gênero lírico no enem
TRANSCRIPT
Manoel Neves
teoria da literatura
Gênero lírico no ENEM
O APANHADOR DE DESPERDÍCIOS Manoel de Barros
Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fa8gadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão 8po água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos como as boas moscas.
Queria que a minha voz 8vesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informá8ca: eu sou da invencioná8ca.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
QUESTÃO 01 Simulado do INEP
Considerando o papel da arte poé8ca e a leitura do poema de Manoel de Barros, afirma-‐se que
informá8ca e invencioná8ca são ações que, para o poeta, correlacionam-‐se: ambas têm o mesmo valor na sua poesia.
arte é criação e, como tal, consegue dar voz às diversas maneiras que o homem encontra para dar sen8do à própria vida.
a capacidade do ser humano de criar está condicionada aos processos de modernização tecnológicos.
a invenção poé8ca, para dar sen8do ao desperdício, precisou se render às inovações da informá8ca.
as palavras no co8diano estão desgastadas, por isso à poesia resta o silêncio da não comunicabilidade.
QUESTÃO 01 solução comentada
O poema opõe ni8damente a natureza à cultura, a informá8ca à invencioná8ca, defendendo o poder de inovação desta e cri8cando a modernidade [e a previsibilidade] daquela, por isso são incorretas as alterna8vas “a”, “c”e “e”.
Defende-‐se a criação de uma poesia simples, extraída do co8diano e das coisas mais comuns e triviais possíveis, como se vê na valorização de elementos como pedra, água, sapo, insetos, moscas, tradicionalmente elementos prosaicos e não comumente usados na lírica tradicional.
Apesar de o sujeito poé8co afirmar que compõe seus silêncios, ele compõe, ou seja, constrói seu texto, que comunica o desimportante, o desperdício. Por isso, não se pode afirmar que à poesia resta o silêncio da não comunicabilidade, pois, metalinguis8camente este poema nasceu do silêncio, conforme se lê no úl8mo verso.
Assinale-‐se, pois, a alterna8va “b”.
TEXTO 01 Joaquim Manuel de Macedo Mulher, Irmã, escuta-‐me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo jurar amor, chorar pranto de sangue, Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são gotas da men8ra E o juramento manto da per]dia.
TEXTO 02 Manuel Bandeira
Teresa, se algum sujeito bancar o sen8mental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo Não acredite não Teresa É lágrima de cinema
É tapeação Men8ra CAI FORA
QUESTÃO 02 ENEM-1998
Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima sugerem que:
há um tratamento idealizado da relação homem/mulher.
há um tratamento realista da relação homem/mulher.
a relação familiar é idealizada.
a mulher é superior ao homem. a mulher é igual ao homem.
QUESTÃO 02 solução comentada
A temá8ca do amor é tratada desidealizadamente nos dois textos. Tal abordagem é feita por um locutor que descrê no amor român8co, como se vê nos conselhos que os dois locutores dão às mulheres [não ames – texto 01 – e cai fora – texto 02]. O tema da questão, entretanto, é a imagem das lágrimas nos dois poemas. Tal imagem se liga à ideia de amor român8co [no qual há uma idealização da mulher].
Apesar de haver, muito ni8damente, um desencanto dos locutores dos dois textos no que diz respeito ao amor român:co, pode-‐se, sim, afirmar que a imagem das lágrimas dá suporte a um comportamento idealista em relação à mulher.
Assinale-‐se, pois, a alterna8va “a”.
SONETO Luiz Vaz de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente; é dor que desa8na sem doer;
É um não querer mais que bem querer; é solitário andar por entre a gente; é nunca contentar-‐se de contente; é cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
QUESTÃO 03 ENEM-1998
O poema pode ser considerado como um texto:
argumenta8vo
narra8vo
épico
de propaganda teatral
QUESTÃO 03 solução comentada
No poema de Camões, o eu-‐lírico, por intermédio de jogos de opostos, apresenta-‐se um conceito de amor. Trata-‐se de um texto em que o locutor apresenta a sua visão de mundo sobre um assunto. Por isso, dentre as possibilidades apresentadas, aquela de que o texto se aproxima é do argumenta8vo na medida em que a definição de amor que aparece do poema é muito singular e se afasta da definição do dicionário, uma verdade rela8va. Marque-‐se, pois, a alterna8va “a”.
INSTRUÇÃO ENEM-2000
Em muitos jornais, encontramos charges, quadrinhos, ilustrações, inspirados nos fatos no8ciados. Veja um exemplo:
Jornal do commercio, 22/8/93
QUESTÃO 04 ENEM-2000
O texto que se refere a uma situação semelhante à que inspirou a charge é:
Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida,/ À sombra de uma cruz, e escrevam nela/ – Foi poeta – sonhou – e amou na vida. [AZEVEDO, Álvares de. Poesias escolhidas. Rio de Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL, 1971.] Essa cova em que estás/ Com palmos medida,/ é a conta menor/ que 8raste em vida./ É de bom tamanho,/ Nem largo nem fundo,/ É a parte que te cabe/ deste la8fúndio. [MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas em voz alta. Rio de Janeiro: Sabiá, 1967.]
Medir é a medida/ mede/ A terra, medo do homem, a lavra;/ lavra/ duro campo, muito cerco, vária várzea. [CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São Paulo: Summums, 1978.]
Vou contar para vocês/ um caso que sucedeu/ na Paraíba do Norte/ com um homem que se chamava/ Pedro João Boa-‐Morte,/ lavrador de Chapadinha:/ talvez tenha morte boa/ porque vida ele não 8nha. [GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1983.]
Trago-‐te flores, – restos arrancados/ Da terra que nos viu passar/ E ora mortos nos deixa e separados. [ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1986.]
