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MaRÇO DE 2018 - ANO V - Nº 45 HISTÓRIA MEMÓRIA EXEMPLAR GRÁTIS FLORIPA - SãO JOSé - PaLHOÇa - BigUaÇU - SaNTO aMaRO Da iMPERaTRiZ CHINESES ESTIVERAM NA ILHA EM 1421 NAS ASAS DA PANAIR Páginas 30 e 31 Página 18 Páginas 21, 22 e 23 Páginas 12 e 13 Página 22 CONVERSA DE E SQUINA COM FERNANDO D AMÁSIO CARLOS MOURA HUGO DANIEL RESGATA MEMÓRIA DO SUL DA ILHA 248 ESTUPROS POR MÊS EM SaNTa caTaRiNa SãO JOSé, 268 / FLORiaNóPOLiS , 345 aNOS MÊS DA MULHER? Pesquisador Fausto Guimarães descobre evidências de navegadores chineses em Florianópolis no século XV. Estudo é reconhecido na China e nos Estados Unidos. Páginas 8, 9 e 10 Vizinhos há mais de dois séculos e meio, os dois municípios praticamente se fundiram e têm muitos problemas em comum. Páginas 4, 5 e 6 RÉPLICA de um navio chinês do século XV que está no museu marítimo da cidade de Nanjing, china. Foi nessas embarcações que navegadores chineses chegaram até a ilha de Santa catarina

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MaRÇo DE 2018 - ANO V - Nº 45

HISTÓRIA

MEMÓRIA

EXEMPLAR G

RÁTIS

FLORIPA - São JoSé - palHoÇa - BigUaÇU - SaNto aMaRo Da iMpERatRiZ

CHINESES ESTIVERAMNA ILHA EM 1421

NASASAS DAPANAIR

Páginas 30 e 31

Página 18

Páginas 21, 22 e 23

Páginas 12 e 13

Página 22

CONVERSA DE ESQUINA

COM FERNANDO DAMÁSIO

CARLOS MOURA

HUGO DANIELRESGATA MEMÓRIADO SUL DA ILHA

248 EStUpRoS poR MÊSEM SaNta cataRiNa

São JoSé, 268 / FloRiaNópoliS, 345 aNoSMÊS DA MULHER?

Pesquisador Fausto Guimarães descobre evidências de navegadoreschineses em Florianópolis no século XV. Estudo é reconhecido

na China e nos Estados Unidos . Páginas 8, 9 e 10

Vizinhos há mais de dois séculos e meio, os dois municípiospraticamente se fundiram e têm muitos problemas em comum.

Páginas 4, 5 e 6

RÉPLICA de um navio chinês do século XV que está no museu marítimo da cidade de Nanjing, china.Foi nessas embarcações que navegadores chineses chegaram até a ilha de Santa catarina

2 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

EDITORJurandir Camargo

COMERCIALFernando Damásio

DESIGN GRÁFICORonaldo Ferro

DIRETORESFernando Damásio e Jurandir Camargo

CIRCULAÇÃO: Florianópolis, São José, Biguaçu,Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz

ENDEREÇOS: Avenida Josué Di Bernardi, 185 - Sala 27Campinas, São José, Santa Catarina - CEP 88101-200Rua João Motta Espezim, 1.107 - Saco dos LimõesFlorianópolis, Santa Catarina - CEP 88045-400

[email protected]@gmail.com.br

[email protected]

Fone (48) 3333-6594 / 98477-1499www.bomdiafloripa.com.br

Tiragem: 6 mil exemplaresFUNDADO EM 11 DE OUTUBRO DE 2013

COLABORADORESCarlos Moura e Fernanda Damásio

Quando a RBS já tinhapraticamente vendidosuas operações em

Santa Catarina para o GrupoNC, do bilionário dosgenéricos Carlos Sanchez, aempresa gaúcha negava queestava indo embora para PortoAlegre. Negou, negou atécolocar o dinheiro no bolso.

Naquela época, jáespeculava-se que os Sirotskytambém venderiam a RBS doRio Grande do Sul. O assuntovolta ao noticiário e a RBSnega outra vez que vá vendersuas operações no RS. Acoluna Radar da revista Vejadivulgou que as negociaçõesestariam avançadas, e que obilionário Carlos Sanchezpagaria R$ 2 bilhões pelo queresta da RBS: 12 emissoras deTV, 15 de rádio e três jornais.

O presidente da RBS, DudaMelzer, como da outra vez,desmentiu a venda. Falou quea relação com o grupo NC éde parceria, por seremafiliados da Rede Globo, masque não há “relação debusiness”. “Vendemos aempresa de Santa Catarina e,agora, é com eles. Não existenada mais do que isso”, disse.

Nós, catarinenses,conhecemos muito bem todosos personagens e suacapacidade de negar. Como na

parábola, Pedro tambémnegou três vezes antes do galocantar. A RBS também temum Pedro, mas que nega eDuda.

Diversificação

Há alguns anos a RBS tentareinventar-se no setor digital.Criou a e.Bricks, uma holdingcom base em São Paulo e quedesde 2012 investe no amplomercado da web. A e.Bricksatua em ecommerce, mobile emídia digital e tecnologia. Noramo do e-commerce, o carro-chefe é a Wine.com.br, criadaem 2008 e que já é uma dasgrandes da América Latina.Tem 2 mil rótulos de vinícolasde todo o mundo, e tambémvende água, whiskies, licores,vodcas e sucos. No mesmoramo, a Wbeer.com.br, umarmazém digital de cervejas,com rótulos de todo o mundo;e a Mocoffee, que eleschamam de “ a Wine nomercado de café”. A empresausa alta tecnologia, fabrica ecomercializa café em cápsulas.No segmento de mídia digitale tecnologia, a holding temduas empresas. A Predicta,especializada em tecnologiapara publicidade, atua em 17países com plataforma de

gestão e otimização deagências (venda direta demídia online e automação degestão de tecnologia parapequenas e médias empresas).A outra é a Hi-mídia, fundadaem 2005 e que faz parte dae.Bricks (holding digital doGrupo RBS) desde 2011. Temsede no Rio de Janeiro, 100funcionários e é especializadana venda de mídia online, achamada “rede vertical”. Atuaem 450 sites. No segmento demobile, a Hands*, que usadispositivos móveis paramarketing já é considerada amaior player (líder)independente de mobileadvertising (publicidade emsistemas móveis, como celular)no Brasil. Sua rede de mídiawi-fi possui coberturanacional com 1 milhão dehotpots (pontos de rede semfio em bares, cafeterias,restaurantes, aeroportos ehotéis) cadastrados. Atuatambém em parceria comfabricantes e operadoras nodesenvolvimento de produtose projetos especiais deconteúdo.

Tudo isso é muito maistranquilo e lucrativo quecolocar jornais em banca,negociar com jornalistas eseguir as ordens e o padrãoGlobo.

Não será novidade se a RBS vendertudo para o bilionário dos genéricos

trevoGente, parabéns pelo fino e

mordaz humor da sua reportagemdo "Trevo maluco". Continuemassim, abr. Robert. M Schmid

HiperBom pagamulta ambiental

A atuação da Amocam (Associação dosMoradores do Campeche) de combater edenunciar todo tipo de agressão ao meioambiente no bairro, e outras formas de açõesilegais, traz resultados.

A multa imposta ao SupermercadoHiperbom Rio Tavares, por despejo de esgotona galeria pluvial e possível contaminação daLagoa Pequena, foi paga e o valor será revertidopara melhorias na própria Lagoinha.

A falta de transparência dos órgãosambientais não disponibiliza os dados on-line,para o cidadão. Mas, como disse o presidente daAmocam, Alencar Deck Vigano, já é um alento.“Essa pequena vitória de uma comunidade - ouuma parte dela - que se uniu e mostrou que nãodeve ter medo de lutar pelo que é certo. Fomoscriticados, desmentidos, desacreditados, mashouve quem se manteve fiel e seguiu firme namissão”, disse.

A multa que foi imposta ao SupermercadoHiperbom Rio Tavares, por poluição emsetembro de 2017, será revertida em melhoriasno entorno da Lagoa Pequena: trilhas, acessos euma base de educação ambiental.

Faz água a naude Colombo

A crônica já era anunciada.Raimundo Colombo está deixandoo governo e a Procuradoria Geralda República denunciou no STJ ofuturo candidato ao Senado, porcaixa 2 na campanha de 2014. Aação sobre corrupção foiarquivada. Mas explicar durantetoda a campanha deste ano quecaixa 2 não é crime, é um desgaste.O governador em saída ainda nãoé réu. Mas pode virar.

LANÇAMENTO DE LIVRO

Capela São Sebastião– dia 10 de março

Campeche – Um lugar no Sul da Ilha, livro de HugoAdriano Daniel, professor e historiador, será lançado no dia10 de março, no salão da Capela São Sebastião, noCampeche, às 19h30min. É um trabalho meticuloso depesquisa e escutatória. A obra é publicada pela EditoraInsular, do editor Nelson Rolim de Moura, comapresentação da jornalista Elaine Tavares e foto de capa deAlexandre Pacheco. Custeado pelo autor, sem qualquerincentivo governamental, o livro será vendido por R$ 40,00.

3MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

4 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Ahistória, até 2015, dizia queFlorianópolis e São Josétinham surgido

praticamente juntas, no Século 18.A diferença de idade era de apenas24 anos. Uma surgira em 1726 (aCapital) e a outra em 1750 (SãoJosé). E mais: fazem aniversário nomesmo mês: São José em 19 demarço e Florianópolis 23. São,assim, uma espécie de vizinhos decerca.

Mas, como num passe demágica, Florianópolis acordou 53anos mais velha no dia 23 demarço de 2016, no aniversário dacidade. Pela história antiga, que foioficial durante 290 anos, a Capitalestaria fazendo 292 anos agora emmarço de 2018, mas uma leiaprovada pela Câmara, em junhode 2015, e sancionada peloLegislativo por unanimidade emsetembro de 2015 mudou a data defundação de Florianópolis de 23 demarço de 1726 para 23 de marçode 1673. Como a lei só entrou emvigor em setembro de 2015, esteano é a terceira vez queFlorianópolis comemora a idadenova mais velha. Agora tem 77anos a mais que São José.

A lei - O projeto de mudança daidade da Capital, que há três anosnão tinha três séculos e agora játem quase três séculos e meio (345anos) foi do vereador AfrânioBoppré (PSOL), professor eeconomista que não é dado agestos de populismo. A mudançafoi fundamentada em estudos e

provas do Instituto Histórico eGeográfico de Santa Catarina, queconcluiu que o ano de 1726 é adata de emancipação deFlorianópolis de Laguna, e que afundação da cidade foi em 1673.Nessa data, há 353 anos, aesquadra do bandeirante FranciscoDias Velho chegou com 100famílias na Ilha de Santa Catarina,com a missão de povoar a região.

