galatas - willian hendriksen

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  • 1999, Editora Cultura Crist. Publicado originalmente em ingls com o ttulo New Testament Commentary, Galatians por Baker Books, uma diviso da Baker Book House Company, P.O. Box 6287, Grand Rapids, MI 49516-6287. 1968, William Hendriksen. Todos os direitos so reservados.

    Ia edio em Portugus - 1999 3.000 exemplares

    Traduo:Valter Graciano Martins

    Reviso:Gordon Chown Rubens Castilho

    Editorao:Eline Alves Martins

    Capa:Expresso Exata

    Publicao autorizada pelo Conselho Editorial: Cludio Marra (Presidente), Aproniano Wilson de Macedo, Augustus Nicodemus Lopes, Fernando

    Hamilton Costa, Sebastio Bueno Olinto.

    CDITORA CULTURA CRISTA

    Rua Miguel Telles Jr, 382/394 . Cambuci Cep 01540-040 . Tel.: (011) 270-7099 Fax: (011) 279-1255 . Cx. Postal 15.136

    Cep 01599-970 . So Paulo-SP

    Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor. Cludio Antnio Batista Marra

  • ndice

    Lista de Abreviaturas......................................................................... 5

    Introduo Epstola aos GlatasI. Por Que Esta Epstola Importante?...........................................9II. A Quem Foi Endereada?...........................................................12Quem Eram os Glatas?...................................................................14

    A. Afirmativo............................................................................... 15B. N egativo................................................................................... 19C. Refutao a Afirmativo......................................................... 22D. Refutao a Negativo............................................................ 23

    III. Quando, Onde e Por Que Ela Foi Escrita?A. Quando e Onde?....................................................................26B. Por Qu?.................................................................................29

    IV. Quem a Escreveu?..................................................................... 35V. Qual Seu Tema? Qual Seu Esboo?...................................37

    Esboo Ampliado.............................................................................40

    Comentrio da Epstola aos GlatasCaptulo 1 ....................................................................................47

  • Captulo 2 .................................................................................. 100Captulo 3 .................................................................................. 162Captulo 4 ................................................................................ 225Captulo 5 ..................................................................................275Captulo 6 .................................................................................. 331

  • L ista de A bbevmturas

    As letras que correspondem a abreviaturas de livros so seguidas de ponto. As que correspondem a publicaes peridicas omitem o ponto e esto em itlico. Assim possvel ao leitor, primeira olhada, perceber se a referncia a um livro ou a uma publicao peridica.

    A. Abreviaturas de Livros

    A.S .R. V. American Standard Revised VersionA. V. Authorized Version (King James)Gram. N.T. A.T. Robertson, Grammar o f the Greek

    New Testament in the Light o f Historical Research

    Gram.N.T.Bl.-Debr. F. Blass e A. Debrunner, A Greek Grammar ofthe New Testament and Other Early Christian Literature

    Grk.N.T. A-B-M-W The Greek New Testament, editado por Kurt Aland, Matthew Black, Bmce M. Met- zger, e Allen Wikgren, edio 1966.

    I.S .B .E. International Standard Bible Encyclopedia

  • Thayers Greek-English Lexicon o f the New TestamentW.F. Amdt e F.W. Gingrich, A Greek-English Lexicon o f the New Testament and Other Early Christian Literature The Vocabulary o f the Greek New Testam ent Illustra ted from the P apyri and Other Non-Literary Sources, por James Hope Moulton e George Milligan (edio de GrandRapids, 1952)New American Standard Bible (New Testament)Novum Testamentum Graece, editado porD. Eberhard Nestle, revisado por D. Erwin Nestle e Kurt Aland, (edio mais recente). New English Bible.William Hendriksen, Comentrio do Novo TestamentoRevised Standard VersionThe New Schaff-Herzog Encyclopedia o f Religious KnowledgeTheologisches Worterbuch zum Neuen Testament (editado por G. Kittel)Westminster Dictionary o f the Bible

  • VB. Abreviaturas de Publicaes PeridicasABR Australian Biblial ReviewBA Biblical ArchaeologistBW Biblical WorldCMT Concordia Theological MonthlyEQ Evangelical QuarterlyET Expository TimesExp The ExpositorGTT Gereformeerd theologisch tijdschriftInt InterpretationJBL Journal o f Biblical LiteratureTT Theologisch tijdschrift

  • Introduo

    I. P o r Q u e E st a E p st o l a Im p o r t a n t e ?

    A epstola aos Glatas a minha epstola. Diante dela sou como que preso por laos matrimoniais. Ela a minha Katherine. Assim se exprimiu Lutero, que considerava a epstola aos Glatas melhor que todos os livros da Bblia. Ela tem sido chamada o grito de guerra da Reforma, a grande autora da liberdade religiosa, a declarao da independncia do cristo, etc.

    Esta carta importante, pois em qualquer poca ela responde s questes bsicas do corao do homem. Como posso encontrar a verdadeira alegria? Como posso obter a paz, a tranqilidade, a libertao do medo?

    Por sua prpria fora e sabedoria, o homem totalmente incapaz de descobrir as respostas. O slogan que tem aparecido de vrias formas diferentes, sendo um deles: Nada de Cristo como presente de Deus, somente a Humanidade que nos salva, fracassa completamente. Ele falha em cada uma de suas manifestaes, seja por meio do ritualismo da obedincia lei de Moiss - que era a armadilha na qual os glatas dos dias de Paulo estavam se prendendo (3.10; 5.2-4)

    o ascetismo rigoroso, a flagelao do corpo, o super-rerrogao,

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    os atos de auto-retido de um homem moral, a estrita obedincia s leis da Natureza, a confiana na Cincia (estas ltimas intencionalmente com letra maiscula), e, finalmente, a dependncia de si prprio, como determinador de seu destino e senhor de sua alma, ou de algum personagem poltico ou religiosa (i.e. falso Messias).

    s vezes a tentativa de satisfazer aos mais profundos desejos do homem toma uma direo inteiramente diferente, e at mesmo oposta. O legalismo cede lugar ao anarquismo. At parece que os homens esto dizendo: J que a obedincia s leis - seja da Natureza, de Moiss, dos demagogos ou at das conscincias no esclarecidas - no tem trazido nenhum resultado, vamos experimentar a desobedincia s leis. Quebremos suas correntes em pedaos e lancemos fora suas cordas que nos emaranham. Fora toda e qualquer restrio! Entretanto, aqueles que tm semeado o vento (que querem chamar de) liberdade pessoal - na realidade licen- ciosidade descontrolada! - com nfase em coisas tais como sexo e sadismo, furtos e vandalismos (cf. 5.19-21), esto colhendo a tempestade do empobrecimento intelectual, da decadncia moral, da falncia espiritual. A soluo, obviamente, no se encontra nesta direo.

    A todos aqueles que desejam levar Deus a srio, a epstola aos Glatas mostra o caminho para a verdadeira liberdade (5.1). Esta liberdade genuna no nem legalismo nem anarquismo. Ela a liberdade de ser escravo de Cristo. Consiste em tomar-se cativo de seus ensinamentos, ou seja, render-se ao Deus Trino como Ele se revelou em Jesus Cristo para a salvao eterna. Ela descoberta quando a pessoa est disposta a desistir de quaisquer tentativas de salvar-se a si mesma, aceitando a Cristo Jesus como Senhor e Salvador, gloriando-se em sua cruz e confiando nele como o cumpridor da lei (3.13). Pois a todos aqueles que tm sido levados, pela graa soberana de Deus, a fazer assim, a lei cessa para sempre de ser o meio de alcanar a felicidade agora, ou, o passaporte de ingresso no cu quando a morte chegar (2.16). Guiados pelo Esprito de

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    Cristo, os redimidos, por causa da gratido que sentem pela salvao recebida como presente, comeam a encher suas vidas do fruto do esprito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansido, domnio prprio (5.22,23). Agora o medo se esgueirou e desapareceu. A cobia no mais existe como princpio a ser seguido (5.24). A porta da priso se abriu. A atmosfera est alegre e revigorante. A verdadeira liberdade foi encontrada, afinal. O pecador foi reconciliado com o seu Deus. Ele agora est andando no Esprito (5.16). Ele encontrou no somente a bno, mas tambm se tomou uma bno, pois por seu intermdio que Deus abenoa o mundo.

    Esta ltima observao merece nfase. Nos dias de Paulo, nem o legalismo nem o libertinismo (licenciosidade) estavam vencendo qualquer batalha realmente verdadeira e duradoura. Era exatamente a liberdade em Cristo e por meio dele que saa vencendo e para vencer. Se Paulo tivesse se rendido ao legalismo, o Cristianismo teria sido conhecido como nada mais do que um Judasmo modificado, que de forma alguma teria conquistado o mundo. Os gentios o teriam rejeitado. Se tivesse concordado com o libertinismo, seguindo o exemplo daqueles que tinham criado o slogan Permaneceremos no pecado, para que seja a graa mais abundante (cf. Rm 6.1), os coraes dos eleitos para a vida etema jamais seriam saciados. Mais cedo ou mais tarde a falsidade da nova religio seria exposta. Mas porque, pelo poder soberano de Deus, o Cristianismo no sucumbiu a nenhum dos dois, seno o que proclamou as riquezas da graa perdoadora e transformadora (!) de Deus, ele tomou-se no somente uma, mas a grande religio mundial, aquela que foi destinada a invadir os coraes de todos aqueles que Deus na eternidade elegeu dentre todas as tribos, lnguas, povos e naes(Ap 5.9). Legalismo, Libertinismo ou verdadeira liberdade - esta era a questo naquele tempo. Hoje tambm persiste a mesma questo.

  • 12 G l a t a s

    II. A Q u e m F oi E n d e r e a d a ?

    Cerca do ano 278 a.C. um grande grupo de gauleses ou celtas, que tinha invadido e arrasado a Grcia, Macednia e Trcia, cruzou o interior da sia Menor. Sua entrada no foi - pelo menos no inteiramente - uma invaso sem justificativa, pois tinham chegado em razo de um convite que lhes fora feito por Nicomedes, rei de Bitnia. Ento, ei-los aqui ocupando o corao da sia Menor, uma ampla faixa que se estendia para o norte a partir do centro (veja-se o mapa abaixo).

    Eles pertenciam a trs tribos: os trochmi, os tectosages e os tolisbogii, aos quais so associadas as seguintes cidades, respectivamente: Tvio, Ancira e Pisdia. Todas essas trs tribos eram Galli, ou seja, gauleses (guerreiros), tambm chamados galatae, ou seja, glatas (nobres). Rapidamente ganharam o domnio sobre a populao nativa de frgios, uma raa de linhagem mista, devotos da antiga e imponente religio de Cibele. Por muito tempo, por causa de constantes invases a distritos vizinhos, as fronteiras do domnio glico permaneceram flexveis, mas finalmente esses invasores foram forados pelos romanos a viverem em paz com os seus vizinhos e a permanecerem dentro dos limites do seu prprio territrio. No curso dos anos, como freqentemente acontece em tais casos, os gauleses se mesclaram com o povo nativo e adotaram sua religio, enquanto que na maioria dos demais aspectos continuaram como raa dominante.

