formação de toxinas durante o processamento de alimentos e as possíveis consequencias para o...

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Rev. Nutr., Campinas, 22(2):283-293, mar./abr., 2009 Revista de Nutrição COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION 1 Mestrandas, Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Av. Roraima, 1000, Prédio 42, Campus Universitário, Camobi, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: A.C. MARQUES. E-mail: <[email protected]>. 2 Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, RS, Brasil. Formação de toxinas durante o processamento de alimentos e as possíveis conseqüências para o organismo humano Toxin formation during food processing and possible consequences to the human body Anne y Castro MARQUES 1 Tessa Bitencourt VALENTE 1 Cláudia Severo da ROSA 2 R E S U M O A produção de alimentos envolve inúmeras reações químicas, durante as quais podem ser geradas substâncias tóxicas ao organismo humano. A produção destas substâncias pode ocorrer de diferentes maneiras, variando em quantidade e em grau de toxicidade. Este trabalho objetivou estudar a produção de toxinas no pro- cessamento de alimentos, assim como as conseqüências da ingestão dessas substâncias para o ser humano. O estudo foi realizado a partir de extensa pesquisa bibliográfica. As principais reações na formação de com- postos tóxicos apresentadas no decorrer do estudo são: degradação de lipídios, hidrogenação, pirólise e defumação. Entre as substâncias formadas, destacam-se: peróxidos, ácidos graxos trans, aminas heterocíclicas e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. O profissional nutricionista necessita conhecer como ocorre a for- mação de toxinas durante os variados processamentos que envolvem alimentos, assim como os riscos para a saúde de quem consome essas substâncias. Também é preciso propor técnicas de processamento adequadas, visando ao bem-estar do consumidor e à manutenção das propriedades nutricionais do alimento. Termos de indexação: Nutricionista. Produção de alimentos. Reações químicas. Substâncias tóxicas. A B S T R A C T Food production involves innumerable chemical reactions that may generate substances that are toxic to the human body. These substances can be produced in different ways, in varying amounts and degree of toxicity. The objective of this study was to investigate the production of toxins during food processing, as well as the

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Rev. Nutr., Campinas, 22(2):283-293, mar./abr., 2009 Revista de Nutrição

COMUNICAÇÃO | COMMUNICATION

1 Mestrandas, Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos.Av. Roraima, 1000, Prédio 42, Campus Universitário, Camobi, 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. Correspondênciapara/Correspondence to: A.C. MARQUES. E-mail: <[email protected]>.

2 Centro Universitário Franciscano. Santa Maria, RS, Brasil.

Formação de toxinas durante oprocessamento de alimentos e as possíveisconseqüências para o organismo humano

Toxin formation during food processing and

possible consequences to the human body

Anne y Castro MARQUES1

Tessa Bitencourt VALENTE1

Cláudia Severo da ROSA2

R E S U M O

A produção de alimentos envolve inúmeras reações químicas, durante as quais podem ser geradas substânciastóxicas ao organismo humano. A produção destas substâncias pode ocorrer de diferentes maneiras, variandoem quantidade e em grau de toxicidade. Este trabalho objetivou estudar a produção de toxinas no pro-cessamento de alimentos, assim como as conseqüências da ingestão dessas substâncias para o ser humano.O estudo foi realizado a partir de extensa pesquisa bibliográfica. As principais reações na formação de com-postos tóxicos apresentadas no decorrer do estudo são: degradação de lipídios, hidrogenação, pirólise edefumação. Entre as substâncias formadas, destacam-se: peróxidos, ácidos graxos trans, aminas heterocíclicase hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. O profissional nutricionista necessita conhecer como ocorre a for-mação de toxinas durante os variados processamentos que envolvem alimentos, assim como os riscos para asaúde de quem consome essas substâncias. Também é preciso propor técnicas de processamento adequadas,visando ao bem-estar do consumidor e à manutenção das propriedades nutricionais do alimento.

Termos de indexação: Nutricionista. Produção de alimentos. Reações químicas. Substâncias tóxicas.

A B S T R A C T

Food production involves innumerable chemical reactions that may generate substances that are toxic to thehuman body. These substances can be produced in different ways, in varying amounts and degree of toxicity.The objective of this study was to investigate the production of toxins during food processing, as well as the

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consequences of their ingestion. This study was based on extensive literature research. The main reactionsleading to toxic compounds are: lipid degradation, hydrogenation, pyrolysis and smoking. Some of theformed substances are: peroxides, trans fatty acids, heterocyclic amines and polycyclic aromatic hydrocarbons.Dietitians need to know how toxins form during the various foods processing methods, as well as their healthrisks for consumers. It is also necessary to propose processing techniques that ensure the consumer’s wellbeingand retain the nutritional properties of the food.

