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INPE-14467-TDI/1148 FILTRAGEM DE SINAIS DE RADIOINTERFER ˆ ENCIA NOS ESPECTROS DE EXPLOS ˜ OES SOLARES ATRAV ´ ES DE REDE NEURAL ADALINE Kleber de Mattos Dobrowolski Disserta¸c˜ ao de Mestrado do Curso de P´ os-Gradua¸ c˜aoemComputa¸c˜aoAplicada, orientada pelos Drs. Jos´ e Demisio Sim˜ oes da Silva, e Jos´ e Roberto Cecatto, aprovada em 31 de mar¸co de 2004 Registro do documento original: <http://urlib.net/sid.inpe.br/jeferson/2004/06.08.08.13> INPE ao Jos´ e dos Campos 2009

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INPE-14467-TDI/1148

FILTRAGEM DE SINAIS DE RADIOINTERFERENCIA

NOS ESPECTROS DE EXPLOSOES SOLARES

ATRAVES DE REDE NEURAL ADALINE

Kleber de Mattos Dobrowolski

Dissertacao de Mestrado do Curso de Pos-Graduacao em Computacao Aplicada,

orientada pelos Drs. Jose Demisio Simoes da Silva, e Jose Roberto Cecatto,

aprovada em 31 de marco de 2004

Registro do documento original:

<http://urlib.net/sid.inpe.br/jeferson/2004/06.08.08.13>

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INPE-14467-TDI/1148

FILTRAGEM DE SINAIS DE RADIOINTERFERENCIA

NOS ESPECTROS DE EXPLOSOES SOLARES

ATRAVES DE REDE NEURAL ADALINE

Kleber de Mattos Dobrowolski

Dissertacao de Mestrado do Curso de Pos-Graduacao em Computacao Aplicada,

orientada pelos Drs. Jose Demisio Simoes da Silva, e Jose Roberto Cecatto,

aprovada em 31 de marco de 2004

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INPE

Sao Jose dos Campos

2009

Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP)

Dobrowolski, Kleber de Mattos.D656f Filtragem de sinais de radiointerferencia nos espectros de ex-

plosoes solares atraves de rede neural adaline / Kleber de MattosDobrowolski. – Sao Jose dos Campos : INPE, 2009.

126 p. ; (INPE-14467-TDI/1148)

Dissertacao (Mestrado em Computacao Aplicada) – InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais, Sao Jose dos Campos, 2004.

Orientadores : Drs. Jose Demisio Simoes da Silva, e Jose Ro-berto Cecatto.

1. Redes neurais. 2. Filtros adaptaveis. 3. Reducao deruıdo. 4. Interferencia em Radio-Frequencia. 5. Explosoes solares.I.Tıtulo.

CDU 004.032.26

Copyright c© 2009 do MCT/INPE. Nenhuma parte desta publicacao pode ser reproduzida, arma-zenada em um sistema de recuperacao, ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio,eletronico, mecanico, fotografico, reprografico, de microfilmagem ou outros, sem a permissao es-crita do INPE, com excecao de qualquer material fornecido especificamente com o proposito de serentrado e executado num sistema computacional, para o uso exclusivo do leitor da obra.

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ii

Ao meu grande amigo Renato Ferreira Coimbra dos Santos, que nunca me deixou

desistir nas horas difíceis.

RESUMO

O Espectrógrafo Solar Brasileiro (Brazilian Solar Spectroscope - BSS) é um radiotelescópio de alta sensibilidade e alta resolução temporal e espectral, desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para o estudo do espectro das emissões solares na banda de ondas de rádio decimétricas (1000- 2500 MHz). Ele está sujeito às mais diversas fontes de Interferências em Rádio Freqüências (IRF), tais como satélites artificiais, transmissores de estações de rádio e TV, telefonia móvel, etc. Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um filtro adaptável, utilizando a abordagem dos trabalhos de Widrow (1975) em cancelamento de ruído, para a redução ou mesmo eliminação destes sinais de IRF. O algoritmo utilizado foi o Least-Mean Square (LMS, Menor Média Quadrática), devido à sua simplicidade de implementação e menor complexidade computacional, já que existe cerca de 3 anos de dados a serem processados. Para estimar os sinais de interferência foi utilizada uma metodologia baseada em interpolação linear, uma vez que os dados no canal contaminado pela interferência são desconhecidos. Seguindo esta abordagem, ouve um problema com a convergência do filtro, que foi sanado através de modificações nos parâmetros do filtro original. Além disto, foi criada uma versão não-linear do filtro, e realizada uma comparação entre estes três tipos de implementação de filtro adaptável: a verão original de Widrow, uma versão “modificada linear” e uma versão “modificada não-linear”. A versão modificada linear foi a mais efetiva na tarefa de reduzir os sinais de IRF dos dados do BSS, obtendo atenuações entre 5 e 30 dB nos sinais de IRF. Através destes resultados, este trabalho conseguiu demonstrar a viabilidade da utilização da técnica de filtragem adaptável nos dados do instrumento BSS. Sugestões sobre aperfeiçoamentos futuros no filtro adaptável modificado são discutidas nas conclusões.

NOISE FILTERING ON SOLAR BURSTS SPECTRUM USING ADALINE NEURAL NETWORK

ABSTRACT

The Brazilian Solar Spectroscope (BSS) is a high sensitivity and high temporal/frequency resolution radio spectroscope, developed at the National Institute for Space Research (INPE). This spectroscope is dedicated to observations of the solar emission in decimetric wavelengths (1000-2500 MHz). BSS feeder is subjected to Radio-Frequency Interference (RFI) signals, such as artificial satellites, radio and TV broadcast, and mobile phone broadcasting stations, etc. Here, it is presented development of an adaptive filter, making use of Widrow’s (1975) noise cancellation approach, for either minimize or eliminate these RFI signals. It makes use of the Least-Mean Square (LMS) algorithm, due to its simplicity on implementation and less computational complexity, since there is about 3 years of data to be processed. For estimate the original signal as well as interference in the affected frequency channel, since there is no prior knowledge of them, a simple process based on linear interpolation was used. The initial filter’s convergence difficulty was fixed through modifications on its original parameters. Moreover, a nonlinear version of the filter was created, and a comparison among three types of adaptable filter implementation: the Widrow’s original filter, a linear modified version and a nonlinear modified done. The modified linear version showed the best performance being most effective in reducing power of RFI signals in BSS data with attenuations between 5 and 30 dB. This work demonstrates the feasibility of use adaptable filtering technique on minimizing/reducing RFI signals in BSS data. Suggestions for future improvements in the modified adaptive filter are discussed in conclusions.

SUMÁRIO

Pág. LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................21

1.1 A Filtragem de Sinais Espúrios nos Dados Científicos - Escopo do Trabalho......26

CAPÍTULO 2 O BRAZILIAN SOLAR SPECTROSCOPE E SINAIS DE

INTERFERÊNCIA NA BANDA DE ONDAS DE RÁDIO

DECIMÉTRICAS................................................................................29

2.1 O Brazilian Solar Spectroscope e as Investigações de Fenômenos Solares ..........29

2.2 Espectro Eletromagnético de Absorção da Atmosfera Terrestre ...........................33

2.3 O Problema da Interferência em Radiofreqüências ...............................................34

2.4 Interferência em Radiofreqüências Interna ............................................................35

2.5 Interferência em Radiofreqüências Externa ...........................................................35

2.6 Sinais IRF na Banda de Ondas de Rádio Decimétricas .........................................37

CAPÍTULO 3 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS.....................................................41

3.1 Introdução ..............................................................................................................41

3.2 O Perceptron ..........................................................................................................42

3.3 Rede ADALINE.....................................................................................................44 3.3.1 Algoritmo LMS................................................................................................................................ 45 3.3.2 Linha de Atrasos e Filtro Adaptável ............................................................................................... 46 3.4 Perceptrons de Múltiplas Camadas e Algoritmo de Retropropagação..................49

CAPÍTULO 4 ASPECTOS PRÁTICOS DO FILTRO ADAPTÁVEL ...................53

4.1 Filtro Adaptável .....................................................................................................53

4.2 Entradas para o Filtro Adaptável ...........................................................................54

4.3 Taxa de Aprendizagem (Parâmetro α)...................................................................56

4.4 Número de Taps .....................................................................................................62

4.5 Pesos.......................................................................................................................63

4.6 Limiar.....................................................................................................................65

4.7 Função de Ativação................................................................................................65

4.8 Visão Geral do Processo ........................................................................................66

4.9 Aplicações Práticas do Filtro Adaptável ................................................................68

CAPÍTULO 5 MATERIAL E METODOLOGIA DE TRABALHO ......................75

5.1 Introdução ..............................................................................................................75

5.2 Dados do Instrumento BSS ....................................................................................76

5.3 Formato dos Arquivos de Dados............................................................................78

5.4 Programa BSSData ................................................................................................79

5.5 Arquivos de Dados Utilizados neste Trabalho.......................................................82

5.6 Calibração do BSS e Método de Medição da Atenuação ......................................86

5.7 Conversão da Intensidade de Atenuação para a Escala de dB...............................89

5.8 Filtragem Adaptável...............................................................................................96

5.9 Canal de Saída Estimado e Interferência Estimada ...............................................97

5.10 Determinação dos Parâmetros Para o Filtro Adaptável .......................................100

CAPÍTULO 6 RESULTADOS OBTIDOS...............................................................103

6.1 Aplicação da Filtragem Adaptável.......................................................................103

6.2 Comparação entre as Diferentes Implementações do Filtro Adaptável ...............106

6.3 Comparações entre o Filtro Linear Modificado e o Não-Linear Modificado ......107

6.4 Atenuação Obtida pelo Filtro Adaptável .............................................................110

6.5 Resultados para a Aplicação do Filtro a Outros Arquivos de Dados...................111

CAPÍTULO 7 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS ..............................................117

7.1 Conclusões ...........................................................................................................117

7.2 Perspectivas Futuras.............................................................................................118

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................................121

APÊNDICE A - TRABALHOS APRESENTADOS .............................................. 127

APÊNDICE B - ATRIBUIÇÃO DE FAIXAS DE FREQÜÊNCIAS..................... 129

APÊNDICE C – ABERTURA DE ARQUIVOS .ESP NO BSSVIEW.................. 135

APÊNDICE D – FILTROS DIGITAIS ................................................................... 143

APÊNDICE E – CÓDIGOS FONTES .................................................................... 149

LISTA DE FIGURAS

Pág.

1.1 – Espectro dinâmico típico de explosões solares em ondas de rádio. ................. 22

1.2 – Atribuição de faixas de freqüência no Brasil (excerto de 900-2600 MHz)...... 25

2.1 – Espectro dinâmico de explosão solar observada pelo BSS em 27/06/99. ........ 30

2.2 – Antena parabólica de 9 metros do Brazilian Solar Spectroscope. .................. 31

2.3 – Espectro dinâmico visualizado no BSSView. .................................................. 32

2.4 – Espectro eletromagnético, exibindo a transparência relativa da ionosfera e

atmosfera terrestre. ........................................................................................... 34

2.5 – Exemplo de espectro dinâmico corrompido por sinal de IRFE coletado pelo

BSS. ................................................................................................................ 38

3.1 – Esquema de um Perceptron . ........................................................................... 42

3.2 – Tipo de função de ativação do neurônio de Rosemplatt. ................................. 43

3.3 – Arquitetura de uma rede ADALINE. ............................................................. 44

3.4 – Linha de atrasos conectada a uma rede ADALINE. ........................................ 47

3.5 – Sistema adaptável de cancelamento de ruído. .................................................. 48

3.6 – Filtro adaptável utilizado na eliminação de ruído em eletrocardiograma:

(a) entrada contaminada, (b) interferência referência, (c) resultado final. ....... 49

3.7 – Diagrama de uma rede de Perceptrons de múltiplas camadas. ........................ 50

3.8 – Exemplo de eliminação de ruídos utilizando rede de retropropagação........... 51

4.1 – Esquema dos sinais envolvidos em um procedimento de filtragem adaptável. 55

4.2 – Entradas e saída típicas de um filtro adaptável. ............................................... 55

4.3 – Variação estocástica do peso e do limiar em torno do “ponto ótimo”. ............ 57

4.4 – Parâmetro α muito grande, gerando instabilidade e divergência no peso e no

limiar. ............................................................................................................... 58

4.5 – Transiente no sinal de entrada (esquerda) causando instabilidade nos pesos

do filtro adaptável (direita).............................................................................. 59

4.6 – Relação entre o valor do parâmetro α e o tempo de convergência. ................. 60

4.7 – Readaptação dos pesos e limiar em um filtro adaptável. ................................. 61

4.8 – Defasagem entre o sinal de interferência e a interferência real..................... 62

4.9 – Influência da diferença de intensidade no sinal de interferência, no

comportamento dos pesos. ............................................................................... 64

4.10 – Influência do offset do sinal de interferência, no comportamento do limiar. ... 65

4.11 – Funções de ativação: função rampa (esquerda) e função logística (direita)..... 66

4.12 – Visão esquemática em fases do funcionamento do limiar, pesos e taps no

filtro adaptável.................................................................................................. 67

4.13 – Filtro adaptável aplicado em acústica. ............................................................. 68

4.14 – Filtro adaptável utilizado em uma aplicação aeronáutica típica....................... 69

4.15 – Filtro adaptável separando os sinais de ECG de uma gestante dos sinais de

ECG de um feto. ............................................................................................... 70

4.16 – Filtro adaptável eliminando a interferência de 60 Hz dos sinais de ECG...... 71

4.17 – Filtro adaptável utilizado em radioastronomia. ................................................ 72

5.1 – Diagrama dos equipamentos e processos utilizados na filtragem adaptável.... 75

5.2 – Diagrama representando o Brazilian Solar Spectroscope . ............................. 76

5.3 – Visão geral do programa BSSData................................................................... 79

5.4 – Janela do gerenciador de projetos. ................................................................... 80

5.5 – Visualização de um arquivo .ESP do BSS no programa BSSData. ................. 81

5.6 – Arquivo de dados visualizado com paleta “Red Temperature”. ...................... 82

5.7 – Arquivo de dados visualizado com paleta “Stern Special”. ............................. 82

5.8 – Arquivos com linha de interferência (esquerda) e respectivo cabeçalho

(direita). ............................................................................................................ 84

5.9 – Arquivos de calibração (esquerda) e respectivo cabeçalho (direita). ............... 85

5.10 – Arquivos com fenômeno solar e linha de interferência (esquerda) e

respectivo cabeçalho (direita)........................................................................... 86

5.11 – Perfil temporal em um canal de freqüência (acima) e espectro dinâmico

(abaixo) de uma calibração............................................................................... 88

5.12 – Fluxograma com procedimentos aplicados no arquivo de calibração.............. 90

5.13 – Espectro dinâmico tridimensional de um arquivo de calibração................... 91

5.14 – Detalhe de um perfil temporal de um canal de freqüência de um arquivo de

calibração, exibindo transientes. ...................................................................... 92

5.15 – Médias dos intervalos de calibração em um perfil temporal............................ 92

5.16 – Gráfico de relação entre atenuação e intensidade. ........................................... 94

5.17 – Diferença na resposta do BSS em relação aos canais 16 e 50.......................... 95

5.18 – Diagrama de blocos da criação da saída estimada e interferência estimada. ... 98

5.19 – Perfis temporais dos canais 79, 76 e 80 do arquivo 050702F3.ESP

(esquerda) e estimação do canal de saída por interpolação linear (direita)...... 98

5.20 – Perfil temporal da interferência estimada......................................................... 99

5.21 – Fluxograma exibindo a utilização dos sinais estimados................................. 100

5.22 – Resultados obtidos com a procura do parâmetro α ideal. .............................. 101

6.1 – Arquivo 050702F3.ESP: comparação entre o arquivo original ( superior) e o

arquivo após ser processado pelo filtro adaptável ( inferior). ........................ 104

6.2 – Vista tridimensional do arquivo 050702F3.ESP original, com uma linha de

interferência no canal 79. ............................................................................... 104

6.3 – Arquivo 050702F3.ESP após os dados serem processados pelo filtro

adaptável......................................................................................................... 105

6.4 – Comparação entre a saída do filtro adaptável e o sinal estimado, no início do

processo de filtragem (esquerda) e ao final (direita). ..................................... 106

6.5 – Comparação entre as saídas dos filtro adaptável (esquerda) e de sua

modificação (direita) ...................................................................................... 107

6.6 – Curvas da soma do erro quadrático para o filtro linear adaptável modificado

(esquerda) e não-linear modificado (direita). ................................................. 108

6.7 – Sinal de calibração do canal 80 (esquerda) e curva de aproximação para a

conversão entre unidades de intensidade e dBs.............................................. 110

6.8 – Comparação entre sinal o original, o processado pelo filtro adaptável e o

sinal de calibração correspondente................................................................. 111

6.9 – Vista tridimensional do arquivo 040601C9.ESP original (acima) e após ser

processado pelo filtro adaptável (inferior). .................................................... 112

6.10 – Arquivo 040601C9.ESP: comparação entre o arquivo original ( superior) e o

arquivo após ser processado pelo filtro adaptável ( inferior). ........................ 113

6.11 – Arquivo 090401C3.ESP: comparação entre o arquivo original (superior) e o

arquivo após ser processado pelo filtro adaptável (inferior). ......................... 113

6.12 – Vista tridimensional do arquivo 090401C3.ESP original (acima) e após ser

processado pelo filtro adaptável (inferior). .................................................... 114

7.1 – Diagrama de blocos representando o protótipo do novo programa BSSData,

com a inclusão do filtro adaptável.................................................................. 119

LISTA DE TABELAS

Pág.

