estudo do mercado de carbono

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UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO FACULDADE DE AGRONOMIA ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO NA CAFEICULTURA DO SUL DE MINAS GERAIS Regiane das Graças Sorce Ferreira Alfenas, MG junho / 2010

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ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

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Page 1: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO

FACULDADE DE AGRONOMIA

ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO NA

CAFEICULTURA DO SUL DE MINAS GERAIS

Regiane das Graças Sorce Ferreira

Alfenas, MG

junho / 2010

Page 2: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

2

UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO

FACULDADE DE AGRONOMIA

ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO NA

CAFEICULTURA DO SUL DE MINAS GERAIS

Regiane das Graças Sorce Ferreira

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

da Universidade José do Rosário Vellano –

Unifenas, como parte das exigências para obtenção

do título de Mestre de Profissional em Sistemas de

Produção em Agropecuária.

Orientador: Prof. Dr. José de Messias Miranda

Alfenas, MG

junho / 2010

Page 3: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

3

FOLHA DE APROVAÇÃO

Regiane das Graças Sorce Ferreira, foi aprovada com o trabalho intitulado ESTUDO DO MERCADO DE

CARBONO NA CAFEICULTURA DO SUL DE MINAS GERAIS, apresentado em 29 de junho de 2010,

na Unifenas, campus Alfenas.

___________________________________________________

Professor José de Messias Miranda

___________________________________________________

Professor Adriano Bortolotti da Silva

___________________________________________________

Professora Moema Miranda Siqueira

Alfenas, 2010

Page 4: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

4

No pé dessa serra tem mata fechada. As noite vai indo os dia vem vindo.

Você vai seguindo que não tem errada. Depois disso tem mais outra estrada.

- Ah é? E depois dessa estrada? Ah tem muitas estradas, tem sempre o Brasil.

- E depois do Brasil? Depois do Brasil?

- É. Depois do Brasil, não tem nada!

Trecho do Poema Estradas, de Luis Peixoto

Page 5: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

5

Dedico este meu trabalho ao meu pai e minha mãe, não há palavras pra descrever a

importância de vocês em minha vida.

Di, minha irmã do coração, que sempre cuidou de mim, mesmo que distante.

Zana e Pedro por terem nos dado a presença de um anjo para alegrar a vida de todos: Bruna,

nossa princesinha.

Cumadi Ada, Cumpadi Gabriel, Pedro e Luís, pelo carinho, amor, dedicação, preocupação e,

mais que tudo, comprometimento e compartilhamento.

Aos dois profissionais que mais admiro: João Antonio Lian e João Manuel do Espírito Santo

Bento, por terem me ensinado a admirar e apaixonar pelo Agronegócio Café.

Edílson – você ainda me faz rir, e muito...

Tio Argemiro, tia Rose, Tuco e Juninho – vocês são a essência da minha feliz infância.

Vô Nenê, vó Mélia, vô Tide e vó Isabel, que já se foram, mas deixaram a sua eternidade no

amor que tiveram pela família.

Zakky Haddad, meu padrinho, que deixou um grande exemplo de vida, o qual ainda mantenho

vivo em mim.

Eduardo de Oliveira Andrade, pela convivência.

Ao tio Gusto, que nos ensina a importância de Maria, um ser tão comum aos olhos comuns,

mas tão Santa aos olhos de um Rei.

Page 6: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

6

AGRADECIMENTOS

- Primeiramente agradeço a Deus, por ter me dado o privilégio da vida.

- Unifenas, pela oportunidade de aperfeiçoamento.

- Meus grandes amigos, que carregarei pela minha vida, o Professor Lazinho – meu

conselheiro e amigo, e professores Geraldo e Vinícius.

- Heloísa, pela ajuda, como sempre, animadíssima!

- Meus alunos da faculdade de Administração, os que já passaram, os que ainda estão lá, e

porque não, os que virão.

- Ao professor Adriano, profissional essencial para a conclusão deste trabalho.

- Minha Mãe Santíssima, obrigada!

Page 7: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

7

LISTA DE FIGURAS

GRÁFICO 1: Produção de Café ............................................................................................... 19

Page 8: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

8

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Preço Médio dos Crédito ....................................................................................... 31

TABELA 2: Preço Médio dos Créditos de Carbono ................................................................. 31

TABELA 3: Relação de tributos incidentes sobre a atividade da cafeicultura .......................... 50

TABELA 4: Resultado da Planta Amostra Sequestro de CO2 café .......................................... 52

TABELA 5: Resultado da Planta Amostra, com Cálculo .......................................................... 52

Page 9: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

9

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

GEE - Gases de Efeito Estufa

MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento

BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuro

PIB – Produto Interno Bruto

CQNUMC - United Nations Framework Convention on Climate Change

CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

OCDE - Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos

COP - Conferência das Partes

URE - Unidades de Redução de Emissão

RCEs – Reduções Certificadas de Emissões

FGV - Fundação Getúlio Vargas

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

UNTAD - Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento

MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia

CER - Certificados de Emissões Reduzidas

VCS - Voluntary Carbon Standard

VPL - Valor Presente Líquido

TIR - Taxa Interna de Retorno

PPS - Período de Payback Simples

TIR - Taxa Interna de Retorno

RCB - Relação Custo Benefício

PB – Payback

MLL - Margem de Lucro Liquido

Page 10: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

10

TMAR - Taxa Mínima Atrativa de Retorno

MC - Margem de Contribuição

PV - Preço de Venda

CV - Custos Variáveis

DV - Despesas Variáveis

PE - Ponto de Equilíbrio

CFT - Custos Fixos Totais

PEq - Ponto de Equilíbrio em Quantidades

CDI - Certificado de Depósito Interbancário

Page 11: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

11

RESUMO

FERREIRA, Regiane das Graças Sorce. Estudo do Mercado de Carbono na Cafeicultura do Sul

de Minas Gerais. Orientador: Professor Doutor José de Miranda Messias. Alfenas, Minaas

Gerais. Unifenas. 2010.

O presente trabalho teve por objetivo verificar o seqüestro de carbono na cultura do cafeeiro,

bem como, analisar a viabilidade do mercado de carbono nesse segmento. O trabalho foi

realizado na Fazenda Experimental da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas),

Alfenas – MG. Para estimar o seqüestro de carbono da cultura do cafeeiro foram abatidas

quatro plantas da cultivar Catuaí com quatro anos de idade, sendo avaliado o seqüestro de

carbono das estruturas vegetativas e reprodutiva. A viabildiade econômica foi obtida a partir de

um estudo de caso na propriedade rural, verificando receitas, despesas, bem como análise do

investimento pelo VPL, PayBack e ponto de Equilíbrio. Foi estimado que um hectare com a

cultura do cafeeiro pode seqüestrar 36.363 hg/ha de CO2 e que pode-se melhorar os ganhos

do produtor com o comércio do carbono no mercado voluntário.

Palavras-Chave: Cultura do café, Sequestro de Carbono, Viabilidade do Mercado de Carbono

Page 12: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

12

ABSTRACT

FERREIRA, Regiane das Graças Sorce. Estudo do Mercado de Carbono na Cafeicultura do Sul

de Minas Gerais. Orientador: Professor Doutor José de Miranda Messias. Alfenas, Minas

Gerais. Unifenas. 2010.

The presented study aimed to verify carbon sequestration in coffee plantation and as well as

figure out the feasibility of the carbon market in this segment. The study was conducted at the

Experimental Farm José do Rosário Vellano University (Unifenas) Alfenas – MG. For this

estimation os carbon sequestration from coffee plantations were felled four plants of the Catuai

species aged four years and was taken the evalution for the carbon sequestration of vegetative

and reproductive systems. The economic viability was obtained from a case study done at the

agricultural property, verifying incomes, costs and as well by the investment analysis dor NPV,

Payback and Point of Balance. It was estimated that onde hectare of coffee plantations can

sequester 36 363 hg / ha of CO² and it can lead an improvement gain for producers trading at

carbon voluntary market.

Keywords: Coffee Culture, Carbon Sequestration, Carbon Market Feasibility

Page 13: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14

2 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 16

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 16

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................. 17

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................... 17

3.1 CAFEICULTURA NO BRASIL .......................................................................................... 17

3.1.1 Cafeicultura no Sul de Minas ....................................................................................... 19

3.2 RELEVÂNCIA DA CAFEICULTURA ................................................................................. 21

3.4 EFEITO ESTUFA ............................................................................................................... 22

3.5 SEQUESTRO DE CARBONO ........................................................................................... 23

3.6 MERCADO DE CARBONO ............................................................................................... 24

3.6.1 Antecedentes e o Protocolo de Quioto ....................................................................... 24

3.6.2 O Protocolo de Quioto e os mecanismos de flexibilização ....................................... 27

3.7 O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO .................................................................. 28

3.8 PREÇOS DOS CRÉDITOS DE CARBONO ...................................................................... 29

3.8.1 Principais compradores e vendedores dos créditos de carbono ............................. 30

3.9 O MERCADO DE MBRE ................................................................................................... 32

3.10 OS PROJETOS DO MERCADO VOLUNTÁRIO ............................................................. 32

3.11 COTAÇÃO NO MERCADO VOLUNTÁRIO .................................................................... 34

3.12 VIABILIDADE ECONÔMICA DO MERCADO DE CARBONO ........................................ 35

3.12.1 Custos de Produção ................................................................................................... 37

3.12.2 Avaliação Econômica de Projetos Rurais ................................................................. 38

3.12.2.1 Valor Presente Líquido VPL .................................................................................... 39

3.12.2.2 Taxa Interna de Retorno TIR ................................................................................... 40

3.12.2.3 Período de Payback ................................................................................................. 41

3.12.2.4 Taxa Mínima Atrativa de Retorno TMAR ................................................................ 42

3.12.2.5 Regra do Bolso......................................................................................................... 42

3.12.2.6 Análise das relações custo/volume/lucro ............................................................. 43

3.12.2.7 Alavancagem Operacional ...................................................................................... 43

3.12.2.8 Margem de Contribuição ......................................................................................... 44

3.12.2.9 Ponto de Equilíbrio .................................................................................................. 45

4 METODOLOGIA ................................................................................................................... 47

Page 14: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

14

4.1 INVESTIMENTOS PREVISTOS ATRAVÉS DO MERCADO DE CRÉDITO DE CARBONO

49

4.1.1 Preços da tonelada de carbono fixado ....................................................................... 49

4.1.2 Taxa de desconto .......................................................................................................... 49

4.1.3 Alíquotas dos Tributos ................................................................................................. 50

4.1.4 Avaliação econômica com e sem computarmos o valor do carbono ...................... 50

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 52

5.1 VIABILIDADE ECONÔMICA NO BALANÇO DE MASSA ENTRE EMISSÃ E SEQUESTRO

DE CO2, NA CAFEICULTURA ............................................................................................... 55

5.1.2 Demonstração de Resultados com e sem o valor do carbono ................................. 57

5.1.3 Análise de Investimento ............................................................................................... 58

5.1.4 Análise do Investimento pelo VPL, Payback e Ponto de Equilíbrio ......................... 58

5.1.11 Análise do Investimento pelo Valor Presente Líquido VPL ..................................... 59

5.1.12 Análise do Investimento pelo PayBack – tempo de retorno ................................... 60

5.1.13 Ponto de Equilíbrio ..................................................................................................... 60

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 63

Page 15: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

15

1 INTRODUÇÃO

Considerando-se a Gestão Empresarial, a década de 90 apresentou-se como um

marco de mudanças administrativas, que possibilitaram um desenvolvimento relevante,

apresentando uma agricultura brasileira mais competitiva.

