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Vi uma vez o fogo-de- artifício e achei bonito As festas são em honra de S. Miguel Arcanjo mas os inquiridos, apesar de se dizerem católicos não participam na parte religiosa. Celebrações só à volta de um petisco com os amigos. Os Deolinda, que são uma das bandas do cartaz musical, Manuel Aguardenteiro, 58 anos, empresário, Marinhais Cínia Pereira, 32 anos, directora técnica num lar, Marinhais Júlia Blauth, 28 anos, médica veterinária, Marinhais

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04 AGOSTO 2011 | O MIRANTEFESTAS EM HONRA DE SÃO MIGUEL ARCANJO - MARINHAIS| 2

As festas são em honra de S. Miguel Arcanjo mas os inquiridos, apesar de se dizerem católicos não participam na parte religiosa. Celebrações só à volta de um petisco com os amigos. Os Deolinda, que são uma das bandas do cartaz musical,

não são tão conhecidos em Marinhais como são em Lisboa. Muita gente nunca ouviu falar na canção hino “Parva que sou”. E se lhes falamos em “Geração à rasca” emendam-nos logo. Qual geração?! Quem está à rasca é o país inteiro!

Cínia Pereira, 32 anos, directora técnica num lar, Marinhais

Não podemos deixar morrer a tradição

Cínia Pereira faz questão de todos os anos marcar presença nas festas de Marinhais. Das mesmas desta-ca o reencontro com os amigos que não vê durante o ano, sobretudo com os que estão emigrados e que re-gressam à terra nesta altura do ano. “Essa é a vantagem da festa. Rever e poder conviver com os amigos”, diz.

Confessa que não conhece a canção “Parva que Sou” dos Deolinda que actuam na noite de domingo, 7, mas quer ir ver a banda portuguesa. A directora técnica de um lar em Marinhais diz que não é só a geração jovem que está à rasca mas sim o país todo. As festas são em Honra de S. Miguel Arcanjo mas confessa que não participa na parte religiosa. Nem nas missas nem na procissão.”Acredito em Deus mas considero que não é relevante ir à igreja. O que interessa é o nosso inte-rior”, afirma. Apesar da crise vai gastar dinheiro em rifas e em petiscos durante as festas. “Não é com esses gastos que vou à falência. Temos que ajudar a terra para a tradição não morrer”, justifica.

Manuel Aguardenteiro, 58 anos, empresário, Marinhais

Pezinho de dança não pode faltar

Manuel Aguardenteiro não quer gastar muito dinheiro nas festas mas não prescinde de um petis-co regado com um bom vinho ou uma cerveja bem fresca. O empresário da construção civil aproveita os quatro dias de festa para conviver com os amigos, coisa que não faz ao longo do ano devido ao traba-lho. Gosta de dançar e diz que aproveita esta altura para dar o seu pezinho de dança mas não sabe quem são os Deolinda nem nunca ouviu falar da canção “Parva que Sou”. Quanto à geração à rasca comenta que não é uma geração mas sim um país. “E vai ficar ainda pior. Ainda não batemos no fundo mas não vai tardar”, afirma. É católico mas não participa nas ce-rimónias religiosas. Nem sequer nas que decorrem durante as festas. “Os padres também cometem pe-cados e por isso não têm moral para pregar os bons costumes”, diz. Não quer gastar muito dinheiro na festa mas confessa que tem por hábito ajudar a co-missão de festas durante o ano.

Júlia Blauth, 28 anos, médica veterinária, Marinhais

Vi uma vez o fogo-de-artifício e achei bonito

Gosta de ouvir Deolinda, conhece várias músicas do grupo mas ainda não está familiarizada com o tema “Par-va que Sou”. Não compreende o sentido da expressão “Geração à Rasca”, uma vez que, na sua opinião devia ser “Portugal à Rasca”. A médica quer, no entanto, ter es-perança e acreditar que as coisas vão melhorar. “Quanto mais especulamos mais as pessoas ficam preocupadas e o país deprimido”, alerta. É católica mas não costuma ir à igreja. Diz que é importante os padres motivarem as pes-soas a irem à missa. Natural de Lisboa vive actualmente em Marinhais. Ainda não sabe se este ano vai conseguir ir às festas. O trabalho ocupa-lhe muito tempo e não é grande adepta de confusões mas recorda-se de há uns anos ter assistido ao espectáculo de fogo-de-artifício e diz que foi muito bonito. Lamenta, no entanto, que seja sempre muito tarde. Sempre que vai às festas em honra de São Miguel Arcanjo, Júlia Blauth aproveita para juntar um grupo de amigos para se juntarem num agradável petis-co. Nunca assistiu aos espectáculos musicais.

