(françoise heritier) entrevista

Upload: andrea-ciacchi

Post on 03-Jun-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    1/25

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    2/25

    %rinc:%io transcendenta# >%ara fa#ar com os #3sofos? ou de uma formade funcionamento do cre/ro humano >%ara fa#ar com os neuro#ogistas?,mas sim do fato de que os homens o/ser*am as diferenas sens:*eis sio#3gicas e morfo#3gicas e, deste modo, constroem o seu

    %ensamento. @e certa forma, Franoise Hritier #e*ou -s A#timas

    conseqBncias o argumento #*istraussiano da #3gica das qua#idadessens:*eis, mas que de%ende sem%re de uma es%cie de qua#idadeirredut:*e# e a/so#utamente dur!*e#C a diferena, reconhecida em toda%arte, entre o mascu#ino e o feminino. @e%ois de teorizar so/re essadiferena fundamenta#, %or meio de di*ersos ensaios reunidos no #i*roasculin!"minin# la pense de la di$ren%ce >1;;2?, a autora a*enturou+se so/re outro tema #*istraussiano, o incesto."omo em )*i+'trauss, a %roi/i o do incesto que instaura o socia#, aoim%or a necessidade da troca. as, se )*i+'trauss sa#ientou o #adointe#ectua# dessa %roi/i o, Hritier foca#izou seu car!ter su/stancia#, ouseja, o fato de que, em todas as sociedades humanas, o incesto a#*o

    de re%ugnDncia conce/ido como contato entre su/stDncias idnticas.E nesse sentido que se descortinou, em Les deux soeurs et leur m re#ant'ropologie de linceste >1;; ?, o que a autora denominou de incestode segundo ti%o, qua# seja, certas interdi es que n o dizem res%eitoa%enas -s mu#heres %r30imas, como m es e irm s >reais ouc#assi cat3rias?, mas que se estendem, %or e0em%#o, - m e e -s irm sda es%osa de &go. 'u/jaz a essa interdi o, que n o uni*ersa# %ormtendencia#, a idia de que se casar com duas es%osas consangB:neas%ode signi car a mistura %erigosa de su/stDncias idnticas. araHritier, que recusa o re#ati*ismo, %roduzir uma antro%o#ogia dos%rocessos cor%orais signi ca e0trair das di*ersas teorias nati*as

    %rinc:%ios geraisG dentre e#es, a idia de que o incesto sem%re umarecusa da identidade, e que a identidade %assa necessariamente %orre#a es su/stanciais. 'e h! mA#ti%#as teorias so/re o cor%o e, mais%recisamente, so/re o cor%o se0uado , %reciso /uscar nessamu#ti%#icidade constantes que ad*m da o/ser*a o de dados /io#3gicosde /ase. 4esse sentido, Hritier n o te*e o menor %ro/#ema em sedec#arar uni*ersa#istaC n o %oss:*e# transformar a /ase que nosantecede. 4 o h! mA#ti%#os se0os, mas a%enas dois, e isto faz adiferena. 9ra, essa ace% o co#oca o 9cidente moderno em re#a oassimtrica com as demais sociedades do mundo, que a autoradenomina como tradicionais. & isso %orque o 9cidente *i*e, cada *ez

    mais, transforma es nas re#a es entre os se0os, dentre as quais ain*en o dos modernos mtodos contrace%ti*os %arece ter sido a maiscrucia#. &m asculin!"minin( a autora sugeriu que a *a#nciadiferencia# dos se0os conduz, na maioria dos casos, - domina omascu#ina. &m toda %arte, os homens %rocuram se a%ro%riar defacu#dades necessariamente femininas, como a gesta o e, o que ainda mais im%ortante, a %ossi/i#idade de %roduzir tanto o idntico >umamenina? quanto o diferente >um menino?. @esse fato, %or assim dizer

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    3/25

    /io#3gico, decorre uma domina o a um s3 tem%o te3rica e concreta>ainda que sai/amos que cada sociedade rea#iza esta domina o dasformas mais di*ersas?. 9ra, se a diferena entre os se0os est! na /ase, %oss:*e#, %e#o menos, contornar a hierarquia e resta/e#ecer um %atamarde igua#dade entre homens e mu#heres. @esse modo, Hritier

    a%resentou no*as %ossi/i#idades de rom%er com a domina o mascu#inaem asculin!"minin )# dissoudre la 'irarc'ie , #i*ro %u/#icado em 2==2,que deu continuidade ao %rimeiro *o#ume.&m #inhas gerais, e#a %assou do ine0or!*e# da *a#ncia diferencia# dosse0os %ara o contorn!*e# da domina o mascu#ina e %roc#amou, assim, a%ossi/i#idade de disso#*er, em a#gum %#ano, a hierarquia. 9s modernos,%or esse %risma, estariam no o#ho de uma no*a re*o#u o co%ernicana,dada %e#a %ossi/i#idade, en m, de as mu#heres e0ercerem contro#e so/reas suas ca%acidades re%roduti*as e, assim, rom%erem a sujei ocometida %e#os homens.(o co#ocar quest es t o %rofundas como estas, a o/ra de Franoise

    Hritier re*e#a+se de uma grande ousadia. 4um tem%o deconstruti*ismos, e#a, que jamais se distancia da sua forma o comoafricanista e n o hesita em discutir assuntos atuais que concernem -sociedade moderna, %rocura encontrar %ara e#es sa:das te3ricas e ticas.9 que se %ode %erguntar, no entanto, se esse seu uni*ersa#ismo, %orassim dizer su/stancia#, %oder! su%ortar todos os desconcertos trazidos%e#a etno#ogia recente, que n o cessa de co#ocar de %onta+ca/eano es como %oder, %ro%riedade e direito, t o caras ao %ensamentomoderno, e que se *em fortemente %resentes na sua o/ra. @e todomodo, Hritier n o faz mais que %ro#ongar essa #uta intermin!*e# naantro%o#ogia entre o desejo de uma teoria gera# do homem e os

    %ro/#emas %articu#ares so/re os quais cada %ensamento moderno,africano, amer:ndio etc. se de/rua com e0aust o. a# a sua maiorherana.

    I I I

    *m primeiro lugar( gostar+amos de ,ue a sen'ora "alasse de suatra-et.riaintelectual/ A sen'ora -0 tin'a interesse pelos estudos de parentescodesdeo in+cio de sua carreira1

    &u comecei meus tra/a#hos de cam%o em 1;JK, mas j! ha*ia feitoestudos de hist3ria e geogra a. &u me %re%ara*a %ara outra forma o,mas j! ha*ia desco/erto um %ouco a etno#ogia eu digo rea#mentedesco/erto %orque antes disso eu ignora*a mesmo que ha*ia umacinciaque se chama*a etno#ogia, %ois n o ha*ia ensino nesta !rea. &utinha co#egas que se %re%ara*am %ara ensinar #oso a e, como tinhamde o/ter um certi cado de cincias, e#es o%ta*am %e#a etno#ogia. es

