frutas da amazônia na era das novas culturas

Upload: patricia-goulart

Post on 07-Aug-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    1/12

    F RU TA S D A A MA ZÔ NI A N A E RA D AS N OV AS C UL TU RA S

    J os é E dm ar U ra no d e C ar va lh oP e s qu i s ad o r E m br a p a A m a zô n i a O r i en t a l. J o s e- u r an o . ca r v al h o @e m b ra p a .b r  

    Introdução

    A diversidade de frutas do Brasil está representada por aproximadamente 500 espécies, sendo

    o g r a n d e c e n t r o d e d i v e r s i f i c a ç ã o a A m a z ô n i a B r a s i l e i r a , o n d e s ã o e n c o n t r a d a s c e r c a d e 2 2 0 p l a n t a s

     produtoras de frutos comestíveis (GIACOMETTI, 1993).

      Não obstante o expressivo número de frutas nativas do Brasil, que o colocam em segundo

    l ug ar c om o g ra nd e c e nt r o d e o ri ge m d e e sp éc ie s f ru tí fe ra s t ro pi ca is , v in do l og o a pó s d o s ud es te

    a s i át i c o, p o uc a s d e l as , a t é e n t ã o , a t i n gi r am p a r ti c i pa ç ã o e x p r es s iv a n o a g r on e g óc i o d e f r u t as . C o me x ce ç ão d o a ba c ax iz e ir o (    Ananas comosus   L ) , c aj ue ir o (    Anacardium   occidentale   L .) , o c a ca u ei r o

    ( Theobroma cacao   L.) e, secundariamente, o maracujazeiro (   Passiflora edulis  Sims.), que há bastante

    t e m p o s ã o c u l t i v a d o s e m l a r g a e s c a l a , e m p a r t i c u l a r n a A m é r i c a T r o p i c a l , Á f r i c a e Á s i a , a s d e m a i s

    a in da n ã o s e p r oj e ta r am n a ¨ e ra d a s n ov as c u lt ur a s¨ , t e nd o a l gu ma s d e la s i m po rt ân ci a s o me nt e e m n í ve l

    r e gi on al . N es s a s i tu a çã o e s t ão , e n tr e o u tr a s , o c up ua ç uz e ir o (Theobroma grandiflorum   ( W il l d. e x

    Spreng.) K.Schum.), a pupunheira (  Bactris gasipaes  Kunth), o bacurizeiro (  Platonia insignis   M a r t . ) e

    m es mo o a ça iz ei ro (  Euterpe oleracea   M a rt .) . O a ça í, c on qu an to n as d ua s ú lt im as d éc ad as t en hac on qu is ta nd o n ov os m er ca do s, o g ra nd e c e nt r o d e p ro du çã o e d e c on su mo a in da é a A ma zô ni a

    B r as i le i ra , e m p a r ti c ul a r o E s ta d o do P ar á .

    As f ru ta s br as il ei ra s, c om r ar as e xc eç õe s, f or am r el ega da s à p os iç ão s ec un dá ri a p el os

    c ol on iz ad or es e ur op eu s, t a nt o é q ue , d ur an te o s p ri me ir os t em po s d o B ra si l c ol ôn ia , d ez en as d e

    espécies frutíferas foram introduzidas de outros continentes e se consolidaram, ao longo dos tempos,

    c om o c ul tu ra s i mp or ta nt es t en do , a lguma s d el as , pr es en te me nt e, g ra nd e r ep re se nt ivi da de n o

    a g r o n e g ó c i o d e f r u t a s d o B r a s i l . É o c a s o , p o r e x e m p l o , d a l a r a n j e i r a ( Citrus sinensis   ( L . ) O s b e c k ) e

    d e o u tr a s e s pé c ie s d o g ê ne r o Citrus que, segundo o viajante Gabriel Soares de Souza, já eram bastante

    c ul ti va da s n o t er ri tó ri o br as il ei ro , e m 1 58 7, e pr od uz ia m f ru to s q ue s up er ava m, e m t er mo s d e

    q ua li da de , a o s p r od uz i do s e m P o rt u ga l ( S OU ZA , 2 0 01 ) . A l ar a nj a, a t ua l me nt e , é a p ri nc ip al f r ut a

     produzida no Brasil, com volume de produção de 19.831.787 t, colocando o país como o maior 

     produtor mundial dessa Rutaceae (FAO, 2010; IBGE, 2012).

    A s f ru ta s n at iv as d o B ra si l n a v is ão d os p ri me ir os c ol on iz ad or es

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    2/12

    F o r a m p o u c a s a s f r u t a s b r a s i l e i r a s q u e a g r a d a r a m d e i m e d i a t o a o s p r i m e i r o s e x p l o r a d o r e s d o

    Brasil. Enquadram-se nessa situação o abacaxi, a castanha-de-caju, a castanha-do-brasil (   Bertholletia

    excelsa   H &B ) e o c ac au . E ss as f ru ta s q ua se s em pr e f or am c it ad as c om r ef er ên ci as e lo gi os as n os

    relatos de viagem de missionários, naturalistas ou simples viajantes que percorreram o Brasil durante

    o s p e r í o d o s c o l o n i a l e i m p e r i a l e r a p i d a m e n t e g a n h a r a m b o a c l i e n t e l a e u r o p é i a . P o r o u t r o l a d o , s ã o

    m u i t o s o s r e g i s t r o s e m q u e f r u t a s b r a s i l e i r a s f o r a m a p r e s e n t a d a s a o m u n d o e u r o p e u d e f o r m a p o u c o

    lisonjeadora, em alguns casos, até mesmo associando, equivocadamente, o consumo de algumas delas

    a doe nç as .