    Visto que os lderes glicos eram dotados de perspiccia, geralmente se aliavam a quem porventura estivesse no topo em Roma. Esta, em resposta, permitia que fossem tratados mais como aliados do que como uma nao conquistada. Eram considerados um reino. Durante o reinado de seu ltimo rei, Amintas IV, o reino foi at

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    mesmo estendido mais para o sul. Com a morte de Amintas IV (25 a.C.) os romanos herdaram este reino, que j era de tamanho considervel, e converteram-no na provncia romana da Galcia, que logo compreendeu, alm dos territrios centrais e ao norte, tambm partes da Frigia, Licania, Pisdia e Isauria, no sul (veja-se o mapa abaixo).

    compreensvel que os termos Galcia e glatas pudessem, a partir de ento, ser usados com duplo sentido, indicando a. Galcia, propriamente dita, b. a provncia romana maior, habitada no somente pelos gauleses como raa dominante na regio central e norte, mas tambm por outros mais para o sul. Quando o termo glatas foi usado no sentido anterior, naturalmente no poderia estar se referindo queles a quem o evangelho fora proclamado durante a primeira viagem missionria de Paulo. As igrejas de Antioquia (Pisdia), Icnio (Frigia), Listra e Derbe (cidades da Licania)1 seriam ento excludas. Por outro lado, quando era usado no sentido posterior, poderia muito bem estar se referindo a estes primeiros convertidos f crist sobre quem lemos em At 13 e 14.

    Tudo isto nos conduz a uma indagao: A quem a epstola aos Glatas foi endereada: s igrejas de Pessino, Ancira, Tvio e arredores, ou aos habitantes de Antioquia (Pisdia), Icnio, Listra, Derbe e proximidades? Paulo usou o termo glatas (3.1; cf. 1.2) no sentido racial (tnico) ou no sentido poltico? Ele estava pensando nos povos do norte ou nos do sul?2

    Durante quase dois sculos houve uma grande diviso de opinies

    0 i escritores antigos nem sempre relacionam estas cidades com os distritos como M)U indicados. H muita confuso quanto ao ponto de partida de cada escritor em particular, ou seja, se ele geogrfico ou poltico. Alm disso, as fronteiras muda- Vm. Veja-se At 13.14; 14.6.* A grande distncia entre as cidades do norte e aquelas do sul, e tambm certos Incidentes especficos mencionados na carta (4.12-16), tornam impossvel crer que Paulo estava dirigindo-se s igrejas tanto do norte como do sul da Galcia. Tinha que N r ou do norte ou do sul.

    i

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    . 1 1 espeito deste assunto. Ambos os lados tm seus fortes representantes, assim como os mais fracos. Para uma defesa representativa da teoria da Galcia do Norte, veja-se J.B. Lightfoot, The Epistle ofSt. Paul to the Galatians , reedio, Grand Rapids, sem data, pp. 1-35; para a Galcia do Sul, veja-se W.M. Ramsay, The Church

    Q u e m E r a m o s G l a t a s?

    161 km

    SIA, GALCIA, etc.: Provncias Romanas Msia, Galcia, etc.: Regies Geogrficas------------------: Incio da Segunda Viagem Missionria: Antioquia(Sria) a Trade; e da terceira: Antioquia (SMa) a feso

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    in the Roman Empire, Londres, 1893, pp. 3-112; St. Paul the Traveler and the Roman Citizen, reedio, Grand Rapids, 1949, pp. 89-151; e A Historical Commentary on St. P au ls Epistle to the Galatians, reedio, Grand Rapids, 1965, pp. 1-234.3

    Excelentes sumrios de argumentos e contra-argumentos, logicamente dispostos, podem ser encontrados em vrios comentrios. Para evitar alguma repetio, e, se possvel, aumentar o interesse por esse assunto, que no totalmente sem sentido para a prpria interpretao de algumas passagens de Glatas, seguirei uma nova abordagem, apresentando o assunto na forma de um breve debate imaginrio entre um defensor da teoria da Galcia do Norte e um advogado do ponto de vista oposto.

    Tese: A Epstola aos Glatas fo i dirigida s igrejas da Galcia do Norte.

    A . AfirmativoSr. presidente, honorveis juizes, digno oponente e todos os

    < le mais amigos da investigao bblica:Nos dias do apstolo Paulo havia, na regio central e norte da

    sia Menor, um povo conhecido como gauleses ou glatas. Eles eram gauleses ou glatas de sangue e descendncia. At muito antes i le atravessarem da Europa para a sia Menor eram conhecidos I u >r lais nomes. O novo reino que constituram na sia Menor era, i < Miseqentemente, um reino glico ou glata. verdade que quan-

    ' I iiMitre os que favorecem a teoria da G alcia do N orte esto os seguintes (para os m ulos de suas obras, veja-se b ibliografia): C alvino, C oneybeare e H ow son, Erd- in.iii. Eindlay, G reijdanus, Kerr, M offatt, Schaff e Schm oller. A crtica de K irsopp I .ikc do ponto de v ista da G alcia do Sul (em The Beginnings o f Christianity, Parte I. I.ondres, 1933, pp. 224-240) tem m antido as m entes abertas a esse respeito , nhuci va Sherm an E. Johnson, E arly C hristianity in A sia M inor , JBL, 77 (M aro l usk), p. 9, Para a defesa da teoria da G alcia do Sul, veja-se (alm do trabalho de Kiinisiiy), B crkhof, New Testament Introduction, p. 179 segs.; B ruce, Commentary i m Act\, p. 300, Burton, C ole, E llis, Em m et, G oodspeed, Jones, R endall, R idderbos, Kopcs, Scott, S tam m , Tenney, T hiessen , Van Leeuw en e Zahn.

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    do o reino foi convertido em uma provncia romana chamada Galcia, alguns poucos distritos pequenos foram adicionados, habitados por povos de uma nacionalidade diferente que, em sentido remoto ou definidamente secundrio, poderiam, daquele momento em diante, se chamar glatas. Entretanto, no se pode negar que o significado primrio desta palavra - glatas - no habitantes da provncia da Galcia, e, sim, gauleses, e nada mais. Portanto, quando a carta endereada aos Glatas, prova convincente em contrrio seria necessria antes que pudssemos interpretar esse endereamento de qualquer outra forma seno aquela que est em harmonia com a conotao da palavra h muito tempo estabelecida.

    Prova assim, to convincente, entretanto, no se encontra. Per- gunte-se aos intrpretes antigos, homens que viveram muito mais prximos poca em que esta carta foi escrita, como eles interpretavam o termo glatas, da forma que ele usado em G13.1; cf. 1.2. A uma s voz eles diro que o termo se refere aos gauleses da Galcia propriamente dita, e no a qualquer um que, por causa de alguma manobra poltica, por um acaso estivesse dentro da provncia romana da Galcia. A este testemunho dos antigos deve-se dar o devido peso. Em todas as outras discusses - como, por exemplo, o assunto da origem do batismo infantil, ou a observncia religiosa do primeiro dia da semana - ns sempre perguntamos: O que as antigas tradies dizem sobre este assunto? Por que deveramos ignorar to unnime tradio neste particular especfico?

    Alm disso, estudos cuidadosos do contedo da epstola fortalecem a posio que ora defendo. Podemos notar que os destinatrios so retratados como inconstantes. Quando o apstolo chegou entre eles e lhes pregou o glorioso evangelho, eles o aceitaram de imediato. Sim, receberam-no como teriam recebido a um anjo ou ao prprio Jesus Cristo, e, se preciso fosse, teriam arrancado os prprios olhos e dado a Paulo (G14.14,15). Pouco depois, entretanto, com a chegada de algum falso doutrinador que difamou a

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    Paulo e fez pouco caso de sua pregao, eles prontamente mudaram de atitude, ficando, assim, a ponto de rejeitar a Paulo e sua mensagem (G13.1-4). Ora, essa instabilidade de carter no tem sido um trao marcante dos gauleses, sim, e at mesmo de seus descendentes at ao dia de hoje? No lemos de Jlio Csar, Guerras Glicas, IV.5, estas linhas: Csar foi informado desses acontecimentos e, temendo a inconstncia dos gauleses... decidiu que nenhuma confiana poderia ser depositada neles? Esses glatas, a quem Paulo se dirigiu em sua epstola, eram, portanto, gauleses tpicos.

    Alm disso, quando comparamos o relato de Lucas sobre a primeira viagem missionria, durante a qual o evangelho foi proclamado ao povo de Antioquia (Pisdia), Icnio, Listra e Derbe, com o relato do apstolo sobre sua recepo pelos glatas e seu trabalho no meio deles (G14.13,14), no d para perceber imediatamente que esses dois relatos so completamente diferentes? Essa diferena no porque um verdadeiro e o outro falso. Mas porque os dois relatos tratam de dois assuntos inteiramente diferentes, de duas misses diferentes. Por isso, o apstolo diz aos gauleses ou glatas: E vs sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez por causa de uma enfermidade fsica(Gl 4.13). Ora, compare essa afirmao com o relato de Lucas do trabalho de Paulo em Antioquia, Icnio, Listra e Derbe (At 13 e 14). H nesse relato pelo menos alguma indicao de que Paulo tivesse iniciado seu trabalho nessas cidades mais ao sul, ou continuado por mais tempo do que o desejado, por causa de uma enfermidade da carne? E claro que no, pois esses so povos diferentes. No podem ser identificados com os glatas de Paulo.

    Alm do mais, quando Lucas, pela primeira vez, menciona a palavra glatasl No at que atinja o ponto em sua histria onde Paulo, em sua segunda viagem missionria, j tinha deixado as cidades mais ao sul, ou seja, Derbe, Listra, etc., e se volta para o norte (At 16.6; cf. 18.23; 19.1). Est muito claro, portanto, que

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    quando Lucas - o amigo ntimo e freqente companheiro de Paulo, a quem o apstolo chamava de o amado mdico- finalmente comea a falar dos glatas, ele no pode estar pensando nas cidades do sul, que tinham acabado de ser anexadas4 provncia da Galcia. Seus olhos agora esto voltados para o norte. Sendo isso verdade com respeito a Lucas, por que no seria com respeito a Paulo? Por que deveramos supor que Paulo usa os termos Galcia e glatas em qualquer sentido seno o tnico?

    H mais uma razo que toma praticamente impossvel identificar o povo das cidades da parte mais ao sul da provncia romana da Galcia com os glatas a quem Paulo se dirige em sua carta. Todo o contedo de sua epstola toma claro que aqueles a quem ele se dirigiu eram - exclusiva ou quase exclusivamente - convertidos do mundo gentlico (G14.8-11; 6.12). Eram pessoas que jamais haviam sido circuncidadas (G15.2; 6.12), mas passavam agora perigo de aceitar o rito da circunciso. No podiam, portanto, ter sido judeus, pois os judeus eram circuncidados, e at eram chamados de os circuncisos. Por outro lado, as igrejas estabelecidas na parte mais ao sul da provncia romana da Galcia eram compostas de judeus e gentios, talvez em propores iguais. Os judeus poderiam at mesmo ter predominado. Alis, em Antioquia da Pisdia havia muitos judeus que seguiam a Cristo (At 13.43). Em Antioquia e Icnio estavam presentes sinagogas judaicas. Nessas sinagogas o apstolo entrava e pregava. Em Icnio, veio a crer grande multido, tanto de judeus como de gregos (At 14.1). Essa diferena decisiva entre a constituio das igrejas do sul, descrita no livro de Atos, e os gentios convertidos a quem Paulo se dirigia em sua carta aos Glatas, prova que a carta no poderia ter sido escrita Galcia do Sul, e sim que foi escrita Galcia do Norte.

    4 Seu oponente poderia t-lo desafiado quanto a essa informao, uma vez que esse povo tinha sido glata por pelo menos 75 anos. Mas, em debate, ningum pode se apegar a todos os pontos menores.