Parvos que somos se não aproveitarmos bem a festa para conviver

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Carlos Estrelo, 49 anos, empresário, Marinhais

Almoçar e jantar na festa Carlos Estrelo não falha um dia de festa. O empre-

sário do ramo das instalações eléctricas diz que estes dias de festa são “momentos especiais” para a fregue-sia. “Temos que aproveitar para descomprimir e con-viver com os amigos, algo para o qual, infelizmente, não temos tempo durante o ano, onde estamos cheios de trabalho”, refere.

O empresário gosta de almoçar e jantar no recin-to da festa. Umas vezes com a família outras com os amigos. Diz que a vila fica diferente nesses dias. Car-los Estrelo diz que conhece a música “Parva que Sou” dos Deolinda e considera que “nos dias que correm” a letra da música faz “todo o sentido”. Na sua opinião não é só uma geração que está à rasca. Carlos Estrelo diz que já há uma década que previa que o país che-gasse a esta situação de ruptura. “Só não pensava que fosse tão forte. Andamos a viver acima das possibilida-des durante anos e agora estamos a pagar por isso. E ainda não batemos no fundo”, afirma. Não vai à missa porque não tem tempo mas afirma que não é “obriga-tório” irmos à igreja para se ter fé.

Maria de Lurdes Cardoso, 53 anos, comerciante, Marinhais

A festa é um local de convívioSempre que pode Lurdes Cardoso dá um saltinho

ao recinto das festas para rever os amigos. Só não vai todos os dias porque o café do qual é proprietá-ria juntamente com o marido, lhe tira alguma dis-ponibilidade. Mas garante que não perde a noite de domingo, dia de folga do trabalho. Emigrante em França durante 35 anos, Maria de Lurdes regres-sou definitivamente a Portugal há cerca de cin-co anos. Quando vivia no estrangeiro tirava férias todos os anos em Agosto para assistir à festa. “O

José Simões, 40 anos, projectista, Marinhais

O melhor da festa são os espectáculos musicais

José Simões não faz ideia de quanto dinheiro vai gastar durante os quatro dias de festa mas também não está preocupado. Para o projectista o que impor-ta durante as festas em honra de São Miguel Arcanjo é a diversão com a família e amigos. Não perde um dia de festa e o que mais gosta é dos petiscos, copos e o convívio. Diz que um dos pontos fortes da festa são os “bons” espectáculos musicais.

O projectista nunca integrou uma comissão de fes-tas mas costuma colaborar no que for preciso. “O me-lhor da festa é depois do fogo-de-artifício ficarmos no recinto até de manhã”, diz acrescentando que ainda aguenta algumas directas. “Parva que Sou” é um te-ma que conhece “relativamente” e diz que gosta de ouvir os Deolinda. Afirma que todos estamos “à rasca” embora não se considere pessimista. “Tendo em con-ta o que vejo no dia-a-dia através da minha profissão percebo que as pessoas têm medo de arriscar”, refe-re. Apesar de saber que nasceu no dia de São Miguel Arcanjo – 29 de Setembro – José Simões diz que só vai à missa em casamentos, baptizados ou funerais. “O problema é dos padres”, sentencia.

Ana Paula Gregório, 42 anos, Comerciante, Marinhais

Está tudo à rascaSe nos outros anos ia à festa todos os dias este ano

não pode mesmo faltar. Ana Paula Gregório pertence à Associação dos Amigos do Carnaval de Marinhais e vai estar na tasquinha da associação a dar uma ajudinha. O que mais gosta é a oportunidade de poder conviver com os amigos que não vê com a “frequência” que gostaria.