QUESTÃO 04 solução comentada
O tema da charge é a morte advinda pela disputa de terras. Nos versos de João Cabral de Melo Neto, extraídos de Morte e vida severina, assim como na charge publicada no Jornal do commercio, a disputa de terras acaba em morte. Marque-‐se, pois, a alterna8va “b”.
MOCIDADE E MORTE Castro Alves
Oh! eu quero viver, beber perfumes Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito, Qual branca vela n’amplidão dos mares. No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida... –– Árabe errante, vou dormir à tarde À sombra fresca da palmeira erguida. Mas uma voz responde-‐me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves. Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.
QUESTÃO 05 ENEM-2001
Esse poema, como o próprio wtulo sugere, aborda o inconformismo do poeta com a antevisão da morte prematura, ainda na juventude. A imagem da morte aparece na palavra
embalsama.
infinito.
amplidão.
dormir. sono.
QUESTÃO 05 solução comentada
A palavra sono, juntamente com a expressão sob a lájea fria, sugere que o sujeito poé8co dormirá o sono eterno, sepultado sob uma lápide. Assinale-‐se, pois, a alterna8va “e”.
EPÍGRAFE Eugênio de Castro
Murmúrio de água na clepsidra gotejante, Lentas gotas de som no relógio da torre, Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...
Homem, que fazes tu? Para que tanta lida, Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a Beleza, que a vida É um punhado infan8l de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...
QUESTÃO 06 ENEM-2003
Neste poema, o que leva o poeta a ques8onar determinadas ações humanas (versos 6 e 7) é a
infan8lidade do ser humano.
destruição da natureza.
exaltação da violência.
inu8lidade do trabalho. brevidade da vida.
QUESTÃO 06 solução comentada
O sujeito poé8co problema8za as preocupações humanas ante a inexorável passagem do tempo, como se vê em Assim se ecoa a hora, assim se vive e morre e em a vida/ é um punhado infan:l de areia ressequida. O assunto do discurso poé8co é, pois, a passagem do tempo e a brevidade da vida. Assinale-‐se a alterna8va “e”.
TEXTO Mário Quintana
PEQUENOS TORMENTOS DA VIDA: De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos, as nuvens desenrolam-‐se, lentas como quem vai inventando preguiçosamente uma história sem fim... Sem fim é a aula: e nada acontece, nada... Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Margarida, se ao menos um avião entrasse por uma janela e saísse pela outra!
QUINTANA, Mário. Poesias. São Paulo: Globo, s.d.
QUESTÃO 07 ENEM-2003
Na cena retratada no texto, o sen8mento do tédio
provoca que os meninos fiquem contando histórias.
leva os alunos a simularem bocejos, em protesto contra a monotonia da aula.
acaba es8mulando a fantasia, criando a expecta8va de algum improviso mágico.
prevalece de modo absoluto, impedindo até mesmo a distração ou o exercício do pensamento. decorre da morosidade da aula, em contraste com o movimento acelerado das nuvens e moscas.
QUESTÃO 07 solução comentada
A fantasia da menina, de que um avião entrasse por uma janela e saísse por outra, corresponde à expecta:va de algum imprevisto mágico, nos termos da alterna8va “c”.
INSTRUÇÃO ENEM-2003
O quadro e o texto a seguir referem-‐se à questão 08.
Operários, Tarsila do Amaral
TEXTO ENEM-2003
Desiguais na fisionomia, na cor e na raça, o que lhes assegura iden8dade peculiar, são iguais enquanto frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das indústrias se alçam ver8calmente. No mais, em todo o quadro, rostos colados, um ao lado do outro, em pirâmide que tende a se prolongar infinitamente, como mercadoria que se acumula, pelo quadro afora.
GOTLIB, Nádia Batella. Tarsila do Amaral, a modernista. São Paulo: Senac, 1998.
QUESTÃO 08 ENEM-2003
O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos transcritos em:
Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas. (Vinícius de Moraes)
Somos muitos severinos iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras suando-‐se muito em cima. (João Cabral de Melo Neto)
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos [os sonhos do mundo. (Fernando Pessoa)
O funcionário público não cabe no poema
com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos.
(Ferreira Gullar)
Os inocentes do Leblon Não viram o navio entrar (...)
Os inocentes, definitavamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia é quente, e há um óleo suave que eles passam nas costas, e aquecem.
(Carlos Drummond de Andrade)
QUESTÃO 08 solução comentada
A ideia de que a concepção de que as pessoas são mera força de trabalho é desumanizadora, pois ignora caracterís8cas e valores individuais, encontra-‐se tanto no quadro de Tarsila do Amaral, segundo a cri8ca Nádia Gotlib, quanto nos versos de João Cabral de Melo Neto, que correspondem à fala de um flagelado migrante nordes8no que foge da seca e da miséria. Marque-‐se, pois, a alterna8va “b”.
INSTRUÇÃO ENEM-2004
O poema a seguir pertence à poesia concreta brasileira. O termo la8no de seu wtulo significa “epitalâmio”, poema ou canto em homenagem aos que se casam.
Epitalamium, de Pedro Xisto
QUESTÃO 09 ENEM-2003
Considerando que símbolos e sinais são u8lizados geralmente para demonstrações obje8vas, ao serem incorporados no poema “Epithalamium -‐ II”,
adquirem novo potencial de significação.
eliminam a subje8vidade do poema.
opõem-‐se ao tema principal do poema.
invertem seu significado original. tornam-‐se confusos e equivocados.
QUESTÃO 09 solução comentada
Os símbolos usados no poema de Pedro Xisto potencializam novas significações para os elementos ali representados. Marque-‐se, pois, a alterna8va “a”.