  • In t r o d u o 19

    B. NegativoSr. presidente, nobres juizes, caro adversrio e todos aqueles

    que esto interessados na pesquisa bblica:Primeiramente desejo relembr-los da proposio que meu ad

    versrio deveria ter defendido. Refiro-me tese: A epstola aos Glatas foi dirigida s igrejas da Galcia do Norte. Permitam que eu grife a palavra igrejas. Em que parte de sua argumentao o meu adversrio nos deu uma clara concepo dessas igrejas? Tudo o que ele nos falou foi que em algum ponto de sua segunda viagem missionria, e tambm depois, Paulo se dirigiu ao norte. Evidentemente que ele queria nos levar concluso de que, j que a carta de Paulo era endereada aos gauleses, e j que as igrejas mais ao sul no eram constitudas de gauleses, Paulo deveria ter trabalhado por um considervel tempo entre os gauleses do norte, tempo suficiente para estabelecer igrejas l. Ser que estou sendo injusto em afirmar que esta concluso tem por base falsas premissas? O fato que quando Paulo diz glatas, ele no quer dizer necessariamente gauleses. Antes, contrastando-se com Lucas, ele, Paulo, est mencionando as igrejas sob o seu cuidado, e, para agrup-las, ele usa os nomes de provncias romanas em lugar de nomes de raas ou nacionalidades. Da, por exemplo, em ICo 16.5, o apstolo falar da Macednia; no dcimo quinto versculo do mesmo captulo, ele refere-se Acaia, e no dcimo nono versculo, kAsia. Todas essas eram provncias romanas. Portanto, quando, na abertura do captulo (ICo 16.1), ele menciona as igrejas da Galcia, no lgico supormos que aqui tambm, como nos outros trs casos, ele se refira a ela como provncia romana? E se em 1 Co 16.1 o significado forosamente as igrejas da provncia romana da Galcia, por que a mesma frase em G11.2 teria significado diferente?5 Podemos

    5 Ademais, ICo 16.1 fala da coleta para os santos judeus, a qual fora tambm recomendada s igrejas da Galcia (entre outras). De acordo com At 20.4, entre os delegados para levar esse presente a Jerusalm estavam Gaio (de Derbe) e Timteo

  • 20 G l a t a s

    ver, portanto, que muito melhor dizer que a epstola de Paulo, que o objeto deste debate, foi endereada s igrejas da provncia romana da Galcia em lugar de argumentar que ela deveria ter sido escrita s igrejas da Galcia do Norte.

    Meu oponente enfatizou muito o fato de que foi no sentido tnico que os pais da igreja interpretavam os termos Galcia e glatas. Ele no mencionou, porm, a razo deste erro patrstico. A razo foi porque nos dias dos pais apostlicos a provncia da Galcia tinha, mais uma vez, sido reduzida virtualmente s suas velhas dimenses, sendo que para eles, ento, o territrio habitado pelos gauleses e a provncia da Galcia coincidiam entre si. Por isso, sem mais investigao, concluram que Paulo, ao dirigir-se s igrejas da Galcia, estava falando s pessoas que tinham vindo de alm- mar, isto , os gauleses. Mas, como temos visto, esta opinio dos pais no est em harmonia com o uso que Paulo fez de termos polticos.

    Um tanto quanto surpreendente para mim que meu amado adversrio, na defesa de sua proposio, tenha lanado mo do agora muito pouco usado argumento baseado na inconstncia dos gauleses. Mas seria justo e honesto que ns, que no possumos o dom da inspirao infalvel, caracterizssemos uma nao inteira como sendo inconstante? A inconstncia uma caracterstica nacional? No , em vez disso, uma fraqueza pertinente natureza humana no regenerada, em geral? Suponhamos que os glatas a quem o apstolo se dirigiu em sua carta fossem inconstantes pelo fato de terem to rapidamente abandonado o seu entusiasmo inicial com respeito a ele e mensagem que ele trazia. De quem esta instabilidade nos lembra? No nos faz lembrar imediatamente da cena em Listra, uma cidade da Licania, na parte sul da provncia da Galcia, em que seus habitantes, aps terem recebido Paulo e Bamab, gritan

    (de Listra, At 16.1), ambos, portanto, da Galcia do Sul. Nenhum delegado do Norte sequer mencionado. Apesar de existirem formas de enfraquecer esse argumento, ele pode ter algum peso.

  • In t r o d u o 21

    do: Os deuses tm descido a ns, pouco tempo depois apedrejavam o apstolo quase at morte? De fato, em matria de inconstncia, no preciso ser um gauls! Alm do mais, estritamente falando, correto deduzir que at quela data avanada, o primeiro sculo d.C., as tribos do Norte ainda eram compostas somente de gauleses. Uma vez aceito que a raa gaulesa era a dominante, no verdade que muitos afluentes teriam derramado suas guas nos rios de sua nacionalidade composta?

    Meu oponente tambm apela para o fato de o livro de Atos no falar de enfermidade fsica (cf. 4.13) como razo para Paulo ter iniciado ou prolongado sua misso na Galcia do Sul. Mas, em primeiro lugar, as diferenas entre esses dois relatos podem ser removidas por meio de uma abordagem diferente de G14.13, em que ela no seria traduzida por causa de, e, sim, no meio de enfermidade fsica, o que harmonizaria plenamente com At 13.50; 14.5,6, 19; cf. 2Tm 3.11. Em segundo lugar, mesmo se mantivssemos por causa de, e concordssemos com uma real diferena entre G14.13 e o relato de Atos, que seja tambm lembrado que dentre as muitas aflies que o prprio apstolo cita em 2Co 11.23-33, Lucas menciona somente algumas. seguro concluir, ento, que Paulo jamais sofreu as aflies que Lucas no menciona?

    Quanto diferena entre judeus e gentios, entre Atos e Glatas, um estudo cuidadoso de Atos 13 e 14 deixa a impresso de que, onde quer que houvesse uma sinagoga, Paulo a entrava e a pregava o evangelho, atingindo tanto judeus como gentios (At 13.43; 14.1). Embora tanto judeus como gentios aceitassem o evangelho, os primeiros, em geral, o rejeitavam, levando o apstolo a afirmar: Visto que o rejeitais, nos volvemos para os gentios. Alm do mais, em alguns dos lugares visitados, os judeus eram em to pouco nmero que nem sinagoga havia. Isso concorda com a situao como aparece nesta epstola de Paulo. No tocante ao ltimo argumento, o apstolo toma por certo que os leitores tinham suficiente conheci

  • 22 G l a t a s

    mento do Antigo Testamento para acompanhar o seu raciocnio, at mesmo de G14.21-31. Este fato no indica, pelo contrrio, a presena de pelo menos alguns judeus dentre os destinatrios, e de considervel influncia judaica at mesmo nas congregaes predominantemente gentlicas?

    Concluo dizendo que meu oponente no conseguiu mostrar que a epstola aos Glatas endereada s igrejas da Galcia do Norte. Da fundao e existncia, nos dias de Paulo, de tais igrejas, o livro de Atos nada diz com plena certeza, nem no captulo 16.6 nem no 18.23 e 19.1. E, por outro lado, da fundao de igrejas na Galcia do Sul ele nos deu um relato detalhado.

    C. Refutao a AfirmativoQuanto contestao do meu oponente, em que ele fala que

    Paulo ao referir-se aos grupos de igrejas os classificava de acordo com as provncias romanas em que estavam localizadas, e que, conseqentemente, o termo as igrejas da Galcia teria que referir-se s igrejas dentro da provncia da Galcia, tal regra tem suas excees. Deste modo no se pode provar que ele est usando terminologia poltica quando fala da Cilcia (G11.21), da Judia (G11.22) e da Arbia (G14.25).

    De resto, devo expressar minha profunda admirao pela esperteza do meu oponente. Ele consegue direcionar um argumento de silncio em qualquer direo de acordo com o seu propsito. Faz-me pensar no que uma criana s vezes diz ao seu colega para determinar quem receber a maior fatia da ma: Vamos jogar uma moeda. Cara, eu ganho; coroa, voc perde. Quando chamei a ateno para o silncio do livro de Atos com respeito enfermidade de Paulo, em sua primeira viagem missionria, durante a qual ele fundou as igrejas da Galcia do Sul, meu oponente nos disse que tal silncio, se fosse um fato, nada significaria. Entretanto, ele tinha certeza de que quando este mesmo livro de Atos deixa de dizer explicitamente que igrejas foram estabelecidas na Galcia do Norte, este

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    silncio tem muito a dizer, e significa que nenhuma igrej a foi fundada l, igrejas para as quais Paulo poderia ter escrito sua epstola. Ele mantm essa posio a despeito do fato de At 18.23 afirmar que o apstolo atravessou essa regio do norte confirmando todos os discpulos. Essa palavra todos no indica que havia muitos? Isto no sugere que todos esses discpulos devem ter-se organizado em igrejas? E o fato de Paulo, em sua terceira viagem missionria, ter estabelecido on fortalecido todos esses discpulos no indica que estas vrias igrejas devem ter sido previamente organizadas, fato esse para o qual At 16.6 poderia estar nos chamando a ateno? Alm do mais, At 19.1 no fala que Paulo, tendo passado pelas regies superiores, chegou a feso? O que mais pode significar essas regies superiores seno a Galcia do Norte, e suas cidades de Tvio, Ancira e Pessino? Realmente, Lucas no nos relata especificamente que igrejas foram fundadas nessas cidades, mas tambm no nos fala que jamais foi fundada uma igreja em Colossos. Porm, Paulo escreveu uma carta aos Colossenses. Lucas no nos fala uma palavra sequer sobre a fundao da igreja de Roma. Ainda assim sabemos que uma igrej a foi fundada ali e que Paulo escreveu- lhe uma carta.

    Concluo meu resumo, portanto, afirmando, mais uma vez, que minha firme convico que havia igrejas na Galcia do Norte, e que foi para essas igrejas, genuinamente glatas, que Paulo escreveu sua epstola.

    D. Refutao a Negativo evidente - ou no ? - que meu oponente no teve sucesso

    em derrubar meu argumento de que onde quer, nas epstolas de Paulo, que tivermos condio de determinar com certeza a localizao e extenso de qualquer grupo de igrejas, Paulo usa terminologia poltica para as descrever. Ele usa os nomes das provncias romanas.

    Quanto ao silncio do livro de Atos, meu oponente tambm aqui deixa de distinguir entre silncio proposital e no proposital. Quan

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    do Lucas presumidamente deixa de mencionar a enfermidade de Paulo, esse silncio mais ou menos proposital. Pelo menos ele no quer dizer que no houvesse tal enfermidade, pois comparando o relato de Lucas com o prprio catlogo de sofrimentos de Paulo (2Co 11.23-33), aprendemos que Lucas no se deteve na pormenorizao dos sofrimentos de Paulo. Em vez disso, ele narra o trabalho de Cristo na terra, fundando uma igreja aqui, outra igreja ali, e juntando-se em uma unio orgnica. Assim Lucas, enquanto narra a viagem em que igrejas estavam sendo fundadas, ao omitir qualquer referncia ao estabelecimento de igrejas em algum distrito visitado naquela viagem, ou pregao de Paulo ali, esse seria um silncio inesperado, a no ser que nada de importante tivesse acontecido naquele distrito.

    Meu oponente enfatizou At 16.6; 18.23; 19.1, como se estas trs passagens descrevessem o trabalho de Paulo nas cidades da Galcia do Norte. Ora, em At 16.6-8 (segunda viagem missionria), uma vez que Deus pretendia mandar Paulo Europa via Trade, a rota pode muito bem ter tocado na faixa mais a noroeste da provncia da Galcia. Mas essa passagem em Atos no fala nada sobre a fundao de igrejas e nem sobre a pregao do evangelho ali. Quanto a At 18.23 e 19.1 (terceira viagem missionria), uma olhada no mapa suficiente para mostrar que a rota de Antioquia (na Sria) para Efeso provavelmente no passava por Tvio, Ancira e Pessino! O mapa indica a parte mais ao sul desta mesma provncia romana da Galcia.6 E as palavras fortalecendo todos os discpulos provavelmente se refiram Galcia do Sul.,, Cf. At 14.20-23; 16.1-5.