Há muitos anos já se discutia amudança na data de fundação deFlorianópolis, mas o assunto sóvirou um projeto de lei depois queo vereador Afrânio Bopprérecebeu documentos da família doex-desembargador e escritorNorberto Ulysséa Ungaretti,falecido em 2014. Ungaretti foivereador e presidente da Câmara apartir de 1964. Foi criada umacomissão do Instituto Histórico eGeográfico de Santa Catarina(IHG/SC) para avaliar a questão.Integrada por Nereu do ValePereira, Sérgio Schmitz e EvaldoPauli, a comissão deu parecerfavorável à mudança.

A troca de datas ainda causauma certa confusão, mas a cidadese adapta. Afinal, há apenas trêsanos, em 2016, Florianópoliscomemorou 290 anos e agora, em218, completa 345. Tambémpassou a ser a Capital mais antigado Sul do Brasil. Foi fundada em1673, Curitiba em 1693 e PortoAlegre em 1772. Todas as trêscapitais comemoram aniversárioem março.

onde é a divisa?A sinergia entre as duas cidades é tão intensa que, além de fazer

aniversário no mesmo mês, muitas vezes é difícil saber em qualmunicípio se está. Na parte continental, as áreas urbanas seentrelaçam em tantas ruas e vielas que Florianópolis e São Joséparecem irmãs siamesas. As Avenidas Max Schramm, no Estreito, e aLeoberto Leal, em Barreiros, são uma rua só. Na Via Expressa, numpiscar de olhos quem estava em São José já está em Florianópolis. Eo rio Araújo, antigo divisor de águas, de tão poluído foi canalizado ehoje praticamente é uma divisa escondida, envergonhada. Até umrecente marco de São José, o pórtico na foz do rio Araújo, queindicava onde começava a terra do vizinho, foi levantado do lado deFlorianópolis. Há quase dois anos foi derrubado e isso não fez muitadiferença. Afinal, morar em São José e trabalhar em Florianópolis, evice-versa, é tão comum que ninguém mais nota. As economias dasduas cidades cresceram e há negócios, serviços, comércio, empregos,e diversão e arte dos dois lados. São José, por exemplo, há muitotempo deixou de ser “cidade dormitório” da Capital. Aindapermanecem alguns antigos costumes, como o josefense dizer “voulá no centro” quando quer avisar que está indo para Florianópolis.Mas as duas cidades são interdependentes. Dividem até as mesmasmazelas. A Av. Josué Di Bernardi, que pertence a São José, mas édivisa com Florianópolis, é um exemplo disso: a área é dominada pormoradores de rua, viciados em crack e campeia a marginalidade. Umgrande contingente de excluídos vivem em meio ao lixo e esgoto.Essas pessoas (e moradores e empresas no entorno) vivem umarealidade cruel que as duas cidades não conseguem resolver.

FLORIANÓPOLIS, 345 ANOS / SÃO JOSÉ, 268 ANOS

MAIS DE DOIS SÉCULOS EMEIO COMO VIZINHOS

FLORIANÓPOLIS

SÃO JOSÉ

glaicon covre/pMSJ/Divulgação/BD Divulgação/BD

5MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

FLORIANÓPOLIS, 345 ANOS / SÃO JOSÉ, 268 ANOS

São José, que comemora 268anos com uma população de quase240 mil habitantes (239.718,segundo última estimativa doIBGE) caminha rápido paraalcançar os 250 mil moradores.Pode ser daqui a dois anos, navirada de 2020 para 2021, quandoo município completará 270 anos.Essa previsão é baseada nasestimativas populacionais doIBGE (Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística). Em 2010,quando foi realizado o últimoCenso, a população do municípioera de 209.804 moradores. Pelasestimativas, São José ganhou, em 8anos, 29.914 novos habitantes, oque dá uma média de 4.273pessoas a mais todo ano. Em doisanos e meio, a cidade terá 10.682novos moradores, elevando apopulação para 250.400 habitantes.

Com esse ritmo de crescimentoa densidade populacional de SãoJosé, quarta cidade em populaçãode SC, continuará uma das maiselevadas.

Território diminuiu - Asfronteiras de São José já chegaramaté Lages. Incluía municípiosvizinhos como Angelina e RanchoQueimado, que se emanciparamem 1961 e 1962, e São Pedro deAlcântara, que se tornou municípioem 1995. Mas o território que SãoJosé perdeu que mais causouimpacto ao município foi oEstreito.

Toda essa região continental deFlorianópolis pertenceu a São Joséaté 1943. Era o distrito josefensede João Pessoa, anexado aFlorianópolis em 1º de janeiro de1944, através do decreto nº 951,

assinado por Nereu Ramos, queera interventor federal em SantaCatarina.

A justificativa para a anexaçãofoi que Florianópolis era uma dastrês menores capitais do Brasil eprecisava ter um tamanho maisadequado como sede do Estado.De fato, a população deFlorianópolis que era de 41.338habitantes em 1920, e que 20 anosdepois ganhou apenas 5.433 novosmoradores e passou para 46.771habitantes em 1940, pulou para67.630 habitantes em 1950. ACapital, depois da anexação,ganhou 20.859 novos moradoresem apenas 10 anos.

A entrega do distrito de JoãoPessoa, em 1944, derrubou aarrecadação e provocou aestagnação econômica de São José,que perdeu fontes de emprego egeração de renda.

Historiadores sustentam que aanexação atendeu a interesses dafamília Ramos, que tinhapropriedades no Estreito,principalmente no Balneário. Seatendeu ou não interesses dapoderosa família, a verdade é que aanexação de João Pessoa, que virouo Estreito, envolveu grandesinteresses políticos e econômicosde setores fundiários, imobiliários,madeireiros e até exportadores.

Encolhido em seu tamanho SãoJosé, que tem uma densidadedemográfica de 1.376,78habitantes por km² (emFlorianópolis, a densidade é de623,68 hab/km²) conseguiureinventar-se. Hoje é a quartamaior cidade em população e aquinta economia de SC.

Em três anos São Joséterá 250 mil habitantes Com um dos maiores IDH

(Índice de DesenvolvimentoHumano) do Brasil, as duasprincipais cidades da RegiãoMetropolitana atraem cada vezmais gente e os problemas semultiplicam com a mesmavelocidade. Não há uma redeintegrada de transporte público,nem de saúde, e a violência e acriminalidade crescem sem parar.Como as cidades vivem juntas, émais fácil empurrar os problemassociais para baixo do tapete dovizinho. Um exemplo emblemáticoé a região de divisa, uma espécie deterra de ninguém. Ali, ascracolândias e o lixo a céu abertomovem-se de um lado para outro.Baseados sob o viaduto da ViaExpressa, no final da Av. Josué DiBernardes, numa tensa e extensaárea entre Campinas e o MonteCristo, é uma das chagas visíveis esem controle nas duas cidades. Aocupação desordenada e afavelização são outra marca deFlorianópolis e São José. Quase100 mil pessoas vivem em áreas derisco nas duas cidades. Osaneamento básico também écrítico: esgotos poluem cada vezmais praias, rios e manguezais. Asações públicas não acompanham ocrescimento. As baías Norte e Sul,que banham as duas cidades, nãoconseguem ser despoluídas e a

falta de balneabilidade afeta oturismo, a maricultura e a saúde.

Sem planejamento, o resultadoé aquele que todos estão cansadosde ver: os problemas só pioram.Dos dois lados da divisa há muitapromessa municipal, estadual efederal. Uma relação rápida deobras que não saem do papel ouque saem do papel mas nãoterminam: novo AeroportoHercílio Luz, Alça de Contorno,Beira-mar de Barreiros,duplicações da SC-403, da RuaAntônio Edu Vieira e da Av.Diomício Freitas, restauração daPonte Hercílio Luz, elevado do RioTavares, Beira-rio de São José;Beira-mar de Barreiros; e estaçõesde tratamento de esgoto nas duascidades. É uma lista que não temfim.

As duas cidades vizinhas têmpontos críticos que cheiram aesgoto; o mar é pontilhado delínguas negras, os riachos eribeirões estão todos poluídos; osmangues ameaçados por lixo,esgoto e ocupação irregular; e aspraias, um dos tesouros, estão cadavez mais comprometidas.

Violência também é pauta dodia a dia. Em 2017, Florianópolis eSão José, juntas, tiveram quase 200assassinatos. Todo tipo de crimeaumentou. Como será o futuro?Ninguém consegue prever.

problemas comuns

725 mil moradorese 502 mil veículos

Os 725.556 mil moradores dos dois municípios (485.838 emFlorianópolis e 239.718 em São José), convivem com uma frota de502.246 (156.191 em São José e 346.055 em Florianópolis) e vivemsufocados no trânsito. Esse, talvez, é o maior problema das duascidades: caos na mobilidade.

Todo mundo perde tempo e dinheiro. É a sina de todo dia:moradores metropolitanos que são obrigados a andar lá e cá, ficamentalados na BR-101 e na Via Expressa. No fim da tarde, estãoengarrafados na ponte Colombo Salles, na Via Expressa e na BR 101.São congestionamentos crônicos. São José construiu a Av. Beira-mar,que já não alivia mais nem o trânsito interno no sentido São José-Florianópolis. A Av. Presidente Kennedy, revigorada, tem um fluxosem lógica: começa com quatro pistas, afunila para duas na PraiaComprida e termina em uma pista só no Centro Histórico. Umgargalo. Da mesma forma que Florianópolis é dividida em duas - aparte continental e a insular -, São José também foi separada ao meiopela BR 101. Com pouquíssimos acessos para facilitar a comunicaçãoentre os bairros, e cada vez mais telas e blocos de concreto para isolara rodovia, a BR 101 virou um longo muro da vergonha que separamoradores da mesma cidade.

6 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

O cobertor anda curto, mas omunicípio de São José controlousuas finanças e adotou o princípiobásico de gastar menos do quearrecada. Agindo assim, a prefeitaAdeliana Dal Pont tem conseguidorealizar pequenas obras bemaceitas pela comunidade. Hápoucos dias, a prefeitura entregouo Beco da Carioca revitalizado,com nova iluminação, sinalização,pintura e deque. Novos tempospara uma área histórica. Foi aprimeira fonte de abastecimento dacidade e existe desde 1840 comoum lavadouro público comcisterna e torneiras para a coleta deágua potável. A obra foi financiadacom recursos do Fundo deReconstrução de Bens Lesados(FRBL) do MPE .

A prefeitura investe cerca de R$3 milhões em pavimentação. Serãorecuperadas 26 ruas, através deconvênio com a Casan e Badesc.

