estudo pesticidas na plantaÇÃo de bananas · 4 resumo estudo pesticidas na plantaÇÃo de bananas...

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Estudo epidemiológico de pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas na agricultura convencional e biológica (bananas) no Equador ESTUDO PESTICIDAS NA PLANTAÇÃO DE BANANAS Relatório sobre o inquérito 31 de março, 2016

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  • Estudo epidemiológico de pequenos

    agricultores e trabalhadores agrícolas

    na agricultura convencional e biológica

    (bananas) no Equador

    ESTUDOPESTICIDAS NA PLANTAÇÃODE BANANAS

    Relatório sobre o inquérito

    31 de março, 2016

  • Colaboradores e equipa científica

    OA Prof. Assoc. PD DI Dr. Med. Hans-Peter Hutter 1–3

    Prof. Dr. Michael Kundi 3

    Eng. Helmut Ludwig 2

    Prof. Assoc. Dr. Hanns Moshammer 1–3

    Leitor Dr. Peter Wallner 1–3

    Apoio local

    Lucia Galarza, Candidata a Doutoramento 4

    Instituições

    1 International Society of Doctors for the Environment, secção austríaca

    2 Medicine and Environmental Protection, em Viena

    3 Department of Environmental Health, Center for Public Health, Universidade de Medicina de Viena

    4 Center for Latin American Research and Documentation, Universidade de Amesterdão

    Este documento foi elaborado com o apoio financeiro da União Europeia. Os conteúdos deste documento são da exclusiva responsabilidade dos autores e não podem, sob qualquer circunstância, ser considerados como refletindo as posições da União Europeia.Em Portugal o projeto é apoiado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua

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    CONTEÚDO

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4

    1 . Contexto e objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

    2 . Material e métodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7

    Áreas em estudo e participantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Questionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Biomonitorização humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    Processo de análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    Métodos estatísticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    3 . Resultados do inquérito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9

    3 .1 . Comparações de grupos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    3 .2 . Indicadores de exposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

    3 .3 . Pesticidas – comportamentos e conhecimento . . . . . . . . . . . .11

    3 .4 . Manuseamento de pesticidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11

    3 .5 . Sintomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    4 . Avaliação médica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

    4 .1 . Pesticidas utilizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    4 .2 . Medidas de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    4 .3 . Próximas etapas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    5 . Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19

    6 . Anexo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

    Informação adicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

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    RESUMO

    ESTUDO PESTICIDAS NA PLANTAÇÃO DE BANANAS

    Introdução A utilização de pesticidas no cultivo de culturas comerciais (as chama-das “cash crops”), como é o caso das plantações de bananas, está a aumentar a nível mundial. O uso de agroquímicos e a exposição ocupacional e ambiental a estes pro-dutos estão bem documentados em algumas regiões do Equador, o maior exportador de bananas do mundo.

    O objetivo do nosso estudo epidemiológico transversal é averiguar as condições de vida e laborais, o bem-estar e a saúde de trabalhadores agrícolas e de pequenos agri-cultores em quintas de modo de produção biológico/justo e de trabalhadores em explorações convencionais, que usam biocidas.

    Material e métodos Participaram no estudo, voluntariamente, 71 trabalhadores de cinco locais das províncias de Los Ríos e El Oro, no Equador.

    O inquérito médico usou um questionário estruturado sobre indicadores de saúde (por exemplo, sintomas comunicados pelos próprios participantes) e de exposição (por exemplo, práticas de aplicação dos pesticidas). O questionário foi levado a cabo por entrevistadores das áreas envolvidas no estudo, previamente formados pela equi-pa de pesquisa. Adicionalmente, foram colhidas, com espátula de madeira, amostras de células bucais, para uma análise dos efeitos genotóxicos.

    Resultados e debate No total, participaram 34 trabalhadores agrícolas, homens, expostos aos pesticidas e 37 trabalhadores agrícolas, homens, não expostos aos pes-ticidas. A avaliação do inquérito revelou que a saúde dos utilizadores de pesticidas é afetada pelo uso de biocidas na produção convencional de bananas. Os trabalhado-res expostos aos pesticidas mostram mais frequentemente sintomas como tonturas, vómitos, diarreia, ardor nos olhos, irritação da pele, fadiga e insónias. Observou-se que o grupo exposto apresentava um risco 6 a 8 vezes maior de sintomas gastrointes-tinais (nos últimos 6 meses) do que o grupo de controlo, que não usava pesticidas. A maioria dos participantes não sabia que pesticidas aplicava (55%). Contudo, os que sabiam aplicavam substâncias potencialmente perigosas. Alguns destes biocidas estão classificados como sendo provavelmente carcinogénicos (como, por exemplo, o glifosato). A situação é agravada pelo facto de a roupa de proteção usada pelos agricultores ser a mínima. Durante a aplicação dos pesticidas, apenas um quinto dos agricultores que trabalham com pesticidas usa regularmente máscaras e luvas de pro-teção pessoal – geralmente, porque estas não são fornecidas pelos empregadores.

    Conclusão As condições prevalecentes da produção agrícola convencional, com o uso extensivo de pesticidas, tornam inevitáveis os riscos para a saúde. Os resultados do inquérito demonstram a necessidade de medidas de segurança ocupacional, in-cluindo formação e uso de roupas de proteção, bem como incentivos a uma aplicação mínima de pesticidas e/ou à agricultura biológica.

