evolucionismo ou criacionismo? roberto lenz betz · ‘espírito’ e ‘mente’ na cosmovisão...

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Evolucionismo ou Criacionismo? ROBERTO LENZ BETZ

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Evolucionismo ou Criacionismo? R O B E R T O L E N Z B E T Z

19 2º Semestre 2018Origem em Revista

“Porei minhas leis em sua mente e as escre-verei em seu coração. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.” Hebreus 8:10.

O que esse texto bíblico tem a ver com a origem da vida e criacionismo? Para explicar, quero chamar a atenção dos leitores para a área pintada de azul na figura do cérebro (Fi-gura 1). Esta área ocupa praticamente um quar-to de todo o córtex cerebral e emite conexões para quase todas as regiões encefálicas, exer-cendo controle sobre várias funções neurais, em especial, sendo responsável pelo nosso comportamento inteligente.1 As informações sobre a função da área pré-frontal foram obti-das através da observação de casos clínicos em que houve lesão nessa área.

Figura 1. Cérebro humano. A numeração classifica as áreas de Brod-mann (uma das formas de dividir o cérebro em áreas). Área em azul: córtex pré-frontal. Azul claro: área pré-frontal orbitofrontal. Azul escu-ro: área pré-frontal dorsolateral.Fonte: https://teddybrain.files.wordpress.com/2013/01/prefrontal--cortex.jpg

Um caso que se tornou famoso foi o de Phi-neas Gage em 1848,2 que aos 25 anos de idade saiu para mais um dia comum de trabalho. Era conhecido por suas virtudes de companheiris-mo, liderança, eficiência e responsabilidade, tanto é que havia sido nomeado capataz de um grupo de trabalhadores responsáveis pela construção de ferrovias nos EUA. Para abrir ca-minho era necessário explodir algumas rochas, e Phineas utilizava uma barra de ferro para em-purrar dinamite em direção às rochas. Mas para seu azar, naquele dia a dinamite explodiu e lan-çou a barra de ferro como um projétil contra o

seu rosto; a qual entrou por baixo do osso zi-gomático, empurrou o olho esquerdo para fora e atravessou completamente o crânio, saindo pela parte superior frontal da cabeça.

Figura 2. Representação do trajeto da barra de ferro através do crânio de Gage, entrando por baixo do osso zigomático à esquerda, passan-do por trás da órbita esquerda e saindo pela região frontal superior da cabeça. Fonte: https://teddybrain.files.wordpress.com/2013/01/gage-skull.png?w=470

Por incrível que pareça, o jovem sobreviveu ao acidente e após quatro meses já estava tra-balhando novamente! Não apresentava nenhu-ma perda de memória, faculdades intelectuais estavam preservadas, movimentos e sentidos (com exceção da visão do olho esquerdo) tam-bém preservados. Entretanto, logo as pessoas perceberam que ele não era mais o Phineas que conheciam. Mudanças drásticas haviam ocorrido em sua personalidade: era agora ir-responsável, grosseiro e falava blasfêmias, con-forme os relatos. Se revoltava com qualquer coisa que não condizia com seus desejos, era desrespeitoso, obsceno, impaciente, não con-seguia executar tarefas longas e vivia mudan-do de emprego. Após sua morte, seu corpo foi exumado e verificado que a área cerebral le-sionada tinha sido o córtex pré-frontal.3 Além das lesões traumáticas, existem outras doenças que podem afetar esta região causando sinto-mas semelhantes.

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Para explicar melhor algumas funções desta região cerebral, po-demos dividi-la em duas áreas:1

Área pré-frontal dorsol ateral (representada em azul escuro na Figura 1): é responsável por diver-sas funções, dentre elas o planeja-mento e execução de estratégias comportamentais frente a uma determinada situação, capacida-de de alterar o comportamento de acordo com a mudança das si-tuações, e também, avaliar as con-sequências das atitudes. Estas fun-ções são desempenhadas a partir de fibras emitidas desta área até outra região chamada tálamo, as quais passam antes por outra es-trutura cerebral chamada corpo estriado. Do tálamo, fibras retor-nam ao córtex pré-frontal dorso-lateral fechando o circuito (é um pouco complexo, mas não desista da leitura, você entenderá os con-ceitos que apresentarei após esta parte sobre anatomia. Aliás, com-plexidade já é a primeira evidên-cia criacionista apresentada neste texto).

Área pré-frontal orbitofrontal (representada em azul claro na Figura 1): é responsável pela su-pressão de comportamentos ina-dequados, manutenção da aten-ção e participa do processamento de emoções. Emite fibras para o núcleo dorsomedial talâmico, as quais passam antes pelo núcleo caudado e globo pálido. Do nú-cleo dorsomedial talâmico, fibras retornam ao córtex pré-frontal dorsolateral fechando o circuito.