Também inaugurou a nova sededo Centro de Educação Infantil(CEI) Nossa Senhora das Graças(22/2) no bairro Bela Vista, comcapacidade para atender 216crianças. São 599,82 m2 de áreaconstruída, seis salas climatizadas,sala multiuso, sala de secretária edireção escolar, pátio interno,cozinha, refeitório, banheirosadequados para as crianças,lavanderia completa além de umsolário e parquinho na áreaexterna. A obra custou R$1,3milhão. Este é o valor médio dosinvestimentos, que permite que ascoisas tenham começo, meio e fim.

Desde 2013, quando assumiu, aprefeita Adeliana já entregou sete

novos CEIs e ampliou e reformououtras 21 unidades, criando maisde 2 mil vagas na EducaçãoInfantil. Estão em construção maistrês novas unidades: os CEIsPotecas, Luar e San Marino, quedeverão ofertar mais 850 novasvagas.

Outra obra com vínculocomunitário é o novo Parque daAraucária, no bairro Serraria, com9 mil metros quadrados. Teráquadra poliesportiva, de futebol deareia, pista para esportes radicais,academia de ginástica, mesas dejogos, cancha de bocha, áreas deconvívio e o maior playgroundcom acessibilidade de São José.Cerca de 70% da obra já estáconcluída e deve ser inauguradaem breve.

A Ponta de Baixo tambémganhou cara nova com a obra derevitalização da orla e construçãodo trapiche. Praças da cidadetambém foram revitalizadas, comoa Praça de Barreiros e a PraçaAdriano de Farias, na Forquilhinha.“Graças a muito esforço,economia e responsabilidade como dinheiro público, a prefeitura deSão José segue fazendo obras,mesmo em tempos de crise”, diz aprefeita Adeliana.

Apesar da crise, São José foi asexta maior geradora de empregosem todo o país em 2017, e asegunda que mais abriu novasvagas em SC. Também foi o único,entre os maiores municípioscatarinenses, que registrouaumento do PIB, consolidando-secomo a quinta maior economia deSanta Catarina.

A prefeitura de Florianópolisvive uma crise financeira há muitasdécadas. Dos recursosarrecadados, sobra muito poucopara investimento. Por isso, oprefeito Gean Loureiro tem querebolar para conseguir tocar obarco, que foi deixado no manguepelo ex-prefeito César SouzaJunior. As grandes obras, como oelevado do Rio Tavares, continuamemperradas. Mas a atual gestãocomeça a querer mostrar a queveio. Dia 20/2 lançou novo editalde licitação para construção departe do trecho Sul do corredorexclusivo do "Rapidão", sistema deônibus BRT, que faz parte do anelviário no entorno do Maciço doMorro da Cruz. O contrato foiorçado em quase R$ 31 milhões(recursos da CEF) e o prazo deexecução é dois anos.

Obras na Ilha e no Continentedevem ficar prontas este ano,como as creches Capoeiras e VilaAparecida, em Coqueiros; SantaVitória, na Agronômica; e daunidade educativa de Ingleses.Serão mais 1.500 vagas paracrianças de quatro meses a cincoanos de idade. A prefeituratambém constrói creches noMorro do Céu (Agronômica),Morro do Horácio (Agronômica),Caieira do Saco dos Limões (Sacodos Limões), Rio Tavares (RioTavares), Red Park (Rio Vermelho)e Tapera (Tapera). Estão em obrasa nova Escola Básica Mâncio Costa(Ratones) e a reforma da EscolaBásica Henrique Veras (Lagoa da

Conceição).Com estrutura precária ou não,

Florianópolis também entrou narota dos cruzeiros. Quem sabe acidade, que tem 90% do territórioem uma Ilha, acaba descobrindo omar. A primeira escala teste serádia 24 de março, um dia depois doaniversário da cidade, no trapichede Canasvieiras. Será o maior navioem operação na América do Sul,MSC Preziosa da empresa MSCCruzeiros, que comporta 4.300passageiros mais 1.300 tripulantes.

Dia 22/2, foi lançado o editalpara requalificação urbana doentorno do Mercado PúblicoMunicipal e da Antiga Alfândega.A parceria foi firmada emdezembro entre Prefeitura deFlorianópolis e IPHAN (Institutodo Patrimônio Histórico eArtístico Nacional). O projeto estáorçado em R$ 7,8 milhões e seráexecutado com recursos doIPHAN no âmbito do PACCidades Históricas. A previsão é deque os trabalhos sejam concluídosem um ano, a partir do início daobra.

A Prefeitura inaugurou (21/2)novas instalações da Unidade deSaúde do bairro Coloninha. Foiinvestido R$ 110 mil. Outras 19unidades já receberam reformas,investimento de R$ 2 milhões.

Mas o maior símbolo deFlorianópolis, a Ponte HerícilioLuz, obra que é responsabilidadedo Governo do Estado, estánovamente ao relento.

FLORIANÓPOLIS, 345 ANOS / SÃO JOSÉ, 268 ANOS

Boas notícias em São José

Boas notícias em Floripa

BECO DA CARIOCA: pequeno investimento com grande importância histórica

REVITALIZAÇÃO do largo da alfândega vai dar nova cara ao centro Histórico da capital

8 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

RAQUEL WANDELLI

(Professora de Jornalismo na Unisul,doutora em Literatura e mídia-ativistado Jornalistas Livres)

Foi o interesse apaixonadopela história da Ilha de SantaCatarina que levou Fausto

Guimarães, filho de pescador, a“atravessar a ponte” para a China ea ser reconhecido na China e nosEstados Unidos como o maiorpesquisador do mundo sobre apresença dos chineses nesta regiãoantes da chegada de Cabral.Agente de vigilância do INSS elelançou recentemente, noRestaurante Árabe Falah, emFlorianópolis, sua quartapublicação sobre a passagem peloBrasil de dois dos cinco almirantesda dinastia chinesa Ming, entre osanos de 1421 e 1423.

Criado no Morro do Céu,Fausto tornou-se não apenas umgrande especialista nas incursõeschinesas pelo Novo Mundo, comoautor de uma descobertaarqueológica capaz de revolucionartudo que se sabe sobre as relaçõesentre os indígenas que aquihabitavam e esse povo do Oriente.Capaz também de mudar oentendimento sobre as inscriçõesrupestres e os artefatos de pescalocais que, na sua hipótese, sãouma transferência de tecnologia

chinesa na troca de conhecimentocom os índios Avás.

Para início de compreensão daimportância de suas pesquisas, apartir delas a origem das inscriçõesrupestres dos sítios arqueológicosteria uma versão muito diferenteda conhecida: “Já temos evidênciaspara demonstrar que nos desenhosdos dois costões do Santinho ouda Ilha do Arvoredo, por exemplo,há presença de caractereschineses”, afirma Fausto.

O encontro feliz entre omanezinho da Ilha e o mundo doOriente aconteceu há 15 anosquando caminhava pela praiado Santinho e é tão fascinantequanto a história que ele passou acontar obstinadamente a partir daítraduzidas do português para omandarim e para o inglês. Juntocom as publicações, ele temrealizado também inúmeraspalestras em congressosinternacionais sobre as incursõesmarítimas das dinastias chinesaspelas Américas no período pré-colombiano, patrocinadas pelogoverno e por instituições depesquisa na China e nos EstadosUnidos, onde suas teses já sãoreferência.

Não limitado a publicar suasdescobertas em forma de romanceno primeiro livro “A rampa doSantinho, um legado chinês na Ilha

de Santa Catarina” (EditoraInsular, 2010), edição bilíngueportuguês-mandarim de 456páginas, o servidor recorreu destavez às histórias em quadrinho paradivulgar essa narrativa épica. “Agrande maioria dosflorianopolitanos e brasileiros – emesmo os entendidos na culturalocal – desconhece completamenteos impactos dessa presença chinesana Ilha”, enfatiza Fausto, 52 anos,que foge ao estereótipo brasileirocom o cabelo ruivo e os olhosclaros. “Desconhecem inclusive ofato histórico das navegaçõesmarítimas chinesas”.

Em A grande viagem às Terrasdo Oeste (Brasil) – 1421, a revistaem quadrinhos que ele acaba delançar, vem para romper um poucoo silêncio sobre esse contatoprodigioso entre dois povosfundadores da cultura local na suavisão. Compõem as ilustrações ummix de tecnologia virtual comalguns desenhos dele mesmo e deoutros ilustradores, mas a maiorparte são adaptações fotográficas,a exemplo das fotos aéreas da

região dos Ingleses e do Santinho,explica Fausto, que entrou para aPrevidência Social há 33 anos, peloIapas.

Tanto livro como revista são,conforme o autor, coerentes comparadigmas e estudos jáconsolidados sobre as experiênciasdos chineses com outros povos.Sem referências exatas de realidadepara compor uma etnografia,optou por preencher as lacunascom as suas suposições, narrandoem forma de romance a relaçãodesses exploradores com os índiosAvás, que habitavam a Ilha deSanta Catarina e arredores. “Mastudo que escrevi explorando aimaginação parte das minhaspesquisas e do conhecimentoestabelecido por outros autores”,esclarece Fausto, que fezdistribuição gratuita das revistas nolançamento. Com a ajuda dascomunidades Guarani, árabe echinesa, organizou para o eventouma grande performance commúsica, dança e teatro em torno deepisódios do seu épico quemostram a pluralidade culturaldessas relações entre povos.

REVIRAVOLTA NA HISTÓRIA

INSCRIÇÕES RUPESTRES DE FLORIPAPODEM SER IDEOGRAMAS CHINESESPesquisador catarinense descobre evidências da presença de navegadores chineses emFlorianópolis no século XV. Estudo é reconhecido na China e nos Estados Unidos

INSCRIÇÕES RUPESTRES nos costões da praia do Santinho

COM EQUIPE de pesquisadores na china

9MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

REVIRAVOLTA NA HISTÓRIA

Na década de 40, o padre earqueólogo Alfredo Rhorexplodiu, na praia do

Santinho, pedra com uma santa aquem mulheres de pescadorespediam proteção antes de eles iremao mar.

A imagem era a de uma mulhergrande e forte, com chapéuquadrado e manto nas costas, ecorresponde à figura de umachinesa chamada Mazu, nadadoraque viveu no século X numacolônia de pescadores no litoral deChina Meizhou e costumava, comseus braços grandes e fortes, salvá-los de afogamentos.

