle técnico durante uma entrevista realizada na sede da empresa.
Dessa forma, buscou-se aprofundar acerca de quais ferramentas de gestão da qualidade a
empresa utiliza-se, dando um enfoque à implementação do gerenciamento da rotina. A
entrevista foi utilizada, pois segundo Cury (2006), existe uma facilidade para a obtenção de
informações de todos os níveis da empresa.
A escolha do gerente do controle técnico para a entrevista ocorreu pelo fato do mesmo fazer
parte da coordenação no processo de implantação de gerenciamento da qualidade total na
empresa. Mesmo com toda atenção e disponibilidade do gerente técnico decidiu-se
entrevistar, via videoconferência, um funcionário que não faz parte da implementação, para
verificar a sua percepção do gerenciamento da rotina, e entender como o mesmo funciona na
empresa.
6. Resultados e discussão
Diante do material coletado na visita e entrevista, foi possível diagnosticar o mapeamento do
processo produtivo, e os fatores decisivos que levaram à implementação do gerenciamento da
rotina, dentro da empresa Alfa. O mapeamento encontra-se ilustrado conforme a Figura 1,
onde o processo produtivo começa na madeira, passa pelo manuseio da mesma, cozimento,
branqueamento, secagem e termina com a celulose extraída. Os outros pontos descritos na
figura, como evaporação e planta de oxigênio, tratam os compostos químicos para serem
descartados ou reutilizados.
Figura 1 – Mapeamento do processo produtivo da empresa Alfa
Fonte: Fornecida pela empresa Alfa (2014)
Em entrevista com o gerente técnico foi relatado que a empresa Alfa faz uso de ferramentas da
qualidade de forma customizada, como o caso das cartas de controle, adequando-as à
realidade da empresa. Isso acontece em função de o processo produtivo do setor de papel e
celulose sofrer variações constantes de novos modelos, tecnologias e influências do mercado,
impossibilitando o uso de ferramentas de maneira idêntica à abordagem teórica (AVÓ;
ALTMANN, 2009). Ainda foi relatado pelo gerente que essa customização facilita a
aplicação do gerenciamento da rotina na empresa Alfa, pois auxilia no uso das ferramentas, e
torna o trabalho mais eficiente na detecção de falhas. Essa abordagem foi escolhida porque,
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
10
segundo o entrevistado, “é uma metodologia simples, lógica, e de aplicação direta em todos os
níveis da empresa, facilitando a comunicação, a relação líder–liderado, a valorização do
conhecimento, e a aplicação do método SDCA (Standard, Do, Check, Action) – PDCA (Plan,
Do, Check, Action)”.
Durante a videoconferência foi relatado pelo funcionário que existe uma boa comunicação
entre os mesmos, independente do nível hierárquico, facilitando o trabalho. Diante disso,
percebe-se que os funcionários têm autonomia para relatar possíveis anomalias no processo
produtivo. Os trabalhadores ainda evidenciam a importância de se ter um sistema cliente-
fornecedor dentro da empresa Alfa e, portanto, conhecem por qual posto de trabalho o produto
está chegando, e para onde ele irá. Assim, este fator torna-se fundamental para a qualidade do
processo, visto que os trabalhadores detectam se o mesmo está funcionando de maneira
correta e eficiente.
Na organização existe uma visão sistêmica, sabendo que um processo, por mais simples que
seja, faz-se dependente entre si. Tal fato foi constatado no modo como a empresa realiza suas
metas anuais, baseando-se no livro de Campos (2013), sendo que os processos com problemas
são corrigidos seguindo a sistemática apresentada na Figura 2. Nesta observa-se que, ao
identificar o problema, aplica-se uma ação corretiva para solucionar a anomalia em questão.
Posteriormente, é feita uma revisão dos problemas crônicos, destacando-se os prioritários.
A partir desse levantamento, são determinadas as metas anuais, onde se utiliza a ferramenta
PDCA para corrigir e solucionar os problemas prioritários. Por fim, aplica-se o SDCA para
manter a padronização dos resultados, garantindo assim um processo eficiente e um produto
dentro das especificações técnicas.
