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EXPEDIENTE

Comissão Organizadora do VI Congresso Nacional da ANPTECRE Alberto da Silva Moreira – PUC Goiás, Presidente

Clóvis Ecco – PUC Goiás, Coordenador do PPGCR José Reinaldo Felipe Martins Filho – PUC Goiás, Secretário Gláucia Borges Ferreira de Souza – PUC Goiás, Tesoureira

Emivaldo Silva Nogueira – PUC Goiás Celma Laurinda Freitas Costa – PUC Goiás

Irene Dias de Oliveira – PUC Goiás Paulo Rogério Rodrigues Passos – PUC Goiás

Pedro Sahium – PUC Goiás/UEG Rosemary Francisca Neves Silva – PUC Goiás

Selma Marques de Paiva – PUC Goiás Bolsistas/CAPES-PROSUP: Gustavo Cortez Fernandez

Katiuska Florencia Serafin Nieves Raquel Mendes Borges

Ailton Soares dos Santos Analvari Franco Pereira Braga

Lilian Ghisso Aristimunho Roberta Mayara Alves de Souza

Hélyda Di Oliveira Maria Adriana Marques

Conselho Diretor da ANPTECRE

Gilbraz Aragão – UNICAP, Presidente Claudio Ribeiro – UMESP, Vice-Presidente

Fernanda Lemos – UFPB, Secretária

Comissão Científica da ANPTECRE Luiz Alexandre Solano Rossi – PUC PR (Presidente)

Dilaine Soares Sampaio – UFPB Eduardo Cruz – PUC SP Geraldo de Mori – FAJE Rudolf von Sinner – EST

Conselho Fiscal da ANPTECRE Newton Darwin Cabral - UNICAP Cesar Augusto Kuzma - PUC Rio

Júlio Cézar Adam - EST

Representantes da Área Ciências da Religião e Teologia na CAPES Flávio Augusto Senra Ribeiro – PUC Minas Mary Rute Gomes Esperandio – PUC-PR

Sandra Duarte de Souza – UMESP

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Organização

Comissão Organizadora do VI Congresso Nacional da ANPTECRE

Revisão da Organização José Reinaldo F. Martins Filho

Diagramação

Aline Garcia Martins

A revisão textual dos manuscritos originais é de responsabilidade de seus respectivos autores, com anuência dos coordenadores dos Grupos de Trabalho e das Sessões

Temáticas.

Realização:

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE)

Caderno de Resumos do VI Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião: Religião, Migração e Mobilidade Humana. Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Go, 13 a 15 de setembro de 2017.

259 p. ISSN 2175-9685 1. VI Congresso ANPTECRE. I. Religião. II. Ciências da Religião. III. Teologia. IV. Caderno de Resumos. V. Título.

Patrocínio:

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SUMÁRIO

Grupos de Trabalho GT 01 – Religião e Educação ................................................................. 06 GT 02 – Religião como texto: linguagens e produção de sentido .............. 19 GT 03 – Espiritualidades contemporâneas, pluralidade religiosa e diálogo . 39 GT 04 – Gênero e religião ..................................................................... 56 GT 05 – Pesquisa bíblica ....................................................................... 80 GT 06 – Paul Tillich ............................................................................... 105

Sessões Temáticas ST 01 – Religiões afro-brasileiras e contemporaneidade ........................... 118 ST 02 – Teologia sistemática: questões emergentes ................................ 133 ST 03 – Catolicismo no Brasil: permanências e rupturas .......................... 145 ST 04 – Religião, espaço público e política .............................................. 154 ST 05 – Cultura visual e religião ............................................................. 168 ST 06 – Religião, migração e mobilidade humana .................................... 181 ST 07 – Psicologia da religião ................................................................ 189 ST 08 – Espírito e utopia do Reino de Deus ............................................ 203 ST 09 – Capitalismo como religião ......................................................... 213 ST 10 – Teologia(s) da libertação........................................................... 226 ST 11 – Consciência planetária, religião e ecoteologia ............................. 239 ST 12 – Novos movimentos religiosos e espiritualidades não religiosas ..... 245

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GT 01 – RELIGIÃO E EDUCAÇÃO

Dra. Elisa Rodrigues (UFJF) [Coordenadora] Dra. Eunice Simões (UFPB) Dra. Laude Brandenburg (EST) Dr. Sérgio Rogério Azevedo Junqueira (UFPR) Ementa: Este GT organiza estudos e pesquisas sobre a relação entre educação, cultura e religião, um campo que se abre sistematicamente aos pesquisadores de Ciências da Religião e Teologia, assim como de áreas afins. Com perspectiva interdisciplinar, a intenção deste GT é compreender os diferentes processos de ensino e aprendizagem nos espaços escolarizados. Esse núcleo abrange temas como religião como objeto de estudo, ensino religioso, projetos que tematizem religião em ambientes escolares, religião nos currículos escolares, educação e religião na esfera pública, diversidades religiosas e étnico-culturais, formação inicial e continuada para o ensino sobre religião, metodologias e subsídios pedagógicos para o ensino sobre religião, entre outros. Tais elementos estão relacionados à aplicação e à elaboração de técnicas de ensino que tornem possível o diálogo entre os resultados dos Estudos de Religião para a Educação brasileira, tendo em vista a compreensão e a transformação das práticas e políticas educacionais apresentadas como plataformas para a formação de cidadãos e cidadãs cientes de seus direitos e deveres. Palavras-chave: Educação; Religião; Ensino religioso. A IMPORTÂNCIA DO COLÓQUIO INTER-RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO EM BUSCA DA LIBERDADE CONTRA A INTOLERÂNCIA NAS AULAS DE ENSINO RELIGIOSO: CONVERSANDO A GENTE SE ENTENDE! Cláudia Andrade Torres Ribeiro – Especialista – SEEDUC – RJ Resumo: A prática educativa pelos educadores, no contexto das questões relativas à diversidade, cultura e história religiosa, tem o compromisso de cuidar com a produção de conteúdos para os seus educandos, o que demanda um processo de sensibilização e de preparação, e se apresenta como um limite real no contexto escolar. Esse texto procura apontar alguns elementos fundamentais para a construção de um diálogo inter-religioso entre a comunidade escolar, principalmente entre os alunos e professores, que atenda às necessidades e aos desafios de uma educação inclusiva e respeitosa em relação à diversidade cultural e religiosa do povo brasileiro através de uma educação religiosa necessariamente laica. Abordar a

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experiência educacional e cultural deve necessariamente considerar a concepção religiosa plural relacionada às tradições históricas que se defronta com preconceitos arraigados na formação de docentes e discentes. Isso aponta a necessidade de evidenciar a possibilidade de uma elaboração da educação e do conhecimento na diversidade e no respeito às diferenças com um questionamento acerca de diversos saberes religiosos que necessariamente implicam em reverter a forma de pensar e de sentir, de formular e elaborar o contexto da educação, assimilando então os elementos identitários dos valores da cultura plural. O diálogo inter-religioso tem seu caráter teológico e um significado especial na construção da nova humanidade, abrindo caminhos alternativos e originais de testemunho cristão e também das religiões não cristãs, promovendo a liberdade e a dignidade dos povos, estimulando a colaboração para o bem comum, superando a violência muitas das vezes motivada por atitudes religiosas fundamentalistas e fanáticas. Palavras-chave: Colóquio; Ensino religioso; Liberdade. A CONSTRUÇÃO COLETIVA DOS PARÂMETROS CURRICULARES DO ENSINO RELIGIOSO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS DO ESTADO DE PERNAMBUCO Constantino José Bezerra de Melo – Mestre – UNICAP Rosalia Soares de Sousa – Mestra – UNICAP Wellcherline Miranda Lima – Mestra – UNICAP Resumo: Este artigo relata o processo de construção dos Parâmetros Curriculares do Ensino Religioso para o Ensino Fundamental do Estado de Pernambuco. O documento foi elaborado de forma coletiva, entre 2013 e 2015. Teve como objetivo, socializar junto aos docentes da rede de ensino pública estadual de Pernambuco, que lecionam o componente curricular Ensino Religioso, conteúdos básicos organizados através de eixos temáticos visando atingir expectativas de aprendizagem junto aos estudantes. O documento foi fundamentado a partir da Constituição de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/1996, das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica e da Constituição Estadual de Pernambuco, dentre outros marcos legais. Contou com um Grupo de Trabalho de professores, da Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco e de técnicos pedagógicos representantes de 11 Gerências Regionais de Educação de Pernambuco. Os Parâmetros foram apresentados para apreciação dos representantes da sociedade civil, que também propuseram a ampliação de conteúdos e expectativas de aprendizagem, porém ratificaram a divisão do documento em eixos temáticos baseados nas legislações que tratavam o Ensino Religioso, são eles: Introdução ao Ensino e ao Fenômeno Religioso, Diversidade Cultural-Religiosa e Diálogo Inter-religioso, Elementos Constituintes das Tradições e/ou Culturas Religiosas, Paisagem Religiosa e Lugares Sagrados e Temas Transversais geradores de Diálogo Inter-religioso: cidadania, religiões e democracia. Este documento foi fundamentado

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dentro de uma perspectiva das Ciências da Religião Aplicada, indicando o fenômeno religioso, o diálogo inter-religioso e a transdisciplinaridade como elementos fundantes do processo de ensino e aprendizagem do Ensino Religioso. Como resultado, os Parâmetros Curriculares do Ensino Religioso para o Ensino Fundamental Anos Finais foi disponibilizado pra os professores no site da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco desde 2015, sendo trabalhado através de formações continuadas de professores, desta forma, contribuindo para um planejamento pedagógico mais consistente do componente curricular Ensino Religioso, reafirmando o compromisso da Secretaria de Educação do nosso Estado em ofertar uma educação pública participativa, democrática e de qualidade. Palavras-chave: Ensino Religioso; Parâmetros Curriculares; Transdisciplinaridade e Religião. O PAPEL DO PROFESSOR DE ER NO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA – UMA ANÁLISE A PARTIR DA PRÁTICA DOCENTE Daniel Marcos Gomes de Lelis – Mestre – UFPB Lúcia de Fátima Gomes de Lelis – Mestre – UFPB Resumo: Pensar o papel do professor em tempos atuais tem sido uma questão de necessidade diante dos desafios e demandas do dia a dia da sala de aula e do cenário da educação brasileira. Com os avanços dos meios de comunicação, dos recursos tecnológicos entre outros, à maneira didático-pedagógico dos docentes têm se tornado um desafio para os educadores, ainda mais aos educadores do campo das ciências humanas. E foi pensando nestes desafios e complexos momentos de adequação que também os professores de ER nas escolas públicas se veem confrontados quanto sua prática docente. Frente estes desafios, se faz necessário perceber da parte dos docentes sua identidade e seu papel como educador, cujo componente versa sobre aspectos antropológicos e sociais dos sujeitos religiosos. Na atual conjuntura a educação no âmbito escolar tem sido um desafio, sobretudo, no âmbito do ER, pois, por mais que se tenha alcançado significativos avanços quanto sua assimilação enquanto área de conhecimento; historicamente, ainda prevalece a tardia compreensão de uma educação transmitida e imposta sob o alicerce da doutrinação; para o senso comum, ainda que o Art. 33 da LDB, assevere que este componente deve resguardar a liberdade do educando e o exercício do não proselitismo. Ainda assim, prevalece a ideia de um modelo de ensino confessional o que por hora inviabiliza o bom e contínuo exercício do professor de ER. Não há dúvida quanto sua cooperação no processo da consolidação dos saberes, entretanto, percebe-se a necessidade urgente em obter quanto ao papel deste profissional? Contudo, entre os diálogos na formação continuada, evidencia-se quase que hegemonicamente distorções quanto ao papel deste especialista; diante disto, surgiu então a ideia de se analisar se há este entendimento sobre o múnus do professor de ensino religioso, o que desencadeou a construção do presente artigo. Como

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metodologia, aplicou-se um questionário aos professores pelo qual prontamente e de forma livre se dispuseram a responder sobre seu papel, por sua vez, como resultado prévio, não há dúvida entre os docente quanto seu papel; o que satisfatoriamente tem-se como resultado uma visão contundente e que converge com os objetivos e orientações do PCNER. Palavras-Chave: Ensino Religioso; Educação; Prática Docente. EPISTEMOLOGIA(S) IMPLÍCITA(S) NO DOCUMENTO REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR DO RIO GRANDE DO SUL NA ÁREA DO ENSINO RELIGIOSO Laude Erandi Brandenburg – Doutora – EST Resumo: O Ensino Religioso, embora ausente da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, resiste nos documentos de referência curricular de vários estados do Brasil. No estado do Rio Grande do Sul, o Ensino Religioso continua sendo considerado área de conhecimento e recebeu o mesmo tratamento das outras áreas elencadas no documento da Secretaria Estadual de Educação. O trabalho objetiva analisar o documento Reestruturação Curricular do Rio Grande do Sul na perspectiva do Ensino Religioso no que se refere à dimensão epistemológica presente na proposta curricular lançada para o estado do Rio Grande do Sul no ano de 2016. O método utilizado é a análise documental e de outras bibliografias concernentes ao tema quanto a avanços e possíveis retrocessos na orientação epistemológica. O trabalho busca verificar se transcendência, o fenômeno religioso e o sagrado são aspectos recorrentes no documento em análise ou se aparecem novos constructos epistemológicos decorrentes dos aspectos ressaltados. Além disso, busca-se verificar se a abordagem dos 5 eixos anunciados desde 1997 nos Parâmetros Curriculares para o Ensino Religioso elaborados pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso – FONAPER ainda mostram-se consistentes dentro da proposta. O trabalho também apresenta a relação existente entre os constructos epistemológicos detectados e a teoria das competências e habilidades presente na elaboração da prática pedagógica do Ensino Religioso no Ensino Fundamental e Médio no documento analisado. O trabalho apresenta os resultados da análise proposta e procura desenvolver, mesmo brevemente, possíveis consequências das opções epistemológica e metodológica explicitadas ao longo do referencial curricular analisado. Palavras-chave: Ensino Religioso; Epistemologia do Ensino Religioso; Reestruturação curricular. POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DO GRUPO FOCAL COMO TÉCNICA DE PESQUISA PARA A COLETA DE DADOS EM INVESTIGAÇÃO COM SERES HUMANOS – APORTES PARA OS ESTUDOS DA RELIGIÃO

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Lauri Alfonso Mombach – Doutorando – EST Resumo: O que ora se apresenta é parte integrante do projeto de pesquisa do doutorado, que propõe a elaboração de uma tese sob o título de ESPIRITUALIDADE NA ESCOLA PÚBLICA: Pontos e contrapontos entre a educação brasileira e a educação alemã. Considerando que a nossa temática para pesquisa, a espiritualidade na escola pública, seja ampla, optamos por trabalhar com o método de pesquisa qualitativa, metodologia esta proposta, principalmente pelo viés de grupos focais, sendo um no Brasil e outro na Alemanha. O propósito da apresentação e discussão é identificar a viabilidade desta metodologia numa pesquisa específica e a eficácia nos estudos das religiões. Elaborar critérios claros, por meio de categorias, dentro de uma transparência necessária à investigação, além de estabelecer as conexões entre os grupos, haja vista que se desenvolvem em países distintos, estão entre os maiores desafios. Esta opção, a primeira vista, justifica-se pela possibilidade de se estabelecer uma relação mais flexível e de proximidade entre pesquisador e pesquisado, criando um ambiente de reflexão e partilha dos significados pessoais da profissão de professor. Faz-se necessário assegurar que os grupos focais sugeridos nesse trabalho obedeçam a um conjunto de critérios que permita que possam ser comparados e analisados, sobretudo quando se tem o propósito de responder: quais são os espaços, formais e intersticiais, da espiritualidade nos sistemas de educação público do Brasil, em diálogo com o sistema de educação público da Alemanha e como estes se relacionam com a profissão da docência. Palavras-chave: Grupo-Focal; Espiritualidade; Educação. ATIVISMO DIGITAL NA LUTA CONTRA A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA: UM ESTUDO COM KAYLLANE Maria do Carmo de Morais Mata Rodrigues – Mestra – UERJ Resumo: Esse trabalho é fruto da minha pesquisa de dissertação e traz ao debate a intolerância religiosa crescente no cenário do Rio de Janeiro. “Achei que ia morrer. Toda vez que eu fecho os olhos eu vejo tudo de novo. Isso vai ser difícil de tirar da memória” (Kayllane Campos em entrevista ao site G1). Era um dia de domingo, acompanhada de familiares, caminhava pela rua quando dois homens atacaram o grupo com pedradas e uma delas a atingiu. Diariamente vários grupos religiosos são agredidos e muitos ataques nas redes sociais digitais são registrados. O fato vivenciado por Kayllane me levou a reflexão de que forma pessoas transformam em agressões e grandes conflitos mundiais algo que é sagrado para o ser-humano: sua liberdade de crenças. Faz-se necessário e urgente ampliar o diálogo inter-religioso e o respeito e é notório que a escola, bem como debate na mídia, templos diversos e audiências públicas são fundamentais para a conscientização de todos. Este trabalho teve como objetivo principal o estudo de caso de Kayllane pautado na pesquisa

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bibliográfica sobre intolerância e discriminação religiosas e ativismo digital. Também foram fontes de pesquisa: conversas, observações em passeatas pela liberdade religiosa nas quais ela participou, bem como a netnografia. Após quase dois anos do fato ocorrido ela se transformou em uma jovem que se tornou um dos símbolos mais importantes na luta contra a discriminação religiosa. Palavras-chave: Discriminação religiosa; Intolerância religiosa; Ativismo digital. OS JOVENS E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NO ESPAÇO ESCOLAR Marlon Anderson de Oliveira – Doutorando – UNICAP Resumo: O trabalho em construção é uma proposta de dissertação acerca da relação entre os jovens e a diversidade religiosa presente no espaço escolar. Entendemos que neste contexto de significativas mudanças, e aparecimento de novas temáticas, é que inserimos nosso objeto de estudo. As relações que circundam a juventude são objetos de análises de diversos campos do conhecimento, entre eles a educação. Os jovens formam uma significativa parcela da população que oferta ao universo da pesquisa, representações, estilos, comportamentos, processos, escolhas, rupturas e permanências que aguçam o olhar e a curiosidade de pesquisadores. Nosso objeto de estudo centra-se no seguinte problema: compreender as relações entre as formas de vivenciar a juventude e as experiências religiosas manifestadas no espaço escolar. Considerando o que a literatura acerca das relações juvenis anuncia no sentido de que as representações e o imaginário que compõem o aprendizado dos jovens extrapola o que é proposto no currículo, tendo relação com outros campos de experiência e informação, este estudo tem como itinerário examinar como a experiência religiosa dos jovens está presente na constituição de suas relações e na dinâmica da interação com o espaço escolar que os mesmos transitam. Palavras-chave: Experiência; Juventudes; Espaço Público; Diversidade religiosa. CURRÍCULO DE ENSINO RELIGIOSO BASEADO NA CIÊNCIA DA RELIGIÃO: REVISÃO TEÓRICA E PRÁTICA Matheus Oliva da Costa – Doutorando – PUC-SP Resumo: Desde 2015 temos apresentado um modelo de currículo de Ensino Religioso não confessional e escolarizado baseado na Ciência da Religião, como proposta nacional (Costa 2015). Após aplicar este currículo em aulas de Ensino Religioso, tanto em escola pública como em particular, e somado a retornos críticos de alguns leitores, percebemos a necessidade de refinar alguns pontos do currículo. O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão deste currículo. Além

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das experiências educacionais vividas e observadas, também será pensado o currículo à luz de perspectiva teóricas da Educação, da Psicologia da Educação, e, claro, da própria Ciência da Religião. Através do método de triangulação com abordagens qualitativas, vamos repensar criticamente nossa proposta. Muitos resultados da aplicação do currículo serão descritos, e, de modo geral, a proposta tem se mostrado como uma base firme para aplicação da Ciência da Religião em contexto escolar. Para a instituição escola, é uma diretriz harmonizada com ideias democráticas, e de formação crítica e cidadã. Do ponto de vista do profissional docente, apresenta um norte claro – ainda que necessite da formação específica. E, para estudantes, além de ser uma formação mais estruturada e baseada em conhecimentos acadêmicos, e de ajudar a combater intolerâncias religiosas, também apresenta atividades favoráveis ao desenvolvimento cognitivo. Justamente todas essas vantagens vem com dois desafios para implementação integral deste currículo: exige que o Ensino Religioso seja tratado de forma escolarizada, o que muitas vezes é recebido com resistência de várias partes; o fato de explorar conhecimentos históricos e desenvolver estruturas cognitivas de estudantes, exige adequações pedagógicas mais precisas e, ao mesmo tempo, mais flexíveis em sua aplicação. Assim, uma das conclusões, é que alguns temas, que necessitam de que estudantes já tenham começado a desenvolver o raciocínio abstrato e o raciocínio indutivo, devam ser tratados somente nos dois anos finais do Ensino Fundamental, enquanto nos dois primeiros anos dessa fase escolar devam realizar atividades mais adequadas aos processos cognitivos ainda em fase de estruturação como classificação e reversibilidade, afim de aflorar plenamente o potencial cognitivo do estudante. Paralelamente a isso, os discentes aprendem sobre várias tradições cultural-religiosas e sobre a necessidade de respeito entre seres humanos – religiosos ou não. Palavras-chave: Ciência da Religião Aplicada; Construtivismo; Escolarização. VISIBILIDADES AO ENSINO RELIGIOSO NOS CURSOS DE CIÊNCIA(AS) DA(S) RELIGIÃO(ÕES) Mirinalda Alves Rodrigues dos Santos – Doutoranda – UFPB Resumo: Este trabalho é uma apresentação inicial de um recorte da minha pesquisa de doutorado em andamento cujo objetivo é Identificar os sentidos de Ensino Religioso-ER no currículo dos cursos de graduação e Programas de Pós-graduação em Ciência(s) da(s) Religião(ões) - CR Metodologicamente, esse estudo é bibliográfico e documental com delineamento explicativo em uma perspectiva de currículo no Ensino Religioso fazendo a análise do diálogo intercultural, da pluralidade religiosa proposto pelas políticas de currículo as quais destinam-se a esse ensino. Essa abordagem é relevante, para as discussões de forma crítica do que vem sendo proposto pela a área da(s) CR para o currículo no ER, no sentido de buscar estratégias pedagógicas e metodológicas nas práticas educativas a serem trabalhadas com os alunos, uma vez que a(s) CR possibilitam a contemplação de

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todas as religiões existentes no contexto das relações sociais em que esse educando está inserido, proporcionando assim um ensino para a reflexão, conscientização e transformação de uma sociedade preconceituosa e intolerante com as religiões que não são consideradas cristãs, vislumbrando a importância das demais religiões no processo formativo de sociedade que temos hoje. Portanto, a pesquisa se apresenta importante para os estudos da área devido a contribuição que pretendemos dar com esse estudo é possibilitar a construção de um PPC na área da(s) Ciência(as) da(s) Religião(ões) voltado para o ER que será resultado da pesquisa diante dos fatos que serão analisados (re)significando e dando indicações de superação do conceito tradicional de Ensino Religioso que confundir-se com a catequese nas escolas, assim sendo um norte para o fortalecimento da formação docente do Ensino Religioso. Palavras-chave: Ensino Religioso; Currículo; Ciência(as) da(s) Religião(ões). O ENSINO RELIGIO EM ESCOLAS PÚBLICAS E A LAICIDADE: CONSIDERAÇÕES DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI) Nº 4.439 Rodrigo Oliveira dos Santos – Mestre – UFPA Resumo: A permanência do Ensino Religioso no currículo da Educação Básica das escolas públicas, ainda tem sido alvo de inúmeros debates nos espaços políticos e acadêmicos científicos, principalmente quando se refere à laicidade do Estado brasileiro. Muitos estudos tem considerado a sua permanência como uma ameaça a laicidade das escolas públicas, e defendem uma postura que não deixa de externar um posicionamento laicista ou antirreligioso, aproximando-se da experiência francesa, enquanto outros estudos demonstram a importância desse componente curricular para a construção de uma sociedade mais aberta a pluralidade e a diversidade étnico-cultural brasileira, servindo de bases para a consolidação de direitos, como a liberdade religiosa, direito fundamental dos Estados democráticos de direito. Para isso, esse estudo parte das contribuições pós-estruturalistas, na formação dos discursos sobre essa questão, destacando a ação de direta inconstitucionalidade (ADI) nº 4.439, decorrente do acordo entre Brasil e Santa Sé. Dessa forma, esse diálogo é estabelecido com os seguintes autores: CARNEIRO (2011), CUNHA (2009, 2016), FISCHMANN (2009, 2012), JUNQUEIRA (2000, 2016a, 2016b), JUNQUEIRA et al. (2015), PASSOS (2007), SABAINI (2010), SOARES (2010). Palavras-chave: Ensino Religioso; Laicidade; Escola Pública; Concordata. POSSIBILIDADES CONTRA HEGEMÔNICAS: NARRATIVAS DO COTIDIANO ENTRE RELIGIÃO E EDUCAÇÃO Sandra Aparecida Gurgel Vergne – Mestra – PUC-SP

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Resumo: As proposições teóricas da Ciência da Religião nos possibilitam entender o atravessamento das religiões, da política, educação e do racismo nas construções histórico-sociais, mas também as resistências do que se deseja que fique silenciado. Esta compreensão pode nos ajudar a buscar alternativas que possam fazer frente ao silêncio da guerra subjetiva contra as diferenças humanas que se coloca no cotidiano da sociedade e em particular no ambiente escolar. As marcas de exclusão têm sido perpetuadas através de estigmas e preconceitos que ainda apontam para a perpetuação dos mitos que promovem a demonização das religiões de matriz africana. Neste sentido a escola vem se tornando campo de doutrinação da fé como inclusão e disciplinamento, tendo como efeito o adoecimento de estudantes e professores, atrelado a uma única ideologia religiosa. E que no Estado do Rio de Janeiro, podem criar dificuldades na implementação da Lei 10639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 9.394 de 1996, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na educação básica. Para analisar esta dinâmica utilizo o referencial de autores do campo da Ciência Pratica da Religião, das Ciências Sociais e de Escritos Pós-coloniais. Para propor uma perspectiva em Educação que possa incluir a cosmovisão africana como, estratégia de resgate a identidade e ancestralidade desta população. Este artigo pretende trazer como possibilidade epistemológica experiência envolvendo a ludicidade na educação infantil. Capaz de propiciar a quebra de preconceitos, intolerância, respeito, violência religiosa nos processos de mobilidade humana. Ao trazer a superfície à omissão de fatos provenientes de uma herança eurocêntrica, que ainda orienta o ensino, impede os estudantes de conhecerem a verdadeira história do Brasil, e, portanto, de si mesmos. Palavras-chave: Educação; Religião; Mobilidade humana e Racismo. O TRÂNSITO RELIGIOSO NO ENSINO PÚBLICO NO AMAPÁ Sebastiana Sousa Dias – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Este resumo visa compreender a funcionalidade do ensino religioso para os jovens e o que mudaria em seus comportamentos e competências. O estudo religioso deveria ser base de conhecimento dos princípios éticos morais e culturais de um povo. Apesar da diversidade de credo que o povo brasileiro possui, pode-se perguntar: Qual a consciência que os estudantes do 7º ao 9º ano e do ensino médio tem sobre o trânsito religioso? Qual a contribuição do ensino religioso na formação do caráter dos jovens? Existe de fato no Brasil uma diversidade religião e religiosidade? Temos como base de estudo a experiência pessoal como professora de 1º ao 5º ano da Escola pública do Amapá, desde 1994, atuando com crianças e jovens. Atualmente trabalho na coordenação pedagógica da Escola pública com projeto mediação de conflito com parceria do Tribunal de Justiça do Amapá. (TJAP). No entanto existe uma lacuna nesse seguimento, que carece de esclarecimento.

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Nesse sentido, busca-se compreender através de pesquisas, dados estáticos e estudos relevantes as perguntas e com suas respectivas respostas. Palavras-chave: Ensino religioso; Amapá; Cultura; Educação. ENSINO DE RELIGIÃO: A PARTIR DO REFERENCIAL ECLESIAL Sérgio Rogério Azevedo Junqueira – Doutor – UFPR Resumo: Este artigo é o resultado da pesquisa do Programa Concepções e Recursos do Ensino Religioso no projeto Concepções e produção científica do Ensino Religioso do Grupo de Pesquisa Educação e Religião. Este estudo documental propôs a partir do documentos da Igreja Católica Romana estabelecer o perfil do ensino religioso para esta instituição que no Brasil e na América Latina estabeleceu e anda mantêm uma interferência sobre este componente curricular. Desta forma a partir do Concílio Vaticano II (1962-1965) a Igreja Católica se posicionou a partir de diversos temas diferenciada, este evento foi com certeza um marco no repensar a Igreja internamente e sua relação com a sociedade, a partir deste evento os principais documentos normativos e orientativos foram revisados, entre o temas deste cenário temos o Ensino Religioso no espaço escolar que tem assumido uma perspectiva de ampla discussão no cenário eclesial. Para compreender esta discussão estabelecida sobre o Ensino Religioso foram produzidos documentos e textos sobre este tema no período de 1965 (Declaração Gravissímum Educationis – 1965) a 2016 (Estudo da CNBB – Pastoral da Educação: estudos para diretrizes nacionais), foram localizadas 38 menções, sendo 28 da Santa Sé (Papa e das Congregações), 04 do CELAM (Conferência e Departamento), 06 da CNBB (Documento e Estudo). Porém, é desafiador para uma instituição como a Igreja Católica orientar seus sacerdotes, religiosos e fiéis sobre temas como educação saúde e segurança além das questões institucionais em diálogo com as exigências e adequações das legislações de cada país. Especificamente sobre o Ensino Religioso é necessário contemplar as legislações civis que regulamentam os sistemas de Ensino, pois este componente curricular é coordenado pelo setor pedagógico tendem a propor o ensino do fato religioso de natureza multiconfessional ou de ética e cultural (CARTA CIRCULAR 520-2009/CNBB, 2016,68/CELAM, 2007, 483). Palavras-chave: Ensino Religioso; Confessional; História da Educação. GEOGRAFIA DAS ESCRITURAS E HERMENÊUTICA ESPACIAL: SUBSÍDIOS PARA O ENSINO RELIGIOSO Sylvio Fausto Gil Filho – Doutor – UFPR Resumo: A diretrizes curriculares orientadoras do Ensino Religioso do Paraná apresenta como um dos conteúdos estruturantes do Ensino Religioso o “Texto

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Sagrado” ao par com “Paisagem Religiosa” e o “Universo Simbólico Religioso” (PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação, 2008). O presente artigo faz uma aproximação teórica-metodológica de caráter hermenêutico na no que tange ao estudo dos Textos Sagrados em uma Geografia das Escrituras. A perspectiva de uma hermenêutica espacial se coaduna com a virada espacial nas humanidades. Parafraseando Foucault (1986), assim como o século XIX tinha uma obsessão pela história agora é a época da simultaneidade e justaposição e nossa experiência do mundo é mais um rede no espaço do que uma longa linha no tempo. A Geografia das Escrituras (Scriptural Geography) é o termo usado nas geografias anglófonas que refere-se, em tese, às geografias da Terra Santa no âmbito judaico-cristão mais conhecidas nas geografias lusófonas como Geografia Bíblica. No contexto do século XIX há um grande incremento destas geografias principalmente no seio do Cristianismo da Reforma como demonstra E. J. Aiken (2010). Podemos caracterizar esta literatura, ora como a descrição geográfica (com elementos arqueológicos) da Terra Santa ou como uma topologia bíblica imbuída de discursos de caráter apologético em um amplo espectro de interpretações. Em parte isso se deve a reivindicação de certa ortodoxia da autoridade bíblica como uma narrativa literal de fatos. As fontes, por vezes de segunda mão, estavam entremeadas de relatos de viajantes. Em uma primeira análise as geografias bíblicas de base católica romana e das igrejas da reforma, no contexto recente, possuem certas diferenças de abordagem e de foco. Um levantamento inicial indicam entradas diferentes nos discursos teológicos contemporâneos. Temos razões para considerar a Geografia das Escrituras como ramo da Geografia Histórica que perde o folego na medida em o processo de secularização da pesquisa avança no fim do século XIX e início do século XX. Portanto a Geografia das Escrituras estava intimamente ligada com a arqueologia bíblica e na medida em que esta se tecnifica em seus métodos e reserva seu caráter apodítico faz com que as referências bíblicas, pelo menos na sua literalidade, sejam submetidas ao discurso científico classificatório. A recuperação desta Geografia desprega as suas raízes da análise factual imediata e a conduz para as geograficidades das narrativas, leis, ethos, institucionalidades e mística dos Textos e Tradições Sagradas em sua universalidade funcional em diferentes conformações simbólicas sob interpretação de base cassireriana considerando a religião como forma simbólica (GIL FILHO (2016). Neste intuito a Geografia das Escrituras é parte do âmbito maior dos temas da Geografia da Religião tendo como viés abordagens hermenêuticas. Assim, sob o ponto de vista metodológico, os Textos sagrados são considerados a partir de sua própria cultura religiosa, ou seja, sua referência e autoridade emerge da comunidade de seus seguidores e suas práticas e discursos. Desse modo, o texto perpassa a dialética do expressivo, representativo e significativo, “gerentrificando” espacialidades religiosas emergentes: da interpretação do texto, da apropriação discursiva e da transposição em práticas contemporâneas das próprias comunidades religiosas. Sob esta aproximação: a Bíblia, o Alcorão, o Kitáb-i-Aqdas, o Bhagavad Gita, o Dhammapada, o Guru Granth Sahib ou o Avesta possuem o mesmo status gnoseológico no processo de conformação simbólica do mundo religioso. A realização de uma hermenêutica espacial das Escrituras Sagradas atende ao plano de estudo dos textos em seus modos típicos de conformação da

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realidade. Palavras-chave: Geografia das Escrituras; Texto Sagrado; Ensino Religioso; Hermenêutica. ENSINO RELIGIOSO E INTERDISCIPLINARIDADE Valeska Freman Bezerra de Freitas Silveira – Doutoranda – PUC-SP Resumo: O presente trabalho pretende apresentar a importância do resgate de uma abordagem interdisciplinar nos estudos de Ensino Religioso visando a busca de conhecimento mais totalizante e menos fragmentado. A proposta é que o Ensino Religioso uma vez comprometido com uma abordagem pluralista das religiões, procure dialogar com diferentes disciplinas, a fim de romper as barreiras do isolamento das áreas rigidamente demarcadas. A interdisciplinaridade busca romper as barreiras que inibem o trabalho dialógico, a ideia é que cada disciplina possa contribuir para a análise da temática desenvolvida. A proposta da abordagem interdisciplinar é analisar um objeto de estudo a partir de um processo coletivo que envolva diferentes áreas do conhecimento de forma a ampliar a análise deste objeto. Deste modo a interdisciplinaridade ao ter por princípio o diálogo entre as diferentes disciplinas no processo pela busca do conhecimento, favorece o desenvolvimento de um Ensino Religioso que pretende conhecer o outro, o diferente, estabelecer diálogo, aprender e conviver juntos. A interdisciplinaridade colabora para o deslocamento de um Ensino Religioso calcado em práticas mais conservadoras, fechadas em si mesmas, de cunho catequético e pouco reflexivo, para um Ensino Religioso, mais comprometido com um diálogo religioso, mais aberto aos desafios contemporâneos, ao pluralismo religioso e cultural. A prática interdisciplinar exige uma abertura do educador para trocar com o outro, para ampliar seu olhar diante da realidade que se apresenta de forma plural. Palavras-chave: Ensino religioso; Interdisciplinaridade. CONTEXTUALIZANDO O ENSINO RELIGIOSO NO MUNICÍPIO DE CARUARU/PE Vantuir Raimundo – Doutorando – UNICAP Resumo: De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2010 a população do município de Caruaru totalizava 314.912 habitantes. No campo religioso, 64,6% da população declararam-se como católicas, 22,1% evangélicas de diversas denominações e 2% encontra-se como seguidores do espiritismo. A característica marcante do município é destacada pelas festas populares, como a de São João, considerada como a maior festa do gênero. As festividades religiosas, o

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artesanato de barro, a forte presença das igrejas católicas, entre outros elementos contemplados no âmbito dos projetos desenvolvidos nas escolas municipais de Caruaru priorizam os estudantes de um grupo religioso específico. A leitura destes dados permite compreender que a cultura caruaruense é essencialmente de caráter católica, questão cultural que é fortalecida no interior das escolas através do desenvolvimento de ações pedagógicas que transitam no interior dos Projetos Políticos Pedagógicos, reforçando essa prática com a valorização das festas no período junino e a arte do barro fundamentalmente constituída de imagens e bonecos. Ressalta-se que o processo educativo deve ser direcionado a contemplar e fortalecer todas as identidades religiosas presentes no espaço escolar, visto que os grupos excluídos tendem a se anular e se isolarem das atividades propostas. Desta forma, enquanto professor atuante das disciplinas de História e Ensino Religioso na Escola Municipal Mestre Vitalino, localizada no Alto do Moura em Caruaru, há uma inquietação devido à falta de formação continuada e de materiais pedagógicos específicos no campo da religião, visto que sem uma diretriz específica o docente direciona suas estratégias pedagógicas em conformidade com suas próprias crenças e convicções. Nesta perspectiva, percebe-se que os estudantes que seguem a religião protestante isolam-se em seu mundo e não interagem com as atividades propostas. Através destes fatos, acredita-se que o docente compreende que suas ações devem promover o pleno desenvolvimento intelectual do estudante pautado em um contexto de neutralidade, implicando mudança de postura que permita observar as diferenças de personalidade e de perspectivas. Considerando-se o exposto, a compreensão do estudo concentra-se na análise da proposta pedagógica da disciplina de Ensino Religioso nas escolas públicas municipais de Caruaru, e a forma como os alunos que fazem parte do ensino religioso protestante se reconhece neste contexto, assim como instiga à investigação do modelo de currículo para a área religiosa que possa contribuir para a construção da identidade desse grupo especifico e as formas como eles se identificam neste processo. Nesta perspectiva, destaca-se que as ações docentes devem estar fundamentadas em seu planejamento e, sobretudo, nos objetivos que o educador pretende alcançar com os conteúdos selecionados. Portanto, o processo educativo voltado para a área do Ensino Religioso no município de Caruaru deve ser orientado para o caminho das múltiplas realidades promovendo e discutindo valores universais. Porém, essa mudança enfrenta grande resistência por parte dos educadores, que por falta de um projeto pedagógico especifico tendem a agir de acordo com a sua própria doutrina, além de se deixarem influenciar pelo contexto proposto pela rede municipal. Palavras-chave: Ensino Religioso; Currículo; Identidade; Planejamento.

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GT 02 – RELIGIÃO COMO TEXTO: LINGUAGENS E PRODUÇÃO DE SENTIDO

Dr. Paulo Augusto de Souza Nogueira (UMESP) [Coordenador] Dr. José Adriano Filho (FUV) Dr. Douglas da Conceição (UEPA) Dr. Rodrigo Franklin de Souza (Mackenzie) Ementa: A religião é parte constitutiva das primeiras formas de expressão da cultura, presente em antigos sepultamentos adornados simbolicamente, nas estatuetas portáteis de deusas, nas pinturas rupestres, entre outras manifestações pré-históricas. Diferentes abordagens científicas concordam com o fato de que estas formas simbólicas religiosas estão intrinsecamente relacionadas com as primeiras articulações da linguagem. A parceria entre linguagem e religião é, portanto, fundamental para entender as implicações de uma em relação à outra e para compreender como a religião se manifesta como texto, estruturada e traduzida em muitas formas de linguagem em relação: ritos, símbolos, narrativas, cultura visual, entre outros. Este GT pretende oferecer um fórum para a discussão de questões teóricas referentes ao papel dos símbolos, narrativas e sistemas religiosos na criação de sentido, sistemas comunicativos complexos e universos poéticos. Serão abordadas também análises de obras literárias, míticas, imagéticas, gestuais, em perspectiva da semiótica, da hermenêutica, da crítica literária, entre outras. O GT Religião como Texto: Linguagens e produção de sentido iniciou suas atividades no III Encontro da ANPTECRE, em 2011, onde organizou e promoveu a apresentação e o debate de mais de 20 comunicações científicas. Palavras-chave: Religião e Linguagem; Produção de Sentido; Hermenêutica; Religião e Textualidade; Narratividade; Cultura Visual. LECTIO ORANTE: O ATO DA LEITURA COMO PERFORMANCE RELIGIOSA Antonio Geraldo Cantarela – Doutor – PUC Minas Resumo: A leitura crítica de um texto (sagrado, literário ou qualquer outro) exige do leitor que esteja municiado de certas ferramentas metodológicas que lhe permitam trazer a lume o sentido do texto, buscado a partir das instâncias que lhe deram origem. Em contraposição a esse modelo de leitura, que destaca o polo da produção do texto, algumas teorias críticas dão especial ênfase à recepção do texto, ao leitor como o polo dinamizador da criação de sentidos. Este é, em linhas essenciais, o foco

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da chamada estética da recepção, teoria crítica de literatura do último quartel do século XX, crescida na esteira da hermenêutica filosófica alemã. Sob pressupostos teóricos deste segundo modelo de leitura, esta comunicação propõe-se a discutir o ato da leitura como experiência religiosa. A discussão se fará em diálogo com algumas cenas do romance O outro pé da sereia, do escritor moçambicano Mia Couto. Encontramos, na obra deste autor, inúmeras passagens que podem ser lidas como uma espécie de uso performático da tradição oral, onde o ato de narrar ou contar história configura um rito religioso. Destacam-se cenas que invocam expressamente a relação entre o ato de ler e a experiência do sagrado. O debate destaca, como resultado geral, o papel do leitor no processo de criação de sentidos. Mais especificamente, afirma que a pluralidade de sentidos que o ato da leitura constrói ultrapassa o interesse pelo conteúdo do texto e se realiza também na consideração de sua dimensão estético-formal e no mesmo ato de ler, compreendido como performance/experiência religiosa. Palavras-chave: Leitura; Estética da recepção; Performance religiosa; Mia Couto. NARRATIVA RELIGIOSA NA REPRESENTAÇÃO DO VIAJANTE AUGUSTE SAINT-HILAIRE (1816-1822). Aparecido Barbosa – Mestrando – PUC Campinas Resumo: Este estudo tem como objetivo pesquisar as expressões de identidades religiosa e cultural do brasileiro, presentes no processo de evangelização, nas festas religiosas, procissões e dias santos, nos relatos de viagens de Saint-Hilaire, que esteve no Brasil nos anos de 1816 a 1822. Pretendemos ressaltar a importância dessa literatura para a colaboração dos estudos históricos pelo cientista da religião. Como método para a interpretação e avaliação dos trechos selecionados será feito uma análise qualitativa dos relatos produzidos pelo viajante, a partir do conceito de “Cultura” e “representação” discutido por Roger Chartier e François Hartog. Como resultado parcial, percebemos uma lacuna deixada pela historiografia que trabalhou com a literatura de viagens, que não pesquisaram o fenômeno religioso relatado pelo viajante selecionado, bem como, a visão antropológica do “outro”, do além-mar, do Velho Continente sobre o catolicismo ou catolicismos vigente no Brasil do período estudado. Palavras-chave: Literatura de viagem; Narrativa religiosa; Representação; Cultura. CULTURA, RELIGIÃO E ESTADO: A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO PÁTRIO DA REPÚBLICA DOMINICANA A PARTIR DA LINGUAGEM RELIGIOSA Belkys Julissa Moya Bastardo – Mestranda – PUC Minas

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Resumo: Conceitos como cultura, religião e estado são polissêmicos e defini-los só é possível mantendo o diálogo aberto. Porém, apesar das diversas conceituações sabemos que a realidade que representam se implicam e se constituem mutuamente. Para Yuri Lotman, estudioso da Semiótica da Cultura, a linguagem possui dois níveis. No primeiro temos a linguagem natural no qual estruturamos o quotidiano, ou seja, o idioma e os signos em seu estagio primário de representação. No segundo temos as linguagens da cultura, que seguindo a dinâmica do primeiro nível, molda a realidade, porém, com estruturas superiores. Se no primeiro apreendemos o mundo, no segundo recebemos da cultura modelos de mundo pelos quais estruturamos a nossa existência. O fato é que ao adentrarmos em uma cultura as diversas esferas que a compõem não se constroem isoladamente, mas dialogam entre si. Dessa maneira, supomos que a religião, a política, as artes, o sistema jurídico constroem-se na interdependência da linguagem em sua dimensão cultural, ou seja, no segundo nível da linguagem elencado por Lotman. A República Dominicana, país caribenho que recebeu por primeiro os colonizadores europeus em solo americano, se constituiu depois deste encontro pela maneira, imposta, de viver dos dominadores. A religião católica, o idioma espanhol, a maneira de estruturar o estado e a economia, enfim tudo sofreu o impacto dos (des) encontros dos indígenas com os espanhóis. A história caminhou, a ilha de Espanhola alcançou sua independência, passando a ser chamada República Dominicana; porém a religião, a forma de estrutura do estado, o idioma permaneceram e, com eles, ficaram os símbolos que até hoje forjam a nação e configuram o que chamamos de imaginário pátrio. Diante disto, com a presente comunicação propomos conceituar os níveis de linguagem a partir da teoria de Yuri Lotman; analisar os símbolos e recortes históricos da constituição da Republica Dominicana; e, a partir disso, apresentar como a linguagem religiosa e a linguagem política se relacionam no sentido de construir uma imaginário pátrio dando sentido à identidade do povo dominicano. Palavras-chaves: Linguagem; Religião; Imaginário Pátrio; República Dominicana; Semiótica da Cultura. O DEMONÍACO EM TEMPOS DE CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA: AS RESSIGNIFICAÇÕES DO DIABO REPRESENTADA PELO PERSONAGEM LÚCIFER DA SÉRIE DE TV LÚCIFER Bruno André Cardoso von Hauer – Mestrando - UFG Resumo: O Diabo sempre esteve presente no imaginário humano e nas narrativas midiáticas. Atualmente está aumentando significativamente o número de filmes, séries de TV, desenhos animados, histórias em quadrinhos e jogos de vídeo-game com a temática do “mal” representado pela figura do Diabo ou Lúcifer. Este artigo tem como objetivo geral analisar a convergência midiática da figura mítica/religiosa do Diabo na sociedade moderna e as ressignificações do personagem Lúcifer da série de TV Lúcifer. Através de uma pesquisa bibliográfica e análise da série, concluiu-se

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que o Diabo, representante do “mal” e das simbologias cristãs/míticas/sobrenaturais sempre esteve “vivo”, sendo consumido de forma simbólica e reconfigurado através da convergência midiática, atualmente nas séries de TV. Palavras-chave: Lúcifer; Série de TV; Convergência Midiática; Ressignificação. A GRANDE PROSTITUTA E O ABJETO: UMA ANÁLISE EM APOCALIPSE 17 Camila Moreira – Mestranda – UMESP Resumo: A linguagem utilizada no Apocalipse de João é repleta de violência, monstros, anúncios de morte e de opressão, além de apresentar um quadro de seres sobrenaturais. A utilização desses símbolos despertam o fascínio daqueles que gostam de ficção e desejam alimentar a esperança de novos dias, onde a morte e a tristeza não mais existirão. A leitura realizada do capítulo 17 do livro do Apocalipse tem como lente o conceito de ‘abjeto’, pois considera-se que a construção discursiva feita pelo visionário objetiva a defesa de suas ideias em detrimento das ideias alheias. Ideias que deveriam estar em conflito dentro das comunidades as quais João escreve. Os símbolos e metáforas utilizados por João evidenciam sua estratégia persuasiva. Neste trabalho, a partir do conceito de abjeto, utilizado por Julia Kristeva, metáfora, de Marcel Danesi, e dialogismo, de Mikhail Bakhtin. Observar-se-á como a memória da mulher, como representação do mal, está presente na literatura judaico-cristã e servem para a construção narrativa do cenário de abjeção e perversão, que serviu estrategicamente ao visionário para descrever seu contexto de caos e opressão. João utiliza a mulher como um símbolo que denuncia o contexto patriarcal e sexista no qual está inserido. Sua linguagem também explicita a tradição sobre a qual ele se debruça, a judaica. Tradição na qual a mulher, que se mostra sob algum aspecto poderosa, é demonizada (a exemplo de Eva e Jezabel). Assim, se João intenta argumentar com sua audiência contra o império, ele se utiliza da imagem da mulher para criar um objeto que seja repulsivo e seja abjetado/expurgado. CORPOS GROTESCOS: OS CORPOS CASTIGADOS NO ALÉM-MUNDO DO APOCALIPSE DE PAULO E OS MORTOS QUE RETORNAM NA OBRA O LIVRO DE MARAVILHAS, DE PHLEGON DE TRALLES Carlos Eduardo de Araújo de Mattos – Mestre – UMESP Resumo: O texto apócrifo do Apocalipse de Paulo é um dos mais influentes em termos de recepção quando o assunto é descrição do mundo dos mortos. Um exemplo de uma de suas recepções mais famosas é a obra de Dante Alighieri, A Divina Comédia. Entre as descrições de céu e inferno, um ponto que chama atenção nesta obra é o relato detalhado dos castigos que os condenados ao inferno sofrem

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em seus corpos. Autores como Stvan Zsachesz e outros, defendem que é possível fazer uma leitura dessas cenas à luz da teoria de corpo grotesco de Mikhail Bakhtin. Nossa intenção neste artigo, no primeiro momento, é fazer esse caminho de análise da obra dos primeiros séculos do Cristianismo Primitivo, ressaltando sua importância, como sua recepção o provará, e especialmente olhar para esta obra a partir da compreensão do conceito do teórico russo supra-citado. A seguir, apresentaremos outra obra que acreditamos ser ainda pouco conhecida nos círculos acadêmicos, chamada O Livro de Maravilhas de Phlegon de Tralles. Trata-se de uma obra em que é utilizado um gênero literário do mundo antigo: paradoxografia (Descrição de maravilhas) em que o suposto autor (Phlegon da cidade de Tralles) é um iminente cidadão de Roma no período do imperador Adriano e descreve maravilhas do mundo que, ele afirma ter visto ou recebido relatos: ossos de gigantes que foram encontrados, crianças que mudaram de sexo e entre outros, o tema que interessa a este artigo: mortos que voltaram e tiveram relações sexuais com vivos, anunciaram oráculos e até devoraram crianças. A partir da apresentação dessas duas obras, o ponto central de convergência entre eles, segundo acreditamos e pretendemos desenvolver nesse ensaio, é o conceito de corpo que ambas apresentam: corpos grotescos, segundo Bakhtin, que se manifestam, a despeito de sua condição de mortos, neste mundo ou no além, se relacionando fisicamente através dos sofrimentos no inferno ou das suas relações com os vivos neste mundo. Palavras-chave: Religião e linguagem; Corpo Grotesco; Hermenêutica da recepção; Apocrificidade; Cultura. RELIGIÓN, MITO E IMAGINARIOS SOCIALES César Carbullanca – Doutor – Universidad Católica del Maule Resumo: Luego de la crítica de las ideologías, el valor epistemológico del mito, arquetipos e imaginarios sociales ha sido puesto de relieve por diversas disciplinas científicas, lo cual es posible comprobarlo en la historia social y política de las diferentes sociedades y culturas. El artículo tiene por objetivo, reflexionar en valor epistemológico de las narrativas populares y míticas en textos religiosos en una sociedad que erradica el valor de las religiones. En este sentido, el desafío de las Ciencias de la Religión en el actual contexto guarda relación con colocar de relieve el valor epistemológico de las narrativas míticas y de los imaginarios populares en la comprensión de las sociedades. La pesquisa asume la hipótesis de G. Dumezil, sobre las tres funciones de la mitología en las religiones indo-europeas, para colocar de relieve el rol estructural y epistemológico del mito. A partir de lo cual, luego de una introducción sumaria, desarrollamos las teorías de los imaginarios de C. Castoriadis, Ch. Taylor y J. Pintos quienes colocan en evidencia el valor heurístico y epistemológico de los imaginarios y las funciones que cumplen éstos en la construcción de la realidad, algunos de los cuales exponemos en relación a textos apocalípticos: función cognitiva; percepción de continuidad y explicaciones globales;

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ritual de execración; función exhortatoria. Posteriormente, a partir de la teoría del imaginario radical, y del arquetipo jungiano, la ponencia expone los tipos de relación factible entre la estructura social y la construcción de la identidad sico-social, sosteniendo que el imaginario no es el duplo fantástico, ni el reflejo de una realidad invertida, sino una ficción creativa mediante la cual las sociedad recrean su contexto. A diferencia de las teorías de René Girad, el estudio postulará que la estructura social que reflejan los mitos e imaginarios sociales en la antigüedad, muestran la cuestión de la constitución de un yo a través de narrativas populares y míticas, asi p.e. en diversos mitos y arquetipos existentes en narrativas populares de la antigüedad, como son el motivo mítico del pharmakos y del ascenso al cielo. Respectivamente, explicamos su ficcionalización en narrativas religiosas del pharmakos en la carta de 1 Clemente y del motivo mítico del ascenso y descenso en la Ascensión de Isaías. A partir de lo cual, la cuestión del valor epistemológico del mito y de los imaginarios nos orienta a la cuestión de la pregunta por quién redacta los mitos y el lugar de la ficcionalización en la construcción del yo marginal en las religiones. Los resultados subrayan el valor epistemológico de las narrativas míticas e imaginarios sociales a través de los textos religiosos para el estudio de las culturas; establece la relación esencial entre narrativa mítica y cultura, cuestión fundamental para la comprensión de textos religiosos; además establece la necesidad de un diálogo interdisciplinar que intenta coloca en evidencia la importancia del estudio de los imaginarios en textos religiosos en el actual contexto. Palabras claves: Mito-imaginarios; sociales-narrativas-religión. A DIALÉTICA DA LINGUAGEM NA “OBRA DE ARTE ESPIRITUAL”, SEGUNDO A FENOMENOLOGIA DO ESPÍRITO DE HEGEL Claudemir da Silva – Mestrando – PUC Campinas Resumo: A presente comunicação objetiva apresentar o conteúdo da linguagem presente na “obra de arte espiritual” numa perspectiva hegeliana, com a finalidade de mostrar o movimento dialético que leva a consciência religiosa a experimentar o divino na epopeia, na tragédia e na comédia. Para Hegel, o elemento perfeito em que tanto a interioridade é exterior, como a exterioridade é interior, é a linguagem, mas não uma linguagem contingente e vazia em seu conteúdo. Ele salienta que o conteúdo dessa linguagem deve ser claro e universal. E essa linguagem se faz presente na arte grega antiga. Segundo Hegel, o que sucede da linguagem não é apenas a representação da glória de um povo particular, mas o desprender-se desta particularidade e de seus costumes próprios e uma abertura em direção a uma forma de expressão do espírito que, em sua beleza, possui um alcance universal. A obra de arte espiritual, descrita por ele na Fenomenologia do Espírito, constitui-se através da poesia grega antiga: epopeia, tragédia e comédia. Hegel observa que a linguagem presente na obra de arte espiritual é a forma mais significativa da expressão humana, pois é por meio dela que se atinge o divino. Para ele, ela é a condição

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máxima para que um povo possa se elevar à universalidade. E isso se dá pela linguagem literária, e a figura histórica que realiza este movimento é, segundo Hegel, o povo grego. Neste tipo de linguagem, a consciência religiosa deixa o mundo real e passa a construir um mundo literário. Segundo Kojève, esse mundo é o mundo religioso. Pois toda religião acarreta necessariamente uma literatura, que no início é sagrada, depois se torna profana, mas sempre comporta em seu seio um valor supremo. Portanto, é por meio da linguagem que o existir humano adquire meios para descrever e representar as ações divinas, que de acordo com essa proposta no seu movimento dialético, nasce com a epopeia, vive na tragédia e morre na comédia. Palavras-chave: Linguagem; Divino; Arte Espiritual; Hegel. UM ÊXODO AMAZÔNIDA: A PROMESSA DE CIDADE NOS ROMANCES CHOVE NOS CAMPOS DE CACHOEIRA E BELÉM DO GRÃO-PARÁ Daniela dos Santos Brandão – Mestranda – UEPA Resumo: Partindo da investigação mítica da busca pela Terra Prometida e tendo como ponto de partida a releitura do livro do Êxodo em interface com os romances “Chove nos campos de Cachoeira” e “Belém do Grão-Pará”, do escritor paraense Dalcídio Jurandir, traça-se um paralelo metafórico entre a narrativa dos hebreus e as narrativas dalcidianas. Deseja-se, dentro de em uma abordagem hermenêutica, traçar um paralelo que reitere a busca pela terra como uma característica arquetípica, presente na construção das narrativas ao longo dos tempos, consagrando a Literatura como meio propício para a atualização dos mitos, em especial, dos mitos bíblicos, ratificando a tarefa da Literatura em relação à Religião de ser fonte renovadora dessas imagens míticas fundantes. Traçando um percurso metodológico pautado no levantamento bibliográfico, buscou-se relacionar os elementos míticos comuns na construção de narrativas, mediados pelos estudos Transtextuais e da Narrativa Mítica, entendendo que o texto não apenas é um conjunto de enunciados, mas também o elemento que faz a interface entre texto e contexto (KRISTEVA, 2005), e que a história das religiões coopera para a compreensão da organização das sociedades, a partir de narrativas míticas de criação que ordenam os comportamentos dos sujeitos dentro das sociedades (ELIADE, 1972). Assim, os mitos seriam os elementos absolutamente imbricados na tarefa de “remontar” e “fazer emergir” estruturas narrativas fixas, o que funciona como bálsamo salvador para as desordens experimentadas pelos sujeitos, conforme observamos ainda nos tempos atuais, em que elementos como a Religião e a Literatura subsidiam sentidos que atualizam e ressignificam a existências dos indivíduos. Nesse sentido, nos cabe dizer que nos romances “Chove nos campos de Cachoeira” e “Belém do Grão Pará” a promessa de uma cidade salvadora seria a metáfora do Êxodo, uma vez que a realidade social ribeirinha avessa ao ideal de cidade alimenta cada vez mais a busca pela terra sagrada e próspera, ficando evidente a diferença entre o aqui e o lá, em uma constante oposição entre o interior da floresta, logo o espaço de produção e manifestações de práticas culturais

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tradicionais e místicas; e a cidade – ou metrópole, ordenada pela lógica do capital, configurando-se no lugar do individualismo. Palavras-chave: Literatura; Narrativa mítica; Atualização de sentidos. A ESTRUTURA SOCIAL DO ATO DE COMER Danielle Lucy Bósio Frederico – Mestra – UMESP Resumo: A refeição é um tema recorrente na literatura e através dela, podemos observar várias coisas tais como: status social (estrato alto e baixo) marca identitária de um grupo religioso ou não, código social que identifica pureza e impureza/ inclusão e exclusão. Essa refeição sempre é realizada em um espaço específico, o qual contém variados sinais e/ou mensagens. Essas mensagens eram de fácil entendimento para a sociedade da época, mas para nós, distantes do contexto do fato em questão, faz-se necessário a utilização de instrumentos de aproximação e decifração dos códigos presentes no ambiente e na própria refeição oferecida. Para tanto, nosso objetivo será analisar o Banquete de Trimalcião, presente no Satyricon de Petrônio; e o Simpósio de Platão. Utilizaremos a História Cultural e a Antropologia da Comida como metodologias a fim de identificarmos as estruturas sociais presentes nos textos. Tendo como pressuposto que o primeiro texto se trata de uma sátira e o segundo texto de uma idealização dos banquetes oferecidos no período greco-romano. Observaremos assim que, o ato de comer é caracteristicamente social e tem seus ingredientes peculiares, os quais sinalizam a estrutura de uma sociedade. Palavras-chave: Refeição; História cultural; Antropologia da comida; Banquete. RUBEM ALVES E A POÉTICA DA LINGUAGEM RELIGIOSA Danilo Mendes – mestrando – UFJF Resumo: Rubem Alves, desde seus primeiros escritos, demonstra como a linguagem religiosa pode ser percebida como poética: ao mesmo tempo em que ela pode se apresentar como linguagem a-histórica, que acaba por confundir transcendência e metafísica; pode, também, se apresentar como linguagem poética. Neste sentido, a linguagem religiosa pode ser interpretada como aquela que carrega as esperanças históricas da comunidade de fé. Esta comunicação pretende apresentar como Rubem Alves concebe esta face da linguagem religiosa, quais os seus limites e, tencionando a ideia desta manifestação poética, perceber de que modo Rubem a trata como uma religiosidade estética. Para tal, faz-se necessário, além de delimitar os conceitos que ele constrói ao longo de suas obras, retratar suas releituras de grandes críticos da religião, com os quais Rubem não concorda inteiramente mas não deixa de se apropriar de algumas ideias. Após esta exposição, pode-se aprofundar de que forma

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esta linguagem religiosa como poética pode contribuir para uma hermenêutica filosófica da religião. No limite, esta contribuição se dá à medida que atribui caráter estético à religiosidade. Em outras palavras, não só percebe a possibilidade ética da religião, normalmente reforçada pelas abordagens compreensivas desta, mas interpreta o fenômeno religioso como possibilidade estética. Para Rubem Alves, a ética parece sustentar a estética, e nesse sentido a linguagem religiosa poética se faz mais do que um apelo à libertação: faz-se a própria libertação como abertura à esperança e a um novo futuro possível. Neste sentido, a própria biografia de Rubem parece confirmar a tese: após a ruptura com a teologia como saber privilegiado, e depois com a crítica filosófica da linguagem moderna, ele se dedica a literatura como forma de discurso e de diálogo com a sociedade. Aqui, Rubem se dedica à estética como libertação do corpo e modo de expressar a beleza - o próprio Deus. Palavras-chave: Rubem Alves; Poética; Hermenêutica; Linguagem Religiosa. O GROTESCO COMO FORMA REPRESENTAÇÃO NO CRISTIANISMO PRIMITIVO: PERSPECTIVAS TEÓRICAS Elizangela Aparecida Soares – Mestra – UMESP Resumo: Enquanto tem havido um crescente interesse no uso da linguagem e imagética do grotesco na arte, na literatura e na cultura visual, em comparação, pouca atenção tem sido dada ao seu emprego e/ou significado no âmbito religioso. Isso é verdadeiro também em relação ao campo dos estudos bíblicos. É como se a ideia, presente no grotesco, da violação de certas categorias particulares, contradições, distorções, desordem, desarmonia, exagero, fusão de elementos e partes incompatíveis, do cruzamento das fronteiras naturais, do monstruoso, do abjeto, do bizarro e do estranho, bem como as sensações e sentimentos evocados pela mistura de todos esses elementos, fosse tão oposta ao sagrado que a sua presença nas escrituras (canônicas ou não), se qualificada como “grotesca”, constituísse uma ofensa. Neste paper partimos da observação e pressuposto de que, embora não no nível de um conceito elaborado (que só passará a existir a partir do século 15, e ainda segue em desenvolvimento), a linguagem e imagética do que hoje se classifica como grotesco não era estranha ao discurso e imaginário do cristianismo das origens: por exemplo, os porcos endemoninhados nos evangelhos sinóticos, as descrições das punições reservadas aos pecadores no mundo inferior no Apocalipse de Pedro e no Apocalipse de Paulo ou os servos de Marcelo esvaziando penicos sobre a cabeça de Simão mago em Atos de Pedro. Tendo esse pressuposto no horizonte, a partir de uma apresentação do que chamaremos de “teoria do grotesco”, nosso intuito é introduzir as configurações do grotesco como uma forma de expressão e representação no cristianismo primitivo. Palavras-chave: Grotesco; Representação; Linguagem; Imagética; Cristianismo primitivo.

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OS ANIMAIS NAS NARRATIVAS DE MARTÍRIO DOS ATOS DE PAULO E AS TRADIÇÕES FOLCLÓRICAS DO CRISTIANISMO PRIMITIVO Guilherme de Figueiredo Cavalheri – Mestrando – UMESP Resumo: A presente comunicação tem como objetivo analisar as narrativas de martírio envolvendo animais fabulosos, encontradas nos Atos de Paulo. Entendemos que essas narrativas relacionam-se com um longo processo de produção e assimilação de tradições oriundas da cultura popular greco-romana, transmitidas por meio de pequenas fábulas e outros materiais da literatura oral do mundo antigo, e que compartilham temas, personagens e funções comuns das tradições folclóricas vigentes no mundo mediterrâneo antigo. A figura do herói prisioneiro, o leão capaz de realizar proezas e causar o assombro do público e a libertação extraordinária de ambos em meio a morte iminente não são exclusividade das narrativas apócrifas. Tais elementos estão presentes também no conto “Androcles e o Leão”, material da tradição oral registrada e transformada em fábula por escritores gregos e latinos. O conto, em suas variantes, partilha de elementos comuns aos martírios de Tecla em Icônio e de Paulo em Éfeso narrados nos Atos Apócrifos. A relação entre as narrativas cristãs e greco-romanas não ocorre por acaso, já que cada grupo, de modo consciente ou não, edita, seleciona ou elimina elementos narrativos produzidos em seu espaço cultural, a partir de necessidades ou expectativas comuns de seu tempo e contexto vivencial. Há, portanto, um sentido subjacente, modulador e normatizador da realidade do público consumidor dessas histórias, cuja estrutura se perpetua no imaginário e na cultura e auxilia na formação da identidade e moral desses grupos. Assim, analisaremos as narrativas de martírio envolvendo animais, presentes nos Atos de Paulo a partir de sua relação com o conto “Androcles e o Leão”, nas versões de Aulo Gélio (Séc. II EC) em sua obra Noites Áticas, e Claudio Eliano (Séc. II-III EC) em Da Natureza dos Animais. Para tanto, serão utilizados os modelos de análise morfológica de Vladimir Propp e Alan Dundes. AS LINGUAGEM DA ARTE DA RELIGIÃO NA PRÉ-HISTÓRIA AMAZÔNICA Gustavo Thury – Mestrando – UEPA Resumo: Este estudo explora as possibilidades de pesquisa sobre arte rupestre na Amazônia paraense, em Monte Alegre, baseada na pesquisa arqueológica de Edithe Pereira, e sua relação com a religiosidade daquele povo. Para isso primeiramente buscamos o entendimento do que foi pesquisado e interpretado sobre pinturas rupestres no mundo e sua relação com algum tipo de religiosidade. Para falar sobre a religião e sobre a arte nos primórdios da humanidade buscamos o que seria a ligação entre elas: a linguagem. Para nos ajudar com os estudos sobre as origens da linguagem contamos com a ajuda de Paulo Nogueira. Os estudos sobre arte e religião pré-histórica são feitos à luz da vasta pesquisa de André Leroi-Gourhan nas

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cavernas da Europa e nas pesquisas sobre a cultura dos povos amazônicos, trazemos Eduardo Viveiros de Castro para um breve entendimento sobre a sua teoria do “perspectivismo” ameríndio. Além de Heraldo Maués e suas pesquisas sobre o Xamanismo amazônico, que nos dão o suporte necessário para analisar o imaginário do povo amazônico. Os resultados mostram que as pinturas rupestres de Monte Alegre possuem várias características em comum com povos arcaicos de outras partes do mundo, portanto as pinturas rupestres podem ser vistas como tendo características de sagrado. E as novas pesquisas cada vez apontam mais na direção de povos com uma cultura bastante desenvolvida e bem mais antigos do que se imaginava antes. Palavras-chave: Linguagem; Arte rupestre; Religião. O PACTO TRANSTEXTO-DISCURSIVO COM A RELIGIÃO NO CONTO A IGREJA DO DIABO, DE MACHADO DE ASSIS Helen Suzandrey Maia Sousa – Mestra – UEPA Resumo: A presente comunicação tem a intenção de demonstrar os resultados da pesquisa em torno do conto A igreja do Diabo, sua relação com a Religião, e em que medida este texto machadiano está encharcado de outros textos. Diante desta possibilidade, foram levantados os conceitos de intertextualidade, paratextualidade e sua relação transtexto-discursiva com os textos religiosos. A narrativa pertence ao livro Histórias sem Data, que reúne 18 contos publicados ao longo do ano de 1883. Dividido em quatro atos, a história narra o encontro de um documento religioso onde o Diabo teve a ideia de fundar sua própria Igreja. O objetivo da pesquisa foi: analisar a relação entre Religião e Literatura a partir do conto A Igreja do Diabo de Machado de Assis, e inferir sobre a formação hipertextual do conto. A pesquisa foi desenvolvida por meio da metodologia transtexto-discursiva, elaborada pelo cientista da religião Eli Brandão e teve como fundamentação teórica o conceito de palimpsesto de Gerárd Genette, na obra Palimpsestes. La littérature au second degré. Desta forma, buscamos ratificar a presença inequívoca de outros textos no conto, no qual se observa a constante relação entre o universo religioso e literário como um espaço plural que expressa a possibilidade de interpretação de textos de universos discursivos distintos, e sua constante conexão com a contemporaneidade, dando visibilidade a um lugar de fala acadêmico-científico ainda em expansão nas Ciências da Religião e que muito tem a dizer sobre o ser humano e suas particularidades. Diante disso, estabelecemos, em princípio, análises que destacam as relações dos dois campos discursivos interdisciplinares e que agregam cargas de conhecimento científico quando analisados conjuntamente. Palavras-chave: Religião; Literatura; Diabo; Machado de Assis.

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MULHERES PERIGOSAS NO CRISTIANISMO PRIMITIVO E NA CULTURA POPULAR Jonatas de Sousa – Mestranda – UMESP Resumo: A proposta da presente comunicação é analisar, de forma breve, alguns elementos do cristianismo primitivo e na cultura popular greco-romana que contribuíram para a construção da hipótese de mulheres perigosas. Como fonte em nosso ensaio, utilizaremos I Co 11.1-10, O Livro dos Vigilantes, em I Enoque e os papiros mágicos gregos. Nossa proposta é a de que as mulheres no cristianismo primitivo eram consideradas perigosas por sua beleza e práticas religiosas, devido ao imaginário religioso. Analisando o texto canônico, o apóstolo Paulo exorta para que as mulheres da comunidade de Corinto utilize o véu nas reuniões da igreja por causa dos anjos. A expressão “por causa dos anjos”, evidencia o imaginário religioso corrente no judaísmo e no cristianismo primitivo. O Imaginário religioso da comunidade era de que, no momento litúrgico, os anjos estavam presentes e participavam do culto. Neste sentido, as mulheres não deveriam soltar os cabelos e balançá-los durante o transe no culto, para que não houvesse a sedução dos anjos. Este imaginário está relacionado ao Mito dos Vigilantes, presente em I Enoque. Nesse mito, encontramos a narrativa de anjos que ao verem a beleza das mulheres, as desejaram e se relacionaram sexualmente com elas. Esta relação com as mulheres geraram gigantes e toda maldade no mundo. Na cultura popular do mundo grego romano antigo as mulheres também eram consideradas perigosas. O perigo era oriundo das práticas populares da magia por mulheres. Encontramos relatos de encantamentos praticados por mulheres nos papiros mágicos gregos. Existem papiros que demonstram mulheres praticantes de encantamentos de amor e conquistas aos seus amados. Para a presente comunicação utilizaremos como aportes metodológicos, o método indiciário de Carlo Ginzburg e o conceito de semiótica da cultura de Iuri Lotman. “PATRONO DA COMUNIDADE CRISTÔ OU “APÓSTATA”: A APRESENTAÇÃO DO SENADOR MARCELO EM ATOS DE PEDRO É UMA ATIVIDADE EDITORIAL DO ACTUS VERCELLENSES? José Adriano Filho – Doutor – Faculdade Unida Resumo: Atos de Pedro apresenta o episódio da restauração de uma estátua imperial (APd 11), que se localiza na narrativa logo após a chegada de Pedro a Roma, quando os cristãos romanos lhe contaram que Marcelo hospedara a Simão Mago em sua casa. Estas notícias são perturbadoras para os cristãos, pois antes deste acontecimento Marcelo, apresentado como um aristocrata benfeitor e uma pessoa que estava incorporada nas relações do patronato social romano, recentemente abandonara a comunidade cristã, após ter sido seduzido por Simão Mago (APd 8). Pedro, então, faz um discurso dramático sobre as tentações do demônio, que pode ter sido provocado pelas notícias da deserção de Marcelo, pois

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chama Satanás de “lobo devorador” que “rouba as ovelhas que não são suas e que pertencem a Cristo Jesus”. Pedro estava no átrio da casa de Marcelo, louva a Jesus Cristo e a Deus, grato porque Marcelo parece ter se arrependido, o que incita o riso de um espectador, “no qual havia um demônio malvadíssimo”. Em nome de Jesus Cristo, ele diz ao demônio para deixar o homem sem feri-lo e mostrar-se a todos os que ali se achavam presentes. O demônio deixar o homem, mas derruba uma estátua imperial, logo restaurada pelo próprio Marcelo. Há diversas razões para supor que este episódio tenha um significado particular na narrativa, pois foi o primeiro milagre realizado por Marcelo e, de alguma forma, parece que ele está ligado ao seu retorno à comunidade cristã. Marcelo é apresentado tanto como “patrono da comunidade cristã” quanto como “apóstata” (APd 10), sendo o seu patronato compatível com a identidade cristã. Desta forma, o objetivo desta comunicação, após uma apresentação da tradição textual de Atos de Pedro, procura responder à pergunta se a divergência na apresentação de Marcelo é uma indicação da atividade editorial do Actus Vercellenses, um texto latino preservado numa única cópia manuscrita, publicado com o título Atos de Pedro, considerado o título de uma obra antiga, escrita originalmente em grego e composta no século IV e. C. na Ásia Menor. Palavras-chave: Atos de Pedro; Actus Vercellenses; Culto Imperial; Patronato Social Romano. ANÁLISE E CONTEXTUALIZAÇÃO DAS PRÁTICAS MÁGICAS PARA O AMOR NO CRISTIANISMO PRIMITIVO, COM BASE NOS TEXTOS DE ATOS DE PAULO E TECLA E NOS PAPIROS MÁGICOS GREGOS Kellen Christiane Rodrigues de Araujo – Doutoranda – UMESP Resumo: O propósito central do texto é apresentar uma análise do tema da magia no contexto do cristianismo primitivo através dos Atos de Paulo e Tecla relacionando com as práticas mágicas apresentadas nos Papiros Mágicos Gregos. A intenção é ilustrar e apontar elementos interpretativos sobre o ambiente mágico antigo nas comunidades cristãs, demonstrando como estas interagiam diante das circunstâncias do contexto diário. O enfoque geral será na área das magias de amor, onde demonstraremos como estas práticas eram executadas e quem eram seus executores, e, por fim, extrair dados para uma percepção de como o elemento mágico está amplamente difundido nas etapas formativas do cristianismo. Palavras-chave: Magia; Cristianismo primitivo; Atos dos Apóstolos; Papiros Mágicos Grego. MEMÓRIA, IDENTIDADE E FICÇÃO: PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS PARA COMPREENSÃO DA RELIGIÃO COMO TEXTO

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Kenner Roger Cazotto Terra – Doutor – Faculdade Unida Resumo: O trabalho segue as afirmações teóricas que defendem a memória como faculdade que nos permite formar uma consciência de nós mesmos (identidade) em nível individual e coletivo. Ou seja, um eu humano é a identidade diacrônica, construída com o material do tempo. Essa síntese de tempo e identidade é efetuada pela memória. Sendo assim, se a memória cultural se revela como conjunto de elementos da cultura, seria, então, possível determinar em quais e com quais memórias a religião cria identidades, constrói realidades, interpreta mundos e funcionaliza a realidade. Por sua vez, Wolfgang Iser sugere que a funcionalização, como nas obras literárias, excede o mundo real que ela incorpora. Desta forma, ficção, segundo Iser, vinculam uma dualidade. Neste Sentido, a religião, com suas narrativas ou linguagens, torna-se texto da cultura, o qual remodela e transborda a realidade, gerando o que Iser chama de dualidade, porque se criam novos mundos não do nada, mas do experimentado. Este paper pretende apresentar um conjunto de teorias que propõe perceber a religião não somente como reflexo de lutas de classe, alienação ou resultado de fatores econômicos, mas como expressão simbólica de compreensão da realidade, que privilegia o mito, o rito, a performance etc. Por isso, a comunicação pretende indicar a importância e aplicabilidade da memória cultural – como conjunto de representações mentais de indivíduos e grupos – e o conceito de ficção, desenvolvido pelos teóricos da literatura, testando a hipótese de que interpretar as expressões religiosas significa entrar na dinâmica das suas linguagens e produção de textos da cultura; além de observar ela mesma como texto, detentor de poder semiótico de ficcionalização da realidade, o que possibilita a criação de espaços de construção de identidade e habitação simbólica, pois organiza o mundo. Palavras-chaves: Ficção; Identidade; Memória; Linguagens; Religião. CRIAÇÃO DO UNIVERSO SEGUNDO A WICCA: O DESENVOLVIMENTO DAS NARRATIVAS COSMOGÔNICAS A PARTIR DA RELEITURA DE MITOS ANTIGOS Lídia Maria da Costa Valle – Mestranda – UEPA Resumo: Este trabalho visa analisar o mito cosmogônico da religião wicca, presente na obra de Starhawk intitulada Dança Cósmica das Feiticeiras, o qual narra a criação do Cosmo a partir de um princípio feminino. O objetivo dessa análise é compreender como o divino feminino foi resgatado nessa narrativa contemporânea, a partir da releitura de mitos antigos em busca dos possíveis elementos femininos ditos “segregados” e “distorcidos” pelo contexto dessa religião. A análise do texto narrativo, publicado na obra citada, será realizada com base nos seguintes autores: Joseph Campbell e a interpretação do divino feminino em culturas paleolíticas; Rosalira Oliveira e sua abordagem sobre a mudança de papel, posterior extinção, até

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o possível retorno do feminino dentro dos mitos de criação, com foco em narrativas politeístas e Edward C. Whitmont para compreender a presença do feminino nos mitos pré-cristãos e sua sobrevivência nas religiões posteriores. A partir dos dados analisados, nessa pesquisa, pode-se constatar que o feminino foi “camuflado” ou retirado das narrativas de criação devido à questões sociais, especialmente de gênero, das épocas onde as mudanças de orientação para o divino ocorreram. Conclui-se que a atual busca do divino feminino reflete uma mudança de mentalidade na contemporaneidade e a necessidade de novas orientações para o sagrado. Entendendo-se, assim, que todo esse panorama simbólico, do feminino e masculino e sua interação mútua, como interpretação do divino, influenciam na forma como as pessoas se auto compreendem como indivíduos em interação com o sagrado. De modo que, a produção de sentido através dessa narrativa muda o capital simbólico que é dado à natureza e a si mesmo. Palavras-chave: Wicca; Feminino; Cosmogonia. O POETAR COMO SALVAGUARDA DA FÉ RELIGIOSA Luís Gabriel Provinciatto – Doutorando – UFJF Resumo: O sentido poético, ou melhor, o fazer poético traz em seu bojo toda uma significação literária, linguística e, além do mais, existencial. O ato poético, então, carrega consigo o sentido de realização humana, apontando para a singularidade, finitude e capacidade criadora e compreensiva (hermenêutica) da existência. A religião, por sua vez, é aqui compreendida como uma possibilidade fundamental de vivenciar e significar a própria existência, donde o destaque eminente à dimensão experiencial dessa fé religiosa. Nesse sentido, a experiência religiosa é capaz de imergir o ser humano num profundo encontro da existência consigo mesma, significando-a. Diante disso, o poema “O guardador de rebanhos” escrito por Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935), serve como ponto de partida teórico para este trabalho, cuja principal intenção consiste em apresentar, também pelo viés hermenêutico, que o poema é construído como desdobramento da existência finita, singular, criadora e hermenêutica de seu autor. As palavras poéticas desse que se diz “guardador” são expressão da vida e da finitude e, por isso, fazem-se próximas da fé religiosa, condutora da existência àquilo que lhe é mais próprio: o existir. Corrobora ainda com este trabalho o texto “Por que permanecemos na província?”, escrito pelo filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), uma vez que há em suas entrelinhas uma indicação para o modo de ser fundamental, isto é, para a propriedade (autenticidade) da existência. Dessa maneira, o poetar se torna expressão (palavra) dessa experiência íntima do si mesmo. As palavras poéticas trazidas por Caeiro podem ser compreendidas como salvaguarda dessa dimensão vivencial, logo, dessa fé religiosa – possibilidade vivencial da existência –, pois são uma expressão autêntica da própria existência compreendendo a si mesma.