Até 15 anos atrás, antes dapublicação do romance de FaustoGuimarães, os pesquisadorescanônicos só falavam dasexpedições europeias ao Brasil e aoNovo Mundo como um todo. Aolongo de seis séculos, a misteriosapassagem dos chineses manteve-sedesconhecida dos historiadoresmodernos como um tesourosecreto. Com esse episódio, oromance entre a índia Iracema e omarinheiro Xiao também ficouguardado feito uma pérola emconcha fechada para serreinventado pela pena do autor.Interessado pela cultura chinesadesde que estudou acupuntura noCeata, em São Paulo (1995), edesde a graduação no curso deHistória da UFSC (1997), Fausto

fez sua primeira viagem à Chinaem 2005. Ficou entusiasmadopelas viagens marítimas pré-colombianas ao ouvir de uma guiaturística chinesa sobre suapresença no Amazonas,reforçando a ideia da sua presençaem Meiembipe (nome indígena deFlorianópolis) e confirmar suassuspeitas de que as inscriçõesrupestres tinham a marca dacultura oriental.

As investigações bibliográficas eem campo acabaram tomandoconta do seu tempo livre e deramorigem ao segundo livro narrandoa trajetória dos seus estudos efundamentando suas hipóteses.Em Do Shan Hai Jing às épicasviagens do almirante Zheng He;estariam os chineses visitando asAméricas e o Brasil há mais dequatro mil anos?, ele explica oselementos que foi interligandopara creditar a narrativa sobre osrastros deixados pelos chineses naIlha. Entre eles estão os registrosdo Padre Alfredo Rhor, noprimeiro congresso local sobreArte Rupestre, em meados de1960, revelando ter tirado eextraviado na década de 40 a pedracom a imagem de uma santa que seatribuía à padroeira dos navegantese diante da qual as mulheres dospescadores faziam seus rituais parapedir proteção antes de os homensse lançarem ao mar.

Décadas depois, conversandocom o pai pescador e com asmulheres mais velhas do Santinho,que alegaram ter ouvido a explosãoda pedra quando crianças, verificouque nos relatos o artefato tinhauma localização diferente e umadimensão bem maior damencionada pelo arqueólogo. Adescrição da imagem feita pelopadre também difere daapresentada pelas mulheres, o quelevou Fausto ao seu primeirogrande achado: tratava-se, naverdade, não de uma santa católica,mas de uma mulher grande e forte,com um chapéu quadrado e ummanto nas costas, que correspondeà figura de uma chinesa chamadaMazu. Hábil nadadora, essapersonagem viveu de fato noséculo X numa colônia depescadores no litoral de ChinaMeizhou e costumava salvá-los

com seus braços grandes e fortesdos afogamentos. Depois de sumirno mar, Mazu foi mistificada comouma espécie de padroeira dospescadores.

As surpresas não terminam poraí. Nesse trabalho de campo, oautor confirmou no costãoesquerdo da Praia do Santinho,bem na entrada pelo mar, aexistência de uma pedra com umfuro de dinamite, provavelmente ada imagem de Mazu, implodidapelo padre, e descobriu ao ladodela uma espécie de rampavisivelmente cortada na pedra, queserviria ao atracamento dasembarcações. Tomou cuidado pararegistrar essa descoberta na certezade que em breve suas evidênciasseriam confirmadas, assim comooutros indícios impactantes: nasviagens para a China, em um

museu de Hong Kong, identificoumuitos instrumentos de pesca,como puçá, coca, jererê, tarrafaque os índios usavam na Ilha deSanta Catarina, sem falar nasemelhança etimológica e materialda jangada nordestina com umpequeno junco chinês. “Todosesses artefatos para pegar siriexistem na China”, diz Faustoarregalando seus olhos verdes, quesustenta ainda a tese de que asofisticação das técnicas de pescana Ilha, identificadas pela presençaabrupta e inexplicável deesqueletos de grandes peixes nossambaquis, seria resultante dessecontato profícuo entre Avás eorientais. Da mesma forma, reflete,os chineses que têm como padrãode comportamento o contágio e aapropriação cultural devem teraprendido com os índios.

O MISTÉRIO DAPEDRA SAGRADA

ESTÁTUA DE MAZU, deusa do oceano namitologia chinesa: imagem semelhanteà que existia no Santinho e foiexplodida pelo padre Hhor

NA HIPÓTESE DO HISTORIADOR, algumas inscrições são feitas de símbolosindígenas e outras de caracteres chineses

NO COSTÃO DO SANTINHO, a pedra que foi explodida pelo padre earqueólogo alfredo Rhor guardava a imagem de Mazu

10 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Estudante de mandarim háseis anos, o servidor FaustoGuimarães é um dos

grandes pesquisadores dasexpedições chegadas à Ilha deSanta Catarina por ordens doimperador Zhu Di. O chefe dadinastia alistou cinco almirantespara, sob o comando de seuhomem de confiança, o almiranteZheng He, cumprirem umadesafiadora missão: descobrirterras além da África e cartografartodos os oceanos do mundo.

O imperador estava decidido aimplantar uma importantemudança cultural no mapa políticoe geográfico do planeta. Desejavaromper definitivamente com umatradição de milênios, pela qual oschineses mantinham-se fechadosao olhos do mundo. Nessaexpedição, Hong Bao seria oresponsável pela descoberta deterras, hoje conhecidas comoBrasil. Junto com ele, outroschineses, indianos e um africano denome Kebec, empreenderiam umaimpactante relação com os índiosAvás, que significa gente emGuarani e substitui a denominaçãoeuropeia de Carijós (índios escurose claros).

Conta o livro, semprepreservando o tom solene emisterioso de um grande épico queversa sobre o encontro de doispovos de diferenças abissais:“Hong Bao é o comandante damissão que se dirige para a terra doOeste. Sob suas ordens homens emulheres viverão em comunhãocom ideais confucianos. O mundo

dos nativos Avás nunca mais será omesmo. Os chineses levarão seuconhecimento e em trocareceberão o respeito dos povosdesta terra”.

Além de criar a históriaamorosa de Iracema e Xiao, oromance fala da vida simples docacique e seu povo, a trama de Secipara roubar Xiao de Iracema e asarmadilhas feitas pelas índiasamazonas para capturar seusprisioneiros. Pergunto se essarelação não foi romantizada,considerando que na históriamundial os países expedicionáriossempre foram truculentos edominadores com outros povosem suas explorações marítimas. Eele me responde com uma aulasobre o pensamento e a históriachinesa, mostrando que osditadores que barbarizaram a Ásianão eram de fato chineses, maspertenciam a outras nações queinvadiram a própria China, comoos mongóis e manchus. “Aocontrário das exploraçõeseuropeias que marcaram nossacolonização, a base desserelacionamento chinês com outrospovos sempre foi a paz e orespeito”, garante, citando váriasfontes bibliográficas e episódioshistóricos.

Em 2013, Fausto viajou à Chinaa convite da Universidade deMacau e da Universidade deShanghai para participar de umseminário sobre Viagens Marítimaschinesas do Século XV. Nessaexpedição de rota contrária aosantepassados de Hong Bao,

apresentou seu trabalhode pesquisa sobre asevidências arqueológicasda possível passagem doschineses pela Ilha deSanta Catarina antes dachegada dos portugueses,na Associação Macaupara promoção eIntercâmbio entre Ásia-Pacífico e América Latina(Mapeau) na cidade deMacau, na China.

Em dezembro de2016, já era o maiorespecialista no assunto eviajou a vários centrosacadêmicos de pesquisassobre exploraçõesmarítimas da China, emcidades como Beijing,Nanjing, Guangzhou, Hong Kong,entre outras, para divulgar seu maisrecente livro, este em inglês: Fromthe Shan Hai Jing to the EpicJourneys of Admiral Zheng He inthe XV Century; Where theChinese visiting the Americas andBrazil over 4000 years ago? Portodos os institutos de pesquisaonde passou, mostrando asinscrições rupestres do Santinho eda Ilha do Arvoredo, só recebeuum gesto de imediatoreconhecimento de ideogramaschineses, em sinal de afirmaçãocom a cabeça “tui, tui, tui” (sim,sim, sim).

Em outubro, nosso agenteadministrativo, anônimo em suaterra, mas famoso entre ossinólogos do Oriente e dos EUA,apresentará seu trabalho num

simpósio de quatro dias sobrediáspora chinesa pelo mundo epelo Brasil, na Califórnia, no hotelHilton, em São Francisco. Essasviagens a convite de outros países,são sempre patrocinadas, mas aspesquisas são investimentos dopróprio bolso. De tanto estudar asexpedições precoces, ele próprio setornou um navegador a refazerobstinadamente pelos livros oupelas explorações a ponte quemostra as ligações estreitas entredois povos antes tidos comoestranhos.

(*) originariamente, esta reportagem foipublicada no Jornalistas livres(https://jornalistaslivres.org/)

A MISSÃO CHINESA PELOS MARESEntre 1421 e 1423 a diáspora chinesa pelo mundo incluiu umperíodo de permanência na Ilha de Santa Catarina

REVISTA em quadrinhos ilustrada pelo próprio autorDEPOIS DE INVESTIR no romance, Fausto recorreu a histórias em quadrinhopara divulgar essa história ignorada

PRIMEIRO LIVRO do autor é a história ro-manceada das relações entre chineses eos índios avás na ilha de Santa catarina

12 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Santa Catarina não tem o quecomemorar no DiaInternacional da Mulher (8/3)

e nem no mês da mulher, agora emmarço. Em 2017 a violência contraa mulher aumentou muito emrelação a 2016.

Pelas números da Secretaria deSegurança Pública (SSP-SC) só deestupros consumados foramregistrados 2.975 casos em 2017,contra 2.851 em 2016 (124estupros a mais, aumento de 4,5%).Isso significa uma média de 248estupros por mês em 2017, mais de8 por dia. Houve, ainda, 282tentativas de estupro (contra 254em 2016).

Cento e vinte e três mulherestambém foram vítimas dehomicídio doloso em 2017, contra105 em 2016. É um aumento de17% nas mortes violentas demulheres. SC Praticamente voltouao estágio crítico de 2014, quando111 mulheres foram assassinadas, eque fez fechar a década 2005/2015com uma variação de 42% nonúmero de homicídios demulheres.

Houve uma variação negativa de-12,5% de 2014 (111 homicídios)para 2015 (97 homicídios), mas osnúmeros voltaram a crescer em2016 (109 mulheres mortas) e 2017(110 homicídios de mulheres) emSC.

Na comparação com 2015, com97 homicídios femininos (-12,6%em relação a 2014), os assassinatosde mulheres cresceram mais de12% em 2016 e mais de 13% em2017.

Houve também, em 2017, 173tentativas de homicídio, 25 a maisque em 2016.

Violência em casa - O que se vêpelos números de 2017 é que aviolência contra as mulherescresceu em todos os níveis emSanta Catarina. Por exemplo: oscasos de lesão corporal dolosapularam de 19.552 em 2016 paraum pico de 21.246 em 2017, quase5 mil a mais (4.994), aumento demais de 10%.