1.1 – Principais instrumentos para observação solar na banda de rádio em

operação no mundo. ......................................................................................... 24

2.1 – Espectrógrafos solares em operação em ondas de rádio métricas-

decimétricas...................................................................................................... 33

4.1 – Fatores importantes na escolha da taxa de aprendizagem ideal. ...................... 61

5.1 – Parâmetros do sistema de aquisição do BSS. ................................................... 77

5.2 – Campos do cabeçalho de um arquivo .esp. ...................................................... 78

5.3 – Relação entre níveis de potência de saída e atenuação em dB. ........................ 89

5.4 – Relação entre atenuação em dB e unidades arbitrárias para o perfil temporal

do canal 22........................................................................................................ 93

5.5 – Taxas de aprendizagem obtidas e média. ....................................................... 102

6.1 – Parâmetros utilizados no filtro adaptável. ...................................................... 103

6.2 – Desempenho dos filtros adaptáveis. ............................................................... 106

6.3 – Comparação entre a soma do erro quadrático das duas versões de filtro

adaptável modificado. .................................................................................... 108

6.4 – Comparação entre os tempos de execução das duas versões de filtro

adaptável......................................................................................................... 109

6.5 – Atenuações obtidas pelo filtro adaptável........................................................ 115

21

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Explosões solares são fenômenos responsáveis pela liberação de uma grande quantidade

de energia (1019 – 1025 J; isto equivale a dezenas de bilhões de vezes a energia da

bomba atômica lançada em Hiroxima) em intervalos de tempo que variam de segundos

a até 2 horas, para os fenômenos mais energéticos. Estes fenômenos ocorrem na

atmosfera solar (cromosfera e coroa), onde as temperaturas são de centenas de milhares

a poucos milhões de graus, dentro de regiões densas de campo magnético muito intenso

(de centenas a alguns milhares de Gauss), em forma de arcos, conhecidas como regiões

ativas. A Figura 1.1 exibe o perfil temporal típico de uma explosão solar em vários

comprimentos de onda, desde ondas de rádio até raios-X e raios gama (Cecatto, 1996;

Fernandes, 1997). Já a Figura 1.2 apresenta o espectro típico de explosões observadas

em ondas decamétricas, métricas e decimétricas. Detalhes sobre explosões solares, em

particular daquelas observadas na banda de ondas métricas-decimétricas podem ser

obtidos na literatura, como por exemplo McLean e Labrum, 1985.

FIGURA 1.1 – Perfil temporal típico de explosões solares em vários comprimentos de onda do espectro eletromagnético. FONTE: Adaptada de Kane (1974, p. 105).

22

FIGURA 1.2 – Espectro dinâmico típico de explosões solares em ondas de rádio. FONTE: Adaptada de Dulk (1985, p. 169).

Toda a energia liberada no fenômeno aquece o gás ambiente e/ou acelera as partículas e

íons que interagem com o campo magnético e o gás ambiente, emitindo radiação

eletromagnética num amplo espectro de freqüências, desde ondas de rádio até raios-X e

raios gama. Associado ao fenômeno também podem haver feixes de partículas

energéticas que escapam para o espaço ou bolhas de gás e campo magnético que são

ejetadas para fora da atmosfera solar (Cecatto et al., 2003).

Porém, ainda existem várias questões sobre o fenômeno das explosões solares que

necessitam de resposta: (1) a causa das explosões solares ainda não está totalmente

definida; (2) como uma quantidade imensa de energia é armazenada na atmosfera solar;

(3) o que causa sua liberação repentina; e (4) como ocorre a aceleração de um número

gigantesco (1030 – 1035) de partículas a energias que vai de dezenas de keV a alguns

MeV (1eV = 1,6x10-19J).

23

Além disso, é bem conhecido o efeito das radiações ionizantes e feixes de partículas

energéticas sobre a magnetosfera e ionosfera terrestres, causando perturbações em:

sistemas de navegação, sistemas de fornecimento e distribuição de energia,

radiodifusão, telecomunicações, órbita e equipamentos de satélites artificiais em órbita

terrestre, etc. Desta maneira, a pesquisa científica do fenômeno das explosões solares,

para tentar prever e/ou minimizar seus efeitos sobre as atividades humanas é de

fundamental importância (Cecatto et al., 2003).

Existem vários instrumentos que foram construídos, dedicados à observação e

investigação dos fenômenos solares, particularmente das explosões solares. Na faixa de

ondas de rádio, existem vários heliógrafos e espectrógrafos em operação ao redor da

superfície terrestre. A Tabela 1.1 apresenta uma relação com alguns dos principais

instrumentos para observação solar em operação no mundo. No Brasil, existe um

espectrógrafo conhecido como “Brazilian Solar Spectroscope” (BSS, daqui para frente)

que observa diariamente (11-19 UT) o espectro do Sol dentro da banda de rádio,

especificamente na faixa de comprimentos de onda decimétricos. Este instrumento está

em operação com altas resoluções em freqüência (20, 50, 100 canais de freqüência) e

em tempo (10, 20, 50, 100, 200, e 1000 ms) desde 1998 (Sawant et al., 1996; 2001).

Maiores detalhes sobre este instrumento são dados no Capítulo 2.

24

TABELA 1.1 – Principais instrumentos para observação solar na banda de rádio em operação no mundo.

Observatório País Freqüências Tipo GMRT Índia 38 , 1400 MHz Map. bidimensional Gauribidanur Índia 40 - 150 MHz Map. bidimensional Nançay França 150 - 450 MHz Map. bidimensional RATAN-600* Rússia 1 - 20 GHz Feixe largo OVRO USA 1 - 18 GHz Map. Bidimensional / Varredura

freqüência Siberian SRT Rússia 5,7 GHz Map. Bidimensional/ Feixe largo Nobeyama Japão 17,34 GHz Map. bidimensional VLA USA 1.4/4.9/8.4 GHz Map. bidimensional 15/22.5/43 GHz BIMA USA 100 GHz Map. bidimensional BDA BRASIL 1200-1700 MHz Map. bidimensional 2700, 5000 MHz Itapetinga* Brasil 48 GHz Antena multi-feixe SST Argentina 212, 410 GHz Antena freqüência fixa Metsahovi* Finlândia 22, 37, 90 GHz Antena freqüência fixa BSS Brasil 1000-2500 MHz Espectrógrafo

FONTE: Adaptada de Sawant (2001, p. 10).

A emissão de rádio de explosões solares na faixa decimétrica é muito importante porque

se origina de regiões da atmosfera solar próximas ao local onde ocorre a aceleração das

partículas emissoras. Este fato foi constatado pelas observações do experimento

SKYLAB na década de 70. Naquelas regiões, as densidades de partículas são da ordem

de 1015 – 1016 m-3 (Sturrock, 1980). Assim, a investigação nesta faixa de comprimentos

de onda fornece informação sobre o mecanismo de aceleração das partículas. Por este

motivo, nas últimas décadas cresceu o número de instrumentos, principalmente os

espectrógrafos em solo terrestre, operando em ondas de rádio decimétricas para a

investigação científica dos fenômenos solares explosivos.

Entretanto, na última década também cresceu, assustadoramente, o uso da banda de

ondas de rádio - inclusive das faixas reservadas pela legislação para uso científico pela

radioastronomia - para fins comerciais. A carta eletromagnética brasileira (Anatel,

2003), contendo as bandas permitidas para uso comercial, militar, científico, etc, está no

Apêndice 1. A banda de ondas decimétricas de interesse deste trabalho é mostrada na

25

Figura 1.3. Atualmente, já está bem difundido e sabido o uso desta faixa do espectro de

rádio por provedores de internet e telefonia móvel. Estes sinais, dentro das bandas de

uso da radioastronomia causam grande perturbação, criando interferências, nos sinais

captados por instrumentos científicos.

FIGURA 1.3 – Atribuição de faixas de freqüência no Brasil (excerto 900-2600 MHz). FONTE: Adaptada de Anatel (2003).

26

Durante alguns anos (1999-2002), os dados de observações de explosões solares

coletados pelo instrumento BSS foram contaminados pelas interferências geradas por

sinais de provedores de internet via rádio e telefonia celular. Estes sinais espúrios

causaram interferências indevidas e meios para minimizá-los ou extraí-los daqueles

dados já registrados se fazem necessários. Isto para obter informação de qualidade a

partir dos dados registrados e permitir seu uso adequado nas investigações científicas.

Um dos principais meios de tratar os sinais espúrios já registrados nos dados coletados é

através da aplicação de filtragem.

1.1 A Filtragem de Sinais Espúrios nos Dados Científicos - Escopo do Trabalho

Widrow e Stearns (1985) apresentam um estudo detalhado da aplicação de filtros

adaptáveis para o cancelamento de interferências.

Os filtros digitais adaptáveis têm capacidade de se auto-ajustarem de acordo com seus

sinais de entrada. Assim, um filtro digital adaptável pode ser usado em aplicações que

requerem características diferentes em resposta às variações das condições dos sinais.

Basicamente, um filtro digital requer um sinal de entrada e um sinal de referência. A

apresentação de tais sinais leva a uma atualização dos coeficientes do filtro que é

realizada por um algoritmo. O filtro digital adaptável é um tipo especial de filtro de

resposta ao impulso finito (FIR), mas também pode ser um filtro de resposta ao impulso

infinito (IIR), ou qualquer outro tipo de filtro (Widrow e Stearns, 1985).

As aplicações dos filtros digitais são inúmeras, como por exemplo, previsão linear,

tratamento adaptável de sinais, controle adaptável e cancelamento adaptável de ruído ou

de interferências.

Nas duas últimas décadas muitos algoritmos computacionais eficientes para filtragem

digital adaptável foram propostos. Eles são baseados em abordagens estatísticas, tais

como o algoritmo Least-Mean Square (LMS - Menor Média Quadrática) ou abordagens

determinísticas como o algoritmo Recursive Least-Squares (RLS - Menor Quadrado

Recursivo). O algoritmo LMS tem como vantagem a simplicidade de implementação,

27

mas o RLS converge mais rapidamente apesar de maior complexidade computacional,

segundo Widrow e Stearns (1985).

Paraskeva (2003) apresenta um estudo com avaliação e resultados da aplicação de

diferentes tipos de filtros FIR. Nesta dissertação são empregados os filtros digitais

implementados pelo algoritmo LMS, como desenvolvido por Widrow (Demuth e Beale,

2003). A implementação do filtro é feita utilizando o algoritmo Adaptive Linear

Element (ADALINE - Elemento Linear Adaptável) como descrito em Haykin (2001),

classificado como um tipo de Rede Neural Artificial. O filtro mencionado é utilizado

para tentar cancelar interferências em dados de explosões solares coletados pelo

instrumento BSS do INPE, como mencionado anteriormente. As interferências são

geradas principalmente por sinais de provedores de internet via rádio e telefonia celular,

podendo haver intermitências ao longo do dia. Os filtros digitais utilizados para

cancelamento de interferências pressupõem a existência de um sinal de referência (a

interferência) que, para o caso, não está disponível. Assim, nesta dissertação utiliza-se

uma estimativa dos sinais de interferência com base em dados coletados pela antena, e o

filtro é aplicado para eliminar as interferências em arquivos de dados existentes. O

procedimento para extrair o sinal de interferência é mencionado no Capítulo 5.

O objetivo do estudo é conceber um modelo que possa ser implementado em hardware

para ser empregado diretamente na antena do sistema de recepção de dados, eliminando

tarefas exaustivas de tratamento de dados pós-recepção.

A aplicação do filtro adaptável como proposto nesta dissertação produziu resultados

importantes. O mais significativo foi que sua aplicação ao sinal de interferência, que

possui uma natureza randômica, em um canal de freqüência, gera uma redução de até 30

dB neste sinal mantendo as características originais do restante dos dados coletados.

Neste trabalho, no Capítulo 2 apresenta-se uma descrição detalhada sobre o instrumento

Brazilian Solar Spectroscope (BSS) e as características dos dados coletados. No

Capítulo 3 é discutida a teoria de redes neurais e métodos de filtragem. O filtro que foi

desenvolvido para tratar os dados registrados pelo instrumento BSS é detalhado no

Capítulo 4. O Capítulo 5 mostra a metodologia criada para a aplicação do filtro

28

adaptável nos dados do instrumento BSS, enquanto o Capítulo 6 mostra e discute os

resultados da aplicação do filtro desenvolvido àqueles dados. O Capítulo final apresenta

as conclusões e perspectivas futuras do trabalho.

29

CAPÍTULO 2

O BRAZILIAN SOLAR SPECTROSCOPE E SINAIS DE INTERFERÊNCIA NA

BANDA DE ONDAS DE RÁDIO DECIMÉTRICAS

2.1 O Brazilian Solar Spectroscope e as Investigações de Fenômenos Solares

O instrumento conhecido por Brazilian Solar Spectroscope (BSS) foi desenvolvido, no

início da década de 90 (1992), para investigar os fenômenos solares explosivos

relacionados à região de aceleração de partículas. Inicialmente, foi desenvolvido para

operar numa estreita banda (1500-1700 MHz) de freqüências com resoluções temporal

de 100 ms e de até 50 canais em freqüência. A resolução em freqüência do instrumento

era de 3 MHz. Com a combinação adequada de resolução temporal, largura de banda e

resolução em freqüência o instrumento permitia observações com sensibilidade da

ordem de 2-3 Unidades de Fluxo Solar – UFS – 1 UFS = 10-22 W/m2Hz (Sawant et al.,

1993).

Em meados da década de 90 (1995), o instrumento incorporou medidas de tempo

absoluto a partir de um decodificador de tempo do sinal de GPS tomado a partir do

prédio do Centro de Controle de Satélites (CCS) do INPE, São José dos Campos. Este

sistema de obtenção do sinal de tempo possuía uma precisão absoluta de 3 ms. Naquela

época o Sol estava no período de mínimo do ciclo de atividade – baixa freqüência de

ocorrência de fenômenos solares explosivos. O ciclo seguinte se iniciou em 1997.

Naquele ano, o BSS começou a ser reformulado. Foram criados softwares para permitir

a visualização em tempo quasi-real - após 5 minutos do registro dos dados em disco

rígido do microcomputador - e a análise preliminar dos dados coletados pelo

instrumento. Estes softwares foram desenvolvidos em linguagem Interactive Data

Language (IDL). O primeiro permite a visualização dos espectros dinâmicos, após o

registro dos dados no disco rígido do microcomputador. Como cada arquivo de dados é

adquirido durante 5 minutos, o espectro dinâmico aparece na tela do microcomputador

de visualização após 5 minutos do início da aquisição de dados. A Figura 2.1 mostra um

exemplo de espectro dinâmico (gráfico de tempo nas abscissas versus canal de

freqüência nas ordenadas versus intensidade, definida através de uma escala de cores)

30

obtido de observações de fenômenos solares. O segundo software permite o tratamento

preliminar dos dados - perfil temporal de determinado canal, espectro de um dado

instante de tempo, subtração de background, etc (Sawant et al., 2000).

FIGURA 2.1 – Espectro dinâmico de explosão solar observada pelo BSS. FONTE: Adaptada de Nascimento et al. (2002, p. 7).

Também foi aperfeiçoado o software de aquisição de dados permitindo a escolha e

ajuste das resoluções temporal e em freqüência e a largura de banda de freqüências de

observação. Desta forma, tornou-se possível, a partir de 1998, a escolha da resolução

temporal das observações entre, 10, 20, 50, 100, 200 e 1000 ms. Também se tornou

possível a escolha entre 25, 50 e 100 canais de freqüência de observação (Faria, 1999).

Além disso, a banda de freqüências de observação poderia ser ajustada selecionando a

banda de operação do analisador espectral que funcionava como um receptor de

varredura em freqüência no modo-Z (intensidade do sinal). Este sistema opera junto a

uma antena de 9 m de diâmetro equipada no foco com um alimentador log-periódico,

que permite a aquisição do sinal dentro de uma banda de 1000-2500 MHz (Sawant et

al., 1996).

Ainda em 1998 iniciaram-se observações regulares e sistemáticas das explosões solares

pois o Sol já estava se aproximando do máximo do ciclo de atividade – período durante

31

o qual aumenta drasticamente a ocorrência de fenômenos solares explosivos. Esses

fenômenos podem afetar a Terra e as atividades humanas de várias formas. Alguns

exemplos são as perturbações nas telecomunicações, perturbações na órbita de satélites,

perturbações nos sistemas de navegação, e até a produção de blecautes em casos

extremos. As investigações científicas destes fenômenos explosivos de origem solar são

importantes para que seja possível uma melhor compreensão a respeito dos fenômenos

com o intuito de que sejam evitados ou, pelo menos, minimizados seus efeitos sobre as

atividades humanas (Cecatto et al., 2003).

Em suma, o BSS é um radioespectrógrafo decimétrico de banda larga (1000-2500 MHz)

que opera diariamente das ~11:30 – 18:00 UT, junto a uma antena parabólica de 9 m de

diâmetro – vide Figura 2.2, desde abril de 1998 no INPE de São José dos Campos. Suas

principais características são a resolução em freqüência de 3 MHz e temporal ajustável

em 10, 20, 50, 100, 200 e 1000 ms (Sawant et al., 1996 e 2001; Martinon e Fernandes,

2000).

FIGURA 2.2 – Antena parabólica de 9 metros do Brazilian Solar Spectroscope. FONTE: Adaptada de Martinon e Fernandes (2000, p. 9).

Por sua vez, os dados do instrumento são digitalizados e armazenados em disco rígido

de um microcomputador para posterior visualização e processamento. O processo de

32

visualização é efetuado pelo software BSSView que foi desenvolvido para essa

finalidade (Faria, 1999).

Um exemplo de visualização de um arquivo de dados feito pelo BSSView pode ser visto

na Figura 2.3. A tela gráfica do BSSView apresenta o arquivo de dados no formato que

é designado por Espectro Dinâmico. Desta forma, pode-se visualizar todo o arquivo de

dados que foi adquirido segundos após seu armazenamento em disco.

FIGURA 2.3 – Espectro dinâmico visualizado no BSSView. FONTE: Adaptada de Nascimento et al. (2002, p. 6).

A linha de Pesquisas de Física do Meio Interplanetário (FMI) da Divisão de Astrofísica

(DAS) do INPE utiliza as observações solares realizadas pelo BSS para investigar os

fenômenos associados à liberação de energia dos flares solares, através da análise das

explosões solares decimétricas observadas principalmente acima de 1000 MHz,

particularmente emissões tipo III, e estruturas finas, que apresentam uma banda estreita

em freqüência e curta duração, daí a necessidade de altas resoluções temporal e

espectral (Martinon e Fernandes, 2000).

Na faixa de ondas decimétricas o BSS é o único espectrógrafo da América Latina,

conforme pode ser visto na Tabela 2.1. O BSS participa desde 1999 de observações

solares conjuntas com diversos observatórios em solo, tal como o VLA, e satélites tais

como SOHO e RHESSI, promovidas pelo Maximum Millenium Program (Fernandes,

2003).

33

TABELA 2.1 – Espectrógrafos solares em operação em ondas de rádio métricas-decimétricas.

Observatório

Banda de Freqüência(MHz)

Resolução Temporal (ms)

Bern, Suíça 100-8000 0,5-1000

Ondrejov, Rep. Checa 800-2000 2000-4500

100 100

Beijing, China 1000-2000 2600-3800

8 100

Hiraiso, Japão 500-2500 500

Culgoora, Austrália 18-1800 3000

INPE, Brasil 1000-2500 10-1000

FONTE: Adaptada de Fernandes (2003, p. 6).

