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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO POLITÉCNICO – IPRJ Pós-Graduação em Modelagem Computacional ESTIMAÇÃO DO ESPECTRO DE RELAXAÇÃO DE POLÍMEROS ATRAVÉS DO ALGORITMO SIMULATED ANNEALING Gabriel Caetano da Silva Nova Friburgo, RJ – Brasil Agosto de 2006

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO POLITÉCNICO – IPRJ

Pós-Graduação em Modelagem Computacional

ESTIMAÇÃO DO ESPECTRO DE RELAXAÇÃO DE POLÍMEROS

ATRAVÉS DO ALGORITMO SIMULATED ANNEALING

Gabriel Caetano da Silva

Nova Friburgo, RJ – Brasil Agosto de 2006

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Gabriel Caetano da Silva

ESTIMAÇÃO DO ESPECTRO DE RELAXAÇÃO DE POLÍMEROS

ATRAVÉS DO ALGORITMO SIMULATED ANNEALING

.

Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade

do Estado do Rio de Janeiro para obtenção do título

de Mestre em Modelagem Computacional do curso

de Pós-Graduação Stricto Sensu.

Orientadores: Marisa Cristina Guimarães Rocha

Gustavo Mendes Platt

ii

Dedico esta dissertação a meu pai (in memorian), sábio eterno, que certamente está “tirando um som” lá de cima, e a minha mãe querida, que me deu todo suporte emocional nos momentos mais difíceis e desesperadores desta jornada.

iii

“Quem sabe cala,

Quem não sabe é quem mais fala”

Banda Ponto de Equilíbrio

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho:

• À orientadora, Profa. Marisa Cristina Guimarães Rocha que coordenou

brilhantemente este trabalho.

• Ao orientador Prof. Gustavo Mendes Platt cuja colaboração na implementação

dos métodos numéricos foi imprescindível.

• Ao Prof. Nélio H. de Oliveira pela tranqüilidade e confiança que me passou e

certeza do sucesso deste trabalho.

• Aos colegas Jefferson Gomes e José Rufino de Oliveira que estiveram presentes

nos momentos em que mais precisei de ajuda, um agradecimento especial.

• À Engenheira Química Ana Lúcia Nazareth, do Centro de Pesquisa da Petrobras

– CENPES – pelo apoio e suporte técnico na conclusão desta dissertação.

• Ao Programa de Apoio Técnico da Uerj – PROATEC – pela bolsa de prestação

de serviços, que possibilitou minha estada em Nova Friburgo.

• Aos Laboratórios de Análises e Controle Ambiental – LACAm – e Tecnologia

de Polímeros – TecPoL – e seus respectivos funcionários, bolsistas e alunos de

Iniciação Científica/Extensão por toda compreensão .

• À minha família, amigos e todos demais colegas do Instituto Politécnico

presentes em minha vida acadêmica.

v

RESUMO

A determinação do espectro de relaxação de polímeros utilizando dados de

tensão oscilatória de baixa amplitude pode ser calculada assumindo-se que existe uma

única função contínua H(λ) capaz de descrever o comportamento viscoelástico linear. O

objetivo deste trabalho é determinar esta função ou uma aproximação da mesma

utilizando um algoritmo estocástico denominado “Simulated Annealing”. A estratégia

proposta é similar a proposta por Jensen (2002), entretanto, a lista de resfriamento do

algoritmo foi modificada, objetivando-se uma maior robustez do referido algoritmo. A

ferramenta computacional foi calibrada de forma a estimar com acurácia o espectro de

relaxação discreto de outros polímeros. Os métodos de interpolação lagrangeana e de

regressão não-linear foram aplicados para obter a função contínua do espectro de

relaxação, a partir de um conjunto discreto de dados. Os resultados obtidos para o

polietileno linear de baixa densidade (PELBD) comprovaram a eficiência da ferramenta

computacional de otimização, sendo extremamente próximos aos fornecidos pelo

reômetro AR 2000 (CENPES/PETROBRAS).

Palavras-chave: Reologia de Polímeros, espectro de relaxação, otimização

estocástica.

vi

ABSTRACT

The determination of the relaxation spectrum using data from small amplitude

oscillatory shear rate was accomplished by assuming that exists a unique continuous

function H(λ) which describes linear viscoelasticity. The aim of this work is to

determine this function or a close approximation using a computer stochastic algorithm

called “Simulated Annealing” (SA). The strategy is the same proposed by Jensen, but

the cooling schedule of SA algorithm was modified, in order to enhance the robustness

of the referred algorithm. Besides, a calibration procedure was conducted for estimate

accurate relaxation spectrum for other polymers. Lagrangean interpolation and

nonlinear regression techniques were applied in order to obtain the continuous function

that represent relaxation spectrum, using discrete data. The results generated for low

linear density polyethylene (LLDPE) indicate the efficiency of the optimization

computational tool, being extremely close to that produced by AR 2000 rheometer

(CENPES/PETROBRAS).

Keywords: Polymer rheology, relaxation spectrum, stochastic optimization.

vii

NOMENCLATURA

Reologia de Polímeros

σ - tensão de cisalhamento

σ0 - tensão de cisalhamento inicial

G – módulo elástico em cisalhamento

Gm – módulo elástico em cisalhamento para o modelo de Maxwell

Gv – módulo elástico em cisalhamento para o modelo de Voight

γ - deformação em cisalhamento

e – deformação em tensão

V – Velocidade

y – direção do gradiente de velocidade

η - viscosidade

ηm – viscosidade para o modelo de Maxwell

u – deslocamento na direção x

v – deslocamento na direção y

J(t) – compliância em ‘creep’

λ’ – tempo de retardação

λ - tempo de relaxação

G(t) – módulo de relaxação sob tensão

GU – módulo de relaxação sob tensão ‘não relaxado’

viii

GR – módulo de relaxação sob tensão em equilíbrio.

Algoritmo Simulated Annealing

f – função de aceitação

N – Número Total de ajustes de Parâmetros

NS – Número Máximo de Ciclos

NT – Número Máximo de Iterações antes da RT

T0 – Temperatura Inicial

RT – Fator de Redução de Temperatura

EPS – Erro de Tolerância para o Término do Algoritmo

LB – Limite Inferior para os Parâmetros

UB – Limite Superior para os Parâmetros

Algoritmo de Busca Aleatória

*x – ótimo valor corrente

Z – matriz diagonal com elementos aleatórios entre -1,0 e +1,0

r – vetor contendo os raios das regiões de busca para as variáveis do problema.

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Formas de relaxação de tensões de uma macromolécula

Figura 2.1 – Carga aplicada ao longo do tempo (ciclo carga-tempo)

Figura 2.2 – Resposta da Deformação em função do tempo para comportamento de um sólido elástico ideal.

Figura 2.3 – Resposta da deformação em função do tempo para comportamento viscoso

Figura 2.4 – Resposta da deformação em função do tempo para comportamento viscoelástico

Figura 2.5 – Deformação de um sólido elástico e de um sólido viscoelástico linear

Figura 2.6 – A compliância em “creep” como uma função do tempo.

Figura 2.7 – O Módulo da Relaxação Sob Tensão G(t) em função do tempo

Figura 2.8 – Comportamento de “creep” de um sólido viscoelástico linear

Figura 2.9 – O Modelo de Maxwell

Figura 2.10 – O modelo de Kelvin ou Voight

Figura 2.11 – Solução do Modelo de Zener - Curvas de G(t) e J(t) versus log t

Figura 2.12 – Variação da Compliância J(t) em função do log do tempo, para o Polietileno Linear, em diferentes temperaturas. Figura 2.13 – O modelo de Zener Generalizado para Ensaios de Relaxação sob Tensão

Figura 2.14 – Fluxo Oscilatório em Cisalhamento

Figura 2.15 – O módulo Complexo

x

Figura 3.1 – O problema de otimização

Figura 4.1 – Estrutura simplificada do algoritmo SA em Código em Fortran-77 (adaptado de Jensen, 2002).

Figura 5.1 – Validação do Método de Otimização

Figura 5.2 – Relação do Desvio Padrão com o Número de Modelos de Maxwell

Figura 5.3 – Variação da Função-objetivo em função do número de modelos de Maxwell Figura 5.4 – Gráfico Comparativo da medida de valores de G’ e G’’ em função da freqüência. Figura 5.5 – Espectro de Relaxação do LLDPE (contínuo e discreto).

Figura 5.6 – Espectro de Relaxação Contínuo do LLDPE, obtido por interpolação lagrangeana. Figura 5.7 – Comparação dos Espectros de Relaxação Contínuos entre a metodologia deste trabalho e software comercial da TA Instruments. Figura 5.8 – Ajuste do Espectro Contínuo com 7 Modelos de Maxwell.

Figura 5.9 – Ajuste do Espectro Contínuo com 6 Modelos de Maxwell

Figura 5.10 – Ajuste do Espectro Contínuo com 7 Modelos de Maxwell (em escala logarítmica). Figura 5.11 – Ajuste do Espectro Contínuo com 6 Modelos de Maxwell (em escala

logarítmica)

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Resultados G’(ϖ ) e G’’(ϖ) para o LLDPE

Tabela 4.1 – Variáveis utilizadas no Algoritmo AS.

Tabela 5.1 – Melhores Valores da Lista de resfriamento Tabela 5.2 – Variação da função objetivo com o Número de Modelos de Maxwell.

Tabela 5.3 – Parâmetros ótimos encontrados para calibração do método.

Tabela 5.4 – Dados do LLDPE gerados pelo AR 2000.

Tabela 5.5 – Parâmetros ótimos encontrados para o LLDPE

xii

SUMÁRIO

Capítulo 1 – Introdução 01

Capítulo 2 – Introdução à Reologia de Polímeros 09

2.1 – Conceito de Viscoelasticidade 09

2.2 – Comportamento Viscoelástico Linear 13

2.2.1 – Fluência Viscoelástica (CREEP) 15

2.2.2 – Relaxação sob Tensão 19

2.3 – Tratamento Matemático do Comportamento Viscoelástico Linear 21

2.3.1 – O Modelo de Maxwell 24

2.3.2 – O Modelo de Kelvin ou Voight 27

2.3.3 – O Modelo de Zener 29

2.4 – O Modelo de Zener Aplicado à Ensaios de Creep 34

2.5 – O Modelo de Zener Aplicado à Ensaios de Relaxação sob Tensão 36

2.6 – O Modelo de Zener Generalizado 40

2.7 – Propriedades Reológicas em Regime Oscilatório 44

2.7.1 – Módulo de Estocagem G’ e Módulo de Perda G’’ 44

2.7.2 – O Modelo de Zener em função da Freqüência 48

Capítulo 3 – Formulação do Problema de Otimização 55

3.1. O Problema de Otimização 55

xiii

Capítulo 4 – Métodos Numéricos Utilizados 60

4.1. O Algoritmo Sumulated Annealing 60

4.1.1. Analogia com o Processo Físico de Annealing 61

4.1.2. Convergência Assintótica do Algoritmo Simulated Annealing 62

4.1.3. Utilizando o Algoritmo Simulated Annealing 62

4.2. Métodos de Busca Aleatória 66

4.3. Interpolação Polinomial 67

Capítulo 5 – Resultados e Discussões 72

5.1. Validação do Método 72

5.2. Aplicação da Ferramenta Computacional 79

5.3. Obtenção do Espectro Contínuo a partir do Espectro Discreto 83

5.3.1. Interpolação Lagrangeana 83

5.3.2. Regressão não Linear / Estimação de Parâmetros 85

Capítulo 6 – Conclusões e Sugestões para Trabalhos Futuros 90

6.1. Conclusões 90

6.2. Sugestões para Trabalhos Futuros 91

Referências Bibliográficas 92

ANEXO 96

xiv

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

O processamento convencional de polímeros é afetado diretamente pelas

propriedades reológicas no estado fundido. A reologia é a ciência que estuda o

escoamento de um fluido quanto submetido a uma força. O escoamento e a deformação

dos fluidos durante o processamento têm um papel muito importante nas propriedades

finais do produto, especialmente no caso de polímeros, metais e cerâmicas. O

conhecimento das propriedades reológicas é, portanto, essencial para obter produtos

com propriedades desejáveis assim como para o projeto dos equipamentos utilizados no

processamento dos materiais (Callister, 2002).

Durante o processo de extrusão, por exemplo, o polímero sofre cisalhamento no

interior da extrusora e elongação no início da matriz, o que provoca o aparecimento de

tensões normais e, conseqüentemente, o fenômeno de inchamento do extrusado. Na

moldagem por injeção também são observadas deformações de cisalhamento e

elongação em regime transiente no parafuso recíproco, além de cisalhamento elevado

dentro dos canais e cavidades dos moldes. Essas deformações podem provocar o

aparecimento e o armazenamento de tensões internas no artefato moldado ou defeitos

dimensionais na peça (Bretas, 2000).

A morfologia e, conseqüentemente, as propriedades mecânicas desses materiais e

de suas misturas são determinadas por estas deformações e tensões. Assim, torna-se

necessário conhecer o comportamento desses materiais quando em situações de fluxo,

para poder prever e compreender a sua estrutura final.

1

O espectro de relaxação é comumente utilizado na indústria de polímeros para

fornecer informações sobre o processamento destes materiais, uma vez que possibilita

uma descrição completa da dependência do comportamento reológico com o tempo, em

condições de altas deformações ou taxas de deformações. Como é bastante sensível a

pequenas variações estruturais, o espectro de relaxação pode ser utilizado também para

detectar pequenas diferenças entre materiais que a princípio poderiam ser considerados

indistinguíveis (Winter, 1996).

Na verdade, o fenômeno de relaxação de tensões pode ser visualizado em função

dos efeitos que os movimentos por alterações térmicas promovem na orientação das

moléculas poliméricas. Quando uma tensão mecânica é aplicada a um polímero,

introduzindo deformações nas cadeias, a entropia do sistema decresce, pois as

moléculas neste caso podem apenas se apresentar em um número menor de

conformações. Se a amostra for mantida neste estado deformado, a relaxação de tensões

ocorrerá como resultado do movimento das moléculas para retornar as conformações de

equilíbrio anteriores, sendo o excesso de energia livre dissipado como calor.

Os detalhes da relaxação de tensões dependem da multiplicidade de formas pelas

quais as moléculas podem recuperar suas conformações mais prováveis (mais estáveis)

por meio de movimentos térmicos. Estes movimentos complexos da molécula podem

ser expressos como uma série de modos característicos, que requerem vários graus de

cooperação de longo alcance entre os segmentos da cadeia. Uma primeira forma, por

exemplo, corresponderia à translação da molécula inteira, requerendo cooperação

máxima de toda a cadeia; uma segunda forma corresponderia aos movimentos dos

terminais de cadeia em direções opostas, requerendo menos cooperação e, assim por

diante, como pode ser visualizado na Figura 1.1 (Bretas, 2000).

2

Figura 1.1 – Formas de relaxação de tensões de uma macromolécula: a) tensionada; b) relaxando.

A cada uma dessas formas está associado um tempo de relaxação característico e,

como existem muitas formas possíveis de relaxação durante um intervalo de tempo, o

espectro discreto de tempos de relaxação pode ser aproximado por uma distribuição

contínua. Os segmentos que interagem a longa distância contribuem principalmente

para a resposta elástica do fluido polimérico, enquanto os de curto alcance contribuem

para a resposta viscosa do polímero. Sendo assim, a relaxação da molécula polimérica

durante o fluxo determinará a sua resposta a uma dada deformação ou tensão.

Os dados mecânicos dinâmicos contêm todas as informações necessárias para a

obtenção do espectro de relaxação, H(λ). A análise mecânica dinâmica fornece

informações sobre as propriedades reológicas em regime oscilatório ou dinâmico de

cisalhamento de pequena amplitude, ou seja, a tensão de cisalhamento (ou deformação)

aplicada varia com a freqüência.

Na verdade, quando um polímero é submetido a uma deformação oscilatória de

pequena amplitude, ou aplicada de forma suficientemente lenta, as conformações que

poderá apresentar não estarão distantes do equilíbrio, e as medidas ficarão dentro do

regime da viscoelasticidade linear (resposta composta de uma parte elástica e outra

viscosa). Assim a resposta mecânica é um reflexo do processo dinâmico a nível

molecular o qual muda constantemente para um sistema em equilibro. As tensões

resultantes oscilarão com a mesma freqüência ϖ, mas não estarão em fase com a

3

deformação. As propriedades em regime oscilatório podem ser obtidas, por exemplo,

em um fluxo entre placas paralelas, no qual uma das placas se movimenta de forma

oscilatória (Bretas, 2000).

