evangelico martinho lutero consolo no sofrimento

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    Consolo no SofrimentoConsolo no Sofrimento

    (Um sermo sobre a preparao para a morte(Um sermo sobre a preparao para a mortee um sermo sobre a contemplao do santoe um sermo sobre a contemplao do santo

    sofrimento de Cristo)sofrimento de Cristo)

    Martinho LuteroMartinho Lutero

    CCOLEOOLEO LLUTEROUTEROPARAPARA HHOJEOJE

    Editora Sinodal/Editora ConcrdiaEditora Sinodal/Editora ConcrdiaAno 2000Ano 2000

    Adaptao do texto: Rui J. Bender

    Digitalizado e Revisado por:Digitalizado e Revisado por:PerolaGospelPerolaGospel

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    Nossos e-books so disponibilizados gratuitamente, com anica finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles

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    O texto "Consolo no sofrimento" uma verso atualizada dos

    originais "Um Sermosobre a Preparao para a Morte" e "Um

    Sermo sobre a Contemplao do Santo Sofrimento de Cristo",

    que se encontram em "Obras Selecionadas de Martinho Lutero",

    volume 1, Editora Sinodal, So Leopoldo/RS, Concrdia

    Editora, Porto Alegre/RS, 1987.

    A Comisso Interluterana de Literatura (CIL) cedeu gentilmente

    a permisso para a publicao deste texto..

    NDICENDICE

    Apresentao ..........................................................4Um sermo sobre a preparao para a morte ........8Um sermo sobre a contemplao do santosofrimento de Cristo ..............................................37Minibiografia .........................................................52Contracapa ............................................................55

    http://semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htmhttp://semeadoresdapalavra.top-forum.net/portal.htm
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    AAPRESENTAOPRESENTAO

    Martim Lutero foi pastor, e um pastor busca no Evangelho

    resposta para questes que afligem o ser humano: morte, dor e

    sofrimento. Foram muitas as oportunidades nas quais, ao longo

    de toda a sua vida, teve que aconselhar pessoas que se debatiam

    com o medo da morte, com a dor e o sofrimento. Aqui soapresentados dois exemplos: Um sermo sobre a preparao

    para a morte e Um sermo sobre a contemplao do santo

    sofrimento de Cristo.

    No primeiro dos sermes, Lutero conversa com uma pessoa,

    cuja principal preocupao a morte. Seu mundo, alis, estava

    impregnado pela realidade da morte. Muitos artistas pintaram,

    ao longo da Idade Mdia, cenas nas quais o "ltimo inimigo" do

    ser humano vem para ceifar-lhe a vida. A prpria realidade da

    morte estava muito presente. Seguidas vezes, irrompia a peste;

    depois, os exrcitos turcos representavam uma constante ameaa.

    Por todas as partes, literalmente, via-se a presena da morte.

    Noshinos, dizia-se que em meio vida estamos cercados pela

    morte. Indo de encontro s preocupaes dos crentes, muitos

    telogos escreveram livros nos quais se fala da ars moriendi, da

    arte de morrer. Em 1519, um conselheiro do prncipe-eleitor da

    Saxnia de nome Marcos Schart tambm se dirigiu a Lutero,

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    pedindo-lhe orientao sobre como nos devemos preparar para

    a morte.

    Lutero procurou transmitir consolo a partir da cruz de Jesus

    Cristo. Neste sentido, afastou-se de uma tendncia da poca que

    era a de descrever s pessoas a morte com suas mais cruis

    faces. De maneira muito sbria, ele aponta para Jesus Cristo,

    aquele que na cruz venceu pecado, inferno e morte. Quem

    conhece Jesus Cristo em sua vida e com ele vive pode com ele

    viver tambm na morte. Durante toda a vida, temos sinais

    visveis da presena de Cristo. Nestes sinais visveis est

    documentada a sua presena: trata-se dos sacramentos. Como

    Lutero, em 1519, ainda no rompera com a doutrina

    sacramental da Idade Mdia, menciona o Batismo, a Eucaristia,

    a Confisso e Absolvio dos pecados e a Extrema-uno.

    Atravs do Batismo temos parte em Cristo, na Santa Ceia

    recebemos a Cristo, atravs da Confisso e da Absolvio

    experimentamos perdo e reconciliao, na Extrema-uno

    somos fortalecidos. Os sacramentos so evidncias de que com

    sua vida, sua obedincia e seu amor Jesus assumiu sobre si

    morte, pecado e inferno. Nos sacramentos, aprendemos a

    confiar na promessa de Deus. Quando os recebemos, no nos

    devemos deixar dominar pela questo relativa a nossa

    dignidade, mas pela palavra e pelo sinal que nos oferecem. A f

    nos sacramentos que torna sua recepo digna e seu

    recebimento adequado. Neles experimentamos a comunho com

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    todos os santos e anjos. Ela nos fortalece. Na hora derradeira,

    dependemos da f na promessa e no de nossas foras. Notamos

    nas palavras e na inteno de Lutero que ele soube pensar toda

    a problemtica da morte a partir da justificao. Quem

    experimenta atravs dos sacramentos que aceito por Deus

    assim como , este libertado de seus medos e conflitos e

    aferra-se a Cristo. Isso o que importa, tudo o mais no

    importa, quando a morte se coloca diante de ns. A certeza da

    justificao no s nos deixa viver, mas tambm morrerem

    Cristo.

    No Sermo sobre a contemplao do santo sofrimento de

    Cristo,Lutero exercita o que poderamos denominar de piedade

    luterana. Esta se centra no sofrimento (paixo), morte e

    ressurreio de Jesus. Conseguimos entender sua novidade

    quando lembramos que a contemplao foi para muitas ordens

    religiosas da Idade Mdia uma fonte inspirada da f, tornando-

    se, afinal, a mais popular das devoes crists. Em poca de

    muito sofrimento, cristos contemplavam o sofrimento de Cristo

    e identificavam seus sofrimentos com os do Salvador.

    Contemplando os sofrimentos de Cristo, eram superados os

    prprios, e o cristo chegava a se tornar imitador de Cristo em

    seus sofrimentos.

    Na poca da Paixo de 1519, Lutero pde posicionar-se

    contra a piedade e encenaes da Paixo muito superficiais,

    afirmando que a meditao da Paixo deve levaro

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    reconhecimento e confisso do pecado daquele que medita.

    Ele deve reconhecer que co-responsvel pelo sofrimento de

    Cristo. Tal conhecimento, porm, graa que nos concedida

    por Deus. Lutero, porm, no pra no reconhecimento e na

    confisso do pecado. Num segundo momento, quem contempla

    deve lanar, em f, sobre Cristo todo o pecado descoberto, pois

    foi Ele e no o ser humano quem o venceu na Pscoa. A certeza,

    porm, de que fomos libertados de todos os nossos pecados nos

    dada por Deus. Libertos de nossos pecados, podemos viver

    seguindo o exemplo do Cristo sofredor. Aqui, novo acento do

    Evangelho da graa e do amor de Deus permitiu que uma velha

    prtica fosse reinterpretada e significasse consolo evanglico.

    Em Cristo podemos ser libertados da fixao em nosso

    sofrimento para viver a partir do sofrimento de Cristo.

    Martin N. Dreher

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    UUMMSERMOSERMOSOBRESOBREAAPREPARAOPREPARAOPARAPARAAAMORTEMORTE

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    A morte uma despedida deste mundo e de todas as suas

    ocupaes. Por isso necessrio que o ser humano organize

    claramente seus bens temporais: a forma como estes devem

    ficar ou como ele quer p-los em ordem. Ele deve fazer isso

    para que, aps sua morte, no haja motivo para briga,

    desentendimento ou alguma outra confuso entre seus parentes.

    E uma despedida corporal ou exterior deste mundo. O ser

    humano abandona e se despede de seus bens.

    22

    Em segundo lugar, tambm precisamos despedir-nos

    espiritualmente. Quer dizer: somente por causa de Deus

    devemos perdoar com amor todas as pessoas, por mais que nos

    tenham ofendido. Por outro lado, somente por causa de Deus

    tambm precisamos querer o perdo de todas as pessoas. Sem

    dvida, magoamos muitas delas, pelo menos com algum mau

    exemplo ou com menos boas obras do que devamos a elas,

    segundo o mandamento do amor fraternal cristo. Temos que

    fazer isso para que a alma no se agarre a nada na terra.