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    1 . CONTEXTO E OBJETIVOS

    Os pesticidas são usados extensivamente na agricultura convencional. O caso parti-cular em análise é o das plantações tropicais em monocultura (bananas, café, cacau), que produzem para exportação para os mercados de países industrializados.

    O debate sobre os pesticidas tem sido dominado pela preocupação dos consumido-res em relação aos resíduos de pesticidas nos produtos alimentares. O impacto sobre os agricultores e as suas famílias, geralmente muito mais expostos aos pesticidas do que a população em geral, recebe menos atenção. Os pequenos agricultores e os trabalhadores agrícolas do Sul global, responsáveis pela aplicação de pesticidas, são grupos com uma exposição particularmente forte a estes (Laborde et al. 2015, Muñoz-Quezada et al. 2012, Handal et al. 2008, 2007, Grandjean et al. 2006).

    A questão das condições laborais e a saúde de pequenos agricultores e trabalhadores agrícolas do Sul global têm vindo a assumir uma maior importância nos últimos anos. Os trabalhadores agrícolas e os habitantes de zonas próximas das plantações queixam-se frequentemente de problemas de saúde causados pela exposição aos pes-ticidas. Esta exposição pode resultar do manuseamento direto/aplicação de pestici-das ou de outras fontes (água, comida, roupas) (Damalas and Eleftherohorinos 2011, Perry and Layde 1998, Oudbier et al. 1974).

    Os riscos para a saúde (doenças tumorais, doenças neurológicas, disfunções reprodu-tivas) estão relacionados com a exposição a pesticidas perigosos durante a aplicação e a más condições laborais resultantes numa exposição substancial, entre outros fa-tores. Vários destes pesticidas já são proibidos na Europa. Grupos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas de saúde mais frágil, estão também em risco (UNEP 2004).

    Os trabalhadores rurais de países do Sul global possuem poucos conhecimentos acerca dos riscos que os pesticidas apresentam para a saúde (por exemplo, nenhuma ou pouca formação dada pelos empregadores, analfabetismo ou analfabetismo fun-cional, as informações nas embalagens dos produtos químicos escritas numa língua estrangeira, etc.).

    Também os empregadores têm pouca consciência dos riscos. Além disso, várias cir-cunstâncias das suas vidas (pobreza, elevada taxa de desemprego, falta de acesso à educação) promovem uma atitude negligente entre os trabalhadores agrícolas no contacto com pesticidas (inadequação ou falta de medidas de prevenção e proteção) (por exemplo, Okonya & Kroschel 2015).

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    Na Europa, os padrões mínimos para o equipamento de proteção pessoal no manu-seamento de pesticidas são estipulados por leis, mas noutras regiões do mundo estas regulamentações são rudimentares ou inexistentes.

    Devido ao uso elevado de pesticidas no seu cultivo convencional, as produções de ba-nanas são um objeto de estudo particularmente adequado. As culturas convencionais e biológicas diferem de forma muito clara, em termos de exposição aos pesticidas. Outro aspeto importante é o facto de estas frutas tropicais serem produzidas maio-ritariamente para mercados de exportação (por exemplo, para a União Europeia).

    O Equador é o maior exportador, a nível mundial, de bananas destinadas à União Europeia. Como parte de uma campanha internacional que aborda as condições laborais na produção de frutas tropicais (“Make Fruit Fair!”/“Fruta Tropical Justa” www.makefruitfair.org), foi planeado e realizado um estudo epidemiológico (estudo transversal) no Equador, levado a cabo em cooperação com a organização Südwind (Verein für Entwicklungspolitik und globale Gerechtigkeit, uma organização não go-vernamental para a cooperação para o desenvolvimento e a justiça global, localizada na Áustria, www.suedwind.at). O objetivo do projeto é examinar efeitos agudos e crónicos na saúde de trabalhadores agrícolas envolvidos na agricultura convencional de produção de bananas. O grupo de controlo era constituído por trabalhadores agrí-colas envolvidos em explorações agrícolas ecológicas/integradas/naturais.

    Para efeitos de consistência e para facilitar a leitura, os dois grupos examinados serão doravante nomeados pelos termos “agricultura/cultivo convencional” e “agricultura/cultivo ecológico”, ou “utilizadores de pesticidas” e “não utilizadores de pesticidas”.

  • 7

    2 . MATERIAL E MÉTODOS

    ÁREAS EM ESTUDO E PARTICIPANTES

    A seleção de áreas em estudo e o recrutamento de participantes – pequenos agri-cultores e trabalhadores agrícolas do género masculino – foram realizados previa-mente com o apoio de várias organizações, tais como a ASTAC (Asociación Sindical de Trabajadores Agricolas Bananeros y Campesinos); a Federação de Sindicatos de Trabalhadores e Agricultores do Setor das Bananas, que, nos últimos anos, tem sido a voz dos trabalhadores explorados pelos seus empregadores na região de Los Ríos, e a UROCAL (União Regional de Organizações de Agricultores do Litoral), uma orga-nização-chapéu de pequenos produtores na região costeira sul do Equador.

    QUESTIONÁRIO

    A recolha de informações, em formulários, baseou-se em questionários padroniza-dos, adaptados às condições locais (por exemplo, nos métodos de aplicação de pes-ticidas). Os dados recolhidos incluem aspetos sociodemográficos, sintomas (proble-mas de saúde agudos e crónicos) e indicadores de exposição, tais como condições laborais (pesticidas aplicados, medidas de segurança, etc.) e condições de habitação (proximidade da área de cultivo, etc.).