A comerciante confessa que não conhece nenhuma música dos Deolinda mas vai assistir ao espectáculo. Nem que seja a ouvir na “sua” tasquinha. Já ouviu fa-lar na expressão “Geração à Rasca” mas diz que está tudo à rasca. “Está tudo muito mau e não tenho espe-rança no futuro. As coisas vão piorar e com os aumen-tos que aí vêm nem quero pensar o que vai ser deste país”, afirma.

Diz que só vai à igreja nos casamentos e baptizados. Na sua opinião não faz sentido ir à missa quando “mui-tas das pessoas que vão à missa, assim que saem da igreja começam a criticar. A minha fé não tem que passar pe-las idas à igreja”, diz. Tem ajudado a comissão de festas e vai continuar a fazê-lo. O dinheiro que gasta durante os quatro dias de festa é para ajudar a terra onde vive.

que gostava mais era rever os amigos. A festa é um convívio. Não vou pelos artistas nem pelo petisco ou copos, vou para encontrar as pessoas de quem gos-to”, garante. Não conhece os Deolinda nem a músi-ca “Parva que Sou” mas já ouviu falar na expressão “Geração à Rasca” e diz que estamos mas é “todos” às rasca e os tempos que se avizinham parecem-lhe complicados. É católica não praticante e considera que o essencial é ter fé. “A missa e as celebrações religiosas não são assim tão importantes”, diz para justificar a ausência das celebrações religiosas da festa. Lurdes Cardoso gasta algum dinheiro em ri-fas e em gelados. Não quer gastar muito mas refere que “mais vale gastar dinheiro a ajudar a terra do que noutros lados”.

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Quando viaja por cidades da Europa vai ver os novos edifícios em vez das antigas catedrais. Tem um filho que toca num grupo musical e tem dificuldade em dormir quando ele vai tocar e volta muito tarde. Usa o Facebook para comunicar com os seus alunos e já reencontrou velhos amigos através da internet. João Simões, natural de Marinhais, professor de técnicas de construção de obra e higiene e saúde no trabalho nas escolas profissionais de Salvaterra e do Vale do Tejo em Santarém é um dos que não perde as festas populares da sua terra. As da sua terra e as do seu concelho.

Ana Isabel Borrego

Costuma ir às festas de Marinhais?Sim e também vou às restantes festas

do concelho. As festas são uma espécie de Facebook. Reencontramos os amigos e conhecidos que não vemos há algum tempo. Gosto desses momentos dos re-encontros em que ficamos à conversa a

colocar as novidades em dia.Vai todos os dias às de Marinhais?Sim. As festas funcionam quase como

um culto. Ou almoçamos, ou lanchamos, ou jantamos lá, por isso acabamos por ir todos os dias.

Quais eram os artistas que contrata-va se estivesse na organização das fes-tas de Marinhais e houvesse dinheiro?

Aprecio muito quem avança para uma comissão de festas porque não é uma ta-refa fácil. É um ano inteiro de trabalho para se mostrar durante quatro dias. Se houvesse mesmo muito dinheiro punha cá os melhores: os Supertramp ou os Rolling Stones (risos).

Uma festa sem foguetes é uma festa?Gosto dos efeitos visuais mas não sou

grande apreciador do ruído. Eu dispen-sava a parte ruidosa dos foguetes mas é uma tradição e uma festa sem fogo era terrível. As pessoas não iam compreender a ausência do fogo-de-artifício.

Gosta de ver passar as procissões nas festas?

Não sou muito religioso. A procissão é daqueles actos a que eu normalmen-te não dou muita importância. Respei-to mas custa-me ver certas coisas espe-cialmente o cumprir promessas. Faz-me confusão.

Porquê?Não faz sentido a fé das pessoas levá-

-las ao sacrifício. A existir um Deus ele

quer o melhor para nós. Quer amor ao próximo, fé...Não quer sacrifícios.

Qual é a melhor época do ano? O Natal, o Carnaval, a Páscoa ou as fes-tas de Marinhais?

Dou-me muito melhor com as festas de Marinhais sobretudo por ser Verão. É a minha época do ano preferida. Não ligo muito às outras quadras festivas.