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    Quando nos despedimos de todos na terra, ento temos que

    nos voltar a Deus somente. E para l que se dirige e para l quenos leva o caminho da morte. Ali comea a porta estreita, o

    caminho apertado para a vida (cf. Mateus 7.14). Cada um deve

    aventurar-se com boa vontade por esse caminho. Pois este

    certamente muito estreito, mas no longo. Aqui acontece o

    mesmo que ocorre no nascimento de uma criana. Esta nasce,com perigo e medos, da pequena moradia no ventre de sua me

    para dentro deste grande cu e desta grande terra. Isto , ela

    vem a este mundo. Da mesma forma, o ser humano sai desta

    vida pela porta estreita da morte. O cu e o mundo em que

    vivemos agora so considerados grandes e amplos. Mas tudo muito mais apertado e menor, comparado ao cu que nos

    espera, do que o ventre materno comparado a este cu. Por

    isso a morte dos queridos santos chamada de novo

    nascimento. Tambm por isso o dia dedicado a eles chamado

    de natale em latim. Significa o dia de seu nascimento. Noentanto, o aperto da passagem para a morte faz esta vida

    parecer ampla e aquela outra, estreita. Precisamos acreditar

    nisso e aprender do nascimento corporal de uma criana. Cristo

    diz: "Uma mulher, quando est para dar luz, sente medo. Mas

    depois de dar luz, j no se lembra do medo, porque, atravs

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    dela, um ser humano nasceu ao mundo" (Joo 16.21). Vale o

    mesmo para a morte: temos que nos libertar do medo e saber

    que depois vai haver muito espao e alegria.

    44

    Os preparativos para essa viagem consistem, em primeiro

    lugar, em fazer uma confisso sincera (especialmente dos

    pecados maiores e daqueles que, no momento, conseguimoslembrar com o mximo esforo). Consistem em providenciar

    os santos sacramentos cristos do santo e verdadeiro Corpo de

    Cristo e da Extrema-uno. Os arranjos tambm consistem em

    querer estes sacramentos com devoo e receb-los com muita

    confiana, medida do possvel. Onde isso no possvel, oanseio por esses sacramentos deve, mesmo assim, ser

    consolador. No devemos nos apavorar demais se no

    pudermos receb-los. Cristo diz: "Todas as coisas so possveis

    a quem cr" (Marcos 9.23). Os sacramentos no so nada mais

    do que sinais que servem f e estimulam a crer, como aindaveremos. Sem essa f, eles no servem para nada.

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    Em todo caso, temos que valorizar com toda a seriedade e

    esforo os santos sacramentos e honr-los, confiar neles livre e

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    alegremente. Devemos coloc-los na balana de tal modo que,

    comparados ao pecado, morte e ao inferno, eles tenham

    muito mais peso. Tambm precisamos preocupar-nos muitomais com os sacramentos e suas virtudes do que com os

    pecados. Mas devemos saber como prestar a devida honra aos

    sacramentos e quais so as suas virtudes. Honr-los significa

    crer que verdadeiro e que me acontecer aquilo que os

    sacramentos representam e tudo o que Deus fala e mostraneles. Portanto, devemos dizer juntamente com Maria, a me

    de Deus, com uma f firme: "Que me suceda conforme tuas

    palavras e teus sinais" (Lucas 1.38). O prprio Deus fala neles

    e coloca sinais por intermdio do sacerdote. Por isso no se

    poderia desonrar Deus mais em sua palavra e obra do queduvidando se realmente verdade. Tambm no se poderia

    prestar a Deus maior honra do que acreditar que verdade e

    confiar nisso espontaneamente.

    66Para reconhecer as virtudes dos sacramentos precisamos

    conhecer inicialmente os defeitos que so combatidos por elas e

    contra os quais aquelas virtudes nos foram dadas. So trs: a

    primeira a imagem horrvel da morte; a segunda, a imagem

    pavorosa e multifacetada do pecado; a terceira, a imagem

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    insuportvel e inevitvel do inferno e da condenao eterna.

    Ora, cada uma dessas trs imagens cresce e fica grande e forte

    por causa daquilo que lhe acrescentado. A morte fica enormee horrvel, porque a natureza medrosa e desanimada grava essa

    imagem fundo demais e a mantm exageradamente diante dos

    olhos. O diabo acrescenta a sua parte a isso, para que o ser

    humano se concentre profundamente na aparncia e imagem

    terrvel da morte. Assim este fica preocupado, vulnervel emedroso. Ento o diabo certamente vai apresentar-lhe todas as

    mortes terrveis, inesperadas e ms que uma pessoa j viu,

    ouviu ou sobre as quais j leu. Alm disso, ele tambm incluir

    a ira de Deus, como ela atormentou e arruinou os pecados no

    passado. Com isso o diabo quer induzir a natureza medrosa aotemor da morte, ao amor pela vida e preocupao com ela.

    Dessa forma, o ser humano, cheio de tais pensamentos, vai

    esquecer Deus, fugir da morte e odi-la e, no final, ser

    desobediente a Deus. Quanto mais profundamente se encara e

    reconhece a morte, tanto mais difcil e perigoso o ato demorrer. Em vida, deveramos ocupar-nos com a idia da morte

    e defrontar-nos com ela enquanto ainda est longe e no nos

    angustia. perigoso e de nada adianta ocupar-nos com ela na

    hora de morrer. Ento a morte, por si s, j forte demais.

    Devemos afastar sua imagem de nossa mente e negar-nos a v-

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    la. Portanto, a morte tem seu poder e sua fora na fraqueza de

    nossa natureza. Tambm porque ela encarada de forma

    exagerada e numa poca inoportuna.

    77

    Igualmente o pecado cresce e fica grande porque o encaramos

    em demasia e pensamos nele em excesso. Contribui para isso a

    fraqueza de nossa conscincia, que se envergonha diante deDeus e se acusa horrivelmente. A o diabo encontrou a arapuca

    que procurava: ele coloca em apuros; torna os pecados to

    numerosos e grandes; pe diante de nossos olhos todos aqueles

    que pecaram e os que foram condenados com bem menos

    pecados. Assim, mais uma vez, o ser humano vai desanimar ouno querer morrer. Dessa forma, vai esquecer Deus e continuar

    desobediente at a morte. Isso acontece principalmente porque

    o ser humano acredita que, naquele momento, deve concentrar-

    se no pecado. Ele cr que certo e til ocupar-se com isso.

    Ento ele descobre que no est preparado e no tem jeito,assim que todas as suas boas obras se transformaram em

    pecados. Isso tem forosamente como conseqncia um morrer

    desgostoso, desobedincia vontade de Deus e condenao

    eterna. No h motivo nem tempo para examinar o pecado

    naquela hora. Isso deve ser feito durante a vida. Assim, o

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    esprito maligno muda o sentido de tudo. Em vida deveramos

    ter sempre diante dos nossos olhos a imagem da morte, do

    pecado e do inferno (conforme diz o Salmo 51.3: "Meus pecados esto sempre diante dos meus olhos"). O esprito

    maligno fecha os nossos olhos e esconde essas imagens de ns.

    Na hora da morte, quando deveramos ter diante de nossos

    olhos apenas a vida, a graa e a salvao, ele abre os nossos

    olhos. Assusta-nos com as imagens vindas numa pocainoportuna, para que no vejamos as imagens corretas.

    88

    Tambm o inferno fica grande e cresce quando nos

    concentramos demais e refletimos constantemente sobre elefora da poca adequada. Colabora muito para isso o fato de no

    se conhecer o julgamento de Deus. O esprito maligno estimula

    a alma a sobrecarregar-se com uma curiosidade desnecessria e

    intil. Mais ainda: com a forma mais perigosa de explorar o

    mistrio do plano de Deus para saber se a alma predestinadaou no para a salvao. Aqui o diabo exerce sua ltima, maior

    e mais astuciosa arte e habilidade. Pois com isso leva o ser

    humano (se este no se prevenir) a colocar-se acima de Deus,

    para que procure sinais da vontade divina e fique impaciente

    porque no fica sabendo se predestinado. Isso faz o ser

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    humano suspeitar de seu Deus, a ponto de quase desejar um

    outro deus. Em suma, aqui o diabo planeja apagar o amor a

    Deus com uma tempestade e despertar o dio contra Deus.Quanto mais o ser humano segue o diabo e permite tais

    pensamentos, tanto mais perigosa a sua posio. Por fim, ele

    no consegue mais resistir. Cai no dio e na blasfmia contra

    Deus.

