evoluçao e perspectivas da indústria

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VI SEME VI SEME AD AD ENSAIO ENSAIO ADM. GERAL ADM. GERAL EVOLUÇÃO E PERSPECTIVAS DA INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA BRASILEIRA AUTORES: GIULIANO CONTENTO DE OLIVEIRA MESTRANDO EM ECONOMIA NA PUC-SP E-MAIL: [email protected] BRAULIO ALEXANDRE CONTENTO DE OLIVEIRA DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO NA FEA/USP E-MAIL: [email protected]

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7 - A INDSTRIA BRASILEIRA

VI SEMEAD

ENSAIO

ADM. GERAL

EVOLUO E PERSPECTIVAS DA INDSTRIA ALIMENTCIA BRASILEIRA

AUTORES:

GIULIANO CONTENTO DE OLIVEIRA

MESTRANDO EM ECONOMIA NA PUC-SP

E-MAIL: [email protected]

BRAULIO ALEXANDRE CONTENTO DE OLIVEIRA

DOUTORANDO EM ADMINISTRAO NA FEA/USP

E-MAIL: [email protected]

EVOLUO E PERSPECTIVAS DA INDSTRIA ALIMENTCIA BRASILEIRA

1. Resumo

O presente artigo apresenta a evoluo da indstria brasileira de alimentos, o potencial do mercado consumidor interno e os desafios futuros que devero ser enfrentados, tais como a necessidade de investimentos e a concorrncia internacional.

Ressalte-se que o trabalho constitui-se em uma parte de um estudo mais abrangente e profundo que abordar a competitividade do referido setor industrial baseando-se no modelo diamante, de Porter.

2. Introduo

A indstria alimentcia constitui-se em um importante setor da atividade econmica brasileira. Segundo a ABIA (Associao Brasileira da Indstria da Alimentao), em 2001 o setor faturou US$ 47,7 bilhes, o que demonstra sua representatividade. Corrobora, ainda, o fato de ser este setor o maior gerador de empregos do pas, segundo o Ministrio do Trabalho (1999).

Apesar de tamanha expressividade, existem poucos estudos que abordam a competitividade relacionada indstria brasileira de alimentos, alm de serem escassas as informaes ao seu respeito, o que motiva o presente artigo (Belik, 1988; Sato, 1997).

3. Objetivos e Metodologia

De carter terico-descritivo, o presente trabalho busca apresentar a evoluo da indstria de alimentos brasileira e os principais desafios que dever enfrentar nos prximos anos, a partir de dados da ABIA e de publicaes relativas indstria alimentcia brasileira.

Almeja-se que o presente trabalho propicie e estimule a realizao de futuros estudos acerca da competitividade no referido setor econmico brasileiro, a exemplo dos interessantes trabalhos de Avrichir & Caldas (2001), que aborda a indstria brasileira da aviao, e de Ribeiro (2000), que aborda a indstria automobilstica brasileira, ambos luz da teoria do modelo de competitividade nacional (modelo diamante) de Porter.

4. Formao da indstria alimentcia brasileira

A indstria alimentcia brasileira seguiu os mesmos caminhos da indstria nacional como um todo. Com a abertura dos portos e o livre comrcio a partir do ano de 1808, a indstria artesanal que se formara na poca da colnia desaparecia, iniciando-se assim, um perodo de importaes dificultando o desenvolvimento do produto nacional, uma vez que os estrangeiros chegavam ao mercado brasileiro com preos mais competitivos devido s baixas tarifas alfandegrias, que perduraram at o ano de 1844 (Prado Jr., 1969). Alm disso, os produtos eram de superior qualidade, dado o grande desenvolvimento industrial que ocorria na Europa (Prado Jr., 1969).

A partir da grande depresso de 1929 observa-se um processo de expressiva dinamizao das indstrias tradicionais, dentre elas a de alimentos. O aumento da massa de salrios, proveniente, por um lado, do aumento do poder aquisitivo e do nvel de emprego, fez com que a demanda por produtos de primeira necessidade fosse amplamente difundida na classe operria, ensejando novos investimentos que buscassem a ampliao da capacidade produtiva dessas indstrias. Ademais, tambm foi a partir desse momento que a sofisticao dos produtos tradicionais passou a ser uma exigncia dos demandantes, principalmente requerida por aqueles que obtiveram elevao do seu poder aquisitivo.

5. Panorama da indstria alimentcia brasileira no perodo recente

Passada a transio de uma economia agrrio-exportadora para uma economia industrial e, reboque desse processo, a fase de consolidao e expanso das denominadas indstrias tradicionais, a economia brasileira sofreu diversas modificaes no seu parque produtivo. Aps trs planos nacionais de desenvolvimento consecutivos e a onda de planos heterodoxos de estabilizao no decorrer da dcada de 1980, a dcada de 1990 foi marcada pelo processo de insero comercial e financeira da economia brasileira na economia internacional.