    O primeiro explorador a discorrer, embora de forma sintética, sobre as frutas do Brasil foi Jean

    d e L é r y , u m m i s s i o n á r i o c a l v i n i s t a f r a n c ê s q u e s e a v e n t u r o u n a s t e r r a s b r a s i l e i r a s e n t r e f e v e r e i r o d e

    1 5 5 7 e j a n e i r o d e 1 5 5 8 . Q u a n d o s e r e f e r i u a o s f r u t o s c o m e s t í v e i s d o B r a s i l f e z e l o g i o s a a l g u n s , e m

     particular à castanha-de-caju e ao próprio caju, mas também afirmou que ¨...muitos, apesar de

     belíssimos, são inaceitáveis ao paladar ̈ (LÉRY, 2009). Outros relatos em que algumas frutas

    a ma zô ni ca s s ã o a p re s en ta d as d e f or ma p o uc o l i so nj e ad or a e nc o nt r am -s e n as o br a s d o P a dr e J o ã o

    Daniel e do médico, mineralogista e botânico Johann Baptist Emanuel Pohl. O primeiro, que viveu na

    Amazônia e nt re 17 41 e 175 7, qua ndo s e ref eriu a o cajá (S p on d ia s m o mb i m   L .) , n o ¨ Te so ur o

    d e sc o be r to n o m áx im o r i o A ma z on as ,̈ a fi rm ou q u e ¨ . .. t em u m d el ic io so g o s to , p o s to q u e é m ai s

    lambugem que comida, porque sendo fruta tão pequena tem um bom caroço...¨(DANIEL, 2004 ). Já o

    s e g u n d o , q u e c h e g o u a o B r a s i l c o m o u m d o s m e m b r o s d a M i s s ã o A u s t r í a c a t r a z i d a p o r D . P e d r o I ,

    q ua nd o d is co rr eu s ob re o a ça í a ss im s e e xp re ss ou : ¨ Os í nd io s g os ta m m ui to d es t e f ru to , q ue é s a bo ro so

    e cont ém ól eo . O s eu u so , em p ar te , faz-lhes mui to bem. Engor dam , come ndo-o; mas te m a

    d es va nt ag em d e , p o r s e r m ui to q ue n te , p r ov oc a r a g on or r éi a (̈ PO H L, 1 9 76 ) .

    É óbvio, que es sa s primeiras infor ma çõe s, c onqua nt o poss am t er c ontr ibuído p ar a o

    menosprezo das frutas nativas há de se considerar que o aspecto fundamental está relacionado ao fato

    d e q u e o s c o l o n i z a d o r e s e u r o p e u s e s t a v a m h a b i t u a d o s a o c o n s u m o d e f r u t a s c o m o a l a r a n j a ( Citrus

     sinensis   ( L ) O s b e c k ) , a m a ç ã (   Malus domestica   B o r k h ) , a p ê r a (   Pyrus communis   L . ) e a u v a ( Vitis

    vinifera L), entre outras. Para eles era muito difícil assimilar o consumo de frutas bastante diferentes,

    c om a r om a m ui t o f o r t e e a ci de z b a st a nt e e l ev ad a, c o mo o c u pu a çu , o a r aç á -b oi (  Eugenia stipitata

    McVaugh), entre outr as . Bem menos aceitável e esdrúxulo era consumir frutas como o uxi

    (  Endopleura uchi   ( H u be r ) C u at r ec a sa s ), o s u ma ri s (  Poraqueiba   s p. ), o pe qu iá ( Caryocar villosum

    ( A ub l .) P e r s . ), o t uc u m ã- d o -p a r á (    Astrocaryum vulgare Mart.) e o tucumã-do-amazonas (    Astrocaryum

    aculeatum  G.F.W. Meyer) da forma como os nativos o faziam, ou seja, acompanhada com a estranha

    ¨ f a r i n h a d e p a u ¨ , q u e f o i c o m o e l e s d e n o m i n a r a m a f a r i n h a d e m a n d i o c a ( C A R V A L H O , 2 0 1 0 ) . P o r  o u t r o l a d o, o s i n dí ge n as b r as i l ei r os , a p ro p ri a r a m- s e r a pi d am e nt e d a s e s pé c ie s f r ut í fe r a s i n tr o du z i da s

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    3/12

     pelos europeus, passando a cultivá-las e a consumi-las, relegando, também, à posição secundária,

    m ui ta s e sp éc ie s d e f ru ta s n at iv as q ue s eu s a nc es tr ai s, e m t ra ba lh o e mp ír ic o, l en to e m in uc io so ,

    conseguiram domesticar. Este simples fato teve como conseqüência a perda de recursos genéticos que,

    c o nq u an to a in da n ã o d ev id am en te q ua nt i fi c ad o, p ro va ve l me nt e t e nh a s i do d e g ra n de m ag ni t ud e.

    É interessante ressaltar que muitas frutas, inicialmente rejeitadas pelos europeus, em particular aquelas que não se prestavam para o consumo ao natural devido à acidez elevada, quando se iniciou a

     produção de açúcar no Brasil passaram a ser matéria-prima para a elaboração de doces e refrescos ou

    como deixou registrado, no século 18, o padre João Daniel: ¨davam excelentes limonadas ̈ (DANIEL,

    2 00 4 ) .

    O u t r o a s p e c t o q u e d e v e s e r c o n s i d e r a d o r e f e r e - s e a o f a t o d e q u e a s f r u t a s , e s p e c i a l m e n t e a s

    nativas, durante muito tempo não foram consideradas como alimento, pois eram tidas, na maioria dos

    casos, como simples recurso de sobrevivência na floresta, ou seja, na falta de alimento comia-se ¨frutad o m a t o ¨ p a r a m i ti g ar a f o m e . A t é m es m o na s p o s t u r as m u ni ci pa i s d o s é c u lo 1 8 q u e t a x a va m a s f r u t a s ,

    s ó e sp ec if ic av am , d e r e gr a , a s f r ut a s i nt r od uz i da s , p oi s a s n at iv as n ã o e r am c on si de r ad as a li me nt o

    ( M O TA , 1 9 41 )

    O folclorista Luis da Câmara Cascudo levantou na literatura cinco testemunhos - um para cada

    cem anos, do século 16 ao século 20 - para demonstrar que as frutas eram usadas ¨com parcimônia e,

    a cons elhadame nte, de maneira c uida dos a: nem r egula r, nem se mpre¨ (CASCUDO, 19 83) . O

    farmacêutico Theodoro Peckolt, o pioneiro na análise química de frutas no Brasil, também enfatizouq ue f ru ta s n ão e ra m a li me nt os e ¨ .. .d ev em s er c on si de ra da s c om o m ei os d e g oz o a t é c e rt o p on to

    higiênicos. Por exceção pode passar unicamente a banana. São mais estimados pelo sabor do que pelo

    v al or a li me nt ar ¨ ( P EC KO LT , 1 87 4 ). I s t o , d e c e r ta f or ma , j us ti fi ca o r e du z id o c o ns u mo d e f r ut a s

    durante as épocas do Brasil colônia e império e que, de certa forma, ainda persiste em grande parte do

    B ra si l, h aj a v is ta q u e, a t ua l me nt e , a pe na s 1 8, 2 % d o s b ra si le ir os c on so me m a q ua nt i da de d e f r ut a s

    r e c o m e n d a p e l a O r g a n i z a ç ã o M u n d i a l d e S a ú d e , o u s e j a , c i n c o p o r ç õ e s d e 8 0 g p o r d i a ( B R A S I L ,

    2012).