    Se quero saber se sou predestinado, isso significa quequero saber tudo o que Deus sabe e igualar-me a ele. Assim

    Deus no sabe nada mais do que eu e no Deus. No deve ele

    estar acima de mim no saber? Ento o diabo nos mostra

    quantos pagos, judeus e cristos se perdem. Com tais

    pensamentos perigosos e inteis estes chegam a fazer com queo ser humano fique com m vontade, mesmo que no mais

    morresse de bom grado. Ser atormentado por pensamentos

    sobre a sua predestinao significa ser atormentado pelo

    inferno. H muitos lamentos sobre isso nos Salmos. Quem

    vitorioso nesse ponto venceu de uma s vez inferno, pecado emorte.

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    Devemos esforar-nos ao mximo para no convidar

    nenhuma dessas trs imagens a entrar em nossa casa. Tambm

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    no devemos desenhar a imagem do diabo por sobre a porta.

    Por si prprias, essas imagens vo irromper com violncia e

    querer apoderar-se totalmente do corao atravs de seuaspecto, seus debates e suas manifestaes. Onde isso

    acontece, o ser humano est perdido. Deus foi esquecido

    completamente, pois essas imagens no cabem neste tempo,

    exceto para serem combatidas e expulsas. Sim, onde elas

    estiverem sozinhas, sem deixar transparecer outras imagens,seu nico destino o inferno, entre os diabos.

    Quem quiser combater aquelas imagens com sucesso e

    expuls-las no pode contentar-se apenas em discutir e brigar

    com elas. Elas sero fortes demais para ele, e a coisa vai piorar.

    O jeito livrar-se delas por completo e no ter nada a ver comelas. Mas como acontece isso? Da seguinte forma: voc deve

    ver a morte na vida, o pecado na graa, o inferno no cu. No

    deve deixar-se afastar dessa maneira de encarar ou ver as

    coisas. Mesmo que todos os anjos, todas as criaturas, mesmo

    que aparentemente o prprio Deus apresente algo diferente avoc. No so eles que fazem isso. E o esprito maligno que

    provoca essa impresso. Como se deve agir ento?

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    1010

    Voc no deve encarar a morte em si mesma, nem em voc

    ou em sua natureza. Tampouco naqueles que foram mortospela ira de Deus e vencidos pela morte. Se voc fizer isso, est

    perdido e derrotado juntamente com eles. Ao contrrio, voc

    tem que desviar energicamente seus olhos, os pensamentos de

    seu corao e todos os seus sentidos dessa imagem. Deve

    encarar a morte com nimo e cuidado apenas naqueles quemorreram na graa de Deus e derrotaram a morte, sobretudo

    em Cristo, depois em todos os seus santos. Nessas imagens, a

    morte no vai parecer horrvel e aterradora para voc, mas sim

    desprezada e morta, sufocada na vida e derrotada. Pois Cristo

    no nada mais do que pura vida, e seus santos tambm.Quanto mais profunda e intensamente voc gravar essa

    imagem e a encarar, tanto mais diminuir a imagem da morte.

    Ela desaparecer por si mesma, sem luta e sem briga. Assim o

    seu corao encontrar paz e poder morrer tranqilamente

    com Cristo e em Cristo. Assim est escrito em Apocalipse14.13: "Bem-aventurados so os que morrem no Senhor

    Cristo". Nmeros 21.6ss aponta para isso: quando mordidos

    pelas cobras venenosas, os filhos de Israel no precisavam

    combat-las; apenas tinham que olhar para a serpente morta de

    bronze. Ento as cobras vivas caam por si mesmas e morriam.

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    Da mesma forma voc deve preocupar-se apenas com a morte

    de Cristo. Ento encontrar a vida. Mas se voc encarar a

    morte em outro lugar, ela o mata com grande agitao etormento. Por isso Cristo diz: "No mundo vocs tero

    inquietao. Em mim, porm, tero a paz" (Joo 16.33).

    1111

    De igual modo, voc no deve encarar o pecado dospecadores. No deve fazer isso em sua prpria conscincia

    nem naqueles que ficaram definitivamente em pecado e foram

    condenados. Caso contrrio, voc ficar para trs e ser

    derrotado. Voc deve desviar seus pensamentos disso e no

    encarar o pecado seno na imagem da graa. Voc deve gravaressa imagem com todas as foras e t-la diante dos olhos. A

    imagem da graa no outra coisa seno Cristo na cruz e todos

    os seus queridos santos.

    Como isso deve ser entendido? Cristo tira de voc o seu

    pecado na cruz, carrega-o por voc e o afoga - isto graa emisericrdia. Crer firmemente nisso, t-lo diante dos olhos e

    no duvidar disso - isto o que significa reparar na imagem da

    graa e grav-la. Da mesma forma, todos os santos tambm

    assumem em seu sofrimento e morte os seus pecados. Sofrem e

    trabalham por voc, como est escrito: "Que cada um carregue

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    a carga do outro; assim vocs cumprem o mandamento de

    Cristo" (Glatas 6.2). Igualmente ele mesmo diz em Mateus

    11.28: "Venham a mim todos vocs que esto sobrecarregadose se afadigam; eu quero ajud-los". Assim voc pode encarar o

    seu pecado com segurana, fora de sua conscincia. Ento

    pecados no so mais pecados. Esto derrotados e devorados

    em Cristo. Cristo assume a sua morte e a afoga, para que ela

    no faa mais mal a voc. Voc deve acreditar que ele faz issopor voc e ver a sua prpria morte nele, no em voc mesmo.

    Da mesma maneira ele tambm assume os seus pecados e os

    derrota para voc em sua justia, por pura graa. Se voc

    acredita nisso, eles no faro mais mal a voc. Assim Cristo, a

    imagem da vida e da graa, nosso consolo contra a imagemda morte e do pecado. Paulo confirma isso em 1 Corntios

    15.57: "Louvor e graas a Deus por nos ter dado, em Cristo,

    vitria sobre o pecado e a morte".

    1212Voc no deve observar o inferno e a eternidade das

    aflies, juntamente com a predestinao, em voc mesmo,

    nem nela prpria, tampouco naqueles que foram condenados.

    Tambm no deve preocupar-se com tantas pessoas em todo o

    mundo que no foram predestinadas [para a salvao]. Se voc

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    no tomar cuidado, essa imagem logo o derrubar e atirar ao

    cho. Por isso voc precisa apelar para a fora, manter os olhos

    bem fechados diante dessa viso. Ela completamente intil,mesmo que voc ficasse ocupado com isso durante mil anos.

    De repente, ela o arruina. Voc deve deixar que Deus seja

    Deus, que ele saiba mais sobre voc do que voc mesmo. Olhe

    por isso a imagem celestial: Cristo. Por sua causa ele desceu ao

    inferno e foi abandonado por Deus, como algum condenadoeternamente, quando disse na cruz: "Eli, Eli, lama asabthani?

    Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus

    27.46) Nesta imagem, o seu inferno est derrotado, e sua

    predestinao incerta passa a ser certa. Se voc se preocupa

    apenas com isso e acredita que isso aconteceu por sua causa,certamente voc salvo nessa mesma f. Por isso no deixe

    que essa imagem seja tirada dos seus olhos e procure-se em

    Cristo somente, no em voc prprio. Ento voc se encontrar

    eternamente nele. Portanto, quando voc olha para Cristo e

    todos os seus santos e lhe agrada a graa de Deus e vocpermanece firme nesse contentamento, tambm voc j est

    escolhido. Gnesis 12.3 diz: "Todos os que te abenoam sero

    abenoados". Mas se voc no se apegar apenas a isso e recair

    em voc mesmo, vai nascer em voc uma m vontade para com

    Deus e seus santos. Voc no achar nada de bom em voc

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    mesmo. Tome cuidado com isso. nessa direo que o esprito

    maligno vai lev-lo com muitas artimanhas.

    1313

    Juzes 7.16ss aponta para essas trs imagens ou formas de

    luta: Gideo atacou os midianitas noite com 300 homens em

    trs frentes. Mas ele no fez mais do que mandar tocar

    trombetas e quebrar vasos de barro com uma tocha dentro.Assim os inimigos fugiram e estrangularam a si prprios. Da

    mesma forma, morte, pecado e inferno fogem com todas as

    suas foras se cultivamos as imagens luminosas de Cristo e de

    seus santos noite - isto , na f, que no v nem quer ver as

    imagens malignas. Tambm fogem se nos animamos efortalecemos com a palavra de Deus como que com trombetas.