Através desta técnica, como a tensão ou deformação resultante é determinada,

torna-se possível obter o módulo de armazenamento em cisalhamento (G’) e o módulo

de perda em cisalhamento (G’’) em função da freqüência (ϖ). O módulo de

armazenamento G’ está relacionado à componente em fase com a deformação e está

associado à contribuição elástica ou armazenamento de energia em cada ciclo; o módulo

de perda G’’ está associado à componente fora de fase com a deformação, ou seja, está

relacionado à contribuição viscosa ou dissipação de energia em cada ciclo. Estas

grandezas obtidas em uma faixa ampla de freqüências, maxmin ϖϖϖ ≤≤ (três décadas de

tempo ou mais), são definidas abaixo. Deve ser ressaltado que os sólidos apresentam

uma contribuição independente do tempo adicional, definido como o módulo em

equilíbrio G0 (Winter 1996).

λλ

ϖλϖλλϖ dHGG 22

22

00 1

)()('+

+= ∫∞

(1.1)

λλ

ϖλλϖλϖ dHG 22

0 1)()(''

+= ∫

(1.2)

Experimentos na faixa de viscoelasticidade linear, como os de compliância em

creep e os de relaxação sob tensão, podem ser utilizados para a obtenção do espectro de

relaxação de polímero. Dados mais acurados, entretanto, são obtidos a partir da

determinação de G’ e G’’.

Para obter o espectro de relaxação a partir de dados de G’ e G’’ assume-se que há

uma única função contínua H(λ) capaz de descrever o comportamento viscoelástico

linear. Assume-se também que H(λ) é suficientemente contínua tal que possa ser

4

considerada como uma função linear dentro de intervalos pequenos de tempo [

em torno de λ

+−ii λλ , ]

i. Torna-se necessário, portanto, determinar H(λ) ou a melhor aproximação

desta função de acordo com este critério.

Como o espectro de relaxação H(λ) é geralmente utilizado na forma integrada, a

sua determinação através de métodos computacionais requer inicialmente a

discretização desta função, como mostrado abaixo

∑∫ ∑ ∫∞

=

∞ ∞

=

∆≈=−

+ 10 1)()()(

kkk

kHdHdH

k

k

λλλλ

λλλ

λ

λ

(1.3)

Onde: 1

1lnln+

−+

≈⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=∆

k

k

k

ki λ

λλ

λ . Os limites superior e inferior

encontram-se em torno do intervalo

+kλ −

kλ + ∆k. O incremento ∆k é sempre positivo devido

a convenção adotada de se iniciar a ordenação dos tempos de relaxação com o valor

máximo desta grandeza ( = ). A variação do tempo de relaxação ∆maxλ kλ k pode ser

considerada constante de forma a simplificar os cálculos, entretanto tem sido

demonstrado na literatura que se ∆k for tratado como uma variável obtém-se um melhor

ajuste das curvas com poucos parâmetros.

O espectro discreto da Equação (1.3) corresponde ao módulo de relaxação

discreto:

∑∞

=

−∆≈−1

0 )/exp()()(k

kkk tHGtG λλ (1.4)

Desta forma, como será demonstrado no Capítulo 3, o espectro de relaxação

discreto pode ser expresso como resultante de um arranjo em que vários modelos de

Maxwell são colocados em paralelo, levando a obtenção da seguinte expressão:

∑∞

=

−≈−1

0 )/exp()(k

kk tGGtG λ (1.5)

5

Onde Gk é o módulo de relaxação sob tensão do k-ésimo modelo de Maxwell.

Sendo assim, os valores de H nos tempos de relaxação podem ser relacionados

diretamente com o módulo de relaxação sob tensão de cada modelo de Maxwell, através

da expressão:

kkk HG ∆= )(λ (1.6)

Desta forma, para se obter Gk a partir de H( ) ou vice-versa, é necessário apenas

conhecer os valores de ∆

k, que é obtido a partir do conjunto de soluções de ( ). kλ

O conjunto de dados se estende através de uma janela de tempo finita,

mínmáx t ωω /1/1 ≤≤ . Desta forma, há somente um número finito N obtido a partir de

todos os possíveis modelos de Maxwell. Isto especifica o conjunto de parâmetros que se

pretende determinar:

∑= +

=N

k k

kkGG

122

22

1)('

ϖλϖλ

ϖ (1.7)

∑= +

=N

k k

kkGG

1221

)(''ϖλ

ϖλϖ (1.8)

onde Gk e λk são os módulos de relaxação sob tensão e os tempos de relaxação

respectivamente .

Ambos Gk e λk são variáveis. O espectro discreto se expressa desta forma como

um módulo discreto que possibilita o ajuste de quaisquer dados de G’ e G’’ através de

uma escolha conveniente de parâmetros Gk e λk com k = 1,2,3,... N. Esta discretização

não compromete de forma alguma os resultados obtidos, uma vez que o espectro

discreto e o espectro contínuo são equivalentes.

A partir de um experimento com M dados, [ωi, G’(ωi) e G’’(ωi)] com i = 1, 2, 3,...,

M, o desvio entre a curva ajustada [Equações (1.7) e (1.8)] e os dados experimentais

pode ser expresso como um desvio padrão dado por:

6

2

122

2

1 122

222

1)(''11

1)´(111..

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

+−+

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

+−= ∑∑ ∑

== =

N

k ik

ikk

i

M

i

N

k ik

ikk

i

GG

GGM

DSϖλ

ϖλϖϖλ

ϖλϖ

(1.9)

A minimização desta função (para um N constante) resulta em um conjunto de

parâmetros Gk e λk que possibilitam o melhor ajuste

Como a razão entre o sinal e o ruído envolvidos nas determinações de G’ e G’’ não

é similar, o ajuste ideal para uma equação não é necessariamente adequado para a

solução da outra equação. Portanto, é usual ajustar ambas as equações simultaneamente

através da minimização da função objetivo, S.D.2.

Ajustar as Eqs. (1.8), (1.7) e (1.6) separadamente pode ser considerado um

problema mal posto, uma vez que não há uma única solução. Este problema torna-se

especialmente indesejável quando se pretende que o espectro de relaxação obtido tenha

uma conexão com a realidade física do problema, ou seja, quando se deseja obter uma

interface entre a microestrutura dos materiais e o espectro de relaxação. Vários métodos

vêm sendo desenvolvidos visando à resolução deste problema (Honerkamp, 1989).

Jensen e colaboradores (2002) utilizaram em vez dos algoritmos convencionais

determinísticos baseados no método do gradiente, um método de Monte Carlo

denominado Simulated Annealing para minimizar a função objetivo e obter os

parâmetros do modelo. Todos os métodos de Monte Carlo são baseados em uma

amostragem de números aleatórios, neste caso em uma amostragem de um número

elevado de Gk e λk, que são então testados de forma a se obter um bom ajuste dos

dados. A implementação do SA é relativamente fácil, e o algoritmo é completamente

insensível a escolha inicial dos parâmetros Gk e λk. Apesar de o esforço computacional

ser grande, o programa pode ser implementado em um computador comum

possibilitando a resolução do problema em um tempo razoável. Jansen e colaboradores

demonstraram que o SA é bastante conveniente para a determinação do espectro de

7

relaxação discreto a partir de dados de G´ e G´´ . A versão utilizada foi baseada na

implementação de Goffee do algoritmo SA desenvolvido por Corana e colaboradores

(Corana et al., 1987).

O presente trabalho foi baseado em uma abordagem similar a de Jensen (2002),

com as seguintes modificações:

1. Alteração da lista de resfriamento do algoritmo Simulated Annealing;

2. Utilização de outro algoritmo estocástico de otimização global (ainda que não

tenham sidos obtidos bons resultados);

3. Ajuste do espectro discreto de modo a obter-se uma versão contínua do espectro

de relaxação;

4. Aplicação da metodologia para determinação do espectro de relaxação do

polietileno linear de baixa densidade (LLDPE) e comparação do espectro obtido com o

determinado através do reômetro AR 2000, que possui um software para esta finalidade.

O objetivo desta dissertação é determinar o espectro de relaxação H(λ) de

polímeros a partir das propriedades reológicas G’(ϖ) e G’’(ϖ) obtidas em regime

oscilatório de pequena amplitude.

Para consecução deste objetivo, torna-se necessário o desenvolvimento das

seguintes etapas:

• Construção de uma ferramenta computacional que possa ser utilizada para obter

o espectro discreto (Gk e λK) através da minimização da função-objetivo pelo

algoritmo Simulated Annealing;

• Obtenção do espectro de relaxação contínuo, através da interpolação dos pontos

obtidos pelo método de lagrange e pelo método de regressão não linear;

• Comparação com um espectro de relaxação obtido por um reômetro com um

software comercial para uma mesma amostra.

8

CAPÍTULO 2

INTRODUÇÃO À REOLOGIA DE POLÍMEROS

Como mencionado anteriormente, o espectro de relaxação contínuo de polímeros

H(λ) pode ser obtido a partir da determinação do espectro discreto de relaxação [Eqs.

(1.7) e (1.8)] utilizando-se o algoritmo simulated annealing. Neste capítulo, os

princípios básicos da reologia de polímeros, da viscoelasticidade linear, assim como as

deduções das equações fundamentais para obtenção do espectro de relaxação, serão

detalhadas.

2.1 – Conceito de Viscoelasticidade

Um polímero amorfo pode se comportar como um vidro a baixas temperaturas,

como um sólido com características de borracha a temperaturas intermediárias e como

um líquido viscoso à medida que a temperatura ultrapassa a fusão do material.

Para deformações relativamente pequenas, o comportamento mecânico a

temperaturas baixas é elástico, isto é, o material se comporta de acordo com a lei de

Hooke (Eq. 2.1). Em temperaturas mais elevadas prevalece o comportamento viscoso

onde o polímero apresenta características similares as de um líquido polimérico. Em

temperaturas intermediárias, o material sólido apresenta características de uma borracha

exibindo características mecânicas que são uma combinação desses dois extremos; essa

condição é conhecida como viscoelasticidade (Callister,2002)

γσ G= (2.1)

9

onde σ é a tensão de cisalhamento, G é o módulo elástico em cisalhamento e γ é a

deformação em cisalhamento. Esta equação é valida também quando a tensão aplicada é

uma tensão de tração ou compressão.

Existe um fator comum a todos sólidos, líquidos e a esses materiais

“intermediários”. Todos eles se deformarão sob aplicação de uma tensão ou de uma

carga. A deformação poderá ser instantânea ou poderá progredir com o tempo. Os

polímeros fundidos, em sua grande maioria, apresentam uma resposta à tensão ou

deformação aplicada que pode ser dependente tanto da intensidade e do tipo de

deformação como do tempo; apresentam ainda relações dependentes de sua história

termomecânica, ou seja, das deformações sofridas anteriormente. Portanto, torna-se

importante a possibilidade de derivar relações entre tensão, deformação e tempo, através

das equações de estado ou equações constitutivas do material usadas em reologia

(Bretas, 2000).

Para ilustrar as equações de estado básicas, considera-se a aplicação nos diversos

corpos de um programa de carregamento ilustrado na Figura 2.1. Nesta, uma carga é

aplicada instantaneamente no instante ta e liberada em tr (Callister, 2002).

Tempo

ta tr

Car

ga

Figura 2.1 – Carga aplicada ao longo do tempo (ciclo carga-tempo)

10

No caso de um corpo elástico ideal, a deformação elástica é instantânea, o que

significa que a deformação total ocorre no instante em que a tensão é aplicada ou

liberada (isto é, a deformação é independente do tempo). Além disso, com a liberação

das tensões externas a deformação é totalmente recuperada e a amostra assume as suas

dimensões originais. Esse comportamento é representado na Figura 2.2.

Tempo ta tr

Def

orm

ação

Figura 2.2 – Resposta da deformação em função do tempo para comportamento de um sólido elástico ideal

Em contraste, para um comportamento totalmente viscoso a deformação não é

instantânea; isto é, em resposta à aplicação de uma tensão, a deformação é retardada ou

dependente do tempo. Essa deformação não é reversível ou completamente recuperada

após a liberação da tensão. Este fenômeno está demonstrado na Figura 2.3.

Tempo ta tr

Def

orm

ação

Figura 2.3 – Resposta da deformação em função do tempo para comportamento viscoso

11

Para um comportamento viscoelástico a imposição de uma tensão como

ilustrado na Figura 2.1, resulta em uma deformação elástica instantânea, seguida por

uma deformação viscosa dependente do tempo, o que se constitui em uma forma de

anelasticidade. Este comportamento está ilustrado na Figura 2.4 e ocorre devido aos

processos microscópicos e atomísticos dependentes do tempo que acompanham o

processo de deformação.

Tempo ta tr

Def

orm

ação

Figura 2.4 – Resposta da deformação em função do tempo para comportamento viscoelástico

A resistência de um fluido ideal ao escoamento provocado por uma tensão σ –

viscosidade η – é definida pela lei de Newton de viscosidade. Esta relação estabelece

que a tensão σ, é proporcional ao gradiente de velocidade do líquido (Ward, 1985).

yV∂∂

=ησ (2.2)

onde V é a velocidade e y é a direção do gradiente de velocidade. Considerando um

gradiente de velocidade de um líquido no plano xy,

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂

∂+

∂∂

=x

Vy

V yxxy ησ (2.3)

Como tuVx∂∂

= e tvVy∂∂

= onde u e v são os deslocamento na direção x e y,

respectivamente. Portanto:

12

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛∂∂

∂∂

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛∂∂

∂∂

=tv

xtu

yxy ησ (2.4)

Colocando a derivada do tempo em evidência, obtém-se:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛⎟⎠⎞

⎜⎝⎛∂∂

+⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

∂∂

=xv

yu

txy ησ (2.5)

Ou seja, a tensão cisalhante é diretamente proporcional à razão da variação da

deformação com o tempo, ou seja, a derivada da deformação em relação ao tempo.

Assim esta relação é expressa pela Lei de Newton abaixo:

( )txy

Vxy ∂

∂=

γησ (2.6)

2.2 – Comportamento Viscoelástico Linear

A lei de Newton, como visto anteriormente, descreve um comportamento linear

para um líquido viscoso, no qual a tensão é linearmente relacionada com a taxa de

deformação, isto é, com a variação da deformação com o tempo, enquanto que a lei

de Hooke descreve a proporcionalidade entre a tensão aplicada a um sólido elástico e

sua deformação. Portanto, uma formulação possível para o comportamento linear de

um sólido viscoelástico é a combinação linear das duas equações que descrevem as

leis anteriores [Eqs. (2.1) e (2.6)]. Ou seja:

( ) ( )t

G xyxyVxyExyyx ∂

∂+=+=

γηγσσσ (2.7)

Esta equação representa um dos modelos mais simples para o comportamento

viscoelástico linear (Modelos de Kelvin ou Voigt), no qual considera-se que a tensão

total aplicada a um material viscoelástico é igual a soma das duas tensões (elástica e

viscosa). Este modelo será descrito posteriormente.

13

Existem dois tipos de experimentos básicos que descrevem o comportamento

viscoelástico linear de um material. Em um deles, denominado relaxação sob tensão, o

material é submetido a uma deformação constante e o decaimento da tensão com o

tempo é medido. No outro, aplica-se uma tensão com módulo constante ao material

enquanto a deformação é medida como uma função do tempo. Este experimento é

denominado creep ou fluência viscoelástica.

Na definição de relações constitutivas para um sólido elástico assume-se que as

deformações são pequenas e que as relações entre as tensões e deformações são lineares.

O princípio da linearidade pode ser estendido a materiais que apresentam deformações

dependentes do tempo, através do Princípio de Superposição de Boltzmann que

estabelece que na viscoelasticidade linear, os efeitos de uma tensão são meramente

aditivos, assim como na elasticidade clássica. A diferença é que na viscoelasticidade

linear importa em qual instante o efeito foi criado. Embora a aplicação da tensão possa

causar uma deformação dependente do tempo, pode ainda ser assumido que cada

incremento da tensão contribui de forma independente para a deformação. A partir desta

discussão pode ser ressaltado que a teoria da viscoelasticidade linear também deve

conter a hipótese adicional que as deformações são pequenas. Pode-se perceber,

portanto, que a teoria da viscoelasticidade linear envolve ensaios onde tensões baixas

são aplicadas ao sistema. Ensaios realizados com aplicação de altas tensões apresentam

uma relação não-linear entre tensão e deformação (Ward, 1985).

14

2.2.1 – Fluência Viscoelástica (CREEP)

Freqüentemente, os materiais são colocados em serviço a temperaturas elevadas

e ficam expostos a tensões mecânicas estáticas. A deformação sob tais circunstâncias é

conhecida por fluência. A fluência é definida como sendo a deformação permanente e

dependente do tempo de materiais, quando estes são submetidos a uma carga ou tensão

constante. É em geral um fenômeno indesejável e, com freqüência, é o fator de

limitação da vida útil de uma peça (Callister , 2002).