O processo de liberalizao comercial fez com que as empresas alimentcias brasileiras passassem por transformaes substanciais, uma vez que a maior competio externa exigiu uma nova orientao competitiva, baseada na qualidade e na satisfao do consumidor.

Alm da dimenso externa, outro fator recente que exerceu impacto relevante nesta indstria foi a implementao do Plano Real. A queda da inflao resultou um aumento automtico da massa real de rendimentos no pas. Isso se deveu ao fato de grande parte do salrio do trabalhador que antes era corrodo fosse destinado ao consumo. Esse fenmeno pode ser observado no Grfico 1.

Grfico 1 Rendimento mdio real e inflao (1994-2002)*.

FONTE: IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, adaptado pelos autores.

* At setembro de 2002. Valores a preos constantes de novembro de 2002. Inflao e deflator: INPC.

Pode-se verificar que a queda abrupta da inflao medida pelo ndice Nacional de Preos ao Consumidor (INPC) acompanhada pelo aumento representativo do rendimento mdio real do trabalhador brasileiro. Tendo em vista que este ganho observado na renda real dera-se no mbito da parcela da populao menos favorecida, que no dispunha de meios para se defender dos efeitos perversos da alta inflao, aumentou-se de forma substantiva o consumo de bens, entre eles os produtos alimentcios. No prximo item, sero analisados os principais indicadores da indstria alimentcia brasileira.

Conforme supracitado, o Plano Real gerou um efeito expansivo na indstria alimentcia brasileira. Tal afirmao pode ser comprovada pelo significativo aumento havido na produo fsica industrial, mormente dos produtos alimentares, aps a estabilizao monetria de julho de 1994. A partir do Grfico 2, pode-se observar a elevao vertiginosa da produo de alimentos, quando da observncia do substantivo aumento ocorrido no salrio mdio real do trabalhador brasileiro aps o Plano Real.

Grfico 2 - Produo fsica industrial de produtos alimentares e bebidas*.

Fonte: IBGE, adaptado pelos autores.

* ndice de base fixa mensal com ajuste sazonal (base: jan-1985 = 100).

Vale observar o fato de que todos os programas de estabilizao monetria implementados a partir da segunda metade da dcada de 1980, como se pode observar junto ao grfico 2, foram acompanhados de aumentos peremptrios e significativos da produo de produtos alimentares, face a maior demanda gerada pela preservao do poder de compra do salrio. O destaque ao Plano Real, no entanto, se deve ao seu sucesso prolongado no que diz respeito estabilizao do nvel de preos, vez que torna os efeitos renda e consumo mais duradouros.

A perspectiva que a indstria de alimentao (alimentos e bebidas) no Brasil tenha faturado R$ 126, 59 bilhes em 2002. A partir da anlise da Tabela 1, verifica-se que esta indstria apresentou aumento do faturamento lquido em todo perodo considerado, sem exceo.

Merece destaque, ademais, o fato de que a indstria de alimentao altamente representativa na economia brasileira. Conforme se pode observar na Tabela 2, sua participao no PIB correspondeu a 9,70% em 2002. Isso significa, portanto, que de toda a riqueza gerada no pas em 2002, parcela importante foi gerada por esta indstria. Alm disso, a sua participao em relao indstria de transformao correspondeu a 18% em 2000, o que comprova a sua significativa contribuio junto ao setor secundrio brasileiro.

No obstante ter havido uma queda no faturamento real desta indstria em 1997, 1999 e 2000 (utilizando-se como base a variao do IGP), as vendas reais bem como a produo fsica cresceram entre 1997 e 2002, conforme apresentado na Tabela 3. J o pessoal ocupado e o salrio mdio real apresentaram um comportamento bastante diferente, em compasso com as dificuldades macroeconmicas enfrentadas pelo pas e com os ajustes realizados nas empresas a fim de tornarem-se mais competitivas. Finalmente, a ocupao mdia da capacidade instalada coloca em evidncia que o setor possu margem para crescer nos prximos anos, sem a necessidade de novos investimentos imediatos no parque produtivo.

indispensvel salientar, ademais, que a indstria de alimentao exerceu papel relevante, em termos macroeconmicos, para as contas externas brasileiras antes mesmo da mxi-desvalorizao cambial ocorrida em 1999. A partir da Tabela 4, pode-se observar que em todo o perodo observado a indstria exportou significativamente mais do que importou, fenmeno este intensificado aps o ajuste cambial ocorrido na poca referida. Em 2002 projeta-se um saldo comercial de R$ 29 bilhes, sendo que do total exportado pela economia brasileira neste mesmo ano, 18,80% proveio das vedas externas levada a cabo por esta indstria. Trata-se, portanto, de um setor extremamente relevante para o ajustamento externo da economia brasileira.