    Neste sentido, Isaas 9.4 mostra, de forma muito bonita, a

    mesma comparao contra as mesmas trs imagens. Diz a

    respeito de Cristo: "Tu venceste o peso de seu fardo, a vara de

    suas costas, o cetro de seu opressor, como nos tempos dosmidianitas vencidos por Gideo". como se dissesse: "O

    pecado do seu povo (que um grande peso em sua

    conscincia) e a morte (que uma vara ou um castigo que fere

    suas costas) e o inferno (que um cetro e poder do opressor,

    com que se exige pagamento eterno pelo pecado) - tudo isso

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    22/55

    voc venceu, como aconteceu nos tempos de Midi, isto , pela

    f, pela qual Gideo afugentou os inimigos sem um nico

    golpe de espada". Quando ele fez isso? Na cruz. Ento Cristopreparou a si mesmo para ns como uma tripla imagem a ser

    apresentada nossa f contra aquelas trs imagens. O esprito

    maligno e nossa natureza nos atormentam com aquelas

    imagens para arrancar-nos da f. Cristo a imagem viva e

    imortal contra a morte que ele sofreu. Mas ele a venceu em suavida atravs de sua ressurreio dos mortos. Ele a imagem da

    graa de Deus contra o pecado. Cristo assumiu o pecado e o

    venceu atravs de sua insupervel obedincia. Ele a imagem

    celestial. Abandonado por Deus como um condenado, ele

    venceu o inferno atravs de seu amor todo-poderoso. Assimtestemunhou que o Filho mais querido e que tornou isso

    propriedade de todos ns, se assim cremos.

    1414

    Tudo isso ainda no o bastante. Cristo no apenas venceuo pecado, a morte e o inferno e nos chamou para acreditar

    nisso. Para nosso maior consolo, ele prprio sofreu e venceu a

    angstia que essas imagens provocam em ns. Ele foi

    atormentado pela imagem da morte, do pecado e do inferno

    tanto quanto ns. Foi colocado diante da imagem da morte

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    23/55

    quando os judeus disseram: "Que ele desa agora da cruz!

    Curou a outros; que agora se ajude a si mesmo" (Mateus

    27.40,42; Marcos 15.30ss). como se dissessem: "Veja, avoc tem a morte diante de seus olhos. Voc precisa morrer;

    contra isso nada pode ser feito". Dessa forma, o diabo coloca

    uma pessoa moribunda diante da imagem da morte. Ele abala a

    natureza fraca com a imagem aterradora.

    Os judeus tambm confrontaram Jesus com a imagem dopecado: "Ele curou a outros. Se Filho de Deus, ento desa",

    etc. (Mateus 27.40.42) como se dissessem: "Sua obras foram

    falsas e no passaram de mentira. Ele no filho de Deus, mas

    do diabo, a quem pertence de corpo e alma. Nunca fez nada de

    bom, cometeu apenas maldade".A imagem do inferno foi lanada contra Jesus quando os

    judeus disseram: "Ele confia em Deus; vejamos se Deus o

    redime; ele diz ser Filho de Deus" (Mateus 27.43). como se

    dissessem: "O lugar dele o inferno. Deus no o predestinou;

    ele est condenado para sempre. No adianta confiar nemesperar; tudo em vo".

    Os judeus colocaram Cristo diante dessas trs imagens de

    forma desordenada. Tambm o ser humano atacado de

    maneira desordenada pelas mesmas imagens de uma s vez,

    para que seja confundido e caia logo em desespero. assim

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    24/55

    como o Senhor descreve a destruio de Jerusalm em Lucas

    19.43s: os inimigos cercam a cidade com uma trincheira, de

    modo que seus moradores no podem sair - isto a morte. Osinimigos amedrontam e perseguem os moradores em todos os

    lugares, de modo que no podem ficar em lugar algum - isto

    so os pecados. Em terceiro lugar, os inimigos arrasam

    Jerusalm e no deixam pedra sobre pedra - isto so o inferno e

    o desespero.Como vemos, Cristo fica em silncio diante de todas essas

    palavras e imagens horrveis. No luta contra elas, faz de conta

    que no as ouve ou v. No responde a nada (se tivesse

    respondido, apenas teria dado motivo para que berrassem e se

    manifestassem com fora e dio maiores ainda). Cristo spresta ateno vontade mais amada de seu Pai. Ele presta

    tanta ateno, que esquece sua morte, seu pecado, seu inferno,

    que haviam sido lanados contra ele. Ele intercede por eles (cf.

    Lucas 23.34), pela morte, pelo pecado e pelo inferno deles.

    Assim tambm ns devemos deixar que as mesmas imagensnos ataquem e nos abandonem, como queiram ou possam.

    Precisamos pensar apenas em nos apegar vontade de Deus.

    Esta quer que nos agarremos a Cristo e acreditemos

    firmemente que nossa morte, pecado e inferno foram vencidos

    nele em nosso favor. No podem fazer nenhum mal a ns.

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    25/55

    Somente a imagem de Cristo est em ns, e ns conversamos e

    negociamos apenas com ele.

    1515

    Voltamos agora aos santos sacramentos e suas virtudes.

    Temos que aprender para que servem e us-los. A pessoa a

    quem so concedidos a graa e o tempo de se confessar, ser

    absolvida, receber a Eucaristia e a Extrema-uno temnumerosos motivos para amar Deus, louv-lo e agradecer-lhe.

    Tambm para morrer com alegria, desde que confie e acredite

    de forma consoladora nos sacramentos. Pois nos sacramentos

    seu Deus, o prprio Cristo, age, fala e atua com voc atravs do

    sacerdote. Ento no acontecem obras ou palavras humanas. Oprprio Deus promete a voc tudo o que aqui foi dito agora

    sobre Cristo. Ele quer que os sacramentos sejam um sinal e

    uma prova disso: a vida de Cristo assumiu e venceu a sua

    morte; a obedincia de Cristo derrotou o seu pecado; e o amor

    de Cristo venceu o seu inferno. Alm disso, voc incorporadoe unido pelos mesmos sacramentos a todos os santos e entra na

    verdadeira comunho dos santos. Assim eles morrem com voc

    em Cristo, carregam o pecado e vencem o inferno com voc.

    Conclui-se disso que os sacramentos - isto , palavras externas

    de Deus, faladas atravs de um sacerdote - so um consolo

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    muito grande e um sinal visvel do propsito divino. Devemos

    apegar-nos a eles com uma f firme, como se fossem um bom

    cajado, igual quele com que o patriarca Jac atravessou oJordo (cf. Gnesis 32.10). Ou como se fossem uma lanterna

    pela qual devemos nos orientar e para a qual devemos olhar

    com ateno ao trilhar o caminho sombrio da morte, do pecado

    e do inferno. O profeta diz: "Tua palavra, Senhor, uma luz

    para os meus ps" (Salmo 119.105). E So Pedro: "Temos umapalavra firme de Deus, e vocs fazem bem em atend-la" (1

    Pedro 1.19). No h outra coisa que possa ajudar na aflio da

    morte. Com esse sinal so salvos todos aqueles que alcanam a

    salvao. Ele aponta para Cristo e sua imagem, para que voc

    possa dizer contra a imagem da morte, do pecado e do inferno:"Deus me prometeu e deu um sinal certo de sua graa nos

    sacramentos: a vida de Cristo venceu a minha morte em sua

    morte; sua obedincia aniquilou meu pecado em seu

    sofrimento, seu amor destruiu meu inferno em seu desamparo.

    O sinal, a promessa de minha salvao, no mentir nem meenganar. Deus o disse e Deus no pode mentir, nem com

    palavras, nem com obras". Quem se vangloria e se apia nos

    sacramentos ser eleito e predestinado sem preocupao ou

    esforo.

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    1616

    muito importante que se valorize, se honre e se confie nos

    santos sacramentos. Neles acontecem apenas palavras,promessas e sinais de Deus. Isto quer dizer que no se deve

    duvidar dos sacramentos nem das coisas das quais eles so

    sinais exatos. Se h dvida sobre isso, est tudo perdido. Assim

    como cremos, tal qual vai nos acontecer, diz Cristo (cf. Mateus

    21.21). De que adiantaria voc imaginar e crer que a morte, opecado e o inferno dos outros foram vencidos em Cristo?