A maioria dos materiais poliméricos é suscetível a estas deformações

dependentes do tempo, quando o nível de tensão é mantido constante; tais deformações

são algumas vezes denominadas fluência viscoelástica. Este tipo de deformação pode

ser significativo mesmo à temperatura ambiente e sob tensões modestas que se

encontram abaixo do limite de escoamento do material (Callister, 2002).

A comparação do comportamento de um sólido elástico com o de um sólido

viscoelástico linear sob uma carga constante é elucidativa. Para um sólido elástico, a

relação entre o programa de carregamento e a deformação é apresentada na Figura 2.5a.

Pode ser verificado que a deformação apresenta o mesmo perfil que o programa de

carregamento. Observa-se também uma relação de proporcionalidade exata entre a

deformação e a intensidade das cargas aplicadas (Ward, 1985).

O efeito da aplicação de um programa de carregamento similar a um sólido

viscoelástico linear apresenta algumas similaridades (Figura 2.5b). No caso mais geral,

a deformação total e é a resultante da soma de três tipos de deformação: e1 , e2 e e3 . As

deformações e1 e e2 são respectivamente denominadas, deformação elástica instantânea

e deformação elástica retardada; e3 é a parte da deformação que é idêntica a deformação

de um líquido viscoso, comportando-se segundo a Lei de Newton da viscosidade. O

15

processo reversível determina o comportamento mecânico sob carregamentos efetuados

em períodos curtos, enquanto que o irreversível controla as propriedades de longo

alcance (Chodák,1998; Callister, 2002).

Como o material apresenta um comportamento linear, as magnitudes das

deformações e1 , e2 e e3 são exatamente proporcionais as intensidades das tensões

aplicadas. Assim um simples experimento de carregamento define a compliância em

“creep”, J ( t ) que é função unicamente do tempo (Ward, 1985).

J ( t ) = J1 + J2 + J3 = σ

)(te (2.8)

onde J1 , J2 e J3 correspondem a e1 , e2 e e3 .

O termo J3 que define o fluxo Newtoniano pode ser negligenciado, para

polímeros rígidos a temperaturas ordinárias, porque as suas viscosidades são muito

elevadas. Polímeros amorfos lineares apresentam um termo J3 finito, em temperaturas

acima da temperatura vítrea, mas em temperaturas mais baixas, seu comportamento é

dominado por J1 e J2. Polímeros reticulados não apresentam o termo J3. Este termo

também pode ser negligenciado no caso de polímeros altamente cristalinos (Callister,

2002).

16

Figura 2.5 – Deformação de um sólido elástico (a) e de um sólido viscoelástico linear (b)

A Figura 2.6 apresenta a variação da compliância com o tempo, a uma

temperatura constante, sob uma ampla escala de tempo, para um polímero amorfo

idealizado que possui somente uma transição-relaxação. Pode ser verificado em

experimentos de curtíssima duração, que a compliância observada é igual a 10 -9 m2 N-1

e corresponde a apresentada por um sólido vítreo. Em experimentos com duração muito

longa, a compliância observada é de 10-5 m2 N-1, e corresponde a apresentada por um

sólido borrachoso. Em ambos os casos, a compliância é independente do tempo. Em

tempos intermediários, a compliância situa-se entre estes valores e é dependente do

tempo.

17

λ’

Figura 2.6 – A compliância em “creep” como uma função do tempo

Pode ser inferido a partir da Figura 2.6 que o comportamento observado,

dependerá da escala de tempo do experimento em relação a algum parâmetro básico do

polímero. Para o “creep”, este parâmetro é denominado tempo de retardação λ’, e cai

no meio da faixa de tempo da escala apresentada na figura acima. Assim, a distinção

entre a borracha e o sólido vítreo é λ’ um tanto artificial, uma vez que depende somente

do valor de λ’ a temperatura ambiente para cada polímero. Para a borracha, o valor de

λ’ é muito pequeno a temperatura ambiente comparado com a duração normal de um

experimento, que é provavelmente maior que 1s, enquanto o oposto é verdadeiro para o

plástico vítreo. O valor de λ’ para um dado polímero é relacionado a sua estrutura

molecular. Estas considerações permitem que a influência da temperatura nas

propriedades dos polímeros seja compreendida. Com o aumento da temperatura, a

freqüência dos rearranjos moleculares aumenta, reduzindo o valor de λ’. Em

temperaturas muito baixas, portanto a borracha se comportará como um sólido vítreo, e

de forma similar o plástico vítreo amolecerá a temperaturas elevadas (Ward, 1985).

18

2.2.2 – Relaxação sob Tensão

O ensaio de relaxação sob tensão é o contraposto do ensaio de creep. Neste caso,

a amostra é submetida a uma deformação constante e, e o decaimento da tensão é o

parâmetro observado. O módulo de relaxação sob tensão G(t), é definido pela relação

abaixo, supondo que o comportamento observado seja linear:

ettG )()( σ

= (2.9)

No caso da relaxação sob tensão, a presença de um fluxo viscoso afetará o valor

limite da tensão. Quando ocorre um fluxo viscoso, a tensão pode decair a zero, em

tempos suficientemente longos. Porém quando não há a presença de um fluxo viscoso, a

tensão decai a um valor finito, obtendo-se, então, um módulo “relaxado” ou de

equilíbrio GR em um tempo infinito.

A Figura 2.7 a seguir pode ser comparada ao gráfico correspondente para o

ensaio de creep (Figura 2.6) já mostrado anteriormente. As mesmas regiões podem ser

notadas em ambos os gráficos, onde o material apresenta comportamento vítreo,

viscoelástico, borrachoso e fluido. O tempo de transição λ também é representado no

gráfico, porém agora é denominado tempo de relaxação λ, caracterizando a escala de

tempo para o comportamento viscoelástico. Embora ambos os tempos, λ e λ’, tenham a

mesma ordem de magnitude, eles não são idênticos.

19

Vítreo Fluxo

Borrachoso

λ

Viscoelástico

log t

Figura 2.7 – O Módulo da Relaxação Sob Tensão G(t) em função do tempo

Os efeitos das variações de temperatura nos ensaios de relaxação sob tensão são

similares aos observados nos ensaios de creep, isto é, a mudança na temperatura

equivale a uma mudança na escala de tempo. A equivalência entre tempo e temperatura

é aplicável a todos os polímeros que apresentam um comportamento viscoelástico

linear.

20

2.3 – Tratamento Matemático do Comportamento Viscoelástico Linear

O princípio de superposição de Boltzmann foi a primeira descrição matemática

do comportamento de viscoleasticidade linear. Este princípio é baseado nas seguintes

hipóteses.

(1) O “creep” em uma amostra é uma função da história de carregamento total a

qual a amostra foi submetida

(2) Cada etapa de carregamento contribui de forma independente à deformação

final, que pode ser determinada pela adição de cada contribuição.

Um ensaio típico de “creep“ consiste em submeter um corpo de prova a uma

carga ou tensão enquanto se mantém a temperatura constante; a deformação é medida e

colocada em gráfico como uma função do tempo decorrido. A maioria dos ensaios é do

tipo com carga constante.

λ’1 λ’2 λ’3

Figura 2.8 – Comportamento de “creep” de um sólido viscoelástico linear

Supondo que a compliância J(t) seja conhecida no intervalo de 1s a 1 Ms; pode-

se determinar, através da Lei de Hooke, o valor da deformação de cisalhamento γ0(t)

para qualquer valor de t (1s<t< 1Ms) resultante da tensão σ0 aplicada no instante t = 0.

21

γ0(t) = σ0 J(t) (2.10)

Supondo que uma nova tensão adicional σ1 seja aplicada no instante t1, a nova

deformação γ1 medida em relação ao tempo total de ensaio t pode ser expressa por:

γ1(t) = σ1 J(t – t1) (2.11)

No instante t, no qual a tensão σ1 foi aplicada, houve em relação ao início do

experimento um intervalo de tempo igual a t - t1. A compliância de cisalhamento

correspondente a esta diferença é a que determina a deformação em cisalhamento γ1(t).

O princípio de Superposição de Boltzmann estabelece que a deformação total no tempo

t é dada por:

γ(t) = γ0(t) +γ1(t) = σ0 J(t) + σ1 J(t – t1) (2.12)

Em outras palavras, o Princípio de Superposição de Boltzmann estabelece que a

aplicação conjunta das tensões σ0 e σ1 em um material dá origem a uma deformação

γ0(t) +γ1(t), uma vez que a aplicação somente da tensão σ0 resulta em uma deformação

γ0(t) e a atuação da tensão σ1 dá origem a uma deformação γ1(t). Se fosse aplicado no

corpo um carregamento como ilustrado na Fig.2.8, ao invés das duas tensões, então a

deformação seria dada por (McCrum, 1995):

γ(t) = ∆σ1 J (t -t1) + ∆σ2 J (t -t2 ) + ∆σ3 J (t - t3) + ... (2.13)

onde: J (t -tn) é a função compliância em “ creep “.

Se a tensão varia continuamente com o tempo e todo o domínio da função é

definido, a Eq. (2.13) pode ser generalizada resultando na forma integral do Princípio de

Superposição de Boltzmann. A deformação no tempo t é obtida para um corpo de prova

que no tempo t’ tenha sofrido a ação de uma tensão σ(t’), onde 0 < t’ < t. O corpo de

prova não havia sofrido nenhuma deformação em t’ = 0, tendo esquecido sua história de

22

carregamento. A submissão da amostra durante um longo período de tempo a uma

tensão zero, causaria o esquecimento da sua história prévia de carregamento. A

deformação no tempo t é então dada por:

∫ −=t

dtdtdttJt

0

''

)'()( σγ (2.14)

No entanto, quando todo carregamento prévio da amostra é considerado,

segundo o Princípio de Superposição de Boltzmann, a deformação no tempo t pode ser

calculada por:

∫∞−

−=t

dtdtdttJt '

')'()( σγ (2.15)

Levando em consideração que há uma resposta elástica instantânea do material

quando submetido a uma tensão, um termo constante, referente a esta deformação, pode

ser incluído à equação acima. Reescrevendo-se a mesma em função do tempo de

retardação λ’, obtém-se a forma matemática mais correta para a integral:

∫∞−

−+⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡=

t

U

dddtJ

Gt '

')'()( λλσλσγ (2.16)

Onde GU é o ‘módulo não relaxado’. As Eqs. (2.14), (2.15) e (2.16) são utilizadas para

representar o Princípio de Superposição de Boltzmann.

Para um ensaio específico de Relaxação sob Tensão, o comportamento pode ser

representado de forma similar, só que neste caso a deformação do material é que é

incrementada de γ∆ em intervalos de tempo t’. Através do Princípio de Superposição de

Boltzmann, pode-se concluir que um programa de Relaxação sob Tensão no qual

incrementos de deformação 1γ∆ , 2γ∆ e 3γ∆ são adicionados em instantes de t1, t2 e t3, a

tensão total no tempo t é dada por:

23

...)()()()( 332211 +−∆+−∆+−∆= ttGttGttGt γγγσ (2.17)

Ultilizando as mesmas considerações efetuadas na discussão do ensaio de creep,

e reescrevendo-se a expressão obtida em função do tempo de relaxação λ, obtém-se

[ ] ∫∞−

−+=t

R dddtGGt λλγλγσ )()( (2.18)

Onde GR é o módulo em equilíbrio, parâmetro associado normalmente à polímeros no

estado sólido (Jensen, 2002).

2.3.1 – O Modelo de Maxwell

O modelo de Maxwell é apresentado esquematicamente na Figura abaixo.

σ1, γ1

EmGm

ηm

σ2, γ2

Figura 2.9 – O Modelo de Maxwell

No modelo de Maxwell a tensão total do sistema σ é idêntica àquela aplicada

tanto na mola (σ1) como no pistão (σ2). A deformação total do sistema, entretanto, é

descrita em função da deformação referente a cada constituinte do sistema. A mola,

24

elemento elástico do sistema, não responde da mesma forma que o pistão, elemento

viscoso, à ação de uma dada tensão. Neste caso, a deformação total γ, é igual ao

somatório das deformações da mola γ1, e do pistão γ2. Portanto:

σ = σ1 = σ2

γ = γ1 + γ2 (2.19)

Como σ1 corresponde a tensão aplicada na mola (Lei de Hooke – Eq. 2.1) e σ2 é

a tensão aplicada no pistão (Lei de Newton – Eq. 2.2), obtêm-se:

σ1 = Gmγ1 (2.20)

dtd

m2

2γησ = (2.21)

Derivando a Eq. (2.20) em relação ao tempo, obtém-se

dtdG

dtd

m11 γσ

= (2.22)

Como a deformação total é igual ao somatório das deformações constituintes,

sua variação em função do tempo também obedece a esta relação. Portanto, através da

reorganização das equações anteriores, a seguinte equação diferencial é obtida:

mm dtd

Gdtd

ησσγ

+=1 (2.23)

O modelo de Maxwell é utilizado para os ensaios de relaxação sob tensão, ou

seja, para ensaios onde a deformação é constante e a variação da tensão em função do

tempo é determinada. Sendo assim, a derivada da deformação total em relação ao tempo

é nula, e a equação anterior é reescrita da seguinte maneira:

25

(2.24) dtG

dtd

m

m

ησ

−=

No tempo t = 0, a tensão σ é igual à tensão inicial σ0. Integrando a equação

acima, obtém-se a seguinte solução:

tG

m

m

ησσ −

= exp0 (2.25)

Esta equação mostra que o decaimento da tensão é uma função exponencial do

tempo. O tempo de relaxação λ é definido como uma razão da viscosidade pelo módulo

de relaxação sob tensão,

m

m

Gηλ = (2.26)

Sendo assim, a Eq. (2.25) pode ser reescrita da seguinte maneira:

λσσ t−

= exp0 (2.27)

Este modelo, no entanto, apresenta dois inconvenientes. Se uma tensão constante

for aplicada, sua derivada em relação ao tempo é nula e, a Eq. (2.23) resume-se a

seguinte expressão onde um fluxo Newtoniano é observado:

mdt

dησγ

= (2.28)

Esta relação claramente não é verdadeira para os materiais viscoelásticos, onde o

o comportamento em “creep” é muito mais complexo do que esta equação sugere. Por

outro lado, o comportamento da relaxação sob tensão não pode ser representado apenas

por um único termo de decaimento exponencial, assim como a tensão não decai

necessariamente a zero em um tempo infinito.

26

2.3.2 – O Modelo de Kelvin ou Voight

O modelo de Kelvin ou Voigt consiste em uma mola e um pistão associado em

paralelo, como mostra a Figura 2.10 abaixo:

σ

, Gm σ2, γ2, ηv σ1, γ1, Gv

Figura 2.10 – O modelo de Kelvin ou Voight

Como a mola e o pistão estão em paralelo, a deformação total do sistema será a

mesma que a mola e o pistão sofrerão. A tensão, entretanto, será a soma das tensões em

cada componente do sistema. Portanto:

σ = σ1 + σ2

γ = γ1 = γ2 (2.29)

Sendo assim, a tensão total é dada por:

dtdeG vvγησ += (2.30)

Para ensaios de relaxação sob tensão, nos quais a deformação é constante, o

modelo de Voigth pode ser simplificado, obtendo-se:

27

γσ vG= (2.31)

Esta equação mostra que o material se comporta como um sólido elástico, não

sendo uma boa representação para o comportamento viscoelástico. O modelo de Voight,

entretanto, é muito útil na representação de ensaios de compliância em “creep”, nos

quais a tensão é constante, ou seja, σ = σ0. Para dedução da expressão que relaciona a

deformação com o tempo, faz-se necessário uma reorganização da Eq. (2.30) de modo

que o método de Lagrange possa ser aplicado para a resolução da equação diferencial

ordinária.

0=−+ σγηγdtdG vv (2.32)

A resolução desta equação diferencial é apresentada detalhadamente em anexo. O

aumento da deformação com o tempo é dada por:

'exp0 λ

γγ t−= (2.33)

Onde v

v

Gηλ =' , denominado tempo de retardação.

28

2.3.3 – O Modelo de Zener

O comportamento de um sólido elástico é representado de forma mais

satisfatória através do modelo de Zener, uma vez que este representa todas as

características significativas das relaxações dos polímeros. Este modelo fornece uma

representação aproximada do comportamento observado dos polímeros na faixa

viscoelástica.

O modelo pode ser representado de duas maneiras, que se tornam aparentemente

idênticas. Na primeira forma (Esquema I), a mola, que é o elemento elástico linear, e o

pistão, que é o elemento viscoso linear, encontram-se em paralelo (modelo de Voight).

A este modelo é acoplada uma mola em série. Na outra forma (Esquema II), a mola

encontra-se em paralelo (modelo de Maxwell). As propriedades significativas inerentes

ao modelo de Zener incluem (McCrum, 1985):

i. Duas constantes de tempo, sendo que uma é relacionada a uma tensão

constante – λ’ (tempo de retardação), e a outra a uma deformação constante

– λ (tempo de relaxação);

ii. Uma deformação instantânea no tempo t = 0, quando o material é submetido

a uma tensão representada por uma função degrau;

iii. Recuperação completa da deformação após remoção da tensão.