BRASIL Oswald de Andrade
O Zé Pereira chegou de caravela E perguntou pro guarani da mata virgem – Sois cristão? – Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! Ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu – Sim pela graça de Deus Cunhem Babá Canhém Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval
QUESTÃO 10 ENEM-2004
Este texto apresenta uma versão humorís8ca da formação do Brasil, mostrando-‐a como uma junção de elementos diferentes. Considerando-‐se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é
ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem.
inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco contribuíram para a formação da iden8dade brasileira.
moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa da predominância de elementos primi8vos e pagãos.
preconceituosa, pois cri8ca tanto índios quanto negros, representando de modo posi8vo apenas o elemento europeu, vindo com as caravelas.
nega8va, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia e falta de seriedade.
QUESTÃO 10 solução comentada
O poema “Brasil”, de Oswald de Andrade, insere-‐se na vertente antropófaga da Primeira Geração do Modernismo e propõe uma leitura crí8ca da formação da iden8dade brasileira.
Ao pôr os três atores do processo de formação da iden8dade brasileira em ato e dar-‐lhes fala, percebe-‐se uma visão democrá8ca e inaugural. Entretanto, quando se observa que, do contato dos três elementos, surge o Carnaval, pode-‐se [até] afirmar que a visão do sujeito poé8co seja ambígua.
A única opção condizente com o ponto de vista que perpassa a obra de Oswald de Andrade [da década de 1920] é a alterna8va “a”. Ressalve-‐se, entretanto, que o escritor modernista faz uma revisão crí8ca da história cultural brasileira e adota uma perspec8va totalmente inovadora, se considerarmos, por exemplo, o discurso nacionalista ufanista presente nos livros de História do Brasil até a década de 1970.
QUESTÃO 11 ENEM-2004
A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do
poeta e do colonizador apenas.
colonizador e do negro apenas.
negro e do índio apenas.
colonizador, do poeta e do negro apenas. poeta, do colonizador, do índio e do negro.
QUESTÃO 11 solução comentada
No poema “Brasil”, além da voz do sujeito poé8co, é possível constatar que o locutor dá voz ao português [3], ao índio [4] e ao negro [9]. Assinale-‐se, pois, a alterna8va “e”.
INSTRUÇÃO ENEM-2004
Leia os dois textos a seguir.
TEXTO 01 Dik Browne
SEM TÍTULO Alberto Caeiro
Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo... Por isso minha aldeia é grande como outra qualquer Porque sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura...
QUESTÃO 12 ENEM-2004
A 8ra “Hagar” e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencialmente,
pelo alcance de cada cultura.
pela capacidade visual do observador.
elo senso de humor de cada um.
pela idade do observador. pela altura do ponto de observação.
QUESTÃO 12 solução comentada
É a visão de mundo – resultado da formação do indivíduo – que determina o alcance de seu ponto de vista. Marque-‐se, pois, a alterna8va “a”.
A DANÇA E A ALMA Carlos Drummond de Andrade
A dança? Não é movimento, súbito gesto musical. É concentração, num momento, da humana graça natural.
No solo não, no éter pairamos, nele amaríamos ficar. A dança – não vento nos ramos: seiva, força, perene estar.
Um estar entre céu e chão, novo domínio conquistado, onde busque nossa paixão libertar-‐se por todo lado...
Onde a alma possa descrever suas mais divinas parábolas sem fugir à forma do ser, por sobre o mistério das fábulas.
Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.
QUESTÃO 13 ENEM-2004
A definição de dança, em linguagem de dicionário, que mais se aproxima do que está expresso no poema é
a mais an8ga das artes, servindo como elemento de comunicação e afirmação do homem em todos os momentos de sua existência.
a forma de expressão corporal que ultrapassa os limites ]sicos, possibilitando ao homem a liberação de seu espírito.
a manifestação do ser humano, formada por uma sequência de gestos, passos e movimentos desconcertados.
o conjunto organizado de movimentos do corpo, com ritmo determinado por instrumentos musicais, ruídos, cantos, emoções etc.
o movimento diretamente ligado ao psiquismo do indivíduo e, por consequência, ao seu desenvolvimento intelectual e à sua cultura.
QUESTÃO 13 solução comentada
A segunda, a terceira e a quarta estrofes, principalmente, tratam a dança como forma de transcendência, elevação, superação do eu. Assinale-‐se, pois, a alterna8va “b”.
QUESTÃO 14 ENEM-2005
O poema “A Dança e a Alma” é construído com base em contrastes, como “movimento” e “concentração”. Em uma das estrofes, o termo que estabelece contraste com solo é:
éter.
seiva.
chão.
paixão. ser.
QUESTÃO 14 solução comentada
A palavra não funciona como ar8culador adversa8vo e opõe solo a éter no quinto verso. Marque-‐se, pois, a alterna8va “a”.
INSTRUÇÃO ENEM-2005
Leia os dois textos a seguir.
TEXTO 01 ENEM-2005
SONHO IMPOSSÍVEL Darrione e Leight
Sonhar Mais um sonho impossível Lutar Quando é fácil ceder Vencer o inimigo invencível Negar quando a regra é vender Sofrer a tortura implacável Romper a incabível prisão Voar num limite improvável Tocar o inacessível chão É minha lei, é minha questão Virar esse mundo Cravar esse chão
Não me importa saber Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer Por um pouco de paz
E amanhã se esse chão que eu beijei For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar E morrer de paixão
E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão.
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)
QUESTÃO 15 ENEM-2005
A 8rinha e a canção apresentam uma reflexão sobre o futuro da humanidade. É correto concluir que os dois textos
afirmam que o homem é capaz de alcançar a paz.
concordam que o desarmamento é ina8ngível.
julgam que o sonho é um desafio invencível.
têm visões diferentes sobre um possível mundo melhor. transmitem uma mensagem de o8mismo sobre a paz.
