fanon os condenados da terra

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FANON, Frantz. Os condenados da terra. Trad. José Laurênio de Melo. Coleção Perspectiva do Homem, v. 42 – Série Política. Titulo original: “LES DAMNÉS DEL ATERRE”. RJ: Ed. Civilização Brasileira, 1961. Aelite européia tentou engendrar um indigenato de elite; selecionava adoIe:scentes, gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-lhes na bôca mordaças sonoras, expressões bombásticas epastosas que grudavam nos dentes; depois de breve estada na metrópole, recambiava-os, adulterados. Essas contrafações vivas não tinham maisnada a dizer a seus irmãos; (SATRE, In FANON, 1961: 3) Isto acabou. Asbôcas passaram a abrir-se sózinhas; as vozes amarelas enegras falavam ainda do nosso humanismo, mas para censurar a nossa desumanidade. Escutávamos sem desagrado essas corteses manifestações de amargura. De início houve um espa'nto orgulhoso: Quê! Êles falam por êles mesmos!Vejam só o quefizemos dêles! Não duvidávamos que aceitassem o nosso ideal porquanto nos acusavam de não ser-mos fiéis a êle; por esta vez a Europa acreditou em sua missão: havia helenizado os asiáticos e criado esta espécie nova: os negros greco-latinos. Ajuntávamos, só para nós, astutos, deixemos que se esgoelem, isso os alivia; cão que ladra não morde. (SATRE, In FANON, 1961: 3)

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Page 1: FANON Os Condenados Da Terra

FANON, Frantz. Os condenados da terra. Trad. José Laurênio de Melo. Coleção Perspectiva do Homem, v. 42 – Série Política. Titulo original: “LES DAMNÉS DEL ATERRE”. RJ: Ed. Civilização Brasileira, 1961.

Aelite européia tentou engendrar um indigenato de elite; selecionava adoIe:scentes, gravava-lhes na testa, com ferro em brasa, os princípios da cultura ocidental, metia-lhes na bôca mordaças sonoras, expressões bombásticas epastosas que grudavam nos dentes; depois de breve estada na metrópole, recambiava-os, adulterados. Essas contrafações vivas não tinham maisnada a dizer a seus irmãos; (SATRE, In FANON, 1961: 3)

Isto acabou. Asbôcas passaram a abrir-se sózinhas; as vozes amarelas enegras falavam ainda do nosso humanismo, mas para censurar a nossa desumanidade. Escutávamos sem desagrado essas corteses manifestações de amargura. De início houve um espa'nto orgulhoso: Quê! Êles falam por êles mesmos!Vejam só o quefizemos dêles! Não duvidávamos que aceitassem o nosso ideal porquanto nos acusavam de não ser-mos fiéis a êle; por esta vez a Europa acreditou em sua missão: havia helenizado os asiáticos e criado esta espécie nova: os negros greco-latinos. Ajuntávamos, só para nós, astutos, deixemos que se esgoelem, isso os alivia; cão que ladra não morde. (SATRE, In FANON, 1961: 3)