    Afinal, voc no acredita que sua prpria morte, seu prprio

    pecado e seu prprio inferno foram vencidos em seu favor e

    que assim voc est salvo. Neste caso, o sacramento seria

    totalmente intil, visto que voc no acredita naquilo que lhe revelado, dado e prometido ali. Mas isso o pecado mais cruel

    que pode haver. Por meio dele, o prprio Deus tido por

    mentiroso em sua palavra, seu sinal e sua obra por algum que

    fala, mostra e promete algo que no tem em mente nem quer

    cumprir. Por isso no se deve brincar com os sacramentos.Precisa haver a f, que confia neles e com alegria se arrisca,

    baseada naqueles sinais e promessas de Deus. Que tipo de

    salvador ou Deus seria este que no pudesse ou no quisesse

    salvar-nos de morte, pecado e inferno? Aquilo que o verdadeiro

    Deus promete e realiza precisa ser grandioso. Ento vem o

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    diabo e d a entender de modo sutil: "O que seria de mim se eu

    tivesse recebido os sacramentos de forma indigna e me desfeito

    de tal graa por minha indignidade?" Neste caso, faa voc osinal da cruz. No se deixe confundir pela dignidade ou

    indignidade. Procure apenas acreditar que so sinais corretos,

    palavras verdadeiras de Deus. Ento voc e permanece digno.

    A f torna a pessoa digna; a dvida a torna indigna. Por isso o

    esprito maligno quer engan-lo com outra dignidade eindignidade, para provocar uma dvida em voc. Assim ele

    pode anular os sacramentos juntamente com seus efeitos e

    transformar Deus num mentiroso em suas palavras.

    Deus no d nada a voc por causa de sua dignidade nem

    edifica sua prpria palavra e seus sacramentos em cima dessadignidade. Por pura graa, ele edifica voc, pessoa indigna,

    sobre sua palavra e seu sinal. Voc deve agarrar-se a isso e

    dizer: "Aquele que me d e me deu seu sinal e sua palavra - de

    que a vida, graa e cu de Cristo tornaram inofensivos minha

    morte, meu pecado e inferno por mim - Deus e cumprir isso.Se o sacerdote me absolveu, ento confio nisso como na

    palavra do prprio Deus. Como so palavras de Deus, h de ser

    verdade. Nisso eu permaneo e nisso eu morro". Voc deve

    confiar no perdo dos pecados pelo sacerdote to firmemente

    como se Deus enviasse a voc um anjo ou um apstolo

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    indigno dele do que Deus seja tido como algum que falta com

    a verdade. Afaste-se, diabo, caso me disser algo diferente".

    Existem muitas pessoas que gostariam de ter certeza disso.Ou apreciariam receber um sinal do cu sobre sua situao

    junto a Deus. Gostariam de saber se esto predestinadas. Mas

    de que lhes adiantaria se recebessem tal sinal e mesmo assim

    no cressem? Se no h f, para que serviriam todos os sinais?

    De que adiantaram para os judeus os sinais de Cristo e dosapstolos? De que adiantam ainda hoje os admirveis sinais

    dos sacramentos e das palavras de Deus? Por que as pessoas

    no confiam nos sacramentos? So sinais corretos e foram

    institudos, testados e provados por todos os santos e

    comprovados como corretos por todas as pessoas que creramneles e alcanaram o que eles revelam. Assim deveramos

    aprender a reconhecer os sacramentos: o que so, para que

    servem, como devem ser usados. Descobrimos que no h nada

    maior sobre a terra que possa confortar to agradavelmente

    coraes aflitos e conscincias pesadas. Nos sacramentos, hpalavras de Deus, que servem para nos mostrar e prometer

    Cristo juntamente com todos os seus bens (que so ele prprio)

    contra morte, pecado e inferno. No h nada mais agradvel e

    desejvel do que ouvir que a morte, o pecado e o inferno foram

    destrudos. Isso acontece atravs de Cristo em ns, se usamos o

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    sacramento corretamente. O uso correto no outra coisa seno

    crer que assim; a forma como os sacramentos prometem e

    garantem atravs da palavra de Deus. Por isso preciso noapenas observar as trs imagens em Cristo e com elas expulsar

    e afastar as contra-imagens. Tambm necessrio ter um sinal

    certo que nos garanta que assim nos foi dado: so os

    sacramentos.

    1818

    No fim de sua vida, nenhum cristo deve duvidar de que no

    est sozinho quando morre. Deve ter a certeza de que, como

    mostra o sacramento, muitos olhos o observam. Primeiro, os

    olhos do prprio Deus e de Cristo, porque o cristo cr na sua palavra e se agarra a seu sacramento. Depois, os queridos

    anjos, os santos e todos os cristos. No h dvida de que,

    como mostra o Sacramento do Altar, todos vm, como um s

    corpo, socorrer seu membro (cf. 1 Corntios 12.26). Ajudam-no

    a vencer a morte, o pecado e o inferno e carregam todos juntocom ele. Ento se realiza com seriedade e poder a obra do amor

    e da comunho dos santos. O cristo tambm deve coloc-la

    diante dos olhos e no duvidar dela. Vai tirar coragem disso

    para morrer. Pois quem duvida disso mais uma vez no cr no

    respeitvel Sacramento do Corpo de Cristo. Neste so

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    mostrados, prometidos e garantidos comunho, ajuda, amor,

    consolo e apoio de todos os santos em todas as necessidades.

    Se voc acredita nos sinais e nas palavras de Deus, ele olha porvoc, como diz no Salmo 32.8: Firmabo [assim comea a

    traduo latina do v. 8]. "Sempre terei meus olhos sobre ti, para

    que no sucumbas." Assim como Deus olha por voc, tambm

    todos os anjos, todos os santos e todas as criaturas fazem isso.

    Se voc continuar na f, todos o sustentam em suas mos.Quando sua alma vai embora, eles esto presentes e a recebem.

    Voc no pode morrer. Isso testemunhado por Eliseu em 2

    Reis 6.16s, quando este diz a seu servo: "No temas, mais so

    os que esto conosco do que os que esto com eles". Embora os

    inimigos os tivessem cercado e no vissem mais ningum. MasDeus abriu os olhos do servo. Ento uma grande tropa de

    cavalos e carros de fogo estava ao seu redor. O mesmo

    certamente acontece com todo aquele que cr em Deus. Este

    o sentido das seguintes passagens: "O anjo do Senhor acampar-

    se- ao redor dos que temem a Deus e os redimir" (Salmo34.7); "Os que confiam em Deus sero inabalveis como o

    monte Sio. Ele ficar para sempre. Altos montes (isto so

    anjos) esto em seu redor, e Deus mesmo est em derredor de

    seu povo, desde agora e para sempre" (Salmo 125. ls); "Ele te

    confiou a seus anjos. Eles devem carregar-te com as suas mos

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    e guardar-te, para onde quer que fores, para no tropeares

    nalguma pedra. Deves passar sobre as cobras e os basiliscos e

    pisar nos lees e drages (isto significa que toda a fora eastcia do diabo no te afetaro). Pois confiou em mim. Quero

    redimi-lo; quero estar com ele em todas as suas tribulaes,

    livr-lo e honr-lo, saci-lo com eternidade e revelar-lhe minha

    graa eterna" (Salmo 91.11-16). Da mesma forma, o apstolo

    (cf. Hebreus 1.14) tambm diz que os anjos, que soincontveis, sempre esto a para servir. So enviados por

    causa daqueles que sero salvos. Tudo isso grandioso. Quem

    vai acreditar nisso? Por isso devemos saber que so obras de

    Deus. Elas so maiores do que algum possa imaginar. Mesmo

    assim, ele as cumpre num sinal to pequeno, nos sacramentos,para nos ensinar a grandeza da verdadeira f em Deus.

    1919

    No entanto, ningum deve ter a pretenso de fazer essas

    coisas com suas prprias foras. Devemos pedir a Deus, comhumildade, que ele crie e preserve em ns tal f e compreenso

    de seus santos sacramentos. Ento agiremos com temor e

    humildade e no atribuiremos tal obra a ns prprios, mas

    deixaremos a honra para Deus. Alm disso, a pessoa deve

    implorar a todos os santos e anjos. Especialmente a seu anjo

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    [da guarda], me de Deus, a todos os apstolos e queridos

    santos, em particular queles atravs dos quais Deus lhe

    dedicou uma considerao especial. Mas a pessoa deve orar detal forma que no duvide de que sua orao ser atendida. Ela

    tem dois motivos para isso: em primeiro lugar, acaba de ouvir

    da Escritura como Deus lhes deu ordens (cf. Salmo 91.l1s) e

    como o sacramento quer que devem amar e ajudar todas as

    pessoas que crem. isto que devemos apresentar-lhes e disso que devemos adverti-los. No porque eles no soubessem

    disso ou porque de outra forma no o fariam, mas para que a f

    e a confiana neles e atravs deles em Deus se torne mais forte

    e alegre para enfrentar a morte. O outro motivo que Deus

    determinou que, quando queremos orar, creiamos firmementeque aquilo que pedimos acontecer e que haja um verdadeiro

    "amm". Esse mandamento tambm deve ser apresentado a

    Deus, dizendo: "Deus meu, tu ordenaste que pecamos e

    creiamos que a petio ser atendida. por isto que te peo e

    confio que no me abandonars e me dars uma f verdadeira .Alm disso, durante toda a vida deve-se pedir a Deus e a

    seus santos uma f verdadeira para a ltima hora. Canta-se de

    forma muito bonita em Pentecostes: "Agora pedimos ao

    Esprito Santo sobretudo f verdadeira para quando partirmos

    deste lugar estrangeiro para o nosso lar", etc. Quando tiver

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    chegado a hora da morte, deve-se lembrar Deus dessa orao,

    alm de seu mandamento e sua promessa, sem duvidar de

    maneira alguma de que ela ser atendida. Deus mandou quepedssemos e confissemos na orao, concedendo ainda a

    graa de poder pedir. Por que ento duvidaramos de que Deus

    fez tudo isso porque ele quer atend-la e cumpri-la?