Nesta discussão, no entanto, serão abordados apenas o caso representado no

Esquema I e a derivação da equação diferencial representativa do modelo de Zener.

29

Esquema I Esquema II

GD

GR

η

γ2

γ1

σ-σ1

JU

JD

γ

σ1

η

σ σ

Figura 2.11 – O modelo de Zener

Pode ser visualizado no Esquema I que a mola e o pistão sofrem a mesma

deformação (modelo de Voight). A deformação na mola U pode ser calculada pela Lei

de Hooke, entretanto, torna-se mais conveniente expressá-la em função da compliância

JU, visto que o modelo representa de forma mais satisfatória os ensaios de creep. Como

a compliância é o inverso do módulo de tensão de cisalhamento G, a lei de Hooke pode,

de uma forma geral, ser expressa da seguinte maneira:

JG

γγσ == (2.34)

Para a mola isolada U:

UJσγ =2 (2.35)

A tensão na mola em paralelo com o pistão é dada pela a diferença entre a tensão

total σ e a tensão no pistão (σ1). A tensão na mola é dada por:

30

( ) DJ11 σσγ −= (2.36)

Como o primeiro conjunto está em série com a mola isolada (mola U), a

deformação total γ pode ser calculada através da soma de ambas deformações.

21 γγγ += (2.37)

Substituindo as Eqs. (2.35) e (2.36) na Eq. (2.37) e rearranjando as equações anteriores,

obtém-se:

γ- UJσ = ( ) DJ1σσ − (2.38)

A deformação no pistão com viscosidade η, pode ser expressa em função da

deformação total. Através da Lei de Newton, a tensão σ1 é dada por:

( )dt

d 21

γγησ −= (2.39)

Como UJσγ =2 , tem-se que:

( )dt

Jd Uσγησ −=1 (2.40)

Substituindo σ1 na Eq. (2. 38), obtém-se:

( )dt

JdJJJ U

DDUσγ

ησσγ−

−=− (2.41)

A Eq. (2.41) pode ser rearranjada da seguinte forma:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −−=−

dtdJ

dtdJJJ UDDU

σγησσγ (2.42)

Introduzindo a variável ηλ DJ=' como uma constante característica denominada

tempo de retardação, tem-se:

( )dtdJ

dtdJJ UDU

σλγλσγ '' +−+= (2.43)

31

A compliância resultante é dada pela soma da compliância da mola isolada com

a mola em paralelo com o pistão.

JR = JU + JD (2.44)

Através da Eq. (2.44), obtém-se:

dtdJ

dtdJ UR

σλγλσγ '' +−= (2.45)

A Eq. (2.45) pode ser rearranjada da seguinte maneira:

dtdJJ

dtd

URσλσγλγ '' +=+ (2.46)

Multiplicando a equação anterior por RJ

1 , é possível escrever:

dtd

JJ

dtd

J R

U

R

σλσγλγ ''1+=⎥⎦

⎤⎢⎣⎡ + (2.47)

O termo R

U

JJ

'λ é uma outra constante, denominada constante de tempo de

relaxação λ. Ou seja:

λ =R

U

JJ

'λ (2.48)

A Eq (2.48) pode ser reescrita gerando a Eq. (2.49), onde as duas constantes de

tempo são evidenciadas.

R

U

U

R

GG

JJ

==λλ '

(2.49)

A introdução da constante do tempo de relaxação λ na Eq. (2.47) gera,

finalmente, a equação representativa do modelo de Zener.

dtd

dtd

J R

σλσγλγ +=⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ + '1 (2.50)

32

Para uma descrição quantitativa exata do comportamento viscoelástico linear

observado, deveria ser incluído na equação diferencial linear outros termos (derivada

segunda, terceira e etc.). Para a representação satisfatória de dados experimentais,

entretanto, isto não é necessário (McCrum, 1995).

Pode ser observado que esta equação descreve de forma mais satisfatória o

comportamento viscolelástico, visto que ela é válida para ensaios de creep, onde a

tensão é constante, assim como para o ensaio de relaxação sob tensão, onde a

deformação é o termo constante.

33

2.4 – O Modelo de Zener aplicado à Ensaios de “Creep”

No ensaio de creep uma tensão constante σ0 é aplicada no tempo t = 0. Sendo

assim, a Eq. (2.50) é apresentada da seguinte forma:

0' σγλγ RJdtd

=+ (2.51)

Rearranjando-se a equação acima, obtém-se:

'0 λγσγ dt

Jd

R

=−

(2.52)

Esta equação diferencial de primeira ordem pode ser integrada pelo método de

separação de variáveis, onde u, a variável introduzida, é definida por:

u = JRσ0 – γ (2.53)

Assim sendo: du = – dγ (2.54)

Substituindo os valores de u e du na Eq. (2.52), obtem-se as seguintes

expressões:

∫∫ =−

'λdt

udu , logo, ctu +=−

'ln

λ (2.55)

A equação acima pode ser reescrita substituindo os valores de u (Eq. 2.53) e du

(Eq. 2.54) e multiplicando-se esta por (-1).

( ) ctJ R −−=−'

ln 0 λγσ (2.56)

Rearranjando-se a equação acima, obtém-se:

c

t

J R exp'

exp0

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−

=− λγσ (2.57)

Como o inverso da exponencial de uma constante ⎟⎠⎞⎜

⎝⎛

cexp1 é uma outra

constante , tem-se que:

34

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−=−

'exp0 λ

γσ tkJ R (2.58)

onde k é uma constante.

A deformação γ é uma função do tempo t. Assim:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−=

'exp)( 0 λ

σγ tkJt R (2.59)

A solução desta equação é dada pela condição de valor inicial, onde a tensão σ0

aplicada ao sistema no tempo t = 0 é igual a deformação instantânea do material, dada

pelo produto da compliância JU e a tensão σ0 aplicada. Portanto:

γ (0) = σ0 JU (2.60)

Aplicando-se a condição de valor inicial (Eq. 2.60) na Eq. (2.59), obtém-se:

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−=

'0exp)0( 0 λ

σγ kJ R σ0 JU (2.61)

O valor da constante k é, portanto:

k = σ0(JR – JU ) (2.62)

Substituindo este valor de k na Eq. (2.59), chega-se à expressão abaixo:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−−=

'exp)()( 00 λ

σσγ tJJJt URR (2.63)

Dividindo-se a Eq. (2.63) por σ0 , deriva-se o valor da compliância, J(t):

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−+=

'exp)()(

λtJJJtJ RUR (2.64)

Adicionando-se e subtraindo o termo JU, a equação acima não é alterada e pode

ser reescrita de seguinte maneira:

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−−+=

'exp1)()(

λtJJJtJ URU (2.65)

35

2.5 – O Modelo de Zener aplicado à Ensaios de Relaxação sob Tensão

Nos ensaios de relaxação sob tensão há a aplicação de uma deformação

constante 0γ . Com o decorrer do tempo, observa-se que há o decaimento do módulo de

relaxação G. Assim, o experimento de relaxação sob tensão é melhor descrito em

termos de G. Como este é o inverso da compliância J, a Eq. (2.50), que descreve o

modelo de Zener, pode ser rescrita da seguinte maneira:

dtd

dtdGR

σλσγλγ +=⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ + ' (2.66)

Como a deformação é constante e é aplicada em um tempo t = 0, obtém-se a

seguinte expressão:

dtdGRσλσγ +=0 (2.67)

Esta equação pode ser facilmente resolvida da mesma forma utilizada para o

creep, ou seja, através do método de separação de variáveis, onde:

σγσλ −= 0RGdtd (2.68)

Rearranjando-se a Eq. (2.68), obtém-se a seguinte equação diferencial:

λσγσ dt

Gd

R

=−0

(2.69)

Esta equação diferencial de primeira ordem pode ser integrada pelo método de

separação de variáveis, onde u, a variável introduzida, é definido por:

u = GR 0γ –σ (2.70)

Assim sendo: du = – dσ (2.71)

Substituindo os valores de u e du na Eq. (2.69), gera-se:

36

∫∫ =−

λdt

udu , logo, ctu +=−

λln (2.72)

A Eq. (2.72) pode ser reescrita substituindo os valores de u e du [Eq. (2..70) e

(2.71)] e multiplicando-se esta equação por (-1), obtendo-se:

( ) ctGR −−=−λ

σγ 0ln (2.73)

Rearranjando-se a equação acima, obtém-se:

c

t

GR exp

exp0

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−

=− λσγ (2.74)

Como o inverso da exponencial de uma constante ⎟⎠⎞⎜

⎝⎛

cexp1 é uma outra

constante , tem-se que:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−=−

λσγ tkGR exp0 (2.75)

A tensão σ é uma função do tempo t. Assim:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−=

λγσ tkGt R exp)( 0 (2.76)

A solução desta equação é dada pela condição de contorno inicial, onde a tensão

σ0 aplicada ao sistema no tempo t = 0 é igual ao produto da deformação instantânea do

material e seu módulo GU. Portanto:

σ(0) = 0γ GU (2.77)

Aplicando-se a condição de valor inicial na Eq. (2.76), obtém-se:

=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−=

eR kG

τγσ

0exp)0( 0 0γ GU (2.78)

Como a exponencial de zero é 1, o valor da constante k é, portanto:

37

k = 0γ (GR –GU) (2.79)

Substituindo este valor na Eq. (2.76),obtem-se:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−+=

λγγσ tGGGt RUR exp)()( 00 (2.80)

Dividindo-se a Eq. (2.95) por γ0, tem-se a expressão do módulo de relaxação sob

tensão, G(t):

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−+=

λtGGGtG RUR exp)()( (2.81)

Adicionando-se e subtraindo o termo GU à equação acima, esta não se altera,

podendo ser reescrita de seguinte maneira:

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−−−=λtGGGtG RUU exp1)()( (2.82)

A representação gráfica da Eq. (2.65) , compliância J(t) em função do tempo

(log t) e da Eq. (2.82), módulo de relaxação sob tensão G(t) em função do tempo (log t)

é apresentada na Figura 2.11 a seguir.

log t (s)

38

Figura 2.11 – Solução do Modelo de Zener. Curvas de G(t) e J(t) versus log t; Modelo com JU =1 GPa–1, JR/JU = 10, λ’ =10s e λ =100s

Pode ser observado que em ambos os experimentos de creep e de relaxação sob

tensão, as soluções são idênticas em tempos muito curtos (t << λ’) onde a razão entre a

tensão e a deformação é GU = JU-1 e em tempos muito longos (t >> λ’), onde a razão

entre a tensão e a deformação é GR = JR-1.

Em tempos intermediários pode ser visto que no “creep”, a compliância passa de

um valor JU para JR com uma constante de tempo λ’. Na relaxação sob tensão o módulo

passa de GU para GR com uma constante de tempo λ. Sendo assim em tempos muito

curtos e em tempos muito longos, as tensões e as de deformação são Hookeanas. Em

tempos intermediários, entretanto, onde o tempo t é da ordem dos tempos de relaxação,

isto não é verdadeiro e é nesta região que são observados os efeitos viscoelásticos.

O modelo viscolelástico de Zener pode ser analisado fisicamente. Por exemplo,

quando uma tensão σ0 é aplicada ao conjunto (Esquema I), a resposta instantânea é

representada pela mola de compliância JU, visto que o pistão não se move

instantaneamente. Já no Esquema II, a resposta instantânea é referente às molas de

módulos GR e GD respectivamente. Para este último caso, a deformação instantânea

(para tempo próximo de zero) pode ser também escrita da seguinte forma:

000

0 σσσ

γ UUDR

JGGG

==+

= (2.83)

A relação acima demonstra não somente que o modelo de Zener pode ser

representado pelos dois arranjos (Esquema I e Esquema II), mas também que a relação

entre o módulo de relaxação GR e os outros módulos é dado por:

GR = GU - GD (2.84)

Fisicamente pode ser visto no Esquema II que GR γ0 é a tensão independente do

tempo no elemento GR. A tensão dependente do tempo no outro braço do modelo

nivela-se em t = 0 com valor igual a GD γ0 pois a deformação total é igual a instantânea

Conforme t tende ao infinito, a tensão no pistão tende à zero.

39

2.6 – O Modelo de Zener Generalizado

O modelo de Zener é considerado bastante satisfatório para representação de

materiais viscoelásticos, embora apresente algumas falhas. Através da análise da Figura

2.12 anterior, observa-se que a função compliância J(t), assim como o módulo de

relaxação sob tensão G(t) variam em uma escala logarítmica de aproximadamente três

décadas de tempo. Para a compliância J(t), a região de relaxação ativa se estende no

intervalo de tempo de aproximadamente 1s até 103 s; e no caso do módulo de relaxação

sob tensão G(t) ocorre no intervalo de tempo de 0,1 s até 102 s.

No entanto, a análise do polietileno linear ilustrada na Figura 2.12, por exemplo,

mostra uma relaxação em intervalos de tempo mais amplos do que apenas 3 décadas de

tempo.

log t (s)

40

Figura 2.12 – Variação da Compliância J(t) em função do log do tempo, para o Polietileno Linear, em diferentes temperaturas.

Pode ser observado que para cada temperatura, a variação da compliância em

função do tempo se estende em uma faixa logarítmica de tempo de cerca de quatro

décadas de tempo, contrastando com a previsão do modelo.

Estas falhas do modelo de Zener são facilmente retificadas assumindo-se que o

processo de relaxação em polímeros envolve, na verdade, um conjunto de processos de

relaxação com um espectro de tempos de relaxação que são muito próximos. A

heterogeneidade do sólido polimérico é responsável pelo fato de ter-se uma distribuição

de tempos de relaxação. Assim, todas as relaxações em polímeros são descritas por uma

curva Gaussiana de tempos de relaxação, obtendo-se um espectro de tempo de

relaxação.

Estes processos podem ser analisados a partir do modelo generalizado de Zener,

constituído por n elementos mola/pistão em série (Modelo de Voight) ou em paralelo

(Modelo de Maxwell), onde ambos estão ligados a uma mola no final, caracterizando a

parte do modelo referente à deformação instantânea do material. O modelo de Zener

generalizado, aplicado para o estudo do ensaio de relaxação sob tensão, é ilustrado na

Figura 2.13.

Figura 2.13 – O modelo de Zener Generalizado para Ensaios de Relaxação sob Tensão

41

O i-ésimo elemento deste modelo apresenta módulo de relaxação Gi, viscosidade

do pistão ηi e tempo de relaxação λi. Cada elemento do modelo sofre a ação da aplicação

de uma tensão σ0. A mola isolada do conjunto também sofre os efeitos da aplicação

desta tensão. Para um tempo t = 0, o módulo de relaxação sob tensão é igual a GR. Neste

caso, há uma deformação instantânea do material em resposta à tensão aplicada, que não

depende do tempo.

No entanto, para um tempo t qualquer, a tensão decai com tempo, de acordo com

a Eq. (2.81) descrita para o ensaio de relaxação sob tensão para o modelo de Zener

simplificado. Assim, o módulo da relaxação sob tensão do material em função do tempo

t, G(t), deve ser calculado considerando-se não apenas o elemento elástico linear GR,

mas também a resposta de cada elemento individual do modelo de Zener generalizado

com o tempo t, como demonstra a equação a seguir:

∑=

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛ −+=

m

i iiR

tGGtG1

exp)(λ

(2.85)

A análise das Eqs. (2.81), (2.84) e da Figura 2.14 demostra o termo Gi é

equivalente ao termo GD de cada mola associada em série com o pistão.

Quando m tende a infinito, todo o domínio da função G(t) é mapeado. Em outras

palavras, o passo da discretização do domínio é infinitesimal e passa a ser representado

por um intervalo convexo [0,+∞]. Portanto, o módulo de relaxação em função do tempo

G(t), passa a ser melhor representado pela integral de uma função H(λ), cujo o domínio

é este intervalo. Esta função é denominada espectro do tempo de relaxação.

λλ

λ dtHGtG R ∫∞

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+=

0

exp)()( (2.86)

42

Neste caso, para qualquer Gi existe uma área infinitesimal H(λ)dλ associada, que define

a concentração de elementos de Maxwell com tempo de relaxação entre λ e λ + dλ. Na

prática, como discutido anteriormente, é mais conveniente se trabalhar com o tempo na

escala logarítmica. Portanto, um novo espectro de tempo de relaxação H(λ) é definido,

onde H(λ)d(lnλ) está associado ao módulo de relaxação sob tensão dos elementos que

possuem tempo de relaxação entre ln(λ) e lnλ + d(ln λ).