Figura 2 - Diretrizes anuais do gerenciamento da rotina
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
11
Fonte: Campos (2013)
Para tanto, a organização busca a raiz do problema, tornando visível que pequenos fatores
podem influenciar em todo o processo. Assim, a empresa Alfa consegue desdobrar o processo,
a fim de encontrar a causa principal do problema, A figura 3 demonstra que o setor
operacional relata a anomalia, remove os sintomas, e decide se aplica, ou não, os
procedimentos padrões para sua remoção. Caso positivo, torna-se necessário analisar e atuar
sobre a causa fundamental, além de emitir relatório sobre o problema. Caso os procedimentos
não se apliquem, deve-se analisar o “por quê?”, emitindo também um relatório.
Posteriormente, gerentes e supervisores devem revisar os relatórios, diariamente, de forma
que a engenharia de processo, e a função gerencial, poderão determinar as anomalias mais
frequentes, buscando-se corrigir sua causa fundamental e, se necessário, estabelecer um novo
padrão operacional. Por fim, essas informações são repassadas ao setor operacional que deve
avaliar, caso haja, a operacionalização do novo padrão.
Figura 3 - Sistemática do gerenciamento dos problemas
Fonte: Fornecida pela empresa Alfa (2014)
Outro ponto importante no gerenciamento da rotina refere-se à identificação dos
microprocessos prioritários (BAUER, 2012). Fisher (2002) descreve que uma das etapas da
padronização envolve os processos de seleção dos itens de verificação, e de controle. Por ter
um controle estatístico de processos, utilizando-se das cartas de controle, a empresa Alfa
possui os microprocessos definidos, visto que a mesma precisa de uma padronização do
processo produtivo.
Assim, fica claro que a empresa Alfa utiliza-se de indicadores de desempenho, sendo os
mesmos essenciais para verificar prováveis erros, e problemas no processo produtivo
(CARPINETTI, 2012). Pela análise desses indicadores, torna-se possível a criação de um
plano de ação para a utilização do gerenciamento da rotina, identificando os microprocessos
prioritários, e dando a devida atenção aos mesmos. Além disso, cabe destacar que um ponto
importante é que os operadores possuem um conhecimento de sua área de atuação, podendo
relatar possíveis erros, perdas de produção, e anomalias no próprio sistema da empresa Alfa.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
13
Esta busca valorizar os funcionários, não precisando que estes, necessariamente, relatem
todos os problemas para seus superiores.
Por outro lado, vê-se necessária à implementação de um painel, onde além dos empregados
relatarem os possíveis problemas, possam também identificar prováveis soluções, sem
precisar relatar os mesmo para gerentes e supervisores. Para tal, propõem-se a utilização do
método CEDAC (Cause Effect Diagram with Addition of Cards), pois, segundo BOUER
(2012), o mesmo aborda uma maior participação de equipes de trabalho, da gestão à vista, e
das ferramentas para solução de problemas, como por exemplo, o ciclo PDCA. O CEDAC é
um quadro que fica exposto no departamento, permitindo monitorar continuamente a
evolução dos projetos e das melhorias (Figura 4).
Figura 4 - Diagrama CEDAC
Fonte: Bouer (2012)
Nesta mesma linha de raciocínio, propõe-se a criação desse quadro no próprio sistema da
empresa Alfa, visto que os funcionários já têm acesso a este. Assim, o trabalhador terá mais
liberdade para expor suas ideias e sugestões acerca de qualquer atividade relacionada à
empresa, não se sentindo coibido a se expressar dentro da organização. Os gestores devem,
dessa forma, se empenhar em mostrar a importância desse meio de comunicação interno e
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
14
relatar os funcionários os resultados que a empresa Alfa obteve utilizando essa metodologia.
Apesar de os funcionários possuírem um conhecimento profundo de sua área, nota-se que os
mesmos não possuem um conhecimento da empresa Alfa, e do processo produtivo, como um
todo. Fica evidente que a falta dessa informação pode atrapalhar no âmbito da visão sistêmica
da empresa, podendo refletir em problemas e falhas dentro da organização. Assim vê-se
necessária a utilização do gerenciamento das diretrizes, que segundo Bouer (2005), tem o
intuito de alinhar a organização de acordo com sua estratégia, onde os funcionários poderão
ter o conhecimento dos objetivos, crenças e visão da empresa, se sentindo valorizados dentro
de seu departamento, e da organização, em geral.