    Os formulários para o grupo exposto consistiam em 39 perguntas (122 opções de resposta ou itens), os do grupo de controlo incluíam 27 perguntas (89 itens). Os da-dos foram recolhidos em entrevistas presenciais, conduzidas por entrevistadores de áreas de estudo especificamente formados para o projeto pela equipa de investigação.

    BIOMONITORIZAÇÃO HUMANA

    Para realizar a análise do micronúcleo (através de um exame conhecido por Buccal Micronucleus Cytome Assay, ou BMCyt, usado para estudar alterações genotóxicas ou citotóxicas), são recolhidas simples amostras da mucosa bucal (do interior das bochechas esquerda e direita, separadamente), com espátulas de madeira (Tolbert et al. 1992). Este método de análise é indolor e não implica riscos para os partici-pantes. Subsequentemente, o material colhido é espalhado em lâminas de vidro para microscópio numeradas e, mais tarde, fixado e tingido (reagente de Schiff). A análise posterior das células, uma tarefa muito exigente, será realizada por especialistas com

  • 8

    experiência na área, num laboratório adequado ao fim, em Viena, após preparação segundo o protocolo de Thomas et al. (2009).

    PROCESSO DE ANÁLISE

    Antes do exame, os trabalhadores foram informados acerca dos métodos e dos pro-cedimentos. Após o registo e a atribuição de um código, para efeitos de anonímia, foram medidos o peso e altura dos participantes. A seguir, foram recolhidas as células bucais e administrado o questionário médico.

    MÉTODOS ESTATÍSTICOS

    Os dados do questionário foram avaliados de forma descritiva. As frequências abso-lutas e percentuais (dentro dos grupos de utilizadores de pesticidas e não utilizadores de pesticidas) foram calculadas para dados categóricos, média, desvio-padrão, me-diana e intervalo interquartil para os dados quantitativos.

    Os dados categóricos dos dois grupos foram comparados através do teste do Qui-quadrado ou teste exato de Fisher (para categorias binárias) e os dados quan-titativos através do teste de Mann-Whitney (teste U). Os sintomas foram analisados por modelo de regressão logística, com a idade e a escolaridade como covariáveis. O pseudo-coeficiente de determinação (R2) de Nagelkerke foi usado para determinar as diferenças, na ocorrência de sintomas, explicadas por cada modelo.

    Os valores-p menores que 0,05 (uma probabilidade de significância de 5%) são con-siderados estatisticamente relevantes, os valores-p menores que 0,01 (uma probabili-dade de significância de 1%) como altamente significativos.

    Em primeiro lugar, foram avaliados os dados do questionário. Numa fase posterior, dependente de apoio financeiro, serão analisadas e medicamente estudadas as células da mucosa bucal, em ligação com os dados do questionário.

  • 9

    3 . RESULTADOS DO INQUÉRITO

    Os dados foram recolhidos em cinco locais diferentes de duas regiões de produção de bananas no Equador, em outubro de 2015: três testes na província de Los Ríos (Quevedo, La Unión, Valencia) e dois testes na província de El Oro (La Libertad, Buenavista) (Quadro 1).

    QUAD .1 ÁREAS EM ESTUDO E PARTICIPANTES

    Estudo local Número de participantes Data dos exames

    Quevedo 10 26/10/2015

    La Unión 7 27/10/2015

    Valencia 17 28/10/2015

    La Libertad 23 29/10/2015

    Buenavista 14 30/10/2015

    Foram inquiridos 71 trabalhadores agrícolas, dos quais 34 pessoas ligadas à agricul-tura convencional (utilizadores de pesticidas, denominados “casos”) e 37 pessoas da agricultura ecológica (não utilizadores de pesticidas, denominados “controlo”). Após um exame dos dados, três trabalhadores do grupo de utilizadores de pesticidas não foram incluídos porque indicaram que não utilizavam pesticidas. Assim, a amostra incluía um total de 68 participantes.

    3 .1 . COMPARAÇÕES DE GRUPOS

    Quanto às características sociodemográficas (idade, tamanho do agregado familiar) e antropométricas (altura, peso), não foram encontradas diferenças importantes entre os grupos. Os pais dos participantes trabalha(va)m geralmente na agricultura. A média de idades era de 45/46 anos.

    Os dois grupos tinham diferenças significativas em termos da utilização, à data do estudo e durante as suas vidas, de pesticidas (p=0,001) (Quadro 2).

    Os dois grupos diferiam também significativamente no que toca ao seu nível de es-colaridade. Enquanto no grupo 1 (utilizadores de pesticidas) 6 pessoas disseram não ter escolaridade, no grupo 2 havia apenas uma pessoa que não foi à escola. Em com-paração, 14 pessoas do grupo de controlo tinham frequentado a escola secundária, ao passo que no grupo 1 eram apenas 6 pessoas.