Assim, G(t) é expresso por:

)(lnexp)()(0

λλ

λ dtHGtG R ∫∞

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+= (2.87)

O espectro do tempo de relaxação pode ser calculado utilizando o método da

transformada de Laplace ou de Fourier, através de medições sucessivas dos módulos de

relaxação sob tensão. É importante considerar que os espectros de tempo de relaxação

são apenas uma descrição matemática do comportamento macroscópico, e não tem

necessariamente uma interpretação simples em termos moleculares. Não é uma tarefa

simples correlacionar os perfis observados no comportamento de relaxação, tal como o

tempo de relaxação predominante, com um processo molecular específico. Deve ser

também enfatizado que, as interpretações qualitativas em termos moleculares, podem

freqüentemente ser obtidas, diretamente a partir de dados experimentais, sem haver

necessidade de calcular o espectro do tempo de relaxação.

43

2.7 – Propriedades Reológicas em Regime Oscilatório

As propriedades reológicas podem ser determinadas em regime oscilatório ou

dinâmico de cisalhamento de pequena amplitude. Neste caso, a tensão de cisalhamento

(ou deformação) aplicada varia oscilatoriamente com a freqüência. A amplitude da

tensão ou deformação de cisalhamento aplicada deverá ser pequena para que as medidas

situem-se dentro do regime de viscoelasticidade linear. Essas propriedades são

conhecidas também como propriedades viscoelásticas lineares (Bretas, 2000).

Dentre estas, destacam-se o Módulo Elástico de Armazenamento – G’ e o

Módulo Elástico de Perda – G’’, os quais serão mais detalhados a seguir.

2.7.1 – Módulo de Armazenamento G’ e Módulo de Perda G’’

Um procedimento experimental alternativo para o ensaio de relaxação sob

tensão é submeter a amostra a uma deformação alternada e simultaneamente medir a

tensão. Para um comportamento viscoelástico linear, quando o equilíbrio é alcançado,

tanto a tensão quanto a deformação variam senoidalmente, portanto (Ward, 1985):

)(0

0

δϖσσϖγγ

+==

tsentsen

(2.88)

Como os polímeros fundidos são viscoelásticos e as deformações são de pequena

amplitude, as tensões resultantes oscilarão com a mesma freqüência ϖ da deformação,

mas estarão defasadas de um ângulo de fase δ, conforme mostra a Figura 2.15. As

propriedades em regime oscilatório podem ser determinadas, por exemplo, através de

44

uma geometria de placas paralelas, no qual uma das placas se movimenta de forma

oscilatória.

Tempo

0 τ0

0

e0

e0

Figura 2.14 – Fluxo Oscilatório em Cisalhamento

Eq. (2.88) pode ser reescrita da seguinte forma: A

δϖσδϖσσ sencoscossen tt 00 += (2.89)

Pode ser verificado que a tensão σ é constituída por duas componentes: uma de

agnitude 0 0 m σ cosδ, em fase com a deformação; e a outra de magnitude σ senδ, fora de

fase com a deformação. A relação tensão-deformação pode, portanto, ser definida por

uma grandeza denominada módulo de armazenamento G’, em fase com a deformação, e

por uma outra grandeza denominada módulo de perda G’’, 90o fora de fase com a

deformação. Isto é:

δγσ

cos'0

0=G e δγσ

senG0

0'' = (2.90)

Assim, a tensão pode ser reescrita como:

45

tGtsenG ϖγϖγσ cos''' 00 += (2.91)

A inspeção da equação acima sugere uma representação complexa para o

módulo, como apresentado na Figura 2.16. Para uma representação esquemática em

função de números complexos, pode-se esboçar um gráfico no plano complexo da

seguinte forma (Kreyszig, 1993):

G*

δ

G``

G`

Figura 2.15 – O módulo Complexo

A abscissa representa a parte real do Módulo Complexo de Relaxação sob

Tensão G*, enquanto que a ordenada representa a parte imaginária do módulo. Através

da análise do gráfico acima, pode-se estabelecer a seguinte relação entre os módulos:

G* = G´ + iG´´ (2.92)

O sistema de coordenadas cartesianas leva em consideração que ambos os eixos

possuem a mesma unidade. Portanto, para cada ângulo δ haverá um ponto G* com as

coordenadas (G´ e G´´). Sendo assim, através da Figura 2.16 associada à Eq. (2.90)

pode-se estabelecer a seguinte relação algébrica para o cálculo do Módulo Complexo:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=+=

22

20

2022 cos´´´* δδ

γσ

senGGG Logo: 0

0*γσ

=G

(2.93)

Observa-se que a Eq. (2.93) representa também, uma descrição da Lei de Hooke

para o cálculo do Módulo Complexo de Relaxação sob Tensão G*.

46

A tangente do ângulo δ é facilmente obtida pela razão entre G’’ e G´, visto que o

primeiro é o cateto oposto e o segundo, o cateto adjacente.

´´´tan

GG

=δ (2.94)

Com o objetivo de facilitar a abordagem matemática do problema, pode se

utilizadar a fórmula de Ëuler descrita na equação a seguir. Este método funciona como

uma ferramenta através da qual os números complexos em coordenadas polares são

correlacionados com números complexos em sua forma exponencial, visto que esta

última forma é muito mais fácil de ser trabalhada.

yiyiy sencosexp += (2.95)

A parte real do módulo G´, no qual a tensão está em fase com a deformação é

geralmente denominada de Módulo de Armazenamento, porque define a energia

armazenada na amostra, energia elástica, devido à deformação aplicada. Já a parte

imaginária do módulo, G´´, relacionada à tensão fora de fase com a deformação, define

a energia dissipada sendo chamado de Módulo de Perda.

Na maioria dos casos, G’’ é pequeno comparado ao G’. Portanto, G* é

aproximadamente igual ao G’’. Às vezes, o módulo complexo G* é considerado como

sendo o próprio G’. O ângulo δ também pode ser considerado aproximadamente igual a

sua tangente, quando o módulo de perda G´´ for pequeno.

47

2.7.2 – O Modelo de Zener em função da Freqüência

Como o modelo de Zener é um modelo viscoelástico linear, este obedece ao

Princípio de Superposição de Boltzmann (PSB), já descrito anteriormente.

Considerando-se que a variação da tensão com a deformação é uma função contínua, ou

um experimento virgem em λ = 0, no qual todo histórico prévio de tensões foi

esquecido, a forma integrada do PSB pode ser aplicada diretamente, quando se estuda a

propriedade reológica em regime oscilatório. Sendo assim, considerando apenas os

termos que variam em função do tempo t, a Eq. (2.18) pode ser reescrita em função de

um tempo τ da seguinte forma:

∫ −=t

dddtGt

0

)()( ττγτσ (2.96)

O limite inferior da integral acima é sempre o instante no qual a deformação é

iniciada. Então, considerando um fluxo em que a deformação de cisalhamento γ varia

com tempo de forma senoidal (ou cossenoidal), matematicamente obtêm-se as seguintes

condições de contorno:

γ = 0 para τ < 0 dγ /dτ = 0

γ = γ 0sen(ϖτ) para τ > 0 dγ /dτ = γ 0ϖcos(ϖτ) (2.97)

onde γ 0 é a amplitude da deformação positiva e ϖ é a freqüência.

O termo cos y é dado, através da fórmula de Ëuler (Eq. 2.95), por:

2)exp(expcos iyiyy −+

= (2.98)

Aplicando-se Ëuler na Eq. (2.97), a mesma pode ser reescrita na forma de um número

complexo, constituído pela parte real e imaginária.

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+

=2

)exp(exp0

ωτωτωγτγ ii

dd (2.99)

48

O módulo da relaxação sob tensão estabelecido na Eq. (2.81), pode ser reescrito

com uma defasagem de um tempo τ como demonstrado a seguir. Segundo a Eq. (2.84),

a diferença entre os módulos GU e GR pode ser substituída pelo termo GD. Portanto:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +−+=−

λτ

λτ tGGtG DR exp)( (2.100)

Substituindo as Eqs. (2.99) e (2.100) no PSB descrito na Eq. (2.96), obtém-se:

τϖτϖτϖγλτ

λσ ∫ ⎥

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +−+=

t

DR diitGGt0

0 2)exp()exp( exp)( (2.101)

Retirando-se os termos constantes que não variam com o tempo da integral, e

aplicando-se a propriedade distributiva na expressão acima, a mesma pode ser reescrita

da seguinte maneira:

τϖτλτϖτ

λτϖτϖτ

ϖγσ ∫ ⎥

⎤⎢⎣

⎡−⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ +−

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +−

+−+=t

DDRR ditGitGiGiGt0

0 )exp(exp)exp(exp)exp()exp(2

)(

(2.102)

Analisando a integral acima, a mesma pode ser reescrita de maneira que o

produto das duas potências exponenciais de mesma base seja igual a mesma base

elevado ao somatório dos expoentes da potência.

λϖλτϖτ

λτϖτ

λτ )1(expexp)exp(exp ititit ++−

=++−

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +−

λϖλτϖτ

λτ )1(exp)exp(exp itit −+−

=−⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +− (2.103)

O termo GR também pode ser reescrito na Eq. (2.102) em evidência,

)exp()exp( ϖτϖτ iGiG RR −+ = [ ])exp()exp( ϖτϖτ iiGR −+ (2.104)

49

As Eqs. (2.103) e (2.104) podem ser substituídas na Eq. (2.102). A constante ½

retorna a integral de maneira que a fórmula de Ëuler possa ser aplicada novamente,

resultando em:

[ ]∫ ⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡ −+−+

++−+

−+=

tDD

R ditGitGiiGt0

0 )1(exp2

)1(exp22

)exp()exp()( τλ

ϖλτλ

ϖλτϖτϖτϖγσ

(2.105)

Aplicando-se a fórmula de Ëuler, e colocando em evidência o termo

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −λ

tGD exp2

, obtém-se:

τλ

ϖλτλ

ϖλτλ

ϖτϖγσ ∫⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −

++

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+=

tD

R diitGGt

00 )1(exp)1(expexp

2)cos()( (2.106)

A integral pode ser parcialmente calculada, denominado I o segundo termo da

integral, para posterior integração. O termo ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −λ

tGD exp2

não varia no intervalo de 0 a

τ, portanto pode ser considerado constante. Como a integral de co-seno é o seno, tem-se

que:

ItGsenGt D

R ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+=λ

ϖγϖτγσ exp2

)()( 00 (2.107)

Onde ∫ ⎥⎦⎤

⎢⎣⎡ −

++

=t

diiI0

)1(exp)1(exp τλ

ϖλτλ

ϖλτ (2.108)

A integral I acima pode ser simplificada atribuindo os termos constantes a uma

única constante k, ou seja, os termos que não variam com o tempo podem ser

representados da seguinte maneira:

λϖλ )1(

1ik +

= e λϖλ )1(

2ik −

= (2.109)

50

Portanto a integral é facilmente resolvida pelo método da substituição, como

demonstrado a seguir:

∫t

dk0

1exp ττ Chamando 1kz τ= , dz/dτ=k1 logo dτ= dz/ k1 (2.110)

tt

zkk

dzz0

10 1

exp1exp =∫ (2.111)

Substituindo o valor de z da Eq. (2.110) na Eq. (2.111), utilizando-se o mesmo

procedimento para a segunda parcela da integral.e aplicando-se as condições do limite

de integração da equação acima, obtém-se como resultado a seguinte expressão:

I = ( ) ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛−=+∫

22

2

11

1

021

1exp1expexpexp

kktk

kktk

dkkt

τττ (2.112)

Esta equação pode ser reescrita da seguinte forma:

I = 21

1

21

21

21

2

21

12 expexpkk

kkk

tkkkk

kkk

tkk−+− (2.113)

Substituindo os valores de k1 e k2 da Eq. (2.109) na equação acima, obtém-se:

I =

2

222 )1(

)1()1(exp)1()1()1(exp)1(

λϖλ

λϖλ

λϖλ

λϖλ

λϖλ

λϖλ

λϖλ

i

iitiiiti

+−

−++

−−

+−

(2.114)

Realizando-se as simplificações necessárias, tal como o cancelamento da

constante λ de todos os denominadores e a parte imaginária do número complexo i2

com valor real de -1, a divisão de duas frações pode ser reescrita como o produto da

primeira pelo inverso da segunda. Portanto o valor da integral I apresenta a seguinte

expressão:

51

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡+−⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ −

++−−⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +

−+

= )1(1exp)1()1(1exp)1(1 22 ϖλ

λϖλϖλϖλ

λϖλϖλ

ϖλλ iitiiitiI

(2.115)

O termo ϖλi pode também ser cancelado na equação acima e a exponencial

pode ser reorganizada da seguinte forma:

( )titit ϖλλ

ϖλ expexp1exp ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ +

( titit ϖλλ

ϖλ−⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛=⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ − expexp1exp ) (2.116)

Desta forma, o termo ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛λtexp pode ser colocado em evidência originando a

seguinte expressão:

( )[ ]⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

−+−+−⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

+= 2)1)(exp()1(expexp

1 22 ϖλϖϖλϖλϖλ

λ itiititI (2.117)

Aplicando-se Ëuler novamente, o termo da exponencial de um número

complexo pode ser substituído pelas funções trigonométricas seno e co-seno, portanto,

trabalhando-se apenas com os termos no interior dos colchetes obtém-se a seguinte

equação:

( ) ( ) ( ) )1(sincos)1(sincos)1)(exp()1(exp ϖλϖϖϖλϖϖϖλϖϖλϖ itititititiiti +−+−+=+−+−

(2.118)

Aplicando-se a propriedade distributiva e efetuando algumas simplificações, é

possível concluir que:

( ) tititiiti ϖλϖϖϖλϖϖλϖ sin2cos2)1)(exp()1(exp 2−=+−+− (2.119)

52

Substituindo a Eq. (2.119) na Eq. (2.117), obtém-se:

[⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

−−⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

= 2)sin2cos2exp1

222 tittI

e

ϖλϖϖτϖλ

λ ] (2.120)

Reescrevendo-se a Eq. (2.120), obtém-se:

[⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

−+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

+= 1)sincosexp

12

22 tttI ϖλϖϖλϖλ

λ ] (2.121)

Substituindo I Eq. (2.121) na Eq. (2.107), gera a seguinte expressão,

[ ] ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

−+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −+= 1)sincosexp

12exp

2)()( 2200 ttttG

tsenGt DR ϖλϖϖ

λϖλλ

λϖγϖγσ

(2.122)

cuja reorganização gera::

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛+⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −

++= 1expexpcosexp

1)()( 22

00 λ

ϖλϖλ

ϖλϖλ

ϖλγϖγσ ttsentttG

tsenGt DR

(2.123)

Logo:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −

+−

++

++=

λϖλϖλγϖ

ϖλϖλγϖ

ϖλλϖγϖγσ tGtsenGtGtsenGt DDD

R exp11

cos1

)()( 220

22

220

220

0

(2.124)

Agrupando-se os termos que possuem em comum a expressão sen(ϖt), e de

acordo com a Eq. (2.84), deriva-se a seguinte expressão:

( ) ( ) ( ) ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −

+−−

+−+⎥

⎤⎢⎣

⎡+

−+=λϖλ

λϖγϖϖλ

λϖγϖϖλ

ϖλγσ tGGtGGtsenGGGt RURURUR exp1

cos1

)(1

)( 22022022

22

0

(2.125)

O módulo da tensão em função do tempo é descrito pela Eq. (2.125). Os dois

primeiros termos da expressão constituem a resposta no estado estacionário.

53

Os termos sen(ϖt) e cos(ϖt), representam as tensões em fase e 90o fora de fase

com a deformação, respectivamente. Conseqüentemente, analisando a Eq. (2.91), é

possível estabelecer uma relação entre os parâmetros dinâmicos do experimento,

módulo de armazenamento G’ e módulo de perda G’’, com a freqüência. Portanto:

( ) 22

22

1'

ϖλϖλ

+−+= RUR GGGG (2.126)

( ) 221''

ϖλλϖ+

−= RU GGG (2.127)

Para fluídos poliméricos, o módulo de relaxação em equilibrio GR pode ser

negligenciado, e como GU – GR = GD, as equações acima podem ser reescritas da

seguinte maneira:

22

22

1'

ϖλϖλ

+= DGG (2.128)

221''

ϖλλϖ

+= DGG (2.129)

O terceiro termo da Equação (2.125) mostra o decaimento da tensão dentro de

um tempo de relaxação λ.

A determinação do espectro discreto de relaxação é baseada nas Eq. (2.118) e

(2.119) fundamentais, como será discutido nos capítulos posteriores.

54

CAPÍTULO 3

FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE OTIMIZAÇÃO

O espectro de relaxação de polímeros H(λ) pode ser obtido a partir de dados

experimentais do módulo de armazenamento G’ e do módulo de perda G’’, como

descrito no Capítulo 2. Através da otimização de dados experimentais é possível estimar

um conjunto de parâmetros módulos de relaxação sob tensão Gk e os tempos de

relaxação λk correspondentes, obtendo-se o espectro de relaxação discreto. A

determinação da função-objetivo que possibilita a obtenção do espectro de

relaxaçãoserá discutida a seguir.