Há cerca de dois anos a ASAE (Au-toridade de Segurança Alimentar e Económica) estava em grande forma e andava pelas festas a ‘chatear’ com a legalidade de tudo. Acha que devia haver uma maior fiscalização nas fes-tas populares?

Concordo com a actividade da ASAE mas é muito difícil as colectividades res-peitarem, durante as festas, as normas exigidas pela ASAE. Sabemos como é o ambiente das festas. Não há restaurantes, não há profissionais do ramo da restau-ração. É gente que faz tudo por carolice, por amor à camisola da colectividade em que está envolvido. Em vez de se irem divertir para as festas vão trabalhar pa-ra conseguirem angariar dinheiro para a sua colectividade. Penso que a ASAE também compreende esta situação.

“As Festas de Marinhais são a minha segunda casa durante o tempo em que decorrem”João Simões diz que é vereador na Câmara de Salvaterra porque tentar fazer alguma coisa é melhor que apenas criticar

Duas semanas a passear um derrame cerebral sem saberJoão Simões nasceu a 26 de Julho de

1962, em Marinhais, onde cresceu e ainda vive. É casado e tem dois filhos, com 22 e 16 anos. Fez o ensino primário na vila e no quinto e sexto ano foi estudar para Benavente. Regressou a Marinhais tendo estudado na Raret até ao nono ano. Nessa altura ia de bicicleta ou a pé para a escola. Algumas vezes, depois das aulas, ele e os amigos, abriam buracos na estrada para jogarem ao berlinde. “Eram outros tem-pos onde era tudo mais seguro”, recorda.

O ensino secundário foi feito na Escola Ginestal Machado, em Santarém. No 12º ano chateou-se e anulou a matricula. Estu-dou o ano inteiro em casa e fez as provas finais como aluno externo. Passou com média de 15 valores. Entrou na Univer-sidade da Beira Interior, na Covilhã, em Engenharia Electrotécnica mas passados

dois anos mudou-se para o Instituto Supe-rior Técnico, em Lisboa. Dois anos depois desistiu do curso e foi dar aulas de Traba-lhos Oficinais, na Escola de Salvaterra de Magos. “Tinha 22 anos. Hoje percebo que era muito novo para dar aulas. Encontrei uma população estudantil na qual não me revia. Decidi ir trabalhar para outro lado”, conta.

Foi para a empresa de construção ci-vil da família onde já tinha trabalhado sempre durante as suas férias de Verão. Diz que trabalhar na juventude, durante as férias, não lhe fez mal nenhum. Pelo contrário. “Faz falta aos miúdos de hoje terem sentido de responsabilidade, é mui-to importante para o desenvolvimento e bem-estar pessoal”, afirma. Ao mesmo tempo que trabalhava ia fazendo for-mações na área da construção civil. Foi convidado para dar aulas no ensino téc-nico-profissional. Apenas algumas horas. Aceitou. Actualmente trabalha a tempo inteiro na Escola Profissional do Vale do Tejo, em Santarém, e na Escola Profissio-

nal de Salvaterra de Magos. Já lá vão 12 anos. “A maturidade é outra e o facto de ser uma vertente profissional entusiasma--me mais. Gosto muito de ensinar”, realça.

Diz que não tem tempos livres e perce-be-se porquê. Há três anos matriculou-se no curso de engenharia de Segurança no Trabalho. Agora que já concluiu o curso está a ponderar qual o mestrado ou pós--graduação que quer fazer. E ainda arran-ja tempo para ser vereador da oposição pelo Partido Socialista na Câmara de Sal-vaterra de Magos.

O momento mais complicado da sua vi-da aconteceu aos 36 anos quando teve um derrame cerebral e teve que ser operado. A situação teve que ver com um defeito congénito. Agora consegue brincar com o que se passou. “Andei 15 dias a ‘passear’ um derrame cerebral. Tinha fortes dores de cabeça mas os médicos só me diziam que era stress. Só quando fui ao neurolo-gista é que me diagnosticaram o derrame e tive que ser operado imediatamente”. explica com tranquilidade.