QUESTÃO 15 solução comentada
A visão dos locutores acerca do futuro da humanidade é divergente: no texto 1, tem-‐se uma visão pessimista e, no texto 2, predomina a visão o8mista. Marque-‐se, pois, a alterna8va “d”.
INSTRUÇÃO ENEM-2005
Leia estes poemas.
AUTORRETRATO Manuel Bandeira
Provinciano que nunca soube Escolher bem uma gravata; Pernambucano a quem repugna A faca do pernambucano; Poeta ruim que na arte da prosa Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas Ficou cronista de província; Arquiteto falhado, músico Falhado (engoliu um dia Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família, Religião ou filosofia; Mal tendo a inquietação de espírito Que vem do sobrenatural, E em matéria de profissão Um wsico profissional.
Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.
POEMA DE SETE FACES Carlos Drummond de Andrade Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. [...]
Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é o meu coração.
Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.
QUESTÃO 16 ENEM-2005
Esses poemas têm em comum o fato de
descreverem aspectos ]sicos dos próprios autores.
refle8rem um sen8mento pessimista.
terem a doença como tema.
narrarem a vida dos autores desde o nascimento. defenderem crenças religiosas.
QUESTÃO 16 solução comentada
No primeiro poema, o sujeito poé8co fala do seu fracasso generalizado vida afora – não sabe escolher gravatas, não consegue escrever prosa, crônicas, fazer música; é um falhado, um doente, um wsico profissional. Já no segundo poema, percebe-‐se que a postura esquiva, esquisita, gauche acompanha o sujeito poé8co desde a infância. A alterna8va que contempla tal análise é a letra “b”.
INSTRUÇÃO ENEM-2009, prova cancelada
Leia o texto a seguir.
SOM DE PRETO MCs Amilka e Chocolate
O nosso som não tem idade, não tem raça E não tem cor. Mas a sociedade pra gente não dá valor. Só querem nos cri8car, pensam que somos animais. Se exis8a o lado ruim, hoje não existe mais, porque o ‘funkeiro’ de hoje em dia caiu na real. Essa história de 'porrada', isso é coisa banal Agora pare e pense, se liga na 'responsa': se ontem foi a tempestade, hoje vira a bonança. É som de preto De favelado Mas quando toca ninguém fica parado.
QUESTÃO 17 ENEM-2009, prova cancelada
À medida que vem ganhando espaço na mídia, o funk carioca vem abandonando seu caráter local, associado às favelas e à criminalidade do Rio de Janeiro, tornando-‐se uma espécie de símbolo da marginalização das manifestações culturais das periferias em todo o Brasil. O verso que explicita essa marginalização é:
O nosso som não tem idade, não tem raça.
Mas a sociedade pra gente não dá valor.
Se exis8a o lado ruim, hoje não existe mais.
Agora pare e pense, se liga na 'responsa'. se ontem foi a tempestade, hora vira a bonança.
QUESTÃO 17 solução comentada
A sociedade citada na alterna8va b não dá valor para os produtores do som que não tem cor [o funk] e deprecia a sua produção, e isso tende a impedir sua maior difusão fora da sua área de criação, ou seja, marginaliza-‐o. Sendo assim, marque-‐se a alterna8va “b”.
PARA O MANO CAETANO Lobão
O que fazer do ouro de tolo Quando um doce bardo brada a toda brida, Em velas pandas, suas esquisitas rimas? Geografia de verdades, Guanabaras pos8ças Saudades banguelas, tropicais preguiças?
A boca cheia de dentes De um implacável sorriso Morre a cada instante Que devora a voz do morto, e com isso, Ressuscita vampira, sem o menor aviso
[...] E eu soy lobo-‐bolo? lobo-‐bolo Tipo pra rimar com ouro de tolo? Oh, Narciso Peixe Ornamental! Tease me, tease me outra vez Ou em banto baiano Ou em português de Portugal Se quiser, até mesmo em americano De Natal
QUESTÃO 18 ENEM-2009
Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos esté8cos ou de sen8do. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem:
“Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2)
“Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3)
“Que devora a voz do morto” (v. 9)
“lobo-‐bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-‐12) “Tease me, tease me outra vez” (v. 14)
QUESTÃO 18 solução comentada
A paronomásia está presente nas alterna8vas “a” [bardo, brada e brida] e “d” [lobo, bolo e tolo]. Já o coloquialismo encontra-‐se apenas na alterna8va “d”.
CANÇÃO DO VENTO E DA MINHA MORTE Manuel Bandeira
O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas.
O vento varria os sonhos E varria as amizades... O vento varria as mulheres... E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De afetos e de mulheres.
O vento varria os meses E varria os teus sorrisos... O vento varria tudo! E a minha vida ficava Cada vez mais cheia De tudo.
QUESTÃO 19 ENEM-2009
Na estruturação do poema, destaca-‐se:
a construção de oposições semân8cas.
a apresentação de ideias de forma obje8va.
o emprego recorrente de figuras de linguagem, como o eufemismo.
a repe8ção de sons e de construções sintá8cas semelhantes. a inversão da ordem sintá8ca das palavras.
QUESTÃO 19 solução comentada
A repe8ção da consoante v denomina-‐se aliteração. A repe8ção de O vento varria e de O vento consiste em anáfora ou paralelismo. Assinale-‐se, pois, a alterna8va “d”.
TEXTO segunda aplicação do ENEM-2012
Um rei leão que não era rei. um pato que não fazia quá-‐quá. Um cão que não la8a. Um peixe que não nadava. Um pássaro que não voava. Um 8gre que não comia. Um gato que não miava. Um homem que não pensava... E, enfim, era uma natureza sem nada. Acabada. Depredada. Pelo homem que não pensava.