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    4/25

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    5/25

    ha*eria uma emigra o dos jo*ens osi, que ha/ita*am na regi odemogra camente%o%u#osa, %ara a regi o menos %o%u#osa e se e#es tra/a+#hariam nos cu#ti*os de arroz. as esse %rojeto n o foi rea#izado. &ntreessas duas regi es, eu atra*essei uma regi o muito %articu#ar de mata

    fechada que, de tem%os em tem%os, a%resenta imensas c#areirasde qui#Nmetros de diDmetro que tm a%enas uma es%cie de !r*orechamada"aid'er4ia al4ida( que cresce em regi es de cria o de ca/ras. atem a caracter:stica de %erder as fo#has na %oca das chu*as e deganh!#asna %oca da seca, fornecendo a#imento %ara os animais. 4essa regi o,ha*ia um interessante sistema econNmico de co#a/ora o entre%o%u#a es sedent!rias e os eu#s, que s o nNmades. &stes *inham comseus animais, que comiam a "aid'er4ia al4ida na %oca da seca, e%re%ara*am

    a terra %ara o cu#ti*o. & eram grandes a#deias, muito diferentesdas dos osi, que eram fechadas so/re si mesmas, com uma di*is o emduas metades. &u sem%re %ara*a nessas a#deias %ara con*ersar com as%essoas e me dei conta de que era o #ugar onde eu gostaria de rea#izar%esquisas de cam%o...* essas popula35es "alavam a l+ngua "rancesa14 o, n3s %recis!*amos de um intr%rete. 9s intr%retes foramindis%ens!*eismesmo de%ois que eu j! fa#a*a /em a #:ngua #oca#. euintr%rete, que foi sem%re a mesma %essoa, era um griot , que %ertenciaa

    uma casta %articu#ar e conhecia a mem3ria #oca#. e sa/ia asgenea#ogias,conhecia todo mundo e circu#a*a entre todas as a#deias durante asfestas.&ra uma maneira mais f!ci# de me a%ro0imar dessas %essoas que euainda n o conhecia. 9 outro moti*o de ter um intr%rete tem umafun outi#it!riaC mesmo quando n3s com%reendemos a #:ngua e fa#amos,e#a sem%re dA/ia. orque, quando fazemos anota es, temos umtem%o%ara escre*er mas, quando o intr%rete que traduz o que *oc diz, a

    %essoa que ou*e rece/e a tradu o de uma certa maneira. 'e e#a n oentender, *ai fazer uma %ergunta na sua #:ngua ao intr%rete, que *ai#heres%onder. & e#es * o de/ater o que e#es entendem so/re a quest o.as,como eu entendo o que e#es dizem, o mais im%ortante acom%anhar ode/ate entre e#es e isto %ermite uma maior %rofundidade so/re oassunto.

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    6/25

    orque se eu mesma ti*esse feito a %ergunta, e#es n o %erguntariamo que eu queria dizer e e#es tentariam me res%onder diretamente num%rimeiro sentido, uma %rimeira inter%reta o. &nt o, eu sem%re ti*e umintr%rete %or trs raz esC em %rimeiro #ugar, %orque %ossi/i#ita*a umaintrodu o e uma re#a o tern!ria e n o a%enas dua#G em segundo, %e#o

    tem%o de #atncia que me %ermitia %ensar, escre*er e anotarG e, emterceiro,%e#o su%#emento de informa es que eu o/tinha graas -s con*ersasentre o intr%rete e o inter#ocutor. & eu *o#to ao que eu fa#ei no in:cioCos 'amo se encontra*am nessas a#deias que eu tinha *ontade de*o#tar e, nas miss es seguintes, quando eu entrei no "4O' >"entre4ationa#e de Oecherche 'cienti que?, eu retornei aos 'amo %orque euacha*a que, %or tr!s desse sistema econNmico %articu#armente sedutor,ha*ia informa es que ainda eram %ouco conhecidas. &u n o *ou entrarem todos os deta#hes mas eu me interessei es%ecia#mente %e#o%arentesco.

    orque todos que ha*iam me %recedido inc#uindo arce#Priau#e nos anos 1;Q= n o tinham se interessado *erdadeiramenteso/re as quest es de %arentesco, #imitando+se a reco#her um *oca/u#!rioe0tremamente /re*e, que n o %odia dizer grande coisa.2uando( ent8o( a sen'ora come3ou a pes,uisa entre os Samo1@e*e ter sido %or *o#ta de 1;R2+1;RQ. as antes eu tra/a#hei noSnstituto 4aciona# de &studos @emogr! cos %ara e0%#orar o materia#que eu ha*ia reco#hido. & fui se#ecionada %ara um cargo no "4O' a%artir dos tra/a#hos %u/#icados so/re os ana e os osi dessa %rimeiramiss o. &nt o, eu tinha o %ro%3sito de fazer um #e*antamento maisa%rofundado das termino#ogias de %arentesco. 4 o e0istia nada so/re

    os 'amo. 9s ana n o eram conhecidos. 9s osi eram conhecidos, masn o ha*ia nada so/re o seu sistema de %arentesco. Ha*ia te0tos so/reososi, escritos %e#os administradores do go*erno co#onia# e %e#os

    mission!rios,mas nada de cient: co. &u sa/ia que n o ha*ia informa es e seignora*a a natureza dos sistemas de %arentesco africanos. &nt o, eu medei conta da di cu#dade que ha*ia de reco#her termino#ogias de%arentescocom%#etas e #ongas. E e0tremamente dif:ci# ha*er uma re%resenta omenta# n:tida e %recisa do que uma situa o de %arentesco quando

    e#a descrita ao #ongo de uma cadeia. 'e eu digoC Tua# o termo de%arentesco que *oc usa %ara descre*er a #ha do irm o da m e do seu%aiU. E e0tremamente sim%#es. E uma %rima de se0to grau no sistemaromano. as mais dif:ci# re%resentar o %arentesco do outro do que ode si mesmo. &u %erguntei so/re essa menina e eu tinha de traduzir nosentido de#es. &m *ez de dizer a #ha da #ha, eu dizia *oc, seu %ai,sua m e, seu irm o, sua #ha. esmo assim n o era nada sim%#es. H! omodo tradiciona# de %rocederC mostrar a genea#ogia aos informantes e

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    7/25

    %erguntar como e#es chamam os indi*:duos que ocu%am as diferentes%osi es. as, nesse mtodo, %ode ha*er dois o/st!cu#os. rimeiro, ode n o ha*er indi*:duo em carne e osso %ara ocu%ar essa %osi o e, emseguida, n o ha*er ocasi o %ara nome!+#o. 9 segundo o/st!cu#o, maiscom%#icado e que %ode destruir toda a %esquisa, que, quando *oc

    tem %osi es nesse n:*e#, muito %ro*!*e# que o indi*:duo #igado a &go %or e0em%#o, a %rima %ode ser #igado a e#e tam/m %or outrocaminho.9u seja, e#a a #ha da #ha do irm o da m e do seu %ai, mas %odeser tam/m a #ha do #ho da irm da m e da sua m e. ' o os mesmosindi*:duos, mas h! duas cadeias que os unem. & ta#*ez mais de duas.9ra, quando h! um %arente que #igado a &go de diferentes maneiras,esco#he+se a nomenc#atura mais %r30ima. 'u%onhamos que essa %essoade*a ser chamada minha irm ou minha so/rinha e que, entre essasduas o% es, minha irm seja a mais %r30ima. (ssim, *oc diria estamenina eu a chamo Vminha irm W, e n3s %odemos acreditar que o termo

    irm seja uma fun o desta ou de outra cadeia. Ssto somente %aramostrar que uma mesma %essoa %ode estar re#acionada a mA#ti%#asredes,a nomenc#atura n o corres%onde a a%enas uma rede e que n o necessariamente aque#a que o %esquisador est! tentando reconstituir.(ssim, foi %reciso in*entar um sistema de co#eta de termino#ogias e usara inte#igncia. eu sistema era sim%#esC /aseado em %equenas %edrasque re%resenta*am os homens, o se0o mascu#ino, e %equenas conchas,que ser*iam como moeda #oca#, que re%resenta*am o se0o feminino. &%a#itos de f3sforo %ara re%resentar as re#a es. &nt o, eu constru:a osesquemas dizendoC (qui *oc, seu %ai, sua m e, seu irm o.... & e#es

    me #iamC &u chamo meu %ai assim, a m e do meu %ai assim, o irm oda minha m e assim.... & eu a%rendi que um indi*:duo, %ara sa/ercomo e#e de*e chamar a#gum, n o %arte de si mesmo, mas de seu %aiou de sua m e, que s o os %rimeiros da sua rede, e e#e estuda asnomenc#aturasque seu %ai e sua m e %ronunciam. 9u seja, h! uma dedu o.Ssto muito im%ortante %ara com%reender como as crianas a%rendema se encontrar dentro de um sistema de %arentesco. as a%rendemcomoseus %ais chamam esses indi*:duos e, em seguida, tiram suas dedu es.' o sistemas de deri*a o que s o incu#cados -s crianas. as,

    so/retudo,eu desco/ri um estranho sistema de %arentesco e eu acha*a que esta*aerrada. &u refazia o sistema /aseada em *!rios informantes, homens emu#heres, e encontra*a as mesmas constantes. Ssso signi ca*a que aco#etaesta*a /oa mas eu n o sa/ia o que tinha diante de mim. Foiretornando do meu segundo cam%o, o %rimeiro entre os 'amo, aocon*ersar