6. A competitividade no setor

Baseando-se em algumas evidncias, Barros & Goldenstein (1997) afirmam que a indstria brasileira vive uma terceira onda de investimentos, sendo o capital estrangeiro o impulsionador. Este investimento vem ocorrendo em trs fases distintas: numa primeira fase, as empresas estrangeiras fixam escritrios de representaes no Brasil e importam seus produtos, o que vivel dada a abertura econmica promovida nos ltimos anos; numa segunda fase, estas empresas importam mquinas e equipamentos para a modernizao e uma melhor adequao de parceiros locais; e, numa terceira fase, comeam a produzir.

Segundo Belik (1998), a nova competio distingue-se da velha por trs dimenses, a saber: a) organizao da empresa; b) tipo de coordenao; c) poltica industrial. O autor acrescenta, ainda, que a competio no perodo ps-fordista baseada no produto, nos processos e no tempo de resposta, e no mais apenas nos custos, como nos anos 60, ou na qualidade, como nos anos 70.

De acordo com estudos da empresa de auditoria e consultoria KPMG (2000), entre os anos de 1992 e 1997 o nmero de fuses e aquisies cresceu mais de seis vezes, declinando 6% em 1998 (em relao a 1997) e, 12% em 1999 (em relao a 1998). As indstrias de alimentos, bebidas e fumo lideraram a classificao (ranking) em todos os anos, com exceo de 1999, quando ficou em terceiro lugar (atrs apenas de telecomunicaes, com 47 e, tecnologia da informao, com 28) respondendo por 14% do total, conforme pode-se observar na Tabela 4.

Deste modo, pode-se afirmar que a indstria de alimentos brasileira foi um dos setores que mais empreenderam modificaes corporativas e organizacionais, uma vez que o processo de fuses e aquisies, pelos quais essas firmas passaram, implica, indubitavelmente, uma nova orientao competitiva das suas unidades produtivas. Ademais, possvel concluir, de acordo com os dados apresentados no Tabela 4, que os setores de alimentos, bebidas e fumo estiveram na vanguarda do processo que se convencionou chamar de efeitos da globalizao.

Tabela 5 - Quantidade de fuses e aquisies no Brasil, por setor, de 1992 a 1999

Setores19921993199419951996199719981999Total

Alimentos, bebidas e fumo1228212438493625208

Instituies financeiras48152031362816142

Qumica e petroqumica41814131822256114

Metalurgia e siderurgia11131191718239102

Seguros1189162415974

Eltrico e eletrnico2751415199571

Telecomunicaes1758514314771

Outros236896115188190184192864

Total das fuses581501752123283723513091.646

FONTE: KPMG (2000), adaptado pelos autores.

Isso parece estar associada conjugao de alguns fatores, tais como (Informe Setorial Agroindstria, 1999):

a) Saturao dos mercados dos pases desenvolvidos: como consumidores europeus e norte-americanos esto prximos do limite fsico do consumo de alimentos, as taxas de crescimento das vendas so muito baixas levando as empresas a procurarem mercados com maior potencial;

b) Custos crescentes: a necessidade de se realizar significativos investimentos em propaganda, distribuio e tecnologia, em virtude da concorrncia, pode inviabilizar empresas pequenas;

c) Foco no negcio: algumas empresas parecem desinvestir em negcios perifricos, com o objetivo de aumentar sua eficincia e concentrar recursos;d) Entrada em mercados regionais/locais: a compra de uma empresa j estabelecida reduz os custos de entrada em novos mercados.Contudo, muito embora existam cerca de 40.000 empresas atuando na indstria alimentcia, conforme apresentado na Tabela 5, sua estrutura oligopolizada, uma vez que poucas empresas possuem grande parcela do seu faturamento total, e acesso preferencial s grandes redes varejistas nos principais mercados brasileiros. A fim de elucidar essa colocao, no ano de 1998 doze empresas (apenas 0,03% do total) foram responsveis pelo faturamento de mais de 12% de todo o setor (Exame, 1999).

Tabela 6 - Nmero de empresas na indstria

Ano1997199819992000

No estabel. Industriais formais*40,440,339,838,8

Micro (% do total)75,776,075,574,9

Pequena (% do total)20,620,320,821,2

Mdia (% do total)3,13,03,03,2

Grande (% do total)0,60,60,70,7

Fonte: ABIA (2002), adaptado pelos autores.

* Em mil.