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Palavras-chave: Poetar; Experiência religiosa; Existência; Alberto Caeiro; Martin Heidegger. O SAGRADO NOS TEXTOS INDIANOS VÉDICOS E PÓS-VÉDICOS SEGUNDO RENÉ GIRARD Maiara Rúbia Miguel – Doutoranda – UFJF Resumo: Perceber a religião por intermédio das expressões textuais foi uma das tarefas assumidas pelo intelectual francês René Girard (1923-2015), que desenvolveu sua teoria sobre a religião olhando para as relações humanas tomando os mitos fundantes como referencial teórico, de onde se nota a violência, o sacrifício e o sagrado. A relação não amistosa entre um sujeito e um modelo que desejam um objeto e competem por esse objeto assume um papel importante na teoria de Girard, que define tal relação como mediação interna, mediação possível pela metafísica do desejo na relação triangular humana. Isso contribui na compreensão sobre o que hoje percebemos sobre violência, pois é nessa relação não amistosa em que os concorrentes desejam um objeto, de onde decorre a violência, que, posteriormente, refletirá no sagrado manifestado na cultura humana. Nesse sentido, essa comunicação pretende sublinhar brevemente a importância do rito e do mito, donde se nota a mediação interna, a metafísica do desejo, a violência e o sagrado, considerando o livro O Sacrifício (2011) do francês René Girard, convergindo para um objetivo: como se dá o sagrado e o sacrifício nos mitos e ritos presentes nos textos sagrados védicos e pós-védicos? Pois, responder tal pergunta aponta para a necessidade de estruturar esse estudo em três momentos breves e distintos, a saber: 1) explicitar a relação entre mediação interna e violência; 2) abordar o conceito de violência e sagrado; 3) visualizar o sacrifício sagrado com uma incursão mínima na tradição védica. Ademais, responder à questão “qual a importância dessa tradição para compreensão do que vem a ser violência e sagrado para René Girard?” passa a ser um objetivo primordial, uma vez que os conceitos supracitados (sagrado, violência, rito, mito, desejo e mediação interna) estão presentes nessa leitura, mediada pelo indianista Sylvain Lévy (1863-1935), que Girard brilhantemente desenvolve. Em suma, essa comunicação visa perceber a religião e sua produção de sentido que emerge dos textos védicos e pós-védicos segundo René Girard. Palavras-Chave: Sagrado; Sacrifício; Violência; René Girard; Mito fundante. JESUS E PILATOS: RECEPÇÃO E INTERTEXTUALIDADE DOS EVANGELHOS CANÔNICOS NO EVANGELHO DE NICODEMOS Marcelo da Silva Carneiro – Doutor – FATIPI Resumo: O estudo sobre os textos do Cristianismo Primitivo não canonizado,

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denominados apócrifos, tem sido ampliado pelo conceito de apocrifidade, a partir do qual a leitura deles é realizada em paralelo aos textos canonizados, considerando todo esse material como parte de uma grande rede textual que foi criada nos estratos intermediários da cultura. Segundo a perspectiva de Yuri Lotman, podemos pensar que essa rede textual estava nas bordas da semiosfera da cultura romana daquele período, o que indicaria um ambiente de oralidade muito forte, ao mesmo tempo em que a textualidade já se fazia presente, mas sem a erudição de estratos mais nobres da sociedade. Tendo em vista esta perspectiva, o objetivo desta comunicação é demonstrar como o Evangelho de Nicodemos, um escrito do séc. 2 com textos preservados do séc. 4 EC recebeu os evangelhos canônicos e releu o diálogo entre Jesus e Pilatos editado ali. Esse texto se detém na parte denominada “Tradição da Paixão”, que retrata a prisão, julgamento, condenação e execução de Jesus. Além disso, mostrar a tendência nos séculos seguintes ao surgimento dos textos de sintetizar e harmonizar as diferentes tradições representadas pelos canônicos. Desse modo, é possível inserir o Evangelho de Nicodemos na rede de recepção de materiais canônicos, sem com isso indicar grupos dissonantes do cristianismo nascente, mas provavelmente estratos populares dos grupos habituais. Como método para desenvolver o conceito e atender aos objetivos iremos fazer demonstrações de comparação de textos, da mesma maneira como a pesquisa analisa os evangelhos sinóticos, indicando repetições, diferenças e acréscimos que o Evangelhos de Nicodemos tem em relação aos canônicos, especificamente no diálogo entre Jesus e Pilatos, a partir dos textos gregos. Como resultado, buscaremos demonstrar que o Evangelho de Nicodemos é uma releitura popular da tradição da Paixão, utilizada para que a comunidade pudesse ter uma visão abrangente dos últimos momentos de Jesus na terra. Desse modo, veremos que o Evangelho de Nicodemos não se trata de um texto apócrifo oriundo de algum movimento sectário dissonante ou dissidente, mas fazia parte da rede textual comum do Cristianismo Primitivo. Palavras-chave: Evangelho de Nicodemos; Evangelhos Canônicos; Cristianismo Primitivo; Estética da Recepção; Intertextualidade. “O MENINO DA TÁBUA”: UMA CORRESPONDÊNCIA RELIGIOSA DO SOFRIMENTO Mariana Vieira – Graduada - USP Resumo: É pertinente refletir a relação entre a linguagem do mito e a experiência religiosa que se realiza no exercício da devoção. Para tanto, trataremos de um fenômeno religioso do oeste paulista, “o menino da tábua”, o qual nasceu em 1900 na cidade Maracaí-SP e morreu em 1945. Esse menino, considerado popularmente um santo, foi primeiramente visto como anjo pelo estigma de seu próprio corpo. O fato é que ele apresentava um problema congênito, uma deformidade física, um corpo atrofiado que o impedia de crescer. Este corpo defeituoso, paralisado, foi

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assimilado em sua comunidade como aberração, pois vivia numa tábua, nu e nutria-se, segundo relatos, de apenas pão e leite. Sua família tinha poucos recursos e recebia muitos donativos graças à situação do menino. Esse episódio ficou conhecido devido a um conjunto de relatos (vide a canção de Pardinho e Pardal, “O menino da tábua”) que expressam a devoção daqueles fieis e hoje constituí a história da cidade de Maracaí. Nos dias atuais há registros de recepção de 30 a 40 mil fieis por ano na data de aniversário do menino da tábua. No local em que ele está enterrado construíram uma capela (o que modificou toda a dinâmica do cemitério), a qual se encontra repleta de bilhetes, cartas, fotos e símbolos de pessoas que entram em contato com o fenômeno para pedir ou agradecer qualquer tipo de auxílio. Estes se constituem como gênero próprio da comunicação religiosa e dão corpo à narrativa da própria efetividade do “santo”. Assim tal correspondência adquire um caráter sagrado e é dela que este trabalho se ocupará, uma vez que parece reforçar a ideia de que a pureza e o sofrimento da carne sacralizam a vida, dando sentido à existência. Palavras-chave: Menino da Tábua; Narrativa; Sofrimento; Correspondência religiosa. VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NO DISCURSO MIDIÁTICO NEOPENTECOSTAL Maurílio Ribeiro da Silva – Doutorando – PUC Minas Resumo: A despeito das análises e previsões secularizantes, a religião permanece em evidência no cenário mundial. Estatísticas demonstram que não há retrações significativas das grandes tradições religiosas num âmbito global. Em determinados casos ocorre a expansão, como no caso da religião muçulmana, dos movimentos fundamentalistas, e do movimento neopentecostal. Ainda que o trânsito religioso seja característico da contemporaneidade, ele ocorre, geralmente, no interior da tradição judaico/cristã. No caso do Brasil, o Censo de 2010 constatou que 92% da população possui determinada pertença religiosa, e que apenas 8% alega não ser vinculado a nenhuma religião. Outros dados que reforçam essas estatísticas são: o aumento da oferta de bens de consumo religioso e a presença massiva de programas religiosos nos meios de comunicação e redes sociais. Nesse contexto midiático, destacam-se as igrejas ligadas ao movimento neopentecostal. Esse trabalho foi elaborado com o objetivo de analisar o discurso midiático neopentecostal e identificar elementos característicos da violência simbólica. Para essa pesquisa, compreende-se violência simbólica como a coação a partir da construção de crenças que ditam a realidade do indivíduo. A partir do discurso religioso, ocorre a legitimação "sagrada" de princípios, valores, opções políticas e posturas baseadas no pressuposto do discurso. Essa violência é focada externamente no ataque às demais religiões, e internamente na concorrência entre as diversas igrejas do movimento. O método utilizado será da análise do discurso de duas degravações de pregações neopentecostais, o que possibilitará identificar elementos de violência simbólica

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presentes na retórica neopentecostal. Palavras-chave: Violência simbólica; Discurso midiático; Neopentecostalismo. ENTRE O GROTESCO E O SUBLIME: O TRÁGICO E O CÔMICO NO EVANGELHO DE MARCOS Paulo Sergio Macedo dos Santos – Mestrando – UMESP Resumo: A presente pesquisa busca elencar os elementos existentes no texto bíblico e que são constantes na composição da literatura dramática. Nesta chave de leitura proposta, na qual os evangelhos podem ser lidos como obra dramática não existe a necessidade da encenação para a compreensão do mesmo, mas sim que precisam ser imaginados como cenas para serem verdadeiramente assimilados. Aristóteles afirma que “o espetáculo, se é certo que atrai os espíritos, é, contudo, o mais desprovido de arte e o mais alheio à poética. E que o efeito da tragédia subsiste mesmo sem os concursos e os atores. E, para a montagem dos espetáculos, vale mais a arte de quem executa os acessórios do que a dos poetas.”. Para Aristóteles, a interferência do ator gera ruídos na compreensão do texto. A obra dramática é suficiente enquanto texto. Existe ligações clara entre a forma de contar uma estória e os elementos do inconsciente que formam o ideal de herói, seu arquétipo e a relação entre a construção mítica do relato e o caráter da cultura popular existente na construção destas narrativas. Julia Kristeva afirma que “Para a semiologia a literatura não existe. Ela só existe como um discurso igual aos outros e não como objeto estético ”. A literatura só se torna compreensível quando decodificada. Decodificada se torna arte que produz sentido, emoções e êxtase, análogo aos sentimentos religiosos. É necessário, portanto imaginar-se o texto. A consequência de aplicar na narrativa dos evangelhos as estruturas das obras dramáticas é que podemos assim, evidenciar os elementos constitutivos do drama/teatro existentes no texto, como: identificação, catarse, purgação, deux-ex-machina, enredo, clímax, riso, ironia e a cultura popular. Evidenciar estes termos é um dos objetivos a serem alcançados. Palavras-chave: Evangelhos; Literatura dramática; Critica literária; Imagética. A BESTA DE SETE CABEÇAS E SEUS ANTECEDENTES EM TEXTOS DA CULTURA ANTIGA Vanderlei Dorneles – Doutor – UMESP Resumo: O artigo analisa o fenômeno da intertextualidade entre o Apocalipse de João e textos antigos egípcios e mesopotâmicos bem como com o Antigo Testamento a partir da metáfora da besta de sete cabeças. Emprega os conceitos de

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texto da cultura, intertextualidade e semiosfera, tendo como referencial a Semiótica da Cultura. Parte da pressuposição de que elementos linguísticos e conceituais, plantados na memória das culturas, permitem o entrecruzamento dos textos de diferentes épocas e lugares. A metáfora da besta é analisada em suas conexões intertextuais com outros textos do Antigo Testamento judaico e com signos e linguagens de textos antigos como a Paleta de Narmer de 3150 a.C e o Cilindro de Tell Asmar de 2200 a.C. O objetivo desta análise é identificar os elementos sígnicos que entrecruzam os textos de diferentes culturas e períodos históricos. O estudo permite concluir que os elementos da imagética apocalíptica apresentam alusões intertextuais com outros textos antigos de culturas mesopotâmicas, os quais sugerem pontos de contato entre essas culturas e apontam para uma possível origem comum dessas narrativas. Palavras-chave: Monstros de sete cabeças; Texto da cultura; Semiótica. A INFLUÊNCIA DAS PRESSUPOSIÇÕES NAS TRADUÇÕES BÍBLICAS: UM ESTUDO DE CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1:5 Weverton de Paula Castro – Mestrando – SALT Resumo: A presente pesquisa está dividida em três partes bem distintas. Uma seção introdutória sobre as Bases Teóricas para a Tradução Bíblica, seguida por uma seção dedicada ao estudo das Influências dos Pressupostos na Tradução, e por fim, uma seção focada no Estudo de Cântico dos Cânticos 1:5. Na seção intitulada Bases Teóricas para a Tradução Bíblica apresentaremos a teoria de Eugene A. Nida, a Teoria das Equivalências. Na seção Influência dos Pressupostos na Tradução, apresentaremos as limitações da Teoria das Equivalência de Nida ressaltadas pelo desconstrutivismo pós-moderno, que trouxe à luz o papel protagonista do tradutor diante da obra de tradução. Ampliaremos de forma mais detalhada o papel das pressuposições na construção da tradução textual. Na última seção intitulada Estudo de Cântico dos Cânticos 1:5 estudaremos texto bíblico, demonstrando como os pressupostos criam traduções diferentes, e até opostas. Após uma introdução ao livro bíblico em análise, destacaremos os pressupostos racistas que fizeram parte da interpretação desta passagem da Bíblia ao longo do tempo. De maneira específica analisaremos a visão escravocrata defendida a partir de porções da Bíblia e como surgiram os movimentos hermenêuticos da Teologia Negra, a Feminista e a da Libertação, todas com o objetivo comum de reinterpretar os textos bíblicos a partir de novas perspectivas. Concluiremos a pesquisa ressaltando como a obra de tradução textual se assemelha a uma balança que visa equilibrar em seus pratos o Passado e o Presente. O passado no que tange ao resgate do significado original pretendido pelo texto base. O Presente referindo-se à influência dos pressupostos do tradutor sobre a obra de tradução. Palavras-chave: Tradução; Pressupostos; Cântico dos Cânticos; Hermenêutica.

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GT 03 – ESPIRITUALIDADES CONTEMPORÂNEAS, PLURALIDADE

RELIGIOSA E DIÁLOGO Dr. Roberlei Panasiewicz (PUC-MG) [Coordenador] Dr. Cláudio de Oliveira Ribeiro (UMESP) Dr. Gilbraz de Souza Aragão (UNICAP) Ementa: Diante do contexto culturalmente plural em que nos encontramos e que desafia as tradições religiosas, acreditamos estar frente a uma grande oportunidade para o diálogo entre as diversas religiões. Sem renegar ou desconhecer o que há de único e irrevogável em cada religião, trata-se de perceber, no convívio com a diversidade, o que é essencial em cada tradição e, portanto, de manifestar um dinamismo espiritual que está entre e para além das religiões. Incluem-se nessa espiritualidade aquelas expressões laicas e sem deus e o diálogo inter-religioso que elas todas proporcionam faz repensar o compromisso ético das religiões para com a paz mundial. A Grupo Temática sobre Espiritualidades Contemporâneas, Pluralidade Religiosa e Diálogo, está aberta ao debate de pesquisas sobre a aplicação da espiritualidade no cotidiano; aos estágios do desenvolvimento da experiência espiritual e a função da meditação, bem como sobre os desvios do comportamento supersticioso e do misticismo. Estuda a pluralidade religiosa atual e tendências de diálogo na contemporaneidade. Esperamos, com tais discussões, propor respostas para aqueles que negam qualquer validade da religião na sociedade contemporânea, e, talvez, o caminho para uma nova compreensão da religiosidade, que se contraponha ao flagrante fundamentalismo religioso de nossos dias. Essa GT, com foco nas Espiritualidades e no Diálogo, pretende subsidiar assim, teoricamente, as práticas de diálogo inter-religioso que vêm sendo ensaiadas com apoio dos Programas de Ciências da Religião e Teologia no Brasil, no sentido de verificar a plausibilidade de uma mística comum e transreligiosa para o nosso tempo de transformações axiais. Palavras-chave: Espiritualidade contemporânea; Pluralidade religiosa; Diálogo interreligioso. O HINDU-CRISTIANISMO DE BEDE GRIFFITHS Angelica Tostes Thomaz – Mestranda – UMESP Resumo: A presente comunicação tem o objetivo de descrever e analisar a

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experiência de diálogo inter-religioso e o fenômeno de dupla-pertença vivido pelo monge beneditino inglês Alan Richards, conhecido do padre inglês Bede Griffiths (1906-1993) (Swami Dayananda). Bede Griffiths viveu sua espiritualidade de uma maneira que possibilitou uma abertura ampla para a Teologia das Religiões. Viveu nas fronteiras do hinduísmo e cristianismo sem perder sua identidade religiosa. Seus escritos e vida contribuíram para a construção da ponte entre Ocidente e Oriente, mas especificamente, entre hinduísmo e cristianismo. Seus escritos e vida contribuíram para a construção da ponte entre Ocidente e Oriente, mas especificamente, entre hinduísmo e cristianismo. O Bede Griffiths é a figura contemporânea do movimento de sannyasis cristãos. O que essencialmente define este desenvolvimento evolutivo na consciência é o seu compromisso total com a possibilidade de uma síntese criativa e válida de algum tipo, ou uma conversão, em um encontro interno do cristianismo, em seu significado último e do hinduísmo, no seu mais profundo nível. Griffiths estudou profundamente a religião e a cultura hindu. Ainda que permanecesse monge beneditino, ele adotou as vestes cor de laranja da vida monástica hindu. Como outros cristãos sannyasis, Griffiths recebeu um novo nome devocional, embora ele raramente o usava, Dayananda, que significa “bem-aventurança da compaixão. ”Tal experiência será analisada a partir de apontamentos dos estudos culturais pós-coloniais com conceitos de “fronteiras”, “entrelugares”, "margens", propostos por Homi Bhabha, e espera-se demonstrar o quão essa experiência de vida é significativa para um diálogo inter-religioso atual. A presente comunicação demonstra a construção teológica de Bede Griffiths baseado na sua própria vivência do encontro entre hinduísmo e cristianismo. A senda que Bede Griffiths percorreu foi a da contemplação, e ele bebe das duas tradições religiosas e as casa de uma maneira que é impossível não se surpreender. Palavras-chave: Diálogo inter-religioso; Hinduísmo; Cristianismo; Fronteiras; Dupla-pertença. A INTELIGÊNCIA MÍSTICA A PARTIR DE IBN ‘ARABĪ E JOÃO DA CRUZ: PERSPECTIVAS PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO CENTRADO NA MÍSTICA Carlos Frederico Barboza de Souza – Doutor – PUC Minas Resumo: O Diálogo Inter-Religioso, segundo afirmação do documento Diálogo e Anúncio do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, pode ocorrer de diversas formas. Dentre elas, o diálogo da experiência religiosa. E uma das formas com que este diálogo acontece é por meio do estudo comparado e aprofundado de textos e relatos de experiência mística, assim como de suas concepções sobre o Mistério Absoluto e sobre a vivência espiritual de pessoas que experimentaram intensa e profundamente sua inserção na sua respectiva tradição religiosa. Neste sentido, o objetivo desta comunicação é abordar de forma comparada como Ibn ‘Arabī de Múrcia e João da Cruz tratam da temática da inteligência espiritual, no

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âmbito das discussões articuladas ao redor da teoria das inteligências múltiplas. Segundo esta concepção surgida na década de 80 do século passado, pesquisadores da Universidade de Harvard sob a liderança de Howard Gardner, elaboraram a teoria de que apenas o Coeficiente de Inteligência (QI) não é suficiente para se trabalhar com a diversidade de habilidades e capacidades cognitivas existentes. Assim, esta equipe propõe que existe uma diversidade de inteligências: musical, espacial, corporal-sinestésica, lógico-matemática, linguística, intrapessoal, interpessoal e naturalista. Mais tarde, outros teóricos agregaram a este rol de inteligências novas habilidades que configurariam outras expressões das inteligências: emocional, ecológica, social e espiritual. Na trilha destes teóricos, a comunicação em tela buscará discutir, pautada em uma pesquisa bibliográfica e na Fenomenologia da Religião, se é possível se pensar na existência de uma Inteligência Mística. Para tal, partirá de uma discussão acerca do que é inteligência. Em seguida, pesquisará como Ibn 'Arabī de Múrcia e João da Cruz trabalham o que é o conhecimento místico e como ele se apresenta em sua dinamicidade. Por fim, esta comunicação procurará desenvolver o que é Inteligência Mística, suas características e formas de desenvolvimento a partir do referencial de Ibn ‘Arabī e João da Cruz, comparando suas perspectivas, porém, focando no que possuem em comum que pode apontar para a possibilidade de uma Inteligência Mística. A hipótese aqui a ser defendida é que a pessoa que se abre à experiência do Mistério ou do Real desenvolve habilidades e formas diferenciadas e singulares de perceber a realidade e com ela lidar. E estas formas diferenciadas de pensar abrem perspectivas interessantes em termos de pensamento e reflexão. Tendo isto em mente, entende-se que mesmo em meio à diversidade de concepções nascentes da diversidade de tradições em que se inserem Ibn ‘Arabī e João da Cruz, ambos partilham de certa proximidade quando abordam este tipo de questão, sugerindo uma “unidade na diversidade” na fundamentação teórica para se pensar a existência de uma Inteligência Mística. Palavras-chave: Mística; Ibn ‘Arabī; João da Cruz; Inteligência mística. O PLURALISMO RELIGIOSO NO CANCIONEIRO POPULAR BRASILEIRO Cícero Williams da Silva – Mestrando – UNICAP Percy Marques Batista – Mestrando – UNICAP Resumo: O trabalho apresenta alguns elementos para reflexão e discussão em torno de aspectos do pluralismo religioso, visto a partir da Música Popular Brasileira (MPB). O ponto de partida, então, será a análise de algumas obras musicais para, por meio das suas letras, observarmos como tal fenômeno ocorre, bem como a pertença religiosa que se identificada no conteúdo das mensagens nelas transmitidas. Objetivamos apontar o contexto religiosamente diverso do povo brasileiro que nos põem diante da necessidade de consolidação de estruturas dialogais na promoção do reconhecimento, da valorização e do respeito entre as religiões. Dessa forma, por meio da arte – em especial da música – buscamos

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fomentar o convívio com a diversidade, visando a uma maior compreensão da realidade atual, a fim de contribuir para que sejam rompidos os fundamentalismos. Palavras-chave: Pluralismo religioso; Diálogo inter-religioso; Música popular brasileira. O VALE DO AMANHECER NAS ENTRELINHAS DO MODERNO E O TRADICIONAL Daniel Lucas Noronha de Sena – Doutorando – PUC-SP Resumo: No presente trabalho nos propomos apresentar alguns resultados de pesquisa a respeito do Vale do Amanhecer, um novo movimento religioso que surge em Brasília no final da década de 1950, fundada por uma mulher, nordestina, caminhoneira, Tia Neiva Chaves Zelaya, liderança carismática, corroborada pelo viés burocrático de uma parceria posterior com o intelectual Mário Sassi, ambos, figuras fortemente representativas nos rituais sagrados, Aparás e Doutrinadores. Depois da morte de sua líder fundadora, o Vale do Amanhecer acaba ganhando novos contornos, institucionalizando-se a partir da liderança exercida pelos seus dois filhos, Raul Zelaya, responsável pelo Templo Mãe, de Brasília, e Gilberto Zelaya, responsável pelo que se chama de Templos externos. Logo, o Vale espalhando-se, pelo Brasil e o mundo, em mais de seiscentos templos, chegando a lugares de características diversas, como as menos urbanas do que a sua origem, este é o caso da Ilha do Marajó, no Pará, cidade de Salvaterra, que tem singularidades culturais religiosas, de raízes nativas indígenas, como a reima, o quebranto, pajelança, benzedeiras, parteiras, dentre outros. Assim, buscamos compreender as entrelinhas de encontros e desencontro de histórias de vida, cultura, religiosidades, entre o moderno e o tradicional, o urbano e o campo, num epifenômeno marajoara, em que tensões e redefinições a partir desse encontro de águas, tal qual a pororoca, encontro de rios na região amazônica, geram rupturas, garantem memória e novas identidades, ressignificando o que nomeamos de sagrado. Palavras-chave: Vale do Amanhecer; Moderno; Tradicional; Amazônia. O DIÁLOGO INTRARRELIGIOSO EM RAIMON PANIKKAR Francilaide de Queiroz Ronsi – Doutora – UNICAP Resumo: Raimon Panikkar sempre buscou a integração do conjunto de toda a realidade em todas as suas dimensões. Concebe a Realidade como totalmente relacional; uma relação que não é nem dualista, nem monista-panteísta, senão advaita em que estão integrados o Cosmos, o ser Humano e Deus. É o que Panikkar chamou de Intuição Cosmoteândrica. Segundo nosso autor: "nada é negligenciado,

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nada se deixa de lado, tudo está integrado, assumido, transfigurado... Pensar em todos os fragmentos de nosso mundo atual para reuni-los em um conjunto harmônico". Ele procura a interlocução de todos com tudo frente ao reducionismo, por uma harmonia entre as diversas dimensões da Realidade. A partir do homem como realidade cosmoteândrica, a mística assume a forma de sua antropologia de fé, de esperança e de caridade, da imanência e da transcendência humana, que, sem negar o tempo e o espaço, os assume e os ultrapassa. Como veremos, para Panikkar, "a mística é a experiência plena de Vida". Ele ousou aproximar-se de outras tradições religiosas acreditando que as mesmas enriqueciam a sua experiência cristã. Surge o termo “diálogo intrarreligioso”, que significa diálogo no interior de si mesmo, um mergulho na religiosidade pessoal, quando se está diante de outra experiência religiosa em um nível muito íntimo. Em outras palavras, se o diálogo inter-religioso deve ser um verdadeiro diálogo, este deve ser acompanhado de um diálogo intrarreligioso. Este diálogo começa com o questionamento sobre si mesmo e da relatividade de suas crenças (o que não significa em seu relativismo), aceitando o risco de uma mudança, uma conversão de uma reviravolta dos meus modelos tradicionais. Como veremos, segundo Panikkar, não se pode entrar na arena de um diálogo religioso autêntico, sem uma atitude de autocrítica. O diálogo inter-religioso é uma preparação para o diálogo intrarreligioso, em que a fé viva exige constantemente uma renovação total, ou - em termos cristãos - uma verdadeira metanoia, pessoal, constantemente renovado. Palavras-chave: Mística; Diálogo; Tradições religiosas; Harmonia. NOÇÕES DO DESEJO MIMÉTICO EM RENÉ GIRARD E DESDOBRAMENTOS EM SILAS MALAFAIA Gideane Moraes de Souza – Doutoranda – UMESP Resumo: A comunicação visa apresentar noções do conceito de Desejo em René Girard e como este conceito apresenta-se em Silas Malafaia. Para o autor, o Desejo é um fenômeno exclusivamente humano que não se confunde com a mera imitação das inclinações de cunho biológico como a fome, a sede e o sexo dependem da constituição orgânica do indivíduo e são espontâneas. Ele surge quando todas as necessidades elementares foram satisfeitas e o homem continua a desejar, ele passa então a desejar algo que ele não sabe exatamente o que é. Se o instinto tem uma direção bem determinada essa sensação identificada como desejo não tem objeto específico, não é predeterminado e cria no sujeito um sentimento de privação e uma expectativa de que o outro lhe diga o que ele deve desejar. Surge então o Desejo Mimético. Dentre todos os aspectos evidenciados no Mecanismo Mimético, serão utilizados na pesquisa também conceitos de Rivalidade Mimética, e Mímesis. Tendo em vista, a necessidade de objetivação e delimitação na mesma, o objeto será analisado nestes aspectos. Toda a trajetória de Silas Malafaia, pastor pentecostal das Assembleias de Deus, é coberta por elementos que podem evidenciar tanto de

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maneira patente, como latente, a articulação neste sentido. Em seu discurso, o tema do desejo mimético de Girard aparece várias vezes quando ele diz que obteve muitos “discipuladores” em sua vida. Desta feita, as movimentações de Silas Malafaia nesta lógica serão apresentadas no texto final e comunicação oral. Palavras-chave: Desejo Mimético; Silas Malafaia; René Girard. A INTOLERÂNCIA E O PLURALISMO RELIGIOSO SOB A ÓTICA RITUAL AFRO-BRASILEIRA: UM EXERCÍCIO DE APRENDIZAGEM Hermes de Sousa Veras – Doutorando – UFRGS Resumo: A intolerância religiosa é uma questão que perpassa o tema mais amplo do pluralismo religioso. Nessa comunicação, pensarei algumas questões implícitas e explícitas em um ritual realizado em um terreiro de Mina Nagô, localizado na Grande Belém, Pará. O ritual fornece elementos para pensar situações vivenciadas por afrorreligiosos a respeito da intolerância e do pluralismo religioso. A ideia central é que o ritual, enquanto comunicação e performatização, fornece subsídios para o pensamento e a ação, tanto para os afrorreligiosos, quanto para quem estiver disposto a aprender com ele. O núcleo empírico da investigação foi constituído em trabalho de campo, principalmente entre 2013 e 2015, continuando-se a pesquisa em maior flutuação empírica, até o tempo dessa comunicação. A pesquisa se baseia em observação empírica dos rituais, conversas informais com as pessoas participantes, entrevistas informais gravadas com o zelador de santo do terreiro, além de incipientes momentos de territorialização que o pesquisador passou pelo terreiro, como momentos de acender velas para o “santo”, e alimentar-lhe uma quartinha com água. Portanto, partindo desse material de investigação, a proposta é aprender com as pessoas envolvidas na pesquisa, e a partir de “seus próprios termos”, construirmos subsídios para uma teoria da relação entre religiosidades distintas, tendo em vista que as religiões de matrizes africana e indígena possuem uma ampla experiência, tanto com o pluralismo, quanto com a intolerância religiosa. Diante disto, essa comunicação tem como objetivo imediato testar os argumentos dessa teoria da relação inter-religiosa, ampliando o seu público para além da Antropologia e Sociologia da religião, complementando-se com trabalhos anteriores do autor, em vias de publicação, objetivando compartilhar alguns apontamentos desenvolvidos. PLURALISMO E SECULARIZAÇÃO NO CONTEXTO CATÓLICO: UMA ANÁLISE DAS APARIÇÕES MARIANAS, A PARTIR DE PETER BERGER Karine Luiza Rezende Silva Araújo – Mestranda – PUC Minas Resumo: Os fenômenos de aparição mariana estão presentes na história recente do

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catolicismo, com destaque para as aparições em Fátima, Lourdes e Medjugorje. No contexto brasileiro, este fenômeno religioso foi objeto de estudo de autores renomados, sendo as pesquisas vinculadas, sobretudo, a área de ciências sociais. Na obra intitulada “Maria entre os vivos”, organizada por (STEIL; MARIZ & REESINK, 2003), estão reunidos alguns dos estudos mais relevantes sobre o tema. Na maioria destes estudos, se não na totalidade, os autores destacam a conturbada relação entre a Igreja Católica e os atores sociais envolvidos nestes fenômenos, a saber, devotos e videntes. O presente estudo teve como objetivo analisar a influência da Igreja Católica em fenômenos de aparição mariana, a partir da teoria de Peter Berger sobre pluralismo e secularização no contexto católico. Para este fim, realizamos a pesquisa bibliográfica em obras de referência sobre as aparições marianas, bem como em algumas obras de Peter Berger sobre os temas citados anteriormente. Em um primeiro momento, identificamos os elementos presentes na relação entre a Igreja Católica e os atores sociais envolvidos nos fenômenos de aparição, a saber, devotos e videntes. Destacamos, sobretudo, a complexidade dos processos de legitimação destes fenômenos, as relações de poder dos videntes em relação ao clero, a participação nos sacramentos e a não subordinação às ordens da Igreja, dentre outros. Na sequência conceituamos os termos pluralismo e secularização no contexto católico, a partir da teoria de Peter Berger. Por fim, concluímos que os fenômenos de aparição podem ser combatidos pela instituição oficial, por serem tratados como uma ameaça que desestabilizaria uma versão única, no contexto interno da instituição, em um momento marcado pelo pluralismo e pela secularização no campo religioso. Palavras-chave: Aparição Mariana; Igreja Católica; Pluralismo; Secularização; Peter Berger. ESTRANHOS NO CULTO: O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ENTRE MUÇULMANOS E A IURD DE MADRI Leonardo Vasconcelos de Castro Moreira – Doutorando – Univ. WARWICK Resumo: É recorrente nos estudos sobre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) o entendimento da demonização de outras religiosidades como uma das suas principais características teológicas. A própria instituição religiosa, durante sua história, foi alvo de polêmicas por perseguições a outras religiosidades, principalmente no que concerne às de matriz Afro-Brasileira. Com a gigantesca expansão da IURD em âmbito internacional, a mensagem de combate também cruzou fronteiras. Religiosidades africanas, latino-americanas, outras igrejas cristãs e posições seculares também se tornaram, rotineiramente, parte do discurso de batalha espiritual da IURD. Não obstante à beligerância simbólica do discurso supracitado, durante um culto realizado no dia 07/06/16, na sede nacional da IURD em Madri, Espanha, observou-se a possibilidade de diálogos entre a igreja e outras religiosidades, mais especificamente a muçulmana. O culto precedia as ações de

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caráter social, principalmente a entrega de alimentos, efetuadas costumeiramente pela instituição. Tal prática foi a última a ser observada em Madri durante os cultos no período da pesquisa, sendo transferida para um horário que prescinde da participação dos outsiders de outras religiões. Durante o culto, membros da igreja partilharam seus rituais e performances de oração com os visitantes de outras religiosidades, além das pregações do pastor responsável pelo culto terem sido mais inclusivas e abertas em relação a outras religiões. Objetivos: Observar, sem relativizar a existência de um discurso simbolicamente beligerante na teologia pregada na IURD de Madri, as características do diálogo inter-religioso entre os neopentecostais dessa igreja e os visitantes muçulmanos. Analisar os motivos do possível flexibilização do discurso de violência simbólica (teologia da batalha espiritual) em relação a alguns atores sociais do contexto madrileno. Método: A análise da IURD em Madri, mais especificamente na sede nacional localizada em Atocha, utiliza métodos de coleta de dados como: análise de discurso (pregações), observação participativa com trabalho de campo realizado durante os cultos, além de entrevistas com membros e pastores. No caso da presença islâmica nos cultos da IURD, o relato de maior contribuição coletado foi do pastor espanhol que comandou o referido culto. Resultados: O não continuísmo do culto indica que institucionalmente a IURD pouco obtém em relação às conversões com tais práticas. O diálogo com outras religiões e principalmente o serviço social legitimam a IURD no contexto madrileno de maneira mais efetiva, pois essas ações colaboram com a melhoria da imagem da mesma em relação a um público para além de sua membresia. O Islã como aliado em um culto da IURD indica que há outros inimigos mais pertinentes a serem combatidos no contexto madrileno. Conclusão: As pregações que unem a IURD e outras religiões não são comuns em relação às suas regras institucionais, mas ainda assim são presentes e merecem ser analisadas. Podemos supor, portanto, que a adaptação da igreja se dá a depender da sociedade em que está inserida, visando sempre a melhoria de sua imagem perante o público. O FUNDAMENTALISMO COMO PROSELITISMO DE LEGITIMAÇÃO: O QUE HÁ DE COMUNICAÇÃO NA INCOMUNICABILIDADE RELIGIOSA Luiz Signates – Doutor – PUC Goiás Resumo: O problema da comunicabilidade religiosa não é uma questão simples, que possa ser abordada a partir de um único referencial ou, menos ainda, resolvida por interpretações unívocas, determinadas pelo voluntarismo ético dos adeptos ou pela mera presença ou ausência de técnicas ou tecnologias de comunicação, ou mesmo pela descrição das condições sociais dos grupos religiosos. Em outras palavras, não se trata de uma indagação, cuja resposta possa ser satisfeita por abordagens sociológicas ou técnicas da comunicação ou mesmo dos estudos de religião, sem que o aspecto fenomenológico da religião seja anterior ou simultaneamente compreendido. Trata-se, enfim, a comunicabilidade religiosa, de uma problemática inscrita no próprio modo de ser do religioso e, como tal, objeto privilegiado das

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ciências da religião, na medida em que sua análise, a nosso ver, exige que a religiosidade seja abordada a partir de seus próprios termos, isto é, numa perspectiva que compreenda que a religião constitui espaço privilegiado dos estudos de comunicação. A religião é, enfim, lugar específico e tipo ideal da tensão entre comunicabilidade e incomunicabilidade. Neste trabalho, pretendemos tratar deste assunto pela perspectiva instigante do fundamentalismo religioso, em comparação e contraste com outras formas de fundamentalismo. Para isso, inicialmente tratamos da questão do religioso como lugar privilegiado de estudos da comunicação, numa perspectiva em que a tensão dogmaXconversão determina as possibilidades da dialogicidade em ambientes religiosos. Nesse contexto, a problemática do fundamentalismo tem, nos dias atuais, uma motivação de contexto, que se especifica na presença e na permanência da preocupação civilizatória da modernidade. Como afirma o filósofo português Manoel Baptista Pereira: “O mundo contemporâneo é percorrido por vagas persistentes de intolerância, de fanatismo, de nova religiosidade sectária e de nacionalismo agressivo em pleno contraste com as exigências de secularização, de liberdade, de crítica, de tolerância da razão moderna” (Pereira, 1992, p. 206). Assim, quando falamos de fundamentalismo, é de modernidade que falamos. Quando criticamos o fundamentalismo, o fazemos a partir de uma reivindicação civilizatória. Em outras palavras, o debate não é, essencialmente, aquele da religião, ou da crítica da religião, pois o fundamentalismo não se encontra tão somente na prática religiosa – embora nesta o encontremos em uma condição típica –, mas percorre uma cadeia de ações e relações sociais, nas quais os ritos modernos são negados ou sofrem resistência ou, contraditoriamente, em alguns casos, são afirmados absolutamente. No fundamentalismo, estas características são agudizadas, por conta das características específicas do fenômeno, dentre as quais este trabalho aborda, como relevantes, primeiramente, as noções que determinam o fechamento dogmático: a ideologia total (Sousa), o princípio da inerrância (Panasiewicz) e a aderência às escrituras (Armstrong). Em seguida, destaca-se o papel essencial de uma Visão dualista de mundo, repartido entre bem e mal (Antoun), bem como as apreensões absolutizantes desses sentidos, como a percepção do absoluto (Ecco), da atemporalidade (Sousa), da ahistoricidade (Panasiewcz) e da não contextualidade (Sousa). Como corolário, evidencia-se a pretensão de superioridade (Panasiewcz). Constitui também característica do fundamentalismo, a produção de um mito da fundação da identidade do grupo, como reprodução terrena da sociedade descrita na literatura sagrada. Essa abordagem viabiliza a união das autoridades clerical e política (Ecco) e a politização do sagrado, tanto quanto a sacralização da política (Grau). Nessa perspectiva, a ação humana passa a ser a produção idealizada da ação divina, obtendo aí a sua legitimação autorreferente. O corolário desse movimento será, sem dúvida, o fechamento comunicacional, como elemento definidor do fundamentalismo enquanto tal: o que caracteriza, segundo Ecco, todas as formas de fundamentalismo é justamente a exclusão do outro (o que está fora da verdade, negativizado, demonizado), a ausência de alteridade. Do ponto de vista ético, todo fundamentalismo opera pela negação da racionalidade comunicativa: o dogma não é o que é efetivamente absoluto e sim o que não pode ser colocado em discussão.

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Contudo, convive em si com a contradição que funda a tensão comunicacional da religião. Todo fundamentalismo, diz Flickinger, possui uma contradição lógica: “decreta certezas das quais ele mesmo não pode estar certo”. Há, pois, um potencial paralisante no dogmatismo fundamentalista: ele se levado a termo, arrisca se autodestruir, pois é suicida, ao negar outra possibilidade senão ele próprio. Eis porque todo fundamentalismo é missionário e proselitista (Sousa). Mas, não um proselitismo de conversão ou de mercado, que saia ao mundo buscando adeptos e simpatizantes, e sim o que, experimentalmente, passamos a denominar um proselitismo de legitimação, do tipo que busca o reconhecimento social mais amplo de sua existência e de seu caráter divino e, não raro, vingativo, punitivo ou separador. É mais um ato de poder simbólico, do que uma ação retórica. O objetivo não é trazer o outro, e sim ser percebido e, não raro, temido, em sua condição de separado e superior a ele. Nessa perspectiva, pretende-se abordar, nos limites que este artigo torna possíveis, alguns fundamentalismos políticos modernos, tais como as guerras revolucionárias e coloniais; o comunismo e imposição da democracia pelas bombas (Todorov). É forçoso acrescentar também o caráter fundamentalista da razão ocidental, até o positivismo, quando se pretendeu secular e ateia, com sua destruição do sagrado em nome da sacralização da razão como única deusa. “... se é justa a crítica racional a toda a manipulação, repressão e eliminação do homem em nome do Sagrado, não é menos pertinente a crítica a toda a usurpação do Sagrado pelo poder hegemónico de uma razão autónoma capaz de absolutizar o seu próprio falibilismo” (Pereira, 1992, p. 207). No âmbito do fundamentalismo religioso, aborda-se, en passant, o fundamentalismo islâmico, tanto nas formas do martírio ou do suicídio religioso (Grau), quanto do terror midiático da "comunicação violenta” (Wainberg); e, também, o fundamentalismo evangélico, em seu combate às religiões negras e a formas de sexualidade e familiaridade não tradicionais. Assim, a diferença do fundamentalismo para o conversionismo é a modalidade de negação do “outro”. No conversionismo, a negação do outro se dá pela sua mesmificação; no fundamentalismo, pela sua anulação, exclusão ou, no limite, pela sua morte. Em todos os casos, porém, a figura do outro é exponencial como lugar de referência para afirmação do eu, pois é a que a tensiona e justifica, ao mesmo tempo. O PLURALISMO RELIGIOSO: O MAPEAMENTO DA TERRITORIALIDADE RELIGIOSA NO BAIRRO DO PINA EM RECIFE-PE Maria Vanessa Nunes do Carmo – Mestra – UNICAP Resumo: A religião no Brasil e sua espacialidade no contexto urbano vêm sucessivamente passando por um processo dinâmico, onde distintas formas de expressões religiosas surgem nas diversas modificações territoriais. Em Recife, é possível perceber esse crescimento de novos espaços religiosos e seu pluralismo, principalmente em áreas de comunidades de menor poder aquisitivo. Este estudo buscou mapear as territorialidades religiosas nas comunidades no bairro do Pina, tendo como base as práticas territoriais de apropriação e uso do espaço urbano,

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considerando a existência ou não de um diálogo inter-religioso num ambiente de pluralismo religioso. Os cenários atuais do bairro do Pina apontam para um panorama das transformações do ambiente através das atividades religiosas, mostrando que essa diversidade é convertida em um processo de demarcação de territórios, provocando uma reconstrução do espaço. Tais transformações podem ter, em algum momento, caráter temporário, a partir de eventos realizados. A existência dessa dinâmica de reconfiguração de espaços religiosos naturalmente alicerça a interrogação se existe dialogo inter-religiosos entre seus líderes. A metodologia adotada consistiu nas seguintes etapas: levantamentos bibliográfico, documental e cartográfico; pesquisa de campo; tratamento dos dados. Os dados foram tratados por mapas temáticos e transcrição das entrevistas balizando os seus discursos. Diante disso, constatou-se a existência de embates e tensões, materializados na forma de como essas religiões se apropriam do espaço físico. Também foi possível compreender, principalmente através das entrevistas concedidas, que ainda que alguns líderes religiosos não assumam posturas de intolerância para com segmentos diferentes do seu, seus discursos revelam antagonismos gritantes. Respectivamente é possível verificar líderes que matem um diálogo e desejam estender essa comunicação com outros líderes e grupos distintos e sem vinculações. Palavras-chave: Diálogo inter-religioso; Geoprocessamento; Espaço Urbano. DA SECULARIZAÇÃO À SINGULARIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO DE UM CULTO UMBANDISTA–KARDECISTA E REIKIANO Maria Augusta B. Gentilini – Mestranda – PUC Campinas Resumo: Verifica-se no Brasil, por meio de grandes mudanças desencadeadas por processos históricos e sociais, muitos deles de cunho secular, o surgimento de movimentos religiosos híbridos e plurais. Imerso nesse continuum cultural contemporâneo, insere-se um culto mediúnico de umbanda-kardecista e práticas reikianas denominado Centro Espírita Estrela Guia, localizado no município de Poços de Caldas, interior de Minas Gerais, objeto de estudo da presente pesquisa. O que representa a inter-relação entre três fenômenos, Kardecismo, Umbanda e Reiki, no culto? Podem ser pensados como um simples fenômeno sincrético ou híbrido? Há duas hipóteses para a última pergunta. Assim, dentro da metodologia de estudo de caso e dos procedimentos hipotético-dedutivos, foram analisadas algumas práticas e crenças do Centro Espírita Estrela Guia em suas configurações discursivas, doutrinárias e vivenciais. Constatou-se que esse culto mediúnico é também um fenômeno religioso ligado ao processo de secularização da sociedade brasileira. A absorção do reiki, prática medicinal alternativa japonesa relacionada a energias cósmicas e suas manipulações, em um culto que integra a doutrina kardecista e as ideias da umbanda indica um fenômeno que ultrapassa os quadros do sincretismo e do hibridismo religioso. Para entender o processo da secularização, do sincretismo e do hibridismo religioso, utilizou-se como fundamentação teórica, entre outros

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autores, Émile Durkheim e Antônio Flávio Pierucci. Por fim, o trabalho apresenta uma nova hipótese denominada singularização religiosa, com o intuito de compreender a grande densidade existencial e os processos regulares de absorção, reconfiguração e adequação espacial empreendidos nesse culto religioso específico. Palavras-chave: Secularização; Cultos Mediúnicos; Umbanda; Sincretismo; Hibridismo. OS PRINCÍPIOS DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA (CBB): O VALOR, A COMPETÊNCIA E A LIBERDADE DO INDIVÍDUO COMO CONVITE AO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO Ozenildo Santos Xavier da Rocha – Doutorando – PUC Minas Resumo: A Convenção Batista Brasileira (CBB) é fruto do protestantismo missionário da segunda metade do século XIX. Em 1907 se dá a oficialização cooperativa entre as comunidades batistas em solo brasileiro como uma denominação organizada que, a partir de então firmará sua trajetória institucional e de fé. Entre os documentos oficiais que pautam o desenvolvimento das ações da instituição no Brasil, destacam-se a “Declaração doutrinária“ e “Os princípios batistas”. Este último fundamenta a relação dos batistas da CBB com a sociedade em perspectiva ético-político-social. A proposta aqui elencada obedecerá a uma metodologia analítica constituída em três aspectos. Num primeiro quer destacar as raízes do pensamento batista a partir da Europa e América do Norte. Num segundo aspecto serão destacadas as principais características dos batistas da CBB em sua identidade e missão. Num terceiro momento será analisado o documento “princípios batistas” intuindo possibilidade de diálogo tomando como base os princípios do “valor”, da “competência” e da “liberdade do indivíduo”, categorias presentes no referido documento. Analisados cada um dos princípios acima referidos, intenta-se apontar caminhos possíveis e que contribuam para o diálogo inter-religioso e a missão da CBB. Desta maneira a pesquisa quer apostar na viabilidade do diálogo inter-religioso ao mesmo tempo em que há um reforço na identidade particular da CBB. Palavras-chave: Princípios; Diálogo Inter-religioso; Identidade; Missão. O NÃO DUALISMO DA TRANSFORMAÇÃO INDIVIDUAL E SOCIAL NO TANTRA YOGA DA ANANDA MARGA Rafaela Campos de Carvalho – Doutoranda – UFJF Resumo: Introdução: As práticas do tantra yoga, especificamente da filosofia da vertente Ananda Marga, pretendem auxiliar o indivíduo a dar-se conta de uma verdade, do monismo que entrelaça todas os entes mundanos e os eleva a condição

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divina, da sacralidade imanente da realidade. Verdade essa a ser atingida através de uma sádhana (esforço). A realização desse esforço não exige uma renúncia do mundo pelo praticante; não convém retirar-se para posteriormente retornar a sociedade com uma nova perspectiva, de outro modo, o tantra yoga propõe a permanência no mundo, o reinventar-se no fazer cotidiano, através de uma disciplina espiritual. Para a filosofia nesse artigo analisada, não há separação possível do mundo, pois não há outro mundo, retirar-se é apenas lidar com menos conflitos, mas conflitos são, para o tantra, a chave do crescimento espiritual. Essa proposta de vida, a agência mundana com absorção na meta espiritual, é possível através da submissão do indivíduo à disciplina (ásanas, meditação, alimentação, entre outros), e à orientação do mestre. Para a filosofia do tantra yoga, o indivíduo não é um ente autossuficiente e desconexo, passível de realizar um esforço moral pela dignidade de outros entes. Desconstrói-se a possibilidade da existência desse indivíduo mônada, inferindo a essa percepção o erro fundamental da compreensão do si-mesmo. Qualquer indivíduo dado partilha fundamentalmente da mesma essência que os outros seres. Os elementos que confirmam, para ele mesmo, a separação, tais como seus sentidos físicos e motores (indryas), assim como sua camada de racionalidade e consciência egóica (aham), são compreendidos como camadas de experiência menores, restritos a sua própria codificação da experiência real. A disciplina espiritual visa garantir o acesso do ser a suas camadas maiores de experiência (atman). Essa consciência maior engloba e testemunha a consciência de individualidade, sendo ela mesma partilhada por todos os seres. Todos os seres humanos possuem a possibilidade de acessá-la, de modo que a prática cotidiana dos ensinamentos do tantra yoga visam, assim, acelerar e facilitar esse processo. Objetivos: Expor os pensamentos fundamentais do tantrismo acerca de questões pertinentes a diversos outros caminhos espirituais, assim como a outros debates contemporâneos. Possibilitar o diálogo inter-religioso, principalmente no que tange à atuação, militância, ou, serviço, de aspirantes espirituais no mundo atual, visando o bem-estar coletivo. Método: Leitura hermenêutica dos textos fundamentais do Tantra Yoga da Ananda Marga, escritos por seu guru e fundador, Shrii Shrii Anandamurti. Conclusão: Não é possível falar, portanto, em conciliação da transformação individual com a transformação social, pois o princípio filosófico do tantra é o da não-separação. O resultado obtido com as práticas soteriológicas prescritas é a consciência constante dessa verdade reger as ações do indivíduo no mundo. Quando a mente humana se estabelece nessa consciência, todo serviço realizado é um serviço para si mesmo, assim como toda violência cometida é um ato contra si, pois o outro é um eu, e todos nós, Deus. Palavras-chave: Sádhana; Monismo; Tantra Yoga; Ananda Marga; Transformação Social. FUNDAMENTALISMO COMO NEGAÇÃO DA TRADIÇÃO ANTIGA E AFIRMAÇÃO DA TRADIÇÃO INVENTADA: DESAFIO DA HERMENÊUTICA PARA CONSTRUÇÕES DE DIÁLOGOS INTER-RELIGIOSOS

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Roberlei Panasiewicz – Doutor – PUC Minas Resumo: No mundo contemporâneo há emergência de práticas religiosas fundamentalistas ou ditas integristas. Estas práticas têm como referência o texto sagrado e/ou as doutrinas que compõem o núcleo de determinada tradição religiosa. O centramento em uma forma de aproximação do texto ou das doutrinas leva os fundamentalistas/integristas a se aproximar ou se afastar da Tradição? Destacamos duas concepções de Tradição: a Tradição Antiga e a Tradição Inventada. A primeira, por sua força coercitiva, procura implantar atitudes sustentadas ideologicamente. Valores, direitos regras e costumes são lidos e estimulados a resguardar a pretendida verdade da mensagem religiosa. Por sua vez, a Tradição Inventada procura, de forma geral e vaga, inculcar novos padrões de comportamento inspirados por leituras específicas e negativas da contemporaneidade. Os (neo) fundamentalistas, ao negar as práticas hermenêuticas dos textos sagrados e discordar de atualizações das doutrinas, reafirmam a Tradição Inventada e negam a Tradição Antiga. Partindo da pesquisa bibliográfica, o objetivo desta comunicação é compreender o sentido de Tradição Antiga e Tradição Inventada e apontar a hermenêutica como possibilidade de releitura e atualização da Tradição, favorecendo assim a construção de diálogos inter-religiosos. Estes diálogos são compreendidos como possibilidade das religiões e espiritualidades aprofundarem suas identidades e compreensões da divindade ao mesmo tempo em que são estimuladas a desenvolverem, em conjunto, consciência e práticas de cuidado com o diferente, de tolerância e de respeito à liberdade religiosa. Esta perspectiva possibilita empreender ações que conduzam ao cuidado planetário e ao encontro com o outro, sobretudo, os mais carentes e que sofrem desigualdades sociais. Palavras-chave: Fundamentalismo religioso; Tradição Antiga; Tradição Inventada; Hermenêutica; Diálogo Inter-Religioso. UM PASSEIO PELO “JARDIM ENCANTADO” DA PÓS-MODERNIDADE DE MAFFESOLI Sérgio Sezino Douets Vasconcelos – Doutor – UNICAP Hélio Lima – Doutorando – UNICAP Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar o conceito de reencantamento do mundo em Michel Maffesoli, para verificar até que ponto o retorno do fenômeno religioso, que se apresenta, por vezes, através de formas de “religiões tribais”, ora em expansão na sociedade contemporânea, revela o regresso e o adensamento do fenômeno religioso na pós-modernidade, em contraposição ao desencantamento do mundo de Max Weber, ou, simplesmente, diz respeito à manifestações espasmódicas do desejo humano de buscar redesenhar, sob outros contornos, e reconstituir, em outros sítios, o espaço sagrado que foi deslocado do centro da constituição simbólica

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da cultura moderna para a vivência subjetiva do indivíduo descentrado, de modo a compensar o estado de desagregação da existência, que se faz sentir em todos os domínios da realidade. Considerando que o anseio humano por encontrar o sentido mais profundo da existência não é satisfeito com a simples oferta de bens materiais ou aplacado pelas ilusões passageiras da indústria de entretenimento, vez que a condição de simples consumidor de bens, serviços e informações apenas aprofunda o vazio existencial de uma vida sem sentido, então, o propósito aqui é indagar se a proposta de Maffesoli, sobre a necessidade de se abandonar os padrões linguísticos tradicionais de explicação e de justificação da realidade, em benefício de novas categorias linguísticas, é razoável para elucidar as reconfigurações agregadoras pós-modernas, sobretudo com relação às rápidas mudanças nos valores culturais e religiosos, e contribuir para a compreensão dessa “sociedade em estado nascente”, refratária àquelas categorias discursivas habituais da racionalidade moderna, ou apenas fomenta a ilusão de que é possível reconstituir situações pretéritas de encantamentos, cujo ciclo de vida esgotou suas possibilidades, mediante a simples elaboração de narrativas substitutivas ao desencantamento. Com isso pretende-se ampliar a discussão em torno da pluralidade religiosa e contribuir para o diálogo com novas formas de espiritualidade contemporânea. Palavras-chave: Espiritualidade contemporânea; Identidade e religião; Pluralismo e Trânsito Religioso. AMOR E JUSTIÇA: A LÓGICA DO PERDÃO ENTRE ESQUECIMENTO E

VINGANÇA. Walter Ferreira Salles – Doutor – PUC Campinas Resumo: O presente trabalho de pesquisa tem como foco principal a relação entre amor, justiça e perdão. Um pressuposto fundamental dessa pesquisa é o fato de a lógica do perdão se distanciar tanto do esquecimento quanto da vingança. Um segundo pressuposto aponta para o fato de o perdão ser uma manifestação da justiça, mas não da justiça como equivalência, mas sim como superabundância. O perdão é da ordem do dom e da gratuidade. Um terceiro pressuposto é o fato de a interrelação entre justiça e perdão se constituir em uma excelente oportunidade para a Tradição cristã contribuir com o debate público sobre o ideal de uma sociedade justa. Para a Tradição cristã, o perdão é um processo de libertação do mal cometido contra outra pessoa. No ato de perdão há uma esperança: o ser humano é mais que o mal cometido. Entretanto, não se deve confundir perdão e esquecimento. Não é possível perdoar aquilo que se esqueceu, é preciso destruir a dívida e não a memória. Assim, o objetivo principal dessa pesquisa é refletir sobre a relação entre amor e justiça, notadamente a partir da lógica do perdão apreendida como uma justa distância entre o esquecimento e a vingança. A pesquisa igualmente visa refletir sobre a pertinência da contribuição da tradição cristã para esse debate a partir da ideia de reabilitação presente tanto na esfera da justiça quanto no campo

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religioso. No tocante ao método, trata-se de realizar uma investigação descritiva e interpretativa com base em um estudo de cunho bibliográfico. Como resultado esperado, visa-se contribuir com o debate em torno do lugar do discurso religioso em nossa contemporânea sociedade secular. A presente pesquisa assume como referencial teórico parte da obra do filósofo francês Paul Ricoeur, com o intuito de aprofundar o debate entre amor, justiça e perdão. Palavras-chave: Amor; Justiça; Perdão. IMAGENS DE DEUS E PLURALISMO: CONTRIBUIÇÃO DA MÍSTICA DO PSEUDO-DIONÍSIO PARA O DIÁLOGO RELIGIOSO Werbert Cirilo Gonçalves – Doutorando – PUC Minas CAPES Resumo: A expressão “imagem divina” diz respeito às concepções sobre Deus próprias do homo religiosus. Como chave de leitura fenomenológica, possibilita interpretar como as concepções religiosas interferem no agir humano, principalmente porque estão vinculadas a um modo de “explicar o mundo” e de “se compreender” nele. Em tempos de pluralidade cultural e religiosa, não é difícil reconhecer “algumas imagens exclusivistas” que se apresentam como entraves ao diálogo. Escondidas por trás dos radicalismos, fanatismos e fundamentalismos – essas imagens absolutas foram construídas com teologias e pregações que condenam e ignoram o valor de outros grupos religiosos. Diante disto, a teologia do pluralismo tem buscado uma relação com as imagens que não implique em objetivação fundamentalista de Deus e em intolerância religiosa. Ao enfrentarem esse desafio: místicos, teólogos e cientistas da religião têm encontrado na espiritualidade uma desconstrução dessas concepções que rejeitam o diálogo. E, assim, revisitando o pensamento do Pseudo-Dionísio, o nosso objetivo é apresentar as contribuições deste místico para uma relação com as imagens que inspire a partilha, a saber: a) uma “teologia mística” na qual os conceitos de Deus não são ídolos, senão ícones (representação simbólica de uma realidade superior ao entendimento) e que preconiza a renúncia à pretensão humana de objetivar Deus em fórmulas particulares e absolutas como via necessária de aproximação do Mistério; b) e um “ethos místico”, originado através de um processo de aproximação e conversão, chamado de deificação, no qual o ser humano participa do ato de bondade do Criador ao se fazer no mundo “amor doação”. Como método, usamos a pesquisa bibliográfica: a obra do Pseudo-Dionísio e pensadores que relacionam a espiritualidade com o diálogo religioso. Como resultado, identificamos que a mística responde ao desafio posto por relativizar as concepções exclusivas e visar uma postura ética. Concluímos que essa experiência religiosa constitui um ambiente favorável ao diálogo religioso: a) para a “comunidade dos teólogos”, ao propor uma teologia capaz de superar os fundamentalismos e radicalismos, que reconheça os seus limites racionais e que afaste os ídolos absolutos do imaginário religioso; b) para a “sociedade”, ao apresentar que o pluralismo pode ser uma riqueza quando se descobre que a autenticidade de uma imagem implica num ethos

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que se efetiva pelo amor ao próximo e pelo bem-comum. Palavras-chave: Mística; Imagens de Deus; Pluralismo; Diálogo religioso.

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GT 04 – GÊNERO E RELIGIÃO

Dra. Sandra Duarte de Souza (UMESP) [Coordenadora] Dra. Fernanda Lemos (UFPB) Dr. André S. Musskopf (EST) Ementa: O objetivo desse grupo de trabalho é o de propor discussões de pesquisas que envolvam a articulação entre gênero e religião, buscando analisar as implicações de gênero dos sistemas simbólico-religiosos que informam as/os fiéis e as instituições sociais de maneira geral. Essa análise se dará em perspectiva interdisciplinar, e o GT pretende reunir pesquisas em torno do eixo gênero e religião a partir de diversas áreas de conhecimento como a sociologia, a antropologia, a história, a teologia, a psicologia dentre outras. A religião é um importante sistema de sentido na conformação das subjetividades masculinas e femininas. Seu poder normatizador e regulador tem sido frequentemente discutido no âmbito dos estudos feministas. Por outro lado, as ortodoxias religiosas se deparam com a heterodoxia da vida cotidiana dos sujeitos religiosos, o que relativiza significativamente o poder regulador das instituições e dos sistemas de sentido religiosos. O GT acolherá propostas de comunicações que discutam aspectos teórico-metodológicos dos estudos de gênero e religião, bem como propostas que analisem os câmbios ou continuidades do discurso religioso acerca dos papéis sociais de sexo num contexto de redefinição das identidades de gênero. São bem-vindas propostas que articulem gênero e religião na discussão da violência, seja ela doméstica, urbana, nas instituições religiosas, nas relações de trabalho; na discussão da diversidade sexual; da bioética; da laicidade; da política dentre outros. Palavras-chave: Gênero; Religião. NOSSA SENHORA DA CHALEIRA DESVIRGINADORA” – RELATO DE UMA PESQUISA PARTICIPANTE SOBRE RELIGIÃO E SEXUALIDADE André S. Musskopf – Doutor – EST Resumo: Durante o ano de 2016 foi realizado trabalho de pesquisa com um grupo de mulheres da Comunidade Floresta Imperial da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) como parte do projeto de pesquisa “A produção do conhecimento teológico sobre saúde e direitos no âmbito da sexualidade e da reprodução humana a partir do trabalho com grupos religiosos e organizações sociais”. Nessa etapa foram realizados oito encontros com o grupo para discutir

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temas relacionados a gênero e sexualidade utilizando o método de pesquisa-participante. O objetivo foi discutir temas de interesse das mulheres no marco do projeto de pesquisa com o objetivo de perceber e construir com elas formas de produção de conhecimento no âmbito da teologia. Os encontros foram realizados no salão comunitário utilizando metodologias de educação popular e leitura popular da Bíblia em articulação com teologias feministas e queer. Além do coordenador da pesquisa, atuaram junto ao grupo também um assistente de pesquisa (doutorando) e uma bolsista de iniciação científica (graduanda). Ao longo dos encontros as mulheres foram compartilhando suas experiências em questões de gênero e sexualidade, refletindo sobre como essas questões são tratadas na comunidade religiosa e construindo saberes sobre as temáticas propostas. A pesquisa revelou que as mulheres, a partir do estabelecimento de laços de confiança com a equipe de pesquisa, têm relativa facilidade em falar sobre essas temáticas a partir de suas experiências, mas essa mesma facilidade não se revela na articulação com questões religiosas, bíblicas e teológicas. Por outro lado, as mulheres falam sobre o processo vivenciado no contexto da pesquisa como “libertador”, tanto do ponto de vista pessoal, quanto de suas relações cotidianas. Evidencia-se a falta de uma linguagem religiosa para falar sobre temas de gênero e sexualidade no contexto religioso e a possibilidade de novas linguagem, como expressa na oração à “Nossa Senhora da Chaleira Desvirginadora”, elaborada no contexto da pesquisa. Palavras-chave: Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos; Pesquisa Participante; Mulheres e Religião. GÊNERO, LAICIDADES E ATIVISMO RELIGIOSO NO COGRESSO BRASILEIRO Brenda Carranza – Doutora – PUC Campinas Resumo: Os estudos de gênero contabilizam os inúmeros esforços de analistas e movimentos sociais para desnaturalizar, no plano discursivo e de ações afirmativas, os pressupostos essencialistas que legitimam e justificam a desigualdade de gênero. Tais esforços também alcançam a esfera político-partidária, quando minorias sexuais fincam sua representação no poder Legislativo brasileiro e participam da estrutura do Governo Lula e Dilma Rousseff (2002-2015). Com isso, progridem as discussões sobre sexualidade e questões de gênero no epicentro das estruturas que formulam as políticas públicas do país. Esse avanço da pauta da diversidade sexual, e seus correlatos, provoca nos setores conservadores e religiosos do Congresso Nacional uma sistemática desqualificação da Teoria de Gênero. Alicerçados no construto narrativo denominado de ideologia de gênero, os parlamentares religiosos deflagram uma guerra ás questões de gênero referidas no Plano Nacional de Educação (PNE/2014-20124). Nesta comunicação foca-se nas intervenções oficiais das lideranças religiosas no Congresso, declarações à mídia e propaganda de mobilização social, registrados no período de 2010-2016. Discute-se os pressupostos

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epistemológicos que transformam a teoria de gênero em ideologia de gênero, demonizando o feminismo e, por extensão, a teologia feminista. Indaga-se as concepções de laicidade que subjazem na invocação dos direitos humanos e de liberdade religiosa nos quais é ancorda a defesa moral da nação brasileira, tida como cristã. Observam-se os mecanismos e as estratégias de articulação interdenominacional que alia as bancadas católicas e evangélicas, consolidando o ativismo político religioso que surpreende por reinventar a histórica relação: religião-política, a tempo que em nom de Deus transforma a esfera pública. O PAPEL DA MULHER NO PERÍODO DO ANTIGO TESTAMENTO UM ESTUDO TEXTUAL, ETNOGRÁFICO E ARQUEOLÓGICO Christie G. Chadwick – Doutor – UNASP Resumo: Uma leitura superficial do Antigo Testamento leva a um retrato limitado e distorcido da vida das mulheres no período monárquico de Israel. O objetivo deste artigo é uma avaliação do papel da mulher durante o período monárquico através de uma leitura profunda das narrativas de Samuel e Reis no Antigo Testamento, juntamente com uma análise interdisciplinar através dos resultados de pesquisas etnográficas e arquelógicas. As esferas de influência da mulher foram divididas em relação ao seu papel dentro de fora de casa, avaliando sua contribuição econômica para a família como fator de influência em decisões da casa; e seu papel em atividades relativas à comunidade como um todo, inclusive sua influência religiosa. A economia doméstica na Idade do Ferro, período relacionado à monarquia israelita, era muito mais complexa do que a tratam modernos leitores da Biblia. Cada casa tinha a necessidade de ser autosuficiente, e homens e mulheres interagiam de forma mais inter-dependente, criando entre eles uma relação de equilibrio econômico ausente na maioria das descrições modernas da sociedade do período em questão. O retrato que emerge mostra a mulher israelita da Idade do Ferro como uma mulher independente e influente dentro e fora do âmbito doméstico. Ademais, um estudo diacrônico, avaliando a mudança na percepção da mulher, demonstra que muito da perspectiva moderna da mulher do período do Antigo Testamento, vem na realidade do período pós-exílico, ou seja do período helenístico, onde a independência e influência da mulher diminuíram consideravelmente. Palavras-chave: Mulher; Antigo Testamento; Economia Doméstica; Religião. MULHERES E EDUCAÇÃO TEOLÓGICA ACADÊMICA: PERSPECTIVAS A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTUDANTE MULHERES NA FACULDADE UNIDA VITÓRIA (ES) Claudete Beise Ulrich – Doutora – Faculdade Unida

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Resumo: A presente comunicação objetiva refletir sobre mulheres e a educação teológica acadêmica a partir da experiência de estudantes mulheres do Bacharelado em Teologia na Faculdade Unida, Vitória-Espírito Santo. A educação teológica é um passo fundamental para que as mulheres alcancem a cidadania eclesial. Reflete-se, a partir, das entrevistas narrativas realizadas com as estudantes mulheres sobre o impacto do estudo de teologia na experiência de vida das próprias estudantes. A educação teológica acadêmica, como a educação em todos os níveis, é também um direito humano das meninas e das mulheres. A CASA DAS SETE MULHERES Cláudia Danielle de Andrade Ritz – Mestranda – PUC Minas CAPES Resumo: Este estudo propõe uma reflexão sobre os aspectos da violência doméstica experienciada por mulheres pentecostais, identificados em pesquisa de campo, via entrevista. A violência doméstica em todas as suas formas, é um fenômeno social que alcança as mulheres no Brasil de forma acentuada, como apontado pelo Mapa da Violência 2015 Homicídio de Mulheres no Brasil de Julio Jacobo Waiselfisz. No ordenamento jurídico brasileiro, os preceitos constitucionais e legais consagram direitos como a dignidade humana e a igualdade de gênero, e abarcam instrumentos federativos que regulam o tema, como as Leis 11.340/2006 - Maria da Penha e 13.104/2015 – Feminicídio. No entanto, as estatísticas governamentais ainda indicam uma alta incidência de violência doméstica. Desta forma, objetivamos propor uma reflexão sobre a violência doméstica experienciada por mulheres no contexto pentecostal, considerando as relações de gênero, de poder e do discurso religioso. Como metodologia, utilizaremos o referencial teórico especializado e a apresentação dos dados coletados em campo via entrevista. Os números serão apresentados em percentuais, combinados com a análise discursiva dos depoimentos das entrevistadas. Como resultado, faremos a apresentação preliminar dos dados qualitativos da pesquisa de campo, buscando identificar os aspectos sociorreligiosos presentes. Palavras-chave: Violência doméstica; Relações de Gênero; Pentecostais; Dados qualitativos da pesquisa de campo. AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO PENSAMENTO DE EDITH STEIN Clélia Peretti – Doutora – PUC Paraná Resumo: A questão da diferença entre homens e mulheres marcou de muitas formas o pensamento filosófico do século XX, provocando importantes revoluções teóricas nos estudos sobre a pessoa humana. Entre tantos pensadores que se destacaram neste século optou-se por apresentar o pensamento de Edith Stein

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(1891-1942), judia, filósofa, discípula de Edmund Husserl (1859-1938). Edith Stein em especial em sua obra A mulher. Sua missão segundo a natureza e a graça (1999), toca em profundidade as relações entre o masculino e o feminino, destacando a mulher. Ela participou dos movimentos feministas e pedagógicos de sua época, transitava em várias áreas do saber, dado seus interesses psicológicos, antropológicos, filosóficos, políticos, históricos, religiosos e teológicos. Edith Stein nos apresenta uma análise atenta do ser humano masculino e feminino, situando-nos com seus aportes no interior dos estudos de gênero que nos ajudam a compreender a complexidade das questões do nosso tempo. A autora oferece nas suas análises da feminilidade uma grande contribuição para a compreensão de pessoa humana na sua unidade e complexidade. Consideramos a perspectiva filosófica de Edith Stein decisiva para o resgate de uma antropologia da reciprocidade mútua, de uma eclesiologia inclusiva em conexão com uma memória narrativa de solidariedade de tantas biografias esquecidas de mulheres na nossa história. Seu pensamento contribui para o resgate da dignidade e da condição da mulher na sociedade atual, na superação das diferenças culturais e étnicas e das ambivalências da sexualidade humana. Aquilo que está em jogo em nossas sociedades é, de fato, o desenvolvimento de uma identidade feminina que acolha o sentido da diferença, não mais em tensão com a igualdade, mas como experiência libertadora, capaz de construir a partir de dentro a identidade de cada ser humano, homem e mulher. Palavras-chave: Relações de Gênero; Mulher; Edith Stein. GÊNERO E LITERATURA RELIGIOSA: UMA ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES DE GÊNERO PRESENTES NA REVISTA VISÃO MISSIONÁRIA NO PERÍODO DE 1975 A 2015 Eliana Aparecida Amancio – Mestranda – UMESP Resumo: A revista feminina Visão Missionária da Igreja Batista Brasileira, é o órgão oficial para a transmissão da cultura batista às mulheres desse grupo social, sua tiragem é trimestral e varia entre 50.000 (cinquenta mil) a 55.000 (cinquenta e cinco mil) exemplares e atende do norte ao sul do Brasil. Através do conteúdo inserido nas páginas deste periódico pretendemos construir uma análise das representações de gênero presentes no período de 1975, 1995 e 2015 e identificar que tipo de representações de gênero são evocadas e quais são as representações de gênero dominantes. O período a ser pesquisado trata-se de um espaço de tempo marcado por muitos acontecimentos históricos que impactaram a sociedade brasileira provocando grandes transformações nas representações sociais sobretudo nas representações sociais de gênero. Estes impactos se deram principalmente pelas conquistas femininas como: a organização do movimento feminista, inserção da pílula anticoncepcional no mercado brasileiro, aprovação da lei do divórcio, ocupação das mulheres nos espaços públicos do trabalho e educacional e muitas outras conquistas. No espaço evangélico algumas mulheres conquistaram lugares nos

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espaços de poder como o ministério pastoral, presidência de associações e outras conquistas. Nossa pesquisa pretende mostrar como ocorreram estas transformações ou permanências no discurso da revista, perguntando em que medida as transformações da sociedade provocaram mudanças nas representações de gênero tradicionais presentes em suas páginas. Buscaremos identificar e analisar as representações de gênero presentes no exemplar de 1975 comparando com as representações de gênero presentes nos exemplares de 1995 e 2015. Pensamos que esta técnica facilitará o processo de investigação, pois parece-nos a mais eficiente para a pesquisa que pretendemos realizar. A pesquisa contará com a revisão de artigos científicos que discutam os temas gênero, representações sociais de gênero, literatura religiosa feminina, movimento feminista. Os procedimentos metodológicos adotados envolvem levantamento documental sobre o nascimento da revista e outros momentos importantes em sua na história. O conjunto de técnicas e procedimento ligados ao método Análise de Conteúdo será o recurso metodológico utilizado por nós. Os resultados preliminares da pesquisa apontam que as transformações das representações de gênero não acontecem de forma amistosa tendo em vista que o discurso religioso encontra-se muito presente na mentalidade do povo brasileiro, dificultando as transformações nas representações tradicionais e promovendo as permanências. Ainda não temos uma conclusão considerando que a pesquisa encontra-se em andamento. Palavras-chave: Representações de Gênero; Literatura Feminina Religiosa; Revista Visão Missionária. GÊNERO NO BRASIL: BINARISMOS E REPRODUÇÕES PATRIARCAIS NO DISCURSO POLÍTICO-RELIGIOSO BRASILEIRO Fernanda Marina Feitosa Coelho – Mestranda – UMESP Resumo: A presente comunicação é um fragmento de uma pesquisa realizada para compor dissertação de mestrado. O objetivo deste recorte é demonstrar como a visão dicotômica e que apela para determinismos biológicos, fortemente presente no discurso político-religioso da “ideologia de gênero” e amplamente evocado por deputados da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) nas discussões que envolveram o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, intenta monopolizar a categoria gênero, promovendo valoração das chamadas minorias de gênero em uma matriz heterossexual, hierarquizada, perpetuando o patriarcalismo no Brasil e reproduzindo os papéis sociais decorrentes desta. O trabalho foi elaborado por meio de métodos qualitativos e de pesquisa bibliográfica, do acesso à produção acadêmica a respeito do tema, de forma a subsidiar as análises propostas. O texto explana, em uma perspectiva pós-colonial, como se deu o papel de legitimação da “naturalidade dos sexos” como senso comum no país, remontando à sua colonização, de maneira que foram produzidas imprecisões que fazem com que as concepções “sexo” e “gênero” se confundam como sinônimos. Depreende-se, assim, do discurso de parlamentares

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que se autodeclaram religiosos, a concepção biologizante e naturalizante que associa sexo biológico à gênero, em detrimento das pessoas, de suas particularidades e de seus marcadores de interseccionalidades. Por fim, o texto aponta a educação para a diversidade de gênero e orientação sexual como grande contribuição para a construção de políticas de resistência que visem a superação de desigualdades com base em gênero e orientação sexual, bem como de outros marcadores interseccionais, visto que consideramos que a escola é um dos principais espaços de sociabilidade com vistas à formação de cidadãs e cidadãos que prezem pelo respeito aos princípios democráticos e pelo respeito à diversidade e à pluralidade. Palavras-chave: Gênero; “Ideologia de gênero”; Patriarcalismo; Educação. IGREJAS INCLUSIVAS: UMA FORMATAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE NA NORMATIVA HETEROSSEXUAL? Fernando Cesar Bertolino Junior – Mestrando – PUC-SP Resumo: O projeto de pesquisa desenvolvido visa investigar o crescimento, o desenvolvimento e a prática das denominadas “igrejas inclusivas” em relação a dicotomia ou concordância do discurso religioso e a prática/vivência das pessoas homossexuais. Neste sentido, verifica-se uma possível configuração heteronormativa na constituição e participação de fieis homossexuais em duas igrejas inclusivas na cidade de São Paulo, a Igreja Cristã Metropolitana (ICM) e a Comunidade Cidade de Refúgio. Durante a pesquisa, observamos se estas comunidades são apenas de “inclusão” de um novo gênero, com seus anseios místicos e com uma leitura e interpretação dos textos sagrados conforme uma ótica positiva de aceitação da homossexualidade por parte de uma cultura secular, tão marcada pelo equívoco da não aceitação por parte das igrejas cristãs tradicionais ou ainda uma ratificação dos valores cristãos que devem ser inculcados à filosofia de vida dos congregados homossexuais, fazendo assim com que a heteronormatividade impere sobre a vida destes, sem uma mínima militância e reconhecimento de seus corpos, posturas e cultura. De cunho qualitativo, a metodologia utilizada se vale primeiramente de levantamento bibliográfico e material a respeito das igrejas inclusivas em São Paulo, assim como a problematização da relação homossexualidade e religião, fator este que levou ao surgimento destas igrejas. Em um segundo momento, a partir de visitas às duas igrejas inclusivas, como observador participante, notarei quaisquer indícios de discursos de legitimação e um possível enquadramento heteronormativo, desviando assim a militância ou a chamada “cultura gay”. No atual momento da pesquisa, que se encontra em resultados parciais, temos uma clara distinção entre a igreja de matriz americana para com a igreja de matriz neopentecostal tipicamente brasileira. Esse neopentecostalismo “à brasileira”, faz com que as igrejas inclusivas tipicamente nacionais adotem posturas e discursos mais conservadores, possuindo assim fortes indícios de formatação à heteronormatividade.

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Palavras-chave: Igrejas inclusivas; Homossexualidade; Heteronormatividade. AS BEATAS DO PADRE IBIAPINA: CASAS DE CARIDADE E RELAÇÃO DE GÊNERO (SERTÃO- NORTE DO BRASIL IMPÉRIO 1860-1883) Gilvan Gomes das Neves – Doutorando – UNICAP Resumo: O presente trabalho faz parte da pesquisa de tese para o Doutorado e tem como objeto de estudo a missão e a mística do Padre-Mestre Ibiapina (1806-1883), nascido José Antônio Pereira, em 5 de agosto de 1806, na fazenda Morro, onde hoje se encontram bairros periféricos da cidade de Sobral, Estado do Ceará, e falecido em 19 de fevereiro de 1883, em Santa Fé, na Paraíba. Neste estudo tentaremos, a partir da historiografia, ampliar o conhecimento social e feminino nas décadas de 60 e 70 do século XIX no Sertão-norte do Brasil Imperial. Utilizaremos como quadro histórico as vinte e duas Casas de Caridade fundadas pelo Padre Ibiapina e entregues às mulheres, denominadas irmãs ou beatas, para serem administradas. Mulheres que ocupavam lugar de destaque ao lado do Padre-Mestre. Um estudo em que, na dinâmica do cotidiano, poderão ser reproduzidas relações materiais e de poder patriarcal. Palavras-chaves: Beatas de Ibiapina; Gênero e mulheres; Etnia-raça; Igreja e religiosidade; Sertão-norte do Brasil Império. AS MULHERES NO ESPAÇO ECLESIAL DE IGREJAS EVANGÉLICAS PENTECOSTAIS Graziela Rodrigues da Silva Chantal – Mestranda – PUC Minas CAPES Resumo: Gênero é um assunto que vem sendo discutido em muitos âmbitos da sociedade. Neste trabalho, vamos analisar a discussão/debate sobre gênero no espaço eclesial, especificamente de igrejas evangélicas, tais que se denominam igrejas pentecostais. As relações de gênero perpassam pelo espaço público e privado, por isso também devem ser discutidas nas igrejas. Mas, infelizmente, as questões de gênero não são abordadas no meio eclesial, pois se acredita que não é uma temática que influencia a vida das comunidades. As mulheres não assumem papéis de liderança nos ambientes eclesiais porque o modelo hierárquico imposto, tido como ideal, é o modelo patriarcal. Faz-se necessário pensar novos modelos de igreja e de liderança, que sejam mais inclusivos, igualitários e dinâmicos. O objetivo deste trabalho é apresentar uma parte da pesquisa de campo realizada no bairro General Carneiro em Sabará/MG, onde mulheres pastoras vêm assumindo cargos de lideranças nas igrejas que elas fundam, por meio do que elas denominam de “chamado de Deus”. Essa pesquisa foi realizada por meio de estudos de casos através de entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas, um dos dados

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levantados nas entrevistas feitas com as pastoras, com as suas auxiliares e com as(os) membros, podemos verificar que o empoderamento dessas mulheres pastoras não depende de uma determinação da cultura patriarcal, ou seja, o feminino assume uma liderança no espaço eclesial, lugar que até então era dominado pela cultura do patriarcalismo. Como aporte teórico para embasar o dado apresentado neste trabalho, vamos utilizar as autoras Sandra Duarte de Souza, Elizabeth Schüssler Fiorenza, Ivone Gebara e Marga J. Sthoher. Palavras-chave: Gênero; Religião; Mulheres; Liderança. TEXTOS SAGRADOS DO CRISTIANISMO EM PERSPECTIVA FEMINISTA: EXEGESE, HERMENÊUTICA E GÊNERO Ivoni Richter Reimer – Doutora – PUC Goiás Resumo: O exercício da docência universitária na área de Teologia/Ciências da Religião, especificamente no campo da Literatura Sagrada dos Cristianismos, coloca desafios e apresenta contribuições para o ensino/aprendizado nas disciplinas por mim ministradas na graduação e pós-graduação. O objetivo da comunicação é compartilhar experiências na lide com os próprios textos, com enfoque em hermenêutica, exegese, história interpretativa dos textos, sociedade e cultura nos textos e suas recepções. Os textos e suas interpretações são parte de complexos sistemas simbólico-religiosos que objetivam fazer crer e contribuir na construção/transformação/manutenção de identidades, valores e comportamentos. Hermenêuticas feministas e a utilização da categoria analítica de gênero, junto com tradicionais métodos exegéticos, tem contribuído significativamente na análise de textos como representações de experiências múltiplas, no passado e no presente, desnaturalizando qualquer forma de opressão e subordinação. Esta interdisciplinaridade teórico-metodológica possibilita a percepção de conflitividades, avanços e (des)continuidades na (des)construção de imaginários e mentalidades que atuam como fundamentais mecanismos dinâmicos nas tessituras das relações sócioculturais, econômicas, político-ideológicas, étnicas e geracionais. Os textos e suas interpretações historicamente tem servido para regular a vida institucional em vários níveis de relações e de poder, seja na família, na igreja, no Estado... Como parte constitutiva da religião cristã, trata-se de poderosos instrumentos de normatização e controle das relações. Reler os textos e sua história interpretativa em perspectivas feministas tem proporcionado percepções, análises e contribuições que desalojam, questionam e também evidenciam vivências contra-culturais e heterotópicas no passado e no presente. Os protagonismos de mulheres, p.ex., bem como a heteroglossia presente nos próprios textos remetem para processos dinâmicos e conflitivos de experiências várias e diversas nas ‘origens’ de comunidades cristãs e podem ajudar a reconfigurar os estudos acadêmicos e a rever/recriar práticas pastorais e catequéticas, bem como re-imaginar inserções transformadoras em movimentos sociais.

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Palavras-chave: Textos Sagrados; Hermenêutica; Gênero; História de Mulheres. A IMAGEM DO AFRO-ESTADUNIDENSE SOB A PERSPECTIVA DE ELLEN WHITE NO SÉCULO XIX E SUAS IMPLICAÇÕES Jean Carlos Zukowski – Doutor – UNASP Germana Ponce de Leona Ramirez – Doutora – UNASP Resumo: O afro-estadunidense é fruto da diáspora africana iniciada no século XVII em direção aos Estados Unidos da América do Norte que, paradoxalmente, conseguiu articular suas ideologias da Revolução Americana, com ênfase na liberdade, e ao mesmo tempo ter um comércio que se baseou na mão de obra escrava. Este trabalho tem como objetivo analisar a imagem do afro-estadunidense no século XIX sob a perspectiva de uma mulher, Ellen White e seus desdobramentos levando em consideração a sociedade da época. Metodologicamente, este ensaio se caracteriza como uma análise documental considerando os escritos de Ellen White como fonte primária e tendo uma visão histórico cultural como pano de fundo. Muito embora depois da independência americana houve maior liberdade para a mulher,na sociedade estadunidense no início do século XIX ela ainda era vista em posição social inferior à do homem. Seu papel social era delimitado, ou seja, havia uma estereotipização e uma predestinação social pautada em uma sociedade cujos princípios se baseavam no entendimento bíblico da época, de que a mulher deveria ser submissa ao seu marido e dedicar-se apenas aos afazeres domésticos, portanto familiares. Nesse contexto, em 1827 na vila de Gorham, nasce Ellen White, uma mulher cujos princípios e valores cristãos vão se destacar na valorização do ser humano independentemente de raça, gênero e posição social. Sua influência nas concepções religiosas tem repercussões até à contemporaneidade. Dessa forma, a sua opinião sobre o afro-estadunidense tem uma significação e interferência na forma de pensar de grupos religiosos como os adventistas do sétimo dia, adventistas da reforma e outros. Assim, com base na análise dos seus escritos, percebe-se a necessidade do entendimento do contexto histórico e sociocultural do século XIX, no território estadunidense, para a compreensão dos mesmos. Diante de uma sociedade racista, preconceituosa e machista percebe-se um pensamento antirracista e com interesse de salvação do negro no Sul dos Estados Unidos, ao ser ensinado de forma estratégica os meios de contato e os cuidados a serem considerados para o bem-estar, tanto dos afro-estadunidenses quanto dos caucasianos. Assim, a imagem do afro-estadunidense retratada por Ellen White difere da imagem construída socialmente na sua época, trazendo até os dias atuais a necessidade de uma consciência de valorização da diversidade étnica e cultural. Palavras-chave: Mulher; Afro-estadunidense; Estereótipo Feminino; Racismo.

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A ANTROPOLOGIA DO FEMININO: DESCONSTRUINDO ESTRUTURAS DE VIOLÊNCIA Karen de Souza Colares – Mestranda – FAJE CAPES Resumo: Subjaz a todas as estruturas sociais, certa mentalidade que lhes fornecem embasamento e força. É possível asseverar que, sob uma prática, existe sempre uma teoria. A tarefa de transformação social obviamente passa por esta complexa revisão e reestruturação conceitual. No que se refere ao tratamento conferido às mulheres na sociedade brasileira, de forma específica – tratamento este amplamente verificável mediante estatísticas que se valem de diferentes recortes – vê-se em curso uma desvalorização e violência descabidas. O número galopante de mortes e hostilidades variadas, motivadas pela simples pertença destas pessoas ao gênero feminino é inquietação que fomenta esta reflexão. Certamente, o pensamento teológico é uma das linhas que compõem o plano de fundo das práticas constatadas em todo lugar, sabendo-se da inevitabilidade da referência ao Sagrado em qualquer que seja a cultura. No que se refere à sociedade Ocidental, tendo em vista sua história embebida pela presença do Cristianismo, a investigação recairá sobre as premissas desta religião que perpassam a mentalidade geral, no intuito de desconstrução das estruturas de violência que nelas se ancoram. O objetivo deste artigo é percorrer algumas das linhas deste arcabouço teológico que estão difundidas na cultura brasileira, descobrindo-lhes as distorções e oferecendo assim, apontamentos corretivos. Ao fazer juízo de valor sobre as estruturas sociais mencionadas, a referência ao horizonte de uma Antropologia bíblica que seja condizente com as premissas da fé cristã, será sempre o ponto de partida, bem como o alvo maior a ser perseguido. Construir uma Antropologia do feminino acertada é fornecer às mulheres meios de viverem de modo mais humanizado e pleno de possibilidades. Palavras-chave: Mulher; Violência; Antropologia do feminino brasileiro. EMPODERAMENTO DE MULHERES NO CONTEXTO DA REFORMA PROTESTANTE DO SÉCULO XVI Letícia Aparecida Ferreira Lopes Rocha – Mestranda – UMESP Resumo: A presente proposta de comunicação versa sobre o empoderamento verificado em algumas mulheres selecionadas para o desenvolvimento desta pesquisa, no contexto da Reforma Protestante do século XV. Queremos evocar e destacar a participação destas no movimento reformador, bem como apresentar o empoderamento vivenciado por estas. Uma vez que, seus nomes e ações foram esquecidos e ausentes da história da Reforma. Neste sentido, seguiremos a perspectiva histórica na condução deste trabalho. Onde também, nos serviremos da revisão bibliográfica, por meio de autoras/autores que debruçaram suas pesquisas

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com o intuito de compreender tal processo, e ademais, será analisado o conceito de empoderamento, a partir das experiências das mulheres. Está pesquisa encontra-se em andamento, os resultados parciais encontrados são: há um número considerável que foram atuantes no período sobre o qual concerne o estudo, algumas delas se mostraram boa administradora dos bens, como é o caso da Katarina Von Bora, escritora, como, Rachel Speght, compositora- Elisabeth von Meseriz Cruciger, está última considerada a primeira compositora protestante pela literatura atinente a temática, dentre entre outros nomes. Nas leituras empreendidas, percebemos que, nas mulheres analisadas conseguimos abstrair traços de (autonomia, força, poder...), que denotam que houve um empoderamento. Como a nossa pesquisa encontra-se em vias de realização conforme, explicitado acima. Outras e novas descobertas serão realizadas nesse processo da pesquisa que se abre infinitamente. Entendemos que, pesquisar tal universo religioso torna-se imperativo, sobretudo, neste ano em que celebra os 500 anos da Reforma, rememorar o papel, a atuação e a história de mulheres, que contribuíram para a disseminação deste movimento. Palavras-chave: Empoderamento; Mulheres; Reforma Protestante. FAMÍLIA E SUAS NOVAS CONFIGURAÇÕES NA IGREJA CATÓLICA Luís Corrêa Lima – Doutor – PUC Rio Resumo: As transformações na família nas últimas décadas são um desafio para a Igreja Católica e sua missão de evangelizar. Para enfrentá-lo, o papa Francisco convocou o Sínodo dos Bispos voltado para o tema da família, lançando um amplo debate. A mensagem cristã neste campo tem sua grandeza e sua beleza, mas também problemas e questionamentos inevitáveis. Em certos pontos, há uma notável disparidade entre a doutrina da instituição e a vida da maioria dos fiéis. Neste tempo ocorreram muitos debates, produziram-se amplos relatórios, publicaram-se vários artigos e entrevistas com uma notável repercussão na mídia. O resultado final do processo foi a promulgação de um documento normativo pelo papa, a Exortação Pós-sinodal Amoris Laetitia: Sobre o Amor na Família. Mesmo sendo apenas consultivo, o Sínodo trouxe indicações bastante relevantes sobre a situação eclesial, os consensos e as divergências existentes entre os bispos, que são muito importantes para o discernimento do papa. Os relatórios feitos desde a convocação apontaram claramente nesta direção: não mudar a doutrina sobre a família, fundada na união exclusiva e indissolúvel entre um homem e uma mulher, mas ao mesmo tempo acolher sem condenar as pessoas que vivem em outras configurações familiares. O valor deste processo, além dos textos normativo, é o debate aberto na Igreja sobre questões de antropologia, sexualidade, bioética e família como nunca se viu nas últimas décadas. Isto ajuda a formar e a expressar consensos dos fiéis que favorecem (ou dificultam) a pastoral, a reflexão teológica e a recepção criativa da Exortação Pós-sinodal, com importante incidência na laicidade do Estado e nas políticas públicas.