    2020O que mais deve o seu Deus fazer por voc, para que voc

    aceite a morte de boa vontade, no tenha medo dela e a vena?

    Ele mostra e concede a voc, em Cristo, a imagem da vida, da

    graa e da salvao. Ele faz isso para que voc no se

    amedronte diante da imagem da morte, do pecado e do inferno.Alm disso, Deus coloca sobre seu amado Filho a morte, o

    pecado e o inferno do ser humano. Derrota-os e torna-os

    inofensivos para voc. Mais ainda: Deus expe seu Filho ao

    tormento que morte, pecado e inferno causam a voc, ensina

    voc a perseverar em tal situao e torna esse tormentoinofensivo e, alm disso, suportvel. Ele d a voc um sinal

    correto de tudo isso, para que voc nunca duvide disso, a

    saber, os santos sacramentos. Deus manda seus anjos, todos os

    santos e todas as criaturas olharem com ele por voc, cuidarem

    de sua alma e a receberem. Ordena que voc deve pedir isso

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    dele e estar certo de que ser atendido. O que ele pode ou deve

    fazer alm disso? Portanto, voc nota que ele um Deus

    verdadeiro e realiza obras apropriadas, grandes e divinas comvoc. Por que ele no imporia a voc algo grande (como a

    morte)? Isso acrescenta um grande privilgio, ajuda e fora,

    para mostrar o que sua graa pode, como diz o Salmo 111.2:

    "As obras de Deus so grandes e escolhidas segundo toda a

    sua benevolncia".Por isso temos que nos esforar para agradecer com grande

    alegria sua vontade divina. Pois ele nos trata com graa e

    misericrdia de forma to maravilhosa, abundante e imensa

    contra a morte, o pecado e o inferno. Tambm no devemos ter

    tanto medo da morte, mas louvar e amar apenas a sua graa.Pois o amor e o louvor aliviam a morte em muito, como Deus

    diz atravs de Isaas: "Vou fazer disparar a tua boca com o meu

    louvor, para que no sucumbas" (Isaas 48.9). Que Deus nos

    ajude. Amm.

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

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    UUMMSERMOSERMOSOBRESOBREAACONTEMPLAOCONTEMPLAODODOSANTOSANTOSOFRIMENTOSOFRIMENTODEDE CCRISTORISTO

    11

    Algumas pessoas refletem sobre o sofrimento de Cristo,

    revoltando-se contra os judeus, cantando a cano do pobre

    Judas e criticando este pelo que fez. Elas no se restringem a

    isso da mesma forma como esto acostumadas a acusar outras

    pessoas e a condenar e manchar a imagem de seus adversrios.

    Certamente isto no significa refletir sobre o sofrimento de

    Cristo, mas sobre a maldade de Judas e dos judeus.

    22

    Alguns descreveram diversos frutos e vantagens

    provenientes da contemplao do sofrimento de Cristo. A

    respeito disso circula por a uma expresso enganosa de Santo

    Alberto (Alberto Magno, dominicano alemo, 1193/1200-

    1280): melhor refletir uma vez superficialmente sobre o

    sofrimento de Cristo do que jejuar um ano inteiro, orar oSaltrio diariamente, etc. H pessoas que vo cegamente atrs

    disso. Perdem, assim, o verdadeiro fruto do sofrimento de

    Cristo, porque buscam seu prprio interesse. Por isso ficam

    carregando consigo figurinhas e livrinhos, cartas impressas e

    cruzes. Algumas pessoas chegam a acreditar que, com isso,

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    38/55

    esto se protegendo contra enchentes, assaltos, incndios e

    todo tipo de perigos. Crem assim que o sofrimento de Cristo,

    contra seu prprio carter e natureza, deveria oferecer-lhesuma vida sem sofrimento.

    33

    Essas pessoas tm compaixo por Cristo. Choram por ele

    como se fosse um homem inocente. As mulheres que seguiramCristo desde Jerusalm fizeram isso. Elas foram advertidas por

    ele para que chorassem por si prprias e por seus filhos (cf.

    Lucas 23.27s). So dessa categoria aquelas pessoas que, em

    meio reflexo sobre a paixo, passam a fantasiar.

    Acrescentam muita coisa a respeito da despedida de Cristo emBetnia e das dores da virgem Maria, o que tambm no lhes

    adianta muito. Por isso a pregao da paixo prolonga-se por

    tantas horas. Sabe Deus se mais para dormir ou ficar

    acordado. Fazem parte desse bando tambm aqueles que

    aprenderam quo grande vantagem traria a sagrada missa. Emsua ingenuidade, julgam que suficiente ouvir a missa. Somos

    levados a essa atitude por afirmaes de vrios mestres. Eles

    querem que a missa seja agradvel a Deus "por causa daquilo

    que foi feito, no por causa daquele que o faz", por si prpria,

    tambm sem nosso mrito e dignidade, como se isso bastasse.

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    39/55

    Mas, na verdade, a missa no foi instituda por causa de sua

    prpria dignidade. Ela foi instituda para tornar dignos a ns, e

    principalmente para refletir sobre o sofrimento de Cristo.Quando isso no acontece, a missa transforma-se numa obra

    material e infrutfera, por melhor que ela seja. De que adianta

    para voc Deus ser Deus, se no for um Deus para voc? De

    que adianta comer e beber ser algo saudvel e benfico, se no

    for saudvel para voc? H o receio de que com muitas missasno se conseguir nada melhor, caso no se busque nelas seu

    verdadeiro fruto.

    44

    O sofrimento de Cristo refletido autenticamente por aquelas pessoas que o encaram de tal forma que se assustam

    sinceramente por causa dele. Ento sua conscincia logo

    desanima. O susto deve ser porque voc v a ira rigorosa e a

    dureza implacvel de Deus para com o pecado e os pecadores.

    Nem mesmo a seu nico Filho amado ele quis dar porresgatados os pecadores. S se o Filho fizesse uma penitncia

    por eles to sria quanto aquela da qual ele fala atravs de

    Isaas: "Eu o feri por causa do pecado do meu povo" (Isaas

    53.5). O que ser dos pecadores, se at o Filho amado ferido

    assim? S pode tratar-se de uma coisa grave, que no se pode

  • 8/6/2019 Evangelico Martinho Lutero Consolo No Sofrimento

    40/55

    dizer nem suportar, para que uma pessoa to grande e imensa

    se exponha mesma e sofra e morra por isso. Se voc pensar

    bem no fundo que quem sofre o prprio Filho de Deus, aeterna sabedoria do Pai, voc no deixar de ficar assustado.

    Quanto mais profunda for sua reflexo, tanto mais assustado

    voc ficar.

    55 necessrio que voc grave profundamente em seu corao

    e que no duvide de forma alguma de que quem tortura Cristo

    voc mesmo. Seus pecados certamente so responsveis pelo

    sofrimento de Cristo. Como um trovo, So Pedro atingiu e

    assustou os judeus ao dizer a todos eles: "Vocs ocrucificaram", etc. (Atos 2.37). Por isso, quando voc vir os

    pregos atravessarem as mos de Cristo, pode ter certeza de que

    so obra sua. Quando vir a sua coroa de espinhos, pode

    acreditar que so os seus maus pensamentos; e assim por

    diante.

    66

    Quando um espinho fere Cristo, seria justo que mais de cem

    mil espinhos ferissem voc. Mais ainda: eles deveriam espet-

    lo do mesmo jeito, e at pior, por toda a eternidade. Quando

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    um prego atravessa de forma torturante as mos ou os ps de

    Cristo, voc deveria sofrer eternamente com tais pregos e at

    piores. E o que tambm acontecer queles que fazem com queo sofrimento de Cristo tenha sido em vo para eles. Pois esse

    espelho srio, que Cristo, no mente nem brinca. Aquilo que

    ele anuncia ser cumprido totalmente.

