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ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
Londrina 2015
FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia
Educação
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO ACADÊMICO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE
LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
Londrina 2015
ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia
Educação
Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino em Linguagens e suas Tecnologias. Orientador: Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim
ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Dados Internacionais de catalogação-na-publicação Universidade Norte do Paraná
Biblioteca Central Setor de Tratamento da Informação
Silva, Eléuzi Pinheiro da. S579f Ferramentas web no ensino de Biologia:Tecnologia Educacional no
Paraná e o Portal Dia a Dia Educação/ Eléuzi Pinheiro da Silva. Londrina: [s.n], 2015 109f. Dissertação ( Mestrado Acadêmico em Metodologias para o
Ensino de Linguagens e suas Tecnologias). Univer- sidade Norte do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim
1 - Ensino - dissertação de mestrado - UNOPAR 2- Internet 3-
Educação 4- Tecnologia educacional 5- Portal Educacional 6- Biologia I- Rolim, Anderson Teixeira; orient. II- Universidade Norte do Paraná.
CDU 371.3
ELÉUZI PINHEIRO DA SILVA
FERRAMENTAS WEB NO ENSINO DE BIOLOGIA: TECNOLOGIA EDUCACIONAL NO PARANÁ E O PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO
Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o
Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área de concentração Ensino de
Linguagens e suas Tecnologias, como requisito parcial para a obtenção do título
de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:
_________________________________________ Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim
UNOPAR
_________________________________________ Profa. Dra. Andréia de Freitas Zompero
UNOPAR
_________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Estevam
Instituto Federal do Paraná (IFPR)
Londrina, _______de ________________ de 2015.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por ser meu suporte e dar forças para enfrentar cada dificuldade.
Às minhas filhas amadas Kessy e Camila, pelo amor e incentivo
constante. Aos meus pais, por sempre estarem por perto quando necessitei
de carinho e atenção. Ao André Luís pelo amor, palavras de apoio, conforto e incentivo
a todo momento. À orientação do Prof. Dr. Anderson Teixeira Rolim por acreditar
neste trabalho e dedicar seu tempo, conhecimento e paciência constantes. A todos os professores que contribuíram de forma significativa
para que essa pesquisa pudesse ser concluída. Agradeço a todos que, de uma forma ou outra, contribuíram para
que este trabalho fosse realizado. Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro no decorrer dessa pesquisa.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho aos professores que lutam por uma escola pública e de qualidade, àqueles que acreditam nas possibilidades de um futuro melhor e, por isso, exercem a prática pedagógica como ação transformadora.
“Nunca poderemos dar esta tarefa por concluída, porque em grande parte ela continuará a ser uma tarefa de adaptação constante; não pode caber a um só homem, por muito genial que ele seja. Deve resultar da colaboração de todos os educadores diretamente interessados na tarefa que encetaram” (Célestin Freinet)
SILVA, Eléuzi Pinheiro da. Ferramentas web no Ensino de Biologia: Tecnologia Educacional no Paraná e o Portal Dia a Dia Educação. 2015. 109 f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) - Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, Londrina, 2015.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo geral identificar a utilização das tecnologias digitais como prática pedagógica no ensino paranaense, dando ênfase para o ensino de Biologia. Especificamente, objetiva elencar as estratégias de implementação da informática na Rede Estadual de Educação do Paraná e, nesse sentido, busca considerar a oferta de materiais para o ensino de Biologia no Portal Dia-a-dia Educação, criado e mantido pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED-PR). Para tanto, metodologicamente, constitui-se como uma pesquisa bibliográfica, caracterizada pelo processo de triagem, leitura, interpretação de textos e documentos que servirão ao estudo acerca do tema. Nesse sentido, observa historicamente a constituição da Biologia como área do conhecimento, seu lugar na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, e nas Diretrizes Curriculares para a Educação no Paraná. Através dos Materiais didáticos de Biologia observa a evolução do ensino da disciplina. Do mesmo modo, verifica algumas relações entre Tecnologia e Educação, os diferentes modelos de rede e as questões metodológicas que envolvem o ensino de Biologia. Trata dos programas de financiamento para a promoção da tecnologia educacional no Estado do Paraná, do Portal Dia a Dia Educação, da interatividade da plataforma e da área dedicada à Biologia na plataforma. Por fim, conclui que a utilização das tecnologias digitais como prática pedagógica no ensino paranaense, especialmente no que diz respeito ao ensino de Biologia, tem se demonstrado como um exercício necessário. Palavras-chave: Internet; Educação; Tecnologia Educacional; Portal Educacional; Biologia. SILVA, Eléuzi Pinheiro da. Web tools in Biology Education: Educational
Technology in Paraná and the Portal Dia a Dia Educação. 2015. 109 f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias) - Universidade Norte do Paraná – UNOPAR, Londrina, 2015.
ABSTRACT
This work aims to identify the use of digital technologies as a pedagogical practice in Parana education, with emphasis on the teaching of biology. Specifically, it aims to list the implementation of information technology strategies in the State Education Network of Paraná and in that sense, seeks to consider the provision of materials for teaching biology in Portal Dia a dia Educação, created and maintained by the Department of Education State of Paraná (SEED-PR). Therefore, methodologically, it is constituted bibliographical research, characterized by the process of reading and interpretation of texts and documents that serve the study of the subject. In this sense, observes the historical constitution of biology as a field of knowledge, its place in the Brazilian Law of Guidelines and Bases of Education, and the Curriculum Guidelines for Education in Paraná. Through Biology Teaching materials observes the evolution of teaching the discipline. Similarly, verifies the relationship between technology and education, different network models and methodological issues surrounding the teaching of biology. Deals with financing programs to promote educational technology in the State of Paraná, the Portal Dia a dia Educação, the interactivity of the platform and the area dedicated to biology on the platform. Finally, it concludes that the use of digital technologies as a pedagogical practice in Parana education, especially regarding to the teaching of Biology, has been shown as a necessary exercise.
Keywords: Internet; Education; Educational Technology; Educational Website; Biology.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – CRTEs no Paraná
Figura 2 – Página inicial do AOL
Figura 3 – Tablet Educacional
Figura 4 – Lousa digital, projetor multimídia e computador integrado
Figura 5 – Primeira Versão do Portal Dia a Dia
Figura 6 – Home do Portal Dia a Dia
Figura 7 – O que você procura
Figura 8 – Página de Biologia
Figura 9 – Enquetes
Figura 10 – Jogos e práticas
Figura 11 – Recursos de formação
Figura 12 – Sala de aula
Figura 13 – Envio de colaborações
Figura 14 – Folhas
Figura 15 – Objeto de Aprendizagem Colaborativa
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................ 12
2. BIOLOGIA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO ..... ..................... 15
3 ENSINO DE BIOLOGIA .................................................................. 22
3.1 Biologia na LDB 9394/96 .................................................................25
3.2 Biologias nas DCE-PR ................................................................... 28
3.3 Materiais didáticos de Biologia ........................................................ 33
4 TECNOLOGIAS E EDUCAÇÃO .................................................... 37
4.1 Web 1.0 versus Web 2.0 ................................................................ 39
4.2 Web 2.0 questões metodológicas.................................................... 45
4.3 Web 2.0 e a escola ........................................................................ 49
4.4 Web 2.0 e o Ensino de Biologia ...................................................... 53
5 PARANÁ DIGITAL E SALA DE AULA CONECTADA ................... 56
6 FERRAMENTA WEB: PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO .............. 64
6.1 A Biologia no Portal Dia a Dia Educação ....................................... 75
6.2 Interatividade no Portal Dia a Dia Educação .................................. 83
7 CONCLUSÃO ................................................................................. 97
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 101
ANEXOS ... .................................................................................................... 105
12
1 INTRODUÇÃO
A Biologia como área do conhecimento é bastante ampla, com termos
complexos e não habituais ao vocabulário do aluno. Muitas vezes, o professor opta
por ministrar uma aula somente expositiva por ser habitual e considerar, comumente,
mais propícia ao contexto da sala de aula. Nesse sentido, é importante lembrar que,
seguindo o padrão estabelecido por Johann Friedrich Herbart, em 1841, no Brasil, as
aulas já seguiam esse modelo, com aulas expositivas e exercícios de repetição
(ANDERSSON, 2000).
Parte-se do pressuposto, então, de que o trabalho docente, na
atualidade, consiste na mediação ensino-aprendizagem entre o aluno e o
conhecimento, instrumentalizando as novas gerações para uma posição crítica em
face da realidade que se observa em situações de aprendizagem. Dessa perspectiva,
advém a ideia de que aulas teóricas, meramente expositivas, tornam o aluno um ser
passivo frente ao processo de ensino. Isso deixa evidente a necessidade do aluno em
participar ativamente dos exercícios propostos, de modo a garantir melhores
resultados e aprendizado efetivo.
Os estudos biológicos tornam-se cada vez mais relevantes.
Influenciam nosso cotidiano através das tomadas de decisões sobre saúde,
alimentação, ambiente, doenças e seus tratamentos, entre outros. Desse modo,
evidenciam a necessidade do conhecimento na busca por soluções à realidade diária
naquilo que se refere à Vida e à manutenção dela.
Do mesmo modo, fica manifesta a imperativa busca pela capacidade
de o aluno questionar, transformar e mudar o conhecimento, de acordo com a sua
perspectiva acerca do mundo e de seu lugar no mundo. Essa perspectiva alinha-se
às determinações legais da LDB, segundo a qual, ao final do Ensino Médio, o aluno
deverá demonstrar o domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a
produção moderna. É nesse sentido que as mídias interativas, por meio da Internet,
desempenham papel fundamental na construção do conhecimento, através do acesso
livre e descentralizado à informação.
O uso da Web está presente no dia a dia do aluno, seja nas redes
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sociais, blogs, jogos online entre outros. Ao usar, planejadamente, este recurso, o
professor estará contribuindo para que o estudante aprenda de forma integrada à sua
realidade tecnológica, oportunizando novas formas de pesquisar e de aprender,
levando a descobertas expressivas, capazes de atribuir significado ao conteúdo
específico de cada disciplina da grade curricular.
Na Internet, o aluno tem acesso a um número infindo de informações
e mídias. É nesse sentido que se ratifica a necessidade do professor auxiliar na
filtragem, sistematização e análise desses conteúdos, de modo a direcionar os alunos
para o desenvolvimento das competências essenciais e necessárias à formação
humana, profissional e crítica.
Diante deste cenário, o professor de Biologia necessita ser estimulado
a repensar e a (re)planejar sua ação pedagógica, em face da complexidade dos
conteúdos e da facilidade dos alunos em lidar com as tecnologias da informação e
comunicação. Assim, espera-se que o uso desses recursos e ferramentas possa
auxiliar o docente na busca pela aprendizagem significativa, conectada à realidade
dos alunos.
De acordo com José Armando Valente (2001), a sociedade atual,
motivada pelo avanço da tecnologia comunicacional, exige criticidade e criatividade
no desenvolvimento das atividades profissionais e sociais. Hoje, o ensino dos
conteúdos escolares necessita de processos mediados que ajudem a pensar, a
aprender, a trabalhar em grupo etc. Todavia, para que isso ocorra, é indispensável um
professor crítico e capacitado para instituir as condições mais adequadas ao
aprendizado do aluno, por meio de um conjunto de atividades estruturadas e
elaboradas, pautadas pela interatividade e pelo trabalho colaborativo.
Esta pesquisa, por conseguinte, se apresenta como uma contribuição
à docência num mundo influenciado pelas tecnologias. Ainda que trate,
especificamente, dos conteúdos relacionados à disciplina de Biologia, espera-se,
também, que atue em favor de professores de outras disciplinas, através da discussão
acerca da introdução da tecnologia em sala de aula e nas atividades relacionadas à
docência. Nesse sentido, destaca o papel do computador e da Internet como
ferramentas de grande valor no esclarecimento de termos e conteúdos abstratos, por
meio de atividades interativas e dinâmicas. Por isso, considera que as possibilidades
de utilização das tecnologias da informação e comunicação podem ser ampliadas no
contexto escolar, indicando que, se utilizadas de maneira planejada, tornam-se
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instrumento importante no processo de construção do conhecimento.
Em associação à essa perspectiva, o estudo histórico das abordagens
metodológicas auxilia na compreensão desses processos, pelos quais o ensino, no
Brasil, se configura. O desenvolvimento deste trabalho dá-se a partir de sucessivas
leituras, de aprofundamentos teóricos realizados no decorrer dessa pesquisa e de
experiências em sala de aula. De modo geral, observa-se que as Diretrizes
Curriculares para o ensino de Biologia e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB
9394/96) propõem, timidamente, o uso das tecnologias em sala de aula.
Reside aí o problema dessa pesquisa: como os professores de
Biologia do Estado do Paraná utilizam a plataforma digital disponibilizada e mantida
pela Secretaria da Educação? Como Portal Dia a Dia Educação permite a troca de
conhecimentos e materiais entre docentes, alunos e comunidade escolar?
Destarte, o presente trabalho tem por objetivo geral identificar a
utilização das tecnologias digitais como prática pedagógica no ensino paranaense,
dando ênfase para o ensino de Biologia. Especificamente, objetiva elencar as
estratégias de implementação da informática na Rede Estadual de Educação do
Paraná e, nesse sentido, busca considerar a oferta de materiais para o ensino de
Biologia no Portal Dia-a-dia Educação, criado e mantido pela Secretaria de Educação
do Estado do Paraná (SEED-PR).
Metodologicamente, constitui-se como uma pesquisa bibliográfica,
caracterizada pelo processo de triagem, leitura, interpretação de textos e documentos
que servirão ao estudo acerca do tema. De acordo com Marly Carvalho (2005), a
"pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes diversas de
informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de
determinado tema" (CARVALHO, 2005, p.100).
Espera-se que a sistematização das informações que compõem o
processo histórico da implantação da informática na rede estadual, associada às
perspectivas teóricas que balizam as tecnologias educacionais, na observação de um
portal educacional público, contribua para compreensão das especificidades da
relação entre a tecnologia e o ensino. Nesse sentido, para a observação de materiais
didáticos, decidiu-se pela seleção de apenas uma disciplina, Biologia, como amostra
dos recursos disponibilizados.
15
2. BIOLOGIA COMO ÁREA DO CONHECIMENTO
A Biologia sempre despertou nosso interesse. Desde a Antiguidade,
há registro de estudos que observam a vida, os fenômenos da natureza e tentam
explicá-los. Segundo José Armando Fernandes (2005):
Desde os estudiosos de química e física do iluminismo, herdeiros dos filósofos que tentaram explicar os fenômenos naturais na antiguidade, aos naturalistas que se ocupavam da descrição das maravilhas naturais do novo mundo, passando pelos pioneiros do campo da medicina, todos contribuíram no desenvolvimento de campos de saber que acabaram reunidos, na escola, sob o nome de ciências, ciências físicas e biológicas, ciências da vida, ou ciências naturais (FERNANDES, 2005, p.4).
Na antiga Mesopotâmia, já havia a exposição de animais como nos
zoológicos atuais e utilizava-se o pólen para fertilizar plantas. No Egito,
embalsamavam cadáveres e, para isso, existia o conhecimento empírico sobre óleos
e plantas. Também no Egito, há registro da anatomia do corpo humano e animal em
papiros. Contudo, no passado distante, havia um grande misticismo em torno destes
conhecimentos. Há casos, por exemplo, em que os ossos de animais eram utilizados
para prever o futuro (astragalomância). Esse misticismo servia como forma de poder
e controle social dos líderes político-religiosos. (HONWANA, 2002)
Por volta do século IV a.C., o filósofo Aristóteles (384 a.C-322 a.C.)
realizava a observação e a catalogação minuciosa de plantas e animais. Suas ideias
acerca da natureza perduraram por séculos, sendo relevantes ainda hoje. Ele
acreditava e defendia que o órgão humano no qual se originava a inteligência era o
coração. Informação que aprendera com seu pai, Nicômaco, médico exclusivo do rei
da Macedônia, Amintas III. O célebre pensador também sustentou e defendeu a
Teoria da Geração Espontânea1, que perdurou até meados do século XIX, quando foi
combatida por Francesco Redi (1626-1697), com a teoria da biogênese.
(DAMASCENO et al, 2014)
Aristóteles, possivelmente, escreveu mais de quatrocentos trabalhos,
1 Essa Teoria defende que a vida surgia espontaneamente e de forma constante através da matéria bruta.
16
dos quais, perto de cento e cinquenta são conhecidos hoje, como Sobre a Natureza,
Sobre os Animais e Sobre as Plantas, que tratam de conhecimentos hoje relacionados
à Biologia. Teofrasto (378 a.C.-287 a.C.), discípulo e sucessor de Aristóteles, registra
em dois livros - Historia Plantarum e De causis plantarum - tudo que observou e ouviu
sobre as plantas. Ele as classifica a partir de sua estrutura e crescimento vegetal, dos
hábitos e do uso que se fazia delas. Os livros têm por base as anotações de Aristóteles
nas suas viagens à Índia, à Pérsia e ao Oriente Médio (THÉODORIDÉS, 1984).
O fim do Império Romano no Ocidente culminou na descentralização
do poder na Europa. Os antigos impérios acabaram divididos em territórios
independentes, administrados localmente, sob a forte influência da igreja católica.
Esse período se estende do século V ao século XV, dividido entre Alta Idade Média
(século V a século XI) e Baixa Idade Média (século XI a século XV). (THÉODORIDÉS,
1984).
De modo geral, a Idade Média foi um período em que a Igreja exerceu
forte controle sobre o conhecimento. As ciências ficaram restritas ao pensamento
místico religioso: “para tudo que não podia ser explicado, visto ou reproduzido, havia
uma razão divina; Deus era o responsável” (RAW, SANT’ANNA, 2002 p.13). Mais
amplamente, foi o período em que a Igreja exercia o controle e a influência nas
questões relacionadas à vida e à sociedade, como na economia, na política e nas
relações pessoais.
Ainda que as investigações científicas, propriamente ditas, não
fossem permitidas, pois questionavam perspectivas historicamente consolidadas, é
possível evidenciar alguns avanços em relação à Ciência, principalmente no Oriente,
onde não existia a influência da Igreja Romana e a religião predominante era o
Islamismo, mais afeito à valorização e aceitação do conhecimento e da Ciência como
elementos fundamentais na construção da sociedade. O árabe Ibn Na Nafis (1213-
1288), por exemplo, já afirmava que os ventrículos do coração ficavam isolados um
do outro. Kitab al Hayawan (776-869), por sua vez, escreveu o Livro dos Animais, hoje
arquivado na Biblioteca de Milão, no qual discorre sobre a organização social dos
insetos e a comunicação animal. (THÉODORIDÉS, 1984).
Nos séculos IX e X, surgem as primeiras universidades medievais
europeias: Bologna, Oxford e Paris. Mesmo com a influência da igreja, houve
mudanças significativas na análise dos fenômenos naturais, superando a perspectiva
do passado e impulsionando o surgimento de novos modelos para o estudo da Vida.
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A Igreja guardava este conhecimento com muito cuidado e poucos possuíam acesso
a estas informações. Nas Universidades que surgiram, quase todos os professores
universitários eram membros do clero. Segundo Peter Burke, “admitia-se como
indiscutível que as universidades deviam concentrar-se na transmissão do
conhecimento, e não em sua descoberta” (BURKE, 2003, p 38).
Durante o período do Renascimento, as ciências voltam a surgir sem
o poder de influência da igreja. Ocorrem grandes avanços na disseminação do
conhecimento, além de estudos e discussões acerca dos textos de filósofos da
Antiguidade, sobretudo, Platão (428 a.C. - 347 a.C.) e Aristóteles. Neles, os cientistas
buscavam soluções para questionamentos antigos e os novos. Os estudiosos eram
impulsionados a realizar experimentos e práticas ao invés de estagnarem somente na
questão filosófica. (THÉODORIDÉS, 1984).
Um dos mais importantes avanços do Renascimento foi a invenção
da imprensa por Gutenberg, em torno de 1439, que contribuiu muito com o próprio
ideário de pesquisa. Com esse equipamento, o acesso às informações foi promovido
pelo barateamento da mão de obra. Os livros puderam ser publicados com gravuras,
intercaladas com o texto escrito, capazes de divulgar as observações e ideias para
um público muito maior.
Nas discussões sobre a classificação dos seres vivos, destacam-se
as pesquisas de Carl Von Linné (1707-1778), no século XVIII. Professor de botânica
na Universidade de Uppsala, ele publicou Systema Naturae em 1735. Lineé foi o
primeiro a incluir os seres humanos entre a classe dos animais e também é
considerado o principal organizador da classificação dos seres vivos. O sistema de
Lineu foi aperfeiçoado com novas categorias e ramificações, todavia, manteve-se a
nomenclatura dupla, conhecimento basilar no estudo da Biologia. Hoje, as
classificações são baseadas também em estudos como: comportamento, anatomia,
DNA (composição química), entre outros. E não como fez Lineu citando somente as
características anatômicas, comportamentais e estruturais.
A zoologia e a anatomia também avançaram durante a Renascença.
O francês Pierre Belon (1517-1564), em seu livro mais conhecido A História e a
Natureza dos pássaros, onde fez comparações do esqueleto humano e das aves.
Devido a esse trabalho, é considerado o pai da anatomia comparada. William Harvey
(1578-1657) e Marcello Malpighi (1628-1694) mostraram uma nova forma de se ver a
circulação sanguínea. Além desses, é forçoso citar os estudos de Guillaume Rondelet
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(1507-1566), do suíço Konrad Gesner (1516-1565).
No século XIX, as ideias ligadas à geração espontânea são
contestadas pelos estudos do italiano Francesco Redi (1626-1697), que marcam o
início da biogênese. Em dezembro de 1831, o médico inglês e naturalista Charles
Darwin (1809-1882) partiu para uma viagem de cinco anos a bordo do HMS Beagle,
na qual despertou seu interesse pela evolução dos seres vivos através de leituras das
obras de Robert Chambers (1802-1871) e de seu avô Erasmus Darwin (1731-1802).
Erasmus Darwin acreditava na herança de características adquiridas e, com essa crença, produziu o que decerto era uma emergente teoria da evolução, embora, de fato, ainda deixasse muitas questões sem respostas (RONAN, 1997, p. 09).
Outro estudioso desse período, Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829)
entendia a classificação como algo importante, "porém artificial, por acreditar na
existência de uma 'sequência natural' para origem de todas as criaturas vivas e que
elas mudavam guiadas pelo ambiente" (RONAN, 1987, p. 09).
Nesta viagem, Darwin fez anotações, desenhos e vários registros nos
quais organizava sua ideia sobre a transformação das espécies e ela, definitivamente,
começava a tomar forma. Com a ajuda das ideias de Thomas Malthus (1766-1834)
sobre teoria da população, em duas décadas de estudos, escreveu o livro A origem
das espécies, finalmente publicado em 1859. A obra se tornou base fundamental para
os estudos da Biologia, é utilizada e respeitada até hoje pela comunidade científica,
“quando lemos A origem das espécies não surge dúvida nenhuma de que Darwin
incluía o Homem entre os produtos da seleção natural” (REALE; ANTISERI, 2005,
p.344).