    F ru ta s n at iv as d a A ma zô ni a q ue f or am m ai s i mp or ta nt es n o p as sa do q ue n o p re se nt e

    M ui to a nt es d os p ri me ir os c ol on iz ad or es a de nt ra re m a s t e rr as b ra si le ir as a lg um as f ru ta s

    a m a z ô n i c a s e r a m m a i s i m p o r t a n t e s d o q u e s ã o a t u a l m e n t e . N e s s a s i t u a ç ã o p a r t i c u l a r e n c o n t r a m - s e o

    a bi u (  Pouteria caimito   ( Rui z & P av .) R ad lk .) , o bir ibá (  Rollinia mucosa   ( J ac q .) B ai ll .) , o c ub iu

    ( Solano sessiliflorum   D un a l. ) , a p up un ha (  Bactris gasipaes   K un th ), o u ma ri a ma re lo (  Poraqueiba paraensis Ducke), e o umari preto (  Poraqueiba sericea  Tul.). Atesta-se a importância dessas frutas em

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    4/12

     passado remoto pelo fato de serem culturas pré-colombianas e de algumas populações se encontrarem

    c o mp l et a me n te d o me s t ic a d as , q u an d o o s p r im e ir o s c o l on i z ad o re s e u r o pe u s c h eg a ra m a o B r as i l, n o

    s éc ul o 1 6 ( DU CK E, 1 94 6; C LE ME NT , 1 99 9) .

    O a bi u, u ma d a s p o uc a s f r ut a s d a A ma zô ni a q ue s e p r es t a p a ra o c on su mo a o n at u ra l , c o me ç ou

    a s u c u m b i r d e v e z a p a r t i r d e m e a d o s d a d é c a d a d e 1 9 6 0 , q u a n d o a f a c i l i d a d e d e t r a n s p o r t e p o r v i at e r r e s t r e , e m d e c o r r ê n c i a d a c o n s t r u ç ã o d a r o d o v i a B e l é m - B r a s í l i a , t o r n o u p o s s í v e l a i m p o r t a ç ã o e m

    l a r g a e s c a l a d e f r u t a s d e o u t r a s r e g i õ e s d o B r a s i l e m e s m o d e o u t r o s p a í s e s . A s s i m s e n d o , a m a ç ã a

     pêra, o pêssego (  Prunus persica  (L.) Batsch), a uva e pelo menos mais uma dezena de frutas exóticas,

    foram rapidamente incorporadas ao hábito alimentar dos amazônidas, especialmente dos habitantes dos

    grandes centros urbanos (CARVALHO et al., 2010). O mesmo se sucedeu com o biribá, o cubiu e os

    u ma ri s. A p up un ha a t é q ue d e c er t a f or ma r es is ti u, p oi s a in da é b as ta nt e c ul ti va da n a A ma zô ni a

    Brasileira e seus frutos têm boa aceitação região, especialmente quando têm características que vão de

    encontro às exigências dos consumidores, quais sejam: casca vermelha, pesando entre 30 e 50 g, com

     bom sabor, fáceis de descascar, com moderado teor de óleo e caroço pequeno (CLEMENT &

    SANTOS, 2002; CLEMENT et al., 2009). Mesmo assim, Clement et al (2004) conjecturaram que ela,

     presentemente não é mais importante do que foi no passado e, no futuro, pode ser ainda menos

    i m po r t an t e q u e a t ua l m en t e.

    A forte pressão de mercado exercida pelas frutas exóticas, que dispõem de excelentes sistemas

    d e p r o d u ç ã o e d e t e c n o l o g i a s d e p ó s - c o l h e i t a a v a n ç a d a s , q u e g a r a n t e m p r e s e n ç a d i á r i a n a s g ô n d o l a s

    d os s up er me rc ad os , e m q ui ta nd as e f ei ra s l iv re s, c on st it ui -s e n o p ri me ir o f at or f av or áv el p ar a a

    d i ss e mi n aç ã o c a d a v e z m ai s a c e nt u a da d e ss a s f r u ta s n o m e r ca d o a m az ô ni c o. A t ua l m en t e, n o s m ai s

    l o ng í nq uo s l o ca i s m u it a s d e s sa s f r u ta s s ã o e n c on t r ad a s c o m ma i or f r eq üê n ci a e a bu nd â nc i a qu e a q u a se

    t o ta l id a de d e f r ut a s n at iv as , q ue t ê m f o rt e s az on al i da de e c u r ta v id a p ós - co lh e it a . A lé m d is s o, s ã o

    c om er ci al iz ad as c o m p r eç o s b a st a nt e c om pe t it i vo s , s em o sc i la ç õe s a c en tu a da s d ur a nt e o a n o, a o

    c o n t r á r i o d a s f r u t a s n a t i v a s , c u j o s p r e ç o s s ã o n o r m a l m e n t e m a i s e l e v a d o s e c o m v a r i a ç õ e s d e g r a n d e

    m ag ni tu de d u ra n te o a n o.

    O C en ár io p ar a a s ¨ fr ut as d o f ut ur o¨

      Nas duas últimas décadas, a busca pela diversificação de sabores ou de produtos que se

    e nquadram n o gr up o de alimentos funcionais te m impelido o cul tivo de fr ut as que hoje s ão

    d e sc o nh e ci d as d o g r a nd e p ú bl i c o. N e s sa s i t ua ç ã o p a r ti c u la r e n c on t r am - s e, p a ra d ox a lm e nt e , m u it a s

    e sp éc ie s d e f ru ta s q ue n o p as sa do f or am i mp or ta nt es e q ue h oj e s ão c at eg or iz ad as c om o ¨ no va s f ru ta s¨ ,

      ¨frutas raras¨, ¨frutas potenciais ̈ ou ¨frutas do futuro¨. Somente no Brasil, presentemente, cerca de120 espécies de ¨novas frutas¨, tropicais, incluindo nativas e exóticas, disputam lugar nesse concorrido

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    5/12

    m e r c a d o , q u e é d o m i n a d o , n ã o s ó n o B r a s i l c o m o n o m u n d o , p o r p o u c a s e s p é c i e s . S e g u r a m e n t e , a s

    ¨ f ru ta s d o f u tu r o¨ , c o nq ua n to p os sa m c o nq ui s ta r o s d if er e nt e s c o nt i ne nt e s, h ã o d e o c up a r s om en t e

    n i c h o s d e m e r c a d o , p o i s j a m a i s t e r ã o a p r o j e ç ã o q u e t ê m a b a n a n a (   Musa   s p . ) , a m e l a n c i a ( Citrullus

    vulgaris S c h r a d ) , a u v a , a l a r a n j a e o c o c o ( C ocos nucifera   L . ) , q u e s ã o a s c i n c o p r i n c i p a i s f r u t a s

     produzidas no mundo e que em conjunto representam, aproximadamente, 55% da produção mundial

    d e f ru ta s ( FA O, 2 01 2) .