    So Bernardo ficou to assustado com isso, que disse: "Eu

    julgava estar seguro, nada sabia da sentena eterna sobre mimpronunciada no cu, at que vi que o Filho unignito de Deus

    se compadece de mim, se apresenta e se submete mesma

    sentena por mim. Ai de mim, se a coisa to sria, no hora

    de brincar nem de estar seguro". Assim, Cristo ordenou s

    mulheres: "No chorem por mim; chorem antes por vocsmesmas e por seus filhos" (Lucas 23.28). Acrescentou a razo:

    "Porque, se em lenho verde fazem isto, que ser do lenho

    seco?" (Lucas 23.31). como se ele quisesse dizer: "Vejam no

    meu martrio o que vocs mereceriam e o que lhes acontecer".

    Neste caso , verdade que se bate num cachorrinho paraassustar o cachorro. Tambm o profeta disse: "Por causa dele

    lamentaro a si mesmos todos os povos da terra" (Apocalipse

    1.7). Ele no diz que lamentaro a Cristo, mas a si prprios por

    causa dele. Da mesma forma tambm se assustaram aquelas

    pessoas em Atos 2.37, quando perguntaram aos apstolos:

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    "Que faremos, irmos?" De igual modo canta a Igreja: "Eu o

    rememorarei com afinco e assim desmaiar a minha alma".

    88

    Aqui preciso exercitar-se muito bem. Todo o proveito do

    sofrimento de Cristo depende de a pessoa chegar ao

    conhecimento de si mesma. Depende de assustar-se consigo

    mesma e ficar abatida. Se a pessoa no chegar a isso, osofrimento de Cristo ainda no ter sido proveitoso para ela

    como deveria. Pois a obra prpria e natural do sofrimento de

    Cristo consiste em levar o ser humano a ser idntico a Cristo.

    Cristo atormentado fsica e psiquicamente de forma terrvel

    em nossos pecados. Assim tambm ns devemos seratormentados na conscincia pelos nossos pecados. No se

    trata aqui de proferir muitas palavras, mas de cultivar

    pensamentos profundos e levar muito a srio os pecados.

    Preste ateno na seguinte comparao: vamos imaginar que

    um bandido fosse julgado por ter estrangulado o filho de umprncipe ou rei e que voc estivesse completamente seguro,

    cantasse e brincasse como se fosse totalmente inocente, at

    que torturassem voc terrivelmente e provassem que voc teria

    levado o bandido a praticar o crime. Ento o mundo ficaria

    pequeno demais para voc, especialmente se a conscincia

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    tambm ainda o abandonasse. Pois bem: quando voc pensa

    no sofrimento de Cristo, deve ficar mais angustiado ainda. Os

    criminosos, os judeus, a quem Deus julgou e expulsou, foramos servidores do seu pecado. Na verdade, voc aquele que,

    atravs do pecado dos judeus, estrangulou e crucificou o Filho

    de Deus, conforme dissemos antes.

    99 Tem razo para ter medo aquele que se sente to duro e

    insensvel, que no se assusta com o sofrimento de Cristo nem

    de ser levado ao conhecimento de si mesmo. No h como

    mudar a exigncia de que voc se conforme com a imagem e o

    sofrimento de Cristo, nesta vida ou no inferno. Pelo menosquando voc morrer e estiver no purgatrio, vai assustar-se e

    ter medo, sentir tudo o que Cristo sofre na cruz. cruel ficar

    esperando por isso no leito de morte. Por isso voc deve pedir

    a Deus que suavize seu corao e permita que voc reflita

    sobre o sofrimento de Cristo de forma proveitosa. Nem possvel que o sofrimento de Cristo seja refletido com

    profundidade por ns mesmos, a menos que Deus o derrame

    em nosso corao. Nem esta contemplao nem qualquer outra

    instruo so dadas a voc para que tome logo a iniciativa de

    finalizar tal contemplao. Pelo contrrio: voc deve,

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    primeiramente, buscar e pedir a graa de Deus, para que voc

    a realize atravs da graa de Deus e no por voc mesmo. Por

    isso aquelas pessoas mencionadas antes no lidamadequadamente com o sofrimento de Cristo. No invocam

    Deus para isso. Mas, com sua prpria capacidade, inventaram

    maneiras prprias de faz-lo. Tratam o sofrimento de Cristo de

    forma totalmente humana e infrutfera.

    1010

    Quem observa o sofrimento de Deus por um dia, uma hora

    ou mesmo apenas um quarto de hora faz melhor do que se

    jejuasse ou ouvisse uma centena de missas. Essa meditao

    transforma a pessoa em seu ntimo quase da mesma formacomo o Batismo produz o renascimento. O sofrimento de

    Cristo realiza sua obra autntica, natural e nobre. Estrangula o

    velho ser humano, espanta todo prazer, alegria e confiana que

    se possa ter em relao a criaturas. Da mesma maneira como

    Cristo foi abandonado por todos, at mesmo por Deus.

    1111

    Essa obra no est em nossas mos. Por isso acontece que,

    s vezes, no a recebemos na mesma hora em que a pedimos.

    Mesmo assim, no se deve desanimar ou desistir. s vezes, ela

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    vem quando nem a pedimos, conforme a sabedoria e a vontade

    de Deus. Ela quer ser livre e no presa. Ento a pessoa fica

    preocupada e descontente consigo mesma em sua vida. bempossvel que ela nem saiba que o sofrimento de Cristo est

    fazendo isso com ela. Talvez ela no pense sobre o sofrimento.

    Da mesma forma, outras pessoas concentram-se firmemente no

    sofrimento de Cristo. Mesmo assim, no chegam ao

    conhecimento de si prprias dessa forma. Naquelas pessoas, osofrimento de Cristo oculto e verdadeiro; nestas, visvel e

    enganador. Assim Deus troca, muitas vezes, os papis. No

    refletem sobre o sofrimento aqueles que refletem sobre ele,

    ouvem a missa aqueles que no a ouvem e no a ouvem

    aqueles que a ouvem.

    1212

    At aqui falamos sobre a semana da Paixo e a celebrao

    apropriada da Sexta-feira Santa. Chegamos agora ao dia da

    Pscoa e ressurreio de Cristo. Quando a pessoa seconscientizou de seu pecado e ficou muito assustada consigo

    mesma, preciso cuidar para que os pecados no fiquem desse

    jeito na conscincia. Certamente, eles causariam um desespero

    total. Assim como se manifestaram e foram reconhecidos por

    meio de Cristo, preciso derram-los novamente sobre ele e

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    aliviar a conscincia. Portanto, tome cuidado para no agir

    como as pessoas falsas. Estas ficam se mordendo e se

    destruindo com seus pecados no corao. Procuram escaparatravs de boas obras ou de satisfao, correndo para l e para

    c. Ou tambm por meio de indulgncias, para poder livrar-se

    do pecado, o que impossvel. Infelizmente, essa falsa

    confiana na satisfao e nas romarias est amplamente

    espalhada.

    1313

    Voc tira o seu pecado de cima de voc e atira-o para cima

    de Cristo. Acredita firmemente que as chagas e os sofrimentos

    de Cristo so seus pecados e que ele os carrega e paga por eles.Isaas 53.6 diz: "Deus fez cair sobre ele o pecado de todos

    ns". So Pedro fala: "Ele carregou em seu corpo, sobre o

    madeiro, os nossos pecados" (1 Pedro 2.24). E So Paulo diz:

    "Deus o fez um pecador por ns, para que fssemos

    justificados atravs dele" (2 Corntios 5.21). Em passagenscomo estas e em outras voc deve confiar com toda a coragem.

    Quanto mais sua conscincia atorment-lo, tanto mais voc

    deve confiar nelas. Porque se, ao invs de fazer isso, voc

    quiser tranqilizar sua conscincia atravs de seu

    arrependimento e satisfao, nunca ter sossego. Por fim,

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    acabar caindo em desespero assim mesmo. Se permitimos que

    nossos pecados atuem em nossa conscincia, se permitimos

    que fiquem conosco e se os enxergamos em nosso corao, elesso fortes demais para ns e vivem eternamente. Mas se vemos

    que esto sobre Cristo e que ele os vence atravs de sua

    ressurreio, e se acreditamos nisso com coragem, eles esto

    mortos e foram destrudos. Pois eles no puderam permanecer

    sobre Cristo; foram engolidos por sua ressurreio. Agora vocno enxerga mais quaisquer chagas e dores nele, isto , sinais

    de pecado. So Paulo diz que Cristo "morreu por causa de

    nosso pecado e ressuscitou por causa de nossa justia"

    (Romanos 4.25). Isto : em seu sofrimento ele torna pblico o

    nosso pecado e assim o estrangula. Mas atravs da suaressurreio ele nos torna justos e livres de todos os pecados,

    desde que acreditemos nisso.