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“Concorri à Câmara para fazer algo pelo meu concelho que era o que todos devíamos fazer”

Graças ao Facebook reencontrei colegas

da faculdade

Tem telemóvel com internet?Tenho mas para ir à internet uso o

computador. Adaptou-se bem às novas tecno-

logias?Eu diria que sim mas se calhar os

meus alunos dizem que não.Alguma vez pensou fazer um blog?Não. O único blog em que partici-

po é no blog dos autarcas do Partido Socialista.

Tem página no Facebook. Utiliza--a com regularidade?

Criei a página para comunicar com os meus alunos mas graças a ela reen-contrei uma dezena de colegas da facul-dade que já não via desde 1982.

É mais difícil ser professor hoje em dia do que nos seus tempos de estudante?

Sim. Actualmente é muito mais fácil para um aluno contestar do que era há 20 anos. Os alunos acatavam as coisas de forma diferente porque o respeito era outro e a educação também. Hoje têm muita informação sobre direitos e têm comportamentos em grupo completa-mente diferentes do que têm em forma

isolada. Além disso, os pais também têm uma grande dose de responsabilidade.

Porquê?Os meus pais nunca me protegeram

na escola. Sempre deram liberdade aos professores para a minha educação. Cla-ro que não queriam que ninguém me batesse mas podiam repreender. Hoje, como os pais estão cada vez mais au-sentes da educação dos filhos, fruto da vida que levamos hoje em dia, leva a que os pais oiçam as queixas dos filhos e acabam por ir na versão do educando. Acabamos por ter o aluno e o pai con-tra o professor ou contra a escola. Isto era impensável há 30 anos.

“Quando viajo para cidades vou ver os edifícios modernos em vez das velhas

catedrais” Nunca pensou sair de Marinhais e

viver numa cidade mais movimentada?Durante os três anos que estudei na

Covilhã vivi lá e não havia nada melhor do que quando chegava a Marinhais e sentia um cheirinho muito próprio. Uma coisa fantástica. Gosto de viajar, mais pa-ra cidade do que para o campo. Gosto de cidades cosmopolitas, com movimento, cor, grandes edifícios, mas sinto sempre necessidade de regressar à minha terra.

Que perspectiva tem da vila onde vive?

Marinhais teve um crescimento mui-to grande nos últimos 15 anos. Um cres-cimento que não foi sustentado. Pelas suas características próprias não é uma freguesia fácil. É muito grande e dispersa. Não existe uma razão que leve à fixação das pessoas. Não foram criados postos de emprego para que essa população se pu-desse fixar na freguesia. Há muitas famí-lias que só estão em Marinhais durante o fim-de-semana. Durante a semana sa-em cedo para trabalhar e chegam tarde.

O que faltou para sustentar o cres-cimento populacional?

Logo depois da sua construção a escola EB 2,3 de Marinhais levou uma amplia-ção. Passou de uma escola de 18 turmas para 24 turmas. Também a rede de águas e esgotos foi dimensionada para uma de-terminada população que cresceu muito e muito rapidamente.

Quando os seus filhos eram peque-nos teve facilidade em arranjar-lhes infantário?

Eles foram uns felizardos porque não precisaram de ir para o infantário. Fica-ram com os avós e os tios. Tinham sempre alguém que ficava com eles. Só frequen-taram a pré-primária.

Deixa os seus filhos saírem à noite ou não consegue descansar enquanto eles não chegam?

A Catarina ainda não sai muito à noi-te. Quando quer sair marcamos-lhe uma hora para chegar e normalmente eu ou a mãe vamos buscá-la. O João Pedro foi muito caseiro até aos 18 anos. Agora tem

uma banda e actuações quase todos os fins-de-semana por isso é normal chegar sempre muito tarde. Confesso que tenho dificuldade em dormir enquanto ele não chega. Normalmente deixo o telemóvel na sala mas quando ele não está ponho--o na mesa-de-cabeceira.

Qual foi o último filme que foi ver ao cinema?

Não me lembro mas deve ter sido uma comédia. Para dramas já basta o dia-a--dia. (risos)

Onde é que vai sempre que quer ir ao cinema?

Normalmente vou a Lisboa. Mas selec-ciono muito bem as salas onde vou porque gosto de silêncio e sou incapaz de ir a um cinema onde sirvam pipocas e coca-cola.