Indexing terms: Nutritionist. Food production. Chemical reactions. Toxic substances.

I N T R O D U Ç Ã O

A produção de alimentos envolve inúmerasreações químicas, dentre as quais muitas aindasão desconhecidas. Mesmo assim, sabe-se que,durante tais reações, substâncias tóxicas ao orga-nismo humano podem ser formadas ou podemter sua toxicidade intensificada, de modo que setorna indispensável atentar para a relação entreo consumo dessas substâncias por longos períodose o desenvolvimento de neoplasias que acome-teram cerca de 10.400.000 norte-americanos em20021.

Com o objetivo de conhecer a formaçãode toxinas na produção de alimentos, assim comode oferecer um alimento nutritivo que não tragariscos ao comensal, optou-se por pesquisar ainfluência do processamento de alimentos naformação de substâncias tóxicas, observando-setambém os efeitos do consumo destas substânciaspara o organismo humano.

Produção de substâncias tóxicas

A produção de substâncias tóxicas nos ali-mentos pode ocorrer de diferentes maneiras, masse dá especialmente quando os produtos sãosubmetidos a altas temperaturas2.

Algumas das principais reações na forma-ção de compostos tóxicos são a hidrogenação degorduras, a oxidação lipídica e a pirólise. Entre os

processamentos, destaca-se a defumação e entreos diversos produtos formados, são relevantes asnitrosaminas, os peróxidos, os ácidos graxos trans(AGT), os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos(HAP) e as aminas heterocíclicas (AH). Cadasubstância apresenta toxicidade característica,

causando maior ou menor dano à saúde, depen-dendo da dose, do tempo e da freqüência de expo-sição e das vias de absorção.

Entre as doenças associadas às substânciastóxicas formadas durante o processamento dealimentos, destaca-se o câncer. As neoplasias ma-lignas têm seu desenvolvimento influenciado diretaou indiretamente pela qualidade e tipo do alimen-to, assim como pelo emprego de métodos inade-quados de preparo e de conservação dos produtosalimentícios3.

Substâncias formadas a partir dadegradação de lipídios

A degradação de óleos e gorduras podeocorrer por oxidação, hidrólise, polimerização,pirólise e absorção de odores e sabores estranhos.Dentre essas possibilidades, a oxidação é a princi-pal causa de deterioração de lipídios, alterandovárias propriedades do alimento, como qualidadesensorial, valor nutricional, funcionalidade e toxici-dade, mudanças essas que podem ocorrer emvárias etapas do processamento, como produçãoe armazenamento4-5.

Mais de 400 compostos químicos diferen-tes já foram identificados em óleos reutilizados.Os produtos de degradação costumam ser divididosem voláteis e não-voláteis, os quais permanecemno alimento e causam as alterações referidas ante-riormente6-7.

A oxidação de lipídios, que ocorre quandoo oxigênio é adicionado ou o hidrogênio ouelétrons são removidos da molécula, tem sidoarduamente estudada devido à relação com aalteração de alimentos, com a produção de diver-sas substâncias, assim como pelas várias reações

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com outros constituintes dos alimentos. Sabe-seque essas reações podem ser modificadas pormuitos fatores, como a presença de metais, enzi-mas (lipoxigenase, oxidases e lipases), antioxi-dantes, luz, pH, temperatura, oxigênio e peró-xidos8-10.

A velocidade de oxidação depende dograu de insaturação do ácido graxo, ou seja, quan-to maior o número de duplas ligações, maior asuscetibilidade à reação. Um exemplo é o óleode soja, cuja estabilidade é menor que a da gordurade coco7,10,11.

A auto-oxidação lipídica é baseada emmecanismos que envolvem radicais livres. Peró-xidos são formados a partir da reação de ácidosgraxos insaturados e triglicerídios com o oxigênioe da conseqüente formação dos radicais livres,em uma etapa denominada iniciação. Posterior-mente, o número de produtos gerados aumenta,assim como a produção de aldeídos (etapa depropagação), responsáveis pelo odor característicoda rancificação. Ao final (etapa de terminação),os substratos lipídicos tornam-se escassos, ocor-rendo reações entre os próprios radicais livres7.Outras substâncias que podem ser geradas duranteo processo de auto-oxidação são álcoois, ácidos,

hidrocarbonetos e cetonas4. A rancificação oxi-dativa é responsável, principalmente, pelas alte-rações organolépticas dos produtos alimen-

tícios10-12.