2.2 Espectro Eletromagnético de Absorção da Atmosfera Terrestre

Nem toda radiação eletromagnética proveniente do espaço atinge o solo terrestre. A

maior parte desta radiação é absorvida ou espalhada antes de chegar ao solo. A

absorção-espalhamento ocorre, pela ionosfera terrestre abaixo de 10 MHz, e pela

atmosfera em várias bandas até o ultravioleta mais energético, a partir do qual a

absorção-espalhamento é total até as freqüências maiores correspondentes aos raios-X e

raios-Gama (Kraus, 1986). A pequena parte da radiação que atinge o solo, o faz através

de determinadas bandas chamadas “janelas”. “Janelas” são regiões do espectro

eletromagnético em que a radiação atravessa toda a atmosfera e a ionosfera sem

absorção e reflexão significativas. A Figura 2.4 apresenta o espectro eletromagnético,

indicando as regiões onde a atmosfera é opaca, e as janelas, onde a radiação atravessa a

atmosfera sem maiores problemas e atinge o solo.

34

FIGURA 2.4 – Espectro eletromagnético, exibindo a transparência relativa da ionosfera e atmosfera terrestre. FONTE: Adaptada de Kraus (1986, p. 29).

A radiação eletromagnética que consegue chegar ao solo pode ser detectada e estudada

através de instrumentos operando numa banda de freqüências dentro da respectiva

“janela” de observação. Por exemplo, o instrumento BSS opera dentro da faixa de 1000-

2500 MHz, dentro da banda de ondas de rádio, para a investigação de fenômenos

solares.

Entretanto, mesmo a radiação dentro dessas bandas não está livre de perturbações que

podem prejudicar os dados coletados e utilizados nas pesquisas científicas de fontes de

origem cósmica. A presença de sinais de interferência que podem prejudicar os dados é

um problema complexo e cada vez mais perturbador na atualidade. Este aspecto

fundamental das pesquisas científicas dentro da banda de ondas de rádio é abordado nas

seções seguintes.

2.3 O Problema da Interferência em Radiofreqüências

Assim como a astronomia ótica se depara com sérios problemas com a poluição

luminosa, a radioastronomia enfrenta desafios similares, com seu próprio tipo de

poluição luminosa: as interferências em radiofreqüências - IRF (Barnbaum e Bradley,

1998).

35

Cada vez mais as observações rádio-astronômicas são prejudicadas por sinais de IRF

provindos de fontes artificiais como serviços de telecomunicações, sinais de satélites de

navegação, etc (van der Veen et al, 2000). É importante diferenciar estes sinais de

interferência em rádiofreqüências (todos aqueles que não são provenientes de fontes de

interesse astronômico ou astrofísico) dos sinais de fontes astrofísicas. Entre as fontes de

interesse astrofísico podemos citar: o Sol, estrelas em geral, planetas, objetos quasi-

estelares (quasares), nebulosas, centro galáctico, galáxias, nuvens de gás e poeira,

nuvens moleculares, etc. As interferências em radiofreqüências podem ser geradas

tanto internamente (dentro do próprio radiotelescópio, por equipamentos que compõe o

mesmo) quanto externamente, por sinais artificiais devido às atividades humanas na

Terra ou espaço (Goris, 1998).

2.4 Interferência em Radiofreqüências Interna

A Interferência em Radiofreqüências Interna (IRFI) é gerada pelos equipamentos

elétricos que compõem o próprio radiotelescópio como, por exemplo, equipamentos de

controle e de processamento dos sinais, tais como os computadores, redes de

computadores e correlacionadores (equipamento responsável pela correlação - de uma

forma simples, multiplicação e integração - dos sinais de cada par de antenas de um

interferômetro).

Este tipo de interferência se apresenta na forma de sinais monocromáticos, nas

freqüências fundamentais e nas harmônicas dos vários sinais de clock do equipamento

digital. Um exemplo deste tipo de interferência são os sinais nas harmônicas de 10MHz

e 100MHz, causados pelos equipamentos de rede tipo Ethernet. A maior parte desta

componente interna pode ser eliminada colocando-se estes equipamentos dentro de uma

"gaiola de Faraday" para promover sua blindagem eletromagnética (Goris, 1998).

2.5 Interferência em Radiofreqüências Externa

A Interferência em Radiofreqüências Externa (IRFE) pode ser proveniente de fontes

naturais ou artificiais, sendo suas fontes naturais mais comuns os relâmpagos. As fontes

artificiais de IRF dividem-se em não intencionais, tais como ruído elétrico de motores

36

de carros, fornos de microondas ou instalações elétricas, e as intencionais, como por

exemplo sistemas de comunicações, RADAR e radiodifusão comercial em AM e FM

(Goris, 1998).

A cada ano, um número crescente de novos empreendimentos comerciais e militares

utiliza mais espaço nas bandas de VHF, UHF e microondas. Todos estes serviços têm

potencial para interferir nas observações em radioastronomia e, de fato, já causam

problemas para a radioastronomia mesmo em sítios remotos de observação. O potencial

para esta forma de poluição cresce de maneira alarmante (Barnbaum e Bradley, 1998).

Como exemplos destes tipos de serviços, podemos citar: sinais de satélites artificiais,

espaçonaves, transmissores de estações de rádio e TV, telefonia móvel, sistemas de

navegação (GPS), sistemas de comunicação via rádio, internet via rádio, TV a cabo,

redes digitais, radar e sensoriamento remoto.

Esta componente externa (IRFE) pode penetrar no radiotelescópio através de suas

antenas e através do sistema analógico, tal como o sistema de front end – parte de um

receptor de rádio que trabalha com altas freqüências antes dos estágios de conversão

para os sinais de freqüência intermediaria (FI) - e os subsistemas de freqüência

intermediária (sistema responsável por converter os sinais de alta freqüência para uma

freqüência mais baixa, que será detectada, amplificada e registrada na saída do receptor,

correspondendo ao sinal da fonte observada). Devido ao alto ganho das antenas de

radiotelescópios e do fato que os sinais dos corpos celestes geralmente são mais fracos

em comparação com os sinais de IRF, o principal meio de penetração destes sinais de

interferência são as antenas, tanto pelo lóbulo primário quanto pelos lóbulos laterais.

Para evitar a IRFE há necessidade de legislação específica que proteja a banda de

interesse astrofísico ou de técnicas que cancelem ou minimizem estes sinais a níveis

aceitáveis para as necessidades científicas. A despeito da legislação, que em princípio

protege as bandas de rádio de interesse astrofísico, estas bandas são bem restritas. Além

disso, ultimamente a banda L (1-2 GHz) tem sido muito ocupada por sinais de IRFE,

como por exemplo, telefonia móvel e internet via rádio, do ponto de vista astrofísico.

Estes sinais são poluidores e causam grande perturbação nos sinais observados de fontes

astrofísicas. O estabelecimento de nova legislação para proteger esta banda entra em

37

choque com interesses comerciais, portanto o estabelecimento de nova legislação para

proteção de outras bandas de interesse astrofísico é um processo árduo que pode

consumir vários anos. Uma forma de minimizar os efeitos de sinais de radiofreqüência

indesejados, que constituem interferência para os instrumentos radioastronômicos é a

aplicação de técnicas e/ou métodos que cancelem, ou pelo menos minimizem, tais sinais

nas bandas de observação desejadas.

2.6 Sinais IRF na Banda de Ondas de Rádio Decimétricas

O BSS localiza-se em uma zona urbana, estando com isto sujeito às mais diversas fontes

de IRFE, como por exemplo sinais de uma torre de telefonia móvel localizada a menos

de 200m de distância, que foi instalada a cerca de 3 anos. A disseminação cada vez

maior de serviços de telefonia móvel e internet via rádio força os pesquisadores a adotar

procedimentos para tratar a interferência destes sinais. Entre os procedimentos adotados

tem-se a instalação de filtros para determinadas faixas de freqüências onde a

interferência é conhecida, ou o aumento da faixa de freqüência de observações, para

fugir das faixas contaminadas com IRFE. Como agravante tem-se o fato de que muitos

serviços (tais como a telefonia móvel) são intermitentes, tornando difícil prever quando

ou como este tipo de interferência afetará os dados observacionais e, mais difícil ainda,

tomar medidas preventivas para evitá-los. A Figura 2.5 exemplifica a contaminação por

IRFE, exibindo um espectro dinâmico (1000 -2000MHz) das 16:02:30 às 16:07:50 UT

de 5 de julho de 2002. Neste espectro, pode ser observada na região (a) uma linha (cor

preta) de IRF que se estende por todo o arquivo, e na região (b) um evento solar

registrado neste espectro.

38

FIGURA 2.5 – Exemplo de espectro dinâmico corrompido por sinal de IRFE coletado

pelo BSS.

Esta linha de IRF é única, e se situa no canal de freqüências 79, referente à freqüência

de 1.790 MHz.. Os arquivos apresentam linhas de IRF quase sempre sobrepondo-se aos

eventos solares registrados, prejudicando a análise dos mesmos. Como pode ser visto no

espectro da FIGURA 2.5 (“Spectral profile”) a intensidade da linha de IRF é muito

superior à dos outros canais. Daí a necessidade de uma técnica que consiga eliminar ou

minimizar as linhas de IRF sem prejudicar os dados observados. A Figura 1.3, vista no

Capítulo anterior, exibe um excerto da carta da “Atribuição de faixas de freqüência no

Brasil”, conforme a Anatel (Agencia Nacional e Telecomunicações), onde pode ser

observada a faixa coberta pelo BSS (1000 a 2500 MHz) e percebe-se a grande

quantidade de fontes externas que podem interferir diretamente na recepção do

instrumento. A freqüência da linha de IRF observada na FIGURA 2.5 (1.790 MHz) está

em uma zona identificada como sendo ocupada por telefonia fixa e/ou móvel, que

provavelmente é a causadora desta interferência.

39

Deve ser ressaltado que de 1999 a 2002 o BSS registrou regularmente o espectro

dinâmico de fenômenos solares explosivos dentro da banda de freqüências de 1000-

2500 MHz. A maioria dos dados foram coletados contendo uma linha de interferência

dentro da banda de observações. Entretanto, no final de 2001 e início de 2002, a

quantidade de linhas de interferência dentro da banda começou a aumentar

significativamente. Isto exigiu a tomada de medidas preventivas com a instalação de

filtros analógicos na entrada do receptor do instrumento que eliminaram aquelas linhas

de interferência. Além disso, a adoção de medidas que cancelassem-minimizassem a

linha de interferência nos espectros dinâmicos já coletados dentro do período de 1999 a

2001 é de fundamental importância para o bom andamento das pesquisas científicas que

fazem uso dos dados do BSS.

Por este motivo foi proposto este trabalho, o desenvolvimento de um filtro adaptável,

baseado em técnicas de redes neurais, que permita reduzir ou cancelar os sinais de

interferência dos dados coletados pelo BSS entre 1999 e 2002.

No próximo Capítulo, é feita uma descrição sobre redes neurais artificiais, sua utilização

e funcionamento, e também sobre o método de filtragem adaptável proposto neste

trabalho a fim de tratar os sinais de IRF que afetaram os dados do instrumento BSS

entre 1999 e 2002.

40

41

CAPÍTULO 3

REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

Neste Capítulo as redes neurais artificiais são abordadas e propostas como uma solução

para o cancelamento ou minimização dos sinais de IRF. É apresentada uma breve

introdução sobre redes neurais, com foco na utilização das mesmas na concepção de

filtros adaptáveis.

3.1 Introdução

A origem das redes neurais está fortemente vinculada aos estudos do cérebro e do

sistema nervoso, porém elas têm sido continuamente desenvolvidas e aperfeiçoadas para

uso na solução dos mais diversos tipos de problemas práticos, sendo que um dos

primeiros trabalhos bem sucedidos na utilização de redes neurais com a finalidade de

cancelar ou eliminar ruídos em sinais foi o trabalho de Bernard Widrow et al (1975).

O início das pesquisas em redes neurais artificiais se deu na década de 1940, com o

trabalho de Warren McCulloch e Walter Pitts, que propuseram um modelo

computacional para um neurônio biológico. Com este trabalho, eles mostraram que

redes de neurônios artificiais poderiam, em princípio, executar qualquer operação lógica

ou aritmética. Este trabalho é comumente citado como a origem do campo das redes

neurais artificiais (Hagan, Demuth e Beale, 1996).

Donald Hebb avançou o desenvolvimento da área de redes neurais artificiais, propondo

em 1949 um modelo para explicar a aprendizagem em neurônios biológicos. Mas foi

apenas com o trabalho de Rosenblatt e seu Perceptron que surgiu a primeira aplicação

prática de uma rede neural artificial (Hagan, Demuth e Beale, 1996).

O campo das redes neurais artificiais está fortemente vinculado ao modelo biológico de

neurônio, sendo que grande parte dos modelos matemáticos utilizados imitam as

estruturas encontradas no cérebro. Porém, algumas arquiteturas de redes têm pouca

relação com o cérebro, e algumas nem têm contrapartidas biológicas correspondentes

(Paraskeva, 2003).

42

3.2 O Perceptron

Na década de 50 Frank Rosenblatt e outros pesquisadores desenvolveram uma classe de

redes neurais chamada de Perceptrons, cujos neurônios são muito similares aos

neurônios originalmente propostos por McCulloch e Pitts. A diferença fundamental no

trabalho de Rosenblatt foi o desenvolvimento de uma estratégia de aprendizagem para

treinar redes Perceptron, a fim de que as mesmas pudessem resolver problemas de

reconhecimento de padrões, problema prático no qual Rosenblatt trabalhava àquela

época (Hagan, Demuth e Beale, 1996). Na Figura 3.1 é exibido o esquema de um

Perceptron que foi concebido com um mecanismo para classificação de classes

linearmente separáveis (Haykin, 2001).

1x

2x

3x

px

M

1kw

2kw

3kw

kpw

Limiarkθ

Saídaky

( )⋅ϕ Limitação de Função

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

Entradas

FIGURA 3.1 – Esquema de um Perceptron . FONTE: Adaptada de Haykin (2001, p. 107).

Na Figura 3.1, o Perceptron consiste de um neurônio com várias entradas, uma saída e

um sinal limiar. As entradas são representadas por 1, , px xL e seus respectivos pesos

como 1, , pw wL . O funcionamento pode ser dividido em duas fases distintas:

• Inicialmente é realizada uma combinação linear dos valores das entradas, ou

seja, a soma das multiplicações dos valores de entrada ( 1, , px xL ) pelos pesos

correspondentes a cada entrada ( 1, , pw wL ). O resultado desta combinação

linear, acrescido do valor de um limiar (bias, cuja função é aumentar ou

43

diminuir a sensibilidade do neurônio e seu conseqüente disparo) kθ , é

denominado campo induzido do neurônio ( v ) ou atividade interna:

1 1 2 2 p p kv x w x w x w θ= + + + +L .

• Em seguida, em função desta atividade interna, o neurônio é disparado ou não.

O mecanismo de disparo é efetuado aplicando-se uma função de ativação ( )vϕ

(função sinal) que limita o valor de saída do neurônio (aqui representada por

ky ) ao conjunto {-1,1}, resultando na saída do Perceptron:

( )1 1 2 2k p py x w x w x wϕ= + + +L .

Através destes procedimentos, o Perceptron é capaz de resolver problemas linearmente

separáveis. A Figura 3.2 ilustra o tipo de função de ativação do neurônio de

Rosemblatt.

FIGURA 3.2 – Tipo de função de ativação do neurônio de Rosemplatt. FONTE: Adaptada de Hagan, Demuth e Beale (1996, p. 4-5)

44

3.3 Rede ADALINE

Em 1960, Bernard Widrow e sua estudante Marcian Hoff introduziram o Adaptive

Linear Neuron (ADALINE) - (Elemento Linear Adaptável) e o algoritmo de

aprendizagem conhecido por Least Mean Square (Hagan, Demuth e Beale, 1996).

Assim como o Perceptron, a ADALINE pode resolver apenas problemas linearmente

separáveis. Mesmo assim, o algoritmo LMS tem características muito atraentes (que

serão vistas adiante), que fizeram com que este tipo de rede neural artificial fosse uma

das redes mais utilizadas em aplicações práticas (Stewart, Harteneck e Weiss, 2000). A

Figura 3.3 exibe a arquitetura de uma rede ADALINE.

1 x

2 x

3 x

p x

M

1 k w

2 k w

3 k w

kp w

Limiar k θ

∑ 1

Saídaky

( ) ⋅ ϕ Limitação de Função

+ Erroe

Desejada Resposta d

∑ 2

FIGURA 3.3 – Arquitetura de uma rede ADALINE. FONTE: Adaptada de Haykin (1991, p. 134).

O funcionamento de uma rede ADALINE é muito similar ao funcionamento de um

Perceptron, porém enquanto este último utiliza uma função de ativação do tipo sinal,

restrita ao conjunto {-1,1}, uma ADALINE apresenta uma função de ativação tipo

linear, podendo exibir em sua saída quaisquer valores dependendo de sua atividade

interna. Outra diferença entre um Perceptron e uma ADALINE é a inclusão do

algoritmo LMS, responsável pela estratégia de atualização dos pesos do neurônio

( 1, , pw wL ). Este algoritmo utiliza no seu funcionamento um sinal de erro (e), gerado

45

pelo comparador 2∑ , sendo este sinal de erro nada mais do que a diferença entre a

resposta do neurônio e a resposta desejada (d).

3.3.1 Algoritmo LMS

O algoritmo de aprendizagem LMS, também conhecido como regra delta de Widrow, é

um algoritmo de minimização de erro, baseado em estimativas instantâneas do erro na

saída. Ele faz parte da família de algoritmos de gradiente estocástico (Haykin, 1991).

Basicamente, ele percorre a superfície de erro da função em busca do ponto de erro

mínimo.

Uma das maiores vantagens do algoritmo LMS é sua simplicidade computacional. Além

disso, ele apresenta uma solução independente de modelo que o torna robusto (Haykin,

2001).

Por se tratar de um algoritmo essencial para o desenvolvimento desta dissertação, os

passos do algoritmo LMS, para um único neurônio, são apresentados a seguir, em uma

notação matricial. Toma-se instantes de tempo discretos que são denotados pelo índice

k, nos quais o vetor de pesos é ( )W kr

e o limiar do neurônio é )(kb . O vetor de entrada

do neurônio é ( )Tp kr e a taxa de aprendizagem do neurônio é α (k). O erro no instante

k é denotado por )(ke e é calculado levando em conta o vetor de saída desejada )(kd e

a saída correspondente do neurônio )(ky .

1) Inicialmente, ajustam-se os pesos do neurônio e o valor do limiar em zero:

( )( )1 0

1 0

W

b

=

=

rr

2) Em seguida, calculam-se os valores de saída do neurônio, bem como o erro

obtido:

46

( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )

Ty k W k p k b k

e k d k y k

= +

= −

rr r

rr r

3) No último passo, novos valores dos pesos e do limiar são calculados e

atualizados:

( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )kekbkb

kpkekWkW T

rrr

rrrr

α

α

21

21

+=+

+=+

4) Os passos (2) e (3) são repetidos até que todo o vetor de entrada tenha sido

processado.