As ideias de Charles Darwin foram enriquecidas por novas
perspectivas. As questões convencionadas nesse sentido são denominadas
neodarwinismo e não alteram o trabalho basilar do naturalista britânico. Nesse
sentido, destaca-se o trabalho do monge agostiniano, Gregor Mendel (1822-1884).
Estudando ervilhas, Mendel avançou no conhecimento da hereditariedade, ou fatores
hereditários, hoje conhecidos com genes. Eles são responsáveis pela transferência
de características, atuando em pares na construção dos cromossomos, um de cada
genitor. As duas leis criadas por Mendel constituem a base da genética moderna e
contribuem para a explicação da seleção natural. Ainda há maiores avanços com a
19
teoria celular dos alemães Theodor Schwann (1810-1882) e Matthias
Schleiden (1804-1881), que afirma que todos os seres vivos (animais e vegetais) são
compostos por células.
No que diz respeito à tecnologia para a pesquisa em Biologia, o
instrumento que auxiliou na descoberta de vida invisível a olho nu foi o microscópio.
O termo provém de dois vocábulos gregos: micros - pequeno e skopein - ver,
examinar. O microscópio foi inventado por volta de 1595, por Hans Janssen (1580-
1638), nos Países Baixos. Na época, era considerado um brinquedo pela realeza
europeia e servia para observar pequenos objetos, possuindo somente duas lentes
que, na verdade, eram lentes de aumento. Esse mecanismo tornou-se fundamental
no desenvolvimento do pensamento moderno acerca da Vida. (JACOB, 1983)
A partir do século XVI, vê-se aparecer, em quatro momentos, uma nova organização, uma estrutura de ordem cada vez mais elevada: primeiro, com o começo do século XVII, a articulação das superfícies visíveis, o que pode chamar estrutura de ordem um; depois, no final do século XVIII, a “organização”, estrutura de ordem dois que engloba órgãos e funções que acaba transformando-se em células; em seguida, no começo do século XX, os cromossomos e genes, estrutura de ordem três oculta no interior da célula; enfim, no meio do século [XX], a molécula de ácido nucleico, estrutura de ordem quatro em que se baseiam hoje a conformação de todo organismo, suas propriedades e sua permanência através das gerações. A análise dos seres vivos é realizada sucessivamente a partir de cada uma destas organizações (JACOB, 1983, p. 23).
O microscópio, como se vê, foi fundamental para os avanços
genéticos. O conhecimento da célula associada ao processo evolutivo tornou-se
importante para a compreensão do processo genético, como observamos atualmente.
Para Bertoni e Luz (2011),
No início do século XX, conhecimentos genéticos, associados aos conhecimentos e avanços a partir da teoria celular, possibilitaram o reconhecimento dos trabalhos de Mendel e de outros pesquisadores, contribuindo para a apresentação da síntese evolutiva moderna, modelo explicativo que vincula os mecanismos evolutivos ao programa genético (BERTONI; LUZ, 2011, p. 41).
A partir deste momento, vislumbram-se ainda mais campos de
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conhecimento dentro das áreas biológicas, associados a uma maior necessidade de
diversificação das perspectivas acerca da Vida.
Como vimos até aqui, a construção da história da Biologia não é
linear, mas uma busca constante de explicações e entendimento para a Vida, com
mudanças de paradigmas e posicionamento em relação às pesquisas e
conhecimentos científicos. Enfim, cada um dos períodos e estudiosos elencados
contribuiu para a atual condição da Biologia como área do conhecimento. De acordo
com o Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2011), hoje, a biologia é
considerada a
ciência que estuda a vida e os organismos vivos, sua estrutura, crescimento, funcionamento, reprodução, origem, evolução, distribuição, bem como suas relações com o ambiente e entre si; biociência, ciências biológicas [Compreende várias outras ciências especializadas, como, p.ex., a ecologia, a bioquímica, a genética, a zoologia e a botânica.] (HOUAISS, 2013)
Assim, em conformidade com o avanço da tecnologia e do
conhecimento humano, a sistematização da Biologia se fez necessária. A separação
entre sistemas biológicos e fisiológicos facilitou a análise desses objetos, mas exige
diferentes abordagens para o entendimento do todo, por isso o surgimento de áreas
específicas como a bioquímica, a genética e a zoologia. Nesta perspectiva, as
Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica do Estado do Paraná,
afirmam que
Tais avanços, sobretudo os relativos à bioquímica, à biofísica e à própria Biologia molecular, permitiram o desenvolvimento de inovações tecnológicas e interferiram no pensamento biológico evolutivo [...] Esses conhecimentos geram conflitos filosóficos, científicos e sociais e põem em discussão a manipulação genética e suas implicações sobre a vida (PARANÁ, 2008, p. 44).
Como se vê, em relação ao estudo dos seres vivos, a reprodução, a
função de órgãos entre outros, o avanço na compreensão desses elementos é
evidente, possibilitando, inclusive, a manipulação em nível genético. A perspectiva
que permeia o documento da Secretaria da Educação do Estado do Paraná
(SEED/PR) deixa manifesta a complexidade que caracteriza a Biologia, seus estudos
21
e suas implicações. Hoje, ela faz parte do cotidiano das pessoas, influenciando
tomadas de decisões sobre alimentação, ambiente, saúde, doenças e tratamentos
entre outros. Para Germano Sacarrão (1989), as áreas da ciência variam de acordo
com a época, podendo atrofiar ou expandir de acordo com as condições que lhe são
oferecidas. No caso da Biologia atual, pode exercer significativa importância, social,
econômica ou financeira, como, por exemplo, a Engenharia Genética. Ainda de acordo
com o biólogo português,
De modo que uma área científica dominante tem tendência a definir os modelos, as hipóteses e os conceitos de outras áreas ou disciplinas. Atualmente, na Biologia prepondera a Biologia molecular, ou seja, a "Biologia do invisível"; e a Biologia evolutiva, que é sobretudo a Biologia da mudança, da adaptação e da diversidade das estruturas e fenômenos acessíveis à atividade normal dos sentidos, é dominada pelos conceitos, factos e pressupostos que respeitam à primeira, e valem para ela (SACARRÃO, 1989, p.17).
Assim, a Biologia, hoje, é o resultado de descobertas contínuas e de
dúvidas constantes na busca de soluções para problemas referentes à vida. Ela
influencia diretamente nosso cotidiano em sociedade. Seu entendimento e
conhecimento se tornam cada vez mais importantes, seja para preservarmos o meio
ambiente, a nossa saúde, em particular, ou a existência Vida de forma geral. E nesse
mar de informações, não é fácil ao docente da disciplina de Biologia o preparar de
aulas menos teóricas. Devido a isso nosso estudo em como o Portal Dia a Dia
Educação, com materiais já analisados por uma equipe técnico pedagógica, pode
auxiliar aos professores em suas práticas pedagógicas.
3. ENSINO DE BIOLOGIA
22
O Ensino de Biologia é de fundamental importância para
conhecimento acerca da Vida. Levar a compreensão da natureza viva e dos limites
dos diferentes sistemas explicativos, a compreensão de que a Ciência não tem
respostas definitivas para tudo, são algumas de suas características.
No Brasil, há registros de aulas de Ciências em 1838, no Colégio
Pedro II, Rio de Janeiro. Segundo Ariclê Vechia e Karl Lorenz, “no programa de ensino
para o ano de 1841, o currículo do Colégio Pedro II já apresentava elementos de
zoologia, botânica e física” (VECHIA & LORENZ, 1998, p. 29). Eram aulas dedicadas
às ciências naturais, sem o enfoque biológico específico. Os livros eram importados
da França e seus conteúdos trabalhados através de aulas expositivas e descritivas.
Em 1930, a abordagem dos conhecimentos biológicos além da Vida,
também possuía enfoques econômicos e sociais. O enfoque metodológico era
descritivo, teórico, de memorização e pautado nos livros. Apesar da distância, pouco
diferia dos aspectos metodológicos de quase um século antes.
De acordo com Myriam Krasilchik (2008), em 1950, os conteúdos
eram trabalhados com os organismos separadamente e as relações filogenéticas
eram observadas sem relação entre os seres vivos e a sua funcionalidade, pois de
acordo com a pesquisadora, os objetivos da Biologia
incluíam, entre outros, os de: valor informativo, referindo-se aos conhecimentos proporcionados; valor educativo ou formativo, relacionado com o desenvolvimento do educando; valor cultural, consistindo na contribuição para os grupos sociais (de que o aluno fazia parte); valor prático, referindo-se à aplicação de conhecimentos e objetivos utilitários (KRASILCHIK, 2008, p.13).
Nesse momento, as aulas de Biologia ganhavam destaque no
contexto da educação europeia. Fugindo ao reducionismo expositivo, já eram
ministradas aulas práticas “para ilustrar as aulas teóricas” (KRASILCHIK, 2008, p.14).
Os conteúdos mais trabalhados eram os de biologia geral, botânica e zoologia. A
ciência natural, no ensino, se desvencilhava da tradição das aulas expositivas para
aproximar-se do experimental.
Na década de 1960, foi produzido, nos Estados Unidos, o Biological
Sciences Curriculum Study (BSCS), que buscava consolidar as ciências biológicas de
acordo com moldes acadêmicos. A preocupação essencial e seu objetivo eram a
23
formação de futuros cientistas, daí a maior ênfase no ensino por método científico e
na resolução de problemas. Para Krasilchik (2008), só houve mudanças no ensino da
Biologia por causa do próprio progresso da Biologia como área do conhecimento. No
caso brasileiro, é importante mencionar o papel desempenhado pela Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional nº 4.024/12, de 2 de dezembro de 1961. De acordo
com Miguel Arroyo,
No final da década de sessenta e início da década de setenta, fez-se uma crítica rígida ao saber transmitido no sistema escolar brasileiro. Tratava-se com desprezo o chamado saber tradicional, visto como livresco, humanista, metafísico, apropriado a uma república de bacharéis diletantes e improdutivos. Propunha-se um saber moderno, técnico-científico, útil, prático, capaz de formar profissionais e trabalhadores eficientes para uma sociedade produtiva (ARROYO, 1988, p. 5).
Na esteira dessa perspectiva, na década de 1980, com a Lei nº
5692/71, houve uma reformulação do ensino básico. Neste período, era importante o
ensino de ciências para a formação profissional, com tentativa de acompanhar os
avanços científicos e tecnológicos. Myriam Krasilchik (1987) considera que neste
período a escola secundária era direcionada principalmente para o trabalhador, devido
à necessidade do desenvolvimento social e econômico do país e não mais direcionada
à formação do futuro cientista. De acordo com a pesquisadora
Nessa época, na maioria das vezes, as propostas para o ensino de Ciências eram agrupadas em títulos, como Educação em Ciências para a Cidadania, ou Ciências, Tecnologia e Sociedade, devendo facilitar a mobilidade social do indivíduo e contribuir para o desenvolvimento do país. No entanto, em pesquisas realizadas verificou-se que não há congruência entre as propostas apresentadas em cursos de atualização para professores, e o seu resultado em classe em consequência de dificuldades e poderosos mecanismos de resistência para provocar mudanças profundas (KRASILCHIK, 1987, p. 9).
A partir da década de 1980, já há uma tendência para uma abordagem
construtivista2, partindo das concepções prévias dos alunos sobre os conteúdos
2 Método inspirado nas ideias de Piaget (1896-1980). Entende que a inteligência é determinada pelas relações que se estabelecem entre o indivíduo e o meio. Por isso, propõe que o aluno tenha uma
24
abordados. Os conteúdos eram motivados pelos avanços da Biologia e relacionados
à estrutura celular, metabolismo celular, diversidade dos seres vivos nos aspectos
morfofisiológicos. Essa perspectiva metodológica contrasta com a organização de
conteúdos de forma linear e pouco questionadora, que não motivava para as questões
que permeiam o cotidiano dos alunos, nem para o desenvolvimento de competências
básicas relacionadas à Biologia. Em entrevista à Revista Nova Escola, Perrenoud
aponta que,
Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por problemas e projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural. Os professores devem parar de pensar que dar aulas é o cerne da profissão. Ensinar, hoje, deveria consistir em conceber, encaixar e regular situações de aprendizagem seguindo os princípios pedagógicos ativos e construtivistas. Para os professores adeptos de uma visão construtivista e interacionista de aprendizagem trabalhar no desenvolvimento de competências não é uma ruptura. (PERRENOUD, 2000)
Evidencia-se, então, a percepção de que a metodologia aplicada até
ali não era capaz de oferecer uma formação adequada à realidade do aluno, pois está
apoiada sobre uma concentração de conteúdos vazios que não desperta seu
interesse, sem ter em consideração que ele vive numa sociedade muito mais dinâmica
e interativa. Essa perspectiva ainda permeia boa parte do trabalho docente nas salas
de aulas brasileiras e caracteriza as reclamações dos jovens ainda em 2014, resumida
numa questão: "para o quê vou usar isso em minha vida"?
Aqui é preciso considerar que o questionamento, quando direcionado
positivamente, funciona como impulso para o conhecimento. É a curiosidade,
explicitada no questionamento, que motiva a descoberta e abre um mundo de
possibilidades ao estudante e, portanto, essa pergunta não deve ser respondida pelo
professor, mas pelo próprio aluno.
O Ministério da Educação lançou, em 1999, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN). Os PCN têm “o duplo papel de difundir os princípios da
reforma curricular e orientar o professor na busca de novas abordagens e
participação ativa em seu aprendizado através de ações variadas de aprendizagem.
25
metodologias” (BRASIL, 1999). A Biologia foi incluída na Área das Ciências da
Natureza, Matemática e suas tecnologias.
Os PCN entendem os conteúdos de Biologia como articulados e
inseparáveis das demais ciências.
A própria compreensão do surgimento e da evolução da vida nas suas diversas formas de manifestação demanda uma compreensão das condições geológicas e ambientais reinantes no planeta primitivo. O entendimento dos ecossistemas atuais implica um conhecimento da intervenção humana, de caráter social e econômico, assim como dos ciclos de materiais e fluxos de energia. A percepção da profunda unidade da vida, diante da sua vasta diversidade, é de uma complexidade sem paralelo em toda a ciência e também demanda uma compreensão dos mecanismos de codificação genética, que são a um só tempo uma estereoquímica e uma física da organização molecular da vida. Ter uma noção de como operam esses níveis submicroscópicos da Biologia não é um luxo acadêmico, mas sim um pressuposto para uma compreensão mínima dos mecanismos de hereditariedade e mesmo da biotecnologia contemporânea, sem os quais não se pode entender e emitir julgamento sobre testes de paternidade pela análise do DNA, a clonagem de animais ou a forma como certos vírus produzem imunodeficiências (BRASIL, 2001, p. 09 e 10).
De modo geral, os PCN (1999) apoiam-se no desenvolvimento
de competências e habilidades, o que prejudicava o aprofundamento dos conteúdos,
por ser bastante limitado pelo tema. Os temas eram trabalhados com projetos, de
acordo com a necessidade de vida dos alunos. Houve um esvaziamento nos
conteúdos, com enfoque somente no resultado da ciência, não em seu processo de
construção.
3.1 Biologia na LDB 9394/96
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96)
regulamenta nosso sistema educacional. A partir de 2013, pela Lei nº 12.796, o Ensino
Médio faz parte da educação básica, que atende crianças entre quatro e dezessete
anos. O Ensino Médio é a última etapa da educação básica, com duração mínima de
26
três anos, onde há o estudo da Biologia. De acordo com o documento, no seu artigo
35, as finalidades do Ensino Médio são:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, 1996).
Nos últimos anos, a escola tem recebido adolescentes, filhos da
classe trabalhadora e não mais aquele filho que a carreira já havia sido determinada
pelos pais. Esse estudante tem necessidades diferenciadas como trabalhar e estudar,
pois, muitas vezes, ajuda economicamente a família. Alguns alunos têm nível escolar
maior que seus pais, e não podem contar com a sua colaboração nesse processo.
Devido a esses e outros fatores, evidencia-se a necessidade dessa nova grade
curricular dar atenção a essas diferenças. De acordo com o artigo 36 da LDB 9394/96,
o currículo do Ensino Médio
I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; II - adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; § 1º Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do Ensino Médio o educando demonstre: I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II - conhecimento das formas contemporâneas de linguagem (BRASIL, 1996, p. 155).
A Lei prevê domínios que o aluno deverá ter ao finalizar o Ensino
Médio como o entendimento dos princípios científicos e tecnológicos e as formas de
27
linguagem. Para que essas ideias tenham concretude, as Diretrizes Curriculares
Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) esclarecem que,
a educação no Ensino Médio deve possibilitar aos adolescentes, jovens e adultos trabalhadores, acesso a conhecimentos que permitam a compreensão das diferentes formas de explicar o mundo, seus fenômenos naturais, sua organização social e seus processos produtivos (BRASIL, 2013, p. 147).
E a compreensão desses domínios deve contribuir para que o
discente possa ter uma formação integral, tanto para os exames vestibulares quanto
para a prática da cidadania participativa e esclarecida. As DCNEM, em relação à
qualidade e melhoria do Ensino Médio, orientam
no sentido do oferecimento de uma formação humana integral, evitando a orientação limitada da preparação para o vestibular e patrocinando um sonho de futuro para todos os estudantes do Ensino Médio. Esta orientação visa à construção de um Ensino Médio que apresente uma unidade e que possa atender a diversidade mediante o oferecimento de diferentes formas de organização curricular, o fortalecimento do projeto político pedagógico e a criação das condições para a necessária discussão sobre a organização do trabalho pedagógico (BRASIL, 2013, p. 155).
E para que essa melhoria na qualidade do Ensino Médio ocorra
também é necessária uma organização curricular, que ficou assim distribuída: "O
currículo é organizado em áreas de conhecimento, a saber: I – Linguagens; II –
Matemática; III – Ciências da Natureza; IV – Ciências Humanas" (BRASIL, 2013, p.
196). O texto das DCNEM especifica que há a necessidade de o currículo contemplar
estas quatro áreas com metodologia interdisciplinar e contextualizada com os saberes
de cada uma. Deve promover um fortalecimento entre estes conhecimentos para que
o aluno aprenda e possa intervir na sua realidade.
Em termos operacionais, Biologia fica integrada a Ciências da
Natureza, juntamente com Física e Química. Essa integração facilita o diálogo entre
seus conteúdos, facilitando o entendimento dos problemas da realidade e a proposta
de soluções por parte dos alunos.
Em relação aos conteúdos, metodologia e avaliação, espera-se que o
28
aluno, ao final do Ensino Médio, “demonstre domínio dos princípios científicos e
tecnológicos que presidem a produção moderna, e conhecimento das formas
contemporâneas de linguagem” (BRASIL, 2013, p. 188).
O estudante do Ensino Médio poderá participar do ENEM (Exame
Nacional do Ensino Médio), que vem se aprimorando desde sua primeira aplicação
em 1998, tendo como referência principal a articulação entre o conceito de educação
básica e o de cidadania. De acordo com o documento, o ENEM possui as seguintes
funções:
Art. 21. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve, progressivamente, compor o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), assumindo as funções de: I – avaliação sistêmica, que tem como objetivo subsidiar as políticas públicas para a Educação Básica; II – avaliação certificadora, que proporciona àqueles que estão fora da escola aferir seus conhecimentos construídos em processo de escolarização, assim como os conhecimentos tácitos adquiridos ao longo da vida; III – avaliação classificatória, que contribui para o acesso democrático à Educação Superior (BRASIL, 2013, p. 201).
O ENEM é a maior avaliação do Brasil, com questões baseadas nas
quatro grandes áreas: Ciências da Natureza e suas Tecnologias (Biologia, química e
física), Matemática e suas Tecnologias (matemática), Ciências Humanas e suas
Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias (Língua portuguesa, Literatura, Língua estrangeira (Espanhol ou Inglês),
Artes, Educação Física e Tecnologias da informação e Comunicação). Quando iniciou,
em 1998, tinha como objetivo somente avaliar a qualidade do Ensino Médio nacional,
mas sofreu alterações no decorrer dos anos, em conformidade com as necessidades
estatísticas evidenciadas.
3.2 A Biologia nas DCE-PR
29
Antes mesmo da instituição da LDB, no início da década de 1990, a
Secretaria de Educação do Paraná efetivou a reestruturação do ensino no segundo
grau, baseando-se na pedagogia histórico-crítica. Essa reestruturação tinha o objetivo
de:
propiciar aos alunos o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas, utilizadas no processo de produção e não o mero adestramento de técnicas produtivas. Esta concepção está a exigir medidas a curto, médio e longo prazo, voltadas ao suprimento e apoio à Rede Estadual de Ensino, visando propiciar meios para que ela cumpra suas funções e atinja plenamente seus objetivos, incluindo medidas de avaliação da atual política educacional, como também, das estratégias utilizadas para viabilização das práticas pedagógicas (PARANÁ, 1993, p. iv).
Nesse sentido, foram propostos seis temas para o ensino da Biologia:
1. Relações dos seres vivos e seu meio ambiente; 2. Organização dos seres vivos; 3.
Classificação dos seres vivos; 4. Hereditariedade e ambiente; 5. Desenvolvimento
científico e tecnológico no campo da Biologia; 6. Saúde humana. Segundo as DCEs
(2008),
Apesar da tentativa de superar o ensino tradicional e tecnicista com a pedagogia histórico-crítica, o documento de reestruturação do segundo grau ainda apresentava os conteúdos de Biologia divididos por blocos tradicionais, reunidos em temas geradores, reproduzindo o padrão dos livros didáticos disponíveis no mercado. A pretensão de abordar a totalidade do conhecimento biológico caracterizava conteudismo (PARANÁ, 2008, p. 49).
Em 1998, os PCN para o ensino de Biologia tinham como foco a oferta
de um aprendizado útil à vida e ao trabalho, sem, no entanto, retomar o viés tecnicista
das décadas anteriores. A partir deste pressuposto, passou a ser estudada, no
Paraná, a construção das diretrizes curriculares para o ensino de Biologia,
concretizadas apenas na década seguinte.
Desenvolvidas de forma coletiva entre professores da rede estadual
de ensino, de especialistas de diversas áreas e de profissionais da Secretaria
Estadual da Educação, entre 2003 e 2008, foram estabelecidas as diretrizes
curriculares que norteiam o ensino fundamental e médio no Estado do Paraná. Os
direcionamentos para a disciplina de Biologia partem dos pressupostos históricos de
30
sua área de conhecimento como alicerces para a sistematização dos conteúdos
estruturantes e proposição metodológica.
Estas Diretrizes Curriculares, portanto, fundamentam-se na concepção histórica da ciência articulada aos princípios da filosofia da ciência. Ao partir da dimensão histórica da disciplina de Biologia, foram identificados os marcos conceituais da construção do pensamento biológico. Estes marcos foram adotados como critérios para escolha dos conteúdos estruturantes e dos encaminhamentos metodológicos (PARANÁ, 2008, p. 49).
Para a construção dos conteúdos estruturantes, então, foi necessário
um estudo na história e filosofia da ciência, dos modelos e paradigmas históricos, e
da contribuição dos mesmos para Biologia como ciência e disciplina escolar. Os
conteúdos estruturantes segundo as DCES,
são os saberes, conhecimentos de grande amplitude, que identificam e organizam os campos de estudo de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para as abordagens pedagógicas dos conteúdos específicos e consequente compreensão de seu objeto de estudo e ensino (PARANÁ, 2008, p. 55).