Os peróxidos não são prejudiciais ao orga-nismo humano, e sim os seus derivados. Uma dasmaneiras pelas quais os peróxidos podem ser

formados é por meio da ação da enzima lipoxi-genase sobre os ácidos graxos poliinsaturadoslinoléico e linolênico. A lipoxigenase é encontrada

em hortaliças, frutas e em alimentos de origemanimal. Exemplos de grãos ricos em lipoxigenasessão soja, ervilha e algumas variedades de feijão6,7.

Íons metálicos como ferro, cobalto, cobre e mo-libdênio podem atuar como catalisadores dadecomposição dos peróxidos13.

No aquecimento excessivo das gorduras,

como na fritura de alimentos, formam-se produtos

tóxicos ou cancerígenos, entre os quais acroleínae peróxidos. Isso ocorre porque temperaturaselevadas aceleram os processos oxidativos e dedegradação dos lipídios. No processo de fritura,três componentes são responsáveis pelas mudan-ças ocorridas na estrutura dos lipídios: umidadedo alimento (promove hidrólise dos triglicerídios),contato do óleo ou gordura com o oxigênio (pro-move alterações oxidativas) e alta temperaturado processo, de, aproximadamente, 180°C. Deve--se ter cuidado, portanto, com a produção de ali-mentos fritos por imersão sem o controle da quali-dade do óleo ou da gordura vegetal nos estabele-cimentos de alimentação coletiva14,15.

Desde 1997, a indústria de fast food vemadotando métodos para tentar controlar a quali-dade e prolongar o tempo útil do óleo utilizadopara fritura de imersão. Entre as medidas, incluem--se o uso de filtros ativos e passivos, antioxidantese a própria manutenção dos equipamentos defritura. Essas alternativas até podem prolongar avida útil do óleo, contudo os produtos alimentíciosabsorvem igualmente grandes quantidades delipídios degradados durante o processo6.

A decomposição de óleos e gorduras édiminuída se o processo de fritura for realizadocom pequena quantidade de gordura, em panelasaltas e estreitas, diminuindo o contato com o oxigê-nio. Além disso, o processo de rancificação podeser diminuído se o óleo for guardado em recipien-tes de vidro ou de plástico e não ficar exposto àluz15-17. Deve-se também ter cuidado para que,

durante os processos que utilizam aquecimento,a temperatura do óleo vegetal não ultrapasse os170ºC, já que em temperaturas mais elevadas

ocorrem a emissão de fumaça e o início dos pro-cessos oxidativos. É importante retirar os resíduosalimentares liberados durante a fritura, assim como

certificar-se de que não haja detergente oumateriais de limpeza no recipiente no qual o óleoserá aquecido6,18. No momento em que qualqueralteração for detectada no óleo utilizado para fri-tura de imersão, o produto deverá ser descartado.

A desidratação de alimentos é um proce-dimento utilizado para impedir a proliferação de

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microorganismos, no entanto níveis de umidadeabaixo de aw <0,1 tornam o produto suscetível àoxidação pela concentração de metais e pelaformação de radicais livres no processo de seca-gem10. O processo utilizado para impedir a oxida-ção da gordura do leite integral em pó, por exem-plo, é envolver os glóbulos de gordura com umacamada de lactose, impedindo o contato diretocom o ar4,13.

Hur et al.10 e Chung et al.16 sugerem que aingestão dos compostos formados a partir daoxidação em lipídios possa causar doença gástricacrônica e câncer. Outro ponto de grande rele-vância é que a oxidação do colesterol é conside-rada arterogênica e carcinogênica, aumentandoo risco de desenvolvimento de dislipidemias e dedoenças cardiovasculares.

Ácidos graxos trans

Os ácidos graxos insaturados (AGI) apre-sentam uma ou mais duplas ligações, podendoformar isômeros geométricos. Quando os hidro-gênios ligados ao carbono da insaturação estãodo mesmo lado o ácido graxo é denominado cis,quando os hidrogênios estão em lados opostos édenominado trans19-24.