ERA UMA VEZ
CUNHA, L. A. In.: KOCH, I.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo Contexto, 2011.
QUESTÃO 20 segunda aplicação do ENEM-2012
São as relações entre os elementos e as partes do texto que promovem o desenvolvimento das ideias. No poema, a estratégia linguís8ca que contribui para esse desenvolvimento, estabelecendo a con8nuidade do texto, é a
escolha de palavras de diferentes campos semân8cos. negação contundente das ações pra8cadas pelo homem. intertextualidade com o gênero textual fábula infan8l. repe8ção de estrutura sintá8ca com novas informações. u8lização de ponto final entre termos de uma mesma oração.
SOLUÇÃO COMENTADA segunda aplicação do ENEM-2012
O principal recurso linguís8co presente no poema é o paralelismo sintá8co: todos os versos apresentam a mesma estrutura grama8cal [ar8go, substan8vo, pronome rela8vo, advérbio, verbo].
Marque-‐se, pois, a alteran8va “d”.
TEXTO segunda aplicação do ENEM-2012
Bem sei que, muitas vezes, O único remédio É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem, A dívida, o diver8mento, O pedido de emprego, ou a própria alegria. A esperança é também uma forma De conwnuo adiamento. Sei que é preciso pres8giar a esperança, Numa sala de espera. Mas sei também que espera significa luta e não, apenas, Esperança sentada. Não abdicação diante da vida.
A RUA
A esperança Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera. Nunca é figura de mulher Do quadro an8go. Sentada, dando milho aos pombos.
RICARDO, C. Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 2 jan. 2012.
QUESTÃO 21 segunda aplicação do ENEM-2012
O poema de Cassiano Ricardo insere-‐se no Modernismo brasileiro. O autor metaforiza a crença do sujeito lírico numa relação entre o homem e seu tempo marcada por
um olhar de resignação perante as dificuldades materiais e psicológicas da vida. uma ideia de que a esperança do povo brasileiro está vinculada ao sofrimento e às privações. uma posição em que louva a esperança passiva para que ocorram mudanças sociais. um estado de inércia e de melancolia mo8vado pelo tempo passado numa sala de espera. uma a8tude de perseverança e de coragem no contexto de estagnação histórica e social.
As ideias de resignação, passividade e melancolia são totalmente dissociadas do conceito de esperança exposto pelo locutor, na medida em que se afirma que a esperança não é tranquila, tampouco abdicação.
Importante, ainda, é perceber que a esperança a que se refere o lutor diz respeito a toda humanidade e não apenas à realidade brasileira.
SOLUÇÃO COMENTADA segunda aplicação do ENEM-2012
Posto isso, o comentário mais adequado ao poema é o fornecido na alterna8va “e”, pois o locutor associa a esperança a duas a8tudes – a de espera [adiamento] e a de luta.
TEXTO segunda aplicação do ENEM-2012
O bonde abre viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem. Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém.
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Ita8aia, 2008.
QUESTÃO 22 segunda aplicação do ENEM-2012
Em um texto literário, é comum que os recursos poé8cos e linguís8cos par8cipem do significado do texto, isto é, forma e conteúdo se relacionam significa8vamente. Com relação ao poema de Mário de Andrade, a correlação entre um recurso formal e um aspecto da significação do texto é
a sucessão de orações coordenadas, que remete à sucessão de cenas e sensações sen8das pelo eu lírico ao longo da viagem.
a elisão dos verbos, recurso es8lís8co constante no poema, que acentua o ritmo acelerado da modernidade.
o emprego de versos curtos e irregulares em sua métrica, que reproduzem uma viagem de bonde, com suas paradas e retomadas de movimento.
a sonoridade do poema, carregada de sons nasais, que representa a tristeza do eu lírico ao longo de toda a viagem.
a ausência de rima nos versos, recurso muito u8lizado pelos modernistas, que aproxima a linguagem do poema da linguagem co8diana.
SOLUÇÃO COMENTADA segunda aplicação do ENEM-2012
No poema de Mário de Andrade, os versos são metrificados em cinco sílabas métricas. Nota-‐se a presença de rimas e o pouco uso de conjunções coordena8vas e subordina8vas.
O texto apresenta uma cena wpica da cidade grande na qual o sujeito gravita entre os polos da solidão, da interação e da solidão.
O poema começa focalizando a solidão do sujeito poé8co [estou só, stou sem]; instantes depois, entretanto, senta-‐se alguém a seu lado – esse alguém parece que interage com o eu lírico, o que aparece sugerido no verso Companheiro vou. Tempos depois, o bonde lota, e a persona poé:ca volta a se sen8r solitária [seu companheiro de viagem pode ter-‐se calado ou descido?].
Se se considerar que as sensações vivenciadas pelo sujeito poé8co, ao longo da viagem, são díspares, é possível assinalar a alteran8va “a”.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2012
os meus irmãos sujando-‐se na lama e eis-‐me aqui cercada de alvura e enxovais
DAS IRMÃS
eles se provocando e provando do fogo e eu aqui fechada provando a comida
eles se lambuzando e arrotando na mesa e eu a temperada servindo, con8da
os meus irmãos jogando-‐se na cama e eis-‐me afiançada por dote e marido
QUEIROZ, S. O sacro o<cio. Belo Horizonte: Comunicação, 1980.