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Palavras-chave: Sínodo dos Bispos; Amoris Laetitia; Tradição; Renovação. GÊNERO E RELIGIÃO NO CONGRESSO NACIONAL: A TRAJETÓRIA DE VIDA E ATUAÇÃO DE BENEDITA DA SILVA NA 55ª LEGISLATURA Maria de Lourdes Ventura de Oliveira – Mestranda – UMESP Resumo: As desigualdades entre homens e mulheres ocorrem cotidianamente e, geralmente, são naturalizadas definindo o espaço privado para o sexo feminino e o espaço público para o sexo masculino. A esfera política é um desses espaços públicos de difícil inserção para as mulheres. A presença feminina na 55a. Legislatura da Câmara dos Deputados, representa 9,9%, ou seja, das 513 cadeiras, foram eleitas apenas 51 mulheres. Dentre essas, 10 deputadas são evangélicas. Das 10 deputadas evangélicas, 3 deputadas são negras –Rosângela Gomes, Tia Eron e Benedita da Silva - e estas são as que possuem mais proposições voltadas para os direitos das mulheres e promoção da igualdade racial. A presente comunicação tem como foco a trajetória de vida de uma dessas deputadas, Benedita da Silva, e visa analisar sua atuação congressual como mulher, negra e evangélica, na atual Legislatura, e a forma como ela articula sua trajetória de vida e procedência religiosa com seu agir político, a partir da proposição de projetos voltados para gênero e raça/etnia. Os procedimentos metodológicos adotados envolvem levantamento documental sobre a história de vida e a atuação social, político e religiosa. Os resultados preliminares da pesquisa apontam que a trajetória de vida da deputada federal foi marcada pela discriminação por ser negra e pelo enfrentamento ao racismo. Seus projetos na Câmara dos Deputados envolvem os direitos das mulheres e promoção da igualdade racial. Percebe-se também que o trânsito religioso de Benedita da Silva (Umbanda, Igreja Católica, Igreja Assembleia de Deus e Igreja Prebisteriana Renovada) fortaleceu sua participação política. Enfim, considerada a interseccionalidade de gênero, raça/etnia, classe e religião, a pesquisa aponta que a análise da trajetória e atuação da deputada federal envolve a articulação de todas essas categorias. Palavras-chave: Gênero; Raça/Etnia; Religião e Política. AFINAL, PODEMOS SER FAMÍLIA? UM ESTUDO SOBRE FAMÍLIA HOMOPARENTAL Miriam Laboissiere de Carvalho Ferreira – Doutoranda – PUC Goiás Resumo: Para a construção de uma sociedade verdadeiramente plural, democrática e cidadã, precisamos compreender a importância de todos os atores sociais indistintamente. Nesse sentido, temos assistido nos últimos anos, por parte de vários

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setores da sociedade civil e do Estado, certa mobilização em torno de recursos, formação e ações afirmativas em prol da inclusão ampla e integral (saúde, educação, âmbito jurídico) das minorias sociais a partir das manifestações destes grupos nos espaços políticos, públicos, acadêmicos. A proposta desta comunicação é discutir sobre uma nova configuração de família, a partir da homoparentalidade – famílias homoparentais, como um novo modelo paradigmático de família na atualidade. Ou seja, um estudo sobre a parentalidade homossexual. Afinal, como aponta Zambrano (2008), a família vem sofrendo transformações ao longo da história e faz-se necessário observar esta realidade e enfrentá-la, de forma a perceber as estratégias religiosas, resistências, preconceitos, embates e outras dificuldades impostas às famílias homoparentais, e ao mesmo tempo compreender como este novo modelo de família se percebe a si mesma em relação às representações religiosas (ou em relação à religião que algum membro da família professe) de seu próprio modelo familiar – homoparental. Assim, apesar das ‘conquistas’ no campo da equiparação de direitos, no universo das representações e das crenças individuais, o direito à constituição/instituição de uma família homoparental, esta sendo resguardado no âmbito jurídico com um legítimo reconhecimento social – mesmo diante dos embates contrários a este modelo familiar. Porém, este direito ainda não se encontra acessível no âmbito religioso, maior precursor combativo deste modelo familiar homoparental. Afinal falar de família homoparental causa muita estranheza à sociedade, à percepção religiosa, casais de duas mulheres como mães ou de dois Homens como pais. Esta comunicação é proposta a partir de um projeto de pesquisa que esta em sua ‘matiz’ inicial sendo desenvolvida no programa de doutorado em Ciência da Religião da PUC-Goiás. Palavras-chave: Homoparentalidade; Família; Religião. TRANSGRESSÕES À DIVISÃO SEXUAL DO ESPAÇO PÚBLICO E DO TRABALHO RELIGIOSO: ESTRATÉGIAS DE EMPODERAMENTO POR MULHERES ATUANDO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS RELIGIOSOS E ASSISTENCIAIS NA REGIÃO CENTRO DE SÃO PAULO Naira Pinheiro dos Santos – Doutora – UMESP Resumo: A prática de proselitismo religioso na Praça da Sé bem como a prestação de serviços assistenciais por instituições evangélicas atuando na região centro de São Paulo colocam em evidência articulações entre público e privado. As relações que ali se tecem e as formas de apropriação do espaço público pelos pregadores/as, por prestadores/as de serviços assistenciais e pelo público atendido, tanto questionam as fronteiras formalmente estabelecidas entre esses mundos como apontam para a persistência de desigualdades de gênero, quer internas ao campo religioso, quer estruturantes do contexto social mais amplo. A pesquisa envolveu a observação das atividades e a realização de entrevistas junto aos/às pregadores/as e a prestadores/as de serviços assistenciais. O nosso objetivo aqui será o de analisar em

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que medida os discursos e interações de pregadores/as e prestadores/as de serviços assistenciais com o público atendido se oferecem como possibilidade de resistência ou de transformação de representações e/ou de relações sociais. Não obstante o perfil dos/as pregadores/as e prestadores/as de serviços assistenciais, bem como o do público atendido, este constituído predominantemente de homens, indiquem a persistência de padrões tradicionais de divisão sexual do espaço público e do trabalho religioso, averiguou-se a existência de estratégias de empoderamento mobilizados pelas mulheres que aí atuam. O protagonismo dessas mulheres aponta para a transgressão dos padrões de divisão sexual do trabalho e do espaço, o que não significa, contudo, que deixem de reproduzir normas tradicionais de gênero, eventualmente como estratégia de disfarce do que seria tido como invasão e/ou subversão das relações sociais de sexo. Palavras-chave: Prestação de serviços mágico-religiosos e assistenciais; Gênero; Divisão sexual do trabalho religioso; Público/privado; Estratégias femininas de empoderamento. ANÁLISE IDENTITÁRIA CRÍTICA DO DISCURSO DE RESISTÊNCIA LGBTT Osvaldo Jefferson da Silva – Mestrando – UEG Resumo: Esta pesquisa apresenta uma análise crítica do discurso de resistência de um grupo de minoria, denominado LGBTT, formado por lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis. O objeto de estudo foi a imagem de uma transexual, simulando a Crucificação de Cristo, na 19ª Edição da Parada do Orgulho Gay de 2015. A representação identitária de uma transexual configura-se como um sujeito social transgênero, representante de uma das classificações desse grupo. Neste estudo realizamos uma análise documental com tratamento bibliográfico, contemplando a Teoria da Análise do Discurso Crítica (ADC), com o objetivo de investigar três categorias analíticas: intertextualidade, ator social e identificação relacional. A ADC trata-se de um campo de pesquisas em linguagem que estuda o discurso constituído socialmente, investigando seus efeitos de sentidos e ideologia. O contra-discurso, apresentado na manifestação na Parada do Orgulho Gay, foi de encontro ao fundamentalismo religioso da cultura judaico-cristã, gerando reações de desaprovação nas mídias sociais, tanto por instituições religiosas católicas como protestantes. Alguns dos líderes dessas instituições consideraram a imagem como profanação de símbolos da religiosidade cristã por gerar enfrentamento com o padrão heteronormativo-cristão, considerados maioria e hegemônica. O fato da representação de Cristo ser feita por uma transgênera evocou discursos favoráveis e desfavoráveis de leitores e infonautas, por ter “desconstruído” o status de sacralidade da crucificação e ser exposto num espaço discursivo fora do ambiente religioso. A transposição da cena do espaço sagrado (igreja) para profano (rua), num evento LGBTT, configura-se como uma subversão de um grupo de minoria que atingiu a hegemonia dominante estabelecida pelo padrão heteronormativo. A

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imagem de uma transexual foi instituída como discurso e de resistência por ser evocado por grupos não hegemônicos, além de ser uma manifestação político-social que buscou exigir os direitos civis da Comunidade LGBTT. Palavras-chave: Discurso de resistência; Análise Crítica do Discurso; Intertextualidade; Ator social; Identificação relacional. MULHERES NO PONTIFICADO DE JOÃO PAULO II, BENTO XVI E FRANCISCO: CONTINUIDADE E RUPTURAS DOS DISCURSOS ACERCA DAS MULHERES NA SOCIEDADE E NA IGREJA CATÓLICA Perla Cabral Duarte Doneda – Mestranda – UMESP Resumo: Dentro dos estudos em que se compreende Gênero e Religião, a saber, até o presente momento, as descobertas pela influência moral religiosa difundida e objetivada ao sexo feminino, causa de sofrimento, exclusão, desvalorização e privação da mulher em esfera pública e até mesmo privada, no campo cultural, social político e econômico, não possibilitou à mulher participação nestes espaços e até mesmo dentro da instituição, em especial aqui, à Igreja Católica. O modelo patriarcal ao qual se sustenta a Igreja e conjuntamente a forma hierárquica são confirmações de uma sociedade que exclui as mulheres de lugares hora dominados somente por homens alegando valores não compreensíveis e aceitáveis ao nosso tempo. Para tanto, tenho como objetivo trabalhar a questão inquietante: “A desvalorização da mulher se dá única e exclusivamente por responsabilidade dos documentos ou posições da Igreja Católica, ou há uma questão em sociedade, político, social, econômico, educacional e cultural que desconstrói à valoração humana e profissional da mulher?” Inicialmente a pesquise se dará pelo único documento específico às mulheres, que é a Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, do Papa João Paulo II, diante desta importante e única publicação direta às mulheres. Por isso compreendo ser este, o ponto de partida para reflexão que objetiva perceber os reflexos implicados em nossa sociedade e cultura que hora trata da dignidade e da vocação das mulheres na visão da Igreja Católica. A intenção quer ressaltar a continuidade e as rupturas que perpassaram estes Pontífices, uma vez que moldam a participação da mulher dentro e fora da instituição. O método para tal fim é o de análise bibliográfica e discursiva, cuja intenção é levantar o que os últimos lideres da Igreja Católica desenvolveram, contribuíram ou negligenciaram no curso destas quase quatro décadas de seus Pontificados, valendo a analise em pronunciamentos do atual papa, com a finalidade de perceber o que muda no pensamento entre eles. Também é importante intercambiar o que muitas, ou, muitos autores já disseram sobre religião e gênero, sobre os estudos feministas que a tempo lançam luz sobre a luta da mulher para seu reconhecimento na sociedade. Com isso, espero poder contribuir com minhas percepções acerca dos documentos papais, da literatura atual nesta área, fazendo jus às afirmações bíblicas que em nada desqualificam, diminuem ou desprezam as mulheres, a exemplo do livro de Gênesis: “Deus disse: Façamos o

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homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem [...] Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele os criou, o homem e a mulher ele os criou” (Gn 1,26-27). MULHERES EM TRÂNSITO: MOTIVAÇÕES DE GÊNERO PARA A MUDANÇA DE RELIGIÃO Rebecca Ferreira Lobo Andrade Maciel – Mestranda – UMESP Resumo: Na década de 1980, publicações emergiram de uma necessidade social de entender o que estava ocorrendo no campo religioso, em que o catolicismo perdia sua hegemonia e novas experiências religiosas ganhavam força. Mesmo em um período aparentemente secularizado e laico, a religiosidade efervescia e criava novos contornos (Montero, 2009). Nesse contexto, surge o termo trânsito religioso como forma de teorizar sobre a nova forma de espiritualidade que as pessoas estavam construindo, mais individualizada e subjetiva. Porém, no desenvolvimento dos estudos de trânsito religioso no Brasil, alguns recortes importantes foram deixados a margens – como as relações de gênero, raça e classe. A relação das mulheres com a espiritualidade, suas trajetórias e como isso está patriarcado são comumente esquecidas para uma leitura generalista dos indivíduos religiosos. As trajetórias religiosas mudam de acordo os sujeitos em análise e isso pode se perceber claramente no caso das mulheres. As relações de poder que se encontram no mundo secular afetam diretamente a relação de mulheres com a religião (Woodhead, 2013). Tal relação fica evidente nas pesquisas de Machado (2002) e de Souza (2006), que abordam que as motivações para o trânsito religioso de mulheres são diferentes dos homens. Desse modo, essa comunicação tem como objetivo discorrer sobre a categoria de trânsito religioso, de modo a compreender a mobilidade das mulheres dentro das religiões. Para isso, será analisado material bibliográfico sobre a secularização, de modo a compreender o contexto da mobilidade religiosa. Além disso, será necessário adentrar ao conceito de trânsito religioso e observar como este ocorre no Brasil até que, enfim, possa-se analisar qual é a movimentação das mulheres e quais são suas motivações. Percebe-se, sintomaticamente, a baixa quantidade de artigos que tratam diretamente do trânsito religioso de mulheres e o quanto ainda o recorte de gênero é marginal dentro das pesquisas de religião, como nas ciências humanas. Assim, essa pesquisa tem traz um levantamento bibliográfico que traz para o centro a questão do gênero no trânsito religioso. Palavras-chave: Trânsito religioso; gênero; motivações de gênero. A ATUAÇÃO DA FRENTE PARLAMENTAR EVANGÉLICA FRENTE AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DAS MULHERES: PROJETO DE LEI DO ABORTO (PL 5069/2013)

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Renata Cristina Maia Silva – Graduada – UFG Naiana Zaiden Rezende Souza – Mestre – IFG Resumo: O processo de laicização do Estado brasileiro permitiu a proliferação de inúmeros segmentos religiosos no país, dentre eles, o Pentecostalismo, que se caracteriza, dentre outros aspectos pela forte participação na esfera política. Assim, a redemocratização possibilitou aos neopentecostais uma oportunidade de sair do estado de invisibilidade, reclamando o acesso à esfera pública institucional, adentrando, definitivamente, o Legislativo nacional. Desse modo, temas relativos à moral cristã, às agendas das minorias feministas e ainda, às pautas referentes ao movimento LGBT tornaram-se terreno de atuação destes parlamentares, que passaram a inviabilizar e até mesmo obstruir, em razão de sua massiva expressão política, a concessão de direitos fundamentais a estes grupos. Isso chama a atenção para o fato de que, o Brasil, embora seja formalmente um país democrático e laico, permite diversos tipos de discriminações de gênero pautadas em valores religiosos. Assim, ao visualizarmos a ideologia discriminatória perpetrada pela “bancada religiosa”, e, ainda, os discursos e propostas envolvendo direitos das mulheres e LGBT, vê-se um arrefecimento das políticas de gênero no país. Entretanto, esse discurso misógino e homofóbico, de promoção da moral cristã e de preservação da família não esta restrito a um parlamentar mas a uma Frente Parlamentar, a qual, através de iniciativas legislativas questionáveis, contesta conquistas históricas do movimento feminista brasileiro, especialmente no que se refere aos direitos sexuais e reprodutivos. Portanto, este pentecostalismo de presença social e política, sobretudo no que se refere à atuação legislativa “polêmica”, desestabilizadora das políticas de gênero conquistadas pelo movimento feminista (direcionadas às mulheres e ao movimento LGBT), e, portanto, violadora de direitos humanos, é objeto de estudo do presente artigo. O objetivo do trabalho é demonstrar que a atuação legislativa da FPE (sobretudo no que se refere aos parlamentares neopentecostais) é violatória de Direitos Humanos, eis que as iniciativas legislativas possuem claro objetivo de desestabilizar as políticas públicas de gênero voltadas às mulheres, além de pretenderem suprimir direitos já estabelecidos, tanto constitucionalmente, quanto nos tratados internacionais de Direitos Humanos. A análise partirá do levantamento (tanto em periódicos acadêmicos quanto em sites oficiais do Estado, notadamente do Poder Legislativo) e revisão bibliográfica da temática e se dará, num primeiro momento, acerca do processo de entrada e consolidação dos neopentecostais no cenário político brasileiro, abrangendo desde o período de total afastamento da política à criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE). Após, passaremos à análise da atuação legislativa da FPE, especialmente no que se refere ao Projeto de Lei do Aborto (PL 5069/2013), considerado prioridade na agenda de discussão da bancada, para demonstrar a atuação, por parte da FPE, violatória dos direitos humanos das mulheres. Dessa forma, verificou-se, através da análise do mencionado diploma normativo, que o PL do Aborto é marcado por discurso religioso, possuindo dispositivos que se configuram em violações a direitos fundamentais. Palavras-chave: Neopentecostais; Gênero; Violência; Laicidade; Direitos Humanos.

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DOS DESAFIOS DOS ESTUDOS FEMINISTAS PARA OS ESTUDOS DE RELIGIÃO E VICE-VERSA Sandra Duarte de Souza – Doutora – UMESP Resumo: As últimas décadas têm testemunhado a consolidação dos Estudos Feministas no Brasil. O diálogo originalmente iniciado com o feminismo estadunidense e europeu, e marcado por uma relativa dependência de tradições intelectuais androcêntricas e coloniais, alargou suas fronteiras e hoje, além de seus interlocutores iniciais, os Estudos Feministas no Brasil dialogam com as produções acadêmicas e com as experiências feministas da Ásia, da África e, principalmente, de outros países da América Latina. Os Estudos Feministas foram amadurecendo sua autocrítica e constituindo um campo de saber em permanente movimento. Tal “movimento”, visto com desconfiança pelo universo científico dominante, tem sido fundamental para o reconhecimento dos desafios que se apresentam ao processo de construção do conhecimento feminista, que se depara com a suposta fixidade dos modelos científicos do conhecimento. O uso ativo da teoria diante de nossas demandas individuais e coletivas potencializam a transformação. É essa capacidade transformadora que significa e resignifica esse campo de estudos, que vai se tecendo de forma mais contundente e coletiva a partir dos anos de 1970. Dos estudos “sobre a mulher” aos estudos Queer, os Estudos Feministas têm produzido uma epistemologia dinâmica, criativa e avessa à definição de um esquema de construção das explicações que se pretenda permanente. No âmbito dos estudos de religião, os Estudos Feministas permitiram o questionamento e a desconstrução dos discursos de verdade baseados na evocação de pressupostos religiosos para afirmar e perpetuar desigualdades de gênero. Nesse campo aparentemente blindado e intocável, as interrogações feministas são múltiplas, e variam da explicitação da cumplicidade dos mais diversos sistemas religiosos com a dominação de gênero, ao reconhecimento das transformações do campo religioso a partir das novas demandas de gênero na sociedade. Tais transformações desafiam os Estudos Feministas em sua zona de conforto, pois contradizem o pressuposto dominante que tem orientado sua reflexão, isto é, que nos quesitos mulheres e sexualidade, a religião tem servido basicamente como sistema de produção e legitimação das desigualdades de gênero. Portanto, por meio da revisão bibliográfica da trajetória dos estudos feministas no Brasil, a comunicação proposta objetiva explicitar a importância dos estudos de gênero no âmbito dos estudos de religião. Palavras-chave: Gênero; Religião; Estudos feministas; Estudos de religião. VICARIATO FEMININO: UMA IMPACTANTE EXPERIÊNCIA NO NORDESTE BRASILEIRO Sandra Helena Rios de Araújo – Doutoranda – UNICAP

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Luzia Valladão Ferreira – Mestranda – UNICAP Resumo: Em meados do século XX, o Nordeste do Brasil tornou-se alvo de atenções do mundo inteiro pela inovação “pastoral-administrativa” protagonizada por Dom Eugênio de Araújo Sales na Arquidiocese de Natal, Rio Grande do Norte. Ante a carência de sacerdotes, esse Arcebispo não hesitou em confiar a religiosas, mulheres consagradas, a administração de paróquias sem padres residentes. Essa comunicação pretende resgatar a importância histórica deste fato e objetiva ainda o reconhecimento da eficácia feminina no desempenho de responsabilidades pastorais e administrativas nessa peculiar experiência. Totalmente inseridas nas comunidades, utilizando-se de uma metodologia de inclusão, as religiosas atuaram descobrindo e preparando lideranças cristãs em áreas urbanas e rurais. Baseando-nos em registros dos arquivos da Arquidiocese de Natal/RN, apresentamos as Missionárias de Jesus Crucificado como vigárias paroquiais em Nísia Floresta; as Irmãs do Imaculado Coração de Maria em Taipu e as Filhas do Amor Divino em São Gonçalo do Amarante. A população dessas Paróquias, violentada pelo sistema, fruto de uma política social discriminatória, aprendeu a lutar pela sua cidadania, por melhores condições de vida e de trabalho, seguindo os princípios evangélicos. A experiência das vigárias paroquiais, implementada por Dom Eugênio Sales com o respaldo do Papa Paulo VI num momento de plena efervescência de renovação da Igreja Católica, veio como uma oportunidade de reflexão acerca dos papéis sóciorreligiosos da mulher. Ainda que não pertencessem à hierarquia eclesial, tiveram direito a voz e a voto nas reuniões do clero e honraram a oportunidade de demonstrar que Deus sabe utilizar-se de Seus filhos, indistintamente, como instrumentos da Sua Vontade. Assistindo Matrimônios, distribuindo a Eucaristia, administrando o Batismo, às Exéquias, cuidando dos bens materiais e assinando os livros das Paróquias, as Vigárias promoveram lideranças e marcaram presença, sendo ainda hoje lembradas com carinho e respeito pelos paroquianos. Até que ponto a reflexão avançou? Até que ponto essa experiência de vicariato feminino pode contribuir, hoje, com as análises e posicionamentos sobre as questões que envolvem a hierarquia clerical e o lugar que a mulher ocupa? Palavras-chave: Gênero; Religião; Vicariato feminino; Poder Clerical. RELIGIÃO E HOMOSSEXUALIDADE – IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA: CONFLITOS E TENTATIVAS DE DIÁLOGO Silvia Geruza F. Rodrigues – Doutoranda – PUC SP Resumo: Introdução: Tanto a sociedade como a religião têm experimentado discórdias ao abordar a questão de gênero. A religião se imbrica na vida dos seres humanos, principalmente no Brasil, em todas as esferas: social, política e psicológica. A sexualidade humana, modo geral, constitui-se um tabu dentro das igrejas cristãs. Baseados na leitura literal de algumas passagens Bíblicas e no negativismo

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pessimista dos primeiros pais da Igreja, nos séculos II e II d.C. em relação à sexualidade, o casamento monogâmico heterossexual tem sido normativo. Debruçar-se sobre o assunto homossexualidade tem levantado fissuras e divisões em várias denominações cristãs. Contudo, observa-se a abertura de algumas delas a abordar o assunto oficialmente e reavaliar seus procedimentos em relação a ele para progredir para um diálogo. Conforme Judith Butler no seu livro Violência ética, o indivíduo constitui sua identidade através de normas “de inteligibilidade socialmente instituídas e mantidas” (2016, p.43). Desse modo quando uma pessoa não se conforma coerentemente e em continuidade entre sexo, gênero, prática sexual e desejo ela se vê “deslocada” dos padrões da sociedade. Se o fato de sua identidade requerer uma adaptação a normas prescritas, este “deslocamento” individual torna-se ainda mais percebido dentro de uma instituição religiosa que lhe atribui culpa e vergonha por se sobressair do comportamento sexual esperado por suas regras, quer ditadas por entendimento de versículos bíblicos, quer pela tradição da comunidade de fé. Na maioria das denominações cristãs a homossexualidade é considerada “pecado” e necessitada de cura ou alguma solução moralista na maioria das denominações cristãs. Desta maneira, os membros homossexuais dessas instituições andam pelas margens driblando os questionamentos, lutando com seus impulsos e conflitos entre a aceitação ou repressão de seu desejo. Nas últimas duas décadas a Igreja Episcopal Anglicana tem debatido a questão da homossexualidade na Conferência de Lambeth, porém ainda inconclusiva sobre a aceitação de casamento entre pessoas do mesmo sexo ou ordenação de gays e lésbicas. Abordar o assunto da homossexualidade na Igreja Episcopal Anglicana tem sido ponto de tensão entre inúmeros líderes da Igreja Anglicana nos vários países onde ela se encontra estabelecida. Embora a IEA seja autônoma tanto em países, como em suas regiões, existe um a aliança entre as Igrejas Anglicanas, denominada Comunhão Anglicana que cada igreja reaja às resoluções na Conferência de Lambeth tendo a liberdade de expressar sua rejeição ou aceitação, explicando os porquês, e a Igreja Episcopal Anglicana no Brasil não tem sido exceção nas discórdias surgidas a partir das resoluções e diretrizes enviadas pelas reuniões da Conferência de Lambeth. Ocorre o conflito entre a manutenção da tradição institucional em seus postulados sobre a homossexualidade a partir da interpretação de alguns versículos bíblicos que se referem ao assunto, e a aquiescência à teologia crítica moderna que inclui analisar os versículos bíblicos à luz da crítica hermenêutica, época e contexto. Mudanças em seus postulados pode representar uma ruptura à continuidade de sua hegemonia. Objetivo: Este trabalho se propõe a analisar os documentos expedidos a partir de suas conferências de 1978 a 2008, acerca da questão da homossexualidade, incluindo os debates, as conferências e o comportamento dos bispos e primazes da Igreja Episcopal Anglicana ao debater a questão da homossexualidade, e seus desdobramentos na Igreja Episcopal Anglicana no Brasil. Método: Esta pesquisa empregará uma revisão bibliográfica, documental e pesquisa de campo, através de entrevistas a líderes referenciais da IEAB, sobre o tema homossexualidade e a Igreja Episcopal Anglicana; Busca eletrônica de identificação de artigos científicos abordando o tema: Scielo (2000-2017); Lilacs (2000-20017); Dissertações e teses acadêmicas entre 2010-2016. Conclusão: O diálogo se estabeleceu a partir do momento em que a Igreja

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Episcopal Anglicana deslanchou um processo de discutir a questão da homossexualidade, oficialmente há 40 anos. Apesar da tensão, persiste a vontade da IEA de descobrir juntos a melhor maneira de conciliar o embate entre o acolhimento ou alijamento dos homossexuais e lésbicas nas suas congregações, como participantes de todo processo eclesiástico e comunitário. Enquanto isso, algumas paróquias seguem adiante com o processo de inserção dos seus membros gays e lésbicas em todas as áreas de sua comunidade. Em 2020 ocorrerá uma próxima conferência onde a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo será abordada. Aguardamos e esperamos que a IEA consiga, apesar da situação conflituosa, estabelecer um novo modo de vida aos fiéis gays e lésbicas dentro da sua denominação. Palavras-chave: Igreja Episcopal Anglicana; Homossexualidade; Conferência de Lambeth. OS DISCURSOS DE VERDADE SOBRE A FAMÍLIA: A NORMALIZAÇÃO DA FAMÍLIA HETEROSSEXUAL, MONOGÂMICA E PATRIARCAL NA POLÍTICA BRASILEIRA Tainah Biela Dias – Mestra – UMESP Resumo: O presente trabalho, recorte de minha dissertação de mestrado, procurou demonstrar como se tecem discursos de verdade sobre a família no cenário político brasileiro, especificamente, por meio de discursos proferidos pelos parlamentares que compõem a Frente Parlamentar Evangélica (FPE), registrados no Diário da Câmara dos Deputados. Colocando-se como adversários de quaisquer proposições que visem à ampliação de direitos de cidadania de pessoas LGBT+, os evangélicos têm invocado, como bandeira de militância, a defesa da família, família esta que caracterizam por vezes como tradicional, por vezes como natural, e que, como veremos, se pauta em uma concepção de família divina, religiosamente legitimada e normalizada como única possibilidade, excluindo-se demais arranjos familiares que há anos se constituem e ganham recente visibilidade enquanto parte da sociedade brasileira. Para atingir aos objetivos propostos, a pesquisa se utilizou de abordagem qualitativa, no qual foram pesquisadas as falas que apontam investidas da FPE no sentido de legitimar política e juridicamente sua concepção de família. Além deste procedimento documental, foram utilizados materiais da produção acadêmica que versam sobre a temática. Assim, o texto aponta o Estatuto da Família, PL 6583/2013, de autoria do deputado federal e membro da FPE, Anderson Ferreira (PR-PE) como a proposição de maior destaque no que se refere à regulação político-jurídica desta defesa da verdade sobre a família, por explicitar, em todas as palavras, o que os parlamentares evangélicos que compõem a FPE entendem por família, ou seja, a união entre um homem e uma mulher com o objetivo de gerar filhos. Por fim, pudemos perceber o recorrente recurso a esta mesma defesa em outras proposições e discursos de parlamentares evangélicos e, muitas delas, em articulação com

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parlamentares católicos que também se colocam na arena política em defesa de uma moral sexual tradicional e contra a ampliação da cidadania de pessoas LGBT+. Palavras-chave: Família; Cidadania; Normalização; Discursos de verdade. AS IRMÃS FOX E O PAPEL DA MULHER NO MODERNO ESPIRITUALISMO Vinícius Lara da Costa – Doutorando – UFJF Shisllene Leite Pedroso – Mestre - UFJF Resumo: O moderno espiritualismo se constituiu como um sistema de crenças não sectárias e com forte apelo científico, que propunham a possibilidade da comunicação entre vivos e mortos através de pessoas dotadas de habilidades especiais e conhecidas como médiuns. Embora seja muito estudada em sua ramificação francesa - o Espiritismo kardecista - são poucos os trabalhos tratando das origens sociais e culturais do espiritualismo nos Estados Unidos da América, bem como de seus impactos na mentalidade americana do século XIX. O objetivo deste texto é discorrer a respeito das origens do movimento conhecido como modern spiritualism, que se deu nos Estados Unidos na década de 1840, a partir das trajetórias de suas fundadoras, as irmãs Fox. Resumidamente podemos dizer que toda a prática espiritualista se dava em torno das chamadas sessões, que aconteciam tanto de modo público e ostensivo, sob a cobrança de ingressos – conforme realizado em diversos lugares pelas irmãs Fox – quanto em caráter mais reservado e gratuito no seio de famílias ou sociedades que cediam espaço à possibilidade do intercâmbio com o além. De modo geral, esses eventos seguiam um padrão. A assistência deveria se sentar ao redor de uma mesa, as luzes eram diminuídas e após algum período de silêncio mais ou menos longo começavam a se escutar no ambiente sons, rangidos, movimentos de objetos ou outras formas de intervenção sobrenatural. Perguntas realizadas aos espíritos eram respondidas através de pancadas, escrita direta ou mesmo, em algumas circunstâncias, através de fenômenos de incorporação. O que se destaca no estudo do tema é o fato de que, em sua maioria, o espiritualismo americano se formou e espalhou ao redor de médiuns mulheres, quase sempre jovens, e que detinham todo o protagonismo na condução das sessões. Além disso, os contextos sócio-político e cultural do século XIX contavam com as primeiras manifestações do feminismo nos Estados Unidos e na Europa, cujo cerne da discussão estava na igualdade de direitos entre homens e mulheres, contestando de forma mais significativa a questão do poder político. Muitas das mulheres que integraram a Primeira Onda Feminista nos Estados Unidos foram também defensoras do fim da escravidão no país. Destes grupos progressistas, sejam feministas, sufragistas ou abolicionistas, muitos se congregavam em derredor do modern spiritualism e neste contexto o próprio movimento religioso alçou a figura feminina a posições de destaque na comunidade a partir de uma conduta que era em diversos níveis contestadora das estruturas sociais e religiosas vigentes. Assim, considerando as limitações culturais do papel

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social da mulher e o contraste com o papel ativo de Katie e Maggie em um período que mistura intolerância e interesse, refletiremos sobre a participação das irmãs Fox na criação, organização e espalhamento do espiritualismo moderno buscando identificar consonâncias e dissonâncias em suas atuações como médiuns espiritualistas em relação às discussões de gênero em pauta no mesmo período. A REDE DAS MULHERES DE TERREIRO E A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA Zuleica Dantas pereira Campos – Doutora – UNICAP Resumo: Nos últimos trinta anos, as religiões afro-brasileiras vêm se inserindo em espaços que possam garantir seu reconhecimento e legitimidade. Tentam ser reconhecidas como religião e também pleiteiam lugar de destaque na construção da identidade afrodescendente no Brasil. É assim que os movimentos sociais negros incluíram nas suas lutas reivindicatórias políticas públicas de proteção e promoção dessas religiões. No entanto, também sabemos que as práticas das religiões afro-brasileiras são historicamente alvo de perseguições. Adeptos das religiões afro-brasileiras têm denunciado sistematicamente ao Ministério Público as violações de seus direitos, exigindo o cumprimento da Constituição Brasileira no que diz respeito à liberdade de crença e credo. Nessa perspectiva, temos como objetivo discutir - no âmbito da Rede das Mulheres de Terreiro - como as devotas das religiões afro-brasileiras agem no enfrentamento aos ataques sistemáticos aos terreiros e aos seus rituais religiosos, muitos deles cometidos por neopentecostais, que agenciam seus discursos e práticas de controle e discriminação. A Rede das Mulheres de Terreiro é uma articulação de terreiros de várias denominações dos cultos afro-brasileiros e indígenas, existentes em Pernambuco, representados pelas mulheres. É um grupo que se reúne para discutir temas que lhes são pertinentes e que demandam atividades políticas, sociais, mais também religiosas. Através dessa discussão, acreditamos poder ampliar a compreensão da forma de atuação política dessas mulheres, sobretudo a maneira como se inserem no espaço público e elaboram estratégias para garantir o direito e o respeito à existência da diferença, da pluralidade, das alteridades. Palavras-chave: Religião; Gênero; Intolerância; Negociação; Resistência.

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GT 05 – PESQUISA BÍBLICA Dr. Luiz Alexandre Solano Rossi (PUC PR) [Coordenador] Dr. Valmor da Silva (PUC Goiás) Dr. Cássio Murilo Dias da Silva (PUC RS) Dr. João Luiz Correi Júnior (UNICAP)

Ementa: A pesquisa bíblica, ao mesmo tempo em que constitui um ramo específico e especializado dos estudos da teologia e da ciência da religião, implica na abordagem do texto bíblico sob vários aspectos. Ligados à exegese bíblica: os passos metodológicos das ciências bíblicas, os desafios da tradução e as ferramentas disponíveis para esta tarefa, os vários aspectos do contexto (social, cultural, histórico, político, ideológico, religioso) em que os textos bíblicos surgiram, estudo de textos paralelos e contemporâneos aos textos bíblicos, a teologia bíblica. Ligados à hermenêutica: o texto bíblico como resposta a situações de violência, injustiça, desigualdade e dominação; estratégias anti-imperialistas e anticolonialistas nos textos bíblicos, mediações para apropriação e aplicação dos textos bíblicos. Estas várias faces da exegese e da hermenêutica do texto bíblico se subdividem em três linhas de pesquisa: a) Ciências bíblicas: teoria e prática, b) Tradução da Bíblia no Brasil, c) Leituras libertadoras (anti-imperialistas e anticolonialistas) da Bíblia.

Sessão 01: Exegese Bíblica: Esta sessão reúne comunicações mais ligadas à exegese de textos bíblicos, com os diversos métodos das ciências bíblicas.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS RELATOS DE SUICÍDIO NA BÍBLIA Antônio Renato Gusso – Doutor – Faculdades Batista do Paraná Resumo: A comunicação mostrará que a Bíblia não trata diretamente do assunto suicídio. Não há nela nenhuma explanação organizada sobre isso, como acontece, também, com muitos outros temas importantes. Inclusive, não se encontra nela nenhuma palavra própria para descrever o suicídio ou o suicida. Quando o Antigo Testamento fala de alguém que cometeu suicídio, por exemplo, utiliza o verbo hebraico mût, que dependendo do contexto e de seu grau pode significar matar ou morrer (HOLLADAY, 2010, p.266, 267), mas não suicidar-se, a não ser que ele venha acompanhado de algum complemento que mostre que é utilizado para “matar a si mesmo”. Também não se encontra uma palavra para o suicídio no Novo Testamento. O único suicídio relatado no Novo Testamento é o que envolve a morte de Judas a qual foi descrita como resultado de enforcamento (O grego descreve como apancomai). O texto, na Versão de Almeida Revista e Atualizada, apenas relata que

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ele “retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27.5). Já na intenção de suicídio por parte do centurião Cornélio aparece no texto de Atos 16.27 a expressão “matar a si mesmo” (heauton anairein) - (SCHOLZ, 2004, p.509), mas não uma palavra técnica específica para o ato de suicidar-se, como consta em traduções, como, por exemplo, na Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, que diz: “O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido”. Seja como for, ainda que a Bíblia não enfatize um termo técnico para descrever o suicídio a verdade é que ela apresenta alguns relatos sobre pessoas que tiraram as próprias vidas. Assim, na comunicação serão apresentados, analisados e comparados os textos da Bíblia que preservaram informações sobre estes acontecimentos, buscando-se as características gerais de cada um para, ao final, obter um quadro resumo sobre eles. O objetivo, então, é investigar a respeito do tema suicídio na Bíblia. O método utilizado é, principalmente, o de comparação de narrativas de suicídios, mostrando as características gerais de cada texto e as suas ligações e diferenças com os demais. Isto com o apoio da pesquisa bibliográfica, tanto em comentários bíblicos como em dicionários e léxicos, além de outras fontes, mas, em especial a comparação entre eles mesmos. Como resultado será demonstrado que as narrativas bíblicas a respeito de suicídios possuem algumas características comuns entre elas e que este conhecimento, também, pode ser aplicado para casos atuais, ainda que demostrem que as motivações dos suicidas narrados na Bíblia pouco têm em comum com as motivações dos suicidas atuais. Palavras-chave: Bíblia; Suicídio; Relatos de suicídio. CHAMADO E DISCIPULADO SEGUNDO MATEUS EM PERSPECTIVA COMUNICATIVA Boris Nef Ulloa – Doutor – PUC Minas Jean Richard Lopes – Doutor – PUC Minas Resumo: A análise narrativa permite detectar o dinamismo do texto, expresso nas sequências dos eventos, na escolha dos personagens, nas lacunas, suspensões e interrogações presentes. O texto, de fato, não assume somente a função de informar o leitor, mas é carregado de uma intenção pragmática. Dentro de uma perspectiva comunicacional, esta pesquisa propõe desenvolver uma análise narrativo-comparativa dos relatos vocacionais em Mt (4,18-22) e de algumas perícopes relacionadas com o motivo vocacional (8,18-22; 9,9). O objetivo é identificar o aspecto pragmático dos relatos vocacionais presentes na narrativa mateana (4,18-22; 8,18-22; 9,9-13). 1) Observar como o hagiógrafo articula de forma progressiva os elementos constitutivos do gênero literário vocação na sua narrativa. 2) Analisar a função estratégica da distribuição de personagens e categorias presentes nos relatos de vocação. 3) Constatar a força da influência pragmática destes relatos e elementos vocacionais. O método propõe uma abordagem sincrônica das perícopes

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selecionadas. O estudo realizado serviu-se de uma análise narrativo-comparativa, a partir do esquema literário básico dos relatos vocacionais, identificado pelos exegetas (cf. 1Rs 19,19-21), e utilizado como elemento integrante e significativo do percurso narrativo proposto no evangelho segundo Mateus. Com relação aos resultados, a análise narrativo-comparativo permitiu constatar que Mateus não reproduz de forma mecânica o esquema do relato vocacional e apresenta vários elementos redacionais. Dentre os quais destacam-se três aspectos: 1. Alterna a estrutura principal do gênero (4,18-22; 9,9) com elementos suspensos, retomados posteriormente (8,18-22), e o relaciona com o gênero da disputa (9,10-13); 2. Inclui opositores à prática de Jesus (escribas e fariseus) e os intercala com os discípulos (as duplas de irmãos e Levi); 3. No que diz respeito à resposta ao chamado recebido, respectivamente, o autor desenvolve uma estratégia que intercala perícopes com resultados positivos e imediatos (4,18-22; 9,9) e outras com resultados em aberto (8,18-22; 9,10-13). A estratégia narrativa reflete a intenção pragmática do evangelho presente na escolha e aparecimento progressivo dos interlocutores de Jesus, nas suas falas e nos gêneros literários auxiliares. Na trama do evangelho, os relatos vocacionais adquirem um significado particular, estabelecendo um itinerário dialógico com o leitor, com o intuito de levá-lo a responder ao chamado, atualizado em sua própria condição. Como conclusão, destaca-se, nesse processo comunicativo, a alternância entre personagens cuja resposta é paradigmática, ou seja, sem conflito ou rejeição, e outros dois grupos, representados pelos escribas e pelos fariseus, comumente descritos como opositores de Jesus. Contudo, Mt, de forma exclusiva entre os sinóticos, supera esta comum oposição, ao afirmar que um escriba também pode se tornar discípulo do reino (13,52) e ao incluir o seu grupo entre os enviados (23,34). Não por acaso, um escriba se aproxima de Jesus e manifesta sua intenção de segui-lo (8,19). Algo que não acontece com os fariseus, os quais são apresentados numa disputa com Jesus (9,10-13) que, ao responder, estende-lhes o chamado (9,12-13), mas estes resistem negativamente até o final da narrativa. Palavras-chave: Pragmática narrativa; Relatos vocacionais; Chamado-seguimento; Discipulado; Mateus 4,18-22; 8,18-22; 9,9-13. O QUE AFASTA A CHUVA DE ISRAEL? Cássio Murilo Dias da Silva – Doutor – PUC RS Resumo: O país do Israel bíblico é uma terra com escassez de mananciais. Por isso, a vinda das chuvas no tempo certo e na quantidade adequada torna-se uma obsessão que, como não podia deixar de ser, invade o universo religioso. Para o baalismo, Baal está morto no verão, mas ressurge no inverno e consigo traz os aguaceiros tão necessários à vida. Para o javismo, o que determina a vinda ou não das precipitações não é o ciclo de vida e morte da divindade YHWH, mas sim o comportamento ético do povo que o cultua: diante da infidelidade à Aliança, YHWH castiga seu povo com a seca e “nega/afasta as chuvas”. Este artigo faz a exegese de

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quatro perícopes com a formulação “mn‘ [negar, afastar] + termo equivalente a chuva”. A Bíblia Hebraica conhece três formulações distintas para tal sintagma: mnʿ gešem [negar/afastar a chuva], em Am 4,7; mnʿ rebibîm [negar/afastar as garoas], em Jr 3,3, e mnʿ (ha)tôb [negar/afastar o bem], em Jr 5,25 (sem artigo) e Sl 84,12 (com artigo). Não obstante a mudança do segundo elemento, todas essas três formulações falam da vinda ou não da chuva, sob formas variadas (aguaceiros regulares, garoas, o “bem” por excelência). A variação no uso do artigo na terceira formulação faz com que todas as ocorrências sejam únicas, isto é, sem repetição em outros textos. Este estudo dará particular atenção a Jr 3,3 e Sl 84,12 e os confrontará com os outros dois textos, a fim de estabelecer as semelhanças entre elas e elucidar o modo como, no conjunto, estes textos reforçam a ideia de que depende unicamente da fidelidade do povo à Aliança com YHWH para que a estação chuvosa comece e termine nos momentos adequados. Palavras-chave: Exegese bíblica; Teologia bíblica; Bíblia Hebraica; Chuva. ANOTAÇÕES EXEGÉTICAS SOBRE O ORÁCULO DE SALVAÇÃO DE IS 43.1-7 Gustavo Schmitt – Doutorando – EST/CNPQ Resumo: As mais belas poesias da Bíblia Hebraica estão contidas no livro do profeta Dêutero-Isaías. Em meio ao Exílio Babilônico, imagens vivas de libertação e palavras de consolo formam o plano de fundo desta poesia. O artigo pretende apresentar os resultados sobre a atual discussão sobre os Oráculos de Salvação. Para evidenciar a temática, será analisado o texto de Is 43.1-7. A pesquisa buscará apresentar, por meio de uma revisão bibliográfica, os principais avanços na discussão internacional sobre o Dêutero-Isaías, a ênfase concentra-se no gênero do Oráculo de Salvação. A aproximação da perícope de Is 43.1-7 será por meio do método exegético histórico-crítico e pela revisão das mais recentes publicações sobre a temática. Evidencia-se a importância dos Oráculos de Salvação para o desenvolvimento da esperança nos exilados na Babilônia e a proximidade que este tema tem com a realidade atual. Conclui-se que o gênero de Oráculos de Salvação contribui para a compreensão da religiosidade no período exílico, bem como a importância destes para a formação do judaísmo posterior. Palavras-chave: Dêutero-Isaías; Profecia; Oráculos; Exegese. A DATA, O LUGAR E AUTOR DO LIVRO DE ECLESIASTES Jorge Luis Gutiérrez – Doutor – Mackenzie Resumo: O objetivo da comunicação é expor os objetivos, o método e os resultados da pesquisa realizada para tentar responder à pergunta: qual foi a data, autor e o

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lugar onde foi escrito o livro bíblico do Eclesiastes (qohelet na sua forma hebraica). Porém, considerando que este tema sempre esteve inserido em profundas controvérsias e discussões no mundo acadêmico relacionado com a pesquisa bíblica, o que se pretende com a comunicação é fazer uma proposta de data e autoria, pois estamos conscientes que nenhuma conclusão pode ser definitiva a este respeito. Mas exporemos aquela data, lugar e autor que, de acordo com a pesquisa, têm a maior chance de ser verdadeiros. A comunicação pretende começar expondo, criticamente, as diferentes propostas que têm sido feitas sobre estes temas pelos principais pesquisadores do mundo bíblico, em diferentes épocas e lugares. Entre os quais podemos nomear Gianfranco Ravasi, Robert Michaud, Robert Gordis, Andre Baruq, Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin, entre muitos outros. Para logo, a partir destes autores e da pesquisa no próprio texto do livro de Eclesiastes, fazer uma proposta sobre as três perguntas que pretendemos responder (data, lugar e autor). Nossa conclusão é que a redação do livro de Qohélet aconteceu por volta do ano 250 a.C. (Nisto concordamos com Robert Gordis), sua autoria não pode ter sido de Salomão (como afirma parte da tradição desde a antiguidade até nossos dias), mas o autor, provavelmente, foi alguém que viveu no norte da Palestina, na fronteira linguística com aramaico. Assim, o que pretendemos expor na comunicação é a pesquisa que teve como resultado que a data da redação do livro de Qohélet aconteceu após as conquistas de Alexandre o Grande, durante o domínio selêucida da Palestina. E que sua autoria é de alguém que viveu no norte da Palestina, e falava além do hebraico, o aramaico. Possivelmente um homem de uma relativa prosperidade econômica e social, com uma formação intelectual bastante apurada e de agudo censo crítico e teológico. Palavras-chave: Eclesiastes; Bíblia; Qohélet; Literatura hebraica; Antigo Testamento. FOI PARA ISSO QUE EU SAÍ”: MC 1,35-39, AUTO-MANDATO APOSTÓLICO EXEMPLAR Júnior Vasconcelos do Amaral – Doutor – PUC Minas Resumo: A perícope de Mc 1,35-39 está inserida na delimitação do “dia de Cafarnaum”, logo após a cura da sogra de Pedro (1,29-31), seguido de muitas outras curas e expulsões demoníacas (vv. 32-34). Nessa comunicação propomos perceber o sentido da expressão “Todos te procuram” (v. 37) e da réplica, por parte de Jesus, “Vamos a outros lugares, ... Pois foi para isso que eu saí” (v. 38). Para isso, analisaremos no grego de Marcos e as traduções possíveis para o verbo “saír” (exēlton), que tem como variante o verbo “vir”. Buscaremos compreender a essência da Boa Nova que Jesus passou a anunciar, desde Mc 1,14-15 e sua relação com o v. 39, a Boa Nova anunciada e as expulsões demoníacas “daimónia ekbállon”. Para análise desta perícope, utilizaremos o método sincrônico de análise narrativa, em seu esquema quinário (enredo, nó, ação transformadora, clímax e desfecho), observando

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a evolução narrativa da perícope até sua clausura, quando se indica a que Jesus foi enviado ou veio. Buscaremos ainda compreender o sentido do auto-mandato de Jesus: “Vamos para outros lugares”, na busca de perceber a origem de Jesus: Cafarnaum, literalmente, ou do Jordão, das águas do batismo, ou ainda do Pai, que lhe conferiu a exousia (Mc 1,22) necessária para vir ao mundo? Ainda, desejamos perceber o sentido teológico de sua vinda, qual a finalidade de sua missão vivida na Galileia e fora dela. Neste sentido, passamos da análise narrativa ou literária de Marcos para a teologia do evangelho, a Cristologia no crescendo da revelação de Deus, da pessoa de Jesus Cristo, o Messias servo (Mc 10,45), que passa fazendo o bem, expulsa os demônios e cura a muitos enfermos. Por fim, após compreendermos o sentido do anúncio ou pregação de Jesus (do gr. Kerísson “anúncio” Mc 1,14; 38; 39) estabeleceremos sua relação com o segredo messiânico, proposto por ele na cura de um leproso (Mc 1,40-45), sobremaneira no v. 44 (medén eípes). Percebendo que este binômio anúncio e segredo se intercalam e dão sentido ao Evangelho marcano. Palavras-chave: Evangelho de Marcos; Ir-vir; Anúncio; Segredo. A EXPRESSÃO “DIA PHTHONON” EM MC 15,10 Luís Henrique Eloy e Silva – Doutor – PUC Minas/FAJE Resumo: Em Mc 15,10, o leitor é informado de que Pilatos sabia que os chefes dos sacerdotes entregaram Jesus por inveja. O termo inveja, aqui, costuma causar perplexidade aos ouvidos do leitor atento, já que o campo semântico dessa palavra em grego, e também nas línguas modernas, é bastante complexo e, às vezes, confuso. Nessa linha, alguns exegetas tendem a interpretar o termo não como inveja, mas como zelo ou como ciúme, em busca de superar o sentido obscuro que o sentimento inveja poderia hermeneuticamente causar no contexto do relato. Em outras palavras, poder-se-ia questionar: que sentido haveria para que os chefes dos sacerdotes tivessem inveja de Jesus? Se o sentimento foi realmente suscitado, a que ele se referiria? Se, por outro lado, o termo em grego phthonos deva ser interpretado em sentido de ciúme ou zelo, sob a ótica da necessidade dos chefes dos sacerdotes em resguardarem o status quo contra o qual o nazareno pudesse representar uma ameaça, seria possível traduzi-lo assim? A linha interpretativa que a tradução descortina estaria em consonância com o espírito do relato? É preciso recordar-se de que o termo phthonos não possui alta recorrência na Septuaginta e no Novo Testamento. Contrariamente, o termo zelos, acompanhado de seu campo semântico, é significativamente abundante. Estaríamos, assim, diante de uma nuança relevante no que tange à compreensão do campo semântico desse difícil sentimento ou simplesmente se trataria de uma variação menor? O trabalho, após analisar o termo phthonos e seu campo semântico em âmbito bíblico e em alguns paralelos extra bíblicos, propõe uma interpretação para essa questão disputada.

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Palavras-chave: Evangelho de Marcos; Exegese; Semântica; Inveja. A ÚNICA COISA NECESSÁRIA – UMA ANÁLISE EXEGÉTICA DE LUCAS 10:38-42 Luiz Felipe Xavier – Doutorando – FAJE/CAPES Resumo: A narrativa da visita de Jesus à Marta e à Maria é amplamente conhecida, apesar de ser encontrada apenas no Evangelho de Lucas. Nessa narrativa destacam-se especialmente a pessoa, o discipulado e a palavra de Jesus. O objetivo desta pesquisa é fazer uma análise exegética da perícope de Lucas 10:38-42. Em tal análise será utilizado o método histórico-crítico. O primeiro passo será a apresentação dos critérios de delimitação da perícope. O segundo será a tradução, a estruturação e a análise literária do texto. O terceiro será a análise da redação. O quarto será a análise das formas. O quinto será a análise da história das tradições. O sexto será a análise do conteúdo. O sétimo será a análise teológica. O oitavo e último será a apresentação dos aspectos hermenêuticos. A pesquisa demonstrará que a perícope está estruturada de maneira concêntrica para ressaltar o contraste entre as atitudes de Marta e de Maria em relação a Jesus. A primeira, Marta, está envolvida em muito serviço, ao passo que última, Maria, está sentada aos pés de Jesus, ouvindo as suas palavras. A pesquisa demonstrará também que a única coisa necessária ao discípulo de Jesus é sentar-se aos seus pés e ouvir as suas palavras. Estas duas atitudes expressam humildade e obediência. Ficará claro que, diferentemente dos mestres do seu tempo, Jesus acolhe entre os seus seguidores tanto homens quanto mulheres. A pesquisa demonstrará ainda o sentido do título Senhor (ku/rioj), a relação entre o estar sentada (parakaqesqei=sa – um hapax legomenon) e o ouvir (a)kou/w), e o lugar da palavra no seguimento de Jesus. Por fim, serão apresentadas as razões pelas quais esse texto reveste-se de grande relevância para os dias atuais. Palavras-chave: Jesus; Discipulado; Ouvir; Palavra. A MANIFESTAÇÃO DOS JUÍZOS DIVINOS CONFORME AP 15,3-4 Marcus Aurélio Alves Mareano – Doutorando – FAJE Resumo: O livro do Apocalipse ainda causa estranhamento para vários leitores por causa de algumas imagens presentes nele: julgamento, batalha, dragões, pragas, sofrimentos, entre outros. Então, trabalharemos o tema dos “juízos divinos manifestos” (Ap 15,4) a partir do hino de Ap 15,3-4, que retoma o cântico de Moisés por causa da libertação do Egito (Ex 15; Dt 32). O texto que será analisado se localiza após o início da ação de Deus (Ap 12,10: “agora realizou-se a salvação”) e se insere no contexto das pragas que os anjos portam para serem derramadas como

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parte da vitória divina contra os opressores, de maneira análoga ao evento da libertação do Egito. Pretendemos examinar o hino por meio de uma abordagem predominantemente sincrônica seguindo: a delimitação da perícope, os elementos de crítica textual, a análise literária da perícope e as considerações teológicas sobre o tema que o texto apresenta. Assim, percebemos que há engrandecimento das maravilhas divinas (Ap 15,3), expressas por meio das obras (grandes e admiráveis) e dos caminhos (justos e verdadeiros) e uma apresentação de Deus, não como um tirano terrível e temível, mas como quem é condescendente com seus escolhidos, que opta pelos oprimidos e reprova os injustos tiranos. Logo, o tema do juízo divino consola a comunidade de fé perseguida pelo Império Romano, que acolhia aquela mensagem do Apocalipse. Hoje, da mesma forma, em um novo contexto sociocultural podemos optar por um culto àquele que é “Senhor”, “Deus”, “Todo-Poderoso”, “rei das nações” e “santo” (Ap 15,3-4) ao invés de outras propostas que roubam a liberdade das criaturas. Palavras-chave: Apocalipse; Hinos; Julgamento; Juízos divinos. YAHWEH É MEU PASTOR, NÃO FALTAREI – PROBLEMATIZANDO A CONSAGRADA TRADUÇÃO CONSAGRADA DE SALMO 23,1 Osvaldo Luiz Ribeiro – Doutor – Faculdade Unida Resumo: A comunicação tem por objetivo problematizar a tradução clássica de Salmo 1,1b: “nada me faltará” e suas variações. Considerando-se o trato sintático do verbo hsr na Bíblia Hebraica, postula-se a tradução: “(eu) não faltarei”. As traduções no vernáculo operam dois procedimentos que resultam na tradução consagrada. De um lado, transformam um verbo de primeira pessoa em um verbo de terceira pessoa. A rigor, ‘ehsar constitui a forma de primeira pessoa do incompleto de qal de hsr. Em segundo lugar, as traduções operam a transformação da pessoa verbal por meio da transposição do sentido da raiz, que, a despeito da ausência de complemento, é assumida como atualizada em predicação transitiva: “eu não terei falta de nada” > “de nada eu terei falta” > “nada me faltará”. Todavia, o levantamento de todas as ocorrências do verbo hsr na Bíblia Hebraica revela que, quando a predicação de hsr é intransitiva, logo, sem complemento, o sentido nunca é de ter falta de algo, mas de faltar o próprio sujeito do verbo. O sentido de ter falta de algo depende, fenomenologicamente, de a predicação de hsr ser transitiva, constando explicitamente o predicado. No caso de Sl 23,1, a ocorrência de hsr se dá por predicação intransitiva, o que, pelo conjunto das ocorrências da Bíblia Hebraica, impõe a tradução “(eu) não faltarei”, e não “eu não terei falta de nada). Nesse sentido, o que o autor implícito do Sl 23,1 está dizendo é que, sendo Yahweh o seu pastor, ele não há de morrer (faltar), e não que ele não terá falta de nada. O sentido tanto condiz com a conclusão do salmo: “habitarei (ou retornarei à) casa de Yahweh por longos dias”, quanto condiz com o sentido presente no uso intransitivo de hsr em outras passagens da Bíblia Hebraica, tais como Gn 8,3.5; 18,28. Is 32,6, e 1 Re

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17,14.16; Ec 9,8; Ct 7,3; Is 51,14. Palavras-chave: Salmo 23; Salmos; Verbo hsr; Faltar; Exegese. ÁGUIA OU ABUTRE EM EX 19,4? Petterson Brey – Mestrando – PUC SP Resumo: "Vós vistes o que fiz aos egípcios, como vos carreguei sobre asas de águias/abutres e os trouxe a mim" (Ex 19,4). Eis a primeira presença do substantivo nesher na Bíblia Hebraica. No Pentateuco, há cinco usos dele em Ex 19,4; Lv 11,13; Dt 14,12; 28,49; 32,11. Além disso, a palavra aparece uma vez nos Profetas anteriores (2Sm 1,23), treze vezes nos Profetas posteriores (Is 40,31; Jr 4,13; 48,40; 49,16.22; Ez 1,10; 10,14; 17,3.7; Os 8,1; Ab 1,4; Mq 1,16; Hab 1,8) e sete vezes nos Escritos (Sl 103,5; Jó 9,26; 39,27; Pv 23,5; 30,17.19; Lm 4,19). Acompanhando as traduções da Bíblia Hebraica para o português do Brasil, observa-se que, na maioria dos casos, o substantivo hebraico em questão é traduzido como "águia", e que somente em alguns momentos se opta por "abutre" (Lv 11,13; Dt 14,12). Surge, com isso, uma dúvida sobre o que motivou os tradutores a escolherem uma das duas alternativas, uma vez que os dicionários apresentam, em geral, os dois significados de "águia" e "abutre". Parece que a águia provoque maiores simpatias na imaginação do ouvinte-leitor moderno do que o abutre. Assim, ao se imaginar algo mais positivo, se opta facilmente pela presença da águia. No caso contrário, porém, se pensa mais facilmente no abutre – ver, por exemplo, a menção dos animais impuros ou imundos, que não devem ser comidos (Lv 11,13; Dt 14,12). Qual, no entanto, seria uma compreensão mais de acordo com os textos da Bíblia Hebraica e as informações que oferecem em alguns momentos, assim como com o contexto histórico-cultural do antigo Oriente Próximo? Em relação a este último, pois, é possível conferir a presença de águia e abutre em alguns textos extra-bíblicos, assim como imagens iconográficas. Além disso, para investigar o significado da palavra nesher na Bíblia Hebraica, é importante consultar as antigas traduções dela, especialmente para o grego e o latim. Enfim, o interesse se dirige, em especial, à compreensão do valor da imagem trabalhada em Ex 19,4: afinal, o SENHOR, Deus de Israel, “carregou seu povo sobre asas de águia ou abutre”? Palavras-chave: Águia; Abutre; Asas; Metáfora; Narrativa do êxodo. Sessão 02: Hermenêutica Bíblica: Esta sessão reúne comunicações mais ligadas

à hermenêutica de textos bíblicos, isto é, à interpretação e atualização da Bíblia, assim como leituras libertadoras da Escritura.

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A EDUCAÇÃO POPULAR DE PAULO FREIRE À LUZ DOS ENSINAMENTOS DE JESUS CRISTO Edna Liberato Vieira Guimarães – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Na pesquisa se estabelece uma relação entre os diversos ensinamentos de Jesus Cristo, contidos nos evangelhos, e as propostas pedagógicas da educação popular. Assim, observam-se nos ensinamentos de Jesus Cristo as características de uma ação educadora para a libertação e construção de autonomia entre os povos, em um momento histórico marcado pela opressão do Império Romano sobre os povos conquistados, devido à crise econômica e política em que estava o Império, intensificava a cobrança de impostos sobre a população, que tinha cada vez mais dificuldade em sobreviver. Além, de um conjunto organizado de propósitos educacionais onde os modelos de discursos, que estão próximas às propostas na educação freiriana e na educação popular é que se aproxima da proposta de Jesus Cristo. Pois tem sua origem em situações problematizadoras, tais como a pobreza, a marginalização, a injustiça entre outros temas geradores, que podem partir do mais geral para o particular, envolver situações-limite em que as pessoas se acham coisificadas, uma fronteira entre o ser e o ser mais de opressão, em que a consciência das pessoas se encontra imersa. Faz parte de uma metodologia conscientizadora que possibilita às pessoas uma forma crítica de pensarem seu mundo e de se humanizarem, pois falta aos seres humanos uma compreensão crítica da totalidade, captada apenas em pedaços pela sua consciência. Com isso, o objetivo é entender os discursos e os ensinamentos de Jesus Cristo como um modelo de Educação Popular que inspirou vários pedagogos como Paulo Freire. Visto que, as práticas utilizadas e as relações entre as materialidades, e os discursos deixam claro que Jesus Cristo foi um dos primeiros educadores populares do mundo, e procurou incentivar a libertação do seu povo do jugo romano. Palavras-chave: Jesus pedagogo; Paulo Freire; Educação popular. A PROIBIÇÃO DO TRÁFICO DE PESSOAS EM EX 21,16 Elton da Silva Santana – Mestrando – PUC SP Resumo: A Comunicação aqui proposta visa à apresentação de uma análise exegética da formulação jurídica em Ex 21,16, sendo que esta proíbe o tráfico de pessoas. Aparentemente, a lei em questão – a qual faz parte do assim chamado Código da Aliança, legislação israelita que foi elaborada nos séculos X a VIII a.C. – procura assegurar certa proteção àqueles que mais se encontram ameaçados em sua sobrevivência, sobretudo em vista do perigo de se tornarem mercadoria humana no processo de escravização de pessoas. Acessar as tradições bíblicas – que constituem um patrimônio cultural da humanidade, especialmente por apresentarem modelos ímpares de convivência humana – torna-se uma oportunidade na busca de soluções

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válidas para as atuais catástrofes humanas. Atualmente, pois, a Organização das Nações Unidas (ONU) e diversas outras entidades preocupadas com a defesa da dignidade do ser humano destacam o aumento assustador do número de pessoas traficadas, seja em vista da venda de seus órgãos, seja para a exploração sexual ou outros processos de escravização. Em especial, os países pobres e em desenvolvimento na América Latina se tornam locais prediletos para “coiotes” ou aliciadores, a fim de traficarem anualmente milhares de pessoas e, dessa forma, acumularem lucros enormes. Enfim, a Comunicação aqui proposta se propõe a realçar como o legislador israelita, juridicamente, enfrentou o crime acima descrito. Surge, com isso, a questão a respeito daquilo que motivou os autores da lei em Ex 21,16 a proibir o tráfico humano. Pelo contexto imediato, trata-se de uma compreensão da dignidade do homem que brota da contemplação do Deus de Israel, focando atentamente na história de revelação dele. Nesse sentido, se vislumbra a relação entre ética e religião, sendo que, nesse caso, se olha para o conjunto das tradições judaico-cristãs. Palavras-chave: Tráfico humano; Pentateuco; Tradições jurídicas. O AUTODISCERNIMENTO E A JUSTIÇA EM AÇÃO: ABRAHAM JOSHUA HESCHEL E OS PROFETAS BÍBLICOS EM UMA TENTATIVA DE HUMANIZAÇÃO Emivaldo Silva Nogueira – Doutorando – PUC Goiás Resumo: Esta pesquisa se propõe a fazer uma leitura do conceito de autodiscernimento de Abraham Joshua Heschel, em comparação com a justiça nos profetas bíblicos, como proposta de humanização de homens e mulheres na modernidade. A hipótese desta pesquisa baseia-se na proposição de que o conceito de autodiscernimento hescheliano enquanto crítica aos processos indiscernidos da modernidade pode ser interpretado à luz do conceito de justiça dos profetas bíblicos levando em conta os diferentes contextos históricos. Portanto, será analisado o conceito de autodiscernimento de Heschel confrontando-o com a modernidade, considerando a importância da justiça profética no processo de humanização. O conceito de autodiscernimento pode ser o resumo de todos os escritos de Abraham Heschel, bem como o reflexo de sua postura diante da sociedade estadunidense em geral, nas suas aulas na Universidade, nos seus seminários, palestras, participação no diálogo inter-religioso, nos conflitos bélicos e, sobretudo, da sua vida como rabino judeu. O autodiscernimento hescheliano, melhor dizendo, a vida discernida de Heschel, incide em um apelo à humanização, o mesmo apelo audível na mensagem dos profetas bíblicos. Percebe-se que, o autodiscernimento impele constitutivamente a pessoa à ação justa. Talvez seja também esta mesma provocação que os profetas querem incutir no homem diante das situações em que a justiça se fazia ausente. Nesse percurso, é possível demonstrar que esta investigação é de notável magnitude na compreensão da crise de valores que se abateu sobre o mundo e que tem

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afastado o indivíduo, de maneira progressiva, da sua imagem divina e da experiência transcendental em nossos dias, e que, por meio do autodiscernimento, que gera uma ação justa, o homem pode humanizar-se. Palavras-chave: Autodiscernimento; Justiça; Heschel; Profetas. O PÃO DE CADA DIA E O DESAFIO DA JUSTIÇA: OBSERVAÇÕES NO EVANGELHO DE MATEUS Flávio Henrique de Oliveira Silva – Doutorando – PUC PR Resumo: O horizonte de leitura e interpretação da bíblia que prevalece na atualidade, e ao longo de quase toda a história do cristianismo, ocupa-se com a tese de que o texto da oração dominical, no Evangelho de Mateus, indica, de modo geral, um apelo à devoção privada ou o seu uso nas celebrações litúrgicas. Esta abordagem é imprecisa e não desperta no orante a percepção adequada quanto ao engajamento necessário com aquilo que se pede, e que está explícito no conteúdo da oração, como é o caso da petição pelo pão nosso de cada dia. Neste cenário, entre outras deficiências, a mensagem de apelo à justiça, à qual se refere a oração, não é inteligível e sua práxis, consequentemente, negligenciada. Os objetivos são os seguintes:(1) analisar a oração dominical, conhecida também como oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus, e indicar a hipótese de que a mesma, quando lida a partir de seu contexto, é um referencial à prática da Justiça; (2) à luz da hipótese levantada, destacar entre as petições o tema do pão (nosso de cada dia), e analisa-lo a partir do apelo que dele procede, entende-o como paradigma à prática da Justiça na comunidade mateana; Quanto ao método, nosso estudo foi desenvolvido através da pesquisa qualitativa, responsável por responder a questões bem particulares, buscando alguns significados (motivos, aspirações) relacionados ao contexto de injustiça reinante nos dias em que o evangelho de Mateus foi produzido e que, portanto, indicam a relevância do tema do pão de cada dia para aquela comunidade. Para tanto, utilizamos uma abordagem sócio-histórica, cujo embasamento teórico se deu através de uma investigação bibliográfica, com alguns apontamentos exegéticos. Com relação aos resultados, o texto bíblico que contém a Oração Dominical, desde as questões que influenciaram sua retomada pelo evangelista Mateus, trabalha com algumas questões de corte sócio-político. Dessa forma, portanto, permite a harmonização entre elementos que levavam à contemplação e petição - em um ambiente privado ou na liturgia comunitária – mas também de elementos que respondiam a certas questões concretas, na esfera pública. A voz ativa nesse trecho da oração mostra que o pão, figura que indica o sustento mínimo necessário para a subsistência humana, é uma dádiva e recebê-lo era uma garantia divina e que deve apontar para uma realidade concreta. É possível reconhecer, através do contexto da época, a pobreza, a fome e até a miséria como condição de vida de muitas pessoas. Através da configuração sócio-política e econômica de então, o pão, para muitos, era negado devido a limitações econômicas

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e situação de marginalidade. A comunidade de Mateus era, portanto, encorajada a ser uma agente da vontade divina, responsável por contrariar a lógica de seus dias aprendendo a ser resposta de suas próprias preces. Isto é, na medida em que pedia pelo pão automaticamente se comprometia com os que estavam privados dele. Conclui-se que as possíveis analogias entre os ambientes que motivaram a oração, e o seu uso, e o contexto latino-americano, ao qual estamos inseridos, são caminhos desafiadores para se fundamentar a prática pastoral. Analisar a oração dominical, especialmente quanto a prece pelo pão de cada dia, é propor um embasamento bíblico-teológico mais amplo. Isto é, que seja capaz de desafiar a Igreja a encontrar na oração que o Senhor ensinou elementos que vão além de suas liturgias ou momentos intimistas, tornando-os fundamento para uma prática pública de compromisso com a justiça e que seja coerente com as ações daquele que nos ensinou a orar. Palavras-chave: Oração do Pai-Nosso; Pão de cada dia; Evangelho de Mateus; Justiça. O IDOSO: REFLEXÃO NO CONTEXTO BÍBLICO E ATUAL Ilza Maria Guedes Torquato Paredes – Mestranda – PUC Goiás Resumo: O presente trabalho se propõe a compreender o idoso no contexto bíblico, sua valoração diante de Deus, a relevância dos cabelos esbranquiçados e da longevidade como sinal de benevolência divina. Ao ser comparado com o idoso dos tempos atuais vários fatores implicam em sua relevância na sociedade, fatores estes, que diante da secularização e do capitalismo, o idoso precisa vencer o estigma da insignificância e da invisibilidade. Os objetivos que fomentaram o desenvolvimento do presente estudo apoiam-se em torno do tema idoso e da Bíblia Sagrada. Discutiremos acerca do idoso na bíblia e nos dias atuais, o respeito, a dignidade, a benevolência, a resiliência, a sabedoria, a valoração da velhice, e do idoso. Como sabemos, a Bíblia Sagrada se apresenta como um espelho, uma luz que reflete o valor da velhice e de sua sabedoria para a humanidade. Faremos um paralelo entre o idoso de hoje e o idoso da bíblia. As pessoas idosas de um modo geral, apresentam uma riqueza de conhecimento, de sabedoria e da experiência que podem compartilhar com os mais jovens. É importante salientar que nos dias atuais, nessa sociedade secularizada e capitalista, o idoso foi sendo deixado de lado, sem importância para essa sociedade onde produzir cada vez mais, é o que denota ser um indivíduo com significância. Porém, faz-se necessário vencer este estigma de que a pessoa idosa é um ser diferente, improdutivo, desacreditado, estando, portanto, em desvantagem perante os mais jovens e colocá-lo, tal qual a Bíblia Sagrada, num lugar especial, de respeito. Porque seus anos vividos se traduzem em sabedoria e justiça. Ao final, espera-se identificar e elencar as principais diferenças existentes entre os idosos contemporâneos às Escrituras Sagradas e os idosos dos tempos atuais e poder contribuir, dessa maneira, na valoração dos idosos, e instigar no

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jovem a necessidade de se respeitar o idoso. Palavras-chave: Idoso; Bíblia Sagrada; Sabedoria; Resiliência; Valoração. JESUS E A CORRUPÇÃO DO TEMPLO DE JERUSALÉM UMA PESQUISA BÍBLICA A PARTIR DE MC 11,15-19 João Luiz Correia Júnior – Doutor – UNICAP Resumo: Uma das ações mais ousadas de Jesus, nos Evangelhos, é a narrativa sobre a intervenção de Jesus expulsando os vendedores e cambistas do Templo de Jerusalém. O objetivo desta pesquisa é encontrar respostas para algumas perguntas em torno dessa atuação: Por que Jesus agiu com tamanha indignação? Que forças maléficas dentro do Templo estavam sendo denunciadas com esse gesto simbólico? Quais as consequências dessa ação na vida de Jesus? Que repercussões isso teve na interpretação do discipulado? Em busca dessas respostas, fazemos um estudo de Mc 11,15-19, o Evangelho mais antigo que chegou até nós, à luz da pesquisa bíblica e histórica que leva em conta a análise literária da perícope, a análise do contexto a que se refere o texto, e a mensagem teológica dessa narrativa para o contexto em que foi escrito. Os resultados alcançados sobre a atuação de Jesus no coração do sistema sociorreligioso judaico de sua época evidenciam um forte esquema de corrupção das autoridades religiosas, dentro do Templo de Jerusalém. A intervenção de Jesus, naquele local, segundo o evangelho de Marcos, foi interpretada como o clímax de sua ação messiânica, dentro do projeto de instauração do Reino de Deus, inaugurado na Galileia, conforme Mc 1,14-15. Foi também compreendido como estopim da sumária condenação à morte de Jesus. Sem dúvida, a ação de Jesus no Templo é um episódio muito importante para a compreensão do seu movimento sociorreligioso, interpretado como a inauguração dos tão esperados tempos messiânicos, no contexto do Judaísmo palestinense do século I, em pleno domínio avassalador do Império Romano naquela região. Palavras-chave: Evangelho de Marcos; Messianismo; Movimento de Jesus; Judaísmo do segundo Templo; Gesto simbólico religioso. ABOMINAÇÃO (TOEBAH) E A HOMOSSEXUALIDADE, UMA ANÁLISE CRÍTICA EM LEVÍTICO 20,13 José Frederico Sardinha Franco – Mestre – PUC Goiás Resumo: Esta pesquisa nos levará à análise do verbete “abominação” toebah e a sua aplicação no recorte em 20,13 da literatura Levítica que se destaca em anunciar a relação homossexual entre duas pessoas do sexo masculino. A nossa proposta inicial está em apresentar a relação existente entre o termo “abominação” e a prática

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da homossexualidade no período do pós-exílio babilônico. Desta forma, utilizaremos como metodologia de estudo, a pesquisa bibliográfica, desenvolvida com base em materiais já publicados, e a utilização da Bíblia de Jerusalém (1991) que nos ajudará na coleta e no registro dos dados pertinentes ao recorte a ser pesquisado. Esperamos obter o entendimento temporal deste recorte na perspectiva da desconstrução preconceituosa de todo entendimento hodierno em relação à prática homossexual inserida na Bíblia hebraica em Levítico 20,13. O discurso da homossexualidade inserido na Bíblia hebraica deve ser analisado a partir de perspectivas temporais, por se tratar de um escrito antigo em torno de 539 a.C. assim, relatamos a nossa satisfação em poder contribuir academicamente com a exegese do recorte bíblico em Levítico 20,13, e toda a sua problemática em relação à prática homossexual contida na mesma. Palavras-chave: Abominação; Homossexualidade; Levítico; Pós-exílio. DIGNIDADE E JUSTIÇA EM MATEUS 25,14-30 À LUZ DO MODELO CONFLITUAL Luiz Antonio Ferreira Pacheco da Costa – Doutorando – PUC Goiás Regina Maria de Albuquerque Franco Ramos – Doutoranda – PUC Goiás Resumo: Com o método da leitura conflitual sobre texto Mateus 25,14-30, propomos analisar o chamado “efeito Mateus”, termo criado por Robert Merton, sociólogo da ciência, inspirado na afirmação: “Tirem dele o talento, e dêem ao que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado” (Mt 25,28-29). Segundo Merton, o efeito Mateus é “o acúmulo de grandes incrementos de reconhecimento

dos colegas de cientistas, de grande reputação, ...] em contraste com a minimização ou a retenção de tal reconhecimento, para os cientistas que ainda não fizeram a sua marca”. Por outra parte, o “efeito Mateus” no sistema neoliberal se baseia no prestígio e no poder individual, no qual “os ricos são cada vez mais ricos e os pobres são cada vez mais pobres”, alicerçado na desigualdade de possibilidades e na falta de visibilidade e credibilidade nos pobres, tornando a competência como pauta de convivência, o que nos leva a pensar sobre o princípio da justiça e o reconhecimento dos pobres como sujeitos históricos e de direito, e que conquistaram juridicamente reconhecimento da dignidade humana. As parábolas como gênero literário bíblico pretendem pedagogicamente nos auxiliar na compreensão das relações humanas na perspectiva do Reino de Deus. Assim sendo, busca-se desvendar as relações que se estabelecem entre as pessoas, a divisão de tarefas, os empecilhos que atrapalham a solidariedade; a superação de interpretações teológicas legitimadoras das exigências de consumo que levam a/à exploração das pessoas ou na contrapartida à exclusão delas dos sistemas de produção na sociedade. Palavras-chave: Mateus 25,14-30; Dignidade humana; Justiça divina e social.

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UMA ABORDAGEM SIMBÓLICA NA GENEALOGIA DE JESUS Selma Marques de Paiva – Doutoranda – PUC Goiás Resumo: Quando nos referimos à genealogia de Jesus, faz-se necessário recorrermos à Bíblia Sagrada. Nela, encontraremos a genealogia do Messias tanto no evangelho de Mateus quanto no de Lucas. Cita-se aqui as diferenças entre essas duas genealogias, tecendo um breve comentário para abordar a questão. O presente trabalho tem o intuito de apresentar a relação entre Davi e a genealogia de Jesus no evangelho de Mateus, fazendo jus à matemática, via gematria. Esta última, por sua vez, é uma técnica antiga de numerologia que atribui valores a cada letra do alfabeto. Somando-se todos os valores das letras de cada palavra, chega-se a um valor total que é comparado ao valor de outras palavras. Vale ressaltar que, os povos antigos não usavam o sistema arábico para expressar os números, mas sim as próprias letras do alfabeto. Nota-se que, na genealogia de Jesus apresentada por Mateus, as gerações são separadas em três grupos de tamanho catorze cada um, são eles: de Abraão até Davi, de Davi até o exílio da Babilônia e do exílio da Babilônia até Cristo. Ao estudarmos a decomposição em fatores primos do número catorze, obtemos os números “dois” e “sete”. Dessa forma, far-se-á um estudo sobre esses números, sem deixar de lado o número “três”, apresentando alguns significados na Bíblia Sagrada e, classificando-os também pela matemática em perfeitos, deficientes ou abundantes. A perfeição de um número vista pelo ângulo matemático é bem distinta da apresentada pela numerologia, abrange-se também essa questão em nosso estudo. A presente pesquisa se dará pelo uso de princípios hermenêuticos e o método fundamentalista, tendo em vista o pressuposto de que a Bíblia não apresenta erros ou incongruências e tomando-se o sentido literal da mesma. Palavras-chave: Davi; Genealogia; Gematria; Números; Mateus 1, 1-17. O RELATO DA SAMARITANA EM JOÃO 4 E SUAS PERSPECTIVAS LITERÁRIAS Vanderson Eduardo Domingues – Doutorando - UMESP Resumo: Este artigo se propõe a analisar o relato da Samaritana em João 4, a partir da perspectiva da narrativa Bíblica de Alter que mostra um padrão repetitivo entre as narrativas bíblicas que ele se refere como uma "cena de tipo noivado" (Gn 24:10-61, Gn 29:1-20, Êx 2: 15b-21.2) e a proposta de Arterbury que trata a mesma perspectiva narrativa a partir dos relatos de hospitalidade (Gn 18:1-16; 18: 1-16, 1 Sm 9:11-27). Partindo da premissa de que o QE foi escrito sobre uma estratégia literária do autor par a defender a fé da comunidade que o mesmo representava,

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pois o autor menciona deliberadamente a intenção de testemunhar a vida de Jesus de tal maneira que inspire crença nele (João 20:30). Assim nesta perspectiva em que o QE foi escrito avaliaremos as propostas de Alter e Arterbury. Palavras-chave: Narrativa literária; Memória joanina; Comunidade; Conflitos; Messias; ξένος. A SABEDORIA DA CRUZ ENQUANTO RAZÃO DA FÉ CRISTÃ NA PÓS-MODERNIDADE Vera Lúcia Membrive Casagrande – Doutoranda – PUC PR CAPES Resumo: O objetivo desta comunicação é promover uma reflexão acerca da fé cristã na contemporaneidade. Num primeiro momento, refletiremos sobre a sociedade atual. O gênero humano encontra-se hoje em nova fase de sua história, na qual mudanças profundas e rápidas estendem-se progressivamente ao universo inteiro. Conforme destacado pelo sociólogo Zygmunt Bauman, vivemos em uma sociedade líquida, na qual não existem pontos fixos, valores incontestáveis, tudo parece flutuante. O tempo líquido permite o instantâneo e o temporário, a vulnerabilidade e a fluidez, incapaz de manter a mesma identidade por muito tempo, o que reforça um estado temporário e frágil das relações sociais e os laços humanos. Uma vez que, as relações se tornam líquidas, enfraquece a solidariedade, e estimula a insensibilidade em relação ao outro. Sobre essa base, num segundo momento, faremos memória do Crucificado, que insere no coração do mundo violento, dilacerado e sem sentido, outra maneira de existir e a torna fonte de vida, para que o mundo novo possa realizar-se plenamente. Não se trata de fuga do mundo violento, mas de sublinhar o caráter de envio do Crucificado, que procede da gratuidade. Ressaltaremos, num terceiro momento, que hoje, mais do que nunca, torna-se urgente o anúncio da Sabedoria da Cruz de Cristo, que nos remete, sobretudo, à imitação do Outro, que não é senão doação perpétua. Esperamos, com este trabalho, destacar que, mesmo que a história prossiga em seu ciclo de rivalidade e de morte, a fé permite contemplar o invisível, que apresenta o reverso da história, com sua esperança escatológica. Palavras-chave: Sabedoria; Cruz; Fé; Razão; Pós-modernidade.