Na natureza, os ácidos graxos geralmenteestão na configuração cis20. Quando os ácidosgraxos cis ou os triglicerídios que os contêm sãosubmetidos a processos enzimáticos, oxidativos oude hidrogenação, há a formação da configuraçãotrans21-22. Os ácidos graxos trans são sólidos àtemperatura ambiente, com ponto de fusão maiselevado, podendo ser considerados interme-diários entre os AGI e os ácidos graxos saturados(AGS)23-24.

Os AGT sempre compuseram a dieta hu-mana via ingestão de alimentos provenientes deanimais ruminantes, como leite e carne bovina,pois são formados a partir de sistemas enzimáticosda flora microbiana, por meio do processo denomi-nado biohidrogenação. Atualmente, essas substân-cias encontram-se amplamente difundidas nadieta alimentar, como em margarinas, óleos vege-

tais, produtos de confeitaria e panificação e ali-mentos fritos. Os alimentos que contêm gorduraparcialmente hidrogenada contribuem com 80 a90% da ingestão diária de AGT; já no caso dosque contêm óleos refinados, a contribuição é entre1 e 1,5%, aumentando os níveis com a reutilizaçãodo óleo19,20,22-25.

Ovesen et al. avaliaram o perfil de gordurasutilizadas por duas grandes redes de fast food,encontrando altas concentrações de AGT23. Noentanto, há divergência sobre a importância dosalimentos fritos como fonte de isômeros trans26.

A hidrogenação é um processo de endure-cimento pelo qual o hidrogênio desfaz a insatu-ração e ocasiona a formação de AGT. O processoocorre na presença de um catalisador de níquel,tendo como objetivos reduzir o grau de insatu-ração, para diminuir a velocidade de oxidação, emodificar as características físicas, como texturae ponto de fusão12. Os óleos vegetais são hidro-genados seletivamente, conservando o máximode quantidade de ácido oléico e linolênico, fazen-do com que a solidificação ocorra a temperaturasmuito baixas, tornando-o praticamente inodoro einsípido, além de poder ser aquecido a 180°C.Nas margarinas, a hidrogenação ocorre até quese alcance a cremosidade ou a dureza dese-jada19,24-27.

Quanto mais sólida a gordura de origemvegetal após o processo de hidrogenação, maiorserá a concentração de AGT. Estratégias como acombinação de hidrogenação parcial e interesteri-ficação química reduzem significativamente aquantidade de AGT, sem alterar consideravel-mente a relação ácido graxo poliinsaturado (AGS).Já a interesterificação enzimática tem permitidoa produção de margarinas livres de isômerostrans19,28.

Os ácidos graxos trans, apesar de não pos-suírem efeito cumulativo, podem ser encontradosem vários tecidos do organismo humano, como,por exemplo, no tecido adiposo. Também passamde mãe para filho por meio do leite e da placentae interferem na conversão de ácidos graxos essen-ciais a ácidos graxos poliinsaturados no organismo,

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sendo responsáveis por reações alérgicas, comoa asma em adolescentes24,29,30.

No princípio dos anos 1990, estudos de-monstraram que o consumo de isômeros transaltera as concentrações séricas de lipídios, aumen-tando o lipoproteína de baixa densidade (LDLcolesterol) e diminuindo o lipoproteína de altadensidade (HDL colesterol), sendo, por estes moti-vos, associado ao aumento no risco de doençaarterial coronariana (DAC)20,28. Além disso, outrosfatores relacionados ao consumo de AGT podemlevar ao desenvolvimento de DAC: aumento dosníveis de lipoproteína(a) e de triglicerídios séricos;efeitos adversos no metabolismo de ácidos graxosessenciais e no balanço das prostaglandinas (háinibição da enzima delta-6-dessaturase), podendolevar à trombogênese (elevação dos marcadoresde inflamação e disfunção endotelial, favorecendoa formação de placas ateroscleróticas). A mortesúbita e a resistência à insulina são outras conse-qüências possíveis25-28,31,32.

Há controvérsias sobre as mudanças meta-bólicas ocasionadas pelos AGT quando presentesem maior quantidade na nutrição humana23. Omeio acadêmico vem discutindo constantementesobre as vantagens e desvantagens da substituiçãode alimentos fontes de AGT pelos ricos em AGS.Os AGS, embora ricos em colesterol, não trariamalterações no HDLc, ao contrário dos trans quediminuíram HDLc além de elevarem LDLc24.