Tendo em vista que o gerenciamento da rotina pode ser entendido como um método de gestão
que busca a eficiência organizacional, através da obediência aos padrões da empresa, evitando
alterações ou mudanças que possam influenciar os níveis de qualidade estabelecidos
(MARSHALL JÚNIOR; CIERCO, 2006), faz importante que a empresa invista em
treinamento e na educação de seus colaboradores.
Assim, propõe-se um treinamento dos funcionários, no momento de seu processo de
contratação, buscando-se, no primeiro momento, explicitar a estrutura organizacional da
empresa Alfa alinhada com seus objetivos, missão e visão. Por fim, é proposto uma visita
pelos departamentos da fábrica, onde será possível conhecer o processo produtivo como um
todo, não limitando o funcionário apenas a seu setor.
7. Conclusões
O objetivo deste estudo envolveu a utilização das novas abordagens de gestão da qualidade,
principalmente o gerenciamento da rotina, em uma empresa do setor de papel e celulose.
Assim, pôde-se constatar a utilização do gerenciamento da rotina juntamente com um
processo de controle estatístico customizado.
A partir da análise realizada, percebeu-se que a empresa Alfa se tornou líder no setor de papel
e celulose com poucos anos de funcionamento, utilizando-se de uma gestão da qualidade para
conseguir permanecer, e se diferenciar em relação aos seus concorrentes. Dentro da
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
15
organização, existe uma visão sistêmica, notando-se que os fatores, por mais simples, são
interdependentes. Isso fica evidente na forma como a empresa Alfa controla seus problemas,
procurando identificar os que ocorrem com mais frequência e, destes os que são mais crônicos
e importante para a empresa, corrigindo os mesmos por meio do ciclo PDCA.
Por ter um controle estatístico da qualidade definido, e apoiar-se em cartas de controle, a
empresa Alfa apresenta microprocessos organizacionais bem estruturados, monitorando-se por
meio de indicadores de desempenho e, assim, identificando os microprocessos que exigem
uma maior atenção, de forma a definir metas para sua melhoria.
Outro fator importante refere-se à autonomia dos funcionários, os quais podem relatar os
problemas. Porém, viu-se necessária a implementação do método CEDAC dentro da empresa,
visto que os funcionários poderiam relatar possíveis soluções de problemas via sistema
digital, sem precisar dirigir-se a seus superiores. Essa metodologia poderia trazer uma maior
satisfação aos clientes internos, dando um caráter mais efetivo à sua participação nas decisões
da organização.
Pode-se concluir ainda que os funcionários conhecem bem a sua área de atuação, porém
desconhecem todos os processos produtivos, e objetivos da empresa. Com o intuito de sanar
tais problemas, reforça-se a implantação do gerenciamento das diretrizes, buscando alinhar os
objetivos de cada setor com as diretrizes estabelecidas e almejadas pela empresa Alfa,
consolidando a consciência de cada departamento no alcance do resultado final.
Assim, para o sucesso dessa nova abordagem, é importante um treinamento interno,
englobando todos os setores organizacionais, buscando-se evidenciar os objetivos, missão,
visão e processo produtivo. Neste sentido, seria fundamental evidenciar a importância desse
alinhamento entre os departamentos para a plena visão sistêmica e, por consequência, para a
melhoria da empresa Alfa.
8. Referências bibliográficas
ANDRADE, Aurélio L.; SELEME, Acyr; RODRIGUES, Luís H; e SOUTO, Rodrigo. Pensamento Sistêmico:
Caderno de Campo. Porto Alegre: Bookman, 2006.
AVÓ, Marcos e ALTMANN, Ricardo. Um novo patamar de gestão no setor de papel e celulose. Revista O
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
16
Papel, São Paulo, n. 7, p.31-33, jul. 2009. Mensal. Disponível em:
<http://wwwrevistaopapel.org.br/edicoes_impressas/18.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2015.
BOUER, Gregório. Gerenciamento das Diretrizes. In: CARVALHO, Marli Monteiro & PALADINI, Edson
Pacheco. (Org.). Gestão da Qualidade: teoria e casos. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 2012.