Sessão 03: Teologia Bíblica: Esta sessão reúne comunicações mais ligadas à teologia bíblica, isto é, a temáticas que percorrem os textos bíblicos e que se

relacionam com a Teologia como tal. HERMENÊUTICA TEOLÓGICA, CONSCIÊNCIA HISTÓRIA E FÉ CRISTÃ

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Alexandre de Siqueira Campos Coelho – Doutorando – PUC Goiás Resumo: A natureza, a função, o método e o escopo da teologia são objeto de discussão entre os estudiosos do Novo Testamento. Suas contribuições revelam problemas históricos, teológicos, filosóficos e metodológicos que convergem para a compreensão do desenvolvimento histórico dos estudos do NT em geral e da teologia do NT em particular. Refletir sobre os primórdios e desenvolvimento da teologia do NT requer rever sua origem no século XIX, ressaltando as contribuições da Reforma, do Iluminismo, da Teologia Dialética e das pesquisas mais recentes. No que tange à metodologia, J. P. Gabler destaca-se por enfatizar no estudo da teologia bíblica - novamente - o caráter “puramente histórico”. Sua reflexão influenciou eruditos e traz impacto até os dias atuais. Dentre as abordagens da teologia do NT, ressalta-se a temática (Alan Richardson e Karl H. Schelkle), a existencialista (Rudolf Bultmann e Hans Conzelmann), a histórica (Werner G. Kümmel e Joachim Jeremias) e a história da salvação – “Heilsgeschichte” (O. Cullmann, George E. Ladd e Leonhard Goppelt). O foco desta comunicação está na reconstrução histórica e na interpretação teológica concomitante como uma proposta de compreensão da teologia bíblica. O marco teórico contempla o inter-relacionamento entre as ferramentas histórica, literária/linguística e sociológica. Por ora, são duas as hipóteses de pesquisa: a primeira, que a competência literária, a compreensão teológica e a crítica histórica funcionam como requisitos básicos do intérprete; a segunda, que compreender a realidade histórica propriamente dita requer unir a interpretação histórica e a interpretação pessoal. Para Bultmannn, a compreensão dos textos bíblicos perpassa as mesmas condições/ferramentas de qualquer outro tipo de literatura. Gadamer, ao contrário, afirma que “a Sagrada Escritura é palavra de Deus, e isso significa que a Escritura mantém uma absoluta preeminência em relação à doutrina daqueles que a interpretam”. Parte-se da premissa segundo a qual a relação entre a consciência histórica e a fé cristã é construída a partir do pensamento histórico da comunidade vivida na cultura histórica do Antigo e do Novo Testamento. A rede fatorial de circunstâncias históricas estruturou o modo do crente relacionar-se consigo e com o mundo. A tradição tornou-se descritiva e retrospectiva reforçando “uma identidade de preservação nos valores e motivos, nas ideias e convicções, nas crenças e opiniões, nas mentalidades e nas afirmações de si” bem como normativa e contínua onde ressalta-se “o cuidado em combater a erosão no tempo, a dissolução da tônica marcante da sociedade e da cultura, do estado e da nação, constantemente ameaçada pelo esquecimento e pela negligência, pela omissão e pelo ocultamento”. Palavras-chave: Ciência bíblica; História; Hermenêutica; Teologia bíblica. O VINHO NA PÁSCOA JUDAICA. A PROIBIÇÃO DOS FERMENTADOS NO RITO DE PESSACH Gilvan Leite de Araujo – Doutor – PUC SP

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Resumo: O vinho é um dos principais componentes da celebração da Páscoa Judaica, passando também, a partir da última ceia realizada por Jesus Cristo, para celebração da Eucaristia. Contudo, a análise minuciosa do rito da Páscoa Judaica nos textos Bíblicos do Antigo Testamento levanta dúvidas sobre o uso de bebidas fermentadas. Neste sentido se busca compreender como e quando se dá o ingresso de vinho na composição do ritual da Páscoa. A evolução desta Festa, segundo as narrativas do Antigo Testamento apresentam dois ritos que se completam, ou seja, a celebração da Páscoa e a celebração dos Ázimos. As duas celebrações podem ocorrer simultaneamente ou isoladamente nas narrativas Bíblicas. Além do mais, na Instituição da Eucaristia os dois ritos são vinculados e reinterpretados. Durante o primeiro século a.C. se evidencia, pela primeira vez, o uso do vinho no rito da Páscoa Judaica. Esta novidade leva um a questionamento sobre os fermentados neste rito. A tradição Bíblica descreve o uso do vinho notoriamente durante a Festa das Tendas, nunca em Páscoa e se desconhece se tenha existido alguma ceia durante a Festa de Pentecostes. Levando-se em consideração que se desconheça a presença do vinho durante a ceia da Páscoa Judaica, intriga o fato deste começar a fazer parte e de modo solene, no qual se destaca, durante a ceia, a benção de quatro taças, conforme prescreve a Mishná. Na tradição Bíblica o vinho entra para a Festa das Tendas sem algum significado particular. Parece que na Páscoa Judaica esta mesma característica permanece. Contudo, a partir da Eucaristia, conforme contexto da instituição da Eucaristia o vinho se transforma em sangue após a consagração. Um estudo sobre o vinho na tradição do Antigo Israel e sua presença no Cristianismo pode fornecer elementos importantes para a compreensão da Páscoa Judaica e Cristã. Palavras-chave: Vinho; Páscoa; Pessach; Ceia. CONSOLAR – MISSÃO PROFÉTICA NO EXÍLIO: A AÇÃO DO DÊUTERO-ISAÍAS JUNTO AOS ISRAELITAS NA BABILÔNIA Jaldemir Vitório – Doutor – FAJE Resumo: Uma função importante do Dêutero-Isaías consistiu em consolar os israelitas forçados a migrar para a Babilônia, em 597 a.C. e 587 a.C.. Mormente, os israelitas piedosos sentiam-se abandonados por Deus, na iminência de perder sua identidade e, com ela, a fé dos antepassados. Mostraremos em que consistiu a missão de consolador de quem vivia na aflição do exílio. A semântica do verbo consolar (נחם) será explicitada a partir da análise de alguns textos seletos de Is 40-55, a começar por Is 40,1, onde o profeta recebe de Deus tal missão. A ação de consolar comporta manter viva a chama da esperança de voltar para a Terra, com o fim do exílio; reforçar a certeza da presença amorosa do Deus, incapaz de desamparar seu povo; precaver contra a tentação da idolatria; recordar os gesta Dei de outrora e, sobretudo, ajudar os exilados a fazer a leitura dos sinais dos tempos, representados pela ascensão do Ciro, rei dos persas. A missão do profeta do passado

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levanta a questão da consolação merecida pelos refugiados e migrantes forçados ou não, do presente, cuja situação existencial de abandono é a mesma do Israel exilado, com o risco do desespero em face à falta de perspectiva e ao encurtamento dos horizontes. Reler o Dêutero-Isaías pode se tornar fonte de inspiração para cristãos de boa-vontade, nessa quadra dramática da história, quando milhões de seres humanos, nossos irmãos e irmãs, vivem experiência semelhante à dos israelitas, arrancados de sua terra e obrigados a viver em terra estranha. O Papa Francisco tem sido um consolador exemplar de refugiados e migrantes, uma enorme massa de sofredores do nosso mundo. Essa é uma dimensão importante do seu profetismo e do profetismo na atualidade. Palavras-chave: Consolar; Deuteroisaías; Isaías 40-55; Exílio. RELATOS DE VOCAÇÃO: O SAGRADO PROVOCANDO PRÁXIS OU A PRÁXIS CONSTRUINDO O SAGRADO? – UMA LEITURA DE EX 3,1-6 A PARTIR DA SOCIOLOGIA DE MICHAEL LÖWY Joilson de Souza Toledo – Mestre – PUC Goiás Resumo: Enquanto estilo literário, os relatos de vocação nascem de contextos sociais e históricos referentes à época de sua(s) redação(ões). No entanto, sendo Literatura Sagrada, estes mesmos relatos têm, no decorrer dos séculos, fomentado práxis de grupos e igrejas. Têm sido usados para legitimar ou questionar os mais diversos processos, dentro e fora das Igrejas. Entendê-los dentro de sistemas simbólicos estruturados e estruturantes que são as religiões (BOURDIEU, 1989; 2007) nos possibilita considerá-los como nascidos de práxis e fomentadores de práxis, mas também de embates onde práxis são legitimadas e questionadas. A leitura destes textos da literatura sagrada de judeus e cristãos tem fomentado a práxis libertadora de inúmeros cristãos. Os relatos de vocação, em especial, têm alimentado e justificado uma compreensão libertadora do seguimento de Jesus. Tendo-os como modelo e espelho, pessoas que vivem o discipulado de Jesus marcado pela opção preferencial pelos pobres, têm reconhecido o chamado de Deus para engajar-se em processos de libertação. Assim sendo, as pesquisas de Michael Löwy (2000; 2014a; 2014b; 2016) nos apresentam aportes para uma investigação da Literatura Sagrada, pois nos salientam como um segmento da igreja católica, também pela leitura de sua Literatura Sagrada, se colocou em processos libertadores e emancipatórios. Em pesquisas futuras sobre vocação e relatos de vocação no Antigo Testamento (OLMO DETE, 1979) tendo como foco principal Ex 3,1-6 almejamos investigar a constituição e a recepção da referida perícope entre os cristãos da libertação para salientar as memórias em disputa e os embates que geram o texto e que o texto tem gerado no continente latino-americano. Nesta comunicação pretendemos apresentar as apreensões, inquietações e compreensões que balizam o início desta investigação.

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Palavras-chave: Relato de Vocação; Práxis; Êxodo; Libertação; Recepção. A BÍBLIA COMEÇOU EM ISRAEL NORTE José Ademar Kaefer – Doutor – UMESP Resumo: Referências extrabíblicas, como as estelas de Nimrud, Mesa e Dã, comprovam a grandeza do que foi Israel Norte. Contudo, nem a arqueologia e nem o estudo literário da Bíblia têm conseguido comprovar a contento a existência de textos escritos em Israel Norte. De um lado, porque não se tem achado textos complexos em tabletes, estelas ou paredes que pudessem comprovar a existência de um corpo de escribas na corte da Samaria ou em algum santuário do reino, como Betel. De outro, porque, se eles existiram, foram incorporados na literatura bíblica de Judá de tal maneira que perderam sua identidade. Desvelar os escritos de Israel Norte remanescentes na Bíblia ainda é uma tarefa a ser realizada. Um, entre tantos escritos remanescentes, acreditamos ser Gn 49,13-(18)24a. Aqui, não só foi incluído Judá na grande unidade (Gn 49,1-28), antes ausente, mas também foi excluído Efraim e substituído por José. Assim, um texto que antes servia para dar identidade a Israel Norte, com louvores a Efraim, foi descaracterizado para enaltecer Judá. Essa mudança parece ter se dado quando “a história de José” (Gn 37-48) foi acrescentada ao livro de Gênesis. Foi também quando “a bênção de Jacó sobre seus filhos” (Gn 49,1-28) foi removida do final de Gn 35 para a posição atual e reconstruído Gn 48. Isso é o que a presente comunicação, por meio da exegese, pretende demonstrar. Essa tarefa é relevante porque Israel Norte esconde uma cultura mais heterogênea que Judá, sul, mais próxima da história dos povos da América Latina e Caribe. O ESTRANGEIRO, O ÓRFÃO E A VIÚVA NOS ESCRITOS DE KHIRBET QEIYAFA E SUA CONEXÃO COM OS TEXTOS BÍBLICOS Jovanir Lage – Doutorando – UMESP Resumo: O presente projeto aborda uma reflexão bíblico-teológica sobre a tríade social – “estrangeiro” (ger), “órfão” (’atôn) e “viúva” (’almanah) a partir dos achados em Khirbet Qeiyafa e sua conexão com os textos bíblicos. Em toda a Bíblia há referências significativas e explícitas a esta tríade social. A presença dessas categorias acena para um significativo conjunto de normas jurídicas no Antigo Israel que nortearam a conduta de reis, a organização social e a religião no Antigo Oriente. Nossa pesquisa tem como objetivo a investigação das principais diferenças sobre a defesa social desta tríade (estrangeiro, órfão e viúva) nas fontes bíblicas e extra bíblicas. Para isto, nos valeremos das recentes pesquisas da arqueologia no referido sítio de Khirbet Qeiyafa. Analisaremos os relatórios de escavações e também a associação do emprego semântico deste conjunto social ger, ’atôn, ’almanah e dos termos ligados à tsedaqah justiça e a mishpat direito. No terceiro momento de

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nossa pesquisa analisaremos a interação entre os textos do Dt e os escritos encontrados em Khirbet Qeiyafa. Procuramos compreender o grau dessa interação, a fim de identificar a influência dos achados arqueológicos em Khirbet Qeiyafa e de seus escritos, para a composição bíblica com sua normativa para a nítida referência à trilogia social: estrangeiro, órfão e viúva. Palavras-chave: Estrangeiro; Órfão; Viúva; Deuteronômio; Khirbet Qeiyafa. BELIT-NESHETI: CARTAS DA SENHORA DOS LEÕES AO REI DO EGITO Leide Jane Soares Dos Santos – Mestranda – UMESP CNPQ Resumo: Nas cartas de Amarna 273-274 a Senhora dos Leões escreve ao rei do Egito sobre ataques em seu território realizados pelos ‘apîrus, pede ao rei que resgate sua terra das mãos deste grupo, informando-o sobre as cidades de Aijalon e Zorah que estão ameaçadas, também fala da cidade de Sapuma que já foi tomada pelos invasores e dos governantes de Gezer que quase não sobreviveram ao combate. As correspondências de Amarna do período do Bronze Tardio ajudam a compreender os assuntos administrativos entre o Egito e os vassalos das Cidades-Estados de Canaã assim como seu contexto social e cultural. O objetivo desta pesquisa é identificar a partir das cartas da Senhora dos Leões os conflitos e o contexto histórico da época no território do Sefelá, região onde estão as cidades citadas na carta. A metodologia é análise crítica das cartas comparando com outros achados arqueológicos da época, como placas de divindades femininas encontradas em Bet-Semes e alguns estudos sobre as estruturas das cidades do Sefelá no período de Amarna. A partir desta pesquisa é possível levantar questões sobre a localização destas cidades e os conflitos existentes na Sefelá, a importância comercial deste território, o estilo das correspondências dos reis vassalos com o Egito, a região de Gezer em que as cartas 273-274 foram escritas que ajudam a compreender o domínio dela sobre as cidades vizinhas, as teorias sobre a localização do reino da Senhora dos Leões entre Bet-Semes ou Sapuma e o culto à figura do leão como representação de autoridade, realeza ou divindades dos cananeus cultuadas na época. A partir do conteúdo destas correspondências se compreende a problemática nas relações entre as Cidades-Estados do Bronze Tardio, especialmente o conflito interno que causou grande estabilidade na região, pois as cidades vassalas disputavam entre si pelo território da importante Sefelá. A correspondência da Senhora dos Leões, uma mulher, pedindo que o rei do Egito tome conhecimento sobre o conflito e recupere as cidades tomadas ajudam a compreender a dinâmica das relações de poder entre os reis cananeus e o império que os dominava. Palavras-chave: Cartas de Amarna; Senhoras dos Leões; Egito; Sefelá. DECÁLOGO E LEI DO AMOR, NA BÍBLIA

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Norberto dos Reis Guimarães – Mestrando – PUC Goiás Resumo: Considerando o Decálogo (Torah) em Êxodos 20:1-17 e os Mandamentos do Amor em Mateus 22:34-40 pergunta-se: Jesus cumpriu ou aperfeiçoou a Lei (Torah)? Para a pesquisa serão utilizadas as matrizes teóricas da Literatura Sagrada, tais como, a hermenêutica e exegese, bem como a análise crítica e gramatical, na busca de identificar a melhor resposta à indagação. Em princípio, contudo, é possível verificar que no Decálogo, os comandos são constituídos de frases imperativas negativas, ou seja, “não matarás, não roubarás, não adulterarás [....]”. Na Torah, os verbos estão no futuro do presente do indicativo com valor de imperativo, denotando proibição de atos que contrariam a vida na perspectiva da lógica do Criador (Deus). Observa-se também que os comandos da Lei do Amor estão no futuro do presente indicativo com valor imperativo, mas com frases afirmativas, positivas: “Amarás a Deus de todo coração, alma e pensamento e amarás ao próximo como a ti mesmo”. Importante destacar que ambas as construções verbais têm propósitos divinos, notadamente em tempos distintos, mas que aparentemente ensejaram o relacionamento eficaz do povo com a vida e com Deus, para tanto, os textos ensinam a ética espiritual e moral de Deus. Salienta-se, por importante, que ao final da perícope de Mateus Jesus conclui que dos mandamentos do Amor “dependem toda a Lei e os profetas”. Lei e profetas são os dois pilares da narrativa do Primeiro Testamento. Na análise, da linha do tempo bíblico, portanto, será investigado se Jesus, como predito pelos profetas de Deus, deu cumprimento à Lei, ao melhor interpretá-la dentro de seus fundamentos e escopo, conforme salientado na perícope de Mateus ou, se por outro lado, apresentou novos comandos, no intuito de aperfeiçoar a Torah (Decálogo). Desse modo, do resultado da pesquisa, será possível conhecer: 1º. a existência de um único Testamento bíblico com uma interpretação sequencial e sintética de Jesus dada aos dados lógicos e divinos que compõem o Decálogo com a consequente consolidação do propósito da Lei e profetas. 2º. Ou que o Segundo Testamento de Jesus foi conferido no sentido de uma educação divina progressiva no intuito de aperfeiçoar os mandamentos da Lei (Torah). Palavras-chave: Decálogo; Lei; Amor; Profeta. A ESCUTA NO TERCEIRO CANTO DO SERVO CONFORME ISAÍAS 50,4-7 Raquel Mendes Borges – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Esta comunicação tem como objetivo apresentar o contexto do Terceiro Canto do Servo, Isaías 50,4-7. O Profeta Isaías luta contra o oportunismo político e a favor da fidelidade ao Senhor. O relato do Terceiro Canto do Servo está no contexto do Exílio da Babilônia. Tempo em que o povo vive a falta de esperança nas promessas do Senhor. Neste contexto Isaías se mantém fiel à Palavra de Deus. Isaías sofre duras crueldades por ser fiel ao Senhor. Esta fidelidade é que faz do profeta um

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verdadeiro ouvinte. A obediência de Isaías à Palavra modificou sua vida e a do seu povo. A Palavra de Deus cumpre sua missão na medida em que tem quem a ouve, e Isaías é quem escolhemos para ser, ao ouvinte de hoje, um parâmetro. O ouvir pede o repetir a Palavra que gera a assimilação para o viver. Isaías tem uma vida moldada pela Palavra a partir do ouvir. Isaías é um profeta muito estudado e para melhor entendê-lo será exposto o fundo histórico e o crescimento literário do Terceiro Isaías. Palavras-chave: Isaías; Ouvir; Servo Sofredor; História. EXÍLIO DA BABILÔNIA COMO ESPAÇO DE AFIRMAÇÃO DA IDENTIDADE ÉTNICA DOS EXILADOS: UMA LEITURA A PARTIR DO DÊUTERO-ISAÍAS Rosemary Francisca Neves Silva – Doutora – PUC Goiás Resumo: A pesquisa tem como eixo norteador o livro de Dêutero-Isaías com o intuito de evidenciar o cotidiano dos exilados que foram marcados pela escravidão. O mesmo retrata a memória dos exilados do período exílico da Babilônia na busca pela afirmação de sua identidade étnica e religiosa. Compreendendo como era o cotidiano, as questões políticas, econômicas, sociais, étnicas e religiosas vivenciadas pelos exilados no exílio babilônico. A pesquisa propõe ainda mostrar a figura do exilado que é apresentado no Dêutero-Isaías, tendo como referenciais teóricos para comprovar nossa hipótese o método histórico-crítico, a leitura conflitual e a hermenêutica que nos possibilitará uma melhor compreensão do texto proposto. Estudos já realizados em textos e contextos do Dêutero-Isaías têm apresentado alguns indícios da busca dos exilados mesmo em terras estrangeiras pela afirmação de sua identidade étnica e religiosa. Isto pode ser verificado pela própria mensagem anunciada no livro do Segundo Isaías que anunciava um tempo de esperança e libertação e que também tinha a finalidade de fortalecer a fé e reanimar este povo sofrido, enfraquecido (Is 40,29; 42,3), humilhado e desprezado (Is 53,3). Espera-se que os resultados desta pesquisa sejam relevantes para futuras reflexões e ensino das questões de identidade étnicas, religiosas, bem como que deem sua contribuição nas pesquisas sobre a escravidão, o cotidiano, as representações coletivas e a concepção de sociedade no exílico babilônico. Palavras-chave: Dêutero-Isaías; Identidade Étnica; Cotidiano; Escravidão e Libertação. A LUZ COMO SÍMBOLO DA JUSTIÇA Valmor da Silva – Doutor – PUC Goiás Resumo: Expõe elementos luminosos que simbolizam a justiça, em textos da Bíblia Hebraica, no contexto do Antigo Oriente Médio, com repercussões no Novo

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Testamento. Usa como referencial a teoria do simbólico e do imaginário, para avaliar as metáforas em torno à luz, a fim de exemplificar o conceito e a prática da justiça. A justiça, segundo a Bíblia, é o bem maior que orienta a vivência da pessoa e a convivência da humanidade, a partir das entranhas do próprio Deus, único justo e capaz de fazer justiça. Para expressar esta realidade, a Bíblia usa diversos símbolos para justiça, tais como pratos da balança, pedras da bolsa, espada da ira, arco e flecha certeiros, vara, ferro, coroa e trono do julgamento, veste e cinto de justiça etc. A presente comunicação se concentra sobre os símbolos relativos à luz. A luz é atributo da divindade e orienta as ações humanas, de tal modo que “a luz dos justos é alegre, a lâmpada dos ímpios se extingue” (Pr 13,9). O sol, representação máxima da luz, é tido como símbolo da justiça e o nome de Deus é o “sol da justiça” (Ml 3,20). Manhã é outro símbolo associado ao sol, enquanto “hora da justiça” (Sl 101,8). Estrela é a majestade do criador e “os que ensinam a justiça hão de ser como as estrelas, por toda a eternidade” (Dan 12,2). O fogo expressa o agir de Deus e sua justiça (Dt 32,22). Forno simboliza a purificação para provar os corações (Pr 17,3). A proposta conclui pelo valor e importância da justiça, no contexto da convivência humana, como luz implacável que ilumina, devora e renova. Palavras-chave: Justiça; Luz; Símbolo.

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GT 06 – PAUL TILLICH Dr. Etienne Alfred Higuet (UEPA) [Coordenador] Dr. Eduardo Gross (UFJF) Dr. Carlos Eduardo Calvani (UFS) Ementa: O GT Paul Tillich objetiva reunir pesquisadores interessados na obra do autor que lhe empresta o nome, assim como nas repercussões que ela alcança, especialmente a atualidade do seu pensamento. Tillich é considerado um dos mais importantes teólogos do século XX, tendo contribuído especialmente na reflexão sobre a necessidade de se compreender a religião em interação com a cultura em geral. Nesse sentido, trata-se de uma abordagem que tematiza explicitamente a religião e simultaneamente se abre para o diálogo com diferentes disciplinas acadêmicas, como artes, ciência política, psicologia, história, ciências naturais e, de modo particularmente importante, filosofia. O GT pretende ser um espaço em que esta variedade temática presente na obra do próprio autor se mostre a partir de pesquisas contemporâneas que o tenham, total ou parcialmente, como referência. O GT resgata uma história de debates e pesquisas relacionada com a Associação Paul Tillich do Brasil, além de grupos de pesquisa em diversas instituições - e pretende auxiliar no fortalecimento destes e na visibilidade que as pesquisas sobre Tillich merecem no campo dos estudos teológicos e de ciências da religião brasileiros. Vejam a revista Correlatio: https://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/ COR, o site www.paultillich.com.br e o grupo “Sociedade Paul Tillich do Brasil” no Facebook. O ÊXTASE E SUAS IMPLICAÇÕES PROFÉTICAS NA TEOLOGIA TILLICHIANA Almir Lima Andrade – Mestrando – UFS Resumo: Introdução: Embora o pensamento de Paul Tillich já tenha sido abordado sob vários aspectos e suas obras sejam amplamente conhecidas no contexto brasileiro, a relação direta entre o seu pensamento e o profetismo do antigo Israel ainda tem sido pouco discutida. Tillich traça ao longo de suas obras um diálogo entre a tradição cristã e a realidade na qual a igreja está inserida, e, ao questionar as formas culturais e religiosas, o traço profético do teólogo alemão vem à tona. Como afirma Ribeiro: “Tillich, como os profetas, elaborava suas críticas a partir de dentro da própria tradição e não como se tivesse em posição de fora, neutra ou ao lado dela.”. Embora o aspecto ético do profetismo bíblico seja facilmente perceptível na teologia tillichiana, e possa ao primeiro olhar parecer mostrar-se como único viés, o elemento extático da profecia não foi de modo algum negligenciado por Tillich. Não apenas em sua celebre obra: “Teologia Sistemática”, na qual ele dedica um capítulo

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‘a manifestação da presença espiritual no espírito humano’, como também em outras obras como: “Dinâmica da Fé”, “A era protestante”, o conceito “êxtase” é por Tillich tratado.Objetivo: Este trabalho pretende comparar o conceito de êxtase presente nas obras acima citadas, com a concepção de êxtase do profetismo extático do antigo Israel a partir dos textos veterotestamentários. Metodologia: Para a realização do presente trabalho a metodologia utilizada será de cunho bibliográfico, utilizando principalmente as obras do teólogo Paul Tillich já referenciadas acima entre outras. Para abordar o “êxtase” no movimento profético será utilizado além de bibliografia especializadas, a obra de José Luis Sicre referenciada na bibliografia. Serão também utilizado textos bíblicos a partir da tradução em português da Bíblia de Jerusalém. Resultado: O trabalho apontará não apenas para clara aproximação entre a teologia tillichiana e o movimento profético, mostrará que o conceito “êxtase” bem como a interpretação do fenômeno extático do profetismo veterotestamentário foi ressignificado por Tillich. Conclusão: A comparação entre a percepção tillchiana do “êxtase” e o uso que os profetas extáticos fazem do fenômeno traz em si uma nova possibilidade de leitura deste teólogo, o que certamente trará aos pesquisadores e pesquisadoras um nova fronteira a ser explorada. Palavras-chave: Paul Tillich; Profetismo; Êxtase. PROTESTANTISMO REFORMADO: UM ESBOÇO DA ARQUITETURA SIMBÓLICA DE DUAS IGREJAS PRESBITERIANAS EM BRASÍLIA-DF André Tadeu de Oliveira – Mestrando – UEPA Kellen Borges – Mestranda – UEPA Resumo: O protestantismo não pode ser considerado um fenômeno monolítico. A despeito das similaridades entre as diversas correntes, diferenças peculiares podem ser notadas em pontos dogmáticos, práticos e litúrgicos. O mesmo ocorre à na arquitetura e no uso de elementos artísticos, principalmente vinculados às artes visuais. Originalmente há uma divergência no uso da arte entre anglicanos, luteranos e reformados – alguns dos grupos que compõem o protestantismo. O protestantismo reformado, em seu anseio por produzir austeridade tendo como base um biblicismo, ponderou a diversidade artística em seus templos. O simbolismo artístico cristão fora reduzido acentuadamente. Não obstante, o elemento simbólico de seus templos não se perdeu, mas fora interpretado de outra maneira. A partir dessas breves considerações, o foco de nosso estudo será direcionado à tradição reformada, – doravante conhecida como calvinista. Sendo assim está pesquisa é de base bibliográfica e de cunho hermenêutico, com as seguintes pretensões: refletir o símbolo religioso presente na composição arquitetônica de duas igrejas Reformas que estão localizadas em Brasília-DF: Igreja Presbiteriana Independente Central e Igreja Presbiteriana Unida; e apresentar e interpretar através das imagens dessas Igrejas. Como referenciais teóricos para nossas ambições de estudo utilizaremos: Paul Tillich e José Croatto como base para a explicitação do conceito de símbolo no

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universo religioso; Edin Sued, Daniel Cottin, Laurent Gagnebin, Frank Muller fornecerão as bases a respeito da arquitetura protestante. Palavras-chave: Arquitetura; Símbolo; Protestantes. CONSEQUÊNCIAS DO NOMINALISMO NA TEOLOGIA PROTESTANTE – A CRÍTICA TILLICHIANA Carlos Eduardo Calvani – Doutor – UFS Resumo: No final do período medieval o nominalismo de Ockham provocou a chamada “crise dos universais” com grandes repercussões na ciência e na teologia. O universo, antes visto como estático e harmonioso passou a ser compreendido como desordenado e caótico, exigindo uma ciência capaz de constranger e dominar a natureza. Na teologia protestante emergiu um conceito personalista de Deus, conhecido na subjetividade da “consciência”. Essa mediação deu pouco valor aos elementos vitais e místicos do ser humano em benefício do cogito e da razão. Consequentemente, o período da ortodoxia protestante se caracterizou por um dogmatismo racionalista sem o amparo da experiência religiosa. As sequelas se manifestam até hoje na pobreza litúrgica do protestantismo, na desvalorização da natureza e das artes visuais, na predisposição a uma teologia sacramental fundamentada mais na memória e na consciência subjetiva que em uma relação participativa com os elementos – pão e vinho – que, através da identidade entre natureza e cultura, veiculam o sacramento, e, por fim, na neortodoxia ou no fundamentalismo. O objetivo da presente comunicação é apontar que, para Tillich, todas essas características decorrem do nominalismo, criticado também por favorecer uma ciência fragmentada e uma ontologia da morte. Elementos dessa crítica estão presentes em Tillich desde a obra Sistemática das Ciências (1923) até seus últimos textos, nos quais lança o conceito de “Religião do Espírito Concreto”. A metodologia fundamenta-se na pesquisa bibliográfica e na análise interpretativa, indicando que a crítica tillichiana ao nominalismo não representa mero saudosismo do Realismo clássico, mas em superação de ambos através do que ele denominou “Realismo místico, concreto ou autotranscendente”, que representaria a possibilidade de uma mística protestante unitiva. A comunicação conclui pela necessidade de melhor compreender as consequências do nominalismo na ciência, na epistemologia e na religiosidade modernas, ao mesmo tempo em que pergunta se há sinais de uma mística protestante no presente momento. Palavras-chave: Nominalismo; Realismo; Mística; Teologia protestante; Tillich. TEOLOGIA COMO CIÊNCIA NORMATIVA DA RELIGIÃO Cleber Baleeiro – Doutorando – UMESP

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Resumo: No escopo de pensar o lugar da teologia entre as ciências modernas, nos anos 20, Paul Tillich desenvolveu um sistema das ciências no qual a teologia seria parte de uma ciência da religião. Essa ciência da religião seria constituída, além da teologia, da filosofia da religião e da história cultural da religião. Caberia à teologia tanto a sistematização do material fornecido pela filosofia da religião – análise da essência da religião, e de sua relação com os elementos ontológicos – e pela história cultural da religião – a interpretação do conteúdo próprio do desenvolvimento das religiões concretas; como a normatividade em relação ao tema, ou seja, os critérios e princípios relativos à interpretação da religião como um todo. De maneira pontual, nosso objetivo com essa comunicação é refletir sobre a compreensão de Tillich sobre a teologia como ciência normativa da religião, considerando seu lugar no sistema das ciências, sua relação com a Filosofia da religião e com a história cultural da religião e a ideia de normatividade. Essa reflexão será feita a partir de textos da juventude de Tillich, sobretudo, a Filosofia da religião. Diante disso, elencamos ter perguntas que nortearão nossa comunicação: a primeira é: Qual a necessidade de se criar um sistema? – para respondê-la precisaremos responder também o que é esse sistema; a segunda é: Qual o lugar da teologia nesse sistema? – para isso precisaremos pensar também sobre como a teologia se relaciona com a filosofia da religião e a história cultural da religião; e a terceira: O que significa uma ciência normativa? – quando procuraremos identificar aquilo que é próprio da teologia. Palavras-chave: Paul Tillich; Teologia; Filosofia da religião. MITO E POESIA A PARTIR DE TILLICH E HEIDEGGER. Danjone Regina Meira – Doutoranda – USP Resumo: Esta pesquisa busca apresentar a interface: mito e “Poesia” em sua relação fundamental com a situação humana, a partir do pensamento de Paul Tillich e Martin Heidegger. Para tanto, propomos um diálogo entre a teologia da cultura de Tillich (1886-1965) e a filosofia de Heidegger (1889-1976). Enfatizamos, especialmente, as obras “Teologia Sistemática”, “Dinâmica da Fé” e “Teologia da cultura” de Tillich. Assim como, as obras “Ser e Tempo”, “Hölderlin e a essência da poesia”, “A coisa” e “Poeticamente o homem habita” de Heidegger. Instauramos nesta pesquisa, uma análise do problema da existência humana e sua relação primordial com a questão da linguagem. Nessa perspectiva, se destacam a interface: mito, religião e linguagem na filosofia de Tillich. Bem como, se enfatizam a relação mito, “Poesia” e homem no pensamento de Heidegger. Nesse sentido, ressaltamos que a questão da existência e da linguagem são relevantes tanto para a ontologia de Tillich quanto para a ontologia de Heidegger. O mito se expõe em sua relação fundamental com a religião, a cultura e a linguagem. A partir disso, instauramos a seguinte pergunta: qual o sentido do mito e da “Poesia” no horizonte da situação humana? Relacionado à isso, também perguntamos: há no mito a presença de uma

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preocupação última da existência? Em face dessas questões, consideramos relevante desenvolvermos um diálogo entre o pensamento de Tillich e Heidegger. Palavras-chave: Tillich; Heidegger; Mito; Linguagem; Religião. FILOSOFIA DA RELIGIÃO, RELIGIÃO E CULTURA EM PAUL TILLICH Deborah Vogelsanger Guimarães – Doutoranda – UFJF Resumo: Ao considerar a religião como um aspecto do espírito humano e não uma função especial dele, Paul Tillich inicia seu livro Theology of culture afirmando o caráter fenomenológico da religião. Para ele, a cultura é ‘a determinação fundamental e a substância da vida espiritual’ pois ‘revela a profundidade da vida espiritual, encoberta, em geral, pela poeira de nossa vida cotidiana’. Tillich define cultura desta forma por entender que ela manifesta, através da linguagem enquanto expressão simbólica, a vida espiritual humana; que o espírito humano concretiza na criação cultural religiosa - porque símbolo e ação da profundidade dela, sua Preocupação Última. Assim, ‘religião é a substância da cultura e a cultura é a forma da religião’ que se manifesta ‘nas criações básicas de todas as culturas. Entretanto, a ideia dessa relação onde a religião é a substância da cultura e a cultura é a forma da religião como aparece em Theology of culture, fazia parte de seus pensamentos e indagações de modo permanente pelo que ele nos diz na pequena introdução que faz em 1959 ao livro: ‘na maioria de meus escritos, incluindo os dois volumes da Teologia Sistemática, tento definir o modo pelo qual o Cristianismo está relacionado com a cultura secular’. O tema aparece ainda antes disto, já na apresentação que faz em Berlin para a Sociedade Kant com a palestra de título: Sobre a ideia de teologia da cultura. Podemos ainda contar com o aparecimento do tema nas Evangelisches Verlagswerk. O que se pretende apresentar nesta comunicação é o percurso feito por ele desde The Philosophy of religion até On the idea of a Theology of culture como publicado por Hannah Tillich em 1969 sob título What is religion? em seus pontos principais, não de maneira exaustiva. Acredito que refazer esse percurso seja fundamental para entender fenomenologicamente a religião, mas não só isso. O entendimento ontológico desta relação também é importante e está marcadamente presente no modo como Tillich trata o assunto. O aspecto mais importante desta reflexão é exatamente a basilar e fundamental relação entre religião e cultura, algo que se impõe a nós hoje tanto quanto se impôs à Tillich em seu tempo e que é, a seu modo uma relação ontológica. Palavras-chave: Filosofia da religião; Religião; Cultura; Paul Tillich; Ontologia; Fenomenologia.

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PAUL TILLICH E A REFORMA Eduardo Gross – Doutor – UFJF Resumo: Paul Tillich é um pensador moderno, devotado a uma reflexão teológica que seja adequada às perspectivas fundamentais da contemporaneidade e que consiga ser significativa neste contexto. Desta forma, trata-se de um autor que não se considera refém do passado no que diz respeito a suas formulações teológicas. Por outro lado, também se trata de um pensador que se reconhece herdeiro de tradições, seja no âmbito filosófico, seja no religioso. O objetivo desta comunicação é apresentar traços fundamentais da relação de pertença e de contextualização de Paul Tillich com a tradição fundadora do movimento protestante. A partir de alguns temas centrais de seu pensamento, que são tomados como exemplos paradigmáticos, se manifesta como o método tillichiano permite um reconhecimento da atualidade de certos princípios fundamentais do movimento reformatório, sem que isso signifique uma concessão a posturas dogmatizantes. Evidentemente, seriam inúmeros os temas em que isso poderia ser demonstrado, como por exemplo nos conceitos de graça, fé, justificação, alienação, novo ser, símbolo, Escritura, por exemplo. Mas cada um deles revelaria uma densidade profunda demais para permitir uma abordagem que precisa se restringir a uma comunicação num evento. Assim, será apresentado apenas um destes temas que será considerado representativo para a ilustração do processo re-interpretativo proposto por Tillich, de forma a abordar a relação de pertencimento à tradição reformatória que se expressa e a dinâmica de contextualização realizada por Tillich. Com isso, ficará manifesta a dupla relação de uma afirmação crítica da tradição passada em seu pensamento teológico, em que não se aceita uma mera reprodução de concepções alheias à realidade presente, mas em que também não se apaga artificialmente os laços da contemporaneidade com a tradição anterior em nome de uma reflexão puramente contextual. O PROTESTANTISMO NO BRASIL ENTRE O CONSERVADORISMO E A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: REFLEXÃO A PARTIR DE PAUL TILLICH Etienne Alfred Higuet – Doutor – UEPA Resumo: Na introdução, pretendo precisar o uso dos conceitos de protestantismo e de socialismo. Numa primeira parte, será investigada, a partir dos escritos tillichianos sobre o socialismo, a possibilidade da passagem da Reforma à Revolução, ou mais precisamente do protestantismo ao socialismo. Tillich assinalava a facilidade relativa do caminho do calvinismo ao socialismo e a dificuldade, a quase impossibilidade de passar do luteranismo ao socialismo: no fim da Grande Guerra (1914-1918), havia um abismo entre as igrejas luteranas e o proletariado, entre a mensagem transcendente do cristianismo tradicional e as esperas imanentes dos movimentos revolucionários. Com os socialistas religiosos, Tillich procurou os meios de superar essa distância e, para isso, desenvolveu os conceitos de utopia, kairós, demônico,

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princípio protestante ou profético e estruturação protestante (protestantische Gestaltung) entre outros. Já na época de Lutero, os Schwärmer ou entusiastas queriam transformar a sociedade, alguns de modo violento, outros de modo pacífico. Tillich reencontra a sua herança nos «protestantes da América, cuja forma de cristianismo não procede diretamente da Reforma, mas constitui um efeito indireto dela através do radicalismo evangélico» (História do pensamento cristã). O protestantismo brasileiro é herdeiro, na sua imensa maioria, das missões organizadas pelo radicalismo evangélico norte-americano (metodismo, presbiterianismo, batismo, adventismo, pentecostalismo) e recebeu dele a tensão entre o abstencionismo político e a preocupação pela transformação social. Será o objeto da segunda parte da comunicação. De fato, no Brasil de hoje, uma grande parte do protestantismo aparece como o sustento das forças mais conservadoras. Por outro lado, algumas correntes protestantes estiveram, já nos anos sessenta do século passado, na vanguarda da teologia da libertação. Foi o caso do movimento “Igreja e sociedade na América latina » (ISAL) e da « Confederação evangélica do Brasil”, que organizou a « Conferência do Nordeste ». Entre os teólogos, brasileiros ou estrangeiros morando no Brasil, precisamos mencionar Rubem Alves, Júlio de Santa ana, Walter Altmann e, sobretudo, Richard Shaull, do qual descreverei mais particularmente o pensamento e a ação, voltando a considerar, na conclusão, a sua proximidade com Tillich. O trabalho será uma maneira de comemorar, junto com Tillich, os quinhentos anos da Reforma. Palavras-chave: Paul Tillich; Protestantismo; Socialismo; Brasil. PAUL TILLICH, O LOGOS E O MÉTODO DA CORRELAÇÃO Gabriel Pilon Galvani – Bacharel – UNASP Resumo: A questão do relacionamento entre a religião e a cultura é antiga. No contexto da teologia na modernidade, Paul Tillich se preocupou em falar de religião de uma forma culturalmente compreensível e relevante para o homem moderno. Valendo-se do Método da Correlação e da Teologia da Cultura ele buscou dialogar com as várias expressões culturais de seus dias, trazendo uma resposta religiosa à situação humana. Em sua Teologia Sistemática, Tillich apropria-se do logos, um antigo conceito cristão também utilizado pelos apologistas da igreja primitiva. Assim como para eles, este conceito tem parte importante em seu sistema dialogal, principalmente no que tange à compreensão da manifestação geral e especial de Deus no mundo. Ciente da importância deste conceito na aplicação do Método da Correlação, a presente proposta de trabalho se ocupa em discorrer como Tillich aborda o conceito do logos em sua Teologia Sistemática, e também de que forma este conceito o permite lidar com outras religiões e a filosofia. O método empregado neste estudo é o de revisão bibliográfica, tendo como escopo de análise a obra Teologia Sistemática de Paul Tillich. Sucintamente mencionando, o logos é assumido por Tillich de maneira ontológica e cristológica. Na primeira, ele sugere que este

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princípio é tanto a estrutura do ser como a da realidade, que está essencialmente presente na natureza e no homem, permitindo uma interação racional deste com o mundo. De outro modo, o logos se tornou carne em Cristo. Neste sentido, Ele é o princípio da auto-revelação universal divina, a estrutura imanente que se manifestou de modo pessoal e especial no tempo e espaço. Adotando o logos dessas duas perspectivas, Tillich consegue lidar com religiões não cristãs e também com a filosofia. No âmbito inter-religioso o logos é tido por ele como a substância, o conteúdo da preocupação última que, culturalmente falando, é manifesto de diferentes formas em religiões não-cristãs. Cristo, como a revelação especial histórica do logos, segundo afirma, traz a solução para o problema existencial do ser (a preocupação última) através do Novo ser e, por isso, é a resposta para o anseio de todo ser humano fora da fronteira cristã. Já no trato com a filosofia, o logos como a estrutura da realidade, objeto de estudo da filosofia, é para Tillich, em última instância, compatível com a manifestação do Logos encarnado. Deste modo a teologia não possui uma verdade distinta da filosófica. Antes, concorda com ela, o que possibilita uma interação próxima não conflituosa de ambas. Em suma, o logos é o elemento imprescindível para o Método da Correlação de Paul Tillich, visto que, funcionando como ponte de relacionamento e diálogo, permite interagir a sua teologia com diferentes manifestações culturais Palavras-chave: Paul Tillich; Logos; Diálogo Inter-religioso; Filosofia e Teologia. PARADOXO E CORRELAÇÃO EM PAUL TILLICH Joe Marçal G. Santos – Doutor – UFS Resumo: Na tradição teológica luterana, a qual pertence Paul Tillich, o paradoxo cristológico expresso na teologia crucis tem um papel determinante. A definição deste papel, em termos modernos, é epistemológica: do paradoxo cristológico decorre uma série de relações que caracterizam, em Lutero, a compreensão de teologia e sua tarefa eminentemente hermenêutica. A partir do “solus Christus”, a relação entre juízo e graça, lei e evangelho, letra e espírito são todas marcadas pelo paradoxo da cruz de Cristo, de modo que distingui-las sem separa-las, segundo Lutero, define a boa teologia. De que consiste o paradoxo cristológico em Lutero, é fundamentalmente a superação do Deus absconditus pelo Deus revelatus por uma via negativa, que implica na simultaneidade redutiva e redentiva do ser humano (justus et peccator). Uma antropologia decorre correlativamente a tal teologia: em Cristo, todo o juízo de Deus ao ser humano e à criação se revela radicalmente e, ao mesmo tempo, se mostra radicalmente toda a sua graça; a cruz arranca o ser humano de si mesmo e o lança na total confiança em Deus (fé) para, a partir daí, desempenhar sua humanidade (amor). A questão que nos propomos a desenvolver é se Paul Tillich herda essas referências para desenvolver sua teologia, profundamente marcada pela superação de rupturas e busca de sínteses entre cultura e religião. Em Teologia sistemática, para atender a demanda que o motiva, Tillich define a tarefa

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hermenêutica da teologia com a noção de “correlação”, tomando-a como método que estrutura a sistematização teológica. Basicamente, a correlação se dá entre perguntas de uma “situação cultural” e respostas da “mensagem cristã”. O conteúdo desta última consiste ele mesmo de correlações realizadas em “situações” passadas. Por ser produção hermenêutica na história, a teologia exige interpretação e interpelação histórica em quaisquer situações. Nesses termos, aparentemente o que a correlação tillichiana demanda à teologia é, antes de tudo, um exercício semiótico. A questão é como e se o conceito de paradoxo, definido nos termos luteranos, se faz presente em tal definição da tarefa hermenêutica da teologia. Para desenvolver essa questão, vamos identificar e analisar os conceitos implicados na Teologia sistemática – acerca do paradoxo e sua relação com a noção de correlação – recorrendo a obras auxiliares e procurando delinear a relação que estes conceitos constroem entre si, explicita e implicitamente. Nas conclusões, destacaremos que, a despeito de certo desvio estilístico em relação à linguagem luterana tradicional, a compreensão tillichiana de teologia é fundamentalmente devedora a Lutero, consistindo ela mesma numa “correlação” entre este e a contemporaneidade. Palavras-chave: Paradoxo cristológico; Correlação; Teologia; Lutero; Paul Tillich. RAZÃO E REVELAÇÃO EM PAUL TILLICH: UMA ABORDAGEM DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA Luciana dos Santos Bomfim – Mestranda – UFS Resumo: A teologia sistemática, ao desenvolver o conceito de revelação, deve dar atenção especial à função cognitiva da razão ontológica, pois a revelação é a manifestação do fundamento do ser para o conhecimento humano (TILLICH, 2005, p.107). À medida que compreendemos as vias limítrofes do conhecimento, visto que, o ser humano não consegue viver em perfeita harmonia com a razão, Paul Tillich nos apresenta os conflitos decorrentes da essência e existência humana e os correlaciona com as respostas dadas pela teologia, levando-nos à pergunta pela revelação, que é a fonte última dos conteúdos da fé cristã (Idem, p. 81). Fundamentando-se no primeiro volume da Teologia Sistemática (2005), tem-se como objetivo desse artigo, percorrer as análises de Paul Tillich em torno do estudo da razão para, através desse caminho, se chegar ao fenômeno da revelação. No intuito de alcançar o proposto, será discutida, inicialmente, a racionalidade presente nesta teologia, seus princípios e a sua estrutura, buscando os meios que a configuram como um aspecto humano que por ser insuficiente, busca por ‘algo mais’, pois, a razão não se opõe à revelação. Ela a requer, pois a revelação significa a reintegração da razão (Ibidem). Desta feita, conclui-se que a razão dá forma à teologia na medida que origina a pergunta pela revelação, e esta, por sua vez, apresenta-se como ponte de diálogo entre a religião e outros temas, conferindo a primeira a sua característica interdisciplinar, que faz da teologia sistemática de Paul Tillich, um discurso que tenta dar-nos uma interpretação da mensagem cristã que seja relevante para a situação atual (Idem, p. 67).

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Palavras-chave: Paul Tillich; Razão; Revelação; Fé; Teologia Sistemática. O INCONDICIONAL TILLICHIANO PRESENTE NO CINEMA: BREVE ANÁLISE DO FILME “CHATÔ, O REI DO BRASIL” Mayara Carvalho Santiago – Mestranda – UEPA Resumo: Nesta comunicação pretende-se apresentar breve análise do filme “Chatô, o rei do Brasil” dirigido por Guilherme Fontes, a partir das concepções de Paul Tillich acerca de religião e cultura. Pretende-se explorar a relação entre cultura visual e religião que pode ser percebida no longa-metragem em questão. Este possui como protagonista uma importante figura da história brasileira, bem como a sua interação com outros personagens igualmente importantes, como Getúlio Vargas. Chateaubriand se encontra no “julgamento do século”, onde familiares e desafetos participam do julgamento de sua vida, quando o protagonista se percebe frente sua própria morte. O julgamento de uma vida no momento de sua morte traz à tona questões morais e existenciais que podem ser alavancadas pelos espectadores. O que importa para Tillich é a dimensão humana existencial profunda e isto pode ser percebido em filmes como o de Guilherme Fontes, onde a existência humana e as relações sociais existentes são retratadas. Palavras-chave: Chateaubriand; Paul Tillich; Religião; Incondicional. FÉ COMO POSSÍVEL RESPOSTA PARA O CEPTICISMO EM TEMPOS DE INTERREGNO: APROXIMAÇÕES ENTRE BAUMAN E TILLICH Paulo César Pereira da Silva – Mestre – UMESP Resumo: Esse trabalho tem por objetivo, empreender um diálogo por meio da pesquisa bibliográfica entre dois pensadores, Zygmunt Bauman e Paul Tillich. O primeiro sociólogo, o segundo, teólogo e filósofo existencialista. Embora suas pesquisas seguissem em diferentes perspectivas, eles compartilham um interesse comum: eles observam de pontos distintos as relações preestabelecidas coletivamente, seus impactos, durações e consequências, a curto e a médio prazo. Bauman no seu fazer sociológico, suscita diversos problemas de ordem social já existentes. Para ele as relações sociais estabelecidas na pós-modernidade foram fragilizadas e o futuro nos reserva apenas (a curto e médio prazo), incerteza, insegurança e medo, impulsionando para uma descrença congênita, e nesta perspectiva instaura-se o cepticismo. Já Paul Tillich olha para sociedade por outra perspectiva. Ele não só levanta questões como Bauman, mas percebe-se em meio a uma realidade permeada por perguntas sem respostas, contudo busca dar respostas por meio de fatores expoentes que consequentemente não podem ser deixados a

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esmo. No seu trabalho teológico e filosófico Tillich está, em sua maior parte, dialogando diretamente com as demandas existentes na sociedade de sua época, como base para tal, seus interesses estão intrinsicamente ligados há duas vertentes: teologia, e, filosofia existencial, isto faz com que o autor tenha grande envergadura acadêmica e um pensar além do seu tempo. Contudo, diante das circunstâncias de sua época Tillich observa que o ser humano tem preocupações espirituais, sendo elas estéticas, sociais, políticas e cognitivas, ele ainda vai dizer que algumas preocupações são extremamente urgente, e para achar respostas para essas implicações é necessário dedicação total para responder as necessidades das preocupações supremas, e como resposta a tal preocupações Tillich apresenta a fé. Isto posto, acreditamos que a fé proposta por Tillich pode ser resposta para o cepticismo apresentado por Bauman, pois os desafios continuam na atualidade. Assim, mesmo que Bauman e Tillich dialoguem com contextos diferentes em épocas distintas, é possível e desejável estabelecer um diálogo pois os pensamentos dos dois giram ao redor da análise e do entendimento das dinâmicas da sociedade e do ser humano como agente responsável nela. Palavras-chave: Interregno; Sociedade; Cepticismo; Fé. APROXIMAÇÕES ENTRE KANT E HUSSERL EM TORNO DO MÉTODO CRÍTICO-INTUITIVO DE PAUL TILLICH Thiago Rafael Englert Kelm – Mestre – UMESP Resumo: A presente pesquisa tem por objetivo analisar as aproximações entre Kant e Husserl em torno do método crítico-intuitivo desenvolvido por Tillich entre os anos de 1920 e 1922. Durante o período que vai do fim da Primeira Guerra Mundial até os últimos anos da década de vinte, Tillich assume uma postura revisionista em relação ao seu período inicial e estabelece importantes diálogos com a fenomenologia de Edmund Husserl e a escola kantiana. Estes diálogos se tornam evidentes no desenvolvimento do método crítico-intuitivo apresentado por Tillich no curso sobre Filosofia da Religião de 1920 e no texto “A superação do conceito de Religião na Filosofia da Religião” de 1922. De acordo com o teólogo, este método consiste na união do elemento intuitivo oriundo da fenomenologia de Husserl com o elemento crítico oriundo da escola kantiana e neo-kantiana. Ele, o método crítico-intuitivo, parte da convicção de que nem o método crítico e nem o intuitivo, por si mesmos, são capazes de resolver o problema central da filosofia da religião e portanto, também da filosofia da cultura – ou seja, a pergunta sobre o sentido último da realidade de cada coisa concreta. O método crítico é incapaz de ir além das formas, e ao considerar o problema da realidade, este método se perde na própria realidade e, portanto, é incapaz de alcançar a essência da coisa. Por outro lado, o método intuitivo ou fenomenológico por sua intuição imediata do que existe acaba perdendo de vista o problema da realidade, isto é, não consegue dar conta das formas da existência. A proposta de Tillich é de manter o mais próximo possível o momento

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intuitivo do crítico de tal modo que seja possível evitar conduzir a religião para um reino das puras formas ou da pura essência. A tensão entre estes dois polos deve ser mantida, pois ali onde a crítica estabelece seus conceitos limites e testemunha suas próprias limitações, a intuição percebe o incondicionalmente real que constitui a raiz da realidade e a partir do qual toda crítica vive. Dessa forma, a partir da união entre Kant e Husserl, Tillich consegue alcançar a meta que estava procurando, isto é, lançar as bases metodológica para compreender a religião como a intuição do mistério que se apresenta a consciência em sua intencionalidade dirigida ao sentido incondicional. A religião ficaria assim, como declarou o próprio teólogo, criticamente justificada e fundamentada. Palavras-chave: Intuição; Crítica; Intencionalidade; Sentido. NAS FRONTEIRAS DA VIDA: A VIDA DE PAUL TILLICH E SEU CARÁTER FRONTEIRIÇO

Victor Santos – Mestre – PUC Rio Resumo: Para traduzir seu próprio modo de pensar, Tillich escolheu adjetivar seu pensamento como um que está sempre situado “na fronteira”. Por isso do título de uma de suas autobiografias ser On the Boundary: an autobiographical sketch (Na Fronteira: uma autobiografia esquemática), escrita em 1936, em ocasião de seu quinquagésimo aniversário, quando já residia nos Estados Unidos. Com o termo “na fronteira”, Tillich não queria apenas fazer menção ao fato de três anos antes, 1933, ter sido quase que obrigado a emigrar da Alemanha, seu país de origem, para os EUA, para fugir da perseguição nazista, mas queria expressar o quanto em sua vida se viu tendo de viver em meio a diversas realidades que, dividindo o mesmo espaço e tempo, criavam entre si fortes tensões por conviverem em constantes divergências. Estas situações, nas quais Tillich constantemente se via, eram, sem dúvidas, ocasiões que aguçavam fertilmente suas reflexões, contribuindo profundamente para o nascimento e a construção de todo seu edifício teológico. Ao longo de sua vida, Paul Tillich se flagra por várias vezes como alguém situado nas fronteiras de diversos comportamentos culturais, posicionamentos teológicos e filosóficos, posicionamentos políticos, tradições religiosas, realidades sociais, situações existenciais. É por conta desta pluralidade proporcionada pela vida que a teologia tillichiana também se construirá como uma construção sempre plural, dialógica, transdisciplinar. A vida de Tillich é uma bela introdução ao seu pensamento. Por isso, falar de sua vida já é entender, ao menos basicamente, sua forma de pensar.

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ST 01 – RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E CONTEMPORANEIDADE

Dra. Dilaine Soares Sampaio (UFPB) [Coordenadora] Dra. Sônia Regina Corrêa Lages (UFJF) Dra. Zuleica Dantas Pereira Campos (UNICAP) Ementa: Esta Sessão Temática propõe estabelecer um espaço de diálogo, análise e reflexão sobre as diversas percepções e abordagens das Religiões afro-brasileiras. Nosso objetivo é discutir os diversos contextos sócio-histórico e cultural em que as religiões de matriz africana se construíram e se reinventaram no Brasil. Pretendemos dialogar também com suas várias modalidades construídas em interface com outras religiões que influenciaram na formação do imaginário cultural e religioso do país. Pretendemos também discutir os modos como essas religiões se apresentam na contemporaneidade, refletindo as continuidades, as transformações, as relações com o espaço público, seus processos de reinvenção, transnacionalização e interlocução com outras religiões e espiritualidades que compõem as denominadas novas expressões religiosas. Nesse âmbito, as investigações que tratam a dimensão simbólica, ritual e mitológica se mostram também importantes. Serão bem vindas ainda pesquisas que recuperem a dimensão histórica dessas religiões, trazendo à tona a questão da memória, das identidades, das territorialidades (re)contruídas na atualidade. RETERRITORIALIZAÇÃO: DESAFIOS E ESTRATÉGIAS ADAPTATIVAS EM COMUNIDADES DE TERREIRO DE BELO HORIZONTE E REGIÃO METROPOLITANA Alexandre Frank Silva kaitel – Doutorando – PUC Minas Guaraci Maximiniano dos Santos – Mestra – PUC Minas Resumo: Esta comunicação visa apresentar uma proposta compreensiva acerca da mudança de endereço de centros/casas/terreiros em momentos de urbanização da periferia, a partir da percepção do momento vivido pelas comunidades religiosas de terreiro na cidade de Belo Horizonte e região metropolitana. A análise bibliográfica e a observação direta foram as metodologias utilizadas na coleta de dados. A urbanização das periferias e sua integração ao centro pressionam os centros/casas/terreiros a se mudarem para locais ainda mais periféricos. Esta mudança, historicamente repetida como estratégia adaptativa, traz desafios às comunidades religiosas de terreiro e a seus membros. Pressões para essa mudança acontecem tanto pela via financeira quanto pela via do preconceito religioso. Os

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impactos negativos relatados apontam que as práticas de subsistência do centro/casa/ terreiro, a coleta e entrega de elementos sagrados para os rituais, são dificultadas. Quando a pressão ocorre pelas expressões de preconceitos religiosos, a subjetividade dos adeptos, que se percebem desvalorizados por outros atores sociais, também pode ser afetada negativamente. Consideramos, com inspiração fenomenológica, que o ser humano possui corporeidade, psiquismo e espírito (vida intelectual e voluntária). Esses três aspectos se articulam de maneira parcialmente determinada pelos grupos de pertencimento e pela cultura. Existindo abertos para o exterior, os seres humanos estão expostos a mudanças ambientais, que reverberam no seu funcionamento interno. Os fenômenos humanos podem ser experienciados pelas vias noética e hilética. A noética diz dos entendimentos, significados e sentidos atribuídos às vivências. A hilética diz das sensações corporais, dos afetos, dos sentimentos. A reterritorialização da casa/centro/ terreiro afeta tanto a face hilética quanto a face noética dos fenômenos vivenciados pelos membros da religião. As casas/centros/terreiros que melhor conseguem se contrapor a essas pressões e se manter nos locais originais de culto são as que possuem maior potencial econômico e/ou conseguem se articular melhor politicamente. A existência de políticas públicas voltadas às religiões de terreiro também é fator fundamental para aumentar a possibilidade de resistência à pressão pelas mudanças de locais de culto. Entendemos que a experiência local pode favorecer a compreensão do que ocorre em outras cidades onde a reocupação do território aconteça de forma semelhante. Palavras-chave: Religiosidade; Matriz Africana; Contexto Urbano; Reterritorialização. UMBANDA: ENTRE SINCRETISMO(S) E SÍNTESE(S) Ana Carolina Gomes – Mestranda – PUC Minas/FAPEMIG Resumo: Falar sobre a formação do povo brasileiro é tentar percorrer os mesmos passos dos povos que desembocaram nesta terra, já habitada. Aos encontros que despertaram interesses mercantilistas, salvacionistas e de laços de parentescos, novas formas de se relacionar com o meio, com a terra, e, principalmente, com o outro, surgiram. Assim como, novas formas de se comunicar e novos corpos e cores. Entre a diversidade de línguas, costumes e religiosidades, o povo brasileiro vem se formando. Entre trocas, empréstimos, apreensões, transfigurações, hibridismos, sincretismos e sínteses, não somente o corpo biológico, mas, o corpo cultural e o religioso apresentam novas formas e contornos. Dentre as diversas formas de se relacionar com o sagrado, institucionalmente, ou não, emergidas destes processos, encontra-se a Umbanda. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo apresentar uma reflexão sobre estes processos em solo brasileiro, tecendo algumas considerações acerca dos entendimentos relacionados ao sincretismo. Desta maneira, partimos da colonização desta terra, pelos portugueses, que proporcionou o contato entre três povos e suas culturas e religiosidades, seja coercitivamente, a

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partir da escravização dos indígenas e africanos, seja fluidicamente, pelo viés da sociabilidade. Neste sentido, estes povos se mesclaram, miscigenaram e formaram o povo brasileiro. O sincretismo, cultural e religioso, ocorrido por séculos, possibilitou a formação deste povo. Assim, a partir desta perspectiva, realizaremos apontamentos que possibilitarão analisar a Umbanda, religião que se identifica brasileira, a partir das religiosidades destes povos matrizes, somados ao espiritismo kardecista, em processos de sincretismo e síntese que a constituem. Através de pesquisas bibliográficas, sob o prisma de autores como Renato Ortiz, Pierre Sanchis e Sérgio Ferretti, dentre outros, busca-se, aqui, elucidar os processos de formação desta religião, no reconhecimento do (s) sincretismo (s) e síntese (s) da e na mesma. Palavras-chave: Umbanda; Sincretismo; Síntese; Religião; Brasil. O RITO DE INICIAÇÃO NO TERREIRO DE CANDOMBLÉ RUNDEMBO GUNZO DI BAMBURUCEMA Ana Patrícia dos Santos – Mestranda – UEPA Vânia Maria Carvalho de Sousa – Mestranda – UEPA Resumo: Introdução: As religiões de matriz africana trazem representações importantes sobre a cultura e sua religiosidade. Dentre esses fenômenos, pode-se destacar os processos de iniciação do candomblé angola, que é um dos aspectos bastante valorizado dentro da religião, pode-se dizer que os processos de iniciação apresentam características importantes na vida dos afrorreligiosos, uma vez que, é um dos fundamentos do candomblé angola Objetivo: documentar, etnografar, o ritual de iniciação na casa Rundembo Gunzo di Bamburucema bem como analisar dos elementos que compõem o processo como alimentos, vestes, musicas, utilização de ervas, os tabus aos quais os iniciados são submetidos. Método: Entrevistas, historia de vida, etnografia. Resultado: No primeiro momento, o filho ou filha de santo recebe algumas orientações do sacerdote ou sacerdotisa, a fim de saber de como ele(a) deve se comportar para o dia da festa passando por vários processos de tratamento espiritual, através de banhos e limpeza do corpo, este é levado para um plano espiritual se preparando para exercer funções importantes na religião. Neste estado de preparação, há uma conexão com a divindade, mudanças de comportamentos influenciados pelo orixá que se instala de forma livremente. Conclusão: É de extrema importância o processo de iniciação, porque a partir daí o iniciado tem a capacidade de abrir seu próprio terreiro e de ter seus filhos de santo, esta experiência fundante no candomblé angola e em outras religiões afro-brasileiras é muito discutido entre a sociedade, trazendo valiosa contribuição de sociólogos, antropólogos, historiadores, entre outros cientistas que adentraram neste campo religioso. No candomblé, independentemente de qual a nação, os ritos de iniciação são muito parecidos. As religiões de matriz africana são constituídas por rituais cheios de significados, como o sacrifício, esse é um dos momentos muito apreciado pelos afrorreligiosos, o simbolismo que gira em torno dos sacrifícios apresenta a

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essência primordial das religiões de matriz africana. Palavras-chave: Rito; Iniciação; Candomblé; Simbolismo. MÃES DE SANTO, TIAS DO SAMBA: A IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA FEMININA NO SAMBA E NAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS Camila Luiza Souza da Silva – Mestranda – UFPB Dilaine Soares Sampaio – Doutora – UFPB Resumo: A emergência do candomblé deu-se quando uma nova ordem econômica e política se instauraram no Brasil. Com a abolição da escravidão em 1888 e a proclamação da República em 1889, o país ainda agrário deveria funcionar sobre as novas leis do capitalismo que emergia. Apesar dos terreiros estarem presentes no Brasil desde o período colonial, tornaram-se nessa fase, um espaço onde negros e pobres em geral reconstruiriam suas heranças e afirmariam sua identidade cultural. Os terreiros de Candomblé terão essa importância também no Rio de Janeiro, na virada do século XIX para o século XX. Tornaram-se mais conhecidos aqueles que foram formados na região do cais do porto, área central da cidade, que após a abolição atrairá diversos trabalhadores negros que chegavam à cidade para ocupar funções de estivadores, catraieiros e arrumadores, migrantes principalmente da região nordeste do país. Em meados do século XIX toda a região dos arredores do Cais do Porto como Gamboa, Saúde e Santo Cristo já era habitada por negros escravizados. No entanto, foram principalmente os negros que migraram da Bahia no período pós-abolição, que vão formar na região da Praça Onze e Morro da Conceição "A Pequena África no Rio de Janeiro". A casa da baiana tia Ciata, iyalorixá iniciada em Salvador, que se localizava nesta região, será um polo central para o entendimento do samba na cidade do Rio de Janeiro. Além dela, havia outras "tias", pessoas também de grande importância para se manter um polo de resistência negra na cidade. Este trabalho irá destacar a importância que essas mulheres, iyalorixás como a tia Ciata e tia Carmen do Xibuca, tiveram para o surgimento do samba como gênero musical nacional, no início do século XX, a partir da chegada deste gênero à rádio, principal meio de comunicação e informação de massa no Rio de Janeiro (capital da República de 1763 a 1960). Usaremos a metodologia qualitativa de pesquisa, através de uma abordagem histórico-antropológica. Com o objetivo de destacar a importância das lideranças femininas tanto para o surgimento do samba como para a sua resistência como gênero musical em um período em que a indústria fonográfica não o via como um bem de mercado. Para isso, estudaremos um pouco a história das tias Ciata e Carmen do Xibuca e a ligação delas com o meio do samba e, como posteriormente, Clementina de Jesus e D. Ivone Lara também foram fundamentais para a preservação do samba nas décadas de 1970 e 1980, indicando-nos que a presença feminina no samba foi primordial para que ele seja o que é hoje, apesar dessa presença ainda ser minimizada em relação aos grandes nomes do samba, que é um meio predominantemente de homens.

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Palavras-chave: Mulheres; Samba; Religiões afro-brasileiras. ENTRE AS RELIGIÕES AFRO O MOVIMENTO NEOPENTECOSTAL: AS NOVAS DIMENSÕES ESCATOLÓGICAS Célio de Pádua – Doutor – PUC Goiás Resumo: Introdução: O atual movimento neopentecostal tem passado por mudanças teológicas que tem alterado substancialmente o seu cerne. Mesmo sendo estabelecido a partir de linhas teológicas Cristãs passa a apresentar a sua essência alterada com dimensões relacionadas a temporalidade aproximadas a uma visão filosófica da religiosidade africana. Objetivo: O presente estudo tem como objetivo reconhecer as novas dimensões escatológicas que emergem dos silogismos comuns entre as religiões afro-brasileiras e o neopentecostalismo. Métodos: Para atingi-lo, utilizou-se dos preceitos apregoados pela fenomenologia e instrumentalmente foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica baseada em estudos, linhas teóricas e conceitos da área. Resultados: Como resultados foi possível: 1) descrever a projeção futura que permeava o pentecostalismo original, seu asceticismo e teocentrismo; 2) mostrar o presenteísmo característico da religiosidade de matrizes africanas bem como seu sistema moral; 3) apresentar as mutações advindas com o neopentecostalismo como: o presenteísmo, o materialismo e o antropocentrismo; 4) relacionar os silogismos observados entre a religiosidade afro-brasileira e o neopentecostalismo tais quais: foco na dimensão presente, sistema moral que contempla trocas entre o divino e devoto e ênfase na dimensão mágica, materialista e imediatista de soluções para problemas humanos. Conclusão: Conclui-se que tais mutações impactam as dimensões escatológicas visto que: enfraquecem conceitos ligados ao fim do mundo e a dicotomia entre bem e mal, promovem uma imagem de Deus distante e inoperante, passa a ter uma religião de natureza mais socialista e filantrópica provocando um distanciamento de uma religiosidade baseada no agir divino. Palavras-chave: Neopentecostalismo; Religiões de matrizes africanas; Tempo; Escatologia. CANDOMBLÉ E XANGÔ, IDENTIDADES JEJE-NAGÔ: UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO ÉTNICA NA ESTRUTURAÇÃO RITUALÍSTICA DA RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA DE MATRIZ IORUBÁ, NO RECIFE E EM SALVADOR Cláudia Lima – Doutoranda – UNICAP Resumo: Este trabalho de pesquisa objetiva verificar as procedências étnicas dos grupos prevalecentes na construção ritualística, no que diz respeito ao processo da

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institucionalização da religião afro-brasileira de matriz iorubá. Ao mesmo tempo dimensionar suas historiografias no continente africano, ensejando que o reconhecimento requer uma colaboração sob o ponto de vista de um 'outro', posto que negros, brancos e índios são categorias coloniais, são criações ou construtos sociais, que depois se materializaram na sociedade. A cidade de Recife e de Salvador, em meados do século XIX, retrata esse cenário na construção identitária dos grupos com origem africana na formação das "nações" ou origens étnicas, mesmo que tenham, perdido aos poucos, a sua significação original, posto ter a elite branca uma clara tendência à homogeneização. Nesse contexto, os africanos e seus descendentes foram desenvolvendo novas formas laços de solidariedade e de identidade coletiva, na medida em que novas circunstâncias se apresentavam. Palavras-chave: África; Religiosidade; Religião africana. ENTRE ADJÁS, BÚZIOS E MARIÔ: A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA SAGRADA DO CANDOMBLÉ, SUA PATRIMONIALIZAÇÃO E IMPLICAÇÕES NO UNIVERSO AFRO-RELIGIOSO Cláudio de Jesus Santos – Mestrando – UFS/CAPES Resumo: Os terreiros de candomblé chegam ao século XXI demarcando o seu espaço na composição do patrimônio cultural brasileiro através da preservação da memória do seu povo e de sua comunidade, trazendo para si uma importância que vai além do culto aos orixás. Partindo desse princípio o presente trabalho tem como objetivo analisar a construção dos bens culturais simbólicos e as estratégias para a legitimação de um “patrimônio sagrado” por parte das comunidades afro-religiosas. Com a finalidade de alcançarmos o objetivo proposto fizemos uso de um lastro teórico metodológico baseado em uma revisão bibliográfica juntamente com análise de laudos antropológicos acerca de tombamentos desses espaços, numa ação interdisciplinar entre Ciências da Religião e outros campos do conhecimento, a fim de sustentar a discussão sugerida. Os resultados do trabalho apontam para a mudança de um “status religioso” no candomblé na contemporaneidade a partir do processo de patrimonialização gerando assim novas formas de organização no universo das religiões de matriz africana. Palavras-chave: Religião; Candomblé; Memória; Patrimonialização. A CONSTITUIÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DAS RELIGIOSIDADES DE MATRIZ AFRICANA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO MUNICÍPIO DE IPORÁ, GO Dioene Elias da Silveira – Graduando – UEG

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Resumo: A proposta dessa comunicação é discutir a consciência histórica a respeito das religiosidades de matriz africana na disciplina de História ofertada pela Educação Básica nas escolas de Iporá, Goiás. Trata-se de uma iniciativa em fase inicial que está vinculada às atividades de Estágio Supervisionado desenvolvidas ao longo de 2017 na Universidade Estadual de Goiás – Câmpus Iporá. Ao problematizar a consciência histórica que contempla as religiosidades de matriz africana, temos em mente que a educação dessa consciência é arranjada, conforme sugere Jorn Rüsen (2010), a partir das demandas e contingências do contexto. Nesse sentido, procuramos discutir a consciência histórica nas escolas-campo considerando, sobretudo, a interface entre a realidade educacional e as dinâmicas sociais e culturais abrangentes que interpelam a escola. Para isso, debruçamo-nos nos sobre os planos anuais da disciplina história dos Colégios; Colégio Estadual Ariston Gomes da Silva, Colégio Estadual Osório Raimundo de Lima e Instituto Federal Goiano-Câmpus Iporá que orientaram as atividades escolares nos anos de 2015 e 2016. Palavras-chave: Consciência Histórica; Ensino de História; Religiões de Matriz Africana; Iporá. AMÉM! E NASCERAM AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS... Jussara Rocha Koury – Mestre – UNICAP Resumo: Nesta comunicação queremos colocar em evidencia o quanto negras e negros africanos e escravizados no Brasil deveriam aprender, com os brancos e em relação aos mesmos, a dizer amém, a dizer “sim, concordamos”, a assumir outra religiosidade estranha às suas, a rezar juntos uma reza decorada, mas não compreendida. Por uma questão de sobrevivência, assim o fizeram. E nesse “amém” coletivo, o recorte sobre dois fenômenos: a perpetuação misturada de suas próprias crenças e o nascedouro de uma nova religião, a afro-brasileira. O continente africano ainda continua sendo um celeiro da multiplicidade de religiões clânicas, de tradição oral, diferentes entre si, portanto, não uniformes, embora exista nos países africanos uma predominância das grandes religiões monoteístas – o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Mesmo assim, o continente africano contém mais de 1.000 grupos étnicos com suas respectivas religiões. Se assim é ainda hoje, com toda a invasão europeia, sobretudo depois da Partilha da África, consolidada na Conferência de Berlim, em 1885, que se constituiu em um dos mais violentos períodos da História Contemporânea e possibilitou a invasão do interior do continente africano por outras culturas, o que necessariamente implica na disseminação mais sistemática e o consequente crescimento de outras denominações religiosas, o que dizer da religiosidade africana no século XVI? Época histórica das Grandes Navegações e também do tráfico de pessoas africanas negras escravizadas para as grandes plantações de cana-de-açúcar no Novo Mundo, foi também a época das primeiras grandes misturas religiosas a partir das várias etnias africanas subjugadas, feitas prisioneiras nos portos de origem, e desumanamente transportadas pelas rotas

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marítimas do Atlântico. No Brasil, nos portos de chegada, a escolha mercadológica e a nova moradia: as senzalas dos engenhos de açúcar a começar pelo Nordeste. Ali, a despeito de todas as formas de negação de suas origens, a imposta convivência de diferentes etnias e, por força, diversas crenças. Fora das senzalas, as capelas que, simbolizando a fé de seus “donos”, deveriam estender sua catequese a todos sem, contudo, mudar a estratificação social existente. Neste celeiro rico e diversificado em credos, ao mesmo tempo pobre em humanidade, firmou-se a capacidade de resistência e de reinvenção da cotidiana relação com o sagrado. Palavras-chave: Religião; Religiões Afro-brasileiras; Catequese; Crenças; Escravizados. COMUNIDADE CHÁCARA DAS ROSAS: RELAÇÕES ENTRE CRENÇAS RELIGOSAS E OS COMPORTAMENTOS SOCIAIS Lilian Ghisso Aristimunho – PUC Goiás – Mestra Resumo: O estudo investiga o comportamento social dos indivíduos do quilombo chácara das Rosas a partir das relações que são empregadas entre as crenças religiosas e comportamentos sociais. A formação das comunidades quilombolas urbanas, é um fato social, pois essas comunidades se desenvolveram junto à sociedade hegemônica e perduram na atualidade como um modelo antigo de formação social, digno de uma análise mais detalhada para uma melhor compreensão do mundo quilombola. O crescimento acelerado das grandes cidades e a rápida circulação das informações e de diversas ideologias atingiu gradativamente os quilombos urbanos. Acarretando mudanças significativas em seu sistema simbólico que alteram seus códigos de conduta. Por acreditar ser importante o contato direto como objeto de estudo vamos a campo. A amostragem é intencional utilizando o critério da livre escolha com base em dois pressupostos para participação: residir no quilombo e ser maior de idade. A análise dos dados coletados através dos questionários com questões abertas e de múltiplas escolhas e entrevistas semiestruturadas serão utilizados conjuntamente com a decisão dos resultados para compor as considerações finais deste trabalho. O estudo centra-se na importância da religião para a comunidade quilombola Chácara das Rosas, a partir do envolvimento dos membros nas distintas manifestações religiosas coexistentes em seu território. Se a apropriação desta ou daquela cosmovisão religiosa define o comportamento social? E qual a incidência de conflitos religiosos dentro da comunidade? Este trabalho parte do pressuposto que a religião é o elemento simbólico que determina o comportamento social no quilombo Chácara das Rosas. Assim sendo, a apropriação de determinada visão de mundo define a realidade, o conceito de indivíduo e consequentemente o comportamento social e influencia todas as demais esferas sociais. A presença de diferentes cosmovisões dentro de um mesmo território desencadeia conflitos religiosos, pois não existe uma hegemonia religiosa capaz de legitimar ao mesmo tempo todas as crenças e valores.

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Palavras chave: Quilombolas; Crenças religiosas; Comportamentos sociais. UMBANDA OU UMBANDA BRANCA? UMA REFLEXÃO SUCINTA ACERCA DE UM MODELO TEÓRICO HEGEMÔNICO Lucas Gonçalves Brito – Doutorando – UFRGS Resumo: Há vários estudos que interpretam a Umbanda como uma religião intimamente ligada à certa visão de mundo, a qual concebe a cultura brasileira como a junção de três povos; os africanos, os indígenas e os europeus. A Umbanda, segundo algumas interpretações, teria “nascido” em 15 de novembro de 1908 e adquirido o epíteto de religião nacional do Brasil através da apropriação dessa cosmovisão por parte de intelectuais umbandistas. Entretanto, há autores que questionam esse modelo interpretativo, afirmando que não há somente uma Umbanda, mas múltiplas umbandas. Além disso, asseveram também que foi a umbanda branca que se institucionalizou no início do século XX. Com o objetivo de refigurar a questão das origens, este texto apresenta os argumentos centrais de pesquisas que têm buscado ferramentas analíticas alternativas à hipótese hegemônica. Através de uma revisão teórica, argumenta-se pela hipótese de que a complexidade das umbandas não pode ser reduzida aos traços característicos de uma de suas formas. Trata-se do argumento de que houve sim uma umbanda branca fundada nos primeiros decênios do século XX, a qual traduziu valores do Estado Novo no quadro de um tipo de “nacionalismo religioso”. Entretanto, essa umbanda branca, a partir da qual se construiu o modelo interpretativo sempre reproduzido, não poderia ser generalizada como se fosse toda “a Umbanda” sem o risco de conduzir as pesquisas a teorias reducionistas. Se haviam ritos denominados umbandistas antes de 1908, o que faremos, pesquisadoras e pesquisadores, com o pressuposto de que há uma “Umbanda” e que ela nasceu no século XX? Este texto, portanto, sugere a necessidade de refletirmos seriamente sobre os pontos levantados pelo questionamento contemporâneo. Apresenta-se, por fim, a hipótese de que a noção de movimento umbandista pode superar o modelo paradigmático. Palavras-chave: Umbanda; Movimento umbandista; Cultura brasileira. “VINHA CAMINHANDO A PÉ, PARA VER SE ENCONTRAVA UMA CIGANA DE FÉ”: OS CIGANOS E O CATIMBÓ DO YLÊ AXÉ NAGÔ ÔXÁGUIÃ (CAICÓ/RN) Lucas Medeiros de Araújo Vale – Mestrando – UFPB Patrícia Lopes Goldfarb – Doutora – UFPB Resumo: Buscamos refletir, através de um ensaio etnográfico, acerca das operações de construções sociais e imagéticas de conhecimento sobre a etnia cigana no culto

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aos espíritos/entidades ciganos(as) da Jurema Sagrada/Catimbó em um “terreiro” que também se denomina como de Candomblé, levando em conta os marcadores de diferença “raça” e “religião”, e a relação simbólica e material entre os espíritos/entidades, que são cultuados neste espaço, e “médiuns juremeiros(as)” de duplo pertencimento religioso. Tomando para a nossa analise os registros do nosso diário de campo, “pontos cantados” – ou “toadas” –, e as transcrições de entrevistas coletadas junto aos juremeiros do Ylê Axé Nagô Ôxáguiã, em Caicó/RN. Com isso, objetivamos compreender de que maneira os religiosos (re)significam culturas e apropriam-se destas em suas práticas sagradas. Palavras-chave: Ciganos; Jurema Sagrada; Candomblé; Religiosidade. É IMPOSSÍVEL FALAR A HOMENS QUE DANÇAM: CONTRIBUIÇÕES DE MARIA ANTONIETA ANTONACCI PARA O ESTUDO DAS MEMÓRIAS-CORPO EM RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E AFRICANAS Marcos Verdugo – Doutorando – PUC SP Resumo: Em “Memórias Ancoradas em Corpos Negros” Maria Antonieta Antonacci adentra novas veredas teóricas, por exemplo, ao trazer a contribuição de Walter Benjamin para os estudos históricos sobre a diáspora, para compreender a relação nem sempre bem estabelecida, ou bem aceita, entre o oral e o escrito; ao reler Benjamin como referencial para a compreensão de memórias negras em diásporas, elabora um método para a leitura daquilo que está escrito não no documento-texto legitimado pela epistemologia hegemônica, mas daquilo que somente é possível ler quando se atenta para “memórias ancoradas” em experiências dos que só têm no corpo e em suas formas de comunicação heranças de seus antepassados e marcas de suas histórias. O conceito de “tradição viva”, buscado a Hampâté Bâ, nos permite perceber ao mesmo tempo a densidade e a plasticidade de culturas da oralidade; a ideia de “crioulização”, desenvolvida pelo poeta martinicano Édouard Glissant, abriu caminho para questionar as falsas facilitações do sincretismo. O resgate do corpo, ou melhor, da memória inscrita no corpo, ou ainda do próprio corpo enquanto memória, constitui o núcleo desta comunicação ao trazer à luz a memória-corpo enquanto revisão da colonialidade na interpretação das religiões afro-brasileiras e nas relações entre Brasil e Áfricas. Palavras-chave: Corpo; Memória; Colonialidade; Religiões afro-brasileiras. PROJETO: FEIRA ÉTNICO-RACIAL: INFLUÊNCIA DAS CULTURAS INDÍGENA E AFRICANA NA FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO Maria Aparecida de Oliveira – Mestra – FACTU

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Resumo: O Projeto Político dos Cursos de Administração, Ciências Contábeis e Pedagogia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Unaí contemplam o estudo e a reflexão sobre as relações étnico-raciais. Parte, desse modo, da seguinte questão: quais as influências que a cultura indígena e africana exerceram na formação do povo brasileiro? Assim, é que este projeto objetiva refletir e apresentar à comunidade da Escola Estadual Delvito Alves da Silva (Unaí - MG), a socialização de conhecimento e, consequente valorização das culturas indígena e africana. Conhecer as culturas dos índios e africanos e sua influência na formação do povo brasileiro se faz necessário, primeiro, para que sejam valorizadas, segundo, para que diminua a discriminação ainda bastante presente no cotidiano das pessoas. A Lei nº 10.639/2003, determina a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" (BRASIL, 2003, p. 1). Carvalho (2015), afirma que os professores devem ressaltar em sala de aula a cultura afro-brasileira como constituinte da sociedade brasileira, onde os negros devem ser considerados como sujeitos históricos, visto que sua cultura (música, culinária, dança e a religião) contribuíram na formação do povo brasileiro. A Resolução nº 1/2004 determina que o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana devem fazer parte dos conteúdos de disciplinas e atividades curriculares dos cursos ministrados nas Instituições de Ensino Superior (BRASIL, 2004, p. 1). Nota-se que ambas as leis referem-se apenas ao estudo sobre a cultura afro-descendente. A obrigatoriedade do estudo da cultura indígena foi possível através da Lei 11.645/2008 (BRASIL, 2008). A África é o continente com mais religiões diferentes de todo o mundo. Com a vinda ao Brasil e a separação das famílias, nações e etnias, essa estrutura se fragmentou. Mas os negros criaram uma unidade e partilharam cultos e conhecimentos diferentes em relação aos segredos rituais de sua religião e cultura. As religiões afro-brasileiras constituem um fenômeno relativamente recente na história religiosa do Brasil. O Candomblé, a mais tradicional e africana dessas religiões, se originou no Nordeste. A Umbanda também se popularizou entre os brasileiros. Agrupando práticas de vários credos, entre eles o catolicismo, a Umbanda originou-se no Rio de Janeiro, no início do século 20. (PATRIMÔNIO BRASILEIRO, 2017, p. 1). Quanto à metodologia, inicialmente, foi feito um estudo sobre os temas, com discussões, debates, realização de exercício e pedido em prova. O segundo momento será a realização da Feira no dia 16 de maio do ano de 2017, através de apresentações em estandes pelos estudantes de ambas as instituições (culinária, religião, palavras, artesanato indígena, abolição da escravatura - Joaquim Nabuco - Zumbi dos Palmares, penteados africanos), desfile de moda africana, capoeira, números musicais. O grupo responsável oferecerá aos visitantes/participantes amostra de comidas típicas. Registre-se o grande empenho dos estudantes na implantação deste projeto. Portanto, para além da obrigatoriedade do estudo, destaca-se a contribuição ímpar das culturas indígena e africana na formação da nação brasileira. Quanto aos resultados, espera-se que a parceira e as apresentações atendam às expectativas. Palavras-chave: Feira étnico-racial; Culturas indígena e africana; Nação brasileira.