QUESTÃO 23 primeira aplicação do ENEM-2012
O poema de Sônia Queiroz apresenta uma voz lírica feminina que contrapõe o es8lo de vida do homem ao modelo reservado à mulher. Nessa concepção, ela conclui que
a mulher deve conservar uma assepsia que a dis8ngue de homens, que podem se jogar na lama. a palavra “fogo” é uma metáfora que remete ao ato de cozinhar, tarefa des8nada às mulheres. a luta pela igualdade entre os gêneros depende da ascensão financeira e social das mulheres. a cama, como sua “alvura e enxovais”, é um símbolo da fragilidade feminina no espaço domés8co. os papéis sociais des8nados aos gêneros produzem efeitos e graus de autorrealização desiguais.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2012
O poema de Sônia Queiroz ques8ona, muito su8lmente, o papel da mulher na sociedade. Por intermédio da indicação dos papéis tradicionalmente atribuídos à mulher e ao homem, busca-‐se ques8onar os mitos que definem a masculinidade e a feminilidade na sociedade ocidental. Assinale-‐se, pois, a letra “e”. Em tempo, tanto a forma quanto a temá8ca de Queiroz permitem aproximá-‐la da vertente da literatura das minorias da “poesia marginal” dos anos 1970/1980.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2012
Vamos juntar Nossas rendas e expecta8vas de vida querida, o que me dizes? Ter 2, 3 filhos e ser meio felizes?
O SEDUTOR MÉDIO
VERISSIMO, L. F. Poesia numa hora dessas? Rio de Janeiro: Obje8va, 2002.
QUESTÃO 24 primeira aplicação do ENEM-2012
No poema “O sedutor médio”, é possível reconhecer a presença das posições crí8cas nos três primeiros versos, em que “juntar expecta8vas de vida” significa que, juntos, os cônjuges poderiam viver mais, o que faz do casamento uma convenção benéfica. na mensagem veiculada pelo poema, em que os valores da sociedade são ironizados, o que é acentuado pelo uso do adje8vo “médio” no wtulo e do advérbio “meio” no verso final.
no verso “e ser meio felizes?”, em que “meio” é sinônimo de “metade”, ou seja, no casamento, apenas um dos cônjuges se sen8ria realizado. nos dois primeiros versos, em que “juntar rendas” indica que o sujeito poé8co passa por dificuldades financeiras e almeja os rendimentos da mulher. no wtulo, em que o adje8vo “médio” qualifica o sujeito poé8co como desinteressante ao sexo oposto e inábil em termos de conquistas amorosas.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2012
O discurso do poema é eminentemente crí8co. A crí8ca se volta contra o personagem [protagonista?] do poema, referido ironicamente no wtulo como “sedutor médio” [comum, mediano, normal, que nada tem de especial], e contra o casamento, ins8tuição que, segundo o sujeito poé8co, visa a juntar rendas, à reprodução e a um ideal de uma felicidade que não se realizará totalmente. Assinale-‐se, pois, a letra “b”.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2012
Ai, palavras, ai, palavras que estranha potência a vossa!
Todo o sen8do da vida principia a vossa porta: o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas, ai! Com letras se elabora... E dos venenos humanos sois a mais fina retorta: frágil, frágil, como o vidro e mais que o aço poderosa! Reis, impérios, povos, tempos, pelo vosso impulso rodam...
MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985. (fragmento)
QUESTÃO 25 primeira aplicação do ENEM-2012
O fragmento foi transcrito do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:
A força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das palavras. As relações humanas, em suas múl8plas esferas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das palavras.
O significado dos nomes não expressa de forma justa a completa grandeza da luta do homem pela vida. Renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e suas crenças. Como produto da cria8vidade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e gestos.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2012
O fragmento em análise destaca o poder das palavras em tornar permanentes as realizações humanas, em intermediar o real, em dar molde concreto a vontades, sen8mentos e emoções. Sendo assim, assinale-‐se a alterna8va “b”.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2012
Pote Cru é meu pastor. Ele me guiará. Ele está comprome8do de monge. De tarde deambula no azedal entre torsos de cachorro, trampas, trapos, panos de regra, couros, de rato ao podre, vísceras de piranhas, baratas albinas, dálias secas, vergalhos de lagartos, linguetas de sapatos, aranhas dependuradas em gotas de orvalho etc. etc. Pote Cru, ele dormia nas ruínas de um convento Foi encontrado em osso. Ele 8nha uma voz de oratórios perdidos.
BARROS, M. Retrato do arFsta quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002.
QUESTÃO 26 primeira aplicação do ENEM-2012
Ao estabelecer uma relação com o texto bíblico nesse poema, o eu lírico iden8fica-‐se com Pote Cru porque
entende a necessidade de todo poeta ter voz de oratórios perdidos. elege-‐o como pastor a fim de ser guiado para a salvação divina. valoriza nos percursos do pastor a conexão entre as ruínas e a tradição. necessita de um guia para a descoberta das coisas da natureza. acompanha-‐o na opção pela insignificância das coisas.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2012
O eu lírico, tal qual a personagem Pote Cru, valoriza as coisas menos importantes, baixas, an8poé8cas. Assinale-‐se a alterna8va “e”.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2012
LOGIA E MITOLOGIA
Meu coração de mil novecentos e setenta e dois já não palpita fagueiro sabe que há morcegos de pesadas olheiras que há cabras malignas que há cardumes de hienas infiltradas no vão da unha na alma um porco belicoso de radar e que sangra e ri e que sangra e ri a vida anoitece provisória centuriões sen8nelas do Oiapoque ao Chuí.