Alguma vez assistiu a um espectá-culo de ópera ou ballet?

Só fui uma vez e foi porque um ami-go me ofereceu dois bilhetes. Eu nem sa-bia bem onde ia. A única coisa que sabia é que era para ir a um espectáculo da Companhia Nacional de Bailado, ao Te-atro Camões, em Lisboa. Só quando lá cheguei é que percebi que era a estreia do Lago dos Cisnes com passadeira ver-melha e tudo. Estavam todas as pessoas de smoking menos eu. Foi um momento embaraçoso. Sinceramente não apreciei muito. A minha mulher é mais dada às artes do que eu.

O que mais o atrai nas viagens que faz ao estrangeiro?

A arquitectura, sobretudo a moder-na. Quando viajo não vou ver igrejas, vou ver os edifícios novos. Uma viagem é planeada ao pormenor. Sei o nome dos arquitectos que gosto e procuro os edifí-cios que construíram e é isso que vou ver sempre que viajo.

Durante essas viagens já teve algum incidente?

A viagem de regresso de Barcelona foi um pouco estranha. Ao fazer o check--in apercebi-me que no meu voo só iam homens negros e estranhei porque para Lisboa não é muito habitual. Além disso traziam vários rádios fora da bagagem. Pensei que o voo ia ser agitado. A minha esposa dizia que só podiam ser uma equi-pa de futebol enquanto eu especulava que quanto muito seria de basquetebol tendo em conta que eram todos muito altos. A viagem acabou por ser tranquila e quan-do aterramos é que desfiz o mistério pois estava um autocarro à espera deles com uma placa que dizia Lisboa-Dakar. Eram os batedores da mítica prova. (risos)

O seu pai foi presidente da Junta de Freguesia de Marinhais. Isso in-fluenciou na sua decisão de entrar na política activa?

Nunca me tinha imaginado nesta si-tuação e não fui influenciado pelo meu pai. Quem me convenceu foi o Hélder Esménio (vereador do PS na Câmara de Salvaterra de Magos). Conheço-o há mais de duas décadas e cheguei a tra-balhar com ele durante alguns anos. É uma pessoa inteligente e tem um co-nhecimento profundo do concelho. Ele apresentou-me o projecto e eu comecei por lhe dizer que não mas ele foi per-sistente e acabou por me convencer.

Aceitou ser candidato só porque um seu camarada não o largava?

Claro que não. Pensei que se eu era tão crítico em relação a situações que se passam no concelho, também tinha obrigação de as tentar mudar. Decidi levantar-me da cadeira do café onde é fácil dizer mal e chegar-me à frente.

Que balanço faz da sua activida-de política?

O nosso objectivo sempre foi fazer uma oposição construtiva - também não sei fazer política de outra forma - onde apresentamos soluções e propos-tas. Não estamos ali só para dizer mal. É pena que do outro lado não estejam receptivos às nossas propostas e prefi-ram a guerra.

Pode explicar melhor.Ultimamente existe um clima inti-

midatório por parte da senhora presi-dente [Ana Cristina Ribeiro (BE)] para com o vereador Hélder Esménio [PS], o que é bastante desagradável. Ela está a agir de forma deselegante e grosseira misturando o facto de ele ser vereador e funcionário ao mesmo tempo, situação que lhe é permitida por lei. Felizmente ele tem um controle emocional e conse-gue reagir com elegância. Esta situação dá-me mais motivação para continuar.

Como viu a saída do vice-presiden-te da autarquia, César Peixe (BE)?

Conhecia-o apenas dos seus feitos desportivos enquanto piloto de moto-cross. Conheci-o pessoalmente no actu-al executivo municipal. Tenho a ideia de uma pessoa simples, humilde, honesta e trabalhadora. Não acredito que um indivíduo que está emigrado, aceite ser candidato a vice-presidente, e passado ano e meio sinta que fez tudo o que po-dia fazer pelo concelho e abandone a câmara para ter que emigrar de novo deixando cá a família. Além disso, ele disse no início do ano em entrevista [ver edição O MIRANTE 24.Feverei-ro.2011] que queria levar o mandato até ao fim. É estranho mas todos nós sabemos a dificuldade que as pessoas têm em trabalhar com a senhora presi-dente da autarquia, independentemen-te do partido a que pertençam.