Outra leitura preocupante daestatística da SSP é que quase 65%dos casos de lesão corporal dolosaforam violência doméstica, ou seja,13.012 das 21.246 ocorrênciasregistradas foram de mulheres que

apanharam em casa.Essa explosão da violência

doméstica em Santa Catarina, ondeas vítimas são mulheres (e os filhospor consequência) está bem clarono número de casos de ameaças.Foram 25.172 registros em 2017contra 23.164 em 2016, aumentode 8,5%. Isso representa 2.097mulheres ameaçadas todo mês, 69por dia e quase 3 por hora.

assassinatode mulheresnegrasaumentou22%

Segundo o Atlas da Violência2017, elaborado Ipea (Instituto dePesquisa Econômica Aplicada) e oFórum Brasileiro de SegurançaPública, que avaliou dados de 2005a 2015, a mortalidade de mulheresnão negras teve uma redução de7,4% entre nesse período de 10anos, atingindo 3,1 mortes paracada 100 mil mulheres não negras(abaixo da média nacional), amortalidade de mulheres negrasregistrou um aumento de 22% nomesmo período, chegando à taxade 5,2 mortes para cada 100 milmulheres negras, acima da médianacional.

Os dados indicam que, além dataxa de mortalidade de mulheresnegras ter aumentado, cresceutambém a proporção de mulheresnegras entre o total de mulheresvítimas de mortes por agressão,passando de 54,8% em 2005 para65,3% em 2015. “Trocando emmiúdos, 65,3% das mulheresassassinadas no Brasil no últimoano eram negras, na evidência deque a combinação entredesigualdade de gênero e racismo éextremamente perversa e configuravariável fundamental paracompreendermos a violência letalcontra a mulher no país”, diz aanálise do Atlas de Violência.

As maiores taxas de letalidadeentre mulheres negras foramverificadas no Espírito Santo (9,2),Goiás (8,7), Mato Grosso (8,4) e

Rondônia (8,2). Apenassete Unidades daFederação reduziram ataxa de mortalidade demulheres negras porhomicídio entre 2005 e2015: São Paulo (-41,3%);Rio de Janeiro (-32,7%);Pernambuco (-25,8%); Paraná (-23,9%); Amapá (-20%); Roraima (-16,6%); e Mato Grosso do Sul (-4,6%).

De 2005 a 2015, em SantaCatarina a taxa de homicídios demulheres negras (por 100 milhabitantes) foi de 133,4%, a quartamaior do Brasil, atrás apenas deCeará 190%, Rio Grande do Norte163,7%, e Sergipe 141,9%.

Os dados revelam um quadrograve, e indicam também quemuitas dessas mortes poderiam tersido evitadas. Em inúmeros casos,até chegar a ser vítima de umaviolência fatal, essa mulher é vítimade uma série de outras violências degênero. A violência psicológica,patrimonial, física ou sexual, emum movimento de agravamentocrescente, muitas vezes, antecede odesfecho fatal.

Sc com maiortaxa de tentativade estuprodo país

Santa Catarina registrou em2016 a taxa mais alta do Brasil detentativas de estupro (por 100 milhabitantes), segundo dados do 11°Anuário Brasileiro der SegurançaPública, divulgado no final de 2017.

Segundo o anuário, foram 702tentativas de estupro em SC em2016. Os números conflitam com aestatística da SSP (Secretaria deSegurança Pública), que registrou254 tentativas em 2016.

Também os números deestupros são diferentes: no 11ºAnuário Brasileiro der SegurançaPública estão registrados 3.084casos em 2016, contra os 2.851 queconstam da estatística da SSP. Adiferença é de 233 casos nosnúmeros oficiais, ou 8% a menos.

O levantamento do Anuário

Brasileiro de Segurança Públicaleva em conta apenas os casosregistrados em boletins deocorrência, critério que deveria sero mesmo da SSP.

O estado com a maiorproporção de casos em 2016 foi oMato Grosso do Sul, ondeocorreram 54,4 estupros para cada100 mil pessoas, um total de 1.458crimes.

A menor taxa foi do EspíritoSanto: 4,7 casos para cada 100 milhabitantes. Em números absolutos,foram 188 casos registrados noestado.

São Paulo, por sua vez,concentra o maior númeroabsoluto de estupros: 10.055 casosem 2016, o que equivale a uma taxade estupros de 22,5 casos por 100mil habitantes.

Em sete anos,333 mil casos

De 2010 a 2016, o Brasilregistrou, em números absolutos,333.759 casos de estupros. É comose todas as mulheres deFlorianópolis e São José tivessemsido vítimas desse crime nesses seteanos.

Veja como o País praticamentenão consegue reduzir essa violênciacontra as mulheres:

ANO ESTUPROS2010 41.1802011 43.8692012 50.2242013 51.0902014 50.4382015 47.4612016 49.497

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

Foram 2.975 casos em 2017, aumento de 4,5% sobre 2016.123 mulheres também foram vítimas de homicídio no ano passado

AUMENTOU a taxa de mortalidade demulheres negras e também a proporção

de mulheres negras vítimas demorte por agressão

248 ESTUPROS POR MÊS EM SC

geledés/Divulgação/BD

As três maiores cidades daRegião Metropolitana(Florianópolis, São José e

Palhoça) que, juntas, têm quase 900mil habitantes (890.482, estimativapopulacional do IBGE em 2017),registraram média de um estupropor dia em 2017. Para quem acha onúmero pequeno, são 30 casos pormês e 363 por ano. As três cidadesseguem a tendência de SC nestecrime, que está em crescimento.

Florianópolis (485.838habitantes) registrou o maiornúmero de casos: foram 189estupros consumados em 2017,contra 177 em 2016, ou 12 casos amais, um crescimento de 6,8%.

Em São José (239.926habitantes), no entanto, a situação émais alarmante: o aumento doscrimes de estupro foi de 37%: 93casos em 2017 contra 68 em 2016.Palhoça também é uma cidadeviolenta com as mulheres: foramregistrados 81 estupros em 2017,contra 73 em 2016, um aumento de11%.

Homicídios – Também houve

um aumento no número dehomicídios contra mulheres nas trêscidades: pularam de 13 em 2016para 22 em 2017, crescimento de70%.

Na Palhoça, o aumento foi de500%: de uma mulher assassinadaem 2016 saltou para seis em 2017.Florianópolis registrou aumento de62% nos casos de homicídio contramulheres: 13 em 2017 contra 8 em2016. Em São José houve quedanesse tipo de crime: 33%: 4 em2016 e 3 em 2017.

Causas – O homicídio doloso ésempre o resultado trágico de umasérie de outros atos violentospraticados contra as mulheres.Muitas vezes a morte pode serevitada. Por isso, as instituições quecombatem ou reprimem este tipode crime têm que buscar reduziratos violentos que levam aos crimesfatais.

Cresce muito, por exemplo, osíndices de lesão corporal dolosa,que praticamente acontecem noambiente doméstico. Em SantaCatarina, em 2017, 62% das lesões

corporais contra mulheres foramno ambiente doméstico.

Floripa, na RegiãoMetropolitana, liderou os casos delesão corporal em 2017. Os casoscresceram 13%. Foram 1.822crimes deste tipo em 2017 contra1.619 em 2016, ou seja, 203 a maisde um ano para outro

São José teve aumento de 8,7%nos casos de lesão corporal dolosa:foram 730 casos em 2016 contra813 em 2017. Em Palhoça, houvequeda: 595 casos em 2016 contra570 em 2017, uma redução de4,5%.

A ameaça, outro desencadeadorda violência doméstica, tambémteve crescimento. A situação maispreocupante é a de Palhoça: o

aumento dos casos de ameaça foide 23%: de 626 em 2016 para 768em 2017.

Em Florianópolis aumentou 3%(de 1.546 casos em 2016 para 1.590em 2017); e em São José, 5%: 788casos em 2016 contra 828 em 2017.

As mulheres também estão setransformado cada vez mais emalvo de roubos. Palhoça liderou oscasos: aumento de 15%, de 283 em2016 passou para 325 em 2017.

Florianópolis teve umcrescimento de 2%: foram 1.082roubos contra mulheres em 2016 e1.110 em 2017. E São José houvequeda significativa nesse tipo decrime: -15%. Foram 926 roubos em2016 e 808 em 2017.

13MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

ESTADOS COM AS MAIORES TAXAS DE TENTATIVA DE ESTUPRO EM 2016(TAXA POR 100 MIL HABITANTES)

RANKING ESTADO ESTUPROS TAXA TENTATIVAS TAXA1º Mato Grosso do Sul 1.458 54,4 166 6,22º Amapá 385 49,2 28 3,63º Mato Grosso 1.614 48,8 163 4,94º Roraima 234 45,5 37 7,25º Santa Catarina 3.084 44,6 702 10,2

FLORIPA, SÃO JOSÉ E PALHOÇA MAIS VIOLENTAS

14 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

15MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Espécie de braçopedagógico daAssembleia Legislativa

de Santa Catarina, a Escola doLegislativo deputado LícioMauro da Silveira bate recordesno ensino a distância. O projetodisponibiliza cursos on-line háapenas cinco meses e járegistrou mais de 13 milinscrições, superando a metainicial de 2 mil inscritos.

A coordenadora da Escola doLegislativo, Marlene Fengler,explica porque a instituição temtanta procura e se consolidacomo um das propostas maispopulares da Alesc.

Bom Dia - Por que a Escolado Legislativo decidiu apostarno ensino à distância. Que tipode resultado traz para aAssembleia?

Marlene Fengler - A ideia éatingir o maior número de pessoas.Com o ensino a distânciadisponibilizamos oportunidade decapacitação à todos os servidorespúblicos. Podem fazer fora dohorário de trabalho e em qualquerlocal que tenha computador. Oobjetivo é qualificar as pessoas queservem a sociedade.

BD - Os cursos sãodisponíveis a todos?

Marlene - Qualquer pessoapode acessar pela internet oscursos oferecidos pela Escola doLegislativo. 61% dos cadastradosnão são ligados a órgãos públicos,e tem gente até de fora de SantaCatarina participando. Isso tem aver não só com os cursosofertados, mas também porque aplataforma on-line permite aocidadão estudar em qualquerhorário e local. Isso facilita muito avida das pessoas. Outro aspectoimportante: todos os cursos sãogratuitos.

BD - Como é a procura?Marlene - Está bem maior do

que era esperado quando aplataforma EaD foi lançada, nocomeço de setembro de 2017. Aexpectativa era de que 2 milpessoas se inscrevessem mas,nesses cinco meses de atuação, jáforam mais de 13 mil inscrições. Só

agora em fevereiro, os 20 cursosoferecidos registraram 5.474inscritos.