Outra região com funções re-lacionadas mas que não está lo-calizada no lobo frontal é o córtex insular anterior,1 responsável pela capacidade de se sensibilizar e de reconhecer o estado emocional dos outros, responsável também pelo conhecimento próprio (di-ferenciar a si mesmo dos outros), pela percepção de alguns compo-nentes subjetivos das emoções e também pela sensação de nojo.

Evolucionistas creem que, de repente, uma forma rudimentar de lobo frontal surgiu nos mamífe-ros juntamente com quase todo o restante do córtex cerebral.1 Este lobo, por sua vez, foi se aprimoran-do até alcançar as incríveis propor-ções observadas nos humanos: sendo até três vezes maior que nos chimpanzés!4 Isto representa um verdadeiro abismo evolutivo entre nossos parentes mais próxi-mos, na cosmovisão evolucionista. Na descrição acima fiz questão de ressaltar a existência de alguns circuitos, para mostrar que estas estruturas não são capazes de exercer suas funções sozinhas. Há uma completa interdependência com diversas áreas encefálicas, que precisariam ter evoluído to-das elas de forma perfeitamente correta e ao mesmo tempo para possibilitar a existência de apenas uma função cognitiva, imagine en-tão para possibilitar a vida! (Ver neste mesmo número da Origem em Revista o artigo “O monismo inteligente na relação mente-cére-bro”, de autoria deste mesmo au-tor) Evolucionistas não possuem uma explicação para como isso poderia ter ocorrido, apenas afir-mam que “milagrosamente” assim aconteceu.4,5 Mesmo uma forma “rudimentar” de lobo frontal já te-ria que atuar através de circuitos e feixes nervosos conectados com praticamente todas as áreas cere-brais, tendo assim a necessidade de ter surgido pronta para poder funcionar, caso contrário, seria eli-minada durante a evolução. Estu-dos recentes têm demonstrado que em todas as espécies existe perfeita proporcionalidade entre as estruturas cerebrais e, de forma harmoniosa, desempenham todas as funções necessárias para a so-brevivência de cada espécie.5 Há muito mais coerência em assumir que estas estruturas estavam ini-

O córtex insular anterior é res-ponsável pela capacidade de se sensibilizar e de reconhecer o estado emocio-nal dos outros.

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cialmente prontas, cada animal e cada humano com seu cérebro e em seguida começou a vida (se-melhança com o relato bíblico da criação seria mera coincidência?).

Outro fator que chama a aten-ção, é que lesões nessas áreas re-sultam em comportamentos imo-rais, demonstrando que somos originalmente programados para agir de forma moral.1,6-9 Quem teria nos programado e nos dotado da consciência? Outra novidade nos congressos de neurociências,10,11 é de que nascemos com tendên-cias imorais devido a uma fragili-dade genética maior ou menor de algumas destas áreas. Entretanto, essas tendências não determinam se um indivíduo terá ou não con-dutas imorais. O que determinará serão as experiências vividas ou sofridas e as decisões realizadas pela pessoa, que poderão melho-rar ou prejudicar ainda mais estas áreas. Escolhas imorais de forma repetitiva podem inativar progres-sivamente a função de algumas regiões de tal forma a poder se chegar num estado de incapaci-dade de reativação, lesão irrever-sível, causando a impossibilidade de optar moralmente naquele tipo de situação. O interessante é que, milênios antes destas desco-bertas científicas, a Bíblia já dizia que a consciência pode ser caute-rizada e corrompida (I Timóteo 4:2 e Tito 1:15). E será que a perda da capacidade de optar moralmente teria alguma relação com o peca-do contra o Espírito Santo, após sucessivamente “endurecer o co-ração” à Sua voz? Se o afastamen-to de Deus trouxe a morte, não se relacionar com Ele deve atrofiar o cérebro, pelo menos é isso que a ciência parece estar descobrindo. (Ver neste mesmo número da Ori-gem em Revista o artigo “Alma’, ‘Espírito’ e ‘Mente’ na Cosmovisão Bíblica”, de Natal Gardino).

Com os conceitos acima ex-postos, a pergunta que surge é: por que precisamos de uma área tão grande para esse tipo de deci-são? Aliás, por que existe uma área para decisões morais? Do ponto de vista evolucionista, é tudo tão simples, basta decidir por aquilo que traga mais vantagem ao in-divíduo. Não parece ser algo di-fícil, tanto é que todos os animais precisam decidir frente às situa-ções. Mas os humanos são espe-tacularmente mais desenvolvidos nesse aspecto, e frequentemente optam por uma conduta moral, e não pela mais adequada naque-le momento para sobreviver ou se destacar. Por que agir contra o próprio instinto de sobrevivência? Porque é o certo? O certo não se-ria sobreviver, se dar bem? É co-mum vermos pessoas honestas terem pior desempenho do que as corruptas. Porém, seres huma-nos parecem estar pré-programa-dos para agir de forma diferente do padrão evolutivo (mesmo que muitas vezes alguns se compor-tem de tal forma que até parecem ter evoluído de suínos).