Se fosse presidente de câmara, ou pertencesse à maioria na autarquia, quais seriam as suas prioridades pa-ra o concelho?

Preocupa-me o saneamento básico que devia ser revisto. Temos zonas que ainda não são servidas por esgotos do-mésticos e outras onde já existem infra--estruturas mas não funcionam porque ainda falta a estação elevatória. Para mim isso é prioritário. Também os es-gotos pluviais terão que ser repensados uma vez que todos os Invernos temos os mesmos problemas. As sugestões que temos feito na autarquia têm sido no sentido de se projectar para o futuro e não ir fazendo obra avulso para de-senrascar. Também acho que a agenda cultural é muito fraca. A política cul-tural fica-se pelos apoios aos ranchos folclóricos, com os quais concordo mas temos que fazer mais.

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O cantor José Cid é o artista convidado do último dia das Festas de Marinhais em Honra de São Mi-guel Arcanjo que este ano se reali-zam entre 5 e 8 de Agosto. Os Deo-linda sobem ao palco na noite ante-rior, domingo, dia 7, pelas 23h00. A parte religiosa da festa começa dois dias antes, dia 3 com uma missa na igreja paroquial, pelas 19h00. No dia seguinte realiza-se uma missa campal, na capela local, às 21h30.

O início dos festejos estão mar-cados para sexta-feira, 5 de Agos-to, com a animação de rua com os Bombrando, pelas 20h00. Uma hora mais tarde decorre a abertura sole-ne dos festejos com desfile até ao recinto das festas, no Pavilhão da Comissão de Festas. Pelas 22h00 há espectáculo de folclore com o Grupo de Danças “Os Lusitanos de Marinhais”. Meia hora mais tarde vai ser servida sardinha assada, pão e vinho aos visitantes. A noite ter-

mina com o espectáculo musical do grupo Ondas (23h00) e baile com os “Relíquia Musical” (01h00).

No sábado, 6, há passeio pedes-tre a partir das 09h00 seguindo-se às 14h00 um peditório pelas ruas de Marinhais. Pelas 20h30 sobe ao palco o grupo “MC Company”. A actuação da cantora Bruna (22h00) e o espectáculo “Cantar Portugal” (23h00) antecedem a sessão de fogo--de-artifício marcada para a uma da madrugada. O duo Borges e Nelson anima o baile (01h30) e a noite ter-mina com a actuação de DJ’s que começa às duas da manhã.

O peditório pelas ruas de Mari-nhais repete-se na manhã de domin-go (09h30) seguindo-se um passeio de cicloturismo, às 10h00, organiza-do pela Associação “Os Cansados”. A missa solene na igreja Nova está marcada para as 16h00. Uma ho-ra mais tarde inicia-se a procissão seguindo-se o desfile de fogaças às 17h00. As Dream Dancing actuam

às 19h00 e a Sociedade Filarmónica Instrução e Recreio Carregueirense Victoria às 21h00. Meia hora mais tarde sobe ao palco a Orquestra de Acordeões do Cartaxo. O espectácu-lo com a banda portuguesa Deolin-da está prevista para as 23h00. Jor-ge Paulo e Susana animam o baile (01h00) e os DJ’s começam a colocar música para os mais jovens a partir das duas da manhã.

Jogos populares, cavalhadas, tor-neio de ping-pong e torneio de chin-quilho são algumas das actividades onde os populares e visitantes po-dem participar na manhã de domin-go, dia 7. Às 18h00 realiza-se uma vacada. Os “Los Camaias” (21h00) antecedem o concerto de José Cid com a Big Band, pelas 22h00. O es-pectáculo de fogo-de-artifício pode ser visto a partir das 00h30. A edição deste ano das festas de Marinhais ter-mina por volta das quatro da manhã depois do baile animado pelo “Duo FS” (01h00) e a actuação dos DJ’s.

Festas em Honra de São Miguel Arcanjo decorrem entre 5 e 8 de Agosto

Os Deolinda e José Cid animam festas de Marinhais