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    8/25

    com )*i+'trauss e #er a #iteratura que e#e me indicou, que eu %erce/iter um sistema de %arentesco de ti%o omaha. & naque#a %oca ignora*a+se que ha*ia esses sistemas de %arentesco na 8frica. &sses eramsomente encontrados na (mrica do 4orte.O&MS' ( @&( 4 O9 9)9PS( , ' X9 (L)9 , L' , 2== , M. K 4 Y 1.+ 2 J +9omo a sen'ora procedeu nesse estudo de um sistema ,ue seria maistardedesignado como :semicomplexo;1eu %rimeiro %onto foi reco#her atenti*amente esse sistema. 9

    interessante que as %essoas constru:am e#as mesmas seus esquemas. & eu%odia *eri c!+#os no meu cat!#ogo. as a ordem #3gica que usei %araconstruir minhas %esquisas n o era necessariamente a mesma que ade#as.Tuando eu desco/ri que era um sistema do ti%o omaha, eu j! tinha

    tra/a#hado so/re uma c#e/re conferncia de )*i+'trauss intitu#ada he future of 7inshi% studies, na qua# e#e e0%#ica*a o tra/a#ho queha*ia rea#izado so/re as estruturas e#ementares de a#iana, asdi cu#dadesque encontrou em re#a o -s estruturas com%#e0as e os diferentesmtodos %ara com%reender como e#as funciona*am. e *ia um mtodo/aseado em c!#cu#os matem!ticos ou simu#a es. e mostra*a que,entre os sistemas e#ementares e com%#e0os, ha*ia os sistemas croZ eomaha e que seria uma /oa o% o comear %or com%reender como e#esfunciona*am. & como eu ha*ia encontrado uma estrutura que chameide semicom%#e0a, /usquei encontrar essa res%osta. as eu n o uti#izei

    os mtodos matem!ticos, e sim a *erdade etnogr! ca, quer dizer,tra/a#handoso/re os casamentos rea#izados em um grande nAmero de gera es.Oea#izei, ent o, uma %esquisa genea#3gica em trs a#deias quere%resenta*amum conjunto, onde as %essoas casa*am entre si. &, de%oisdisso, e#a/orei um #ongo tra/a#ho de an!#ise desses dados que duroumaisde 2= anos. Foi %reciso in*entar um mtodo e#etrNnico com a ajuda deum engenheiro em inform!tica. Ssso resu#tou no #i*ro L*xercice de la

    parent >1;

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    9/25

    juges em #ugares geogra camente distantes, ha*ia um ti%o deendogamia#oca#, com a condi o de se es%erar um nAmero de gera es queim%#ica*aminterdi es a/so#utasC *oc n o %odia se casar com a #inhagem da

    sua m e, nem da sua #inhagem, no caso de uma sociedade %atri#inear,nem com a #inhagem das suas duas a*3s. Ssso re%resenta j! quatro#inhagens%roi/idas. (#m disso, *oc n o %ode se casar com as #inhagens dassuas es%osas %recedentes nem dentro de uma #inhagem onde a#gumque *oc chama de meu irm o ou meu %ai j! rece/eu uma es%osa. E%or essa raz o que n3s %ens!*amos que ha*ia uma grande dis%ers o.Mocn o %ode se casar dentro da #inhagem da m e de sua m e, mas isso setorna %oss:*e# quando *oc so/e uma gera o. &u mostro que essescasamentos

    s o os %ri*i#egiados eu os chamo de fechamentos consangB:neos>4ouclages consanguins ? e que tam/m h! casamentos regu#aresentre as #inhas de uma mesma #inhagem. &u sim%#esmente %us eme*idncia um %ro/#ema de simetria que %ossui duas naturezas. (simetria%ara#e#a uma simetria entre indi*:duos do mesmo se0o, e a simetriacruzada entre indi*:duos de se0o diferente. (ssim, eu mostrei queesses sistemas fa*oreciam uma endogamia de a#deia, e n o umadis%ers ode a#ianas, com a condi o de mudar de #inha a cada gera o. (strocas de irm s %odem ser feitas, mas com a condi o de mudar de

    #inhaa cada gera o no interior de uma mesma #inhagem.)W&0ercice de #a %arent"oi sua tese de doutorado1'im, mas eu n o a defendi %orque, nesse meio tem%o, eu fui e#eita%ara o "o##$ge de France, e seria um %ouco rid:cu#o defender a tese j!estando #!. as minha tese com%reender o desen*o#*imento e asmoda#idadesdo funcionamento dos sistemas semicom%#e0os foi umadesco/erta. Oe%resentou um enorme tra/a#ho que de%ois me #e*ou ame interessar %or outras quest es. &u desco/ri que a teoria de Oadc#i^e+6roZn so/re a unidade de %arentesco, /aseada no sistema

    termino#3gico,n o da*a conta de todas as situa es %oss:*eis. Prosso modo, a teoriadeOadc#i^e+6roZn dizia o seguinteC que um &go o#ha*a %ara toda a#inhagemda m e como m es mascu#inas ou m es %ro%riamente ditas. as sen3s mudarmos de %ers%ecti*a, se %assarmos %ara o interior dessa#inhagem,

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    10/25

    %erce/emos que h! um ti%o de termo %ara os #hos da irm do %aique a%#icado tam/m aos #hos da irm do %ai do %ai, da irm do %aido %ai do %ai etc. (ssim, todas as mu#heres, ou me#hor, todas as irm sdos homens da #inhagem, em re#a o a um &go mascu#ino, s oconsideradas

    como se fossem irm s do &go. @o %onto de *ista de &go, os #hosdessas mu#heres s o considerados so/rinhos. ' o #hos de irm s.&nt o,ha*ia uma estrutura de nomenc#aturas que o%era*a uma es%cie dere/ai0amento de todas essas mu#heres. &u chamei isso de *a#nciadiferencia#dos se0os, que tam/m encontramos em outros ti%os de sistema.or e0em%#o, nos sistemas croZ, que s o matri#ineares, nos quaisn3s %oder:amos encontrar o in*erso, esse ti%o de nomenc#atura %!raquando a %rogenitura rea# introduz seus direitos. 9u seja, uma mu#hern o %ode chamar de meu %equeno irm o e meu so/rinho um

    homemmais *e#ho que e#aG enquanto que, no sistema omaha, um homem%ode chamar uma mu#her de minha irm e minha %equena irm ,mesmo se e#a for muito mais *e#ha que e#e. 'e o sistema croZ fosse atom, isto im%#icaria que as mu#heres %oderiam, %ara dizer de uma

    maneiragrosseira, ser su%eriores aos homens. as se os sistemas croZ s omatri#ineares, isto n o quer dizer que as mu#heres s o consideradassu%erioresaos homens.