    D u a s s i t u a ç õ e s d e v e m s e r c o n s i d e r a d a s q u a n d o u m a ¨ n o v a f r u t a ¨ c h e g a a o m e r c a d o : a ¨ n o v a

    f r u t a ¨ r e p r i m i r á o c o n s u m o d e u m a o u t r a j á t r a d i c i o n a l n o m e r c a d o o u , o q u e é m a i s i m p r o v á v e l , n o

    m o m e n t o a t u a l , a ¨ n o v a f r u t a ¨ s e r á c o n s u m i d a s e m a f e t a r o c o n s u m o d a s d e m a i s . A ú l t i m a s i t u a ç ã o

    i m p l i c a m a i o r c o n s u m o d e f r u t a s , o q u e é p e r f e i t a m e n t e p o s s í v e l , p o i s n ã o o b s t a n t e o c o n s u m o          per  

    capita   d e f r ut a s s e r r el a ti va me nt e e l ev ad o n a U ni ã o E ur o pé i a ( 1 15 k g/ ha b it a nt e /a no ) , n os E s ta d os

    U n i d o s ( 1 1 2 k g / h a b i t a n t e / a n o ) e n o B r a s i l ( 9 6 k g / h a b i t a n t e / a n o ) , e m a l g u n s p a í s e s é b a s t a n t e b a i x o ,

    c om o n o J ap ão ( 55 k g/ ha bi ta nt e/ an o, C hi na ( 48 k g/ ha bi ta nt e/ an o) e Í nd ia ( 37 k g/ ha bi ta nt e/ an o)

    ( C O N T I N I e t . , a l . , 2 0 1 2 ) . R e s s a l t e - s e q u e , m e s m o n a U n i ã o E u r o p é i a , o n í v e l d e c o n s u m o d e f r u t a s

    não atinge ao que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de 146 kg/habitante/ano

    ( B R AS I L, 2 0 1 2) .

    F ru ta s d a A ma zô ni a q ue p od er ão s er f ru ta s d o f ut ur o

    S ã o f r e q ü e n t e s , e a l g u m a s m u i t o a n t i g a s , a s l i s t a s d e p l a n t a s f r u t í f e r a s q u e s ã o a p r e s e n t a d a scomo tendo potencial para ¨novas culturas¨, porém têm sido poucos os casos de sucesso, ou seja, em

    q u e o ¨ p o t e nc i a l̈ s e t o r n a ¨ r e a l̈ . E m 1 8 1 0 , o b o tâ n i co e n a t ur a l is t a M a nu e l A r r ud a d a C â ma r a , n o

    ¨Discurso sobre a utilidade da instituição de jardins nas principais províncias do Brasil¨, elaborou uma

    l i s t a d e p l a n t a s n a t i v a s e e x ó t i c a s q u e d e v e r i a m s e r p l a n t a d a s e m j a r d i n s b o t â n i c o s n o B r a s i l , c o m o

    intuito de incentivar o cultivo. Nessa lista constavam algumas espécies amazônicas como o bacurizeiro

    (  Platonia insignis   M ar t. ), a ba ca be ir a ( Oenocarpus   s p. ), o b ur it iz ei ro (   Mauritia flexuosa   L.), o

    abacaxizeiro (    Ananas comosus   ( L .) , M e rr i l. ) e o m ar a cu ja ze i ro s us p ir o (  Passiflora nítida   H.B.K.)

    ( CÂ MA RA , 1 8 10 ) . D e co r ri d os m ai s d e d oi s s é cu lo s s om e nt e o a ba c ax iz e ir o s e t o r no u c u lt u ra d e

    importância econômica. Não é simples coincidência. Essa espécie, quando da recomendação de Arruda

    d a C â ma r a , j á s e e n c on t r av a c o mp l et a me n te d o me s t ic a d a, o q ue i nd ic a qu e c ri t é r io s d e s e l e çã o , m e sm o

    que empíricos, tinham sido adotado ao longo dos tempos, tornando factível seu cultivo (CLEMENT,

    1 9 9 2 ) . A s d e m a i s , s e a l g u é m o u s o u c u l t i v a r e m e s c a l a c o m e r c i a l , p r o v a v e l m e n t e , n ã o d e v e t e r t i d o

    s u ce s so , p oi s p la nt ar a m s im pl es me nt e ¨ m at o¨ .

    U m a l i s t a m a i s r e c e n t e , e n v o l v e n d o 4 5 e s p é c i e s f r u t í f e r a s a m a z ô n i c a s f o i e l a b o r a d a e m 1 9 9 6

     por Villachica et al. (1996). Desde então, não mais que meia dúzia de espécies começaram a despertar 

    i nt er es se d e p ro du to re s e a a te nç ão d as e nt id ad es d e P &D d a A ma zô ni a.

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    6/12

    A l g u m a s d a s e s p é c i e s q u e s e r ã o a p r e s e n t a d a s a s e g u i r , c o m o f r u t a s d o f u t u r o , j á t ê m s ó l i d o s

    mercados na Amazônia e têm como desafio a conquista de novos mercados. Outras podem ser frutas

    do futuro, exclusivamente para a Amazônia Brasileira, que não é algo desprezível, pois se trata de um

    m er ca do d e m ai s d e 2 0 m il hõ es d e c on su mi do re s.