    Relevante significado tem, como indica a ltima referncia, o fato de que foi para as igrejas da Galcia do Sul que os preceitos do Concilio de Jerusalm foram enviados, comprovando que era exatamente ali que o judasmo era uma questo acirrada, precisamente

    6 Veja-se o mapa; tambm C.N.T. de Colossenses e Filemom, pp. 17-20

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    o judasmo contra que Paulo contende em sua carta. Eu creio, portanto, que Paulo usou o termo glatas no sentido poltico, como tambm fez Pedro (1 Pe 1.1). Difcil acreditar que os judaizantes, com suas propagandas sinistras, teriam deixado de passar pela Galcia do Sul em seu caminho para a Galcia do Norte. Alm do mais, Bamab, que mencionado trs vezes em Glatas (2.1, 9, 13), trabalhara com Paulo na Galcia do Sul. Somente com respeito s igrejas da Galcia do Sul, fundadas na.primeira viagem missionria, que Paulo, ao tempo do Concilio de Jerusalm, podia dizer: Aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vs (G12.5).

    Concluo, pois, enfatizando uma vez mais que a proposio o que estatui que Paulo escreveu sua carta Galcia do Norte deve ser rejeitada.

    Relatrio de um dos juizes (o autor deste comentrio. Os leitores so os demais juizes): Eu creio que ambos os oradores cumpriram bem as suas tarefas. Entretanto, o orador adepto do negativo merece uma pequena repreenso por ter guardado alguns de seus argumentos de menor importncia para o ltimo momento, fazendo com que seu oponente no tivesse nenhuma oportunidade de resposta. Se essa oportunidade tivesse sido dada, ele teria, sem a menor sombra de dvida, diminudo de alguma forma a fora desses argumentos. Ele teria mostrado, por exemplo, que Barnab no mencionado somente em Glatas, mas tambm em outros livros (1 Co 9.6; Cl 4.10). Porm, considerando tudo o que foi exposto, dou meu voto em favor do argumento negativo, em favor da teoria da Galcia do Sul. Crer que as igrejas da Galcia do Sul, to queridas de Paulo por causa de suas experincias abenoadas no meio delas (At 13.33,44,48; 14.1, 3, 20-23), e to vividamente inculcadas em sua memria por causa das perseguies que tinha enfrentado enquanto trabalhava em suas cidades (At 13.50; 14.2, 5, 19; cf. 2Tm 3.11), no tivessem virtualmente tomado parte em sua corres

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    pondncia e tambm desaparecido quase que completamente da histria sagrada, seria difcil. E se o apstolo escreveu realmente para elas, como eu creio que o orador do lado negativo provou, que outro nome em comum poderia ele ter usado para dirigir-se a elas seno o de glatas?

    III . Q u a n d o , O n d e e P o r Q u e E l a F o i E s c r it a ?

    A. Quando e Onde?H uma grande diversidade de opinies sobre este assunto. Al

    guns aceitam como data o encerramento da primeira viagem missionria (cerca de 50 d.C.), e, como lugar de composio, Antioquia. H tambm aqueles, no outro extremo, que dizem que foi na priso romana do apstolo (60 d.C. e depois). Ao passo que a primeira data alcanou grande popularidade por algum tempo, e ainda seja preferida por alguns eminentes estudiosos, a segunda raramente encontrada.7 Vrias datas intermedirias tm obtido grande repercusso. Naturalmente, como regra, os advogados da teoria da Galcia do Norte aceitam uma data um tanto quanto tardia, pois o apstolo no teria entrado naquelas reas at sua segunda viagem missionria. Segundo a teoria deles, Paulo visitou novamente a Galcia do Norte durante sua terceira viagem missionria. Assim, geralmente sustentam que Glatas foi escrita em sua terceira viagem missionria, em feso (Greijdanus), ou, mais precisamente, em feso umas poucas semanas antes de 1 Corintios (Warfield), ou depois de 1 e 2 Corintios, mas antes de Romanos, e, desta forma: ou a. na viagem de Macednia para Acaia (Lightfoot), ou b. em Corinto

    7 Alm dos vrios comentrios, vejam-se os seguintes artigos, todos possuindo o seguinte ttulo: The Date of the Epistle to the Galatians: F. F. Bruce, ET, 51 (1939- 1940), pp. 157,158; Maurice Jones, Exp, srie 8, 6 (1913), pp. 192-208; D. B. Knox, EQ, 13 (1941), pp. 262-268; e B. B. Warfield, JBL (Junho e Dezembro, 1884), pp. 50-64.

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    (Robertson). Ns, que adotamos a teoria da Galcia do Sul (veja- se captulo II), chegamos a uma data mais recuada, porque, durante as trs viagens missionrias, Paulo trabalhou na Galcia do Sul antes de em qualquer outro grupo de igrejas. possvel ser mais especfico? Os seguintes itens podem ser de alguma ajuda, apesar de no ser possvel chegar exatido.

    1. Glatas foi escrita depois do Concilio de Jerusalm, pois descieve a relao de Paulo com os outros lderes daquela grandiosa reunio. A viagem a Jerusalm, mencionada em G12.1, tem que ser identificada com aquela indicada em At 15.1 -4. Como prova disso, veja-se G12.1.

    2. Glatas foi escrita depois das duas visitas prvias Galcia do Sul, a primeira estando indicada em At 13 e 14, e a segunda em At 15.40-16.5. Esta a interpretao mais natural de G14.13 (veja- se o comentrio sobre este versculo).

    3. O livro foi escrito no muito tempo depois da converso dos glatas - por isso, tambm, no muito tempo depois das duas visitas de Paulo - , pois Paulo est estupefato com a rapidez com que os glatas esto se afastando do Deus que os tinha chamado (veja-se 1.6).

    4. Portanto, o livro pode muito bem ter sido escrito na segunda viagem missionria, em Corinto, antes da chegada de Timteo e Silas} Isto explicaria a omisso de saudaes desses dois homens, os quais ocuparam um lugar especial nos coraes e nas mentes das igrej as da Galcia do Sul (At 15.40; 16.1-3). Contraste-se com G11.1,2, onde esses dois nomes so omitidos, e com 1 Ts 1.1; 2Ts 1.1, as quais mencionam ambos, e esta a provvel razo da omisso e da incluso destes, sendo que quando Glatas foi escrita Timteo e Silas ainda estavam ausentes, mas quando as cartas aos

    1 Em geral essa tambm a posio adotada por Zahn, Berkhof, Hiebert, Lenski, Ridderbos, etc.

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    Tessalonicenses foram escritas, esses dois cooperadores j haviam chegado em Corinto, novamente estando na companhia de Paulo. Isto fixaria a data da composio do livro em algum lugar entre 50- 53 d.C. (segunda viagem missionria), logo antes da composio de 1 Tessalonicenses.

    Glatas, portanto, pode muito bem ser a primeira ou a mais antiga de todas as cartas preservadas de Paulo. Tem-se alegado a improbabilidade de Paulo, durante seu ministrio em Corinto, ter escrito, em to pouco tempo, dois livros to diversos em seus temas gerais quanto Glatas, de um lado, e 1 e 2 Tessalonicenses, do outro lado. Aos Glatas Paulo escreve: que o homem no justificado por obras da lei e sim mediante a f em Cristo Jesus (G12.16); e aos Tessalonicenses, ele escreve: Pois eles mesmos, no tocante a ns, proclamam que repercusso teve o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os dolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e para aguardardes dos cus o seu Filho (lTs 1.9,10). Todavia, deve ser levado em conta o seguinte:

    1.0 tema das epstolas de Paulo foi determinado no tanto pelo gradual desenvolvimento mental do apstolo, mas pelas necessidades especficas surgidas de situaes concretas nas vrias igrejas. Os glatas necessitavam de ser lembrados da doutrina da salvao pela graa por meio da f somente. Os tessalonicenses necessitavam de encorajamento em conexo com a sua dramtica converso e com respeito volta de Cristo. Cada grupo recebe o que necessita!

    2. Os glatas e os tessalonicenses viviam em continentes diferentes, em circunstncias diferentes.

    3. Os dois grupos eram diferentes tambm em seu grau de lealdade para com a verdade.

    4. E assim, a diferena entre as duas situaes no era muito menos radical como s vezes aparenta. Por exemplo, a doutrina que diz respeito converso dos dolos mortos para o Deus vivo era

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    proclamada a ambos os grupos (cf. At 14.15com lTs 1.9).Equanto diferena de contedo entre as duas cartas: Apesar de ser verdade que a doutrina das ltimas coisas mais enfatizada em Tessalonicenses do que em Glatas, ela no est ausente na ltima (G1 5.21). Alm do mais, a f operando por meio do amor no ocupa um lugar de proeminnciaem Glatas? (G15.6). Tambm em lTs 1.3; 3.6; 5.8. Paulo preocupava-se com o risco de ter, porventura, trabalhado em vo entre os glatas? (G1 3.4). Antes que Silas e Timteo voltassem a estar com ele, j tinha experimentado temores semelhantes com respeito aos tessalonicenses (lTs 3.5). Cf. tambm G1 1.4 e 5.5 com lTs 1.10; e 2Ts 3.2; G15.3 com lTs2.12;G l 5.13,16, 19 com lTs 4.13; G15.21 com 2T s2.5;G l 6.6 com lTs 5.12; e tambm nota de rodap 129.

    Portanto, eu no vejo nenhuma razo para negar que a epstola aos Glatas foi logo seguida por 1 Tessalonicenses, que imediatamente foi seguida por 2 Tessalonicenses, sendo que todas as trs foram escritas em Corinto, por volta do ano 52 d.C.

    B .P o r Qu?Ocasio e Propsito

    Em consonncia com tudo o que j ficou estabelecido, neste e no assunto precedente, no tocante identidade dos glatas, quando e de que lugar Paulo escreveu sua carta, o fundo histrico e o seu propsito aparecero no seguinte relato:

    Na igreja de Antioquia da Sria houve um grande regozijo, porque, depois de uma viagem agitada e perigosa, Paulo e Bamab, que tinham sido ordenados para o trabalho missionrio, e enviados pelo Esprito Santo e por uma dedicada congregao submissa graa de Deus, tinham voltado a salvo, com uma maravilhosa histria para contar (At 13.1-3; 14.25-27). Relataram quantas coisas fizera Deus com eles e como abrira aos gentios a porta da f - o que ns lemos. Os dois, ento, passaram no pouco tempo com a igreja em Antioquia.

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    Antioquia, a rainha do leste, era uma cidade cosmopolita no seu ponto de vista. Havia uma colnia de judeus ali, com certeza (At 11.19), mas a comunidade crist, que tem sido chamada de o bero do Cristianismo gentlico e do esforo missionrio, recusou- se a ser enclausurada pelos estreitos limites do judasmo. Foi em Antioquia que fora mais claramente discernido que os seguidores de Jesus no eram somente mais uma seita judaica, e, sim, que tinham uma religio que era nica entre todas as religies do imprio. Foi ali que os discpulos foram chamados de cristos pela primeira vez. Por isso, se qualquer coisa tivesse que acontecer de forma a impedir o progresso mundial do Cristianismo, poder-se-ia contar com a igreja de Antioquia para fazer algo a respeito.

    E algo dessa natureza realmente ocorreu, pois o regozijo que sentiu Antioquia por causa do regresso dos missionrios e todas as novidades que trouxeram sobre multides de pessoas, especialmente gentios, que tinham abraado a Cristo e sua salvao, no ficou em segredo. A notcia espalhou-se por todos os lugares. Jerusalm, tambm ouviu falar a respeito. Tambm, podemos crer, houve regozijo na igreja. Mas esse regozijo no era universal. Nesta cidade da Judia, entre aqueles que ouviram as boas-novas, havia tambm alguns convertidos nominais que eram da seita dos fariseus (At 15.5). Assim como todos os discpulos do Senhor, todos os fariseus tambm criam na ressurreio dos mortos. Alm disso, os fariseus mencionados aqui em At 15.5 podem ter ficado impressionados com a fora da evidncia da ressurreio de Cristo, e com a indiscutvel grandeza de seus milagres, e, possivelmente, por estas razes, tenham-se unido aos seguidores do Nazareno. Entretanto, no fundo permaneciam judeus legalistas. Estavam convencidos de que era necessrio muito mais do que simples f em Jesus para obter-se a salvao; e que a estrita observncia das cerimnias judaicas, da circunciso, em particular, era tambm necessria.