Este fato se torna uma verda-deira dor de cabeça para o evo-lucionismo! Como um método baseado em carnificina sucessiva privilegiaria a existência de um código moral? O próprio fato da existência de uma estrutura em nosso corpo para reger nossas ati-tudes com base moral, por si só, já torna o evolucionismo numa teoria inconsistente com a realidade observada. Apesar dessa clara incoerência, evolucionistas ten-tariam argumentar alegando que em algum momento da evolução, viver em sociedade tornou-se mais vantajoso para a manuten-ção da espécie, e que sociedades com princípios morais tinham van-tagem sobre as que não tinham.4,

11 Vale lembrar que esta alegação

a Bíblia já dizia que a consciên-

cia pode ser cauterizada e

corrompida

“Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauteriza-da a sua própria

consciência.” 1 Timóteo 4:2

“Para os puros, todas as coisas são puras; mas

para os impuros e descrentes, nada é puro.

De fato, tanto a mente como

a consciência deles estão cor-

rompidas.” Tito 1:15

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não é válida como argumento ou evidência favorável à evolução, uma vez que trata-se so-mente de uma suposição baseada no modelo evolucionista. Da mesma forma posso alegar baseado no modelo criacionista que vivemos em sociedade e temos princípios morais por-que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. Para resolver esta questão, basta uma breve análise da sociedade para perceber o óbvio, de que gradativamente comportamen-tos como corrupção, violência, indiferença, promiscuidade, individualismo, compulsões, entre outros comportamentos imorais, tornam--se cada vez mais comuns e até mesmo “natu-rais”. E nem é necessário analisar grandes es-tatísticas (que existem) para evidenciar estes dados, basta ler e assistir diariamente as no-tícias e recordar-se de como era viver poucos anos atrás. Estranho uma característica tão im-portante para a sobrevivência e uma das que tanto diferencia humanos de animais, que te-ria levado centenas de milhares de anos para evoluir, estar simplesmente desaparecendo de forma tão rápida que se torna perceptível até mesmo durante o período de uma única gera-ção; e humanos apresentarem comportamen-to cada vez mais animalesco, caracterizando um processo de “involução”. Deveria ser justa-mente o oposto, se a evolução é um processo contínuo e o comportamento moral foi selecio-nado como vantagem, cada vez deveriam sur-gir mais seres humanos com mais capacidade moral, e a sociedade caminhar rumo à harmo-nia perfeita.

A constatação mais plausível é de que esta característica, isto é, o código moral, já foi me-lhor no passado, e está “involuindo”. Curioso que está de acordo com a posição defendida pelo livro dos criacionistas (Mateus 24:12 e II Timóteo 3:1-9), e que relata também um Ser de caráter perfeitamente moral que progra-mou este código (informação/Lei) no cérebro humano. Desde que os humanos se afastaram do Programador, a consciência presente nes-tas estruturas cerebrais se tornou incompleta e defeituosa (justamente pela falta do Programa-dor/Criador), degradando progressivamente (Romanos 3:23). Prefiro ficar com o que diz o Livro Sagrado, que traz todas estas novidades científicas já antecipadas há milênios, e revela quem é este grande Criador moral!

A comunhão com Deus através da oração,

estudo e prática de Sua Palavra possui capaci-dade de reverter esse processo de involução moral (Romanos 12:2), até mesmo em alguns desses casos já determinados como irreversí-veis pela ciência humana! Se para o desenvol-vimento de princípios morais, Deus é neces-sário, então a evolução precisa de Deus. Mas um Deus moral nunca se utilizaria do imoral método evolucionista, logo, temos o Criacio-nismo Bíblico como verdadeiro. Para comple-tar, os benefícios da fé em Deus para melho-ria das emoções e comportamentos humanos já são comprovados pelo método científico,12 e até mesmo médicos e psicólogos ateus são obrigados a reconhecer este fato. Que algum evolucionista explique isso! Não tenho fé suficiente para acreditar em teorias incoerentes e inconsistentes, prefiro crer no Criador Moral, o Deus Verdadeiro da Bíblia que em breve restaurará seu código moral neste planeta!

Referências

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10. Bins HDC, Taborda JGV. Psicopatia: influências ambientais, interações biossociais e questões éticas. Debates emP-siquiatria 2016; 6(1):8-16.

11. Raine A. The anatomy of violence: The biological roots of crime. Nova York: Vintage Books; 2013.

12. Gonçalves JPB,et al. Avaliação da prática de terapia com-plementar espiritual/religiosa em saúde mental. Debates em Psiquiatria 2015;5(6):21-26.

Roberto Lenz Betz é médico, especialista em Neurologia.

[email protected]