  • 10

    QUAD .2 DESCRIÇÃO DE VÁRIAS VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS, RESULTADOS SIGNIFICATIVOS EM NEGRITO

    Utilizadores de pesticidas

    Não utilizadores de pesticidas valores-p

    Idade 45.9±13.4 44.7±16.6 0.748

    Número de filhos 2.8±2.3 3.1±2.2 0.616

    Número de pessoas no agregado familiar 4.4±2.0 4.1±1.6 0.484

    Utilização de pesticidas (anos) 12.9±9.5 4.9±8.9 0.001

    Altura (cm) 164.9±4.8 165.6±5.6 0.594

    Peso (kg) 69.4±10.7 69.6±11.2 0.940

    Mãe trabalha na agricultura (%) 35.5% 54.1% 0.124

    Pai trabalha na agricultura (%) 80.7% 78.4% 0.818

    3 .2 . INDICADORES DE EXPOSIÇÃO

    A exposição a pesticidas aplicados por/pulverizados a partir de aviões foi avaliada da seguinte forma: com que frequência é que os participantes observam a pulverização aérea de pesticidas mesmo por cima de si ou na sua proximidade? Além disso, foi perguntado se sentiam os pesticidas como um cheiro ou humidade na pele nestas alturas. Registou-se que o grupo de utilizadores de pesticidas estava também mais exposto aos impactos dos pesticidas pulverizados por aviões. Da mesma forma, tam-bém as regiões onde trabalham os dois grupos apresentam diferenças significativas em termos de exposição à aplicação de pulverizações aéreas. Os resultados são mos-trados nos Quadros 3 e 4.

    QUAD .3 FREQUÊNCIA DE OBSERVAÇÃO DE APLICAÇÃO AÉREA DE PESTICIDAS EM PERCENTAGEM

    Observação de pulverização aéreaUtilizadores de pesticidas

    Não utilizadores de pesticidas valores-p

    Nunca 0.0 24.3 0.001

    Uma vez por mês 16.1 40.6

    Uma vez por semana 54.9 24.32

    Mais do que uma vez por semana 25.8 0.0

    Diariamente 3.2 10.8

    QUAD .4 FREQUÊNCIA DOS EFEITOS OBSERVADOS (CHEIRO, HUMIDADE NA PELE) EM PERCENTAGEM

    Perceções (cheiro, humidade)Utilizadores de pesticidas

    Não utilizadores de pesticidas valores-p

    Nunca 0.0 27.6 0.001

    Em menos de metade das vezes 25.8 6.9

    Em mais de metade das vezes 0.0 10.3

    Sempre 74.2 55.2

  • 11

    3 .3 . PESTICIDAS – COMPORTAMENTOS E CONHECIMENTO

    Os dois grupos demonstraram uma diferença muito significativa no que respeita à sua avaliação dos perigos dos pesticidas, para a saúde e para o ambiente.

    QUAD .5 AVALIAÇÃO DO PERIGO PARA A SAÚDE E O AMBIENTE EM PERCENTAGEM

    AvaliaçãoUtilizadores de pesticidas

    Não utilizadores de pesticidas valores-p

    Não nocivo 9.7 5.4 0.001

    Moderadamente nocivo 90.3 16.2

    Muito nocivo 0.0 78.4

    No que toca às alternativas aos pesticidas químicos/sintéticos, os não utilizadores de pesticidas possuem conhecimentos consideravelmente maiores acerca do uso de biopesticidas e das possibilidades da agricultura biológica do que o grupo dos utili-zadores de pesticidas. Os conhecimentos acerca da rotação de culturas, usada para manter a fertilidade do solo, e sobre produção integrada não diferem estatisticamen-te (Quadro 6).

    QUAD .6 RESPOSTAS, EM PERCENTAGEM, ÀS ALTERNATIVAS CONHECIDAS AOS PESTICIDAS QUÍMICOS/SINTÉTICOS

    AlternativasUtilizadores de pesticidas

    Não utilizadores de pesticidas valores-p

    Biopesticidas 3.2 40.5

  • 12

    se todos os casos, organofosfatos (uma exceção: bipiridina). Entre os fungicidas, os mais mencionados pertenciam ao grupo do tiabendazol, mas também imidazol, car-bamato e clorotalonil. Apenas dois participantes mencionaram inseticidas que per-tencem ao grupo dos organofosfatos (Mocap© [substância ativa Ethoprop]).

    Em resumo, o tipo de pesticidas predominante pertence ao grupo dos organofosfatos (aplicados por 8 participantes).

    Dois terços dos participantes (67,7 %) preparam, eles próprios, a mistura dos pesti-cidas.

    Durante a aplicação ativa (pulverização), a maior parte não usa máscaras ou luvas. Apenas 19,4 % dos inquiridos usam máscaras/luvas durante todo o processo; uma pessoa, durante menos de metade do tempo.

    A razão principal para não usar equipamento protetor, indicada por 67,7% dos inqui-ridos, era que nem máscaras nem luvas eram disponibilizadas (Quadro 8).

    QUAD .8 RAZÕES PARA NÃO USAR MÁSCARAS OU LUVAS

    Razões para não usar equipamento protetor Número Percentagem

    Não disponível 21 67.7

    Desconfortável 3 9.7

    Máscara não necessária 4 12.9

    Não especificado 3 9.7

    Em relação à altura de lavar as mãos após a pulverização, a maioria dos participan-tes disse que aplica esta medida de higiene no local, ou seja, quando ainda estão na plantação. Nenhum dos participantes lava as mãos antes de ir dormir. (Quadro 9).

    QUAD .9 FREQUÊNCIA DE LAVAGEM DAS MÃOS, EM DIFERENTES ALTURAS, APÓS TRABALHAR COM PESTICIDAS

    No campoImediatamente ao chegar a casa

    Mais tarde em casa

    Antes de ir dormir

    Nunca - 61.3 93.5 100.0

    < metade das vezes 19.3 3.2 - -

    > metade das vezes 19.3 9.7 - -

    Sempre 61.4 25.8 6.5 -

    Cerca de 61% dos inquiridos mudam de roupa imediatamente depois do trabalho.