BD - Quais são os cursos ecomo as pessoas podem seinscrever?

Marlene - Nessa etapa serãooferecidos 20 cursos e quase todosvoltados à melhoria da qualidadede atendimento, mas alguns sãoúteis até para a vida da gente,como o de Administração doTempo e o de Qualidade noAtendimento. Essas capacitaçõescontribuem no dia a dia emelhoram a convivência emqualquer ambiente. Mas, demaneira geral, os cursos sãovoltados à qualificaçãoprofissional. Tem, por exemplo,Redação Oficial, Noções deDireito e até Empreendedorismo eDesenvolvimento Regional. É só irem escola.alesc.sc.gov.br/e clicarem EaD ou ir direto no siteead.escola.alesc.sc.gov.br/ e secadastrar. As inscrições para oscursos on-line oferecidos pelaEscola estão abertas sempre naprimeira semana de cada mês.

BD - É possível se inscreverem mais de um curso?

Marlene - Sim, mas o ideal éque a pessoa faça, no máximo, doiscursos de cada vez, principalmentese não estiver familiarizada com aplataforma. Cada curso tem cargahorária e um prazo de conclusãoque precisam ser cumpridos. Feitostodos os módulos, o aluno ésubmetido a uma prova, tambémno ambiente virtual, e precisa terno mínimo nota 7 para receber ocertificado. É fácil acessar aplataforma, mas quem tiver dúvidapoderá fazer contato com a Escolapelo e-mail que está no site ou pelotelefone (48) 3221 2788, emhorário comercial.

BD - Que outros projetos aEscola desenvolve?

Marlene – São vários projetose ações. A Escola é o braçopedagógico do Legislativo. Paraeste ano, a meta é oferecer on-linecursos que são realizados apenasna modalidade presencial. Algunsdeles têm bastante procura, comocurso para Cerimonial e Legística

(produção de leis). Além disso,faremos nova edição do Estágio-visita, que no ano passado reuniuna Alesc 49 universitários de 28municípios de Santa Catarina.Através de palestras, visitas guiadase participações em reuniõesplenárias, o projeto apresentou aosestudantes as atribuições doParlamento e as atividades dosdeputados estaduais. Tambémvamos desenvolver as 24ª e 25ªedições do Parlamento Jovem, queproporciona a estudantes avivência da rotina como deputadosestaduais durante quatro dias deatividades no Palácio BarrigaVerde. Eles têm oportunidade deapresentar, analisar e votarpropostas, reproduzindo todo oprocesso legislativo. O ParlamentoJovem é composto por 40estudantes de Ensino Médio, comidades entre 14 e 21 anos, dediferentes regiões do estado. Aprimeira edição deste ano serárealizada entre os dias 1º e 6 dejulho e a segunda, no final denovembro.

BD - Que outras iniciativasvocê destacaria?

Marlene - Para o segundosemestre, pretendemos lançar umcurso de especialização em PoderLegislativo e cidadania paraservidores da Assembleia eCâmaras de Vereadores. Isso vaiqualificar ainda mais aprestação de serviços àpopulação. Outro projetojá com data marcada é oHackathon Cívico. Esse éuma ação inovadoraatravés da qual vamosmobilizar estudantes dediferentes áreas, masespecialmente na deadministração pública.Eles vão passar os dias25, 26 e 27 de maiodesenvolvendosoluções práticaspara problemas reaisda sociedade. Oresultado pode serideias, aplicativos,iniciativas inovadoras

para melhorar as atividades doLegislativo ou em áreas comosegurança, educação e saúde, porexemplo.

BD - Além do suportepedagógico a diferentes setoresda Assembleia, a Escola planejacriar um banco de conteúdospara pesquisas na formulaçãodas leis. Como será isso?

Marlene - É grande novidadepara este ano. A criação de umlaboratório de inovação dentro doPalácio Barriga Verde. O objetivo éjuntar duas pontas: ideias de forado Parlamento com a técnica detransformar teses em realidade,com a elaboração de leis maisconsistentes e eficientes e quetenham afinidade com o que aspessoas esperam dos deputados. Omeio acadêmico é pródigo emfomentar ideias ou teses quemuitas vezes ficam desconhecidas.A intenção é trazer essas ideiaspara dentro do Parlamento, paraque sejam aproveitadas comosubsídio na elaboração de novasleis. Muitas vezes a sociedadequalifica os parlamentares pelaquantidade de projetos aprovados.A produtividade dos parlamentaresé medida por isso, o que nãosignifica qualidade. A ideia équalificar os projetos apresentados

e aprovados.

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13 MIL INSCRITOS NO ENSINO A DISTÂNCIAMeta agora é criar banco de conteúdo, com produção acadêmica, para dar subsídios na elaboração de leis

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CRÔNICACarlos Moura

Eentão nos transformamosem máquinas de calcular.Calculamos tudo. Riscos,

gastos, despesas, compensações,desgastes, duração. Calculamostempo, desperdícios, vantagens,ganhos e perdas. Computamoschances, possibilidades,percentagens, partes. Calculamosos minutos, segundos e até átimosindizíveis. Perscrutamos caminhos,distâncias, contamos quilômetros,centavos. Orçamos gastos,prevemos contas, contabilizamosrestos e resíduos. As sobras.Somamos memórias, esforços,energia. Desperdiçamos o tempo,o senso, satisfações rápidas.Cotamos investimentos, lucros,sorrisos e afagos.

Quanto vale o teu sorriso? Eum brilho, um beijo?

Quanto tempo temos antes queo tempo enferruje os ossos, os

olhos e os sentimentos? Quantodura um prazer e uma carícia?Quanto vale o empenho de mantertodas as coisas como estão, porquemudanças custam caro e causammedo? Quanto vale um brilho eum suspiro? E uma morte?Quanto sai?

Poupa-se tempo, esforço,energia. Poupa-se o coração erilha-se os dentes. Deposita-se asmágoas no fundo mais fundo.Administra-se sensações evontades e desejos e objetivos.Administra-se os gostares edesgostos também. Realiza-se opossível, barganha-se o salário,negocia-se a dívida, cotiza-se anota, parcela-se a conta e os gestosde carinho.

Cada coisa vale alguma coisa.Toda coisa tem um preço. Emtudo se investe e contabiliza-se osaldo de uma vida inteira ao fim de

uma história-conta-corrente.

Gasta-se muito, ganha-sepouco, doa-se algo, recupera-se umquase nada na hora de dormir asoito horas que é preciso dormirpara que a produção no outro dianão caia. Ao fim do dia, do mês, doano faz-se as contas para perceberque não se guardou muita coisa.Nem lembranças, nem memórias,nem gestos – desperdiçados napressa de maximizar o poucotempo e as muitas demandas. Nemsonhos. Nem paixões e nemprazeres.

Os custos são altos, a margem émínima. Nada parece tão rentávelou atrativo. Nem eu, nem você.

Nem nós. A equação exige umresultado positivo. Mas há resíduosa serem computados noorçamento de mais um ano. Noplanejamento de uma existência.Restos a pagar de um balanço quevai precisar ser feito, mais dia,menos dia.

E vai-se ficando apenas com oque sobra, depois de pagar porerros, escolhas, desperdícios,objetivos jamais realizados, coisasque deveriam ter sido ditas.

Vai-se ficar com pouco. Muitopouco.

Por vezes, com nada.Nem você comigo. Nem eu

com você.

DOS CORAÇÕES E DASMÁQUINAS DE CALCULAR

21MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

CAMPECHE

UM LUGAR NO SUL DA ILHAÉ o livro do professor e historiador Hugo Adriano Daniel, que contapequenas histórias do bairro e resgata raízes de uma comunidadeque vivenciou importantes acontecimentos.

Muita gente que vive nobairro ou que vem paraveraneio ou turismo,

desconhece fatos importantes dahistória do Campeche. Porexemplo: o bairro abrigou oprimeiro aeroporto de SantaCatarina. Quase no final da Av.Pequeno Príncipe ainda estãovestígios preservados da atuaçãoda Compagnie GéneraleAéropostale no Brasil, empresa decorreio aéreo francesa para a qualtrabalhou o piloto Antoine deSaint-Exupéry, autor do clássicoPequeno Príncipe, que fez escalasno Campeche. O próprio pilotomenciona Florianópolis no livroVoo Noturno (1931).

Mas não foram só os francesesque andaram por aqui. A empresanorte americana NYRBA do Brasil(formada pelas iniciais Nova York– Rio – Buenos Aires, origem edestino dos seus voos), criou aPanair do Brasil S.A. (PanAmerican Airways) e em

1937 seus aviões passaram aaterrissar no Campo da Aviação doCampeche. Essa operação foi até ofim da década de 1940, quando aAeronáutica construiu uma pistanos campos da Ressacada e que setransformaria no AeroportoInternacional Hercílio Luz, atualFloripa Airport.

No século IXX a companhiainglesa Western Telegraph tambémligaria Florianópolis ao mundo aotransmitir e receber mensagensatravés de cabos submarinos quetinham sua ponta de saída na praiado Campeche. Isso foi em 1874.

Mas o mais precioso do livro deHugo Adriano Daniel são ashistórias dos antigos moradores dobairro e da região Sul da Ilha. Aobra trata da formação dascomunidades do Campeche e RioTavares ao longo do século XX esuas relações com os comerciantesdo Ribeirão da Ilha.

Hugo Daniel fala dascaracterísticas do Distrito doCampeche (desmembrado doDistrito da Lagoa da Conceiçãoem 1995), de moradores ilustrescomo Senem Cameu e Bernardinoda Rocha, nas décadas de 1920 e1930, e ainda sobre a origem da

palavra Campeche. No Rio Tavares, uma conversa

especial com Miguel Tavares daCosta, o Seu Tavares, que “deunome a esta grande comunidadesubdividida em Cruz do RioTavares, Fazenda do Rio Tavares,Porto do Rio Tavares e Cachoeirado Rio Tavares”.

Comércio - O livro tambémfala de tradicionais comerciantesque abasteciam o Campeche e RioTavares. “Éramos grandesprodutores de farinha, melancia epescados, mas na hora de comprarequipamentos de trabalho evestimentas corríamos para omercado do seu Erasmo, no Trevodo Erasmo. Se quiséssemos vendercafé em coco ou comprar cafémoído e torrado aguardávamos aRural do Acary, genro do AparícioCordeiro do Alto Ribeirão da Ilha,proprietários do Café SantoEstevão. Acary fornecia café emlatas para os pequenoscomerciantes das comunidades doDistrito do Campeche e estesrevendiam aos moradores o café agranel”, escreve Hugo Daniel.