    Ento, quando a notcia da converso dos gentios, sem as obras

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    da lei, e, especialmente, sem precisarem receber a circunciso, chegou aos ouvidos desses homens, correram a Antioquia, com um protesto em seus coraes e um ultimato em seus lbios. Ao chegarem cidade, no hesitaram sequer um momento em anunciar assustada congregao, na maioria gentia, que: Se no vos circuncidardes segundo o costume de Moiss, no podeis ser salvos (At 15.1). Esse forte pronunciamento, uma vez que condenou a maioria da congregao perdio, deve ter causado considervel consternao e tumulto.

    A igreja, entretanto, decidiu fazer alguma coisa a respeito, encorajada, sem dvida alguma, pela crescente e bem fundada suspeita de que esses arruaceiros no tinham sido autorizados a espalhar tal mensagem amedrontante (cf. At 15.24). Desta forma foi acordado que esse assunto seria apresentado numa Conferncia Geral em Jerusalm, ou seja, aos apstolos e ancios(At 15.2), juntamente com toda a igreja(At 15.22). Paulo, Bamab e alguns outros homens foram eleitos a fim de irem a Jerusalm representando a igreja de Antioquia (e, de certo modo, todo gentio convertido no circun- cidado, de todos os lugares) com respeito a esse assunto. Como sucedera ao ser Paulo comissionado a ir em sua primeira viagem missionria, agora tambm a deciso da igreja de Antioquia e a concordncia de Paulo com ela no era assunto meramente humano. O prprio Deus estava no meio disso: o apstolo subiu a Jerusalm por meio de revelao (G12.2).

    Na companhia dos homens que foram a Jerusalm estava tambm Tito, um homem de linhagem gentlica, tanto do lado paterno como do lado materno, portanto um caso de prova, um chocante desafio para os judaizantes. A deciso de colocar todo o assunto - com referncia ao ser Tito um incircunciso e todo gentio tambm incircunciso, porm convertido - , diante do Concilio de Jerusalm em nada implica que Paulo estivesse, com isso, abdicando a sua autoridade como apstolo, ou que a validade de seu ministrio de

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    evangelizao entre os gentios pudesse estar em dvida at que a igreja-me se erguesse com uma resposta oficial questo: Os gentios devem ser circuncidados para que sejam salvos? Paulo, apstolo, no da parte de homens, nem por intermdio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai(Gl 1.1), sabia que a aprovao divina repousava nele e em seu trabalho. Mas com respeito a um assunto de tal importncia, a igreja no poderia ficar dividida, pois isso prejudicaria a grande causa da evangelizao dos gentios. Os lderes, alm do mais, deviam falar clara e inequivocamente ao povo, para que todos pudessem conhecer a plena verdade. Solues deviam tambm ser encontradas para problemas que, embora no essenciais, tratassem de medidas temporrias por meio das quais as igrejas mistas de judeus e gentios pudessem estar juntas e em harmonia (cf. At 15.29). Por essas e outras razes, a convocao do Concilio ou Conferncia Geral era inteiramente procedente.

    O Concilio, citado em Atos 15, ao que tudo indica, foi precedido por uma entrevista particular dos lderes, de acordo com G12.2- 10. Paulo diz: E lhes expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular, aos que pareciam de maior influncia, para, de algum modo, no correr ou ter corrido em vo(Gl 2.2). A concordncia total acerca de todos os pontos foi evidente: Tito no seria circuncidado; a doutrina bsica da salvao para os gentios e para os judeus pela f em Jesus Cristo, sem as obras da lei, deve ser corajosamente sustentada perante a igreja inteira; deve haver uma diviso (provavelmente geogrfica) de trabalho, de forma que Tiago, Cefas e Joo pregaro o evangelho aos judeus, e Paulo e Bamab, aos gentios; os pobres devem ser lembrados. No encerramento da entrevista, as colunas de Jerusalm deram a Paulo e a Bamab a destra de comunho.

    Na reunio do Concilio Geral, os judaizantes aproveitaram a oportunidade para defender sua posio (At 15.5). Entretanto, quando considervel tempo lhes tinha sido permitido para essa defesa,

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    Pedro levantou-se, e com palavras muito bem escolhidas defendeu a plena igualdade de judeus e gentios: Deus no estabeleceu distino alguma entre ns e eles. Pedro demonstra que o caminho da salvao o mesmo para ambos os grupos (15.7-11). Depois de uma solene pausa, Paulo e Bamab levantam-se, usam a palavra e passam a relatar multido em assemblia as bnos fenomenais que Deus derramara sobre os gentios, os sinais e maravilhas que representaram o selo de sua aprovao ao trabalho de seus embaixadores (15.12). Tiago, em seguida, apresenta a sua opinio. Movido pelo fato de que o que estava acontecendo no mundo gentlico era um claro cumprimento de profecias (Am 9.11 -12), ele afirma: Diante do exposto, a minha opinio que no perturbemos aqueles do mundo gentlico que se voltam para Deus. Sem de forma alguma ferir a doutrina da justificao somente pela f, sem as obras da lei, Tiago, que era um indivduo muito prtico, sugeriu a adoo de certos regulamentos que, em perodo de transio, tomariam possvel a crentes judeus e gentios viverem juntos em paz e harmonia (At 15.20,21).

    Os apstolos e os ancios, juntamente com a igreja toda, chegaram a um consenso e decidiram dar forma a essa deciso por meio de um decreto escrito, uma espcie de carta constitucional da liberdade, a qual havia de ser levada a Antioquia pelas mos de Paulo, Barnab e dois outros lderes (15.22-29). A chegada destes homens com a mensagem de que so portadores traz regozijo geral (15.31).

    A deciso da Conferncia foi levada a Antioquia, Sria e Cilcia (15.23), e tambm s cidades daGalcia do Sul (16.1-4). Assim as igrejas eram fortalecidas na f e, dia a dia, aumentavam em nmero (16.5).

    Os judaizantes, entretanto, no estavam dispostos a se render. Seguiram Paulo muito de perto a fim de destruir os resultados do seu trabalho. Em Antioquia, a culpa parcialmente deles pelo com

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    portamento repreensvel de Pedro (G12.11,12). Atravessaram a Galcia insistindo com os gentios a que fossem circuncidados como meio de atingir a salvao (G15.2,3; 6.12). No negavam que a f em Cristo necessria, mas proclamavam em alta voz que a circunciso e a obedincia a certos requisitos legais so tambm necessrios (4.9,10). Entretanto, com assustadora inconsistncia, no insistiam na obedincia a toda a lei (5.3). Com o fim de reforar sua causa, lanavam suspeitas sobre Paulo. Tentaram desacredit-lo, afirmando que o seu apostolado no procedia de Deus, e, sim, dos homens, e que, por isso, seu evangelho era de segunda mo (G11.1 cf. ICo 9. lss); que ele estava simplesmente tentando ganhar o favor dos homens (G11.10), e que, quando lhe era conveniente, ele pregava at mesmo a circunciso (G15.11).

    Paulo sabia que esses perturbadores eram apenas cristos nominais. Eles eram insinceros e inconsistentes, pois enquanto tentavam obrigar outros a observarem a lei, eles mesmos deixavam de guard-la (G16.13). O alvo deles era: a. escapar perseguio por parte dos judeus, e b. por causa de sua ambio pessoal, receber glria camal de seus seguidores; ou seja, apontar com orgulho para aqueles gentios que, por causa da insistncia e exortaes deles, receberam a circunciso (4.17; 6.13). Mas longe esteja de mim gloriar-me, seno na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo - diz Paulo (6.14).

    Pode parecer estranho, porm muitos glatas ouviram atentamente esses usurpadores. Estavam a ponto de trocar po por pedra e peixe por serpente. Generoso, solcito, o corao de Paulo se enche de tristeza ao saber que na Galcia a doutrina da liberdade crist estava ameaada. Guiado pelo Esprito, e debaixo de sua direo, ele decide escrever uma carta a essas pessoas que so to queridas de seu corao. No esto elas entre os primeiros frutos de seu trabalho como um missionrio ordenado? A esses, a doutrina da graa soberana, com toda a sua simplicidade e glria, tem de ser enviada novamente.

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    Porm, embora se gloriasse na cruz, o apstolo sabia que era preciso alertar os glatas contra a perverso desta doutrina da gra-

    , a, para que no pensassem que essa nova liberdade crist fosse i equivalente a licenciosidade. Ele enfatiza que se uma pessoa realmente anda no Esprito Santo, o Esprito da liberdade, ela no satisfaz os desejos da carne, seno, ao contrrio, produz frutos, o fruto do Esprito (G15.16-26).

    Resumindo, portanto, a ocasio que levou Paulo a escrever esta carta foi a sinistra e, de alguma forma, bem-sucedida influncia que os desordeiros judaizantes estavam exercendo nas igrejas da Galcia do Sul. E o propsito foi o de neutralizar esse perigoso erro reenfatizando o glorioso evangelho da livre graa de Deus em Jesus Cristo: a justificao somente pela f, sem as obras da lei, e levar os destinatrios a adornarem a sua f e comprovarem o seu carter genuno por meio de uma vida em que o fruto do Esprito fosse abundante. Portanto, a causa da verdade avanaria, e o sectarismo causado em parte pela propaganda sinistra dos judaizantes, com a qual muitos concordavam, porm outros indubitavelmente no estavam to dispostos a concordar, cessaria. Aderindo s admoesta- es de Paulo - ou seja, do Esprito Santo - , as igrejas da Galcia estariam aptas a apresentar ao mundo um testemunho unido.

    IV . Q u e m a E s c r e v e u ?

    Uma vez que a autoria paulina de Glatas quase universalmente reconhecida, necessrio falar pouco sobre isso. Em meados do Sculo dezenove, sob a influncia de F.C. Baur, a Tbingen School, partindo da premissa de que somente os escritos em que Paulo apa- fece preparado para combate podem ser-lhe atribudos, negou a autenticidade de todas as cartas que levam o seu nome, exceto Glatas, 1 e 2 aos Corntios e Romanos. Bruno Bauer, em seu ex- Jtemo radicalismo, considerava at mesmo essas quatro cartas como

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    no sendo da autoria de Paulo, mas como produto do segundo sculo. Em sua rejeio autoria da epstola aos Glatas, ele foi seguido pela escola holandesa radical: Loman, Pierson, Naber e Van Manen. Eles sustentavam que a grande coliso entre o Cristianismo paulino e judaico, retratado em G12.11-21 (como interpretado por eles), no poderia ter-se desenvolvido to cedo como nos dias de Paulo, e que a cristologia de Glatas era demasiadamente elevada. Tudo isso repousa em razes puramente subjetivas e no merece mais comentrio.