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RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS E ELEIÇÕES 2014 Maria Isabel Pia dos Santos – Mestra - UFPB Resumo: A relação entre religião e política, especificamente, em períodos eleitorais provoca diversas discussões e posicionamentos de atores sociais, religiosos ou não, e candidatos perante este contexto. No que se refere as religiões afro-brasileiras e candidatos “evangélicos”, a relação, na maioria dos casos, é marcada por controvérsias, como foi o caso de um sacerdote afro que se fez presente no espaço público, refletindo o processo eleitoral de 2014, as relações com os governos anteriores e a visibilidade e espaço que esses “proporcionaram” a tais religiões. Este sacerdote não assumiu uma representação político-partidária, mas teve uma atuação política junto à comunidade de terreiro, incitando um “exercício político” crítico sobre a candidata “evangélica” Marina Silva. Isto está relacionado, a priori, a identidade religiosa da candidata e a sua proposta de programa de governo que não envolveu o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para as comunidades tradicionais de terreiros, bem como o apoio de lideranças “evangélicas” a campanha política. O que enseja uma reflexão acerca do fenômeno religioso e suas aproximações com as práticas políticas dos candidatos a cargos eletivos, assim como dos sujeitos religiosos perante as práticas eleitorais desses candidatos. Tal estudo visa analisar o discurso de um sacerdote pertencente as religiões afro-brasileiras sobre o cenário político-eleitoral brasileiro em 2014 através de seus posicionamentos publicados numa rede social frente a candidata à presidência Marina Silva. Salienta-se que o primeiro ensaio desta pesquisa, que estava em andamento, foi apresentado na V Congresso ANPTECRE, em 2015. Nele foi exposta as primeiras considerações a respeito do objeto de estudo, religiões afro-brasileiras e eleições 2014. Neste VI Congresso ANPTECRE, expõe-se o resultado da pesquisa. Palavras-chave: Religiões afro-brasileiras; Eleições 2014. AS RELIGIÕES DOS TAMBORES NA BATIDA DO RAP: A PRESENÇA DE ELEMENTOS AFRO RELIGIOSOS NAS LETRAS DOS RAPPES EMICIDA E CRIOLO Raquel Turetti Scotton – Mestranda – UFJF Resumo: Símbolos e referências cristãs são abordadas constantemente em letras de rap. Este trabalho visa, por sua vez, analisar as canções dos rappers paulistanos Criolo e Emicida, nas quais citam elementos presentes nas religiões afro-brasileiras: tais como a presença dos orixás na vida do ser humano, bem como itans e ritos existentes na Umbanda e no Candomblé. Tratam-se de dezesseis cancões que abordam a presença de orixás na vida do ser humano, seja através do clamor: pedindo proteção aos orixás mediante a uma realidade hostil, em que a violência, o

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racismo, entre outras formas de opressão são recorrentes ou por meio comparativos, em que os orixás são comparados ao seres humanos e estão em condições semelhantes de precarização e existência. Vale ressaltar que o ritmo do rap valoriza a palavra, produzindo assim uma atitude frente a um dilema que está sendo exposto. Esse estilo musical faz parte da tríade cultura hip hop, composta, ainda, pelo break e o grafite. A batida gerada pelo som do rap, acompanhada de sua atitude, faz disseminar uma visão crítica diante das desigualdades sociais, do preconceito racial, do racismo religioso, da precariedade das ações do Estado, entre outras questões presentes no contexto social brasileiro. Por meio deste trabalho, pretende-se verificar a possibilidade da linguagem musical do rap como forma de enunciar dimensões cosmológicas centrais às religiões de matriz africana, relacionadas à humanização dos deuses e a divinização dos homens, bem como investigar como os elementos religiosos de matriz africana aparecem nas letras dessas músicas. O areferencial teórico compreende os estudos de Amaral e Silva (2006); Almendra (2013); Novaes (2012); Prandi (1998), Sovik (2006), entre outros. Palavras-chave: Rap; Religião; Umbanda; Candomblé. DO VERBO AO VERSO, “PORQUE UM BOM SAMBA É FORMA DE ORAÇÃO” Samantha Simões Braga – Doutoranda – PUC Minas Resumo: Testamento de Partideiro, música de Antônio Candeia Filho, gravada pelo grupo Os originais do samba, em 1976, cujo verso compõe o título desta comunicação, é apenas um dos inúmeros sambas que aludem ao universo de sentidos sagrados de matriz africana. Na década de 1960, aconteceu o Movimento de revitalização do samba de raiz, promovido pelo Centro de Cultura Popular e pela União Nacional dos Estudantes. Grupos como o Mensageiros do Samba - composto pelo próprio Candeia juntamente com Picolino, Casquinha, entre outros - surgiram com o intuito de refletir sobre o samba produzido então e retomar a autenticidade deste gênero musical. Isto porque com a higienização promovida pelo governo Vargas em 1930, a fim de tornar o samba produto identitário nacional, promoveu-se o branqueamento da música, retirando dele as manifestações da negritude, dentre elas, as referências religiosas afro-brasileiras. Importante ressaltar o papel do samba para a diáspora africana, uma vez que a ele coube o “lugar de memória” (NORA, 1984), desempenhando a função de depositário de simbolismos e louvores de retorno à África mãe, num primeiro momento, e à sua ancestralidade, já que se acredita na circularidade do tempo e no presente como repetição do passado. Entre as décadas de 1960-80, grandes nomes cantaram os orixás e seus ritos, fazendo do samba partido alto – um dos subgêneros mais tradicionais, originado das umbigadas africanas e considerado, por muitos críticos, como o mais próximo dos batuques de Angola e Congo - um porta-voz dos terreiros de candomblé e de umbanda espalhados pelo país. Comunicaremos, pois, sob o olhar da Análise do Discurso, como as produções musicais daquele momento – entoadas por Clara Nunes, Cartola,

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Dona Ivone Lara e Candeia, apenas para citar alguns - instauram um espaço sincrético e liminar, na acepção defendida por Serge Grunzinski, na obra Pensamento Mestiço (2001), Massimo Canevacci em Sincretismos: Uma Exploração das Hibridações Culturais (1996) e Victor Turner, no livro O processo ritual (1974), proporcionando o deslocamento entre verso e Verbo. Enquanto a palavra verso refere-se à letra da música e aos contextos de sua produção, Verbo deflagra o universo religioso, tal como presente em João 1: 1-3: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. Este recurso permite, pois, a reafirmação de cosmogonia negra e das questões que lhe são próprias, deslocando o tempo sagrado para as manifestações de cunho profano, naturalizando termos antes restritos a um grupo. Palavras-chave: Sincretismo; Liminaridade; Análise de discurso; Religiões afro-brasileira; Samba partido alto. A UMBANDA: LITURGIA E PRÁTICA DE SUSTENTABILIDADE Sandra Chaves – Doutoranda – PUC Goiás UFG Resumo: A contemporaneidade é um período marcado por características bem específicas, como abertura à diversidade, a proliferação do consumismo em massa, a busca incessante de um hedonismo insaciável e a centralização no/do sujeito como solucionador de todos os problemas, como uma panaceia personalizada. Apesar disso, o ser humano contemporâneo não abandonou o sentimento religioso. Ao contrário, o retomou com afinco, mas com características bem particulares e peculiares. As religiões institucionalizadas acompanharam este processo se adaptando, procurando pontes entre o sagrado e o profano, secular. Dentre elas este trabalho volta o olhar para a Umbanda, tradição de matriz afro-brasileira com influência do espiritismo, pajelança e mais recente, o oriente. O objetivo deste trabalho é analisar, em linhas gerais alguns aspectos que envolvem a prática religiosa da Umbanda e uma das preocupações relativamente recente da contemporaneidade: o meio ambiente. A Umbanda é tida como uma das religiões “essencialmente ecológica” devido à importância dada à natureza nos cultos afro-descendente. Analisar aspectos como uma suposição de consciência ecológica automática, ou o apontamento de seus adeptos como poluidores da natureza são considerações cernes deste estudo. Para tal, são utilizados instrumentos de pesquisa teórica com embasamento bibliográfico, bem como investigação de caráter exploratório no campo como vislumbre inicial e apreciação junto aos autores pesquisados. A partir desse processo há indicativos que a cosmovisão afro-brasileira, com sua ‘preocupação ecológica internamente no campo religioso’, e aqui em particular a Umbanda, poderia permitir uma ampliação do debate de uma prática ecológica efetiva, dentro e fora do âmbito religioso, e em mão dupla. Estes seriam indicativos que estão abertos a novas proposições e ampliação do debate.

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Palavras-chave: Religiões Afro-Brasileiras; Umbanda; Contemporaneidade; Sustentabilidade. UMA REFLEXÃO SOBRE A INTER-RELAÇÃO ENTRE ORALIDADE E ESCRITA EM TERREIROS DE CANDOMBLÉ Shelton Lima de Souza – Mestre – UFAC Océlio Lima de Oliveira – Mestre – UFAC Resumo: A proposta deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a relação entre oralidade e escrita em terreiros de candomblé considerados tradicionais, devido ao tempo de formação, e em um terreiro situado no município de Rio Branco, no estado do Acre. Tendo em vista que, tradicionalmente, o candomblé é conhecido como uma religião que constrói os seus fundamentos e desenvolve os seus “segredos” por meio da oralidade, analisamos em algumas etnografias de terreiros (CAPONE, 2009; CASTILLO, 2010; SANTOS, 1976) e em observações realizadas em um terreiro de candomblé em Rio Branco-AC, como esses espaços religiosos passaram a permitir que a escrita tivesse um papel importante em suas práticas, consentindo que o discurso oral, erigido em terreiros tradicionais de candomblé, dessem margem ao discurso escrito, mesmo que de maneira não igualitária à oralidade. Segundo Castillo (2010), o discurso religioso do candomblé torna-se parte fundamental no processo de iniciação de novos adeptos de candomblé, permitindo que os conhecimentos, particularmente os segredos, sejam repassados – dos mais velhos para os mais novos –, por meio da oralidade. No entanto, na contemporaneidade, a oralidade vem dando espaço à escrita. Mesmo assim, o discurso oral, ainda, se constitui como elemento fundamentalmente importante nos terreiros, já que “a voz” das mães-de-santo e dos pais-de-santo são portadores de axé (força sagrada). Para que a escrita faça parte das relações sociais produzidas nas comunidades de terreiro, algumas adaptações nas práticas religiosas são produzidas pelos adeptos do candomblé mais velhos para resguardar os segredos da religião, tendo que, quase forçosamente, atender a uma demanda da contemporaneidade que se mostra passiva e carente da cultura da escrita. Palavras-chave: Escrita; Oralidade; Candomblé; Segredo.

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ST 02 – TEOLOGIA SISTEMÁTICA: QUESTÕES EMERGENTES

Dr. Antonio Manzatto (PUCSP) Dr. Cesar Augusto Kuzma (PUC-Rio) Dr. Érico João Hammes (PUCRS) [Coordenador] Dr. Geraldo Luiz de Mori (FAJE) Ementa: A Sessão acolhe estudos que abordem os elementos próprios da teologia sistemática e sua articulação com a história da teologia e os novos horizontes epistemológicos que a desafiam no contexto atual em seus aspectos eclesiais, sociais, políticos, culturais e religiosos. Está aberto a acolher abordagens dos tratados e especificidades da teologia sistemática e suas relações com o todo do discurso teológico, na busca de fundamentos bíblicos e da Tradição e no lançar-se do fazer teológico na direção de dar respostas a questões emergentes da fé e da prática pastoral. Pretende abrir espaço para aprofundar especialmente temas de cunho antropológico, cristológico, soteriológico e escatológico, levando em conta sempre aquilo que já se construiu e se consolidou na teologia, mas também, na perspectiva de novas relações, de novos horizontes que provocam a inteligência da fé a um discurso autêntico, ousado e corajoso. A Sessão está aberto ainda a acolher temas de outros tratados sistemáticos, tendo em vista a relação de Deus com o ser humano e a resposta que este dá ao chamado divino, trabalhando a inter-relação da teologia sistemática com outros saberes, que podem e devem auxiliar o labor teológico diante das novas circunstâncias do mundo atual, articulando a interação entre fé e vida. Palavras-chave: Teologia Sistemática; Questões emergentes; Interdisciplinaridade. ANTROPOLOGIA, TEOLOGIA SISTEMÁTICA E TEOLOGIA PÓS-LIBERAL: O USO DA NARRATIVA BÍBLICA NA REFLEXÃO SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA Adriani Milli Rodrigues – Doutorando – UNASP Resumo: Em muitos círculos teológicos, a partir do final do século XX, a construção teológico-sistemática tem sido contrastada com a abordagem narrativa da teologia pós-liberal. Nesse contraste, enquanto a elaboração sistemática tradicional é percebida como um empreendimento informado pela epistemologia moderna da tradição iluminista, a reflexão narrativa é tida como paradigma metodológico não-metafísico da pós-modernidade. A presente comunicação não pretende contrapor os sistemas teológicos tradicionais com a teologia narrativa pós-liberal, visto que tal

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contraposição correria o risco de ignorar a rica contribuição dos tratados de teologia sistemática, ao se favorecer a abordagem narrativa, ou o risco de desconsiderar os importantes pontos levantados pela teologia pós-liberal, ao se favorecer os sistemas teológicos tradicionais. Em vez de uma contraposição, este estudo objetiva identificar perspectivas epistemológicas nas quais a teologia sistemática pode ser enriquecida pela abordagem narrativa. A presente comunicação procura alcançar esse objetivo por meio de três passos. Primeiramente, há um diálogo com teólogos pós-liberais como George Lindbeck e Stanley Hauerwas, levando em consideração as reflexões críticas de Gale Heidi. Em um segundo momento, este estudo se volta para o tratado de teologia de Karl Barth, visto que em sua dogmática eclesiástica as narrativas bíblicas são usadas para tratar da realidade de Deus. Finalmente, com base no diálogo com teólogos pós-liberais e nas possibilidades epistemológicas embrionariamente observadas na forma como Barth elabora a doutrina de Deus, o terceiro passo sugere que a reflexão antropológica na teologia sistemática pode ser profundamente enriquecida pela abordagem narrativa. Mais especificamente, a leitura teológica de narrativas bíblicas abre janelas epistemológicas para reflexões significativas acerca da condição humana. Desse modo, a comunicação conclui que, ao se levar em conta aspectos da abordagem narrativa, a teologia sistemática pode continuar sendo uma importante ferramenta de articulação de propostas teológicas claras e coerentes, sem necessariamente adotar uma epistemologia racionalista de matriz iluminista. Palavras-chave: Antropologia; Abordagem narrativa; Teologia sistemática; Teologia pós-liberal; Narrativas bíblicas. CREDO QUIA ABSURDUM: TERTULIANO E KIERKEGAARD Carlos Campêlo da Silva – Mestrando – PUC Campinas Resumo: Nossa proposta de comunicação tem como objetivo analisar a apropriação que Kierkegaard faz de Tertuliano e do famoso aforismo a ele atribuído: “eu creio porque é absurdo”. O reminiscente desse aforismo será retomado por Kierkegaard em sua obra Temor e Tremor (1843) por meio das expressões: “por força do absurdo” ou “em virtude do absurdo”. Por suas atitudes frente à filosofia, tanto Tertuliano quanto Kierkegaard foram acusados de irracionalismo e atitude anti-filosófica. Essa proposta de comunicação, no entanto, pretende abordar os autores a partir de outra perspectiva. Em nossa análise, pretendemos mostrar que Tertuliano e Kierkegaard não eram contra o pensamento racional e a filosofia per se, o que ambos não admitiam era que a religião ficasse subordinada aos sistemas filosóficos. Com o seu aforismo – (embora existam controvérsias se foi exatamente isso que Tertuliano disse, mas é provavelmente certo que ele disse coisas semelhantes) – Tertuliano pretende demarcar a diferença entre a religião judaico-cristã e as concepções dos filósofos, entre a fé que encontra as razões para a sua crença e os filósofos que tentam reduzir ou “encaixar” a fé em seus sistemas ou refutá-la como

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nonsense. É também, por causa da religião judaico-cristã e tudo que ela comporta em seu escopo que o pensador dinamarquês Søren Aaybie Kierkegaard, mais de mil e setecentos anos depois de Tertuliano se insurgirá contra os sistemas filosóficos e contra a submissão da teologia a tais sistemas. Desse modo, a análise se pautará no conceito de absurdo investigando quais as consequências desse conceito para Tertuliano e para Kierkegaard. LITURGIA, POBRES E CIÊNCIA MODERNA COMO LUGARES TEOLÓGICOS César Andrade Alves – Doutor – FAJE Resumo: A comunicação abordará o clássico tema dos lugares teológicos, lançado na circulação teológica por Filipe Melanchton e Melchior Cano. Por lugares teológicos se entendem os elementos que norteiam o trabalho em teologia. O objetivo é o de atualizar a lista dos dez lugares teológicos indicados por Cano: Sagrada Escritura, Tradição, Igreja, concílios, sumo-pontífice, Padres da Igreja, teólogos escolásticos, razão natural, filosofia e história. O método será o da pesquisa bibliográfica, pesquisando e identificando na literatura teológica recente três elementos relevantes não incluídos naquela lista, sempre respeitando o princípio de que nenhum lugar teológico, considerado individualmente, tem o monopólio da verdade, mas deve ser usado de modo harmonioso com os demais. O primeiro é a liturgia. O foco recairá sobre a liturgia da eucaristia, analisando-se sua dimensão eclesial-coletiva e sua dimensão sacrificial. Tais dimensões sublinham profeticamente, em contexto cada vez mais individualista, narcisista e egocêntrico, o caráter comunitário da fé e a atitude de tomar prejuízo para fazer o bem aos demais. O segundo consiste nos pobres. Cristo tomou sobre si a pequenez e a pobreza, identificando-se com os pobres, que constituem, por isso, estímulo e luz para a reflexão teológica libertadora num contexto de graves problemas de miséria e injustiça. O terceiro é a ciência moderna, um vasto campo que fornece abundantes assuntos para a reflexão teológica, desde questões metodológicas como o ato de fé nas premissas do método científico, até questões fundamentais sobre fim do cosmo, destino da vida, verdade final, sentido da liberdade e os valores éticos de bem e mal. Esses três lugares teológicos, não presentes na lista tradicional de Cano, adentram por antigos e novos horizontes epistemológicos desafiadores, que encaminham o fazer teológico a questões emergentes da fé e da prática pastoral e orientam à inter-relação da teologia com outros saberes. Palavras-chave: Metodologia; Método teológico; Lugar teológico; Epistemologia. PARTICIPAÇÃO E COMUNHÃO EM TEMPOS DE MOBILIDADE URBANA: O ‘SILÊNCIO’ DA CARNE Edson Matias Dias – Doutorando – FAJE

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Resumo: Este estudo investiga a relação entre participação e comunhão nas celebrações eucarísticas em tempos de mobilidade urbana. Analisa-se a relação entre vida e rito, entre indivíduos e comunidade que celebra como também, se a não participação efetiva se tornou um sintoma do desenraizamento das relações humanas em uma época de mudanças. Para isso, servirmo-nos do aporte teórico de Henri de Lubac, quando esse apresenta a Igreja como paradoxo e mistério, em sua obra “Paradoxo e Mistério da Igreja”. A reflexão também se sustenta na reflexão do filósofo Michel Henry, especialmente no que se refere à diferenciação entre corpo e carne, em sua concepção de vida que é denominada auto-afectiva. Temos ainda auxílio de Bernard Sesboüé e de outros autores da eclesiologia e sacramentologia. Questiona-se a atenção dada à exclusão da participação eucarística apenas partir de questões morais e compreende tal tentativa de saída como superficial da situação e busca-se a resposta na eclesialidade do mistério celebrado. A não pertença efetiva, em contextos urbanos, parece ser uma constante nas novas configurações de comunidades e santuários. Sem contato significativo e afetivo entre as pessoas o rito tem se transformado de mistério em realidade objetiva, coisificando fiéis, presbíteros e a própria noção de igreja. Percebe-se que as celebrações têm se tornando superficiais e desenraizada da vida. Assim, a celebração eucarística, por ser mal compreendida em sua essência, na atualidade, tem dificultado a verdadeira comunhão, que deveria se dar em uma vida que é páthos, que é carne. Vida que é participativa por sua própria necessidade radical. Pois somos seres de carne e estamos em relação uns com os outros, envolvidos na participação da Vida Divina. Palavras-chave: Comunhão; Participação; Comunhão; Mobilidade; Carne. O DOM E A PALAVRA: DUAS PROVOCAÇÕES DA FENOMENOLOGIA CONTEMPORÂNEA À TEOLOGIA Geraldo Luiz De Mori – Doutor - FAJE Resumo: A fenomenologia francesa contemporânea foi acusada por Dominique Janicaud de uma “virada” ou “giro” teológico. Dentre os autores visados por esta crítica se encontram, entre outros, Jean-Luc Marion e sua fenomenologia do dom ou da doação, e Jean-Louis Chrétien, e sua fenomenologia da voz e da palavra. Mais que deter-se na crítica de Janicaud, esta comunicação pretende mostrar as possibilidades das análises feitas pelos dois filósofos à teologia. Com efeito, o tema do dom ou da dádiva foi objeto das ciências sociais desde Marcel Mauss, e faz parte importante da reflexão de fronteira entre filosofia e teologia em Paul Ricoeur. Os temas da voz e da palavra, por sua vez, encontram-se fortemente presentes em Jacques Derrida, com uma retomada original em Emmanuel Falque. Após uma breve descrição das análises dessas categorias em Marion e Chrétien, a comunicação buscará explorar suas contribuições à teologia, concluindo com algumas considerações sobre sua fecundidade para a tradição latino-americana.

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Palavras-chave: Dom; Doação; Voz; Palavra; Jean-Luc Marion; Jean-Louis-Chrétien. SANTO AGOSTINHO: UM BEM É O AUTOR DO MAL Izaias dos Santos Goes Gomes – Mestrando – UFS Resumo: A origem do mal no mundo sempre foi um problema recorrente para a religião judaico-cristã, sendo causa de discussões na filosofia e na teologia durante muitos séculos. Uma resposta a esse problema foi apresentada no final do século IV por Santo Agostinho (354-430), após ter deixado a religião maniqueísta e se convertido ao cristianismo. Assim, a proposta de trabalho visa discutir algumas nuances sobre a origem do mal no pensamento de Santo Agostinho, a partir do tratado do Livre Arbítrio. Nesse tratado, Santo Agostinho construiu uma argumentação, na qual afirma que o mal tem sua raiz na vontade livre do ser humano e não em Deus. O texto de Agostinho será o itinerário que orientará esse estudo sobre o problema da origem do mal no pensamento cristão. Qual o percurso traçado por esse filósofo e teólogo para chegar a essa conclusão? Para Santo Agostinho, Deus é sumo Bem, portanto, nenhum mal pode sair Dele. Com isso o mal não pode ter ser que implicaria em duas situações que contrariaria a supremacia de Deus: ou o mal era eterno como Deus ou Deus o criou. Como Deus não pode ser ou fazer nada contrário a sua natureza divina, o mal não pode ter existência, ele (mal) é nada. No pensamento agostiniano, o mal só poderia ter uma causa que seria o desvio de finalidade da vontade livre do ser humano ao não cumprir com o livre arbítrio que Deus te deu, o qual consiste em “agires com retidão” (Livre Arbítrio, II.1,3). Então, o homem cria uma situação de mal quando nega pela sua vontade livre o seu criador, Deus, o sumo Bem, sendo assim o mal uma privação do Bem, onde o homem escolhe um bem criado ao invés de querer Deus. Palavras-chaves: Santo Agostinho; Livre-Arbítrio; Bem; Mal. O MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO NO MAGISTÉRIO DO PAPA FRANCISCO: FUNDAMENTO DA MISSÃO DA IGREJA José de Souza Paim – Mestrando – PUC SP Resumo: O Papa Francisco tem sido, em tempos de grandes transformações, para a Igreja uma surpresa agradável do Espírito Santo. Seu pontificado tem se desenvolvido, na leitura de alguns teólogos, a partir de grandes temas. Um dos grandes temas, talvez o primeiro é: Igreja em saída. Por este tema compreende-se a dimensão missionária da Igreja que em síntese constitui sua natureza. Ela existe para o anúncio do Evangelho. Quando o pontífice insiste numa Igreja em saída trata-

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se, em primeiro lugar, do retorno à fonte, ao evangelho, mas para o agir pastoral da Igreja de modo imediato. Qual o fundamento teológico do Papa no seu enfático empenho para a importância da atuação pastoral da Igreja e para sua própria postura diante de seu próprio esforço? Compreendemos que seja o Mistério da encarnação. Temos como objetivo trabalhar o Mistério da encarnação, a partir da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, como o fundamento teológico de reflexão e da maneira do agir do Papa sobre a importância da Igreja em missão. ENCARNAÇÃO: POR UMA CRISTOLOGIA CÓSMICA ENTRE CHARDIN E HENRY José Sebastião Gonçalves – Doutorando – FAJE Resumo: Sobre a questão da encarnação, em perspectiva de diálogo com a Fenomenologia da vida, intencionamos explorar os possíveis aspectos de convergência e divergência entre a fenomenologia da carne de Cristo em Henry e a questão da encarnação na cristologia cósmica de Teilhard de Chardin, segundo o interessante aspecto da encarnação como a cristogênese na história do ser humano. Neste contexto, afirma-se que Chardin assumiu também a perspectiva da teologia cósmica haurida das cartas de Paulo, explorada pelos padres orientais e retomada pela teologia clássica através de Duns Escoto e Boa Ventura. Na perspectiva evolucionista de Chardin, sobre a encarnação, aparecem dois aspectos que intuímos serem interessantes para o diálogo com a perspectiva fenomenológica de Henry, a saber: em primeiro lugar a questão da encarnação compreendida em sua íntima relação com a evolução e com a matéria; e a questão de uma terceira natureza de Cristo (o cristo cósmico) explorado na obra O coração da matéria. No primeiro horizonte, ou seja, a partir da compreensão da encarnação em sua íntima relação com a matéria e a evolução, opera-se o que chamamos de uma contra-diabolização entre Deus e matéria. Neste horizonte, tal como em Henry, Chardin reconcilia a carne do homem com o universo e envolve os dois no "Meio Divino". A INTERSIGNIFICAÇÃO ENTRE O SER HUMANO E DEUS NA TEOLOGIA DE A. GESCHÉ Lúcia Pedrosa-Pádua – Doutora – PUC Rio Resumo: A revisão da imagem de Deus realizada pela teologia contemporânea traz uma compreensão nova do ser humano. A teologia, em grande parte, volta-se sobre Deus para pensar o ser humano, e pensa o ser humano a partir desta chave, nomeada Deus. O objetivo deste trabalho é refletir sobre algumas intersignificações entre ambas reflexões, a partir de um dos teólogos mais criativos e instigantes do século XX, o belga A. Gesché. A abordagem parte do fato da Encarnação, proclamado pela fé cristã, pelo qual Deus se humaniza, e que faz com que a fé só

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possa se expressar vendo Deus e o ser humano "intersignificando-se". A criatura fala sobre quem é este Deus que abre espaço para o criado; Deus humanado diz quem é o ser humano em sua dignidade. O Concílio Vaticano II afirmou esta relação entre o ser humano e o mistério de Cristo na Constituição Pastoral Gaudium et Spes n. 22: “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente”. É preciso refletir sobre o ser humano à luz do Verbo encarnado, Jesus Cristo, professado como mistério de Deus escondido desde sempre, e revelado na plenitude dos tempos. Assim sendo, levar a sério a Encarnação para entendermos quem é Deus na sua relação com o humano é o primeiro caminho. Buscar a Deus no fato da Encarnação é perceber a Deus, nas palavras de Gesché, “onde ele quer estar”. A Encarnação é o lugar onde Deus quer ser conhecido, “Deus quer e só pode ser encontrado por e nesta humanidade” (Lutero). O estudo intenta contribuir para a superação do discurso teológico a partir da filosofia ou da doctrina communis sobre Deus, e para a crítica de espiritualidades destrutivas do humano para a afirmação de Deus. Palavras-chave: Deus humanado; Ser humano; A. Gesché. O REINO DE DEUS COMO REVELAÇÃO DA ENCARNAÇÃO SEGUNDO JOSEPH MOINGT Renato Gomes Alves – Mestrando – PUC SP Resumo: A pesquisa do teólogo jesuíta francês, Joseph Moingt, consiste em um campo vasto a ser explorado, trazendo novas compreensões para a cristologia contemporânea e apontando para novas possibilidades de ações da Igreja no mundo. O olhar lançado para a Encarnação de Jesus Cristo serve de ponto de partida para a visão deste teólogo sobre a dinâmica do Reino de Deus, não vista sob a dimensão de mistério, mas sob a ótica da humanização redentora. Faz-se necessário, pois, investigar o conceito de Encarnação que a dinâmica do Reino de Deus revela, a fim de apontar a atividade humanizadora que essa relação sugere. Para tal feito, uma breve apresentação do teólogo jesuíta – contexto, produção, anseios e inferências - será realizada de forma discursiva e descritiva, a partir da obra publicada e traduzida para o português. Na sequência, o conceito de Encarnação aparece como princípio e fundamento do arcabouço cristológico, fruto da reflexão dogmática da Igreja através dos primeiros séculos. No entanto, a melhor compreensão da extensão conceitual se dará pela ótica do Reino de Deus, que revela a Encarnação para a redenção do ser humano. O resultado dessa leitura aponta para a prática humanizadora que a missão cristã assume como dever, sobretudo no contexto latino-americano. O resgate da ação evangelizadora, não como imposição de dogmas, mas como promoção de vida plena, é o grande chamado que a reflexão sistemática nos promove. Resgate este que, após uma década da conferência geral de Aparecida, vem confirmar o apelo do episcopado latino-americano e caribenho para uma conversão pastoral. Por fim, a caminhada que se inicia com a prática

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restauradora e humanizadora do Reino de Deus, revela a compreensão prática do dogma cristológico da Encarnação. E, embora em um contexto diferente, a reflexão de Joseph Moingt permite, a seu tempo e modo, proporcionar um discurso cristológico rico, não em palavras, mas em ações humanizadoras que consistam e, ao mesmo tempo, revelem a autêntica missão cristã. Palavras-chave: Encarnação; Reino de Deus; Humanização; Joseph Moingt. UMA APROXIMAÇÃO TEOLÓGICO-CRISTÃ SOBRE O CORPO HUMANO Renato Alves de Oliveira – Doutor – PUC MINAS Resumo: A comunicação científica objetiva apresentar como a fé cristã, na sua fontalidade bíblico-patrístico, concebeu o corpo humano, como história da teologia o tratou e como a abordagem teológico-sistemática, cultural e fenomenológica o percebe atualmente. Será que há uma sintonia ou uma desarmonia na compreensão do corpo humano entre a fé cristã e o desenvolvimento teológico e sistemático? A comunicação iniciará demonstrando a visão da filosofia grega clássica, principalmente as percepções de Platão e Aristóteles, sobre o corpo em geral e o corpo humano. Depois apresentará como o corpo humano foi visto no horizonte bíblico, no que tange ao Primeiro e Segundo Testamentos. Em seguida, passará à apresentação da visão patrística do corpo humano num cenário intelectual e cultural influenciado pela gnose, com sua ótica hostil à matéria, à condição espaço-temporal e corpórea do ser humano. Será que a patrística se renderá à sedução gnóstica ou se manterá fiel à antropologia bíblica para qual o ser humano é uma magnitude integral de basar, nefes e ruah? Seguindo adiante, no período medieval, no campo teológico, será apresentada a visão do corpo humano em sua relação com a alma, os padecimentos pelos quais o corpo humano passou na piedade medieval e como foi retratado na arte cristã. Dando um passo a frente, será exposta a contribuição da teologia moderna e contribuição filosófica (racionalismo, fenomenologia, personalismo etc.). Por último, será apresentada a abordagem da teologia sistemática: o corpo como lugar teológico, a relação do corpo humano com as verdades nucleares da fé cristã (encarnação, ressurreição e ascensão), a percepção fenomenológica (ser-no-mundo, ser mortal, ser sexuado, ser temporal e expressão comunicativa do eu), uma aproximação com a visão ecofeminista e com o horizonte cultural ocidental atual. UM FILÓSOFO SEM ABSOLUTO: A INFLUÊNCIA DE PIERRE THÉVENAZ NO “ÚLTIMO RICOEUR” René Dentz – Doutorando – FAJE Resumo: Com uma impressionante variedade, a obra de Ricoeur compreende

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numerosos escritos sobre hermenêutica tanto bíblica quanto filosófica, conforme abordamos no primeiro capítulo. De forma geral, Ricoeur traçou uma linha clara de demarcação entre os dois campos do saber, entre sua obra filosófica e o campo confessional. Ao mesmo tempo, ele sabe como os limites entre esses dois registros são tênues e complexos. A questão da articulação do filosófico e do teológico é, dessa forma, perseguida até o final de sua vida. Em sua obra póstuma, Vivant jusqu´à la mort. Suivi de Fragments, publicada em 2007, nosso filósofo se define na condição de “filósofo sem absoluto”, uma mudança imprimida a partir da “filosofia sem absoluto” de seu amigo Pierre Thévenaz. É uma afirmação de atitude agnóstica diante da morte que se aproxima e, em um primeiro olhar, paradoxal a um filósofo que se intitulava como “filósofo e protestante”. No entanto, afirmamos que a crítica ao absoluto é justamente algo que aproxima Ricoeur te uma “postura pós-moderna”. Nos “Fragmentos”, essa atitude agnóstica diante da morte é ancorada na retomada do pensamento de Pierre Thévenaz, que foi primeiramente abordado por Ricoeur em Lectures 3. O mais importante na expressão “sem absoluto” é que trata de uma atitude coerente com todo percurso de nosso autor, seja de inspiração confessional ou filosófico. Na tentativa de não misturar os dois gêneros, Ricoeur procura estruturar seu pensamento, paralelo a um “sem absoluto”, em torno da noção de “promessa”. Ela atesta que o estilo filosófico ricoeuriano não separa as dimensões falante e atuante da condição humana. Esse estilo significa um ato de responsabilidade para manter o si-mesmo em toda circunstância através da obra escrita. O caráter de engajamento é implicitamente compreendido no prefácio de Soi-même comme un autre. A declaração “permanecer vivo até a morte” e não “para a morte”, contrasta com o tema do “ser para a morte” de Heidegger. Aos olhos de Ricoeur, o “para” a morte de Heidegger parece enfraquecer as diversas possibilidades do ser. Por isso, coloca um acento diferente do filósofo alemão pela expressão “até” a morte. Há uma tríade de aceitações da morte, que deve tomar o caminho proposto pelo “até” a morte. Essa tríade é composta da morte do si, dos próximos, dos outros. A morte do si é primeiramente confrontada pelo desejo de viver contra a morte singular, em seguida a morte dos próximos é atrelada à antecipação da morte de si mesmo, enfim a morte dos outros está relacionada à morte violenta. Através dessa tríade da morte, chegamos à banalidade, assumida, do “morre-se”. Palavras-chave: Promessa; Condição humana; Absoluto. A FÉ GESTADA A PARTIR DA EXPERIÊNCIA Valdete Guimarães – Doutoranda – FAJE FAPEMIG Resumo: Em tempos atuais, torna-se urgente superar a incerteza e clarificar a especificidade e originalidade da experiência cristã, de maneira que cada pessoa possa fazer sua opção religiosa com liberdade e convicção. Neste sentido, a dinâmica experiencial da fé emerge com significância, já que a vivência da singularidade cristã

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não está somente no nível do ensinado e do aprendido, mas do saboreado e degustado. A proposta da experiência como novo paradigma para pensar a fé pode ser conciliada com a orientação da “prática de gestação”. O termo “gestação” é rico de conotações e abre perspectivas de uma grande densidade existencial. Ligado ao dom da vida e aplicado de forma analógica à dinâmica da fé, a expressão chama atenção justamente para o compromisso com o cuidado da vida em todas as suas dimensões. A proposta da gestação da fé surge como expectativa otimista em meio a uma realidade em que as práticas cultuais da fé tornaram-se incompreensíveis e obstaculizadoras de uma vivência livre. As comunidades que entram em processo de gestação vão aos poucos se ocupando com mais intensidade da experiência pessoal do acolhimento de Deus do que com o objeto a ser transmitido. A partir deste ponto de vista, nossa atenção não deve recair somente na preocupação de suscitar novos cristãos e tampouco em descobrir estratégias pastorais eficazes. Ao propor a fé, devemos nos perguntar de que maneira Deus está agindo para chegar até o homem e a mulher atual e, deste modo, compreender qual a relação que Ele deseja estabelecer com as pessoas. Tal proceder evidencia um desvio significativo no centro de interesse: a dinâmica da fé está em Deus, e não no ser humano que, por sua vez, deve adotar uma atitude de discernimento para perceber como as pessoas são conduzidas para Ele. Deste modo, a Igreja é convidada a colocar-se à escuta de Deus no mundo adotando muito mais uma conduta de desprendimento do que domínio. Antes de perguntar qual seria o anúncio do Evangelho que deve ser transmitido em tempos atuais, deveríamos nos questionar sobre qual seria o anúncio que nos é transmitido hoje. A inversão da pergunta mostra que em primeiro lugar não deveríamos nos preocupar com o que dizer aos outros, para tocá-los e convertê-los, mas voltar-se para nosso interior, numa atitude de escuta e metanoia. Este regresso para nosso interior na escuta de Deus pode ser definido como “experiência de Deus”. Tal experiência pessoal nos impulsiona a sair de nós mesmos, de nossos hábitos, de nossos próprios lugares para abrir-se a espaços livres, comunitários e fraternos, onde a fé cristã pode emergir com uma renovada pertinência na busca de mais humanidade e de melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Experiência; Gestação; Fé; Liberdade. ECLESIOLOGIA DE COMUNHÃO EM IGREJAS BATISTAS DO ESPÍRITO SANTO Valdir Stephanini – Doutor – Faculdade Unida Resumo: Esta comunicação visa apresentar uma síntese dos resultados de uma pesquisa feita sobre a vivência dos valores da Eclesiologia de Comunhão em duas Igrejas da denominação Batista no Estado do Espírito Santo. A comunicação fará uma abordagem histórica sobre o surgimento do movimento batista e de que maneira tradicionalmente se configuram as Igrejas filiadas à Convenção Batista Brasileira. Identificará também experiências de Igrejas Cristãs que, ao longo da

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história do Cristianismo, têm adotado os Pequenos Grupos como estratégia de funcionamento eclesiástico. Nesta discussão sobressaem dois modelos: Igrejas Dirigidas por Propósitos e Igrejas organizadas de acordo com a filosofia do Ministério Igreja em Células. Será feita uma rápida apresentação de duas comunidades batistas localizadas na cidade de Vitória, Espírito Santo, nas quais foi feita a pesquisa de campo, a saber, Igreja Batista em Jardim Camburi e Igreja Batista Morada de Camburi. A segunda parte da comunicação tratará especificamente da Eclesiologia de Comunhão, categoria teológica que se fundamenta na relação existente entre as três pessoas da Trindade divina, inspirada, sobretudo nas reflexões do Concílio Vaticano II e em movimentos decorrentes do mesmo. A última parte da comunicação apresentará os resultados da Pesquisa de campo, realizada com membros das duas Igrejas Batistas já mencionadas, em que foram destacadas doze categorias da Eclesiologia de Comunhão e sua vivência nas comunidades pesquisadas. Analisou-se até que ponto estes valores estão presentes nas referidas igrejas, com o objetivo de indicar se os Pequenos Grupos contribuem para uma reconfiguração das referidas Igrejas na direção da Eclesiologia de Comunhão. Palavras-chave: Eclesiologia; Comunhão; Trindade; Pequenos Grupos. A TEOLOGIA EM ESCRITOS DE MICHEL DE CERTEAU: VISLUMBRANDO DEUS NO CONTEMPORÂNEO Virgínia Buarque – Doutora – UFOP Resumo: O jesuíta Michel de Certeau (1925-1986) tornou-se conhecido nos meios acadêmicos por seus estudos históricos sobre a mística, referentes sobretudo aos séculos XVI e XVII, bem como por suas interpretações acerca da cultura enquanto prática potencialmente subversiva e desviante, como expresso em sua obra A Invenção do Cotidiano. Não obstante, Certeau também desenvolveu importantes reflexões de cunho teológico, articuladas em textos de perfil interdisciplinar que tematizam o religioso no período contemporâneo, a exemplo da coletânea La Faiblesse de Croire. O objetivo da comunicação proposta é o de precisar proposições axiais à interpretação teológica promovida por Certeau acerca do cristianismo no tempo presente, recorrendo-se, para tanto, à leitura da obra supracitada e a outros artigos de sua autoria. Sugere-se Certeau considere as manifestações socioculturais da experiência histórica de cada época – inclusive a nossa – como condição para vislumbre da Alteridade divina e de uma experiência de comunicação entre ela e sujeitos e grupos sociais, por ele também entendidos como múltiplas alteridades, em estranhamentos, tensões (por vezes tão violentas) e afetações mútuas. Observe-se, porém, que para este autor tais vivências intersubjetivas, sempre inseridas em uma dada historicidade, em sistemas de poder, em imaginários ideológico-culturais, não apenas desvelam a Alteridade divina, mas também a encobrem e a folclorizam. Neste processo, elas podem, inclusive, ser empregados com intuitos mercadológicos (que hoje adquirem expansão exponencial face à tecnologia da informação) ou políticos,

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voltados à tentativa de manutenção de prerrogativas (e até de privilégios) institucionais ou simbólicos. Daí a importância de uma crítica teológica em diálogo com os sentidos culturais emergentes, a fim de que tal Alteridade possa ser percebida nas instigações, nas desinstalações e nas recriações que continuamente propicia ao humano. Palavras-chave: Michel de Certeau; Teologia; Cultura; Alteridade; Contemporaneidade.

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ST 03 – CATOLICISMO NO BRASIL: PERMANÊNCIAS E RUPTURAS

Dra. Sylvana Brandão (UNICAP/UFPE/UFGS) [Coordenadora] Dr. Péricles Andrade (UFS) Dr. Rodrigo Portela (UFJF) Ementa: O campo católico tem sido marcado constantemente por tensões entre agentes e instituições defensoras de práticas tradicionais e aqueles abertos às transformações mundanas. Esta Sessão Temática tem como propósito reunir pesquisadores que tenham se dedicado ao estudo do catolicismo em suas diferentes formas de expressão e tendências no espaço público brasileiro, sobretudo quanto as diferentes formas de permanências e rupturas. Particularmente, quais os limites de influência e os espaços sociais que cabem à atuação católica na sociedade contemporânea? As possíveis respostas desta questão poderão ser observadas a partir das temáticas a serem discutidas nesta sessão temática: poder e política; festas religiosas, devoções e peregrinações; meios de comunicação; pluralismo; gênero e sexualidade; salvação e magia; práticas terapêuticas e juventude. ENTRE O DOGMA E A FÉ: AS IRMANDADE DO ROSARIO NOS DOCUMENTOS DA IGREJA. Cristiano Amarante da Silva – Mestre – UFPB Resumo: Ao analisarmos os documentos da Igreja Católica no decorrer da história iremos encontrar diversas decisões tomadas pelas reuniões conciliares, como forma de adequar as ações da Igreja ao contexto em que a ela se encontrava. Por esse motivo contemplamos no decorrer da sua organização diversas posições que provocaram mudanças nos grupos a ela ligados, entre eles temos as Irmandades que antes do século X viviam autônomas, mas necessitaram ceder às exigências dos dogmas elaborados nos palácios papais. Nosso trabalho pretende caminhar através do tempo observando essas mudanças que influenciaram totalmente a forma de vida dos membros de nosso objeto de pesquisa, para alcançarmos resultados navegamos pelas decisões conciliares que normalmente norteiam as igrejas particulares e consequentemente os grupos a elas ligadas, buscando nos documentos produzidos através da história o pensamento em relação as irmandades. Como ferramenta primordial utilizamos o ambiente virtual, que nos permite adentrar em diversos lugares ao mesmo tempo. Outro recurso foram os jornais contidos nas hemerotecas dos países que se encontram os documentos, bem como as referências bibliográficas

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em relação ao tema. Como resultado podemos perceber que apesar de todas as mudanças encontramos no seio das irmandades algo coracio que permaneceu desde sua origem até o tempo presente, simbolizados principalmente pelo aspecto devocional que nasceu no meio do povo e foi apenas absorvido e oficializado pela igreja. Palavras-chave: Dogma; Irmandade; Nossa Senhora; Tradição. ANÁLISE DO DISCURSO RELIGIOSO DO ENCONTRO DE CASAIS COM CRISTO (ECC) CATÓLICO BRASILEIRO DE 2000-2015 Denis Cotta Fomiga – Mestrando – PUC Minas Resumo: O matrimônio no Encontro de Casais com Cristo (ECC) adquire mais que um elo entre um homem e uma mulher, para o catolicismo o casamento faz parte dos sete sacramentos da Igreja Católica, sendo assim pertencente ao imaginário religioso de seus fiéis. Na pós-modernidade o pensamento capitalista traz consigo impactos profundos aos vínculos amorosos, que nesse viés podem ser contemplados sob uma estrutura fugaz, de descartabilidade ou nos termos de Bauman, amores líquidos. A partir dessa perspectiva o discurso religioso utilizado pela Igreja Católica e mais propriamente pelo ECC tenta em contrapartida fortalecer os vínculos de seus adeptos; sobretudo salientando a importância da família e de seu engajamento religioso. Diante dessas instâncias, sociais e religiosas se instaura a questão dessa pesquisa, que questiona a validade do discurso religioso frente a uma provável nova perspectiva sócio-histórica em que se encontra o matrimônio na contemporaneidade. Apartir de uma revisão bibliográfica referente ao discurso religioso empregado pelo ECC Católico no âmbito nacional deparou-se com a obra Encontro de Casais com Cristo, escrito por seu idealizador Padre Alfonso Pastore. Nessa perspectiva o que se propõe de forma geral no ECC é o fortalecimento dos vínculos matrimoniais de seus fiéis. Também pode ser concebida como uma ação evangelizadora da igreja para as famílias/casais afastadas (os) da paróquia. Em suma, o discurso religioso presente no ECC Católico possui em sua essência a convocação da família e, sobretudo dos casais pela Igreja, para que assim vivenciem um casamento ‘de maneira cristã’. Ao se analisar essa ação proposta pela Igreja nota-se que ela vai de encontro ao pensamento difundido por Bauman. Segundo o referido autor a contemporaneidade vive em uma sociedade líquida, que fragiliza os vínculos humanos, nesse contexto se origina sua obra Amor Líquido. Partindo da premissa entre o discurso utilizado por Bauman pode-se pensar que a postura adotada pela Igreja Católica e, sobretudo a ‘ação’ do ECC visam combater essas fragilidades oriundas do âmbito profano através da pratica dos valores cristãos e de uma vida conjugal diante dos preceitos católicos. Palavras-chave: ECC; Discurso religioso; Igreja Católica; Amor líquido.

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RELIGIÃO E INCLUSÃO: IGREJA CATÓLICA E A PASTORAL DOS SURDOS EM URUAÇU-GO Érica Nelcina da Silva – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Nosso objetivo nesse trabalho é analisar o processo de inclusão dos surdos na Igreja Católica, a partir da atuação da Pastoral dos surdos na cidade de Uruaçu-GO. Nós buscaremos identificar as propostas político-religiosas de inclusão adotada por lideranças religiosas católicas na cidade e analisar a participação efetiva dos surdos nas Igrejas, bem como, as estratégias adotadas pelos movimentos Católicos para promover a ligação dos surdos com o Sagrado. A religião, em tese, disponibiliza um conjunto de elementos que ligam os fiéis ao sagrado: um credo, o culto à divindade e vida moral. Questionamos como os surdos se sentem na Igreja, exclusos ou incluídos. Objetivamos realizar uma pesquisa bibliográfica interdisciplinar, abordando três categorias que nortearão a reflexão: religião, inclusão e inclusão religiosa do surdo. As referências buscadas em autores clássicos e contemporâneos nas Ciências da Religião. Palavras-chave: Religião; Inclusão; Inclusão religiosa dos surdos. CATOLICISMO CONTEMPORÂNEO: UM BALANÇO SOCIOLÓGICO Flávio Munhoz Sofiati – Doutor – UFG PUC Goiás Resumo: É preciso voltar a pensar o catolicismo em sua totalidade. Os estudos sobre a instituição católica não saíram de cena, mas as análises se tornaram muito pulverizadas: estuda-se o catolicismo tradicional, popular, carismático, midiático, no entanto, urge um entendimento do fenômeno como um todo. Em levantamento bibliográfico realizado para a pesquisa de pós-doutorado na PUC-GO (Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião) com financiamento do CNPQ, identificou-se certa defasagem no número de artigos que tratam do tema, sendo que a maioria dos artigos são sobre algum agrupamento específico presente no interior da Igreja Católica. Além disso, os interessados em pensar o fenômeno em sua totalidade tendem a assumir a perspectiva consolidada na análise de Antônio Flávio Pierucci de se pensar um sociologia do catolicismo em declínio. Nosso interesse aqui é entender a força ainda exercida por esta instituição no mercado religioso brasileiro. Nossa hipótese é de que há ainda, e isso pode ser confirmado inclusive na leitura dos estudos de Pierucci sobre o tema, muito constrangimento do sujeito na adesão às outras religiões. Consideramos que há uma forte presença do catolicismo na cultura da nação, na vida cotidiana do fiel, nas interrelações sociais estabelecidas no interior do mercado religioso do país. Diante disso, pretende-se sistematizar e, de certa forma, colaborar com a atualização da bibliografia que estuda os modos de ser católicos no Brasil. A tarefa principal aqui consiste em costurar as abordagens fragmentadas do catolicismo e apresentar uma interpretação contemporânea do

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tema a partir da análise dos principais desafios enfrentados pela instituição católica na sociedade brasileira. Uma das explicações para as analises departamentadas do catolicismo é o fato de que a própria Igreja Católica não tem mais o controle de seu discurso, visto que seus mais variados agrupamentos internos se apropriam das ideias da instituição conforme interesses específicos. A adesão é feita sem o contraponto de organizar os discursos, tornando, de fato, a atuação católica cada vez mais fragmentada no cenário contemporâneo. Questiona-se: diante do fim do monopólio católico e do advento de um mercado de bens de salvação cada vez mais plural, estamos vivenciando o fim do bloco católico? Por um lado é importante considerar se tratar de uma instituição com uma capacidade fenomenal de controlar suas dissidências, de articular visões opostas. Por outro lado, é preciso reconhecer que esta religião se encontra em uma situação cada vez mais desesperada de manter a fidelidade de seus membros diante de uma realidade de liberdade frente às instituições. Na contemporaneidade, observa-se um catolicismo que procura sobreviver em um cenário cada vez de menor regulação institucional sob as práticas e os valores adotados. O impacto da secularização tem sido muito forte sobre esta igreja e faz-se necessário a compreensão de como ela tem administrado seus recursos nessa nova conjuntura. Nesse sentido, a comunicação está organizada em vistas de debater alguns temas importantes para a compreensão do catolicismo em seu empreendimento no mundo atual. Palavras-chave: Catolicismo; Brasil; Pluralismo religioso. A ESQUERDA CATÓLICA ENTRE 1955-1964: A IGREJA REFORMISTA E OS MOVIMENTOS LEIGOS NO BRASIL Jéssica Gonçalves Silva – Mestranda – PUC Minas Resumo: Apesar da Igreja Católica através de seu caráter hierárquico ter uma tendência em conter movimentos leigos e de base que ponham em risco a instituição, ocasionalmente ela desenvolveu alguns movimentos de caráter progressista. Entre os anos de 1955 e 1964 no Brasil, surgem dentro da Igreja manifestações de caráter reformista e de uma Esquerda Católica. Exemplos práticos dessas manifestações são os movimentos leigos que uniam Sociedade e Igreja como a Juventude Universitária Católica (JUC), a Ação Popular (AP) e o Movimento de Educação de Base (MEB). Embora pequenos em caráter numérico, sufocados pela hierarquia e acabarem por se fragilizar durante o regime militar, essas novas concepções de fé acabaram por potencializar o papel do laicato dentro da Igreja Católica. À luz da teoria de Scott Mainwaring (1983; 2004), a presente comunicação tem o objetivo de refletir sobre os movimentos leigos que atuaram dentro da Igreja Católica brasileira no período entre 1955 e 1964, com destaque para os citados acima. A metodologia utilizada foi com base em pesquisa bibliográfica, destacando-se a obra de MAINWARING (2004) intitulada “Igreja Católica e a Política no Brasil (1916-1985)”, onde faço o recorte dos movimentos da “Esquerda Católica”.Todo esse

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movimento da “esquerda católica” introduziu uma nova compreensão da relação entre fé e política que constituíram exemplos eminentes de mudanças que podem “vir de baixo”. Esse fenômeno católico da década de 60 “constitui um dos fatores singulares no desenvolvimento da Igreja Brasileira e ajuda a explicar por que ela se tornou mais progressista do que as outras Igrejas latino-americanas” (MAINWARING, 2004, p. 94). Palavras-chave: Igreja Católica; Esquerda católica; Movimentos leigos. IGREJA CATÓLICA E MARXISMO: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS João Miguel Teixeira de Godoy – Doutor – PUC Campinas Resumo: A metodologia que marcou o modus operandi da Ação Católica no Brasil, resumido na expressão “ver-julgar-agir”, trazia implícita algumas ideias importantes. Primeiro que a organização da sociedade passava a ser encarada como objeto diante do qual a moral social cristã poderia legitimamente emitir julgamentos e orientar intervenções no sentido de sua correção. Efetivamente transformava o problema da sociedade num problema conscientemente religioso, ou seja, o mundo social situado na essência da experiência religiosa, e não em algo externo a ela. Em segundo lugar, estabelecia o lugar e o modo de relação possível e aceitável entre a análise científica da realidade, bem como o uso dos instrumentos das ciências sociais laicas nesse processo, e a mediação julgadora dos princípios e da visão da religião católica. Penso que está posto aqui os princípios gerais a partir dos quais pode ser analisada as ambiguidades que marcaram a relação entre Igreja Católica e o comunismo (juntamente um dos seus fundamentos teóricos que foi o marxismo) no Brasil a partir da segunda metade do século XX até os anos de 1980. Relações de divergência e convergência com a dupla dimensão do marxismo, ou seja, instrumento de análise da realidade e visão global de mundo. O Objetivo da comunicação é reconstituir a trajetória dessa relação a partir da análise de um universo documental que se inicia com o lançamento da encíclica Divini Redemptoris, por Pio XI em 1937, seguida de vários pronunciamentos e manifestos do Episcopado Brasileiro publicados nas páginas da Revista Eclesiástica Brasileira (REB), nos anos de 1940 e 50. Mas que teve um momento de inflexão importante nos anos de 1970, tal como pode ser constatado na palestra de Dom Helder Câmara, pronunciada em 1974, intitulada “Que faria São Tomás de Aquino, o comentador de Aristóteles, diante de Karl Marx ?”, e igualmente nas obras dos expoentes da Teologia da Libertação. Palavras-chaves: Catolicismo; Marxismo; Igreja. JUVENTUDE E RELIGIÃO: UMA ANÁLISE DAS RUPTURAS E PERMANÊNCIAS NO CATOLICISMO

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Juliane dos Santos Bitar – Graduada – UFAM Luana Oliveira das Chagas – Graduada – UFAM Suelem Carneiro Fonseca – Graduada – UFAM Resumo: Este trabalho tem como tema a dinâmica do fenômeno religioso na cidade de Parintins, no Amazonas. A escolha da pesquisa surgiu da necessidade das pesquisadoras em buscar entender o deslocamento religioso dos jovens pertencentes a igreja Nossa Senhora do Carmo (Padroeira da cidade) para a primeira Igreja Batista em Parintins, o qual acontece quando os católicos deixam de pertencer a religião católica e, por várias razões, decidem migrar para uma igreja evangélica que apresenta um contexto religioso diferente do qual estavam inseridos. Diante disso, constatou-se que são poucos os estudos realizados na área da religião, no município, razão pela qual despertou o interesse na investigação da temática. Neste sentido, a proposta desta comunicação científica foi realizar uma análise dos fatores e influências que levam os fiéis católicos a rupturas com o catolicismo e migrarem para a teologia batista; também se pretende demonstrar os relatos das experiências dos fiéis e as razões para permanecerem na igreja católica. Para tanto, estabelecer um debate sobre o catolicismo no Brasil e Juventude e religião (PORTELA, 2010, 2012, 2013) foram fundamentais nesta discussão; na abordagem sobre a dinâmica da religião contemporânea utilizou-se os pressupostos teóricos de Hall (2007), Jacob et al (2003), Mardones (1994), Pace (1997), Pereeault (2005), Rubem Alves (1999), Rodrigo Cardoso (2011) que explicam o fenômeno religioso na atualidade. O trabalho mostra a importância da religião na vida das pessoas e as mudanças individuais decorrentes do processo religioso, ou seja, as rupturas e permanências. A cidade de Parintins é conhecida como um município marcadamente católico, representada por sua festividade em honra a Nossa Senhora do Carmo, que acontece no mês de julho, com a participação de muitos fiéis. O método de pesquisa utilizado fundamentou-se numa abordagem qualitativa. Aplicou-se um questionário para coleta de dados e 14 pessoas foram escolhidas para participar da pesquisa. O que determinou a seleção dos entrevistados foi o fato de alguns deles terem rompido com sua religião católica e as implicações que esta ruptura provocou. A escolha dos demais participantes articulou-se pelas razões de suas permanências na igreja católica e por manterem a sua tradição. Constatou-se que os principais motivos que levaram os fiéis a romperem com o catolicismo foi a crise das instituições produtoras de sentido, a fragilização da fé católica no contexto da pluralidade cultural e o fato do catolicismo não mais responder às suas demandas; isto provocou, por outro lado, o refúgio dos jovens às propostas da teologia protestante, por melhorias pessoais, longevidade, salvação terrena e qualidade de vida. Palavras-chave: Catolicismo; Juventude; Religião Pós-moderna.

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AS DEVOÇÕES NÃO-CANÔNICAS COMO PROCESSOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO INDIVIDUAL: O SANTORAL NÃO-CANÔNICO BRASILEIRO Luís Américo Silva Bonfim – Doutor – UFS Resumo: As práticas religiosas tem ocupado um importante espaço dentre os diversos temas dos processos oficiais de patrimonialização no Brasil. Desde os inventários sobre celebrações, saberes, formas de expressão e lugares (livros do Registro) até em documentações audiovisuais mais criteriosas, observa-se a relevância da religiosidade como um importante vetor de produção de memória. Esta comunicação tem como objetivo avaliar, à luz da eficácia da produção patrimonial, um conjunto de práticas espontâneas de registros orais e rituais coletivos sob a forma de canonizações populares dispersas por todo território brasileiro, nas quais as santidades não passam necessariamente pelo crivo dos ordinários religiosos católicos. Tratam-se dos cultos ditos como “irregulares”, “profanos”, marginais à oficialidade, adaptados criativamente pelos fieis, com base na tradição do Catolicismo que se instalou no Brasil ainda no período colonial, conectando mitos e ritos. Foram utilizados os métodos etnográfico e de história de vida, em quase duas dezenas de trabalhos de campo realizados em estados de todas as regiões brasileiras, entre os anos de 2004 e 2016. Destes trabalhos de campo foi possível construir um thesaurus sobre práticas votivas e perfis devocionais canônicos e não-canônicos, inclusive com a aplicação de recursos de georreferenciamento e banco de dados. Os resultados indicam que, para além da renovação de ritos e filiações religiosas à matriz católica, os processos populares de canonização revelam uma vigorosa produção de memórias e a consequente valorização de processos individuais de patrimonialização, a partir de uma complexa taxonomia de virtudes e tragédias testemunhadas coletivamente e modelares sobre o desempenho moral dos grupos envolvidos. Palavras-chave: Devoções populares; Patrimônio individual; Brasil. FESTAS E DEVOÇÕES POPULARES MARIANAS NO AMAZONAS: MODERNIDADE RELIGIOSA E VIDA URBANA Rodrigo Fadul Andrade – Mestre – UFAM Sérgio Ivan Gil Braga – Doutor – UFAM Resumo: Esta comunicação apresenta uma abordagem antropológica sobre devoção e festa popular em homenagem à Virgem Maria, verificadas em três cidades do Estado do Amazonas: Manaus, Manacapuru e Itacoatiara. Estas cidades possuem como santa padroeira respectivamente Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora de Nazaré e Nossa Senhora do Rosário. Além das festas onde se incluem os arraiais, têm sido realizadas novenas, procissões, romarias e outras atividades nas igrejas, em praças e ruas, reunidas em um ciclo festivo que dura em média quinze dias, com

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base em elementos históricos e contemporâneos de uma religiosidade que se manifesta principalmente nos espaços públicos das cidades pesquisadas. Para descrição etnográfica e análise, reconhecemos as transformações do catolicismo nas últimas décadas, sobretudo de secularização da crença, do culto e festividades em honra a Virgem Maria no Amazonas, situações que refletem problemas sociais e anseios do cotidiano. A busca por realizações pessoais e melhores condições de moradia, trabalho, saúde, entre outras variantes da vida moderna, contribuem para a motivação e interesse dos sujeitos pela “Santa”, consubstanciadas em relações de trocas no sentido maussiano, onde se incluem cerimônias, orações, doações, sacrifícios e magia. Palavras-chave: Mariologia; Modernidade religiosa; Vida urbana; Amazonas. ESPETÁCULOS PEREGRINOS: A RELIGIÃO EM MOVIMENTO DO PADRE FÁBIO DE MELO Silvério Leal Pessoa – Doutorando – UNICAP Resumo: Os espetáculos religiosos têm se constituído importantes indicativos de novas dinâmicas no campo religioso brasileiro. Esses, em geral liderados em sua maioria pelos denominados artistas da fé, transitam entre o altar e o palco e são exemplos basilares à compreensão da modernidade religiosa (Danièle Hervieu-Léger) no Brasil. Nessa perspectiva, esta comunicação foca os espetáculos religiosos do padre Fábio de Melo. Parte-se da premissa que ao peregrinar pelo Brasil com shows no âmbito dos campos religioso e artístico-midiático, o citado agente evidencia deslocamentos e aproximações entre o altar e o palco, além de constituir vínculos comunitários transitórios e adotar os sentidos da dinâmica da modernidade religiosa. A pesquisa está centrada em observações realizadas in loco em dez (10) espetáculos, tanto no âmbito daqueles vinculados diretamente ao campo religioso, como no Festival Halleluya em Fortaleza-CE, quanto nos diversos shows apresentados em espaços consagrados do campo. Palavras-chave: Espetáculo Religioso; Padre Fábio de Melo; Catolicismo contemporâneo. CATEQUESE: ENCONTRO COM O MESTRE Wescley Paulo Pereira de Melo – Mestrando – UNICAP Resumo: A catequese é base para Igreja exatamente por introduzir os candidatos no mistério da fé. E ainda mais, esforçar-se em externar a necessidade de um contínuo aprofundamento de “Lex credendi”, mesmo após os sacramentos da iniciação cristã (batismo, crisma e primeira comunhão). Objetivamos ajudar o

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catequisando abraçar conscientemente a fé e propor caminhos. Para alcançar tal desejo usufruímos da pesquisa bibliográfica. Percebe-se o esforço contínuo das catequistas em seguir o conselho de Santo Agostinho que disse “o que quer que narres faze-o de tal forma que aquele que te ouve, ouvindo, creia, e crendo, espere e, esperando, ame”. (AGOSTINHO, Santo. A instrução dos catecúmenos, p. 49). Contudo ainda se percebe a mentalidade – na comunidade – de uma “escola” no sentido pejorativo da palavra. Onde as “professoras” de catequese ensinam os “alunos”. Isso às vezes pode limitar a busca da verdade. Paulatinamente a Paróquia apresenta um novo itinerário catequético visando enfatizar Jesus Cristo que caminha conosco, explica as Escrituras e parte o Pão para assim caminharmos na estrada da Vida e anunciar a Boa Nova a todas as criaturas. Palavras-chave: Catequese renovada; Encontro; Palavra e Eucaristia.

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ST 04 – RELIGIÃO, ESPAÇO PÚBLICO E POLÍTICA

Dr. Emerson Sena da Silveira (UFJF/MG) [Coordenador] Dra. Claudete Beise Ulrich (UNIDA) Dr. Douglas Ferreira Barros (PUC-Campinas/SP) Dr. Rodrigo Coppe Caldeira (PUC-BH/MG) Dr. Rudolf Von Sinner (EST/RS) Dr. Glauco Barsalini (PUC-Campinas/SP) Ementa: A presença das religiões e de seus movimentos no espaço público tem sido a tônica desde a proclamação da República, que rompeu com a situação de quase monopólio religioso exercida pela Igreja Católica. Nas últimas décadas, os diversos grupos evangélicos, os grupos católicos e em menor grau, os outros grupos religiosos desenvolvem diversas formas de atuação junto ao espaço público e estatal, à esfera pública, aos agentes políticos, elegendo representantes nas câmaras federais, estaduais e municipais, pressionando o legislativo com pautas específicas, entre outros aspectos. Os desdobramentos dessa presença e atuação no espaço e na esfera públicas são diversos e complexos. Nesse sentido, o ST pretende acolher pesquisas empíricas, teórico-empíricas e teóricas que versem sobre o tema acima descrito. AS EXPERIÊNCIAS DA MODERNIDADE E DA SECULARIZAÇÃO NO DISCURSO ULTRAMONTANO DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DA HISTÓRIA DOS CONCEITOS Ana Rosa Cloclet da Silva – Doutora – PUC Campinas Resumo: Conforme vem sendo admitido no âmbito das Ciências Sociais e da própria Filosofia contemporâneas, Modernidade e Secularização configuram complexos temáticos tradicionalmente associados a um processo teleológico e generalizante de declínio e privatização do religioso. Neste sentido, reconhece-se que a dimensão prescritiva de ambos os termos, emprestados da formulação weberiana, levou os cientistas sociais não apenas a se desinteressarem pelos diferentes caminhos que as sociedades tomaram neste processo, mas tornou-os inúteis para a teoria social. Nesta comunicação, pretende-se abordar a pertinência deste debate para o âmbito da História das Religiões, disciplina constitutiva da área multidisciplinar das atuais Ciências da Religião. Especificamente, pautando-se numa indagação sistemática e documentada, visa-se reconstituir a dinâmica histórica concreta que, no Brasil da

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segunda metade do século XIX, gestou as condições de possibilidades para a separação institucional entre Igreja católica e Estado nacional. Para tanto, pretende-se avaliar a proficuidade do instrumental teórico e analítico proposto pela História dos Conceitos para a revisão de um conjunto de categorias que, nos discursos coevos dos atores que protagonizaram os rumos da reforma ultramontana então implementada, representaram tal experiência histórica da modernidade e secularização, assumindo distintas e simultâneas formas de manifestação. O COMPROMISSO SOCIOPOLITICO DO CRISTÃO Antônio de Pádua Santos – Mestrando – PUC SP Resumo: Esta comunicação tem por objetivo apresentar minha pesquisa sobre o compromisso sociopolítico do cristão a partir do Documento de Aparecida e da Doutrina Social da Igreja. Recolher dados para aluminar e embasar as atividades sociopolíticas dos cristãos diante dos desafios que apresentam a sociedade de hoje. O Evangelho deixa claro que a vontade de Deus é que seus filhos tenham vida e a tenham em abundância, porém muitas vezes a realidade afronta este princípio basilar do cristianismo. Usando o método de revisão bibliográfica procuro levantar os fundamentos, os caminhos e os objetivos na literatura pertinente para demonstrar que é possível, necessária e urgente a atuação dos discípulos missionários de Jesus Cristo para que a sociedade seja condizente com a dignidade humana proposta pelo Evangelho. Os resultados são os caminhos abertos ou canais de participação que os cidadãos têm à sua disposição para que atue em favor de uma sociedade mais justa e fraterna. Num contexto de liberdade as oportunidades são usadas de acordo com os objetivos de cada cidadão ou propostas de seus grupos ou partidos. Na sociedade democrática as possibilidades são múltiplas e os interesses os mais diversos e, dentre deste espaço também os cristãos têm as suas propostas. Recolhendo os frutos da grande tradição da Igreja de amor e misericórdia concluo com os cristãos olhando para a frente, projetando um mundo com mais justiça e paz, dispostos a atualizar a proposta de Deus no Evangelho de Jesus Cristo dentro dos limites democráticos do estado de direito para implantar o Reino de Deus. OS DESAFIOS EM TORNO DA COMPREENSÃO DO QUE É SER LAICO NO BRASIL Aretha Beatriz Brito da Rocha – Mestranda – PUC Campinas Resumo: Foi com o decorrer do processo de modernização que os embates envolvendo a laicidade do Estado ganharam maior atenção, sobretudo, no espaço público. Para os evangélicos foi de grande importância levantar esta bandeira, a fim de romper com a hegemonia católica que violava e afetava diretamente os valores protestantes. Dessa forma, para este grupo a constituição de um Estado Laico

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permitiria uma maior liberdade religiosa e de crença que, num primeiro momento, não estava diretamente relacionada com a inserção na vida pública, mas sim, com a possiblidade de aumento da oferta religiosa que demonstrou uma vigorosa expansão no país. Só posteriormente, que interesses prioritariamente políticos passaram a atrair grupos de evangélicos das mais diferentes denominações, sob a justificativa principal de preservar os princípios e os valores cristãos. É nesse momento que se intensifica o embate em torno do que é, e como se constitui o Estado Laico no Brasil. O objetivo deste trabalho foi demonstrar através de uma pesquisa qualitativa e bibliográfica, as diferentes compreensões que se tem de laicidade e de que forma este conceito afeta o campo político e social brasileiro. Percebe-se que ser laico no Brasil não é o mesmo que dizer que o Estado é irreligioso. Trata-se de uma laicidade que busca, sobretudo, a emancipação tanto do Estado, como da religião e a reprodução da tolerância e da liberdade individual e coletiva, no que diz respeito às diversas formas de culto e de crença. Não significa, portanto, a exclusão ou a segregação da religião, uma vez que a criação de partidos próprios e da Frente Parlamentar Evangélica são demonstrações da força que a religião passa a exercer no espaço público. Este envolvimento se deu também por influências de grupos laicos, ou seja, partidos políticos e governantes (principalmente dos cargos legislativos) que se aproximaram significativamente das igrejas evangélicas para atrair fieis para o seu eleitorado. Tal comportamento legitima a estreita relação que se observa entre política e religião, assim como fortalece a dependência que alguns partidos ou representantes políticos podem sofrer de instituições ou líderes religiosos. É nesse sentido, que as rivalidades e as disputas de poder se intensificam e o conceito de laicidade ganha diferentes conotações dependendo do que for conveniente para determinado grupo, seja ele vinculado a uma religião ou não. Palavras-chave: Estado laico; Evangélicos; Religião; Política; Brasil. RELIGIÃO, TOLERÂNCIA E LAICIDADE NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS: UM ESTUDO NA UFABC DE DISPUTA DO ESPAÇO PÚBLICO ENTRE RELIGIOSOS E LÍDERES DE MOVIMENTOS SOCIAIS Clarissa De Franco – Doutora – UFABC Resumo: A utilização do espaço de uma universidade pública do Estado de São Paulo, a Universidade Federal do ABC, por parte de um grupo de alunos e alunas evangélicos/as (de várias denominações religiosas) tem sido alvo de uma disputa dentro do campus, especialmente por parte de coletivos estudantis, em especial os grupos LGBTs e feministas. A reunião das pessoas religiosas ocorre semanalmente, envolvendo rodas de conversa e cânticos de músicas do gênero gospel. Tal ocupação do espaço da UFABC tem sido alvo de discussões acerca da laicidade no ambiente universitário. Apontamos, no trabalho, alguns equívocos a respeito do conceito de laicidade, como se esta fosse sinônimo de eliminação das religiões dos espaços públicos. Cabe também ressaltar que eventualmente, outras manifestações religiosas

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fazem uso do espaço da universidade e o tratamento reservado a estes grupos têm variado. Partimos dos pressupostos (a serem investigados pelos dados de campo) que a laicidade é identificada com a proposta equivocada de um Estado ateu, e que as denominações conhecidas como evangélicas têm enfrentado maior intolerância no ambiente acadêmico que outros grupos religiosos. Palavras-chave: Laicidade; Universidades públicas; Tolerância. RELIGIÃO E CONTEXTO PÚBLICO: ATUAÇÃO RELIGIOSA COMO TEOLOGIA POLÍTICA Douglas Ferreira Barros – Doutor – PUC Campinas Resumo: O artigo tem por objetivo examinar definições de teologia política na contemporaneidade à luz da cada vez mais influente presença das religiões em contextos públicos. Taubes (1955) estabelece que a teologia política contemporânea exprime as similaridades entre as linguagens da filosofia política e da religião. Nesse sentido, para uma perspectiva cristã da teologia política as concepções de democracia radical, de pluralismo e de liberdade encontram-se em confronto com a concepção de poder político concebido pela religião católica, que sempre identifica a figura do governante à do soberano detentor da autoridade máxima. Metz (2007) argumenta que a teologia política, como memoria passionis, deve exprimir o envolvimento cristão com a dor dos desamparados deste mundo e posicionar-se como um porta voz das suas injustiças. Já a perspectiva mais comentada nos meios acadêmicos contemporâneos, a de Carl Schmitt (2005), entende a teologia política como um certo modo de se conceber o poder político e o soberano, entre outros aspectos, como reflexo de sua estrutura concebida na Idade Média. Entretanto, quando se observam instituições do estado serem ocupadas por cidadãos que não distinguem um ato político de um ato religioso, ou não vêem problema em que sejam universalizados a todo o contexto político (instituições e poderes políticos) princípios e dogmas que concernem a sua orientação religiosa particular, cabe perguntar: qual concepção de teologia política está em jogo? Em termos metodológicos, a partir de abordagens teóricas contemporâneas, pretendemos aprofundar a relação entre teologia política e posicionamento político público. Por fim cabe mostrar que a teologia política na contemporaneidade diz respeito ao modo como se entende o envolvimento e o engajamento, maior ou menor, da religião junto às instituições políticas e aos assuntos de interesse público. Palavras-chave: Teologia política; Schmitt; Soberania; Político; Religião. MULHERES EVANGÉLICAS NO CONGRESSO NACIONAL: ATUAÇÃO PÚBLICA NAS LEGISLATURAS DE 2006, 2010 E 2014

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Emerson José Sena da Silveira – Doutor – UFJF Resumo: Investiga-se, nessa comunicação, a crescente participação religiosa na vida pública, em especial os evangélicos pentecostais e neopentecostais. No grande contingente de novos atores políticos religiosos, estão as mulheres que, ao assumirem um papel ativo, apontam para uma tensão no campo das igrejas tradicionais que costumam embarreirar a atuação pública feminina. Tendo isso em perspectiva, apresentam-se as questões: Quem são as parlamentares evangélicas e como atuam no parlamento [projetos, discursos e participação], tendo como variáveis principais questões atinentes à sexualidade, à família e às questões sociais [educação, saúde e outras]? Quais os temas mais importantes nos projetos de lei, nos discursos e na atuação das congressistas? Qual é a efetividade de sua atuação nas pautas do Congresso Nacional relativas aos temas sociais, familiares e outros? A hipótese básica é a de que a vivência plena da democracia e do Estado de Direito abriu espaço para a presença de um discurso feminino evangélico, apresentando alguns pontos em comum com relação ao conservadorismo moral e diferenças em relação ao discurso feminista de esquerda em relação à família e questões sociais. Por isso, pretende-se, mapear a atuação das mulheres evangélicas, deputadas e senadoras. A presença dessas mulheres religiosas é um claro contraponto a atuação dos movimentos feministas, pautados por uma ideia de mulher vista como moderna, independente, autônoma, dona de seu corpo, desejo e sexualidade. Nesse contexto, as teorias de gênero tornam-se fundamentais para entender como no âmbito de uma democracia liberal-representativa, as mulheres, a religião e o gênero se articulam e quais são as tensões entre as representações progressistas e conservadoras do feminino, do papel da mulher e de sua atuação pública. Por outro lado, a atuação dessas deputadas parlamentares, junto ao restante do congresso, em especial na legislatura de 2014, tem motivado o avanço de pautas consideradas conservadoras: restrição às legislações do aborto, ao conceito de família e outros. Partindo dessas perguntas, a metodologia consistirá em levantamentos quantitativos do perfil das parlamentares e de sua atuação ao longo de duas legislaturas, a de 2010 e de 2014, catalogação e tipificação, análise de discurso e de conteúdo. Justifica-se a restrição temporal pela quantidade de informações e por coincidir com duas eleições nas quais os temas morais como aborto e outros estiveram em forte evidência. Palavras-chave: Mulheres evangélicas; Participação política; Representação. A POLÍTICA COMO RITO E A DEMOCRACIA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA Glauco Barsalini – Doutor – PUC Mariana Pfister – Mestranda – Campinas Resumo: Em contrariedade à defesa de que o Estado secularizado se constitui na separação entre a política e a religião, e, também, diversamente à defesa de que ele corresponde a um campo neutro, que pode acomodar, no âmbito da política,

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argumentos e múltiplas práticas discursivas de caráter religioso e não religioso, contrastantes ou não entre si, Giorgio Agamben explicita que a glória, pela aclamação e pela liturgia, compreende o próprio alicerce do poder soberano contemporâneo. Ao estabelecer relações entre as obras O Reino e a Glória e Opus Dei: arqueologia do ofício, ambas do filósofo hodierno, esta comunicação tem por finalidade trazer contributos para pensar a própria genealogia dos discursos religiosos presentes no universo da política brasileira. A articulação sequencial entre ambos os livros, particularmente entre os capítulos intitulados “Arqueologia da Glória” (do primeiro) e “Liturgia e Política” (do segundo), poderá contribuir - especialmente na investigação dos conceitos de operosidade, inoperosidade e ofício - para as discussões fundamentais dos debates sobre a relação entre religião e política, auxiliando na compreensão do crescimento cada vez maior da presença dos religiosos e representantes de Igrejas junto os poderes do Estado brasileiro. Tal investigação auxiliará, também, para o entendimento acerca da expansão dos discursos e práticas políticas enraizadas em fundamentalismos morais associados a fundamentalismos religiosos, que se erguem sobre a concepção de que o poder dos homens se liga diretamente ao poder divino, motivo pelo qual se justifica a necessária relação entre o rito e a realização da política. Inscrita no território da teologia política, esta comunicação visa, portanto, trazer subsídios para pensar-se a problemática das relações entre a religião, a política e o espaço público contemporâneos, inclusive as que se constroem na democracia brasileira atual. Palavras-chave: Glória; Política; Democracia Brasileira contemporânea. O CAMPO CATÓLICO CONSERVADOR E O DISCURSO POLÍTICO RELIGIOSO “ANTI-IDEOLOGIA DE GÊNERO” Ingrit Machado Jeampietri de Paiva – Mestranda – UFS Resumo: Nas ultimas décadas cresceu o engajamento por políticas públicas de inclusão. Diversas especificidades foram aclamadas ampliando o leque de reinvindicações, possibilitando o emergir de enfoques nas relações e identidades de gênero e sexualidades. O sistema educacional como política pública passa a ser repensado de modo a possibilitar que estereótipos não marginalizem mulheres, homossexuais, transgênero etc. ocasionando escalonamentos, evasão escolar, exclusão e/ou violência. Porém, em 2014 o discurso “anti-ideologia de Gênero”, motiva a retirada dos termos “gênero e sexualidades” do Plano Nacional de Educação 2014-2024 (PNE). Portando faixas, cartazes e crucifixos, vários jovens e líderes religiosos ocuparam sessões plenárias para dizer “não à ideologia de gênero” que estaria escondida no texto original do PNE tendo como intuito acabar com a “Família Natural” e homoerotizar as crianças. Como fruto de pesquisa em andamento, esta comunicação tem como objetivo apresentar o histórico da construção da alcunha “ideologia de gênero” pelo Campo Católico Conservador, como um movimento de reação às políticas públicas de inclusão. Buscando compreender este processo,

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utilizaremos como ferramenta o método histórico-crítico e a análise sociológica do francês Pierre Bourdieu, em especial as categorias campo, agente e habitus, tendo como intuito apresentar as cumplicidades dos agentes dos campos religioso e político em torno das relações escalonais de gênero. Os resultados do levantamento histórico serão apresentados como um movimento de “Contrarreforma das relações de gênero” – manutenção das estruturas escalonais – que teve como intuito mascarar os interesses dos agentes permitindo a transfiguração do discurso religioso em discurso político. As disputas em torno do PNE serão apresentadas como recorte temporal que nos permite vislumbrar a sobreposição dos campos político, religioso e educacional, onde a apropriação do discurso “anti-ideologia de gênero” proveniente do Campo Católico Conservador por agentes de outros campos torna-se “ação prática”. Consideraremos finalmente a permanência do ideário de que os especialistas do “mercado religioso” são representantes legítimos do “progresso na medida certa”, situação que nos permite vislumbrar a forte influencia do Campo Católico Conservador sobre o espaço público estatal, ocasionando inclusive o levante do movimento “Escola sem Partido”. Palavras-chave: Campo Católico Conservador; Ideologia de Gênero; Política Educacional; Espaço Público. O PLURALISMO MORAL DE ISAIAH BERLIN E A PRESENÇA DA RELIGIÃO NO ESPAÇO PÚBLICO: APONTAMENTOS INICIAIS Jonathan Goudinho – Mestrando – PUC Minas Resumo: O espaço público contemporâneo apresenta variados desafios para a vida em sociedade, especialmente em virtude da diversidade de grupos e convicções que se articulam no debate público. Sobretudo nas democracias liberais, as tensões que dizem respeito à presença da religião neste espaço têm alcançado novo e vigoroso destaque nas reflexões acadêmicas. A partir de tal cenário, esta comunicação pretende introduzir o pensamento do filósofo britânico de origem judaica russa e historiador das ideias Isaiah Berlin e a sua teoria do pluralismo moral (ou pluralismo de valor). Berlin foi um espectador privilegiado do mundo à sua época e profundo conhecedor das culturas russa, britânica e judaica. Para ele, notável defensor do liberalismo e um dos principais intelectuais do século XX, o pluralismo moral é um princípio da democracia que permite a coexistência pacífica de diferentes interesses, convicções e concessões do bem comum. Esta formulação, situada na teoria social e política, propõe que valores morais podem ser incomensuravelmente válidos e, ainda assim, incompatíveis, o que resulta em conflitos que não admitem resolução sem referência a contextos particulares de decisão. Nas sociedades que se organizaram em torno de um Estado liberal, a religião se configura um contexto particular de decisão e, portanto, deve ser considerada um ente no embate público entre os diferentes valores incomensuráveis existentes. À luz da teoria de Berlin, promove-se, por esta comunicação, uma diferente abordagem ao já consolidado e cada vez mais

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proeminente tema, levantando questões tais como: a) se há a possibilidade da religião participar do debate público; b) em caso positivo, qual seria o espaço para tal participação; e c) qual o âmbito de atuação da religião neste espaço. Pretende-se apresentar, nesta comunicação, a teoria do pluralismo de valor de Isaiah Berlin como uma pertinente categoria para o estudo das relações entre religião e espaço público contemporâneo. Palavras-chave: Religião e contemporaneidade; Pluralismo moral; Isaiah Berlin; Espaço público. O LUGAR DA RELIGIÃO NA TEORIA SISTÊMICA DE NIKLAS LUHMANN José Maria da Frota – Doutorando – PUC Goiás Resumo: Este artigo pretende, de forma breve, conhecer a teoria dos sistemas sociais de Niklas Luhmann (1921-1998), com a finalidade de tornar conhecido o sistema religioso que faz parte desta tão importante teoria. Para construir o artigo buscaram-se alguns autores que interpretaram as obras de Luhmann, fazendo breves comentários sobre o tema proposto, entre eles: CIPRIANI (2007); BARALDI (1996); KUNZLER (2004). O artigo insere-se na pesquisa bibliográfica. As leituras realizadas, bem como, a análise de interpretação do pensamento de Niklas Luhmann forneceram elementos para conhecer o conceito da teoria dos sistemas, e o sistema religioso que é objeto de pesquisa deste artigo. Os resultados obtidos pela pesquisa bibliográfica, em artigos publicados, e a análise dos textos que foram analisados conceitualmente e em caráter descritivo, permitiram conhecer de uma maneira minimizada, a teoria dos sistemas sociais, bem como o lugar da religião na teoria sistêmica de Niklas Luhmann. Palavras-chave: Niklas Luhmann; Sociedade; Religião. BÍBLIA E LITURGIA: A POLÊMICA ENTRE O MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO E A CÂMARA DO RECIFE Liniker Henrique Xavier – Mestrando – PUC Minas Resumo: Duas polêmicas relacionadas a presença da religião do espaço público marcaram a Câmara Municipal do Recife em abril de 2017. O Ministério Público de Pernambuco de Pernambuco (MPPE), por meio da sua 27ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, que tem atribuições relacionadas a promoção e defesa do patrimônio público, recomendou a mesa diretora da Casa que "se abstenha de autorizar ou permitir a realização de reunião/encontro ou assemelhado, em que haja a prática de liturgias e rituais próprios de cultuação religiosa". A recomendação se aplica tanto a casa legislativa quanto aos seus prédios anexos e foi

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publicada do Diário Oficial do Estado de Pernambuco – Ministério Público Estadual, em 20 de abril. O texto publicado ressalta ainda que, “notícias concretas do descumprimento do contido nesta Recomendação, importará na adoção das medidas judiciais cabíveis para correção das irregularidades e responsabilização dos agentes públicos, salientando, ainda, que a expedição prefixa responsabilidade e demarca o dolo”. Ao discutir a questão no plenário da Casa, surge o segundo ponto polêmico. A vereadora Marília Arraes (PT) afirmou querer retirar a Bíblia da sala. O regimento prevê que a Bíblia fique aberta sobre a mesa durante toda a reunião, à disposição de quem dela quiser fazer uso. O mesmo regimento prevê também que as sessões serão abertas com o presidente da Câmara proferindo as seguintes palavras: "Sob a proteção de Deus e em nome do povo recifense, iniciamos nossos trabalhos". Os três vereadores mais votados da cidade do Recife pertencem a denominações evangélicas. Juntos, Michele Collins, irmã Aimée Carvalho e Fred Ferreira, somaram mais de 43 mil votos no último pleito, em 2016. As duas primeiras coladas, duas mulheres em seu segundo mandato, renovaram sua permanência na Câmara com mais votos que na eleição anterior, em 2012. O presidente da Casa, o vereador Eduardo Marques, também evangélico, foi eleito para o sexto mandato com mais de dez mil votos. A comunicação tem por objetivo apresentar os argumentos das bancadas a favor e contra a recomendação do MPPE e da retirada da Bíblia, que foram exaustivamente apresentados durante os debates feitos nas sessões da Casa. A partir da ouvida destes discursos, sem a intenção de esgotar o debate acerca do tema, poderemos conhecer os pontos que conferem legitimidade para a recomendação da Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, bem como dos argumentos que dão a Câmara Municipal a prerrogativa de decidir sobre estas questões. A IGREJA CATÓLICA E SEU PAPEL POLÍTICO NO BRASIL Luzeni Martins da Cunha – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Diante do papel social da Igreja Católica em defesa da política e relações com o estado e sociedade civil. A Igreja Católica e Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), considerado o alicerce central no processo de mudanças na função social e político em defesa da sociedade, crítica às políticas neoliberais, desregulação dos mercados e a redução de gastos sociais como causador do empobrecimento dos latinos americanos, mas defendem também em sua luta a ordem moral, sexual e tradicional, e a legitimação política e institucional do catolicismo. Frente aos desafios, a Igreja Católica identifica no fenômeno globalização fatores preocupantes no cenário mundial, que é o desequilíbrio fiscal, o déficit da conta corrente e da balança de pagamentos, e o desemprego, em função do desequilíbrio macroeconômico. Palavras-chave: Igreja; Papel social; Defesa; Desafios.