CACASO. Lero-‐lero. Rio de Janeiro: 7Letras; São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
QUESTÃO 27 primeira aplicação do ENEM-2012
O wtulo do poema explora a expressividade de termos que representam o conflito do momento histórico vivido pelo poeta na década de 1970. Nesse contexto, é correto afirmar que
o poeta u8liza uma série de metáforas zoológicas com significado impreciso. “morcegos”, “cabras”, “hienas” metaforizam as ví8mas do regime militar. o “porco”, animal di]cil de domes8car, representa os movimentos de resistência. o poeta caracteriza o movimento de opressão através de alegorias de forte poder de impacto. “centuriões” e “sen8nelas” simbolizam os agentes que garantem a paz social experimentada.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2012
No poema, existem várias metáforas que fazem referência aos militares e às forças de repressão que perpetravam tortura e assassinatos durante o período da Ditadura Militar. Curiosamente, o locutor associa os agentes da repressão a animais cujas a8tudes são aproximadas das dos seres humanos [morcegos de pesados olheiras, cabras malignas, hienas infiltradas, porco belicoso].
Como se trata de quatro metáforas, pode-‐se afirmar que o discurso do locutor é alegórico, indireto. Assinale-‐se, pois, a alterna8va “d”.
Em tempo: Cacaso [Antônio Carlos de Brito] é dos maiores expoentes da vertente engajada da poesia marginal dos anos 1970.
enem-2011
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho, Interessa mais que uma avenida urbana. Nas cidades todas as pessoas se parecem. Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente. Aqui, não: sente-‐se bem que cada um traz a sua alma. Cada criatura é única. Até os cães. Andam sempre preocupados. E quanta gente vem e vai! E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar: Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso. Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos, Que a vida passa! que a vida passa! E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
enem-2011
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a par8r de elementos do co8diano. No poema “Estrada”, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para
o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
a visão nega8va da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança. a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.
SOLUÇÃO COMENTADA enem-2011
No poema em análise, há um locutor que parte da oposição campo x cidade para falar sobre o caráter efêmero da da vida. Assinale-‐se, portanto, a alterna8va “b”.
enem-2011
Guardar uma coisa não é escondê-‐la ou trancá-‐la. Em cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-‐se a coisa à vista. Guardar uma coisa é olhá-‐la, fitá-‐la, mirá-‐la por admirá-‐la, isto é, iluminá-‐la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-‐la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro Do que um pássaro sem voos. Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-‐lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-‐se o que se quer guardar.
CÍCERO, A. In.: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Obje8va, 2001.
enem-2011
A memória é um importante recurso do patrimônio cultural de uma nação. Ela está presente nas lembranças do passado e no acervo cultural de um povo. Ao tratar o fazer poé8co como uma das maneiras de se guardar o que se quer, o texto
ressalta a importância dos estudos históricos para a construção da memória social de um povo.
valoriza as lembranças individuais em detrimento das narra8vas populares ou cole8vas. reforça a capacidade da literatura em promover a subje8vidade e os valores humanos. destaca a importância de se reservar o texto literário àqueles que possuem maior repertório cultural.
revela a superioridade da escrita poé8ca como forma ideal de preservação da memória cultural.
SOLUÇÃO COMENTADA enem-2011
O poema de Antônio Cícero destaca a capacidade da poesia de capturar, por intermédio do ato de criação literária, aquilo que o sujeito julga ser relevante. Trata-‐se de uma forma de dar permanência não só à memória individual e subje8va, mas também à cole8va e interpessoal. Assinale-‐se, pois, a alterna8va “c”.
TEXTO 01 SEGUNDA PROVA DO ENEM-2010
XLI
Ouvia: Que não podia odiar E nem temer Porque tu eras eu. E como seria Odiar a mim mesma E a mim mesma temer.
HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento).
TEXTO 02 SEGUNDA PROVA DO ENEM-2010
TRANSFORMA-‐SE O AMADOR NA COUSA AMADA
Transforma-‐se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.
CAMÕES, Luiz Vaz de. Sonetos. Disponível em: h�p://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento).
QUESTÃO 30 SEGUNDA PROVA DO ENEM-2010
Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temá8ca comum é
o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só. a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo. o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-‐se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado.
a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta. o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respec8vamente, o ódio e o amor.
QUESTÃO 30 solução comentada
Nos dois fragmentos, o sujeito poé8co constrói um discurso sobre o amor e representa, por intermédio da linguagem, uma fusão entre o eu [que fala] e o objeto do desejo [outro]. A alterna8va que melhor se aproxima do raciocínio exposto é a letra “a”.
TEXTO SEGUNDA PROVA DO ENEM-2010
O branco açúcar que adoçará meu café Nesta manhã de Ipanema Não foi produzido por mim Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. [...] Em lugares distantes, Onde não há hospital, Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome Aos 27 anos Plantaram e colheram a cana Que viraria açúcar. Em usinas escuras, homens de vida amarga E dura Produziram este açúcar Branco e puro Com que adoço meu café esta manhã Em Ipanema.
GULLAR, F. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1980 (fragmento).
QUESTÃO 31 SEGUNDA PROVA DO ENEM-2010
A Literatura Brasileira desempenha papel importante ao suscitar reflexão sobre desigualdades sociais. No fragmento, essa reflexão ocorre porque o eu lírico
descreve as propriedades do açúcar. se revela mero consumidor de açúcar. destaca o modo de produção do açúcar. exalta o trabalho dos cortadores de cana. explicita a exploração dos trabalhadores.
QUESTÃO 31 solução comentada
Em trechos como lugares distantes,/ Onde não há hospital e homens que não sabem ler e morrem de fome/ Aos 27 anos, percebe-‐se ni8damente a intenção do locutor de denunciar as condições de vida dos trabalhadores no processo de produção do açúcar. Assinale-‐se, pois, a alterna8va "e".
É triste para o Nordeste o que a natureza fez mandou 5 anos de seca uma chuva em cada mês e agora, em 85 mandou tudo de uma vez.