As escolas possuem autonomia para adequar esses conteúdos
estruturantes de acordo com o cotidiano e a realidade regional em que estão situadas.
Como se vê, sua elaboração foi baseada em quatro momentos da história da ciência:
Pensamento biológico descritivo, Pensamento biológico mecanicista, Pensamento
biológico evolutivo e Pensamento biológico da manipulação genética (PARANÁ,
2008). São quatro modelos interpretativos do Fenômeno Vida que, segundo as DCEs,
“permite conceituar VIDA em distintos momentos da história e, desta forma, auxiliar
para que as grandes problemáticas da contemporaneidade sejam entendidas como
construção humana” (PARANÁ, 2008, p. 55). Cada um desses marcos históricos do
estudo da Biologia deu origem a um conteúdo estruturante. Ficaram assim definidos:
Organização dos Seres Vivos; Mecanismos Biológicos; Biodiversidade; Manipulação
Genética (PARANÁ, 2008, p. 55).
Esses conteúdos devem ser trabalhados de forma integrada e não
hierarquizados ou seriados, de modo que o aluno obtenha um conhecimento
31
conceitual, reflexivo e significativo para sua realidade, evidenciando as questões
emergentes que lhe cabem.
Os conteúdos ligados à Organização dos Seres Vivos (Pensamento
biológico descritivo) têm como propósito entender e analisar a diversidade biológica
existente, incluindo o estudo das características e fatores que determinaram o
aparecimento ou extinção de espécies no decorrer da história.
No que diz respeito aos Mecanismos biológicos, pretende-se uma
abordagem inicial da visão mecanicista, com base numa perspectiva macroscópica,
descritiva e fragmentada da natureza, ampliando a discussão sobre a organização dos
seres vivos, analisando o funcionamento dos sistemas orgânicos nos diferentes níveis
- do celular ao sistêmico. Considerando também uma visão evolutiva e as influências
dos demais conteúdos estruturantes.
O conteúdo estruturante Biodiversidade trata do pensamento
biológico evolutivo, discute como os seres vivos mantêm a diversidade através das
modificações que sofreram, a perpetuação da variabilidade genética e as relações
ecológicas. Nele, são expandidas as explicações sobre o funcionamento dos sistemas
orgânicos que compõem os seres vivos.
Os conteúdos relacionados à manipulação genética abordam os
avanços da biologia molecular, a biotecnologia aplicada e as questões éticas que
envolvem esses avanços biotecnológicos como a manipulação genética. Nesse caso,
é ressaltada a necessidade de expandir a compreensão da mutabilidade, como
algumas características podem ser implantadas, alteradas ou eliminadas do
patrimônio genético de um ser vivo e conduzidas aos seus descendentes através de
mecanismos biológicos que garantem a continuidade da espécie.
De modo geral, as diretrizes curriculares para o ensino de Biologia
permitem que os estudantes percebam que o conhecimento biológico modifica e
interfere no contexto de vida da humanidade e isso requer uma participação crítica e
consciente dos cidadãos responsáveis pela Vida (PARANÁ, 2008, p. 56).
Em relação às estratégias pedagógicas específicas para a disciplina,
o documento se apoia na prática social como ponto de partida. Nesse sentido, dá
destaque ao que o aluno conhece e traz sobre aquele conteúdo a ser trabalhado, na
problematização, instrumentalização, catarse e retorno desse conhecimento à prática
social. Parte de conceitos advindos da realidade imediata do aluno, passando de um
estágio de menor compreensão do conhecimento científico para uma fase de clareza,
32
compreensão e utilização desse conhecimento.
As DCEs de Biologia trazem sugestões para utilização de recursos
pedagógicos como imagens em vídeo, transparências, fotos e textos de apoio com
problematizações acerca dos conteúdos. Privilegia estratégias de ensino como a aula
dialogada e a atividade experimental, manipulação ou simplesmente demonstrativa,
desde que o aluno não seja somente um observador passivo. Além desses, propõe o
estudo do meio e a utilização dos jogos didáticos que, muitas vezes, permitem traçar
planos de ação para alcançar determinados objetivos em face de objetivos
relacionados aos conteúdos da disciplina.
Apoiadas nas afirmações de Anna Maria Pessoa de Carvalho e Daniel
Gil-Pérez (2001), as diretrizes apontam que a avaliação “é um dos aspectos do
processo pedagógico que mais carece de mudança didática para favorecer uma
reflexão crítica de ideias e modificar comportamentos docentes de 'senso comum'
muito persistente" (PARANÁ, 2008, p. 67). Para a superação desse senso comum, há
necessidade de
estudos, pesquisas e análises de resultados que permitam a elaboração de programas de formação continuada para os professores envolvidos no processo ensino-aprendizagem, a fim de possibilitar a elaboração de uma concepção de avaliação adequada à realidade escolar da qual participa (PARANÁ, 2008, p. 68).
Nesse sentido, destaca-se o importante papel da formação contínua
docente, capaz de preparar os professores para a elaboração de processos
avaliativos que contemplem a integração dos alunos na observação das dificuldades
e dos avanços no processo de ensino. Segundo essa perspectiva, a avaliação deve
ser
um instrumento de análise do processo de ensino aprendizagem que se configura em um conjunto de ações pedagógicas pensadas e realizadas ao longo do ano letivo, de modo que professores e alunos tornam-se observadores dos avanços e dificuldades a fim de superarem os obstáculos existentes (PARANÁ, 2008, p. 69).
Em 2011, iniciou-se a discussão e elaboração do Caderno de
Expectativas de Aprendizagem, pelos professores da rede e pela Secretaria de
33
Educação. Ele expressa o que o aluno deve saber ao final do ensino fundamental e
médio, de acordo com os conteúdos estabelecidos nas diretrizes curriculares
estaduais. É mais um subsídio ao trabalho do professor e do pedagogo, não podendo
ser confundido com os critérios de avaliação. O documento específico para a disciplina
de Biologia indica 22 expectativas de aprendizagem dentro dos conteúdos básicos
para o aluno ao final do Ensino Médio. As expectativas não devem ser pensadas como
encaminhamentos metodológicos, conteúdos específicos, bem como relações
interdisciplinares e/ou de contexto, uma vez que essas situações devem estar
explicitadas no Plano de Trabalho Docente. Essas expectativas devem ser vistas
como balizadoras e indicadoras dos objetivos a serem alcançados, contribuindo para
melhor qualificação do ensino e como instrumentos pedagógicos de democratização
deste ensino.
De acordo com Silva & Santos (2006), na análise de cenários diversos
de educação mediada pela tecnologia, é fundamental a ênfase no caráter formativo e
não somativo. É nesse sentido que jogos e simuladores podem contribuir
positivamente para o processo avaliativo, uma vez que permitem a conferência das
competências necessárias à elevação de nível como parte essencial da própria
jogabilidade. Nesse sentido, a integração das TIC no processo de ensino implica
também no alargamento de estratégias que viabilizam a autoavaliação colaboram
para o desenvolvimento autônomo do aluno.
3.3 Materiais didáticos de Biologia
Não é fácil ao professor fazer escolha dos materiais ou recursos
didáticos a serem utilizados nas aulas de Biologia. Apesar de todo o avanço
tecnológico, os professores ainda se pautam por aulas expositivas com uma
participação muito pequena, ou nenhuma, do aluno. Devido a isso, o recurso didático
mais usado é o livro. De acordo com Myriam Krasilchik, “o livro didático,
tradicionalmente tem tido, no ensino de Biologia um papel de importância [...] no
sentido de valorizar um ensino informativo e teórico" (KRASILCHIK, 2008, p.65).
Em 2006, o Instituto Ciência Hoje, responsável pela publicação da
34
revista Ciência Hoje, selecionou textos sobre Biologia, organizados por blocos
temáticos que atendessem aos interesses em sala de aula e servissem como apoio
na formação escolar para o mundo contemporâneo. A publicação foi realizada pelo
Ministério da Educação, como sexto volume da Coleção Explorando o Ensino.
Em 2007, foi lançada uma proposta diferente para o material didático
público de Biologia. Folhas, como era chamado o projeto, é o resultado da ação do
Governo Estadual para formação continuada dos professores da rede estadual. Nesse
projeto, os docentes produziram o próprio material didático, com a orientação do
Departamento de Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação.
O material que resultou desse processo está organizado de acordo
com os conteúdos estruturantes da disciplina, em conformidade com as Diretrizes
Curriculares Orientadoras da Educação Básica do Paraná. Neste livro didático público,
há uma preocupação em escrever textos que valorizem o conhecimento cientifico, filosófico e artístico, bem como a dimensão histórica das disciplinas de maneira contextualizada, ou seja, numa linguagem que aproxime esses saberes da sua realidade. É um livro diferente porque não tem a pretensão de esgotar conteúdos, mas discutir a realidade em diferentes perspectivas de analise; não quer apresentar dogmas, mas questionar para compreender. Além disso, os conteúdos abordados são alguns recortes possíveis dos conteúdos mais amplos que estruturam e identificam as disciplinas escolares. O conjunto desses elementos que constituem o processo de escrita deste livro denomina cada um dos textos que o compõem de “Folhas” (PARANÁ, 2007, p. 7).
Há outros aspectos que o diferenciam do modelo padrão em materiais
didáticos, como a flexibilidade de construção e reconstrução do conhecimento através
do diálogo e da pesquisa; e a relação entre os conteúdos específicos com concepções
e, muitas vezes, recortes diferenciados do livro didático que o docente está
acostumado a usar. Por causa dessas características, o projeto acabou por se tornar
um dos primeiros programas de Recursos Educacionais Abertos (REA) do País.
A partir de 2007, o livro de Biologia passou a fazer parte do Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD) aprovado pelo MEC e ofertada a todas as escolas
públicas do Brasil. Nesse caso, os livros de diversos autores são analisados por um
grupo de professores de universidades e das escolas públicas, onde produzem uma
35
resenha sobre os livros selecionados. Os livros precisam estar de acordo com a
legislação vigente e com os preceitos metodológicos que regulamentam a educação
nacional.
Os professores de todas as escolas do País recebem uma lista de
possibilidades ofertada pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNL), analisam e
escolhem o livro didático mais adequado à sua realidade regional. A oferta é trienal e,
na maioria dos casos, há a opção de selecionar o material em volume único ou em
três volumes. O professor muitas vezes não concorda com as subdivisões clássicas
do livro didático, mas por ser mais familiar acaba utilizando assim mesmo
(KRASILCHIK, 2008).
O professor de Biologia também utiliza outras metodologias de
trabalho como as práticas laboratoriais ou em sala de aula: recursos audiovisuais,
aulas de campo, problematizações, ferramentas computacionais, entre outras. Mas a
maioria das aulas se encontra dissociada do cotidiano do aluno e, muitas vezes, é
insuficiente para promover a educação científica.
Outro recurso bastante utilizado pelo professor de Biologia é o
modelo. Serve para visualização do aluno do objeto em três dimensões, como, por
exemplo, uma célula feita com materiais recicláveis. Nesse caso, o docente deve ter
bastante cuidado para que o aluno não faça associações erradas entre o modelo e a
realidade. (KRASILCHIK, 2008).
Como se vê, quando pensamos sobre a possibilidade de usar a
tecnologia na aula de Biologia, o professor deve decidir o que conta, de fato, como
tecnologia. Existem vários usos da tecnologia. Alguns são simples e não exigem muita
consideração em termos de uso. Outros requerem uma consideração mais profunda
de como usá-los de forma mais eficaz. Em geral, desde que a tecnologia é equilibrada
com o ensino de habilidades acadêmicas e sociais tradicionais, ela tem o potencial
para revitalizar a sala de aula, apelando a diferentes competências de modo que a
aprendizagem torne-se mais eficaz.
Com a introdução das TIC no Ensino de Biologia, espera-se que os
alunos aprendam que a tecnologia é um meio de resolver problemas e, como
consequência, que eles percebam que as tecnologias afetam todas as facetas de
nossas vidas. Neste sentido, os alunos acabam por investigar, especificamente, como
a tecnologia é usada para aprofundar e ampliar nosso conhecimento da Biologia.
37
aprendizagem, desde o giz e a lousa até os equipamentos eletrônicos. De modo geral,
espera-se que a evolução contínua que caracteriza a tecnologia dê efetiva e
significativa contribuição às práticas pedagógicas.
As tecnologias da informação e comunicação tornaram-se
indispensáveis no nosso cotidiano e também envolveram as escolas. O professor não
é mais o detentor único do saber. As informações estão disponíveis na Internet,
através de revistas, jornais, blogs, sites científicos, todos de fácil acesso.
Desse modo, acredita-se que o professor e a escola possam ajudar o
aluno nas tarefas de sistematizar, selecionar e editar estas informações.
Pesquisas como a TIC Educação, conduzida pelo Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br, 2014), mostram que os professores procuram utilizar as
novas tecnologias em sua prática pedagógica. Entretanto, as tecnologias da
informação e comunicação entraram timidamente no âmbito escolar, enquanto que os
alunos, por sua vez, são fortemente influenciados pelo seu uso no cotidiano. Nesse
mesmo cenário, a sociedade, como um todo, exige cada vez mais o domínio dessas
competências tecnológicas. De acordo com José Armando Valente (1996),
A sociedade do conhecimento exige um homem crítico, criativo, com capacidade de pensar, de aprender a aprender, trabalhar em grupo e de conhecer o seu potencial intelectual. Esse homem deverá ter uma visão geral sobre os diferentes problemas que afligem a humanidade, como os sociais e ecológicos, além de profundo conhecimento sobre domínios específicos. Em outras palavras, um homem atento e sensível às mudanças da sociedade, com uma visão transdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramento e depuração de ideias e ações (VALENTE, 1996, p. 5-6).
Assim, fica evidente a necessidade da competência docente
associada ao domínio das Tecnologias da Informação e Comunicação, que faça a
mediação das informações disponíveis com o processo ensino-aprendizagem. O
pesquisador tunisiano Pierre Lévy nos provoca a pensar a necessidade dessa nova
exigência social. De acordo com Lévy,
Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os
38
tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação e aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria (LÉVY, 1993, p. 7).
Na esteira da modernização tecnológica, na década de 1980, o Brasil
iniciou a implantação da informática na educação. De modo geral, esse processo foi
iniciado por meio de projetos públicos como EDUCOM, FORMAR, PRONINFE,
PLANINFE e PROINFO. Todos tinham por objetivo o uso pedagógico e a formação
continuada do professor para o uso destas novas tecnologias no ensino básico e
médio.
No Paraná, as iniciativas públicas de implantação da Informática
começam em 1985, com o Plano Estadual de Educação. A partir daí, foram enviadas
os laboratórios de informática PROINFO para as escolas e houve a formação dos
Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE). Nesses NTE, havia os multiplicadores que
ministravam cursos de caráter operacional-técnico. Em 2004, criaram-se as CRTE
(Coordenação Regional de Tecnologia na Educação) nos trinta e dois Núcleos
Regionais de Educação.
Figura 1- CRTES no Paraná
FONTE: Adaptado de Diretrizes para o uso de Tecnologias Educacionais (2010)
As CRTE são constituídas por assessores pedagógicos e técnicos de
suporte. Os assessores pedagógicos são responsáveis pelas pesquisas, capacitações
e publicações de informações referentes ao uso de recursos tecnológicos no contexto
escolar público do Estado do Paraná. Os técnicos de suporte instalam os
39
equipamentos tecnológicos, fazem assistência técnica, manutenção dos
equipamentos e cursos para os administradores locais, entre outras atividades.
4.1 Web 1.0 versus Web 2.0
É truísmo dizer que a informática é uma das áreas que mais
influenciaram a comunicação entre os séculos XX e XXI. Isso se deu em face da
redução nos custos dos dispositivos tecnológicos e no acesso à Internet. Mas nem
sempre foi assim.
A base descentralizada da rede surgiu como um projeto militar do
governo americano chamado Advanced Research Projects Agency (ARPA), no início
dos anos 1960, com objetivos ligados à defesa militar. O projeto do Departamento de
Defesa dos Estados Unidos da América tinha o intuito de preservar os canais de
comunicação em caso de conflito nuclear. Por isso, desenvolveu uma rede
descentralizada de informações relacionadas à defesa dos interesses do país norte-
americano.
Na esfera civil, antes da internet como conhecemos, é preciso
considerar ainda o Minitel. Segundo Castells (2000) o Minitel tinha como objetivo
conduzir a França à sociedade da informação. No mesmo ano em que a Arpanet
deixou de ser considerada como um projeto militar, a França lançou o Minitel, um
projeto idealizado pela Companhia Telefônica francesa, considerado o primeiro e o
maior sistema de videotexto utilizado em larga escala pela sociedade contemporânea.
Na década de 1980, uma em cada quatro casas na França possuía terminal de acesso
ao Minitel, que era subsidiado com recursos do Governo da França, por meio de sua
empresa de telecomunicações. O equipamento funcionava como uma base de dados
telefônicos e comerciais de acesso geral descentralizado.
Entretanto, somente na década de 1990, o mundo conheceu a
Internet (World Wide Web), o principal sistema de documentos hipermidiáticos,
conectados e executados por demanda. Tim Berners-Lee, um cientista britânico
associado ao CERN, inventou a World Wide Web (WWW) e o navegador de mesmo
nome em 1989. A web foi, originalmente, concebida e desenvolvida para atender à
demanda por compartilhamento de informações automática entre cientistas do CERN
40
e expandiu-se para universidades e institutos ao redor do Globo.
O primeiro site no CERN foi dedicado ao projeto World Wide Web em
si e foi hospedado no próprio computador de Berners-Lee. O site descrevia as
características básicas da web, como acessar documentos de outras pessoas e como
configurar seu próprio servidor.
Em 30 de abril de 1993, o CERN colocou o software World Wide Web
no domínio público. Do mesmo modo, registrou a versão seguintes com uma licença
aberta, como uma forma mais segura de maximizar sua divulgação. Através dessas
ações, tornando o software necessário para executar um servidor web livremente
disponível, juntamente com um navegador de base e uma biblioteca de códigos, a
web pode florescer como a conhecemos.
Foi Tim Berners-Lee que deu a possibilidade para a Internet tornar-se
global. Seu projeto mostrou como as informações poderiam ser facilmente transferidas
através da internet, utilizando hipertexto. A ideia dos engenheiros ligados ao projeto
era ligar hipertexto com a internet e os computadores pessoais. Assim, formando única
rede que ajudasse os pesquisadores do Cern a dividir todas as informações
armazenadas em computador nos laboratórios da instituição.
Estima-se que hoje exista mais de 80 milhões de websites (dado do
Cern) e milhões de usuários de internet. Tanto que atualmente a compra de
computadores, laptops, notebooks ou outro é na maioria das vezes para acessar a
internet. Na pesquisa realizada pela ComScore (E-Commerce News,2014) o Brasil
hoje é o quinto no ranking de internautas. Ultrapassando a Rússia em 2014, com 68
milhões de visitantes únicos na Internet. A pesquisa ainda aponta que o Brasil
representa 40% dos 169 milhões de internautas da América Latina. Um número
bastante considerável de uso e acessos.
De acordo com o dicionário Aurélio, Internet significa “Rede telemática
internacional que une computadores de particulares, organizações de pesquisa,
institutos de cultura, institutos militares, bibliotecas, corporações de todos os
tamanhos” (FERREIRA, 1988, p.214). Para Tim Berners-Lee, a web foi criada com a
função de "ser um repositório do conhecimento humano, permitindo a partilha de
ideias e de todos os aspectos de um projeto comum aos colaboradores em sítios
remotos" (BERNERS-LEE et al., 1999, p. 76).
41
De modo geral, divide-se a história da Internet pública e comercial em
duas fases, chamadas Web 1.0 e Web 2.0. A primeira versão se constituía como um
diretório que armazenava informações de forma unilateral. Os usuários acessavam as
informações e aplicativos disponibilizados, mas não interagiam com o conteúdo
disponibilizado. Naturalmente, havia hiperlinks que faziam ligações de um objeto
midiático ao outro. No entanto, a navegação tornava-se redundante na mesma medida
em que não era possível, como usuário, levantar materiais na rede. Nesta época,
predominavam os grandes portais como AOL, UOL e Yahoo.
Essa primeira fase da Internet perdurou até 2004, configurando um
ciclo decano no qual as grandes corporações dominavam a rede mundial de
computadores. Nesse contexto, o usuário interagia exclusivamente através de chats
ou e-mails.
Figura 2- Página inicial do AOL
Fonte: http://www.topdesignmag.com/wp-content/uploads/2011/06/104.jpg
A partir de 2004, novos padrões de interatividade ganham presença
na Internet. Esse é o ano de inauguração do Orkut, primeira rede social digital global,
na qual os usuários eram responsáveis pelo conteúdo publicado e compartilhado. O
Orkut é um dos exemplos de como a Web 2.0 tornou os ambientes virtuais mais
interativos e, socialmente, mais atrativos. De acordo com Cristóbal Cobo e Hugo
42
Pardo, a web deixou de ser “una simple vidriera de contenidos multimedia para
convertirse en una plataforma abierta, construida sobre una arquitectura basada en la
participación de los usuarios”3 (COBO; PARDO, 2007, p. 15).
Para Tim O’Reilly (2006), a web 2.0 representa uma mudança para a
Internet como plataforma social. Há um aproveitamento da inteligência coletiva, com
o surgimento de aplicativos no quais os usuários sugestionam mudanças e reportam
erros para melhoria das funcionalidades.
As questões relacionadas à interface ganham importância, indicando
que o cerne da rede deixava de ser os grandes portais provedores de conteúdo para
torna-se uma representação da coletividade dos usuários e seus interesses. De modo
geral, os programas são mais simples de usar, devido à interface gráfica apoiada por
ícones, sendo fácil acrescentar ou tirar funcionalidades. Essa mudança estrutural
levou a um aumento significativo de conteúdos publicados pelos próprios usuários na
Internet , por meio de aplicativos online como blogs, docs e wikis, entre outros. Como
se vê, a utilização dessa tecnologia social não depende de conhecimentos técnicos
avançados ou específicos. Por isso também, a intuitividade e a facilidade que marcam
esse contexto acabam por contribuir para o aumento e a difusão do uso dessas
tecnologias.
Atualmente, essa perspectiva de valorização da participação social no
desenvolvimento e no uso desses aplicativos tornou-se um princípio geral regulador
para o desenvolvimento e implementação de novas possibilidades comunicacionais
digitais.
Resumidamente, a principal característica dessa nova web é a
participação efetiva e constante dos usuários. A inversão dos polos de concentração
de conteúdo acabou por incumbir aos próprios usuários as funções de organizar,
avaliar, sistematizar e publicar informações de seu interesse. O melhor exemplo desse
caso é, sem dúvida, a Wikipédia, uma enciclopédia coletiva, construída pela
comunidade de usuários. De fato, nesses casos, não há nenhuma revolução
tecnológica significativa, se comparado à introdução do computador no cotidiano a
partir da década de 1980. Todavia, verifica-se uma valorização da participação social
na rede por meio da acentuação na produção de conteúdo digital mais dinâmico e
participativo.