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POLÍTICA E RELIGIÃO: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DOS CATÓLICOS CARISMÁTICOS DO BRASIL Marcos Vinicius de Freitas Reis – Doutor – UNIFAP Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar o comportamento político-partidário dos políticos vinculados à Renovação Carismática Católica (RCC). A escolha desse segmento religioso deve-se ao número razoável de políticos eleitos para o poder executivo e legislativo e ser a RCC um dos setores mais expressivos do catolicismo. A questão central é entender as razões pelos quais esse movimento entra no cenário político brasileiro e como é estabelecido o seu apoio para os políticos. Foram levantados material de propaganda e artigos de jornais, e realizadas entrevistas semiestruturadas com políticos, padres, coordenadores e participantes. Palavras-chave: Renovação Carismática Católica; Partidos Políticos; Representação Política; Pluralismo; Democracia. TEOLOGIA POLÍTICA: EM FAVOR DA SECULARIZAÇÃO OU DA SACRALIZAÇÃO DO PROFANO? Maria Elisa Silveira de Souza – Mestranda – PUC Campinas Resumo: Na modernidade, após o surgimento do pensamento iluminista, emergiu a ideia de que o Estado teria se emancipado da religião, que ambos os domínios se posicionariam em separado, tendo a religião ocupado parte do espaço privado e os interesses do Estado, o espaço público. Carl Schmitt, pensador e jurista contemporâneo analisa que os conceitos que compõem o Estado civil, assim como todos os da filosofia política moderna, são conceitos teológicos medievais, secularizados (SCHMITT, 2006, p. 35). A partir desse pressuposto pretende-se nesse ensaio identificar a interpretação que Schmitt possui sobre secularização, identificando a partir dessa ótica a nebulosa e tensa relação entre o espaço público e as religiões. Nota-se que tanto o Estado quanto o contexto público, em sentido amplo são fortemente influenciados pelas religiões, mesmo em sociedades supostamente secularizadas cabe perguntar: o que se encontra atualmente em contexto público é o que podemos chamar de teologia política ou a sacralização do profano? A partir de uma análise da bibliografia atinente aos temas da secularização e da teologia política schmittiana, nossa pretensão nesse ensaio é mostrar como as concepções schmittianas de Estado e teologia política parecem infensas aos elementos religiosos, mas remetem diretamente à discussão sobre a teologia política. Palavras-chave: Secularização; Espaço público; Sacralização do político; Teologia Política.

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PASTORES-PRESIDENTE DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS: MOBILIDADE SOCIAL, POLÍTICA E VISIBILIDADE DE PODER Marina Aparecida Oliveira dos Santos Correa – Doutora – UFS Resumo: Estudar as Igrejas das Assembleias de Deus (ADs) atualmente requer muito mais do que uma simples leitura, para não ser surpreendido com uma formação complexa e dinâmica. Precisa-se, ao contrário, se aprofundar na história, conhecer a sua trajetória, a primeira formação pastoral dessa instituição, os obreiros nacionais, invisíveis aos olhos de seus fundadores, os missionários suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg no ano de 1911, na cidade de Belém, PA. Assim, objetiva nesta comunicação ilustrar a expansão, institucionalização, visibilidade e poder que esses pastores construíram a partir da Convenção nacional na década de 1930; e ainda, como os pastores passaram por um processo de transformação social e política, que os levaram na atualidade a ocuparem cargos políticos de relevância nacional, a ponto de ocuparem no Congresso Nacional a metade das cadeiras no grupo de cristãos conhecidos como Frente Parlamentar Evangélica. Esses fatos exteriorizam a construção do poder centralizado pelos pastores no campo assembleiano ao longo de sua história, com alterações imensas, suscitando questões interessantes das dinâmicas produzidas internamente por essa denominação. Palavras-chave: Pentecostalismo; Assembleias de Deus; Pastores-presidente; Transformação social e política. ABUSO DE PODER RELIGIOSO E LAICIDADE ESTATAL Osvair Coutinho Gomes – Mestrando – PUC Goiás Resumo: A questão fundamental a ser abordada nesta comunicação reside na busca por identificar o risco oferecido à laicidade estatal pela influencia direta da religião na política, e o chamado ”abuso de poder religioso”, como instrumento para desequilibrar os pleitos eleitorais em favor de candidato ungidos pelas mais diversas instituições religiosas, no Brasil. É certo que uma das mais importantes conquistas democráticas no mundo contemporâneo é a separação entre religião e política. No Brasil, a separação entre Estado e Igreja se deu apenas com a instauração do regime republicano, em 1889. No entanto percebe-se que, em nossa sociedade, esta separação a relação de cooperação entre as duas instituições foram estreitas, e a liberdade religiosa plena sempre foi mais um discurso do que uma prática efetiva. Neste contexto, o entrelaçamento entre política e religião, o aumento dos casos de abuso do poder religioso, como instrumento de alienação da livre manifestação da vontade de fiéis/eleitores, quebra a isonomia do pleito, desequilibrando o processo eleitoral, e, pode como conseguinte, vir a influenciar nas decisões político-administrativas do país, gerando ameaça à laicidade estatal. Serão estes, pois, os aspectos a serem analisados na presente comunicação.

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Palavras-chave: Religião; Política; Laicidade; Poder. RELIGIÃO E POLÍTICA: A CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO POLÍTICO DOS EVANGELICOS NEO-PENTESCOTAIS ATRAVÉS DA MARCHA RESGATE NO MUNICÍPIO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO. Ricardo Jorge Silveira Gomes – Mestrando – UNICAP Adriana Guilherme Dias da Silva Figueirêdo – Mestranda – UNICAP Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar os fatores relacionados aos eventos culturais que marcaram a institucionalização da igreja evangélica de expressão neopentecostal como ato político, no município do Cabo de Santo Agostinho, levando em consideração a construção de uma identidade cultural através do evento denominado “Marcha resgate”. Diante disso, buscamos compreender como são construídos os elementos culturais dos evangélicos neopentecostais, no atual contexto de midiatização cultural, que emerge a partir do avanço das novas tecnologias e da globalização, assim como entender os meios e finalidades da inserção destes novos elementos e de como eles são reelaborados nas manifestações culturais no meio neopentecostal. Outro fator que nos chama a atenção nessa área, diz respeito a aparente estratégia de utilização da cultura, sobretudo nas suas manifestações relacionadas a música e a dança, como meio de ocupação do espaço público e político. A contribuição desse artigo para a sociedade e para a academia, consiste na possibilidade de ampliação acerca do entendimento dos elementos culturais e o movimento de associação entre estes e o universo neopentecostal, com suas manifestações próprias, assim como a contribuição para a reflexão acerca dos desdobramentos relacionados a instrumentalização da cultura como meio de legitimação da expressão religiosa em sua modalidade pública, e principalmente, sua associação com a atividade política deste segmento religioso. Nesse sentido procuramos trazer um panorama fidedigno das motivações políticas e religiosas subjacentes ao discurso e às práticas das igrejas evangélicas no contexto cultural, a partir evento cultural marcha resgate. Palavras-chave: Religião; Política; Poder; Cultura Neopentecostal. LIBERDADE RELIGIOSA: UM DEBATE NOS JORNAIS IMPRENSA EVANGÉLICA E O APÓSTOLO ENTRE OS ANOS DE 1864 À 1892 Thaís da Rocha Carvalho – Mestranda – PUC Campinas Resumo: O século XIX consagrou a entrada do Brasil na chamada modernidade política, quando houve uma nova configuração do ordenamento político, composto pelo moderno Estado Nacional e a democracia política. Uma das dimensões desse

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fenômeno foi a chamada secularização, que acirrou o debate sobre a questão da liberdade religiosa, na segunda metade do século XIX. O clero católico brasileiro envolveu-se profundamente neste debate, articulando religião e política na modelagem dos novos projetos de tipo nacional, atuando pelas vias institucionais e não institucionais, com destaque para a imprensa periódica, que nesse período se destacou como o principal veículo de formação de uma opinião pública, configurando assim um campo de disputas simbólicas. Na segunda metade do século XIX, dois jornais se destacaram em relação ao debate da liberdade religiosa: o jornal católico ultramontano, O Apóstolo, e o jornal protestante, Imprensa Evangélica. O presente trabalho pretende verificar, através da análise comparativa dos periódicos as representações mútuas que protestantes e católicos ultramontanos formularam acerca do tema da Liberdade e Religiosa, entre os anos de 1864 a 1892. Como o tema está associado a outras questões tradicionalmente associadas à modernidade ocidental, a intenção é apurar o tratamento que os jornais deram para esses elementos, percebendo em que medida esses tratamentos apontam para distintos projetos de secularização em voga. Do ponto de vista teórico, busca testar a pertinência do conceito de “campo religioso”, formulado por Pierre Bourdieu, para a análise da constituição e dinâmica conflitiva então observada, num momento marcado por profundas reconfigurações nas relações entre Igreja e Estado no Brasil. EVANGÉLICOS, POLÍTICA REPRESENTATIVA E OS DIREITOS HUMANOS Valéria Cristina Vilhena – Doutora – UMESP Resumo: Viver sem violência é direito humano. Violências de gênero,classe-raça/etnia diz respeito aos diretos humanos. Neste Seminário Temático pretendemos refletir sobre possíveis consequências, dentro de um cenário social e político que não obstante a busca pela equidade de gênero-classe-raça/etnia venha integrando a agenda internacional, fortes desigualdades ainda marcam as relações entre os sexos no Brasil, que exige não apenas o incremento de políticas de gênero como também que questões de gênero-classe-raça/etnia sejam contempladas nas políticas públicas. Por outro lado tem-se verificado uma forte presença de grupos religiosos no espaço político brasileiro, uma onda conservadora igualmente exposta em âmbito internacional. As possibilidades de intervenção da religião sobre políticas públicas não se limitam ao espaço público: o gabinete pastoral pode ser crucial em decisões relativas à violência doméstica, ao uso de métodos contraceptivos e ou/de prevenção da AIDS, da homoafetividade e etc. Todavia os direitos humanos como sendo direitos universais, vão sendo deixados de lado passando a oportunidade de se marcar presença na governabilidade pública para implementação da equidade de gênero-classe-raça-etnia como direito humano. Esta forma intervencionista de tais grupos evangélicos nos espaços públicos suscita o questionamento acerca dos limites da laicidade no Brasil, da fidelidade aos preceitos religiosos e os Direitos Humanos. Palavras-chave: Gênero-classe-raça/etnia; Religião; Política representativa e

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direitos humanos. É SHOW OU É CULTO? UMA QUESTÃO POLÍTICA DA MÚSICA GOSPEL Waldney de Souza Rodrigues Costa – Doutorando – UFJF Resumo: A questão sobre o que vale ou não como religião sempre teve pertinência política, uma vez que certas práticas, hoje comumente aceitas como tal, nem sempre tiveram esse reconhecimento. Algumas foram tradadas até mesmo como crime, sendo coagidas e inibidas pelo Estado. Influenciado pelo recente debate que busca iluminar esse fato teoricamente, esse trabalho é uma pequena parte de uma pesquisa mais abrangente que investiga as interpenetrações entre religião, lazer e consumo na música voltada para evangélicos (o que inclui adeptos, curiosos e simpatizantes). Tal produção, que aqui no Brasil ficou conhecida como gospel, expandiu-se com base em uma forte clivagem entre o que pertence e o que não pertence ao domínio da fé e tornou-se elemento muito importante em cultos de diferentes igrejas. Neste trabalho, explora-se como o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) lida com esse cenário, uma vez que é o órgão responsabilizado pelo Estado brasileiro para recolher e distribuir valores referentes aos direitos autorais das músicas. Explorando alguns documentos e pronunciamentos da entidade é possível observar que, via de regra, evita-se a cobrança pelo uso da música em práticas religiosas de qualquer espécie, entendendo que isso é uma forma de preservar o princípio da liberdade de crença e de culto. Mas conclui-se que, com a projeção de cultos de caráter evangélico no espaço público, acompanhada da emergência de realidades em que religião, lazer e consumo estão interconectados, saber se determinada prática é show ou é culto tornou-se questão crucial para a execução de tal política pública. E há contextos em que essa questão não pode ser facilmente respondida. Palavras-chave: Religião; Lazer; Espaço público; Música gospel; Política pública.

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ST 05 – CULTURA VISUAL E RELIGIÃO Dr. Joe Marçal Gonçalves dos Santos (UFS) [Coordenador] Dr. Frederico Pieper Pires (UFJF) Dr. Helmut Renders (UMESP) Ementa: Essa sessão temática tem por objetivo reunir pesquisas que explorem a mútua relação entre cultura visual e religião. Para tanto, acolhe trabalhos que tratem das diversas formas pelas quais a cultura visual ganha expressão (ícones, fotografia, gravura, escultura, artes plásticas, cinema, etc.), dos mais diversos períodos históricos, tradições religiosas e culturas. Consideram-se também trabalhos que proponham análises da força performativa de imagens e sobre a metodologia para interpretação da cultura visual contemporânea. O ST parte do pressuposto de que a atenção a esse aspecto da cultura é uma resposta ao avanço da “visualização” e “estetização” da cultura contemporânea, com a expansão dos mundos imagéticos para todas as áreas da vida, desde ao cotidiano até a ciência. O problema que o seminário propõe desenvolver é acerca de como a religião participa desse fenômeno, bem como das implicações que este tem para se pensar a religião na cultura contemporânea. Esse tipo de estudo tornou tema específico da investigação científica desde a década 90 do século passado, dando continuidade às intuições de Wittgenstein, Merleau-Ponty, Panofsky dentre outros, representando um campo de pesquisa que pode envolver estudos de textos sagrados e história da religião, bem como da relação entre cultura e religião a partir de diferentes formas de produção do olhar e da imagem, por exemplo, fotografias, filmes, pinturas, gravuras, artefatos e aspectos pictóricos de metáforas. O VALE DO AMANHECER E AS NARRATIVAS VISUAIS DA NOVA COSMOLOGIA: UM DIÁLOGO ENTRE RELIGIÃO E FICÇÃO CIENTIFICA Altierez Sebastião dos Santos – Mestre – UMESP Resumo: O Vale do Amanhecer é um movimento religioso brasileiro surgido no Planalto Central a partir da intuição da médium Tia Neiva e de seu esposo Mário Sassi, os fundadores, que utilizaram-se de recursos da cultura visual profana e religiosa para expressarem suas intuições, inclusive sobre o tema da nova cosmologia, tão caro à doutrina do Vale do Amanhecer. O movimento produziu diversas narrativas visuais utilizando-se do diálogo com elementos visuais aeroespaciais do cinema de ficção científica informados pelo cinema, literatura e até histórias em quadrinhos (SANTOS, 2015). À cosmovisão do Vale são associados elementos como viagens espaciais, planetas habitados, combates estelares,

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evolucionismo espiritual, comunicação com o além, descrição da vida após a morte, elementos religiosos do catolicismo popular e das religiões mediúnicas afro-brasileiras, além de elementos do kardecismo e da cultura pop, dentre outros, que se agregaram ao enredo mítico como reação a eventos contemporâneos à sua formação: era espacial, descobertas astronômicas, Guerra Fria, literatura e também cinema. Nosso objetivo é identificar e situar as narrativas visuais e textuais do Vale do Amanhecer como sendo construídas em diálogo com a cultura visual circundante, comunicadora da nova cosmologia, isto é, da nova relação, a nível de imaginário religioso, dos seres humanos com o espaço sideral, não abordado pelas instituições religiosas tradicionais. A metodologia para a construção desta pesquisa partiu da análise de narrativas visuais e textuais que são parte do acervo iconográfico do Vale do Amanhecer, especialmente as obras realizadas pelo artista Joaquim Vilela. Os resultados dão conta de um movimento de dialogia entre a cultura visual não religiosa e a cultura visual desenvolvida no Vale do Amanhecer, de acordo com o qual ocorre uma “circulação de ideias”. As conclusões ainda não são conclusivas. Palavras-chave: Vale do Amanhecer; Cultura Visual; Narrativas Visuais; Nova Cosmologia; Ficção Científica. “CRUZ E CHAMAS” NA IGREJA METODISTA: LOGOTIPO, ORNAMENTAÇÃO, ARTE LITÚRGICA OU SÍMBOLO RELIGIOSO? Ana Lídia de Oliveira Albuquerque – Mestranda – UMESP Resumo: O projeto de pesquisa foi desenvolvido na perspectiva da cultura visual religiosa e buscou compreender o fenômeno de mudança do significado de um logotipo denominado Cruz e Chamas que, inicialmente, era utilizado como sinalização de uma determinada igreja, no caso a Igreja Metodista, para se transformar, a partir do seu reposicionamento para a parte interna dos templos, em algo entre uma expressão da arte litúrgica até a representação do próprio sagrado. Objetivos: Os objetivos dessa pesquisa são a documentação e a respectiva interpretação da compreensão do logotipo Cruz e Chamas a partir dos seus contextos ou das suas localizações específicas. Distingue-se a parte externa das partes internas das igrejas, sendo a primeira, o espaço geralmente reservado para a comunidade, ou seja, a nave das igrejas. A segunda parte é o espaço mais dedicado à ação pastoral ou clerical das igrejas, ou seja, púlpitos, presbitérios, “altares” e o “coro” [parede atrás do púlpito e da mesa do Senhor]. Método: Como método, propôs-se aplicar um estudo bibliográfico dentro da perspectiva dos estudos da cultura visual, uma pesquisa de campo com o intuito de registrar, por meio de fotografias o exterior e o interior de quatorze templos da Igreja Metodista, situados na região do ABCD Paulista (municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema), bem como uma investigação documental no jornal O Expositor Cristão (exemplares de 1968 até 1990), meio de comunicação oficial da Igreja Metodista, e nos sítios eletrônicos da Igreja Metodista no Brasil (http://www.metodista.org.br) e

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da Igreja Metodista Unida (http://www.umc.org). Resultados: Os dados coletados por meio da pesquisa de campo resultaram fotografias de 14 (quatorze) templos da Igreja Metodista na região do ABCD Paulista. Pudemos observar que, das 14 igrejas, todas possuem o logotipo, mesmo que eventualmente apenas em uma das partes distintas investigadas nesta pesquisa: as áreas externas dos prédios e o espaço interno dos templos ou das capelas. Não há, portanto, nenhuma igreja que não possua em um dessas duas áreas o sinal, logotipo ou símbolo da Cruz com as duas Chamas. Analisando as aéreas externas e internas dos templos, verificamos que, em 13 das 14 igrejas encontram-se a Cruz e as Chamas ou na sua parte exterior ou na sua parte interior, o que representa um percentual de 92,86%. As igrejas que apresentam o logotipo em ambas as áreas totalizam um número 12, o que corresponde ao percentual de 85,71%. É interessante observar que, apesar do logotipo estar presenta em quase todas as fachadas dos templos visitados (13 de 14), é na área interna que ele aparece com mais frequência, inclusive, não somente uma única vez, mas, com maior número de repetições. Isso quer dizer que, considerando-se todas as igrejas, a parte interna dos templos possui um número de aparições do logotipo 54,17% superior às aparições desse mesmo logotipo na área externa. Conclusão: Os significados do logotipo Cruz e Chamas são construídos nas interações sociais e culturais que realizamos com elas. Os contextos sociais e culturais, amplos ou específicos, e as pessoas, dão existência aos materiais visuais atribuindo-lhes significados. Portanto, optamos por uma interpretação segunda qual o sentido não “emana” das imagens, mas dos diálogos produzidos entre elas e as pessoas, sendo que estes diálogos são mediados pelos contextos culturais e históricos. Palavras-chave: Cultura visual religiosa; Logotipos eclesiásticos; Representação religiosa; Arte litúrgica. MARK ROTHKO: ARTE E TEOLOGIA NEGATIVA Cicero Cunha Bezerra – Doutor – UFS Resumo: Mark Rothko (1903-1970) inicia o capítulo da sua obra A realidade do artista, intitulado O belo e sua criação, afirmando a impossibilidade de escapar à noção platônica de beleza. Para ele, a arte não é um impulso de imitação da realidade objetiva, mas uma necessidade de refugiar-se além do mundo representacional e seu atulhamento de objetos. Esse foi justamente o alvo maior do artista ao realizar as suas pinturas negras (Black Paintings), isto é, propiciar a superação do conhecimento especulativo por uma vivência extática que nos desafia a pensar na imediatez da experiência estética e sua relação com a tradição apofática neoplatônica. A pintura moderna é definida por Rothko como "prancha de lançamento" para a construção, a partir da destruição de uma arte que, como nos diz o seu filho Chistopher Rothko no prefácio da obra A realidade do artista, é como uma música que procura exprimir o inexprimível. No fundo é a transcendência

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absoluta às regras e normas que delimitam o espaço entre criador e criatura. A feitura de um quadro é, para Rothko, algo milagroso, arrebatador e que, finalizado, se converte em algo estranho, tanto para o artista quanto para o espectador. Nosso trabalho tem, portanto, o objetivo de pensar, à luz das obras e dos escritos de Mark Rothko, os limites e as convergências da arte como exercício da primitiva nostalgia da origem que permite uma aproximação ao aspecto negativo das chamadas experiências místicas sob forma da arte pictórica. Para tanto, nos centraremos nos textos A realidade do artista e Escritos sobre arte (1934-1969) de Mark Rothko, bem como em alguns estudos de autores como de M. Eliade, Amador Vega e W. Worringer. Palavras-chave: Mark Rothko; Teologia negativa; Neoplatonismo; Arte. A IMAGEM DO PROGRESSO AMERICANO (DESTINO MANIFESTO) E O ESPÍRITO CALVINISTA DO ESCOLHIDO Éric de Oliveira Marins – Mestrando – UMESP Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a imagem de John Gast, o Progresso Americano. Pintada em 1872, a imagem faz referência ao Destino Manifesto, uma ideia de que os americanos deveriam ocupar os lugares habitados pelos indígenas e de levar o progresso a todo o território então não colonizado, mas, precisamente o Oeste do país. Com maioria de colonos de origem europeia e calvinista, o Destino Manifesto traz a luz que os americanos são os predestinados para conquistar e dominar territórios, e levar sua ideologia a todos. Palavras-chave: Progresso Americano; Destino Manifesto; Calvinismo; John Gast. O MITO DO ETERNO RETORNO DE MIRCEA ELIADE NO VIDEOCLIPE BUSCA VIDA, DOS PARALAMAS DO SUCESSO Flávia Medeiros – Doutoranda – UMESP Resumo: Na presente pesquisa vamos discutir possíveis aproximações do imaginário sobre a cosmologia relacionada ao Ano Novo nas sociedades arcaicas, utilizando como base a obra O mito do eterno retorno, de Mircea Eliade, e o pensamento imagético que constitui o videoclipe de uma banda de rock brasileiro do século XX, o videoclipe da música Busca Vida da banda Os Paralamas do Sucesso. Pretendemos, com isso observar que muitos dos aspectos destacados por Eliade sobre as sociedades arcaicas ainda são presentes no imaginário da sociedade pós-moderna. Escolhemos utilizar o videoclipe para essa observação porque ele exprime as características de nossa sociedade contemporânea, que tem em seus pilares de sustentação a comunicação rápida, a aceleração do tempo e a cultura visual.

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Utilizamos como métodos a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental com analise de audiovisual. Após a leitura da obra de Eliade, foi possível encontrar aproximações do pensamento das sociedades arcaicas, em relação ao imaginário sobre o ano novo e o eterno retorno, e a narrativa visual do videoclipe da música Busca Vida. Dessa forma, concluímos que o imaginário da humanidade pós-moderna ainda é influenciado por diversas tradições arcaicas e antigas. Filmes, novelas, contos, peças teatrais, canções e no nosso caso, o videoclipe, produtos culturais de nossos tempos, buscam, enredos nessas tradições. Nossas práticas rituais, e celebrações de Ano Novo também são permeadas por esses imaginários, o que parece também nos remeter a eternos retornos, como os estudados por Mircea Eliade. Palavras-chave: Cultura Visual; Cosmologia; Videoclipe; Imaginário. RELIGIÃO E ILUSÃO. CONTRIBUIÇÕES CINEMATOGRÁFICAS PARA SE PENSAR A RELIGIÃO Frederico Pieper – Doutor – UFJF Resumo: Em geral, tendemos a pensar teorias da religião a partir de textos. Sejam eles de tom mais filosófico ou empírico, supomos achar neles pistas para compreender de maneira mais abrangente a religião em suas diversas faces. Certamente, isso é verdadeiro. No entanto, outras manifestações culturais podem ser igualmente úteis no sentido de se pensar teorias da religião. Especialmente, partimos da aposta teórica de que a linguagem cinematográfica, mais do que exemplo ou ilustração de certas teorias da religião, tem contribuição própria para o tema levando à ampliação ou à revisão de certas teorias já estabelecidas. Em alguns casos, isso se dá de modo mais implícito. No entanto, em outros, há clara intenção de certas produções cinematográficas em tematizar sobre o que constitui o religioso. Esse é o caso do documentário lançado em 2012, intitulado Kumaré, de Vikram Gandhi. Ele parte de uma compreensão inicial de que a religião é ilusão. A pergunta que o mobiliza é se a pessoas iriam acreditar e seguir um falso guru. Dessa maneira, ele busca aprender como um sábio indiano fala, se comporta, se veste, etc. Instala-se no Arizona, circulando por escolas de Yoga e finge ser aquele que descobriu a meditação da luz azul. Com um tom inicial sarcástico, o filme ganha em dramaticidade à medida que mais pessoas o seguem e confidenciam seus dramas existenciais. Nesse momento, há uma guinada no documentário. A comédia começa a ficar dramática. A religião não é mais ilusão, mas espelho dos desejos daqueles que seguem um guru. O próprio V. Gandhi é tomado de angústia, uma vez que se vê forçado a revelar a natureza de seu experimento. Ao final, se por um lado, ele comprova sua tese inicial, o desenvolver do documentário mostra a complexidade das temáticas envolvidas. Mesmo sendo ilusão, em que medida a religião não se configura como meio possível de articulação dos desejos? Como ilusão e verdade se articulam? Com a análise desse documentário, pretendemos explorar o diálogo entre

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cinema e religião, tematizando a inter-relação entre ilusão e verdade na criação de mundos de sentido, aspecto compartilhado pelas duas formas de linguagem (a religiosa e a cinematográfica). Especificamente, buscamos mostrar como a linguagem cinematográfica, uma vez que trata do particular com características universalizáveis, traz à tona certas ambiguidades que textos que entendem a religião de maneira mais teórica deixam escapar, evidenciando o alcance e limites de certas compreensões de religião. No caso específico dessa comunicação, o diálogo ocorre com a abordagem crítica da religião desenvolvida a partir do século XIX, sob os auspícios dos “mestres das suspeita”. Palavras-chave: Teoria da religião; Cinema; Ilusão. A REPRESENTAÇÃO DE UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO: UMA ANÁLISE DO QUADRO OS EMBAIXADORES, DE HANS HOLBEIN Gerson Leite de Moraes – Doutor – MACKENZIE Resumo: Exposto atualmente na National Gallery de Londres, o quadro de Hans Holbein, o Jovem (1497-1543), concluído em 1533, mostra dois jovens olhando para a frente; entre os dois encontra-se uma mesa de dois níveis, com uma série de coisas, entre elas, estão instrumentos científicos na prateleira de cima, um estojo de flautas, um alaúde, um hinário, um globo terrestre e um livro de matemática. Além destes objetos, há uma imagem enigmática chamando toda a atenção, trata-se de um enorme disco flutuando, tendo na sua superfície algo um tanto quanto obscuro, mas basta deslocar-se para um dos lados, e o objeto torna-se muito claro, aparecendo então, um crânio. Os dois jovens que estão exercendo a atividade diplomática em nome da Inglaterra são Jean Dinteville e George de Selve, enviados à França católica para enfrentar as dificuldades criadas pela tentativa de divórcio de Henrique VIII, já que Ana Bolena tinha vínculos fortes coma corte francesa. Naquele mundo em profunda transformação, o pintor Hans Holbein, conseguiu capturar e representar uma série de mudanças que estavam acontecendo no século XVI. Cada objeto registrado naquela cena aponta para alguma modificação política, cultural ou religiosa daquele momento histórico. O artigo pretende descrever e analisar os aspectos simbólicos presentes na pintura, partindo do pressuposto de que há três grandes mudanças expressas no quadro, sendo elas, a transformação dos rituais de religião, a mudança das práticas de produção material e o surgimento de uma nova ética da sociabilidade. O trabalho pretende ainda, a partir da representação imagética, demonstrar a importância das atividades diplomáticas no contexto da formação dos Estados Nacionais Modernos e das guerras de religião do século XVI. Palavras-chave: Pintura; Religião; Imagem; Diplomacia; Reforma.

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A UTILIZAÇÃO DAS IMAGENS NA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA: CONSUMO DE IMAGENS NO TEMPLO DE SALOMÃO Helena Raquel de França Costa – Graduada – UNISA Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar a visualidade cada vez mais agregada pelas igrejas evangélicas, Pentecostais e Neopentecostais, para promover a experiência religiosa, aparentemente passando da lógica do discurso iconoclasta ao consumo de imagens. A exemplo disso, abordaremos como tema o Templo de Salomão da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), que incorporou diversos símbolos de religiosidades diferentes e adequou-as à sua forma de culto. Desde sua fundação em 1977, sempre destacou-se no meio neopentecostal pela integração sincrética com os símbolos de diversas religiões, dentre as quais podemos apontar elementos do catolicismo, judaísmo, protestantismo e cultos afro-brasileiros. Atualmente, com a construção do Templo de Salomão, a IURD buscou recriar sua imagem buscando referenciais sacrais altamente significativos e míticos no Antigo Testamento, reproduzindo luxuosamente em São Paulo (no seu novo templo no Brás) o que teria sido o grande Templo histórico do Judaísmo. Levando em consideração que a imagem fala, podemos assim dizer que a IURD escreveu um texto considerável e levanta muitas questões, como a motivação ou necessidade de reproduzir o templo da antiga Jerusalém sendo a IURD uma igreja de confissão cristã? E devido seu discurso iconoclasta e condenativo para com as imagens, como explicar o fenômeno da inflação de signos visuais e experiência estética do espaço de culto evangélico? Para chegarmos a alguma compreensão, dividiremos este estudo em duas partes: a primeira, A construção simbólica do “centro do mundo” na IURD, onde faremos uma análise iconográfica do templo, partindo da simbologia do “centro” apresentado por Mircea Eliade; na segunda parte, Homem x Imagem, abordaremos o fenômeno crescente do uso de signos visuais pelas igrejas evangélicas. Utilizaremos para isso as reflexões de Alberto Klein e Leonildo Silveira Campos. Ao término deste trabalho concluímos que a IURD tem conseguido movimentar uma massa de peregrinos através do Templo de Salomão, tem conseguido criar um imaginário entre os seus fiéis e o tem feito imagéticamente. As igrejas têm descoberto no uso da imagem essa favorabilidade pra atrair pessoas e veem em seus objetos uma sacralidade e mediação em contraposição com seus “concorrentes”. Palavras-chave: Templo de Salomão; Símbolo do Centro; Imagens no Neopentecostalismo; Narrativas visuais; Cultura Visual. UMA PROPOSTA DE PERIODIZAÇÃO DA CULTURA VISUAL EVANGÉLICA BRASILEIRA: SURGIMENTO, ABRASILEIRAMENTO E METAFORMIZAÇÃO GLOCAL Helmut Renders – Doutor – UMESP

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Resumo: Nesta comunicação propõe-se uma periodização da cultura visual evangélica brasileira, isso, das igrejas protestantes, pentecostais e neopentecostais, distinguindo três fases: o surgimento da cultura visual evangélica brasileira (1880-1950), o abrasileiramento da cultura visual evangélica brasileira (1950-1990) e a metamorfização “glocal” (em nível local sob influência global) da cultura visual evangélica brasileira (1990ss). No primeiro capitulo questiona-se a ideia do protestantismo brasileiro como “iconoclasta por natureza”. Em vez disso, lembra-se do trabalho visual da sociedade bíblica dos EUA, do movimento da escola dominical, de ícones do protestantismo (o Livrinho do coração de J. E. Gossner (1824) e o cartaz Os dois caminhos de C. Reihlen (1862)), do trabalho do CAVE (Centro Audiovisual Evangélica), do trabalho de artistas brasileiras na criação de capas e de charges nas revistas das igrejas e das novas tendências pós-modernas que se refletem na cultura visual evangélica contemporânea. Em tudo, argumentamos que cada fase requer uma sensibilidade quanto à especificidade do material, do respetivo objetivo de pesquisa e das metodologias propostas. Palavras-chave: Cultura visual evangélica brasileira; Periodização da cultura visual evangélica brasileira; Impacto da cultura visual evangélica brasileira. REPRESENTAÇÕES E METAMORFOSES DE LÈGBA NO BENIN CONTEMPORÂNEO: DESAFIOS DE UMA TRADUÇÃO CULTURAL Hippolyte Brice Sogbossi – Doutor – UFS Resumo: As religiões são manifestações e representações da filosofia de um povo. Na República do Benin, ex Daomé, país situado na África Ocidental, a religião vodun é milenar, oral, pragmática e complexa. O panteão é variado e contempla uma divindade principal chamado Mawu, equivalente de Deus, afastado de todos, e que não se preocupa por resolver os problemas do nosso mundo; divindades de segundo plano que se aproximam de nós para resolver problemas de diversa índole. Estas cumprem papéis diferenciados e se organizam em famílias. A vida terrena é a mais privilegiada, e elas obram muito para o bem estar do ser humano. São chamadas de voduns, orixás, nquissis, entre outros. Cada um deles usa atributos rituais, entre os quais se encontram vestimentas, artefatos e adornos de todo tipo. Neste trabalho, pretendo descrever e problematizar, a partir de uma breve experiência em campo ao longo da última década, as representações e metamorfoses de um suposto “deus-objeto” (Augé), considerado o mais importante do panteão fon: Lègba. Problematizar a tese de um deus-objeto, inerte, é legítimo Ora Legba é assimilado ao diabo do catolicismo, ora é entendido como o trickster, ora, um velho sábio. É a divindade da fertilidade, da sabedoria, da comunicação, que abre e fecha os caminhos. É o equivalente do Exu ou Exu – Elegbara dos povos iorubás. O mais interessante é que sói aparecer, como é o caso de outros deuses, como divindade antropomórfica, e, ao mesmo tempo, incorpora em seres de carne e osso, o que justifica a postura

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imagética e performática de uma mesma divindade. A interpretação da cultura visual, neste sentido, torna-se necessária e necessita contar com informantes antes e depois das festas em que se manifestam. Uma seleção de fotografias e de filmagens de curta duração poderá enriquecer o debate sobre as diversas formas de interpretação do papel desempenhado pela divindade na vida existencial do povo beninense; a participação deste, em todas suas faixas etárias, do exercício de uma espécie de “cidadania religiosa”; a resistência frente a qualquer tentativa de deslegitimar, vulgarizar e moralizar por parte de qualquer outra manifestação religiosa. Vale mencionar entre outras manifestações, o cristianismo celeste, o catolicismo e uma nova modalidade religiosa chamada de Igreja de Banamè. Daí, concluir que as subjetividades no âmbito da memória coletiva desempenham um papel de primeira ordem, e contribuem para melhor conhecimento da religião e sua relação com a cultura no seu sentido mais amplo. Palavras-chave: Lègba; Benin; Religião; Cultura; Artefatos. TEORIA DA RELIGIÃO E FILOSOFIA DA ARTE COMO ANTINIILISMO EM TOLSTÓI Jimmy Sudário Cabral – Doutor – UFJF Resumo: Religião e arte tornaram-se binômios no pensamento tardio de Tolstói, dando forma a uma atividade literária e filosófica que recusou a separação das intricadas relações entre o pensador e o artista. O juízo de Flaubert sobre o epílogo de Guerra e Paz, “Il philosophise” aponta para a intransigência de um pensador que foi maior que a sua obra e fez de si mesmo, como observou Thomas Mann, o parâmetro moral para julgá-la. A presente comunicação pretende demonstrar como a arte de Tolstói se traduziu em uma forma de “religião do escritor”, através de um exercício de ascese e “cuidado de si” que se tornaram, na arquitetura da sua obra, uma forma sofisticada de anti-niilismo. Como fio condutor da hipótese que organiza o trabalho, entendemos que a obra tardia de Tolstói, nuançada no último livro de Ana Karenina, é fruto de um esforço e entrelaçamento de preocupações filosófico-religiosas e artísticas que nasceram do confronto com a noção tradicional de religião e com a ideia filosófica de verdade. Desta confrontação nascerá uma sofisticada teoria da religião e uma iconoclasta teoria da arte que serão o fundamento do ascetismo de Tolstói e dos seus exercícios de superação do niilismo. Palavras-chave: Tolstói; Religião; Arte; Niilismo; Anti-niilismo. DO HOMO ASCETICUS AO HOMO AESTHETICUS: CORPO, SENSAÇÃO E CAPITALISMO ARTISTA NA ARTE COMERCIAL GOSPEL BRASILEIRA João Marcos da Silva – Doutorando – UMESP

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Resumo: Atualmente, a cultura visual tem encontrado desafios relevantes na compreensão das ressignificações do corpo mediante o cenário contemporâneo. Neste processo da reprodutibilidade imagética, a demanda pela sensação (TÜRCKE, 2010) e pelo capitalismo artista (SERROY, 2015) tem permeado e fomentado esse processo. De forma análoga, o cenário gospel vem implementando significados ao corpo, estimulando uma estetização nos moldes do capitalismo artista no campo imagético potencializado pelos padrões da moda e da estética secular, contribuindo desta forma para a busca pela sensação no modo de ser da cultura evangélica gospel. Com isso, se encaminha para o afrouxamento da tradição ascética evangélica de disciplina e autocontrole do corpo, direcionando-se para um investimento corporal como forma de atender às demandas do consumo, da moda, do entretenimento, mas também se caracterizando como um corpo que ressignifica o self. Desta forma, a proposta desta comunicação tem como objetivo apresentar um recorte deste panorama dentro da cultura visual gospel de algumas destas ressignificações neste corpo aestheticus, analisando dentro deste cenário, as transformações produzidas através do uso das cirurgias estéticas e dos recursos das tecnologias digitais de construção e edição de imagens, ocasionando mudanças da moda e na estética que estimulam a sensação e alimentam o consumo. Palavras-chave: Cultura visual; Gospel; Corpo; Consumo; Filosofia da sensação. A MÍSTICA CRISTÃ EM HOMENS E DEUSES Paula Renata de Campos Alves – Doutora – IFMG Resumo: A presente comunicação tem como objetivo refletir sobre a “mística política do amor ao inimigo” desenvolvida por Johann-Baptiste Metz. Nossa reflexão será feita a partir de uma discussão sobre o filme francês Homens e Deuses, de Xavier Beauvois, de 2010, mencionado pelo próprio Metz em seu livro Mística de Olhos Abertos como uma descrição dessa mística política. O filme Homens e Deuses narra a convivência de nove monges em um monastério trapista, localizado em Tibhrine, na Argélia, com a comunidade muçulmana vizinha. A relação dos monges entre si e com a comunidade ao seu redor constrói-se através do respeito e da consideração pelas diferenças que os compõem como seres e comunidades distintas. O evento crucial no contexto do filme é a guerra civil da Argélia nos anos 1990, que força os monges a tomarem uma decisão sobre permanecer em suas atividades, mesmo diante das ameaças de violência dos grupos terroristas, ou retornarem à terra natal, França. O grande embate a que assistimos não é apenas decidir racionalmente o “melhor" para o grupo, mas permitir que a experiência conflitante de indecisão e a tentativa de resistência aconteçam. É através dessa tensão entre indecisão e resistência que visualizamos uma "mística de amor ao inimigo". Na medida em que resistem à violência e encaram a tensão entre amar e odiar, vislumbra-se uma mística voltada para o sofrimento do outro, uma mística da

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compaixão. Essa mística se traduz como uma percepção clara da força espiritual do diálogo, do poder de humanização que abrir-se ao outro e ao seu sofrimento pode promover. Pretendemos, portanto, através da análise do filme de Beauvois, pensar a afirmação de Metz de que "a mística cristã não é nenhuma mística de olhos fechados, mas de olhos dolorosamente abertos”. Palavras-chave: Mística; Diálogo; Política. REVIVAL RELIGIOSO JOVEM E SISTEMA MULTIMÍDIA Pedro Fernando Sahium – Doutorando – PUC Goiás/UEG Resumo: Esse artigo é fruto do trabalho de pesquisa, em andamento, sobre as mudanças trazidas pelo uso do sistema multimídia e a espetacularização da religião com apresentações performáticas dos líderes de uma igreja evangélica que saiu do campo Presbiteriano Renovado do Brasil (IPRB). De origem pentecostalizante essa igreja se desligou do presbitério da IPRB e se organizou com o nome de Church in Connection. Performática essa igreja se firmou em 2016 como fenômeno entre os jovens. Segundo Castells (2007) esse “sistema multimídia” é novo, data da segunda metade da década de 1990 e se caracteriza pela integração de diferentes veículos de comunicação e “seu potencial interativo”. O sucesso da religião parece convergir a força dos seus mitos, ritos e símbolos, com a espetacularização dos cultos. Criando um espaço unificado entre cultura de consumo e religião, como explicados por Debord (1997, p. 111), essa religiosidade se posta com sucesso entre a juventude e cresce exponencialmente nesse nicho de mercado. Atualmente a Church conta com mais de mil participantes nos seus cultos de domingo à noite, e desses 83% fazem uso das mídias eletrônicas para se manterem ligados à igreja. Constituída de 80% de jovens entre 15 e 30 anos, a Church in Connection da demonstração da força da estetização religiosa como elemento de atração e manutenção de fiéis. Moreira (2013, p. 1212) já observara que “o sistema midiático-cultural elabora e difunde, (...), visões de mundo, sentidos e explicações para a vida e a prática das pessoas e, por isso, passa a influenciar sempre mais seu cotidiano, sua linguagem e suas crenças”. O uso que a Church faz do sistema multimídia bem como a conexão estabelecida pelo seu público jovem aponta também para um sistema de excelência em comunicação que torna imprescindível o aparato de shows que acompanham montagens cênicas de outras instituições (cinema, teatro, televisão). Há que se salientar que cada montagem dessas tem caráter provisório, e acaba sendo substituído rapidamente por novas ambiências no intuito de não enfadar os fiéis e mantê-los mobilizados diante das perspectivas das renovadas novidades e da caducidade das imagens que são apresentadas. Com a economia baseada na informação, na comunicação e na “engenharia de estilo” (Lipovetsky e Serroy, 2015), essa pesquisa levanta dados que buscam entender a atração de jovens por uma religião, e, as formas de comunicação utilizadas na negociação de sentidos. Se a atividade religiosa já trata dos sonhos e dos símbolos que formam conceitos

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profundos e dispões os homens a acreditarem numa forma particular de realidade (GEERTZ, 1989, p. 67), há que se compreender a importância da instrumentalização midiática nesse contexto e o papel do marketing em continuamente estetizar a “mercadoria” (MOREIRA, 2014, p. 300) Palavras-chave: Religião; Sistema multimídia; Estetização; Juventude. RELIGIÃO E QUADRINHOS: UM ESTUDO SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E CULTURAIS DO BUDISMO NO MANGÁ LOBO SOLITÁRIO Rafael Alexandrino Malafaia – Mestrando – UEPA Resumo: Uma vez que “a linguagem é mediação criadora” (HIGUET, 2015, p. 29) e a hermenêutica cria o sentido “a partir do texto (através da) mediação dos textos” (idem, p.29-30), seria possível analisar as representações sociais e culturais de uma religião – ou religiosidade – em uma narrativa visual? Para deslindar tal incerteza, tem-se como objeto a série em mangá (História em Quadrinhos produzida no Japão) Lobo Solitário, com roteiro de Kazuo Koike e arte de Goseki Kojima, publicada originalmente entre 1970 e 1976, cujo enredo se desenvolve a partir da vingança do samurai Itto Ogami, acompanhado de seu unigênito Daigoro, contra o clã Yagyu, que arquitetou uma exitosa acusação a Itto como traidor do Shogun (posição mais alta da hierarquia feudal japonesa, que respondia somente ao imperador). Ao invés de cometer o seppuku (suicídio ritual), opta por tornar-se um assassino de aluguel, a fim de obter renda suficiente para concluir seu propósito. Entrementes, os autores retratam as condições sociais do Japão no período e – o que de fato interessa nessa pesquisa – como o Budismo (ainda que já idiossincrático ao país devido a séculos de sincretismos religiosos) dita as normas sociais desta época de modo dicotômico: na imagem do samurai e a partir desta como formação de valores nacionais do Japão. Tenciona-se, neste projeto, analisar a priori apresentar como o Budismo é representado nas configurações sociais e culturais na obra supracitada, uma vez que os autores retratam as condições sociais do Japão em seu período feudal e – o que de fato interessa nessa pesquisa – como o Budismo dita as normas sociais desta época de modo dicotômico: na imagem do samurai e a partir desta como formação de valores nacionais do Japão. Para tanto: a) lidar-se-á com a historicidade do processo de configuração do Budismo e do Budismo Zen antes de sua chegada ao Japão até tornarem idiossioncráticos ao país; b) estudar a composição do sincretismo religioso presente no Bushidô e sua representação neste objetivo de estudo; c) discorrer acerca da influência do Budismo na produção artística japonesa de seu tempo e a posteriori até às Narrativas em Arte Sequencial, chegando a Lobo Solitário. Os procedimentos metodológicos utilizados são de cunho historiográfico – o recorte temporal do Japão na Era Edo (1620-1886), a fim de se conhecer os principais acontecimentos, personagens e respectivas ideologias, além de suas consequências sócio-políticas e o legado para o mundo atual – e teórico-bibliográfico – uma pesquisa documental objetivando identificar e caracterizar não somente o que

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são os Mangás, suas características e idiossincrasias. Por conseguinte, apresentar-se-á o Budismo, suas conceituações, historicidade e a mutação de suas características desde seus primordios até os nossos dias, tendo em vista identificá-las em diversas produções culturais até que chegue-se ao objeto de estudo desta perquisição – ainda que, faz-se indispensável apontar, em estágio inicial de sua feitura, totalmente sujeita à alterações e mudança de perspectiva. Palavras-chave: Lobo Solitário; Budismo; Religiosidade; Sincretismo.

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ST 06 – RELIGIÃO, MIGRAÇÃO E MOBILIDADE HUMANA

Dr. Carlos Ribeiro Caldas Filho (PUC Minas) [Coordenador] Dr. Alex Villas Boas (PUC Paraná) Dr. Antônio Manzatto (PUC SP) Ementa: Religião, migração e mobilidade humana é tema que pode ser estudado a partir de diferentes perspectivas teórico-conceituais. Mais que um objeto de estudo e pesquisa, é um desafio à ética. Dentre as muitas possibilidades de articulação do tema, existe a que privilegia a literatura como elemento de e para a análise desta questão. Um olhar na perspectiva da tradição judaico-cristã mostra que o tema da migração é muito presente nas narrativas bíblicas. Olhares que privilegiam outras tradições religiosas também contribuem para o enriquecimento de uma reflexão em torno do tema, a partir da perspectiva de deuses e religiões diaspóricos. Dentre tantas possiblidades citam-se as religiões de matriz africana e as migrações dos inquices. A literatura tem se ocupado deste tema. Textos como José e seus irmãos, de Thomas Mann, e mais recentemente, Deuses americanos, de Neil Gaiman, tratam das relações entre religião e migrações humanas. Na literatura brasileira o tema tem sido trabalhado em obras como Canaã, de Graça Aranha. Daí a proposta do presente ST, qual seja, a de acolher para debate comunicações que tratem da problemática do relacionamento entre religiões e migrações humanas a partir da literatura. MISERICÓRDIA E HOSPITALIDADE: UMA REFLEXÃO TEOLÓGICA A PARTIR DO CONTO O SONHO DE MAKAR DE VLADIMIR KOROLENKO Alex Villas Boas – Doutor – PUC PR Resumo: A proposta da presente comunicação visa discutir o papel da lógica poético teológica na constituição de um imaginário que formule uma identidade aberta à alteridade como pressuposto de um ethos hospitaleiro, partindo do conto Um Sonho de Makar do escritor russo e ativista dos Direitos Humanos, Vladimir Korolenko (1853-1921). O instrumental teórico que se utilizará será a concepção de poética da alteridade tendo por base o pensamento de Emmanuel Lévinas, especialmente em seu trabalho Humanismo do Outro Homem (1972), no qual está presente a temática, assim como se fará uso da categoria misericórdia no autor russo, como exercício de esvaziamento de si para acolher o outro, categoria presente na figura divina, o Grande Toyon, mediado por Seu Filho que viveu junto aos camponeses da Sibéria, enfatizando o papel da sensibilidade para a constituição de

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um ethos mais adequado para a acolhida da alteridade. Dentro de sua narrativa pode se verificar aquilo que o filósofo judeu apresenta a respeito da literatura como como serva do desejo de alteridade que propicia a estruturação da subjetividade ilustrando a consciência moral como sempre insatisfeita, expressão desse desejo que só se realiza na manutenção da continuidade do Dizer. A poesia em sentido lato, como modo de linguagem de alteridade, corrige o mal uso da abstração, enquanto, absorção do Outro pelo Mesmo ou dedução do outro a partir do Mesmo, superando assim “espiritualização” do pensamento teológico. Enquanto poética da alteridade é que propicia a “encarnação” do pensamento teológico, pois revela a presença de Deus na concretude da história. O pensamento poético é, portanto, uma forma de diaconia, pois é ação por um mundo que vem, permitindo imaginar o advento da história e agir hoje em direção a ela, como manifestação da presença de Deus que inspira o pensar, por isso mesmo, a criação cultural é liturgia que celebra a essência original do sentido da encarnação, como linguagem criadora de poesia, e assim sendo, espaço que instituí o âmbito da alteridade, como linguagem que ultrapassa limites, categorias presentes no conto de Korolenko. Palavras-chave: Poética da Alteridade; Emmanuel Lévinas. MIGRAÇÃO E TEOLOGIA EM ANDANÇA Antonio Manzatto – Doutor – PUC-SP Resumo: Andança é uma das canções emblemáticas de toda uma geração. Quem viveu os anos sessenta e setenta do século passado, seguramente a cantarolou junto com os amigos ao som de um simples violão. Não há quem não a conheça e não tenha sentido a partir dela as perambulações de todo um tempo. As migrações, geográficas e existenciais, configuram andanças pelas estradas da vida ou pelas trilhas ao longo de fronteiras que separam os países. Também há andanças no terreno religioso, com a frequente migração de fiéis que trocam de credos. Talvez seja um dado antropológico esta necessidade de caminho, de transformações, de andanças. Fato é que há migrações e andanças que são realizadas por decisão própria e configuram, de alguma forma, desenvolvimento, avanço. Há migrações e andanças forçadas, que não respeitam as pessoas, suas histórias ou seus direitos. Pensar migração e teologia a partir do horizonte descortinado por Andança põe a poesia como iluminadora da realidade e, mais amplamente, coloca a canção embalando o ritmo da vida. Parte-se, então, da leitura da letra da canção utilizando-se dos métodos e recursos que relacionam teologia e literatura. O que se quer pensar é a realidade das migrações, fato social que resulta em grave crise humanitária atual, como situação humana que, aliada à denúncia da crueldade econômica e política que vitimam os pobres, coloca a questão da construção da humanidade, pessoal, comunitária e socialmente. No horizonte da religião e, especialmente, da teologia que se compromete com os vitimados do mundo, as perambulações indicam perda do caminho, mas, também, indicam a história que se

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viveu e que fundamenta a continuidade da busca de um mundo mais fraterno e humano. Ao final, percebe-se que as andanças da vida, no horizonte da canção, dizem não apenas de sofrimento trilhado ou encontrado no caminho, mas sobretudo de companheirismo e solidariedade que revelam a capacidade humana de amar e, por este prisma, ajuda a compreender o Deus que se faz presente na história caminhando com seu povo. Palavras-chave: Andança; Migração; Teologia; Sociedade; Religião. MIGRAÇÕES E DEUSES DE ONTEM E DE HOJE: PERSPECTIVAS A PARTIR DE “DEUSES AMERICANOS” DE NEIL GAIMAN Carlos Ribeiro Caldas Filho – Doutor – PUC Minas Resumo: Migrações e religião – desde a aurora dos tempos estas duas realidades acompanham o ser humano em suas jornadas pelo planeta. A maioria dos grupos humanos tem, conscientemente ou não, uma perspectiva etnocêntrica, que leva a desprezar quem vem de outro lugar. Tal atitude em relação ao estranho, ao diferente, tem objetivo de fortalecer identidades e delimitar fronteiras étnicas, simbólicas e culturais. Não obstante, migrações produzem intercâmbios, dos mais variados tipos, o que inclui a religião. Quando os homens viajam, levam seus deuses consigo. Há muitas possibilidades teóricas de se investigar teoricamente estas relações, sendo a antropologia cultural e a história das religiões provavelmente as mais comuns. A proposta da presente comunicação é se debruçar sobre este tema, a saber, como migrações e religiões se articulam, mas pelo viés da literatura, especificamente, o romance de fantasia Deuses americanos, do escritor britânico Neil Gaiman (n. 1960), que tem como mote exatamente a crise que surge entre os deuses antigos e os modernos a partir das migrações do Oriente Médio e Europa para a América do Norte. Atenção especial será dada para o conflito (entre os deuses de ontem e de hoje) como possível chave hermenêutica do romance. Outra questão que merecerá atenção é a que diz respeito aos valores veiculados pelos deuses de ontem e de hoje e suas respectivas influências nas vidas dos homens. Para tanto, será feita uma análise literária da obra, com ferramentas de teoria literária, particularmente as categorias sugeridas pelo crítico literário búlgaro Tzvetan Todorov para análise da literatura fantástica (Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2008), além de análise comparativa do texto original em inglês com a versão em português. Palavras-chave: Religião e literatura; Mitologia; Migrações. A MIGRAÇÃO COMO CONQUISTA EM TOLKIEN: A CHEGADA DOS NUMENORIANOS NA TERRA-MÉDIA

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Diego Klautau – Doutor – Centro Universitário da FEI Resumo: Númenor está presente em O Silmarillion, de J.R.R. Tolkien, e é lembrado em O Senhor dos Anéis como origem dos dúnedain e dos povos de Gondor, sendo a pátria dos homens que migram para a Terra-Média devido à destruição dessa ilha, que havia sido dada como um lugar para que os homens que enfrentaram Morgoth, o primeiro grande inimigo dos Valar, conseguissem viver em paz e harmonia. Após séculos de desenvolvimento, os numenorianos se corromperam e foram responsáveis pela destruição de Númenor. Somente uma facção de seu povo, chamados de Os Fiéis, liderados por Elendil e Isildur, conseguiram migrar para a Terra-Média, continente onde estabeleceram morada, se impuseram aos nativos como reis e comandantes, se preparando para a guerra contra Sauron, sucessor de Morgoth, que os havia enganado e promovida sua condenação diante dos Valar. A partir da investigação noética, conforme exposto por Ângela Ales Bello em Fenomenologia e Ciências Humanas, podemos perceber a ligação entre a migração e a conquista de território na narrativa dos numenorianos, com o significado de destino de conquista e direito à subjugação dos outros povos, ratificado por uma vontade divina que opera na história. Esse a mesma temática é comparada à migração dos hebreus para terra prometida e a função de conquista de Josué, sucessor de Moisés, conforme exposto no Livro de Josué, integrante da Bíblia, ou conforme nos coloca Mircea Eliade, no seu História das Crenças e Ideias Religiosas Vol. II, sobre a importância da migração de Maomé para Medina (Hégira), tão importante que marca o início do calendário islâmico, ou conforme exposto na Eneida, de Virgílio, a fundação tanto de Alba Longa quanto de Roma também são marcadas pela relação entre migração e conquista autorizadas pela divindade e pela realização na história. Palavras-chave: Migração; Conquista; Tolkien. ÉDIPO ABAIXO DO EQUADOR: A LUTA CONTRA O “DESTINO” NA MIGRAÇÃO DO SEVERINO DE JOÃO CABRAL José Afonso Chaves – Doutor – UFPE Resumo: A literatura, enquanto uma prática social que é produzida em diálogo com um tempo histórico preciso, tributária de condições técnicas e formais acumuladas pelo tempo, interlocutora de textos das mais diversas configurações estéticas, ideológicas e éticas, sempre apresenta a possibilidade de problematizar o real nas suas mais desafiadoras condições, não seria diferente no que concerne ao dilema ético das migrações contemporâneas. Nesse sentido, objetivamos analisar a obra poética "Morte e vida Severina", de João Cabral de Melo Neto, procurando discutir que tipo de problematização ético-política ela avança acerca do fenômeno humanitário de que trata este trabalho. Essa reflexão toma como aporte analítico da narrativa da migração cabralina o conceito de Figura de Erich Auerbach e sua leitura do mito de Édipo, lendo-o como uma figuração da passagem de uma disposição

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histórica à outra, expressa, de modo específico, na tragédia de Sófocles, pela incessante busca por contradizer o destino a ele designado pelos deuses e, em decorrência disso, pela inauguração de uma trajetória assentada na autonomia. Desse modo, assume-se, em nossa leitura, o argumento de que em todo processo migratório há um motivo edipiano, a recusa ao destino, e como demonstrativo disso propõe-se a análise do percurso de migração presente no texto cabralino. No relato do retirante Severino, o poeta pernambucano, valendo-se do mecanismo de releitura do mito cristão do nascimento do Deus-Menino, parece propor a migração como preparação necessária à produção da vida nova, visto que somente ao final de sua longa jornada, depois de tanta exposição à morte, nasce a criança prometida, sinal de alguma esperança. O Severino de João Cabral, ao recusar seu destino, figura o motivo edipiano, e, somente por isso, pode vislumbrar a vida nova, em novo lugar e em novas condições. Palavras-chave: Migração; Literatura; João Cabral; Figura. A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA DOS HAITIANOS IMIGRANTES EM BELO HORIZONTE Márcio Flávio Martins – Mestrando – FAJE Resumo: Esta pesquisa visa elucidar alguns elementos da experiência religiosa dos Haitianos na cidade de Belo Horizonte. A condição de imigrantes não extingue a religiosidade originária de um povo. Este, uma vez fora de seu país, e imerso em uma realidade diaspórica, luta para se afirmar enquanto sujeito de sua história. Acreditamos que a religiosidade é uma dimensão existencial presente em toda cultura. Nesta direção, buscaremos abordar a experiência religiosa do povo haitiano em Belo Horizonte através do método clássico: ver, julgar e agir. Em diálogo com o Centro Zanmi (Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados) em Belo Horizonte, levantaremos dados sobre a experiência dos Haitianos em Belo Horizonte, enfatizando a experiência religiosa. Analisaremos a experiência religiosa da diáspora recorrendo a teologias contemporâneas que abordam o termo como também à experiência migratória na literatura bíblica. Proporemos algumas ações pastorais cujo objetivo é garantir a vivência religiosa dos imigrantes. Afirmaremos, portanto, que esta pesquisa se sustentará naquele que é um dos ensinamentos essenciais de Jesus, a solidariedade com o imigrante (Mt 25.35-36). Palavras-chave: Imigração; Diáspora; Experiência religiosa. O POVO DO LIVRO NAS “MEMÓRIAS DO LIVRO” Priscilla da Silva Góes – Mestra – UFS Luciana Gama de Andrade – Graduanda – UNIT-SE

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Resumo: O livro “As memórias do livro” ou people of the book, no original, escrito por Geraldine Brooks, baseia-se na história real da Hagadá de Sarajevo, que “sobreviveu” por mais de trezentos anos dentre outras coisas à Inquisição e a II Guerra Mundial. Os capítulos se desenrolam a partir da observação da conservadora de livros “Hanna” que tem acesso à relíquia antes de ser montada a exposição na biblioteca de Sarajevo. A partir de suas observações em cada fragmento encontrado, ela seguiu em várias viagens ao encontro de estudiosos de áreas específicas que pudessem ajudá-la a desvendar as origens de cada partícula. Os capítulos do livro alternam-se entre o momento atual da protagonista e sua busca por respostas e a algum episódio referente a fragmentos encontrados na Hagadá que irão ajudar a “contar” a história do seu percurso. Tal literatura percorre momentos marcantes para os judeus em épocas de intensa perseguição, tendo como foco alguns personagens judeus, muçulmanos e cristãos, que se relacionam não só por meio de intensos conflitos, mas também em ações de cumplicidade, que ajudaram na preservação de tal relíquia. Nossa proposta, portanto é demonstrar como tal literatura pode contribuir para conhecer sobre a questão das diversas diásporas judaicas desde a Idade Média devido às perseguições sofridas, como também refletir sobre relacionamentos possíveis de tolerância religiosa em várias épocas distintas. Palavras-chave: Hagadá; Judaísmo; Perseguição; Diáspora. A JUSTIÇA SOCIAL NO SERMÃO ESCATOLÓGICO DE MATEUS 25,34-36.40 COM ÊNFASE NA CATEGORIA FORASTEIRO Rubens Alves Costa – Mestre – PUC Goiás Resumo: O Sermão Escatológico do Evangelho de Mateus 25,34-36.40 denuncia os ambientes sem justiça social nos contextos sociais da Palestina e no Sul da Síria do primeiro século d.C. A pesquisa tem como objetivos destacar que a injustiça social é uma construção de diversos segmentos e evidenciar que a meta social de Jesus era implantar um Reino fundamentado na justiça social, conforme o Evangelista Mateus. Entre os segmentos construtores de injustiça social apontam-se o governamental e religioso que se acomodam ao status quo vigente e assim não têm interesse em mudanças. Aborda-se a questão da justiça social a partir da perspectiva da sociologia conflitual. A hipótese pesquisada está fundamentada na proposição de que o Jesus Cristo descrito por Mt 25,34-36.40 é dos miseráveis. Mateus aponta para um Jesus que está no meio de quem tem fome, sede, é forasteiro, estava nu, enfermo e preso. Então, são os que fazem boas obras que entrarão na posse do Reino. Para a investigação da hipótese trata-se no primeiro capítulo do contexto histórico e de como eram articuladas as categorias fome, sede, forâneos, desnudos, doentes e presos no Sermão Escatológico de Mateus e em que elas contribuíram para a formação do contexto comunitário mateano de injustiça social. No segundo capítulo é feita a exegese do texto sagrado a partir do método histórico-crítico. No terceiro

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capítulo busca-se atualizar o texto de Mt 25,34-36.40 estudando o fenômeno migratório haitiano para o Brasil que ocorreu depois do terremoto de 2010. Conclui-se que a injustiça social continua presente na sociedade atual e que os mesmos mecanismos geradores na época do Evangelista Mateus continuam sob outros formatos hodiernamente. Palavras-chave: Justiça social; Injustiça social; Evangelho de Mateus; Estrangeiro; Misericórdia. MARCA DA ITINERÂNCIA NA LITERATURA INFANTO-JUVENIL DE CLARICE LISPECTOR Tânia Dias Jordão – Mestra – PUC Minas Resumo: Clarice Lispector, escritora modernista brasileira, de origem judaica, nasceu na Ucrânia, quando a família fugia da Rússia para o Brasil, onde chegou com apenas dois meses de idade, segundo declarações suas. Sua família, devido à perseguição aos judeus que resultava em extermínio maciço durante a Guerra Civil Russa, perdeu os bens e foi obrigada a emigrar para sobreviver. Tal experiência de itinerância, pelo fato de ser judia, marcou profundamente a obra da escritora. A literatura clariceana infanto-juvenil é um exemplo da forma como Clarice volta ao tema da “fuga” e de uma de suas causas, a discriminação racial – tão fortemente sofrida por seu povo em diáspora. Para construir sua literatura, um de seus recursos é alicerçar-se na escritura sagrada judaico-cristã, cujo cerne é, justamente, a Pessach. Na perspectiva hebraica, passagem/fuga/migração da escravidão para a libertação; na cristã, passagem da morte para a Vida. Clarice é considerada a maior escritora judia desde Franz Kafka. Em A mulher que matou os peixes (1969), o procedimento da repetição que estrutura a sua escrita se assemelha muito a essa forma semítica recorrente tanto na Bíblia hebraica quanto na cristã. A temática dessa obra é relativa à culpa e ao perdão. O Mistério do Coelho Pensante (1967) trata explicitamente do tema “fuga”, como solução inteligente de um coelhinho, quando não tinha o que comer. A vida íntima de Laura (1974) aborda a realidade da discriminação e do preconceito racial dentro de um galinheiro e Quase de Verdade (1978) traça um paralelo conflituoso entre galinhas férteis e uma figueira estéril. Objetiva-se aqui 1) demonstrar que tanto a vida de Clarice Lispector, brasileira de origem judaica, quanto a Bíblia dialogam com seus textos infanto-juvenis; e 2) verificar a utilização de textos bíblicos como textos de partida, pela escritora, para a construção de sua própria escritura infanto-juvenil, a partir da marca da itinerância. Tomar-se-á por método o “Comparativo”: texto bíblico (suporte); texto clariceano (atualização literária), para que se obtenha por resultado ou como conclusão se chegue à verificação de certa apropriação de temas, gêneros e procedimentos bíblicos pela escritora através do estudo das obras infantis: A mulher que matou os peixes, O Mistério do Coelho Pensante, A vida íntima de Laura e Quase de Verdade.

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Palavras-chave: Clarice Lispector; Diáspora; Literatura infantil; Bíblia. IDENTIDADES JUVENIS E MOBILIDADE HUMANA: DIÁLOGOS ENTRE A SOCIABILIDADE DE ADOLESCENTES REFUGIADOS E O CONCEITO DE ALTERIDADE EM EMMANUEL LÉVINAS Vinnícius Pereira de Almeida – Mestrando – UMESP Resumo: O presente estudo se propõe a dialogar sobre os fluxos imigratórios com adolescentes sírios em situação de refúgio, que participam das aulas de português com suas famílias, no Programa Levando Ajuda ao Refugiado, promovido pela Organização Social Compassiva, situada na região central da cidade de São Paulo - SP. Para tanto, procura analisar por meio da metodologia de Grupo Focal, o que as experiências juvenis expressam acerca da escolha destes jovens em seu cotidiano. Almeja dialogar com os depoimentos coletados, verificando as práticas socioculturais e religiosas neste processo de mobilidade humana, bem como a adaptação com as novas redes de sociabilidade deste grupo juvenil. Nisto, pretende apresentar o conceito de ética, a partir do pensamento de Emmanuel Levinas, com o objetivo de decodificar as marcas de sentido, na qual, articulada à perspectiva da alteridade levinasiana, planeja verificar a possibilidade de serem afetados por dispositivos reprodutores de intolerância religiosa e preconceito étnico-racial, retroalimentados pelo discurso ideológico presente na mídia e no senso comum, ou se, para além de práticas alienantes e alienadoras, as categorias de ética e alteridade materializadas na convivência comunitária, possibilitam a construção de sujeitos para além de tais identidades atribuídas, mas constituídas em suas próprias identidades escolhidas. Palavras-Chave: Identidade Juvenil; Mobilidade Humana; Ética; Alteridade.

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ST 07 – PSICOLOGIA DA RELIGIÃO Dr. Márcio Luiz Fernandes (PUCPR) [Coordenador] Dr. Thiago Antonio Avellar de Aquino (UFPB) Dra. Mary Rute G. Esperandio (PUC/PR) Ementa: O ST sobre Psicologia da Religião objetiva ser um espaço amplo de reflexão sobre as pesquisas relativas ao fenômeno religioso, no campo das Ciências da Religião e da Teologia, desde as teorias da psicologia da religião. Portanto, o ST receberá aportes que visam estudar e discutir as variáveis psicológicas do comportamento religioso, os modos de apropriação da religião pelos indivíduos e grupos sociais, as correspondências entre as vivências da religiosidade e os dinamismos psíquicos. Diferentes temas podem ser abordados, entre eles: coping religioso-espiritual; processos de desenraizamento e mobilidade humana; religião e migração; os processos de subjetivação; a relação entre religião e saúde; religiosidade, espiritualidade e os sem religião na contemporaneidade; a questão do sentido da vida; transcendência; psicopatologia e religião; representação de Deus; as pesquisas das neurociências sobre a psique e a fé humana; comportamento religioso e demais temas e métodos de interesse de estudo da psicologia da religião. VIDA RELIGIOSA, MUDANÇA PSÍQUICA E TRANSFORMAÇÃO: A INTERFACE ENTRE PSICOLOGIA E ANTROPOLOGIA A PARTIR DE UMA ANÁLISE BIOGRÁFICA Anaxsuell Fernando da Silva – Doutor – UNILA Resumo: Nesta comunicação buscamos, a partir de uma reflexão na fronteira entre a psicanálise bioniana e uma antropologia da experiência, discutir elementos que constituem a biografia de Rubem Alves (1933 – 2014) teólogo, psicanalista, escritor, cronista e educador brasileiro. Tomamos como pressuposto analítico a concepção de Wilfred Bion de que o homem é capaz de vivenciar “mudanças catastróficas”. Estas “mudanças de vértices” implicam necessariamente o esforço da passagem de um estado mental a outro; uma oscilação dinâmica entre estados de dispersão e de integração. A partir deste repertório teórico-conceitual e com apoio metodológico de uma etnografia da experiência tecida a partir de diversas narrativas – autobiográficas, publicações acadêmicas e literárias, crônicas, pesquisa de campo, entrevistas com o autor e com alguns pertencentes a sua rede de interações – propomos interpretar passagens da vida do biografado, ou, noutros termos, as mudanças de mundos. Este percurso metodológico permite-nos debruçar em três dimensões fundamentais da vida-obra do autor em questão: teologia, ciência e arte.

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Por fim, esta interface configurou um cenário no qual é possível discutir como emerge a criatividade literária numa vida permeada por acontecimentos inesperados e dolorosos. Assim, evidenciaremos a capacidade humana de construir novos mundos, atribuir novos sentidos à vida, abrir-se ao simbólico e ao devir. O CRISTIANISMO EM FREUD André de Oliveira Pereira – Mestrando – Faculdade Unida Resumo: Na Psicanálise, temos o estudo da religião, a qual veio a ser um dos principais objetos de pesquisa de Freud. A religião no século XIX estava perdendo sua força na cultura, dando espaço à ciência e à filosofia moderna. A presente comunicação tem como objetivo, apresentar o pensamento de Freud sobre o cristianismo. As investigações a respeito do cristianismo em Freud perpassam por alguns de seus estudos sobre a religião judaica. Tem como foco a figura do cristo crucificado como a continuação do assassinato do pai da horda primeva. A psicanálise freudiana vê o cristianismo como a continuação do judaísmo, O filho nada mais é que o retorno da história, sendo contada pelos mesmos protagonistas, os judeus que é uma religião pautada no sacrifício do animal totêmico, portanto uma religião sacrifical. O anti-semitismo é a palavra-chave para entendermos a discussão de Freud e o cristianismo. Nesse aspecto o que se investiga é o desconforto que a psicanálise tem causado especialmente à religião cristã, posto que Freud, embora declaradamente ateu, vem de família judaico-cristã, e não se pode negar que esse fator muito influenciou o pensamento freudiano psicanalítico. Para a análise psicanalítica de Freud o cristianismo dá um passo a frente na medida em que se trata de uma religião baseada na admissão e no reconhecimento do assassinato de Deus, o pai. O cristianismo tinha virado o pior inimigo de Freud, pois plantou em seu coração um sentimento negativo para com a religião e para com o pai. Nesse ponto vale destacar que o cristianismo não foi só fruto do Império Romano, mas, também uma violência para com as demais religiões. O judaísmo que posteriormente deu lugar ao cristianismo, veio com a finalidade de continuar a se pôr como a única e verdadeira religião. O pai que recebe um insulto fica calado, é um fato que estabelece a tentativa da religião se colocar na frente do ser humano, isso fez com que Freud pensasse suas raízes judaicas e cristãs, tendo, portanto, fortes relações com a crítica ao judaísmo e ao cristianismo. Palavras-chave: Antissemitismo; Cristianismo; Freud. RELIGIÃO, SAÚDE – DOENÇA Dayane Camelo Silva – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Desde os primórdios a história da religião e do processo saúde - doença

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bem como seus respectivos conceitos e interpretações possuíram uma intensa ligação com a natureza, às funções do corpo e, sobretudo, nas relações do corpo-espírito e pessoa-ambiente. Ao longo dos anos, a relação entre saúde – doença e religião e sua constância transmutada na atualidade permitiu construir diferentes narrativas relacionando-as de forma direta com as transformações das sociedades. Nesta perspectiva, este estudo pretende investigar a inferência da religião no transcurso da saúde - doença sob a óptica de pessoas com doenças agudas ou crônicas em curso, além de evidenciar qual significado é exercido pela religião durante a fase patológica vivenciada. Trata-se de uma pesquisa de campo a ser realizada a partir da aplicação de um questionário e uma entrevista semiestruturada com quatro questões a um universo de 30 participantes de ambos os sexos e faixa etária entre 20 a 50 anos de idade. Após a tabulação, os resultados a serem obtidos permitirão analisá-los a luz do referencial teórico, explicitando-os por meio de tendências e apontamentos para possíveis discussões. A princípio, entende-se que a fé e o processo saúde-doença são partes que devem ser indissociáveis na vida do ser humano uma vez que este atribui a sua crença um papel determinante para a compreensão e aceitação da fase vivenciada, sendo a religião um fator importante para sua recuperação. Palavras-chave: Religião; Saúde; Doença. ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO E PASTORAL OU A-B: O CUIDADO E O ENCONTRO Dimitri Carlo Gabriel da Silva – Doutorando – EST Resumo: O aconselhamento Psicológico é muito consagrado em Psicologia. Reconhecido campo de atuação do Psicólogo o aconselhamento é disciplina obrigatória em quase todos os currículos de Psicologia no Brasil. Por outro lado, percebe-se a existência de aconselhamento muito cedo na história do cristianismo. Sob a forma de acompanhamento e acolhimento exercidos por padres ou pastores ao cuidar das pessoas que congregavam na igreja o aconselhamento pastoral é anterior às disciplinas psicológicas. Para além das discussões sobre as diferenças e semelhanças entre ambas formas de aconselhamento descritas, se está procurando o lugar de intersecção onde ambas, resguardando suas peculiaridades (diferenças e semelhanças) se encontram sem necessariamente miscigenar-se ou separar-se. O lugar de intersecção que encontrou-se foi o Cuidado. Estudando dois atores que tratam de Cuidado, Heidegger e Boff, começou-se a compreender que Cuidado é ontológico e, também, que Cuidado é pré-ontológico. Ao retornar à fábula de Higino, percebeu-se que Cuidado existe antes do homem e da mulher, na verdade ele os origina. Nessa direção volta-se a concepção de cuidado. O homem sabidamente não tem cuidado ele o é, essa é afirmação de Heidegger que Boff também compreende. Encontra-se porém a completude da frase sob forma de proposição: o Homem é cuidado por que por ele foi criado. Daí vem o aconselhamento. Uma vez que haja a

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possibilidade do contato com pessoas, tanto por parte do pastor quanto do psicólogo, há um encontro onde inexoravelmente há cuidado, independente de técnica, perspectiva, teoria, dogma ou ideologia. Nesse entendimento o próprio encontro é proporcionado por Cuidado. Essa dimensão do Cuidado, o encontro, é a primazia ou lugar/dimensão primeira que precede qualquer pensamento ou teoria. Ela se dá na existência humana, na relação com o outro que coexiste com o “eu” (comigo), na nossa condição de ser (existir) no mundo com outros. Nesse sentido há a carência de um olhar ético e cuidadoso para viabilizar a existência humana que se dá com e a partir dos relacionamentos humanos que temos. Isso acontece, quer seja por imposição ou por demandas externas, quer seja circunstancial ou preferencial, para instrumentalizar a compreensão do mundo, das coisas, dos outros e de nós mesmos. A superação da dicotomia ou cisão entre as ciências existenciais cientificistas e a espiritualidade, nos pode nos levar a retornar à compreensão de que os aspectos espirituais fazem parte da existência. O inverso também pode ser uma verdade ao olharmos o ser humano em sua integralidade em sua imanência e em sua transcendência. É a existência humana pautada no encontro e no Cuidado, cuidando a partir do aconselhamento, aconselhando e possibilitando existência humana em suas várias possibilidades de ser. Palavras-chave: Cuidado; Aconselhamento; Pastoral; Psicologia; Encontro. CIÊNCIAS DAS RELIGIÕES NO CAMPO DA ESPIRITUALIDADE E SAÚDE Fernanda Pinheiro Cavalcanti – Mestranda – UFPB Resumo: Ousaremos levar o estudo das Ciências das Religiões, sobretudo, dentro do campo da Espiritualidade e Saúde, com a finalidade de um maior entendimento a respeito da fé, da conscientização, acerca da espiritualidade, por meio da compreensão de transcendentalidade, na representação simbólica do sagrado, por meio das práticas religiosas, no intuito de prevenção e restabelecimento da saúde. Mais especificamente, na cura de doenças. Sendo este, portanto, o nosso objetivo principal. Este artigo tem a finalidade de analisar as Ciências das Religiões no campo da Espiritualidade e Saúde, já que o homem necessita simbolizar seus mitos para reproduzir a compreensão do mistério da vida e morte, doença e cura que permeiam a existência, e para que sua fé assim possa ser expressa, de acordo com o que acredita, e que a razão não consegue explicar. Através de um estudo bibliográfico, dialogando com autores da área, buscaremos definir religião, a partir de conceitos de grandes autores. Pesquisaremos a respeito da espiritualidade como fator preponderante, e que a religião na análise em questão passa a ser vista como meio social de expressão da fé, caso os sujeitos envolvidos na busca da cura pertençam a alguma religião específica. E discutiremos ainda acerca das Ciências das Religiões, como área científica, e sua relevância no universo da Espiritualidade e Saúde. E, especialmente, a contribuição da religião em aspectos de promoção à saúde uma vez que fé e espiritualidade são recursos intrínsecos que permeiam o processo de cura

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daquele que busca, sendo parte de uma prática mística pessoal do sujeito, que acredita em uma força que pode vir a ser sobrenatural ou não, dependendo do significado que este lhe atribui. Podendo haver vínculo religioso ou não. E sim, a necessidade única de existir a fé (o acreditar), que a cura é possível. Palavras-chave: Religião; Ciências das Religiões; Espiritualidade e Saúde. SAÚDE MENTAL E RELIGIÃO: A PRESENÇA DO DISCURSO E DA PRÁTICA RELIGIOSA NO COTIDIANO CAPS Isaac Soares Bastos – Mestre – UMESP Lídia Maria de Lima – Mestra – UMESP Resumo: Influenciados por movimentos que surgiram principalmente na França, Inglaterra e Itália, os serviços de atenção a pessoas que padeciam de algum tipo de sofrimento psíquico grave passaram por significativas mudanças que favoreceram a construção de novos paradigmas de saúde, que propiciou a construção de um campo de saber diverso e heterogêneo (o da saúde mental) onde trabalhador e usuário reavaliaram suas concepções e práticas a respeito das psicopatologias e de suas formas de tratar, incluindo aqui os discursos e práticas religiosas. Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo verificar como o trabalhador do CAPS (Centro de Apoio Psicossocial) percebe o delírio e o discurso religioso na rotina de trabalho. Para coleta de dados foi utilizado como método a observação participante e a técnica de entrevista semiestruturada. Para análise e tratamento dos dados foi empregada a técnica de Análise de Conteúdo tendo por base as propostas elaboradas por Bardin. Os dados revelaram que a religião se faz presente na vivência e nas experiências dos usuários, seja no delírio, ou não –‘ e que isso pode ser: um empecilho para o tratamento, ou um apoio para a efetivação do mesmo. Além disso, no CAPS eles encontram “suporte” dos profissionais que também são sujeitos religiosos e que colaboram para a expressão dessa vivência. Palavras-chave: Saúde Mental; Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); Discurso Religioso; Práticas Religiosas. O PAPEL PSICOLÓGICO DOS RITOS DE PASSAGEM José Benedito de Almeida Júnior – Doutor – UFU Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar, do ponto de vista filosófico e psicológico, o fenômeno da ausência de ritos de passagem na sociedade contemporânea, isto é, sociedades urbanas, mercantis, de produção e consumo. Em geral, nessas sociedades, as pessoas desprezam a importância da religião na vida, isto é, não aceita qualquer modelo que seja transcendente à condição humana e,

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nessa medida, dessacraliza a si e ao mundo. Carl Gustav Jung, Mircea Eliade e Joseph Campbell – e outros autores - definem estas pessoas como homem moderno ou homem a-religioso. O homem moderno vive uma forma de ser no mundo, na qual, a razão é suficiente para estabelecer o relacionamento entre a pessoa e os acontecimentos da vida ou da fortuna. Para estes autores, o homem moderno, ao dispensar o papel da religião, encontra enormes dificuldades para lidar com as mudanças pelas quais todos os seres humanos passam, independentemente da forma como organizam suas sociedades. Quando falamos de religião, nos referimos à noção de sagrado estabelecida por Rudolf Otto, porém, nesta pesquisa, nos concentraremos mais no caráter fenomenológico da religião, especialmente no que se refere aos rituais e, mais especificamente ainda, aos rituais de passagem. Sobre estes, tomaremos como referência a obra de Arnold van Gennep Os ritos de passagem. O homem moderno não encontra meios para lidar com os fenômenos comuns à existência humana, como o nascimento e a morte. Neste trabalho, vamos nos concentrar no amadurecimento, isto é, a transição da infância para a maturidade. Falta, ao homem moderno, rituais de passagem que demarquem a transição, o que resulta num fenômeno conhecido como puer aeternus. Este conceito foi estudado de forma cuidadosa por Marie-Louise von Franz na obra Puer aeternus: a luta do adulto contra o paraíso da infância, no qual analisa o romance O Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry. Resta ao homem moderno, porém, formas laicas de rituais de iniciação, ou seja, de alguma forma o sagrado emerge camufladamente no profano, porém estas formas laicas de rituais não possuem a mesma força simbólica dos ritos religiosos, ou nas palavras de Carl Gustav Jung, não proporcionam uma vida simbólica suficientemente rica para que o indivíduo possa lidar com as inevitáveis mudanças pelas quais todos passam. O conceito de vida simbólica, em Jung, está ligado ao de religião, porém, não do ponto de vista teórico, e sim como fenômeno religioso especialmente nos ritos em toda sua complexidade de imagens, artefatos, sons, gestos, palavras, orações etc. Concluímos, portanto que há uma evidente dificuldade do homem moderno ultrapassar os limites da infância à maturidade, por conta da perda da vida simbólica, ou da vivência de religiões, cujos rituais demarquem a passagem da infância à maturidade. Palavras-chave: Religião; Rituais de Passagem; Sagrado; Puer Aeternus; Vida Simbólica. NARRATIVAS SOBRE O COPING RELIGIOS0-ESPIRITUAL: UM OLHAR FENOMENOLÓGICO Márcio Luiz Fernandes – Doutor – PUC PR Júlia Mezarobba Caetano Ferreira – Graduanda – PUC PR Wellington Wesley Paiva – Graduando – PUC PR Resumo: A proposta da comunicação relaciona-se com as narrativas religiosas-espirituais de pessoas em tratamento de saúde. A experiência interior e subjetiva da