Seca d’água
A sorte do nordes8no é mesmo de fazer dó seca sem chuva é ruim mas seca d’água é pior.
Quando chove brandamente depressa nasce o capim dá milho, arroz, feijão mandioca e amendoim mas como em 85 até o sapo achou ruim. […]
Meus senhores governantes da nossa grande nação o flagelo das enchentes é de cortar o coração muitas famílias vivendo sem lar, sem roupa, sem pão. ASSARÉ, Pata8va do. Digo e não peço segredo. SP: Escritura, 2001, p. 117-‐118.
QUESTÃO 32 segunda aplicação do ENEM-2009
Esse é um fragmento do poema Seca d’água, do poeta popular Pata8va do Assaré. Nesse fragmento, a relação entre o texto poé8co e o contexto social se verifica a) por meio de metáforas complexas, ao gosto da tradição poé8ca popular. b) de maneira idealizada, deturpando a realidade pela sua formulação amena e cômica. c) de forma direta e simples, que dispensa o uso de recursos literários, como rimas e figurações. d) de modo explícito, mediada por oposições, como a apresentada no wtulo. e) na preocupação maior com a beleza da forma poé8ca que com a representação da realidade do Nordeste.
SOLUÇÃO COMENTADA segunda aplicação do ENEM-2009
O fragmento do poema em análise possui ní8do caráter social. Há uma denúncia de uma situação adversa vivenciada pelos nordes8nos. Tal situação, paradoxalmente, origina-‐se do fato de que as chuvas em demasia atrapalharam a produção agrícola. Isso pode ser verificado principalmente no paradoxo [seca d'água] em torno do qual gira o texto. Sendo assim, deve-‐se assinalar a alterna8va “d”.
Sou negro meus avós foram queimados pelo sol da África minh’alma recebeu o ba8smo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs
Contaram-‐me que meus avós vieram de Loanda como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi Era valente como o quê Na capoeira ou na faca escreveu não leu o pau comeu Não foi um pai João humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira Na guerra dos Malês ela se destacou
Na minh’alma ficou o samba o batuque o bamboleio e o desejo de libertação…
TRINDADE, Solano. Sou negro. In. BERALDO, Alda. Trabalhando com poesia. São Paulo: Á8ca, 1990. v.2.
QUESTÃO 33 segunda aplicação do ENEM-2009
O poema resgata a memória de fatos históricos que fazem parte do patrimônio cultural do povo brasileiro e faz referência a diversos elementos, entre os quais, incluem-‐se a) as batalhas vividas pelos africanos e o Carnaval. b) a coragem e a valen8a dos africanos e as suas brincadeiras. c) o legado dos africanos no Brasil e a cerimônia do ba8smo católico. d) o espírito guerreiro, os sons e os ritmos africanos. e) o trabalho dos escravos no engenho e a libertação assinada pela coroa.
SOLUÇÃO COMENTADA segunda aplicação do ENEM-2009
O poema de Solano Trindade enuncia, desde seu wtulo, o ethos negro. Nele, o sujeito poé8co assume a iden8dade afro-‐brasileira, ao exibir orgulhosamente suas origens. Note-‐se, ainda, que o locutor destaca o engajamento social de seus antepassados na luta contra o poder e a ideologia estabelecidos. Na úl8ma estrofe, entretanto, o eu lírico destaca a herança [musical] africana expressa notadamente no samba, no batuque e no bamboleio. Posto isso, deve-‐se assinalar a alterna8va “d”.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2013
ATÉ QUANDO?
Não adianta olhar pro céu Com muita fé e pouca luta Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer E muita greve, você pode, você deve, pode crer Não adianta olhar pro chão Virar a cara pra não ver Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). RJ: Sony Music, 2001. Fragmento.
QUESTÃO 34 primeira aplicação do ENEM-2013
As escolhas linguís8cas feitas pelo autor conferem ao texto
a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet. b) cunho apela8vo, pela predominância de imagens metafóricas. c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias. d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial. e) originalidade, pela concisão da linguagem.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2013
Apesar do ní8do caráter apela8vo do texto, manifesto por meio do uso de verbos no impera8vo, é possível, sim, afirmar que uma das principais estratégias discursivas adotadas pelo sujeito poé8co para conseguir seu intento é o uso de linguagem informal [presente não só no emprego das formas reduzidas “pro” e “pra”, mas também na oscilação quanto ao emprego de pronomes para se referir ao interlocutor – segunda e terceira pessoas – e no uso de expressões 8picas da língua falada, tais como: “se liga aí” e “pode crer”]. Assinale-‐se, portanto, a alterna8va “d”.
TEXTO primeira aplicação do ENEM-2013
A DIVA
Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, tou podre. Outro dia a gente vamos. Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho. TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais algo, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram sem nenhum aplauso. Perfeita.
PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.
QUESTÃO 35 primeira aplicação do ENEM-2013
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas caracterís8cas específicas, bem como na situação comunica8va em que ele é produzido. Assim, o texto A diva
a) narra um fato real vivido por Maria José. b) surpreende o leitor pelo seu efeito poé8co. c) relata uma experiência teatral profissional. d) descreve uma ação wpica de uma mulher sonhadora. e) defende um ponto de vista rela8vo ao exercício teatral.
SOLUÇÃO COMENTADA primeira aplicação do ENEM-2013
O poema de Adélia Prado [de versos livres e brancos] apresenta uma personagem que [estranhamente] monologa em frente ao espelho. Trata-‐se de um texto em que se percebe claramente a confluência entre dois gêneros literários – a saber, o dramá8co [monólogo, encenação; rubricas] e lírico [versos; manifestação da interiorade]. Dentre os distratores fornecidos, o que realiza uma melhor leitura do texto é a letra “b”.