    Todos os trabalhadores agrícolas inquiridos afirmaram que guardam as embalagens de pesticidas e equipamentos no exterior das suas casas.

    Em cerca de 90% dos casos, o equipamento é limpo no exterior, no jardim ou quintal. Três pessoas indicaram que limpam o equipamento num curso de água próximo (por exemplo, um ribeiro ou rio).

    Na pergunta acerca do tratamento dado aos resíduos de pesticidas, um terço afirmou que são despejados no jardim/quintal ou num rio (Quadro 10).

  • 13

    QUAD .10 TRATAMENTO DOS RESÍDUOS DE PESTICIDAS

    Frequência Percentagem Frequência Percentagem

    Não existem resíduos 2 6.5 Lixo 4 12.9

    No jardim 11 35.5 Queima 1 3.2

    Num rio 11 35.5 Reutilização 2 6.5

    As embalagens de pesticidas vazias não são usadas para outros fins (por exemplo, para guardar comida).

    Cerca de 71% dos trabalhadores agrícolas vivem a mais de 1 km de distância da plan-tação onde trabalham.

    Foram dadas as seguintes razões para explicar o uso/pulverização de pesticidas: Instruções de um superior (70,9%), bom para as plantas (45,2%), menos esforço (41,9%), melhores colheitas (38,7%).

    À pergunta sobre se deixariam de usar pesticidas se recebessem o mesmo salário, cerca de 39% deste grupo responderam afirmativamente.

    3 .5 . SINTOMAS

    O inquérito cobria a ocorrência de 19 sintomas diferentes nos últimos seis meses, sintomas que podem indicar eventuais efeitos tóxicos dos pesticidas. Podem distin-guir-se duas categorias de efeitos: (1) sintomas de irritação local e (2) efeitos sisté-micos.

    Estão incluídos os seguintes sintomas: cefaleias, problemas de visão, tonturas, fadiga intensa, exaustão, insónias, náusea/vómitos, dores de estômago, diarreia, hipersali-vação, irritação dos olhos, irritação da pele, erupções cutâneas, irritação nasal, olhos lacrimejantes, dificuldades respiratórias, tosse, batimentos cardíacos irregulares, ti-ques/tremores. Os resultados de uma análise exploratória preliminar, tomando em conta apenas a idade e escolaridade, são apresentados no Quadro 11.

    Os sintomas

    ▶ Tonturas

    ▶ Vómitos, diarreia

    ▶ Irritação dos olhos, irritação da pele

    ▶ Fadiga intensa, insónias

    ▶ Batimentos cardíacos irregulares

    foram sentidos com uma frequência consideravelmente maior pelos utilizadores de pesticidas do que pelos não utilizadores de pesticidas.

  • 14

    QUAD .11 SINTOMAS DOS PARTICIPANTES, PELOS PRÓPRIOS; RESULTADO DA ANÁLISE DE REGRESSÃO LOGÍSTICA COM CONTROLO DE IDADE E NÍVEL DE ESCOLARIDADE; RESULTADOS SIGNIFICATIVOS EM NEGRITO. RAZÃO DE CHANCES (ODDS RATIO) = OR (GRUPO DE CONTROLO = 1)

    Sintoma OR 95% CI valor-p

    Cefaleia 1.47 0.54 – 4.05 0.453

    Problemas de visão 0.79 0.28 – 2.18 0.643

    Tonturas 4.80 1.55 – 14.87 0.007

    Náusea/vómitos 7.50 1.77 – 31.77 0.006

    Hipersalivação 1.82 0.61 – 5.39 0.281

    Fadiga intensa 4.96 1.65 – 14.88 0.004

    Exaustão 2.53 0.88 – 7.28 0.086

    Dores de estômago 2.22 0.76 – 6.53 0.147

    Diarreia 6.43 1.06 – 39.00 0.043

    Insónias 3.39 1.16 – 9.87 0.025

    Irritação dos olhos 4.10 1.37 – 12.31 0.012

    Irritação da pele 3.58 1.10 – 11.71 0.035

    Irritação nasal 2.79 0.77 – 10.11 0.119

    Dificuldades respiratórias 2.83 0.80 – 9.99 0.105

    Batimentos cardíacos irregulares 5.75 1.08 – 30.67 0.041

    Olhos lacrimejantes 3.12 0.98 – 9.95 0.055

    Erupções cutâneas 3.38 0.71 – 16.11 0.126

    Tosse 2.10 0.66 – 6.67 0.209

    Tiques, tremores 3.58 0.52 – 24.61 0.195

    O passo seguinte consistiu em estudar se os sintomas relatados pelos próprios es-tavam relacionados com qualquer dos indicadores de exposição. Concluiu-se que a duração e frequência da aplicação de pesticidas está associada a diversos sintomas. Devido ao número reduzido de casos, estes resultados devem ser vistos apenas como conclusões exploratórias. Porém, pode afirmar-se, de uma forma geral, que tanto a intensidade como a duração da aplicação de pesticidas desempenham um papel no desenvolvimento de sintomas físicos.