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dor física e da dor da alma foram recolhidas nesta pesquisa e nos fizeram considerar que as palavras proferidas e ouvidas são portadoras de esperança para quem está em tratamento de qualquer doença. A condição de doença e de sofrimento físico provoca mudanças profundas e revela a fragilidade de nossa existência. Neste sentido, os objetivos desta pesquisa são os seguintes: identificar nas narrativas dos pacientes as questões relativas aos significados atribuídos com relação aos recursos espirituais e religiosos utilizados no enfrentamento da doença; selecionar os dados qualitativos presentes nas respostas às Escalas de Coping Religioso-Espiritual (Escala CRE) e de Conflitos Espirituais (ECE) aplicados aos pacientes em tratamento oncológico e em idosos no Hospital Santa Casa de Curitiba; e, por fim, compreender as principais necessidades espirituais dos pacientes participantes da pesquisa com vistas à provisão de um cuidado em saúde na perspectiva da pessoa como um todo (bio-psico-social-espiritual). Trata-se de uma pesquisa qualitativa e de abordagem fenomenológica. Foram coletados 10 depoimentos sendo 5 com pessoas em tratamento do câncer e outros 5 com idosos hospitalizados. As entrevistas foram gravadas em áudio e depois de transcritas optou-se por agrupar em três fundamentais categorias que emergiram dos próprios relatos: 1) a espiritualidade como recurso de enfrentamento; 2) a revolta com Deus e a emergência da fé; 3) os familiares e a assistência espiritual. Os principais resultados da pesquisa referem-se à descrição dos recursos espirituais utilizados pelos pacientes; à centralidade da espiritualidade e da oração; à compreensão de que a cura da dor tem profunda relação com a presença humana, com os laços de solidariedade e com a função exercida pelas palavras pronunciadas por todos os que se aproximam de uma pessoa doente. As narrativas mostram, portanto, as emoções e os sentimentos daqueles que souberam compreender o tipo de conhecimento gerado pelo sofrimento do corpo e da alma. Palavras-chave: Coping religioso e espiritual; Psicologia da religião; Conflitos religiosos e espirituais. SERIA A MUSCULAÇÃO UM TIPO DE RELIGIÃO? AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES DA MUSCULAÇÃO COM POTENCIALIDADES PARA UM TIPO DE RELIGIÃO A PARTIR DOS TRANSTORNOS DA PERCEPÇÃO AUTOIMAGEM CORPORAL Marco Antonio Guermandi Sueitti – Doutorando – EST Resumo: Há algum tempo que o apelo convidativo para que as pessoas frequentem uma academia de ginástica, com vistas à saúde e bem-estar, é propagado. Mas é verdade, também, que na última década esse apelo tornou-se mais constante e incisivo devido, sobretudo, ao construto físico-corporal. Àquele apelo convidativo que estava pautado, primeiramente, na preocupação com a saúde e, como segundo plano, na estética, inverteu à lógica de outrora e a estética passou a ser o “carro-chefe” do apelo enquanto a saúde parece ter ficado em segundo plano. Um apelo

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que era convidativo tornou-se um apelo quase que convocativo. Nesse sentido, a lógica dessa cultura reza em torno da seguinte suspeita: uma boa saúde é medida pelos contornos musculosos do corpo. Em outras palavras, uma pessoa com um corpo fisicamente perfeito é uma pessoa que goza de boa saúde. Evidentemente que essa lógica é contraditória, visto que uma boa saúde não é medida pela estética corporal. Entretanto, esse discurso vem ganhando proporções e forças nos últimos anos. Não somente os/as profissionais das áreas médica e esportiva, mas também, outras pessoa de outros seguimentos propagam o discurso da saúde e bem-estar por meio da atividade física. Não é difícil encontrar, por exemplo, um/a líder eclesial, no uso de suas atribuições como conselheiro/a, orientar seu público à pratica de atividade física com vistas à saúde e bem-estar. Apesar de evidenciar uma preocupação para com a saúde e bem-estar de seu público, este/a líder eclesial não se deu conta de que os frutos colhidos nem sempre são bons e belos frutos, mas, também, frutos podres que comprometem, tanto a saúde, como o bem-estar de seus participantes. Em outras palavras, não é só de bônus que vive a cultura fitness, mas, também, de ônus, sendo que esses ônus poucas vezes são evidenciados, mesmo porque uma evidência quase que maçante comprometeria o motor propulsor dessa cultura fitness, a saber, o seu sistema mercadológico. Como ônus dessa cultura compreende os transtornos da percepção da autoimagem corporal, mais precisamente a vigorexia e a dismorfia muscular. É justamente neste ponto que reside o perigo desta cultura e a tese principal deste artigo. No intuito de conquistar um corpo fisicamente perfeito, os/as adeptos/as da cultura fitness, na intenção de conquistar um corpo fisicamente perfeito e, consequentemente, uma ótima saúde, podem tornar-se totalmente dependentes dos exercícios físicos (vigorexia) e, como consequência, não mais perceber o seu corpo já extremamente musculoso e, apesar disso, achar que ainda está fraco e franzino (dismorfia muscular). É nessa caráter estético alimentado pelos transtornos da percepção da autoimagem corporal que, na tentativa de conquistar o tão sonhado corpo fisicamente perfeito, que nunca será conquistado, seus/as adeptos/as podem fazer de seus próprios corpos uma espécie de deus-ídolo e, como consequência, cultuar seus próprios corpos (somalatria). É através desse culto ao corpo, como resultado da soma da cultura fitness e dos transtornos da percepção da autoimagem corporal, que este artigo buscará responder se a musculação têm ou não potencial para ser um tipo de religião. AVALIAÇÃO DO COPING RELIGIOSO/ESPIRITUAL E DOS CONFLITOS ESPIRITUAIS JUNTO A IMIGRANTES HAITIANOS NO BRASIL Mary Rute Gomes Esperandio – Doutora – PUC PR Marcia Corrêa – Mestranda – PUC PR Resumo: Os movimentos migratórios têm crescido consideravelmente nas últimas décadas, em todo o mundo, mesmo em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a exemplo dos imigrantes haitianos. Os imigrantes haitianos que chegam ao Brasil enfrentam sofrimentos vários. Este estudo tem como objetivo avaliar tanto

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o modo como esse grupo utiliza-se de estratégias de caráter religioso/espiritual para lidar com a situação de estresse e sofrimento, quanto os conflitos espirituais por eles vivenciados nesse contexto. Quer-se compreender os recursos e as necessidades espirituais dos imigrantes haitianos, a fim de prover um cuidado pastoral/espiritual mais efetivo. A investigação tem como base os estudos da Psicologia Cognitiva da Religião, especificamente o coping religioso espiritual e os conflitos espirituais. Coping religioso/espiritual diz respeito às estratégias de caráter religioso/espiritual empregadas no enfrentamento do estresse e sofrimento. O estudo foi desenvolvido junto a 35 imigrantes haitianos, sendo 24 do sexo masculino e 11 do sexo feminino, com média de idade de 32,4 (mínima de 20 e máxima de 48). Foram aplicados os seguintes instrumentos: 1) Questionário para levantamento de dados sociobiodemográficos; 2) Escala de Coping Religioso Espiritual Breve 14 itens (CRE-Brief); 3) Escala de Conflitos Espirituais. Os dados revelam que a religiosidade/espiritualidade é, de modo geral, positiva e altamente utilizada pelos imigrantes haitianos, indicando o coping religioso espiritual positivo como um recurso relevante no enfrentamento das condições existenciais desfavoráveis, dos desafios, das ameaças e das próprias perdas que os motivam à diáspora. Percebe-se também, a presença de alguns conflitos espirituais importantes, sobretudo os de Sentido Último, sugerindo a necessidade de um cuidado e acompanhamento espiritual a esse grupo. Considerando a assistência prestada pelas instituições religiosas brasileiras aos haitianos imigrantes, há que se considerar a situação de vulnerabilidade como um fator importante no cuidado espiritual desse grupo. A teoria do coping religioso espiritual e dos conflitos espirituais apresentadas pela Psicologia da Religião constituem-se como ferramentas úteis no exercício do cuidado espiritual às pessoas em condições existenciais de vulnerabilidade, bem como a perspectiva da Bioética de Proteção, no entendimento das pessoas vulneradas. O estudo sugere que a integração das crenças e valores religiosos nas práticas de cuidado aos imigrantes haitianos poderá ajudá-los a lidar com a vulnerabilidade. A ampliação da amostra no estudo deste tema pode levantar indicações importantes, tanto para pensar em melhores políticas de atenção a este grupo, quanto para o planejamento de ações que visem fortalecer, através de assistência espiritual, os recursos internos de imigrantes para enfrentar sua condição de vulnerados. Palavras-chave: Coping Religioso/Espiritual; Vulnerabilidade; Imigrantes haitianos; Bioética de Proteção; Psicologia da Religião. O NATURALISMO DA RELIGIÃO EM PAUTA: O CASO DA CIÊNCIA COGNITIVA Matheus Fernando Felix Ribeiro – Mestrando – USP Resumo: A religião é universal? Se sim, é legitimo dizer que sua base material é biológica? Por que a Hipótese da Secularização pareceu haver fracassado? Poderia haver algo intrínseco à natureza humana relacionado a isto? Essas questões são

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parte da agenda científica da Ciência Cognitiva da Religião. Há cerca de vinte e cinco anos, surgiu em alguns países anglófonos uma nova aproximação da religião, a partir de uma epistemologia naturalística. Esta utiliza-se do neo-darwinismo e da Ciência Cognitiva, especialmente aquela ligada à tradição do cognitivismo inatista chomskyniano. Esta nova ciência agrupa estudiosos de distintas formações como antropólogos, psicólogos, biólogos e filósofos. Objetivos: Será apresentado parte do projeto de mestrado do autor. Investiga-se a antropomorfização e sua relação com conceitos religiosos. A primeira é entendida como uma restrição cognitiva do pensamento humano e se refere à capacidade de atribuir intencionalidade à eventos e objetos, não se limitando à esfera religiosa. Será verificado se os agentes religiosos, como Deus, sofrem influência dessa restrição quando são pensados, uma vez que são estes conceitos religiosos. A hipótese de trabalho é que religiões com maior tradição de antropomorfização de seus deuses, como o catolicismo, possuem essa restrição aumentada, influenciando assim a representação mental de agentes sobrenaturais. Métodos: Foi elaborado uma adaptação das histórias utilizadas por Barrett e Keil (1996) em que esta mesma hipótese foi testada. Contudo, na amostragem original, o controle religioso não foi considerado, tampouco a idade. Nesse trabalho, serão considerados três religiões, católica, presbiteriana e umbanda, bem como serão sujeitos de pesquisa crianças de 10 a doze anos de idade. Também será analisada a variável gênero. Resultados: Esta proposta consiste apenas numa apreciação sobre o work in progress. Serão discutidos apenas os aspectos teóricos e metodológicos do projeto, uma vez que as análises e a coleta ainda estão em fase de processamento. Conclusão: A Ciência Cognitiva da Religião aparece como uma interessante alternativa à proposta culturalista de se pensar a religião, a partir de uma maneira naturalística. Ela constitui uma abordagem densa no sentido que se utiliza de múltiplos constituintes para suas interpretações, desde a etologia até os sistemas complexos. A MEMÓRIA COMO ESPAÇO DA EXPERIENCIA DO SAGRADO. Nilo César Batista da Silva – Doutor – UFS Resumo: a presente comunicação visa refletir sobre o papel do desejo e da memória na experiência do sagrado. O trabalho é resultado de um longo percurso meditativo realizado a partir das leituras nas Confissões de Sto. Agostinho, durante as experiências e reflexões partilhadas no grupo de pesquisa, “fundamentos do cristianismo” sediado no Programa de Ciências da Universidade Federal de Sergipe. Sto. Agostinho deve ser considerado um autor de grande relevância para filosofia e também para a psicologia da religião. Numa breve leitura de suas Confissões, logo se percebe que interioridade e revelação são experiências fecundas de seu itinerário em busca da experiência do sagrado. Sua investigação procede no desígnio de compreender como a natureza humana na sua fragilidade pode reconhecer a presença do absoluto no interior da alma – na memória e, ainda, como o ser humano torna-se capaz de fazer a experiência do sagrado a partir do exercitatio do desejo e

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da memória, visto que no pensamento de Agostinho tal percurso não se faz sem o mergulho mais profundo na história, no tempo e nas sensações do homem exterior, na debilidade do humano, características próprias de sua finitude. A memória representa o esforço de Agostinho para encontrar o itinerário da Verdade. De acordo com Agostinho, quando admiramos a grandeza das criaturas, a imensidão dos oceanos, as órbitas dos astros, o curso dos rios, as montanhas, não conseguimos dizer apenas com os olhos que veem se não interiormente visse na memória, em espaços tão vastos como se os visse fora de mim, imagens impressas na memória. A memória é infinita e constitui-se o mistério insondável no qual transporta a marca distintiva do homem em relação aos outros seres, esta parte distinta da memória que transcende os outros animais é a parte mais superior, onde Deus habita no humano. Palavras-chave: Memória; Deus; Mística; Santo Agostinho. DA MAGIA À TERAPIA: NOVAS OFERTAS RELIGIOSAS NA IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS Paulo Rogério Passos – Doutor – PUC Goiás Resumo: Com um maior acesso a informação e a instrução formal de um expressivo contingente populacional tipificado como classe “c”, muitas representações simbólicas que eram manejadas por este estrato sofreram ressignificações. Como a grande maioria dos membros da IURD pertencem a este contingente, novas narrativas foram incorporadas pela instituição de modo a recepcionar essa nova gramática simbólica da realidade. De um rol de serviços e ofertas religiosas alicerçados na redução de complexidade da vida, gradativamente certa racionalidade começa a ser incorporada nos processos litúrgicos da IURD. Se outrora a centralidade do rito iurdiano tinha na figura do “diabo” o grande agente obstaculizador da vida, nos últimos anos uma linha “terapêutica” de empoderamento individual parece se destacar dentre as outras ofertas religiosas no mercado religioso brasileiro. A Igreja Universal do Reino de Deus parece possuir a capacidade de se ajustar permanentemente aos anseios mais urgentes da sociedade. Mesmo com uma estrutura institucional bem consolidada, não demonstra grandes dificuldades em acompanhar os rumos do contexto social. Essa maleabilidade mantém a identidade teológica da IURD muito fluida e indefinida. Muitas nomenclaturas já foram empregadas na tentativa de enquadramento conceitual da igreja, todavia, nenhuma conseguiu estabelecer um rótulo definitivo. Ao contrário das denominações tradicionais presentes no campo religioso brasileiro, que buscam certo purismo teológico, a IURD, desde a sua gênese, parece se interessar por aqueles que estão em trânsito, por uma clientela mais suscetível as respostas mais imediatas e objetivas. Palavras-chave: Ofertas religiosas; Igreja Universal do Reino de Deus; Psicanálise.

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A INFLUÊNCIA DAS EMOÇÕES NO PROCESSO DE ADOECIMENTO Renata Shirley da Silva Ferreira – Mestranda – UFPB Resumo: Neste artigo trataremos, através de uma revisão bibliográfica, que o processo de adoecimento e saúde está vinculado às emoções e a importância em buscar uma educação emocional, uma vez que as emoções desempenham um papel importante no processo de saúde e doença do indivíduo. Vivemos numa época em que a medicina tradicional ocidental vem enfrentando um momento de profunda desconfiança, descrença e crítica quanto a seus métodos terapêuticos, abrindo espaço cada vez mais para a procura pelos métodos complementares e integrativos de tratamento. Tal busca se faz uma vez que estes métodos veem o ser humano do ponto de vista integral, holístico, ponto de vista desprezado, em grande parte, pela medicina tradicional. As práticas integrativas e complementares em saúde, terapias que visam o cuidado integral, podem contribuir no equilíbrio e qualidade de vida do ser humano, sendo, portanto, uma alternativa na busca do autoconhecimento e equilíbrio emocional, uma vez que estas tem como foco o olhar do ponto de vista integral para o indivíduo, e leva em consideração os aspectos emocionais, uma vez que entende que estes influenciam na sua qualidade de vida. Essas práticas usam de métodos terapêuticos que buscam integrar no ser humano junto ao físico, os aspectos mentais, emocionais e espirituais. Partem do princípio da harmonia entre o que se pensa, sente, fala e como atua, para que o indivíduo entre em conexão consigo, encontrando equilíbrio e harmonia. Nosso objetivo é percorrer, através da análise da medicina psicossomática como as emoções podem desencadear um adoecimento no corpo físico e como as práticas e a educação emocional podem contribuir para o equilíbrio emocional do indivíduo. Observamos que práticas como Tai Chi Chuan, Yoga, Terapia Floral e Reiki podem auxiliar-nos na busca pelo autoconhecimento, e a fazer essa busca interior, com mais consciência, transmutando hábitos de vida, de maneira a contribuir no enfrentamento das situações e problemas do dia a dia, encontrando uma maneira saudável de viver. Também concluímos que no que tange a uma educação emocional é preciso que deixemos as emoções ter seu ciclo no momento em que elas acontecem. Aprendemos a reprimir as emoções: um aprendizado completamente errado. Dessa forma estas emoções servem de aprendizado no processo cotidiano e evolutivo, sem interferir na nossa qualidade de vida. Palavras-chave: Emoções; Espiritualidade e saúde; Práticas integrativas. ENTRE AFLIÇÕES E BOM ÂNIMO: ANSIEDADE, DEPRESSÃO E RELIGIOSIDADE EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS Sérgio da Cunha Falcão – Doutorando – UNICAP

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Resumo: Pesquisadores e entidades representativas das áreas de Ciências das Religiões, Teologia, Psicologia e Medicina, pacientes e educadores médicos de países ocidentais e orientais têm dado maior atenção aos temas religiosidade e saúde. Mas, em termos de publicação científica, esses temas têm sido estudados principalmente por psicólogos (predomínio de pesquisas qualitativas), médicos e enfermeiros (pesquisas quantitativas), sendo ainda pouco frequentes pesquisas feitas por teólogos e cientistas da religião. O presente artigo tem como objetivo refletir acerca da relação entre ansiedade, depressão e religiosidade em estudantes universitários. Foi realizada revisão das evidências da literatura nos bancos de dados PsycInfo, Pubmed e Portal de Periódicos CAPES/MEC. Os estudos sobre religiosidade e saúde, quando realizados em amostras populacionais de estudante universitários, foram feitos principalmente para validação de instrumentos de aferição de religiosidade ou para avaliar interesse de alunos de medicina em aprender sobre espiritualidade no cuidar do paciente. Entretanto, no cenário de vida acadêmica, é natural que surjam momentos de tribulações que interfiram no bem-estar físico, mental, social e espiritual, e na compreensão que cada estudante tem de sua própria existência. Tanto que, em minha prática diária, lembro de pelo menos quatro casos de suicídio em alunos da área médica. Tal preocupação tem sentido face ao fato do grande crescimento do número de pessoas no mundo que estão sendo acometidas de depressão e ansiedade. A Organização Mundial de Saúde (2016) estima que 350 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com depressão, a qual é a principal causa de incapacidade laborativa e contribui de forma muito importante para a carga global de doenças, sendo que cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano (segunda causa de morte entre pessoas com idade entre 15 e 29 anos). O deprimido sofre pela ausência de amor, não se sente amado e [quando grave] não ama a Deus, não ama a si mesmo, não consegue amar o próximo. Ao mesmo tempo, 90% da população mundial está envolvida em alguma forma de prática religiosa ou espiritual, e existem consistentes evidências que os indivíduos que têm mais religiosidade têm menos depressão, ansiedade, tentativas de suicídio e uso/abuso de drogas, e experimentam melhor qualidade de vida, remissão mais rápida dos sintomas depressivos e melhores resultados psiquiátricos. No entanto, apesar de menos prevalente, o enfrentamento religioso negativo ou o adoecimento mental de causa religiosa foi encontrado em algumas pesquisas. A atual expectativa humana de encontrar uma pós-verdade tem trazido um forte desejo de se fazer experiência religiosa e uma maior demanda por curas do tipo imediatista, por meio de milagres. Mas, perante as aflições do dia a dia, será que todo sagrado que está sendo oferecido é realmente capaz de trazer bom ânimo? A reflexão aqui realizada deve nos motivar à realização de pesquisas empíricas, preferencialmente prospectivas longitudinais. Palavras-chave: Religião; Espiritualidade; Saúde; Psicologia; Estudantes.

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RELIGIÃO E PRÓ-SOCIABILIDADE: UMA SÍNTESE INTRODUTÓRIA Thales Moreira Maia Silva – Mestrando – UFJF Resumo: O que se convém chamar de Religião parece representar um aspecto universal da cultura humana, mesmo assim, até recentemente, relativamente muito pouco se sabia a respeito de suas origens naturais e seus efeitos mentais, individuais e coletivos. Porém, tal cenário tem se alterado, na medida em que o interesse científico no estudo da mente e do comportamento religioso tem aumentado. Debates atuais acerca das funções e origens evolutivas da Religião (inclusive sua gênese no desenvolvimento genético e cultural humanos) tendem, todavia, a se fundamentar em uma série de alegações empíricas a respeito de uma provável pró-sociabilidade religiosa, ou seja: se, e sob quais modos particulares, certas crenças e práticas religiosas reforçam e encorajam comportamentos pró-sociais. Pesquisas recentes realizadas sob a ótica da Psicologia Evolutiva têm exibido uma latente associação entre o conteúdo de crenças no sobrenatural e um aumento da cooperação interna a grupos sociais. Sob tal lógica, a existência de “Grandes Deuses Moralizantes”, além do “medo da punição divina” e de um “monitoramento sobrenatural” permitiriam uma maior coesão social por meio do engajamento epistêmico particular que tais noções produziriam nas mentes daqueles que as mantivessem em suas crenças religiosas. Por outro lado, uma variedade de experimentos em Psicologia Social tem observado robustas decorrências causais de comportamento pró-social em indivíduos e grupos sob o efeito de práticas rituais ou do uso de priming religioso. Nesse contexto, o breve estudo que se seque procurará sintetizar e avaliar a literatura científica contemporânea a respeito da pró-sociabilidade religiosa, destacando seus principais resultados, assim como suas diferenças e as questões mais relevantes levantas por suas conclusões. Evidências convergentes advindas desses, e de vários outros campos do conhecimento, sugerem um padrão de nuança, indicativo de que certas crenças e práticas religiosas (sob contextos sócio-históricos específicos) promovem comportamentos cooperativos e pró-sociais – tanto entre membros de um dado grupo quanto entre estranhos. Esse emergente cenário, então, pode estar começando a revelar os possíveis mecanismos psicológicos subjacentes à pró-sociabilidade religiosa. Entretanto, e de qualquer forma, um progresso adicional nessa temática de estudo ainda dependerá da resolução de um número considerável de questões psicossociais pendentes, tais como se a pró-sociabilidade religiosa é observada em sociedades de pequena-escala, a extensão até a qual ela é moldada por limites estabelecidos pelos grupos, e a explanação da psicologia subjacente às várias formas de ceticismo. Palavras-chave: Comportamento pró-social; Métodos de pesquisa; Religiosidade; Crença; Cooperação.

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ST 08 – ESPÍRITO E UTOPIA DO REINO DE DEUS

Dr. Luiz Carlos Sureki (FAJE) [Coordenador] Dra. Áurea Marin Burocchi (PUC-MG) Dra. Aparecida Maria de Vasconcelos (FAJE) Dr. Paulo Sérgio Carrara (ISTA-BH) Dr. Paulo Sérgio Lopes Gonçalves (PUC-Campinas) Dr. Valério Schaper, PPGT – EST-RS Ementa: Esta ST busca refletir sobre a fecunda relação entre pneumatologia e cristologia, apresentando o Espírito Santo como aquele que move a história rumo à realização do Reino de Deus. A busca da "terra prometida", da “terra sem males”, do que (ainda) não tem lugar (utopia) no hoje da realidade, no hoje da vida, não é uma exclusividade do povo bíblico, nem se deixa reduzir ao fenômeno puramente socialgeográfico das migrações humanas. Em verdade, trata-se de algo constitutivo do ser humano como ser-a-caminho (homo viator), como ser espiritual, como ser de transcendência. É na fé em Deus-Espírito Santo que “saímos de nossa terra” (como o pai da fé de Israel, Abraão) e esperamos a vinda do Reino prometido do Espírito, pois somente assim será o Reino de Deus. As comunicações da ST devem refletir especialmente sobre temas de cunho pneumatológico, cristológico, antropológico e escatológico. O grupo está também aberto para acolher estudos que abordem a inter-relação da teologia sistemática com outros credos, organizações sociais e campos de conhecimento (geografia, antropologia social e afins), pois o Espírito Santo está presente em todas as religiões, movimentos sociais que promovem a paz, a liberdade, a fraternidade, a libertação, a dignidade do ser humano. Palavras-chave: Espírito; Utopia; Reino de Deus; Ser humano migrante. A EXPERIÊNCIA MÍSTICA DO SAGRADO EM RUDOLF OTTO Azenathe Pereira Braz – Graduada – UFG Resumo: Com a aspiração de aportar uma análise sobre elementos comuns das diversas religiões, a fim de decifrar suas práticas e concepções de sagrado nos diversos contextos histórico-culturais, a presente pesquisa fará considerações sobre as concepções inovadoras que Rodolf Otto faz sobre o comportamento do homo religious e sua relação com o sagrado, em seu livro Das Heilige escrito em 1917. Otto percebe a experiência do sagrado como sendo o numinoso, “o ganz andere, o

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inteiramente outro” (OTTO, 1985, p. 32). Para o autor, numinoso é o estado de alma, o sentimento numinoso se dá na experiência mística. Portanto, percebe-se uma correlação entre o não-racional e o racional da experiência religiosa, e essa dualidade que reelabora os significados do sagrado na existência do homem religioso. É nessa perspectiva Otto afirma que a religião não se esgota em enunciados racionais e sob esse aspecto tenta examinar a categoria do sagrado na perspectiva do não-racional que a compõe, paradoxalmente, ao racional. Porém, no que se refere ao conceito de sagrado, afirmando ser este o seu sentido primitivo, Otto define como uma “interpretação e avaliação do que existe no domínio exclusivamente religioso” (1985, p. 11) sendo compreendido como um elemento completamente inacessível a compreensão conceitual. Posto que o numinoso, não possa ser conceituado, ou ser suscetível de manifestação, Otto, desenvolve o conceito de que é no misterium tremendum que o numinoso se manifesta, sendo esse “mistério que faz tremer” um sentimento de terror, de espanto. O misterium para Otto é o admirável, o maravilhoso, um estado de alma diante do numinoso, que se qualifica como aquilo que é estranho e surprendente. OBJETIVOS: Demonstrar a relevância do estudo das práticas religiosa para a construção do conhecimento sobre a própria historia do homem. Contribuir para compreensão da experiência transcendental do homem religioso. Aportar uma contribuição a discussão de que a faculdade do espírito é que proporciona a experiência do sagrado., e por sua vez, impulsiona o homem religioso a peregrinar nessa terra. MÉTODO: Acerca dos métodos, utilizamos os recursos da análise qualitativa de interpretação dos conceitos empreendidos por Rudolf Otto na obra O sagrado. RESULTADOS: Aponta-se a concepção de que o homem religioso constrói o significado da sua existência a partir da experiência com o misterioso, visto que, o pneuma atua em esfera do não compreensível. Dessa forma, a força impulsionadora da existência do homem religioso se encontra no sentimento de parte de um todo, que só é experimentada quando o misterium tremendum acontece. Com efeito, entendemos a categoria do sagrado e seus elementos supracitados, como sendo a experiência do contato do homem com o espírito. CONCLUSÃO: À guisa de conclusão, observa-se que essa experiência estranha e surpreendente, analisada de forma inovadora por Rudolf Otto na obra O sagrado, pode ser categorizada como a experiência com o espírito, que é a força propulsora da existência do homem religioso. E diante dessas considerações pode se ter uma sumária percepção do conceito de sagrado defendido por esse autor. Lutero entende que esse conhecimento, fruto da experiência, é um “a priori místico no espírito do homem”. Todos os seres humanos possuem uma faculdade pneumática (spiritus sanctus) que os conduzem ao numinoso. CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS DA MÍSTICA CONTEMPORÂNEA. TESTEMUNHOS FEMININOS: DOROTHY DAY E VIOLETA PARRA Ceci Baptista Mariani – Doutora – PUC Campinas Resumo: A mística é uma forma intensiva de experiência de Deus na fé e está

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vinculada à dimensão cognitiva da mesma. Essa dimensão, segundo o teólogo E. Schillebeeckx, tem dois aspectos, um que diz respeito às representações, conceitos, imagens e outro está relacionado com o contato cognitivo com a realidade de Deus. Mística, ele vai definir, em sentido mais específico, é uma forma intensiva deste elemento cognitivo que nos une com Deus na fé e põe em crise as representações humanas do divino. Esse é o grande paradoxo da mística: o esfacelamento das representações e das mediações constituídas no seio de sistemas religiosos que ela provoca. Apoiada na convicção da absoluta transcendência de Deus, a mística é crítica, faz ver o limite da condição humana e a impossibilidade que ela tem de abarcar o mistério inconcebível e “indisponível” que é Deus. Apoiado numa experiência fundamental, o místico vê com maior clareza a relatividade de todas as mediações, percebe que são importantes pontos de apoio, mas não a garantia absoluta nessa busca do Transcendente. Diferente do que muitas vezes se pensa, a experiência mística não nos retira do mundo, ao contrário, conduz a um forte compromisso com a transformação. Nos conduz ao envolvimento com a realidade social livre de interesses particulares por ser um envolvimento ordenado pela união de amor com Deus. Para a tradição cristã, o encontro com Deus nos possibilita amar com um amor maior do que nossas capacidades, isto é, para amar o mundo e o outro, como os ama o próprio Deus. A mística na contemporaneidade vai revelar mais claramente sua face política. É “mística de olhos abertos” como a denomina o teólogo Metz. A modernidade, ao trazer uma maior sensibilidade para a importância da histórica, impactou a espiritualidade cristã. Várias narrativas contemporâneas de viés místico vão mostrar como o face a face com a pobreza à luz do crucificado ressuscitado, faz encontrar a Deus, o pai compassivo e misericordioso revelado pelo Filho. Essa experiência de Deus, explicita Metz, não se esgota na compaixão em si mesma. O sofrimento que interpela, contemplado à luz da prática histórica de Filho de Deus encarnado, pede uma resposta ativa, convoca ao seguimento de Jesus. A mística de olhos abertos é uma mística inspirada na justiça de Deus que desce e se coloca ao lado do sofredor para salvar o mundo pelo poder da compaixão, solidariedade e comunhão. Através de metodologia bibliográfica e tendo como referência a análise do fenômeno místico realizada por Juan Martín Velasco, esse trabalho apresenta dois testemunhos femininos da mística militante contemporânea: a jornalista estadunidense Dorothy Day (1897-1980) e a artista chilena Violeta Parra (1917-1967). Duas mulheres notáveis, em cujos escritos é possível captar a força dessa mística militante contemporânea. Palavras-chave: Mística; Militância; Política; Dorothy Day; Violeta Parra. O ESPÍRITO E A REFORMA DA IGREJA: ESBOÇO DE UMA PNEUMATOLOGIA MISSIONÁRIA A PARTIR DA EVANGELII GAUDIUM Diogo Marangon Pessotto – Mestre – PUC PR Resumo: No primeiro número de Evangelii Gaudium (EG), Francisco acena para o

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primordial propósito de sua Exortação Apostólica: “Quero, com esta Exortação, dirigir-me aos fiéis cristãos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos (EG 1)”. Assim, EG concentra-se no processo de renovação eclesial a partir da “transformação missionária da Igreja” (EG 19), ou seja, da fidelidade à sua vocação fundamental, que exige, por sua vez, uma contínua conversão e reforma, cujos efeitos se dão na própria atividade evangelizadora da Igreja. Sendo o Espírito Santo o protagonista da evangelização (EG 261), o “preciso estilo evangelizador” (EG 18) delineado por EG tem por protagonista o mesmo Espírito. Nesse sentido, com o presente trabalho, procuramos analisar os aspectos concernentes à relação entre a Pessoa do Espírito Santo e a reforma eclesial no âmbito da EG por meio da consideração dos elementos pneumatológicos (explícitos e implícitos) referidos a esta relação com vistas à explicitação de uma possível pneumatologia missionária à luz da mencionada Exortação. Metodologicamente, nossa análise terá por critério teológico-formal o capítulo V de EG bem como alguns de seus outros parágrafos cujos elementos pneumatológicos encontram-se em estreita relação com o ideal da transformação missionária da Igreja proposta por Francisco em seu documento. No âmbito da renovação eclesial, não há fidelidade da Igreja à sua vocação e, por consequência, não há conversão missionária se se prescinde da ação do Espírito Santo. Para EG, portanto, é evidente que a renovação da Igreja é obra do Espírito Santo, do Espírito da missão. Desde aí depreendemos uma possível pneumatologia missionária, cujos elementos, em articulação, caracterizam a relação Espírito-Igreja-Missão nos termos de uma eclesiologia pneumatológica e de uma antropologia pneumática. Dado que Francisco procura colocar a Igreja em um estado permanente de missão, a pneumatologia missionária em EG pode ser concebida como uma abordagem teológica a partir de seus termos e das relações que estabelecem entre si, não sendo possível considerá-los de outra forma: a missão é com Espírito e o Espírito não faz outra coisa senão impulsionar para a missão. Tal realidade se dá na Igreja, que é, ao mesmo tempo, meio pelo qual o Espírito age em prol da missão e o sujeito prioritário da missão. Palavras-chave: Espírito Santo; Igreja; Missão; Reforma; Evangelii Gaudium. A UTOPIA DO REINO DE DEUS: CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS A PARTIR DA CRISTOLOGIA DE JON SOBRINO Eugenio Rivas – Doutor – FAJE Resumo: Conhecido como o “continente da esperança”, a América latina sempre esteve diante de discursos otimistas ou utópicos. Poucas palavras tem tido tanto sucesso como a palavra utopia. Desde que foi acunhada por Moro, não só permanece no imaginário intelectual post- Moro, mas tem tido a força de reler retroativamente toda uma herança social, filosófica e religiosa. A utopia tem-se convertido em chave hermenêutica para reler e interpretar a produção do espírito

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humano emparentada com a proposta de Moro. O termo utopia aparece na reflexão teológica latino-americana desde seus inícios. Dado o desafio de se refletir teologicamente em um contexto de pobreza e opressão, e diante da exigência de libertação integral para os povos da América latina, muitos autores lançaram mão do termo para expressarem a necessidade de práticas propulsoras que visam aproximar ou realizar o anseio de libertação em seus diversos níveis. Este trabalho pretende analisar criticamente a presença do “paradigma utópico” na categoria teológica de Reino de Deus desenvolvida por Jon Sobrino na sua cristologia. Pretende-se apontar qual ideia de utopia tem Sobrino ao relacioná-la a essa categoria teológica e as consequências e implicações para o pensar teológico latino-americano. Na nossa analise da obra de Sobrino dialogamos com a crítica de Henrique Cláudio de Lima Vaz (1984), que investiga a relação entre Cristianismo e discurso utópico, apontando as possíveis incompatibilidades do uso do termo na reflexão teológica cristã. O nosso objetivo é recuperar aquilo de mais medular na tradição teológica sobre o compromisso cristão na transformação do mundo, despojando-a de aderências desnecessárias, sublinhando o que nos parece de mais necessário para hoje reavivar e encantar a languida vida do compromisso crente na construção de um mundo diferente. Palavras-chave: Utopia; Esperança; Reino de Deus; Teologia da libertação. PNEUMATOLOGIA E DIÁLOGO INTERRELIGIOSO: AS TENTATIVAS DE AMOS YONG E GEORGE KHODR Fabrício Veliq – Mestre – FAJE Resumo: A pluralidade religiosa é uma realidade desde os primórdios da sociedade. O povo de Israel, desde o início de sua existência, se viu cercado por outras religiões e teve que conviver com elas. O Cristianismo também, desde suas origens no primeiro século, teve a necessidade de conviver e responder às questões propostas por outros grupos que não tinha Cristo como Senhor. Nesse sentido, a pluralidade religiosa não se mostra como algo novo. Contudo, nem sempre a pluralidade religiosa foi vista como benéfica, e o próprio Cristianismo durante muito tempo teve uma postura de recusa em ouvir o que as outras religiões tinham a dizer, considerando-se a única voz digna de falar a respeito dos mistérios de Deus. Com o advento da modernidade, a hegemonia do Cristianismo deixa de existir e os discursos de explicação do mundo, do humano e da sociedade propostos por outras religiões também passam a ser considerados como verdadeiros e dignos de existência. No cenário atual, o diálogo interreligioso de coloca como tarefa imprescindível para o Cristianismo, caso esse queira continuar como uma voz que faça sentido dentro de uma sociedade plural. Diversas foram as tentativas, no âmbito teológico cristão de dialogar com as outras religiões. De início, essas tentativas foram feitas pelo viés cristológico. Essas, porém, dividindo-se em exclusivistas, inclusivistas e pluralistas não conseguiram, segundo Amos Yong, dar respostas satisfatórias à

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questão do diálogo interreligioso. Mediante isso, ocorre uma guinada para a tentativa do diálogo interreligioso pela via da pneumatologia. O intuito dessa comunicação é mostrar, brevemente, duas tentativas de diálogo interreligioso por essa via, a saber, a tentativa de George Khodr, teólogo Ortodoxo, e a tentativa de Amos Yong, teólogo Pentecostal. Tentaremos expor as linhas gerais do pensamento desses dois teólogos sobre a temática a fim de mostrar os avanços e possíveis limitações existentes em suas propostas de diálogo interreligioso. Palavras-chave: Diálogo interreligioso; Pneumatologia; Amos Yong; George Khodr. O ORIENTE CRISTÃO: ELEMENTOS PARA O DIÁLOGO ENTRE O PROTESTANTISMO LATINO AMERICANO E A FORMA “MAIS CÓSMICA DO CRISTIANISMO” Gilmar Ferreira da Silva – Mestre – FAJE Resumo: Uma das etapas fundamentais para o diálogo ecumênico na América Latina é a consideração, por parte das diversas matizes do cristianismo – principalmente o protestantismo instalados nesse continente, de que ainda não somos capazes de dialogar com o cristianismo oriental porque desconhecemos os aspectos elementares da história e teologia desse segmento cristão. O oriente é, segundo Victor Codina, a forma mais “cósmica do cristianismo”; é sensível ao corpo, a mulher, a terra e, por fim, é holística e ecológica. Objetiva-se reconhecer alguns desses aspectos constitutivos teologia cristã oriental a partir de leituras dessa tradição elaboradas pelo teólogo latino americano Victor Codina. (a) Serão identificados detalhes históricos do processo de “afastamento” entre oriente e ocidente. (b) Também serão descritas características centrais dos temas da teologia sistemática e (c) pontuadas contribuições para teologias protestantes latino americanas. Quanto ao método pesquisa será qualitativa, pois concentra-se nas principais obras de Victor Codina que tratam desse tema. Será uma pesquisa básica porque objetiva formular conhecimentos que otimizem a prática do diálogo ecumênico. Limita-se a pesquisa bibliográfica. Identificar detalhes do processo histórico de produziu o afastamento entre o oriente e o ocidente permite provocar os cristãos contemporâneos a estabelecerem programas de integração eclesiais, ao perceberem que existem consideráveis elementos comuns entre as tradições oriental e ocidental. Descrever características dos temas centrais da teologia sistemática oriental amplia, ao constatar toda sua fecundidade, os caminhos para pesquisa teológica capaz de captar a “criatividade” das expressões da fé cristã na América Latina. A partir da leitura que Victo Codina apresenta da teologia oriental é possível pontuar contribuições que enriqueçam, com pontos de convergência, o diálogo e a inter-relação entre as igrejas cristãs orientais, diferentes tradições protestantes e com o catolicismo latino americanos. Victor Codina, além de toda habilitação acadêmica, possui notável conhecimento da realidade social, cultural e religiosa do continente. Em sua obra são afirmados os valores do catolicismo a partir do Vaticano

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II. Se preocupa com a tradição mas busca alternativas condizentes às demandas humanas e com o resgate do papel da igreja na contemporaneidade. Codina desafia diferentes tradições cristãs a reverem projetos eclesiais que se proponham a apresentar e viver o Reino de Deus na América Latina. Na obra de Codina, criatividade, diálogo, fecundidade, ecumenicidade e quaisquer atos que promovam a unidade, são consequências da livre ação do Espírito Santo que atua em diferentes credos, campos do conhecimento e lugares geográficos. Conhecermo-nos melhor é o passo inicial para retomarmos a caminhada fraterna as igrejas das tradições protestantes, Católica Romana e orientais. DEVOÇÃO E DESLOCAMENTOS DOS ROMEIROS E ROMEIRAS DE JUAZEIRO DO NORTE José Artur Tavares de Brito – Doutorando – UNICAP Resumo: Esta comunicação foca os domínios da devoção e dos deslocamentos dos romeiros e romeiras do Juazeiro do Norte, no Ceará, do padre Cícero, no final do século passado e início deste considerando o processo de hierarquização de sentidos. O estudo quer enfocar o cruzamento entre o tradicional e o moderno como também indaga as perspectivas de continuidade e mudança no conteúdo das práticas romeiras. Entre as possibilidades de análise dos fluxos religiosos nas Ciências da Religião, são tomadas como escopo as noções de peregrinação, devoção e mobilidade humana como matrizes interpretativas das romarias alinhavando-as a narrações de experiências dos participantes. O estudo apresentado abrange a identificação das práticas tidas como legítimas das romarias, considerando as relações entre o mito fundador, a cidade e os romeiros; e os elementos que apontam para novas significações. A tensão entre o institucional e o vivido, a tradição e a modernidade perpassam nossa pesquisa. Vemos que as romarias do Juazeiro do Norte tornam o catolicismo algo complexo e diversificado. Nesta quadra do século o catolicismo, por vários motivos, mas principalmente pelo processo de aggiornamento da Igreja Católica lança luz à nossa reflexão. A pesquisa quer apontar aspectos que indicam mudanças e permanências nas práticas romeiras tradicionais. Além disso, percebemos que, mesmo o romeiro/a se mudando para outra região, o Juazeiro do Norte continua sendo o centro simbólico. Mesmo estando em São Paulo a experiência vivida nas romarias atesta sua identificação profunda com um povo que se procura. Nisso, o espaço imaginário é mais extenso que o geográfico. O que possibilita uma permanente implicação na ressignificação das romarias. Palavras-chave: Mobilidade humana; Peregrinação; Devoção; Juazeiro do Norte; Padre Cícero. UMA TEOLOGIA PNEUMATOLÓGICA DA PALAVRA DE DEUS: CONTRIBUIÇÕES DE FERDINAND EBNER

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Luiz Carlos Sureki – Doutor – FAJE Resumo: Ferdinand Ebner (1882-1931) é um dos representantes do chamado “Pensamento Dialógico” (ou Personalista) dos inícios do século XX. Crítico da filosofia moderna, e especialmente do idealismo (que havia se fechado no “Eu”), Ebner redescobre a constituição essencialmente dialógica (espiritual) do ser humano a partir da leitura do Evangelho de São João (especialmente do Prólogo). O filósofo/teólogo austríaco vai à procura da gênese da relação dialógica Eu-Tu. Ele empreende uma fenomenologia da palavra humana e chega à Palavra divina, ao ato comunicativo primeiro, como um evento pneumatológico. Nosso objetivo principal será o de apresentar uma teologia da palavra/espírito em sua mútua e necessária implicação. Mostrar que o Eu originário (proto-nominativo) é Deus que se comunica (fala), e que o Tu (proto-vocativo), a quem Deus fala, é o ser humano. Este precisa ouvir a palavra divina (o Outro) para poder chegar à consciência de seu próprio ser-humano, de seu Eu como realidade espiritual, realidade esta que, contudo, não pode existir nem subsistir na solidão do Eu. O método deverá ser fenomenológico-existencial. Fenomenológico porque a palavra proferida é tomada como um evento; existencial, porque não há palavra sem existência viva, sem espírito. A palavra revela o espírito; o espírito porta a palavra. O resultado dessa abordagem será o de oferecer alguns aportes para ajudar a suprir a urgente necessidade na teologia cristã ocidental atual de recuperar a intrínseca relação entre Palavra e Espírito, portanto entre Cristologia e Pneumatologia. Fará ver que uma Cristologia sem Pneumatologia tende ao dogmatismo e ao moralismo; e que uma Pneumatologia sem Cristologia não poderá oferecer critérios práxicos para orientar a vida cotidiana dos cristãos. A conclusão apontará para a necessidade de se tomar a Revelação de Deus (sua autocomunicação) como Palavra (Verdade) indissociavelmente da ação do Espírito Santo (Amor). Somente assim poderemos ter uma fecunda teologia trinitariamente elaborada com implicações concretas para a espiritualidade, a antropologia e a moral cristãs. Palavras-chave: Cristologia; Pneumatologia; Revelação; Relação Dialógica. A ARTICULAÇÃO ENTRE CRISTOLOGIA E PNEUMATOLOGIA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA E ECUMÊNICA Paulo Sérgio Lopes Gonçalves – Doutor – PUC Campinas Resumo: Objetiva-se neste trabalho analisar a articulação entre Cristologia e Pneumatologia em perspectiva histórica e ecumênica. Dois são os aspectos que justificam este objetivo. O primeiro corresponde à afirmação de fé de que Cristo e o Espírito são pessoas trinitárias, unidas pericoreticamente ao Pai, principium principiorum, e distintas em propriedade e missão. Neste sentido, não se efetiva a cristologia sem unir Cristo ao Pai no Espírito e unir Cristo ao Espírito, por desígnio do

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Pai. Também não se realiza a Pneumatologia sem conceber que o Espírito vivifica o Cristo, o inspira à missão designada pelo Pai, e é doado por esse mesmo Cristo, por vontade do Pai, aos apóstolos para a constituição da Igreja, sacramento de salvação universal, corpo de Cristo, Povo de Deus, mistério de comunhão. Disso resulta afirmar a existência de uma Cristologia pneumatológica e de uma Pneumatologia cristológica, ambas inseridas na teologia trinitária. O segundo aspecto é que, na tradição cristã, fundamentada na Escritura, uma Cristologia pneumatológica e uma Pneumatologia cristológica só se tornam possíveis em perspectiva trinitária, quando concebidas histórica e ecumenicamente. Eis então, a importância do teólogo dominicano Yves Congar que, em grande parte de sua vida, dedicou-se à Pneumatologia trinitária em articulação com a Cristologia, utilizando-se da história da teologia e da eclesialidade da fé para efetivar o ecumenismo na articulação entre pneumatologia e cristologia, evidenciando a íntima relação entre a Parole (Cristo) e o Soufle (o Espírito). Para atingir, este o objetivo, tomar-se-á a Pneumatologia Dogmática de Yves Congar, presente em suas obras Je crois en l’Esprit Saint(1979) e La Parole et le soufle (1984) como referências fundamentais para afirmar a articulação entre Cristologia e Pneumatologia em perspectiva histórica e ecumênica. Isso significa que a argumentação do autor, nesta articulação, explicita um caráter ecumênico nas formulações neotestamentárias acerca de Cristo e do Espírito e a unidade da tradição cristã católica com outras tradições cristãs ao longo da história das formulações cristológicas e pneumatológicas. Espera-se que a articulação congariana entre Pneumatologia e Cristologia denote a necessidade de se ater à história como campo da revelação e ao ecumenismo como perspectiva necessária para apresentar que o Espírito é de Cristo, filho do Pai e que Cristo é inspirado e impulsionado pelo Espírito do Pai e do Filho. Palavras-chave: Cristologia; Pneumatologia; Ecumenismo; História. O PROTESTANTISMO COMO RELIGIÃO DO CORPO: UMA ABORDAGEM DO JESUS HISTÓRICO COMO O LUGAR DOS SEM-LUGAR Priscila Alves Gonçalves da Silva – Mestranda – UMESP Resumo: Introdução: A bíblia, enquanto coleção de livros que reúnem mitos e também história, está repleta de migração, transculturalidade em seu conteúdo. Pode-se dizer que a hermenêutica da revelação de Javé, e depois do Deus-Pai de Jesus, contida em todo o relato bíblico, expõe uma característica dinâmica de Deus, pouco estática. O Primeiro Testamento, composto principalmente do registro de hierofanias, difere do Novo Testamento, no que diz respeito à encarnação de Deus em Jesus. A maior das teofanias, é a novidade e o escândalo do Cristianismo - Deus assumiu a realidade corpórea. Ao assumir tal um corpo, assume a realidade humana, e essa condição é o que Paulo chama de Sarx – literalmente carne e poeticamente a sensibilidade. Deus se fez fraqueza. E esta fraqueza é exaltada não à partir dos milagres, dos prodígios, e sinais como o evangelho de João expressa, mas é exaltada

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principalmente pelo contato com a humanidade dos mais fracos. Entre eles, mulheres, crianças, órfãos, e sem olvidar dos estrangeiros. Em Jesus, através de sua corporeidade, os não-possuidores de terra são vistos como dignos também. Objetivo: O objetivo da presente comunicação é aprofundar o discurso do protestantismo em relação ao Deus encarnado em Jesus e suas implicações éticas na contemporaneidade. Há duas dimensões desse acontecimento fundante da fé cristã que merecem destaque: A fé no Cristo glorificado, e a fé no Jesus histórico. Prescindir de uma destas, é prescindir de uma parte do Cristianismo. Geralmente a ênfase do discurso protestante está no Cristo glorificado, que está à destra do Pai, no lugar celestial. Contudo, a falta de ênfase ou a pouca abordagem no Jesus histórico, gera uma inconsistência na mensagem cristã. A Religião da encarnação pouco explicita o aspecto histórico, carnal, humano de Deus. Pode-se depreender disto, a forte tradição cristã de negação do corpo, influência platônica do corpo como prisão da alma; ou até mesmo o corpo visto como bet-áven – casa do pecado. Buscamos dialogar maneiras de trazer à luz a dimensão corpórea de Jesus, e assim, relacioná-la aos homens e mulheres que trazem em seus corpos a realidade da fraqueza, do não-lugar, do não-estar. A narrativa dos evangelistas extrai da boca de Jesus a afirmação de que Ele, o Filho do Homem, não tinha onde repousar sequer onde a cabeça - vide Mateus 8:20. Há, entretanto, uma dimensão implícita nesse texto, a dignidade. O evangelista relata uma preocupação de Jesus de ter dignidade não somente em vida, mas também na morte. Literalmente se poderia traduzir reclinar por jazer, apoiar-se. Dito isto, entendemos necessário trazer à superfície tais questões da dimensão histórica de Jesus e associá-las aos milhares de homens e mulheres que tem em jogo a necessidade e o direito de reclinarem suas cabeças, encontrar apoio para seus pés, e segurança na possibilidade de desfrutar de uma vida digna enquanto estão em trânsito.

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ST 09 – CAPITALISMO COMO RELIGIÃO Dr. Alberto da Silva Moreira (PUC Goiás) [Coordenador] Dr. Jung Mo Sung (UMESP) Dr. Lauri Wirth (UMESP) Dr. Oneide Bobsin (EST) Dr. Flávio Sofiati (UFG) Ementa: Esta ST leva em conta que “o mercado global contém duas qualidades associadas à herança religiosa: transcendência e onipresença. Sua globalidade transcende os indivíduos, as classes sociais e as nações... Seu domínio não conhece fronteiras, abarca o planeta por inteiro; a universalidade do mercado, confere-lhe a dimensão de totalidade... A transcendência é, contudo, sempre algo latente; para se realizar ela deve manifestar-se no mundo.. [ela se] perpetua através do consumo... Entretanto, tais virtudes nada têm de “verdadeiras”, falta-lhes um fundamento ontológico, sagrado, por isso o mercado se apresenta como uma “falsa religião”, e sua adoração, uma “idolatria”. (R. Ortiz, RBCS, v. 16, n. 47, 2001, p. 72). Deve o capitalismo atual ser propriamente pensado e analisado como uma religião? Se sim, que tipo de religião seria esta, que desafios teóricos coloca às ciências da religião, que desafios práticos propõe à política e à cidadania, que desafios pastorais e doutrinais apresenta às religiões e às teologias? Se não, onde estariam as fronteiras, os limites, as pertinências de cada um? Esta ST acolhe contribuições que discutam e analisem as pretensões religiosas do capitalismo, sua produção e uso dos símbolos, a fusão de horizontes da economia com as expectativas de felicidade e realização humana, a empatia da mercadoria com a esfera libidinal, as experiências de transcendência ligadas ao consumo, sua linguagem e estética, etc. Também são bem-vindas contribuições que, desde abordagens teóricas diversas, analisem aspectos da transformação da religião pelo capitalismo ou da mutação da religião por sua conformação à lógica do mercado. Palavras-chave: Religião; Capitalismo; Religião e Mercado; Ideologia. CRÍTICA À IDOLATRIA DO DINHEIRO NA LITERATURA INGLESA DO SÉCULO XVII Adriel Moreira Barbosa – Doutorando – UMESP Resumo: O século XVII e o início do XVIII é, provavelmente, o período mais decisivo na história da Inglaterra, na opinião do historiador Christopher Hill. Uma sociedade e um Estado modernos começavam a tomar forma e a economia passava

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por importantes mudanças, que colocariam o país no centro do mundo colonial e do mercantilismo. Ademais, este período exibe a emergência do sistema mundial capitalista, ainda que em forma embrionária. Nesta pesquisa, a partir do trabalho dos historiadores Christopher Hill e David Hawkes, foram comparados textos da literatura inglesa do período em questão, nos quais aparecem denúncias à idolatria do dinheiro, com o objetivo de compreender sua importância no pensamento inglês. As perguntas que orientaram a análise dos textos foram: 1) qual sua amplitude e ressonância nos diferentes atores sociais; em que medida ela pode representar uma compreensão crítica da emergência do sistema mundial de mercado e seu impacto na sociedade inglesa? Nossa hipótese é de que a crítica à idolatria do dinheiro retratou, de forma significativa, o pensamento crítico de diferentes autores daquele período, mediante a percepção das mudanças em curso na economia que cada um deles tiveram. A conclusão da pesquisa indicou que a crítica à idolatria ocupava um lugar importante na crítica ao sistema econômico nascente, possuindo certa transversalidade em autores que ocupavam lugares hermenêuticos e sociais distintos. O resultado encoraja o aprofundamento da pesquisa sobre a recuperação histórica da trajetória do pensamento crítico ao sistema capitalista e sua dimensão religiosa. Palavras-chave: Idolatria do dinheiro; Literatura inglesa; Capitalismo. A RELIGIÃO ESPETACULAR Alberto Da Silva Moreira – Doutor – PUC Goiás Resumo: Esta comunicação examina o moderno processo de espetacularização e estetização da religião como um desenvolvimento consequente da expansão da racionalidade do mercado para dentro da vida subjetiva e da esfera libidinal dos sujeitos. Seu objetivo principal é inquerir sobre as mudanças na religião (católica e pentecostal) quando ela se submete à cultura da sensação e do sensacional (sensation seeking culture), ou, por outro lado, como a religião interage proativamente com a inflação da estética e do espetáculo. Serão examinados alguns exemplos concretos de igrejas profundamente imersas na espetacularização do religioso. A análise tem ainda a pretensão ou o interesse de apontar quais seriam, em tal cenário religioso, as rupturas e contradições possíveis que podem favorecer a uma estética da resistência e da autonomia. Palavras-chave: Religião; Espetáculo; Estetização; Capitalismo; Estética. CRÍTICA AO BRILHO FRÁGIL DO FETICHE: BENJAMIN E HINKELAMMERT Allan da Silva Coelho – Doutor – UMESP

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Resumo: Na crítica do “capitalismo como religião” pretende-se compreender melhor as relações humanas em um sistema de dominação em que fascinação e violência de submissão se articulam na lógica da reprodução do capital. Walter Benjamin, destoante das teorias da racionalização e da secularização, afirma que pelo capitalismo, “um novo sono, cheio de sonhos, abateu-se sobre a Europa, acompanhado de uma reativação das forças míticas” (BENJAMIN, 2009, p.408). A dimensão do sonho, enquanto imagens de desejo (influência do conceito de utopia de E. Bloch), que suscita representações de uma sociedade melhor, articula-se diretamente com o estado de dormência que resgata um traço que pretendia eliminar: a força mítica. Miguel Abensour entende que Benjamin se concentra em liberar as potencialidades emancipatórias dos mitos, “decifrando-os” para revelar sua expressão simbólica. Desse modo, o capitalismo mantém-se na tensão “entre a fascinação quase mortífera que exercem os sonhos da mitologia moderna e a vontade de sair do sonho, romper com o lado noturno do século XIX na interpretação do sonho, isto é, construindo uma imagem dialética” (ABENSOUR, 2002, p.23). Na “Exposé de 1935”, a mitologia exerceria um papel de fascinação, que atua no imaginário social para prolongar o sono do mundo capitalista. É um “brilho frágil” que encanta e enfeitiça, ocultando “o lado noturno” da modernidade capitalista. Benjamin formula a relação entre a tarefa de ocultação (adormecer as consciências no sono) e fascínio realizada pelas forças míticas no capitalismo, com um sonho novo, uma promessa (dimensão utópica), que ao mesmo tempo é geradora e mobilizadora de esperança. Desvendar esta relação seria tarefa fundamental na crítica do capitalismo. A crítica racional (de uma razão “ampliada”) ao “brilho frágil” pode provocar o despertar do feitiço. À crítica de Benjamin podemos associar diretamente um aspecto significativo do pensamento de Franz Hinkelammert, para quem apesar do mundo ser compreendido pela razão instrumental, o fundamento das decisões humanas não está, necessariamente, baseado apenas neste tipo de racionalidade. Mesmo que o processo de secularização realize a profunda e radical crítica do religioso, jamais percebeu a estrutura mítica-religiosa sob os quais sua autocompreensão se fundamenta. Desse modo, a Modernidade ao mesmo tempo em que critica a dimensão mítico-religiosa na significação da vida, inversamente a sua intenção reproduz lógicas míticas que fascinam e geram adesão a promessas de um mundo a construir. A transcendentalidade desta promessa segue seduzindo com profunda afinidade com a problemática religiosa, gerando sua metafísica e espiritualidade própria, o espírito de legitimação desta época. Esta pesquisa, com financiamento FAP-UNIMEP, segue a proposta metodológica de L. Goldmann através da pesquisa bibliográfica. Aponta, como consequência, a necessidade da análise da ambiguidade da construção das estruturas epistemológicas que negam e ocultam sua dimensão mítica-religiosa, ao mesmo tempo em que nelas fundamentam os pressupostos da organização do conhecimento válido. Palavras-chave: Modernidade; Capitalismo; Dimensão mítico-religiosa.

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A COLONIALIDADE DA NATUREZA Daniel Stosiek – Doutor – UMESP Resumo: O sociólogo peruano Aníbal Quijano cunhou o termo da colonialidade do poder. Desta forma, esboça uma nova dimensão do racismo (a “invenção” da raça) e o começo da modernidade dentro de um padrão de regime mundial de trabalho a partir do século XVI. Maria Lugones, Xhercis Mendez e outras autoras se referem criticamente a Aníbal Quijano. E o contrapõem com a ideia de colonialidade do gênero. Segundo estas autoras, o gênero surgiu como categoria racista dentro do mesmo regime mundial de trabalho, formando-se uma dicotomia entre homens e mulheres. Neste contexto, argumento que ao mesmo tempo se constituiu a colonialidade da relação entre ser humano e natureza. Dentro da mesma estrutura histórica mencionada acima. Desde o século XVI, a Europa começou a colonizar uma grande parte dos continentes do mundo, e se estabeleceu a modernidade mediante a sujeição da natureza, sobre tudo da natureza do Sul global, a qual foi excluída socialmente ao mesmo tempo e considerada sem subjetividade e sem vida; se constituiu a noção de natureza como substância ‘morta’ e uma dicotomia total entre ser humano e natureza. Neste processo, o aspeto prático foi descrito por Francis Bacon e o aspeto filosófico por René Descartes. Partindo ora desde a argumentação sobre o poder realizada por Enrique Dussel (20 teses de política), o qual funda o poder no povo/na comunidade, vou raciocinar que originalmente o poder enraiza-se na relação (social) entre ser humano e natureza, tanto fisica quanto espiritualmente, então na mesma relação viva onde segundo a teologia ecofeminista se encontra Deus ou o divino. Quando porém o ser humano afirma o seu poder – seja mediante o sistema estatal, seja por meio da propriedade privada (sendo esta última apoiada pelo sistema estatal) – como autorreferencial, se faz invisível a base do poder na relação entre ser humano e natureza. A colonização da natureza por meio do poder dos Estados junto com a propriedade privada, começando na dimensão moderna no século 16 e agravando-se enormemente na época do neoliberalismo mundial, expulsa uma parte grande da humanidade da sua conexão com a Terra, tanto econômica quanto espiritualmente. Quem quer que não dispõe suficientemente de uma ligação com a propriedade privada ou com o poder de Estado, ou quem não se submete a aquelas como a entidades quase religiosas, perde o seu poder econômico e espiritual. O ser humano contemporâneo se encontra forçado a fugir, em outras palavras à migração, ou a se sujeitar a uma nova mobilidade, o que significa deixar transformar a sua vida vivida, o seu “trabalho vivo”, a sua vida tanto econômica quanto espiritualmente em produto, em coisas de valor, em mercadoria – para poder sobreviver socialmente. Isto é consequência da “religião do capitalismo” baixo a condição da colonialidade da natureza. Palavras-chave: Colonialidade; Poder; Gênero; Natureza.

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F. HAYEK E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM NOME DA SACRALIZAÇÃO DO MERCADO. Daniela Leão Siqueira – Mestranda – UMESP Resumo: Em seu livro Direito, Legislação e Liberdade: uma nova formulação dos princípios liberais de justiça e economia política Friedrich August von Hayek elabora uma minuciosa base para a filosofia neoliberal, descrevendo como sua missão “traçar um roteiro que permita escapar ao processo de degeneração da forma existente de governo”, que levaria a um governo ditatorial. Essa formulação dos princípios liberais de justiça e economia política tem sido divulgada como as boas novas de salvação e aplicada com devoção religiosa pelos defensores do mercado livre de qualquer intervenção. A pesquisa tem o intuito de analisar o caminho traçado por Hayek na tentativa de justificar sua aversão pela expressão Justiça Social, com o contraponto do que Franz Hinkelammert diz sobre “a dignidade humana deixa de ser ponto de referência dos direitos humanos; agora passa a ser o sistema de propriedade. A dignidade humana passa a ser aspecto emocional, não racional.” Em Hayek “no jogo do mercado, os resultados obtidos por cada um dos participantes não são nem pretendidos nem prognosticáveis pelos demais e, portanto, o resultado não pode ser classificado como justo ou injusto. É inaplicável o conceito de justiça aos resultados de um processo espontâneo baseado no mercado.” Assim, com a sacralização do mercado – está acima do bem e do mal –, o conceito de justiça social torna-se vazio, sem significado, sendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos apontada como a principal consolidadora dessa expressão totalitária. Palavras-chave: Neoliberalismo; Justiça social; Direitos humanos. A CONTRIBUIÇÃO PROTESTANTE DO CONCEITO DE REINO DE DEUS NA TEOLOGIA DA MISSÃO INTEGRAL DE RENÉ PADILLA PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA CRÍTICA PROTESTANTE À SOCIEDADE CAPITALISTA DE CONSUMO CONTEMPORÂNEA Douglas Medeiros – Graduado – Seminário Teológico Batista do Sul Resumo: Este artigo tem por objetivo demonstrar o papel que o conceito de reino de Deus na teologia da missão integral de René Padilla exerce na construção da crítica que este autor faz em particular ao movimento do crescimento de igrejas, iniciado por Donald McGravan, mas de modo mais abrangente ao sistema capitalista de consumo que tem, de um modo geral, circunscrito o cristianismo protestante ocidental à cultura norteamericana: o “american way of life”. Será também evidenciada a relutante argumentação de Padilla em negar a possibilidade de o reino de Deus ser reduzido a uma unidade passível de quantificação, para ele, esse é um acontecimento antecipado na história, no advento de Jesus Cristo, que ao ser encarnado leva o ser humano a uma crise e um inevitável conflito com a realidade do

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mundo, que se coloca em oposição a Deus. Em última análise, levaremos ainda em conta o conceito de “padrões do mundo”, ou realidades antirreino, abordando os fatores que contribuem para a formação destes padrões: cristianismo-cultura, o individualismo, a sociedade do consumo e a absolutização da técnica. Para cada um destes fatores, Padilla produz com seu conceito de reino de Deus uma crítica direta ao pensamento da teologia de crescimento de igrejas e à influencia da sociedade capitalista de consumo no cristianismo contemporâneo. RELIGIÃO, CAPITALISMO E COMUNITARISMO Drance Elias da Silva – Doutor – UNICAP Resumo: Tomando como referência a segunda metade do século XIX, época da emergência da sociedade moderna, urbana e industrial, percebe-se que o tema comunidade começa a constituir um contraponto societário à modernização. A reflexão sociológica desse período analisa a questão da comunidade sob uma tipologia social marcada em geral, por pequenos grupos que estabelecem relações solidárias, coesas, pessoais, espontâneas, cotidianas e permanentes, em que se configura identidades comuns – com a consciência ou sentimento do “nós” – propícias à prática da “vida comum” e do associativismo. O presente estudo objetiva apresentar essa temática como importância social no início do século XX e que, como tal, perpassa também, os grupos religiosos, atingindo o comportamento dos fiéis em suas experiências eclesiais. Nessa segunda metade do XXI, a referida temática mais do que nunca, continua a demostrar importância e atualidade em todos os âmbitos de sociabilidade. Ela expressa, o que podemos apontar, uma verdadeira antítese ao egoísmo capitalista. Para tanto, a referência teórica-metodológica, se apoia na Teoria da Dádiva. Esta observa que, os alicerces de qualquer comunidade são as relações de reciprocidade, tão bem analisadas por Marcel Mauss em seu Ensaio sobre o dom. O movimento dos dons e contradons, cuja circulação é regida pelo princípio do dar/receber/retribuir, funda as alianças sociais próprias às comunidades. Por essa perspectiva teremos um novo entendimento em que, passamos a definir comunidade pelas relações de solidariedade dos grupos humanos que partilham a mesma identidade. Como resultado, buscaremos concluir que, comunidade, ao que nos parece, não existe como coisa concreta, mas, como conjunto de relações de reciprocidade que proporcionam a certos grupos suas características de solidariedade e identidade. O movimento atual do jogo de troca no mercado necessariamente não é incompatível com essas relações de reciprocidade, por exemplo, vividas no seio das expressões religiosas. Podem-se articular aquelas com estas. É bem verdade, porém, que a concepção de mercado nesse momento é de quem, como produtor, já não se limita a vender o excedente da sua produção, mas produz para vender, deixando-se guiar pela demanda. Esse modo de produção dissolve antigas alianças, cria novas relações sociais, e o mercado torna-se instituição reguladora não só das relações sociais de produção, mas, de vários outros campos da vida social, num processo que parece não ter fim. Mas, é importante que se enfatize: “reguladoras” e não que põe

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fim às relações sociais, o que nos permite ir em busca de verificar, no mínimo, que há resistências em meio a todo esse turbilhão de atração que o mercado, como instituição moderna, exerce. Falar de comunidade, portanto, é o eixo para enfocar essas resistências e identificar que, é nela e por ela, mesmo que situada numa sociedade de mercado, define-se as relações de solidariedades dos grupos humanos que partilham – como já dissemos –, a mesma identidade. E isso tem a ver com religião, pois um pressuposto que se sobressai nessa questão, diz respeito às relações de reciprocidade: religião requer relação de reciprocidade. Palavras-chave: Religião; Capitalismo; Comunidade; Associativismo. A ANTROPOLOGIA MIMÉTICA APLICADA AO CAPITALISMO COMO RELIGIÃO Edevilson de Godoy – Doutorando – PUC-SP Resumo: A Antropologia Mimética, explicada pelo antropólogo francês, é aplicável nas relações capitalistas modernas. O pensador francês radicado nos Estados Unidos, a partir da critica literária do romance moderno, apresenta a antropologia do desejo como chave hermenêutica para analisar as relações humanas em todas dimensões. Analisando os grandes autores como Cervantes, Sthandal, Proust e Dostoeisvisk, Girard descobriu uma forma de desejo humano completamente nova. Segundo o paradigma girardiano, o desejo não funciona de forma autônoma. A estrutura do desejo humano não segue a lineliaridade eu + objeto. Ao contrário, funciona pela imitação do desejo do outro numa lógica triangular: sujeito, modelo, objeto. O desejo é essencialmente mimético porque, para identificar seus objetos e classificá-los como desejáveis, dependem de modelos/mediadores. O desejo origina-se nas relações sociais com outros seres humanos; não se originam na natureza ou nos instintos, mas na inter-subjetividade e na relacionalidade, revelando em certo sentido à insuficiência humana. Entre qualquer sujeito humano e seu objeto de desejo, existe um mediador ou modelo que o inspira a desejar determinado objeto. Pode ser uma pessoa, um lugar, um coisa, um qualidade: algo atraente e fascinante. A hipótese de Girard funda- se na existência de um terceiro elemento mediador do desejo humano que é o outro. Apresentado como modelo possuidor de um objeto que não tenho e o desejo. Por outro lado, o objeto adquire valor pelo fato de ser desejado. A introdução da alteridade coloca em discussão o tema central da modernidade ocidental: a individualidade. Essa mostra o homem como entidade livre e autônoma com identidade literária no modelo do herói romântico. A intuição fundamental de Girard é a possibilidade de explicar o funcionamento das estruturas antropológicas através do desejo. A origem dos conflitos sociais é o desejo que transcende o objeto desejado atingindo o espaço da alteridade. Por outro lado, faz-se necessário o reconhecimento da alteridade. Necessita-se da competitividade para adquirir plenitude ontológica. Como no jogo do mercado, a mercadoria é inflacionada segundo a lei da procura e da oferta, igualmente a nível metafísico será o interesse

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do outro em determinar a importância da posse. Por isso, o modelo tende sempre a suscitar concorrência, causar imitação e o surgimento de rivais para ele derrotar. A lógica do capitalismo é provocar desejos. Esse sonho é sempre mediado por alguém (modelo). Transmite sempre a sensação de prazer, felicidade e realização. Mas, a estrutura interna do capitalismo, impossibilita que todos realizem seu desejo. Até porque quando todos conseguem o objeto ele perde o “fetiche”. A idolatria da mercadoria é alimentada pela lógica do desejo. Muito mais importante que ter a mercadoria, é conseguir tornar-se importante, bem sucedido e realizado. A sensação de felicidade no capitalismo está na novidade do ter. Como a estrutura das sociedades capitalistas, salvo raras exceções, não permitem que todos tenham. Essa sociedade provoca o desejo, o sonho e competitividade, mas impede a grande maioria de realizá-lo. Embora, por um lado, esse sonho impulsione a vida das classes oprimidas; por outro, gera grandes conflitos sociais. Mais que isso, as relações capitalistas exigem sacrifícios de bodes expiatórios. Para manter seu regulamento interno necessita do sacrifício dos pobres. Nesse sentido, o paradigma do antropólogo franco-americano apresenta como uma interessante chave de leitura para as relações sociais presente no capitalismo pós-moderno. Sua epistemologia sobre a triangularidade do desejo como base das dinâmicas antropológicas, a imitação, a competitividade, os conflitos e o sacrifício do bode expiatório para controlar a sociedade é perfeitamente aplicável ao capitalismo. Nesse sentido, a comunicação objetiva discutir a possível contribuição do pensamento de René Girard na discussão sobre o capitalismo como religião. RELIGIÃO E CAPITALISMO: O COMÉRCIO E A FÉ NA ROMARIA DO MUQUÉM Euda Divina Mendes – Mestranda – PUC Goiás Resumo: O crescente comércio presente na festividade religiosa da romaria do Muquém, no norte de Goiás, tem sido motivo de observações de diversos pesquisadores, contudo, denota-se ainda a necessidade de uma reflexão mais aprofundada sobre a relação do capitalismo com as várias expressões religiosas existente. Justificando-se a partir da necessidade de um estudo mais pormenorizado, sobre a influência capitalista em torno da festa da Romaria de Nossa Senhora da Abadia, na comunidade de Muquém, no sentido de verificar a questão do mercado da fé em suas múltiplas características, focalizando fundamentalmente em suas determinações sociais ligadas ao modo de produção capitalista e à manifestação religiosa. É necessário investigar a relação estabelecida entre o comércio e os festejos da Romaria; os interesses comerciais em torno do festejo; a concepção dos comerciantes que participam da festa, bem como se a relação entre o comércio e a festa favorece os processos de utilização da fé como meio de atingir lucros. Considerando que a ação dos comerciantes em torno dos festejos da Romaria tem sido motivador para o desenvolvimento de uma concepção de que a religião esteja intimamente associada às relações capitalistas dando margem a interesses de grupos

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específicos, contribuindo para o desenvolvimento de valores que defendemuma prosperidade imediatista, assumindo uma condição de instrumento de contribuição para a sociedade consumista e desenfreada em torno de uma expressão religiosa, Karl Marx em O Capital (1988) denota-se que a riqueza na sociedade capitalista apresenta-se como uma “imensa coleção de mercadorias”, a mercadoria é, portanto, forma elementar da sociedade burguesa moderna e que a mercadoria possui duplo fator, a saber, ser um valor de uso e um valor de troca: Assim será investigada a relação da festa do Muquém com o capitalismo, considerando que as relações estabelecidas no modo de produção capitalista tende a se manifestar nas várias instâncias da sociedade, entre elas nas crenças religiosas e nos vários eventos criados em festas. Julgamos apresentar novos enfoques sobre o tema em questão e contribuir com uma reflexão e análise sobre as influências do mercado capitalista na romaria como forma de mercantilização da fé. Palavras-chave: Religião; Comércio; Mercado e mercantilização da fé. A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL E SUA APLICAÇÃO NO CAMPO RELIGIOSO BRASILEIRO Eumar Evangelista de Menezes Júnior – Doutorando – PUC Goiás Resumo: Desde 1980 os sociólogos Rodney Stark e Roger Finke e o economista Larry Iannaccone desenvolveram nos Estados Unidos a teoria da escolha racional da religião. As noções de economia religiosa, mercado religioso, novo paradigma, compromisso religioso e dissonância cognitiva foram algumas de suas contribuições para a sociologia da religião. Nesses quarenta anos essa teoria sofreu críticas e aperfeiçoamentos e foi utilizada e adaptada por cientistas da religião brasileiros. A presente comunicação pretende avaliar em que medida seus resultados servem ao campo religioso brasileiro, em que medida as heranças epistemológicas deixadas pela teoria no campo brasileiro podem contribuir para compreender a economia religiosa, as empresas da salvação e os compromissos religiosos, próprios da realidade brasileira. Palavras-chave: Economia religiosa; Escolha racional; Religião; Brasil. “REVOLUÇÃO DA ESTRUTURA MÍTICA” NEOLIBERAL COMO CHAVE DE LEITURA DA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS Fernanda Malafatti Silva Coelho – Mestranda – UNIMEP Resumo: Se “mito neoliberal do mercado livre” (SUNG, 2016) substitui o “mito de desenvolvimento econômico”, a promessa de que todos os desejos seriam satisfeitos, através da universalização do padrão de consumo dos países ricos, é substituída pela

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ideologia de negação da universalidade dos direitos humanos, reforçado pela ideia de culpabilização das vítimas do sistema. O mito neoliberal “passou a ser um núcleo estruturador da cultura global e do ethos capitalista” (SUNG, 2016, p. 795) ou seja, trata-se de um núcleo fundante. Os mitos fundantes “geram fascinação e adesão espiritual” (SUNG, 2016, p. 976), portanto para criticá-los não basta apoiar-se na lógica da racionalidade moderna. A proposta deste trabalho é aplicar o conceito da “revolução da estrutura mítica” (SUNG, 2016) do capitalismo neoliberal como chave de leitura para a Educação em Direitos Humanos (EDH) que, atualmente no Brasil, está normatizada pelo Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH). A EDH apresenta-se, via PNEDH, como um importante instrumento capaz de fomentar uma cultura de respeito aos direitos humanos essenciais para a vida humana, mas, paradoxalmente, quando mais se avança institucionalmente em sua normatização, a ideologia neoliberal que marca a estratégia da globalização, promovem um deslocamento no modo pelo qual a sociedade compreende os direitos humanos. Assim, as barreiras para a implementação da EDH são ampliadas, e também, de todo direito humano que pode ser traduzido na ideia de uma vida em abundância. A abordagem de Jung Mo Sung complementa dois conceitos analíticos fundamentais, desenvolvidos por Franz Hinkelammert (2002, 2016), para compreender os fundamentos da noção de direitos humanos sob os quais possivelmente se constituem a normatização da EDH. Estas categorias compreendem a ideia de “inversão burguesa” do sentido dos direitos humanos que foram reivindicados pelas lutas sociais no século XVII e, ainda, o conceito de “esvaziamento” dos direitos humanos a partir da implementação da estratégia da globalização. O mito neoliberal apropria-se da ideia da inversão dos direitos humanos, proposta por Hinkelammert, a partir da teoria de Locke, pois, igualmente uitliza-se de uma lógica sistêmica culpabilizante da vítima. Por outro lado, permite o esvaziamento dos direitos humanos, que embora previsto em instrumentos normativos de garantia de direitos necessários para a vida humana, são aceitos como bens a serem adquirido no mercado sem exigibilidade de políticas públicas. Sung explicita o papel da dimensão mítica desta disputa de concepções, que geram adesão para além da compreensão da razão analítica. É uma pesquisa de caráter bibliográfica, buscando construir quadro analítico visando fecunda aplicação no recorde definido. Esta perspectiva crítica que vem do campo de estudos do “capitalismo como religião” representa um aporte vigoroso e situado eticamente para a análise destas concepções educacionais. Por fim, no sentido inverso, uma proposta de EDH que seja libertadora, de “[...]inculcação de valores, para atingir corações e mentes e não apenas instrução[...]” (BENEVIDES, 2000, s/p), pode ser instrumento que se articula para o enfrentamento do mito neoliberal. Palavras-chave: Educação em Direitos Humanos; Direitos Humanos; Inversão dos direitos humanos; Mito neoliberal. TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E OS DEUSES REVELADOS NO SISTEMA ECONÔMICO NO PENSAMENTO DE HUGO ASSMANN

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Paulo Cappelletti – Doutorando – UMESP Resumo: Este artigo tem como objetivo levantar a problemática que a teologia da libertação encontra nos ídolos desenvolvidos pelo sistema econômico vigente. O trabalho apresenta uma breve bibliografia do autor Hugo Assmann para localiza-lo na história e demonstrar sua influência na América latina, e desenvolver um dos motivos da gênesis da teologia da libertação, buscando encontrar os deuses nos meandros da economia, mesmo que os economistas determinem que nesta ciência não exista espaço para a religião. De fato, como resultado, elaborar através dos conceitos citados, uma maneira de visualizar, através do pensamento do autor acima citado, a perversidade de um evangelho maldito elaborado para a atualidade, e com isso, demonstrar a diferença entre o evangelho verdadeiro e o perverso. A metodologia usada será a da pesquisa bibliográfica, usando alguns autores para dialogar com o pensamento de Assmann. E também, por fim, mostrar que estes conceitos podem influenciar e transformar uma sociedade em desumana nos seus atos. Palavras-chave: Economia; Teologia; Libertação; Idolatria; Deuses. A IGREJA SARA NOSSA TERRA: NOTAS INTRODUTÓRIAS SOBRE A EMERGENCIA DE UMA TEOLOGIA DE GESTÃO José Roberto Alves Loiola – Doutorando – UNESP Antônio Mendes da Costa Braga – Doutor – UNESP Resumo: A proposta desta comunicação é abordar numa perspectiva sociológica e antropológica, aspectos do fenômeno religioso do neopentecostalismo contemporâneo no Brasil a partir do caso da Igreja Sara Nossa Terra. Nossa questão fundamental é: O que faz a SNT ser uma agência de salvação bem sucedida e como caracterizá-la diante do protestantismo histórico? Reconhecendo que são várias as influências religiosas na composição teológica da referida Igreja, propomos a hipótese de que em Igrejas como a Sara Nossa vem se desenvolvendo um tipo de práxis religiosa que aqui nominamos de “teologia de gestão”. O objetivo é desenvolver o conceito de “teologia de gestão” apontando para seus aspectos diferenciais e apresentar alguns elementos teóricos que podem servir para a sua fundamentação. Para tanto, serão utilizadas as ideias de Berger (1985), Weber (1994), Giddens (1991) entre outros. A proposta está estruturada em três partes, primeira, uma análise geral do fenômeno religioso no Brasil, segunda, uma abordagem do surgimento da Sara Nossa Terra no Brasil no contexto da globalização, terceira, uma possível caracterização da Sara Nossa Terra como um fenômeno religioso transnacional, utilizando as ideias de Csordas (2009), Frigério (2013), Appadurai (1997) entre outros. Concluiremos com uma possível descrição de sua teologia de gestão.

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Palavras-chaves: Neopentecostalismo; Igreja Sara Nossa Terra; Teologia de Gestão. SAGRADO E PROFANO NAS EXPRESSÕES RELIGIOSAS NEOPENTECOSTAIS: O DINHEIRO COMO DÁDIVA Valdivino José Ferreira – Doutorando – PUC Goiás Resumo: A presente pesquisa com o tema: “Sagrado e profano nas Expressões Religiosas Neopentecostais: O dinheiro como dádiva” remete a entender, que sagrado e profano continuam tendo o mesmo significado na sociedade contemporânea, sobretudo, quando se analisa o dinheiro como símbolo e a lógica do não pagamento, mas do ‘dar’ para receber uma dádiva. Assim, quando o crente oferta, ele não paga pela dádiva. O ‘dar’ muda toda a lógica simbólica que ele (o fiel) atribui ao dinheiro nas expressões religiosas neopentecostais. O ‘dar’ é sempre em função de uma bênção, é garantia de vida feliz. Pois, os adeptos dessas expressões não doam somente com a intenção de receber algo em troca, mas para que a vida deles tenham sentido. Quando se dá e isto na base do “toma lá dá cá”, o indivíduo espera a recompensa, ser ‘desamarrado’ dos nós, dos quais entraram no jogo na permuta. O objetivo desta pesquisa é saber se o crente doa somente com o intuito de receber algo em troca, realizando um tipo de comércio, ou para que a vida tenha significado. A metodologia é bibliográfica que evidenciou os aspectos quali/quantitativo e realizou-se uma análise descritiva por meio de livros, trabalhos e dissertação de mestrado. A pesquisa permitiu entender que as categorias de sagrado e profano, quando se trata de dinheiro, continuam tendo o mesmo significado para o fiel, mas levanta a dúvida quanto ao rápido enriquecimento das várias empresas neopentecostais. Assim, o nosso texto é apenas um insight que nos oferece subsídios para principiar uma pesquisa mais acurada que poderá contribuir para o conhecimento da grande área “Ciências Humanas, Sociais e Aplicadas” e mais especificamente das Ciências da Religião. Palavras-chave: Sagrado; Profano; Expressões Religiosas Neopentecostais; Dinheiro; Dádiva. DA FÉ AO CONSUMISMO: A APROPRIAÇÃO DA FESTA DO CÍRIO DE NAZARÉ PELA ATIVIDADE TURÍSTICA COMO SEGMENTO DE TURISMO RELIGIOSO Willa da Silva dos Prazeres – Mestranda – UEPA Resumo: A Festa do Círio de Nazaré como expressão religiosa traduz-se em múltiplas dimensões: social, cultural, econômica e turística, constituindo-se uma das maiores festas popular religiosa no território brasileiro. Como forma de socialização

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que une o sagrado e o profano no mesmo espaço. Hoje essa festa atrai mais de 2 milhões de fies, sendo destes 80 mil turistas/devotos, oriundo de diversas partes do Brasil e de fora do país, motivados pelo fenômeno da fé que o Círio proporciona. A cidade fica “cheia” de devotos, turistas/devotos e romeiros, que usufruem não só dos espaços religiosos, mais de toda cadeia turística de Belém, e a fim de atender essa demanda emergente do mercado, criou-se novos “adereços” dentro da festa, com viés mercadológicos. Ademais a cidade se veste para receber a santa, ornamenta os espaços públicos e privados, são realizadas feiras de artesanato, exposições, inúmeras festas - antes, durante e depois da procissão maior – de caráter profano cultural, injetando certa de 800 milhões de reais na economia local. O círio é promovido em massa pelas agencias de turismo fora e dentro do estado, com seus pacotes incluindo hotel, alimentação, espaços vips para as principais romarias. Logo a atividade turística acaba por apropriar-se dos elementos e espaços religiosos para capitação de renda, e os transformando para uma maior atratividade para os turistas e para população local. Observa-se que o turismo quando planejado e organizado consegue utilizar espaços e manifestações como atrativo, sem que os mesmos percam sua essência. Desse modo, esse trabalho visa explanar e discutir como as manifestações religiosas, o Círio, é apropriado total ou parcialmente pelo capitalismo como produto de consumo do turismo de massa religioso, e como esse setor utilizou e modificou os símbolos religiosos para captação de divisas, e criou novos espaços antes profanos, hoje sagrados mercantilizados. A metodologia utilizada nesse trabalho deu-se através de pesquisa bibliográfica e etnografia virtual, a coleta de dados através do ambiente virtual: artigos científicos referentes à temática para comprovação ou negação dos objetivos propostos. Principais resultados: 1º houve a capitalização da Festa do Círio de Nazaré por meio do setor turístico em conjunto com a Diretoria da festa e dos órgãos governamentais, com o proposito de adoração e fé para comunidade católica devota e mercadológica para os vários setores da economia atuantes no período da festa; 2º o turismo religioso contribuiu para mudanças significativas no caráter da festa ao longo dos anos, criando novos produtos de caráter religioso para o consumo dos turistas e dos fieis. Conclui-se através dos resultados a existência de uma apropriação parcial do turismo sobre a festa, o mesmo abrangeu diversos elementos religiosos para criação do seu “Produto Estrela”, sendo um dos pacotes turísticos mais caros do Brasil, logo essa segmentação precisa ser melhorada e pensada para os agentes de fé, para que todos os participantes da festa possam utilizar da totalidade do trade turístico. Palavras-chave: Apropriação Cultural/Religiosa; Turismo capitalizado; Festa de Nazaré.