As mudanças no jogo competitivo induzem o agronegócio a discussão e

amadurecimento de novas competências. Um elemento relevante consiste na capacidade da

empresa agrícola de redefinir e renovar os próprios recursos e as relações estratégicas, para

perseguir simultaneamente os objetivos de qualidade do produto e de inovação de processos.

Atualmente, as questões ambientais tem se tornado de interesse público, com os

consumidores cada vez mais exigentes na forma de produção dos produtos e serviços

oferecidos pelo mercado.

Dentre as questões ambientais mais relevantes, as mudanças climáticas se

destacam. Um de seus principais causadores é o aumento do aquecimento global que resulta

principalmente de uma maior concentração dos Gases de Efeito Estufa - GEE, na atmosfera.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL, é um incentivo oferecido pelo

Protocolo de Quioto aos países em desenvolvimento para que também adotem políticas de

redução de emissões de gases do efeito estufa, possibilitando a venda destas reduções a

países obrigados a cumprirem metas, criando assim um novo mercado, o Mercado de Carbono.

Este mercado pode ser uma alternativa de renda aos cafeicultores que, em muitos casos, já

estão em processo de certificação de suas lavouras.

Neste contexto, o cultivo do café, a partir de processos fotossintéticos, pode

seqüestrar carbono da atmosfera, reduzindo a concentração dos gases do efeito estufa.

Especialistas afirmam que o mercado voluntário de carbono é o grande impulsionador

do mercado de compliance - obrigatório, regido pelas normas do Protocolo de Quioto.

Page 16: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

16

O MDL oferece ao setor produtivo cafeeiro novas oportunidades de aumentar os

fluxos de renda e, ao mesmo tempo, de diminuir os impactos do ciclo vital do café sobre o meio

ambiente. Isto vem em boa hora, pois os preços do café como produto básico alcançaram

baixas históricas, das quais eles só recuperaram em parte, e, embora os preços de varejo não

tenham caído, as conseqüências negativas foram notadas na maior parte dos países

produtores de café do Hemisfério Sul. O impacto dos preços baixos, em grande parte, consistiu

numa redução considerável dos fluxos de renda das grandes e pequenas propriedades

agrícolas, com uma redução simultânea dos investimentos de capital em administração da terra

e equipamentos. A implementação de atividades de redução dos gases de efeito estufa nos

países produtores e a transação do valor resultante do carbono poderiam, portanto,

proporcionar uma importante fonte de receita adicional para investimentos de capital ou

aumento de renda.

Page 17: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

17

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Verificar o seqüestro de carbono na cafeicultura, bem como analisar a viabilidade do mercado

de carbono neste segmento.

2.2 Objetivos Específicos

- Estimar o seqüestro de carbono de uma lavoura cafeeira com quatro anos de idade;

- Definir Mercado de Carbono; e

- Analisar a promoção o Mercado de Carbono como ferramenta para aumento da rentabilidade

do cafeicultor.

Page 18: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

18

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 CAFEICULTURA NO BRASIL

No Brasil, maior produtor mundial de café, segundo a Companhia Nacional de

Abastecimento – CONAB, na safra de 2007/08, a produção de café foi de cerca de 32.625 mil

sacas beneficiadas, das quais 69,04% da produção foi de café arábica e 30,96% de café

robusta (CONAB, 2008).

Ainda, segundo o mesmo autor, entre as regiões produtoras de café do País, destaca-

se a Região Sudeste, especialmente o Estado de Minas Gerais, que é o maior produtor

nacional do grão, tendo produzido na safra 2007/08 cerca de 14.789 mil sacas de café

beneficiadas, o que equivale a aproximadamente 45,33% da produção nacional. O Estado de

Minas Gerais destaca-se ainda por ser o maior produtor de café arábica.

Embora seja grande a importância do café para a economia brasileira e para o Estado

de Minas Gerais, a atividade cafeeira envolve muitas incertezas e riscos, especialmente em

relação às flutuações no preço e na produtividade, provocadas principalmente pelas variações

climáticas e pela bianualidade inerente à cultura (MAPA, 2006).

Entretanto, existem mecanismos de proteção aos riscos de mercado e agrícola. No

caso do risco agrícola, ele pode ser amenizado pela adoção de tecnologias e sistemas

produtivos com maiores níveis de produtividade, desde que os benefícios econômicos gerados

pela elevação da produtividade sejam maiores que os custos de produção inerentes a esses

sistemas (MAPA, 2006).

Desde meados da década de 1990, a produção mundial de café tem apresentado

aumentos significativos não acompanhados pela respectiva elevação do consumo. Houve

Page 19: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

19

expressivo crescimento do parque cafeeiro na maioria dos países produtores, com destaque

para o Vietnã e o Brasil. As cotações, por sua vez, iniciaram uma prolongada queda, que

culminou em 2001 quando o preço do café arábica, segundo a BM&F, desvalorizou-se e ficou

abaixo dos 50 cents a libra e o do robusta, a menos de 400 dólares a tonelada. Desde então,

houve uma redução do parque cafeeiro e os preços se recuperaram um pouco, conforme

Figura 1, mas ainda estão em patamares inferiores aos de seis anos atrás. Na safra 2002/03,

por exemplo, a produção alcançou o recorde de 125 milhões de sacas, ao passo que a

demanda foi de 109 milhões de sacas. A safra 2004/05 deve ficar em torno de 112 milhões de

sacas, segundo a Organização Internacional do Café - OIC (USDA, 2004).

GRÁFICO 1: PRODUÇÃO DE CAFÉ (TONELADAS) EM MINAS GERAIS E PREÇOS MÉDIOS DO CAFÉ ARÁBICA PAGO AO PRODUTOR NO BRASIL – 1990 - 2006 Fonte: Dados básicos do Igbe / Conab (2006) e CIC (2007) O Brasil é o maior produtor e exportador de café, com participação média de 24% nas

exportações mundiais. Em 2002, as exportações brasileiras bateram o recorde de 27,9 milhões

de sacas, o que representou market-share de 32%, o maior dos últimos 12 anos (CECAFE,

2008). ORGANIZAR MELHOR

Ainda, segundo o mesmo autor, mesmo com o crescimento significativo da

quantidade exportada, o café deixou de ser o principal produto da pauta brasileira de

exportação agrícola, ficando atrás do complexo soja, açúcar e carne de frango. Em 2003, as

exportações recuaram para 25,5 milhões de sacas. Estima-se que o Brasil tenha condições de

Page 20: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

20

dominar pelo menos 20% do mercado mundial de cafés especiais. Entretanto, do total de 16

milhões de sacas de café verde embarcadas pelo Brasil em 2000, apenas 300 mil foram

destinadas aos mercados de cafés de qualidade. Estima-se que o Brasil tenha condições de

dominar pelo menos 20% do mercado mundial de cafés (SAES & NAKAZONE, 2002).

3.1.1 Cafeicultura no Sul de Minas

Entre 2002 e 2006, a cafeicultura no Sudoeste apresentou efeitos área, rendimento e

composição positivos (0,5% a.a., 1,94% a.a. e 6,54% a.a. respectivamente). A taxa anual de

crescimento na região Sudoeste, entre 1999 a 2004, apresentou seu menor índice (-5,72%) em

relação ao período estudado. O efeito rendimento, responsável pelo péssimo desempenho da

produção, teve queda de 9,31% ao ano, o que pode ser justificado pela queda dos preços

pagos aos produtores da região (COOXUPÉ, 2006).

As empresas ligadas à produção agrícola nas regiões de implantação da agricultura

científica e tecnificada, como a produção cafeeira Sul Mineira, indicam as ações e determinam

as políticas de investimento público na região (SANTOS, 2005).

Ainda, segundo Santos (2005), a cafeicultura mineira apresenta renovação e

ampliação de suas lavouras em todas as regiões produtoras. Segundo a autora, essas regiões

apresentam diferentes características na estrutura produtiva, nas propriedades, nos sistemas

de manejo, na capacidade de produção e na composição do parque cafeeiro.

O circuito espacial da produção a produção cafeeira no Sul de Minas é um exemplo

de uso corporativo do território nacional por empresas cujos interesses internacionais

incentivam o Estado a instrumentalizar os lugares para a realização eficaz de suas atividades

agrícolas para exportação (SANTOS, 2005).

Page 21: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

21

Desde a década de noventa, na região Sudoeste de Minas Gerais, a produção do

café impõe um adensamento de sistemas de engenharia no território que tem viabilizado a

produção desta mercadoria vantajosamente e em grande escala (MAPA, 2007).

A região do Sudoeste Mineiro torna-se assim uma região funcional, uma região

especializada para a produção agrícola no território brasileiro; uma região como descrita por

Milton Santos (1997), funcional às exigências e interesses mundiais, a partir da reunião, num

mesmo lugar, de fatores produtivos especializados em determinadas mercadorias, um lugar

apto a competitividade internacional, dado exatamente a composição técnica que aí se instala.

Nesse processo de especialização produtiva dos lugares em busca de alcançar o

mercado internacional, as ações do Estado. Orientado-se pela histórica necessidade do país

em exportar e gerar divisas para honrar compromissos de dívidas com os organismos

internacionais, se torna solidário aos interesses das grandes empresas também orientadas

pelo mercado internacional (PUPO, 1968).

A expansão da cafeicultura no Sul de Minas pode ser dividia em três fases. A primeira

teve início no começo do século XIX, sendo os tropeiros responsáveis pela introdução da

planta nas cidades de Airuoca, Jacuí e Baependi. Nessa época, a produção se destinava para

o próprio consumo. O segundo período de expansão começa no final do século XIX e ocorre

por conta do deslocamento da cafeicultura do Oeste Paulista. Foi essa fase que permitiu o

grande desenvolvimento da Cafeicultura Sul Mineira, fazendo dessa mercadoria uma das

principais atividades econômicas agrícolas da região. O terceiro período corresponde à

expansão do meio técnico-cientifico-informacional para o meio rural e corresponde a formação

de um circuito espacial produtivo da café a partir da década de setenta (FILETO apud

FONTES, 2001).

A região do Sul de Minas, desde a década de setenta lidera a produção de café do

Estado, atualmente responde por 59% da produção total de Minas Gerais. Possui uma

Page 22: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

22

produção em torno de 12 milhões de sacas de 60 Kg e uma produtividade de 29 sacas de 60

Kg de café por hectare plantado. (SILVA apud FONTES, 2001).

3.3 RELEVÂNCIA DA CAFEICULTURA

A economia nacional é fortemente influenciada pelo agronegócio. Isto se torna claro

quando se observa que este é responsável pela geração de 37% dos empregos brasileiros e

sua participação no PIB é de 33%. A balança do comércio exterior do agronegócio brasileiro

fechou 2004 com saldo positivo de US$ 34 bilhões. Nesse período o setor exportou US$ 39

bilhões, o que representa mais de 40% de toda a produção brasileira vendida ao exterior

(AGRICULTURA, 2005).