5) Verifica-se o desempenho geral da aprendizagem (através de algum índice, tal

como o erro quadrático médio) para parar ou continuar o treinamento.

Uma descrição mais minuciosa bem como as deduções matemáticas deste

procedimento, além da demonstração do teorema de convergência do perceptron,

podem ser vistos em podem Haykin (2001) e em Hagan, Demuth e Beale (1996).

Convém ainda notar que o maior problema do algoritmo LMS é a taxa de convergência

lenta (Haykin, 2001). A fim de aperfeiçoar este algoritmo diversas variantes foram

propostas, sendo quatro destas variações comparadas com o algoritmo LMS clássico em

Woon-Seng (1996). Duas outras variantes são o algoritmoRecursive Least-Squares

(Haykin, 1991) e o algoritmo LMS adjunto (Wan, 1996).

3.3.2 Linha de Atrasos e Filtro Adaptável

A fim de que uma rede ADALINE possa extrair informação no domínio temporal do

sinal, surge a necessidade de um elemento adicional: uma linha de atrasos - tapped

delay line (Widrow e Stearns, 1985). Com este elemento, o sinal digital sofre sucessivos

atrasos temporais, sendo cada um destes atrasos denominado um tap (Demuth e Beale,

2003). Na prática, a linha de atrasos consiste em um vetor, com tamanho igual ao

número de taps, no qual os elementos do sinal de entrada são deslizados

47

seqüencialmente, um a um, durante os passos de execução da rede ADALINE. A Figura

3.4 mostra uma linha de atrasos conectada à entrada de uma ADALINE.

⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪

⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪ ⎪

Entradas

1x

2x

3x

nx

M

1kw

2kw

3kw

knw

Limiarkθ

∑ 1

Saída k y

( ) ⋅ ϕ Limitação de Função

+ Erro e

Desejada Resposta d

∑ 2

( ) pk

( ) 1 pk −

( ) 2 pk −

( ) pkn −

M M

Linha de Atrasos

FIGURA 3.4 – Linha de atrasos conectada a uma rede ADALINE. FONTE: Modificada de Demuth e Beale (2003, p. 10-9).

O arranjo de uma rede ADALINE mais uma linha de atrasos, forma um filtro adaptável,

sendo este arranjo também referido no campo de processamento digital de sinais como

um filtro de resposta impulsiva finita – FIR (Widrow e Stearns, 1985; Demuth e Beale,

2003). Este filtro tem muitas aplicações práticas, sendo amplamente utilizado em

processamento digital de sinais, em especial em filtragem adaptável. Basicamente, o

conjunto ADALINE + Linha de Atrasos pode ser utilizado em diversas aplicações

(Tsoukalas e Uhrig, 1997; MathWorks, 2003; Vorobyov, Cichocki e Bodyanskiy,

2001), sendo as mais comuns:

1) Identificação ou modelagem de sistemas (controle adaptável).

2) Modelagem inversa (equalização e deconvolução).

3) Predição adaptável.

4) Cancelamento de interferência adaptável.

48

Destes arranjos, somente o item 4 (cancelamento de interferência adaptável) é

examinado em profundidade nesta dissertação.

Quando a natureza da interferência (ruído) é desconhecida e mutável, utiliza-se o

esquema de cancelamento de interferência adaptável. A vantagem deste esquema em

relação à filtragem clássica, é que no cancelamento adaptável a atenuação do sinal é

minimizada, podendo ser nula, o que pode produzir uma relação sinal-ruído muito

maior, em virtualmente qualquer condição (Tsoukalas e Uhrig, 1997).

Um esquema de filtro adaptável, utilizado em cancelamento de ruídos (Hagan et al,

1996), pode ser visto na Figura 3.5. Neste sistema, um filtro adaptável tenta remover a

Ruído Contaminante (c) que é adicionada ao Sinal (s). Note-se que o sistema não tem

acesso direto ao Ruído Contaminante, mas sim ao Ruído Original (r). O filtro adaptável

realiza um ajuste de escala e fase para tentar relacionar o Ruído Original com o Ruído

Contaminante. A diferença entre este sinal relacionado (f) e o Sinal Contaminado (m)

gera um sinal de Erro (e), que é o Sinal restaurado.

FIGURA 3.5 – Sistema adaptável de cancelamento de ruído. FONTE: Modificada de Hagan et al. (1996, p. 10-15).

49

O cancelamento de interferências utilizando filtros adaptáveis teve seu primeiro trabalho

expressivo com o trabalho de Widrow de 1975 (Widrow e Stearns, 1985). Este trabalho

foi e continua sendo uma importante referência no campo de processamento digital de

sinais. Nele são descritas diversas aplicações práticas de filtragem adaptável. Na Figura

3.6 podem ser vistos sinais fornecidos de um eletrocardiograma tratado por um filtro

adaptável. Na Figura 3.6 c) tem-se o resultado da filtragem, exibindo a atenuação da

interferência.

FIGURA 3.6 – Filtro adaptável utilizado na eliminação de ruído em eletrocardiograma: (a) entrada contaminada, (b) interferência referência, (c) resultado final. FONTE: Adaptada de Widrow, (1975, p. 1702).

3.4 Perceptrons de Múltiplas Camadas e Algoritmo de Retropropagação

Os Perceptrons de Rosenblatt, quando agrupados, originam a arquitetura de rede neural

chamada Perceptrons em múltiplas camadas. Tipicamente, esta rede é formada por um

conjunto de unidades sensoriais, chamado de camada de entrada, uma ou mais camadas

ocultas de neurônios e uma camada de neurônios de saída (Haykin, 2001). Como

diferença do Perceptron de Rosenblatt tem-se que neste tipo de rede a função de

ativação dos neurônios é não-linear, monotonicamente crescente e derivável. Em geral,

50

as funções em forma de ‘S’ (sigmoidal), como a função logística ( ) ( )1

1 expv

avϕ =

+ e a

função tangente hiperbólica ( ) ( )tanhv a bvϕ = , sendo a e b constantes maiores que

zero, são as mais utilizadas. Um exemplo deste tipo de arquitetura de rede neural pode

ser visto na Figura 3.7:

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

⎪⎪⎪⎪⎪⎪

Entradas

Saída

4444 84444 76

Neurônios de Camadas 3

FIGURA 3.7 – Diagrama de uma rede de Perceptrons de múltiplas camadas.

Porém, embora esta arquitetura de rede tenha sido proposta por Rosenblatt e Widrow

como forma de transpor a grande limitação dos Perceptrons (a impossibilidade dos

mesmos de resolver problemas não-lineares), eles não conseguiram generalizar o

algoritmo LMS para múltiplas camadas. Foi apenas em meados da década de 80, que o

algoritmo de retropropagação do erro foi proposto independentemente por David

Rumelhart, Geofrey Hinton e Ronald Williams, David Parker, e Yann Le Cun (Hagan,

Demuth e Beale, 1996).

Assim, a união da rede de Perceptrons de múltiplas camadas com o algoritmo de

retropropagação do erro, permitiu a solução de problemas não-lineares, tornando-se

assim uma das arquiteturas de redes neurais mais utilizadas atualmente (Hagan, Demuth

e Beale, 1996; Haykin, 2001). Uma análise detalhada do algoritmo de retropropagação

do erro pode ser encontrada em Haykin (2001).

51

Klimasauskas (1989) utilizou com sucesso uma rede de retropropagação de erro na

eliminação de ruídos ambiente que contaminavam sinais de eletrocardiogramas (tal

como o trabalho original de Widrow, que utilizava filtros adaptáveis com a mesma

finalidade). A técnica de Klimasauskas consiste na compressão dos dados de

eletrocardiogramas através de uma rede de retropropagação com camada oculta. Em

seguida, uma restauração destes dados fornecia uma saída com nível menor de ruído. O

resultado pode ser visto na Figura 3.8, onde na parte inferior da figura tem-se o sinal

original degradado por ruído, e na parte superior da figura a saída filtrada pela rede

neural, praticamente livre de ruído:

FIGURA 3.8 – Exemplo de eliminação de ruídos utilizando rede de retropropagação. FONTE: Modificada de Klimasauskas (1989, p. 44).

Além das arquiteturas de redes vistas acima, existem ainda as Redes de Função de Base

Radial (RBF, mais detalhes em Haykin, 2001), que têm se mostrado eficazes em

cancelamento de ruídos, principalmente de natureza não-linear (Cichocki, Vorobyov e

Rutkowski, 1999; Vorobyov e Cichocki, 2001), e técnicas mistas, baseadas em redes

neurais artificiais em conjunto com lógica nebulosa e algoritmos genéticos (Russo,

1999; Meng Joo e Aung Min, 2002). Mais detalhes sobre as arquiteturas de redes

52

neurais e outras técnicas de inteligência computacional podem ser vistos em Haykin

(2001); Hagan, Demuth e Beale (1996); e Tsoukalas e Uhrig (1997).

Dentre todas estas arquiteturas de redes neurais apresentadas, que possivelmente

poderiam solucionar o problema de interferências em radiofreqüências do BSS, foi

escolhida a utilização da técnica de filtragem adaptável. Os aspectos mais relevantes

nesta escolha foram a simplicidade de implementação e a velocidade de processamento,

devido à grande quantidade de dados existente.

Assim sendo, o Capítulo seguinte aborda detalhes práticos da técnica da filtragem

adaptável, tais como as entradas e saída do filtro e a escolha ideal dos parâmetros do

mesmo, além de serem apresentados alguns exemplos de problemas que podem ser

solucionados com a utilização da filtragem adaptável.

53

CAPÍTULO 4

ASPECTOS PRÁTICOS DO FILTRO ADAPTÁVEL

No Capítulo anterior as redes neurais artificiais foram apresentadas como uma solução

para o cancelamento de interferências em radiofreqüências. O presente Capítulo detalha

aspectos práticos do filtro adaptável que foi criado, suas entradas e saída, escolhas dos

parâmetros de funcionamento ideais, explicações sobre os diversos elementos do filtro,

e finaliza com a apresentação de alguns exemplos ilustrativos de utilização de filtros

adaptáveis. O enfoque aqui apresentado é na utilização do filtro adaptável no

cancelamento de sinais de interferência.

4.1 Filtro Adaptável

Nesta dissertação, o problema da interferência nos dados adquiridos pelo instrumento

BSS é tratado pela aplicação de filtros adaptáveis, que foram utilizados com sucesso na

eliminação de interferências em radiofreqüências na área de radioastronomia. Mitchell e

Bower (2001) obtiveram uma redução de perto de 36 dB no sinal de IRF, quando

aplicaram a técnica de filtragem adaptável nos sinais do Protótipo do Arranjo Ágil

(Rapid Prototyping Array – RPA, protótipo de um instrumento que está sendo

construído junto ao Departamento de Radioastronomia da Universidade da Califórnia).

Nos experimentos foi utilizada uma antena de referência para adquirir os sinais de IRF e

antenas primárias responsáveis pela aquisição dos sinais desejados, em um filtro

ADALINE com neurônio único, um canal de limiar e algoritmo de aprendizagem LMS.

Barnbaum e Bradley (1998) construíram o protótipo de um cancelador adaptável,

consistindo de dois receptores: um canal primário (vindo do feixe principal de um

radiotelescópio) e um canal separado de referência. O canal primário recebe o sinal

astronômico desejado, corrompido por IRF, enquanto o canal de referência recebe

apenas a IRF. Os dois canais são submetidos a um filtro adaptável digital, utilizando um

algoritmo LMS. Foram obtidos resultados com atenuação nas interferências da ordem

de 72 dB.

54

Assim sendo, para o cancelamento ou redução dos efeitos de IRF nos dados do

equipamento BSS, foi proposta inicialmente a utilização de uma rede ADALINE

simples, com o algoritmo de aprendizagem LMS clássico.

Um agravante nesta abordagem é o fato do instrumento BSS possuir apenas uma antena,

não possibilitando a utilização direta do sinal de interferência como referência para a

filtragem adaptável. A solução encontrada será abordada nos Capítulos subseqüentes.

As entradas e saída do filtro são referidos daqui em diante como “sinais”.

O funcionamento do filtro adaptável requer o ajuste de três parâmetros: o valor da taxa

de aprendizagem (α), o número de taps e os valores dos pesos e limiar iniciais. Estes

elementos são apresentados e explicados nos tópicos subseqüentes.

4.2 Entradas para o Filtro Adaptável

A filtragem adaptável é um método de filtragem ótima que pode ser aplicado sempre

que um sinal de interferência estiver disponível, tendo como principais vantagens a

baixa distorção do sinal original e sua capacidade de adaptação (Widrow e Stearns,

1985). A Figura 4.1 ilustra a contaminação de um sinal puro (a) qualquer por um sinal

de interferência (b), resultando no sinal contaminado (c). O objetivo da filtragem

adaptável é restaurar o sinal contaminado à sua forma original através do cancelamento

desta interferência.

Via de regra, o sinal de interferência real é desconhecido (caso contrário, uma simples

subtração do sinal contaminado pela interferência real restauraria completamente o sinal

puro original), mas se tem acesso a um sinal de interferência (d) que, apesar de não ser

idêntico à interferência real, é altamente correlacionado à interferência real. Em geral

este sinal de interferência possui algumas distorções, tais como defasagem temporal,

intensidade diferente ou mesmo um desvio de offset (defasagem), em relação à

interferência real.

55

(b) Interferëncia Real

+ =(a) Sinal Puro (c) Sinal Contaminado

(Sinal de Entrada)

(d) Sinal de Interferëncia

FIGURA 4.1 – Esquema dos sinais envolvidos em um procedimento de filtragem adaptável.

Portanto, os dois sinais disponíveis alimentam o filtro adaptável (e) (conforme pode ser

observado na Figura 4.2): um sinal de entrada contaminado (c) e o sinal de interferência

(d). Durante o funcionamento, o filtro adaptável modifica seus pesos e limiar, ajustando

o sinal de interferência de forma que o mesmo se aproxime do sinal de interferência real

tomado como referência. Subtraindo-se este resultado do sinal de entrada, elimina-se a

interferência. Logo, no final do processo tem-se um sinal de saída (f) restaurado e livre

de interferências.

(c) Sinal de Entrada(contaminado)

(d) Sinal de Interferência

(f) Sinal de Saída(livre de interferências)

(e) Filtro Adaptável

FIGURA 4.2 – Entradas e saída típicas de um filtro adaptável.

Convém notar que em algumas situações o sinal de interferência pode apresentar

componentes de baixa intensidade do sinal de entrada. Neste caso pode ocorrer o

cancelamento de parte do sinal de entrada, resultando em perda da eficiência do filtro

adaptável (Widrow e Stearns, 1985).

56

4.3 Taxa de Aprendizagem (Parâmetro α)

A taxa de aprendizagem está relacionada diretamente com a velocidade com que os

pesos e o limiar do filtro adaptável convergem para valores estáveis. A escolha do valor

ideal deste parâmetro depende de diversos fatores, entre os quais podemos citar

(Haykin, 1991):

• erro residual;

• estabilidade;

• sensibilidade a transientes;

• número de taps;

• tempo de convergência;

• capacidade de readaptação.

Estes fatores precisam ser cuidadosamente levados em conta na hora da escolha da taxa

de aprendizagem de um filtro adaptável, para que este possa convergir rapidamente.

Estes fatores são detalhados e exemplificados a seguir.

Erro residual: após a fase de convergência, os pesos e o limiar de um filtro adaptável

continuam variando estocasticamente nas imediações do “ponto ótimo” (ponto para o

qual os valores dos pesos e limiar convergem assintoticamente). Isto gera um pequeno

erro residual, que pode ser visto no perfil temporal da FIGURA 4.3, que exibe o

comportamento de uma rede ADALINE com apenas um único peso (W0) e o limiar

(B). Na Figura 4.3 pode ser visto que, embora os valores de W0 e B tenham convergido

para os valores “ótimos”, eles continuam oscilando em torno dos mesmos. Assim, via de

regra, quanto maior o valor de α maior este erro residual indesejável (Haykin, 1991).

Em geral, quanto menor for o valor de α, menor será o erro residual.

57

FIGURA 4.3 – Variação estocástica do peso e do limiar em torno do “ponto ótimo”.

Estabilidade: o filtro adaptável em geral é estável e converge para a solução ótima do

problema. Porém, esta estabilidade depende fundamentalmente do parâmetro α. Valores

de α muito grandes podem tornar o filtro instável e causar divergência, fazendo os

valores dos pesos, do limiar e a saída do filtro tenderem ao infinito, conforme pode ser

observado na Figura 4.4:

58

FIGURA 4.4 – Parâmetro α muito grande, gerando instabilidade e divergência no peso e no limiar.

Para uma escolha segura do parâmetro α existem cálculos matemáticos baseados

principalmente no estudo dos sinais de entrada do filtro adaptável (Haykin, 1991;

Butterweck, 1997). Na prática, porém, este estudo nem sempre é possível, pois

dificilmente se conhecem os sinais de entrada a priori. Assim, normalmente a escolha

de um valor seguro para α é realizada empiricamente, testando diferentes valores até

encontrar aqueles que não causem divergência no filtro e, em seguida, escolhe-se um

valor um pouco menor, como margem de segurança (Hagan, Demuth e Beale, 1996). A

estabilidade, em geral, melhora quando a taxa de aprendizagem, α, torna-se menor.

Sensibilidade a Transientes: diretamente relacionada com a estabilidade do filtro

adaptável, a sensibilidade a transientes diz respeito à capacidade do filtro adaptável em

suportar transientes nos sinais de entrada. Existem certas situações onde um filtro

adaptável pode parecer estável com sinais de entrada bem comportados, mas acabar

divergindo na presença de um transiente forte, tal como ilustram os perfis temporais da

Figura 4.5. Deste modo, um valor de α menor faz com que o filtro fique menos sensível

a estes transientes.

59

FIGURA 4.5 – Transiente no sinal de entrada (esquerda) causando instabilidade nos

pesos do filtro adaptável (direita).

Número de taps: deve ser levado em consideração na escolha do parâmetro α pois, em

geral, quanto maior o número de taps, menor deve ser o α correspondente (caso

contrário pode ocorrer instabilidade no filtro adaptável).

Tempo de Convergência: embora teoricamente um filtro adaptável estável sempre tenda

a convergir para a solução ótima, o tempo de convergência pode acabar se tornando

excessivamente grande. Em alguns casos, mesmo após o processamento de 90% do

vetor de entrada, os pesos e o limiar não convergem completamente. Este tempo de

convergência depende fundamentalmente de α, de forma que quanto maior o valor de α,

menor o tempo gasto na convergência do filtro adaptável para a solução ótima. Os perfis

temporais da Figura 4.6 ilustram esta relação, exibindo três simulações onde a única

variação é o valor do parâmetro α. Com α valendo 0.050 o filtro converge rapidamente,

enquanto que com valores menores o tempo de convergência aumenta gradativamente.