    No caso oma'a( :superioridade; signi7ca sempre domina38o1 *( tendoem vista a assimetria em rela38o ao caso cro

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    11/25

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    12/25

    complexos e semicomplexos ou pode ser usada tam4m para ossistemaselementares1 =0 casos( na Amaz>nia ind+gena( por exemplo( nos ,uais 4astante comum um 'omem casar%se com duas irm8s/9 incesto de segundo ti%o n o es%ec: co a%enas aos sistemas

    com%#e0ose semicom%#e0os, mas e#e n o uni*ersa#. "ertamente essa quest ome0eu com a humanidade, que res%onde seja com a negati*a sejacom a %ositi*a, mas mais freqBentemente com a negati*a. ( quest o desa/er o que se %assa quando tocamos na idia do idntico %ode serres%ondidade duas maneirasC %roduzem+se cat!strofes ou /oas coisas.+ 2J= +O. ' [ L (4 \ '. 4 ('"S &4 9 . ( 4 O9 9)9PS( @& "9O 9' & '&]9' ...4a *erdade, essa a cha*e da res%osta, %odemos res%onder mau ou /om. 4a maioria das *ezes que dizemos mau, *ai ser tota#mente

    %roi/ido. 9 meu %ostu#ado que o incesto de %rimeiro ti%o, aque#eque se d! entre consangB:neos, somente uma %arte da *is o maisam%#aso/re a teoria do incesto, que /aseada na idia da identidade. esmoem sociedades que %ro:/em o casamento com duas irm s, h! situa esinteressantes. &ntre os osi do 6ur7ina Fasso, um homem n o%ode se casar com duas irm s, sa#*o se e#as forem gmeas, %orque, seforem gmeas, e#as ser o a mesma %essoa em dois cor%os. 4essemomento,e#e at mesmo o/rigado a se casar com as duas. (ssim, h! *aria esque de%endem de conce% es #ocais em re#a o - idendidade e ao

    ma# causado %e#o contato entre cor%os idnticos.?sso signi7ca ,ue a identidade ( antes de tudo( a partil'a de umamesmasu4st@ncia1'im. a %ermite com%reender um certo nAmero de %roi/i es queo %ensamento crist o sem%re tentou e0%#icar dizendo que o casamentofaz dos indi*:duos a mesma carne. &ra a Anica maneira de dizer que umhomem n o %odia se casar com a irm da sua es%osa e que uma mu#hern o %odia se casar com o marido da irm . &ssa a teoria crist . _! ateoria do incesto de segundo ti%o su% e que os indi*:duos sejamsu/stancia#mente

    os mesmos. 9 incesto de segundo ti%o se d! sem%re entredois consagB:neos. 9u seja, se um homem dormir, %or e0em%#o, com airm da sua es%osa, e#e *ai trazer %ara a es%osa a#guma su/stDncia da%rimeira. Fa#amos de a#go e0tremamente f:sico, que %erdura nasu/stDnciados indi*:duos, que %assa uns aos outros %or meio de um mesmomediador. &ssa idia continua a e0istir nas sociedades modernassomente

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    13/25

    %ara os animais. 43s sem%re ou*imos fa#ar que, se uma cade#a de raacruzar com um c o /astardo, certamente e#a ter! #hotes /astardos %orcausa da idia de im%regna o. &ssa uma reminiscncia da idia desu/stDncia e da %assagem de um cor%o a outro. Sdia que n3sencontramos

    tam/m no nazismo, no qua# se dizia que, se uma ariana ti*essere#a es com um judeu, e#a teria crianas judias. (ssim, eu tenteie*idenciarque o incesto de segundo ti%o esta*a su/jacente e que o contatode duas su/stDncias idnticas %or meio de um terceiro n o era nuncaconsiderado como a#go im%ortante.

    A teoria do parentesco e da alian3a de Lvi%Strauss gan'ou diversasleituras/Louis Dumont( por exemplo( privilegiou a rela38o entre pessoas domesmo sexo( ,ue ele designou como rela35es de a7nidade/ 0 a sen'ora

    pre"eriu

    evidenciar a rela38o entre os sexos( dada em um primeiro momento narela38o de germanidade cruzada/ 9omo a sen'ora pensa a sua 7lia38oemrela38o ao pensamento de Lvi%Strauss1inha #ia o a )*i+'trauss e*idente. &u tentei %erseguir os caminhosque e#e comeou a tri#har e comecei onde e#e %arou. &u soufundamenta#mente estrutura#ista num sentido um %ouco diferente dode#e. 9 certo que sou uni*ersa#ista. &u n o sou re#ati*ista. &u %ensoque cada cu#tura traz uma res%osta %articu#ar a uma srie de quest es,mas %ensar cada uma de#as como incom%ar!*eis entre si nos im%ede de%ensar que h! uma cincia do homem. "ada f3rmu#a re%resenta uma

    faceta %articu#ar que nos %ermite co#ocar em e*idncia as regu#aridadese as #eis. or e0em%#o, n3s sa/emos que e0istem seis sistemas de#ia o.Ssso uma #ei. 43s %odemos mostrar que h! #eis que regem nossouni*ersosocia#. E mais f!ci# no mundo do %arentesco do que nos outros,mas um dia essas #eis estar o mais c#aras em outros dom:nios. &u souestrutura#ista de maneira #igeiramente diferente da de )*i+'trauss,%orqueeu introduzi o cor%o. 4 o quero dizer que )*i+'trauss negue area#idade,

    %e#o contr!rio, e#e muito %r30imo do concreto, mas e#e n oe*idenciou o cor%o nas suas teorias. Ssso acarretou *!rias cr:ticas, comoa da e0trema a/stra o, que tota#mente fa#sa. 9 que *erdadeiro que+ 2J2 +O. ' [ L (4 \ '. 4 ('"S &4 9 . ( 4 O9 9)9PS( @& "9O 9' & '&]9' ...e#e n o #e*ou em conta o dado /io#3gico. or e0em%#o, a *a#nciadiferencia#

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    14/25

    dos se0os nunca a%areceu na sua o/ra. e diz que a re#a o irm o+irm , a re#a o cruzada, tota#mente diferente da re#a o entre doisirm os e entre duas irm s, mas e#e n o *iu a *a#ncia diferencia# dosse0os, e eu acho que esta uma quest o geraciona# e cu#tura#. esim%#esmente

    n o *iu, como os homens de sua %oca, %ois era consideradonorma# que as mu#heres fossem de%endentes dos homens.Nesse sentido( a :val6ncia di"erencial dos sexos; seria( de certa "orma(logicamente anterior B proi4i38o do incesto1a o que %ermite com%reender a %roi/i o do incesto. &u *isua#izoas coisas da seguinte maneiraC como se *oc %egasse quatro fuzis quen o %odem se manter em % sozinhos, mas, quando *oc os a%3ia unsso/re os outros, e#es conseguem se manter em %. & e#es se mantmem% ainda me#hor quando *oc faz uma #iga o entre e#es. 'egundo )*i+'trauss, a %roi/i o do incesto, a e0ogamia, o casamento e a di*is o

    se0ua#do tra/a#ho s o os quatro %i#ares do socia#. as eu digo que e#es s3se mantm juntos %orque h! a *a#ncia diferencia# dos se0os. (ssim, n o%oderia ha*er %roi/i o do incesto se os homens n o ti*essem a idiaanterior de que e#es tinham o direito so/re suas #has e irm s, e n o ocontr!rio. orque, se n o hou*esse essa idia, %oder:amos encontrar umnAmero equi*a#ente no mundo de sociedades onde as mu#herestrocassemseus homens entre e#as ou sociedades em que os dois se0os trocassementre si. 9ra, encontramos em todas as sociedades uma Anica emesma regraC s o os homens que trocam, e n o o contr!rio. (ssim, meu

    estrutura#ismo #igeiramente diferente do de )*i+'trauss %or essasduasraz esC a re%resenta o do cor%o, com as su/stDncias cor%orais quee0%#icamo incesto de segundo ti%o, e a *a#ncia diferencia# dos se0os. &h! uma terceira raz o, mais gera# e a/strata, que diz res%eito - idiaque)*i+'trauss usou %ara justi car o /inarismo e #he ser*iu %ara a an!#isedos mitos, a idia de que o cre/ro humano funciona a %artir de umnAmero #imitado de cone0 es. 9ra, essas teorias eram certamente*!#idas

    h! Q= ou J= anos, mas e#as n o o s o mais %or conta do a*ano dasneurocincias. & n3s sa/emos que justamente essa ca%acidade defazercone0 es que nos fa#ta quando nascemos. Tuando nascemos, temosneurNnios, mas ainda fazemos muito %ouco sina%ses, que s o asre#a esentre os neurNnios. Lma %essoa que te*e um acidente cere/ra#, e