    A ç a í (   Euterpe oleracea   Mart.)  - O a ç a í é , a t u a l m e n t e , a f r u t a n a t i v a d e m a i o r c o n s u m o n a

    Am az ôni a. A p ro du çã o d e a ça í s up er a a m ar ca d e 7 00 .0 00 t on el ad as /a no , o q ue p ro po rc io na ,

    aproximadamente, 350.000 toneladas do refresco de consistência pastosa chamado de vinho de açaí ou

    simplesmente açaí. A quase totalidade da produção está concentrada no Pará, que responde por cerca

    d e 9 5% d a p ro du çã o n ac io na l. F ru ta c om m er ca do c on so li da do n a A ma zô ni a, e m p ar ti cu la r n os

    E s t a d o s d o P a r á e A m a p á , e m q u e é c o n s u m i d a d i a r i a m e n t e p o r g r a n d e p a r t e d a p o p u l a ç ã o . O a ç a í

    ocupa a sétima colocação, entre as frutas mais consumidas no Brasil (BUENO & BACCARIN, 2012)

     portanto, no mercado brasileiro, especialmente, na Amazônia é fruta do presente, porém com futuro

     promissor em outras regiões do Brasil e no exterior. Começou a conquistar novos mercados a partir da

    década de 1990. Os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo foram os primeiros a importarem a bebida

    açaí. Atualmente, é consumido, embora em pequenas quantidades em todos os Estados Brasileiros, em

     particular nos grandes centros urbanos. Produtos oriundos do açaí estão presentes nos cinco

    c o nt i n en t e s. N ã o e x is t em e s t at í s t ic a s c o ns i s t en t e s s o b r e a q u an t i da d e d e a ç a í e x p or t a d a p a r a o u t r a s

    r eg iõ es d o B ra si l e p ar a o e xt er io r, m as é p ro vá ve l q ue a lg o e m t o rn o d e 1 0% d a p ro du çã o s ej a

    d es t in ad a a e s se s m e rc a do s.

    O m e r c a d o t e m s i d o a b a s t e c i d o e m s u a m a i o r p a r t e p e l a e x p l o r a ç ã o d e p o p u l a ç õ e s n a t i v a s d a planta. No entanto, a quase totalidade dessas populações já está sobreexplorada e para atender novos

    m er ca do s s om en te c om a i mp la nt aç ão d e p om ar es e m á re as d e t e rr a f ir me .

    E x i s t e m b o n s s i s t e m a s d e m a n e j o d e a ç a i z a i s n a t i v o s , a s s i m c o m o p a r a o c u l t i v o e m á r e a s d e

    t e r r a f i rm e . N o p r im e ir o c a s o , o s s i st e ma s p r ec o ni z a m b a si c am e nt e o a j u st e d e d e ns i da d es d e a ç a iz e i ro s

     para 2.000 plantas por hectare, ou seja, 400 touceiras, cada uma contendo cinco plantas. No segundo,

    e nv ol ve a u ti li z aç ão d a p la nt a e m s is te ma s a g ro fl o re s ta i s o u e m c ul t iv o s o lt e ir o . N o ú lt im o c a s o,

    q u a n d o o p l a n t i o é e f e t u a d o e m á r e a s c o m c l i m a d o t i p o A m i o u A w i h á n e c e s s i d a d e d e i r r i g a ç ã o

    s up le me nt ar n o p er ío do d e m en or p re ci pi ta çã o d e c hu va s. C on qu an to o s c us to s d o p la nt io c om

    i r ri ga ç ão s up le me nt a r s ej am b a st a nt e e l ev ad os , c on si de rá ve l p a rt e d a p r od u çã o , e n tr e 3 0 % e 5 0 %,

    o c o r r e na e n t re s s a fr a , o c a si ã o e m q u e o p r e ç o d o f r ut o c he g a a s e r qu a t r o a c in c o v e ze s s u pe r i or a o d a

    é po ca d a s af ra , q ue n a m ai or p ar t e d o t er ri t ór io p ar ae ns e o c or r e n o s eg un do s em es tr e.

    O c u l t i v o d o a ç a i z e i r o e m l o c a i s f o r a d a A m a z ô n i a j á c o m e ç a a s e c o n s o l i d a r . A B a h i a f o i o

     primeiro Estado fora da Amazônia a plantar açaizeiro em escala comercial.

    Açaí-do-amazonas   – (  Euterpe precatória   M ar t .) – A á re a d e o co rr ên ci a d es sa e sp éc ie

    abrange parte da América Central (Belize,Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá) e

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    7/12

     parte da América do Sul (Colômbia, Venezuela, Trinidad,Guianas, Equador, Peru, Brasil e Bolívia).

      Na Amazônia Brasileira é encontrada com maior frequência e abundância no Acre, Amazonas e

    R on dô ni a, e m ai s r ar am en te n o P ar á ( HE ND ER SO N, 1 99 5) . E ss a e sp éc ie o co r re t a nt o e m á re as

    inundáveis como em áreas de terra firme. Nas área inundáveis, a densidade chega a 60 indivíduos por 

    h ec ta re , e nq ua nt o n a t e rr a f ir me é d e a pe na s 2 0 i nd iv íd uo p or h ec ta re ( RO CH A, 2 00 4) .

    A p op ul ar iz aç ão d o a ça í (  E. oleracea   M ar t. ) e st á f az end o c om q ue f ru to s d e o ut ra s

    e s p é c i e s d o m e s m o t á x o n g e n é r i c o p a s s e m a s e r u t i l i z a d o s d a m e s m a f o r m a . I s t o v e m a c o n t e c e n d o

    com   E. precatoria   Mart. e   E. edulis M a r t . , o p a lm i te i ro d o s u d e st e d o B r as i l .

      No Estado do Pará existem pequenos pomares de açaí-do-amazonas, implantados em áreas

    de t er ra firme, sem irrigação suplementar no período de menor precipitação de chuvas. A

     produtividade tem sido boa, não sendo raro obter-se até 50 kg de frutos/planta/ano. Além da

     produtividade, o rendimento industrial dos frutos de   E. precatória   M a r t . é 3 0 a 4 0 % ma i or q u e o s d o s

    f rut os d e   E. oleracea   M ar t. e a p rod uç ão s e verifica no primeir o s eme st re d o a no , o u sej a na

    e nt r es s af r a d e   E. oleracea   M a rt . O p ro bl em a é q ue o s ab or d a b eb id a n ão a gr ad a a o p al ad ar d os

     paraenses, mas existe a alternativa de exportação, haja vista que em outras regiões do Brasil e,

     principalmente, no exterior o grande apelo que tem o açaí é devido às suas propriedades funcionais,

    s e n d o o s a b o r u m a c o n d i ç ã o s e c u n d á r i a . O s p r i m e i r o s e s t u d o s t ê m e v i d e n c i a d o a s u p e r i o r i d a d e , e m

    t e r m o s d e t e o r d e a n t o c i a n i n a s d o s f r u t o s d e   E. precatoria   M a r t . , q u a n d o c o m p a r a d o s c o m o s f r u t o s

    de   E. oleracea Mart.