7. Perspectivas e desafios para a indstria alimentcia brasileira

A globalizao impele que a indstria alimentcia brasileira expanda o seu horizonte, uma vez que a competio tende a se acirrar no mercado interno, tanto pelo desenvolvimento e profissionalizao das empresas aqui estabelecidas, como pelo avano das estrangeiras sobre este atrativo mercado. Tal desafio pode ser transposto com a realizao de consrcios, associaes de empresas e parcerias, nacionais e estrangeiras, devendo haver regularidade e adaptaes necessrias para que os produtos ofertados obtenham sucesso comercial.

A segurana alimentar coloca o Brasil em uma posio confortvel, j que alimentos transgnicos ainda so proibidos e doenas animais tem estado sob controle.

No obstante o significativo avano observado na indstria alimentcia brasileira, o mercado brasileiro possui grande potencial para o crescimento da indstria alimentcia. Entre 1994-98, a indstria da alimentao cresceu 24%, enquanto que no perodo 1999-2001 aumentou 8,7%, bem superior ao crescimento da economia 4,4% e 2,8%, respectivamente (ABIA, 2002).

Alm do crescimento vegetativo da populao, que atua de forma automtica no sentido de aumentar a demanda por produtos alimentcios, outro fator importante diz respeito ao crescimento do consumo provocado pela elevao da renda. No entanto, a queda sistemtica da disponibilidade de terras agricultveis, como pode ser observado no Grfico 3, impe a necessidade de investimentos em tecnologia e treinamento de mo-de-obra, a fim de otimizar a produo (ABIA, 2002).

Grfico 3 rea agricultvel per capta no planeta.

FONTE: ABIA (2002), adaptado pelos autores.

Ademais, estimativas da ABIA mostram que a indstria de alimentao investe 3% do faturamento do setor, correspondendo a US$ 1,430 bilho, do qual US$ 477 milhes (1% do total) destinam-se a investimentos em marketing, US$ 715 milhes (1,5% do total) a investimentos em novos produtos e US$ 238 milhes a investimentos em novos equipamentos. Todavia, o alto custo do dinheiro e a elevada carga tributria apresentam-se como entraves para o aumento do investimento no setor (ABIA, 2002).

8. Referncias Bibliogrficas

AVRICHIR, Ilan, CALDAS, Miguel Pinto. Discusso da validade da teoria da competitividade

nacional de Porter a partir do caso Embraer. ENANPAD, XXV, Campinas, 2001.

BARROS, J. R. M de, GOLDENSTEIN, L. Avaliao do processo de reestruturao industrial brasileiro. Revista de Economia Poltica, So Paulo, v. 17, n.2, abr./jun. 1997.

BELIK, Walter. O novo panorama competitivo da indstria de alimentos no Brasil. In: MELLO,

Cristina H. P. de (Org.). Reestruturao industrial. So Paulo: Educ, 1998.

FUSES e aquisies: transaes realizadas no Brasil 1992-2000. Documento interno. KPMG,

2000.

Indstria da alimentao: ficha tcnica do setor. So Paulo: ABIA, 2002.

INFORME Setorial Agroindstria. Fuses e aquisies no setor de alimentos. Rio de Janeiro:

BNDES, abr. 1999.

Perspectivas para a indstria da alimentao no Brasil: panorama grfico-estatstico. So Paulo:

Abia, 2002.

PRADO Jr., Caio. Formao do Brasil contemporneo. So Paulo: Martins Fontes, 1969.

REVISTA EXAME. Maiores e Melhores. So Paulo: Abril, jun. 1999. Edio Especial.

RIBEIRO, Hugo Pinto. A competitividade da indstria automobilstica brasileira. ENANPAD, XXIV, Florianpolis, 2000.

SATO, Geni Satico. Perfil da indstria de alimentos no Brasil: 1990-95. Revista de

Administrao de Empresas, So Paulo, v. 37, n. 3, p. 56-67, jul./set. 1997.

FONTE: ABIA (2002), adaptado pelos autores.

_1105013912.doc

Tabela 1 - Faturamento Lquido da Indstria de alimentao (R$ bilhes)

Ano

Bebidas

Alimentos

Total

1997

11,30

67,40

78,70

1998

11,80

74,00

85,80

1999

12,80

79,53

92,33

2000

13,80

86,43

100,23

2001

15,20

96,83

112,03

2002

n.d.

n.d.

126,59

FONTE: ABIA (2002), adaptado pelos autores. Elaborao dos autores.

_1105014120.doc

Tabela 2 - Representatividade da Indstria de Alimentao

Ano

Part.no PIB

Participaona indstria detransformao.

1997

9,00

18,00

1998

9,40

20,10

1999

9,60

19,40

2000

9,20

18,00

2001

9,50

n.d.

2002

9,70

n.d.

FONTE: ABIA (2002), adaptado pelos autores.

_1104063429.doc