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    15/25

    te*e uma %arte das suas sina%ses destru:das, %ode rea%render a usarseusmem/ros, o que im%#ica a ati*a o de outras sina%ses, outros circuitosno cre/ro. Praas -s ressonDncias magnticas, sa/emos hoje que ascrianas rea#izam muito %ouco sina%ses e que e#as se desen*o#*em

    %rogressi*amentedurante o a%rendizado ao #ongo da *ida. (os 2= anos,temos mi#hares e mi#hares de sina%ses a#gumas * o desa%arecer %araserem su/stitu:das %or outras. E uma constru o que se faz durantetodaa infDncia e a ju*entude. &nt o, %ara mim, essas categorias /in!rias n o*m desse sistema de cone0 es %ree0istente. &sse sistema de cone0 escere/ra# constru:do a %artir das nossas e0%erincias. "omo n3sintroduzimosessas categorias /in!riasU 4 o %odemos esca%ar a essa categoriza odesde os nossos mais #ong:nquos ancestrais, seja o 4eanderta# seja

    o Sapiens sapiens . &u %enso que o /inarismo fun o, no es%:rito, datomada de conscincia das suas origens %e#os humanos. 9 que %r3%riono humano e *a#e tam/m %ara nossos ancestrais que, diantedo desconhecido, e#e faz uma re#a o com aqui#o que e#e j! conhece. H!o que eu chamo de #imites do %ensamento. 4as esta es de trem, nona# da %#ataforma, h! ci#indros met!#icos onde os trens se a%3iam. esse chamam 4utoirs `#imites, freios . &nt o, um #imite do %ensamentosigni ca que o %ensamento n o %ode sim%#esmente u#tra%assar %ara ooutro #ado. E um #imite que n o %odemos %assar e somos o/rigados anos acomodar. or e0em%#o, todas as es%cies animais tm a mesmaconstanteC h! mascu#inas e femininas, machos e fmeas. &nt o, isso

    um %ostu#ado que a /ase de uma grande o%osi o menta# entre coisasseme#hantes e coisas diferentes. &m re#a o a mim, todas as mu#heress o seme#hantes a mim e todos os homens s o diferentes. ara umhomem, todos os homens s o seme#hantes e as mu#heres diferentes.&nt o, a diferena entre os se0os a /ase %ara a o%osi o idntico ediferente.N8o estar+amos( a,ui( de volta ao plano da :l.gica das ,ualidadessens+veis; como apontada por Lvi%Strauss1'im, %erfeitamente. odas as outras categorias de%endem dessemode#o.

    "ada um dos termos s3 com%reens:*e# em fun o da e0istnciado outro. 4 o h! o a#to sem o /ai0o, o macho sem a fmea. odas ascategorias de%endem desse mode#o e as categorias /in!rias e0istem a%artir da diferena fundamenta# entre mascu#ino e feminino. H! tam/moutras diferenas fundamentais, como o dia e a noite. 9 %ro/#ema sa/er %or que h! uma hierarquia no interior dessas categorias. & essahierarquia %erce%t:*e# em todas as sociedades, n o h! e0ce o.

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    16/25

    2ual o estatuto da no38o de 4iol.gico empregada pela sen'ora1 *mascu#inbfminin C por exemplo( a sen'ora menciona a idia de :um dado4iol.gicode 4ase; mas ,ue n8o teria uma rela38o direta com a idia de

    natureza///9 /io#3gico um dado rea#, da o/ser*a o. &ntre as o/ser*a es, h!aque#as que s o morfo#3gicas e outras sio#3gicas. &u assumo tudo issocomo /io#3gico, como diferenas de forma. E o concreto, s oo/ser*a esde dados *is:*eis, e eu n o %osso dizer outra coisa. &u n o %ensoque h! uma de ni o do mascu#ino e do feminino %or natureza. Tuandoeu fa#o em uma o/ser*a o da /io#ogia, %or uma comodidade de#inguagem. E e*idente que e0iste uma assimetria funciona#. Tue asmu#heres conce/em as crianas sozinhas uma e*idncia, assim como%ara o mundo anima#. &sses dados esti*eram sem%re #! e e#es coman+

    dam nossos ti%os de rea es. 9 que mudou foram os modos deo/ser*a oa %artir da desco/erta das #entes, da 3%tica. & isso n o quer dizerque desco/rimos grande coisa. Foi somente no scu#o ]MSSS quecomeamosa entrar um %ouco na intimidade dos cor%os e desco/rir queha*ia gametas se0uais, 3*u#os e es%ermatoz3ides. @urante um #ongotem%o, %ens!*amos que todo o em/ri o era a ca/ea does%ermatoz3ideou era inteiramente um 3*u#o. Foi %reciso muito tem%o %ara que osmodos de a%reens o do rea# mudassem. 9 sim%#es fato de que esses

    modos de a%reens o mudaram nos %ermitiu com%reender que se %assaoutra coisa no dom:nio da %rocria o, e que n o se trata sim%#esmentede co#ocar a semente do homem num terreno frti#. Ssso n o signi caque as re%resenta es antigas desa%areceram. 43s demoramos mi#nios%ara construir os sistemas de re%resenta o e nos fa#tar! n o menostem%o%ara os desconstruir. 9 que eu quero dizer que ser! sem%re emfun o da o/ser*a o do rea#. "omo %odemos imaginar que teremosidias que n o sejam criadas em fun o de uma re#a o com area#idadeU

    anto a #oso a quanto a teo#ogia s o, certamente, a/stra es, mas

    %artemde quest es so/re a *ida e a morte, so/re a se0ua#idade. 4 o h!idias %uras. esmo em re#a o - matem!tica. (ssim, a o/ser*a o dorea# , necessariamente, a /ase do %ensamento. Lm anima# o/ser*a orea# mas e#e n o %ensa. 43s somos munidos %ara %ensar, mas n o%ensar:amosse fNssemos a%enas es%:ritos %uros. 4 o imagino um es%:rito%uro sem cor%o. 9 cor%o e o %ensamento s o duas coisas que andam

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    17/25

    juntas.Poder+amos dizer( assim( ,ue a sua teoria d0 um corpo ao esp+ritotranscendental

    presente em Lvi%Strauss///'im, se *ocs quiserem, eu #he dou um cor%o.

    No ,ue diz respeito B :val6ncia di"erencial dos sexos;( por ,ue elaconduz necessariamente B 'ierar,uia1E um grande mistrio, um #imite do %ensamento. ( humanidadese confrontou com mistrios que duraram muito tem%o, um de#es ofato de que as mu#heres tm um %ri*i#gio incom%reens:*e#,injusti cado,injusto, e0or/itanteC aque#e de fazer o diferente. Tue as mu#heresfaam #has, n3s aceitamos. as a quest o C como as mu#heres fazemodiferente de#as mesmas, como e#as %odem fazer #hosU E uma quest o,

    metaf:sica e %r!tica, e0tremamente sria. uitos mitos tentaramraciona#izaressa quest o /uscando entender %or que os homens n o tinhamessa ca%acidade de fazer o mesmo que e#as. (#guns mitos e0%#icam que,no in:cio, os homens faziam seus #hos e as mu#heres suas #has. antona (ustr!#ia quanto na 8frica encontramos esses mitos. es dizem quefoi %reciso uma a*entura, qua#quer que seja, que fez com que oshomensfossem des%ro*idos do direito de fazer seus #hos em %ro# dasmu#heres. 9utros mitos e0%#icam, notadamente na 8sia, que ainda h!,em a#gum #ugar do oceano, i#has onde cada se0o re%roduz seu

    seme#hante.9s mitos n o e0%#icam mas e#es dizem que e0istem i#has onde asmu#heres fazem suas #has sozinhas, ou que e#as s o feitas %e#o *entoou%e#o so%ro di*ino, mas, em todo caso, nunca s o feitas %e#o es%ermados homens. H! tam/m as teorias que e0%#ica*am como se faziam ascrianasC %e#o modo de fermenta o, cozimento, mas n o se sa/ia queha*ia um gameta mascu#ino e outro feminino. (ssim, a humanidade%recisou de uma res%osta que, de certa forma, fa*orecesse o gneromascu#ino.H! teorias hoje que dizemC n o s o as mu#heres que decidem.