60

FIGURA 4.6 – Relação entre o valor do parâmetro α e o tempo de convergência.

Convém lembrar que, via de regra, os dados de saída gerados pelo filtro na fase de

adaptação são descartados. Assim, com vetores de entrada (sinais) de tamanho reduzido

(mil amostras ou menos), a quantidade de dados descartados pode tornar-se excessiva,

em alguns casos, fazendo com que a filtragem adaptável seja inviável.

Capacidade de Readaptação: num ambiente real provavelmente os sinais de

interferência não são estáveis e podem variar durante o tempo. Uma das qualidades do

filtro adaptável é justamente conseguir modificar-se para enfrentar estas situações

(capacidade conhecida como “tracking”, Haykin, 2003), já que cada mudança no

comportamento dos sinais de interferência leva a uma nova readaptação nos pesos do

filtro. O tempo necessário para esta readaptação nos valores dos pesos do filtro depende

61

diretamente de α, sendo tanto menor quanto maior for o valor de α. A Figura 4.7 exibe

um perfil temporal com o desenvolvimento dos pesos e limiar de um filtro adaptável

durante um teste, e exemplifica um caso onde os mesmos passam por uma readaptação

(aproximadamente na varredura 675), devido a mudança na natureza da interferência.

Após um pequeno transiente os novos valores dos pesos e limiar estabilizam-se por

volta da varredura 685.

FIGURA 4.7 – Readaptação dos pesos e limiar em um filtro adaptável.

A Tabela 4.1 resume os fatores discutidos acima, que devem ser levados em conta na

determinação de um valor ideal do parâmetro α.

TABELA 4.1 – Fatores importantes na escolha da taxa de aprendizagem ideal. α menor α maior

• erro residual pequeno; • maior estabilidade; • menor sensibilidade a transientes;• maior número de taps possíveis;

• erro residual grande; • menor estabilidade; • maior sensibilidade a transientes; • menor número de taps possíveis;

• convergência lenta; • readaptação lenta.

• convergência rápida; • readaptação rápida.

62

4.4 Número de Taps

Assim como a taxa de aprendizagem, o número de taps, em um filtro adaptável, deve

ser escolhido com cuidado. Estes taps operam compensando qualquer defasagem

temporal existente entre a interferência real (que contamina os sinais de entrada) e o

sinal de interferência. A quantidade ideal destes taps depende da natureza do sinal, da

amostragem do mesmo, bem como da defasagem existente entre a interferência real e o

sinal de interferência (Tsoukalas e Uhrig, 1997). A Figura 4.8 exibe um perfil temporal,

onde pode-se observar a defasagem existente entre dois sinais (uma defasagem de 50

unidades de tempo):

FIGURA 4.8 – Defasagem entre o sinal de interferência e a interferência real.

Assim sendo, sempre deve ser escolhido um número “suficiente” de taps, de forma a

compensar as defasagens existentes. Um número maior de taps não ocasionará

problemas. Por exemplo, em uma situação onde 5 taps seriam suficientes, um filtro

adaptável com 15 taps funcionaria sem problemas. Porém, convém notar que quanto

maior o número de taps, maior será o erro residual final, já que um número maior de

pesos ficará oscilando em torno dos “pontos ótimos”, além de tornar o processo de

convergência do filtro mais lento (Pradhan e Reddy, 1999), devido à maior

complexidade e gasto de processamento computacional. Uma boa abordagem para

63

determinar o número ideal de taps é empiricamente adicionar taps um a um, até que a

rede apresente sinais de convergência.

4.5 Pesos

Os pesos de um filtro adaptável são responsáveis por eliminar qualquer diferença de

intensidade entre a interferência real (que degrada os sinais de entrada) e o sinal de

interferência que alimenta o filtro adaptável. Assim, os pesos podem atenuar o sinal de

interferência (valores menores que 1) ou mesmo amplificá-lo (valores maiores que 1).

Na Figura 4.9 superior pode ser visto um exemplo, com os perfis temporais da

interferência real e o sinal de interferência (entrada para o filtro adaptável), entre os

quais existe uma diferença de intensidade (o sinal de interferência está 1,5 vezes maior

que a interferência real). Isto força o peso do filtro adaptável a cair para 0,66666

(Figura 4.9, inferior) atenuando este sinal e compensando assim esta diferença de

intensidade .

64

FIGURA 4.9 – Influência da diferença de intensidade no sinal de interferência, no

comportamento dos pesos.

Os valores dos pesos de um filtro adaptável são ajustados dinamicamente, pelo próprio

filtro, dispensando escolhas manuais (como ocorre com o α e o número de taps). O

valor inicial dos mesmos, via de regra, de ser ajustado em zero. Porém, no Capítulo 5, é

mostrado como uma escolha cuidadosa destes valores iniciais pode levar a uma

convergência mais rápida do filtro adaptável.

65

4.6 Limiar

O limiar nem sempre é utilizado nos filtros adaptáveis, sendo dispensável quando os

sinais de entrada forem subtraídos de suas respectivas médias (Tsoukalas e Uhrig,

1997). Basicamente, a função do limiar no filtro adaptável é eliminar a diferença de

offset existente entre a interferência real (que contamina os sinais de entrada), e o sinal

de interferência que alimenta o filtro adaptável. Isto pode ser visto na Figura 4.10, à

esquerda, onde se observam os perfis temporais da interferência real e do sinal de

interferência (entrada para o filtro adaptável). Entre os dois existe uma diferença de

offset de aproximadamente 0,2 unidades. O valor do limiar converge para –0,2 unidades,

compensando assim esta diferença de offset.

FIGURA 4.10 – Influência do offset do sinal de interferência, no comportamento do

limiar.

4.7 Função de Ativação

A função de ativação de uma ADALINE, denotada por ( )vϕ , determina os possíveis

valores de saída, dependendo de sua atividade interna. Em geral, utiliza-se uma função

do tipo linear, mais comumente a função rampa. Neste trabalho foi criada uma versão

modificada do filtro, utilizando uma função de ativação não-linear do tipo sigmóide,

chamada de função logística: ( ) ( )1

1 expv

avϕ =

+, a qual limita os valores de saída da

66

ADALINE entre 0 e 1. Os gráficos destes dois tipos de funções podem ser observados

na Figura 4.11.

FIGURA 4.11 – Funções de ativação: função rampa (esquerda) e função logística (direita).

4.8 Visão Geral do Processo

A Figura 4.12 ilustra as influências dos diversos elementos do filtro adaptável no sinal

de interferência. Em (a) temos a condição inicial, com a interferência real (em azul)

juntamente com o sinal de interferência (em verde). Percebe-se que o sinal de

interferência sofre problemas de defasagem temporal, diferença de intensidade e

deslocamento de offset, em relação à interferência real. Em (b) o sinal foi processado

pelo limiar, que eliminou a diferença de offset entre os dois. Já em (c), os pesos do filtro

amplificam o sinal, eliminando assim a diferença de intensidade entre os dois sinais.

Finalmente, em (d) os taps eliminam completamente a defasagem temporal do sinal de

interferência. Neste ponto, o sinal de interferência já é virtualmente idêntico à

interferência real, bastando ao filtro apenas subtraí-la do sinal de entrada, para restaurar

completamente o mesmo.

67

a) b)

d) c)

FIGURA 4.12 – Visão esquemática em fases do funcionamento do limiar, pesos e taps no filtro adaptável.

Convém notar que estas figuras foram criadas apenas para ilustrar de forma didática o

comportamento do filtro adaptável. Na prática, todos estes processos ocorrem

simultânea e progressivamente.

68

4.9 Aplicações Práticas do Filtro Adaptável

Para uma melhor compreensão sobre a aplicação dos filtros adaptáveis, são

apresentados a seguir alguns exemplos ilustrativos:

Utilização em Acústica (Widrow et al, 1975): no exemplo mostrado na Figura 4.13

temos uma situação cotidiana, onde um orador (Figura 4.13, a) discursa em uma sala,

em meio a uma platéia ruidosa (Figura 4.13, b). A voz do orador é captada pelo

microfone principal (Figura 4.13, c) mas é corrompida pela interferência acústica da

platéia (gritos, aplausos, conversas). A fim de que a voz do orador possa ser gravada ou

amplificada, sem os ruídos da platéia, pode-se utilizar um filtro adaptável, bastando para

isto a instalação de um segundo microfone (Figura 4.13, d).

(h) Sinal Filtrado

(i) Sistema de Áudio

(c) Microfone Principal

(d) Microfone Auxiliar

(b) Platéia(fonte de interferência)

(a) Orador(sinal desejado)

(f) Sinal + Interferência

(e) Somente Interferência (g) FiltroAdaptável

FIGURA 4.13 – Filtro adaptável aplicado em acústica.

FONTE: Modificada de Widrow et al.(1975, p.1704).

O microfone auxiliar (Figura 4.13, d) fica responsável pela captação do ruído sonoro

criado pela platéia, gerando o sinal de interferência (Figura 4.13, e). Este sinal, em

conjunto com o sinal de voz do orador corrompido pela ruído da platéia (Figura 4.13, f)

é aplicado em um filtro adaptável (Figura 4.13, g), o qual remove o ruído causado pela

platéia e devolve em sua saída um sinal filtrado (Figura 4.13, h) contendo apenas a voz

do orador. Este sinal filtrado pode então ser gravado ou amplificado pelo equipamento

de áudio (Figura 4.13, i).

69

Utilização em Aeronáutica (Hagan, Demuth e Beale, 1996): em cabines de aviões a jato,

onde o nível de ruído gerado pelas turbinas do avião é extremamente grande, a

comunicação entre o piloto e a torre de controle fica gravemente prejudicada. Um filtro

adaptável pode ser utilizado, cancelando o ruído proveniente das turbinas, fazendo a voz

do piloto tornar-se compreensível para os controladores de vôo, conforme o esquema

ilustrado na Figura 4.14:

(g) Sinal Corrompido

(f) Somente Interferência(i) Sinal Filtrado(h) Filtro

Adaptável

(b) Aeronave

(d) Controlador de vôo(c) Microfone

y

(e) Microfone Auxiliar

(a) Piloto

FIGURA 4.14 – Filtro adaptável utilizado em uma aplicação aeronáutica típica.

FONTE: Modificada de Hagan, Demuth e Beale (1996, p. 10-34).

Neste exemplo, um piloto (Figura 4.14, a) de uma aeronave (Figura 4.14, b) tem

dificuldades ao tentar comunicar-se, através de um microfone (Figura 4.14, c), com um

Controlador de Vôo (Figura 4.14, d) em solo, já que a voz do piloto é distorcida pelo

ruído das turbinas do avião. Através da instalação de um Microfone Auxiliar (Figura

4.14, e), instalado próximo à turbina do avião, um Sinal de Interferência (Figura 4.14,

f), contendo o ruído gerado pela turbina é adquirido. Este sinal, em conjunto com o

Sinal Corrompido (Figura 4.14, g) vindo do microfone do piloto, serve como entrada

para o Filtro Adaptável (Figura 4.14, h), que realiza a filtragem e eliminação do ruído da

turbina do avião. Em sua saída, o Sinal Filtrado (Figura 4.14, i), já livre de qualquer

ruído, é repassado para o Controlador de Vôo.

Utilização em Medicina 1 (Widrow e Stearns, 1985): um problema em medicina é a

obtenção do eletrocardiograma (ECG) de um feto em uma gestante, uma vez que os

sinais do coração da gestante são muito mais intensos que os sinais do coração do feto,

misturando-se aos sinais do feto. O arranjo da Figura 4.15 exibe um método, utilizando

filtragem adaptável, para separar os sinais de ECG da gestante dos sinais do feto.

70

(h) Sinal do Feto Filtrado(e) FiltroAdaptável

(d) Sensor Abdominal

(b) Sensor Torácico

(c) Feto

(a) Gestante

(g) Sinal dos Coraçôes da Gestante + do Feto

(f) Sinal do Coração da Gestante

(i) Terminal ECG

FIGURA 4.15 – Filtro adaptável separando os sinais de ECG de uma gestante dos sinais de ECG de um feto. FONTE: Modificada de Widrow e Stearns (1985, p. 335).

Os sinais do coração da Gestante (Figura 4.15, a) são captados por um Sensor Torácico

(Figura 4.15, b), assim como os sinais do coração do Feto (Figura 4.15, c) são captados

por um Sensor Abdominal (Figura 4.15, d). Entretanto, os sinais captados por este

último sensor são na verdade uma soma dos sinais do coração do feto superpostos aos

sinais do coração da gestante. Um Filtro Adaptável (Figura 4.15, e) recebe então estes

dois sinais: o Sinal do Coração da Gestante (Figura 4.15, f) e o Sinal Proveniente do

Feto (Figura 4.15, g) e, após o processamento do filtro adaptável, o sinal do coração da

gestante é suprimido, resultando na saída um Sinal do Feto Filtrado (Figura 4.15, h),

entregue ao Equipamento de ECG (Figura 4.15, i).

Utilização em Medicina 2 (Klimasauskas, 1989): outro problema comum em medicina

envolvendo eletrocardiogramas (ECG) é a contaminação dos mesmos pela interferência

de 60 Hz proveniente da rede elétrica. Soluções como aterramento dos equipamentos

envolvidos e a utilização de cabos com pares trançados minimizam, mas nem sempre

solucionam o problema. Uma abordagem da eliminação da interferência de 60 Hz

utilizando filtragem adaptável pode ser vista na Figura 4.16:

71

(h) Sinal de ECG Filtrado(d) FiltroAdaptável

(c) Sensor ECG

(a) Paciente

(g) Sinal de ECG corrompido por Interferência de 60 Hz

(e) Sinal de Interferência60 Hz

(i) Equipamento de ECG(f) Tomada Elétrica

(b) Interferência60 Hz

FIGURA 4.16 – Filtro adaptável eliminando interferência de 60 Hz dos sinais de ECG.

FONTE: Modificada de Klimasauskas (1989, p. 42).

Neste arranjo, os sinais do eletrocardiograma de um Paciente (Figura 4.16, a) são

contaminados por Interferência de 60 Hz (Figura 4.16, b) provenientes da rede elétrica

que penetram através do Sensor de ECG (Figura 4.16, c). Para eliminar esta

interferência, um Filtro Adaptável (Figura 4.16, d) utiliza um Sinal de Interferência

(Figura 4.16, e) de 60 Hz, obtido de uma Tomada Elétrica (Figura 4.16, f), em conjunto

com o Sinal de ECG Corrompido (Figura 4.16, g) vindo do paciente. Após o processo

de filtragem adaptável, é gerada na saída do filtro um Sinal de ECG Filtrado (Figura

4.16, h), já livre da interferência de 60 Hz, que é então enviado ao Equipamento de ECG

(Figura 4.16, i).

Utilização em Radioastronomia: neste exemplo, ilustrado na Figura 4.17, o objetivo da

Antena Principal (Figura 4.17, a) é captar sinais de rádio oriundos do Sol (Figura 4.17,

b). Porém, estes sinais são corrompidos por sinais de interferências provenientes de

diversas fontes, tais como satélites (Figura 4.17, c), relâmpagos (Figura 4.17, d) e torres

de telefonia móvel (Figura 4.17, e). Como estes sinais de interferência em geral variam

no tempo e são dificilmente previsíveis, o uso de filtros fixos em determinadas

freqüências não consegue eliminar estes sinais de interferência satisfatoriamente. Um

filtro adaptável pode ser utilizado para solucionar este problema.

72

(a) Antena Principal(e) Transmissora de Telefonia Celular

(Fonte de Interferência)

(b) Sol(Sinal Desejado)

(f) Antena Secundária

(d) Relâmpagos(Fonte de

Interferência)

(i) Equipamento Análise

(g) Sinal + Interferência

(c) Satélite(Fonte de Interferência)

(h) Somente Interferência(i) Sinal Filtrado(f) Filtro

Adaptável

FIGURA 4.17 – Filtro adaptável utilizado em radioastronomia.

Primeiramente, utiliza-se uma antena secundária (Figura 4.17, f) com a finalidade de

captar todos os sinais de interferência, menos os sinais desejados do Sol. Ela fornecerá

um sinal de interferência que não será idêntico (devido a diferenças de posicionamento

e, até mesmo, diferenças nos equipamentos que a compõem), mas muito similar aos

sinais de interferência que corrompem o sinal desejado do Sol. Em seguida, um filtro

adaptável (Figura 4.17, f) recebe estes dois sinais em sua entrada, o sinal+interferência

(Figura 4.17, g) e um sinal com apenas interferência (Figura 4.17, h), e realiza a

filtragem, utilizando este sinal com apenas interferência (Figura 4.17, h) para remover a

interferência que corrompe (Figura 4.17, g). Na saída do filtro um sinal filtrado (Figura

4.17, i) livre ou quase totalmente livre dos sinais de interferência é gerado, e em seguida

enviado a um equipamento de análise (Figura 4.17, j) ou simplesmente armazenado.

Este arranjo seria o ideal no caso do instrumento BSS. Porém o instrumento opera com

apenas uma antena, e a instalação de uma nova antena é inviável. A solução adotada

para este problema é vista no Capítulo seguinte.

Este Capítulo abordou aspectos práticos do filtro adaptável, tais como a escolha do

número ideal de taps e do valor ideal da taxa de aprendizagem. O funcionamento dos

73

diversos parâmetros do filtro adaptável foi ilustrado, e foram apresentados exemplos da

utilização do mesmo.

O próximo Capítulo descreve o material utilizado neste trabalho, detalhes sobre o

instrumento BSS e o formato de seus dados, bem como os diversos procedimentos

realizados no pré-tratamento dos dados.

74

75

CAPÍTULO 5

MATERIAL E METODOLOGIA DE TRABALHO

5.1 Introdução

Este Capítulo apresenta uma descrição sobre os dados do instrumento BSS, aborda os

procedimentos utilizados no tratamento dos dados que se referem a este trabalho e

descreve a metodologia utilizada no desenvolvimento do filtro adaptável.

De uma maneira geral, podemos descrever o processo de aplicação de filtragem

adaptável nos dados do BSS da seguinte maneira: os dados observados e adquiridos

pelo instrumento BSS são armazenados em forma de arquivos .ESP e, posteriormente,

os dados são visualizados pelo programa BSSData e BSSView (Martinon e Fernandes,

2000), permitindo a verificação dos dados e da presença de sinais de IRF. Os dados

contaminados por sinais de IRF são processados pelo filtro adaptável proposto. Com

uma nova visualização e o cálculo da atenuação sofrida pelo sinal de interferência é

possível analisar os resultados obtidos pela filtragem adaptável, o desempenho do filtro

e a manutenção da integridade dos dados nos canais livres de IRF. Este processo pode

ser observado no diagrama da Figura 5.1.