  • 15

    QUAD .12 REGRESSÃO LOGÍSTICA COM A FREQUÊNCIA DE OBSERVAÇÕES DE PULVERIZAÇÃO AÉREA, CHEIRAR/SENTIR PESTICIDAS E INTERAÇÃO DE FREQUÊNCIA E CHEIRAR/SENTIR, IDADE COMO COVARIÁVEL

    Sintoma Pseudo R2 de Nagelkerke Depende de

    Cefaleia 0.053 -

    Problemas de visão 0.137 t cheirar/sentir

    Tonturas 0.268 ** cheirar/sentir

    Náusea, vómitos 0.296 ** cheirar/sentir quando observado frequentemente

    Hipersalivação 0.209 * cheirar/sentir

    Fadiga intensa 0.224 * cheirar/sentir + frequência

    Exaustão 0.078 -

    Dor de estômago 0.168 * cheirar/sentir quando observado frequentemente

    Diarreia 0.270 -

    Insónias 0.206 ** cheirar/sentir

    Irritação dos olhos 0.071 t cheirar/sentir

    Irritação da pele 0.272 * cheirar/sentir quando observado frequentemente

    Irritação nasal 0.262 t cheirar/sentir

    Dificuldades respiratórias 0.069 -

    Batimentos cardíacos irregulares 0.301 t frequência

    Olhos lacrimejantes 0.213 * cheirar/sentir

    Erupções cutâneas 0.256 * cheirar/sentir

    Tosse 0.127 -

    Tiques/tremores 0.261 * cheirar/sentir

    t = tendência (p

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    4 . AVALIAÇÃO MÉDICA

    O objetivo do estudo era examinar as eventuais relações entre indicadores de exposi-ção e efeitos sobre a saúde, comparando os diferentes métodos de cultivo.

    Um total de 71 trabalhadores agrícolas, com a média de idades de 45/46 anos, partici-pou no estudo. No que toca aos elementos fisiológicos, praticamente não havia dife-renças entre os dois grupos. Na análise estatística (regressão logística), as diferenças nas caraterísticas sociodemográficas (nível de escolaridade, posses materiais) foram controladas. Os dois grupos diferem consideravelmente em relação à exposição a pesticidas (tanto na própria aplicação como na exposição por pulverização aérea, ver abaixo). Este é um pré-requisito essencial para o exame de eventuais diferenças específicas a cada grupo, por exemplo em termos da ocorrência de sintomas.

    Avaliar a exposição a pesticidas foi um desafio especial para o estudo. Os utilizadores de pesticidas estão expostos a biocidas por duas vias (a aplicação pelos participantes e a pulverização aérea). No entanto, os não utilizadores de pesticidas também são afetados pela pulverização aérea (pela dispersão). Esta sobreposição pode levar a que se registem diferenças menores entre os grupos no que toca aos sintomas físicos.

    A nossa análise mostra que os impactos dos pesticidas (humidade na pele ou cheiro) são sentidos com bastante mais frequência por utilizadores de pesticidas do que por não utilizadores de pesticidas. Além disso, as regiões onde os dois grupos trabalham são consideravelmente diferentes em termos de exposição à pulverização aérea (ver Quadros 3 e 4).

    Deve lembrar-se que este método de aplicação foi banido na União Europeia em 2009 (razões: dispersão de pesticidas, etc.), com um prazo-limite para implementa-ção em 2011, e apenas é permitido em casos excecionais. Os riscos para a saúde são uma preocupação, nestes casos: se a área pulverizada está próxima de áreas abertas ao público, são incluídas na aprovação medidas específicas de gestão de riscos, para evitar efeitos nocivos sobre a saúde de transeuntes. A área a ser pulverizada não pode estar na proximidade de áreas residenciais (Diretiva 2009/128/EC). Contudo, nas regiões do presente estudo, estas medidas preventivas não são prática comum.

    Os participantes foram inquiridos acerca de qualquer sintoma físico que apresenta-ram nos últimos seis meses. Os resultados demonstraram diferenças significativas entre os dois grupos: tanto os sintomas de irritação local como os efeitos sistémi-cos eram consideravelmente mais frequentes entre os utilizadores de pesticidas. Isto

  • 17

    indica que a utilização de pesticidas está associada a efeitos adversos sobre a saúde dos trabalhadores rurais. Por exemplo, os utilizadores de pesticidas apresentavam um risco de 6 a quase 8 vezes maior de relatarem sintomas gastrointestinais (sobretu-do náuseas, vómitos, diarreia) do que os não utilizadores de pesticidas.

    4 .1 . PESTICIDAS UTILIZADOS

    O uso extensivo de pesticidas na agricultura convencional, particularmente no Sul global, está bem documentado (Ecobichon 2001). Entre aqueles contam-se substân-cias ativas cujo uso é banido ou está prestes a ser banido na União Europeia. Um exemplo é o Paraquat (Gramoxon©), mencionado por utilizadores de pesticidas em estudos atuais e banido na UE desde 2007 (Comissão Europeia 2007).

    Os pesticidas aplicados por trabalhadores agrícolas na agricultura convencional in-cluem químicos que se suspeita serem carcinogénicos, como, desde logo, o glifosato (Roundup©). O Centro Internacional de Investigação do Cancro (CIIC) classificou o glifosato como uma substância do Grupo 2A (provavelmente carcinogénico para seres humanos) (CIIC 2015, Guyton 2015). Nada menos que 8 dos 17 trabalhadores agrícolas que indicaram pesticidas específicos disseram que usam este herbicida. No-mearam também o Ethoprop, outro pesticida altamente tóxico, pertencente ao grupo dos organofosfatos e classificado como provavelmente carcinogénico para seres hu-manos pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (2006).

    Esta é outra prova de que substâncias perigosas para a saúde são usadas na agricul-tura convencional, normalmente sem quaisquer medidas de proteção dos trabalha-dores (ver abaixo).