3.1 – O Problema de Otimização

Os dados mecânicos dinâmicos contêm todas as informações necessárias para a

obtenção do espectro de relaxação, H(λ). A análise mecânica dinâmica fornece

informações sobre as propriedades reológicas em regime oscilatório ou dinâmico de

cisalhamento de pequena amplitude, ou seja, nos quais a tensão de cisalhamento (ou

deformação) aplicada varia com a freqüência.

Através desta técnica experimental, torna-se possível obter o módulo de

armazenamento em cisalhamento G’ e o módulo de perda em cisalhamento G’’, em

função da freqüência ϖ:

22

22

1)('

ϖλϖλϖ

+= DGG (3.1)

55

221)(''

ϖλλϖϖ+

= DGG (3.2)

Como visto no Capítulo 2, o modelo de Zener generalizado é aquele que melhor

se aproxima da física do problema. Neste modelo, para um dado conjunto de modelos

de Maxwell, unidos em paralelo, cada sistema apresenta um módulo de relaxação sob

tensão GD característico associado a um tempo de relaxação λ. O módulo de

armazenamento assim como o módulo de perda podem ser calculados teoricamente

como um somatório de cada conjunto de parâmetros do modelo de Maxwell constituinte

do modelo de Zener generalizado, expressos da seguinte forma:

∑= +

=n

k k

kk

teo GG1

22

22

1)('

ϖλϖλ

ϖ (3.3)

∑= +

=n

k k

kk

teo GG1

221)(''

ϖλϖλ

ϖ (3.4)

onde Gk representa o módulo de relaxação GD de cada modelo de Maxwell.

Quando n torna-se arbitrariamente grande todo o domínio da função G(ϖ) é

mapeado. Em outras palavras, o passo da discretização do domínio é infinitesimal e

passa a ser representado por um intervalo convexo [0,+∞]. Portanto, os módulos de

armazenamento G’(ϖ) e de perda G’’(ϖ) em função da freqüência, são melhor

representados pela integral de uma função H(λ), cujo o domínio é este intervalo. Esta

função é denominada espectro do tempo de relaxação. Assim, pode-se escrever (Ward,

1985):

λϖλ

ϖλλϖ dHG 22

22

0 1)()('+

= ∫∞

(3.5)

λϖλ

λϖλϖ dHG 220 1

)()(''+

= ∫∞

(3.6)

56

onde para qualquer Gk existe uma área infinitesimal H(λ)dλ associada, que define a

concentração de elementos de Maxwell com tempo de relaxação entre λ e λ + dλ.

Há uma série de razões para se escolher dados experimentais de G’ e G’’ ao

invés de parâmetros obtidos através de outros experimentos, dentre os quais se

destacam:

- rápido desenvolvimento no estado quase-estacionário, para intervalos de tempo de

ϖπ /2≈∆t ;

- teste seletivo para modos de relaxação próximos a ϖλ /1= ;

- não há problemas de sinal/ruído no transdutor;

- os dados de G’ e G’’ contém as mesmas informações (com diferentes pesos);

- há uma relação entre ambos (Relação de Kramers-Kroning) que permite uma

checagem consistente dos dados do módulo de armazenamento G’ e de perda G’’:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛≅

ϖϖπϖ

ln)('

2)('''

ddGG ; e (3.7)

- a limitação de uma janela de tempo é finita (evita problema de truncagem).

Outros experimentos efetuados na faixa da viscoelásticidade linear vêm servindo

como fonte para determinação de H(λ), principalmente os de módulo de relaxação e

compliância em “creep”. As informações provenientes destas funções, entretanto, são

geralmente limitadas devido a problemas mal-postos. Não é possível determinar G’ e

G’’ a partir de G(t), o contrário, entretanto, é verdadeiro. A determinação do módulo de

relaxação G(t) é normalmente acurada. Com a utilização dos reômetros atuais, é

possível a determinação de G(t) a partir de dados de G’ e G’’ com mais acurácia do que

através da determinação direta em um ensaio de deformação sob tensão.

57

Várias técnicas vêm sendo propostas na literatura para determinação do espectro

discreto de relaxação a partir de dados experimentais dos módulos de armazenamento e

perda (Orbey, 1991). Neste trabalho será utilizado um método de regressão não-linear

para determinação de N valores de Gk e λk, utilizando as Eq. (3.3) e (3.4) a partir de um

conjunto de M dados experimentais de módulos de armazenagem G’(ϖ)exp e de perda

G’’(ϖ)exp em função da freqüência. Estes valores podem ser determinados facilmente

resolvendo-se o seguinte problema de otimização, com restrições, destacado na Figura

3.1 a seguir:

Sujeito a: ⎪⎩

⎪⎨⎧

=∀≤≤

=∀≤≤

NkGGG

Nk

kkk

kkk

...3,2,1

...3,2,1maxmin

maxmin λλλ

Min 2

122exp

2

1 122

22

exp 1)(''11

1)´(111

⎥⎦

⎤⎢⎣

+−+⎥

⎤⎢⎣

+−= ∑∑ ∑

== =

N

k ik

ikk

i

M

i

N

k ik

ikk

k

GG

GGM

fϖλ

ϖλϖϖλ

ϖλϖ

Figura 3.1 – O problema de otimização

Foi observado, através de testes com diferentes números N de modelos de Maxwell,

o decaimento da função-objetivo acima com o aumento do número de modelos

empregado. Como será abordado no Capítulo 5, constatou-se que o valor da função-

objetivo permanece constante a partir de um número fixo de modelos. Assim, optou-se

pela utilização de 6 (seis) modelos de Maxwell para o cálculo de G’(ϖ) e G’’(ϖ)

teóricos, uma vez que a regressão obtida com mais informações apresentou o mesmo

valor da função-objetivo.

Os dados experimentais de G’(ϖ) e G’’(ϖ) serão obtidos futuramente no

equipamento Rheometric Scientific, Modelo SR5, locado no Laboratório de Tecnologia

de Polímeros do Instituto Politécnico, uma vez que tal equipamento não possui software

58

específico para determinação do espectro de relaxação. Este equipamento fornece dados

como os apresentados abaixo para o polietileno linear de baixa densidade.

Tabela 3.1 – Resultados G’(ϖ) e G’’(ϖ) para o LLDPE

Freqüência ϖ, (rad/s)

Módulo de Armazenamento G’ (Pa)

Módulo de Perda G’’ (Pa)

0,1 96,1354 971,610 0,15849 161,106 1427,55 0,25119 302,278 2161,03 0,39811 557,162 3261,54 0,63096 1003,17 4895,73

1,0 1749,07 7254,96 1,58489 2990,5 10595,3 2,51189 5019,95 15217,8 3,98107 8266,98 21599,4 6,30957 13223,4 29985,8

10,0 20660,5 40988,6 15,8489 31546,3 54765,1 25,1189 47137,2 71292,6 39,8107 68293,7 91048,3 63,0957 96887,4 111560,0 100,0 138360,0 1438560,0

O equipamento é perfeitamente ajustável para obtenção de mais ou menos

pontos, dependendo do tipo de análise. Os dados assim obtidos, valores de G’(ϖ) e

G’’(ϖ) experimentais para uma determinada faixa de freqüência, alimentam a função-

objetivo, de 1 até M, destacada no Quadro 3.1. Os métodos numéricos para resolução

deste problema, os quais serão discutidos com maiores detalhes no Capítulo 4, calculam

valores de G’(ϖ) e G’’(ϖ) teóricos para uma mesma freqüência, a partir de valores

aleatórios de Gk e λk fornecidos pelo programa desenvolvido. Os parâmetros obtidos

serão considerados ótimos ao tornarem o valor da função-objetivo nula.

59

CAPÍTULO 4

MÉTODOS NUMÉRICOS UTILIZADOS

Nesta seção serão apresentados dois métodos estocásticos de otimização global,

utilizados na determinação do espectro de relaxação. Os métodos estocásticos, apesar de

apresentarem facilidades de implementação computacional, consomem maiores tempos

de computação (em relação a algoritmos determinísticos de otimização) e dependem de

parâmetros que variam de um problema para outro.

Neste trabalho, optou-se pela utilização de dois métodos estocásticos de

otimização global para a resolução do problema de minimização do desvio-padrão da

função-objetivo (com vistas a determinação do espectro de relaxação de polímeros): o

método Simulated Annealing (SA) (Kirkpatrick et al., 1983) e um método de busca

aleatória baseado no algoritmo de Luus e Jaakola (1973).

Além disto, será apresentada resumidamente a metodologia de interpolação

lagrangeana, utilizada na determinação de um espectro contínuo a partir do espectro de

relaxação discreto.

4.1 O Algoritmo Simulated Annealing

O algoritmo Simulated Annealing foi proposto por Kirkpatrick et al. (1983),

sendo aplicado para dois problemas combinatoriais clássicos: o “problema do caixeiro-

viajante” (“travelling salesman problem”, comumente referenciado como problemas

TSP na área de otimização combinatorial) e o projeto de circuitos integrados em larga

escala (VLSI). Paralelamente, o conceito de annealing foi aplicado em otimização

combinatorial por Cerny (1985).

60

4.1.1 Analogia com o Processo Físico de Annealing

Em física da matéria condensada, o processo de annealing (recozimento) é

conhecido como um processo térmico para obter-se configurações de baixa energia para

um sólido em um banho de aquecimento. Este processo é constituído de dois passos

básicos:

- Aumentar a temperatura do banho de aquecimento a um valor máximo, onde o

sólido se funde;

- Diminuir cuidadosamente a temperatura do banho de aquecimento até que os

átomos rearrangem-se de modo que a configuração seja de mínima energia.

Cabe observar que, caso o resfriamento não seja feito de maneira suficientemente

lenta, as partículas serão rearranjadas em uma configuração que não é a de mínima

energia. O processo oposto ao annealing é o quenching (têmpera), onde a temperatura

do banho é instantaneamente diminuída.

O processo físico do annealing pode ser simulado computacionalmente,

conforme demonstrado por Metropolis et al. (1953), dando início a uma série de

algoritmos denominados técnicas de Monte Carlo.

O algoritmo Simulated Annealing baseia-se em uma analogia entre um sistema

físico de muitas partículas e um problema de otimização, com as seguintes

equivalências:

- Soluções de um problema de otimização são equivalentes a um estado

(configuração) de um sistema físico;

- O valor da função-objetivo de uma solução é equivalente à energia de um estado.

Portanto, se o método for conduzido de maneira adequada, possibilitará a obtenção

de um valor mínimo de função-objetivo, em perfeita analogia com o sistema físico.

61

4.1.2. Convergência Assintótica do Algoritmo Simulated Annealing

O conceito de Cadeias de Markov tem sido utilizado para demonstrar a

convergência assintótica do algoritmo Simulated Annealing, uma vez que o resultado de

uma tentativa de “movimento” do algoritmo pode ser entendido como uma transição em

uma Cadeia de Markov. Assim como ocorre nas Cadeias de Markov, o resultado de uma

tentativa em particular depende somente do resultado da tentativa anterior (e não do que

ocorre no início do processo). Desta maneira, o algoritmo Simulated Annealing não

deve ser sensível a estimativas iniciais.

Com base nestas idéias, Aarts e Korst (1989) demonstram que o algoritmo

Simulated Annealing, formulado como uma Cadeia de Markov, converge para a solução

ótima (mínimo global), se o “resfriamento” for feito de maneira lenta o suficiente. A

prova deste teorema está fora do escopo da presente pesquisa, e é apresentada em Aarts

e Korst (1989). De fato, em problemas práticos, o método pode eventualmente

convergir para mínimos locais, indicando problemas no procedimento de resfriamento.

4.1.3. Utilização do Algoritmo Simulated Annealing

Tendo em vista os fatos apresentados, observa-se que o algoritmo Simulated

Annealing - SA é um dos muitos métodos de aproximação heurística empregado para

prever pontos de mínimo, não necessariamente globais, de uma função objetivo, com

um tempo computacional razoável (outros métodos de aproximação podem ser

utilizados para a mesma finalidade; por exemplo, consultar Salcedo et al., 1990; Törn et

al., 1999). O algoritmo SA apresenta mais opções de busca do que os algoritmos de

descida. Um simples modelo de algoritmo de descida começa com uma estimativa

inicial (chamada solução inicial), então, um ponto numa vizinhança desta solução é

62

gerado, por algum mecanismo adequado, e a alteração na função objetivo é calculada.

Se o ponto gerado promover um decréscimo em ƒ, então a solução corrente é repassada

para a nova solução, e conseqüentemente a solução prévia é retirada. O processo é

repetido até não promover progresso na função-objetivo para pontos numa vizinhança

da solução corrente. Deste modo, os algoritmos de descida podem terminar num

mínimo local (o que de fato ocorre em diversos problemas). Apesar da popularidade

desta classe de algoritmos, uma clara desvantagam reside no fato de que o ponto de

mínimo local identificado talvez esteja longe do mínimo global; e não ser um “vizinho”

do mínimo global. Um modo de melhorar a solução é aplicar o algoritmo de descida

diversas vezes, começando com diferentes soluções iniciais e selecionando o melhor

ponto encontrado (isto é, aquele que produz o menor valor na função-objetivo). Tal

estratégia também não promove boas garantias de que ao menos a vizinhança do ótimo

global foi atingida.

Por outro lado, o algoritmo SA – em sua gênese – foi concebido de maneira

aceitar (alguns) movimentos que levam a um aumento da função-objetivo, e assim é

capaz de “escapar” de regiões de mínimo local, procurando pontos de mínimo em toda

região do domínio. A aceitação destes pontos de subida é feita de forma controlada,

seguindo o critério probabilístico do tipo distribuição de Boltzmann (ver Corana et al.,

1987, e Eglese, 1990; outras estatísticas de aceitação são também possíveis, ver, por

exemplo, Ahón et al., 2000). A aceitação ou rejeição destes movimentos, numa direção

ascendente, é determinada pela geração de uma seqüência de números aleatórios,

estabelecidos pelos critérios de aceitação do controle probabilístico previamente

mencionado. A função que determina a aceitação provável para um movimento que

causa um aumento na função objetivo ƒ é chamada função de aceitação e é

normalmente expressa por ( ∆fT−exp ) , onde T é o parâmetro de controle, que é análogo

para o correspondente físico do annealing à temperatura do banho. A característica

63

desta função faz com que pontos que promovam “pequenos aumentos” da função-

objetivo tenham grande probabilidade de aceitação, em oposição ao que ocorre com

pontos que promovam grandes aumentos da função-objetivo. A função ( )∆fT−exp

também permite, para valores altos de T, que muitos movimentos de subida sejam

aceitos (de modo a evitar mínimos locais). Contudo, quando T aproxima-se de zero,

movimentos com esta propriedade devem ser rejeitados. Desta forma, o algoritmo SA é

iniciado com valores altos de T, prevenindo-se de uma parada prematura no primeiro

mínimo local encontrado.

Os passos básicos do algoritmo SA estão resumidos no Algoritmo 4.1 (Jensen,

2002), onde as variáveis utilizadas estão descritas na Tabela 4.1.

Tabela 4.1. Variáveis utilizadas no Algoritmo SA.

Parâmetro Significado

N Número Total de ajustes de Parâmetros NS Número Máximo de Ciclos NT Número Máximo de Iterações antes da RT T0 Temperatura Inicial RT Fator de Redução de Temperatura EPS Erro de Tolerância para o Término do Algoritmo LB Limite Inferior para os Parâmetros UB Limite Superior para os Parâmetros

64

begin

while EPS > Critério de término, do

for NT variando de 1 a NT, do

for NS variando de 1 a NS, do

for N variando de 1 a N, do

Testes randômicos para pontos x’

x’(N) = x(N) + r(N)V(N)

if x’(N) < LB ou x’(N) > UB then

Descarte x’(N) e gere outro ponto

else

Calcula f(x’)

end if

if f(x’) > f(x), then

Aplique o Critério de Metropolis

Calcule ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −

=T

fffP 'exp)(

Gere o número randômico P’ ∈ [0,1]

if P´< P então

Vetor aceito.

else

Vetor rejeitado.

end if

else

Aceite o ponto de descida e atribua a x’(N) como novo ótimo

end if

end for

end for

Ajuste o tamanho do passo para cada parâmetro

end for

Diminuição da temperatura

T = T RT

end while

end

Figura 4.1 – Estrutura simplificada do algoritmo SA em Código Fortran-77

[adaptado de Jensen, 2002]

65

Inicialmente, valores iniciais para as componentes do vetor de variáveis

independentes, x(N), contidas na função f são estimados, assim como um valor para o

parâmetro temperatura, T0; a função f é, então, calculada. Um novo vetor x’(N) é gerado

a partir do anterior, e um novo valor da função f é então calculado. Se o valor da função

f nesta iteração for menor que o valor obtido anteriormente, o vetor é aceito; caso

contrário, o critério de Metropolis é aplicado.