Estudos em cobaias demonstraram que osAGT competem com os ácidos graxos n-6 e n-3nas reações de dessaturação e elongação, produ-zindo eicosanóides sem atividade biológica. OsAGT também podem inibir as enzimas β5 e β6dessaturase, bloqueando o metabolismo de ácidosgraxos essenciais. Esses processos, durante a fasegestacional, podem alterar o desenvolvimentointra-uterino pela inibição da síntese de ácido ara-quidônico e docosahexaenóico (DHA)19.

O elevado consumo de alimentos ricos emAGT, além das implicações nutricionais, leva àredução da ingestão de ácidos graxos essenciais,como o ácido araquidônico (essencial para o cres-cimento e desenvolvimento dos tecidos) e o DHA

(importante para a função visual e neural), favo-recendo o desenvolvimento de síndromes causadaspela deficiência destes ácidos graxos19,24,33.

A busca por alternativas para produzirgordura vegetal hidrogenada sem isômeros transdemonstra a preocupação com o consumo dessecomposto. O Brasil, contudo, ainda não apresentadados exatos sobre a ingestão de AGT, apesar deser sabido que a utilização de gordura hidrogenadaé ampla e indiscriminada, apontando, portanto,para um consumo elevado19.

Segundo Sanhueza et al.33 o ácido lino-léico conjugado ou vacênico (trans do linoléicoformado a partir da biohidrogenação em rumi-nantes que se alimentam de pasto) possui estru-tura diferenciada, sendo apontado como possívelsubstância anti-câncer, anti-aterosclerose,anti-obesidade e como modulador da imunidade.O tema ainda causa polêmica no meio científico,e alguns autores levantam a hipótese de queanimais alimentados com pouca pastagem e comração rica em sementes oleaginosas, apesar doalto teor de lipídios insaturados, em vez de pro-duzirem o ácido vacênico produzem ácidos graxos

trans em níveis significativos, contaminando acarne, o leite e derivados destes20-25, 32-34.

Em um estudo de coorte realizado commulheres saudáveis (n=80), estimou-se que as

substituições de 5% da energia proveniente dosácidos graxos saturados e 2% proveniente dosácidos graxos trans por ácidos graxos poliinsatu-

rados podem reduzir o risco de doenças cardiovas-culares para 42 e 53%, respectivamente35.

Em julho de 2003, a Food and DrugAdministration (FDA) decretou que, a partir de 1º

de janeiro de 2006, fabricantes de alimentos e desuplementos deveriam passar a listar, separada-mente dos AGS, o conteúdo de AGT nos rótulos

dos alimentos. Deste modo, atualmente todoalimento contendo mais de 0,5g de ácidos graxostrans precisa especificar essa quantidade no

rótulo36. No Brasil, o prazo para a adequação dosrótulos terminou em 1º de julho de 2006, confor-me regulamentado pela RDC nº 360, de 23 de

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dezembro de 2003, aprovada pela Agência Na-cional de Vigilância Sanitária (ANVISA)37.

Segundo a IV Diretriz Sobre Dislipidemiase Prevenção da Aterosclerose, 2007 não há con-senso em relação à quantidade máxima permitidana dieta, no entanto, recomenda-se que a inges-tão de gordura trans deva fornecer menos do que1% da energia total da dieta38.

Aminas heterocíclicas

As aminas heterocíclicas (AH) são substân-cias indesejadas produzidas durante a exposiçãode alimentos a altas temperaturas. Muitas AH sãoformadas ao assar, fritar ou cozinhar alimentospor longo período, principalmente os ricos emproteínas, como carnes e pescados39-41. As AHainda podem ser encontradas em resíduos depanelas e em extratos de carne. Sua formaçãoocorre pela pirólise de certos aminoácidos, entreos quais triptofano, lisina, ácido glutâmico efenilalanina, ou pela reação entre creatina (tam-bém denominada creatinina) e os produtos daReação de Maillard42.

Investigações sobre a presença de AHforam realizadas em carne de boi (assada e frita)e carne de pescado (assado, no forno e a la parrilla)comercializadas na Espanha. Nas peças foramencontrados os seguintes mutágenos: 2-amino-3--metilimidazol (4,5-f) quinolina (IQ), 2-amino-3,4--dimetilimidazol (4,5-f) quinolina (MeIQ) e2-amino-3,8-dimetilimidazol (4,5f) quinoxalina

(MeIQx)9.