    O elevado número de pessoas que não têm conhecimento aparente acerca dos pes-ticidas que aplicam é causa de preocupação. Isto pode assentar numa verdadeira ig-norância ou na relutância dos participantes em fornecer informação a este respeito (devido a várias apreensões).

    Devido ao número relativamente reduzido de pessoas (n=14) que indicaram quais os pesticidas que aplicam/utilizam, uma análise estatística de eventuais relações entre o uso de um pesticida e sintomas físicos não é possível. De qualquer forma, deve ser sublinhado que o grupo das substâncias ativas mais frequentemente mencionado foi o grupo dos organofosfatos. Pode concluir-se, portanto, que um número igual destes produtos é usado pelos trabalhadores agrícolas que não nomearam os pesticidas.

    4 .2 . MEDIDAS DE PROTEÇÃO

    A absorção de pesticidas através da exposição ocupacional pode ocorrer particular-mente durante a preparação de misturas e durante a pulverização/vaporização. Os organofosfatos, por exemplo, são absorvidos através da pele e pelo trato respiratório. Da perspetiva da medicina do trabalho, portanto, a primeira prioridade devia ser a tomada de medidas (simples) de redução da exposição, além do uso de produtos me-nos tóxicos. Estas medidas incluem equipamento pessoal apropriado para proteger os órgãos respiratórios, olhos e mãos.

    Apesar de quase todos os utilizadores de pesticidas inquiridos reconhecerem que os pesticidas são nocivos para a saúde, apenas 20% dos inquiridos usam sempre máscaras e/ou luvas. A razão principal para este uso inadequado de medidas de proteção pessoal é que as máscaras e luvas não estão disponíveis ou não são forne-cidas pelo empregador. Quando ao motivo pelo qual isto acontece, duas razões pa-recem impor-se fortemente: existe ignorância ou negação, ou há uma relutância dos

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    empregadores em fornecer este equipamento de segurança devido a considerações de natureza organizacional ou financeira, apesar de terem a obrigação de o fazerem. De qualquer forma, estas lacunas são frequentemente observadas em países do Sul global (por exemplo, Okonya & Kroschel 2015, Antwi-Agyakwa et al. 2015).

    4 .3 . PRÓXIMAS ETAPAS

    Uma redução do uso de pesticidas, isto é, mudar para métodos de cultivo naturais, melhoraria tanto o estado de saúde da população rural local como a qualidade dos produtos. Isto alinha com o objetivo de proteger a saúde e a segurança na Áustria.

    No nosso estudo anterior sobre os impactos de pesticidas sobre trabalhadores agrí-colas na América Latina, verificámos uma frequência aumentada de lesões cromos-sómicas em células da mucosa bucal (Hutter et al. 2015). Os mesmos métodos de biomonitorização humana foram igualmente usados neste estudo. A avaliação das amostras de células recolhidas, uma tarefa complexa e exigente, está em curso. Os resultados da análise das células da mucosa bucal devem contribuir para clarificar se existem relações entre os indicadores de exposição e eventuais efeitos a longo prazo sobre a saúde (potencial risco de cancro nos trabalhadores agrícolas), comparando os diferentes métodos de cultivo.

    O objetivo da campanha é contribuir para a melhoria das condições laborais nocivas para a saúde (melhores medidas de segurança, um uso reduzido ou eliminação do uso de pesticidas), exercendo mais pressão sobre os supermercados e, assim, sobre os empregadores de trabalhadores agrícolas.

    Os inquéritos à população representativos mostram que há um forte interesse público no tema “pesticidas na alimentação” na Europa. Os resíduos de pesticidas na comida são vistos geralmente como um risco para a saúde. Exames sistemáticos demonstram que os produtos ambientalmente seguros contêm consideravelmente menos subs-tâncias perigosas do que os produtos alimentares convencionais. Este pode ser um ponto de partida para chamar mais significativamente a atenção para as condições laborais em regiões de produção de bananas e para melhorar a situação.

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    5 . REFERÊNCIAS

    Antwi-Agyakwa A, Osekre E, Adu-Acheampong R, Ninsin KD (2015): Insecticide use practices in cocoa production in four regions in Ghana. West African Journal of Applied Ecology723:39-48.

    Ecobichon DJ (2001): Pesticide use in developing countries. Toxicology 160:27-33.

    Damalas CA, Eleftherohorinos IG (2011): Pesticide exposure, safety issues, and risk assessment indicators. Int J Environ Res Public Health 8:1402–1419.

    Grandjean P, Harari R, Barr DB, Debes F (2006): Pesticide exposure and stunting as independent predictors of neurobehavioral deficits in Ecuadorian school children. Pediatrics 117:e546-56.

    Guyton KZ, Loomis D, Grosse Y, El Ghissassi F, Benbrahim-Tallaa L, Guha N, Scoccianti C, Mattock H, Straif K (2015): International Agency for Research on Cancer Monograph Working Group, IARC, Lyon, France. Carcinogenicity of tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon, and glyphosate. Lancet Oncol 16:490-491.

    Handal AJ, Harlow SD, Breilh J, Lozoff B (2008): Occupational exposure to pesticides during pregnancy and neurobehavioral development of infants and toddlers. Epidemiology 19:851-859.

    Handal AJ, Lozoff B, Breilh J, Harlow SD (2007): Effect of community of residence on neurobehavioral development in infants and young children in a flower-growing region of Ecuador. Environ Health Perspect 115:128-33.