3 “uma simples vitrine de conteúdos multimídia tornou-se uma plataforma aberta, construída sobre uma arquitetura e uma relação baseada na participação do usuário” (tradução livre).
43
Esse aumento na participação dos usuários levou, naturalmente, a
uma ampliação exponencial dos conteúdos disponíveis na rede. Cabe ao usuário a
função de filtrar as informações que lhe interessam, assim como verificar a
confiabilidade e veracidade delas. Para Mercado (2002), podem surgir alguns
problemas durante uma pesquisa na Internet como confusão entre informação e
conhecimento, facilidade de dispersão. Assim, é possível perder muito tempo
navegando na Internet em busca de algo, verdadeiramente, confiável. Essa
constatação revela a necessidade de uma perspectiva crítica na busca pelo
conhecimento, capaz de conciliar as diferentes realidades pessoais e tecnológicas.
Em relação às ferramentas da Web 2.0, Clara Pereira Coutinho e João
Batista Bottentuit Junior (2007) listam alguns aplicativos, divididos em cinco grupos:
Blogs, Messenger e outros: permitem a criação de redes sociais. Wikis, Google Docs
& Spreadsheets: ferramentas de escrita colaborativa. Skype, Google Talk:
ferramentas de comunicação online. Youtube, Google Videos, Yahoo Videos:
ferramentas de acesso a vídeos. Blogs, Podcast e Wikis: ferramenta de edição online.
De acordo com Coutinho e Bottentuit Junior (2007, p. 200), as
ferramentas da Web 2.0 podem ser classificadas em duas categorias: na primeira
categoria, incluem-se as aplicações que só podem existir na Internet (online)
aumentando a eficácia com o número de utilizadores registrados, por exemplo: Google
Docs, Wikipédia, Del.icio.us, YouTube, Skype etc. Na segunda categoria, constam as
aplicações que funcionam offline e online: Picasa Fotos, Google Map, iTunes etc.
São várias as ferramentas da web que podem auxiliar o professor em
sua prática pedagógica colaborando para despertar um maior interesse do aluno. No
entanto, e mais ainda, continua necessária a figura do professor mediador, capaz de
organizar e preparar sua disciplina em conformidade com as necessidades imediatas
dos alunos, dando significado ao processo de aprendizado e à interação com a
tecnologia.
Hoje, já se fala em web 3.0, ou web semântica, uma web mais
sensível, que compreende os significados de informação fornecidos pelo usuário,
oferecendo opções de compra e de sites. Assim, a rede se torna uma imensa base de
dados a respeito do usuário, promovendo uma rede de conexões que remetem ao
próprio uso da Internet, por um usuário específico ou por grupos de usuários.
Ainda há muito que crescer neste sentido. Amazon e Google, por
exemplo, sugestionam ofertas que poderiam interessar ao cliente tendo por base o
44
que foi adquirido no site por outros usuários que fizeram a mesma compra. Isso faz
com que o comportamento humano, por meio da interação tecnológica, transforme-se
em dados relevantes na oferta de aplicativos. Brasilina Passareli indica outro exemplo
no qual os dados relacionados ao uso da web valorizam os espaços e informações
disponibilizadas. De acordo com Passareli
Outro projeto nesta esteira de humanos agregando valor às informações online é o Google Image Labeler no qual pessoas são convidadas a indexar fotografias digitais de acordo com seus conteúdos como em um jogo no qual os competidores devem tanto colaborar como competir: este é o conceito de coopetition (competição e colaboração), muito comum em educação a distância. Entretanto, tanto o Mechanical Turk como o Image Labeler precisam passar dos demos como jogos para se avaliar seu real impacto na usabilidade da Web 3.0 (PASSARELI, 2008, p. 7).
Tim Berners-Lee, em seu livro Weaving the Web, já evidenciava a
possibilidade de uma web semântica: “sonho com uma Internet, na qual os
computadores sejam capazes de analisar toda a informação online, os conteúdos, os
links, as transações entre indivíduos e computadores” (TIM BERNERS-LEE, 1999, p.
157).
Os avanços em relação à web são muitos e podemos esperar muito
mais desta tecnologia. No evento Proxxima, promovido nos dias 6 e 7 de maio de
2014 pela revista "Meio & Mensagem", em São Paulo, foram apresentadas algumas
ferramentas que já estão disponíveis ao usuário da chamada Web 3.0. Uma das
ferramentas apresentadas foi o Vitacare, que agiliza a rotina de usuários de serviços
de saúde, adiantando ao paciente sua senha na espera antes mesmo de chegar ao
local de atendimento (IG, 2014).
De modo geral, espera-se que ferramentas educacionais mais
sofisticadas, alinhadas ao ideal de uma web responsiva, possam, num futuro próximo,
aprimorar as práticas metodológicas e o processo de ensino-aprendizagem como um
todo. Todavia, já é possível apontar que os sistemas de ensino têm se beneficiado
com a introdução da Internet. A aplicações são múltiplas e variadas.
Através da Internet os professores e os alunos podem acessar
informações rapidamente. Ela contém informações de um determinado tópico que
pode ajudar na obtenção de ideias e resolução de problemas. Os alunos podem fazer
45
pesquisas investigativas, enquanto os professores também podem encontrar e
ministrar informações atualizadas aos seus alunos. Nesse mesmo sentido, a
multimídia aplicada à rede mundial de computadores ajuda a entregar lições com
facilidade e de forma a captar a atenção dos alunos.
No mesmo sentido, os ambientes virtuais de aprendizagem permitem
a interação mediada pelo conteúdo escolar. Os alunos podem fazer perguntas através
de postagens de tópicos para discussão com os colegas e professores.
Além das possibilidades mais imediatas relacionadas à integração da
Internet no Ensino, é importante mencionar que a desterritorialização da rede permite
a internacionalização dos processos de Ensino. Muitas instituições fornecem essa
possibilidade. O aluno pode ter aulas em frente ao computador, abrindo o vídeo de
seu tema e estudar em casa, desde que esteja apto a compreender a língua em que
são ministradas as aulas.
4.2 WEB 2.0: questões metodológicas
As ferramentas web não devem ser usadas no processo de ensino
por modismo ou como prioridade. O uso de ferramentas web nas atividades
pedagógicas sem a devida preocupação metodológica é mera transposição da aula
expositiva tradicional. Noutro sentido, elas devem convir para uma aula mais lúdica,
interessante e criativa. Para José Manuel Moran, “as tecnologias sozinhas não mudam
a escola, mas trazem mil possibilidades de apoio ao professor e de interação com e
entre os alunos” (MORAN, 2004, p. 14). Assim, cabe ao professor mudar sua forma
de trabalho, tendo em perspectiva os aspectos que contribuam positivamente para o
processo de ensino.
As Diretrizes para o uso de tecnologias educacionais orientam que “os
recursos tecnológicos não são os sujeitos das relações dentro do currículo, mas
permitem que os sujeitos se façam ao facultar estas relações” (PARANÁ, 2010, p. 6).
Cabe ao professor realizar as capacitações necessárias para fazer uso destes
ambientes e aplicativos de aprendizagem na web, adaptando os seus conteúdos para
trabalhar o uso da Internet ou de ferramentas digitais. Para isso, como afirmam Cruz
e Carvalho (2006), a escola necessita começar a criar pontes com outros universos
46
de informação, levando a outras situações de ensino-aprendizagem, mais
significativas e ligadas à realidade concreta dos alunos.
Em regra, as ferramentas web têm uso facilitado, são intuitivas, e
muitas são gratuitas. A partir delas, professores e alunos podem ser os produtores e
compartilhadores do saber. Espera-se que essa conexão entre a sociedade
tecnológica e as instituições de ensino possa desenvolver, nos alunos, as
capacidades necessárias ao uso crítico da informação. Acredita-se que essa
confluência entre tecnologia e educação possa ser replicada noutras situações da vida
do aluno. De acordo com Castells,
A aquisição da capacidade intelectual necessária para aprender a aprender durante toda a vida, obtendo informação armazenada digitalmente, recombinando-a e utilizando-a para produzir conhecimento para o objetivo desejado em cada momento (CASTELLS, 2004, p. 320).
Esse ponto de vista deixa evidente a crença geral de que a aptidão
para o aprendizado pode ser levada para toda a vida e que esse acúmulo de
conhecimentos e competências colabora para as aptidões exigidas em sociedade.
Segundo Ana Amélia Carvalho, “o importante é criar situações que envolvem os
alunos na aprendizagem, que os preparem para a tomada de decisão, numa
sociedade globalizada e concorrencial” (CARVALHO, 2007, p. 36). Para que o
professor crie essas situações de aprendizagem, necessita se sentir confiante e capaz
de lidar com essas novas práticas pedagógicas. Nesse sentido, Vani Moreira Kenski
afirma que
é necessário, sobretudo, que os professores se sintam confortáveis para utilizar esses novos auxiliadores didáticos. Estar confortável significa conhecê-los, dominar os principais procedimentos técnicos para sua utilização, avaliá-los criticamente e criar novas possibilidades pedagógicas, partindo da integração desses meios com o processo de
ensino (KENSKI, 2003, p. 77).
Assim sendo, a escola e o professor podem criar este ambiente
criativo, físico ou virtual, onde o aluno aprenda a desenvolver sua criatividade e
desenvolver de forma crítica sua leitura e aprendizado dos conteúdos com o uso das
47
ferramentas digitais e tecnológicas, permitindo trabalhos cooperativos, com
desenvolvimento em equipe. Carvalho (2007) também salienta que com o uso destas
ferramentas contribui para o desenvolvimento e para a preparação de cidadãos aptos
a sociedade da informação e conhecimento. Na mesma esteira, José A. Valente
exemplifica que
a utilização do computador dentro de uma metodologia que privilegie a descoberta, a produção, a criação e a autoria torna o professor e o aluno autores e criadores do processo educacional, respeitando a singularidade de cada um, enriquecendo o ambiente com a presença das diversidades e multiplicidades (VALENTE; FREIRE, 2001, p. 27).
Desse modo, quando a tecnologia é vinculada a uma boa metodologia
tende a ser muito eficiente em seu uso educacional. Para que este trabalho seja
desenvolvido, há alguns princípios metodológicos que Moran aponta:
- Integrar tecnologias, metodologias, atividades. Integrar texto escrito, comunicação oral, escrita, hipertextual, multimídia. Aproximar as mídias, as atividades, possibilitando que transitem facilmente de um meio para o outro, de um formato para o outro. Experimentar as mesmas atividades em diversas mídias. Trazer o universo do audiovisual para dentro da escola. - Variar a forma de dar aula, as técnicas usadas em sala de aula e fora dela, as atividades solicitadas, as dinâmicas propostas, o processo de avaliação. A previsibilidade do que o docente vai fazer pode tornar-se um obstáculo intransponível. A repetição pode tomar-se insuportável, a não ser que a qualidade do professor compense o esquema padronizado de ensinar... - Planejar e improvisar, prever e ajustar-se às circunstâncias, ao novo. Diversificar, mudar, adaptar-se continuamente a cada grupo, a cada aluno, quando necessário (MORAN, 2000, p. 31-32).
Como é possível perceber, a introdução das tecnologias telemáticas
no ensino demanda tempo, organização, planejamento e pesquisa. Essa constatação
coloca em xeque a realidade da atividade docente, caracterizada pelo
descontentamento com a condição geral das escolas e a sobrecarga de trabalho.
Desse embate entre o desejável e o possível, nem sempre os resultados são positivos,
pois, frente às necessidades cotidianas, alguns professores não se dispõem a
experimentar diferentes metodologias.
Moran (2004) dá pistas de como tentar superar algumas dificuldades:
48
o equilíbrio entre o planejamento institucional e pessoal nas organizações
educacionais; planejamento flexível e criativo; equilíbrio entre liberdade, criatividade e
organização; criar conexões com o cotidiano e as necessidades dos alunos; incorporar
o novo, aceitando que sempre há imprevistos; criatividade com sinergia, valorizando
as contribuições individuais. Se o professor, em conjunto com a escola, conseguir
visualizar e prever a superação das dificuldades, o trabalho com o uso das
ferramentas web, certamente, terá êxito. De acordo com o filósofo e educador, neste
quesito metodológico, o professor necessita
aprender a equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das dimensões fundamentais do educar é ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos, organizar numa síntese coerente (mesmo que momentânea) das informações dentro de uma área de conhecimento. Compreender é organizar, sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar (MORAN, 2004, p.4).
Nem sempre é fácil superar hábitos e métodos utilizados por muito
tempo. Ultrapassar a zona de conforto e permitir-se utilizar novos padrões de ensino
exige vontade e flexibilidade do docente. O autor cita uma segunda dimensão
pedagógica. Nesse caso, o professor necessita
questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, para modificá-la, para avançar para novas sínteses, novos momentos e formas de compreensão. Para isso o professor precisa questionar, tensionar, provocar o nível da compreensão existente (MORAN, 2004, p.4).
As oportunidades que o professor tem, para ampliar e trazer melhorias
ao ensino-aprendizagem, são amplas. Ele possui vários recursos, ferramentas que
possibilitam diferentes práticas pedagógicas. Se tem a atividade bem elaborada,
planejada e clara, contribuirá e muito para melhoria no ensino-aprendizagem,
podendo levar os alunos a um aprendizado autônomo e crítico. Para isso, será
necessário reexaminar suas práticas cotidianas e gerar questionamentos acerca dos
conteúdos ministrados, de modo que o aluno possa integrar-se no processo de
construção do conhecimento.
49
4.3 WEB 2.0 e a escola
De modo geral, acredita-se que o professor pode direcionar o aluno
para um uso mais produtivo da Internet. José Manuel Moran descreve alguns dos
benefícios e percalços do uso das ferramentas web 2.0 no ensino-aprendizagem dos
alunos. Segundo Moran,
As redes atraem os estudantes. Eles gostam de navegar, de descobrir endereços novos, de divulgar suas descobertas, de comunicar-se com outros colegas. Mas também podem perder-se entre tantas conexões possíveis, tendo dificuldade em escolher o que é significativo, em fazer relações, em questionar afirmações problemáticas (MORAN, 1997).
Desse modo, atração exercida pela tecnologia sobre o aluno
caracteriza a necessidade de orientação do aluno frente ao emaranhado de conexões
hipertextuais que fragmentam uma compreensão mais ampla dos conteúdos, sem
ligação entre si e incapazes de atribuir significado formalmente educativo.
É nesse sentido que se destacam algumas iniciativas bem sucedidas
no trabalho com a interatividade das redes digitais no processo de ensino. No início
de 2013, ganhou evidência na mídia um projeto realizado pelo núcleo de ensino da
UNESP (Universidade Estadual de São Paulo) e coordenado por Silvio Fiscarelli, na
escola estadual Bento de Abreu, em Araraquara, no interior de São Paulo. O projeto
atendia alunos do 2º e 3º anos do Ensino Médio, nas disciplinas de matemática e
física. Utilizaram-se vinte ferramentas digitais diversas, entre simulações, animações,
jogos e outros. O estudo mostrou que o uso de ferramentas tecnológicas educativas
melhora em 32% o rendimento dos alunos em comparação aos conteúdos trabalhados
de forma expositiva em sala de aula. (FAPESP, 2013).
No artigo "O Uso da Internet como Ferramenta Pedagógica para o
Ensino de Filosofia: uma aplicação com alunos do Ensino Médio de uma escola
estadual", de Andrio dos Santos Pinto, Camila Scherer da Silva e Juliana Guedes da
Silva, da Faculdade Cenecista de Osório (FACOS), Rio Grande do Sul, é narrada outra
experiência positiva de aproximação entre tecnologia e ensino. Utilizando como tema
50
a “História dos Pensadores Filósofos contada Através da Internet”, o projeto foi
realizado na Escola Estadual de Ensino Médio Marçal Ramos, em Caraá, Rio Grande
do Sul, com uma turma de 2º ano do Ensino Médio. O objetivo do projeto era utilizar
a rede mundial de computadores para identificar modos de tratar da Filosofia de uma
maneira simples. Nesse sentido, oportunizou-se a utilização das tecnologias da
informação e comunicação em duas frentes: compreensão e discussão acerca da
filosofia por meio de materiais hipermidiáticos e a prática de edição de conteúdos para
web, por meio da ferramenta Wix, utilizada para a confecção de websites. Os
pesquisadores afirmam que o uso da world wide web,
traz um enorme ganho para o aluno que pode visualizar através de imagens, hipertextos, vídeos e simulações o conteúdo que está sendo passado. A Internet é uma ferramenta muito poderosa se utilizada de forma adequada e isso tem que ser bem alinhado com os alunos (PINTO, SILVA e SILVA, 2012, p. 14).
No artigo, "A Tecnologia Revolucionando o processo de ensino
aprendizagem? A experiência de Paraguaçu no Estado de Minas Gerais" Ribeiro et al
(2014) apontam que, assim que tiveram conhecimento da iniciativa desenvolvida pelo
Centro de Educação Fazendo Acontecer “Ana Paula Silva Gomes” – CEFA,
realizaram visitas in loco para conseguir mais informações sobre o projeto. Realizaram
um questionário sobre a experiência e uma das questões era sobre os pontos positivos
e negativos do uso das tecnologias digitais. De acordo com os pesquisadores, os
resultados são mais positivos do que negativos. Destaca-se o apontamento de uma
realidade específica: a inaptidão dos alunos em lidar com a tecnologia.
Positivos: mais interesse dos alunos, aulas mais dinâmicas, mais informação, conteúdo mais atualizado, oportunidade de formação para uso correto e ético da Internet, oportunidade de material didático mais diversificado e atraente. Negativos: falta de conhecimento dos alunos o que faz com que a escola tenha dificuldade de implantação do processo (RIBEIRO et al, 2014, p. 420).
O projeto desenvolvido em Paraguaçu demonstra algumas das
oportunidades da integração da Internet no processo de ensino. E, assim como
descrito nesses exemplos, fora do Brasil também há planos bem sucedidos com o uso
51
da Web, como o de Braga-Portugal, descrito no artigo "Como rentabilizar a Web nas
aulas de Português: uma experiência", de Adelina Moura. De acordo com a
pesquisadora,
Trazer para a aula os avanços tecnológicos que se encontram disseminados na sociedade e pô-los ao serviço de uma melhoria do processo de ensino/aprendizagem curricular, foi o propósito do projecto “Português Online”. No sentido, de aproveitar o estado de graça que as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) detêm na população em geral e nos alunos em particular, entrámos na aventura de criar outro ambiente de ensino/aprendizagem, aproveitando os recursos informáticos existentes na escola, e nele desenvolvemos o programa da disciplina de Português do Ensino Profissional (MOURA, 2005, p.1).
Durante o desenvolvimento da pesquisa, a autora utilizou um fórum
online para que os alunos analisassem e registrassem sua opinião acerca da
integração da web no cotidiano escolar. Da análise feita das 45 respostas do tópico
“Avaliação da modalidade de ensino/aprendizagem”,
Verificou-se que 30 alunos disseram ter gostado muito da experiência e avaliaram-na positivamente, 13 consideraram-na uma experiência pedagógica nova, 10 acharam-na motivadora e capaz de aumentar a participação, 5 aludiram a ela como capaz de levar à melhoria dos resultados escolares (MOURA, 2005, p.5).
Assim, os resultados com o uso das tecnologias digitais são bastante
satisfatórios nas metodologias adotadas pelos professores citados. De acordo com
esses exemplos, há uma participação maior do aluno no processo de ensino
aprendizagem, além disso, a dinâmica da rede traz um contributo informacional que
serve aos propósitos educacionais, tanto para o professor quanto para o estudante.
No artigo "Aprendizagem Colaborativa e Web 2.0: proposta de modelo
de organização de conteúdos interativos", Tércia Zavaglia Torres e Sérgio Ferreira do
Amaral também afirmam que outras pesquisas já demonstraram a importância das
redes telemáticas interativas na educação. Os pesquisadores citam, inicialmente,
exemplos positivos observados na Finlândia, na Suécia, na Noruega e na Dinamarca.
Na sequência, examinam o caso inglês.
52
Na Inglaterra [...] estudos empregando métodos estatísticos têm sido realizados para avaliar até que ponto o uso das TIC promove resultados para o desempenho escolar. As conclusões sinalizam que o uso dessas tecnologias é um fator chave para a aprendizagem, sugerindo que pode levar a ganhos reais de aprendizagem, especialmente se for amparado por um modelo de aprendizagem focada no compartilhamento e na interação de ideias, informações, conhecimentos e experiências entre alunos e professores (TORRES e AMARAL, 2011, p. 59).
O relatório do NMC (New Media Consortium) mostra seis tendências
e seis tecnologias que devem se difundir na educação básica até 2019. De acordo
com o quadro (em anexo 1), num prazo máximo de dois anos o novo papel do
professor que será de guia para o aprendizado, criando conexões dos conteúdos
curriculares com o mundo real, preparando para a vida após a escola, e deixando de
ser a fonte singular de informação.
Segundo o relatório, espera-se que num prazo de três a cinco anos,
seja observado uso frequente dos recursos educacionais abertos e aumento do uso
de projetos híbridos. Depois desse período, o relatório preconiza uma evolução no
uso das tecnologias intuitivas, permitindo que o aluno interaja com os conteúdos de
forma mais próxima. Além disso, há a previsão do surgimento de um novo modelo de
ambiente escolar, que terá renovado seu formato e a divisão de tempo pra que o aluno
consiga interagir e realizar as atividades.
Com base no que foi dito até aqui, é evidente que as TIC não são a
solução única para os problemas educacionais existentes em nosso País. Noutro
sentido, é uma ferramenta que pode ajudar a melhorar a qualidade de ensino,
principalmente, com a geração de nativos digitais que chega às escolas.
Segundo Mercado (2002), quando as novas tecnologias são bem
exploradas, há um imenso potencial no ensino-aprendizagem, trazendo contribuições
como maior interesse do aluno em aprender e em se concentrar no que é ensinado,
estimulam o desenvolvimento das habilidades intelectuais do estudante, a busca por
informações e um maior número de relações entre elas e ainda promove a cooperação
entre estudantes. Ainda segundo o pesquisador, a tecnologia em conjunto com a
educação traz contribuições ao professor como a maior interação com os alunos do
que nas aulas tradicionais. Pode rever os caminhos da aprendizagem percorridos pelo
aluno e obter informações sobre recursos instrucionais rapidamente.
53
4.4 WEB 2.0 E O ENSINO DE BIOLOGIA
Assim como nos casos observados, as ferramentas web também
podem auxiliar nas práticas pedagógicas de biologia. Elas podem contribuir para que
as aulas sejam menos passivas e conteudistas, e passar a serem mais dinâmicas e
ativas, com o uso de simuladores, animações, blogs, webquests, entre outros.
Todavia, não se pode esperar que o computador executasse o trabalho do professor.
Nesse processo, cabe ao professor planejar a aplicação das atividades em face dos
domínios tecnológicos e das possibilidades interacionais que a Internet proporciona.