Brazilian SolarSpectroscope

BSS(aquisição dados)

BSSData(visualização e cálculo

da atenuação)

Matlab(filtragemadaptável)

BSSData(visualização)IBM PC 2

(armazenagem)

IBM PC 2(armazenagem)

FIGURA 5.1 – Diagrama dos equipamentos e processos utilizados na filtragem adaptável.

76

Os arquivos utilizados no desenvolvimento e testes do filtro foram cedidos pelo

responsável pelo instrumento BSS, da linha de P&D FMI da DAS-INPE.

5.2 Dados do Instrumento BSS

A Figura 5.2 mostra um diagrama esquemático da aquisição, armazenamento e

visualização dos dados do instrumento BSS.

AnalisadorEspectralP8559A

Servidor

Leitor Código de TempoEstação de Tempo

GPS 8820

Conversor A/D12 bits

RS-232

IBM-PC-(1)IBM-PC-(2)

SinalIRGB

Sistema deAquisição deDados

BSSView

Rede Ethernet

Somador

Alimentador Log-periódico Banda Larga

(200-2500MHz) comAntena de 9m diâmetro

LNA BandaLarga

LNA BandaLarga

FIGURA 5.2 – Diagrama representando o Brazilian Solar Spectroscope .

FONTE: Adaptada de Martinon e Fernandes (2000, p. 9).

O instrumento é constituído de uma antena parabólica de 9 m construída em malha de

alumínio (vide Figura 2.2) possuindo em seu foco um alimentador de banda larga (200 a

2500 MHz) composto por um par de antenas log-periódico cruzadas, o que permite a

recepção das componentes ortogonais (vertical e horizontal) do sinal recebido da fonte

(Sol).

A saída do alimentador do sistema é conectada a dois pré-amplificadores de baixo ruído,

ligados por sua vez a um circuito somador de banda larga. Após ser somado o sinal é

introduzido em um analisador espectral (HP8559A), que faz o papel de receptor,

operando no modo Z – medindo a intensidade no plano freqüência versus tempo. A

seguir os sinais de variação de tensão x freqüência, para cada varredura da banda de

freqüências, na saída do analisador seguem para os sistemas de armazenamento e

77

monitoramento. Como as varreduras são feitas em seqüência e durante todo o intervalo

correspondente à duração de um arquivo de dados obtemos na saída o que chamamos de

espectro dinâmico – curva de tempo (abscissa) versus canal de freqüência (ordenada)

versus intensidade (escala de cores).

A digitalização e armazenamento dos dados obtidos pelo BSS são realizados através de

uma placa digitalizadora de 12 bits (vide Figura 5.2). O sistema de aquisição de dados

do BSS digitaliza o sinal, proveniente do analisador espectral, correspondendo às

potências do espectro varrido, que é amostrado com uma resolução temporal que pode

ser selecionada entre 10 e 1000 ms, em até 100 canais de freqüência. Os parâmetros

ajustados na interface gráfica do programa de aquisição por Faria (1999) estão descritos

a seguir na Tabela 5.1:

TABELA 5.1 – Parâmetros do sistema de aquisição do BSS.

Parâmetro do BSS Faixa de Valores

Freqüência central 1000 - 2500 MHz.

Largura da banda 100, 200, 500 ou 1000 MHz.

Resolução temporal 10, 20, 50, 100, 200 ou 1000 milissegundos

Número de canais 25, 50 ou 100 canais

Tempo total de aquisição 1, 2.5, 5, 10, 15 ou 20 minutos FONTE: Adaptada de Faria (1999, p. 22).

O software de aquisição de dados foi criado com uma série de rotinas de digitalização,

inseridas em um módulo que também tem a função de controlar a placa digitalizadora.

Os dados digitalizados são armazenados em um formato binário proprietário (formato

.ESP, Faria, 1999). O tratamento e a visualização dos dados são realizados em tempo

quase-real. Além disto, também é armazenado o tempo absoluto no qual foram

realizadas as observações, através da aquisição do código de tempo gerado pela GPS

Station Clock, do Centro de Controle de Satélites (CCS) do INPE (Martinon e

Fernandes, 2000; Faria, 1999).

78

5.3 Formato dos Arquivos de Dados

Os dados são adquiridos em formato .ESP que é formado por duas partes principais:

• Cabeçalho: contém informações sobre o arquivo, e possui um tamanho fixo de

56 bytes.

• Vetor: armazena os dados digitalizados, e possui um tamanho variável.

O cabeçalho dos arquivos .ESP fornece as informações sobre as características dos

dados adquiridos, tais como: data e hora da aquisição, número de canais, resolução em

freqüência e resolução temporal, entre outros. Estas características estão separadas por

campos. A Tabela 5.2 exibe as designações dos campos, seus tamanhos e respectivas

descrições.

TABELA 5.2 – Campos do cabeçalho de um arquivo .esp. Campo Tamanho

(bytes) Descrição do Campo

Status 2 Utilizado internamente pelo programa de aquisição Df 2 Resolução espectral em MHz Dt 2 Resolução temporal em milissegundos

time_obs 8 Tempo do início da aquisição dos dados (hora, minutos, segundos, milissegundos)

time_end 8 Tempo do fim da aquisição dos dados (hora, minutos, segundos, milissegundos) Date 6 Data de aquisição dos dados (dia, mês e ano)

freq_obs 2 Freqüência inicial em MHz freq_end 2 Freqüência final em MHz

Scans 4 Número de varreduras Channels 2 Número de canais Duration 2 Duração total da aquisição em segundos Data_min 2 Mínimo elemento do conjunto de dados (tipicamente 0) data_max 2 Máximo elemento do conjunto de dados (tipicamente 4095) File_name 12 Nome do arquivo

Total 56

Logo após os 56 bytes referentes ao cabeçalho do arquivo .ESP é armazenado um vetor

com os dados digitalizados pelo BSS, vetor este de tamanho variável, dependendo

unicamente dos parâmetros “número de canais” e “número de varreduras”. Este

tamanho pode ser calculado, em bytes, da seguinte forma: Tamanho (bytes) = Número

de Canais X Número de Varreduras X 2 (multiplica-se por 2 pois cada valor é

armazenado em 2 bytes). Cada ponto digitalizado consiste em um valor inteiro entre 0 e

4095 (12 bits de resolução) e é armazenado como um inteiro longo (16 bits).

79

A leitura destes parâmetros dos cabeçalhos dos arquivos .ESP permite que os mesmos

sejam lidos e importados pelo programa específico de visualização-tratamento de dados.

5.4 Programa BSSData

O programa BSS-Data (Martinon e Fernandes, 2000), utilizado no desenvolvimento

deste trabalho, foi desenvolvido em linguagem C, e possibilita a visualização gráfica e

tratamento preliminar dos dados adquiridos pelo BSS. A Figura 5.3 exibe a tela do

BSSData.

FIGURA 5.3 – Visão geral do programa BSSData.

A entrada de arquivos do BSS no BSS-Data é realizada através do Gerenciador de

Projetos (Project Manager, Figura 5.3, canto superior esquerdo). A ferramenta permite

o agrupamento dos conjuntos de dados do BSS (arquivos .ESP) facilitando o acesso ao

usuário. As informações como a resolução espectral, data de aquisição, etc., são

exibidas quando se seleciona um arquivo do grupo, como pode ser visto na Figura 5.4.

80

Os botões “Add” e “Remove” adicionam ou removem um arquivo da lista,

respectivamente.

FIGURA 5.4 – Janela do gerenciador de projetos.

Por sua vez, através do botão “View”, o espectro dinâmico, perfil temporal e perfil

espectral são exibidos em uma janela gráfica independente, conforme exibido na Figura

5.5. Os perfis temporal e espectral de um arquivo podem ser observados com detalhes

nas janelas “Temporal profile” e “Spectral profile”, respectivamente. Estas janelas

possibilitam a identificação dos canais contendo IRF, e conseqüentemente da freqüência

dos mesmos. Diversos arquivos podem ser visualizados, e as diversas partes de um

arquivo de dados podem ser visualizadas através das barras de rolagem do programa.

81

FIGURA 5.5 – Visualização de um arquivo .ESP do BSS no programa BSSData.

Com o intuito de realçar um evento solar inteiro ou uma parte de interesse deste evento

os pesquisadores do grupo FMI utilizam o Gerenciador de Paletas (Palette Manager,

Figura 5.6, à esquerda), que permite a visualização do arquivo de dados sob uma ampla

gama de paletas de cores. Nas Figura 5.6 e Figura 5.7 pode ser visto o mesmo arquivo

de dados, mas utilizando-se duas paletas de cores diferentes. Via de regra, é utilizada a

paleta denominada “Red Temperature”.

Maiores detalhes sobre o funcionamento do programa BSSData estão dados no

Apêndice 2.

82

FIGURA 5.6 – Arquivo de dados visualizado com paleta “Red Temperature”.

FIGURA 5.7 – Arquivo de dados visualizado com paleta “Stern Special”.

5.5 Arquivos de Dados Utilizados neste Trabalho

Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizados arquivos de dados observados

pelo instrumento BSS, cedidos pelo responsável pelo instrumento da Linha de Pesquisas

FMI da Divisão de Astrofísica do INPE.

Existem 3 tipos de arquivos: arquivo com linha de interferência, arquivo de calibração e

arquivo com fenômenos solares com linha de interferência. Os arquivos que possuem

apenas linha de interferência foram usados para o conhecimento da natureza e

características do sinal de interferência perturbador dos dados. Já o arquivo de

83

calibração foi necessário para se determinar a atenuação gerada pelo filtro adaptável

sobre o sinal de interferência quando aplicado ao arquivo de dados. Por sua vez, os

testes finais do filtro adaptável construído foram efetuados no arquivo contendo o

fenômeno solar para mostrar que o filtro apenas atenua o sinal de interferência sem

alterar o restante do arquivo de dados e também para validar a utilização do filtro. Para

a validação do filtro foram usados também os arquivos contendo apenas sinal de

interferência.

Arquivos com linha de interferência: Foram utilizados os seguintes arquivos:

090401C2.ESP, 090401C9.ESP, 040601C8.ESP e 040601C9.ESP. Os dois primeiros

foram registrados às 15:19:32 e 16:00:16 UT do dia 09 de abril de 2001, enquanto, os

dois últimos foram registrados as 15:06:48 e 15:12:39 UT do dia 04 de junho de 2001.

Estes arquivos foram adquiridos em 100 canais de freqüência dentro da faixa 1500-2500

MHz, com resolução temporal de 50 ms e duração de 5 minutos – 6000 varreduras.

Estes arquivos são necessários para que se obtenha informação sobre o nível do sinal

nos canais de freqüência adjacentes ou próximos àquele que apresenta o sinal de

interferência. O nível médio obtido dessa forma é utilizado como referencia para o nível

do sinal no canal de freqüência contaminado pelo sinal de interferência. Estes arquivos

podem ser observados na Figura 5.8 a seguir:

84

FIGURA 5.8 – Arquivos com linha de interferência (esquerda) e respectivo cabeçalho (direita).

Arquivos de calibração: Foram utilizados os arquivos 040601D5.ESP e

050702F1.ESP, o primeiro foi registrado às 15:47:44 UT do dia 04 de junho de 2001,

em 100 canais de freqüência, dentro da faixa 1500-2500 MHz, com resolução temporal

de 50 ms e duração de 5 minutos – 6000 varreduras. O segundo arquivo foi registrado às

15:52:21 UT do dia 05 de julho de 2002, em 100 canais de freqüência, dentro da faixa

1000-2000 MHz, com resolução temporal de 100 ms e duração de 5 minutos – 3000

varreduras. Estes arquivos são necessários para que seja possível quantificar a redução

sofrida pelo sinal de interferência, quando da aplicação do filtro adaptável que foi

desenvolvido, e podem ser observados na Figura 5.9:

85

FIGURA 5.9 – Arquivos de calibração (esquerda) e respectivo cabeçalho (direita).

Arquivos com fenômeno solar e linha de interferência: Foram utilizados os arquivos

090401C3.ESP, registrado às 15:25:21 UT do dia 09 de abril de 2001, e 050702F3.ESP,

registrado às 16:02:37 UT do dia 05 de julho de 2002. O primeiro foi observado em 100

canais de freqüência, dentro da faixa 1500-2500 MHz, com resolução temporal de 50

ms e duração de 5 minutos – 6000 varreduras. Por sua vez, o outro arquivo foi

observado em 100 canais de freqüência, dentro da faixa 1000-2000 MHz, com resolução

temporal de 100 ms e duração de 5 minutos – 3000 varreduras. Como já citado acima,

estes arquivos são usados para verificar a operação do filtro adaptável sobre o sinal de

interferência e a integridade dos dados nos outros canais de freqüência. Desta maneira,

pode-se validar ou excluir um determinado filtro que foi criado, de acordo com o

resultado de sua aplicação a um arquivo contendo o fenômeno solar de interesse das

investigações científicas. Estes arquivos podem ser observados na Figura 5.10.

86

FIGURA 5.10 – Arquivos com fenômeno solar e linha de interferência (esquerda) e respectivo cabeçalho (direita).

5.6 Calibração do BSS e Método de Medição da Atenuação

Um aspecto importante deste trabalho é a medida da eficiência da filtragem.

Normalmente, compara-se a saída do filtro com um sinal que não esteja afetado pelo

sinal de interferência, o qual deve ser conhecido a priori. No caso do BSS, o sinal livre

de interferência não está disponível, pois os dados foram armazenados contendo o sinal

de interferência. Além disso, não se conhece a fonte exata do sinal de interferência para

que este seja imediatamente extraído do dado armazenado. Como citado anteriormente,

estamos assumindo que os sinais de interferência sejam provenientes de telefonia fixa,

móvel, ou até mesmo sinal de internet via rádio, já bem difundida em São José dos

Campos. Para maiores detalhes consulte a carta de atribuição de freqüências da Anatel

(Anatel, 2003) ou a figura detalhada fornecida no Apêndice 1 .

Deve ser ressaltado que os dados adquiridos pelo instrumento BSS não são previamente

calibrados quando do armazenamento dos mesmos, pois a calibração dos dados em

todos os canais de freqüência demanda um tempo considerável que não está disponível

quando da aquisição dos dados. Neste caso, o que se faz é efetuar o armazenamento de

um arquivo de calibração periodicamente 1-2 vezes por mês, no caso das condições

observacionais de resolução em freqüência, resolução temporal, número de canais de

freqüência e faixa de freqüências de observação se repetirem durante um determinado

período de tempo. Contudo, se as condições observacionais se alteram, incluindo o

87

surgimento de novos sinais de interferência na faixa de freqüências de observações, uma

nova calibração é efetuada independentemente do tempo ocorrido a partir da última

calibração.

Normalmente, as condições observacionais se repetem ao longo de toda uma campanha

internacional de observações de fenômenos solares. A duração destas campanhas,

durante os períodos de máximo de atividade solar é da ordem de 2-3 semanas, ou mais,

dependendo da taxa de atividade solar. Portanto, como o receptor é bem estável e as

condições observacionais se repetem por um período de 2-3 semanas ou mais, ficou

definido que a taxa de calibrações seria de 1-2 por mês. Entre 1998 e meados de 2002

este foi o procedimento adotado. Em 2002, surgiram outros sinais de interferência

dentro da banda de freqüências de observação do BSS, e isto exigiu a tomada de

medidas para minimizar-eliminar as perturbações causadas por aqueles sinais nos dados

que estavam sendo adquiridos. Neste sentido, foi colocado um filtro analógico na

entrada do receptor para barrar os sinais de interferência. Simultaneamente, as

calibrações passaram a ser feitas diariamente a partir de então.

Além disso, sabendo que a filtragem dos sinais de interferência deve ter seu

desempenho estimado, neste trabalho adotamos a utilização da atenuação medida em

decibéis (dB) sofrida pelo sinal, após a aplicação do filtro adaptável, como estimativa

do desempenho do filtro. Este tipo de estimativa tem sido comumente utilizado nos

trabalhos sobre redes neurais aplicados à radioastronomia (Mitchel e Bower, 2001;

Barnbaum e Bradley, 1998).

O uso da atenuação em dB é necessário devido ao fato dos dados obtidos pelo BSS

estarem em unidades arbitrárias, como explicado acima, sem uma escala específica,

inviabilizando a comparação direta entre níveis de sinais de arquivos de dias diferentes.

Neste caso, a partir do arquivo de dados escolhido, estabelecemos como critério a

determinação do nível médio correspondente ao sinal livre de interferências e a

determinação do sinal puro de interferência para o canal contendo a interferência, como

descrito na penúltima seção deste Capítulo.

88

O procedimento de calibração em dB consiste em aplicar sucessivas - mínimo 3 e

máximo 10 – atenuações ao sinal de entrada, obtendo-se assim uma escala de

intensidade graduada em dB para a resposta do instrumento. As atenuações são

aplicadas e retiradas durante determinados intervalos de tempo, através de atenuadores

graduados em dB, gerando uma escala relativa graduada em dB, conforme pode ser

observado na Figura 5.11.

FIGURA 5.11 – Perfil temporal em um canal de freqüência (acima) e espectro dinâmico (abaixo) de uma calibração. FONTE: Adaptada de Nascimento et al. (2002, p. 11).

As atenuações em dB são de tal ordem que cada 3 dB altera o sinal de entrada por um

fator ~2. Desta forma, podemos obter uma expressão para a escala de intensidade em dB

(Tabela 5.3) como segue:

89

110log2

pdBp

=

Onde, dB é o ganho em decibéis, log é o logaritmo decimal, p1 e p2 são a potência de

saída e de entrada, respectivamente.

TABELA 5.3 – Relação entre níveis de potência de saída e atenuação em dB. Atenuação

(dB) Potência Relativa

0 1,000 3 0,5 6 0,25 9 0,125 12 0,0625

Atualmente, este procedimento de calibração é efetuado diariamente, como citado

acima, e através dele é possível relacionar a intensidade de sinais obtidos pelo BSS em

dias distintos. Deve ser ressaltado que a resposta ideal da calibração seria linear, mas

isto pode não ocorrer principalmente devido a imprecisões geradas pelo operador do

instrumento que executa as operações da calibração. Além disto, devido ao “nível de

fundo” do instrumento poder apresentar variação ao longo da faixa de freqüências de

operação, as respostas podem ser distintas ao longo dos vários canais de freqüência

escolhidos.

5.7 Conversão da Intensidade de Atenuação para a Escala de dB

Para medir o desempenho do filtro adaptável é necessário relacionar os níveis de

intensidade e a atenuação (em dB), seguindo alguns procedimentos ilustrados no

fluxograma da Figura 5.12.