No ano de 2003, foram comercializados cerca de 1,8 mil produtos para 209 mercados

em todo o mundo (BRASIL, 2004). O agronegócio deve ser entendido como um sistema,

especialmente pela sua influência sobre as demais atividades econômicas do país e pela sua

vinculação ao cenário mundial. O agronegócio brasileiro é fortemente influenciado pelas

mudanças ocorridas no sistema agroalimentar mundial, e no contexto sócio-econômico

internacional, em decorrência da necessidade da manutenção de sua competitividade neste

ambiente. Estas mudanças são de natureza social, cultural, política, econômica, ambiental,

entre outras, as quais refletem seu caráter multidisciplinar. No âmbito nacional, o agronegócio

permeia a maioria dos setores da economia, sendo difícil estabelecer os limites de seu alcance.

Page 23: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

23

3.4 EFEITO ESTUFA

Em 1992, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas foi

assinada por 154 países com vistas à “estabilização das concentrações de gases de efeito

estufa na atmosfera num nível que impeça a perigosa interferência com o sistema climático”.

Na seqüência da Convenção, em 1997, firmou-se um acordo conhecido como

Protocolo de Quioto, em que 39 países estabeleceram metas específicas de redução dos GEE.

Para alcançar estas metas da maneira mais econômica possível, o Protocolo de Quioto permite

aos participantes negociarem as emissões, assim criando um mercado para o carbono. Um dos

mecanismos de mercado ideados é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), através

do qual as partes emissoras podem contrabalançar suas emissões investindo em projetos de

redução de emissões nos países em desenvolvimento (INSTITUTO DE PESQUISA

AMBIENTAL DA AMAZÔNIA, 2002) .

Com a elevação das temperaturas, 18 espécies estarão ameaçadas de extinção até o

ano de 2050, considerando o cenário mais otimista. Impactos como a elevação do nível dos

oceanos e furacões mais intensos e mais freqüentes também poderão ser sentidos, assim

como o derretimento das geleiras (SALATI; et al, 2004) e, entre as estratégias para redução da

concentração de gás carbônico na atmosfera, destacam-se:

a) a redução das emissões por queima de combustíveis fósseis;

b) a redução da queima de material vegetal; e

c) o seqüestro do carbono através do plantio e manejo de florestas.

Embora o efeito estufa seja natural, há razões para se preocupar pelo aumento da

concentração destes gases na atmosfera, que gira me torno de 25% desde o início da

Revolução Industrial, no século XVIII. Estudos vêm demonstrando que a concentração de gás

carbônico e a temperatura da atmosfera tem variado conjuntamente nas últimas dezenas de

Page 24: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

24

milhares de anos, reforçando a preocupação que o aumento destes gases possa provocar

mudanças no clima (ALECHANDRE e BROWN, 2000).

3.5 SEQUESTRO DE CARBONO

Considerando que a redução da queima de combustíveis fósseis implica

desaquecimento da economia de países desenvolvidos e que as mudanças no uso da terra,

principalmente devido aos desmatamentos, dificilmente deixarão de ocorrer, tendo em vista o

crescimento da população mundial e a necessidade de abertura de novas áreas para

atividades agrícolas e de pecuária. O seqüestro de carbono por florestas torna-se uma

atividade econômica atrativa, desde que remunerada adequadamente, e ambientalmente

correta, do ponto de vista do seqüestro do carbono atmosférico, reduzindo um dos principais

gases responsáveis pelo efeito estufa (ROCHA, 2003).

No entanto, existe a necessidade de conhecer os estoques de carbono presentes

em diferentes compartimentos da floresta (parte aérea das árvores, sistema radicular, sub-

bosque, solo, entre outros) para se conhecer o potencial das florestas no seqüestro de

carbono, bem como a sua viabilidade econômica.

Trabalhos têm sido realizados, utilizando-se estimativas de volume e biomassa em

diferentes partes das árvores e em compartimentos das florestas, as quais são convertidas em

quantidades de carbono pela utilização de fatores de conversão, ou seja, a quantidade de

carbono estocada nas florestas normalmente é obtida de forma indireta (COOPER, 1983;

BROWN e LUGO, 1984; BROWN et al.,1986; SCHROEDER, 1992), principalmente devido ao

custo elevado para obtenção da quantidade de carbono presente em diferentes

compartimentos da floresta.

Page 25: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

25

3.6 MERCADO DE CARBONO

3.6.1 Antecedentes e o Protocolo de Quioto

Em 1990, a Assembléia Geral das Nações Unidas respondeu aos apelos em relação

às mudanças do clima, estabelecendo o Comitê Intergovernamental de Negociação que foi o

responsável pela redação da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima -

CQNUMC (United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC). A

CQNUMC foi assinada em 1992, durante a realização, no Rio de Janeiro, da Conferência das

Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida

como Rio-92. A CNUMAD adotou outros compromissos específicos além da Convenção que

seria a Convenção sobre Diversidade Biológica, a Declaração do Rio e a Agenda 21

(PEREIRA, 2002; RIBEIRO, 2001; ROCHA 2003; UNFCCC, 2002).

As nações que assinaram a Convenção sobre as condições climáticas se dispuseram

a elaborar uma estratégia global de combate à poluição atmosférica, reconhecendo a mudança

do clima como uma preocupação comum da humanidade. A CQNUMC foi o grande marco para

o desenvolvimento de soluções para combater o desgaste do meio ambiente causado pela

emissão dos gases de efeito estufa (GEE). Mobilizou-se um número muito grande de

interessados em soluções, incluindo não somente ecologistas e pessoas preocupadas com a

natureza de maneira geral, mas também governantes de países desenvolvidos alarmados com

os malefícios que as mudanças do clima poderiam causar às suas economias. A problemática

ambiental deixou de ter, portanto, uma dimensão puramente física e biológica e passou a ter

uma dimensão também econômica e política (GURFINKEL, 2005). Como conseqüência da

Page 26: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

26

Convenção, os países membros foram separados em dois grupos: os listados no seu anexo 1 e

os que não são listados nesse anexo.

As Partes do anexo 1 são basicamente os países industrializados, que são os que

mais contribuíram no decorrer da história para as mudanças no clima atualmente observadas e

contam com maior capacidade financeira e institucional para tratar do problema. São os países

que eram membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos

(OCDE) em 1992, além dos países chamados de economias em transição (conhecidos como

EITs), que compreendem a Federação Russa e vários outros países da Europa Central e

Oriental. Essas Partes comprometeram-se em adotar políticas e medidas nacionais com a meta

de retornar suas emissões de gases de efeito estufa aos níveis de 1990, até o ano 2000

(CQNUMC, 2004; FRANGETTO, 2002).

Depois dos compromissos primordiais em relação à redução de gases de efeito estufa

terem sido determinados na Convenção do Clima, os países membros deveriam refletir sobre

as determinações da Convenção, criando novos objetivos e revisando os anteriores. Para

tanto, era necessário estabelecer um processo permanente e periódico de discussão, com

troca de informações sobre o desenvolvimento científico, progresso tecnológico e as

disposições políticas dos países. Foi, então, criada a Conferência das Partes (COP), que é o

órgão supremo da Convenção, a autoridade mais alta para tomada de decisões, cujas reuniões

ocorrem anualmente desde 1995 (CQNUMC, 2004; PEREIRA, 2002).

A 3ª Conferência foi realizada entre 1 e 12 de dezembro de 1997, em Quioto, Japão.

Na COP 3 foi criado um Protocolo, com vinculação legal, segundo o qual os países

industrializados deveriam reduzir suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em

torno de 5,2% em relação aos níveis de 1990, no período compreendido entre 2008 e 2012. O

Protocolo de Quioto foi aberto para assinatura, na sede das Nações Unidas em Nova York em

16 de março de 1998. Porém, ficou estabelecido que só entraria em vigor 90 dias após a data

de depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão por pelo menos

Page 27: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

27

55 nações da Convenção, incluindo os países desenvolvidos e industrializados que

contabilizaram pelo menos 55% das emissões totais de dióxido de carbono, ou equivalentes

em 1990 (CQNUMC, 1997; ROCHA, 2003).

Como determinação deste Protocolo, cada país membro, definido como redutor de

GEE, deve apresentar um inventário anual de emissões de gases de efeito estufa, não

controlados pelo Protocolo de Montreal. Caso o país membro não cumpra com o acordado de

redução, haverá procedimentos e mecanismos adequados e específicos de punição, a serem

definidos, levando em conta a causa, o tipo, o grau e a freqüência do não-cumprimento

(CQNUMC, 1997; ROCHA, 2003).

O Protocolo define os gases considerados de efeito estufa e os setores da economia

responsáveis por essas emissões, para assim poder determinar os percentuais de emissão e

metas de redução. Os setores que o Protocolo considera como responsáveis pelas emissões

são basicamente: energia, transporte, emissões fugitivas de combustíveis, combustíveis

sólidos, petróleo e gás natural, processos industriais, produtos minerais, indústria química,

produção de halocarbonos e hexafluoreto de enxofre, consumo de halocarbonos e hexafluoreto

de enxofre, agricultura, uso do solo, mudança do uso do solo e floresta, tratamento de esgoto

(CQNUMC, 1997).

O Protocolo, seguindo a mesma linha da Convenção do Clima, aponta os países

desenvolvidos como maiores responsáveis pelo efeito estufa. Portanto, as metas quantitativas

de redução são dirigidas a estes e não aos países em desenvolvimento. O percentual que cada

país deve reduzir foi definido depois de estudadas as emissões de cada um separadamente,

sendo calculado de acordo com o maior ou menor grau de influência que cada um representa

no clima mundial (CQNUMC, 1997; PEREIRA, 2002).

Para alcançarem a diminuição das emissões, os países devem implementar e/ou

aprimorar tecnologias de acordo com as circunstâncias nacionais, promovendo o

desenvolvimento sustentável. Vale lembrar, que a Organização das Nações Unidas (ONU)

Page 28: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

28

apresentou um documento chamado Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland,

apresentado em 1987, que teve como principal foco o desenvolvimento sustentável, e assim o

definindo: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade

de as gerações futuras atenderem às suas necessidades” (ONU, 1997).

3.6.2 O Protocolo de Quioto e os Mecanismos de Flexibilização

O Protocolo de Quioto introduziu os instrumentos econômicos necessários para

auxiliar o cumprimento dos objetivos e princípios de redução de emissões de GEE. Visando

facilitar o atendimento das metas de redução, o Tratado criou ferramentas comerciais

chamadas de Mecanismos de Flexibilização, por meio dos quais um país pertencente ao anexo

1 pode ultrapassar o seu limite de emissões sem que as emissões líquidas globais aumentem,

e desde que haja redução equivalente em outro país (CQNUMC, 1997; PEREIRA, 2002).

Os mecanismos de flexibilização previstos no Protocolo são três: a Implementação

Conjunta (Joint Implementation), o Comércio de Emissões (Emissions Trading) e o Mecanismo

de Desenvolvimento Limpo – MDL (Clean Development Mechanism – CDM). Os três

mecanismos possibilitam a criação e o desenvolvimento de um mercado de carbono

(PEREIRA, 2002).

A Implementação Conjunta permite aos países industrializados compensarem suas

emissões participando de projetos e sumidouros em outros países Anexo I. Há portanto, a

criação de créditos de carbono chamados de unidades de redução de emissão (URE), que

podem ser negociadas entre os países Anexo I (CQNUMC, 1997).