Na concepção de muitos alunos do Ensino Médio, Biologia soa,
paradoxalmente, como uma disciplina muito abstrata, cheia de nomes difíceis e
processos complexos. Nesse sentido, inicialmente, já é possível dizer que o uso da
web 2.0 nas aulas de Biologia oportuniza a concretização de conceitos biológicos por
meio de materiais midiáticos mais adequados à realidade digital dos alunos. A web
2.0 oferece ferramentas que ajudam na clareza destes conteúdos. De acordo com
Costa et al.,
a utilização das tecnologias associada a metodologias que respondam as exigências e particularidades do ensino das Ciências promove um conjunto de competências científicas que se revelam em todos os domínios da aprendizagem (conhecimentos, capacidades e atitudes) (COSTA et al, 2012, p.69)
Nesse sentido, Costa et al (2012) sugestiona o uso de applets,
software para modelagem e programas de simulação para observação e descrição de
sistemas e fenômenos físicos reais, para apoiar a formulação de hipóteses e a
apreensão de traços importantes do comportamento ou da evolução dos sistemas
observados. Quanto à interação entre os personagens do processo de ensino, aponta
para o uso de tecnologias de apoio à comunicação para o planejamento e a realização
de investigações, a fim de promover o debate sobre descobertas científicas ou para
confrontar diferentes perspectivas de interpretação científica (exemplos: correio
eletrônico, fóruns, chats ou videoconferência).
54
Além dessas, ainda elenca outras ferramentas úteis para o ensino de
ciências mediado pelas tecnologias, como aplicações genéricas para apoiar os
processos de produção cientifica, incluindo a organização de registros e notas
decorrentes de trabalho experimental ou de microscópio, a elaboração de bases de
dados ou mesmo a produção de cartazes de divulgação cientifica (ex.: editores de
texto, folhas de cálculo, bases de dados).
No sentido de registrar essa integração, Costa et al recomendam
utilizar câmaras digitais, adaptadores para o microscópio, videocâmaras, webcams e
scanners para a recolha de dados que podem inclusivamente a ser usados como base
para a concretização de produtos específicos, como relatórios escritos, infográficos e
videoclipes. Associados a essa perspectiva, indica o uso de vídeos, informações
disponibilizadas em sites de divulgação cientifica ou de informação estruturada
(webquests), imagens 3D e software educativo especificamente desenvolvido para o
ensino, como algumas das alternativas aos meios tradicionais de transmissão da
informação, para que os estudantes possam documentar a abordagem de um campo
conceitual específico.
Desse modo, fica a perspectiva de que o uso destes recursos nas
aulas de Biologia pode “contribuir para uma aprendizagem integradora, que junta
teoria e prática, que aproxima o pensar do viver” (MORAN, 2007, p.21), revelando-se
um mecanismo para o desenvolvimento social integrador do aluno. Moran (2007)
ainda ressalta que: “Aprender a ensinar e a aprender, integrando ambientes
presenciais e virtuais, e um dos grandes desafios que estamos enfrentando
atualmente na educação no mundo inteiro” (MORAN, 2007, p.21).
Nesse mesmo sentido Jonathon Osborne e Sara Hennessy (2003)
ressaltam que o uso das TIC nas aulas de ciências traz várias contribuições aos
alunos, como o desenvolvimento da habilidade de pensamento crítico, da
manipulação e da coleta de dados, além de contribuir para o acesso ao conhecimento
apresentado em formato visual, facilitando a motivação e o engajamento dos alunos.
Osborne e Hennessy (2003) trazem algumas sugestões de
ferramentas web nas aulas de ciências, como ferramentas para captura de dados,
processamento e interpretação - sistemas de registro de dados, bancos de dados e
planilhas, ferramentas gráficas, ambientes de modelagem; software de multimídia
para a simulação de processos e realização de “experiências virtuais"; ferramentas de
publicação e apresentação; equipamento de gravação digital; tecnologia de projeção
55
de computador; e microscópio controlado por computador.
De modo geral, o trabalho pedagógico-tecnológico pode aperfeiçoar
os aspectos teóricos e práticos da Biologia em sala de aula, dando concretude e
significado aos conteúdos ministrados. Para Osborne e Hennessy (2003), a
contribuição potencial das tecnologias web é a oferta de maior tempo para pensar,
discutir e interpretar as produções. Destacam-se, também, o feedback visual, o
aumento da compreensão dos conceitos abstratos e a aprendizagem colaborativa.
Ressaltam ainda que a introdução das tecnologias no processo de ensino não é
suficiente para a transformação da educação científica. Há a necessidade do papel
crítico do professor, que cria condições para a aprendizagem com um conjunto de
atividades elaboradas e estruturadas no processo ensino-aprendizagem.
5. PARANÁ DIGITAL E SALA DE AULA CONECTADA
Nas "Orientações para a organização da semana pedagógica", de
fevereiro de 2009, o governo estadual do Paraná assume uma política de
compromisso para o avanço da integração das tecnologias no ensino por meio da
inclusão digital. Nominalmente, parte em defesa dos seguintes princípios:
Defesa da educação como direito de todos os cidadãos; valorização dos profissionais da educação; garantia de escola pública, gratuita e de qualidade; atendimento à diversidade cultural e gestão democrática e colegiada. [...] e avanço no uso de tecnologias educacionais na defesa da inclusão digital (PARANÁ, 2009, p. 8).
56
O documento de 2009 é resultado da política de inclusão digital e
tecnologia educacional adotada pelo Governo do Estado do Paraná. As origens das
diretrizes remontam ao Programa Paraná Digital (PRD), criado em 2003, em parceria
com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Oficialmente chamado “Projeto BRA/03/036 – Educação Básica e
Inclusão Digital no Estado do Paraná", o PRD foi financiado com recursos do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID), e com a contrapartida financeira do
Governo do Estado do Paraná. O projeto sinaliza investimentos na ordem de cem
milhões de reais. A disponibilização do capital se deu em duas fases. Em 2003, quase
34 milhões de reais. Em 2004 e 2005, mais de 66 milhões.
PNUD foi responsável pelo gerenciamento dos recursos, participando,
inclusive, dos processos de licitação e aquisição de equipamentos para as escolas e
unidades de ensino. Pela participação ativa no desenvolvimento do projeto, o PNUD
recebeu 3% do valor total financiado, como contrapartida do Governo do Estado do
Paraná.
Para o desenvolvimento da rede de computadores a ser instalada nas
unidades de ensino da rede estadual de educação, a Secretaria de Estado da
Educação do Paraná instituiu um convênio com o Departamento de Informática da
Universidade Federal do Paraná, que ficaria responsável pela organização e
gerenciamento da rede de 44.000 computadores nas escolas do Paraná. O convênio
previa também o acesso universal ao Portal da Educação, o uso de software livre,
hardware e software padronizados, baixo custo de administração e manutenção e um
sistema seguro.
De acordo com o projeto, cada unidade de ensino receberia um
laboratório de informática. Em cada laboratório, havia um número médio de vinte
computadores. Esse total variava em conformidade com o número de alunos
atendidos pela unidade escolar e as características de suas instalações. As máquinas
possuem sistema operacional Linux, numa distribuição específica para esse fim,
atendendo à política de software livre adotada pelo governo estadual, barateando
custos e promovendo o debate acerca do uso, cópia, modificação e redistribuição de
conteúdo digital. Os computadores contavam com um pacote de softwares e
aplicativos educativos como Geogebra, Cmaptools e Jclik, entre outros.
Como parte das ações desse projeto, as escolas ainda receberam
televisores multimídia e kits de sintonia para a TV Paulo Freire. Os professores
57
receberam dispositivos de armazenamento (pendrive) de dois gigabytes, para
armazenarem, utilizarem e redistribuírem arquivos baixados da Internet, em geral, ou
do, especificamente promovido, Portal Dia a Dia Educação, para utilizarem na TV
multimídia.
Em 2007, foi criada a Coordenação de Multimeios, que produz
conteúdos digitais como fotografias, ilustrações e animações; aponta soluções em
software livre para integração das diversas mídias e promove a formação dos
assessores das CRTE, para que multipliquem conteúdo e métodos junto aos
profissionais da rede estadual de educação. Como parte integrante das iniciativas
para a formação contínua dos docentes, a Coordenação de Multimeios produz
tutoriais, dicas e manuais que facilitem e apoiem o trabalho dos professores para a
utilização das ferramentas digitais.
Não se trata de tomar “as tecnologias” como os sujeitos das práticas, senão como impulsionadoras e potencializadoras dessas práticas. Os artefatos tecnológicos, ao aproximarem os agentes do currículo numa relação dialógica, quer em torno do conhecimento, quer em torno da reflexão acerca de uma obra de arte, por exemplo, cria as condições para a própria prática dialógica em que se constitui o sujeito. Vale dizer, recursos tecnológicos não são os sujeitos das relações dentro do currículo, mas permitem que os sujeitos se façam ao facultar estas relações (PARANÁ, 2010, p.7).
A continuidade dos investimentos, das mais diversas fontes, desde
recursos próprios do Governo do Estado do Paraná até financiamento internacional,
na tecnologia educacional da rede estadual de ensino, permitiu o desenvolvimento e
readequação da rede criada em 2003, em conformidade com as demandas que a
própria tecnologia impõe. Em 2013, iniciou-se o projeto Sala de Aula Conectada, com
previsão de investimentos similares ao Projeto Paraná Digital.
Esse novo projeto centraliza a aquisição, instalação e manutenção
dos recursos tecnológicos nos espaços escolares, além dos laboratórios de
informática, como previa o Paraná Digital. A apresentação do Projeto, no Portal Dia a
Dia Educação, enumera as ações previstas no projeto.
As ações previstas abordam a infraestrutura de conexão de
internet nas escolas; distribuição de tablets e computadores
interativos; a implantação do sistema de registro de classe on-
58
line; formação continuada e suporte técnico ao uso de
tecnologias educacionais na rede estadual de ensino. (PARANÁ,
2015)
O projeto piloto de registro de classe online conta com 16 escolas
selecionadas. O professor registra a frequência dos alunos, as atividades realizadas
e as notas, podendo utilizar, para registro, o tablet, computador da escola ou
residencial. A previsão de implantação do sistema de registro online em toda rede
estadual de ensino era, inicialmente, 2014. A meta ainda não foi cumprida.
É preciso salientar que, apesar de algumas escolas da rede estadual
contarem com catracas eletrônicas que monitoram a entrada e a saída dos alunos,
esses dados não são considerados para o registro de presença. A instalação desses
equipamentos está ligada a uma percepção de segurança e monitoramento das
instalações escolares e dos alunos. Todavia, a duplicação do processo, boletim online
e registro de catraca, revela a redundância que caracteriza o trabalho do professor. E
não é difícil imaginar cenários em que, além do registro online, o professor deva
preencher o livro tradicional, para fins de arquivo da unidade escolar.
Também em 2013, aconteceu a entrega de tablets aos professores do
Ensino Médio das escolas estaduais. O projeto acontece em parceria com o MEC e
faz parte do Programa Sala de aula Conectada. Foram entregues aproximadamente
32 mil aparelhos com telas entre 7 e 10 polegadas, da marca Positivo. Acredita-se que
o aparelho irá permitir o registro das práticas pedagógicas, realizar pesquisas, entre
outras atividades relacionadas à atividade docente.
A configuração básica dos dispositivos entregues aos professores tem
resolução de tela de 1024 x 600 pixels, em formato 16:9,
Sistema operacional Android 4.0, já configurado para a Língua Portuguesa. O
processador de 1GHz fica aquém do padrão de mercado, mesmo para a época em
que foi realizado o pregão para aquisição dos equipamentos. O tablet tem 16GB de
armazenamento interno e possibilidade de expansão até 32GB com cartão Micro SD
Card. A conexão conta com Rede sem fio, Bluetooth 2.1 e micro USB. Assim como o
processador, a câmera deixa a desejar, pois seus dois megapixels estão
ultrapassados há alguns anos.
59
Figura 3 – Tablet Educacional
Fonte: Da autora
Ainda em 2013, as escolas estaduais do Paraná receberam as lousas
digitais, também resultado da parceria entre a SEED e o MEC, no Programa Sala de
Aula Conectada. Os professores, através dos assessores pedagógicos e de tutorial
disponibilizado no Portal Dia a Dia Educação, recebem instruções técnicas para o uso
do equipamento, em conjunto com o projetor multimídia ou o computador interativo
que a escola possui.
Figura 4 – Lousa digital, projetores multimídia com computador integrado.
60
Fonte: MEC
As políticas públicas paranaenses para a inclusão digital na educação
são constantes. A partir da presença dos equipamentos tecnológicos na escola,
visualiza-se a implementação de estudos que busquem desenvolver projetos sólidos
e, sobretudo, viáveis para a utilização das tecnologias digitais na educação pública.
Desta forma,
Não se trata de tomar “as tecnologias” como os sujeitos das práticas, senão como impulsionadoras e potencializadoras dessas práticas. Os artefatos tecnológicos, ao aproximarem os agentes do currículo numa relação dialógica, quer em torno do conhecimento, quer em torno da reflexão acerca de uma obra de arte, por exemplo, cria as condições para a própria prática dialógica em que se constitui o sujeito. Vale dizer, recursos tecnológicos não são os sujeitos das relações dentro do currículo, mas permitem que os sujeitos se façam ao facultar estas relações (PARANÁ, 2010, p.7)
61
Segundo Lévy, “é preciso deslocar a ênfase do objeto (o computador,
o programa, este ou aquele modelo técnico) para o projeto (o ambiente cognitivo), a
rede de relações humanas que se quer instituir” (LÉVY, 1993, p.54). Desse modo, fica
nítida a concepção da necessidade de se oferecer aos docentes a possibilidade de
efetivo desenvolvimento de suas habilidades por meio do acesso a um fazer
pedagógico que tenha as tecnologias digitais não como mero fim, mas como
elementos que propiciem interatividade entre os sujeitos do processo de construção
de conhecimento.
É nesse sentido que, é mister dizer, as políticas públicas para a
implantação da informática nas escolas ainda não suficientes para dar resposta às
necessidades sociais ligadas a essa demanda. De acordo com Maria Helena Silveira
Bonilla,
muito precisa ser investido para que escola se transforme num espaço de formação, dos professores, dos alunos e da comunidade escolar, para a vivência plena da cultura digital, como parte integrante de sua proposta pedagógica. Observamos que esta perspectiva parece estar ainda distante das atuais formulações políticas (BONILLA, 2009, p. 44).
Assim, como parte dessa perspectiva, pode-se dizer que há, também,
a necessidade de propostas pedagógicas consistentes que sejam mediadas pelo
professor no uso destas tecnologias digitais de forma criativa, reflexiva e que aprimore
o aluno como usuário e aprendiz digital. Recursos como os repositórios, os blogs e os
portais, inclusive o Portal Dia a Dia que possui uma quantidade de material de
qualidade, podem ser utilizados coerentemente dentro da proposta pedagógica do
professor e da escola. De acordo com José Manuel Moran, as tecnologias
trazem muitas possibilidades, mas, sem ações de formação sólidas, constantes e significativas, boa parte dos professores tende, após a empolgação inicial, a um uso mais básico, conservador - repositório de informações, publicação de materiais - enquanto os alunos podem seguir utilizando-as para inúmeras formas e redes de entretenimento, como jogos, vídeos e conversa online. (MORAN, 2013, p. 31)
62
Assim, as tecnologias digitais também não são uma panaceia para os
problemas na educação, porém, elas são um recurso importante para o processo
ensino-aprendizagem. Por mais insegurança que o professor tenha na utilização
destes recursos, ele ainda tem um papel essencial na formação de usuários
competentes e críticos. Moran afirma que, “na sociedade da informação, todos
estamos reaprendendo a conhecer, a comunicar-nos, a ensinar; reaprendendo a
integrar o humano e o tecnológico; a integrar o individual, o grupal e o social” (MORAN;
MASETTO; BEHRENS, 2000, p.7).
Resumidamente, pode-se dizer que uma educação de qualidade não
será alcançada somente com a escola equipada tecnologicamente, mas com
professores que se sintam seguros e preparados para o uso destas ferramentas. Há
o imperativo premente de um professor que investiga, que cria propostas pedagógicas
que contemplem as tecnologias da informação e comunicação, sem, no entanto,
torná-las uma reprodução digital de uma sala de aula tradicional.
Tendo em consideração que ainda vivemos um período de transição
da introdução das tecnologias na comunicação cotidiana, é preciso lembrar que a
maioria dos professores em ação docente não foi preparada para o uso desses
recursos no processo de ensino. Os imperativos da mediação tecnológica nas
atividades escolares geram questionamentos. Como trazer as TIC para o cotidiano da
sala de aula? Como aprimorar o processo de ensino-aprendizagem com estes
recursos, primando para um ensino de qualidade? Como lidar com os “nativos
digitais4”?
Da observação das ações promovidas pelo governo estadual para a
implantação da informática nas escolas, fica nítida a concepção da necessidade de
se oferecer aos professores a possibilidade de efetivo desenvolvimento de suas
habilidades técnicas e metodológicas, por meio do desenvolvimento de um fazer
pedagógico que tenha as mídias digitais não como mero fim, mas como elementos
que ofereçam a devida interatividade entre os sujeitos do processo de construção de
conhecimento que se dá nas escolas públicas estaduais do Paraná. Como aponta
Pierre Lévy, “é preciso deslocar a ênfase do objeto (o computador, o programa, este
4 O termo 'nativo digital' (Prensky, 2001) refere-se àquele que nasceu cercado pelas novas tecnologias da informação e comunicação (Internet, computadores, celulares, tablets, vídeo games etc.), também já conhecida como Geração N (Net).
63
ou aquele modelo técnico) para o projeto (o ambiente cognitivo), a rede de relações
humanas que se quer instituir” (LÉVY, 1993, p.54).
É nesse sentido que um dos recursos interessantes que o Estado
mantém, dentro das políticas públicas para a inclusão digital no processo de ensino é
o Portal Dia a Dia Educação. Ele serve como repositório de objetos educacionais
digitais, mas também não deixa de ser um ambiente dinâmico, interativo e de
colaboração entre a comunidade docente da rede estadual de ensino. Por ser um
concentrador das pessoas envolvidas nos processos descritos até aqui, partimos para
uma observação mais apurada dessa ferramenta.
64
6. FERRAMENTA WEB: PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO
O Portal Dia a Dia Educação foi lançado em 2004, como uma das
ações do Projeto Paraná Digital. Desde sua implantação, o ambiente agrega
informações das escolas públicas estaduais, conteúdos elaborados pelos professores
da rede e assistidos pelos técnicos pedagógicos atuantes na SEED/PR. Nele,
centralizam-se a criação e a disponibilização de materiais elaborados pela
Coordenação de Multimeios, como animações, ilustrações, fotografias, entre outros.
A primeira versão da plataforma já contava com boa parte dos
recursos que ainda hoje dispõe. Além das questões mais avançadas relacionadas à
estrutura do sistema que suporta a página do Portal, a diferença mais evidente para a
versão atual é o layout caracterizado pelas formas retas bastante simples.
Figura 5 - Primeira Versão do Portal Dia a Dia
Fonte: http://professorcarlinhos.pbworks.com/f/portal_diaadia_imagem.jpg
Ele é um site institucional que faz parte do Projeto PRD e ligado a
SEED-PR. O Portal é uma ferramenta online que possui conteúdos específicos
direcionados a alunos, educadores, gestão escolar e comunidade. Tem por objetivo
levar, até a comunidade escolar, informações e serviços, recursos didáticos entre
65
outros. O Portal Dia a Dia, especificamente criado com a finalidade de estimular os
professores a “produzirem conteúdos” e socializarem em uma comunidade virtual, os
resultados de seu trabalho. Constitui-se o Portal como um “veículo de disseminação
das políticas públicas educacionais do Estado do Paraná, possibilitando o atingimento
universal e simultâneo dos atores do sistema de ensino (...)” (MENEZES, 2008, p. 69).
Segundo informações do próprio site, ele é um ambiente de
aprendizagem colaborativa, interativo e dinâmico reconhecendo e valorizando os
saberes escolares. Usuários podem enviar diversos tipos de materiais para que sejam
compartilhados, como simuladores e animações, produções próprias como imagens,
artigos, fotografias, relatos de experiências bem sucedidas em sala de aula etc.
Dentro do escopo original do Paraná Digital, o Portal Dia a Dia
Educação cumpria as funções de sistematização, publicação e socialização de
materiais produzidos pela comunidade escolar. Nos comentários ao projeto
BRA/03/036, Menezes (2008) constata que
os documentos da Secretaria de Estado da Educação do Paraná evidenciam um maior interesse em estimular o uso das TIC em ações que promovam a sistematização e publicação dos conhecimentos elaborados por professores de educação básica, bem como a busca de sua socialização por meio da Internet. (MENEZES, 2008, p. 168).
Em 2011, a SEED reformulou o Portal Dia a Dia Educação. Para além
do novo layout, essa reformulação reiterou o conceito basilar do projeto iniciado em
2004: a colaboração. Segundo Betty Collis (1993), a colaboração é um processo de
criação compartilhada: dois ou mais indivíduos, com habilidades complementares,
interagem para criar um conhecimento compartilhado que nenhum deles tinha
previamente ou poderia obter por conta própria.
Assim, o Portal Dia a Dia Educação é feito com a participação de
todos os envolvidos no processo educativo, como alunos, professores, gestores e
comunidade, podendo ser considerado exemplo de web 2.0. Logo ao acessar o Portal,
há uma página bastante simples e funcional onde aparecem as quatro categorias alvo
com cores diferenciadas, como segue na imagem abaixo:
66
Figura 6 - Home do Portal Dia a Dia Educação
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/
Além da divisão dos conteúdos em quatro grupos de fácil acesso, logo
abaixo se encontra uma lista de assuntos por ordem alfabética com o título “O que
você procura”, especificando as possibilidades de segmentação de conteúdo.
Figura 7- O que você procura
Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/
67
Como padrão, em todo o site, ao navegar entre as páginas, é mantida
o banner, com links gerais de navegação e acessibilidade, além do canal de contato,
o “Fale conosco”, pelo qual é possível enviar pautas, sugestões ou recursos
audiovisuais colaborativos, entre outros. O mapa do site indica que, em todas as
categorias, há um menu lateral com os links para os conteúdos específicos de cada
uma das categorias.
Na categoria “Alunos” há várias informações, materiais e recursos que
servem para auxiliar no ensino aprendizagem. No centro, em destaque, ficam as
notícias recentes do interesse dos alunos como provões, atividades realizadas nas
escolas estaduais, informações sobre o vestibular, Enem, olimpíadas estudantis, entre
outros. Assim como nas outras categorias, a página dinâmica se altera na medida em
que são alterados seus conteúdos mais recentes. As notícias anteriores ficam
armazenadas e podem ser acessadas a qualquer momento, através do link "Mais
notícias".
Na aba do lado esquerdo encontra-se “Apoio à Aprendizagem” com a
sugestão de duas plataformas para estudo, o Geekie Games e a Khan Academy.
Abaixo, no “Boletim Online”, o acesso é permitido por meio do código de matrícula
(CGM) e do Registro Geral (RG) do aluno. Ali, é possível que o aluno ou responsáveis
acessem o boletim com o rendimento escolar do aluno.