    as tm, ao nascer, %equenos gr os que s o co#ocados #! %or @eus, %orgnios ou %or es%:ritos ou, mais freqBentemente, %e#os ancestrais. &ssesgr os descem, um a%3s o outro, %e#a *agina e s o regados %or umhomem.'e e#e n o regar esses gr os, a criana n o *em ao mundo. (ssim,h! %otencia#idades nas crianas que s o herdadas dos ancestrais ou de@eus %or meio de um instrumento, que o es%erma. ( mu#her comoum de%osit!rio, um rece%t!cu#o, mas e#a n o o motor. &ssa hist3ria

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    18/25

    dos gr os est! %resente em a#inoZs7i, nas i#has ro/riand. H! umdocument!rio so/re os [u#u, que %assou recentemente na te#e*is o, quemostra*a a *ida de uma fam:#ia %o#:gina, com es%osas de um mesmohomem, que *i*iam numa a#deia. 9 marido era o%er!rio e *inharegu#armente

    *isitar suas es%osas. 9 comentador conta*aC o %a%e# do homem de trazer dinheiro %ara a#imentar as crianas e regar os gr os.&sse coment!rio foi re%roduzido no Le onde , que dizia que era uma/e#a met!fora so/re o ato se0ua#.9 segundo %acote de teorias encontrado em nossa sociedade, queherdamos do mode#o grego e *emos es%a#hado %ara todo #ado, est!#igadoao mode#o aristot#ico, e tam/m o encontramos em outras sociedadesque n o conheceram este %ensamento, como os 4a*ajo. &ssas teoriasdizem que a semente do homem que % e crianas dos dois se0osdentro da mu#her. H! uma es%cie de com/ate entre am/os, um

    com/atenoturno, in*is:*e# e, de%endendo de quem ganhe, nasce uma meninaou menino. (rist3te#es, em A gera38o dos animais , a%resenta o femininocomo matria que %ro#ifera de maneira monstruosa e de*e serdominada %e#o pneuma , que o so%ro, o es%:rito, a forma, a idia, a*ida. & tudo isso est! no es%erma. 9 pneuma transmitido %e#o homem,que %ossui *!rias %otencia#idades. ( %rimeira genrica, a %otnciamascu#inaG a segunda %articu#ar, de um homem em %articu#arG e aterceira, que *aria segundo as circunstDncias, a %otncia em ato,comodiz (rist3te#es, de acordo com a idade, a doena, as esta es do ano

    etc.9 arranjo entre essas trs %otencia#idades, norma#mente, de*e fazernascerum menino, que se %area com seu %ai. 'e a %otncia genrica fa#ha,ser! uma menina, mas e#a se %arecer! com seu %ai. or sua *ez, se a%otnciaindi*idua# fa#ha, mas a genrica est! #!, ser! um menino, mas quese %arecer! com sua m e. ara (rist3te#es, a %rimeira monstruosidade o nascimento de meninas, %orque a matria feminina n o foi dominada.( segunda monstruosidade o nascimento de gmeos ou trigmeos,%ois o gnero humano de*e se re%roduzir um a um, e n o em

    nascimentosmA#ti%#os como os outros animais. ( terceira monstruosidades o as crianas que nascem com m!+forma o. ( A#tima monstruosidades o nascimentos de monstros, quando n o se reconhece mais a formahumana. & o fato de que nasam crianas sem ca/ea, ou que se%aream com r%teis, %or e0em%#o, a %ro*a, %ara (rist3te#es, de que amatria feminina anima# e que cria formas animais. &nt o, %recisocontro#!+#a %e#o es%erma mascu#ino %ara fazer homens, %ara fazer o ser

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    19/25

    humano. (ssim, (rist3te#es %ode e0%#icar o nascimento de meninos emeninas e suas seme#hanas com os %ais. &sse ti%o de teoria muitofreqBente. H! uma re5e0 o so/re a humanidade %ara tentarcom%reendero que e0iste desde as origens. &ssa re5e0 o constr3i um sistema

    conceitua# que res%onde - seguinte quest oC como as mu#heres fazemcrianas dos dois se0osU ( conseqBncia desse sistema, no %#anoconceitua#, que o essencia# *em dos homens e nada *em das mu#heres.Ssso um %rimeiro %onto. 9 segundo, socia#, que, %e#o fato de oshomens n o %oderem fazer seus #hos e re%roduzirem+se %or si mesmos,e#es se a%ro%riaram das mu#heres %ara %oder ter as crianas quee#es deseja*am ter. &nt o, h! uma desa%ro%ria o cu#tura# e umaa%ro%ria osocia# %e#os homens que introduzem uma hierarquia socia# e umahierarquia conceitua#.

    *m )W&0ercice de #a %arent a sen'ora usa a no38o de :val6nciadi"erencialdos sexos; e :domin@ncia masculina;/ 0 em ascu#inbfminin ( asen'ora"ala diretamente em :domina38o; e :desigualdade;/ 2ual o grau dea"astamento entre esses termos14o in:cio, h! a *a#ncia diferencia# dos se0os a %artir de duaso/ser*a esCo que idntico e o que diferente, e o fato de que os ho+mens, infe#izmente, n o %odem se re%roduzir sozinhos e que s oo/rigados

    a %assar %e#o cor%o das mu#heres %ara re%roduzirem seus seme#hantes.&nt o, no comeo, t:nhamos a *a#ncia e a hierarquia, umahierarquia conceitua# que se tornou dur!*e# e, %ara durar, fez inter*irema *io#ncia e a fora. ( *io#ncia e a fora n o s o necess!rias %araco#ocarem %r!tica a *a#ncia diferencia# dos se0os, mas e#as * o se tornarnecess!rias %ara dominar as mu#heres, ao #ongo do tem%o. 'urgem umasrie de constrangimentos, uma fa#ta de #i/erdadeC as mu#heres n odecidemsua %r3%ria sorte. &m *!rios %a:ses, e#as n o tm o direito de a/ortar,e#as n o tm acesso - contrace% o e tam/m, em *!rios #ugares,

    im%ens!*e# que uma mu#her recuse o cNnjuge que a fam:#ia esco#heu e a%resta o de ser*ios se0uais. (#m da ausncia de #i/erdade, euacrescentoa ausncia de acesso ao sa/er, %orque o sa/er %ermite criticar seudestino e %ermite a emanci%a o. E o que dizia o#i$re, e %ro*oca*amuitos risosC o que e#e es%era*a de sua mu#her era que e#a #he zesseuma /oa comida e n o que e#a conhecesse a #iteratura. ( fa#ta de acessoao conhecimento %roduz a ausncia do acesso -s fun es de autoridade.