    1414

    Mas se voc no consegue crer, deve pedir a Deus por isso,como dissemos antes. Pois tambm o crer est exclusivamente

    nas mos de Deus. Ele tambm conceder o crer, ora

    abertamente, ora secretamente, assim como dissemos a respeito

    do sofrimento. Mas voc pode animar-se para isso: em

    primeiro lugar, voc no deve mais contemplar o sofrimento de

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    Cristo (pois agora este j realizou sua obra e assustou voc).

    Voc deve ir em frente e observar o amvel corao dele,

    considerando o enorme amor que ele tem para com voc. Esteamor obriga Cristo a carregar o fardo to pesado de sua

    conscincia e seu pecado. Assim seu corao ficar doce para

    com ele, e a confiana da f ser fortalecida. Continuando,

    passa ento pelo corao de Cristo para chegar ao corao de

    Deus. Ele v que Cristo no poderia ter revelado esse amor avoc caso Deus, a quem Cristo obedece com seu amor para

    com voc, no o tivesse querido em amor eterno. Assim voc

    achar o corao paterno divino e bom. Como o prprio Cristo

    diz, dessa maneira voc ser atrado por Cristo para o Pai.

    Ento voc passar a entender as palavras dele: "Deus amou aomundo de tal maneira que deu o seu Filho unignito", etc.

    (Joo 3.16). Reconhecer Deus de forma apropriada significa:

    entend-lo no pelo seu poder ou sua sabedoria (que so

    assustadores), mas pela bondade e pelo amor. Ento a f e a

    confiana podem manter-se, e a pessoa renasceverdadeiramente em Deus.

    1515

    Seu corao deve apoiar-se em Cristo e tornar-se inimigo

    dos pecados - por amor e no por medo do castigo. Alcanado

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    isto, ento o sofrimento de Cristo tambm dever ser um

    exemplo para toda a sua vida. Agora vamos refletir sobre ele de

    outro modo ainda. At aqui tratamos dele como um sacramentoque age em ns e que experimentamos passivamente. Vamos

    agora trat-lo como algo que tambm ns fazemos, a saber, da

    seguinte maneira:

    Quando voc for incomodado por sofrimentos ou por uma

    doena, pense quo pouco isto comparado coroa deespinhos e aos pregos de Cristo.

    Quando voc tiver que fazer ou deixar de fazer algo que o

    aborrece, pense como Cristo, amarrado e preso, levado de l

    para c.

    Se voc atormentado pelo orgulho, repare o quanto seuSenhor debochado e desprezado ao lado dos malfeitores.

    Se a impureza e o desejo sexual atacam voc, lembre-se da

    dor de Cristo quando sua carne macia foi aoitada, golpeada e

    ferida.

    Se dio, inveja ou sentimento de vingana atormentam voc,pense nas lgrimas e nos gritos de Cristo quando orou por voc

    e por todos os inimigos dele. Teria cabimento se ele se

    vingasse.

    Se tristeza ou outras infelicidades torturam seu corpo ou seu

    esprito, anime o seu corao e diga: Ora, por que tambm eu

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    no poderia passar por uma pequena tristeza? Afinal, no

    Getsmani, meu Senhor suou sangue de tanto medo e tristeza.

    Servo insensvel e detestvel seria aquele que quisesse ficar nacama, enquanto seu senhor tem que lutar na dor da morte.

    Como voc v, em Cristo podem ser encontrados fora e

    alvio contra todos os vcios e defeitos. Nisto consiste a

    verdadeira reflexo sobre o sofrimento de Cristo. So estes os

    frutos de seu sofrimento. Quem se exercita no sofrimento dessaforma faz melhor do que se ficasse ouvindo toda a pregao da

    paixo ou lesse todas as missas. No que as missas no sejam

    boas; que sem essa meditao e sem esse exerccio elas no

    adiantam nada.

    Cristos autnticos so aqueles que trazem a vida e o nomede Cristo para dentro de sua prpria vida, assim como descreve

    So Paulo: "Os que pertencem a Cristo crucificaram sua carne,

    com todas as suas concupiscncias, juntamente com Cristo"

    (Glatas 5.24). O sofrimento de Cristo no deve ser tratado

    com palavras e coisas superficiais, mas com a vida e comverdade. So Paulo nos aconselha: "Pensem naquele que sofreu

    tamanha oposio das pessoas ms, para que vocs sejam

    fortalecidos e suas mentes no desanimem" (Hebreus 12.3). E

    So Pedro: "Assim como Cristo sofreu em seu corpo, vocs

    devem armar-se e fortalecer-se com tal meditao" (1 Pedro

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    4.1). Mas essa contemplao caiu em desuso e se tornou rara.

    No entanto, as cartas de So Paulo e So Pedro esto cheias

    dela. Ns transformamos a essncia numa iluso e pintamos areflexo sobre o sofrimento de Cristo apenas nas folhas e nas

    paredes.

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    MMINIBIOGRAFIAINIBIOGRAFIA

    1483 - 10 de novembro: Martim Lutero nasce em Eisleben, na

    Alemanha, filho de Joo e Margarida.

    1501 - Cursa o primeiro ciclo das artes liberais e, ao 1505

    concluir, recebe o ttulo de Mestre de Artes.

    1505 - 2 de julho: Lutero promete ser monge.

    17 de julho: Procura o Convento dos Eremi-tas Agostinianos

    em Erfurt, para entrar na vida monstica.

    1507 - 3 de abril: Lutero ordenado sacerdote.

    1507 - Realiza seus estudos de teologia.

    1512 - Recebe o ttulo de Doutor em Teologia e designadopara ser professor de Bblia na Universidade de Wittenberg.

    1513 - Lutero pregador no convento e na igreja 1514 de

    Wittenberg.

    1517 - 31 de outubro: Lutero torna conhecidas suas 95 Teses

    sobre o valor da indulgncia, em Wittenberg.1519 - No Debate de Heidelberg torna conhecida sua

    Teologia da Cruz.

    1520 - Publicao dos seus principais escritos, entre

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    1 - 4 de outubro: Martim Lutero e Zwnglio encontram-se em

    Marburgo, Alemanha, para um dilogo. Concordam em todos

    os pontos da doutrina evanglica, menos na Santa Ceia.1530 - 25 de junho: Leitura da Confisso de

    Augsburgo, redigida por Felipe Melanchthon, na Dieta

    convocada para esclarecer a doutrina de f testemunhada por

    Lutero e seus seguidores (pastores, comunidades e prncipes).

    A Confisso de Augsburgo fica sendo um documento-base dasigrejas luteranas no mundo.

    1534 - Publicao da primeira edio daBblia traduzida por

    Martim Lutero.

    1537 - Martim Lutero escreve osArtigos de Esmalcalda, onde,

    mais uma vez, o Reformador resume os pontos principais dadoutrina crist.

    1539 - Publicao do primeiro volume de seus escritos

    alemes. No mesmo ano, publica o escritoDos Conclios e da

    Igreja.

    1545 - Publicao do folheto Contra o Papado Romanofundado pelo Diabo, escrito por Martim Lutero.

    1546 - Martim Lutero viaja para Eisleben, para ser o mediador

    de um conflito entre os condes de Mansfeld.

    18 de fevereiro: Martim Lutero falece em Eisleben.

    22 de fevereiro: Martim Lutero sepultado em Wittenberg.

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    CCONTRACAPAONTRACAPA

    A Coleo Lutero para Hoje tem como objetivo

    levar ao pblico em geral textos significativos do

    reformador numa linguagem simples e atualizada.

    Este volume Consolo no sofrimento -

    contm dois textos: Um Sermo sobre a

    Preparao para a Morte e Um Sermo sobre a

    Contemplao do Santo Sofrimento de Cristo,

    ambos escritos por Martim Lutero em 1519.

    Ao longo de toda a sua vida, o reformador teve

    que aconselhar pessoas que se debatiam com o

    medo da morte, com a dor e o sofrimento. Os

    textos de Consolo no sofrimento so um

    exemplo disso.