No link “Eu Indico”, é possível encontrar arquivos de áudio e vídeo,
filmes, livros, blogs, fotografias, recursos de pesquisa que já estiveram em destaque
na página e que são enviadas pelos alunos como colaboração. No link “Formação”,
há dicas para ampliar a formação profissional, com cursos, testes vocacionais,
instituições para estágios e sugestões de livros didáticos gratuitos. Em “Gabaritando
Enem”, encontram-se várias sugestões de aulas e simulados para aperfeiçoamento
das capacidades dos alunos frente ao Exame Nacional do Ensino Médio. O link
“Grêmio Estudantil” apresenta informações, legislação, modelos de documentos para
criação do Grêmio na escola e contato para tirar dúvidas. No link “Inter@tividades”,
há sugestões de infográficos, sites, jogos e simuladores sobre temas curiosos como
"Aquecimento Global", "Como funciona o Canal do Panamá" etc. Logo abaixo, há o
link “O assunto é...”. Nele, os alunos encontram temáticas atuais trabalhadas a partir
de diferentes arquivos multimídia. Temas como Bullying, Games e Redes Sociais,
evidenciam uma curadoria de conteúdo específico voltado para os jovens.
68
“Recursos de Pesquisa” dá acesso a uma infinidade de materiais de
apoio pedagógico, como tarefas e trabalhos escolares, possui áudios, imagens e
trechos de filmes por disciplinas; vídeos, animações e simuladores, dicionários e
tradutores online; geradores online de referências (ABNT); áudio dos hinos nacionais,
estadual e dos municípios paranaenses; consulta a bibliotecas do resto do País e do
mundo.
No espaço “Vestibular”, há recursos, materiais, informações e dicas
de estudo que poderão colaborar com a preparação do aluno para o vestibular, como
lista de livros cobrados nos principais vestibulares (Clássicos do vestibular), links para
faculdades e instituições de ensino superior, ProUni, Ciência sem Fronteiras, Guia de
Profissões, dicas de redação, temas e modelos de provas. Destaque para a
disponibilização, em servidor próprio, dos materiais do programa Eureka, da TV Paulo
Freire, incluindo aulas em vídeo e apostilas completas, divididas por disciplina.
No link “Veja Mais”, encontra-se o Calendário Escolar onde o aluno
fica sabendo do início e término dos semestres e bimestres, recessos e férias; “O
Canal é seu!”, Programa da TV Paulo Freire voltado para a valorização das produções
dos alunos; legislações específicas para a educação; Rede escola com acesso ao site
das escolas paranaenses; Portal Território da Juventude; TV Paulo Freire com
programas com a participação dos alunos paranaenses; Datas especiais; prêmios e
concursos dos quais eles podem participar; lista das embaixadas no Brasil e uma lista
de programas e projetos que podem beneficiá-los.
Por fim, a categoria "Alunos" ainda possui um espaço reservado à
“Colaboração”, onde o aluno pode contribuir com materiais multimídia de interesse
pedagógico; o Consulta Escola; o Calendário de Eventos e uma lista de links
especificamente direcionados aos estudantes, “O que você procura?”, que facilita o
acesso do aluno às informações da categoria.
Pelas características descritas, este ambiente pode ser considerado
como Web 2.0, pois possui interação e participação do aluno com sugestões de temas
para pesquisas. Sugestões de recursos como áudio, vídeos, livros, blogs entre outros.
Se não é possível comentar em todas as seções, há um espaço reservado para esse
fim, “O Assunto é...”, no qual o aluno pode tecer comentários, participando dos
assuntos destacados. Há pouca participação dos alunos da rede, provavelmente, por
falta de conhecimento deste recurso, falta de motivação para tanto e pela competição
com outras redes sociais mais populares. Ainda assim, é evidente que esse tipo de
69
colaboração leva o aluno a refletir sobre determinados assuntos, gerando uma
aprendizagem significativa, que parte da sua perspectiva acerca do mundo. Além
disso, ele integra a cadeia de interesses humanos que movem a curadoria desses
materiais online, por meio de sugestões de pauta.
Na categoria "Educadores", encontram-se as notícias nacionais e
internacionais acerca da educação. Há um quadro informativo onde ficam notícias
recentes diversas. Alguns dos links do menu específico da categoria são idênticos ao
da categoria "Alunos", como se vê em “Apoio a Aprendizagem”, com destaque para o
Geekie Games e a Khan Academy.
O link “Consultas” dá entrada a informações genéricas, por meio de
acesso público, e informações específicas da carreira docente, por meio de acesso
com senha. No cômputo geral, existem dados estatísticos da educação, verificação
de participação em eventos de Formação Continuada da SEED, sistemas utilizados
para a gestão das escolas do Paraná, informações sobre Recursos Humanos e outras
consultas como o contracheque e o Diário Oficial, entre outros. As Diretrizes
Curriculares Orientadoras do Paraná e o Caderno de Expectativas para todas as
disciplinas estão disponibilizados nessa mesma seção. Segundo informações do
próprio Portal,
A SEED passa a disponibilizar - assim como outras Secretarias do Estado - as Resoluções e Portarias no sistema Legislação da Casa Civil. O usuário será direcionado a uma nova página, com opção de busca por ano. Também é possível utilizar a ferramenta de "Pesquisa Rápida" e buscar por número ou texto. Informamos que, conforme determinação, serão inseridas todas as Resoluções e Portarias retroativo a cinco anos a partir de 2011. Para Resoluções e Portarias anteriores ao ano de 2006, os usuários podem continuar solicitando via formulário "Procurei, não encontrei". Para acessar os atos oficiais que não são de responsabilidade da SEED, o usuário será direcionado aos sistemas das demais instituições (PARANÁ, 2008).
A distribuição online das resoluções e portarias nessa seção é uma
resolução essencial no trato com as questões legais que balizam a carreira docente
no Paraná. Ela permite que os interessados nos assuntos da educação paranaense
possam ter acesso às determinações específicas da pasta.
No link “Educação Básica”, encontram-se as modalidades e as etapas
que constituem o ensino básico no Brasil. De acordo com a LDB 9394/96, ficam assim
70
divididas: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; modalidades:
Educação Escolar Indígena, Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos,
Educação Profissional e Educação do Campo.
Na mesma seção, ainda há os Desafios Educacionais
Contemporâneos, organizados em Cadernos Temáticos de: Enfrentamento à
Violência na Escola, Educação Ambiental, Prevenção ao uso indevido de drogas,
Educação Escolar Indígena, Demandas Socioeducacionais, Educação Fiscal, Escola
Aberta, entre tantos outros. É importante ressaltar que, dentre esses cadernos, existe
o caderno exclusivo com as Diretrizes para o uso de tecnologias educacionais. Nele,
os docentes podem encontrar as determinações específicas para a integração das
tecnologias telemáticas na rede estadual de ensino. Além disso, há a discussão das
questões metodológicas em consonância com a estrutura tecnológica das unidades
escolares do Estado do Paraná, descrita anteriormente.
O documento trata da mediação no contexto educacional, do lugar da
mídia impressa na escola, dos ambientes virtuais na web, da pesquisa escolar na
Internet e apresenta a TV Paulo Freire e suas concepções teóricas e pedagógicas. A
TV Paulo Freire é um canal público de distribuição televisiva que produz programas
direcionados à comunidade escolar paranaense, e tem o intuito de apoiar a formação
contínua docente, promovendo o acesso amplo aos recursos pedagógicos.
No link “Formação”, há informações sobre as possibilidades de
aprimoramento profissional dos docentes, especificamente, direcionando para as
iniciativas desenvolvidas pela SEED. Nominalmente, cita o Centro de Línguas
Estrangeiras Modernas (CELEM), o Grupo de Estudos de Educação a Distância
(EaD), a Moodle/e-escola (ambiente virtual de aprendizagem), o Grupo de Estudo em
Rede (GER), Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), entre outras ações.
Somam-se a esse amplo quadro as notificações sobre eventos de formação e
materiais disponíveis para acesso do professor.
O item "Gabaritando Enem" ocorre novamente na categoria
"Educadores". Diferentemente daquele observado na categoria "Alunos", não tem um
chat para discussão entre os docentes.
Na seção "Sala de Aula", é distribuído conteúdo metodológico e
materiais relacionados à prática educacional segmentado por disciplinas. Há grande
variedade de recursos didáticos. Além daqueles já citados na categoria "Alunos", dá-
71
se acesso a programas com direcionamento específico, como o software educacional
para o Ensino de Jovens e Adultos, Luz das Letras.
No link “Veja mais”, há acesso ao site do Sindicato dos trabalhadores
em educação pública do Paraná (APP), do Conselho Estadual de Educação, do
Movimento Paraná sem Corrupção, dos Núcleos Regionais de Educação (NRE), entre
outros.
Ainda que mediado pelos profissionais do PRD, a interação possível
na categoria "Educadores" tem características de Web 2.0, pois possui interação por
meio da participação ativa e das contribuições dos professores da rede estadual, com
relatos de experiência, discussões acerca da carreira docente e dos assuntos ligados
à comunidade escolar. Assim como no restante do site, é possível enviar comentários,
sugestões de pautas e materiais para serem compartilhados. Especificamente no link
para o projeto "Folhas", os professores podem sugestionar alterações, inclusões e
revisões nos trabalhos postados, desde que estejam logados no Portal.
A Web 2.0 tem como característica principal a interatividade. É
simples perceber, então, que a utilização de ferramentas web interacionais colabora
para que os portais educacionais e os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA)
sejam mais dinâmicos e atraentes. Segundo Moran (2009, p. 63) ensinar com as
novas mídias será uma revolução, se mudarmos simultaneamente os paradigmas
convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. E poderíamos
continuar dizendo, que mantêm distantes, professores e professores, escolas e
escolas.
Quanto à interação e à construção colaborativa do conhecimento e de
seus reflexos no processo de ensino, é preciso dar destaque para Objeto de
Aprendizagem Colaborativa (OAC), item da seção "Recursos didáticos". Nele, é
possível armazenar, discutir, editar e redistribuir materiais didáticos e metodológicos.
No curso dessa pesquisa, foi enviada uma sugestão de leitura para postagem no OAC.
Desde o envio, avaliação e a postagem da sugestão na seção, não demorou mais do
que 24 horas. Os responsáveis pela curadoria material ainda enviaram uma
mensagem agradecendo a colaboração.
Na categoria “Gestão Escolar”, encontram-se notícias recentes de
interesse principalmente dos diretores, pedagogos, funcionários da escola para que
se mantenham atualizados sobre os projetos e programas desenvolvidos pela SEED.
Em “Consultas”, encontram-se dados estatísticos da educação, pode ser verificada a
72
participação em eventos de formação contínua da SEED, buscar informações sobre
sistemas utilizados na gestão das escolas do Paraná.
Nos links “Educação Básica” e “Documentos oficiais” encontram-se as
mesmas informações já descritas acima na Categoria Professores. Em “Informativo”,
há conexões para projetos e programas desenvolvidos por órgãos estaduais e
federais. Há dados e materiais direcionados à Organização do Trabalho Pedagógico
nas escolas e ambiente virtual onde o pedagogo e o diretor podem tirar dúvidas
diretamente com os técnicos na SEED.
No item “Recursos Descentralizados”, há acesso a informações
referentes à gestão administrativa, como o Fundo Rotativo e os Programas do
Governo Federal (Mais Educação, Escola Aberta, PDDE e PDE-Escola). Em “Sistema
de Registro”, é possível o acesso aos processos de diplomas e certificados dos cursos
técnicos, além de conexões para sistemas diversos, como o Sistema de controle de
remanejamento e reserva técnica (Siscort) e Sistema de mapeamento de escolas e
residências (Georreferenciamento).
Na seção “Veja Mais” há informações referentes à gestão
administrativa e técnico-pedagógica da escola, manuais, tutoriais, cadernos
pedagógicos e temáticos, documentos oficiais sobre as legislações estadual e federal.
Na categoria "Comunidade" há notícias de utilidade pública e
interesse da comunidade escolar. As informações são atualizadas constantemente,
fator decisivo para o tratamento das questões emergenciais da educação no Paraná.
No item “Comunidade Escolar”, estão os conteúdos sobre a organização e
funcionamento do ensino da Educação Básica no Estado do Paraná.
No link “Formação”, há uma variedade de informações sobre projetos
e programas dos governos estadual e federal, como ProUni, Paraná Alfabetizado,
entre outros. O menu “Marcador de Página” é diferente pois segundo o Portal,
Marcador de página lembra livro. E livro lembra leitura. E quando a leitura é (ou não) interessante queremos sempre comentar, indicar, compartilhar (ou, reclamar, abandonar). A ideia deste espaço não é contar exatamente as histórias narradas nos livros, tampouco fazer uma exposição cheia de formalidades sobre as obras e seus autores com várias palavras difíceis de entender. A intenção é: vamos conversar e ler (e o inverso também é válido) sobre os livros e as reflexões que fazemos, e não percebemos, durante o folhear das páginas... Podemos até citar uma frase que evitamos sublinhar, mas onde deixamos nosso Marcador de Página (PARANÁ, 2014).
73
Neste espaço, deveriam constar sugestões de livros, comentários e
destaque de leitura, como é feito com filmes no item “Sessão Sofá”. Todavia, há
apenas três contribuições além da imagem de um marcador de página, disponibilizada
pelo próprio portal.
No item “Serviços de Utilidade Pública”, dá-se acesso a vários
serviços públicos como consulta a achados e perdidos, Detran, Sanepar, Agência do
trabalhador, farmácias populares, sobre auxílio doença, simulação da aposentadoria,
Procon-PR, boletim de ocorrência e denúncia online, entre várias outras
possibilidades.
Por fim, em "Veja mais" há a indicação projetos culturais gerais desde
links para jogos educacionais até calendário de sessões de cinema para gestantes.
Assim como as categorias relacionadas aos protagonistas do
processo de ensino, as categorias "Gestão Escolar" e "Comunidade" contam com a
participação dos gestores e da comunidade escolar. A interatividade pode ser
observada, por exemplo, nas interações para agendamento de materiais do Siscort, e
nas sugestões de leituras e filmes feitas pela comunidade escolar.
Como parte dos serviços de atendimento à rede estadual de ensino,
o portal conta com um canal de comunicação “Fale conosco” onde o usuário pode
entrar em contato direto com a SEED.
Segundo informações que constam no Portal ele foi criado e é
gerenciado de acordo com preceitos básicos para a elaboração de páginas na web,
considerando as suas características de acesso, uso e navegação. Por isso, está
constante estudo e adequação pela equipe técnica responsável pelo portal. A
acessibilidade torna fácil o uso e acesso de ambientes, produtos e serviços a qualquer
pessoa. Nesse sentido, é importante mencionar as ferramentas de acessibilidade para
pessoas com limitações visuais através da inserção de texto alternativo nas imagens
e cabeçalho com opções de contraste e tamanho de fonte.
No quesito usabilidade, os links na cor do tema, por exemplo, atuam
em favor da facilidade de aprendizagem de utilização e satisfação no uso do sistema,
por meio de sistemas cognitivos simples e compreensivos. Já quanto à
navegabilidade, o uso de padrões redundantes nas diferentes categorias, ainda que
ligeiramente estilizados, implica numa navegação facilitada pela padronização.
74
O Portal também possui uma “Web Rádio Escola”, criada pela SEED
e direcionada aos alunos, professores, gestores e comunidade escolar. Na sua
programação, a rádio conta com notícias, curiosidades, receitas, campanhas,
destaques, programas musicais entre outros. “Web rádio” é um serviço de transmissão
de via web, utilizando streaming de áudio. Nesse caso, ter a internet como base amplia
as possibilidades de acesso e, consequentemente, o número de ouvintes. Os
programas produzidos pela Web Rádio ficam disponíveis para downloads em várias
categorias ligadas à vida escolar.
Os profissionais da educação ainda contam com serviço de e-mail
institucional, conectado à senha de acesso ao portal. Por questão de segurança, os
demais usuários necessitam realizar um cadastro para obter acesso e uso de algumas
áreas do portal.
Analisando os documentos disponibilizados pelo próprio Portal,
Menezes (2008) aponta uma contradição na maneira como é percebida a participação
dos professores na plataforma. De acordo com o pesquisador,
ao mesmo tempo em que indicam a valorização da autonomia dos professores, enfatizam seu papel de “disseminadores”, trazendo à tona a forma imprecisa pela qual os planejadores entendem o significado de “dados e informações” e de “conhecimentos”, bem como de “participação” e “colaboração” (MENEZES, 2008, p.170).
A afirmação de Menezes (2008) evidencia que não há distinção entre
o acesso básico e o acesso participativo. A contradição reside, essencialmente, na
ideia de que aquele que participa não é, necessariamente, aquele que colabora. Esses
são papeis distintos, mas não definidos pelo Portal.
Ainda assim, de modo geral, o portal possui informações úteis aos
usuários das quatro categorias em que é dividida a comunidade escolar paranaense.
Por isso, pode ser considerado um grande apoio aos professores na atualização e do
processo de ensino-aprendizagem, especialmente, no que diz respeito às políticas
públicas para a introdução da informática na educação.
6.1 A Biologia no Portal Dia a Dia
75
Na categoria "Educadores", no menu de disciplinas, o ícone
Biologia disponibiliza notícias recentes de interesse educacional, sugestões de
leituras e filmes, as DCE, o “Caderno de Laboratório” e o "Caderno de Expectativas",
específicos da disciplina. Há também o “Pronto Atendimento Disciplinar” onde é
possível buscar auxílio nos assuntos relacionados aos conteúdos e recursos
disponíveis na página de Biologia. O atendimento é realizado pela pessoa responsável
pela página, de segunda a sexta-feira, em horário comercial.
Figura 8 - Página de Biologia
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/
No menu à esquerda, no link “Biodiversidade,” estão disponíveis os
conteúdos sobre diversidade biológica. Há também os recursos didáticos e de
informações sobre o tema em áudio, vídeo, trechos de filmes, artigos, notícias e
simuladores.
Em “Biotecnologia”, há várias informações sobre o uso dos seres
como elementos dos processos produtivos e ligados ao capital. Apresenta os mesmos
recursos já indicados no item "Biodiversidade", relacionados, nesse caso, às
afinidades entre a tecnologia e a Biologia. Assim como noutros itens, os vídeos já se
encontram em formato adequado (MPEG ou AVI) para uso na TV multimídia instalada
nas salas de aula.
76
O item “Calendário Escolar” é direcionado à categoria “Gestão
Escolar” com informações sobre a resolução, instrução e disposição dos calendários
desde 2011.
No item “Enquetes”, além da participação direta em pesquisas de
interesse específico da área de Biologia, é possível acessar links para as enquetes já
veiculadas na página. Caso a enquete esteja aberta, pode-se votar ou ver os
resultados. No momento dessa pesquisa, há dois resultados de pesquisa sobre qual
conteúdo o professor gostaria de ter uma sequência de aulas; O resultado, com um
total de 114 votantes, teve o assunto "Genética", com 21% dos votos, como o
conteúdo escolhido.
Figura 9: Enquetes
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=362
77
É interessante esta forma de escolha de conteúdo para uma
sequência didática a ser disponibilizada como sugestão de prática pedagógica.
Entretanto, se considerarmos o universo total de professores de Biologia no Paraná,
é evidente que o índice de participação dos professores está aquém do que
esperamos.
No item “Gabaritando Enem”, há as mesmas conexões já
mencionadas em categorias anteriores. No menu “Hora Atividade Interativa” (HAI),
existem dois links para páginas temáticas de Educação Ambiental no Ensino de
Biologia e Música no Ensino da Biologia que são realizadas para que professor de
Biologia, tenha a possibilidade de debater sobre questões relacionadas a sua
disciplina. Organizado com temas de interesse a esta área de conhecimento, o evento
ocorre por meio de chat e tem o objetivo de propiciar a reflexão, possibilitando a troca
de experiências e fomentando o debate sobre questões que sejam relevantes dentro
das sociedades contemporâneas. Há também vários recursos didáticos e informações
sobre o tema para que o professor acesse e utilize em sua prática pedagógica.
Em “Jogos e Práticas”, há uma lista de atividades lúdicas desde o
Baralho celular até o bingo das ervilhas. Há também atividades experimentais que
abordam, por exemplo, o Reino Animal, Reino Monera, Reino Plantae e Reino
Protista. A disponibilização desses objetos educacionais serve como sugestão para
auxiliar o professor em suas atividades pedagógicas.
Figura 10 – Jogos e práticas
78
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=135
O ambiente “Recursos de Formação” dá acesso a várias dissertações,
monografias e teses com assuntos variados da Biologia, livros de acesso gratuito,
sugestões de leituras, o Livro Didático Público de Biologia, as produções do PDE
2007/2008, entre outros. Conforme observado na figura 11.
Figura 11 - Recursos de formação
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=226
Em “Recursos Didáticos”, o professor de Biologia tem acesso há
79
um sem número de recursos didáticos: geradores online de referências de acordo com
as normas da ABNT; materiais do projeto "Folhas", “Objetos de Aprendizagem
Colaborativa” (OAC), “Animações” produção do Multimeios; “imagens” segmentadas
de acordo com o conteúdo estruturante para facilitar a busca; “infográficos” com temas
em ordem alfabética; “áudios” diversos, trechos de músicas e entrevistas pertinentes
à Biologia; “trechos de filmes” capazes de despertar questionamentos acerca dos
conteúdos trabalhados na disciplina como Óleo de Lorenzo, Planeta dos Macacos e
A Era de gelo; Metodologias auxiliares para a compreensão de conceitos em “Jogos
para sala de aula”. Em “Artigos”, há textos científicos diversos para consulta. O item
“Produções PDE” coliga as produções dos professores da rede estadual, como
resultado da participação no PDE, de 2007 a 2012.
Em “Eureka”, encontra-se o material específico de Biologia destinado
ao estudante interessado em ingressar no curso superior. A apostila está organizada
com o conteúdo do planejamento escolar, associada a atividades e questões de
vestibulares. Os vídeos associados ao material reforçam alguns conteúdos do Ensino
Médio comuns em vestibulares e trazem questões comentadas de provas do ENEM.
Em “Simuladores e Animações”, o conteúdo está organizado em
ordem alfabética. São apresentações web, criadas com tecnologia Shockwave, de
fácil acesso, registradas em domínio público. No item “O Tema É”, há uma relação de
temas que são ou já foram destaques nas manchetes de jornais, bem como outros
temas para trabalhos interdisciplinares como consumismo, dengue etc. No “Portal do
Professor”, dá acesso à página do MEC com recursos para o professor interessado
na tecnologia educacional.
Em “Museus” e “Bibliotecas”, há links para estabelecimentos
segmentados geograficamente. No menu “Sala de Aula”, conforme figura 12, há
acesso a vários materiais disponíveis para auxiliar o educador em sua prática
pedagógica. Como se vê, os links reproduzem as conexões já citadas noutras
categorias.