O Protocolo de Quioto introduziu os instrumentos econômicos necessários para

auxiliar o cumprimento dos objetivos e princípios de redução de emissões de GEE. Visando

Page 29: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

29

facilitar o atendimento das metas de redução, o Tratado criou, portanto ferramentas comerciais

por meio das quais um país anexo 1 pode ultrapassar o seu limite de emissões sem que as

emissões líquidas globais aumentem, e desde que haja redução equivalente em outro país,

pois a emissão dos gases de efeito estufa afeta todo o mundo, independe da região que foram

emitidos. Portanto, se houver uma diminuição em um dado país, o benefício é mundial e não

local (CQNUMC, 1997; PEREIRA, 2002).

3.7 O Mercado de créditos de carbono

Atualmente, não há um único mercado de carbono, definido por uma única

commodity, por apenas um contrato. O que é comumente chamado de “mercado de carbono” é

uma coleção de diversas transações por meio das quais volumes de reduções de emissões de

GEE são comercializados e eles se diferenciam em relação ao tamanho, formato e

regulamentação. Essas transações podem ser também separadas em Quioto compliance e

non-Quioto compliance, ou seja, créditos de carbono que obedecem aos parâmetros impostos

pelo Protocolo ou não. As informações referentes a este mercado são limitadas e

principalmente, de difícil mensuração, pois não há uma câmara central de compensação para

as transações, além de não ser obrigatória a publicação dos preços e negociações (CQNUMC,

2001; WORLD BANK, 2005).

Em relação aos valores, o montante observado em 2005 girou em torno de US$ 10

bilhões referente aos mercados de carbono em geral, sendo que US$ 2,7 bilhões referiam-se

aos créditos gerados nos projetos de MDL.

Em 2006, observou-se um total de cerca de US$ 20 bilhões, o dobro de 2005 sendo

que 3,2 bilhões em MDL. Há uma forte tendência de crescimento do mercado de carbono. Essa

Page 30: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

30

tendência pode ser observada tanto no que tange ao volume financeiro quanto das emissões

de CO2.

3.8 Preços dos créditos de carbono

Até outubro de 2005 não havia nenhuma emissão real de certificados decorrentes dos

projetos de MDL, porém em 2006 foi constatado 215 certificados emitidos. As negociações dos

certificados ocorrem por intermédio de acordos particulares, paralelos utilizando contratos e

preços muitas vezes confidenciais e sem registro público, e as transações são feitas por

intermédio de acordos de balcão o que dificulta a obtenção de informações. É interessante

notar, que uma grande parte das negociações é efetuada antes das verificações de reduções

de emissões (UNFCCC, 2006; UNFCCC, 2007; WORLD BANK, 2005).

Outra evidência de que o mercado de carbono está evoluindo, pode ser verificado

quando observamos o número de RCEs – Reduções Certificadas de Emissões, registrados.

Em 2005 haviam 10 projetos de MDL registrados, sendo que 1 brasileiro; em janeiro de 2006 já

houve uma evolução para 96 registros, com 7 brasileiros; e por fim, em abril de 2007 já havia

um número muito mais elevado, de 633, dos quais 97 brasileiros (UNFCC, 2007).

Para se ter um panorama dos motivos que podem afetar as variações de preços,

segue abaixo os principais determinantes, segundo Andrade (2004) e Point Carbor (2005):

a) perfil dos agentes de comercialização dos certificados;

b) risco de registro, que representa a possibilidade de um projeto não ser aprovado e registrado

como MDL. À medida que mais projetos vão sendo registrados, este risco tende a diminuir;

c) risco de projeto, que representa a possibilidade do projeto não gerar a quantidade esperada

de RCEs;

Page 31: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

31

d) origem e data de obtenção prevista dos certificados;

e) benefícios sociais e ambientais adicionais que o projeto pode trazer;

f) risco empresa;

g) risco país.

Para verificar as diferenças em relação aos preços, podemos observar as Tabelas 3 e

4, com os valores observados e estimados. Observa-se que há uma tendência de crescimento

desses preços que têm variado entre de U$ 2 à U$ 7 desde 2003 até meados de 2005, e em

2006 já atingiu patamares de US$ 24 (UNFCCC, 2006; WORLD BANK, 2007).

TABELA 1. PREÇO MÉDIO DOS CRÉDITOS DE CARBONO QUIOTO-COMPLIANCE (US$/TCO2E)

Preço 2003 2004 2005 2006

Observado 2-10 3-7 3-7 6-24

estimado p/ 2010 50-100

Fonte: BANCO MUNDIAL (2005, p. 27); KOSSOY (2004, p.32); WORLD BANK (2005a, p.7, 15-22); WORLD

BANK (2007).

TABELA 2. PREÇO MÉDIO DOS CRÉDITOS DE CARBONO

CHICAGO CLIMATE EXCHANGE - CCX (US$/TCO2E)

Ano 2005 2006 abr/10

Preço 1,50 - 2,50 3,6 - 4,25 30,70

Fonte: Chicago Climate Exchange (2010)

3.8.1 Principais compradores e vendedores dos créditos de carbono

Os compradores de créditos de carbono atualmente podem basicamente ser

separados em: instituições multilaterais, como o Banco Mundial; fundos do Governo, como da

Áustria, Bélgica, Dinamarca; bancos de desenvolvimento, como Japan Carbon Fund,

Development Bank of Japan e KFW Bank Group da Alemanha; outras empresas comerciais

como Ecosecurities e European Carbon Fund (REKLEV, 2004).

Page 32: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

32

Os países que mais compram créditos até 2005 eram o Japão, Holanda e países

europeus em geral. Porém, em 2006 houve um grande crescimento da Inglaterra e Itália, e com

isso o Japão perdeu sua participação. Uns dos grandes compradores dos créditos de carbono

são os fundos de investimento, como os fundos do Banco Mundial e do Governo da Holanda

(WORLD BANK, 2005; WORLD BANK, 2007).

3.9 O Mercado Brasileiro de Reduções de Emissões - MBRE

O Mercado Brasileiro de Reduções de Emissões – MBRE, é iniciativa conjunta da

BM&F e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC, que objetiva

desenvolver sistema eficiente de negociação de certificados ambientais, em linha com os

princípios subjacentes ao Protocolo de Quioto. Mais precisamente, a iniciativa BM&F/MDIC

consiste em criar no Brasil as bases de mercado ativo para créditos de carbono que venha a

constituir referência para os participantes em todo o mundo (BM&F, 2007).

No Guia de Orientação do MDL, editado pela Fundação Getúlio Vargas (FVG), sob o patrocínio

do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Conferência das

Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento - UNTAD (2007), em parceria com o

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o propósito do MDL é prestar assistência às partes

que não constam nos países integrantes do chamado anexo 1, para que viabilizem o

desenvolvimento sustentável, além de prestar assistência aos países que tenham

compromissos quantificados de limitação e redução de emissões de gases de efeito estufa.

Esse mecanismo envolve o planeta inteiro com os objetivos do Protocolo de Quioto. Os países

em desenvolvimento, ou seja, Partes Não inclusas ao Anexo I do Protocolo de Quioto, podem

implementar projetos de redução ou captura de emissões de gases causadores do efeito

estufa, obtendo os Certificados de Emissões Reduzidas (CERs). Estes certificados emitidos

pelo Conselho Executivo do MDL, podem ser negociados no mercado global. Como os países

Page 33: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

33

industrializados, ou seja, Partes inclusas ao Anexo I do Protocolo de Quioto, possuem cotas de

redução de emissões de gases causadores do efeito estufa, estes podem adquirir os CERs, de

desenvolvedores de projetos em países em desenvolvimento para auxiliar no cumprimento de

suas metas.

A BM&F acolhe para registro projetos validados por Entidades Operacionais

Designadas (certificadoras credenciadas pela ONU), segundo, o rito do Mecanismo de

Desenvolvimento Limpo (MDL) – ou seja, projetos que deverão gerar Reduções Certificadas de

Emissão (créditos de carbono) no futuro. Também acolhe para registro o que se convencionou

chamar de intenções de projeto, ou seja, idéias parcialmente estruturadas que objetivem a

condição futura de projetos validados no âmbito do MDL. O Banco de Projetos BM&F está

aberto também ao registro de intenções de compra, um investidor estrangeiro eventualmente

interessado em adquirir créditos de carbono pode registrar seu interesse, descrevendo as

características do projeto procurado (BM&F, 2007).

3.10 Projetos do Mercado Voluntário

O volume de compensações negociadas, em 2007, equivale ao corte de 65 milhões de

toneladas de CO2 – mais do que a emissão anual do gás pela Noruega – e superior às 25

milhões de toneladas registradas em 2006, de acordo com o relatório divulgado pelos analistas

do Ecosystem Marketplace e da New Carbon Finance (BMF, 2009).

Há quem se oponha aos estudos sobre o mercado voluntário, alegando que significa

pouco se comparado aos 66 bilhões de toneladas negociadas pelo mercado regulamentado

pelo Protocolo de Quioto em 2007. A analista do Centro para Soluções de Recursos, Lars

Kvale, entende que o mercado voluntário é importante porque fornece oportunidade para

inovação e para aprendizado (BMF, 2009).

Page 34: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

34

A mesma linha de raciocínio é seguida pelo presidente da VCS Association, Edwing

Aalders. Ele acredita que a flexibilidade do mercado voluntário é um elemento que contribui

para o desenvolvimento de diferentes projetos, cada um realizado de uma maneira própria.

“Uma das características do mercado voluntário é a existência de vários padrões e,

conseqüentemente, de vários tipos de projetos - uns mais fortes socialmente, outros mais

preocupados com a redução das emissões de gases do efeito estufa”, avalia. Aalders destaca

que, há três anos não havia padrões, hoje já são mais de 12. “O comprador procura o que lhe

parece mais importante quanto a qualidade”, acrescenta (VCS, 2008)

Sobre o futuro do mercado voluntário, Aalders (2009), sugere que haverá mudanças até

2020, mas não acredita que os projetos irão se acabar. “Nos EUA, por exemplo, grandes

empresas que não possuem limites de emissões - como Google e Yahoo - irão desejar

continuar a ser neutras em carbono”, avalia.

O mercado voluntário também recebeu boa receptividade, segundo o mesmo autor,

empresas que temiam investir em projetos de mitigação de gases do efeito estufa no mercado

voluntário de carbono receberam uma garantia a mais da qualidade com a criação do Voluntary

Carbon Standard (VCS), lançado oficialmente em novembro de 2007.

O VCS é um padrão de referência para projetos voluntários de redução ou remoção de

emissões de gases do efeito estufa nos moldes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

(MDL) do Protocolo de Quioto. Segundo os criadores, os créditos gerados terão consistência e

serão confiáveis, uma vez que os projetos por detrás deles terão padrões mínimos de

qualidade (BMF, 2009).

A expectativa é que o VCS leve a um boom de investimentos em projetos de

neutralização que resultarão em reduções reais de emissões de GEE. Analistas de mercado

estimam que as transações anuais do mercado voluntário de carbono podem alcançar os

quatro bilhões de dólares nos próximos cinco anos e que o VCS - já popular entre os

compradores - será um instrumento fundamental para o crescimento (AALDERS, 2009).