Voltando no tempo – O livrofala das festas populares ereligiosas, abastecidas com bebidasdos comerciantes Deni e Djalma,da Freguesia do Ribeirão,representantes da CervejariaAntártica para o interior da Ilha.

A expressão Candonga “estáentranhada na memória dos

moradores nativos do Sul da Ilha”.Sua história se confunde com a doPorto do Contrato, no Ribeirão.“Qual criador de gado do Sul daIlha que nunca negociou um boiou uma vaca com o Candonga?”,lembra Hugo.

Na década de 1960, o Sul daIlha era a terceira bacia leiteira deFlorianópolis. E a tarefa de JoãoRangel, comerciante do Trevo doCampeche, era recolher aprodução para entregar na usina deleite no Centro da Capital,estabelecendo uma consistentefonte de renda aos agricultores.

“E o pão nosso de cada diachegava pelas mãos do JoséAdalberto Melo, o Zeca Padeiro”.Para não acordar os clientes nasmadrugadas, colocava o pão nassacolas dependuradas na porta oujanela das casas. “O café da manhãestava garantido”.

O livro descreve a chegada dotransporte público no Campeche,em 1968. Aos poucos, os antigosmoradores deixam de ircaminhando ou pedalando até oTrevo do Campeche ou ao Trevodo Porto do Rio Tavares paraalcançar os ônibus para o Centro.Ficou na história as bicicletasguardadas na casa do Zacarias eDona Laura. Os moradores iamaté lá, estacionavam, e pegavam oônibus. Na volta, a bicicleta estavaa espera.

A modernidade no Campeche

começou com a chegada da luzelétrica no início da década de1970. Aqui entra em cena outropersonagem: Isidro Pinheiro, ouIsidro da Luz, do Ribeirão da Ilha.Com a chegada da energia “aslamparinas (pombocas) perderamseus espaços em nossas casas”.

A chegada do asfalto noCampeche também é recente. “Até1982 não tínhamos uma única ruaou rodovia asfaltada. Bebíamoságua armazenada em potes e, paralavar a roupa, era necessárioajoelhar-se em uma pedra (lavador)nas fontes naturais da planície”.

A espiritualidade e areligiosidade também faz parte daalma dos moradores nativos,majoritariamente descendentes deaçorianos. O livro trata comreverência a Festa do Divino, asnovenas cantadas em honra aossantos e o ritual de despedida nahora do sepultamento.

“Falando da cantoria do Divinoé obrigatório render umahomenagem ao nosso maiorcantador, o senhor Lico do Lalo.Mas nosso povo também vive suasrelações sociais, sendoimprescindível a frequência nossalões de baile, onde muitos casaisconstituíram famílias”.

Como todo lugar tem umaesquina e toda esquina tem umahistória, diz Hugo Daniel, o livrotrata da esquina da AvenidaCampeche com a Rua da Capela.

Entre os antigos moradores,destaca três personagensemblemáticos: Seu Jorge daJanuária, Seu Chico Doca e DonaNicota, “a alegria em pessoa”.

O livro resgata o início da pescaem sociedade pelas famílias Chagase Daniel, “duas famílias e a mesmaorigem”.

Campeche - Um lugar no Sulda Ilha, do professor e historiadorHugo Adriano Daniel, é leituraobrigatória para quem querconhecer as raízes do Campeche edo Sul da Ilha.

O PROFESSOR e historiador Hugo adriano Daniel e o editor Nelson Rolim de Moura

Divulgação/BD

22 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Oano de 1929 foi decisivona história da aviaçãobrasileira. Além da

Compagnie Génerale Aeropostale(Aviação Francesa) outra empresaaérea passa a operar no Brasil. É anorte americana NYRBA do Brasil(iniciais de Nova York – Rio –Buenos Aires, cidades de origem edestino dos voos).

Além da rota internacional, oobjetivo da empresa era tambémoperar voos nacionais, mas ogoverno presidido por WashingtonLuís considerava a aviação questãode segurança nacional e só davaconcessão para empresas criadasou subsidiadas no Brasil. Osamericanos, então, criaram a Panairdo Brasil S.A.(Pan AmericanAirways), com capital americano eescritório no Rio de Janeiro.

Em 1930 a Panair é autorizada aoperar rotas litorâneas de Belém(PA) à cidade de Rio Grande (RS),com hidroaviões que passaram apousar nas águas da Baia Sul,próximo a ponte Hercílio Luz, emFlorianópolis

Sete anos depois, em 1937, osaviões da Panair começam aaterrissar em pistas de solo. É apartir deste ponto da história que oCampeche torna-se protagonista.Os aviões da Panair usam oCampo da Aviação Francesa até ofim da década de 1940, quando aAeronáutica construiu a pista quese transformaria no AeroportoInternacional Hercílio Luz.

Os primeiros aviões da Panairque os nativos, por dificuldade napronuncia, chamavam de Panaia,eram bimotores e em sua caudahavia um gancho, que ao aterrissarna pista de grama do Campecheprendia-se a um cabo de açofincado nas laterais da pista,fazendo-o parar totalmente.

Quando a Panair passou autilizar o Campo de Aviação

Francesa as laterais da pistareceberam melhor iluminação edemarcação, e também o Morrodo Lampião, o que deu maisvisibilidade aos voos noturnos.Desde a base sul até o cume doMorro do Lampião, na Pedra doUrubu, eram acesos 14 lampiões.A tarefa era feita pelo nativoArcelino Nunes (pai do Valdir,Darço, Zequinha, Maria doHaroldo...).

Seu Manoel Anazario Martins(Maneca do Anazario), 92 anos,lembra que era uma festa ver oCampeche totalmente às escuras eo morro ornamentado com obrilho das luzes do lampião. Agrama da pista era cortada porAbel Tavares, que guiava umacarroça que trazia presa umahélice, puxada por dois cavalos,demarcando o local exato dopouso. Outro nativo que trabalhouna Panair foi Aristides Costa, cujocrachá de identificação aindaencontra-se preservado por umade suas filhas.

A Panair construiu uma basetelegráfica e de controle de voosno Campeche, levando em conta,na logística, a Estação Telefônicado Cabo Submarino existente nobairro. A base telegráfica registravaas previsões, chegadas e partidasdos aviões da companhia. Aconstrução existe ainda hoje comsua fachada original preservada. Épropriedade da família deDomingos José da Cruz(Domingão) na rua Auroreal,conhecida como rua do Baiá. Naverdade havia duas construções: Amaior servia como casa derecepção e telégrafo. Na menor,nos fundos, eram armazenadas asbaterias necessárias aofuncionamento de toda estrutura,pois o bairro não tinha luz elétrica.

A Estação era uma casa grande,construída com tijolos vindos de

uma olaria de Joinville e, segundoTimóteo Alexandrino Daniel, omaterial possuía o dobro dotamanho de um tijolo maciçocomum. Estava assentada sobrealicerces elevados, imponente,destacando-se entre as poucasresidências existentes no bairro.Ao lado da casa foi construído umpoço profundo com água potável.Tinha uma bomba manual desucção, que abastecia a basetelegráfica. Em período deestiagem os moradores dosarredores se utilizavam da água,numa relação de muita cortesia.

Em 1945 os dois candidatosfavoritos à presidência do Brasil, ogeneral Eurico Gaspar Dutra(PSD/PTB) e o brigadeiroEduardo Gomes (UDN) desceramno Campo de Aviação Francesa doCampeche, em campanha eleitoralna cidade.

Em 1946, influenciados pelapolítica nacionalista de GetúlioVargas (ele não estava mais napresidência), empresáriosbrasileiros compram ações daPanair e a empresa passa a ter 76%de capital nacional.

Decadência - A história daPanair, que muito contribuiu parao desenvolvimento da aviaçãobrasileira com reflexos nocotidiano dos moradores doCampeche começou a mudar como golpe do dia 31 de Março de1964, quando os militaresassumiram o poder.

Em 1965, o então presidentegeneral Humberto Castelo Brancosuspende a autorização dos voosnacionais da Panair sob oargumento de que a empresaestava falida e não conseguiriacumprir seus compromissos. Ela jáhavia enfrentado uma greve poratraso no pagamento dosfuncionários. Além disto, ogoverno queria nacionalizar as

operações da aviação. Rotasinternacionais foram transferidaspara a Cruzeiro do Sul, e asnacionais para a Varig (ViaçãoAérea Riograndense), a grandebeneficiaria deste processo.

A Panair ainda tentou mudar oquadro com uma ação judicial deconcordata e recuperaçãofinanceira para retomar seusserviços, já que seu patrimônio eramuito maior do que as dívidas.Não obteve êxito. O entãoMinistro da Aeronáutica,brigadeiro Eduardo Gomes foicontrário e a ação da Panairindeferida pelo Judiciário.

O terreno no Campeche ondefoi construída a casa da estação detelégrafo e armazenamento debaterias, voltou para as mãos doantigo dono, Antero Pamplona,com as construções e benfeitorias.Antero vendeu a propriedade parao Doca Antunes, pai do ErasmoAntunes, próspero comerciante doRibeirão da Ilha. Doca Antunesdesmanchou a casa dos fundos elevou o material da demolição parasua casa no Ribeirão da Ilha. Apropriedade foi vendida paraDomingos José da Cruz(Domingão), em meados de 1966.

Em 1984 o STF (SupremoTribunal Federal) julgou que afalência da Panair foi fraudulenta eobrigou a União a ressarcir aempresa, beneficiandofuncionários com a massa falida.

A Companhia nunca saiu doimaginário dos moradores maisantigos do Campeche. Semprealguém menciona a empresa comolocal de trabalho do pai ou avô.Ruas do bairro tambémhomenageiam tanto a Panaia comoa Aviação Francesa. A maisconhecida é a Av. PequenoPríncipe, lembrando a obra deAntonie Saint Exupery.

NAS ASAS DA PANAIRA intensa relação da empresa aérea norte americana com oCampeche. O bairro não recebeu apenas aviões e pilotos franceses.

Os aviões da Panair pousavam no campode aviação do Campeche de 1937 a 1940

23MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Erasmo João Antunesnasceu em 12 de agosto de1923 na Vila de Santo

Estevão, comunidade do AltoRibeirão. É filho de João FranciscoAntunes, o Doca Antunes, e deMaria José Antunes. A família (ospais, Erasmo mais os irmãosEdmundo e Esmeraldina) vivia dalavoura. Mandioca, feijão, banana,cana de açúcar e principalmentecafé. Os grãos secos de café emcoco eram vendidos paratorrefações e também nacomunidade.

Quando Erasmo tinha 10 anos,o pai Doca Antunes abriu umaporta na sala da casa e colocoualgumas mercadorias, para que omenino desenvolvesse habilidadespara o comércio.