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ST 10 – TEOLOGIA(S) DA LIBERTAÇÃO Dr. Paulo Agostinho Nogueira Baptista (PUC-Minas) [Coordenador] Dr. Agenor Brighenti (PUC-PR) Dr. Sinivaldo Tavares (FAJE) Ementa: A Teologia da Libertação inaugurou na América Latina, num contexto propiciado pelo Vaticano II e pela Conferência de Medellín e da irrupção do terceiro mundo e dos pobres, nova maneira de pensar e fazer teologia, como nova práxis – novidade epistemológica e metodológica – saindo do centro clássico da teologia cristã dos últimos séculos, a Europa. Diante do desafio de “como ser cristão num mundo de miseráveis” essa teologia ganha o mundo e se mostra universal, provocando os pesquisadores da religião e até as outras tradições religiosas. Fala-se hoje em teologia intercontinental e planetária. A temática da libertação atravessa questões de gênero, das minorias e maiorias oprimidas e excluídas, do pluralismo religioso e cultural, da emergência de uma nova racionalidade e do desafio da modernidade tardia, de método teológico, das religiões e suas teologias, do cristianismo e suas formas eclesiais e a hermenêutica da mensagem cristã. Tudo isso desafia a TdL que ampliou sua presença na sociedade através dos Fóruns Sociais Mundiais. Essa sessão temática pretende abrir espaço para esse debate entre pesquisadores e interessados, especialmente sobre questões que articulam teologia, libertação e práticas/movimentos sociais, descolonialidade, a defesa da dignidade eco humana, da justiça, dos direitos, da solidariedade e da resistência em defesa da vida, dos empobrecidos e de todos aqueles e aquelas que são oprimidos e excluídos das igrejas, religiões e sociedades. Palavras-chave: Teologia da Libertação; Fé cristã; Exclusão; Compromisso social. A CONTRIBUIÇÃO DE CARLOS MESTERS PARA O ESTUDO POPULAR DA BIBLIA NAS CEB’s DOS 1980 Ailton Soares dos Santos – Mestrando – PUC Goiás Resumo: As Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) emergiram no Brasil na década de 1960. Como parte do movimento católico da Teologia da Libertação, procuraram lutar contra as injustiças sociais vigentes no Brasil e defender os direitos dos trabalhadores e dos setores marginalizados da população. Dentro desse movimento surgiu a figura de frei Carlos Mesters, um dos mais importantes mentores da leitura popular da Bíblia. Uma das formas de difusão dessa perspectiva foram justamente os Círculos Bíblicos. Estes encontros religiosos se caracterizam pela leitura e discussão

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de livretos escritos em linguagem popular, que constituíam um material de apoio para a reflexão sobre os textos das Sagradas Escrituras, lidas numa perspectiva libertadora. Os Círculos Bíblicos acontecem fora do espaço da Igreja; normalmente os fieis se reúnem nas suas próprias casas ou nos espaços pastorais. O foco das CEBs, seguindo a linha da Teologia da Libertação, está no povo pobre e simples (os oprimidos) que compõe a maioria das comunidades cristãs. O objetivo desta comunicação é fazer um estudo dos livretos dos Círculos Bíblicos para iniciantes, produzidos pelo frei Carlos Mesters, e publicado pela editora CEBI, dando um enfoque maior em sua difusão nos pequenos grupos leigos na Arquidiocese de Goiânia, nos anos de 1980. Esta pesquisa tem como metodologia a análise de teses, artigos e livros disponibilizados tanto por meios eletrônicos como impressos. Busca apresentar novos enfoques como a intrínseca relação entre os círculos bíblicos e a Teologia da Libertação, como uma base para a luta contra as injustiças presentes na nossa sociedade. As principais conclusões desse estudo mostram que o cristianismo da libertação influencia os pequenos grupos de reflexão bíblica, dando um caráter libertador e ético/religioso aos seus integrantes. Palavras-chave: Comunidades Eclesiais de Base; Leitura popular da Bíblia; Círculos Bíblicos; Teologia da Libertação. ECONOMIA E TEOLOGIA: ELEMENTOS PARA UM NOVO ESPAÇO DE RELAÇÃO Alzirinha Rocha de Souza – Doutora – UCL Resumo: A realização das ciências humanas não compreende somente uma questão técnica. Antes, é necessário desenvolver a sensibilidade por seus destinatários: os humanos. Esta afirmação também pode ser tomada para as Ciências Econômicas e os sistemas que a balizam. Estes sistemas prevaleceram até o momento associados às variáveis políticas e à trans-nacionalização dos conglomerados empresariais, e não fizeram outra coisa senão reforçar a perspectiva da maximização dos lucros, ao preço da marginalização de grande parte da população, que poderia ser considerada ainda “economicamente ativa”. Estes mecanismos reforçam a consumolatria (BOFF, 2016), traduzida na referência do valor do “ter” sobre o valor do “ser” e, por conseguinte, à redução do conceito de pessoa humana ao elemento material. Esta comunicação visa a proposição de elementos para uma nova reflexão sobre essa questão, resultado da pesquisa realizada nos anos 2014-2016 para a produção do livro “Teologia e Economia”, que busca novos elementos acerca do binômio humano x econômica, aparentemente tão contraditório. Em América Latina, sobretudo nos de 1970 e 1980, e não sem razão, dadas às condições da vida de seu povo, houve quase que uma “demonização” da Economia. Certamente, essa reflexão atendeu às demandas urgentes da AL neste período. Contudo, e como àquela época, sua análise não deve ser realizada sem considerar elementos históricos e políticos. Nesse sentido, buscamos apresentar nesta Comunicação outros elementos de contribuição

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para o tema, a partir do pensamento de Elena Lassida (2010). A autora é Uruguaia de origem, iniciou sua reflexão teológica junto a Juan Luis Segundo, e atualmente é professora no Instituto Católico de Paris (ICP), onde é responsável pelo Master “Economia Solidária e lógicas de Mercado”. Utilizando-se da análise bibliográfica, parte-se da obra em que a autora se dedica a análise e a formulação de novas proposições à relação Econômia e sociedade – denominada Le gout de l’autre. La crise, une chance pour réinventer le lien (2011). O desenvolvimento e conclusão são apresentados a partir de três eixos do pensamento da autora: 1) A economia como espaço de relações; 2) Economia como aliança a ser realizada e 3) A recolocação do pobre, como destinatário do movimento econômico. Palavras-chave: Teologia; Economia; Relações; Aliança e Pobre. A REFORMA: BUSCA DE ESPIRITUALIDADE E LIBERTAÇÃO Francisco das Chagas de Albuquerque – Doutor – FAJE Resumo: No ano da celebração dos 500 anos da Reforma, lançada por Martin Lutero, pode-se fazer uma ampla reflexão sobre sua importância tanto no início do século XVI como também ao longo destes cinco séculos. No âmbito religioso, o traço mais evidente é a mudança radical na relação fé-instituição eclesiástica-salvação. A posição teológica e existencial assumida pelo monge católico agostiniano se caracteriza como uma revolução religiosa. O cristianismo doravante não será mais aquela religião cuja unidade era representada pela Sede Romana, mas passa a diversificar-se com o acontecimento de Lutero e que logo se ampliou com a entrada em cena de outros líderes como João Calvino e Ulrico Zwínglio (Suíça). A Reforma luterana representa um marco, a partir do contexto religioso, no processo de transformações do mundo moderno. Entre os anseios que lhe são latentes está a busca de nova espiritualidade. Tal movimento de renovação espiritual dentro do cristianismo constitui um traço libertador na existência humana cristã. A presente comunicação se propõe a analisar a relação da reforma com a perspectiva de afirmação espiritual religiosa de fins do século XV e início do século XVI. Procura-se estabelecer uma aproximação do movimento lançado por Lutero com aspectos da experiência eclesial (católica e protestante) e a teologia latino-americana. Para tanto, recorre-se aos teólogos Ignacio Ellacuría e L. Boff que contribuíram para a missão da Igreja neste continente, que estava, nos anos setenta e oitenta do século passado intensamente “comprometida com o caminhar dos oprimidos e solidária com seus desejos de promoção e libertação” (BOFF, 1984, p. 83). Neste momento de reflexão sobre os 500 anos da Reforma, a teologia precisa reencontrar as intuições de compromisso de humanização, emancipação e construção de uma nova sociedade que motivaram o movimento de Lutero e das lutas de libertação latino-americanas. Deve-se ressaltar que o movimento de reforma do religioso alemão, em sua vertente evangélica e profética está sintonia com a contínua “necessidade de se viver o evangelho de forma libertadora”, especialmente em nosso contexto. Uma

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espiritualidade autenticamente cristã será sempre libertadora, fiel ao evangelho de Jesus Cristo que veio ao encontro da humanidade para que “todos tenha vida e a tenham em plenitude” (Jo 10,10). RUBEM ALVES: UM CONTEMPORÂNEO NO PROTESTANTISMO LATINO AMERICANO Giovanni F. Catenaci – Doutorando – UMESP Resumo: Não podemos falar de Teologia da Libertação (TL) no singular, haja vista os vários grupos, enfoques e desdobramentos dessa vertente teológica. Por isso, uma leitura que se pretenda crítica deve ser muito cautelosa frente aos riscos que tal empreitada representa; generalizações são sempre reducionistas. Vigilantes acerca desses perigos, buscaremos demonstrar nessa comunicação que o teólogo Rubem Alves, a despeito de uma determinada corrente hegemônica da TL, foi capaz de perceber o que até então passava desapercebido pelos demais olhares – ele esteve atento àquilo que por hora chamamos de seus “pontos cegos”. Assim, em um jogo conceitual para com a noção de contemporâneo, em Giorgio Agamben, temos por objetivo situar estes tais “pontos cegos” da TL, com o intuito maior de apresentar a contemporaneidade de Rubem Alves. Para tanto, em um primeiro momento, na medida em que formos esclarecendo o que é o contemporâneo para Agamben, retomaremos algumas críticas de Claudio de Oliveira Ribeira acerca da TL, visando identificarmos o que essa teologia teve dificuldades de enxergar – a saber seus “pontos cegos”. Esses pontos são três: i. A questão metodológica, que através de um certo dogmatismo marxista, impediu um olhar mais refinado acerca da realidade, tratando de reduzi-la à lógica maniqueísta dos “bons versus maus”, restringindo todo conteúdo da teologia ao pragmatismo militante da causa sociopolítica da libertação; ii. A consequente desqualificação da subjetividade humana que, diante de tal militantismo, foi obscurecida como “desvio pequeno burguês”; e por fim, iii. Um certo menosprezo para com o(s) fenômeno(s) religioso(s), que quando não parecia(m) atender aos interesses programáticos da agenda da libertação, acabavam taxados sob a rubrica da alienação. Finalmente, após apresentarmos os “pontos cegos” da TL temos em conta ser possível demonstrar que Rubem Alves, a contrapelo de toda uma geração de teólogos, foi capaz de ver o que ninguém via, e que justamente por isso, pode ser considerado um autor contemporâneo. Palavras-chave: Rubem Alves; Giorgio Agamben; Contemporâneo; Teologia da Libertação. IGREJA CATÓLICA E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: DISCURSOS E PRÁTICAS DAS LIDERANÇAS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA LUTA PELA TERRA NO ESTADO DO PARÁ

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Henry Willians Silva da Silva – Doutor – UEPA Maria Marize Duarte – Doutora – UEPA Resumo: Esta Comunicação trata do estudo das lideranças dos movimentos sociais que, em sua trajetória social, vivenciaram em seu processo de formação religiosa os fundamentos e princípios da teologia da libertação. Nesse sentido, a presente Comunicação tem como objetivo identificar e analisar os discursos e práticas dessas lideranças que atuavam e atuam, defendendo os movimentos na luta pela terra no estado do Pará. A metodologia da pesquisa é de ordem qualitativo-descritiva, com base na técnica da entrevista, que serviu de instrumento para a coleta de dados. A análise de discurso utilizada é de matriz francesa e o tratamento de dados, por meio do software QSR Nvivo 8, possibilitou a otimização da pesquisa. Há nos diversos posicionamentos e atuações consciência política e contestação da ordem social vigente, por meio de um discurso “radical” de ressonância religiosa acerca da “terra”, “território” e “direitos humanos”, por isso afirmamos que na relação entre movimentos sociais no campo e a Igreja Católica, através do movimento da Teologia da Libertação, CEBs e CPT, os defensores têm um caráter político e uma proposta alternativa para a sociedade na condução das lutas no espaço agrário amazônico. Palavras-chave: Igreja Católica; Movimentos Sociais; Lideranças; Discurso Religioso; Luta Social. A IGREJA CATÓLICA E A REFORMA AGRÁRIA EM URUAÇU-GO E REGIÃO Kátia Cristina Nunes de Almeida – Mestranda – PUC Goiás Resumo: O tema “reforma agrária” é atual e relevante porque diz respeito ao direito das pessoas de usufruírem a terra para produzirem o seu sustento. Entretanto, essa prerrogativa tem entrado em conflito com o direito à propriedade, isto é, com as pessoas que adquiriram ou herdaram tais terras. Por um lado, o nosso ordenamento jurídico protege o direito à propriedade, contudo, exige que essa propriedade seja produtiva e útil. Assim, temos dois direitos a serem observados: o direito à propriedade e a função social da propriedade e, por diversas vezes, esses direitos causam conflitos. É notório que a igreja católica se envolveu no movimento pela reforma agrária no Brasil, inclusive, algumas de suas paróquias participam da Pastoral da Terra, a qual é ligada a movimentos sociais que buscam a justiça agrária. Pretende-se, nesta Comunicação, refletir sobre a relação que a igreja católica manteve com a reforma agrária na região de Uruaçu-GO, se houve a participação e influência da igreja católica nos assentamentos existentes na mencionada região. Trata-se de uma pesquisa em andamento, na qual além da pesquisa bibliográfica, será realizada pesquisa de campo em três assentamentos da região de Uruaçu-GO. Com a análise dos dados empíricos a serem coletados será relevante observar qual foi o cunho da participação da igreja no processo da reforma agrária em Uruaçu-GO e região. As primeiras conclusões, até o momento, mostram que há a participação da

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igreja católica. Já nos primeiros dados se observa que houve influência da Teologia da Libertação nesse processo de mobilização de divisão de terras aos menos favorecidos. Palavras-chave: Reforma Agrária; Religião; Teologia da Libertação. NOVOS DESAFIOS À TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: O TRABALHADOR NO CONTEXTO DA TERCEIRIZAÇÃO E DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO Luciano Gomes dos Santos – Doutorando - FAJE Resumo: A TdL nasce no final da década de 1960 como resposta aos anseios do povo latino-americano, que se encontrava numa situação de opressão e marginalização. O interlocutor da TdL é o “não-homem” no sentido sociológico e não ontológico. É o pobre oprimido. A TdL, enquanto experiência crítica da fé, parte da realidade do ser humano que se encontra inserido num contexto de humilhação social e desrespeito em sua dignidade humana – imago Dei. Ela opta preferencialmente pelo pobre não reconhecido. Uma das fontes de inspiração da TdL é a Constituição pastoral do Vaticano II Gaudium et spes, sobre a Igreja no mundo contemporâneo. A TdL vem ao encontro do ser humano em suas “alegrias e dores”. Seu objetivo não se reduz à libertação econômica, política e social, mas também à libertação do pecado pessoal e social, conduzindo os homens na comunhão entre si e com o Criador. Apresenta a salvação de Deus que se encarnou em cada rosto humano para a redenção – Jesus Cristo. O objetivo é tornar Deus reconhecível como Deus da vida e como vencedor da morte, em todas as dimensões da existência humana. Dentre os diversos desafios atuais que se apresentam à TdL ressalta-se a situação do trabalhador, no contexto da terceirização e da precarização nas relações de trabalho. O objetivo desta Comunicação é refletir sobre os novos desafios que a realidade do trabalhador, no contexto da terceirização e da precarização do trabalho, traz à Teologia da Libertação. A metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa foi a bibliográfica. Concluímos, com o trabalho, que o interlocutor da TdL apresenta-se como o pobre trabalhador não reconhecido em nome da crise econômica e política provocada por interesses pessoais e empresariais. O trabalhador traz em si a imago Dei em sua existência. Ele não pode ser reificado em sua dignidade humana e divina, em nome de projetos econômicos e políticos. O trabalho é dimensão fundamental da existência humana na participação da obra da criação e da redenção. Palavras-chave: Teologia da Libertação; Trabalhador; Terceirização; Precarização; Trabalho. A VIDA CRISTÃ COMO SEGUIMENTO DE JESUS CRISTO EM JON SOBRINO

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Maciel Rodrigues da Silva – Mestrando – UNICAP Resumo: Pensar a teologia desde os pobres é a grande característica da teologia da libertação, que encontra em Jon Sobrino um de seus grandes expoentes. A teologia ascendente é pensar e falar de Deus a partir das vítimas da pobreza e da injustiça, revelando o rosto do Cristo encarnado na América Latina, e atualizando, em nosso continente, a célebre pergunta: quem dizeis que eu sou? (Mc 8, 29a). A resposta a essa questão guia outras perguntas fundamentais da cristologia: quem é o cristão?; qual a sua missão?; e o que é discipulado? Assim, o presente trabalho se destina a apresentar uma compreensão geral da cristologia de Jon Sobrino, em uma das questões importantes: o seguimento de Jesus. Para isso, nos ocuparemos da leitura sistemática das obras do referido autor, diretamente atinentes ao assunto, e dividiremos o trabalho em dois pontos crucias: Seguir a Jesus a partir da encarnação e a missão gerada em favor das vítimas. Chegaremos a um marco compreensivo da teologia Sobriniana que define a vida cristã como seguimento de Jesus Cristo, que somente pode acontecer na libertação do pobre e injustiçado, pois a fidelidade à encarnação do Filho, que assumiu a miséria humana, é o lugar teológico que responde à relação existente entre o Cristo e o cristão. Desde o horizonte evangélico, a prática de Jesus é o conjunto das atividades por ele realizadas que vai do anuncio do reino aos pobres até a demonstração dos sinais de proximidade dessa realidade salifica como milagres, exorcismos, e acolhida aos pecadores. A vida Cristã, como seguimento do Cristo, parte da causa de Jesus em sua miserior super turbas, na prática do novo mandamento do amor, que é propagação da fé e da esperança, mas também transformação histórica da vida. Palavras-chave: Vida Cristã; Seguimento de Jesus; Missão. O LOGOS DA ARQUI-CARNE Marcelo Ramos Saldanha – Doutor – EST Resumo: Esse artigo propõe uma análise fenomenológica da cristologia da libertação, nomeadamente a que foi desenvolvida por Jon Sobrino, buscando nela questionamentos a serem respondidos por meio da metodologia da Fenomenologia Material de Michel Henry, sem perder de vista o lugar teológico da cristologia de Sobrino. Diante das muitas possibilidades abertas pelo pensamento de Michel Henry, entendemos que uma abordagem não dogmática, que aplique os postulados henryanos a outra cristologia, com a qual ele não se deparou, por estar demasiado voltado às questões filosóficas e culturais do “velho continente”, ganha relevância. Tal abordagem coloca à prova a tese da carne como um corpo subjetivo, radicalmente imanente e pertencente à ordem da manifestação [revelação]. Assim, por meio do diálogo entre as duas cristologias, buscaremos compreender como a carne invisível de Cristo, entendida por Michel Henry como uma carne viva, se faz presente na face dos crucificados da história, relacionando criticamente os conteúdos

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de ambas as abordagens teóricas (filosófica e teológica), no intento de explicitar a forma como a verdade encontra-se na subjetividade, nomeadamente na subjetividade da Intellectus Amoris, e não só na objetividade do registro dogmático da fé, demonstrando que as dificuldades em relação à cristologia latino americana são encontradas no registro do duplo aparecer (como postulou Michel Henry). Dessa forma, compreendemos que o princípio Intellectus Amoris é uma superação da representação esvaziadora do conteúdo revelacional da Vida, o que levou Sobrino a estabelecer sua cristologia num fundamento mais originário da revelação. Palavras-chave: Fenomenologia; Cristologia; Intellectus Amoris; Michel Henry; Jon Sobrino. DE CHINELOS NA MÃO, NOS PASSOS DA PAIXÃO: FÉ, LUTA E MÍSTICA NUM CALVÁRIO AMAZÔNICO Marcos Alexandre Araújo Ribeiro – Mestre – UEPA Resumo: Esta proposta estabelece um diálogo com os atores sociais que, nos primeiros anos da década de 1980, se organizavam na Paróquia de São Sebastião, no bairro da Sacramenta, em Belém, e inspirados pela Teologia da Libertação articulavam a população pobre do bairro para que, através da consciência política e social, lutassem pela garantia de seus direitos. Para alcançar seus objetivos, esta paróquia e suas lideranças utilizavam como estratégias algumas práticas litúrgicas, como a Via Sacra, que eram organizadas na coletividade, e após intenso debate sobre o tema da Campanha da Fraternidade, eram contextualizadas com o espaço e o tempo do recorte do evento. Muito daquilo já estava previamente debatido e as programações prévias eram organizadas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e, consequentemente, Arquidiocese de Belém. O objetivo deste trabalho, portanto, é entender como os debates e as práticas travadas pelas Comunidades Eclesiais de Base, ligadas a Paróquia de São Sebastião e seus agentes políticos, tendo como orientação a Teologia da Libertação, articulavam estratégias de utilização das liturgias para proporcionar o debate e a reflexão politica e social daquela comunidade. O percurso metodológico se pautou em investigação de panfletos, jornais comunitários, folhetos de cânticos religiosos e cartazes dos acervos da Paróquia de São Sebastião, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE e da Universidade Popular – UNIPOP, além de acervos pessoais de antigos moradores do bairro. Buscou-se relacionar os elementos dos debates teóricos e das práticas desenvolvidas naquele espaço, através de entrevistas com atores sociais e políticos. Recorreu-se também à metodologia da História Oral, dada à contemporaneidade explícita do tema na chamada História do Tempo Presente. Tal metodologia nos proporcionou perceber que a Teologia da Libertação, e toda a mística que a envolve, foi fundamental no despertar de uma consciência politica e social para aquela população que frequentava suas práticas litúrgicas, em especial a encenação da Via Sacra. Assim, na Paróquia de São Sebastião em Belém do Pará,

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com muita criatividade, capacidade de improviso, leitura da conjuntura sociopolítica, inspiradas, segundo a tradição cristã, pelo Espírito Santo, como nas primeiras comunidades cristãs supracitadas, as linguagens artísticas, como música, teatro, dança, cenografia e poesia, permeadas de simbolismo, contribuíam significativamente para o fazer e o viver naquela igreja de Belém. Palavras-chave: Fé; Liturgia; Resistência; Amazônia; Consciência. MISSÃO E LIBERTAÇÃO NA PASTORAL INDIGENISTA Maria Cecília Simões Rodrigues – Doutora – UFJF Resumo: As mudanças ocorridas no desenrolar do projeto da Teologia da Libertação, no contexto latino-americano, podem ser analisadas como parte do processo de descolonialidade, que suscita novas visões e análises, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. A partir das mudanças experimentadas, o cristianismo latino-americano se redesenha e se reconfigura, com base em descontinuidades; o pensamento moderno engendra o pensamento cristão ressignificando tradições outrora tão bem enraizadas. No caso específico da pastoral indigenista, a prática missionária entre os povos indígenas sofre grande influência do ideal de libertação e se consolida a partir de relações e significações que permeiam o processo de interação cultural. Este trabalho busca envolver relatos e experiências de missionários do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), na formulação de um pensamento descolonizado, buscando compreender, através deles, o desenrolar de uma prática missionária pautada pela libertação. No exercício do trabalho missionário são refletidas mediações travadas no cotidiano da experiência de viver e atuar em uma região de fronteira cultural, onde a questão da diferença se torna explícita, revelando também os domínios diferenciados de identidade e suas relações. Colocar a experiência e a vivência do missionário no centro da análise da missão possibilita pensa-lo como um sujeito que, ao construir uma identidade híbrida, procura instaurar um processo onde a autoridade e as certezas aparentes do discurso hegemônico são questionadas e desestabilizadas para produzir um novo discurso, agora híbrido e libertário. Procuramos levantar novos questionamentos para a análise da missão em áreas indígenas, demonstrando como a pastoral indigenista representa uma mudança na relação do cristianismo com os povos indígenas, pensando não somente na mudança pastoral ocorrida, mas essencialmente em uma mudança cultural baseada em novos domínios de identidade. Desta forma apontamos novos elementos para o estudo da história e teoria social da missão e da relação entre igreja e povos indígenas, considerando novas categorias de análise. Palavras-chave: Missão; Libertação; Pastoral indigenista.

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO E AÇÃO POLÍTICA NA PERSPECTIVA DECOLONIAL Paulo Agostinho Nogueira Baptista – Doutor – PUC Minas Resumo: A Teologia da Libertação – TdL nasceu como voz e ação profética e continua hoje a anunciar a libertação e a denunciar a opressão, identificando e analisando essa realidade de sofrimento das grandes massas e de todas/os que são excluídos/as, nas mais variadas formas, refletindo sobre essa realidade à luz da fé, e apontando perspectivas praxísticas de transformação. Assim, produziu vasta literatura e instrumentos úteis como os livrinhos “Como trabalhar com o povo” (BOFF, Clodovis, 1984) e “Cristãos: como fazer política” (BOFF, Clodovis et al, 1987), e tantos mais. E hoje, não estaria na hora de uma retomada do trabalho de formação política de lideranças populares? O Brasil vive nesses últimos meses, desde setembro de 2016, uma das mais sérias crises, não só do ponto de vista econômico e social, mas também político. Um golpe legislativo, que aliou diversos partidos e empresários nacionais e internacionais, o judiciário e mais a mídia, criou as condições propícias para reformas da Legislação trabalhista, do Ensino Médio e da Previdência, dentre outras, retirando direitos e provocando a recuperação da imensa desigualdade histórica, que teve breve redução a partir de 2002, reintroduzindo um processo colonizador. Os interesses econômicos conseguiram convencer boa parte da opinião pública da necessidade do impeachment de uma presidente legitimamente eleita, em 31 de agosto de 2016, atrás do argumento de corrupção, não provada. Paradoxalmente, as chamadas “pedaladas fiscais”, motivo básico do processo de impedimento, foram aprovadas apenas dois dias depois, e a lei publicada em 02 de setembro, caracterizando cabalmente o golpe. Diante disso, a Igreja, através da CNBB e de Igrejas locais, tomou posição e tem se manifestado frequentemente. E a TdL como tem contribuído nesse processo? Não haveria necessidade de retomar sua produção popular, a partir de um necessário diagnóstico de nossa realidade, e suscitar cursos e material de formação política de lideranças populares, especialmente de jovens? Esta longa introdução, identificou alguns dos elementos dessa realidade (Ver). O objetivo dessa Comunicação, através de pesquisa bibliográfica, é, metodologicamente, além de apresentar tal situação, analisa-la criticamente, através de mediações sociopolíticas e teológicas (Julgar), respondendo à questão: como a Teologia da Libertação pode e deve se posicionar, teórica e praxisticamente (Agir), diante da urgência de uma ação política transformadora, numa perspectiva decolonial? O resultado e conclusão dessa reflexão é apresentar propostas e estratégias de enfrentamento da realidade crítica que o país vive, como a de retomar o trabalho de produção de material popular e propiciar a formação política de lideranças populares e de jovens. Palavras-chave: Teologia da Libertação; Ação política; Formação política; Liderança popular; Teoria decolonial.

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TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: DA LIBERTAÇÃO À COLONIALIDADE DO PODER Ricardo Barros Lima – Mestre – UMESP Resumo: Os teólogos fundadores da Teologia da Libertação (TdL) constituíram a “opção pelos pobres” como um dos fundamentos dessa teologia. Relacionaram o conceito de libertação, correlato ao de dependência, e o instrumental analítico das ciências sociais, especialmente de corte marxista, como elemento fundamental do método “Ver, Julgar, Agir”. As décadas de 1980 e 1990 do século XX foram caracterizadas pela investida contra a TdL pelos setores conservadores da Igreja Católica e Protestante e pelos acontecimentos políticos globais que afetaram significativamente a vida da TdL. A derrota do Sandinismo na Nicarágua, o fim da União Soviética, a crise do socialismo real, a queda do muro de Berlim e o estabelecimento do neoliberalismo integraram o processo de globalização, na estratégia de manutenção do capitalismo. Tudo isso contribuiu também para enfraquecer o processo de libertação da TdL. A Teoria Decolonial fundamenta-se no conceito colonialidade como chave do grupo Modernidade/Colonialidade (M/C). Exprime uma constatação simples, isto é, de que as relações de colonialidade nas esferas econômica e política não findaram com a destruição do colonialismo, ou seja, com a autonomia, independência ou libertação política desses países. O processo de dominação e exploração continuou, não mais com o colonialismo, mas, com a colonialidade, a face obscura da modernidade! O objetivo da comunicação é estabelecer um diálogo entre o processo de libertação desenvolvido pela TdL (objeto material) e o conceito de colonialidade de poder (objeto formal). O método procurará estabelecer um diálogo entre os teólogos da libertação e os teóricos do grupo M/C. Os resultados partem do pressuposto que a TdL se amplia, como tem feito Enrique Dussel, ao incorporar, em suas concepções teóricas e analíticas, a visão decolonial. A conclusão estabelece que, diante do novo contexto social, econômico, político, cultural e religioso, no contexto da América Latina e dos novos estudos desenvolvidos pelo grupo M/C, a TdL precisa encarar o desafio de assumir de forma mais explícita a opção Decolonial, alargando seu horizonte libertador. Palavras-chave: Teologia da Libertação; Teria Decolonial; Colonialidade do Poder. COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE - CEBS: ESTADO DA ARTE DE PESQUISAS EM CIÊNCIA DA RELIGIÃO EM PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO ASSOCIADOS E ANAIS DA ANPTECRE Rogério Andrade dos Santos – Graduado – UFS Resumo: As CEB’s são comunidades católicas, de base social e eclesial, composta de pessoas que possuem em comum o mesmo território geográfico e vivencial, por isso são capazes de refletir as próprias realidades à luz das revelações bíblicas, como

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uma concretização prática das teorias refletidas na Teologia da Libertação. Este trabalho objetivou caracterizar o estado da arte de pesquisas sobre as CEB’s pela Ciência da Religião no Brasil. Como método desta pesquisa, foram analisados textos nos bancos de dados de teses e dissertações dos Programas de Pós-graduação em Ciência da Religião, associados à ANPTECRE - Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Teologia e Ciência da Religião – e publicações em Anais dos cinco congressos da ANPTECRE, sob o critério de conter o termo “Comunidades Eclesiais de Base” no título, objetivos ou nas palavras-chave, e ter sido realizada entre 2006 e 2016. Foram baixadas teses e dissertações da Plataforma Sucupira, que disponibiliza para “download” todas as pesquisas a partir de 2012, ano de sua criação, mas que também divulga os títulos e autores de todos as dissertações e teses anteriores a esse ano, tornando possível identificar se elas contém os termos do critério de inclusão. Também foi possível buscar os textos nos bancos de dados dos PPGs e, em seguida, identificar as diversas abordagens feitas sobre a temática e categorizá-la a partir das semelhanças que apresentaram. A pesquisa ainda está em andamento, na fase final de categorização das abordagens, mas já foi possível observar que há uma tendência a abordar sociologicamente as CEB’s, enquanto que só uma minoria aborda teologicamente essas comunidades. Palavras-chave: CEB’s; ANPTECRE; Ciência da Religião. SERIA INTERCULTURAL A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO? Sinivaldo Tavares – Doutor – FAJE Resumo: Nas últimas décadas vem assumindo expressão cada vez maior uma postura epistemológica, nomeada por seus próprios fautores de “pensamento intercultural”, “giro intercultural” ou “hermenêutica intercultural”. E tem sido visível, em âmbito teológico, os reflexos dessa atitude epistemológica. Pressupondo a existência de consensos e dissensos entre “Hermenêutica intercultural” e “Teologia da Libertação”, o objetivo da presente comunicação é analisar as críticas que a primeira faz à segunda, acolhendo-as e problematizando-as no contexto de um diálogo aberto e promissor. As principais críticas se dão em torno a três pressupostos, talvez inconscientes, sobre os quais se construiria a Teologia da Libertação: 1) a identificação do povo, sujeito social e teológico, como uma homogeneidade cultural mestiça; 2) A interpretação do continente latino-americano como mono-religioso, no caso, cristão; 3) A libertação concebida no horizonte linear-progressivo do tempo. Estes três pressupostos seriam fortemente condicionados pela cultura ocidental-helênica em cujo vértice se situariam as concepções hegeliano-marxistas da filosofia da História. Se a crítica procede, então, a Teologia da Libertação não teria conseguido superar os princípios fundamentais e axiomáticos da lógica e da metafísica ocidentais, não obstante tenha feito grandes esforços e alcançado bons resultados no tocante a uma nova maneira de fazer teologia. O método empregado na pesquisa é de análise sistemática de alguns textos dos

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principais representantes da “hermenêutica intercultural” e, na sequência, de um confronto crítico entre as várias posições. Somos conscientes, por um lado, da imprescindibilidade deste diálogo e, por outro, da fecundidade do mesmo para a tarefa teológica atual. Os frutos deste diálogo já se revelam promissores, sobretudo, em razão da pertinência e relevância das questões postas. Palavras-chave: Interculturalidade; Libertação; História; Metafísica; Diálogo.

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ST 11 – CONSCIÊNCIA PLANETÁRIA, RELIGIÃO E ECOTEOLOGIA

Dr. Afonso Tadeu Murad (FAJE) [Coordenador] Dr. Luis Carlos Susin (PUC-RS) Dr. Marcial Maçaneiro (PUC-PR) Dr. Carlos Cunha (FAJE) Ementa: A Sessão Temática reúne pesquisadores que desenvolvem reflexões teóricas e implementam práticas socioambientais em torno de religião/religiosidade e cuidado com o planeta. No âmbito das Ciências da Religião, estuda-se como as distintas tradições religiosas colaboram para a superação do antropocentrismo despótico da modernidade e a expansão da consciência planetária. No campo da teologia, apresentam-se estudos recentes que articulam a fé cristã com a ecologia no âmbito da bíblia, da sistemática, da ética socioambiental e da espiritualidade. Além disso, compartilham-se experiências bem-sucedidas de educação para a sustentabilidade. Estimula-se a interdependência com outras correntes do pensamento e o diálogo interdisciplinar. Os participantes devem estar presentes na apresentação e na discussão de todas as comunicações, de forma a promover a produção coletiva do conhecimento e estimular os projetos e grupos de pesquisa em curso. Esta ST começou no Congresso da ANPTECRE de 2011, como Sessão Temática. A TECNOCIÊNCIA NO “MUNDO VULNERÁVEL”. VISÃO DA ECOTEOLOGIA, A PARTIR DE JORGE RIECHMANN E A “LAUDATO SI” Afonso Tadeu Murad – Doutor – FAJE Resumo: A ecoteologia tem se confrontado com o desafio da Tecnociência, cada vez mais. De um lado, essa possibilitou grandes conquistas para a humanidade. De outro, constituiu-se com uma ideologia autojustificadora, que em nome do antropocentrismo, incrementa processos destrutivos nos sistemas de vida do planeta. Na primeira parte do nosso trabalho, apresentaremos a análise crítica do filósofo espanhol Jorge Riechmann, a respeito da tecnociência. Desenvolveremos os seguintes pontos, baseados no pensamento do autor: (1) Por que “mundo vulnerável”, (2) A tecnociência como visão do mundo e ideologia, (3) Capitalismo e destruição do planeta, (4) Natureza, biosfera e tecnociência, (5) A época moral de longo alcance, (6) O potencial da tecnociência. Então, confrontaremos com a reflexão do Papa Francisco na Encíclica “Laudato Si”, que compreende: (1)

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Criatividade e poder da tecnociência, (2) Crise do antropocentrismo moderno e suas consequências, (3) Visão teológica de fundo. Com isso, esperamos estimular o crescente diálogo da ecoteologia com as ciências humanas, em vista de uma sociedade justa e sustentável. Palavras-chave: Tecnociência; Laudato Si; Mundo vulnerável; Ecoteologia; Riechmann. ECOTEOLOGIA DA CRIAÇÃO: NOVOS HORIZONTES PARA UMA INTELECÇÃO DA FÉ DECOLONIAL Carlos Alberto Motta Cunha – Doutor – FAJE Resumo: Desde os anos 70 do século XX, o deslocamento migratório tem provocado, além de transformações demográficas, impactos sociais em várias partes do mundo diante do surgimento de situações limites de tolerância. As sociedades mais ricas do planeta, detentoras do poder e do conhecimento, agora são provocadas à convivência com o “outro”, que até então vivia distante, seguramente domesticado. O “outro”, considerado subalterno, ex-colonizado, passa a ocupar os mesmos espaços cotidianamente com aqueles que o dominavam. Essa situação provoca tensões e traz consigo valores que colocam sob suspeita “as verdades” apreendidas. Abre-se um novo embate teórico e prático sobre os valores e o conhecimento tradicional impostos pela cultura eurocêntrica e/ou estadunidense. É neste contexto que surge o pensamento decolonial indicando um posicionamento próprio a nível metodológico e filosófico, não cedendo privilégios a nenhum sistema conceitual ou tradicional, mas privilegiando a cultura nativa e, ao mesmo tempo, desvelando a lógica da colonialidade e da reprodução da matriz colonial do poder desconectando-se dos efeitos totalitários das subjetividades e categorias de pensamento ocidentais. A partir deste contexto, propomos novos horizontes para uma intelecção da fé decolonial, que leve em consideração uma ecoteologia da criação rompendo com o fazer teológico pautado no modelo de desenvolvimento técnico-científico da modernidade. A nossa proposta está dividida em três etapas: Primeira, o impacto do pensamento decolonial sobre a teologia, segunda, o objetivo de uma ecoteologia libertadora e, terceira, horizontes para um fazer teológico permeado pela ecologia de saberes (Boaventura de Sousa Santos). A teologia tem uma razão prática impulsionada por movimentos que desinstalam o sujeito dos lugares acomodados para uma nova atitude. Pensar a fé cristã nos espaços fronteiriços e com as vozes emergentes dá um novo fôlego a teologia que anseia ser pública e relevante na contemporaneidade. Palavras-chave: Pensamento decolonial; Ecoteologia; Teologia de fronteira; Interculturalidade.

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A RELIGIOSIDADE VERDE PARA OS TEMPOS DE CRISE: INTERFACES ENTRE AS NOVAS ESPIRITUALIDADES E A ECOLOGIA João Paulo Silveira – Doutor – UEG Resumo: Essa comunicação propõe discutir o imbricamento entre ecologia e as novas espiritualidades na modernidade tardia. A partir do diálogo com a sociologia da religião (PARTRIDGE, 2007; DAWSON, 2006), compreendemos esse fenômeno como resposta da imaginação religiosa contemporânea às crises de orientação que caracterizam a “sociedade de risco”. As “ecoespiritualidades” escrutinam e rearranjam tradições religiosas diversas com o fito do engendramento de narrativas ecocêntricas; sua mundivisão integradora (i.e. holística) se baseia em uma ética que atribui à natureza valor intrínseco em contraste com a perspectiva utilitarista e antropocêntrica. Seu horizonte de expectativas aponta para a superação do Antropoceno e para emergência da Era Ecozoica caracterizada pela harmonia entre humanidade e os outros seres da natureza. Para essa discussão, nos debruçamos sobre grupos, autores e tendências espirituais contemporâneas a fim de trazer a lume os elementos constitutivos das narrativas ecoespirituais. Palavras-chave: Ecoespiritualidades; Novas Religiões; Modernidade Tardia. ESPIRITUALIDADE E SUSTENTABILIDADE NA PERSPECTIVA DO PARADIGMA ECOLÓGICO: O PROGRAMA GAIA EDUCATION Danielle Gomes de Freitas – Mestranda – PUC Minas Resumo: Os temas que compõe os estudos sobre a questão da sustentabilidade são muitos e de natureza diversa. Dentre estes temas, algumas conexões com a área da educação e da espiritualidade têm surgido no panorama atual, com o registro de propostas de intervenção e resultados. O presente trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a perspectiva da espiritualidade presente no curso de educação para a sustentabilidade do Programa Gaia Education, denominado Eco Design em Sustentabilidade. Considera-se esse desenvolvimento dentro do contexto do paradigma ecológico, com destaque para a tipologia da espiritualidade e as conexões com o campo da ecologia. Para esse estudo, pretendemos identificar e entender que tipo de espiritualidade e que conceito de sustentabilidade correspondem à proposta apresentada pelo curso, através dos temas tratados em seus módulos temáticos da Dimensão Visão de Mundo: “Reconectar-se com a Natureza, Saúde Pessoal e Planetária, A Transformação da Consciência e Espiritualidade Socialmente engajada”. O Programa foi criado em 2005, pela Rede de Educadores Globais de Ecovilas para uma Terra Sustentável, passando a ser considerado complemento padrão pela ONU para a “Década de Educação para o Desenvolvimento Sustentável 2005\2014”. É estruturado em quatro dimensões e seus módulos temáticos são realizados anualmente na Ecovila Terra Una, município

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de Liberdade/MG. Pretende-se através destas reflexões identificar as características e elementos que distinguem cada campo de estudo citado. A metodologia utilizada será a pesquisa bibliográfica e documental. Palavras-chave: Espiritualidade; Sustentabilidade; Paradigma Ecológico; Programa Gaia Education. TEOLOGIA CRISTÃ E ANIMAIS NÃO HUMANOS: DA DOMINAÇÃO À INCLUSÃO! Helder Maioli Alvarenga – Mestrando – PUC Minas Resumo: No decorrer dos séculos algumas formulações da teologia cristã, certamente a maioria, estavam estruturadas de maneira hierárquica. Os seres humanos, neste sentido, abaixo de Deus e dos anjos, contemplavam os demais seres criados em suas imperfeições por não serem imagem e semelhança do Criador, fundamentando assim, com a bíblia e com o pensamento teológico, uma concepção de dominação e submissão dos demais seres. Keith Thomaz, analisando o relacionamento dos seres humanos com os animais não humanos, e com os vegetais, na Inglaterra do século XVI ao século XVIII, apresenta como o discurso teológico fora determinante para a dominação humana, bem como resistente da aproximação dos seres humanos ao mundo natural. Esta aproximação se fortaleceu nos séculos subseqüentes em diversas áreas do pensamento e chegou, no século XX, com a afirmação, por parte de diversos grupos, dos direitos dos animais não humanos. Muitas teologias, no entanto, permaneciam com o velho esquema que dera sustentação à dominação humana. É neste contexto que uma voz dissonante, inquieta com as críticas dirigidas ao cristianismo, se pergunta: o “sim” de Deus à humanidade implica o “não” de Deus aos demais seres? Se não, é possível defender os direitos dos animais a partir de uma perspectiva teológica cristã? Andrew Linzey afirma que sim e aponta o lugar que os animais ocupariam na teologia, formulando a teoria dos teodireitos. Nosso intuito, com este trabalho, é apresentar a maneira como o argumento teológico tradicional sustentou a dominação humana sobre os animais não humanos, a partir da obra de Keith Thomas, bem como apresentar uma nova visão teológica, inclusiva dos animais não humanos, a partir dos teodireitos formulado por Andrew Linzey. Palavras chaves: Animais; Dominação; Inclusão; Teodireitos; Novos direitos. RAÍZES HISTÓRICAS DA NOSSA CRISE ECOLÓGICA E O CUIDADO PELA NOSSA CASA COMUM Renato Kirchner – Mestrando – PUC Campinas

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Resumo: No decorrer dos últimos séculos e de uma maneira ainda mais acentuada nas décadas que sucederam ao desfecho da Segunda Guerra Mundial, a intervenção técnica exercida pelo ser humano sobre a natureza ocasionou uma enorme fragilidade nas ordens humana e planetária estabelecidas, fazendo com que se instalasse uma crítica situação de vulnerabilidade no equilíbrio humano e planetário como um todo. De fato, o poder do ser humano ocasionou mudanças na natureza do próprio agir humano, de modo que a natureza tornou-se um campo da responsabilidade humana. Segundo Hans Jonas, a técnica nos revela que a natureza da ação humana foi modificada de tal maneira ao ponto de afetar a integridade humana bem como a biosfera inteira do planeta. Diante disso, a proposta da presente comunicação, tendo como referência teórica as ideias do filósofo Hans Jonas, objetiva evidenciar traços comuns em vista de uma consciência ecológica e planetária a partir de dois documentos, a saber: o artigo “As raízes históricas de nossa crise ecológica”, do historiador medievalista Lynn White Jr. (anos 60) e a Carta Encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, “Sobre o cuidado da casa comum” (2015). Palavras-chave: Consciência ecológica; Consciência planetária; Responsabilidade; Poder da técnica; Hans Jonas. UM ÚNICO MUNDO COM FRONTEIRAS DE HOSPITALIDADE: POR UM PARADIGMA DE HOSPITALIDADE COMO ALMA DA RELIGIÃO E DAS RELIGIÕES NO PLANETA TERRA Luiz Carlos Susin – Doutor – PUC RS Resumo: Embora os conflitos contemporâneos tenham velhos e novos componentes religiosos, a experiência de diálogo e hospitalidade, assim como a literatura em torno da hospitalidade e sua relação com as religiões tem crescido. Hostilidade ou hospitalidade desde as raízes sacras das religiões, eis a questão. A presente comunicação pretende apresentar o atual estado do projeto de pesquisa em torno do dilema entre hostilidade e hospitalidade nas fronteiras das religiões e das identidades culturais, na história e no presente de algumas tradições religiosas, que são também tradições culturais e, em muitos casos, políticas. Especificamente, pretende focar as fronteiras humanas e suas superações na marcação e na vocação de identidades abertas à hospitalidade como alma da religião, tendo que enfrentar a possibilidade da violência e da hostilidade sacralizada. Trata-se de uma contribuição específica para a vigilância e a superação da belicosidade em direção à convivência que inclua todos os seres vivos e a vida no planeta. O método seguido é interdisciplinar, de pesquisa bibliográfica em literaturas diversas de caráter filosófico, antropológico, com leitura de textos religiosos fundadores e de história das religiões, com ênfase no Novo Testamento e na experiência cristã. A leitura é, em última análise, teológica, convidando a uma postura ética. A comunicação chega assim aos resultados parciais da pesquisa que são a comprovação da relação entre cultura e religião através da experiência e da hermenêutica da hospitalidade como “alma da religião”, assim como

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se pode afirmar que a religião é a alma da cultura, ainda que continuamente confrontada pela possibilidade do seu avesso, a hostilidade, ambas inerentes à relação humana, condição essencial de todo ser propriamente humano. Desta forma a pesquisa poderá contribuir para a exigência de um novo paradigma planetário no pluralismo global das religiões em um mundo cada vez mais unificado que deve decidir o seu futuro pela biodiversidade inclusive religiosa com ética de hospitalidade ou um mundo sombrio de violência sacralizada pelas tradições religiosas por motivações de vida e morte, de poder e domínio de uns sobre outros. Palavras-chave: Hospitalidade; Alma da religião; Hostilidade.

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ST 12 – NOVOS MOVIMENTOS RELIGIOSOS E ESPIRITUALIDADES NÃO RELIGIOSAS

Dr. Clóvis Ecco (PUC Goiás) Dr. Flávio Senra (PUC Minas) [Coordenador] Dr. Silas Guerriero (PUC- SP) Assistentes: José Reinaldo Felipe Martins Filho (Doutorando PPGCR - PUC Goiás) Fábio Leandro Stern (Doutorando PUC-SP) José Álvaro Campos Vieira (Doutorando PPGCR PUC Minas) Ementa: Este ST tem como objetivo acolher trabalhos que busquem compreender as características assumidas pela religião na sociedade contemporânea, a partir de diferentes perspectivas teóricas no âmbito das ciências das religiões. Almeja lançar luz sobre as bricolagens e interlocuções feitas pelos novos modos de lidar com a espiritualidade, as denominadas espiritualidades “não religiosas” e os processos de privatização da religião. Pretende reunir tanto trabalhos que lidam com dados empíricos, como também aqueles que levantam questões teóricas pertinentes. Serão aceitas as comunicações frutos de pesquisa sobre as novas formas de espiritualidade, os “novos movimentos religiosos” e as transformações, arranjos, rearranjos, diálogos e interlocuções feitas no âmbito das espiritualidades não religiosas. Palavras-chave: Espiritualidades; Novas espiritualidades não religiosas; Contemporaneidade. ÉTICA E ESPIRITUALIDADE NÃO RELIGIOSA EM L. WITTGENSTEIN: UM DIÁLOGO A PARTIR DA “CONFERÊNCIA SOBRE ÉTICA” Ana Claudia Archanjo Veloso Rocha – Doutoranda – PUC Minas/CAPES Resumo: O filósofo austríaco contemporâneo Ludwig Wittgenstein tem como objeto de seus estudos a questão acerca dos limites da linguagem. O caminho traçado pelo filósofo para alcançar sua proposta é constituído por dois aspectos essenciais: o místico e o factual. Embora seja necessário esclarecer conceitos que estão ligados à linguagem, nosso trabalho tem como objetivo priorizar a esfera mística. Esta é considerada pelo pensador como sendo a mais importante. Assim, tentaremos abordar o entendimento de Wittgenstein sobre o tema da ética enquanto partícipe da

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esfera mística. Neste direcionamento a ética em seu sentido absoluto somente pode mostrar-se ao indivíduo quando este passa por uma experiência mística. Assim, a ética deve motivar o indivíduo a ser recompensado pelo sentimento da ação em si, e não uma recompensa exterior à ação. Destarte, há possibilidade do indivíduo ter um olhar diferente para suas relações interpessoais e, por conseguinte, para com o mundo. Falamos de possibilidade porque não há como oferecer garantias quando trata-se de comportamentos individuais, ainda que estes sejam ocasionados a partir de uma experiência mística. Wittgenstein entende que tais experiências, consideradas profundas pelos indivíduos, podem proporcionar uma felicidade verdadeira, afastada do mundo dos factos e, portanto, incapaz de ser traduzida em palavras. Embora seja inefável, o sentimento provocado no sujeito que passa por tal experiência pode se manifestar em ações que refletem uma espiritualidade não religiosa, haja vista que percebe o sentido da vida. A partir das diretivas acima, entendemos que nossa comunicação desenvolverá quatro objetivos: a) compreender a natureza da ética; b) entender a ética enquanto situada na esfera mística; c) elucidar sobre a questão da recompensa e castigo relacionados à ética; d) estabelecer o diálogo entre ética e espiritualidade não religiosa. Nossa referência basilar será o escrito de Wittgenstein intitulado “Conferência sobre Ética”, entretanto, será necessário recorrer a outros escritos do filósofo, como por exemplo “Cultura e Valor” e “Tractatus Logico-Philosophicus”. O período abordado em nossa comunicação será entre 1914-1929. O método utilizado para elaboração desta comunicação deverá ser a hermenêutica contemporânea por compreendemos que além do caminho tradicional da respectiva metodologia engloba também proposições, pressupostos e significados. Em nossas considerações finais pretendemos apontar para uma espiritualidade não religiosa que emerge a partir da experiência ética. Palavras-chave: Espiritualidade; Ética; Experiência; Mística; Wittgenstein. O ATEÍSMO E SUAS CONTRADIÇÕES SEMÂNTICAS Celma Laurinda Freitas Costa – Doutoranda – PUC Goiás Gláucia Borges Ferreira de Souza – Mestranda – PUC Goiás Katiuska Florencia Serafin Nieves – Mestranda – PUC Goiás Resumo: Dentre tantas variáveis da sociedade contemporânea, do processo de racionalização, ancorado aos meios midiáticos e de total estímulos autonomizantes, viabilizou o processo das várias formas de crer e de (des)crer. Muitas são as exegeses para explicar a existência do mundo. No plano nada cartesiano, a pluralidade se manifesta, o ateísmo. A humanidade dotada de subjetividade busca em uma doutrina e uma prática sociocultural “não religiosa”, desinstitucionalizada, agnóstica e desponta como um campo de investigação no qual se apresentam as mais diversas discussões, opiniões e concepções teóricas. A busca contumaz do ser humano para justificar a vida terrena e além dela, se encontra nas formas de

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dogmas religiosos e científicos e do plano mercadológico das relações fluídas. O objeto assim pesquisado são as várias formas de conceituação da palavra ateísmo e suas contradições semânticas. Com isso, a metodologia aplicada será a interpretativa, pois tanto a metafísica divina como a metafísica filosófica se (re)inventam em significativas interpretações e denunciam ressignificações semânticas sobre o sagrado e o profano, antes possuidores de fronteiras nitidamente delimitadas, possam, na atualidade, a ter relações justificadoras materiais-espirituais e espirituais-materiais para satisfazer de imediato subjetividades do religioso, do crente sem religião, do descrente e do ateu. O vir a existir talvez seja uma condição humana e não uma finalidade em si mesma. Palavras-chave: Ateísmo; Crer; (Des)crer; Ressignificações semânticas; Religioso; Pluralidade. XAMANISMO, UMA NOVA ESPIRITUALIDADE NÃO RELIGIOSA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O FENÔMENO RELIGIOSO Deusilene Silva de Leão – Doutoranda – PUC Goiás/CAPES Resumo: É incontestável entre os estudiosos sobre religião, a contribuição que o xamanismo tem dado a construção do mundo como um todo. Os primitivos ou nativos como assim chamamos deixaram um legado valioso de princípios e valores que não poderemos deixar de reaprender com eles, ou seja, recordamos aquilo que está adormecido em nós. Existe com eles um modo de ser mais humano, que preserva a integridade do ser, sua espiritualidade, sua mística e todo seu simbolismo, com um respeito grandioso ao ambiente, aos animais, um verdadeiro culto à vida; sabendo que se vive em um espaço dual divido entre o bem e o mal, as coisas sagradas e as coisas profanas. Para o xamanismo é necessário viver uma vida comum de forma extraordinária. É saber ler os sinais claros, que falam conosco, nas entrelinhas dos acontecimentos. Para todos os povos que integram a esta tradição a vida o mundo parece mais leve e digno de viver. A importância desse tema vem de sua atualidade, visto estarmos assistindo a um renascimento desta temática, que, durante muito tempo, esteve restrita ao campo da cultura indígena. O fenômeno agora se expande da tribo para a cidade. Os grupos que mantém essa prática fazem a chamada roda da medicina, uma roda de cura coletiva com tambores e cantos. Realizam fogueiras urbanas, em que as pessoas se reúnem e discutem temas determinados como solidão, agressividade, relações afetivas, criança interna e o medo. O objetivo desta comunicação é demonstrar uma forma atual de espiritualidade que não está ligada a nenhuma instituição religiosa propriamente dita, mas tem raízes e práticas em vivências simples, utilizada por pessoas, grupos e movimentos holístico, Palavras-chave: Xamanismo; Espiritualidade; Simbolismo; Holísmo.

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A ESPIRITUALIDADE LAICA DE LUC FERRY: A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA E O AMOR SECULARIZADO Douglas Willian Ferreira – Mestre – UFJF Resumo: Compreender a espiritualidade para além da religião é uma tarefa a que tantos autores contemporâneos tem se proposto. Dentre esses autores, destaca-se aqui o filósofo francês Luc Ferry que ao afirmar a existência de uma espiritualidade laica, desloca a mesma para além dos limites da religião institucional. Nessa lógica, a espiritualidade caracteriza-se por ser a busca de respostas aos questionamentos mais íntimos do homem, como o sofrimento e a finitude, mas também como a trajetória de uma busca pelo sentido da vida. Assim, espiritualidade laica e filosofia se entrelaçam, pois, a Filosofia se apresentará como um suporte estrutural e diretivo da própria espiritualidade, apartando do homem a angústia que ronda seus questionamentos mais profundos, ou seja, que permeiam a dimensão espiritual. Dessa forma, a espiritualidade não se reduz a ser unicamente religiosa, mas se torna, sobretudo, uma prática exequível àqueles que não creem: agnósticos, ateus ou céticos. Nesse contexto, o autor entende a espiritualidade como aquilo que permite ao homem enxergar a verdadeira situação de sua contingência, libertando-o, inclusive, do medo que paralisa, e, finalmente, conscientizando-o quanto à necessidade de se desprender das imaginações do passado ou das esperanças do futuro. De modo prático, essa espiritualidade sem Deus se efetiva através da prática do amor, de um ágape secularizado que torna possível a experiência do transcendente na imanência. Essa comunicação objetiva responder a seguinte questão: Numa sociedade laica, qual o papel desempenhado pela espiritualidade? O espiritual ainda faz sentido? A partir da análise bibliográfica das principais obras de Ferry poder-se-á concluir que a espiritualidade laica fundamentada no amor é a garantia da permanência do sagrado num tempo no qual o religioso deixa de dar sentido à vida humana, como nas sociedades tradicionais. Assim, a espiritualidade mantém um papel central na vida do homem, porque as questões que lhe são mais pertinentes não deixaram de existir com o fim do pensamento tradicional. Palavras-chave: Espiritualidade; Laicidade; Amor; Sagrado. O REGIME ULTRAMODERNO DO RELIGIOSO À LUZ DO PENSAMENTO DE JEAN-PAUL WILLAIME Fabiano Victor Campos – Doutor – PUC Minas Resumo: Esta comunicação apresenta o modo como o sociólogo da religião Jean-Paul Willaime compreende o etos religioso-cultural contemporâneo. Para tal, analisa a categoria willaimeana de religião na sua relação com o conceito de ultramodernidade, o qual, por sua vez, implica a ideia de secularização. É essa

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tríplice relação, tal como o autor francês a compreende e propõe, o nosso interesse de estudo neste trabalho. Para tal, buscamos mostrar que Jean-Paul Willaime, constatando um florescimento dos estudos sobre religião na França, sublinha o surgimento de uma terceira fase de secularização, correspondente ao que ele denomina como ultramodernidade. Nesta fase, aos olhos de Willaime, o moderno encontra-se desencantado, ao passo que a religião passa a ser integrada ao horizonte humano do conhecimento. Todavia, tal reintegração do religioso se dá de forma secularizada e não clericalizada. Isso implica em afirmar que, mesmo enfraquecida socialmente, mesmo destituída de força estruturante na organização da sociedade, a religião ainda possui um lugar no mundo dos homens. Ela confina-se ao plano cultural do conhecimento humano. É o que nos evidencia o crescente interesse pelo tema da religião por parte da população em geral, transbordando o restrito campo dos estudos acadêmicos e especializados e implicando uma explosão editorial de livros que abordam a questão religiosa sob o viés histórico e cultural. Daí que o autor francês não veja o florescimento desse novo etos como uma espécie de “retorno do religioso”, mas como um “reinvestimento do religioso enquanto cultura”. Palavras-chave: Religião; Ultramodernidade; Secularização; Cultura; Jean-Paul Willaime. NOVA ERA OU NOVA ALEXANDRIA? O HERMETISMO ALEXANDRINO E O NEOPLATONISMO COMO ALGUMAS DAS BASES DA COSMOVISÃO DAS “ESPIRITUALIDADES DE VIDA” CONTEMPORÂNEAS Fabio Mendia – Doutor – PUC-SP Resumo: Na antiga Alexandria diversas culturas do Oriente e do Ocidente, com seus conhecimentos, tradições, religiões, símbolos e mitos, se mesclaram, e dessa interação surgiu um pensamento sincrético e difuso no qual se destacaram, entre outros, o conjunto de escritos que compuseram a chamada literatura hermética e posteriormente o Neoplatonismo. O presente trabalho tem por objetivo, a partir dos textos de renomados autores, apontar o paralelismo da cosmovisão que está na base do chamado movimento Nova Era contemporâneo com alguns antigos conceitos herméticos e neoplatônicos, tais como: o conceito de Uno; do Ser Superior individual; da igualdade ontológica entre os seres humanos; dos mediadores metaempíricos; da evolução da consciência rumo a uma “Consciência Cósmica”; do caráter sagrado da natureza; da reencarnação; das práticas meditativas e da recusa à intermediação de sacerdotes e igrejas nas relações com o divino, entre outros. Com isso pretende-se demonstrar que embora as ideias orientais estejam em evidência no discurso novaerista atual, sua cosmovisão também deve muito ao ocidente, como que reproduzindo o contexto sincrético alexandrino, que reunia o Oriente e o Ocidente em torno de sua imensa biblioteca, que hoje em dia se chama Internet. E que a chamada “Nova Era” tem no fundo o pensamento de uma era antiga. Essa revisita às origens de alguns conceitos importantes da cosmovisão Nova

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Era pode contribuir para uma melhor compreensão deste fenômeno que vem se difundindo globalmente gerando um novo Ethos que aos poucos vem transformando a sociedade atual. Palavras-chave: Nova Era; Hermetismo Alexandrino; Neoplatonismo; Consciência; Uno. A DIFERENCIAÇÃO ENTRE ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE PROPOSTA PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE E SEUS PROBLEMAS PELA ÓPTICA DO CIENTISTA DA RELIGIÃO Fábio Stern – Doutorando – PUC-SP Resumo: Em 1998 a dimensão religiosa foi incluída na definição oficial de saúde da Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde então a instituição passou a divulgar internacionalmente que a saúde constiste em um estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social. Isso, evidentemente, gerou uma demanda para se discutir o que seria “completo bem-estar espiritual”, em especial frente ao fato de que a maioria dos conselhos profissionais da saúde, entre os estados-membro da ONU, rejeitam interferências de seus profissionais no campo religioso de seus pacientes. Assim, logo após a mudança, a OMS elabotou um documento propondo um método de quantificação desse “bem-estar espiritual”, apresentando uma definição do que é espiritualidade e as diferenças entre espiritualidade, religião e religiosidade, o que permitiria que os profissionais médicos pudessem atuar no campo da espiritualidade sem ferir seus códigos de ética. Desde então, isso nunca mais foi discutido, e esse conceito nunca foi revisado ou ampliado por nenhum outro documento da OMS. Do ponto de vista dos acadêmicos que discutem a epistemologia do que é religião com profundidade, essas distinções não somente são superficiais como também bastante problemáticas. Sobre o termo religião/religiosidade, a definição da OMS é eurocêntrica, baseada no modelo hierarquizado e institucionalizado de igrejas adotado pelas religiões abraâmicas. Além disso, a distinção de espiritualidade da OMS não parece suficiente para identificar quais elementos seriam somente espirituais sem serem religiosos. A OMS define espiritualidade como algo relacionado à autorrealização, aos sonhos, à busca de sentido pessoal, à autonomia em relação às instituições, a espontaneidade, à criatividade, à autenticidade e à liberdade; muito do que Woodhead e Heelas definem, justamente, como formas que as religiões se apresentam nas sociedades modernas. O presente trabalho teve como objetivo discutir essas questões, apresentando que para cientistas da religião, a distinção entre espiritualidade e religião não é tão fácil assim de ser traçada como aparentemente a OMS propõe. Palavras-chave: Ciência da religião; Definição de religião; Espiritualidade e saúde.

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COMUNIDADE CAVERNA DE ADULÃO: ASPECTOS DO SUJEITO NA RELAÇÃO DO ETHOS CONTEMPORÂNEO E RELIGIÃO Flávio Lages Rodrigues – Mestrando – PUC Minas Resumo: A presente comunicação observará como acontece a construção da relação do ethos contemporâneo e da religião entre os jovens que compõem a Comunidade Caverna de Adulão em Belo Horizonte/MG e também como ocorrem os vínculos entre os membros e sua relação com a comunidade. Outros fatores a serem verificados é se há aceitação da diferença, a autenticidade do sujeito e o “desprezo” da instituição. A adaptação a novos elementos da cultura aponta para uma religiosidade que está aberta e respeita aspectos culturais para a manifestação da religiosidade de forma livre e espontânea. O rock como estilo musical e a religião, como elementos culturais podem sinalizar não para uma nova religião, mas para novas roupagens, leituras, releituras e linguagens que sejam livres para manifestar as práticas religiosas juvenis de forma acessível e contextualizada. Assim, os jovens podem aderir a uma religião pelo fato de sentirem integrados com sua cultura peculiar, desenvolvendo um sentimento de pertencimento, de estar-juntos e de sociabilidade. Nesse aspecto não é o adepto que se amolda a religião, mas a religião é quem aceita esses jovens com suas manifestações e elementos culturais juvenis. O ethos na composição da comunidade aponta para uma construção dos laços internos e também para seus limites extra comunidade. Essa construção é o que abriga, une e pode sedimentar a vida em comunidade. A metodologia proposta para esse trabalho é constituída por trabalho de campo e análise da referência bibliográfica. Na análise bibliográfica temos como principal referencial teórico-metodológico o livro, “O tempo das tribos” de Michel Maffesoli. Este autor em diálogo com outros teóricos possibilitou entender melhor como ocorre a construção do ethos na fusão do rock com as práticas religiosas na sociabilidade dos jovens nas tribos urbanas. Palavras-chave: Ethos contemporâneo; Tribos Urbanas; Jovens; Rock; Religião e Cultura. A PROPÓSITO DE UMA ESPIRITUALIDADE PARA ESPÍRITOS LIVRES Flávio Senra – Doutor – PUC Minas Resumo: O estudo sobre espiritualidade não-religiosa se originou, em minha trajetória intelectual, a partir dos estudos sobre a filosofia da religião em Nietzsche. Esta comunicação objetiva desenvolver um exercício de leitura do parágrafo quatro do prólogo da obra Assim falou Zaratustra, de autoria do filósofo alemão. O comentário crítico do texto contextualizará, brevemente, a abordagem da filosofia nietzschiana na crítica da cultura de seu tempo, para desenvolver, como ponto central da comunicação, os elementos de uma espiritualidade em que o ser humano não é considerado nem como o fim nem como a meta, pensamento marcado pela

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crítica da cultura moral-metafísica que o pensador considera transvalorar a partir de seu personagem, o profeta Zaratustra. Os resultados a que se pretende chegar, do ponto de vista de uma leitura filosófica, procurarão evidenciar o alcance e a profundidade com que a filosofia nietzschiana desenvolve o tratamento da espiritualidade, enquanto cultura, de sua época. Palavras-chave: Nietzsche; Espiritualidade; Filosofia da Religião. TRANSRELIGIOSIDADE: PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS DA ESPIRITUALIDADE Hélyda Di Oliveira – Doutoranda – PUC Goiás Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar a transreligiosidade como um movimento que se apresenta na contemporaneidade como uma nova possibilidade de conexão com a espiritualidade. Diante da “sociedade amnésica” da atualidade, em que o tradicional mescla-se com o moderno e a religião torna-se “privada”, conforme diz Herviei-Lerger (2015), este artigo aponta para a importância de olhar para os novos movimentos religiosos que buscam formas não tradicionais de relação com a espiritualidade. Seria a transreligiosidade uma nova identidade religiosa do indivíduo na sociedade contemporânea? É notório reconhecer que o paradigma newtoniano-cartesiano predominante no século XIX, contribuiu para inúmeras respostas no sentido de detalhar e especializar o conhecimento em suas diversas áreas do saber. Porém, há indícios de que o excesso de especialização gerou uma compartimentalização da ação humana de forma a possibilitar lacunas no indivíduo diante de sua relação com a vida. Na busca de novo significado do sentido da vida na sociedade contemporânea, a transreligiosidade pode ser uma nova forma de relação do ser humano com a espiritualidade, fundamentada em um novo paradigma. É intenção deste artigo apresentar o novo paradigma e seus fundamentos teórico-práticos que dizem visar a integração de ciência e espiritualidade, razão e emoção, objetividade e subjetividade e também o reconhecimento da presença do “terceiro incluído” (Nicolescu, 1999), como algo que está entre, através e além de toda e qualquer lógica binaria de cosmovisão de mundo. A proposta deste artigo é fazer um levantamento bibliográfico sobre o que há de pesquisa nesta área, nas últimas três décadas, no contexto dos novos movimentos religiosos com características não institucionalizadas. Com isto, pretende-se apresentar o conceito de transreligiosidade e o levantamento de algumas questões que suscitarão novas indagações acerca do tema. A princípio, entende-se a transreligiosidade como uma nova relação do indivíduo com a espiritualidade, baseado numa abordagem integrativa da vida. Palavras-chave: Transreligiosidade; Espiritualidade e novos movimentos religiosos.

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ESPIRITUALIDADES NÃO RELIGIOSAS EM MARIÀ CORBÍ: ELEMENTOS

PARA UMA LEITURA CRÍTICA José Reinaldo F. Martins Filho – Doutorando – PUC Goiás Clóvis Ecco – Doutor – PUC Goiás Resumo: Valendo-se de um diálogo com o pensamento do catalão Marià Corbí, o artigo que segue procura elucidar quais são as principais características da religião na contemporaneidade e, de modo especial, como compreender o fenômeno crescente de espiritualidades que se autointitulam “não religiosas” – como é o caso dos “crentes sem religião”, por exemplo. Para isso, demonstra a ambiguidade latente ao redor do termo “religião” e de como este era compreendido pelas sociedades ditas “pré-industriais”, nas quais vigorava uma leitura estanque do mundo, em que a religião era tomada como sinônimo de monopólio cultural, versus as sociedades dinâmicas – e/ou fluidas – do período “pós-industrial”, cujo principal objetivo é a emancipação do indivíduo de quaisquer amarras que antes o mantinham sob sujeição. Considerando esta distinção, a religião do presente deveria ser considerada “não religiosa”, uma vez que se destina à configuração de um novo paradigma. Daí que o próprio uso da expressão “religião” mereça ser substituído por outras palavras tais como “espiritualidade”, “religiosidade”, entre outras, na tentativa de amenizar o peso da dimensão institucional antes evocada. Em suma, o fim das religiões, antevisto por muitos como o natural resultado do processo empreendido pelas sociedades em secularização, parece ter sido frustrado pelo advento das novas “espiritualidades” não religiosas. Estas que, por sua vez, permanecem como um constante desafio para a Teologia e as Ciências da Religião. Palavras-chave: Espiritualidades não religiosas; Marià Corbí; Secularização; Crentes sem religião. SENDO AMBÍGUO, HÁ QUE DELIMITAR O CONCEITO RELIGIÃO José Álvaro Campos Vieira – Doutorando – PUC Minas Resumo: Quando estudamos os autores que se debruçam sobre religião, clássicos ou contemporâneos, deparamo-nos com diversas perspectivas e com a inexistência de uma posição unívoca relativamente ao conceito religião. É notório que acerca de religião existem várias interpretações e entendimentos. O que para um se enquadra perfeitamente na categoria religião, para outro isso pode não proceder. Frente a esse fato, resta-nos admitir que religião é um conceito ambíguo. Isso leva-nos a pensar na pesquisa que estamos desenvolvendo no doutorado. Visamos apresentar na tese doutoral uma reflexão sobre a formação de uma espiritualidade não-religiosa no Brasil. O objeto de estudo que nos auxiliará é o fenômeno dos sem religião na sociedade brasileira. Na nossa visão, julgamos que os indivíduos que afirmam não ter religião cultivam uma espiritualidade autônoma das instituições religiosas e dos

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trâmites da religião. Espiritualidade não-religiosa, isto é, sem vínculo com a religião, e indivíduos sem religião são palavras-chave da tese, ainda em construção. No entanto, uma questão irrompe de imediato: Quando usamos o termo religião nessas expressões estamos nos reportando a quê? Visto que é um conceito marcado pela ambiguidade, pretende-se com esta comunicação refletir sobre a acepção de religião que permeará o corpo da tese. No primeiro item da comunicação – ‘Religião: um termo usual, não obstante ambíguo’ – observamos que a categoria religião é usada por vários estudiosos a partir de diferentes sentidos, sendo que esses podem levar a afirmações distintas e/ou opostas. Em ‘Categoria religião: uma criação histórico-cultural’, segundo item da comunicação, compartilhamos com a posição de Peter Harrison: a ideia moderna de religião é uma criação do Ocidente. Constata-se que no processo de criação de uma categoria opera-se um distanciamento da realidade. Isto é, certos elementos passam a não se enquadrar ao conteúdo que é estabelecido na categoria o que resulta, certamente, num entendimento limitado do fenômeno humano que a categoria pretensamente tenciona representar. Terminamos o respectivo item indicando a relevância e os riscos do uso da categoria religião. Encerramos a comunicação com o item ‘Delimitação do termo religião’. Entendemos que quando o vocábulo religião é uma ideia central de uma reflexão faz-se necessário pontuar o lugar do qual se reflete e a que religião se refere, ou a que fenômeno se reporta. No caso da tese doutoral, a concepção de religião está em ressonância àquilo que remete o fenômeno dos sem religião no Brasil. Consideramos que esse fenômeno não indica o crescimento do ateísmo, mas o rompimento crescente de indivíduos quer com as instituições religiosas, quer com a religião que se impõe por meio de crenças e ritos obsoletos. Tal fenômeno assinala duas tendências factuais, a saber: a desinstitucionalização da experiência religiosa e a individualização da crença. Essa constatação nos conduzirá a uma delimitação peculiar do conceito religião. Palavras-chave: Religião; Reificação; Experiência desinstitucionalizadas; Crença individualizada. O ESPECTRO RELIGIOSO NAS EMPRESAS PRIVADAS DA ÁREA DE TREINAMENTO COMPORTAMENTAL: PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES RELIGIOSAS. Leonardo Velasco – Mestrando – PUC Goiás Resumo: O estudo tem como escopo investigar se há traços de religiosidade no desenvolvimento e aplicação dos serviços prestados por empresas e profissionais do ramo de treinamentos comportamentais, compreender se há apropriação de elementos do campo religioso e se essa apropriação pode levar à transformação de uma empresa privada em instituição religiosa, analisar a fluidez simbólica das fronteiras entre o campo religioso e o assim intitulado campo mercantil ou mercadológico. Será realizada pesquisa bibliográfica e aplicação formulários em

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indivíduos pré-selecionados. Ao final pretende-se identificar quais elementos religiosos são apropriados pelas empresas de treinamento comportamental, buscando assim demonstrar a ruptura dos limites que mantinha o campo religioso do campo mercantil ou mercadológico. Palavras-chave: Treinamento comportamental; Empresa privada; Religião. IMPACTO DE CONCEITOS DE “ESPAÇO DE FLUXOS” E DE “VIRTUALIDADE REAL” NO CONCEITO DE ESPAÇO SAGRADO: ESTUDOS PRELIMINARES Marcos Rodrigues Simas – Doutorando – UMESP Resumo: Comunidades religiosas virtuais estão à disposição daqueles que acessam seus conteúdos, exercendo e desenvolvendo novas religiosidades, motivados por novas percepções de espaço proporcionadas pela sociedade informacional em rede. Ainda que muitos desses participantes não consigam compreender o fenômeno, isso não os impede de trocar entre si experiências, que proporcionam as condições favoráveis para novas ressignificações, sem isso representar um rompimento com a religião de seus pais. Objetivos: Neste trabalho, procuramos avaliar quais os elementos que constituem esta mudança, e como esse fenômeno de ressignificação do “espaço sagrado” estaria acontecendo, na tentativa de identificar se a sociedade em rede é o ambiente apropriado onde seus cidadãos podem expressar novas formas de ver, experimentar e interagir sua religiosidade. Metodologia: Através da análise da obra de Castells (The Rise of the Network Society, 2a. ed., Blackwell Publishing: Malden, 2000), procuramos identificar pontos significativos referentes aos novos conceitos de “espaço” e como isso estaria afetando a religião como instituição e mesmo a religiosidade de grupos e de indivíduos. Neste mesmo trabalho, utilizamos os conceitos de “sagrado”, “símbolos” e “imagens” retirados das obras de Mircea Eliade: O sagrado e o profano (3a. ed. WMF Martins Fontes: São Paulo, 2010), e Imagens e símbolos (1a. ed. Martins Fontes: São Paulo, 1991). Resultados alcançados: Identificamos diante do conceito de “virtualidade real” apresentado por Castells (2000, p. 404), não um contraponto, mas um elemento importante na ampliação da compreensão do significado de imagens e símbolos de Eliade (1991). Se para Eliade (1991, p. 8) “o símbolo revela certos aspectos da realidade – os mais profundos – que desafiam qualquer outro tipo de conhecimento”, para Castells (2000, p. 403), “não há separação entre ‘realidade’ e representação simbólica. Em todas as sociedades, a humanidade sempre existiu e agiu através do ambiente simbólico”, portanto, “a realidade [...] sempre foi virtual porque sempre foi percebida através de símbolos que moldava a prática com algum significado que ia além de uma estrita definição semântica”. No que diz respeito ao “espaço sagrado” acontece aí uma mudança profunda nas relações e na forma do religioso viver suas experiências reais. Se para o homem religioso de Eliade (1992, p. 25) “o espaço não é homogêneo” e o “espaço sagrado [é] o único que é real”, na sociedade de rede as relações são redefinidas (Castells, 2000, p. 2, 3) e esse novo “espaço de fluxos”

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(Castells, 2000, p. 408, 409) se sobrepõe ao “espaço profano” da mentalidade eliadiana, alterando a percepção de pessoas e grupos, comportamentos e formas de se experimentar a vida religiosa. Conclusão: A ressignificação de “espaço sagrado”, vem acontecendo porque, sob influência da “virtualidade real” e do “espaço de fluxos”, parte da sociedade informacional em rede, passou a ter uma compreensão mais ampla dos elementos simbólicos e das imagens que compõem sua própria religiosidade, permitindo assim aos seus usuários novas experiências religiosas. Palavras-chave: Espaço sagrado; Virtualidade; Novas espiritualidades. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS ÍNDICES DE EFICÁCIA TERAPÊUTICA COM PACIENTES EM TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA CLÍNICA – MÉDICO E ESPIRITUAL - ALTERNATIVO Roberta Mayara Alves de Souza – Mestranda – PUC Goiás Resumo: O estudo tem como objetivo realizar investigação comparativa em relação aos processos, protocolos e procedimentos terapêuticos desenvolvidos por uma instituição clinica no Estado de Goiás pautada nos preceitos médicos e outra que emprega a religião como possibilidade terapêutica. É um fato social, pois observa-se na sociedade contemporânea um processo que vêm evoluindo a cada dia em uma dura realidade de fragmentações familiares pelo consumo descontrolado de substâncias químicas. Pessoas que não encontram espaços de inserção na sociedade acabam por encontrar respostas no isolamento do convívio social. Há no Brasil um conjunto de Políticas públicas de saúde no controle de Doenças crônicas degenerativas e doenças transmissíveis, que estão sob o controle do Estado. No que diz a respeito aos dependentes de substância química, no caso dos usuários de drogas ilícitas, se observa uma movimentação por parte do Ministério da Saúde em estabelecer parcerias com instituições e entidades que tratam e acompanham estes usuários. Apesar de a dependência química ser tipificada como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o seu tratamento não alcança índices favoráveis quando somente os procedimentos clínicos são aplicados. Muitas organizações civis como: igrejas, centros espirituais ou terapias alternativas mostram números bastante alvissareiros no tratamento da dependência química. Atualmente, muitos trabalhos demonstram a eficácia das instâncias terapêuticas nos processos de reabilitação da drogadição. Assim, a proposição desse projeto visa estabelecer uma verificação comparativa entre ambos os processos: terapêutico clínico e terapêutico espiritual. A proposta de investigação se pauta no intenso relato de supostas melhorias de pessoas reabilitadas por meio da aplicação terapêutica da religião. Em face desse questionamento inicial a perspectiva é mapear os protocolos clínicos a respeito da questão, bem como, compará-los em eficácia e procedimentos com aqueles relacionados à religião. Palavras-chave: Dependência; Química; Terapias; Religião.

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A PSICOLOGIZAÇÃO DA ASTROLOGIA NA NOVA ERA Silas Guerriero – Doutor – PUC-SP Resumo: A pesquisa procurou levantar algumas questões relacionadas à presença da astrologia, entre outras artes divinatórias, no movimento da Nova Era. A Nova Era faz uma releitura do esoterismo ocidental e considera as artes divinatórias como disciplina chave para a revelação de uma sabedoria oculta passível de ser desvelada. A Nova Era entende por esoterismo tudo aquilo que está no interior do indivíduo, ainda de forma oculta, e que é passível de ser desvendado e alcançado mediante práticas, procedimentos e estudos. Embora não possamos considerar a Nova Era como parte do esoterismo em sentido estrito, deve a este grande parte de seus conteúdos e características fundamentais. Muitas vezes vista como uma simplificação comercial de conhecimentos mais profundos, a Nova Era pode ser compreendida como uma vertente e estágio de desenvolvimento do esoterismo ocidental. A astrologia recebe dentro da Nova Era uma conotação diferenciada, tida como astrologia psicologizada, voltada ao estudo das características e potencialidades do indivíduo novaerista. Palavras-chave: Esoterismo; Astrologia; Ocultismo; Psicologização da religião; Nova Era. ESPIRITUALIDADE ARTESANAL: ARTESANATO E BRICOLAGE A CONSTRUÇÃO ESPIRITUAL ALTERNATIVA Thiago de Menezes Machado – Doutorando – UFJF Resumo: O artesanato desempenha forte papel na cultura alternativa, tanto como ocupação de muitos alternativos quanto como fonte de representações sobre o ser alternativo. No artesanato a cultura alternativa sintetiza seus próprios valores e identidades culturais, transformando em objetos materiais suas preferências, seus conceitos, ideologias, crenças e, de um modo mais amplo, todo o seu estilo de vida. O artesanato é compreendido pela cultura alternativa como uma atividade expressiva, através da qual a própria “energia” do artesão é transferida para a sua criação, de modo que o objeto criado reflete tanto a personalidade quanto as características espirituais de seu criador. A partir da observação da importância do artesanato no universo cultural alternativo, a presente comunicação pretende compreender a relação entre artesanato e espiritualidade dentro do universo de espiritualidades alternativas. A observação etnográfica que fundamenta esta comunicação foi desenvolvida em Alto Paraíso de Goiás e São Thomé das Letras. A espiritualidade alternativa desenvolvida nessas cidades interioranas e turísticas, fundamentada nas experiências herdeiras das comunidades alternativas fundadas

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entre as décadas de 1970-80, é marcada pela influência da cultura hippie e pelas formas de espiritualidade preferencialmente adotadas por essa cultura. Através da observação etnográfica, foi possível compreender que a lógica que coordena a produção artesanal é aplicada ao cotidiano e integrada à dinâmica social alternativa, favorecendo a construção de espiritualidades que pensam-se como singulares e personalizadas, construídas através do recurso à bricolage e ao sincretismo. A espiritualidade artesanal é aquela produzida pelo próprio indivíduo bricoleur, carregando suas próprias marcas “energéticas” e confeccionada com as matérias primas espirituais à disposição de cada buscador espiritual. Palavras-chave: Bricolage; Artesanato; Espiritualidade; Nova Era. É POSSÍVEL FALAR EM UMA MITOLOGIA DOS SERES CÓSMICOS? Vítor de Lima Campanha – Mestre – UFJF Resumo: O presente artigo trata de encontrar balizas teóricas sobre o conceito de mito a ser utilizado em pesquisas subsequentes, nas quais visa-se a investigação e análise do que, empiricamente, classifico como dois mitos básicos relacionados aos seres cósmicos ou extraterrestres: o Mito da Tutoria e o Mito da Encarnação. O primeiro estaria relacionado à ideia de que esses seres, mais evoluídos, agiriam como tutores da humanidade desde os primórdios de seu desenvolvimento. Segundo Erich von Däniken, um de seus precursores, e outros entusiastas da mesma teoria – ligados ou não a movimentos religiosos – a tutoria continuaria ainda os dias atuais, enquanto aguarda-se o momento da saída do planeta Terra de uma condição de tutorado para um maior protagonismo dentre outras civilizações ou raças intergalácticas. Por sua vez, o Mito da Encarnação trata, principalmente, da encarnação de seres cósmicos evoluídos como seres humanos, em geral, chamados de crianças índigo ou cristal. Estes são considerados seres de outros planetas que aceitam a missão de reencarnar na Terra pela primeira vez, como missionários. Essa encarnação mostra-se um ponto em comum entre o pensamento Nova Era, de Novos Movimentos Religiosos, da ufologia e do espiritismo kardecista. Após apresentar as duas hipóteses, passa-se à busca por uma solução acerca da possibilidade conceitual do mito no tratamento dos temas. Para isso, o artigo traz uma revisão bibliográfica sobre tal conceito segundo autores como Lévi-Strauss, Edmund Leach, Maurice Lenhardt e Mircea Eliade. Enquanto o conceito relacionado ao método estruturalista não é promissor para o objetivo proposto, a formulação eliadiana se mostra mais adequada por sua contribuição no entendimento do mito como a história dos atos de entes sobrenaturais. Essas ações, compreendidas como fatos concretos pelos nativos, enquadram-se na hipótese proposta dos mitos da Tutoria e da Encarnação. Palavras-chave: Mito; Nova Era; Espiritismo; Ufologia; Extraterrestres.

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