      E. precatória   M a rt . é e sp éc i e p o uc o e s tu d ad a e m s e us a s pe c to s a g ro nô mi c os , h av en do portanto necessidade do desenvolvimento de sistemas de produção eficientes, que garantam a

    s u st e nt a bi l id a de d a c u l tu r a .

    A b i u –    Pouteria caimito   ( R u i z e t P a v o n ) R a d l k  . - É u m a d as f ru ta s q u e n o p a ss ad o j á f oi

    importante e que ressurge com possibilidades de ser fruta do futuro. No entanto, há de se considerar que

    o s c o n s u m i d o r e s d o p r e s e n t e e d o f u t u r o n ã o d e s e j a m o a b i u d o p a s s a d o , p o i s a n s e i a m p o r u m a f r u t a

    q u e t e n h a d e t e r m i n a d o s a t r i b u t o s d e q u a l i d a d e , t a i s c o m o : p e s o e n t r e 3 0 0 e 6 0 0 g e c o m n o m á x i m o

    d u as s e me n te s ; p o r ç ã o c o me s tí v el d o c e , f i rm e , t r a n s lú c id a e c o m c o n t eú d o d e l á t ex i m pe r ce p tí v el ;c as ca d e c or a ma re la u ni fo rm e e c om p ou co l át ex ; e , p ri nc ip al me nt e, f r ut os i se nt os d e l ar va s d e

    m o s ca s - da s - fr u t as ( C AR V AL H O e t a l ., 2 0 1 0) .

    O m e r c a d o a t u a l d o a b i u é r e p r e s e n t a d o , e m s u a m a i o r p a r t e , p e l a p o p u l a ç ã o d a A m a z ô n i a

    Brasileira, em particular dos grandes centros urbanos, onde os frutos atingem preços excelentes, pelo

    fato de ser, mesmo nessa região, fruta rara, devido ser pouco cultivado. O fruto é consumido somente

    a o n a t u r a l . E v e n t u a l m e n t e , a p a r e c e e m s u p e r m e r c a d o s d o s u d e s t e d o p a í s , i m p o r t a d o d a C o l ô m b i a ,

    s e n d o c o m e r c i a l i z a d a c o m p r e ç o b a s t a n t e e l e v a d o , q u e c h e g a a s e r q u a t r o a c i n c o v e z e s a o d a m a ç ã

    nacional.

    A i nc i dê nc i a d e d i ve r sa s e s pé c i es d e m o sc a s - da s - f ru t a s c o ns t i tu i - se e m b a r re i r a f i t os s a ni t á ri a

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    8/12

     para a exportação do abiu produzido na Amazônia para estados fora dessa região e, muito

     particularmente, para o exterior.

    Bacuri (   Platonia insignis   M a r t . ) – F r u t a q u e a t é m e a d o s d a d é c a d a d e 1 9 6 0 e r a , n o E s t a d o

    d o P a r á , m a i s c o n s u m i d a q u e o c u p u a ç u , p o i s o s e s t o q u e s n a t u r a i s d e b a c u r i z e i r o s d a s M e s o r r e g i õ e s

      Nordeste Paraense e Marajó asseguravam o abastecimento do Estado, havendo excedente que erai nd us tr ia li za do n a f or ma d e c o mp ot a e d o ce e m p a st a . E nq u an t o a c ul t ur a d o c up ua ç uz e ir o t e ve g ra n de

     progresso a partir da década de 1970, relegando o extrativismo dessa fruta à posição secundária,

    grande número de bacurizeiros foi derrubado para aproveitamento da madeira, reduzindo

    substancialmente a oferta de bacuri. A propósito, em 1931, o então arcebispo de Belém, Dom Antônio

    de Almeida Lustosa, após visita pastoral à localidade de Bacuriteua, cujo nome significa ¨terra em que

    o b ac ur i o c or r e a bu nd an te me nt e ,̈ d ei xo u r e gi s tr a do e m u ma d e s ua s c rô ni ca s a a de qu ab il id ad e d o

    t o pô ni mo , p or é m c ha mo u a t en ç ão p a ra a d e st r ui ç ão d o s b ac ur iz ai s n at i vo s d ev id o à s ¨ im pi ed os as

    d er ru ba da s¨ ( LU ST OS A, 1 97 6) . O p ro fe ss or R ub en s R od ri gu es L im a e m e xp ed iç ão c ie nt íf ic a à

     pré-Amazônia Maranhense, em março de 1988, para a coleta de germoplasma de culturas

     pré-colombianas, também relatou a destruição das ¨matas de bacuri¨ dos campos cerrados dessa região,

    s al ie nt an do q ue d en tr e a s e sp éc ie s n at iv as d es se e co ss is te ma o b ac ur iz ei ro e ra a q ue s e e nc on tr av a m ai s

    a m e a ç a d a , t a n t o p e l a d e r r u b a d a d u r a n t e o p r e p a r o d e á r e a s p a r a a a t i v i d a d e a g r o p e c u á r i a , c o m o p e l a

    extração clandestina de madeira. (LIMA & COSTA, 1997) . Efetivamente, se a espécie não

    a p r e s e n t a s s e e s t r a t é g i a s d e r e p r o d u ç ã o s e x u a d a e , p r i n c i p a l m e n t e , a s s e x u a d a , p o r m e i o d e b r o t a ç õ e s

    o r i u n d a s d e r a í z e s , s e g u r a m e n t e e s t a r i a n a l i s t a d e e s p é c i e s a m e a ç a d a s d e e x t i n ç ã o . A c a p a c i d a d e d ereprodução assexuada é tão acentuada que mesmo em locais de ocorrência da espécie submetidos ao

    sistema de corte-queima–cultivo-pousio é comum, após os dois primeiros anos de pousio, a ocupação

    quase total da área por bacurizeiros, predominantemente oriundos de brotações de raízes. Não raro a

    densidade de bacurizeiros em início de regeneração, atinge a marca de 15.000 indivíduos por hectare

    ( HO MM A e t a l. , 2 0 07 ) .