4.2. Métodos de Busca Aleatória

Luus e Jaakola (1973) apresentaram um método de otimização (denominado

usualmente como algoritmo LJ) para problemas de otimização não-linear (NLP)

baseado em uma busca aleatória. Em síntese, o procedimento desenvolvido por Luus e

Jaakola envolve dois passos:

1. Para um número especificado de interações, calcular

rZxx += * (4.1)

onde *x é o ótimo corrente, Z é uma matriz diagonal com elementos aleatórios entre

-1,0 e +1,0 e r é um vetor contendo os raios das regiões de busca para as variáveis do

problema;

2. Ao final do número de interações especificadas no passo 1, *x é substituído pelo

melhor valor obtido no passo anterior, e a região de busca é contraída através de

uma expressão do tipo:

)()1( )1( jj rr ε−=+ (4.2)

onde ε é um número próximo de zero.

Gaines e Gaddy (1976) modificaram o algoritmo LJ de modo que, a cada

melhora obtida com a equação 4.2, *x fosse imediatamente substituído por x .

66

Salcedo et al. (1990) propuseram um melhoramento aos algoritmos

desenvolvidos por Luus e Jaakola (1973) e Gaines e Gaddy (1976) através da

incorporação de uma estratégia para “escapar” de ótimos locais. Segundo estes autores,

a estratégia desenvolvida mostrou-se eficiente em problemas com diversos ótimos

locais.

O método de Luus e Jaakola (1973), embora tenha sido aplicado na

determinação do espectro de relaxação, não produziu bons resultados, convergindo,

usualmente, para mínimos locais. De fato, há algumas evidências na literatura de que

este algoritmo está restrito a problemas de tamanhos pequenos e médios. Para o

problema em questão (com 12 variáveis contínuas, se considerarmos 6 modelos de

Maxwell), as características de convergência foram insatisfatórias. Assim, os resultados

obtidos com o algoritmo de Luus e Jaakola (1973) não serão apresentados no capítulo

de resultados. Por outro lado, o método de Luus e Jaakola (1973) apresentou bons

resultados na geração do espectro contínuo a partir do espectro discreto (ajuste de um

problema com somente duas variáveis).

4.3. Interpolação Polinomial A Interpolação Lagrangeana constitui uma ferramenta matemática que permite

usar n valores de y, correspondentes a determinados valores de x, y = f(x), e faz passar

um polinômio de grau (n-1) através dos n pontos escolhidos. No caso do presente

trabalho, deseja-se obter uma curva (espectro de relaxação contínuo H(λ)) a partir de

um conjunto discreto de pontos (Gk em função de λk,). Cabe ressaltar que a técnica de

interpolação polinomial garante que a curva gerada passa sempre por todos os pontos

tabelados, mas não há nenhuma garantia de que o comportamento da curva fora dos

pontos tabelados represente o comportamento real da função que se deseja obter.

67

No caso linear (n=2), encontra-se xk e xk+1 tais que

1+< <k kx x x (4.3)

Já no caso quadrático, encontra-se xk-1, xk e xk+1 tais que

(4.4) 11 +− <<< kkk xxxx

Em geral, escolhe-se n valores de xi de modo que cerca da metade destes xi

sejam menores que x e metade é maior que x. Esta prática, entretanto, não é necessária.

É necessário apenas é garantir que x seja maior que o menor xi e menor que o maior xi.

Conjuntos diferentes de xi produzirão diferentes valores interpolados.

Uma vez feita a escolha dos n pontos, todavia, chama-se estes pontos (x1,y1),

(x2,y2),..., (xn,yn). Para voltar ao caso linear, o ponto (xk,yk) pode ser batizado como

(x1,y1) e o ponto (xk+1,yk+1), como (x2,y2). Esta mudança de nomes é meramente uma

conveniência para evitar algumas complicações com os índices. Para a presente

pesquisa, os valores da interpolação são resultados de um problema de otimização e,

portanto, não podem ser escolhidos a priori.

Um polinômio geral de grau (n-1) pode ser escrito

(4.5) 012

21

1 ...)( axaxaxaxP nn

nn ++++= −

−−

Se ele deve passar através de n pontos, então

0112

121

111 ... axaxaxay nn

nn ++++= −

−−

0212

221

212 ... axaxaxay nn

nn ++++= −

−−

. .

(4.6) 012

21

1 ... axaxaxay inin

nini ++++= −

−−

. . 01

22

11 ... axaxaxay n

nnn

nnnn ++++= −

−−

Estas são n equações nas n variáveis a0, a1,..., an-1, onde supõe-se que

nxxx ≠≠≠ ...21 . É possível mostrar que elas têm uma única solução.

68

Considere-se primeiramente as equações homogêneas correspondentes

0112

121

11 ...0 axaxaxa nn

nn ++++= −

−−

0212

221

21 ...0 axaxaxa nn

nn ++++= −

−−

. . (4.7)

.

012

21

1 ...0 axaxaxa nnnn

nnn ++++= −

−−

Suponha que este último sistema homogêneo tenha uma solução não-trivial, isto

é, uma solução para a qual nem todos sejam iguais a zero (ai=0). Então o polinômio

representado pela Eq. (4.5) tem n raízes e aquelas raízes são x1, x2,...,xn. Entretanto, um

polinômio de grau (n-1) com n raízes deve ser identicamente nulo, portanto

0... 0121 ===== −− aaaa nn (4.8)

de modo que a única solução é a trivial. Isto contradiz a hipótese de que uma solução

não-trivial existia. Visto que não existe nenhuma solução não-trivial para o sistema

homogêneo – Eq. (4.7) -, segue-se que o sistema não-homogêneo – Eq. (4.6) – tem uma

única solução. Naturalmente, se todos os yi=0 (i = 1,2,...,n) então a solução única é

. Isto não é uma surpresa, visto que, então, todos os n pontos acham-se no eixo

x. Se, pelo menos, um , então não é identicamente nulo.

0)( ≡xP

0≠iy )(xP

Objetivando resolver o sistema não-homogêneo, introduz-se n novas funções,

todas as quais são polinômios de grau (n-1)

69

∏ −−−=1 32 ))...()(()( nxxxxxxx

∏ −−−=2 31 ))...()(()( nxxxxxxx

. . (4.9)

.

∏ −−−−= +−k nkk xxxxxxxxx ))...()()...(()( 111

. . .

∏ −−−−=n nxxxxxxx ))...()(()( 121

ou, mais concisamente,

∏ ∏ (4.10) ≠=

−=i

n

ijj

jxxx1

)()(

com i = 1,2,...,n e onde o ∏ à direita indica, como usualmente, multiplicação

repetida.

É valido ressaltar que:

(4.11) ∏ ≠i ix 0)(

se todos os xi são distintos, conforme suposto, e além do mais

∏ para i ≠ j (4.12) =

i j )x( 0 Pode ser reescrito como uma combinação linear dos produtórios de 1 até n )(xP

∏∏∏ +++= )x(b...)x(b)x(b)x(P nn2211

Ou, novamente de maneira mais concisa

∑ ∏=

=n

iii )x(b)x(P

1

(4.13)

Isto é um polinômio geral de grau (n-1) visto que cada produtório é um polinômio de

grau (n-1) e há n parâmetros arbitrários b1, b2,...,bn.

70

Substituindo xk em (4.13) e usando (4.11) e (4.12), observa-se que

∏= )x(b)x(P kkkk

visto que todos os termos na soma em (4.13), exceto o k-ésimo, irão desaparecer. Mas

)x(Py kk =

assim

∏=

)x(yb

kk

kk

e isto é válido para k=1,2,...,n.

Portanto, (4.13) torna-se

∏∏∑

=

=)x()x(

y)x(Pii

in

ii

1

(4.14)

Alternativamente, poder-se-ia usar (4.10) para escrever a equação anterior como

∏∑

≠=

≠=

= −

= n

ijj

ji

n

ijj

jn

ii

)xx(

)xx(

y)x(P

1

1

1

Ou

∏∑≠==

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

−−

=n

ijj ji

jn

ii xx

xxy)x(P

11

(4.15)

A equação (4.15) é chamada Fórmula de Interpolação de Lagrange e o processo

de usar esta fórmula é chamado Interpolação Lagrangeana.

71

CAPÍTULO 5

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo serão discutidas as estratégias para validação da ferramenta

computacional desenvolvida neste trabalho, sua aplicação às análises reológicas de um

material polimérico e a obtenção do espectro de relaxação discreto e contínuo. O

espectro de relaxação obtido é, por natureza, composto de um conjunto discreto de

pontos (resultado do problema de otimização – minimização do desvio quadrático). A

partir deste espectro discreto, serão apresentadas ainda duas metodologias para a

geração de um espectro contínuo.

5.1 Validação do Método

Para validar o programa utilizado foi realizado o procedimento destacado no

esquema abaixo:

Módulo de Perda, G’’(ϖ) Equação (5.3)

Módulo de Armazenamento, G’(ϖ)Equação (5.2)

Tempo de Relaxação, λk Módulo de Relaxação sob Tensão, Gk

Função-objetivo a ser Minimizada

(Equação 5.1)

72

Figura 5.1 – Validação do Método de Otimização

A Figura 5.1 mostra que para se obter os parâmetros, Gk e λk, é necessário

minimizar a função-objetivo f, que neste caso expressa o quadrado do desvio padrão de

valores de G’(ϖ) e G’’(ϖ) determinados experimentalmente.

A função-objetivo a ser minimizada é:

2

122exp

2

1 122

22

exp 1)(''11

1)´(111

⎥⎦

⎤⎢⎣

+−+⎥

⎤⎢⎣

+−= ∑∑ ∑

== =

N

k ik

ikk

i

M

i

N

k ik

ikk

k

GG

GGM

fϖλ

ϖλϖϖλ

ϖλϖ

(5.1)

Para validar a ferramenta computacional a ser utilizada no desenvolvimento deste

trabalho, dados de G’(ϖ) e G’’(ϖ) foram obtidos a partir de dados de Gk e λk obtidos

por Jensen (2002) de modo a tornar o programa robusto para determinação de espectros

de relaxação. Entenda-se por robustez, neste ponto, a capacidade de localização de

ótimos globais da função-objetivo representada pela Eq. (5.1).

Deve-se ter em conta, entretanto, que Jensen (2002) utilizou-se de 42 pontos

experimentais, para polietileno de baixa densidade, na faixa de freqüência de

0.06 1113ω≤ ≤ rad/s, que não estão disponíveis em forma tabular, mas apenas em um

gráfico de e contra a freqüência. '[G Pa] ]

] ]

''[G Pa

Assim, os parâmetros ótimos encontrados por Jensen (2002) para Gk e λk foram

utilizados para a reconstrução das funções e , através das expressões: '[G Pa ''[G Pa

∑= +

=N

k k

kkGG

122

22

1)('

ϖλϖλ

ϖ (5.2)

∑= +

=N

k k

kkGG

1221

)(''ϖλ

ϖλϖ (5.3)

com 6 (seis) modelos de Maxwell (N=6), onde foram produzidos 50 pontos

“experimentais” para a mesma faixa de freqüência citada anteriormente. Assim, o

procedimento de minimização foi efetuado não sobre os mesmos pontos experimentais

que Jensen (2002) – uma vez que estes não estão disponíveis com a acurácia necessária

73

à modelagem – mas sobre uma função reconstruída com os próprios parâmetros obtidos

por Jensen (2002).

Determinou-se, então, uma lista de resfriamento apropriada para o problema,

através de diversas tentativas. Observou-se que para temperaturas iniciais com valor

muito alto (T0 na Tabela 5.1), por exemplo, geravam um excessivo custo computacional

para a estratégia de otimização. Este parâmetro foi sendo ajustado, portanto, até um

determinado ponto no qual a função-objetivo era minimizada em um mesmo valor.

Tabela 5.1 – Melhores Valores para o controle no Algoritmo SA

(Lista de Resfriamento). Parâmetro Valor

NS 40 NT 180 T0 250 RT 0,90 EPS 1,0E-06

O procedimento de minimização produziu um valor de função-objetivo próximo

a 0,02, o que, a despeito de não se tratar de um ótimo global (que produziria zero de

função-objetivo), é bastante satisfatório. De fato, este valor de função-objetivo é

próximo ao que Jensen (2002) obteve com dados experimentais, conforme ilustra a

Figura 5.2 a seguir.

74

Figura 5.2 – Relação do Desvio Padrão com o Número de Modelos de Maxwell [retirada de Jensen (2002)].

A figura ilustra também uma outra informação relevante constatada na realização

deste trabalho. Foi observado, através de testes com diferentes números de modelos de

Maxwell, o decaimento da função objetivo (S.D2) com o aumento do número de

modelos empregado. Observou-se ainda (Tabela 5.2), que seu valor permaneceu

constante a partir de aproximadamente o mesmo número de modelos utilizados por

Jensen (2002). Assim, optou-se pela utilização de 6 modelos de Maxwell, uma vez que

a regressão obtida com mais informações apresentou valor de função-objetivo

essencialmente igual, não trazendo nenhum ganho adicional para a determinação do

espectro de relaxação.

75

Tabela 5.2 – Variação da função objetivo com o Número de Modelos de Maxwell.

Valor da Função-Objetivo (S.D.2) Número de Modelos de Maxell 0.01714264798 10 0.01714260411 9 0.01714263228 8 0.01714265871 7 0.01716458404 6 0.017543858031 5 0.024199711142 4 0.075811545775 3 0.315986788611 2 0.770034023992 1

A Figura 5.3 ilustra graficamente os resultados apresentados na Tabela 5.2.

Observa-se que o resultado da otimização (valor da função-objetivo) permanece

praticamente constante após 6 (seis) modelos de Maxwell. O tempo de computação não

foi avaliado. Consideramos que, atualmente, está em desuso apresentar tempos de

computação para problemas deste porte, uma vez que os resultados são claramente

dependentes da máquina utilizada.

Figura 5.3 – Variação da Função-objetivo em função do número de modelos

de Maxwell.

76

Os dados de módulo de relaxação e tempo de relaxação, Gk e λk respectivamente,

obtidos para 6 (seis) modelos de Maxwell estão apresentados na Tabela 5.3.

Tabela 5.3 – Parâmetros ótimos encontrados para calibração do método.

kλ Gk

0,00089872 111840,0 0,0072428 22979,0 0,13686 1580,1 0,18905 840,74 0,033981 7722,0 1,3946 177,66

A reconstrução das funções G’(ϖ) e G’(ϖ) com os parâmetros otimizados

mencionados na Tabela 5.3 anterior, pode ser comparada com o esboço inicial do

gráfico publicado por Jensen (2002), como ilustra a Figura 5.4, apresentada a seguir.

------- Jensen (2002) • Este Trabalho

Figura 5.4 – Gráfico Comparativo da medida de valores de G’ e G’’ em função da freqüência.

77

Os resultados obtidos indicam que o procedimento de estimação de parâmetros foi

conduzido satisfatoriamente, uma vez que as curvas para G’ e G’’ apresentam boa

concordância com os resultados relatados por Jensen (2002). Assim, uma ferramenta

computacional de otimização foi validada (ainda que para um único polímero)

possibilitando um estudo aprofundado do comportamento reológico de materiais

poliméricos. Claramente, o procedimento de validação da ferramenta computacional

desenvolvida deve ser novamente avaliado posteriormente, tendo em vista a

complexidade da determinação de todos os parâmetros da lista de resfriamento de um

algoritmo estocástico do tipo Simulated Annealing.

Vale ressaltar que a lista de resfriamento utilizada neste trabalho não foi a mesma

apresentada por Jensen (2002). De fato, acredita-se que o parâmetro de redução de

temperatura na ordem de 0,01 [proposto por Jensen (2002)] apresenta características de

um processo de “quenching” e não de “annealing”, como o proposto por Corana et al.

(1987).

Não foi possível analisar-se a existência ou não de diversos mínimos para este

problema (tendo em vista o grande número de parâmetros da função). A existência de

mais de um mínimo (alguns destes, mínimos locais) pode justificar a utilização de

algoritmos de otimização estocásticos como o Simulated Annealing. Por outro lado,

usar-se um algoritmo desta natureza com fator de redução tão pequeno quanto proposto

por Jensen (2002) retira as características de convergência global assintótica do

algoritmo. Portanto, para este trabalho, utilizou-se um fator de redução de temperatura

modificado, na ordem de 0,90, valor compatível com o normalmente utilizado em

otimização estocástica.