Page 35: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

35

Para alguns especialistas, o futuro do mercado voluntário vai depender do que ocorrer

no período pós 2012. "Se as regras do pós-Quioto forem decididas logo, provavelmente os

volumes do mercado voluntário serão menores", afirma a diretora de projetos sustentáveis da

Caísse de Depot, Claire Boasson. "O mercado voluntário, no entanto, não acabará, pois o de

compliance não abrangerá todos os setores da sociedade. Sempre haverá indivíduos e

empresas querendo compensar suas emissões voluntariamente”, avalia Whitley (2008).

Notícias de fraudes nos créditos de carbono, segundo WWF (2008), levantaram

suspeitas sobre a eficiência do mecanismo para a redução de gases do efeito estufa. Segundo

a ONG, um de cada cinco créditos para emissão de carbono fornecidos pela Organização das

Nações Unidas (ONU) dará apoio a projetos de energia limpa que podem, na verdade,

aumentar a produção de gases do efeito estufa.

O relatório da WWF (2008) diz que as CERs estão sendo concedidos para projetos que

teriam sido implantados de toda forma e que não contariam com o incentivo adicional

resultante da aprovação deles pela ONU. Assim, os projetos carentes da chamada

"adicionalidade" contribuem para aumentar a produção dos gases responsáveis pelo

aquecimento ao fornecer às empresas justificativas ilegítimas para continuarem a poluir.

3.11 Cotação no Mercado Voluntário

Os preços das compensações voluntárias oscilaram de maneira drástica em 2007,

variando de 1,62 dólares até 300 dólares a tonelada de CO2, com a média de pagamento

ficando em 6,10 dólares – o que representa um aumento de 49% em relação aos 4,10 dólares

pagos em média pela tonelada de CO2 no ano anterior.

“O valor do mercado tem crescido mais fortemente do que os volumes absolutos, uma

vez que os compradores estão dispostos a pagar mais por suas compensações”, afirma Milo

Page 36: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

36

Sjardin (2009), da New Carbon Finance. Ele acrescenta que, em relação a 2006, o valor do

mercado voluntário cresceu 240%, o que é significativamente maior do que até mesmo o

mercado regulamentado, que dobrou de valor no último ano para 64 bilhões de dólares, de

acordo com um relatório publicado pelo Banco Mundial. As transações de compensação

voluntária são divididas em dois mercados principais: a Bolsa do Clima de Chicago (nos EUA) e

o de venda por meio de corretores, revendedores ou desenvolvedores de projetos – no

mercado conhecido como “over-the-counter” – ou Balcão. Estes mercados foram responsáveis

por 72 milhões e 258 milhões de dólares, respectivamente, em 2007.

Ainda, segundo o mesmo autor, compensações provenientes de projetos asiáticos

representaram 39% do volume comercializado em 2007, enquanto os projetos africanos

perderam espaço – contando com apenas 2% do mercado, menos do que os 6% de 2006. A

América do Norte sediou cerca de 27% dos projetos.

3.12 VIABILIDADE DO MERCADO DE CARBONO

De acordo com Crepaldi (1998), a gestão agrícola tem peculiaridades próprias, como

as mencionadas no texto a seguir:

“Analisando-se as características contábeis, pode se observar que o efeito das mesmas, na administração da empresa agrícola, é mais prejudicial do que benéfico. Isso indica que o empresário agrícola rural deve assumir ações administrativas eficazes para atenuar e modificar os efeitos prejudiciais de cada característica. Indica também, como foi dito, que as teorias da administração, ao serem transferidas para o setor rural, devem ser adaptadas a suas condições.”

Em outra citação, Crepaldi (1989) evidencia que:

“O produtor rural ainda não assumiu o papel de administrador ou tomador de decisões no próprio campo de seu domínio. Sentindo-se cada vez mais há necessidade de conhecimento gerencial, o produtor rural requer, como prioridade básica para si, o auxilio na definição do que produzir, como produzir, quanto produzir e para quem vender”.

Page 37: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

37

Na informação sobre o meio ambiente deve-se incluir a contabilidade, porque na

atualidade, o meio ambiente é um fator de risco e de competitividade de primeira ordem

(KRAEMER, 2005).

Segundo Contador (1981), entre as etapas de elaboração de projetos, destacam-se

como de grande importância as análises quantitativas e qualitativas que resultaram no fluxo de

caixa do projeto. A correta construção do fluxo de caixa é de suma importância, uma vez que

os indicadores da rentabilidade e risco do projeto são derivados dele, ou seja, das entradas e

saídas de numerários ocorridos durante o período de vigência do projeto.

Ainda, o mesmo autor diz que, entre os indicadores econômicos de viabilidade de

projetos, destacam-se o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR)4 e o

Período de Payback Simples (PPS). O primeiro é o retorno monetário do investimento

descontado o valor do dinheiro no tempo a uma taxa de desconto definida previamente. Caso o

projeto apresente um VPL>0, deve-se aceitá-lo como economicamente viável; caso contrário

deve-se rejeitá-lo. O segundo é a taxa de retorno do capital investido. Em outras palavras, é a

taxa de desconto que iguala o VPL a zero. Se a TIR for maior que a taxa de desconto

correspondente à taxa de remuneração alternativa do capital, o projeto será considerado viável

do ponto de vista econômico. Já o PPS, é definido como o tempo de recuperação do capital

investido sem descontar o valor do dinheiro no tempo.

Em todos os projetos que visam comercializar Créditos de Carbono, deve-se realizar um

estudo prévio para determinar sua sustentabilidade (MISHAN, 1976).

Page 38: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

38

3.12.1 Custos de Produção

Segundo Vegro (2008), a cafeicultura é uma atividade agrícola de muito prestígio, em

razão, principalmente, de sua rentabilidade.

Quando se estima o custo de produção, deve-se fazer referência quanto ao prazo, para

efeito de planejamento, indicando o horizonte de tempo em que a empresa pretende trabalhar.

Em curto prazo, os recursos produtivos e suas despesas são classificados em fixos e variáveis.

Nesse caso, o curto prazo está relacionado a uma safra de café (VEGRO, 2008).

Os custos fixos são aqueles correspondentes aos recursos com duração superior aos de

curto prazo. Daí, sua renovação se dar em longo prazo, fazendo-o em tantos ciclos produtivos

quanto permitir sua vida útil. Em geral, enquadram-se nessa categoria terras, benfeitorias,

máquinas, equipamentos, impostos, taxas fixas, calagem, lavoura, obras de irrigação e

drenagem e etc. (EMBRAPA, 2008).

Os custos variáveis referem-se aos recursos que têm duração inferior ou igual ao curto

prazo, sendo sua composição feita a cada ciclo do processo produtivo. Em geral, são os custos

dos fertilizantes, defensivos, combustíveis, manutenção, mão-de-obra, serviços de máquinas e

equipamentos, entre outros (EMBRAPA, 2008).

Os custos fixos e os variáveis são ainda decompostos em custos operacionais e

alternativos, ou de oportunidade. Os operacionais constituem os valores correspondentes às

depreciações e aos insumos empregados, equivalentes ao prazo de análise. Os alternativos

correspondem à remuneração que esses recursos teriam se fossem empregados na melhor

das alternativas econômicas possíveis. Os custos totais constituem-se na soma dos custos

fixos e variáveis. Dos custos totais, obtêm-se os custos médios ou unitários, que representam o

custo de uma unidade do produto (DEPARTAMENTO, 2000).

Page 39: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

39

Os custos de produção de uma lavoura cafeeira: custos de formação e condução da

lavoura, colheita, transporte do café da lavoura para o terreiro e o custo relacionado à irrigação.

Custos, como aquisição da propriedade e infra-estrutura não podem ser diretamente

considerados, em virtude de variarem muito em função do nível tecnológico de cada produtor.

A remuneração do produtor também não pode ser considerada, pois essa deve ser uma

porcentagem acrescida ao custo total de produção (SETTE, 1999).

3.12.2 Avaliação Econômica de Projetos Rurais

A avaliação econômica de alternativa de investimentos permite identificar e

quantificar todas as vantagens e desvantagens, na comparação e na posterior escolha da

melhor alternativa, mediante aplicação dos métodos e critérios de decisão, permitindo

representar cada alternativa por um número que indica a solução mais econômica (RENNER,

2004).

Há vários métodos de seleção e avaliação de opções de investimentos, cada um

deles partindo de premissas peculiares, não havendo um consenso geral quanto ao mais

indicado. Os mais usados são: Valor Presente Liquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR),

Relação Custo Benefício (RCB), Payback (PB), Margem de Lucro Liquido (MLL) (RENNER,

2004; GITMAN, 2004).

Page 40: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

40

3.12.2.1 Valor Presente Líquido (VPL)

O valor presente líquido – VPL - leva explicitamente em conta o valor do dinheiro no

tempo. É considerada uma técnica sofisticada de orçamento de capital que desconta os fluxos

de caixa da empresa a uma taxa estipulada. Essa taxa - comumente chamada de taxa de

desconto, retorno exigido, custo de capital ou custo de oportunidade - é o retorno mínimo

exigido em um projeto para que o valor de mercado da empresa fique inalterado.

O VPL é obtido subtraindo-se o investimento inicial de um projeto (FC0) do valor

presente de suas entradas de caixa (FCt), descontadas a uma taxa igual ao custo do capital da

empresa. Em outras palavras, é a soma do valor presente das receitas menos a soma do valor

presente dos custos, atualizada à taxa ou taxas adequadas de descontos (RENNER, 2004;

GITMAN, 2004).

Onde:

C0 é o fluxo de caixa feito na data zero. (Que no caso acima era de -1000)

Cn é o fluxo de caixa feito no período n

n é o número do período em que foi feito determinado fluxo

i é a taxa de juros corrente ao período n

Page 41: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

41

Quando o VPL é usado para tomada de decisão de aceitação ou rejeição devemos

considerar que, se o VPL for maior que 0 (zero), o projeto deverá ser aceito. Sendo menor que

0 (zero) o projeto deverá ser rejeitado.

3.12.2.2 Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno – TIR - talvez seja a técnica de orçamento de capital mais

utilizada e sofisticada, entretanto seu calculo manual é mais difícil que o VPL. A TIR é uma

taxa de desconto que iguala o VPL de uma oportunidade de investimento a $ 0 (zero) porque o

valor presente das entradas de caixa se iguala ao investimento inicial. É a taxa composta de

retorno anual que a empresa obteria se concretizasse o projeto e recebesse as entradas de

caixa previstas.

Quando a TIR é utilizada na tomada de decisões de aceitação ou rejeição de

orçamento de capital deve-se observar que se a taxa for maior que o custo do capital, deve

aceitar o projeto, se for menor, deve-se rejeita-lo. Esses critérios asseguram à empresa obter

pelo menos o retorno exigido e aumentar o seu valor de mercado e consequentemente a

riqueza dos proprietários (GITMAN, 2004).

Page 42: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

42

3.12.2.3 Período de Payback

Os períodos de Payback são comumente utilizados na avaliação de investimentos,

mostrando o tempo necessário para que a empresa recupere seu investimento inicial em

projeto, sendo calculado sobre suas entradas de caixa. Quando se tratar de uma anuidade, o

período de Payback pode ser encontrado dividindo-se o investimento inicial pela entrada anual

de caixa. Quando se tratar de série mista de entradas de caixa, estas precisam ser

acumuladas até que o investimento inicial seja recuperado. Embora, seja uma técnica muito

utilizada, o período de Payback é visto como técnica de pouca sofisticação de orçamento de

capital porque não leva em consideração o valor do dinheiro, o tempo, ignora as variações do

fluxo de caixa após o período de recuperação do investimento, prioriza o curto prazo

(GITMAN, 2004).