Figura 12 – Sala de Aula
80
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=240
É importante destacar, nesta aba, o link para as “Oficinas das CRTEs”,
onde há relatos e propostas de atividades desenvolvidas nas oficinas promovidas
pelas Coordenações Regionais de Tecnologia na Educação (CRTEs), atividades que
podem ser impressas e/ou compartilhadas. São 4 atividades disponibilizadas, sobre
Citologia, Reciclagem, Classificação das Plantas e Jogos sobre o Reino Plantae,
utilizando o programa Jclic. Nesse caso, aproxima-se mais do modelo inicial da web,
pois serve mais como repositório de materiais desenvolvidos pelos mantenedores do
site.
No item “Sequência de Aulas”, há sugestões de aulas que poderão
auxiliar na prática docente, sobre Genética, Relações Ecológicas e Filogenética. Os
materiais funcionam como um passo a passo, em formato similar aos tutoriais da web.
Além de imprimir e compartilhar, o professor pode também dar sua opinião sobre o
material disponibilizado e enviar outros materiais similares. Todavia, uma mensagem
deixa claro que a sequência de aulas publicada não serve como pontuação para fins
de progressão na carreira. Ela se constitui como forma de troca e compartilhamento
de experiências educativas que foram e podem ser desenvolvidas em sala de aula.
Assim, o Portal Dia a Dia Educação se reserva o direito de analisar a pertinência da
colaboração enviada, determinando, assim, sua publicação (PARANÁ, 2014).
No link “Práticas da TV Multimídia” estão disponíveis, em ordem
alfabética, práticas pedagógicas da TV Multimídia desenvolvidas sobre a orientação
do Departamento de Educação Básica (DEB). Do mesmo modo que outros materiais,
é possível imprimir e compartilhar. Estão disponibilizadas quatro aulas enviadas por
81
professores da rede estadual também podem ser baixadas em arquivos de diferentes
formatos, todos compatíveis para uso no equipamento padrão das salas de aula.
Como se espera, esse espaço se constitui como um repositório colaborativo de
sequências didáticas de Biologia, as aulas são sugestões de trabalho elaboradas por
professores para outros professores com interesse no desenvolvimento metodológico
das aulas de Biologia.
No espaço “Sala de Aula”, ainda encontramos sugestões de
atividades temáticas retiradas do Portal do Professor do Ministério de Educação. Elas
complementam as sequências didáticas e podem apoiar os alunos na compreensão
do conteúdo.
No item “Práticas Realizadas”, estão disponíveis relatos de aulas de
Biologia elaborados por professores do Paraná. Há, no total, oito relatos sobre aulas
de diferentes conteúdos: Biotecnologia, Ecossistema experimenta, Horta na escola,
Ciclos Biogeoquímicos, Exposição de Corpos, Os modelos, Detecção de Proteínas e
Ervas Medicinais. O ambiente fornece sugestões de aulas e não permite a interação
entre os professores, somente impressão e compartilhamento posterior. Não há
necessidade de acesso com senha para o envio de colaborações. No curso dessa
pesquisa, foi enviada à noite uma sugestão de leitura para a seção e, no outro dia de
manhã, já haviam retornado o contato agradecendo a colaboração e indicando a
publicação no item “Sugestões de leitura”.
Figura 13 - Envio de colaborações
Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/liaise/
82
Nas “Sugestões de Aulas”, estão disponíveis sequências de aulas que
foram publicadas no Portal do professor do Ministério de Educação, com temas
diversos dentro dos conteúdos estruturantes e básicos da disciplina. O professor pode
visualizar a aula, realizar o download ou imprimi-la. Também é possível enviar
comentários, opiniões sobre a aula ou mesmo reportar algum erro. Este espaço é
bastante dinâmico e colaborativo, especialmente se considerarmos que há a
participação de professores do Brasil todo ou mesmo fora do País.
No item “Folhas”, há acesso aos materiais produzidos pelos
professores da rede como formação continuada e colaborativa já descritos noutros
itens. Especificamente para Biologia, há 21 arquivos disponibilizados, separados de
acordo com os conteúdos estruturantes, conforme a figura 14.
Figura 14 - Folhas
Fonte: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/folhas/frm_buscaFolhas.php
Em “Objeto de Aprendizagem Colaborativa” (OAC) há um total de 47
disponíveis, também organizados de acordo com os conteúdos estruturantes da
83
disciplina de Biologia.
Figura 15 – Objeto de Aprendizagem Colaborativa
Fonte: Portal Dia a Dia
O item OAC dá acesso aos objetos já descritos noutras categorias.
No que diz respeito aos temas específicos da Biologia, abordam temas como Gravidez
e Aborto, Poluição da água, Nutrição dos animais, Drogas e a sexualidade, DNA e
alimentos transgênicos, entre muitos outros.
Qualquer pessoa acessar os OAC, visualizar e imprimir o material. Se
realizado o acesso por meio de senha, o educador pode colaborar com sons e vídeos,
atividades, sugestões de leitura etc. Ele pode mesmo criar um novo OAC através de
um formulário online, preenchido e enviado para validação, além do “Termo de Aceite”
com a “Autorização de Publicação e Cessão de Direitos Autorais”. Segundo o Portal,
“este modelo de Objeto de Aprendizagem Colaborativa - OAC possibilita a interação
e a sociabilização de informações e conhecimentos" (PARANÁ, 2014).
De acordo com as descrições comentadas acima, os materiais de
Biologia disponibilizados no Portal vão ao encontro das diferentes demandas
pedagógicas do cotidiano escolar. Eles acrescem conhecimentos que ultrapassam a
linearidade do livro didático por impulsionar a construção do saber coletivo,
colaborativo e diverso.
84
6.2 Interatividade no Portal Dia a Dia Educação.
Enfim, naquilo que diz respeito à interatividade, o Portal Dia a Dia
Educação é um ambiente bastante dinâmico e colaborativo. Nele, o professor pode
encontrar grande variedade de materiais, com fácil acesso e, pelas suas
características, com grande perspectiva de aprimorar os resultados da prática
pedagógica. Como um todo, o repositório de objetos educacionais dá opções de
atividades diferenciadas daquelas do livro didático, por isso podem despertar muito
mais o interesse do aluno.
De modo geral, o Portal Dia a Dia Educação tem características de
Web 2.0. Se não é constituído completamente por processos interacionais, como nas
redes sociais mais conhecidas, isso se dá pela mediação dos técnicos responsáveis
pelo espaço virtual. Essa curadoria, ao contrário, sugere que os materiais ali
disponibilizados podem ser mais confiáveis do que outros encontrados aleatoriamente
na web, pois, já foram analisados pela equipe de técnicos pedagógicos e aprovados
como materiais didáticos significativos para o ensino-aprendizagem. Essa
característica é bastante positiva se pensarmos que a mediação tecnológica no
processo educacional já se desenvolve, nas iniciativas públicas do Estado do Paraná,
por meio de ações que contemplam a seleção, avaliação e compartilhamento do
conhecimento.
Os materiais disponíveis deixam o professor com opções suficientes
para variar, alterar as práticas pedagógicas de uma turma para outra, de um ano para
outro, sem se prender ao livro didático, mas com acesso a aulas diferenciadas que
possam despertar um maior interesse do aluno acerca dos conteúdos da disciplina.
Para que o uso da Web seja implementado de forma sistematizada na
educação, deve haver uma integração com o cotidiano escolar, suas necessidades e
realidades institucionais imediatas. O maior desafio evidenciado, nesse caso, é dar,
aos educadores, as condições necessárias para apoiar seus alunos na descoberta do
conhecimento com problematizações desafiadoras, instigantes e significativas. Sendo
assim, o apoio de ações públicas, como o Portal Dia a Dia Educação, dá subsídio para
uma prática docente mais eficiente.
Como pode ser percebido até aqui, as novas tecnologias e o uso das
ferramentas Web em sala de aula tem o apoio e orientação dos documentos oficiais
85
da Educação. Nesse sentido, é mister dizer, alguns desses documentos não indicam
métodos ou padrões para a tal, possuem uma indicação tímida da necessidade da
inclusão digital, afirmando somente o seu uso nas práticas escolares. Na LDB
9394/96, no artigo 35, parágrafo IV, o documento legal instrui “a compreensão dos
fenômenos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando teoria com
a prática, no ensino de cada disciplina” (Brasil, 1996). Além disso, naquilo que tange
ao ensino básico, no artigo 36, preconiza o "domínio dos princípios científicos e
tecnológicos que presidem a produção moderna" (Brasil, 1996).
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (DCN)
afirmam, a respeito das tecnologias da informação e comunicação, que elas
constituem uma parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e enriquecer as aprendizagens. Como qualquer ferramenta, devem ser usadas e adaptadas para servir a fins educacionais e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de forma a possibilitar que a interatividade virtual se desenvolva de modo mais intenso, inclusive na produção de linguagens. Assim, a infraestrutura tecnológica, como apoio pedagógico às atividades escolares, deve também garantir acesso dos estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à Internet aberta às possibilidades da convergência digital (DCN, 2013, p. 25).
De modo geral, o documento orienta para que as TIC perpassem
transversalmente a proposta curricular da Educação Infantil ao Ensino Médio. Fica
patente a necessidade de convergência entre as tecnologias, de modo que o indivíduo
seja preparado para o mundo científico e tecnológico, podendo opinar e saber
construir seu conhecimento acerca dos mais variados assuntos.
Na orientação da elaboração do Projeto Político Pedagógico das
escolas, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) preveem a
formação dos professores e gestores que estejam atualizados para melhorar a adoção
e aplicabilidade de metodologias pedagógicas, incluindo o uso das TIC nas práticas
pedagógicas. Em relação às atividades realizadas, deve-se prever que o aluno utilize
das novas mídias e tecnologias educacionais, como processo de dinamização e que
haja oferta de atividades de estudo com utilização de novas tecnologias de
comunicação (DCN, 2013, p. 52).
As DCN esclarecem que, para que ocorra uma efetiva integração das
tecnologias nos processos educacionais, há a necessidade de se ofertar formação
86
adequada aos professores e recursos em número suficiente para uso dos alunos. No
entanto, existe um grande distanciamento daquilo que preconizam as DCN e a
realidade constatada no ambiente escolar.
As formações mais adequadas e atualizadas aparecem de forma
tímida, assim como alguns cursos de formação continuada mais voltados para a
relação da tecnologia com o ensino, que também não deixam de ser mais teóricos do
que práticos. Desse cenário, pressupõe-se a necessidade de que as competências
tecnológicas sejam parte da formação acadêmica das licenciaturas no Brasil. E, como
se vê, não existem ações significativas nesse sentido. Ao contrário, as licenciaturas
tornam-se, cada dia mais, pouco atrativas aos jovens e, por isso, perdem
investimentos que deveriam ser refletidos numa formação mais adequada à realidade
tecnológica em que vivemos.
No contexto brasileiro a valorização das licenciaturas perpassa,
certamente, os crivos da remuneração e do reconhecimento. Todavia, não há estudos
sobre a introdução das TIC nos currículos de Licenciatura, nem pesquisas mais
recentes que avancem no tema.
O PROINFO é o programa mais significativo para a inclusão das
tecnologias telemáticas no processo de ensino. Ainda hoje, faz parte das iniciativas
do governo federal e organiza a distribuição de recursos e equipamentos tecnológicos
para as escolas do País. É importante mencionar, então, que, por inadaptação
estrutural das unidades escolares, os equipamentos nem sempre são utilizados de
modo adequado. Além disso, o distanciamento da prática tecnológica, realidade de
muitos professores brasileiros, não auxilia nesse processo. Apesar de os recursos
serem em número suficiente, nem sempre atingem seu objetivo por causa dessa a
realidade encontrada nos estabelecimentos de ensino.
Ainda quanto ao reflexo dessas ações no contexto escolar, as DCN
afirmam que
O impacto das novas tecnologias sobre as escolas afeta tanto os meios a serem utilizados nas instituições educativas, quanto os elementos do processo educativo, tais como a valorização da ideia da instituição escolar como centro do conhecimento; a transformação das infraestruturas; a modificação dos papeis do professor e do aluno; a influência sobre os modelos de organização e gestão; o surgimento de novas figuras e instituições no contexto educativo; e a influência sobre metodologias, estratégias e instrumentos de avaliação (BRASIL, 2013, p. 165).
87
É justamente esse impacto positivo e relevante na comunidade
escolar que se espera da introdução das tecnologias no processo de ensino. A escola
deixaria de ser um centro polarizador de informações, entretanto continuaria sendo
sistematizadora e disseminadora do conhecimento. De modo que o aluno aprenda a
aprender, a fim de, após o fim do ciclo básico da educação, possa continuar
aprendendo. É nesse sentido que as orientações para o uso da tecnologia tornam-se
relevantes para a inclusão digital. E a inclusão digital seja relevante para a formação
continuada do cidadão.
Desta maneira, é importante salientar que, nas Diretrizes Curriculares
Estaduais para o Ensino de Biologia, as referências diretas ao uso da tecnologia no
processo de ensino são bastante tímidas. A mais significativa delas indica que
a ciência e a tecnologia são conhecimentos produzidos pelos seres humanos e interferem no contexto de vida da humanidade, razão pela qual todo cidadão tem o direito de receber esclarecimentos sobre como as novas tecnologias vão afetar a sua vida (PARANA, 2008, p. 60).
No parágrafo anterior, as diretrizes se referem mais aos aspectos da
tecnologia em relação a biotecnologia, aos avanços, a manipulação genética e a
influência em nossas vidas, do que propriamente ao que vem sendo observado nesse
trabalho.
Em 2009, o MEC iniciou a elaboração e distribuição do “Guia de
Tecnologias”, que tem, por objetivo, a disseminação no uso das tecnologias digitais
no ensino para melhoria do quadro educacional de municípios brasileiros (MEC, 2013,
p. 10); estimular a criação das tecnologias educacionais seja por pesquisadores,
professores ou outros e o fortalecimento da produção teórica voltada a qualidade da
educação integral e integrada, para que se concretize na criação de novas tecnologias
educacionais.
Com esse guia, o MEC pretende promover uma educação de
qualidade integrada à realidade tecnológica, todavia, adverte que, somente o uso das
tecnologias no ambiente educacional, sem a integração devida com o planejamento
metodológico, perde seu valor. É preciso acrescentar que, sem a estrutura necessária
à realização da mediação tecnológica, esses materiais tornam-se mídias soltas e
88
objetos de aprendizagem sem função prática.
O "Guia de Tecnologias" do MEC é dividido em dez áreas:
Acompanhamento Pedagógico (ABC Digital, Conecta Mundo etc.); Cultura Digital
(ABC Digital, Conecta Mundo etc.); Comunicação e Uso de Mídias (Conecta Mundo,
Portal Dia a Dia Educação etc.); Cultura e Artes (Caravana da Leitura nas Escolas do
Campo, Rádio História, entre outros); Educação Econômica (Enter Jovem Plus:
Empregabilidade, Tecnologia e Inglês); Direitos Humanos em Educação (Radio
História, entre outros); Educação Ambiental (Caravana da Leitura nas Escolas do
Campo, entre outros); Esporte e Lazer; Investigação no Campo das Ciências da
Natureza (Mata Atlântica: O Bioma onde eu Moro); Promoção da Saúde (Educação
Emocional através do Programa Amigos do Zippy). Neste Guia, há um detalhamento
de cada tecnologia, como utilizá-la, a disponibilidade, os recursos e a infraestrutura
necessários.
De modo geral, conforme as condições históricas que formaram a
rede de ensino público no País, a escola, na maioria das vezes, não possui a estrutura
necessária à instalação adequada de todos esses equipamentos. Nesse sentido, os
estabelecimentos de ensino tentam se adaptar da melhor forma possível para que
algumas dessas ações possam ocorrer sem maiores empecilhos.
No caso paranaense, as Diretrizes para o Uso de Tecnologias
Educacionais consideram que
A inserção de novos recursos tecnológicos encurta as distâncias, promove novos agenciamentos, aproxima dentro do mesmo currículo as esferas político-administrativas das salas de aula; aproxima as salas de aula entre si, dentro da escola e entre as escolas, numa atividade de interação solidária com vistas tanto à apropriação do conhecimento quanto à criação de novos saberes (PARANÁ, 2010, p.5).
Destarte, a introdução das tecnologias no ambiente escolar leva a
novas leituras do mundo, aproxima o currículo de outras linguagens, levando o aluno
ao conhecimento e às novas formas de aprender. As Diretrizes consideram o
professor como mediador didático-pedagógico entre o aluno e o conhecimento e, para
tanto, deve utilizar-se dos mais variados recursos didáticos e entre eles as TIC e a
Web. De acordo com José Carlos Libâneo, também citado nas diretrizes federais para
o uso de tecnologias educacionais,
89
O ensino exclusivamente verbalista, a mera transmissão de informações, a aprendizagem entendida somente como acumulação de conhecimentos, não subsistem mais. Isso não quer dizer abandono dos conhecimentos sistematizados da disciplina nem da exposição de um assunto a que se afirma é que o professor medeia a relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, a experiência e os significados que os alunos trazem à sala de aula, seu potencial cognitivo, suas capacidades e interesses, seus procedimentos de pensar, seu modo de trabalhar. Ao mesmo tempo, o professor ajuda no questionamento dessas experiências e significados, provê condi-ções e meios cognitivos para sua modificação por parte dos alunos e orienta-os, intencionalmente, para objetivos educativos (LIBÂNEO, 2008, p. 21).
De tal modo, o professor é muito mais do que um transmissor de
informações. Ele faz a intermediação entre o saber acumulado nas redes telemáticas
e o alunado, de modo que, utilizando-se de múltiplos recursos educacionais, capacite
seu aluno para a reconstrução significativa dos conhecimentos ministrados.
Este documento do MEC aborda assuntos diretamente relacionados
às questões da tecnologia educacional, como o papel da mídia impressa na escola,
os ambientes virtuais de aprendizagem e a pesquisa escolar na rede mundial de
computadores. De modo geral, o documento esclarece as concepções teórico-
metodológicas que balizam as iniciativas federais para o uso da tecnologia na escola.
Há indicativos de utilização e orientações para pesquisas nas bases de dados
disponibilizadas. Desse modo, revela-se um material importante para consulta,
conhecimento e uso destes recursos em sala de aula.
Naquilo que diz respeito à formação docente continuada, é importante
ressaltar a oferta os cursos rápidos aos educadores, por intermédio das CRTEs, para
o uso de equipamentos, dispositivos e programas. Nesse caso, os cursos estão,
necessariamente, ligados à realidade dos equipamentos disponíveis nos
estabelecimentos de ensino, aos softwares de código livre e à oferta de banda larga
nas escolas, quase sempre aquém do necessário para a realização de atividades
síncronas nos laboratórios de informática. Assim, fica evidente que, frequentemente,
o professor acaba por replicar o conhecimento adquirido, adequando ao seu conteúdo,
às suas necessidades e à realidade estrutural das unidades de ensino em que
desenvolve sua prática docente.
Nesse mesmo sentido, o Portal Dia a Dia também é utilizado na
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formação continuada ofertada pelos CRTEs. Nos cursos disponibilizados através do
portal, os docentes aprendem, por exemplo, a baixar vídeos para utilizar na TV
multimídia e a utilizar os materiais disponibilizados pela SEED nas suas aulas. O
tempo de duração desses cursos rápidos gira em torno de vinte horas, de acordo com
o tema abordado. A organização dos cursos não leva, necessariamente, em
consideração, o conhecimento que o professor possui dos processos tecnológicos.
Disso, implica que o aproveitamento dos conteúdos se dará de modo desigual para
cada professor em face da sua competência técnica frente aos dispositivos digitais.
No curso dessa pesquisa, foi enviado um pedido de informações
acerca do portal. Prontamente atendido, a resposta revela um alto índice de acessos
ao portal, numa média de mais de 600 acessos diários. Segundo a técnica-pedagógica
do Portal, na resposta ao pedido de informações, a página da disciplina
de Biologia teve “um total de 219.423 acessos no ano de 2014” (ANEXO 3). Tendo
em consideração que o número de docentes da rede estadual de ensino circunda os
100.000, fica a suposição estatística de que cada professor acessou o portal uma vez
em cada semestre. Se a perspectiva inicial frente a um número tão expressivo é
bastante positiva, a relação média de acessos em comparação com o número de
docentes deixa entrever que os docentes não aderiram massivamente ao portal.
Noutro sentido, revela uma aderência pequena que é comprovada pelo baixo número
de contribuições em algumas das categorias descritas anteriormente. Em uma
pesquisa realizada por Jussany Maria de Barros Moreira, Dulcinéia Ester Pagani
Gianotto, alunas do mestrado da Universidade Estadual de Maringá em relação ao
uso das TICs e do Portal Dia a Dia Educação (2013) concluíram que a maioria dos
professores questionados fazem um bom trabalho com seus alunos frente as TIC, mas
somente três deles acessam o Portal dia-a-dia Educação ao menos uma vez por
semana. O que vai de encontro as respostas da técnica –pedagógica responsável
pelas respostas encaminhadas (anexo 3). O acesso não é grande mesmo sendo um
ambiente rico em materiais, sugestões de vídeos, aulas entre outros.
Confirma e amplia essa perspectiva o fato de que o portal não é
acessado apenas por educadores.
Ainda assim, pode-se dizer que o portal funciona como uma extensão
da rede escolar e expande a presença da escola na vida da comunidade escolar em
suas quatro categorias. Ele possui uma ampla base de recursos e informações
variadas para os diferentes públicos que formam a comunidade escolar. Na
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informação repassada pela Técnica-Pedagógica do portal, referente ao “número de
acessos por categoria de material didático”,
Os materiais/recursos disponibilizados no Portal estão organizados em diversas categorias e alocados em diferentes módulos (gerenciadores de conteúdo). Cada módulo possui um sistema próprio de gerenciamento de dados e seus relatórios são emitidos conforme necessidade e com periodicidade específica. Sendo assim, temos informações sistematizadas, neste momento, das seguintes categorias: Imagens - 3553 acessos; Simuladores e animações - 6367 acessos; Vídeos - 9909 acessos (ANEXO 3).
Assim, a comparação entre os três tipos de materiais citados
demonstra a prevalência dos vídeos como o recurso didático mais pesquisado. Disso,
advém a perspectiva de que os professores, tanto quanto os alunos, são mais afeitos
aos materiais disponibilizados em vídeo, pela agilidade e facilidade com que
transmitem a informação necessária. Além disso, é preciso colocar em perspectiva a
TV Multimídia, instalada em todas as salas de aula da rede estadual. A disponibilidade
do equipamento promove o uso dos vídeos e esse cenário se amplia quando
considerado que os arquivos de vídeo ali disponibilizados já foram convertidos para
os formatos mais adequados para a utilização na TV Multimídia. Resumidamente, os
recursos disponibilizados pelo Portal têm sido usados em sala de aula, mas
deslocados do seu contexto de origem. Na sala de aula, não se configuram como
recursos online se não são utilizados em rede, como é o caso dos vídeos.
É preciso mencionar também que o portal serve como uma base de
acesso a um grande número de documentos e repositórios externos, na sua maioria,
resultados das iniciativas públicas federais para a formação continuada dos docentes
e para a integração das tecnologias nos processos de ensino no Brasil. Essas
hiperligações enriquecem e ampliam as possibilidades de contato com outros
conteúdos e recursos digitais, levando a bibliotecas nacionais e internacionais,
museus, jogos e infográficos, entre outros.