Balogh et al.43 analisaram tortinhas decarne bovina moída fritas em três temperaturasdiferentes (175ºC, 200ºC e 225ºC) por 6 e 10 mi-nutos de cada lado, a fim de que fossem determi-nadas as condições de maior formação de aminasheterocíclicas. As maiores concentrações foramgeradas na fritura a 225ºC por 10 minutos/lado.Foram encontradas em maior quantidade PhIP eMeIQx. A vitamina E, quando usada na concen-tração de 1% e adicionada diretamente sobre astortinhas de carne moída diminuiu as quantidadesde AH, com médias de redução de 45 a 75%.

As AH encontram-se entre as substânciasmutagênicas conhecidas mais potentes, causandotumores em animais de experimentação, princi-palmente na bexiga44. As aminas heterocíclicassão metabolizadas pelo citocromo P-450 dosmicrossomos hepáticos em mutágenos ativos, asN-hidroxilaminas, as quais são convertidas emcompostos capazes de se unir à guanina, afetandoa replicação e a transcrição do DNA42,45,46.

Atualmente vem sendo analisada a corre-lação entre a ingestão de AH e a incidência decâncer de mama, cólon e próstata. Em animais,as aminas heterocíclicas provocam neoplasias ma-lignas em glândulas mamárias, próstata, pulmão,cólon, pele, pâncreas, bexiga e fígado. Ainda háevidências de que elas afetam o sistema vascular,as glândulas salivares e de que levam à degene-ração miocardial. Entretanto, é importante salien-tar que cada organismo reage de maneira espe-cífica, tolerando maiores ou menores doses dessescompostos42-48.

Para diminuir a formação desses compos-tos, deve-se adicionar antioxidantes naturais ousintéticos durante a cocção, por estarem os inter-mediários dos radicais livres envolvidos na reação.Tanto a proteína de soja concentrada como afarinha da semente de algodão sem gorduracontêm compostos antioxidantes que reduzem amutagenicidade de AH na carne bovina cozida.Estatisticamente, a vitamina E e a essência dealecrim também possuem efeito positivo na inibi-ção do PhIP, entretanto tratamento algum ou doseforam eficientes para inibir totalmente a formaçãodas aminas heterocíclicas. Também é possíveldiminuir a produção das AHs no hambúrguer coma adição de cebola na carne bovina trituradacrua43,48,49.

No microondas, apesar das temperaturaselevadas, a mutagenicidade das aminas hetero-cíclicas é reduzida pelo menor tempo de cocção.É preferível, portanto, processar alimentos à basede carne no microondas do que por meio de friturasou cocção direta43.

Não foram encontrados na literatura valoresde referência sobre o consumo diário tolerável de

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aminas heterocíclicas em seres humanos. Mesmoassim, a correta quantificação das aminas hete-rocíclicas nos alimentos preparados é essencialpara avaliar os riscos para seres humanos2.

Hidrocarbonetos aromáticos policíclicos

Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicossão substâncias amplamente distribuídas no am-biente, formados principalmente em processos decombustão e pirólise de matérias orgânicas, comocarvão e petróleo50,51, constituindo um grupoconsiderado altamente carcinogênico ou geno-tóxico52.

Além da pirólise, acredita-se que o pro-cesso de pirossíntese também esteja envolvido naprodução dos hidrocarbonetos aromáticos poli-cíclicos. Na pirólise, em temperaturas elevadas,compostos orgânicos são convertidos em moléculaspequenas não estáveis. Na pirossíntese, essas eoutras sustâncias são recombinadas e produzemmoléculas maiores e mais estáveis de HAP52.

São quatro as fontes principais de HAP emalimentos: fontes naturais (como queimadas emflorestas), poluição ambiental (contaminação desolo e de água), materiais de embalagens e algunstipos de processamento. Entre os processamentosde alimentos em que ocorrem produção de HAPincluem-se defumação, secagem direta com ma-deira ou carvão (churrasco e parrillada, por exem-plo) e torrefação50,53.

Durante o processo de assar a carne nabrasa, a gordura é pirolisada pela ação da chamadireta na peça, assim como pelo calor do carvão,gerando os HAP carcinogênicos. Os hidrocarbo-netos aromáticos policíclicos, que passam a com-por a fumaça gerada, são absorvidos e se deposi-tam na camada mais externa da carne. A concen-tração de HAP varia de acordo com as quantidadesde gordura e de fumaça, mas pode alcançar valo-res de até 50ppm de benzo(a)pireno (BaP). Alémdo churrasco, essas substâncias já foram encon-tradas em embutidos, hambúrgueres, frango,

peru, pescados, bacon e cebola submetidos a estetipo de tratamento culinário9,51,52.