90

ArquivoCalibração

ArquivoIRF

Fórmula de Conversão:Unidades =>dB

Normalizaçãoconjunta

entre [0,1]

Cálculo Médias

Seleção Canal Desejado

Tabela eAjuste Curva

Gráfico:Unidades x dB

FIGURA 5.12 – Fluxograma com procedimentos aplicados no arquivo de calibração.

Inicialmente, são lidos os dados do BSS referentes aos arquivos contendo o sinal de IRF

e a calibração.

Cada um destes arquivos gera uma matriz de dados, que são normalizadas entre 0 e 1,

levando-se em conta os valores mínimo e máximo encontrados, para que ambas tenham

a mesma escala. Na Figura 5.13 pode ser observado, em forma de espectro dinâmico

tridimensional, o resultado desta operação sobre o arquivo de calibração 040601D5.ESP

, referente ao dia 4 de julho de 2001 (convém esclarecer que a linha vertical em azul, à

direita e ao fundo, foi introduzida artificialmente, a fim de manter a compatibilidade de

palete da figura).

91

FIGURA 5.13 – Espectro dinâmico tridimensional de um arquivo de calibração.

A segunda etapa é o cálculo das médias dos intervalos de canal nível (1 dB, 2 dB, 3 dB,

etc...) da calibração para cada canal de freqüência, já que existem flutuações nos níveis.

Uma dificuldade adicional é que o acionamento dos atenuadores do sistema pode

provocar transientes no nível dos sinais, tal como é visto na Figura 5.14. Este problema

foi minimizado descartando-se dez por cento iniciais e dez por cento finais dos dados de

cada intervalo.

92

FIGURA 5.14 – Detalhe de um perfil temporal de um canal de freqüência de um arquivo de calibração, exibindo transientes.

A Figura 5.15 mostra o sinal da calibração num determinado canal de freqüência, com

as respectivas variações dos sinais de cada nível, em azul, e as médias obtidas para cada

nível, em vermelho.

FIGURA 5.15 – Médias dos intervalos de calibração em um perfil temporal.

93

A etapa final é a escolha de um canal em particular (neste caso ilustrativo será adotado o

canal 22) do qual serão extraídas as médias de cada intervalo de atenuação. A diferença

entre as médias obtidas para cada nível (1 dB, 2 dB, …) e a média do nível mínimo –

correspondente a 0 dB – nos fornece a Tabela 5.4, que relaciona a intensidade de cada

um dos níveis em unidades normalizadas à atenuação em dB correspondente aos sinais

daqueles níveis.

TABELA 5.4 – Relação entre atenuação em dB e unidades arbitrárias para o perfil temporal do canal 22.

Atenuação (dB)

Intensidade (unidades)

0 dB 0,0000 -1 dB 0,0185 -2 dB 0,0439 -3 dB 0,0597 -4 dB 0,0871 -5 dB 0,1135 -6 dB 0,1256 -7 dB 0,1362

Utilizando-se os valores desta Tabela cria-se um gráfico relacionando a atenuação (em

dB) com a intensidade e, em seguida, estes dados são ajustados a uma reta utilizando-se

um ajuste de curvas baseado em mínimos quadrados, tal como ilustrado na Figura 5.16.

94

FIGURA 5.16 – Gráfico de relação entre atenuação e intensidade.

Para o caso em particular (arquivo 040501D5.ESP, canal 22), obteve-se a seguinte

fórmula que relaciona diretamente a intensidade e a atenuação em dB:

0.0152- i*48.1214=dB , onde i são as unidades de intensidade e dB é a atenuação

obtida.

Esta fórmula pode agora ser utilizada para calcular diretamente a atenuação em dB

obtida pelo método da filtragem adaptável.

Deve-se observar que nem sempre a curva de atenuação se ajustará perfeitamente a uma

reta; existem variações na resposta do instrumento BSS, conforme a freqüência

analisada; e, além disto, o procedimento de calibração do BSS é manual, podendo

ocorrer imprecisões no manuseio pelo operador. O resultado são curvas de atenuação

variáveis, dependendo do canal de freqüência analisado. Na Figura 5.17 podem ser

observadas duas respostas diferentes para o mesmo arquivo de calibração. Uma resposta

praticamente linear para o canal 16 (à esquerda), enquanto que para o canal 50 (à

direita) a resposta é extremamente não-linear e se ajusta mal a uma reta.

95

FIGURA 5.17 – Diferença na resposta do BSS em relação aos canais 16 e 50.

Convém notar que ao quantificar a atenuação efetiva da filtragem adaptável em um

determinado canal de freqüência deve-se escolher como referência para a criação da

Tabela “dB x Intensidade”, um canal que:

• esteja livre da influência de IRF;

• apresente a curva de resposta mais linear;

• encontre-se o mais próximo possível do canal sendo analisado.

Assim, utilizando-se o procedimento detalhado acima, conseguiu-se uma maneira

prática de quantificar a eficiência da filtragem adaptável, relacionando a atenuação

efetiva da mesma com a atenuação que pode ser obtida através de filtros analógicos.

96

5.8 Filtragem Adaptável

Inicialmente, a utilização da filtragem adaptável nos dados do BSS apresentou

problemas diversos, tais como uma convergência excessivamente lenta, que poderia

inviabilizar o processo. Em algumas situações o filtro só se estabilizava após o

processamento de metade do arquivo de entrada, ou seja, grande parte dos dados eram

descartados. Além disto, na presença de mudanças bruscas ou de alta intensidade nos

sinais de entrada (devido a transientes, interferências ou mesmo explosões solares

intensas) o filtro se desestabilizava, e em algumas situações o processo divergia. Para

sanar estes problemas, foram realizadas modificações no modelo do filtro adaptável:

• Taxa de aprendizagem variável: a taxa de aprendizagem (α) do filtro adaptável

foi modificada de forma a se tornar variável, sendo maior no início do processo

de adaptação, de forma a forçar os pesos e limiar a convergir rapidamente para

os valores estacionários finais, e decrescendo gradativa e linearmente,

deixando assim o filtro imune às rápidas variações de intensidade que ocorrem

ocasionalmente.

• Diminuição da constante que atualiza o valor do limiar: esta constante vale 2

no filtro adaptável [ ( ) ( ) ( )1 2,0b k b k e kα+ = +r r r ], mas foi rebaixada a 0,2

[ ( ) ( ) ( )1 0,2b k b k e kα+ = +r r r ], pois verificou-se que a presença do limiar

distorcia a saída do filtro, principalmente quando ocorriam variações bruscas

no nível do sinal de entrada. Experimentou-se utilizar uma rede adaptável sem

o limiar, mas os resultados obtidos foram ainda piores. Entretanto com a

redução do valor da constante para 0,2 o problema foi minimizado e as

distorções foram suprimidas.

• Pesos e limiar iniciais diferentes de zero: no modelo clássico os pesos e limiar

iniciais são ajustados em zero, e progressivamente convergem para os valores

estacionários. Como nos dados do BSS esta convergência estava

excessivamente lenta, a saída foi observar a tendência dos valores finais dos

pesos e limiar, criar uma média destes valores, e aplicá-los como valores

97

iniciais, de forma a reduzir o período de adaptação do filtro. Após a realização

destas mudanças, o resultado final foi uma melhora no processo de filtragem

adaptável, impedindo o filtro de divergir na presença de transientes de alta

intensidade, viabilizando assim sua utilização efetiva nos dados do BSS.

5.9 Canal de Saída Estimado e Interferência Estimada

A fim de poder medir o desempenho do filtro adaptável para a determinação dos

diversos parâmetros do mesmo, foi necessário definir uma saída estimada do filtro

(devido à impossibilidade técnica de se obter um sinal de entrada puro, livre de

interferências). De posse desta saída, torna-se simples calcular a soma do erro

quadrático, entre a resposta de saída do filtro adaptável e o sinal estimado, e utilizá-lo

como medida de desempenho. Além disto, existe a necessidade da geração de um sinal

de interferência estimado, que será utilizado, juntamente com o sinal original, como

entrada para o filtro adaptável. Para a estimação destes sinais utilizou-se a seguinte

metodologia exibida no diagrama de blocos da Figura 5.18 e descrita abaixo:

• Define-se o canal de freqüência com interferência a ser processado pelo filtro

adaptável (daqui por diante referido como Canal Original).

• Procuram-se dois canais, livres de interferência, adjacentes (um de freqüência

mais alta e outro de freqüência mais baixa) o mais próximo possível do Canal

Original (já que, via de regra, a interferência afeta alguns canais, mas não

todos).

• Utiliza-se uma interpolação linear entre estes dois canais adjacentes, gerando

assim um Canal de Saída Estimado (que é a estimação do Canal Original, caso

não estivesse corrompido por interferência).

• Faz-se a subtração do Canal Original pelo Canal de Saída Estimado, obtendo-

se assim a Interferência Estimada (que normalmente seria adquirida por uma

segunda antena).

98

InterpolaçãoLinear

Subtração:Canal Original -Canal Estimado

Canal Freq. mais Alta(livre de interferência)

Canal Freq. mais Baixa(livre de interferência)

Canal de SaídaEstimado

Canal Original

InterferênciaEstimada

FIGURA 5.18 – Diagrama de blocos da criação da saída estimada e interferência estimada.

Para ilustrar o procedimento, as figuras Figura 5.19 e Figura 5.20 exibem os resultados

obtidos aplicando este procedimento no arquivo 050702F3.ESP. Neste arquivo o canal

que sofre contaminação por interferência é o canal 79 e foram utilizados como canais

adjacentes os canais 76 e 80, por serem os canais mais próximos do canal 79 que não

apresentavam contaminação por interferência. Na Figura 5.19 podem ser observados os

perfis temporais dos canais 79, 76 e 80 (esquerda), além do perfil temporal do resultado

da interpolação linear dos canais 76 e 80 (direita).

FIGURA 5.19 – Perfis temporais dos canais 79, 76 e 80 do arquivo 050702F3.ESP (esq.), estimação do canal de saída por interpolação linear (dir.).

99

Convém notar que a intensidade do Canal Original é muito alta, justamente por causa da

grande intensidade da interferência somada ao mesmo. Após a interpolação e o cálculo

da Saída Estimada, realiza-se a subtração do Canal Original pela Saída Estimada,

obtendo-se assim a Interferência Estimada, como pode ser observado no perfil temporal

da Figura 5.20.

FIGURA 5.20 – Perfil temporal da interferência estimada.

Assim, após a obtenção do Sinal de Interferência Estimada, já é possível realizar a

filtragem adaptável no Canal Original. A saída obtida pela filtragem adaptável, em

conjunto com o Canal de Saída Estimado, será utilizada no cálculo da soma do erro

quadrático, um valor utilizado como medida de desempenho para o filtro adaptável. Este

processo pode ser observado no fluxograma da Figura 5.21.

100

Canal Original(com interferência)

InterferênciaEstimada

Filtro Adaptável

Saída do Filtro Canal de SaídaEstimado

Cálculo do ErroQuadrático

Erro QuadráticoTotal

FIGURA 5.21 – Fluxograma exibindo a utilização dos sinais estimados.

5.10 Determinação dos Parâmetros Para o Filtro Adaptável

O filtro adaptável possui diversos parâmetros que devem ser pré-ajustados e que foram

discutidos em detalhes no Capítulo 4. O cálculo para a determinação dos valores ideais

destes parâmetros, visando a utilização do filtro adaptável nos sinais do BSS, foi

realizado de maneira empírica, através de baterias de testes, utilizando a soma do erro

quadrático como medida de desempenho do filtro linear adaptável.

A seguir, os valores finais obtidos para cada parâmetro, bem como a metodologia

utilizada, são apresentados.

Quantidade de Taps: a quantidade de taps ideal depende fundamentalmente da

defasagem temporal entre os sinais de entrada e o sinal de interferência. Como neste

caso estamos utilizando um sinal de interferência estimado, não haveria necessidade de

tap algum. Mas tendo em vista a utilização futura da filtragem adaptável com um sinal

de interferência real (que pode estar defasado), bem como para simular o

comportamento do filtro com diversos taps, achou-se razoável fixar o número de taps

em três. Convém notar que é possível e recomendável a busca do número ideal de taps

através de varreduras (variando-se o número de taps e mantendo-se todos os outros

parâmetros constantes), tal qual na busca da taxa de aprendizagem ideal, vista a seguir,

quando não se conhecem a natureza e a defasagem do sinal de interferência real.

101

Taxa de aprendizagem (α): a determinação deste parâmetro foi realizada de maneira

empírica, com uma bateria de testes nos diversos arquivos do BSS utilizados. Os testes

consistiam de varreduras, nas quais os valores de α eram variados entre um mínimo e

um máximo (geralmente entre zero e um), os outros parâmetros eram mantidos

constantes, e a melhor saída obtida (a que apresentava a menor soma do erro quadrático)

era escolhida. Um exemplo deste procedimento pode ser visto na Figura 5.22.

Taps= 3; a= 0.00350; Erro1= 1.358064; Taps= 3; a= 0.04833; Erro1= 0.317990; Taps= 3; a= 0.09315; Erro1= 0.277997; Taps= 3; a= 0.13798; Erro1= 0.265777; Taps= 3; a= 0.18280; Erro1= 0.262392; Taps= 3; a= 0.22763; Erro1= 0.263544; Taps= 3; a= 0.27245; Erro1= 0.267567; Taps= 3; a= 0.31728; Erro1= 0.273633; Taps= 3; a= 0.36210; Erro1= 0.281278; Taps= 3; a= 0.40693; Erro1= 0.290243; Taps= 3; a= 0.45175; Erro1= 0.300391; Taps= 3; a= 0.49657; Erro1= 0.311677; Taps= 3; a= 0.54140; Erro1= 0.324124; Taps= 3; a= 0.58623; Erro1= 0.337818; Taps= 3; a= 0.63105; Erro1= 0.352901; Taps= 3; a= 0.67588; Erro1= 0.369575; Taps= 3; a= 0.72070; Erro1= 0.388111; Taps= 3; a= 0.76553; Erro1= 0.408864; Taps= 3; a= 0.81035; Erro1= 0.432298; Taps= 3; a= 0.85518; Erro1= 0.459020; Taps= 3; a= 0.90000; Erro1= 0.489839;

FIGURA 5.22 – Resultados obtidos com a procura do parâmetro α ideal.

Convém notar que o valor do parâmetro α é de certa forma crítico, já que um α pequeno

leva a uma convergência lenta e um α muito grande leva o processo de filtragem

adaptável a divergir. Assim, na determinação do parâmetro α ideal para os arquivos do

BSS, o número de taps foi fixado em 3, como visto acima e, após encontrados os

melhores valores de α em cada caso (os que geravam a menor soma do erro quadrático),

foi realizada uma média entre eles de forma a se obter um α geral, que fosse satisfatório

para todos os casos. A Tabela 5.5 exibe os melhores α encontrados em cada caso, bem

como a média entre eles.

102

TABELA 5.5 – Taxas de aprendizagem obtidas e média. Arquivo Testado Canais Utilizados Melhor Taxa de Aprendizagem (α) 090401C3. ESP 41 e 45 0.075 e 0.065 050702F3. ESP 79 0.225 040601C8.ESP 40 e 46 0,080 e 0,090

α Médio= 0.107

Pesos e Limiar iniciais: os valores dos pesos e limiar iniciais foram obtidos verificando

os valores finais destes parâmetros após cada teste, utilizando três taps e o melhor valor

de taxa de aprendizagem, para cada canal e arquivo (conforme determinados no item

anterior). O limiar médio encontrado foi de 0,157. Os pesos W0, W1 e W2 oscilaram

sempre em torno de zero (com valores em geral menores que 0,03 unidades arbitrárias),

e por este motivo foram definidos como zero. O peso W3 médio encontrado foi de

0,913. A utilização destes pesos e limiar iniciais não é fundamental, mas a utilização

dos mesmos como zero inicialmente (conforme a teoria de filtragem adaptável clássica)

faz com que a convergência do filtro seja lenta, sendo que muitas vezes todo o arquivo

de dados é processado sem que a convergência do filtro adaptável seja alcançada.

Este Capítulo apresentou detalhes técnicos sobre todos os materiais envolvidos neste

trabalho, desde as particularidades do instrumento BSS e o formato dos dados obtidos

pelo mesmo, até os detalhes sobre a implementação da filtragem adaptável nos dados do

BSS, além do problema da medição efetiva da atenuação do processo de filtragem

adaptável, bem como a solução adotada para realizar esta medição.

Os resultados obtidos pela filtragem adaptável, os problemas encontrados e soluções

obtidas são apresentados no Capítulo seguinte. Além disto, o procedimento criado para

medir a atenuação efetiva da filtragem adaptável, através dos arquivos de calibração, é

utilizado para validar e quantificar estes resultados obtidos.

103

CAPÍTULO 6

RESULTADOS OBTIDOS

6.1 Aplicação da Filtragem Adaptável

Para demonstrar a eficácia do método de filtragem adaptável foi escolhido para exemplo

o arquivo 050702F3.ESP do BSS. Este arquivo apresenta apenas uma linha de

interferência bem pronunciada, no canal 79 (1.790 MHz), o que torna mais fácil a

observação do trabalho realizado pelo filtro. Os parâmetros utilizados no filtro adaptável

foram aqueles determinados empiricamente como descrito no Capítulo 5. A Tabela 6.1

apresenta os parâmetros determinados e utilizados neste trabalho.

TABELA 6.1 – Parâmetros utilizados no filtro adaptável. Parâmetro Valor

Tipo de filtro Linear modificado Taxa de aprendizagem (α) 0.107 (valor inicial) Número de Taps 3 Pesos iniciais W0= 0, W1= 0, W2= 0, W3= 0.913 Limiar inicial B= 0.157

Na Figura 6.1 (superior e inferior) está mostrado o resultado obtido da aplicação da

versão linear modificada do filtro adaptável. Podemos ver o arquivo original e o

espectro dinâmico contendo uma intensa linha de interferência, exibido na parte

superior da figura. Já o espectro dinâmico da parte inferior mostra o efeito da aplicação

do filtro sobre a linha de interferência. Observa-se claramente que o sinal de

interferência foi quase eliminado ao passo que o fenômeno solar existente neste arquivo

- estrutura alongada em forma de mancha horizontal - tornou-se mais evidente. Isto

ocorre devido à escala da tabela (paleta) de cores do BSSData que é padronizada. De

qualquer maneira, a interferência - linha horizontal - foi minimizada e o restante dos

dados teve sua integridade preservada.

104

FIGURA 6.1 – Arquivo 050702F3.ESP: comparação entre o arquivo original (figura superior) e o arquivo após ser processado pelo filtro adaptável (figura inferior).