    P r e s e n t e m e n t e , p a r a a t e n d e r a d e m a n d a d e s s a f r u t a s e r i a n e c e s s á r i o a l g o e m t o r n o d e 1 0 . 0 0 0

    t on el ad as d e p ol pa , o q ue c or re sp on de a 8 0. 00 0 a 1 00 .0 00 t d e f ru to s.

    A principal alternativa para se aumentar rapidamente a oferta de bacuri consiste no manejo das

     brotações oriundas de raízes. Desde que efetuado corretamente é prática com baixo impacto ambiental

    e d e c u s t o i n f e r i o r a o e s t a b e l e c i m e n t o d e p o m a r e s c o m m u d a s . . A s p l a n t a s g e r a l m e n t e p r o d u z e m o s

     primeiros frutos entre quatro e cinco anos após o início do manejo, porém só expressam seu máximo

     potencial de produtividade entre doze e 15 anos.

    C up ua çu ( T h eo b ro m a g r an d i fl o r um   ( Wi ll d. e x S pr en g. )   – A c ul tu ra d o c up ua çu ze ir o

    encontra-se presentemente bastante disseminada na Amazônia Brasileira, sendo cultivado em maior ou

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    9/12

    m e n o r e s c a l a e m t o d o s o s E s t a d o s d a r e g i ã o e m e s m o e m á r e a s f o r a d a A m a z ô n i a , q u e a p r e s e n t a m

    condições edafoclimáticas favoráveis ao estabelecimento de pomares com a espécie, como é o caso do

    sul da Bahia. São mais de 20.000 hectares plantados na Amazônia Brasileira, com produção em torno

    d e 5 5 .0 0 0 t on el a da s d e f r ut o , o q ue c o rr e sp on de a a pr ox im ad am en te 1 7. 0 00 t on e la d as d e p ol p a.

    A polpa da fruta é exportada em pequena escala para o Japão e Estados Unidos. Nesse último país tem sido utilizado na formulação de misturas (mix) com outras frutas amazônicas como o açaí e o

    guaraná.

    Camu-camu (   Myrciaria dubia   (Kunth) McVaugh)   – Fruta presentemente mais cultivada na

    Amazônia Pe rua na, c om pe rs pe ct iva de se ati ngir, em 20 15, pr odu çã o de 35.0 00 t one la da s,

    ( PA ND UR O e t a l. , 2 01 0) . T em s id o b as ta nt e d iv ul ga da p el o e le va do t e or d e vi ta mi na C , n ão s e

    enfatizando outras características que o colocam em nível superior ao açaí, em termos de capacidade

    a n ti o xi d an t e ( Y UY A MA e t a l . , 2 0 1 1) .O c am u- ca mu é p o uc o c ul t iv ad o n o B ra si l e a in da d es c on he c id o d o g r an de p úb li co .

    Outras frutas amazônicas que poderão ter futuro promissor são: a pupunha (  Bactris gasipaes   Kunth),

    o muruci (  Byrsonima crassifólia   H. B. K. ), o a ra çá -bo i (  Eugenia stipitata   M cV au gh ), o bi ri bá

    (  Rollinia mucosa   ( Ja cq .) B ai ll .) , o t uc um ã- do -a ma zo na s (    Astrocaryum aculeatum   G. Mey), o

    t u c um ã - do - p ar á (    Astrocaryum vulgare   M a r t . ) o u x i (  Endopleura uchi   ( H ub e r) C ua t re c as a s) e p e lo

    m en os q ua t ro e sp éc ie s d e b ac ab a ( Oenocarpus s p. ).

    Referências

    B R AS I L. M i ni s té r io d a S a ú de . D is p on ív e l e m : Acesso em: 05 setembro

    2012.

    BUENO, G. BACCARIN, J.G. Participação das principais frutas brasileiras no comércio internacional

    1 99 7 a 2 00 8. R e vi s ta B r as i le i ra d e F r ut i cu lt ur a, J ab ot i ca ba l , v . 3 4 , n . 2, p . 42 4- 4 34 , 2 0 12 .

    CARVALHO, J.E.U. de. O Pomar do Silvestre. In: SILVA, S. Frutas da Amazônia Brasileira. S ã o

    P a ul o: M e ta l iv ro s, 2 01 1 . p . 9 - 1 1.

    CÂMARA, M>A. Discurso sobre a utilidade da instituição de jardins nas principaes províncias

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    10/12

    d o B r as i l. R io d e J an ei ro : I mp re ss ão R ég ia , 1 81 0. 5 2p .

    C A R V A L H O , J . E . U . d e N A S C I M E N T O , W . M . O . d o ; M Ü L L E R , C . H . Abieiro. Jaboticabal Funep,

    3 3 p. 2 01 0 .

    CLEMENT, C.R.; KALIL FILHO, A.N.; MODOLO, V.A.; YUYAMA, K.; PICANÇOR O D R I G U E S , D . ; V A N L E E U W E N , J . ; F A R I A S N E T O , J . T . ; C R I S T O A R A Ú J O , M . ; C H Á V E Z

    F LO RE S, W .B . D om es ti ca çã o e m el ho ra me nt o d e p up un ha . I n: B OR ÉM , A .; L OP ES , M .T .G .;

    CLEMENT, C.R. (Eds.). Domesticação e melhoramento: espécies amazônicas . V i ç o s a : E d i t o r a d a

    U ni v. F e d. V iç o sa , 2 00 9 . p .3 6 7- 3 98 .

    CLEMENT, C.R.; SANTOS, L.A. Pupunha no mercado de Manaus: Preferências de consumidores e

    suas implicações. R e vi s t a B r as i l ei r a d e F r ut i c ul t u ra, J a bo ti ca ba l , v . 24 , n . 3, p . 77 8- 7 79 , 2 0 02 .

    C LE ME NT , C .R .; W EB ER , J .C .; v an L EE UW EN , J .; A ST OR GA -D OM IA N, C .; C OL E, D .M .;

    A RÉ VA LO L OP EZ , L .A .; A RG ÜE LL O, H . Why e xt en si ve r es ea rc h a nd d ev el op me nt d id n ot

     promote use of peach palm fruit in Latin America. Agroforestry Systems, Dordrect, v.61, p.195-206,

    2004.

    C L E M E N T , R . C . 1 4 9 2 a n d t h e l o s s o f A m a z o n i a n c r o p g e n e t i c r e s o u r c e s . I . T h e r e d l a t i o n b e t w e e n

    d o me s t ic a t io n a n d h um a n p o pu l a ti o n d e cl i ne . E c on o mi c B o t an y, v . 5 3, n .2 , p .1 88 -2 02 , 1 99 9.