Em um estudo realizado por Kazerouni etal.54 nos Estados Unidos, os maiores níveis debenzo(a)pireno (acima de 4ng de BaP/g de carnecozida) foram encontrados em carnes, hambúrguere frango com pele grelhados ou assados em altastemperaturas. Cereais e hortaliças também podemser fontes dietéticas de HAP, quando submetidosa processos de desidratação51.

No processo de torrefação, um dos alimen-tos que se destaca pela produção de HAP é ogrão de café. Apesar de somente 20 a 30% doshidrocarbonetos aromáticos policíclicos da quan-tidade presente no pó passarem para a bebida, omodo de preparo pode aumentar a concentraçãono líquido. Quando o pó de café é fervido junta-mente com a água (hábito ainda comum no Brasil),a quantidade de HAP é muito próxima à quanti-dade existente no pó. No entanto, quando o caféé coado por processo direto, a liberação de HAPpara a bebida diminui 5,5 vezes, se comparadaao pó fervido com a água. Foi demonstrado tam-bém que, além do modo de preparo facilitar aliberação de HAP para o café líquido, a cafeínaaumenta a solubilidade do B(a)P em água pelaformação do complexo benzo(a)pireno-cafeína,arrastando o B(a)P e demais HAP para a bebida.A quantidade de cafeína no café fervido com aágua é até 30% maior do que no café coado di-retamente. Portanto, a fervura facilita a passa-gem de hidrocarbonetos para a bebida pela maiorliberação de cafeína e pela formação do complexobenzo(a)pireno-cafeína53.

Outra bebida amplamente consumida noRio Grande do Sul que contém grandes quan-tidades de HAP é o chimarrão. Isso se deve aofato de que a erva-mate (Ilex paraguarensis) aindaé beneficiada rudimentarmente, com a etapa desapecação das folhas feita com chama de com-bustão direta. Machado et al. encontraram nochimarrão níveis de até 0,22µg de B(a)P nosprimeiros 250mL da bebida, valor excedente em90 vezes o limite máximo permitido para águapura pela legislação brasileira53.

Em relação à concentração de HAP, foirealizado um estudo sobre a quantidade de hidro-

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carbonetos aromáticos policíclicos em margarinas,cremes vegetais e em maioneses, por serem osóleos e as gorduras a segunda fonte de HAP. Mar-garinas e cremes vegetais, apesar da pequenaquantidade de HAP, são considerados fontes impor-tantes, devido à sua ampla utilização na dieta.Em geral, produtos contendo óleo de milho mos-tram em sua formulação maiores níveis de conta-minação55. A contaminação dos óleos vegetais sedá pela poluição do ar e pela conseqüente depo-sição de partículas sobre as plantas oleaginosas,devido ao fato de as plantas absorverem HAP emsolos contaminados e pela sapecação do grão emfumaça produzida pela queima de madeira.Conclui-se, portanto, que a produção de HAP emalimentos contendo óleo vegetal ocorre pela conta-minação da matéria-prima, assim como duranteo processamento dos grãos56.

Em um experimento realizado para quanti-ficar os valores existentes de HAP em diversosgrupos de alimentos, as maiores concentraçõesde hidrocarbonetos aromáticos policíclicos foramencontradas no grupo dos açúcares e doces (cho-colates, gelatinas e alcaçuz), destacando-se ocriseno (36µg/kg). Esse dado foi considerado

surpreendente, já que até o momento nenhumdesses produtos era suspeito de conter altos níveisde HAP57. No Brasil, análises realizadas em amos-

tras de açúcares comerciais indicaram a presençade HAP em concentrações que variam de 0,25 a0,83µg/kg52.

O mecanismo de toxicidade dos HAP sedá pela formação de produtos intermediários reati-vos, responsáveis pelos efeitos carcinogênicos58.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dentrodos grupos de HAP, 13 compostos são claramentecarcinogênicos e genotóxicos59. São metabolizados

pelas enzimas hepáticas em diol-epóxidos, ligando--se covalentemente às macromoléculas celulares(incluindo o DNA) e causando erros de replicação

e mutações. Há evidências de que outras reaçõesintermediárias também são geradas por umprocesso de oxidação, o que pode resultar em

instabilidade química na alquilação do DNA,levando ao processo mutagênico7.