Outro aspecto interessante do portal é a colaboração que todas as
categorias de usuários. É possível enviar materiais diversos para que sejam utilizados
por outros professores em sala de aula, nas diversas disciplinas que compõem os
quadros de conteúdos em cada série. A curadoria de materiais, realizada pelos
técnicos-pedagógicos da Secretaria Estadual da Educação, é essencial para a
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confiabilidade dos recursos e informações disponibilizados. Nesse mesmo sentido, a
curadoria pode garantir que os arquivos ali disponibilizados estejam em conformidade
com os preceitos legais, resoluções e metas estabelecidas para o ensino público no
Estado do Paraná.
Diante do que foi exposto até aqui, fica notório que o portal Dia a Dia
educação é uma ferramenta de comunicação e informação muito útil para a
comunidade escolar paranaense. Ele não se constitui como mero repositório de
objetos educacionais, ainda que cumpra também essa função.
Noutro sentido, a colaboração dos usuários, associada à curadoria
dos materiais, torna-o um espaço dinâmico, participativo e confiável. De modo que o
baixo índice de acessos torna-se incompreensível. Os recursos didáticos também são
numerosos e úteis na preparação de aulas, promovendo novas experiências de
aprendizagem.
Em relação aos “principais critérios para postagem das sugestões no
ambiente”, a Técnica-Pedagógica afirma que,
Desde a criação do Portal, no ano de 2003, diferentes têm sido os processos que envolvem a construção, o aperfeiçoamento e a manutenção desse ambiente. Seu acervo agrega elementos de diferentes contextos históricos, refletindo a dinâmica do ambiente web. Atualmente, a equipe que integra a Coordenação do Portal Dia a Dia Educação, responsável por manter esse espaço virtual, tem alguns princípios que orientam a seleção do material disponibilizado nele. Dentre esses cuidados de seleção, destacam-se os gerais, que se aplicam aos diversos objetos de aprendizagem e a outros materiais que integram o acervo de recursos do Portal; e os específicos a cada recurso disponibilizado (ANEXO 3)
De forma geral, o processo de curadoria de materiais observa se as
fontes de pesquisa são confiáveis. Além disso, há o cuidado em não disponibilizar
materiais que apresentem cenas de violência, preconceito de condição econômico-
social, étnico-racial, gênero, linguagem ou qualquer outra forma de discriminação. No
mesmo sentido, é vedada a disseminação de materiais que fazem apologia ao uso de
drogas, entre outros critérios legais, como a doutrinação de qualquer tipo,
desrespeitando o caráter laico e democrático do ensino público.
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Essa ação é realizada em observância aos preceitos legais e jurídicos (Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 10.639/2003, Diretrizes Nacionais do Ensino Fundamental, Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação, em especial, o Parecer CEB n. 15/2000, de 04/07/2000, o Parecer CNE/CP n. 003/2004, de 10/03/2004 e a Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004) (ANEXO 3).
Ainda de forma geral, é avaliado se os materiais não possuem direitos
autorais protegidos, a fim de evitar disputas judiciais sobre os materiais
disponibilizados pelo portal. Essa é uma barreira que evita pirataria, mas que outras
plataformas sociais, como o Youtube, não têm. Essa ideia coloca em desvantagem a
plataforma disponibilizada pela SEED se comparada com as possibilidades de outros
repositórios.
E, por fim, na análise dos materiais, é verificado se “estão
relacionados à disciplina ou à área do conhecimento, que tragam, preferencialmente,
situações problematizadoras e desafiadoras” (ANEXO 3).
Em relação à análise específica do conteúdo por disciplina, como
descrito pela Técnica-Pedagógica do portal, cada um dos recursos tem uma pasta
responsável pela verificação da adequação do conteúdo às diretrizes para o ensino
básico. De acordo com a resposta em anexo, os critérios para a seleção dos
conteúdos, de acordo com sua natureza digital, são os seguintes:
- Vídeos e Trechos de filmes: Os vídeos e trechos de filme devem estar nos formatos AVI (download) e FLV (visualização), ou permitir a conversão para esses formatos. - Simuladores: Os simuladores devem ter qualidade nas informações visuais. - Sites: São descartados sites que apresentem cenas de violência, veiculam preconceitos de condição econômico-social, étnico-racial, gênero, linguagem ou qualquer outra forma de discriminação; que façam apologia ao uso de drogas, entre outros critérios legais; e que façam doutrinação de qualquer tipo, desrespeitando o caráter laico e democrático do ensino público. - Sugestão de Leitura: As sugestões de leitura devem ser referentes à área do conhecimento e contemplar obras que contribuam para o aperfeiçoamento docente. Priorizam-se autores com produções consolidadas em sua área. - Artigos, teses e dissertações: Disponibilizam-se artigos, teses e dissertações que já tenham sido publicados/defendidos em alguma Instituição de Ensino Superior reconhecida pelo MEC ou em publicações seriadas, como periódicos, jornais, publicações anuais
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(relatórios, anuários, etc.), revistas, memórias e monografias seriadas, que tenham o registro no International Standard Serial Number (ISSN). Esses recursos devem estar em consonância com as disciplinas da Educação Básica, abordando temas que possam contribuir tanto para formação continuada dos professores quanto para sua prática pedagógica. - Imagens: As imagens devem ter qualidade gráfica e pertinência pedagógica. - Áudios: Os áudios devem estar no formato MP3, ou permitir a conversão para esse formato. - Trechos de Filmes: Os trechos de filme devem ser editados em pontos estratégicos que não comprometam a narrativa fílmica e ter relevância pedagógica (ANEXO 3)
Como se percebe, os responsáveis pelo portal são bastante
criteriosos nas análises dos materiais sugestionados. Isso se faz necessário por ser
um portal educativo público e, consequentemente, da necessidade evidente de boa
qualidade nos materiais disponibilizados. Nesse processo, ainda é confirmado se os
arquivos enviados são compatíveis com os equipamentos disponíveis nos
estabelecimentos de ensino.
O portal também possui o ambiente e-moodle destinado à formação
continuada dos docentes e funcionários administrativos da rede estadual de ensino.
Para a realização desses cursos, tanto para professores como agentes educacionais,
é necessária uma inscrição prévia. Nalguns casos, há uma pré-seleção com base em
determinados requisitos, a serem cumpridos a fim de se efetivar a matrícula.
É forçoso mencionar que a limitação de vagas, em conformidade com
as possibilidades estruturais das CRTEs, faz com que muitos professores
interessados não consigam efetuar a formação continuada nas áreas em que têm mais
interesse. Essa lacuna nas ofertas pode criar um distanciamento dos profissionais
menos insistentes. É justamente esse público-alvo que deve ser atingido, de modo a
dar resposta às necessidades formativas docentes, às demandas tecnológicas do
processo de ensino e à qualidade que se espera do ensino público. Não há dados que
revelem a quantidade de professores que cursaram ou que desejam cursar módulos
de formação profissional relacionados à tecnologia, mas, nas conversas informais com
professores da rede estadual, fica a constatação de que a demanda por formação
específica para o uso de tecnologia na sala de aula é maior do que o número de vagas
ofertadas até então.
No que concerne os relatos de docência, há várias experiências
95
postadas, descrições de aulas ou sugestões, mas quando analisadas
pormenorizadamente, poucas pressupõem o uso interativo da Web, de forma
colaborativa e participativa. Muitas são aulas tradicionais ou com o uso da Internet
como mera ferramenta pesquisa. Essa perspectiva não é diferenciada se observamos,
nessas propostas enviadas pelos professores, quantas e como implicam o uso das
tecnologias digitais.
Segundo Ismael Furtado (2004, p. 51-55) os portais educacionais são
importantes, pois levam a integração da Internet com a sistematização da educação
formal para as experiências realizadas na aprendizagem aberta ou a distância. O uso
das tecnologias digitais disponibilizadas na Web se torna um grande desafio em nosso
tempo. Para que ocorra efetivamente torna-se necessária uma ressignificação do
espaço escolar em relação à inovação tecnológica e pedagógica.
Depois do que foi exposto, fica uma máxima a ser considerada no
processo de integração das TIC nos processos de ensino: a simples aquisição e
distribuição de equipamentos tecnológicos não é eficiente, nem suficiente, para dar as
respostas que a sociedade espera em relação à melhoria da qualidade de ensino.
Noutro sentido, são necessárias ações concretas que vão além da instrumentalização
tecnológica e disponibilização de recursos digitais.
Assim, ainda que se considere expressivo investimento na tecnologia
educacional, a promessa, como indica Lévy (1993), de que as tecnologias mais
recentes iriam criar uma educação mais eficiente e barata, além de economizar tempo
que poderia ser dedicado ao contato individualizado com o estudante ainda está para
ser cumprida.
Apesar de não existir a segmentação dos recursos investidos,
especificamente, no Portal Dia a Dia Educação, é possível imaginar que a manutenção
do Portal, sua estrutura tecnológica e seus funcionários, consumam uma parcela
significativa dos mais de duzentos milhões investidos na tecnologia educacional no
Estado do Paraná desde 2003. A falta de transparência nos valores investidos na
plataforma digital deixa margem para questões mais amplas, como: quantas pessoas
compõem a equipe do Portal? Esses servidores públicos estão ligados diretamente à
plataforma ou são realocados noutros setores da SEED quando necessário? Qual o
total gasto com a folha de pagamento, especificamente, do Portal? Quanto foi
investido em equipamentos para a manutenção da plataforma na Internet?
Resumidamente, é possível ainda perguntar: o investimento no Portal
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Dia a Dia Educação e na inclusão digital das escolas paranaenses é justificado pelos
resultados obtidos até agora? Naquilo que observamos até aqui, é possível responder
que sim, especialmente no que diz respeito à integração das diferentes classes que
compõem a comunidade escolar. O papel desempenhado pelos professores nesse
ambiente é fundamental. De acordo com Menezes (2008),
a participação do professor-autor no Ambiente Pedagógico Colaborativo pode contribuir para desenvolver diferentes tipos de aprendizagens, entre as quais se destacam: desenvolvimento técnico capaz de conduzi-lo na busca e seleção de diferentes fontes e meios de pesquisa, bem como estabelecer categorias de análise que lhe permitam relacionar o conteúdo de ensino de sua disciplina, adequando-o ao seu Objeto de Aprendizagem Colaborativa; desenvolvimento de compreensão de textos e fluência na linguagem escrita; articular os conhecimentos relativos ao conteúdo de ensino selecionado no OAC, com sua prática cotidiana; desenvolvimento da capacidade de síntese; valorização do registro das obras utilizadas em sua pesquisa dentro dos parâmetros utilizados na escrita de trabalhos científicos. (MENEZES, 2008, 172)
Como se vê, as aplicabilidades da plataforma são várias e permitem
a melhoria da prática profissional, por meio do acesso colaborativo ao Portal, da
criação, edição, distribuição e redistribuição de documentos, materiais de pesquisa e
objetos de aprendizagem.
Mais do que um juízo definitivo acerca da aplicabilidade do Portal,
seus materiais e sua interação, é necessário dar ênfase à importância do
monitoramento dos processos de formação continuada que visam à integração das
TIC na prática pedagógica. Do modo como está organizado, o Portal Dia a Dia
Educação exige a participação e a colaboração docente, em associação à progressão
profissional e à formação continuada, na criação de redes de interesse comum dentro
da comunidade escolar do Estado.
97
7 CONCLUSÃO
A integração das Tecnologias da Informação e Comunicação nos
processos educacionais é uma realidade. O estudo histórico das iniciativas públicas
para a implementação da tecnologia educacional auxilia no entendimento de como
esses processos se configuram no Brasil. Nesse sentido foi possível verificar que,
desde meados dos anos 1980, as ações para a integração das tecnologias telemáticas
no ensino brasileiro se intensificaram. No Estado do Paraná, a partir da implantação
do Programa Paraná Digital, em 2003, esse processo tem ganhado importância dentro
das políticas públicas voltadas para a Rede Estadual de Ensino.
Observou-se que as Diretrizes Curriculares para o ensino de Biologia
e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) propõem, timidamente, a partir de
1996, o uso das tecnologias em sala de aula. Em consonância com governo federal,
a Secretaria da Educação do Estado do Paraná centraliza os trabalhos de integração
tecnológica para a educação pública paranaense.
Na observação das estratégias de implementação da informática na
Rede Estadual de Educação do Paraná foi possível verificar uma continuidade do
trabalho iniciado em conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, desde a organização dos primeiros laboratórios de informática nas escolas
estaduais, ainda em meados da década de 1990.
Além da distribuição de equipamentos eletrônicos, a SEED, por meio
das Coordenações Regionais de Tecnologia na Educação, desenvolve a formação
continuada no intuito de desenvolver as competências docentes em relação à
tecnologia educacional. No mesmo sentido, observou-se que uma parte relevante dos
assuntos relacionados à vida docente e à educação paranaense, de modo geral,
perpassa a relação com a tecnologia, por meio do acesso ao portal educacional criado
e mantido pela SEED, o Dia a Dia Educação.
A centralização dos processos educacionais, das informações
relevantes à carreira docente, dos temas relacionados à formação continuada docente
e dos recursos educacionais abertos, no portal Dia a Dia Educação, torna-se um
facilitador para a integração das diferentes categorias de interessados na educação
do Estado do Paraná.
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Do mesmo modo, observou-se que o portal Dia a Dia Educação é,
atualmente, constituído como um ambiente interacional, capaz de fornecer
ferramentas de criação, edição e armazenamento de objetos educacionais abertos.
Além disso, concentra o acesso às informações relativas à carreira docente. Nesse
espaço virtual dedicado à educação paranaense, a interação entre os professores se
estabelece por meio da contribuição aberta com materiais e sequências didáticas
elaboradas de maneira colaborativa. Um aspecto bastante positivo, observado naquilo
que tange ao intercâmbio de materiais, é a curadoria exercida pelos funcionários
técnico-pedagógicos responsáveis pelos repositórios do portal. Eles são responsáveis
pela verificação do alinhamento das contribuições enviadas às diretrizes legais e
metodológicas que regem o ensino no Brasil e no Estado do Paraná, e com a realidade
dos equipamentos tecnológicos disponíveis nas escolas estaduais. Isso faz com que
todo material enviado como colaboração dos docentes seja disponibilizado em
conformidade com as possibilidades que a estrutura das unidades de ensino permite.
Diferentemente do que acontece em outras redes sociais, a
interatividade no portal Dia a Dia Educação se dá indiretamente, já que a curadoria de
materiais verifica todas as contribuições antes de torná-las públicas. Desse modo, o
portal tem características de web 2.0, pois é construído através de contribuições
docentes e iniciativas diversas que visam à melhoria do ensino, todavia, conserva um
sistema de verificação das postagens que se assemelha àquele observado nos
modelos de distribuição de conteúdo que caracterizaram as primeiras experiências da
Internet no Brasil e no mundo.
No que diz respeito, especificamente, à oferta de materiais para o
ensino de Biologia no Portal Dia-a-dia Educação, é possível dizer que ela se
desenvolve pela junção das ações docente e governamental, uma vez que há
materiais criados pelos técnicos da SEED e materiais enviados pela comunidade
escolar, mormente, educadores.
Os arquivos são bastante diversos e usam tecnologias distintas na
criação de simuladores, vídeos, imagens etc. No entanto, não há atividades que
prezem pela integração tecnológica, especialmente, naquilo que diz respeito à
interatividade entre alunos e outros interessados nos conteúdos de Biologia. De modo
geral, a oferta de materiais para o ensino de Biologia no Portal Dia-a-dia Educação dá
outras possibilidades para o fazer pedagógico, agregando perspectivas distintas, por
meio de materiais alternativos às apostilas e livros, sem, necessariamente, utilizar as
99
tecnologias nesse processo.
Quanto ao papel do professor no processo de implementação das
tecnologias educacionais, é possível dizer que, apesar das iniciativas listadas, há uma
tendência à utilização apenas do livro didático, reflexo de uma perspectiva facilitadora
frente à excessiva carga de trabalho e à falta de estrutura básica para implantação
dos equipamentos tecnológicos e da formação específica necessária para tanto.
Assim, destaca-se que optar por uma nova prática pedagógica, especialmente, no
ensino de Ciências, aqui representado pela Biologia, nem sempre é uma alternativa,
tendo em consideração outros aspectos que permeiam o trabalho docente, como a
ausência de incentivos e tempo hábil para a revisão de métodos e conteúdos.
Assim sendo, fica exposto que, apesar de não entender o uso da
tecnologia como uma panaceia, capaz de solução para todos os percalços do
processo de ensino, as ferramentas web devem convir para uma aula mais lúdica,
interessante e criativa, adequada à realidade tecnológica que permeia a vida dos
estudantes, pois trazem múltiplas possibilidades para a interação entre os docentes,
os alunos e o conhecimento, tornando as aulas mais interessantes, dinâmicas e
significativas.
De acordo com o que foi elencado até aqui, foi possível evidenciar
que as políticas públicas para a integração das tecnologias na educação são
necessárias para o aprimoramento profissional e educacional, de modo que há a
necessidade constante de investimentos na formação docente para o uso pedagógico
dos equipamentos disponíveis nos estabelecimentos de ensino da rede estadual
paranaense.
Se não é possível indicar diretamente que os investimentos realizados
no Portal são revertidos na melhoria das condições de ensino, é possível mencionar
que a participação do professor nessa iniciativa contribui para a valorização da
aprendizagem colaborativa que caracteriza a troca de materiais no Portal.
De modo geral, nas resoluções dos objetivos desse trabalho, é
possível considerar que, no contexto paranaense, o uso de tecnologias digitais faz
parte da prática pedagógica de muitos professores com integração ao cotidiano
escolar. Especificamente tratando das aulas de Biologia, é possível apontar que os
materiais disponibilizados são coerentes com as diretrizes curriculares e esse
alinhamento é resultado da curadoria de materiais realizada pelos servidores
responsáveis pelo Portal Dia a Dia Educação.
100
Enfim, conclui-se que a utilização das tecnologias digitais como
prática pedagógica no ensino paranaense, especialmente no que diz respeito ao
ensino de Biologia, tem se demonstrado como um exercício necessário. Noutro
sentido, é possível dizer que as iniciativas paranaenses observadas nesse trabalho
são bastante positivas, especialmente o Portal Dia a Dia Educação, mas necessitam
de maior interesse por parte da comunidade escolar.
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ANEXO 3 – Resposta encaminhada em 04/02/2015 por e-mail pela Técnica-Pedagógica do Portal Dia a Dia.
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Olá, Eléuzi Pinheiro!
Em atendimento à sua solicitação, seguem algumas informações:
1) Número total de acessos
A página da disciplina de Biologia teve um total de 219.423 acessos no ano de 2014.
2) Número de acessos por categoria:
Os materiais/recursos disponibilizados no Portal estão organizados em diversas
categorias e alocados em diferentes módulos (gerenciadores de conteúdo). Cada
módulo possui um sistema próprio de gerenciamento de dados e seus relatórios são
emitidos conforme necessidade e com periodicidade específica. Sendo assim, temos
informações sistematizadas, neste momento, das seguintes categorias:
Imagens – 3553 acessos
Simuladores e animações – 6367 acessos
Vídeos – 9909 acessos
3) Número aproximado de sugestões de materiais por categoria:
O número de sugestões pode ser observado em cada módulo e qualquer usuário pode
ter acesso a estas informações. Citamos como exemplo o módulo que armazena as
imagens, em que o número total de recursos pode ser observado ao lado de cada
Conteúdo Estruturante.
www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/listaEventos.php
4) Recursos que mais recebem sugestões: Imagens.
5) Principais critérios para postagem das sugestões no ambiente:
Desde a criação do Portal, no ano de 2003, diferentes têm sido os processos que
envolvem a construção, o aperfeiçoamento e a manutenção desse ambiente. Seu
acervo agrega elementos de diferentes contextos históricos, refletindo a dinâmica da
ambiente web. .
Atualmente, a equipe que integra a Coordenação do Portal Dia a Dia Educação,
responsável por manter esse espaço virtual, tem alguns princípios que orientam a
seleção do material disponibilizado nele. Dentre esses cuidados de seleção,
destacam-se os gerais, que se aplicam aos diversos objetos de aprendizagem e a
outros materiais que integram o acervo de recursos do Portal; e os específicos a cada
recurso disponibilizado.
Gerais:
- São pesquisados, preferencialmente, em fontes confiáveis.
- São descartados materiais/indicações que apresentem cenas de violência, veiculam
preconceitos de condição econômico-social, étnico-racial, gênero, linguagem ou
qualquer outra forma de discriminação; que façam apologia ao uso de drogas, entre
outros critérios legais; e que façam doutrinação de qualquer tipo, desrespeitando o
caráter laico e democrático do ensino público.
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Essa ação é realizada em observância aos preceitos legais e jurídicos(Constituição
Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei n. 10.639/2003, Diretrizes Nacionais do Ensino Fundamental,
Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação, em especial, o Parecer
CEB n. 15/2000, de 04/07/2000, o Parecer CNE/CP n. 003/2004, de 10/03/2004 e a
Resolução n. 1, de 17 de junho de 2004).
- São selecionados materiais que não possuam Direitos Autorais protegidos
(Copyright).
- Os conteúdos devem estar relacionados à disciplina ou à área do conhecimento, que
tragam, preferencialmente, situações problematizadoras e desafiadoras.
Específicos:
- Vídeos e Trechos de filmes: Os vídeos e trechos de filme devem estar nos formatos
AVI (download) e FLV (visualização), ou permitir a conversão para esses formatos.
- Simuladores: Os simuladores devem ter qualidade nas informações visuais.
- Sites: São descartados sites que apresentem cenas de violência, veiculam
preconceitos de condição econômico-social, étnico-racial, gênero, linguagem ou
qualquer outra forma de discriminação; que façam apologia ao uso de drogas, entre
outros critérios legais; e que façam doutrinação de qualquer tipo, desrespeitando o
caráter laico e democrático do ensino público.
- Sugestão de Leitura: As sugestões de leitura devem ser referentes à área do
conhecimento e contemplar obras que contribuam para o aperfeiçoamento docente.
Priorizam-se autores com produções consolidadas em sua área.
- Artigos, teses e dissertações: Disponibilizam-se artigos, teses e dissertações que já
tenham sido publicados/defendidos em alguma Instituição de Ensino Superior
reconhecida pelo MEC ou em publicações seriadas, como periódicos, jornais,
publicações anuais (relatórios, anuários, etc.), revistas, memórias e monografias
seriadas, que tenham o registro no International Standard Serial Number (ISSN).
Esses recursos devem estar em consonância com as disciplinas da Educação Básica,
abordando temas que possam contribuir tanto para formação continuada dos
professores quanto para sua prática pedagógica.
- Imagens: As imagens devem ter qualidade gráfica e pertinência pedagógica.
- Áudios: Os áudios devem estar no formato MP3, ou permitir a conversão para esse
formato.
- Trechos de Filmes: Os trechos de filme devem ser editados em pontos estratégicos
que não comprometam a narrativa fílmica e ter relevância pedagógica.
Atenciosamente.