    Eusbio, escrevendo no incio do quarto sculo, inclui Glatas na lista das cartas de Paulo (Hist. Ecles. III.iii.4, 5). Orgenes, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Irineu, em seus respectivos escritos, citam esta epstola com freqncia. O Fragmento Muratoriano (cerca de 180-200) a coloca como sendo a segunda epstola de Paulo. O cnone do herege Marcio o primeiro a mencionar a epstola pelo nome (cerca de 144), e a coloca em primeiro lugar na lista de dez cartas paulinas. Ela encontrada na Siraca Antiga e na Antiga Verso Latina. Policarpo (martirizado em 155), em sua Epstola aos Filipenses V. 1, cita G16.7: Deus no pode ser zombado. Em tomo do ano 100, Clemente de Roma escreve: Vistes seus sofrimentos diante de vossos olhos(I Clemente II. 1), que lembra G13.1. Mais ou menos na mesma poca, Incio escreve sobre um ministrio no de si mesmo nem por meio do homem, mas no amor de Deus o Pai e Senhor Jesus Cristo(Aos Filadlfios IH. 1), em que parece haver uma aluso a G11.1. Bamab, Hermas, Justino Mrtir, e a Epstola a Diogneto esto entre outros escritos muito antigos que contm passagens que so vistas por muitos como alusivas a Glatas.

    Mais importante, contudo, o fato de que antes da epstola ser atribuda a qualquer outro, ela foi atribuda a Paulo. Esta tem sido a crena da igreja durante sculos, e a sua convico at hoje. Nenhum argumento que possua algum mrito tem sido apresentado

  • In t r o d u o 37

    para mostrar que essa opinio errnea. E essas teorias de meio- termo, que so divulgadas de vez em quando, segundo as quais Glatas contm uma espcie de ncleo paulino que depois fora revestido por uma casca que um autor pseudoepgrafo lhe confeccionara, fracassa sob o peso de suas prprias contradies.

    O autor nos diz que seu nome Paulo (1.1; 5.2). A carta claramente uma unidade. Retrata uma condio existente nos dias em que Paulo viveu (cf. At 15.1; ICo 7.19). Ela , alm do mais, muito pessoal, revelando em toda a sua extenso um homem em Cristo. Eis aqui uma mente to ampla que tem espao tanto para a graa soberana como para a responsabilidade humana, um corao to amoroso que formula severa repreenso exatamente porque ama to profundamente! O Paulo de G 11.15,16; 2.20; 3.1; 4 .19,20 nitidamente o Paulo de Rm 9.2; 1Co9.22; 10.33; 2Co 11.28; 12.15; Ef4.1; Fp 3.18,19. o Paulo de Tarso.

    V . Q u a l S e u T e m a ? Q u a l S e u E s b o o ?

    Tem-se tomado evidente que a principal preocupao do apstolo era que os glatas no perdessem sua confiana no nico e verdadeiro evangelho. significativo observar quantas vezes a palavra evangelho aparece nesta pequena epstola, ora como substantivo, ora como elemento componente de um verbo: 1 .6 ,7 ,8 ,9 , 11,16,23; 2 .2 ,5 ,7 ,1 4 ; 3.8; 4.13. A essncia ou contedo deste evangelho tambm afirmado e reafirmado: Que o homem no justificado por obras da lei e sim mediante a f em Cristo Jesus(2.16; cf. 2.21; 3.9, 11; 4.2-6; 5.2-6; 6.14-16).

    Ora.,justificao pela f sem as obras da lei tambm o tema de Romanos. H uma grande semelhana entre a epstola maior e a menor. Gn 15.6 - Abrao creu em Deus, e isto lhe foi imputado para justia - mencionado em ambas as cartas (Rm 4.3; G13.6). Entre outras semelhanas verbais esto especialmente as seguintes:

  • 38 G l a t a s

    Rm 6.6-8 eG l 2.20; Rm 8.14-17 e G14.5-7; Rm 13.13, 1 4 eG l 5.16,17. Entretanto, h uma notvel diferena entre as duas. Romanos afirma, de forma calma e magistral, que para todo pecador, seja ele judeu ou gentio, h salvao completa e gratuita pela f em Jesus Cristo, sem as obras da lei. Glatas, num tom que nem de perto to calmo, e at s vezes mesmo belicoso, defende esse glorioso evangelho contra os seus caluniadores. Contra estes inimigos suas denncias so massacrantes (1.8,9; 5.12). Com respeito aos destinatrios, que tinham a tendncia de inclinar os ouvidos aos impostores, as repreenses do apstolo (1.6; 3.1 -4) so to speras quanto so os contrastes que caracterizam esta epstola.9

    A razo pela qual Paulo repreende os glatas to severamente e os alerta to duramente porque ele os ama com um amor genuno, meigo e profundo: Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, at ser Cristo formado em vs; pudera eu estar presente, agora, convosco e falar-vos em outro tom de voz; porque me vejo perplexo a vosso respeito (4.19,20).

    O tema de Glatas, portanto, :O evangelho da justificao pela f sem as obras da lei

    defendido contra os seus caluniadores Ora, nos primeiros dois captulos, mediante uma seleo de even

    tos de sua vida, o apstolo se defende contra a acusao, subenten-

    somente o verdadeiro evangelho versus nenhum evangelho (1.6-9)a graa ou a promessa versus a lei (2.21 ;3 .18)a f versus as obras da lei (2.16; 3.2,5,

    10-14)a carne versus o Esprito (3.3; 5.16;

    6.8)a mulher escrava versus a mulher livre (4.21 ss)a Jerusalm de hoje versus a Jerusalm celestial (4.25, 26)a liberdade versus a escravido (5.1)o amor versus o dio (5.14, 15)a circunciso versus a nova criao (6.15)

  • In t r o d u o 39

    dida ou expressa, de que ele jamais teria recebido um chamamento divino para o ministrio, e que o seu evangelho, conseqentemente, no merecia crdito. Esta seo s vezes descrita como a autodefesa de Paulo. Entretanto, mais que isto. Calvino habilidosamente expressa isto ao escrever: Lembremos, portanto, que na pessoa de Paulo a verdade do evangelho foi atacada. Os assaltantes atacaram Paulo para poderem destruir o seu evangelho. Eles concluam que se o apostolado de Paulo fosse de origem meramente humana, ento o seu evangelho tambm seria uma mera inveno humana. Da, pois, estarmos lidando, no fundo, com o evangelho nos captulas 1 e 2, assim como no restante da epstola. Resumidamente, pois, Glatas pode ser dividida como segue:

    caps. 1 e 2 I .A Origem do Evangelho: no de origem humana, e, sim, divina, e, por essa razo, independente.

    caps. 3 e 4 II. Sua Defesa: tanto a Escritura - isto , o AntigoTestamento - quanto a vida (experincia, histria passada) do o testemunho de sua veracidade.

    caps. 5 e 6 IH. Sua Aplicao: Produz a verdadeira liberda-de.Portanto, que os glatas permaneam firmes, assim como Paulo, que se gloria na cruz de Cristo.

  • 40 G l a t a s

    E s b o o A m p l ia d o

    caps. 1 e 2 I .A Origem do Evangelho: no de origem humana, e, sim, divina, e, por essa razo, independente.

    Captulo 1A. Uma introduo que realmente introduz! O nome do reme

    tente e dos destinatrios; saudao inicial.B. Estou abismado convosco, pois to rapidamente vos voltastes

    para um outro evangelho. H somente um evangelho verdadeiro. Que seja amaldioado aquele que prega outro evangelho. Vede! E o favor dos homens ou o favor de Deus que agora estou procurando?

    C. O evangelho que eu prego no de inveno humana. Eu o recebi pela revelao de Jesus Cristo. Uma vez resgatado pela graa de Deus de um judasmo intenso, no fui imediatamente a Jerusalm em busca de conselhos humanos, mas fui Arbia, e depois voltei a Damasco.

    D. Somente aps trs anos que subi a Jerusalm para visitar a Cefas, durante quinze dias. No vi nenhum dos outros apstolos, a no ser Tiago. Depois disso fui Sria e Cilcia, permanecendo um desconhecido das igrejas crists da Judia. vista da mudana operada em minha vida, eles gloriflcaram a Deus.

    Captulo 2E. Ento, em uma visita a Jerusalm com Bamab e Tito, suas

    "colunas, em uma entrevista privativa nada me acrescentaram, porm nos deram a destra de comunho. Tito, um grego, no foi obrigado a circuncidar-se. Deste modo, no houve nenhuma submisso nossa aos caluniadores, seno a continuao de vossas bnos.

  • In t r o d u o 41

    Uma diviso do trabalho missionrio foi combinada. Os pobres devem ser lembrados.

    F. Longe de receber qualquer coisa das colunas de Jerusalm, em Antioquia repreendi at mesmo Cefas por sua reverso ao legalismo: sua separao dos gentios convertidos depois de haver comido com eles. Um homem no justificado por obras da lei, e, sim, mediante a f em Jesus Cristo. Pois eu, por meio da lei, morri para a lei, para que pudesse viver para Deus.caps. 3 e 4 II. Sua Defesa: tanto a Escritura - isto , o Antigo

    Testamento - quanto a vida (experincia, histria passada) do o testemunho de sua veracidade.

    Captulo 3A. , glatas insensatos! Foi por cumprir o que a lei manda que

    recebestes o Esprito, ou foi pela f na mensagem do evangelho?B. A lei (Dt 27.26) invoca maldio aos desobedientes. Cristo

    crucificado, carregando essa condenao (Dt 21.23), nos redimiu dela, para que fssemos salvos pela/ nele. Abrao, tambm, foi justificado pela f (Gn 15.6), e so abenoados nele todos aqueles que so da f, de acordo com a promessa de Deus (Gn 12.3; 18.18; 22.18; Hc 2.4).

    C. Esta promessa ou aliana superior lei, pois nos atingiu por mediao, e aquela veio diretamente de Deus, e ainda est em vigor. A lei, que veio depois, longe de anular esta promessa, a serve, revelando nosso estado pecaminoso e nos levando a Cristo. Todos os que pertencem a Cristo so semente de Abrao, herdeiros segundo a promessa.

    Captulo 4D. Estvamos escravizados s ordenanas e preceitos. Deus

    mandou seu Filho para redimir aqueles que eram cativos, para que pudssemos receber a adoo de filhos. E porque sois filhos, Deus

  • 42 G l a t a s

    mandou o Esprito de seu Filho aos vossos coraes, que clama: Abba, Pai!Vs ento desejais trocar o vosso cativeiro anterior ao paganismo por um cativeiro ao judasmo? Eu temo por vs, pois de alguma forma posso ter'trabalhado em vo entre vs.

    E. Sede como eu, assim como me fiz como um de vs. Onde est a bno que experimentastes anteriormente quando me recebestes com tanto carinho? Aqueles que vos afagam (e que pervertem o genuno evangelho) o fazem por motivos egostas. Quisera estar presente convosco e usar outro tom de voz, porque estou perplexo no tocante a vs.

    F. A histria da mulher escrava (Agar) e seu filho contrria mulher livre (Sara) e seu filho (Gn 16.1-4; 21.8-12). Aplicao: Lanai fora a mulher-escrava e seu filho. Ns no somos filhos de uma mulher-escrava, e, sim, de uma mulher livre.caps. 5 e 6 III. Sua Aplicao: Produz verdadeira liberda

    de. Portanto, que os glatas permaneam fir mes, assim como Paulo, que se gloria na cruz de Cristo.

    Captulo 5A. Cristo nos libertou para sermos livres; portanto, continuai

    firmes.B. No tenteis combinar os dois princpios: a. justificao por

    meio da lei, e b. justificao pela graa mediante a f. Se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitar. Se vos apegardes lei, perdereis a vossa firmeza na graa. Praticai a f que opera atravs do amor.

    C. Vs correis bem. Quem foi que vos fez andar fora do vosso caminho? Estou convencido de que vereis o assunto do meu ponto de vista. Se continuo pregando a circunciso, por que ainda sou perseguido? Tomara que os perturbadores se transformem em eunucos.

  • In t r o d u o 43

    D. Lembrai-vos de que a verdadeira liberdade no o mesmo que libertinagem. Significa amor. Ela no produz as obras da carne, e, sim, os frutos do Esprito. Ela produz unidade, no contenda.