Este foi, segundo o historiadorHugo Daniel, o início da trajetóriade sucesso do grande comerciantedo Sul da Ilha, que sempre élembrado por quem passa peloTrevo do Erasmo.

Vendia querosene, sal, açúcarrefinado, ferramentas, cereais,fumo de corda, louças de barro,calçados. O grande sucesso eramos tamancos. Louças de barrovinham da Ponta de Baixo, em SãoJosé, por lancha até o Porto doContrato, pouco antes daCapelinha do Barro Vermelho, naFreguesia do Ribeirão. As outrasmercadorias chegavam do centro,principalmente do MercadoPúblico, das Casas Hoepcke eComercial Maia.

Na Segunda Guerra Mundial,de 1940 a 1945, muitos produtosforam racionados e a venda dequerosene, sal e açúcar refinadocontrolada. O querosene,indispensável porque não haviaenergia elétrica naquele tempo deguerra só era vendido nasintendências da Freguesia doRibeirão ou da Lagoa daConceição. Era preciso passar anoite na fila para adquirir oproduto.

Toda quarta feira Erasmo ia atéo mercado público comprar decomerciantes que vinham de SantoAmaro da Imperatriz, AntônioCarlos, Alfredo Wagner, Palhoça,Biguaçu, Tijucas. Chegavam decarro ou carroças pela PonteHercílio Luz, ou em barcos queatracavam no cais do Mercado e daAlfândega. A feira era como se

fosse um dia de festa. Era dono deuma carroça e dois cavalos,indispensáveis em sua atividade decomerciante.

Em 13 de julho de 1946, aos 22anos, casou-se com LeonorFlorinda Antunes, carinhosamenteconhecida como Dona Nonô, comquem viveu por 34 anos. Dessecasamento nasceram os filhosMauro, Moacir, Milton e Mario.Dos filhos homens, Mario, o maisvelho, foi o único que não seguiu aprofissão do pai: foi para aAeronáutica. Tinha também asfilhas Maria Leonor, a Mariquinha(primogênita), Márcia e Mirian.

Era comum Erasmo venderfiado e aguardar a farinhada, assafras de café, da tainha, daanchova para receber. Boa partedos clientes não eram assalariados.

“A população era pouca e ostempos eram muito difíceis.Sempre atendi a todos igualmentee na confiança. Anotava os preçose produtos em cadernetas. Nuncacobrei um centavo de juros. Forampoucos os que não cumpriramcom seus compromissos. Nuncasaí de casa para cobrar dívida dequem quer que fosse. Segui ospassos de meu pai, que nunca teveganância em ficar rico. Minharelação com meus concorrentessempre foi cordial, de respeito eaté mesmo de amizade. Tirei docomércio o sustento para minhafamília. Mais do que isso: tenho

certeza que servi a minhacomunidade.” Palavras de ErasmoJoão Antunes ao professor ehistoriador Adriano Daniel.

Diversificação - Em 1950Erasmo dá um salto na atividade euma guinada em sua vida. Alugouuma casa comercial no trevo doRibeirão, que passou a serconhecido como Trevo doErasmo. Deixou a casa do pai emudou-se para lá. Ali já funcionavao comércio do Isac Tavares daCosta (pai do Arlindo da Costa,dono da Pescados Pioneira). Acasa era herança da esposa de Isac,dona Ida.

Erasmo pagou aluguel por dezanos. Em 1960, comprou apropriedade e em 1968desmanchou a casa e fez uma novanos fundos, para comércio emoradia.

Em 1956 a rede de energiaelétrica chegou ao Ribeirão da Ilhapela Base Aérea. Seis anos depois,em 1962, a rede estendeu-se daTapera até o Trevo do Erasmo.

Nos anos 50, Erasmo passou avender tecidos em metro (corte defazenda), linhas e acessórios paracostura. Os tecidos eram paraconfecção de roupas e os pan-americanos, para lençóis,travesseiros e colchões. Oscolchões eram enchidos comcapim colchão, e os travesseiroscom marcela, retirados nacampina, região da atual rua do

Gramal, no Campeche.Em 1960 ele agregou novo

produto. Começou a venderconfecção pronta, roupas que iabuscar em São Paulo. Essediferencial fez com que osnegócios se consolidassem de vez.

Várias vezes Erasmo teve osono interrompido na madrugada,pois quando alguém morria seucomércio era procurado paraaquisição de tábuas de pinho epregos para a confecção do caixão,tecidos de chita preta para forrá-lo,cordas para alça e o galão, que erauma espécie de fita douradapregada em volta do caixão paraque não ficasse todo preto.Quando era uma criança, a chitaera azul ou branca. Vendia fiadopara pagar quando pudessem.

Erasmo Antunes sempre foi umhomem inserido na comunidade.Aos domingos pela manhã reunia afamília e todos iam de carroça até acasa de retiro do Morro das Pedraspara a missa. Só depois da missa éque o comércio abria para atenderao público.

Em julho de 1980 Erasmo JoãoAntunes deixou definitivamente avida de comerciante, após 47 anosde atividades. No mesmo mês,com a esposa Leonor e as filhasMárcia e Mírian, muda-se para obairro do Estreito. Quatro diasdepois a esposa faleceu, aos 54anos. Erasmo e as duas filhasretornaram para o Ribeirão evoltaram a morar na mesma casado Trevo, agora na companhia dafilha Maria Leonor, substituta dopai nos negócios.

Viúvo, Erasmo casou-senovamente em 1983 com EdnaDellagiustina, e foi morar em umapartamento no centro da cidade,onde ainda vive, com 94 anos.

ERASMO ANTUNES E O TREVO DO ERASMOPioneiro no comércio do Sul da Ilha Erasmo Antunes, que deunome ao Trevo do Erasmo, é personagem de destaque.

ERASMO JOÃO ANTUNES

VIAGEM A APARECIDA DO NORTE E IGUAPE, em São paulo, com um carro de aluguel,na companhia dos amigos candonga e João Rangel laureano, comerciantedo trevo do campeche.

Fotos: Divulgação/acervo da família/BD

24 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

25MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

26 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

28 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

[email protected]

DESTAQUEFernanda

NiverManu Grando comemorou seu aniversário na Capital, ao lado das amigasElis Andrade, Edina Carvalho e Michelle Dorigoni. A coluna parabeniza.

CurtindoVinícius Rodrigues Euzébio e Francini Chagasmarcando presença na Peixada do Gui.

PrincesaMaria Cecília participando do bloco doBetinho, no Saco dos Limões. 

FelicidadeEduardo e Rafaela comemoram o aniversário de 2 anos deAntônio e esperam ansiosos a chegada do segundo filho.

PeixõesCarol Euzébio, Jemyle Nassar e Maryá Pereiraaproveitaram o carnaval pra curtir a famosaPeixada do Gui.

A Escritolândia de Campinas vai mudar.Novo ano, novo endereço e a grande novidade

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30 MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

Fernando Damásio

e-mail: [email protected](48) 98477-1499

Vai afundarO iate Casa Blanca, que

foi palco de grandes festasnos mares deFlorianópolis, estádesprezado noancoradouro do Veleirosda Ilha. Completamenteenferrujado epraticamente semrecuperação, pode afundara qualquer momento eaumentar os danosambientais na baía. Asautoridades náuticas eambientais vão continuarde olhos fechados?Depois que o Casa Blancafor a pique não adiantamais.

Pinho x MerísioQuem vai ganhar na queda de braço travada

entre o governador (quase titular) EduardoPinho Moreira e o deputado (quase candidato aogoverno) Gelson Merisio? Uma coisa é certa: abriga é de cachorro grande, como se diz nopopular. Só uma coisa: os dois ainda nãoperceberam que o perfil dos eleitores mudou. Aspessoas, hoje, querem seriedade e propostasreais. Quem gosta de briga, liga no UFC.

De olho no SenadoComo a Justiça colocou pedras no caminho

de Raimundo Colombo, e outras pré-candidaturas devem ficar pelo caminho, odeputado estadual Marcos Vieira (PSDB)começou a agir para viabilizar sua candidaturaao Senado. Como o PSDB é uma das noivasmais cobiçadas desta eleição e Marcos Vieira é opresidente do partido, não é difícil costurar umacordo.

Dário desiludido?Senador Dario Berger afirmou que está

desiludido com a política e que não quer nempensar em ser candidato nas eleições deste ano.

Só não explicou as causas do desencanto, se écom as instituições, apenas com a atividade

política, com os amigos ou com o partido, oPMDB. O senador afirma que está a

disposição  do partido, que é um soldado, etc.Explica melhor essa história, senador.

MatoMoradores da Rua Hidalgo Araújo, no bairroJardim Cidade de Florianópolis, em São José,não sabem se colocam vacas para pastar ou setransformam a calçada num zoológico. O matopara isso já conseguiram.

Casa do crackEsta casa, que fica no aterro da baía Sul,

próximo ao túnel Antonieta de Barros, e que foiescritório de uma construtora virou esconderijode marginais e craqueiros. Dormem ali, sedrogam e fazem furtos, roubos e assaltos naregião. Algum órgão público vai agir? Acomunidade já discute que a saída é resolver oproblema por conta própria.

31MARÇO DE 2018Florianópolis - São José - palhoça - Biguaçu - Sto amaro da imperatriz

O melhorPromoter EzequielMaia, com os filhos

Paulo e Claudia,cuidaram de toda a

produção da Feijoadado Cacau. Ezequiel

Maia, um personagemda Ilha, é um dos

profissionais maisrequisitados para

organizar grandes festase eventos. É o cara.

Equipe felizPrefeita Adeliana Dal Pont, que garante que não será candidata a nenhum cargo em

2018, acompanhada de seu fiel escudeiro o vice-prefeito Neri Amaral e um seletogrupo, foi prestigiar e se divertir na Feijoada do Cacau.

Bairro abandonadoO bairro José Mendes, um dos mais

centrais da Capital, está há muito anosesquecido pelas autoridades. É só espiara foto dessa calçada, que tem verdadeirasmuralhas para dificultar a vida de quemprecisa dela para se locomover. É umpasseio proibido para cadeirantes, idosose qualquer pessoa com necessidadesespeciais. O prefeito Gean Loureironunca deve ter passado ali.

Cinquentões ou sessentões?Os amigos veteranos do Canto do Rio, no Ribeirão da Ilha, retomaram as atividades no sábado, dia 24/02, com uma grande festa e muitos quilos a mais.O grupo se reúne semanalmente, todo sábado à tarde, e o encontro sempre é regado por muita gelada e um bom churrasco. À noite, também rola uma

boa seresta no salão de festas do clube, um dos mais tradicionais da Ilha.

Se a fotografia não existissepoucos acreditariam que aPonte Hercílio Luz já foi útil.