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    20/25

    ( %artir do momento em que se co#oca em %r!tica essas trs ausncias #i/erdade, sa/er, autoridade , %ode+se fa#ar em domina o mascu#ina.*nt8o( trata%se de uma domina38o concreta e n8o de uma domina38oconceitual14 o %odemos rea#izar essa distin o. 'e n o hou*esse a domina o

    inte#ectua# n o ha*eria a domina o concreta. & a domina o concreta %ara fazer durar um estado de fato. E c#aro que h! sociedades menosmarcadas %e#a domina o. 'e o/ser*armos as sociedades de caadoreseco#etores, que %ensamos ser muito %r30imas das sociedades %a#eo#:ticas,%odemos encontrar diferentes mode#os. (s sociedades dos 4us'men s osociedades quase igua#it!rias. H! a di*is o do tra/a#ho entre os se0os,mas as ati*idades mascu#inas s o consideradas mais no/res e%ri*i#egiadas os %rodutos da caa enquanto as femininas a#imentam o gru%o. Euma sociedade re#ati*amente doce. as h! sociedades de caadores e

    co#etores, ou de %escadores, onde o marido tem o %oder de *ida e demorte so/re sua es%osa. ( domina o toma diferentes formas. as eun o digo que e#a concomitante - *a#ncia no %#ano conceitua#. (*a#nciadiferencia# dos se0os e a domina o encontram+se num continuum .aril n Strat'ern( antrop.loga inglesa( a7rma ,ue( para pensar as

    rela35esde g6nero entre os melansios( preciso se distanciar de algumasmet0"oras"undadoras( caras ao Ecidente( como o poder( o direito e a mercadoria/No lugar dessas met0"oras( valeria mais a pena pensar as rela35es de

    g6neroentre esses povos em termos de complementaridade e troca/ A sen'oraconcordacom a cr+tica da autora1&u estou muito %ouco de acordo com essa maneira de *er as coisas%orque su% e que a no o de com%#ementaridade, que tam/m umano o ocidenta#, im%#icaria uma igua#dade. 9ra, no discurso ocidenta#,quando dizemos os se0os s o com%#ementares, sem%re na /oca dose0o dominante %ara dizer que o que es%eramos do outro umacom%#ementaridadee nunca uma igua#dade. @e fato, o discurso que eu mantenho

    so/re o %er:odo contem%orDneo o que *isa a igua#dade entre osse0os. ois a com%#ementaridade funciona muito /em %ara dizerC _!que somos com%#ementares, *oc ca em casa e cuida das crianas edacozinha e eu saio %ara a caa ou trato dos assuntos %o#:ticos ou da%rodu o.( com%#ementaridade n o im%#ica igua#dade. 9 argumento dacom%#ementaridade e*idencia um modo de e0%#ica o que faz %erdurar

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    21/25

    a desigua#dade.* a distin38o entre pol+tico e domstico tam4m persiste1a %ersiste. as %or que o %o#:tico de*eria ser, %or esssncia,mascu#inoUe se tornou mascu#ino e nos zeram acreditar que e#e era %or

    essncia e %or natureza mascu#ino. as o %o#:tico %ertence a todos. & osdois se0os s o as suas duas metades. Tuando se dizcom%#ementaridade,descon em, %ois signi ca que s o admitidas uma desigua#dadefundamenta#e a im%ossi/i#idade de cada um ir ao encontro do outro. a#*ezseja a maneira de *is#um/rar aqui#o que mantm a hierarquia, %ois acom%#ementaridade a /ase da hierarquia.as poss+vel pensar a val6ncia di"erencial dos sexos( ,ue por assimdizer inexor0vel( sem a desigualdade14 o, e#a j! est! #! %or causa do mode#o %ai+ #ho, anterior+%osterior.

    43s o/ser*amos que os %ais nascem antes dos #hos e que os%rimognitosnascem antes dos cau#as. Ssto #hes d! %oder e autoridade. ( re#a oanterior+%osterior %ode se traduzir em su%erior+inferior e, eu digo,em mascu#ino+feminino, que n o tem nada a *er com a sucess o dasgera es, %ois uma diferena entre os se0os. & como uma coisadecorreda outraU ( sucess o das gera es esta/e#ece uma srie deequi*a#nciasque funcionam im%#icitamente nos dias de hoje. 4ascer antes im%#icater uma %osi o de %oder, mas tam/m de %rote o. & a re#a o

    mascu#ino+feminino acrescenta+se a essa re#a o de anterioridade+%osterioridadede maneira indireta. or e0em%#o, no caso romano, diz+se que aes%osa ocu%a o #ugar da #ha, como se o feminino esti*esse no #ugar dagera o das crianas. &u tentei e0%#icar que isso que im%#ica aintrodu oda hierarquia nas re#a es mascu#ino+feminino, mas isso s3 %odeser e0%#icado, segundo minhas hi%3teses, %or uma outra re5e0 o so/reo es%:rito dos homens, ou me#hor, dos humanos > me#hor dizerhumanos%ois quando dizemos homens...?, so/re o fato de que a sucess o

    das gera es um #imite %ara o %ensamento, %ois n o %odemosre*erteresta sucess o. (t o momento, eu enumerei *!rios #imites %ara o%ensamentoCo fato de que h! sem%re dois se0os no mundo anima#, a sucess odas gera es no mundo dos humanos e o fato de as mu#heres n osomente fazerem o mesmo, quer dizer, meninas, mas tam/m odiferente,

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    22/25

    meninos. A sen'ora a7rma( em ascu#inbfminin ,ue( em toda parte( para ,ue'a-a a 7lia38o e a legitimidade das crian3as( preciso uma uni8oleg+tima/Fomemos um caso moderno( mais especi7camente( a peri"eria de

    metr.polescomo Rio de aneiro e S8o Paulo( em ,ue muito comum mul'eresviveremsozin'as com suas crian3as/ Nesses casos( n8o '0 7lia38o paterna e ascrian3astampouco nascem de uni5es leg+timas///'e o casamento um contrato #eg:timo entre fam:#ias, entre gru%os,a #ia o est! /aseada, essencia#mente, na e0istncia deste ti%o decontrato.9 casamento %ro%riamente dito um *erdadeiro contrato entrefam:#ias, que %A/#ico, conhecido e se manifesta %or trocas de /ens,

    %resentes etc. 43s %odemos ter tam/m #ia es #eg:timas nassociedadesque admitem o concu/inato. as essa uni o de*e ser consideradao cia#. (s crianas, que nascem das concu/inas na "hina, %or e0em%#o,s o consideradas #eg:timas. 4o caso /rasi#eiro, citado %or *ocs, s ofam:#iasmatrifocais. as n o h!, nas sociedades tradicionais, a idia deque %ode ha*er mu#heres so#teiras ou sozinhas que criam suas crianas.4as sociedades tradicionais africanas ou na "hina, h! *!rios casos emque mu#heres sozinhas ou di*orciadas tinham de *o#tar %ara a suafam:#ia

    de origem e su/meter+se - tute#a do %ai ou do irm o ou aceitar umrecasamento. as a idia de que e#as %odem car sozinhas %raticamenteim%ens!*e#. &u conheci, no 6ur7ina Fasso, entre os 'amo, casosraros de mu#heres que *i*iam sozinhas com suas crianas. as tinhamdei0ado o marido, foram recusadas %e#a tute#a dos %ais e tinhamautonomia.as tra/a#ha*am em /ares, fa/rica*am a cer*eja de mi#ho e *endiam.&nt o, e#as eram consideradas mu#heres #i*res. 4 o eram %rostitutas,eram mu#heres #i*res, o que era uma raridade. as encontraramum meio de in*estir %ara ter uma inde%endncia econNmica. as isso

    tudo muito recente. E a#go do mundo contem%orDneo. or e0em%#o,o 6anco undia# %arte do %rinc:%io de que, %ara um /omdesen*o#*imentomundia#, %reciso ajudar na #i/era o das mu#heres e na sua educa o,%ois, quando se d! crdito a e#as, e#as s o con !*eis. ( %artir domomento em que e#as tm inde%endncia econNmica e educa o, e#ascomeam a sair da o%ress o tradiciona# %atriarca#. Ssso corres%onde aum 4oom econNmico e a um sens:*e# %rogresso no dom:nio da saAde. 9