    C ON TI NI , E . G AS QU ES , J .G .; B AS TO S, E .T . T en dê nc ia s m und ia is n o c on su mo d e a li me nt os .

    D i sp on ív el e m : < h t tp : / /w w w .s o b er . o rg . br / p a le s t r a/ 5 / 92 6 .p d f > A c e ss o e m : 1 0 a g o . 20 1 2 .

    D AN IE L, J . T es ou ro d e sc ob e rt o n o m áx im o r i o A ma zo na s. Rio de Janeiro: Contraponto, v.1, 2004.

    597p.

    D U C K E , A . Plantas de cultura precolombiana na amazônia Brasileira. Notas sobre as espécies

    o u f or ma s e s po nt â ne a s q ue s u po s ta me nt e l h es t e ri am o r ig in ad o. B el ém : B ol et im d o I ns ti tu to

    A gr on ôm ic o d o No r t e. 1 94 6. 2 4 p .

    F AO. F AO ST AT . D is poní ve l e m: h tt p: // ww w. fa o. or g/ wa ic en t/ po rt al /s ta ti st ic s A ce ss o e m: 0 5

    s e t em b ro 2 0 12 .

    GIACOMETTI, D.C. Recursos genéticos de fruteiras nativas do Brasil. In: SIMPÓSIO NACIONAL

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    11/12

    D E R E CU R SO S G E NÉ T I CO S D E F R UT E IR A S N A T I VA S . 1 9 9 2, C r u z d a s A lm a s, Anais...Cruz

    d as A lm as E mb ra pa -C NP MF , 1 9 93 . p . 13 - 27 .

    H E ND E RS O N, A . T he p al ms o f t he A ma zo n. O xf or d , U ni ve rs it y P r es s , N ew Y o rk , 3 62 p. 1 9 95 .

    H OM MA , A .K .O . M EN EZ ES , A .J .E .A . d e. M an ej an do a l an ta e o ho me m o s b ac ur iz ei ro ss n o

    n or de st e par aens e. I n: LIMA, M . da C ., o rg . Bacuri: agrobiodiversidade. S ão L ui s: I ns ti tu to

    I nt e ra me r ic a no d e C o op e ra ç ã o p a ra a A gr i cu lt ur a , 2 0 07 . p . 1 7 1- 2 10 .

    IBGE. Dados de produção de safra. Disponível   em:

    Acesso em 06setembro 2012.

    L É RY , J . d e . H i s tó r i a d e u ma v ia g em f e it a à t e r r a d o B r a s il , t am bé m c ha m ad a A mé r ic a . Ri o d e J a ne i r o

    F un da ç ão D ar c y R ib ei ro , v .3 , 2 00 9 , 2 90 p .

    L IM A, R .R .; C OS TA , J .P .C . d a. C ol e ta d e p la nt a s d e c u lt ur a p r é- c ol om bi an a n a A ma zô ni a

    B ra si le ir a. I . M et od ol og ia e e xp ed iç õe s r ea li za da s p ar a a c ol et a d e g er mo pl as ma. B el ém :

    E mb ra pa – C PA TU , 1 99 7. 1 48 p . ( Em br a pa - CP AT U. D oc u me n to s, 9 9 ).

    LUSTOSA, A. de A. N o e st uá ri o a ma zô ni co : à m ar ge m d a v is it a p as to ra l. B el ém : C on se lh o

    E st ad ua l d e C ul tu ra . 1 97 6. 4 98 p.

    M OT A, O . D o r an ch o a o p al ác io. Sã o P a ul o C om pa n hi a E d i to r a N a c io na l . 1 9 1 .1 9 4 1.

    P AN D UR O, M .P . V Á SQ UE Z, C .D .; P ER AM AS , R . F. T OR RE S, D .C . C OR RE A, S .I . ; V AL LE JO ,

    J . V. ; M AL AV ER RI , L .F .; C RU Z, C .O .; R OD RÍ GU EZ , R .B .; L OZ AN O, R .B .; V IZ CA RR A, R .V .C am u -c a mu ( M yr c ia r ia d ub ia – M yr t ac e ae ) : a po rt e s p ar a s u a pr ov ec h am i en t o s os t en ib l e e m L a

    A ma z ôn ia p er u an a. L im a : I ns t it u to d e I nv es t ig ac i on es d e L a A ma z on ia P er ua na . 1 35 p. 2 01 0.

    P E CK O LT , T . H is tó ri a d as p la nt as a li me nt ar es e d e g oz o d o B ra zi l. R io d e J an ei ro : L ae mm er t, v .4 .

    1 8 82 . 2 00 p .

    P OH L, J . E. V ia ge m n o i nt er io r d o B ra si l. B e lo H or i zo nt e : I t at i ai a . 4 17 p . , 1 9 76

  • 8/20/2019 Frutas Da Amazônia Na Era Das Novas Culturas

    12/12

    ROCHA, E. Potencial ecológico para o manejo de frutos de açaizeiro (   Euterpe precatória   M a r t . ) e m

    á r ea s e x tr a ti vi s ta s n o A c re , B ra si l. A c t a A m az ô ni c a, M an au s, v .3 4 , n .2 , p .2 3 7- 2 50 . 2 0 04 .

    SOUZA, G.S. Tratado descritivo do Brasil em 1587 . Itatiaia: Belo Horizonte/Rio de Janeiro, 2001.302p.

    V IL LA CH IC A, H . C AR VA LH O, J . E. U . d e M UL LE R, C .H . ; D IA Z, S . C. ; A LM AN ZA , M . F ru ta le s y

    h o rt a li z as p r om i ss ó ri o s d e L a A m az ô ni a. L im a: T r a ta d o d e C oo pe r ac i on A ma zô ni ca . S e cr e ta r ia

    P r o- t e mp o re , 1 99 6 . 3 67 p . ( T CA - SP T, 0 0 4) .

    Y UY AM A, K . Y UY AM A, L .K .O .; A GU I AR , J .P .L . C ol he i ta , b en ef i ci a me nt o, t r an sp or t e e

    c om er ci al iz aç ão . I n: Y UY AM A, K . & V AL EN TE , J .P ., o rg . Camu-camu. C ur it ib a: C RV , 2 01 1.

     p.119-123.