78

5.2 Aplicação da Ferramenta Computacional

Neste trabalho é apresentada uma metodologia de estimação de parâmetros através

do algoritmo estocástico de otimização Simulated Annealing para possibilitar a

obtenção do espectro de relaxação de polímeros, a partir de dados do módulo de

armazenamento G’(ϖ) e de perda G’’(ϖ) obtidos utilizando-se o equipamento

Rheometric Scientific, Modelo SR5, com deformação controlada em 5% e geometria de

placas paralelas, locado no Laboratório de Tecnologia de Polímeros do Instituto

Politécnico da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A temperatura de trabalho foi

realizada à 200 oC em uma faixa de freqüência de 0,1 à 100 Hz.

A ferramenta desenvolvida foi aplicada para determinação do espectro de

relaxação de um material polimérico, em particular, o polietileno linear de baixa

densidade (LLDPE). Os dados do módulo de armazenamento G’(ϖ) e de perda G’’(ϖ),

assim como o espectro de relaxação contínuo e discreto, foram obtidos através do

reômetro AR 2000 (TA Instruments), à temperatura de trabalho de 200 oC, faixa de

freqüência 0,01 - 628,3 rad/s e tensão de oscilação aplicada a 300 Pa. A análise foi

realizada no Laboratório de Tecnologia Petroquímica do Centro de Pesquisas da

Petrobrás – CENPES. O reômetro apresenta um software (desenvolvido pela própria TA

Instruments) capaz de gerar o espectro de relaxação discreto e contínuo do polímero em

questão.

Os dados de G’(ϖ) e G’’(ϖ) obtidos no reômetro AR 2000 foram inseridos no

programa desenvolvido neste trabalho, e não os valores gerados pelo equipamento

Rheometric Scientific, uma vez que deseja-se comparar os resultados obtidos por esta

pesquisa com aqueles automaticamente produzidos pelo software built-in do AR 2000.

79

O procedimento de otimização com vistas à geração do espectro de relaxação

discreto foi reslizado utilizando-se os resultados apresentados na Tabela 5.4.

Tabela 5.4 – Dados do LLDPE gerados pelo AR 2000. Freqüência ϖ

(rad/s) Módulo de Armazenamento G’

(Pa) Módulo de Perda G’’

(Pa) 0,01 3,325 103,4

0,01585 14,93 169,6 0,02512 29,78 266,1 0,03981 51,78 412,2 0,0631 87,76 633,5

0,1 147,7 967,6 0,1585 245,7 1468 0,2512 407,1 2215 0,3982 674,3 3327 0,631 1121 4957

1 1866 7333 1,586 3102 10720 2,512 5132 15450 3,98 8350 21850 6,309 13460 30590

10 21150 41770 15,84 32070 55190 25,12 47170 71050 39,81 67590 89340 63,09 94850 1,12 x105

100 1,29x105 1,32 x105

158,5 1,71 x105 1,54 x105

251,2 2,19 x105 1,76 x105

398,1 2,80 x105 2,01 x105

628,3 3,51 x105 2,27 x105

A partir das observações efetuadas na etapa de validação, o programa foi

ajustado para determinação de 6 (seis) Modelos de Maxwell. Logo, seis pares de pontos

ordenados foram gerados, correspondentes aos valores de Gk e λk respectivamente,

formando o espectro de relaxação discreto. Estes valores encontram-se listados na

Tabela 5.5.

80

Tabela 5.5 – Parâmetros ótimos encontrados para o LLDPE

λk Gk

0,0010986 411.450 0,0070508 144.690 0,029618 59.826 0,12765 19.382 0,74164 3.308,4 10,00 315,68

O equipamento AR 2000 também possibilita a obtenção do espectro discreto a

partir do conjunto de dados listados na Tabela 5.4. A metodologia utilizada para

obtenção destes pontos, infelizmente, não estava disponível no manual do equipamento.

A comparação do espectro discreto gerado neste trabalho com o obtido pelo

equipamento AR 2000 está ilustrada na Figura 5.5. Observa-se uma excelente

concordância entre os dados produzidos pelo equipamento AR 2000 e os obtidos neste

trabalho. Ainda que os pontos obtidos não sejam exatamente iguais, visualmente nota-se

que estão sobre a mesma curva e, por conseguinte, devem produzir espectros contínuos

semelhantes. De fato, não espera-se que o procedimento de otimização produza

exatamente os mesmos valores fornecidos pelo AR 2000; apenas que os conjuntos de

pontos encontrem-se sobre curvas semelhantes.

81

Figura 5.5 – Espectro de Relaxação Discreto do LLDPE obtido pelo equipamento AR 2000 (versão espectro discreto) e pela metodologia empregada neste

trabalho.

Posteriormente, comparou-se o espectro discreto gerado neste trabalho com o

espectro contínuo gerado no equipamento AR 2000, conforme ilustra a Figura 5.6 a

seguir. Obviamente, não foi possível ter acesso ao código computacional para a geração

do espectro desenvolvido pela TA Instruments; contudo, algumas informações foram

obtidas através de contatos com representantes da empresa no Brasil. O procedimento

para geração do espectro discreto é similar ao desenvolvido neste trabalho (difere

possivelmente no que diz respeito à metodologia numérica para a minimização do

resíduo). Por outro lado, obteve-se poucas informações sobre como foi gerado o

espectro contínuo. Uma informação disponibilizada foi a de que a faixa de freqüências

82

utilizada para a geração do espectro contínuo é maior do que aquela empregada na

obtenção do espectro discreto (Rosas, 2006).

Figura 5.6 – Espectro de Relaxação do LLDPE (contínuo e discreto).

Observa-se na Figura 5.6 que para tempos de relaxação superior a 5x10-3 os

resultados apresentam-se bastante satisfatórios. Por outro lado, para baixos valores de

tempo de relaxação o modelo proposto não concorda com o obtido pelo software

comercial.

Entretanto, para uma melhor comparação entre os resultados obtidos, faz-se

necessário a aplicação de uma interpolação entre os pontos obtidos no espectro de

relaxação discreto ou uma regressão de dados para geração de um espectro contínuo.

83

5.3 Obtenção do Espectro Contínuo a partir do Espectro Discreto

As informações contidas no espectro de relaxação discreto são as mesmas do

espectro contínuo, conforme Baumgartel e Winter (1989). Entretanto, em algumas

situações é útil dispor-se de uma função que represente o espectro de relaxação, ao

invés de um conjunto de pares ordenados. Assim, são propostas duas metodologias para

a obtenção do espectro contínuo: uma interpolação polinomial (via interpolação

lagrangeana) e uma regressão de dados.

5.3.1. Interpolação Lagrangeana

Com vista à obtenção do espectro contínuo foi determinado um polinômio de 5º

grau, através da interpolação lagrangeana, utilizando os resultados obtidos na Tabela

5.4. Observou-se um bom ajuste do polinômio nos pontos não-tabelados (obviamente, o

polinômio atende sempre aos pontos tabelados – uma característica de qualquer

interpolante).

A Figura 5.7, apresentada a seguir, apresenta o espectro discreto e o

correspondente contínuo obtido via interpolação lagrangeana.

84

Figura 5.7 – Espectro de Relaxação Contínuo do LLDPE, obtido por interpolação lagrangeana.

A comparação com os resultados obtidos pelo reômetro AR 2000 (TA

Instruments) é ilustrada na Figura 5.8. Observa-se uma boa concordância de resultados

para valores de tempos de relaxação a partir de 10-1. Conforme já ressaltado

anteriormente, o espectro contínuo gerado pelo AR 2000 não utiliza as mesmas

freqüências do espectro discreto. Assim, não deve-se esperar total concordância entre os

resultados.

85

Figura 5.8 – Comparação dos Espectros de Relaxação Contínuos entre a metodologia deste trabalho e software comercial da TA Instruments.

5.3.2. Regressão Não-Linear / Estimação de Parâmetros

Alternativamente, em relação ao procedimento de interpolação polinomial,

pode-se ajustar os dados experimentais a um certo modelo não-linear, de modo a obter-

se uma aproximação do espectro contínuo. A regressão apresenta, contudo, uma

desvantagem: enquanto o polinômio interpolador reproduz, com certeza, os pontos

tabelados, o mesmo não é garantido para o modelo gerado via regressão não-linear.

Entretanto, podem-se obter curvas mais realísticas para a representação do espectro

contínuo.

86

A obtenção dos parâmetros de um modelo não-linear passa, obrigatoriamente,

por outro procedimento de minimização de resíduos (usualmente conhecido como

estimação de parâmetros ou regressão – neste caso – não-linear). Novamente, podem ser

considerados algoritmos determinísticos ou estocásticos neste procedimento de

otimização.

A primeira etapa do procedimento de estimação de parâmetros é uma proposta

de modelo não-linear. Neste caso, será considerado o seguinte modelo:

q 21y xζζ= (5.1)

A proposta de um modelo do tipo potência foi feita mediante uma análise do

gráfico da Figura 5.4. A expressão (5.1) pode ser facilmente linearizada, bastando

aplicar-se logaritmos em ambos os lados da equação, de modo que:

1 2log( ) log( ) log( )y xζ ζ= + (5.2)

Deste modo, pode-se medir a qualidade do ajuste via coeficiente de correlação,

como usualmente é feito em procedimentos do tipo mínimos quadrados.

Do ponto de vista computacional, foi considerado o modelo não-linear dado pela

equação (5.1), sendo minimizada a seguinte função:

( )22

11

1( )2

{ }

nm

k kk

Min F Gζζ ζ λ

ζ=

= −∑ % (5.3)

onde nm refere-se ao número de modelos de Maxwell.

Numericamente, o problema de otimização foi resolvido utilizando-se dois

algoritmos distintos: (i) um método do tipo Quasi-Newton com matriz Hessiana

atualizada pelo método BFGS (Broyden,1970; Fletcher, 1970; Goldfarb, 1970; Shanno,

1970); (ii) o algoritmo estocástico proposto por Luus & Jaakola (1973) (tendo em vista

87

a aplicabilidade deste tipo de algoritmo em problemas de tamanhos pequenos e médios).

Os resultados obtidos foram idênticos, para valores de 1ζ = 3457,73 e 2ζ = - 0,6805.

A Figura 5.8 a seguir ilustra o espectro contínuo obtido para um ajuste com 7

modelos de Maxwell.

Figura 5.8 – Ajuste do Espectro Contínuo com 7 Modelos de Maxwell.

Observa-se que o ponto em baixo tempo de relaxação introduz, aparentemente,

um erro no ajuste do espectro contínuo. Ao retirar-se este primeiro ponto, a seguinte

Figura 5.9 é obtida.

88

Figura 5.9 – Ajuste do Espectro Contínuo com 6 Modelos de Maxwell

Nota-se que, embora o resultado em baixas freqüências tenha melhorado, a partir

do valor 10-2 o ajuste sofreu uma piora em relação ao ajuste com 7 modelos de

Maxwell.

Na verdade, ao traçar-se o gráfico com ambos os eixos em escala logarítmica,

obtem-se a Figura 5.10 (com 7 modelos de Maxwell) e a Figura 5.11 (com 6 modelos de

Maxwell). Visualmente, o ajuste com 7 modelos de Maxwell produz melhores

resultados.

89

Figura 5.10 – Ajuste do Espectro Contínuo com 7 Modelos de Maxwell

[escala logarítmica].

90

Figura 5.11 – Ajuste do Espectro Contínuo com 6 Modelos de Maxwell [escala logarítmica].

CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

6.1. Conclusões

Neste trabalho foram desenvolvidas ferramentas numéricas para a determinação

de espectros de relaxação de polímeros. Tais ferramentas poderão ser utilizadas para, a

partir de dados de módulo de armazenamento e de módulos de perda (disponibilizados,

por exemplo, pelo Rheometric Scientific, Modelo SR5, locado no Laboratório de

Tecnologia de Polímeros do Instituto Politécnico) gerar um conjunto discreto de pontos

de tempos de relaxação e módulos de relaxação sob tensão, formando um espectro

discreto. Além disto, foram propostas e implementadas duas metodologias para a

geração de um espectro contínuo a partir de um conjunto discreto de pontos: uma

interpolação e um ajuste de curva não-linear.

Em relação aos algoritmos de otimização empregados para a geração do espectro

discreto, pode-se concluir que:

(i) o algoritmo Simulated Annealing foi capaz de determinar, após um ajuste da

lista de resfriamento, os valores de tempos de relaxação e módulos de

relaxação sob tensão com a acurácia necessária;

(ii) a lista de resfriamento apresentada por Jensen (2002) promove um

quenching (resfriamento rápido) e não um annealing (resfriamento lento) e

pode induzir o algoritmo a localizar ótimos locais ao invés do mínimo global

da função;

90

(iii) o algoritmo de busca aleatória de Luus e Jaakola (1973) não foi capaz de

resolver, a contento, o problema de minimização com vistas à obtenção do

espectro de relaxação. Tal fato deve ser explicado pelo número de variáveis

do problema (12 variáveis, se considerarmos o número de modelos de

Maxwell igual a 6);

(iv) o espectro de relaxação obtido nesta pesquisa foi similar ao apresentado pelo

equipamento AR 2000, a menos de um desvio verificado para baixos valores

de tempos de relaxação;

(v) as técnicas de interpolação polinomial e de regressão não-linear foram

capazes de gerar um espectro contínuo com boa aderência em relação aos

dados do espectro discreto.

6.2. Sugestões para Trabalhos Futuros

Como sugestões para trabalhos futuros, pode-se elencar:

(i) utilização de outros algoritmos de otimização (estocásticos e

determinísticos) para a minimização dos resíduos. Por exemplo, os

algoritmos genéticos e algoritmos do tipo PSO (particle swarm

optimization);

(i) efetuar análises em faixas de freqüência maiores;

(ii) abordar a obtenção do espectro contínuo a partir do espectro discreto com

outras metodologias;

(iii) aplicar a metodologia para outros materiais poliméricos;

(iv) utilizar o espectro de relaxação para o cálculo das médias de peso molecular

de polímeros.

91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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94

ANEXO

Aplicação do Método de Lagrange para Resolução da Equação Diferencial

Ordinária – EDO – apresentada no Modelo de Voight, Capítulo 2.

A EDO do modelo de Voight pode ser escrita da seguinte forma:.

0=−+ σγηγdtdG vv (A1)

Dividindo a Eq. (A1) pela viscosidade ηv

vv

vGdtd

ησγ

ηγ

=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+ (A2)

Para facilitar a aplicação de Lagrange, fazem-se as seguintes considerações:

γ = y t = x v

vGη

= P(x) vησ = Q(x) (A3)

Para assim poder aplicar na fórmula de Lagrange abaixo.

∫ +∫=∫ CdxxQydxxPdxxP )()(

exp)(exp (A4)

Portanto:

∫ += Cdxv

yxGxG

v

v

v

v

ηη

ησ expexp (A5)

95

Resolvendo a integral:

CG

yxG

v

v

v

xG

v

v

v

v

+= ηη ηησ expexp (A6)

Cancelando a viscosidade ηv e aplicando a Eq. (A6) na condição inicial do

experimento – deformação (γ = y) e tempo (t = x) iguais a zero – é possível calcular o

valor da constante C.

CGv

+=σ0 Portanto,

vGC σ

−= (A7)

Substituindo o valor da constante C na Eq. (A6),

v

xG

v

xG

GGy v

v

v

v σσ ηη −= expexp (A8)

Isolando y e colocando o termo vG

σ em evidência, obtém-se:

⎟⎟

⎞⎜⎜

⎛−=

− xG

v

v

v

Gy ησ exp1 (A9)

Retomando os valores atribuídos na Eq. (A3), obtém-se a relação entre a

deformação e o tempo.

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−−= t

GG v

v

v ησγ exp1 (A10)

De fato, a resposta do modelo de Voight, quando submetido a tensão constante,

é mais facilmente compreendida quando se considera a resposta de recuperação, onde a

tensão σ é igual a zero.

96

Pela equação A1:

0=+dtdG vvγηγ (A11)

Através de algebrismo análogo àquele realizado para o modelo de Maxwell

(ensaio de relaxação sob tensão), porém definindo para o caso de ensaio de compliância

em creep, e o tempo de retardação v

v

λ =' , obtém-se:

dtdG vvγηγ −=

dtGd v

v 1ηγγ

−=

dtd'λ

γγ

−= ∫∫ −='λγ

γ dtd

Resolvendo-se a integral indefinida acima, obtém-se:

'

lnlnλ

γ tC −=+

'

lnλ

γ tC −=

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−=

'exp

λγ tC

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−=

'exp1

λγ t

C

Como o inverso de uma constante C é uma outra constante K,

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−=

'exp

λγ tK (A12)

97

Aplicando-se a condição inicial do problema na expressão acima, é possível

verificar que o valor da constante K é igual a deformação inicial 0γ , ou seja:

Quando o tempo t = 0 a deformação total γ é igual a deformação inicial 0γ . Portanto:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛−=

'0exp0 λ

γ K

K = 0γ (A13)

Substituindo o valor da constante K na Eq. (A12), obtém-se a expressão que

melhor representa o Modelo de Voight:

'exp0 λ

γγ t−= (A14)

98

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