Estudos epidemiológicos associam a expo-sição de misturas de HAP contendo benzo(a)pirenoao risco aumentado de produzir câncer de pulmãoe outros tumores. Também foi observada maiorfreqüência de câncer de estômago em populaçõesque consomem tradicionalmente grandes quanti-dades de produtos cárneos defumados54,58. A WorldCancer Research Fund desaconselha a preparaçãode carnes a temperaturas elevadas ou expostasdiretamente ao fogo por aumentar o risco de cân-cer no estômago e no trato gastrointestinal3.

Além disso, animais de experimentaçãoexpostos ao B(a)P por diferentes vias de introduçãoe administração, incluindo a dieta por via oral,têm desenvolvido papilomas e carcinomas gás-tricos60. Segundo o Comitê Científico de Alimen-tação Humana da União Européia, são conside-rados cancerígenos os seguintes HAP: benzo(a)an-traceno, benzo(b)fluoranteno, benzo(j)fluoranteno,benzo(k)fluoranteno, benzo(g,h,i)perileno, ben-zo(a)pireno, criseno, ciclopenta(c,d)pireno, diben-zo(a,h)antraceno, dibenzo(a,e)pireno, diben-zo(a,i)pireno, dibenzo(a,l)pireno, ideno(1,2,3-cd)pireno e 5-metilcriseno61.

A necessidade de estabelecimento delimites para HAP em alimentos tem sido mani-festada por vários países, sendo este tema consi-derado prioritário dentro do Comitê do CodexAlimentarius para Aditivos Alimentares e Conta-minantes (CCFAC)62. O Brasil ainda não estabele-ceu tais valores máximos. Por outro lado, Alema-nha, Áustria e Polônia limitam em 1µg/kg o teormáximo de B(a)P em carnes defumadas, sendoesse valor utilizado como referência para osdemais alimentos55. O Comitê Científico da Ali-mentação Humana da Comunidade Européiaconsidera que, sabendo-se do efeito genotóxicodos HAP, seus níveis nos gêneros alimentíciosdevem ser tão reduzidos quanto razoavelmentepossíveis. Além disso, dadas as incertezas queainda existem quanto aos níveis aceitáveis de HAPnos alimentos, o Regulamento (CE) nº 466/2001da Comissão prevê uma revisão das medidas atéprimeiro de abril de 200761.

Muitos alimentos industrializados comsabor e aroma de defumados têm a defumação

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direta substituída por líquidos com menor riscopara a saúde humana, mesmo que alguns prepa-rados ainda contenham certa quantidade dehidrocarbonetos aromáticos policíclicos63. Alémdisso, o Comitê Científico da Alimentação Humanaindica a utilização de carvão ativado para removerbenzo(a)pireno durante a refinação de óleos61. Énecessário então que a indústria alimentícia e osEstados invistam em pesquisas e novas tecnologiaspara diminuir a produção destas substâncias duran-te o processamento de alimentos.

C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S

Verificou-se, durante a realização desteestudo, que a química de alimentos e seus pro-cessos ainda são pouco conhecidos cientifica-mente. Não se sabe se hábitos tidos como comunsdurante a preparação de uma refeição podemcausar algum dano a quem a consome. Observou--se também que, dependendo do alimento e dotipo de preparação, substâncias tóxicas podem serformadas, em níveis variados, assim como cadaorganismo tolera maior ou menor ingestão, provo-cando ou agravando doenças.

Assim, é importante que o profissionalnutricionista tenha conhecimento sobre a produçãode toxinas durante os vários processos envolvendo

alimentos, bem como que saiba em que níveisaquelas podem afetar a saúde humana. É necessá-rio, também, conhecer e propor técnicas de pro-cessamento adequadas, visando à saúde do clien-te e à manutenção das propriedades nutricionaisdo alimento.

Muitos estudos ainda necessitam ser reali-zados nesse campo, tanto pela dificuldade emconfirmar suspeitas, como pela grande varieda-de de alimentos e pelas diversas formas de pre-pará-los existentes.

C O L A B O R A Ç Ã O

A.C. MARQUES participou na elaboração doprojeto de pesquisa, na coleta de referencial teórico,

na discussão dos resultados e na elaboração do artigo.T.B. VALENTE participou na coleta de referencial teórico,na discussão dos resultados e na elaboração do artigo.C.S. ROSA participou na elaboração do projeto de

pesquisa e na elaboração do artigo.

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Recebido em: 25/1/2007Versão final reapresentada em: 16/5/2008Aprovado em: 11/7/2008