Em virtude das imperfeições desse método, não é aconselhável utilizá-lo como

principal critério seletivo para aplicação de capital, mas, sim, como um método auxiliar na

tomada de decisão (BATALHA, 1999).

Na tomada de decisão de aceite ou de rejeição de projeto, quando o período de

Payback for menor que o período máximo aceitável de recuperação, o projeto será aceito, se

for maior que o período máximo de aceitação, o projeto será rejeitado. Vale ressaltar que o

período máximo de aceitação tem caráter subjetivo, é definido pela cúpula empresarial, com

base em diversos fatores como tipo, risco, valor da ação (GITMAN, 2004).

Page 43: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

43

3.12.2.4 Taxa Mínima Atrativa de Retorno (TMAR)

A taxa mínima atrativa de retorno – TMAR - é a taxa de juros utilizada para

avaliação da atratividade de alternativas de investimentos. Faz parte da política a ser

formulada pela cúpula administrativa da empresa e utilizada por vários níveis da organização.

É difícil decidir e estabelecer uma taxa mínima de remuneração para um determinado

investimento, o que normalmente ocorre para determinar uma boa taxa é a verificação da

disponibilidade de recursos, custos dos recursos, a taxa de juros paga no mercado por

grandes bancos, taxa de juros pagas pelos títulos do governo, montante envolvido, tempo do

projeto (curto ou longo prazo), oportunidade e aversão ou propensão ao risco que o investidor

possa ter (BATALHA, 1999).

3.12.2.5 Regra de Bolso

Para analisar e avaliar os efeitos de investimentos ou aplicações financeiras, o

mercado costuma se posicionar considerando a taxa e tempo de retorno (Payback) e a regra

de bolso.

A taxa de retorno é calculada levando em consideração o lucro líquido que o evento

traz proporcionalmente à receita operacional líquida e quanto maior for essa taxa, melhor é a

qualidade do evento e menor o tempo de retorno.

O tempo de retorno é calculado levando-se em conta o total do investimento e

considerando-o igual a 100%. Divide-se esse percentual pela taxa de retorno encontrada e o

resultado será o numero de anos que o investimento levará para retornar.

Page 44: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

44

A regra de bolso em qualquer investimento ou aplicação está atrelada ao risco do

evento, que consiste em considerar a taxa paga pelo governo na caderneta de poupança, que

é algo em torno de 6,17% (real) ao ano e a taxa paga pelo mercado, que deve ser no mínimo

100% superior a que o governo paga. Resumindo, tem-se que, para correr risco, um

investimento deve apresentar retorno de 13,5%, no mínimo, para ser considerado bom. Essa

taxa não é fixa e pode oscilar de um evento para outro. Se o investidor não quiser correr risco

é mais prudente aplicar em poupança porque o rendimento é pouco, mas é seguro (RENNER,

2004).

3.12.2.6 Análise das relações custo/volume/lucro

Os conceitos de custos fixos permitem uma expansão das possibilidades de

análise dos gastos da empresa, em relação aos volumes produzidos e vendidos, determinando

pontos importantes para fundamentar futuras decisões como aumento ou diminuição dos

volumes de produção, corte ou manutenção de produtos, mudanças no “mix” de produção e

incorporação de novos produtos. A análise custo/volume/lucro conduz a três importantes

conceitos: margem de contribuição, ponto de equilíbrio e alavancagem operacional

(PADOVESE, 2005).

3.12.2.7 Alavancagem Operacional

De acordo com Padoveze (2000), a alavancagem operacional (AO) é a

possibilidade de acréscimo do lucro total pelo incremento da quantidade produzida e vendida,

Page 45: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

45

através da alteração correta da proporção dos custos fixos na estrutura de custos da empresa.

Podemos também ratificar que é a possibilidade da empresa aumentar vendas e obter

melhores lucros sem a necessidade de alterar a estrutura de custos fixos existente.

Para Gitman (2004), a alavancagem operacional (AO) pode ser definida como a

possibilidade de uso dos custos operacionais fixos para ampliar os efeitos de variação de

vendas sobre o lucro da empresa antes dos juros e imposto de renda.

3.12.2.8 Margem de Contribuição

A margem de contribuição é um conceito de grande importância para o custeio

variável e para a tomada de decisões gerenciais.

O custeio variável considera que aos produtos devem ser alocados apenas os

custos variáveis, diferente do custeio por absorção que além dos custos variáveis, os produtos

absorvem também os custos fixos. De acordo com Martins (2003), a margem de contribuição

(MC) é a diferença entre a receita e a soma dos custos e despesas variáveis e tem por

finalidade tornar mais visível a potencialidade de cada produto, mostrando como cada um

contribui para, primeiramente, amortizar os gastos fixos e depois formar o lucro propriamente

dito.

A margem de contribuição obedece ao seguinte cálculo:

MC = PV – (CV+DV)

Onde:

MC - Margem de Contribuição

PV - Preço de Venda

CV - Custos Variáveis

Page 46: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

46

DV - Despesas Variáveis

Não havendo fatores que limitem a produção ou vendas, essa sequência costuma

ser obedecida. No entanto, Migliorini (2001) ressalta que - ocorrendo fatores que venham a

limitar a produção, conhecidos como gargalos de produção - para tomada de decisão há

necessidade de se fazer um estudo da margem de contribuição pelo fator limitante a fim de

maximizar o resultado.

De acordo com Martins (2003), se não houver limitação na capacidade produtiva,

interessa o produto que forneça maior Margem de Contribuição – MC - por unidade, mas se

houver, interessa aquele que produz maior MC pelo fator limitante da capacidade.

A MC representa a contribuição que cada unidade traz a empresa para cobrir os

custos fixos e gerar lucro, sendo possível analisar a viabilidade ou não de produção de um

determinado produto. Se o índice for positivo a produção será viável, caso nulo ou negativo a

produção não trará benefícios para a empresa.

Se a empresa não conhece a margem de contribuição, ela estará vendendo muito e

tendo prejuízo. A margem de contribuição é uma condição para se chegar ao ponto de

equilíbrio.

3.12.2.9 Ponto de equilíbrio

O ponto de equilíbrio – PE - equivale ao faturamento mínimo de vendas que uma

empresa deve realizar para que não haja prejuízo. O ponto de equilíbrio determina o volume

de produção em que a receita operacional se iguala ao custo operacional, ou seja, em que o

lucro operacional é igual a zero.

Page 47: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

47

Migliorini (2001) comentou que o ponto de equilíbrio é o momento em que a

empresa não apresenta nem lucro ou prejuízo, as receitas geradas pelo nível de vendas são

suficientes para cobrir apenas os custos e as despesas totais. O equilíbrio ocorre quando a

soma da margem de contribuição dos produtos vendidos se iguala aos custos e despesas fixos

do período. O lucro só ocorrerá com vendas adicionais, acima do ponto de equilíbrio.

Para determinar o ponto de equilíbrio, em quantidade necessária para cobrir os

custos fixos, dividem-se os custos fixos totais – CFT - pela margem de contribuição – MC -

unitária, encontrando assim o ponto de equilíbrio em quantidades (PEq). Para encontrar o

ponto de equilíbrio em valores dividimos os custos fixos totais pela margem de contribuição

percentual, ou seja, Ponto de equilíbrio em quantidades = CFT / MC e Ponto de equilíbrio em

valores = CFT / MC% (PADOVESE, 2005).

Page 48: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

48

4 METODOLOGIA

Método é a forma de proceder ao longo de um caminho. Na ciência os métodos

constituem os instrumentos básicos que ordenam de início o pensamento em sistemas, traçam

de modo ordenado a forma de proceder do cientista ao longo de um objetivo (TRUJILLO,

1974).

Quanto à concepção metodológica, este estudo utilizou o método quantitativo pela

facilidade de leitura e interpretação de tabelas. Os processos estatísticos permitem obter, de

conjuntos complexos, representações simples e constatar se essas verificações simplificadas

têm relações entre si (MARCONI & LAKATOS, 2005). A pesquisa realizada pode ser

classificada como descritivo-conclusiva, porque esse tipo de pesquisa permite descrever as

características quantitativas e qualitativas das informações evidenciadas nas tabelas

desenvolvidas no estudo (MALHORTA, 2001).

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias externas, teve como principais

fontes as publicações em livros, revistas, teses, dissertações, documentos oficiais,

monografias, publicações avulsas e eletrônicas, utilizadas, no momento inicial, para identificar

a relevância da pesquisa e os trabalhos publicados sobre o tema. Visita à biblioteca

especializada da Universidade de Lavras (Ufla). Visita a produtores rurais, pequenos, médios e

grandes.

O objetivo desta metodologia é verificar o estudo do mercado de carbono na

cafeicultura do Sul de Minas Gerais. Assim sendo o trabalho não tem a pretensão de esgotar o

assunto e sim verificar se é viável o comércio de CO2 para os pequenos e médios produtores

de café no Sul de Minas Gerais.

O trabalho desenvolveu-se na Fazenda Experimental da Universidade José do Rosário

Vellano – Unifenas, Alfenas, Minas Gerais.

Page 49: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

49

Para o cálculo de biomassa do cafeeiro, foram abatidas quatro plantas da cultivar

Catuaí, com mais ou menos quatro anos de idade.

Após o abate, a planta foi separada em folhas, caule, galhos e raiz, para realizar o peso

fresco de cada uma dessas porções. O peso seco de cada uma das porções, exceto caule, foi

realizado tomando-se amostras de 100 gramas, às quais foram mantidas em estufa com

temperatura de 56o C, até o peso das amostras permanecerem constante.

Para determinação da biomassa do caule, foi realizado cubagem rigorosa pela

aplicação da fórmula Smalian; as circunferências do caule foram medidas a 0; 0,5; 1; 1,5

metros, até o limite mínimo de 1 mm de circunferência. Para a amostragem de FUSTE (caule),

foi coletado discos de madeira com aproximadamente 10 cm de comprimento. Estes discos

serviram como amostras para a determinação da densidade básica média da madeira,

segundo Vital (1984). Os discos de cada planta amostra foram numerados e identificados para

a realização desta análise.

A biomassa das folhas, galhos e casas foi estimada por meio da multiplicação do peso

úmido total no campo, pelo pesa da matéria seca da amostra, dividido pelo peso da amostra

úmida.

A biomassa do caule de cada planta amostra, foi obtida multiplicando-se as respectivas

densidades básicas médias, pelos respectivos volumes. Para o cálculo do gás carbônico

seqüestrado, considerou-se 49% de carbono nas diferentes partes da planta.

Os dados foram tabulados, e as médias apresentadas nos Resultados e Discussão com

o uso de quatro repetições.

Page 50: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

50

4.1 INVESTIMENTOS PREVISTOS ATRAVÉS DO MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO

A cafeicultura, para entrar em programas de Sustentabilidade, é enviada ao mercado

voluntário, e não ao MDL, como outros tipos de cultura, exemplificando a cana-de-açúcar. Este

mercado voluntário, como já visto, é um mercado que ainda não foi regulamentado,

aguardando regras e determinações da ABNT, FIESp, BM&F, entre outros, por isso está fora

das regulamentações que regem o Protocolo de Quioto.