    Hutter H-P, Wali Khan A, Ludwig H, Nersesyan A, Shelton JF, Wallner P, Moshammer H, Kundi M (2015): Cytotoxic and genotoxic effects of pesticide exposure in male coffee farmworkers, Dominican Republic. In: Abstracts of the 2015 Conference of the International Society of Environmental Epidemiology (ISEE). (Sao Paulo, Brazil, 30.08.-03.09.2015) Abstract [572].

    International Agency for Research on Cancer (IARC) (2015): Volume 112: Some organophosphate insecticides and herbicides: tetrachlorvinphos, parathion, malathion, diazinon and glyphosate. IARC Working Group. Lyon; 3–10 March 2015. IARC Monogr Eval Carcinog Risk Chem Hum (in press).

    European Commission (2007): The Court of First Instance annuls the Directive authorising Paraquat as an active plant protection substance. Judgment of the Court of First Instance in Case T-229/04 Press Release No° 45/07 11 July 2007.

    http://curia.europa.eu/jcms/upload/docs/application/pdf/2009-02/cp070045en.pdf

    Laborde A, Tomasina F, Bianchi F, Bruné MN, Buka I, Comba P, Corra L, Cori L, Duffert CM, Harari R, Iavarone I, McDiarmid MA, Gray KA, Sly PD, Soares A, Suk WA, Landrigan PJ (2015): Children‘s health in Latin America: the influence of environmental exposures. Environ Health Perspect 123:201-209.

    Muñoz-Quezada MT, Iglesias V, Lucero B, Steenland K, Barr DB, Levy K, Ryan PB, Alvarado S, Concha C (2012): Predictors of exposure to organophosphate pesticides in schoolchildren in the Province of Talca, Chile. Environ Int 47:28-36.

    Okonya JS, Kroschel J (2015): A cross-sectional study of pesticide use and knowledge of smallholder potato farmers in Uganda. Biomed Res Int. 2015:759049.

    Oudbier AJ, Bloomer AW, Price HA, Welch RL (1974): Respiratory route of pesticide exposure as a potential health hazard Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology 12:1-9.

    Perry MJ, Layde P (1998): Sources, routes, and frequency of pesticide exposure among farmers. Journal of Occupational & Environmental Medicine 40:697-701.

    Directive 2009/128/EC of the European Parliament and of the Council of 21 October 2009 establishing a framework for Community action to achieve the sustainable use of pesticides (Diretiva sobre produtos de proteção de plantas)

    http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2009:309:0071:0086:en:PDF

    Thomas P, Holland N, Bolognesi C, Kirsch-Volders M, Bonassi S, Zeiger E, Knasmüller S, Fenech M (2009). Buccal micronucleus cytome assay. Nat Protoc. 4(6):825-37.

    Tolbert P, Shy CM, Allen JW 1992. Micronucleus and other nuclear anomalies in buccal smears: Methods development. Mut Res 271:69-77.

    US EPA Office of Pesticide Programs, Health Effects Division, Science Information Management Branch (2006): Chemicals Evaluated for Carcinogenic Potential. April 2006 http://npic.orst.edu/ chemicals_evaluated.pdf.

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    6 . ANEXO

    Informação adicional

    Südwind, uma organização não governamental na área do desenvolvimento, defende um desenvolvimento global sustentável, os direitos humanos e condições laborais justas em todo o mundo há mais de 35 anos. O objetivo da Südwind, com o seu trabalho de educação nas escolas e fora delas, o jornal mensal Südwind Magazin e outras publicações, é a sensibilização do público para a interdependência global e as suas consequências na Áustria. Através de ações para chamar a tenção, campanhas e outras atividades de informação, a Südwind procura construir um mundo mais justo.www.suedwind.at

    A campanha “Make Fruit Fair!/Fruta Tropical Justa” é um projeto de três anos pro-movido pela Südwind e 19 organizações parceiras para a defesa de condições laborais justas, do desenvolvimento sustentável e de práticas comerciais justas na produção de fruta. Organizações não governamentais (ONG) de toda a Europa colaboram numa parceria próxima com organizações de pequenos agricultores e sindicatos de traba-lhadores de plantações na África, América Latina e Caraíbas. O objetivo é melhorar as condições laborais e de vida das pessoas que cultivam, colhem e embalam as frutas tropicais que compramos todos os dias. Especificamente, a campanha exige aos su-permercados, como os elos mais poderosos da cadeia de distribuição, que paguem preços justos aos seus fornecedores, cobrindo os custos da produção sustentável, e que protejam o ambiente, reduzindo o uso de agroquímicos tóxicos. Os governos deviam evitar que os supermercados abusem do seu poder de compra e garantir que as empresas sejam responsabilizadas pelas condições laborais em países produtores.www.suedwind.at e www.makefruitfair.org

    UROCAL é uma organização-chapéu de produtores em pequena escala na região costeira sul do Equador. As províncias de Guayas, Azuay e El Oro constituem uma das regiões produtoras de bananas mais importantes do país. A UROCAL, União Regional de Organizações de Agricultores do Litoral, reúne e representa cerca de duas dúzias de cooperativas locais, organizações de produtores, comissões de mu-lheres e uma cooperativa de crédito com mais de mil membros. As origens desta organização-chapéu remontam à luta pelo direito à terra nos anos 1960. A maioria das famílias de agricultores cultivam áreas entre 1 e 15 hectares na faixa costeira entre as cidades portuárias de Guayaquil e Machala. Os agricultores do setor das bananas da UROCAL pertencem aos 5.000 pequenos agricultores que cultivam cerca de 60% das bananas produzidas no Equador.

  • www .makefruitfair .org