    Captulo 6E. Recuperai os cados com esprito de bondade. Levai as car

    gas uns dos outros. Compartilhai todas as coisas boas com os vossos mestres. Tende em mente que um homem colhe o que planta. Praticai a bondade com todos, especialmente com aqueles que so parte da famlia da f.

    F. Concluso da Carta: as grandes letras de Paulo. Alerta final contra os perturbadores e exposio de seus motivos: comodidade, honra prpria. Testemunho final: Longe de mim gloriar-me a no ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Ultimo apelo: Que de hoje em diante ningum me moleste, etc. Bno final.

  • C o m en t r io de G latas

  • C a p tu lo 1

    Versculos 1-5

    Tema: O evangelho da justificao pela f sem as obras da lei defendido contra os seus caluniadores

    I. A origem deste evangelho: no de origem humana, e, sim, divinaA. Uma introduo que realmente introduz!O nome do remetente e dos destinatrios; saudao inicial.

  • C aptulo I

    GLATAS

    1 1 Paulo, apstolo - no da parte dos homens, nem de homem, mas por meio de Jesus Cristo e Deus o Pai, que o ressuscitou dentre os mortos - , 2 e todos os irmos que esto comigo, s igrejas da Galcia; 3 a graa seja com vocs e a paz de Deus nosso Pai e o Senhor Jesus Cristo; 4 o qual se deu a si m esm o por nossos pecados, a fim de nos resgatar deste presente mundo dom inado pelo mal; (tendo assim se dado a si mesmo) segundo a vontade de nosso Deus e Pai, 5 a quem (seja) a glria para sempre e sempre. Amm.

    1.1-5

    A. IntroduoA atmosfera espiritual est carregada. Est quente e sufocante.

    Ameaa um forte temporal. O cu est escurecendo. distncia podem-se ver os relmpagos; podem-se ouvir os troves distantes. Enquanto se l cada linha dos versculos 1 -5, luz da poca e do propsito da carta (ver Introduo IIIB), a turbulncia atmosfrica pode ser imediatamente detectada. O apstolo, apesar de estar sob pleno controle, pois est escrevendo sob a direo do Esprito Santo, est, porm, fortemente agitado, profundamente comovido. Seu

  • 48 G la tas 1 .1

    corao e mente esto dominados por um misto de emoes. Contra os corruptores ele tem severas denncias que fluem de uma santa indignao. Para os destinatrios h uma veemente desaprovao e um sincero desejo de que sejam restaurados. E para com Aquele que o chamou, h profunda reverncia e humilde gratido.

    Certamente, nessas linhas introdutrias, existe tambm uma certa reserva. Os relmpagos mais refulgentes e os estrondos mais ensurdecedores dos troves esto reservados para mais tarde (1.6-9; 3 .1 ,10;5 .4 ,12; 6.12,13). Porm, mesmo agora o temporal est se aproximando de forma definitiva. Isto ser mostrado em conexo com cada um dos elementos desta Introduo: a. a maneira como o escritor descreve a.si mesmo; b. a maneira como ele designa os destinatrios', e c. a clusula qualificativa com a qual ele amplia sua saudao inicial.

    1. Paulo, apstolo. Ele um enviado, um comissionado (cf. Jo 20.21), um apstolo, no mais profundo e rico sentido, plenamente investido da autoridade daquele que o enviou. Seu apostolado equivalente ao dos Doze. Por isso que falamos de os Doze e Paulo. Mais adiante ele ainda enfatiza o fato de o Salvador ressurreto e exaltado ter-lhe aparecido to verdadeiramente como apareceu a Cefas (ICo 15.5,8; cf. 9.1). O Salvador dera-lhe uma tarefa to amplae universal que toda a sua vida, da em diante, seria dedicada a ela.

    s palavras Paulo, apstolo o escritor adiciona um modificador muito importante, que indica imediatamente o tema de toda a carta. Entre os homens no inspirados, introdues nem sempre introdu- zem. Alis, s vezes podem at confundir. Porm, eis aqui uma introduo que realmente introduz, pois as palavras no da parte dos homens, nem atravs de homem, mas por meio de Jesus Cristo e Deus o Pai s podem significar uma coisa: O meu apostolado genuno; por esta razo, o evangelho que proclamo tambm , no importa o que os judaizantes perturbadores tenham a dizer! Eu sou um emissrio divinamente designado. Como foi mencionado an

  • G l a t a s 1 . 1 49

    teriormente, os oponentes de Paulo tinham-se infiltrado nas igrejas da Galcia do Sul, e estavam infamando o seu apostolado, a fim de mostrar que o seu evangelho no procedia de Deus. Eles acusavam - ou pelo menos insinuavam - que o ofcio ou comisso apostlica de Paulo no procedia de Deus, e, sim, dos homens, talvez da igreja de Antioquia da Sria, como se essa igreja estivesse agindo sem ser divinamente dirigida ou autorizada (At 13.2); ou, ento, o acusavam de que, admitindo a sua procedncia divina, seu apostolado teria sido transmitido por meio deste ou daquele homem (Ananias ou um apstolo?), subentendendo que nesse processo de transmisso ele teria sido substancialmente modificado ou adulterado.

    A resposta de Paulo uma dupla e inequvoca negao. No somente recebeu ele o seu ofcio do Jesus histrico, que ao mesmo tempo o Ungido, mas tambm que este mesmo Jesus Cristo em pessoa lhe conferiu essa elevada distino. Por isso, Paulo um apstolo por meio de - no somente de - Jesus Cristo. Alm do mais, visto que Jesus Cristo como o Filho em essncia um com o Pai (Jo 1.1; 10.30), e que como o Mediador sempre executa a vontade do Pai (Jo 4.34; 5.30, etc.), por esta razo o apostolado de Paulo por[0 Jesus Cristo e por Deus o Pai.

    Fica, pois, evidentemente subentendido: j que Paulo e sua mensagem recebem o respaldo da autoridade divina, aqueles que o rejeitam, bem como ao seu evangelho, esto rejeitando a Cristo mesmo, e, desta forma, rejeitam tambm ao Pai que o enviou e que o ressuscitou dentre os mortos. Os caluniadores opunham-se quele a quem o Pai tinha exaltado', o Pai, com base na obra da redeno que Cristo consumou, ps sobre Ele o selo de aprovao, ao ressuscit-lo dos mortos, designando-o, assim, para ser o completo e perfeito Salvador, cuja obra no necessita nem pode ser suplementada; este mesmo Cristo, desde a sua exaltada posio nos cus, designou Paulo para ser um apstolo!

    10 Uma s preposio 5L governa os dois apelativos.

  • A origem divina da misso de Paulo, da qual ele d testemunho, confirmada pelo livro de Atos, o qual mostra que foi o prprio Cristo quem apareceu a Paulo (9.1 -5; 22.1 -9). verdade que foi Ananias quem encorajou Paulo em relao sua comisso (At 22.15), porm, ou a. Ananias transmitiu essa comisso a Paulo to perfeitamente que este, mais tarde, pde combinar as palavras de Jesus com as de Ananias como se tivessem todas sido pronunciadas pelo prprio Cristo, o que mais provvel, ou b. a prpria comisso tambm tinha sido, em primeiro lugar, proferida diretamente por Cristo, e no por Ananias. Quando Atos 26.12-18 interpretado de qualquer uma destas duas formas, Glatas 1.1 permanece verdadeiro. Ver tambm o comentrio sobre Glatas 1.16.

    2. Paulo acrescenta: e todos os irmos que esto comigo. Essas palavras so interpretadas de trs maneiras diferentes: a. todos os irmos crentes no lugar de onde estou escrevendo esta carta. Os que apiam esta opinio enfatizam o fato de que irmos um termo muito comum, e que amide usado para indicar os cristos em geral (lTs 1.4; 2.1; ICo 5.11; 6.5-8; 8.12, etc.). Outros acrescentam, ainda, que se for verdade que esta carta foi escrita de Corinto, nos primrdios do trabalho ali, possivelmente no tivesse ainda sido organizada uma igreja, apesar de j existir alguns crentes ou irmos. A interpretao b . a seguinte: todos os mencionados na letra a. (acima) mais todos os membros da delegao glata que esto comigo. Os adeptos deste ponto de vista opinam que Paulo deve ter recebido sua informao sobre a situao nas igrejas da Galcia do Sul por meio de alguma fonte confivel (cf. ICo 1.11), talvez de uma delegao mandada a ele pelos oficiais dessas igrejas, que queriam que ele soubesse o que estava acontecendo e tambm receber os benefcios de seus conselhos. Teoria c.: todos os meus companheiros de trabalho que esto aqui comigo. Aqueles que endossam esta interpretao apontam para uma frase semelhante em Filipenses 4.21, onde h referncia aos assistentes de Paulo

    5 0 G la tas 1 . 1 , 2

  • G l a t a s 1.2 51

    em Roma, distintamente de todos os santos, ou seja, todos os cristos residentes em Roma mencionados no prximo versculo. Eles so de opinio, alm disso, que um missionrio viajante como Paulo, que fica num lugar por algum tempo e depois segue para outro lugar, no se referiria aos crentes residentes de um lugar como todos os irmos que esto comigo. Uma olhada mais de perto para este argumento, entretanto, mostra que ele no to forte como parece ser primeira vista. A distino que se faz em Filipenses 4.21,22 entre os assistentes de Paulo e todos os cristos residentes em Roma muito natural em uma cidade (Roma), onde havia uma igreja numericamente forte e que tinha sido fundada muito tempo antes da chegada de Paulo. Mas em Corinto, de onde, em sua segunda viagem missionria, Paulo escreveu Glatas (ver Introduo III A), e onde a obra tinha apenas comeado com um nmero de crentes ainda um tanto pequeno, o apstolo pode muito bem ter-se referido a esse pequeno grupo de crentes como todos os irmos que esto comigo. A palavra todos, alm do mais, expressa unanimidade de pensamento e no intensidade numrica. Mesmo que houvesse apenas dez ou vinte convertidos, contanto que no houvesse nenhum desacordo entre eles, ainda assim haveria justificativa para o apstolo escrever em nome de todos os irmos que esto comigo. Alm disso, quanto aos vrios cooperadores que, de acordo com a teoria c ., estavam com Paulo, respondo que se a poca e o lugar da composio da carta , como temos suposto, a presena desses cooperadores numa quantidade considervel muito duvidosa. Em sua segunda viagem missionria, somente um acompanhou o apstolo desde o comeo, isto , Silas, e um pouco mais tarde Timteo (At 15.40-16.3). Lucas esteve com eles por algum tempo, mas logo partiu novamente (16.10-17). Ele no estava mais com eles quando Paulo chegou a Corinto e no mais se juntou a eles at que Paulo, voltando de sua terceira viagem missionria, chegou a Trade (20.5). Como ficou previamente demonstrado, quando Glatas foi escrita at mesmo Silvano e Timteo provavelmente no

  • 52 G l a t a s 1 .2

    estavam mais com Paulo. Considerando tudo o que j foi exposto, o verdadeiro significado das palavras e todos os irmos meus companheiros parece repousar na teoria a. ou, possivelmente, na b. em lugar de na teoria c. Contudo, no se pode ter certeza absoluta quanto a este ponto.