Este mesmo resultado, visto em 3 dimensões (para uma melhor análise dos detalhes),

pode ser observado na Figura 6.2, onde fica mais evidente a intensidade da linha de

interferência do canal 79, aqui vista na forma de uma “cortina” que se destaca

visivelmente do nível de fundo da figura. Um evento solar (objeto em forma de mancha

na parte superior direita da figura) é observado nas imediações do canal 20, onde pode-

se observar a magnitude da linha de interferência em comparação com o restante dos

dados.

FIGURA 6.2 – Vista tridimensional do arquivo 050702F3.ESP original, com uma linha de interferência no canal 79.

105

A linha de interferência do canal 79 é praticamente eliminada após o processamento

pelo filtro adaptável, como pode ser observado na Figura 6.3. Note-se a pequena

protuberância nas primeiras dez a quinze varreduras do canal 79 (parte inferior esquerda

da figura), correspondente ao curto período de adaptação do filtro, no qual os valores

dos pesos e o limiar estão variando. Após a convergência dos pesos e do limiar para os

valores ideais, a protuberância desaparece, já que a filtragem adaptável praticamente

elimina a linha de interferência, em uma comparação visual.

FIGURA 6.3 – Arquivo 050702F3.ESP após os dados serem processados pelo filtro adaptável.

A Figura 6.4 exibe o perfil temporal do canal 79, em comparação com o valor estimado

do mesmo (conforme o procedimento visto no Capítulo 5). Pode-se observar que no

início do processo de filtragem (Figura 6.4 à esquerda) a discrepância entre a saída do

filtro e o valor estimado desejado é grande (apresentando uma soma do erro quadrático

entre os dois sinais neste intervalo de 0.8584), mas o filtro adapta-se rapidamente,

convergindo por volta da varredura 20. À medida que o filtro adaptável atua seus pesos

e limiar ajustam-se progressivamente; ao final do processo a diferença entre o canal 79

processado e a estimativa do mesmo é praticamente desprezível (soma do erro

quadrático entre os sinais no intervalo de 0.0106, Figura 6.4 à direita).

106

FIGURA 6.4 – Comparação entre a saída do filtro adaptável e o sinal estimado, no início do processo de filtragem (esquerda) e ao final (direita).

6.2 Comparação entre as Diferentes Implementações do Filtro Adaptável

Como visto no Capítulo 5, foram realizadas modificações na parametrização do

algoritmo do filtro adaptável, tais como a taxa de aprendizagem variável e a mudança na

constante de multiplicação do limiar, além dos pesos iniciais e limiar diferentes de zero.

A fim de atestar a eficiência destas modificações (utilizando como critério a soma do

erro quadrático, calculado entre a saída dos filtros e a saída desejada estimada) foi

realizada uma comparação entre três algoritmos: filtro linear adaptável, o filtro linear

adaptável com modificações e uma versão não-linear do filtro modificado. A Tabela 6.2

exibe esta comparação entre os três tipos de filtros testados.

TABELA 6.2 – Desempenho dos filtros adaptáveis. Tipo de Filtro

Adaptável Soma do Erro

Quadrático Erro Relativo ao Melhor Caso (Filtro

Linear Modificado) Linear Clássico 2,330584 +587% Linear Modificado 0,339264 0% Não-Linear 0,401989 +18%

É notória a grande diferença entre os valores da soma dos erros quadráticos obtida pelo

filtro linear adaptável e sua versão modificada. Isto ocorre porque o primeiro gera

107

“picos” em sua saída, enquanto os outros dois filtros apresentam saídas mais suaves,

como pode ser observado na Figura 6.5. Estes picos ocorrem devido às variações

rápidas na intensidade da interferência, que o filtro adaptável clássico não consegue

compensar.

FIGURA 6.5 – Comparação entre as saídas dos filtro adaptável (esquerda) e de sua modificação (direita).

6.3 Comparações entre o Filtro Linear Modificado e o Não-Linear Modificado

Também foi realizada uma comparação entre um filtro adaptável utilizando uma função

de ativação linear e uma versão utilizando uma função de ativação não-linear (função

logística, como visto no Capítulo 4). O critério de comparação utilizado foi a soma do

erro quadrático, calculado entre a saída do filtro adaptável e a saída desejada estimada,

em cada ponto. Através de um processo de varredura, onde variando-se a taxa de

aprendizagem α nos dois tipos de filtro, e fixou-se os outros parâmetros, foi possível

comparar o melhor caso, ou seja, aquele que apresentou a menor soma do erro

quadrático. Os valores encontrados foram de 0,334169 para a versão linear do filtro

adaptável e de 0,544282 para a versão não-linear.

O resultado completo pode ser observado na Tabela 6.3, com os melhores casos

encontrados grifados.

108

TABELA 6.3 – Comparação entre a soma do erro quadrático das duas versões de filtro adaptável modificado.

Filtro Adaptável Linear Filtro AdaptávelNÃO-LINEAR

Taxa de Aprendizagem (α)

Soma do Erro Quadrático

Taxa de Aprendizagem (α)

Soma do Erro Quadrático

0.04500 0.432529 0.00000 1.387366 0.09000 0.368033 0.45000 1.114450 0.13500 0.345465 0.90000 0.791996 0.18000 0.336348 1.35000 0.658060 0.22500 0.334169 1.80000 0.591637 0.27000 0.336299 2.25000 0.558625 0.31500 0.341434 2.70000 0.545036 0.36000 0.348879 3.15000 0.544282 0.40500 0.358275 3.60000 0.553122 0.45000 0.369468 4.05000 0.570054 0.49500 0.382443 4.50000 0.594586 0.54000 0.397302 4.95000 0.626881 0.58500 0.414253 5.40000 0.667602 0.63000 0.433623 5.85000 0.717894

A Figura 6.6 exibe estes mesmos dados em forma de gráficos, sendo que a curva à

esquerda apresenta os resultados da versão linear modificada, e a curva à direita os

resultados da versão não-linear.

FIGURA 6.6 – Curvas da soma do erro quadrático para o filtro linear adaptável modificado (esquerda) e não-linear modificado (direita).

109

A diferença entre ambos os tipos de função de ativação foi pequena (soma do erro

quadrático de aproximadamente 0,334 na versão linear do filtro, frente aos 0,544 da

versão não-linear). Na prática, a utilização de qualquer um dos filtros seria satisfatória.

Convém notar que apesar da faixa de valores do parâmetro α ser bem maior no caso do

filtro não-linear, isto não afeta a comparação entre os métodos (um valor maior para o

parâmetro α é necessário devido a existência da função exponencial no filtro não linear,

que reduz o valor dos dados de entrada).

Um fator desfavorável à abordagem não-linear do filtro adaptável é o custo

computacional do mesmo. Enquanto a versão linear utiliza apenas somas e

multiplicações, a versão não-linear utiliza divisão e uma função exponencial, que são

computacionalmente mais dispendiosas para o processador. O resultado final é que o

filtro adaptável não-linear torna-se cerca de 73% mais lento, conforme a Tabela 6.4.

TABELA 6.4 – Comparação entre os tempos de execução das duas versões de filtro adaptável.

Versão do Filtro Adaptável

Tempo de Despendido em 100 Execuções

Tempo Médio de Execução

Tempo de Execução Relativo

Linear 266,790 segundos 2,668 segundos 0 % Não-linear 461,560 segundos 4,616 segundos +73 %

O teste foi realizado sobre o arquivo 050702F3.ESP, em um computador Atlhon XP

1800+ (1.53 GHz), com 256 MB de memória RAM. O sistema operacional utilizado foi

o Windows NT 4.0, Service Pack 6, e Matlab 5.2. A prioridade do processo do Matlab

foi ajustada para tempo real, a fim de obter os resultados mais precisos possíveis.

Um ponto positivo a favor da versão não-linear do filtro adaptável é não ocorrência do

fenômeno de overflow (valores da saída tendendo ao infinito), já que a função de

ativação tangente hiperbólica varia estritamente entre –1 e 1. O overflow pode ocorrer

com a versão linear do filtro, freqüentemente travando a execução do programa.

Também vale a pena frisar que o desempenho superior da versão linear modificada do

filtro adaptável foi observado utilizando-se um pequeno conjunto de dados do BSS.

110

Uma análise mais abrangente é necessária (devido à enorme gama de eventos solares

observados pelo BSS) já que podem existir situações em que a eficiência do filtro não-

linear talvez possa se revelar superior.

6.4 Atenuação Obtida pelo Filtro Adaptável

Como explicado no Capítulo 5, um critério utilizado para medir a eficiência de filtros

em radioastronomia é a medida da atenuação que os mesmos causam nos sinais com

interferência, sendo esta atenuação medida em dB. Assim sendo, foram realizadas

calibrações da intensidade em dB a fim de medir a atenuação obtida pelo filtro linear

adaptável, utilizando para isto os procedimentos discutidos naquele Capítulo.

O canal usado para calibrar a escala de intensidade em dB foi o canal 80 do arquivo de

calibração, já que o mesmo se encontra bem próximo do canal processado pelo filtro

adaptável, o canal 79. Um perfil temporal do canal 80 pode ser observado na Figura 6.7

à esquerda. A mesma figura, à direita, exibe a curva relacionando unidades de

intensidade e dB.

FIGURA 6.7 – Sinal de calibração do canal 80 (esquerda) e curva de aproximação para a conversão entre unidades de intensidade e dBs.

111

Desta maneira, chegamos à fórmula para conversão entre unidades arbitrárias e dB para

este caso, que é: 13,4302*i+0,1294dB = , onde i é o valor da intensidade e dB o valor

convertido para decibéis. Tomando as médias dos sinais envolvidos - retas em preto na

Figura 6.8, temos um valor médio de 0,6343 para o sinal original e um valor médio de

0,2871 para a saída do filtro linear adaptável. Isto resulta em uma atenuação efetiva de

0,6343 0, 2871 0,3472− = . Utilizando a fórmula de conversão encontrada acima, temos:

13,4302*i+0,129413,4302*3472+0,12944,7924

dBdBdB

===

FIGURA 6.8 – Comparação entre sinal o original, o processado pelo filtro adaptável e o sinal de calibração correspondente.

Ou seja, o filtro linear adaptável conseguiu uma redução efetiva média na interferência

de aproximadamente 5 dB. Convém notar que esta atenuação ocorre apenas na

interferência, já que o sinal original é preservado.

6.5 Resultados para a Aplicação do Filtro a Outros Arquivos de Dados

No arquivo 040601C9.ESP o processo de filtragem adaptável conseguiu atenuações

variáveis nos canais, chegando a uma atenuação de até 25 dB no canal 40. O resultado

112

pode ser observado em formato de espectro dinâmico tridimensional na Figura 6.9 e em

espectro dinâmico na Figura 6.10 a seguir.

FIGURA 6.9 – Vista tridimensional do arquivo 040601C9.ESP original (acima) e após ser processado pelo filtro adaptável (inferior).

113

FIGURA 6.10 – Arquivo 040601C9.ESP: comparação entre o arquivo original (figura superior) e o arquivo após ser processado pelo filtro adaptável (figura inferior).

Já o arquivo 090401C3.ESP apresentava diversas linhas de interferência, que foram

atenuadas após o processamento pelo filtro, conforme pode ser visto na Figura 6.11.

Devido à presença do evento solar na figura, a observação do resultado da filtragem

adaptável fica dificultada. A Figura 6.12 oferece uma vista tridimensional deste

resultado, para uma melhor observação dos detalhes.

FIGURA 6.11 – Arquivo 090401C3.ESP: comparação entre o arquivo original (superior) e o arquivo após processado pelo filtro adaptável (inferior).

114

FIGURA 6.12 – Vista tridimensional do arquivo 090401C3.ESP original (acima) e após ser processado pelo filtro adaptável (inferior).

Em todos estes casos foram utilizados os mesmos parâmetros ajustados no filtro linear

adaptável do tratamento do arquivo 050702F3, descritos na Tabela 6.1. Um resumo dos

valores de atenuação obtidos pelo filtro nos casos acima vistos pode ser observado na

115

Tabela 6.5. Convém notar a ausência de valores de atenuação no caso do arquivo

090401C3.ESP, já que o mesmo não apresenta um arquivo de calibração relacionado, o

qual é necessário para calcular os valores de atenuação.

TABELA 6.5 – Atenuações obtidas pelo filtro adaptável. Arquivo Canais Processados Atenuação em dB

050702F3.ESP 79 5 040601C8.ESP 40 e 46 30 e 10 040601C9.ESP 40 e 46 25 e 11

Encerra-se assim este Capítulo, o qual apresentou os resultados práticos obtidos pela

utilização de filtragem adaptável nos dados do instrumento BSS e a atenuação em dB

obtida por esta técnica.Também foi realizada uma comparação entre o filtro adaptável

clássico e o filtro adaptável com modificações, bem como comparado o desempenho

entre as versões linear e não-linear (tangente-hiperbólica) do filtro adaptável

modificado.

No último Capítulo são discutidos os resultados obtidos e apresentadas as conclusões

sobre este trabalho e, principalmente, sugeridas diretrizes para a continuação do mesmo,

os próximos passos a serem adotados e idéias sobre implementações futuras.

116

117

CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

Neste Capítulo final são discutidas as conclusões, além de apresentadas as perspectivas

que podem dar continuidade a este trabalho.

7.1 Conclusões

Uma metodologia para utilização de filtragem adaptável para minimizar-eliminar sinais

de interferência dos dados de observação solar do instrumento BSS foi criada e aplicada

neste trabalho, sendo os resultados os seguintes:

Modelo modificado: com base no modelo de filtro linear adaptável, foi criado um

modelo modificado, com uma taxa de aprendizagem variável e inclusão de valores

iniciais de pesos e limiar pré-calculados. Este modelo modificado apresentou um

resultado adequado no tratamento dos dados do BSS. Além disto, foi criado um modelo

de filtro adaptável não-linear, utilizando a função de ativação tangente hiperbólica.

Filtro Ideal: a comparação entre os filtros apontou para a versão linear modificada como

a melhor escolha, pois a mesma conseguiu uma soma do erro quadrático menor (soma

do erro quadrático de 0,339264, contra um erro quadrático de 0,401989 para a versão

não-linear), além da versão não-linear ser 73% mais lenta que a versão linear. Porém,

uma pesquisa mais cuidadosa é necessária, pois pode haver situações onde o

desempenho da versão não-linear obtenha resultados melhores. Desta forma, uma

análise cuidadosa e testes adicionais são necessários para que seja melhor caracterizado

o desempenho dos dois tipos de filtros.

Parâmetros Corretos Para o Filtro: após uma grande quantidade de testes empíricos foi

possível determinar parâmetros eficazes para o correto funcionamento da filtragem

adaptável sobre os sinais de interferência dos dados do BSS, de forma que o filtro

convergisse em um tempo satisfatório (tipicamente de 10 a 20 varreduras). Estes

parâmetros, tais como a taxa de aprendizagem, uma quantidade de taps suficiente, e

valores iniciais para os pesos e limiar (observados na TABELA 6.1), funcionaram

118

satisfatoriamente nos arquivos do BSS utilizados para testes, e recomenda-se a

utilização dos mesmos como ponto de partida para testes futuros.

Atenuação Efetiva: utilizando dados de calibração do instrumento BSS, foi possível

medir a atenuação efetiva do filtro linear adaptável nos arquivos de testes. O resultado

foi uma atenuação entre 5 e 30 dB. Deve ser ressaltado que os resultados mostraram que

a atenuação ocorre principalmente na interferência, de forma que o sinal original numa

primeira análise manteve-se inalterado.

Em suma, este trabalhou conseguiu demonstrar a viabilidade da aplicação da técnica de

filtragem adaptável, na diminuição ou mesmo cancelamento de interferências nos dados

armazenados do instrumento BSS. Convém notar que existem 5 anos de dados (1999 a

2003, inclusive, obtidos diariamente das 9 às 16 horas pelo instrumento BSS) com pelo

menos 3 anos e meio de dados contendo sinais de interferência. O filtro adaptável que

foi desenvolvido neste trabalho poderá ser usado junto aos programas de tratamento e

análise de dados do BSS tão logo seja implementado naqueles programas. Poderá servir

também como ferramenta aplicada a outros equipamentos similares ao BSS.

7.2 Perspectivas Futuras

Em vista dos bons resultados apresentados pelo processo de filtragem adaptável,

algumas sugestões e perspectivas futuras para a continuidade deste trabalho são

apresentadas a seguir.

Primeiramente, o BSSData, um dos programas utilizados para analisar os dados do BSS,

está sendo aperfeiçoado com a inclusão de uma biblioteca de rotinas vetorizadas para

filtragem de dados (Martinon et al., 2002b). O procedimento de filtragem adaptável

poderia ser incluído nesta biblioteca, devidamente convertido para a linguagem C++ e

otimizado utilizando-se instruções MMX - Multimedia Extensions, um conjunto de

instruções utilizadas para otimização de programas críticos (Martinon et al., 2002a). O

protótipo para a nova versão do programa BSSData já existe (Martinon, 2003). E como

o mesmo será implementado seguindo um esquema modular, a inclusão do filtro

119

adaptável seria relativamente simples. A Figura 7.1 exibe o diagrama esquemático da

nova versão do BSSData.

O filtro adaptável também poderia ser implementado em hardware para operar, em

tempo real ou quasi-real, junto à aquisição e registro de dados do instrumento BSS

utilizando microprocessadores ou equipamentos similares.

FIGURA 7.1 – Diagrama de blocos representando o protótipo do novo programa BSSData, com a inclusão do filtro adaptável. FONTE: Modificada de Martinon (2003, p. 92).

Além disto, o Grupo FMI está construindo um novo instrumento para recepção de sinais

de rádio. Tal qual o instrumento BSS, este novo instrumento poderá ser afetado por IRF

proveniente de diversas fontes. Uma vez que este instrumento será constituído por um

conjunto de antenas, poderemos testar a utilização de uma ou mais antenas com a

finalidade de adquirir apenas os sinais de IRF, permitindo assim a aplicação do método

de filtragem adaptável em tempo real ou quasi-real durante o processo de aquisição de

dados. Neste caso, devido à maior quantidade de dados e existência de múltiplas

antenas, um computador IBM PC poderá não ter capacidade suficiente de

processamento para esta tarefa. Uma solução para este problema de capacidade de

120

processamento seria a utilização de chips com matriz de portas programáveis no campo

(FPGA - Field Programmable Gate Arrays), um chip lógico programável, capaz de

implementar o algoritmo de filtragem adaptável diretamente em hardware (Blake et

al.,1998; Girau, 2001; Edwards, Forrest e Whelan, 1997; Lim, Rajapakse e Omondi,

2002).

121

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[KMD6] Comentário: Falta arrumar: trabalho apresentado em congresso http://bioinfo.cpgei.cefetpr.br/anais/IFAC2002/home.htm

... [2]

... [1]

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Elsevier North-Holland, Inc. New York, NY, USA

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