Independentemente de estar em um Mercado Voluntário, o documento de

concepção da venda dos créditos terá que calcular a adição do projeto no cálculo da magnitude

dos financiamentos previstos.

4.1.1 Preços da tonelada de carbono fixado

Para as análises econômicas utilizou-se o valor estimado de cada tonelada de

carbono fixado em US$ 15,00 (R$ 2,30 X US$ 1,00 – cotação dia 10 de dezembro de 2008,

conforme o Jornal Estado de São Paulo).

4.1.2 Taxa de desconto

Visando avaliar a influência da taxa de desconto sobre o resultado econômico, utilizou-

se como parâmetro a taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) de 13,66%, que é

aquela utilizada pela Caixa Econômica Federal para avaliar investimentos.

Page 51: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

51

4.1.3 Alíquotas de Tributos

As alíquotas de tributos incidentes sobre a cafeicultura, utilizadas neste trabalho, são

as que incidem sobre um produtor legalizado, conforme Tabela 3.

TABELA 3. Relação de tributos incidentes sobre a atividade da cafeicultura TRIBUTOS ALÍQUOTAS %

LUCRO PRESUMIDO Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ Contribuição Social Sobre o Lucro – CSSL Programa de Integração Social – PIS COFINS

1,20 1,08 0,65 3,00

Previdência Social - PS Risco de Acidente do Trabalho – RAT Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR

2,85

Salário Educação Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA

- 5,20

Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS 12 TOTAL DOS TRIBUTOS 25,98 Fonte: Jornal Diário do Comércio – julho 2008

5.1.4 Avaliação econômica com e sem computarmos o valor do carbono

Para determinação da viabilidade econômica da atividade da cafeicultura no Sul de

Minas - com e sem o valor do carbono - foi calculado o Valor Presente Líquido (VPL), o período

de Payback e o Ponto de Equilíbrio em valor e em quantidade.

Os métodos de análise para avaliação de alternativas de investimentos variam

desde uma simples sensibilidade do analista até a utilização de sofisticados e complexos

modelos matemáticos. Nem todas as técnicas de análise têm uma base conceitual sólida e

nesse universo de instrumentos de decisões, despontam alguns métodos de avaliação de

investimento cujo rigor conceitual redunda em sólidas orientações. Os mais utilizados são o

Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o payback (BATALHA, 1999).

Page 52: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

52

Neste trabalhado foi utilizado o VPL, Payback e Ponto de Equilíbrio para demonstrar

a viabilidade e o tempo de retorno do investimento, agregando à venda, os valores de entradas

da venda do carbono. Não se procurou demonstrar alternativas de investimentos e sim o

retorno que o investimento pode proporcionar. O VPL é um dos principais recursos financeiros

de avaliação de investimentos porque analisa o investimento no momento presente.

Os dados de viabilidade econômica do seqüestro de carbono foram obtidos junto ao

senhor Joaquim Ferreira Pinto, proprietário da Fazenda Santa Terezinha, localizada no

município de Poços de Caldas, contando com área produtiva de 30 ha, demonstrando os

custos de produção para o ano de 2009.

Page 53: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

53

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados na Tabela 4 nos mostra a composição da amostra utilizada,

com a composição, biomassa verde, umidade existente e, no final, biomassa seca, que foi

utilizada para o cálculo da emissão de carbono.

TABELA 4: RESULTADO DA PLANTA AMOSTRA SEQUESTRO DE CO2 CAFÉ

Composição Biomassa verde (kg/ha) Umidade (%) Biomassa Seca (kg/ha)

Café - - 2.401,20 Folhas 12.000,00 64,81 4.222,80 Ramos 9.469,38 53,82 4.372,95 Caule* 7,84** 46,06 5.862,98 Raizes 7.346,94 46,03 3.379,60 *DMB (kg/m3) = 747,83 ** m3/ha Os resultados apresentados na Tabela 5 nos mostra a quantidade de absorção de CO2,

bem como a emissão de Oxigênio, da planta amostra, onde identificamos uma absorção de

36.363,69 de CO2, e uma emissão de 26.446,31 de O2.

TABELA 5: RESULTADO DA PLANTA AMOSTRA, COM CÁLCULO DE

EMISSÃO DE OXIGÊNIO E ABSORÇÃO DE CO2

Composição Biomassa seca (kg/ha)

%C CBS CO2 ABS (44/12) O2 EM (192/264)

Café 2.401,20 49,0 1.176,60 4.314,20 3.137,60 Folhas 4.222,80 49,0 2.069,17 7.586,96 5.517,78 Ramos 4.372,95 49,0 2.142,74 7.856,71 5.713,97 Caule 5.862,98 49,0 2.872,86 10.533,82 7.660,96 Raizes 3.379,60 49,0 1.656,00 6.078,00 4.416,00

Total (kg/ha) 20.239,53 9.917,37 36.363,69 26.446,31 CO2 Absorvido = 36.363,69 O2 Emitido = 26.446,31

Os valores apresentados na Tabela 6, nos mostra a quantidade de emissões em uma

propriedade rural, com a cultura do café, relacionando a essa emissão de CO2, a fonte

Page 54: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

54

emissora responsável, que deve ser deduzido do CO2 absorvido, pois a atividade vai emitir

CO2, além de absorver. Por convenção, uma tonelada de CO2 equivalente corresponde a um

crédito de carbono. Este crédito pode ser negociado. O balanço de CO2 demonstra que pode-

se ter um seqüestro de CO2 líquido da ordem de 35.086 kg de CO2 por hectare/ano, conforme

Tabela 6.

TABELA 6: ATIVIDADE OU FONTE EMISSORA DE CO2 E BALANÇO DE CO2 NA CAFEICULTURA

Atividade ou fonte emissora de CO2 Emissão de CO2 (Kg CO2.ha-1.ano-1) Óleo Diesel 276,71 Gás Natural 493,74 Fertilizantes 51,00 Inseticida 6,00 Solo 450,00 Total 1.277,45

Balanço de CO2 = CO2 (absorvido)-CO2 (emitido) Balanço de CO2 = 36.363,63-1.277,45=35.086 Kg CO2.ha-1.ano-1

Assim, aqueles países ou indústrias que não conseguem atingir as metas de reduções

de emissões, tornam-se compradores de créditos de carbono. Por outro lado, aquelas

indústrias que conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas, podem

vender o excedente de "redução de emissão" ou "permissão de emissão" no mercado nacional

ou internacional.

Os créditos podem ser vendidos em mercado de valores mobiliários, ou seja, como

mercado de valores passíveis de transmissão, móveis. Existem duas formas de fazê-lo: a

primeira é a venda em balcão, na própria entidade, assim vinculando a transmissão à um

processo para com o vendedor, a segunda forma é pela bolsa de valores, cons-tituindo um

representante e um local aonde tais valores possam ser negociados. Um exemplo de mercado

voluntário é o Chicago Climate Exchange (Bolsa do Clima de Chicago).

Este Mercado Voluntário, ao qual a cafeicultura pode participar exige alguns requisitos:

- existem regras claras e rígidas para aprovação de projetos no âmbito do MDL. Estes

projetos devem utilizar metodologias aprovadas, devem ser validados e verificados por

Page 55: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

55

Entidades Operacionais Designadas (EODs), e devem ser aprovados e registrados pelo

Conselho Executivo do MDL.

- os projetos devem ser aprovados pelo governo do país anfitrião através da Autoridade

Nacional Designada (AND), assim como pelo governo do país que comprará os CERs. No

Brasil, a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, estabelecida em 1999, atua

como AND Brasileira.

A partir da linha de base, pode-se determinar a adicionalidade, que é basicamente o

detalha-mento das atividades do projeto, demonstrando a redução das emissões. A

contribuição para o desenvolvimento sustentável de cada projeto é avaliada pela Autoridade

Nacional Designada, que no caso do Brasil, é a Comissão Interministerial de Mudança Global

do Clima (CIMGC – www.mct.gov.br/clima), presidida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia

Quanto ao preço, pode, inclusive, ser bem mais alto que o mercado formal, dependendo

da qualidade tecnológica do projeto, visto que muitos compradores estão dispostos a pagar

pelo ecomarketing envolvido. Quando os créditos do mercado de metas são usados para

neutralização voluntária, esses não apresentam nenhum comprometimento legal de redução de

metas, pois os consumidores não têm obrigação ou vínculo legal, podendo comprar créditos

que originem tanto do mercado de metas quanto do mercado voluntário.

Apesar de provedores de compensação de carbono já estarem operando desde os anos

90, o mercado voluntário começou a crescer rapidamente nos últimos anos. Um dos principais

fatores é o crescimento de relatórios sobre o meio ambiente e emissão dos gases de efeito

estufa (GEEs), que despertou o interesse do público em geral e do mercado de negócios, onde

muitas organizações estão incluindo análises de seus impactos no clima e as devidas

estratégias tomadas nos relatórios anuais de sustentabilidade e/ou nos seus websites.

Até o desenvolvimento de políticas nacional e internacional, como o de Quioto apoiando

o lançamento do Esquema de Comércio de Emissões da União Europeia, também está

instigando o mercado voluntário. Os compradores brasileiros ainda estão tímidos pela falta de

Page 56: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

56

credibilidade em todo processo devido a pouca quantidade de vendedores disponíveis; falta

informação e garantias de efetividade nos cálculos das emissões e compensações

adequadamente realizadas.

5.1 Viabilidade econômica do balanço de massa entre emissão e sequestro de CO2 na

cafeicultura

Observando o resultado do balanço de emissão e sequestro de carbono, percebe-se

que na cafeicultura contabiliza-se 35.086 kg de CO2, conforme Tabela 6, por hectare, que

podem ser negociadas diretamente com empresas ou na BM&F, pois trata-se de um mercado

voluntário.

Para verificar a viabilidade econômica do CO2 simularemos um demonstrativo de

resultados de um exercício da uma empresa.

Os custos de produção vinculado a cada hectare da propriedade, com

características rígidas do Sul de Minas, como bom solo, temperatura alta de dia, e frio intenso a

noite, altitude acima de 1000 metros, bem como uma precipitação média desejada. A

propriedade apresentou um custo, no ano de 2009, de R$ 249,42 por saca, sendo que cada

hectare produziu 15 sacas beneficiadas, temos um custo total daquela propriedade, só com a

cafeicultura, de R$ 37.413,00, e temos um valor de mercado pra saca/60 kg média de R$

276,00, valor apurado pela média do mercado em abril de 2010.