BOUER, Gregório. Gerenciamento das Diretrizes. In: CARVALHO, Marli Monteiro & PALADINI, Edson
Pacheco. (Org.). Gestão da Qualidade: teoria e casos. Rio de Janeiro: Campus, 2005.
BRACELPA. Dados do setor. 2014. Disponível em:
<http://bracelpa.org.br/bra2/sites/default/files/estatisticas/booklet.pdf>. Acesso em: 06 maio 2015.
CAMPOS, Vicente Falconi. Qualidade Total: Padronização de Empresas. 4. ed. Belo Horizonte: Fundação
Christiano Ottoni, 1992.
CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia-a-Dia. 9. ed. Nova Lima: Falconi,
2013.
CARPINETTI, Luiz Cesar Ribeiro. Gestão da Qualidade: Conceitos e Técnicas. São Paulo: Editora Atlas S.A,
2012.
CORDEIRO, José Vicente B. de Mello. Reflexões sobre a Gestão da qualidade total: fim de mais um modismo
ou incorporação do conceito por meio de novas ferramentas de gestão? Revista da FAE, Curitiba, v. 7, n. 1,
p.27-33, jan. 2004. Semestral.
CURY, Antônio. Organização e Métodos – Uma Visão Holística. 8ed. São Paulo: Atlas S.A., 2006.
D’ALMEIDA, Maria Luiza Otero e ZOUAIN, Desirée Moraes. Importância no setor de celulose e
papel. Revista O Papel, São Paulo, v. 6, p.39-52, maio 2010. Mensal. Disponível em:
<http://www.revistaopapel.org.br/noticiaanexos/1312203670_ee5b5737dc74957c150853ca0bc31ff0_195725289
0.pdf>. Acesso em: 06 maio 2015.
FISCHER, Adalverto. Sistematização de processo de padronização de detalhes construtivos em projeto. 2002, 87
p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2002.
GALGANO, A. Calidad Total: Clave Estratégia para la Competitividade de la Empresa. Madrid: Diaz de
Santos,1993.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
HILGEMBERG, Emerson Martins e BACHA, Carlos José Caetano. A evolução da indústria brasileira de
celulose e sua atuação no mercado mundial. Análise Econômica, v. 19, n. 36, 2001.
LONGO, Rose Mary Juliano. Gestão da qualidade: evolução histórica, conceitos básicos e aplicação na
educação. In: SEMINÁRIO SOBRE GESTÃO DA QUALIDADE NA EDUCAÇÃO: EM BUSCA DA
EXCELÊNCIA, 1995, São Paulo. Texto para discussão n. 397. Brasília, 1996.
MARSHALL JÚNIOR, Isnard e CIERCO, Agliberto Alves. Gestão da Qualidade. 8. Ed. Rio de Janeiro:
FGV,2006.
MILAN, Marcos. Gestão da Qualidade na Cadeia do Agronegócio. ZOOTEC – VISÃO ESTRATÉGICA DA
CADEIA DO AGRONEGÓCIO, 2009, São Paulo. p. 1-3.
PASCHE, Ivo de Moraes e FERREIRA, Gabriel Murad Velloso. Gestão da qualidade nas agroindústrias: um
estudo exploratório no município de Marau-RS. Extensão Rural, Santa Maria, v. 20, n. 20, p.49-80, dez. 2010.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
17
Disponível em: <http://w3.ufsm.br/extensaorural/art3ed20 2010-2 - Pasche e Velloso Ferreira.pdf>. Acesso em:
10 maio 2015.
VALVERDE, Sebastião Renato; SOARES, Naisy Silva e SILVA, ML da. Desempenho das exportações
brasileiras de celulose. Revista Árvore, v. 30, n. 6, p. 1017-1023, 2006.
YIN, Robert k. Estudo de Caso - Planejamento e Métodos. Tradução de Daniel Grassi. 3 ed. Porto Alegre:
Bookman, 2005.
WAAL, André A de. Behavioral factors important for the successful implementation and use performance
management systems. Management Decision. Volume 41, Nro. 8, pp. 688 – 697, 2003.
WOOD Jr, Thomaz. Mudança Organizacional: Aprofundando Temas Atuais em Administração. São Paulo:
Atlas, 1995.