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    23/25

    %r3%rio 6anco undia# constatou que a emanci%a o feminina %odesigni car desen*o#*imento se e#e for acom%anhado de educa o e dosmeios de %rodu o. &u %enso que esses s o fenNmenos modernos. 4associedades tradicionais, as mu#heres esta*am %resas ao dom:niodomstico

    e ser*iam - fam:#ia. as %artici%a*am do dom:nio da %rodu o,mas n o eram reconhecidas e, como n o tinham acesso - educa o eaosmeios econNmicos, e#as eram tota#mente de%endentes. ( %artir domomentoem que e#as comeam a n o ser mais de%endentes, %oss:*e# queo #ao conjuga# seja menos est!*e#. as, nas sociedadescontem%orDneas,outros fenNmenos a%areceram, como o desem%rego, a insegurana%ro ssiona# atre#ada ao machismo dominante. &nt o, as fam:#iasmono%arentais

    centradas na m e n o s o um retorno -s origens, mas a#go tota#mentediferente. Alm das "am+lias matri"ocais( pensamos tam4m nos casamentos'omossexuaise na 'omoparentalidade/4ossa %oca mistura um %ouco as coisas. Hoje *emos crescer a%ossi/i#idadedo casamento que chamamos homosse0ua#. &u n o diriahomosse0ua#,eu diria homosse0uado, %orque quando se diz homosse0ua#e*idencia+se uma se0ua#idade diferente. E %reciso reconhecer a

    %ossi/i#idade de aceitar esse ti%o de casamento. as essa idia n o temnenhuma re#a o com a %o#igamia e com o incesto. 4o momento, h!uma confus o quando se diz que aceitar o casamento homosse0uado%ermitiria aceitar outras formas de uni o, como a %o#igamia ou a/isse0ua#idade,ou o casamento entre irm os, ou %ai e #ho. inha %osi o a seguinteC sem o#har %ara a se0ua#idade nem %ara a quest o daigua#dadede direitos, antro%o#ogicamente, se o/ser*armos o que o casamento,sa/emos que foi %reciso a %roi/i o do incesto que o/riga a regra dae0ogamia. &, %ara tornar essa idia s3#ida, foi %reciso instaurar o

    contratoentre fam:#ias. 9 casamento istoC um contrato entre duas fam:#ias, n o um contrato entre duas %essoas. Tuando dois indi*:duos se casam, asduas fam:#ias assinam um contrato, h! testemunhas, os %arentes. 9casamenton o diz nada so/re o se0o das %essoas. 'em%re foi um homem euma mu#her %or uma raz o muito sim%#esC era %reciso assegurar acontinuidade

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    24/25

    e fazer nascer crianas. 4o caso do casamento entre %essoas domesmo se0o, ainda n o h! o reconhecimento das fam:#ias. as a %artirdo momento em que outras maneiras de se fazer crianas se tornaram%ens!*eis %or ado o, insemina o arti cia#, %rocria o assistida ,%odemos imaginar que a sociedade %ossa aceitar o casamento entre

    %essoasdo mesmo se0o, e at mesmo que e#as %ossam ter crianas. ( %artirdo momento em que se tornou %ens!*e#, e#e %ode se tornar rea#iz!*e#.as n o h! nenhuma im%#ica o da mudana da monogamia %ara a%o#igamia, nem da anu#a o da %roi/i o do incesto. ara umasociedadeocidenta#, como a nossa, a %o#igamia, ou me#hor a %o#iginia, seria, ameu *er, a/so#utamente desastrosa %ara as mu#heres. 'eria umretrocesso.&m re#a o - homo%arenta#idade, h! muitas o/je es em re#a o aofuturo das crianas. as eu n o tenho o%ini o a res%eito disso, %ois n o

    h! referncias nas quais %odemos nos a%oiar com seriedade. &utenderiaa %ensar que h! um reconhecimento socia#, %ois o que im%orta %ara ascrianas o o#har dos outros, es%ecia#mente o do %ai. 4o in:cio, esse erao %ro/#ema do di*3rcio. (s crianas de %ais di*orciados eram tachadasna esco#a. & hoje ningum %resta mais aten o. ( %artir do momentoem que o o#har da sociedade muda, o mesmo *ai se dar %ara os #hos defam:#ias homo%arentais.*m rela38o ao tema do segundo volume de ascu#inbfminin ( podemosdizer ,ue a :dissolu38o da 'ierar,uia; se alcan3a B medida ,ue se mudaa

    4iologia14 o. &u a rmo que h! uma diferena e uma assimetria /io#3gica. &esta assimetria foi *i*ida socia# e %o#iticamente em detrimento dasmu#heres.@isso#*er a hierarquia reconhecer %o#iticamente, nas institui es%o#:ticas, essa assimetria e fa*orecer as mu#heres. 4as em%resas,considera+se que as mu#heres s o m es em %otencia#, %roi/indo+as deascenderem %ro ssiona#mente %orque se %ensa que e#as ser o ausentesno tra/a#ho %or causa dos #hos. &sse argumento usadoconstantemente.Oesu#tadoC e#as s o em%regadas %ara as tarefas su/a#ternas, ma#

    %agas, em hor!rios dif:ceis. Ssso acontece em todos os %a:sesC &stadosLnidos, Frana, _a% o. &m todo caso, disso#*er a hierarquia signi cain*erter a %ers%ecti*a, uma medida %o#:tica. Sm%#ica uma mudanano o#har. &u cito a#gumas que %odem se tornar %oss:*eisC %or e0em%#o,mudar o o#har so/re o tra/a#ho domstico e fazer com que os homensse ocu%em de suas crianas, %ois a e0%erincia mostra que, mesmo os%ais que se ocu%am dos seus #hos no in:cio, e#es #ogo %aram. 9s %ais

  • 8/11/2019 (Franoise Heritier) Entrevista

    25/25

    %odem estar sem%re a#i, mas e#es dei0am todo o tra/a#ho %ara suases%osas.&nt o, como fazer com que o tra/a#ho domstico torne+se interessantee atrati*o %ara que %ossa ser com%arti#hadoU rata+se de #he daratestado de no/reza %ara que seja *a#orizado, que d %rest:gio e

    dinheiro.'e os homens ti*essem a %ossi/i#idade de %egar #icena no tra/a#ho%ara se ocu%ar das crianas gera#mente s o as mu#heres que %aram detra/a#har , o tra/a#ho domstico %oderia ser um atrati*o. 'eria umamudana de %ers%ecti*a que #e*aria, %rogressi*amente, os homens aachar interessante tra/a#har em casa. ( %artir desse momento, quando+ 2RR +O. ' [ L (4 \ '. 4 ('"S &4 9 . ( 4 O9 9)9PS( @& "9O 9' & '&]9' ...as crianas teriam o h!/ito de *er seus %ais %egando+as na esco#a,fazendoa comida, dando+#hes /anho enquanto suas m es tra/a#ham, as crianas

    %oderiam re%roduzir este mode#o. H! toda uma srie de medidasque %oderiam ser tomadas %e#o go*erno, mas que nunca s oconsideradascomo um %ro/#ema %o#:tico. ara mim, a contrace% o fundamenta#%ara que as mu#heres o/tenham o estatuto de %essoa. "omoe#as tm a ca%acidade de fazer crianas dos dois se0os, e#as foramco#ocadasnuma situa o de de%endncia. ( %artir do momento em que e#astm #i/erdade nesse dom:nio, e#as ganham o estatuto de %essoa. (contrace% o o e#emento #3gico %rinci%a#. E uma *erdadeira re*o#u o

    co%ernicanaPara terminar# a sen'ora se considera "eminista1E c#aro que eu me considero feminista, mas n o no sentido mi#itantedo termo, %ois eu n o %artici%o dessas a es. & eu n o tenho todo odom:nio so/re essa #iteratura.

    Notas1 &ntre*ista rea#izada em 11 e 2J de maio de 2== , no )a/orat3rio de (ntro%o#ogia'ocia# do "o##$ge de France, aris.2 Oenato 'ztutman e 'i#*ana 4ascimento ti*eram nanciamento de est!gio de%esquisaem aris %e#a "a%es. Oenato 'ztutman %esquisador do 4Ac#eo de Hist3riaSnd:gena >4HSSbL' ? e /o#sista da Fa%es%. 'i#*ana 4ascimento %esquisadorado 4Ac#eo de (ntro%o#ogia Lr/ana >4(LbL' ? e /o#sista da Fa%es%.