Page 57: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

57

TABELA 7 - Fluxo de Caixa Elaborado para a Produção de Café Arábica 9.000 pés

Descrição Unidade VU Q. Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 A - Entradas R$ 6.235,50 6.235,50 6.235,50 Receita R$ Produção Sc. 25 25 25 Preço R$ 249,42 249,42 249,42 Valor residual líquido R$ 500,00 B – Saídas R$ 2.518,47 2.518,47 4.825,14 4.825,14 4.825,14 1. Insumos e materiais Calcário R$/t 45,00 0,75 33,75 33,75 33,75 33,75 33,75 Formulado 20-00-20 R$/kg 0,72 1400 1.008,00 1008,00 1.008,00 1.008,00 1.008,00 Fungicida R$/kg 15,00 6 90,00 90,00 90,00 90,00 90,00 Sacarias R$/sc. 3,20 5 80,00 80,00 80,00 2. Manutenção ... Capina hd 18,50 18 333,00 333,00 333,00 333,00 333,00 Desbrota hd 18,50 5 92,50 92,50 92,50 92,50 92,50 Calagem hd 18,50 2 37,00 37,00 37,00 37,00 37,00 Adubação manual hd 18,50 4 88,80 88,80 88,80 88,80 88,80 Aplicação (mdo e material) R$ 103,00 103,00 103,00 103,00 103,00 3. Colheita ... Colheita manual R$/sc. 36,00 900,00 900,00 900,00 Secagem hd 18,50 7,2 133,20 133,20 133,20 Arruação/esparração hd 18,50 15 277,50 277,50 277,50 Beneficiamento R$/sc. 3,00 75,00 75,00 75,00 Transporte interno hm 31,78 2 63,56 63,56 63,56 Utensílios para colheita 317,00 317,00 317,00 4. Administração ... Assistência técnica e viagens R$ 110,00 1 110,00 110,00 110,00 110,00 110,00 Contabilidade R$ 66,00 1 66,00 66,00 66,00 66,00 66,00 Telefone/luz R$ 96,00 1 96,00 96,00 96,00 96,00 96,00 5. Depreciação R$ 349,42 3 49,42 666,42 666,42 666,42 6. Impostos R$/receita 2,3 1 143,42 143,42 143,42 7. Invest. na formação R$ -4.435,50 8. Investimento em terra R$ -3.500,00 3.500,00 C - Saldo de caixa R$ -10.453,97 -2.518,47 1.410,36 1.410,36 4.910,36 D - Saldo de caixa acumulado R$ -10.453,97 -12.972,43 -11.562,08 -10.151,72 10.272,56 1 VU: Valor Unitário, Q: Quantidade, hd: homem-dia, hm: hora-máquina, sc.: saca de café de 60kg beneficiada. 2 Aração, calagem, gradeação, conservação do solo, dessecação com herbicida, sulcação, distribuição calcário nos sulcos, distribuição de fertilizantes, incorporação de adubo no sulco, transporte das mudas, plantio, replantio, superfosfato simples, nitrato de amônia, ácido bórico mais cloreto de potássio, oxicloreto de cobre, utensílios e ferramentas, cerca, terreiro e tulha, mudas, outros. Fonte: Paiva, 2009

Uma saca/60kg de café chega a R$ 249,42 de custo, enquanto o mercado paga

apenas R$ R$ 276,00/saca/60kg. De acordo com as informações temos: 150 sacas/60kg x R$

276,00 = R$ 41.400,00 pela venda das sacas produzidas.

Page 58: ESTUDO DO MERCADO DE CARBONO

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5.1.2 Demonstrativos de Resultados com e sem o valor do carbono

Nas Tabelas 8 e 9 são apresentadas as simulações dos Demonstrativos de Resultados

empresa em 2009, considerando a venda de 150 sacas/60kg de café a R$ 276,00/saca/60kg,

35,086 toneladas de carbono por hectare a R$ 34,50/tonelada, impostos incidentes sobre a

cafeicultura e custos da produção. Valor médio do dólar em 10/04/2010 é R$ 1,79, considerou-

se como preço de venda da tonelada de carbono US$ 15,00, e cálculos para dez hectares.

TABELA 8. Demonstrativo de Resultado sem o valor do carbono

Propriedade 30 hectares Colheita 2009 Valores em

reais Receita de sacas/60kg 41.400,00 Tributos = 35,31% 14.618,34 Receita Liquida 26.781,66 Custos da produção 37.413,00 Lucro Bruto (10.631,34)

TABELA 9. Demonstrativo de Resultado com o valor do carbono

Empresa produção Valores em

reais Receita de sacas/60kg 41.400,00 Receita de carbono *** 9.420,59 Receita Bruta 50.820,59 Tributos = 35,31% 17.944,75 Receita Liquida 32.875,84 Custos da produção 37.413,00 Lucro Bruto (4.537,16)

*** Valor médio do dólar em 10/04/2010 = R$ 1,79; Preço de venda US$ 15,00; Cálculo para 09 hectares. 15 x 1,79 = 26,85 reais/tonelada de carbono, 26,85 x 35,= 947,05 reais, 942,05 x 10 há = 9.420,59

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5.1.3 Análise do Investimento

A estrutura patrimonial de uma empresa é representada pelo conjunto de seus

ativos, passivos e patrimônio líquido. Podem-se consideradas, também como ativos, as

habilidades humanas e competências tecnológicas. Tanto a estrutura patrimonial quanto as

competências e habilidades são resultados de um longo processo de investimentos diversos ao

longo do tempo de vida da entidade.

Os investimentos surgem ao longo da vida da empresa e cabe aos seus

administradores avaliar e determinar quais devem ser aproveitados e quais serão declinados. A

administração é a responsável pela formação do capital da empresa e pela determinação de

suas potencialidades e fraquezas. As decisões de investimentos devem ser tomadas com

bastante cautela e acompanhadas de procedimentos de análise que forneçam um conjunto de

informações que os administradores possam entender e tomar a decisão correta, por envolver

em sua maioria, decisões de desembolso de capital (BATALHA, 1999).

5.1.4 Análise do Investimento pelo VPL, Payback e Ponto de Equilíbrio.

Um investimento para a formação de um hectare de café, no Sul de Minas, fica

em torno de R$ 4.000,00 (PAIVA, 2009). A Taxa Mínima Atrativa – TMAR - de retorno

considerada na análise desse investimento é a taxa do Certificado de Depósitos

Interbancários (CDI) de 13,66%, ao ano, informada pelo Banco Central do Brasil (BACEN),

que é o dobro de 6,17% a.a., ou seja, a mesma taxa com que o Governo Federal remunera

a poupança.

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Um hectare produz 15 sacas. Considerando que o preço de venda da empresa é de

R$ 276,00/saca/60kg e que as entradas de caixa desse investimento ocorrem geralmente após

o terceiro ano, com a venda da produção, percebe-se que a atividade de produção de café em

conjunto com a venda dos créditos de carbono é viável porque a rentabilidade é de 35,3%,

como explicação:

Rentabilidade = Lucro Líquido 32.875,84 / Receita Bruta 50.820,59 – 1 x 100

Rentabilidade = 0,6469 – 1 x 100

Rentabilidade = 35,3 %

5.1.11 Análise do Investimento pelo Valor Presente Líquido (VPL)

Pelo método do valor presente líquido – VPL - e considerando o investimento inicial

de R$ 40.000,00 (PAIVA, 2009), podemos perceber que o negócio é rentável porque o retorno

é alto em relação à taxa do CDI de 13,66% a.a., que é considerada uma das melhores taxas de

retorno disponível a poucos.

De acordo com Assaf Neto (2006), o Índice de Lucratividade - IL -, ou índice de valor

presente, é uma variante do método do Valor Presente Líquido, que é determinado por meio da

divisão do valor presente dos benefícios líquidos de caixa pelo valor presente dos dispêndios

(desembolso de capital), ou seja:

IL = Valor presente dos benéficos líquidos de caixa / Valor presente dos desembolsos de caixa

Então, no caso do fluxo da empresa, proposto, e considerando a taxa de atratividade

de 13,66 % a.a, ficaria: IL = 256.333,49 / 24.896,00. Isso resultaria em 1,3584

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5.1.12 Análise do Investimento pelo Payback (Tempo de retorno)

Pelo método Payback pode-se conhecer, em anos, o tempo que se levará para obter

o valor investido de volta de acordo com a taxa atrativa. Esse método, como foi explicado

anteriormente, é pouco usado porque não leva em consideração o valor do dinheiro no tempo,

terminando no momento que o valor aplicado é completado.

Para entendimento, analisamos que, se considerarmos apenas os quatro anos, o

projeto não apresenta um PayBack, conforme cálculos de PayBack nos quatro anos estudados,

no Fluxo de Caixa, o que identificamos que o projeto não tem PayBack em quatro anos, só se

for ter um retorno bem mais na frente, se usarmos como referencial os 13,66% do CDI.

5.1.13 Ponto de equilíbrio

Para determinar o ponto de equilíbrio consideraram-se como custos variáveis totais

os valores dos tributos e dos custos dos produtos vendidos com e sem o cômputo dos valores

de vendas do carbono fixado. Os custos fixos totais foram determinados por tentativas e erros,

utilizando a margem de contribuição percentual unitária, conforme Tabela 10.

Para determinar os custos unitários, utilizou-se o custo variável total, o custo fixo

total, sem e com carbono, divididos individualmente pela produção total anual de café,

conforme Tabela 10.

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TABELA 10. Valores unitários com seus percentuais para cálculo do ponto de equilíbrio em valor e em quantidade sem e com valor do carbono, expressos em reais (R$).

Itens

Sem Carbono

R$

Com Carbono

R$

Preço de Venda Unitário 276,00 276,00

Custo Variável Unitário 219,85 219,85

Venda do Carbono - 9.420,59

Custo Fixo unitário 29,57 29,57

Sem o valor do carbono, o ponto de equilíbrio em quantidade produzida necessário

para cobrir os custos totais é de 79 sacas. O produtor começa a obter lucro ao vender 167

sacas de café.

Q = Custo Fixo / (Preço – Custo Variável)

Q = 4435,50 (que é o valor do investimento na formação) / (276,00 valor da venda da

saca – 219,85 valor do custo variável)

Q = 4435,50 / 56,15

Q = 78,99

Já, com o valor da venda do Crédito de Carbono, verificamos o Ponto de Equilíbrio em

54 sacas, da seguinte forma:

Q = Custo Fixo / (Preço – Custo Variável)

Q = 4435,50 (que é o valor do investimento na formação) / (276,00 valor da venda da

saca + 26,85 a tonelada de carbono – 219,85 valor do custo variável)

Q = 53,44

Pode-se entender que o negócio com a café é rentável, porém o comércio de carbono

fixado na cafeicultura é baixo pelo faturamento discreto proporcionado e por se tratar de um

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pequeno produtor. A venda de carbono aumenta o faturamento de pequenos produtores e é

mais promissor para os grandes produtores.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cafeicultores interessados em neutralizar o carbono emitido por suas atividades

rotineiras ou pela realização de eventos poderiam, elas mesmas, realizar o plantio de árvores

em número, cujo carbono fixado correspondesse às suas emissões, caso sua reserva legal não

desse conta desse sequestro. Porém, para isso, necessitam de área disponível para o plantio e

conhecimento de todas as atividades pertinentes como, coleta de sementes, produção de

mudas, plantio, monitoramento etc. Por serem atividades que requerem conhecimento técnico,

o ideal seria a contratação de técnicos especializados para a implantação, ou simplesmente

adquirir o carbono das Cooperativas de Carbono já existentes no mercado.

A comercialização do carbono, por parte do cafeicultor pode viabilizar investimentos

para melhoria do parque cafeeiro, bem como melhoria em infra-estrutura da propriedade, além

do que, se pensarmos no depois da porteira, e na xícara, seria um grande agregador de valor

para o consumidor do produto café.

O Mercado de Carbono, com ou sem o uso do Protocolo de Quioto, é uma importante

fonte de receita para a ampliação da base florestal nacional, tornando viável economicamente,

como é hoje em dia, em outras culturas perenes ou não.

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