    O que s vezes passado por alto, todavia, a lio principal. Esta lio parece ser a seguinte: mesmo sendo verdade que Paulo sozinho - no Paulo mais esses irmos que esto com ele - o escritor desta carta (note a constante repetio da primeira pessoa do singular: Glatas 1.6,10-17), mesmo assim, antes de escrev-la e envi-la, ele teria discutido amplamente o tema da carta com todos os irmos. To unnime foi a opinio destes em relao ao mtodo que Paulo props empregar diante de to difcil problema, que o apstolo escreve em nome de todos. Moral: quando se faz necessrio enviar uma carta com o teor de severa repreenso a algum, deve-se discutir o assunto com quem tambm zela pelo bem- estar de Sio, sempre e quando isso pode ser feito sem violar con- fianas e sem comprometer os princpios estabelecidos em Mateus 18. Se esta regra for sempre observada, que diferena seria o produto final! E verdade que Paulo escreveu sob a infalvel direo do Esprito Santo. Porm, mesmo assim, uma obra de inspirao tambm produzida por meios humanos. A inspirao opera organicamente, e no mecanicamente. Alm disso, o corao amoroso de Paulo, cheio de intenso anseio em recuperar os glatas, faz uso de todos os meios legtimos para alcanar este objetivo, sendo um destes meios o de convencer os destinatrios de que toda a sua apreenso em relao ao caminho que eles estavam tomando era compartilhada por todos os irmos que estavam comu ele.

    11 A flexibilidade e a variada gama de conotaes que a preposio ov tem torna impossvel unir-me queles exegetas que crem que deve significar que (me) esto apoiando, como distinta de pet, a que simplesmente significasse comigo. Este apo io j no se acha subentendido?

  • G latas 1.2, 3 53

    Aqueles a quem Paulo escreve so assim chamados: s igrejas da Galcia. Todo modificador elogioso - por exemplo, amados de Deus (cf. Rm 1.7), santificados em Cristo Jesus (cf. ICo 1.2), santos e crentes (Ef 1 .1 )- est ausente aqui. O apstolo ama, mas no admite bajulao. A atmosfera permanece tensa.

    Note: igrejas aparece tanto aqui como em 1.22. Paulo reconhece a autonomia da igreja local. Entretanto, ele tambm tem plena conscincia do fato de que todos os crentes em todos os lugares constituem um corpo em Cristo, uma s igreja (1.13). Ele mantm perfeito equilbrio; uma lio para todas as pocas! J estabelecemos que essas igrejas estavam, com toda probabilidade, localizadas na parte sul da provncia romana da Galcia (Introduo, II).

    3. A saudao inicial propriamente dita como aquela de Romanos 1.7; 1 Corntios 1.3;2Corntios 1.2;Efsios 1.2; e Filipenses 1.2: a graa seja com vocs e paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Embora seja verdade que o apstolo encontra pouca coisa a louvar e muito a deplorar nas igrejas da Galcia, isto no quer dizer que ele desistiu delas, julgando-as irrecuperveis. Longe disso. Ver comentrio sobre 5.10a; cf. 4.19, 20. Mesmo estando perplexo com elas, ainda assim as tem como comunidades crists, sobre as quais tem todo o direito de invocar esta saudao. Graa, como usada aqui, o favor espontneo e imerecido de Deus em ao, sua bondade gratuita em atividade, outorgando salvao a pecadores carregados de culpa e que o procuram em busca de refgio. como se fosse o arco-ris em volta do prprio trono de Deus, donde saem relmpagos e troves (Ap 4.3-5). Pensamos no Juiz que no somente perdoa a pena, mas tambm cancela a culpa do infrator, e ainda o adota como seu prprio filho. A graa traz paz. Esta tanto um estado, o de reconciliao com Deus, como uma condio, a convico interior de que, conseqentemente, agora tudo est bem. a grande bno que Cristo, atravs de seu sacrifcio expiatrio, outorgou igreja (Jo 14.27), e

  • 54 G l a t a s 1.3, 4

    que excede todo o entendimento (Fp 4.7). No o reflexo de um cu sem nuvens num lago cnico de guas tranqilas, e, sim, a fenda na rocha em que o Senhor esconde os seus filhos quando ruge o temporal (pensemos no tema da profecia de Sofonias); ou, para mudar um pouco a figura sem deixar a idia principal, o abrigo debaixo das asas, onde a galinha ajunta seus pintainhos, para que fiquem a salvo enquanto estruge o temporal com toda a sua fria sobre ela.

    Ora, a graa e a paz tm suas origens em Deus nosso (preciosa palavra de apropriao e incluso!) Pai, e foram merecidas para os crentes por meio daquele que o grande Mestre, Proprietrio e Conquistador (Senhor), Salvador (Jesus) e Sacerdote Ungido (Cristo), o qual, em virtude de sua trplice uno, tambm pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus (Hb 7.25).12

    Para mais detalhes sobre certos aspectos da saudao inicial de Paulo, ver C.N.T. sobre 1 e 2 Tessalonicenses; Filipenses; e 1 e 2 Timteo e Tito.

    4. Nas demais cartas a saudao inicial propriamente dita muito breve. Depois de ler as palavras de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo, a adio aqui de um modificador ao ttulo qualificativo da segunda pessoa da Santssima Trindade aparece e causa surpresa. evidente que, em harmonia com a ocasio e o propsito da carta, deve haver uma razo para que Paulo acrescente aqui: o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, a fim de nos resgatar deste presente mundo dominado pelo mal. A razo que a atmosfera continua carregada. A grandeza e a magnanimidade do ato sacrificial de Cristo so aqui enfatizadas, a fim de ressaltar a natureza repugnante do pecado daqueles que ensinam que este sacrifcio supremo tem que ser suplementado pelas obras da lei. Cristo sub

    12 Uma s preposio d e introduz toda a expresso Deus nosso Pai e o Senhor Jesus Cristo, demonstrando que estas duas pessoas so postas num s plano de completa igualdade.

  • G latas 1.4 55

    meteu-se tristeza e ao escrnio, maldio da morte eterna durante toda a sua vida aqui, mas especialmente no Getsmani, no Gabat e no Glgota. Ele deu sua vida por suas ovelhas. Ningum a tirou dele, seno que a deu espontnea e voluntariamente (Jo 10.11, 17,18). Ele fez isso motivado por um amor incompreensvel; portanto, por nossos pecados, ou seja, para nos livrar da poluio, culpa e punio que fazem parte das muitas formas em que, por disposio, pensamentos, palavras e atos, perdemos o alvo de existir e viver para a glria do Deus Trino e Uno.

    Note: Ele deu-se a si mesmo... para (significando: que em assim fazendo) nos resgatar. A palavra resgatar muito descritiva. Pressupe que aqueles que so alcanados por seus benefcios esto correndo grande perigo, do qual so incapazes de livrar-se. Assim Jos fo i resgatado de todas as suas aflies (At 7.10); Israel tambm o foi da escravido no Egito (At 7.34); Pedro, foi das mos de Herodes (At 12.11), e assim tambm Paulo seria um dia liberto ou resgatado das mos dos judeus e gentios (At 23.27; 26.17). O resgate descrito aqui (G11.4) muito mais glorioso, porque: a. tem a ver com aqueles que por natureza so inimigos do Redentor, e b. foi consumado por meio da morte voluntria (e neste caso morte eterna) do Redentor. Isto nos faz pensar em um nadador que se lana nas violentas guas de um rio a fim de salvar uma criana que caiu na correnteza e est para ser lanada no precipcio das cataratas onde encontrar morte certa. Porm, no ato de agarrar a criana e jog-la para a beirada onde braos amorosos estariam estendidos para ampar-la, o prprio nadador lanado no precipcio para morrer. Entretanto, todas as comparaes no so suficientes, uma vez que, no caso de Cristo, o sacrifcio foi grande alm de qualquer compreenso, e os beneficirios eram completamente indignos de semelhante amor!

    Paulo afirma que Cristo deu-se a si mesmo para que pudesse nos resgatar deste presente mundo dominado pelo mal.13 Para mun

    13 A posio do adjetivo TTovripo lhe d uma nfase especial; esta a razo pela qual

  • 56 G latas 1.4

    do Paulo usa o termo aeon. Este termo denota o mundo em movimento, em contraste com cosmos que, apesar de usado em vrios sentidos, indica o mundo em repouso. O aeon, ento, refere-se ao mundo visto de um ponto de vista temporal e de mudanas. Isto especialmente correto quando o adjetivo deste acrescentado, como neste caso. o mundo ou a era transitria que est caminhando rapidamente para o seu fim, e no qual, a despeito de todos os seus prazeres e riquezas, no h nada de valor permanente. Por contraste com este presente mundo ou era est o mundo vindouro, a era de glria, que ser introduzida na consumao de todas as coisas (cf. Ef 1.21; 1 Tm 6.17; 2Tm 4.10; Tt 2.12).

    O resgate deste presente mundo dominado pelo mal, apesar de no se completar at ltima trombeta soar, de carter progressivo. Ele est sendo efetuado toda vez que um pecador trazido das trevas para a luz e toda vez que um santo obtm vitria em sua luta contra o pecado.

    No suficiente, porm, prostrar-se em adorao diante do Filho, como se somente Ele fosse merecedor de gratido e honra devido sua maravilhosa obra de auto-sacrifcio e redeno. Pelo contrrio, o Filho deu-se a si mesmo por causa de nossos pecados, a fim de nos resgatar, etc. (havendo assim se dado a si mesmo) segundo a vontade de nosso Deus e Pai.'4 O Filho deu-se a si mesmo; o Pai - sim, nosso (veja-se o comentrio sobre 1.3) Deus e Pai - no poupou o seu prprio Filho, antes, por todos ns o entregou (Rm 8.32). Na verdade, no prprio ato de auto-sacrifcio do Filho, a vontade do Pai - seu decreto revelado no tempo, seu desejo - estava sendo cumprida. Por isso o Pai amou o Filho! (Jo 10.17, 18; cf. 4.34; 6.38). Portanto, que os

    traduzi este presente mundo dominado pelo mal em lugar de simplesmente presente mundo m au.14 Este modificativo (conforme, etc.) pertence ao v. 4 em sua totalidade, como minha traduo indica.

  • G latas 1.5 57

    perturbadores tenham em mente que quando minimizam a obra do Filho, esto diminuindo tambm ao Pai!

    5. Quando o apstolo contempla o maravilhoso amor do Pai revelado na entrega de seu prprio Filho querido, o Unignito, para a nossa salvao, sua alma se perde em admirao, amor e louvor, ao ponto de exclamar: a quem seja15 a glria16 pelos sculos dos sculos. Amm. Enquanto os inimigos perversos minimizam a obra de redeno por Deus, Paulo a magnfica, conclamando a todos os homens a que se unam a ele no louvor. To maravilhosa a obra que digna de louvor eterno; por isso ele diz: a quem (seja) a glria pelos sculos dos sculos. Com um solene Amm ele reafirma sua gratido pessoal ao ponderar repetidamente o incomensu- rvel amor etemo de Deus, e a insondvel profundidade de sua graa e misericrdia em Jesus Cristo.

    15 Ainda que o verbo no aparea, de tal modo que se possa inserir aziu, (Rm 1.25; lP e 4.11), ou melhor, elr|, seja (SI 113.2; LXX 112.2), o significado seria quase o mesmo, visto que, se dele a glria, ento que a glria lhe seja dada.16 Para o conceito glria, veja-se C.N.T., sobre Filipenses, nota de rodap 43.

  • C ap tu lo 1

    Versculos 6-10

    Tema: O evangelho da justificao pela f sem as obras da lei defendido contra os caluniadores.

    I. A origem deste evangelho: No de origem humana, e, sim, divina

    B. Eu estou abismado convosco, pois to depressa vos voltastes para um outro evangelho. H somente um evangelho verdadeiro. Que seja amaldioado aquele que prega outro evangelho. o favor dos homens ou o de Deus que estou agora buscando ganhar?

  • GLATAS 1.6

    6 Estou abismado de que to depressa vocs se afastaram daquele que os chamou (e se voltando) para um evangelho diferente, 7 que (na realidade) no (nem mesmo) outro; mas (o fato que) certos indivduos esto deixando vocs em confuso, e esto tentando perverter o evangelho de Cristo. 8 M as ainda que ns, ou um anjo do cu, lhes pregasse a